timbre como vetor

Upload: kleves

Post on 21-Feb-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/24/2019 Timbre Como Vetor ...

    1/6

    XVI Congresso da Associao Nacional de Pesquisa e Ps-graduao em Msica (ANPPOM)Braslia 2006

    Trabalho aceito pela Comisso Cientfica do XVI Congresso da ANPPOM- 988 -

    O timbre instrumental como vetor da forma em obras orquestrais:

    uma proposta analtica

    Marcello Ferreira

    UFPB/CNPQ/GMT/ PPGM.e-mail: [email protected]

    web: http://www.cchla.ufpb.br/gmt/

    Sumrio:

    Neste texto apresentamos a primeira parte do procedimento analtico utilizado em nosso trabalho demestrado. Este consiste de um modelo voltado anlise da articulao formal em peas orquestrais,onde sua estrutura baseada no timbre a na orquestrao. Este primeira parte denominada deQuantitativo-Tipolgica. Nosso objetivo obter um conjunto de dados que possam ser quantificados,e que tambm sejam capazes auxiliar a observao do desenho formal em termos de micro emacroestruturas.

    Palavras-Chave:Timbre; orquestrao; formal; estrutura; Debussy.

    Introduo

    Este trabalho se prope a formulao de um modelo analtico experimental, cuja finalidade auxiliar na avaliao das estratgias de orquestrao usadas em determinada obra e, aplicar os dadosdesta avaliao como um instrumento auxiliar no estudo da forma musical. Este modelo se focalizano estudo dos processos de manipulao da instrumentao, tal como esta fixada na partitura.Procuramos tipificar, classificar, identificar, e quantificar as diferentes configuraes instrumentaisencontradas, para em seguida situ-las dentro de um universo tido como paradigmtico da obraanalisada. Dado este paradigma, cada configurao se torna um subconjunto deste. O modeloquantifica ento este subconjunto em relao ao paradigma, no que diz respeito as quantidades deinstrumentos empregados e o grupo a qual pertencem. Tambm procura levar em conta modalidades

    particulares especificadas pelo compositor, tal como pizzicato, surdinas, entre outros. Resulta distouma seqncia de pesos (expressos numericamente em valores percentuais) onde cada umquantifica a distncia entre o subconjunto e o paradigma. Essa seqncia, por sua vez, vista comouma traduo do impacto da orquestrao na delineao da forma.

    Metodologia experimental Tipolgico-Quantitativa

    O nosso modelo analtico se apia no modelo tripartite proposto por Nattiez1, tento umaaproximao particular com os nveis estsico indutivo e neutro ou imanente. O nvel estsicoindutivo por Nattiez assim definido: Ela consiste em elaborar hipteses sobre a maneira pela

    1Nattiez. (2002), pg. 14.

  • 7/24/2019 Timbre Como Vetor ...

    2/6

    XVI Congresso da Associao Nacional de Pesquisa e Ps-graduao em Msica (ANPPOM)Braslia 2006

    Trabalho aceito pela Comisso Cientfica do XVI Congresso da ANPPOM- 989 -

    qual uma obra percebida, tomando por base a observao das estruturas2. O nvel imanente3analisa as configuraes imanentes da obra, ou seja, descrever o resultado do processocomposicional ou criativo (processo poitico) atravs de uma determinada ferramenta analtica.Estas configuraes existem unicamente dentro de determinada obra, incidindo como parte concretae indissocivel de sua existncia e identidade.

    Mesmo entendendo que o estudo do timbre como fenmeno fsico tenha na acstica e napsicoacstica um papel significativo, no pretendemos seguir esta abordagem. Pois entendemos queestes estudos no contemplam o uso artstico do timbre na msica. Como afirma Robert Cogansobre os estudos da psicoacstica4.Tambm a acstica no nos apresenta resultados funcionais, poismesmo considerando a imensa quantidade e variedade de dados, estes no trazem resultadossatisfatrios para o estudo do timbre num contexto musical. Desta forma, consideramos o timbre emnosso enfoque analtico como um fenmeno artstico/simblico que adquire significado atravs desua relao com outros smbolos dentro de um determinado contexto esttico, assim com estarelao passar a existir a forma artstica. Contudo, de acordo com Nattiez Para que se possaestabelecer a que os signos se relacionam as redes de significantes, preciso ser capaz de

    identific-los, de delimit-los e de descrev-los5. Assim, as ferramentas que sero a apresentadas

    seguir pretendem contemplar as prerrogativas propostas por Nattiez, em nosso estudo do timbremanipulado dentro da orquestrao.

    Metodologia analtica

    A seguir temos listado os termos importantes que sero de uso recorrente neste modeloanaltico.

    2Idem. pg. 19.3Termo proposto por Jean Jacques Nattiez. Op. Cit. pg. 16.4While it is true that psychophisics has developed theories and procedures of tone-color analysis, this is not

    yet the analysis of tone color in music. The musical analysis of tone color requires an explanation of the choice and

    sucession of the tone colors of a musical context In Cogan & Escot, (1976), pg.328.5Nattiez. (2002) pg. 16.

    Exame Tipolgico: trata de verificar quais e quantos so as partes instrumentais quecompem uma Configurao Instrumental Primaria ou uma determinada ConfiguraoInstrumental, como tambm indica se temos a ao de Agentes Exgenos em alguma das partesinstrumentais.

    Classificao: visa unicamente categorizar e nomear das partes instrumentais que compemas CIP discriminadas do texto musical, tratando de enquadrar estas partes instrumentais emdeterminados naipes e categorias.

    Identificao: trata de identificar aquelas estruturas que possam ser estudadas comoelementos segmentadores da obra, ou seja, destacar os subconjuntos instrumentais do corpo do textomusical.

    Quantificao: Nesta etapa partimos para uma quantizao dos diferentes partesinstrumentais componentes da Configurao Instrumental Primaria como tambm dasConfiguraes Instrumentais e, para isso, denotaremos valores simblicos para cada naipe, estesvalores sero chamados depesos, estes que so valores axiomticos.

    Partes Instrumentais: relativo quantidade de instrumentos em um trecho, por exemplo, seem um trecho encontramos duas trompas e um fagote, temos aqui trs partes instrumentais.

    Agentes Exogneos(AE): constitui tudo o que se acrescente num instrumento para modificaro som, ou seja, so os elementos de transformao do timbre instrumental, por meio de tcnicasespecficas de execuo ou elementos mecnicos utilizados no instrumento. Podemos ter

    basicamente dois tipos de AE: o primeiro tipo classifica os efeitos provindos das tcnicas de

  • 7/24/2019 Timbre Como Vetor ...

    3/6

    XVI Congresso da Associao Nacional de Pesquisa e Ps-graduao em Msica (ANPPOM)Braslia 2006

    Trabalho aceito pela Comisso Cientfica do XVI Congresso da ANPPOM- 990 -

    execuo do instrumento que modificam seu timbre, tais como os pizzicato,frulatto; harmnicos eos trmulos. O segundo tipo classifica os equipamentos tais como a surdinae tambm inclumos asmodificaes do uso das partes do instrumento, como, por exemplo, con legno.

    Configurao Instrumental Primaria (CIP): corresponde ao nmero total das partesinstrumentaisindicada pelo compositor na partitura, com as eventuais indicaes de quantidades de

    instrumentos, divisi e de tcnicas peculiares de modificao mecnica do som de cada conjuntoinstrumental.Configuraes Instrumentais (CI): so os subconjuntos derivados da CIP.Pesos: so valores axiomticos concedidos aos diferentes naipes de uma orquestra. Estes

    valores so utilizados dentro de um processo aritmtico, que tem o intudo de gerar um conjunto devalores percentuais.

    Peso da Configurao Instrumental Primaria(PCIP): o valor da soma de todos os pesosencontrados na CIP e tambm dos valores dosAgentes Exogneos.

    Peso da Configurao Instrumental(PCI): peso percentual de uma CI em relao ao peso daPCIP.

    No quadro abaixo temos um resumo da aplicao do modelo, ele segue a ordem de aplicao

    das ferramentas e seus resultados.

    Quadro 1. Quadro sinptico

    A utilizao desta tabela bastante simples. Cada peso sugerido na tabela aplicado a cadauma das partes instrumentais que compem a Configurao Instrumental Primaria e/ouConfigurao Instrumental. Ver os quadros abaixo exemplo:

  • 7/24/2019 Timbre Como Vetor ...

    4/6

    XVI Congresso da Associao Nacional de Pesquisa e Ps-graduao em Msica (ANPPOM)Braslia 2006

    Trabalho aceito pela Comisso Cientfica do XVI Congresso da ANPPOM- 991 -

    Quadro 2. Calculo do valor de uma PCIP, aps a apurao da quantidade de partes instrumentais, elas so

    classificadas, assim o nmero de partes instrumentais multiplicado pelo valor referente a cada naipe. Em alguns

    casos aos valores dos naipes so adicionados os valores referentes aos Agentes Exogneos.

    Quadro 3.

    Tendo o valor da PCIP [131] e da PCI [20], aplicado uma regra-de-trs simples para obter opercentual de PCI em relao PCIP da obra.

    Temos abaixo uma representao da distribuio da instrumentao nos dez primeiroscompassos deNuagesde Debussy onde deduzimos quatro configuraes instrumentais e, logo em

    seguida um grfico que traz ospesosde cada CI.

  • 7/24/2019 Timbre Como Vetor ...

    5/6

    XVI Congresso da Associao Nacional de Pesquisa e Ps-graduao em Msica (ANPPOM)Braslia 2006

    Trabalho aceito pela Comisso Cientfica do XVI Congresso da ANPPOM- 992 -

    Quadro 4. Disposio das partes instrumentais na seo A.

    Observamos no grfico abaixo esta dinmica acima descrita. Nele temos cada CI e seuspesos.

    Fig. 1. Grfico dos pesos da seo A.

    Podemos observar um expediente recorrente na obra, onde aps cada pico do valor dospesos, temos em seguida uma tendncia de queda deste paradigma, ao que indica o fechamento daseo ou o incio deste processo. Em A o pico dos pesos das CI (A3) seguido de uma quedaabrupta (A4), aps esta queda ocorre o fechamento da seo. Ainda no grfico da seo A

    possvel visualizar o arco delineado pelospesosdas quatro CI. Onde temos:A1: ponto de partida.A2: variao.A3: clmax.A4: estratificao ou reduo, e encerramento da seo.

  • 7/24/2019 Timbre Como Vetor ...

    6/6

    XVI Congresso da Associao Nacional de Pesquisa e Ps-graduao em Msica (ANPPOM)Braslia 2006

    Trabalho aceito pela Comisso Cientfica do XVI Congresso da ANPPOM- 993 -

    Concluso

    Este experimento analtico demonstra possibilidade de observao da construo formal,tendo como um dos aspectos sujeitos a anlise a manipulao da instrumentao dentro daorquestrao, este aspecto se apresenta como um elemento auxiliar, que somado a outros aspectoscomo anlise temtica e harmnica, pode apresentar dados importantes ao estudo da forma e daestruturao musical, trazendo para este estudo um novo elemento, que vem alargar as

    possibilidades de compreenso e apreciao do trabalho da forma dentro da obra de compositorescomo Debussy.

    Referncias Bibliogrficas

    Adler, Samuel. (1982). The Study of Orchestration.New York: W.W. Norton and Company.

    Barriere, J.B. (1991).Le timbre, Mtaphore pour la Composition. Paris: Bourgois.

    Berry, Wallace. (1987). Structural Functions in Music. New York: Dover Publications.

    Blatter, Alfred. (1980).Instrumentation\Orchestration. New York: Schirmer Books.

    Chion, Michel. (1995). Guide Des Objets Sonores: Pierre Schaeffer et la Recherche Musicale. Paris:ditions Buchet/Chastel, 1995.

    Cogan, Robert. (1986). Sonic Design. London: Prentice-Hall.

    Cogan, Robert. Pozzi Escot. (1976). Sonic Design: The Nature Of Sound And Music. New Jersey: Prentice-Hall.

    Cook, Nicholas. (1987). A Guide to Musical Analysis. London: Dent & Sons.

    Epstein, David. (1980).Beyond Orpheus: Studios in Musical Structure.Massachusetts: MIT Press, 1980.

    Nattiez, Jean Jacques. (2002). O Modelo Tripartido de Semiologia Musical: o exemplo de La Cathdrale

    Engloutie de Debussy. RevistaDebates. Rio Janeiro: Unirio/PPGA-CLA. 2002.Roederer, Juan G. (2002).Introduo Fsica e Psicofsica da Msica. So Paulo: Edusp, 2002.