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Faculdade Cantareira Curso de Pós-Graduação em Educação Musical Jony Shiniti Goto Texto: Aspectos do pensamento de Paulo Freire

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Reflexões sobre o pensamento de Paulo Freire e a educação musical.

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Faculdade Cantareira

Curso de Ps-Graduao em Educao Musical

Jony Shiniti Goto

Texto: Aspectos do pensamento de Paulo FreireSo Paulo

Junho de 2013Jony Shiniti Goto

Texto: Aspectos do pensamento de Paulo Freire

Trabalho bimestral apresentado ao curso de Ps-Graduao em Educao Musical da Faculdade Cantareira

Disciplina: Didtica

So Paulo

Junho de 2013

Texto: Aspectos do pensamento de Paulo Freire

No decorrer deste semestre, na Disciplina de Didtica do Curso de Ps-Graduao em Educao Musical, da Faculdade Cantareira, vrias questes levantadas em sala de aula pela professora Enny Parejo, instigaram reflexes e discusses que buscaram principalmente a quebra de paradigmas quanto prtica pedaggica recorrente no sistema educacional brasileiro e sobre o tipo de educadores que podemos ou queremos nos tornar.

Nesse sentido, dentre todas as questes levantadas pela disciplina, uma pode ser considerada primordial: Por que importante ensinar msica para as pessoas? E pode ser considerada primordial porque justamente a resposta para esta questo, que fundamentada em suas convices pessoais, definir de que maneira um educador musical pode contribuir para a sociedade em que vive, ajudando a constru-la, tornando suas prticas pedaggicas conscientemente alinhadas com suas metas e objetivos.

Sendo assim, posso afirmar que a educao musical, muito antes de visar o domnio tcnico de instrumentos ou da teoria musical, um dos meios mais importantes que podem ser utilizada para trabalhar fatores de convivncia como inibio, autoestima, disciplina e respeito mtuo, por exemplo, contribuindo de forma poderosa na formao e no desenvolvimento do ser social, desde que seja conduzida por uma prtica prazerosa e acolhedora, primeiro fazendo msica, para s depois decifr-la. E este o ideal que nortear minhas reflexes e aes: A socializao por meio do fazer musical.

Tendo este ideal em mente, relaciono-os com dois aspectos do pensamento de Paulo Freire, um representando atitudes que considero negativas e outro que justamente a sua oposio.

O primeiro relativo concepo bancria da educao: Na viso bancria da educao, o saber uma doao dos que se julgam sbios aos que julgam nada saber. (FREIRE, 1970).

Essa viso, que nos remete a abordagem tradicional de ensino, extremamente rgido, na qual o professor o smbolo mximo da sabedoria e por isso mesmo o nico que detm o poder da palavra em sala de aula, no admitindo interrupes ou questionamentos por parte dos alunos, a prpria personificao da figura da opresso. triste, portanto, constatar que no so raros os relatos de que, ainda hoje, existem professores de msica que adotam esta postura, particularmente entre aqueles que ensinam tcnica em instrumentos musicais. Alm de adotar esta postura opressora de dono do saber, muitos deles temem que o aluno supere-o na habilidade tcnica e para proteger-se simplesmente sonegam informaes. Da mesma forma, so extremamente rigorosos na cobrana de resultados que muitas vezes so inatingveis, por sua prpria incapacidade de perceber os limites do aluno e no deixam de externar toda a sua decepo, quando este comete erros. O aluno, por outro lado, por avaliar que nada sabe, submete-se a esta condio de oprimido, buscando muitas vezes, apenas um olhar de aprovao do mestre. Seu processo de ensino baseado na mecanizao de procedimentos: Ao exigir que as escalas musicais e a localizao de suas respectivas notas em seu instrumento sejam decoradas, sem se preocupar em explicar sobre sua construo ou para qu servem, por exemplo, deixa o aluno sem entender o porque da importncia de conhec-las e consequentemente sem saber como pode utiliz-las, tornando essa informao totalmente vazia e fadada ao esquecimento.

A narrao, de que o educador o sujeito, conduz os educandos memorizao mecnica do contedo narrado. Mas ainda, a narrao os transforma em vasilhas, em recipientes a serem enchidos pelo educador. Quanto mais v enchendo os recipientes com seus depsitos, tanto melhor educador ser. Quanto mais se deixem docilmente encher, tanto melhores educandos sero. (FREIRE, 1970) Este o pensamento do educador engessado que segue seu mtodo risca, e que tenta encaixar a todo custo seus alunos nos moldes de seu mtodo de ensino, que considera perfeito. Se por alguma razo, um aluno em questo no progride, simplesmente o descarta e o considera como incompetente.

O que deveria ser, primeiramente, uma atividade prtica prazerosa, que poderia conduzir o aluno a entrar em contato com o mundo atravs de uma expresso artstica, que poderia at inseri-lo na realidade de outro contexto social diferente do seu, ampliando sua vivncia e sua viso de mundo, torna-se um pesadelo e ele desiste. E muitas vezes nunca mais retorna ao estudo de msica.O segundo aspecto relativo concepo de dialogicidade: Para o educador-educando, dialgico, problematizador, o contedo programtico no uma doao ou uma imposio um conjunto de informes a ser depositado nos educandos, mas a revoluo organizada, sistematizada e acrescentada ao povo, daqueles elementos que este lhe entregou de forma desestruturada (FREIRE, 1970)Sob esta tica, entendo que o dilogo o princpio que inspira e conduz as aes baseadas principalmente na troca de experincias, nos elementos e objetos de reflexo que surgem da relao de reciprocidade entre o educador e o aluno, que fazem com que a construo do conhecimento contribua para o crescimento sem distino, de ambas as partes: A educao autntica, repitamos, no se faz de A para B ou de A sobre B, mas de A com B, mediatizados pelo mundo. (FREIRE, 1970)

Penso que nesta concepo, o educador, humildemente, consciente de que est longe de saber tudo e que seu papel principal o de mediador entre o conhecimento do mundo e o aluno. Seu trabalho pode ser comparado ao de um tradutor, capaz de perceber as necessidades e anseios de seu aluno e dessa forma, consegue conduzi-lo de naturalmente, rumo ao conhecimento que este quer adquirir, que encontra um sentido contextualizado para seus ensinamentos e que, por consequncia, consegue incentiv-lo a buscar novas experincias, construindo e ampliando sua percepo crtica do mundo.Em contraste com o citado professor de tcnica de um instrumento musical da concepo bancria, penso que o educador dialgico aquele que por meio do dilogo, busca construir uma relao de confiana mtua, procura conhecer a realidade do contexto do aluno, estabelece laos afetivos, e demonstra sua preocupao genuna com a evoluo do aprendizado do aluno, sempre em processo de troca, atento s opinies do aluno sobre sua aula, acerca de suas dificuldades, suas dvidas e seus anseios: Ao fundar-se no amor, na humildade, na f nos homens, o dilogo se faz uma relao horizontal, em que a confiana de um plo no outro consequncia bvia. (FREIRE, 1970)

O educador musical dialgico atento aos gostos pessoais do aluno e utiliza-se desta informao para, por exemplo, estabelecer relaes com outros estilos musicais, que contenham elementos semelhantes que podem incentiv-lo a ampliar seu universo de escuta musical. Para o educador musical dialgico, importante justificar os exerccios puramente tcnicos ou tericos, muitas vezes maantes e cansativos, demonstrando ao aluno, porque necessrio pratic-los. Um dos meios que podem ser eficientes para esta finalidade a utilizao de trechos de msicas que o aluno aprecia e que deseja executar, mas que ainda no consegue, onde se possa comprovar a utilizao desse recurso tcnico especfico, ou seja, se voc quer chegar a tocar isso, voc tem que estudar isso. Alm disso, preocupa-se em transmitir ao aluno, todas as informaes que podem auxili-lo na compreenso das possibilidades de utilizao de seu instrumento, nos diferentes estilos musicais ou sobre aquela msica especfica que objeto de estudo, buscando com isso, despertar sua ateno aos detalhes e sentimentos que emergem desse entendimento, que podem auxiliar o aluno na busca de seu estilo prprio de interpretao, por exemplo.

aquele que prioriza o fazer musical como uma prtica prazerosa, consegue administrar a ansiedade do aluno e que ao apontar erros de execuo, busca caminhos alternativos para ajudar a super-los, sem nunca deixar de ressaltar os aspectos positivos de sua execuo.

E por meio desta atividade prtica prazerosa, conduz o aluno a entrar em contato com o mundo atravs de uma expresso artstica, que pode at mesmo inseri-lo na realidade de outro contexto social diferente do seu, ampliando sua vivncia e sua viso de mundo, construindo um ser social em busca de autonomia.REFERNCIA BIBLIOGRFICAFREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido, 17 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.