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Todas as correções determinadas
pelo júri, e só essas, foram efetuadas.
O Presidente do Júri,
Porto, ______/______/_________
Agradecimentos
No culminar deste longo percurso resta-me agradecer a todas as pessoas que
partilharam comigo esta experiência.
Obviamente, não posso de deixa de referir os meus pais. Agradecer por todo o carinho
e apoio demonstrado não só ao longo do meu percurso académico como em toda a
minha vida. Obrigado pelo esforço que fizeram para me proporcionarem a oportunidade
de ter uma educação de excelência e perseguir os meus sonhos.
À minha família, por todos os conselhos e incentivo demonstrados, que tanto me fizeram
ultrapassar as fases menos positivas. Agradeço acima de tudo os carinhos que sempre
fizeram questão de demonstrar.
Aos meus amigos, que levo para a vida. Nuno e David obrigado por todo o apoio, as
risadas sem lógica, e os momentos fantásticos que passei convosco.
Ao meu orientador, Professor Doutor António Guerner Dias, o meu sincero
agradecimento por me ter auxiliado no desenvolvimento deste projeto e a
disponibilidade para a resolução de qualquer dúvida ou problema.
Ao Professor Doutor Nuno Formigo pela sua disponibilidade e amabilidade demonstrada
em me ajudar no tratamento estatístico.
À LIPOR pela sugestão de uma problemática com a qual lidam diariamente, pela
disponibilidade mostrada no esclarecimento de qualquer dúvida e incentivo.
Ao IJUP pelo apoio e incentivo demonstrado.
À Casa das Sandes dos SASUP e ao Restaurante da Multirest instalado na Faculdade
pela gentiliza em participar neste projeto, fornecendo material.
Resumo
A poluição atmosférica não se limita à emissão de dióxido de carbono, por exemplo.
Revela-se bem mais que isso. A emissão de odores por parte de certas instalações
como estações de tratamento de águas residuais ou centrais de aproveitamento de
resíduos são exemplos dessa realidade, onde o odor é considerado uma fonte de
poluição. O carácter subjetivo da avaliação de um odor torna-o difícil de definir e avaliar.
Dos tratamentos mundiais mais utilizados para minimizar este tipo de emissões
encontra-se o tratamento biológico, constituído por um meio filtrante colonizado por
microrganismos capazes de degradar os compostos odoríferos, sob determinadas
condições.
Assim, esta dissertação avalia a eficiência dos meios filtrantes selecionados. Neste caso
particular, para o meio ser selecionado tem de cumprir certos requisitos, como serem
materiais naturais abundantes no país, com valor económico reduzido ou nulo, tempo de
vida longo e proporcionar condições favoráveis ao suporte de vida microbiana. Desta
forma, os materiais sujeitos a avaliação foram a casca de eucalipto, a giesta e o tojo.
Para determinar qual dos meios filtrantes melhor se ajusta ao tratamento biológico, foi
necessário desenvolver uma estrutura que suportasse o material e permitisse a fixação
dos microrganismos. Esta unidade apresentava uma ligação a um compostor doméstico,
onde existia a produção dos gases odoríferos que eram direcionados para a
biodesodorização.
Os meios filtrantes que mais se mostraram eficientes foram a giesta e o tojo, através da
avaliação olfatométrica, isto é, por comparação dos estímulos obtidos do odor antes e
depois da passagem pelo biofiltro em causa. Concluindo, assim, que estes poderão ser
materiais passíveis de introdução em centrais de desodorização.
Palavras-chave: Tratamento biológico; Biofiltro; Odor; Material de enchimento.
Abstract
Air pollution is not limited to emissions of carbon dioxide, for example. It is much more
than that. The odor emissions from certain facilities, such as treatment plants waste
recovery or waste water stations are examples of this reality, where odor is considered a
source of pollution. The subjective nature of the assessment of an odor makes it difficult
to define and evaluate. Of the world’s most widely used treatments to minimize such
emissions is biological treatment, comprising a filter medium colonized by
microorganisms capable of degrading odoriferous compounds, under certain conditions.
This work involves the evaluation of the effectiveness of selected filter media. In this
particular case, to be the selected it has to fulfill certain requirements, such as being
abundant natural material in the country, with low or zero economic value, long life and
provide favorable conditions in supporting microbial life. The materials subjected to
evaluation were eucalyptus bark, broom and gorse.
To determine which materials best fits the filter medium in the biological treatment was
necessaried to develop a structure that supports the material and enable the fixing of the
microorganisms. This unit had a connection to an home composter, where the
production of odors gases were made and directed to biodeodorization.
The filter media that have proved effective were broom and gorse by olfactometry
evaluation. That is, by comparing the odor stimulus obtained before and after passage
through the biofilter concerned. Concluding that these materials may be insusceptible of
release of central deodorization.
Key words: Biological treatment; Biofilter; Odor; Packing material.
Índice
1 INTRODUÇÃO 1
1.1 Definição do problema e relevância do tema 1
1.2 Objetivos 3
1.3 Metodologia 3
1.4 Estrutura da tese 4
2 ESTADO DA ARTE 5
2.1 Odor 7
2.2 Unidade de odor 9
2.3 Métodos de determinação do odor 11
2.4 Fontes de odores numa CVO 12
2.5 Tratamento de odores – Desodorização 15
2.5.1 Tratamento Biológico 17
2.5.1.1 Biofiltro 20
2.5.1.2 Biopercolador 21
2.5.1.3 Bioscrubber 24
2.5.2 Fatores que influenciam o tratamento biológico 25
2.5.2.1 Meio Filtrante 26
2.5.2.2 Humidade 26
2.5.2.3 pH 27
2.5.2.4 Porosidade 27
2.5.2.5 Temperatura 27
2.5.2.6 Nutrientes 28
3 MATERIAIS E METODOLOGIA DE TRABALHO 29
3.1 Escolha dos meios filtrantes 30
3.1.1 Preparação dos materiais 34
3.2 Infraestrutura Laboratorial 35
3.3 Produção de odores e parâmetros influenciadores 41
3.4 Métodos de amostragem dos compostos odoríferos 43
3.4.1 Análise química 43
3.4.2 Análise olfatométrica 45
3.5 Análise e monitorização do meio filtrante 46
3.6 Análise e monitorização do processo de compostagem 47
3.7 Tratamento dos dados 47
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 49
4.1 Compostagem 49
4.1.1 Compostor 1 50
4.1.2 Compostor 2 56
4.2 Biofiltros 59
4.2.1 Biofiltro 1 59
4.2.2 Biofiltro 2 62
4.2.3 Biofiltro 3 65
4.2.4 Biofiltro 4 69
4.2.5 Biofiltro 5 72
4.3 Análise química 76
4.4 Análise olfatométrica 76
4.4.1 Compostor 81
4.4.2 Biofiltro A 87
4.4.3 Biofiltro B 93
4.5 Discussão comparativa dos resultados 100
5 CONCLUSÕES 105
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 109
ANEXOS 117
Lista de Quadros
Quadro 1: Efeito da concentração de odor no efeito sensorial (Epstein, 2011). ............... 9
Quadro 2: Intensidade de odor (Filho P. B., 1998). ....................................................... 10
Quadro 3: Propriedades dos compostos odoríferos associados a CVO [adaptado de
(Antunes R. M., 2006) & (Gonçalves, 2005)]. ............................................................... 15
Quadro 4: Descrição das principais vantagens e desvantagens nos vários métodos de
desodorização [ (Antunes R. M., 2006)& (Antunes & Mano, 2008) & (Rocha, 2007)&
(Balbinot, 2010)]. ........................................................................................................... 16
Quadro 5: Velocidade de biodegradabilidade de compostos voláteis (Cabral, 2003) &
(Kumar, Rahul, Kumar, & Chandrajit, 2011). ................................................................. 19
Quadro 6: Vantagens e desvantagens dos Biofiltros convencionais [(Vedova, 2008) &
(Kumar, Rahul, Kumar, & Chandrajit, 2011)]. ................................................................ 21
Quadro 7: Eficiência de remoção estimada para biofiltração de alguns dos compostos
odoríferos removidos [ (Antunes R. M., 2006) citando (EPA, 2003) & (Easter, Quigley,
Burrowes, & Witherspoon)]. ........................................................................................... 21
Quadro 8: Vantagens e desvantagens dos biopercoladores [(Vedova, 2008) & (Kumar,
Rahul, Kumar, & Chandrajit, 2011)]. .............................................................................. 23
Quadro 9: Taxa de eficiência de remoção para biopercoladores [ (Antunes R. M., 2006)
& (Malhautier, Gracian, Roux, Fanlo, & Cloirec, 2003) & (Easter, Quigley, Burrowes, &
Witherspoon)]. ............................................................................................................... 23
Quadro 10: Vantagens e desvantagens do Bioscubber [(Vedova, 2008) & (Kumar,
Rahul, Kumar, & Chandrajit, 2011)]. .............................................................................. 25
Quadro 11: Eficiência de remoção para bioreatores com biomassa em suspensão
(Antunes R. M., 2006) & (NGK Insulators, 2002) & (Easter, Quigley, Burrowes, &
Witherspoon)]. ............................................................................................................... 25
Quadro 12: Principais constituintes químicos de materiais naturais [adaptado de
(Martins, 2008)]. ............................................................................................................ 31
Quadro 13: Principais variáveis que promovem a emissão de odores [adaptado de
(Silvério, 2011), (Cordeiro, 2010), (Fernandes, 2012); (Epstein, 2011)]......................... 43
Lista de Figuras
Figura 1: Destino dos RU produzidos em Portugal continental, em 2012 (REA, 2013). ... 6
Figura 2: Contribuição em emissões de odor por fonte (BioCycle: composting, renewable
energy, sustainability , 2012). .......................................................................................... 6
Figura 3: Cavidade nasal e, em pormenor, as fibras nervosas do sistema olfativo
(Epstein, 2011). ............................................................................................................... 7
Figura 4: Sistema olfativo humano (Epstein, 2011). ........................................................ 8
Figura 5: Roda do odor (Epstein, 2011)......................................................................... 10
Figura 6: Avaliação do tom hedónico do odor (Filho P. B., 1998). ................................. 11
Figura 7: Esquema de medição por olfatometria dinâmica (Balbinot, 2010). ................. 12
Figura 8: Toxicidade do Sulfureto de hidrogénio (Silva M. B., 2008). ............................ 14
Figura 9: Faixa de aplicação das diferentes técnicas para o controlo de emissões
odoríferas (Vedova, 2008). ............................................................................................ 16
Figura 10: Contribuição de cada método para o tratamento de odores, em Portugal e na
Holanda (Saraiva, 2011). .............................................................................................. 18
Figura 11: Modelo do mecanismo de degradação dos compostos odoríferos pelos
microrganismos (Vedova, 2008). ................................................................................... 19
Figura 12: Esquema de uma configuração de um biofiltro (Balbinot, 2010). .................. 20
Figura 13: Configuração típica de um biopercolador (Balbinot, 2010). .......................... 22
Figura 14: Configuração típica de Bioscrubber (Vedova, 2008). .................................... 24
Figura 15: Distribuição em Portugal do Eucalyptus globulus (Plantas Invasoras em
Portugal) ....................................................................................................................... 32
Figura 16: Casca de eucalipto utilizada como meio de enchimento para biofiltro. ......... 32
Figura 18: Mapa de distribuição da giesta, em Portugal (UTAD, 2014). ........................ 33
Figura 17: Giesta na floresta (Pereira)........................................................................... 33
Figura 20: Distribuição do Tojo, em Portugal (UTAD, 2014). ......................................... 34
Figura 19: Representação do Tojo, Ulex europaeus (Floresamatxo, 2011). .................. 34
Figura 21: Protótipo para construção da instalação experimental.................................. 35
Figura 22: Compostor utilizado para o trabalho laboratorial e respetiva montagem e
enchimento. .................................................................................................................. 36
Figura 23: Sequência de montagem da rede de suporte do meio filtrante. .................... 37
Figura 24: Montagem da rede de suporte mais fina....................................................... 37
Figura 25: Ligação dos biofiltros em paralelo. ............................................................... 38
Figura 26: Montagem do sistema de humidificação gota-a-gota. ................................... 38
Figura 27: Montagem do sistema de ventilação. ........................................................... 38
Figura 28: Abertura de ligação entre o compostor e o biofiltro. ...................................... 39
Figura 29: Instalação laboratorial - resultado final. ........................................................ 39
Figura 30: Segunda fase do processo de compostagem, ao ar livre. ............................ 40
Figura 31: Termo higrómetro utilizado na experiência. .................................................. 41
Figura 32: Diagrama dos fatores condicionantes ao processo de compostagem [
(Cordeiro, 2010) citando (Cunha Queda, 1999)]. ........................................................... 42
Figura 33: Tubo Drager utilizado no ensaio experimental. ............................................. 44
Figura 34: Sistema de amostragem química. ................................................................ 44
Figura 35: Resíduos biodegradáveis introduzidos nos compostores. ............................ 50
Figura 36: Condensação da humidade no interior do compostor 1. ............................... 51
Figura 37: Evolução da temperatura no compostor 1. ................................................... 51
Figura 38: Lixiviado do compostor 1. ............................................................................. 52
Figura 39: Evolução do pH do lixiviado, correspondente ao compostor 1. ..................... 53
Figura 40: Curva típica da variação do pH ao longo do processo de compostagem
(Cordeiro, 2010). ........................................................................................................... 53
Figura 41: Humidade relativa do Composto 1. ............................................................... 54
Figura 42: Relação entre as dimensões das partículas e o tempo de compostagem
(Cordeiro, 2010). ........................................................................................................... 55
Figura 43: Compostor no exterior. ................................................................................. 55
Figura 44: Fase final do compostor 1 visivelmente com material em condições diferentes
das desejadas. .............................................................................................................. 56
Figura 45: Modificação do solo após a colocação do compostor, devido ao pH ácido do
lixiviado. ........................................................................................................................ 57
Figura 46: Evolução da temperatura no compostor 2. ................................................... 58
Figura 47: Composto com visível degradação da matéria orgânica, do compostor 2. ... 58
Figura 48: Material de enchimento do biofiltro 1. A) Casca de eucalipto cortada. B)
Material condicionado no interior do biofiltro. ................................................................ 60
Figura 49: Evolução da temperatura do Biofiltro 1. ........................................................ 61
Figura 50: Perfil da evolução da humidade do Biofiltro1. ............................................... 62
Figura 51: Casca de eucalipto mergulhada em água. .................................................... 63
Figura 52:Perfil de temperatura do Biofiltro 2. ............................................................... 63
Figura 53: Perfil da humidade relativa do biofiltro 2. ...................................................... 64
Figura 54: Casca de eucalipto no final do ensaio, com aspeto fibroso. ......................... 65
Figura 55: Quantidade de finos restantes no final do ensaio com a casca de eucalipto. 65
Figura 56: Giesta utilizada no Biofiltro 3. A) em bruto. B) giesta condicionada no biofiltro.
...................................................................................................................................... 66
Figura 57: Perfil de variação da temperatura no Biofiltro 3. ........................................... 66
Figura 58: Perfil de variação da humidade relativa no Biofiltro 3. .................................. 67
Figura 59: Aspeto final do meio filtrante do Biofiltro 3. ................................................... 68
Figura 60: Detalhe de material particulado, de cor rosada, da camada mais interna do
biofiltro 3. ...................................................................................................................... 68
Figura 61: Interior do tubo de suporte do biofiltro 3, no final do ensaio. ......................... 68
Figura 62: Quantidade de finos existente na desativação do Biofiltro 3. ........................ 69
Figura 63: Giesta utilizada no Biofiltro 4. ....................................................................... 70
Figura 64: Perfil da temperatura do Biofiltro 4. .............................................................. 70
Figura 65: Perfil da humidade relativa do Biofiltro 4....................................................... 71
Figura 66: Giesta no final da experiência, do biofiltro 4. ................................................ 72
Figura 67: Biofiltro 4 com bolor. ..................................................................................... 72
Figura 68: Tojo utilizado no Biofiltro 5. .......................................................................... 73
Figura 69: Perfil de variação da temperatura no Biofiltro 5. ........................................... 74
Figura 70: Perfil de variação da humidade relativa, do biofiltro 5. .................................. 74
Figura 71: Aspeto final do biofiltro 5. ............................................................................. 75
Figura 72: Finos registados no final do ensaio, para o Biofiltro 5. .................................. 75
Figura 73: Tojo com bolor.............................................................................................. 75
Figura 74: Composição do painel. ................................................................................. 77
Figura 75: Hábitos pessoais do painel. .......................................................................... 78
Figura 76: Análise ACP dos dados pessoais. ................................................................ 78
Figura 77: Análise ACP, grupos de indivíduos agregados. ............................................ 79
Figura 78: Análise ACP – caracterização das respondentes. ........................................ 80
Figura 79: Dendrograma correspondente aos dados pessoais. ..................................... 80
Figura 80: Deteção do odor. .......................................................................................... 81
Figura 81: Classificação da intensidade do odor. .......................................................... 81
Figura 82: Avaliação do odor. ........................................................................................ 82
Figura 83: Associação do odor para o compostor. ........................................................ 82
Figura 84: Associação do odor na classe Agressivo. ..................................................... 83
Figura 85: Análise ACP – compostor. ............................................................................ 84
Figura 86: Análise ACP – caracterização das respondentes, do compostor. ................. 85
Figura 87: Dendrograma, do compostor. ....................................................................... 85
Figura 88: Análise 2 ACP – compostor. ........................................................................ 86
Figura 89: Dendrograma análise 2, do compostor. ........................................................ 86
Figura 90: Deteção do odor para o Biofiltro A. ............................................................... 87
Figura 91: Intensidade do odor para o Biofiltro A. .......................................................... 87
Figura 92: Avaliação do odor para o Biofiltro A. ............................................................. 88
Figura 93: Associação do odor para o Biofiltro A. .......................................................... 88
Figura 94: Distribuição das respostas na classe Terra. ................................................. 89
Figura 95: Análise ACP – Biofiltro A. ............................................................................. 90
Figura 96: Análise ACP – caracterização das respondentes , do Biofiltro A. ................. 90
Figura 97: Dendrograma, do Biofiltro A. ........................................................................ 91
Figura 98: Análise 2 ACP, do biofiltro A. ........................................................................ 92
Figura 99: Caracterização das respondentes 2, do biofiltro A. ....................................... 92
Figura 100: Dendrograma 2, do Biofiltro A. ................................................................... 93
Figura 101: Deteção do odor para o Biofiltro B. ............................................................. 94
Figura 102: Intensidade do odor para o Biofiltro B. ........................................................ 94
Figura 103: Avaliação do odor para o Biofiltro B. ........................................................... 95
Figura 104: Associação do odor para o Biofiltro B. ........................................................ 95
Figura 105: Distribuição das respostas na classe Terra. ............................................... 96
Figura 106: Análise ACP, do Biofiltro B. ........................................................................ 96
Figura 107: Caracterização das respondentes, do Biofiltro B. ....................................... 97
Figura 108: Dendrograma, do Biofiltro B. ...................................................................... 97
Figura 109: Análise 2 ACP, do Biofiltro B. ..................................................................... 98
Figura 110: Caracterização das respondentes 2, do Biofiltro B. .................................... 99
Figura 111: Dendrograma 2, do biofiltro B. .................................................................... 99
Lista de Abreviaturas
µg Micrograma
ACP Análise às componentes principais
AGV Ácidos gordos voláteis
cm Centímetro
COV Compostos orgânicos voláteis
CVO Central de Valorização Orgânica
DL Decreto-Lei
EN European Standard
g Grama
kg Quilograma
m3 Metro cúbico
ºC Grau Celsius
ppm Partes por milhão
RU Resíduos urbanos
RUB Resíduos Urbanos Biodegradáveis
U.O. Unidades de odor
FCUP 1
Pesquisa de materiais com propriedades desodorizantes para gases oriundos de compostagem
1 Introdução
1.1 Definição do problema e relevância do tema
A relutância das populações na construção de certas infraestruturas industriais, perto
das suas habitações, está relacionada com as emissões de odores. Estações de
tratamento de resíduos (líquidos e sólidos), indústrias alimentares, petroquímicas,
indústrias de papel e celulose e as agroindústrias, são bons exemplos de fontes de
emissão de odores.
Associado a este fenómeno surgiu a expressão “Not in my back yard – Não no meu
quintal”, adotada por urbanistas norte-americanos, que demonstra a resistência das
populações à construção de projetos, na área envolvente às suas habitações. Devido ao
encurtamento das distâncias entre as áreas residenciais e industriais, bem como entre
áreas agrícolas e residenciais, as reclamações, preocupações com a saúde e litígios
com base em odores, são cada vez maiores (Cabral, 2003).
O comportamento incomodativo, na emissão de odores, não é só avaliado pela inalação
desagradável, como está também comprovado que afeta diretamente a saúde pública.
Foram registados casos de stress psicológico associado a insónias, perda de apetite e
mudanças de comportamento (Giuliano & Giuliano, 2002).
Pequenas concentrações de substâncias odoríferas têm elevada probabilidade de
serem emitidas, nas mais variadas atividades industriais. Apesar de diminutas, estas
concentrações são muitas vezes suficientes para afetar o sistema olfativo humano,
altamente sensível. É notório que a abrangência destes problemas é geralmente
limitada quanto ao espaço físico atingido e só persiste enquanto dura a produção de
emissões (Schwab, 2003 ).
O problema dos odores é bastante complexo pois os fatores influenciadores da geração
e proliferação dos mesmos são vários. Desta forma, a questão refugia-se no campo da
subjetividade e só é limitada segundo o Decreto-Lei nº 242/2001 e o Decreto-Lei
FCUP 2
Pesquisa de materiais com propriedades desodorizantes para gases oriundos de compostagem
nº181/2006, que vigoram em Portugal e impõe restriçoes à libertação de compostos
orgânicos voláteis. A nível europeu vigora a norma EN 13725 (Air quality –
determination of odour concentration by dynamic olfactometry) para determinar a
concentração de odores e avaliar o seu grau de incómodo.
Nesta linha de racicíonio, de consciência ambiental e saúde pública, surgem as
tecnologias de desodorização que têm por finalidade eliminar os compostos odoríferos
antes que estes sejam dispersos na atmosfera.
Existem vários métodos a fim de eliminar, ou reduzir de forma significativa, as emissões
odoríferas. Os processos físicos baseiam-se na transferência do poluente de uma fase
para outra, enquanto os processos químicos têm por base a oxidação ou formação de
precipitados. Já os processos biológicos consistem na transferência dos compostos
voláteis para uma fase líquida, seguida de uma degradação por microrganismos (Silva
M. B., 2008).
O tratamento biológico tem vindo a ser amplamente implementado devido aos seus
reduzidos custos quando comparados com as técnicas convencionais. Os processos
biológicos mais utilizados nesta área englobam os biofiltros, biofiltros humidificados
(biotrickling filter ou biopercoladores) e biofiltros com biomassa suspensa (bioscrubber).
Cada bioreator apresenta diferentes configurações que permite adaptar-se à realidade
pretendida (Vedova, 2008).
O funcionamento do biofiltro é simples e descrito como a passagem de afluente gasoso,
contendo compostos odoríferos que, devido à presença de uma comunidade microbiana
fixa no meio de enchimento do biofiltro, são absorvidos/adsorvidos pelos
microrganismos para os biodegradar (Kumar, Rahul, Kumar, & Chandrajit, 2011). Os
meios de enchimento atualmente aplicados resultam da combinação entre materiais
inertes como lascas de madeira, turfa ou plástico com materiais orgânicos.
A eficiência global do processo é influenciada por vários parâmetros, nomeadamente a
escolha adequada do meio de suporte (Saravanan, Rajasimman, & Rajamohan, 2013).
As propriedades intrínsecas dos materiais, como a porosidade, capacidade de retenção
de água e microrganismos, grau de colmatação e biodegradabilidade, são a base para o
sucesso do processo biológico. A indústria em Portugal que lida com a depuração de
odores vê-se, frequentemente, obrigada a importar o meio de enchimento para os seus
biofiltros. Esta problemática traduz-se num acréscimo de custos para as empresas.
FCUP 3
Pesquisa de materiais com propriedades desodorizantes para gases oriundos de compostagem
Neste âmbito, ao longo desta dissertação será feita referência aos processos biológicos
na depuração de odores, mais concretamente um estudo de materiais naturais,
amplamente distribuídos e que sejam capazes de purificar o ar proveniente de meios de
compostagem. Os materiais testados podem ser resíduos de outras indústrias, com
baixo valor de mercado e de fácil obtenção. Desta forma, pretende-se investigar meios
mais competitivos, que acarretem menos custos de manutenção e que promovam a
sustentabilidade.
1.2 Objetivos
O principal objetivo desta dissertação é encontrar materiais relativamente abundantes
em Portugal, de custo reduzido e que ofereçam boas condições de estabilidade de
suporte aos microrganismos, nos biofiltros. A partir desta pesquisa é possível evitar ou
minimizar a importação de material sintético e reduzir significativamente os custos
associados à importação traduzindo-se, assim, num impacte ambiental positivo devido à
reutilização de materiais sem grande valor económico. Após a seleção de materiais o
segundo objetivo consiste em ensaiá-los e perceber o seu comportamento depurador
em meios de compostagem. Por fim, outro objetivo é perceber qual ou quais os
parâmetros mais influenciadores no processo de biofiltração.
Para determinar a viabilidade de implementação a grande escala, dos materiais
selecionados para estudo, é necessário conhecer a eficiência de remoção de poluentes
para cada meio filtrante. Assim, neste trabalho foram ensaiados três poluentes e
avaliado o desempenho de cada material, ao longo do contato com os mesmos.
1.3 Metodologia
Tendo em vista os objetivos enunciados, foi efetuada uma pesquisa bibliográfica e
selecionado um conjunto de materiais com possível interesse para meio de suporte do
biofiltro, não descurando o conhecimento da realidade nacional e as exigências
operacionais a considerar.
Desta forma, foi desenvolvida uma infraestrutura laboratorial, para ensaio dos referidos
meios de suporte, através da implementação de uma unidade de compostagem
doméstica para produção de gases odoríferos. Esta infraestrutura engloba, ainda, um
sistema de monitorização e aquisição de dados.
A avaliação do desempenho dos biofiltros foi conseguida a partir da avaliação do seu
grau de saturação e quantificação química, quando em contato com os vários poluentes
provenientes da compostagem.
FCUP 4
Pesquisa de materiais com propriedades desodorizantes para gases oriundos de compostagem
Os resultados obtidos foram sujeito a uma cuidada análise de modo a concluir o
resultado da investigação.
1.4 Estrutura da tese
A dissertação está dividida em cinco capítulos. Neste primeiro capítulo é feita alusão à
problemática debatida, os objetivos, a metodologia e ainda a respetiva organização do
trabalho.
O capítulo 2 descreve o estado da arte em relação ao odor e às tecnologias de
desodorização existentes, com particular realce para a biodesodorização, área onde se
insere a temática da biofiltração.
O capítulo 3 descreve a metodologia adotada durante a execução do trabalho
experimental, bem como o design e preparação dos meios de suporte dos biofiltros, os
procedimentos de operação, os equipamentos de ensaio e os parâmetros analisados.
No capítulo 4 são apresentados os resultados obtidos nos ensaios com os compostos
odoríferos, e a sua respetiva discussão.
No capítulo 5 são feitas as considerações finais obtidas pela análise e discussão dos
resultados experimentais.
FCUP
Pesquisa de materiais com propriedades desodorizantes para gases oriundos de compostagem | 5
2 Estado da arte
Várias consequências advieram da revolução industrial e do crescimento exponencial da
população mundial, sendo um deles o aumento na produção de resíduos. Indiretamente
esta realidade traduz-se numa degradação geral da qualidade do ar, uma vez que as
estações de tratamento de resíduos e de águas residuais são infraestruturas recentes.
As operações relacionadas com a gestão de resíduos são potenciadoras de emissões
de odores, afetando a saúde das populações e o ambiente envolvente à infraestrutura
(Antunes & Mano, 2008). São frequentes as reclamações e associação de certas
indústrias a emissões de odores. Desta forma, a poluição do ar assumiu um papel
relevante no quotidiano das populações e muitas técnicas têm sido desenvolvidas no
sentido de reduzir as emissões gasosas. Das técnicas investigadas, a biofiltração tem
demonstrado ser uma tecnologia eficaz e economicamente viável (Baquerizo, et al.,
2005).
Atualmente, os RU recolhidos possuem um teor em matéria orgânica considerável. São
designados como Resíduos Urbanos Biodegradáveis e são definidos no DL nº152/2002,
de 23 de maio, como resíduos que podem ser sujeitos a decomposição anaeróbia ou
aeróbia, como, são exemplo, os resíduos alimentares, de jardim, papel e cartão. O
destino final deste tipo de resíduos é essencialmente a incineração ou a deposição em
aterro, pois as taxas da recolha seletiva (14,1% do total de resíduos produzidos em
2012, em Portugal continental) por habitante, quando comparada com as taxas da
recolha indiferenciada (85,9% do total de resíduos produzidos em 2012, em Portugal
continental), ainda são diminutas (REA, 2013).
No ano de 2012, do total de 4,528 milhões de toneladas de resíduos urbanos
produzidos, um pouco mais de metade dessa quantidade (54,5%) corresponde a
resíduos urbanos biodegradáveis. O aproveitamento dos RUB é inegável, com grandes
vantagens em termos de diminuição do volume a depositar em aterro, reaproveitamento
energético e valorização orgânica, por exemplo. Os resíduos biodegradáveis são os
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selecionados para processos de compostagem, que corresponderam a 15,7% (Figura 1)
dos resíduos urbanos produzidos em 2012 em Portugal (REA, 2013).
Figura 1: Destino dos RU produzidos em Portugal continental, em 2012 (REA, 2013).
Devido à natureza dos produtos tratados, uma Central de Valorização Orgânica também
é uma fonte de odores. Aqui, os odores têm origem nos gases ou vapores emitidos
pelos materiais durante o processo de compostagem e resultam, essencialmente, da
decomposição anaeróbia dos resíduos orgânicos (Silvério, 2011). Tendo em conta a
fonte de emissão de odores, a compostagem contribui com cerca de 27,1% do total de
emissões de odores ao longo do processo de tratamento de resíduos (Figura 2).
Figura 2: Contribuição em emissões de odor por fonte (BioCycle: composting, renewable energy, sustainability , 2012).
A resolução da problemática da emissão de odores envolve o conhecimento de certos
parâmetros, na fase de projeção das infraestruturas exemplos (Antunes & Mano, 2008).
Para uma essencial gestão do odor é indispensável, ao tratamento e controlo, a
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identificação e caracterização dos odores e uma previsão do seu transporte e
distribuição.
A principal subjetividade dos odores e a poluição do ar resume-se ao facto de este não
ser considerado uma substância poluente, mas ser uma propriedade do poluente.
2.1 Odor
O odor resulta do estímulo do sistema olfativo, sendo a substância que provoca o
estímulo designada de odorante. Embora as concentrações das substâncias que
provocam o estímulo olfativo sejam baixas, só uma concentração de 10 a 50 vezes
maior do que o valor limite de deteção permite a identificação da mesma pelos seres
humanos. Daí, frequentemente, o olfato apenas identifica a presença ou ausência de
odor, em vez de quantificar a concentração ou intensidade (Iowa State University, 2004).
A capacidade de detetar um odor é muito subjetiva, pois varia muito entre indivíduos e
as suas rotinas pessoais. As diferenças entre os indivíduos são, em parte, atribuídas à
idade, hábitos tabágicos, sexo e alergias. Em geral, o sexo feminino tende a apresentar
uma maior predisposição para deteção de odores, quer sejam eles agradáveis ou não.
Fisiologicamente, o olfato depende da interação entre o estímulo produzido pelo odor e
o epitélio olfativo. A membrana olfativa é uma área sensível, com cerca de 4 a 6 cm2 em
cada narina (Figura 3).
Figura 3: Cavidade nasal e, em pormenor, as fibras nervosas do sistema olfativo (Epstein, 2011).
As células nervosas, ou recetoras, são as primeiras a detetar o odor, e localizam-se no
epitélio. A área dos cílios estende-se ao longo da camada mucosa, aumentando o
potencial de receção da área. Por fim, as células recetoras transmitem impulsos para o
bolbo olfativo localizado na base frontal do cérebro. No bolbo, as fibras do nariz
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percorrem vários outros nervos em outras regiões do cérebro (Figura 4) (Iowa State
University, 2004).
Figura 4: Sistema olfativo humano (Epstein, 2011).
O processo de adaptação ao odor consiste na capacidade de tolerância ao mesmo. Em
geral, o tempo de adaptação é maior quando existe uma mistura de odores. A amónia e
o sulfureto de hidrogénio são odorantes e são produzidos através de processos
geradores de odores, em sistemas de tratamento de águas residuais, compostagem,
queima de carvão e operações de silvicultura (Shahmansouri, Taghipour, Bina, &
Movahedian, 2005). Ambos os compostos podem causar perdas olfativas, como
resultado da exposição prolongada. A amónia pode ainda afetar o sistema nervoso
central (Iowa State University, 2004). Desta forma, assume-se expressamente
necessário a depuração do ar em meios de compostagem de forma a não sujeitar as
populações e os trabalhadores da estação a níveis limites superiores ao recomendável.
A diferença entre os odores reside na mistura complexa de moléculas orgânicas ou
minerais voláteis com propriedades físico-químicas diferentes (Filho, Wolff, Carvalho,
Costa, & Ribeiro, 2000). Em regra, os problemas de odor mais comuns são causados
por misturas de compostos altamente voláteis, com limites de deteção muito baixos e
em concentrações no ar igualmente baixas (Zarook Shareefdeen, 2005).
A grande maioria das substâncias que produzem odor encontram-se no estado gasoso,
em condições de pressão e temperatura normais ou apresentam uma volatilidade
significativa. Os pesos moleculares destas substâncias situam-se, geralmente, entre 30
a 150 g/mol. Em regra, quanto mais baixo for o peso molecular de um composto maior é
a sua pressão de vapor, resultando numa maior probabilidade de emissão para a
atmosfera. As substâncias de maior peso molecular são normalmente menos voláteis,
daí apresentarem menos impacto na produção de odor (Silva, 2008).
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2.2 Unidade de odor
A sequência dos efeitos sensoriais devido a um aumento na concentração de um
odorante é descrita consoante a sua concentração, o seu nível e o seu efeito (Quadro
2).
Quadro 1: Efeito da concentração de odor no efeito sensorial (Epstein, 2011).
Concentração Nível Efeito
1 Deteção do odor
2 Reconhecimento do odor
3 Incomodo com o odor
4 Intolerância ao odor
5 Intolerância severa ao odor
6 Irritação
7 Tóxico
A quantidade de odor é expressa numa razão de diluição (D/T – dilution to threshold) e
não em concentração. A determinação da razão é realizada por um painel de oito a dez
indivíduos que expressam o número de diluições necessárias para que 50% do painel
ainda detete o odor. O motivo pelo qual não é feita uma caracterização pela
concentração, deve-se ao facto de este poder estar presente numa grande
concentração mas o seu efeito ser pouco percetível, sendo o contrário também válido. A
descrição da qualidade dos odores é demonstrada na Figura 5, onde são utilizados oito
descritores de odor para comparação (Epstein, 2011).
Os membros do painel cheiram a amostra e atribuem-lhe uma medida nominal (Filho P.
B., 1998).
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Figura 5: Roda do odor (Epstein, 2011).
A intensidade de odor é definida como a força relativa do odor em comparação com as
concentrações padrão, geralmente do n-butanol, diluído em diferentes concentrações de
água. A intensidade é expressa em ppm onde um valor elevado de butanol corresponde
a um odor forte e uma concentração mais baixa indica um odor mais fraco (Epstein,
2011). O painel de júri atribui para cada concentração encontrada uma intensidade de
odor que é apresentado no Quadro 2.
Quadro 2: Intensidade de odor (Filho P. B., 1998).
Concentração (g/L) Nível Intensidade do odor
0,001 1 Muito Fraco
0,01 2 Fraco
0,1 3 Médio
1 4 Forte
10 5 Muito Forte
Matematicamente, a relação entre a intensidade e a concentração é descrita pela
seguinte equação:
(Equação 1)
onde,
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I é a intensidade; C corresponde à concentração em massa do odorante (mg/m3); k e n
são constantes, diferentes para cada odor ou mistura especifica de odores.
A persistência do odor é um indicador da duração de permanência do odor e uma
indicação da taxa de diluição no meio envolvente. Pode ser quantificada e representada
como uma função de resposta do odor (Epstein, 2011).
A hedonicidade do odor consiste na agradabilidade do odor. Existem várias escalas
para avaliação deste parâmetro, como exemplo, a Figura 6, que representa o modelo de
McgGinley.
Figura 6: Avaliação do tom hedónico do odor (Filho P. B., 1998).
2.3 Métodos de determinação de odor
A determinação do odor, pelo sistema olfativo humano, é muito limitativa uma vez que,
para além de só reconhecer compostos numa gama restrita, o carácter de
agradabilidade é muito subjetivo. Desta forma, a determinação e consequente
quantificação do(s) composto(s) presentes necessitam de análises mais cuidadas e que
possam concluir valores confiáveis e padronizados. Outra propriedade que torna difícil a
quantificação dos odores surge pelo facto dos odores emitidos serem misturas de vários
compostos odorantes, constituindo uma mistura complexa, nem sempre fácil de decifrar
(Silva, 2008).
Os métodos quantitativos para a medição de odores baseiam-se na avaliação sensorial
olfativa, avaliações químicas ou através de sensores eletrónicos. Cada método é
selecionado consoante o objetivo a atingir (Silva J. C., 2011). Através do método de
avaliação sensorial olfatométrica pretende-se determinar a concentração do odor
(Figura 7). As unidades de medição do odor através da olfatometria dinâmica são as
unidades de odor por metro cúbico [U.O./m3] que numericamente se traduzem na razão
necessária para atingir o limiar de diluição do odor, ou seja, a concentração mínima
detetada por 50% do painel (Brattoli, Gennaro, Pinto, Loiotile, Lovascio, & Penza, 2011).
De forma análoga, a norma europeia EN 1375/2003 Air Quality – determination of odour
concentration by dinamic olfactometry sistematiza de forma uniforme, para toda a
comunidade europeia, a determinação da concentração de odores por olfatometria
dinâmica. Neste caso particular, é exigido ao painel uma sensibilidade treinada para a
unidade de odor que equivale a 123 µg/m3 de n-butanol.
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Figura 7: Esquema de medição por olfatometria dinâmica (Balbinot, 2010).
A grande vantagem da utilização deste método é a correlação direta entre a
concentração do odor e o estímulo do sistema olfativo humano decorrente do contato, o
que se mostra útil para avaliação do incómodo das populações.
Os métodos químicos têm por base a utilização de técnicas convencionais para a
identificação e quantificação das moléculas presentes numa amostra de gás odorífero.
Tem como grande vantagem a objetividade, repetibilidade e precisão (Cabral, 2003).
Uma técnica amplamente implementada, neste tipo de métodos, é a cromatografia
gasosa, onde também se pode acoplar o espectrómetro de massa, que determina as
substâncias presentes bem como a sua concentração. Contudo, uma das grandes
limitações da técnica é a gama de concentrações em que os compostos existem
ultrapassam o limite de deteção do equipamento. São, também, técnicas bastante
dispendiosas (Brattoli, Gennaro, Pinto, Loiotile, Lovascio, & Penza, 2011).
Muitas vezes utilizam-se ambos os métodos (quer a olfatometria dinâmica quer a
cromatografia gasoso/espectrómetro de massa) para um resultado mais consistente
(Cabral, 2003).
Outro equipamento referenciado na literatura é o nariz eletrónico. É um equipamento
eletrónico que permite a deteção automática e classificação de odores, onde o software
interpreta o sinal dos sensores, de recolha dos dados, pelo espetro medido
comparando-o com a sua base de dados (Balbinot, 2010).
2.4 Fontes de odores numa CVO
Numa Central de Valorização Orgânica, por lidar com resíduos biodegradáveis em
decomposição, ocorrem diariamente emissões de odores provenientes da degradação
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da matéria orgânica. Por outro lado, a libertação excessiva de odores pode indicar um
defeito no processo, daí ser tão importante a monitorização.
Uma vez que, durante este trabalho, a produção de odores se realizou com recurso à
compostagem doméstica é fundamental conhecer quais os fenómenos decorrentes
numa CVO e quais os compostos libertados. Assim, os principais compostos emitidos
por uma CVO, resultando em odores incomodativos de natureza mineral e orgânica, são
essencialmente compostos azotados e sulfurados como são o caso da amónia, sulfureto
de hidrogénio, mercaptanas e ácidos gordos voláteis (Gonçalves, 2005).
Anteriormente estes compostos já foram referenciados que existindo em concentrações
elevadas e uma exposição prolongada podem causar problemas de saúde, sendo
portanto essencial o seu tratamento.
O amoníaco é um gás incolor, resultado da decomposição de compostos azotados
como são exemplo a ureia e as proteínas. O seu odor característico é descrito como
pungente. O seu limite de deteção encontra-se entre 25 a 50 ppm [(Antunes R. M.,
2006) & (Gonçalves, 2005)].
O sulfureto de hidrogénio caracteriza-se pelo seu cheiro a ovos podres, forma-se em
condições de défices de oxigénio, presença de matéria orgânica e sulfato (Silva M. B.,
2008). Em condições anaeróbias, o sulfato é reduzido a sulfureto (S2-), seguido da
combinação com o hidrogénio formando o H2S. As equações seguintes demonstram
quimicamente o processo (Silvério, 2011).
2CH3CHOHCOOH + SO42- → 2CH3COOH + S2- + 2 H2O + 2 CO2 (Equação 2)
4H2 + SO42- → S2- + 4H2O (Equação 3)
S2- + 2H+ → H2S (Equação 4)
Uma das grandes particularidades do sulfureto de hidrogénio é ser detetável em
concentrações muito baixas (0,1 ppm), podendo mesmo assim causar problemas de
saúde (Figura 8).
Lactato Lactato Sulfato
Acetato Ião Sulfureto
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Figura 8: Toxicidade do Sulfureto de hidrogénio (Silva M. B., 2008).
Os compostos orgânicos sulfurados, das quais as metil-mercaptanas fazem parte,
resultam da decomposição em meios aeróbios ou anaeróbios que contêm enxofre. O
seu odor característico é a couves em decomposição. É um gás incolor e inflamável,
sendo um constituinte da degradação dos alimentos no corpo humano. A sua ocorrência
no ar resulta da sua emissão durante a degradação da matéria orgânica (Antunes R. M.,
2006). Por oxidação, as metil-mercaptanas originam o dissulfureto de metilo e o
sulfureto de dimetilo, igualmente de odor fétido e a couves podres, respetivamente
(Gonçalves, 2005). Bioquimicamente o metil-mercaptano pode ser hidrolisado em álcool
metílico e sulfureto de hidrogénio (Silvério, 2011).
Os ácidos gordos voláteis (AGV) caracterizam-se pelo seu odor pungente e a vinagre,
resultando de produtos em condições de falta de arejamento da massa de resíduos
orgânicos, em decomposição aeróbia. Este grupo é o principal causador de maus
odores em compostagem (Gonçalves, 2005).
O Quadro 3 resume as principais propriedades dos compostos odoríferos acima
enunciados.
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Quadro 3: Propriedades dos compostos odoríferos associados a CVO [adaptado de (Antunes R. M., 2006) & (Gonçalves,
2005)].
Composto odorífero Fórmula química
Peso molecular
[g/mol]
Limite de
deteção [ppm]
Limite de
deteção [µg/m3]
Descrição do odor
Compostos azotados
Amónia NH3 17,04 0,037 100-
11600 Picante
Compostos Sulfurados
Sulfureto de Hidrogénio
H2S 34,08 0,00047 0,76 Ovos podres
Metil-Mercaptanas
CH3SH 48,01 0,0011 0,003 –
38
Couve ou alho em
decomposição
Sulfureto de dimetilo
(CH3)2S 62,14 0,001 0,34 –
1,1 Vegetais em
decomposição
Dissulfureto de dimetilo
(CH3)2S2 94,20 1,1 46 Putrefação
AGV
Acético CH3COOH 60,05 0,025 –
6,5 43 Vinagre
Butírico C3H7COOH 88,11 0,0004 -
3 0,35 – 86 Ranço
2.5 Tratamento de odores – Desodorização
Existem várias medidas que podem ser tomadas na depuração do ar, entre elas é
possível escolher entre os métodos químicos, físicos e biológicos. A aplicação destes
métodos destina-se à remoção de compostos odoríferos presentes no ar em atmosferas
ocupacionais, interiores ou abertas. Cada método apresenta vantagens e desvantagens,
sendo que o método ótimo adapta-se melhor à desodorização e às condições de
equipamento, em causa (Takagi, Tanaka, Kamori, & Aritome, 1996).
O presente trabalho incide concretamente sobre os métodos biológicos sendo que será
dado especial ênfase a este tipo de tratamento.
A maioria dos métodos físicos e químicos foram desenvolvidos durantes as últimas
décadas, culminando no seu profundo conhecimento e ampla aplicação, enquanto os
métodos biológicos têm vindo a ser alvo de aprimoramento do processo. No Quadro 4
são demonstradas as principais tecnologias de controlo de emissões odoríferas, assim
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Pesquisa de materiais com propriedades desodorizantes para gases oriundos de compostagem | 16
como as suas principais características, vantagens e desvantagens (Chernicharo,
Stuetz, Souza, & Melo, 2010).
Muito embora existam várias técnicas para o controlo de emissões odoríferas, a seleção
em particular, ou a combinação entre várias técnicas, depende do caudal do gás e da
concentração do gás odorífero afluente (Chernicharo, Stuetz, Souza, & Melo, 2010). A
Figura 9 demonstra a gama típica de aplicação das várias tecnologias consoante a
concentração do gás.
Figura 9: Faixa de aplicação das diferentes técnicas para o controlo de emissões odoríferas (Vedova, 2008).
Segundo (Antunes & Mano, 2008) e (Rocha, 2007) os métodos, atualmente, mais
utilizados na desodorização de afluentes odoríferos são a adsorção gás-líquido,
adsorção gás-sólido e o tratamento biológico (Quando 4).
Quadro 4: Descrição das principais vantagens e desvantagens nos vários métodos de desodorização [ (Antunes R. M., 2006)& (Antunes & Mano, 2008) & (Rocha, 2007)& (Balbinot, 2010)].
Tecnologia Descrição do processo Vantagens Desvantagens
Adsorção gás-líquido
Também designada de lavagem química promove o contacto entre as duas fases de estado para que os compostos odoríferos sejam adsorvidos pelo líquido.
Apto a variações de concentração do afluente;
Comprovada eficiência de adsorção de alguns compostos;
Capaz de operar com grandes volumes de ar eficazmente.
Os gases adsorvidos devem ser sujeitos a tratamento caso não haja recirculação;
Possível ocorrência de volatilização dos compostos químicos do líquido de lavagem e consequente saída com o ar tratado;
Custos de manutenção relativamente altos;
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Necessita de pré-filtro;
Não é bem adaptado à remoção de COV, especialmente de compostos com baixa solubilidade;
Adsorção gás-sólido
O gás odorífero é forçado a atravessar um meio filtrante constituído por um material sólido adsorvente capaz de reter e fixar na sua superfície os compostos odoríferos.
Eficácia comprovada e consistente para vários compostos odoríferos;
Possibilidade de aumento da adsorção por adição de aditivos químicos;
Baixo investimento.
O adsorvente satura facilmente pelo que é mais vantajoso na aplicação de ar odorífero mais diluído;
A regeneração pode ser dispendiosa, difícil e morosa;
As poeiras e humidade no ar podem colmatar o material adsorvente;
O destino final dos adsorventes e subprodutos podem ser um problema.
Tratamento Biológico
Baseiam-se na decomposição de compostos odoríferos presentes num fluxo de ar poluído realizada através de microrganismos em meio aquoso.
Apto a tratar uma vasta gama de compostos odoríferos;
Não necessita de agentes químicos;
Comprovada eficácia para tratamento de COV’s;
Baixo investimento e manutenção.
Necessita de grandes áreas de implementação;
Pouco apto a alterações no processo;
Necessidade de controlo permanente de vários parâmetros.
2.5.1 Tratamento Biológico
Ao longo das últimas décadas, grandes quantidades de poluentes industriais foram
emitidos para o ambiente causando problemas de poluição do ar. Devido ao enorme
grau de toxicidade e capacidade de acumulação desses poluentes, a deterioração
ambiental e qualidade do ar tornaram-se assuntos suscitáveis de regulamentação
legislativa e de investigação de metodologias, menos impactantes e economicamente
tão viáveis como as tradicionais. Neste campo surge a biofiltração que têm demonstrado
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ser economicamente viável, consistente e eficaz no tratamento e controlo de emissões
gasosas [ (Kumar, Rahul, Kumar, & Chandrajit, 2011) & (Vedova, 2008)].
Inicialmente, os biofiltros foram projetados para o tratamento de águas residuais. Como
é possível aferir na Figura 10 a Holanda, muito antes de Portugal, recorria
maioritariamente aos processos biológicos para o tratamento de odores com 78% do
total dos processos utilizados, enquanto Portugal, anos mais tarde, ficava ainda aquém,
na aplicação deste método.
Figura 10: Contribuição de cada método para o tratamento de odores, em Portugal e na Holanda (Saraiva, 2011).
O sistema de controlo de odores de uma instalação de compostagem é,
predominantemente, a biofiltração. Este sistema é aplicado em áreas ou em condições
em que o ar pode ser confinado e tratado. Raramente se recorre a processos químicos
(Epstein, 2011).
O princípio básico da biofiltração consiste na passagem dos compostos químicos
odoríferos, presentes no fluxo de gás, através de um meio filtrante colonizado com
microrganismos aeróbios ativos. Apesar de ser uma tecnologia relativamente simples, a
sua otimização depende diretamente de vários parâmetros operacionais e da seleção
mais apropriada do material de suporte, da comunidade microbiana (A. Barona, 2004).
O mecanismo de degradação dos compostos odoríferos, ilustrado na Figura 11,
compreende inicialmente a dissolução dos gases em água, onde as substâncias
odoríferas serão adsorvidas e absorvidas, pelos microrganismos. Seguidamente, os
compostos odoríferos absorvidos são oxidados e decompostos pelas microbiologia
existente, e onde as bactérias adquirem energia pela oxidação dos compostos
odoríferos (Takagi, Tanaka, Kamori, & Aritome, 1996).
O processo de biodegradação pode ser descrito, em termos de reação química, como
(Selvi B. Anit):
Poluente orgânico + O2 → CO2 + H2O + Calor + Biomassa (Equação 5)
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Figura 11: Modelo do mecanismo de degradação dos compostos odoríferos pelos microrganismos (Vedova, 2008).
O papel da água é fundamental para o desenvolvimento do processo, facto que
fundamenta a razão pela qual a humidade é considerada um parâmetro tão importante
na regulação dos sistemas de biofiltração. Além disso explica, também, a variação da
eficiência do processo que diminui à medida que a humidade também diminui.
Como as emissões odoríferas resultam de matéria orgânica em decomposição, ou seja,
geradas através de processos biológicos, estas são consideradas também
biodegradáveis. A biodegradabilidade equivale à degradação dos processos biológicos
naturais de um composto e depende da estrutura química que o constitui. As taxas de
remoção e oxidação são função da biodegradabilidade e reatividade das emissões
gasosas (Silvério, 2011).
Segundo (Kumar, Rahul, Kumar, & Chandrajit, 2011) a biodegradabilidade do composto
pode ser lenta ou rápida dependendo da química que o constitui. O Quadro 5 faz a
distinção entre a velocidade de biodegradação para vários compostos (Cabral, 2003).
Quadro 5: Velocidade de biodegradabilidade de compostos voláteis (Cabral, 2003) & (Kumar, Rahul, Kumar, & Chandrajit, 2011).
Velocidade de
biodegradabilidade Compostos
Alta Álcoois, aldeídos, cetonas, ácidos orgânicos, aminas,
mercaptanas, H2S, NOx, SO2, HCl, NH3, PH3, SiH4, HF
Baixa Hidrocarbonetos, fenóis
Muito baixa Hidrocarbonetos halogenados, hidrocarbonetos
poliaromáticos, CS2
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Apesar dos processos biológicos terem todos por base a degradação dos poluentes por
uma comunidade microbiana, o equipamento necessário ao processo pode adquirir
diferentes configurações, que diferem pela alimentação da humidificação do sistema
(Vedova, 2008), complexidade, parâmetros de controlo e volume ocupado (Kumar,
Rahul, Kumar, & Chandrajit, 2011). Assim, existem três configurações possíveis: os
biofiltros convencionais, os biopercoladores e os bioscrubbers.
2.5.1.1 Biofiltro
O biofiltro consiste num reator habitado por microrganismos, através do qual o ar
odorífero atravessa, geralmente em sentido ascendente (McNevin & Barford, 2000). A
biomassa está fixa, ao longo de todo o processo, ao meio de enchimento, formando um
biofilme, em fase aquosa (Balbinot, 2010). Como a alimentação de água não é contínua,
isto implica uma escolha seletiva no material de enchimento para o biofiltro. Motivo pelo
qual serem muitas vezes escolhidos suportes orgânicos que retêm os nutrientes e a
humidade (Vedova, 2008). Este tipo de configuração é a mais simples e foi a primeira a
ser projetada para a remoção de odores (Vedova, 2008) (Figura 12).
Figura 12: Esquema de uma configuração de um biofiltro (Balbinot, 2010).
Os parâmetros operacionais mais importantes de monitorização, nesta configuração de
reator, são a composição e concentração do ar odorífero, a temperatura, a humidade, o
pH, a disponibilidade em oxigénio e nutrientes, tempo de retenção, a compactação do
meio filtrante e a distribuição do ar odorífero [(Antunes R. M., 2006) citando
(USEPA,2003)].
As vantagens e as desvantagens deste tipo de reator são apresentadas no Quadro 6.
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Quadro 6: Vantagens e desvantagens dos Biofiltros convencionais [(Vedova, 2008) & (Kumar, Rahul, Kumar, &
Chandrajit, 2011)].
Reator Vantagens Desvantagens
Biofiltro Convencional
Operação simples;
Baixos custos de investimento e manutenção;
Eficaz no tratamento de odores;
Boa eficiência na remoção de compostos com baixa solubilidade.
Rápida degradação do meio filtrante;
Sensível a variações climáticas;
Impossibilidade de controlo do pH e nutrientes;
Excesso de biomassa como subproduto.
O objetivo da aplicação deste tratamento de odores é a remoção dos compostos
odoríferos em que, tal como apresentado no Quadro 7, as taxas de eficiência de
remoção estimadas são superiores a 80% no caso do amoníaco e superior a 95% para
o sulfureto de hidrogénio. De ressalvar que a remoção de odores, através deste
processo, é superior a 80% o que constitui uma grande vantagem.
Quadro 7: Eficiência de remoção estimada para biofiltração de alguns dos compostos odoríferos removidos [ (Antunes R.
M., 2006) citando (EPA, 2003) & (Easter, Quigley, Burrowes, & Witherspoon)].
Parâmetro Eficiência de remoção (%)
Amoníaco (NH3) ˃ 80
Aminas ˃ 60
Sulfureto de hidrogénio (H2S) ˃ 95
Mercaptanas e compostos sulfurados reduzidos ˃ 90
Compostos orgânicos voláteis ˂ 90
Odor ˃ 80
2.5.1.2 Biopercolador
Também referidos por lavadores biológicos, os biopercoladores têm como principal
característica a circulação contínua da fase líquida. Os mesmos princípios dos biofiltros
convencionais são também corretos para este tipo de reator, contudo a contínua
alimentação de humidade implica condições de configuração diferentes.
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Comparativamente aos biofiltros convencionais apresentam maior rendimento no
tratamento de compostos que originam ácidos como subprodutos, como é o caso do
H2S. Isto justifica a sua grande aplicabilidade em processos que originam grandes
concentrações de sulfureto de hidrogénio. E muito embora os custos de investimento
sejam maiores a longo prazo são preferíveis.
Como a humidade é sempre garantida, os materiais filtrantes usados neste tipo de
reator são de origem sintética e inertes como são exemplos cerâmicos, plásticos,
rochas, cascalho e vidro [(Vedova, 2008) & (EPA, 2003)]. A recirculação da água
promove o desenvolvimento e o crescimento microbiano (Silva M. B., 2008).
A Figura 13 ilustra esquematicamente um biopercolador e os seus componentes.
Figura 13: Configuração típica de um biopercolador (Balbinot, 2010).
A grande desvantagem deste tipo de bioreator é a necessidade de fornecimento de
nutrientes à biomassa, uma vez que o meio filtrante não consegue colmatar essa
necessidade.
Comparativamente aos biofiltros convencionais os lavadores biológicos permitem o
controlo de parâmetros essenciais à operação, tais como o pH, a temperatura e a
composição mineral da biomassa. Os grandes problemas destes reatores envolvem a
degradação do meio filtrante, pois a biomassa pode crescer rapidamente
comprometendo a eficiência de todo o processo. O Quadro 8 faz uma síntese entre as
principais vantagens e desvantagens dos biopercoladores.
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Quadro 8: Vantagens e desvantagens dos biopercoladores [(Vedova, 2008) & (Kumar, Rahul, Kumar, & Chandrajit,
2011)].
Reator Vantagens Desvantagens
Biopercolador
Configuração simples e
flexível;
Possibilidade de controlo
de parâmetros de operação
(pH, temperatura, etc.);
Elevada capacidade de
remoção de H2S;
Melhor capacidade de
adaptação dos
microrganismos;
Capacidade de tratamento
de produtos ácidos gerados
pelos COV;
Rejeição de sub-produtos e
substâncias tóxicas.
Adsorção pode ser um passo
determinante na evolução do
processo;
Colmatação do meio filtrante devido
ao crescimento excessivo da
biomassa;
Material filtrante necessita de
substituição;
Configuração mais complexa e com
maiores custos de investimento e
manutenção em comparação com os
biofiltros convencionais.
As taxas de eficiência de remoção são apresentadas no Quadro 9 para este tipo de
bioreator, mostrando-se mais eficiente na remoção de amoníaco e de odores, em
comparação com os biofiltros convencionais.
Quadro 9: Taxa de eficiência de remoção para biopercoladores [ (Antunes R. M., 2006) & (Malhautier, Gracian, Roux,
Fanlo, & Cloirec, 2003) & (Easter, Quigley, Burrowes, & Witherspoon)].
Parâmetro Eficiência de remoção (%)
Amoníaco (NH3) ˃ 95
Aminas -
Sulfureto de hidrogénio (H2S) ˃ 95
Mercaptanas e compostos sulfurados reduzidos 80 - 90
Compostos orgânicos voláteis -
Odor ˃ 90
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2.5.1.3 Bioscrubber
Os bioscrubbers (Figura 14) são reatores caracterizados pelo processo se desenrolar
em duas instalações diferentes. Além disso, diferenciam-se das restantes configurações
porque os microrganismos encontram-se livremente suspensos, na fase líquida.
Este bioreator surge como um aprimoramento dos biopercoladores, para aumentar a
capacidade de absorção de poluentes no interior do líquido e prolongar o tempo de
contato, entre os microrganismos e os poluentes (EPA, 2003). A sua grande aplicação
existe para poluentes muito solúveis, com baixa volatilidade e biodegradabilidade lenta
(Silva M. B., 2008) citando (Belli et al, 2001).
A técnica de biolavagem realiza-se, primeiramente, na unidade de absorção onde as
substâncias orgânicas presentes no ar são absorvidas e transferidas para a fase
aquosa. Posteriormente, a fase líquida arrasta os poluentes transferindo-os para o
bioreator onde, por ação dos microrganismos, os compostos são oxidados [ (Vedova,
2008) & (Silva M. B., 2008)].
Figura 14: Configuração típica de Bioscrubber (Vedova, 2008).
O Quadro 10 sintetiza as principais vantagens e restrições da aplicação dos
bioscrubbers.
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Pesquisa de materiais com propriedades desodorizantes para gases oriundos de compostagem | 25
Quadro 10: Vantagens e desvantagens do Bioscubber [(Vedova, 2008) & (Kumar, Rahul, Kumar, & Chandrajit, 2011)].
Reator Vantagens Desvantagens
Bioscrubber
Requer volumes pequenos;
Bom controlo do processo;
Adaptado para grandes
concentrações de poluentes;
Boa estabilidade;
Configuração bem conhecida.
Envolve elevados custos de
investimento e manutenção;
Grande produção de biomassa;
Trata apenas compostos solúveis;
Difícil de operar e monitorizar;
Possível saída dos
microrganismos do reator.
A eficiência de remoção para este tipo de bioreator é apresentado no Quadro 11, onde
é, ainda, feita uma distinção consoante o tipo de bolha de transporte dos compostos
odoríferos.
Quadro 11: Eficiência de remoção para bioreatores com biomassa em suspensão (Antunes R. M., 2006) & (NGK
Insulators, 2002) & (Easter, Quigley, Burrowes, & Witherspoon)].
Parâmetro Eficiência de remoção (%)
Bolha fina Bolha média
Amoníaco (NH3) - ˃ 90
Aminas - -
Sulfureto de hidrogénio (H2S) ˃ 99,5 85 – 92
Mercaptanas e compostos sulfurados reduzidos - -
Compostos orgânicos voláteis - -
Odor ˃ 99,5 90 – 95
2.5.2 Fatores que influenciam o tratamento biológico
Algumas variáveis como temperatura, pH, disponibilidade em oxigénio, nutrientes e teor
em humidade, por exemplo, limitam o desenvolvimento da atividade microbiana. Desta
forma, os bioreatores destinados ao tratamento de compostos odoríferos deverão
fornecer condições favoráveis para um crescimento adequado da biomassa. Isto implica
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Pesquisa de materiais com propriedades desodorizantes para gases oriundos de compostagem | 26
uma seleção minuciosa dos materiais que irão interferir na reação de absorção e a
monitorização de certos fatores, de modo a garantir as condições ideias. Muitos destes
parâmetros estão diretamente relacionados com as propriedades do meio filtrante
(kumar, V.Sridevi, N.Harsha, lakshmi, & K.Rani, 2013). O não ajustamento dos
parâmetros implica um decréscimo na eficiência de remoção dos compostos
pretendidos (Silvério, 2011).
O método biológico consiste, essencialmente, em duas etapas: a primeira a adsorção
dos contaminantes ao ar e, posteriormente, a sua biodegradação devido à atividade
microbiana que se desenvolve no meio filtrante, numa película designada por biofilme
(Tymczyna, Chmielowiec-Korzeniowska, & Saba, 2004). Isto significa que o material de
enchimento funcionará como “a casa” da biomassa, envolvendo todos os outros
parâmetros da biofiltração, pois é lá que se irá desenrolar a bio-oxidação.
2.5.2.1 Meio filtrante
O material filtrante deve ter capacidade de fornecer e armazenar nutrientes, humidade,
pH com capacidade tampão, temperatura estável, grande área superficial para
maximizar a capacidade de adsorção e elevada percentagem de poros para maximizar
o tempo de contato (Akdeniz, Janni, & Salnikov, 2011).
Os materiais de origem orgânica são historicamente utilizados como meio filtrante,
embora nos últimos anos os materiais sintéticos tenham demonstrado eficácia na
depuração de gases (Hudock, 2007).
Sendo o objetivo desta dissertação a pesquisa de novos materiais filtrantes, estas
propriedades foram tidas em consideração aquando da escolha dos materiais alvo de
teste, assim como a sua disponibilidade e baixo custo.
Foi ainda tido em consideração o tempo de vida útil do meio, que depende das
características do próprio meio filtrante e das condições operacionais. Também a troca
do leito pode ser uma tarefa complicada e morosa que implique a paragem do processo
durante vários dias, pelo que este aspeto deve ser alvo de atenção.
2.5.2.2 Humidade
A humidade é considerada, por vários autores, o parâmetro fundamental do processo de
biofiltração. A humidade é responsável pela circulação de oxigénio e nutrientes até aos
microrganismos assim como é essencial para a sua sobrevivência. É ainda necessária à
ocorrência da adsorção e oxidação. O seu controlo assume assim um grande destaque
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no que toca à eficiência do processo. É difícil de regular mas, o seu valor ótimo situa-se
entre os 40 – 65% consoante o tipo de material de enchimento (Converti & Zilli, 1999).
Se a humidade estiver em valores mais baixos do que os indicados poderá ocorrer
colmatação do meio, diminuição da atividade microbiana, formação de canais
preferenciais que reduzem o tempo de residência dos poluentes e aumento dos gastos
energéticos (Converti & Zilli, 1999). Por outro lado, o excesso em água promove a
oclusão dos poros do material filtrante, reduzindo o tempo de residência e afetando
diretamente a eficiência do processo que, por sua vez, afeta a distribuição de oxigénio e
favorece a criação de zonas anaeróbias causadoras de maus odores.
2.5.2.3 pH
O estudo do valor de pH faz uma estimativa às condições de arejamento que existem no
biofiltro, porque o efeito do pH nos processos biológicos resulta, de forma indireta, da
sua atividade e da velocidade das reações enzimáticas (Converti & Zilli, 1999). O valor
de pH pode variar entre 5 e 9 mas, os valores ótimos do processo, estão entre 6 e 8. Os
problemas advindos do abaixamento do pH podem ser corrigidos com adição de cal ou
derivados.
2.5.2.4 Porosidade
A porosidade resulta do processo de degradação da matéria orgânica, que ocorre
naturalmente, ao longo do tempo. Durante a degradação da matéria orgânica são
libertadas partículas mais finas que podem entupir os canais de ventilação e, assim,
limitar o fluxo de ar. O meio de enchimento deve ter uma porosidade elevada e ser
constituído por partículas de dimensões uniformes, igualmente com uma elevada
superfície especifica. O valor ótimo para a porosidade encontra-se entre 35 e 50% (Silva
J. C., 2011).
2.5.2.5 Temperatura
A temperatura influencia o crescimento microbiano através dos seus efeitos sobre a
atividade enzimática e vários processos metabólicos. Desta forma, é recomendável que
a gama de temperatura no biofiltro seja inferior a 40ºC, para um valor ótimo de 35ºC.
As temperaturas elevadas destroem a biomassa, reduzindo a eficiência da absorção e
adsorção e aumentam a volatilidade dos compostos odoríferos. No outro extremo, as
temperaturas mais baixas, inibem a atividade microbiana e a consequente
biodegradação dos compostos (Silvério, 2011).
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A manutenção da temperatura deverá considerar, também, a contribuição do calor
produzido pela atividade biológica, sendo que a monitorização deste parâmetro é vital
para o bom desempenho do biofiltro (Liao, Tian, Zhu, Chen, & Wang, 2008).
2.5.2.6 Nutrientes
A água é o vetor responsável por fazer chegar os nutrientes a toda a área do biofiltro.
No entanto, por vezes existe a necessidade de fornecer, de forma espaçada no tempo,
nutrientes para colmatar défices de substâncias essenciais à microbiologia. A adição
contínua de nutrientes não é recomendável porque promove o crescimento exponencial
da biomassa que pode colmatar o leito.
A monitorização dos vários parâmetros, em gamas de valores ótimos ou
recomendáveis, viabiliza o melhor desempenho da comunidade microbiana. O controlo
do pH, humidade, temperatura, ausência de compostos tóxicos e nutrientes, permite o
desenvolvimento de condições favoráveis às atividades metabólicas, garantindo a
eficiência na remoção. No Quadro I, no anexo I, são resumidos os parâmetros
necessários ao dimensionamento e operação para cada tipo de bioreator de forma a
conseguir-se maior rentabilidade dos processos biológicos.
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3 Materiais e Metodologia de Trabalho
A elaboração de um dispositivo experimental com vista à depuração de compostos
odoríferos por materiais naturais envolve, antecipadamente, uma avaliação da
disponibilidade e caracterização desses mesmos materiais. Por forma a se cumprir as
metas delineadas, o ensaio laboratorial exige a definição das condições do ensaio, um
inventário do equipamento necessário e a escolha do método de registo dos dados
obtidos.
A projeção e montagem de um dispositivo experimental de biofiltração constituem numa
das etapas mais importantes na demonstração da capacidade que certos materiais
naturais têm em purificar o ar quando estes estão carregados de compostos odoríferos.
De forma a concretizar os objetivos propostos nesta dissertação, efetuou-se uma
pesquisa de possíveis materiais naturais que funcionassem como meios filtrantes num
sistema de biofiltração. Selecionou-se o método de avaliação da capacidade de
remoção e quais os gases com maior contributo para emissões odoríferas.
A escolha dos materiais teve por base a sua disponibilidade e abundância em Portugal,
o seu valor económico, o seu tempo de vida útil e uma necessidade de manutenção
reduzida. Estes foram os fatores considerados mais importantes na gestão de um meio
filtrante comparativamente à situação atual vivida em empresas que lidam diretamente
com esta problemática. Foi ainda considerado o potencial de reutilização de materiais
considerados como resíduos de outras indústrias e que, consequentemente, têm como
destino final a incineração ou deposição em aterro. Depois de estabelecidos estes
parâmetros, e analisando as características intrínsecas dos materiais, avaliou-se o teor
em humidade e lenhina. No decorrer da pesquisa bibliográfica este parâmetro foi
referido como condicionante na longevidade do material. Modelos matemáticos
comprovados sugerem que quanto menores forem os teores de humidade e lenhina
mais rapidamente o material secará deixando de efetuar o processo de absorção dos
compostos odoríferos. Por fim, este foi considerado o último crivo na seleção dos
materiais.
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Para a avaliação da eficiência dos biofiltros recorreu-se, mais concretamente, à
compostagem doméstica, para a produção dos gases odoríferos. Na impossibilidade de
monitorizar todos os compostos libertados na compostagem selecionaram-se a amónia,
o sulfureto de hidrogénio e o sulfureto de dimetilo, como sendo os maiores contribuintes
na produção de maus odores, na área envolvente à instalação. Foram também
escolhidos por serem gases com limites de emissão restritos e causadores de
problemas de saúde publica, quando mal monitorizados.
Para determinar a concentração dos gases selecionados gerados na compostagem e
libertados após a passagem pelos biofiltros, utilizaram-se tubos colorimétricos que, na
presença no ar da substância, no local de amostragem, mudam a sua cor e
quantificando numa escala a concentração da mesma.
Em paralelo, e à semelhança do que ocorre na indústria, foram realizadas análises
olfatométricas, onde um painel de indivíduos qualificou a sua resposta ao odor, quando
em contato com os gases libertados na compostagem e nos diferentes biofiltros. Esta
técnica assume um papel importante pois, não é só interessante avaliar a redução da
concentração dos compostos, como também avaliar a perceção da redução ao odor ao
longo do processo.
3.1 Escolha dos meios de enchimento
Para a escolha adequada do material de enchimento do biofiltro foi realizada uma
pesquisa bibliográfica dos materiais já testados em processos de biodesodorização,
assim como materiais com propriedades idênticas às existentes e que, alvo de um
estudo mais aprofundado, os possam substituir. Resumidamente os materiais
selecionados tinham de cumprir, no todo ou parcialmente, as seguintes premissas:
Disponibilidade e abundância no país;
Valor económico reduzido ou nulo;
Tempo de vida útil longo;
Reduzida manutenção;
Capacidade de alojar microrganismos e reter humidade;
Elevada área superficial;
Poderem ser desperdícios de outras indústrias;
Baixa biodegradabilidade;
Serem materiais que ainda não foram testados.
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O Quadro 12 apresenta uma síntese das principais propriedades de certos materiais,
que auxiliaram na escolha final dos materiais testados. Desta forma, e consolidando
todo os dados recolhidos, foram selecionados como meios de enchimento: casca de
eucalipto, giesta e tojo (Figura 16, Figura 17 e Figura 19).
Quadro 12: Principais constituintes químicos de materiais naturais [adaptado de (Martins, 2008)].
Material Solúveis Hemicelulose Celulose Lenhina Norg SV
Casca de Eucalipto 29,36 19,00 46,20 5,53 0,17 92
Pinho 7,45 16,77 50,48 25,38 0,09 99,00
Feto 38,10 15,95 29,85 15,56 1,09 91,55
Silva 43,14 18,92 26,66 11,38 0,85 93,86
Giesta 32,82 17,98 34,66 14,94 1,79 98,14
Tojo 19,84 22,64 41,84 15,98 0,95 97,99
Casca de Pinho 24,64 11,18 25,54 39,08 0,18 99,25
Grainha 6,17 12,11 11,90 69,90 2,61 99,37
Carqueja 36,13 14,04 26,97 23,47 1,15 98,50
Vide 25,03 26,31 36,65 12,30 0,76 96,82
Faia 7,94 26,26 55,82 10,62 0,12 93,86
Cerejeira 41,93 18,29 22,76 17,40 1,43 93,33
P. Aveia 26,85 32,29 36,57 4,45 0,54 93,67
Eucalipto 42,40 18,50 25,62 13,75 1,22 94,56
Engaço de uva 20,06 15,52 29,14 34,97 1,67 94,84
Macieira 35,85 22,90 26,73 14,92 1,13 94,96
Laranjeira 30,22 21,19 36,21 12,69 0,87 93,07
O eucalipto (Eucalyptus globulus) é uma das espécies mais comuns e com maior
expressão económica em Portugal. Assume-se no país como uma espécie invasora
(Marchante, Marchante, & Freitas, 2005).
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A sua existência no país é amplamente distribuída no continente, no arquipélago dos
Açores (ilha de São Miguel, Santa Maria, Terceira, Graciosa, Faial, Flores) e no
arquipélago da Madeira.
Pela visualização do Quadro 12 é possível verificar que a casca de eucalipto não
cumpre o requisito de baixa biodegradabilidade, contudo é um material que tem
suscitado bastante interesse, por ser muito abundante e residual. A casca de eucalipto
foi escolhida por ser também uma espécie exótica no nosso país e, essencialmente, por
ser um resíduo da indústria do papel. Desta forma, ao comprovar-se uma eficiência
significativa para a utilização deste tipo de material como apto a ser utilizado como meio
filtrante estaremos a promover a reutilização de um material com valor económico,
reduzido ou nulo.
A giesta, ou Cytisus striatus (Figura 17) de nome científico, é uma planta arbustiva
chegando a atingir 3 metros de altura. É nativa de Portugal, e têm a sua distribuição
alargada a todo o território nacional (Figura 18). A época de floração é de abril a junho,
onde esta sazonalidade pode ser encarada como uma desvantagem na obtenção de
giesta fresca.
Figura 15: Distribuição em Portugal do
Eucalyptus globulus (Plantas Invasoras em
Portugal)
Figura 16: Casca de eucalipto utilizada
como meio de enchimento para biofiltro.
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O tojo (Ulex europaeus) é uma planta arbustiva muito espinhosa, amplamente
distribuída em Portugal e na Europa (Figura 19 e Figura 20). Este material foi, também,
selecionado pelos seus teores em lenhina e celulose, bem como propriedades
equivalentes aos materiais supra assinalados.
A distribuição geográfica do tojo, em Portugal situa-se essencialmente a norte do
território em matas ou terrenos baldios. A sua época de floração vai de fevereiro a
junho.
A grande vantagem do tojo é a sua elevada área superficial pois contem inúmeros
espinhos que permitem a fixação da comunidade microbiana. Contudo deixa muitos
espaços vazios na acomodação do material no biofiltro, sendo necessário mais material
para o mesmo volume comparativamente à giesta e à casca de eucalipto.
Figura 18: Giesta na floresta (Pereira). Figura 17: Mapa de distribuição da giesta,
em Portugal (UTAD, 2014).
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Pesquisa de materiais com propriedades desodorizantes para gases oriundos de compostagem | 34
A grande desvantagem na utilização de plantas como biofiltros é uma rápida
biodegradabilidade dos materiais de suporte microbiano, em comparação com os
materiais sintéticos.
Como foi possível verificar pelo Quadro 12, existem tantos outros materiais que
poderiam ter sido alvo de teste, todavia a sua distribuição geográfica e fraca abundância
não o permitiram. Por outro lado, existem materiais como o caso do pinho que já são
utilizados como biofiltros, por algumas empresas portuguesas. Noutros casos, como
com o engaço de uva, as grainhas são materiais valorizados e são a base para produtos
com interesse económico.
3.1.1 Preparação dos materiais
Tendo em vista a escala laboratorial definida para a execução do projeto, os materiais
que se encontravam em bruto, tal como aparecem na natureza, tiveram de ser cortados
em pequenas porções com cerca de 3 a 5 cm, com auxílio de uma tesoura.
Os materiais foram recolhidos em matas do grande Porto. O tempo decorrente entre o
corte do seu local natural até à implementação nos biofiltros foi relativamente curto
(nunca superior a 2 dias), tendo sido armazenados em local fresco no sentido de se
conservar ao máximo as suas propriedades como, por exemplo, o seu teor em
humidade e a comunidade microbiológica existente nas ramificações dos materiais.
Figura 20: Representação do Tojo, Ulex
europaeus (Floresamatxo, 2011).
Figura 19: Distribuição do Tojo, em Portugal
(UTAD, 2014).
FCUP
Pesquisa de materiais com propriedades desodorizantes para gases oriundos de compostagem | 35
3.2 Infraestrutura Laboratorial
A projeção e montagem, do equipamento laboratorial necessário para o decurso do
trabalho de pesquisa, implicou, antes de mais, uma pesquisa bibliográfica e um
inventário dos materiais e equipamentos a adquirir. De forma a sintetizar o
desenvolvimento do aparelho experimental, para a montagem da instalação de
investigação, foi elaborado um protótipo (Figura 21) e assim esquematizar todo o
processo. Ao longo desta secção far-se-á referência às montagens laboratoriais
requeridas para o ensaio dos biofiltros.
Figura 21: Protótipo para construção da instalação experimental.
Resumidamente, o material necessário para o trabalho laboratorial consistiu num
compostor; num tubo de 20 cm de diâmetro e 70 cm de altura; 4 reduções 20-12,5;12,5-
9; 9-7,5 cm; 4 curvas 7,5 cm de diâmetro; 1 tubo maleável 9 cm de diâmetro; rede de
suporte do biofiltro; 1 ventilador; mangueira de humidificação.
A primeira decisão tomada consistiu na montagem e enchimento do compostor, com
resíduos biodegradáveis, para desenvolver um processo de compostagem doméstica.
Na montagem do compostor teve-se em consideração alguns procedimentos,
necessários para o desenvolvimento correto de uma compostagem doméstica, como
colocar ramos grossos no fundo do compostor para promover a drenagem de lixiviado e
arejamento e também, a seleção dos resíduos.
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Pesquisa de materiais com propriedades desodorizantes para gases oriundos de compostagem | 36
O reator de biofiltração é constituído por um coluna cilíndrica, de PVC com 20 cm de
diâmetro interno (Di) e 70 cm de altura. Na base da coluna existem reduções tubulares
até ao diâmetro de 7,5 cm que ligam o tubo ao compostor, onde são gerados os odores.
O compostor (Figura 22) tem capacidade para 290 L, com 96,3 cm de altura com
diâmetro superior de 60 cm e diâmetro inferior de 80 cm, respetivamente
Figura 22: Compostor utilizado para o trabalho laboratorial e respetiva montagem e enchimento.
Na outra extremidade do biofiltro foi implementado o sistema de humidificação gota-a-
gota, através de uma mangueira de 0,5 cm de diâmetro que percorre a parte superior do
biofiltro.
Para garantir a extração dos gases instalou-se uma bomba extratora. A aspiração dos
gases foi feita de várias formas. Numa primeira fase a ventilação estava ligada
constantemente. Numa segunda fase deixou-se que o ar circula-se livremente, e por fim
a ventilação foi ligada esporadicamente. Esta variação na taxa de renovação de ar teve
como finalidade aumentar o tempo de contato entre os microrganismos e o biofiltro.
A montagem do biofiltro iniciou-se pelo corte da rede de suporte do material de
enchimento, que se prendeu a 10 cm da base do tubo cilíndrico (Figura 23). Para tal, a
rede segura-se no topo da primeira redução meio de parafusos.
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Pesquisa de materiais com propriedades desodorizantes para gases oriundos de compostagem | 37
Figura 23: Sequência de montagem da rede de suporte do meio filtrante.
Como se utilizaram materiais vegetais que, com a sua biodegradabilidade natural,
deram origem à formação de material particulado que passa nesta primeira rede de
contenção. Assim, foi necessário colocar uma outra rede, por cima da existente, com
uma malha mais fina para evitar a passagem de partículas para os tubos (Figura 24).
Figura 24: Montagem da rede de suporte mais fina.
De seguida, montaram-se todas as reduções que foram ligadas ao tubo cilíndrico
principal através do tubo flexível de alumínio. Para garantir a uniformidade de condições
na avaliação da qualidade dos gases odoríferos, montaram-se dois biofiltros com
apenas uma entrada, proveniente da compostagem. Esta ligação foi realizada com
auxílio de um tubo em forma de T (Figura 25).
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Pesquisa de materiais com propriedades desodorizantes para gases oriundos de compostagem | 38
Figura 25: Ligação dos biofiltros em paralelo.
O sistema de humidificação gota-a-gota necessitou de uma mangueira por onde é feita
a alimentação de água requerida ao processo. A mangueira tem furos de 1,2 mm,
aproximadamente, por onde cai, por gravidade, o fluido (Figura 26).
Figura 26: Montagem do sistema de humidificação gota-a-gota.
A montagem do sistema de ventilação foi o passo seguinte. Com um tubo de alumínio
de 10 cm de diâmetro acoplou-se um extrator (Figura 27).
Figura 27: Montagem do sistema de ventilação.
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Pesquisa de materiais com propriedades desodorizantes para gases oriundos de compostagem | 39
Estando a montagem da estrutura do biofiltro concluída, restou proceder à ligação entre
o compostor e o biofiltro. Foi necessário abrir uma saída do compostor para a exaustão
de gases (Figura 28), para canalizar os gases odoríferos, entre as duas instalações.
Figura 28: Abertura de ligação entre o compostor e o biofiltro.
A etapa final corresponde à introdução do material filtrante selecionado, no biofiltro. A
Figura 29 mostra o resultado final. A configuração do biofiltro foi variando ao longo de
todo o trabalho experimental. Inicialmente o compostor estava inserido numa sala sem
contato direto com o solo e onde os lixiviados tinham de ser drenados para um
recipiente de contenção, e onde só funcionava um biofiltro. No topo do biofiltro existia
um tubo de alumínio flexível que estava ligado à extração de ar da hotte, existente no
laboratório.
Figura 29: Instalação laboratorial - resultado final.
Na fase seguinte, o compostor foi deslocado para o ar livre onde esteve em contato com
o solo e os biofiltros deslocados para uma sala de forma a garantir que as alterações
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climatéricas não interferissem significativamente no processo. Desta forma, o compostor
colocado no solo tinha uma ligação, por tubo de alumínio flexível e revestido por um
plástico para proteção da chuva, ao interior da sala (Figura 30).
Figura 30: Segunda fase do processo de compostagem, ao ar livre.
Tanto o processo de compostagem como a biofiltração exigem a constância de certos
parâmetros, assim o trabalho laboratorial garantiu a capacidade de adaptação a
equipamentos de monitorização de ambos os processos. Foram analisados parâmetros
como a temperatura e humidade relativa do composto e do biofiltro. Além destes
parâmetros avalia-se o grau de decomposição através da medição do pH do lixiviado do
composto. A monitorização do processo de compostagem foi realizada diariamente, com
a medição da temperatura do composto e, assim, estimar a etapa de atividade biológica.
De forma semelhante, a monitorização dos biofiltros foi efetuada diariamente, com
medição da temperatura e humidade, também para verificar o comportamento
microbiológico. A amostragem da concentração dos compostos ocorreu em dias
esporádicos e só se iniciou após a intensa libertação de odores da compostagem.
O caudal de exaustão também pode ser considerado um parâmetro controlado, uma vez
que se sabe ao certo quanto tempo funciona e a que velocidade os gases são
ventilados. O caudal de humidificação do biofiltro não é constante, pois depende das
necessidades do meio de enchimento. Contudo, cada adição de humidade é registada.
A humidade relativa é medida através de um termo-higrómetro portátil (Figura 31), a
temperatura por um termómetro portátil e o pH por um medidor de pH, todos da marca
Hanna Instruments.
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Figura 31: Termo higrómetro utilizado na experiência.
3.3 Produção de odores e parâmetros influenciadores
O método selecionado para a produção de odores foi a compostagem doméstica. Desta
forma, os compostos libertados durante a decomposição aeróbia dos resíduos
biodegradáveis correspondem, quase na totalidade, aos compostos emitidos numa
central de valorização orgânica. O fator diferenciador entre ambas as instalações
resume-se à concentração dos compostos libertados, essencialmente causados pela
quantidade de volume de resíduos a tratar. No entanto, se for possível comprovar, ou
não, a eficiência dos materiais na remoção dos compostos na compostagem doméstica
estes resultados podem ser extrapolados para uma realidade de maior escala,
implicando, portanto, um aumento da quantidade de meio filtrante necessário para
atingir o mesmo efeito.
Em termos teóricos, a compostagem é definida como um processo controlado de
decomposição microbiana, de oxidação e oxigenação de uma massa heterogénea de
matéria orgânica [ (Oliveira, Lima, & Cajazeira, 2004) citando (Kiel,1985)]. Fatores como
a temperatura, humidade, arejamento, pH, tipo de compostos orgânicos e nutrientes
disponíveis são considerados como fundamentais para um correto desenvolvimento da
compostagem.
No trabalho laboratorial efetuou-se, essencialmente, a monitorização e ajuste da
temperatura e humidade de forma a fornecer condições propícias para a
biodecomposição. Esta decisão partiu do pressuposto de que a velocidade de
decomposição dependia, maioritariamente destes dois parâmetros. A Figura 32 ilustra a
complexidade do processo e a interferência que cada fator tem sobe a totalidade do
sistema.
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Figura 32: Diagrama dos fatores condicionantes ao processo de compostagem [ (Cordeiro, 2010) citando (Cunha Queda,
1999)].
Ao processo de compostagem está inerente à produção de odor por combinação da
libertação de amoníaco e sulfato. A equação geral que representa o processo é
apresentada na Equação 8.
(Equação 6)
Assim, os produtos da reação são novas células, dióxido de carbono, água, amoníaco e
sulfato. O composto gerado é a matéria orgânica resistente.
Para (Silvério, 2011) citando (Tchobanoglous et al., 1993), a produção de odores pode
tornar-se um problema se não for feito um controlo adequado do processo de
compostagem. Essencialmente pelo desenvolvimento de condições anaeróbias na pilha,
caracterizadas pela formação de ácidos orgânicos muito odorosos. É impossível
eliminar emissões pontuais de odores, sendo que então a fase de projeto e operação da
instalação devem estar otimizadas para minorar os impactes associados a estas
emissões.
De facto, foi verificado pela nossa experiência laboratorial que o revolvimento da pilha
promovia a reestruturação dos canais preferenciais promovendo uma maior circulação
da água e oxigénio em toda a pilha. Assim, de forma ilustrativa o Quadro 13 sintetiza as
principais variáveis limitantes na produção de compostos odoríferos e os intervalos
ótimos para cada variável considerada fundamental no decurso da compostagem.
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Quadro 13: Principais variáveis que promovem a emissão de odores [adaptado de (Silvério, 2011), (Cordeiro, 2010), (Fernandes, 2012); (Epstein, 2011)].
Variável
Produção de compostos
odoríficos Valores ideais
Aumenta Diminui
Oxigénio <5% >5% 5 – 15%
Temperatura >75 ºC <75ºC 25 – 45ºC
Humidade >65% <65% 40 - 60%
pH 7<pH>8 7 >pH < 8 6,5 – 8
Razão C/N <25:1 >25:1 30:1
Porosidade e tamanho
das partículas <2,5 >2,5
Dependente da humidade
do material.
3.4 Métodos de amostragem dos compostos odoríferos
As metodologias selecionadas, neste estudo, para a quantificação dos compostos
odoríferos (amónia, sulfureto de hidrogénio e sulfureto de dimetilo), assim como a
avaliação da eficiência de remoção dos odores nos biofiltros, são descritas nos
parágrafos seguintes.
3.4.1 Análise química
O método de quantificação de gases, que são libertados e conduzidos para tratamento
biológico nos biofiltros, assim como a concentração de gases que são emitidos após o
tratamento microbiano, selecionado foi a amostragem por tubos colorimétricos (Figura
33).
O princípio de funcionamento é bastante simples. O tubo de vidro contém no seu interior
uma substância sólida reagente que, perante determinado gás ou vapor, promove uma
reação química, com uma mudança de cor. O método é fiável mesmo para volumes de
gás reduzido e o usuário pode ler e analisar, facilmente, o resultado através da escala
impressa no tubo.
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Figura 33: Tubo Drager utilizado no ensaio experimental.
Uma das grandes vantagens deste equipamento é a não necessidade de calibração e a
não necessidade de transporte da amostra para manipulação laboratorial.
A forma de contacto do gás com o tubo é feito com recurso a uma bomba extratora e
com as indicações do número de bombagens para cada substância a analisar (Bomba
de fole marca Dräger modelo Accuro) (Figura 34).
Figura 34: Sistema de amostragem química.
O procedimento experimental para a amostragem química envolve:
Abertura bilateral do tubo colorimétrico;
Inserção do mesmo, com a seta na orientação correta, na bomba fole;
Aproximação ao local de amostragem e consequente bombagem tantas vezes
quantas as descritas na embalagem do tubo;
Contar o tempo de reação do tubo descrito na embalagem;
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Analisar a mudança de cor do tubo.
As medições foram efetuadas quando a compostagem começou a libertar odores
intensos, e quando os biofiltros tinham pelo menos 5 dias de acomodação ao ambiente.
3.4.2 Análise olfatométrica
Outra forma de avaliação da eficiência de remoção de odores, no processo de
biofiltração, é a criação de um painel de indivíduos que avaliam e caracterizam o odor.
Este método é chamado de análise olfatométrica.
Neste caso particular, foi elaborado um inquérito de acordo com a norma europeia em
vigor EN 13275:2003 para a determinação da concentração do odor por olfatometria
dinâmica. Uma vez que não tínhamos um painel sensorial treinado, o inquérito teve de
ser ajustado a uma linguagem universal e que fosse fácil de entender, qualquer que
fosse a faixa etária do individuo, que o respondesse (Anexo II).
O inquérito foi dividido em três análises, onde primeiramente foram realizadas as
análises aos biofiltros e, por último, a análise ao odor do compostor. Ao adotar esta
metodologia garantiu-se que a influência das respostas fosse reduzida por interferência
de um odor bastante mais desagradável e forte, proveniente do compostor. Ou seja, um
indivíduo ao cheirar primeiramente o odor proveniente da compostagem teria mais
dificuldade em conseguir detetar um odor diferente nos biofiltros pelo grau de
incomodidade, que este provocou ao estimular o seu sistema olfativo. Primeiramente, foi
realizado um pequeno questionário sobre os hábitos dos indivíduos, como hábitos
tabágicos, de consumo de café, uso de perfume e pacientes de alergias. Estes
elementos são importantes por criarem habituação ao sistema olfativo para certas
substâncias que quando utilizadas, num longo período de tempo, o aparelho olfativo
começa a ficar cansado, tornando os odores neutros.
As análises foram iguais para cada componente, isto é, o questionário apresentado
envolvia as mesmas perguntas e possibilidades de resposta para o compostor e ambos
os biofiltros de teste. Assim, a homogeneidade do processo facilita o tratamento das
respostas e possível correlação entre elas.
Segundo a norma europeia seria necessário investir na perceção de respostas para
cada indivíduo do painel, através de um teste preliminar usando o n-butanol. Desta
forma, seria avaliado o grau de percetibilidade do sistema olfativo para posterior ajuste
das respostas durante o ensaio. Todavia, este teste preliminar não foi realizado por se
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querer avaliar a resposta de uma população comum à estimulação obtida aos gases
libertados.
A análise foi realizada por inspiração do ar do compostor e de ambos os biofiltros. No
caso dos biofiltros, de forma a mais aproximada possível para evitar a contaminação de
ambos os materiais testes, no ar envolvente.
O júri foi constituído por estudantes da faculdade, estudantes externos à faculdade,
professores, técnicos e, ainda alunos da Universidade Júnior envolvidos numa das suas
atividades.
O inquérito elaborado teve por base a norma europeia, as propriedades dos odores,
bem como outros inquéritos olfativos realizados. No total, o inquérito contava com cinco
questões, para cada análise. A análise, concretamente, iniciava-se por questionar sobre
se sentia algum estímulo olfativo perante a unidade de compostagem e biofiltração.
Caso, o indivíduo nada detetasse, o inquérito acabava por aqui, determinando um limite
de deteção superior às concentrações dos compostos emitidos. Caso a resposta fosse
afirmativa, o inquérito continuava com a determinação da intensidade do odor em Muito
Fraco, Fraco, Médio, Forte e Muito Forte, e avaliação do mesmo como Desagradável,
Neutro ou Agradável.
Por fim, pretendia-se que os indivíduos associassem o odor que sentiram aos odores da
roda do odor. Dividido em oito classes, poderiam escolher um ou mais odores. As oito
classes são: medicinal, químico, peixe, agressivo, floral, frutos, vegetal e terra.
3.5 Análise e monitorização do meio filtrante
O desempenho de cada meio filtrante testado foi avaliado pela leitura da temperatura e
humidade, através de medições diárias destes parâmetros, auxiliados pelas análises
químicas e olfatométricas.
A avaliação do estado final do meio filtrante é importante para determinar o tempo de
vida útil do material para uma determinada massa e assim poder-se extrapolar o tempo
de biodegradabilidade, numa instalação industrial de compostagem.
Esta análise resumiu-se à pesagem do meio filtrante, determinação da sua temperatura
e humidade, e acima de tudo aferir o comportamento do mesmo ao longo do teste,
nomeadamente pela libertação de odores.
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3.6 Análise e monitorização do processo de compostagem
Como já referido, o processo de compostagem desenrolou-se em duas fases distintas.
Na primeira fase o compostor estava confinado às alterações da sala onde estava
colocado, passando na segunda fase a uma maior interação entre as condições
climatéricas e com a microbiologia do solo.
A monitorização do processo teve por base a leitura da temperatura, do revolvimento do
composto e visualização da quantidade de água que se acumulava na instalação, por
forma a garantir o fornecimento de mais materiais secos que pudessem reduzir a
humidade, e assim garantir as condições de aerobiose.
3.7 Tratamento dos dados
O tratamento dos resultados obtidos foi elaborado com o auxílio do programa MS-Excel
e um programa estatístico, o SPSS.
O tratamento estatístico, dos dados adquiridos através dos inquéritos olfatométricos
tornou-se importante na avaliação individual e no estudo da correspondência entre
variáveis, isto é, através da aplicação de testes estatísticos é possível perceber qual ou
quais as questões, ou respostas do inquérito, mais relevantes e uma provável relação
entre si. O objetivo final é encontrar um comportamento padrão ao longo das análises
olfatométricas na população utilizada.
A metodologia implementada para o tratamento dos dados foi a análise em
componentes principais (ACP), que permite reduzir ou eliminar sobreposições e diminuir
o volume de dados sem perda da informação. Isto à custa das variáveis originais.
Ao longo do tratamento estatístico dos dados foram realizadas duas análises de
componentes principais. A única diferença entre ambas surge na questão da associação
do odor, onde a primeira análise comtempla o número total de odores selecionados por
classe enquanto, a segunda, apenas refere se o indivíduo selecionou a classe ou não.
Ao realizar esta distinção quer-se perceber se as classes ao apresentarem diferentes
números nas opções de resposta, indicam uma coerência da avaliação, ou se a
associação influencia a deteção, a intensidade e avaliação do odor.
Outra técnica utilizada no tratamento estatístico foi a análise grupal, que classifica as
observações em grupos, sendo cada um deles semelhante entre si e distinto dos
restantes. O resultado da análise pode ser representado através de um dendrograma e
do cálculo do respetivo coeficiente de correlação cofenético (Varella, 2008).
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4 Resultados e Discussão
No presente capítulo apresentam-se, analisam-se e discutem-se os resultados obtidos
no trabalho experimental sobre o comportamento dos materiais na depuração do odor
originado em meio de compostagem. No seguimento da metodologia apresentada no
capítulo anterior serão apresentadas imagens, gráficos e consideradas as principais
conclusões obtidas.
O trabalho experimental funcionou várias vezes com alterações nas condições de
ensaio, sendo que para cada uma delas será detalhado a sua contribuição e influência
no desenvolvimento do processo e as razões dessas mudanças.
4.1 Compostagem
A compostagem teve início no dia 28 de janeiro e terminou a 21 de julho. Durante este
intervalo temporal houve a necessidade de trocar de compostor porque a atividade
microbiana não era significativa, sendo que o composto entrou numa fase de
estabilização, com ausência de odores. Assim, o primeiro compostor funcionou de 28 de
janeiro a 26 de junho, enquanto o segundo compostor funcionou desde 27 de maio a 21
de julho.
Relativamente à alimentação dos compostores, os resíduos biodegradáveis recolhidos
provieram da Casa das Sandes dos SASUP e do Restaurante da Multirest instalado na
Faculdade de Ciências. Os resíduos depositados englobam cascas de fruta, cascas de
cenoura, couve, alho, cebola, tomate, alface e aparas de jardim (Figura 35). Por forma a
controlar a humidade dos alimentos foram ainda incluídos folhas secas, serrim e palha.
Os materiais castanhos foram introduzidos numa primeira fase, semanalmente, e mais
tarde diariamente (no segundo compostor) constituindo cerca de 10% em peso dos
resíduos colocados.
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Figura 35: Resíduos biodegradáveis introduzidos nos compostores.
Como as condições de trabalho foram diferentes, entre ambos os compostores, será
feita uma divisão do processo.
4.1.1 Compostor 1
O compostor 1 teve um tempo de vida de aproximadamente 5 meses, onde o composto
passou pelas várias fases do processo de degradação da matéria orgânica. No total a
quantidade de resíduos depositados foi de 250,7 kg.
Numa primeira fase, o compostor foi instalado dentro de uma sala laboratório, onde
esteve até 14 de abril. Aqui, o composto não teve qualquer contato com solo e a
microbiologia existente provinha unicamente dos resíduos colocados.
A decomposição da matéria orgânica não ocorre, instantaneamente, após a colocação
dos primeiros resíduos, que consequentemente implica a não geração de odores. Desta
forma, durante a primeira semana não houve qualquer intervenção no processo de
compostagem, para além da deposição de mais resíduos. Nesta primeira fase, foi
importante que a massa de resíduos ganhasse calor suficiente para ultrapassar as
condições ambientais da sala e se estabelecessem condições próprias para o
desenvolvimento microbiano.
No final da primeira semana a tampa do compostor começou a demonstrar
condensação da humidade (Figura 36), sendo que a temperatura no interior do mesmo
começou a aumentar, e a ventilação natural demonstrou ser insuficiente. Verificada esta
situação, ligou-se a ventilação do biofiltro que retirava o ar do compostor e o direcionava
para o interior do biofiltro. O caudal de ventilação manteve-se constante estando sempre
ligado, quer durante o período noturno quer diurno.
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Figura 36: Condensação da humidade no interior do compostor 1.
Ao mesmo tempo que se verificou a condensação no interior do compostor, começou a
detetar-se, mesmo fora da sala, o odor característico do processo de compostagem.
Assim, foi considerado o primeiro dia, do início de todo o processo, o dia 6 de fevereiro,
onde se ligou o compostor ao biofiltro e se começaram a efetuar as medições.
Como referido na bibliografia, a temperatura e a humidade são dois parâmetros
essenciais para a correta degradação da matéria orgânica, e necessitam de ser
quantificados. A Figura 37 ilustra a evolução da temperatura ao longo de toda a vida do
compostor 1.
Figura 37: Evolução da temperatura no compostor 1.
A sonda de medição da temperatura era colocada sempre no centro da pilha e à mesma
profundidade, para garantir a comparação das diferenças diárias registadas (Russo,
FCUP
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2003). Ao efetuar-se medições em locais distintos na pilha poderemos estar a induzir
erros nas medições, uma vez que a temperatura na pilha não é homogénea.
Relativamente ao perfil de temperaturas do compostor 1, este demonstrou que, numa
primeira fase conseguiu atingir valores próximos dos 40 graus Celsius. Estes valores
demonstraram-se razoáveis perante as condições de funcionamento e ausência de
contato com solo, que permite maiores trocas biológicas ao processo. No entanto,
temperaturas na gama dos 40ºC são bastante inferiores as que seriam de esperar no
interior da pilha. Para Leal (2006 citando Sharma et al., 1997) as temperaturas
registadas no início do processo situam-se entre os 20 a 50ºC. Como resultado desta
primeira fase de atividade microbiana deverá aumentar para 40 a 60ºC, sendo que para
Waszkielis et al. (2013) esta deverá situar-se sempre acima dos 55ºC. Tal não
aconteceu para o compostor 1, onde o valor mais alto registado foi de 38,9ºC, verificado
nos primeiros dias do funcionamento da instalação. Ao longo de todo o processo, a
temperatura teve como valor médio 26,4ºC, muito abaixo da temperatura esperada de
55ºC, ou até mesmo da temperatura mínima exigida, que será a temperatura corporal de
36ºC.
Durante os dois primeiros meses da compostagem existiram várias oscilações da
temperatura que poderão ser explicadas pela grande saída de lixiviado do compostor,
promovendo a remoção dos nutrientes, água e microrganismos (Figura 38).
Figura 38: Lixiviado do compostor 1.
O lixiviado proveniente do compostor caracterizava-se por um odor muito forte e um pH
ácido (Figura 39), corroborando com a premissa que os organismos não possuíam
tempo necessário para se acomodarem às condições do compostor, sendo facilmente
arrastados no lixiviado. O reduzido tempo de vida no compostor traduz-se numa
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decomposição da matéria orgânica mais lenta, ou até mesmo, no seu extremo, a não
realização do processo.
Figura 39: Evolução do pH do lixiviado, correspondente ao compostor 1.
Embora neste ensaio não se esteja a avaliar a eficiência da compostagem é importante
que ela decorra perto das condições padrão estabelecidas, no sentido de se formar os
compostos que se pretendem avaliar e, consequentemente, exista a produção de
odores. Os odores podem provir de várias fontes ou de vários compostos químicos,
consoante as condições presentes na compostagem (Chowdhury, Neergaard, & Jensen,
2014).
Uma prova de que a compostagem está a acontecer é a comparação do pH registado
com a curva típica de pH ao longo do processo de compostagem (Figura 40). Dito isto, é
possível verificar que para a primeira e início da segunda fase de compostagem, o pH
tem características ácidas, tais como as registadas no ensaio (valores entre 5 e 6).
Figura 40: Curva típica da variação do pH ao longo do processo de compostagem (Cordeiro, 2010).
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Neste compostor a humidade sempre foi um problema a resolver. A enorme quantidade
de lixiviado que saía, diariamente, do compostor e a permanência de temperaturas
baixas evidenciavam desvios ao considerado processo normal.
O conhecimento do teor em humidade é fundamental para garantir toda a atividade
microbiana e permite ainda quantificar a água existente no composto. A partir do teor
em humidade é possível ainda inferir sobre o ar existente (Fernandes, 2012).
Apesar das várias tentativas de ajuste deste parâmetro, a humidade do composto
esteve sempre acima dos 70% (Figura 41). De forma a controlar o parâmetro, a pilha
era revolvida várias vezes durante a semana, adicionavam-se folhas secas e serrim, e
até se tentou reduzir a humidade dos resíduos através da sua desidratação na estufa.
Contudo, as várias tentativas não tiveram sucesso.
Figura 41: Humidade relativa do Composto 1.
Os valores do teor de humidade considerados ótimos situam-se entre 45 e 65% ,
segundo Santos (2007 citando Vallini1995).
Por forma a acelerar o processo de compostagem, aumentando a área de superfície de
ataque pelos microrganismos, os resíduos biodegradáveis eram cortados
grosseiramente, entre 5 a 10 cm de dimensão máxima. Esta particularidade permite
otimizar o processo de compostagem uma vez que quanto maior for a superfície
exposta à ação biológica mais rápida e completa será a reação (Carvalho, 2009). Assim
as dimensões consideradas ótimas para as partículas dos resíduos a compostar são
várias consoante o autor. Variam entre 1 e 5 cm, segundo Haug (1993), entre 2 e 5 cm
para Kiehl (1985) ou ente 2,5 e 2,7 cm, segundo Tchobanoglous et al. (1993) citando
Carvalho (2009). A Figura 42 ilustra a interferência do tamanho das partículas
relativamente ao tempo que demoram a compostar.
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Figura 42: Relação entre as dimensões das partículas e o tempo de compostagem (Cordeiro, 2010).
Numa segunda fase, o compostor foi colocado no exterior, com contato direto com o
solo. Para prevenir que as mudanças meteorológicas afetassem o processo, foi
colocada uma lona a proteger o compostor da maior exposição solar e da queda direta
da chuva (Figura 43).
Figura 43: Compostor no exterior.
A partir do momento em que se efetuou a mudança de instalações (14 de abril) deixou
de se verificou excesso de lixiviado, ou pelo menos, a drenagem era feita apenas pela
parte inferior do tabuleiro, diretamente para o solo. Neste caso, o solo nunca adquiriu
consistência de lama.
Relativamente à temperatura, esta continuou a oscilar todavia, a gama de diferenças da
temperatura foi mais reduzida, permanecendo em valores abaixo dos considerados
desejáveis. Nesta fase, o odor continuava bem percetível apesar da temperatura não se
elevar. Para voltar a reativar o composto foi introduzido composto com origem noutro
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processo de compostagem apresentando melhorias nos primeiros dias, onde a
temperatura conseguiu subir. Ainda assim, não se obtiveram os valores esperados.
Mais uma vez, após a tentativa de ajuste da temperatura no interior do compostor, o
composto começou a demonstrar saturação. Isto é, na superfície começaram a aparecer
material com diferente cor (branco) que se associou a bolor (Figura 44), sendo que
paralelamente o odor emitido estava a desvanecer, perante o ar envolvente. Por estas
razões decidiu-se abandonar este composto e começar um novo processo, noutra
instalação com as mesmas características.
Figura 44: Fase final do compostor 1 visivelmente com material em condições diferentes das desejadas.
4.1.2 Compostor 2
O compostor 2 teve uma vida útil, praticamente, de dois meses, desde 27 de maio até à
conclusão do ensaio laboratorial a 21 de julho. No total foram depositados neste
compostor 167,11 kg de resíduos biodegradáveis. Os resíduos foram recolhidos nos
mesmos locais e a sua composição não variou relativamente ao compostor anterior.
Nesta instalação as condições de ensaio permaneceram iguais no decurso de todo o
processo. Do procedimento diário fazia parte a amostragem da temperatura, a
deposição dos resíduos, o revolvimento e a deposição de palha. Mais uma vez, a
amostragem do calor gerado foi realizada, aproximadamente, no mesmo local no interior
do compostor, por forma a garantir a comparação dos resultados obtidos. Aqui, a
humidade deixou de ser um parâmetro de análise e de monitorização analítica. Além
disso, foi sempre efetuada uma vistoria às saídas laterais do lixiviado, que sempre se
mostraram dentro da normalidade. A única indicação da qualidade do lixiviado prende-
se com a análise da superfície de solo por debaixo do compostor (Figura 45), onde o
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carácter ácido do líquido (mas também a ausência de luz) promoveu a degradação da
flora existente.
Figura 45: Modificação do solo após a colocação do compostor, devido ao pH ácido do lixiviado.
Como já enunciado anteriormente, o processo de compostagem e a libertação de
odores necessita de uns dias, para se fazer sentir. Por conseguinte, iniciou-se a
deposição de resíduos um pouco antes de se ligar o compostor 2 aos biofiltros, por
forma a ser anulado um intervalo de tempo sem reação.
À semelhança do que aconteceu com o compostor 1, o tempo decorrido entre a primeira
deposição de resíduos e a libertação de odores foi cerca de uma semana. Este
fenómeno foi notório quando ocorria o revolvimento do composto.
Relativamente ao comportamento da temperatura neste compostor, como é possível
avaliar pela Figura 46, existiram oscilações, com particular destaque para o período
compreendido entre 18 e 27 de junho. Aqui, verifica-se um decréscimo acentuado da
temperatura, que coincidiu com um abaixamento drástico da temperatura ambiente e um
aumento da precipitação. Deste modo, mesmo tendo em conta o papel protetor da lona,
existiram interferências das condições do meio ambiente envolvente, que afetaram a
microbiologia interveniente na decomposição da matéria orgânica.
Em termos médios, a temperatura do compostor 2 registou o valor de 33,2ºC muito
próximo da temperatura corporal e expectável. O valor máximo atingido foi de 40,1ºC
registado no dia 18 de junho, e o valor mínimo de 26,1ºC registado no primeiro dia de
amostragem, compreensível por ser o início do processo e ainda não se ter gerado calor
suficiente proveniente da atividade biológica.
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Figura 46: Evolução da temperatura no compostor 2.
Mesmo ficando aquém dos 55ºC de temperatura média aconselhável para o processo a
gama de temperaturas, neste segundo ensaio, mostrou-se mais eficaz quando
comparado com o compostor 1. Garantindo todas as outras variáveis intervenientes no
processo estanques, como tipos de resíduos depositados e fixação de um local sem
necessidade de transporte, verificou-se a presença de algumas minhocas no composto,
podendo também ter sido influenciado pelo fato do ensaio se localizar assente em solo
fértil. Assim, podemos afirmar que este segundo ensaio se provou mais eficiente para a
produção de odores e com condições padrão mais perto das desejáveis, pela literatura.
A degradação da matéria orgânica depositada no compostor 2 é visível na Figura 47.
Figura 47: Composto com visível degradação da matéria orgânica, do compostor 2.
Ainda que a compostagem não tenha ocorrido em condições ótimas, este novo ensaio
mostrou-se mais eficiente quando comparado com o processo do compostor 1, pela
variação da temperatura e humidade. As temperaturas do compostor 2 mostraram-se,
em média, superiores às do compostor 1 implicando uma degradação da matéria
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orgânica mais célere. Relativamente à produção de odores, o compostor 2 voltou a
registar mais consistência na libertação dos mesmos, comparativamente ao processo 1,
implicando uma maior concentração na entrada do gás nos biofiltros. No desenrolar do
ensaio experimental foram também aprimorados procedimentos que influenciaram o
desempenho do compostor 2.
4.2 Biofiltros
Os materiais alvo de teste para este ensaio laboratorial foram a casca de eucalipto, a
giesta e o tojo.
Foram executados dois ensaios com a casca de eucalipto, dois com a giesta e um com
o tojo. Inicialmente, só funcionou um biofiltro ligado ao compostor passando,
posteriormente, para dois biofiltros a funcionar em paralelo. Quando os biofiltros
funcionaram em paralelo, garantiu-se que o gás odorífero que percorria ambas as
unidades tinha a mesma fonte. A ligação do compostor aos biofiltros foi garantida por
auxílio de um tubo em T que permitia direcionar o ar para cada um dos biofiltros.
4.2.1 Biofiltro 1
O material de enchimento selecionado para o Biofiltro 1 foi a casca seca de eucalipto
(Figura 48), e funcionou durante 67 dias, com ventilação constante e ininterrupta. Este
biofiltro foi considerado o biofiltro piloto para todos os restantes daí ter funcionado mais
tempo, e também pela dificuldade mostrada em aumentar a temperatura do compostor,
que interferiu diretamente no comportamento do biofiltro.
Este biofiltro foi colocado no interior de uma sala laboratório onde o compostor 1
também se encontrava. Apenas recebeu gás odorífero do compostor 1.
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Figura 48: Material de enchimento do biofiltro 1. A) Casca de eucalipto cortada. B) Material condicionado no interior do
biofiltro.
A coluna de biofiltro instalada para o trabalho experimental possuía 50 cm de altura e
diâmetro interno de 20 cm. Assim, a massa de material necessária para encher o
biofiltro foi de 1509,95 gramas, que ao longo do processo abateu por acomodação do
material e por perda de humidade, acabando por se adicionar 265,72 gramas de
material para completar a coluna de biofiltro. Sendo assim, no total colocaram-se 1,776
kg de casca de eucalipto que corresponde a uma densidade de 112,592 kg/m3.
A capacidade dos microrganismos em degradar os poluentes está intimamente ligada às
condições ambientais da instalação, funcionando também como um indicador da
atividade biológica. Assim, a temperatura é um fator crucial para o processo, sendo
então necessário a monitorização da temperatura e humidade do biofiltro (Liao, Tian,
Zhu, Chen, & Wang, 2008). A Figura 49 apresenta a evolução da temperatura do
biofiltro 1, ou seja, da casca de eucalipto quando sujeita a gases oriundos da
compostagem.
O que se pode verificar, na evolução da temperatura do biofiltro 1, é a sua grande
variância. O valor médio registado foi de 16,6ºC, e o valor máximo obtido foi de 20,1ºC
registado já no final do trabalho experimental.
A análise destes valores implica a afirmação que a degradação biológica dos poluentes
odoríferos não ocorreu, pois segundo Liao et al. (2008, citando Jorio et. al, 2000) a
temperatura deveria ter subido até 28ºC durante os primeiros vinte dias da experiência,
e até 38ºC no desenrolar do processo, citando Kiared et al. (1997).
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Figura 49: Evolução da temperatura do Biofiltro 1.
Portanto, comparando a temperatura média de 16,6ºC a 28ºC ou a 38ºC podemos com
certeza afirmar que a disparidade de valores não corresponde a um processo de
biodesodorização.
Durante a experiência fez-se ainda outros testes na avaliação do odor que saía do
biofiltro. Foi notório que quando se adicionavam pequenas quantidades de água ao
material de enchimento que o odor de saída era totalmente diferente, passando de um
cheiro a podre para um cheiro a eucalipto fresco. Contudo, ao adicionar água ao
sistema, a temperatura do biofiltro baixava ainda mais, facto visível na Figura 49, nos
picos mais baixos da curva.
Outro aspeto importante foi a pouca retenção de água, por parte do material filtrante. O
material não suportava mais que 50 mL de água, uma vez que a água apresentava um
fluxo direto para o compostor, por queda gravítica.
Para além da temperatura, a humidade foi também registada diariamente. A Figura 50
mostra o comportamento muito variado da humidade no interior do biofiltro. Por várias
vezes, a humidade relativa registada foi de 100%, especialmente após adição de água
ao sistema. Como existia o problema de controlo da humidade no compostor o ar que
circulava, obrigatoriamente, para o biofiltro estaria também saturado, promovendo e
mantendo o parâmetro com valores acima dos 70%. Outro motivo que poderá ser
explicativo deste comportamento são as condições ambientais da sala. Quando
decorreu o ensaio era pleno inverno, muito chuvoso e embora a instalação estivesse
protegida do ar atmosférico exterior, a humidade relativa do próprio ar da sala pode ter
influenciado esse fator.
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Figura 50: Perfil da evolução da humidade do Biofiltro1.
Em termos médios a humidade registou o valor de 70,7%, com um máximo de 100% e
um mínimo de 37,2% registado em março.
Em conclusão, a remoção de odores por parte do Biofiltro 1 não foi satisfatória. Uma
condição imposta neste ensaio foi a ligação da ventilação de forma ininterrupta,
podendo originar condições onde o ar que passava no biofiltro não tinha tempo
suficiente para que os microrganismos, existentes na casca de eucalipto, tivessem a
capacidade de degradar os compostos. Outro cenário que poderá ter acontecido, devido
à lenta degradação da matéria orgânica aliado a um fluxo acelerado de ventilação,
resulta do facto dos organismos vindos da compostagem não se fixaram no material
filtrante impossibilitando a purificação do ar. Ou, ainda, as condições de pressão e
temperatura não terem sido as ideias à proliferação de uma comunidade bacteriana.
Podemos, então, afirmar que o odor que saia do biofiltro apesar de detetável acabava
por se dispersar na atmosfera interior e dissipar, havendo assim uma quase
neutralização do mesmo.
4.2.2 Biofiltro 2
O Biofiltro 2, que corresponde à casca seca misturada com casca saturada em água de
eucalipto, funcionou em paralelo com o Biofiltro 3, onde ambos receberam os gases do
compostor 1 que já se encontrava no exterior.
Antes de mais, recolheu-se eucalipto novo e colocou-se numa caixa coberta com água
e, deixou-se saturar o material durante dois dias (Figura 51). A mistura do Biofiltro 2
corresponde a 900 gramas de casca de eucalipto seco com 1700 gramas de casca de
eucalipto saturada, perfazendo um total de 2600g. Para esta massa a densidade do
material equivale a 165,52 kg/m3.
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Figura 51: Casca de eucalipto mergulhada em água.
O biofiltro 2 teve vinte e dois dias de vida útil até ser desativado.
Excetuando os dois primeiros dias, o perfil de temperatura do biofiltro 2 revela um ligeiro
aumento no início da experiência. Atingiu o máximo de 28,9ºC, aproximadamente a
meio do processo, voltando novamente a decrescer (Figura 52). Em média a
temperatura rondou os 23,8ºC e o mínimo valor registado foi de 17,3ºC.
Figura 52:Perfil de temperatura do Biofiltro 2.
Mais uma vez, as temperaturas atingidas neste ensaio experimental, ficaram aquém do
esperado, todavia o aumento da temperatura nos primeiros dias até 28,9ºC demonstrou
um potencial crescimento dos microrganismos no interior do biofiltro.
No caso da humidade relativa do biofiltro, o seu perfil revela um decréscimo atenuado
ao longo de todo o ensaio (Figura 53).
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Figura 53: Perfil da humidade relativa do biofiltro 2.
O comportamento da humidade do biofiltro foi a esperada, pois com o desenrolar do
ensaio, e sem reposição externa, o material estruturante vai perdendo o seu teor em
água quer por evaporação quer por ação microbiana. Em termos médios a humidade
situou-se em 76,7%, atingindo o seu máximo de 92,2% quando a temperatura atingiu o
seu mínimo. O mínimo atingido da humidade coincide com o desativação da
experiência, 52,6%.
Ao fim dos 24 dias de experiência, começou a verificar-se a saturação do material.
Explicado, pelo facto de este se encontrar muito seco e o odor proveniente do
compostor se começar a fazer sentir, no biofiltro, bem como uma maior resistência a
aumentar os valores de temperatura e humidade, culminando, assim na desativação do
biofiltro.
A massa total restante de casca de eucalipto foi de 1612g, que corresponde a uma
densidade de 102,62 kg/m3. As condições finais de temperatura e humidade foram de
19,4ºC e 52,6%, respetivamente.
Em termos genéricos o biofiltro 2 comportou-se de forma esperada, sendo a
temperatura, apenas, o fator de relevância por não atingir valores superiores a 30ºC.
Contudo, o perfil de variação da temperatura não se demonstrou insatisfatório. Em
termos de odor, inicialmente este biofiltro pautava-se por um cheiro florestal
característico da própria casca de eucalipto que se foi atenuando com o desenrolar do
ensaio.
No final do ensaio laboratorial a superfície do material estava visualmente alterada, com
um aspeto fibroso (Figura 54). Para este material filtrante a quantidade de finos
existentes no final não foi significativa em comparação com a massa inicial (Figura 55).
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Figura 54: Casca de eucalipto no final do ensaio, com aspeto fibroso.
Figura 55: Quantidade de finos restantes no final do ensaio com a casca de eucalipto.
Por fim, a quantidade de massa perdida ao longo do processo foi de 988g, que se deve
essencialmente ao peso da humidade do material.
A eficiência na remoção de odores deste biofiltro pode ter sido, ainda condicionada pela
situação do compostor 1. Por esta altura, a produção de odores já não era tão intensa,
sendo que o material filtrante não esteve sujeito a concentrações muitos elevadas para
tratamento.
4.2.3 Biofiltro 3
O material de enchimento utilizado no Biofiltro 3 foi a giesta. Este biofiltro esteve em
contato com o mesmo gás odorífero que o Biofiltro 2, e consequentemente todas as
condições de compostagem a que o Biofiltro 2 esteve sujeito.
Inicialmente, inseriram-se 2200g de giesta que completaram o volume do biofiltro
estabelecido (Figura 56). A densidade do material filtrante correspondente equivale a
140,06 kg/m3.
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Figura 56: Giesta utilizada no Biofiltro 3. A) em bruto. B) giesta condicionada no biofiltro.
O período de funcionamento do Biofiltro 3 foi de 24 dias, onde houve a monitorização
diária, quer da temperatura e da humidade do material, à semelhança do que aconteceu
com todos os biofiltros ensaiados. O perfil de temperatura é representado na Figura 57.
Figura 57: Perfil de variação da temperatura no Biofiltro 3.
Em termos médios a temperatura atingida dentro do biofiltro foi de 24,2ºC, tendo como
máximo 29,3ºC e o mínimo de 18ºC, este último nos primeiros dias de ensaio. Após a
queda inicial deste fator verificou-se uma elevação da temperatura que associado ao
parâmetro de humidade foi o período onde se verificou o maior decréscimo da
humidade. Fenómeno explicado pela maior necessidade de teor em água pela
microbiologia presente. No ponto máximo de funcionamento, verificou-se uma ligeira
descida da temperatura, durante dois dias, que acabou por subir novamente e
estabilizou até ao final do ensaio.
Relativamente ao comportamento da humidade do próprio material, ao longo de todo o
trabalho experimental este é representado na Figura 58.
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Pesquisa de materiais com propriedades desodorizantes para gases oriundos de compostagem | 67
Figura 58: Perfil de variação da humidade relativa no Biofiltro 3.
Durante o decorrer do ensaio não foi feita nenhuma adição de água ao biofiltro, pelo que
o seu perfil de variação fica explicado pela variação da temperatura. Em termos médios
o valor obtido de humidade foi de 81,2% com um máximo de 100% (registados nos
primeiros dias do ensaio), e o mínimo de 59,2%, obtido quando a temperatura atingiu o
seu valor máximo.
A experiência terminou pela constatação do poder de armazenamento de água e
decaimento da temperatura ser irreversível, bem como o odor libertado ter-se tornado
semelhante ao descrito na compostagem. Determinando assim a saturação do biofiltro
3.
Na remoção do material da instalação verificou-se que no interior do biofiltro o material
tinha adquirido propriedades diferentes das que se encontravam mais à superfície, e em
cota mais baixa (Figura 59). O material estava visualmente degradado, com aparência
de bolor na camada mais interna do biofiltro, sugerindo condições de humidade e pouca
luminosidade (Figura 60).
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Figura 59: Aspeto final do meio filtrante do Biofiltro 3.
Figura 60: Detalhe de material particulado, de cor rosada, da camada mais interna do biofiltro 3.
A estrutura que suportava o biofiltro, após a retirada do meio filtrante, ficou com
partículas de cor rosa, que mais uma vez se suspeita que sejam bolor (Figura 61).
Figura 61: Interior do tubo de suporte do biofiltro 3, no final do ensaio.
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Pesquisa de materiais com propriedades desodorizantes para gases oriundos de compostagem | 69
Outra propriedade registada foi a quantidade de finos produzidos. Comparativamente ao
Biofiltro 2, este apresentou uma maior percentagem (Figura 62), contudo continuou a
ser desprezável comparativamente à massa total de material inserido.
Figura 62: Quantidade de finos existente na desativação do Biofiltro 3.
A massa final registada foi de 1007g, correspondendo a uma densidade de 64,108
kg/m3. Durante todo o processo foram perdidas 1193 g equivalentes a mais de 50% da
massa inicial colocada (54,3%). Assim, a degradação deste material, num período curto
de tempo, revela-se intensa quando se pretende que tenha uma vida útil de alguns
anos. Porém, a maior degradabilidade da giesta, neste caso particular, poderá estar
relacionada com a proliferação de fungos filamentosos.
As condições de ventilação e direcionamento do gás odorífero foram realizadas de
forma natural, ou seja, por corrente e densidade do ar que promoviam a circulação de
baixo até à superfície do compostor, que posteriormente era encaminhado para os
biofiltros.
4.2.4 Biofiltro 4
O biofiltro 4 e 5 funcionaram em conjunto e com novas condições de compostagem. Os
gases odoríferos produzidos para estes biofiltros provieram do compostor 2 que se
encontrava, na altura, num dos seus pontos máximos de funcionamento, isto é, onde a
intensidade do odor era cada vez maior ao longo dos dias, verificado por um aumento
progressivo da atividade biológica do compostor.
O material filtrante do biofiltro 4 foi, novamente a giesta. Como a época de floração do
material já tinha passado, este novo material inserido já não apresentava flores, sendo
portanto constituído mais pelo caule da própria planta, o que implicou um acréscimo na
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Pesquisa de materiais com propriedades desodorizantes para gases oriundos de compostagem | 70
quantidade de material a utilizar no biofiltro (Figura 63). Inicialmente, foram colocados
2532 g de material, correspondente a uma densidade de 161,192 kg/m3.
Figura 63: Giesta utilizada no Biofiltro 4.
Neste caso particular, a ventilação do compostor para o biofiltro foi realizada
esporadicamente, durante intervalos de tempo de 10 minutos diários.
A duração total deste ensaio experimental foi de vinte e oito dias.
A monitorização da temperatura mostrou um aumento progressivo nos primeiros dias,
com uma acentuada subida ao fim da primeira semana do ensaio. O perfil de
temperatura do Biofiltro 4 é representado na Figura 64.
Figura 64: Perfil da temperatura do Biofiltro 4.
Em termos médios a temperatura do Biofiltro 4 foi de 25,8ºC, atingindo um máximo de
30,6ºC correspondente ao máximo potencial de biofiltração da instalação. O valor
mínimo atingido foi de 19,7ºC que correspondeu ao último dia de ensaio.
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Pesquisa de materiais com propriedades desodorizantes para gases oriundos de compostagem | 71
Já, relativamente à humidade do Biofiltro 4, esta apresenta picos que correspondem à
adição de 50 mL de água ao material, visto os valores começarem a descer,
drasticamente e, assim, existir uma desaceleração da atividade biológica (Figura 65).
O comportamento deste material, em termos de humidade diferencia-se dos restantes
pelo decréscimo deste valor ao longo do processo. O abatimento da humidade verificou-
se de forma acentuada, comparativamente aos restantes biofiltros. Todavia este foi o
biofiltro que até agora apresentou uma temperatura média superior, implicando
diretamente com a variação da humidade. Por outro lado, podemos inferir que a
ventilação forçada pode ter arrastado maior quantidade de microrganismos que poderão
ter influenciado a temperatura e necessidades em água, promovendo assim uma
depuração do ar mais intensa.
Figura 65: Perfil da humidade relativa do Biofiltro 4.
Mais uma vez, a determinação do encerramento do ensaio experimental teve por base
as características físicas e os parâmetros monitorizados que se apresentavam em
decréscimo, sem previsão de recuperação.
No final da experiência o material filtrante mostrou-se visivelmente muito seco e, mais
uma vez com indícios de atividade de fungos (bolor), que desta vez se considerou mais
intensa (Figura 66 e 67). A humidade capaz de desencadear este tipo de microbiologia é
explicada à luz da própria humidade inicial do material, e pela circulação desacuada da
água, quando esta foi adicionada ao sistema.
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Figura 66: Giesta no final da experiência, do biofiltro 4.
Figura 67: Biofiltro 4 com bolor.
O volume de material contaminado com bolor restringiu-se a um centímetro de altura
para um diâmetro de vinte centímetros.
Contudo, o odor do material manteve-se inalterado apenas a sua intensidade estava
muito reduzida, quando comparada com o material fresco. A massa final registada foi de
588 gramas equivalente a uma densidade de 37,433 kg/m3. A perda de material
corresponde a 76,8% da massa inicial do material, que se traduz por uma degradação
do material ainda mais rápida quando comparado com o biofiltro 3 (de 54,23%).
4.2.5 Biofiltro 5
O material filtrante utilizado no biofiltro 5 foi o tojo, que funcionou em paralelo com o
biofiltro 4. A massa inicial colocada no biofiltro foi de 1880 g que equivale a uma
densidade de 119,684 kg/m3.
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Uma das grandes desvantagens deste material é ser muito poroso, deixando um grande
espaço de vazios entre as partículas, todavia, tentou-se aglomerar e condicionar o
material de forma a menorizar este inconveniente (Figura 68).
Figura 68: Tojo utilizado no Biofiltro 5.
O ensaio durou vinte e oito dias e este foi o último biofiltro ensaiado. O perfil de variação
da temperatura, deste material caracteriza-se, por oscilações constantes (Figura 69). A
temperatura média foi de 25ºC, com um máximo de 30ºC registada, sensivelmente a
meio do decorrer da experiência, e um mínimo registado de 19,5ºC no último dia de
ensaio.
Não existe qualquer comportamento padrão no perfil de temperatura, para que se possa
determinar qual a sua influência. Um comportamento curioso neste biofiltro foi o
decréscimo da temperatura logo após a colocação do material no biofiltro, podendo
evidenciar a morte dos organismos ou a não adaptação dos mesmos às novas
condições. Todo este perfil oscilatório manteve-se até ao cessar da experiência. O
mesmo se aplica para o comportamento da humidade do material, onde apenas
podemos verificar que para a temperatura máxima atingida a humidade sofreu um
decréscimo.
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Figura 69: Perfil de variação da temperatura no Biofiltro 5.
Em média a humidade foi de 63,2%, atingindo o seu máximo de 89,2% e o mínimo de
36,8% (Figura 70). Ao analisar os dois perfis é possível concluir que nos primeiros dias
de acomodação do material foi libertado o teor em humidade que promoveu o
abaixamento da temperatura. O processo inverso mostra que com o aumento da
temperatura ocorre um decréscimo da humidade. Todavia, entre 10 e 14 de julho este
fenómeno não se verificou, pois ambos os parâmetros registaram uma descida.
Figura 70: Perfil de variação da humidade relativa, do biofiltro 5.
No final do ensaio, o material estava seco com modificação da cor verde para castanho
e, alguns ramos, mostravam a mesma cor rosa, já registada nos biofiltros 3 e 4,
denunciando também diferentes ambientes no interior do biofiltro (Figura 71 e Figura
73).
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Figura 71: Aspeto final do biofiltro 5.
Não se registou uma quantidade de finos significativa, correspondendo esta, apenas, às
flores que se desprenderam dos ramos (Figura 72).
Figura 72: Finos registados no final do ensaio, para o Biofiltro 5.
Figura 73: Tojo com bolor.
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A massa restante foi de 337 g equivalente a uma densidade de 21,454 kg/m3. A massa
total perdida no processo foi de 1543 gramas correspondendo a 82,1% da massa inicial.
Em termos de odor, não foi verificado a propagação do odor do compostor para o
biofiltro, mantendo o tojo, no final do ensaio, um odor característico embora muito ténue.
4.3 Análise química
A análise química teve como objetivo a quantificação das emissões odoríferas dos
compostores. Para a realização da análise o ar era recolhido, com auxílio de uma
bomba extratora, para o interior dos tubos colorimétricos que pela reação química do
material com o gás, mudaria de cor até à concentração do gás libertado.
A metodologia do ensaio está descrita no tópico 3.4 para amostragem dos gases
odoríferos.
O material adquirido teve como escala a concentração mais baixa possível de detetar,
no entanto após várias tentativas o equipamento teve muita dificuldade em conseguir
quantificar os compostos selecionados. Assim sendo, possivelmente a concentração de
emissão dos gases poderia ser ainda mais baixa do que a do limite de deteção do
equipamento.
Não foi então possível obter dados relativamente às concentrações emitidas para
amónia, sulfureto de hidrogénio e sulfureto de dimetilo, cingindo-nos apenas à
existência ou não de odor e avaliação, também, da compostagem por outros
parâmetros.
4.4 Análise olfatométrica
Para a análise olfatométrica, recorreu-se à implementação de um painel de narizes que
avaliaram e quantificaram o odor, por resposta do seu sistema olfativo. Esta análise
permitiu avaliar a eficiência na depuração do ar pelos biofiltros.
Deste estudo fizeram parte 70 indivíduos, com idades compreendidas entre 12 e 30
anos. Embora na norma europeia só se validem indivíduos com idade igual ou superior
a 16 anos foi interessante avaliar as diferenças e semelhanças das respostas fora desta
idade. As análises foram realizadas entre os dias 30 de junho e 18 de julho.
Antes do início da análise olfatométrica foi realizado um pequeno inquérito sobre os
hábitos dos indivíduos como, por exemplo, o uso de perfume ou se padecem de alergias
olfativas. Estes são exemplos de fatores que podem causar diferenças nas respostas,
FCUP
Pesquisa de materiais com propriedades desodorizantes para gases oriundos de compostagem | 77
quando em comparação com indivíduos que não apresentem estas características. O
inquérito realizado poderá ser consultado no Anexo II, Anexo II.I e Anexo II.II.
A análise percentual das respostas obtidas no inquérito traduz a variabilidade, dispersão
e tendência das mesmas para um conjunto de indivíduos sujeitos às mesmas
condições. Apesar de esta análise poder revelar algum padrão, o tratamento estatístico
efetuado surge como uma ferramenta mais poderosa e que permite inferir, com maior
certeza, a emissão de odores pela compostagem, a consequente depuração do ar pelos
biofiltros e a determinação de qual deles apesentou melhor rendimento. Assim, será
apresentada a análise percentual em paralelo com o tratamento estatístico que envolveu
a análise às componentes principais, tal como descrito na secção 3.7.
Dos 70 indivíduos do painel, 51% (36 indivíduos) eram do sexo feminino e 49% (34
indivíduos) do sexo masculino (Figura 74).
Figura 74: Composição do painel.
Relativamente aos hábitos pessoais, a totalidade do painel respondeu que não fuma, 68
indivíduos costumam tomar café com regularidade, 44 indivíduos usam perfume
regularmente e 17 indivíduos admitem ter alergias (Figura 75).
FCUP
Pesquisa de materiais com propriedades desodorizantes para gases oriundos de compostagem | 78
Figura 75: Hábitos pessoais do painel.
Dos dados pessoais inquiridos, a variável que mais demonstrou influenciar a
consistência nas respostas seguintes e, portanto, foi condicionante do estímulo
provocado pelos odores, foi a idade (Figura 76). A priori constatou-se uma grande
dispersão na gama das idades equivalente a comportamentos diferentes. A variável das
idades apresenta uma elevada correlação com a primeira componente principal, que,
por sua vez, retém 93,8% variação total existente no conjunto de dados, contrapondo
com 2,9% informação total associada à segunda componente principal.
Figura 76: Análise ACP dos dados pessoais.
Do gráfico, obtido e ilustrado na Figura 76, é possível verificar a existência de outliers
correspondentes a indivíduos com idades que mais se distanciam da média registada na
população. Por outro lado, são também representados conjuntos de grupos que pelas
suas semelhanças comportamentais, se agregam. São exemplo os indivíduos 16, 39 e
FCUP
Pesquisa de materiais com propriedades desodorizantes para gases oriundos de compostagem | 79
51 (Figura 77) onde o padrão é ser do sexo feminino, de 12 anos de idade, não
apresentarem hábitos tabágicos, não consomem de café, não usam perfume
regulamente e não têm alergias. Já os indivíduos 1, 49 e 59 (Figura 77) têm 12 anos de
idade, nenhum fuma, não usam perfume nem apresentam alergias, apenas um indivíduo
difere no consumo de café. A Figura 77 mostra, com maior detalhe, a agregação dos
indivíduos consoante os seus comportamentos, com especial enfâse nos indivíduos
mencionados anteriormente.
Figura 77: Análise ACP, grupos de indivíduos agregados.
Desta forma, ao se relacionar comportamentos e grupos de idades aproximadas,
conseguem-se distinguir classes que representam a mesma variável, e que podem ser
agregadas.
A Figura 78 corrobora o que acima se referiu relativamente à correlação entre a primeira
componente principal e a variável “idade dos respondentes”.
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Figura 78: Análise ACP – caracterização das respondentes.
Quanto à análise grupal deste caso particular, o coeficiente cofenético tem o valor de
0.955 (Figura 79), valor muito razoável tendo em conta o máximo ser 1, traduzindo uma
coincidência quase perfeita das distâncias entre dados.
Fazendo coincidir a informação do dendrograma (Figura 79) e a Figura 76 é possível
identificar os indivíduos 52 e 54, por exemplo, que surgem como outliers. Estes
indivíduos correspondem aos que apresentam as idades mais superiores, de 30 e 26,
respetivamente. Mais uma vez esta informação corrobora com a premissa que a maior
distância à média da variável conduz a comportamentos distintos.
Figura 79: Dendrograma correspondente aos dados pessoais.
FCUP
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De seguida, o inquérito questionava sobre o odor do compostor 2, do Biofiltro 4 e do
Biofiltro 5.
4.4.1 Compostor
Relativamente à sensibilidade da deteção de odor, no compostor, os indivíduos
responderam afirmativamente, isto é, 100% da população conseguiu detetar um odor
diferente do ar envolvente (Figura 80).
Figura 80: Deteção do odor.
Quanto à intensidade do odor, 51,4% (36 indivíduos) da população amostrada
considerou como Forte, enquanto 35,7% (25 indivíduos) identificou o odor como Muito
Forte e 12,9% (9 indivíduos) como Médio. As intensidades de Muito Fraco e Fraco não
tiveram qualquer resposta (Figura 81).
Figura 81: Classificação da intensidade do odor.
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Quanto à avaliação do odor, a grande maioria 97,1% (68 indivíduos) admite um carácter
desagradável, 2,9% (2 indivíduos) avaliou o odor como neutro e nenhum declarou o
odor agradável (Figura 82).
Figura 82: Avaliação do odor.
A última pergunta do inquérito pedia aos indivíduos amostrados que associassem um ou
mais odores do estímulo obtido a um conjunto de odores característicos. Nesta última
questão, os indivíduos dentro dos 35 odores, divididos em classes, poderiam associar
todos, daí o número de associações ser superior ao número de indivíduos totais da
amostra.
Assim, a classe Agressivo foi aquela a que mais indivíduos associaram o odor, seguida
da classe Terra, sendo que a que menos se assemelhou ao odor, segundo o painel, foi
a classe Químico (Figura 83). A Figura 83 releva o número total de odores associados,
por classe. Para cada classe foram somados o número de associações registadas.
Figura 83: Associação do odor para o compostor.
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Dentro da classe Agressivo o odor mais associado foi o de Lixo com 31% das respostas
seguido de Estrume com 26% (Figura 84).
Figura 84: Associação do odor na classe Agressivo.
De um modo geral, o painel apresentou uma grande semelhança nas respostas. Toda a
população conseguiu detetar um odor que caracterizou em média, como forte e
desagradável. Relativamente à associação do odor, este foi comparado com odores de
carácter mais incomodativo como lixos e estrumes.
Em termos da análise ACP das respostas correspondentes às questões relacionadas
com o compostor estas revelam-se, em oposição ao caso demonstrado anteriormente,
com uma maior dispersão espacial. Neste caso, a primeira componente principal retém
38,89% da informação contida no conjunto dos dados e a segunda 25,01%.
Da análise, da Figura 85, é possível agregar indivíduos em grupos e distinguir os
indivíduos 3, 8 e 26 como outliers. Neste caso, a variável com maior expressão
corresponde à associação do odor, na classe Agressivo, tal como demonstram as
Figuras 83 e 84. Foi na classe Agressivo (Figura 84) que se registou o maior número de
respostas, ou seja, a grande maioria da população amostrada associou o odor a azedo,
lixo, esgoto, estrume e ovo podre. Seguidamente, e excluindo as restantes associações
de odor, a variável com maior expressão foi a atribuição da intensidade do odor, onde
das cinco possibilidades de resposta apenas três foram alvo de resposta sempre
relacionado com odores de intensidade moderada a muito forte.
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Figura 85: Análise ACP – compostor.
A deteção do odor bem como a avaliação do odor surgem, aqui, como parâmetros que
pouco influenciam a caracterização das emissões, uma vez que a população amostrada
revela um padrão de praticamente 100% de respostas nos mesmos tópicos de escolha.
Esta realidade encontra-se coincidente com a análise percentual das respostas
representadas nas Figuras 82 e 83. Aqui não existiu dúvida na deteção do odor e, de
forma também vigorosa, a população avaliou o odor como desagradável.
Os outliers identificados apresentam em comparação com os restantes indivíduos uma
maior variabilidade e inconsistência na associação do odor, uma vez que o relacionam a
vários odores ao mesmo tempo completamente distintos.
Quanto aos grupos identificados e agregados, por exemplo, o grupo A do qual fazem
parte os indivíduos 29,33,34,54,57,67 e 69, o grupo B (22, 39,51), o grupo C (16, 62, 66)
e o grupo D (27, 41, 56, 63) agrupam-se essencialmente pelo número de odores que
associam na classe de Agressivo, um, dois, três e quatro, respetivamente.
Quanto à caracterização dos respondentes, as que apresentam maior correlação com a
primeira componente principal são as classes Agressivo e Terra (Figura 86).
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Figura 86: Análise ACP – caracterização das respondentes, do compostor.
Quanto ao coeficiente cofenético de correlação, obtida para a análise grupal, o valor foi
de 0,76 (Figura 87), traduzindo a maior variabilidade de resposta, por maior opção de
escolha no inquérito, o que faz baixar este valor, embora, mesmo assim mantendo-se
bastante elevado.
Figura 87: Dendrograma, do compostor.
Numa primeira fase a análise de componentes, da pergunta em que se pedia para
associar o odor correspondeu à avaliação de quantos odores eram associados por
classe. Na fase seguinte apenas se avaliou se, em cada classe, eram associados ou
não odores. Desta análise surge que em comparação da Figura 85 com a Figura 88, a
FCUP
Pesquisa de materiais com propriedades desodorizantes para gases oriundos de compostagem | 86
percentagem da informação total explicada pela primeira componente principal baixou
ligeiramente para 34,9% e a explicada pela segunda componente principal para 25%.O
indivíduo 3 continuou a ser outlier.
Figura 88: Análise 2 ACP – compostor.
Todavia, quanto ao coeficiente cofenético este melhorou quando se compara com a
Figura 87 com a Figura 89. Aqui o seu valor é de 0,89.
Figura 89: Dendrograma análise 2, do compostor.
A análise do odor do compostor era sempre a última a ser realizada pelo seu caracter
mais intenso, sendo que desta forma é possível garantir que o odor sentido no
compostor não permaneceu no sistema olfativo para análises posteriores. Para além
disso, as três análises eram efetuadas de forma sequencial.
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Pesquisa de materiais com propriedades desodorizantes para gases oriundos de compostagem | 87
4.4.2 Biofiltro A
A análise olfativa do Biofiltro A corresponde ao Biofiltro 4 que continha a giesta. A
amostragem de análises iniciou-se três dias após a sua colocação no biofiltro e
estendeu-se até uma semana antes da sua desativação.
À semelhança do inquérito para o compostor, para o Biofiltro A procedeu-se de igual
modo com a avaliação e quantificação do odor.
Neste Biofiltro 98,6% da população (69 indivíduos) conseguiu detetar o odor e apenas
1,4% (1 indivíduo) não conseguiu diferenciá-lo do odor atmosférico (Figura 90).
Figura 90: Deteção do odor para o Biofiltro A.
Dos indivíduos que conseguiram detetar o odor do Biofiltro A, 59,4% (41 indivíduos)
identificou-o como tendo intensidade Média, seguido de 21,7% (15 indivíduos) que lhe
atribuíram uma intensidade Fraca (Figura 91).
Figura 91: Intensidade do odor para o Biofiltro A.
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Pesquisa de materiais com propriedades desodorizantes para gases oriundos de compostagem | 88
Quanto à avaliação do odor, 43% identificou-o como sendo neutro, 29% como
Agradável e 28% como Desagradável (Figura 92).
Figura 92: Avaliação do odor para o Biofiltro A.
Quando solicitado para associar o odor, a população identificou-o na classe Terra, com
81 respostas para essa classe (Figura 93).
Figura 93: Associação do odor para o Biofiltro A.
Dentro da classe, o odor mais associado foi o de Floresta com 37%, seguido de Pinho
com 29% (Figura 94).
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Pesquisa de materiais com propriedades desodorizantes para gases oriundos de compostagem | 89
Figura 94: Distribuição das respostas na classe Terra.
Relativamente à análise ACP correspondente ao Biofiltro A ressalva-se a grande
distribuição das variáveis, contudo as respostas seguem um padrão bem visível na
Figura 95, na parte negativa dos eixos xx e yy. A percentagem da informação total
associada, respetivamente à primeira e à segunda componente principal, foi de 32,7% e
20,3%.
No eixo das ordenadas a variável com maior significância é a classe Terra, denominada
III5.8, que corresponde à classe mais selecionada quando pedido para associar o odor
do biofiltro. Esta dedução está de acordo com a Figura 93, onde é mostrado
graficamente a classe que apresentou maior número de associações. Por oposição, a
classe Vegetal e Agressivo apresentam também um peso considerável no tratamento
estatístico, explicável pelo grau de saturação do biofiltro que, mais próximo da
conclusão do ensaio laboratorial, não conseguia reter os odores. A ausência da divisão
temporal no tratamento dos dados poderá ser considerada como uma lacuna do estudo.
Todavia, é importante conhecer todo o período de vida do biofiltro, mesmo com as
várias condicionantes e modificação de características.
A grande diferença decorrente deste tratamento dos dados relativamente ao compostor
é o número de outliers encontrados. Para o biofiltro A podemos afirmar, com certeza,
que o indivíduo 64 está nesta categoria, essencialmente por ter selecionado a classe
Vegetal como o odor mais próximo ao sentido.
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Pesquisa de materiais com propriedades desodorizantes para gases oriundos de compostagem | 90
Figura 95: Análise ACP – Biofiltro A.
A avaliação do odor do Biofiltro A é, do mesmo modo, uma variável que traduz
informações importantes para a avaliação do biofiltro como um todo, isto é, como um
material passível de cumprir requisitos para ser implementado numa central de
depuração do ar. Aqui não existe unanimidade na distinção do odor como desagradável,
neutro e agradável (Figura 95), decorrente também da variabilidade de associação do
odor. Mais uma vez, o tratamento estatístico e a análise percentual dos dados indicam a
mesma realidade. A Figura 96 apresenta a correlação entre as variáveis para o Biofiltro
A ficando comprovado, novamente, a associação inversa entre odores considerados
opostos (Classe Terra e Agressivo).
Figura 96: Análise ACP – caracterização das respondentes , do Biofiltro A.
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A análise grupal deu origem a um dendrograma com um coeficiente cofenético de 0,81,
que é um valor bastante bom se tivermos em conta a dispersão dos dados evidenciada
na análise ACP (Figura 97).
Figura 97: Dendrograma, do Biofiltro A.
Quando os dados são analisados, independentemente de quantos odores são
associados em cada classe, considerando apenas a seleção da classe, podemos
constatar alguma variação entre os parâmetros mais significativos (Figura 98). A
percentagem da informação total associada, respetivamente, à primeira e à segunda
componente principal foi de 35,6% e 19,0%. Em comparação com a situação anterior
(Figura 95) a percentagem de informação retida aumentou para o eixo dos xx e diminuiu
para o eixo dos yy.
A variável mais expressiva, neste caso, é a avaliação do odor e a determinação da
intensidade do mesmo. No caso das associações do odor, a classe Agressivo ganha
mais significância enquanto a classe Vegetal mantêm a sua importância. O indivíduo 64
continua a ser o outlier encontrado.
A nuvem de dispersão das respostas (Figura 98) é bem mais distribuída no espaço
quando comparada com a nuvem da Figura 95, traduzindo a ausência de um padrão
claramente visível.
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Figura 98: Análise 2 ACP, do biofiltro A.
A caracterização dos respondentes revela que quem é capaz de avaliar o odor como
neutro ou agradável não o associa a odores da classe Agressivo (Figura 99).
Figura 99: Caracterização das respondentes 2, do biofiltro A.
Em termos do coeficiente cofenético obtido para o dendrograma correspondente à
análise grupal, o valor obtido foi de 0,82 (Figura 100).
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Pesquisa de materiais com propriedades desodorizantes para gases oriundos de compostagem | 93
Figura 100: Dendrograma 2, do Biofiltro A.
Em conclusão, para o Biofiltro A, o painel considerou o odor emitido com intensidade
média, mas neutro com valor próximo de terra. Comparativamente, ao compostor é
possível verificar uma mudança clara nas respostas obtidas, classificando assim o
Biofiltro 4 como um bom depurador de ar, avaliado apenas por estímulos olfativos.
Contudo, algumas das respostas obtidas, que o identificaram como um odor
desagradável, encontram-se na sua maioria já no término do ensaio evidenciando o
poder de saturação do biofiltro em causa.
Uma das grandes dificuldades no presente inquérito foi a associação do odor,
provavelmente resultado de serem narizes pouco treinados para estas situações.
4.4.3 Biofiltro B
O biofiltro B corresponde ao Biofiltro 5, ou seja, o material de enchimento deste biofiltro
foi o tojo. A amostragem da análise do Biofiltro B iniciou-se um dia depois da sua
colocação no interior da estrutura e prolongou-se até uma semana antes do
encerramento do ensaio.
Mais uma vez repetiu-se a metodologia estabelecida para as amostragens anteriores.
Quanto à deteção do odor, 91,435% (64 indivíduos) conseguiram identificar um odor
diferente ao do ar atmosférico, enquanto 8,65% (6 indivíduos) não o conseguiram fazer
na mistura do ar (Figura 101).
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Figura 101: Deteção do odor para o Biofiltro B.
Perante a escala de intensidades fornecida, 39,1% (25 indivíduos) identificou o odor
como sendo Fraco, seguido de 28,1% (18 indivíduos) que afirmou ser de intensidade
Média, 18,8% (12 indivíduos) declarou que o odor era Muito Fraco e 14,1% (9
indivíduos) respondeu que era Forte (Figura 102).
Figura 102: Intensidade do odor para o Biofiltro B.
Quanto à avaliação do odor, 64% (41 indivíduos) da população amostrada afirmou que o
odor possuía um carácter neutro, enquanto 20% (13 indivíduos) respondeu Agradável e
16% (10 indivíduos) considerou Desagradável (Figura 103).
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Pesquisa de materiais com propriedades desodorizantes para gases oriundos de compostagem | 95
Figura 103: Avaliação do odor para o Biofiltro B.
Quando questionados para associar o odor, o painel apontou claramente para a classe
Terra (Figura 104).
Figura 104: Associação do odor para o Biofiltro B.
Dentro da classe Terra, o parâmetro mais selecionado foi Floresta com 39% das
respostas, seguido de Pinho e Madeira ambos com 19% (Figura 105).
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Pesquisa de materiais com propriedades desodorizantes para gases oriundos de compostagem | 96
Figura 105: Distribuição das respostas na classe Terra.
De forma muito clara, a análise às componentes principais do Biofiltro B mostra que o
parâmetro mais significativo no eixo das abcissas é a classe Terra (IV5.8) (Figura 106)
assumindo grande destaque também na análise percentual da associação do odor
(Figura 104). A percentagem da informação total associada, respetivamente, à primeira
e à segunda componente principal foi de 25,9% e de 23,4%.
Apesar da nuvem de dados ser dispersa no espaço, é ainda possível verificar que a
grande maioria encontra-se na parte negativa do eixo das abcissas e ao longo do eixo
das ordenadas, formando grupos de indivíduos muitos próximos entre si nesta região
(Figura 106).
Figura 106: Análise ACP, do Biofiltro B.
Foram identificados três indivíduos como outliers (3, 50 e 64).
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Pesquisa de materiais com propriedades desodorizantes para gases oriundos de compostagem | 97
A caracterização dos respondentes identifica com um elevado grau de correlação com
a primeira componente principal, novamente, a classe Terra por oposição às outras
variáveis em estudo (Figura 107).
Figura 107: Caracterização das respondentes, do Biofiltro B.
Relativamente ao coeficiente cofenético, obtido através da análise grupal, este tem valor
de 0,76. Da análise de todos os coeficientes até agora realizados este é o que possui
menor valor, devido à maior dispersão da informação. No entanto, garante ainda a
relevância do resultado obtido (Figura 108).
Figura 108: Dendrograma, do Biofiltro B.
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Pesquisa de materiais com propriedades desodorizantes para gases oriundos de compostagem | 98
A segunda análise às componentes principais realizada para o Biofiltro B, revela
diferenças significativas relativamente à primeira (Figura 109). Neste caso, as variáveis
com maior expressão são a intensidade do odor e a avaliação do mesmo, sendo que as
classes de associação do odor não apresentam grande relevância, na análise. São
considerados ainda vários grupos que se distribuem aleatoriamente no espaço, e é
identificado um outlier (indivíduo 59).
Figura 109: Análise 2 ACP, do Biofiltro B.
A percentagem de informação total associada, respetivamente, à primeira e segunda
componente principal foi de 41% e de 18,7%.
Como possível identificar na Figura 110, a intensidade do odor é a variável com maior
correlação com a primeira componente principal.
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Pesquisa de materiais com propriedades desodorizantes para gases oriundos de compostagem | 99
Figura 110: Caracterização das respondentes 2, do Biofiltro B.
Esta nova análise revela, ainda, um aumento no valor do coeficiente cofenético
relativamente ao caso anterior, provendo para 0,83 (Figura 111).
Figura 111: Dendrograma 2, do biofiltro B.
O Biofiltro B correspondente ao Biofiltro 5 e a análise exaustiva das respostas evidência
maior variação, quando comparado com o compostor e o Biofiltro A.
Foi notório que mais indivíduos não conseguiram detetar qualquer diferença na mistura
do ar proveniente da emissão do Biofiltro B, tendo também mais dificuldade em atribuir-
lhe uma intensidade. Não obstante, em termos médios, o presente biofiltro é
FCUP
Pesquisa de materiais com propriedades desodorizantes para gases oriundos de compostagem | 100
caracterizado por originar um odor com uma intensidade fraca, de carácter neutro,
predominantemente da classe terra, onde os odores predominantes são associados a
uma floresta.
Mais uma vez, a grande dificuldade no preenchimento do inquérito revelou-se em
associar o odor emitido a um odor familiar e dentro da gama apresentada.
Concluindo, podemos inferir um comportamento depurativo do material filtrante que se
colocou no Biofiltro B (tojo). Da comparação entre as análises olfativas obtidas do
compostor e do presente biofiltro é possível concluir uma melhoria na qualidade do odor
no que diz respeito à incomodidade gerada no painel, sugerindo este material como
candidato à depuração de emissões de compostagem.
4.5 Discussão comparativa dos resultados
O processo de compostagem elaborado para o trabalho experimental apresentou
algumas lacunas, nomeadamente no compostor 1, onde a lixiviação e a humidade
excessiva que não se conseguiram controlar na totalidade, repercutiram interferências
no processo de biodesodorização. Perante a comparação entre os dois processos de
compostagem ensaiados podemos afirmar que o compostor 2 mostrou melhor
desempenho que o compostor 1, muito pelo teor de humidade registado no compostor 1
que, não elevando a sua temperatura, não necessitava de tanta quantidade de água
para humidificar o biofiltro. Por outro lado, o compostor 2, ao ter temperaturas mais
elevadas apresentou maior carência daquele composto e, ao consumi-lo, implicou o
desenvolvimento de condições mais próximas das desejadas para o desenvolvimento
microbiano.
Avaliando a eficiência dos biofiltros ensaiados, perante parâmetros como a temperatura
e a humidade, verificamos que nenhum deles conseguiu ultrapassar temperaturas
superiores a 31ºC e, quando atingiam o seu máximo de temperatura, normalmente
alcançavam o seu potencial máximo de funcionamento. Assim sendo, se apenas
tivéssemos informações deste comportamento podíamos afirmar que a depuração do ar
odorífero foi realizada para taxas mais baixas do que aquelas a que assistimos nas
centrais de compostagem.
O biofiltro que obteve menos rendimento foi o Biofiltro 1, nomeadamente por se
diferenciar bastante das condições padrão estabelecidas para processos de
biodesodorização, enquanto os Biofiltros 4 e 5, por toda a conjuntura do seu
comportamento, foram aqueles que se revelaram mais eficientes. Outro fator explicativo
FCUP
Pesquisa de materiais com propriedades desodorizantes para gases oriundos de compostagem | 101
para o Biofiltro 1 se apresentar como o menos eficiente é o poder desinfetante do
eucalipto. Estas propriedades asséticas, juntamente com um pH ácido não permitem a
fixação da microbiota responsável pelo processo de desodorização, sendo que deste
modo nunca existirão condições favoráveis para o suporte de organismos.
Por outro lado, ao inquirir sobre o tempo de vida útil de cada biofiltro, e comparando
com o estado do material filtrante final, constata-se uma degradação muito expressiva
do meio. Esta propriedade confere uma grande desvantagem na aplicação destes
materiais quando testados numa central industrial de compostagem, por necessidade de
remoção e substituição frequente. Também, a perda de massa do material durante o
processo expressou-se em quantidades superiores a 50%, algo que exige uma
manutenção frequente do material, por necessidade de se adicionar mais meio ao
sistema para continuar a apresentar eficiências elevadas.
Os resultados obtidos da análise química dos gases odoríferos libertados na
compostagem, não foram conclusivos. Esta análise era de especial importância pela
quantificação dos compostos emitidos bem como era um comprovativo que as
substâncias que se estavam a avaliar estavam de facto a ser libertadas. Através da
quantificação dos gases poderíamos, também, inferir sobre o comportamento depurativo
dos biofiltros onde as eficiências de remoção consistiam em números reais e não
apenas em análise de comportamento pela atividade biológica. Dito isto, o estudo
tornar-se-ia um pouco mais rigoroso por existirem de facto valores que são necessários
em escalas industriais, até para comprovar legalmente as ações de melhoria e atividade
da central. É importante ainda referir que na compostagem doméstica, a concentração
dos compostos emitidos é compreensivelmente mais baixa que nas CVO, uma vez que
as escalas de trabalho são totalmente diferentes. Daí a dificuldade nas amostragens
químicas.
Uma vez que a análise química não resultou, e como o estudo olfativo, também é
realizado como auxiliador da avaliação da biodesodorização, foi montado um painel de
narizes no sentido de colmatar a falta de informação resultante da quantificação química
dos compostos. A variância das respostas olfativas assume principal destaque pois é
um resultado direto de como uma população, que não está habituada a condições onde
o odor é um poluente, reage. Da análise olfativa é possível constatar uma melhoria da
qualidade do ar, em termos de odor quando se compara o odor do compostor e o dos
biofiltros. Um fator restritivo deste estudo, foi este só contemplar os Biofiltros 4 e 5. Seria
também curioso, mesmo que as condições dos biofiltros não se apresentassem nos
melhores valores, perceber a tendência de respostas obtidas. No entanto, poderia
FCUP
Pesquisa de materiais com propriedades desodorizantes para gases oriundos de compostagem | 102
acontecer o que se passou para o Biofiltro 1, onde o odor emitido após a passagem do
ar no biofiltro teve uma percentagem significativa de retenção na humidade do material
e o restante foi diluído no ar envolvente, ou então como as duas unidades (compostor e
biofiltro) se encontravam na mesma sala, com pouca distância entre elas comprometer a
medição por interferência dos odores e habituação do sistema olfativo aos compostos
emitidos.
Entre os Biofiltros 4 e 5 também é possível verificar diferenças nas respostas. De fato,
os materiais não são os mesmos pelo que as características inerentes a cada um
podem explicar a variância nos resultados. O Biofiltro 5 (tojo) revelou um espectro de
respostas mais alargado, começando logo por ter uma maior percentagem de indivíduos
que não conseguiram detetar o odor de saída do biofiltro. Só por esta simples análise, é
possível inferir que o meio filtrante reagiu positivamente ao processo de
biodesodorização, de tal forma que, para certos indivíduos amostrados, não existiu
distinção entre o ar limpo e o que analisaram. Por outro lado, a maior distinção das
respostas na avaliação da intensidade do odor pode acarretar um maior grau de
incerteza quanto à concentração dos compostos emitidos. Embora a intensidade tenha
apresentado um espetro mais alargado nas respostas, o carácter neutro, atribuído pela
população, corrobora com a ideia de que a biodesodorização cumpriu o seu papel.
Nas análises do odor da compostagem e do Biofiltro 4 as respostas foram menos
dispersas, sendo que para a compostagem não existiu dúvida que o odor tinha uma
intensidade forte e era desagradável, enquanto o Biofiltro 4 tinha uma intensidade média
e caracterizava-se por ser neutro. A eficiência do Biofiltro 4 também fica comprovada
pela atribuição da maior percentagem a um odor neutro.
Dos inconvenientes desta análise, temos a não diferenciação entre o período de
adaptação, potencial máximo e saturação do biofiltro. Esta situação implicou que as
respostas na avaliação do odor e na atribuição da intensidade do mesmo englobasse
todas as fases, induzindo para as últimas análises erros de apreciação. Contudo, é
também interessante a sua avaliação global, para determinar a mudança dos resultados
mesmo que o biofiltro esteja saturado, pois, mesmo assim, as respostas continuaram a
ser positivas quanto ao seu comportamento depurativo.
Outro aspeto a ressalvar é a associação a um ou mais odores. Esta foi a questão que
mais dificuldade suscitou em todo o painel. Um especialista em análise olfatométrica
recebe formação para esta questão e deverá ser mais objetivo na sua escolha, até pelo
seu carácter rotineiro e habituação aos estímulos recebidos. Aqui, o painel era
inexperiente e acabou por revelar essa mesma característica na dificuldade
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Pesquisa de materiais com propriedades desodorizantes para gases oriundos de compostagem | 103
demonstrada. Apesar disso, na associação do odor, a tendência de resposta para o
compostor foi em odores na classe Agressivo, de que fazem parte os odores como lixo e
estrume (o que corresponde, na íntegra, à realidade), ao passo que para ambos os
biofiltros a tendência foi para a classe Terra. Nesta classe, os odores característicos são
de bolor, madeira, floresta ou pinho. Ao caracterizar esta classe a população referiu
odores como mofo ou bolor, o que de fato se comprovou quando se desativou os
biofiltros, pela existência de ambientes diferentes no interior do biofiltro.
A análise estatística, realizada para as unidades de compostagem e biofiltros,
demonstrou ser coerente com as deduções retiradas da análise percentual dos dados.
Os valores obtidos para os graus de correlação e coeficientes cofenéticos são
considerados razoáveis (frequentemente perto do valor máximo) e aceitáveis para a
população amostrada, traduzindo assim a possível extrapolação das conclusões para
uma população mais alargada.
Em conclusão, a análise olfatométrica denuncia aspetos positivos na utilização da giesta
e do tojo como meio filtrante na biodesodorização.
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Pesquisa de materiais com propriedades desodorizantes para gases oriundos de compostagem | 104
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Pesquisa de materiais com propriedades desodorizantes para gases oriundos de compostagem | 105
5 Conclusões
O tratamento biológico tem sido a tecnologia, mundialmente, mais utilizada para
controlar a emissão de odores. Este método tem demonstrado ser muito eficiente, no
entanto existem estudos que têm como objetivo a otimização dos processos. Desta
forma, este trabalho estuda o tratamento biológico efetuado nos biofiltros, mais
concretamente a interferência do material de enchimento na depuração dos gases
odoríferos.
A realização do trabalho experimental resultou na procura de novos meios filtrantes, que
possam ser mais competitivos comparativamente aos materiais utilizados atualmente. A
sua ampla distribuição e abundância em Portugal, o baixo valor económico, a
capacidade de proporcionar uma longa vida útil do suporte microbiano e
biodegradabilidade, foram algumas das propriedades que estiveram na base da
seleção. Neste sentido, inicialmente realizou-se uma intensa pesquisa bibliográfica para
se conhecer os biofiltros já utilizados e testados, e perceber melhor o tratamento
biológico em si. Numa segunda fase projetou-se e implementou-se uma instalação de
tratamento de gases odoríferos, à escala laboratorial, e selecionou-se a casca de
eucalipto, a giesta e o tojo como meios filtrantes a ensaiar na instalação.
A casca de eucalipto foi selecionada por ser um resíduo da indústria do papel que, ao
mostrar resultados positivos como meio de enchimento, seria uma forma de valorização
deste material. A giesta e o tojo são plantas com uma elevada distribuição no território,
apresentando uma biodegradabilidade reduzida, em função dos seus teores em lenhina.
Os únicos cuidados, tidos no condicionamento dos materiais colocados como biofiltro,
foram o reduzido tempo entre o momento em que foram colhidos e o momento de
colocação na unidade, assim como a redução da granulometria dos materiais no sentido
de aumentar a superfície específica e garantir um melhor condicionamento no biofiltro,
reduzindo os espaços vazios.
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Dos cinco biofiltros testados, por vezes alguns com repetição do material, os que se
mostraram mais eficientes, na depuração dos gases provenientes da compostagem,
foram o Biofiltro 4 (giesta) e o Biofiltro 5 (tojo), pelas condições de temperatura e
humidade atingidas ao longo de todo o ensaio. Foram estes que apresentaram
temperaturas mais elevadas e humidades mais baixas. Onde os perfis de ambas as
propriedades apresentavam comportamentos inversos. Ou seja, quanto maior a
temperatura menor eram os teores de humidade. A comparação de ambos os biofiltros é
possível, uma vez que os gases que estiveram em contato foram exatamente os
mesmos porque funcionaram em paralelo, recebendo os compostos da mesma unidade
de compostagem. Por outro lado, o biofiltro que mais se desviou dos resultados
esperados foi o Biofiltro 1 (casca de eucalipto), por não ter sido capaz de fornecer
condições ideais para o desenvolvimento dos organismos intervenientes no tratamento
biológico.
Um parâmetro importante, que servia, também, para comprovar o rendimento dos
biofiltros era a quantificação química das concentrações dos gases libertados no
processo de compostagem após a passagem nos biofiltros. Contudo, o equipamento
utilizado para tal finalidade não revelou ser o mais adequado por não conseguir detetar
as concentrações emitidas. A razão para tal ter acontecido, deveu-se ao facto de,
provavelmente, estarem abaixo do seu limite de deteção. A construção do painel de
narizes funcionou como um suporte, nesta tarefa, e permitiu inferir sobre o
comportamento de uma comunidade se esta realidade for implementada numa escala
industrial. Como resultado da análise olfatométrica ficou comprovada a redução da
intensidade e do carácter de desagradabilidade entre o gás odorífero da compostagem
(todos os compostos causadores de odores numa CVO), e os gases emitidos após a
biofiltração.
Uma das grandes desvantagens, obtidas na possível implementação dos materiais
selecionados, foi a sua elevada biodegradabilidade e perda de massa, ao longo do
processo, mesmo em curtos períodos de tempo. Não obstante, tem de ser tido em conta
a quantidade muito reduzida de material testado, isto é, a massa utilizada estava
projetada para as dimensões do protótipo experimental e não para a escala industrial.
Outro fator que teve interferência direta na biofiltração foi o facto de a compostagem ser
à escala doméstica. Aqui foram ensaiados dois compostores onde o segundo ensaio
revelou melhores resultados na degradação da matéria orgânica e, consequentemente,
uma melhor produção de odores, responsáveis por desencadear todo o processo de
depuração do ar.
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Pesquisa de materiais com propriedades desodorizantes para gases oriundos de compostagem | 107
Em suma, a giesta e o tojo são os materiais a considerar após este estudo, uma vez que
denunciam capacidades e propriedades de adaptação a processos de
biodesodorização. As suas características, torna-os materiais alvo de mais estudos. No
entanto, o seu curto período de vida inviabiliza, para já, a sua introdução nas instalações
de desodorização, tendo para isso de se realizar mais estudos.
É importante ainda referir que, no final do processo, estes materiais podem integrar a
compostagem e sofrer degradação completa.
Este trabalho revelou-se uma experiência muito enriquecedora, não só a nível
intelectual, devido ao contato com a problemática dos odores, quer pessoal por todo o
contato com novos colaboradores garantindo que, no final, o sucesso do trabalho
experimental fosse notório.
Visto este trabalho possuir uma forte componente experimental, existem sempre
variáveis passíveis de serem melhoradas, e que certamente implicam a obtenção de
novos resultados. Assim, ficam aqui alguns tópicos que servirão de guia para quem
quiser aprofundar esta temática.
Tendo por base a finalidade do tema, isto é, a pesquisa de novos materiais que sejam
mais competitivos, é necessário uma maior gama de escolha, para assim existir uma
melhor comparação entre os materiais e mais opção de escolha.
É, de igual modo, importante que os testes e monitorização dos parâmetros
condicionantes sejam intensivos, com particular destaque para uma metodologia que
permita a quantificação das concentrações dos compostos, que se pretendem avaliar.
No presente trabalho, as condições de funcionamento não foram as consideradas
ótimas pelo que para evitar a secagem, e consequente degradação acelerada do
material, é importante que os gases odoríferos, provenientes da compostagem,
apresentassem 100% de humidificação. Este fator nem sempre é fácil de se conseguir.
A amostragem correta dos compostos também poderá pôr em causa o sucesso, ou a
eficácia dos parâmetros analisados ao serem introduzidos erros passiveis de serem
eliminados. Da mesma forma, refere-se a necessidade do equipamento estar calibrado
para as concentrações que se estimam estar a ser libertadas juntamente com uma
resposta imediata e contínua dos compostos, da temperatura e humidade dos biofiltros.
Após todos estes ensaios em laboratório, era de especial relevância realizar pelo menos
um ensaio do biofiltro em ambiente industrial, sendo uma forma direta de comprovar os
resultados obtidos experimentalmente.
FCUP
Pesquisa de materiais com propriedades desodorizantes para gases oriundos de compostagem | 108
Depois de comprovado o seu potencial, o passo seguinte seria a avaliação das misturas
dos materiais filtrantes, que melhores resultados obtiveram.
Por fim, assinala-se o carácter inovador deste tipo de trabalho mostrando o seu especial
interesse. Os resultados obtidos necessitam, seguramente, de mais investigações e
desenvolvimento, sendo este trabalho de investigação um bom ponto de partida.
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ANEXOS
i
Anexo I: Critérios de dimensionamento e operação dos Biofiltros
Quadro: I Principais critérios de dimensionamento e operação para Biofiltros, Biopercoladores e Bioscrubbers [(Antunes R. M., 2006) citando WEF/ASCE, 1995; Boyle, 2001, Metcalf & Eddy, 2003; Iranpour et al, 2005; Koe, 2000; Wu et al., 2001; USEPA, 2003; Hansen and indel, 2000; Le Cloirec at al., 2001].
Critério Unidade Biofiltro Biopercolador Bioscrubber
De dimensionamento
Tempo de retenção real S 30 - 60 - -
Tempo de retenção em
vazio S 20 -200 2 – 60 -
Porosidade do meio
filtrante % 35 - 50 90 -95 -
Altura do meio filtrante m 1 - 1,25 0,9 – 1,8 -
Carga hidráulica
superficial m3/m2/h
50 – 100
(150) 0,75 – 1,25 1
720 – 3600 2
30 – 100 1
Carga hidráulica
volúmica m3/m3/h 10 -100 - -
Perda de carga mm ca 100 – 150 90 – 500 -
Velocidade de
aproximação do gás m/s - 0,067 – 0,670 -
Taxa de recirculação do
líquido de lavagem L/min - 0,2 -1,0 -
Carga mássica kg/m2/s - -
0,41 – 0,819
3
0,4 – 0,7 4
De operação
Temperatura interior ºC 15 – 45 (25
– 35) - -
Humidade em função
do meio filtrante
- material orgânico
%
30 -70
50 – 65
- -
ii
- material sintético 55 – 65
pH - 6 -8 (6,5 –
7,5)
-7 (CVO)
1-2 (H2S) -
Concentração em
oxigénio
O2 / composto
Oxidado
mg O2/L
100
1 - 2 - -
1: líquido de lavagem; 2: ar; 3: gás; 4 líquido
iii
ANEXO II: Análise olfativa – inquérito compostor.
Figura II: Inquérito da análise olfativa, para o compostor.
iv
ANEXO II.I: Análise olfativa – inquérito Biofiltro A.
Figura II.I: Inquérito da análise olfativa, para o Biofiltro A.
v
ANEXO II.II: Análise olfativa – inquérito Biofiltro B.
Figura II.II: Inquérito da análise olfativa, para o Biofiltro B.
vi
ANEXO III: Análise olfativa – Associação de odor (compostor).
Figura III.I: Respostas da Classe Medicinal, do compostor.
Figura III.II: Respostas da Classe Químico, do compostor.
Figura III.III: Respostas da Classe Peixe, do compostor.
vii
Figura III.IV: Respostas da Classe Agressivo, do compostor.
Figura III.V: Respostas da Classe Floral, do compostor.
Figura III.VI: Respostas da Classe Frutos, do compostor.
viii
Figura III.VII: Respostas da Classe Vegetal, do compostor.
Figura III.VIII: Respostas da Classe Terra, do compostor.
ix
ANEXO IV: Análise olfativa – Associação de odor (Biofiltro A).
Figura IV.I: Respostas da Classe Terra, do Biofiltro A.
Figura IV.II: Respostas da Classe Químico, do Biofiltro A.
Figura IV.III: Respostas da Classe Peixe, do Biofiltro A.
x
Figura IV.IV: Respostas da Classe Agressivo, do Biofiltro A.
Figura IV.V: Respostas da Classe Floral, do Biofiltro A.
Figura IV.VI: Respostas da Classe Frutos, do Biofiltro A.
xi
Figura IV.VII: Respostas da Classe Vegetal, do Biofiltro A.
Figura IV.VIII: Respostas da Classe Terra, do Biofiltro A.
xii
ANEXO V: Análise olfativa – Associação de odor (Biofiltro B).
Figura V.I: Respostas da Classe Medicinal, do Biofiltro B.
Figura V.II: Respostas da Classe Químico, do Biofiltro B.
Figura V.III: Respostas da Classe Peixe, do Biofiltro B.
xiii
Figura V.IV: Respostas da Classe Agressivo, do Biofiltro B.
Figura V.V: Respostas da Classe Floral, do Biofiltro B.
Figura V.VI: Respostas da Classe Frutos, do Biofiltro B.
xiv
Figura V.VII: Respostas da Classe Vegetal, do Biofiltro B.
Figura V.VIII: Respostas da Classe Terra, do Biofiltro B.