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TEXTO BASE NOÇÕES DE EMPREENDEDORISMO Prof. João Ribeiro

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  • TEXTO BASE

    NOES DEEMPREENDEDORISMO

    Prof. Joo Ribeiro

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    So Caetano do Sul, 2013

  • 3Sumrio

    UNIDADE 1 - CONCEITOS BSICOS

    CONCEITOS BSICOS .....................................................................6

    O sentido do trabalho e do empreendimento .................................6

    Empreendimento, empreendedor e empreendedorismo ................10

    Intraempreendedorismo ...............................................................13

    Empreendedorismo social .............................................................13

    O contexto do empreendedorismo e sua importncia

    para a economia ..........................................................................15

    Leitura complementar ...................................................................18

    UNIDADE 2 - O INDIVDUO EMPREENDEDOR

    CONCEITOS BSICOS ...................................................................34

    As competncias do empreendedor ..............................................34

    A importncia da viso estratgica ...............................................39

    Os conceitos de misso e objetivos ...............................................42

    A relao entre conceitos .............................................................45

    Leitura complementar ...................................................................46

  • 4UNIDADE 3 - A OPORTUNIDADE

    A OPORTUNIDADE .......................................................................58

    Introduo ...................................................................................58

    A diferena entre ideias e oportunidades ......................................58

    Identificao de oportunidades .....................................................60

    Fontes de novas ideias ..................................................................63

    Anlise de viabilidade ...................................................................66

    Leitura complementar ...................................................................74

    UNIDADE 4 - O PLANO DE NEGCIOS

    O PLANO DE NEGCIOS ..............................................................80

    Definio ......................................................................................80

    Finalidades e benefcios ................................................................81

    Estrutura do plano de negcios ....................................................83

    Pblicos interessados e suas necessidades .....................................86

    Financiando um novo empreendimento ........................................88

    Apresentao do plano de negcios .............................................94

    CONCLUSO .................................................................................99

    Leitura complementar .................................................................100

    REFERNCIAS ...............................................................................114

  • Conceitos bsicos

    UN

    IDA

    DE 1

    CONCEITOS BSICOS ...........................................6

    O sentido do trabalho e do empreendimento .......6

    Empreendimento, empreendedor e

    empreendedorismo ............................................10

    Intraempreendedorismo .....................................13

    Empreendedorismo social ...................................13

    O contexto do empreendedorismo e sua

    importncia para a economia .............................15

    Leitura complementar .........................................18

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    Noes de empreendedorismo

    Conceitos bsicos

    CONCEITOS BSICOS

    O sentido do trabalho e do empreendimento;

    Empreendimento, empreendedor e empreendedorismo;

    Intraempreendedorismo;

    Empreendedorismo social;

    O contexto do empreendedorismo e sua importncia para a economia.

    O SENTIDO DO TRABALHO E DO EMPREENDIMENTO

    O trabalho ainda conserva um lugar importante na sociedade. Segundo Morin

    (2001), mais de 80% das pessoas continuariam trabalhando mesmo que tivessem

    bastante dinheiro para viver o resto de sua vida confortavelmente sem trabalhar. As

    principais razes so as seguintes: para se relacionar com outras pessoas, para ter o

    sentimento de vinculao, para ter algo que fazer, para evitar o tdio e para ter um

    objetivo na vida.

    O trabalho representa um valor importante e exerce uma influncia considervel

    sobre a motivao dos trabalhadores, bem como sobre a sua satisfao. Quais seriam

    ento as caractersticas do trabalho que tenha um sentido para aqueles que o realizam?

    Hackman e Oldham (1976) propuseram um modelo que tenta explicar como as

    interaes, as caractersticas de um emprego e as diferenas individuais influenciam

    a motivao, a satisfao e a produtividade dos trabalhadores.

    Segundo esse modelo, trs caractersticas contribuem para dar sentido ao trabalho:

    a variedade das tarefas: a capacidade de um trabalho requerer uma variedade de

    tarefas que exigem uma variedade de competncias;

    a identidade do trabalho: a capacidade de um trabalho permitir a realizao de

    algo do comeo ao fim, com um resultado tangvel, identificvel;

    o significado do trabalho: a capacidade de um trabalho ter um impacto significati-

    vo sobre o bem-estar ou sobre o trabalho de outras pessoas, seja em sua organiza-

    o, seja no ambiente social.

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    Noes de empreendedorismoC

    onceitos bsicos

    Para Emery (1964, 1976) e Trist (1978), o trabalho deve apresentar essencialmente

    seis propriedades para estimular o engajamento daquele que o realiza:

    A variedade e o desafio: o trabalho deve ser razoavelmente exigente em outros

    termos que o de resistncia fsica e incluir variedade. Esse aspecto permite reco-

    nhecer o prazer que podem trazer o exerccio das competncias e a resoluo dos

    problemas;

    A aprendizagem contnua: o trabalho deve oferecer oportunidades de aprendiza-

    gem em uma base regular. Isso permite estimular a necessidade de crescimento

    pessoal;

    Uma margem de manobra e autonomia: o trabalho deve invocar a capacidade de

    deciso da pessoa. Devem-se reconhecer a necessidade de autonomia e o prazer

    retirado do exerccio de julgamentos pessoais no trabalho;

    O reconhecimento e o apoio: o trabalho deve ser reconhecido e apoiado pelos ou-

    tros na organizao. Esse aspecto estimula a necessidade de afiliao e vinculao;

    Uma contribuio social que faz sentido: o trabalho deve permitir a unio entre o

    exerccio de atividades e suas consequncias sociais. Isso contribui construo da

    identidade social e protege a dignidade pessoal. Esse mbito do trabalho reconhe-

    ce o prazer de contribuir para a sociedade;

    Um futuro desejvel: o trabalho deve permitir a considerao de um futuro dese-

    jvel, incluindo atividades de aperfeioamento profissional. Isso reconhece a espe-

    rana como um direito humano.

    Para Morin (2004), os modelos apresentados acima tm vrios pontos em comum.

    Entre outros, o homem trabalha pela possibilidade de realizar algo que tenha sentido,

    de praticar e de desenvolver suas competncias, de exercer seus julgamentos e seu

    livre-arbtrio, de conhecer a evoluo de seus desempenhos e de se ajustar. De igual

    maneira importante que os trabalhadores possam desenvolver o sentimento de

    vinculao e que possam atuar em condies apropriadas.

    Em sua pesquisa, Morin (2004) identificou seis caractersticas do trabalho que tem

    sentido:

    1. Um trabalho que tem sentido feito de maneira eficiente e gera resultados

    O trabalho uma atividade produtiva que agrega valor a alguma coisa. A maneira

    como os indivduos trabalham e o que eles produzem tm um impacto sobre o que

    pensam e na maneira como percebem sua liberdade e sua independncia. O pro-

    cesso de trabalho, assim como seu fruto, ajuda o indivduo a descobrir e formar sua

    identidade.

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    Noes de empreendedorismo

    Conceitos bsicos

    2. Um trabalho que tem sentido intrinsecamente satisfatrio

    O prazer e o sentimento de realizao que podem ser obtidos na execuo de ta-

    refas do um sentido ao trabalho. A execuo de tarefas permite exercer talentos e

    competncias, resolver problemas, fazer novas experincias, aprender e desenvolver

    habilidades. O interesse do trabalho em si mesmo est associado, por um lado, ao

    grau de correspondncia entre as exigncias do trabalho e, por outro, ao conjunto de

    valores, de interesses e de competncias do indivduo.

    Um trabalho que tem sentido aquele que corresponde personalidade, aos talen-

    tos e aos desejos delas. O interesse de tal trabalho tambm se origina das possibilidades

    que ele oferece para provar seus valores pessoais e para realizar suas ambies. Este

    permite realizao, dando oportunidades para vencer desafios ou perseguir ideais.

    3. Um trabalho que tem sentido moralmente aceitvel

    O trabalho uma atividade que se inscreve no desenvolvimento de uma sociedade; ele

    deve, portanto, respeitar as prescries relativas ao dever e ao saber viver em sociedade,

    tanto em sua execuo como nos objetivos que ele almeja e nas relaes que estabele-

    ce. Em outras palavras, o trabalho deve ser feito de maneira socialmente responsvel.

    Vrios administradores mostraram-se preocupados com as contribuies do tra-

    balho para a sociedade. O fato de fazer um trabalho pouco til, que no comporta

    nenhum interesse humano, em um meio ambiente onde as relaes so superficiais,

    contribui para tornar o trabalho absurdo.

    4. Um trabalho que tem sentido fonte de experincias de relaes humanas satisfatrias

    O trabalho tambm uma atividade que coloca as pessoas em interao umas com

    as outras. Essa caracterstica aparece de maneira consistente, o que sinal de sua

    importncia para a organizao do trabalho. Vrios administradores reportaram que

    um trabalho que tem sentido permite lhes encontrar pessoas com quem os contatos

    podem ser francos, honestos, com quem se pode ter prazer em trabalhar, mesmo em

    projetos difceis.

    Um trabalho que tem sentido permite ajudar os outros a resolver seus problemas,

    prestar- lhes um servio, ter um impacto sobre as decises tomadas pelos dirigentes,

    ser reconhecido por suas habilidades e contribuies ao sucesso dos negcios. As sa-

    tisfaes podem ser adquiridas na associao com os outros no trabalho e durante as

    trocas com os clientes, superiores e colaboradores. Nesse sentido, o trabalho permite

    passar por cima dos problemas existenciais, como a solido e a morte.

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    onceitos bsicos

    5. Um trabalho que tem sentido garante a segurana e a autonomia

    O trabalho est claramente associado noo de renda. A renda que ele propicia

    permite prover as necessidades de base, prov sentimento de segurana e possibilita

    ser autnomo e independente. Para a maioria dos administradores, ganhar a vida

    sinnimo de ganhar o respeito dos outros e, assim, preservar sua dignidade pessoal

    aos olhos dos outros. Isso no impede se considerar as condies nas quais o trabalho

    se realiza, pois elas so importantes aos olhos dos trabalhadores. Alm do mais, as

    exigncias de desempenho e o estresse so os principais fatores que contribuem para

    deteriorar a experincia no trabalho. Por isso, muitos procuram um equilbrio entre

    vida profissional e vida privada.

    6. Um trabalho que tem sentido aquele que nos mantm ocupados

    O trabalho tambm uma atividade programada, com um comeo e um fim, com

    horrios e rotina. Ele estrutura o tempo: os dias, as semanas, os meses, os anos, a

    vida profissional. , assim, uma atividade que estrutura e permite organizar a vida

    diria e, por extenso, a histria pessoal.

    Isso ainda mais marcante para os administradores que perderam seu emprego.

    Estes dizem que o trabalho uma necessidade, uma dimenso importante de suas

    vidas, que lhes ajuda a se situar, que ocupa o tempo da vida e que lhe d um sentido,

    sobretudo quando eles tm a possibilidade de escolher seu caminho e fizer qualquer

    coisa que esteja de acordo com suas personalidades e seus valores.

    Concluindo-se, o homem trabalha porque busca uma satisfao, no desenvolvi-

    mento e aplicao de suas competncias, na oportunidade de testar suas capaci-

    dades, com o objetivo de estimular suas necessidades de crescimento pessoal e seu

    senso de responsabilidade.

    Por que o homem cria empresas?

    Em administrao, as empresas ou firmas so organizaes que produzem e ven-

    dem bens e servios, que contratam e utilizam fatores de produo, que podem ser

    classificados em primrias ou secundrias. A Teoria da Firma, ou Teoria de Empresa,

    foi um conceito criado pelo economista britnico Ronald Coase, em seu artigo The

    Nature of Firm, de 1937.

    Segundo essa teoria, as firmas trabalham com o lado da oferta de mercado, ou

    seja, com os produtos que vo oferecer aos consumidores, como bens e servios

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    Noes de empreendedorismo

    Conceitos bsicos

    produzidos. As firmas so de extrema importncia para os mercados, pois renem o

    capital e o trabalho para realizar a produo e so as responsveis por agregar valor

    s matrias-primas utilizadas nesse processo, com uso de tecnologia.

    As empresas produzem conforme a demanda do mercado e a oferta ajustada por

    aqueles que esto dispostos a consumir. As empresas existem como um sistema alter-

    nativo ao mecanismo de preos de mercado, quando mais eficiente para produzir

    em um ambiente no-mercado.

    Por exemplo, em um mercado de trabalho pode ser muito difcil ou custoso para

    as empresas ou organizaes produzirem bens e servios quando se tm de contratar

    e despedir os seus trabalhadores a todo o momento em funo das condies de

    demanda procura / oferta. Tambm pode ser dispendioso para os funcionrios mu-

    darem a cada dia de empresa procura de melhores alternativas. Assim, as empresas

    realizam um contrato de longo prazo com seus empregados para minimizar o custo.

    EMPREENDIMENTO, EMPREENDEDOR E EMPREENDEDORISMO

    Empreendedorismo, segundo Dolabela (1999) um neologismo derivado da livre

    traduo da palavra entrepreneurship e utilizado para designar os estudos relativos

    ao empreendedor, seu perfil, suas origens, seu sistema de atividades, seu universo

    de atuao. A palavra empreendedor utilizada para designar principalmente as

    atividades de quem se dedica gerao de riquezas, seja na transformao de co-

    nhecimentos em produtos ou servios, na gerao do prprio conhecimento ou na

    inovao em reas como marketing, produo, organizao etc.

    Para Hisrich (2004), a definio de empreendedor evoluiu com o decorrer do tem-

    po, medida que a estrutura econmica mundial mudava e tomava-se mais comple-

    xa. Desde seu incio, na Idade Mdia, quando era usada para se referir a ocupaes

    especficas, a noo de empreendedor foi refinada e ampliada, passando a incluir

    conceitos relacionados com a pessoa, em vez de com sua ocupao. Os riscos, a ino-

    vao e a criao de riqueza so exemplos dos critrios que foram desenvolvidos

    medida que evolua o estudo da criao de novos negcios.

    Neste texto, o empreendedorismo definido como o processo de criar algo novo

    com valor, dedicando-se o tempo e o esforo necessrios, assumindo os riscos finan-

    ceiros, psicolgicos e sociais, e recebendo as recompensas consequentes da satisfa-

    o e da independncia pessoal e econmica.

    De acordo com Greco (2010), o empreendedorismo pode ser por oportunidade

    ou por necessidade. No empreendedorismo por oportunidade, os empreendedores

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    Noes de empreendedorismoC

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    iniciam o seu negcio por vislumbrarem uma oportunidade no mercado para em-

    preender e como forma de melhorar sua condio de vida. No empreendedorismo

    por necessidade, as pessoas empreendem como nica opo, ou seja, pela falta de

    melhores alternativas profissionais, assumindo assim mais riscos.

    O empreendedorismo por oportunidade mais benfico para a economia dos pa-

    ses, onde os empreendedores tm maiores chances de sobrevivncia e de sucesso.

    Porm, mesmo o empreendedorismo por necessidade pode gerar oportunidades de

    negcios e se transformar em empreendimentos por oportunidade.

    A seguir encontra-se a evoluo histrica do conceito de empreendedorismo.

    Tabela 1.1 - Evoluo da teoria do empreendedorismo

    Perodo inicial

    Empreendedor como intermedirio aventureiro.Ex: Marco Polo buscando rotas comerciais para o Oriente.

    Idade Mdia

    Administrador de grandes projetos, sem riscos (geralmente do governo).Ex: Clrigo: pessoa encarregada de obras arquitetnicas.

    Sculo XVII

    Pessoa que assume riscos de lucro (ou prejuzo) em um contrato de valor fixo com o governo; indivduo que se arrisca e d incio a algo novo.

    Sculo XVIII1725

    Cantillon: a pessoa que assume riscos diferente da que fornece capital.

    1793

    Eli Whitney inventa o descaroador de algodo, que trouxe prosperidade ao sul dos Estados Unidos e lucros milionrios aos produtores de algodo.Um investidor de risco um administrador profissional que faz investimentos a partir de um montante de capital prprio; o empreendedor usurio deste capital.

    Sculo XIX1803

    Jean Baptiste: lucros do empreendedor separados do lucro do capital.

    1868Thomas Edson: inicia pesquisas em qumica e eletricidade financiadas por investidores.

    1876Francis Walker: distinguiu entre os que forneciam fundos e recebiam juros e aqueles que obtinham lucros com habilidades administrativas.

    Sculo XX1934

    Joseph Schumpeter: o empreendedor um inovador e desenvolve tecnologia que ainda no foi testada.

    1961 David McClelland: empreendedor algum dinmico que corre riscos moderados.

    1964 Peter Drucker: o empreendedor maximiza oportunidades.

    1975Albert Shapiro: o empreendedor toma iniciativa, organiza alguns mecanismos sociais e econmicos, e aceita riscos de fracasso.

    1980Karl Vsper: o empreendedor visto de modo diferente por economistas, psiclogos, negociantes e polticos.

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    Noes de empreendedorismo

    Conceitos bsicos

    1983Gifford Pinchot: o intraempreendedor um empreendedor que atua dentro de uma organizao j estabelecida.

    1985

    Robert Hisrich: o empreendedorismo o processo de criar algo diferente e com valor, dedicando o tempo e o esforo necessrio, assumindo riscos financeiros, psicolgicos e sociais correspondentes e recebendo as consequentes recompensas da satisfao econmica e pessoal.

    1991 Fillion: empreendedor aquele que imagina, desenvolve e realiza vises.

    1993Stevenson: empreendedorismo o processo de criao de valor pela utilizao de forma diferente dos recursos, buscando explorar uma oportunidade.

    Fonte: adaptado de Hisrich, Peters, 2004.

    No se pode dissociar o empreendedor de seu empreendimento, a empresa que

    criou. Ambos fazem parte do mesmo conjunto e devem ser percebidos de forma ho-

    lstica: o empreendimento tem a cara de seu dono.

    A Tabela 2 apresenta sete perspectivas para o termo empreendedorismo. Como

    se pode notar, ele pode ser aplicado a qualquer organizao em que uma ou mais

    dessas perspectivas possam se fazer presentes, independentemente de essa organi-

    zao j existir ou estar em fase de criao, bem como de seu porte, forma que est

    estruturada e mercados onde atua.

    Tabela 1.2 Sete perspectivas para a natureza do empreendedorismo

    Criao de Riqueza

    Empreendedorismo envolve assumir riscos calculados associados com as facilidades de produzir algo em troca de lucros.

    Criao de Empresa

    Empreendedorismo est ligado criao de novos negcios, que no existiam anteriormente.

    Criao da Inovao

    Empreendedorismo est relacionado combinao nica de recursos que fazem os mtodos e produtos atuais ficarem obsoletos.

    Criao da Mudana

    Empreendedorismo envolve a criao da mudana, atravs do ajuste, adaptao e modificao da forma de agir das pessoas, abordagens, habilidades, que levaro identificao de diferentes oportunidades.

    Criao de Emprego

    Empreendedorismo no prioriza, mas est ligado criao de empregos, j que as empresas crescem e precisaro de mais funcionrios para desenvolver suas atividades.

    Criao de Valor

    Empreendedorismo o processo de criar valor para os clientes e consumidores atravs de oportunidades ainda no exploradas.

    Criao de Crescimento

    Empreendedorismo pode ter um forte e positivo relacionamento com o crescimento das vendas da empresa, trazendo lucros e resultados positivos.

    Fonte: Morris, 1998.

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    INTRAEMPREENDEDORISMO

    Dornelas (2004) afirma que a ideia de se aplicar os conceitos chaves relacionados

    ao empreendedorismo (busca de oportunidade, inovao, fazer diferente, criao de

    valor) a organizaes j estabelecidas no recente. A primeira referncia de que

    se tem notcia sobre o tema data do incio da dcada de oitenta do sculo passado,

    quando Gifford Pinchot (PINCHOT, 1985) cunhou o termo intrapreneurship, ao pu-

    blicar o livro Intrapreneuring, no qual mostrava como o empreendedorismo poderia

    ser aplicado e praticado em organizaes existentes. Destacava, tambm, o papel do

    empreendedor dentro dessas organizaes e como a inovao poderia ser buscada e

    desenvolvida pela aplicao do empreendedorismo interno para tal objetivo.

    A partir dos estudos de Pinchot, muitos outros estudos e pesquisas relacionados ao

    tema tm sido feitos, nos quais se analisam empresas com foco na inovao para se

    entender melhor como o empreendedorismo corporativo se desenvolve.

    O empreendedorismo corporativo ou Intraempreendedorismo pode ser definido

    como a identificao, o desenvolvimento, a captura e a implementao de novas

    oportunidades de negcio (DORNELAS, 2003) que, por sua vez,

    Requerem mudanas na forma com que os recursos so empregados na empresa;

    Conduzem para a criao de novas competncias empresariais;

    Resultam em novas possibilidades de posicionamento no mercado, buscando um

    compromisso de longo prazo e criao de valor para os acionistas, funcionrios e

    clientes.

    Sharma e Chrisman (1999) definem o empreendedorismo corporativo como o pro-

    cesso pelo qual um indivduo ou um grupo de indivduos, associados a uma organi-

    zao existente, criam uma nova organizao ou instigam a renovao ou inovao

    dentro da organizao existente.

    Os mesmos autores colocam que empreendedores corporativos so os indivduos

    ou grupos de indivduos que, agindo independentemente ou como parte do sistema

    corporativo, criam as novas organizaes ou instigam a renovao ou inovao den-

    tro de uma organizao existente.

    EMPREENDEDORISMO SOCIAL

    Segundo Oliveira (2004), o conceito de empreendedorismo social ainda est em

    construo, tanto nacionalmente como internacionalmente, em estreita similaridade

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    Noes de empreendedorismo

    Conceitos bsicos

    com a lgica empresarial, influenciado pela crescente participao das empresas jun-

    to ao enfrentamento dos problemas sociais. Mas esta relao prxima e histrica tem

    diferenas significativas que nos auxiliam a compreender e melhor definir o que seja

    empreendedorismo social na atualidade.

    Desta forma, antes de definirmos empreendedorismo social, vamos apresentar o

    que ele no o . O empreendedorismo social no Responsabilidade Social Empresa-

    rial, pois a mesma supe um conjunto organizado e devidamente planejado de aes

    internas e externas, e uma definio centrada na misso e atividade da empresa, face

    s necessidades da comunidade; tambm no uma organizao social que produz e

    gera receitas, a partir da venda de produtos e servios, e muito menos um empres-

    rio que investe no campo social, o que est mais prximo da responsabilidade social

    empresarial, ou quando muito, da filantropia e da caridade empresarial.

    A Tabela 3, a seguir, apresenta os principais pontos que diferem e ao mesmo tempo

    apresentam certa semelhana com o empreendedorismo social.

    Ainda, segundo Oliveira (2004), o empreendedorismo social pode ser considerado

    como:

    1. um novo paradigma de interveno social, pois mostra um novo olhar e leitu-ra da relao e integrao entre os vrios atores e segmentos da sociedade;

    2. um processo de gesto social, pois apresenta uma cadeia sucessiva e ordenada de aes, que pode ser resumido em trs fases: a) Concepo da ideia; b) Institu-

    cionalizao e maturao da ideia e, c) multiplicao da ideia;

    3. uma arte e uma cincia, uma arte pois permite que cada empreendedor aplique as suas habilidades e aptides e por que no seus dons e talentos, sua intuio e

    sensibilidade na elaborao do processo do empreendedorismo social, uma cin-

    cia, pois utiliza meios tcnicos e cientficos, para ler, elaborar/planejar e agir sobre

    e na realidade humana e social;

    4. uma nova tecnologia social, pois sua capacidade de inovao e de empreender novas estratgias de ao, fazem com que sua dinmica gere outras aes que

    afetam profundamente o processo de gesto social, j no mais assistencialista e

    mantenedora, mas empreendedora e emancipadora e transformadora;

    5. um indutor de auto-organizao social, pois no uma ao isolada, mas ao contrrio, necessita da articulao e participao da sociedade para se institucio-

    nalizar e apresentar resultados que atendam s reais necessidades da populao

    sendo duradouras e de autoimpacto social, e no so privativas, pois a principal

    caracterstica e a possvel multiplicao da ideia/ao, parte de aes locais, mas

    sua expanso para o impacto global. Desta forma, um sistema dentro do siste-

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    Noes de empreendedorismoC

    onceitos bsicos

    ma maior que a sociedade e que gera mudanas significativas a partir do proces-

    so de interao, cooperao e estoque elevado de capital social.

    Tabela 1.3 - Caractersticas do empreendedorismo privado, responsabilidade social empresarial e empreendedorismo social

    Empreendedorismo privado

    Responsabilidade social empresarial

    Empreendedorismo social

    individual Individual com possveis parcerias

    coletivo e integrado

    Produz bens e servios para o mercado

    Produz bens e servios para si e para a comunidade

    Produz bens e servios para a comunidade, local e global

    Tem foco no mercado Tem o foco no mercado e atende a comunidade conforme sua misso

    Tem o foco na busca de solues para os problemas sociais e necessidades da comunidade

    Sua medida de desempenho o lucro

    Sua medida de desempenho o retorno aos envolvidos no processo (stakeholders)

    Sua medida de desempenho o impacto e a transformao social

    Visa satisfazer necessidades dos clientes e ampliar as potencialidades do negcio

    Visa agregar valor estratgico ao negcio e atender expectativas do mercado e da percepo da sociedade/consumidores

    Visa resgatar pessoas da situao de risco social e promov-las, gerar capital social, incluso e emancipao social

    Fonte: OLIVEIRA, 2004.

    O CONTEXTO DO EMPREENDEDORISMO E SUA IMPORTNCIA PARA A ECONOMIA

    Hisrich e Peters (2004) afirmam que o estudo do empreendedorismo relevante

    atualmente no s porque ajuda os empreendedores a melhor atender a suas ne-

    cessidades pessoais, mas tambm devido contribuio econmica dos novos em-

    preendimentos. Mais do que aumentar a renda nacional atravs da criao de novos

    empregos, o empreendedorismo atua como uma fora positiva no crescimento eco-

    nmico ao servir como ligao entre a inovao e o mercado.

    Embora o governo d grande apoio pesquisa bsica e aplicada, no tem obtido

    muito sucesso em transformar as inovaes tecnolgicas em produtos ou servios.

    Apesar de o Intraempreendedorismo oferecer a promessa de um casamento dessa

    capacitao de pesquisa com as habilidades empresariais esperadas de uma grande

    empresa, os resultados at agora no foram propriamente espetaculares.

  • Un

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    16

    Noes de empreendedorismo

    Conceitos bsicos

    Isso deixa o empreendedor, que frequentemente no tem habilidades tcnicas e

    gerenciais, como elo principal entre o processo de desenvolvimento de inovaes

    e o crescimento e a revitalizao econmica. O estudo do empreendedorismo e da

    formao de empreendedores potenciais so partes essenciais de qualquer tentativa

    de fortalecimento desse elo to importante para o bem-estar econmico de um pas.

    Para Dolabela (1999),

    o empreendedorismo tem se mostrado um grande aliado do desenvolvimento

    econmico, gerando e distribuindo riquezas e benefcios para a sociedade. Por

    estar constantemente diante do novo, o empreendedor evolui atravs de um

    processo interativo de tentativa e erro; avana em virtude das descobertas que

    faz, as quais podem se referir a uma infinidade de elementos, como novas opor-

    tunidades, novas formas de comercializao, vendas, tecnologia, gesto etc.

    Dornelas (2003) afirma que as naes desenvolvidas tm dado especial ateno

    e apoio s iniciativas empreendedoras, por saberem que so a base do crescimento

    econmico, da gerao de emprego e renda. Estudos tm sido desenvolvidos com

    vistas a evidenciar e descobrir quais so os impactos do empreendedorismo para o

    desenvolvimento econmico dos pases. Um desses estudos, que tem sido feito de

    forma sistemtica em vrios pases do mundo, o estudo promovido pelo grupo do

    Global Entrepreneurship Monitor GEM, liderado pelo Babson College, nos Estados

    Unidos, e a London Business School na Inglaterra.

    Trata-se do mapeamento da atividade empreendedora dos pases, buscando en-

    tender o relacionamento entre empreendedorismo e desenvolvimento econmico, e

    quanto s atividades empreendedoras de um pas, esto relacionadas gerao de

    riqueza desse mesmo pas.

    Os resultados desse estudo tm mostrado que em pases desenvolvidos essa re-

    lao mais evidente que em pases em desenvolvimento. Voc encontrar uma

    amostra das informaes disponibilizadas por esse estudo no Texto de Apoio 2 ao

    final desta Unidade.

    No caso do Brasil, ainda um pas em desenvolvimento, o estudo tem trazido re-

    sultados muito interessantes no tocante s iniciativas empreendedoras. No entanto,

    por outro lado, um dos fatores preocupantes no caso brasileiro o fato de a maioria

    dos negcios gerados no pas ser baseada no empreendedorismo de necessidade, ou

    seja, no so baseados na identificao de oportunidades de negcio e na busca da

    inovao com vistas criao de negcios diferenciados, como descrito anteriormen-

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    17

    Noes de empreendedorismoC

    onceitos bsicos

    te, mas no suprimento das necessidades bsicas de renda daquele que empreende,

    para que tenha condies de subsistncia, mantendo a si e sua famlia. So neg-

    cios, em sua maioria, informais, focados no momento presente, sem planejamento,

    sem viso de futuro, sem a identificao de oportunidades e nichos de mercado, sem

    o comprometimento com o crescimento e com o desenvolvimento econmico.

    Nota-se que, quanto mais empreendedorismo de oportunidade estiver presente

    em um pas, maior ser o seu desenvolvimento econmico, o que, por conseguinte,

    permitir a esse pas a criao de mecanismos que estimulem as iniciativas empreen-

    dedoras. Ou seja, trata-se de um processo cclico que s tem a alimentar ainda mais

    a busca da inovao.

    Dornelas (2003) ainda destaca que o empreendedorismo no uma nova teoria

    administrativa que veio para resolver todos os problemas empresariais.

    Trata-se de uma forma de comportamento, que envolve processos organizacionais

    que permitem a empresa toda trabalhar em busca de um objetivo comum, que

    a identificao de novas oportunidades de negcios, atravs da sistematizao de

    aes internas focadas na inovao.

    O empreendedorismo visto por essa tica passa a ser ento um fator crtico para

    o desenvolvimento econmico, pois no est restrito apenas criao de novos ne-

    gcios, comumente relacionado a pequenas empresas, mas pode e deve ser em-

    pregado pelas organizaes existentes como forma de sistematizar seus processos

    internos para a gerao das inovaes empresariais. Empreendedorismo e inovao

    esto intimamente ligados e so ingredientes fundamentais para o desenvolvimento

    econmico.

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    Noes de empreendedorismo

    Conceitos bsicos

    Leitura Complementar

    O Trabalho Humano

    Joo Paulo II

    mediante o trabalho que o homem deve procurar o po quotidiano e contribuir

    para o progresso contnuo das cincias e da tcnica, e sobretudo para a incessante

    elevao cultural e moral da sociedade, na qual vive em comunidade com os prprios

    irmos. E com a palavra trabalho indicada toda a atividade realizada pelo mesmo

    homem, tanto manual como intelectual, independentemente das suas caractersticas

    e das circunstncias, quer dizer toda a atividade humana que se pode e deve reco-

    nhecer como trabalho, no meio de toda aquela riqueza de atividades para as quais

    o homem tem capacidade e est predisposto pela prpria natureza, em virtude da

    sua humanidade. Feito imagem e semelhana do mesmo Deus no universo visvel

    e nele estabelecido para que dominasse a terra, o homem, por isso mesmo, desde o

    princpio chamado ao trabalho.

    O trabalho uma das caractersticas que distinguemo homem do resto das cria-

    turas, cuja atividade, relacionada com a manuteno da prpria vida, no se pode

    chamar trabalho; somente o homem tem capacidade para o trabalho e somente o

    homem o realiza preenchendo ao mesmo tempo com ele a sua existncia sobre a

    terra. Assim, o trabalho comporta em si uma marca particular do homem e da huma-

    nidade, a marca de uma pessoa que opera numa comunidade de pessoas; e tal marca

    determina a qualificao interior do mesmo trabalho e, em certo sentido, constitui a

    sua prpria natureza.

    E, no entanto, com toda esta fadiga e talvez, num certo sentido, por causa dela

    o trabalho um bem do homem. E se este bem traz em si a marca de umbonu-

    marduum bem rduo para usar a terminologia de Santo Toms de Aquino,

    isso no impede que, como tal ele seja um bem do homem. E mais, no s um bem

    til ou de que se pode usufruir, mas um bem digno , ou seja, que correspon-

    de dignidade do homem, um bem que exprime esta dignidade e que a aumenta.

    Querendo determinar melhor o sentido tico do trabalho, indispensvel ter dian-

    te dos olhos antes de tudo esta verdade. O trabalho um bem do homem um

    bem da sua humanidade porque, mediante o trabalho, o homemno somente

    transforma a natureza,adaptando-a s suas prprias necessidades, mas tambmse

    realiza a si mesmocomo homem e at, num certo sentido, se torna mais homem .

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    Noes de empreendedorismoC

    onceitos bsicos

    O trabalho, como j foi dito, umaobrigao, ouseja, umdever do homem;eisto

    nos diversos sentidos da palavra.O homem deve trabalhar, quer pelo fato de o Cria-

    dor lhe haver ordenado, quer pelo fato da sua mesma humanidade, cuja subsistncia

    e desenvolvimento exigem o trabalho. O homem deve trabalhar por um motivo de

    considerao pelo prximo, especialmente considerao pela prpria famlia, mas

    tambm pela sociedade de que faz parte, pela nao de que filho ou filha, e pela

    inteira famlia humana de que membro, sendo como herdeiro do trabalho de

    geraes e, ao mesmo tempo, coartfice do futuro daqueles que viro depoisdele

    no suceder-se da histria. Tudo isto, pois, constitui a obrigao moral do trabalho,

    entendido na sua acepo mais ampla.

    Na Palavra da Revelao divina acha-se muito profundamente inscrita esta verdade

    fundamental: queo homem,criado imagem de Deus,participa mediante o seu

    trabalho na obra do Criadore, num certo sentido, continua, na medida das suas

    possibilidades, a desenvolv-la e a complet-la, progredindo cada vez mais na desco-

    berta dos recursos e dos valores contidos em tudo aquilo que foi criado. Esta verdade

    encontramo-la logo no incio da Sagrada Escritura, no Livro do Genesis, onde a mes-

    ma obra da criao apresentada sob a forma de um trabalho realizado durante

    seis dias por Deus, que se mostra a repousar no stimo dia. Por outro lado, o

    ltimo Livro da Sagrada Escritura repercute ainda o mesmo tom de respeito pela obra

    que Deus realizou mediante o seu trabalho criador, quando proclama: Grandes

    e admirveis so as Tuas obras, Senhor, Deus Todo-Poderoso! ; proclamao esta,

    bem anloga do Livro do Genesis, quando encerra a descrio de cada dia da cria-

    o afirmando: E Deus viu que isso era bom .

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    Noes de empreendedorismo

    Conceitos bsicos

    Leitura Complementar

    GEM GLOBAL ENTREPRENEURSHIP MONITOR

    EMPREENDEDORISMO NO BRASIL RELATORIO 2010

    INTRODUO

    A pesquisa Global Entrepreneurship Monitor, GEM, maior estudo contnuo sobre

    a dinmica empreendedora no mundo. Comeou como uma parceria entre a London

    Business School e o Babson College, sendo iniciado em 1999 com 10 pases, e se

    expandindo para 59 economias a partir de 2010. O Brasil participou pela primeira

    vez no ano 2000.

    Os principais objetivos do estudo so: medir a diferena entre o nvel empreen-

    dedor entre os pases que participam do trabalho e descobrir os fatores favorveis e

    limitantes atividade empreendedora no mundo, identificando as polticas pblicas

    que possam favorecer o empreendedorismo nos pases envolvidos.

    1. ATIVIDADE EMPREENDEDORA

    A atividade empreendedora traduzida pelo nmero de pessoas dentro da popu-

    lao adulta de um determinado pas envolvida na criao de novos negcios. Na

    pesquisa GEM esses dados so obtidos por meio de pesquisa quantitativa com uma

    populao na faixa etria entre 18 e 64 anos.

    Observam-se diferentes caractersticas relativas ao empreendedorismo, conforme o

    estgio do empreendimento nascente ou novo; motivao oportunidade ou ne-

    cessidade, ocorrendo variaes de acordo com o setor de atividade econmica, bem

    como com o gnero, idade, escolaridade e renda familiar.

    1.1 Principais taxas em 2010: Brasil e demais pases participantes

    1.1.1 Taxa de Empreendedores em Estgio Inicial - TEA

    A Taxa de Empreendedorismo em Estgio Inicial, TEA, a proporo de pessoas

    na faixa etria entre 18 e 64 anos envolvidas em atividades empreendedoras na

    condio de empreendedores de negcios nascentes ou empreendedores frente

    de negcios novos, ou seja, com menos de 42 (quarenta e dois) meses de existncia.

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    Noes de empreendedorismoC

    onceitos bsicos

    A anlise global do relatrio internacional afirma que para as 50 (cinquenta) eco-

    nomias que participaram da Pesquisa GEM, em 2009 e 2010, a metade manteve ou

    aumentou a TEA de um ano para o outro.

    No Brasil, a TEA de 2010 foi de 17,5%, a maior desde que a pesquisa GEM reali-

    zada no pas, demonstrando a tendncia de crescimento da atividade empreendedo-

    ra. Considerando a populao adulta brasileira de 120 milhes de pessoas, isto repre-

    senta que 21,1 milhes de brasileiros estavam frente de atividades empreendedoras

    no ano. Em nmeros absolutos, apenas a China possui mais empreendedores que o

    Brasil, a TEA chinesa de 14,4% representa 131,7 milhes de adultos frente de ati-

    vidades empreendedoras no pas.

    Entre os 17 pases membros do G20 que participaram da pesquisa em 2010, o Brasil

    o que possui a maior TEA seguido pela China, com 14,4% e a Argentina com 14,2%.

    Nos pases do BRIC (grupo formado pelos pases Brasil, Rssia, ndia e China), o Brasil

    tem a populao mais empreendedora, com 17,5% de empreendedores em estgio

    inicial, a China teve 14,4%, a Rssia 3,9%, enquanto a ndia no participou da pesqui-

    sa nos ltimos 2 (dois) anos. Sendo que, em 2008, a TEA da ndia foi de 11,5%.

    O que se observa no Brasil, em 2010, que o crescimento da TEA resultado do

    maior nmero de empreendedores de negcios novos.

    Os empreendedores nascentes no Brasil mantiveram-se na mesma proporo que

    em 2009, permanecendo acima da mdia do perodo em que a pesquisa foi realizada.

    1.1.2 Oportunidade e necessidade

    No Brasil, desde o ano de 2003 os empreendedores por oportunidade so maioria,

    sendo que a relao oportunidade X necessidade tem sido superior a 1,4 desde o

    ano de 2007. Em 2010 o Brasil novamente supera a razo de dois empreendedores

    por oportunidade para cada empreendedor por necessidade, o que j havia ocorrido

    em 2008. Em 2010, para cada empreendedor por necessidade havia outros 2,1 que

    empreenderam por oportunidade. Este valor semelhante mdia dos pases que

    participaram do estudo este ano, que foi de 2,2 empreendedores por oportunidade

    para cada um por necessidade.

    Fonte: Pesquisa GEM Brasil 2002-2010.

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    22

    Noes de empreendedorismo

    Conceitos bsicos

    Empreendedores iniciais e nascentes, segundo razo entre oportunidade e neces-

    sidade Brasil 2002:2010.

    Focando a anlise, segundo o estgio do empreendimento nascentes ou novos,

    tem-se que a razo ainda maior entre os empreendedores nascentes. Desde 2004 a

    razo entre oportunidade e necessidade para empreendedores nascentes superior

    verificada na TEA. Em 2010 foi de 3,1, ou seja, para cada empreendedor iniciando

    seu negcio por necessidade, havia outros 3,1 que o faziam por oportunidade.

    Empreendedores iniciais segundo necessidade, oportunidade e razo entre oportu-

    nidade e necessidade 2010 Taxas (%)

    Fonte: Pesquisa GEM Brasil 2010.

    Nos pases com maior desenvolvimento econmico, a razo entre oportunidade

    e necessidade superior a dos demais pases. Por exemplo, na Islndia, para cada

    empreendedor motivado pela necessidade h outros 11,2 por oportunidade e, nos

    Estados Unidos essa razo est um pouco acima da brasileira, com 2,4.

    1.2 Principais taxas e evoluo segundo caractersticas demogrficas

    1.2.1 Gnero

    A mulher brasileira historicamente uma das que mais empreende no mundo.

    Apenas em Gana as mulheres atingiram TEAs mais altas que os homens, entre todos

    os 59 (cinquenta e nove) pases participantes da pesquisa em 2010.

    Em 2010, entre os empreendedores iniciais, 50,7% so homens e 49,3% mulhe-

    res, mantendo o equilbrio entre gneros no empreendedorismo nacional. Entre os

    21,1 milhes de empreendedores brasileiros, 10,7 milhes pertencem ao sexo mas-

    culino e 10,4 milhes ao feminino.

    No Brasil h um constante equilbrio entre gneros quanto ao empreendedorismo,

    dado que a oscilao entre homens e mulheres constante quando se analisa o perfil

    de quem empreende.

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    Noes de empreendedorismoC

    onceitos bsicosEmpreendedores iniciais segundo gnero - Brasil 2010 - Taxas (%)Fonte: Pesquisa GEM Brasil 2002:2010.

    1.2.2 Faixa etria

    Em 2010, no Brasil todas as faixas etrias tiveram aumentos nas taxas de empreen-

    dedorismo. Verificou-se que a faixa etria que obteve a mais alta taxa aquela que

    vai dos 25 aos 34 anos com 22,2%. Isto quer dizer que entre os brasileiros com ida-

    des entre 25 e 34 anos, 22,2% estavam envolvidos em algum empreendimento em

    2010. Neste ponto o Brasil segue a mesma tendncia dos grupos de demais pases

    analisados, nos quais esta a faixa etria que prevalece.

    Empreendedores iniciais segundo faixa etria Brasil 2002:2010 Taxas (%)Fonte: Pesquisa GEM Brasil 2002:2010.

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    Noes de empreendedorismo

    Conceitos bsicos

    A partir de 2008, os jovens de 18 a 24 anos ampliaram

    sua participao no universo empreendedor brasileiro. Em

    2010, sem considerar a faixa etria mais empreendedora,

    de 25 a 34 anos, os jovens de 18 a 24 anos tiveram taxas

    superiores a dos brasileiros com 35 anos ou mais, demons-

    trando a jovialidade dos empreendedores em estgio ini-

    cial. Mais da metade, ou seja, 56,9%, dos empreendedores

    ainda no esto na faixa etria de 35 anos de idade. O Bra-

    sil e a Rssia so os nicos pases do G20 em que a faixa de

    18 a 24 anos mais empreendedora que a de 35 a 44 anos,

    aps a faixa etria mais empreendedora de ambos os pa-

    ses, que dos 25 a 34 anos. Ainda, se comparado ao grupo

    de pases impulsionados pela eficincia, cuja taxa mdia

    de 9,4%, o Brasil se destaca significativamente com uma

    taxa 85% mais alta.

    1.2.3 Escolaridade

    Ao avaliar-se o contexto educacional brasileiro, o que se constata que, em termos

    quantitativos, a escolaridade da populao tem se aquilatado nos ltimos anos, dado

    que se observaram quedas no analfabetismo, aumento significativo na frequncia

    escolar, menor xodo de estudantes e mais tempo de estudo para a populao.

    A porcentagem de empreendedores com maior

    escolaridade tem aumentado nos ltimos anos, vin-

    do ao encontro do crescimento na escolaridade da

    populao do pas. Neste sentido, retornando as

    taxas de empreendedorismo para os nveis de esco-

    laridade, as quais expressam a dinmica do empre-

    endedorismo em cada categoria, observa-se que a

    mdia do perodo de 2002 a 2010 revela claramente que medida que aumentam

    os anos de estudo da populao, crescem as taxas de empreendedorismo.

    Esse fato ainda mais expressivo quando analisados sob a tica da motivao.

    Quando avaliada a razo oportunidade/necessidade, nota-se a inexistncia da influ-

    ncia da motivao no ato de empreender nas primeiras faixas de escolaridade.

    Contudo, essa diferena torna-se significativa para as faixas de escolaridade mais

    altas, chegando a ter 4,6 empreendedores por oportunidade para cada um por ne-

    cessidade na faixa da populao com mais de onze anos de estudo.

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    Noes de empreendedorismoC

    onceitos bsicos

    Empreendedores iniciais segundo motivao e escolaridade Brasil 2010 Taxas (%)

    1.2.4 Renda familiar

    ATEA brasileira indica que entre os brasileiros de renda mais baixa, 6,1% so em-

    preendedores. Este ndice vai a 15,1% entre os de renda mdia e 16% entre os de

    renda mais alta.

    O Brasil segue a mesma tendncia da maior parte dos pases analisados na pesqui-

    sa em 2010, onde na medida em que a renda cresce a taxa de empreendedorismo

    tambm aumenta.

    Empreendedores iniciais segundo motivao e renda Brasil 2010 Taxas (%)

    A motivao para que o empreendedor brasileiro em estgio inicial inicie um ne-

    gcio pode variar conforme a faixa de renda em que se encontra. Seguindo a mes-

    ma linha de comparao com a diviso utilizada pelo GEM, os empreendedores por

    oportunidade tambm crescem na medida em que a renda familiar aumenta. Os

    empreendedores com rendas mais baixas so os que possuem maiores taxas de em-

    preendedorismo motivado pela necessidade.

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    Noes de empreendedorismo

    Conceitos bsicos

    1.3 Principais taxas segundo setores de atividades dos empreendimentos

    No Brasil, o foco dos negcios criados est no atendimento ao consumidor final em

    empreendimentos orientados nessa direo. um perfil de negcio com propenso

    informalidade, pela baixa necessidade de recursos financeiros para a sua abertura e

    pela simplificao da complexidade organizacional.

    Os dados concernentes a 2010 apontam 4 (quatro) atividades ocupando 63% dos

    setores. O comrcio varejista permanece com a maior prioridade pelos empreende-

    dores, com 25%. Porm, alojamento e alimentao ocupam o 2 lugar no ranking,

    com 15%. As atividades imobilirias e aluguis com 13% e 10% na indstria de

    transformao.

    A preferncia masculina recai sobre o comrcio varejista e atividades imobilirias

    (atividades voltadas assessoria e consultoria s empresas), vindo aps alojamento

    e alimentao e uma diviso semelhante entre construo, venda e manuteno de

    veculos, indstria de transformao e atividades de servios coletivos.

    As mulheres, em 33% dos casos, preferem atividades ligadas ao comrcio varejista,

    com 20% com alojamento e alimentao, 16% residncia com empregados (abran-

    ge servios domsticos) e 12% na indstria de transformao.

    Pode-se afirmar que atividades como construo, transporte e armazenagem, ven-

    da e manuteno de veculos so atividades tipicamente masculinas, pela maior ne-

    cessidade de trabalho com exigncias fsicas. J atividades voltadas residncia com

    empregados (abrange servios domsticos) so atividades mais femininas.

    Os empreendedores com menor escolaridade elegem atividades voltadas cons-

    truo, enquanto os com maior nmero de anos de estudo buscam as atividades

    imobilirias (atividades voltadas assessoria e consultoria s empresas) e aluguel

    como seus negcios.

    Para quem tem mais de 11 (onze) anos de estudo, a preferncia pelas atividades

    imobilirias (atividades voltadas assessoria e consultoria s empresas) e aluguel, po-

    rm, o nvel de escolaridade em que as opes de negcios se ampliam.

    As atividades voltadas construo, venda e manuteno de veculos e o comr-

    cio varejista tem sua preferncia aumentada quanto menor for o grau de escolarida-

    de. Entre os jovens na faixa etria entre 18 a 24 anos que iniciaram seus empreendi-

    mentos, o comrcio varejista atinge 33% da preferncia como atividade econmica.

    O ramo de construo tem o seu maior ndice entre jovens desta faixa.

    Na faixa etria dos 25 aos 34 anos, o comrcio varejista continua forte, com o

    dobro de porcentagem das atividades na segunda posio de preferncia, que so a

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    Noes de empreendedorismoC

    onceitos bsicos

    indstria de transformao, alojamento e alimentao e atividades imobilirias (ativi-

    dades voltadas assessoria e consultoria s empresas).

    Os empreendedores entre 35 a 44 anos de idade tm sua preferncia dividida entre

    o comrcio varejista e o alojamento e alimentao, principalmente.

    A faixa etria de 45 a 54 anos concentra metade dos seus empreendedores em 3

    (trs) atividades principais, que so o comrcio varejista, alojamento e alimentao e

    a indstria de transformao.

    Dos empreendedores com idades entre 55 e 64 anos 36% se concentram em alo-

    jamento e alimentao, vindo aps o comrcio varejista e as atividades imobilirias

    (atividades voltadas assessoria e consultoria s empresas).

    H uma tendncia de crescimento dos setores de servios e da indstria de trans-

    formao na participao da riqueza do pas, alm da manuteno das atividades

    comerciais j existentes.

    Links recomendadosPara mais informaes, veja o relatrio completo:

    GRECO, Simara Maria de Souza Silveira et al. Empre-endedorismo no Brasil: 2010. Curitiba: IBPQ, 2010. Dis-ponvel em . Acesso em 30 de julho de 2011.

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    Noes de empreendedorismo

    Conceitos bsicos

    Leitura Complementar

    BRASILEIRO FATURA US$ 50 MILHES COM GUA DE COCO

    Daniela Moreira

    O empresrio brasileiroRodrigo Veloso, fundador da O.N.E., empresa especializada

    em bebidas naturais, foi eleito o empreendedor do ano pelos leitores de EXAME.com.

    Com 14.350 votos (75% do total), ele foi o mais votado na segunda etapa da

    enquete, que teve um total de 24.084 votos. Em segundo lugar, apareceram os fun-

    dadores do site de leilesOlho no Click, Arthur Davila, Guilherme Pizzini, Rodrigo

    Ferreira e Sylvio Avilla, com 3.703 votos (19%).

    O terceiro colocado foi Ernesto Vilela, da agncia de mdia indoor Enox, com 588

    votos (3%). Em quarto e quinto lugar apareceu, Marco Gomes, da agncia de publici-

    dade para mdias sociais boo-box (275 votos), e Julio Vasconcelos, do site de compras

    coletivas Peixe Urbano (168 votos).

    Para Veloso, a votao coroa um ano de importantes realizaes. Foi um ano es-

    petacular. Mesmo com a economia em recesso, fechamos o ano com crescimento

    de mais de 100% em receita e acabamos de receber mais uma rodada de investimen-

    to, diz o empresrio.

    A O.N.E. faturou cerca de 50 milhes de dlares este ano e pretende dobrar o

    nmero em 2011. Em dezembro deste ano, a empresa recebeu uma nova rodada de

    investimentos da PepsiCo, que adquiriu uma participao majoritria na companhia.

    O investimento o segundo da PepsiCo na empresa brasileira e foi realizado em

    conjunto com a empresa de private equity Catterton Partners. Segundo Veloso, os

    recursos sero utilizados para financiar a expanso da companhia.

    Veloso fundou a O.N.E. em 2005. No ano seguinte a empresa lanava seu principal

    produto, a gua de coco O.N.E. Coconut Water, no mercado norte-americano.

    Em pouco mais de um ano, a empresa atingiu a marca de 1 milho de dlares em

    vendas. Hoje, alm da gua de coco, a linha de produtos inclui diversos itens, como

    bebidas de gua de coco misturadas com frutas tropicais, ervas e minerais e aa,

    entre outros.

    gua de coco desprezada na sia virou oportunidade de negcios

    Item indispensvel no cardpio praiano brasileiro, a gua de coco tinha um destino

    bem menos nobre no sudeste asitico: o lixo. Foi a partir desta constatao que Velo-

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    Noes de empreendedorismoC

    onceitos bsicos

    so elaborou um plano de negcios que, cinco anos depois, se transformaria em uma

    empresa com faturamento de 50 milhes de dlares.

    Em uma viagem a passeio ao sudeste asitico, o empresrio observou que embora

    o coco fosse amplamente cultivado e consumido na regio, sua gua era considerada

    um mero resduo. Resultado: litros e litros do precioso lquido adocicado jogado fora.

    De volta ao Brasil, Veloso ento estudante de MBA da Fundao Getlio Vargas

    em So Paulo elaborou um plano de negcios que propunha acabar com o desper-

    dcio, transformando a abundante gua de coco asitica em produto de exportao

    para o mercado norte-americano.

    Premiado em diferentes concursos nacionais e regionais, a ideia foi finalista de uma

    competio mundial de planos de negcios. Embora no tenha levado o prmio no

    papel, o plano logo se transformaria em um lucrativo negcio fora dele.

    Um professor disse que o plano estava redondo, que eu deveria correr atrs de

    coloc-lo em prtica, conta o empresrio. Juntando suas economias com uma ajudi-

    nha de familiares e amigos, Veloso fez as malas e embarcou para a Califrnia atrs de

    um investidor. Nascia a O.N.E., que j no primeiro ano de vida recebeu uma injeo

    de capital de 100 mil dlares de um investidor anjo.

    Segundo o empresrio, o pulo do gato foi apostar em uma boa estratgia de

    marketing. Veloso optou por promover a gua de coco como um produto natural e

    saudvel em vez de comercializ-la como produto tnico.

    Fizemos um trabalho de educao sobre os benefcios da gua de coco para a

    sade, conta.

    O sucesso da marca no Sul da Califrnia deu projeo O.N.E. e garantiu novas

    rodadas de investimento companhia primeiro por um fundo de venture capital

    e em seguida por um fundo de private equity. Com faturamento de 10 milhes de

    dlares em 2009, a empresa atraiu a ateno da gigante das bebidas Pepsi, que se

    tornou distribuidora da marca.

    Os bons resultados obtidos com a gua de coco levaram o empresrio a apostar

    em outros ingredientes naturais, como o aa e a fruta do caf, para expandir sua

    linha de bebidas. Com duas fbricas nas Filipinas e uma na Indonsia, a empresa deve

    faturar 50 milhes de dlares neste ano e se prepara para expandir os negcios para

    outros mercados, incluindo Mxico, Canad e Europa.

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    Noes de empreendedorismo

    Conceitos bsicos

    Leitura Complementar

    SABOR TROPICAL

    Maria Laura Neves

    O empreendedor mineiro Rodrigo Veloso, de 28 anos, conseguiu entrar na onda

    americana pelo consumo saudvel: est fazendo sucesso com a venda de gua-de-

    -coco no exterior, basicamente nos Estados Unidos. Sua empresa, a One Natural

    Experience (ONE), fundada em meados de 2006, j faturou US$ 1,2 milho, fruto

    da venda de 165.000 litros de gua-de-coco industrializada, desde aquele ano. Pode

    parecer pouco perto das cifras movimentadas pelas grandes empresas de bebidas.

    Mas Veloso est desbravando uma rea praticamente virgem l fora, e as perspecti-

    vas so promissoras. At algumas celebridades, como Leonardo DiCaprio, j fizeram

    encomendas do produto, diz.

    Segundo ele, a ideia surgiu durante um curso de ps-graduao em empreendedo-

    rismo que fez em 2005 na Fundao Getlio Vargas, de So Paulo.

    O professor pediu aos alunos que montassem o plano de negcios de uma empre-

    sa exportadora de produtos brasileiros.

    Junto com um colega, o americano Eric Loudon, que participava de um programa

    de intercmbio estudantil no pas, Veloso criou a ONE. Logo que terminaram o curso,

    eles estavam determinados a tirar o projeto do papel.

    A dupla se inscreveu num concurso internacional, ligado Universidade do Texas,

    que oferecia um prmio de US$ 100 mil para o melhor plano de negcios. Na etapa

    latino-americana, conquistou o primeiro lugar. Na final mundial, realizada nos Esta-

    dos Unidos, ficou fora do pdio. Mas os contatos feitos com investidores durante o

    processo lhes renderam um aporte de capital na empresa. Para completar o investi-

    mento, Veloso diz que aplicou todas as suas economias no projeto e recebeu o apoio

    financeiro de parentes e amigos.

    Produzida pela brasileira Amacoco, maior fabricante de gua-de-coco do Brasil, a

    ONE j vai embalada para o exterior. Alm dos Estados Unidos, onde vendido em

    grandes redes de supermercados, como a Kroger, a terceira do pas, e a Whole Foods,

    lder de vendas em produtos naturais, o produto tambm est venda na Sucia

    onde Veloso fez o curso de Economia. No h planos de lan-lo no Brasil. Para con-

    vencer os gigantes a vender seus produtos, Veloso diz que ligava todos os dias para

    os gerentes das redes. S me atenderam porque eu insisti muito, afirma.

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    Noes de empreendedorismoC

    onceitos bsicos

    A empresa vendeu 165.000 litros degua-de-coco no exterior em apenas 14 meses.

    Hoje, sua empresa j virou at estudo de caso em universidades americanas de

    primeira linha, por ser a primeira do gnero a oferecer o produto fora do mercado

    tnico, uma expresso etrea que designa consumidores latinos e similares, j explo-

    rado por empresas brasileiras e americanas como a Sococo e a Vita Coco. Na Babson,

    de Wellesley, Massachusetts, faculdade que referncia mundial em empreendedo-

    rismo, h um estudo sobre a empresa. Nos prximos meses, ela tambm dever ser

    tema de um artigo na revista de negcios Harvard Business Review, segundo Veloso.

    Agora, a ideia ampliar as vendas, inicialmente concentradas na regio da Califr-

    nia, para todo o pas. Para fazer a divulgao, ele diz que coordena pessoalmente as

    degustaes nos pontos-de-venda.

    Procura explicar as propriedades hidratantes da bebida para os clientes. Segundo

    ele, a estratgia concorrer com os isotnicos, como o Gatorade, cujas vendas atin-

    gem bilhes de dlares por ano.

  • CONCEITOS BSICOS ........................................ 34

    As competncias do empreendedor ................... 34

    A importncia da viso estratgica .................... 39

    Os conceitos de misso e objetivos .................... 42

    A relao entre conceitos .................................. 45

    Leitura complementar ........................................ 46

    O indivduo empreendedor

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    Noes de empreendedorismo

    CONCEITOS BSICOS

    As competncias do Empreendedor;

    A importncia da Viso Estratgica;

    Os conceitos de Misso e Objetivos;

    A relao entre os conceitos.

    AS COMPETNCIAS DO EMPREENDEDOR

    Para elaborarmos um perfil do empreendedor necessitamos primeiramente eleger

    um critrio para identificar quais caractersticas devem compor tal descrio. Como

    nos interessa o entendimento do empreendedor e do seu impacto na organizao e

    na economia, elegemos aqui o conceito de competncia para nos guiar na identifica-

    o das caractersticas do perfil do empreendedor.

    Segundo Ruas (2000), o conceito de competncia pode ser entendido a partir de

    trs dimenses:

    as competncias essenciais, mais abrangentes da organizao;

    as competncias funcionais, inerentes s reas internas vitais da organizao, de

    dimenso grupal;

    as competncias individuais.

    Gomes et al (2007) definem competncia individual como o conjunto especfico de

    conhecimentos, habilidades e atitudes associados a uma determinada entrega, que

    agregam valor econmico para a organizao e valor social para o indivduo.

    Para efeitos de sntese e memorizao, possvel utilizarmos o artifcio apresenta-

    do no Quadro 1.

    Quadro 2.1 A definio de competncia

    A competncia um conjunto de:

    C onhecimentos, (saber)H abilidades, (saber fazer)A titudes e (querer fazer)V alores, para uma (porque fazer)E ntrega (objetivo) (o que fazer)

    Fonte: adaptado de GOMES et al, 2007.

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    preendedorNoes de empreendedorismo

    Dornelas (2007), em sua pesquisa, compilou as principais caractersticas do perfil

    do empreendedor encontradas na literatura, na Tabela 2.1 a seguir.

    Tabela 2.1 - Caractersticas dos empreendedores de sucesso

    Caracterstica Descrio

    So visionriosEles tm a viso de como ser o futuro para o seu negcio e sua vida, e o mais importante, tm a habilidade de implementar seus sonhos.

    Sabem tomar decises

    Eles no se sentem inseguros, sabem tomar as decises corretas na hora certa, principalmente nos momentos de adversidade, sendo um fator chave para o seu sucesso. E, alm de tomar decises, implementam suas aes rapidamente.

    So indivduos que fazem a diferena

    Os empreendedores transformam algo de difcil definio, uma ideia abstrata, em algo concreto, que funciona, transformando o que possvel em realidade. Sabem agregar valor aos servios e produtos que colocam no mercado.

    Sabem explorar ao mximo as oportunidades

    Para a maioria das pessoas, as boas ideias so daqueles que as veem primeiro, por sorte ou acaso. Para os visionrios (os empreendedores), as boas ideias so geradas daquilo que todos conseguem ver, mas no identificaram algo prtico para transform-las em oportunidade, atravs de dados e informao. O empreendedor um exmio identificador de oportunidades, sendo um indivduo curioso e atento a informaes, pois sabe que suas chances melhoram quando seu conhecimento aumenta.

    So determinados e dinmicos

    Eles implementam suas aes com total comprometimento. Atropelam as adversidades, ultrapassando os obstculos, com uma vontade mpar de fazer acontecer. Mantm-se sempre dinmicos e cultivam certo inconformismo diante da rotina.

    So dedicados

    Eles se dedicam 24 horas por dia, sete dias por semana, ao seu negcio. Comprometem o relacionamento com amigos, com a famlia e at mesmo com a prpria sade. So trabalhadores exemplares, encontrando energia para continuar, mesmo quando encontram problemas pela frente. So incansveis e loucos pelo trabalho.

    So otimistas e apaixonados pelo que fazem

    Eles adoram o seu trabalho. E esse amor ao que fazem o principal combustvel que os mantm cada vez mais animados e auto determinados, tornando-os os melhores vendedores de seus produtos, pois sabem, como ningum, como faz-lo. O otimismo faz com que sempre enxerguem o sucesso, em vez de imaginar o fracasso.

    So independentes e constroem seu prprio destino

    Eles querem estar frente das mudanas e ser donos do prprio destino. Querem ser independentes, em vez de empregados; querem criar algo novo e determinar seus prprios passos, abrir seus prprios caminhos, ser seu prprio patro e gerar empregos.

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    preendedor

    Noes de empreendedorismo

    Tabela 2.1 - Caractersticas dos empreendedores de sucesso

    Caracterstica Descrio

    Relao com o dinheiro

    Ficar rico no o principal objetivo dos empreendedores. Eles acreditam que o dinheiro consequncia do sucesso dos negcios.

    So lderes e formadores de equipes

    Os empreendedores tm um senso de liderana incomum. E so respeitados e adorados por seus funcionrios, pois sabem valoriz-los, estimul-los e recompens-los, formando um time em torno de si. Sabem que, para obter xito e sucesso, dependem de uma equipe de profissionais competentes. Sabem ainda recrutar as melhores cabeas para assessor-los nos campos em que no detm maior conhecimento.

    So bem relacionados (networking)

    Os empreendedores sabem construir uma rede de contatos que os auxiliam no ambiente externo da empresa, junto a clientes, fornecedores e entidades de classe.

    So organizados

    Os empreendedores sabem obter e alocar os recursos materiais, humanos, tecnolgicos e financeiros de forma racional, procurando o melhor desempenho para o negcio.

    Planejamento Os empreendedores de sucesso planejam cada passo de seu negcio, desde o primeiro rascunho do plano de negcios at a apresentao do plano a investidores, definio das estratgias de marketing do negcio etc., sempre tendo como base a forte viso de negcio que possuem.

    Possuem conhecimento

    So sedentos pelo saber e aprendem continuamente, pois sabem que, quanto maior o domnio sobre um ramo de negcio, maior sua chance de xito. Esse conhecimento pode vir da experincia prtica, de informaes obtidas em publicaes especializadas, em cursos ou mesmo de conselhos de pessoas que montaram empreendimentos semelhantes.

    Assumem riscos calculados

    Talvez essa seja a caracterstica mais conhecida dos empreendedores. Mas o verdadeiro empreendedor aquele que assume riscos calculados e sabe gerenciar o risco, avaliando as reais chances de sucesso. Assumir riscos tem relao com desafios. E, para o empreendedor, quanto maior o desafio, mais estimulante ser a jornada empreendedora.

    Criam valor para a sociedade

    Os empreendedores utilizam seu capital intelectual para criar valor para a sociedade, atravs da gerao de emprego, dinamizando a economia e inovando, sempre usando sua criatividade em busca de solues para melhorar a vida das pessoas.

    Fonte: DORNELAS, 2007.

    O SEBRAE Servio Brasileiro de Apoio s Micros e Pequenas Empresas, a principal

    instituio de apoio ao empreendedorismo no Brasil, de maneira anloga, tambm

    define as caractersticas do empreendedor, dividindo-as em trs grupos: relativas

    realizao, relativas ao planejamento, relativas ao poder (SEBRAE, s.d.).

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    preendedorNoes de empreendedorismo

    Esta descrio apresentada na Tabela 2.2 a seguir.

    Tabela 2.2 - Caractersticas do empreendedor

    Caractersticas Relativas realizao

    Busca oportunidades e toma a iniciativa

    O empreendedor faz o que deve ser feito antes de ser solicitado ou forado pelas circunstncias;Age para expandir o negcio a novas reas, produtos ou servios;Aproveita oportunidades fora do comum para comear um negcio, obter financiamentos, equipamentos, terrenos, local de trabalho ou assistncia.

    Corre riscos calculados

    O empreendedor avalia alternativas e calcula riscos deliberadamente;Age para reduzir os riscos ou controlar os resultados;Coloca-se em situaes que implicam desafios ou riscos moderados.

    Exige qualidade e eficincia

    O empreendedor encontra maneiras de fazer as coisas melhores, mais rpidas, ou mais baratas;Age de maneira a realizar aes, servios e produtos que satisfaam ou excedam padres de excelncia;Desenvolve ou utiliza procedimentos para assegurar que o trabalho seja terminado a tempo e que atenda a padres de qualidade previamente combinados.

    persistente

    O empreendedor age diante de um obstculo significativo;Age repetidamente ou muda de estratgia a fim de enfrentar um desafio ou superar um obstculo;Assume responsabilidade pessoal pelo desempenho necessrio para atingirmetas e objetivos.

    comprometido

    O empreendedor faz um sacrifcio pessoal ou despende um esforo extraordinrio para completar uma tarefa;Colabora com os empregados ou se coloca no lugar deles, se necessrio, para terminar um trabalho;Se esmera em manter os clientes satisfeitos e coloca em primeiro lugar a boa vontade a longo prazo, acima do lucro a curto prazo.

    Caractersticasrelativas ao planejamento

    Busca de informaes

    O empreendedor dedica-se pessoalmente a obter informaes de clientes, fornecedores ou concorrentes;Investiga pessoalmente como fabricar um produto ou fornecer um servio;Consulta especialistas para obter assessoria tcnica ou comercial.

    Estabelecimento de metas

    O empreendedor estabelece metas e objetivos que so desafiantes e que tm significado pessoal;Define metas de longo prazo, claras e especficas;Estabelece objetivos de curto prazo, mensurveis.

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    Noes de empreendedorismo

    Caractersticasrelativas ao poder

    Persuaso e rede de contatos

    O empreendedor utiliza estratgias deliberadas para influenciar ou persuadir pessoas;Trabalha com pessoas chaves na posio de agentes para atingir seus objetivos;Age para desenvolver e manter relaes comerciais.

    Independncia e autoconfiana

    O empreendedor busca autonomia em relao a normas e controles de terceiros;Mantm seu ponto de vista, mesmo diante da oposio ou de resultados inicialmente desanimadores;Expressa confiana na sua prpria capacidade de completar uma tarefa difcil ou de enfrentar um desafio.

    Fonte: SEBRAE, s.d.

    Dolabela (1999) por sua vez, estabelece uma associao das atividades exercidas

    pelo empreendedor com as competncias e os processos de aprendizagem, apresen-

    tadas aqui na Tabela 2.4.

    Tabela 2.4 - O trabalho do empreendedor e seus requisitos

    Atividades Caractersticas Competncias Aprendizagens

    Descoberta de oportunidades

    Faro, intuio Pragmatismo, bom senso, capacidade de reconhecer o que til e d resultados.

    Anlise setorial: conhecer as

    caractersticas do setor, os clientes e o

    concorrente lder.

    Concepo de vises

    Imaginao, independncia,

    paixo.

    Concepo, pensamento sistemtico.

    Avaliao de todos os recursos necessrios e dos respectivos custos

    Tomada de decises Julgamento, prudncia

    Viso Obter informaes, saber minimizar o risco.

    Realizao de vises

    Diligncia (saber se virar),

    constncia (tenacidade)

    Ao Saber obter informaes para realizar

    ajustes contnuos, retroalimentao.

    Utilizao de equipamentos. (principalmente de tecnologia da

    informao)

    Destreza. Polivalncia (no comeo o empreendedor

    faz de tudo).

    Tcnica

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    Tabela 2.4 - O trabalho do empreendedor e seus requisitos

    Atividades Caractersticas Competncias Aprendizagens

    Compras Acuidade. Negociao: saber conter-se nos prprios limites,

    conhecer profundamente o tema e ter flexibilidade para permitir que todos ganhem.

    Diagnstico do setor, pesquisa de compras.

    Projeto e colocao do produto/servio no

    mercado

    Diferenciao, originalidade.

    Coordenao de mltiplas atividades: hbitos de consumo dos clientes,

    publicidade, promoo.

    Marketing, gesto.

    Vendas Flexibilidade para ajustar-se aos clientes e circunstncias,

    buscar feedback.

    Adaptao s pessoas e circunstncias.

    Conhecimento do cliente.

    Formao da equipe e conselheiros

    Ser previdente, projeo em longo

    prazo.

    Saber construir redes de relaes internas e externas.

    Gesto de recursos humanos, saber

    compartilhar.

    Delegao de tarefas Comunicao, capacidade de

    aprender.

    Delegao: saber dizer o que deve ser feito e por quem; saber acompanhar, obter

    informaes.

    Gesto de operaes

    Fonte: DOLABELA, 1999.

    A IMPORTNCIA DA VISO ESTRATGICA

    Filion (1991) define o empreendedor como uma pessoa que imagina, desenvolve

    e realiza vises; a viso uma imagem projetada no futuro, do lugar que se quer ver

    ocupado pelos seus produtos no mercado, assim como a imagem projetada do tipo

    de organizao necessria para consegui-lo.

    Chiavenato e Sapiro (2009) afirmam que uma viso de negcios deve atender s

    seguintes premissas:

    aderncia aos fatos reais: as situaes sonhadas precisam ser possveis;

    descrio concisa, porm, poderosa: a viso de negcios precisa ter um foco de-

    finido. Propor uma lista de vrias dimenses no ser de muita valia, pois, dilui

    esforos e perde o foco;

    equilbrio para todos os grupos de interesse: a viso de negcios deve favorecer a

    todos os grupos de interesse. Ser lder no setor um bom foco para executivos e

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    Noes de empreendedorismo

    funcionrios, mas pouco interessa aos clientes. S se essa liderana trouxer melhor

    tecnologia ou economias de escala (CHIAVENATO, SAPIRO, 2009).

    Da mesma forma, de acordo com Chiavenato e Sapiro (2009), a viso de negcios

    deve produzir os seguintes efeitos:

    esclarecer a todos os grupos de interesse a direo de negcios: necessrio para

    que a organizao possa desenvolver e desdobrar seus recursos da maneira mais

    produtiva;

    descrever uma condio futura: a viso de negcios proporciona um estado futuro

    ideal da organizao e representa o pice de seu desenvolvimento naquele perodo

    viabilizado pela contribuio de todos os seus grupos de interesse;

    motivar os grupos de interesse envolvidos a executarem as aes necessrias: a

    viso de negcios que traz o entusiasmo e a energia para enfrentar sacrifcios com

    a promessa da concretizao futura de seus anseios;

    oferecer o foco: sem uma viso clara, as pessoas se sentem confusas para tomar as

    decises necessrias. No caso oposto, tm-se o estmulo autonomia que embasa

    o empowerment e o trabalho em equipe;

    inspirar as pessoas a trabalharem em direo a um conjunto integrado de objetivos:

    a viso de negcios deve tocar as pessoas em diferentes apelos quanto ao senso de

    realizao e pertencimento e ao compromisso de contribuir para alcanar objetivos

    organizacionais e pessoais (CHIAVENATO, SAPIRO, 2009).

    Abaixo, encontramos alguns exemplos de declaraes de viso alinhadas com os

    conceitos aqui apresentados:

    Ser a marca de servios mais respeitada do mundo. American Express (2004)

    Vislumbramos uma nao que direcione seus recursos para assegurar que todas

    as crianas tenham um futuro justo e promissor - uma nao em que todas as

    crianas prosperem. Fundao W. K. Kellogg (2011)

    Ser lder e inovadora na assistncia mdico-hospitalar, referncia na gesto do

    conhecimento e reconhecida pelo comprometimento com a responsabilidade so-

    cial. Hospital Albert Einstein (SBIBAE, 2009)

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    preendedorNoes de empreendedorismo

    Segundo Filion (1999) o desenvolvimento de uma viso exige, desde o incio, que

    certas condies sejam satisfeitas e certos passos sejam dados. As partes principais

    de um processo que se pode sugerir para isto sero apresentadas a seguir. As princi-

    pais condies para que se realize o desenvolvimento da viso esto relacionadas na

    Figura 2.1.

    Identificar um interesse por um setor de negcios

    Compreender um setor de negcios

    Imaginar e definir um contexto organizacional

    Identificar uma oportunidade

    Visar um nicho de forma diferenciada

    Planejar

    Figura 2.1 - O processo de desenvolvimento da viso.Fonte: FILION, 1999.

    Inicialmente, o interesse em uma rea particular um tanto vago, mas tende a

    tornar-se mais claro com o passar do tempo. Tal interesse constitui a base do que vir

    a ser a definio fundamental, ou piv, do sistema, conduzindo o empreendedor a

    focalizar, examinar, analisar e tentar entender o setor escolhido. O interesse do em-

    preendedor em um setor de negcios especfico pode ter origem em fontes diversas.

    Quanto mais novo for o empreendedor no incio do processo, maior ser a influncia

    do ambiente familiar. Quanto mais velho for o empreendedor, maior ser a influncia

    dos contatos com o meio de negcios ou da experincia prvia e das atividades de

    aprendizagem, frequentemente ligadas ao trabalho (FILION, 1999).

    Ainda segundo Filion (1999), difcil medir a compreenso que um empreende-

    dor tem sobre um setor de negcios. Alguns levam 10 anos, outros, 20 anos, e um

    determinado nmero de empreendedores jamais ir atingir um bom nvel de enten-

    dimento. Para detectar oportunidades de negcios, preciso ter intuio, intuio re-

    quer entendimento, e entendimento requer um nvel mnimo de conhecimento. Um

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    O indivduo em

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    Noes de empreendedorismo

    empreendedor ter a intuio de que algo possvel em um mercado em particular

    porque ele conhece o mercado o suficiente para entender seu funcionamento e ser

    capaz de detectar oportunidades.

    OS CONCEITOS DE MISSO E OBJETIVOS

    De acordo com Chiavenato e Sapiro (2009), a misso organizacional a declarao

    do propsito e do alcance da organizao em termos de produto e de mercado e

    responde questo: Qual o negcio da organizao? Ela se refere ao papel da

    organizao dentro da sociedade em que est envolvida e indica a sua razo de ser

    e de existir. A misso da organizao deve ser definida em termos de satisfazer a al-

    guma necessidade do ambiente externo e no em termos de oferecer algum produto

    ou servio.

    A misso organizacional deve contemplar os seguintes aspectos:

    a razo de ser da organizao;

    o papel da organizao na sociedade;

    a natureza do negcio da organizao;

    o valor que a organizao constri para seus pblicos de interesse;

    os tipos de atividades em que a organizao deve concentrar-se no futuro.

    Segundo Costa (2007), a formulao da misso pretende responder a perguntas

    como: Qual a necessidade bsica que a organizao pretende suprir? Que diferena

    faz, para o mundo externo, ela existir ou no? Para que serve? Qual a motivao

    bsica que inspirou os seus fundadores? Por que surgiu? Para que surgiu?

    Chiavenato e Sapiro (2009) afirmam que estabelecer e declarar formalmente a

    misso da organizao importante, pois:

    ajuda a concentrar o esforo das pessoas para uma direo, ao explicitar os princi-

    pais compromissos da organizao;

    afasta o risco de buscar propsitos conflitantes, evitando desgastes e falta de foco

    durante a execuo do plano estratgico;

    fundamenta a alocao dos recursos segundo o escopo dado pela misso;

    alinha a definio dos objetivos organizacionais (CHIAVENATO, SAPIRO, 2009).

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    O indivduo em

    preendedorNoes de empreendedorismo

    A declarao de misso organizacional representa, tambm, o primeiro esboo da

    definio de negcio. Um negcio pode ser definido em termos de trs dimenses:

    1. mercados ou segmentos (necessidade e desejos dos clientes);

    2. setores de atuao (produtos e servios);

    3. tecnologia e processos (excelncia operacional) (CHIAVENATO, SAPIRO, 2009).

    Abaixo, encontramos alguns exemplos de declaraes de misso alinhadas com os

    conceitos aqui apresentados:

    Antecipar, atender e exceder s expectativas de cada segmento com relao a

    sistemas de pagamento, servios financeiros e de viagens, em todo o mundo.

    American Express (2004)

    Apoiar crianas, famlias e comunidades a se fortalecerem e criar condies que

    impulsionem as crianas em situao de vulnerabilidade a alcanar o sucesso

    como indivduos e como contribuintes para a sua comunidade e a sociedade

    como um todo. W. K. Kellogg Foundation (2011)

    Oferecer excelncia de qualidade no mbito da sade, da gerao do conheci-

    mento e da responsabilidade social, como forma de evidenciar a contribuio

    da comunidade judaica sociedade brasileira. Hospital Albert Einstein (SBI-

    BAE, 2009)

    Objetivos e metas

    Conforme Chiavenato e Sapiro (2009), um objetivo um alvo futuro a atingir, uma

    meta a alcanar, um desejo sonhado ou uma expectativa que se pretende realizar

    em funo de um perodo de tempo. Quando um objetivo alcanado, ele se torna

    realidade e precisa ser substitudo por outro objetivo maior, menor ou diferente no

    espao de tempo esperado. Esse espao temporal pode ser de dias, semanas, meses,

    anos ou dcadas. E isso se faz continuamente ao longo do tempo.

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    O indivduo em

    preendedor

    Noes de empreendedorismo

    Chiavenato e Sapiro (2009) tambm afirmam que os objetivos tm sua importncia

    relacionada s mensagens internas e externas que enviam para dentro e para fora da

    organizao. Os objetivos so guias para:

    legitimar a existncia da organizao: os objetivos legitimam as pretenses da or-

    ganizao para os seus stakeholders, sejam internos (como executivos e colabora-

    dores), sejam externos (como acionistas, investidores, clientes etc.);

    tomar decises: os objetivos esto associados a planos que descrevem as aes ne-

    cessrias para alcan-los. Assim, orientam os colaboradores na reduo de incer-

    tezas na tomada de deciso e os motivam no sentido de indicar o caminho a seguir;

    tornar a organizao eficiente: os objetivos focalizam a ateno em desafios pon-

    tuais para dirigir os esforos de todos na organizao para os resultados a serem

    alcanados;

    avaliar do desempenho: os objetivos definem os resultados desejados e, assim,

    constituem critrios de avaliao do desempenho e representam o padro de exe-

    cuo desejado;

    manter a racionalidade: os objetivos permitem que todos saibam para onde a or-

    ganizao e suas unidades e departamentos pretendem ir. Permitem que todas as

    decises estejam alinhadas e focadas nos objetivos que a organizao pretende

    alcanar (CHIAVENATO, SAPIRO, 2009).

    Os objetivos devem apresentar as seguintes qualidades:

    devem ser especficos e mensurveis: sempre que possvel, os objetivos devem

    ser passveis de mensurao, definidos em bases objetivas e realistas em termos

    quantitativos, seja em nmeros absolutos, em porcentagem, em propores ou em

    comparaes;

    devem ser definidos para um determinado perodo de tempo: os objetivos devem

    determinar explicitamente o perodo de tempo em que devero ser alcanados.

    Isso permite uma avaliao do progresso em funo do tempo disponvel e uma

    comparao com os resultados alcanados em perodos anteriores;

    devem ser desafiadores, mas realistas: os objetivos devem oferecer desafios e opor-

    tunidades para as pessoas, para assegurar um sentimento de superao mas sem-

    pre em uma base razovel para elas;

    devem cobrir todas as reas de resultado da organizao: os objetivos devem en-

    volver aquelas atividades que melhor contribuem para os resultados da organiza-

    o. (CHIAVENATO, SAPIRO, 2009).

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    O indivduo em

    preendedorNoes de empreendedorismo

    Para efeitos de sntese e memorizao, possvel utilizarmos o artifcio apresenta-

    do no Quadro 2.4.

    Quadro 2.4 - Qualidades dos objetivos

    Os objetivos devem ter as seguintes qualidades:

    M ensurvel descrito em termos quantitativos, capazes de serem medidos; do contrrio como poderemos verificar o seu atingimento?

    E specfico descrito de maneira clara e distinta de outros objetivos;T emporal dentro de um prazo definido;A tingvel vivel, em funo dos recursos disponveis e do ambiente;S ignificativo ser relevante; um objetivo alcanado deve estar alinhado

    misso da empresa e deix-la mais prxima de sua viso.

    Fonte: adaptado de CHIAVENATO, SAPIRO, 2009.

    A RELAO ENTRE CONCEITOS

    Qual a relao entre os conceitos de viso, misso e objetivos?

    Podemos tentar responder a esta questo estabelecendo a seguinte metfora: a

    Viso representa o destino a ser alcanado; a Misso significa o caminho escolhido

    para se atingir tal destino; os Objetivos so os passos concretos dentro do caminho

    escolhido. Dessa maneira, podemos concluir que os Objetivos so os passos concre-

    tos que uma organizao estabelece e segue, num caminho previamente escolhido,

    a Misso, em direo ao seu destino, a Viso, dentro do Ambiente Competitivo.

    Esta relao est ilustrada na Figura 2.2:

    Misso

    Ambiente

    competitivo

    Viso

    Objetivos

    Empresa

    Figura 2.2 - Relao entre os conceitos de Viso, Misso e Objetivos.Fonte: elaborao prpria.

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