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JOSÉ MARCOS THALENBERG TESTE DE RESPIRAÇÃO LENTA NO DIAGNÓSTICO DA HIPERTENSÃO DO AVENTAL BRANCO Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina, para obtenção do Título de Doutor em Ciências. SÃO PAULO 2006

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JOSÉ MARCOS THALENBERG

TESTE DE RESPIRAÇÃO LENTA NO DIAGNÓSTICO DA HIPERTENSÃO DO AVENTAL BRANCO

Tese apresentada à Universidade

Federal de São Paulo – Escola Paulista

de Medicina, para obtenção do Título de

Doutor em Ciências.

SÃO PAULO

2006

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JOSÉ MARCOS THALENBERG

TESTE DE RESPIRAÇÃO LENTA NO DIAGNÓSTICO DA HIPERTENSÃO DO AVENTAL BRANCO

Tese apresentada à Universidade

Federal de São Paulo – Escola Paulista

de Medicina, para obtenção do Título de

Doutor em Ciências.

Orientador: Prof. Dr. Bráulio Luna Filho

SÃO PAULO

2006

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Thalenberg, José Marcos Teste de respiração lenta no diagnóstico da hipertensão do

avental branco / José Marcos Thalenberg. -- São Paulo, 2006. xiii, 40f. Tese (Doutorado). Universidade Federal de São Paulo. Escola

Paulista de Medicina. Programa de Pós-graduação em Medicina Interna e Terapêutica.

Título em inglês. Slow breath test in the diagnosis of white coat

hypertension. 1. Pressão arterial. 2. Hipertensão/diagnóstico. 3. Testes

respiratórios. 4. Monitorização ambulatorial da pressão arterial.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO

ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA

DEPARTAMENTO DE MEDICINA INTERNA E TERAPÊUTICA

Chefe do Departamento de Medicina:

Profa. Dra. Emília Inoue Sato

Coordenador do Curso de Pós-graduação em Medicina Interna e Terapêutica:

Prof. Dr. Álvaro Nagib Atallah

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JOSÉ MARCOS THALENBERG

TESTE DE RESPIRAÇÃO LENTA NO DIAGNÓSTICO DA HIPERTENSÃO DO AVENTAL BRANCO

Presidente da Banca: Prof. Dr. ____________________________________

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. ____________________________________

Prof. Dr. ____________________________________

Prof. Dr. ____________________________________

Prof. Dr. ____________________________________

Prof. Dr. ____________________________________

Suplentes:

Prof. Dr. ____________________________________

Prof. Dr. ____________________________________

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Dedicatória

Dedico este trabalho à minha esposa LUCIANA

Às minhas filhas, HANNAH, CLARA e LIA

Aos meus pais, CILKA e ZYGFRYD

Aos meus sogros, ELSA e BENJAMIN

O apoio e a presença de vocês foram fundamentais para esta empreitada.

Que possamos estar sempre juntos, por muito e muito tempo.

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Agradecimento Especial

Ao Prof. Dr. BRÁULIO LUNA FILHO, orientador desta tese.

Pela firmeza, fruto de um sólido conhecimento metodológico.

Pela paciência, filha do saber.

Pela fina ironia, marca dos homens inteligentes.

Pelo constante embate de idéias que me fez crescer.

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Agradecimentos

Ao orientador, Prof. Dr. Bráulio Luna Filho, Doutor em Medicina, Livre Docente

da Disciplina de Cardiologia da Universidade Federal de São Paulo – Escola

Paulista de Medicina (UNIFESP-EPM).

Ao Prof. Dr. Álvaro Nagib Atallah, Professor Titular da Disciplina de Medicina

de Urgência e Medicina Baseada em Evidências da UNIFESP-EPM, pelos

conhecimentos transmitidos durante o curso de pós-graduação que

modificaram indelevelmente a forma de ler um estudo científico.

Ao Prof. Dr. Rui Manoel dos Santos Póvoa, Chefe do Setor de Cardiopatia

Hipertensiva e Professor Adjunto da Disciplina de Cardiologia da UNIFESP-

EPM, que partilhou seus conhecimentos com a mesma generosidade com que

abriu sua casa para a realização deste trabalho.

À Dra. Maria Teresa Nogueira Bombig, Médica Assistente do Setor de

Cardiopatia Hipertensiva da Disciplina de Cardiologia da UNIFESP-EPM, pelo

acompanhamento atento deste trabalho e pelo companheirismo.

Ao Dr. Gustavo André Costa de Sá, Cardiologista, pela disposição e

engajamento durante a realização deste estudo.

Aos colegas da “casinha”: Drs. Yoná Afonso Francisco, Margaret Assad, Luigi Brollo,

Cleber do Lago Mazzaro, Valdir Lauro Schwerz, Joaquim Domingos Soares; e Andréa

Peçanha, Fernanda Daud, Andrey Serra, pelo companheirismo bem-humorado.

Às funcionárias da “casinha”, Altamira Machado de Souza e Mônica Cristina

Rizzo, pela solicitude e boa-vontade durante a realização do estudo.

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A Anderson Anacleto, Mauro Ishioka e Davi Leite da Silva, secretários da

Disciplina de Medicina de Urgência e Medicina Baseada em Evidências da

UNIFESP-EPM, pela preciosa acessória dada no decorrer da Pós-Graduação.

Às revisoras Maria Nilce Pereira (português), Maria Elisa Rangel Braga

(bibliografia) e a José Roberto Gonçalves (editoração), pelo profissionalismo.

Ao Pedro Nakamura, por manter elevados meus níveis de cafeinemia durante a

realização do estudo (e depois também).

Ao meu pai, Zygfryd Thalenberg, cujos conhecimentos de Excel me pouparam

tempo e aborrecimentos.

Ao meu sogro, Prof. Dr. Benjamin Israel Kopelman, pelas leituras atentas e

sugestões sempre pertinentes.

À minha esposa, Luciana Geyer Kopelman Thalenberg, sempre.

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Este trabalho contou com uma Bolsa de Auxílio-Pesquisa da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), à qual também sou grato. Processo nº 02/03124-8

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Sumário

Dedicatória........................................................................................................ v

Agradecimentos................................................................................................. vii

Lista de tabelas................................................................................................. xi

Lista de abreviaturas......................................................................................... xii

Resumo............................................................................................................. xiii

1. INTRODUÇÃO.............................................................................................. 1

1.1 O fenômeno do avental branco................................................................... 2

1.2 Hipertensão do avental branco.................................................................... 3

1.3 Respiração lenta.......................................................................................... 4

1.4 Respiração lenta no diagnóstico da hipertensão arterial............................. 5

1.5 Objetivos...................................................................................................... 7

2. MÉTODOS.................................................................................................... 8

2.1 Desenho e pacientes................................................................................... 9

2.2 Materiais e métodos.................................................................................... 9

3. RESULTADOS.............................................................................................. 12

3.1 Características da amostra.......................................................................... 13

3.2 Classificação............................................................................................... 13

3.3 Desempenho do teste de respiração lenta.................................................. 15

4. DISCUSSÃO................................................................................................. 19

4.1 Limitações................................................................................................... 24

4.2 Perspectivas................................................................................................ 25

5. CONCLUSÕES............................................................................................. 26

6. ANEXOS....................................................................................................... 28

7. REFERÊNCIAS............................................................................................. 33

Abstract

Bibliografia Consultada

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Lista de tabelas

Tabela 1- Distribuição dos pacientes de acordo com o Critério 1............................ 14

Tabela 2- Distribuição dos pacientes de acordo com o Critério 2............................ 14

Tabela 3- Análise de desempenho do teste de respiração lenta na identificação da hipertensão do avental branco............................................................ 15

Tabela 4- Comportamento da pressão arterial (sistólica/diastólica ± DP), respectivas variações percentuais e significância e freqüência de pulso (± DP) nas consultas clínicas antes e após a realização do teste de respiração lenta........................................................................................ 17

Tabela 5- Resposta ao teste de respiração lenta de acordo com os estágios de hipertensão (medidas clínicas após a segunda consulta) usando o Critério 1................................................................................................... 18

Tabela 6- Resposta ao teste de respiração lenta de acordo com os estágios de hipertensão (medidas clínicas após a segunda consulta) usando o Critério 2................................................................................................... 18

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Lista de abreviaturas

DP Desvio-padrão

HA Hipertensão arterial

HAB Hipertensão do avental branco

HT Hipertensos

MAPA Monitorização ambulatorial da pressão arterial

MRPA Monitorização residencial da pressão arterial

PA Pressão arterial

PAD Pressão arterial diastólica

PAS Pressão arterial sistólica

ROC Receiver operating characteristic

TRL Teste de respiração lenta

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Resumo

Objetivo: verificar se um teste de respiração lenta pode contribuir na identificação

da hipertensão do avental branco. Desenho e Métodos: Neste estudo transversal

de acurácia, foram avaliados 101 pacientes hipertensos, encaminhados ao Setor

de Cardiopatia Hipertensiva da UNIFESP e sem lesão de órgãos-alvo ou co-

morbidades importantes. Após consulta de triagem, drogas anti-hipertensivas

foram suspensas por duas a três semanas. Na seqüência, a pressão arterial foi

medida imediatamente antes e após o teste em duas consultas distintas. O teste

consiste em respirar durante um minuto na freqüência de 0.1Hz, um ciclo

respiratório a cada 10 segundos. Foram comparados dois critérios de

positividade: 1) queda da pressão diastólica ≥ 10% em pelo menos uma das

consultas, ou 2) queda da pressão arterial para níveis de normalidade

(<140/90mmHg) em pelo menos uma das consultas. Monitorização ambulatorial

da pressão arterial foi realizada na seqüência e interpretada de maneira cega em

relação às medidas de consultório. A hipertensão do avental branco foi definida

como medidas de consultório ≥140/90mmHg e média ambulatorial de vigília

<135/85mmHg. Resultados: A amostra consistiu de 71 mulheres e 30 homens

com idade média de 51±10 anos. As médias pressóricas pré e pós-teste foram

de 152 ± 17 / 96 ± 11 e 140 ± 18 / 92 ± 11mmHg. Nove pacientes tiveram

medidas de consultório e ambulatoriais normais mesmo após a retirada dos

medicamentos. De 92 pacientes, 28 (30%) foram classificados como hipertensão

do avental branco. Destes, 15 testaram positivo para o Critério 1 e 21 para o

Critério 2. Dentre os 64 (70%) pacientes hipertensos, 14 testaram positivo para o

Critério 1 e 21 para o Critério 2. A sensibilidade e a especificidade (IC 95%) do TRL

foi de 0.54 (0.36-0.71) e 0.78 (0.67-0.87) para o Critério 1 e 0.75 (0.57-0.87) e 0.81

(0.70-0.89) para o Critério 2, com razão de probabilidades positiva de 2.5 (1.4-4.4)

para o Critério 1 e 4.0 (2.3–7.0) para o Critério 2, respectivamente. Conclusão: O

teste de respiração lenta apresentou boa acurácia em duas visitas pelo critério de

normalização da pressão arterial. Este achado sugere que este teste simples

pode aumentar significantemente a suspeita da hipertensão do avental branco.

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1. INTRODUÇÃO

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Introdução

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1.1 O fenômeno do avental branco

A determinação da pressão arterial (PA) é um dos mais importantes

procedimentos da prática clínica. Não obstante, ainda apresenta em sua

mensuração razoável imprecisão. A medida indireta (não invasiva) da PA,

realizada por profissional da saúde treinado, utilizando esfigmomanômetro de

mercúrio, e a técnica auscultatória de Korotkoff são o padrão-ouro para

precisá-la e, portanto, estabelecer o diagnóstico da hipertensão arterial (HA). A

imprecisão referida deve-se a: 1) erros técnicos evitáveis; 2) variabilidade

inerente da PA; 3) tendência de elevação da PA em ambiente médico,

denominado “fenômeno do avental branco”.

Este fenômeno é conhecido desde os primórdios da moderna

esfigmomanometria. Scipione Riva-Rocci já alertava sobre essa possibilidade

(Riva-Rocci, 1897): “O estado mental do paciente tem um efeito transitório,

mas considerável na pressão sangüínea. Falar com o paciente, convidá-lo a ler

ou olhar de repente para ele, assim como um barulho repentino, faz a pressão

subir”. E acrescentava: “Quando o paciente estiver acomodado da melhor

maneira possível (sentado ou no leito), em repouso e absolutamente calmo,

pois mesmo as mais leves emoções podem causar apreciáveis modificações

no nível da pressão arterial, é o melhor momento para a medida”.

Há mais de 60 anos, já se notava a diferença que poderia ocorrer

entre a mensuração da PA realizada pelo médico no consultório e aquela

registrada fora desse ambiente, em casa e por um não-médico, em um mesmo

grupo de pacientes (Ayman, Goldshine, 1940). Nos 34 pacientes analisados

em seu estudo, a elevação da PA diante do médico não foi apenas transitória,

mas persistiu elevada em relação às medidas domiciliares durante as 104

semanas de duração do acompanhamento.

Já na década de 80, a variação da PA em pacientes hospitalizados

foi avaliada por meio de mensuração contínua intra-arterial. Quando o médico

se aproximava e colocava o manguito no braço do paciente a PA elevava-se

imediatamente; subia, em média, 27/14mmHg durante a visita, com o máximo

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Introdução

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efeito nos primeiros quatro minutos e retorno aos níveis basais somente após

10 minutos. Repetidas visitas do mesmo médico não causaram atenuação

desse efeito (Mancia et al, 1983). Em trabalho com técnica similar (Mancia et

al, 1987), relataram que esse efeito era mais intenso na presença do médico

do que na da enfermeira. De um ponto de vista categórico, passou-se a

denominar esta elevação transitória da PA em ambiente médico “efeito do

avental branco” se esta não acarretasse mudança de diagnóstico

(normotensão ou hipertensão) e “hipertensão do avental branco” se o

diagnóstico fosse alterado (Pierin, Mion, 2004).

1.2 Hipertensão do avental branco

A hipertensão do avental branco (HAB), denominação mais utilizada

da hipertensão isolada de consultório, é definida pela existência de medidas de

PA persistentemente elevadas em ambiente médico e medidas normais em

outros cenários (Pickering et al, 1988). Acomete de 15 a 30% de todos os

indivíduos presumivelmente hipertensos (O’Brien et al, 2001), dependendo dos

limites pressóricos utilizados em sua definição. Sua freqüência é tanto maior

quanto menor for a gravidade da hipertensão clínica (Staessen et al, 1993;

Verdecchia et al, 1995).

Alguns trabalhos sugerem ser essa uma condição inocente, com

risco cardiovascular semelhante à normotensão (White et al, 1989; Cavallini et

al, 1995; Celis et al, 2002). Outros estudos apontam para um risco

intermediário entre a normotensão e a hipertensão estabelecida (Verdecchia et

al, 1995; Muscholl et al, 1998; Gustavsen et al, 2003). Postula-se também ser a

HAB um estado pré-hipertensivo, pois, em alguns estudos, a progressão para a

hipertensão estabelecida é maior entre os portadores dessa condição do que

entre os normotensos (Bidlingmeyer et al, 1996; Verdecchia et al, 1996).

De qualquer modo seu significado clínico permanece controverso e ainda é

objeto de investigação.

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Introdução

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O diagnóstico dessa condição requer monitorização ambulatorial da

pressão arterial (MAPA), recurso caro e nem sempre disponível. A monitorização

residencial da pressão arterial (MRPA) é mais acessível, porém mais apropriada

para o seguimento do que para o diagnóstico da HAB quando comparado com a

MAPA (Hond et al, 2003; Stergiou et al, 2004; Bayo et al, 2006). No que refere à

conduta, a maioria dos especialistas concorda que a HAB não necessita de

tratamento medicamentoso, desde que não haja risco cardiovascular elevado

(≥20% em 10 anos) ou lesão de órgão-alvo associada (Verdecchia et al, 2004).

Entretanto, pela dificuldade diagnóstica, a HAB induz freqüentemente a

tratamento medicamentoso desnecessário, representando assim ônus econômico

e social para o paciente e para os sistemas de saúde (Pierdomenico et al, 1995;

McGrath, 2002). Assim, seria de grande utilidade se o médico pudesse lançar

mão na sua prática clínica diária de procedimento que aumentasse a suspeita

dessa condição durante uma consulta e otimizasse os pedidos para realização

da MAPA quando esta não fosse facilmente disponível.

1.3 Respiração lenta

A interação entre respiração e circulação é objeto de interesse científico

há muito tempo. Diversos estudos relatam os efeitos de diferentes ritmos

respiratórios sobre as variáveis cardiovasculares (Novak et al, 1993; Cooke et al,

1998; Badra et al, 2001, Jagomagi et al, 2003), dentre estes a respiração lenta (antes

denominada “profunda”). A respiração lenta, na freqüência de 0,1Hz (um ciclo

respiratório a cada 10 segundos), mostrou-se efetiva no aumento da oxigenação

sangüínea, da tolerância ao exercício e da sensibilidade barorreflexa (Bernardi et al,

1998; Bernardi et al, 2001a; Joseph et al, 2005). Na insuficiência cardíaca crônica

também reduz a exagerada sensibilidade do quimiorreflexo (Bernardi et al, 1998).

Presume-se que esta freqüência promova uma sincronização entre a respiração e

ritmos cardiovasculares inatos (Bernardi et al, 2001b) com conseqüente modulação

das atividades autonômicas central e periférica (barorreflexo). O barorreflexo,

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Introdução

5

principal mecanismo promotor de mudança rápida da pressão arterial e de

tamponamento de alterações pressóricas agudas, tem sua sensibilidade diminuída

nos hipertensos quando comparados a normotensos (Bristow et al, 1969) e mesmo a

hipertensos do avental branco (Floras et al, 1981). Em estudo recente, Joseph et al,

(2005) relataram que a respiração lenta ocasionou melhora da sensibilidade do

barorreflexo e diminuição aguda da PA em indivíduos hipertensos.

1.4 Respiração lenta no diagnóstico da hipertensão arterial

O primeiro autor a se preocupar com a utilização da respiração lenta no

diagnóstico diferencial da HA foi Shizuo Fujii, de Tókio, Japão (Fujii, 1973). A

respiração lenta é aplicada a pacientes normotensos, hipertensos lábeis

(fluctuating type), hipertensos estáveis (fixed type) e hipertensos de causas

renais. A duração do teste é de um minuto e não há especificação de freqüência

respiratória. A PA é registrada antes, durante e após o teste. Técnica

pletismográfica é utilizada para avaliar a diminuição da resistência periférica após

o teste. Os resultados obtidos apontam diferença significativa para a queda da PA

e diminuição da resistência periférica a favor dos hipertensos lábeis, quando

comparados com os estáveis. Segundo o autor, este teste respiratório seria útil

para a diferenciação clínica entre essas duas categorias. A propósito,

“hipertensão lábil” foi um termo usado no passado para descrever medidas

clínicas com grande variação entre elas, mas uma maior utilização das

monitorizações fora do consultório mostrou que a labilidade da PA é muito mais a

regra do que a exceção (Pickering et al, 2005).

Mais recentemente, a respiração lenta foi utilizada para o diagnóstico da

HAB também no Japão (Yoshihara et al, 1993), sob a denominação de “Teste de

Respiração Profunda”. Trinta e sete hipertensos não medicados foram submetidos

à triagem para determinar aqueles com HA clínica leve a moderada. Destes, 30

indivíduos foram assim classificados após obtenção de medidas clínicas em três

visitas distintas por um período de duas semanas, sendo incluídos no estudo

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Introdução

6

aqueles com médias das medidas maiores que 140/90 e menores que

180/110mmHg. O teste foi realizado somente na primeira visita e na forma descrita

a seguir. A medida da PA foi feita no braço direito e com o paciente em posição

sentada. Em seguida, o teste respiratório era aplicado, utilizando freqüência

respiratória de 0.08Hz (um ciclo respiratório a cada 12s) durante um minuto.

Imediatamente após, a PA era medida da mesma forma. Após as três visitas, os

pacientes foram submetidos à MAPA de 24 horas, com mensurações a cada 30

minutos. Dentre os pacientes, 17 obtiveram médias pressóricas menores do que

135/80mmHg nas 24 horas e foram classificados como HAB, sendo 13

considerados hipertensos. Foi relatada queda significativa da PA sistólica (PAS)

para ambos os grupos, porém sem diferença relevante entre eles. No entanto,

observou-se diferença no percentual de queda da PA diastólica (PAD) entre

hipertensos estabelecidos e aqueles com HAB. A partir do uso da curva ROC

(Receiver Operating Caracteristic Curve), foi determinado o balanço entre

sensibilidade e especificidade no diagnóstico da HAB para alguns pontos de corte.

Para uma queda de 3% na PAD, foram obtidas 65% e 62%; para queda de 5%,

foram obtidas 59% e 85% de sensibilidade e especificidade, respectivamente.

Obteve-se a maior especificidade (100%) a partir de quedas da PAD maiores ou

iguais a 10% após a aplicação do teste, porém com baixa sensibilidade (29%). Os

autores concluíram: “Mesmo que o mecanismo de queda da pressão arterial pelo

Teste de Respiração Profunda ainda precise ser elucidado, este estudo demonstra

claramente que este teste simples é clinicamente útil na identificação da

hipertensão do avental branco no consultório”.

Recentemente, outro estudo (Augustovski et al, 2004) utilizou a

respiração lenta, porém para o diagnóstico do efeito do avental branco em

indivíduos medicados para hipertensão. Na consulta aos bancos de dados de

publicações médicas (Medline, Lilacs, Scielo e Cochrane Library), o estudo de

Yoshihara et al (1993) é o único publicado até a presente data (outubro de

2006) em que a respiração lenta é utilizada no diagnóstico da HAB. A partir

dessa experiência pioneira, procuramos aperfeiçoar esse teste com o intuito de

obter um método de fácil realização e leitura que auxilie o médico a aumentar a

suspeita da HAB em sua clínica diária.

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Introdução

7

1.5 Objetivos

1- Avaliar o desempenho do teste de respiração lenta na

diferenciação clínica entre indivíduos hipertensos e aqueles com

hipertensão do avental branco.

2- Determinar qual o melhor critério de interpretação e reprodutibilidade

do referido teste na identificação da hipertensão do avental branco.

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2. MÉTODOS

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Métodos

9

2.1 Desenho e pacientes

Neste estudo transversal de acurácia, 101 indivíduos encaminhados

ao Setor de Cardiopatia Hipertensiva da Universidade Federal de São Paulo –

Escola Paulista de Medicina (UNIFESP-EPM) entre maio de 2003 e dezembro

de 2004 foram selecionados em consulta inicial de triagem.

Critérios de inclusão: adultos (idade ≥ 18 anos) com hipertensão

arterial (HA) em estágio 1 (PAS entre 140 e 159 ou PAD entre 90 e 99mmHg)

ou 2 (PAS entre 160 e 179 ou PAD entre 100 e 109mmHg) pela classificação

das IV Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial (Mion et al, 2004) ou em

uso de medicação anti-hipertensiva.

Critérios de exclusão: pacientes com HA estágio 3 - PAS ≥180 ou

PAD ≥110mmHg; HA secundária; diabetes mellitus; doença pulmonar obstrutiva

crônica moderada a grave; angina instável ou de início recente; fibrilação atrial;

valvopatias com classe funcional >I; creatinina sérica ≥ 1,5mg/dl; índice de

massa corpórea ≥ 35; no eletrocardiograma, presença do índice de Sokolow-

Lyon (S V1 + R V5/V6 ≥35 mm) e etilismo.

O consentimento informado escrito foi previamente obtido e este

estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da UNIFESP.

2.2 Materiais e métodos

2.2.1 Mensurações da pressão arterial e o teste de respiração lenta

Os indivíduos selecionados foram avaliados após duas a três

semanas sem medicação anti-hipertensiva (Owens et al, 1999). A

determinação auscultatória da PA (ruídos de Korotkoff I e V) foi obtida com um

esfigmomanômetro de mercúrio (Wan Med, São Paulo, Brasil), com graduação

de 2mm e bolsas de 12 x 22,5cm ou 15 x 35cm. Com o paciente sentado,

mede-se a PA em ambos os braços e escolhe-se o braço de maior registro.

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Métodos

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Após um a dois minutos, procede-se uma nova mensuração neste membro. Se

forem encontradas diferenças na PA diastólica maiores que 5mmHg, repete-se

o procedimento até que seja obtida uma medida com diferença menor. Com o

manguito já posicionado no braço escolhido, submete-se o paciente ao teste

de respiração lenta (TRL). O teste consiste em induzir a respiração lenta

durante um minuto na freqüência de 0,1Hz (um ciclo respiratório a cada 10

segundos). O médico instrui o paciente, simulando o padrão respiratório do

teste baseado em um relógio analógico colocado sobre a mesa. Imediatamente

após, procede a uma única medição da PA no braço previamente determinado.

A freqüência de pulso é estimada por meio de contagem de 30 segundos, pelo

pulso radial, imediatamente após as medidas pré e pós-teste.

Na seqüência imediata, o paciente tem instalado o monitor para realizar

MAPA de 24 horas (Dyna-MAPA, Cardios Sistemas, São Paulo, Brasil; equivalente

ao Mobil-O-Graph, I.E.M., Stolberg, Alemanha). O aparelho foi programado para

aferir a PA a cada 15 minutos (vigília) e 30 minutos (sono). Manguito apropriado

(12 x 22cm ou 14 x 38cm) foi alocado no braço não dominante. Os horários de

dormir e despertar foram estabelecidos individualmente e checados contra os

registros do diário. No dia seguinte, após a retirada do monitor, repetem-se os

mesmos procedimentos (mensuração da PA antes e depois do TRL) em nova

consulta. A interpretação dos resultados da MAPA foi feita de maneira cega em

relação às medidas clínicas e de acordo com as IV Diretrizes para Monitorização

Ambulatorial de Pressão Arterial (Alessi et al, 2005). Consideramos válidos

relatórios com pelo menos 50 medidas de vigília.

2.2.2 Reprodutibilidade

A reprodutibilidade interobservadores foi averiguada a partir de

medidas obtidas separadamente por um segundo médico (também do sexo

masculino) que testou 20 pacientes por duas vezes, imediatamente após as

consultas do primeiro observador. Cada médico realizou o atendimento

sozinho, sem nenhum observador admitido durante o procedimento para evitar

elevação de PA do paciente (Matthys et al, 2004). Todas as medidas clínicas

foram obtidas no período da manhã entre 11:00 e 12:00 horas.

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Métodos

11

2.2.3 Critérios diagnósticos

Como critério de definição, consideramos como HAB a existência de

medidas de consultório ≥140mmHg (PAS) ou ≥90mmHg (PAD) nas duas

consultas (também na triagem se o paciente não estivesse tomando

medicação) e média de vigília da MAPA <135mmHg (PAS) e <85mmHg (PAD).

Foram comparados dois critérios como resposta positiva ao TRL

para o diagnóstico da HAB. Critério 1: queda da PAD ≥10% em pelo menos

uma das duas consultas. Critério 2: queda para níveis de normalidade, ou

seja, PAS <140 e PAD<90mmHg em pelo menos uma das duas consultas.

O Critério 1 foi retirado após revisão da literatura (Yoshihara et al, 1993).

Já o Critério 2 foi decorrente de nossa observação pessoal.

2.2.4 Análise estatística

Considerando uma prevalência média de 20% de HAB, erro alfa de

5% e poder estatístico da amostra de 90%, estimamos necessários 92

indivíduos com diagnóstico presumível de HA.

Os resultados foram expressos em média e desvio-padrão (DP).

Foram utilizados os testes t de Student pareado e o teste do qui-quadrado para

análise dos resultados. O desempenho do TRL foi avaliado pela determinação

da sensibilidade, especificidade, valores preditivos e razões de probabilidade,

com os respectivos intervalos de confiança em 95%. Para a avaliação da

reprodutibilidade interobservadores do TRL foi utilizado o teste de Kappa.

Utilizamos para os cálculos os programas Microsoft Excel e Confidence Interval

Analysis, version 2.

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3. RESULTADOS

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Resultados

13

3.1 Características da amostra

Esta amostra consistiu de 71 mulheres e 30 homens com idade

média de 50,7 ± 10 anos. Participaram 57 pacientes brancos, 40 negros e

quatro amarelos. Dez pacientes tinham idade ≥65 anos (7 mulheres). Noventa

e quatro pacientes utilizavam medicação anti-hipertensiva. Destes, 17 estavam

em monoterapia, 74 utilizavam duas drogas e três pacientes, três drogas. As

drogas utilizadas pertenciam às seguintes categorias: diuréticos tiazídicos,

β-bloqueadores, bloqueadores dos canais de cálcio diidropiridínicos e

inibidores da enzima conversora de angiotensina. Dentre os indivíduos

medicados, 77 apresentaram na triagem PAS ≥140mmHg ou PAD ≥90mmHg.

3.2 Classificação

As médias gerais e DP das medidas clínicas pré e pós-teste foram de

152 ± 17 / 99 ± 11 e 140 ± 18 / 91 ± 11mmHg, respectivamente. As médias pré e

pós-teste para a freqüência de pulso foram de 73 ± 10 /75 ± 10, respectivamente.

Nove pacientes apresentaram medidas de consultório e MAPA com níveis

pressóricos normais mesmo após a retirada da medicação, configurando erro

diagnóstico prévio. Destes, cinco tiveram medidas normais de PA nas duas

consultas e quatro, somente na segunda consulta.

Dos 92 indivíduos restantes, 28 (30% da amostra) foram

classificados como HAB após a MAPA, com médias e DP pré e pós-teste de

148 ± 12 / 91 ± 8 e 136 ± 13 / 86 ± 8mmHg. As médias pré e pós-teste para a

freqüência de pulso foram de 74 ± 11 e 76 ± 11, respectivamente. Na segunda

consulta, 25 indivíduos tiveram medidas clínicas compatíveis com HA estágio

1; os outros três, com HA estágio 2. Após o TRL, 15 tiveram queda da

PAD ≥10% (Critério 1) e 21 tiveram a PA normalizada (Critério 2). A média e

DP de vigília da MAPA foi de 125 ± 6 / 77 ± 6mmHg. Pelo Critério 1, oito

pacientes foram identificados na primeira consulta e sete na segunda. Quatro

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Resultados

14

pacientes responderam positivamente ao teste em ambas consultas. Pelo

Critério 2, 12 pacientes foram identificados na primeira consulta e nove na

segunda. Nove pacientes responderam positivamente ao teste em ambas

consultas. Houve coincidência de resposta positiva aos dois critérios em 13

pacientes, sendo que cinco não foram identificados por nenhum critério.

Os 64 (70%) indivíduos restantes foram classificados como

hipertensos (HT). Suas médias e DP pré e pós-teste foram de 156 ± 17 / 100 ± 10

e 145 ± 17 / 96 ± 10mmHg. As médias pré e pós-teste para a freqüência de

pulso foram de 72 ± 10 e 75 ± 10, respectivamente. Na segunda consulta,

35 indivíduos tiveram medidas clínicas compatíveis com HA estágio 1; 24, com

HA estágio 2; e cinco, com HA estágio 3. Após o TRL, 14 tiveram queda de

PAD ≥10% (Critério 1) e 12 para valores normais da PA (Critério 2). A média e

DP de vigília da MAPA foi de 144 ± 10 / 91 ± 8mmHg (Tabelas 1 e 2).

As tabelas 1 e 2 mostram as respostas obtidas para os Critérios 1 e

2 após a aplicação do teste de respiração lenta.

Tabela 1 - Distribuição dos pacientes de acordo com o Critério 1

HAB HT Total

↓PAD≥10% 15 14 29

↓PAD<10% 13 50 63

Total 28 64 92

HAB: Hipertensão do Avental Branco; HT: Hipertensão ↓PAD≥10%: queda da PA diastólica ≥10% após o TRL em pelo menos uma de duas consultas. ↓PAD<10%: queda da PA diastólica <10% após o TRL nas duas consultas.

Tabela 2 - Distribuição dos pacientes de acordo com o Critério 2

HAB HT Total

PA<140/90 21 12 33

PA≥140/90 7 52 59

Total 28 64 92

HAB: Hipertensão do Avental Branco; HT: Hipertensão PA<140/90: queda da PA para valor <140/90mmHg após o TRL em pelo menos uma de duas consultas PA≥140/90: queda da PA para valor ≥140/90mmHg após o TRL nas duas consultas.

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Resultados

15

3.3 Desempenho do teste de respiração lenta

A tabela 3 sumariza o desempenho do TRL para os dois critérios. Foram

calculadas a sensibilidade, especificidade, valores preditivos, razões de

probabilidade e teste de Kappa para análise de reprodutibilidade interobservadores,

com os respectivos intervalos de confiança (método de Wilson).

Tabela 3 - Análise de desempenho do teste de respiração lenta na identificação

da hipertensão do avental branco

Critério 1 Critério 2

Sensibilidade 0.54 (0.36 a 0.71) 0.75 (0.57 a 0.87)

Especificidade 0.78 (0.67 a 0.87) 0.81 (0.70 a 0.89)

VPP 0.52 (0.34 a 0.69) 0.64 (0.47 a 0.78)

VPN 0.79 (0.68 a 0.88) 0.88 (0.78 a 0.94)

RPP 2.5 (1.4 a 4.4) 4.0 (2.3 a 7.0)

RPN 0.6 (0.40 a 0.90) 0.3 (0.16 a 0.59)

Teste de Kappa -0.12 (-0.67 a 0.42) 0.42 (0.02 a 0.86)

Critério 1: queda da PAD ≥10% após o TRL em, pelo menos, uma das duas consultas Critério 2: queda da PA < 140/90mmHg após o TRL em, pelo menos, uma das duas consultas VPP: Valor Preditivo Positivo; VPN: Valor Preditivo Negativo RPP: Razão de Probabilidade Positiva; RPN: Razão de Probabilidade Negativa

O gráfico da figura 1 representa a melhora da performance do TRL

em relação à sensibilidade, especificidade, valores preditivos e à

reprodutibilidade interobservadores, quando utilizamos um ponto de corte

idêntico ao usado no diagnóstico clínico (140/90mmHg no critério de

normalização da PA)

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Resultados

16

Sens: Sensibilidade; Esp: especificidade; VPP: Valor Preditivo Positivo; VPN: Valor Preditivo Negativo Kappa: teste de kappa Critério 1: queda da PAD ≥10% após o TRL em, pelo menos, uma das duas consultas Critério 2: queda da PA para menos que 140/90mmHg após o TRL em, pelo menos, uma das duas consultas

Figura 1 - Comparação do desempenho dos Critérios 1 e 2

As médias da PA pré-teste apresentaram queda espontânea da primeira

para a segunda consulta tanto para o grupo HT como para HAB (Tabela 4), com 24h

de intervalo entre as consultas. Para o grupo HT, de 158 ± 18 /101± 10 para

154 ± 6 / 99 ± 10. Para o grupo HAB, de 150 ± 13 / 92 ± 8 para 146 ± 11 / 89 ± 9.

Conforme o esperado, as médias de PA pré-teste dos pacientes hipertensos são

mais elevadas do que aquelas dos pacientes com HAB. Cabe ressaltar que este

aspecto foi determinado somente após a realização do TRL, com a interpretação dos

dados da MAPA e a subseqüente classificação da amostra. Após a aplicação do

TRL observamos queda significativa das PAs sistólica e diastólica em ambos os

grupos e em ambas as consultas (Tabela 4). Não foram observadas diferenças

significantes para as freqüências de pulso pré e pós-teste nos dois grupos.

-20

-10

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Sens Esp VPP VPN kappa

Critério 1 Critério 2

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Resultados

17

Tabela 4 - Comportamento da pressão arterial (sistólica/diastólica ± DP),

respectivas variações percentuais e significância e freqüência de pulso (±DP)

nas consultas clínicas antes e após a realização do teste de respiração lenta

HT (n=64) HAB (n=28)

PA1 pré 158 ± 18 / 101 ± 10 150 ± 13 / 92 ± 8

PA1 pós 149 ± 17 / 97 ± 10 140 ± 12 / 87 ± 8

∆%(p) -6 * / -4 ** -7 * / -6 **

PA2 pré 154 ± 16 / 99 ± 10 146 ± 11 / 89 ± 9

PA2 pós 142 ± 15 / 95 ± 10 132 ± 12 / 84 ± 9

∆%(p) -8 * / -4 ** -11 * / -6 **

FP1 pre 72 ± 10 74 ± 13

FP1 pós 74 ± 10 75 ± 12

FP2 pré 73 ± 10 75 ± 10

FP2 pós 75 ± 10 77 ± 10

PA1, PA2 = médias da PA na 1ª e 2ª consultas, pré e pós TRL. ∆%(p) = variação percentual (valor de p) * = p<0,0001 ** = p<0,003 FP1, FP2 = médias da FP na 1ª e 2 consultas, pré e pós TRL

As Tabelas 5 e 6 mostram as respostas ao TRL (positivas ou

negativas) pelos critérios 1 e 2, de acordo com os estágios de hipertensão

(IV Diretrizes Brasileiras, 2002) após a segunda consulta (medidas clínicas). Para

os pacientes com PA compatível com o estágio 1, houve diferença significante

entre HT e HAB na resposta ao teste para o Critério 2 (p<0,003), mas não para

o Critério 1 (p<0,26).

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Resultados

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Tabela 5 - Resposta ao teste de respiração lenta de acordo com os estágios

de hipertensão (medidas clínicas após a segunda consulta) usando o Critério 1

HAB+ (n=15) HAB–(n=13) HT+ (n=15) HT–(n=49) Total (n=92)

Estágio 1 13 12 12 23 60

Estágios 2 e 3 2 1 3 26 32

Critério 1: queda da PAD ≥10% após o TRL em, pelo menos, uma das duas consultas HT: hipertensos; HAB: Hipertensão do Avental Branco +: resposta positiva ao teste; -: resposta negativa ao teste

Tabela 6. Resposta ao teste de respiração lenta de acordo com os estágios de

hipertensão (medidas clínicas após a segunda consulta) usando o Critério 2

HAB+ (n=21) HAB– (n=7) HT+ (n=12) HT– (n=52) Total (n=92)

Estágio 1 19 6 12 23 60

Estágios 2 e 3 2 1 0 29 32

Critério 2: queda da PA para abaixo de 140/90mmHg após o TRL em, pelo menos, uma das duas consultas HT: hipertensos; HAB: Hipertensão do Avental Branco +: resposta positiva ao teste; -: resposta negativa ao teste

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4. DISCUSSÃO

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Discussão

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O teste de respiração lenta revelou sensibilidade de 75% e especificidade de 81% para o critério de normalização da PA na identificação da Hipertensão do Avental Branco, em duas consultas, quando da avaliação de pacientes hipertensos não-medicados, sem lesões de órgãos-alvo e sem co-morbidades importantes. A razão de probabilidade positiva obtida pelo teste aponta para um aumento na chance da presença de HAB em até quatro vezes. Esses resultados sugerem que este é um teste simples, facilmente realizável pelo clínico em seu consultório, com possibilidade de aumentar consideravelmente a suspeita desse diagnóstico.

Realizamos análise de concordância entre dois observadores e encontramos um teste de Kappa de 0,42 para o critério de normalização da PA, plenamente aceitável para uma manobra clínica em um cenário de grande variabilidade.

A variabilidade pressórica é um terreno instável para o clínico envolvido com o diagnóstico e o controle da HA. A queda espontânea da PA ocorrida entre a primeira e a segunda visita (Tabela 4) corrobora a necessidade de realizarem-se ao menos três visitas (duas consultas após a consulta de triagem) para atenuação da reação de alerta inicial (Watson et al, 1987; Fogari et al, 1996). Esse fenômeno (efeito de habituação) é apropriadamente levado em consideração pelo algoritmo diagnóstico da Sociedade Canadense de Hipertensão (Myers et al, 2005), que preconiza a realização deste diagnóstico em até cinco consultas caso não haja MAPA ou MRPA disponíveis. O recente algoritmo diagnóstico das V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial (Sociedade Brasileira de Cardiologia, 2006) também contempla este aspecto ao preconizar o diagnóstico clínico em até três consultas. Este é um cuidado necessário, haja vista que nosso estudo revelou nove pacientes normotensos.

Em relação à HAB, esta parece ser uma resposta condicionada que não desaparece com o tempo (Pickering, 1991) e cujo diagnóstico depende do grau de suspeita do médico. Em recente contribuição (Verdecchia et al, 2003), o Grupo de Trabalho em Monitoramento de Pressão Arterial da Sociedade Européia de Hipertensão pontua: “Na verdade, deve-se admitir que é difícil escapar da conclusão de que todos os pacientes em que o diagnóstico de hipertensão é baseado em medidas de consultório, deveriam proceder à MAPA

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Discussão

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para excluir a HAB”. De fato, a HAB é encontrada mesmo em hipertensos classificados no consultório como estágio 3 (Verdecchia et al, 1995). Não obstante, estes autores mencionam algumas situações que aumentam a probabilidade de sua ocorrência em hipertensos não tratados: PA no consultório entre 140 e 159mmHg (sistólica) e entre 90 e 99 mmHg (diastólica); em mulheres; em não-fumantes; hipertensão de diagnóstico recente; número limitado de medidas no consultório; e massa ventricular esquerda pequena ao ecocardiograma. Deve ser levado também em consideração o relato de pacientes que referem ter sua PA elevada no consultório em relação a medidas tomadas fora de ambiente médico. Nos lugares em que o acesso à monitorização ambulatorial é restrito, estes fatores de suspeita para HAB ganham importância pela possibilidade de otimização dos pedidos desse exame.

Este trabalho sugere que o teste de respiração lenta, na forma proposta, pode contribuir no aumento da suspeita de HAB de modo mais efetivo do que o observado por Yoshihara et al (1993) que descreveram em amostra pequena melhor diferenciação do efeito do teste com o componente diastólico. Na análise do referido estudo, algumas questões metodológicas podem ser levantadas: a) o método empregado para a determinação do diagnóstico clínico de HA leve a moderada (média de três consultas) favorece a inclusão de pacientes normotensos. Freqüentemente ocorre uma redução importante da PA da primeira à terceira consulta em pacientes diagnosticados como hipertensos na primeira avaliação, pelo efeito de habituação (Pickering, 1992; Perry, Miller, 1992). Isto talvez explique a elevada proporção de HAB encontrada (57% da amostra) para o critério diagnóstico utilizado na MAPA; b) o teste respiratório é aplicado somente no primeiro encontro, quando a reação de alerta é mais intensa e com possível prejuízo na avaliação da magnitude do efeito da manobra; c) na avaliação pela curva ROC, pequenas alterações na percentagem de queda da PAD determinaram diferenças importantes nos índices de acurácia diagnóstica. Yoshihara et al (1993) não sugeriram qualquer percentual de queda da PAD que represente o melhor balanço diagnóstico, o que dificulta a aplicação clínica do teste; d) não foi realizada análise de reprodutibilidade interobservadores; e) não há estimação do tamanho da amostra com conseqüente repercussão sobre a possibilidade de erro tipo beta.

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Discussão

22

A redução gradual da atividade simpática inerente ao efeito de habituação (Sokolov, 1963) poderia, em teoria, favorecer o efeito da respiração profunda. Esta é uma possível causa da queda maior da PA sistólica após o teste na 2ª consulta em comparação com a 1ª, para ambos os grupos (Tabela 4). Não obstante, a maior parte dos pacientes com HAB foi identificada já na 1ª consulta e por ambos os critérios.

Iniciamos este estudo com a expectativa de averiguar o desempenho do teste a partir do critério de percentagem de queda da PA diastólica, conforme análise da literatura (Yoshihara et al, 1993). Em nosso estudo, este critério terminou por mostrar melhora da sensibilidade (de 29% para 54%), porém com queda da especificidade (de 100% para 78%). Além disto, revelou-se como um critério não reprodutível. De modo diferente, o critério de normalização da PA, originado a partir de nossa observação, revelou sensibilidade, especificidade e reprodutibilidade satisfatórias para uma manobra clínica, além de ser um critério de fácil leitura para o médico.

Avaliamos ainda dois outros critérios alternativos: queda da PAD ≥ 5% e queda da PAS ≥ 10%. Obtivemos sensibilidade de 68% e 54% e especificidade de 36% e 55% para estes pontos de corte, respectivamente. Estes achados ressaltam a superioridade do critério de normalização da PA. Em relação às freqüências de pulso, as pequenas diferenças observadas após a aplicação do teste, tanto no grupo HT como no HAB (Tabela 4) não permitem uma diferenciação a partir deste parâmetro.

A queda da PA após o TRL foi mais acentuada no grupo HAB do que no HT, em ambas as consultas (Tabela 4). Este resultado poderia ser influenciado por alguma possível diferença fisiológica nos mecanismos de mudança rápida da PA. Nesse âmbito, em estudo que utilizou MAPA direta (intra-arterial), foi descrita em indivíduos com hipertensão clínica uma maior sensibilidade do barorreflexo naqueles com menor média ambulatorial (ou seja, HAB) em relação aos de maior média (HT), mesmo não havendo diferença significante na PA clínica média entre esses grupos (Floras et al, 1981). Como já citado, a respiração lenta estimula este reflexo em indivíduos hipertensos e ocasiona queda da PA (Joseph et al, 2005). Seria este estímulo mais efetivo em promover a queda de níveis elevados de PA nos indivíduos com maior

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Discussão

23

sensibilidade barorreflexa, como é o caso daqueles com HAB? A resposta a esta hipótese pode ganhar contornos mais definidos com estudos desenhados especificamente para mensurar possíveis diferenças fisiológicas entre esses dois grupos quando submetidos ao estímulo da respiração lenta.

Avaliamos também a resposta ao teste a partir dos estágios pressóricos referidos nas IV Diretrizes Brasileiras. Para os pacientes classificados dentro do estágio 1 (PAS entre 140 e 159mmHg ou PAD entre 90 e 99mmHg). Não houve diferença significante entre os grupos HAB e HT (p=0,26) na resposta ao TRL para o Critério 1 (Tabela 5). Já para o Critério 2 (Tabela 6), o grupo HAB respondeu positivamente ao TRL em proporção maior do que o grupo HT (p<0,002) nesse mesmo estágio. Para as médias pré-teste mais elevadas (35% da amostra) detectamos uma tendência de resposta ao teste semelhante para ambos os critérios.

O maior número de mulheres da amostra reflete a freqüência dos usuários de nosso ambulatório (mulheres 7:3 homens). Este dado não causa surpresa, pois no Brasil as mulheres recorrem mais aos serviços de saúde do que os homens (Travassos et al, 2002). Isto elevou a proporção dos casos de HAB em nosso estudo, pois as mulheres são mais suscetíveis a essa condição do que os homens (Martinez et al, 1999; Verdecchia et al, 2001). Em nossa amostra, 35% das mulheres e 15% dos homens foram classificados nessa categoria.

A realização do teste impôs alguns desafios práticos. Tentamos fazer com que os pacientes atingissem a freqüência respiratória desejada por meio de um relógio analógico colocado em cima da mesa. Porém muitos espontaneamente fechavam os olhos após o início do teste e assim não atingiram a freqüência preconizada, estabilizando-se esta em ciclos de 8-9 segundos. Não obstante, isso não prejudicou o desempenho do teste. Uma possível explicação é a modulação autonômica resultante da sincronização do ritmo respiratório com ritmos cardiovasculares de baixa freqüência (notadamente as ondas vasomotoras ou ondas de Meyer) que a respiração lenta promove (Bernardi et al, 2001b). Estas ondas têm uma duração de sete a 12 segundos em seres humanos (Peñaz, 1978), o que abarca a freqüência respiratória atingida pela totalidade dos pacientes.

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Discussão

24

Vários são os mecanismos sugeridos para explicar o efeito hipotensor

da respiração lenta. A freqüência respiratória preconizada afeta todas as

flutuações do intervalo R-R, fazendo com que estas acompanhem o ritmo

respiratório e aumentem muito sua amplitude. O aumento destas flutuações

relacionado às mudanças pressóricas tem o efeito de melhorar a eficiência do

barorreflexo e contribuir para a diminuição da PA (Bernardi et al, 2002). A

respiração lenta pode também reduzir a atividade simpática por meio da

estimulação de ritmos inibitórios de origem central, o que contribuiria no efeito

hipotensor (Joseph et al, 2005). Além disso, o aumento do volume corrente

causado pela diminuição da freqüência respiratória promove a ativação do reflexo

de Hering-Breuer (Bernardi et al, 2001a). Isto causa diminuição na sensibilidade

do quimiorreflexo e uma melhora do barorreflexo (Francis et al, 2000). Quaisquer

que sejam os mecanismos envolvidos na redução da PA pelo estímulo da

respiração lenta, este é um efeito agudo cujas alterações ainda precisam ser

estudadas a longo prazo.

4.1 Limitações

Não foi realizada a análise de reprodutibilidade do TRL nestes

indivíduos no decorrer do tempo. Levamos em conta as recomendações do

Comitê de Ética Médica da UNIFESP em relação à viabilidade de manter

hipertensos previamente tratados (agora após a MAPA) sem tratamento para

fins de pesquisa. A aplicação do teste requer adesão e treinamento dos

profissionais envolvidos e um pequeno aumento do tempo de consulta. Pelo

fato de este trabalho ter sido realizado em um ambulatório de especialidade,

os pacientes chegavam com o diagnóstico presuntivo de hipertensão, e quase

sempre medicados. A retirada da medicação implicou em certa ansiedade para

alguns pacientes, o que demandou oferta de suporte por telefone durante o

período de abstinência (tivemos duas consultas telefônicas e uma desistência

no período). Por fim, seria importante ampliar a amostra a partir da aplicação

do TRL em outros contextos, como em unidades de atenção primária e com

pacientes recém diagnosticados.

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Discussão

25

4.2 Perspectivas

Em pesquisa realizada em 167 países, a Organização Mundial de

Saúde constatou que em 45% destes países os profissionais de saúde não

eram treinados no manejo da hipertensão, em 25% as drogas anti-

hipertensivas não eram disponíveis e em 8 e 12% equipamento básico e

drogas não eram acessíveis na atenção primária, respectivamente (Alwan et

al, 2001). O trabalho que realizamos comprova essa dificuldade no manejo da

hipertensão arterial, a começar pelo diagnóstico. Mais de um terço dos

pacientes da amostra não precisaria estar tomando medicação anti-

hipertensiva. Este fato se torna particularmente grave nos países em que os

recursos de saúde são exíguos e seu desperdício, inadmissível.

Quanto ao diagnóstico da HAB, o acesso às monitorizações

externas ao consultório ainda precisa melhorar. Mesmo em países

desenvolvidos como o Canadá, a falta de reembolso para exames de MAPA

dificulta uma maior utilização deste instrumento na prática clínica. (Grewal,

Lonn, 2005). O já citado algoritmo diagnóstico da Sociedade Canadense de

Hipertensão reconhece esta dificuldade e dá ênfase especial ao diagnóstico

clínico. Os recentes estudos com MRPA abrem a perspectiva de uma

alternativa de menor custo para o seguimento e, possivelmente, para o

diagnóstico da HAB. Embora a acurácia diagnóstica deste instrumento em

relação à MAPA não seja a ideal (Hond et al, 2003; Stergiou et al, 2004; Bayo

et al, 2006), deve-se ter em conta a boa relação custo-benefício que a

utilização da MRPA apresenta.

O atual cenário sugere que as medidas clínicas de PA continuarão a

ser a principal abordagem diagnóstica para HA durante muito tempo e por todo

o mundo. Neste contexto, o presente estudo sugere que o teste de respiração

lenta pode ser usado como um teste clínico que aumenta significativamente a

suspeita de hipertensão do avental branco e pode contribuir na otimização da

requisição dos recursos diagnósticos.

Este estudo também sugere que se amplie a investigação a respeito

de possíveis diferenças fisiológicas ao estímulo da respiração lenta entre

normotensos, hipertensos estabelecidos e hipertensos do avental branco.

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5. CONCLUSÕES

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Conclusões

27

Neste estudo, o teste de respiração lenta foi aplicado em pacientes

hipertensos não-complicados e não-medicados por pelo menos duas semanas,

em duas consultas, e na freqüência respiratória de seis ciclos por minuto. A

partir dos resultados obtidos, concluímos:

1- O teste de respiração lenta apresentou sensibilidade de 75% e

especificidade de 81% na identificação clínica de indivíduos com

hipertensão do avental branco, ao utilizar o critério de

normalização da pressão arterial em duas consultas. Este teste é

de fácil aplicação e leitura, reprodutibilidade satisfatória e

aumenta consideravelmente a suspeita desse diagnóstico.

2- O critério de normalização da pressão arterial mostrou maior

sensibilidade, especificidade e reprodutibilidade na identificação da

hipertensão do avental branco do que o critério de percentagem de

queda da pressão diastólica utilizado na literatura.

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6. ANEXOS

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Anexos

29

Anexo 1 – Carta de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa

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Anexos

30

Anexo 2 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Acredito ter sido suficientemente esclarecido a respeito das informações

que li ou foram lidas para mim, descrevendo o estudo “Teste de Respiração

Profunda como auxílio diagnóstico da Hipertensão do Avental Branco”.

Eu discuti com o Dr. José Marcos Thalenberg sobre a minha decisão

de participar nesse estudo. Ficaram claros para mim quais são os propósitos

do estudo, os procedimentos a serem realizados, seus desconfortos e riscos,

as garantias de confiabilidade e de esclarecimentos permanentes. Ficou claro

também que a minha participação é isenta de despesas e que tenho garantia

de acesso a tratamento hospitalar quando necessário (item 6). Concordo

voluntariamente em participar deste estudo e poderei retirar meu

consentimento a qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem

penalidades ou prejuízo ou perda de qualquer benefício que eu possa ter

adquirido, ou no meu atendimento neste Serviço.

_________________________________

Assinatura do paciente/representante legal Data: __/__/____

Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e

Esclarecido deste paciente ou representante legal, para a participação neste estudo.

_________________________________

Assinatura do pesquisador Data: __/__/____

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Anexos

31

Anexo 3 - Questionário-Padrão

Data: ____/____/______

Nome: Sexo:

D. nasc.: __/__/____ Idade: Nat./Proc.:

Sabe ser hipertenso há (tempo): _____________

Antecedentes familiares:

Usou alguma medicação anti-hipertensiva nas últimas duas semanas?

Qual? Em que dosagem?

Usa alguma outra medicação? Qual? Em que dosagem?

Tabagismo (anos-maço):

Etilismo crônico (doses/dia):

Outras moléstias (S/N):

• Hipertensão Arterial Secundária:

• Diabetes Mellitus:

• Obesidade moderada ou grave (IMC≥35):

• Insuficiência Renal (C≥1,5 mg/dl):

• Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica:

• Doença cardíaca (especificar):

Internações hospitalares:

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Anexos

32

Anexo 4 - Ficha de Controle Individual

Primeira consulta: Data: __/__/____

Braço esquerdo (mm Hg):

PAS: PAD: FC:

Braço direito:

PAS: PAD: FC:

Após o TRP. Braço d / e

PAS: PAD: FC:

Exame físico (dados positivos):

da consulta: Data: __/__/____

Braço esquerdo:

PAS: PAD: FC:

Braço direito:

PAS: PAD: FC:

Após o TRP. Braço d / e

PAS: PAD: FC:

MAPA (médias): Data: __/__/____

Vigília: Sono: 24 hs.

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7. REFERÊNCIAS

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Abstract

Objective: To determine whether the slow breath test may contribute on

identifying white-coat hypertension. Design and Methods: On this cross-sectional

accuracy study, 101 hypertensive outpatients without target organ damage from

Unifesp Hypertension Clinic, Sao Paulo, Brazil, had drugs withdrawn for 2-3

weeks. Blood pressure was measured before and after the slow breath test on two

visits. The test consists of slow breathing for 1 minute at a frequency of 0.1Hz

(one breathing cycle each 10 sec). Positive responses: 1-diastolic pressure fall

≥10% on at least one visit or 2- blood pressure drop to pre-hypertensive levels

(<140/90mmHg) on at least one visit. Ambulatory blood pressure monitoring was

performed in a blind fashion. White-coat hypertension was defined as office

measurements ≥140/90 mm Hg and ambulatory average daytime <135/85mmHg.

Results: There were 71 women and 30 men, mean age 51±10 years. Mean pre

and post-test BP: 152±17 /96±11 and 140±18 /92±11mmHg. Nine patients had

normal office and ambulatory readings without drugs. Of 92 patients, 28 (30%)

were classified as white-coat hypertension: 15 tested positive for Criterion 1 and

21 for Criterion 2. Among 64 (70%) hypertensive patients, 14 tested positive for

Criterion 1 and 12 for Criterion 2. The sensitivity and specificity (95% CI) of SBT

was 0.54 (0.36-0.71) and 0.78 (0.67-0.87) for Criterion 1 and 0.75 (0.57-0.87) and

0.81 (0.70-0.89) for Criterion 2, with a positive likelihood ratio of 2.5 (1.4-4.4) for

Criterion 1 and 4.0 (2.3-7.0) for Criterion 2, respectively. Conclusion: The slow

breath test showed good accuracy on two visits when using the pre-hypertensive

level criterion. This finding suggests that this simple test can significantly increase

the suspicion of white-coat-hypertension.

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2ª ed. São Paulo; 2005. 122p.