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Cury et al. TIC e Desenvolvimento na América Latina: Uma análise sob a perspectiva da Educação Anais da V Conferência ACORN-REDECOM, Lima, 19-20 de maio de 2011 385 TIC e desenvolvimento na América Latina: uma análise sob a perspectiva da educação Lucilene Cury Grupo de Pesquisa Cibernética Pedagógica Laboratório de Linguagens Digitais - LLD Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo [email protected] Luciana de Queiroz Telles Maffra Grupo de Pesquisa Cibernética Pedagógica - Laboratório de Linguagens Digitais - LLD Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo [email protected] BIOGRAFIAS Lucilene Cury Graduada em Educação-Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho.(UNESP) Mestre e Doutora - Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA / USP) Pós-Doutorado, SORBONNE Université René Descartes Paris V.. Docente da Universidade de São Paulo (ECA). Líder do Grupo de Pesquisa CNPq Laboratório de Linguagens Digitais Luciana De Queiroz Tellas Maffra Fonoaudióloga pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (1994). Especialista em Comunicação Social pela Faculdade Cásper Líbero(2009).Mestranda em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (2010). Atua como pesquisadora no Grupo Cibernética Pedagógica Laboratório de Linguagens Digitais (LLD)- ECA/USP. RESUMO As TICs servem ao desenvolvimento da Educação de um país, de uma região e a partir da Educação de base, até níveis avançados de Educação Permanente, sua utilização tem-se mostrado cada vez mais eficaz como meio de aprendizagem.Pergunta-se nesta investigação: como se dará, do ponto de vista cognitivo, a grande mudança nos aspectos cognitivos do Sujeito? A hipótese que orienta este trabalho é que o sujeito, ao ser exposto cada vez mais aos produtos do mundo digital consegue se adequar às características que o meio exige para sua utilização.Nesse sentido, o que se antevê é que o cérebro e os sistemas neurais humanos vão se adaptando e se transformando para enfrentar as mudanças ocasionadas pelo mundo digital, de modo a ser possível afirmar que a Educação é fator decisivo para o desenvolvimento das novas funções e atividades geradas pelo complexo corpo-mente-cérebro. Em pauta, portanto, a relação Mundo Digital X Cognição. Palavras-chave TICs, Educação, Cognição, Mundo Digital. INTRODUÇÃO A chamada “revolução cognitiva” iniciada nos anos cinquenta na Universidade de Harvard trouxe um novo paradigma para as ciências cognitivas então dominadas pelo behaviorismo 1 . Foi a partir dessa mudança que a Psicologia uniu-se a outras áreas como Antropologia, Linguística, Filosofia, História e Direito.Na época, o interesse dos pesquisadores era descobrir e descrever os significados que os seres humanos criavam ao entrar em contato com o mundo.Somava-se a isso a necessidade 1 Conjunto de teorias psicológicas baseadas no controle do comportamento pela ação do estímulo-resposta.

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As TICs servem ao desenvolvimento da Educação de um país, de uma região e a partir da Educação de base, até níveis avançados de Educação Permanente, sua utilização tem-se mostrado cada vez mais eficaz como meio de aprendizagem.Pergunta-se nesta investigação: como se dará, do ponto de vista cognitivo, a grande mudança nos aspectos cognitivos do Sujeito? A hipótese que orienta este trabalho é que o sujeito, ao ser exposto cada vez mais aos produtos do mundo digital consegue se adequar às características que o meio exige para sua utilização.Nesse sentido, o que se antevê é que o cérebro e os sistemas neurais humanos vão se adaptando e se transformando para enfrentar as mudanças ocasionadas pelo mundo digital, de modo a ser possível afirmar que a Educação é fator decisivo para o desenvolvimento das novas funções e atividades geradas pelo complexo – corpo-mente-cérebro. Em pauta, portanto, a relação Mundo Digital X Cognição.

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Cury et al. TIC e Desenvolvimento na América Latina:

Uma análise sob a perspectiva da Educação

Anais da V Conferência ACORN-REDECOM, Lima, 19-20 de maio de 2011 385

TIC e desenvolvimento na América Latina: uma análise sob a perspectiva da educação

Lucilene Cury

Grupo de Pesquisa Cibernética Pedagógica –

Laboratório de Linguagens Digitais - LLD

Escola de Comunicações e Artes da Universidade

de São Paulo

[email protected]

Luciana de Queiroz Telles Maffra

Grupo de Pesquisa Cibernética Pedagógica -

Laboratório de Linguagens Digitais - LLD

Escola de Comunicações e Artes da Universidade

de São Paulo

[email protected]

BIOGRAFIAS

Lucilene Cury

Graduada em Educação-Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho.(UNESP) Mestre e Doutora - Escola de

Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA / USP) Pós-Doutorado, SORBONNE – Université René

Descartes – Paris V.. Docente da Universidade de São Paulo (ECA). Líder do Grupo de Pesquisa CNPq – Laboratório de

Linguagens Digitais

Luciana De Queiroz Tellas Maffra

Fonoaudióloga pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (1994). Especialista em Comunicação Social pela

Faculdade Cásper Líbero(2009).Mestranda em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicação e Artes da

Universidade de São Paulo (2010). Atua como pesquisadora no Grupo Cibernética Pedagógica – Laboratório de Linguagens

Digitais (LLD)- ECA/USP.

RESUMO

As TICs servem ao desenvolvimento da Educação de um país, de uma região e a partir da Educação de base, até níveis

avançados de Educação Permanente, sua utilização tem-se mostrado cada vez mais eficaz como meio de

aprendizagem.Pergunta-se nesta investigação: como se dará, do ponto de vista cognitivo, a grande mudança nos aspectos

cognitivos do Sujeito? A hipótese que orienta este trabalho é que o sujeito, ao ser exposto cada vez mais aos produtos do

mundo digital consegue se adequar às características que o meio exige para sua utilização.Nesse sentido, o que se antevê é

que o cérebro e os sistemas neurais humanos vão se adaptando e se transformando para enfrentar as mudanças ocasionadas

pelo mundo digital, de modo a ser possível afirmar que a Educação é fator decisivo para o desenvolvimento das novas

funções e atividades geradas pelo complexo – corpo-mente-cérebro. Em pauta, portanto, a relação Mundo Digital X

Cognição.

Palavras-chave

TICs, Educação, Cognição, Mundo Digital.

INTRODUÇÃO

A chamada “revolução cognitiva” iniciada nos anos cinquenta na Universidade de Harvard trouxe um novo paradigma para

as ciências cognitivas então dominadas pelo behaviorismo1. Foi a partir dessa mudança que a Psicologia uniu-se a outras

áreas como Antropologia, Linguística, Filosofia, História e Direito.Na época, o interesse dos pesquisadores era descobrir e

descrever os significados que os seres humanos criavam ao entrar em contato com o mundo.Somava-se a isso a necessidade

1 Conjunto de teorias psicológicas baseadas no controle do comportamento pela ação do estímulo-resposta.

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de formular algumas hipóteses sobre os processos de produção de significação.As tentativas inicias geraram fragmentações e

confusões semânticas.

Para BRUNER (1997) a ciência cognitiva contribuiu para a compreensão de como a informação é transmitida e processada.

Em linhas gerais a informação participa da transmissão de mensagens, não lida com imprecisão ou metáforas e não abstrai;

está ligada aos processos automáticos como os sistemas informáticos.Por sua vez, as significações criadas numa comunidade

necessitam de um olhar diferenciado pela lente da cultura,que abrange os sistemas simbólicos, os mitos e a linguagem.

Para o autor o “divisor de águas” na evolução humana foi o momento em que a cultura tornou-se o principal modelador de

mentes,o seu “motor simbólico” e a partir desta experiência, possibilitou que os significados se tornassem públicos,

compartilhados e permitissem redescrições. Embora pertencentes a épocas distintas, autores como BERGSON,IZQUIERDO ,

MATURANA e VARELA realizaram estudos procurando conhecer as intricadas relações do corpo com o cérebro e a mente

e o meio.Isso ocorreu nas áreas específicas de cada autor, respectivamente: Filosofia, Neuropsiquiatria e Biologia.

Nesta perspectiva entende-se por evolução, o desenvolvimento de um princípio interno latente de início, que se atualiza

pouco a pouco e acaba por se manifestar.Portanto, a evolução não pode ser concebida em simples etapas como se fossem

partes ,para tanto, o conhecimento integrado dos sistemas que a integram é vital.

De acordo com BERGSON (2006b): “Se considero o mundo em que vivemos, descubro que a evolução automática e

rigorosamente determinada desse todo bem amarrado é ação que se desfaz, e que as formas imprevistas que a vida nele

recorta , formas capazes de se prolongarem a si mesmas em movimentos imprevistos , representam ação que se faz”

No mundo atual observa-se um constante movimento muitas vezes imprevisível.Neste contexto a velocidade do pensamento

supera a da ação, as novas tecnologias implicam num intenso fazer, o agir prevalece sobre o pensar. Ocorre um contínuo

“diálogo” com a rede em tempo real.Essa velocidade demanda uma constante adaptação cognitiva.Entende-se por adaptação

a modificação de uma função ou de um órgão que tem como resultado colocá-lo de acordo como o todo de seu

ambiente.Assim sob essa perspectiva a utilização de novas tecnologias de Informação e Comunicação em usos educativos

exige uma compreensão abrangente das estruturas mentais que participam desses processos.De acordo com CASTELLS

(2003) “ O intervalo entre o processo de aprendizagem pelo uso e de produção pelo uso é extremamente abreviado e o

resultado é que nos envolvemos num processo de aprendizagem através da produção, num feedback intenso entre a difusão e

o aperfeiçoamento das tecnologias”

O CÉREBRO E AS FUNÇÕES COGNITIVAS

O cérebro humano é resultado de milhões de anos de evolução e partilha com o cérebro de outros mamíferos a existência de

um sistema nervoso superior, que regula funções básicas, reações, movimentos e aspectos sutis como as emoções.Neste

sistema ocorrem modificações de atividade entre seus componentes.A plasticidade característica desta estrutura possibilita o

desenvolvimento de processos cognitivos, tais como aprendizagem, linguagem e memória. A aprendizagem e a memória

estão ligadas ao sistema límbico, enquanto o pensamento e a linguagem estão ligados ao neocórtex. Em linhas gerais, o

hipocampo e o córtex entorrinal relacionam-se aos aspectos da memória, como a evocação e as emoções.

MATURANA e VARELA (2001) comentam: A riqueza plástica do sistema nervoso a que ele guarda representações ou

engramas das coisas do mundo mas a sua contínua transformação, que permanece congruente com as transformações do

meio, como resultado de cada interação que o afeta.Do ponto de vista do observador isto é percebido como uma

aprendizagem adequada. Acontece porém, que os neurônios,o organismo de que eles fazem parte e o meio em que este

interage, funcionam reciprocamente como seletores de suas mudanças estruturais correspondentes e se acoplam

estruturalmente entre si. O funcionamento do organismo, incluindo o sistema nervoso, seleciona as mudanças estruturais que

permitem que ele continue a funcionar ”

APRENDIZAGEM

Seguindo as idéias de PINKER, (2008) vamos salientar que “a mente é o que o cérebro faz; especificamente, o cérebro

processa informações e pensar é um tipo de computação. A mente é organizada em módulos ou órgãos mentais, cada qual

com um design especializado que faz desse módulo um perito em uma área de interação com o mundo” e é essa idéia que

queremos resgatar neste trabalho, a de que o acesso e o uso adequado das tecnologias digitais podem ser treinados em algum

desses módulos mentais, independentemente da idade, da geração dos sujeitos e de níveis sócio-culturais e econômicos

distintos. Queremos fazer a coleta dos dados empíricos, com amostras de todos os setores da população, a fim de que essa

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pluralidade possa ser verificada. Como hipótese secundária de trabalho, temos:- os procedimentos para leitura e escrita dos

novos meios podem ser reeditados, passando do modelo clássico, linear, para um modelo de múltiplas possibilidades como,

por exemplo, a movimentação correta dos olhos, para a apreensão total do conteúdo, através da exposição contínua e

planejada aos meios de comunicação digital..

Essa perspectiva, além de tratar da complexidade do cérebro e das funções cognitivas do sujeito, que constitui uma pesquisa

de tipo básico,nós a ampliamos para a pesquisa de tipo finalizado como sugeriu DERRIDA(1999), termo que foi também

utilizado por CURY(2000) , com o objetivo de tratar da inclusão digital/ social da população brasileira, o grande tema e área

de trabalho do Grupo Cibernética Pedagógica – Laboratório de Linguagens Digitais – LLD.

Ainda utilizando a base teórica proposta por PINKER, temos que “para entender o aprendizado precisamos de novas

maneiras de pensar, a fim de substituir as metáforas pré-científicas. .Precisamos de ideias que captem os modos como um

mecanismo complexo pode sintonizar-se com aspectos imprevisíveis do mundo e absorver os tipos de dados de que necessita

para funcionar”

LINGUAGEM

TEIXEIRA (2004) apresenta a necessidade de creditar a Bergson o pioneirismo das concepções contemporâneas da mente e

da cognição, sendo que uma primeira aproximação do pensamento de Bergson mostra a ênfase atribuída às relações entre

mente e linguagem e a proposta de uma crítica da linguagem do mental, ou uma antologia do mental a partir da linguagem. .E

prossegue:“Ao tentarmos reconstruir o que teria sido uma ciência cognitiva bergsoniana não poderíamos deixar de começar

pela crítica do modelo computacional da mente ou da chamada inteligência artificial simbólica”

MEMÓRIA

“ O universo dura.Quanto mais nos aprofundarmos na natureza do tempo,mais compreenderemos que duração significa

invenção, criação de formas, elaboração contínua do absolutamente novo.” Bergson

Na atualidade observa-se o incremento de estudos sobre a memória humana, devido a fatores como o

envelhecimento da populacão,doenças (Mal de Alzheimer) e desenvolvimento de produtos tecnológicos (e memory).

Há mais de um século as funções e características da memória têm sido descritas e revisadas, gerando linhas de

pesquisa em áreas como Educação, Filosofia, Biologia, Psiquiatria e Psicanálise.A Transdisciplinaridade 2 apresenta-se como

o caminho mais indicado para estudar este tema complexo.A definição de memória no sentido amplo pode ser descrita como

a capacidade de armazenamento de variadas formas de conhecimento adquirido nas relações humanas com o ambiente.

Para LALANDE (1999) a memória é uma “função psíquica que consiste na reprodução de um estado de consciência passado

com a característica de ser reconhecido como tal pelo sujeito.”...“A memória é uma função geral do sistema nervoso que tem

por base a propriedade dos elementos de conservar uma modificação recebida e formar associações.”.

IZQUIERDO (2006), médico e pesquisador dos mais importantes no que se refere ao tema, apresenta algumas características

da memória:

- memória de trabalho (retém informações por pouco tempo);

- memória de curta duração, (hipocampo e cortex entorrinal) tem duração de até seis horas e conteúdo que poderá ser

armazenado permanentemente ou não;

- memória de longa duração, cujo conteúdo poderá ser armazenado por toda vida e resgatado sempre que solicitado.

Para este autor a memória é fortemente influenciada por estados emocionais, devido à ação dos neurotransmissores sobre

receptores específicos. Algumas situações são propícias à aquisição e consolidação, no caso de memórias impactantes, a

aquisição ocorre pelas vias noradrenérgicas centrais, favoráveis ao armazenamento.

A maneira como as informações são armazenadas na memória segue um roteiro que inicialmente contempla a

atenção e recepção da informação através dos cinco sentidos; codificação, ou seja, o cérebro seleciona os dados mais

2 A transdisciplinaridade é uma abordagem científica que deriva do pensamento comlexo, cujo objetivo é a unidade do conhecimento.Neste ponto de vista

a realidade é compreendida com base na articulação de seus diversos elementos.

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importantes; armazenamento e resgate. Na recuperação o sujeito tem acesso às suas lembranças.Há hormônios liberados no

sangue pela hipófise, supra-renal e outras glândulas que afetam profundamente a formação e a evocação de memórias, e

muitas vezes acrescentam seu efeito aos aspectos cognitivos de cada memória, tornando-as dependentes deles.

Quanto ao aspecto cognitivo da memória IZQUIERDO (1989) comenta :“As memórias não se adquirem isoladamente, senão

uma após a outra: a vida diária pode ser descrita como uma continua experiência, ou como uma continuidade de experiências

consecutivas. Muitas vezes, memórias adquiridas em forma consecutiva podem se interligar de tal maneira que, depois, o

indivíduo as recorda como uma experiência única. A incorporação de informação cognitiva às experiências ocorre

fundamentalmente nas primeiras três horas após cada experiência”

Quanto aos registros estes se estruturam durante e depois de cada experiência ou evento memorizado, unindo

memórias consecutivas.

Para IZQUIERDO o esquecimento é outro aspecto saliente da memória, ao contrário do que muitos pensam, pois é mais

comum esquecer do que lembrar. O esquecimento também tem funções na vida cognitiva, já que possibilita fazer

generalizações e permite a expansão da criatividade.

BERGSON discorreu detalhadamente sobre a memória e sua ligação com o cérebro, o espírito e o corpo. .Para ele, a memória

teria por função inicial evocar as percepções do passado que se aproximam das percepções do presente e então possibilitar

uma recordação e sugerir uma ação.Ele levantou a hipótese de haver duas memórias independentes, uma que imagina e a

outra que reproduz. Ainda sob o foco de BERGSON(2006) temos “ Dessas duas memórias, a primeira é verdadeiramente

orientada no sentido da natureza : a segunda entregue a si mesma, iria antes em sentido contrário. A primeira conquistada

pelo esforço, permanece sobre a dependência de nossa vontade; a segunda completamente espontânea é tanto volúvel em

reproduzir quanto fiel em conservar. O único serviço regular e certo que a segunda pode prestar à primeira é mostrar-lhe as

imagens daquilo que precedeu ou seguiu situações análogas à situação presente, a fim de esclarecer sua escolha: nisto

consiste a associação de ideias¨.

ALGUMAS QUESTÕES PONTUAIS

De que maneira a memória humana é afetada pelas novas tecnologias? Será possível mensurar estas alterações?

E o papel do corpo?

O corpo permite a ação, é por meio de sua complexa estrutura que os sistemas se organizam, por onde a informação circula

seja como impulso elétrico( neurônios), bioquímico( neurotransmissores e hormônios) e sensorial( auditiva, olfativa, visuais e

tátil).

De acordo com MATURANA et al (2001) o sistema nervoso atua nos fenômenos cognitivos de duas maneiras: a primeira

amplia as configurações sensório motoras que o organismo permite e a segunda ocorre pela abertura deste mesmo organismo

a novas dimensões de acoplamento estrutural, ou seja, há uma síntese da grande diversidade de estados internos com a grande

diversidade de interações de que o organismo participa.

BERGSON (2006b) por sua vez, enfatiza o papel das lembranças na ação presente que se concretizam pelo corpo. “Para que

uma lembrança reapareça na consciência é efetivamente preciso que ela desça das alturas da memória pura até o ponto

preciso em que se realiza a ação.Em outras palavras é do presente que parte o apelo a que a lembrança responde e é dos

elementos sensório-motores da ação presente que a lembrança empresta o calor que dá vida.”

Ou seja , na ação presente encontramos lembranças, memórias e as dimensões do corpo.

Na atualidade, a velocidade das informações e de conteúdos nem sempre confiáveis permitem que surja um ambiente onde

ocorre o exercício da escolha, de seleção individual.Ou seja, o usuário precisa reconhecer suas necessidades e desejos ao se

conectar.

Estar conectado na atualidade exige que o usuário reconheça suas necessidades (informativas, educacionais e de lazer) e

possa ir ao seu encontro. Para tanto é importante realizar a diferenciação dos conteúdos e conter a impulsividade, utilizar o

senso crítico e questionar as informações recebidas.

Para GOLEMAN (1995)“a mente emocional possui uma lógica associativa;elementos que simbolizam uma

realidade ou que de alguma forma lembrem esta realidade,são para a mente emocional a própria realidade”.

A mente emocional é rápida e age impulsivamente.Desta forma há riscos no acesso ilimitado às informações

veiculadas na Internet, sejam elas imagens, sons, metáforas ou símbolos.Este aspecto sombrio da Internet tem sido pouco

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discutido.Educadores, pesquisadores e profissionais que atuam na criação produção e divulgação de dispositivos para a

Internet necessitam estudar as consequências emocionais e cognitivas dos conteúdos deste tipo de veiculação e elaborar

estratégias de mediação.

No presente caso entende-se por mediação a capacidade de servir de intermediário entre dois seres. Essa atuação pode ocorrer

nas ações educativas propriamente ditas e no desenvolvimento de novos dispositivos auxiliares para essas práticas.

CONCLUSÃO

O Projeto de Pesquisa sobre as TICs e a Educação, em desenvolvimento no Grupo Cibernética Pedagógica – Laboratório de

Linguagens Digitais – LLD – encontra-se no presente momento relacionado à elaboração e execução de sites / portais, sobre

os trabalhos do próprio Grupo, para posteriormente tratar da verificação da hipótese proposta, que é a seguinte:

Sujeitos sem experiência anterior para o uso adequado das funções mentais que

permitam a compreensão das novas linguagens, constituídas por: textos curtos,,com

muitas imagens e opções para a interatividade, passam a desenvolver as habilidades

necessárias para sua compreensão,desde que a elas expostos sistematicamente.

Ao mesmo tempo, durante o mês de Abril, pesquisadores do Grupo de Pesquisa Cibernética Pedagógica – Laboratório de

Linguagens Digitais – LLD – passam a executar o mapeamento da questão temática – o mundo digital e a cognição -, com o

objetivo de verificar o estado da arte, do ponto de vista da intersecção entre as áreas, nas quais atuam pesquisadores dos mais

diversos .ramos do saber e esse diagnóstico (quantitativo e qualitativo) será apresentado durante a realização da Conferência

(Maio de 2011) em forma de anexo.

AGRADECIMENTOS

Queremos deixar aqui registrado um agradecimento especial ao trabalho contíno e organizado dos membros da V

Conferência ACORN-REDECOM, ao mesmo tempo em que registramos nossa satisfação em fazer parte da Rede através do

Grupo de Pesquisa CNPQ - Cibernética Pedagógica – Laboratório de Linguagens Digitais – LLD.

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