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Trabalho Final de Graduação pela FAU USP novembro de 2012 Natália Scromov Espada Orientador: Alexandre Delijaicov. Sobre memória, lugares afetivos e repertório imagético.

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Introdução 12

AtmosferasdaPenha openhense 20 obairrocomnomedepedra 24 caçador 28 tocar 36 dianão 44 noturna 50 LargodoRosário 55

Índicedeimagens 61

Anexo:desenvolvimentodotrabalho Acasasensível 73 investigaçãodememóriaseregistros 76 omapaafetivo 84 AtmosferasdaPenha 88 odesenho 89 aescrita 90 consideraçõesfinais 92

Bibliografiaedemaisreferências 94

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Para apresentar este trabalho, parto do pressuposto de que oHomem é um ser afetivo.Passamos a vida buscando coisas às quais nos apegar. São pessoas queridas, sonhos,lembranças, hábitos e lugares, que ocupam um lugar precioso na nossa memória,mesmoquandojánãofazempartedonossocotidiano.

Desta afetividade vem o desejo de cultivar e perpetuar esses objetos, para que eles sepreservemeassimnãosepercapartevitaldestaforçaafetivaquesustentaoexistirdecadaindivíduo.

Ocernedo“AtmosferasdaPenha”éaafetividadequetenhocomestebairrodaZonaLestedeSãoPaulo,ondeviviquasesempre.Pretendoàpartirdestaexposiçãoparticulardoquesinto, conseguir apresentar o bairro a quem não o conhece,mostrar o que está contidoalémdesuaspaisagensfísicasepermitirqueoleitorrememore,sintaseuspróprioslugaresafetivos e revire seu repertório imagético. Foram desenvolvidos contos com temascotidianos,desenhosefotosdepaisagens,paratransmitirumpoucodaatmosferadobairro.

Comoinspiradoresdestainvestida,tenho:FernandoPessoa,quecomAlbertoCaeirosoubecantar sua aldeia demodouniversal, ÍtaloCalvino, que em “Cidades Invisíveis” construiuespaçosincríveisatravésdesuasnarrativasimagináriasePeterZumthorquesoubeexpressardemodosinestésicosuaspercepçõesespaciaisnolivro“Atmosferas“.

Euquerocantaraminhaaldeia.

PoemaXXdoheterônimoAlbertoCaeiroem“OGuardadordeRebanhos”<

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Em meio a tantas coisas a se fazer, preocupações e tarefas rotineiras, um silêncioinesperadointerrompeotrabalhoeinundaoambiente.

Acabeçaquesedeixavagueardescobrenasgotasdechuvaqueescorrempelovidrodajanela,umconfortointensoquefazquerernadamais,nadamenos,queumgoledecafécomleite.

Cruza a janela o som das rodas molhadas que se esforçam a subir as ladeiras destebairroquetemnomedepedra.Seesforçofazemasmáquinas, imagineentãoaspessoas.As senhoras da Penha têm as pernas fortes de tanto subir ladeiras. Andam lentamentee assim adquirem uma bela resistência. É provável que quando caminhem por outrosbairros,maisplanos,causeminvejaeadmiraçãonasoutrassenhorinhas,disparandoaandarfeitojovens.

Percebeentãooquãoaéreoestava,equeprecisavoltarseufocoaotrabalho

Apesar disto, escuta um som vindo da cozinha e decide investigar. Descobreo rangido alto da geladeira velha, que surgia como um chamado, anunciando quedeveriadescansarumpoucoeprepararlogoessebenditocafécomleite.

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No caminho de volta para casa, prefere fazer o trajetohistórico.

SobeomorrodaPenhapela ladeira antiga, apenasparasentiroprazerquasebandeiristadedeparar-secomumabela igreja no topo domorro como se fosse umprêmiopelaescalada.

Segue seu caminho como um desbravador medíocredostemposmodernosecaçacomosolhos,dedentrodeseucarro,astorresdasigrejasdobairro.

Inicia-seoritual:passadaaprimeira igreja,capturaàsuadireita,por trásdealguns telhados, a imagemda imensaBasílicadaPenha.Àesquerda,emmeioaalgumasárvores,aCapeladeNossaSradoRosário.

Jáquaseemcasa,avistaumacruzazuliluminadanotopode outra ladeira. É a Igreja deNossa Senhorade Fátimaconvocandoseusfiéisatravésdeumacruzneon.

Finalmente chega a sua casa e fareja a janta feito cãode caça. Já devidamente inserido no conforto do lar,antes de saciar o apetite, se dá conta de que frequentaessas igrejas todas sem sequer adentrá-las. São íntimasdesconhecidas.

Cultiva assim uma religião quase platônica, poispercebequedestaformanãocorreoriscodefrustrar-seaofrequentarumaououtra.Paraelejálhebastasuarotinadefalsodesbravadoreabelezadaspaisagens.

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Estavacaminhandopelacalçada,quandoescutouumamúsicaaltíssimadeumcarroquepassava.Julgouaquilodesagradávelesemrazãodeser.

Sentiu-se muito diferente da pessoa que dirigia aquele carro, por preferir ser discretoetambémporqueemnenhumadasvezesemqueescutouumcarrodessespassar,amúsicaeradeseuagrado.Apesardisto,pormaisabsurdoquelheparecesse,permitiuimaginar-senaposiçãodooutro.Qualmúsicaescolheria?

Quase sempre o gostomusical da pessoa relaciona-se com seumodo de agir e pensar.Sendoassim,nãoconseguiuescolherumamúsicaqueagradasseasmaisdiferentespessoaseseguiuandando.

De repente, como vinda dos céus, uma canção suave de melodia agradável, o abraçou.Estamelodiafoicapazdesligá-lodomundo,fazendo-opassearporlembrançasecenários.

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Todos os dias às 18h, este fenômeno se repete. Percebeu que esta cançãoconsegue realizar a façanha de envolver diferentes pessoas, não apenas pelo seu som,maspormaterializarpaisagens, resgatar lembranças, acalmarou simplesmentepor fazerlembrarqueatardeestáacabandoeanoitelogochegará.

É difícil perceber de onde vem, mas sabe-se que o som sai da torre dos sinos daBasílica da Penha. A canção é “Ave Maria”, orquestrada, quase sem voz. O principaldestamúsicanãosãosuasqualidadessonoras,maso fatode tratar-sedeumpatrimôniode cadamorador do bairro. É omomento do dia emque deixar-se envolver se fazmaisdoquenecessário.

Seemalgumatardeacançãonãofortocada,podeserqueanoitenãochegueàPenha.

Podeserquealgumaslembrançastransformem-seemesquecimento.

Seemalgumatardeelanãotocaraspessoas,éporquetodosseesvaziaram.

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Eraumdia“não”.Acordouassimesóconseguiatervontadedesedesligardomundo.

Logo cedo percebeu que o café tinha acabado. Era necessário deixar a toca e assumirseu ladominimamente sociável nomundo.Antes fosse o açúcar,mas o café era a únicaesperançadeobtermaisenergia.

Todasaquelasqualidadesadmiráveisdobairro,percebidasquandoseestánumdia“sim”,hoje viraram defeitos. Antesmesmo de virar a esquina de casa, a caminho domercado,eisquesurgecomcabelosprateados,suasimpáticaeconversadeiravizinhademuitosanos.

Entusiasmada com o encontro, ela ansiava falar sobre a praga das roseiras de seuquintaledonascimentodofilhodovizinhodafrente,masantesqueelapudessecomeçara conversa, foi avisada de que seu vizinho tinha pressa, pois estava atrasado para umcompromisso.Ocompromissoeracomocaféecomavontadedese isolar.Mentira leve,permitidanumdia“não”;eassimconseguiuseguirocaminhodomercado.

Logo dobrando a esquina, avista um conhecido, de nome desconhecido, mas quepormuitos anos tem cultivado uma amizade sem palavras, apenas fundada em sorrisoseacenoscomacabeça.Sãosaudaçõesdadasapenasporreconheceremquedividemomesmoterritório,seconhecemdevista.

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Passadosessesencontros,jácomopacotedecaféemmãosnocaixadomercado,percebequeesqueceraacarteiraemcasa.Pensouqueporserumdia“não”,eradeseesperarquealgodotipoacontecesse,masnãoqueriaacreditar.

Neste aflitivo instante, sem que pudesse notar, seus dedos apertavam o pacote de cafédesejandoesganá-loporserograndeculpadoportodaessaexposição.Seguiuimersonestepurgatórioporalgunssegundosmais,atéserresgatadopelasperguntasdodonodomercado.

“-Oi,tudobem?Hojevaisersóocafé?Querqueeumarquenasuaconta?”

Ah!Benditossejamosdonosdemercadinhos,suascadernetaseacredibilidadedavizinhança,quesãocapazesdetransformaronãoemsim.

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Sob lâmpadas de vapor metálico, as ruas do bairroseesvaziamconformeanoitechega.

Observando mais atentamente, as janelas iluminadasdas casas e o som distante de vozes expõem pedaçosda intimidade doméstica de cada família. Estão todosdespertos,acostumadosetrancadosemsuascasas.

AvidanoturnadaPenhaseencerravaconformefechavamcadaumdos cinemas de rua, teatros e bailes.Os largosepraçasestãovazios.

Não é preciso resgatar o passado, mas alimentar-sedas memórias para viabilizar situações de encontro.Nãoexistemtrocassemencontroseohomemnãopodeesvaziar-secomoestasruas.

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Nosdiasdechuva,evitacaminharporestapraça.

Aprendeuestaliçãoquandoaindaeracriançaeodiavapisarnaspoçasqueseformavamnochãodepedrasirregulares.Passar por lá era como pular uma amarelinha infinita.Parecia até que tênis de lona fora feito para encharcarmeiadecriança.

Eraotrajetoaserfeitoentrecasaeescola.Passavaemfrenteaumabancadejornal,pelalateraldaCapeladoRosárioe cruzava a praça por um corredor formado pelasbarraquinhas que vendiam comidas e artesanatos.Aindahojeabarracadedocesexibesobremesasapetitosasprotegidasporumtulebrancoeporabelhasagitadas.

Nesta feira também estão à venda capas de crochê paradiversosusos,pararolosdepapelhigiênico,botijãodegás,computador...Sónãoseencontracapasparacapas.

Ao anoitecer, o comércio local fecha, a praça silenciae como numa troca de turnos, chegam outras pessoas.Sãomoradoresdepraça, quedormemsob as árvoresousobreochãodeamarelinhasinfinitas.

“Emcasademeninoderua,oúltimoadormirapagaaLua”(GiovaniBaffô)

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Para não interferir na fluidez deste percurso de imagens e textos, não utilizei legendas, pois queria propor um passeio sensorial mais do que criar um guia para passeios.

Este índice de imagens apresenta a Penha física, que tem nomes de ruas e datas históricas, para quem se interessou pela história do bairro ou simplesmente pretende visitá-lo um dia.

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<LadrilhosHidráulicos-aquarela.Portratar-sedeumbairroantigo,écomumencontrarmosladrilhoshidráulicosnaPenha.As igrejas, casas antigas e algumas calçadas fazemusodestematerial.AindahojeexisteumafábricanobairrochamadaOrnatos.Nãoexistemmuitasfábricasdeladrilhoshidráulicos,poismuitasfaliramcomachegadadaindústriacerâmicadeproduçãoautomatizada,quereduziuospreçoseagilizouafabricaçãodepisos.

<Fotografiade1905:PalaceteRodovalho,mansãodeDonaMariaCarlotaeIgrejadeNossaSenhoradaPenha.Aigrejade1667existeatéhojeemarcaotopodacolina.OPalacetefoidemolidonoiníciodadécadade60eestavalocalizadonaLadeiradaPenha(atualRuaCoronelRodovalho).OquesevênestafotoeraaportadeentradadobairrodaPenha,paraquemviajavadeSãoPauloparaoRiodeJaneiro.OsviajanteschegavamaobairropelocaminhoquehojeémarcadopelaAv.CelsoGarcia,eaopédacolinajáavistavamaIgrejadaPenhaeoPalacete.APenhatambémeradestinoderomeiros,religiososquevisitavamaigrejadapadroeiradeSãoPaulo(1785-N.Sra.daPenhafoinomeadapadroeiradeSãoPaulo).AsperegrinaçõesreligiosasestimularamesustentaramocomérciodaPenhaatéaprimeirametadedoséculoXX.

<Capacomsenhora.Estaimagemrepresentaamisturadepercepções,dehistórias,cenáriosepersonagens.Estasenhoranãosemostranacapa,elaestádecostasecomorostoaparecendodelado.Écomoseeladesseapenasumaamostradequemé,eoleitorteráqueconhecê-laaolongodolivro,naspaisagensehistórias.

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>MapadasigrejasdaPenha-canetanankin.MapailustrativodaconfiguraçãodaPenhanaPaisagem,comas igrejasquecoroamladeirasdeformaquesuastorres tornam-sepontosdereferênciaparaquemseperdeouparaquemvêomorroderegiõesmaisafastadas;comexceçãodaCapeladeNossaSradosHomensPretos,localizadaemumapraçaqueestáabaixodoníveldacurvadomorro.OutrodiferencialdestaCapelaéofatodeelatersidoconstruídanoséc.XIXporescravosquenãopodiamfrequentaraIgrejadaPenha.SuafrentenãoapontaparaaSécomoasoutras,masparaaperiferiadeSãoPaulo.

>Fragmentodecontoespelhado.Imagementracomoumaestampa,masrefere-seaopoderdaescritanarrativacomoformadeconstruircenáriosimaginários.Aescritanestapáginafazopapeldodesenho,omanuscritoéparentedailustração,comodiferencialqueaprimeiracostumasermaisacertivanasuaabordagemenquantoodesenhopermiteinterpretaçãoesmaisvariadas.

>PlantadaCidadedeSãoPaulode1905(mesmoanoda fotoanterior).Neste fragmentodemapapodemosperceberosvaziosdasregiõesnãourbanizadosconformenosafastamosdocentrodacidade.APenhaapareceàdireitadomapapraticamente ilhada, comalgumasviastraçadasecomumesboçodoqueseriaaestradaSãoPaulo/RiodeJaneiro,saindodonúcleoconsolidadodacidadeeconectando-seàPenha.

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<Cozinhaantiga-aquarela.Outrarepresentaçãodacozinha,destavezreproduzindoostonsdeamarelodosazulejosestampadosedofiltrodelouça.Tambémaparecenestedesenhoobrilhodaluzqueentravapelajanela,refletidonaparededeazulejos.

< Fachadas do Largo do Rosário - caneta nankin. Fachadas da Av. Penha de França. Notrecho em que ela se encontra com a praça da Capela de N. Sra. do Rosário dos HomensPretos, configura o Largo do Rosário. No início do séc. XX as construções em taipa davamespaçoparaoutrasmaisrequintadas,deusocomercial,principalmenterelacionadoàvendadeprodutosreligiososeoutrosserviçosparaosvisitantes,comolojasdeguarda-chuvas,chapelaria,restaurantes,doceriase fotografiasparacasamentosebatizados.HojeaAv.PenhadeFrançamantemseuusocomercial,muitasdascasastiveramasfachadasreformadasoucobertas,semnenhumcuidadoemmanterumaunidadeentreasconstruções.Podemosperceberqueaunidadedasfachadassedápelosfioselétricosdospostesqueinfelizmenteobstruemavisãodascasas.

<Senhoraemcozinhaantigafeito-aquarelaecanetanankin.Visiteiumacasaqueestevefechadapordoisanos,desdeamortedasenhoraproprietária.Acasaficaemumasobreloja,naAv.AmadorBuenodaVeiga.Poucascoisastinhamsidomexidas,pareciaqueotempocongeloupara aquela casa, tinha um copo empoeirado sobre a pia, umfiltro amarelo intacto desde apartidadamoradora.Lárestaramalgunsvestígiosempoeiradosdeumavida.

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>Portinhastípicas-canetanankin.NestedesenhoapareceaentradadeduascasasdaRuaSanto Antero. É comum encontrar na Penha casas térreas, cuja frente do lote foi dividida,reservandoumcorredor lateralparaacessaracasa,eno restanteda frentedo lote funcionaalgumcomércioouoficina.

>CruzamentoemfrenteaoSantuáriodeNossaSradaPenha-canetanankin.Estedesenhomostraas ruasqueseencontramno topodaLadeirahistórica.Osviajantessubiamacolina,passavamemfrenteàIgreja,acontornavampeladireitaeseguiamrumoàestradadeSãoMiguel,quelevavaaoRiodeJaneiro.Noséc.XVIIIestarualateralerachamadadeRuaDireitajustamenteporestetrajetoehojeelasechamaRuaDr.JoãoRibeiro,emhomenagemaumumchefepolíticoquesempremorounobairroeeramuitoestimadoporrealizartrabalhossociais.AtéainauguraçãodaRodoviaPresidenteDutra,esteeraoúnicotrajetoparaonortedopaís.

> Foto atual do que restou do Cine Penha Theatro.A Penha já foi considerada um poloculturaldaZonaLeste,pessoasvinhamdeoutrosbairrosparaassistirashowsefilmesnaPenha.Em1925 foi construídoeste cinemacompalco, eraoprimeiroda região.Alternavamfilmese espetáculosmusicais.DuranteoCarnaval retiravamaspoltronase ele se transformavaemumsalãodebailes.Atéentãosóexibiafilmesmudosqueeramacompanhadosporumabanda.Em1931,exibiuoprimeirofilmefalado.Nosanos60mudou-seoproprietárioepassouasechamarCinePenhaPríncipe.NestaépocaaPenha já contavacommaisoutros três cinemas:oPenha-Palace,oJúpitereoSãoGeraldo.

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<LadeirahistóricaecolinadaPenha -canetanankin.DesenhocomavistadequemestásobreoViadutoAricanduva.Esteviadutolevaonomedocórregoquecorreabaixodele,aospésdomorrodaPenha.Aricanduvavemdotupi-guarani,significa“lugarondehámuitaspalmeirasdeespécieairi”.Atéosanos30e40avárzeadoAricanduvanaregiãodaPenhaoferecialazercomágualimpaeáreasverdes.Nãohaviaconstruçõesnasvárzeaseportantoascheiasdorionãoprejudicavamninguém.Comacanalizaçãodocórrego,asvárzeasforamocupadasedaíasenchentesecasasatingidas.

<PinturaSacradointeriordaIgrejadaPenha.OSantuáriolevapinturassacrasdosanos30nasparedesetetofeitasporAlfredoCespi,avôdeFranciscoFolco(fundadordoMemorialPenhadeFrança).

<InteriordaIgreja(Santuário)deN.Sra.daPenha-canetanankin.OnomedobairrovemdeumahistóriadeumviajantefrancêsquelevavaaimagemdeNossaSra.daPenhanabagagem.Jáeranoiteeeleparouparadescansarnumacolina.Nodiaseguintecontinuouaviagemparaonorte,maspercebeuquejánãocarregavaaimagem.Voltoueaencontrounacolina.Recolheu-aeseguiuseucaminho.Novamenteaimagemtinhadesaparecidoedevoltaàcolina,láestavaela.Assumiraqueesteeraolugarescolhidoporela.Porvoltade1630surgiuumacapelanolocal,eem1667aIgrejafoiconstruídanestelocal.

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>Senhorpenhense-aquarela.ÉmuitocomumencontrarnaPenhapessoasqueviveramavidatodanobairro.Obairrotemseucomérciolocal,praças,igrejasemuitascasas,quasetudoquesenecessitapodeserencontradolá.Aindaexistearelaçãocomavizinhança,asamizadesefofocas.OSenhoraparecenodesenhosimbolizandoopenhensequeconstruiusuavidanobairroenãopretendedeixá-lonunca.

>FachadadecomércionoLargodoRosário-canetanankin.Abaixodestaplatibandaexistemdoislotescomerciais,umdeleabrigaalojaderoupas“Penhita”eaoutraa“FotografiaModerna“,queéumestúdiodefotografia.Afachadaestáumpoucodegradada,comtijolosexpostosnalateralesquerda.

> Vista dometrô Penha emdireção à Basílica da Penha - caneta nankin.Neste desenhopodemosveraconfiguraçãoatualdomorrodaPenha,ondeoquesedestacaéagrandeBasílicadaPenhaenãomaisaIgreja(Santuário)daPenha,quetemportemenor.Abaixododesenhovê-seoMetrôPenhaeàesquerdaoViadutoAricanduva.

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<HotelnaAv.PenhadeFrança-canetanankin.NafachadadesteHotelestáescritoadatadaconstruçãoeapalavra“Pacha“,queeraonomedafamíliaqueconstruiuesteprédio.Notérreo,afamíliaPachatinhaumalojadeguarda-chuvas.

<RuaDr.JoãoRibeiroaoladodoLargodoRosário-aquarela.EncontrodaRuaMajorAngeloZanchi comaRuaDr. JoãoRibeiro.ÀdireitaapareceoprédiodaCasadeCulturadaPenha,seguindoretoseriaoantigocaminhoparaaEstradadeSãoMiguel(sentidoRiodeJaneiro)eàesquerda,descendoaladeiraestáoLargodoRosário,ondesepodeverascostasdaCapeladeNossaSra.doRosáriodosHomensPretos.

<SinodaIgrejadeNossaSradeFátima-aquarela.Nointeriordaúnicatorreestáosino,cominscriçõesnometalcomonomedaIgrejadeFátimaeSãoJoãoBatista.

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> Torre da Igreja de Fátima - aquarela. Interior da torre do sino da Igreja de Nossa Sra.deFátimaeSãoJoãoBatista.

>LargodoRosário:praçaeCapeladeNossaSra.doRosáriodosHomensPretos-canetanankin.DiferentementedasoutrasIgrejasdaPenha,essacapelaquefoiconstruídaporescravosnoiníciodoséculoXIX,emtaipa,comapenasumanave.FoiconstruídacomdinheirodeesmolasporescravosqueeramproibidosdefrequentaraIgrejadeNossaSradaPenha.TemsuafrentevoltadaparaaperiferiadeSãoPaulo.Todososanosemjunho,emfrenteàCapelaaconteceaFestadoRosário,afestacomeçacomolevantamentodomastronodia2dejunho,eduranteassemanasseguintesorganizampalestras,eventosmusicaisedegruposdecongada,maracatu,foliade reisemoçambiques.HomenageiamossantospadroeirosdacapelaeelegemoReieRainhadoCongo.Nodia30dejunhoretiramomastroeseencerraoevento.

>VistadecasaemdireçãoàBasílicadaPenha-canetanankin.DosegundoandardacasadosmeuspaisdesenheiavistaquetemosdaBasílica.Nestedesenhoapareceemprimeiroplanoacaixa-d’águadaminhavizinhaLola,eos fundosdediversascasasdaRuaBetari.ABasílicamesmoestandoa4quadrasdacasa,apareceaofundonapaisagem.

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<BalcãodevelasnaentradadaCapeladoRosário.ÀdireitadequementranaCapelaestáestebalcãocomvelasexpostas.Ocheirodeparafinafazlembrarquetrata-sedeumlocaldeprece.

<InteriordaCapeladoRosário-aquarela.AcapeladoRosárioéumaconstruçãomuitosim-ples,semornamentosparedesbrancas,osaltaressãonichosnasparedes.Nestasimplicidade,destaca-seagraçadopisodeladrilhohidráulicoeabelíssimaportagrossademadeirapintadadeazul.

<LadrilhoHidráulico-aquarela.DesenhodeumatipologiadeladrilhosdaFábricaOrnatos,localizadanaRuaCapitãoJoãoCesário.

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Escrevoesteanexo,poisaprimeirapartedomeutrabalholevantaquestõesinteressantesrela-cionadasàarquitetura,memóriaepercepçãoespacial,alémdeenvolverumainvestigaçãodeminhasmemóriasparaentendercomosedáaformaçãodomuseuimaginário.

Esta investigaçãodememóriasafetivasoscilavaentreconstatações, saudadesenostalgia.Acabeioptandoporfocaremumobjetivoqueéo“atmosferasdaPenha”,nãotãopessoalapontomeexpormuitooupareceregocêntrico,eaomesmotempolongedeserimpessoal.

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Esteéonomequeescolhiparaaminhaprimeirapartedotrabalho.Sempremefascinoualigaçãoafetivaquepodemosestabelecercomosespaçosfísicosetambémaformacomoesseslugaresnossãomostradosemnossorepertórioimagético.

Estaligaçãocomoslugaresàsvezessedádeformaespecífica,comoacozinhadacasadasuaavó,oudeformaabstrata,comoafetuar-seaumacidadeesuaatmosfera.Esteslugarestornaram-seafetivosnãoapenaspelasuaconfiguração,masprincipalmentepeloseuuso,dequemaneiraeporqueméusado.Aspessoaslheconferemvaloresqueprovavelmentenãoestavamprevistosduranteconcepçãoeconstruçãodolugar.

Aminhapropostadetrabalhoeratentarentenderqualéestelimite,atéondeoarquitetopodeprojetarepreveraaceitaçãodesuasobrasparaocampoafetivo,sejaatravésdobelo,sejaporpreverusosouporcriarsituaçõespremeditadas.

Juntoaistoexistiatambémaintençãodeanalisaraformaçãodonossomuseuimaginário,(repertórioimagético),aoqualmerefirocomoumacervoparticulardelembrançaseima-gens,queéconsultadoacadanovoproblemaanósapresentado.

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É o repertório imagético que liga nossas lembranças ao ato projetual, e istoacontece de forma natural. Considero que não seria capaz de projetar umaresidênciasemrevisitarempensamentososlugaresfavoritosdaminhacasadeinfância.Tambémnãohesitariareproduziremnovosprojetossoluçõesespaciaisquevivencieiecomproveiseremagradáveiseeficazes.

Frenteaisso,quasecontraditoriamente,percebotambémquemesmodesejandoentenderseseriapossívelprevereproduzirracionalmente,duranteoprojeto,relações afetivas entre espaço e pessoa, é muito encantador perceber naarquiteturasuassurpresas,oqueaobraconstruídaapresentaaseususuáriosequenãoforapremeditado,comoodesenhodaluzocupandoespaços,opesodosdiferentesmateriaiseatemperaturadascores.

Sobreonome“ACasaSensível”,a“casa”refere-seàcasadeinfânciaetambémàmentedecadaum,ondemoramnossaslembrançaseideias.O“sensível”dizrespeitoaodiferencialquefazlugaresfísicosreaistransformarem-seemlugaresafetivos.

Paraquefiquemmais clarasas referênciasqueuseineste iníciode trabalho,falobrevementesobremimesobreaminhafamília,jáqueoprincipalobjetodeestudofoiminhamemóriaafetiva.

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Meus pais conheceram-se no bairro da Penha, em São Paulo, e lá mes-mo construíram uma casa para a família alguns anos depois. A Penhanão é importante para mim apenas por ser o lugar onde está a primeiracasa, mas têm paisagens interessantíssimas, ladeiras coroadas por igrejas,construçõesantigasehistóriascuriosasdosantigosmoradores.

A Bolívia é para mim uma segunda nacionalidade, meu pai é boliviano deCochabambae sempre fezquestãodenosmostrar suacultura,demodoquenaturalmenteadoteiaculturadoaltiplanobolivianocomosendominhaebastaficarpoucosanossemirparaaBolíviaquesintoanecessidadeurgentedevoltar.

Sobre a paisagem do altiplano, numa leitura rápida, trago na memóriaapresençadasmontanhasqueenvolvemascidadesequepodemservistasportrásdosprédiosecasas;asvarandasepátioscoloniais,asconstruçõessimplesfeitasdeadobe,casasembasadasempedrasesenhorassimplesdepersonalidadeforte,commuitascamadasdesaias.

<PaiemãeempasseiopeloLagoTiticacaem1982.

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Moreinessacasaatémeuprimeiroanodefaculdade.ElaficanaRuaMatusalémMatoso,próximadocentrohistóricodobairrodaPenha.Oterrenofoicompradoem1981,assimquemeuspaissecasaram.Neleexistiaumapequenacasaenofundodoterrenoumquintaldeterrabatidacomumpequenobanheiro.Apenasumaparededacasafoimantida,orestantefoidemolidoparaconstruiranovacasa.

Meupai(dentista)desenhouacasajuntodospedreiros.Conversandocommeupai,conseguiperceberalgumascaracterísticascomunsentreacasadeinfânciadeleemCochabambaeacasaquecriounaPenha.Sãoelas:

-Pé-direitoalto -Jardim/Quintalinterno -PortaseJanelasemformadearcos -Gradesemferroforjado -Telhasdebarro -Pisodetacos -Janelasgrandes

Talvezelenãotenhapontuadotodasessascaracterísticasantesdecomeçaraobra,masconformeerasolicitadacadasoluçãodeprojeto,elerecorriaaoseurepertóriodelembrançaseencontravasuaantigacasacolonial.

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Lembro-mequequandodecidiestudararquiteturanãohouvenenhumatentativadaminhafamíliadequerermeencaminharparaOdontologia(jáquesomosumafamíliadedentistas), pelo contrário,meupaimedisseque se elenão fossedentista seriaarquiteto,masqueopaidelenãoteriadeixado,tantoquequandosaiudeCochabambaparaestudarnoBrasil,aos20anos,tevequementiredizerqueestudariaMedicina.

Desde criança ouço meu pai falar de como era a primeira casa onde ele morou,tantoquepossodescrevê-lacomoseeuaconhecesse.Eraumacasagrande,dedoisandares, no andar de cima vivia a família domeu pai, e no inferior uma famíliaextrangeira. Para chegar à casa, ele subia uma escada larga revestida com pedraemuitasvezesdesciaescorregandopeloseucorrimãolargo.

A casa ocupava umquarteirão pequeno, sendo que omiolo da quadra configuravaumpátiointernocomumafontedepedra.Acirculaçãohorizontaldosegundoandarera aberta para o pátio interno, como uma grande varanda, e algumas janelas seabriamparaela.Opédireitoeramuitoaltoeasjanelaseportastambém.Nosquartos,asportas-balcãodemadeiraevidroseabriamparaaruacomguarda-corposemferroforjado.

Desde sua concepção a Casa da Penha esteve ligada à Bolívia. Percebo que comodentista(livredeconceitosqueadquirimosnaarquitetura),oque faloumaisaltoaoprojetarumacasaforamsuaslembrançasdeinfância,dasuaprimeiracasa,queésuareferênciaespacialmaisrelevante,carregadadeafetividade.

<Meupainopátiointernodesuacasa,ecomoerasuaruaemCochabamba,meadosde1960.

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Onossorepertórioimagéticoparticularparticipanaturalmentedoatodeprojetar.Possoescolherumareferênciaespecíficaparameguiaremumnovoprojeto,masmesmoqueeutenhafeitoessaescolha,outrosespaçosquemetocaramdealguma forma irão participar desse novo trabalho. Nessa fase de estudospercebiquepoderiamebasearemboassoluçõesdeprojeto,maséinteressantedeixarcadaprogramanosguiarcomsuaformaprópria,naturalenãobaseadonummanualdesoluçõespositivas.

Estudei fotografiasedesenheiespaçosdacasaondecresci, tentando lembrarqualeraafunçãodecadacômodo,qualeramaisagradáveleporqualmotivooera,eassimconseguimeaproximardessaabordagemracional.Foiumestudobastanteinteressante,poiséaprimeiravezquetentointerpretaraminhacasadeinfânciacomoolharmaisapurado,sintoquesóagoraentendoaarquiteturadaminhacasa.

“Existe afinal, uma enorme diferença entre a maneira como nos lembramos da casa onde nascemos e que não vemos há muitos anos, e a visão concreta que se tem da casa depois de uma prolongada ausência. Em geral, a poesia da memória é destruída pela confrontação com aquilo que lhe deu origem.”(TARKOVSKIemEsculpiroTempo)

Meustiosnaantigacasadomeupai.Cochabamba,1964.>

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Entendoqueessetextoserefiraprincipalmenteàligaçãoafetivaquecriamoscomoses-paços,eassimelereforçaaidéiadequea“poesiadamemória”envolvemuitasquestõesquevãoalémdoespaçofísicoreal.Sendoassim,reforçoaconstataçãodequeeunãopossoolharparaaminhaantigacasaeextrairdelarespostaspontuaisdearquitetura,poiselanãoeracompostaapenasporcomponentesarquitetônicosetijolos,maseraformadapelaminhafamília,brincadeirasedescobertas.

Acreditoqueaformacomoacasafoiconstruídaepensadacolaboroucomseubomuso,assimcomonossaformadeviveragregouvaloràcasa.

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Partedaminhainvestigaçãofotográficafoifazermontagens,usandofotografiasdefamíliaqueforamtiradasnomesmolugardanossacasadaPenhaemépocasdiferentes.

Fazendoissonoteiquemuitasfotoseramtiradasnosmesmoslocais,queeramondeafamíliapassavamaistemporeunida.Aescadadaentradadecasa,asalaeacozinhaeramoslugaresmaispresentesnasfotos.Osquartos,quintal,áreadeserviçoesaladejantarquasenãoapareciam.

Era de se esperar que passássemos bastante tempo na cozinha e na salade estar, mas na escada de entrada... Me lembro que esta escada erao espaço de transição entre a rua e a casa. Estávamos praticamente narua, mas com a segurança do lar. A escada também era o lugar ondeesperávamos os outros na hora de sair de casa, enquanto alguém terminavade se aprontar. Era umamaneira de pressionar os outros, pois já estávamospraticamentenarua,oatrasadoprecisavacorrer.

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Esta era a escada que ficava na entrada de casa, umaverdadeiraarquibancada.

Elaaparecenas fotoscomoparteda família.Somos trêsirmãos e note quantas crianças aparecem nessas fotos(deixeideusaroutrasfotosdaescada,porqueaspessoasnãocaberiamnamontagem).

Aconfiguraçãodaescada-arquibancadapropiciavaoestar,oencontroeeraumespaçodetransiçãoeficiente.

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Acozinhadescontraída:

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Asala:

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O mapa afetivo é a geografia particular, uma representação simbólica dos lugaresmais significativos de uma pessoa. Desenvolvi meu mapa afetivo para visualizaraorganizaçãodessesmeusespaços,écomoseoqueexisteentreSãoPauloeCochabambafosse irrelevante. Eu adoraria conhecer esses lugares,mas eles não tem peso nestemapa,jáqueaescaladerepresentaçãoéograudeimportânciadecadalugar.

AdiagonalmarcantedomeumaparepresentaaCordilheiradosAndes,quecruzoparachegarnaBolívia,jáquesemprequevouàBolíviasintoaCordilheira,tantopelaaçãoda altitude emmim,quanto a suapresença constantenaspaisagens.AssimcomoaCordilheiraparticipadomapa,omorrodaPenhaestárepresentadomaiorqueosAndes,comoseestivessemaispróximodemim.

Depois que comecei a fazer o meu mapa e buscando referências encontrei outrosmapasafetivos,depessoasquetambémsentiramestanecessidadedematerializarumsímbolo da sua geografia fisico-afetiva. A artista plástica Claire Kessner-Bradner fezum trabalhoque tambémchamoude “mapa afetivo“, ondefixavabilhetes escritos àmãocontandooquehaviapassadoaelaemumendereçoespecífico,sobreomapadeSãoFrancisco(Califórinia),comoolugarondedeuseuprimeirobeijoeondeseaciden-touusandoskate.Otrabalhodaartista funcionacomoumestímuloparaaspessoaspensarem na sua cartografia sentimental, a fim de humanizar a cidade atravésdamemória.

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LagoTiticacaecidadedeCopacabana.Antigacasadomeuavô,emCochabamba.

Casa da Penha, onde cresci.Trem:StaCruzdelaSierraaPuertoQuijaro/Corumbá.

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SantuárioNossaSenhoradaPenha

BasílicaNossaSenhoradaPenha

FAU

EdifícioCopan,ondemoroatualmente.

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Os primeiros desenhos do bairro surgiram espontaneamente, durante a primeira partedo trabalho, quando eu tentava entender como eu percebo esses lugares que são tãofamiliaresamim.

Posteriormente,observandoessesdesenhospercebiquepoderiausá-loscomorepresentaçãoexpressivadaminhapercepçãoespacial.Aprincípiomequestioneibastanteporachá-losfigurativos demais, poremacredito quepara este objetivo que assumi emAtmosferas daPenhanãoseriaconvenienteencaminharotrabalhoparaaabstração,jáquemesmocomaintençãodetocaraspessoascompercepçõessensíveisuniversais,aindaestavatratandodeumlugarreal.

Quantoàexecuçãodosdesenhos,amaioriadelesfoifeitaemum“moleskine”,umtipodecadernodeviagem,porserumsuportepráticodesercarregado,facilitandoosdesenhosemloco.Quandonãohaviaposiçãoadequadaparadesenhar(empénacalçadaounomeiodeumcruzamento),eufaziaosdesenhosàpartirdefotografiasqueeramtiradasparaessefim.

O formato horizontal deste livro segue as proporções do meu caderno de desenhos,relacionandoasuaexecuçãocomaformacomoeleéapresentado.

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Chegueiaumpontodotrabalhoemquepercebiquetinhamuitosdesenhos,algunsmaisexpressivosdoqueosoutros,maselesnãopareciambastarparametransmitiraatmosferadaPenha,euprecisavacolocarvidaneles,inseririmagenslúdicasesituaçõescotidianas.

Umadascarênciasquepercebiquandomeimagineiapresentandosomenteosdesenhoséqueelesnãopareciamtransmitirapassagemdotempo,faltavaação,mesmoqueàsvezeseureconheçanaPenhaumacertamorosidadeinteriorana,dotempoquepassalento,dasladeirasquecansamquemassobeedossenhoresdeidade.

Tentei me lembrar de referências, exemplos de pessoas que conseguiramme transmitirsensaçõesquandosereferiamalugaresefoientãoque“CidadesInvisíveis”veioàtonacomnarrativascurtasquesintetizavamespaçoepessoas,ondeÍtaloCalvinoconseguiucriarecompactarmuitasimagenseinformaçõesemumtextoobjetivo.

Àpartirdissopasseiaescreveroscontosparacaptaratalatmosfera.Paraescrevê-loseuprocurava algum lugar silencioso, listava temas significativos e os reinterpretava pelasminhaslembranças.Noconto“obairrocomnomedepedra”relembroasminhasvizinhasidosasquenãodeixamde ir àsmissase feiras.Umadessasvizinhas reaparecenoconto“odianão“,quandoopersonagemaencontranaruaeelaanseiacontarsobreasplantasquecultiva.ElaéaDonaLola,quetempernasfortes,roseiraselimoeirosemcasa.Pode-severpartedacaixa-dáguadesuacasanoprimeiroplanododesenhodapágina51.

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Noconto“ocaçador“,o trajetodopersonageméotrajetoparaaminhacasada infância,ondemeuspaisvivematéhoje.Eucaçoastorrescomosolhostalvezparasentirasegurançadequeaminhapaisagemnãomudou,emesmotendoestudadoemumcolégiodefreirasdobairrodaPenha,nãocostumoiràsigrejas,apenasasaprecio.

Mepermitimostrarumpoucodomeudescontentamentoem“noturna“jáquenemtudosãorosas.Tenhopercebidomelhorianavidaculturaldapenhanosúltimosanos,masnãosecomparacomaagitaçãoculturaldobairroaproximadamentede1930ameadosde1980,quandoatraíapessoasdeoutrasregiõesqueprocuravamseuscinemasderuaeteatros.

Em“LargodoRosário“,resgatoodesafioquemefaziasemprequevoltavadaescolaemdiasdechuva.Eupensavaquenaquelediaeuconseguiriapassarpelapraçasemmolharospésnaspoças,masqueeumelembre,nuncaconsegui.

Noscontos reuni temáticasque julguei simbólicaspara representaraPenha, revireimeurepertórioimagéticoparabuscarohumanoquehabitaaspaisagensquedesenhei.

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Ao desenvolver este trabalho tive a oportunidade de entender o que estava ao meuredor, reconhecermeus territórios e tomar consciência de que não podemos prever quecertoslugaressejamtidoscomolugaresafetivos.Comoarquitetossomoscapazesviabilizarsituaçõesqueajudemaconferirafetividadeaoespaço.

Nãoéapenasatendendoàsdemandasergonômicasreferentesacadausoqueserealizaumbomprojeto,masconsiderandooespaçohabitado,quaissituaçõeselepropicia,comoaluzprovavelmenteincidirá,asensaçãovindadosmateriaisedequeformaaspessoascirculam.Aafetividadeéconferidaprincipalmentepelaformacomoaspessoasusamoespaço.

SobreaPenha,tiveoprazerdetornar-memaisíntimadela,porconhecerseupassadoquenãose limitaao tempodaminhaexistênciano local.Anteseusó tinhaconhecimentodaminharelaçãocomobairroehojevejoarelaçãodelecomSãoPaulo.

“AtmosferasdaPenha”ilustraonossoolharsensível,quenosmostramaisdoqueosolhospodemver.

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