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Roma: transformações durante a República

Marcello Paniz Giacomoni

Os grupos que formaram a cidade de Roma, durante o período inicial e a Monarquia, deram origem aos Patrícios (descendentes dos primeiros habitantes das sete colinas), Plebeus (populações que se mudaram para a cidade, principalmente após a passagem da rota comercial pela ponte no rio Tibre, e eram formados por comerciantes, artesãos e pobres) e Escravos (homens e mulheres capturados em conquistas e plebeus escravizados por dívidas).

Em 509 a.C., um grupo de patrícios, insatisfeitos com as políticas pró-plebeus do rei etrusco, expulsaram-no de Roma e proclamaram a República (res publica = coisa pública), uma forma de governo com cargos eletivos, e onde apenas parte da população masculina tinha direitos políticos. Era dividida entre o Consulado, Senado e Assembleia das Centúrias. A Assembleia era composta pela população, desde que possuísse uma quantidade mínima de bens (em especial, terras). Ela elegia os Cônsules, dois chefes do governo que administravam o Estado durante um ano; eles comandavam o exército, eram os juízes e tinham iniciativa na criação de leis. Em momentos de crise, os Cônsules podiam indicar um Ditador, com poderes ilimitados durante um período de seis meses. Já o Senado era um órgão consultivo, que administrava as finanças e a política externa, além de poderem vetar decisões dos Cônsules.

Em um momento inicial, durante o início do século VI a.C., os patrícios tentaram manter todos os poderes e privilégios para si, controlando o Estado e as assembleias, o que ocasionou a Luta de Ordens, uma série de conflitos com os plebeus. Esses plebeus sofriam a escravidão por dívidas, eram discriminados nos tribunais (controlados pelos patrícios), eram proibidos os casamentos entre as classes, não tinham representantes nem leis escritas. Usando da ameaça de abandonar a cidade, o que deixaria os patrícios sem impostos, trabalhadores e o exército que protegia a cidade, durante mais de dois séculos os plebeus conquistaram direitos. Ao longo da luta, no início do século V a.C., os plebeus ganharam o direito de formar sua própria assembleia, que elegia os Tribunos da plebe, instituição sagrada que defendia os direitos dos plebeus. Em 450 a.C., a Lei das XII Tábuas, inscritas em 12 placas de bronze, tornava as leis acessíveis a todos, e não mais controladas pelos patrícios.

Mesmo antes de virar uma república, os romanos já mostravam-se bons e disciplinados guerreiros. Nada era mais honroso para eles, sejam patrícios ou plebeus, do que a glória militar. A partir desses valores, as conquistas de territórios logo vieram. No inicio, as conquistas serviam para eliminar ameaças à cidade, e ocupar terras para onde eram destinados plebeus pobres (evitando mais conflitos na cidade). Logo, Roma possuía tantas alianças que rapidamente era arrastada para guerras que não desejava. Foi o que aconteceu na guerra contra Cartago.

Cartago era uma antiga colônia fenícia, onde atualmente fica a Tunísia. Através do comércio e da forte marinha, conquistou um grande império no norte da África, além das ilhas da Córsega, Sardenha e parte da Sicília. Ao interessar-se pela cidade de Messana, ao norte da Sicília, os Romanos interviram, com medo de que os púnicos (como eram conhecidos os

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fenícios) atacassem as cidades aliadas ao sul da Itália. Roma atacou, em 264 a.C. e a guerra durou mais de 20 anos. Ambos os lados tiveram perdas imensas, mas o potencial humano dos Romanos, ou seja, a capacidade desses recrutarem muitos soldados nas cidades italianas, foi decisivo. Com isso, Roma ganhou a Sicília, a Córsega e a Sardenha, e iniciou o seu império.

Uma geração mais tarde, em, Cartago inicia sua recuperação atacando e conquistando diversos territórios na Espanha. Aníbal, um dos grandes gênios militares da antiguidade, cruzou os Alpes em 218 a.C. com um grande exército de homens e elefantes, atacando a Itália. Ao longo de 17 longos anos, Roma perdeu grandes batalhas (como a de Canas, onde um exército de 60 mil soldados foi dizimado), mas acabou contra-atacando e vencendo na própria África. Com tal vitória, acrescentou a Espanha e diversas partes da África ao seu império. Logo após, Roma rapidamente envolveu-se em guerras na Grécia e na Ásia Menor (atual Turquia), anexando diversas dessas regiões. Em 149 a.C., a terceira e última guerra púnica arrasa o que restara de Cartago. A cidade foi destruída até o chão, todos os habitantes mortos ou vendidos como escravos, e os solos arados com sal, para que nada mais crescesse naquela região. Em 146 a.C., Roma tornou-se a senhora de quase todo mar mediterrâneo.

Além de ter enriquecido muitos homens da elite romana, comerciantes e pessoas envolvidas nas operações, a guerra trouxe uma consequência fatal para a República. Até então, o exército era recrutado entre pequenos proprietários romanos, pois julgava-se que apenas era apto a lutar aquele que possuísse bens pelos quais lutar. Era um sistema de cidadãos-soldados, onde ser um legionário era uma grande honra, e também um direito do cidadão. Durante as guerras púnicas (e outras que se seguiram), os soldados permaneceram em serviço durante 20 ou 30 anos. Nesse período, a maioria deles perdeu suas terras, abandonadas pela família (que não conseguia cuidar das mesmas), compradas ou simplesmente tomadas por vizinhos poderosos. As terras se concentravam nas mãos de poucos, que também não ofereciam empregos para esses “sem terras”, já que era muito mais barato ter escravos, vindos em abundância depois das conquistas. Esses homens sem terra acabavam indo para Roma, tornando-se proletários (aqueles que não possuem nada além de sua prole, ou seus filhos). Roma não conseguia mais montar um exército de pequenos proprietários.

Alguns nobres deram-se conta que tal processo poderia representar o próprio fim da sociedade romana, onde o exército de cidadãos-soldados era muito importante. Dois desses patrícios, Tibério e Caio Graco, propuseram que as terras do ager publicus, que pertenciam ao próprio Estado Romano, fossem distribuídas em pequenos lotes aos proletários romanos. Muitos patrícios, que ao longo dos anos haviam ocupado vastas porções dessas terras do Estado, se opuseram violentamente à essas medidas. Tibério e Caio Graco foram assassinados, e as propostas de distribuição de terras nunca se efetivaram.

Aquilo que os irmãos previram, de alguma forma ocorreu anos mais tarde. Em 107 a.C, o General Mário obrigou-se a recrutar um exército composto apenas por proletários. A fidelidade dos soldados, que antes era à República, da qual faziam parte, passou a ser direcionada apenas ao comandante militar, que lhes garantia saques e recompensas. Sila, Pompeu e Júlio César foram alguns desses homens, que ganharam a fidelidade dos soldados, e os utilizaram conforme seus interesses. O exército não era mais um instrumento do governo, mas um patrimônio pessoal dos generais.