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TIPIFICAÇÃO DOS INTEGRANTES DO CONSELHO GESTOR DO
TERRITÓRIO CENTRO SUL DO PARANÁ
Marinice Teleginski 1
Marcos Roberto Pires Gregolin2
Vanessa Alberton3
Wilson João Zonin4
O Conselho Gestor do Território Centro Sul do Paraná é uma forma de
organização que permite a participação do povo na gestão das políticas públicas, se
configurando como órgão administrativo com representação paritária entre sociedade
civil e Poder Público. Compõe o Conselho Gestor doze secretarias municipais de
agricultura, doze Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural, doze instituições do
poder público e treze entidades da sociedade civil organizada, totalizando quarenta e
nove instituições que em seus objetivos minimamente contemplam o desenvolvimento
sustentável dos municípios integrantes do Território. Embora seja conhecido o desenho
geral do Conselho Gestor, e os conselheiros na sua maioria se conheçam, poucas
informações estão sistematizadas sobre o perfil dos integrantes, bem como números
referentes a escolaridade, gênero e faixa etária. Sendo assim, objetivou-se com este
trabalho traçar o perfil dos integrantes do Conselho Gestor do Território Centro Sul do
Paraná, bem como analisar participação dos mesmos nos espaços de discussão
proporcionados. Para esse estudo utilizou-se análise de documentos internos do
conselho, onde buscou-se informações em documentos atualizados periodicamente,
pertencentes ao banco de dados do Conselho Gestor. Neste delineamento, analisou-se
um considerável número de variáveis, tais como participação, escolaridade e faixa
etária, contudo, cabe enfatizar que no que diz respeito a paridade de gênero, o Conselho
Gestor do Território Centro Sul se encontra muito inferior ao desejado. O Segmento
mais curioso é o das Secretarias Municipais de Agricultura, onde 100% dos
Conselheiros são homens, seguido pelos Conselhos Municipais de Desenvolvimento
Rural, onde apenas 14% são mulheres. Nas instituições do poder público, percebeu-se
uma melhor participação das mulheres, onde ocupam 38% da representatividade e por
fim, foi na Sociedade Civil Organizada onde a questão de gênero teve uma situação
mais adequada, sendo 50% das vagas ocupadas por mulheres. Concluiu-se através deste
estudo que as atividades do Conselho Gestor e a participação de seus integrantes é de
suma importância para o desenvolvimento de propostas e ações, no entanto, é necessário
que se conheça mais sobre os representantes das instituições, para que se possa melhor
organizar os debates e as plenárias de discussão.
1 Licenciada em Biologia, Pós Graduanda do programa de Especialização em Agroecologia - IFPR.
[email protected]. 2 Bacharel em Comunicação Social, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento
Rural Sustentável - PPGDRS - UNIOESTE - Marechal Cândido Rondon. [email protected] 3 Acadêmica do Curso de Turismo – UNICENTRO. [email protected].
4 Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento Rural, Professor adjunto do Programa de Pós-Graduação
em Desenvolvimento Rural Sustentável - PPGDRS - UNIOESTE - Marechal Cândido Rondon.
Palavras Chave: Gênero, Idade e Escolaridade.
1 - Conselho como ferramenta de participação social
Diversas políticas públicas no Brasil atual tem como sustentáculo para suas
deliberações a participação e o controle social. Uma das maneiras pelas quais o cidadão
exerce o controle social é na participação de Conselhos, sejam eles setoriais, temáticos,
municipais, regionais, estaduais ou federais. Segundo Alencar, conselhos, que também
podem ser conhecidos como colegiados, tem por finalidade fomentar o diálogo entre a
sociedade civil e o poder público, com o intuito de dotar as políticas públicas com mais
transparência e participação social, seja na formulação, gestão ou monitoramento de sua
execução. (ALENCAR, 2013)
No que diz respeito às políticas agrícolas, cabe referenciar neste momento a
existência dos Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural Sustentável, os quais
são mencionados na Lei5 que institui o PRONAF (Programa Nacional da Agricultura
Familiar). O CMDR será composto por representantes do poder público municipal, das
organizações dos agricultores familiares, dos beneficiários do Programa Nacional da
Reforma Agrária, das organizações da sociedade civil e das entidades parceiras
(ARTIGO 15. Lei 3.508, BRASIL, 2000). Os CMDR´s surgem com respeitáveis
espaços, destinados para a articulação dos pequenos agricultores nas decisões e
discussões sobre o Desenvolvimento Rural Municipal.
Uma das principais políticas públicas no Brasil Rural que ficou sob a égide dos
CMDRS´s foi o PRONAF Infraestrutura e Serviços Municipais, e avaliações de
diversos pesquisadores e estudiosos da ruralidade deram conta que esta política não
gozava de total controle social, haja vista a influência de um fenômeno, denominado por
Abramovay de "prefeiturização" dos conselhos municipais. (ABRAMOVAY, 2001).
Aliada a esta hipótese, os rumos que as discussões sobre o desenvolvimento tomavam
em âmbito mundial e nacional, fizeram com que o debate sobre o desenvolvimento
sustentável tomasse a escala regional, culminando em políticas que hoje são chamadas
de Políticas de Desenvolvimento Territorial. Tal perspectiva não subtrai a participação
dos Conselhos Municipais, contudo, adiciona mais um órgão partícipe no processo de
controle social, são eles os Conselhos, ou colegiados, Territoriais de Desenvolvimento
Rural Sustentável. Com o advento dessa nova maneira de pensar o rural, extrapolando
5 Lei Nº 1.946 de 28 de Junho de 1996
os limites dos municípios, esperou-se que a unidade de planejamento e ação deixasse de
ser pensada individualmente por cada gestor municipal, e passasse a ser discutida pelo
Conselho Gestor Territorial.
2 - Território
O conceito de território é abordado por vários autores e discutido por diversas
perspectivas, como: geografia, economia, sociologia, psicologia, biologia e outras áreas
do conhecimento. Entendido como um espaço físico, com uma geografia definida, que
abrange o meio urbano e o rural e se caracteriza por critérios diversos como: o
ambiente; a economia; a sociedade; a cultura; a política; as instituições; os grupos
sociais existentes, com suas distinções e que tem sua própria identidade e coesão social,
cultural e territorial (MDA, 2011).
Entre os aspectos componentes da abordagem territorial merece atenção o
elemento humano em suas diversas relações sociais. Santos e Silveira (2008), em sua
definição do espaço territorial extrapolam os limites da identificação de seus
componentes, atrelando uma perspectiva temporal ao afirmar que a “[...] territorialidade
humana pressupõe também a preocupação com o destino, a construção do futuro, o que,
entre os seres vivos é privilégio do homem” (p.19).
A conotação temporal diz respeito à dimensão da gestão territorial, ou seja, a
utilização adequada de um espaço geográfico em uma relação de ações presentes para a
construção de um propósito futuro. Considerando o território como um espaço de
pertença de uma coletividade então a abordagem territorial passa ser considerada como
o espaço da gestão pública, e, em um tratamento ampliado, o espaço da governança
pública.
Ainda, “trabalhar com a abordagem Territorial é trabalhar para que as políticas
públicas sejam descentralizadas. Que elas passem a ser pensadas e implementadas pelos
atores sociais” (MDA, 2011, p.2). Nesse entendimento, a abordagem territorial tem sido
privilegiada pelo Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA) por entender que essa
surge como uma forma de impulsionar o desenvolvimento rural sustentável, justificada
pela necessidade de superar a visão reducionista do meio rural como mero setor
econômico, desconsiderando: o ambiente, as pessoas, a cultura, a política, as
instituições, entre outros aspectos.
A organização das localidades por meio dos Territórios é uma maneira de
encontrar soluções práticas aos problemas comuns dos moradores, além de ter a chance
de reivindicar por novos projetos, oportunidades e ações que venham a contribuir e
melhorar a qualidade de vida, principalmente no meio rural.
Nesse intuito, desde o ano de 2003 a Secretaria de Desenvolvimento Territorial
(SDT) do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) vem promovendo a
Participação e o Controle Social por meio do Programa Nacional de Desenvolvimento
Sustentável dos Territórios Rurais (PRONAT), estimulando o exercício da governança,
por meio dos Conselhos Gestores.
Em parceria de diversas instituições da sociedade civil, direcionadas às esferas
federal, estaduais e municipais, o PRONAT começou a operar em 2004 em 65
territórios. Atualmente, conta com 164 territórios rurais compostos por 2,5 mil
municípios em todo o Brasil (MDA, 2013b).
A SDT atua nos territórios apoiando a organização e o fortalecimento
institucional dos atores sociais locais na gestão participativa. O PRONAT conta com
colegiados de âmbito territorial, fóruns constituídos em cada território por instituições
da sociedade civil e do poder público, responsáveis pelo planejamento territorial, pela
articulação institucional, elaboração de propostas e projetos técnicos, acompanhamento
e controle social das ações do Programa e de outras políticas públicas que concorrem
para o desenvolvimento sustentável dos territórios (MDA, 2013b).
Mediante junção da administração pública, da gestão social e de políticas de
desenvolvimento territorial, atuando com base no conceito de governança, espera-se que os
Territórios cresçam cada vez mais, tenham suas estruturas melhoradas e proporcionem
acréscimos tanto no meio rural quanto no urbano, gerando mais benefícios para a comunidade,
gerindo melhor os recursos disponibilizados e fazendo o intermédio entre as oportunidades e o
morador.
3 - Caracterização do Território Centro Sul do Paraná
O Território Centro Sul do Paraná, localiza-se no segundo Planalto Paranaense e
é composto por 12 municípios: Fernandes Pinheiro, Guamiranga, Imbituva, Inacio
Martins, Irati, Mallet, Prudentópolis, Rebouças, Rio Azul, Ipiranga, Teixeira Soares e
Ivaí. Abrange uma área de 10 mil km², ou seja, corresponde cerca de 5% da área total
do estado (IPARDES, 2007), conforme figura 1.
Figura 1 – Território Centro Sul do Paraná
Fonte: MDA (2011)
Possui uma população de 236.719 habitantes, população rural de 106.417
habitantes, sendo que aproximadamente 44.008 habitantes (20,11%) vivendo abaixo da
linha da pobreza (IBGE, 2010). No quadro 1 são apresentados os IDHM de cada um dos
municípios:
Quadro 1 - IDHM dos municípios que compõe o Território Centro Sul
MUNICÍPIO IDHM LONGEVIDADE RENDA EDUCAÇÃO
NÍVEL DE
DESENV.
HUMANO
Prudentópolis 0,676 0,807 0,664 0,577 Médio
Irati 0,726 0,835 0,715 0,640 Alto
Imbituva 0,660 0,828 0,681 0,509 Médio
Inacio Martins 0,600 0,765 0,623 0,454 Muito alto
Ivaí 0,651 0,791 0,654 0,534 Médio
Ipiranga 0,652 0,828 0,684 0,489 Médio
Rebouças 0,672 0,814 0,647 0,576 Médio
Teixeira Soares 0,671 0,822 0,676 0,544 Médio
Rio Azul 0,687 0,819 0,728 0,444 Médio
Guamiranga 0,669 0,804 0,657 0,568 Médio
Mallet 0,708 0,809 0,681 0,645 Alto
Fernandes Pinheiro 0,645 0,791 0,647 0,525 Médio
Fonte: PNUD (2010)
O IDH vai de 0 a 1: quanto mais próximo de zero, pior o desenvolvimento humano. Quanto mais próximo
de um, melhor. O índice considera indicadores de saúde, renda e educação.
No ano de 2000, o Território somava o número de 23.620 famílias pobres, sendo
36,7% do total delas, indicando uma quantidade superior à média paranaense, de 20,9%.
De modo geral, todos os municípios apresentavam taxas de pobreza extremamente
elevadas, que chegaram a ultrapassar o dobro da média estadual (MDA, 2011).
No meio rural encontram-se 29.258 agricultores familiares, sendo que 26.124
agricultores possuem áreas de 1 a 50 hectares e somente 3.314 agricultores possuem
área superior a 50 hectares (EMATER apud AMCESPAR, 2013).
A utilização das áreas rurais é em sua maioria através do cultivo de grãos como
milho, soja e feijão e se enquadra em uma agricultura de subsistência. Também é um
grande produtor de fumo, com cerca de 22,6% da área total e, com 21,3% da produção
total e desde a década de 70 há o cultivo de frutas, atualmente destacando-se os
municípios de Mallet e Irati, com ameixa, pêssego, amora, framboesa, morango e uva
(AMCESPAR, 2013).
A produção pecuária se caracterizada pela integração entre agricultores e
empresas privadas, principalmente nas produções de suínos e aves. Ainda, são
produzidos leite, mel e, como atividade alternativa para as pequenas propriedades, a
piscicultura.
Em relação à questão florestal e de biodiversidade, existe produção extrativista e
de reflorestamento que, envolvendo atividades oriundas do setor madeireiro, faz com
que o Território seja inserido na produção estadual com percentual significativo. Ainda,
por ser rico em paisagens naturais e com inúmeras nascentes, apresenta diversas
cachoeiras de grande potencial turístico, agregando valor aos municípios.
4 - CONSELHO GESTOR DO TERRITÓRIO
Conselho Gestor do Território Centro Sul
O Conselho Gestor, considerado como uma forma de organização pública
administrativa oportuniza a participação do “povo na gestão das políticas públicas, se
configurando como órgão administrativo com representação paritária entre sociedade
civil e Poder Público” (OGPP, 2013, s/p).
São responsáveis por regulamentar as “ações dos órgãos aos quais estão
vinculados, deliberando ou não, reivindicações feitas pela população e pelas demandas
elencadas em cada reunião de conselho. Os conselhos têm caráter deliberativo e
cogestor”, permitindo que os cidadãos se integrem à cogestão administrativa da coisa
pública, identificando e contribuindo na constituição de políticas públicas que levam em
consideração cada realidade representada (OGPP, 2013, s/p).
Ainda, podem de acordo com sua formulação realizar as funções de fiscalização,
mobilização, deliberação e consultoria. A função fiscalizadora visa controlar e
acompanhar as ações de gestão dos governantes; a mobilizadora caracteriza-se pelo
estímulo à contribuição da sociedade civil em participar da vida política; por
deliberativa entende-se a participação efetiva dos conselhos que tomam decisões sobre
estratégias a serem usadas pela administração; e a consultiva, que se realiza por
sugestões e opiniões para os gestores em relação às determinadas políticas públicas
(CGU, 2008).
Constituído como um espaço democrático permite, mediante a participação dos
mais diversos atores sociais, buscar soluções mais completas e efetivas para as
demandas da sociedade. Assim, o conselho gestor constitui-se como uma tecnologia
social, enquanto metodologia de trabalho, que oportuniza condições para a
modernização dos Governos, podendo envolver em sua configuração diversos níveis
geográficos de gestão pública.
4.1. HISTÓRICO DO CONSELHO GESTOR DO TERRITÓRIO CENTRO SUL
DO PARANÁ
O Conselho Gestor do Território Centro Sul do Paraná surgiu da necessidade
visualizada pelos doze municípios integrantes da necessidade de reverter a realidade de
aproximadamente 30.000 famílias de agricultores familiares em condições de vulnerabilidade.
No ano de 1996 foram instituídos os Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural
(CMDR) nos municípios de Rebouças e Inácio Martins, posteriormente implantados nos outros
dez integrantes. Esse fato deu início ao processo de Desenvolvimento do Território, com a união
da comunidade, discutindo sua realidade e propondo mudanças estratégicas. Outro fator que
contribuiu, foi a implantação de projetos com os recursos canalizados aos municípios através
dos CMDR, os eventos de capacitação dos beneficiários e dos conselheiros, caracterizando-se
como um processo pedagógico de participação e gestão social (MDA, 2011).
Em 2005, oficialmente foi criado o Território Centro Sul do Paraná e seu Conselho
Gestor, constituindo um fato histórico de grande relevância para os seus integrantes. (MDA,
2011). Deste então, vem desempenhando papel importante e decisivo nas questões referentes à
agricultura regional, trazendo novas oportunidades e lutando para conseguir atender as
demandas existentes.
4.1.1 Composição do Conselho Gestor
O Conselho Gestor do Território Centro-Sul do Paraná, segundo o seu regimento
interno, deve ser Composto por:
• Representantes da Sociedade Civil, no máximo 30 %;
• Representantes Governamentais, no máximo 35 %, podendo ocupar estas cadeiras Secretarias
de Estado e Vinculadas e Prefeituras Municipais;
• Representantes dos Atores Sociais Beneficiários, no mínimo 35 %.
O Regimento Interno do Conselho Gestor preconiza que a plenária deve ser composta
no máximo por 40 membros, mantendo a proporcionalidade acima apresentada, podendo ser
ampliada, se, somente se for aprovada pela maioria absoluta. Tendo como referencial o mesmo
documento, o Conselho Gestor deve ser composto por uma Plenária, Diretoria Executiva,
Câmaras Técnicas e Câmaras Setoriais (MDA, 2011).
A atual formação do Conselho Gestor do Território Centro Sul conta com os seguintes
componentes:
Quadro 2 – Composição do Conselho Gestor
Conselhos Municipais de
Desenvolvimento Rural Sustentável
MALLET
RIO AZUL
REBOUÇAS
IRATI
INÁCIO
MARTINS
IVAÍ
FERNANDES PINHEIRO
TEIXEIRA SOARES
PRUDENTÓPOLIS
GUAMIRANGA
IPIRANGA
Secretarias Municipais de
Agricultura/Prefeituras Municipais
De todos os 12 municípios que compõe o Território.
Instituições do Poder Público, Prestadoras
de Serviços aos Beneficiários
SEAB
EMATER
IAPAR
SEDS
SESA
SEED
IFPR
UNICENTRO
Colégio Florestal
EMBRAPA FLORESTA
AMCESPAR (CONDER)
IAP
Instituições da Sociedade Civil,
Prestadoras de Serviços aos Beneficiários:
AEARI
APF
ASMUC-F
COOP PALMEIRA
FETRAF-SUL
STR PALMEIRA
ASSIS
CEDEJOR
COMUNIDADE NEGRA DE IVAÍ
CRESOL
FETAEP
ADEOP
IEEP
Fonte: MDA, (2013a)
Org.: os autores
A participação dessas entidades nas reuniões do Conselho Gestor é de suma
importância, pois todas elas estão diretamente relacionadas com os assuntos que são abordados
e suas opiniões, contribuições são fundamentais para o bom andamento e criação de novas
propostas e projetos que venham a atender a região Centro Sul do Paraná.
4.2 METODOLOGIA DE TRABALHO DO CONSELHO GESTOR
A diretoria do Conselho se reúne para reuniões mensalmente, sempre na
primeira semana do mês. Também acontecem reuniões extraordinárias conforme as
necessidades do Território e, ainda, o Colegiado se reúne bimestralmente. A fim de
otimizar os trabalhos do Conselho, surgiram os eixos, ou seja, divisões em categorias
que facilitam o andamento e o direcionamento das ações a serem tomadas.
4.2.1 Eixos ou câmaras temáticas
O Colegiado Territorial desenvolveu um diagnóstico nos doze municípios,
fazendo parte do Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável (PTDRS), que
por sua vez é considerado um instrumento de apoio à gestão social. Nessa ocasião foram
levantados os dados referentes: aos aspectos físico-ambientais, os demográficos e os
históricos de ocupação socioeconômica, a densidade demográfica, a distribuição da
população rural e urbana, a distribuição populacional por sexo, os aspectos sociais e de
educação, o analfabetismo, os aspectos econômicos, a estrutura agrária do Território
Centro-Sul do Paraná, a presença de povos e comunidades tradicionais, a existência de
Unidades de Conservação, as potencialidades e os limites encontrados no Território.
De posse desses dados, foram discutidas quais ações seriam realizadas e que
pudessem ser executadas visando a resolução ou diminuição de problemas. Para isso,
surgiram os quatro grupos de trabalho também chamados de eixos ou câmaras
temáticas, como segue:
- Câmara temática 1 - Diversificação, Produção e Meio Ambiente – está
relacionado à consolidação das ações nas áreas de diversificação produtiva,
agroindustrialização, turismo rural e gestão ambiental, com base na articulação
institucional e na integração das ações.
- Câmara temática 2 - Organização, Comercialização e Mercados – utiliza dos
programas institucionais para auxiliar no fortalecimento da organização da agricultura
familiar, nos processos de comercialização e de diversificação dos mercados.
- Câmara temática 3 - Desenvolvimento Humano e Inclusão Social – engloba formas
de melhorar a qualidade de vida no campo, proporcionando mais inclusão social e
oportunidades de trabalho.
- Câmara temática 4 - Gestão do Desenvolvimento Territorial – faz com que as
ações previstas sejam realizadas, utilizando de mecanismos diversos, tanto internos
como externos.
Em reunião no dia 10 de setembro de 2013, foi votada e aprovada a Câmara
Técnica em Apicultura, considerando a grande demanda de produção de mel na região,
a dificuldade com o tráfego desse produto para a comercialização e a existência de
projetos e trabalhos desenvolvidos pela UNICENTRO, em parceria com Associações de
Apicultores do Território. Sendo assim, são cinco as Câmaras Temáticas existentes.
A câmara temática de Gestão do Desenvolvimento Territorial pode ser
considerada um eixo transversal, sendo relevante para os outros três.
4.2.2 Câmaras temáticas
O Regimento Interno do Conselho Gestor define as Câmaras Técnicas como
sendo órgãos auxiliares do Conselho, que podem ser permanentes ou apenas provisórias
e que são constituídas e aprovadas por deliberação do Plenário, seja em Reuniões
Ordinárias ou Extraordinárias do Conselho Gestor.
As câmaras tem autoridade de formular propostas para assuntos de sua
competência, encaminhando-as ao Plenário e devem ser coordenadas por pessoas eleitas
pelos membros que a compõe, que tem a função, entre outras coisas, de encaminhar
relatórios dos trabalhos ao Plenário do Conselho Gestor.
Em reunião no município de Ivaí, a câmara de juventude apresentou proposta
pra criar câmara técnica de juventude, e foi votado a aprovação de uma câmara temática
de juventude.
4.2.3 Ações
Como resultado das reuniões realizadas nas plenárias, surgiram propostas,
aceitas pelo MDA, através da Secretaria de Desenvolvimento Territorial, que promovem
ações e investimentos aplicados no Território, tais como (AMCESPAR, 2013):
- Centro de Formação de Agentes do Desenvolvimento Sustentável, cujo objetivo é
promover o desenvolvimento harmônico e sustentável do Território por meio da
educação e mobilização dos atores. São projetos executados em Guamiranga com
investimentos em obra civil, móveis, equipamentos de uso didático e veículos;
- Oficinas de Capacitação para Reconversão em Agricultura de Base Ecológica
aplicadas pelo Instituto Guardiões da Natureza (ING), cuja sede é em Prudentópolis;
- Profissional Cidadão é um convênio do MDA, Secretaria de Agricultura Familiar,
Governo do Estado do Paraná, Secretaria de Estado de Ciências e Tecnologia e Ensino
Superior (SETI), que disponibiliza profissionais voluntários para ATER em diversas
áreas, auxiliando na formação e na articulação do capital social, facilitando a
implantação de projetos do Território;
- Projeto Articulador Territorial busca promover o processo de Acompanhamento
para Gestão Participativa das Ações do Território.
- Viveiro de Mudas Frutíferas e de olerícolas com qualidade genética e Fitossanitária.
Está instalado na Agrovila no município de Fernandes Pinheiro;
- Unidade de Classificação e Armazenamento de Frutas – nos município de Imbituva
e de Mallet, possibilitará o acesso dos agricultores familiares à uma infraestrutura para
classificar e armazenar a produção, reduzindo perdas, aumentando o período de
comercialização e aumentando a lucratividade.
4.2.4 Procedimentos
Para que os resultados esperados sejam alcançados, faz se necessário um
Colegiado Organizado e em Funcionamento, um Plano Territorial de Desenvolvimento
Rural Sustentável (PTDRS) qualificado e implementado e Projetos Territoriais
estratégicos Identificados.
As Instituições que fazem parte do Colegiado foram divididas em 5 grupos
(MDA, 2012):
1 – Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural Sustentável (CMDRS)
2 – Poder Público Municipal (Secretarias Municipais de Agricultura)
3 – Instituições Representativas dos Beneficiários
4 – Instituições do Poder Público, Prestadoras de Serviço aos Beneficiários.
5 – Instituições da Sociedade Civil, Prestadoras de Serviço aos Beneficiários.
Cada um desses componentes tem um perfil traçado por MDA (2012), baseado
nos documentos do Seminário Territorial de Conselheiros de Desenvolvimento Rural6,
6 SEMINÁRIO TERRITORIAL DE CONSELHEIROS DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL. TERRITÓRIO
CENTRO SUL DO PARANÁ - Local: Centro de Formação do Território- Guamiranga - Data: 14 de Abril de 2009
que apresenta uma síntese com observações de cada um deles, destacando pontos
importantes, percepções e o envolvimento da comunidade rural, como segue nos
próximos parágrafos.
Os CMDRS apontam uma observação sobre o meio rural ser visto como um
“espaço de vida” e não apenas como um setor produtivo, necessitando ter discussões
que vão além de focos isolados como, saúde, educação ou outro fator. Também
questionam a baixa participação dos agricultores, das mulheres, dos jovens, dos
quilombolas e dos faxinalenses nos conselhos.
A sugestão dada é que as reuniões dos CMDRS sejam realizadas nas
comunidades para que aja mais participação dos agricultores, e estes possam expor seus
problemas e discutir suas soluções.
Outro ponto importante é sobre a falta de um plano de ação para os CMDRS,
resultando em desempenho de atividades conforme a demanda exige e, por parte dos
agricultores, a desmotivação em participar dos Conselhos por não verem os resultados
concretos.
A falta de organização dos agricultores familiares ou das instituições que os
representem e a troca de informações entre essas instituições é algo que deveria ser
relacionado, tendo abertura para mostrar as propostas obtidas nas reuniões dos
conselhos.
Os CMDRS dão grande ênfase ao caráter agrícola produtivo e são considerados
pela maioria dos atores, se não por todos, a razão de existência do processo de
Articulação Territorial.
O Poder Público Municipal, através das Secretarias de Agricultura, ressalta a
falta de pessoal para atender todas as demandas existentes. Elas desempenham um papel
fundamental junto ao Conselho, auxiliando, entre outros pontos, na capacitação de
jovens que ocorre no CEDEJOR, em Guamiranga.
Quanto às Instituições Representativas dos Beneficiários é constatada a sua
inexistência, faltando um papel de representação dos agricultores familiares ou ainda,
fica claro que “o entendimento e o comprometimento com a proposta de
desenvolvimento territorial é muito mais pessoal do que institucional” (MDA, 2012a,
p.13). Por outro lado, existe a participação de algumas representatividades de
Relatório Sistematizado das 11 Oficinas Municipais de Conselheiros de Desenvolvimento Rural: Inácio Martins, Teixeira Soares,
Fernandes Pinheiro, Guamiranga, Irati, Mallet, Rio Azul, Rebouças, Ipiranga, Imbituva e Prudentópolis e referendadas pelos
delegados na plenária do Seminário Territorial.
comunidades muito excluídas e que agora estão tendo a oportunidade de lutar por
melhorias para seus moradores.
Sobre as Instituições do Poder Público, Prestadoras de Serviços aos
Beneficiários, destaca-se a participação da SEAB, da EMATER e do Instituto
Agronômico do Paraná. Também participam das discussões e são importantes as
instituições de ensino como a UNICENTRO, o Colégio Florestal e o Instituto Federal
do Paraná (IFPR), exercendo papel importante na formação de capital social no
Território Centro Sul.
As Instituições da Sociedade Civil, Prestadoras de Serviços aos Beneficiários
prestam assistência técnica, difundem a tecnologia, o ensino e propagam demais
atividades que promovem o bem estar e o desenvolvimento do Território, mesmo
possuindo limitações diversas como recursos financeiros, humanos, disponibilidade de
tempo e acúmulo de demanda.
Entre essas instituições podemos citar o Centro de Desenvolvimento do Jovem
Rural, a Associação dos Engenheiros Agrônomos da Região de Irati, a Ecoaraucária, o
Instituto Equipe de Educadores Populares (IEEP), Associação Imbúia de Pesquisa,
Agência de Desenvolvimento das Regiões Sul e Centro-Sul do Estado do Paraná, SPVS
e CRESOL e a Associação Coragem.
5 - RESULTADOS DA PESQUISA
A pesquisa desenvolvida abrange um total de 96 pessoas, entre homens e
mulheres, englobando as quatro entidades representantes no Conselho Gestor.
Em relação ao gênero dos componentes, conclui-se que 74% são homens e
26% são mulheres, como pode ser visualizado no quadro 3. Um dado que chama a
atenção é o fato de nas Secretarias Municipais de Agricultura ser inexistente a
representatividade pelo sexo feminino.
Quadro 3 - Gênero dos integrantes do Conselho Gestor
CMDRS SMA SOCIEDADE CIVIL PODER PUBLICO TOTAL %
Masculino 19 24 13 15 71 74
Feminino 3 0 13 9 25 26
Fonte: os autores
No que tange à idade dos integrantes, variando entre 24 e 73 anos, o grupo que
mais está representando as entidades do Conselho Gestor engloba pessoas com idade
entre 44 e 53 anos, de acordo com o quadro 4, sendo que a maioria destes pertence às
Secretarias Municipais de Agricultura.
Quadro 4- Idade dos integrantes do Conselho Gestor
CMDRS SMA SOCIEDADE
CIVIL
PODER
PUBLICO
TOTAL %
73 a 64 anos 2 0 0 0 2 2
63 a 54 1 2 4 5 12 13
53 a 44 7 13 5 8 33 34
43 a 34 3 6 7 3 19 20
33 a 24 3 3 8 3 17 18
Não informou 6 - 2 5 13 14
22 24 26 24 96 100
Fonte: os autores
Outro dado relevante e que foi estudado com a pesquisa, diz respeito à
escolaridade dos integrantes. O maior número de profissionais com ensino superior está
representando entidades do poder público, totalizando 40% do total de integrantes do
Conselho, conforme quadro a seguir.
Quadro 5 – Escolaridade dos integrantes do Conselho
CMDRS SMA SOCIEDADE
CIVIL
PODER
PUBLICO
TOTAL %
Não Informou 7 1 4 0 12 13
Ensino
Fundamental 8 1 6 0 15 16
Ensino Médio 3 1 7 1 12 13
Ensino Superior 2 10 8 20 40 42
Técnico 2 11 1 3 17 18
22 24 26 24 96 100
6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
Estudar as atividades do Conselho Gestor bem como analisar a participação de
seus integrantes é de suma importância para o desenvolvimento de propostas e ações, no
entanto, é necessário que se conheça mais sobre os representantes das instituições, para
que se possa melhor organizar os debates e as plenárias de discussão.
A participação feminina deve ser mais efetiva do ponto de vista da pesquisa,
porém deve-se pesquisar mais sobre incentivos e possibilidades para a participação
destas.
O trabalho colabora para conhecer melhor o perfil dos representantes e traçar
novas metas de envolvimento de um publico amplo, competente e diversificado, a fim
de favorecer a continuação de um trabalho eficiente para o Desenvolvimento do
Território Centro Sul do Paraná.
REFERÊNCIAS
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