to e mudanca no estado brasileiro

Upload: andrea-suim

Post on 14-Jul-2015

181 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Ministrio da Educao MEC Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior CAPES Diretoria de Educao a Distncia DED Universidade Aberta do Brasil UAB Programa Nacional de Formao em Administrao Pblica PNAP Especializao em Gesto em Sade

DESENVOLVIMENTO EMUDANAS NO ESTADO BRASILEIRO

Alcides Domingues Leite Jnior

2009

2009. Universidade Federal de Santa Catarina UFSC. Todos os direitos reservados. A responsabilidade pelo contedo e imagens desta obra do(s) respectivos autor(es). O contedo desta obra foi licenciado temporria e gratuitamente para utilizao no mbito do Sistema Universidade Aberta do Brasil, atravs da UFSC. O leitor se compromete a utilizar o contedo desta obra para aprendizado pessoal, sendo que a reproduo e distribuio ficaro limitadas ao mbito interno dos cursos. A citao desta obra em trabalhos acadmicos e/ou profissionais poder ser feita com indicao da fonte. A cpia desta obra sem autorizao expressa ou com intuito de lucro constitui crime contra a propriedade intelectual, com sanes previstas no Cdigo Penal, artigo 184, Pargrafos 1 ao 3, sem prejuzo das sanes cveis cabveis espcie.

L533d

Leite Jnior, Alcides Domingues Desenvolvimento e mudanas no estado brasileiro / Alcides Domingues Leite Jnior. Florianpolis : Departamento de Cincias da Administrao / UFSC; [Braslia] : CAPES : UAB, 2009. 90p. : il. Especializao Mdulo Bsico Inclui bibliografia ISBN: 978-85-61608-83-5 1. Histria do Brasil. 2. Brasil Histria Repblica Velha, 1889-1930. 3. Brasil Poltica e governo. 4. Partidos polticos Brasil. 5. Educao a distncia. I. Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (Brasil). II. Universidade Aberta do Brasil. III. Ttulo. CDU: 981

Catalogao na publicao por: Onlia Silva Guimares CRB-14/071

PRESIDENTE DA REPBLICA Luiz Incio Lula da Silva MINISTRO DA EDUCAO Fernando Haddad PRESIDENTE DA CAPES Jorge Almeida Guimares UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA REITOR lvaro Toubes Prata VICE-REITOR Carlos Alberto Justo da Silva CENTRO SCIO-ECONMICO DIRETOR Ricardo Jos de Arajo Oliveira VICE-DIRETOR Alexandre Marino Costa DEPARTAMENTO DE CINCIAS DA ADMINISTRAO CHEFE DO DEPARTAMENTO Joo Nilo Linhares SUBCHEFE DO DEPARTAMENTO Gilberto de Oliveira Moritz SECRETARIA DE EDUCAO A DISTNCIA SECRETRIO DE EDUCAO A DISTNCIA Carlos Eduardo Bielschowsky DIRETORIA DE EDUCAO A DISTNCIA DIRETOR DE EDUCAO A DISTNCIA Celso Jos da Costa COORDENAO GERAL DE ARTICULAO ACADMICA Nara Maria Pimentel COORDENAO GERAL DE SUPERVISO E FOMENTO Grace Tavares Vieira COORDENAO GERAL DE INFRAESTRUTURA DE POLOS Francisco das Chagas Miranda Silva COORDENAO GERAL DE POLTICAS DE INFORMAO Adi Balbinot Junior

COMISSO DE AVALIAO E ACOMPANHAMENTO PNAP Alexandre Marino Costa Claudin Jordo de Carvalho Eliane Moreira S de Souza Marcos Tanure Sanabio Maria Aparecida da Silva Marina Isabel de Almeida Oreste Preti Tatiane Michelon Teresa Cristina Janes Carneiro METODOLOGIA PARA EDUCAO A DISTNCIA Universidade Federal de Mato Grosso COORDENAO TCNICA DED Soraya Matos de Vasconcelos Tatiane Michelon Tatiane Pacanaro Trinca AUTOR DO CONTEDO Alcides Domingues Leite Jnior EQUIPE DE DESENVOLVIMENTO DE RECURSOS DIDTICOS CAD/UFSC Coordenador do Projeto Alexandre Marino Costa Coordenao de Produo de Recursos Didticos Denise Aparecida Bunn Superviso de Produo de Recursos Didticos Flavia Maria de Oliveira Designer Instrucional Denise Aparecida Bunn Andreza Regina Lopes da Silva Superviso Administrativa Erika Alessandra Salmeron Silva Capa Alexandre Noronha Ilustrao Igor Baranenko Projeto Grfico e Editorao Annye Cristiny Tessaro Reviso Textual Sergio Meira

Crditos da imagem da capa: extrada do banco de imagens Stock.xchng sob direitos livres para uso de imagem.

PREFCIOOs dois principais desafios da atualidade na rea educacional do pas so a qualificao dos professores que atuam nas escolas de educao bsica e a qualificao do quadro funcional atuante na gesto do Estado Brasileiro, nas vrias instncias administrativas. O Ministrio da Educao est enfrentando o primeiro desafio atravs do Plano Nacional de Formao de Professores, que tem como objetivo qualificar mais de 300.000 professores em exerccio nas escolas de ensino fundamental e mdio, sendo metade desse esforo realizado pelo Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB). Em relao ao segundo desafio, o MEC, por meio da UAB/CAPES, lana o Programa Nacional de Formao em Administrao Pblica (PNAP). Esse Programa engloba um curso de bacharelado e trs especializaes (Gesto Pblica, Gesto Pblica Municipal e Gesto em Sade) e visa colaborar com o esforo de qualificao dos gestores pblicos brasileiros, com especial ateno no atendimento ao interior do pas, atravs dos Polos da UAB. O PNAP um Programa com caractersticas especiais. Em primeiro lugar, tal Programa surgiu do esforo e da reflexo de uma rede composta pela Escola Nacional de Administrao Pblica (ENAP), do Ministrio do Planejamento, pelo Ministrio da Sade, pelo Conselho Federal de Administrao, pela Secretaria de Educao a Distncia (SEED) e por mais de 20 instituies pblicas de ensino superior, vinculadas UAB, que colaboraram na elaborao do Projeto Poltico Pedaggico dos cursos. Em segundo lugar, esse Projeto ser aplicado por todas as instituies e pretende manter um padro de qualidade em todo o pas, mas abrindo

margem para que cada Instituio, que ofertar os cursos, possa incluir assuntos em atendimento s diversidades econmicas e culturais de sua regio. Outro elemento importante a construo coletiva do material didtico. A UAB colocar disposio das instituies um material didtico mnimo de referncia para todas as disciplinas obrigatrias e para algumas optativas. Esse material est sendo elaborado por profissionais experientes da rea da administrao pblica de mais de 30 diferentes instituies, com apoio de equipe multidisciplinar. Por ltimo, a produo coletiva antecipada dos materiais didticos libera o corpo docente das instituies para uma dedicao maior ao processo de gesto acadmica dos cursos; uniformiza um elevado patamar de qualidade para o material didtico e garante o desenvolvimento ininterrupto dos cursos, sem paralisaes que sempre comprometem o entusiasmo dos alunos. Por tudo isso, estamos seguros de que mais um importante passo em direo democratizao do ensino superior pblico e de qualidade est sendo dado, desta vez contribuindo tambm para a melhoria da gesto pblica brasileira, compromisso deste governo.

Celso Jos da Costa Diretor de Educao a Distncia Coordenador Nacional da UAB CAPES-MEC

SUMRIOApresentao.................................................................................................... 9 Unidade 1 Da Repblica Velha at o fim do Regime MilitarIntroduo...................................................................................... 13 O setor pblico e a Repblica Velha (1889-1930)................................................ 14 Primeiro perodo: incio da repblica Velha................................... 15 Segundo perodo: os governos da Repblica Oligrquica e a poltica dos governadores................................................................................... 18 A era Vargas............................................................................................ 21 A organizao do Estado.................................................................... 24 O Estado desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek................................... 28 O Plano de Metas............................................................................. 29 O regime militar e as reformas de Estado............................................................ 31 Governo Castello Branco............................................................................. 32 Os governos Costa e Silva e Mdici............................................................. 35 O governo Geisel............................................................................ 39 O governo Figueiredo............................................................................. 43 A herana do Regime Militar......................................................................... 49

Desenvolvimento e mudanas no estado brasileiro

Unidade 2 Da nova Repblica at os dias atuaisIntroduo..................................................................................................... 55 A eleio de Tancredo Neves e o governo Sarney................................................ 56 Os governos Collor e Itamar Franco..................................................................... 60 O primeiro governo Fernando Henrique Cardoso................................................. 65 O segundo governo Fernando Henrique Cardoso................................................. 70 O primeiro governo Lula............................................................................. 75 O segundo governo Lula...................................................................................... 83

Referncias .................................................................................................... 89 Minicurrculo.................................................................................................... 90

8

Especializao em Gesto em Sade

Apresentao

APRESENTAOOl! Caro estudante! Voc est iniciando a disciplina Desenvolvimento e Mudanas do Estado Brasileiro, que tem como propsito analisar o processo de construo da estrutura de Estado no Brasil, da Proclamao da Repblica at os dias atuais. A disciplina permitir que voc identifique o resultado de um processo cumulativo de mudanas, que teve incio na primeira metade do sculo XX. Processo que, ao contrrio do ocorrido na maioria dos pases desenvolvidos, no contou com rupturas traumticas, mas com a incorporao da ordem anterior pela estrutura estabelecida. O conhecimento da mecnica de transformao do Estado brasileiro, desde a Proclamao da Repblica at hoje, fundamental para que voc entenda a atual estrutura vigente, com seus pontos fortes e suas limitaes. O estudo da administrao pblica brasileira deve levar em conta as caractersticas peculiares da cultura nacional, de forma a evitar anlises comparativas imprecisas e precipitadas. Tratar objetos desiguais de forma apropriada pode causar mais trabalho de pesquisa e estudo mais aprofundado, no entanto, o nico meio para conhecer melhor a atual estrutura de Estado brasileiro, sem incorrer nos erros primrios contidos na maioria das anlises superficiais, apresentadas por veculos de informao de massa, aos quais os estudantes brasileiros tm acesso. Desta forma, a disciplina Desenvolvimento e Mudanas no Estado Brasileiro, oferecida a voc, aluno do curso a distncia de ps-graduao em Administrao Pblica, aborda a evoluo do aparato de Estado no Brasil, desde o incio da Repblica, quando

Mdulo Bsico

9

Desenvolvimento e mudanas no estado brasileiro

o Estado brasileiro ainda era incipiente, at os dias atuais, quando o modelo de Estado em nosso pas j se encontra bem definido e bastante desenvolvido, em comparao com os demais pases com estgio de desenvolvimento similar. A disciplina abordar ainda todos os setores importantes para o estabelecimento de uma ao de Estado em benefcio dos cidados e do prprio desenvolvimento do pas. Sendo assim, analisaremos tambm a implantao do atual Estado de Direito, com a evoluo dos indicadores sociais, estabilidade monetria, universalizao das polticas pblicas, consolidao da democracia de massas, previsibilidade do arcabouo legal e fortalecimento do ambiente de negcios. Certamente, agora ficou mais claro de que trata a disciplina Desenvolvimento e Mudanas no Estado Brasileiro e sua importncia na sua formao acadmica e profissional. Sem a pretenso de esgotar o assunto, o texto disponibilizado a seguir no o isenta da necessidade de recorrer a outras fontes disponveis em publicaes impressas ou oferecidas por outros meios de difuso. Este texto objetiva capacit-lo no apaixonante caminho do conhecimento da histria recente do Brasil. Esperamos que voc goste dos assuntos tratado nesta disciplina, pois a arte de aprender muito mais eficaz na medida em que o processo de aprendizado realizado com satisfao. Bons estudos! Professor Alcides Leite.

10

Especializao em Gesto em Sade

Apresentao

UNIDADE 1DA REPBLICA VELHA AT O FIM DO REGIME MILITAR

OBJETIVOS ESPECFICOS DE APRENDIZAGEMAo finalizar esta Unidade voc dever ser capaz de: Reconhecer e enumerar as principais mudanas estruturais ocorridas no Estado brasileiro, desde a Proclamao da Repblica at o fim do Regime Militar; Identificar as causas e conseqncias das principais mudanas estruturais ocorridas no Estado brasileiro; e Validar, com um juzo crtico, os clichs comuns dos ambientes acadmicos e jornalsticos brasileiros.

Mdulo Bsico

11

Desenvolvimento e mudanas no estado brasileiro

12

Especializao em Gesto em Sade

Unidade 1 Da Repblica Velha at o fim do regime militar

INTRODUONesta primeira Unidade da disciplina Desenvolvimento e mudanas do Estado Brasileiro, vamos percorrer o perodo que vai desde a Proclamao da Repblica at o final do Regime Militar em 1985. Vamos comear? Vamos iniciar nosso estudo a partir da Proclamao da Repblica, pois o Estado brasileiro, sob o ponto de vista de formao da sua identidade independente, nasceu propriamente com a Proclamao da Repblica. O perodo do Imprio, embora importante para a formao da infraestrutura econmica e social do pas, pouco contribuiu para a estruturao da base administrativa e poltica que o pas construiu ao longo do tempo. Durante o perodo analisado foi implantada a base do Moderno Estado Brasileiro. A construo da Administrao Direta, durante a Era Vargas e da Administrao Indireta, durante os governos Castello Branco e Costa e Silva, alm da formulao e implantao das polticas de Previdncia Pblica e dos Planos de Desenvolvimento Econmico, compuseram o quadro de transformaes estruturais da ao do Estado no processo de desenvolvimento do pas. O entendimento da lgica dessas mudanas de fundamental importncia para que voc tenha uma anlise crtica a respeito dos avanos ocorridos e das conquistas alcanadas pelo Estado Brasileiro rumo construo de uma estrutura capaz de sustentar o processo de insero do Brasil no rol dos pases em desenvolvimento. Temos certeza de que, muito do que aqui ser tratado, voc j estudou no Ensino Mdio e/ou na Graduao. Contudo, esperamos contribuir para que voc adquira uma viso de conjunto necessria ao entendimento do carter contnuo e incremental das principais evolues ocorridas no perodo analisado.Mdulo Bsico

13

Desenvolvimento e mudanas no estado brasileiro

O SETOR PBLICO E A REPBLICA VELHA (1889-1930)O perodo conhecido como Repblica Velha durou de 1889 at 1930. Este perodo denominado ainda de Repblica dos Bacharis e Repblica Manica, uma vez que todos os presidentes civis da poca eram bacharis em direito e quase todos membros da maonaria.

A maioria dos

presidentes da Repblica Velha comearam a como advogados e carreira profissional

promotores pblicos. Em geral, os presidentes da Repblica Velha entraram na poltica, apoiados por lderes polticos locais (os Coronis).

v

Mas, voc sabe por que esse perodo foi chamado de Repblica Velha?

Historicamente, este perodo chamado de Repblica Velha em contraposio ao perodo ps-revoluo de 1930, que visto como um marco na histria da Repblica, uma vez que gerou grandes transformaes que voc ver ao longo do texto. Podemos dividir a Repblica Velha, para facilitar nossa discusso temtica, em dois perodos. So eles: o primeiro: de 1889 a 1894, chamado Repblica da Espada, foi o perodo dominado pelos militares; e o segundo: de 1895 a 1930, chamado de Repblica Oligrquica, foi o perodo dominado pelos Presidentes dos Estados. A seguir, analisaremos cada um destes perodos da Repblica Velha.

14

Especializao em Gesto em Sade

Unidade 1 Da Repblica Velha at o fim do regime militar

PRIMEIRO

PERODO: INCIO DA

REPBLICA VELHA

Com a vitria do movimento republicano liderado pelos oficiais do exrcito, foi estabelecido um governo provisrio chefiado pelo Marechal Deodoro da Fonseca. Durante o governo provisrio, foi: decretada a separao entre Estado e Igreja; concedida a nacionalidade a todos os imigrantes residentes no Brasil; nomeados os governadores para as provncias, que se transformaram em estados; criada a bandeira nacional com o lema positivista, ordem e progresso; e banida a famlia real do territrio brasileiro, que s retornou em 1922, aps o falecimento da Princesa Isabel, herdeira do trono brasileiro. Mas foi no incio de 1890 que comearam as discusses para a elaborao da nova Constituio, que acabou vigorando durante toda a Repblica Velha. A promulgao da Constituio aconteceu em 24 de fevereiro de 1891.Saiba maisPrudente de Morais (1841-1902)

Prudente Jos de Morais e Barros formado em Direito na capital paulista, aderiu ao Partido Republicano Paulista. Foi trs vezes deputado da agremiao na Assemblia Provincial e uma vez na Assemblia-Geral do Imprio. Votou a favor da libertao dos escravos com mais de 65 anos. Foi governador da provncia de So Paulo at 1890. Foi eleito por voto direto para a sucesso de Floriano Peixoto. Fonte: . Acesso em: 17 jul. 2009. Rui Barbosa (1849- 1923) Formado em Direito. Engajouse numa campanha em defesa das eleies diretas e da abolio da escravatura. Com a Repblica, tornou-se vice-chefe do governo provisrio. Tambm escreveu o projeto da Carta Constitucional da Repblica. Como jornalista, escreveu para diversos rgos. Fonte: . Acesso em: 17 jul. 2009.

Constituio de 1891

Inspirada na Constituio Americana, a Constituio de 1891 teve como principais autores: Prudente de Morais e Rui Barbosa. Seu texto era fortemente

Mdulo Bsico

15

Desenvolvimento e mudanas no estado brasileiro

descentralizador, dando grande autonomia aos municpios e aos estados. O regime de governo escolhido foi o presidencialismo e os membros dos poderes Legislativo e Executivo passaram a ser eleitos pelo voto popular direto. O mandato do presidente da Repblica foi estipulado em quatro anos, sem direito reeleio para o mandato imediatamente seguinte, sem, contudo, haver impedimentos para um mandato posterior. O mesmo valia para o vice-presidente. Sendo que no caso de morte, renncia ou impedimento do presidente, o vice assumiria apenas at serem realizadas novas votaes, no precisando ficar at que fosse completado o respectivo quadrinio, como ocorre atualmente. No entanto, como no havia prazo para a realizao de novas eleies, se houvesse acordo poltico o vice poderia terminar o mandato. Quanto s regras eleitorais, ficou determinado que o voto continuaria a descoberto (no-secreto) a assinatura da cdula pelo eleitor tornou-se obrigatria e foi decretado o fim do voto censitrio, que definia o eleitor por sua renda, embora ainda continuassem excludos do direito ao voto os analfabetos, as mulheres, os religiosos sujeitos obedincia eclesistica e os indigentes. Alm disso foi reservado ao Congresso Nacional a regulamentao do sistema para as eleies de cargos polticos federais, e s assemblias estaduais a regulamentao para as eleies estaduais e municipais. O voto distrital permaneceu com a eleio de trs deputados para cada distrito eleitoral do pas. Nesta poca o monoplio de registros civis passou ao Estado, sendo criados os cartrios para os registros de nascimento, casamento e morte. O Estado tambm assumiu, de forma definitiva, as rdeas da educao, instituindo vrias escolas pblicas de ensino fundamental e intermedirio, principalmente nas cidades mais importantes do pas. Alm disso, a Constituio garantia a liberdade de associao e de reunio sem armas, assegurava aos acusados o

16

Especializao em Gesto em Sade

Unidade 1 Da Repblica Velha at o fim do regime militar

mais amplo direito de defesa, abolia as penas de gals, de banimento judicial e de morte, institua o habeas-corpus e as garantias de magistratura aos juzes federais.

Governos Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto

Com a promulgao da Constituio, Deodoro da Fonseca passou a ser presidente constitucional eleito pelo Congresso Nacional, com mandato at 15 de novembro de 1894. Porm, devido crise gerada pela poltica econmica do governo, Deodoro renunciou presidncia em 23 de novembro de 1891 e o vicepresidente Floriano Peixoto assumiu o poder at 1894.

v

A pena de gal sujeita os criminosos a cumprirem pena de trabalhos forados em

embarcaes de velas, de castigos corporais.

remando sob a coero

Governo Prudente de MoraisEste foi um perodo de transio entre a Repblica da Espada e a Repblica Oligrquica. Neste perodo do governo de Prudente de Morais, primeiro civil a assumir a Presidncia da Repblica, os militares tinham ainda bastante poder poltico. Somente com o desgaste sofrido com a Guerra dos Canudos e o assassinato do ministro da Guerra, foi que os militares se afastaram do poder, voltando poltica somente entre 1910 e 1914, no governo do Marechal Hermes da Fonseca, e no movimento denominado tenentismo ocorrido no incio do ano de 1920.Saiba maisGuerra dos Canudos Revolta social que teve incio na Bahia em novembro de 1896 e terminou em outubro de 1897. O conflito foi liderado pelo beato Antnio Conselheiro. Devido enorme proporo que o movimento adquiriu, o governo da Bahia no conseguiu segurar a revolta, e pediu a interferncia da Repblica. O massacre foi tamanho que no escaparam idosos, mulheres e crianas. Euclides da Cunha, em seu livro Os Sertes, eternizou este movimento que evidenciou a importncia da luta social na histria de nosso pas. Fonte:. Acesso em: 15 jul. 2009.

Neste perodo tenentista o Exrcito brasileiro enfrentou grandes dificuldades faltavam armamentos, cavalos, medicamentos e instruo para a tropa. Os soldos permaneciam

Mdulo Bsico

17

Desenvolvimento e mudanas no estado brasileiro

baixos e o governo no fazia meno de aument-los. Esta situao afetava particularmente os tenentes. Neste quadro de crescente insatisfao eclodiram diversos movimentos militares. A presena significativa de tenentes na conduo desses movimentos deu origem ao termo tenentismo. Os principais movimentos tenentistas da dcada de 1920 foram os 18 do Forte, os levantes de 1924, e a Coluna Prestes. As propostas polticas dos tenentes, de uma maneira geral, se vinculavam ao nacionalismo e centralizao poltica, opondo-se ao domnio poltico de Minas Gerais e So Paulo. Entre outras reformas, os tenentistas defendiam o voto secreto, a independncia do Poder Judicirio e um Estado mais forte. Assim, podemos afirmar que, de fato, a Repblica Oligrquica s se consolidou em 1898, com a posse do segundo presidente civil, Campos Salles.

SEGUNDO PERODO: OS GOVERNOS DA REPBLICA OLIGRQUICA E A POLTICA DOS GOVERNADORESO Presidente Campos Sales consolidou uma caracterstica peculiar da poltica brasileira durante a Repblica Oligrquica: a Poltica dos Estados, conhecida tambm como Poltica dos Governadores. De acordo com essa obra de engenharia poltica, o poder federal passou a no interferir na poltica dos estados e esses no interferiam na poltica dos municpios, garantindo-lhes a autonomia poltica. O Presidente da Repblica apoiava os atos dos presidentes estaduais, como a escolha dos sucessores desses presidentes de estados, e, em troca, os governadores passaram a dar apoio e suporte ao governo federal, colaborando com a eleio de candidatos para o Congresso Nacional. A Poltica dos Estados significava, na verdade, a impossibilidade da oposio assumir o poder, uma vez que os representantes populares eram escolhidos mediante pactos entre o

O Presidente da

Repblica era escolhido atravs de um acordo nacional entre os

presidentes dos estados.

v

18

Especializao em Gesto em Sade

Unidade 1 Da Repblica Velha at o fim do regime militar

governo federal e as elites estaduais, legitimadas por eleies pouco confiveis, sem espao para candidatos independentes. Nesta poca era a Comisso de Verificao de Poderes do Congresso Nacional o rgo encarregado de fiscalizar o sistema eleitoral. Esta Comisso dificilmente ratificava parlamentares eleitos que no apoiassem a Poltica dos Estados.

Voc sabe nesta poca quem era o responsvel em organizar a vida poltica, diretamente no contato com a populao, nos municpios?

Este perodo foi marcado pelo coronelismo. Quem organizava a vida poltica, diretamente no contato com a populao, nos municpios era a figura carismtica do coronel. O coronel, apesar do nome, era um lder civil, comumente um fazendeiro que dominava a poltica local. O coronel era o nico elo de ligao entre a populao e o poder estatal. O coronel garantia os votos locais do presidente do Estado, em troca do apoio do governador sua liderana poltica no seu municpio. Durante a Repblica Oligrquica houve diversas revoltas, tais como: a Revolta da Vacina, a Revolta da Chibata, a Guerra do Contestado, a Revolta dos 18 do Forte de Copacabana, o Movimento Tenentista e a Revoluo de 1930, que colocou um fim neste perodo histrico, e ser alvo de nossa anlise mais adiante. No campo da economia, foi um perodo de modernizao, com grandes surtos de industrializao, como o ocorrido durante a Primeira Guerra Mundial. Porm a economia continuou dominada pela cultura do caf at a quebra da bolsa de valores de Nova Iorque, em 1929. Foi neste perodo que ocorreram tambm as primeiras greves, com o crescimento de movimentos anarquistas e comunistas nos grandes centros urbanos do pas.

Mdulo Bsico

19

Desenvolvimento e mudanas no estado brasileiro

A Revoluo de 1930 e o fim da Repblica VelhaAs eleies presidenciais de 1930 foram vencidas, pela contagem Cursou Direito de So Paulo. Em 1909, oficial, pelo candidato Jlio Prestes, foi eleito deputado estadual e por cinpresidente de So Paulo, que tinha o co legislaturas seguintes. Em 1927, asapoio do presidente Washington Lus. sumiu o governo do Estado de So PauContudo, a oposio, no aceitou a lo e depois, em 1929, foi indicado por derrota de Getlio Vargas e iniciou a Washington Luis como candidato do Revoluo de 1930. Esta revoluo, governo sucesso presidencial, concorrendo conque tinha como lderes Getlio tra Getlio Vargas. Prestes no chegou a tomar posVargas, Antnio Carlos Ribeiro de se, pois foi impedido pela Revoluo de 1930, a qual Andrada (ex-presidente de Minas levou Getlio Vargas ao poder. Exilado na Europa, Gerais) e tenentes, comeou em 3 de Jlio Prestes regressou ao Brasil em 1934, afastanoutubro de 1930, sem enfrentar do-se da poltica. Fonte: . grande resistncia, uma vez que a Acesso em: 15 jul. 2009. repulsa ao modelo liberal-oligrquico da Velha Repblica h muito vinha crescendo e ganhando apoio de vrios presidentes de Estado fora do eixo So Paulo/Minas Gerais.Saiba maisJlio Prestes de Albuquerque (1882- 1946)

Em 3 de novembro de 1930, Getlio Vargas toma posse como presidente da Repblica, pondo fim Repblica Velha.

Contudo importante destacarmos que foi a crise de 1929, que arruinou a maioria dos fazendeiros de caf, que deu condies polticas para a vitria de Vargas na Revoluo de 30. Esta crise econmica atingiu os EUA, se estendeu por todo o mundo capitalista e terminou apenas com a Segunda Guerra Mundial. Este perodo de recesso econmica causou altas taxas de desemprego, quedas drsticas do produto interno bruto, com grande queda na produo industrial, no preo das aes, e em praticamente todos os indicadores de atividade econmica, em diversos pases no mundo.

20

Especializao em Gesto em Sade

Unidade 1 Da Repblica Velha at o fim do regime militar

A ERA VARGASConsiderado por muitos, como o Saiba mais Getlio Dornelles Vargas (1882- 1954) personagem brasileiro mais influente do sculo XX, Getlio Dornelles Vargas em Foi o presidente que mais tempo 1929 candidatou-se presidncia da governou o Brasil, durante dois Repblica na chapa oposicionista da mandatos. De origem gacha (nasAliana Liberal. Derrotado, chefiou o ceu na cidade de So Borja), Vargas foi presidente do Brasil entre os anos movimento revolucionrio de 1930, por de 1930 a 1945 e de 1951 a 1954. Entre 1937 e 1945 meio do qual assumiu o Governo instalou a fase de ditadura, o chamado Estado Provisrio. Em 1934, foi eleito presidente, Novo. Fonte: . Acesso em: 18 jul. 2009. Em 1937 instaurou o Estado Novo, determinou o fechamento do Congresso, outorgou uma nova Constituio, que lhe conferiu o controle dos poderes Legislativo e Judicirio, e determinou o fechamento dos partidos polticos. Com o fim da Segunda Guerra em 1945, as presses em prol da redemocratizao ficaram mais fortes, e ento Vargas foi deposto em 29 de outubro de 1945, por um movimento militar liderado por generais que compunham o seu prprio ministrio. Afastado do poder, Vargas foi para sua fazenda em So Borja, no Rio Grande do Sul. Mas, nas eleies para a Assemblia Nacional Constituinte de 1946, foi eleito senador por dois estados e deputado federal por sete estados. Nas eleies presidenciais de 1950, Vargas eleito presidente da repblica com ampla margem de votos. No segundo perodo, o seu governo foi marcado pela retomada da orientao nacionalista, cuja expresso maior foi a luta para a implantao do monoplio estatal sobre o petrleo, com a criao da Petrobrs, e pela progressiva radicalizao poltica.

Mdulo Bsico

21

Desenvolvimento e mudanas no estado brasileiro

Vargas enfrentava oposio cerrada por parte da UDN, em especial do jornalista Carlos Lacerda, proprietrio do jornal carioca Tribuna da Imprensa, situao que o leva ao suicdio em 1954. Assim podemos observar que durante os 20 anos de poder, Vargas imprimiu profundas transformaes no sistema poltico, econmico e administrativo brasileiro. Tal foi a importncia das duas passagens de Getlio Vargas pelo governo que, ainda hoje, os livros de histria referem-se a esse perodo como a Era Vargas. O primeiro perodo, de 1930 a 1945, foi marcado por diferentes fases. Tendo sido derrotado na eleio para presidente da Repblica em 1930, Getlio liderou um movimento que derrubou o governo de Washington Lus e assumiu o poder, em 3 de novembro de 1930. Aps este perodo tivemos a Revoluo Constitucionalista de 1932 iniciada em So Paulo que durou trs meses, de julho a outubro de 1932. Esta Revoluo foi consequncia da campanha constitucionalista iniciada em 1931. No final de 1931 e incio de 1932, Vargas procurou conter as crticas organizando uma comisso encarregada de organizar o novo Cdigo Eleitoral. Os sinais de trgua emitidos por Vargas, no entanto, no apaziguaram os nimos e neste cenrio tivemos a formao da Frente nica Paulista (FUP), cujos principais lemas eram a constitucionalizao do pas e a autonomia de So Paulo. Mas, no incio de 1932, com a morte de quatro estudantes paulistas em confronto com foras legais, foi criado o movimento MMDC iniciais dos nomes dos estudantes mortos, Miragaia, Martins, Drusio e Camargo. O episdio foi o estopim da Revoluo de 1932. Em 9 de julho o movimento revolucionrio ganhou as ruas da capital e do interior de So Paulo. A revoluo teve apoio de diversos setores da sociedade paulista. Pegaram em armas intelectuais, industriais, estudantes e outros segmentos das camadas mdias, polticos ligados Repblica Velha ou ao Partido Democrtico. A luta armada dos constitucionalistas ficou restrita ao estado de So Paulo. Isolados, os paulistas no tiveram condies de manter por muito tempo a revoluo. Em outubro de 1932 assinaram a rendio.

O Cdigo Eleitoral foi de 1932 e um novo

publicado em fevereiro

interventor foi nomeado para So Paulo, o civil e

paulista Pedro de Toledo.

v

22

Especializao em Gesto em Sade

Unidade 1 Da Repblica Velha at o fim do regime militar

Aps esta revolta dos paulistas contra o governo Vargas que foi redigida a Constituio de 1934, que manteve Vargas no poder at 1938, quando ento foram realizadas novas eleies.

Em 1937, Getlio institui o Estado-Novo; fechou o Congresso; dissolveu os partidos polticos; e passou a governar de modo ditatorial at o final da Segunda Guerra Mundial, em 1945.

Retirado do poder por um golpe militar, que convocou uma Assemblia Constituinte e promoveu eleies gerais em 1946, Getlio volta como candidato em 1950, e se elege presidente da Repblica. Este segundo perodo de Vargas foi de 1950 a 1954, quando dramaticamente ele se suicidou, com um tiro no corao, dentro do palcio do governo, no dia 24 de agosto, aps se ver confrontado com a eminncia da renncia ou deposio na reunio ministerial realizada na madrugada de 23 para 24 de agosto. Vargas deixou escrita uma carta-testamento, em que acusava os inimigos da nao como os responsveis por seu suicdio.

Saiba mais

Suicdio de Vargas Foi o atentado realizado contra Carlos Lacerda no incio de agosto de 1954, no qual foi morto o major-aviador Rubem Florentino Vaz, que desencadeou a crise final do governo Vargas, pelo da envolvimento

sua guarda pessoal no episdio. Para a investigao do atentado, foi instaurado um inqurito policial-militar, pelo Ministrio da

Aeronutica. Fonte: . Acesso em: 18 jul. 2009. econmico, social e cultural, promovidas por Getlio Vargas esto bem resumidas no texto do Centro de Pesquisa e Documentao de Histria Contempornea do Brasil (CPDOC), da Fundao Getlio Vargas.

No plano poltico, a Revoluo de 1930 produziu um movimento de centralizao que transferiu o poder dos estados da federao para o governo central, o qual passou a

Mdulo Bsico

23

Desenvolvimento e mudanas no estado brasileiro

assumir papel crescente na sociedade e na economia. No plano econmico, teve lugar um intenso movimento de industrializao e urbanizao que, nos anos 50, se fez acompanhar de polticas deliberadas de desenvolvimento. O processo de modernizao envolveu um Estado capaz de agir sobre setores da economia e a criao de diferentes rgos para a implementao das novas polticas. No plano social, foi criado o Ministrio da Justia, assim como a Justia do Trabalho, para atuar nas relaes entre o capital e o trabalho. A ao do Estado, regulando as atividades profissionais e a estrutura sindical com o imposto nico, permaneceu como legado da Era Vargas. No plano cultural, o governo criou instituies que atuaram nos campos da educao formal, do teatro, da msica, do livro, do rdio, do cinema, do patrimnio cultural, da imprensa. Abriu espao para a crescente participao dos intelectuais no projeto de construo de uma identidade nacional. Pretendeu modernizar, resgatando as tradies nacionais atravs da ao do Estado no campo da cultura Disponvel em: . Acesso em: 15 jul. 2009.

A

ORGANIZAO DO

ESTADO

Saiba mais Maximillian Carl Emil Weber (1864 - 1920)Socilogo, historiador e poltico alemo que, junto com Karl Marx e mile Durkheim, foi considerado um dos fundadores da sociologia e dos estudos comparados sobre cultura e religio. Para Weber, o ncleo da anlise social consistia na interdependncia entre religio, economia e sociedade. Fonte: . Acesso em: 15 jul. 2009.

Getlio Vargas organizou o aparelho do Estado seguindo o modelo burocrtico weberiano. Neste modelo de departamentalizao, proposto por Max Weber, a estrutura administrativa era ocupada por funcionrios recrutados via concurso pblico e promovidos meritocraticamente. Esta foi uma das marcas da profissionalizao da administrao pblica sendo adotada pela maioria dos pases desenvolvidos.

24 24

Especializao em Gesto em Sade

Unidade 1 Da Repblica Velha at o fim do regime militar

E no Brasil, voc sabe quando e como foi implantado o modelo burocrtico?

No Brasil, o incio do modelo burocrtico ocorreu durante o primeiro perodo do governo Vargas, por meio de uma linha autoritria-modernizadora. O vcuo, deixado pela poltica liberaldemocrtica excludente da Velha Repblica, foi preenchido pela poltica centralizadora, porm modernizante e includente de Getlio Vargas, que criou o Ministrio do Trabalho, Indstria e Comrcio e o Ministrio da Educao e Sade em 1930, a Universidade do Brasil e o Servio do Patrimnio Histrico Nacional em 1937, alm do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica em 1938. Para organizar a seleo e treinamento do funcionalismo pblico, foi criado, em 1938, o Departamento Administrativo do Servio Pblico (DASP), que implantou o Estatuto dos Funcionrios Pblicos Civis da Unio, algo at ento inexistente no pas. Outro aspecto que sofreu vrios avanos no governo de Vargas diz respeito s polticas trabalhistas. Conhea a seguir alguns desses aspectos: aprovao, em 1931, da Lei de Sindicalizao, que estabeleceu a unicidade sindical (apenas um sindicato por categoria e por base territorial); implantao, em 1932, da jornada de trabalho de 8 horas (concedida aos comercirios e aos industririos), das frias remuneradas (concedidas aos bancrios e industririos) e da carteira de trabalho, que deu acesso aos direitos trabalhistas e previdencirios; criao, em 1933, dos Institutos de Aposentadoria e Penses, precursores do INSS; fundao, em 1939, da Justia do Trabalho; e instituio, em 1940, do Salrio Mnimo.

Mdulo Bsico

25

Desenvolvimento e mudanas no estado brasileiro

Para organizar o processo eleitoral, em 1932, foi aprovado o Cdigo Eleitoral, que estendeu o direito de voto s mulheres, implantou o sistema de voto secreto, alm de criar a Justia Eleitoral. J na rea econmica, o governo Vargas deu forte impulso industrializao do pas, principalmente no setor de base. Em 1941, foi criada a Companhia Siderrgica Nacional e em 1942, a Companhia Vale do Rio Doce. No segundo governo Vargas, foram criados ainda o Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico (BNDE) em 1952 e a Petrobrs em 1953.

Durante o perodo de 1931 a 1954, que abrangeu dois governos: Vargas e o governo Dutra, a inflao anual mdia do pas foi de 9,17 % e o crescimento anual mdio do PIB foi de 5,31 %. Nmeros importantes, tendo em vista que a maioria dos pases do mundo sofreu forte impacto da quebra da Bolsa de Nova Iorque, em 1929, e da Segunda Guerra Mundial, que durou de 1939 a 1945.

Como voc pode observar foi nos governos Vargas que surgiram as bases para a modernizao econmica, poltica e administrativa do pas. Mais importante, porm, do que essas realizaes, afirmam Srgio Besserman Vianna e Andr Villela, foi a incorporao, pela primeira vez na histria brasileira, do povo (classe trabalhadora) como agente poltico relevante. Esse fato ao mesmo tempo indito e auspicioso imprimiu nova dinmica ao processo poltico do ps-guerra, permitindo importantes avanos na construo da democracia no pas. Assim podemos afirmar que, independente das virtudes e defeitos pessoais e da ao poltica desenvolvida por Getlio Vargas, sua passagem pelo comando do setor pblico brasileiro estabeleceu um verdadeiro divisor de tempo. O Brasil foi um antes de Vargas e passou a ser outro depois de Vargas.

26

Especializao em Gesto em Sade

Unidade 1 Da Repblica Velha at o fim do regime militar

Neste sentido, veja a seguir as principais marcas da Era Vargas. Organizao do Estado com a criao do Ministrio do Trabalho e da Educao, do IBGE e da Universidade do Brasil; Aprovao da Lei de Sindicalizao; Implantao da jornada de trabalho de 8 horas; Criao das frias remuneradas; Implantao da carteira de trabalho; Construo dos Institutos de Aposentadoria e Penses; Criao da Justia do Trabalho; Instituio do Salrio Mnimo; Aprovao do Cdigo Eleitoral, do voto feminino e do voto secreto; Criao da Justia Eleitoral; Fundao da Companhia Siderrgica Nacional; Criao da Companhia Vale do Rio Doce; Concepo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico (BNDE); e Criao da Petrobrs em 1953.

Mdulo Bsico

27

Desenvolvimento e mudanas no estado brasileiro

O ESTADO DESENVOLVIMENTISTA DE JUSCELINO KUBITSCHEKEm plena vigncia da democracia, resultado da Constituio de 1946, Juscelino Kubitschek (JK) foi eleito Presidente da Repblica no final de 1955 e tomou posse em 31 de janeiro de 1956. O novo presidente criou uma agenda progressista baseada num programa de obras pblicas, denominada de Plano de Metas.

Saiba mais

Juscelino Kubitschek de Oliveira (1902-1976) Nascido em Minas Gerais, foi eleito deputado federal e realizou obras de remodelao da capital. Posteriormente foi governador em Minas Gerais. Venceu a eleio para presidente da Repblica na coligao PSD-

PTB com o famoso slogan Cinquenta anos em cinco. Um de seus principais feitos foi a construo de Braslia e a instituio do Distrito Federal. Seu governo foi marcado por mudanas sociais e culturais. Fonte: . Acesso em: 20 jul. 2009.

Durante o governo de JK o PIB brasileiro cresceu 47,5%, o que correspondia a uma mdia anual de 8,08%. Contudo, este bom desempenho da economia foi acompanhado de um forte crescimento da inflao e de um descontrole das contas pblicas. Diante deste cenrio, no final do governo, a inflao anual ultrapassou a 30% e o dficit pblico superou 25% das receitas. Alm do crescimento econmico, o governo de JK promoveu uma forte mudana na estrutura produtiva do pas. No incio do governo JK, o setor agropecurio era responsvel por 23,5% do PIB e o setor industrial por 25,6% do PIB. Ao fim do governo, a participao do setor industrial no PIB tinha subido para 32,2% e a do setor agropecurio havia recuado para 17,8%. Esses nmeros mostravam que o Brasil passou por um forte processo de industrializao, durante os cinco anos de governo JK.

28

Especializao em Gesto em Sade

Unidade 1 Da Repblica Velha at o fim do regime militar

O modelo que deu sustentao ao crescimento do setor industrial foi aquele proposto pelos membros da Escola Cepalina, qual seja: industrializao via substituio de importaes, com financiamento externo e forte presena do setor pblico. No Brasil, o rgo que melhor incorporou o pensamento da Escola Cepalina foi o Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), criado em julho de 1955. A proposta nacionaldesenvolvimentista, defendida pelo ISEB, foi amplamente utilizada nos discursos de JK. Uma das propostas do ISEB, incorporada pelo governo, foi a criao da Superintendncia do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) em dezembro de 1959.

Saiba mais

Cepal

Comisso Econmica para a Amrica Latina e o Caribe, organizao que reuniu grandes nomes do pensamento desenvolvimentista latino-americano, pensamento no qual postulava que a industrializao deveria ser o principal caminho para superao do subdesenvolvimento dos pases da Amrica Latina. Fonte: . Acesso em: 15 jul. 2009. Sudene uma autarquia especial, administrativa e financeiramente autnoma, integrante do Sistema de Planejamento e de Oramento Federal, criada pela Lei Complementar n 125, de 03/01/ 2007, com sede na cidade de Recife, Estado de Pernambuco, e vinculada ao Ministrio da Integrao Nacional.

O PLANO DE METAS

Fonte: . Acesso em: 15 jul. 2009.

Como vimos acima, o lema do governo JK era 50 anos de progresso em 5 anos de realizaes. Para pr em prtica este lema, o governo implantou o Plano de Metas, que consistia num conjunto de 30 objetivos, abrangendo os setores de energia, transporte, indstria de base, alimentao e educao. A construo de Braslia tornou-se um objetivo parte, por deciso pessoal do presidente da Repblica. A maior contribuio do Plano de Metas foi na rea do planejamento. Com um cronograma rigoroso e um acompanhamento sistemtico, a maioria das aes propostas pelo Plano foi realizada com bastante sucesso.

Mdulo Bsico

29

Desenvolvimento e mudanas no estado brasileiro

O Conselho tinha autonomia de deciso suficiente para viabilizar a execuo dos projetos, que contava com grupos executivos independentes para realizar os contatos com o setor privado. O mais conhecido desses grupos foi o Grupo Executivo da Indstria Automobilstica (GEIA).

Mas, ser que o Plano de metas foi s sucesso? O que voc sabe a respeito deste Plano?

No que diz respeito ao planejamento executivo do Plano de Metas alcanamos o sucesso. Contudo no que se refere ao seu financiamento tivemos grandes problemas com o oramento da Unio, j que o financiamento dos projetos fora previsto para ser custeado em: 50% pelo oramento da Unio, 35% pela iniciativa privada e 15% por meio de agncias de crdito governamentais. No entanto, a participao financeira da iniciativa privada foi pequena, deixando para o Estado a responsabilidade pela grande maioria dos recursos despendidos. O desconserto financeiro do setor pblico, durante o governo de JK, acabou sendo um dos principais responsveis pela crise econmica que o pas viveu durante os governos de Jnio e Joo Goulart, que culminou com o golpe militar de 1964.

30

Especializao em Gesto em Sade

Unidade 1 Da Repblica Velha at o fim do regime militar

O REGIME MILITAR E AS REFORMAS DE ESTADOSaiba maisJnio da Silva Quadros (1917-1992) Foi vereador, deputado estadual,

A instabilidade poltica, com a renncia de Jnio Quadros em agosto de 1961 e a posse de Joo Goulart, somada aos altos ndices de inflao e estagnao do crescimento econmico, compuseram o caldo de cultura que alimentou o Golpe de Estado de 1964. Este golpe, j vinha sendo tentado desde o segundo governo de Getlio Vargas. O suicdio de Vargas, o crescimento econmico no perodo Juscelino Kubitschek, a eleio de Jnio Quadros, com apoio da Unio Democrtica Nacional (UDN) (partido de centro-direita), a opo parlamentarista no incio do governo Joo Goulart e a ampla vitria do presidencialismo no plebiscito de 63, de certa forma, acabaram adiando o golpe militar. Durante os dois primeiros anos do perodo Jnio/Jango, ainda sob os efeitos do Plano de Metas de JK, o crescimento do PIB foi bastante significativo: 8,6% em 1961 e 6,6% em 1962. No entanto, em 1963, a estagnao econmica aparece,

prefeito de So Paulo e governador. Em sua primeira disputa pela prefeitura paulista, conquistou grande popularidade ao usar uma vassoura como smbolo da limpeza que prometia fazer nos rgos pblicos. Tomou posse em janeiro de 1961, mas renunciou sete meses depois, alegando sofrer presso de foras terrveis. Em 1964, teve seus direitos polticos cassados pelo Regime Militar. Fonte: . Acesso em: 20 jul. 2009. Joo Goulart Foi deputado estadual, federal e licenciou-se do mandato para assumir a Secretaria do Interior e Justia do Rio Grande do Sul. Foi Ministro do Trabalho, Indstria e Comrcio do governo de Getlio Vargas. Participou do governo de JK como vice-presidente e ocupou a presidncia do Senado. Tornou-se presidente aps a renncia de Jnio Quadros. Acusado de comunista , foi deposto pelo golpe militar de 1964. Fonte: . Acesso em: 20 jul. 2009.

Mdulo Bsico

31

Desenvolvimento e mudanas no estado brasileiro

com um crescimento do PIB de apenas 0,6%, algo indito na histria do pas at ento. Quanto inflao, a situao foi ainda mais negativa. Em 1961 o ndice geral de preos registrou aumento de 34,7%, em 1962 subiu para 50,1% e em 1963 chegou a 78,4%.

GOVERNO CASTELLO BRANCOSaiba mais Castello Branco (1897-1967)Foi o primeiro presidente do regime militar. Durante seu mandato foram abolidos todos os partidos polticos da poca e criados a Arena e o MDB, que se tornaram os nicos partidos polticos brasileiros at 1979. Castelo Branco e seus aliados tinham como plano colocar ordem na casa e, depois de pouco tempo, restabelecer a democracia. Fonte: . Acesso em: 15 jul. 2009.

O primeiro presidente do regime militar foi o marechal Humberto de Alencar Castello Branco, que ficou no poder de 15 de abril de 1964 a 15 de maro de 1967. A prioridade do governo Castello Branco foi o ajuste das contas pblicas e o controle da inflao, que chegava a 80% ao ano. A equipe econmica do governo foi liderada pelos ministros da fazenda Octvio Gouveia de Bulhes e pelo ministro do planejamento Roberto Campos, que realizaram profundas reformas na rea fiscal e financeira e criaram o Plano de Ao Econmica do Governo (PAEG).

O diagnstico da inflao feito pelos ministros da rea econmica tinha clara orientao monetarista.

Voc sabe do que se trata essa teoria monetarista?

Essa uma teoria econmica que defende ser possvel manter a estabilidade de uma economia atravs da utilizao de instrumentos monetrios, como quantidade de moeda em circulao, taxa de juros, compra e venda de ttulos pblicos e

32

Especializao em Gesto em Sade

Unidade 1 Da Repblica Velha at o fim do regime militar

depsitos compulsrios. Os principais defensores do monetarismo so os economistas da Escola de Chicago, liderados por Milton Friedman. Suas idias so associadas ao liberalismo econmico com adoo do livre mercado e menor presena possvel do setor pblico na economia. O excesso de dficit pblico e os reajustes salariais concedidos pelo governo anterior eram identificados como as principais causas do aumento dos preos. Para combater a inflao, o PAEG props um programa de ajuste fiscal rigoroso, com aumento das receitas e reduo das despesas pblicas e um controle rgido de emisso de moeda. Para conter a expanso dos salrios, o plano recomendou reajustes vinculados ao aumento da produtividade. Quanto s reformas estruturais, o governo realizou profundas mudanas nos sistemas tributrio, financeiro, trabalhista e previdencirio do pas. Conhea a seguir as principais medidas: criao do Fundo de Garantia por Tempo de Servio FGTS , que substituiu o modelo de estabilidade no emprego, vigente at ento. Alm de flexibilizar o mercado de trabalho, o FGTS acabou se tornando uma importante fonte de recursos para o financiamento habitacional; unificao do sistema de Previdncia, sob um regime geral, administrado pelo governo federal; criao do Imposto sobre Servio ISS arrecadado pela esfera municipal, do Imposto sobre Circulao de Mercadoria ICM pela esfera estadual e do Imposto sob Produtos Industrializados IPI pela esfera federal; permisso do pagamento dos tributos por meio da rede bancria, o que facilitou a operao para os contribuintes e ajudou bastante na fiscalizao do pagamento e na ampliao da base tributria; e criao do Fundo de Participao de Estados e Municpios, para garantir a distribuio, aos estados

Mdulo Bsico

33

Desenvolvimento e mudanas no estado brasileiro

e municpios, de parte dos tributos arrecadados pela Unio. Todas essas medidas contriburam para um aumento expressivo da arrecadao tributria no pas, que passou de 16% do PIB em 1963 para 21% em 1967. A reforma do sistema financeiro foi baseada na legislao norte-americana, que criou o sistema de instituies especializadas, ou seja, um tipo de instituio para cada tipo de atividade financeira. Como frutos desta reforma tivemos: os bancos comerciais; os bancos de investimentos; o sistema financeiro da habitao; as sociedades de crdito, financiamento e investimento; as corretoras e distribuidoras de valores; o Conselho Monetrio Nacional, rgo mximo do Sistema Financeiro Nacional; e o Banco Central do Brasil, com a funo de executar a poltica monetria e supervisionar o sistema financeiro nacional, substituindo a antiga Superintendncia da Moeda e do Crdito (SUMOC). Para incentivar a poupana, principal fonte de recursos para os investimentos produtivos, e garantir a arrecadao fiscal, o governo criou a Obrigaes Reajustveis do Tesouro Nacional (ORTN), que garantia ao poupador retornos reais (descontada a inflao) em suas aplicaes financeiras e mantinha atualizados os tributos recolhidos pelo setor pblico. Foi implantado tambm o Sistema Financeiro de Habitao (SFH) que tinha, como principal agente, o Banco Nacional da Habitao (BNH). Alm do BNH, compunham o SFH as Caixas Econmicas, as Sociedades de Crdito Imobilirio e as Associaes de Poupana e Emprstimo.

A principal fonte de recursos do BNH era a receita proveniente, a fundo perdido, de 1% da folha de pagamento dos funcionrios com carteira assinada. O governo tambm

incentivou a captao de recursos externos pelo setor privado.

34

v

Especializao em Gesto em Sade

Unidade 1 Da Repblica Velha at o fim do regime militar

Para incentivar e disciplinar o mercado de capitais foi sancionada, em julho de 1965, a Lei do Mercado de Capitais, que definiu as funes do Conselho Monetrio Nacional e do Banco Central na regulao e fiscalizao deste mercado. Na rea agrria foi aprovado, em novembro de 1964, o Estatuto da Terra, que tinha como base a funo social da propriedade, disciplinava os direitos e obrigaes relativas propriedade rural para fins de reforma agrria e de execuo da poltica de produo agrcola. Durante o governo Castello Branco, o PIB cresceu a uma mdia anual de 4,2% e a inflao, no final do mandato, ficou em torno de 40%. Embora os resultados do PIB e da inflao tenham sido piores do que os Saiba mais Artur da Costa e Silva (1899-1969) perodos de Vargas e de JK, as reformas Foi o segundo presidente do Reestruturais, realizadas pela equipe gime Militar. No seu governo teve econmica do governo, permitiram ajustar incio o perodo mais duro da Dias contas pblicas, controlar o processo tadura Militar, com a promulgao inflacionrio, organizar o sistema do Ato Institucional n 5, que fefinanceiro, atrair poupana interna e chou o Congresso Nacional, casexterna, condies necessrias para a sou polticos e institucionalizou a represso. expanso da economia nos governos de Fonte: . Acesso em: Costa e Silva e Mdici, perodo conhecido 15 jul. 2009. como Milagre Econmico Brasileiro.

OS GOVERNOS COSTA E SILVA E MDICIO perodo de grande crescimento da economia brasileira, tambm chamado de Milagre Econmico Brasileiro, comeou no governo Arthur da Costa e Silva, que vai de 15 de maro de 1967 a 31 de agosto de 1969, quando, devido a problemas de sade, deixa a presidncia nas mos de um colgio formado por trs membros: General Aurlio Lyra Tavares, Almirante Augusto Hermann Rademaker e Brigadeiro Mrcio de Souza e Mello, comandantes

Mdulo Bsico

35

Desenvolvimento e mudanas no estado brasileiro

Saiba mais

Emlio Garrastazu Mdici

Nasceu no Rio Grande do Sul. Estudou no Colgio Militar e seguiu carreira no Exrcito. Apoiou a Revoluo de 30 e foi contrrio posse de Joo Goulart em 1961. Em 1967 sucedeu a Golbery do Couto e Silva na chefia do SNI. Em 1969, o comando do 3 Exrcito, no Rio Grande do Sul. Em 1969 foi presidente da Repblica. No seu governo houve o conhecido milagre brasileiro. No final de seu governo j se fazia sentir a falncia do milagre econmico, a partir de 1973, com a crise internacional do petrleo. Fonte: . Acesso em: 16 jul. 2009.` Antnio Delfim Netto Professor emrito da Faculdade de Economia e Administrao da USP. Participou do Grupo de Planejamento do governador de So Paulo Carvalho Pinto e do Conselho do Fundo de Expanso da Indstria de Base de So Paulo. Foi secretrio de Fazenda em So Paulo, no governo Laudo Natel, Ministro da Fazenda nos governos Costa e Silva e Mdici e Ministro da Agricultura e do Planejamento no governo Figueiredo, alm de embaixador do Brasil na Frana. Fonte: . Acesso em: 20 jul. 2009.

das Foras Armadas. Esta Junta Militar transfere o poder para o General Emlio Garrastazu Mdici que governou de 30 de outubro de 1969 at 15 de maro de 1974. Durante estes sete anos, do incio do governo Costa e Silva ao final do governo Mdici, o PIB do pas cresceu 96,37%, o que equivale a uma mdia anual de 10,12%. A inflao, medida pelo ndice geral de preos IGP , foi de 257% ou mdia anual de 19,93%. Embora a inflao no possa ser considerada pequena, a maioria dos economistas a considerou satisfatria, diante do grande crescimento da economia. No mesmo perodo, o PIB mundial cresceu 37,35%, equivalente a 4,64% ao ano. O PIB do Brasil cresceu, portanto, velocidade 2,18 maior do que o PIB mundial. Estes resultados justificam a alcunha de milagre dada pelos analistas econmicos. Por ironia da histria, o perodo de maior crescimento da economia brasileira ocorreu em meio ao endurecimento do regime militar em relao s liberdades polticas e de manifestao. Durante os governos Costa e Silva e Mdici, foi realizada a maioria das prises, torturas e assassinatos de opositores do regime militar. Se no campo econmico a situao era boa, no campo poltico o pas passava por um perodo que deixa tristes lembranas. O crescimento econmico, embora tenha melhorado a vida das pessoas, contribuiu para o aumento da concentrao de renda, que ainda hoje um dos principais problemas do pas.

No governo Costa e Silva, a equipe econmica foi liderada pelo jovem professor da USP Antonio Delfim Netto, que implantou o Plano Estratgico de ,

36

Especializao em Gesto em Sade

Unidade 1 Da Repblica Velha at o fim do regime militar

Desenvolvimento (PED). O PED dava prioridade estabilizao da inflao e ao incentivo ao crescimento do PIB. Para impulsionar as exportaes foram adotadas diversas minidesvalorizaes da moeda nacional. No campo administrativo, um importante passo foi dado. Ainda no final do governo Castello Branco, mas j sob influncia do grupo militar que assumiria o poder nos governos Costa e Silva e Mdici, foi criada, por meio do decreto-lei n 200/67, a administrao indireta, com autarquias, empresas pblicas, empresas de economia mista e fundaes. Essas novas instituies tinham maior autonomia em relao administrao direta, presa a amarras burocrticas tpicas da administrao pblica. Atravs das estatais, foi possvel contratar profissionais de destaque no setor privado e agilizar os procedimentos administrativos e financeiros, condio necessria para atender s necessidades impostas pela velocidade do crescimento econmico. Nesta poca surgiram a Embraer, a Telebrs, a Embrapa e a Embratel, dentre outras estatais, e tambm foi executado o Plano de Integrao Nacional, que levou construo das rodovias Santarm-Cuiab e Perimetral Norte, da Ferrovia do Ao e da ponte Rio-Niteri. O Plano de Integrao Nacional fazia parte do primeiro Plano Nacional de Desenvolvimento, o I PND, que tinha como marca registrada, alm dos grandes projetos de integrao nacional, a expanso das fronteiras do desenvolvimento. No campo social, foi criado o Plano de Integrao Social (PIS) e o Programa de Assistncia Rural (PRORURAL), que previa benefcios de aposentadoria e o aumento dos servios de sade aos trabalhadores rurais. Tambm foi feita uma grande campanha de alfabetizao de adultos, por meio do Movimento Brasileiro de Alfabetizao (MOBRAL), e foi promovida a ampliao das unidades federais de ensino superior. Assim como durante o governo Juscelino Kubitschek, o modelo econmico implantado no perodo foi de vis desenvolvimentista, baseado na substituio de importaes, com financiamento internacional, liderado pela ao do Estado. O acesso a recursos externos foi facilitado pela alta liquidez e pelas baixas

Mdulo Bsico

37

Desenvolvimento e mudanas no estado brasileiro

taxas de juros do mercado internacional. Durante o perodo, a dvida externa brasileira passou de US$ 3,4 bilhes para US$ 14,9 bilhes, um crescimento de mais de 300%. Mais adiante, veremos que a opo de aumento do endividamento externo, que na poca era muito vantajosa, dadas as condies do mercado financeiro internacional e o retorno obtido com os investimentos realizados, tornou-se um pesadelo para a economia brasileira. O aumento dos juros internacionais e a forte dependncia da importao de petrleo, que disparou de preo aps as crises de 1973 e 1979, levaram o Brasil a uma situao de insolvncia em relao aos seus compromissos financeiros externos. Como j dissemos, o perodo do milagre econmico teve como base as reformas e ajustes executados durante o governo Castello Branco, alm de uma poltica monetria e fiscal expansiva o perodo de 1968 a 1973, de certa forma, beneficiou-se das dificuldades da fase anterior. A percepo da ineficcia da poltica econmica em curso, no sentido de promover a retomada do crescimento, levou o governo Costa e Silva a afrouxar a poltica monetria a partir de 1967 e a lanar o PED em meados de 1968. O PED foi um plano nitidamente mais desenvolvimentista do que o PAEG, prevendo a continuidade do combate inflao, mas acompanhado de investimentos privados. claro, porm, que o fato de a inflao j ter sido significativamente reduzida nos anos anteriores facilitou a adoo de um plano dessa natureza em 1968, bem como a manuteno dessa linha de ao no governo Mdici (HERMANN et al. 2005).

38

Especializao em Gesto em Sade

Unidade 1 Da Repblica Velha at o fim do regime militar

O GOVERNO GEISELAps a primeira crise do petrleo, que Saiba mais Ernesto Geisel (1907-1996) elevou o preo do produto de cerca de US$ 2 para o patamar de US$ 12, assume a Em 1969 assumiu a direPresidncia da Repblica o general Ernesto o da Petrobrs e, cinco Geisel, que governou de maro de 1974 a maro anos depois, a Presidnde 1979. Representante da linha mais cia da Repblica. Em seu governo enfrentou o fim do chamado progressista das Foras Armadas, Geisel tratou milagre econmico. Em 1977 decretou o de dar continuidade ao programa de Pacote de Abril, que aumentou o mandesenvolvimento econmico dos governos dato presidencial de cinco para seis anteriores, porm com aceno para o processo anos, alm de manter eleies indirede distenso no campo poltico. Mesmo em meio tas para governador. Termina seu mana uma profunda crise econmica internacional, dato enviando ao Congresso a emenda o novo governo no reduziu o volume de constitucional que acaba com o Ato investimentos e gastos pblicos. O processo, Institucional N 5. Fonte: . Acesso em: 20 jul. 2009. grandes avanos para a economia brasileira, porm, com custos que levaram ao desequilbrio das contas pblicas e disparada da dvida externa. A primeira crise do petrleo ocorreu em 1973 em protesto pelo apoio prestado pelos Estados Unidos a Israel durante a Guerra do Yom Kippur. Na ocasio os pases rabes organizados na Organizao dos Pases Exportadores de Petrleo aumentaram o preo do produto em mais de 300%. No governo Geisel, o pas cresceu 38,29%, equivalente a uma mdia de 6,7% ao ano. A inflao acumulada nos cinco anos foi de 398%, uma mdia de 38% ao ano. A dvida externa bruta passou de US$ 14,9 bilhes, no incio do governo, para US$ 52,2 bilhes no final. Um crescimento de 250%.

Mdulo Bsico

39

Desenvolvimento e mudanas no estado brasileiro

Brasil sob crescimento forado nome dado pelo economista Antonio Barros de Castro poltica econmica do governo Geisel, que ao invs de desacelerar o crescimento econmico como consequncia da Crise do Petrleo, continuou mantendo um ritmo acelerado de investimentos. Isso acabou deteriorando bastante as contas pblicas brasileiras.

O comando da equipe econmica foi dado ao engenheiro e professor de economia, Mario Henrique Simonsen, que assumiu o Ministrio da Fazenda, e a Joo Paulo dos Reis Velloso, que continuou frente do Ministrio do Planejamento. Como instrumento de planejamento, foi implantado o Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND), que deu nfase ao investimento em indstria de base e busca de autonomia na produo de insumos industriais. J na rea energtica foram iniciados: a prospeco de petrleo em guas martimas profundas; o Programa Nuclear; o Pr-lcool; e a construo de hidroeltricas, como Itaipu e Tucuru. Assim, podemos afirmar que a expanso do setor siderrgico, do setor petroqumico e do setor de bens de capitais tambm fizeram parte das prioridades do II PND. No governo Geisel, a potncia instalada de energia eltrica cresceu 65%, a produo de petrleo 44%, a capacidade das refinarias 73%, a produo de ao 70%, de alumnio 78%, de produtos petroqumicos 117%, de fertilizantes 395% e de celulose 83%. O Pr-lcool foi implementado, por meio de decreto, em 14 de novembro de 1975, com o objetivo de desenvolver uma fonte de

40

Especializao em Gesto em Sade

Unidade 1 Da Repblica Velha at o fim do regime militar

energia alternativa. O projeto contou com a colaborao de pesquisadores ligados ao setor universitrio e ao governo federal. A Usina Nuclear de Angra dos Reis foi construda aps a assinatura do acordo com a Alemanha, para o fornecimento de 10 reatores nucleares, em 1976. Embora tenha gerado muita polmica, em relao ao seu custo, ao tipo de tecnologia implantada e ao verdadeiro destino dos investimentos realizados, o programa nuclear brasileiro acabou contribuindo para o complemento da matriz energtica nacional. J o temor de que a tecnologia nuclear fosse utilizada para fins militares, preocupao manifestada pelas autoridades dos Estados Unidos e de vrios pases latinoamericanos, no procedia, uma vez que para tal objetivo era necessrio ainda percor rer um longo caminho, situao praticamente impossvel, dadas as condies financeiras e tecnolgicas do pas naquela poca. A Companhia Siderrgica de Tubaro foi fundada em junho de 1976 e representou importante complemento para a produo da CSN. Na poca, o Brasil comeou a implantar um importante parque siderrgico que, mais tarde, se transformaria em significativa fonte de exportao e de suprimento para o mercado interno. Na rea petroqumica, em 1972, foi inaugurada a Refinaria do Planalto (Replan), em Paulnia, regio de Campinas. A Replan, maior refinaria brasileira, tinha importncia estratgica, uma vez que servia para abastecer o maior mercado consumidor do pas, o estado de So Paulo. A hidroeltrica de Tucuru teve sua construo iniciada em 1976. Embora tambm envolta em polmica, principalmente em relao aos impactos ambientais, Tucuru serviu para suprir de energia as regies Norte e Nordeste, que tinham dficit de fornecimento energtico para alimentar seus processos de crescimento. A Hidreltrica de Itaipu, maior usina hidreltrica do mundo em gerao de energia, comeou a ser construda em janeiro de 1975.

v

De fato, os custos de implantao do programa foram

bastante elevados e a

tecnologia escolhida era tida como obsoleta pela maioria dos especialistas da rea.

Mdulo Bsico

41

Desenvolvimento e mudanas no estado brasileiro

A usina hidreltrica de Trs Gargantas, na China, a maior em capacidade instalada, mas o regime hdrico do Rio Yangtz no permite seu pleno aproveitamento durante o ano todo.

No perodo Geisel foi promovido substancial aumento do oramento do BNDE, via incorporao dos fundos do PIS/PASEP . O enfoque dado s empresas nacionais fez com que a poltica de financiamento oferecida a estas empresas, pelos agentes pblicos, garantisse o refinanciamento da parcela correspondente correo monetria dos emprstimos que excedesse a 20% de juros ao ano. Tambm foi praticada a poltica de lucro zero para as agncias de financiamento estatais, a fim de reduzir a taxa de juros praticada. Foi implantado tambm um programa de incentivo nacionalizao das indstrias de base, com incentivo fiscal, reduo de juros e acesso a crdito, condicionados ao grau de nacionalizao das indstrias. Como meio de promover o desenvolvimento do setor privado foi feita a reformulao da Lei das Sociedades Annimas, em 15/12/1976, e a criao da Comisso de Valores Mobilirios, em 7/12/1976. Conforme afirma Souza e Castro (1985), o II PND, elaborado sob a orientao de Joo Paulo dos Reis Velloso, ministro do Planejamento, foi a mais ampla e articulada experincia brasileira de planejamento aps o Plano de Metas. Partindo da avaliao de que a crise e os transtornos da economia mundial eram passageiros e de que as condies de financiamento eram favorveis, o II PND propunha uma fuga para frente, assumindo os riscos de aumentar provisoriamente os dficits comerciais e a dvida externa, mas construindo uma estrutura industrial avanada que permitiria superar conjuntamente a crise e o subdesenvolvimento. Em vez de ajuste macroeconmico recessivo, conforme aconselharia a sabedoria econmica convencional, o II PND propunha uma transformao estrutural. [...] Geisel, ao promover sistemtica e obsessivamente as indstrias pesadas, conseguiu que o Brasil

42

Especializao em Gesto em Sade

Unidade 1 Da Repblica Velha at o fim do regime militar

completasse a fase difcil da industrializao, em que as escalas de produo so enormes e a densidade tecnolgica elevada. Os resultados das medidas governamentais de incentivo indstria, durante o governo Geisel, aparecem claramente nos indicadores de crescimento setorial. Durante o perodo 74-79, o PIB industrial cresceu 45,5%, enquanto o PIB do setor agropecurio cresceu 26,46%. Esta forte expanso do setor industrial foi garantida por uma taxa anual mdia de investimento de 22,4% do PIB, ndice bastante superior quele praticado historicamente no pas. guisa de comparao, o investimento anual mdio do perodo 1947 a 1973 foi de 16,14%.

O

GOVERNO

FIGUEIREDOSaiba maisJoo Baptista de Oliveira Figueiredo (1918-1999)

Em maro de 1979 assume o governo federal Joo Baptista de Oliveira Figueiredo, o quinto e ltimo presidente do regime militar (desconsiderando o rpido interregno de governo da junta militar, entre 31 de agosto e 30 de outubro de 1969).

No perodo do Regime Militar de 1964, foi encarregado de chefiar a seo carioca do SNI (Servio Nacional de Informaes), instrumento de represso poltica da ditadura instalada no pas. Em 1974 chegou a chefe nacional do SNI. Foi eleito presidente da Repblica em 1978. Em seu governo, em 1982, realizaram-se as primeiras eleies diretas para governador de estado desde 1965. Foi sucedido na presidncia por Jos Sarney,

O governo Figueiredo foi vice de Tancredo Neves. Fonte: < http://tinyurl.com/mp5an4> marcado, por um lado, pela Acesso em: 20 jul. 2009. abertura poltica, e por outro, pela crise econmica. Em 28 de agosto de 1979, o Presidente da Repblica assina a lei n 6.683, que concede a anistia a todos que tiveram seus direitos polticos suspensos durante o regime militar. O artigo primeiro desta lei diz: concedida anistia a todos quantos, no perodo compreendido entre 02 de setembro de 1961 e 15 de agosto de

Mdulo Bsico

43

Desenvolvimento e mudanas no estado brasileiro

1979, cometeram crimes polticos ou conexo com estes, crimes eleitorais, aos que tiveram seus direitos polticos suspensos e aos servidores da Administrao Direta e Indireta, de Fundaes vinculadas ao poder pblico, aos Servidores dos Poderes Legislativo e Judicirio, aos Militares e aos dirigentes e representantes sindicais, punidos com fundamento em Atos Institucionais e Complementares.

Ocorreu durante a crise

poltica no Ir, quando os Aiatols depuseram o X Reza Pahlevi. Aps a Revoluo Iraniana,

comeou a Guerra IrIraque, na qual foram mortos mais de um ambos os pases.

milho de soldados de

v

Com a Lei de Anistia, retornam ao pas os principais lderes polticos de oposio ao regime militar, e inicia-se um perodo de reorganizao partidria e de construo dos mecanismos de transio para o Estado de Direito, que somente vem a se concretizar com a promulgao da nova Constituio, em 1988. No campo econmico, a situao se agravou quando, em meados de 1979, explodiu a Revoluo Iraniana, com a deposio do X Reza Pahlevi, aliado do Ocidente, e a assuno ao poder do Aiatol Khomeini, inimigo declarado dos Estados Unidos. A Revoluo no Ir provocou uma disparada nos preos do petrleo, que passou de US$ 12 o barril para cerca de US$ 40 por barril, uma vez que ocorreu uma sbita reduo da produo petrolfera dos dois pases, grandes produtores. A crise deflagrada pelo segundo choque do petrleo atinge em cheio a economia brasileira. O processo de industrializao, ocorrido nas ltimas dcadas, gerou um forte crescimento do consumo de petrleo. Como a produo domstica no conseguiu acompanhar a velocidade do consumo, a importao de petrleo continuou a crescer. O aumento do volume importado, somado ao aumento do preo do produto, fez com que os custos com a importao de leo bruto subissem estratosfericamente. Conforme mostra a Tabela 1, as despesas com importao do produto subiram cerca de setenta e cinco vezes entre 1967 e 1981, e quatro vezes entre 1974 e 1981.

44

Especializao em Gesto em Sade

Unidade 1 Da Repblica Velha at o fim do regime militar

Tabela 1: Custo da importao de petrleo aps as duas crises mundiais

ANO1967 1974 1981

CONSUMO (MIL M)20.688 47.333 60.370

IMPORTAO (MILHES DE BARRIS)77 237 306

PREO (US$/BARRIL)1,80 11,58 34,28

DESPESAS COM IMPORTAO (US$ MILHES )139 2.744 10.490

Fonte: Economia Brasileira Contempornea

No mbito internacional, a escalada do preo do petrleo gerou forte impacto em toda a economia mundial. Como a maioria dos pases desenvolvidos dependia da importao do produto para alimentar sua estrutura produtiva, o aumento dos preos desequilibrou a balana comercial e pressionou a inflao desses pases. Para fazer frente a esses problemas, seus respectivos Bancos Centrais elevaram drasticamente as taxas de juros, encarecendo o crdito e o custo do servio da dvida externa brasileira. A Figura 1, a seguir, mostra o comportamento da taxa de juros do mercado londrino, referncia para emprstimos internacionais, durante a ocorrncia das crises do petrleo de 1973 e 1979.

Figura 1: Taxas de juros Libor (% a.a.) Fonte: Banco Central do Brasil

Mdulo Bsico

45

Desenvolvimento e mudanas no estado brasileiro

O aumento das importaes e o crescimento do custo da dvida externa acabaram levando a economia brasileira a um estado de insolvncia em suas contas externas, com altos dficits no Balano de Pagamentos (registro do fluxo de recursos entre o pas e o exterior), baixo volume de reserva em moeda estrangeira e aumento assustador da dvida externa, como podemos verificar nos grficos seguintes. Somente no perodo entre 1979 e 1983, o dficit em Balano de Pagamentos chegou a mais de US$ 10 bilhes, e as reservas em moedas estrangeiras recuaram de US$ 12 bilhes, no final de 1978, para US$ 4,5 bilhes, no final de 1983. Neste mesmo perodo a dvida externa passou de US$ 52 bilhes para US$ 94 bilhes, um aumento de US$ 42 bilhes ou de 81%. Para entender melhor, observe as Figuras 2, 3 e 4.

Figura 2: Balano de pagamentos (US$ milhes) Fonte: Banco Central do Brasil

46

Especializao em Gesto em Sade

Unidade 1 Da Repblica Velha at o fim do regime militar

Figura 3: Reserva em Moeda Estrangeira (US$ milhes) Fonte: Banco Central do Brasil

Figura 4: Dvida externa bruta (US$ milhes) Fonte: Banco Central do Brasil

Para enfrentar a situao, no havia outra sada seno reduzir fortemente o ritmo de crescimento da economia. Em 1979 e 1980, o crescimento do PIB ainda foi elevado, devido inrcia provocada pela elevada taxa de investimentos do governo anterior. No entanto, entre 1980 e 1983, o pas passa por uma situao de recesso jamais vista at ento. J no ano de 1984, a economia recupera em parte seu ritmo de crescimento e o PIB cresceu 5,5%.

v

O crescimento do PIB foi, e 9,2%. Em 1981, 1982 e 4,3%, 0,8% e -2,9%.

respectivamente, de 6,8% 1983 o resultado foi de -

Mdulo Bsico

47

Desenvolvimento e mudanas no estado brasileiro

Assim, podemos identificar que mdia anual do crescimento do PIB durante o governo Figueiredo foi de 2,21%, a menor j ocorrida num governo durante a histria da Repblica. Quanto inflao, os nmeros foram igualmente decepcionantes. Em 1979, o ndice geral de preos chegou a 54,4%, em 1980 subiu para 90,4%. Em 1981, 1982 e 1983 ultrapassou os trs dgitos, com 100,5%, 101,0% e 131,5%, respectivamente. J em 1984, a inflao anual alcanou 201,7%.*Movimento das direitas maior movimento de massas da histria do Brasil. Comeou no final de 1983 e culminou com a reprovao no Congresso Nacional da Emenda Constitucional proposta pelo deputado Dante de Oliveira que introduzia o sistema de eleio direta para Presidente da Repblica. A Constituio da poca prescrevia o sistema de eleio indireta, via Colgio Eleitoral, onde somente os parlamentares e outros poucos indicados poderiam votar. Fonte: Elaborado pelo autor.

O baixo crescimento do PIB e os elevados ndices de inflao aumentaram ainda mais o clima de insatisfao contra o regime militar. No segundo semestre de 1983, comea a ganhar corpo o maior movimento de massas da histria do pas, o movimento das Diretas*, que tinha como ponto de referncia a proposta de emenda constitucional, que tramitava no Congresso, de iniciativa do deputado de Mato Grosso, Dante de Oliveira. Desgastado e ressentido, o presidente Figueiredo se nega a passar a faixa presidencial a seu sucessor, o vice-presidente eleito Jos Sarney (que substitua o presidente eleito Tancredo Neves, que estava hospitalizado), alegando que o protocolo impedia que um presidente passasse a faixa a um vice-presidente em exerccio. Independente da fora da interpretao protocolar, ficou na memria do povo a imagem de um presidente que deixou o palcio do governo pela porta dos fundos. Este gesto de Figueiredo simbolizou a agonia do regime militar, que perdurou por 21 anos no comando poltico do pas.

48

Especializao em Gesto em Sade

Unidade 1 Da Repblica Velha at o fim do regime militar

A HERANA DO REGIME MILITAREmbora tenha transformado as estruturas produtiva e financeira do pas, com forte investimento em infraestrutura, implantao de um parque industrial diversificado e desenvolvimento de um promissor mercado de capitais, o regime militar deixou um passivo que levou muito tempo para ser equacionado. A elevada dvida externa, somada ao descontrole inflacionrio, comps um quadro de dificuldades que monopolizou as agendas poltica e econmica do pas durante a segunda metade da dcada de 80 e a primeira metade da dcada de 90. Tal situao s comeou a se reverter aps o Plano Real, no governo Itamar Franco.

Mdulo Bsico

49

Desenvolvimento e mudanas no estado brasileiro

ResumindoNesta primeira Unidade voc viu que, entre 1889 a 1985, perodo de 96 anos, foi construdo no Brasil um arcabouo estatal capaz de colocar a economia brasileira entre as 10 maiores do mundo. Neste perodo, passamos pela Repblica Velha, com um modelo liberal-oligrquico, com grande liberdade de organizao em nvel regional e fragilidade na ao do governo central. A economia baseada na exportao de caf conferiu aos estados de So Paulo e Minas Gerais grande importncia poltica, com suas lideranas se revezando no comando poltico do pas. Vimos ainda que aps a Revoluo de 1930 o comando poltico-administrativo do pas foi transferido para o governo federal, que adotou uma poltica de vis centralista e modernizadora. Neste perodo foram elaborados a estrutura trabalhista, o sistema burocrtico da administrao direta e o modelo de investimentos em infraestrutura e desenvolvimento da indstria de base, todos fundamentais para a modernizao da economia e do Estado brasileiro. Estudamos tambm que durante o governo de Juscelino Kubitschek foi implantado o modelo desenvolvimentista, baseado sobretudo nas idias dos economistas Raul Prebisch e Celso Furtado e que neste governo o pas se abriu aos investimentos estrangeiros, com destaque para a indstria automobilstica instalada na regio metropolitana de So Paulo.

50

Especializao em Gesto em Sade

Unidade 1 Da Repblica Velha at o fim do regime militar

Outro tpico estudado foi o regime militar, que durou 21 anos, onde o Brasil vivenciou a reestruturao do sistema financeiro nacional e o ajuste macroeconmico do governo Castello Branco, o Milagre Econmico durante os governos Costa e Silva e Mdici, o chamado Crescimento Forado durante o governo Geisel e a decadncia econmica com estagnao e inflao, consequncias das duas crises do petrleo, durante o governo Figueiredo. Por fim verificamos que mesmo com um legado de ineficincia da administrao burocrtica, desequilbrio das contas pblicas, alta concentrao de renda e debilidade das instituies democrticas, o Brasil avanou bastante neste quase um sculo de Repblica. De um pas predominantemente rural com economia monoexportadora, o pas transformou-se numa economia plural e urbana.

Mdulo Bsico

51

Desenvolvimento e mudanas no estado brasileiro

Atividades de aprendizagemConfira se voc teve bom entendimento do que tratamos nesta Unidade realizando as atividades propostas a seguir. Caso tenha dificuldades, faa uma releitura cuidadosa dos conceitos ainda no entendidos ou, se necessrio, entre em contato com seu tutor.

1) Descreva os modelos poltico e econmico predominantes no perodo da Repblica Velha. 2) Voc sabe dizer quais as principais medidas implantadas durante os dois perodos de presidncia de Getlio Vargas? 3) Voc sabe o que significava o lema do governo JK, 50 anos em 5? Explique as medidas que justificam este lema. 4) Destaque as principais aes do governo Castello Branco na rea da reforma macroeconmica e de estruturao do sistema financeiro nacional. 5) Descreva o perodo denominado Milagre Econmico Brasileiro, mostrando quais foram as principais razes para sua ocorrncia e as consequncias positivas e negativas geradas pelo modelo econmico aplicado neste perodo. 6) O que voc entende em relao ao termo Crescimento Forado, fruto da poltica econmica do governo Geisel? Justifique sua resposta. 7) Quais as principais causas e consequncias da decadncia do regime militar no Brasil, situao ocorrida durante o governo Figueiredo?

52

Especializao em Gesto em Sade

Unidade 1 Da Repblica Velha at o fim do regime militar

UNIDADE 2DA NOVA REPBLICAAT OS DIAS ATUAIS

OBJETIVOS ESPECFICOS DE APRENDIZAGEMAo finalizar esta Unidade voc dever ser capaz de: Identificar as principais mudanas ocorridas no Estado brasileiro, do fim do Regime Militar at os dias atuais no Brasil; Situar a reconquista da democracia no pas; e Tomar conhecimento dos avanos econmicos e administrativos, como o equilbrio monetrio, os avanos no controle das contas pblicas e na universalizao dos programas sociais.

Mdulo Bsico

Desenvolvimento e mudanas no estado brasileiro

54

Especializao em Gesto em Sade

Unidade 2 Da nova Repblica at os dias atuais

INTRODUOVamos nesta segunda Unidade, da disciplina Desenvolvimento e Mudanas no Estado Brasileiro, estudar o perodo que vai desde o incio do processo de democratizao do Brasil, em meados da dcada de 1980, at os dias atuais. Neste perodo foram fortalecidas as bases do moderno Estado de Direito com liberdade de expresso, democracia de massas, incluso social e abertura econmica, condies que, de modo geral, o pas experimenta atualmente. Neste processo, teve grande importncia a promulgao da Constituio de 1988, as eleies diretas para todos os nveis de governo, a modernizao do aparelho de Estado, a expanso das polticas pblicas e a construo de uma rede de proteo social que atende ao universo da populao carente. As dcadas de 1980 e 1990, consideradas, sob o prisma do crescimento econmico, como dcadas perdidas, foram de grande importncia para a consolidao dos avanos no processo de construo do atual Estado Nacional. Durante este perodo, costuma-se dizer que o Brasil cresceu para dentro, fortalecendo as razes que suportaro a expanso da importncia da nao brasileira junto a uma nova ordem polticoeconmica que se vislumbra para o perodo ps-crise econmica atual.

Mdulo Bsico

55

Desenvolvimento e mudanas no estado brasileiro

A ELEIO DE TANCREDO NEVES E O GOVERNO SARNEYCom a rejeio, na Cmara dos Deputados, em abril de 1984, da proposta de emenda constitucional que autorizava a realizao de eleies diretas para Presidente da Repblica, o PMDB, principal partido da oposio, lana a candidatura, ao colgio eleitoral, do governador de Minas Gerais, Tancredo Neves.

Saiba mais Tancredo de Almeida Neves (1910 - 1985)Formado em Direito, exerceu cargos de ministro da Justia e Negcios Interiores, diretor do Banco de Crdito Real de Minas Gerais e da Carteira de Redescontos do Banco do Brasil. Em 1961 foi nomeado primeiro-ministro do governo de Jango. Fundou o Partido Popular e elegeu-se governador de Minas Gerais. Fonte: . Acesso em: 21 jul. 2009.

Em meio a um clima de comoo nacional Jos Sarney assumiu como Presidente da Repblica presidente do partido regime militar, o PDS.

que at pouco tempo era que dava sustentao ao

v

A vitria, na conveno do partido governista, da candidatura presidencial de Paulo Maluf, leva os principais lderes a deixarem o partido, formarem a Frente Liberal e passarem a apoiar a candidatura de Tancredo. Com apoio de parte substancial do partido do governo e de toda a oposio, com exceo do PT, Tancredo eleito presidente da Repblica, de forma indireta, em 15 de janeiro de 1985, tendo como vice Jos Sarney, representante da Frente Liberal. No entanto, na vspera da posse como presidente, Tancredo adoeceu e foi levado s pressas para o Hospital de Base de Braslia, onde sofreu sua primeira cirurgia. Diante deste cenrio Jos Sarney assumiu a Presidncia em 15 de maro, aguardando o restabelecimento de Tancredo. Mas, devido s complicaes cirrgicas ocorridas, o estado de sade de Tancredo se agravou, vindo a falecer em So Paulo no dia 21 de abril (na mesma data da morte de Tiradentes), aos 75 anos.

56

Especializao em Gesto em Sade

Unidade 2 Da nova Repblica at os dias atuais

Jos Sarney enfrentou, desde o primeiro dia de governo, uma situao econmica crtica, com inflao galopante e dificuldade de negociao da dvida externa.

Para fazer frente inflao, que chegava a 15% ao ms, em fevereiro de 1986, voc sabe qual medida foi adotada por este governo?

Foi criado o Plano Cruzado um programa heterodoxo de congelamento de preos e salrios e troca de moeda. No incio o Plano Cruzado foi um retumbante sucesso. O congelamento dos preos eliminou a corroso do poder de compra da populao, que respondeu com aumento do consumo, impulsionando a atividade econmica do pas. Porm, devido a diversos fatores, como: a exploso da demanda, no acompanhada do aumento correspondente da oferta; a dificuldade de ampliar a produo, situao comum no curto prazo; a baixa disponibilidade de importao, consequncia da poltica de substituio de importaes, vigente durante muitos anos no pas; e a resistncia dos produtores ao congelamento de preos, o que desestabilizou o fornecimento de alimentos e bens de consumo bsicos e levou escassez de produtos e cobrana de gio no comrcio. O Plano Cruzado acabou sendo minado, o que levou o governo criao, em novembro de 1995, do Plano Cruzado II. No entanto, assim como o plano original, seu sucessor tambm fracassou em pouco tempo, levando consigo o apoio popular ao governo.

Mdulo Bsico

57

Desenvolvimento e mudanas no estado brasileiro

Com o fim do Plano Cruzado, o ministro da Fazenda Dlson Funaro foi substitudo pelo economista Luis Carlos Bresser Pereira, que implanta um plano de estabilizao composto de medidas ortodoxas tais como: aumento dos juros; reajuste de tarifas e reduo de gastos pblicos; e medidas heterodoxas como: congelamento de preos e salrios. Embora mais completo e melhor elaborado do que o Plano Cruzado, o Plano Bresser tambm teve vida curta, durando poucos meses. A descrena popular, poca, praticamente impedia a eficcia de qualquer plano de estabilizao que dependesse, para seu sucesso, do comportamento do consumidor. No incio de 1988, Bresser Pereira pede demisso e substitudo por Malson da Nbrega, funcionrio de carreira do Banco do Brasil. Aps tentar aplicar uma poltica gradualista de controle inflacionrio, com medidas ortodoxas, Malson se v obrigado a reeditar, ainda que parcialmente, as experincias heterodoxas de congelamento de preos e salrios. Ento no incio de 1989 foi implantado o Plano Vero, que iria se arrastar at o final do governo Sarney, que acabou entregando para o seu sucessor um pas com inflao mensal de 80%, ou seja, um estado de hiperinflao. Ainda durante a vigncia do Plano Cruzado I, so eleitos os deputados e senadores para compor a Assemblia Nacional Constituinte, rgo responsvel pela redao de uma nova Constituio para o pas. Aps vrios meses de debates, disputas polticas e rduo trabalho das comisses temticas, o trabalho dos congressistas foi concludo, e a stima Constituio Brasileira promulgada em 5 de outubro de 1988. J sob as regras impostas pela nova Constituio, convocada a eleio direta para presidente da Repblica, a ser realizada em primeiro turno em 15 de novembro de 1989 e em segundo turno em 17 de dezembro do mesmo ano.

58

Especializao em Gesto em Sade

Unidade 2 Da nova Repblica at os dias atuais

Durante os cinco anos de governo Sarney, o PIB do pas cresceu 23,66%, dando uma mdia anual de 4,34%. Podemos considerar este crescimento como sendo bastante elevado, dadas as condies inflacionrias e a frustrao popular com o fracasso dos planos de estabilizao. A inflao anual mdia do perodo foi de 507%, o que j configurava uma situao de total descontrole dos preos.

Mdulo Bsico

59

Desenvolvimento e mudanas no estado brasileiro

OS GOVERNOS COLLOR E ITAMAR FRANCOComo previsto, em 15 de novembro Saiba mais Fernando Affonso Collor de Mello realizado o primeiro turno das eleies presidenciais, a primeira eleio direta para Foi deputado federal e governaPresidente da Repblica desde 1960. A dor de Alagoas. Em 1989 derrotou pulverizao das candidaturas do bloco Lus Incio Lula da Silva, tornando-se Presidente da Repblica. governista e da oposio propiciou o Sua gesto foi marcada por escrescimento do candidato Fernando Collor cndalos e suspeitas de corrupo. Em 1992, de Mello, governador de Alagoas. Jovem, foi afastado temporariamente da presidndinmico, vigoroso, com um discurso cia da Repblica, em decorrncia da abertuconsiderado moderno, prometendo uma ra do processo de impeachment. Renunciou revoluo no ser vio pblico, com ao cargo em 1992 ficando em seu lugar o viceprivatizaes, abertura econmica e presidente, Itamar Franco. Fonte: . Acesso em: 21 jul. 2009. marajs), somados a uma competente campanha no rdio e na televiso, Collor consegue alcanar cerca de 30% dos votos v