textos diversos

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30 de Novembro de 2013•20h23 •atualizado em 02 de Dezembro de 2013 às 07h14 Câmara do Recife cancela debate sobre Copa e moradia Relatora da ONU, Raquel Rolnik considera que pode ter avido uma tentativa de cerceamento da expressão Foto: João Carlos Mazella / Divulgação/Comitê Popular da Copa Eduardo Amorim Direto do Recife A política e o futebol estão intimamente ligados, como ficou evidenciado com a repercussão dos protestos durante a Copa das Confederações em todo o Brasil. Na última sexta- feira, isso ficou mais uma vez claro, quando a Câmara de Vereadores do Recife cancelou audiência pública que teria a presença de representantes de comunidades de Fortaleza, Salvador, Natal e de Pernambuco e da relatora especial da ONU para o Direito à Moradia Adequada, Raquel Rolnik. Após visitar as comunidades do Coque e de São Lourenço, a relatora chegou ao portão da Câmara e soube que a audiência pública que marcaria o início do Seminário Legados e Relegados da Copa do Mundo: quando o direito á moradia é violado havia sido

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30 de Novembro de 2013•20h23 •atualizado em 02 de Dezembro de 2013 às 07h14

Câmara do Recife cancela debate sobre Copa e moradia

Relatora da ONU, Raquel Rolnik considera que pode ter avido uma tentativa de cerceamento da expressão Foto: João Carlos Mazella / Divulgação/Comitê Popular da Copa

Eduardo Amorim Direto do Recife

A política e o futebol estão intimamente ligados, como ficou evidenciado com a repercussão dos protestos durante a Copa das Confederações em todo o Brasil. Na última sexta-feira, isso ficou mais uma vez claro, quando a Câmara de Vereadores do Recife cancelou audiência pública que teria a presença de representantes de comunidades de Fortaleza, Salvador, Natal e de Pernambuco e da relatora especial da ONU para o Direito à Moradia Adequada, Raquel Rolnik.

Após visitar as comunidades do Coque e de São Lourenço, a relatora chegou ao portão da Câmara e soube que a audiência pública que marcaria o início do Seminário Legados e Relegados da Copa do Mundo: quando o direito á moradia é violado havia sido cancelada. “Em seis anos de mandato como relatora especial da ONU para o Direito à Moradia Adequada, eu nunca – nunca – tinha vivido uma situação em que uma Câmara Municipal tenha impedido a realização de um evento e de uma audiência pública sobre o direito à moradia. Eu já fiz isso várias vezes em várias câmaras e congressos e parlamentos, de várias cidades do mundo e sinceramente foi a primeira vez que eu chego para fazer um debate sobre o direito à moradia e encontro um portão de uma câmara municipal, que é a Casa do Povo, fechado”, contou Rolnik.

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O presidente da Câmara, Vicente André Gomes, confirmou que havia acertado a realização da audiência pública com o vereador Almir Fernando, mas disse que ontem “o Coronel Roberto (chefe de segurança do poder legislativo) me chama e diz que no Derby estava havendo um encontro e que haviam lhe informado que poderia haver uma invasão”. O fechamento da Câmara deixou indignados as pessoas que chegaram até a porta da Câmara e foram informadas às 18h30, horário da audiência pública: “o nosso estranhamento é a surpresa de uma decisão ter sido tomada à revelia da gente, porque nós tínhamos conseguido aquele espaço”, diz o integrante do Comitê Popular de Pernambuco, Evanildo Barbosa.

Raquel Rolnik conversou com moradores de duas comunidades antes da audiência Foto: João Carlos Mazella / Comitê Popular da Copa/Divulgação

Para Raquel Rolnik: “Ao que parece as pessoas que estavam em volta estavam dizendo que não há nenhuma manifestação. Então trata-se pura e simplesmente do cerceamento da liberdade de debate e expressão e é um pouco estranho porque em tese a Câmara Municipal deveria ser o local do debate. Então realmente eu nunca tinha visto isso não”.

Durante o dia, a relatora especial para o Direito à Moradia Adequada da Onu visitou áreas em que famílias estão sendo removidas por conta de obras da Copa do Mundo e garantiu que após visitar as comunidades do Coque e do Loteamento São Francisco acredita que o direito humano à moradia não está sendo respeitado em Pernambuco. No Coque, a relatora da ONU conversou com pessoas como Valdimarta Lima, para quem foi oferecida uma indenização de R$5600 para deixar sua casa. A artesã participou da audiência pública e afirmou que sobrevive vendendo artesanato que faz e vende na localidade e que não tem conseguido diálogo com o poder público.

Raquel Rolnik teve reuniões com o Governo do Estado e a Prefeitura do Recife, antes das visitas, mas questiona o modelo que vem sendo adotado e lembra que o Brasil assinou todos os tratados internacionais que dizem respeito ao direito à moradia. “Perguntei como estavam sendo feitas as remoções e a posição é de que estavam sendo realizadas de acordo com a legislação. Mas me parece que a legislação que está sendo

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seguida não é legal, já que o direito à moradia não está sendo respeitado”, afirmou a relatora.

O grupo Direitos Urbanos (https://www.facebook.com/groups/direitosurbanos/?fref=ts) e o Comitê Popular da Copa de Pernambuco divulgaram nota de repúdio ao vereador Vicente André Gomes. "A Casa de José Mariano (Câmara do Recife) manchou sua história ao fechar as portas para a Relatora das Nações Unidas que veio, em visita de trabalho, conhecer de perto as denúncias de violação ao direito à moradia na cidade do Recife e no Estado de Pernambuco.  Denúncias essas que cabia ao Vereador Vicente André Gomes e aos demais investigar. Mas além de não fazer o próprio trabalho que lhe incumbe, o Vereador Vicente André Gomes impede que as Nações Unidas façam o seu trabalho de relatoria das graves condições de moradia dos cidadãos recifenses" diz trecho do texto, que também é assinado pelo movimentos Coque (R)Existe, Coque Vive, Ponto de Cultura Espaço Livre do Coque, Aspan - Associação Pernambucana de Defesa da Natureza e Partido Pirata do Brasil.

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30/11/2013 - Copyleft

O protesto nas universidades por um novo ensino da economia

A forma como se ensina economia nas universidades é anacrônica e está "presa numa cápsula do tempo". Por Helena Oliveira, Jornal de Negócios (Portugal)

Por Helena Oliveira, Jornal de Negócios (Portugal)

Até aqui, poderia ser chamada como uma “revolução silenciosa”. Um pouco por todo o mundo, grupos de estudantes de economia estão a organizar-se e a erguer a sua voz exigindo uma reforma nos programas curriculares da disciplina. Questionando a hegemonia da teoria neoclássica, a excessiva utilização dos modelos matemáticos e a desconexão entre “economia” e questões econômicas reais, os estudantes em causa, apoiados por um número crescente de acadêmicos e economistas de referência, divisaram estratégias variadas de ação e estão a começar a atingir sucessos reais. Depois de manifestos, movimentos e conferências, os media começaram a cobrir este grito de reforma e já há muita gente que o escuta, regista as suas frustrações e se prepara para agir. O VER conta a história de uma nova “Nova Economia” que, finalmente, parece estar a dar os primeiros passos em muitas instituições de ensino de referência. “Se desejam enforcar alguém por causa da crise, enforquem-me a mim, e aos meus colegas economistas”. A frase, indubitavelmente surpreendente, foi proferida por uma economista e acadêmica de Cambridge, Victoria Bateman, e deixou profundamente incomodados os demais acadêmicos e economistas reunidos, no final do mês de Outubro, numa conferência que teve lugar em Downing College, Cambridge, a propósito da crise econômica. No seu novo livro, Never Let a Serious Crisis Go to Waste, o economista norte-americano Philip Mirowsky conta a história de um colega seu, professor na Universidade de Notre Dame, ao qual foi pedido, pelos seus alunos, que fizesse um debate sobre a crise financeira. Dado que corria o ano de 2009 e o mundo financeiro estava a colapsar aos olhos de todos, os alunos pensaram que este seria um excelente tema para ser debatido na aula de macroeconomia. A resposta do professor: “Os estudantes foram laconicamente informados que o tema não constava do conteúdo programático da disciplina, nem era mencionado na bibliografia afixada e que, por isso,

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o professor não pretendia divergir da lição que estava planeada. E foi o que fez”. Num artigo publicado no The New York Times, e também em 2009, o laureado com o Nobel da Economia e também professor em Princeton, Paul Krugman, escrevia: “tal como eu a vejo, a profissão de economista sofreu um profundo desaire porque os economistas, enquanto grupo, confundiram a beleza e a sofisticação da matemática com a verdade”. O que têm estas três histórias em comum? À primeira vista, uma recusa em acreditar que o mundo mudou, que as lições decorrentes da crise financeira não foram debatidas, ou estudadas, e que a economia continua a ser uma disciplina que ignora as evidências empíricas que contradizem as teorias mainstream que, até agora, fazem parte dos seus conteúdos pragmáticos. E é contra esta recusa cega e teimosamente persistente que muitos estudantes de economia, de diversas universidades e de vários cantos do mundo, se estão a organizar em movimentos estudantis, a angariar apoio acadêmico no geral, e de muitos economistas de renome em particular, e a publicar manifestos nos quais exigem que o estudo da economia reflita o mundo pós-Grande Recessão e que os modelos que sustentam a disciplina sejam mais pluralistas e menos dogmáticos. Contra o autismo econômicoA 6 de Abril último, um grupo de estudantes da École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS), uma das mais reconhecidas instituição de ensino de ciências sociais em França, realizou uma assembleia geral para discutir alternativas à ortodoxia corrente que caracteriza o ensino da economia no século XXI. Em Setembro do ano passado, mais de 400 estudantes alemães participaram num “evento de alternativa pluralista” organizado pela Associação Econômica Alemã, com o objetivo de debaterem, num fórum organizado para o efeito, ideias econômicas fora do âmbito mainstream. Em finais de Junho do corrente ano, estudantes, acadêmicos, profissionais e cidadãos juntaram-se em Londres para repensar a economia e o seu ensino enquanto disciplina na denominada Rethinking Economics Conference. Estes são apenas alguns dos exemplos que, através de iniciativas aparentemente separadas, se estão a transformar num movimento global de estudantes – e também de professores – cujo objetivo principal é alterar a forma como se olha para a economia enquanto disciplina e enquanto ciência, não exata, mas antes plural e “humana”. O início deste movimento teve lugar em França, no já longínquo ano 2000, quando ainda não se sonhava com o escândalo da Enron e, muito menos, com o pesadelo de Wall Street e as sequelas que se lhe seguiram e que afetaram o mundo financeiro e econômico global como o conhecíamos. Na altura, um grupo de estudantes franceses publicou um manifesto no qual exigiam o fim “do autismo no ensino da economia” enquanto disciplina. Em particular, os estudantes criticavam a utilização “descontrolada” da matemática no ensino da economia, como se a primeira fosse “um fim em si mesma”, o fracasso do seu envolvimento com a economia real, o dogmatismo reinante e a inexistência de um pluralismo intelectual no ensino da disciplina em causa, o qual não deixava espaço algum para o pensamento crítico em geral e para abordagens alternativas à economia em particular. Na altura, o manifesto estudantil deu rapidamente origem a uma petição por parte dos professores de economia franceses, que apoiavam o

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conteúdo do mesmo, o que acabou por ter um eco substancial não só na imprensa como também ao nível político, tendo sido instituído, pelo então ministro da Cultura francês, um comité para investigar as “queixas” levadas a cabo por estudantes e professores. Treze anos passados e as questões colocadas por este grupo de estudantes continuam por resolver. Mas e apesar do rótulo da necessidade de uma “economia pós-autismo” ter desaparecido, os movimentos de estudantes estão em crescendo, multiplicando-se as iniciativas, bem como as vozes concordantes que clamam por uma nova abordagem da economia. Como se pode ler na página do movimento Rethinking Economy, os estudantes alemães que participaram no evento acima referido vêem agora a sua “alternativa” a ser replicada em várias universidades alemãs, numa rede intitulada Rede Alemã para uma Economia Plural, o mesmo acontecendo com estudantes no Canadá ou no Chile. O reputado Institute of New Economic Thinking , sedeado em Nova Iorque, lançou a Young Scholars Initiative que “apoia a nova geração de pensadores da nova economia” e, na mesma linha, a World Economics Association  - que reúne mais de 12 mil economistas de todo o mundo – fundou também a Young Economists Network. Mais recentemente, a Universidade de Manchester lançou a The Post-Crash Economics Society, colocando online uma petição para alterar os conteúdos programáticos com base num manifesto que, entre outras coisas, sublinha a ideia que a economia é muito mais que crescimento e PIB e que a expansão do pensamento econômico é vital para os líderes do futuro. Numa carta aberta publicada pelo jornal britânico The Guardian, os membros desta “sociedade” têm vindo a ganhar uma visibilidade crescente ao longo deste mês de Novembro – com uma excelente ajuda por parte do próprio jornal – depois de um conjunto de acadêmicos ter enviado também uma carta ao mesmo na qual “afirmam compreender a frustração dos jovens com a forma como a economia é ensinada na maioria das instituições no Reino Unido”. Para este conjunto de professores, que fazem parte do Post Keynesian Economics Study Group, a economia contemporânea continua a ser moldada pela abordagem neoclássica [em que a ciência econômica é vista como “pura”, identificando-se com o mercado, ou concorrência, em particular sobre a forma de concorrência perfeita, em que os sujeitos econômicos agem racionalmente em termos de maximizadores ou minimizadores de qualquer coisa, sejam utilidades, lucros, custos, etc. e são dotados de idêntico poder]. Para estes acadêmicos, esta abordagem tem apenas em consideração os “microfundamentos” que se baseiam nos indivíduos racionais e egoístas em detrimento de uma qualquer plausibilidade empírica. “Este compromisso dogmático contrasta significativamente com a abertura do ensino em outras ciências sociais as quais, de forma rotineira, apresentam paradigmas concorrentes”, escrevem, acrescentando que “os estudantes podem hoje terminar a sua licenciatura em economia sem nunca terem sido expostos às teorias de Keynes, Marx ou Minsky e sem nunca terem ouvido falar da Grande Depressão”. Ou, em suma, e regressando às questões pioneiras levantadas pelos estudantes franceses em 2000, o cenário parece não ter mudado: o ensino da economia continua a ser dogmático e “estreito”, os modelos matemáticos continuam a estar no seu centro, os humanos são tratados como se de máquinas calculadoras se tratassem e a maioria dos acadêmicos continua a ter muito pouco a dizer sobre os acontecimentos que vão caracterizando a economia real. Mais importante ainda é o facto de a crise financeira e econômica de 2008 ter demonstrado, de forma dolorosa, que os modelos

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macroeconômicos ortodoxos são manifestamente inadequados e que a economia mainstream não ajudou os economistas a prever a crise nem permite, tal como está, que se evitem recessões intermináveis. Debates, enfoque na história do pensamento econômico e sustentabilidade Mas e afinal, o que pretendem os estudantes e os professores e demais economistas que os apoiam? Os estudantes da Universidade de Manchester que formaram a já mencionada Post-Crash Economics Society encontraram inspiração para a criação da sua “sociedade” depois de terem assistido, em Fevereiro de 2012, a uma conferência organizada pelo Banco de Inglaterra e pela Royal Economic Society. Intitulada “Are economics graduates fit for purpose?”, o evento contou com a presença de um conjunto de diversos especialistas que analisavam, exactamente, uma das consequências da crise financeira e econômica de 2008: a reavaliação da própria economia por parte daqueles que a praticavam, o que implicaria, naturalmente, a forma como esta era ensinada nas universidades. Como afirmou então Diane Cole, directora da consultora Enlightenment Economics, uma das oradoras, “a crise foi um enorme fracasso intelectual, pois todos a percebemos de forma errada”. E, na verdade, a questão da necessidade de existir uma reforma no ensino da economia está estreitamente relacionada com o “status” intelectual da própria economia, no pós-crise. Mas não só. Como se pode ler na carta aberta enviada ao The Guardian, os estudantes de Manchester têm uma ideia bastante precisa da desadequação do ensino da economia relativamente ao mundo em que vivemos. Quando abordam a questão das teorias econômicas, escrevem: “esta [a teoria neoclássica] gira em torno da ideia do agente individual. Um agente pode ser uma pessoa ou uma empresa, por exemplo, a interagir com uma outra através de preços, num mercado. E o carácter de um agente ou os desejos claros de uma empresa ou de um consumidor no mercado são-nos apresentados como modelos matemáticos. É esta simplificação da natureza humana, apresentada numa sucessão de equações que, muitas vezes, sufoca a economia neoclássica e lhe nega a fluidez necessária para descrever, de forma precisa, a mudança patente no mundo em que vivemos”. E acrescentam: “indivíduos que compram e vendem bens para gerar lucro, sem qualquer ideia de que forma estes bens podem afetar o planeta ou afetar a vida das pessoas, é uma questão ignorada [no ensino da economia] mas que deve ser uma preocupação para todos nós. O sistema financeiro corre ao ritmo desenfreado da imediaticidade, sendo que o colapso financeiro de 2008 lançou alguma luz em como uma ausência de conhecimento dos fracassos do mercado pode ser desastrosa para a sociedade”. Afirmando ainda que não pretendem afirmar que o modelo neoclássico é perfeitamente inútil, os estudantes concentram-se, ao invés, num conhecimento mais alargado de outro tipos de teorias – privilegiar o ensino da história do pensamento econômico é um “pedido” comum nos vários manifestos estudantis – em conjunto com outras ferramentas que lhes permitam perceber o que é melhor para uma economia, “não sendo esta limitada apenas por questões de crescimento e lucro, mas incluindo o estudo de mecanismos que permitam a sustentabilidade, a equidade e a consciência social”. 

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Na petição que consta no site da “sociedade de estudantes”, os promotores da iniciativa relembram ainda a variedade de escolas de pensamento existentes na disciplina e que a integridade acadêmica exige que teorias econômicas alternativas sejam ensinadas aos alunos. A forma como a economia é ensinada, defendem, dá origem a consequências importantíssimas pois as nossas sociedades são moldadas por políticas e acontecimentos econômicos. Adicionalmente, a desadequação entre os conteúdos programáticos e as necessidades do mundo real constitui um desafio enfrentado pelos departamentos de economia de universidades de todo o mundo. Afirmando acreditar que a educação em economia deveria incluir uma pluralidade significativa e uma ainda maior avaliação crítica, as propostas dos estudantes são claras: Sublinhar, em cada módulo, as teorias econômicas a serem ensinadas, para que a  economia não seja encarada como uma disciplina monolítica e sem debate. Porque as teorias econômicas não podem ser devidamente compreendidas sem o conhecimento dos contextos sociopolíticos e tecnológicos nos quais são formuladas, o relacionamento com a história econÇomica deverá ser feito sempre que possível. Disponibilizar cadeiras com perspectivas econômicas alternativas nos três primeiros anos do curso, deixando claro que a ideia não é a de se ignorar o ensino da economia mainstream, mas sim compreender que a pluralidade de perspectivas é estritamente necessária. Sempre que possível, os docentes deverão relacionar a matéria em causa com o mundo real para que os estudantes aprendam a aplicar a teoria e compreendam onde falha a teoria para explicar a realidade. Os módulos devem encorajar também o desenvolvimento de competências críticas e os tutoriais deverão estimular a discussão e o pensamento reflexivo. Já a Rethinking Economy,a comunidade que tem como objetivo desmistificar, diversificar e revigorar o estudo da economia, numa rede abrangente de cidadãos, estudantes acadêmicos e profissionais, com o objetivo de formar uma rede colaborativa de “re-pensadores”, apresenta três linhas por excelência para a reformulação do ensino da disciplina.  Uma linha acadêmica, que privilegie pontes com disciplinas direta e indiretamente relacionadas com a economia, que faça progressos no ensino de outras perspectivas e metodologias até agora negligenciadas e que promova a colaboração, a humildade e a prática ética na academia; Uma linha educacional, que desmistifique a economia enquanto ciência técnica, construindo comunidades abertas e colaborativas de pensadores econômicos; que expanda a criatividade e a consciencialização social dos economistas e cidadãos do futuro, ao mesmo tempo em que encoraje a utilização de ferramentas de análise econômica por parte de todos os que participam numa sociedade que é significativamente moldada por forças econômicas;

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 E uma linha política que potencie a capacidade de organização efetiva por parte dos estudantes e professores de economia, que reconheça os seus papéis e as responsabilidades, enquanto agentes políticos, no interior das várias instituições e na vida pública alargada.  Um último consenso que une todos estes movimentos: se nada for feito para se alterar a forma como a economia é ensinada nas universidades, os futuros líderes, empresariais e financeiros, continuarão a não perceber as consequências diretas das suas ações face à sociedade em que vivemos e, obviamente, relativamente ao planeta que habitamos. Estender a economia para além da ortodoxia, abordando teorias alternativas que não se limitam a alocar recursos através da simples equação da procura e da oferta, mas sim privilegiando um pensamento reflexivo de longo prazo será imprescindível para que a questão da sustentabilidade ganhe momentum e para assegurar que as decisões das pessoas têm origem na responsabilidade social.

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segunda-feira, 30 de julho de 2012

EIKE BATISTA: "O GOLPE DO ANO... CLIENTES A VER NAVIOS"

Após captar R$ 9,7 bi, Eike começa a sair da bolsa

Foto: Divulgação_Silésio Correa/Divulgação

VENDENDO NO MERCADO ABERTO PROJETOS QUE AINDA NÃO SAÍRAM DO PAPEL, ELE CHEGOU AO POSTO DE 8º HOMEM MAIS RICO DO MUNDO;

AGORA, QUANDO NÃO ENTREGA O PROMETIDO, COMEÇA A RECUAR DA BOLSA, DEIXANDO MILHARES DE PARCEIROS CRENTES A VER NAVIOS

30 de Julho de 2012 às 12:56

247 – "O golpe do ano... Decepção com Eike". Assim define, no portal especializado em mercado financeiro Infomoney, um dos primeiros leitores da principal notícia desta segunda-feira 30: a confirmação, pelo próprio Eike, do fechamento de capital da LLX Açu Operações Portuárias. O movimento será feito por meio de uma OPA – Oferta Pública de Aquisição de Ações, ao valor de R$ 3,13 por ação. Para quem está comprando, repita-se, o próprio Eike por meio de sua holding OGX, é um grande negócio. Afinal, apenas este ano o papéis da LLX se desvalorizaram mais de 15%, resultado de uma série de frustrações em relação à construção do porto no litoral do Rio de Janeiro – feita em águas rasas, a obra demandou a estruturação de um longo pier e, até o momento, não tem plataforma para

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que qualquer navio possa ali atracar. O fracasso em relação à obra foi, é claro, notado pelo mercado, em que pese a divulgação, nos últimos tempos, de mais de 50 fatos relevantes pela LLX, todos eles transbordantes em otimismo.O anúncio do fechamento de capital fez com que, antes das 11h00 desta segunda 30, as ações da LLX se valorizassem em 5,96%.

Em 2008, quando lançou a LLX em bolsa, Eike conseguiu com a operação uma parte do total dos R$ 9,7 bilhões que suas empresas, sob as asas da OGX, obtiveram em bolsa de investidores de todos os portes nos últimos anos. O bilionário usou como estratégia combinar os interesses de suas companhias, de modo a produzir a sensação de intenso desenvolvimento. A LLX, por exemplo, nasceu para carregar o minério que seria extraído pela MMX que, por sua vez, seria transportado em navios da OSX. Até aqui, porém, não há minério, nem porto, nem navios. Mas o dinheiro que entrou nos IPOs – a sigla em inglês para abertura de capital – chegou a fazer de Eike o oitavo homem mais rico do mundo, no ranking da revista Forbes.

Hoje, com a derrocada das operações e a decepção com os papéis de suas companhias, ele já desce para o 21º lugar no ranking de bilionários da agência Bloomberg, mas ainda assim com uma fortuna avaliada em US$ 20,7 bilhões.

A frustração é, efetivamente, grande. Tome-se o exemplo do desempenho da OSX, empresa de estaleiros do grupo EBX. Ela aparece em primeiro lugar no ranking mundial das empresas com pior desempenho nas ofertas públicas iniciais de ações, segundo a edição de agosto da revista Bloomberg Markets, que já circula.

A OSX abriu capital em março de 2010 e, nos primeiros três meses de negociação, segundo a publicação, viu seus papéis recuarem mais de 43%. Em segundo lugar, aparece a empresa polonesa Jastrzebska Spolka Weglowa, cujas ações caíram 40,22%.

Quanto a LLX, cujos rumores de fechamento de capital eram negados com veemência até a semana por Eike, nos últimos pregões o movimento foi o inverso, com altas expressivas. A valorização desses papéis chegou a 28,96% no mês de julho, mas ainda assim as perdas em relação ao início do ano era de mais de 15%. As altas dos últimos dias podem ter levado investidores grandes da LLX, entre os quais, talvez, o próprio Eike, a aproveitar o momento para vender papéis. O certo, porém, é que ele os comprará por R$ 3, 13 cada um, o que é bem menos que os mais de R$ 4 que valiam nos tempos da abertura de capital. Ou seja, quem ficou com o papel até agora, acreditando nas projeções de Eike, só perdeu.

Abaixo, notícia do portal Infomoney sobre o fechamento de capital da LLX:

O empresário Eike Batista confirmou nesta segunda-feira (30) os planos de fechar o capital da LLX (LLXL3), braço de logística do grupo EBX, conforme adiantado pelo Portal InfoMoney na semana passada.

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Em correspondência enviada ao conselho de administração da empresa, o bilionário informou a intenção de, diretamente ou por meio de afiliadas, adquirir até 100% das ações da LLX em circulação no mercado.

A ideia é fazer uma OPA (oferta pública de aquisição de ações) para cancelar o registro de companhia aberta da LLX junto à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e, consequentemente, da saída da LLX do Novo Mercado.

O preço máximo por ação na OPA será de R$ 3,13, o qual deverá ser pago integralmente em dinheiro. O valor por ação inclui um prêmio de aproximadamente 25% sobre o preço médio ponderado pelo volume de R$ 2,50 das ações da LLX na BM&FBovespa nos últimos 20 pregões.

Segundo maior acionistaEm comunicado, a companhia explica que a Ontario Teachers Pension Plan (Teachers'), o segundo maior acionista da LLX, depois de Eike Batista, firmou o compromisso de aumentar sua participação societária minoritária na empresa, por meio da OPA.

A operação passará pela aprovação dos acionista em Assembleia Geral Extraordinária, ainda sem data definida. Cabe lembrar que a OPA ainda está sujeita a aprovações regulatórias pela CVM e pela BM&FBovespa.

De acordo com o ranking de bilionários da agência Bloomberg, o empresário Eike Batista ocupa, nesta quinta-feira (19), o 21º lugar. O brasileiro, que chegou a ocupar a oitava posição no mês de março, tem sua fortuna avaliada atualmente em US$ 20,7 bilhões.

Postado por Alvaro Pedro Neves Pereira às 11:56

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sábado, 2 de novembro de 2013

#BOMBA! Fraude ou Golpe? A OGX de Eike Batista, deve até Empresa de Cafézinhos.

Por Carlos Parrini ...

Pra mim isso é tudo armação. O pré-sal inteiro é armação. Se fosse bom, dezenas de Empresas do mundo inteiro participariam do último leilão do Campo de Libra. O fracasso foi tão grande que a própria Petrobrás teve ela mesmo de comprar 40% do que já era sua. Até havia esperança de se extrair ouro negro do pré-sal em águas rasas. Eike Batista foi o privilegiado e foi o primeiro a mostrar ao mundo que tudo não passa de papo furado e prejuízos ao Brasil.

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O Governo acha que todo o brasileiro é ignorante e não enxerga as falcatruas

Mas por trás disso tudo tem a falência da Petrobrás que será a próxima depois da OGX. E o negócio tem de ser bem feito para que não atrapalhe as próximas eleições onde Lulinácio fará de tudo para reeleger sua pupila incompetente.

Pensem bem: Se a OGX não conseguiu extrair o Petróleo que se esperava a 200 km de profundidade (Um negócio que seria da China), vocês acham que a Petrobrás vai conseguir tirar Petróleo a 7.000 metros de profundidade?

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Mas vamos olhar pelo lado da roubalheira que está comum neste Governo e analisar o que pode acontecer baseado em fatos passados.

Na década de 90, o Mega especulador Naji Nahas provocou um CRASH na bolsa do Rio de Janeiro, ao passar um Cheque sem fundos. Eu estava lá, como jovem investidor, na ponta de compra. Era uma sexta feira e a Bolsa subia como louco. Eu ria a toa pois tinha investido minhas economias num dos mercados futuros da Bolsa e o negócio estava nas alturas. Só que enquanto eu comprava mais, muitos vendiam o que tinham e o que não tinham, revertendo a tendencia. Me preocupei mas não consegui descobrir porque vendiam tanto pois gráficos, análises fundamentalistas mostravam que tinha

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muito espaço pra subir. Como começou a haver um certo pânico, fiquei quieto esperando acalmar.

Mas no sábado fiquei sabendo do cheque sem fundo de Naji Nahas. Daí me desesperei e queria vender tudo na segunda. O mercado já abriu com baixa de 10%, vi minhas milhares de opções de compras de ações que valiam R$ 1.200,00 cada na sexta, já estarem custando R$ 0,10 na segunda. Saí desolado e de cuecas da BOLSA de Valores.

Todo mundo sabia que o Naji Nahas tinha passado cheque sem fundo para pagar a compra milionária de ações, menos Fundos de Pensões, Sindicatos, Estatais e milhares de babacas como eu.

Desaparecí da Bolsa e hoje só vejo os golpes que dão nesse mercado.

A prisão do Banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, do mega investidor Naji Nahas e do ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta foi destaque na mídia mundial. Na ordem, foto: (Dantas)

José Luis da Conceição, AE / (Pitta) IstoÉ / (Nahas) Terra Magazine.

Imagem: http://fatosemcharges.wordpress.com/category/jornal/

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E com a OGX se deu a mesma coisa, por isso coloquei o assunto dessa postagem com uma pergunta sem opção melhor: Golpe ou Fraude? Resposta: Os dois.Eu explico. Eike Batista levou 10 Bi do BNDES, também obrigado por Lula a socorrer o comparsa, que praticamente tornou a estatal um sócio da OGX quando as ações estavam nas alturas, e que agora, poderá devolver em ações que custam o preço de balinhas. Por R$ 0,12 a ação, Eike pode comprar 1 carreta delas para pagar a dívida com o BNDES.

A história do NAHAS vocês conhecem né? Naji Nahas passou um cheque sem fundo numa sexta feira e praticamente quebrou metade dos investidores da Bolsa. A outra metade ficou arquimilionária na segunda feira porque sabiam que Nahas ia passar esse cheque sem fundos na sexta e venderam tudo o que tinham e não tinham por preços altos, e recompraram tudo a preço do pó, na segunda. Igualzinho ao que Eike fez. Com a ajuda de Lula e Zé Dirceu, esticou o tapete vermelho para milhares de investidores e babacas e depois puxaram o tapete. Todos caíram, menos Eike, e os camaradas íntimos que sabiam dessas informações privilegiadas de que a OGX ia quebrar (Até OBAMA sabia por isso caiu fora do Leilão do Campo de Libra). Ou vocês acham que Eike Batista não sabia que tudo ia virar pó? mts rsds. Vejam que o grosso do que ele perdeu foi o dinheiro do BNDES e dos investidores, mas a fortuna dele

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continua intacta onde a Forbes não sabe como achar, por isso agora estão dizendo que ele ficou pobre. O que aconteceu com Nagi Nahas, é o que vai acontecer com Eike Batista: NADA.

Agora chegou a vez da Bacia de Libra, que nem os americanos e ingleses quiseram porque sabem que é uma furada.

Portanto, fujam das ações da Petrobrás porque eles estão arrumando outro engodo para fazerem que nem o Eike e Nahas fizeram: Esticarão o tapete vermelho e quando estiver cheio de vaidosos, ambiciosos e burros, puxarão o tapete, novamente. Essa será a falência honrosa da Petrobrás que ficará para a história mundial:

Gastou trilhões tentando extrair petróleo na região abissal, houve um grande vazamento que obrigou a

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estatal brasileira a gastar quatrilhões para evitar que o óleo se espalhasse em todo o planeta. Sabem quanto estará valendo as ações da Petro nessa ocasião? NADA, ou melhor: PÓ. Eu passei por isso.

Temos ladrões no poder (Vide José Dirceu e José Genoino que estão indo para a cadeia) e esse pessoal pega pesado pra ganhar.Heloisa Helena do PSOL e ex-PTista, disse que eles são capazes até de matar.Portanto, cuidado!

Get your own Poll!

Vejam os Golpes e credores que Eike deixou no mercado:

OGX deve até para fornecedor do cafezinhoPetroleira deixou de pagar também a conta de telefone e do material de escritório

02 de novembro de 2013 | 2h 10

MARIANA DURÃO , ANTONIO PITA , MÔNICA CIARELLI / RIO - O Estado de S.Paulo

Na lista de credores da OGX que acumula dívidas de R$ 11,3 bilhões, constam até os fornecedores de cafezinho, que têm para receber cerca de R$ 10 mil. O calote atingiu também serviços de refrigeração, no valor de R$ 11 mil, empresas de aluguel de automóveis (R$ 6 mil), cooperativas de táxis (R$ 9 mil) e material de papelaria (R$ 4 mil). As contas de telefone celular e serviços de

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telecomunicações acumulam valores de R$ 85 mil não honrados por Eike Batista.

No rastro de inadimplência da OGX, amargam prejuízos fundos de investimentos, bancos, órgãos públicos e até fornecedores de materiais e serviços - de refrigeração à papelaria.

No relatório encaminhado à Justiça em que elenca todos os credores, a OGX informa ainda que as dívidas com a Petrobrás somam R$ 37 milhões e já têm prazo de pagamento vencido. Com a subsidiária Petrobrás Distribuidora, as dívidas passam de R$ 3 milhões e ainda não estão vencidas. Juntas, as empresas detêm 0,21% das dívidas da petrolífera do grupo X. Procurada, a Petrobrás não comentou os valores.

Outros órgãos estatais também figuram na lista. A Caixa Econômica Federal é credora de cerca de R$ 121 mil, e o Ministério dos Transportes, R$ 100 mil. Também constam como credores o Ministério da Fazenda, o Tribunal de Justiça e a prefeitura do Rio.

No total das dívidas da empresa de Eike, pouco mais de R$ 740 milhões são de títulos vencidos. Entre os principais credores, estão fundos de investimentos com mais de R$ 8 bilhões. O grupo francês Schlumberger, da área de petróleo, acumula mais de R$ 150 milhões em títulos. O relatório também expõe a dívida entre as empresas irmãs do grupo X.

A OSX reclama o pagamento de R$ 1,6 bilhão por contratos de locação de equipamentos, como plataformas de exploração. A OGX, entretanto, reconhece dívidas de apenas R$ 770 milhões.

A petroleira de também deixou de pagar serviços básicos da empresa, como o aluguel da sede do grupo EBX. A administradora do Edifício Serrador, no Centro do Rio, cobra uma dívida de mais de R$ 757 mil referentes ao aluguel do espaço. Em função das dívidas, as empresas do grupo começaram a deixar o prédio no início de outubro.

Assembleia. Esvaziada, a assembleia extraordinária de acionistas da OGX, elegeu ontem três membros independentes para o Conselho de Administração. Apenas dois acionistas minoritários foram à assembleia, no auditório do Grupo EBX. A reunião de ontem teve poucos minutos e começou pontualmente ao meio-dia. O presidente da OGX, Paulo Narcélio Simões Amaral, não foi. Eike Batista também mandou um representante. / COLABOROU VINICIUS NEDER

http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,ogx-deve-ate-para--fornecedor-do-cafezinho-,1092383,0.htm

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(Foto: Divulgação/Polícia Militar)

A imprensa está sendo acusada de minimizar um suposto caso de tráfico internacional que supostamente envolveria parlamentares oposicionistas supostamente ligados a Aécio Neves. Até o insuspeito Zé Simão entrou na onda acusatória:

"se o helicóptero fosse de alguém do PT, seria abertura do Jornal Nacional". Rarará!"

Pesquisei o assunto com cuidado e posso garantir aos meus leitores que trata-se do mais absoluto trololó. Vamos aos fatos: Gustavo Perrella, deputado estadual mineiro pelo Solidariedade e filho do senador Zezé Perrella, foi traído por um de seus melhores funcionários. Infelizmente, o empregado abusou da confiança - e vocês sabem como está complicada essa gente hoje em dia! - e foi flagrado usando o helicóptero particular de Perrella para transportar quase meia tonelada de pasta de cocaína.

A confiança que o deputado depositava no piloto era tanta que chegou a lhe empregar numa das empresas da família, além de indicá-lo para um cargo na Assembleia Legislativa de Minas. Lá ele ganhava um salário e uma ajuda de custo pra encher o tanque do possante voador de Perrelinha.

O deputado mineiro foi tão surpreendido com a barbaridade que estava sendo cometida em sua aeronave, que imediatamente acusou o piloto de outro crime: o roubo do helicóptero. Diante do desmentido do funcionário, Perrela subitamente lembrou que havia autorizado aquela viagem através de duas mensagens de celular, e então mudou sua versão. Admitiu que a aeronave não tinha sido roubada e confirmou a liberação do transporte de "insumos agrícolas".

Bom, por que a acusação dirigida a nós da grande imprensa é injusta? Ora, com Dirceu, Delúbio e Genoíno presos, estádios da Copa desabando, e todo o caos político, econômico e social que vivemos, um caso desses automaticamente ganha menor

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importância. Um simples piloto que trafica drogas escondido do patrão não é e não deve ser um assunto do interesse público.

Eu e outros colegas da imprensa, por exemplo, mal estávamos "acompanhando esse caso":

Entenderam por que não damos tanto destaque ao assunto? Isso é papo de piloto, uma pauta no máximo para o jornalismo especializado em aviação civil, não para quem cobre os acontecimentos políticos do dia a dia.

Perguntam também o que nos levou a abafar um suposto escândalo de 2011 envolvendo a família de Aécio Neves, apenas porque esta é intimamente ligada à família Perrella. Conto-lhes mais este trololó: Tancredo Aladin Rocha Tolentino, primo de Aécio, carinhosamente conhecido como "Quêdo", foi preso por chefiar uma quadrilha acusada de vender absolvições para traficantes de drogas, além de ter sido condenado em 97 por crime contra o patrimônio e contra a economia popular. Quase na mesma época, outro primo de Aécio, Rogério Lanza Tolentino, havia sido condenado a 7 anos e 4 meses de prisão por lavagem de dinheiro. Todos esses assuntos não tiveram destaque no Jornal Nacional, não tocaram na CBN e não foram analisadas na A2 da Folha. Claro! As provas contra eles são escassas. Isso fica claro quando constatamos que Quêdo conseguiu um habeas corpus e, logo em seguida, tentou sair candidato à prefeitura de Claudio (MG) pelo PV, quando foi barrado pelo Ficha Limpa.

Poucos sabem, mas Quêdo é uma pessoa muito família, um cara do bem. Organiza as cavalgadas com familiares seus (e dos Perrella) em sua fazenda, comanda a cachaçaria da família Neves em Cláudio (MG) e sempre foi muito querido por todos da região. Quando Aécio caiu do cavalo quebrando 5 costelas, quem estava lá oferecendo o ombro amigo? Ele, o dono da fazenda, o primão Quêdo.

Mas o que o helicóptero de Perrellinha fazendo tráfico internacional* tem a ver com Aécio Neves, que indicou Zezé Perrella para o Senado e cujo primo vendia absolvição para traficantes de drogas? Absolutamente nada. Mas, claro, os patrulhadores da pauta alheia insistem em enxergar nuvens nesse céu de brigadeiro. Tudo isso para tirar foco

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do que realmente interessa: a prisão dos mensaleiros e os escândalos que a envolve. A gente sabe muito bem como se comporta essa gente chicaneira. #AcordaBrazil

* (atualização via @rei_lux) "Faltou informar que o helipóptero fez uma parada em Divinópolis, onde o primo Tancredinho (Quêdo) liberava traficantes."

O mito da preguiça baiana, trabalho e racismoPublicado em 10 de maio de 2010 by gbarceloss

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Pierre Verger

A invenção da indolência 

Tese que denuncia o racismo embutido no mito da preguiça baiana vai sair em livro

Fabrício Marques

Certos baianos, quando são chamados de preguiçosos, tomam até como elogio. Dorival Caymmi e Gilberto Gil, por exemplo, assumiram com galhardia a malemolência que lhes é atribuída. A proverbial preguiça, argumentam, é um traço de identidade cultural da Bahia, expressão de um modo de vida em que o trabalho não precisa opor-se ao lazer. Segundo a tese O mito da preguiça baiana, defendida na Universidade de São Paulo (USP) em 1998 pela antropóloga Elisete Zanlorenzi, a origem desse estereótipo nada tem de benigno. Foi engendrado pela elite da Bahia com o objetivo de depreciar os negros, a maioria esmagadora da população local. Isso remonta aos tempos da escravidão e ganhou fôlego em reação à Lei Áurea. Defendida em 1998, a tese teve

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repercussão dentro e fora do ambiente acadêmico, mas só agora será publicada na forma de livro, com lançamento programado para o final do ano.

A obra sustenta que a vida tranqüila e a famosa aversão ao trabalho atribuídas aos baianos não têm base na realidade. Elisete foi pesquisar, por exemplo, a relação entre o calendário de festas na Bahia e o comparecimento ao trabalho. Fez descobertas curiosas. Uma empresa com sede no Pólo Petroquímico de Camaçari, a 41 quilômetros de Salvador, registrou menos faltas de funcionários durante o Carnaval de 1994 do que sua filial de São Paulo. Outro dado eloqüente: no final dos anos 1980, entre as pessoas ocupadas na Região Metropolitana de Salvador, 50,4% trabalhavam mais de 48 horas semanais e 35,8% de 38 a 47 horas por semana. Não trabalham mais provavelmente porque não há mais trabalho. Entre as seis maiores regiões metropolitanas do país, Salvador é recordista em desemprego e em trabalho informal, fenômeno que atinge, com vigor especial, os 80% da população que são afro-descendentes.

De acordo com a antropóloga, a ladeira da Preguiça, no centro de Salvador, é símbolo do preconceito. Nos tempos da escravidão, e também depois dela, quem reclamava da íngreme travessia, carregando nas costas as mercadorias desembarcadas no porto, eram os negros – “preguiçosos” na visão desdenhosa dos brancos que, das janelas de seus sobrados, gritavam: “Sobe, preguiça!”. A intensa imigração nordestina nos últimos 50 anos fez o racismo vicejar no Sul e no Sudeste. Fora da Bahia, o termo “baiano”, segundo o Dicionário Houaiss, significa tolo, negro, mulato, ignorante e fanfarrão. E se refere a trabalhadores desqualificados oriundos de todos os estados do Nordeste. Como a estrada que conduziu o êxodo foi a Rio-Bahia, os imigrantes nordestinos foram em São Paulo e na região Sul indistintamente chamados de “baianos” – assim como muitos norte-americanos, desinteressados sobre o que acontece ao sul do Equador, confundem a capital do Brasil com Buenos Aires. “Depreciar os imigrantes nordestinos como preguiçosos era uma forma de excluí-los”, diz Elisete. Ela aponta dois grandes motores do preconceito: o descaso do governo com a capacitação dessa força de trabalho e a intolerância dos imigrantes europeus, que não queriam ser equiparados aos brasileiros pobres com quem disputavam o mercado de trabalho e o espaço urbano.

A tese de Elisete Zanlorenzi, professora da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, é mais festejada do que conhecida – daí a importância de sua publicação. Ela repercutiu bastante no final dos anos 1990. Até hoje resumos circulam em correntes na Internet, propagadas provavelmente por baianos briosos. Os textos de alguns e-mails foram reforçados com dados que nem sequer constam da tese, numa curiosa anônima colaboração com a pesquisa. “Há dados e até declarações entre aspas que não são minhas”, diz Elisete. “Todos os meses recebo e-mails de pesquisadores interessados em estudar o tema, por isso decidi cuidar da publicação”, diz. O sociólogo Octavio Ianni (1925-2004) – que participou da banca examinadora em 1998 – apontou, à época, a principal contribuição do trabalho: sugerir a atribuição de preguiça como uma forma sutil e escamoteada – porque risível e folclorizada – de racismo.

Descendente de italianos e alemães, a paulista Elisete mudou-se para o Nordeste no final dos anos 1970 e viveu em Salvador entre os anos de 1980 e 1984. Na capital baiana desenvolveu sua dissertação de mestrado, sobre o movimento popular do bairro do Calabar, uma antiga invasão de 8 mil habitantes que a especulação imobiliária tentava, em vão, banir de uma região nobre da cidade. Foi nessa época que o preconceito embutido na questão da preguiça lhe chamou a atenção pela primeira vez.

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Numa tarde de domingo, ficou impressionada com o que viu numa festa freqüentada por gente da elite de Salvador, políticos, advogados e empresários. “Eles começaram a reclamar da preguiça dos empregados negros, enquanto eram servidos por eles. Os negros eram os únicos que estavam trabalhando ali”, lembra.

Candomblé – Ela foi levantar as razões históricas do fenômeno. “Nem a Abolição da escravatura nem a industrialização foram capazes de inserir grandes contingentes afro-descendentes de Salvador no mercado de trabalho formal”, diz a antropóloga. Até recentemente, os negros permaneceram alijados dos melhores empregos e das atividades mais bem remuneradas da Bahia. Trabalhavam, em sua maioria, no mercado informal, a exemplo do pequeno comércio, da prestação de serviços, de atividades desqualificadas. “Salvador vivia mergulhada em relações tradicionais e muitos de seus bairros tinham vida quase independente”, afirma. Isso só começou a mudar a partir dos anos 1960, com a instalação do Centro Industrial de Aratu e, mais acentuadamente, nos anos 1970 com a instalação do Pólo Petroquímico de Camaçari, que absorveu a mão-de-obra local, ajudando a forjar uma pioneira classe média afro-brasileira. “Mas a visão capitalista sobre o valor do tempo e o significado do trabalho, estampada na imagem do tempo é dinheiro, não conseguiu modificar as relações cotidianas nem retirar dos espaços das relações de trabalho uma dosagem de afetividade”, afirma a antropóloga.

Paralelamente, tomou corpo a face simpática da preguiça. Ary Barroso e Dorival Caymmi, ao descreverem uma Salvador das primeiras décadas do século 20, ajudaram a construir uma imagem exótica e paradisíaca, que ganhou o mundo no filme Você já foi à Bahia? (1945), de Walt Disney. Não era uma imagem inventada. O valor que o tempo e o trabalho têm para os baianos, diz a tese, é fortemente influenciado pelo candomblé. “As obrigações, na filosofia do candomblé, são algo que se escolhe, que não se faz forçado”, afirma Elisete. “No fundo, vem da tradição africana o conceito de que o trabalho não é o foco principal da vida, que trabalho e lazer não se opõem. O que não significa que as pessoas não trabalhem. Ao contrário, trabalham muito, mas sem colocarem o trabalho como objetivo central da existência e cuidando muito das relações que ocorrem fora da esfera do trabalho”, comenta.

A tese se debruça sobre o conceito de tempo na Bahia. Afirma que, embora as relações formais sejam pautadas pelo relógio, ou seja, respondam à lógica capitalista do tempo, as relações informais seguem um tempo maleável. “Muitas pessoas em Salvador não usam relógio”, observa Elisete. “Esse fato poderia ser justificado pelo baixo poder aquisitivo da população, mas a questão vai além desse aspecto, porque não é um bem que custe caro. Se fosse imprescindível, o relógio certamente seria mais usado.” Entre um encontro e outro, observa a tese, pode ocorrer um terceiro, e as pessoas que marcaram o encontro sabem que a rigidez dos horários está exposta ao imprevisto. “O que a mentalidade utilitária e rígida concebe como atraso, na visão afro-descendente baiana aparece como uma possibilidade de ocorrência”, afirma a antropóloga.

A cigarra e a formiga – O estudo é pontilhado por entrevistas com personagens da Bahia, como João Jorge, diretor do grupo Olodum, Vovô, diretor do Ilê-Ayê, Normando, diretor do Centro de Cultura Popular, e Júlio Braga, antropólogo da Universidade Federal da Bahia. “Todos afirmaram que o trabalho é uma esfera importante da vida, mas que a vida não se resume ao trabalho, já que o lazer, a família e os amigos são importantes”, lembra Elisete. “Normando disse que a fábula da cigarra e

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da formiga é uma invenção da mentalidade ocidental, sem nenhum vínculo com a matriz africana.”

Como ninguém, o compositor Dorival Caymmi encarnou a imagem do baiano malemolente. Não há dúvidas de que seu temperamento tranqüilo e maroto condiz com a imagem – daí a chamá-lo de preguiçoso vai uma distância imensa. “Ele sempre acordou cedo e, mesmo quando trabalhava à noite, fazia questão de sentar-se à mesa do café da manhã com os filhos”, diz a biógrafa e neta do compositor, Stella Caymmi. Forjou mais de uma centena de canções, foi um batalhador pela legislação dos direitos autorais, mas gostava de cultivar a fama de preguiçoso. Para recusar compromissos que não tinha tempo para prestigiar, respondia simplesmente que não podia ir porque era preguiçoso. Numa das primeiras propagandas de que fez, de um rum, em 1957, Caymmi já aparecia tocando violão aboletado numa rede. Nada mais falso. Caymmi, conta a neta Stella, nunca gostou de redes. Apreciava, isso sim, cadeiras de balanço.

Especiaria – Os tropicalistas Gal Costa, Caetano Veloso, Maria Bethânia e Gilberto Gil incorporariam, mais tarde, a imagem da preguiça baiana. “Era um jeito de dizer que eram diferentes, que não pertenciam àquele mundo urbano aonde estavam chegando”, diz Elisete. Entrevistado pela pesquisadora, Gilberto Gil explicou: “A preguiça é uma especiaria que a Bahia oferece ao Brasil. A preguiça produz de forma inusitada, ela produz benefícios inimagináveis. Ela vence os obstáculos pela capacidade de contorná-los e não de atravessá-los diretamente… é a água, é o feminino, é o obscuro. Eu sou adepto dessa visão, porque isso é a salvação do mundo”. Gilberto Gil, diga-se, nunca teve vida mansa. Quando se mudou para São Paulo, no início dos anos 1960, trabalhava numa empresa de dia e cantava à noite. Hoje, aos 62 anos, concilia os compromissos de ministro com a agenda de shows.

A indústria do turismo aprendeu a explorar esse filão para atrair multidões de estressados de todos os cantos do país. Quer descansar, vá à Bahia, a terra onde a festa nunca termina e ninguém se preocupa com o relógio. Isso começou nos anos 1960. Foi nessa época que a capital baiana passou por uma grande cirurgia urbana, com o objetivo de incrementar o turismo – e se descobriu que o mito da preguiça tinha apelo delicioso para os forasteiros. Desde então os baianos trabalham duro para criar uma ilusão capaz de entreter milhares de incautos. A ilusão de que, naquelas paragens, ninguém gosta de trabalhar.

Esta matéria foi publicada na revista Revista Fapesp nº 103

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Júlia Coller foi encontrada enforcada em sua residência, Militante Anarquista Vegana da Frente de Libertação Animal e das Juventudes Anarquistas de São Paulo / Brasil, sempre foi uma militante ativa.A Policia faz de tudo para descaracterizar seu assassinato como um "Assassinato Político", querendo pintar o caso como suicídio do mesmo jeito que fez no caso Vladimir Herzog enforcado durante a Ditadura no Brasil.Júlia participou e articulou a Libertação dos filhotes do holocausto promovido pelo Instituto Royal, ato de grande repercussão na mídia.Júlia foi encontrada Morta como Vladimir Herzog enforcada e acusada de seu próprio assassinato (suicídio), afim da justiça publica esconder o seu Assassinato Político.Júlia Coller é uma Vitima Política da atual Ditadura no Brasil que quer pintar o seu Assassinato Político como um ato pessoal, para que desta forma poderem dar sonífero ao Gigante das Manifestações Populares atuais no Brasil qual os Anarquistas como Júlia Coller impulsionam a Luta.  Curiosamente a Militante Anarquista Júlia Coller antes de ser assassinada pregava nas Placas das Ruas de São Paulo com nomes dos envolvidos no período da Ditadura no Brasil um adesivo com o nome do Vladimir Herzog no lugar dos nomes dos atrelados a Ditadura no Brasil, e muitas vezes foi ameaçada por realizar este ato de Protesto Anarquista.Após o espancamento do Coronel por Black Block's em São Paulo, os Anarquistas estão sofrendo ameaças em todo o Estado de São Paulo, mais a Militante Anarquista Júlia Coller não escapou e foi encontrada como Vladimir Herzog enforcada, assassinada da mesma forma política nesta historia que sempre se repete, alterando cenários e atores reais.Júlia Coller era uma militante Anarquista Vegana da Frente de Libertação Animal, ativista do Veganismo Anarquista, conscienciosa da Ecologia Libertaria, um membro ativista das Juventudes Anarquista Straight Edge, que sempre amou a vida com toda a Paixão Rebelde e morreu pelo Anarquismo em defesa da vida em toda forma que esta se manifesta como dos cães torturados no Instituto Royal.Que estas Lágrimas emo's de nossos rostos que choram por Júlia Coller nos dêem força para seguir o seu exemplo militante.

http://pocos10.com.br/famoso-chef-de-cozinha-vende-demanda-judicial-contra-mcdonald%E2%80%99s-e-prova-a-farsa/

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O chef Jamie Oliver justo acaba de vencer uma batalha contra a mais poderosa cadeia de Junk Food do mundo. Uma vez que Oliver demonstrou como são produzidos os hambúrgueres, o McDonald’s anunciou que mudará a receita.

De acordo com Oliver, as partes gordurosas da carne são “lavadas” com hidróxido de amônia e, em seguida, são utilizadas na fabricação do “bolo” de carne para encher o hambúrguer. Antes deste processo, de acordo com o apresentador, essa carne já não era apropriada para o consumo humano.

Oliver, chef ativista radical, que assumiu uma guerra contra a indústria de alimentos, diz: estamos falando de carne que tinha sido vendida como alimento para cães e após este processo é servida para os seres humanos. Afora a qualidade da carne, o hidróxido amônia é prejudicial à saúde.

Qual dos homens no seu perfeito juízo colocaria um pedaço de carne embebido em hidróxido amônia na boca de uma criança?

Em outra de suas iniciativas Oliver demonstrou como são feitos os nuggets de frango: Depois de serem selecionadas as “melhores partes”, o resto- gordura, pele, cartilagem, víceras, ossos, cabeça, pernas -  é submetido a uma batida -  separação mecânica -  é o eufemismo usado por engenheiros de alimentos, e, em seguida, essa pasta cor de rosa por causa do sangue é desodorada, descolorida, reodorizada e repintada, capeadas de marshmallow farináceo e frito, este é refervido em óleo geralmente parcialmente hidrogenado, ou seja, tóxico.

Nos EUA, Burger King e Taco Bell já abandonaram o uso de amônia em seus produtos. A indústria alimentar utiliza hidróxido de amônia como um agente anti-microbiano, o que permitiu ao McDonald’s usar nos seus hambúrgueres, carne, de cara, imprópria para o consumo humano.

Mas ainda mais irritante é a situação que essas substâncias à base de hidróxido de amônia sejam consideradas “componentes legítimos em procedimentos de produção” na indústria de alimentos, com a bênção das autoridades de saúde em todo o mundo. Portanto, o consumidor nunca poderá se informar quais produtos químicos são colocados em nossa comida.

 ASSISTA O VÍDEO ► Chef Jamie Oliver mostra em vídeo o processo de fabricação do MCdonald’s   - See more at: http://pocos10.com.br/famoso-chef-de-cozinha-vende-demanda-judicial-contra-mcdonald%E2%80%99s-e-prova-a-farsa/#sthash.iWmixm3Q.dpuf

Brasil é o maior consumidor de veneno agrícola do mundo

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Publicado em novembro 29, 2013 por Redação

Tags: agrotóxicos, MP

MT: Fórum sobre agrotóxicos é lançado no estado, que concentra o maior consumo do país e inúmeros casos de contaminados por pulverização aérea

“O Brasil é o maior consumidor de veneno agrícola do mundo. Infelizmente, cada habitante consome hoje mais de cinco litros por ano desse produto. Se fosse consumido em um único dia, as pessoas morreriam”. O alerta é da procuradora regional do Trabalho Margaret Matos, que participou do seminário de lançamento do Fórum Mato-grossense: Agrotóxicos, Saúde e Meio Ambiente, promovido pelo Ministério Público do Trabalho em Mato Grosso (MPT-MT).

O evento contou com mais de 80 representantes do agronegócio estadual e sindicatos patronais, que discutiram alternativas para o uso cada vez mais indiscriminado dos agrotóxicos e suas graves consequências. O seminário foi conduzido pela procuradora-chefe do MPT em Mato Grosso, Marcela Monteiro Dória, e pelo procurador do Trabalho Leomar Daroncho. “No Brasil o consumo de agrotóxicos não apenas é em excesso, como também existem agrotóxicos proibidos, e desconhecidos, o que pode indicar contrabando”.

Daroncho destacou que no meio rural, há um grande índice de analfabetismo funcional. “Ou seja, esses produtos estão sendo manuseados por pessoas com nível de despreparo muito preocupantes”, explicou. O Mato Grosso é o maior estado consumidor brasileiro de agroquímicos (fertilizantes químicos e agrotóxicos).

Pulverização aérea – A contaminação pela pulverização aérea também foi debatida no seminário. O professor doutor do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Wanderlei Pignatti, explicou que a Instrução Normativa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) proíbe aplicação aérea de agrotóxicos em locais situados a uma distância mínima de 500 metros de povoações, cidades, vilas, bairros e de mananciais de captação de água para abastecimento de população, mas que isso raramente é obedecido em Mato Grosso.

O professor lembrou uma das grandes tragédias registradas no estado, em Lucas do Rio Verde, no ano de 2006, quando a zona urbana da cidade foi atingida por uma nuvem de agrotóxicos, após uma pulverização aérea, o que gerou intoxicação aguda em crianças e idosos. O acidente deu origem a uma pesquisa realizada entre 2007 e 2010 em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que identificou resíduos de agrotóxicos no leite materno de 100% das amostras analisadas.

Quanto à pulverização terrestre, Pignatti criticou o retrocesso ocorrido em Mato Grosso com a aprovação, pelo governador Silval Barbosa, do Decreto Estadual nº 1.651/ 2013, que reduziu de 300 para 90 metros a distância mínima exigida para pulverização de agrotóxicos por trator pulverizador e pulverizador costal. “Se já não obedeciam à antiga legislação, imagine agora. Pulverizam até nos quintais das casas, nos quintais dos colégios, na periferia da cidade”.

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O procurador de Justiça Saint-Clair Honorato dos Santos, coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Proteção ao Meio Ambiente do Paraná abordou o monitoramento do último Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos da Anvisa, que comprovou que 36% das amostras de alimentos analisados em 2011 e 29%, em 2012, apresentaram irregularidades relativas à presença de agrotóxicos.

A primeira reunião do Fórum Mato-grossense: Agrotóxicos, Saúde e Meio Ambiente acontece no dia 12 de dezembro, na sede da Procuradoria Regional do Trabalho da 23ª Região, e é aberta ao público. O objetivo é compartilhar informações. “O grande problema nesse setor é realmente o déficit de informações, as quais precisam chegar à população, principalmente a quem manipula esses produtos”, afirmou o procurador do Trabalho Leomar Daroncho.

Informações: MPT no Mato Grosso

EcoDebate, 29/11/2013

REPÚBLICA DO PÓ

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Helicóptero do pó: Juiz estadual recusa-se a assumir o caso, federal questiona se não é competência da Justiça Militar, e prisão em flagrante é transformada em preventiva

Enquanto a sociedade aguarda uma resposta das autoridades, apresentando os verdadeiros responsáveis pelo tráfico de 450 quilos de cocaína utilizando o helicóptero da família Perrella, as autoridades do Poder Judiciário estadual e federal do Espírito Santo recusam-se a assumir suas funções, utilizando justificativas que não convencem.

Exemplo? Segundo fontes do TRF, o juiz federal do Espírito Santo ao receber o processo transferido pelo juiz estadual solicitou parecer do Ministério Público, indagando se o caso não seria da “Justiça Militar” sob a alegação de que o crime “ocorreu dentro de uma aeronave”.

Evidente que o crime não ocorreu dentro da aeronave, mas sim se utilizando de uma aeronave. Juristas que acompanham o caso afirmam que esta apreensão não é um fato novo, pois nos últimos anos a maioria do tráfico de drogas tem utilizado aeronaves.

Embora guardada a sete chaves, Novojornal teve acesso agora à tarde a movimentação do processo 0010730-56.2013.4.02.5001, que passou a tramitar a partir desta sexta-feira (29) na Justiça Federal capixaba, demonstrando ser verdadeira a informação de nossas fontes sobre o despacho do Juiz Federal. A versão corrente é que nenhum magistrado quer assumir o feito devido aos envolvidos.

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Aécio e Alckmin são ligados a dono do helicóptero da cocaína

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Atriz Deborah Secco é condenada por desvio de dinheiro público

Em Belo Horizonte, a imprensa ficou assustada com a novidade ocorrida no depoimento do deputado Gustavo Perrella, uma vez que por norma, nem mesmo os carros de delegados e agentes da PF passam pela portaria sem parar e identificar-se. Gustavo Perrella no depoimento prestado na última quinta-feira (28), dentro de um carro de vidros escurecidos passou junto com seu advogado direto pelo portão, dando a impressão que o mesmo teria sido aberto com a antecedência necessária para facilitar o ocorrido.

Opinião unânime dos jornalistas que estão cobrindo as ações da Polícia Federal na apuração da apreensão do Helicóptero, pertencente à empresa da família Perrella, que estava transportando 450 quilos de cocaína, é que o comportamento que vem sendo adotado não é comum.

Normalmente os delegados evitam emitir juízo de valor e antecipar conclusões investigatórias, o que não vem ocorrendo. Primeiro foi à informação transmitida mesmo antes de ser feito a perícia nos celulares apreendidos, assim como no GPS da aeronave sobre a ausência de suspeita de envolvimento do deputado Gustavo Perrella, agora o mesmo delegado apressou-se em informar à imprensa que a fazenda onde foi apreendida a aeronave não pertencia a um laranja ligado a “família Perrella”.

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Aécio com a família Perrella (Reprodução)

O comportamento vem passando a impressão de que existe uma tentativa em ir pouco a pouco esvaziando o caso. O piloto, co-piloto e demais personagens flagrados descarregando o helicóptero tiveram nesta sexta suas prisões em flagrante revertidas para prisões preventivas pelo juiz estadual de Afonso Cláudio ao encaminhar o processo para o TRF.

Gustavo Perrella prestou depoimento na tarde dessa quinta-feira (28) na sede da Superintendência da Polícia Federal, em Belo Horizonte. Ele foi convocado para dar explicações em inquérito aberto para investigar a apreensão dos 443 Kg de cocaína em seu helicóptero.

O deputado chegou atrasado e, para evitar mais constrangimento, seu advogado tentou que ele fosse interrogado fora da delegacia, mas a PF não autorizou.

Além dele, a irmã, sócia da empresa registrada como dona da aeronave, prestou depoimento. O outro sócio, André Costa, primo de Perrella, será ouvido em Divinópolis (MG).

Após sair da PF, o deputado não deu entrevistas. Já Kakay, por sua vez, disse que Perrella respondeu a todas as perguntas, e voltou a afirmar que o deputado foi enganado pelo piloto do helicóptero.

O senador Zezé Perrella (PDT-MG) também usou verba indenizatória do Senado para abastecer a aeronave apreendida no fim de semana passado com 443 quilos de cocaína. Desde que o pedetista assumiu a vaga de Itamar Franco (PDMB-MG), morto em julho

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de 2011, a Casa desembolsou mais de R$ 104 mil com verba indenizatória para custear notas de abastecimentos apresentadas pelo gabinete de Perrella, sendo que parte desta verba foi destinada ao combustível do helicóptero Robinson R-66.

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A maior concentração de gastos ocorreu em 2012, ano eleitoral. Neste período, o Senado desembolsou R$ 55 mil com abastecimento para Zezé Perrella. Este tipo de gasto chegou a R$ 38 mil em 2011 e, até outubro deste ano, a Casa reembolsou o senador em outros R$ 11 mil com combustíveis.

O helicóptero apreendido por meio de operação conjunta da Polícia Militar (PM) do Espírito Santo e da Polícia Federal está registrado em nome da Limeira Agropecuária e Participações Ltda, fundada por Zezé Perrella e posteriormente transferida para seus

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filhos, o deputado estadual Gustavo Perrella (SDD), de Minas Gerais, e Carolina Perrella, além do sobrinho André Almeida Costa. A aeronave é a única da família.

Apesar dos gastos com o abastecimento do helicóptero, feito principalmente na Pampulha Abastecimento de Aeronaves Ltda, o Senado ainda desembolsou R$ 58 mil reais de verba indenizatória para o ressarcimento de notas de passagens aéreas apresentadas por Zezé Perrella desde que ele assumiu o cargo.

Segundo a assessoria do senador, todos os gastos feitos pelo Senado com abastecimento da aeronave, que ainda está apreendida, foram relativos ao uso do helicóptero para atividade parlamentar. A reportagem tentou falar com Zezé Perrella, mas ele não atendeu nenhum dos celulares.

O Ministério Público de Minas Gerais abriu inquérito para investigar o uso de verba da Assembleia Legislativa do estado para o custeio de combustível do helicóptero do deputado Gustavo Perrella (SDD-MG), filho do senador e ex-presidente do Cruzeiro, Zezé Perrella. A aeronave foi apreendida no último domingo pela Polícia Federal (PF) após pousar em uma casa no Espírito Santo com quase meia tonelada de pasta de cocaína.

O MP vai averiguar se o deputado usava o helicóptero, registrado como um bem de sua empresa, para fins particulares. Gustavo Perrella tem direito, como deputado estadual, a R$ 20mil de verba indenizatória. E parte dela foi destinada para financiar o combustível. Segundo o MP, se Perrella não provar que a aeronave foi usada para o mandato, o deputado será denunciado por improbidade administrativa.

“O ônus é dele, do deputado. É ele que tem que provar que está certo” disse Eduardo Nepomuceno, da Promotoria de Defesa do Patrimônio Público de Belo Horizonte.

Perrellla diz que o combustível serviu apenas para o mandato parlamentar. O deputado alega que visitava as bases eleitorais em Minais Gerais com a aeronave.

Documentos que fundamentam a matéria:

Movimentação do Processo na Justiça Federal do Espírito Santo.

Despacho do Juiz questionando se a competência não seria da Justiça Militar.

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A história dos 450 kg de cocaína 'virou pó' na grande mídia

Deputado e 450 quilos de cocaína. Será esse um fato tão comum que não merece destaque na grande imprensa? A história serviu para mostrar como certas figuras políticas continuam midiaticamente impunes

Na mídia, a história dos 450 kg de cocaína no helicóptero dos Perrella virou pó (divulgação)

Renato Rovai, em seu blog

Ontem os portais destacavam com excessivo cuidado que o helicóptero de um deputado havia sido apreendido com 450 kg de cocaína. Depois informaram que o piloto havia viajado sem autorização dos proprietários. E agora, registram que o piloto nega o fato.

Deputado e 450 quilos de cocaína. Será esse um fato tão comum que não merece tanto destaque? Principalmente se vier a se levar em consideração que este deputado é filho de um senador aliadíssimo de um candidato a presidente da República?

Estamos falando dos Perrellas e do presidente do PSDB, Aécio Neves. Aliados políticos históricos.

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Mas vamos lá. Vamos imaginar que um dos filhos de Marta Suplicy fosse deputado. E um helicóptero dele fosse apreendido pela PF com 450 quilos de cocaína. Você acha que este fato teria a mesma cobertura discreta e cuidadosa que o dos Perrellas está tendo? Você acha que o UOL daria apenas registros aqui e ali do caso? Ou acha que a casa da atual ministra teria filas de repórteres tentando pular o muro para falar com ela?

Talvez o exemplo não seja o melhor. Tentemos, pois, outro exercício hipotético. Imagine que ao invés do helicóptero do filho de Marta Suplicy fosse o de um irmão do senador carioca Lindbergh. O que você acha que aconteceria? Quantos minutos isso renderia no Jornal Nacional? Quantas páginas do jornal O Globo?

Mas podemos ir ainda mais longe. Imagine que o helicóptero fosse de alguém que tivesse relação com o ex-presidente Lula. Alguém, por exemplo, que tivesse feito

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churrasco na casa dele uma ou outra vez. O que será que aconteceria com Lula e com o suposto churrasqueiro de Lula?

Como você acha que seria a cobertura dessa história se o avião fosse do Zeca Dirceu, deputado pelo Paraná e filho de José Dirceu? Ou de um filho do vereador Donato, que ontem voltou à Câmara para enfrentar no legislativo a quadrilha do ISS? Ou se fosse da Miruna, filha de José Genoíno?

Não se deve responsabilizar os Perrellas, Aécio ou quem quer que seja sem que seja realizada uma investigação cuidadosa. E não é disso que se trata aqui. Há, porém, indícios, que ensejam uma cobertura bem mais atenta do que a que foi feita até agora pelos principais veículos da mídia tradicional. São 450 quilos de cocaína. Não são meia dúzia de sacolinhas. É coisa de uma quadrilha extremamente profissional. E essa imensa quantidade de droga era transportada num helicóptero de uma família tradicional da política mineira.

A questão é que a cobertura midiática só tem se interessado por aquilo que leve à criminalização do PT. Independente do mérito. O que importa não é mais o crime, mas a legenda do criminoso. E por isso Demóstenes Torres flanava todo pimpão por aí. Fazendo discursos moralistas e ao mesmo tempo armando falcatruas com Cachoeira.

Aliás, você ouviu falar de Cachoeira e Demóstenes por aí? Você viu a indignação da direção do PSDB com a investigação do escândalo do metrô de SP? Pois é. É disso que se trata. Eles sabem que são midiaticamente impunes.

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CGU aponta educação como um dos grandes focos da corrupção no país Auditoria da CGU aponta que 45% dos recursos destinados ao transporte escolar e 35% para a merenda se perdem no meio do caminho. Desvios na alimentação chegam a R$ 10 milhões

Alessandra Mello

Maria Clara Prates

Publicação: 24/11/2013 07:43 Atualização: 24/11/2013 09:30

Nada escapa das fraudes praticadas por agentes públicos. Nem mesmo recursos destinados à merenda de estudantes, reforma e construção de escolas, creches e contratação de serviço de transporte público. É o que revela uma auditoria feita pela Controladoria Geral da União (CGU) com base nas fiscalizações por sorteio feitas no ano passado sobre a aplicação dos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), autarquia federal responsável pela execução de políticas educacionais do Ministério da Educação (MEC). Concluído em junho, o documento aponta que em 34,83% dos municípios fiscalizados foram encontradas irregularidades nos processos licitatórios para compra de merenda. Por sua vez, levantamento do próprio Ministério da Educação revela que apenas em 2012 e 2013 foram aplicados indevidamente R$ 10 milhões destinados à merenda escolar.

Saiba mais...Governo edita portaria para barrar corrupção Deputados podem votar nesta terça-feira projeto que torna corrupção crime hediondo Oposição aprova Plano Nacional de Educação em comissão No transporte escolar, o índice de problemas é ainda maior: em cerca de 44,71% das cidades foram apontados os mesmos problemas. Além das fraudes na concorrência, o estudo mostra que em 54,9% das cidades os veículos que transportam as crianças não estão em conformidade com o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) e em 26,47% os motoristas não têm habilitação.

O maior alvo de desvios é o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), gerido pelo FNDE, usado para pagamento do salário dos professores, custeio de programas de melhoria da qualidade da educação, aquisição de equipamentos, construção e manutenção de escolas. Em 73,58% das cidades foram encontrados problemas como restrição à competitividade, montagem, direcionamento e simulação de processos licitatórios na compra de produtos e serviços custeados pelo Fundeb.

Este ano já foram instauradas 47 tomadas de contas especiais (TCEs), procedimento exclusivo para recuperação de crédito depois de apurada uma denúncia de desvio, referentes ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), com débitos que somam R$ 6,5 milhões. No ano passado foram 55 TCEs, que envolvem débitos de R$ 3, 6 milhões só para merenda. Ao todo foram 305 procedimentos para apurar desvios dos programas do FNDE em 2012. No entanto, esses valores e as irregularidades podem ser ainda maiores, já que o FNDE tem um passivo de 102,1 mil transferências e convênios

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não analisados, devido ao tamanho reduzido da equipe de auditores e fiscais. Alguns deles foram celebrados em 1994.

Prestação de contas Por meio de sua assessoria de imprensa, o FNDE informou que foi implantado no ano passado um sistema de prestação de contas on-line para dificultar fraudes na execução dos recursos e acrescentou que os gestores municipais e estaduais de educação respondem perante os órgãos de controle, como o Tribunal de Contas da União (TCU), os tribunais de Contas dos estados e municípios e a CGU. Denúncias de fraudes em programas educacionais com recursos federais são apuradas no processo de fiscalização desses órgãos e da Polícia Federal, que contam com o apoio e participação do FNDE no subsídio de informações.

Operação desarticula esquema

Fraudes no fornecimento de merenda escolar em Minas Gerais foram investigadas pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e pela Policia Federal na Operação Laranja com Pequi, em junho de 2012, que desarticulou esquema de licitações forjadas também para fornecimento de alimentação em presídios. Entre os presos na operação estavam um vereador de Montes Claros e assessores do então prefeito Luiz Tadeu Leite (PMDB). As despesas com a merenda haviam subido de R$ 3 milhões para R$ 12 milhões, segundo as investigações. Envolvidos negaram as acusações, mas a prefeitura rompeu o contrato com as empresas e a comida dos alunos voltou a ser preparada pelas cantineiras das escolas. Até agora, foram oferecidas denúncias criminal e de improbidade administrativa contra os envolvidos.

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David Harvey: “Urbanização incompleta é estratégia do capital”

Por Camila Nobrega e Rogério Daflon,Do Canal Ibase    

Com a usual camisa vermelha, o sorriso miúdo e uma calma que contrasta com sua densa teoria crítica, o geógrafo britânico marxista David Harvey se preparava para uma palestra que lotaria neste sábado (23/11) o Teatro Rival, no Centro do Rio de Janeiro. Considerado um dos maiores pensadores da atualidade, ele recebeu o Canal Ibase uma hora antes do início de sua fala e não deixou pergunta alguma sem resposta.

Harvey, que está no Brasil para o lançamento do livro “Os limites do capital” em português, pela Boitempo, desafia o coro dos contentes sem qualquer bravata. Age assim porque vê um mundo com cada vez menos gente satisfeita com os rumos do capitalismo. Sem palavras de ordem e dispensando clichês, o geógrafo diz que há uma atmosfera para se criar um grande movimento anticapitalista. Ele vislumbra uma convergência entre os protestos no Brasil, a revolta da Praça Tahrir (Egito) e outras manifestações internacionais : “Atualmente, quando um presidente diz ‘o país está indo muito bem’, ele quer dizer que o capital está indo bem, mas as pessoas estão indo mal.” Nesta entrevista, Harvey explica o porquê de tanta insatisfação.

Canal Ibase: Com os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo, nunca foi tão caro morar no Rio de Janeiro. E isso está impactando a renda de todas as classes sociais na metrópole. Mas é claro que as classes mais pobres são as mais prejudicadas. Qual serão, na sua opinião, as consequências dessa segregação?

David Harvey: O interesse que o capital tem na construção da cidade é semelhante à lógica de uma empresa que visa ao lucro. Isso foi um aspecto importante no surgimento do capitalismo. E continua a ser. Após Segunda Guerra, por exemplo, os Estados Unidos construíram os subúrbios de uma maneira muito rentável. O que temos visto, nos últimos 30 anos, é a reocupação da maioria dos centros urbanos com megaprojetos. Muitos desses projetos associam a urbanização ao espetáculo. E fazem um retorno à descrição de Guy Debord sobre a sociedade do espetáculo.  Faz todo sentido na diretriz da realização dos megaeventos como as Olimpíadas e a Copa do Mundo. O capital precisa que o estado assegure essa dinâmica. Assim, pode usar esses eventos como instrumentos de investimentos e mais lucratividade. Invariavelmente, entre as consequências dos megaeventos estão as remoções de pessoas de algumas áreas. Eles dependem disso para serem realizados. E essa situação tem causado revolta. De um lado, o capital vai muito bem, mas as pessoas vão mal. Há alguma geração de empregos, em função dos megaprojetos e megaeventos, mas o que se vê é o desvio da verba pública para apoiar essas empreitadas. Ao redor do mundo, tem havido muitos protestos devido à retirada de pessoas de suas residências. As populações percebem que o dinheiro dos impostos está indo para esses fins, em detrimento da construção de escolas e hospitais. Este é um contexto que ilustra como o capital gosta de construir as cidades, à diferença do que é a cidade em que as pessoas podem viver bem. Há um abismo entre essas duas propostas. Essa é a grande briga, porque enquanto o capitalismo quer desempoderar pessoas, a fim de reproduzir a si próprio, elas querem verbas para outras coisas. O grande problema é que a tendência é a dominação do capital sobre o poder político nas cidades. O financiamento das campanhas políticas é um instrumento para que isso aconteça. Trata-se de controle sobre a representação política. Essa lógica tem

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ocorrido em vários lugares do mundo, não só na viabilização de megaeventos no Brasil. Trata-se de um processo padrão. Remete à Coréia do Sul, em Seul (Olimpíadas de 1988). E também à Grécia. Se pensarmos na Grécia hoje, um país que sediou as Olimpíadas (Atenas, em 2004), vemos que esses eventos não costumam trazer grandes benefícios econômicos. O país está numa profunda crise econômica. Há grandes estádios construídos mas, a longo prazo, essas edificações gigantes não trazem vantagens para o país.

Canal Ibase: Mas, e quanto à Barcelona, que aqui no Brasil é um dos exemplos mais disseminados como uma cidade que aproveitou muito bem um megaevento?

Harvey: Bem, eu acho que Barcelona era uma excelente cidade antes das Olimpíadas (de 1992). Eu nem gosto de voltar muito lá. Costumo dizer que o ápice da cidade foi antes das Olimpíadas. Depois disso, foi ladeira abaixo.

Canal Ibase: Na África do Sul, muitas pessoas foram expulsas de suas casas devido às obras relacionadas à Copa do Mundo…

Harvey: Exatamente. O problema das remoções tem sido recorrente. Há muita luta em torno disso. Isso é típico. Se há pessoas pobres vivendo em terras muito valorizadas, há uma tentativa de tirá-las de lá. Uma forma de levar isso a cabo é o aumento do custo de vida. Os megaprojetos também são uma excelente desculpa.

Canal Ibase: Qual é sua reflexão sobre o papel do grandes veículos de comunicação na lógica de acumulação do capital nas intervenções urbanas?

Harvey: Claramente, o controle da mídia é uma ameaça para a democracia popular. A questão é como se faz uma cobertura e o que é coberto. Os jornalistas que querem cobrir os acontecimentos de uma forma mais real têm vivido tempos difíceis. É uma luta pela liberdade de expressão. O caminho passa pela mídia alternativa, e a tecnologia, com a internet, abre possibilidades. O problema é que a mídia alternativa pode ser absorvida e disciplinada pelo mercado. É uma disputa que está sendo travada.  Mas é importante lembrar que vivemos sob monopólios dos meios de comunicação no mundo. A desinformação pode ser espalhada tão facilmente como a informação. E há monopólio inclusive nas mídias sociais. Ainda há muitas perguntas a serem respondidas sobre o papel das mídias sociais e sua diferença em relação às mídias convencionais.

Canal Ibase: As obras de urbanização nas favelas do Rio têm como característica a falta de diálogo com as populações e a descontinuidade dessas intervenções. Ocorreu com um projeto chamado Favela Bairro e agora se repete com um Programa de Aceleração do Crescimento. Nota-se o desinteresse do poder público de oferecer os mesmos serviços da cidade sem que haja gentrificação, embora as grandes construtoras estejam sempre presentes nessas obras. Para não legitimar a permanência dos moradores de favelas, as obras são interrompidas sempre. Qual a avaliação do senhor sobre isso?

Harvey: Se há populações de baixa renda em terras de alto valor, uma das estratégias é dar títulos de propriedade aos moradores dessas áreas, sob o argumento da regularização fundiária e da garantia da moradia. Não sei como isso ocorre no Brasil, mas um dos projetos em favelas, periferias e outras áreas pobres tem sido essa concessão de títulos de propriedades. Porque propriedade o capital pode comprar. Assim começa um

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processo de reocupação dessas áreas e sua consequente gentrificação. Por outro lado, uma forma de manter os preços baixos em determinadas comunidades é ter projetos incompletos. Então, o estado oferece intervenções, mas não as termina. E, desse jeito, os moradores vendem a terra a um preço baixo e saem do local. Quando a oferta chega, a infraestrutura ainda não está lá. Essa estratégica é típica nos Estados Unidos, onde se compram propriedades e as levam à decadência forçadamente. Desse jeito, desvalorizam um bairro inteiro e, num período de dez anos, é possível reocupá-lo comprando propriedades no entorno. Como o estado está envolvido nisso? Depende de lugar para lugar. Às vezes, o estado é apenas incompetente e não sabe o que está fazendo. Nesse caso, o estado pode começar uma obra e simplesmente parar no meio. Não necessariamente é uma estratégia deliberada. Mas em alguns casos é. E responde aos interesses privados. Nesses casos, há de fato uma estratégia quando uma empresa quer atuar em determinado lugar. E se decide começar uma obra já sabendo que não vai terminá-la. Ao não se terminarem projetos de infraestrutura, abre-se caminho para a chegada das empresas privadas.

Canal Ibase: No Brasil, o estado tem feito alianças com transnacionais, que têm usado e abusado do territórios brasileiro, nas zonas urbanas e rurais. Um dos setores onde isso é mais grave é a mineração. sobretudo no que diz respeito à mineração. Como a sociedade civil pode reagir a isso?

Harvey: O principal jeito de reagir é por meio de protestos. Eu fico abismado que países como o Brasil ainda abram mão de seus recursos naturais para multinacionais. E há outras formas de exploração, como é o caso das plantações de soja. Empresas como a norte-americana Monsanto (líder mundial de venda de sementes transgênicas e agrotóxico) e outras líderes do agronegócio tomam conta de territórios. A terra no Brasil vem sendo constantemente degradada por esse processo. E o ciclo é maior. É preciso lembrar que o principal mercado do agronegócio brasileiro é a China. De um lado, são os Estados Unidos vendendo a semente e o agrotóxico e, de outro, a China comprando. Um problema que se agrava é o controle chinês de terras na América Latina.

Canal Ibase: O geógrafo brasileiro Milton Santos tem uma frase que diz: “A força da alienação vem dessa fragilidade dos indivíduos que apenas conseguem enxergar o que os separa e não o que os une”. O senhor tem falado sobre a divisão da esquerda no mundo, da fragmentação dos movimentos sociais. Para a criação de um movimento anticapitalista, quais são os elementos invisíveis que perpassam todos os movimentos? O que liga a preservação do meio ambiente, a luta das mulheres por autonomia e o direito à cidade, por exemplo?

Harvey: Eu conheço Milton Santos, especialmente o dos anos 1970. Depois disso, ele se tornou muito pró-franceses. E ele não gostava de norte-americanos (risos; Harvey leciona na Universidade da Cidade de Nova York). Se eu tivesse a resposta para essa pergunta, poderíamos ter começado a revolução. Mas não tenho uma boa resposta.  É importante ter alianças que cruzem movimentos ambientalistas, o feminismo, assim como juntar organizações que trabalham por questões como a da moradia ou questões étnicas. Mas às vezes divergências tolas quebram essas alianças. Na minha opinião, precisamos definir o que é anticapitalismo. Não há razão para ser anticapitalista, se você acha que o capitalismo está fazendo um bom trabalho. Mas, se você não acha…Uma das coisas que eu tenho discutido com amigos da esquerda é esse conceito de anticapitalismo. Há opiniões que afirmam que o capitalismo fez um trabalho melhor que

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o comunismo e o socialismo. No entanto, o que está acontecendo agora é um processo violento. Se queremos mudar, temos muito trabalho a fazer. Não há muita gente na mídia interessada no que nós fazemos. Não somos um grupo muito poderoso, nem temos popularidade. É importante, entretanto, fazer esse grupo crescer, explicando às pessoas  por que é importante ser anticapitalista.

(Na palestra ministrada logo em seguida à entrevista ao Canal Ibase, Harvey complementou esse raciocínio: “Estamos em um mundo em que o neoliberalismo está ficando enraizado. Se a pessoa vai mal, a culpa é dela, e não do sistema. Ah!, e só para lembrar: é também você o responsável por pagar sua educação. Eu sempre estudei em instituições públicas até o doutorado. Hoje em dia, isso não é possível nem na Inglaterra nem nos Estados Unidos. O movimento anticapitalista poderia visar a algumas vitórias, como tornar novamente públicos o transporte, a saúde e a educação. O que estou tentando dizer é que, se você é pobre ou tem dificuldades de acesso a serviços, você é um produto do sistema; a culpa não é sua. E só há como mudar isso mudando o sistema. Em que sociedade você quer viver? Na sociedade em que a educação é com base no valor de uso ou no valor de troca?”, disse o geógrafo, fazendo a oposição por meio desses dois conceitos marxistas)

Canal Ibase: Movimentos sociais já contabilizam 100 mil pessoas removidas de suas casas apenas no Rio de Janeiro, para realização de obras em função dos megaeventos. Que forças do capitalismo levam, mesmo após os protestos que ocorreram no país inteiro, à manutenção desta alteração brutal no território?

Harvey: Como falamos anteriormente, o capitalismo depende de uma dinâmica maior. Mas precisamos redefinir coisas. Moradia não pode ser vista como commodity. A questão central é descobrir se você quer uma cidade para as pessoas ou para o lucro. Para construir uma cidade diferente, é preciso ser anticapitalista. Não há outra forma.

Foto: Reprodução

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NOTA DE FALECIMENTO A ativista Gleise Nana, 33 anos, que havia denunciado o sargento Emerson Veiga, do 15 BPM de Duque de Caxias, faleceu na madrugada dessa segunda-feira, 20 de novembro, após um incêndio suspeito no apartamento da ativista.

A poetisa e diretora teatral havia denunciado o sargento após ele ter postado insultos no inbox da ativista. Em um deles o PM a chamava de "maconheira,vagabunda e anarquista de merda, responsável pela desordem no Rio de Janeiro." Com medo, Nana repassou as mensagens para os amigos. Passou, desde então, a receber telefonemas estranhos.

Com a ativista também havia muitas filmagens dos conflitos desde o começo, em junho. Nana tinha um vasto material com denuncia sobre abuso de PMs. Em um deles, o tenente-coronel Mauro Andrade admite que a PMERJ se excedeu.

Em um incêndio suspeito, no dia 18 de outubro, a ativista teve 35% do seu corpo queimado. O misterioso incêndio em seu apartamento também afetou os órgãos internos de Nana. Após quase 40 dias de coma, a ativista não resistiu e faleceu. Cabe frisar que, num primeiro instante, a Polícia Civil trabalhou apenas com a hipótese de incêndio acidental. Mas após insistência de amigos e o trabalho dos advogados da Comissão dos Direitos Humanos da OAB, a própria Polícia Civil admitiu que o incêndio pode ter sido criminoso. Texto:Israel Montezano Foto: O dia

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Esse Cara Pegou um Empréstimo Gigante para Destruir o Sistema Financeiro

Em 2008, o ativista anticapitalista Enric Durán pegou emprestado €492.000 (cerca de R$1.260.000) de 39 entidades financeiras sem nenhuma intenção de devolver essa grana. Mas – como você já devia esperar de um ativista anticapitalista – ele não gastou tudo com facas de cozinha de diamante ou frisbees de luxo. Ao invés disso, ele aplicou o dinheiro em várias causas anticapitalistas não especificadas e gastou o resto com o Crisi, um jornal gratuito que detalha como ele fez isso e incentiva outras pessoas a fazer o mesmo.

Essa jogada estilo Robin Hood o transformou num herói da noite para o dia, mas o problema de se transformar num herói através de meios legalmente questionáveis é que a polícia acha que precisa te prender por causa disso. Enric passou dois meses na cadeia em 2011 e foi libertado até o julgamento, que estava marcado para o começo deste mês. Sua sentença mínima será de oito anos, o que pode explicar por que ele se recusou a aparecer nas primeiras datas do julgamento, o que resultou num mandado para que ele fosse libertado.

Venho tentando entrevistar o Enric há alguns anos, mas como as 14 entidades que atualmente tentam mandá-lo para a cadeia por desfalque podem comprovar, ele é um cara difícil de pegar. Depois de incontáveis e-mails, eventualmente marcamos uma entrevista por Skype que acabou acontecendo com três horas de atraso, mas acho que quando se está tentando derrubar o sistema capitalista você não vê o tempo da mesma maneira que todo mundo mesmo. Quando finalmente conseguimos conversar, falamos sobre foder com bancos, a teoria dele de desobediência civil e seu novo projeto: a criação de uma cidade completamente autônoma

nos arredores de Barcelona.

Enric com uma cópia do seu jornal, o Crisi.

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VICE: Oi, Enric. O que aconteceu com o seu julgamento?Enric Durán: A corte aceitou a renúncia do meu advogado no dia 13 de fevereiro, depois me disseram que eu tinha que voltar ao tribunal no dia 18, mas não compareci. E agora não está claro se eles continuarão com o caso porque não tenho um novo advogado, então seria contra os meus direitos se eles continuassem.

Entendo. Vamos voltar ao começo. Você entrou para o ativismo em 2000. O que desencadeou seu interesse pelo sistema financeiro?Bom, naquela época eu era parte do movimento antiglobalização. Em 2005, comecei a ler sobre a crise energética, que estava relacionada ao sistema financeiro. Percebi que não só o sistema era indesejado, como também não podia continuar do jeito que era. Foi assim que surgiu a ideia do ato de desobediência – tirar o dinheiro dos bancos e investir em projetos anticapitalistas.

De certa maneira você antecipou uma ligação entre o sistema financeiro, a política, as multinacionais e os governos quando isso ainda não era claro para muitas pessoas. O que te fez perceber que não era só uma parte do sistema desmoronando, mas uma coisa global abrangendo todos esses aspectos?Foi em 2000, quando estávamos lutando contra o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, que começamos a perceber que isso era algo global. O que ainda não estava claro para nós era que o sistema poderia falir em si. Achávamos que teríamos que fazê-lo cair, não tínhamos percebido que ele podia desmoronar naturalmente.

Pegar emprestado todo aquele dinheiro foi uma demonstração de como se pode tirar vantagem do sistema?Foram várias coisas, mas eu tinha dois objetivos principais. O primeiro era denunciar o sistema financeiro como algo insustentável, e o segundo era mostrar que podemos ser desobedientes, corajosos, e que podemos dar poder a nós mesmos. Quando comecei tudo isso, me inspirei em personagens históricos, como Gandhi, e achei que era importante trazer para o século XXI ações como essas. Queríamos usar o dinheiro para um projeto que pudesse provar como diferentes métodos de capitalismo são possíveis.

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Enric no tribunal.

Como era o processo cotidiano de ir aos bancos para pedir crédito?Isso foi entre o verão de 2005 e a primavera de 2008 – aproximadamente três anos. Aprendi como o sistema de empréstimos funcionava e as informações em que os bancos confiavam para concedê-los. Aprendi sobre os buracos no sistema e como passar por eles. No começo eu conseguia um empréstimo para cada três requisições, no final eu já conseguia nove empréstimos a cada dez pedidos. Por exemplo, um dos buracos do sistema é que o Banco da Espanha compartilha as informações de crédito com outros bancos, mas só para empréstimos acima de €6.000 [em torno de R$15.000]. Então só pedi empréstimos abaixo desse valor por dois anos, movimentando fundos sem ter o Banco da Espanha controlando minhas ações.

Chegou um ponto onde você pensou: “Puta merda, tenho um monte de dinheiro?” ou você investiu isso conforme ia conseguindo os empréstimos?O dinheiro era investido. Nunca tive mais de €50.000 [em torno de R$130.000] comigo. Tudo foi gasto em vários projetos.

Você não revelou nenhum dos projetos onde investiu o dinheiro, mas você sabe se algum deles sofreu algum tipo de ação jurídica por causa do seu investimento?Não mesmo. Na verdade, ficou claro que os bancos não estavam interessados para onde esse dinheiro foi. Não houve nenhuma investigação e, como isso era uma ação política, eles queriam reprimir só a mim e não ao coletivo. Eles não queriam transformar isso em algo maior do que já era.

Você publica seu próprio jornal, o Crisi. Por que você quis difundir sua mensagem através disso e não usar os canais normais de mídia?Passei muito tempo imaginando como colocar essa história em domínio público. Eu queria que isso alcançasse o maior número possível de pessoas, mas fiquei preocupado em ser reprimido. Então decidi usar um pouco do dinheiro para publicar o jornal e acho que foi uma das melhores decisões que tomei. A mídia viu que esse jornal estava sendo distribuído de graça nas ruas e eles não queriam ficar de fora de algo que estava sendo falado por toda parte, então publicar meu próprio jornal realmente ajudou a mensagem a chegar até a mídia mainstream.

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Se você tiver sucesso, qual será o efeito? Como o mundo será?Bom, muitas pessoas já estão fazendo isso por acidente; deixar de pagar seus débitos foi uma das coisas que derrubou o sistema financeiro em primeiro lugar. Não tanto com pequenos empréstimos ou hipotecas particulares, mas com grandes companhias de construção e desenvolvimento que não puderam pagar suas dívidas e acabaram falindo. A chance do plano geral se tornar global não é muito provável, mas o importante é espalhar a ideia de pequenas mudanças e decisões que você pode tomar para ajudar o mundo a se tornar um lugar melhor.

Você disse essa frase: “Prefiro uma liberdade perigosa a uma servidão pacífica”. Essa é uma grande parte do que você está fazendo – abrindo as portas para a desobediência civil em massa.É, isso é uma questão de agir de maneira consistente com o que você sente e fazer o que é melhor, mesmo que as autoridades queiram que você faça de outro jeito. Seria interessante começar um debate sobre a eficiência do sistema judiciário e questionar como ele funciona. Trata-se de um sistema de prisão que não ajuda ninguém – nem as vítimas e muito menos os presos ou o governo, que são aqueles que precisam pagar por tudo. É tempo de repensar e criar algo novo, certo?

Sinto como se você fosse um rato de laboratório com bombas amarradas no corpo tentando desmantelar o sistema e ver se alternativas podem funcionar.O principal é que estamos construindo outro sistema desde o começo. É um sistema aberto, o que significa que ninguém vai obrigar você a ser parte disso. Podemos reformular tudo com essa liberdade e decidir como queremos que sejam os sistemas de saúde e educação, a economia, os conflitos e muitas outras coisas. Já estamos colocando isso em prática através da Cooperativa Integral Catalã (CIC) e outros projetos associados.

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A base da Cooperativa Integral Catalã de Calafou, um projeto autônomo relacionado à Cooperativa Integral Catalã. 

Fale mais sobre a CIC.É uma assembleia onde construímos uma economia comum, organizamos o consumo, cobrimos as necessidades, organizamos todo o trabalho e estabelecemos relações financeiras para apoiar novos projetos produtivos. Temos uma infraestrutura para cobrir saúde, moradia, necessidades básicas de alimentação, transporte, energia – o básico. O ponto principal é que isso funciona com base na autonomia. O que precisamos são mudanças profundas nas relações humanas, confiança entre as pessoas. A revolução integral não é sobre mudar o sistema econômico, é sobre mudar tudo, mudar o ser humano. Estamos falando de mudanças em todos os aspectos da vida.

Você nunca pensou em aplicar essas ideias através de um partido político?A maior questão aqui é que o conceito de partidos políticos contradiz o conceito de assembleia. A assembleia é um processo aberto que funciona através do consenso. O sistema político de partidos, por outro lado, é baseado em confrontação.

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Salário do professor no Brasil é o 3º pior do mundo

Publicado por Paulo Kautscher em 29 dezembro 2011 às 17:09 em EDUCAÇÃO Exibir tópicos

 CNTE - O professor brasileiro de primário é um dos que mais sofre com os baixos salários.

É o que mostra pesquisa feita em 40 países pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) divulgada ontem, em Genebra, na Suíça. A situação dos brasileiros só não é pior do que a dos professores do Peru e da Indonésia.

 

Um brasileiro em início de carreira, segundo a pesquisa, recebe em média menos de US$ 5 mil por ano para dar aulas. Isso porque o valor foi calculado incluindo os professores da rede privada de ensino, que ganham bem mais do que os professores das escolas públicas. Além disso, o valor foi estipulado antes da recente desvalorização do real diante do dólar. Hoje, esse resultado seria ainda pior, pelo menos em relação à moeda americana.

Na Alemanha, um professor com a mesma experiência de um brasileiro, ganha, em média, US$ 30 mil por ano, mais de seis vezes a renda no Brasil. No topo da carreira e após mais de 15 anos de ensino, um professor brasileiro pode chegar a ganhar US$ 10 mil por ano. Em Portugal, o salário anual chega a US$ 50 mil, equivalente aos salários pagos aos suíços. Na Coréia, os professores primários ganham seis vezes o que ganha um brasileiro.

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Com os baixos salários oferecidos no Brasil, poucos jovens acabam seguindo a carreira. Outro problema é que professores com alto nível de educação acabam deixando a profissão em busca de melhores salários.

O estudo mostra que, no País, apenas 21,6% dos professores primários têm diploma universitário, contra 94% no Chile. Nas Filipinas, todos os professores são obrigados a passar por uma universidade antes de dar aulas.

A OIT e a Unesco dizem que o Brasil é um dos países com o maior número de alunos por classe, o que prejudica o ensino. Segundo o estudo, existem mais de 29 alunos por professor no Brasil, enquanto na Dinamarca, por exemplo, a relação é de um para dez.

Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), o salário médio do docente do ensino fundamental em início de carreira no Brasil é o terceiro mais baixo do mundo, no universo de 38 países desenvolvidos e em desenvolvimento. O salário anual médio de um professor na Indonésia é US$ 1.624, no Peru US$ 4.752 e no Brasil, US$ 4.818, o equivalente a R$ 11 mil. A Argentina, por sua vez, paga US$ 9.857 por ano aos professores, cerca de R$ 22 mil, exatamente o dobro. Por que há tanta diferença?

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18/08/2011 - 12h08Intelectuais se dobraram à alienação do trabalho, diz Marilena Chauí

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CLAUDIA ANTUNESDO RIO

Ciclo da Preguiça Na chamada sociedade da informação, os intelectuais se dobraram à alienação do trabalho: não têm mais controle sobre o que produzem, e sua obra é uma mercadoria que não revela a subjetividade do autor.

O misto de acusação e lamento foi feito pela filósofa Marilena Chauí na noite de quarta-feira (17) no Rio, na terceira conferência da série sobre o "elogio à preguiça" que acontece também em São Paulo e Belo Horizonte. "A maneira pela qual os acadêmicos se renderam à ideia de produtividade, de controle de qualidade e de ranking é um escárnio. É a destruição da vida do pensamento", disse a professora da USP.

Segundo Chauí, nas formas anteriores do capitalismo o intelectual era um "trabalhador improdutivo" porque a ciência e os conhecimentos eram aplicados indiretamente na produção por intermédio da tecnologia.

"Hoje todas as ciências deixaram de ser um conhecimento que passa ao largo do capital para depois serem aplicadas. Elas se tornaram uma força produtiva. É isso que significa a afirmação de que todo poder está na informação. A subordinação do intelectual à lógica do capital se fará com a mesma ferocidade em que ela se fez sobre o proletariado."

Na sua conferência de mais de uma hora para um auditório de 300 lugares lotado, na Academia Brasileira de Letras, Chauí deu uma espécie de aula sobre "O Direito à Preguiça", de Paul Lafargue (1842-1911), publicado em Paris em 1880. O genro de Karl Marx, nascido em Cuba de uma família que misturava mulatos e indígenas caribenhos com um judeu francês, escreveu o livro-panfleto em reação à derrota da Comuna de Paris, em 1871.

Ele questionava por que os trabalhadores haviam aderido ao "dogma do trabalho" assalariado, considerando-o uma conquista revolucionária. Propunha a redução da jornada de 12 para três horas diárias. "Ao apertar o cinto, a classe operária desenvolveu para além do normal o ventre da burguesia", dizia.

No tempo livre, os trabalhadores iriam desfrutar da "boa vida" e perceberiam a "virtude da preguiça". Na sua origem latina, virtude quer dizer força e vigor, disse Chauí. Portanto, a preguiça iria, segundo Lafargue, fortalecer o "espírito" dos trabalhadores.

Já naquela época, o socialista revolucionário apontava a criação de necessidades fictícias de consumo e a produção de supérfluos para garantir a reprodução do sistema, em que a parcela do trabalho não remunerada (a mais valia) garante o lucro.

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Numa referência à ofensiva religiosa que se seguiu à derrota da Comuna --na época foi construída a basílica de Sacre Coeur, em Montmartre, e incentivado no campo o culto a santa Bernadete--, ele escreveu o livro como paródia de um sermão, em que até o descanso de Deus no sétimo dia era citado como exemplo do direito ao ócio. "Não é a irreverência de um ateu, mas a crítica ao trabalho assalariado como trabalho alienado", disse Chauí.

Antes de discutir o panfleto de Lafargue, a filósofa fez um breve histórico da visão paradoxal que a tradição ocidental tinha do trabalho até os calvinistas lançaram a máxima de que "mãos desocupadas são a oficina do diabo" --na famosa conjunção entre a "Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo" identificada por Max Weber.

No Gênesis da Bíblia, por exemplo, o trabalho é imposto como pena eterna a Adão e Eva, que não mereceram o paraíso. A preguiça, portanto, é um pecado capital. Ao mesmo tempo, a ideia do trabalho como "desonra e degradação" faz com que ele não seja visto como opção de quem tem livre arbítrio.

"Essa ideia aparece nas sociedades escravistas como a grega e a romana, cujos poetas não se cansavam de proclamar o ócio como um valor indispensável para a vida livre e feliz", disse Chauí. A palavra trabalho não existia em grego e em latim, lembrou ela. "Os vocábulos ergon (em grego) e opus (latim) se referem às obras produzidas e não à atividade de produzi-las."

A palavra latina que deu origem a trabalho é "tripalium", um instrumento de tortura. O latim "labor", que originou o inglês "labor", significa esforço penoso. "Não é significativo que em muitas línguas modernas recuperem a maldição divina contra Eva usando a expressão trabalho de parto?", perguntou a professora. — com Clodoaldo Marques Gomes e outras 18 pessoas.

Suicídios na UFPE: muito tabu, pouca soluçãoPor CMI-Recife 29/09/2011 às 10:34

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Ontem, 28.09.2011, à tarde, entre as 17h e 18h uma aluna se jogou dos andares superiores do CFCH-UFPE. Mais um caso entre muitos, a maioria não divulgados pela mídia local e pouco conhecidos pela sociedade pernambucana, a não ser como boatos. Até quando?

Há algum problema em uma sociedade em que uns morrem de fome e outros morrem de tédio. [autor desconhecido]

Durante anos, o prédio do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) da Universidade Federal de Pernambuco tem ganhado fama como lugar usado para dar fim à vida, ou, em palavras mais diretas, lugar propício para o suicídio. Nas décadas de existência do edifício de 15 andares ocorreram va?ios casos do gênero. Em geral, os fatos causam comoção entre funcionários e alunos, mas raramente são publicizados fora da comunidade acadêmica. Por quê?

Sabe-se que é uma espécie de convenção ética no jornalismo não divulgar casos de suicídio, pois entende-se que a propaganda pode ser um incentivo à prática. E é de fato incômodo quando algo assim ocorre. No entanto, não podemos fechar os olhos e a boca mais uma vez. É negligência. Nos últimos 3 meses foram 3 casos, e continuarão a acontecer mais se novamente fizermos silêncio. Já está claro que o suicídio não é uma questão religiosa ou moral. É social. Temos que dicutir.

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Ora, uma sociedade fundada na opressão gera inúmeras doenças entre seus integrantes. E não precisamos sair da universidade para perceber estas consequências: não é incomum encontrar funcionários hipocondríacos, alcoolistas, depressivos... O trabalho maçante, desestimulante e repetitivo é para um funcionário público de um mal tão grande quanto o imperativo dos prazos para um funcionário de empresa privada. O corpo padece da doença que a estrutura social impõe aos sujeitos.

E a mente também: a norma de beleza branca e feliz (a la comercial de margarina) não é nem de longe a realidade da maioria da população. A necessidade de adequar o corpo, aparência e o cotidiano a um padrão para muitos inatingível (pois, afinal, nem todos somos "bonitos", nem todos somos felizes) penaliza os que se recusam a encaixar no molde. Quem frequentou a UFPE nos últimos anos certamente lembrará de Zoltan, estudante para muitos estranho, para alguns amigo, que faleceu em 2007 de forma similar no mesmo CFCH.

Por isso é inaceitável que a Universidade trate um suicídio como um mero ato de desequilíbrio individual. É pouco lamentar cada caso e divulgar notas oficiais, como se fossem atos isolados e dependessem apenas da disposição pessoal em cotinuar vivo ou não. Conversando com funcionários que testemunharam alguns casos, entende-se que a maioria dos suicidas na UFPE estava em claro processo de surto. Os motivos são incertos. Mas é certo que a quantidade indica ser necessária uma política séria em relação ao tema. Esconder esta realidade social por tabu ou preconceito é estimular a ignorância (afinal, esta é a terceira causa de morte não-natural no Brasil). O problema não é acabar com a própria vida, é fazê-lo por desespero; como parecem ter sido os casos da UFPE. É urgente discutir amplamente o suicídio e tratá-lo como uma questão social e de saúde.

Mas não é esse o caminho que a Universidade está trilhando. Recentemente, foi feito um gasto exorbitante na instalação de grades em todas as varandas do CFCH. Isto só afasta a questão das vistas dos alunos e servidores por supostamente evitar que mais pessoas usem o prédio como instrumento de suicídio. Mas de forma alguma ajuda no tratamento dos surtos. Pelo contrário, joga a questão para debaixo do tapete tentando evitar o "como" e eliminando o debate em torno da questão central: o "por quê."

Basta de política enxuga-gelo

Colocar uma grade para evitar suicídio é tão ineficiente quanto a política atual da universidade de obrigar cadeirantes, deficientes físicos, mulheres grávidas e transeuntes de bicicleta a (não) passar todos os dias pelas catracas nas entradas do campus, sob o argumento de diminuir a violência. Falácia: as grades lá estão e mais uma pessoa pulou ontem. Soluções mais competentes e baratas que as grades passam pela educação preventiva. Uma delas é a criação de plantões 24h para emergências psiquiátricas e/ou a contratação de mais profissionais de saúde para reforçar a Clínica de Psiciologia, já em funcionamento no prédio. Ademais, a UFPE deve promover treinamentos com os funcionários do CFCH, pois alguns deles vêem os suicidas em surto e nem sempre têm a percepção do que acontece ou não sabem como proceder. Medidas sérias e comprometidas não dependem de licitações e investimentos financeiros gordos. Dependem de vontade política e disposição para encarar o tema de frente.

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Fingir que o suicídio não acontece "para não estimular" equivale a dizer que não devemos falar de homossexualidade para não incentivar a relação entre pessoas do mesmo sexo. Moralismo ou ignorância, das duas uma. Ou as duas. Se não houver debate e soluções preventivas, Universidade e sociedade vão encerrar cada caso com a limpeza do local e a retirada dos corpos. Como se a limpeza do IML conseguisse eliminar a opressão e negligência por trás das mortes. Quem dera.

Lucro Brasil faz o consumidor pagar o carro mais caro do mundo

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28 de junho de 2011 às 14:25

27/06/2011

Lucro Brasil faz o consumidor pagar o carro mais caro do mundo

 

O Brasil tem o carro mais caro do mundo. Por quê? Os principais argumentos das montadoras para justificar o alto preço do automóvel vendido no Brasil são a alta carga tributária e a baixa escala de produção. Outro vilão seria o “alto valor da mão de obra”, mas os fabricantes não revelam quanto os salários – e os benefícios sociais - representam no preço final do carro. Muito menos os custos de produção, um segredo protegido por lei.

 

A explicação dos fabricantes para vender no Brasil o carro mais caro do mundo é o chamado Custo Brasil, isto é, a alta carga tributária somada ao custo do capital, que onera a produção. Mas as histórias que você verá a seguir vão mostrar que o grande vilão dos preços é, sim, o Lucro Brasil. Em nenhum país do mundo onde a indústria automobilística tem um peso importante no PIB, o carro custa tão caro para o consumidor.

 

A indústria culpa também o que chama de Terceira Folha pelo aumento do custo de produção: gastos com funcionários, que deveriam ser papel do estado, mas que as empresas acabam tendo que assumir, como condução, assistência médica e outros benefícios trabalhistas.

 

Com um mercado interno de um milhão de unidades em 1978, as fábricas argumentavam que seria impossível produzir um carro barato. Era preciso aumentar a escala de produção para, assim, baratear os custos dos fornecedores e chegar a um preço final no nível dos demais países produtores.

 

Pois bem: o Brasil fechou 2010 como o quinto maior produtor de veículos do mundo e como o quarto maior mercado consumidor, com 3,5 milhões de unidades vendidas no mercado interno e uma produção de 3,638 milhões de unidades.

 

Três milhões e meio de carros não seria um volume suficiente para baratear o produto? Quanto será preciso produzir para que o consumidor brasileiro possa comprar um carro com preço equivalente ao dos demais países?

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Segundo Cledorvino Belini, presidente da Anfavea, “é verdade que a produção aumentou, mas agora ela está distribuída em mais de 20 empresas, de modo que a escala continua baixa”. Ele elegeu um novo patamar para que o volume possa propiciar uma redução do preço final: cinco milhões de carros.

 

 

A carga tributária caiu e o preço do carro subiu

 

O imposto, o eterno vilão, caiu nos últimos anos. Em 1997, o carro 1.0 pagava 26,2% de impostos, o carro com motor até 100cv recolhia 34,8% (gasolina) e 32,5% (álcool). Para motores mais potentes o imposto era de 36,9% para gasolina e 34,8% a álcool.

 

Hoje – com os critérios alterados – o carro 1.0 recolhe 27,1%, a faixa de 1.0 a 2.0 paga 30,4% para motor a gasolina e 29,2% para motor a álcool. E na faixa superior, acima de 2.0, o imposto é de 36,4% para carro a gasolina e 33,8% a álcool.

 

Quer dizer: o carro popular teve um acréscimo de 0,9 ponto percentual na carga tributária, enquanto nas demais categorias o imposto diminuiu: o carro médio a gasolina paga 4,4 pontos percentuais a menos. O imposto da versão álcool/flex caiu de 32,5% para 29,2%. No segmento de luxo, o imposto também caiu: 0,5 ponto no carro e gasolina (de 36.9% para 36,4%) e 1 ponto percentual no álcool/flex.

 

Enquanto a carga tributária total do País, conforme o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, cresceu de 30,03% no ano 2000 para 35,04% em 2010, o imposto sobre veículo não acompanhou esse aumento.

 

Isso sem contar as ações do governo, que baixaram o IPI (retirou, no caso dos carros 1.0) durante a crise econômica. A política de incentivos durou de dezembro de 2008 a abril de 2010, reduzindo o preço do carro em mais de 5% sem que esse benefício fosse totalmente repassado para o consumidor.

 

As montadoras têm uma margem de lucro muito maior no Brasil do que em outros países. Uma pesquisa feita pelo banco de investimento Morgan Stanley, da Inglaterra,

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mostrou que algumas montadoras instaladas no Brasil são responsáveis por boa parte do lucro mundial das suas matrizes e que grande parte desse lucro vem da venda dos carros com aparência fora-de-estrada. Derivados de carros de passeio comuns, esses carros ganham uma maquiagem e um estilo aventureiro. Alguns têm suspensão elevada, pneus de uso misto, estribos laterais. Outros têm faróis de milha e, alguns, o estepe na traseira, o que confere uma aparência mais esportiva.

 

A margem de lucro é três vezes maior que em outros países

 

O Banco Morgan concluiu que esses carros são altamente lucrativos, têm uma margem muito maior do que a dos carros dos quais são derivados. Os técnicos da instituição calcularam que o custo de produção desses carros, como o CrossFox, da Volks, e o Palio Adventure, da Fiat, é 5 a 7% acima do custo de produção dos modelos dos quais derivam: Fox e Palio Weekend. Mas são vendidos por 10% a 15% a mais.

 

O Palio Adventure (que tem motor 1.8 e sistema locker), custa R$ 52,5 mil e a versão normal R$ 40,9 mil (motor 1.4), uma diferença de 28,5%. No caso do Doblò (que tem a mesma configuração), a versão Adventure custa 9,3% a mais.

 

O analista Adam Jonas, responsável pela pesquisa, concluiu que, no geral, a margem de lucro das montadoras no Brasil chega a ser três vezes maior que a de outros países.

 

O Honda City é um bom exemplo do que ocorre com o preço do carro no Brasil. Fabricado em Sumaré, no interior de São Paulo, ele é vendido no México por R$ 25,8 mil (versão LX). Neste preço está incluído o frete, de R$ 3,5 mil, e a margem de lucro da revenda, em torno de R$ 2 mil. Restam, portanto R$ 20,3 mil.

 

Adicionando os custos de impostos e distribuição aos R$ 20,3 mil, teremos R$ 16.413,32 de carga tributária (de 29,2%) e R$ 3.979,66 de margem de lucro das concessionárias (10%). A soma dá R$ 40.692,00. Considerando que nos R$ 20,3 mil faturados para o México a montadora já tem a sua margem de lucro, o “Lucro Brasil” (adicional) é de R$ 15.518,00: R$ 56.210,00 (preço vendido no Brasil) menos R$ 40.692,00.

 

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Isso sem considerar que o carro que vai para o México tem mais equipamentos de série: freios a disco nas quatro rodas com ABS e EBD, airbag duplo, ar-condicionado, vidros, travas e retrovisores elétricos. O motor é o mesmo: 1.5 de 116cv.

 

Será possível que a montadora tenha um lucro adicional de R$ 15,5 mil num carro desses? O que a Honda fala sobre isso? Nada. Consultada, a montadora apenas diz que a empresa “não fala sobre o assunto”.

 

Na Argentina, a versão básica, a LX com câmbio manual, airbag duplo e rodas de liga leve de 15 polegadas, custa a partir de US$ 20.100 (R$ 35.600), segundo o Auto Blog.

 

Já o Hyundai ix35 é vendido na Argentina com o nome de Novo Tucson 2011 por R$ 56 mil, 37% a menos do que o consumidor brasileiro paga por ele: R$ 88 mil.

 

Leia amanhã a 2º parte da reportagem especial LUCRO BRASIL: Por que o mesmo carro é mais barato na Argentina e no Chile?

 

Joel Leite

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Colaboraram Ademir Gonçalves e Luiz Cipolli

 

Por Joel Leite às 17h42

 

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Plano da Nissan prevê 50 carros novos até 2016

 

A Nissan anunciou um plano de negócios para acelerar o crescimento da empresa em novos mercados. O plano entra em vigor este ano e vai até 2016.

 

O objetivo é chegar em 2016 com uma participação de 8% no mercado mundial e um aumento do lucro operacional também de 8%.

 

A montadora vai colocar no mercado um carro totalmente novo a cada seis semanas durante esses seis anos, o que significa 50 novidades. O objetivo é construir um catálogo para abranger 92% do mercado.

 

A empresa vai ampliar o número de concessionárias de seis para sete mil em todo o mundo e no Brasil vai construir uma nova fábrica, com uma capacidade para 200 mil unidades como um primeiro passo nesse processo.

 

Além do Brasil, a marca irá aumentar sua presença na Rússia, na Índia, assim como "na próxima onda de mercados emergentes".

 

A China já é o maior mercado da marca no mundo e o objetivo é ampliar a participação, buscando 10% das vendas no país. Em 2012 a Nissan deverá produzir 1,2 milhão de unidades na China.

 

Os carros elétricos desenvolvidos em conjunto com a parceira Renault fazem parte desse projeto. O objetivo é vender 1,5 milhão de unidades de veículos com emissão zero em conjunto com a marca francesa.

 

"À medida que acelerarmos nosso crescimento, vamos trazer mais inovação e emoção aos nossos produtos, bem como carros mais limpos e acessíveis para todos ao redor do mundo, em linha com os desafios energéticos e ambientais do século 21", disse Carlos Ghosn, presidente e CEO da Nissan.

Joel Leite

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Recife é a 5ª cidade com maior concentração de favelas do país

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Redação do DIARIODEPERNAMBUCO.COM.BR 21/12/2011 | 10h07 | Censo

Teresa Maia/DP/D.A Press/Arquivo

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21/12/2011 - 10h35 | Quase 90% dos domicílios em favelas recebiam água por rede geral de distribuição

21/12/2011 - 10h34 | São Paulo, Rio de Janeiro e Belém concentravam maior parte das favelas

21/12/2011 - 10h33 | 6% da população brasileira vivia em favelas em 2010

Um total de 852 mil pernambucanos vivem nos chamados aglomerados subnormais, em habitações com pouca estrutura e tendo que lidar com baixos níveis de renda, a exemplo de favelas ou invasões, apenas na Região Metropolitana do Recife. A área fica atrás de São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Belém (PA) e Salvador(BA). Além de concentrar um grande número de pessoas, as aglomerações do estado são populosas e geograficamente bem definidas, a exemplo de Casa Amarela, 6ª localidade em concentração de moradores em condições precárias de vida.

Os dados foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, com base no Censo 2010, que identificou um total de 17 cidades pernambucanas com a presença de favelas. São elas: Abreu e Lima, Araçoiaba, Cabo de Santo Agostinho, Camaragibe, Caruaru, Escada, Igarassu, Ipojuca, Ilha de Itamaracá, Itapissuma, Jaboatão dos Guararapes, Moreno, Olinda, Paulista, Recife, São Lourenço da Mata e Toritama. Apenas os aglomerados da Região Metropolitana concentram 9,7% da população pernambucana, quando o índice nacional é de apenas 6%, quando considera-se todo o estado.

Entre os 109 aglomerados do Recife, o grande destaque é para Casa Amarela, que concentra 53.030 moradores em condições precárias de vida e ocupa o 6º lugar no ranking de maiores concentrações urbanas em favelas do país. A estrutura do bairro é compável à Rocinha, 1º lugar na lista, com 69.161 moradores, e fica atrás apenas do Sol Nascente (DF), Rio das Pedras (RJ), Coroadinho (MA) e Baixada da Estrada Nova Jurunas (PA).

Entre os destaques da população local, está o fato de que a maior parte dos moradores destas áreas possui entre 20 e 29 anos, ocupam residências que têm, em média, entre 3 e 4 pessoas (3,4) por domicílio e se considera da cor parda. O detalhe é que, nos casos em que a cor parda, predominante em todo o país, não é utilizada como autodefinição, a cor branca supera, em três vezes, o número de pessoas que se considera de cor negra.

 

As cinco cidades com mais domicílios em aglomerados subnormais

Recife – 102.392

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Jaboatão dos Guararapes – 67.289

Olinda – 25.523

Cabo de Santo Agostinho – 25.431

Paulista – 12.205

 

As dez maiores concentrações urbanas de baixa renda no estado

Casa Amarela – 53.030

Alto da Bela Vista – 20.297

Ibura de Baixo – 19.694

Dois Unidos – 19.603

Chiado do Rato – 15.524

Canal da Garapeira – 15.326

Vila Espinhaço da Gata/Dom Hélder/Nova Jerusalém – 13.735

Caçote II – 13.516

Vila da Compesa – 12.749

Ibura/Jordão - 12.490

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Distribuição das favelas pelo País

Em 2010, 6% da população do País (11.425.644 pessoas) morava em favelas ou similares, distribuída em 3.224.529 domicílios particulares ocupados (5,6% do Brasil). Os domicílios se concentravam na Região Sudeste (49,8%), com destaque para o Estado de São Paulo, que congregava 23,2% dos domicílios do País, e o Estado do Rio de Janeiro, com 19,1%. Os Estados da Região Nordeste tinham 28,7% do total (9,4% na Bahia e 7,9% em Pernambuco). A Região Norte reunia 14,4%, sendo 10,1% no Estado do Pará. Nas Regiões Sul (5,3%) e Centro-Oeste (1,8%), a ocorrência era menor.

No conjunto das Unidades da Federação, foram identificados 6.329 aglomerados em 323 municípios. Na Região Norte eram 48 municípios, sendo a grande maioria no interior dos Estados do Amazonas, do Pará e do Amapá. Nesta região, em grande parte dos municípios, as favelas ou similares se formaram em áreas ribeirinhas sujeitas a inundações periódicas. Na Região Nordeste, os 70 municípios com aglomerados se concentravam nas Regiões Metropolitanas (52 municípios). A Região Sudeste agrupava quase a metade dos municípios do País com favelas (145 municípios), sendo um pouco mais da metade nas Regiões Metropolitanas (75 municípios) e o restante em municípios do interior dos Estados. Em menor escala, a Região Sul apresentou padrões semelhantes à Região Sudeste (51 municípios, dos quais 38 em Regiões Metropolitanas). Na Região Centro-Oeste, havia somente nove municípios – oito em Regiões Metropolitanas ou na Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno.

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Três em cada quatro barracos das favelas brasileiras ficam em regiões metropolitanas

País possui quase 11,5 milhões de pessoas vivendo em 3,2 milhões de residências improvisadas

O Brasil tem quase 11,5 milhões de pessoas que vivem em 3,2 milhões de barracos em favelas espalhadas pelo território nacional. Deste total de domicílios, 77% das casas estão nas regiões metropolitanas com mais de 2 milhões de habitantes. Os dados fazem parte de um estudo divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta quarta-feira (6).  

As favelas, chamadas de aglomerados subnormais pelo IBGE, são caracterizadas por um conjunto de, no mínimo, 51 unidades habitacionais carentes — como barracos, casas etc. Outra peculiaridade para a análise do IBGE é que essas moradias ocupam um terreno alheio, de propriedade pública ou particular, e estão dispostas de forma desordenada e/ou densa.  

De acordo com o instituto, a concentração das favelas nas regiões metropolitanas “reflete o peso que as metrópoles assumiram no processo de urbanização brasileira, concentrando atividades econômicas mais dinâmicas e atraindo, com isso, grandes contingentes populacionais”.  

Favelas movimentam R$ 63,2 bilhões por ano, diz estudo

Leia mais notícias de Brasil e Política  

Moradores de favelas são mais otimistas que brasileiros em geral

O estudo indica ainda que o Brasil tem 15.868 favelas distribuídas pelo território nacional. Essas comunidades ocupam uma área estimada de 1.691 km² em todo o País — o equivalente a uma cidade de São Paulo (1.530 km²).  

Estrutura e mobilidade  

O IBGE identificou que a maioria das vias de circulação interna para os domicílios nas favelas brasileiras é de ruas, seguidos de becos e travessas. A ocorrência de escadarias, passarelas e pinguelas, embora pouco significativa numericamente, apresenta importância regional.  

Outro dado relevante observado pelos agentes do IBGE é que, em termos nacionais, a maior parte dos barracos das favelas não tem nenhum espaçamento entre as construções (72,6%) e 64,6% deles têm mais de um pavimento.  

Áreas de risco  

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A pesquisa revelou ainda que, quando considerado o local em que a favela se instalou, a mais representativa foi aquelas localizadas às margens de córregos, rios ou lagos/lagoas, com cerca de 12% do total de domicílios.  

O instituto alerta que “a ocupação nestas áreas e em manguezais representa impacto negativo sobre o meio ambiente, pois favorece a degradação de áreas importantes para a manutenção dos recursos hídricos e biológicos”.

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Brasil avança, mas educação freia desenvolvimento, indica IDH dos municípios

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Fernanda CalgaroDo UOL, em Brasília

29/07/201314h30 > Atualizada 30/07/201309h23

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Arte/UOL

Clique na imagem e confira o Índice de Desenvolvimento Humano da sua cidade; infográfico traz dados de educação, renda e longevidade em 1991, 2000 e 2010

O Brasil avançou nos últimos 20 anos, mas a educação freou o desenvolvimento do país no período, segundo o IDHM 2013 (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal), divulgado nesta segunda-feira (29).

Embora tenha apresentado o maior progresso (veja gráficos abaixo), o marcador de educação ainda ficou abaixo do de saúde (expectativa de vida) e do de renda, outros dois subíndices que compõem o indicador, compilado a partir de dados dos censos demográficos do IBGE de 2010.

Leia mais sobre o IDHM

São Paulo tem indicador melhor que Rio São Caetano do Sul (SP) é tricampeã Distrito Federal tem o índice mais alto do país Municípios com pior renda estão no MA Uma em cada três cidades tem índice alto

Numa escala de 0 a 1, considerando o 1 como o mais avançado, o índice geral do país foi de 0,493 (em 1991) para 0,727 (em 2010). O município com o melhor índice do país é São Caetano do Sul, no ABC paulista, com 0,862. A cidade de Melgaço, no Pará, tem a pior avaliação, com 0,418.

"Embora tenhamos um país desigual, a desigualdade diminuiu", analisa Marco Aurélio Costa, coordenador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), responsável

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pela elaboração do índice em parceria com o Pnud (braço da ONU para o desenvolvimento) e a Fundação João Pinheiro (FJP).

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Confira os dez primeiros no ranking do IDH das cidades10 fotos 5 / 10

Balneário Camboriú, em Santa Catarina, está empatado com Vitória na 4ª posição no ranking do IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) com a marca de 0,845. Os dados são do Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) Leia mais Divulgação Sectur Balneário Camboriú

"As regiões Norte e Nordeste tiveram um avanço proporcionalmente maior, o que reflete melhoria no desempenho dos municípios piores, mas ainda ficam atrás."

O presidente do Ipea e ministro da SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência), Marcelo Neri, avalia que o país "teve avanços muito importantes nos últimos anos, mas as pessoas querem mais avanços".

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Segundo ele, o país passa por um período de grandes transformações, mas ele não encara com pessimismo o baixo crescimento da economia brasileira, que poderia lá na frente impactar negativamente esses indicadores.

"A visita do papa foi bastante oportuna, estamos num momento de efervescência. Particularmente, eu acho que as mudanças são sempre dolorosas, mas são as dores do crescimento, da democracia. Não sou pessimista em relação à inflação, ao desemprego."

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Ao analisar o item educação isoladamente, o Brasil subiu de 0,279 (em 1991) para 0,637 (em 2010). É a dimensão que mais avançou nos últimos anos (128,3%), puxada principalmente pelo fluxo escolar de jovens, que ficou 2,5 vezes maior em 2010 em relação a 1991. No entanto, ainda não subiu o suficiente e é a que hoje menos contribui para o IDHM do Brasil. É também o único subíndice classificado na faixa média do desenvolvimento humano.

 A renda, por outro lado, foi de 0,647 (em 1991) para 0,739 (em 2010), com um crescimento equivalente a 14,2%. A renda per capita dos brasileiros teve um ganho de R$ 346,31 (em valores corrigidos) nos últimos 20 anos. No entanto, ainda há uma grande desigualdade entre os municípios. A cidade com a maior renda média per capita é São Caetano do Sul (SP), com R$ 2.043,74. Ela é 21 vezes maior do que a do município com o menor IDHM Renda, que é Marajá do Sena (MA), com R$ 96,25.

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IDH municipal das unidades federativas do Brasil27 fotos 5 / 27

Na 4ª posição entre os mais bem colocados no novo ranking do IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano dos Municipal), divulgado pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), está o Paraná, com o índice de 0,749 de um total de um ponto. Os

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critérios da ONU para elaborar o índice são a longevidade, educação e renda da população, e os dados são referentes ao Censo do IBGE de 2010, mas foram compilados em 2013 Leia mais Divulgação/SMCS

Quanto à longevidade, foi o índice que mais puxou o IDHM nacional para cima. A expectativa de vida cresceu 14% (9,2 anos) nas últimas duas décadas, passando de 64,7 anos (em 1991) para 73,9 anos (em 2010). No entanto, ainda há uma variação muito grande entre os municípios, entre 65 e 79 anos, embora seja o índice que tenha apresentado a maior redução na diferença entre o maior e o menor resultado.

Educação

Em educação, o que impede o IDHM de avançar mais é a escolaridade da população adulta. Em 1991, 30,1% da população com 18 anos de idade ou mais tinham concluído o ensino fundamental. Em 2010, esse percentual era para 54,9%.

Desempenho no IDHM EducaçãoCinco melhores

Águas de São Pedro (SP) 0,825

São Caetano do Sul (SP) 0,811

Santos (SP) 0,807

Vitória (ES) 0,8005

Florianópolis (SC) 0,800

Cinco piores

Melgaço (PA) 0,207

Chaves (PA) 0,234

Atalaia do Norte (AM) 0,259

Itamarati (AM) 0,266

Uiramutã (RR) 0,276

A consulta do IDHM e de outros indicadores por município pode ser feita no site do Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013.

O cenário é melhor quando se olha para a população jovem. Os indicadores mostram que houve uma universalização da educação básica no país, com quase a totalidade das crianças matriculadas. O percentual de crianças com 5 e 6 anos frequentando a escola, por exemplo, subiu de 37,3% (em 1991) para 91,1% (em 2010).

As crianças de 11 a 13 anos nos anos finais do ensino fundamental também aumentaram de 36,8% (em 1991) para 84,9% (em 2010).

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Porém, à medida que se avança nos ciclos seguintes da educação, nota-se um gargalo no setor. A população de 15 a 17 anos com o ensino fundamental completo é de 57,2%, em 2010. Em 1991, era 20%.

Quando se chega no ensino médio, o panorama é ainda mais crítico: apenas 41% dos jovens de 18 a 20 anos se formou. Em 1991, esse percentual era de 13%.

"Antes, o desafio era colocar a criança na escola. Hoje, é mantê-la com qualidade", diz Daniela Gomes Pinto, coordenadora do  Pnud.

O presidente do Inep, órgão vinculado ao Ministério da Educação, Luiz Cláudio Costa, observa que o índice de educação é um dos mais difíceis para se obter evolução. "Educação teve uma melhora expressiva, apesar das dificuldades. Houve um avanço muito grande nessa área graças às políticas educacionais. É preciso levar em conta de onde saímos e onde chegamos."

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Por que o Brasil possui um dos piores índices de educação do mundo?*

Publicado em 09/01/2013

“Quanto mais instruído o povo, tanto mais difícil de o governar” (provérbio Taoista)

A pesquisa de uma das mais respeitadas consultorias sobre sistemas de ensino no mundo, Economist Intelligence Unit, coloca o Brasil em penúltimo lugar em um ranking sobre a qualidade da educação. A consultoria analisou habilidades cognitivas e desempenho escolar dos alunos em 40 países. A Finlândia e Coréia do Sul aparecem em primeiros lugares e o Brasil e a Indonésia em últimos lugares.  Também no último relatório elaborado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco),  sobre o índice de desenvolvimento da Educação, feito em 128 países, o Brasil aparece na  88ª posição.  Países menos desenvolvidos apresentam uma posição melhor. O Brasil aparece ao lado de Honduras (87ª), Equador(81ª), Bolívia(79ª); mas está muito aquém de nossos vizinhos e parceiros comerciais como  Argentina (38ª), Uruguai (39ª) e Chile(51ª). Esses dados  demonstram que as políticas pedagógicas que norteiam a educação  no Brasil são equivocadas. Nos últimos anos o ensino foi fortemente influenciada pela reestruturação produtiva, uma vez que as inovações tecnológicas, a nova organização do trabalho e a globalização dos mercados exigiam novos perfis profissionais. Criou-se assim uma educação voltada ao mercado de trabalho, entendida pela lógica do capital, visando contribuir para o projeto político pedagógico da burguesia.

     Os ideais de uma educação humanista foram abandonados. Condorcet no século XVIII já pregava uma instrução pública que tornasse os indivíduos críticos e defensores dos seus direitos, tornando-os capazes de realizar a igualdade política e que também os ajudassem a desenvolverem completamente seus talentos. Pensando nisso ele sugeriu ao

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Comitê de Instrução pública, em 1792, uma educação voltada à formação integral do homem. Rousseau, tal como Condorcet, em seu pensamento sobre educação, valorizava a dimensão humana e política, buscava não só formar o homem, mas também os cidadãos.  Kant considerava a educação como o grande segredo para o aperfeiçoamento da humanidade, pois ela deve preparar os indivíduos para a autonomia de pensamento, para  a moralidade e a cidadania. Os iluministas de modo geral  acreditavam que o homem como construtor da cultura deveria ser capaz discernir,  avaliar e agir com autoconsciência para modificar sua própria vida e da existência social como um todo. Para eles, promover a felicidade e a dignidade humana deveria ser o fim último da educação.

     A educação é a única forma de criar indivíduos pensantes e autônomos, pois ela desenvolve a capacidade de reflexão e julgamento da realidade, isto é, desenvolve a capacidade de informação e entendimento para uma análise e avaliação da sociedade em que vivemos. Ela prepara  os indivíduos para a não aceitação, a manifestação, o afrontamento e a revolta; ensina-os a romper com as maneiras de ver, sentir e compreender as coisas. A escola sempre foi considerada o espaço de exercício da liberdade e da cidadania, pois ali se adquire atitudes, valores, orientações e espírito crítico. É um espaço eminentemente político que deveria fomentar a liberdade individual e coletiva, possibilitando as mudanças sociais necessárias para a felicidade humana. Contudo, em nossa época, a escola reproduz os valores, o imaginário e as condições sociais dominantes do sistema cultural. A educação tornou-se apenas o meio pela qual o sistema de domínio social se constitui, se mantêm e se perpetua.

     A partir do diagnóstico acima, o objetivo do presente texto é entender como a reestruturação produtiva aqui no Brasil tem fortemente influenciado os rumos do ensino. Trata-se de demonstrar que a influencia do empresariado e do capital nas políticas pedagógicas é perniciosa para a educação. Se há um culpado pela má qualidade do ensino, isso se deve as políticas públicas de educação implantadas nos governos neoliberais.

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         Na década de 70, com a crise do capitalismo, as grandes indústrias se viram com um excedente de produção, assim como fábricas e equipamentos ociosos num mercado cada vez mais competitivo. Era uma época de recessão e  alta inflação de preços.  Foi a partir daí que o sistema capitalista entrou em um novo ciclo de reestruturação do capital. Começou um período de racionalização e intensificação do controle do trabalho. As mudanças tecnológicas, a automação, a busca de novos produtos e novos mercados, as fusões de empresas, a busca de novos locais onde a mão de obra era barata tornaram-se necessárias para as grandes corporações. Harvey (1993) chamou essa nova reestruturação do capital de “acumulação flexível”. É flexível, pois, “se apoia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e padrões de consumo. Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional”  (HARVEY, 1993, p. 140).

    Naquela época experimentávamos o advento da  sociedade pós-industrial. Os usos da automação, das novas tecnologias da informação, da microeletrônica e da inteligência artificial se intensificaram. A busca de produtos cada vez mais padronizados e com qualidade total tornou-se uma necessidade do mercado consumidor.  Em conseqüência disso, a exigência de trabalhadores bem educados e qualificados tornou-se inexorável para a nova dinâmica do capital. No modelo de produção fordista predominava a ideia de qualificação no emprego, esse conceito se referia à relação entre os requisitos exigidos do trabalhador e sua função. O trabalhador não precisava de muitas competências e habilidades. Contudo, com as novas tecnologias a ideia de competência

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tornou-se primordial, uma vez que conhecimentos, habilidades, saberes e atitudes eram exigidos no novo perfil do trabalhador.

     As mudanças no mundo do trabalho tornaram o conceito de competência um conceito central para a educação interferindo diretamente na produção do conhecimento e da formação profissional. E isso se deu através de mudanças profundas no currículo de escolas e universidades.  Segundo Catani, Oliveira e Dourado (2001),  para os empresários a formação profissional deve ser entendido em dois aspectos: polivalência e flexibilidades profissionais. Isto estaria posto para os trabalhadores de todos os ramos e para todas as instituições educativas e formativas, especialmente as escolas e as universidades. Além disso, o desenvolvimento do profissional multicompetente incluiria a identificação de habilidades cognitivas e de competências sociais requeridas no exercício das diferentes profissões, bem como nos diferentes ramos de atividade. Inclui também o repensar dos perfis profissionais e dos programas de formação, qualificação e requalificação de diferentes instituições formadoras, tais como escolas, universidades, sindicatos, empresas e ONGs.

     Fleury e Fleury (2001) em suas pesquisas sobre a origem, sentido e significado do conceito de competência, o definiram  como um saber agir responsável e reconhecido, que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos e habilidades, que agreguem valor econômico à organização e valor social ao indivíduo. Nesse sentido a competência não deve ser apenas uma qualidade dos indivíduos, mas também das organizações. As organizações deverão competir não mais  mediante produtos, mas por meio de competências, buscando atrair e desenvolver pessoas com combinações de capacidades cada vez mais complexas.

No Brasil o conceito de competência começou a ganhar importância com a reforma da educação feita no primeiro mandato do Presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-1998).  Essa reforma foi fortemente influenciada pela reestruturação produtiva, uma vez que as inovações tecnológicas, a nova organização do trabalho e a globalização dos mercados exigiam novos perfis profissionais. Era preciso, portanto uma reforma que possibilitasse atender as novas demandas do mercado de trabalho.  Segundo Fogaça (2001, p.55) seria necessário priorizar “reformas nos sistemas educacionais dos países industrializados ou em processo de industrialização, de forma a preparar melhor seus recursos humanos para essa nova etapa da produção capitalista, na qual a escola cumpriria um papel fundamental na qualificação profissional básica de todos os segmentos da hierarquia ocupacional”.

     A reforma se deu pela criação  da lei orgânica que define e regula a educação brasileira, Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), e teve como referência as competências a serem desenvolvidas pelos

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alunos, colocando os conteúdos curriculares não como fins em si mesmos e sim como recursos para a constituição dessas competências. Segundo o artigo 9, que trata das incumbências da União, no  inciso IV, cabe a União, “estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, competências e diretrizes para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação básica comum” (BRASIL, 1996).

     Os temas principais da LDB são a autonomia da escola, a modernização da gestão, o acesso às novas tecnologias, a universalização do ensino e a formação para o trabalho. Mas o que se pode notar de forma contundente é a flexibilidade do currículo, das avaliações e da organização do ensino que privilegia as competências em lugar da “inteligência sobre processos”. Para que os princípios que norteam a LDB se tornassem concretos foram também criadas as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) onde prevalecia noção de flexibilidade curricular ligados à formação para o trabalho.  Os DCNs são as normas obrigatórias para a Educação Básica que orientam o planejamento curricular das escolas e sistemas de ensino, fixadas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE). Elas estabelecem as competências e diretrizes para a educação básica norteando o currículo e seus conteúdos mínimos de modo assegurar a formação mínima exigida dos estabelecimentos de ensino. Já os PCNs são um conjunto de textos que servem como parâmetros para a elaboração dos currículos escolares em toda nação. Eles foram elaborados procurando respeitar as diversidades regionais, culturais, políticas existentes no país. Os DCNs ao contrário dos PCNs se tornaram leis, criando as metas e objetivos a serem alcançados pela educação básica.

     No ensino superior as reformas não foram diferentes, segundo Catani, Oliveira e Dourado (2001), a reforma curricular dos cursos de graduação foi iniciada, concretamente, pela Secretaria de Educação Superior SESu do MEC em dezembro de 1997 quando solicitou-se que as Instituições de Ensino Superior (IES) enviassem propostas para a elaboração das Diretrizes Curriculares dos cursos de graduação. Em seguida, essas propostas serviram de base para o trabalho das Comissões de Especialistas de Ensino de cada área. Conforme o Edital, a idéia básica do ministério era adaptar os currículos às mudanças dos perfis profissional. Para tanto, os princípios orientadores adotados para as mudanças curriculares dos cursos de graduação foram: a) flexibilidade na organização curricular; b) dinamicidade do currículo; c) adaptação às demandas do mercado de trabalho; d) integração entre graduação e pós-graduação; e) ênfase na formação geral; f) definição e desenvolvimento de competências e habilidades gerais. Em suma, o objetivo geral que vem orientando a reforma é, justamente, tornar a estrutura dos cursos de graduação mais flexível.

     Com o objetivo de tornar a indústria nacional mais competitiva o empresariado brasileiro a partir da década de noventa começou a interferir diretamente nos rumos da educação, buscando criar um grande contingente de trabalhadores bem qualificados. A globalização, as novas tecnologias, a mudança no perfil dos trabalhadores e a acirrada disputa das indústrias brasileiras com as empresas estrangeiras impulsionaram  uma grande reforma na educação.  O grande argumento do empresariado postulava que o problema da distribuição de renda e da eliminação da pobreza se combate com qualificação profissional. Se os indivíduos são bem qualificados, possuem competências

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e exercem uma profissão, então eles terão mais chances de competir no mercado de trabalho.

     Em muitos documentos do empresariado brasileiro, como do CNI (Confederação Nacional da Indústria), do IHL (Instituto Herbert Levy)  e da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo),  está claro o projeto político pedagógico da burguesia.  Os documentos não só criticam o modelo de educação vigente no Brasil naquela época, mas também apresentaram um conjunto de propostas para reformar a educação. Muitas dessas  propostas  foram colocadas em prática  na reforma feita no Governo Fernando Henrique Cardoso. Ramon de Oliveira em seu artigo “O empresariado industrial e a educação brasileira” (2003)  analisou alguns desses documentos.

No documento “Competitividade industrial”, de 1988, Oliveira (2003) mostra-nos que  o CNI  fez duras críticas ao sistema educacional brasileiro atacando a fragilidade das instituições de ensino em formar mão de obra qualificada.  Segundo esse documento, o problema da educação está em seu gerenciamento. Oliveira explica-nos que para os empresários a crise na educação decorre da incapacidade do Estado articular a progressiva universalização do ensino ocorridos nos últimos anos com a manutenção e o aumento da qualidade.  Para os empresários as instituições de ensino carecem de qualidade porque não existe uma lógica flexível e meritocrática. O Estado não institucionalizou critérios competitivos que se fundamentam no mérito e no esforço individual, premiando os melhores e punindo os piores.

     No documento do IHL, “Ensino Fundamental e Competitividade Empresarial”, de 1992, Oliveira (2003) afirma que os empresários propõem ao governo atacar duas questões fundamentais: o estabelecimento de um novo modelo de financiamento da escola pública e a implementação de mecanismos de controle de qualidade da educação. Eles dizem que é necessário implementar um sistema nacional e permanente de controle de qualidade de resultados do sistema escolar e que avalie através de testes padronizados, e de maneira sistemática, as competências básicas e necessárias para uma sociedade industrialmente moderna e competitiva. Eles afirmam ainda que é necessário seguir o modelo da gestão de empresas para melhorar a qualidade da educação

     Em outro documento, da FIESP, “Livre para crescer, proposta para um Brasil moderno”, Oliveira (2003) mostra-nos que empresários propuseram ao governo investir em ações de qualificação dos trabalhadores para diminuir a concentração de riqueza e propiciar o crescimento econômico. Eles sugerem o desenvolvimento de uma política social séria, que invista nos jovens para que adquiram competências para exercerem

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uma cidadania plena. Também é explicito neste documento o papel do Estado na questão das políticas sociais. Para a FIESP, em uma economia de mercado as pessoas deveriam defender seus próprios interesses. O Estado não pode ser paternalista, mas apenas deve assegurar que as pessoas de baixa renda possam disputar com outros em melhores condições.

      Como podemos notar, não existe um projeto do empresariado que possibilite a inclusão social e econômica dos mais pobres e apartados socialmente. O que se pretende é apenas assegurar que todos possam disputar em condições mínimas de igualdade no mercado de trabalho. O projeto educacional da burguesia usa os mesmos métodos de gestão das empresas, nesse sentido é fragmentário e parcial. A educação perde sua função universal, que é a de  formar para o esclarecimento, para a autonomia de pensamento e o alargamento da visão de mundo.

     A grande parte das proposições citadas pelos empresários  foram colocados em práticas na reforma da educação no Governo Fernando Henrique.  Foram colocados em prática, por exemplo,   o investimento privado em educação superior;  a criação de ciclos para adequar cada aluno a sua série, resolvendo o problema da repetência e evasão;  a flexibilidade na organização curricular;  o desenvolvimento de competências e habilidades gerais; a implementação de mecanismos  de controle de qualidade e de aferição dos desempenhos;  a formação para o trabalho; e critérios de meritocracia para o funcionalismo público.

     Segundo Oliveira (2003), se essa elite procurasse entender a problemática educacional em maior amplitude perceberia que existem limites sociais, que definem a impossibilidade de um contingente maior da população ter acesso a uma escola de melhor qualidade. Há determinações sociais que impedem que um contingente considerável da população ingresse e permaneça com sucesso no sistema educacional. Citando Gentille,  “não existe qualidade com dualização social. Não existe ‘qualidade’ possível  quando se discrimina, quando as maiorias são submetidas à miséria e condenadas à marginalidade, quando se nega o direito à cidadania a mais de dois terços da população.[não podemos aceitar] uma sociedade onde o discurso da qualidade como retórica conservadora seja apenas uma lembrança deplorável da barbárie que significa negar às maiorias seus direitos” (1994, apud Oliveira, 2003).

     As intervenções do capital privado no Estado nos últimos anos se intensificaram como decorrência inevitável da globalização. É característico do capital sua auto-reprodução, eliminando barreiras, fronteiras, passando por cima de  religiões,   culturas e nações. O capital não se detém diante de nada.  A interligação dos mercados em escala planetária tornou-se inexorável, assim como se tornou inexorável a redução do papel do Estado-Nação.  “A globalização, pela sua capacidade de romper todas as fronteiras econômicas e políticas, subsume os modelos de regulação econômica implementados pelos ‘Estados-Nações’. Não se trata de uma escolha a ser feita por presidentes  e lideres nacionais, mas representa um processo de determinação do qual não há escapatória, independentemente de ideologia política, religiosa ou de características culturais de cada povo” (OLIVEIRA, 2001, p. 189).

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No Brasil não foi diferente, o processo de reestruturação produtiva ocorreu de maneira quase natural. Na década de noventa vimos a subida no poder de governos fortemente ligados à tendência neoliberal: Collor, Itamar e Fernando Henrique. Todos esses presidentes  promoveram medidas de ajustes econômicos, objetivando o controle fiscal e o controle da inflação. Grande parte desses ajustes seguia as normas dos órgãos internacionais como Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional (FMI).  Ao longo daqueles anos aconteceram  mudanças profundas na economia e na produção.

A globalização e o desenvolvimento do Estado Neoliberal, grosso modo, diminuíram o papel do estado na economia e reduziram o investimento e alcance das políticas públicas. A partir daí o trabalhador se viu inserido em um novo mundo, onde teve que enfrentar o desemprego estrutural, o subemprego, o baixo nível das condições de ensino, a exigência de muitas qualificações e a grande concorrência do mercado de trabalho.  Ele  depende de si para se educar, conhecer as novas tecnologias, se atualizar e acompanhar as mudanças do mundo globalizado. Hoje tornou-se difícil manter-se empregado num ambiente em permanente transformação. A responsabilidade pela formação profissional e cultural não cabe ao Estado, mas aos próprios indivíduos. As exigências são muitas e demandam um profissional que invista nele mesmo, pois o mundo globalizado espera que os indivíduos se esforcem e adquiram múltiplas competências, sejam  multifuncionais,  criativos e comprometido com as exigências do mercado de trabalho.

      Os estabelecimentos de ensino surgem como o âmbito privilegiado da reprodução da ideologia e da cultura burguesa. Numa sociedade estratificada pelo poder do capital, na sociedade de classes, a escola é determinada pelos interesses de classes. Ela sofre as influências desse conflito. Segundo Saviani (1987), a classe burguesa detentora do capital financeiro e a determinante da cultura vigente  não tem interesses na transformação da escola, com isso cria mecanismo que impedem essa transformação, fazendo com que a escola reproduza as formas de domínio social e a divisão em classes para que tudo permaneça como está. As interferências do empresariado nas políticas públicas para a educação visam apenas propiciar mecanismos para que as indústrias se tornem mais competitivas, criando mão de obra competente e qualificada e perpetuando os preceitos,  modos de pensar e os valores da classe burguesa.

          A educação que sempre foi entendida como instrumento de humanização tornou-se em nossa época um instrumento de reificação.   Com a reestruturação produtiva, a educação perdeu sua função primordial, que era educar para a autonomia intelectual, para o esclarecimento e para a participação política. O indivíduo perdeu a capacidade de reflexão e julgamento da realidade, perdeu a capacidade de avaliar e interpretar sua

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existência e viver de forma autônoma.    O “projeto da Modernidade” identificado por Jurgen Habermas como um conjunto de tendências defendidas pelos pensadores iluministas,  pregava a crença no desenvolvimento da ciência, a moralidade na condução da vida, o universalismo da razão, a busca de novas formas de organização social e a autonomia da arte. O objetivo era usar o progresso e o acúmulo de conhecimentos da humanidade de forma livre, criativa e autônoma  para a emancipação e para enriquecimento dos seres humanos. A ideia de uma educação  emancipatória e humanista deveria retomar esse projeto.

     A experiência tem demonstrado que os países que conseguiram resolver as desigualdades educacionais também conseguiram resolver as desigualdades sociais e tornaram-se mais democráticos. A educação produz autonomia de pensamento e, em conseqüência disso, produz a opinião, o livre julgamento e a participação política, que são os fundamentos da democracia.  Na sociedade democrática supõe-se como John Locke que a consciência individual é a sede final do julgamento e, portanto, o último tribunal de apelação. A educação reforça essa consciência e o livre pensamento. O indivíduo abandona sua minoridade e torna-se capaz de fazer uso do seu entendimento sem a direção de outrem.  É só por meio da informação e aprendizagem que surge o esclarecimento e este só se efetiva se o indivíduo tiver a liberdade de fazer uso público de sua razão. Esse deve ser objetivo da educação.

Bibliografia

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei número 9394, 20 de dezembro de 1996.

CATANI, Afrânio. M.; OLIVEIRA, João. F.; DOURADO, Luiz. F. Política Educacional, mudanças no mundo do trabalho e reforma curricular dos cursos de graduação no Brasil. Educação & Sociedade, ano XXII, no 75, Agosto/2001. Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/es/v22n75/22n75a06.pdf> acesso em Junho de 2012.

FLEURY, Maria.T.L & FLEURY, Afonso. Construindo o conceito de competência. Rev. adm. contemp. vol.5,  Curitiba, 2001. Disponível em < http://dx.doi.org/10.1590/S1415-65552001000500010> acesso em Junho de 2012.

FOGAÇA, Azuete. Educação e qualificação profissional nos anos 90: o discurso e o fato. In: OLIVEIRA, Dalila Andrade; DUARTE, Maria R. T. (Org.). Política e trabalho na escola: administração dos sistemas públicos de educação básica. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. p.55-68.

HARVEY, David. Do Fordismo à Acumulação Flexível. In: A condição pósmoderna. São Paulo: Loyola, 1993, p. 135-176

OLIVEIRA, Ramon. A Divisão de tarefas na educação profissional Brasileira. Cadernos de Pesquisa, n. 112,  p. 185-203, março/2001. Disponível em < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-15742001000100010&lang=pt> acesso em Junho de 2012.

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OLIVEIRA, Ramon. O empresário industrial e a educação brasileira. Revista Brasileira da Educação,  n.22, p. 47-60, Jan/Abr. 2003. Disponível em < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-24782003000100006&lang=pt> acesso em junho de 2012.

SAVIANI, Demerval. Escola e democracia: teorias da educação, curvatura da vara, onze teses sobre a educação e política. São Paulo: Cortez, 1987.

____________________________________________________________________________ Este texto é parte do trabalho de conclusão de curso de especialização docente em sociologia,  concluído em dezembro de 2012,  na Universidade de São Paulo.

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Os 10 maiores lucros dos bancos em um 3º trimestre

Itaú lidera ranking com ganhos de R$ 4,2 bilhões - alcançados entre julho e setembro deste ano

Daniela Barbosa, de

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FERNANDO CAVALCANTI / VEJA

Itaú: lucro de R$ 4,2 bilhões foi o maior da história dos bancos em um terceiro trimestre

São Paulo - O Itaú Unibanco registrou no terceiro trimestre o maior lucro da história dos bancos em um terceiro trimestre, segundo dados da Economatica.

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No período, a instituição financeira somou ganhos de 4,2 bilhões de reais, superando o próprio recorde, de 3,8 bilhões de reais acumulados no terceiro trimestre de 2011.

O lucro do Banco do Brasil,  referente ao terceiro trimestre deste ano, ficou de fora dos dez maiores ganhos dos bancos entre os meses de julho e setembro.

O BB lucrou de 2,704 bilhões de reais no terceiro trimestre, queda de 0,9% na comparação com o mesmo período do ano passado.

Já o lucro do Bradesco no período foi o quarto maior, de acordo com o ranking da consultoria. No terceiro trimestre, a instituição somou ganhos de ais de 3 bilhões de reais.

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Veja, a seguir, os 10 maiores lucros de bancos acumulados em um terceiro trimestre, segundo a Economatica:

Banco Lucro em um 3º trimestre Ano

Itaú Unibanco R$ 4,286 bilhões 2013

Itaú Unibanco R$ 3,807 bilhões 2011

Itaú Unibanco R$ 3,372 bilhões 2012

Bradesco R$ 3,064 bilhões 2013

Itaú Unibanco R$ 3,034 bilhões 2010

Banco do Brasil R$ 2,945 bilhões 2011

Bradesco R$ 2,862 bilhões 2012

Bradesco R$ 2,815 bilhões 2011

Banco do Brasil R$ 2,728 bilhões 2012

Banco do Brasil R$ 2,625 bilhões 2010

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Tags:Banco do Brasil, Bancos, Bradesco, Itaú Unibanco, Lucro

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Banco do Brasil

Page 90: textos diversos

Telebras faz acordo com Previ para pagemento de dívida As maiores pagadoras de dividendos da última década Ações de bancos sobem forte após STF adiar julgamento

Bancos

UBS recomprará títulos em circulação por até US$2,4 bilhões PMI industrial brasileiro recua em novembro, diz HSBC Australianos processam bancos por cobranças abusivas

Lucro

Nike quer dobrar de tamanho no Brasil Vale aprofunda cortes de investimentos em busca de lucro Tiffany brilha com lucro 50% maior no terceiro trimestre

Os 10 maiores lucros dos bancos em um 3º trimestre

Itaú lidera ranking com ganhos de R$ 4,2 bilhões - alcançados entre julho e setembro deste ano

São Paulo - O Itaú Unibanco registrou no terceiro trimestre o maior lucro da história dos bancos em um terceiro trimestre, segundo dados da Economatica.

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No período, a instituição financeira somou ganhos de 4,2 bilhões de reais, superando o próprio recorde, de 3,8 bilhões de reais acumulados no terceiro trimestre de 2011.

O lucro do Banco do Brasil,  referente ao terceiro trimestre deste ano, ficou de fora dos dez maiores ganhos dos bancos entre os meses de julho e setembro.

Page 91: textos diversos

O BB lucrou de 2,704 bilhões de reais no terceiro trimestre, queda de 0,9% na comparação com o mesmo período do ano passado.

Já o lucro do Bradesco no período foi o quarto maior, de acordo com o ranking da consultoria. No terceiro trimestre, a instituição somou ganhos de ais de 3 bilhões de reais.

Veja, a seguir, os 10 maiores lucros de bancos acumulados em um terceiro trimestre, segundo a Economatica:

Banco Lucro em um 3º trimestre Ano

Itaú Unibanco R$ 4,286 bilhões 2013

Itaú Unibanco R$ 3,807 bilhões 2011

Itaú Unibanco R$ 3,372 bilhões 2012

Bradesco R$ 3,064 bilhões 2013

Itaú Unibanco R$ 3,034 bilhões 2010

Banco do Brasil R$ 2,945 bilhões 2011

Bradesco R$ 2,862 bilhões 2012

Bradesco R$ 2,815 bilhões 2011

Banco do Brasil R$ 2,728 bilhões 2012

Banco do Brasil R$ 2,625 bilhões 2010

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Os lucros dos bancos crescem sem parar Ano X, nº 78, junho de 2011

Page 92: textos diversos

Adriano Benayon*

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Nos oito anos de FHC, a média anual de crescimento real dos lucros dos bancos foi 11%, acumulando 230% em oito anos.  De 2003 a 2007, ela foi 12%, acumulando 176% em 5 anos.

2 De 2003 a 2010 os lucros dos cinco maiores bancos — Itaú, Banco do Brasil, Bradesco, Santander e Caixa Econômica Federal — elevaram-se de R$ 11,1 bilhões para R$ 46,2 bilhões. Ou seja, em sete anos, elevação sustentada, à média de 17,7% ao ano, ou seja, 313%. Em termos reais (correção pelo IPCA): 12,1 % aa., acumulando 222%.

3 Quem consegue ascensão tão rápida em sua renda real? E a que os bancos devem esse maná? A se crer na grande mídia e na academia, o mercado estabeleceria as taxas de juros dos títulos públicos. Na verdade, quem as decide é o Banco Central — BACEN (formalmente, o COPOM — Comitê de Política Monetária). Estranho "mercado" formado só por um lado, o dos banqueiros.

4 Embora oficialmente subordinado ao governo, as decisões do BACEN E as demais da política econômica daquele emanam dos concentradores financeiros.   

5 Assim, as taxas reais de juros dos títulos do Tesouro são, no Brasil, as mais altas do mundo, e as taxas dos juros pagos por empresas ou por pessoas físicas correspondem a múltiplos daquelas.

6 Apesar da política econômica, a abundância de recursos naturais e o aumento da população têm feito crescer a economia, apoiada por crédito público. A demanda assim gerada suscita investimentos e a expansão do crédito privado.

7 O crédito tem crescido muito. Elevou-se em 20%, de 2009 para 2010, atingindo R$ 1,7 trilhão, o equivalente a 46,6% do Produto Interno Bruto. Essa expansão e as altíssimas taxas dos juros  explicam o grande e ininterrupto aumento dos lucros dos bancos.

8 Mas não é só isso: o BACEN propicia aos bancos cobrar taxas elevadas e excessivas por serviços bancários, em grande parte, processados pelos próprios clientes, dada a automação desses serviços.

9 Há três anos, quando o Banco Central baixou normas para padronizar as tarifas, a receita destas já custeava as despesas dos bancos com administração e funcionários. Desde então, conforme dados do  Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC), o pacote dos principais serviços passou a custar até 124% mais. As receitas com as tarifas subiram, em média, 30% acima da inflação.

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10 Os interessados nos juros elevados põem a grande mídia e demais veículos de comunicação a repetir, sem cessar, que os juros elevados servem para conter a inflação. Já mostrei, em muitos artigos, que esse não é um modo correto de reduzi-la.

11 A verdadeira "razão" da política financeira é proporcionar lucros excessivos aos  bancos e aos demais aplicadores de capital financeiro.

12 O primeiro e colossal prejuízo disso para o País são as despesas do "serviço da dívida pública", que somaram, desde 1988, mais de  6 trilhões de reais. A maior parte dessa brutal sangria resultou dos próprios juros capitalizados. Há outros imensos danos decorrentes das taxas de juros.  O espaço só permite falar de alguns.

13 Assim como aquelas despesas retiram recursos do Estado que deveriam ser investidos nas infra-estruturas econômica (transportes, energia, telecomunicações, progresso tecnológico) e social (educação, saúde, previdência), também as pessoas  físicas e jurídicas — que pagam juros a taxas ainda mais elevadas que o Estado — deixam de produzir e consumir, e de gerar mercado para mais investimentos.

14 Outro efeito desastroso é a valorização excessiva do real em função de as altas taxas de juros atraírem dólares captados no exterior a juros reais negativos. A continuação do processo faz que, além de os especuladores ganharem com a diferença entre as taxas de juros, eles obtenham, às nossas custas, lucros adicionais com a diferença entre as  taxas de câmbio na entrada e as na saída dos dólares.

15 Ao mesmo tempo, o Banco Central aplica a taxas muito baixas os dólares das reservas cambiais, ademais em constante desvalorização. Para isso, a União paga juros a taxas altíssimas nos títulos públicos.

19 A sobrevalorização do real, cada vez maior, reduz ainda mais a competitividade dos bens e serviços produzidos no Brasil: no mercado interno,  nas exportações e nas importações, o que acelera a desindustrialização do País. Ademais, os juros altos pesam nos custos de produção.

_______________________*Adriano Benayon é Doutor em Economia. Autor de "Globalização versus Desenvolvimento", editora Escrituras. [email protected]

20/11/2013

Apesar dos altos lucros, bancos reduzem agências e cortam empregos

Page 94: textos diversos

O fechamento de posto de trabalho e a redução das estruturas envolvendo agências, de olho na diminuição dos custos, têm evidenciado que os bancos seguem na contramão dos demais setores da economia. Apesar dos altos lucros obtidos, milhares de empregos vêm sendo cortados pelas instituições financeiras nos últimos anos. Em reportagem publicada nesta terça-feira (19), o jornal Valor Econômico aponta que os maiores bancos privados do país estão revendo seus planos de inauguração de agências. 

"A paranóia do momento para o sistema financeiro é a chamada eficiência operacional e o foco tem sido particularmente o corte dos postos de trabalho", afirma Miguel Pereira, secretário de Organização do Ramo Financeiro da Contraf-CUT. 

Os bancos defendem que a prioridade é fazer com que as agências atuais sejam mais rentáveis, como diz Carlos Galán, vice-presidente de finanças do Santander Brasil. "O objetivo é atingir o equilíbrio desses investimentos", justifica.

A rotatividade na categoria bancária, apesar de não ser a maior taxa da economia, é a que mais reduz os custos com mão de obra. Enquanto no comércio e serviços, por exemplo, a rotatividade representa uma redução salarial em torno de 8% a 10%, nos bancários a diferença salarial entre os que saíram demitidos e os novos contratados chega a 50%.

Bradesco - A redução nos empregos não se justifica diante dos lucros bilionários obtidos pelas instituições financeiras. No primeiro semestre de 2013, o Bradesco lucrou R$ 5,9 bilhões, alcançando o maior lucro da história do banco para o período. Apesar disso, a empresa fechou 2.580 vagas nos últimos 12 meses. 

Segundo o Valor, quando 2013 começou, o Bradesco previa a abertura de 50 agências neste ano, mas deve encerrar o ano com no máximo 20 inaugurações. Por enquanto, está apenas com 11 novas unidades, mesmo com o crescimento da economia e expansão de crédito nos bancos públicos. 

Santander - Outro exemplo é o Santander, que obteve lucro de R$

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2,9 bilhões no primeiro semestre deste ano e, no entanto, cortou 3.216 empregos nos últimos 12 meses, sendo 2.290 apenas no primeiro semestre deste ano. 

O banco espanhol tinha no país no mês de setembro 35 menos agências do que no início deste ano. Algumas dessas unidades estão passando por reformas para atender o público de mais alta renda, mas o banco não esconde que reviu sua estratégia.

Atendimento quase sem bancários - O diretor da Contraf-CUT alerta que a consequência deste processo são as filas intermináveis aos clientes e a proibição de que realizem tarefas simples, como a utilização do caixa para depósitos ou pagamento de contas. "Para os poucos bancários que sobraram na área de atendimento das agências fica a sobrecarga de trabalho, assédio moral, estresse e adoecimento", denuncia Miguel. 

No entanto, têm sido crescentes os investimentos para o desenvolvimento de novas tecnologias. "As instituições financeiras estão criando novos terminais eletrônicos que eliminarão processos de trabalho, como conferência, validação de procedimentos e crédito automático na conta corrente dos clientes. Será inclusive possível fazer depósito em cheque, enviando a imagem para o banco via celular", explica Miguel.

Além disso, há novas tecnologias, particularmente o mobile payment , agora sob o amparo da lei nº 12.865, de 9 de outubro, sancionada pela presidenta Dilma. Os bancos e também empresas não financeiras irão massificar a utilização dos celulares para pagamento de contas, o que para os bancos será mais uma forma de evitar que os clientes busquem o atendimento convencional nas agências.

Correspondentes - Outra estratégia dos bancos é o uso de correspondentes bancários que permitem aos bancos expandirem seus negócios sem terem de abrir novos pontos de atendimento. Dentro da estrutura de padarias e lojas, por exemplo, as instituições conseguem prestar alguns serviços bancários.

"As instituições financeiras tem expulsado os clientes de menor renda e usuários de serviços bancários para os correspondentes, que já ultrapassaram os 360 mil pontos de atendimento terceirizado no país", ressalta Miguel.

Para ele, os bancos estão novamente seguindo na contramão porque utilizam de mão de obra já contratada pelo comércio, não gerando novos postos de trabalho também fora das agências. "Trata-se de desvios de função, metas abusivas para a venda de produtos e serviços financeiros, riscos à vida e à segurança desses trabalhadores, já que aumentou o volume de recursos transacionados pelos trabalhadores, sem qualquer tipo de

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segurança", conclui Miguel.

Fonte: Contraf-CUT com Valor Econômico

Criado por: Marcos Paulo e Postado em: 20/11/2013 10:39:25

Carta Capital

Sociedade

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Educação

Ensino superior: exclusão, privatização e o ProUniTransformar a educação em um ramo dos negócios faz com que, quando estes vão mal, aquela também vá. Este é o grande mal da privatização do ensino

por Otaviano Helene e Lighia Horodynski-Matsushigue — publicado 08/12/2011 09:31, última modificação 08/12/2011 10:52

'O aluno deverá ser capaz de dialogar com o mundo da pesquisa, de onde virá a maior parte desses conhecimentos'. Foto: Wilson Dias/ABr

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Uma das principais características do sistema educacional brasileiro é a exclusão, que na educação básica afeta especialmente os estratos sociais menos favorecidos. Embora essa exclusão se inicie na educação infantil, vamos citar apenas um dado para que se possa ter uma ideia de sua gravidade: cerca de metade dos jovens sequer conclui o ensino médio e grande parte dos que o fazem apresenta enormes deficiências de aprendizado. As consequências dessa exclusão são terríveis, tanto para as perspectivas de inserção social e econômica dos excluídos como para as possibilidades de desenvolvimento econômico, social e cultural do país. Se, já hoje, uma boa formação no ensino médio é necessária para a plena emancipação e a inserção na força de trabalho, nenhum país pode ter a expectativa de um futuro promissor se empurra para a margem tão grande proporção de seus jovens como nós o fazemos. E, na maioria dos casos, o jovem deixa a escola com um profundo sentimento de não-pertença à sociedade e com a autoestima rebaixada, o que afeta profundamente o seu futuro relacionamento com essa mesma sociedade. As conseqüências estão à vista de todos.

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Essa situação, totalmente inaceitável até mesmo para países com limitações econômicas maiores do que as nossas, é responsável por grande parte das nossas mazelas sociais e econômicas. Pior ainda: não apenas estamos numa situação ruim como estamos indo na direção errada, pois a taxa de exclusão do sistema escolar até o final do ensino médio aumentou ao longo da última década. No caso do estado de São Paulo, por exemplo, apesar da população na faixa etária correspondente à conclusão do ensino médio ter crescido em cerca de 20% no período, o número de conclusões, ao invés de crescer, diminuiu do mesmo tanto.

No ensino superior, a exclusão ocorre por meio de cursos privados, que criam enormes distorções. Por exemplo, a distribuição dos estudantes pelas diferentes áreas de conhecimento destoa fortemente do que ocorre nos demais países. A causa disso é o fato de as instituições privadas concentrarem seus cursos em áreas onde o investimento, em aulas práticas, laboratórios, professores muito especializados etc., possa ser mantido baixo. Ainda mais: as instituições privadas formam seus estudantes com ênfase apenas no treinamento em aspectos da profissão que são valorizados no curto prazo, fazendo com que desenvolvimentos posteriores tornem seus egressos defasados. Nas instituições privadas, são limitadíssimas as possibilidades de o estudante ser engajado em uma boa iniciação científica, de dar continuidade aos estudos na pós-graduação, de ter efetivo acesso aos professores, de participar de grupos de pesquisa ou, pelo menos, assistir a seminários, palestras ou colóquios acadêmicos, de contar com boas bibliotecas e com laboratórios didáticos equipados e com pessoal preparado.

Além dos citados, a privatização cria muitos outros problemas. Como o principal critério das instituições mercantis é o financeiro, os cursos oferecidos e as regiões onde eles se instalam nada têm a ver com as necessidades do país ou das diferentes profissões e áreas de conhecimento: são majoritariamente cursos facilmente “vendáveis”, de baixo custo e nas regiões onde há clientela, não onde há necessidade. Assim, o retorno que oferecem para o país e mesmo para os estudantes, se não é nulo, é baixíssimo.

No último meio século a privatização (medida em termos do percentual de matrículas) aumentou de 40%, imediatamente antes do período ditatorial, para os 75% atuais, de uma forma bastante sistemática. E se, na primeira metade do século passado, a rede de instituições de ensino superior privadas era constituída primordialmente por universidades confessionais que tentavam, em determinadas áreas, manter uma boa qualidade de educação, hoje, a absoluta maioria é formada por instituições movidas exclusivamente pelo ganho financeiro. É interessante notar que o único período em que a privatização não aumentou foi durante a “década perdida” da economia, a década de 1980. Isso se deu, não por mérito dos governantes daquele período, mas, sim, como consequência da própria crise, ilustrando bem um dos males da privatização: transformar a educação em um ramo dos negócios faz com que, quando estes vão mal, aquela também vá. O resultado é que, ao invés de ser um instrumento de construção do país e de enfrentamento da crise, a maior evasão do sistema educacional, aumenta o contingente de desempregados e agrava a própria crise.

Se, hoje, nossa taxa de privatização destoa muito mais daquilo que se encontra ao redor do mundo (vale lembrar que nos EUA praticamente 70% das matrículas se encontram nos sistemas públicos) isso se deve às políticas no período ditatorial e ao neoliberalismo da década de 1990. Contudo, também os últimos anos (período que deveríamos chamar de "popular"?) continuaram a apresentar aumento significativo das vagas privadas, pois

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embora as instituições públicas tenham quase dobrado o número de vagas oferecidas na última década, principalmente por meio de instituições federais, as instituições privadas quase triplicaram as suas.

O argumento de que não há recursos, usado para justificar a privatização do ensino superior, não é válido. Qualquer que seja a forma e o local em que alguém estude, a conta é paga pela totalidade da população trabalhadora que, afinal, é a única fonte de recursos de um país. Cobrar diretamente dos estudantes, na forma de mensalidades, ou da sociedade como um todo, na forma de impostos, é uma opção política, sendo a primeira mais ineficiente e injusta do que a última. Além disso, como já mostrado em artigos nossos publicados no Jornal da USP (acessível pela internet), o investimento necessário para manter um estudante em um curso de graduação, na mesma área de conhecimento e com qualidade equivalente, é menor nas instituições públicas do que nas privadas. Por que, então, pagar mais, descarregar esses custos de forma mais injusta sobre a população para conseguir piores resultados para todos?

Uma evidência de que a privatização não é fruto da incapacidade financeira do setor público, mas, sim, uma política deliberada, é o fato de ela ser mais elevada nos estados com maiores possibilidades financeiras: por exemplo, no estado de São Paulo, recordista em privatização, há uma matrícula no setor público para cada 220 habitantes, situação muito pior do que nos demais estados, onde a relação é de uma matrícula para cerca de 120 habitantes; ou ainda, uma vaga pública de ingresso para oito concluintes do ensino médio, contra uma para quatro nos demais estados (dados de 2009).

E programas governamentais, como o ProUni, acirram nossos problemas. Dados recentemente divulgados mostram que menos de 0,2% dos concluintes do ProUni se formaram em cursos de medicina, contra cerca de 1% na média das instituições privadas e mais de 3% nas instituições públicas. Essa distorção ocorre, também, nas demais áreas fundamentais para o desenvolvimento do país, como as engenharias, as licenciaturas em Física e Química e, especialmente, a Agronomia. Desse modo, apesar de aparentemente incluído, o jovem é, de fato, excluído das condições de estudo que ele merece e que, com seu potencial, poderia muito aproveitar. Há, ainda, outros aspectos a considerar. Apesar do ProUni arcar com as mensalidades, fica a questão de como os mais pobres poderão superar o fato de que, nas instituições privadas, moradia, alimentação e saúde subsidiadas inexistam, embora sejam fundamentais, em especial para o perfil dos estudantes selecionados.

É importante ainda observar que o ProUni atua ao arrepio da própria Constituição, que apenas tolera o repasse de recursos públicos a instituições privadas se essas forem filantrópicas, confessionais ou comunitárias e se aplicarem seus excedentes em educação, o que não é o caso da maioria das instituições beneficiadas pelo ProUni e por outras ações dos governos federal, estaduais e municipais. Afinal, isentar de impostos, taxas e contribuições sociais, como faz o ProUni, é aritmeticamente igual a transferir recursos direta ou indiretamente às instituições privadas de ensino.

Todos ganharíamos se a totalidade dos estudantes brasileiros estivesse em boas instituições públicas. Na forma que está instituído, o ProUni acaba por contribuir para aumentar um dos nossos mais graves problemas educacionais: a privatização do ensino superior por meio de instituições que tratam a educação única e exclusivamente como uma mercadoria. Da maneira como está, pagaremos caro no futuro.

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*Otaviano Helene é professor no Instituto de Física da USP, ex-presidente do Inep e da Adusp. Lighia Horodynski-Matsushigue é rofessora aposentada do Instituto de Física da USP, foi vice-presidente da Regional São Paulo do Andes-SN

Privatização do ensino superior: a explosão das faculdades particulares

Por Adriano Senkevics

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26/10/2012

Nas últimas duas décadas, temos assistido a um florescimento das instituições de ensino superior (IES) privadas, notadamente das faculdades particulares, que têm crescido em um ritmo assustador. Essa expansão nos coloca o desafio de pensar o futuro do ensino superior brasileiro: manteremos um sistema majoritariamente privatizado? Como ficarão as universidades públicas? O que podemos esperar ou cobrar das instituições privadas?

Sem a pretensão de esgotar essas questões, neste texto pretendo expor em que pé se encontra esse processo de privatização, baseando-me nas reflexões do pesquisador britânico Tristan McCowan (2005), quem muito estudou o ensino superior brasileiro.

Para além da “demonização” desse processo, é necessário compreender quais foram os incentivos e condições que marcaram o crescimento da oferta privada dos cursos de graduação. Se existe hoje uma cobertura consolidada de faculdades particulares, é porque elas ocupam um nicho (de mercado, sem dúvida) e preenchem uma lacuna que o sistema público não foi capaz de contemplar: a crescente demanda por diplomas do ensino superior.

A questão é complexa porque ao mesmo tempo em que a oferta privada dessas vagas merece ser problematizada, foram também essas instituições (por mais empresariais que sejam) que garantiram acesso da sociedade a este nível de educação. Não faltaram, no entanto, incentivos tanto do Banco Mundial, o patrono das IES privadas, quanto do próprio governo federal, sob as gestões de FHC (1995-2002) e Lula (2003-2010).

Page 102: textos diversos

Evolução das matrículas nas instituições de ensino superior (IES) – Brasil, 2010. (Fonte: Censo da Educação Superior – INEP, 2010)

No gráfico acima, que corresponde aproximadamente ao governo Lula, percebemos o crescimento viril das IES privadas. Segundo o Censo da Educação Superior (INEP, 2010), entre 2003 e 2009, a rede pública cresceu 18,9%; a rede privada, que já era maioria, cresceu 36,9%. Ou seja, o dobro. Essa constatação é preocupante, porque em 2001 as IES privadas já correspondiam a 68,9% das matrículas no ensino superior. Em 2010, essa participação chegou a 74,2%.

Atualmente, a oferta de matrículas em IES privadas continua em expansão, mas em ritmo decrescente (ROSEMBERG & MADSEN, 2011). Essa explosão teve como resultado um ensino superior brasileiro com forte participação das faculdades (que contêm um quadro reduzido de professores titulados na pós-graduação, além de pouca ou nenhuma dedicação à pesquisa e extensão), oferecidas em período noturno, com matrículas pagas e, como dito, pertencentes à iniciativa privada. Três em cada quatro estudantes do ensino superior estão matriculados em uma IES privada, como ilustra a figura abaixo.

Proporção de matrículas nas instituições de ensino superior (IES) – Brasil, 2010. (Fonte: Censo da Educação Superior – INEP, 2010)

Esse crescimento não foi fruto do acaso, muito pelo contrário. Se hoje temos um ensino superior com intensa participação privada, isso se deve a políticas aplicadas pelos últimos dois presidentes que tivemos e que tendem a se perpetuar no governo Dilma.

As IES privadas sem fins lucrativos (o que não significa que não tenham interesses mercantis), por exemplo, recebem isenções de impostos e do pagamento da previdência social dos empregados. Além disso, estão igualmente isentas do salário-educação, uma contribuição social tributada das folhas de pagamento das empresas, com a finalidade de ser utilizada no desenvolvimento da Educação brasileira.

Mesmo as IES privadas com fins lucrativos também recebem benefícios. Auxílios do governo, como o FIES (Programa de Financiamento Estudantil) – criado no governo FHC a partir de outro programa – e as bolsas do Prouni (Programa Universidade

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para Todos) – de autoria do Fernando Haddad enquanto ministro da Educação – têm tirado muitas dessas instituições do risco de falência e, ao mesmo tempo, permitindo que estudantes de baixa renda possam acessá-las.

Não há dúvida de que muitos dos pressupostos da expansão do ensino superior privada, dentre a democratização do acesso, sejam questionáveis, mas deixemos isso para o próximo texto. Neste, o que é importante ficar claro é que estudar em uma universidade pública, gratuita, com um quadro de docentes bem formados e a possibilidade de participar de projetos de pesquisa e de extensão tende, neste ritmo, a se restringir a um público cada vez menos expressivo entre os jovens brasileiros.

É por Direitos:

Vamos exigir AUDITORIA DA DÍVIDA, que absorveu 43,98% dos recursos federais em 2012, enquanto a Saúde recebeu apenas

4,17%, a Educação 3,34%, Segurança 0,39%, Transportes 0,7% e Habitação apenas 0,01%.

Orçamento Geral da União (Executado em 2012)Total = R$ 1,712 trilhão

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Fonte: Senado Federal – Sistema SIGA BRASIL – Elaboração: Auditoria Cidadã da Dívida. Nota: Inclui o “refinanciamento” da dívida, pois o governo contabiliza neste item grande parte dos juros pagos.

Os gastos com a Copa provocaram revolta na população, pois os direitos sociais previstos na Constituição Federal não têm sido respeitados:

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

Os gastos com a Copa estão de fato exorbitantes, mas os gastos com a dívida pública têm sido os principais responsáveis pela

negação dos direitos sociais.

Para se ter uma ideia, com os R$ 753 bilhões gastos pelo governo federal com o pagamento de juros e

amortizações da dívida pública em 2012 seria possível construir 624 estádios do Maracanã ou 416

estádios Mané Garrincha, mesmo considerando o preço superfaturado dessas obras.

A dívida externa supera 440 bilhões de dólares e a dívida interna federal já alcança quase 3 trilhões de reais. Essas dívidas, que beneficiam principalmente o setor financeiro e grandes corporações, crescerão ainda mais por causa dos gastos com a Copa.

Com os R$ 753 bilhões gastos com a dívida em 2012 poderíamos construir:

974 mil Unidades Básicas de Saúde(Considerando o custo unitário de R$ 773 mil, conforme Portaria nº 340/2013, do Ministério da Saude)

188 mil Unidades de Pronto Atendimento (UPAs)(Considerando o custo unitário de R$ 4 milhões, constante na Portaria 342/2013, do Ministério da Saúde)

802 mil escolas (de 6 salas de aula cada uma) (Considerando o custo unitário de R$ 939,4 mil, constante na publicação “Orientação para elaboração de

Emendas Parlamentares – 2012”, do Ministério da Educação, pág 17)

AUDITORIA JÁ !

www.auditoriacidada.org.br

Page 105: textos diversos

DÍVIDA CONSUMIRÁ MAIS DE UM TRILHÃO DE REAIS EM 2014Maria Lucia Fattorelli1

27/9/2013O governo federal enviou ao Congresso Nacional a previsão orçamentária para 2014 com a impressionante destinação de R$ 1,002 TRILHÃO de reais para o pagamento de juros e amortizações da dívida, sacrificando todas as demais rubricas orçamentárias.Esse dado chocante explica porque vivemos uma conjuntura marcada pela falta de atendimento aos direitos fundamentais e às urgentes necessidades sociais relacionadas principalmente aos serviços de saúde, educação, transporte, segurança, assistência, etc.Explica, adicionalmente, o avanço das privatizações representadas pela venda de patrimônio público e entrega de áreas estratégicas que representam estrutura do Estado, comprometendo a segurança e a soberania nacional: portos, aeroportos, estradas, ferrovias, energia, comunicações, e principalmente petróleo.As ofertas ao setor privado fazem parte do Programa de Investimento em Logística (PIL) e estão sendo realizadas inclusive em seminário realizado em Nova Iorque em 25.09.2013, na sede do banco Goldman Sachs, com a participação das mais altas autoridades do governo brasileiro. Os discursos da presidenta Dilma, do presidente do Banco Central, BNDES e Ministro da Fazenda presentes no evento manifestaram publicamente a oferta de oportunidades especiais para investimentos privados no País, com a garantia de financiamentos por bancos públicos nacionais e garantias contra eventuais riscos, oferecendo não só o patrimônio, mas convocando o setor privado para

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participar da gestão do País. É evidente que a exigência de crescentes volumes de recursos para o pagamento de juros e amortizações da dívida tem impedido a realização dos investimentos necessários, o que tem sido utilizado como justificativa para a contínua e inaceitável entrega de patrimônio estratégico e lucrativo.Cabe realçar especialmente a campanha contra o leilão do Campo deLibra, agendado para outubro próximo, quando se pretende rifar reserva de petróleo superior à soma do que já foi leiloado nas outrasquinze rodadas já realizadas durante os governos de FHC e Lula. De acordo com dados do Sindipetro-RJ, a riqueza do pré-sal coloca o Brasil entre os três maiores produtores de petróleo no mundo. Considerando o disposto em nossa Constituição Federal, a capacidade da Petrobrás e o compromisso assumido pela Presidenta Dilma durante sua campanha eleitoral, não há justificativa plausível para o leilão anunciado, por isso todos devemos apoiar e reforçar a campanha “O petróleo tem que ser nosso”, repudiando e requerendo o cancelamento desse leilão. Para continuar alimentando o Sistema da Dívida em âmbito nacional e regional, o governo sacrifica o povo com pesados tributos, ausência de retorno em bens, serviços e investimentos, e ainda rifa o patrimônio público. Por isso perseveramos com os trabalhos da Auditoria Cidadã, exigindo a realização da auditoria e completa transparência desse perverso Sistema da Dívida.

1

Coordenadora Nacional da Auditoria Cidadã da Dívida www.auditoriacidada.org.br

Mauro Santayana

Pena, cadeia e justiça no Brasil

No Brasil (não se tem como saber exatamente, já que não existe controle automático e unificado), aproximadamente 40% dos 540.000 presos estão cumprindo “pena” sem ter passado por julgamento, e, logo, sem autorização judicial. Em alguns estados eles são maioria. No Piauí, por exemplo, correspondem a quase 70% da população prisional.

Há, também, cidades, que estão, ou estiveram, até recentemente, sob o controle de policiais bandidos.

Este é o caso de Rio Real, na Bahia – onde virtualmente toda a guarnição da PM responde a inquéritos por homicídio ou tortura e está sendo acusada de formação de quadrilha – por um juiz que teve de retirar a família do local.

E de Maués, no Amazonas, em que um grupo de policiais civis se entregou esta semana, após meses de fuga - no quadro de uma operação com o significativo nome de Gestapo - à justiça, acusado de assassinato, extorsão e tortura.

Nos últimos meses, em cena talvez inspirada em Carandirú, filme que caracteriza, junto com Tropa de Elite, a mais forte imagem da justiça brasileira no exterior, dezenas de presos foram colocados, nus, sentados no pátio de um presídio no Espírito Santo, e sofreram queimaduras graves pela exposição ao sol. E em outro estabelecimento prisional da região Sudeste, um detento teve que ser transferido, ilegalmente, para outra cadeia, por um prazo de dez meses,

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para que se “curasse” do espancamento sofrido por parte de autoridades da prisão.

Assim é o Brasil.

Um país que decreta que a tortura é crime inafiançável, e que, ao mesmo tempo, estabelece a jurisprudência de que em casos de alegada tortura por parte da polícia: "Cabe ao réu o ônus de demonstrar que a confissão perante a autoridade policial foi obtida por meio ilícito, porque a presunção há de ser em favor da autoridade pública, policial ou judiciária, que age no estrito cumprimento do dever legal" (RT-740/641).

Por isso, não é de se estranhar, que o que seria visto, em qualquer país do mundo, como um conjunto normal de direitos, esteja sendo encarado em nosso país, pela mídia e parte do Ministério Público - como está ocorrendo com os presos da Ação Penal 470 - como inaceitável privilégio.

O tratamento digno para o pai, a mulher, o filho, a filha, que visita um parente preso – aqui a família é tratada quase como se tivesse participado do crime – deveria ser visto como regra, e não como exceção.

Assim como um banho decente, oportunidade de trabalho, acesso a medicamentos, acompanhamento jurídico, – normais em outras nações - que estão sendo classificados como odiosos benefícios, quando não o são.

O papel do Ministério Público, das Promotorias do Direito do Cidadão, das Defensorias e das Varas de Execução Penal, deve ser o da institucionalização do direito e não da ausência dele – como está ocorrendo no Brasil.

Se formos incorporar como padrão as mazelas existentes no nosso sistema policial, jurídico e prisional, passaremos a exigir que todo suspeito fique anos preso sem direito a julgamento; que a tortura seja institucionalizada como método de investigação; que se recorra à execução como política de segurança pública; que cada cela seja ocupada por um número de detentos, no mínimo, três a quatro vezes, superior, ao previsto quando de sua construção; que seja abolida a assistência médica nas prisões e anulada a responsabilidade do Estado pela vida de quem está sob sua custódia.

Antes de se preocupar com os “privilégios” que apontam em um pequeno grupo de pessoas, que, convenientemente, se encontram sob os holofotes da nação, as autoridades deveriam trabalhar, diuturnamente, para garantir o cumprimento do que prevê a Lei e a Constituição.

Um país que não assegura o direito de visita, de julgamento, de incolumidade física, de um metro quadrado sequer para que o sujeito – já condenado – possa cumprir sua pena, sentado ou em pé, de dia, e com as pernas esticadas, durante noite, sem ter que se preocupar em ser espancado, estuprado, assassinado - ou morrer de septicemia se tiver um abcesso - não tem condições de dar lições a ninguém.

O conceito de isonomia, quando ligado às ideias de justiça e de cidadania, se refere a igualar as pessoas por cima – no seu direito inalienável a condições mínimas de dignidade e de vida – e não por baixo, pelas regras não escritas da verdadeira Lei do Cão que impera, ainda, infelizmente, na maior parte do nosso sistema prisional.