tipos de justiça

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DIREITO E MORAL, DIREITO E JUSTIÇA, DIREITO E EQUIDADE E TEORIA DOS CÍRCULOS E MÍNIMO ÉTICO Direito e Moral. A diferenciação entre o Direito e a Moral nem sempre é fácil de estabelecer-se, sendo um dos equívocos mais comuns entre os leigos e que, por isso mesmo, Jhering a chamou de cabo Horn da Filosofia do Direito, ou seja, “escolha perigoso contra o qual muitos sistemas já naufragaram”. Tanto o Direito quanto a Moral têm uma base ética comum e uma origem idêntica, que é a consciência coletiva da sociedade. Ambos são normas de comportamento que regulam atos dos seres humanos, tendo um e outro, por fim, o bem estar do indivíduo e da coletividade. A diferenciação entre ambos só é possível após profunda análise de seus pontos de dessemelhanças, senão, vejamos:

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Page 1: tipos de justiça

DIREITO E MORAL, DIREITO E JUSTIÇA,DIREITO E EQUIDADE E

TEORIA DOS CÍRCULOS E MÍNIMO ÉTICO

Direito e Moral.

A diferenciação entre o Direito e a Moral nem sempre é fácil de estabelecer-se, sendo um dos equívocos mais comuns entre os leigos e que, por isso mesmo, Jhering a chamou de cabo Horn da Filosofia do Direito, ou seja, “escolha perigoso contra o qual muitos sistemas já naufragaram”.

Tanto o Direito quanto a Moral têm uma base ética comum e uma origem idêntica, que é a consciência coletiva da sociedade. Ambos são normas de comportamento que regulam atos dos seres humanos, tendo um e outro, por fim, o bem estar do indivíduo e da coletividade.

A diferenciação entre ambos só é possível após profunda análise de seus pontos de dessemelhanças, senão, vejamos:

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Direito e Moral

a) Campo de Atuação:

Moral - O seu campo de atuação é mais amplo, abrangendo os deveres do homem para com Deus, para consigo mesmo e para com seus semelhantes;

Direito – Tem o campo de atuação mais restrito, abrangendo apenas os deveres do homem com seus semelhantes.

b) Coercibilidade:

Moral - Incoercível e só comporta sanções internas (remorso, arrependimento, desgosto íntimo, sentimento de reprovação geral) que do ponto de vista social é ineficaz, pois a ela não se submetem os indivíduos sem consciência e religião;

Direito - Tem coação. Ao inverso da Moral, ele conta com a sanção para coagir os homens e garantir a mais completa eficiência das normas jurídicas. Sem esse elemento coercitivo e inseparável do Direito, não haveria segurança nem justiça para a sociedade.

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Direito e Moral

c) Objetivo:

Moral - Visa à abstenção do mal e a prática do bem;

Direito - Visa evitar que se lese ou se prejudique a outrem.

d) Momento:

Moral - Momento interno, ou seja, psíquico, volitivo à intenção de quem age;

Direito - Momentos externos, físicos, ou seja, apenas a atividade do homem nas relações com o mundo externo.

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Direito e Moral

e) Estrutura:

Moral - É unilateral e possui uma estrutura simples, pois impõe apenas deveres, não dando poder a ninguém de exigir uma conduta de outrem;

Direito - É bilateral e possui uma estrutura imperativo-atributiva, isto é, ao mesmo tempo em que impõe um dever jurídico a alguém, atribui um poder ou direito subjetivoa outrem (a cada Direito corresponde um dever).

f) Sanção:

Moral - Difusa, estabelece uma diretiva geral sem particularização;

Direito - Definida, estabelece normas que definem a dimensão da conduta exigida.

Obs. : “Muitas normas, antes apenas do âmbito da Moral, passaram ao campo do Direito pelo fato do legislador julgar convenientes as relações sociais, atribuir-lhes força coercitiva, impondo uma sanção a sua desobediência - acidente do trabalho, aviso prévio etc”.

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Conceito de Justiça

A Justiça é o magno tema do Direito e, ao mesmo tempo, permanente desafio dos filósofos do Direito, que pretendem conceituá-la e ao próprio legislador que, movido por interesse de ordem prática, pretende consagrá-la nos textos legislativos.

A sua definição clássica foi uma elaboração da cultura greco-romana.

Ulpiano, com base nas concepções de Platão e de Aristóteles, assim a formulou:

“justitia est constans et prepetua voluntas jus suum cuique tribuendi” (Justiça é a constante e firme vontade de dar a cada um o que é seu).

Inserida no “Corpus Juris Civilis”, a presente definição, além de retratar a Justiça como virtude humana, apresenta a idéia nuclear desse valor:

“Dar a cada um o que é seu”.

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Conceito de Justiça

Ensina Paulo Nader:

Dar a cada um o que é seu é um esquema lógico que comporta diferentes conteúdos e não atinge apenas a divisão das riquezas; como pretendeu Locke, ao declarar que a Justiça existe apenas onde há propriedade.

O “seu” representa algo que deve ser entendido como próprio da pessoa.

Configura-se por diferentes hipóteses: salário equivalente ao trabalho; penalidade proporcional ao crime; guarda de um filho menor pelo cônjuge inocente.

A idéia de Justiça não é pertinente apenas ao Direito, à Moral, à religião, e algumas Regras de Trato Social preocupam-se também com as ações justas.

O “seu” de uma pessoa é também o respeito moral, um elogio, um perdão.

A palavra justo, vinculada à justiça, revela aquilo que está conforme, que está adequado. A parcela de ações justas que o Direito considera é a que se refere às riquezas e ao mínimo ético necessário ao bem estar coletivo.

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Conceito de Justiça

A Justiça não é uma ideia inata ao ser humano, mas manifesta-se logo que ele passa a reconhecer o que é seu.

A semente do justo acha-se presente na consciência dos homens.

A Justiça, assim como o Direito, existe sempre em função de uma relação social.

“Justitia est ad alterum”, ou seja, a Justiça é algo que se refere ao semelhante.

Aristóteles afirmava que a Justiça reúne quatro termos:

“Duas são as pessoas para quem ele é de fato justo, e duas são as coisas em que se manifesta - os objetos distribuídos”.

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A Justiça na Mitologia

O homem, aprisionado nos vínculos do pensamento, sempre recorre aos meios de expressão sensíveis, para criar personificações e forjar símbolos que são “a expressão sensível do que é abstrato, são a linguagem do espírito na sua infância.” Capazes de exprimir o abstrato do espírito, ou seja, criam a representação sensível das ideias abstratas.

A ideia abstrata de Justiça teve sua representação plástica entre gregos nas figuras de “Thêmis” e "Dike", idealizadas por Homero e Hesíodo e seus poemas “A Ilíada” e “A Teogonia”.

Themis (a divindade da justiça com vistas à “norma agendi”), plasticamente, é a Justiça álgida, inflexível, severa, arrasadora guardiã dos juramentos dos homens e da lei, sendo que era costumeiro invocá-la nos julgamentos perante os magistrados. Por isso, foi por vezes tida como deusa da justiça, título atribuído, na realidade, a Diké.

Diké (a divindade da justiça com vistas à “facultas agendi”) é a concórdia, a conciliação, a benevolência, ou seja, a equidade apaziguadora em face da justiça estrita e não moldável. Com a mão direita, sustentava uma espada (simbolizando a força, elemento tido como inseparável do Direito), e, na mão esquerda sustentava uma balança de pratos (representando a igualdade buscada pelo Direito), sem que o fiel esteja no meio, equilibrado. O fiel só irá para o meio após a realização da justiça, do ato tido por justo, pronunciando o direito no momento de " ison" (equilíbrio da balança). Note-se que, nesta acepção, para os gregos, o justo (Direito) era identificado com o igual (Igualdade). É representada descalça e com os olhos bem vendados.

Ressalta-se também que a Justitia romana era também representada de olhos vendados, empunhando uma espada desembainhada e uma balança.

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A Justiça na Filosofia Grega

Desde o séc. V a.C., os Pré-socráticos já estudavam a importância da Justiça, mas foi a tríade Sócrates, Platão e Aristóteles que imprimiu vigoroso impulso à Filosofia do Direito. O que eles nos afirmaram do saber, em geral, vale também para o saber jurídico.

Sócrates afirmou sua fé em uma justiça superior, para a validez da qual não é preciso sanção positiva nem formulação escrita. A obediência às leis do Estado é, no entanto, para Sócrates, um dever de “respeitar mesmo as leis injustas, para que os maus cidadãos, tomando isso como exemplo, respeitem as leis justas”.

Platão, discípulo de Sócrates e mestre de Aristóteles, encara o problema da Justiça no Estado, pois, nesta situação, ela pode ser lida mais claramente, “porque está escrita em caracteres grandes, ao passo que. em cada homem, está escrita com letras pequenas”. Para Platão, a Justiça é a virtude por excelência, pois consiste em uma relação harmoniosa entre as várias partes de um corpo. “Ela exige que cada qual faça o que lhe cumpre fazer com vista ao fim comum”.

Aristóteles (384-322 a.C.) foi um dos maiores gênios da humanidade, autor de uma “TEORIA DA JUSTIÇA” que até hoje é utilizada e que tem inspirado os estudos jus filosóficos.

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A Justiça na Filosofia Romana

Diversamente do que ocorreu na Grécia, a Filosofia não encontra, em Roma, campo fecundo para criação e desenvolvimento. Os romanos eram práticos, objetivos, imediatistas, concretistas e administradores por excelência, e, com raras exceções, não se deixavam arrastar para a especulação filosófica.

A Filosofia Romana é inteiramente de importação grega. Os gregos criam, os romanos importam e divulgam. Os juristas romanos, em geral, possuíam cultura filosófica (estoicismo romano), mas a importância maior dos romanos para a civilização foi no campo da Ciência do Direito com o “Corpus Juris Civilis”, monumental codificação reunida sob a supervisão de Triboniano, jurista e ministro do imperador Justiniano, do Bizâncio.

Entre os juristas romanos destacamos, pelo tema do trabalho, a figura de Ulpiano ao afirmar que os preceitos do Direito são:

- Viver honestamente – “honeste vivere”;- Não prejudicar a outrem –“alterum non laedare”; e- Dar a cada um o que é seu – “suum cuique Tribuere”

Ulpiano considerava a justiça precipuamente como virtude prática, acentuando o seu elemento volitivo: “Constans et perpetua voluntas jus suum cuique tribuendi” (Justiça é a constante e firme vontade de dar a cada um o que é seu).

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A Justiça na Filosofia da Idade Média

Na história da Idade Média Cristã, é tradicional a divisão do pensamento filosófico em dois períodos: o da Patrística (séc. II ao \/I) e o da Escolástica (séc. XII ao XIV).

A Escolástica atingiu a plenitude com Santo Thomaz de Aquino, o “doutor angelicus”, descendente de nobre estripe, unido por laços de sangue a várias famílias imperiais, nasceu no castelo de Rocaseca em 1225 d.C.

Para Thomaz de Aquino, a Justiça é distributiva ou comutativa, no sentido aristotélico, acrescentando o conceito de “Justitia legalis” como sinônimo de virtude geral, e a equidade é compreendida como ideia de retidão e de justiça ou por moderação, correção, benignidade e piedade.

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A Justiça na Filosofia Renascentista

A Idade Média foi um vasto período da história da humanidade, caracterizado pelo conformismo e pela submissão. Nela, o homem reputava-se subordinado a leis extrínsecas de que reconhecia não ser autor, mas simples sujeito passivo. Na Renascença, o homem acredita na razão autônoma e a diviniza.

Johannes Althusius (1557-1638) é considerado autor da teoria da fundamentação contratual do Estado sob base Federal e sistematizador da Diquelogia, que é a ciência da Justiça. Em sua obra “Diquaelogla”, esforçou-se para mostrar as relações dos princípios de justiça com os de ordem social.

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A Justiça na Filosofia Moderna e Contemporânea

Ao estudarmos esta fase do ideal de justiça, resolvemos partir dos Contratualistas e outros jus filósofos contemporâneos, destacados no tema Justiça:

Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) - foi autor das obras celebres “Du Contrat Socíal” e “Discours sur l'origine de l’Itígalité des hommes”.

Rousseau foi o maior intérprete das necessidades políticas de seu tempo. Dotado de sensibilidade profunda e entusiasmo imensurável pelo Ideal de Justiça, a ponto de escrever que tinha um “ódio soberano pela injustiça”, ele entendia “Justiça como a consagração dos direitos de liberdade e igualdade.”

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A Justiça na Filosofia Moderna e Contemporânea

Emmanuel Kant (1724-1804), nascido em Königsberg, foi uma das maiores figuras da Filosofia Ocidental, considerado por muitos como um divisor da Filosofia (antes de Kant e Depois de Kant).

Pode ser considerado o fundador da Filosofia moderna.

A noção de Justiça, no grande mestre, é retirada da noção de justo que, para ele, é absoluta e formal, ou seja,

“justa é toda ação que não é ou cuja máxima não é um obstáculo ao acordo da liberdade de arbítrio de todos com a liberdade de cada um, segundo leis universais: daí a máxima: age exteriormente de tal maneira que o livre uso de teu arbítrio possa conciliar-se com a liberdade de todos, segundo uma lei universal”.

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A Justiça na Filosofia Moderna e Contemporânea

Rudolf Von Jhering (1818-1892), chamado por Edmundo Picard de extraordinário jurisconsulto, o maior jurista do século XIX. Jhering, com o seu “utilitarismo evolucionista”, procurou trazer para a plena luz os mais sutis arcanos, os abismos e os subsolos do Direito.

A Justiça para Jhering: Com a expressão injusto introduzimos no assunto uma noção até aqui evitada muito de propósito e que se liga intimamente com a do arbitrário: é a Justiça.

Etimologicamente, é Justiça o que é conforme com o Direito. Mas o termo tem, toda a gente vê, um sentido mais restrito. Do súdito que cumpre a lei ninguém diz que ele procedeu com justiça, nem daquele que infringe se diz que andou injustamente: aquele que é obrigado à obediência não pode obrar nem justa nem arbitrariamente. Só pode fazê-lo quem manda, isto é, quem dispõe do poder e tem por missão criar a ordem...

O latim moldou exatamente esta idéia na palavra JUSTITIA (isto é o poder ou a vontade Qui jus sistit, que estabelece o direito, a ordem). Justiças e arbítrio seriam pois noções correlativas: a primeira indicaria que aquele que tem a missão e o poder de estabelecer a ordem no círculo dos seus inferiores, se conformou com as normas a que o reputamos sujeito, e a segunda, que ele delas se afastou...

Justiça Formal e Justiça Material são os termos melhor apropriados para exprimir este duplo aspecto da noção de justiça... Estabelecer a igualdade tal é o fim prático da Justiça.

A Justiça material estabelece a igualdade interna, isto é, a justa proporção entre os méritos e o salário, entre a pena e a culpa; a Justiça formal produz a igualdade externa, quer dizer, assegura a aplicação uniforme, a todos os casos, da norma estabelecida...

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A Justiça na Filosofia Moderna e Contemporânea

Hans Kelsen (1881-1973), fundador da Escola Vienense e da Teoria Pura do Direito, era um pensador neokantíano de tendência logicista, pelo método de elaboração conceptual que adotou.

Partindo da distinção entre a categoria do “Ser” e a categoria do “Dever Ser”, Kelsen constrói o seu sistema de Teoria Pura do Direito, isento de quaisquer conteúdos biológicos, sociológicos, psicológicos ou teológicos.

“A Teoria Pura do Direito” é uma Teoria do Direito Positivo e não de uma ordem jurídica especial. É Teoria Geral do Direito, mas não uma interpretação de normas jurídicas particulares, nacionais ou internacionais. Procurou responder a pergunta sobre o que é e como é o Direito, mas não à pergunta sobre como deve ser e como elaborá-lo.

Limita-se ao Direito Positivo: é a Teoria do Positivismo Jurídico.

A Teoria de Kelsen não visa a determinação do conteúdo da Justiça como valor absoluto. Quer expor o Direito como ele é sem o legitimar como justo ou desqualificá-lo como injusto.

Hans Kelsen ensina no prefácio da segunda edição da Teoria Pura do Direito:O problema da Justiça, enquanto problema valorativo, situa-se fora de uma teoria do Direito que se limita à análise do Direito Positivo como sendo uma realidade jurídica, como, porém, tal problema é de importância decisiva para a política jurídica; procurei expor num apêndice (A Justiça e o Direito natural) o que há a dizer sobre ele de um ponto de vista científico e, especialmente, o que há a dizer sobre a doutrina do Direito Natural.

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A Justiça na Filosofia Moderna e Contemporânea

Edmundo Picard, Jus filósofo belga, chefe da Ordem dos Advogados junto ao Supremo Tribunal da Bélgica, Senador, professor da Universidade Nova de Bruxelas e autor da monumental obra “O Direito Puro”.

Picard, em sua obra “O Direito Puro, realiza uma das mais importantes análises da Justiça criando o Tetragrama:

- Primeiro Termo da Justiça - De cada qual segundo as suas faculdades;- Segundo Termo da Justiça - A cada qual segundo as suas necessidades;- Terceiro Termo da Justiça - Pelo esforço de cada qual; e- Quarto Termo da Justiça - E pelo esforço de todos.

Ensina Picard: A justiça, para merecer o seu grande nome, deve abraçar toda a Sociedade, não fornecer as

suas vantagens a alguns, mas a todos; não ser apenas a servidora dos poderosos, mas sobretudo, dos humildes; não esquecer ninguém e não esquecer nenhuma necessidade; exigir o concurso de todos, mas no limite das forças de cada qual; penetrar na organização social como um fluído benéfico, trazendo a toda a parte a saúde e a alegria. É o programa! Mas é realizável?

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Tipos e Critérios de Justiça

a) Tipos de Justiça:

É preciso que desmontemos a Justiça em tipos específicos, para que possamos, então, sentir como o Direito atuará na sua realização. Cada tipo não será uma unidade, independente e autônoma, mas significará uma face do prisma. Ei-los:

Justiça Distributiva - Tipo definido por Aristóteles como sendo o tipo fundamental, eis que é exercido pelo Estado. Protege ele a distribuição de ônus, obrigações e deveres, assim como a de honras, direitos e vantagens entre os membros da sociedade, de acordo com a situação, aptidão e capacidade de cada um deles;

Justiça Comutativa - Também ela é identificada por Aristóteles, tendo por fim regular as relações entre os membros do grupo social. Estes têm de defender, reciprocamente, o que, de direito, competir a cada um. Corresponderia à manutenção dos vínculos obrigacionais, assumidos, entre si pelos próprios membros do grupo social;

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Tipos de Justiça

Justiça Legal - Às vezes, é chamada de “Justiça geral”, porque procura abraçar os dois tipos anteriores, unificando-os, e, então, igualando-os a meras “Justiças Particulares”. Este tipo foi introduzido por Tomás de Aquino no esquema aristotélico, no sentido de pretender que, sob o princípio da igualdade, os membros da sociedade cumpram as leis sobre as quais repousa a ordem social existente e tendente ao “bem comum”, contribuindo cada um, para os encargos sociais da administração pública;

Justiça Social - Este tipo corresponde a uma designação formal e específica dos tempos modernos, pois a sociedade somente interessa-se por um desenvolvimento orgânico. O esforço, neste sentido, como nos diz Nell-Breuning, e a boa vontade de levá-lo a cabo constituem a Justiça Social, assim denominada porque cria a verdadeira ordem na comunidade e protege, de modo permanente, o “bem comum” - Justiça social é dar a cada um segundo suas necessidades.

Os primeiros gestos históricos característicos desse sistema são atribuídos a La Mennais e a Lacordaire, que, mais ou menos em 1835, tentaram resolver “a questão social" pela adoção de métodos cristãos e, mais proeminentemente, ao Bispo da Monguncia, Wilherme Von Ketteler, que se dispôs a enfrentar a política Social desde a sua sagração, em 1850, e até mesmo publicou, em 1864, a obra específica “A questão trabalhista e a cristandade”.

Este tipo de Justiça é definido em várias Encíclicas Papais que visam especialmente à distribuição justa de bens, à organização do trabalho e à prestação do salário - “Rerum Novarum”; Leão XII, em 1891 – “Castí Connubii”, 1930 - “Quadragésirno Anno", 1931 - “Divini redemptoris”, 1937 de Pio XI - “Mater Et Magistra”, 1961, de João XXJII - e “Populorum Progressio”, 1967, de Paulo VI.

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Critérios de Justiça

A noção de justiça para todos os fatos sociais pressupõe uma avaliação de certos critérios, que são dispostos em duas ordens:

Primeiro - Critérios Formais:

a) Igualdade - Foi Pitágoras que considerou, primeiramente, a importância da igualdade na noção de Justiça. Para ele, “a Justiça se caracteriza como uma relação aritmética de igualdade entre dois termos, por exemplo, uma injúria e a sua reparação”.

Esse critério exige tratamento igual para situações iguais. No Direito, a igualdade está consagrada pelo principio da Isonomia, segundo o qual “todos são iguais perante à lei”.

b) Proporcionalidade - Aristóteles, partindo do pensamento de Pitágoras, chegou à conclusão de que a simples noção de igualdade não é suficiente para expressar o critério de Justiça. O “dar a cada um o mesmo” não é medida ideal. A proporcionalidade é o elemento essencial nos diversos tipos de repartição.

É indispensável se recorrer a atuações desiguais. Rui Barbosa não desconheceu isto ao salientar que “A regra de igualdade não consiste senão em aquinhoar desigualmente aos desiguais, na medida em que se desigualam. Nesta desigualdade social, proporcionada à desigualdade natural, é que se acha a verdadeira Lei da Igualdade”.

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Critérios de Justiça

Segundo - Critérios Materiais:

a) Mérito - É o valor individual e a qualidade intrínseca da pessoa. O atribuir a cada um segundo o seu mérito requer não um tratamento de igualdade, mas de proporcionalidade. Ao se recompensar o mérito de alguém, deve-se fazê-lo de acordo com o seu grau de intensidade. Como os valores possuem bipolaridade, ao lado do mérito existe o demérito, que é um desvalor ou valor negativo, que condiciona também a aplicação da Justiça.

b) Capacidade - Como critério de Justiça, corresponde às obras realizadas; ao trabalho produzido pelo homem. Este critério deve ser tomado na fixação de salários, nos exames e concursos e no estabelecimento da contribuição de cada indivíduo para com a coletividade.

c) Necessidade - Este critério, modernamente, vem se desenvolvendo e se institucionalizando pelo Direito, tendo por base a fórmula “a cada um segundo suas necessidades”. Estas necessidades, preconizadas pela Justiça Social, são as mesmas que nucleiam o Bem-Comum, conhecidas como necessidades essenciais ou “minimum vitai”, ou seja, conjunto de condições concretas que permitem a todos um nível de vida à altura da dignidade da pessoa humana.

Justiça: o “dar a cada um o mesmo” não é medida ideal. A proporcionalidade é o elemento essencial nos diversos tipos de repartição. É indispensável se recorrer a atuações desiguais.

Rui Barbosa não desconheceu isto ao salientar que “A regra de igualdade não consiste senão em aquinhoar desigualmente aos desiguais, na medida em que se desigualam. Nesta desigualdade social, proporcionada à desigualdade natural, é que se acha a verdadeira Lei da Igualdade”.

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Equidade

Aristóteles traçou com precisão em sua obra Ética a Nicômaco o conceito de Equidade, considerando-a “uma correção da lei quando ela é deficiente em razão da sua universalidade” e comparou-a à régua de lesbos que, por ser de chumbo, ajustava-se a qualquer superfície.

“A régua adapta-se à forma da pedra e não é rígida, exatamente como o decreto se adapta aos fatos”.

Ensina Paulo Nader:

Tal é a diversidade dos acontecimentos sociais submetidos à regulamentação, que ao legislador seria impossível a sua total catalogação. Daí por que a lei não é casuística e não prevê todos os casos possíveis, de acordo com suas peculiaridades.

A sistemática exige do aplicador da lei, juiz ou administrador, uma adaptação da norma jurídica, que é genérica e abstrata, às condições do caso concreto. Não fosse assim, a aplicação rígida e automática da lei poderia fazer do Direito um instrumento de injustiça, conforme o velho adágio Summum jus, summa injura. (Suma justiça, sua injúria. Exercício do direito em excesso gera injúria excessiva)

Page 23: tipos de justiça

EquidadePara os romanos, a Equidade era a “justitia dulcore misericórediae temperata”, ou seja, a justiça doce, temperada de misericórdia e não uma fonte criadora do Direito. Melhor é aceitar a Equidade como a justiça do caso concreto. Vejamos o exemplo no Direito brasileiro:

Art. 8º da CLT - As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de disposições legais ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência, por analogia, por equidade e outros princípios e normas gerais de direito, principalmente do direito do trabalho e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o direito comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular prevaleça sobre o interesse público.

Parágrafo único. O direito comum será fonte subsidiária do direito do trabalho, naquilo em que não for incompatível com os princípios fundamentais deste.

Art. 127 do CPC - O juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei.

Art. 6º e 25 da Lei nº. 9099/95 - O Juiz adotará em cada caso a decisão que reputar mais justa e equânime, atendendo aos fins sociais da lei e às exigências do bem comum.

Art. 25. O árbitro conduzirá o processo com os mesmos critérios do Juiz, na forma dos arts. 5º e 6º desta Lei, podendo decidir por equidade, etc.

Podemos afirmar que, se a Justiça, como virtude humana, é a ideia nuclear do Direito; a Equidade é o núcleo quantitativo e qualitativo da Justiça.

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Atividade

Spam obsceno leva à condenação adolescente na Rússia

Um adolescente que mandou uma mensagem obscena para 15.000 telefones celulares foi o primeiro réu a ser condenado pela prática de spam na Rússia. O estudante de Chelyabinsk invadiu o sistema de uma das maiores operadoras de celular e usou um programa especial para mandar a mensagem. Ele foi condenado a um ano sob observação e uma multa de 3.000 rublos (cerca de 300 reais). Fonte: Reuters, 26/04/2004.

Desconsiderando o fato de a situação ter se passado com um adolescente na Rússia, responda ao que se pede justificadamente.

a) As normas morais e jurídicas são instrumentos de controle social? Fundamente sua resposta.

b) Diferencie a Moral de Direito, a partir das suas características.

c) É correto dizer que Direito e Moral são independentes? Justifique sua resposta, comentando, sucintamente, o caso concreto em exame, à luz das teorias que envolvem essa questão.