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Língua Portuguesa – Redação Lista 1 Pág. 1 de 14 Colégio Integral – 8º ano – 2º bimestre - 2013 1 Antes de existir o direito autoral (ou seja, o direito do autor de apenas ele decidir o que será feito de sua obra e de lucrar com a venda de livros ou de encenações feitas a partir deles), acontecia de algumas pessoas sentarem-se na plateia e anotarem as falas e ações das personagens, depois venderem a peça a algum editor que a imprimia. Além de prejudicarem o autor, tais pessoas danificavam também sua obra, porque muitas vezes cometiam erros durante a escrita. A fim de evitar tais prejuízos, os escritores decidiram começar a publicar seus dramas. A partir de então o texto teatral passou a ser comercializado, o que permitiu que o público tivesse acesso também à leitura da peça e não mais apenas a sua encenação. Leia a seguir o trecho inicial da comédia O Noviço, de Martins Pena, atentando-se à organização e às particularidades de um texto teatral. TEXTO TEATRAL DEFINIÇÃO E USOS TEXTO TEATRAL é uma obra literária específica para o teatro, contém os diálogos e as indicações de cena. Sozinho, o texto é apenas literário, transformando- se em teatro quando é encenado. Tome nota: Pantomima é um teatro gestual que faz o menor uso possível de palavras e o maior uso de gestos através da mímica. É a arte de narrar com o corpo. É uma modalidade cênica que se diferencia da expressão corporal e da dança, basicamente é a arte objetiva da mímica, é um excelente artifício para comediantes, cômicos, palhaços, atores, bailarinos, enfim, os intérpretes. Com exceção de certas representações como a pantomima, ou das improvisadas como a Commedia Dell’arte; o teatro não é uma arte totalmente autônoma. Precisa, como base, de textos literalmente elaborados. O texto foi, tradicionalmente, o alicerce básico da arte dramática na maioria das culturas, embora isso se tenha verificado de forma mais acentuada no Ocidente. Estes textos literários formam, em seu conjunto, a Literatura Dramática. As artes cênicas e a literatura dramática, que evoluíram paralelamente, constituem uma unidade indissolúvel, que se materializa na atuação, na representação, no palco. ELEMENTOS DO TEXTO TEATRAL

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Língua Portuguesa – Redação

Lista 1 – Pág. 1 de 14

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Antes de existir o direito autoral (ou seja, o direito do autor de apenas ele decidir

o que será feito de sua obra e de lucrar com a venda de livros ou de encenações feitas a partir deles), acontecia de algumas pessoas sentarem-se na plateia e anotarem as falas e ações das personagens, depois venderem a peça a algum editor que a imprimia. Além de prejudicarem o autor, tais pessoas danificavam também sua obra, porque muitas vezes cometiam erros durante a escrita. A fim de evitar tais prejuízos, os escritores decidiram começar a publicar seus dramas. A partir de então o texto teatral passou a ser comercializado, o que permitiu que o público tivesse acesso também à leitura da peça e não mais apenas a sua encenação.

Leia a seguir o trecho inicial da comédia O Noviço, de Martins Pena, atentando-se à organização e às particularidades de um texto teatral.

TEXTO TEATRAL DEFINIÇÃO E USOS

TEXTO TEATRAL é uma obra literária específica para o teatro, contém os diálogos e as indicações de cena. Sozinho, o texto é apenas literário, transformando-se em teatro quando é encenado.

Tome nota: Pantomima é um teatro gestual que faz o menor uso possível de palavras e o maior uso de gestos através da mímica. É a arte de narrar com o corpo. É uma modalidade cênica que se diferencia da expressão corporal e da dança, basicamente é a arte objetiva da mímica, é um excelente artifício para comediantes, cômicos, palhaços, atores, bailarinos, enfim, os intérpretes.

Com exceção de certas representações como a pantomima, ou das improvisadas como a Commedia Dell’arte; o teatro não é uma arte totalmente autônoma. Precisa, como base, de textos literalmente elaborados. O texto foi, tradicionalmente, o alicerce básico da arte dramática na maioria das culturas, embora isso se tenha verificado de forma mais acentuada no Ocidente. Estes textos literários formam, em seu conjunto, a Literatura Dramática.

As artes cênicas e a literatura dramática, que evoluíram paralelamente, constituem uma unidade indissolúvel, que se materializa na atuação, na representação, no palco.

ELEMENTOS DO TEXTO TEATRAL

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Agora responda:

1) Observe a estrutura da receita.

a) Ele apresenta título?

b) O corpo da receita apresenta duas partes essenciais bem-definidas. Quais são elas?

c) O que contém a primeira parte?

2) Uma receita indica minuciosamente a quantidade de ingredientes e ensina, passo a

passo, como preparar um prato. Observe o emprego dos verbos no modo de preparo.

a) O que eles expressam: dúvida, ordem ou orientação?

b) Na sua opinião, por que na receita os verbos empregados expressam isso?

(A cena passa-se no Rio de Janeiro.) ATO PRIMEIRO Sala ricamente adornada: mesa, consolos, mangas de vidro, jarras com flores, cortinas, etc., etc. No fundo, porta de saída, uma janela, etc., etc. CENA I AMBRÓSIO, só, de calça preta e chambre – No mundo a fortuna é para quem sabe adquiri-la. Pintam-na cega... Que simplicidade! Cego é aquele que não tem inteligência para vê-la e a alcançar. Todo o homem pode ser rico, se atinar com o verdadeiro caminho da fortuna. Vontade forte, perseverança e pertinácia são poderosos auxiliares. Qual o homem que, resolvido a empregar todos os meios, não consegue enriquecer-se? Em mim se vê o exemplo. Há oito anos, era eu pobre e miserável, e hoje sou rico, e mais ainda serei. O como não importa; no bom resultado está o mérito... Mas um dia pode tudo mudar. Oh, que temo eu? Se em algum tempo tiver de responder pelos meus atos, o ouro justificar-me-á e serei limpo de culpa. As leis criminais fizeram-se para os pobres... CENA II Entra Florência, vestida de preto, como quem vai a festa. FLORÊNCIA, entrando – Ainda despido, Sr. Ambrósio? AMBRÓSIO – É cedo. (Vendo o relógio:) São nove horas e o ofício de Ramos principia às dez e meia. FLORÊNCIA – É preciso ir mais cedo para tomarmos lugar. AMBRÓSIO – Para tudo há tempo. Ora dize-me, minha bela Florência... FLORÊNCIA – O que, meu Ambrosinho? AMBRÓSIO – O que pensa tua filha do nosso projeto? FLORÊNCIA – O que pensa não sei eu, nem disso se me dá; quero eu – e basta. E é seu dever obedecer. AMBRÓSIO – Assim é; estimo que tenhas caráter enérgico. FLORÊNCIA – Energia tenho eu. AMBRÓSIO – E atrativos, feiticeira... FLORÊNCIA – Ai, amorzinho! (À parte:) Que marido! AMBRÓSIO – Escuta-me, Florência, e dá-me atenção. Crê que ponho todo o meu pensamento em fazer-te feliz... FLORÊNCIA – Toda eu sou atenção. AMBRÓSIO – Dois filhos te ficaram do teu primeiro matrimônio. Teu marido foi um digno homem e de muito juízo; deixou-te herdeira de avultado cabedal. Grande mérito é esse... FLORÊNCIA – Pobre homem!

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Por meio da leitura desse trecho, notamos que o texto de uma peça de teatro apresenta algumas particularidades que o diferenciam de outros textos literários – como o conto ou romance. Isso acontece porque ele é composto visando à encenação, assim, apresenta em sua estrutura algumas características não presentes nos demais, como atos, cenas, rubricas, à parte.

Agora, vejamos esses elementos textuais do texto teatral com mais atenção.

Ato e Cena

AMBRÓSIO – Quando eu te vi pela primeira vez, não sabia que eras viúva rica. (À parte:) Se o sabia! (Alto:) Amei-te por simpatia. FLORÊNCIA – Sei disso, vidinha. AMBRÓSIO – E não foi o interesse que obrigou-me a casar contigo. FLORÊNCIA – Foi o amor que nos uniu. AMBRÓSIO – Foi, foi, mas agora que me acho casado contigo, é de meu dever zelar essa fortuna que sempre desprezei. (Fonte: MARTINS PENA, L. C. O Noviço. Ediouro, São Paulo, 1997. p. 08-09)

Os atos e as cenas são subdivisões que organizam o texto de uma peça teatral.

Os atos são as subdivisões que marcam uma sequência de eventos. Em O Noviço, por exemplo, temos 3 atos: o primeiro compreende a volta de Carlos, o conhecimento das intenções de seu tio e o aparecimento de Rosa. Já o segundo, se inicia quando o noviço principia a investir contra os planos do tio e termina com a descoberta de seu grande segredo. O terceiro ato, por sua vez, retrata o desfecho da história e a resolução de todos os conflitos. Sendo assim, nessa peça, os acontecimentos são expostos linearmente, ou seja, na ordem em que ocorreram. Isso não é obrigatório, muitas vezes o escritor escolhe uma outra dinâmica para sua obra.

Já cenas são as subdivisões dos atos. Na peça de Martins Pena, as cenas apresentam espaço e tempo contínuos, além de um conjunto fixo de personagens, assim, quando há alteração em um

Curiosidade:

Na Grécia clássica, a peça se dividia em episódios apresentados pelo coro. Até o século XVIII, predominavam as compostas por 3 atos: exposição, clímax, desfecho ou desenlace. Na exposição, as personagens eram apresentadas para os espectadores; no clímax, desenvolvia-se o conflito do enredo e no desenlace ocorria o fim da peça com a resolução do conflito. Shakespeare, um autor inglês, resolveu inovar, escrevendo tragédias e comédias com 5 atos.

desses elementos (novo cenário, entrada e saída de personagens), marca-se o fim de uma cena e o início da seguinte. Na cena I do ato primeiro, transcrita anteriormente, Ambrósio está sozinho, refletindo sobre a possibilidade de perder o dinheiro que adquiriu há pouco tempo. A entrada de sua mulher, Florência, na sala, produz uma alteração no número de personagens presentes no palco, por isso, o autor assinala, nessa parte, o início de uma nova cena.

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Diálogos Em um texto teatral, as falas das personagens

aparecem escritas em forma de diálogos. Isso acontece devido à ausência de narrador, o que se justifica devido a seu próprio caráter, que não visa à leitura, mas sim à encenação. Assim não é necessário que alguém conte a história porque esta é representada, no placo, diante dos espectadores.

Há ainda uma fala especial, indicada como à parte, que é utilizada quando a personagem precisa expressar suas intenções, pensamentos e desejos à plateia. Trata-se de uma convenção do teatro: quando um ator se dirige diretamente aos espectadores significa que se trata de pontos que devem ser conhecidos unicamente por eles, de modo que não são ouvidos pelas outras personagens em cena.

Veja o exemplo a seguir:

Tome nota: Narrador é a perspectiva

através da qual se conta uma história.

Há dois tipos de narrador: observador, quando a narrativa ocorre através de uma perspectiva de fora, e personagem, quando aquele que conta a história participa, de alguma forma do enredo, sendo uma das personagens.

FLORÊNCIA – É preciso ir mais cedo para tomarmos lugar. AMBRÓSIO – Para tudo há tempo. Ora dize-me, minha bela Florência... FLORÊNCIA – O que, meu Ambrosinho? FLORÊNCIA, à parte – Que marido! AMBRÓSIO, à parte – Que tola! (...) AMBRÓSIO – Quando eu te vi pela primeira vez, não sabia que eras viúva rica. (À parte:) Se o sabia! (Alto:) Amei-te por simpatia.

(Fonte: MARTINS PENA, L. C. O Noviço. Ediouro, São Paulo, 1997. p. 09)

Rubricas As rubricas são instruções elaboradas pelos autores das obras que dizem respeito à

caracterização do espaço, tempo, entrada e saída de personagens, enfim, dos aspectos necessários para a encenação da peça. Além disso, as rubricas caracterizam física e psicologicamente as personagens, apresentando figurinos, gestos, tons de voz, expressões, bem como sentimentos e emoções que devem ser expressos pelos atores.

Geralmente as rubricas aparecem nos textos entre parênteses e/ou marcadas em itálico, recebendo, assim, maior destaque.

Observe no trecho abaixo, extraído de O Noviço, as rubricas que descrevem as ações das personagens, situando os atores e indicando-lhes como devem conduzir sua interpretação:

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O texto abaixo foi extraído do prefácio de uma coletânea de peças de Martins Pena. Nele, são apresentadas algumas considerações reflexivas do crítico Raimundo Magalhães Júnior. Leia-o com atenção e responda as atividades 1 e 2.

AMBRÓSIO, só, de calça preta e chambre – No mundo a fortuna é para quem sabe adquiri-la. (...) FLORÊNCIA, entrando – Ainda despido, Sr. Ambrósio? AMBRÓSIO – É cedo. (Vendo o relógio:)

(Fonte: MARTINS PENA, L. C. O Noviço. Ediouro, São Paulo, 1997. p. 08-09)

Como você pode perceber, dentre suas funções estão as de fornecer orientações tanto para os profissionais do teatro (diretor, ator, cenógrafo, iluminador, figurinista), quanto para o próprio leitor. É a partir da leitura das rubricas que se pode construir uma encenação imaginária da obra teatral.

ATIVIDADES

Martins Pena, morto há cem anos, não deve ser avaliado apenas pela sua obra dramática, mas igualmente pela influência que nos legou. E essas influências na verdade estabelecem a tradição inicial e mais autêntica em nosso teatro. Escrevendo numa época em que ainda se tinha o vezo de imitar os clássicos, abandonou os velhos modelos e os temas gastos, para se voltar para a realidade brasileira.

Seu gênio dramático foi eminentemente brasileiro. Escreveu, na realidade, alguns dramas e tragédias de assunto espanhol e português, mas o que dele ficou e ficará, em nossa literatura, e o que constitui a parte mais importante de sua obra, são as comédias como O noviço, Os irmãos das almas, O judas em Sábado de Aleluia, O juiz de paz da roça, etc. Essas comédias estão cheias de preciosas anotações.

Mostram-nos, admiravelmente, o que era o Brasil da Regência e dos primeiros anos do Segundo Reinado. A precária administração da justiça, a ausência de polícia, o recrutamento sui generis, até mesmo as traficâncias e fatos e coisas de antanho, revelam em Martins Pena um agudo espírito crítico, sempre pronto a apontar mazelas e a documentar coisas carecedoras de emenda. Não exagerou Sílvio Romero quando, na sua História da Literatura Brasileira, declarou que, se todos os documentos e fontes históricas nos faltassem, seria possível reconstituir a vida da sociedade brasileira tão somente através das comédias de Martins Pena, porque essas comédias constituem “documentos sociológicos” da maior importância. Podemos dizer que Martins Pena fundou, no Brasil, uma escola – a da comédia de costumes – que não desapareceu nem deve desaparecer do nosso teatro. (Fonte: SANTOS PEREIRA, J. R. Prefácio da Primeira Edição do Instituto Nacional do Livro. In.: MARTINS PENA, L. C. Comédias.

Tecnoprint, Rio de Janeiro, 1968. p. 11)

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1) a) Qual a opinião do crítico sobre a obra de Martins Pena?

b) Que critérios utilizados pelo crítico para avaliar positivamente as obras desse dramaturgo?

2) a) De acordo com Sílvio Romero, um importante crítico e historiador da literatura brasileira, as comédias de Martins Pena, “constituem ‘documentos sociológicos’”, pois apresentam descrições da sociedade brasileira do século XIX e de seus costumes. Tomando como base O Noviço, cite alguns costumes sociais retratados nessa peça.

b) Se você fosse escrever uma comédia de costumes sobre a sociedade brasileira atual, que assuntos (hábitos, crenças, valores, tradições etc.) você abordaria?

3) Leia o excerto da comédia O Avarento, do dramaturgo francês Molière, para responder a próxima questão.

Glossário vezo: hábito ou costume sui generis: nas suas características específicas, peculiares traficâncias: falsidades, enganações de antanho: do passado mazelas: problemas emenda: correção

LA FLÈCHE – (...) Será o senhor um homem capaz de ser roubado, fechando tudo a sete chaves e montando sentinela dia e noite, como faz? HARPAGON – Eu fecho o que bem me parece e faço sentinela como bem entendo!... (baixo, à parte) Será que ele suspeita qualquer coisa sobre os meus dez mil escudos?... (alto) Tu és bastante capaz de espalhar o boato de que eu tenho dinheiro escondido aqui em casa, hein?... LA FLÈCHE – O senhor tem dinheiro escondido aqui?... HARPAGON – (...) (erguendo a mão contra ele) Vai-te embora de uma vez! LA FLÈCHE – Está bem... Eu obedeço... HARPAGON – Espera... Não levas nada? LA FLÈCHE – Que poderia eu levar? HARPAGON – Vem cá. Mostra-me tuas mãos. LA FLÈCHE – Pronto. HARPAGON – As outras. LA FLÈCHE – Eu só tenho estas duas. HARPAGON (indicando os calções de La Flèche) – Não puseste nada aí dentro? LA FLÈCHE – Veja o senhor mesmo. HARPAGON (apalpando os calções) – Esses calções são ótimos para esconder as coisas roubadas. (...) (ele revista os bolsos de La Flèche). LA FLÈCHE (à parte) – Que a peste engula a avareza e os avarentos... (Fonte: MOLIÈRE. O Avarento & As Sabichonas. Tecnoprint, Rio de Janeiro, 1987. p. 80-81)

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a) De que maneira a personagem Harpagon é caracterizada?

b) Neste trecho, o autor fez uso do recurso à parte em falas de Harpagon e de La Flèche. Por que essas falas foram marcadas como à parte?

4) Leia a seguir o trecho da tragédia Antônio José ou o Poeta e a Inquisição, de Gonçalves de Magalhães, encenada inicialmente em 1838, no Rio de Janeiro.

Identifique as rubricas e responda:

a) Que informações elas trazem?

b) De que maneira auxiliam na construção da cena?

FREI GIL – Da parte do Santo Tribunal. (Os Familiares [do Santo Ofício] se apoderam de Antônio José, que corre para Mariana, como para abraçá-la, mas eles o impedem; entretanto Frei Gil se apresenta diante de Mariana, que convulsa e horrorizada mal o vê, e ouvindo aquelas palavras, grita:) MARIANA – Ai! (E cai por terra. Lúcia se ajoelha ao pé do seu corpo, cobrindo com as mãos os olhos, debruça-se sobre ela. Antônio José, seguro pelos braços, dobra os joelhos, lançando o corpo e a cabeça para diante, e procura com os olhos certificar-se do estado de Mariana.) ANTÔNIO JOSÉ – Está morta!... (Firmando-se repentinamente, e fazendo um forte movimento com todo o corpo, grita:) Que eu não possa vingar a sua morte... (Fonte: MAGALHÃES, Gonçalves de apud PRADO, Décio de Almeida. João Caetano. Editora Perspectiva, São Paulo, 1972. p. 24)

Personagens

Logo na primeira página do texto teatral, costuma aparecer uma listagem com as personagens presentes na peça. No caso de O Noviço, temos a seguinte lista:

Personagens AMBRÓSIO. FLORÊNCIA, sua mulher. EMÍLIA, sua filha. JUCA, 9 anos. CARLOS, noviço da Ordem de São Bento. ROSA, provinciana, primeira mulher. PADRE-MESTRE DOS NOVIÇOS. JORGE. JOSÉ, criado. 1 meirinho, que fala. 2 ditos, que não falam. Soldados de Permanentes. (Fonte: MARTINS PENA, L. C. O Noviço. Ediouro, São Paulo, 1997. p. 07)

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Observando essa listagem, percebemos que existe uma série de relações entre Ambrósio, Florência e Emília, membros de uma mesma família, e entre aquele e Rosa, sua primeira mulher. Outras personagens com participação secundária sequer chegam a receber um nome próprio. São elas: padre-mestre dos noviços, um meirinho, outros sujeitos e soldados.

Podemos também inferir certas características sobre algumas personagens. Juca tem 9 anos de idade, Carlos é um noviço da Ordem de São Bento, José é um criado e Rosa é provinciana e ao contrário das demais, não vive na capital.

Outros textos literários geralmente não fazem uma apresentação inicial de todas as personagens que participarão da história. O leitor fica conhecendo quem elas são e suas características ao longo da leitura.

Espaço

Em um texto de uma peça teatral, há dois tipos de espaço: o cênico e o dramático. O espaço cênico é constituído por elementos presentes no palco durante a encenação, podendo ser bastante simples (com apenas um objeto, como uma cadeira, por exemplo), ou mesmo mais elaborado. Já o espaço dramático é o local onde se passa a história. O autor costuma fornecer informações sobre esses cenários nas rubricas ou mesmo nos diálogos.

Em O Noviço, a história tem como espaço dramático a casa de uma família rica que se situa no Rio de Janeiro do século XIX. Já o espaço cênico é, no primeiro e no segundo ato, a sala da casa de Florência, e no terceiro, o quarto de Carlos. A estrutura, objetos, enfeites são apresentados nas rubricas: ATO 1 e 2: (Sala ricamente adornada: mesa, consolos, mangas de vidro, jarras com flores, cortinas, etc., etc. No fundo, porta de saída, uma janela, etc., etc.) ATO 3: (Quarto em casa de Florência: mesa, cadeiras, etc., etc., armário, uma cama grande com cortinados, uma mesa pequena com um castiçal com vela acesa.)

Tempo

O tempo em uma peça teatral também se divide em cênico e dramático. O tempo cênico é a duração da encenação. Um mesmo texto pode ter diferentes

tempos cênicos, variando de acordo com a montagem, que depende das escolhas do diretor e dos atores.

O tempo dramático é o intervalo de tempo no qual se dão os acontecimentos da peça. Pode ser um dia, um mês ou mesmo vários anos. Em O Noviço, as ações dos dois primeiros atos ocorrem no período de um dia; já as ações do terceiro ato iniciam-se após um período de pouco mais de uma semana e terminam no mesmo dia.

Monólogo

Um monólogo é um discurso ou uma fala pronunciada por um indivíduo no qual geralmente são reproduzidos reflexões profundas, conflitos psicológicos, pensamentos e ideias.

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5) Nesta tirinha, um beagle muito sonhador chamado Snoopy, personagem da série Peanuts, de Charles M. Schulz, apresenta uma série de reflexões sobre sua condição. Leia a tirinha para responder a questão, depois, assinale a alternativa correta.

I) Snoopy pode ser considerado o narrador, já que, por meio de pensamentos, ele descreve suas ações, que não seriam inteiramente perceptíveis somente através das imagens. II) A tirinha não pode ser considerada um monólogo, uma vez que outras personagens estão presentes no primeiro quadro. III) O humor encontra-se no fato de Snoopy, por meio da descrição de suas ações, chegar

Outras personagens podem estar presentes enquanto ele fala, mas para se constituir como monólogo, não pode haver nenhuma interação entre eles.

Na peça de Martins Pena, logo na primeira cena há um monólogo. Nela, a personagem Ambrósio expressa suas ponderações e o medo de perder sua fortuna, enquanto está sozinho na sala. Por meio dessa fala, o público conhece o verdadeiro

Ambrósio: um homem ganancioso e oportunista.

Os monólogos são muito comuns em peças de teatro. Quem não conhece a frase “Ser

ou não ser, eis a questão?”, presente num monólogo contido em Hamlet, de Shakespeare,

uma das mais famosas obras da história?

Trecho do monólogo presente na tragédia Hamlet, de Shakespeare: HAMLET - Ser ou não ser, eis a questão: será mais nobre Em nosso espírito sofrer pedras e setas Com que a Fortuna, enfurecida, nos alveja, Ou insurgir-nos contra um mar de provocações E em luta pôr-lhes fim? Morrer.. dormir: não mais. Dizer que rematamos com um sono a angústia E as mil pelejas naturais-herança do homem (...) (Fonte: SHAKESPEARE, William. Hamlet. Tradução de Silva

Ramos, Péricles Eugênio da. Editora Abril, 1976. p. 97)

Hamlet e Horácio, de Eugène Delacroix (1839).

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sozinho à conclusão de que não está fazendo nada realmente útil. IV) A tirinha apresenta uma crítica à escola, que ocupa uma grande parte do tempo das crianças, e nesse ponto ela é equivalente a uma comédia de costumes. V) Snoopy refere a si mesmo como “o fiel cão”, fato que é comprovado ao longo da tirinha. a) I e II estão corretas b) III e IV estão corretas c) I e III estão corretas d) I, III e IV estão corretas e) n.d.a.

No texto a seguir, escrito por Martins Pena e publicado no jornal Correio das moças, em 1839, é narrada a divertida viagem de um jovem, em um ônibus, no começo do século XIX:

TEXTO TEATRAL

PROPOSTA DE PRODUÇÃO TEXTUAL

Minhas aventuras numa viagem de ônibus

Depois de um baile, o que eu gosto mais é de uma viagem no ônibus. Lá, (...), vêem-se cenas sérias, ridículas, engraçadas, enfim tudo o que pode acontecer entre pessoas de diferentes condições.

O modesto cruzado faz o que não tem podido fazer imensidade de livros, e sermões; pois nivela as condições, estabelece uma completa igualdade entre todas as pessoas que o possuem e querem fazer uma viagem nos ônibus. Abençoado ônibus!

Fiquei tão entusiasmado que estou quase fazendo uma minuciosa pintura deles... porém não; isto levaria muito tempo: vou antes dar relação da minha última viagem.

Eu fui um Domingo pela manhã às Laranjeiras com a intenção de voltar à tarde em um ônibus: assim o fiz. Às 6 horas já eu caminhava para comprar o meu bilhete, porém o ônibus ainda não tinha chegado, e eu tive que esperar com mais dois sujeitos que lá estavam.

– Ó Compadre, dizia um deles para o outro, o onis não chega, já é muito tarde, e a Comadre já deve estar arrenegada.

– Não faça caso... oh! ele ali vem! O Compadre tinha razão, o ônibus vinha chegando. – É desaforo - dizia um deles - estas surpresas (empresas) públicas devem ter horas

certas, e não fazerem a gente esperar; há mais de um quarto de hora já nós devíamos estar assentados!

Enfim o ônibus chega, e cada um de nós comprou o seu bilhete. Depois que as pessoas que vinham dentro saíram, eu e os dois Compadres entramos, e nos sentamos. Daí

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a cinco minutos chegou uma bela menina acompanhada de seu Paizinho, e fui tão feliz que ela se assentou junto de mim. Oh! que deliciosa coisa é estar no ônibus assentado junto de uma bela moça! Sobretudo quando ela não traz o chapéu.

Em menos de dez minutos o ônibus estava com pessoas que podia levar, e entre elas (ainda me lembra com zanga) estava um rapaz que me pareceu o namorado da minha vizinha, e que tinha-se assentado defronte dela. Eu estive quase furando-lhe os olhos com a bengala; porém contive-me. (...)

– O senhor Juca ainda não pagou, disse o Recebedor, dirigindo-se para o namorado de minha vizinha.

– Aqui está o dinheiro, e puxando por uma nota de 5$ que ele teve o cuidado de fazer com que sua amada visse, entrega ao Recebedor.

– Eu já lhe dou o troco. – Não é preciso, não é preciso, eu não faço caso de 5$. E depois de mostrar esse

heroico desprezo, olhou impavidamente para a sua amada. Bravo, bravíssimo, disse eu, isto vai às mil maravilhas! Assim é que se namora!

Por mais esforços que fizessem o Recebedor para que o nosso namorado recebesse o troco não foi possível.

Enfim partimos com grande satisfação dos dois Compadres, e ainda não tínhamos dado vinte passos, quando o ônibus passando por uma vala deu um forte salto, e a minha vizinha com um solavanco caiu por cima de mim! Se eu fosse Administrador dos ônibus, mandava fazer valas por todo o caminho, e morava dentro de um deles.

Logo que principiamos a nossa viagem, eu senti que me pisavam no pé; no princípio pensei que seria acaso; porém eu recuava o meu pé, e o outro acompanhava-o sempre pisando. Por fim, estando já um pouco zangado com a teima, olho e vejo que era o nosso namorado que porfiava a pisar no da sua amada! Na verdade, tive vontade de dar uma risada; porém achei que era mais divertido desfrutá-lo um pouco, e logo que tive essa ideia, arrumo o pé que estava livre em cima do pé do sujeito. Oh! Se vissem o prazer que brilhou nos seus olhos! Ele fazia trejeitos, revirava os olhos, lambia os beiços, enfim, todas as asneiras que é capaz de fazer um namorado. O brinquedo já não me ia agradando muito, por que os calos principiaram a doer-me; e o namorado achando pouca sensibilidade no pé, pisava cada vez mais forte; por fim já não podendo aturá-lo por ter machucado o meu melhor calo, disse-lhe muito arrebatadamente. – O Senhor pretende alguma coisa? Se me quer falar não é preciso pisar-me. Todos olhavam espantados para mim, o sujeitinho ficou branco como a cal, e a minha bela vizinha olhou para mim com tanta raiva que quase lhe disse: – Minha bela Senhora, ainda que eu tenha muita sensibilidade nos pés, pode pisar neles todas as vezes que quiser.

Porém como não queria envergonhá-la, e como também o Paizinho já olhava de través para mim, calei-me, e no meio de seus arrufos, e das ameaças que me fazia o namorado chegamos ao Largo do Machado. (...) A minha ex-vizinha deu o braço ao Paizinho, e encaminharam-se para a rua dos Ciganos, e o namorado, que tinha talvez que fazer, e não podia acompanhá-la, ficou com olhos de lula, até que ela desapareceu.

Eu fui para casa, jurando passear nos ônibus todas as vezes que pudesse.

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6) a) Que estratégias são utilizadas pelo namorado, ou nas palavras do narrador “asneiras que é capaz de fazer um namorado”, a fim de impressionar e conquistar a moça? b) Qual o significado da expressão “olhos de lula”? Você conhece alguma com sentido equivalente? 7) a) Se você fosse um diretor de teatro e quisesse montar uma peça baseada nesse texto, como seria o cenário no qual se passaria a cena? Descreva-o, escolhendo os elementos que deveriam estar no palco para a representação. Determine também o local e a época nos quais se passaria a história. b) Faça uma lista das personagens que estarão em cena, com uma breve descrição de cada uma delas, como as encontradas no início dos textos teatrais. c) Utilizando as respostas da questão anterior, adapte este texto para o teatro. Elabore diálogos e rubricas que substituam os comentários e descrições do narrador. Para expressar os pensamentos durante a ação, você pode utilizar o recurso à parte.

Leia o texto a seguir, de Rubem Braga e, em seguida, siga a proposta abaixo:

AVALIE TEXTO TEATRAL

Observe se o diálogo em que o texto está estruturado mostra o desenvolvimento das ações e seu desfecho; se há indicação de cenário e se as rubricas de movimento e de interpretação estão indicadas com letras de tipo diferente ou com caneta colorida; e, se a linguagem empregada está adequada às personagens e ao contexto.

Glossário cruzado: moeda corrente na época, com o valor de 400 réis onis: forma popular para ônibus arrenegada: nervosa porfiava: insistia, teimava arrufos: mau humor (Fonte: MARTINS PENA. Correio das moças, 1839. Texto com atualização ortográfica.)

TEXTO TEATRAL

PROPOSTA DE PRODUÇÃO TEXTUAL II

Tuim criado no dedo João-de-barro é um bicho bobo que ninguém pega, embora goste de ficar perto da gente, mas de dentro daquela casa de João-de-barro vinha uma espécie de choro, um chorinho fazendo tuim, tuim, tuim....

A casa estava num galho alto, mas um menino subiu até perto, depois com uma vara de bambu conseguiu tirar a casa sem quebrar e veio baixando até o outro menino apanhar. Dentro, naquele quartinho que fica bem escondido depois do corredor de entrada para o vento não incomodar, havia três filhotes, não de João-de-barro, mas de tuim.

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Você conhece, não? De todos esses periquitinhos que tem no Brasil, tuim é capaz de ser menor. Tem bico redondo e rabo curto e é todo verde, mas o macho tem umas penas azuis para enfeitar. Três filhotes, um mais feio que o outro, ainda sem penas, os três chorando.

O menino levou-os para casa, inventou comidinhas para eles, um morreu, outro morreu, ficou um. Geralmente se cria em casa é casal de tuim, especialmente para se apreciar o namorinho deles.

Mas aquele tuim macho foi criado sozinho e, como se diz na roça, criado no dedo. Passava o dia solto, esvoaçando em volta da casa da fazenda, comendo sementinhas de imbaúba. Se aparecia uma visita fazia-se aquela demonstração: era o menino chegar na varanda e gritar para o arvoredo: tuim, tuim, tuim! Às vezes demorava, então a visita achava que aquilo era brincadeira do menino, de repente surgia a ave, vinha certinho pousar no dedo do garoto.

Mas o pai disse: "menino, você está criando muito amor a esse bicho, quero avisar: tuim é acostumado a viver em bando. Esse bichinho se acostuma assim, toda tarde vem procurar sua gaiola para dormir, mas no dia que passar pela fazenda um bando de tuins, adeus. Ou você prende o tuim ou ele vai embora com os outros, mesmo ele estando preso e ouvindo o bando passar, está arriscado ele morrer de tristeza".

E o menino vivia de ouvido no ar com medo de ouvir bando de tuim. Foi de manhã, ele estava cantando minhoca para pescar quando viu o bando chegar, não tinha engano: era tuim, tuim, tuim... Todos desceram ali mesmo em mangueiras, mamonas e num bambuzal, dividido em partes. E o seu? Já tinha sumido, estava no meio deles, logo depois todos sumiram para uma roça de arroz, o menino gritava com o dedinho esticado para o tuim voltar, mas nada dele vir.

Só parou de chorar quando o pai chegou a cavalo, soube da coisa e disse: " venha cá". E disse: "o senhor é um homem, estava avisado do que ia acontecer, portanto, não chore mais".

O menino parou de chorar, porque pois seu pai o havia consolado, mas como doía seu coração! De repente, olhe o tuim na varanda! Foi uma alegria na casa que foi uma beleza, até o pai confessou que ele também estivera muito infeliz com o sumiço do tuim.

Houve quase um conselho de família, quando acabaram as férias: deixar o tuim, levar o tuim para São Paulo? Voltaram para a cidade com o tuim, o menino toda hora dando comidinha a ele na viagem. O pai avisou: "aqui na cidade ele não pode andar solta, é um bicho da roça e se perde, o senhor está avisado".

Aquilo encheu de medo o coração do menino. Fechava as janelas para soltar o tuim dentro de casa, andava com ele no dedo, ele voava pela sala, a mãe e a irmã não aprovavam, o tuim sujava dentro de casa.

Soltar um pouquinho no quintal não devia ser perigo, desde que ficasse perto, se ele quisesse voar para longe era só chamar, que voltava, mas uma vez não voltou. De casa em casa, o menino foi indagando pelo tuim: "que é tuim?" perguntavam pessoas ignorantes. "Tuim?" Que raiva! Pedia licença para olhar no quintal de cada casa, perdeu a hora de almoçar e ir para a escola, foi para outra rua, para outra. Teve uma ideia, foi ao armazém de "seu" Perrota: "tem gaiola para vender?" Disseram que tinha. " Venderam alguma gaiola hoje?" Tinham vendido uma para uma casa ali perto.

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Proposta:

Adapte este texto para o teatro. Elabore

diálogos e rubricas que substituam os comentários e

descrições do narrador. Para expressar os pensamentos

durante a ação, você pode utilizar o recurso à parte.

Foi lá, chorando, disse ao dono da casa: "se não prenderam o meu tuim então por que o senhor comprou gaiola hoje?"

O homem acabou confessando que tinha aparecido um periquitinho verde sim, de rabo curto, não sabia que chamava tuim. Ofereceu comprar, o filho dele gostara tanto, ia ficar desapontado quando voltasse da escola e não achasse mais o bichinho. "Não senhor, o tuim é meu, foi criado por mim".

Voltou para casa com o tuim no dedo. Pegou uma tesoura: era triste, era uma judiação, mas era preciso, cortou as asinhas, assim o bichinho poderia andar solto no quintal, e nunca mais fugiria.

Depois foi dentro de casa para fazer uma coisa que estava precisando fazer, e, quando voltou para dar comida a seu tuim, viu só algumas penas verdes e as manchas de sangue no cimento. Subiu num caixote para olhar por cima do muro, e ainda viu o vulto de um gato ruivo que sumia. Fonte: (http://emilytrevizan.blogspot.com.br/2011/04/tuim-criado-no-dedo-rubem-braga.html)

AVALIE TEXTO TEATRAL

Observe se o diálogo em que o texto está estruturado mostra o desenvolvimento das ações e seu desfecho; se há indicação de cenário e se as rubricas de movimento e de interpretação estão indicadas com letras de tipo diferente ou com caneta colorida; e, se a linguagem empregada está adequada às personagens e ao contexto.