tj sp - decisão uber

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  • 7/21/2019 TJ SP - Deciso Uber

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    TRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DE SO PAULOCOMARCA DE SO PAULOFORO CENTRAL CVEL12 VARA CVELPraa Joo Mendes s/n, 8 andar - salas n 805/807, Centro - CEP 01501-900, Fone: 21716121, So Paulo-SP - E-mail: [email protected] de Atendimento ao Pblico: 12h30min s 19h00min

    DECISO-MANDADO

    Processo Digital n: 1040391-49.2015.8.26.0100Classe - Assunto Cautelar Inominada - LiminarRequerente: Simtetaxi-sp - Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores Nas

    Empresas de Taxi No Estado de So Paulo-spRequerido: Uber do Brasil Tecnologia Ltda

    Juiz(a) de Direito: Dr(a). Roberto Luiz Corcioli Filho

    Vistos.

    Trata-se de demanda na qual o SINDICATO DOS MOTORISTAS E

    TRABALHADORES NAS EMPRESAS DE TXI NO ESTADO DE SO PAULO procura obstar

    o imediato funcionamento do provedor de servios da UBER DO BRASIL TECNOLOGIA LTDA.

    e o bloqueio ao acesso dos seus servidores para que o aplicativo UBER fique inacessvel ao

    pblico, no territrio brasileiro, sob o argumento de que a requerida promove a prestao de

    servio privativo de profissional taxista, no estando os veculos respectivos autorizados a atuar,

    no seguindo as normas de identificao e vistoria, bem como no se sujeitando ao controle

    administrativo inclusive em relao aos preos praticados, dentre outras alegaes.

    Conforme bem argumentado pelo requerente, "no Brasil, livre o exerccio de

    qualquer trabalho, ofcio ou profisso, atendidas as qualificaes profissionais que a lei

    estabelecer (art. 5, XIII, CF). No mesmo sentido, assegura-se a todos o livre exerccio de qualquer

    atividade econmica, independentemente de autorizao de rgos pblicos, salvo nos casos

    previstos em lei(art. 170, pargrafo nico, CF)" (fls. 15 grifei).

    O art. 2 da Lei n 12.468/2011 estipula que " atividade privativa dos

    profissionais taxistasa utilizao de veculo automotor, prprio ou de terceiros, para o transporte

    pblico individual remunerado de passageiros, cuja capacidade ser de, no mximo, 7 (sete)

    passageiros". Conforme o art. 4, VIII, da Lei n 12.587/2012, considera-se "transporte pblico

    individual: servio remunerado de transporte de passageiros aberto ao pblico, por intermdio de

    veculos de aluguel, para a realizao de viagens individualizadas".

    O prprio Cdigo de Trnsito Brasileiro estabelece, em seu art. 135, que "os

    veculos de aluguel, destinados ao transporte individual ou coletivo de passageiros de linhas

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    TRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DE SO PAULOCOMARCA DE SO PAULOFORO CENTRAL CVEL12 VARA CVELPraa Joo Mendes s/n, 8 andar - salas n 805/807, Centro - CEP 01501-900, Fone: 21716121, So Paulo-SP - E-mail: [email protected] de Atendimento ao Pblico: 12h30min s 19h00min

    regulares ou empregados em qualquer servio remunerado, para registro, licenciamento e

    respectivo emplacamento de caracterstica comercial, devero estar devidamente autorizados pelo

    poder pblico concedente".

    Tambm em mbito municipal, aqui em So Paulo, tem-se, nos termos do art. 1 da

    Lei n 7.329/69, que o servio de transporte individual de passageiros constitui servio de interesse

    pblico que somente pode ser prestado mediante prvia autorizao da Prefeitura. No mesmo

    sentido, tem-se que a Lei Municipal de So Paulo n 15.676/12 estipula ser "vedado o transporte

    remunerado individual de passageiros sem que o veculo esteja autorizado para esse fim".

    Em recente artigo na imprensa nacional, o porta-voz da requerida no Brasil

    sustentou que se trata de uma empresa de tecnologia formada nos Estados Unidos que criou uma

    plataforma inovadora para ligar duas pontas: passageiro em busca de transporte confivel e

    motoristas autnomos, reconhecendo que essa "inovao" demandaria a devida regulamentao

    no pas (Folha de S. Paulo, A3, 18.04.2015).

    Portanto, est a empresa requerida prestando um servio clandestino, ao que

    parece. Isso porque o art. 1 da Resoluo n 4287-14 da Agncia Nacional de Transporte

    Terrestres ANTT entende por "servio clandestino o transporte remunerado de pessoas,

    realizado por pessoa fsica ou jurdica, sem autorizao ou permisso do Poder Pblico

    competente".

    Alis, ainda que, em procedimento preparatrio que tramita junto ao Ministrio

    Pblico Federal, versando, igualmente, sobre a regularidade da atividade exercida pela empresa,

    esta tenha afirmado que "o servio prestado pelos parceiros da Uber no pblico porque no

    aberto ao pblico", porquanto "somente passageiros cadastrados previamente no aplicativo Uber

    podem contratar esse tipo de servio, na condio de que haja motorista interessado em realizar a

    viagem no momento de sua solicitao pelo usurio", no sendo possvel, por exemplo, "fazer sinal

    para um carro parceiro do Uber nas ruas da cidade" (fls. 130 e ss.), claro que o carter publico do

    servio prestado pela requerida no resta afastado pelos fatores indicados.

    Pelo contrrio, a tentativa da requerida em apontar diferenas entre a sua atividade

    e aquela exercida pelos txis apenas evidencia a semelhana existente entre ambas, ofertando

    indcios de que o servio por ela prestado se enquadra como transporte pblico individual.Afinal, o que mais seria o servio prestado a partir de um aplicativo disponvel para downloada

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    qualquer interessado maior de 18 anos (fl. 126), em lojas virtuais de aplicativos de aparelho

    celular, seno aberto ao pblico? O mero fato de se exigir um cadastro prvio utilizao do

    aplicativo, o que se relaciona, por bvio, a aspectos secundrios do negcio, como a necessidade de

    realizao dos pagamentos por meio de carto de crdito (fl. 126) e a eventual reduo da

    insegurana e incerteza inerentes aos negcios efetuados virtualmente, no torna privado o servio

    em questo, j que oferecido generalidade das pessoas, de modo indeterminado. E nem poderia

    ser diferente, frente ao porte da empresa. Com efeito, abstraindo-se os fatores secundrios

    mencionados, decorrentes da natureza virtual de parte do servio oferecido pela requerida, persiste,

    essencialmente, como servio idntico ao ofertado pelos taxistas.

    Portanto, h clara presena da fumaa do bom direitoa autorizar a concesso da

    presente liminar.

    Ao lado disso, tem-se que foi devidamente demonstrado na inicial o perigo na

    demora, posto que milhares de profissionais taxistas estariam sendo diariamente prejudicados pela

    vertiginosa expanso dos servios da requerida isso sem falar da questo atinente prpria lgica

    da regulao do mercado de transporte (fiscalizao e controle pelas autoridades a respeito de umaatividade tida por servio de interesse pblico). Postergar a declarao de uma clara ilegalidade

    (sob os elementos de um olhar liminar) em um caso como o presente para aps o contraditrio

    certamente trar ainda mais prejuzos de difcil, seno impossvel, reparao aos profissionais

    representados pelo requerente e tambm prpria ordem jurdica ptria (a par dos riscos potenciais

    aos usurios, na presuno de que a regulamentao da atividade socialmente recomendvel), que

    permaneceria sendo violada em uma questo de significativa relevncia social.

    Com isso no se est a condenar, em termos sociais, o modelo de negcio

    promovido pela requerida. Apenas se observa que, neste juzo liminar, tal modelo aparenta carecer

    de regulao, a qual condio prvia a seu exerccio. O mero fato de, hodiernamente, vivermos

    em um mundo de novidades mil em todos os seguimentos e a todos os instantes (muitas

    propagandeando "revolues sociais" ao clique de um boto e ao passar de um carto de crdito)

    no parece, de outro lado, j ter tornado legtimo um oficial desmantelamento das instituies

    democrticas tal qual temos conhecido. Se certo que necessrio, nos tempos atuais, debatermos

    com profundidade os rumos de nossa organizao poltica, no menos correto que vivemos sob a

    gide de um Estado Democrtico de Direito e que a observncia da Constituio cogente, assimtambm das leis que estejam afinadas a essa mesma Constituio.

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    Na j citada manifestao no Tendncias e Debates da Folha de S. Paulo, o porta-

    voz da empresa requerida sustentou que "no ltimo dia 8 de abril, durante protestos de

    representantes de associaes de taxistas que se apropriaram das vias pblicas de So Paulo, a

    demanda por servios da Uber aumentou cinco vezes. Na verdade, talvez ao invs de criticar a

    mobilizao da categoria dos taxistas a requerida pudesse nela se inspirar para, a sua maneira,

    tambm mobilizar-se politicamente para ver atendido o seu pleito pela regulamentao de sua

    atividade. Se obter sucesso poltico ou no outra questo e bem natural ao jogo democrtico. O

    que no natural simplesmente passar a exercer de modo clandestino uma atividade regulada.

    Assim, e enquanto no alterada a legislao vigente, sendo ou no um servio bastante

    consentneo sociedade atual, o fato que a atividade da requerida permanece vedada.

    Justifica-se, por fim, a abrangncia nacional desta deciso, no que diga respeito

    suspenso do aplicativo em questo, a despeito da base territorial estadual da entidade sindical

    autora, no apenas pela comum atribuio de tal efeito a aes coletivas, como, tambm, pela

    natureza da atividade empresarial exercida pela requerida, de carter claramente transfronteirio,

    sendo que, por se dar a sua contratao e publicidade em ambiente virtual, a ordem ora proferida

    no teria qualquer efetividade se fosse limitada apenas a parcela do territrio brasileiro.

    Cumpre ressaltar, inclusive, que consideraes semelhantes foram realizadas,

    profundamente, por Tribunal espanhol, ao proibir as atividades da requerida naquele Estado1.

    Ante o acima exposto, DEFIROa liminar para determinar que a requerida cesse a

    disponibilidade e o funcionamento do aplicativo em questo (nacionalmente), bem como suspenda

    suas atividades na cidade de So Paulo, SP (conforme especificao do pedido inicial), sob pena de

    multa diria de R$ 100.000,00 (cem mil reais) limitada, por ora, a R$ 5 milhes , a correr a

    partir do terceiro dia da efetivao da intimao da requerida.

    A presente deciso servir de mandado, a ser cumprido pela prpria parte

    requerente, determinando-se que as empresas Google, Apple, Microsoft e Samsung deixem de

    fornecer nas suas respectivas lojas virtuais o aplicativo Uber, bem como para que suspendam

    remotamente os aplicativos Uber dos usurios que j o possuam instalado em seus aparelhos

    celulares.

    1Deciso disponvel emhttp://www.poderjudicial.es/search/doAction?action=contentpdf&databasematch=AN&reference=7222269&links=uber taxi&optimize=20141210&publicinterface=true e acessada em 28.04.2015.

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    Caso haja pedido nesse sentido, fica j deferida a intimao da requerida e o

    cumprimento do mandado s empresas retro por meio de oficial de justia, recolhidas as devidas

    cutas.

    Observo que a requerida poder ingressar nos autos especificamente para pugnar

    pela revogao da liminar portanto ainda antes de escoado seu prazo para a contestao, e sem

    prejuzo dessa , devendo o cartrio promover a concluso imediata do feito.

    Cite-se com brevidade, por meio de carta com AR. Sendo requerida, tambm ficaj deferida a citao por oficial.

    Int.

    So Paulo, 28 de abril de 2015.

    requerida UBER DO BRASIL TECNOLOGIA LTDA.s empresas Google, Apple, Microsoft e Samsung.

    DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006,CONFORME IMPRESSO MARGEM DIREITA

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