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GREGO RIO BAREMBLITT .- CINCO LIÇOES SOBRE A TRANSFERÊNCIA TERCEIRA EDIÇÃO EDITORA HUCITEC São Paulo, 1996

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  • GREGO RIO BAREMBLITT

    .-CINCO LIOES

    SOBRE ATRANSFERNCIA

    TERCEIRA EDIO

    EDITORA HUCITEC

    So Paulo, 1996

  • 38 LIES SOBRE A TRANSFERNCIA

    Por isso, limito-me a transmitir a maior quantidadede verses freudianas da transferncia que conheo.

    A CONCEPAOANGLO-SAXNICA

    - Voc disse que estaria imbudo um conceitode transferncia em cada modelo do aparelho ps-quico. Poderia fazer a exposio do modelo doaparelho psquico da histeria e do complexo dedipo com relao transferncia? HO.lE pretendemos repassar o concei to

    e transferncia tal como apareceu na obra de Me-lanie Klcin, Em rigor, tratar deste tema em MelanieIcin um pouco diferente de trat-Ia em Freud.

    O conceito de transferncia em Mclanic Klein notem, em nenhuma parte da obra, um tratamentoterico exclusivo ou deliberado. Pelo contrrio, atcnica em Melanie Klein tem dado grandes con-iribuics abordagem opcracional e instrumentalda transferncia. Teremos, ento, de lembrar umpouco mais as contribuies gerais da teoria deMc!anie Klcin, situando uma ou outra conseqnciaterica que tais contribuies tm sobre o conceitode transferncia. Trataremos de enfatizar as "me-didas prticas" de manejo da transferncia que elainventou e que realmente ocasionaram uma espciede pequena revoluo no procedimento psicanal-tico.

    O primeiro caso de anlise de criana que seconhece na histria da psicanlise foi a peculiaranlise feita por Freud sobre o famosssimo Hans,o "Joozinho". O garoto apresentou uma quantida-de de fobias, e seu pai, que havia sido analisado

    Resposta: Deus nos d longa vida ... Realmente,neste momento, j estava a ponto de encerrar estaexposio. No entanto, a forma mais simples, maiseconmica e menos sofrida de pelo menos abordara questo ser ler o verbete TRANSFERNCIA no Vo-cabulrio da Psicanlise, de Laplanche e Pontalis,onde foi feita uma explicao breve, certamentemuito clara, da transferncia no perodo da histeria,da transferncia em A Interpretao dos Sonhos,da transferncia nos casos clnicos, ela transferncianos artigos tcnicos (1910-1920), da transfernciaem "Inibio, sintoma e angstia". E, digamos, ospseudofechamentos com a transferncia no "Esboode psicanlise". Nessa obra pstuma, em duas outrs pginas, dar mais ou menos para fazer a di-ferenciao. De qualquer maneira, esta exposioserve para que saibamos que as diferentes exposi-es de transferncia no fazem seno cnfatizar al-guns destes elementos. Se aceitamos a idia de queno h nenhuma verso definitiva, ser um grandeestmulo para continuarmos estudando a transfe-rncia.

  • 40 LIES SOBRE A TRANSFERNCIA A CONCEPO ANGLO-SAXNICA 41

    Freud e era interessado pela psicanlise, resol-veu empreender uma espcie de anlise familiar- ele mesmo (o pai de Hans) atuando como psi-canalista de seu filhinho sob a superviso de Freud.Esta primeira anlise concreta de uma crianca tevecarter um tanto esdrxulo. O terapeuta era' o paido paciente e Freud - o terapeuta do pai - erao supcrvisor. Felizmente a ortodoxia ainda no esta-va em moda nessa ~poca, o que permitiu abrir umcaptulo interessante da psicanlise. No houve umaanlise direta de um paciente infantil.

    Anos depois, algumas terapeutas, especialmenteanalistas mulheres, estavam cientes da existnciada "doena mental" nas crianas, no apenas pelaobservao como tambm porque as obras tericasde Freud j haviam colocado o fato de que a neu-rose e outras doenas comeam na infncia e noapenas ocorriam na maturidade. Estas psicanalistastentaram aplicar a psicanlise em crianas. Umadelas foi Sofia Morgenthal e outra F. Helmuth, quefizeram ensaios simultaneamente com Anna Freud.As tentativas das duas primeiras no deram muitocerto, o que as desanimou, enquanto Anna Freuddesenvolveu um mtodo sistemtico de anlise decrianas. Afirmava ela que as crianas no estavamem condies de ser diretamente analisadas porqueno possuam o aparelho psquico totalmente cons-titudo. O superego no estava inteiramente implan-tado. A capacidade de simbolizao e de compre-enso das interpretaes e de aceitao da regrafundamental sobre a qual se edifica () contrato psi-

    canaltico eram limitadas. Anna Freud propunhaque, para analisar crianas, elas deveriam passarnum primeiro momento por um processo educativo,informativo, em que o terapeuta deveria reunir-secom elas em vrias oportunidades e explicar-Ihesem que consiste o trabalho psicanaltico, observaro grau de desenvolvimento intelectual, moral etc.S- depois desse perodo que se poderia proporum tratamento mais ou menos similar ao modelodo adulto.

    Na mesma poca mais ou menos, apareceu aclebre psicanalista Mclanic Klein, que era pacientede Abraharn, um' dos principais colaboradores deFrcud, que afirmava o contrrio. Dizia que as crian-as so perfeitamente passveis de anlise e que aanlise de crianas mais fcil e direta do que aanlise de adultos em muitos sentidos: na medidaem que esto mais "prximas de seu inconsciente",dispem de defesas secundrias menos consolida-das etc. Deve-se, claro, tomar conscincia de quea atividade expressiva da criana - aquilo atravsde que a vida psquica da criana se manifesta -,predominantemente, em sua vida cotidiana, era abrincadeira, o jogo.

    O erro de Anna Frcud consistia em querer aplicar criana um procedimento prprio do adulto, exi-gindo dela material verbal associativo, o que no6 o modo prcvalcntc de expresso da criana, em-bora seja capaz de faz-h O que se devia fazerera colocar a criana em condies as mais "na-turais" possveis e simplesmente sugerir-lhe ou dar-

    ..

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    lhe elementos para que brinque, para que jogue.O jogo espontneo da criana , nela, um materialto expressivo, significativo e representativo dasformaes inconscientes como o discurso verballivrc-associativo do adulto, Eis o que Melanie Klcincomeou a fazer. Depois de alguns anos de expe-rincia foi selecionando e rcclaborando na teoriafreudiana os aspectos da doutrina que lhe pareciammais inteligveis e teis na compreenso e inter-pretao do jog da criana, A que se cdificoua teoria ou tendncia klciniana em psicanlise. Me-lanie Klcin, como todos os continuadorcs de Frcud

    . ,no toma a teoria freudiana completa, in totum, esim seleciona aspectos da mesma, que extrai e ar-ticula sua maneira, introduzindo outros recursosprovenientes sobretudo de correntes lingsticas efilosficas anglo-saxnicas da sua preferncia.

    O sujeito psquico, para Melanie Klein. com-pe-se de uma unidade que ela chama de sar, quecompreende aproximadamente todas as instnciaspsquicas anunciadas por Freud em sua segundatpica.

    O sclf constitui-se desde o comeo por relaescom os objetos significativos no desenvolvimentode uma criana, A etapa anterior constituico doself um perodo de total disperso e fragme~taodo psiquismo, que lembra muito o que Freud cha-mava de auto-erotismo, situao em que o aparelhopsquico no est constitudo e compe-se de uni-dades erticas que funcionam ao acaso e geramimpulsos parciais que podem satisfazer-se em qual-

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    quer outra zona crgcna ou na mesma que a origina,Cria-se um universo anrquico, disperso, fragmen-tado. quc os alcrncs chamavam schpaltung ou zcr-sclrpaltung (fragmentao), O scl I constitui-sequando o universo anrquico organiza-se. unifica-seem uma entidade coerente. Isto acontece tendo co-mo prccondio uma relao complexa e indispcn-svcl com os objetos que so os outros sujeitosresponsveis pela criana. por sua criao, Existem

    foras que movem esse organismo psquico; estas

    foras so o que Mclunic Klci n chama de instintode vida e instinto de morte, Vocs podem perguntarse em Mclanic Klcin existe a diferena to co-nhecida entre "iusti nto" c "pulso". Esclarecemosque tal diferena. para Mclunic Klcin, irrclcvantc.Ela lula cru instinto algumas vezes e em outras,de pulso. No uma di [crena que lhe interessedcmusiado.

    Neste caso, o instinto de morte exatamente omesmo quc em Frcud - responsvel pela quietude,irnprodutividadc, dcstruio, fragmentao -, en-quanto o instinto de vida responsvel pelo movi-mente. atividade, juno, unio, organizao, dirccio-narncnto das foras cic. Segundo Mclanic Klcin, paraque esse organismo disperso. em estado de splilfillg.tenda ,I organizar-se, o instinto de vida c de mortedevem combinar-se entre si, de forma tal quc C) ins-tinto ele vida predomine e coloque () instinto de mortea xcu servio, aproveitando

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    ro que tal combinao precria nos primrdiosda vida psquica, de tal modo que o instinto demorte continua consideravelmente indomvel, nocontrolado, no dominado. Consegue-se, pelo me-nos nas primeiras etapas, organizar o splitting nesteuniverso fragmentrio. Mas s alcana Iaz-lo se-parando-o em duas partes mediante o primeiro me-canismo de defesa deste sclf, que processo dedissociao. Tal dissociao, de certa maneira, or-ganiza o sclf porque evita a disperso total, masno consegue uni-Io alm da ciso em duas partes.Esses dois setores no tm conexo entre si e vin-culam-se, por sua vez, em separado com seus res-pectivos objetos. Ou seja, os objetos tambm so-frem a mesma dissociao que o sei f. Esta estranhaestrutura partida, que relaciona uma parte do sclfcom uma do objeto, e outra parte do sclf com outrado objeto, consegue, desta maneira, que o sclf in-cipiente (que experimenta a ao da pulso de mor-te com uma vivncia muito sofrida que se chamaansiedade) possa combater a mesma e torn-Ia nointeiramente dcstrutiva. Ao contrrio, consegue queseja promotora, impulsiva para o desenvolvimento.Ademais da dissociao, que divide o sele e osobjetos em maus e bons, existem outras defesas,como por exemplo: os objetos bons e a parte boado sclf sero idealizados, isto , todas as exceln-cias scr-lhcs-o atribudas, todas as onipotncias emaravilhas, enquanto a outra parte do self,que serelaciona com outro objeto parcial, ser chamadade ruim, tendo poder de pcrsccuo, dano, dcstru-

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    tividadc. Outras defesas tambm sero utilizadas.Por exemplo: a negao ou declarao da incxis-tncia predominantemente do aspecto ruim.

    A teoria de Melanie Klcin tem sido muito criticadaporque os tericos perguntam-se como possvel,nesta etapa primria do psiquismo, que se resolvachamar "bom" ou "ruim" aos dois setores do self edos objetos, quando esta etapa pr-vcrbal, pr-jul-gativa, pr-tica, e o sujeito primordial no tem amenor capacidade para fazer tais julgamentos.

    Trata-se de uma crtica injusta, porque MclanicKlcin esclareceu muito bem que o "bom" e o"ruim" no tm nenhuma conotao moral, obede-cendo necessidade de denominar de algum modoessas etapas com uma terminologia que, evidente-mente, mais apropriada ao investigador do queao sujeito.

    Como o sujeito chamaria esses momentos e eta-pas, se pudesse falar, ningum sabe ... Ocorre queeste momento denominado por Mc\anie Klcin deposio, da mesma maneira que pedimos nossa"posio" quando vamos verificar o saldo de nossaconta bancria. A posio de que falamos chama-secsquizoparanidc. "Esquizo" pela dissociao, por-que h separao. "Paranidc" porque um lado daposio profundamente pcrsccutrio. Esta posiocaracteriza-se porque o sclf e o objeto esto dis-sociados, A" ansiedades muito intensas e predomi-nantes so pcrsecutrias ou paranicas, O sofrimen-to, o medo, a sensao de destruio so intensos.As defesas que operam no sentido de moderar tais

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    ansiedades so mecanismos de dissociao, ideali-zao, projeo do mau no objeto, negao etc.Teremos formas de "representaes mentais" (as-sim denominadas por Nlf11jl,~ieKlein) do estado noqual o psiquismo se encontra. Este estado estcomposto por um determinado equilbrio de forase uma topografia onde se distribuem o self e osobjetos, defesas etc. Trata-se de reconstruir comoa chamada "mente do sujeito" consegue representar,essa situao e - alm de represent-Ia - con-'segue de algum modo "ajeit-Ia" para torn-Ia su-portvel. As representaes que faz o sujeito nestaetapa chamam-se fantasmas ou fantasias. Os ingle-ses tm feito uma diferenciao entre "fantasy" e"phantasy". FANTASY refere-se aos devaneios,sonhos diurnos que todos temos. l'Hi\NTASY re-lativa aos produtos inconscientes aos quais no te-mos acesso direto, devendo ser reconstrudos, de-cifrados. Claro que nos bebs, ainda que existissemfantasmas, no existiria a menor possibilidade deacesso a esses materiais. Existe no adulto, no qualos fantasmas podem ser construdos a partir do dis-curso associativo, e nas crianas, que os manifes-tam no brincar. Tais fantasmas s sero rccons-trudos a partir da sua pcrvivncia, subsistncia epermanncia no sujeito simbolizante, o que nos per-mite supor o que acontece no beb. medida quese desenvolve e realiza o processo de desenvolvi-mento psicosscxual da criana, e que a criana temexperincias boas, especialmente com o lado bom,idealizado, em sua relao entre o sclf e os objetos,

    produzem-se transformaes de maneira que dimi-nui a dissociao e tende a produzir uma integraoentre o sclf dcstrudo, dani ficado, agressivo, pcr-secutrio ... e o sclf prazcroso, gratificante. O mes-mo acontece com os objetos. Eles e o sclf vo seintegrando, tendendo a transformar 6 self em sclftotal e os objetos em objetos totais, integrados. Esseprocesso faz com que as defesas sejam mais fluidas,de maneira que tendem a diminuir sua rigidez etransform-Ias em tcnicas de manejo das ansieda-des. Em termos dinmicos, predomina a pulso devida, conseguindo-se cada ver. mais colocar a pul-so de morte a seu servio. Os fantasmas so cadavez mais prximos do que seria o processo secun-drio no adulto. Passa-se, ento, para uma novaetapa, que Melanie Klcin denomina "posio de-prcssiva", em que se utilizam provavelmente asmesmas defesas de antes, porm mais atenuadas,acrescentando-se outras novas. Em termos gerais,diminuem a projco-introjco do self sobre osobjetos, a dissociao, idcalizao, negao e per-sccuo, tendendo a transformar-se na discrimina-o e capacidade seletiva do "normal". A proje-o-introjco utilizada para fins de empatia oucapacidade de colocar-se "em lugar de outro" ouincorporar aspectos positivos do outro que enrique-cem a personalidade. A idcalizao transforma-seem admirao e respeito pelos objetos reais e assimsucessivamente. Por outro lado, diminui a onipo-tncia tanto da maldade quanto da bondade, do su-jeito e dos objetos, de acordo com o princpio de

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    ranidc, enquanto sentimentos que a acompanham. .r'Outros sentimentos aparecem com a entrada da~ ~

    posio de ressiva) Por exemplo: o CIME - von- ~~.ta e de ossuir um ob'eto vaI' o que outro 110s- /;V~y.~i e no necessariamente vontade de destru-Io; a ~.CULPA - dor ou~orso pelos danos que se pode ('eventualmente ter causado (real ou imaginariamen-te) ao objeto; o MEDO - no tanto o medo davingana, da retaliao, do revide do objeto per-secutrio, porm o medo de causar-lhe dano pejag.gressividade e ho;-tilidade do sujeito. Surge a AN-GSTIA, que no deve ser confundida com 7n----siedade (caracterstica de todas as posies),~ prpria da posio depressiva ou ps-depressiva.Os ingleses diferenciam "angust" de "anxiety".Aparecem tambm sentimentos de REPARAO-vontade de curar, de consertar e construir, tantono que diz respeito ao self e ao objeto, e ainda osentimento de NOSTALGIA - capacidade de lem-brar o perdido ou destrudo com sentimento deSAUDADE, ao mesmo tempo resignada e relativa-mente gostosa. O idioma portugus privilegiadopor ser o nico que possui a palavra saudade, que uma nostalgia gostosa. Finalmente, aparece commaior clareza o sentimento de AMOR - anseiodo bem absoluto para o objeto e para si mesmo.

    Para completar o quadro, as posies, com suasrespectivas formas de self, objetos, ansiedades, de-fesas, instintos, sentimentos e fantasmas, coincidemrelativamente com as etapas que Freud enunciouem sua teoria do desenvolvimento psicossexual das

    realidade. Modificam-se os sentimentos - questoque acompanhou todo o tcmpo nossa descrio eque, voluntariamente, deixei excluda, para nocomplicar as coisas,

    Melanie Klcin atribui muitssima importnciaaos sentimentos inconscientes que, em Freud, se-gundo certas leituras, carecem desta importncia.Para Frcud os afetos e sentimentos so efeitos efenmenos que pertencem ordem do consciente,no tendo, assim, demasiada importncia para ainvestigao mctapsicolgica psicanaltica.

    Para Melanie Klcin, existem sentimentos incons-cientes o tempo todo, desde os prirnrdios do de-senvolvimento at a vida adulta. Alguns desses sen-timentos acompanham as caractersticas das posi-es. So prprios da csquizoparanidc e da cha-mada posio dcprcssiva e de uma nova etapa queMelanie Klcin no enunciou, e, talvez, poder-se-iaimagin-Ia, a etapa ps-dcpressiva. Os sentimentoscaractersticos durante a posio csquizoparanidcso: a AV[[)EZ - vontade de esvaziar, incorporarcompletamente o objeto e, assim, anul-to, clirni-n-lo; a VORACIDADE - que tambm um senti-mento de incorporao em que a destruio noest dada porque a incorporao exaustiva, seno"dcsgarrantc", dcsarticuladora do objeto como sefosse mastig-lo; o sentimento de INVEJA - von-tadc de colocar todo o mal do sujeito no objeto,porm no com o fim de possuir o bom que oobjeto detm. e sim com o fim de dcstru-ln

    Estas so as caractersticas da posio esquizopa-

  • 50 LIES SOBRE A TRANSFERNCIA

    fases crgcnas (fase oral primria e secundria, faseanal retentiva e expulsiva, fase flica e fase genital).

    ~ Alpms klcinianos afirmam que a fronteira entre atYf" slcose e a neurose, o lImIte entre a posio esqui-

    r,/' zoparanide e dcprcssiva, a fase anal secun an v~. em ue se come a a diferenar o sujeito do objeto,

    o mundo interno dQ externo o self de seus objiSa.!.m de todas as outras integraes que vo serealizar. Neste plano, uma diferena importariiC que Melanie Klcin baseia-se em suas observaes

    ..e acrescenta uma nova etapa intermediria entre a(~J fase anal e a fase flica - a ETAPA URETRAL1~ -, muito importante para ela, pr uanto as fanta-

    sias relacionadas com a urina, como urinar den rodo objeto, tm muito a ver com a inveja c vcicu-(ao de iml2ulsos inY..ej.Qso-s,.

    Outra~to importante a~diferen,a que eX,iste~'f.Y\ em M. ~q~nto concepo freudiana do gdi-~ QSL Essa diferena deve entender-se em dois sen-"V tidos: o primeiro sentido ue Freud afirma ue

    o di o instala-se plenamente e resolve-se entredois e guatro anos de idade, e tudo o que aconteceantes - auto-erotismo, narcisismo primrio, nar-cisismo secundrio etc. - ainda no pode ser con-siderado Complexo de dipo porque as posiesdo Complexo de dipo no podem estar definidas.

    I Melanie QEntretanto, bom lembrar que todos os fantas-mas que Melanie~d~obriu e catalogou soestritamente passveis de descoberta na clnica,especialmente n~ica de crianas e nCi'nicade psicticos n~da em gue as c-rianasainlaestariam nestas etapas e que os psicticos perma-

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    necem fixados nelas ou reg!"idem a elas _o mo-mento de catstrofe ou cataclismo do surto. Pode-.:.;..:.:.;:..:;;-.::.;;...==. -";;;"os discutir o achado, o deciframento da clnicados fantasmas, mas esto todos presentes. Para con-cluir, podemos dizer que no momento de sada par-

    J,,,cial da posio depressiva vai se consolida o~/~ processo muito importante que Melanic chama de'-J!:',.;f @mb~liza[2,listo ,} capacidade de elaborar, cap--gr\ turar, orde~r os fantasmas, impulsos, instintos, de-

    fesas, ansiedades e sentimentos em sistemas de [e-wesentao simblica conscicnjc. Este processo ,por sua vez, causa e efeito d e t e o que (embora de maneira recria roduz uma.certa" alidadc". Isto fundamenta o que paraMelanie Klein o princpio da cura, no demasiadodiferente daquele de Freud quando diz que a cura a instaurao e dominncia do processo secun-drio. Ou seja, a capacidade adquirida pelo sujeitopor meio da expresso ldica e sua possibilidadede simbolizar as vicissitudes de seu mundo interno,de dornin-lo, orden-Ia, em um sistema de repre-scntaes conscientes.

    Vejo-me obrigado a fazer toda esta passagempela teoria klciniana, o que deve ser, para alguns,absolutamente suprfluo, redundante e desnecess-rio, mas que nunca ser demais para outros. Sassim poderei referir-me s contribuies de Me-lanie Klein acerca da transferncia; bvio quetodo este devir, este processo evolutivo, tem mo-mentos de estagna~ao, progresso e regrcs-so. Para Melanie~.Q que fundamcntalmc~

    A CONCEPO ANGLOSAXNICA 53

    incide na progresso so os vnculos gue se es~-b~lecem com os objetos, predominantemente ~mos objetos bons, pcrmitindo quc os sll'citos acu-mulem experincias favorveis, introjetcm o . obom c o convertam no ncleo de seu self, conse-guindo assim integrar os instintos, ansiedades etc.~)Cesso que gera a t[cgr'essd para Melanie(~; o retroccsso, a fixao, so fundamental~~n-te as ex erincias de frustra 'o, ..9!!.a.ndo o .~UJCItOsentc-se atacado, privado de amor, imeotente ouabandonas.It!..r.clo Off.tO.Com isto, claro, podemosenumerar nove caracterstica~ .das cont~ibuies \ ...K-I'klcinianas, no sem antes definir o que e &ransfe-~..;;y~ncia \para Mclanie ~ No. nada ~ais n~da ~'.-.y.menos que a repetio gue se vaI prodUZIr, na vIlar ~em eral ou na situa 'o a illili e articu r,dos momcntos de fixa o nos uais sc ermaneceor falta de desenvolvimento ou se. etorna devid

    re resso originada pela frustra.c~o. Estes mo-mentos, que implicam formas de ser do self, for-mas de ser dos objetos, formas de articulaodos instintos, ansiedades tpicas, sentimentos t-picos e fantasmas tpicos, tendem a repetir-se pre-dominantementc por efeito da pulso de morte,c.!J;a natureza, alm de imobilizar, desarmar, con.-sistc em re etL

    As c ntribuies podem resumir-se assim:1) A t6cnica do j~: ~ criana deve ser co-

    locada em condies adequadas para desenvolvera ati~idade que lhe completamente :natucal" epredominante em sua vida, que ?rincar. No

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    necessrio pedagogia de nenhum tipo. O que sepode fazer favorec-Ia por meio de brinquedose de um ambiente ro cio ao '0 TO.

    2) A segunda contribuio klciniana a propostade que a inter reta o no precisa es erar ue atransferncia se estabelea or ue esta se estabelecimediataments... quando h o primeiro contatqcm. ---a-f.!iana a~sim que comea o jogo, e, por v~,ante~a relao com os pais ue consultam.

    3) Se a criana est regredida a um ponto defixao, e se o ponto de fixao significa predo-minncia das posies primrias, quer dizer quehaver um predomnio da pulso de morte, tendocomo efeito a dominncia na situao psicanalticada transferncia negativa. ~ interpretaes d~emser reeoces, rpidas e, por outro lado, devem estareentradas na transferncia negativa, no vnculo per-s~cutrio, destrutivQ., agressi~ S quando for com-p~eendido, simbolizado, capturado, que o proces---- - -.so con eguir continuar.

    4) A transferncia deve ser interpretada c2!!l0um fenmeno quc est a~cendo estritamenteaqui e agora na relao entre o aciente e o ter-:~uta. O que ac;n~ fora, na relao com os pais

    e com o mundo, s tem importncia na medidaem que manifestado para exprimir situaes queesto acontecendo entre o paciente e o terapeuta.Por outro lado, a histria pessoal que se pode re-construir a partir do decifrarncnto do ui e agorano tem tanta importncia. O gue Freud - hamava-- ~de construes no tem tanto peso, porque o as-

    A CONCEPO ANGLO-SAXNICA 55

    sado s im ortante na medida em uc est pLe-sente. Se se consegue simbolizar exaustivamente opresente' como transferncia entre o paciente e onalista, ode-se tornar desneccssno reconstruir o-assado.

    S) A quinta contribuio deve ser discutida quan-to a ser considerada uma contribuio ou um erro.Fica em aberto. Cada sesso '0 _o brincadeira, cadainstante da rela 'o contm um fa t . 'aJas-ma pode e deve ser interpretado ainda ue o sujeitoparea no estar em condies de aceit-Ia e ainda- ue na.o acene. O processo consiste em coiil'ffintaro fantasma com a realidade. S que a realidade,no caso, devido formulao anterior, reduz-sefundamentalmente realidade da pessoa e da tarefado analista. Em outras palavras, reconstri-se o fan-tasma em que aparece a vontade de devorar o ob-jeto, consurni-lo com avidez, o medo de ser per-seguido por ele, destrudo etc. A simbolizao re-sulta da confrontao entre os fantasmas decifradose a realidade da pessoa e da tare a a al'sta uenaturalmente no assim e no re' de fa~.e nc- . ~nhuma de as soisas. $

    6) Lm )rtncia do rocesso de simboliza o ue~');.~ consiste nec~ssariamente na exposio verba.l~~e.:.:.ca do que fOl~nten I 9. onslste. na mudana?da qualidade do jogo, em que os bnnquedos ad-quirem a caracterstica que realmente possuem eso manejados de maneira prazcrosa e criativa.

    7) Na interpretao do dipo precoce primor-dial a questo da simetria sexual, cujo ponto no

  • 56 LIES SOBRE A TRANSFERNCIA A CONCEPO ANGLO-SAXNICA 57

    foi tratado por ns na parte terica. Em poucas,dv-r.' palavras vamos rcsurni-lo. M.~ n!o adn:ite_orwrrV ue Freud ostula acercaia diSers..n.sa ~...EdipoprnJaSCldino e femininQ. No aceita o que mode a-r mente se chama a primazia do ltalus. No con-

    cr a com a definio que o ~ujei to faria da con-dio feminina como uma espcie de carncia dorgo masculino. O modelo de compreenso Ireu-diana do dipo o dipo masculino, enquanto odipo feminino se desenvolve como negativo domasculino. Para M.@ sada sexo tem seu dipoe um conhecimento implcito das caractersticas ana-tmicas de seu se O homem sabe que tem pnis,e o pnis entra nas vicissitudes de seus amores edi-pianos como: vontade de possuir genitalmente a me,medo de pcrd-lo pela castrao do pai etc. A mulhertem, muito cedo, a plena vivncia da existncia dasua vagina e da capacidade de cngravidar. Por suavez sofre um complexo de castrao articulado s

    t}{yicissiiudes do com .lexo ~ difX~,~a~ aquelZ-vivi~oX-~ em torno de fanta~IjlLsh; destrmao Interna, e nao~A~da , rda do ~nis il2!.?gjnri2,. Pode-se dizer q~tef'v- conceito kleiniano do difX) femi~in() e fXJsitivo, no

    sentido de que onglDal, e um iI?

  • um artigo chamado "Observando a conduta dos be-bs", no qual se abre a iluso de que tambm osbebs podem ser analisados (interessante neste mo-mento de crise de mercado que vivemos, pois, jque no Brasil h grande natalidade, a possibilidadede analisar os bebs empolgante ... ). Mas 'pareceque os bebs no so analisveis, at um determinado momento, em torno dos dois anos e meio~(~. quando os 5ebs ganham um apa~(~neuromuscular, sensorial e simblico suficiente-mente desenvolvido para permitir-Ihes cumprir aatividade que a base de Icitura do analista - ab~incadeira, o jogo. Supe-se gue a criana eS,tejVIvendo, neste erodo as osi 'es es uizo ara-nide e dcpressiva. Como j disse, as posies ca-~cterizam-se por no existir uma adequada inte-gra 'o dos instintos. No existe integrao de nada.Nem dos instintos, ncm do self, nem dos objetos,o que faz com gue as ~dadcs sejam muito iin-p~rtantes, bcm como as dcfe~ que iTVia e

    fA' de s~mbolizao!ja .. po~re. Portani,. o que p;e-)f dom ma, ~nLU.IQ...Q.9!J.9 e a~ nega ti~.~

    Entendemos por transferncia negativa o predo-t, mnio da . 'dade e a ersecuo na;t -

    fY"r ana-ltica.:-MeIanie Klcin diz que no adianta educar~ neste momento segundo a proposta de Anna Freud,. pois toda tentativa de informaes e educao cairno campo onde predomina a pulso de morte, ahostilidade e a persccuo. A criana no vai as-similar o ue se ensina. No adianta interpretarcnlatizando, por exemplo, a transferncia ertica,

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    porque no o ertico que predomina. O que prc.-d.9mina no o amor, o dio no simboliza~o,no capturado no sistema de representaes, niopermitindo que o impulso de vida, o ertico, o a!!l0-.!:O:iO, se desenvolva e tome a seu controle 0d1re-d.omnio da tnalidad da-\&.Ga-p&.Gfuica.Por isto que ela prescreve que o rimeiro a ser' pr..tado~ a transferncia negativa, ou seja, deve-se trabalhara invcia a avidez, a voracidade, o dio, o cifune,--~a cul a crsecutria etc.

    O que tcm ocorrido, sem entrar em muitos re-finamentos tericos, que a proposta kleiniana temsido mal interpretada. Mpitas yczes-

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    Resposta: Deprccnde-se um pouco da respostaanterior. Melanie Klein tem dois casos famosos, o"caso Dick" e o "caso Richard", sendo um delesdescrito de maneira admirvel em um livro grande,sesso por sesso, tudo que foi interpretado a Ri-chard - Relato da psicanlise de uma criana.Independentemente de coincidir ou no com a teo-ria kleiniana e com o tipo de interveno que ins-pira, o que deve ser resgatado com o maior respeitoe admirao a vontade de ob'etivar o trabai110que e a azo Nao sei se vocs observaram que ul-'-timamente nin rum ublica casos clnicos. Os psi-canalistas se ocupam em rcanalisar teoricamenteos casos de Freud. Mas no se sabe o que cadaum faz no consultrio o ue muito negativo araQ dcsenvolvimento_de..n.oss

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    "Acerca da importncia da formao de smbolos".H outros autores ps-klcinianos como innicoUpor exemplo, que se tm ocupado especialmentedisto. Eles afirmall! terminantemente gue a ca a-cidade de bicar (seja espontnea ou adquiridaatravs de uma anlise ou outros procedimentos) o antecedente, o prolcgrncno de qualquer outracapacidade criativa-construtiva-inventiva-sublima-tria do adulto. Existe um analista klciniano ar-gentino -@drigu)- que tem trabalhado sobreuma questo que, segundo me parece, responde sua pergunta, que a INTERPRETAO LDICA,no sentido, por exemplo, de que o analista de crian-as no precisa necessariamente colocar as inter-prctacs de forma verbal ou de maneira "adulta"e "ortodoxa"; Ie s precisa hrincar, por sua vez,de uma ane ra ue adote o cdi!o le a crianusa. Se ele brinca de maneira complementar e con-- 'segue transmitir significaes com esfe.recurso,..nrecisa_ interpretar . Com este recurso no precisa

    enunciar interpretaes em um sentido clssico, oque um grande desafio, porque os analistas sabeminterpretar, mas no sabem brincar. A se colocaum desafio, uma prova. Quanto o analista conservade uma criana brincalhona, e quanto conseguebrincar novamente com fins especficos para seuprocedimento?

    Cada sesso tem um fantasma que pode e deveser intelpretado, independentemente do entendi-mento ou da aceitao do paciente. Em que sentidopode ser um erro e em que sentido pode ser umacontribuio?

    - Gostaria que voc esclarecesse a quintacontribuio, quando afirma que pode ser um er-ro ou uma contribuio a questo da interpretao.

    Resposta: Esta uma excelente pergunta. No fcil resumir a resposta. A proposta kleiniana de que cada momento e segmento do que chama-mos "material" (jogo, discurso, sesso, perodo)tem um fantasma que pode e deve ser decifrado.Uma vez decifrado, eve ser comunicado ao pa-ciente independentemente de estar ou no em con-dies conscientes de assimil-Io, aceit-Ia. Istotem um ~10 positivo: os analistas, sabendo quepode ser assim, que pode haver um fantasma espe-cfico em cada segmento do material, esforam-seem decifr-Io, isto , diminuir aquelayarte do "ma-t~rial" qual no prestam ateno por ue lhes dimpresso de que "conversa fiada", que no ocaso compreender o que no "quer dizer nada".Existem analistas que tomam em demasiada con-siderao o que eu poderia lhe explicar atravs deuma metfora que uso para isto: poder-se-ia chamarde "engolideira" o aparelho de engolir? um neo-logismo. Existem terapeutas que levam em dema-siada considerao o dimetro da "engolideira': dopaciente. S lhe dizem coisas as quais esteja~-sutament;; seguros de que ele vai engolir orcwe

    se preocu am muito com a resposta imediata. Nestesentido, desconhecem, esquecem, no valorizam

  • que a interpretao s muito parcialmente est di-rgida ao cgo e conscincia. Ela o era e outro~_nveis e sua apropriao e rocedncia no se de-finem pela r~s osta imediata. Definem-se c dizFreud ela capacidade qlLe=posslli de abri ovosmateriais no ue vai aparecer de ais. Neste sentido bom ue os klcinianos insista!l1 em interpretaren uanto entendem;,quando entendem, interpret~O paciente no "entende" nada, e a sua primeiraresposta de desgosto ou rejeio. Isto no temimportncia. A questo continuar com a atenoflutuante, vendo o que vir. Neste sentido, posi-tivo. No sei se ficou claro quais so os sentidospositivos desta idia. Os'@fntidos~at", ou pelomenos discutveis, so os que Ereud dcixou.bem.,claro: o "material", o "discurso" do paciente eic.no so unif?rme e igualmente valiosos. Existempontos noms ue se chamam 170 A S DOINCONSCIENTE, que so, como em qualquer escri--------- .to, as palavras sublInhadas, assagens rivilegiadasue temos de considerar es ecialmente e cuja in-

    terpretao permite entender, retroativamente, todoo outro perodo e transcurso que no muito ex-

    rf:Y,1 pressivo ~ significativo. A traduo, or assim di-_-~_z~r, o decilrarncnto, deve ser feita a partir d