tÍtulo: poluiÇÃo do ar e atendimentos de...

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TÍTULO: POLUIÇÃO DO AR E ATENDIMENTOS DE EMERGÊNCIA POR HIPERTENSÃO ARTERIAL EM SÃO CAETANO DO SUL TÍTULO: CATEGORIA: CONCLUÍDO CATEGORIA: ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE ÁREA: SUBÁREA: ENFERMAGEM SUBÁREA: INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE MUNICIPAL DE SÃO CAETANO DO SUL INSTITUIÇÃO: AUTOR(ES): ELAINE REGINA MORETTO AUTOR(ES): ORIENTADOR(ES): BRIGITTE RIECKMANN MARTINS DOS SANTOS ORIENTADOR(ES): COLABORADOR(ES): ALFÉSIO LUIS FERREIRA BRAGA, BRIGITTE RIECKMANN MARTINS DOS SANTOS, CICERA CRISTINA VIDAL ARAGÃO, JOSSIELEN BOTARELLI COLABORADOR(ES):

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TÍTULO: POLUIÇÃO DO AR E ATENDIMENTOS DE EMERGÊNCIA POR HIPERTENSÃO ARTERIAL EMSÃO CAETANO DO SULTÍTULO:

CATEGORIA: CONCLUÍDOCATEGORIA:

ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDEÁREA:

SUBÁREA: ENFERMAGEMSUBÁREA:

INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE MUNICIPAL DE SÃO CAETANO DO SULINSTITUIÇÃO:

AUTOR(ES): ELAINE REGINA MORETTOAUTOR(ES):

ORIENTADOR(ES): BRIGITTE RIECKMANN MARTINS DOS SANTOSORIENTADOR(ES):

COLABORADOR(ES): ALFÉSIO LUIS FERREIRA BRAGA, BRIGITTE RIECKMANN MARTINS DOSSANTOS, CICERA CRISTINA VIDAL ARAGÃO, JOSSIELEN BOTARELLICOLABORADOR(ES):

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Resumo:

Introdução: A poluição atmosférica nos centros urbanos está

predominantemente ligada às emissões realizadas pelos veículos automotores.

Nas cidades onde ainda existe um parque industrial dentro ou próximo das

áreas residências soma-se uma fonte adicional de emissão de poluentes.

Políticas públicas, tais como, melhoria de tecnologia embarcada, inspeção

veicular, incentivo ao transporte coletivo mais limpo, tem buscado reduzir as

emissões de poluentes atmosféricos e, portanto, reduzir o risco do

aparecimento ou manifestação de doenças nos períodos mais poluídos. São

Caetano do Sul, cidade da Região Metropolitana de São Paulo tem frota

própria de veículos, é rota de passagem entre as demais cidades da região e

possui parque industrial ativo. Objetivos: estimar os efeitos da variação diária

na concentração dos poluentes atmosféricos e das condições meteorológicas

nos atendimentos de emergência por hipertensão. Métodos: o número diário

de atendimentos por hipertensão arterial de pessoas com 15 anos ou mais

atendidas no Pronto-Socorro municipal da cidade, responsável pelo

atendimento de todos os casos dos pacientes que usam o Sistema Único de

Saúde foi incluído como variável dependente em modelos lineares

generalizados de regressão de Poisson tendo os poluentes atmosféricos

(valores diários, médias móveis e polinômios de terceiro grau) como variáveis

independentes, temperatura mínima e umidade como variáveis de confusão e

controlando-se para sazonalidade e tendência de curta duração (dias da

semana). Os efeitos foram apresentados como aumento percentual nos

atendimentos para cada aumento interquartil na concentração do poluente.

Resultados: Apenas o PM10 apresentou efeito robusto sobre os atendimentos

por hipertensão arterial. Para cada variação de 22,4 µg/m3 na concentração

deste poluente observou-se um aumento de 8,6 % (IC 95% 2,7 – 14,7) nos

atendimentos de pronto-socorro para o período de até sete dias após a

exposição. O efeito é predominantemente agudo no dia da exposição e diminui

de forma contínua nos dias subsequentes. Conclusão: Mesmo com os

esforços para a redução da emissão de material particulado nos grandes

centros urbanos, a exposição a este poluente resultou em aumento de

atendimentos de emergência por hipertensão arterial entre os adultos.

2

Introdução

A poluição do ar é composta por uma mistura heterogênea de

compostos que incluem monóxido de carbono (CO), ozônio (O3), compostos de

enxofre (SOx), compostos de nitrogênio (NOx), compostos orgânicos

(hidrocarbonetos, álcoois, aldeídos, cetonas, ácidos orgânicos), compostos

halogenados e material particulado (PM). O material particulado classifica-se

em partículas totais em suspensão (PTS), fumaça (FMC) e partículas inaláveis

(PM). A composição dos poluentes do ar varia bastante, pois dependem da

fonte do poluente, fatores ambientais, como as condições meteorológicas,

horário e dia da semana, atividade industrial e densidade do tráfego. Os

poluentes primários são aqueles emitidos diretamente pelas fontes de emissão.

Já os poluentes secundários são formados através da reação química entre

poluentes primários e componentes naturais da atmosfera (Miller, Shaw et al.,

2012).

As principais fontes de emissão de material particulado para a atmosfera

são: veículos automotores, processos industriais, queima de biomassa e

resuspensão de poeira do solo. O material particulado pode se formar na

atmosfera a partir de gases como SO2, NOx e compostos orgânicos voláteis,

que são emitidos principalmente em atividade de combustão, transformando-se

em partículas. As partículas inaláveis podem ser finas (PM2,5 (<2,5 µm) e

grossas (2,5 a 10 µm). As partículas finas podem atingir os alvéolos

pulmonares enquanto as grossas ficam retidas nas vias aéreas superiores.

O tamanho das partículas está diretamente associado ao seu potencial

para causar danos à saúde, sendo que quanto menor forem, maiores são os

danos à saúde. O material particulado pode também reduzir a visibilidade na

atmosfera.

Poluição ambiental e doenças cardiovasculares

Os efeitos adversos dos poluentes sobre o sistema cardiovascular

podem ocorrer por três vias diferentes: diretamente, através da ação dos

poluentes sobre vasos e musculatura miocárdica, por processo inflamatório

sistêmico secundário ao originado nos pulmões e por ação no sistema nervoso.

3

Dentre os efeitos desencadeados pela exposição aos poluentes do ar

destacam-se: hipertensão arterial (Choi, Xu et al., 2007; Christiani, 2009;

Johnson e Parker, 2009); crises de angina, alterações na coagulação,

vasoconstrição (Brook, Brook et al., 2002), descompensação de pacientes com

insuficiência cardíaca congestiva (Chen, Zhang et al., 2013), alterações na

frequência cardíaca e arritmia (Park, O'neill et al., 2008) e redução da função

endotelial (Krishnan, Adar et al., 2012). Estudos sugerem que a exposição a

agentes pró-oxidantes e com efeitos pró-inflamatórios podem desempenhar

papel importante no desenvolvimento de lesões ateroscleróticas (Araujo, 2011;

Miller, Shaw et al., 2012). A maioria dos estudos indica que os efeitos adversos

são maiores entre os idosos, mas também foram identificadas alterações nos

níveis plasmáticos de endotelina-1 (Calderón-Garcidueñas, Vincent et al.,

2007) em crianças, consideradas mais susceptíveis aos efeitos da poluição

ambiental que adultos uma vez que passam mais tempo ao ar livre.

Os poluentes primários, isto é, partículas inaláveis – PM10 e partículas

finas – PM2,5; dióxido de enxofre – SO2 e de nitrogênio – NO2 e o monóxido de

carbono (CO) são os que mais agridem o sistema cardiovascular (Lall, Ito et al.,

2011; Lepeule, Laden et al., 2012; Oliveira, Ignotti et al., 2012; Patel, Chillrud et

al., 2013; Weichenthal, Godri-Pollitt et al., 2013). O ozônio, poluente secundário

formado a partir de reações químicas entre poluentes primários catalisados

pela luz solar, também tem sido associado a efeitos cardiovasculares (Carlsen,

Forsberg et al., 2013).

Município de São Caetano do Sul

O município de São Caetano do Sul localiza-se na Região Metropolitana

de São Paulo e na microrregião de São Paulo. Sua população é composta por

149.263 habitantes distribuída em uma área total de 15,3 km2 (IBGE, 2010).

Apresenta o melhor IDH do Brasil (Pnud, 2013) e atualmente ocupa a 13ª

posição pelo Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM) da Federação

das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN). Possui o 8º maior PIB

per capita do Estado de São Paulo (IBGE, 2010).

São Caetano do Sul pertence à região do ABC Paulista, marcada pelo

desenvolvimento industrial e automobilístico. É uma cidade 100% urbanizada,

ou seja, não apresenta áreas rurais e também não possui favelas.

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O clima da cidade é subtropical. Seu verão é pouco quente e chuvoso, o

inverno é ameno e seco.

Em 2012, o município contava com uma frota de 131.668 veículos e

apresentava uma relação de 1,13 habitantes por veículo (Ibge, 2010). No

entanto, deve-se levar em consideração o fato de que um número ainda maior

de automóveis cruza a cidade ao se deslocarem de outros municípios que

fazem divisa, como São Paulo, São Bernardo do Campo e Santo André.

Uma vez que a maioria dos estudos sobre os efeitos do ar na saúde

foram realizados na cidade de São Paulo, que possui distribuição de renda e

fatores sociais bastante heterogêneos justifica-se realizar este estudo em uma

cidade que possui excelentes indicadores de qualidade de vida, além de

número de indústrias e frota de veículos crescente.

Objetivo

Estudar a associação da poluição atmosférica (PM10

, SO2, NO

2 e O

3) e das

condições meteorológicas (temperatura mínima e umidade relativa do ar) sobre

os atendimentos de urgência e emergência por doenças cardiovasculares de

adultos e idosos na Cidade de São Caetano do Sul, entre janeiro de 2010 a

dezembro de 2011.

Metodologia

O presente trabalho é um estudo ecológico de séries temporais. Os dados

diários de atendimento de pronto-socorro por doenças cardiovasculares

(Classificação Internacional de Doenças, 10a Revisão (CID 10 - I00 a I99)

foram obtidos através da coleta de dados de prontuários do Hospital de

Emergências Albert Sabin, no período de 1º de janeiro de 2010 a 31 de

dezembro de 2011. Os níveis médios diários dos poluentes atmosféricos (PM10,

NO2, SO2 e O3) foram obtidos junto à CETESB. O projeto foi aprovado pelo

Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação Municipal de Saúde de São

Caetano do Sul (FUMUSA) parecer no 042/2011-A e pelo Comitê de Ética em

Pesquisa da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS).

Desenvolvimento

5

Este estudo é um estudo do tipo ecológico de séries temporais, também

denominada série histórica, ou seja, uma sequência de dados obtidos em

intervalos regulares de tempo durante um período específico, sendo que os

indicadores refletem aquilo que acontece na comunidade. (Rothman, Greeland

et al., 1998; Carneseca, Achcar et al., 2012)

Os dados de atendimento de urgência e emergência por doenças

cardiovasculares para a população adulta e idosa do município de São

Caetano do Sul, atendida no Hospital de Emergências Albert Sabin, no período

de janeiro de 2010 a dezembro de 2011, foram coletados através de registros

de prontuários. As doenças foram codificadas de acordo com a Classificação

Internacional de Doenças (CID) – 10ª Revisão. Foram incluídos no estudo os

atendimentos de urgência e emergência por doenças cardiovasculares. Não

foram utilizadas informações constantes dos prontuários que pudessem

identificar os indivíduos atendidos no serviço. Os registros diários dos níveis

dos poluentes atmosféricos (PM10, SO2, NO2 e O3), além dos dados de

temperatura mínima e umidade relativa do ar do ano de 2010 e 2011 foram

fornecidos pela CETESB.

Foi realizada análise descritiva (frequência, média e desvio padrão) e

teste de correlação de Spearman para as variáveis de poluição atmosférica e

meteorológicas. No modelo de regressão linear generalizada de Poisson, o

número diário de atendimentos de emergência para doenças cardiovasculares

foi utilizado como variável dependente (Mccullagh e Nelder, 1989), e a

concentração dos poluentes atmosféricos como variável independente. Uma

spline cúbica natural (Green e Silverman, 1994) foi adotada para controlar as

tendências de longo prazo. Com base no padrão sazonal de ocorrência de

visitas de emergência por doenças na série temporal, foram utilizados 14 graus

de liberdade (df) para o nivelamento de toda a tendência de tempo, a fim de

minimizar a soma dos coeficientes de correlação de resíduos parciais, segundo

os Critérios de Informação de Akaike (CIA) (Akaike, 1973). A análise de

sensibilidade usando 08-12 df na função suave não mudou as estimativas de

efeito. A análise dos coeficientes de correlação parciais mostrou que não havia

correlação serial dos resíduos, sendo que o uso de termos auto regressivos

não foi necessário.

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O verão em São Caetano do Sul é quente e chuvoso e o inverno é

ameno e seco. Em análise anterior verificou-se que a temperatura é

linearmente correlacionada com os atendimentos de emergência por doenças

cardiovasculares. No entanto, decidimos explorar a relação entre as visitas de

emergência por doenças cardiovasculares e temperatura usando termos

lineares, “lag” zero a dois anos e que se deslocam - médias e funções suaves.

Como essa relação tem sido mostrada para ser linear e não atrasou, decidimos

usar os termos lineares (lags 0 e 1) para controlar os efeitos da temperatura e

da umidade em atendimentos de emergência relacionados com doenças

cardiovasculares. Além disso, um indicador para os dias da semana foi incluído

para controlar tendência de curto prazo e em que circunstâncias imprevistas,

como greves em instituições públicas, desastres naturais que podem impedir

uma pessoa buscar atenção médica. As estruturas de defasagem entre a

poluição do ar e saúde foram analisadas usando diferentes abordagens e

defasagens de tempo. Este estudo utilizou a estrutura de defasagem cobrindo

0-6 dias antes da visita de emergência através de um modelo distribuído por

defasagem polinomial de terceiro grau (Zanobetti , Wand et al. , 2000).

Os efeitos dos poluentes estão apresentados como percentagem de

aumento ou risco relativo e intervalo de confiança 95% (IC95%) para os

atendimentos de emergência por hipertensão arterial sistêmica, uma vez que

foi a que apresentou maior prevalência. A análise estatística foi realizada

utilizando software SPSS (v.14; SPSS Inc., Chicago, IL, USA). e S-PLUS 4.5

(MathSoft, Inc., Seattle, WA, USA).

O protocolo de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa

da Fundação Municipal de Saúde de São Caetano do Sul (FUMUSA) parecer

no 042/2011-A e Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Municipal de

São Caetano do Sul.

Resultados

No período compreendido entre janeiro 2010 e dezembro 2011 foram

analisados 14.832 prontuários decorrentes de atendimentos por doenças

cardiovasculares. 6.363 (47,9%) eram do gênero feminino e 8.469 (57,1%)

eram do gênero masculino. 46,2% dos pacientes atendidos tinham idade

compreendida entre 20 e 44 anos.

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Em relação às doenças cardiovasculares, a hipertensão arterial

sistêmica (HAS) foi a patologia mais frequente com 14.121 (95,2%)

atendimentos. Nota-se nítido incremento dos atendimentos por hipertensão

arterial no outono e inverno de 2011 (figura 1).

Figura 1 - Distribuição dos atendimentos de emergência por HAS no

Hospital Albert Sabin entre janeiro de 2010 e dezembro de 2011.

As médias diárias dos níveis de poluição (tabela 1 e figura 2) em São

Caetano do Sul durante os anos de 2010 e 2011 não ultrapassaram os limites

máximos estabelecidos pelo Decreto Estadual no 59.113 de 23/04/2013 para os

poluentes atmosféricos NO2 e SO2 (60µg/m3 para SO2 e 260µg/m3 para NO2),

ao contrário do PM10 e ozônio (120 µg/m3 para PM10 e 140µg/m3 para O3). A

temperatura mínima média foi de 16,5 ± 3,6o C. A umidade relativa do ar variou

de 29,6% a 98,1%, com uma média de 84,1% (dp=14,6).

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Tabela 1 – Distribuição dos poluentes atmosféricos e das variáveis

meteorológicas em São Caetano do Sul, entre janeiro de 2010 a dezembro de

2011.

Variável média DP mín máx p25 p50 p75

Poluente atmosférico

PM10 (µg/m3) 38,97 20,44 4,79 134,88 23,86 36,25 49,26

SO2 (µg/m3) 5,77 3,50 0,00 31,08 3,04 5,33 7,82

NO2 (µg/m3) 70,00 34,04 13,00 249,00 46,00 64,02 84,28

O3 (µg/m3) 106,36 46,38 4,00 284,00 67,73 96,83 135,00

Característica

meteorológica

Temperatura mínima (oC) 16,5 3,6 6,0 25,0 14,0 16,8 19,5

Umidade relativa média

(%)

84,1 14,6 29,6 98,1 75,3 83,0 89,3

DP = desvio padrão; mín = valor mínimo; máx = valor máximo

Fonte: CETESB, 2012.

Figura 2 – Variação da concentração dos poluentes atmosféricos PM10 (µg/m3),

SO2 (µg/m3), NO2 (µg/m3), O3 (µg/m3), e condições meteorológicas: temperatura

9

mínima (oC) e umidade relativa do ar (%) em São Caetano do Sul entre janeiro

de 2010 e dezembro de 2011.

Os coeficientes de correlação de Pearson (tabela 2) demonstraram

correlação positiva e estatisticamente significante entre os poluentes

atmosféricos. Observa-se correlação negativa do SO2 e O3 com temperatura

mínima e correlação negativa do PM10, SO2 e O3 com a umidade relativa do ar.

Tabela 2 – Análise de Correlação de Pearson dos poluentes atmosféricos e

das variáveis meteorológicas entre janeiro de 2010 e dezembro de 2011 em

São Caetano do Sul.

Variáveis PM10 SO2 NO2 O3 Temperatura mínima

Umidade relativa

PM10 - 0,625* 0,606* 0,456* -0.071 -0,608*

SO2 0,625* - 0,381* 0,321* -0,159* -0,465*

NO2 0,742* 0,576* - 0,453* 0,051 -0,472*

O3 0,456* 0,321* 0,365* - 0,263* -0,502*

Temperatura mínima

-0,071 -0,159*

0,058 0,263* - -0,037

Umidade relativa

-0,608*

-0,465*

-0,460*

-0,502*

-0,037 -

* p ≤ 0,01

Apenas a exposição ao PM10 foi associada aos atendimentos de

emergência por HAS. No entanto, os efeitos deste poluente apresentaram

diferenças na estrutura de defasagem. O aumento interquartil de 22,4 µg/m3 de

PM10 resultou em aumento de 3,63% (IC95%: 0,0081 – 7,31) dos atendimentos

de emergência por HAS no mesmo dia da exposição ao poluente. O efeito

acumulativo após 6 dias de exposição resultou em aumento de 8,56% nos

atendimentos por HAS (IC95%: 2,74 – 14,70) (figura 3). Não foram detectadas

associações entre os demais poluentes e a HAS.

10

Figura 3 - Aumento percentual e intervalo de confiança de 95% (IC95%) nos

atendimentos por HAS devido a um aumento interquartil de 22,4 μg/m3 na

concentração de PM10 no município de São Caetano do Sul e com análise de

estrutura de defasagem.

Considerações finais:

O presente estudo revelou que existe correlação positiva entre a

exposição aos poluentes do ar, em específico ao PM10 e aumento dos

atendimentos de emergência por HAS no município de São Caetano do Sul nos

anos de 2010 e 2011. A exposição ao PM10 resultou em aumento de quase 4%

nos atendimentos por HAS no dia da exposição ao poluente, sendo que o efeito

acumulado após 6 dias de exposição resultou em aumento de cerca de 9% nos

atendimentos de emergência por HAS. Este resultado é bastante expressivo

quando comparado aos dados da literatura. Em estudo realizado em São José

dos Campos foi identificado aumento do risco de hospitalizações decorrente de

hipertensão entre 9% e 13% para um aumento interquartil de 10 µg/m3

(Nascimento e Francisco, 2013). Já no município de Cubatão, para cada

incremento de 10 µg/m3 no PM10 ocorreu aumento de 2,3% (IC95%: 0,86-3,73)

o risco admissões hospitalares para doenças cardiovasculares (Nardocci,

Freitas et al., 2013).

Em estudo realizado em Santo André com controladores de tráfico

também foi identificada a associação entre o poluente PM10 e hipertensão

arterial. Para cada aumento interquartil de 33µg/m3 do PM10 na média móvel de

11

5 horas do PM10, os autores observaram aumento de 2,35mmHg na pressão

sistólica (IC 95%: 1,25-3,80). Em relação à pressão arterial diastólica, também

foram observadas alterações em diferentes momentos, desde o lag 0 (mesma

hora), permaneceu inalterado por 3 horas (lag3) e começou a diminuir no lag

4h. O efeito cumulativo foi maior a média móvel de 4 horas. O aumento

interquartil na concentração de PM10 (33µg/m3) foi associado a aumento de

2,38mmHg na pressão arterial diastólica (IC95%: 1,26-3,40) (Chiarelli, Pereira

et al., 2011). Outros autores também verificaram a existência de associação

entre o PM10 e admissões hospitalares por hipertensão arterial (Dong, Qian et

al., 2013), assim como em relação ao material particulado fino (2,5µg/m3) com

aumento da pressão arterial, (Choi, Xu et al., 2007; Auchincloss, Diez Roux et

al., 2008; Bartoli, Wellenius et al., 2009; Christiani, 2009; Johnson e Parker,

2009; Fuks, Moebus et al., 2011; Hoffmann, Luttmann-Gibson et al., 2012;

Schwartz, Alexeff et al., 2012).

No interior do Estado de São Paulo, a principal fonte de poluentes do ar

é a queima de biomassa, uma vez que os automóveis dos centros urbanos

utilizam o etanol como combustível. Contudo, a queima da cana de açúcar

resulta em grande quantidade de partículas e gases tóxicos que podem afetar

toda uma população das cidades vizinhas por um período de cerca de 6 meses

por ano. Em um estudo realizado em Araraquara, os autores observaram que

as partículas suspensas geradas a partir da queima da cana de açúcar

provocou aumento das admissões hospitalares por hipertensão arterial. Um

aumento de 10 µg/m3 do PM10 da média móvel de 3 dias resultou em aumento

de 12,5% (IC95%: 5,6%-19,9%) de admissões hospitalares por hipertensão

arterial (Arbex, Saldiva et al., 2010).

São Caetano do Sul, cidade da Região Metropolitana de São Paulo tem

frota própria de veículos, é rota de passagem entre as demais cidades da

região e possui parque industrial ativo. De acordo com a literatura, mesmo em

níveis reduzidos de PM (5-20µg/m3), como aqueles encontrados em alguns

países, podem provocar aumento da pressão arterial. Por outro lado, países

em desenvolvimento, como a China, apresentam frequentemente níveis de

PM10 superiores a 100-150 µg/m3, o que coincide com o crescimento da

prevalência da hipertensão arterial em comparação com o resto do mundo

(Choi, Xu et al., 2007; Guo, Tong et al., 2010; Dong, Qian et al., 2013).

12

Neste estudo, não foi identificado correlação entre o O3 e a aumento dos

atendimentos por HAS, embora seus níveis tenham ultrapassado várias vezes

o limite considerado adequado. Até mesmo em períodos de menor quantidade

de energia solar incidente, como no inverno, ocorreram episódios deste

poluente, provavelmente devido aos longos períodos de estiagem e muitas

horas de insolação. O ozônio, poluente secundário formado a partir de reações

químicas entre poluentes primários catalisadas pela luz solar, tem sido menos

associado a efeitos cardiovasculares adversos (Oliveira, Ignotti et al., 2012).

Por outro lado, outros autores identificaram a associação entre O3 e admissões

hospitalares por hipertensão arterial (Urch, Silverman et al., 2005; Nardocci,

Freitas et al., 2013)

Uma alternativa para a redução dos poluentes provenientes da emissão

veicular seria a implantação do rodízio de automóveis, a exemplo da cidade de

São Paulo, Cidade do México, Bogotá, Medellin, Táchira, Quito e Santiago do

Chile. Em São Paulo, única cidade no Brasil e baseado no argumento de

redução dos congestionamentos, a restrição à circulação foi definida de acordo

com o final da placa dos veículos, excluindo-se de circulação os veículos de

dois finais de placa por dia, das 7 às 10h e das 17h às 20h, de segunda a

sexta-feira. Para complementar, foi instituído rodízio de caminhões e um

programa de inspeção veicular para o controle de emissão de poluentes e

fumaça. Outras alternativas consistem no estímulo ao transporte público,

construção de corredores de ônibus e ciclovias.

É importante ressaltar que os poluentes variam de acordo com múltiplas

escalas de tempo, com taxas de emissão, padrões de tempo, sendo que os

ciclos sazonais/diurnos de radiação solar e temperatura exercem grande

impacto em sua concentração. O comportamento de um poluente também é

determinado pela sua taxa de formação e o tempo que permanece na

atmosfera. É por isso, que a concentração dos poluentes é covariável. Como

exemplo, NOx e CO são emitidos durante a combustão, tendo seu pico de

concentração durante a hora do rush. Por outro lado, O3 e outros oxidantes

fotoquímicos, incluindo PM2,5 apresentam seu pico no período da tarde e sob

condições de mais luz solar. Além disso, O3 e PM2,5 apresentam maior tempo

de vida e podem permanecer na atmosfera por muitos dias, dependendo da

intensidade dos ventos e da região geográfica. Todas estas características

13

dificultam a análise dos efeitos diários dos poluentes na saúde de uma

população. Outro aspecto importante a ser considerado na análise dos

resultados são as diferentes características individuais, como por exemplo,

tempo de permanência no tráfego, diferentes fontes de poluentes, tabagismo

secundário, exposição ocupacional e nível de penetração da poluição

atmosférica na residência (Brook, Rajagopalan et al., 2010).

Nota-se também aumento na frequência de atendimentos no outono e

inverno de 2011. Segundo a CETESB, o inverno de 2011 esteve entre os mais

desfavoráveis à dispersão dos poluentes nos últimos anos. No período

compreendido entre os meses de maio e setembro, houve diminuição das

precipitações em praticamente todo o Estado de São Paulo, com períodos de

estiagem e baixa umidade do ar, provavelmente, como consequência do

fenômeno de escala planetária conhecido como La Niña, dificultando, dessa

forma, a dispersão de poluentes primários, o que foi parcialmente atenuado

pela atuação de três massas de ar polar de forte intensidade que contribuíram

para a melhoria nas condições de ventilação. As baixas temperaturas e

umidade observados neste período resultaram em aumento dos níveis de SO2

e PM10, também notados neste estudo.

Finalizando, embora existam esforços para a redução da emissão de

material particulado nos grandes centros urbanos, a exposição ao PM10

resultou em aumento dos atendimentos de emergência por hipertensão arterial

entre os adultos no município de São Caetano do Sul.

Fontes consultadas

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principal. In: PETROV, B. e CSAKI, F., 2nd International Symposium on

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14

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