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Caderno de Estudos Linguísticos da Universidade Federal do Ceará Fortaleza- Ceará Edição nº 05 ---- 2012.1 Funcionalismo em perspectiva

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Fortaleza- Ceará Edição nº 05 ---- 2012.1

Funcionalismo em perspectiva

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CADERNOS DE ESTUDOS LINGUÍSTICOS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

Funcionalismo em perspectiva

Edição nº 05 2012.1

Coordenação e Supervisão

Claudete Lima

Revisão

Gisele Barroso Benício

Vanessa Paulino Venâncio

Suellen Moraes de Sousa

Renata Denipoti Cavalcante e Silva

Kelmy Vânia Camurça da Silva

Formatação

Alcilene Aguiar Pimenta

Eveline Tomaz Souza

Bruno Pereira Magalhães

Larissa Pedrosa Valente

Produção

Aliny da Silva Portela

Maria Camila Barros Alcântara

Daniel Victor da Silva Souza

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO.......................................................................6

SEÇÃO 1: ANÁLISE FUNCIONALISTA NA PERSPECTIVA DE FIGURA E FUNDO.....................................................................7

Uma análise funcionalista na perspectiva de figura e fundo em: La siesta del martes.......................................................................8

SEÇÃO 2: FUNÇÃO INTERPESSOAL.........................................23

A função interpessoal nos textos de opinião................................ 24

SEÇÃO 3: MODALIDADE DEÔNTICA NO DISCURSO POLÍTICO............................................................................. 37

A modalidade deôntica na construção do discurso político....................................................................... ............38

A modalidade deôntica no discurso político...................................49

SEÇÃO 4: INDETERMINAÇÃO DO AGENTE..............................61

A indeterminação do agente no português oral de países africanos.................................................................................62

SEÇÃO 5: GRAMATICALIZAÇÃO DO VERBO ”DAR“..................74

A gramaticalização do verbo ”dar“, no português brasileiro, nos séculos XIX e XX......................................................................75

6

APRESENTAÇÃO

A Revista Caderno de Estudos Linguísticos da Universidade Federal do Ceará é uma página voltada aos alunos do Curso de Letras, mais especificamente aos alunos da disciplina Linguística: Funcionalismo, ministrada pela Profa. Dra. Claudete Lima. Em sua 5ª edição, no semestre de 2012.1, o caderno de estudos apresenta os resultados das produções acadêmicas realizadas pelos alunos da referida disciplina, como critério de avaliação. Os artigos foram elaborados, organizados e publicados em coletividade, no qual professora dividiu a turma em três equipes para que pudéssemos chegar a esta edição, sendo estas: Revisão, Formatação e Publicação.

Os artigos apresentados nessa edição foram oriundos das inúmeras leituras e discussões em sala de aula, além das leituras extraclasses, que sempre nos eram recomendadas pela Profa. Claudete, visto que a vertente Funcionalista é bastante abrangente e rica em conteúdos. Os trabalhos abordam temas referente à língua e seus usos, à luz de renomados teóricos como: Givón, Halliday, Hopper, Dik, entre outros.

Nosso esforço em realizar esse trabalho foi com o objetivo de disponibilizar aos leitores bancos de dados para futuras pesquisas e motivar alunos da graduação a ingressarem, efetivamente, na carreira acadêmica. Deixamos nossos agradecimentos à querida Profa. Claudete Lima, que nos acompanhou durante todo o processo de construção do material, aqui apresentado, e nos motivou a nunca desistir.

Gratos,

A Edição

7

Seção 1

ANÁLISE FUNCIONALISTA NA PERSPECTIVA DE FIGURA E FUNDO

8

UMA ANÁLISE FUNCIONALISTA NA PERSPECTIVA DE

FIGURA E FUNDO EM: LA SIESTA DEL MARTES 1 Alcilene Aguiar PIMENTA 2

Maria Camila Barros ALCÂNTARA 3

Resumo: Apresentamos neste artigo um estudo sobre Figura e Fundo a partir da

perspectiva de análise hierárquica sugerida por Silveira (1990). Adotamos como objeto

de estudo o conto La siesta del martes do escritor colombiano Gabriel García Márquez.

Analisamos o texto em sua versão original, portanto, em língua espanhola. Durante o

processo de análise subdividimos a narrativa com base na estrutura proposta por Adam

(1992): situação inicial; compilação; (re) ações; resolução e situação final. Assim,

procuramos identificar a frequência das ocorrências de orações figura e orações fundo em

cada uma das partes que compõem o gênero conto. Além disso, investigamos o grau de

fundidade das orações Fundo em relação às orações Figura. Desse modo, nosso objetivo

neste trabalho foi verificar em que momento desse tipo de narração ocorre Figura ou

Fundo com mais intensidade.

Palavras-chave: Narrativa; Conto; Figura; Fundo.

INTRODUÇÃO

Quando vemos uma imagem, um texto, um livro, dentre outros,

percebemos de imediato o que é mais relevante ou o que está se

destacando no desenho ou no texto, dessa forma ativamos nossas

competências linguísticas para inferir o que se destaca e fazer hipóteses.

Nesse caso, estaríamos nos utilizando dos conceitos dos planos

discursivos de Figura e Fundo, propostos Silveira (1990, apud, Conceição

2010), em que a Figura é o elemento de maior destaque dentro de

determinado texto, que desencadeia papel fundamental dentro do campo

inserido, à medida que Fundo é o elemento que dá suporte para a Figura,

servindo como cenário e amplificando ou comentando o que é mais

1 Artigo apresentado como um dos critérios de avaliação da disciplina Linguística: Funcionalismo, ministrada pela profª Drª Claudete Lima. 2 Graduanda em Letras Português/Espanhol e suas respectivas literaturas pela Universidade Federal do Ceará. . E-mail: [email protected] 3 Graduanda em Letras Português/Espanhol e suas respectivas literaturas pela Universidade Federal do Ceará. . E-mail: [email protected]

9

importante em um texto, no caso a Figura, e “que estaria elencado em

mais de um nível, uns mais próximos da Figura e outros mais distantes.

Os mais próximos da Figura são, assim como ela, mais objetivos, isto é,

são mais icônicos.” (CONCEIÇÃO, 2010).

Se analisássemos um anúncio, extrairíamos, a princípio, o

objeto/coisa anunciado, isso seria Figura, posteriormente, visualizaríamos

as informações complementares a respeito desse objeto/coisa, como

valores, prazos e etc. Nesse caso, isso seria um exemplo de Fundo. Com

base nas teorias de Figura e Fundo e no modelo de análise hierárquica de

Silveira (1990), analisamos o conto La siesta del martes do escritor

colombiano Gabriel García Márquez, publicado em 1962. Analisamos o

texto em sua versão original, portanto, em língua espanhola. Durante o

processo de análise subdividimos a narrativa com base na estrutura

proposta por Adam (1992).

Nosso objetivo maior foi identificar em que partes da narração

apresentada através do gênero conto ocorrem Figura ou Fundo com mais

intensidade. Apresentamos uma subdivisão da narrativa para, assim,

analisarmos a frequência de orações figura e orações fundo existentes. O

presente artigo foi composto por cinco seções, de modo que, além dessa

breve Introdução, expomos a seguir os Pressupostos teóricos da pesquisa

e, posteriormente, os Procedimentos metodológicos, a Análise e discussão

dos resultados e, por fim, as Considerações finais.

1. FUNDAMENTOS TEÓRICOS

Conforme Bonini (2005), que trabalhou a noção de Sequência Textual

na análise pragmático-textual proposta por Adam (1992), sequência

narrativa é uma sucessão de fatos ou eventos, onde, por sua vez, ocorre

uma sucessão de eventos, nesse aspecto um evento/fato será sempre a

consequência de outro evento/fato; o texto é desenrolado por ter uma

unidade temática, ou seja, deverá privilegiar um agente que desencadeará

toda a função da narrativa. Aparecem, ainda, predicados transformados

no qual um fato implicará na transformação das características do

10

personagem; apresenta-se um processo, ou seja, a narrativa vai sempre

conter um começo, um meio e um fim; uma intriga, onde o autor

sustentará os fatos narrados e uma moral que, implícita ou não, trará

reflexões sobre o tema da narrativa.

A figura abaixo mostra os eventos da narrativa segundo a proposta

de Adam apontada por Bonini (BONINE, 2005, apud, ADAM, 1952) onde o

teórico subdivide a sequência narrativa em cinco momentos explícitos:

situação inicial; compilação; (re) ações; resolução e situação final.

Figura 1

Para Adam (ADAM, 1992, p. 28, apud, BENINE, 2005) sequência é um

esquema de interação dentro de um gênero que explicita a organização

das proposições em argumentos característicos que apresenta: 1) uma

rede relacional hierárquica, ou seja, uma grandeza decomponível em

partes ligadas entre si e ligadas ao todo que elas constituem, assim como

o modelo de gráfico apresentado por Blancafort (2007) em seu trabalho e

2) uma entidade relativamente autônoma, dotada de uma organização

interna que lhe é própria, como podemos perceber na figura abaixo.

11

Figura 2

Por meio desse modelo, podemos fazer inferências sobre a análise a

partir do recorte do corpus onde observamos os momentos de

figuratividade, tendo como base os aspectos apresentados acima: situação

inicial; complicação, desencadeamento 1; (Re) Ações ou avaliação;

Resolução, desencadeamento 2; situação final e moral. Feita essa prévia

teórica sobre sequência narrativa, apresentamos a seguir alguns

pressupostos teóricos sobre Figura e Fundo.

Levando em consideração a proposta teórica referente à Figura e

Fundo de Chedier (2007, apud, Hopper, 1979), percebemos que a Figura

pode ser comparada ao “esqueleto” de um texto, ou seja, à sua estrutura

base, seu plano mais saliente, já para Fundo Hopper denominou como

aquilo que serve de cenário, ajudando, amplificando ou comentando o que

é mais importante em um texto, sendo um plano discursivo que dá

suporte para o que está sendo transmitido pela figura.

Conforme explica Conceição (2010), as orações figura se referem a

um evento dinâmico e ativo e possuem verbos pontuais e perfectivos,

diferentemente das orações fundo, que possuem verbos

durativos/estáticos e imperfectivos. Vejamos a tabela a seguir:

12

FIGURA FUNDO Perfectum Imperfectivo

Sequência cronológica Simultaneidade e superposição cronológica de uma situação C com o evento A e/ou B

Visão do evento como um todo, do qual a completude é um pré-requisito necessário para o evento subsequente.

Visão de uma situação ou acontecimento do qual a completude não é um pré-requisito necessário para os eventos subsequentes.

Identidade do sujeito com cada episódio discreto.

Frequentes mudanças de sujeito.

Distribuição não-marcada do foco na oração, com pressuposição do sujeito e asserção no sujeito e seus complementos imediatos.

Distribuição do foco marcada, por exemplo, foco no sujeito, foco na sentença adverbial.

Tópicos humanos Variedade de tópicos, incluindo fenômenos naturais.

Eventos dinâmicos, cinéticos. Situações estáticas, descritivas.

Realis

Irrealis

Figura 3

Percebemos na primeira coluna, referente a Figura, que as

características tendem a afirmar a proposta de Hopper (1972), onde a

oração Figura segue uma sequência cronológica, e apresenta eventos

dinâmicos e cinéticos, já a segunda, referente a orações Fundo, apresenta

características de Simultaneidade e superposição cronológica de uma

situação referente a oração Figura e possuem uma situação estática.

Conceição (2010) apresenta a proposta de Silveira (1990), onde

esta propõe a ideia de uma hierarquia de fundidade, pois, como bem

afirma a autora, as funções das cláusulas Fundo, que ampliam e

comentam as afirmações feitas pela Figura são, por sua vez, muito amplas

e poderiam ser mais bem especificadas.

13

“Essa hierarquia está organizada em uma gradação que vai do

nível mais relevante, ou seja, a Figura, até um Fundo com menor

grau de Relevância. O Fundo, portanto, é que estaria elencado em

mais de um nível, uns mais próximos da Figura e outros mais

distantes. Os mais próximos da Figura são, assim como ela, mais

objetivos, isto é, são mais icônicos... A outra característica foi o

relacionamento funcional que se estabelece entre alguns tipos de

Fundo.” (CONCEIÇÃO, 2010)

Com base nessa ideia de hierarquia, a autora propõe cinco níveis de

Fundidade:

Categoria

Grau de objetividade (do mais para o menos icônico)

Como são Tipo de cláusulas- Fundo (relação funcional entre as cláusulas)

Fundo 1

Mais próximo do real, mais concreto.

Cláusulas-Fundo que apresentam informações concretas sobre o evento.

-Apresentação do evento; -Apresentação do cenário; -Apresentação dos participantes; -Apresentação da fala dos participantes.

Fundo 2

Ainda mais próximo do real.

Cláusulas-Fundo que através de circunstancias, especificam o âmbito em que os fatos se deram.

- Especificação do tempo; - Especificação de modo; - Especificação de finalidade.

Fundo 3

Próximo da estrutura do texto (mais abstrato e elaborado linguisticamente)

Cláusulas-Fundo que especificam vocábulos da cláusula anterior.

-Especificação do referente; -Especificação de processo/ação.

Próximo da interpretação do

Cláusulas-Fundo que

-Especificação de causa;

14

Fundo 4 falante ao assistir ao evento

especificam relações inferidas dos fatos narrados.

-Especificação de consequência; -Especificação de adversidade.

Fundo 5

Próximo do ato de narração.

Cláusulas-Fundo que apresentam interferências do falante no evento que está narrando.

- Apresentação de opinião; -Apresentação de resumo; -Apresentação de duvida; -Apresentação de conclusão; -Apresentação de canal.

Figura 4

Na figura acima (CONCEIÇÃO 2010, p.33, apud, SILVEIRA, 1990), a

autora do trabalho piloto, Silveira (1990), apresenta as categorias de

fundo, sue grau de objetividade, como elas são, e quais Tipo de cláusulas-

Fundo. Na primeira coluna observamos as categorias, sendo, Fundo 1,

Fundo 2, Fundo 3, Fundo 4 e Fundo 5. Na segunda coluna observamos o

grau de objetividade, referente a cada categoria de Fundo. Na terceira

coluna a autora apresenta como são as categorias de Fundo. Por fim, na

última coluna são expostos os tipos de Cláusulas-Fundo.

Fazendo um paralelo entre a primeira e a última categoria, pudemos

observar que o Fundo 1 é mais próximo do real, de modo que as

Cláusulas-Fundo apresentam informações concretas sobre o evento, bem

como, ilustram o evento, o cenário, os participantes e a fala dos

participantes. Entretanto, diferentemente do Fundo 1, o Fundo 5 é mais

próximo do ato de narração, as Cláusulas-Fundo mostram interferências

do falante no evento que está sendo narrado, além de apresentar opinião,

resumo, dúvida, conclusão e canal. Dessa forma, o último se distancia do

ato real, ou seja, está mais distante da Figura.

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2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Realizamos uma investigação exploratória de cunho quali-

quantitativo, que se delineou como bibliográfica, uma vez que para dar

início à pesquisa nos debruçamos na leitura dos textos teóricos que

embasaram nosso trabalho, e que nosso objeto de estudo é um texto

oriundo de publicação oficial.

Como mencionado anteriormente, fizemos uma análise funcionalista

na perspectiva de Figura e Fundo do conto La siesta del martes, de

Gabriel García Márquez. O referido conto é parte da coleção intitulada Los

funerales de la Mamá Grande, escrita em 1962. Em La siesta del martes é

mostrado um período da história colombiana chamado “La violencia”. Esse

momento histórico iniciou-se em 1948 e durou até 1957. Entre os

acontecimentos da época existia um conflito sangrento entre o partido

conservador y o partido liberal, que terminou com a ditadura do general

Gustavo Rojas Pinilla.

As situações mostradas no conto são reflexos de momentos

característicos de “La violencia”, vivenciados pelo próprio autor: opressão,

medo e a perda da esperança por parte dos colombianos que sofreram por

muitos anos, tanto durante, como depois desse fatídico período, ou seja,

neste conto Márquez expõe exemplos de situações angustiantes vividas

pelo seu povo. Trata-se de um conto relativamente curto, pois tem pouco

mais de quatro páginas. É protagonizado por uma mulher que vai visitar o

túmulo do filho, juntamente com sua filha mais nova. Para chegar à

pequena cidade, as duas enfrentam uma longa viagem de trem, grande

parte do enredo se desenvolve nesse percurso, contudo, os momentos

esclarecedores da história se passam na cidadezinha.

Analisamos o texto em sua versão original, ou seja, em língua

espanhola. Durante o processo de análise subdividimos a narrativa com

base na estrutura proposta por Adam (1992): situação inicial; compilação;

(re) ações; resolução e situação final, gerando, assim cinco categorias de

análise. De posse das categorias definidas, começamos o processo de

16

análise dos dados. Primeiramente, identificamos dentro do texto todas as

orações Figura e todas as orações Fundo. Em um segundo momento,

procuramos visualizar a frequência das ocorrências dessas orações em

cada uma das partes da narrativa e, posteriormente, analisamos os níveis

de fundidade das orações Fundo, de acordo com o modelo hierárquico de

Silveira (1990). Para ilustrar melhor os resultados obtidos, elaboramos

gráficos e tabelas que serão expostos na análise.

3. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Nesta seção apresentamos a análise e discussão sobre os dados

estudados no que diz respeito à questão Figura e Fundo. Ao lermos

atentamente o conto La siesta del martes de Gabriel Garcia Márquez,

fizemos uma categorização desse corpus, baseada na estrutura narrativa

proposta por Adam (1992). Desse modo, o conto foi subdividido em cinco

categorias de análise. Vejamos a seguir um panorama geral dessa

subdivisão.

Partes do conto Orações Figura Orações Fundo Total

Situação inicial 25 40 65

Complicação 08 13 21

(Re) Ações 07 04 11

Resoluções 04 02 06

Situação final 08 12 20

Figura 5

Como mostra a tabela acima, na parte classificada como situação

inicial havia 65 orações, sendo que 25 foram identificadas como orações

Figura e 40 como orações Fundo. A existência de mais orações Fundo

nesse momento da narrativa se deve ao fato de que ao apresentar a

história o autor foi construindo o ambiente em que as ações aconteceriam.

Somente na sétima oração é que ele começa a apresentar ações das

personagens: uma mulher e uma menina viajantes. “—Es mejor que

subas el vidrio—dijo la mujer—.” A partir de então as orações Figura

17

aparecem com mais frequência, entretanto, ainda há um predomínio das

orações Fundo.

Na complicação, segunda categoria de análise, fase que pode ser

denominada também de desencadeamento da situação inicial e que tem

uma relação de causalidade com as partes subsequentes, contabilizamos

um total de 21 orações, 8 Figura e 13 Fundo. Ainda que o percentual de

orações Figura tenha aumentado, se comparado ao percentual da

categoria anterior, as orações Fundo permanecem como maioria. Contudo,

ao adentrarmos no próximo bloco de análise, percebemos uma inversão.

Em (re) ações, há mais orações Figura e menos orações Fundo. De

11 orações no total, apenas 4 são Fundo. Este momento, provavelmente,

seria classificado como clímax se estivéssemos utilizando outros teóricos,

mas, conforme a proposta de Adam (1992), podemos classificar assim,

pois é o momento da narrativa que ocorre maior unidade de ação. A

partir desse momento ocorreu um segundo desencadeamento, ou seja, se

desenvolveu a parte da narrativa nomeada como resoluções.

Em resoluções visualizamos 6 orações, das quais apenas 2 eram

Fundo: “—Se tuvo que sacar todos los dientes —intervino la niña. —Así

es—confirmó la mujer—.” Na situação final as orações fundo voltam a

aparecer com mais intensidade, das 20 orações desse trecho, 12 eram

Fundo e apenas 8 Figura. Vejamos abaixo um gráfico que sintetiza os

percentuais encontrados.

18

Figura 6

Após essa breve análise estatística entre as orações Figura e

orações Fundo dentro do conto La siesta del martes, passamos ao

momento fundamental de nosso estudo, a análise dos níveis de fundidade

das orações Fundo existentes nessa narrativa. Conforme dissemos na

seção Fundamentos teóricos, utilizamos em nossa análise o modelo

hierárquico postulado por Silveira (1990). A seguir, faremos a análise

desses níveis em cada uma das categorias.

Em nossa análise, buscamos identificar os níveis de Fundidade

apontados por Silveira (1990) que se caracterizam como: Orações Fundo

1 - Apresentação do evento, apresentação do Cenário, apresentação dos

participantes, apresentação da fala dos participantes; Fundo 2 -

Especificação do tempo, especificação de modo, especificação de

finalidade; Fundo 3 - Especificação do referente, especificação de

processo/ação; Fundo 4 - Especificação de causa, especificação de

consequência, especificação de adversidade; e Fundo 5 - Apresentação de

Opinião, apresentação de resumo, apresentação de dúvida, apresentação

de conclusão; apresentação de canal. Em seguida, observemos trechos do

nosso corpus.

19

1 – Descrição do Cenário: “Al otro lado del camino, en intempestivos

espacios sin sembrar, habia oficinas con ventiladores eléctricos,

campamentos de ladrillos rojos y residencias con sillas y mesitas blancas

en las terrazas entre palmeras y rosales polvorientos.”

2 – Descrição de Tempo: “Eran las once de la mañana y todavia no

había empezado el calor.”

3 – Descrição de Ação/Processo: “La mujer le dió la peineta”

Nos planos discursivos (Re) Ação, Resolução e Situação Final

percebemos que as orações Figura estão mais presentes na narrativa, pois

notamos a presença de verbos perfectivos, eventos dinâmicos e ativos, ou

seja, verbos que exprimem ação:

1 - Es el ladrón que mataron aquí la semana pasada —dijo la mujer en el

mismo tono—. Yo soy su madre.

2 – La mujer contestó cuando acabó de firmar.

3 - La mujer garabateó su nombre, sosteniendo la cartera bajo la axila.

4 - La mujer continuó inalterable:

—Yo le decía que nunca robara nada que le hiciera falta a alguien

para comer, y él me hacía caso.

Nos exemplos acima, percebemos nitidamente os elementos que

constituem os planos das orações Figura e Fundo, sendo, essas

informações, principais e secundárias. Ambas de fundamental importância

para a narrativa. As orações Figura caracterizadas por ações concretas são

mais perceptíveis, já e as orações Fundo caracterizadas por ações irreais

estão mais para o plano da subjetividade fazendo com que dessa forma o

leitor organize as informações referentes ao texto, de acordo com sua

percepção ou sua intenção comunicativa.

Após analisar todos os níveis de fundidade das orações Fundo

encontradas no conto La siesta del martes, obtivemos os seguintes

resultados:

20

Estrutura/ Plano Discursivo

Orações Figura

Orações Fundo 1

Orações Fundo 2

Orações Fundo 3

Orações Fundo 4

Orações Fundo 5

Situação Inicial

25/65 (40,9%)

22/40 (32,5%)

8/40 (11,8%)

4/40 (5,4%)

4/40 (5,4%)

2/40 (2,9%)

Complica-ção

08/21 (38,9%)

9/13 (42,3%)

0/13 (0%)

1/13 (4,7%)

0/13 (0%)

3/13 (14,1%)

(Re) Ação 07/11 (63,6%)

2/4 (18,2%)

0/4 (0%)

0/4 (0%)

0/4 (0%)

2/4 (18,2%)

Resolução 04/06 (66,6%)

2/2 (33,4)

0/2 (0%)

0/2 (0%)

0/2 (0%)

0/2 (0%)

Situação Final

08/20 (40%)

10/12 (50%)

0/12 (0%)

2/12 (10%)

0/12 (0%)

0/12 (0%)

Total 52/119 (43,6%)

45/71 (63,3%)

8/71 (11,6%)

7/71 (9,8%)

4/71 (5,5%)

7/71 (9,8%)

Figura 7

Com base nos números da tabela acima, podemos inferir que nos

planos discursivos, situação inicial e Complicação há predomínio das

orações Fundo, caracterizadas pela notoriedade de situações táticas,

descritivas, como a descrição do cenário, dos personagens, especificação

do tempo, dentre outras características.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, constatamos a ocorrência de orações Fundo em

todos os momentos da subdivisão do texto, conforme o modelo de Adam

(1992). Além disso, pudemos visualizar os cinco níveis de fundidade

propostos por Silveira (1990), contudo, em percentuais distintos de

acordo com o momento da narrativa.

Assim, na Situação inicial e na complicação, observamos os cinco

níveis de Fundidade, porém, o nível 1 está presente em maior quantidade,

ou seja, 22 das 40 orações. Os demais níveis foram encontrados em

número menor, nos mostrando que nessa parte do texto as ações são

21

mais próximas do ato narrativo. Na (Re)Ação e Resolução, percebemos

que os níveis 2, 3 e 4 não estão presentes, pois, trata-se de uma parte da

enredo em que ocorre o desenvolvimento da trama e, nesse contexto, os

personagens têm papel mais ativo. Na Situação final, observamos uma

maior predominância do nível 1, sendo que os níveis de Fundidade 2, 4 e

5 não aparecem, devido ao fato dessa parte da sequência narrativa ser

mais próxima do real.

Em vista disso, verificamos a existência de orações principais e

secundárias, sendo que estas representam as ações secundárias, as quais

têm função importantíssima para a narrativa, pois são elementos que

complementam as ações principais.

REFERÊNCIAS

ADAM, J-M. Le récit. Paris: Presses Universitaires de France, 1984. Le

texte narratif. Paris: Nathan, 1985.

ALVES; Gabriela Roberto do Vale, FERREIRA; Mayar de Souza. Planos

discursivos nos contos de Clarice Lispecto: Uma análise funcionalista, In:

Cadernos de estudos linguísticos da Universidade Federal do Ceará. Ed.

nbº 3, Fortaleza, 2011.

BLANCAFORT; Helena Calsamiglia y WALL; Amparo Tusóu. Las cosas del

decir. Barcelona, Editora Ariel, 2007.

BONINI, Adair. A noção de sequência textual na análise pragmático-

textual de Jean-Michel Adam. In: MEURER, J. L.; BONINI, A.; MOTTA-

ROTH, D. Gêneros, teorias, métodos, debates. São Paulo: Parábola, 2005.

CHEDIER, Carolina Moreira. Perfil de figura fundo em crianças com e sem

queixas escolares / Carolina Moreira Chedier. Rio de Janeiro, 2007 106 f.:

il. Dissertação (Mestrado em Lingüística) – Universidade Federal do Rio de

Janeiro, Faculdade de Letras, 2007.

22

CONCEIÇÃO, Priscila Thaiss. Compreensão de Figura e Fundo em

TextosLiterários. Relatório Técnico-Científico apresentado ao CNPq. Rio de

Janeiro: Faculdade de Letras/ Universidade Federal do Rio de Janeiro,

2008, mimeo.

MÁRQUEZ, Gabriel García. Sequência de Cuadragésimo cuarta edición en

la Editorial Sudamericana Septiembre de 2001 IMPRESO EN LA

ARGENTINA Queda hecho el depósito que previene la ley 11.723.© 1962,

Editorial Sudamericana S.A.®Humberto Iº 531, Buenos

Aires.www.edsudamericana.com.arISBN 950-07-0091-3© 1962.

23

Seção 2

FUNÇÃO INTERPESSOAL

24

A FUNÇÃO INTERPESSOAL NOS TEXTOS DE OPINIÃO1

Gisele Barroso BENICIO 2

Vanessa Paulino VENANCIO

Resumo: O presente artigo terá como foco de sua análise a função interpessoal encontrada em textos de opinião. Analisaremos o nosso corpus de acordo com a teoria da valoração no intuito de perceber as diversas manifestações de opiniões expressas pelo autor dos editoriais escolhidos em nosso trabalho. Esse corpus é composto pelos textos do gênero editorial tirados da Folha de S. Paulo, “Da fala ao grunhido”, “Desfazendo equívocos” e “Preconceito cultural”, ambos de Ferreira Gullar. Apresentaremos as categorias de valoração que serão abordadas em nossa análise, restringindo-nos ao que será mais relevante em nossa pesquisa. Deixaremos claro que o nosso enfoque se concentrará na categoria de julgamento, buscando, desta forma, compreendermos qual o grau de argumentação utilizado pelo autor de nosso corpus ao sustentar suas proposições e ideias. Devemos ressaltar que nos valeremos dos resultados mais abrangentes a fim de que possamos demonstrar os aspectos gerais e que sejam coerentes com o propósito geral observado nos editoriais analisados.

Palavras-chave: valoração; julgamento; argumentação.

INTRODUÇÃO

A teoria da valoração, utilizada como embasamento teórico em

nossa pesquisa, fundamenta-se em categorias de análises em textos.

Surgida a partir de uma abordagem funcionalista, essa teoria possui uma

sistematização própria para analisar a avaliação e a perspectiva utilizada

na produção de um texto, não importando qual seja o seu gênero. No

entanto, utilizaremos textos de opinião a fim de valorizarmos nossa

proposta de análise. Iremos, doravante, demonstrar as categorias básicas

de valoração, dando maior enfoque naquela que será utilizada por nós

nesta pesquisa.

Temos na teoria da valoração um interesse em analisar a

perspectiva funcional das sentenças, não dando, assim, uma importância

primordial à forma; tendo em vista que o enfoque é dado nas questões

sociais que são embasadas na construção dos textos e discursos. Os

indivíduos constroem seus textos adotando determinadas posições que 1 Trabalho realizado mediante a disciplina Língua Portuguesa: Funcionalismo, ministrada pela Prof. Dra. Claudete Lima em junho de 2012. 2 Graduandas do Curso de Letras-Português da Universidade Federal do Ceará – UFC.

25

são concebidas em um universo social; portanto, buscaremos

compreender esses mecanismos de construção tendo como base as

categorias de valoração, a saber: afeto, julgamento, apreciação.

Ressaltamos, de antemão, que nos focaremos na categoria julgamento

com o intuito de encontrarmos resultados condizentes com a proporção da

força argumentativa utilizada em nosso corpus.

Em síntese, buscaremos ratificar a pretensão de nossa pesquisa

que se concentra numa relação dialógica entre a questão temática e os

recursos de argumentação e julgamento, com o intuito de atestar a

participação do autor no processo dialógico de suas proposições

enunciativas.

1. FUNDAMENTAÇÃO

Para a fundamentação teórica selecionamos, prioritariamente, o

artigo “Valoração – a linguagem da avaliação e da perspectiva”, de Peter

White, a fim de deixarmos claro nosso ponto de vista acerca do corpus

analisado.

Como foi dito anteriormente, a abordagem utilizada pela valoração,

quer de avaliações positivas, quer de negativas, sugere um agrupamento

dos campos semânticos afeto, julgamento, apreciação.

Deter-nos-emos, pois, na categoria julgamento, a qual é divida em

dois grupos: um que lida com a estima social e outro que é guiado pelas

sanções sociais. Todavia, apesar de o julgamento construir suas posições

e relação ao comportamento humano, devido ao recorte feito em relação

aos campos semânticos, iremos, em nossa análise, abstrair as categorias

de julgamento, ampliando o uso desses conceitos, também, para seres

inanimados.

Durante nossa análise, utilizaremos a obra A argumentação

(2008), de Christian Plantin, com seu modelo dialogal que propõe um

novo modo de pensar a atividade argumentativa, expandindo-a. Segundo

Plantin (2008), nesse modelo a enunciação situa-se contra o pano de

fundo do diálogo.

26

Enfim, dialogaremos as duas perspectivas, a da argumentação e a

da valoração, com o propósito de abordar a função interpessoal

evidenciada nos textos analisados.

2. METODOLOGIA

A metodologia utilizada para esta análise acerca da função

interpessoal nos textos de opinião fará usoda teoria da valoração, visto

que essa análise é prioritariamente qualitativa, e não quantitativa. Dessa

forma, em nossa conclusão, após a análise do corpus e das ocorrências

extraídas deste, iremos ver quais formas de julgamento foram mais

recorrentes e, também, as que foram menos usuais a fim de flagrarmos

com que intenção o autor utilizou tal forma, qual a isotopia presente no

texto.

3. O RECURSO DE JULGAMENTO DE VERACIDADE EM DA FALA AO

GRUNHIDO

Para esta análise usamos, sistematicamente, as técnicas de

valoração dialogadas com a forma de argumentar e com a perspectiva que

são utilizadas nos textos.

Nosso fim último, depois de coletar o corpus, é perceber qual a

mensagem que o autor desejou transmitir - nos, através dos recursos

menos utilizados e dos mais frequentes no texto. Esse tipo de julgamento,

prioritariamente, utiliza para codificação desta mesma categoria o

adjetivo, salvo em alguns exemplos nos quais teremos a presença

também de expressões, substantivos e advérbios. Como podemos

observar nos respectivos exemplos:

Está, portanto, implícito que não me considero dono da verdade, que nem sempre tenho razão porque há questões complexas demais para meu entendimento. (...) “todo mundo começa Rimbaud e acaba Olegário Mariano”.

27

Não vejo um professor de medicina afirmando que a tuberculose não é doença, mas um modo diferente de saúde, e que o melhor para o pulmão é fumar charutos. 3

Ferreira Gullar inicia seu texto assinalando como tem sido visto por

algumas pessoas e como ele se porta em relação à opinião da sociedade,

isso fica ilustrado no excerto seguinte: “Desconfio que, depois de

desfrutar durante quase toda a vida da fama de rebelde, estou sendo tido,

por certa gente, como conservador e reacionário. Não ligo para isso e até

me divirto, lembrando a célebre frase de Millôr Fernandes, segundo o qual

“todo mundo começa Rimbaud e acaba Olegário Mariano”.A explicativa

acerca da “fama” negativa do autor deve-se ao posicionamento deste em

relação ao uso da língua, tal fato é explanado posteriormente.

Nesse trecho citado é possível perceber o uso do recurso

veracidade nos adjetivos “conservador e reacionário”, ambos com valor

negativo. Durante a narrativa, Ferreira Gullar tece seu textoem cima de

uma justificativa tanto para a conotação negativa que recebeu, quanto

para atestar que sua hipótese é verídica.

Todavia, também há a presença de outros recursos como a

propriedade, a capacidade e a normalidade. É interessante observar que

estes foram utilizados também a serviço da hipótese posposta pelo autor.

O recurso da propriedade demonstra que Ferreira Gullar não está acima

da crítica, visto que possui “fama de rebelde”; enquanto que a

capacidade, perceptível através do adjetivo “célebre”, viabiliza a exaltação

das ideias de Millôr Fernandes que é usado em prol da ideologia do autor.

Por fim, o recurso da normalidade visível em “todo mundo começa

Rimbaud e acaba Olegário Mariano”,ilustra, através de uma metáfora que

utiliza o uso do nome de dois escritores, costumes antagônicos no âmbito

da fala que irão ser colocados em disputa durante a tessitura do texto, no

qual um será exaltado e o outro desprestigiado.

3 As citações seguintes presente nas análises são referentes ao nosso corpus: Da fala ao grunhido, Desfazendo equívocos e Preconceito cultural, ambos do Ferreira Gullar.

28

É perceptível que o recurso da normalidade também é usado com

frequência no texto, porém ele não é o principal, pois se constitui um

programa de uso para o recurso da veracidade. Para exemplificar cito o

autor: Se está certo dizer “dois mais dois é cinco”, então a regra gramatical, que determina a concordância do verbo com o sujeito, de nada vale.

E ainda: É verdade que ninguém morre por falar errado, mas, certamente, dizendo “nós vai” e desconhecendo as normas da língua, nunca entrará para a universidade, como entrou nosso professor.

Notamos por meio dos excertos acima que o recurso da

normalidade nos expõe as duas maneiras de falar presentes no texto,

sendo que as estimas sociais vêm carregadas ora com valor positivo,

“certo”, ora com valor negativo, “errado”.

Prosseguindo em nossa análise, Ferreira Gullar,durante o

texto,alterna quanto ao tipo de julgamento veracidade, ora com valor

positivo, ora com valor negativo, visto que no texto Da fala ao grunhido

são levantadas duas hipóteses a respeito da língua, mais propriamente do

modo de falar, que diz respeito à norma padrão e à coloquial. Portanto, o

autor, embora inicie levantando questionamentos e hipóteses, posiciona-

se em relação aos padrões de linguagem, mostrando-se favorável a um

padrão e desfavorável ao outro. Como podemos ver em tais trechos.

Cito um exemplo. Outro dia, ouvi um professor de português afirmar que, em matéria de idioma, não existe certo nem errado, ou seja, tudo está certo.

Dessa forma, o autor faz uso dos elementos contrários para

ratificar sua opinião acerca do uso da linguagem. Sendo assim, expõe de

forma sutil seu posicionamento sem parecer uma ideia absoluta.

Criticamente, utiliza metáforas e exemplos do cotidiano a fim de mostrar o

que se contrapõe a sua ideia, aquilo que tem caráter contraditório.

29

Não vejo um professor de medicina afirmando que a tuberculose não é doença, mas um modo diferente de saúde, e que o melhor para o pulmão é fumar charutos.

Concluindo nossa análise, temos o autor Ferreira Gullar,no

decorrer do editorial, mudando o tipo de voz de declaração para

atribuição, no intuito de tornar seu texto mais imparcial, já que este foi

redigido em primeira pessoa. Tal prerrogativa e tantas outras compõem

um polo de argumentos que atestam a visão do autor a fim de tornar

indubitável seu posicionamento que prioriza o uso padrão da língua. Essa

transição da voz de declaração para atribuição pode ser vista nestes

fragmentos, respectivamente: “Por isso, às vezes, se não concordo, fico

em dúvida, a me perguntar se estou certo ou não”, “Pode o leitor alegar

que a época é outra, mais dinâmica, e que a globalização tende a misturar

as línguas como nunca ocorreu antes”, isto é, no primeiro extrato o

discurso está em primeira pessoa, enquanto que o segundo está em

terceira pessoa.

Portanto, o recurso veracidade priorizado nesse texto sanciona

atitudes sociais, com valores positivos e negativos, e dessa forma, elogia

uma ideia e condena outra, dialogicamente.

Em suma, para firmar definitivamente essa análise expomos o

último parágrafo do editorial:

(...) Isso de falar correto é coisa velha, e o que importa é que as pessoas se entenda, ainda que apenas grunhindo.

Nesse excerto o autor, de forma peculiar, conclui seu texto

rematando a ideia contrária, contudo não no intuito de afirmá-la, mas de

criticá-la ao dizer que o modo de falar que se distancia do padrão

constitui-se um “grunhindo”, mesmo que viabilize a comunicação.

4. O JULGAMENTO DE VERACIDADE EM DESFAZENDO EQUÍVOCOS

30

Doravante iniciaremos nossa análise tentando compreender de que

maneira o autor do texto Desfazendo equívocos procurou demonstrar sua

argumentação em torno do tema abordado em seu discurso.

Como já se pode inferir a partir do título, o autor procurou

transmitir aos seus leitores uma verdade condicionada pelo seu

pensamento e pelo seu modo de experienciar o conhecimento de mundo.

O texto centraliza-se na questão do movimento neoconcreto brasileiro e,

para início de conversa, Ferreira Gullar, autor do texto em análise,

apresenta uma proposta equivocada acerca de sua pessoa em relação ao

grupo concretista paulista. Para ilustrar a forma de argumentação

utilizada pelo autor, temos o seguinte excerto: “Costuma-se afirmar que o

movimento neoconcreto nasceu da ruptura minha com o grupo concretista

paulista, o que não é verdade”.

Concluímos a partir daí, que o propósito primeiro do autor foi

explicitar a verdade considerada por ele equivocada. Em seguida,

acompanhando o percursogerativo de sentido do texto, temos o refutar da

ideia exposta anteriormente. Isso nos comprova a tese do modelo dialogal

da argumentação, em que a situação argumentativa é desenvolvida pelo

confronto de pontos de vista em contradição. “Em particular, as

justificativas podem se fazer acompanhar de uma série de ações

concretas, coorientadas pelas falas e visando tornar sensíveis as posições

defendidas.” (PLANTIN, 2008, p.65).Tomando como base esse processo

dialogal da argumentação, fortaleceremos o nosso propósito de atestar a

força argumentativa utilizada no processo.

Logo adiante, temos a posição do autor evidenciada no discurso

com o intuito de contradizer e refutar a opinião equivocada que

permanecia até então.

Na verdade, a ideia de caracterizar o grupo de artistas do Rio, até entãoconsiderados concretistas, como neoconcretos nasceu da constatação de que o que faziam diferia muito do que se considerava arte concreta. Não foi uma invenção minha, e sim uma constatação. (Grifo nosso)

31

O que temos nesse excerto é, segundo a teoria da valoração, um

julgamento de veracidade do tipo positiva, em que atestamos a voz do

autor explicitamente, numa declaração. Observamos ainda, que o discurso

inicia-se com a expressão na verdade, o que alega uma nova visão acerca

de um argumento que já foi demonstrado anteriormente. Destarte, o

discurso toma uma nova dimensão, enveredando para uma proposta de

veracidade que se completa com a expressão final e sim uma constatação.

Prosseguindo em nossa análise, verificamos que em alguns pontos

o autor valeu-se dos recursos de julgamento Capacidade e Usualidade.

Isso nos chamou atenção pelo fato de o discurso tomar novas proporções

que não foram lançadas no contexto fortuitamente. Embora tenhamos

atestado um maior privilégio na categoria de julgamento Veracidade, a

questão da utilização dos outros recursos supracitados nos revela um

texto que, para atingir o seu ápice argumentativo, enfatiza o recurso de

Capacidade, com o intuito de pôr em xeque a validez do discurso alheio. É

interessantíssimo o emprego de tal recurso, uma vez que um texto que se

focasse apenas em uma categoria de julgamento tornar-se-ia enfadonho

ede pouca credibilidade. Se pensássemos em um discurso que a todo o

momento refere-se ao discurso do outro como não verdadeiro,

poderíamos concebê-lo como enfraquecido do ponto de vista

argumentativo. O discurso torna-se capcioso na medida em que o leitor

arguto percebe a utilização de tais recursos esporádicos, mas não

fortuitos.

No trecho “A ideia de atribuir um novo nome a essas

experiências não teve nada a ver com a rivalidade entre mim e os poetas

concretistas paulistas.”; observamos mais uma vez a desconstrução de

conceitos prévios que estariam impregnados na concepção dos seus

leitores. Desta vez, notamos que aparece uma voz radical de declaração

enfatizando a razão do autor naquilo de que se pretende convencer.

Dando prosseguimento ao nosso raciocínio, verificamos que

indubitavelmente a presença do recurso de julgamento Veracidade está

presente no decorrer de todo o discurso produzido. A função interpessoal

32

é evidente em todos os seus aspectos, até mesmo quando o autor se vale

de vozes alheias, seja confirmando-a ou contradizendo-a, pois procura

dessa forma dar maior credibilidade a sua opinião.

No excerto “Não pretendo afirmar que a criação artística se dá às

cegas, por mera intuição.”; notamos uma preocupação do autor em se

justificar perante o seu leitor, de forma a não dar margem para possíveis

interpretações que não correspondam ao verdadeiro intuito do discurso

produzido. E, destarte, a categoria de Veracidade é mais uma vez

reafirmada.

Ao fim do texto analisado, temos, naturalmente, uma conclusão e

síntese da proposta do discurso efetuado. Isso fica comprovado neste

trecho: “Finalmente, devo esclarecer que não me afastei da arte

neoconcreta por ter rompido com ela e com meus companheiros.” Temos

ao todo uma declaração, em que a voz do autor predomina em sua grande

maioria com a utilização dos recursos de Veracidade, primordialmente,

Capacidade e Usualidade.

Em conclusão, podemos afirmar que a categoria Veracidade teria a

maior probabilidade de ocorrer em virtude do título e do assunto, e isso

não nos foi surpresa, porém o que nos promoveu curiosidade foi a forma

de trabalhar os recursos de julgamento em um âmbito de argumentação

dialógica no tocante aos pontos de vista em contradição. Concebemos

então, o encontro do discurso com o contradiscurso na função interpessoal

do texto.

5. O RECURSO DE NORMALIDADE EM PRECONCEITO CULTURAL

O que temos no texto de opinião Preconceito cultural, de Ferreira

Gullar, é uma discussão sobre a definição de literaturanegra concebida

ultimamente como uma literatura escrita por negros e mulatos.

Prosseguindo na linha de raciocínio do autor, encontramos como recurso

abrangente a categoria de julgamento Normalidade, e é com o propósito

33

de atestarmos com que intenção foi utilizada tal categoria que iniciaremos

nosso estudo.

Como convém a um texto argumentativo-dialógico, o editorial em

análise inicia-se com uma visão que a posteriori o autor irá refutar:

“De alguns anos para cá, passou-se a falar em literatura negra brasileira para definir uma literatura escrita por negros e mulatos. Tenho dúvidas da pertinência de uma tal designação. E me lembrei de que, no campo das artes plásticas, em começos do século 20, falava-se de uma escultura negra, mas, creio eu, de maneira apropriada. (Grifo nosso)

Podemos observar que além do refutamento da proposta

convencional temos a voz declarativa que se propõe a pôr em xeque a

validez da definição de literatura negra brasileira. A princípio não vemos

um tom de reprovação radical por parte do autor, porém ele cria uma

dúvida, o que para Plantin, (2008, p.64), “Do ponto de vista psicológico,

pode se fazer acompanhar de um estado de desconforto psicológico do

tipo ‘inquietação’.”.

O que se pode observar logo em seguida é que o autor põe em

evidência uma voz de terceiros, atribuindo um juízo de valor positivo

acerca do que foi dito. É nesse momento que o uso da categoria de

julgamento Normalidade vai aparecer nitidamente com a expressão

maneira apropriada. Temos um julgamento que tange o comportamento

humano em relação ao modo de se referir à escultura negra.

O recurso Normalidade, aqui entendido como comportamento e

maneira de agir, ficou explicitado como positivo, dando-nos a ideia de

aprovação do autor na opinião concebida.

No parágrafo seguinte, temos as palavras do autor:

Certamente, os estudiosos reconhecem que, sem o negro e sua criatividade, seu modo próprio de encarar a vida e mudá-la em festa e beleza, não seríamos quem somos. Mas teria sentido, agora, pretender separar, no samba, na dança, no Carnaval, o que é negro do que não é? (Grifo nosso)

34

No excerto supracitado, observamos a noção de pergunta

argumentativa, em que o proponente elabora uma pergunta, argumenta

e, por último, conclui, oferecendo, ele mesmo, uma resposta à sua

indagação. Assim, a argumentação constrói-se a partir de perguntas e

respostas que formam um conflito discursivo.

No mesmo parágrafo é possível apreender a interpessoalidade, aqui

efetivada na Normalidade, no momento em que ele deixa transparecer a

sua opinião antes mesmo de concluir a pergunta. Basta atentarmos para a

expressão teria sentido logo no início da frase.

Prosseguindo em nossa análise temos: “Mas, infelizmente, na

literatura, essa descriminação começa a surgir. Não acredito que vá muito

longe, uma vez que é destituída de fundamento, mas, de qualquer

maneira, contribuirá para criar confusão.”. Temos nesse pequeno trecho,

três expressões de julgamento do autor que podem convergir na questão

do comportamento perante a concepção errônea que se tem de literatura

negra no Brasil.

Durante a tessitura do texto, temos a utilização de outros recursos

de julgamento, a saber: Tenacidade, Capacidade e Veracidade, para ficar

nos mais utilizados. Isso comprova o que já foi mencionado na análise do

texto anterior e reflete na concepção de escrita do autor escolhido. Os

recursos de julgamento nos auxiliam, destarte, a compreendermos os

mecanismos de construção e de intenção do autor.

Finalizando nossa análise do texto Preconceito cultural,

conseguimos atestar mediante os recursos de julgamento da teoria da

valoração a categoria de Normalidade como a mais relevante nesse texto,

o que valoriza e explica de certa forma, o título; uma vez que o

preconceito está atrelado ao comportamento humano. Como parágrafo de

fechamento, temos:

Contra toda evidência, afirmam que só quando se formar no Brasil um grande público afrodescendente os escritores negros serão reconhecidos, como se só quem é negro tivesse isenção para gostar de literatura escrita por negros. Dizer isso ou é tolice ou má-fé.

35

Apenas reiterando o que já foi mencionado, observamos nesse

parágrafo a síntese da opinião do autor, que se vale, mais uma vez da

categoria de Normalidade, agora numa acepção negativa.

CONCLUSÃO

Podemos concluir, a partir das análises dos textos, que a categoria

da valoração lança um olhar avaliativo sobre estes, de forma a nos

orientar quanto à apreensão do sentido do texto.

Os recursos de julgamentos estão divididos em dois grandes

grupos: o da estima social e o da sanção social. No primeiro temos os

respectivos recursos normalidade, capacidade e tenacidade. Enquanto que

no segundo, de semelhante modo, temos a veracidade e a propriedade.

De acordo com a análise de nosso corpus teremos como principais

recursos: a veracidade, que será o recurso recorrente tanto no texto Da

fala ao grunhido como no Desfazendo equívocos e a normalidade presente

em Preconceito cultural, ambos de Ferreira Gullar.

Enfim, nos dois primeiros textos o autor posiciona-se,

favoravelmente, em relação a uma ideia apresentada com valor eufórico.

No primeiro, tecendo essas ideias análogas de forma que levante

argumentos para confirmar seu posicionamento e antiargumentos para

negar aquilo que lhe é contrário; alternando, portanto, o recurso

veracidade utilizado ora com valor positivo, ora negativo. Já no segundo

ele também através do recurso da veracidade vai desconstruindo a ideia

presente, já institucionalizada, por isso que esta sanção social se

constituirá numa condenação, terá valor,prioritariamente, negativo.

Enquanto que no terceiro vigora o recurso da normalidade a fim de fazer

jus ao título Preconceito cultural, o qual faz referência a um

comportamento social, neste caso, com valor negativo, uma crítica.

Temos, no entanto, um trabalho que utiliza poucos recursos da

teoria da valoração, e dessa forma, deixamos em aberto várias

36

possibilidades de estudo que façam uso da mesma teoria aqui utilizada

como embasamento.

BIBLIOGRAFIA

GULLAR, Ferreira. Da fala ao grunhindo. E8 ilustrada. Folha de São Paulo.

_______________. Desfazendo equívocos. E10 ilustrada. Folha de São

Paulo.

_______________. Preconceito cultural. E12 ilustrada. Folha de São

Paulo.

PLANTIN, Christian. A argumentação. Tradução Marcos Marcionilo. São

Paulo: Parábola Editorial, 2008.

WHITE, Peter. “Valoração – a linguagem da avaliação e da perspectiva”.

Linguagem em (Dis)curso (2004).

37

Seção 3

MODALIDADE DEÔNTICA NO DISCURSO POLÍTICO

38

A MODALIDADE DEÔNTICA NA CONSTRUÇÃO DO DISCURSO POLÍTICO

Eveline TOMAZ SOUZA1

RESUMO: O presente trabalho apresenta uma pesquisa voltada para a contribuição dada pela categoria modalidade deôntica na construção do discurso político. A modalidade deôntica é vista como um processo de construção textual ligada aos conceitos de permissão, obrigação e proibição, necessariamente. Partindo de uma visão geral de modalidade relacionada à elaboração de sentido dentro do discurso, trabalhamos com os conceitos de modalidade deôntica e dos valores deônticos bem como as aplicações dessas concepções no discurso de posse do presidente americano Barack Obama. PALAVRAS-CHAVE: MODALIDADE DEÔNTICA, VALORES DEÔNTICOS, DISCURSO POLÍTICO. ABSTRACT: This paper presents a research focused on the contribution by category deontic modality in the construction of political discourse. Deontic modality is seen as a process of textual construction linked to the concepts of permission, obligation and prohibition, necessarily. Starting with an overview of the modality related to the development of meaning within the discourse, we work with the concepts of deontic modality and deontic values as well as applications of these concepts in the inauguration speech of the American President Barack Obama. KEYWORDS: DEONTIC MODALITY, DEONTIC VALUES, POLITICAL SPEECH.

INTRODUÇÃO

A Modalidade está relacionada com os elementos

discursivos(permissão, obrigação, possibilidade, necessidade), utilizadas

pelo falante como a finalidade de levar o ouvinte a ação. É uma categoria

constituída de elementos pragmático-discursivos,diretamente ligados ao

discurso do falante e às situações de fala. Em se tratando dessas

categorias,é sabido que nos discursos políticos, uma gama considerável

desses elementos está presente em forma verbal, deadjetivos, de

substantivos ou de advérbios.Apresenta-se então a forma de expressão

que traz a modalidade constituída no discurso, seja ele político ou de

qualquer outro gênero.

1 Graduanda em Letras Português-Inglês, com trabalho orientado pela profa. Dra. Claudete Lima na disciplina de Funcionalismo, na Universidade Federal do Ceará - UFC.

39

Focando o pensamento e análise no discurso político e, sendo eles

uma fonte de estudo que desperta um interesse por parte de muitos,

decidimos por escrever este trabalho com a finalidade de observar como a

modalidade é construída dentro do discurso político e a forma como essa

construção é dada. Foi escolhido então, para análise, o discurso de posse

do presidente americano Barack Obama. Será interessante observar como

a modalidade vai se delineando dentro de um discurso em língua

estrangeira composto por fortes elementos culturais e históricos que

diferem da realidade do nosso país.

Tomaremos como base os conceitos de Lyons (1977), Dick (1997) e

Pessoa (2007) que nos forneceram a base necessária para discorrer sobre

Modalidade Deôntica o que tornou viável a identificação dos elementos

relacionados a essa categoria dentro de um discurso. Seguindo os

postulados dos autores citados, a primeira parte desse trabalho abordará

os conceitos referentes a Modalidade e ao subgrupo, Modalidade Deôntica,

apresentando definições que tornarão nosso trabalho claro e

compreensível.

Na segunda parte desse estudo, será expostos os dados

encontrados no discurso citado e uma categorização dos mesmos. Em

seguida, na terceira parte do artigo, discutiremos a relação dos

modalizadores com a mensagem que o falante objetivou passar com seu

discurso.

Esperamos, dessa maneira, tornar evidente o uso dos modalizadores

nesse tipo de texto bem como mostrar para os leitores desse artigo

formas de uso da Modalidade Deôntica em discursos políticos e modos de

análise que podem ser utilizados em outros trabalhos futuros.

UM BREVE OLHAR SOBRE MODALIDADE

O linguista Pessoa (2007) defende que Modalidade é um domínio

semântico-discursivo, uma vez que o falante faz uso dos modalizadores

para a construção de sentido dentro do discurso.É a maneira como o

40

falante vai direcionando o discurso, seja para um sentido mais permissivo,

proibitório ou obrigatório, de modo que a sua mensagem expresse o valor

desejado.

A modalidade é tida como elaborada em termos funcionais

envolvendo o discurso do falante e a impressão do ouvinte em relação ao

processo de comunicação. Também, o uso de Modalidade abre um leque

de possibilidades de expressão discursiva, ou seja, o discurso do falante

pode ser recuperado mesmo quando o uso de modalizadores não esteja

explicitado.

De uma maneira mais geral, podemos olhar para a Modalidade como

uma gramaticalização das atitudes e opiniões dos sujeitos. Para uma início

de análise é necessário a observação de dois constituintes: o predicado e

seus argumentos bem como suas relações.

A Modalidade vai exprimir gradativamente a intenção do falante face

ao conteúdo proposicional do enunciado por ele produzido. Os valores de

possibilidade, permissão, obrigação, necessidade se relacionam de forma

equivalente.

A Modalidade linguística pode ser expressa por uma grande

variedade de formas que vão, em conjunto, tornando viável a finalidade

da mensagem: meios morfológicos, prosódicos e os elementos lexicais e

sintáticos. Os valores modais dividem-se em diferentes graus sendo os

mais comuns o grau deôntico e o grau epistêmico (relaciona-se com a

ideia de possibilidade) que fazem uso de diferentes modalizadores que lhe

darão o aspecto modalizador. Como já exposto, centraremos nossa

atenção na modalidade deôntica.

MODALIDADE DEÔNTICA

A Modalidade deôntica está relacionada à ideia de possibilidade ou

necessidade presente nos atos de falas e que dizem respeito à mensagem

que o falante pretende construir. O indivíduo, ao fazer uso da modalidade

deôntica, dá uma direção ao discurso, manipulando-o de forma a

41

despertar no ouvinte uma expressão voltada à permissão, obrigação ou

proibição.

Podemos afirmar que a modalidade deôntica está ligada

intrinsecamente aos sujeitos, ocorrendo principalmente com elementos

proposicionais dinâmicos. O falante vai fazer uso de elementos de forma a

impor, permitir, proibir o interlocutor quanto à realização do conteúdo

proposicional.

Segundo Lyons (1977), a modalidade deôntica teria sua origem na

função desiderativa da linguagem:

A origem da modalidade deôntica, como tem sido frequentemente

sugerida, é buscada nas funções desiderativa e instrumental da

linguagem: isso quer dizer que, no uso da linguagem, ela serve, de

um lado para expressar ou designar vontades e desejos e, de

outro, para conseguir que algo seja feito, com a imposição da

própria vontade a outros agentes (Lyons, 1977).

De acordo com Dick (1997) a modalidade deôntica está situada na

predicação relacionada à função representacional da linguagem; o autor

propõe assim uma organização da frase em camadas com uma tentativa

de formalização da estrutura frasal de forma que a frase já apresenta

todas as funções definidas. Estabelece-se então a modalidade deôntica

como possuidora de um componente interpessoal, uma vez que tem como

papel a modalização, o direcionamento da mensagem com o intuito de

levar o interlocutor à ação.

É interessante comentar a noção de futuridade presente na

modalidade deôntica no que se refere ao discurso político, no caso, um

discurso de posse que traz uma série de comprometimentos, obrigações,

permissões que devem ser realizados num tempo futuro.

No que tangem os valores deônticos, Lyons (1977) relaciona a

noção de permissão à possibilidade e a noção de obrigação à necessidade.

É interessante notar que essas noções podem aparecer diretamente e

indiretamente dentro do discurso bem como podem estar relacionadas

42

direta e indiretamente entre si, o que podem conferir ao discurso sentidos

diferentes. Daí, é importante salientar que esses limites nem sempre

poderão ser identificados considerando que no uso prático a utilização de

modalizadores pode variar no sentido e a sua relação com os elementos

satélites nem sempre é facilmente definida.

A PRESENÇA DOS VALORES DEÔNTICOS NO DISCURSO DE BARACK

OBAMA

Nessa seção do trabalho apresentaremos os dados coletados no

discurso de posse do presidente americano, relatando a forma como a

ocorrência se apresenta bem como o valor expresso por ela.

Os critérios de análise dar-se-á do seguinte modo: na tabela a

seguir estão organizadas na ordem em que aparecem no discurso as

sentenças nas quais há presença de modalizadores e a categorização

desses quanto à forma (verbo, adjetivo, substantivo, advérbio) e o

valor(permissão, obrigação, proibição)por eles expresso. A seguir

discutiremos a relação desses modalizadores dentro do discurso bem

como o sentido expresso por esses elementos.

Tabela 1

Ocorrência de frases com agentes modalizadores no discurso de

Obama

OCORRÊNCIA VALOR FORMA

1. Assim deve ser para essa

geração de americanos.

Permissão

sugestiva

Verbo

auxiliar

modal

2.”um temor persistente que faz

com que a próxima geração deva reduzir

suas perspectivas.”

Obrigação Verbo

auxiliar

modal

3.Mas saiba disso América,eles Obrigação Verbo Pleno

43

serão resolvidos.”

4.”todos são livres e todos

merecem a oportunidade de perseguir

sua plena medida de felicidade.”

Permissão

concessiva

Verbo pleno

5.”compreendemos que a grandeza

nunca é um fato consumado, deve ser

merecida.”

Obrigação Verbo

auxiliar

modal

6.”A partir de hoje devemos nos

reerguer(...)”

Obrigação Verbo pleno

7.”(...)vamos agir, não apenas para

criar novos empregos(…)”

Obrigação Verbo pleno

8.”(...)os dólares públicos terão de

prestar contas.”

Obrigação Verbo pleno

9.

”(...)trabalharemosincansavelmente(...)”

Obrigação Verbo pleno

10.”Não pediremos desculpas pelo

nosso modo de vida(...)”

Obrigação Verbo pleno

e advérbio

11. ”(…) e que a América deve

exercer seu papel trazendo uma nova era

de paz.”

Obrigação Verbo

auxiliar

modal

12. “(…)nós os derrotaremos Obrigação Verbo pleno

13.”(...)prometemos trabalhar ao

seu lado.”

Obrigação Verbo pleno

14.”(...)o mundo mudou, devemos

mudar com ele.”

Permissão

sugestiva

Verbo

auxiliar

modal

15.”(...)é exatamente este espírito

que deve habitar em todos.”

Permissão

sugestiva

Verbo

auxiliar

modal

16.”pois por mais que o governo

possa fazer e deva fazer(...)”

Obrigação Verbo

auxiliar

44

modal

17.”(...)todas as raças e todas as

fés podemhoje se unir em

comemoração(...)”

Permissão

autorizada

Verbo

auxiliar

modal

18. ”(...) meu pai menos de 60 anos

atrás, talvez não fosse atendido hoje pode se

colocar diante de você.”

Permissão

autorizada

Verbo auxiliar

modal

19. “Quando a resposta for sim,

pretendemos seguir em frente.”

Permissão

autorizada

Verbo pleno

Podemos perceber a maior ocorrência do verbo auxiliar modalizador

dever ora funcionando com modalizador de permissão, ora como

obrigação e quando acompanhado do advérbio de negação não

funcionando como modalizador de proibição. Na sentença (1) “Assim deve

ser para essa geração de americanos” o falante propõe algo ao ouvinte,

tenta mostrar que esse estado é o estado ideal e que deve ser seguido. Já

na ocorrência (2) “um temor persistente que faz com que a próxima

geração deva reduzir suas perspectivas” o verbo auxiliar modalizador

carrega a ideia de obrigação, pois a próxima geração será obrigada a

reduzir suas perspectivas diante do temor que persiste.

Na terceira sentença (3) “Mas saiba disso América, eles serão

resolvidos” o verbo pleno nessa sentença sugere a ideia de obrigação, o

comprometimento do falante diante de uma situação desfavorável. Em (4)

“todos são livres e todos merecem a oportunidade de perseguir sua plena

medida de felicidade” expõem-se uma permissão concedida para os

indivíduos em geral, o uso do verbo pleno merecem reforça o sentido de

direito adquirido. Na sentença (5) “compreendemos que a grandeza nunca

é um fato consumado, deve ser merecida”, compreendemos o verbo

modal dever ligado ao sentido de negação do advérbio nunca dando a

ideia de obrigação, pois a grandeza do qual está sendo falada somente

será alcançada por merecimento.

45

Nas construções (6) ”A partir de hoje devemos nos reerguer (...)” e

(7)” (...) vamos agir, não apenas para criar novos empregos (…)” temos

os verbos dever e ir como verbos plenos ligados a ideia de obrigação

conjunta, sendo que em ambos os verbos podemos recuperar o

sujeito.Aqui,fazendo uso do nosso conhecimento de mundo,é sabido que

tal discurso foi proferido num momento de grande turbulência econômica

nos EUA, o que também nos permitir compreender o sentido que o falante

constrói.

É evidente o sentido de obrigação nas sentenças que seguirão nas

quais tem o uso de verbos plenos terão, trabalharemos, pediremos

vinculado ao advérbio de negação não, o verbo auxiliar deve,

derrotaremos e prometemos,mais uma vez ressaltando o

comprometimento do falante tendo em vista a sua situação no momento

do discurso,(8) “(...) os dólares públicos terão de prestar contar”,(9)

”(...)trabalharemos incansavelmente(...)”, (10) “Não pediremos desculpas

pelo nosso modo de vida (...)”, (11) ”(…) e que a América deve exercer

seu papel trazendo uma nova era de paz”,(12) “(…)nós os derrotaremos”

e (13) “(...) prometemos trabalhar ao seu lado”. Quando defendemos que

estes verbos levam consigo a ideia de obrigação, estamos levando em

consideração a figura que o falante representa, além de promessas, tal

discurso apresenta o papel que um presidente deve exercer. Esse papel é

de conhecimento de toda a sociedade, mas, no discurso, a exposição

dessas obrigações serve para passar aos ouvintes o compromisso do

falante.

Ligadas à ideia de permissão sugestiva temos as sentenças (14)

“(...)o mundo mudou, devemos mudar com ele” e (15) “(...)é exatamente

este espírito que deve habitar em todos”. Em ambas as frases temos o

verbo modal dever funcionando como modalizador nos dando a ideia de

algo que é permitido aos ouvintes e ao mesmo tempo sugerindo que

determinada ação seja realizada.

Na sentença seguinte temos a presença de dois modalizadores, um

epistêmico (possibilidade) e um deôntico (obrigação). O verbo auxiliar

46

modal dever traz consigo novamente a relação de obrigação,

comprometimento do governo com a sociedade, nessa ocorrência temos a

presença da possibilidade(modalidade epistêmica) e obrigação

(modalidade deôntica) , “(16) pois por mais que o governo possa fazer e

deva fazer(...)”.

Em (17) “(...)todas as raças e todas as fés podem hoje se unir em

comemoração(...)” e (18) “(...) meu pai menos de 60 anos atrás, talvez

não fosse atendido hoje pode se colocar diante de você”, podemos

classificar como permissão concessiva muito próxima da ideia de

possibilidade, mas considerando a realidade histórica em que o falante

está inserido, o advérbio de tempo hoje revela-nos passa osentido de algo

permitido atualmente, concedido pelos agentes que tanto lutaram para a

concretização desta ação; como dissemos, muito próximo à ideia de

possibilidade. Já em (19) “Quando a resposta for sim, pretendemos seguir

em frente”, o verbo pleno pretendemos também funcionando com

modalizador de permissão concessiva,deixa claro na sentença a ideia de

permissão que poderá ser concedida mediante a resposta positiva do

ouvinte.

É interessante salientar que se faz necessário um total contato com

o corpus utilizado. Seria interessante que o leitor desse artigo entendesse

o sentido geral do discurso do presidente americano, tendo em vista a

construção que o agente vai moldando com o suporte dado pelos

modalizadores. Como nesse trabalho apenas o uso

da modalidade deôntica foi analisada,muitos trechos e passagens do

discurso com modalidade epistêmica presente foram ignorados e apenas

aqueles com ligação direta, ou seja, que também trazia a modalidade

deôntica foram colhidos. Por fim, é importante observar que não houve

nenhuma ocorrência de modalizador proibitivo. Pode-se comentar,

historicamente falando, que o discurso do presidente americano focou na

turbulência pela qual o país estava passando na época de sua eleição,

portanto, fez-se necessário o maior uso possível de modalizadores ligados

47

a obrigação por parte do falante, de modo a passar a sensação de

esperança para o povo americano.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto podemos observar que, no tocante ao uso da

modalidade deôntica, o discurso foi construído em sua maior parte ligado

à ideia de obrigação fazendo uso ora do verbo auxiliar modal dever, ora

com verbos plenos no tempo futuro, resgatando o caráter de futuridade

da modalidade deôntica.Seguido da ideia de obrigação, temos a

construção do sentido de permissão que caminha lado a lado com a ideia

de possibilidade (modalidade epistêmica).O resultado não surpreende,

pois o que se espera de um discurso político é o comprometimento do

falante que expõe suas obrigações, o que dali para frente será viável para

aquela sociedade. Podemos então afirmar que a modalidade deôntica é

um suporte de extrema importância para a construção do discurso político

considerando que o esperado no desenvolver desse tipo de discurso são

as ideias de obrigação, necessariamente, e é esse um dos sentidos

abrangidos pela modalidade deôntica.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Berlin/ New York: Mounton de Gruyter, 1997a. Disponível em

http://www.googlebooks.com.br/. Acesso em 26 de maio de 2012.

DIK. C. S. The Theory of Funcional Grammar . Vol. 1. Ed by Hengeveld

(Kees).

LYONS, John. Semantics. Vo l. 2. Cambridge: Cambridge University

Press, 1977. Disponível em http://www.googlebooks.com.br/. Acesso em

26 de maio de 2012.

48

PESSOA, Nadja Paulino. Modalidade deôntica e persuasão no discurso

publicitário.

2007. Dissertação (Mestrado em Lingüística) – Programa de Pós-

Graduação em

Lingüística, Universidade Federal do Ceará - UFC, Fortaleza, 2007.

49

A MODALIDADE DEÔNTICA NO DISCURSO POLÍTICO1

Aliny da Silva PORTELA2

Resumo: O discurso político se configura em um palco onde ideologias são manifestadas e o discurso do “dever” se faz pertinente. Tendo isso em vista, o presente artigo objetiva analisar as formas de expressão da modalidade deôntica nos discursos políticos do senador baiano João Durval. Para tanto, através de uma concepção funcionalista dos estudos linguísticos, verificaremos como se apresentam as variáveis de valor deôntico (proibição, permissão sugestiva, permissão autorizada, permissão concessiva, obrigação) e as formas de expressão (verbo pleno, verbo auxiliar modal, adjetivo, substantivo, advérbio) com que se manifestam no corpus selecionado. Esse, por sua vez, consiste de três discursos (Habilitação para motoboys e mototaxistas; Revitalização dos portos da Bahia; Regulamentação da profissão de vendedor ambulante) proferidos, respectivamente, nos anos de 2007, 2009 e 2010 no Senado Federal.

Palavras-chave: valores modais; modalidade deôntica; discurso político.

INTRODUÇÃO

O ato de interação verbal, a partir de em um viés funcionalista, é

compreendido como a tentativa de locutores e interlocutores de

transformar as informações pragmáticas dos indivíduos com os quais

estabelecem interação. Visando esta transformação, o falante vale-se de

expressões modais para construir em seu discurso um percurso

persuasivo. De acordo com suas intenções pragmáticas, os falantes

tendem a apresentar determinadas expressões modais.

Modalidade aqui compreendida, como bem nos elucida Cervoni

(apud MENEZES, 2006), como “um ponto de vista do sujeito falante sobre

o conteúdo proposicional de seu enunciado”. Assim, três modalidades,

segundo Menezes (2006), foram estabelecidas pelos lógicos de acordo

1 Artigo elaborado como atividade avaliativa para disciplina Funcionalismo, ministrada pela professora

Claudete Lima em 2012.1.

2 Graduanda em Letras pela Universidade Federal do Ceará.

50

com o eixo da existência, o eixo do conhecimento e o eixo da conduta. O

primeiro eixo estaria relacionado à modalidade alética, o segundo à de

modalidade epistêmica e o último à modalidade deôntica. A modalidade

alética compreende a determinação do valor de verdade dos enunciados.

A modalidade epistêmica, por sua vez, compreende a possibilidade ou a

necessidade da verdade da proposição. Já a modalidade deôntica aborda a

possibilidade e/ou a necessidade de atos executados por agentes

moralmente responsáveis.

É preciso salientar, entretanto, que o referente artigo trabalha com

a modalização linguística e que, embora apresentem suas

particularidades, os estudos lógicos ou linguísticos acerca da modalização,

segundo Menezes (2006), orientam-se pela classificação dessas três

modalidades.

Compreendendo a natureza persuasiva dos discursos políticos, o

referente artigo pretende analisar a expressão da modalidade deôntica

nos discursos Habilitação para motoboys e mototaxistas; Revitalização dos

portos da Bahia e Regulamentação da profissão de vendedor ambulante,

proferidos pelo senador João Durval. Através da análise de variáveis de

valor deôntico e de suas formas de expressão, pretendemos compreender

como o discurso, ao se utilizar da específica modalidade, constrói os

argumentos persuasivos para garantir a mudança pragmática dos

indivíduos participantes do ato de interação verbal. É importante, contudo,

esmiuçar o conceito de modalidade deôntica.

MODALIDADE DEÔNTICA

Segundo Menezes (2006, p. 40), Lyons compreende modalidade

deôntica como a proposição vinculada à necessidade ou à possibilidade de

atos realizados por agentes moralmente responsáveis, temos, então o

Estado de Coisas a ser obtido. É importante lembrar, entretanto, que os

51

conceitos de obrigação, da proibição e da permissão estão diretamente

vinculados a um conjunto de crenças sociais, ou seja, passam pelo crivo

de convenções sociais e culturais, do reconhecimento dos membros de

uma sociedade dos valores e pesos presentes nestas normas. Norteados

pelos valores reconhecidos em uma determinada sociedade é que

podemos estabelecer aquilo que se apreende como obrigatório, permitido

ou proibido.

Segundo Kalinowski (1976 apud MENEZES, 2006), à modalidade

deôntica destinam-se os valores modais de obrigação, proibição e

permissão. Menezes (2006) nos esclarece ainda mais o assunto ao

apontar as características observadas por Lyons, a saber:

a) A modalidade deôntica relaciona-se à necessidade ou possibilidade

de atos realizados por agentes moralmente responsáveis;

b) A modalidade deôntica mantém intrínseca conexão com a

futuridade;

c) A necessidade deôntica tipicamente procede ou deriva de alguma

origem ou causa.

Em síntese, a modalidade deôntica apresenta os valores vinculados

ao dever. Pautados nesta percepção, podemos partir ao corpus.

METODOLOGIA

Estabelecendo como corpus do trabalho os discursos Habilitação

para motoboys e mototaxistas; Revitalização dos portos da Bahia e

Regulamentação da profissão de vendedor ambulante, proferidos pelo

senador João Durval no Senado Federal, analisaremos as formas de

expressão da modalidade deôntica, verificando como se apresentam as

52

variáveis de valor deôntico (proibição, permissão sugestiva, permissão

autorizada, permissão concessiva, obrigação) e as formas de expressão

(verbo pleno, verbo auxiliar modal, adjetivo, substantivo, advérbio) com

que se manifestam no corpus selecionado.

Para uma melhor compreensão, estabelecemos a seguinte legenda:

D01- discurso Habilitação para motoboys e mototaxistas;

D02- discurso Revitalização dos portos da Bahia

D03- discurso Regulamentação da profissão de vendedor ambulante

P- parágrafo

L- linha

Ex: D01P02L09- discurso 1; parágrafo 02; linha 09

LEVANTAMENTO DE DADOS

Abaixo, encontra-se a tabela referente às ocorrências detectadas:

OCORRÊNCIAS REFERÊNCIA VALOR FORMA

1. Em outras palavras, a iniciativa visa a incorporar ao CTB as condições indispensáveis pelos condutores para prestação de serviços remunerados em veículos de duas ou três rodas.

D01P02L02

Obrigação

Adjetivo

2. Para preencher tal lacuna, faz-se mister, contudo, a criação de

D01P03L01

Obrigação

Adjetivo

53

uma categoria específica no Código de Trânsito para a habilitação destes condutores. 3. A Constituição Federal estabelece que cabe à União legislar sobre trânsito e transporte.

D01P04L02

Obrigação

Verbo pleno

4. Em que pesem as tentativas de as cidades regulamentarem a atividade, o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) proíbe expressamente motos de fazerem transporte comercial de passageiros.

D01P07L06

Proibição

Verbo pleno

5. Nessa ordem, vigora ainda uma resolução do Contran que veda o uso de motos para o transporte comercial de passageiros.

D01P08L05

Proibição

Verbo pleno

6. Ainda segundo os mesmos especialistas, as poucas pesquisas sobre o tema no Brasil indicam que o “mototáxi” é notadamente importante para as classes de renda mais baixa, que não são bem atendidas pelo

D01P10L02

Obrigação

Adjetivo

54

transporte público.

7. Podemos até detectar laivos do liberalismo econômico a prevalecer nas decisões da época, na busca de um desenvolvimento autônomo, mas não menos dissociado da ação do Estado.

D02P02L01

Permissão

sugestiva

Verbo pleno

8. Nas memórias da refundação do Brasil, vale frisar que, por ocasião da fuga da coroa portuguesa para a América, a família real e toda a sua comitiva tiveram o privilégio de serem acolhidas em uma baía sob as bênçãos de todos os santos.

D02P05L05

Permissão

concessiva

Locução verbal

9. Senhoras e Senhores Senadores, é preciso destacar, com veemência, que não se trata aqui, de uma realidade transitória: os ambulantes estão aí, nos grandes centros urbanos, e aí estão para ficar.

D03P06L01

Obrigação

Adjetivo

55

10. O poder público deve passar a encará-los como trabalhadores que têm de ser assistidos — e não combatidos ou perseguidos como se transgressores fossem.

D03P06L04 Obrigação Verbo auxiliar modal

11. Urge fazê-lo, pois, apesar de gerar renda, o trabalho informal não contribui com a estrutura fiscal ou previdenciária, o que acarreta males consideráveis para o Estado, à sociedade como um todo, e ao próprio trabalhador informal, que permanece vulnerável — ele e sua família — a qualquer intercorrência, sem dispor de mínima cobertura legal.

D03P08L04

Obrigação

Verbo auxiliar modal

12. Em quarto lugar, já restou claro que não adianta simplesmente proibir o trabalho do ambulante.

D03P09L01

Proibição

Verbo pleno

13. Senhoras e Senhores Senadores, o processo de regulamentação pro-fissional dos vendedores

D03P10L02

Obrigação

Verbo auxiliar modal

56

ambulantes deve ser efetuado em ambiente aberto e democrático, com a colaboração de representantes do Estado, de especialistas, da comunidade, dos trabalhadores e dos próprios lojistas legalizados.

14. Senhor Presidente, é de fundamental importância lastrear a regulamentação no fato de que essas pessoas foram subtraídas ao mercado de trabalho formal por uma contingência que lhes escapa à vontade, e precisam auferir rendimentos como qualquer um de nós, por via de seu esforço pessoal intenso.

D03P11L01

Obrigação

Adjetivo

ANÁLISE DE DADOS

Pautados nas ocorrências apresentadas acima, podemos perceber

que o valor deôntico obrigação se faz pertinente nos três discursos

políticos, ganhando ainda mais relevância em D03. Tal fenômeno, a partir

de uma análise contextual, pode ser justificado pela finalidade pragmática

do senador João Durval em persuadir os ouvintes de seu discurso acerca

57

das propostas apresentadas pelo mesmo ao Senado Federal. Valendo-se,

portanto, do consenso social de “bom”, “belo” e “verdadeiro”, por

exemplo, o senador estabelece a base de suas propostas e relembra o

compromisso do Senado, dos representantes políticos com esses valores.

Por promover em suas propostas os valores socialmente estimados, o

falante instaura, então, em seu discurso os valores vinculados à noção do

dever.

Embora o valor deôntico obrigação se caracterize como mais

relevante, dada a frequência com que se manifesta nos três discursos, os

valores dêonticos proibição e permissão também são encontrados, como

verificamos no gráfico abaixo:

Gráfico 1: Valores deônticos instaurados nos discursos políticos

Como verificado no gráfico, o valor deôntico proibição é recorrente

em 22% das ocorrências coletadas, sendo utilizado para demonstrar o

quadro de leis acerca da legalidade do trabalho de motoboys,

mototaxistas (D01) e da regulamentação do vendedor ambulante

(D03)que pretende ser modificado pelas propostas do político em um

64%

22%

14%

Valores Deônticos

1

2

3

OBRIGAÇÃ

PROIBIÇÃO

PERMISSÃO

58

futuro próximo. Tal posicionamento pode ser conferido nos exemplos

abaixo:

a) Nessa ordem, vigora ainda uma resolução do Contran que veda o

uso de motos para o transporte comercial de passageiros. (D01)

b) Em quarto lugar, já restou claro que não adianta simplesmente

proibir o trabalho do ambulante. (D03)

O valor deôntico permissão, por sua vez, representado em 14%

das ocorrências se exemplifica nas seguintes orações em D02:

a) Podemos até detectar laivos do liberalismo econômico a

prevalecer nas decisões da época, na busca de um

desenvolvimento autônomo, mas não menos dissociado da ação

do Estado.

b) Nas memórias da refundação do Brasil, vale frisar que, por

ocasião da fuga da coroa portuguesa para a América, a família

real e toda a sua comitiva tiveram o privilégio de serem acolhidas

em uma baía sob as bênçãos de todos os santos.

O valor deôntico obrigação, como já citado, possui maior relevância

nos três discursos, representando 64% das ocorrências e exemplificado na

oração seguinte:

a) O poder público deve passar a encará-los como trabalhadores

que têm de ser assistidos — e não combatidos ou perseguidos

como se transgressores fossem.

Quanto à relação entre os valores deônticos instaurados e suas

formas de expressão encontramos seus dados na tabela abaixo:

59

VALOR

DEÔNTICO

FORMAS DE EXPRESSÃO

ADJETIVO VERBO PLENO VERBO AUX.

MODAL

LOC. VERBAL

Obrigação 55,6% 11,1% 33,3% -----------------

Permissão ----------------- 50% ------------------ 50%

Proibição ----------------- 100% ------------------ -----------------

Verificamos, então, que a forma predominante para o valor

deôntico obrigação foi o adjetivo. Para o valor permissão temos uma

divisão equilibrada entre as formas de verbo pleno e de locução verbal. O

valor proibição, por sua vez, teve apenas uma forma de expressão, o

verbo pleno. As seguintes orações exemplificam estes fenômenos:

a) Senhor Presidente, é de fundamental importância lastrear a

regulamentação no fato de que essas pessoas foram subtraídas

ao mercado de trabalho formal por uma contingência que lhes

escapa à vontade, e precisam auferir rendimentos como qualquer

um de nós, por via de seu esforço pessoal intenso. (D03)

b) Podemos até detectar laivos do liberalismo econômico a

prevalecer nas decisões da época, na busca de um

desenvolvimento autônomo, mas não menos dissociado da ação

do Estado. (D02)

c) Nessa ordem, vigora ainda uma resolução do Contran que veda o

uso de motos para o transporte comercial de passageiros. (D01)

CONCLUSÃO

60

O discurso político por representar o palco onde ideologias e

obrigações são apresentadas, estas sempre pautadas no consenso social,

vale-se como estratégia de persuasão da modalidade deôntica, a

modalidade, do dever.

Nos discursos do senador João Durval, apresentados como corpus

deste trabalho, encontramos o valor deôntico obrigação como

preponderante. Tal fenômeno pode ser explicado a partir da finalidade

pragmática do discurso, que pretende convencer os ouvintes a aderiram

aos posicionamentos propostos pelo político.

REFERÊNCIAS

DISCURSO POLÍTICO DO SENADOR JOÃO DURVAL. Disponível em: http://www.senado.gov.br/senadores/senador/joaodurval/midia/publicacao/Discursos_Joao_Durval.pdf. Acesso em: 20 Abril 2012.

MENEZES, Léia Cruz de. A modalidade deôntica na construção da

persuasão em discursos políticos. Fortaleza, 2006.

PESSOA, Nadja Paulino. Modalidade deôntica e Persuasão no

Discurso Publicitário. Fortaleza, 2007.

61

Seção 4

INDETERMINAÇÃO DO AGENTE

62

A INDETERMINAÇÃO DO AGENTE NO PORTUGUÊS ORAL DE PAÍSES AFRICANOS

Bruno Pereira MAGALHÃES

Larissa PEDROSA

Resumo: Este trabalho tem como objetivo analisar as diversas formas de indeterminação do agente no português falado em países africanos, e suas motivações discursivas para a realização desse fenômeno na língua. Para tanto, utilizamos de dados colhidos de conversas transcritas entre falantes africanos, mais precisamente de Angola e Cabo Verde. Primeiramente, fizemos a análise das conversas, para depois, destacarmos os casos de agente indeterminado no discurso dos falantes do nosso corpus. Através dos resultados obtidos em nossa pesquisa, identificamos um uso frequente de pronomes indefinidos e de verbos na 3ª pessoa do plural no português angolano, enquanto que, em Cabo Verde, a divisão se dá entre os pronomes indefinidos e a passiva sintética, havendo neste uma distribuição maior do que naquele.

Palavras-chave: Indeterminação; agente; africanos.

INTRODUÇÃO

O presente artigo verificará a frequência do uso da

indeterminação do agente no português africano, mais precisamente

no português falado em Angola e em Cabo Verde.

De acordo com a gramática normativa, o sujeito é

indeterminado quando não há possibilidade de detectar a quem se

refere o predicado, podendo ser expresso de duas maneiras segundo

José de Nicola (2009, p.406) “seja porque o próprio falante não tem

essa informação, seja porque o falante não quer identificar o sujeito”.

Por exemplo, na frase “consideravam-no um traidor” pode-se

recuperar o sujeito da oração através do contexto em que ela foi

enunciada. Já na frase “precisa-se de pessoas solidárias” não há

interesse em identificar o agente, pois a intencionalidade é de

generalizar a informação.

63

Além dessas formas gramaticais de indeterminação, o uso de

pronomes indefinidos também caracteriza, semanticamente, a

indeterminação do sujeito. Por exemplo, na frase “alguém falou que

a gente vendeu 56 copias nos EUA, o que é um absurdo”. Sabe-se

que existe um agente, mas não somos capazes de determiná-lo a

partir de dados tão imprecisos, é necessário um conhecimento prévio

do assunto abordado.

Por fim, o autor José de Nicola classifica as situações de uso da

indeterminação do sujeito em indefinição (exemplo 1 e 3),

generalização (exemplo 2) e dissimulação quando remetemos a frase

“dizem que o filme não é muito bom” no lugar de “eu acho que o

filme não é bom” ou “o filme não é bom”. A dissimulação, neste caso,

procura suavizar a opinião do falante.

Dentro de uma perspectiva funcionalista, a indeterminação do

agente é munida de uma classificação mais ampla dos recursos

pragmáticos. É neste contexto, que o presente trabalho, com base

nas abordagens realizadas na nossa pesquisa irá se fundamentar.

Através dos casos em que há a indeterminação do agente, sejam

através de:

Nominalização: São os casos em que substantivamos

um verbo, utilizando-o na função sintática de sujeito da

oração. Ex.: A saída do jogador não foi bem vista pela

torcida.

Pronome indefinido: Referem-se à 3ª pessoa do

discurso de modo vago, impreciso ou genérico,

representando pessoas, coisas ou lugares. Ex.: Não

entendo certas pessoas.

Impessoal não-pronominal: É reconhecido pelo uso do

verbo em 3ª pessoa do plural, sem fazer referência a

64

nenhum pronome, deixando assim, o agente

indeterminado. Ex.: Fizeram as pazes ontem mesmo.

Obs.: Quando fazemos o uso da 3ª pessoa para

indeterminar o agente, estamos protegendo a sua

identificação, ou por não conhecermos, ou por não ser

importante a sua identificação. Portanto, o verbo pode se

referir tanto a um grupo de pessoas, como a uma só

pessoa.

Passiva sintética: A voz passiva sintética é formada por

um verbo transitivo direto ou bitransitivo, na 3ª pessoa

(singular ou plural) mais a partícula apassivadora “se”.

Ex.: Praticaram-se ações solidárias.

Passiva analítica: A voz passiva analítica é construída

com o verbo ser ou estar, acompanhado de um verbo

principal no particípio (sendo esse verbo transitivo direto

ou bitransitivo), mais um agente da passiva. Ex.: Ações

solidárias foram praticadas.

Obs.: Esse tipo de passiva é usada para dar mais ênfase à

ação do que o próprio agente. No exemplo acima, o

falante diz “Ações solidárias foram praticadas”, mas não

diz quem as praticou. Observa-se que o mais importante

é a ação, ou seja, que elas foram praticadas.

Média pronominal (1), não-pronominal (2) e média

perifrástica (3): São os tipos de voz média existentes

na língua portuguesa. É um ponto na gramática que

causa muita polêmica, tanto que são poucas gramáticas

tradicionais que tratam sobre o assunto, pois alguns

autores desconsideram a existência da voz média no

português, outros a consideram como um subtipo da voz

65

reflexiva, e ainda há outros que defendem uma ligação

entre a voz média e a voz passiva. Vejamos o que diz a

professora Claudete Lima sobre o tema:

A voz média, por exemplo, mantém com a passiva e a reflexiva relações tão estreitas em português que, muitas vezes, se confunde com estas. A descrição que predomina nas gramáticas tradicionais é reflexo dessa dificuldade, uma vez que os autores mostram flutuações na classificação de determinadas formas como exemplos de voz média, de passiva, ou reflexiva. Até mesmo na lingüística há indícios dessa dificuldade, quando autores, como Camara Jr. Não definem bem a voz médio-passiva, ilustrada por casos como vendem-se casas, bastante discutidos na linguística tradicional e moderna, para as quais têm-se dado interpretações diversas. (LIMA, 2005, p. 545)

Ex.: (1) A porta fechou-se.

(2) A porta ficou fechada.

(3) A porta está fechada.

A nossa pesquisa tem como corpus a entrevista de alguns

nativos africanos que falam o português, sendo os países em

destaque Angola e Cabo Verde. Buscaremos, então, através da

análise dos discursos destes falantes do português, de origem

africana, em situações formais e informais, abordar e identificar as

formas de indeterminação do agente. Da mesma forma, buscaremos

tratar sobre o estatuto informacional do sintagma e identidade do

agente.

SOBRE A INDETERMINAÇÃO DO AGENTE

Começaremos o nosso trabalho apresentando primeiramente

com uma explicação sobre a indeterminação do agente, como o

falante consegue alcançá-lo durante um discurso e por qual razão

utilizá-lo.

66

Essa temática vem sendo bastante pesquisada por especialistas

da área, principalmente, pelos linguistas funcionalistas, por ser um

tema que causa bastantes dúvidas nos falantes, a indeterminação do

agente vem chamando bastante atenção destes profissionais. Existem

muitas divergências, sobretudo, com relação à terminologia. Isso se

percebe quando observamos um trecho do artigo Questões sobre a

“indeterminação” do sujeito, de Gredson dos Santos. O autor conclui

que:

A partir das considerações de Rollemberget al e Bechara, e

admitindo-se como plausível a hipótese de que o sujeito é uma

função sintática que responde às necessidades estruturais do sistema

do PB e que a agentividade está ligada ao aspecto semântico do

sistema, podendo ela ser um traço de sujeito ou de outro termo

sintático, adota-se neste trabalho a posição de que, na verdade, não

faz sentido falar em indeterminação do sujeto em contextos como os

que aqui são analisados, mas sim em indeterminação do agente da

ação inidicada pelo verbo – é o que acontece, por exemplo, num

enunciado como eu fui assaltado, em que a função de sujeito cabe ao

pronome, mas o agente não está especificado. (SANTOS, 2006, p.

15)

Aqui, o autor se refere ao português brasileiro, mas levando em

conta que o sistema linguístico utilizado pelos brasileiros e o sistema

linguístico africano dos países pesquisados é o mesmo, com poucas

diferenças de ordem cultura e geográfica, podemos afirmar, com base

nesse trecho citado, que o autor reconhece que nem sempre o agente

vai corresponder ao sujeito, isso quer dizer, que se o falante

indeterminar o agente de uma oração, isso não significa que o sujeito

será indeterminado.

Em um outro trabalho que se intitula Abragência pessoal dos

processos de indeterminação do agente, Tupiná (1984), resume bem

o assunto por nós abordado:

67

A indeterminação corresponde ao cárater de indiferenciação, falta de individualidade ou de especificidade de um termo, capaz de conferir ao enunciado um teor de imprecisão e generalidade, em decorrência do ponto de vista do emissor. (TUPINÁ, 1984, p. 63)

Como se sabe o falante possui várias formas de conseguir essa

indeterminação em uma oração, porém, não conseguimos encontrar

todas as formas de indeterminação do agente, pela falta de algumas,

ou por falta de atenção dos autores desta pesquisa. Com isso,

buscamos evitar discussões sobre possíveis dúvidas acerca do

assunto, por esse motivo, nos atemos pura e simplesmente na

pesquisa de dados sobre a temática e analisar os seus resultados.

METODOLOGIA

Para iniciar a nossa análise, coletamos amostras de

indeterminação do agente no português falado em Angola e Cabo

Verde. Essas amostras fazem parte do projeto Português Falado,

coordenado pelo Centro de Linguística da Universidade de Lisboa.

Retiramos do corpus indicado 95 ocorrências na forma de frases

completas com agente indeterminado. Utilizamos 7 textos transcritos

para a coleta dos dados, sendo 3 para a analise do português falado

no Cabo Verde, nos quais participaram 3 homens cujas profissões são

as seguintes: marinheiro, tipografo e comerciante e 4 para a analise

do português falado na Angola, nos quais participaram 1 estudante

de curso superior e 3 profissionais formados em curso superior.

Posteriormente, classificamos e organizamos os dados de

acordo com os seguintes critérios: codificação (nominalização,

pronome indefinido, impessoal não-pronominal, passiva sintética,

passiva analítica, média pronominal, média não-pronominal ou média

perifrástica), estatuto informacional do sintagma nominal (novo,

inferível ou velho) e identidade do agente (desconhecida, inferível,

dada anaforicamente ou dada situacionalmente).

68

Finalmente, através desta categorização podemos analisar cada

ocorrência individualmente de acordo com a frequência de uso em

diferentes contextos e explorar diferentes motivações discursivas.

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Dentro das ocorrências coletadas construímos 6 quadros

comparativos quantitativos e averiguamos qualitativamente alguns

exemplos, indicando as frequências de uso das categorias escolhidas

para analise no decorrer dos diálogos examinados dos países

africanos, Angola e Cabo Verde.

A primeira categoria diz respeito à codificação, ou seja, como a

indeterminação do agente se apresenta. O que podemos constatar

através do quadro 1.1é que o uso do pronome indefinido é o mais

frequente no português falado na Angola, principalmente o pronome

“você”, entre as 27 ocorrências de pronome indefinido, 15 são

formadas pelo pronome “você”,ou seja, 55,55%. O segundo mais

frequente é o pronome “algum” e suas variações aparecendo 3 vezes,

ou seja, 11,11%. Como exemplos, destacamos as seguintes frases:

“se você estiver debaixo de uma árvore a apanhar chuva...” (A

Guerra e o Ambiente)

“... o que não quer dizer que alguns angolanos...” (O ensino em

Angola)

Exceto o pronome “outros” que apareceram2 vezes, o restante

dos pronomes indefinidos aparecem apenas uma vez. Quadro 1.1 – Angola

Codificação N° de ocorrências

Nominalização 0 (não apareceu ou não foi

identificada)

Pronome indefinido 27

69

Em seguida, analisando o quadro das ocorrências do português

falado em Cabo Verde (quadro 1.2), constatamos que,

diferentemente dos resultados obtidos no quadro 1.1, a forma

encontrada mais frequente no discurso foi a estrutura passiva

analítica, como por exemplo, na frase:

“... é um catalogo que é editado em Espanha...” (Coleccionismo)

Vale ressaltar que o uso de nominalizações que estavam

ausentes no corpus angolano, apareceu em 5 ocorrências no corpus

cabo-verdeano, ou seja, 11,6%.

A presença do verbo impessoal não-pronominal foi bastante

frequente, assim como nas ocorrências do corpus angolano. Quadro 1.2 – Cabo Verde

Impessoal não-pronominal 13

Passiva sintética 08

Passiva analítica 01

Média Pronominal 0 (não apareceu ou não foi

identificada)

Média não-pronominal 0 (não apareceu ou não foi

identificada)

Média Perifrástica 0 (não apareceu ou não foi

identificada)

Codificação N° de ocorrências

Nominalização 5

Pronome indefinido 6

Impessoal não-pronominal 12

Passiva sintética 07

Passiva analítica 13

Média Pronominal 0 (não apareceu ou não foi

identificada)

70

Não verificamos nenhuma ocorrência de média pronominal,

média não-pronominal e média perifrástica.

A segunda categoria de classificação refere-se ao estatuto

informacional do sintagma nominal. De acordo com os quadros 2.1 e

2.2 apuramos o número de ocorrências inéditas (novo), não podem

ser deduzidas (inferível) e repetidas (velho).

Quadro 2.1 – Angola

Estatuto informacional N° de ocorrências

Novo 9

Inferível 15

Velho 25

Quadro 2.2 – Cabo Verde

Estatuto informacional N° de ocorrências

Novo 10

Inferível 23

Velho 12

Enfim, classificamos a identidade do agente, como sendo

desconhecido, inferível, dado anaforicamente ou dado

situacionalmente.

No exemplo abaixo notamos que devido ao uso do pronome

indefinido “tudo” a oração não permite a dedução do agente, ou seja,

classifica-se como inferível.

Média não-pronominal 0 (não apareceu ou não foi

identificada)

Média Perifrástica 0 (não apareceu ou não foi

identificada)

71

“... desde que haja vontade politica dos governos, tudo se pode

fazer...”(A guerra e o ambiente)

Nos próximos exemplos, notamos que o uso da estrutura

passiva analítica, passiva sintética e verbo impessoal não pronominal,

a identidade do agente não pode ser reconhecida mas, sabemos que

ele existe. Há o interesse do falante em generalizar a informação ou

em ocultar a identidade desse agente por falta de conhecimento ou

por vontade própria em não revelar.

“... a historia nunca foi contada devidamente...” (As mornas)

“... apanhava-se, servia-se então para os pratos pequenos.”

(Colher de panela).

“... e então dizem que o sentimento...” (As mornas)

Nas orações em que podemos resgatar o agente

anaforicamente aparecem, em sua maioria, através de verbos

impessoais não-pronominais. O que significa que se retornarmos ao

ponto inicial da informação a identidade do agente será revelada,

como no exemplo a seguir:

“... e comiam bem porque este prato leva muito...” (Colher de

panela)

Através da leitura constatamos que o agente da oração são

“trabalhadores”.

Enfim, a identidade do agente também pode ser resgatada

através do contexto. Observe o seguinte exemplo:

“... você trabalha com o padre Horacio desde quando?” (Meninos de

rua)

O entrevistador questiona o entrevistado, através desse

contexto, sabendo que se trata de um diálogo entre duas pessoas

somos capazes de deduzir a identidade do agente.

Quadro 3.1 – Angola

Identidade do agente N° de ocorrências

72

Desconhecido 10

Inferivel 3

Dado anaforicamente 21

Dado situacionalmente 15

Quadro 3.2 – Cabo Verde

Identidade do agente N° de ocorrências

Desconhecido 18

Inferivel 8

Dado anaforicamente 12

Dado situacionalmente 6

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No presente artigo, buscamos trabalhar com as mais variadas

formas de indeterminar um agente em uma oração e quais são as

motivações discursivas do falante. Para isso, usamos um corpus com

95 orações e analisamos os possíveis casos de indeterminação.

Evitamos falar sobre questões que causassem alguma dúvida,

como por exemplo, a voz média quanto ao seu uso. Por uma questão

de tempo, e principalmente, embasamento teórico para tratá-la aqui

neste trabalho, pois não teríamos condições de desenvolvê-la.

Por fim, conseguimos analisar a grande ocorrência de pronomes

indefinidos como “você(s)”, que generalizam o sujeito na oração.

Percebemos com isso, o uso de diferentes formas de utilizar o

pronome indefinido, através de verbos transitivos diretos, impessoais,

e até mesmo de ligação. Podemos identificar também uso frequente

da passiva sintética e inexistência da passiva sintética para a

indeterminação do agente, no corpus angolano.

73

Já no corpus cabo-verdeano, há uma distribuição bem maior de

usos para a indeterminação do agente, dando ênfase para o grande

uso da passiva analítica na maioria dos casos, algo inexistente no

corpus angolano, como o surgimento da nominalização, que não

aparece na fala dos angolanos.

É evidente que este trabalho não consegue abranger todo o

assunto, pois a língua portuguesa é bastante rica, para não dizer

complexa, o que leva a muitos linguistas a divergirem, dificultando a

análise de muitos casos. Contudo, esperamos ajudar a aqueles que

buscam informações sobre a temática da indeterminação do agente.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Nilson Teixeira de. Gramática da Língua Portuguesa para

Concursos, vestibulares, ENEM, colégios técnicos e militares/ Nilson Teixeira

de Almeida. -- 9. ed. rev. e atual. -- São Paulo: Saraiva, 2009.

De Nicola, José. Gramática: palavra, frase e texto/ José de Nicola; colaboração

Lorena Menon – São Paulo: Scipione, 2009.

LIMA, Maria Claudete. Reflexões sobre a medialidade em português. Estudos

em homenagem ao Professor Doutor Mário Vilela, vol. 2, 2005, pág. 545.

Disponível em: http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/4585.pdf. Acesso em: 27

mai. 2012

SANTOS, Gredson dos. Questões sobre a “indeterminação” do sujeito.

Disponível em: http://www.inventario.ufba.br/05/pdf/gsantos.pdf. Acesso em: 30

mai. 2011.

TUPINÁ, Heloísa Marques. Abrangência Pessoal dos Processos de

Indeterminação do Agente: ALFA, Revista de Linguística. Vol. 28, p. 63-69,

1984, São Paulo.

74

Seção 5

GRAMATICALIZAÇÃO DO VERBO ”DAR“

75

*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.

A GRAMATICALIZAÇÃO DO VERBO “DAR”, NO PORTUGUÊS BRASILEIRO, NOS SÉCULOS XIX E XX.

Kelmy CAMURÇA Suellen MORAES*

Resumo: No artigo em questão, apresentamos diversas ocorrências com o verbo “dar” no português do Brasil, durante os séculos XIX e XX. O objetivo desse trabalho é apresentar as diferenças do comportamento léxico-gramatical de “dar” apresentando-o em diversos contextos interacionais, provando assim a multifuncionalidade desse verbo no Português Brasileiro. Além do objetivo mencionado trata-se também de explicar de acordo com a vertente funcionalista, que a língua é um instrumento de interação social e portanto não deve ser interpretada de forma autônoma. Assim a análise, dividida em três etapas: Pesquisa, coleta de dados e categorização de “dar”. Não se restringiram somente às descrições sintático-semânticas. Através de dados coletados e das pesquisas realizadas por teóricos conceituados como Travaglia (1996), Heine et alii (1991), Esteves (2008) e Neves (1994), observamos que ao se analisar um verbo deve-se ir mais além dos conteúdos normativos.De acordo com o corpus que analisamos, verificamos a categorização verbal de “dar” em construções orais e escritas no português brasileiro e confirmamos a importância de se ampliar os estudos gramaticais tradicionais.

Palavras-chave: Gramaticalização. Dar. Categorização.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como tema a gramaticalização do verbo dar.

Com base no corpus do português, nos séculos XIX e XX, investigaremos as

ocorrências do verbo e verificaremos seus usos e valores.

O verbo dar pode ser caracterizado de varias formas: dar modal, dar

lexical, dar aspectual e dar discursivo. A análise sobre construções com o

verbo dar exigiu que nós fôssemos atrás de alguns conceitos funcionalistas e

para tanto iremos nos fundamentar essencialmente em Neves 2004 e outras

pesquisas.

A multifuncionalidade da língua passou a constituir o ponto de partida

para este trabalho. Procuramos analisar e descrever as formas do verbo dar

tanto semanticamente, como sintático-discursivo.

Ao tratarmos a língua como instrumento de interação social e que

serve como meio de comunicação, o artigo, que investigará essas ocorrências

do verbo dar no português brasileiro, irá apoiar-se na teoria funcionalista que

tem por prioridade o uso da língua voltando-se para as relações entre língua

76

*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.

mais geral como um todo e a comunição entre os indivíduos.

Este trabalho se justifica já que muitos são as formas que o verbo dar

pode exercer num determinado contexto. Sabemos que esse verbo sofre

processo de gramaticalização ao apresentar em frases valores discursivos,

outras vezes valores de verbo suporte entre outros que analisaremos.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Sabemos que a língua é um instrumento de interação social e que

serve como meio de comunicação entre os usuários. Sabemos também,

que este instrumento interacional pode ser modificado de acordo com o

meio social de cada usuário.

De acordo com Neves (2008), o Funcionalismo constitui:

Uma teoria da organização gramatical das línguas naturais que

procura integrar-se em uma teoria global da interação social.

Observamos então, que a Linguística Funcionalista prioriza o estudo da

língua como um todo e as diversas modalidades que os indivíduos apresentam

no momento da comunicação. Neves (2008) considera ainda em sua vertente

funcionalista que a língua é um instrumento de interação social e que jamais

deve ser considerada como autônoma sabendo que está sujeita à modificações

advindas do uso, determinando assim, a sua estrutura gramatical.

Segundo Esteves (2008) os funcionalistas diziam que a fala, em

transformação constante, é responsável por gerar o sistema linguístico. Essa

ideia defendida por Esteves (2008) reflete bastante no local/ espaço em que o

discurso se desenvolve, envolvendo assim, as situações comunicativas que são

guiadas por diferentes contextos sociais. Dentro da vertente funcionalista,

tratamos a gramaticalização do verbo. Para adiante esclarecermos melhor o

tema devemos nos valer de conceitos de gramaticalização. Muitos teóricos

funcionalistas tratam dessa temática. Devemos também nos situar de que a

77

*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.

gramaticalização não é uma descoberta recente da linguística. Sua origem

remete às propostas gramaticais dos gregos e, sobretudo, foi muito utilizada

pelos comparatistas do século XIX em suas análises. Vejamos mais abaixo

alguns conceitos sobre gramaticalização.

Com base em Heine et alii (1991) a cadeia da gramaticalização do

verbo dar é descrita da seguinte forma: verbo-predicador e verbo-suporte. De

acordo com o teórico deve-se analisar também o comportamento sintático-

semântico desse verbo pondo em relevância o papel da frequência no processo

de gramaticalização desse item verbal.

De acordo com Travaglia (2001) os verbos gramaticais eram resultados

de uma mudança linguística chamada de gramaticalização que se entende

como a passagem de um item gramatical a outro mais gramatical ainda.

3. METODOLOGIA

A presente pesquisa é uma analise do processo de gramaticalização

sofrido pelo verbo dar. É uma pesquisa de caráter histórico, comparativo já

que iremos investigar as ocorrências em dois séculos, XIX e XX.

O trabalho teve como base artigos, livros, sites, monografias, teses

elaboradas no século XXI e que se inserem dentro da teoria funcionalista.

No estudo prévio da pesquisa, foram selecionadas algumas definições

que são essencias para uma boa compreensão do que vem a ser

gramaticalização e os tipos de verbo dar. Para poder categorizá-lo foi

necessário deter-nos em definições de verbo – suporte, expressão idiomática,

verbo pleno, entre outras.

A análise do artigo esta dividida em três etapas: primeiramente

pesquisamos sobre gramaticalização no geral e também sobre a

gramaticalização do verbo dar. Em seguida passamos para a segunda etapa

que foi a coleta das ocorrencias de frases em que apareça o verbo dar no

78

*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.

corpus do português, seculos XIX e XX. Organizamos as frases encontradas em

lista (Frases completas e incompletas). Identificamos cada ocorrência coletada

com as informações necessárias, no caso do texto (linha, fonte e resumo dos

dados em gráfico). A última e terceira etapa foi a de categorização dos dados

coletados. Nesta etapa categorizamos cada ocorrência conforme o tempo

verbal, o modo verbal, a codificação do verbo na frase, o tipo de verbo (Dar)

se é lexical, modal, aspectual ou discursivo, o período e ou século em que a

frase se insere (XIX ou XX). Dentro dessas três etapas podemos observar as

frequências, os fatores que levaram cada categorização e o contexto em que

estão inseridas.

4. ANÁLISE DE DADOS:

Frases do Século XIX em que aparece o verbo dar:

1- “Quem perdeu hum cavalo sellado procure-o em caza de Manoel

Joaquim de Santa Anna morador no Jogo da bola na Rua do Alecrim, a

quem dando os signaes certos, e pagando-lhes as despezas não duvida

entrega-lo.”(E-B-81-Ja-016)

Tempo verbal: presente

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar lexical-transferência de posse

2- “Quem achasse hum menino de idade de 4 anos, bem parecido, o

queira mandar pôr em sua casa na Rua da Lapa do Desterro, casa número 40,

que seu pagará toda a despeza que se tiver feito com elle, e dará o seu

premio a quem o achar.”(E-B-81-Ja-018)

Tempo verbal:futuro

79

*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.

Modo verbal: indicativo

Codificação:dar lexical – transferência de posse

3-(...) “Macário não pôde dar todos os pormenores históricos e

característicos daquela assembleia.”(SINGULARIDADES DE UMA RAPARIGA

LOURA Autor: Eça de Queirós)

Tempo verbal:pretérito

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar modal

4-“ Viam-na de manhã, quando saía, dar bons-dias à vizinhança e sorrir às

pecadoras mendigas, que nas tabernas jantavam gravamos por qualquer

pataco, ter com elas palestras.” A RUIVA Autor FIALHO DE ALMEIDA

Tempo verbal:pretérito imperfeito

Modo verbal:indicativo

Codificação: dar modal

5- “E o santo rapaz, contra todas as profecias dos velhotes da aldeia,

pendurara a baixa, encaixilhada com pau vinhático, à cabeceira da cama;

trocara o bonnet pelo chapéu de palha de abas largas; arregaçara as mangas

da camisa, para mostrar que os braços se lhe não tinham emaciado nem

amolecido na ociosidade da tarimba, e fora oferecer o trabalho desses braços a

quem lhe quisesse dar em troca um pouco de pão para a mãe e para ele.” O

ZÉ SARGENTO-Autor PEDRO IVO

Tempo verbal:futuro

Modo verbal:subjuntivo

Codificação:dar lexical

80

*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.

6- “Um dia Margarida, em frente daquele rasgo assombroso de valentia que

colocara Tadeu ao lado dos maiores heróis, pusera-se grave, meditativa, e

apontando com serena majestade para a lua que se reflectia num tanque do

jardim, pedira a lua ao seu amigo Tadeu! Está claro que ele lha não pôde dar,

mas gostou daquilo! Pais.” UMA HISTÓRIA VERDADEIRA-Autor MARIA AMÁLIA

VAZ DE CARVALHO

Tempo verbal:pretérito perfeito

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar lexical

7- “Deixe-se estar quieto. Não vê que não pode sair deste quarto senão à

noite? pronunciou a voz enrouquecida de Tadeu. E sem dar mais atenção ao

seu odioso hóspede, pôs-se a arranjar papéis, uma trouxa de roupa, algumas

velhas relíquias, os retratos dos seus dous pequeninos, dos seus netos como

ele lhes chamava.” (UMA HISTÓRIA VERDADEIRA, Autor: MARIA AMÁLIA VAZ

DE CARVALHO)

Tempo verbal:presente

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar lexical

8- “Nós, cá os da serra - com mil diabos! -, nem lenha temos muitas vezes no

Inverno, nem uma pinga pra nos aquecer! Quando a rapariga fez quinze anos,

disse-lhe o pai solenemente: - que ela estava uma mulher feita, que lhe era

preciso trabalhar, que o amanho da casa lhe deixava muita hora livre para

outra ocupação; que ele era pobre e o pouco que tinha lhe custara muita baga

de suor para o ganhar; que a preguiça nem o próprio Diabo a queria, e que

nada havia como o trabalho para dar saúde e vigor.” (A FRECHA DA

MISARELA. Autor:ABEL BOTELHO)

Tempo verbal:presente

81

*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.

Modo verbal:indicativo

Codificação:expressão fixa- dar + SN

9- “ O termômetro continuava a dar as mesmas indicações elevadas; era

inexorável e despiedado, como a figura sinistra dum Inquisidor, ele tão frágil,

tão leve, tão delicado na aparência! - Que espírito do mal o houvera

construído? - murmurava o doutor” (A DOENÇA DA MIMI. Autor: JOSÉ

AUGUSTO VIEIRA)

Tempo verbal: presente

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar modal -oração no infinitivo

10- “(...) Sabia, por informações, da existência da cadeirinha e indaguei quem

na vila, me poderia dar uma carta que me introduzisse junto da fidalga.” (O

SEGREDO DA MINHA CADEIRINHA. Autor: CONDE DE ARNOSO)

Tempo verbal:futuro

Modo verbal: indicativo

Codificação:dar aspectual-verbo + SN

11- “Como a porta da igreja do convento estava aberta, ocorreu-me que o

sacristão me poderia dar informações que naquele momento tanto desejava.

ao entrar na igreja experimentei uma agradável sensação de bem estar.” (O

SEGREDO DA MINHA CADEIRINHA. Autor: CONDE DE ARNOSO)

Tempo verbal:pretérito imperfeito

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar lexical

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*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.

12- “Nestas circunstancias tao felizes eh, que eu tenho julgado poder dar ao

público este Compendio Histórico das Sciencias, e Bellas Artes.”(

Amaro:Compendio Autor Padre José Amaro da Silva)

Tempo verbal:futuro

Modo verbal: indicativo

Codificação:dar lexical

13) " (...) e muito mais, porque ninguém pôde tomar parte, ou na prática, ou

na conversa sólidamente, sem que tenha razoens bastantes, para dar a

conhecer a todos a utilidade, que ha, de qualquer Sciencia, ou

Arte.”(Amaro:Compendio Autor Padre José Amaro da Silva)

Tempo verbal:futuro

Modo verbal:indicativo

Codificação: dar discursivo – dar + a + SN

14) “(...) que se deve ensinar, por respeito a todas as ciencias, ou Artes, á

curiosa mocidade, a quem pretendemos dar alguma educaçaõ.”

(Amaro:Compendio Autor Padre José Amaro da Silva)

Tempo verbal:futuro

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar lexical

15) “ Depois da utilidade desta pequena Obra, já reconhecida do Público, e

depois de todos os trabalhos, que se tem tomado para lhe dar perfeiçaõ,

podemos ter boas esperanças, de que ella seja geralmente adoptada por

todos, para dar á mocidade noçoens fundamentaes, verdadeiras, e exactas de

todas as cousas.”(Amaro:Compendio Autor Padre José Amaro da Silva).

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*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.

Tempo verbal:presente

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar lexical

16) “Depois da utilidade desta pequena Obra, já reconhecida do Público, e

depois de todos os trabalhos, que se tem tomado para lhe dar perfeiçaõ,

podemos ter boas esperanças, de que ella seja geralmente adoptada por

todos, para dar á mocidade noçoens fundamentaes, verdadeiras”(...)

Amaro:Compendio Autor Padre José Amaro da Silva)

Tempo verbal:presente

Modo verbal:indicativo

Codificação: dar lexical

17) “ (…) e Fradique assumiu para mim a estatura dum desses seres que, pela

sedução ou pelo génio, como Alcibiades ou como Goethe, dominam uma

Civilização, e dela colhem deliciosamente tudo o que ela pode dar em gostos e

em triunfos.” (Correspondência de Fradique Mendes Autor Eça de Queirós)

Tempo verbal:pretérito perfeito

Modo verbal;indicativo

Codificação:dar lexical

18) “ O inglês dirá:-«É ir ao serviço ao domingo, bem vestido, cantar hinos». O

hindu dirá:-«É fazer poojah todos os dias e dar o tributo ao Mahadeo».”(

Correspondência de Fradique Mendes Autor Eça de Queirós)

Tempo verbal:futuro

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar modal

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*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.

19) “ Vim dar uma vista de olhos à fazenda. ao pé de Amélia uma rapariga

acamava couves numa canastra.” (O Crime do Padre Amaro Autor Eça de

Queirós)

Tempo verbal:presente

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar aspectual

20) “Não tem que dar ordens aos escravos nem que se preocupar com

arranjos domésticos: a casa é simples: paredes de mármore ou de tijolo

pintado, tapetes macios e fundos e algum vaso precioso, num nicho, entre as

frestas que servem de janelas.”( Correspondência de Fradique Mendes Autor

Eça de Queirós)

Tempo verbal:futuro

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar lexical

21) “As ruas que vinham dar à Praça, tortuosas, tenebrosas, com um lampião

mortiço, pareciam desabitadas.”( O Crime do Padre Amaro Autor Eça de

Queirós)

Tempo verbal:pretérito

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar discursivo

22) “Vim dar uma vista de olhos. E agora toca ao almocinho, hem? - Se é

servido.. disse a S. Joaneira. Agostinho, muito galante, ofereceu o braço à

mamã.”( O Crime do Padre Amaro Autor Eça de Queirós)

Tempo verbal:presente

Modo verbal:indicativo

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*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.

Codificação:dar discursivo

23) “ Henrique veio dar a mão a Mariana, lançando um olhar de desprezo a

Salustiano, que o pagou com seu costumeiro sorrir sarcástico.”( Os Dois

Amores Autor Joaquim Manuel de Macedo).

Tempo verbal:presente

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar discursivo

24) “Como a porta da igreja do convento estava aberta, ocorreu-me que o

sacristão me poderia dar informações que naquele momento tanto desejava.”(

O SEGREDO DA MINHA CADEIRINHA Autor CONDE DE ARNOSO)

Tempo verbal:futuro

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar lexical

25) “(...) e que nada havia como o trabalho para dar saúde e vigor.” (A

FRECHA DA MISARELA Autor ABEL BOTELHO)

Tempo verbal:futuro

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar discursivo

26) “ Pois eu queria-os todos meus, só pra uma coisa.. pra lhos dar! - Ora

agora, que lembrança! Vossemecê está a reinar.. - Não estou, Aninhas..

Queria-os pra lhos dar, pra mais nada, não! - Fracos desejos tem você!”( A

FRECHA DA MISARELA Autor ABEL BOTELHO)

Tempo verbal:futuro

Modo verbal:indicativo

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*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.

Codificação:dar lexical

27) “ A pequenina Maria viera; muito de manso, com uma tranquilidade

extraordinária, dar ao papá o beijo da noite.”( A FRECHA DA MISARELA Autor

ABEL BOTELHO)

Tempo verbal:futuro

Modo verbal:indicativo

Codificação: dar lexical

28) “O exército vitorioso ia tomar posse do Castelo de Faria, que lhe

prometera dar nas mãos o seu cativo alcaide.” (O CASTELO DE FARIA Autor

ALEXANDRE HERCULANO)

Tempo verbal:futuro

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar discursivo

29) “O Agostinho sugeriu que este final alerta podia dar lugar à réplica jocosa

- Alerta está!”( O Crime do Padre Amaro Autor Eça de Queirós)

Tempo verbal:futuro

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar lexical

30) “ Não te posso dar um banquete, mas hás-de ter uma sopa e um

assado(...)” ( Os Maias Autor Eça de Queirós)

Tempo verbal:presente

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar modal

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*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.

31) “ (...) e uma rica procissão na rua, e boas vozes, e respeito, imagens

de dar gosto, ninguém bate cá os nossos portugueses.. Calei-me, esmagado.”(

A Reliquia Autor Eça de Queirós)

Tempo verbal:presente

Modo verbal: indicativo

Codificação:dar discursivo

32) “ Para dar de beber às éguas, paramos numa linda fonte que um cedro

assombreava. ( A Reliquia Autor Eça de Queirós)

Tempo verbal:futuro

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar modal

33) “ (...) em Vossa Lingua adverte que, para este fim, não pode

elle dar melhor documento do que ella está dando.”( Paiva:Enfermidades

Autor Manuel José de Paiva)

Tempo verbal:presente

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar modal

34) “O certo he que as curas que se fazem com palavras, sempre foraõ

reputadas por indecentes. Só huma satisfaçaõ póde dar o Autor a quem ler

este livro, em taõ discreto reparo; porque, se nelle se acharem alguns periodos

radicados em racionaveis fundamentos, signal he da melhora que se deseja, a

discriçaõ com que se falla: mas se todos forem criticados por intrepidos,

indoutos, e inconcludentes; desde agora se declaraõ por naõ ditos; para que

naõ chegando a confirmar-se a offença, não fique sem remedio a infermidade.

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*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.

Ja que as doenças da lingua tanto se diffundem que até inficcionaõ ao Medico

que a està...”( Paiva:Enfermidades Autor Manuel José de Paiva)

Tempo verbal:presente

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar aspectual

35) “(...) occasião de falar da sua pessoa, apresenta-se cheio de si mesmo. ---

------- - Estes defeitos não escapárão á perspicacia dos seus contenporaneos,

sis corruptæ eloquentiæ, e de Quintiliano, o qual, depois de enumerar estes

mesmos defeitos, todavia o justifica de muitos delles, como pode ver-se, lendo

o Capitulo X. Do livro XII. Das suas Instituições Oratorias. §. 5. Ácerca do

parallelo entre Demódtenes o Cicero tem escrito muito os Criticos, desde

Quintiliano até aos nossos dias; falando porêm somente dos modernos, a

pluralidade dos Criticos Francezes inclina-se a dar preferencia ao ultimo: com

tudo do commum sentir dos seus nacionaes se separou Fenelon nas suas

Reflexõs sobre a Rhetorica e sobre a Poetica, que é um curtoTratado, o qual

seve de continuação aos seus Dialogos sobre a eloquencia, e são tão belas, e

felizes as suas expressões, que merecem ser aqui copiadas: " Não me

demorarei em dizer, que Demóstenes me parece superior a Cicero: Protesto,

que ninguem tanto, como eu, admira Cicero; elle aformosêa tudo quanto toca,

ennobrece a (...)” (Carvalho:Eloquencia Autor Francisco Freire de Carvalho)

Tempo verbal:presente

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar discursivo

36) “ (...)bem arranhada lhe ficou; inda bem! - Inda bem, querida Aninhas! E

o ladrão do almudeiro.. - Fez-se negro de raiva com o insulto; e, sem dizer

palavra, começou a ajuntar o que estava pelo chão, pérolas, oiro.. jóias, bem

lindas eram elas! e meteu tudo nos golpes do saio, e foi-se sem mais Deus te

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*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.

salve do que um sumido Tu mo pagarás, que ia rosnando pela escada abaixo. -

Tens razão para ter medo, filha; agora o vejo eu; mas ainda lhe havemos

de dar remédio. - Quem? - Eu.. nós, se Deus quiser; nós e a nossa boa

fortuna. - Nós! Tu com dezasseis anos e eu com vinte, teu tio na corte, meu

marido em Lisboa, que havemos nós de fazer, mulheres, sós e sem ninguém? -

Sem ninguém! - Sem ninguém não, que aqui tenho a minha madrinha e

padroeira, a minha senhora Sant' Ana. - E eu o meu Vasco, que há-de fazer o

milagre sem ser(...)”( Arco de Sanct'Anna Autor Almeida Garrett)

Tempo verbal:futuro

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar lexical

37) “naufrágio geral, é necessário corrermos a pontapés os intrujões que se

apoderaram dos cimos, arrogando-se o título de chefes e ditadores, em todos

os ramos da administração e da vida pública, e antepondo ao bem do Estado a

sua ânsia de gozos e riquezas, traída em toda a linha banditismo que nem

sequer já perde tempo em disfarçar ~se! Porém esta nossa jeremiada vai

longa, e compilaremos rápido os pontos principais exposição. Não temos um

museu d' artes decorativas, nem em embrião sequer, e é indispensável criá-lo,

se com alguma seriedade cuidamos de dar hausto, levantamento do nível

estético quer no consumidor, quer no produtor, aos nossos antigos centros de

actividade industrial. Não temos uma colecção móveis d' arte a que os artistas

ignorantes se reportem, nós que possuimos dos primeiros marceneiros e

restauradores de móveis do mundo. Não temos um gabinete de ourivesaria,

constituido com exemplares das nossas oficinas da Renascença, nós que ainda

hoje executamos com uma perfeição manual surpreendente, os trabalhos mais

arriscados de lavrantaria e filigranagem. Senhores dos primeiros canteiros do

mundo, não(...)”( Almeida:Gatos1 Autor Fialho de Almeida)

Tempo verbal:presente

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*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar modal

38) “(...) alta, hein? Falta só que S. M. lhe mande saber da saúde ao

cagarrão. Eduardo d' Abreu pronunciou há dias na sala dos deputados a

palavra " malta ". Estiveram para se atirar a ele uns dez ou doze, e agora, ao

discutir-se a prisão do Mendonça Cortez, suspeito de falsário e ladrão em dois

processos, um praxista das dúzias, que tem feito reputação parlamentar sobre

motivos do modo de propor, verbera nos Pares o não se ter " respeitado o

regulamento " mantendo o tunante à solta - naturalmente para lhe dar tempo

de fugir (1). Nesta dispersão de blandícias com que os soltos pretendem talvez

tapar a boca aos catrafilados, é consolador ver um simples moço de café dando

lições d' atitude à sociedade. Há quatro dias vem ao Martinho um portador do

Limoeiro, pedir almoço para o digno Par. Resposta do Valentim: - Num se

pode. O xerbicio é de prata. 18 de Fevereiro. - (PEQUENA FÁBULA). Meto a

mão na algibeira.. depara-se-me um ramo de loiro, restos da coroa(...)”(

Almeida:Gatos5 Autor Fialho de Almeida)

Tempo verbal:presente

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar lexical

39) “catástrofes antigas, pretexto para mágicas d' estofos hilariantes, móveis

de preço e imobilizações d' actores em quadros vivos. Não vale confranger

desta franqueza. Os defeitos que aponto não dizem exclusivamente à arte da

pintura, mas são chancela das gerações pensantes actuais. Todos enfermam

deles, historiadores, actores, dramaturgos, caricaturistas, arquitectos,

louceiros e músicos. Além do que, Malhoa tem' por companheiro d' infortúnio,

o extincto Lupi, cujo quadro da Câmara Municipal não é superior como sonho

histórico, à grande tela que a Pombaleida acaba de lhe dar. Iniciando a

resenha por personagens d' importância, venho a cair do Marquês de Pombal,

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*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.

no rei D. Carlos, de quem Malhoa produz um retrato de generalíssimo, com

mais medalhas do que a carroça do Conceição Silva das bolachas. Painel para

o Tribuna de Contas, diz o catálogo, e logo se vê pela emproada atitude,

cambando sobre a esquerda, pela brasa do olho e o ar legiferante que é

pintura para infundir respeito aos conselheiros. Na pala do capacete, o reflexo

do (...)”( Almeida:Gatos5 Autor Fialho de Almeida)

Tempo verbal:presente

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar lexical

40) “ (...( e reis da velha Europa sobre as virtudes e trato dos seus povos, a

quando pela questão inglesa me passou pela cabeça abdicar, recapitula-se

sobre rigorosíssimas estatísticas que é no meu reino que formilham, de cima a

baixo, maiores e mais cafrarias de malandros. Aos que pois me lançam em

rosto a dinastia mórbida de D. João IV e descendentes, contraporei essoutras

de políticos inábeis, de gentis-homens cínicos, de burguesia soma e de plebe

sem vergonha, que é a história da sociedade portuguesa de há trezentos anos

para cá. Povos e reis, podemo-nos dar as mãos pelo conjunto homogéneo que

fazemos, repartir quinhões iguais na glória de havermos feito deste rectângulo

de paisagem um dos manicómios mais típicos da degenerescência humana em

desfilada p' rà demência. Bem sei que abrindo os livros da história, toda a

responsabilidade do mal é debitada aos reis, e toda a causalidade do bem

pertence aos povos: o caso de resto explica-se por os monarcas não serem

historiadores nem jornalistas, e por as casas reais serem já bastante pobres

para poderem arrematar a consciência dos Plutarcos.( Almeida:Gatos6 Autor

Fialho de Almeida) pág 5 - 41... que dão as vadiações! - Pior poderia ser. Não

morreu ninguém, graças a Deus. - Lá vêm eles! Afinal a escolta assomava no

cotovelo do caminho. Vinham três homens com as mãos para trás, amarradas

com cordas. Vinham cercados por uns doze cabras de cacete, um sujeito de

óculos com cara de defunto, muitos curiosos e uns parentes dos presos. A um

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*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.

sinal da Guida, a autoridade, que montava um cavalo ruço, fez parar o grupo

em frente à latada. O Silveira, que era um dos melros, tentou dar um passo

fora do fecha-fecha, mas os guardas o repeliram: - Tá bebo, cabra! Você faz-

se besta. Você aqui não ginga, não, cabra! - Cabra, não faça ação! ameaçava o

outro. Aqui o prisioneiro ergue a cabeça, empina-se e grita: - Valha-me, Seá

Dona Guidinha do Poço! Era a voz do pobre Silveira, minha gente! Com esta

invocação fatídica, em uns manifestou-se um sentimento de piedade, em

outros de indignação. Todos conheciam que a intercessão.” Dona Guidinha do

Poço Autor Manoel de Oliveira Paiva

Tempo verbal:presente

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar lexical

42) “é mágica? - É mais do que isso; é um anjo. - Anjo.. nesse caso não me

canso em ir procurá-la, porque é coisa que não existe mais neste mundo. -

Não te canses mesmo, minha velha; tu não a encontrarás; nem ela virá cá. Ela

é do céu; não pode descer a este inferno em que estou penando. XIV A

LAVADEIRA No dia seguinte bem cedo a boa velha veio pressurosa acordar

Elias. - Levante-se, meu moço; o dia amanheceu bonito, e tenho uma bela

notícia para lhe dar. - Boa notícia para mim.. não é possível! para mim.. neste

mundo já não pode haver notícia nem boa nem má. A única boa notícia que

me poderiam dar era que já morri. - Qual! quem fala agora em morrer.. dou-

lhe parte que temos agora aqui perto uma bela vizinhança: já Vmcê. não ficará

tão sozinho. - Vizinhança! oh! que bela nova! tomara que me deixem sozinho,

e que eu nunca lhes veja a cara. Senão me mudarei ainda.” O Garimpeiro

Autor Bernardo Guimarães.

Tempo verbal:futuro

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar lexical

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*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.

43) “ (...) que nesse sacrifício arrastavas mais uma vítima.. - Oh! se me

lembrava.. mas eu nem notícias tinha de ti.. e, mesmo que as tivesse, a não

estares em circunstâncias de valer a meu pai, levarias a mal esse sacrifício, se

infelizmente se consumasse.. - Não, minha Lúcia.. eu não teria remédio senão

admirar-te, embora se me estalasse de dor o coração. Mas a carta que te

escrevi do Sincorá, acaso não chegou-te às mãos? - Chegou, Elias; mas em

que momento, meu Deus? Eu acabava de dar o meu consentimento, de

comprometer solenemente a minha palavra para com meu pai; já era tarde.

Faz idéia de quanto era triste e desesperadora a minha posição. - Pobre Lúcia!

quanto és boa.. quanto és adorável e sublime! Se antes eu te amava, de hoje

em diante eu te admiro, eu te adoro, e não me julgo digno do amor de uma

criatura tão superior, de um anjo, de que o mundo não é digno.” - Se não te

julgasse digno. O Garimpeiro Autor Bernardo Guimarães.

Tempo verbal:presente

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar lexical

44)” (...) qual punha por baixo da porta a quantia devida. Nunca nenhum se

ausentou sem ter primeiro cumprido o seu dever, com a proverbial probidade

do matuto e do sertanejo do norte. No tocante ao traje, ver um dos matutos

era o mesmo que ver os demais. Camisa por cima de ceroulas de algodão - eis

em que ele consistia. Todos tinham os pés nus, e quase todos por cima do cós

das ceroulas o longo cinto de fio, cofre portátil onde traziam o dinheiro,

terminando em cordões com bolotas nas pontas, os quais serviam

para dar muitas voltas em torno da cintura antes do laço final. Metida entre o

cinto e o cós guardava cada um sua faca de ponta presa pela orelha da bainha.

Da arma só aparecia o cabo, figurando a cabeça de uma serpente que tinha o

restante do corpo oculto. Já era noite, e dentro do rancho lançava crepuscular

claridade o candeeiro de azeite, que pendia, por uma corda corrediça, de um

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*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.

dos caibros da coberta. Alguns dos rancheiros estavam com as mangas

arregaçadas como se foram prestes.” O Matuto Autor Franklin Távora

Tempo verbal:futuro

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar lexical

45)” (...) não. Se ele quisesse, me tratava de outra moda. Como é então que

ele te trata? - Eu não sei dizer como é, não, meu padrinho. Eu só sei que

Lourenço é mau e ingrato. Triste e cabisbaixa, a menina poz-se a chorar. Era

muito intensa a dor que feria seu coração. Não chores, pequena, disse

Francisco abalado. Hei de fazer que ele venha a casar contigo. Pede bem a que

eu não morra. Tanto farei que ele mesmo é que me há de pedir licença

para dar este passo. Secreto pressentimento, porém, dizia à menina, não

obstante este formal compromisso do matuto, que nem o coração de Lourenço

nem sua mão lhe pertenceriam jamais. Entretanto a esperança que tais

palavras infundiram em seu espírito, entrou ai como luz serena e divina.

Momentos depois, voltaram todos para casa, conduzindo as mãos-de-milho. A

uns derramavam-se espigas pelas costas, a outros caiam os atilhos dos braços,

ou das mãos. Marianinha, enquanto os demais tinham a atenção concentrada

na colheita”. O Matuto -Autor Franklin Távora

Tempo verbal:presente

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar discursivo

46) “(...)não sei o que faça.. JÚLIA - Vamos para dentro, e prudência.. AMÁLIA

- Quero matá-lo com um desengano agora mesmo.. JÚLIA - Temos tempo:

para brigar nunca é tarde. Vamos, vamos.. (Como que lutam, mas Júlia a leva

para a alcova). CENA IV JULIANO JULIANO - Estou acabrunhado! O movimento

do cavalo e a frescura da manhã fizeram-me algum bem: bebi muito, bebi

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*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.

demais, mas tenho a cabeça aliviada. Bebi muito vinho e comi pouco. Vamos

dormir, se eu puder dormir! Ah! é preciso dar tréguas a esta vida de lutas e de

sobressaltos. A ociosidade, o amor próprio, uma vaidade ruinosa e a sociedade

em que vivo arrojaram-me nesta vida e nesta comédia sombria, que poderá

acabar em drama! Quem seria aquela dama que acompanhava Clarice?

Desmaiou quando ou proferia esses lugares comuns, essas frases banais de

todos os tempos! Não era Carolina, porque essa não desmaiaria; seria..

(Pensa) Não; é impossível! A tanto se não abalançaria.” É tímida, e virtuosa.

Os Lobisomens - Autor Araújo Porto Alegre

Tempo verbal:futuro

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar lexical

47) “o seguinte, á parte) Agora: bravo! (Dançam) Bravo, madame; bravo,

chevalier. Allons, du courage. 1. Prendi o rato na ratoeira, Tinha o focinho já

na melgueira. 2. Ganhei a aposta, tenho calecha; Vou dar em cheio, bater a

brecha. 3. (Estribilho na 2ª parte) Cartinha amada, foste um tesouro! Achei o

fio, e que fio d' ouro! 4. (Na repetição) Oh, que finura! Oh, que requinte!

Tenho calecha, vou dar no vinte. 1. Pobre da tola, está na esparrela; E o

maganão zombando dela. 2. Anda por fora; come a fartar, E a pobre em casa,

e a jejuar. 3. Ele na rua, buscando tocas; Ela encerrada, comendo mocas! 4.

Que padre mestre, que meninório! Que diplomata, oh! que finório. 1. O meu

tratante também queria Levar a vida na fadaria; 2. Mas eu cortei-lhe o jogo no

meio, Triunfei”. Os Lobisomens Autor Araújo Porto Alegre

Tempo verbal:futuro

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar discursivo

96

*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.

48) GASPARINO - É um serviço, minha senhora, que pode e até deve prestar

todo o amigo dedicado e fiel. MARIQUINHAS - Estou ciente, Senhor Gasparino:

está cumprida a sua missão? GASPARINO (Tirando uma carta do bolso) -

Pediu-me mais que lhe entregasse este - párfumé - e que dissesse a Vossa

Excelência que, já que ele próprio não podia manifestar os seus sentimentos,

confiava ao papel os arcanos de sua alma, pede-lhe resposta. (Entrega a carta)

MARIQUINHAS (Rasgando a carta) - Diga-lhe que a melhor resposta que lhe

posso dar é esta. GASPARINO - O que fez, minha senhora? Vossa Excelência

rasgou uma página cheia de inspiração e de sentimento! Uma página que

encerra as confissões de uma alma apaixonada! É preciso não ter coração! O

Barão ama-a como um louco, adora-a e em nome de tudo que Vossa

Excelência tem de mais caro e de mais santo, em nome de sua mãe, eu peço-

lhe, suplico-lhe de joelhos (Ajoelhando-se) que alimente essa paixão que pode

levá-lo à sepultura. CENA XI OS MESMOS. Tipos da Atualidade Autor Joaquim

José da França Júnior

Tempo verbal:presente

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar modal

49) Só Este, que um deus cruel arremessou à vida, Marcando-o com o sinal da

sua maldição, - Este desabrochou como a erva má, nascida Apenas para aos

pés ser calcada no chão. De motejo em motejo arrasta a alma ferida.. Sem

constância no amor, dentro do coração Sente, crespa, crescer a selva retorcida

Dos pensamentos maus, filhos da solidão. Longos dias sem sol! noites de

eterno luto! Alma cega, perdida à toa no caminho! Roto casco de nau,

desprezado no mar! E, árvore, acabará sem nunca dar um fruto; E, homem,

há de morrer como viveu: sozinho! Sem ar! sem luz! sem Deus! sem fé! sem

pão! sem lar! A um violinista Quando do teu violino, as asas entreabrindo

Mansamente no espaço, iam-se as notas quérulas, Anjos de olhos azuis, às

duas mãos partindo Os seus cofres de pérolas, - Minhas crenças de

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*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.

amor, esquecidas em calma No fundo da memória, ouvindo-as recebiam Novo

alento, e outra vez do oceano de minh'alma. Alma Inquieta Autor Olavo Bilac

Tempo verbal:presente

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar aspectual

50) AMBRÓSIO - É o que eu também digo; mas como preveni-las? FLORÊNCIA

- Faze o que entenderes, meu amorzinho. AMBRÓSIO - Eu já te disse há mais

de três meses o que era preciso fazermos para atalhar esse mal. Amas a tua

filha, o que é muito natural, mas amas ainda mais a ti mesma.. FLORÊNCIA -

O que também é muito natural.. AMBRÓSIO - Que dúvida! E eu julgo que

podes conciliar esses dois pontos, fazendo Emília professar em um convento.

Sim, que seja freira. Não terás nesse caso de dar legítima alguma, apenas um

insignificante dote - e farás ação meritória. FLORÊNCIA - Coitadinha! Sempre

tenho pena dela; o convento é tão triste! AMBRÓSIO - É essa compaixão mal-

entendida! O que é este mundo? Um pélago de enganos e traições, um escolho

em que naufragam a felicidade e as doces ilusões da vida. E o que é o

convento? Porto de salvação e ventura, asilo da virtude, único abrigo da

inocência e verdadeira felicidade.. E deve uma mãe carinhosa hesitar na

escolha. O Noviço Autor Martins Pena.

Tempo verbal:presente

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar discursivo

Análise de frases so Século XX em que aparece o verbo dar

1)(...)Então com o porte financeiro que o governo vai ter para os dois

próximos anos acho que terá condições de enfrentar esse problemas. Se for

prioritário para Bauru a construção do hospital, diante de tantos outros

problemas que serão apresentados pela cidade, não tenho dúvida que o

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*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.

governo vai colaborar. Se for outra a prioridade o governador também vai dar

seu apoio.(...)

Tempo verbal:futuro

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar modal

2)O que não faz sentido é deslocar um assistente da Sebes (Secretaria do

Bem-Estar Social) para outra secretaria. Nós vamos terminar com os

privilégios que alguns têm. Tem uns que são contrados para dar aula e, de

repente, vai para um cargo administrativo. Não tem sentido.

Tempo verbal:futuro

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar modal

3) “É preciso dar um ganho para que essa criançada saia da rua, com uma

profissão.”

Tempo verbal:futuro

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar discursivo

4) “A população ainda tem dúvida sobre a ciência em relação à morte cerebral.

Mas hoje a ciência é capaz de dar o diagnóstico de morte cerebral com uma

certeza de 100%, com a realização dos exames necessários.”

Tempo verbal:presente

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar modal

99

*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.

5) “Ninguém ama mais alguém ou alguma coisa do que aquele que está

disposto a dar a vida por esse alguém, por essa coisa.”

Tempo verbal:presente

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar discursivo

6) “O fortalecimento do municipalismo seria uma das saídas. Há um tipo de

movimento nos mais diversos lugares que até agora não conseguiu dar

nenhuma dentada efetiva, digamos, nos donos da oligarquia, seja dos bancos,

da mídia, das montadoras, dos latifundiários.”

Tempo verbal:pretérito

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar lexical

7) “O PDT quer mesmo dar um fim à aliança política que mantém com o PSDB

há cerca de seis anos? Flávio Torres - Olha, o PDT se ressente na forma como

essa aliança tem se processado na prática.”

Tempo verbal:futuro

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar aspectual

8) “A experiência que tive na Area Externa e na fiscalização do BC e o que foi

revelado pela CPI dos precatórios é que a legislação nos dá poucos elementos

para trabalhar. Para dar um exemplo na área cambial: o BC identifica um

laranja numa operação em Foz de Iguaçu, um sujeito sem condição

econômica, que recebe em sua conta um depósito de US$ 5 milhões e saca no

dia seguinte em espécie, em reais.”

100

*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.

Tempo verbal:presente

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar lexical

9)”A globalização não faz milagres. Não sou economista e não gosto desse

negócio de dar chute. Mas acho que se vem atribuindo muita coisa à

globalização, como se ela fosse uma espécie de serva de um poder invisível,

do qual não se fala.”

Tempo verbal:presente

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar lexical

10) “Para se ter uma estrutura salarial justa, o ideal é que a diferença entre o

menor e o maior salário seja muito mais comprimida. Para que aí o governo

possa ter condições de dar bons salários aos mais baixos na carreira e salários

justos aos que estão no topo.”

Tempo verbal:futuro

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar lexical

11) “Sempre houve essa perspectiva de grupo itinerante, mas resolvi dar um

tempo, porque estava cansado. No mês que vem vamos para Portugal

apresentar Ubu. Quanto à ópera de Mozart, ela foi cancelada porque o festival

francês não conseguiu levantar o dinheiro da produção.”

Tempo verbal:presente

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar aspectual

12) “Como vai ficar o projeto Costa Dourada? Guerra - Iremos convocar

agentes privados brasileiros ou não, para dar continuidade ao projeto.

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*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.

Achamos que o Costa Dourada devia ter começado onde já existe uma certa

estrutura econômica, inclusive porque iria favorecer uma comunidade muito

mais ampla.”

Tempo verbal:presente

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar lexical

13) “Quanto a ter sucesso na quase criação da República Democrática do

Congo, fazendo daquele imenso, rico e cobiçado país, realizando sonho de

Patrice Lumumba, bem, essa é uma tarefa que ultrapassa a potencialidade de

um homem só. Kabila tem de ser prudente, dar cada passo com firmeza, ter

em linha de conta a realidade cultural dos povos do Congo, não inventar

soluções apressadas para problemas antigos, resistir às pressões

ocidentalizantes, negociar, negociar sem perder de vista os objetivos que se

propos quando iniciou a luta contra Mobuto.”

Tempo verbal:presente

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar lexical

14) “A lei não permite que se configure o crime perfeitamente. Vou dar um

exemplo: o fiscal do BC chega na agência de turismo e lá enfrenta uma porta

blindada, com uma câmera na frente e três, quatro seguranças armados”.

Tempo verbal:futuro

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar lexical

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*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.

15) “Franco - Mas isso será natural. As (--) estrangeiras instalam-se aqui

olhando o mercado interno, que vai dar a elas uma escala inicial grande e isso

já é atrativo em si que as coloca numa posição de exportar.”

Tempo verbal:futuro

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar lexical

16) “É lógico que ainda pode melhorar, mas tenho certeza de que isso

acontecerá. Foi praticamente um milagre o que ele fez. Em tão pouco

tempo dar uma arrancada dessas. Esse feito tem um valor pessoal enorme.

Mas ele deve tomar cuidado com a badalaçao e a cobrança.”

Tempo verbal:presente

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar aspectual

17) “O que o Guga fez foi sensacional, extraordinário. Mas se tiver um mau

resultado começam a dizer que foi sorte, não vai dar mais, está acabado. O

que eu diria para ele é: " Vá com calma, siga como está porque está muito

bom, você não tem a obrigação de ser um ídolo ".

Tempo verbal:futuro

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar discursivo

18) “E, quando não for possível atuar sobre os fluxos de receitas e de gastos, a

reforma patrimonial e o uso de ativos, na privatização. Não cabe ao

governo dar sugestões a governadores, que têm secretariado competente para

decidir a combinação dessas coisas.”

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*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.

Tempo verbal:futuro

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar lexical

19) “Perguntei se ele iria investigar o caso e ele disse que sim. Mas, quando

estive na secretaria, dois dias depois, disseram que ele tinha entrado em

licença. Estado - Como foi o desaparecimento de Lauristo? Marília - Ele foi

convidado a dar um depoimento. Enquanto estava depondo, o delegado

Firmino Sodré, que está com o inquérito, pediu a prisão preventiva dele ao

juiz. Mas o juiz Luís Belchior não foi encontrado pelo pessoal.”

Tempo verbal:presente

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar aspectual

20) “Uma vez, lendo num jornal, depois de ter tido uma atuação muito boa, o

repórter analisou da seguinte forma: " O Gottardo esteve bem, mas não foi ao

ataque " Fiquei impressionado. Olha só a análise dele, acho que precisa haver

equilíbrio em tudo. Procuro tê-lo na minha vida profissional e na maneira de

jogar, ser eficiente. Não dar sossego aos atacantes, pertubá-los, orientar

meus companheiros.. Não posso enganar, pois senão estaria enganando há 14

anos.”

Tempo verbal:presente

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar lexical

21) “Foi tudo em tempo real. Estávamos lá na hora em que as coisas ocorriam.

Isso é incomum na TV. Nosso programa é quase uma gincana. Não existe

aquele esquema careta de figurino e maquiador. Estado - O Brasil Legal não

será mais temático? Casé - O programa, a partir deste ano, passa a ter

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*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.

dispositivos. Vou dar outro exemplo: Passamos 12 dias em Sergipe, gravando

um programa cujo dispositivo será a fotografia.”

Tempo verbal:futuro

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar lexical

22) “JC - Você nunca teve outra profissão, senão o esporte? Simone - Eu sou

funcionária pública municipal há 24 anos, porque, minha mae, antes de

falecer, me fez prestar um concurso. Ela achava que eu tinha que ter um

emprego. ao longo desses anos todos, eu estive em diversas repartições, mas

sempre dei um jeito de mexer com esporte. Formei escolinha de basquete em

todas as escolas de bairro dessa cidade por onde passei. Eu também sou

Assistente Social e, quando estava cuidando de uma horta para crianças

carentes, dei um jeito de colocar um aro lá na horta e treinava os garotos

mesmo na terra. Além disso, sou treinadora da equipe de basquete do Anglo e

da categoria mini da Luso.”

Tempo verbal:pretérito perfeito

Modo erbal:indicativo

Codificação:dar discursivo

23)" OP - Que apelo você faria a esses dirigentes tricolores? Croinha: " Eu peço

aos torcedores do Fortaleza, aqueles a quem eu dei tantas glórias, que me

ajudem, que eu realmente estou precisando de ajuda. Estou com a casa

atrasada, água e luz, e tem a dieta que a doutora passou, para eu manter,

todo dia, na minha refeição, que é muita verdura, frutas e leite, e eu estou

sem dinheiro para poder comprar esses alimentos “.

Tempo verbal:pretérito perfeito

Modo verbal:indicativo

105

*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.

Codificação:dar lexical

24) “Não é nenhuma apologia de uma pessoa que não ganhou a eleição.

Obviamente que quando entrei, inclusive amanha (dia 28 de maio) vai fazer

um ano que eu recebi o inesperado convite para ser candidata a Prefeitura de

Fortaleza, estava consciente de que eu estava entrando tarde; de que era

muito difícil a batalha. Mas dei o meu nome, o meu suor, a minha luta, os

meus sonhos, as minhas aspirações. OP - A senhora acha que a escolha do seu

nome foi tarde? SF - Foi tarde sem dúvida alguma.”

Tempo verbal:pretérito perfeito

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar lexical

25) “Demorei a perceber a razão. Mas me dei conta de que a explicação

estava na minha biografia. Como você deve saber, tive uma infância

atormentada. Meu pai foi assassinado por motivos políticos quando eu tinha

apenas 3 anos. No final da década de 50, procurei escrever uma biografia do

meu pai, chamada A Vida do Cavaleiro Suassuna. Desisti, pois era doloroso

demais. Então, resolvi deixar para lá e fui escrever um romance. Um dia, dei o

que já tinha feito para minha irma ler e ela ficou assustada.”

Tempo verbal:pretérito perfeito

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar lexical

26) “Apolonio - É. Pancadas, pau-de - arara, injeçoes. Um médico ficava ao

lado. Não sei quanto tempo fui torturado. Estava com 58 anos. Quando eu bati

neles me senti tão seguro, tão tranqüilo, que me dizia: " Eles podem até me

matar, mas eu já dei o troco " Se se pode dizer assim, fiquei à vontade

debaixo dos maus-tratos. Resolvi mostrar a eles que um comunista não geme

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*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.

diante deles. Fiquei apertando os dentes e não me arrancaram um grito, um

gemido.”

Tempo verbal:pretérito perfeito

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar discursivo

27) “Decidi, então, arrumar um armário, onde encontrei uma flauta antiga do

Exército austríaco, um flajolete, e comecei a estudá-la e a fazer música. Foi

como dei meus primeiros passos para a música. Tive também o que

chamávamos de detector: uma caixinha pequena com cristal em que a gente

procurava a estação com agulha e ouvia música de Paris e Londres. Foram as

minhas primeiras sinfonias, óperas e operetas e apaixonei-me por tudo aquilo.”

Tempo verbal:pretérito perfeito

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar lexical

28) “Entre outros ele sugeria Woody Allen, Bernardo Bertolucci, Milos Forman,

Godard, Peter Greenaway e Alain Resnais, para quem eu dei o meu voto, mas

o vitorioso foi mesmo o Bergman e lá em Paris eles divulgaram que ele ganhou

por unanimidade. Não engoli muito bem essa história toda.”

Tempo verbal:pretérito perfeito

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar lexical

29) “Ele me incentivou tanto que, a um certo ponto, me perguntei: e por que

não? Quando eu era jovem, fiz críticas muito duras à academia. Mas agora,

não. Se aparecerem os votos, eu aceito. Já dei alguns telefonemas, já fiz as

primeiras sondagens. Se sentir que tenho alguma chance, me candidatarei.”

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*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.

Tempo verbal:pretérito perfeito

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar lexical

30) “Inf. - pronto () L.A. - () Inf. - não eu eu tirei eu eu resumi eu só tirei as

partes principais () - porque isso aqui é o é o é o livro todo - certo? - então eu

tirei partes ma / tirei xerox mais da parte de () o que é que ele tá pedindo e os

- os testes como aplica como corrente L.A. - () sobre todas as () que a gente

viu não é isso? Inf. - uhm-hum - é é: aquele material que eu dei pra: H. como

também - tem as folhinhas né? - eu coloquei as folhinhas - então eu tenho o

livro - que tem todo o material e se vendia antiamente nas livrarias as

folhinhas do teste - eu coloquei também atrás pra vocês - então nessas duas

folhas aqui tem uma que diz como que como aplica - a outra como corrige -

esa aqui é a folha onde tem a parte de recorte e onde a criança tem que fazer

o desenho das figuras - e aqui são as figuras que(...)”

Tempo verbal:pretérito perfeito

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar discursivo

31) “Ele me pediu o nome dessa pessoa. Eu dei. Ele ligou para a secretária e

pediu que o localizasse. Em cinco minutos, quando já cruzávamos a segunda

avenida, ela ligou de volta. Meu editor virou-se para mim, ainda no telefone

com a secretária, e disse: " Na verdade, foi mais fácil do que parecia.”

Tempo verbal:pretérito perfeito

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar lexical

32) “O Diário Associado tinha o Campanella. Tinha aquela revista.. Tinha

aquela revista que concorria com a Manchete e O Cruzeiro.. Como é que era o

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*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.

nome dela? Mundo Ilustrado, bonita revista também. E aí foi assim. Aí eu fui

como repórter, eu fui olhando, olhando. Até que um dia peguei a máquina e

fotografei. Fotografei e tal e dei uma capa. Dei uma sorte que eu dei uma

capa. EVIRT: Qual foi a capa? SCARPINO: Foi a garota de Ipanema.”

Tempo verbal:pretérito perfeito

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar discursivo

33) “Ela estendeu o rosto para um beijinho. - Três pra casar - pediu. Dei um,

sem tocar na pele. Ou na camada de maquiagem entre minha boca e a pele

dela. Peguei um monte de laudas e saí cor-rendo.”

Tempo verbal:pretérito perfeito

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar lexical

34) “Você fica mais bonita e mais amena quando está namorando. - Hoje de

manhã levei o maior susto quando me olhei no espelho. Não só por causa da

minha aparência, mas porque me dei conta que há muito tempo não me via,

apenas olhava, distraída. Você sabe o que significa quando a gente se

desinteressa pelo corpo - disse Lena, que não se afligia tanto com a própria

decadência física, mas com a desoladora sensação de desistência.”

Tempo verbal:pretérito perfeito

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar discursivo

35) “Isso era sempre o mais melancólico. Em tudo, aquela memória de outros

tempos mais dignos, escondida ali no teatro, nos canteiros da avenida São

Luís, nas vidraças da estação da Luz, na redação do Diário da Cidade, nos

casarões sobreviventes da avenida Paulista, por toda a parte. Tempos, pensei,

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*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.

tempos melhores. E dei de cara com minha própria imagem refletida entre as

racha-duras de um espelho.”

Tempo verbal:pretérito perfeito

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar discursivo

36) “Daí que Francisco de Assis Rodano, reduzido a tição, a cinzas ou a nada,

continuou oficialmente vivo, tornando-se assim o único fantasma da história

humana com existência comprovada e legal. Não dei muita importância ao

nosso primeiro encontro. Andava eu pelos sete ou oito anos quando tomei

conhecimento daquele primo distante, que de fato o era, ao menos

topograficamente: morava eu no Rio, e ele em Barra do Piraí.”

Tempo verbal:pretérito perfeito

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar modal

37) “Claro! Você me disse que ela não era mais virgem e que você tinha feito

papel de otário.. - Eu menti. Ela abortou, depois que eu lhe dei uns tapas, sem

qualquer motivo. Eu estava bêbado..ela fugiu de mim e voltou para a casa dos

pais.”

Tempo verbal:pretérito perfeito

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar lexical

38) “Para nossa surpresa, o motorista saiu de debaixo do carro e apanhou por

trás do assento um saco de farinha com rapadura. Eu só dei uma das minhas

duas latas de leite condensado. Estrela me mandou guardar a outra para mais

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*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.

tarde - não se sabia o que ainda vinha pela frente, ela mesma tinha sonegado

os biscoitos.”

Tempo verbal:pretérito perfeito

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar aspectual

39) “Suassuna - Como pessoas nos entendíamos muito bem. Tínhamos

carinho mútuo e ele, em particular, me dava razão em vários assuntos. Eu

vivia dizendo que ele estava equivocado. O maracatu não precisa do apoio do

rock. ao contrário, quando ele se apoiava sobre o rock saía contaminado.”

Tempo verbal:pretérito imperfeito

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar lexical

40 “)A organização tem como membros: industriais, economistas e cientistas,

sendo o seu número limitado a 100. Foi criada em 1968, após um encontro na

Academia dei Lincei, Roma. Procura levar a cabo novas políticas, bem como

tomar posições para solucionar alguns dos problemas mundiais que as

organizações e políticas nacionais tradicionais não conseguem resolver.”

Tempo verbal:pretérito perfeito

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar modal

41) “A luta tâmil, no final de 1998, viria a dar novos frutos, com a reconquista

de cidades importantes no Norte, tais como Mankulam e Kilinochchi.”

Tempo verbal:futuro

Modo verbal:indicativo

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*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.

Codificação:dar discursivo

42) “Saturno leva cerca de 10 horas e 14 minutos a dar uma volta completa

em torno do seu eixo, se a medida for tirada na equador; em latitudes mais

elevadas leva 10 horas e 40 minutos.”

Tempo verbal:futuro

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar aspectual

43) “Sem perceber nada do que se passara, entrou e sentou no banco da

frente dando ordem de partida, mas não sem antes dar uma passadinha pela

igreja. Duda tinha se embrenhado terra adentro, e nem pra almoçar voltou.

Aproveitou o dia pra fazer coisas fora dos seus costumes e pensar.”

Tempo verbal:futuro

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar aspectual

44) “O testemunho humano está em a base de o projeto editorial de a revista

Marie Claire ed. Globo, que você dirigiu por três anos, e de Quarenta. Qual é a

importância de o testemunho, para você? Gosto muito de esta coisa de a Marie

Claire de dar voz a as pessoas.”

Tempo verbal:presente

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar lexical

45) “Lamarca é um doido, temperamental, violento e sem cultura, a serviço de

terceiros, só sabe dar tiros e venerar líderes estrangeiros, no Ribeira,

corríamos risco de vida, enquanto ele desfrutava com suas amantes os dólares

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*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.

roubados, enquanto isso, os líderes da tal revolução a veranear no

exterior..disse para as câmeras.”

Tempo verbal:presente

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar lexical

46) “A custo conseguiu segurá-lo pela manga quando ele já descia o último

degrau do terraço: - Nas atuais circunstâncias seria impossível tirá-la de lá.

Mas vou dar uns passos, tenho amizades de influência na política, talvez lhe

consiga uma cadeira de professora em Itu mesmo.”

Tempo verbal:futuro

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar discursivo

47) “Sob o poder da vara, o barco ia rio acima, a dar folga para a corrente,

que nesse como noutros pontos de passagem do Zêzere ê bastante rápida. E

na grande massa de água que assim fluia, estonteadoramente, refletiam-se as

estrêlas do cêu. - Desembuche duma vez, carago!”

Tempo verbal:presente

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar lexical

48)" A água nasce assim, não é mesmo ", pergunta. " Tenho pensado em

bailarinos sentados sobre um reservatório, sem se dar conta de que têm algo

que toda a humanidade quer e, evidentemente, essa é também uma metáfora

sobre a importância da arte nos tempos de agora”.

Tempo verbal:presente

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*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar discursivo

49) “Para os professores, esta é a afirmação total de ligação de a comunidade

a a escola, referiu Maria Lucília, professora de o 3º e 4º anos de a Escola

Monte Estoril. Sobretudo porque os docentes não recebem formação para

poderem dar aulas de ginástica a os seus alunos.”

Tempo verbal:futuro

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar lexical

50) “É portuguesa, mas iniciou a carreira artística em Espanha como cantora e

bailarina. Arriscou em dar a o fado um novo look.”

Tempo verbal:presente

Modo verbal:indicativo

Codificação:dar discursivo.

Através dos dados coletados, observamos as diferenças do

comportamento léxico-gramatical de “dar” apresentado em diversos contextos

interacionais, provando assim a multifuncionalidade desse verbo no Português

Brasileiro.

Resumindo a análise de dados tivemos então:

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*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.

CONCLUSÃO

Concluindo o trabalho realizado, constatamos que durante o século XIX

e XX a grande maioria das situações analisadas sobre o verbo “dar” se

concretizou em apresentar o determinado verbo como lexical, ou seja, quando

há transferência de posse. Vimos que uma pequena parte das frases,

analisadas durante os determinados séculos, se destinaram a apresentar-se

ora como discursivo, ou seja, como expressões fixas, ou ainda como aspectual

que se concretiza quando temos o verbo dar ligado ao sintagma nominal.

Acreditamos que a pesquisa realizada e apresentada aqui servirá de

base para diversas pessoas que sintam a curiosidade de conhecer um pouco

mais sobre gramaticalização do verbo “Dar” na Língua Portuguesa, durante os

séculos XIX e XX, descobrindo então os diversos valores que o mesmo pode

assumir em diversas estruturas frasais.

REFERÊNCIA

0%

20%

40%

60%

80%

século XIXséculo XX

A GRAMATICALIZAÇÃO DO VERBO “DAR”, NO PORTUGUÊS BRASILEIRO, NOS SÉCULOS XIX E XX.

"dar" lexical

"dar" discursivo

"dar" aspectual

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*Graduandos em Letras pela Universidade Federal do Ceará.

CASTILHO, Ataliba T. de A gramaticalização. Estudos Linguísticos e literários, 19. Salvador: UFBA, mar. 1997, p. 25-64. de Janeiro , UFRJ, Dissertação de Mestrado, 1986. HEINE , B. et alii. From Cognition to Grammar- Evidence from African Languages. IN: E.TRAUGOTT & B. HEINE (eds.). Approaches to Grammaticalization , v.1, Amsterdam / Filadélfia: John Benjamins Publishing Company , 1991 ( 1991a) , pp. 149-187. MARTELLOTA, M.E.T. O presente do indicativo no discurso: implicações semânticas e gramaticais. Rio MOURA NEVES , M.H. M. 1994 Uma visão geral da gramática funcional. ALFA , V. 38 , PP. 109-127. TRAVAGLIA, Luiz Carlos. O aspecto verbal no português: a categoria e sua expressão. Uberlândia – MG: Ed. Da UFU, 1981 (1ª Ed.), 1985 (Ed. Ver.) e 1996 (3ª Ed.).