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Tocar, Mover, Inspirar… Da Paixão do Palco à Dádiva do Ensino Relatório de Estágio Profissional Orientador: Mestre Mariana de Sena Amaral da Cunha Ana Rita de Sousa Pacheco Porto, 30 de junho de 2014 Relatório de Estágio Profissional apresentado com vista à obtenção do 2º Ciclo de Estudos conducente ao grau de Mestre em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário (Decreto-lei nº74/2006 de 24 de março e o Decreto-lei nº43/2007 de 22 de fevereiro).

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Tocar, Mover, Inspirar… Da Paixão do

Palco à Dádiva do Ensino

Relatório de Estágio Profissional

Orientador: Mestre Mariana de Sena Amaral da Cunha

Ana Rita de Sousa Pacheco

Porto, 30 de junho de 2014

Relatório de Estágio Profissional apresentado

com vista à obtenção do 2º Ciclo de Estudos

conducente ao grau de Mestre em Ensino de

Educação Física nos Ensinos Básico e

Secundário (Decreto-lei nº74/2006 de 24 de

março e o Decreto-lei nº43/2007 de 22 de

fevereiro).

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Ficha de Catalogação

Pacheco, A. R. S. (2014). Tocar, Mover, Inspirar… Da Paixão do Palco à

Dádiva do Ensino. Relatório de Estágio Profissional. Porto: A. Pacheco.

Relatório de estágio profissionalizante para a obtenção do grau de Mestre em

Ensino da Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário, apresentado à

Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.

PALAVRAS-CHAVE: ESTÁGIO PROFISSIONAL, IDENTIDADE

PROFISSIONAL DO PROFESSOR, EDUCAÇÃO FÍSICA, DIREÇÃO DE

TURMA.

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III

“…Assim, depois de muito esperar, num dia como outro qualquer,

Decidi triunfar.

Decidi não ficar à espera das oportunidades e fui procurá-las.

Decidi ver cada problema como a oportunidade de encontrar uma solução.

Decidi ver cada deserto como a oportunidade de encontrar um oásis.

Decidi ver cada noite como um mistério a resolver.

Decidi ver cada dia como uma nova oportunidade de ser feliz.

Naquele dia descobri que o meu único rival era apenas as minhas debilidades

e que estas são a única e melhor forma de me superar.

Naquele dia deixei de ter medo de perder e comecei a ter medo de não ganhar.

Descobri que não era o melhor e que talvez nunca o tenha sido.

Deixou de me importar quem ganha ou perde.

Agora simplesmente me importa ser melhor que ontem.

Aprendi que o difícil não é chegar ao topo, mas sim nunca deixar de subir.

Aprendi que o maior sucesso que posso alcançar é ter o direito de chamar a

alguém de ‘amigo’.

Descobri que o amor é mais do que uma simples paixão. O amor é uma

filosofia de vida.

Naquele dia deixei de ser o reflexo dos meus poucos sucessos alcançados e

comecei a ser a minha própria luz do presente.

Aprendi de que nada serve ser luz se não for para iluminar também o caminho

dos demais.

Naquele dia decidi mudar tanta coisa...

Aprendi que os sonhos são apenas para transformar em realidade

E desde esse dia que não durmo para descansar. Agora apenas durmo para

SONHAR.”

(Walt Disney)

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V

DEDICATÓRIA

Aos meus Pais,

Por me darem tudo para poder concretizar os meus sonhos.

A Todos,

Cujo mérito foi subvalorizado.

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VII

AGRADECIMENTOS

Toda esta minha jornada resulta de muito trabalho, esforço e paixão. Contudo,

nunca é demais lembrar aqueles que, de uma forma ou outra, nos ampararam

nos momentos difíceis e connosco, partilharam alegrias. Esta é a minha singela

forma de demonstrar o quanto o vosso contributo foi e é, por mim, reconhecido.

À minha Professora Orientadora, Prof.ª Mariana Cunha, por estar sempre

presente, embora ausente. Pelas constantes “Então, como está a correr?”

proferidos (por vezes com pressa) em todos os encontros causais nos

corredores, pela exigência e demonstração de entrega a uma paixão que

terei em toda a minha vida como um exemplo a seguir.

À minha Professora Cooperante, Prof.ª Rosa Lopes, por toda a assertividade,

exemplo dado, paciência e tempo passado nas salas dos Diretores de Turma e

Professores, no bar da escola, ao telefone. Toda esta aprendizagem fez-me

crescer não só como Professora, mas também como Mulher e Ser Humano.

A todos os professores da FADEUP, os que tão humilde e carinhosamente

apelido de “tios”, nomeadamente àqueles com os quais estabeleci uma relação

de afinidade mais próxima e me levaram a acreditar ainda mais na afetividade

positiva entre professor-aluno como intermédio para um bom ambiente de

aprendizagem: Zélia Matos, Jorge Pinto, Olga Vasconcelos, José Augusto

Santos, Paula Queirós, Ramiro Rolim, Lurdes Ávila, Susana Soares, Rui

Garganta, André Seabra, Manuel Botelho, Nuno Corte-Real, Paula Batista, e

Amândio Graça.

Ao grupo disciplinar de Educação Física:

Ao Prof. Dimas Pinto pela mesa partilhada na sala de convívio e

constante ensinamento sobre os Jogos Desportivos Coletivos e sobre a Vida;

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VIII

Ao Prof. Pedro Gregório pela oportunidade de lecionar noutras turmas e

pela partilha de experiências como forma de me enriquecer profissional e

pessoalmente;

´À Prof.ª Laura Brito por todos os momentos de consolação, troca de

ideias, oportunidades de aprendizagem através da observação das suas aulas

e, até, recordação dos meus tempos como sua aluna;

Ao Prof. Jorge Pereira, por me ajudar a encontrar o equilíbrio e nunca

me ter deixado desistir do meu sonho da Dança.

Ao corpo docente e não-docente da ESRP, nomeadamente aos professores

José Ferreira, Eurico Jantarada, Raquel Duarte, Ana Maria Figueiredo,

Madalena Moreno, Ilídia Ferreira, Isabel Lima, Fátima Carvalho, Paula

Medeiros, Noel Miranda, ao senhor José Carlos, ao senhor Manuel, à D. Carla,

à D. Dulce, à D. Célia e a todos desta equipa fantástica.

Ao “núcleo”, pela disponibilidade mostrada em me ajudar a superar as minhas

dificuldades, pelas opiniões trocadas, serões passados às Sextas-feiras à

tarde. Que a sorte nos sorria aos três!

Ao Prof. Albertino Cadilhe por receber de braços abertos a “boa filha que à

casa torna” como professora estagiária.

Ao Prof. Pedro Monteiro: por me ter convencido a ingressar no Curso

Tecnológico de Desporto e, consequentemente, a lutar determinadamente

pelos meus sonhos, pela ajuda facultada durante o meu primeiro ano de

mestrado, por “torcer” tanto para que eu ficasse a estagiar na ESRP, e pelas

conversas que nunca esquecerei.

À Teresinha, pelo apoio, conversas, cafés, sorrisos. Que esta amizade, que

já dura desde que fui aluna nesta escola, perdure até muito depois de por ela

ter passado como professora!

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IX

Ao 1ºA, ao 1ºE, ao 1ºB e a todos os meus colegas de curso que contribuíram

para que esta minha passagem pela FADEUP se tornasse a maior aventura

da minha vida.

Ao 10ºJ, “os meus vinte e tal filhos”, pelas adversidades colocadas no meu

caminho que tanto me fizeram crescer e aprender, pelos olhares sinceros,

pelas risadas gratuitas, pelos desabafos. Vou ter muitas saudades!

Aos RPDancers, pelo carinho genuíno com que sempre me trataram, por me

aturarem quando exigi demais e por me fazerem cada vez mais acreditar na

Dança como um modo de educação para a Vida.

À Prof.ª Sandra Igreja, pela orientação em todo o meu 12º ano. Se houve

alguém que tomei como exemplo para me decidir a enveredar pela área

desportiva a nível académico, e que se revelou o meu modelo para atuar

enquanto professora estagiária, então não haja dúvidas de que a tomei a si.

Obrigada pelas experiências maravilhosas que partilhamos juntas.

À Prof.ª Filomena Ribeiro, por ser outro modelo no qual eu me baseei para

seguir a carreira docente. A sua assertividade, mau (bom) feitio, empatia e

confiança nos alunos fez-me tomá-la como outro exemplo a se(gui)r.

Também pelos almoços e conselhos, os telefonemas e os raspanetes. Adoro

poder chamá-la de colega!

À Kandoo e à Paiva, pelos longos telefonemas intercontinentais e por terem

marcado tanto estes meus anos como estudante da FADEUP.

À Ana Inês e à Vânia, pelo constante auxílio, pelas palavras de apoio, pela

ajuda nos documentos mais importantes, por me tirarem aos fins de semana de

casa e me obrigarem a socializar como as pessoas da minha idade.

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X

Ao Hugo, pelo ombro amigo, pelos silêncios nos meus desabafos, pelas

palavras quando precisava de ouvir algumas, pelo auxílio nas planificações.

À Simões, pelos fins de semana passados em tua casa, pelas saídas de

descanso, pela ajuda em documentos. És a minha “sis”!

Ao Fred e ao Gustavo, por partilharem comigo a sua visão do Voleibol e do

Andebol e me ajudarem a colocá-la em prática com os meus alunos.

À Sílvia, por me dar um porto-de-abrigo após as saídas da escola, e às minhas

alunas da Academia Ginásio de Aguçadoura por me ajudarem a distrair de

todas as tarefas deste ano tão intenso.

A todo o pessoal da Biblioteca da FADEUP, pela inteira disponibilidade em

ajustar a ferramenta EndNote no computador ou a aconselhar a melhor

literatura para sustentar este meu Relatório de Estágio.

Aos meus pais: pelos dias em que me tornei invisível devido ao trabalho, pelo

constante interesse em tudo o que eu fazia durante o dia, pela paciência

enquanto contava repetidamente as minhas aventuras diárias, pela cedência

total do transporte da família quando precisava de sair mais cedo para as

atividades, por nunca me facilitarem a vida de modo a eu aprender a lutar, por

me ensinarem a nunca ter medo de falar quando tinha razão, por exigirem

sempre que fosse perfecionista, por me amarem incondicionalmente e por

nunca colocarem nenhum entrave à concretização dos meus sonhos. Muito do

que sou se deve a vocês. AMO-VOS!

“Podemos criar, desenhar e construir o lugar mais maravilhoso

da Terra, mas são necessárias pessoas para transformar

esse sonho em realidade” (Walt Disney).

Obrigada por nunca me deixarem desistir!

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XI

ÍNDICE GERAL

DEDICATÓRIA .................................................................................................. V

AGRADECIMENTOS ....................................................................................... VII

ÍNDICE DE FIGURAS ..................................................................................... XIII

ÍNDICE DE QUADROS ................................................................................... XV

ÍNDICE DE ANEXOS .................................................................................... XVII

RESUMO........................................................................................................ XIX

ABSTRACT .................................................................................................... XXI

LISTA DE ABREVIATURAS ........................................................................ XXIII

1. “Tudo Tem Lugar Onde Nada Existe” – O Prólogo ......................................... 3

2. Ato I – A Protagonista e a Peça ..................................................................... 9

2.1 A Prima Ballerina ...................................................................................... 9

2.2 ESTÁGIO – o Grand Finale .................................................................... 13

2.2.1 As Expectativas Iniciais .................................................................... 13

2.2.2 Uma Realidade Não Muito Diferente ................................................ 16

3. Ato II – O Cenário ......................................................................................... 23

3.1 Enquadramento Institucional e Legal – O Guião da Peça ....................... 23

3.2 Enquadramento Funcional ...................................................................... 26

3.2.1 O Palco: A Escola Cooperante ..................................................... 26

3.2.2 O Grupo Disciplinar de EF - O Corpo de Baile ............................. 27

3.2.3 O Núcleo de Estágio – o Pas-de-Troix Dançante ......................... 28

3.2.4 O Meu Público – J de Joviais ....................................................... 29

4. Ato III – A Realização Coreográfica ............................................................. 37

4.1 Organização e Gestão do Ensino e da Aprendizagem – A Composição 37

4.1.1 A Conceção – A Ilustração da Realidade Cénica ............................. 38

4.1.2 O Planeamento do Ensino - Os Ensaios ........................................... 43

4.1.3 Realização – O Spotlight .................................................................. 48

4.1.3.1 Controlo e Disciplina – O Fator Decisivo .................................... 49

4.1.3.2 Organização/Gestão da Aula – A Dinâmica da Coreografia ....... 54

4.1.3.3 Instrução e Feedback – A Melodia ............................................. 60

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XII

4.1.4 Avaliação – Os Aplausos .................................................................. 63

4.2 A Vivência DA e PARA a Escola - Os Momentos Áureos do Enredo ...... 70

4.2.1 RPDancers – O Regresso da Solista Pródiga .................................. 71

4.2.2 Direção de Turma – A Narrativa Encaixada ...................................... 75

4.2.3 Movimentos Omnipresentes – Eventos na Escola ............................ 77

4.2.3.1 Escola Solidária .......................................................................... 77

4.2.3.2 Corta-Mato Concelhio ................................................................. 78

4.2.3.3 Torneio de Voleibol de Natal ...................................................... 80

4.2.3.4 Corta-Mato Distrital ..................................................................... 81

4.2.3.5 Dia da Escola ............................................................................. 83

4.2.3.6 Clube da Sopa e Clube “Sexta às 5” .......................................... 83

4.3 Estudo de Investigação – “O Diretor de Turma na Atualidade Escolar ... 85

5. Ato IV – “O Diretor de Turma na Atualidade Escolar” – Os Bastidores ........ 89

Resumo ......................................................................................................... 89

Introdução ..................................................................................................... 89

Metodologia .................................................................................................. 92

Contexto .................................................................................................... 92

Caracterização do Grupo de Estudo .......................................................... 93

Procedimentos de Recolha de Dados ....................................................... 93

Análise dos Dados ..................................................................................... 93

Análise e Discussão dos Resultados ............................................................ 94

Conclusão ..................................................................................................... 99

Referências Bibliográficas ........................................................................... 100

6. “O Sucesso é Um Percurso e Não Um Destino” – O Epílogo ..................... 105

7. Referências Bibliográficas – As Musas ...................................................... 113

8. Anexos – Os Adereços .............................................................................. XXV

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XIII

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 - Localidade de Residência dos Alunos da Turma ............................. 30

Figura 2 - Constituição do Agregado Familiar .................................................. 31

Figura 3 - Instituição de Ensino Anterior .......................................................... 31

Figura 4 - Modalidades Praticadas Pelos Elementos da Turma ....................... 32

Figura 5 - Cartaz do Corta-Mato Concelhio ...................................................... 79

Figura 6- Batismo do Clube da Sopa ............................................................... 84

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XV

ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1 - Composição Curricular ................................................................... 41

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XVII

ÍNDICE DE ANEXOS

Anexo I - Inventário relativo ao Material de Ginástica ................................. XXVII

Anexo II - Ficha de Caracterização inicial .................................................... XXIX

Anexo III - Planeamento Anual para o 10ºJ ................................................ XXXIII

Anexo IV - Unidade Didática de Basquetebol............................................ XXXVII

Anexo V - Plano de Aula, UD Andebol .......................................................... XLIII

Anexo VI - Grelha de AD, UD Andebol ........................................................ XLVII

Anexo VII - Grelha de Avaliação Oficial, UD Voleibol ................................... XLIX

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XIX

RESUMO

O presente documento surge no âmbito da unidade curricular Estágio

Profissional, inserida no 2.º ciclo de estudos referente ao grau de Mestre em

Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário. Partindo do facto

de o Estágio Profissional ser indispensável para o desenvolvimento das

competências de ensino, este relatório visa testemunhar todas as experiências

vivenciadas servindo como uma reflexão sobre a reflexão na ação (Schön,

1997): uma autocrítica. O Estágio Profissional decorreu numa escola do distrito

do Porto, sendo o núcleo de estágio constituído por três estudantes estagiários,

uma professora cooperante dessa instituição e uma professora orientadora da

Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Para além da prática

pedagógica com uma turma, a estudante-estagiária participou ainda nas

atividades de Desporto Escolar da respetiva escola e realizou um

acompanhamento regular do cargo da Direção de Turma. O referido constructo,

denominado de Relatório de Estágio, encontra-se dividido em 8 capítulos: (1)

“Tudo Tem Lugar Onde Nada Existe” – O Prólogo; (2) Ato I – A Protagonista e

a Peça; (3) – Ato II – O Cenário; (4) Ato III – A Realização Coreográfica; (5) Ato

IV – “O Papel do Diretor de Turma na Atualidade Escolar” – Os Bastidores; (6)

“O Sucesso É Um Percurso e Não Um Destino” – O Epílogo; (7) – Referências

Bibliográficas – As Musas e (8) Anexos – Os Adereços, pretendendo espelhar

todas as vivências e reportar a acontecimentos ocorridos em contexto de

prática pedagógica supervisionada, assim como sustentar todas as opções e

estratégias com a literatura vigente e enaltecer a importância da envolvência

com a comunidade escolar. Afigura-se, assim, como toda a evolução de uma

estudante-estagiária que, no decorrer de um ano letivo, planeou, construiu,

observou, analisou, refletiu e reformulou, sempre com a ambição de realizar o

sonho de se tornar Professora de Educação Física e que conseguiu

compreender a Coragem, o Orgulho e a Paixão de ser PROFESSORA (Bento,

2008).

PALAVRAS-CHAVE: ESTÁGIO PROFISSIONAL, IDENTIDADE

PROFISSIONAL DO PROFESSOR, EDUCAÇÃO FÍSICA, DIREÇÃO DE

TURMA.

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XXI

ABSTRACT

This document is framed in the curricular unit Practicum Training, included in

the Physical Education Teacher Education Master’s degree in teaching Physical

Education in Basic and Secondary Education. Assuming that the Practicum is

essential for the development of teaching skills, this report aims to testify all the

experiences lived and reflections about it, serving as reflection on reflection-in-

action (Schön, 1997): a self-critique. The Practicum took place at a school in the

Oporto region, being the center of training course consisting of three student

teachers, a cooperative teacher of this institution and a supervisor from the

Faculty of Sport of the University of Porto. In addition to the pedagogical

practice with a class, the student teacher also participated in the activities of the

School Sports Clubs and regularly followed the Form Teacher’s tasks. Such

construct, named as the Practicum Report, is divided into 8 chapters: (1) “Tudo

Tem Lugar Onde Nada Existe” – O Prólogo; (2) Ato I – A Protagonista e a

Peça; (3) – Ato II – O Cenário; (4) Ato III – A Realização Coreográfica; (5) Ato

IV – “O Papel do Diretor de Turma na Atualidade Escolar” – Os Bastidores; (6)

“O Sucesso É Um Percurso e Não Um Destino” – O Epílogo; (7) – Referências

Bibliográficas – As Musas and (8) Anexos – Os Adereços. It wishes to mirror all

the experiences and report the events in the context of a supervised

pedagogical practice, as well as to support all options and strategies taken

during the academic year with the current key literature and to outline the

importance of interacting with the school community. It appears, therefore, as a

full report of the student teacher’s evolution, who over the course of a school

year, planned, built, observed, examined, reflected and redesigned, always with

the ambition to realize the dream of becoming a Physical Education Teacher,

achieving the ability to understand the Courage, the Pride and the Passion of

being a TEACHER (Bento, 2008).

KEYWORDS: PRACTICUM TRAINING, TEACHER’S PROFESSIONAL

IDENTITY, PHYSICAL EDUCATION, FORM TEACHER.

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XXIII

LISTA DE ABREVIATURAS

AF – Atividade Física

AD – Avaliação Diagnóstica

AS – Avaliação Sumativa

ARE – Atividades Rítmicas Expressivas

CSPOPE – Cursos Secundários Predominantemente Orientados para o

Prosseguimento de Estudos

CSPOVA – Cursos Secundarios Predominantemente Orientados para a Vida

Ativa

DE – Desporto Escolar

DT – Diretor de Turma

EB – Ensino Básico

EE – Estudante-Estagiário

EEFEBS – Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário

EF – Educação Física

EP – Estágio Profissional

ESRP – Escola Secundária de Rocha Peixoto

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XXIV

FADEUP – Faculdade de Desporto da Universidade do Porto

JDC – Jogos Desportivos Coletivos

MEC – Modelos de Estrutura do Conhecimento

MED – Modelo de Educação Desportiva

NE – Núcleo de Estágio

PC – Professora Cooperante

PCE – Projeto Curricular de Escola

PCT – Projeto Curricular de Turma

PEA – Processo de Ensino-Aprendizagem

PEE – Projeto Educativo de Escola

PES – Prática de Ensino Supervisionada

PIA – Projeto de Investigação-Ação

PO – Professora Orientadora

RE – Relatório de Estágio

RI – Regulamento Interno

UD – Unidade Didática

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1. “TUDO TEM LUGAR ONDE NADA EXISTE” – O PRÓLOGO

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3

1. “Tudo Tem Lugar Onde Nada Existe” – O Prólogo

“ (…) A existência do tempo e do espaço para pensar, analisar, produzir,

construir e (re)construir o pensamento, o

conhecimento e as conceções

é realmente curial”.

(Batista & Queirós, 2013, p. 35)

O presente documento foi elaborado no âmbito da unidade curricular

Estágio Profissional (EP), inserida no 2ºciclo de Estudos em Ensino de

Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário (EEFEBS), conducente ao

grau de Mestre pela Faculdade de Desporto da Universidade do Porto

(FADEUP). Surge, assim, como o momento culminante de toda a formação

académica.

Na FADEUP, o EP integra duas componentes: a Prática de Ensino

Supervisionada (PES), realizada numa escola cooperante com protocolo com a

referida instituição, e o Relatório de Estágio (RE), orientado por um professor

da faculdade responsável pela supervisão do estudante-estagiário (EE).

Traduz-se na atribuição, durante um ano letivo, da responsabilidade de todo o

processo de ensino de uma turma cujo professor titular, docente da escola

cooperante, será o seu orientador cooperante, responsável pela supervisão do

EE em contexto real de ensino.

Pimenta (2001) citado por Felício e Oliveira (2008, p. 217)) “constata

uma distância entre o processo de formação inicial dos professores e a

realidade encontrada nas escolas e chama a atenção para um problema que

há tempo se instaura no processo de formação profissional de professores, que

diz respeito à relação entre a teoria estudada nas Universidades e a prática

desenvolvida no ambiente profissional, entre a formação e o trabalho”. Por sua

vez, Nóvoa (1992, p. 25) afirma que “a formação deve estimular uma

perspectiva crítico-reflexiva, que forneça aos professores os meios de um

pensamento autônomo e que facilite as dinâmicas de autoformação

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4

participada”. Seguindo as linhas propostas pelas Normas Orientadoras do EP1,

o mesmo “visa a integração no exercício da vida profissional de forma

progressiva e orientada, através da prática de ensino supervisionada em

contexto real, desenvolvendo as competências profissionais que promovam

nos futuros docentes um desempenho crítico e reflexivo, capaz de responder

aos desafios e exigências da profissão”. (p.2). Deste modo, o EP da FADEUP

traduz-se num momento único de conjugação teoria-prática por parte do EE e

de construção da sua identidade profissional como professor de Educação

Física (EF).

Nesse sentido, o presente documento, intitulado “Tocar, Mover,

Inspirar… Da Paixão do Palco à Dádiva do Ensino” espelha todas as minhas

vivências durante o meu EP no ano de 2013/2014. No decorrer deste

constructo serão narrados acontecimentos, memórias, recordações e reflexões

que constituíram o meu quotidiano neste ano onde a dualidade

professora/estudante esteve sempre presente (Alsup, 2006; Dotger & Smith,

2009; Zembylas, 2003). É um documento que se revela muito mais do que uma

simples descrição: revela-se uma confluência de abordagens e ideologias por

mim aplicadas em prática de ensino, sustentadas ou contrapostas pela

literatura vigente, mas sempre tendo em conta a minha experiência, o que foi

original, vivenciada e “teve lugar” num mundo que eu desconhecia, onde ainda

“nada existia”.

O RE foi redigido e elaborado recorrendo a uma forma de ilustração ou

metáfora: um espetáculo cénico, mais concretamente um bailado, sendo

alusivo ao meu passado artístico. Encontra-se subdividido em nove capítulos:

(1) “Tudo Tem Lugar Onde Nada Existe” – O Prólogo, constituindo a introdução

de todo o documento; (2) Ato I – A Protagonista e a Peça, consubstanciando-se

numa reflexão autobiográfica na qual discorro sobre todo o meu percurso e as

razões que me levaram a enveredar pela FADEUP, bem como as expetativas

iniciais relativas ao EP e a confrontação com a realidade local e escolar. O

1 Normas Orientadoras da Unidade Curricular Estágio Profissional do Ciclo de Estudos

conducente ao Grau de Mestre em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básicos e Secundário da FADEUP: 2013-2014. Porto: Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Matos, Z.

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terceiro capítulo, (3) – Ato II – O Cenário, tem como objetivo enquadrar toda o

EP a nível legal e funcional, revisitando toda a legislação que sustenta a sua

operacionalização e, em particular, o contexto funcional que me abraçou

enquanto EE. Ainda neste capítulo, reflito sobre a importância dos vários

agentes de formação que intervieram na minha formação em situação real de

ensino, como a Professora Cooperante (PC), a Professora Orientadora (PO) e

o Núcleo de Estágio (NE). No capítulo seguinte, (4) Ato III – A Realização

Coreográfica, debruço toda a minha atenção na realização da prática

profissional por mim exercida ao longo do meu EP com base nas três áreas de

desempenho contempladas nas Normas Orientadoras do EP: Área 1-

Organização e Gestão do Ensino e da Aprendizagem, a aprendizagem e

utilização de estratégias que decorrem de todo o processo educativo, Área 2 –

Participação na Escola e Relações com a Comunidade, que se traduzem na

narrativa das vivências escolares ao nível das atividades extracurriculares

organizadas, da Direção de Turma e do Desporto Escolar (DE), e a Área 3-

Desenvolvimento Profissional, o meu estudo de investigação que é

desenvolvido e pormenorizado no capítulo seguinte, dando a conhecer o seu

tema em título: (5) Ato IV – “O Papel do Diretor de Turma na Atualidade

Escolar” – Os Bastidores. Nesta parte do RE, recorro à metodologia da

investigação, incidindo a mesma no entendimento do papel do Diretor de

Turma (DT) através de uma recolha de dados efetuada com recurso à

entrevista semiestruturada e a uma análise dos dados de caráter qualitativo. O

RE termina com a conclusão presente no sexto capítulo, (6) “O Sucesso É Um

Percurso e Não Um Destino” – O Epílogo, exaltando a importância que o EP

teve na minha formação inicial, o culminar de toda uma vivência académica da

e para a FADEUP, no capítulo (7) – Referências Bibliográficas – As Musas e no

(8) Anexos – Os Adereços.

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2. ATO I – A PROTAGONISTA E A PEÇA

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2. Ato I – A Protagonista e a Peça

2.1 A Prima Ballerina

“Sou sonhadora, mas lutadora,

Sabendo que para concretizar é necessário trabalhar.

Sou amiga, mas a pior inimiga,

Em caso de traição ou desilusão.

Sou defensora da justiça, da moral e dos princípios,

Sem me preocupar com protocolos e/ou normas legais.

Sou a favor da honra,

Detestando a cobardia e conversas virais”.

O meu nome é Ana Rita e sou natural da Póvoa de Varzim, cidade onde

resido e que me viu nascer há 25 anos.

Acima de tudo, olho-me ao espelho e vejo um ser lutador: defino metas,

delineio estratégias e trabalho incessantemente até atingir os objetivos a que

me propus. Acabo, inevitavelmente, por me envolver de forma emocional em

tudo o que experiencio, o que exalta um sentimento enorme de satisfação

quando atinjo o sucesso e uma desilusão e revolta, sem precedentes, quando o

mesmo não acontece.

Considero ser possuidora de um carácter muito singular e, sobretudo,

dualista: altero rapidamente a minha disposição. Sou transparente, na medida

em que não consigo disfarçar sentimentos nem defender algo no qual não

acredito. Esta transparência reflete imenso a minha frontalidade: dizer o que

penso e da forma como penso é o meu lema de vida, acreditando

inclusivamente que a demonstração plena dos sentimentos poderá ser a

melhor forma de lutar por um mundo mais verdadeiro. De facto, segundo

Franco (2013, p. 1000): “(…) Podemos pensar no mundo como um projeto em

construção e de uma ação coletiva e da crença de um mundo melhor, mais

justo e solidário, o que exige da escola uma ação para a construção junto aos

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educandos de valores e de compromisso para consigo mesmos, para com o

outro e para o meio em que vivem e, numa dimensão mais ampla, para com o

planeta”. Sempre acreditei que a Escola seria a melhor forma de incentivar no

Outro a construção de um mundo melhor.

Dou a cara pelas minhas causas e enfrento multidões para fazer o que

considero estar certo. Sou uma líder inata e a emancipação faz parte do meu

“Eu”: não espero, nem gosto, que ninguém faça o que quer que seja por mim.

De cada pequena conquista retiro uma leve vitória.

Contudo, sou extremamente insegura e tenho tendência a permitir-me

abater com grande facilidade perante adversidades não superadas, mas sou

perfecionista e apaixonada pela vida, o que me faz querer aprender sempre e

cada vez mais.

A minha paixão e percurso pela área do Desporto e da EF começaram

pelo Palco. Em casa, em pequenina, cantava como as Spice Girls. Sonhava ser

cantora, percorrer o mundo vivendo somente da música e das coreografias

com o microfone na mão. Ao mesmo tempo, serpenteava o corpo ao som da

música de fundo de Alladin da Walt Disney. Não percebia o que o som do

deserto provocava em mim, mas era-me impossível ficar parada. Iniciei uma

pesquisa autónoma sobre o que era a “Arábia”, o tipo de música que se ouvia e

o estilo de dança que, naquela área geográfica, se praticava. Identifiquei-me

imediatamente com o estilo e, sobretudo, com os sentimentos de liberdade que

despertava em mim. A Dança Oriental iria ter de fazer, inevitavelmente, parte

da minha vida. Contudo, e até à “era dourada” da telenovela “O Clone”, da

Rede Globo, pouca era a informação existente em Portugal sobre esta arte e

menor ainda a disponibilidade de música original. Após o surgimento deste

programa televisivo, o Oriente “virou moda” e eu pude, efetivamente, evoluir

numa das minhas vocações.

Ao mesmo tempo, no meu 5º ano de escolaridade, surge algo de novo

na minha vida, desconhecido até então: o Ciclo, e com ele a Educação Física.

Tive medo: Como iria eu, com o peso corporal acima da média, realizar os

exercícios? O que iriam os meus colegas chamar-me por ser tão expedita a

nível motor? Afinal de contas, eu só me mexia para dançar como a Britney

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Spears! O resto do tempo sempre fora dedicado à Disney, à Rua Sésamo e

aos “ Cinco” de Enid Blyton.

Já no 6º ano, entrei para a Academia Gimnoarte para a modalidade de

Cardio-Dance. Bastou uma aula para perceber que a Música servia não para

eu a cantar, mas sim para eu a DANÇAR! Comecei a idolatrar não apenas a

arte, como a mentora que me acompanhava, licenciada em Desporto e

Educação Física. “Afinal, os professores de dança também jogam futebol… E

também ensinam Ballet”, pensei. E a minha visão da EF alterou-se

abruptamente: passei de constante amedrontada a “barreirista” da minha

própria vida.

À medida que o gosto pelo Desporto ganha a sua forma, a paixão pela

Dança estendia-se com o conhecimento das suas imensas vertentes. Comecei

a frequentar aulas de Ballet Clássico, aprofundei os meus estudos em Jazz

(Modern e Street) e passei pelo Contemporâneo, o Moderno, o Ragga, o Hip-

Hop, o Broadway, o Neoclássico, entre outros. Nos espetáculos de Natal da

academia, o tempo que passava em palco era, agora, muito pouco, e os trajes

que usava apenas uma pequena porção da minha pele. Fascinava-me a

rapidez com que se retirava um tutu feito de tule, desapertava as fitas de umas

pontas e despenteava um pucho para, cinco minutos mais tarde, se usar

macacões com purpurinas, sapatilhas pretas de pano e cabelo solto com

tranças. Contudo, a alegria e densidade emocional eram semelhantes

quaisquer que fossem os estilos em palco. Entendi que dançar, para mim, teria

de ser “fazer quase tudo”, experienciando não só a qualidade das várias

vertentes, como a quantidade que se reflete em estar mais tempo em atuação.

Foi no meu 8º ano que, tendo a versatilidade dos meus colegas

bailarinos que conhecia como modelo, e o eterno gosto pela liderança que

tanto me caracteriza, percebi que a minha vocação passa também por

ENSINAR e que o meu sonho iria ter de se traduzir numa minha futura escola

de dança, com formação em várias áreas, para poder potenciar cada vez mais

bailarinos versáteis, mas sobretudo, bailarinos, educando o “corpo e, por via

disso, da sua alma” (Bento, 2008, p. 53). Comecei, então, a traçar objetivos

concretos e a minha determinação sobressaiu. Com convites para coreografar

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pequenos eventos na cidade e com atribuição de dois lugares no pódio em

concursos de dança, surgia um aumento da força e vontade para continuar a

perseguir o sonho.

Poderia ter optado somente pela minha paixão artística, todavia, senti

que a educação do corpo como um todo chamava por mim e que, se todos os

bons professores de dança que conhecia estavam ligados ao Desporto,

academicamente, então esse deveria, de certa forma, ser o meu percurso. Já

Bento (2008, p. 54) afirma que “pertenço ao número dos que se consagram à

edificação do corpo e da alma, dos gestos e sensações, das emoções e

reacções, das intenções e expressões, das atitudes e posturas, das palavras e

das acções”, pelo que ocupar-me do corpo fazia, no meu entendimento, todo

o sentido. Insegura relativamente à ausência de vivências desportivas, tremi ao

inscrever-me no Curso Tecnológico de Desporto. Mas superei um ano, e mais

outro, e mais outro… E chegada a “hora H”, a minha teimosia assinou os

papéis por mim, e fui colocada no curso que pretendia, na faculdade que

queria: Licenciatura em Ciências do Desporto e Educação Física na FADEUP.

Cumpri com tudo ao que me propus, e terminei esta fase com um inesquecível

estágio da Metodologia de Exercício e Saúde com vertente em Academias no

VivaFit – Damião de Góis. Com o diploma de licenciada na mão, sabia que

tinha feito a opção certa. Ocupar-me do corpo era de facto a minha missão.

Fazer entender todo um mundo e uma sociedade revelou-se a minha vocação,

independentemente de ser através de um movimento ritmado ou uma forma

jogada. Compreender a mecânica dos processos biológicos ou o sentido do

desporto estava associado ao meu eterno gosto pela aprendizagem.

Ingressando na referida instituição no seu ano de adoção do Tratado de

Bolonha, sabia que teria de escolher um 2º ciclo. O meu espírito de líder e a

minha determinação sempre tiveram o Mestrado de Ensino em mente, e a

minha lógica sabia que os conhecimentos de vários âmbitos no que concerne

aos aspetos didático-pedagógicos que adquiriria no curso, ajudar-me-iam no

ensino da Dança.

De certa forma, identifico-me com Ferreira (2003, p. 1) que explica que

“há alguns anos atrás, quando decidi abandonar uma provável carreira na

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engenharia, e voltar-me para o jornalismo, um primo questionou tal atitude. A

resposta foi imediata: procurava algo que proporcionasse prazer, alguma

autonomia e que, de certa forma, contribuísse na mudança de mundo (…)

Acabei professor!”.

Atualmente já concretizo uma parte pequenina do meu sonho, dando

aulas de Ballet Clássico num ginásio na Póvoa de Varzim e trabalhando como

bailarina desta arte em vários espaços de inspiração árabe do distrito do Porto.

2.2 ESTÁGIO – o Grand Finale

2.2.1 As Expectativas Iniciais

“Para ser homem não basta nascer, é necessário também aprender”.

(Savater, 1997, p. 33)

Desde que me lembro de querer ingressar pela formação superior em

EF que mantive uma relação de “amor-ódio” com o estágio: receava, mas no

fundo ansiava-o. Acredito plenamente que ser professora é a minha vocação, e

já tendo dado aulas de Dança anteriormente, liderado espetáculos e

experienciado o fenómeno escolar nas Didáticas do 1º ano do mestrado,

percebi que por muitas incertezas, dúvidas e inseguranças que pudesse ter, a

minha felicidade em fazer parte de uma comunidade escolar enquanto docente

iria não só ultrapassar todas essas limitações, como fortalecer-me para as

colmatar.

Não obstante, o EP revelava-se, até ao seu início, assustador. Se

transmitir conhecimentos é a base da profissão docente, então dominar os

conteúdos e matérias da sua área de ensino revelava-se um requisito

fundamental para ser um bom professor, assim como o código deontológico da

sua área profissional. Esta afirmação é fundamentada por Nóvoa (1995), cit.

por Roldão (2007, p. 96), que nos transmite a ideia da existência de um

processo social de natureza intrínseca, “associado à necessidade de legitimar

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esse grupo social dos docentes pela posse de determinado saber distintivo: a

afirmação de um conhecimento profissional específico, corporizado e, por sua

vez, estimulado pelo reconhecimento da necessidade de uma formação própria

para o desempenho da função”. Ninguém ensina o que não sabe, nem

consegue transmitir conhecimentos se não possuir um repertório de estratégias

de adaptação contextual das matérias a lecionar aos seres humanos que

pretende desenvolver. Shulman (1986) elenca uma tipologia de conhecimentos

que um professor deverá ter: Conhecimento do Conteúdo, estando implícita a

quantidade e organização do conhecimento do docente; o Conhecimento

Pedagógico do Conteúdo, que ultrapassa a especificidade da matéria

reportando-se à sua dimensão específica para ensinar; Conhecimento

Curricular, os conteúdos e tópicos a abordar para cada nível de ensino. E a

Examinação do Conteúdo, a adequação da extensão e sequência das matérias

a lecionar. Receava não ser competente, não dominar os conteúdos e, por

conseguinte, não ser respeitada pela minha função. Por outro lado, pretendia

elevar-me a mim própria ao limite, aprendendo à medida que ensino e

aconselhando-me com professores mais experientes, de várias áreas.

Tencionava transformar este ano em muito mais do que o culminar de toda a

minha formação inicial: intentava, definitivamente, torná-lo no meu maior ano

de aprendizagem.

No entanto, e segundo Ponte et al. (2001, p. 3), “o conhecimento

profissional não se esgota no conhecimento dos assuntos a ensinar e nas

teorias educacionais. (…) Os professores necessitam de ter um saber-fazer

próprio e uma sensibilidade para lidar com as pessoas com quem trabalham”.

Podemos, então, inferir como requisito fundamental da profissão docente o tato

pedagógico, a capacidade de relação e comunicação sem a qual não se

cumpre o ato de “educar”, a sensibilidade que permite ao professor abordar o

aluno e potenciar o máximo desenvolvimento das suas capacidades. É neste

âmbito que a parte profissional do professor se liga com a sua parte pessoal.

Nóvoa (2009) defende a ligação entre as dimensões pessoais e profissionais

na produção identitária dos professores e, mais ainda, uma profissionalidade

docente construída dentro da pessoalidade do professor. Isto transmite-nos a

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ideia de que toda a função docente tem de encaixar na pessoa humana e

social. Esperava entender como a minha pessoalidade se enquadrava com a

função docente. Pretendia construir a minha identidade profissional.

Com efeito, estabeleci como prioridade no meu ano de EP formar não

apenas alunos, mas também seres humanos, cívicos, perfeitamente integrados

na sociedade onde coabitam. Não pretendendo nunca desempenhar o papel da

família, tencionava encaminhar os meus alunos da melhor maneira possível no

âmbito axiológico. Neste quadro, a EF motiva os alunos a desenvolverem

valores de cooperação, esforço, aceitação da derrota e fair-play como

nenhuma outra área curricular o faz, pelo que este meu ano de indução

profissional seria, para mim, um ano para pôr à prova toda a legitimação desta

disciplina no currículo escolar que tanto defendi e na qual acreditei. Mais

acrescento que, sendo eu uma pessoa determinada nos seus valores pessoais

e sociais, tenciono, enquanto educadora, sublinhar os valores de esforço que a

EF exalta, contrariamente à sociedade consumista e até mesmo algorítmica na

qual vivemos. Atualmente, e de uma forma infeliz, o empenho, dedicação e

emoção colocados nas várias etapas de uma vida não são valorizados, tendo-

se maioritariamente em conta o resultado obtido para distinguir bons de maus

profissionais. Ora, se na escola o esforço de um aluno não for contado, muito

dificilmente o será no seu futuro profissional. Deste modo, estabeleci como

prioridade ressalvar o empenho daqueles que o merecessem.

Estipulei para mim, também, a integração ao máximo na comunidade

escolar, aprendendo sempre e cada vez mais sobre o funcionamento da

instituição que me acolheu e, sobretudo, assumindo total responsabilidade pela

função que iria desempenhar: a de professora. Nóvoa (2009, p. 3) exalta este

aspeto ao partilhar que “ser professor é compreender os sentidos da instituição

escolar, integrar-se numa profissão, aprender com os colegas mais

experientes. É na escola e no diálogo com os outros professores que se

aprende a profissão. O registo das práticas, a reflexão sobre o trabalho e o

exercício da avaliação são elementos centrais para o aperfeiçoamento e a

inovação. São estas rotinas que fazem avançar a profissão”. Para isso, e com

base no que já conhecia da escola do meu tempo de aluna, sobre o tipo de

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relações interpessoais que se estabeleciam entre professores, as minhas

expectativas sobre o Grupo Disciplinar de EF eram, sobretudo, de total

acolhimento. Sentia que me iriam receber de braços abertos, como uma filha-

pródiga que volta para aprender ainda mais e cujo crescimento pode ser

auxiliado, novamente, por eles.

No que respeita à minha PC e PO, sabia que desempenhariam papéis

distintos: no caso da primeira, um acompanhamento diário de todo o meu

desenvolvimento “no terreno”, corrigindo e auxiliando-me a desenvolver

competências pedagógicas enquanto professora; no caso da segunda, seria

maioritariamente responsável por toda a parte documental necessária para a

conclusão deste meu ciclo de estudos.

Para finalizar… Os Alunos! Desde que me lembro de ingressar pela

formação superior em Educação Física, e com o 2º ciclo de estudos centrado

na vertente de Ensino, indagava como seriam, qual a magnitude de diferenças

interpessoais que haveria na minha turma e, sobretudo, se conseguiria

adaptar-me a ser a professora que os trataria a todos como os seres diferentes

e únicos que são.

2.2.2 Uma Realidade Não Muito Diferente

“Recordo com agrado o primeiro dia em que entrei na escola. O ‘cheiro de

aluna’, que guardava nas minhas memórias, despertou momentos de saudade,

embevecidos numa ‘alegria em estar de volta’”.

(Alves, 2013, p. 16)

A receção na Comunidade Educativa não podia ter sido melhor: os que

já me conheciam abraçaram-me com os seus elogios e os que não se

recordavam ou não haviam contactado comigo reconheceram-me como

docente, o que me fez sentir, desde logo, “parte da família”.

Lembro-me de entrar pela porta principal e cumprimentar a funcionária

que se encontrava, na altura, na receção. “Estás cá?”, perguntou-me, com um

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sorriso nos lábios. Respondi-lhe que sim, mas desta vez como Professora

Estagiária. O rasgo dos seus lábios aumentou ainda mais, e pude sentir a

satisfação genuína de quem me conheceu e acompanhou, e agora me tratará

como “senhora professora”. Mais tarde, cruzo-me com uma professora, do

Departamento de Expressões, que me cumprimenta com um “Trabalhadora.

Foi a imagem com a qual fiquei de ti. Sempre a lutar pelos teus objetivos”. Sinto

orgulho em ser reconhecida como aluna e, ao mesmo tempo, mais ansiedade e

responsabilidade em perpetuar esse elogio, desta feita, como professora.

Hoje, meses passados sobre este primeiro momento, sinto que a

realidade não é muito diferente do que expectei enquanto estagiária e do que

vivenciei, como aluna. A escola continua a sugerir no seu plano anual de

atividades um vasto leque de oportunidades para os seus alunos, quer no

âmbito desportivo, quer ao nível da assinalação de dias e causas importantes

no ano, assim como muitas outras que a tornam um exemplo de uma

instituição educativa que trabalha para os alunos.

Tal como no “meu tempo”, o nível de burocracia encontrado nesta escola

é substancial, e o nível de rigor exigido aos docentes e não-docentes fez-me

sentir, por vezes, constrangida. Posso até admitir que me sentia receosa de

cometer alguns erros que pusessem em causa a minha imagem de boa

profissional ou que, até, pusessem em causa o meu estágio. Como referi

anteriormente, sou bastante transparente, e por vezes uma má interpretação

pode dar origem a situações complicadas.

Muito do que aprendi se deve à minha PC: conseguiu ensinar-me, sem

nunca me dar a resposta. De acordo com Alarcão e Tavares (1987, pp. 85-86),

“(…) um processo de supervisão (…) tem de assentar numa capacidade de

observação para não deixar passar despercebidos os fenómenos na sua

dimensão observável e de intuição para compreender as razões e o alcance

dos fenómenos observados e as motivações dos sujeitos implicados” pelo que “

(…) a existência de uma relação positiva, saudável, em que tanto o supervisor

como o formando ou grupo de formandos se sintam comprometidos com um

objectivo comum: a melhoria da aprendizagem dos alunos através de um

ensino de qualidade ministrado em condições facilitadoras da própria

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aprendizagem”. Obrigou-me a procurar a solução, a estratégia, o

conhecimento, a forma… Longos foram os serões passados nas Salas dos

Professores e Diretores de Turma em que a aprendizagem era realizada

através de uma simples partilha de episódios. Quantos foram os meus

desânimos que a mesma apaziguou relatando experiências similares por ela

vividas. Quantas foram as exigências que me obrigaram a nunca desistir de ser

sempre mais e melhor.

Ainda falando de agentes que fizeram a diferença nesta minha

“apoteose”, não posso deixar de mencionar a minha PO. Conseguiu estar

presente em muito mais do que meros encontros para tratar de assuntos

burocráticos. As aulas que observou e as críticas que teceu, tendo sempre em

conta não somente a avaliação do EE, mas também a sua evolução,

contribuíram não só para que eu me apercebesse de um leque de estratégias

que ainda não havia experimentado e que, podiam, efetivamente, resultar,

como também para consolidar a minha vontade de ser professora e, com mais

este exemplo, lutar para fazer os meus alunos crescerem, ao invés de apenas

lhes transmitir conhecimentos e, à posteriori, os avaliar.

E porque o Ensino é por eles, e para eles, não posso deixar de tecer

comentários à minha Turma: em todas as aulas, um turbilhão de sentimentos.

Citando Silva (2013, p. 34), e tendo a certeza absoluta de que não haverá

melhor forma de expressar uma das minhas maiores vontades, “(…) Durante o

Estágio, um dos meus grandes objetivos foi criar esse laço com os meus

alunos, laço esse que os Professores de EF sempre tiveram o poder de criar

comigo”. Foi este sentimento que me acompanhou durante todo o ano, mesmo

nos momentos de frustração e desânimo perante as adversidades naturais que

um estagiário, em contexto real de aprendizagem, enfrenta. Tentei recordar-

me, sempre, que a adolescência é caracterizada por um período de

irreverência a tentativas de autoafirmação, pelo que a paciência e a

compreensão deveriam imperar, sobre as punições e as respostas mal dadas.

Cada um, com a sua singularidade, conseguiu realizar em mim um sentimento

comum: uma sobreposição de uma palavra de carinho perante várias

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experiências negativas. De facto, as consolações sentidas após aulas menos

positivas vinham, surpreendentemente, dos mesmos autores:

“Sabem, pessoal? No treino de Dança do DE ouvi alguém a dizer que os

limites são sempre para ultrapassar e que temos de sair da nossa zona

de conforto. Certo, ‘stôra’?”(Intervenção de um aluno meu durante a aula

de 29 de Outubro de 2013)

Penso que uma das minhas missões foi cumprida: persuadir os meus

alunos a serem diferentes, a darem aso às suas próprias vontades, sem medos

do alheio e de terem razão, a sua razão. Serem livres para optar e corajosos

para lutar pelas suas escolhas. Assim, como nos afirma Bento (2013, p. 7), “é

esse o fim supremo da educação e da atividade do professor: inundar e sagrar

os educandos de luz”.

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3. ATO II - O CENÁRIO

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3. Ato II – O Cenário

3.1 Enquadramento Institucional e Legal – O Guião da Peça

De acordo com o artigo 2º, ponto 1, expresso no Decreto-Lei nº 66/2011

de 1 de junho, o EP “consiste na formação prática em contexto de trabalho que

se destina a complementar e a aperfeiçoar as competências do estagiário,

visando a sua inserção ou reconversão para a vida ativa de forma mais célere

e fácil ou a obtenção de uma formação técnico-profissional e deontológica

legalmente obrigatória para aceder ao exercício de determinada profissão” (p.

3023). Na FADEUP, o EP apresenta-se como uma unidade curricular,

enquadrada no 3.º e 4.º semestres do 2º ciclo de estudos em EEFEBS,

conducente ao grau de Mestre. É constituído por duas componentes: a PES

(estágio anual em contexto real de ensino, na escola) e o RE (o relato da

experiência vivida na prática de ensino supervisionada), que tem que ser

defendido perante um júri em provas públicas (Regulamento da Unidade

Curricular Estágio Profissional2, 2013-2014). Todas estas diretrizes são

suportadas pelos princípios decorrentes das orientações legais estabelecidas

nos Decretos-Lei n.º 74/2006 de 24 de março e n.º 43/2007 de 22 de fevereiro.

O Decreto-Lei nº 74/2006 de 24 de março enquadra a formação superior

no processo de Bolonha, decretando que “no ensino universitário, o ciclo de

estudos conducente ao grau de mestre deve assegurar que o estudante

adquira uma especialização de natureza académica com recurso à atividade de

investigação, de inovação ou de aprofundamento de competências

profissionais” (artigo 18º, ponto 3, p. 2247). Ainda segundo o artigo 20º, ponto

1, do mesmo documento, o ciclo de estudos conducente ao grau de mestre

integra “uma dissertação de natureza científica ou um trabalho de projecto,

2 Regulamento da Unidade Curricular Estágio Profissional do Ciclo de Estudos

conducente ao Grau de Mestre em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básicos e Secundário da FADEUP: 2013-2014. Porto: Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Matos, Z.

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originais e especialmente realizados para este fim, ou um estágio de natureza

profissional objecto de relatório final” (p. 2248).

Com as alterações da estrutura dos ciclos de estudos do ensino

superior, no contexto do Processo de Bolonha, entra em vigor o Decreto-Lei nº

43/2007 de 22 de fevereiro que especifica a habilitação para a docência na

educação pré-escolar e nos ensinos básico e secundário, decretando que a

mesma só “é conferida a quem obtiver esta qualificação num domínio

específico através de um mestrado em Ensino (…) ” (p. 1320). Esta restrição é

sustentada na nova legislação, a qual “valoriza, de modo especial, a dimensão

do conhecimento disciplinar (…) assumindo que o desempenho da profissão

docente exige o domínio do conteúdo científico, humanístico, tecnológico ou

artístico das disciplinas da área curricular de docência. (…) Por outro lado, dá-

se especial ênfase à área das metodologias de investigação educacional, tendo

em conta a necessidade que o desempenho dos educadores e professores

seja cada vez (…) mais o de um profissional capaz de se adaptar às

características e desafios das situações singulares em função das

especificidades dos alunos e dos contextos escolares e sociais ” (p. 1321).

Neste sentido, o EP, consagrado na PES, encontra-se fortemente valorizado,

assumindo-se como um “momento privilegiado, e insubstituível, de

aprendizagem, de mobilização dos conhecimentos, capacidades, competências

e atitudes, adquiridas nas outras áreas, na produção, em contexto real, de

práticas profissionais adequadas a situações concretas na sala de aula, na

escola e na articulação desta com a comunidade”( p. 1321).

É, então, sob estas diretrizes que a FADEUP operacionaliza o seu EP,

entendido como “um projeto de formação do estudante, centrado no sujeito da

formação, que integra conhecimento proposicional e prático do professor, numa

interpretação atual da relação teoria prática e contextualizando o conhecimento

no espaço escolar. Tem como objetivo a formação do professor profissional,

promotor de um ensino de qualidade. Um professor reflexivo que analisa,

reflete e sabe justificar o que faz em consonância com os critérios do

profissionalismo docente e o conjunto das diferentes funções docentes em que

sobressaem funções letivas, de organização e gestão, investigativa e de

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cooperação, num caminho de construção de uma “postura” adequada à

profissão de professor” (Normas Orientadoras da Unidade Curricular Estágio

Profissional, 2013-2014, p. 3).

Partindo desse pressuposto, e assumindo-se como uma prática

supervisionada conjunta entre um Orientador da instituição de ensino superior

onde o estudante realiza a sua formação, o PO e um orientador cooperante, o

PC, da escola onde o estudante realiza o seu estágio, o artigo 2º do

Regulamento do EP determina competências que o EE deverá apresentar,

visando “(…) a integração no exercício da vida profissional de forma

progressiva e orientada, através da prática de ensino supervisionada em

contexto real, desenvolvendo as competências profissionais que promovam

nos futuros docentes um desempenho crítico e reflexivo, capaz de responder

aos desafios e exigências da profissão” (p.3), organizadas em três áreas de

desempenho:

Área I – Organização e Gestão do Ensino e da Aprendizagem;

Área II – Participação na Escola e Relação com a Comunidade;

Área III – Desenvolvimento Profissional.

A área 1 engloba as tarefas de conceção, planeamento, realização e

avaliação, referenciando que o EE tem que conduzir um processo de ensino-

aprendizagem (PEA) promotor da formação e educação do aluno no âmbito da

EF. A área 2 integra atividades não letivas, assumindo como objetivo a

integração do EE na comunidade educativa e na comunidade envolvente.

Materializa-se no conhecimento da escola e no envolvimento nas atividades

que ultrapassam o âmbito da lecionação da turma que acompanha, tornando-

se numa pessoa promotora de sinergias entre a escola e o meio. Por último, a

área 3 pretende que o EE desenvolva a sua competência profissional, numa

lógica de procura permanente do saber, através da reflexão, investigação e

ação (Batista & Queirós, 2013).

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Assim, quando colocado numa escola cooperante e inserido num NE, o

EE vê ser-lhe atribuída de forma aleatória uma turma da escola cooperante e,

com ela, a autonomia e responsabilidade de condução de todo o processo de

planificação e gestão do ensino e da aprendizagem, bem como a participação

nas atividades de Direção de Turma e/ou do Desporto Escolar (DE).

3.2 Enquadramento Funcional

3.2.1 O Palco: A Escola Cooperante

A instituição que acolheu o meu estágio é uma escola cujo lema traduz

o seu propósito central: “Uma Escola de Todos Para Todos”.

Situada no coração da cidade da Póvoa de Varzim, funciona em regime

diurno e noturno, oferecendo o 3º Ciclo do Ensino Básico (EB) e o Ensino

Secundário. Atualmente, a Escola tem a seguinte oferta educativa dos

agrupamentos I, III e IV (CSPOPE e CSPOVA): 3º Ciclo do EB, 7º, 8º e 9º anos

de escolaridade. Relativamente ao Ensino Secundário, os Cursos Científico-

Humanísticos de Artes Visuais, Ciências e Tecnologias, Ciências

Socioeconómicas e Línguas e Humanidades. No caso dos Cursos

Profissionais, a oferta educativa traduz-se na formação em Técnico de Design

Gráfico, Técnico de Eletrotecnia, Técnico de Gestão e Programação de

Sistemas Informáticos, Técnico de Produção em Metalomecânica, Técnico de

Apoio à Gestão Desportiva, Técnico de Contabilidade, Intérprete de Dança

Contemporânea, Instrumentista de Cordas e Teclas e Instrumentista de Sopro

e Percussão. O corpo docente é constituído por 132 professores e o não-

docente por 64 funcionários que têm por função apoiar 1400 alunos. Tem como

principais órgãos a Assembleia, o Conselho Executivo, a Assessoria Técnico –

Pedagógica, o Conselho Pedagógico, a Secção de Formação e a Comissão

dos Cursos Noturnos.

O lema da escola também inclui, naturalmente, a área do Desporto.

Para a disciplina de EF são disponibilizados os mais diversos materiais e

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espaços, tais como o Ginásio, o Pavilhão da Escola, o Campo Verde, o Pátio

ou Campo Preto, o Campo Verde Norte e a Piscina, estando estes espaços

devidamente apetrechados para a prática das diversas modalidades

desportivas previstas nos programas nacionais e curriculares. Relativamente

ao material, é realizado todos os anos um inventário do mesmo (Anexo I),

indicando não apenas a quantidade e descrição do material disponível, como

também o seu estado de conservação com a garantia que não confere perigo

para os seus utilizadores.

No que respeita à componente não-letiva do DE, a instituição tem

bastante historial, faz parte da cultura da mesma. Existiram neste ano letivo 12

grupos-equipa de 9 modalidades (Natação, Natação Adaptada, Basquetebol,

Voleibol, Andebol, Ténis, Danças Urbanas, Boccia, e Golfe) praticadas não

somente na própria instituição escolar, mas também em locais externos, como

foram exemplo o Boccia e o Golfe.

Toda esta oferta educativa contribui para que a escola seja palco

constante de diversos eventos, torneios e meetings desportivos, incluindo o III

Encontro de Atividades Rítmicas Expressivas (ARE) de DE deste ano, cuja

organização esteve à minha coresponsabilidade e privilégio.

Posso afirmar com veemência que toda esta disponibilidade espacial e

material contribuiu em muito para o meu crescimento enquanto professora e,

até, dinamizadora, na medida em que me possibilitava a experimentação de

novas estratégias de motivação dos alunos e, até, de exercitação da própria

condição física dos mesmos. Do mesmo modo, contribuíram para a minha

formação enquanto docente, pois não condicionaram a minha planificação

didática.

3.2.2 O Grupo Disciplinar de EF - O Corpo de Baile

Todo este meu solo final foi acompanhado por um verdadeiro corpo de

baile: o grupo disciplinar de EF. Constituído por 15 professores, lecionam, além

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da disciplina de EF, algumas disciplinas técnicas do Curso Profissional de

Técnico de Apoio à Gestão Desportiva. Acresce que assumem as

responsabilidades inerentes ao DE. Desde o primeiro dia revelaram imediato

cuidado e preocupação, não só na minha integração como docente, mas

também com todo o apoio que pudessem dispor para uma maior aprendizagem

da minha parte. De facto, Ponte et al. (2001) enfatizam a socialização como

parte fulcral no desenvolvimento dos iniciados na docência, na medida em que

“a investigação realizada em diversos países tem demonstrado que a falta de

apoio nesse primeiro ano pode comprometer a qualidade no ensino e provocar

a desilusão, marcando de modo muito negativo o desenvolvimento profissional

do jovem professor” (p.2).

Sendo a escola palco das mais diversas atividades de âmbito desportivo,

o grupo disciplinar de EF encontra-se constantemente envolto num turbilhão de

organizações e burocracias, o que não comprometeu o apoio facultado em

todas as situações em que os membros sentiam poder contribuir para uma

maior aprendizagem da minha parte.

3.2.3 O Núcleo de Estágio – o Pas-de-Troix Dançante

Constituído por um elemento do sexo feminino e dois do sexo masculino,

o NE da FADEUP na escola cooperante pouco havia convivido em situações

anteriores. Sendo o primeiro ano desde há muitos em que a referida instituição

escolar acolheria estagiários da Faculdade de Desporto, senti uma

responsabilidade acrescida: deveria honrar ambas as minhas “casas”, e isso

implicaria nutrir um sentimento e comportamento de humildade e

companheirismo para que todos evoluíssemos enquanto professores,

exaltássemos as nossas conquistas, partilhássemos as nossas angústias e

observássemos com espírito construtivo as dificuldades do outro, sempre com

a perspetiva de auxiliar na evolução do colega.

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Durante todo o ano, a entreajuda que vivenciei e da qual fiz parte foi

uma das razões que me fez conseguir ultrapassar muitos obstáculos. De certa

forma, identifico-me com Ferreira (2013, p. 120) quando afirma que “parte do

meu ser aceitar o conceito de partilha. (…) Acredito que partilhar, é um verbo

construtivo da nossa pessoa, é um verbo que nos constrói”. Partilhar as minhas

angústias e feitos fez parte deste meu solo final: o conforto das sugestões, o

regozijar dos sucessos e a simples escuta dos desabafos constituiu a recolha

de flores e choro de bastidores, dando cada vez mais fluidez à minha

performance e, digna de uma sinfonia de Tchaikovsky e, em passos

pequeninos, com elevações e plies, lá fui atravessando este palco, contando

sempre com o coprotagonismo do meu verdadeiro pas-de-troix: os meus

colegas de NE.

3.2.4 O Meu Público – J de Joviais

“(…) Como conseguirei concentrar-me em mim e na minha atuação, sem

esquecer que para estas pessoas que estão comigo, este também é mais um

ano de formação?; como conseguirei formar estas pessoas através do

desporto?;

como conseguirei formar, sem me esquecer que tenho de ensinar o

desporto?”

(Ferreira, 2013, p. 118)

Inserida no Curso de Ciências Socioecónomicas, a turma que, por

conveniência de horários me foi atribuída, do 10º ano de escolaridade, era

constituída inicialmente por 27 alunos, 19 do sexo masculino e 8 do sexo

feminino, sendo as suas idades compreendidas entre os 15 e os 18 anos.

Convém referir que um elemento marcou presença na escola apenas na aula

de apresentação, mas como se encontrava legalmente matriculado, por

motivos ainda por mim não totalmente compreendidos, optei por nunca o

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excluir das planificações. Devido a ser uma escola com bastante oferta

educativa atrai alunos das mais diversas zonas geograficamente próximas da

cidade da Póvoa de Varzim, facto este que se refletiu também na integração

dos alunos da minha turma, como se pode verificar na Figura 1.

Figura 1 - Localidade de Residência dos Alunos da Turma

Numa primeira fase, procurei estudar a turma como um todo, através da

análise das fichas de caracterização inicial, elaboradas pelo NE (Anexo II).

Com uma média de idades de 15 anos e uma taxa de reprovações de 24%, a

turma revelava algumas assimetrias quanto ao agregado familiar, como se

pode verificar na Figura 2: embora a maior parte dos alunos vivesse com pai,

mãe e outros irmãos, ou até mesmo somente os progenitores, as situações de

famílias monoparentais e agregado constituído por outros familiares encontrou-

se presente nos alunos da minha turma. Já Zenhas (2006, p. 12)) explica que

“Quando falamos de ‘família’, encontramo-nos perante um conceito que tem

vindo a sofrer uma transformação muito rápida, sendo possível identificar

diferentes tipos de agregados”.

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Figura 2 - Constituição do Agregado Familiar

Assim como todas estas situações apresentadas, também a escola que

haviam frequentado anteriormente diferia entre os vários elementos desta

turma, como se pode verificar na Figura 3.

Figura 3 - Instituição de Ensino Anterior

Relativamente a doenças ou outro tipo de problemas de saúde, apenas

se registaram quatro casos de alergias. Já relativamente ao SASE (Serviço

Social de Apoio Escolar), 10 dos alunos revelaram ter ou terem tido ao longo

do percurso escolar apoio social, contrariamente a 10 alunos cuja situação não

se revelou.

0

2

4

6

8

10

12

14

16

Com quemvive?

Pai, mãe eirmãos

Pai e Mãe Mãe eirmãos

OutrasSituações

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Como conclusão relativa a esta recolha de dados, consegui depreender

que a turma estaria num processo de adaptação devido às várias localidades

de residência e às instituições de ensino anteriores. Comparados com a

atualidade, permitem perceber a diversidade de situações que desafiam o

conceito tradicional de família, pelo que optei, de início, por uma perspetiva

mais observadora dos alunos, intentando compreender se a ocorrência de

situações de desmotivação ou comportamento desviante decorressem,

precisamente, deste tipo de situações.

Atendendo ainda à recolha de dados efetuada no início do ano, constatei

que a maioria dos alunos da turma já praticou ou pratica alguma atividade

desportiva, sendo que as suas preferências assumiram uma grande variância.

Quando questionados se praticavam ou haviam praticado anteriormente

alguma modalidade desportiva, 18 alunos responderam positivamente,

contrariamente a 7 cuja resposta foi negativa. Ocorreu, também, que alguns

alunos já haviam praticado mais do que uma modalidade, e que havia uma

diversidade de modalidades (como se pode verificar na Figura 4) que foi do

meu particular agrado, visto não ser uma turma da área de Desporto.

Figura 4 - Modalidades Praticadas Pelos Elementos da Turma

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Verifiquei uma preponderância das modalidades coletivas, o que poderia

motivar os meus alunos, visto das 6 modalidades a lecionar, 4 seriam coletivas

(consultar subcapítulo “4.1.1 A Conceção – A Ilustração da Realidade Cénica”).

Considerei, também, de forma imediata a hipótese de serem os meus alunos a

demonstrar a maior parte das habilidades motoras, uma mais-valia

complementar à minha instrução para a compreensão de toda a turma de tudo

o que era pretendido. Contudo, também receei a desmotivação dos elementos

do sexo feminino, pelo que procurei durante todas as aulas adaptar as tarefas

numa perspetiva de respeito pela zona proximal de desenvolvimento. No final

do ano, e após mudanças de turma, curso e desistências por equivalência, a

minha turma ficou reduzida a 23 elementos, contando ainda com um aluno que,

embora estivesse legalmente matriculado, só marcou presença efetiva na aula

de apresentação.

No decorrer da minha PES, consegui imediatamente aperceber-me de

alguns comportamentos indisciplinares da minha turma. De início, irrelevantes,

mas que ao longo do tempo condicionaram todo o meu PEA (consultar

subcapítulo “4.1.3.1 Controlo e Disciplina – O Fator Decisivo”). Contudo,

quando hoje penso nos meus alunos, findo o EP, reporto-me imediatamente

para um extrato do RE de uma ex-colega estagiária, quando afirmava que

“apesar das dificuldades em lidar com a indisciplina da turma, confesso que o

envolvimento e afetividade nas relações que estabeleço com os outros é

condição que dificilmente consigo evitar. Nesse sentido, mesmo perante

posturas e distúrbios que contrariam os meus princípios e valores, consegui

estabelecer uma relação de empatia com todos e, certamente, que os alunos

marcaram esta minha etapa de formação. Foram, são e serão para sempre os

meus alunos, a minha turma!” (Alves, 2013, p. 35). Não encontro outra forma

de descrever o que sinto relativamente “às minhas criaturas”, como tão

carinhosamente os denominava: sofri momentos de ansiedade profunda antes

de cada aula, receei não ser respeitada e reconhecida como professora… O

público por quem e para quem tanto dei de mim originou, precisamente, em

mim, sentimentos contraditórios. Porém, não me recordo de algum dia desejar

o fim deste espetáculo para poder sentir-me aliviada do sofrimento. Saberia

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que, quando as luzes se apagassem e a cortina finalmente caísse após o grand

finale, deixaria de ser a professora de EF deles, pelo que ainda hoje desejo que

o tempo volte para trás e os nós no estômago regressem… Seria sinal de que

ainda estaria em palco, a atuar para o meu público mais querido de sempre.

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4. ATO III – A REALIZAÇÃO COREOGRÁFICA

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4. Ato III – A Realização Coreográfica

“Toda a teoria deve ser feita para poder ser posta em prática,

e toda a prática deve obedecer a uma teoria”

(Pessoa, 1926)

Neste capítulo irei discorrer sobre toda a prática pedagógica por mim

realizada ao longo do EP, refletindo sobre as opções tomadas, dificuldades

sentidas, estratégias aplicadas e ilações retiradas, não só como forma de

melhoria da minha atividade docente para um futuro vinculado à profissão,

como também como testemunho para outros estudantes-estagiários. Estará

organizado nas três áreas de desempenho previstas no Regulamento da

Unidade Curricular Estágio Profissional – Organização e Gestão do

Ensino/Aprendizagem, Participação e Relações com a Comunidade e

Desenvolvimento Profissional – e sobre as quais elencarei, para cada uma

delas, todos os aspetos de maior relevância que contribuíram para que os

meus passos originassem a coreografia mais bonita de que, até hoje, fiz parte.

4.1 Organização e Gestão do Ensino e da Aprendizagem – A

Composição

De acordo com as Normas Orientadoras da Unidade Curricular Estágio

Profissional, esta área de desempenho tem como principal objetivo “construir

uma estratégia de intervenção, orientada por objetivos pedagógicos, que

respeite o conhecimento válido no ensino da EF e conduza com eficácia

pedagógica o processo de educação e formação do aluno na aula de EF” (p.

3). Pretende que se clarifiquem as intenções do projeto, todos os processos

para os concretizar e para que se aja de forma a concretizá-los. Engloba quatro

componentes: conceção, planeamento, realização e avaliação.

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4.1.1 A Conceção – A Ilustração da Realidade Cénica

“Todo o projecto de planeamento deve encontrar o seu ponto de partida na

concepção e conteúdos dos programas ou normas programáticas

de ensino, nomeadamente na concepção de formação geral,

de desenvolvimento multilateral da personalidade e no grau

de cientificidade e relevância prático-social do ensino”

(Bento, 2003, p. 7)

Também de acordo com as Normas Orientadoras da Unidade Curricular

do Estágio Profissional, entende-se por conceção do ensino o ato de “projetar a

atividade de ensino no quadro de uma conceção pedagógica referenciada às

condições gerais e locais da educação, às condições imediatas da relação

educativa, à especificidade da EF no currículo do aluno e às características dos

alunos” (p. 3). Prevê-se que o EE analise todo o envolvimento teórico através

dos vários níveis de diferenciação curricular como um ponto de partida para a

estruturação de todo o PEA, conhecendo as diretrizes do sistema educativo e

as exigências do seu contexto de prática de forma a, posteriormente, adaptar

toda a sua planificação para o destinatário atribuído: os seus alunos.

O dia 2 de setembro brindou-me com um sol estonteante e, com ele,

uma vontade de regressar, de voltar aos apontamentos, à papelada, aos risos

com os colegas… Ia iniciar-se o ano de EP e, mais concretamente neste dia, ia

ter lugar a Reunião de Abertura de Estágio para responder a todas as

perguntas de funcionamento da unidade curricular que tanto me assombraram

durante os meses de Verão anteriores. Finda a tarefa, e com a notícia de que

só reuniríamos com a PC no dia 4 de setembro devido a alguns

constrangimentos no arranque do ano letivo na escola cooperante que

captaram a sua total atenção, senti-me obrigada a reavivar a minha memória

sobre, numa primeira instância, documentos normativos da instituição em

questão, nomeadamente o Regulamento Interno (RI) e, não menos importante,

a organização dos programas de EF para o 3.º Ciclo e o Ensino Secundário,

base fundamental para todo o fio condutor que iria estabelecer no meu PEA.

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O RI é um documento que procura “incluir (…) as regras de convivência

na comunidade escolar, a resolução de conflitos, de situações perturbadoras

do regular funcionamento das atividades escolares e a aplicação de sanções a

infrações cometidas (...)” (Decreto Legislativo Regional n.º 13/2013/A de 30 de

agosto, artigo 28º, alínea e). Procura contribuir para melhorar a relação entre

todos os intervenientes da comunidade escolar, devendo “ser encarado pela

positiva e não apenas como limitador da ação dos intervenientes no processo

educativo” (Regulamento Interno da escola cooperante3, p.4).

Já o Projeto Educativo de Escola4 (PEE) “(…) deve corresponder a um

conjunto de princípios e objectivos que norteiam a nossa actividade e deve

constituir a nossa ‘utopia’, no sentido de que é nesse rumo que a comunidade

escolar deve caminhar”. Deve articular-se entre a manutenção de uma série de

princípios pedagógicos e estruturais e a constante mudança, “ (…) pois, a

entrada permanente de novos elementos, renova-o, e ao ser concretizado será

aperfeiçoado e redefinido nos seus objectivos (…) Há que tentar encontrar um

equilíbrio nos conceitos, de modo a não inviabilizar a sua futura

implementação” (p. 1). Entre outros aspetos, as políticas de abertura para

situações que necessitem de solidariedade e apoio, bem como a valorização

de atividades que envolvam toda a comunidade escolar, traduzidos, depois, de

forma inegável no Plano Anual de Atividades (PAA), foram aspetos que me

chamaram à atenção e me fizeram, desde a primeira instância, acreditar que

tinha escolhido a melhor escola para o meu derradeiro ano de formação inicial.

Quanto à revisão dos Programas de EF, sendo a escola cooperante um

estabelecimento de ensino com oferta educativa para os Ensinos Básico (3.º

Ciclo) e Secundário, comecei por analisar de forma horizontal e vertical os

programas previstos para cada um dos ciclos de ensino mencionados.

O programa de 3º Ciclo possui um carácter de interligação das

modalidades de EF com conceitos socioculturais, no qual é perspetivada a

importância do Desporto e da EF como fenómenos culturais de educação para

3 Regulamento Interno da Escola Secundária de Rocha Peixoto, aprovado em

Conselho Geral a 15 de julho de 2013. Póvoa de Varzim: ESRP. 4 Projeto Educativo da Escola Secundária de Rocha Peixoto, atualizado em julho de

2008. Póvoa de Varzim: ESRP.

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uma vida saudável. Realiza, ainda, além dos conhecimentos relativos à

condição física, uma abordagem aos próprios processos de desenvolvimento e

manutenção da mesma, tal como referido no capítulo 1 do documento

mencionado, alusivo às finalidades a atingir:

“Promover a formação de hábitos, atitudes e conhecimentos relativos à

interpretação e participação nas estruturas sociais, no seio dos quais se

desenvolvem as actividades físicas, valorizando:

- a iniciativa e a responsabilidade pessoal, a cooperação e a solidariedade;

- a ética desportiva;

- a higiene e a segurança pessoal e colectiva;

- a consciência cívica na preservação de condições de realização das

actividades físicas, em especial da qualidade do ambiente” (Ministério da

Educação Direcção Geral dos Ensino Básico e Secundário, 2001, p. 6) .

Assim como o 5º ano, o 9º ano deverá ser um ano de revisão de

conteúdos com vista à preparação para os tópicos que serão abordados

posteriormente no Ensino Secundário.

No que concerne ao programa do Ensino Secundário, este iniciar-se-á

com mais uma revisão no 10º ano, visando um aperfeiçoamento das matérias

lecionadas até então ou um reforço nos conteúdos onde se apresentem mais

lacunas. Nos 11º e 12º anos é concedida aos alunos a escolha dos conteúdos

a serem abordados nas aulas, devendo as suas opções recair na escolha de

duas matérias de Desportos Coletivos, uma de Ginástica ou de Atletismo, uma

de Dança e duas das restantes (Raquetas, Patinagem, Combate, Natação,

Jogos Tradicionais e Atividades de Exploração da Natureza). A composição

curricular de todas as matérias de ensino em EF ao longo de toda a

escolaridade obrigatória pode ser visualizada no Quadro 1, abaixo

apresentado:

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Quadro 1 - Composição Curricular

E finalmente chegou o 4.º dia de setembro, e com ele a primeira reunião

entre elementos do NE e a PC, estando a mesma à porta da escola cooperante

para nos receber. O extrato de reflexão seguinte ilustra o primeiro impacto com

a escola:

“Foi interessante iniciar a reunião com uma visita guiada pela escola, porque

depois das obras de requalificação efetuadas no ano em que saí do Ensino

Secundário desconhecia por completo o seu interior, tal é a mudança”.

(Diário de Bordo, 4 Set 2013)

Foi um regressar a casa. Foi um reencontro com professores que se

encontravam incrédulos por terem a possibilidade de partilhar comigo a sala

dos professores. Foi o multiplicar de repetições da frase “Foi cá aluna, não foi?”

que tanto me orgulhou… A estas pessoas, eu marquei de alguma forma, pois

lembravam-se de mim.

Após um breve passeio pelas instalações da escola cooperante,

reunimos para nos apresentarmos, falarmos do nosso passado biográfico, das

razões que presidiram esta opção e para nos inteirarmos da escola “por

dentro”: regras de bom funcionamento das aulas, escrita de sumários em

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formato digital, conselhos para uma boa fluência nas relações interpessoais

com a comunidade docente e o início à análise dos documentos necessários a

uma boa prática pedagógica, enquadrados com o contexto local e relacional.

Como a nossa apresentação na escola se realizou já a meio da primeira

semana de setembro, já haviam sido realizadas as primeiras reuniões de

departamento e conselhos de turma, pelo que não houve grande reflexão, da

nossa parte, dos Programas de EF, nem do Projeto Curricular de Turma (PCT),

uma vez que os mesmos tinham sido discutidos em conselho de turma. Nós,

enquanto EE, só tivemos conhecimento e convite para assistir à reunião de

Mini-Grupo do EB, que se realizaria no dia seguinte, 5 de setembro. Contudo,

tendo a PC já obtido informação sobre o seu horário e turmas atribuídas,

chegamos à conclusão que teríamos à nossa responsabilidade de lecionação

uma de duas hipóteses: uma turma de 9º ou 10º ano. Assim sendo, fomos

informados do Planeamento Anual para cada um dos mencionados anos de

ensino. No caso do 10º ano, que me fora atribuído posteriormente por

conveniência grupal de horários, as modalidades a lecionar seriam Natação,

Basquetebol, Futebol, Ginástica (Solo e Acrobática), Andebol e Voleibol.

Estranhei… O Planeamento Anual local revelava-se bastante diferente

do estipulado pelo currículo nacional, nomeadamente numa predominância de

Jogos Desportivos Coletivos (JDC). Comparei, ainda, o Projeto Curricular de

Escola (PCE) entre os dois ciclos de ensino e constatei que a estruturação se

revelava semelhante. Já Mezzaroba et al. (2006) afirmam que “no que diz

respeito ao atletismo convencional, uma minoria de escolas consegue oferecer

aos alunos toda a infra-estrutura necessária. A maioria absoluta das escolas

(notadamente as públicas) sequer dispõem do espaço físico para a prática de

esportes (neste caso o atletismo). É interessante também notar que as

modalidades esportivas de maior prestígio nacional são coletivas e têm como

implemento de ação a bola”. De facto, é o que acontece nesta escola,

contrariamente ao que acontecia nos meus tempos enquanto aluna. Sem uma

pista de atletismo, e apenas com espaços exteriores de cimento, alcatrão e

relvado sintético, é possível ensinar Atletismo. Todavia, as estruturas espaciais,

tendo em conta a sua descrição, não se tornam propícias para assegurar uma

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prática e uma aprendizagem seguras da modalidade o que, a meu ver,

empobreceu o ensino de EF, na medida em que “Correr, saltar e lançar, (…)

como habilidades físicas de base, estão presentes em quase todas as

modalidades esportivas. Como ato motores naturais, significam uma função da

natureza humana” (Mezzaroba et al., 2006), mesmo numa fase mais avançada,

como são o caso do 3º Ciclo do EB e o Secundário. Acontece o mesmo em

relação à Dança. Não estando presente em nenhum dos ciclos de ensino

oferecidos pela instituição escolar, à exceção do caso dos Cursos

Profissionais, nos quais a modalidade é constituinte do PCE, estranhei a sua

ausência, tendo a escola cooperante a opção curricular de Dança como oferta

educativa do 7º ao 9º ano e o grupo de DE com o renome na região Norte que

tem. A este respeito Silva et al. (2012, p. 39) reforçam que “a dança,

independentemente de sua modalidade, tem como objetivo buscar a expressão

individual de pensamentos e sentimentos, desenvolvendo a psicomotricidade,

que é uma percepção para gerar ações motoras que influenciam os fatores

intelectuais, afetivos e culturais” . Apesar de todas estas diferenças, o currículo

escolar da escola cooperante relativamente à disciplina de EF é bastante rico,

integrando a bateria de testes Fitnessgram, no primeiro e segundo períodos, e

um teste teórico de avaliação de conhecimentos, no terceiro período, com

cotação de 10% para a nota final do aluno.

4.1.2 O Planeamento do Ensino - Os Ensaios

Após toda uma análise sobre o que já havia sido refletido, orientado e

colocado em papel sob a forma de diretrizes, chegou a hora de planear.

Deste modo, todo o meu PEA foi planeado e elaborado de forma a potenciar

nos alunos uma maior aprendizagem das modalidades que constavam no PCE,

independentemente do seu nível inicial de desempenho às mesmas.

Bento (2003) refere-se ao planeamento do professor a três níveis:

Planeamento Anual, UD e o Plano de Aula, sendo todos “elaborados, inter-

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relacionados e entendidos como estações ou etapas intermédias e necessárias

na via do aumento da qualidade de concepção e de melhoria da realização do

ensino” (p. 59).

Como durante esta etapa inicial o Plano Anual de Atividades ainda se

encontrava em construção, o Planeamento Anual (ANEXO III) elaborado teve

um caráter provisório, sujeito a alterações, mas que se baseava na distribuição

das várias modalidades a lecionar a cada período, tendo em conta os dias

festivos ou feriados, os dias de atividades escolares que poderiam interferir

com a possibilidade de lecionar aulas ou, até, o realce da semana dedicada às

avaliações da bateria de testes Fitnessgram que definia, por norma, o intervalo

entre a lecionação de cada modalidade por período, uma vez que as UDs

seriam abordadas de forma contínua. Bento (2003, p. 60) refere-se ao PA

como “ (…) um plano sem pormenores da actuação ao longo do ano,

requerendo, no entanto, trabalhos preparatórios de análise e de balanço ,

assim como reflexões a longo prazo (…) “.

Mencionando agora um segundo nível de planeamento, nomeadamente

as UDs (ANEXO IV), Bento (2003, p. 75), define-as como “partes essenciais do

programa da disciplina, visto constituírem unidades fundamentais e integrais do

processo pedagógico e por apresentarem aos professores e alunos etapas

claras e bem distintas de ensino e aprendizagem”. Podemos afirmar que

refletem uma estruturação dos conteúdos a abordar para cada matéria de

ensino, pelo que se optou por planificar algumas matérias segundo os objetivos

dos PCE e, após uma Avaliação Diagnóstica (AD), reestruturar todos os

conteúdos e a sua sequência de ensino tendo por premissa-base o nível de

desempenho geral da turma para potenciar ao máximo a aprendizagem dos

alunos, mantendo-os sempre numa zona proximal de desenvolvimento. A este

respeito Rink (1993) explica-nos que os programas não podem ser conduzidos

de forma consistente com os objetivos estabelecidos se os mesmos forem

irrealizáveis, tendo as metas a alcançar de estar apropriadas ao derradeiro

contexto da aula. Outra grande apoquentação que experienciei, na construção

das UD, foi a de não lecionar demasiados conteúdos, permitindo aprimorar a

qualidade dos poucos que ia abordando, mas potenciando a aprendizagem

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máxima do que ia introduzindo. Siedentop (1991, p. 45) elenca como premissas

do ensino eficaz da EF o tempo, a oportunidade e o conteúdo abordado,

explicando que “os estudantes em EF não têm oportunidade suficiente para

praticar habilidades”, pelo que optei por abordar menos conteúdos em prol da

potencialização máxima da exercitação. Senti, devido a várias experiências

passadas como aluna de EF escolar e como praticante de Dança e Natação,

que não era congruente saltar etapas se as anteriores não forem consolidadas.

Graça e Mesquita (2009, p. 41) explanam-nos que “aprende mais quem dedica

mais tempo a uma boa exercitação” , o que, de facto, senti que resultou comigo

e tentei viabilizar nos meus alunos.

As UDs que construí ao longo do meu EP foram sempre constantes

adaptações entre o que estava planeado e as exigências reais da prática, ou

seja, o que a turma conseguia atingir.

Na construção das UDs referentes a este nível intermédio de

planeamento e, numa fase posterior, na elaboração dos planos de aula, foram

sempre tidas em conta as categorias transdisciplinares de Vickers (1990),

nomeadamente a Fisiologia do Treino e Condição Física através da

maximização dos tempos de exercitação sobretudo em situações de jogos

reduzidos, a Cultura Desportiva, através de uma abordagem aos aspetos

regulamentares e históricos e aos Aspetos Psicossociais, traduzidos numa

componente de avaliação denominada de PIAV (Participação, Interesse,

Atitudes e Valores), contabilizada para a média final do aluno à disciplina.

Reportando-me à UD de Ginástica, deparo-me com a influência do uso

dos meios audiovisuais como forma de captar a atenção dos alunos para a

caracterização das modalidades e, até, como forma de motivação dos mesmos,

pelo que a adoção desta estratégia se revelou uma forma estimulante de

potenciar a Cultura Desportiva e os Aspetos Psicossociais nos alunos.

“E hoje, pela primeira vez, decidi-me a inovar… Inspirei-me nas minhas

aulas de Didáticas e Estudos Práticos e levei o computador com um

powerpoint para projetar um vídeo motivacional… E de certa forma resultou:

senti os alunos mais empenhados e acreditarem que, de facto, mesmo

praticando outras modalidades é possível realizar elementos gímnicos com

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correção”. (Reflexão da Aula Nº 91 e 92, UD Ginástica, 18 de Março de

2014)

Ainda em conformidade com a formação do aluno a nível integral através

da EF, reporto-me à justificação da UD de Natação como forma de ilustrar a

abordagem ao domínio cognitivo:

“Na 9ª e 10ª aula, após duas aulas (7ª e 8ª) completamente dedicadas à

exercitação das técnicas alternadas, serão introduzidas as partidas de bloco (crol

e costas) e chegadas regulamentares, abordando também os casos da mariposa

e costas, através da simulação de uma prova competitiva da modalidade, sendo

o percurso, contudo, de apenas 20m. A abordagem destes aspetos justifica-se

não só com a familiarização com a natureza de uma prova de natação como

também de combater eventuais receios das partidas de salto do bloco, pelo que

devem ser introduzidas e exercitadas o máximo de tempo possível”. (Justificação

da UD de Natação, 1º Período)

Após a estruturação das UDs, a tarefa de planeamento mais

pormenorizada reporta-se aos Planos de Aula (ANEXO V), no qual se estrutura

detalhadamente cada sessão de ensino, devidamente conjugada com os

objetivos estipulados na UD e que se refletem como orientações práticas da

ação do docente em contexto real de ensino. Os planos de aula do nosso NE

eram construídos em conjunto nas reuniões semanais antecedentes às

próprias aulas, nos quais constavam as funções didáticas e conteúdos a

lecionar, os objetivos gerais da EF para cada domínio transdisciplinar -

habilidades motoras, cultura desportiva, condição física e conceitos

psicossociais (Vickers, 1990), o tempo dedicado a cada exercício, as situações

de aprendizagem selecionadas e descritas para cumprirem com os objetivos da

aula, incluindo a organização didático-metodológica dos alunos, os objetivos

comportamentais de cada situação de aprendizagem como forma de elucidar o

professor do que deveria ser alcançado no final da mesma e as componentes

críticas a observar/corrigir/exaltar aquando da execução dos exercícios por

parte dos alunos. Este último parâmetro sofreu alterações a partir do 3º

período, sendo substituído por palavras-chave como forma de potenciar a

atuação do professor no que concerne à emissão de feedbacks e se traduzir já

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no planeamento uma forma e linguagem mais acessível para que os alunos

compreendessem o que era pretendido.

Segundo Bento (2003, p. 101), “uma aula é um trabalho duro para o

professor. (…) Requer emprego das forças volitivas para levar por diante o

conceito planeado, mas também mobilidade, flexibilidade de reacção,

adaptação rápida a novas situações”. Os planos de aula servem como guias

orientadores, mas tal como o Planeamento Anual e as UD vão sendo alterados

consoante a prática concreta do professor, pelo que, por diversas vezes, em

contexto real de lecionação, tive necessidade de adaptar as situações de

aprendizagem por questões alheias à minha vontade ou, até, por pormenores

que me poderiam escapar na planificação.

Transversalmente, foram elaborados documentos que preconizavam os

saberes necessários para a lecionação das várias modalidades, pertencentes

ao nível intermédio do planeamento. Estes documentos foram estruturados

consoante as orientações de Vickers (1990), nomeadamente em Modelos de

Estrutura do Conhecimento (MEC). A autora sugere esta forma de

planeamento e organização das valências do saber através da sua

sistematização em oito módulos, divididos em 3 fases distintas: análise,

decisões e aplicação.

Na primeira fase, procedeu-se à análise da própria modalidade e dos

conteúdos específicos da mesma (Módulo 1). Nesta fase, procuramos também

um conhecimento das infraestruturas e material disponível para as aulas

(Módulo 2), bem como o nível de prestação inicial dos alunos referente à

modalidade em questão (Módulo 3). Esta última análise reveste-se de particular

interesse, já que irá ser a partir desta que a extensão e sequência dos

conteúdos iria ser elaborada. Segue-se a fase das decisões, em que se

determina a extensão e a sequência da matéria, nomeadamente os conteúdos

a lecionar e seu encadeamento (Módulo 4), se definem os objetivos a cumprir

(Módulo 5), configura-se a avaliação a utilizar, Inicial e Final, como também a

possibilidade de uma de caráter Formativo (Módulo 6) e criam-se possíveis

progressões de ensino a seguir, traduzidas em tarefas de informação,

exercitação, extensão e consolidação (Módulo 7). No final de todo este

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processo, surge a fase de aplicação, que corresponde à planificação das aulas

(Módulo 8), bem como a todos os registos e documentos utilizados (Vickers,

1990). Optei por elaborar estes documentos contendo não apenas a

informação necessária da modalidade referente aos conteúdos que iria,

efetivamente, abordar este ano com os meus alunos, mas todo o conhecimento

geral da mesma, constituindo-o como uma base de trabalho não somente para

o EP, mas também para um futuro vinculado à profissão docente. Revelou-se

um processo moroso devido à quantidade de informação envolvente passível

de tratamento e organização. Não obstante, traduziu-se numa ferramenta

indispensável para a preparação de situações de aprendizagem,

nomeadamente através da determinação da sequência e extensão dos

conteúdos, traduzidos no Módulo 4, da bateria de exercícios previamente

construída aquando da realização do módulo 7 e da determinação dos

objetivos a cumprir por parte dos alunos para que a aula fosse bem-sucedida,

através da consulta constante das determinantes técnicas dos vários

elementos a abordar.

4.1.3 Realização – O Spotlight

Num espetáculo cénico, o sucesso depende naturalmente de todos os

seus intervenientes: da adesão do público, das condições do cenário… Mas se

num solo coreográfico o foco de luz principal se apaga, toda a continuação do

espetáculo se encontra comprometida. Em concordância com as dimensões de

intervenção pedagógica do professor sugeridas por Siedentop e Tannehill

(2000), o estudante-estagiário é avaliado em três fases interligadas ao longo da

sua PES: o Controlo e a disciplina da turma, a gestão e organização da aula, a

instrução e o feedback. Embora nem sempre bem-sucedida, ao longo do meu

EP tentei fazer com que o meu público aderisse ao meu espetáculo, improvisei

cenários consoante as condições atmosféricas e humanas e preparei

atempadamente construções coreográficas para que o espetáculo final

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culminasse num solo principal sem intermitências, com iluminação contínua,

brilhante e duradoura.

“Ó Eterna Luz, que só em Ti repousas,

Somente Te entendes, e, de Ti, entendida

Te unes pelo amor e em Ti te comprazes!

(…)

Queria ver como ao círculo divino se unia

A imagem humana e como ela ali se integra:

Mas para isto não eram suficientes as minhas asas:

Quando a minha mente foi ferida

Por uma fúlgida luz, que resolveu o mistério.

Aqui, a minha imaginativa foi impotente; o meu desejo e a

Minha vontade estavam conformes ao divino querer,

Semelhante a uma roda, que gira, uniformemente, impelida

Pelo Amor, que move o Sol e as outras estrelas.”

(Alighieri, 1991, p. 344)

4.1.3.1 Controlo e Disciplina – O Fator Decisivo

Se eu pudesse saltar este capítulo, fá-lo-ia sem qualquer hesitação… A

matéria que será aqui discorrida contraria tudo o que caracterizei como meu,

como sendo a minha personalidade, forte e disciplinadora, em capítulos

anteriores deste Relatório. Contudo, abordarei este assunto como mais uma

forma de reflexão, essa ação que fez sempre parte integrante da evolução do

EE no decurso do seu EP, e que me permitirá prevenir outro tipo de

acontecimentos semelhantes no futuro. Afinal, e de acordo com Alarcão (1996,

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p. 181), “o pensamento reflexivo é uma capacidade. Como tal, não desabrocha

espontaneamente, mas pode desenvolver-se”.

Recordo a primeira aula. A PC iniciou a conversa, com uma pequena

apresentação sua, dando depois lugar ao meu solo dançante. Senti, pela

primeira vez, o spotlight verdadeiramente sobre mim. Quantas vezes pensei

como seria este primeiro momento de contacto com os meus alunos? Quantas

vezes ponderei as palavras a proferir, a forma como me colocaria perante a

turma?… Havia chegado o momento de começar, efetivamente, a viver o

sonho, e eu queria iniciá-lo da melhor forma possível, transmitindo uma

imagem de uma professora com autoridade, mas sem autoritarismo, que a

única coisa que pretendia era uma relação de respeito mútuo, de cumprimento

de tarefas e um clima propício para a aprendizagem de todos os membros

deste “grupo de alunos”:

“Como professora da turma, e para primeira aula, considero, sobretudo, ter

transmitido aos alunos a imagem daquilo que sou: uma pessoa amigável e

generosa, disposta a ajudar todos e cada um a atingirem os objetivos

necessários a uma boa classificação na disciplina. Fi-los entender, também,

que pretendo tornar as aulas o mais motivadoras e animadas possível.

Contudo, dei um pequeno ‘gostinho’ do meu lado frio e de ‘líder da matilha’,

demonstrando o meu desagrado em ser desafiada e a minha crença no

respeito mútuo para que a relação professor-aluno seja proveitosa para

ambas as partes” (Reflexão da Aula Nº 1 e 2, UD Natação, 17 Set 2013).

Para Oliveira (2001, p. 84) “as regras e rotinas da sala de aulas são

necessárias para a tranquilidade, a harmonia e a eficiência das aulas, devendo

ser ajustáveis ao sistema mutável de trabalho. Este sistema de regras deve ser

ensinado aos estudantes nas primeiras aulas do ano escolar”. Iniciando o ano

com a UD de Natação, estipulei como principais regras a serem cumpridas

pelos meus alunos a passagem pelo duche antes de entrarem na piscina, a

não-remoção da touca enquanto se encontram na água, a permanência neste

espaço apenas de chinelos e a colocação de todo o material não utilizado no

bordo da piscina. Estas aulas foram determinantes para me afirmar enquanto

líder, enquanto docente. E, de facto, foram cumpridas:

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“ (…) A aula teve um balanço positivo, não só ao nível dos objetivos

propostos, mas também ao nível da convivência com os próprios

alunos, na medida em que consegui sempre fazê-los cumprir as

minhas regras sem nunca se criar um ambiente desagradável entre

todos”. (Reflexão da Aula Nº 5 e 6, UD Natação, 24 Set 2013)

Relativamente às regras de conduta, estabeleci que enquanto falo, seria

o dever dos alunos escutarem silenciosamente para aprenderem. Estabeleci,

posteriormente, nas aulas de pavilhão ou exterior, a regra dos 5 segundos para

se aproximarem de mim enquanto ao som do meu apito. Foi nestes aspetos

que ao longo do tempo senti mais dificuldade: o cumprimento das ordens.

Necessitava constantemente de me calar para os alunos ficarem em silêncio.

Neste aspeto adotei uma atitude menos repressiva, mas que me fazia perder

tempo de aula, aumentava o meu tempo de transição entre tarefas e me

tornava extremamente fatigada. Siedentop e Tannehill (2000, p. 78) explicam

que “nada produz mais fatiga e esgotamento no professor do que ter de lidar

constantemente com problemas disciplinares”. Corroboro esta ideia. Sentia-me

cansada de querer ensinar e sentir que não me prestavam atenção, até porque

“uma aula com sabor a fracasso preocupa e incomoda o professor, por vezes

durante vários dias e mesmo semanas” (Bento, 2003, p. 101). Os alunos

desafiavam constantemente a minha autoridade e eu sentia-me impotente para

resolver a situação. McKee et al. (2002, p. 32) faz referência a estas

perturbações na liderança, considerando que “as emoções negativas –

especialmente irritação crónica, ansiedade ou sensação de futilidades –

perturbam fortemente o trabalho por desviarem a atenção das tarefas imediatas

(…) ”. Hoje, em modo de reflexão, considero a minha autoconfiança (ou a falta

dela) muito causadora de todos estes problemas:

“Finalmente, e passado um mês depois de iniciar o ano letivo, sinto que a

minha segurança e autoconfiança ainda não sofreram grandes progressos.

Necessito de perceber, ainda, como conseguirei melhorar este aspeto.

Estudo a modalidade antes de a ensinar, e mesmo assim sinto que não sei o

que tenho a certeza, ao mesmo tempo, que sei. Tudo isto resulta num

sentimento de incompetência até durante a lecionação que irá acabar, se é

que já não o fez, por prejudicar a aprendizagem dos meus alunos, algo que

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terei rapidamente que tentar na minha autorreflexão resolver”. (Reflexão da

Aula Nº 17 e 18, UD Basquetebol, 15 Out 2013)

Também, a falta de manutenção das regras ao longo de todas as aulas

condicionou a sua transformação em rotinas. Por este motivo, comecei a

pensar seriamente na minha própria postura enquanto docente e ponderei a

hipótese de recompensar os alunos cumpridores, como forma de os tornar

exemplos a seguir. Siedentop e Tannehill (2000, p. 83) referem que “não há

uma resposta apropriada” quando nos questionamos se os alunos se devem

efetivamente comportar devidamente sem serem recompensados, pelo que

consideram que “nenhum professor deveria sentir que utilizar técnicas

específicas de alteração do comportamento é inapropriado. Contudo, (…)

necessitam de usar essas técnicas de forma eficaz e sensata”. Nesta medida, e

sempre evocando as experiências das Didáticas Específicas do 1º ano do

mestrado, improvisei um Modelo de Educação Desportiva (MED): um cartaz de

pontuações, equipas com capitães a emitirem correções aos colegas e a

pontuação tendo em conta o número de execuções de cada elemento e a sua

qualidade técnica. Os extratos de reflexão seguintes são disso ilustrativos:

“Usei ainda outra estratégia para cativar a atenção dos alunos: um quadro

onde apontei as pontuações relativas ao empenho dos elementos de cada

equipa e ‘chupa-chupas’ para os vencedores, o que originou um acréscimo

de motivação ainda maior”. (Reflexão da Aula Nº 91 e 92, UD Ginástica, 18

Mar 2014)

“Todos os alunos se empenharam nesta aula, para grande alegria minha.

Foi notório o clima de envolvência de todos os alunos e, inclusivamente, a

troca de pares para tentarem ajudar os colegas que não estavam a ter

sucesso na tarefa”. (Reflexão da Aula Nº 93 e 94, UD Ginástica, 20 Mar

2014)

Como já havia referido, a introdução de alguns meios audiovisuais como

forma de abordagem à cultura desportiva captaram a atenção dos alunos e

também revelou ser uma forma de combater a dispersão dos alunos logo no

início das aulas, o que me permitia manter a sua concentração no decorrer de

todo o restante tempo de aula: os alunos, recorrendo ao que haviam visto no

início, empenhavam-se mais, e acabavam por ter mais sucesso nas tarefas:

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“Iniciei a aula abordando as diciplinas competitivas da Ginástica,

nomeadamente a Artística e a Rítmica. Mais uma vez, notei que os meios

audiovisuais captam a atenção dos alunos, principalmente se incluirmos

imagens ou vídeos que ilustrem a matéria a abordar: ‘Lembro-me de ver

essas coreografias com as fitas [Ginástica Rítmica] na televisão. Isso é

muito bom!’ (frase proferida por um dos meus alunos) ”. (Reflexão da Aula

Nº 93 e 94, UD Ginástica, 20 Mar 2014)

Como forma de controlar a turma considerei ainda, no 3º período, a

manipulação ainda maior das situações de jogo e das suas regras como forma

de manter a turma em exercitação, evitar tempos de transição e, assim,

controlar ainda mais a indisciplina e os comportamentos desviantes, o que se

revelou frutífero, como comprova o seguinte excerto:

“Relativamente às situações jogadas, aceitei o pedido da turma em fazer

jogo de campo inteiro, o que causou alguma confusão a nível organizativo.

Contudo, penso que foram cumpridos os objetivos de privilégio do ataque,

porque todos os alunos se encontravam constantemente no campo

adversário e tentavam desmarcar-se para se prontificarem a receber a bola

e concretizarem o objetivo de jogo”. (Reflexão da Aula Nº 109 e 110, UD

Andebol, 6 Maio 2014)

No final do 2º período, e com as aulas da UD de Ginástica

caracterizados por um grau de empenho e motivação elevados, senti que já

não seriam necessárias constantemente regras como a disposição dos alunos

sentados aquando da minha instrução. Sentia que sentar constantemente os

alunos para instruir aumentava o tempo de transição entre tarefas e,

concomitantemente, comprometia o tempo de exercitação, pelo que tentava

apressar a instrução, parando a aula e mantendo a turma onde estão,

instruindo através de uma boa colocação de voz. Erro tremendo. O PEA

começa precisamente com o ensinar comportamentos e só, posteriormente,

conteúdos, e as regras deverão ser mantidas ao longo de todo o processo, pelo

que no 3º período, e com o elemento bola novamente presente na lecionação

das modalidades coletivas, a indisciplina agravou-se novamente e eu senti-me

a regredir, até ao dia em que atuei como se fosse a primeira aula:

“Hoje a aula foi iniciada com outro clima. Comecei por sentar os meus

alunos, após alguns me terem auxiliado na preparação do espaço para a

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aula, expliquei os objetivos dos exercícios (nomeadamente circulação de

bola e trabalho individual de marcação do adversário), criei os grupos de

trabalho, direcionei os alunos para o espaço onde pertenciam e, somente

depois, forneci as bolas para a execução dos exercícios. De facto, resultou

muito bem: os comportamentos desviantes originados foram alvo de punição

da minha parte, obrigando os alunos insurretos a sentarem-se e impedindo-

os de participarem nas atividades. Somente após solicitação da minha

autorização para regressarem é que poderiam fazê-lo”. (Reflexão da Aula Nº

119 e 120, UD Andebol, 26 Maio 2014)

Para finalizar este subcapítulo, e tal como afirmam Siedentop e Tannehill

(2000, p. 79), “um dos mais fortes preditores da ineficácia [dos professores] é o

grau (…) de comportamentos disruptivos nas aulas”. De facto, a minha falta de

controlo da indisciplina comprometeu muito o desenrolar das minhas aulas e a

consolidação de muitos conteúdos por parte dos alunos.

4.1.3.2 Organização/Gestão da Aula – A Dinâmica da Coreografia

“Muitos dos problemas disciplinares que os professores encontram

ocorrem por uma má gestão da aula; isto é,

em aulas mal organizadas, os alunos

tendem a tornar-se disruptivos”

(Siedentop & Tannehill, 2000, p. 60).

Talvez fruto da minha inexperiência e vontade de atribuir alguma

autonomia à turma, a organização das minhas aulas nem sempre se revelava a

melhor opção, face às características dos alunos e, talvez, da minha postura na

aula. Segundo Siedentop (2005, p. 94), “(…) os primeiros e mais

constrangedores compromissos para os professores de EF são os de

estabelecer e manter ordem através de um sistema de gestão de tarefas que

muito frequentemente se foca na cooperação ao invés da observância e origina

um clima de aula percetível aos estudantes como sendo neutro a positivo”. Ou

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seja, uma gestão da aula que inclua os alunos em todos os processos e

mesmo ao nível da organização do espaço das tarefas. Sentindo-se eles

próprios parte do processo, e sentindo que as aulas são fundamentalmente

preparadas para eles, a cooperação e a motivação seriam expectáveis de

aumentar. Todavia, e como pude constatar ao longo do ano, nem sempre este

tipo de organização se revelou a melhor opção.

Uma das minhas maiores preocupações centrava-se na constituição das

equipas de trabalho. Segundo Siedentop (1994, p. 22), “a seleção das equipas

será eventualmente determinante para o sucesso do programa”. Tendo em

conta as experiências do 1º ano de mestrado com a adoção do MED, e

verificando que as equipas heterogéneas entre si e homogéneas ao nível da

turma haviam funcionado e permitido a todos os elementos uma aprendizagem

significativa, decidi adotar este critério como forma de constituir os meus

pequenos grupos de trabalho. De acordo com Bell e Darnell (1994, p. 38), “os

professores devem escolher equipas que criem unidades de cooperação e

sejam o mais aproximadas a nível de aptidão possível”. Assim sendo, criei

equipas com número reduzido de elementos, para tentar aumentar o tempo e

as oportunidades de exercitação, estimular a aprendizagem dos menos aptos

para as modalidades através da ajuda dos que mais se evidenciam e,

sobretudo, atendendo a ensinamentos de uma professora sobre “não nivelar o

PEA por baixo”. Tentei estimular os alunos menos aptos através da integração

com alunos mais capazes, e não centrando o meu ensino no rendimento mais

baixo dos primeiros. Mais ainda, a modelagem dos objetivos a cumprir

encontrava-se presente, para que a zona proximal de desenvolvimento não

fosse, nunca, comprometida. Contudo, e contrariando um dos pressupostos de

aplicação do MED, as equipas não tinha um caráter definitivo e imutável desde

o princípio da UD. Aliás, fiz várias alterações nas equipas ao longo da mesma,

inclusivamente nas aulas dedicadas à AS:

“ (…) Durante esta aula admito que me senti muito mais confiante e eu

própria, talvez até pela organização dos exercícios centrados em apenas

dois campos, facilitou o controlo dos alunos. Consegui emitir feedbacks de

grupo e individuais, sendo menos frequentes, no entanto, os feedbacks

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dirigidos à turma (Sarmento, 1993) ”. (Reflexão da Aula Nº 45 e 46, UD

Basquetebol, 3 Dez 2013)

“Iniciada a aula com uma ativação geral e com jogo 5x5, percebi

imediatamente que fiz uma gestão das equipas coerente, que permitia a

inclusão de todos os elementos da turma para poderem participar ao

máximo nesta aula e serem avaliados, estando as mesmas

extremamente equilibradas para cumprir o objetivo”. (Reflexão da Aula Nº

127 e 128, UD Andebol, 5 Jun 2014)

A escolha das equipas foi um aspeto que considero positivo em todo o

meu PEA e que sinto ter resultado enquanto estratégia. Já ao nível da

disposição dos alunos aquando da realização das tarefas e da gestão dos

espaços da aula, o mesmo já não se pode dizer:

“ (…) Consigo estar quase uma aula inteira sem me aperceber, de todo, que

a turma que ocupava connosco o pavilhão deixou de o fazer e que tenho o

pavilhão inteiro disponível para rentabilizar todo o tipo de situações de

aprendizagem”. (Reflexão da Aula Nº 33 e 34, UD Basquetebol, 12 Nov

2013)

“ (…) Senti mais uma vez dificuldades em improvisar na organização da

turma contando somente com os alunos presentes e devidamente

equipados. Escolho sempre más opções para os que ‘sobram’. Indago como

poderei alterar este aspeto, se na minha vida improvisar sempre foi a minha

arte”. (Reflexão da Aula Nº 43 e 44, UD Basquetebol, 28 Nov 2013)

Citando Oliveira (2001, p. 81), “a boa organização do espaço da aula

funciona como um dos principais sustentáculos que levam o professor e alunos

a obterem o maior empenhamento e rendimento face ao tempo de instrução”.

Adotando a instrução direta como o modelo de ensino predominante em todo o

meu PEA, fazer uma antevisão de todo a aula era hábito meu. No entanto, na

própria realização, notava que vários aspetos me falhavam na planificação ou

os que teria de adaptar revelavam-se difíceis. Graham (1992, p. 34) clarifica

que “uma das técnicas que muitos professores usam é a de simplesmente

pedirem às crianças para escolherem um par ou formarem grupos. A vantagem

desta abordagem é a de ser relativamente rápida”. No entanto, no caso

particular da minha turma, foi uma estratégia que ao longo do tempo desisti de

usar, porque as indecisões relativamente ao melhor parceiro ou ao melhor

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grupo aumentavam o tempo de transição e diminuíam significativamente o

tempo dedicado à exercitação. Assim sendo, e formando eu própria os pares e

constantes grupos de trabalho, optei por organizar todas as minhas aulas

tentando manter uma gestão dos grupos de trabalho semelhante em todo o

decorrer das mesmas como forma de minimizar os tempos de transição e de

espera. Quando os mesmos tinham de ser constituídos por um número de

elementos menor do que as equipas estipuladas, essas subdivisões eram feitas

no seio das próprias equipas. Todavia, muitas vezes os próprios alunos

abordavam-me com sugestões para outro tipo de organização das mesmas de

forma a ficarem mais equilibradas e a aprendizagem tornar-se mais proveitosa.

Independentemente da minha função docente, as opiniões dos alunos eram, na

maior parte das vezes, bem recebidas por mim, visto eu considerar que o

conhecimento dos alunos uns dos outros era motivo válido para ponderar a

minha organização das equipas. Por norma, esta técnica resultava e diminuía a

própria interação de caráter desviante dos alunos uns com os outros.

No caso particular da UD de Ginástica, optei por organizar as aulas em

circuito, ficando cada equipa numa estação de trabalho. Não obstante, esta

autonomia preconizada também não se revelou a melhor opção, originando

comportamentos desviantes e distrações, pelo que adotei um novo método:

todos os elementos teriam de realizar os elementos gímnicos de forma

seguida, passando imediatamente para a estação seguinte, acrescentando ,

como referido anteriormente, a utilização dos recursos audiovisuais para

ilustrar a montagem do material e aos exercícios a realizar, sendo a “cereja no

topo do bolo” um quadro de pontuações e um pequeno mimo, no final, às

equipas vencedoras. Como critérios de sucesso não tive em conta a

performance criteriosa, mas sim o esforço de cada membro da equipa, sem o

qual todos os elementos seriam prejudicados: um “Um por todos e todos por

um”. O resultado pode ser analisado através do excerto seguinte:

“Posteriormente, decidi, tal como havia determinado na reflexão da aula

anterior, sentar toda a turma e explicar o processo de montagem do espaço

de exercitação: cada equipa montava a estação onde iniciaria o circuito.

Depois exemplifiquei. E depois iniciou-se uma das minhas alegrias: todos os

alunos circulavam ordenadamente pelas estações, ajudavam-se uns aos

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outros e comunicavam-me os resultados do empenho das equipas para eu

apontar no cartaz. Inclusivamente, os alunos mais problemáticos se

esforçavam e se empenhavam pelas equipas e os alunos com mais

dificuldades superavam as suas dificuldades e conseguiam realizar

elementos até então nunca executados com sucesso”. (Reflexão da Aula Nº

93 e 94, UD Ginástica20 Mar 2014)

Por vezes, questiono-me se no 3º período deveria ter adotado mais uma

vez o MED para a lecionação do Andebol e Voleibol. Hoje, chego à conclusão

que sim. O MED, desenvolvido por Siedentop em 1987, e citando (Alves, 2013)

“propunha o ensino da EF com enfoque na sua componente lúdica, através da

sua estruturação equiparada à estrutura das competições desportivas formais”.

Embora eu não tenha adotado o MED na sua totalidade, as poucas

características, atrás descritas, como a formação de equipas, e o cartaz de

pontuações que adaptei para as minhas aulas tiveram sucesso. Todavia, e

atendendo a Siedentop & Tannehill (2000), tentei entender se os alunos já

teriam ganho alguma maturidade no que respeita à postura autónoma da aula,

sem recompensas finais. Cheguei à conclusão que é necessário entender qual

o nível de motivação dos alunos, porque Prochaska e Di Clemente (1992)

citados por Oliveira e Spuzunski (2008, p. 163), no seu Modelo Transteórico de

Mudança do Comportamento para a explicação do comportamento no exercício

físico, explicam-nos que “avaliar a motivação para mudança,

independentemente do tratamento utilizado, parece ser um aspecto importante

para a utilização de intervenções adequadas aos pacientes”. Ainda assim,

concluí que mais importante do que entender o nível ou razão das motivações,

é mantê-los motivados, com o máximo de estratégias.

A modelação das situações de aprendizagem e do jogo foi o que mais

me levou a criar no verdadeiro sentido da palavra. Tal como afirmam Estriga e

Moreira (2013, pp. 124-125), “(…) é em situação de jogo que o aluno

experiencia, explora e tenta solucionar os problemas de jogo que por sua vez

servem de base à definição de objetivos de aprendizagem e à tipologia das

tarefas a abordar”. A modelação regulamentar e estrutural originou

entendimento relativamente aos propósitos do jogo, como pode ser

comprovado no seguinte excerto relativo à UD de Andebol:

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“ (…) Optei por parar várias vezes esta aula para explicar o que pretendia

com os exercícios, quais os propósitos das várias variantes que ia

introduzindo nas situações jogadas. A verdade é que resultou: os alunos

entendiam os propósitos de terem de estar todos no meio-campo adversário

para que o golo da sua equipa fosse contabilizado”. (Reflexão da Aula Nº

113 e 114, UD Andebol, 13 Mai 2014)

Outra grande dificuldade por mim sentida foi sobre a gestão do tempo de

aula. Costa (1995, p. 24) afirma que “é de esperar que a maximização das

oportunidades de aprendizagem proporcionadas aos alunos esteja dependente,

em larga medida, da forma como o professor reparte o tempo de aula pelas

diferentes funções de ensino”. Como já referi anteriormente, os tempos de

transição e de instrução tornavam-se extensos, pelo que o tempo de

empenhamento motor era mais reduzido e, consequentemente, o cumprimento

integral do plano de aula, comprometido. Contudo, também vivenciei episódios

nos quais a gestão do tempo negligenciou o cumprimento do plano de aula,

mas por motivos de caráter positivo, como pode ser comprovado no excerto

seguinte que reporta à UD de Ginástica:

“A minha motivação para ensinar e ajudar a melhorar quem por mim

chamava era tal que esqueci por completo a introdução à Ginástica Acrobática

planeada para a segunda parte da aula. Não penso que terá consequências

maiores além de um ligeiro atraso na UD que pode perfeitamente ser reajustada.

Refletindo sobre o que poderá ter acontecido, inconscientemente, para me

esquecer completamente da introdução à Ginástica Acrobática, penso que, de uma

forma inconsciente, a frase da Prof.ª Paula Batista, numa conversa informal, poderá

ter tido influência: ‘Rita, se vir que uma situação de aprendizagem está a resultar

quer ao nível motor quer ao nível motivacional, prolongue-a!’". (Reflexão da Aula Nº

87 e 88, UD Ginástica, 23 Fev 2014)

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4.1.3.3 Instrução e Feedback – A Melodia

“ A forma como a instrução é realizada interfere na interpretação

que os alunos fazem das tarefas, o que influencia a realização

das mesmas”

(Mesquita & Rosado, 2011, p. 80).

A minha preocupação com a instrução e o feedback pedagógico foram

aumentando ao longo do tempo, devido à minha constatação de que, no caso

da primeira, apesar de me considerar eficiente ao nível da comunicação oral,

comecei a perceber que os meus alunos, muitas vezes, desviavam a sua

atenção e comportamentos por não compreenderem o que era pretendido ou

porque a transmissão era extensa e longa, originando dispersão:

“A aula voltou a não correr da melhor forma, mas desta vez devido não só

à minha ineficaz instrução, como também à seleção de exercícios. A aula

revelou-se extremamente analítica e entediante. Tenciono começar a

exercitar, sozinha e com alguém mais experiente, a minha instrução para

que os alunos entendam o que pretendo que façam.” (Reflexão da Aula

Nº 35 e 36, UD Basquetebol, 14 Nov 2013)

Comecei, então, a gravar-me a instruir, sozinha, em casa. E o primeiro

aspeto que comecei a entender como sendo dificultador de compreensão foi a

sucessão incessante de diretrizes. Graham (1992, p. 65) defende que “uma

dica é manter a simplicidade. Para um novato, uma explicação de como

manejar uma raquete, como deslocar para a bola ou preparar para balancear a

raquete, e depois como a balancear efetivamente (…) é demasiada informação,

mesmo para um aprendiz adulto”. Para isso, a diminuição do número de

componentes críticas na fase micro de planeamento, o plano de aula, foi

determinante. Estudava o exercício e o objetivo a cumprir, e exercitava em

casa sozinha ou gravava a minha voz num formato áudio, o que me permitiu

começar a optar por realçar as determinantes técnicas ou critérios de êxito

apenas como forma de feedback, caso o exercício fosse de caráter menos

analítico ou técnico. Deste modo, a instrução tornou-se mais breve, apenas

atrasada quando eu necessitava de me calar para que os alunos entendessem

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que o deveriam fazer também: estar em silêncio e escutar a professora. De

acordo com Rink (1993, p. 148), “(…) após percecionar que os alunos não

estão a responder à tarefa como o professor pretendia, a aula inteira deve ser

interrompida e as diretrizes explicadas”. De facto, por várias vezes senti

necessidade de parar a aula, de juntar a turma toda perto de mim e voltar a

incidir nos objetivos do exercício e, nestes casos, assinalava algumas

componentes críticas a ter em conta.

O uso de palavras-chave fez pouco parte do meu vocabulário

pedagógico, talvez devido à minha insegurança sobre a melhor palavra a

utilizar para explicar o que preciso. Graham (1992, p. 67) refere que estas “(…)

ajudam a relembrar a ideia mais facilmente”. Reportando-me aos planos de

aula, recordo o uso de expressões no modo imperativo como “empurra a bola”

para diferenciar, no Andebol, a técnica do drible de progressão

comparativamente à do drible de Basquetebol, ou o uso da expressão “bola

alta” no Voleibol para que entendessem a necessidade de efetuar uma

parábola para proporcionar boas hipóteses de ataque a quem estava

posicionado mais perto da rede. Mas aparte destes pequenos exemplos, o uso

de palavras-chave na minha prática docente foi reduzido. Todavia, e

reportando à UD de Andebol, nem sempre senti que estas técnicas eram as

melhores, como comprova o excerto seguinte:

“Relativamente à minha instrução, e talvez devido ao pouco conhecimento

demonstrado pelos alunos relativamente ao Andebol, terei de continuar a

falar de forma pausada e a explicar pormenorizadamente o que pretendo

com cada exercício. As palavras-chave, curtas e em explicação rápida,

ainda não funcionam nesta primeira fase” (Reflexão da Aula Nº 103 e 104,

UD Andebol, 22 Abr 2014).

Aquando da explicação, usei constantemente alunos para demonstrarem

o que era pretendido, recorrendo várias vezes aos praticantes da própria

modalidade que me encontrava a lecionar naquele momento. Sem consultar

qualquer literatura prévia sobre o assunto, reportei-me às minhas próprias

experiências como aluna e em como, quando um professor meu exemplificava,

não prestava qualquer atenção à prescrição intendida, mas ao grau de eficácia

da execução do docente. Assim, e como pretendia prender a atenção dos

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meus alunos às componentes críticas e não ao meu nível como atleta, optei por

quase nunca demonstrar qualquer ação técnica. Esta ideia é corroborada por

Mesquita e Rosado (2009, p. 98), que ainda acrescentam a libertação por parte

do professor, aquando da demonstração por um aluno, para os aspetos fulcrais

a exaltar na execução do elemento técnico ou na realização da situação de

aprendizagem “através do complemento da informação verbal”. Aquando da

realização das tarefas por parte dos alunos, compete ao professor observar.

Tentava colocar-me na periferia do espaço de aula, o que me permitia não só

observar de um modo geral e controlar a turma à distância, tal como pode

comprovar o excerto seguinte da UD de Voleibol:

“(…) Apesar de nos encontrarmos no final do ano letivo, não desisti de tentar

corrigir alguns procedimentos da prática docente que considero importantes.

Já por algumas aulas, mas nesta em particular, tenho constatado que o

posicionamento do professor na periferia do espaço dedicado à tarefa é

efetivo de controlo e consegue surpreender os alunos. Por duas vezes, a

minha colocação permitiu-me ter absoluto controlo da turma, conseguindo

corrigir uma situação de desvio do comportamento com mera projeção de

voz e surpresa por parte do aluno relativamente ao sítio onde me

encontrava, tendo o mesmo de me procurar para conseguir efetuar contato

visual comigo” (Reflexão da Aula Nº 125 e 126, UD Voleibol, 3 Jun 2014).

A observação gera uma análise do comportamento e posteriormente, a

emissão de um feedback pedagógico. Fishamn e Tobey (1978), cit. por

Mesquita e Rosado (2009, p. 82) clarifica que “o conceito de feedback

pedagógico é definido como um comportamento do professor de reacção à

resposta motora de um aluno ou atleta, tendo por objectivo modificar essa

resposta, no sentido da aquisição ou realização de uma habilidade”. Eu tendia,

para tentar não constrangir os meus alunos, que as correções de caráter mais

negativo fossem realizadas a nível individual e que o reforço positivo fosse

uniformizado a um caráter grupal ou de classe. Sarmento (1993) menciona 4

tipos de objetividade do feedback: avaliativos, quando “o professor reage à

prestação emitindo um simples juízo ou apreciação dessa execução sem

qualquer referência à sua forma” (p. 44); interrogativos, no qual o professor

interroga o aluno sobre a sua prórpa prestação; descritivos, quando remetem o

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aluno para o que acabou de realizar; e prescritivos, que elucidam o mesmo

sobre o que terá de fazer para melhorar. Mais uma vez, as principais

dificuldades sentidas derivavam da minha insegurança, ponderando sempre se

o que visualizava era erro ou se apenas uma forma diferente de executar a

ação motora, pelo que a emissão corretiva ficou extremamente condicionada.

Ainda assim, a emissão de feedbacks, nomeadamente os dirigidos ao aluno

(Sarmento, 1993), seguia uma lógica recorrente: interrogativos, nas quais

questionava os alunos sobre o que estavam a fazer e o porquê, descritivos,

quando a perceção da sua ação ou erro não era apurada, prescritivos como

forma de correção, explicando o que deveriam, afinal, fazer, e finalmente

avaliativos, no quais emitia um mero juízo apreciativo, mas deficiente de

informação relativamente à forma, normalmente acompanhado de um simples

“continua, estás no bom caminho”.

4.1.4 Avaliação – Os Aplausos

“ Avaliar significa examinar o grau de adequação entre um conjunto

de informações e um conjunto de critérios adequados ao

objectivo fixado, para tomar uma decisão”

(Ketele, 1980, p. 22).

De acordo com Bento (2003, p. 175), “sem uma reflexão posterior acerca

das aulas, sem uma avaliação crítica do próprio trabalho, verifica-se

imediatamente um retrocesso dos resultados em todos os aspetos do ensino:

da aprendizagem, da docência, da sua planificação, preparação e realização”.

O mesmo autor refere ainda que “para evitar que o confronto (inevitável) com

todo o tipo de situações incomodativas seja frequente, para que a experiência

frustrante seja uma excepção, é necessário estabelecer uma metodologia

pessoal, consistente, de análise e avaliação sistemática das aulas” (p. 176). A

avaliação constitui-se, deste modo, como um processo indispensável no ciclo

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do PEA (Bento, 2003): Planificação-Realização-Análise/Avaliação. Porém, este

último parâmetro não se revela como um ponto final, mas antes como uma

possibilidade de reinício, sendo que com a reflexão inerente à fase de

análise/avaliação nos será permitido reestruturar toda a nossa prática e

conjunto de estratégias de intervenção.

Primeiramente, e numa perspetiva mais centrada no professor, o mesmo

deverá encontrar, na sua autorreflexão, uma forma de avaliar todo o seu PEA

com o propósito de colmatar lacunas numa posterior intervenção pedagógica. A

minha avaliação, em formato de reflexão, constituiu-se como o principal ponto

de análise de toda a minha prática docente, tanto no final de cada aula como

de cada UD, podendo este último exemplo ser comprovado com o excerto

seguinte, o qual é ilustrativo de um balanço de uma unidade de ensino

centrado quer no rendimento dos alunos como na atuação pedagógica da

professora:

“ (…) Primeiramente, não abordei a viragem de costas, concentrando-me

mais no rolamento em torno do eixo frontal, que nem todos os alunos

conseguiam realizar. Tentando perceber o porquê de tanta dificuldade no

enrolamento corporal, desfazei um pouco a situação regulamentar de prova,

o que comprometeu a aprendizagem dos alunos sobre a caracterização da

própria modalidade. Alguns, inclusivamente, realizaram uma viragem com

rolamento na prova de Avaliação Sumativa de Bruços, o que me fez sentir,

de certa forma, incompetente. Embora eu tivesse por bastantes vezes

explicado a situação regulamentar das viragens abertas no que compete à

diferença entre o término do percurso com uma mão (técnicas alternadas) e

duas mãos (técnicas simultâneas), não ensinei, de todo, que o uso das

viragens com rolamento só se usa nas primeiras. Penso que esta será uma

falha grave na abordagem do domínio cognitivo da Natação, sobretudo no

âmbito da Cultura Desportiva. Aprendi a criar rotinas organizativas para

poder potenciar o tempo de prática efetiva dos meus alunos. Um professor

deve sempre ter presente no seu plano de aula a organização didático-

metodológica detalhada, sobretudo se ainda não conhece os alunos. Desde

que criei a organização dos alunos por pistas, os mesmos já tinham noção

de onde se deveriam posicionar para realizarem os exercícios da aula,

mesmo sem eu lhes mencionar o facto de aquela organização ser definitiva.

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Isto transmite-me uma sensação de dever (para já) cumprido no que

respeito à criação de rotinas organizativas. Acrescento, ainda, a vantagem

de ter sempre já programada uma forma de estruturar os exercícios

inclusivamente para os vários níveis. Este aspeto é mais fácil se, de facto, a

organização professor-aluno já estiver previamente planeada (…).”

(Reflexão Final UD Natação, 1º Período)

Outra forma de análise que me permitiu tirar ilações de toda a

pertinência dos meus processos didático-metodológicos traduz-se na avaliação

dos alunos. Segundo Bento (2003, p. 176), “o processo de aprendizagem no

ensino é planificado, organizado e conduzido pelo professor; consiste, porém,

essencialmente, na apropriação e assimilação activas do conteúdo formativo

por parte dos alunos”. Luckesi (2002) explana-nos que a avaliação é uma

importante ferramenta na organização e gestão do PEA, já que funciona como

um agente regulador, tanto da progressão do aluno como da atuação/ prática

pedagógica do professor. Mais do que um instrumento de aprovação ou

reprovação, é um identificador do estádio de aprendizagem do aluno e do

processo em si, permitindo, através dela, definir o caminho a seguir. Ao longo

do caminho e no final do mesmo, a avaliação apresenta-se como um fator

decisivo de apreciação em relação à aprendizagem do aluno e do processo em

si. A este respeito, Siedentop e Tannehill (2000) também indicam que a

avaliação é a oportunidade que os alunos têm para demonstrar o seu

conhecimento, capacidades, compreensão e aplicação dos conteúdos

aprendidos, mas também como forma do professor melhorar a qualidade do

seu ensino e a aprendizagem dos seus alunos.

Assim, tal como a reflexão, este processo deverá ser realizado ao longo

do ano, de forma contínua, tornando possível a constante reformulação de

estratégias para o cumprimento das metas estipuladas e tendo muitos mais em

conta a evolução do aluno ao longo de todo o processo e não apenas a

diferença observada entre dois momentos: o inicial e o final. Mais acrescenta

Carrasco (1989, p. 32) quando aclara que “a avaliação contínua não é mais do

que uma técnica que substitui o exame final do ano e o introduz ao longo do

tempo letivo”. No entanto, deverão ser contemplados momentos de caráter

mais formal no qual se efetuará um registo da evolução da turma relativamente

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às matérias abordadas: uma no início da UD, a AD, outra no seu meio, a

Avaliação Formativa e outra no seu término, a Avaliação Sumativa (AS) (Bento,

2003). No meu caso, apenas contemplei as formas inicial e final como marcos

de examinação formal de todo o meu processo educativo.

A AD consiste num primeiro momento de observação do professor da

sua turma relativamente a um conteúdo específico, permitindo-lhe retirar

ilações pormenorizadas sobre, no caso da EF, o seu desempenho ao nível dos

aspetos técnicos e táticos específicos de uma modalidade. Permite,

posteriormente, estruturar toda a sequência e extensão dos conteúdos a

abordar numa UD face às condições existentes (humanas, materiais e

temporais). Para Damas e Ketele (1985), “o diagnóstico é realmente um

processo avaliativo. É, todavia, particular, pelo menos no duplo sentido: é

sempre orientado para uma tomada de decisão em termos de remédio (…) “.

Ou seja, a AD é realizada com a finalidade de ser o ponto de partida para toda

uma fase de planeamento de um ciclo de ensino. Assim, após a leitura do PEE,

estabeleceram-se critérios de avaliação, analisou-se a informação recolhida na

observação e confrontou-se a mesma com critérios opostos (Damas & Ketele,

1985). Quanto aos critérios de avaliação, cada modalidade das duas

lecionadas em cada período teria a cotação de 45% da nota final, tendo a

bateria de testes Fitnessgram, 1º e 2º períodos, e o teste teórico no 3º período,

10%.

A AD permitiu-me orientar todo o meu PEA para as necessidades dos

meus alunos e estabelecer metas efetivamente alcançáveis. Realizei uma

avaliação do estilo criterial, baseada em Siedentop e Tannehill (2000, p. 203)

quando sugere que “se o intuito do ensino do jogo é melhorar a performance

no mesmo, então a avaliação do jogo deve incluir todos os aspetos no contexto

no qual o jogo é realizado”.

O que mais se revelou complexo foi a definição dos critérios de

avaliação. Até a própria seleção de parâmetros face à enunciação clara dos

objetivos foi sendo adaptada ao longo do tempo (Damas & Ketele, 1985).

Numa primeira análise optei, no caso das modalidades coletivas e sendo estas

de caráter aberto, ou seja, com interferência do contexto, em incidir o meu

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diagnóstico em parâmetros como a tomada de decisão, as ações ofensivas e

as ações defensivas e tendo pouco em conta as habilidades técnicas. Tentei,

ao utilizar esta estratégia, avaliar a noção dos princípios táticos comuns a

várias modalidades e, ao mesmo tempo, a sua aplicabilidade em contexto

daquela própria modalidade e potenciar ao máximo a aprendizagem e evolução

dos meus alunos face ao tempo escasso existente. Estriga e Moreira (2014, p.

57) corroboram esta ideia ao afirmar que “vários autores têm realçado a

importância do ensino dos jogos desportivos mais centrados na tática, na

compreensão da lógica interna do jogo e no ensinar a jogar a partir do jogo,

rompendo com uma abordagem mais tradicional focada no ensino de

habilidades técnicas descontextualizadas”. Comecei, através das leituras e

conversas com outros professores, a formar a minha própria ideia sobre a

melhor forma de ensinar as modalidades coletivas na escola, compreendendo

que, por uma questão de inclusão de todos os alunos, a transversalidade da

tática na criação de linhas de passe e desmarcação do adversário faz muito

mais sentido do que a insistência nas técnicas perfeitas de lançamentos ou na

condução infinita da bola. Assim, comecei a atentar ainda mais

pormenorizadamente “na natureza dos conteúdos a privilegiar” (Estriga &

Moreira, 2014, p. 57). Porém, o caso do Voleibol revela-se diferente, na medida

em que, sem a exercitação dos aspetos técnicos, não é possível haver

sustentação de bola, a base de todo o jogo, pelo que o diagnóstico correto dos

elementos técnicos esteve sempre contemplado (ANEXO VI).

Um aspeto comum a todos eles é que a avaliação destas modalidades

foi realizada no jogo e não em situações-critério. Se um jogo é para se

aprender a jogar, então é no objetivo de jogo e nas estratégias utilizadas pelos

alunos para o cumprirem que devemos centrar a sua avaliação, e não em

execuções de habilidades descontextualizadas.

No caso das modalidades individuais, e sempre contemplando o PEE e

a grelha oficial de avaliação (ANEXO VII), a execução de vários elementos por

parte dos alunos permitia a sua transição para um patamar superior na escala

de apreciação. No caso da Ginástica de Solo, a execução mínima de um

determinado número de elementos gímnicos encadeados com alguns

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elementos de ligação correspondia à avaliação do aluno num determinado

patamar. Para a Ginástica Acrobática, cada figura contemplada nos parâmetros

da avaliação era distinta de um nível, e execução de uma ou mais colocava o

aluno num certo patamar. Por último, na Natação, a performance dos alunos,

por exemplo, a Mariposa, já o colocava no perfil de Excelente (0 a 20 valores).

Em conversa com a PC, decidi realizar para todas as modalidades as

minhas próprias grelhas de avaliação cujo preenchimento seria posteriormente

transportado para a grelha de avaliação oficial, em formato de lista de

verificação, por ser a forma mais prática de avaliação por nós considerada e a

que se usa mais em contexto “real” de ensino. Tendo em conta os vários

domínios observados em jogo, os parâmetros avaliados foram transformados

em critérios que, caso fossem observados em jogo, seriam objeto de um “visto”

nas minhas grelhas de avaliação.

No que respeita à AS, é uma tarefa ingrata mas necessária. Esta

caracteriza-se como uma observação detalhada final no desempenho dos

alunos, devendo a mesma ser adaptada ao balanço entre tudo o que o

professor se propôs a fazer e ao que, efetivamente, conseguiu.

“(…) Continuo a sentir que os exercícios planeados para as aulas não

exercitam o que planeio ou que não são os mais adequados para abordar

determinados conteúdos. Por vezes, o exercício até se enquadra, mas a minha

forma de o organizar é que afasta por completo a situação de aprendizagem do

seu propósito. Isto obriga-me a consultar ainda mais não só exercícios, como

possíveis variantes e que objetivos podem ser cumpridos com elas”. (Reflexão

Final UD Futebol, 2º Período)

“Relativamente aos conteúdos específicos em si, não sinto que tenha falhado

no ensinamento da Ginástica de Solo: os alunos entendiam as determinantes

técnicas chave para uma boa execução e até ajudas por mim transmitidas, que

achei conveniente ensinar para que os alunos se ajudassem uns aos outros no

trabalho por equipas. Já no caso da Ginástica Acrobática, finda a UD, sinto que

os alunos não entendem a importância das pegas e montes e desmontes

realizados corretamente porque eu própria não os instruí a esse nível: não

pormenorizei a colocação dos apoios e não abordei mais do que duas pegas: a

simples e a de pulsos. Contudo, face às figuras que deveriam apresentar para

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avaliação, considero estas duas pegas passíveis de abordagem e que mais do

que estas duas seria desnecessário”. (Reflexão Final UD Ginástica, 2º Período)

Bento (2003) afirma que “o ensino está direccionado para a realização

de objectivos, para o alcance de resultados”, pelo que uma forma de avaliar

será a análise dos resultados obtidos pelos alunos.

A minha AS centrava-se nos critérios da AD. Todavia, a manipulação de

algumas situações jogadas imperou, de forma a valorizar o esforço dos alunos

e a priorizar a oportunidade de participação equitativa de todos os elementos,

para que todos tivessem acesso a um conjunto de situações e,

consequentemente, à ocasião de resposta:

“Contudo, optei por não realizar jogo 7x7 como previsto por reparar

que já em 5x5 havia meninas que se encontravam um pouco aparte da

situação de jogo, pelo que a aula toda foi realizada em 5x5 e sem

problemas de maior”. (Reflexão da Aula Nº 127 e 128, 5 Jun 2014)

Segundo Alarcão e Tavares (1987, p. 103) entendem por observação “o

conjunto de actividades destinadas a obter dados e informações sobre o que se

passa no PEA com a finalidade de, mais tarde, proceder a uma análise do

processo numa ou noutra das variáveis em foco”. Todavia, os autores realçam

a diferença entre observação e análise, estando elas “tão intimamente

relacionadas que quase que poderíamos dizer que a observação compreende

duas fases: registo do que se vê e interpretação do sentido do que se viu” (p.

103). Durante o meu EP, treinei a minha observação ao meu limite para poder

ser congruente nas notas que atribuía aos alunos. Uma dificuldade por mim

sentida foi a conciliação da observação com o registo do que observava, pelo

que o recurso à filmagem como meio de auxílio foi uma mais-valia. A

observação repetida e a consequente análise fizeram-me sentir que a minha

avaliação estava a ser ainda mais justa. Contudo, a minha observação não se

limitou aos meus alunos, mas também aos colegas de NE. Realizamos 10

observações a cada um dos EE e 6 à PC e a outros professores do

departamento. Iniciei as observações com Registo de Incidentes Críticos,

Análise do Tempo de Aula e Análise do Comportamento do Professor

(Sarmento et al., 1998). Contudo, a reflexão global da aula sem métodos

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quantitativos ou instrumentos de observação foi o método por mim mais usado.

Pretendia observar e analisar todos os pormenores sem me preocupar com

registos de tempo. O meu foco incidia sobretudo em aspetos que considero

imensuráveis, como estratégias de controlo da disciplina e tipologia de tarefas.

Para finalizar este capítulo, considero pertinente reforçar o papel da

avaliação em todo o processo. Avaliar permite a um professor não apenas

comparar a evolução de um aluno de um ponto inicial a um ponto final, mas

verificar a aplicabilidade das suas estratégias e a eficácia da sua prática

pedagógica.

4.2 A Vivência DA e PARA a Escola - Os Momentos Áureos do

Enredo

Este capítulo é dedicado à Área 2 - Participação na Escola e Relações

com a Comunidade, elencado nas Normas Orientadoras da Unidade Curricular

Estágio Profissional e que visa “contribuir para a promoção do sucesso

educativo, no reforço do papel do professor de Educação Física na escola e na

comunidade local, bem como da disciplina de Educação Física, através de uma

intervenção contextualizada, cooperativa, responsável e inovadora”, refletindo-

se em “todas as atividades não-letivas realizadas pelo estudante-estagiário,

tendo em vista a sua integração na comunidade escolar (…)” (p. 6).

Ainda segundo o mesmo documento, durante o EP, “ (…) o estagiário,

após acordar com o PC, deve decidir qual a área em que fará um maior

investimento, o qual se traduzirá no acompanhamento mais efetivo da Direção

de Turma ou do DE” (p. 7). Contudo, senti que, em contexto real de

aprendizagem e no âmbito da PES, fazer um acompanhamento aprofundado

das duas áreas seria o mais benéfico para a minha formação profissional, pelo

que, acordado com a PC, mantive um contato constante com as duas

dimensões não-letivas da profissão docente.

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4.2.1 RPDancers – O Regresso da Solista Pródiga

De acordo com a Lei de Bases do Sistema Educativo, artigo 51º,

ponto 5, “O desporto escolar visa especificamente a promoção da saúde e

condição física, a aquisição de hábitos e condutas motoras e o entendimento

do desporto como fator de cultura, estimulando sentimentos de solidariedade,

cooperação, autonomia e criatividade, devendo ser fomentada a sua gestão

pelos estudantes praticantes, salvaguardando-se a orientação por profissionais

qualificados” (p. 5136).

Se há exemplo de grupo no qual o Eu não existe, dando sempre lugar ao

Nós é o Grupo de Desporto Escolar de ARE da escola cooperante, os

RPDancers. Tendo eu pertencido a este grupo ainda na sua terceira edição, no

ano de 2006/2007, sendo um elemento dos primeiros grupos-equipa que se

afiguraram em campeonatos regionais, distritais ou até nacionais da

modalidade naquela escola, os “Foundations”, tal como nos denominava o

professor responsável pelo grupo. Foi nostálgico o regresso e causador de um

sentimento verdadeiro de amor. A minha relação de amizade com o “Profinho”

que havia vislumbrado em mim potencial ainda no alcance da minha

maioridade, o porto de abrigo que estes treinos e ensaios seriam numa prática

pedagógica em improviso, sem planificações prévias e o meu spotlight

lecionando a minha paixão, a Dança, constituíram um marco enorme neste

meu percurso como EE. Era a minha vez de proporcionar experiências únicas

que eu própria havia vivido no seio deste grupo, de fazer aqueles jovens

compreenderem o verdadeiro sentido da união que uma equipa de DE

proporciona.

Dividido em dois escalões, Iniciados e Avançados, este grupo adquiriu,

nos últimos anos, uma dimensão sem precedentes para uma equipa de DE na

escola: tetra-regionais e tricampeões nacionais, pelo que a responsabilidade de

perpetuar um bom trabalho passava muito pela demonstração de competência

e capacidade de trabalho conjunto.

O primeiro dia de treinos foi marcado pelos sorrisos, novidades a relatar

das férias de Verão pelos que já faziam parte do projeto e, também, pela minha

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apresentação ao grupo por parte do professor responsável, não como

professora estagiária, mas como o seu par durante todo o ano letivo. Foi-me

solicitada a introdução à ativação geral específica da Dança como forma de

adaptação dos alunos à minha atuação e vice-versa; hábito esse que se repetiu

nos vários meses que se seguiram, incluindo treino da flexibilidade e condição

física especificamente direcionada para a coreografia em construção.

Todas as escolas que incluam nas suas atividades um grupo-equipa de

ARE de DE necessitam de prestar provas em 3 encontros locais para serem

apurados para os encontros regionais e, desses, para os nacionais. Este ano

houve ainda um primeiro encontro de abertura, que visava não só a

competição, mas o convívio entre todos os grupos através de masterclasses

ministradas por professores responsáveis pelos grupos-equipa das várias

escolas participantes, evento este que contou com a presença da nossa escola

e a minha, em particular, como responsável do grupo. O extrato de reflexão

seguinte é ilustrativo da dicotomia de papéis, aluno-professor, por mim sentidos

nesse dia:

“Tenho de admitir que foi uma experiência maravilhosa. Acompanhar ‘meninos’ e

‘meninas’ em atividades fora da escola, estando eu responsável por eles, foi uma

troca de papéis/funções que estranhei, nos seus primeiros momentos: era eu

que tinha de decidir, assegurar-me que levava exatamente os mesmos que

trazia, que não haveria lixo espalhado ou maus comportamentos que pusessem

em causa a imagem da escola... Tudo isto ao princípio foi estranho, mas com a

chegada à escola [destinada ao encontro] e começando precisamente com a

reunião de responsáveis de Desporto Escolar, foi passível de adaptar na minha

mente”. (Reflexão do Encontro de Abertura ARE, 7 Dez 2013)

Tive, também, eu e os meus colegas de NE, o privilégio de estar na

organização do III Encontro Local ARE que ocorreu precisamente na nossa

escola, no dia 29 de março de 2014. Sempre sob o comando do professor

responsável pelo grupo-equipa ARE, perito em organização de espetáculos e

eventos artísticos, a responsabilidade revelava-se acrescida, porque, como nos

foi relatado pelo mesmo docente, na reunião inicial de DE relativa à estrutura

dos encontros “ficou logo declarado pelos responsáveis do DE que o III

Encontro iria ser na nossa escola devido à qualidade de organização

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demonstrada em anos anteriores”. A pressão era grande e a nossa vontade de

superar as expectativas revelava-se ainda maior. Após um ofício a solicitar

material, foi a vez de dividirmos tarefas e ficarmos cada um responsável por

uma parte em específico do evento: a mim coube-me a tarefa de auxiliar o disc

jockey com a colocação das faixas à medida que os grupos de dança se

prontificavam no espaço reservado para a competição.

Contudo, no dia anterior e após o evento competitivo, a preparação do

pavilhão para a receção dos grupos e a arrumação de todo o material,

respetivamente, desvelou uma capacidade de transformar o espaço destinado

num verdadeiro palco: linóleo, verdes, lembranças para todos os grupos, um

stand com artigos publicitários da escola e, até, uma esquematização do

pavilhão para guiar os grupos perspetivava uma organização para ficar na

memória. Mas o que mais cativou a minha atenção foi o esforço conjunto dos

estagiários da FADEUP, do pessoal docente e não-docente e da turma de 10º

ano do curso de Apoio à Gestão Desportiva para que tudo corresse,

efetivamente, bem. Não estava em questão apenas o cumprimento de uma

tarefa… Foi uma demonstração genuína de carinho pela escola e pelo

Desporto em si. O ambiente era tão agradável que o retorno do pavilhão à sua

forma original foi feito com música preparada pelo nosso DJ do evento, onde a

boa disposição e passos de dança individuais e até entre membros foram uma

constante.

Apurados os dois escalões para os Campeonatos Regionais realizados

no passado dia 3 de maio, rumamos a Vila Real. Como já era habitual, algum

tempo da viagem era passado com pedidos de várias alunas para que eu as

auxiliasse com a maquiagem. Até nestes pequenos gestos eu conseguia sentir

gratidão… Conseguia experienciar um sentimento de confiança total destes

jovens em mim, refletindo-se na segurança que sentiam quando passava um

lápis nos seus olhos ou uma esponja nas suas faces… era um

comprometimento de que todos queríamos o melhor para o grupo, nem que

isso recaísse numa melhor caracterização.

Com a novidade de que, este ano, apenas o primeiro classificado dos

Regionais seria apurado para os Nacionais, instaurou-se um misto de

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desalento e desportivismo quando se ouviram os resultados: 3º lugar para os

Iniciados e 2º para os Avançados. Foi a vez de demonstrarmos que o

importante é participar e honrar a camisola que vestimos em detrimento dos

prémios e classificações. Todavia, foi uma grande surpresa quando recebemos

a notícia de que o grupo dos Avançados também fora, afinal, apurado para os

campeonatos a nível nacional, em Lisboa, alcançando um esplêndido 2º lugar.

Além de todos este momentos, as conversas e opiniões trocadas com o

professor responsável, que me conhecia desde os meus 17 anos, foram das

maiores aprendizagens que consegui obter neste EP:

“ (…) O professor explicou-me que ser professor de dança também tem que ver

com a parte humana que, com esta experiência a lecionar aulas de Educação

Física, sentirei progressos. Existem imensos aspetos que transporão as

barreiras do contexto escolar e poderão ser aplicados em todas as aulas que

lecionarei ao longo da minha vida. Existe, também, o facto de eu não poder

sentir-me frustrada por ser, por vezes, a única a dedicar-me a 100% a um

projeto. Nem todos nos dedicamos ao mesmo da mesma forma, e eu terei de

deixar de ser tão exigente com os outros como são comigo. Disse,

inclusivamente, que ‘compreendo a tua frustração, mas não podes ser tão pura’”.

(Diário de Bordo, 8 Nov. 2013)

Se eu pudesse fazer um rewind e voltar a viver tudo, fá-lo-ia sem

hesitações. Silva et al. (2012, p. 39) afirmam que “o movimento vivenciado ao

dançar gera informações que reforçam a ideia de orientação psicodinâmica,

que predomina no movimento inconsciente beneficiando a pessoa no

entendimento das emoções (…)”. De facto, a Dança permite a expressão dos

sentimentos de uma forma única e, com este grupo, a experiência do coletivo

através desta área fez-me compreender ainda mais a essência do Ser

Humano. Através da Dança sinto que a compreensão mútua foi uma

permanente neste ano e que se propagará para os próximos que dele fizerem

parte.

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4.2.2 Direção de Turma – A Narrativa Encaixada

“[O DT] constitui um elemento determinante na mediação de conflitos, que não

se encerram apenas no recinto escolar, ramificando-se e

multiplicando-se por toda a comunidade educativa”

(Boavista & Sousa, 2013, p. 80).

Segundo o Estatuto do Aluno Não-Superior (Lei Nº 30/2002 de 20 de

Dezembro, artigo 5º, ponto 2), “O director de turma (…) enquanto coordenador

do plano de trabalho da turma, é particularmente responsável pela adopção de

medidas tendentes à melhoria das condições de aprendizagem e à promoção

de um bom ambiente educativo, competindo-lhe articular a intervenção dos

professores da turma e dos pais e encarregados de educação e colaborar com

estes no sentido de prevenir e resolver problemas comportamentais ou de

aprendizagem”.

Durante o meu EP tive a oportunidade de acompanhar a minha PC no

trabalho de direção de turma, maioritariamente nas funções de caráter mais

burocrático. Embora a direção de turma da minha PC não fosse a turma a mim

atribuída para condução do PEA, a minha vontade de aprender mais sobre esta

componente não-letiva levou a que a mesma, em condição de sigilo

profissional, me tornasse o seu “braço direito” todas as terças-feiras à tarde,

nos 45 minutos reservados para a resolução de todos os assuntos relacionados

com este cargo administrativo.

Na escola, este cargo está distribuído por dois tempos letivos, estando

45 minutos destinados ao tratamento de dados e tarefas de caráter mais

administrativo, e outros 45 minutos ao atendimento dos Encarregados de

Educação.

Ao longo destes dez meses, aprendi a trabalhar com a ferramenta

informática TProfessor no que respeita à justificação de faltas, à consulta do

mapa de assiduidade dos alunos, à organização do dossier da direção de

turma e ao processo de convocatória dos Encarregados de Educação.

Contudo, e devido ao facto de eu não estar a acompanhar a turma em questão,

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não se achou pertinente eu estar presente em reuniões de Encarregados de

Educação ou em qualquer hora de atendimento para evitar constrangimentos e

mal-entendidos.

Senti que, devido ao facto de haver tarefas que eu, enquanto EE, não

pude realizar, a minha aprendizagem relativamente às funções do DT ficou

manifestamente limitada aos aspetos burocráticos, pelo que optei por centrar

toda a minha Área 3 do EP - Desenvolvimento Profissional - no estudo e

aprofundamento do papel e funções do DT na atualidade escolar (apresentado

no capítulo seguinte, “5. Ato IV – “O Diretor de Turma na Atualidade Escolar”).

Na escola, entre outras competências, os DT devem valorizar a

importância formativa das reuniões intercalares com os encarregados de

educação como forma de garantir não só uma informação atualizada sobre a

assiduidade, pontualidade, desempenho escolar, comportamento e outros

aspetos relevantes para o sucesso escolar dos alunos, como também

possibilitar uma atuação atempada e conjunta, por parte da escola e dos

encarregados de educação, no sentido de serem ultrapassadas dificuldades ou

situações problemáticas. Estas diretrizes comprovam a vontade que existe em

integrar os pais em todo o processo educativo dos filhos, tendo o DT, como tal,

uma responsabilidade acrescida neste âmbito, revelando-se, de certa forma, a

imagem da escola, devido a revelar-se o meio de contacto entre a família e a

instituição escolar.

Para finalizar, outro aspeto que considerei ser revelador de uma

sensibilidade total por parte da escola no que respeita aos alunos foi o facto de

considerarem que cabe aos DTs a gestão da calendarização das fichas de

avaliação sumativa, para que não seja marcado mais do que um teste de

avaliação no mesmo dia, nem mais do que três por semana. O tempo para

estudar e assimilar as matérias é contemplado em todos os períodos na

marcação conjunta de fichas de avaliação, o que denota uma preocupação

acrescida não apenas nas notas e médias dos alunos, mas no verdadeiro

saber, apreendido com tempo e estudado com concentração e com o mínimo

de preocupações possível.

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4.2.3 Movimentos Omnipresentes – Eventos na Escola

4.2.3.1 Escola Solidária

““Este foi um fim de semana passado inteiramente na Escola… Ontem foi o

Encontro de Abertura ARE de DE. Merecia um descanso… mas hoje, dia 8 de

Dezembro às 10h encontrava-me na Escola para auxiliar em todo o evento

organizado pelo Centro de Apoio Social da mesma: a Escola Solidária.

Artesanato, música, desfile dos alunos, entre outras iniciativas, para ajudar o

centro dirigido pela minha ex DT. A minha prestação teve mais ênfase na parte

do desfile, tendo eu a responsabilidade de me assegurar que, durante o desfile,

os óculos emprestados pela Grupótico não se estragariam, e que os alunos que

os usassem levariam um saco que faria publicidade à mesma empresa. Na

minha opinião, consegui, entre os modelos disponibilizados, escolher os que

melhor se adequavam com os alunos e as roupas que usavam para desfilar:

roupa casual, de gala, de surf, desportiva e até pijamas. Foi bom sentir-me útil e

desempenhar funções que pouco têm a ver com desporto ou EF”. (Reflexão da

Escola Solidária, 8 Dez 2013)

A Escola Solidária foi o primeiro grande evento da Escola em que

participei fora do âmbito desportivo. Foi-me solicitada ajuda para o dia do

evento pela minha ex DT do 11º ano de escolaridade que prontamente aceitei.

Foi um dia difícil. Encontrava-me doente e cansada do acompanhamento do

grupo de DE ao Encontro de Abertura ARE, mas a minha determinação em

participar em tudo o que podia, durante este ano, foi o que me motivou em

comparecer e auxiliar em tudo o que pude.

Este evento teve como objetivo angariar fundos para o Centro de Apoio

Social da Escola dirigido pela referida docente. A sala de convívio tornou-se um

espaço de comércio, onde artesãos, vendedores e escultores mostravam

orgulhosamente os seus produtos e criações. Durante a tardem patrocinado

por algumas marcas, foi organizado um desfile protagonizado por alunos dos

vários anos, no qual seriam apresentados vários produtos das marcas

patrocinadoras, e nas quais eu tive um papel de destaque ao auxiliar os alunos

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a escolherem os óculos de sol mais adequados à roupa que vestiam e ao seu

próprio estilo pessoal. Alunos meus de EF, de DE e outros apenas conhecidos

da instituição… todos juntos numa azáfama de roupas pelo ar, filas com ordens

específicas de entrada na passerelle e ensaios de caminhadas com saltos

altos… Diversão e trabalho por uma boa causa, tradição a que a escola

cooperante já nos habituou!

4.2.3.2 Corta-Mato Concelhio

“No dia 11 de Dezembro, às 8h30 estava eu no portão da Escola para proceder

à chamada dos alunos que participariam no corta-mato inter escolas do

Concelhio, organizado pelo Pelouro do Desporto da Câmara Municipal da Póvoa

de Varzim. A primeira coisa com a qual me deparei foi com vários alunos apenas

de t-shirt e calções, estando provavelmente uma temperatura ambiente de 4ºC.

Segundo, com a quantidade de alunos que faltavam, devido à coincidência do

Torneio de Voleibol da Escola se realizar no mesmo dia. Todo o processo é

bastante demorado. Eu e o meu colega Vítor, acompanhando o professor titular

responsável, começamos a realizar a chamada dos 159 alunos inscritos na

nossa escola, comparecendo ao evento apenas um terço dos mesmos,

efetivamente. (…) Chegados todos ao local, o evento encaminhou-se, e a escola

cooperante conseguiu levar alguns títulos para casa, dos mais variados

escalões”. (Reflexão Corta-Mato Concelhio, 11 Dez 2013)

O Corta-Mato Inter-Escolas do Concelhio realizou-se no dia 11 de

dezembro de 2013 no Parque da Cidade da Póvoa de Varzim. É uma atividade

de caráter anual, com apuramento para o Corta-Mato Distrital.

Ficou incumbida a organização deste evento ao NE da FADEUP, pelo

que a divulgação do mesmo pelos corredores e na sala de convívio era fulcral

para aumentar o número de inscrições. Foi elaborado um cartaz do mesmo

pelo núcleo que foi o principal modo de divulgação (Figura 5).

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Figura 5 - Cartaz do Corta-Mato Concelhio

No próprio dia, os alunos tiveram de ser transportados faseadamente,

devido a não haver transporte para todos em simultâneo, o que obrigou os

professores a dividirem-se para os alunos não viajarem sozinhos e não

esperarem no local da prova sem nenhum responsável.

Quando o grupo todo já se encontrava no parque da Cidade, eu tomei a

iniciativa de dirigir uma ativação geral em conjunto, até porque muitos alunos,

com algum receio de perderem os seus pertences ou até mesmo que os

mesmos lhes fossem extraviados, foram para o local com apenas uma t-shirt e

calções, pelo que manterem-se em atividade o máximo de tempo possível

revelava-se o melhor para evitar complicações do aparelho respiratório. Senti

respeito por parte destes alunos… Alguns deles eram atletas de clubes de

atletismo, mas reconheciam-me autoridade e respeitaram na totalidade as

minhas sugestões de mobilização geral e preparação para a competição. Por

outro lado, revelava-se difícil manter o grupo coeso porque havia vontade de

aproximar do local das provas e ver os colegas a competirem nos diversos

escalões, e nós temíamos que os alunos, dispersos, não ouvissem a chamada

para a prova do seu próprio escalão.

No final das provas, e reforçados a nível alimentar, os alunos foram

sendo transportados em vagas, novamente, para a Escola, e chegados ao

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destino, foram a correr para o Pavilhão da Fraternidade, o Polivalente da nossa

instituição, para competirem e aplaudirem as equipas que se encontravam no

Torneio de Voleibol de Natal.

Neste evento em particular, e acrescentando o facto de ter lugar em

época natalícia, senti todo o espirito de convívio entre professores e alunos e

repensei toda a logística necessária à organização de um evento deste género.

Os percursos estritamente delineados com um mapa para cada escola

apontando os trilhos destinados a cada escalão, as zonas de reforço alimentar

e a emissão de todos os dorsais remetem-me para a magnitude e

responsabilidade que é gerir todo um evento destes, relembrando que o

fenómeno desportivo é de facto mundial e exige brilhantismo em qualquer

organização.

4.2.3.3 Torneio de Voleibol de Natal

“Depois de ter marcado presença como professora no corta-mato do concelhio,

foi a vez de continuar a assistir aos jogos do torneio de voleibol de Natal da

escola. Continuo doente… Não consigo parar de tossir, mas não consigo ir

embora para casa… Tenho de assistir ao torneio que eu própria organizei com a

minha turma e tenho de assistir aos jogos dos meus alunos. Faço questão! É

marcante o ambiente que se vivencia neste tipo de eventos. A minha turma,

sendo da área de Ciências Socioeconómicas, ficou em 2º lugar no torneio. A

maior parte dos alunos abordaram-me com frequência para se certificarem que

eu iria ver os jogos. Um deles disse-me ‘Stôra, sabe que nome coloquei na t-shirt

do torneio? CANARINHO (o nome por mim apelidado devido às suas sapatilhas

amarelas) ‘. No final, inclusivamente, após receberem as medalhas, vieram em

fila cumprimentar-me, pois tinha sido escolhida para entregar medalhas a alguns

vencedores e, embora não selecionada para entregar diretamente aos meus

alunos, fizeram questão em expressar algum carinho por mim desta forma

genuína”. (Diário de Bordo, 12 Dez 2013)

O Torneio de Voleibol de Natal é tradição na escola cooperante desde

os meus tempos como aluna, inclusivamente. O pavilhão da Escola fica com

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uma bancada repleta de calções curtos e sorrisos estridentes, ao mesmo

tempo que no recinto de jogo as tabelas de Basquetebol são levantadas e dão

lugar às 3 redes de Voleibol.

Fui meramente expetadora neste evento, torcendo pelos meus e

relaxando, pois o 1º período havia terminado. Lembro-me de olhar para toda a

envolvência da bancada… Para todos os alunos, para o espírito do Desporto

totalmente implícito naquele torneio, para a turma organizadora… E ficar

nostálgica. Foi um momento de culminação entre o meu passado como aluna,

o meu presente enquanto EE e a certeza de que, a nível futuro, me encontro no

caminho certo.

Os meus alunos foram à meia-final do torneio, mas perderam com uma

turma de 12º ano, alcançando o 2º lugar. Senti carinho por parte deles quando,

após receberem as medalhas, dirigiram-se a mim, em fila, para me

cumprimentarem. De facto, tantos dissabores aqueles mesmos intervenientes

me haviam provocado e contexto de aula, e na hora H, não viraram costas e

decidiram-se a demonstrar publicamente o reconhecimento que sentiam por

ser professora deles. Já Bento (2008, p. 17) nos contava que “é a partir do sítio

onde moramos, dos seus acasos, circunstâncias e particularidades, que vemos

para dentro e para fora de nós”. Neste dia vi para dentro e para fora: de alguma

forma havia marcado a vida destes alunos, que tão simbolicamente haviam

expressado carinho por mim. Por muitos contratempos, este era o “sítio onde

morava”, e que me dava muito mais do que retirava.

4.2.3.4 Corta-Mato Distrital

““Se houve dia que eu aprendi como não organizar uma prova desportiva, seja

ela de que âmbito for, foi ontem. Acho inadmissível, em pleno Inverno, reterem

todos os atletas, professores e acompanhantes num espaço a céu aberto, tendo

o evento sido alterado já uma vez devido ao mau tempo e chuva forte. Não

existiam lugares para mudas de roupa, tendo os atletas de o fazer dentro dos

transportes, nem casas de banho suficientes para a população que iria participar.

Fora isto, tenho de admitir que estou bastante orgulhosa da minha escola: uns

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primeiro, segundo e terceiro lugares individuais e um primeiro por equipas. Não

tenho mesmo nada a refletir sobre este tema porque a desilusão é muita. Penso

que é uma situação inexplicável para um evento desta dimensão”. (Reflexão

Corta-Mato Distrital, 25 Fev 2014)

Foi um dia em que me lembro perfeitamente de demonstrar várias vezes

o meu descontentamento face às condições que nos ofereceram, enquanto

comitiva e atletas, para a participação no Corta-Mato Distrital, realizado no

Parque da Cidade do Porto, no dia 25 de fevereiro do ano corrente. Não é

hábito meu. Adotei uma perspetiva de aprendizagem, pelo que a crítica tendeu

a ser unicamente de caráter reflexivo, á exceção deste evento.

Todavia, a minha desilusão era imensa. Recordo-me perfeitamente da

quantidade de toalhitas de bebé que transporto sempre na minha bolsa que eu

própria forneci aos alunos para que eles pudessem limpar a roupa e as

sapatilhas após as provas, tal era a lama que traziam no corpo. Ouvia-se a voz

do altifalante relatar para os participantes terem cuidado, pois vários alunos já

haviam perdido as sapatilhas durante o percurso, devido a ficarem enterradas

na terra. A espera e chamada dos atletas teria de ser feita à chuva ou dentro

dos transportes onde não era possível escutar as vozes de comando, pelo que

a nossa comunicação foi feita com um elemento da comitiva na tenda da

Organização e outro dentro do autocarro, chamando os alunos pelos escalões.

Ora, já Mark Twain5 dizia que “para aqueles que têm apenas um martelo

como ferramenta, todos os problemas parecem pregos”, pelo que dentro de

toda esta azáfama, conseguimos desenvolver uma forma de comunicação que

provou que o poder de improviso por parte de um líder é essencial para que

todo um evento tenha sucesso, independentemente das condições.

5 Mark Twain, de seu verdadeiro nome Samuel Langhorne Clemens (30 de novembro

de 1835 — 21 de abril de 1910), foi um escritor e humorista norte-americano, mais conhecido pela autoria dos romances intitulados “As Aventuras de Tom Sawyer”).

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4.2.3.5 Dia da Escola

Sendo o I Dia da Escola organizado no meu 12º ano, com elementos da

minha turma do Curso Tecnológico de Desporto que fizeram dele o tema da

sua prova de Aptidão Tecnológica, a comemoração deste dia especial em

honra da escola cooperante tem para mim mais um sabor nostálgico.

Celebrado este ano a um domingo, o dia 18 de maio trouxe consigo toda uma

comunidade educativa para a bancada do Pavilhão da Fraternidade, incluindo

pais e convidados ilustres que cooperam com a escola ao acolherem

estagiários dos vários cursos profissionais. Neste dia, os alunos que no ano

transato haviam conquistado o seu lugar no Quadro de Excelência da Escola

são convidados para uma cerimónia ilustre para publicamente receberem os

seus diplomas de mérito e assistirem à consagração dos demais colegas.

Neste dia, os RPDancers marcaram também presença e, com eles, eu

como professora responsável. O professor titular do grupo encontrava-se nos

Campeonatos Nacionais em Lisboa, pelo que prontamente me ofereci para o

substituir e acompanhar o grupo em mais uma exibição.

Sempre com uma pen na mão com as músicas previamente preparadas,

e transportando o computador como prevenção, caso houvesse alguma falha,

revelava-se difícil tentar a visualização do grupo já colocado no espaço

destinado à exibição para que eu pudesse dar o “alvará” de colocação do som.

Mais ainda, ter a responsabilidade de certificar que nada irá falhar na hora da

atuação, mas sempre com a vontade de estar atenta à performance dos meus

bailarinos, fez-me entender a verdadeira responsabilidade de um professor:

colocar o desenvolvimento dos alunos em prol das suas próprias vontades e

conformismos.

4.2.3.6 Clube da Sopa e Clube “Sexta às 5”

E como não poderia deixar de ser, existem ainda todos aqueles

momentos em que um EE se sente completamente integrado no seio do corpo

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docente da Escola, refletindo-se em pequenos convívios, no meu caso, de

caráter semanal.

O “Clube da Sopa” é constituído por um núcleo de professores que, às

quintas-feiras, à hora de almoço, leva para o almoço, e a revezar por todos, um

alimento salgado que funciona como entrada, e outro um doce, que será a

sobremesa. A sopa será alimento obrigatório, sendo o resto da refeição

constituído pelos petiscos surpresa trazidos propositadamente para o

momento.

Já o Clube de “Sexta às 5” foi criado maioritariamente por professores

do Grupo Disciplinar de EF como uma forma de apaziguar a frustração por

estarem em trabalho no último bloco letivo da semana, sendo o sistema igual

ao do “Clube da Sopa”: um lanche salgado e um doce, a serem levados à vez

por cada membro.

Estes pequenos momentos são reforçados por Nóvoa (2009, p. 1) ao

realçar que deve fazer parte dos programas de formação de professores “um

princípio de responsabilidade social, favorecendo a comunicação pública e a

participação profissional no espaço público da educação”.

Figura 6- Batismo do Clube da Sopa

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4.3 Estudo de Investigação – “O Diretor de Turma na

Atualidade Escolar”

“Desenvolver uma atitude investigativa sobre a própria prática, ou

identificar temas relevantes oriundos de problemas práticos

são requisitos de elevada exigência e de difícil

cumprimento que se colocam aos

programas de formação de

professores (…)”

(Graça, 2014, p. 7).

De acordo com as Normas Orientadoras da Unidade Curricular Estágio

Profissional, “esta área engloba atividades e vivências importantes na

construção da competência profissional, numa perspetiva do seu

desenvolvimento ao longo da vida profissional, promovendo o sentido de

pertença e identidade profissionais, a colaboração e a abertura à inovação” (p.

7).

Traduz-se num projeto de investigação-ação (PIA). Sendo um trabalho

de natureza científica e investigativa, permite ao sujeito investigador, designado

de prático, investigar a sua prática com intuito de melhoria e evolução.

O tema do meu PIA centra-se na componente não-letiva de direção de

turma e intitula-se “O Papel do Diretor de Turma na Atualidade Escolar”, sendo

desenvolvido no próximo capítulo.

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5. ATO IV – “O DIRETOR DE TURMA NA ATUALIDADE

ESCOLAR” – OS BASTIDORES

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5. Ato IV – “O Diretor de Turma na Atualidade Escolar” – Os

Bastidores

Pacheco, A. R.

1, Lopes. R. D.

2, Cunha, M. A.

3

1Faculdade Desporto, Universidade do Porto

2Escola Secundária de Rocha Peixoto

3CIFI

2D, Faculdade de Desporto, Universidade do Porto

Resumo

Na sociedade atual, a escola uniformizada e acessível a todos originou o

conceito de “escola de massas”. Deste modo, surge o conceito de Diretor de

Turma, um professor associado a uma tripla função, de coordenação entre

alunos, pais e colegas docentes. Com este estudo, pretendemos apurar qual o

papel do Diretor de Turma na escola contemporânea, perceber os atuais

constrangimentos ao exercício do cargo e, consequentemente, apurar formas

de facilitar o processo educativo. Foram selecionados sete diretores de turma

de uma escola do distrito do Porto com os quais foram realizadas entrevistas

de caráter semiestruturado e cujo tratamento dos dados foi realizado

recorrendo à análise qualitativa. Os resultados demonstram que o DT

desempenha, atualmente, diversos papéis de caráter social e uma diversidade

de sugestões de melhoria para melhorar todo o processo educativo.

Introdução

Em âmbito de Estágio Profissional (EP) inserido no 2º Ciclo em Ensino

de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário, e em confluência com o

previsto na Área 2 - Enquadramento Operacional das Normas Orientadoras do

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EP6, os estudantes estagiários têm de acompanhar, de forma mais ou menos

aprofundada, a Direção de Turma. Têm, também, de desenvolver um projeto

de investigação-ação, tarefa essa elencada na Área 3, designada de

Desenvolvimento Profissional. Segundo o mesmo documento, esta vertente

visa “perceber a necessidade do desenvolvimento profissional partindo da

reflexão acerca das condições e do exercício da atividade, da experiência, da

investigação e de outros recursos de desenvolvimento profissional. Investigar a

sua atividade em toda a sua abrangência (criar hábitos de

investigação/reflexão/ação)” (p. 7). Segundo Cardoso, Alarcão e Celorico

(2010, p. 22), “a actividade de rever a literatura existente implica um processo

de transformação, uma passagem da informação ao conhecimento. A

informação está nos livros, e artigos (…). O conhecimento está nas pessoas”.

A colaboração entre a escola e a família tem um papel fundamental no

sucesso educativo (Zenhas, 2006). No entanto, e ainda segundo a mesma

autora, “A escola tem (…) levado tempo a adaptar-se à evolução da sociedade.

A escolaridade universal transformou-a numa escola de massas, sem que

tivesse havido grandes alterações na sua estrutura e na sua cultura, (…) a

relação entre essas duas instituições é complexa e nem sempre pacífica”

(p.11). Seguindo esta linha de ideias, Leite (p. 1) explica-nos que “a relação

entre pais e professores tem sido, muitas vezes, pautada por conflitos de

interesses, causando constrangimentos a nível relacional, o que prejudica a

aprendizagem e o desenvolvimento do aluno”.

Numa tentativa de aproximação do processo educativo às famílias surge

o cargo de Diretor de Turma (DT) que se caracteriza como “gestor pedagógico

intermédio” onde é “realçado o seu papel de coordenador de um grupo de

alunos” (Sá, 1996, p. 140). Mas, afinal, como é um professor eleito DT? “ (…) É

designado pela direcção executiva entre os professores, sendo escolhido,

preferencialmente, um docente de área específica, sem prejuízo de outras

competências fixadas na lei e no regulamento interno” (Leite, s.d., p. 1).

6 Normas Orientadoras da Unidade Curricular Estágio Profissional do Ciclo de Estudos

conducente ao Grau de Mestre em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário da FADEUP: 2013-2014. Porto: Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Matos, Z.

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Ainda de acordo com o mesmo autor, o DT “surge-nos tradicionalmente

associado a uma tríplice função: relação com os alunos da turma; relação com

os pais/encarregados de educação; relação com os outros professores da

turma“ (p. 139).Contudo, “importa questionar que escola e que família temos

hoje e como se processa a relação entre elas” (Zenhas, 2006, p.12).

No que respeita à família (visto as mudanças ao nível da instituição

escolar já terem sido anteriormente referenciadas), também esta foi alvo de

inúmeras alterações nos últimos tempos: famílias monoparentais, entrada da

mulher no mercado de trabalho e aumento dos horários de expediente são

fatores que alteraram o conceito tradicional da família (Zenhas, 2006). Mas, na

prática, a ligação entre todos estes aspetos e a passagem da teoria à prática

não se revela fácil. “O exercício rotineiro da direcção de turma, respondendo a

tarefas de carácter administrativo e burocrático, que é o mais corrente, não

contribui para chamar os pais à escola nem para promover qualquer tipo de

colaboração” (Zenhas, 2006, p.14). Mas para se perceber exatamente de que

tipo de tarefas rotineiras estamos a falar, elenco de seguida todas as funções

de rotina do DT, nomeadamente: iniciar a construção do Projecto Curricular de

Turma, preparar as reuniões de Conselho de Turma, reuniões de pais,

reuniões de alunos, registar faltas dos alunos, para além da preparação das

aulas de Formação Cívica e outras disciplinas que também leciona,e, ainda,

selecionar e elaborar materiais para as mesmas e participar em outras reuniões

relacionadas com a sua atividade docente. Tudo isto para além do contato com

os encarregados de educação, que pode muitas vezes, e face ao enunciado

anteriormente, não se revelar tarefa fácil.

Pelo exposto, ser DT é ser responsável por uma ligação tripla: alunos,

professores e encarregados de educação. Face à Escola do século XXI, à

constante pressão que os alunos sentem para entrarem nas universidades, à

diminuição de tempo das famílias por questões laborais para acompanharem o

processo educativo dos educandos, da crescente complexidade do trabalho

administrativo dos professores e de alguma desilusão dos mesmos no

desempenho do papel de DT por mim observada durante este escasso tempo

enquanto professora estagiária,incido o meu estudo de investigação no

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entendimento do papel do DT e apurar as suas implicações práticas para uma

verdadeira colaboração entre a escola a família. Com este estudo, pretendo

também entender quais os fatores que mais desiludem os DT no exercício das

suas funções e identificar modos de melhorar o processo educativo dos alunos

e o seu acompanhamento. Em particular, procuro responder às seguintes

questões de pesquisa:

I. Qual o perfil de um DT?

II. Quais as competências e funções que desempenha?

III. Quais os constrangimentos, descontentamentos e entraves que

afastam o DT do pleno exercício das suas funções como mediador

entre encarregados de educação, alunos e professores e atenuem a

pressão que sentem?

IV. Que novas formas de abordagem e estratégias poderão melhorar o

reconhecimento do papel educativo do DT por toda a comunidade

educativa?

Assim sendo, importa compreender como pode esta colaboração ser

feita, visto cada vez ser menos consensual o papel e funções quer da família

quer da escola.

Metodologia

Contexto

A presente pesquisa é qualitativa, descritiva e exploratória e situa-se no

âmbito do 2.º ano de Mestrado em Ensino de Educação Física nos Ensinos

Básico e Secundário da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto

(FADEUP), tendo como intuito desenvolver, nos estudantes estagiários,

competências investigativas de acordo com o artigo 18º, ponto 3 do Decreto-

Lei 74/2006 de 24 de março. Envolveu DTs de uma Escola Cooperante do

ensino Secundário da região norte do país.

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Caracterização do Grupo de Estudo

O grupo de estudo foi constituído por 7 professores da escola

cooperante que desempenharam o cargo de DT no ano letivo de 2013/2014,

incluindo a Coordenadora dos DT da referida instituição. A escolha dos

mesmos foi feita de forma aleatória, sendo 5 do sexo feminino e 2 do sexo

masculino com idades compreendidas entre os 32 e os 65 anos.

Procedimentos de Recolha de Dados

Para o referido estudo foi utilizada como método de recolha de dados a

entrevista semiestruturada proposta por Quivy e Campenhoudt (2003). Face à

natureza deste estudo, optou-se por este método de forma a manter uma

conversa que permitisse ao entrevistado discorrer sobre os vários temas a

abordar mas sem haver descentralização dos propósitos desta pesquisa. As

entrevistas tiveram uma duração homogénea, entre os 20 e os 30 minutos. A

recolha de dados foi feita no 2º Período, de 23 de janeiro a 6 de março. As

sessões foram gravadas em formato áudio com um gravador de voz

incorporado num telefone móvel Samsung GT-S5250 Wave 525 e

posteriormente transcritas, conjugando o modo de citação integral e o modo de

análise dedutiva, para o computador num formato docx.

No concerne às considerações éticas, foram previamente distribuídas

autorizações (ver Anexo 1) que salvaguardavam o anonimato e a

confidencialidade de todos os participantes e os enquadravam com o projeto.

Análise dos Dados

Para a análise dos dados obtidos foi utilizada a análise do conteúdo

(Patton, 1990; Quivy & Campenhoudt, 2003). A informação foi agrupada nas

seguintes categorias, tendo em conta o guião da entrevista e a informação

emergente das várias sessões de entrevista (Anexo 2):

I.

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II. Categoria 1: Papéis e funções desempenhados no âmbito deste cargo

III. Categoria 2: O Perfil do Diretor de Turma – Inato ou Fruto de

Experiência

IV. Categoria 3: Recursos facilitadores do cargo

V. Categoria 4: Influência da formação universitária no exercício do cargo e

atendimento aos encarregados de educação

VI. Categoria 5: Constrangimentos e sugestões de melhoria

Após a análise vertical de cada uma das sessões e do agrupamento da

informação de cada sessão nas várias categorias, procedeu-se ao cruzamento

da mesma, elencando a informação semelhante nas várias entrevistas

realizadas pertinente de se agrupar, do mesmo modo, às categorias já

existentes e pré-elaboradas.

Análise e Discussão dos Resultados

PAPÉIS E FUNÇÕES DESEMPENHADOS NO ÂMBITO DESTE CARGO

Todos os entrevistados afirmam que o DT é o mediador entre a escola e

a família e que é um papel fundamental, desempenhando vários tipos de

funções, entre elas analisar as faltas dos alunos, justificar as mesmas, fazer

convocatórias de reuniões com os Encarregados de Educação, analisar os

casos em que é necessário fazer Atividades de Recuperação do Aluno,

organizar e presidir os conselhos de turma, entre outros. Já o Professor B

acresce que a sua classe profissional tem uma dimensão de papéis

multifacetada, como comprova o excerto seguinte:

“ (…) Consegue, através das várias facetas que desempenha, desde

professor a psicólogo e assistente social, contribuir (…) de forma decisiva para

o sucesso do aluno”

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(Prof. B, 29 Jan 2014).

Zenhas (2006, p. 13) corrobora esta ideia das inúmeras funções e

responsabilidades atribuídas ao DT ao referir que “Competindo-lhe o

estabelecimento de relações entre a família e a escola, também lhe estão

atribuídas as funções de acompanhamento de cada um dos alunos da turma

(considerando o seu desenvolvimento global e não apenas académico) e a

coordenação da intervenção concertada de todos os intervenientes no

processo educativo, com destaque para os professores e encarregados de

educação”.

O PERFIL DO DIRETOR DE TURMA: INATO OU FRUTO DE EXPERIÊNCIA

Relativamente às características apontadas para um bom desempenho e

ao perfil preferencial, um dos inquiridos considera que o tipo de perfil pessoal e

profissional influencia em muito o bom exercício do cargo, enfatizando as

características inatas do professor em detrimento da experiência que, com o

cargo, possa advir, afirmando que o cargo

“ (…) Requer um perfil que se calhar nem toda a gente o tem”

(Prof. A, 23 Jan 2014)

Já outro participante acredita que não há um perfil e que as

características que determinam um bom exercício do cargo não são estritas a

um perfil de identidade profissional, como afirmado no extrato seguinte:

“ (…) Qualquer professor consegue desempenhar a função… Aliás, e é

assim que deveria ser (…): uma tarefa rotativa para todos os professores

passarem pela experiência”

(Prof. F, 6 Mar 2014).

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Mais se acresce que três dos entrevistados defendem uma conjugação

entre as características inatas de professor e a sua experiência no cargo.

Apenas um dos inquiridos não manifestou opinião, afirmando apenas que

“ (…) Não são todos os professores que são DT, são seriados pelo

Diretor da escola”

(Prof. C, 6 Fev 2014).

Deste modo, depreende-se que haverá características que serão

essenciais para que o Diretor escolha determinados docentes para este cargo

não apenas pelo seu perfil pessoal mas com a experiencia e tato pedagógico

adquiridos ao longo da carreira docente.

Sá (1996, p. 92) é bastante explícito no seu estudo ao comprovar que

“(…) existem docentes que se sentem muito inseguros e outros que não

possuem competências para desempenharem determinadas tarefas, pois

concluem que a ‘capacidade de liderança não é definida por decreto’, estando

intimamente relacionada com as características pessoais e a personalidade de

cada indivíduo. Consideram, por tal motivo, que o exercício do cargo de Diretor

de Turma não deverá advir de um horário que é necessário completar, pelo que

a escolha de Diretores de Turma deverá ser concebida com base no perfil

humano e de competências de um professor”, pelo que se depreende que, por

esta referência, a influência do perfil inato do professor prepondera sobre a

experiencia adquirida.

RECURSOS FACILITADORES DO CARGO

Cinco dos entrevistados admitem que as novas plataformas online

auxiliam manifestamente o DT no desempenho de todo o trabalho burocrático,

porque permite utilizar o tempo predestinado à resolução de tarefas

burocráticas inerentes ao cargo com maior contacto com os encarregados de

educação ou os próprios educandos, transportando o trabalho administrativo

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para qualquer hora livre do docente, inclusivamente no seu próprio lar, tal como

comprova o excerto abaixo:

“ (…) Até nos permite trabalhar em casa”

(Prof. B, 29 Jan 2014).

Dois dos participantes não imitiram uma opinião concreta no que

respeita a este tema.

A INFLUÊNCIA DA FORMAÇÃO UNIVERSITÁRIA NO EXERCÍCIO DO

CARGO E ATENDIMENTO AOS ENCARREGADOS DE EDUCAÇÃO

No que respeita à formação inicial, nomeadamente a licenciatura e,

eventualmente, um mestrado, é unânime a opinião de que não forneceu bases

específicas que determinassem um bom exercício do cargo e os preparassem

para o contacto com os Encarregados de Educação. A formação do professor

não contempla a preparação específica do cargo de direção de turma, sendo

muita da aprendizagem realizada no ato concreto do exercício do cargo.

“ (…) [A aprendizagem e preparação relativas ao cargo são muitas vezes

feitas] com a colaboração de colegas mais velhos”

(Prof. F, 6 Mar 2014).

Sá (1996, p. 91) explana esta dicotomía ao afirmar que “Alguns

professores consideram não ser necessária formação específica, visando o

desempenho do cargo de Diretor de Turma. Todavia, os Diretores de Escola

entrevistados consideram fundamental a existência de formação nesta área”.

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CONSTRANGIMENTOS E SUGESTÕES DE MELHORIA

No que remete para os constrangimentos encontrados, não há

consenso. Falta de tempos letivos atribuídos ao exercício do cargo, excesso de

trabalho burocrático, a própria abordagem aos Encarregados de Educação, aos

alunos e professores, a falta de reconhecimento por parte dos pares e o

sentimento de impotência na resolução de problemas são os vários motivos

apontados como fatores negativos do cargo. O extrato seguinte é precisamente

ilustrativo dessa ideia:

“ (…) Os [constrangimentos] mais preocupantes, são quando as

informações de caráter familiar (…) nos fazem sentir completamente

impotentes para resolver e sabemos perfeitamente a gravidade delas (…) “

(Prof. B, 29 Jan 2014).

“ (…) [Excesso de trabalho burocrático] que nos retira energia e foco do

que, às vezes, é realmente importante (…) “

(Prof. A, 23 Jan 2014).

Relativamente às melhorias que sentem que podem ser feitas, o

aumento dos tempos letivos é apontado por quatro dos inquiridos, sendo um

dos principais constrangimentos apurados neste estudo ao exercício do cargo

para que o trabalho possa ser devidamente tratado e o contacto com os

encarregados de educação seja realizado com mais qualidade.

“Darem tempo aos DT disponibilizado para [tratar de tudo calmamente],

porque é um cargo que realmente exige muito envolvimento e às vezes muito

envolvimento emocional”

(Prof. C, 6 Fev 2014).

“Acho que deveríamos ter (…) nem que fossem 45 minutos de 15 em 15

dias só com a turma para falarmos de aspetos exatamente relacionados com o

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comportamento, com métodos de aprendizagem; (…) falar com cada um mais

detalhadamente porque esse tempo não o temos”

(Prof. B, 29 Jan 2014).

No seguimento desta ideia, a remoção ou diminuição de trabalho

administrativo é afirmada como constrangimento por três dos entrevistados.

“Para melhorar ou facilitar este desempenho (…), eu lamento nós termos

que fazer ‘trabalho de secretaria’”

(Prof. D, 18 Fev 2014).

Esta ideia é também corroborada por Sá (1996, p. 91) ao afirmar que “

(…) os principais fatores limitativos ao exercício da atividade dos Diretores de

Turma são o tempo reduzido de que estes docentes dispõem, o excesso de

burocracias com que são confrontados no exercício das suas tarefas, as

dificuldades sentidas em contatar os encarregados de educação, o próprio

perfil dos encarregados de educação, o contexto familiar no qual os alunos

estão inseridos, o excesso de alunos por turmas e fatores de ordem social,

nomeadamente a dificuldade que os Diretores de Turma sentem em exercer a

autoridade que lhe é inerente, enquanto coordenador de um grupo de

professores, e gerir a horizontalidade da relação com os seus pares”.

Conclusão

Os dados revelaram que os inquiridos consideram que o DT acumula um

desempenho de vários papéis sociais e funções de caráter burocrático e que

há consenso relativamente ao auxílio prestado pelas plataformas online no

tempo despendido para as várias tarefas a cumprir. Há também concordância

relativamente à não-influência da formação universitária para a aprendizagem

relativa ao cargo e ao contacto com os encarregados de educação. Não há um

consenso relativamente ao perfil preferencial para um bom exercício do cargo,

nem relativamente à sua natureza, se inata ou adquirida. No que remete para

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os constrangimentos e sugestões de melhoria, são apontados vários

impedimentos e várias possíveis soluções para os colmatar, não sendo,

contudo, unânimes.

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Anexo 1 - Consentimento Informado ao DT

Exmo(a) Senhor(a)

Diretor de Turma

Póvoa de Varzim, 14 de Janeiro de 2014.

Assunto: Pedido de colaboração num estudo de investigação.

Eu, Ana Rita Pacheco, na qualidade de professora estagiária de Educação Física desta

escola, encontro-me atualmente a desenvolver um projeto de investigação-ação denominado

“O Papel do Diretor de Turma na Atualidade Escolar”. Este estudo terá como objetivo

caracterizar o DT na escola atual. A recolha de dados para este projeto passa por realizar

entrevistas a professores que desempenhem o cargo de Diretores de Turma nesta instituição.

Assim sendo, venho por este meio solicitar a V. Exa. autorização para realizar as

referidas entrevistas e gravações áudio das mesmas. De referir que esta recolha de dados

serão utilizadas, exclusivamente, pelo investigador, não sendo divulgadas para qualquer outra

finalidade.

Agradecendo antecipadamente a compreensão e atenção dispensadas,

A estudante-estagiária

____________________

(Ana Rita Pacheco)

------------------------------------------------------------------------------------------------------------

AUTORIZAÇÃO

Pretendo colaborar/não-colaborar (riscar o que não interessa) facultando informações

através de entrevista pessoal e autorizo/não autorizo (riscar o que não interessa) a gravação

áudio da entrevista com o objetivo de ser realizado um estudo científico no âmbito do Estágio

Profissional da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.

____________________________________

(Assinatura)

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Anexo 2 - Guião da Entrevista

1) A colaboração entre a escola e a família tem um papel fundamental no sucesso

educativo. O Diretor de Turma (DT) afigura-se como o elemento mediador

entre a escola e a família do aluno. Na sua perspetiva, qual a importância que

atribui ao DT?

Papéis e funções desempenhados no âmbito deste cargo.

Perfil/ características para um bom DT.

Recursos facilitadores do cargo (aspetos positivos e aspetos

negativos)

- Formação

- Tempos Letivos

- Plataforma online

- Constrangimentos

- Sugestões de melhoria

- (…)7

2) Refira-se aos papéis e funções desempenhados no âmbito deste cargo.

3) Existe um perfil/ características para um bom DT?

4) Quais, a seu ver, os aspetos positivos e negativos dos recursos do cargo

(formação, tempos letivos atribuídos, etc)?

5) Considera que a sua formação inicial lhe forneceu bases ou aprendizagens

para exercer o cargo? E relativamente ao contacto com os Enc. Ed.?

6) Quais os principais constrangimentos no exercício do cargo?

7) O que mudaria nas orientações e trabalho prático dos DT de forma a melhorar

a relação escola-família, tendo um papel tão importante neste ramo?

7 Aspetos passíveis de elencar/reforçar mediante a resposta do entrevistado à questão introdutória.

Como tal, condiciona o questionamento referente às perguntas 2, 3 e 4.

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6. “O SUCESSO É UM PERCURSO E NÃO UM DESTINO” – O EPÍLOGO

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6. “O Sucesso é Um Percurso e Não Um Destino” – O Epílogo

“Da Coragem, do Orgulho e da Paixão de Ser Professor”

(Bento, 2008)

Recordo o primeiro dia em que entrei na FADEUP para efetuar a

matrícula no 1º ano da licenciatura. Considerava-me invencível. Tinha

conseguido ingressar na faculdade de desporto mais prestigiada do país,

referenciada a nível internacional. E a que tanto ambicionei para realizar a

minha formação. Tinha concretizado o sonho de ser uma aluna do curso de

Desporto, contra todas as adversidades que havia experienciado. Pressentia

ter feito a escolha certa e ambicionava dar cartas com trabalho e empenho.

Estar na FADEUP enalteceu o meu perfecionismo. Ser estudante de

desporto era para mim uma responsabilidade, quanto mais uma estudante da

FADEUP. Nunca me arrependi pelas noites passadas a estudar, pela

insistência nas melhorias, pelo espírito de sacrifício ampliado desde o início da

vida universitária. Eu queria ser mais e melhor, queria chegar ao nível da

excelência de que tanto ouvi falar no discorrer destes anos académicos.

Durante o meu percurso por esta minha tão querida instituição, a

formação que obtive não se limitou aos conteúdos específicos da área

desportiva… mas a muito mais do que isso: a relação com o outro que se

engrandeceu, o modo como me interagi com os meus próprios professores e

com todos os funcionários definiu em muito o estilo de relação que eu pretendo

ter com quem me rodeia, e muito também com todos os elementos de uma

comunidade educativa onde, num futuro, me insira (Lave & Wenger, 1991;

Wenger, 1998). Sou um ser emocional e estabeleço uma ligação desse caráter

com o que me envolve. Daí ser tão difícil abandonar a vida de estudante: o que

aparentava longínquo chegou de forma rápida, levando consigo uma infinidade

de memórias.

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Na altura do ingresso da faculdade, desconhecia tudo e sabia tão

pouco… Não entendia que a maior responsabilidade e sucesso não se cingem

ao atingir de um sonho, mas sim em perpetuá-lo, com qualidade e

responsabilidade ao longo do tempo. Não compreendia que o verdadeiro êxito

não estava na entrada numa instituição académica, mas sim no dever de

aplicar todos os conhecimentos nela adquiridos objetivando a formação do

outro da melhor forma possível. Não entendia que “o difícil não é chegar lá em

cima, mas sim parar de subir” (Walt Disney). Ser professora de EF parecia

inatingível, mas algo que nunca me deteve. Sempre considerei o impossível

atrativo. E a verdade é que o meu grand finale culminou com um estágio como

professora na escola que determinou todo o meu percurso até à chegada à

FADEUP.

Ao longo do EP, questionei-me várias vezes sobre a compatibilidade

entre a minha pessoalidade e a função docente. “Ser eu própria não é

compatível com ser professora” (Diário de Bordo, 12 Nov 2013). Sentia que a

minha personalidade forte, mas ao mesmo tempo sensível, revelava uma

inconstância e um desequilíbrio que podiam facilmente ser confundidos com

fragilidade. O meu ego foi desafiado e a minha paciência levada ao limite. Não

conseguirei nunca contar a totalidade de sentimentos que vivenciei ao longo

deste meu percurso: se frustração e sensação de inutilidade foram uma

constante, a alegria de viver por uma causa e a gratidão pela aprendizagem

constituíram a antítese e o contrassenso mais enriquecedores que já

experienciei. Hoje, sei que sou mais forte. Sei que sou um ser mais tolerante,

que a minha forma de olhar para o outro já é visualizada “a cores” e não a um

mero “preto e branco”. Já não me cinjo a fazer aos outros o que gostaria que

fizessem comigo. Questiono-me, primeiramente, se somos todos iguais.

Hoje, olhando para trás, não me arrependo de nada. Acima de tudo,

aprendi. Todas as horas passadas na Sala dos Professores, no bar da escola,

com os alunos, traduziram-se numa aprendizagem e numa aquisição de

competências e saberes inigualáveis. A minha integração naquela escola foi

total, tal era o tempo que lá passava. As aulas, o DE, a direção de turma, os

cafés com colegas… Tudo valorizou o EP enquanto espaço de formação da

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identidade profissional. Foi um ano difícil. Mas na tribulação está a evolução. E

eu sei que o meu percurso ainda não acabou. Sem que um dia serei professora

de EF, sendo a flor que desabrochou na adversidade e, por conseguinte, a que

valorizará todo o obstáculo. Foi mais uma etapa finalizada e concretizada com

superação das adversidades. A aprendizagem não está completa, o sonho

ainda não está concretizado… Falta a vinculação à profissão docente. E com

ela, e face a novas condições temporais e espaciais, uma nova reflexão sobre

o que é ser um bom professor de EF.

No que consegui depreender de toda esta minha etapa, ser um bom

professor de EF é muito mais do que possuir o conhecimento da matéria de

ensino e o conhecimento pedagógico do conteúdo (Shulman, 1986). É, acima

de tudo, ser um bom professor. Sempre considerei o professor um ser com

algum heroísmo, digno da paideia grega. Um ser cuja função, profissão e

missão seria a de transformar o outro que lhe é próximo, através da sua

matéria específica de ensino e de uma abordagem à cultura geral de uma

sociedade. Alguém capaz de gerir todos os aspetos da sua aula com um

brilhantismo exemplar, digno do seu reconhecimento enquanto gestor e,

consequentemente, de líder. Alguém que usa a sua influência com propósitos

nobres, de contribuição para um mundo melhor.

Ainda não desisti… vejo-me assim num futuro. Talvez os desígnios da

vida me quisessem fazer entender que é preciso batalhar mais para evoluir.

Que nunca devemos aceitar o conformismo. Que devemos sempre melhorar.

Todavia, não me sinto triste. Sinto apenas saudade… a saudade de quem

amou muito o que vivenciou. A saudade de quem quis deixar uma luz por onde

passou. Assim, despeço-me com um texto criado para os meus alunos, com a

co-autoria do estagiário Tiago Lopes que também termina este ano a sua

formação académica na mui nobre FADEUP. Amei como aluna, regressei à

minha ex-escola como estagiária… E sei que, um dia, voltarei como

Professora, pelo que não digo “adeus”… Faço como sempre fiz e apenas digo,

como sempre disse, “Até Amanhã”!

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“Hoje cheguei a casa com outro sentimento… Parecia que não queria

pousar o saco e começar a desfazê-lo, como todos os dias… eu sabia que hoje

as coisas não estariam apenas a regressar ao seu devido lugar, mas para

agora fazerem parte de uma recordação. O dia que desde há muitos meses

temo chegou… o último dia! Pendurei o meu apito e o meu cronómetro, removi

o TProfessor do Ambiente de Trabalho, voltei a olhar para a minha capa de

apontamentos… e eis que vislumbro uma folha: “Calendário Escolar

2013/2014” e, com ele, uma infinidade de recordações. Cada quadradinho do

mesmo representa um dia do ano, deste meu ano de estágio como

PROFESSORA nesta escola que tanto amei e amarei para sempre.

Vi-me constantemente no espelho ao olhar para os alunos, mas sabia

que o reflexo já não podia ser o mesmo: deixar de ser a aluna para começar a

ser a PROFESSORA.

É nesta parte que resultam… vocês! Uma turma, um grupo de alunos…

que me fez compreender as exigências do que é ensinar, que me ajudou a

perceber as minhas dificuldades, a olhar para a minha postura e a refletir sobre

todos os momentos… Os vossos comportamentos, atitudes e comentários

fizeram-me ver que cada aluno tem uma personalidade própria, que cada um

tem necessidade de um professor diferente, e que para todos serei eu a ter de

me desdobrar.

Procurei ensinar-vos, como melhor sabia, e procurei não ter medo de

falhar, mas sim tentar aprender com os erros, explorar ao máximo aquilo que

este contexto me pudesse transmitir…

Alegrias, tristezas, momentos que me fizeram compreender a realidade

da Escola, e todos eles me mostraram… o que é ser Professora.

Por mais neutralidade que tenha transmitido, cada um de vocês é, para

mim, especial. Foram vocês os verdadeiros autores do meu percurso, os

escultores que moldaram a minha personalidade enquanto docente. Espero ter

deixado uma marca. Espero que um dia se lembrem de, pelo menos, uma frase

por mim proferida sobre o ‘ser alguém melhor’. Lembrem-se desta última aula e

do que vos tentei transmitir: ‘encarem a escola de outra forma e respeitem o

próximo que vier… Com certeza vem com vontade de ensina’”. Gosto de todos

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vocês e de cada um em particular… Obrigada pelo empenho, pela energia,

pela preguiça, pelos maus comportamentos, pelos sorrisos e ‘resmunganços’!

Obrigado por tudo e lembrem-se: Posso nunca mais ser vossa Professora…

mas serão sempre a minha Turma!”

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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS – AS MUSAS

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8. ANEXOS – OS ADEREÇOS

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XXVII

Anexo I - Inventário relativo ao Material de Ginástica

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28

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XXIX

Anexo II - Ficha de Caracterização inicial

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XXX

FICHA DE CARACTERIZAÇÃO INDIVIDUAL DO ALUNO

1. Dados Pessoais Nome do aluno: ________________________________________________________________________

Data de Nascimento: _____/_____/_______ Ano: ___ __ Turma: ___ __ Nº: ______

Morada:______________________________________________________________________________

Código Postal: _____-____ Localidade: __________________ Concelho:__________________________

E-mail: _________________________

Nome do Pai:_________________________________________________________________________

Idade: _____________ Profissão: _________________________________________________________

Habilitações Literárias: __________________

Morada: ____________________________________________________________________________

Código Postal: _____ -____ _ Localidade: __________________ Concelho:_________________________

Telef/Telem.: _______________ ____________ E-mail:_________________________________________

Nome da Mãe: _______________________________________________________________________

Idade: _____________

Profissão:___________________________________________________________

Habilitações Literárias: __________________

Morada: ____________________________________________________________________________

Código Postal: _____ -____ Localidade: __________________ Concelho: _________________________

Telef/ Telem.: __________________________ E-mail: _______________________________________

2. Encarregado de Educação (Preencher caso o Encarregado de Educação não seja mãe/pai)

Grau de Parentesco: ___________

Nome Completo: _______________________________________________________________________

Idade: ___________ Profissão: ____________________________________________________________

Habilitações Literárias: ______ _____________

Morada: ____________________________________________________________________________

Código Postal: _____-____ Localidade: __________________ Concelho:__________________________

Telef/ Telem.: _______________ _________________ E-mail: __________________________________

3. Agregado Familiar Com quem vives? _______________________________________________________________________

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XXXI

Nº de irmãos: ___ Idades: _____/_____/_____/_____/______/_____/ _____/____ Situação conjugal dos Pais: Casados Divorciados Outros _________________________

4. Informações sobre ti… 4.1. Caracterização escolar: Qual a última escola que frequentaste? ______________________________________________________ Já reprovaste? __________ Se sim, em que ano (s)? ____________________________________________ Motivo: _______________________________________________________________________________ 4.2. Deslocações: Qual o meio de transporte que utilizas para chegar à escola _____________________________________ Quanto tempo demoras a chegar à escola? __________________________________________________ 4.3. Saúde e Alimentação: Tens alguma doença? Não Sim Se sim qual(ais)?________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________ Condicionam a tua participação nas aulas de Educação Física? Não Sim. De que forma? __________________________________________________________ ____________________ Tomas medicamentos regularmente? Não Sim. Qual(ais)? ___ ____________________________ Quantas refeições fazes por dia? ________________ Onde costumas almoçar ? ______________________ A que horas te costumas deitar? ___________ ____ Quantas horas dormes por dia?_ _________________ 4.4. Prática Desportiva: Praticas algum desporto? Não Sim Se sim, qual(ais)?__________________________________ Quantas vezes por semana? ______________ Há quanto tempo? _____________________ 4.5. Tempo Livre: O que mais gostas de fazer? Ver TV Computador Ler Conviver com os amigos Praticar Desporto Ajudar os pais no trabalho Ouvir música Outros. Qual(ais)? ______________________________________________________________________

O que é para ti a Educação Física? Quais as actividades que mais gostas de realizar?

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XXXIII

Anexo III - Planeamento Anual para o 10ºJ

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XXXIV

PLANEAMENTO ANUAL

Ano Letivo 2013/2014

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31

Pe

río

do

Setembro

Outubro

Novembro

Dezembro Interrupção do Natal e Ano Novo

Janeiro

Fevereiro

Março Carnaval

Pe

río

do

Abril Interrupção da Páscoa

Maio

Junho

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XXXV

PLANO ANUAL DE ATIVIDADES

Ano Letivo 2013/14

Descrição da (s) Atividade (s)

Pe

río

do

Setembro

Outubro Dias 29 e 31: Avaliação do Fitnessgram

Novembro

Dezembro

Dias 11 e 12: Torneio de Voleibol de Natal

Dia 16: Festa de Natal

Dia 11: Realização do Corta Mato do Concelhio

Pe

río

do

Janeiro

Fevereiro Dias 18 e 20 – Avaliação do Fitnessgram

Março

Pe

río

do

Abril

Maio Dia 18 – Dia da Escola

Junho

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XXXVI

JUSTIFICAÇÃO DO PLANEAMENTO ANUAL

O presente planeamento anual foi elaborado no âmbito do Estágio Profissional na

Escola Secundária de Rocha Peixoto, na Póvoa de Varzim, no ano letivo 2013/2014. Pretende

fazer uma projeção dos conteúdos a abordar no corrente ano escolar.

Aquando da reunião inicial com a nossa professora cooperante, já muitas planificações

tinham sido estabelecidas, o que condicionou a informação sob a qual nós tivemos,

efetivamente, uma posição ativa. Contudo, e consoante a Proposta de Atividades (até à data,

ainda provisória), a Planificação Anual de Educação Física para o 10º Ano de Escolaridade e,

até, o roulement dos espaços, foi possível criar o planeamento mencionado, ainda que com

alguns acontecimentos por desenvolver. Ainda está por definir uma data de atividades, tais

como a Realização do Corta-Mato do Concelhio no 1º Período, um Corta-Mato Distrital, um

Torneio de Basquetebol 3x3, um Torneio de Boccia, um Torneio de Natação e os Jogos

Desportivos Municipais, tudo a definir para o 2º Período, a data do teste teórico, a Gala do

Desporto Escolar e um Espetáculo de Dança, previstos para o 3º Período, e o Projeto “Escola

da Minha Vida”, atividade desenvolvida pela autarquia, prevista para Maio de 2014, com dia

ainda por definir.

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XXXVII

Anexo IV - Unidade Didática de Basquetebol

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XXXVIII

UNIDADE DIDÁTICA - Basquetebol Dia

Espaço : Pavilhão

Duração: 90’ 90’ 90’ 90’ 90’ 90’ 90’ 90’ 90’ 90’ 90’ 90’

Nº Aula 1/2 3/4 5/6 7/8 9/10 11/12 13/14 15/16 17/18 19/20 21/22 23/24

Habilidades Motoras Técnicas

Posição-Base Tripla Ameaça (Of) AD I/E E E E E C

TOR

NEI

O

AS

Defensiva AD I/E E E E E C AS

Rotação no Pé-Eixo AD I/E E E E E C AS

Deslocamentos AD I/E E E E E C AS

Passe Picado AD I/E E E E E C AS

Peito AD I/E E E E E C AS

Ombro AD I/E E E E E C AS

Drible Progressão AD I/E E E E E C AS

Proteção AD I/E E E E E C AS

Receção a 2 Mãos AD I/E E E E E C AS

Lançamentos Na Passada AD I/E E E E E E C AS

Em Apoio AD I/E E E E E E C AS

Em Suspensão AD I/E E E E E C AS

Habilidades Motoras Táticas

Ofensiva Finalizar AD I/E E E E E E C AS

Desmarcar e criar linhas passe AD I/E E E E E C AS

Passe e Corte AD I/E E E E E E C AS

Aclaramento AD I/E E E E C AS

Defensiva Marcação individual AD I/E E E E E C AS

Impedir Finalização AD I/E E E E E C AS

Jogo 3x3 AD I/E E E E E E E E C AS

Fase Transição Defesa-Ataque / Ataque - Defesa AD I/E E E E C AS

Cultura Desportiva

História I/E Aplicada em todas as aulas de forma conveniente.

Características da Modalidade

Regras

Material Utilizado

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XXXIX

Legenda: AD – Avaliação Diagnostica; I – Introdução; C – Consolidação; E – Exercitação; AS – Avaliação Sumativa; AF – Avaliação Formativa

Fisiologia do Treino

Capacidades Coordenativas

Força Exercitada em todas as aulas.

Velocidade de Reação

Capacidades Condicionais

Ritmo Exercitada em todas as aulas.

Equilíbrio

Coordenação Geral

Conceitos Psicossociais

Sócio-afetivos

Cooperação Solicitados em todas as aulas.

Fair-play

Interação/Coesão

Psicológicos

Empenho/Superação Solicitados em todas as aulas.

Pontualidade/Assiduidade

Autonomia

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XL

Justificação da Unidade Didática

No primeiro semestre do programa do 10º ano da Escola Secundária de Rocha Peixoto

está prevista a abordagem do Basquetebol num período de 6 semanas, o que equivale a 12

aulas de 90 minutos cada, contando cada 45min como um tempo letivo.

Assim sendo, iniciaremos a nossa unidade Didática de Basquetebol com uma Avaliação

Diagnóstica nas aulas 1 e 2 através de situações de jogo de 3x3.

Nas aulas 3 e 4 iniciaremos a abordagem à modalidade com a introdução da posição de

tripla ameaça como princípio básico ofensivo de preparação para qualquer ação corporal

necessária em jogo. Também iniciaremos o passe de peito e o passe picado, de forma a

privilegiar a coletividade entre os alunos e a receção da bola, sempre a duas mãos.

Abordaremos também a desmarcação e criação de linhas de passe como uma iniciação ao

trabalho de equipa e ao objetivo de jogo, introduzindo o lançamento em apoio para a

finalização. Tudo isto será feito através de situações analíticas de 1x1, 2x2 e, também, com

situações de jogo 3x3.

Nas aulas 5 e 6, iniciaremos a abordagem aos deslocamentos e aos lançamentos na

passada como forma de focarmos os alunos no objetivo de jogo. Assim sendo, a finalização

estará implícita neste objetivo, e será necessária a introdução do passe e corte como forma de

obrigar os alunos a desmarcarem-se para receberem a bola e cortarem para o cesto para

ficarem mais perto do mesmo e, assim, tornar a situação de finalização mais acessível.

Abordaremos ainda a rotação no pé-eixo de forma a ampliar o repertório motor dos alunos

dentro do regulamento técnico. Esta abordagem será feita através de situações de

superioridade numérica como 2x1 e 3x2.

Nas aulas 7 e 8, e como a parte ofensiva já estará idealizada por parte dos alunos,

iniciaremos a abordagem aos elementos defensivos como forma de dificultar a penetração na

área e obrigar os alunos a criarem formas de finalização, começando com a defesa homem-a-

homem. Abordaremos a posição-base defensiva, o drible de proteção como forma de proteção

da bola dos defesas e o impedimento da finalização.

Nas aulas 9 e 10, abordaremos o passe de ombro como forma de transmissão da bola a

longa distância, o drible de progressão como forma de deslocamentos com a bola sem

transgredir nenhuma norma regulamentar do jogo, o lançamento em suspensão como forma

de concretização de lançamentos fora da área restritiva.

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XLI

Nas aulas 11 e 12, iniciaremos o aclaramento como opção ao passe, em caso de

oportunidade de finalização, e a abordagem à fase de transição defesa-ataque, para aumentar

a densidade das jogadas e, inclusivamente, a motivação dos alunos.

Nas aulas seguintes consolidaremos os conteúdos abordados de forma progressiva até

à aula 21/22, que será destinada ao torneio intra-turma. Na última aula realizaremos uma

Avaliação Sumativa dos elementos abordados em situações analíticas e, posteriormente,

através de situações de jogo 3x3.

Convém, ainda, referir que a abordagem à Cultura Desportiva, aos Aspetos Psicossociais e à

Fisiologia do Treino será realizada em todas as aulas.

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XLIII

Anexo V - Plano de Aula, UD Andebol

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XLIV

PLANO DE AULA Docente: Data: 22/Mai/2014

Hora: 15h15 Aula Nº: 119 e 120 Duração: 90min

Professora Estagiária: Ana Rita Pacheco Local: Pavilhão Nº Alunos: 21 Material: 4 Bolas de andebol; 6 sinalizadores; 22 coletes.

Função Didática/Conteúdo: Exercitação do passe picado, dos deslocamentos defensivos, do remate em suspensão, do “passa e vai”, do 5x5, do passe de ombro, do drible e do remate em apoio e da marcação individual.

Ano/Turma:

Objetivos Gerais Motores: Compreender a noção de passe de bola e progressão para a baliza, desmarcando-se do adversário em fase ofensiva mas acompanhando-o quando se encontra a defender. Cognitivos: Compreender a regra dos 3 passos, de remate fora da área dos 6m e da reposição da bola em jogo após golo. Psicossociais: Interiorizar a importância do trabalho coletivo na equipa.

Situações de Aprendizagem

Objetivos Comportamentais

Palavras-Chave

Par

te In

icia

l

10’ - Corrida de frente; - Corrida de costas; - Corrida com rotação de braços à frente e atrás; - Corrida com rotação de braços a abrir e a fechar; - Corrida com rotação do tronco; - Deslocamento lateral em skipping médio; - Corrida com rotação de joelho de fora para dentro e ao contrário; - Deslocamentos em V com baixo centro de gravidade e com braços em posição defensiva, de frente e costas; - Arrancar e desacelerar.

ORGANIZAÇÃO DIDÁTICO-METODOLÓGICA: Os alunos encontram-se dispostos pela linha final.

- 10 Saltos em extensão; - Afastar pernas e ficar 10seg a tocar com a mão contrária à perna; - 10 Flexões de braços;

O aluno predispõe o organismo para a prática de exercício físico, ativando as principais estruturas mio-articulares que serão recrutadas ao longo da aula.

Ativação mio-articular.

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XLV

- 30seg em posição de prancha.

ORGANIZAÇÃO DIDÁTICO-METODOLÓGICA:

Os alunos encontram-se dispostos em meia-lua, orientados de frente para a professora.

15’ Situação de 3x3 em treino holandês, no qual o remate só poderá ser feito em apoio.

ORGANIZAÇÃO DIDÁTICO-METODOLÓGICA:

10 Alunos em meio campo e 11 noutro, organizados em vagas de 3 elementos.

O aluno exercita a fase de TDA e o remate em apoio, apostando na desmarcação do adversário e no “passa e vai”.

“Ombro para trás para teres mais força a rematar”;

“Desmarca-te do teu adversário para te poderem passar a bola”;

“Passa a bola e corre para a baliza para receberes a bola e rematares”.

15’ Situação de jogo 5x5 no qual os alunos terão de fazer 5 passes sem passar ao mesmo. Só após os 5 passes é que os alunos poderão rematar.

ORGANIZAÇÃO DIDÁTICO-METODOLÓGICA:

4 Equipas, uma com um suplente que entrará a cada golo sofrido pela sua equipa.

O aluno circula a bola pela equipa e exercita o seu remate.

“Ombro para trás para teres mais força a rematar”;

“Desmarca-te do teu adversário para te poderem passar a bola”;

“Passa a bola e corre para a baliza para receberes a bola e rematares”.

15’ Nas mesmas equipas, os alunos realizam jogo em formato de torneio 5x5, consoante a tabela de jogos, em modo de marcação individual, no qual o defensor do atacante que marcou golo sairá de jogo e entrará um suplente. ORGANIZAÇÃO DIDÁTICO-METODOLÓGICA:

4 Equipas, cada 2 a jogarem contra si em cada meio campo, com um suplente.

Os alunos realizam jogo de 5x5, exercitando a marcação individual.

“Desmarca-te e cria linhas de passe”;

“Após receberes a bola, avança para a baliza”;

“Marca o teu adversário, não o deixes progredir”.

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XLVI

15’ Jogo reduzido 5x5. ORGANIZAÇÃO DIDÁTICO-METODOLÓGICA:

4 Equipas, cada 2 a jogarem contra si em cada meio campo, uma com um suplente.

Os alunos realizam jogo reduzido exercitando todos os elementos técnicos e táticos abordados.

“No remate em suspensão usa a perna livre para impulsionar o corpo para cima”;

“Puxa o ombro para trás para rematar”;

“Passa a bola se o teu colega estiver desimpedido”;

“Agarra a bola com as duas mãos”.

Par

te

Fin

al 5’ Conversa final com os alunos.

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XLVII

Anexo VI - Grelha de AD, UD Andebol

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XLVIII

Nº Nome Passa a colega sem

oposição

Empreende iniciativa de progredir em drible quando

adequado

Empreende iniciativa de penetrar/rematar em

situação favorável

Finta o seu oponente

direto

Desmarca – se de modo a criar uma

linha de passe

Avança para a baliza após passe, criando

situação de vantagem Técnica

NOTA FINAL/NÍVEL

1

2

3

4

5

6

7

8

12

13

14

15

16

17

18

19

20

22

23

24

27

28

31

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XLIX

Anexo VII - Grelha de Avaliação Oficial, UD Voleibol

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L

3 º PERÍODO

CONTEÚDOS

NÍVEL

nº Alunos 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

PROFESSOR:

BOM MUITO BOM Av.

Su

mat

iva

Raramente (pontualmente em

a lgum PARÂMETRO) e em

s i tuação cri tério

Atinge os objectivos

mínimos/executa os

PARÂMETROS a lgumas

vezes em s i tuação de jogo

(reduzido ou formal) e em

exercício cri tério

MAU INSUFICIENTE

Observações:

Executa s is tematicamente

nos vários PARÂMETROS

em s i tuação de jogo

(reduzido ou formal) e em

exercício cri tério

Executa com

maestria/correcção

técnica (os 4

PARÂMETROS) em

s i tuação de jogo

(reduzido ou

Av.

Dia

gnó

stic

o

VOLEIBOL

SUFICIENTE

Nunca a todos os

PARÂMETROS

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