tj-sc - apelação cível : ac 851133 sc 2011.085113-3

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PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS AJUIZADA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA CONTRA EX-PREFEITO MUNICIPAL, COM O INTENTO DE COMPELI-LO A RESSARCIR O MUNICÍPIO DOS VALORES QUE FOI CONDENADO A PAGAR EM AÇÃO DE COBRANÇA. PRESCRIÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA. INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 37, § 5º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. "Ressalte-se, por oportuno, que a norma constitucional do art. 37 § 5º, ao remeter à lei o estabelecimento dos prazos prescricionais para os ilícitos que importem em prejuízos ao erário, ressalvou as respectivas ações de ressarcimento. Assim, mesmo que não seja mais possível punir administrativa ou penalmente os causadores do dano, a ação de improbidade constitui-se em instrumento hábil a tutelar o patrimônio público. Corroborando esse entendimento, o Ministério Público Federal manifestou-se nos seguintes termos: 'A imprescritibilidade, no caso, é de qualquer ação que tenha por finalidade proporcionar o ressarcimento do dano causado ao erário pelo agente, não importando se, na legislação ordinária, esse ressarcimento é tratado como pena ou como mera obrigação decorrente de ato ilícito. O simples fato da lei de improbidade administrativa qualificar o ressarcimento integral do dano como 'pena' não é suficiente para diferenciá-lo do ressarcimento previsto na Constituição Federal, que é imprescritível"(RE 474.750/A, rela. Mina. Ellen Gracie). JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE. INADMISSIBILIDADE, IN CASU. OFENSA AOS PRINCÍPIOS DA AMPLA DEFESA E DO CONTRADITÓRIO CARACTERIZADA. ANULAÇÃO DO FEITO A PARTIR DA SENTENÇA, INCLUSIVE. RECURSO PROVIDO. Hipótese em que o Ministério Público do Estado de Santa Catarina ingressa em juízo com ação de reparação de danos contra ex-Chefe do Poder Executivo Municipal, o que firmou contrato verbal com terceiro, cujo objeto foi a locação de imóvel, às expensas da Municipalidade e sem prévia autorização legal, à empresa, com o apregoado intuito de fomentar o desenvolvimento da cidade. Não adimplemento dos aluguéis, o que levou a locadora a aforar ação de cobrança contra o ente público, a qual foi julgada procedente, e que deu azo à propositura da actio, de natureza evidentemente regressiva, pelo Parquet, ao fundamento de que o réu é responsável pelas consequências do ato, de nítida ilegalidade. Magistrado que julga antecipadamente a lide, com lastro na prova produzida na ação de cobrança, o que acabou por malferir o direito de defesa do réu, dado que, como leicona Hely Lopes Meirelles, "Como agente político, o Chefe do Poder Executivo local só responde civilmente por seus atos funcionais se os praticar com dolo, culpa manifesta, abuso ou desvio de poder. O só fato de o ato ser lesivo não lhe acarreta a obrigação de indenizar. Necessário se torna, ainda que, além de lesivo e contrário a direito, resulte de conduta abusiva do prefeito no desempenho do cargo ou a pretexto de seu exercício" (Direito municipal brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2000. p. 863). Deveras, "O ato praticado por uma autoridade, principalmente em matéria que depende de julgamento, embora reconhecido ilegítimo pelos tribunais, se não se macula de má-fé, de corrupção, de culpa de maior monta, não deve acarretar a responsabilidade pessoal da autoridade" (RT 205/214). Nesse contexto, é obrigatória a atividade probatória, a fim de oportunizar à parte, que insiste na sua boa-fé, a comprovação de suas alegações. Daí a nulidade do feito a partir da sentença, inclusive, para os fins de direito.(TJ-SC - AC: 851133 SC 2011.085113-3, Relator: Vanderlei Romer, Data de Julgamento: 16/12/2011, Primeira Câmara de Direito Público, Data de Publicação: Apelação Cível n. , de São Carlos)

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Gabinete Des. Vanderlei Romer

Apelao Cvel n. 2011.085113-3, de So CarlosRelator: Des. Vanderlei RomerPROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AO DE REPARAO DE DANOS AJUIZADA PELO MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA CONTRA EX-PREFEITO MUNICIPAL, COM O INTENTO DE COMPELI-LO A RESSARCIR O MUNICPIO DOS VALORES QUE FOI CONDENADO A PAGAR EM AO DE COBRANA.PRESCRIO. NO OCORRNCIA. INTELIGNCIA DO ARTIGO 37, 5, DA CONSTITUIO FEDERAL."Ressalte-se, por oportuno, que a norma constitucional do art. 37 5, ao remeter lei o estabelecimento dos prazos prescricionais para os ilcitos que importem em prejuzos ao errio, ressalvou as respectivas aes de ressarcimento. Assim, mesmo que no seja mais possvel punir administrativa ou penalmente os causadores do dano, a ao de improbidade constitui-se em instrumento hbil a tutelar o patrimnio pblico. Corroborando esse entendimento, o Ministrio Pblico Federal manifestou-se nos seguintes termos: 'A imprescritibilidade, no caso, de qualquer ao que tenha por finalidade proporcionar o ressarcimento do dano causado ao errio pelo agente, no importando se, na legislao ordinria, esse ressarcimento tratado como pena ou como mera obrigao decorrente de ato ilcito. O simples fato da lei de improbidade administrativa qualificar o ressarcimento integral do dano como pena no suficiente para diferenci-lo do ressarcimento previsto na Constituio Federal, que imprescritvel" (RE 474.750/A, rela. Mina. Ellen Gracie).JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE. INADMISSIBILIDADE, IN CASU. OFENSA AOS PRINCPIOS DA AMPLA DEFESA E DO CONTRADITRIO CARACTERIZADA. ANULAO DO FEITO A PARTIR DA SENTENA, INCLUSIVE. RECURSO PROVIDO.Hiptese em que o Ministrio Pblico do Estado de Santa Catarina ingressa em juzo com ao de reparao de danos contra ex-Chefe do Poder Executivo Municipal, o que firmou contrato verbal com terceiro, cujo objeto foi a locao de imvel, s expensas da Municipalidade e sem prvia autorizao legal, empresa, com o apregoado intuito de fomentar o desenvolvimento da cidade.No adimplemento dos aluguis, o que levou a locadora a aforar ao de cobrana contra o ente pblico, a qual foi julgada procedente, e que deu azo propositura da actio, de natureza evidentemente regressiva, pelo Parquet, ao fundamento de que o ru responsvel pelas consequncias do ato, de ntida ilegalidade.Magistrado que julga antecipadamente a lide, com lastro na prova produzida na ao de cobrana, o que acabou por malferir o direito de defesa do ru, dado que, como leicona Hely Lopes Meirelles, "Como agente poltico, o Chefe do Poder Executivo local s responde civilmente por seus atos funcionais se os praticar com dolo, culpa manifesta, abuso ou desvio de poder. O s fato de o ato ser lesivo no lhe acarreta a obrigao de indenizar. Necessrio se torna, ainda que, alm de lesivo e contrrio a direito, resulte de conduta abusiva do prefeito no desempenho do cargo ou a pretexto de seu exerccio" (Direito municipal brasileiro. So Paulo: Malheiros, 2000. p. 863).Deveras, "O ato praticado por uma autoridade, principalmente em matria que depende de julgamento, embora reconhecido ilegtimo pelos tribunais, se no se macula de m-f, de corrupo, de culpa de maior monta, no deve acarretar a responsabilidade pessoal da autoridade" (RT 205/214).Nesse contexto, obrigatria a atividade probatria, a fim de oportunizar parte, que insiste na sua boa-f, a comprovao de suas alegaes.Da a nulidade do feito a partir da sentena, inclusive, para os fins de direito.Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelao Cvel n. 2011.085113-3, da comarca de So Carlos (Vara nica), em que apelante Rui Vitrio Celso, e apelado Ministrio Pblico do Estado de Santa Catarina:A Primeira Cmara de Direito Pblico decidiu, por votao unnime, prover o recurso. Custas legais.O julgamento, realizado no dia 13 de dezembro de 2011, foi presidido pelo Exmo. Sr. Des. Srgio Roberto Baasch Luz, com voto, e dele participou o Exmo. Sr. Des. Newton Trisotto. Funcionou como representante do Ministrio Pblico o Exmo. Sr. Dr. Jacson Corra.Florianpolis, 16 de dezembro de 2011.

Vanderlei RomerRelator

RELATRIOCuida-se de ao civil pblica de responsabilidade e de reparao de danos ao errio ajuizada pelo Ministrio Pblico do Estado de Santa Catarina contra Rui Vitrio Celso.Relatou o autor que, no ano de 1996, o ru, poca Prefeito do municpio de So Carlos, firmou contrato verbal com a empresa Putzel & Cia. Ltda., cujo objeto foi a locao de um balco e outras instalaes situadas na Rua XV de Novembro, como forma de incentivo empresa Marmoraria So Carlos Ltda. O aluguel foi estabelecido em R$ 420,00 (quatrocentos e vinte reais). Ocorre que por cinco meses ele no foi pago, o que levou elaborao do Projeto de Lei n. 059/2007, a fim de respaldar a quitao da dvida. A locatria, de todo modo, ingressou com ao de cobrana contra o ente pblico, o qual foi julgada procedente, com a sua condenao ao pagamento da quantia de R$ 5.349,90 (cinco mil trezentos e quarenta e nove reais e noventa centavos). Disse o Parquet que a Municipalidade no exerceu o seu direito de regresso contra o acionado, no obstante a sua manifesta responsabilidade pela celebrao da avena, que, segundo afirmou, est inquinada de irregularidades, in verbis:Diante dos fatos antes relatados, inegvel que o requerido causou prejuzo ao errio, ao pagar e conceder ilegal incentivo no autorizado em lei, em valores, empresa privada, mediante locao de imvel pertencente a terceiro, sem qualquer procedimento de forma a selecionar a melhor proposta de valor dos aluguis.E, como os fatos datam de 1996, j decorrido o quinqunio previsto s sanes de improbidade administrativa, nos termos do art. 23, inciso I, da Lei n. 8.429/1992, no h falar nas sanes previstas naquele regramento legal.Contudo, ainda que no possa, o Ministrio Pblico se valer da Lei de Improbidade Administrativa, resta a reparao do dano causado ao errio, o que encontra sustentao no art. 37, 5, da Constituio Federal, que confere ao o carter de imprescritibilidade.[...].No caso em apreo, da conduta do requerido, em desatendimento aos princpios constitucionais da gesto pblica, infringiu a norma do art. 37 da Constituio Federal e as disposies correlatas constantes no artigo 16 da Constituio Estadual, notadamente o princpio da legalidade, da impessoalidade e da supremacia do interesse pblico.[...].Na hiptese em tela, houve expressa violao ao art. 2, da Lei n. 8.666/1993, que dispe que "as obras, servios, inclusive de publicidade, compras, alienaes, concesses, permisses e locaes da Administrao Pblica, quando contratadas com terceiros, sero necessariamente precedidas de licitao".Gize-se que, ao assumir o compromisso de pagar aluguis Putzel & Cia. Ltdal, o requerido o fez ao arrepio da lei, nem mesmo tendo encaminhado o projeto de lei ao Legislativo. Logo, deu margem edio de ato nulo, cujos efeitos irradiaram na esfera de obrigaes do municpio de So Carlos, que teve que suportar o nus do desrespeito formal lei, encetado por seu representante da poca.[...]No bastasse, o expediente da concesso de subsdios para beneficiar determinados empresrios geralmente utilizado sem, sequer, projeto prvio das atividades a serem desenvolvidas e da contraprestao das vantagens auferidas, tal como ocorrido neste caso, conforme palavras do prprio Rui [...].[...] no caso em exame, no demonstrado que a concesso do benefcio empresa privada viesse ao encontro dos interesses da sociedade so-carlense, em que pese o auxlio concedido, na ordem de quase R$ 6.000,00 (fl. 6-9).

Lastreado nesses argumentos e forte nos artigos 5, inciso II, e 37, da Constituio Federal, postulou o requerente a condenao de Rui Vitrio Celso ao ressarcimento do quantum de R$ 15.493,09 (quinze mil, quatrocentos e noventa e trs reais e nove centavos).Na contestao, o suplicado assinalou, de incio, que a ao est prescrita, porque passados mais de cinco anos entre o fato dito lesivo e o seu ajuizamento. Ao depois, argumentou que o reconhecimento da improbidade administrativa reclama a comprovao da m-f do agente, do que no se cogita na espcie. Citou precedentes. Salientou que a sua conduta foi ditada unicamente pela inteno de promover o desenvolvimento do Municpio, por intermdio da gerao de emprego e renda aos cidados. Afirmou que tencionava obter a autorizao do Poder Legislativo para a locao noticiada, e que o pagamento dos aluguis ficou at mesmo condicionado a tanto, o que no se concretizou em razo de a empresa ter deixado de exercer as suas atividades no local. Na hiptese, todavia, de o pleito inicial ser acolhido, pontuou que os juros de mora devem incidir a partir da citao e que, caso seja esposado entendimento diverso, impe-se o reconhecimento da prescrio trienal quanto a eles.Sobreveio a sentena de procedncia.A tempo e modo, recorreu o vencido.Suscitou a nulidade do julgamento, ao argumento de que o seu direito de defesa foi cerceado, dado que protestou pela produo de provas, indispensveis para a elucidao da controvrsia. Sustentou que o Julgador formou o seu convencimento com base no acervo probatrio constante de ao da qual no participou, de modo que no exerceu o seu direito ao contraditrio. No mrito, voltou a dizer que no se houve com dolo, e que o simples fato de ter celebrado o pacto locatcio no significa que pretendia favorecer ilicitamente a empresa. Sublinhou que o pagamento dos aluguis foi condicionado autorizao legislativa, verdadeira condio que acabou por no se perfectibilizar. Repetiu a tese de que imprescindvel a configurao do elemento subjetivo para a sua responsabilizao, bem como os pedidos sucessivos.Com as contrarrazes, alaram os autos.Lavrou parecer pela douta Procuradoria-Geral de Justia o Exmo. Sr. Dr. Gladys Afonso, que opinou pela rejeio da preliminar e, in meritum causae, pelo desprovimento do recurso.Este o relatrio.VOTOAo contestar o pedido, o ru requereu o reconhecimento da prescrio, com lastro na Lei n. 8.429/1992, segundo a qual as aes de improbidade administrativa devem ser ajuizadas no prazo de cinco anos.A matria no foi reeditada no apelo. Porm, cuida-se de matria de ordem pblica, cognoscvel de ofcio e a qualquer tempo de jurisdio, como cedio.De todo modo, um maior aprofundamento na questo dispensvel, porque a actio deflagrada meramente ressarcitria. Tanto que, em que pese a conduta transparecer improbidade, como bem alerta o Ministrio Pblico na exordial, no possvel impor as sanes previstas na Lei n. 8.429/1992 pela ocorrncia da prescrio, que no atinge, de relevo salientar, o pedido de reparao pecuniria ao errio.Trata-se de demanda imprescritvel, por fora do disposto no artigo 37, 5, da Constituio Federal, in verbis: 5. A lei estabelecer os prazos de prescrio para ilcitos praticados por qualquer agente, servidor ou no, que causem prejuzos ao errio, ressalvadas as respectivas aes de ressarcimento.

A quaestio, reconhece-se, alvo de acirrada controvrsia nos tribunais e na doutrina. Prevalece, entrementes, o entendimento de que o preceito constitucional deve realmente incidir (v. g. AI n. 677293/SP, rel. Min. Dias Toffoli).Acresa-se, ainda, por necessrio, que, de somenos importncia a circunstncia de se estar diante de uma ao regressiva. queRessalte-se, por oportuno, que a norma constitucional do art. 37 5, ao remeter lei o estabelecimento dos prazos prescricionais para os ilcitos que importem em prejuzos ao errio, ressalvou as respectivas aes de ressarcimento. Assim, mesmo que no seja mais possvel punir administrativa ou penalmente os causadores do dano, a ao de improbidade constitui-se em instrumento hbil a tutelar o patrimnio pblico. Corroborando esse entendimento, o Ministrio Pblico Federal manifestou-se nos seguintes termos: 'A imprescritibilidade, no caso, de qualquer ao que tenha por finalidade proporcionar o ressarcimento do dano causado ao errio pelo agente, no importando se, na legislao ordinria, esse ressarcimento tratado como pena ou como mera obrigao decorrente de ato ilcito. O simples fato da lei de improbidade administrativa qualificar o ressarcimento integral do dano como pena no suficiente para diferenci-lo do ressarcimento previsto na Constituio Federal, que imprescritvel (RE 474.750/A, rela. Mina. Ellen Gracie). Por derradeiro, como leciona Emerson Garcia, nada impede seja utilizada a ao referida no art. 17 da Lei n. 8.429/1992, ou qualquer outra dotada de eficcia similar, com o fim nico e exclusivo, de demonstrar a prtica do ato de improbidade administrativa e perseguir a reparao do dano (Improbidade administrativa. So Paulo: Lumen Juris, 2007. p. 520).

Repelida a prescrio, antecipa-se que o recurso comporta provimento.Dois fatores so determinantes para o reconhecimento da violao aos princpios constitucionais da ampla defesa e do contraditrio. incontroverso que os elementos de convico utilizados pelo Magistrado foram aqueles constantes dos autos da ao de cobrana n. 059.99.000565-6, na qual figuraram a locadora (Putzel & Companhia Ltda.) e o municpio de So Carlos. Tem-se, por igualmente inconcusso, que a pretenso foi julgada procedente, em sentena confirmada neste grau de jurisdio (Apelao Cvel n. 2001.008293-4, fl. 76).Colhe-se da sententia ora hostilizada:A documentao carreada aos autos, especificamente a cpia da sentena judicial prolatada nos autos de n. 059.99.00565-6, condenando o municpio de So Carlos ao pagamento do importe R$ 2.100,00 (dois mil e cem reais), no deixa dvidas quanto aos danos causados ao errio pblico, tendo o magistrado julgador enfatizado:"No prospera, portanto, a tese do requerido, de nulidade do contrato, assegurando-se ao contratado o direito de receber o preo na forma e no prazo convencionado ou a prestao devida pela Administrao e o de exigir o cumprimento de suas prprias obrigaes, ainda que no consignadas expressamente".Destarte, evidenciado no presente caderno processual os valores despendidos pelo ente municipal, ao pagamento da obrigao judicial irrogada, resta apurar a responsabilidade do ente demandado para com o evento danoso.A responsabilidade do ru pelo fatdico deriva de suas declaraes prestadas em juzo na fase instrutria da demanda de cobrana ajuizada por Putzel e Cia. Ltda. contra o municpio de So Carlos, oportunidade na qual o acionado confessou que, na funo de chefe do executivo municipal, celebrou contrato verbal com a nominada empresa, no tendo adimplido qualquer verba oriunda da referida relao jurdica, sequer dando andamento aos atos administrativos devidos para formalizar o ato ( (fls. 144-145).

A ausncia de participao do ru naquela ao de conhecimento, em linha de princpio, no permite que a prestao jurisdicional seja entregue com espeque na prova emprestada.Veja-se: admissvel a utilizao de prova emprestada, recebida no caso como documental, produzida em processo entre as partes em curso no mesmo Juzo, tendo sido respeitado o contraditrio (REsp 836158/ES, rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito.

Existem, por certo, excees, e, dependendo das nuances do caso, at possvel admiti-la, ainda que a parte no tenha figurado na lide na qual foi produzida, tanto que, mudando o que deve ser mudado, "A jurisprudncia do STJ encontra-se consolidada no sentido de que, respeitado o contraditrio e a ampla defesa, possvel a utilizao de 'prova emprestada' devidamente autorizada na esfera criminal" (MS 14503/DF, rel. Min. Celso Limongi).Conquanto nada que o recorrente pudesse alegar ou comprovar conferiria legitimidade ao ato, consubstanciado no pagamento de aluguel a terceiro, proprietrio de imvel que foi locado, note-se bem, a outrem, sem prvia autorizao legislativa, foroso convir que, in casu, o xito da ao requeria no s a prova da ilicitude e do prejuzo, mas tambm da culpa ou do dolo do agente.Alis, o irresignado no nega o fato, mas insiste na ausncia de dolo de sua parte, mormente porque se negou a efetuar o pagamento justamente por no haver ato legislativo que lhe desse respaldo.Pelo visto, nem isso foi obtido, porque a empresa deixou a cidade.Em suma, ao que parece, nenhum benefcio resultou para o ente pblico, que foi, em verdade, prejudicado financeiramente.No obstante, insista-se, o dano, por si s, no autoriza a condenao.Dos anais doutrinrios, retira-se pertinente lio do mestre Hely Lopes Meirelles:Como agente poltico, o Chefe do Poder Executivo local s responde civilmente por seus atos funcionais se os praticar com dolo, culpa manifesta, abuso ou desvio de poder. O s fato de o ato ser lesivo no lhe acarreta a obrigao de indenizar. Necessrio se torna, ainda que, alm de lesivo e contrrio a direito, resulte de conduta abusiva do prefeito no desempenho do cargo ou a pretexto de seu exerccio (Direito municipal brasileiro. So Paulo: Malheiros, 2000. p. 863).Na esteira desse raciocnio, o preclaro Desembargador Luiz Czar Medeiros assentou que:No basta a simples constatao de que o ato administrativo trouxe algum prejuzo ao errio. A responsabilidade do mandatrio municipal subjetiva (Ap. Cv. n. 1996.009631-0).

Ainda sobre o tema:O ato praticado por uma autoridade, principalmente em matria que depende de julgamento, embora reconhecido ilegtimo pelos tribunais, se no se macula de m-f, de corrupo, de culpa de maior monta, no deve acarretar a responsabilidade pessoal da autoridade (RT 205/214).

importante frisar que, na inicial, o Ministrio Pblico do Estado de Santa Catarina alude ao favoristimo explcito, dizendo que nada se tem quanto aos critrios da escolha da empresa agraciada e "sem que oportunizado idntico benefcio a outras empresas eventualmente interessadas" (fl. 9).Entrementes, cuida-se de uma alegao, que, caso verdica, impe, em tese, o sucesso da demanda. Mas allegatio et non, quasi non allegatio. Corolrio do exposto que deve ser devidamente comprovada a culpa manifesta ou o dolo, e certamente disso, pelo menos por ora, no h prova nos autos. Urge abrir s partes a oportunidade de demonstrar a pertinncia de suas assertivas. O que no se pode admitir o julgamento de procedncia, de plano, da lide.Nesse contexto, o voto pelo provimento do recurso com a anulao do processo a partir da sentena, inclusive.