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Universidade de Lisboa Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação A avaliação das estratégias de coping nas crianças e adolescentes: questões desenvolvimentistas. Ana Goreti Dias Couceiro Mestrado Integrado em Psicologia Psicologia Clínica e da Saúde/ Núcleo de Psicoterapia Cognitiva Comportamental e Integrativa 2008

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  • Universidade de Lisboa

    Faculdade de Psicologia e de Cincias da Educao

    A avaliao das estratgias de coping nas crianas e

    adolescentes:

    questes desenvolvimentistas.

    Ana Goreti Dias Couceiro

    Mestrado Integrado em Psicologia Psicologia Clnica e da Sade/ Ncleo de Psicoterapia Cognitiva

    Comportamental e Integrativa

    2008

  • Universidade de Lisboa

    Faculdade de Psicologia e de Cincias da Educao

    A avaliao das estratgias de coping nas crianas e

    adolescentes:

    questes desenvolvimentistas.

    Ana Goreti Dias Couceiro

    Mestrado Integrado em Psicologia Psicologia Clnica e da Sade/ Ncleo de Psicoterapia Cognitiva

    Comportamental e Integrativa

    Dissertao orientada pela Professora Doutora Isabel S

    2008

  • Agradecimentos:

    Gostaria, deste modo, agradecer a algumas pessoas cujo apoio cientifico e/ou

    afectivo, contriburam, para a realizao deste trabalho.

    Em primeiro lugar, quero agradecer Doutora Isabel S pela sua dedicao e o

    seu grande apoio, por tudo o que ao longo deste ano ensinou e pela sua constante

    disponibilidade. Os meus sinceros agradecimentos.

    Aos meus pais e irmos por toda a ajuda prestada, pela pacincia que

    manifestaram, pela confiana que depositam em mim e pelo carinho e apoio

    incondicional.

    Aos meus amigos que, de uma forma mais indirecta, mas no menos

    importante, me incentivaram e proporcionaram momentos de descontraco,

    fundamentais para a realizao do trabalho.

  • Resumo

    Este trabalho pretende avaliar a influncia do desenvolvimento nas estratgias

    de coping utilizadas pelos indivduos. Um outro objectivo deste estudo o de

    analisar at que ponto os instrumentos utilizados para avaliar as estratgias de coping

    usadas pelas crianas e adolescentes tm em conta o seu nvel de desenvolvimento.

    Segundo Compas et al. (2001), o coping influenciado pelo aparecimento de

    capacidades cognitivas e comportamentais para a regulao interna e do meio

    ambiente. Nenhuma definio do coping est completa sem a noo do papel central

    que o factor idade desempenha na modulao da adaptao individual ao stress, entre

    outras adaptaes (Skinner & Edge, 1998).

    Na primeira parte do trabalho apresenta-se a pesquisa bibliogrfica sobre as

    estratgias mais usadas pelas crianas e adolescentes, na segunda os resultados

    obtidos com a aplicao de um questionrio Questionrio de estratgias de Coping e

    de Regulao Emocional de Moreira, Crusellas, Ribeiro, Vaz. (2005). Este

    questionrio foi aplicado a 271 jovens de ambos os sexos (121 rapazes e 150

    raparigas) com idades compreendidas entre os 10 e os 17 anos, em duas escolas na

    zona do Barreiro.

    O estudo psicomtrico do questionrio indica que valido para a populao a

    que se destina. Um outro resultado importante revela que existe uma diferena entre

    as estratgias utilizadas pelas crianas e as utilizadas pelos adolescentes,

    nomeadamente, nas dimenses Catastrofizao e Distraco.

    Por ltimo, so discutidas as limitaes e as implicaes do presente estudo

    para futuras investigaes.

    Palavras chave: Estratgias de coping; desenvolvimento; crianas e

    adolescentes; avaliao do coping

  • Abstract

    This work aims to study the influence of human development in the coping

    strategies. Another objective of this study is to understand to what extent the

    instruments used to assess children and adolescents coping strategies take into

    account their development level. According Compas et al. (2001), the coping is

    influenced by the emergence of cognitive and behavioral capabilities for the internal

    and environment regulation. No definition of coping is complete without the notion

    of the central role that the age factor plays in the modulation of individual adaptation

    to stress, among other adjustments (Skinner & Edge, 1998).

    This work carried out research on the strategies used more frequently by

    children and adolescents, and presents a study a questionnaire Questionnaire of

    coping strategies and emotional regulation from Moreira, Crusellas, Ribeiro, Vaz.

    (2005). This study resulted from the application of the questionnaire to 271 young

    people of both sexes (121 boys and 150 girls) aged between 10 and 17 years, in two

    schools in the area of Barreiro.

    The results show that the questionnaire is valid for the sample. Another

    important result shows that there is a big difference between the strategies used by

    children and those used by adolescents, namely children use more catastrophizing

    and distraction strategies than adolescents.

    To finalize, it is discussed the limitations and the implications of this study for

    future research.

    Key Words:

    Coping strategies; development; children and adolescent; assessment of coping

  • ndice:

    I- Introduo........2

    A importncia do coping...3

    O coping e o ajustamento......6

    A importncia do desenvolvimento......6

    Questes de investigao...9

    II- Enquadramento terico.........11

    Definio de coping.....................................................................................11

    O coping e o desenvolvimento....16

    Classificao do coping...18

    As estratgias de coping e o nvel de desenvolvimento..21

    Avaliao do coping....27

    Objectivos32

    III- Mtodo34

    Descrio da amostra..34

    Instrumento de avaliao.35

    Procedimento...36

    IV- Resultados...38

    Estudo do questionrio38

    Anlise desenvolvimentista.42

    V- Discusso e concluses....45

    Limitaes do estudo...48

    Questes futuras..49

    Bibliografia....50

  • Anexos.......54

    Anexo A..55

    Anexo B...59

    Anexo C...62

  • Introduo

    2

    I - Introduo

    O tema deste projecto prende-se com as estratgias de coping e como estas vo

    mudando ao longo do desenvolvimento da criana e do adolescente. Numa

    interveno com estes grupos o terapeuta deve estar atento ao seu nvel de

    desenvolvimento. Assim sendo, no devem ser s os terapeutas a terem em ateno

    as estratgias de coping que a criana/adolescente utiliza mas tambm os

    instrumentos devem ser capazes de ser sensveis a estas diferenas. Estes

    instrumentos devem ter em conta que as estratgias de coping no so imutveis,

    fixas, mas sim estratgias que se vo adaptando juntamente com o indivduo ao meio

    e s constantes mudanas deste. Skinner e Edge (1998) referem que o processo que

    leva ao coping moldado pelo modo como o indivduo se desenvolve, sendo que o

    coping pode promover o desenvolvimento futuro.

    O conceito de coping engloba o conjunto das estratgias utilizadas pelas

    pessoas para adaptarem-se a circunstncias adversas (Antoniazzi, Dell'Aglio &

    Bandeira, 1998), claro que as estratgias usadas nestas circunstncias vo depender

    da criana/adolescente que as empregar e do seu nvel de desenvolvimento. Lazarus e

    Folkman (cit. in Fields & Prinz, 1997) definem o coping como uma contnua

    mudana de comportamento e de esforos cognitivos para lidar com exigncias

    internas ou externas que so percebidas como excedendo os recursos da pessoa.

    Skinner e Wellborn (1994) referem-se ao coping como sendo o modo como as

    pessoas regulam o seu comportamento, as suas emoes e a sua orientao

    motivacional sobre condies de stress psicolgico (p.112).

    Os objectivos deste trabalho so, primeiro, fazer um levantamento de como as

    estratgias vo mudando com o desenvolvimento da criana tendo em vista uma

    melhor adaptao ao meio e s dificuldades que o indivduo vai encontrar. Com este

  • Introduo

    3

    levantamento pretende-se responder a uma questo: quais so as diferenas entre as

    estratgias de coping das crianas comparadas com os adolescentes e com as dos

    adultos. Numa reviso feita por Fields e Prinz (1997) de vrios estudos, pode-se

    constatar que as crianas da pr-escola tendem a aplicar estratgias de coping

    focadas no problema e estratgias de evitamento do estmulo stressor. Quando as

    crianas passam para a primria comeam a utilizar estratgias focadas na emoo ou

    estratgias cognitivas (distraco). Como Fields e Prinz (1997) referem, as crianas

    podem ser limitadas nas suas estratgias de coping devido a componentes cognitivas,

    afectivas, expressivas ou sociais do seu desenvolvimento e por falta de experincia.

    Um segundo objectivo saber se, devido a estas diferenas

    desenvolvimentistas, os instrumentos utilizados para avaliar as estratgias de coping

    so adequados ao nvel de desenvolvimento dos indivduos a que se destinam.

    A importncia do coping

    Desde os anos 60 que tem havido uma crescente consciencializao de que

    quando o stress est presente, inevitavelmente, na vida das pessoas, o coping o

    responsvel pela diferena a nvel do resultado, seja ele adaptativo ou no (Lazarus

    & Folkman, 1984). Desta forma, a ateno virou-se para o estudo dos processos

    psicolgicos que originam as diferenas individuais face a situaes de stress

    (Lazarus & Folkman, 1984).

    O coping essencial no s para um entendimento dos efeitos do stress na vida

    das crianas e dos adolescentes, uma vez que descreve o papel activo destes no

    processo transaccional de lidar com os problemas e adversidades que a vida traz, mas

  • Introduo

    4

    tambm tem o potencial de considerar como este evolui ao longo do

    desenvolvimento (Skinner & Zimmer-Gembeck, 2007).

    Face s contrariedades, o coping integra vrias formas de lidar com as

    transaces que ocorrem entre o indivduo e o meio, e deve ser ento considerado um

    conceito multidimensional, descrito atravs de tcticas, respostas, cognies e

    comportamentos que estas assumem nas interaces, tanto com estmulos internos

    como externos.

    Segundo Compas (1987), apesar de existir ainda algum desacordo sobre o

    significado preciso do coping e sua operacionalizao, parece haver um consenso

    sobre os seus parmetros gerais: as crianas e adolescentes podem lidar com o stress,

    no apenas atravs de aces comportamentais, mas tambm atravs de respostas

    emocionais e cognitivas. O coping pode incluir respostas eficazes para lidar com o

    stress e respostas mal sucedidas, sendo que visto no como um trao, mas como um

    construtor de actividades que varia conforme o tipo de stressor, o seu domnio e o

    momento do prprio processo de coping (Skinner & Wellborn, 1997).

    Um dos conceitos de coping mais aceite, e tido como referencial para muitos,

    foi proposto por Lazarus e Folkman (1984) ao desenvolverem o Modelo

    Transaccional do Stress que tem por base as transaces operadas entre o sujeito e a

    situao. Para estes autores o coping pode ser definido como esforos cognitivos e

    comportamentais para lidar com as exigncias especificas externas e/ou internas que

    so avaliadas pela pessoa como sobrecarregando ou excedendo os seus recursos

    (p.141).

    Ao pensarmos nas estratgias de coping temos que ter em ateno que os

    comportamentos/estratgias de coping das crianas podem ser limitados devido a

    componentes cognitivas, afectivas, expressivas ou sociais do seu desenvolvimento e

  • Introduo

    5

    por falta de experincia. Numa reviso feita por Fields e Prinz (1997) de vrios

    estudos, pode-se constatar que as crianas da pr-escola tendem a aplicar estratgias

    de coping focadas no problema e estratgias de evitamento. Quando as crianas

    passam para a primria comeam a utilizar estratgias mais focadas nas emoes ou

    ento estratgias cognitivas, como por exemplo a distraco.

    Na adolescncia os processos de coping so particularmente importantes,

    porque, pela primeira vez, os jovens so confrontados com stressores muito

    diferentes, para os quais podero ainda no ter desenvolvido estratgias de coping

    eficazes (Seiffge-Krenke, Weidenmann, Fentner, Aegenheister & Poeblau, 2001).

    Alguns autores consideram que o coping adolescente, isto , a competncia para lidar

    com as tarefas especficas da idade, a varivel preditora mais consistente em termos

    de bem-estar psicolgico (Compas et al., 1987).

    A investigao da natureza e das funes dos processos de coping, em crianas

    e adolescentes, muito importante uma vez que nos pode ajudar a entender os

    processos de adaptao a situaes de stress. Na investigao bsica, o coping

    representa um aspecto fundamental, inserido nos processos mais gerais de auto-

    regulao emocional, cognitiva, comportamental, fisiolgica e ambiental (Eisenberg,

    Fabes, & Gunthrie, 1997), investigaes neste mbito podem dar importantes

    informaes sobre a natureza e o desenvolvimento dos processos de auto-regulao.

    Na investigao aplicada, o estudo do coping importante por duas razes: por um

    lado, o stress psicolgico um factor de risco de psicopatologia na infncia e na

    adolescncia e o modo como as crianas e adolescentes lidam com o stress pode

    funcionar como mediador e moderador do impacto do stress no ajustamento e

    psicopatologias actuais e futuras; por outro lado, a informao sobre a natureza e

    eficcia do coping, nestas faixas etrias, poder ajudar a construir programas de

  • Introduo

    6

    preveno do stress e psicopatologia, atravs do aumento das competncias de

    coping (Compas et al., 2001).

    O coping e o ajustamento

    As estratgias de coping funcionam como moderadores dos efeitos dos eventos

    de vida negativos no bem-estar psicolgico e, certos estilos de coping, esto so

    relacionados com uma melhor adaptao (Dell'Aglio, 2003). So vrios os estudos

    que demonstram, apesar de algumas estratgias serem tidas como mais adaptativas e

    que levam a um melhor ajustamento da criana, que todas as estratgias so

    adaptativas dependendo do contexto em que so utilizadas.

    Losoya e colaboradores (1998) referem que o coping de evitamento se vai

    tornando mais comum com a idade e pode ser consistentemente relacionado com o

    comportamento social apropriado, enquanto que o coping agressivo e a expresso

    emocional diminuem com a idade e esto negativamente relacionados com uma

    funo social positiva. Desta forma, o evitamento pode tornar-se numa maneira

    construtiva de lidar com a situao de stress, afastando-se do problema ou distraindo-

    se com outras actividades, prevenindo assim que a situao de conflito se agrave.

    Outras estratgias de coping, como a procura de suporte, o coping agressivo e a

    negao, tambm esto associadas com o ajustamento e com a competncia das

    crianas. Assim, torna-se necessrio um entendimento do contexto no qual ocorre o

    processo de coping para se poder avaliar a adequao da estratgia utilizada.

    A importncia do desenvolvimento

  • Introduo

    7

    Lazarus e DeLongis (1983) indicam abertamente que os processos de coping

    alteram-se ao longo da vida da pessoa. Esta variabilidade ocorre devido a grandes

    mudanas que ocorrem nas condies de vida e atravs das experincias dos

    indivduos. Segundo este ponto de vista, no somente o desenvolvimento levado

    em considerao, mas tambm o significado dos eventos stressantes nos diversos

    momentos da vida dos indivduos.

    A maioria dos trabalhos sobre processos de coping na criana tem usado a

    teoria de stress de Lazarus e Folkman (1984), que o descreve como um processo

    recproco de avaliao cognitiva, de recursos de coping e de stressores. No entanto,

    Compas (1987) aponta a necessidade de alteraes para aplicar as noes de stress e

    coping s aces das crianas e dos adolescentes. Para entender os recursos, os

    estilos e os esforos de coping na infncia necessrio compreender melhor o seu

    contexto social, tendo em conta a dependncia da criana em relao ao adulto para

    sua sobrevivncia. Alm disso, os esforos de coping da criana so delineados pela

    sua preparao biolgica e psicolgica para responder ao stress. As caractersticas

    bsicas do desenvolvimento cognitivo e social tendem a afectar o que as crianas

    experimentam como stress e como elas lidam com situaes stressantes. Esto

    includas nessas caractersticas as crenas sobre a auto-percepo e auto-eficcia,

    mecanismos inibitrios e de auto-controle, atribuio de causalidade, relacionamento

    com pais e amigos, entre outras.

    Ryan-Wenger (1992), por sua vez, salienta a necessidade de uma teoria de

    stress-coping especfica para a criana, considerando que os stressores da criana

    no so os mesmos do adulto. As situaes que desencadeiam reaces de stress na

    criana podem estar relacionadas com os pais, com outros membros da famlia, com

  • Introduo

    8

    os professores ou com condies socio-econmicas que esto fora do seu controlo

    directo. Muitos stressores so mais difceis de serem mudados pela prpria criana

    do que pelos adultos. O nvel de desenvolvimento cognitivo tambm influencia a

    utilizao de determinadas estratgias, pois a avaliao de uma situao stressante

    envolve vrios processos simultneos: a criana precisa de relacionar o evento

    stressante com a lembrana de eventos semelhantes enfrentados em outros

    momentos, necessita de definir os parmetros do evento, tais como a sua intensidade

    potencial e a durao e, ainda, avaliar a probabilidade de ocorrncia do evento alm

    da sua durabilidade (Peterson, 1989).

    Quanto idade, Heckhausen e Schulz (1995) sugerem que as aptides

    necessrias para usar estratgias de coping focadas no problema ou focadas na

    emoo emergem em diferentes pontos do desenvolvimento. Para Compas e

    colaboradores (1991), as competncias para um coping focado no problema parecem

    ser adquiridas mais cedo, nos anos pr-escolares, desenvolvendo-se at

    aproximadamente aos 8 a 10 anos de idade. As competncias para um coping focado

    na emoo tendem a aparecer mais tarde durante a infncia e a desenvolverem-se

    durante a adolescncia, j que as crianas muito pequenas ainda no tm conscincia

    dos seus prprios estados emocionais e de como os podem modificar. Alm disto,

    aprender as competncias relacionadas ao coping focalizado na emoo atravs de

    processos de modelagem mais difcil do que aprender as competncias de coping

    focalizadas no problema. Os adolescentes utilizam mais estratgias de coping

    focalizado na emoo do que as crianas, mas no diferem dos jovens adultos,

    sugerindo que estas mudanas no desenvolvimento de coping ocorrem at ao final da

    adolescncia (Compas et al., 1991).

  • Introduo

    9

    Questes de investigao

    Tendo em conta as consideraes atrs feitas, este trabalho procura responder a

    2 questes centrais:

    Quais so as diferenas entre as estratgias de coping utilizadas pelas crianas

    comparadas com as utilizadas pelos adolescentes?

    Os instrumentos portugueses, utilizados para avaliar as estratgias de coping

    desta populao (crianas e adolescentes) tm em conta o seu nvel de

    desenvolvimento?

    Estrutura do trabalho

    Seguidamente vamos fazer uma breve apresentao da estrutura do trabalho,

    fazendo um resumo dos captulos que compem a Dissertao.

    Na primeira parte, o Enquadramento terico, pretende-se definir o conceito

    central abordado neste trabalho o coping. Mais especificamente, apresentam-se

    vrias definies do coping. Estas definies so apresentadas por diferentes autores

    e diferentes classificaes de estratgias de coping. Referem-se igualmente a relao

    entre o coping e o desenvolvimento; as diversas classificaes das estratgias de

    coping; as diferenas com o nvel de desenvolvimento na utilizao destas

    estratgias; a relao entre o coping e o ajustamento e por fim apresentam-se alguns

    instrumentos utilizados na avaliao do coping.

    O Mtodo, constitudo por uma breve apresentao dos participantes, do

    instrumento utilizado neste estudo assim como do procedimento que foi utilizado na

    recolha dos dados.

  • Introduo

    10

    Nos Resultados, foi feita uma anlise dos resultados com os seguintes

    objectivos: avaliar as qualidades psicomtricas do instrumento de avaliao utilizado

    e analisar as diferenas desenvolvimentistas nas estratgias de coping. Para fazer a

    anlise foi feito, primeiramente, uma anlise psicomtrica do instrumento utilizado.

    Seguidamente foi feita uma anlise desenvolvimentista de forma a comparar os

    diferentes grupos etrios e o gnero.

    Na ltima parte, da Discusso e concluses, resumem-se as principais

    concluses, a partir de uma sntese interpretativa dos resultados; e faz-se uma

    reflexo crtica do estudo aqui apresentado nomeadamente das suas limitaes.

    Apresentam-se algumas linhas de investigao teis, para prosseguir os estudos nesta

    rea.

  • Enquadramento terico

    11

    II- Enquadramento terico

    As abordagens ao estudo do coping emergiram a partir de duas bases tericas

    distintas: a experimentao animal e a psicologia psicoanaltica do ego. No modelo

    animal o coping habitualmente definido como os actos que controlam condies

    ambientais aversivas e que, deste modo, diminuem a perturbao psicofisiolgica.

    Segundo Lazarus e Folkaman (1984) o foco centra-se no evitamento e na fuga

    comportamental. Mas a comparao deste modelo ao coping dos humanos

    considerada simplista.

    No modelo da psicologia psicoanaltica do ego, o coping definido como

    pensamentos realistas e flexveis e actos para resolver os problemas reduzindo assim

    o stress. Os sistemas de coping baseados neste modelo, geralmente, concebem uma

    hierarquia de estratgias que progridem a partir de mecanismos imaturos, que

    distorcem a realidade de modo a lidarem com os acontecimentos stressantes ou

    removem o material perturbante do consciente, para mecanismos mais maduros

    (Lazarus & Folkman, 1984).

    Definio de coping

    importante considerar as vrias definies do coping e as conceptualizaes

    dos processos de coping. Grande parte da pesquisa sobre o coping em crianas e

    adolescentes no apresenta uma definio explcita de coping e, como consequncia,

    caractersticas das respostas das crianas que so includas num estudo, no surgem

    noutros. A falta de claridade e consenso na conceptualizao do coping levam a

    alguma confuso nas abordagens para a sua avaliao, dificuldades em comparar os

  • Enquadramento terico

    12

    resultados dos diversos estudos e dificuldades em documentar diferenas

    fundamentais no coping em funo da idade, gnero, e outros factores de diferenas

    individuais (Compas et al., 2001).

    Dois desafios esto presentes na elaborao de uma definio de coping. O

    primeiro a necessidade de uma definio que reflicta a natureza de processos

    desenvolvimentistas. pouco provvel que as caractersticas bsicas ou de eficcia

    do coping sejam as mesmas no caso das crianas e no caso dos adolescentes, desta

    forma qualquer definio de coping deve reflectir estas mudanas. O segundo

    desafio, prende-se com o facto de ser importante distinguir o coping de outros

    aspectos ou formas de resposta ao stress por parte dos indivduos (Lazarus &

    Folkman 1984).

    A definio mais citada do coping a dada por Lazarus e Folkman (1984) que

    deriva do seu modelo para adultos, esta definio est referida anteriormente. O

    coping visto como um contnuo de processos dinmicos que mudam em resposta s

    diversas exigncias dos eventos stressantes. O coping tambm conceptualizado

    como respostas que esto direccionadas para a resoluo da relao stressante entre o

    self e o meio-ambiente (coping focado no problema) ou ento como o alvio de

    emoes negativas que surgem em resultado do stress (coping focado na emoo).

    Esta definio faz parte de um extenso modelo motivacional de stress psicolgico e

    emocional que enfatiza a avaliao cognitiva na determinao daquilo que ou no

    stressante para o indivduo. O coping um processo dirigido a um objectivo, no qual

    o indivduo orienta pensamentos e comportamentos no sentido de resolver a fonte do

    stress ou lidar com as reaces emocionais ao stress (Lazarus, 1993 cit. in Compas et

    al., 2001).

  • Enquadramento terico

    13

    Estas conceptualizaes baseadas em modelos para adultos, no so

    particularmente defensoras de abordagens com componentes desenvolvimentistas,

    uma vez que no fazem ligaes tericas a outros subsistemas envolvidos, como a

    linguagem e a cognio. Sem estas ligaes a investigao no pode determinar

    como o desenvolvimento de componentes implcitos ao coping se combinam para

    formar novas competncias de coping em diferentes idades (Skinner & Zimmer-

    Gembeck, 2007).

    O modelo de Weisz e colaboradores (1988, cit. in Raimundo, 2005)

    comparvel ao de Lazarus e Folkman, uma vez que o coping visto como

    direccionado para um objectivo e de constituio motivacional. Contudo, no modelo

    de Weisz, os esforos de coping so direccionados para manter, aumentar ou alterar o

    controlo sobre o ambiente e o self. Assim, distinguem o controlo primrio do coping

    que definido como a influncia nas condies ou acontecimentos objectivos,

    enquanto que o coping secundrio refere-se ao coping que tem como objectivo

    maximizar o ajustamento de um indivduo s condies actuais e o abandono do

    coping definido como a ausncia de qualquer tentativa de coping (Rudolph et al.,

    1995). Weisz e colaboradores tambm distinguiram entre as respostas de coping

    (aces fsicas ou mentais intencionais em resposta a um stressor e dirigidas ao

    ambiente ou a estados internos); os objectivos que esto por detrs dessas respostas

    (objectivos ou intenes das respostas de coping e que reflectem a natureza

    motivacional do coping) e, por fim, os resultados do coping que so as consequncias

    especficas dos esforos intencionais do coping (Compas et al., 2001).

    Skinner e Welborn (1994) definem o coping como o modo como as pessoas

    regulam o seu comportamento, as suas emoes e a sua orientao motivacional

    sobre condies de stress psicolgico (p.112). O coping dirigido regulao do

  • Enquadramento terico

    14

    comportamento inclui a procura de informao e a resoluo de problemas. O coping

    dirigido regulao emocional inclui manter uma atitude optimista, enquanto que a

    regulao da orientao motivacional inclui o evitamento. Skinner e colegas

    integram o coping num modelo motivacional de controlo psicolgico, cujo objectivo

    preencher as necessidades humanas bsicas de competncia, autonomia e de

    relacionamento interpessoal. Os esforos de coping podem ser orientados para a

    satisfao destas necessidades, para a proteco contra ameaas ou desafios a estas

    necessidades quando sujeitas a condies stressantes, ou na reparao de estragos

    que possam surgir das situaes de stress (Compas et al., 2001). O modelo de

    Skinner difere do de Lazarus e Folkman, uma vez que o primeiro inclui as respostas

    voluntrias e as involuntrias ou automticas para lidar com as ameaas

    competncia, autonomia e relaes interpessoais (Skinner, 1995, cit. in Compas et

    al., 2001)

    Eisenberg, Fabes e Guthrie (1997) definem o coping como uma subcategoria

    dentro de uma categoria mais abrangente que a auto-regulao, ou seja, estes

    autores consideram que os indivduos esto envolvidos na regulao dos seus

    comportamentos e das suas emoes numa base contnua e o coping refere-se

    especificamente auto-regulao, quando um indivduo enfrenta situaes de stress.

    Eles distinguem trs aspectos da auto-regulao: tentativas de regulao directa das

    emoes, tentativas para regular a situao e tentativas para regular os

    comportamentos originados pelas emoes (p. 45). Estes autores argumentam que,

    apesar do coping e da regulao emocional serem processos que tipicamente

    envolvem esforo, o coping nem sempre consciente e intencional, adoptando uma

    perspectiva semelhante de Skinner e col. (cit. in Compas et al., 2001).

  • Enquadramento terico

    15

    Compas, Connor-Smith, Saltzman, Thomsen e Wadsworth (2001) vm o

    coping como um aspecto que faz parte de uma srie mais alargada de processos que

    so activados como resposta ao stress. Estes autores definem o coping como esforos

    intencionais e conscientes para a regulao das emoes, das cognies, dos

    comportamentos, da fisiologia e do ambiente, em resposta a acontecimentos ou

    circunstncias stressantes. Estes processos de regulao esto dependentes do

    desenvolvimento biolgico, cognitivo, social e emocional do indivduo. Assim o

    nvel de desenvolvimento determina os recursos disponveis para os processos de

    coping e limita o tipo de aces de coping que podem surgir. A regulao envolve

    uma grande variedade de respostas, incluindo esforos para iniciar, terminar ou

    atrasar, modificar ou mudar a forma ou o contedo, ou moldar a quantidade ou

    intensidade de um pensamento, emoo, comportamento ou reaco fisiolgica, ou

    redireccionar o pensamento ou o comportamento para um novo alvo. O coping uma

    subcategoria dos processos de auto-regulao, por isso importante reconhecer que a

    auto-regulao inclui respostas em circunstncias no stressantes, que no so

    caracterizadas como coping (Eisenberg, et al., 1997).

    Estas definies estabelecem relaes entre o coping e os modelos sobre a

    regulao dos processos psicolgicos e fisiolgicos, incluindo a emoo, os

    comportamentos, a ateno e a cognio, assim como os efeitos dos esforos de

    regulao nos parceiros sociais e no meio ambiente (Skinner & Zimmer-Gembeck,

    2007).

    Um ponto importante na conceptualizao do coping tem sido o contraste entre

    as respostas ao stress que envolvem esforos voluntrios e conscientes por parte do

    indivduo e respostas que so automatizadas e inconscientes. Existem duas posies:

    na primeira o coping constitudo por todas as respostas ao stress

  • Enquadramento terico

    16

    independentemente do grau de controlo ou conscincia (Eisenberg et al., 1997); na

    segunda o coping est limitado s respostas que envolvam o controlo voluntrio, o

    esforo e sejam conscientes (Lazarus & Folkman, 1984; Compas et al., 2001).

    Apesar de existir esta distino todas as perspectivas reconhecem a importncia dos

    dois tipos de resposta (Compas, et al., 2001).

    O coping e o desenvolvimento

    O coping e outras respostas ao stress, parecem seguir um curso

    desenvolvimentista previsvel (Compas et al., 2001) uma vez que o coping e o

    desenvolvimento esto inerentemente inter-relacionados (Skinner & Edge, 1998).

    Nenhuma descrio do coping est completa sem o conhecimento do papel central

    que o factor idade desempenha na modulao da adaptao individual ao stress, em

    que constitui o acontecimento stressor, como o stress experienciado e expresso,

    que tipo de recursos sociais e pessoais que esto disponveis para lidar com o stress,

    na natureza do reportrio de coping, e nos efeitos a curto e longo-prazo da exposio

    ao stress e dos modos particulares de adaptao. Da mesma forma, nenhuma

    descrio do desenvolvimento est completa sem a considerao de como o

    indivduo responde ao stress, e de como ele tenta adaptar-se s adversidades, como

    que lida com a mudana, e com as falhas da mudana, para o melhor e para o pior

    (Skinner & Edge, 1998).

    Apesar das suas aparentes ligaes, o coping e o desenvolvimento tm sido

    historicamente estudados em separado. Tradicionalmente, o coping era visto como

    uma caracterstica da personalidade relativamente estvel, que descrevia diferenas

    individuais na vulnerabilidade e nas reaces aos eventos traumticos de vida. O

  • Enquadramento terico

    17

    objectivo dos desenvolvimentistas, inicialmente, era identificar as mudanas

    normativas e sistemticas, ao longo da idade (Skinner & Edge, 1998).

    Assim, pelo que j foi dito anteriormente, e tambm aliado ao facto das

    orientaes emergentes da literatura sobre o coping, a resilincia, o desenvolvimento

    ao longo do ciclo de vida e o desenvolvimento psicopatolgico, oferecerem

    conceptualizaes do coping e do desenvolvimento, est a ser criada uma corrente de

    investigao comum (Skinner & Edge, 1998).

    Compas et al., (2001) referem que o coping influenciado pela emergncia de

    capacidades cognitivas e comportamentais para a regulao do self e do meio

    ambiente, incluindo a emergncia da intencionalidade, do pensamento

    representacional, da linguagem, da metacognio, e da capacidade para esperar ou

    adiar a recompensa. Alguns aspectos de respostas involuntrias ao stress esto

    presentes logo ao nascer e, desta forma, precedem o desenvolvimento de processos

    de coping voluntrio. Desde muito cedo, os indivduos so confrontados com

    situaes stressantes (Compas, 1987). Esforos voluntrios precoces de coping

    podem orientar para o alvio de emoes negativas a partir de comportamentos

    primrios, incluindo a procura de suporte e conforto de outros, os comportamentos

    de afastamento da ameaa, e o uso de objectos tangveis para conforto e segurana

    (Gunnar, 1994, cit. in Compas, 2001). Mtodos mais complexos de obter os

    objectivos de alvio emocional e a emergncia de resoluo de problemas durante a

    infncia, advm com o desenvolvimento de capacidades mais complexas de

    linguagem e metacognio (Compas, et al., 2001).

  • Enquadramento terico

    18

    Classificao do coping

    A investigao do coping nas crianas e adolescentes permanece num estado

    relativamente incipiente, sendo que dos muitos modelos tericos e conceptuais

    aplicados nas investigaes com crianas derivam da literatura sobre as populaes

    adultas. Muitos desses modelos foram muito teis com crianas e adolescentes na

    avaliao e classificao do coping e na pesquisa da relao entre o coping e o

    ajustamento (Fields & Prinz, 1997).

    A abordagem de classificao do coping mais conhecida e usada a baseada no

    modelo de avaliao cognitiva de Lazarus (1984), que diz que a avaliao pessoal de

    uma dada situao afecta fortemente o nvel de stress associado. Dentro desta

    abordagem os esforos de coping focados no problema so direccionados para

    modificar o stressor, enquanto que as estratgias de coping focadas na emoo tm

    como objectivo regular o estado emocional que pode acompanhar o stressor.

    Estratgias focadas na emoo tentam reduzir a tenso e a estimulao fisiolgica

    que acompanha as reaces emocionais ao stress, enquanto que as estratgias

    focadas no problema envolvem esforos para activamente mudar a situao externa

    para a tornar menos stressante (Folkman & Lazarus, 1980 cit. in Fields & Prinz,

    1997). Normalmente as estratgias de coping focadas na emoo tm mais

    probabilidade de ocorrer quando existe uma avaliao de que nada pode ser feito

    para modificar a ameaa, o perigo ou mudar as condies do meio ambiente. As

    estratgias de coping focadas no problema, por outro lado, so mais provveis

    quando tais condies so avaliadas como possveis de mudar (Folkman & Lazarus,

    1980, cit. in Lazarus & Folkman, 1984). Esta abordagem ao coping, tem sido

    criticada, devido s categorias serem demasiado abrangentes e integrarem muitos

  • Enquadramento terico

    19

    tipos de coping, e tambm uma nica estratgia de coping poder estar direccionada

    para o problema e para a emoo, em simultneo (Compas et al., 2001).

    Uma abordagem alternativa refere a orientao do indivduo para privilegiar

    um sentimento de controlo pessoal sobre o meio ambiente e as suas reaces

    (controlo primrio) ou adaptar-se ao meio ambiente (controlo secundrio) (Rudolph

    et al., 1995). O controlo primrio, o controlo secundrio e o abandono de coping j

    foram descritos anteriormente neste trabalho. As estratgias de controlo secundrio,

    devido a envolverem um nmero subtil de meios psicolgicos de reduo de stress,

    tal como a reinterpretao de acontecimentos infelizes para encontrar um significado

    para eles, ou baixar as expectativas minimizando assim futuros desapontamentos,

    tendem a ter uma natureza encoberta e abstracta. ento provvel que estas

    estratgias apenas sejam adquiridas aps um longo perodo de desenvolvimento, uma

    vez, que parecem depender de mais maturidade cognitiva do que de uma

    aprendizagem por observao, ao contrrio das estratgias de coping primrias

    (Fields & Prinz, 1997).

    As estratgias de coping podem ser tambm classificadas como de

    evitamento/aproximao. A aproximao, o coping activo, a monitorizao e a

    sensibilizao representam uma disposio para activamente procurar informao,

    exibir preocupao e fazer planos. Por outro lado, o evitamento, a insensibilidade, o

    coping passivo e a represso representam uma disposio para evitar informao,

    exibir pouca preocupao e distrair a prpria pessoa em resposta a circunstncias

    stressantes (Peterson, Harbeck, Chaney, Farmer, & Thomas, 1990, cit. in Fields &

    Prinz, 1997). Roth e Cohen (1986) descrevem as estratgias de coping tipo

    aproximao como actividades comportamentais, cognitivas ou emocionais

    orientadas para um stressor (ex: procurar informao), que podem incluir tentativas

  • Enquadramento terico

    20

    cognitivas para mudar a forma de pensar sobre o problema ou tentativas

    comportamentais para resolver o problema focando-se directamente sobre ele. As

    estratgias de evitamento foram descritas como estratgias comportamentais,

    cognitivas ou emocionais orientadas para longe do stressor de forma a evit-lo (ex:

    ignorar um stressor) (Fields & Prinz, 1997). As estratgias de evitamento podem ser

    teis, uma vez que, podem levar reduo do stress prevenindo assim a ansiedade

    excessiva face a acontecimentos no controlveis/modificveis. As estratgias de

    aproximao permitem aces apropriadas e/ou possibilitam reparar e tirar partido

    das mudanas em situaes que podem tornar-se mais controlveis.

    Aps a exposio de diversas abordagens tericas e empricas de classificao

    do coping das crianas e adolescentes, emergiu alguma convergncia (Compas, et al.,

    1991, cit. in Fields & Prinz, 1997). Compas, Banez, Malcarne e Worsham (1991)

    delinearam dois grandes grupos de estratgias. No primeiro grupo de estratgias,

    denominadas de focadas no problema, decontrolo primrio, de aproximao

    ou de monitorizao, fazem parte as aces concretas por parte da criana ou do

    adolescente, de natureza comportamental, atravs das quais eles procuram lidar

    directamente com os desafios que lhe so colocados pelo meio externo, controlando-

    os ou modificando-os de alguma forma. O segundo grupo de estratgias envolve

    esforos para lidar com as emoes negativas associadas ao acontecimento

    stressante. Neste grupo, esto as estratgias denominadas de focadas na emoo,

    controlo secundrio, evitamento e atenuamento (cit. in Fields & Prinz, 1997).

    Devido grande complexidade das diferentes classificaes das estratgias de

    coping, necessrio considerar categorias especficas de respostas de coping que

    compem estas classificaes. Uma grande variedade de subtipos especficos de

    coping, nas crianas e nos adolescentes, foi proposta (Compas et al., 2001). Se no

  • Enquadramento terico

    21

    dermos importncia s diferenas entre as abordagens tericas e as dimenses,

    Skinner, Edge, Altman e Sherwood (2003) encontraram um pequeno nmero de

    famlias de coping, talvez doze, que pode ser usado para classificar a maioria, se no

    todas, as formas de coping identificadas em investigaes anteriores. Estas incluem,

    resoluo de problemas, procura de suporte, fuga, distraco, reestruturao

    cognitiva, ruminao, desesperana, isolamento social, regulao emocional, procura

    de informao, negociao, oposio e delegao (Skinner & Zimmer-Gembeck,

    2007).

    As estratgias de coping e o nvel de desenvolvimento

    A identificao destas famlias de respostas de coping consegue incorporar

    diferentes respostas dentro de cada famlia de forma desenvolvimentista. As crianas

    pequenas usam estratgias de coping comportamentais de forma a distrarem-se, por

    exemplo, brincando com algo divertido, enquanto que crianas mais velhas podem

    usar estratgias de natureza mais cognitiva (como por exemplo, pensar em algo que

    lhes d prazer). tambm possvel identificar estratgias de coping com

    funcionalidades semelhantes durante o perodo de crescimento, quando as crianas

    que no conseguem distrair-se activamente, podem ser distradas pelos outros. Estas

    estratgias podem ser vistas tambm em idades mais avanadas, por exemplo,

    quando os adolescentes planeiam trazer um livro favorito para se distrair enquanto

    esperam um procedimento mdico doloroso (Skinner & Zimmer-Gembeck, 2007).

    As formas de coping, tal como j foi referido anteriormente, no so utilizadas

    de igual forma dependendo do nvel de desenvolvimento em que a criana se

    encontra. Existem alguns estudos que tm examinado as diferenas e as mudanas

  • Enquadramento terico

    22

    nas estratgias de coping usadas durante a infncia e adolescncia (Fields & Prinz,

    1997; Losoya et al., 1998).

    Para analisar de que forma so utilizadas as estratgias de coping dependendo

    do desenvolvimento em que a criana e adolescente se encontra, foi utilizado uma

    reviso de diversos estudos, efectuada por Skinner & Zimmer-Gembeck (2007).

    A procura de suporte e a de ajuda, que foram avaliadas em 32 estudos, so as

    estratgias mais comuns em todas as idades. No entanto, a procura de suporte uma

    estratgia complexa e multidimensional, cujo desenvolvimento depende da idade, do

    agente de suporte (ex: dos pais, professores, pares), do domnio (ex: questes de

    sade, escolares), do tipo de suporte procurado (ex: contacto, conforto, orientao), e

    do meio de procura de suporte (ex: expresses de stress, referncia social, procura de

    proximidade, pedidos verbais). Nos primeiros anos de vida, as crianas so mais

    capazes de procurar ajuda nas figuras de vinculao quando sujeitas a situaes

    stressantes (Skinner & Zimmer-Gembeck, 2007).

    Existe um declnio na procura de suporte dos adultos, especialmente entre os 4

    e os 12 anos de idade, e aumenta a procura de suporte dos pares durante a

    adolescncia. Existem evidncias que esta diminuio ocorre devido a um declnio

    na procura de suporte dos adultos em dois perodos a idade dos 5 aos 7 anos e na

    transio para a adolescncia (dos 9 at aos 12). Quando em situaes que so

    incontrolveis ou em que os adultos tenham autoridade, os mais novos procuram o

    apoio deles. Assim, com a idade as crianas esto cada vez mais habilitadas a

    identificar situaes em que o apoio dos adultos apropriado. Com a transio da

    criana para a adolescncia, especialmente entre as idades dos 10 aos 16 anos, elas

    tornam-se mais eficazes em determinar a melhor fonte de apoio para diferentes

    problemas (Skinner & Zimmer-Gembeck, 2007).

  • Enquadramento terico

    23

    Em 28 estudos (Skinner & Zimmer-Gembeck, 2007), foram avaliadas as

    diferenas de idade, na estratgia de resoluo de problemas. Estas dependem se as

    subescalas se focam em aces instrumentais para mudar a situao stressante, a

    forma mais complexa de resoluo de problemas, ou ento, para crianas mais novas,

    se elas se focam em combinaes que incluem procura de ajuda ou de apoio (de

    adultos, normalmente). As crianas com menos de 8 anos, mostraram modestos e

    baixos nveis de utilizao da resoluo de problemas como estratgia de coping. Em

    crianas com 6 ou mais anos, quando as subescalas incluem resoluo cognitiva de

    problemas (por ex: trabalhar noutras formas de lidar com os problemas), esta

    estratgia foi usada mais frequentemente, especialmente pelas crianas mais velhas e

    adolescentes; de facto, a resoluo de problemas foi usada mais vezes que a procura

    de suporte e a distraco. No entanto, quando as subescalas contm itens que se

    referem a comportamentos instrumentais especficos ou incluem itens de auto-critica

    ou de responsabilizao, esta combinao de estratgias de coping no

    frequentemente utilizada (Skinner & Zimmer-Gembeck, 2007).

    Reunindo os resultados dos estudos, estes sugerem que a aco instrumental

    para mudar a situao stressante (tambm chamada de controlo primrio, ou

    aproximao), surge como uma potencial resposta ao stress assim que a criana

    ganha controlo motor, mas pode ser suplementada e reposta com mais actividades de

    auto-regulao e estratgias cognitivas, tais como a resoluo de problemas e pedir a

    outros conselhos e ajuda. Mesmo as formas cognitivas mais avanadas que

    ultrapassam as aces instrumentais proactivamente, tais como o planeamento, o

    fazer listas, a reflexo, o compromisso, e a ambio, podem emergir em estados mais

    avanados da adolescncia ou em jovens adultos (Skinner & Zimmer-Gembeck,

    2007).

  • Enquadramento terico

    24

    Os estudos realizados sobre a estratgia de coping distraco avaliaram o

    comportamento de distraco sozinho ou ento envolvendo quer itens de distraco

    cognitiva, quer comportamental. As tcticas de distraco comportamental, tais

    como, manter-se ocupado ou jogar jogos, so as estratgias mais comuns relatadas ou

    observadas nas crianas, os adolescentes relatam que utilizam estas estratgias mais

    frequentemente do que as de procura de suporte. Com respeito s diferenas com

    idade, existe um aumento da distraco comportamental durante a infncia. Como

    era de esperar com o aumento da habilidade de locomoo e dos comportamentos

    coordenados, o uso de estratgias como o desinteresse declina enquanto que

    distraco dando ateno a outros objectos aumenta entre os 6 e 12 meses. Em

    contraste, pouca mudana em relao idade no uso de distraco comportamental

    foi encontrada nas idades dos 4 a 6 anos, mas a distraco comportamental aumenta

    entre os 6 anos e o incio da adolescncia. de notar que alguns destes estudos

    incluam itens de distraco de mltiplas escalas, produzindo assim resultados

    contraditrios (Skinner & Zimmer-Gembeck, 2007).

    Existe pouca evidncia sobre as diferenas de idade na distraco

    comportamental entre os 12 e os 18 anos. No entanto, como foi encontrado para a

    procura de suporte, a natureza do stressor uma considerao importante; a idade

    associada distraco comportamental aumenta, sendo encontrada quando os

    participantes falam de como eles lidariam com stressores incontrolveis e inevitveis

    (ir ao dentista, doena crnica, situaes escolares) ou quando os adolescentes

    identificam os seus problemas recentes (Skinner & Zimmer-Gembeck, 2007).

    A distraco cognitiva s surge separada da distraco comportamental depois

    dos 14 anos. Esta mais frequentemente descrita como uma forma de diversidade de

    pensamento, tal como pensar noutras coisas, pensar em alguma coisa divertida, ou

  • Enquadramento terico

    25

    tentar esquecer o stressor. Esta distraco mais frequentemente usada com o

    desenvolvimento, sendo que a evidncia indica que o uso das estratgias de

    distraco cognitivas aumenta entre a infncia e a adolescncia (Skinner & Zimmer-

    Gembeck, 2007).

    Uma outra estratgia de coping, a fuga, foi examinada em vrios estudos (27)

    (Skinner & Zimmer-Gembeck, 2007), no entanto devido ao uso de subescalas mistas

    torna-se difcil tirar concluses. Depois de isolar 9 estudos em que a fuga era

    avaliada isoladamente, verificaram-se diferenas entre os 4 e os 12 anos. Apesar das

    evidncias no estarem equilibradas em todos perodos, existem trs perodos de

    transio que so especialmente importantes na identificao de mudanas: dos 5 aos

    7 anos; dos 9 aos 12; e dos 12 aos 14. Quando os participantes, especialmente os

    adolescentes, identificam os seus prprios stressores ou se focam em stressores

    especficos e incontrolveis, a influncia da idade no uso da fuga diminui.

    Infelizmente, os resultados so muito pouco especficos e contraditrios para testar

    expectativas sobre as mudanas que ocorrem ao longo do desenvolvimento, das

    formas cognitivas e comportamentais da fuga (Skinner & Zimmer-Gembeck, 2007).

    Devido ao facto de haver poucos estudos e as subescalas serem pouco

    especficas, existe pouca evidncia sobre as diferenas de estratgias de coping nas

    diferentes idades, principalmente nas estratgias de isolamento social, negociao e

    desesperana. Existem algumas diferenas nas seis categorias que surgem mais

    vezes: ruminao (parte da submisso), agresso em resposta aos problemas,

    acomodao (focar-se no positivo, aceitao), oposio (culpar os outros), negao,

    auto-confiana (aceitar a responsabilidade de resolver o problema, auto-regulao

    das emoes). Destas estratgias, as crianas e os adolescentes relatam nveis

  • Enquadramento terico

    26

    elevados de ruminao e preocupao, acomodao e auto-confiana (Skinner &

    Zimmer-Gembeck, 2007).

    Resumindo, organizar formas de coping em conjuntos de grandes famlias e

    identificar em certas idades como provveis marcadores de transies

    desenvolvimentistas permite que algumas tendncias sejam detectadas,

    especialmente em comparao com revises anteriores. De entre as centenas de

    formas de coping que esto identificadas, as crianas e os jovens parecem favorecer

    quatro famlias procura de suporte, resoluo de problemas (e aces

    instrumentais), fuga e, quando esta no possvel, a distraco (Skinner & Zimmer-

    Gembeck, 2007).

    Um dado interessante, as formas comportamentais das estratgias de coping,

    que so comuns em todas as idades, podem decrescer durante a meia infncia, mas

    no desaparecem totalmente. Em vez disso, elas tendem a ser parcialmente repostas

    ou suplementadas em idades mais avanadas, tornando-se mais diferenciadas na

    forma e na aplicao. As estratgias de coping, entre as crianas, antes e depois da

    entrada para a pr-escola, mostram pouca diferenciao: as mais pequenas primeiro

    procuram o suporte dos cuidadores, intervm directamente em situaes stressantes,

    isolam-se, ou usam actividades comportamentais para se distrarem a elas prprias.

    Quando as crianas entram para a escola, estas estratgias tornam-se mais

    diferenciadas: so utilizadas mais estratgias cognitivas, tanto para a resoluo de

    problemas como para as tcticas de distraco, e as crianas comeam a procurar e a

    usar outras fontes de suporte (Skinner & Zimmer-Gembeck, 2007). Para mais, os

    padres desenvolvimentistas de procura de suporte sugerem um aumento do

    entendimento da especificidade do contexto, em comparao com as crianas mais

    pequenas, as crianas mais velhas e os adolescentes tornam-se mais selectivos nas

  • Enquadramento terico

    27

    fontes de suporte face s diferentes situaes stressantes. As estratgias de distraco

    tambm se tornam mais diversas e flexveis; com o desenvolvimento, aumenta a

    utilizao quer das estratgias cognitivas quer das comportamentais. Com a idade, os

    jovens tornam-se mais auto-confiantes e podem mais intencionalmente monitorizar e

    modular os seus prprios estados emocionais internos, atravs de auto-intrues

    positivas. No entanto, a capacidade para se focarem no futuro pode tambm levar a

    maior ansiedade e ruminao nos adolescentes (Skinner & Zimmer-Gembeck, 2007).

    Skinner & Zimmer-Gembeck, (2007) focaram-se em determinados perodos de

    transio que revelaram que entre os 5 e os 7 anos e durante a entrada na

    adolescncia (cerca dos 8 at aos 12), so perodos importantes em que as estratgias

    de coping se desenvolvem rapidamente.

    A importncia do desenvolvimento consistente nos resultados das maiores

    revises sobre o coping durante a infncia e adolescncia (Compas et al., 2001;

    Fields & Prinz, 1997; Losoya et al., 1998; Skinner & Zimmer-Gembeck, 2007). No

    entanto difcil confirmar todas as mudanas desenvolvimentistas sugeridas por

    estes trabalhos, devido principalmente, s diferentes metodologias e instrumentos de

    avaliao utilizados (Skinner & Zimmer-Gembeck, 2007).

    Avaliao do coping

    As investigaes na rea do coping tm utilizado vrios mtodos de medida de

    coping nas crianas e adolescentes, tais como: escalas de registo, entrevistas, auto-

    relatos, discusses de grupo e observaes. Devido falta de acordo na literatura

    quanto conceptualizao do coping nas crianas e adolescentes existem muitas

    formas de o avaliar (Lima et al., 2002).

  • Enquadramento terico

    28

    Os instrumentos de avaliao do coping foram construdos, na sua maioria,

    tendo como base outros j existentes para adultos. Alguns dos mais conhecidos so:

    o Adolescent Coping Scale de Frydenserg e Lewis (1991) que avalia a forma como

    os adolescentes lidam com preocupaes gerais; o Coping Across Situations

    Questionnaire de Seiffege-Kneuke (1999), que avalia como os adolescentes lidam

    com stressores desenvolvimentistas normativos em oito reas (pais, pares, pares,

    self, futuro, lazer, estudo e professores); o Stress and Coping Inventory de

    Boekaerts, Hendriksen e Maes (1987) que avalia o coping em resposta a stressores

    especficos; o Schoolagers Coping Inventory Scale de Ryan-Wenger (1990) que

    avalia o coping com stressores quotidianos (por oposio aos estudos do tipo

    acontecimentos de vida) no especificados (cit. in Lima et al., 2002).

    No presente trabalho referem-se mais detalhadamente dois destes instrumentos

    pois encontram-se traduzidos para portugus, so eles e o Schoolagers Coping

    Inventory Scale de Ryan-Wenger (Lima et al., 2002) o Coping Across Situations

    Questionnaire de Seiffege-Kneuke (Cleto & Costa, 1996).

    O primeiro um instrumento de auto registo, para crianas com idades

    compreendidas entre os 8 e os 12 anos de idade, que avalia a percepo da criana

    sobre a utilizao de estratgias de coping durante um acontecimento stressante

    definido por ela prpria (Ryan-Wenger, 1990 cit. in Lima et al., 2002). O

    instrumento constitudo por 26 itens com resposta do tipo Likert, numa escala de 0

    a 3, que avalia a frequncia de utilizao de diferentes tipos de estratgias durante a

    ocorrncia de um acontecimento stressante (Quantas vezes fazes isto?) e a sua

    eficcia (Quanto que isto te ajuda?). Relativamente frequncia, as opes de

    resposta variam entre: o nunca (0) e a maior parte das vezes (3), e quanto

    eficcia, as respostas variam entre nunca fao isto (0) e ajuda muito (3). A

  • Enquadramento terico

    29

    cotao do instrumento feita separadamente para a escala de Frequncia e para a

    escala de Eficcia (Lima et al., 2002).

    A verso portuguesa do SCSI resultou num instrumento vlido e fidedigno para

    a avaliao do coping em crianas portuguesas. Nas caractersticas psicomtricas

    deste instrumento, obteve-se, em relao aos resultados da anlise factorial uma

    soluo de trs factores na escala de Frequncia e na escala de Eficcia. Sendo que o

    Factor 1, que agrupa itens que constituem as estratgias de coping de distraco

    cognitiva e comportamental, constitudo por 10 itens com saturaes entre .688 e

    .332. Nos itens do Factor 2, constitudo por estratgias de coping que constituem o

    acting out, encontram-se saturaes que variam entre .759 e .603. O Factor 3, com

    itens que constituem as estratgias de coping activas, tm saturaes entre os .631 e

    os .450. Estes resultados so corroborados pelo facto da anlise factorial ter revelado

    uma estrutura dimensional igual para as ambas as escalas, de Frequncia e de

    Eficcia (com a excepo do item 13-rezar). Foi calculada a consistncia interna de

    cada um dos factores, para ambas as escalas assim como para a escala na sua

    totalidade. Os resultados para os factores 1, 2 e 3, na escala de Frequncia foram, .78,

    .78 e .53, na escala de Eficcia os resultados foram, .78, .72, .50, respectivamente.

    Para a escala na sua totalidade o resultado foi de . 77. Os resultados do factor 3 so

    relativamente mais baixos do que os dos outros factores, o que pode reflectir uma

    menor uniformidade desta subescala (Lima et al., 2002).

    Segundo a autora original Ryan-Wenger, 1989 cit. in (Lima et al., 2002), a

    SCSI um instrumento unidimensional. No entanto, depois de traduzido e

    administrado a uma populao portuguesa, este instrumento revelou possuir trs sub-

    escalas, como j foi referido em cima. Estas correspondem a trs tipos de estratgias

    de coping, que na opinio de Lima et al (2002) podem ser conceptualmente definidas

  • Enquadramento terico

    30

    como de distraco cognitivo-comportamental, de acting-out e activas. O primeiro

    tipo de estratgia representa uma forma de lidar com os problemas atravs do seu

    evitamento (por exemplodesenhar, escrever ou ler qualquer coisa (item 8); pensar

    em coisas boas (item 5); o segundo representa uma forma das crianas

    exteriorizarem os seus problemas de uma forma negativa, como por exemplo gritar

    ou berrar (item 26); ficar furioso (item 11); e o terceiro grupo inclui estratgias

    atravs das quais a criana se centra no problema e inclusive procura de alguma

    forma solucion-lo pelos seus prprios recursos falar comigo mesmo (item

    19);fazer alguma coisa para resolver o problema (item 6), pelo o que podemos

    dizer que a terceira dimenso inclui estratgias um pouco mais complexas (Lima et

    al., 2002).

    Os autores (Lima et al., 2002), em relao ao desenvolvimento das estratgias

    de coping, constataram que medida que as crianas crescem, vo utilizando menos

    as estratgias do tipo distraco cognitivo comportamental e, simultaneamente, as

    consideram menos eficazes para lidar com os seus stressores. Parece existir tambm

    diferenas de gnero, quer nas estratgias preferidas, quer nas estratgias de coping

    mais populares. Relativamente s estratgias preferidas, os resultados mostraram

    que, relativamente aos rapazes, as raparigas tendem a percepcionar as estratgias

    activas como sendo mais eficazes. Em relao s estratgias mais populares, as

    diferenas encontram-se na utilizao de estratgias de coping do tipo acting out, em

    que os rapazes recorrem mais a este tipo de estratgias e percepcionam-nas como

    sendo mais eficazes.

    O Coping Across Situations Questionnaire de Seiffege-Kneuke envolve uma

    matriz bidimensional, que apresenta 20 estratgias de coping aplicadas a oito reas:

    estudos, professores, pais, pares, relaes amorosas, self, futuro e tempo de lazer.

  • Enquadramento terico

    31

    Este questionrio foi aplicado a adolescentes com idades compreendidas entre os 12

    e os 20 anos. Nos estudos realizados com este questionrio (Seiffge-Krenke, 1989,

    1992, 1995; Seiffge-Krenke & Shulman, 1990 cit. in Cleto & Costa, 1996) foram

    identificados trs factores: o coping activo, que inclui a procura activa de informao

    e a mobilizao de recursos sociais; o coping interno, que enfatiza a avaliao da

    situao por parte do adolescente e a necessidade de procurar solues de

    compromisso; e, por fim, o coping retractivo, em que se tem uma abordagem fatalista

    das situaes conduzindo assim a um afastamento e/ou demisso e incapacidade de

    resolver o problema (Cleto & Costa, 2000).

    A verso portuguesa do CASQ apenas compreende cinco reas: estudos,

    professores, pais, pares e o self. Cleto e Costa (1996) verificaram que nesta verso do

    CASQ no surgiu um factor correspondente s estratgias internas de coping. A

    ausncia destas estratgias pode ter trs explicaes: 1) pode ser devido ao facto dos

    alunos deste estudo pertencerem a uma faixa etria mais baixa do que em estudos

    anteriores; 2) uma outra explicao prende-se com o facto de haver uma correlao

    inter-factores (o coping interno apresenta uma correlao de .38 com o coping activo

    e de .35 com o retractivo); 3) este resultado pode tambm ser consequncia de

    diferenas culturais, os estudos foram realizados em sociedades diferentes, com

    influncias histricas que se podem reflectir na utilizao das estratgias de coping

    (Cleto & Costa, 1996). A anlise factorial em componentes principais, demonstrou a

    existncia de apenas 2 factores, deixando as estratgias de coping internas de fora. O

    Factor 1 foi saturado, principalmente, por itens relacionados, com estratgias de

    coping activas e explica 19% do total da varincia. O Factor 2, encontra-se saturado

    por itens relacionados com estratgias de coping no-activas e explica 8.8% do total

    da varincia. A anlise factorial para cada uma das cinco reas apresentou uma

  • Enquadramento terico

    32

    estrutura idntica. Em relao consistncia interna, foi calculada atravs do alpha

    de Cronbach para cada um dos factores e para o total do questionrio, excluindo dois

    itens que apresentavam valores abaixo do .30. Os valores do alpha para os factores 1

    e 2 foram de .80 e .74. respectivamente (Cleto e Costa, 1996; Cleto e Costa, 2000).

    Neste estudo verificou-se que os adolescentes portugueses lidam com situaes

    de provvel stress recorrendo, na sua maioria, a estratgias activas de coping.

    Existem algumas diferenas entre as raparigas e os rapazes, sendo que as raparigas

    utilizam mais estratgias de coping activas para lidar com os acontecimentos de vida

    do que os rapazes (Cleto & Costa, 1996).

    Em relao idade e, apesar de no ser possvel fazer comparaes entre

    grupos etrios diversificados, observa-se que, mesmo entre os 11, os 12, e os 13

    anos, existem diferenas: o coping activo aumenta com a idade e o coping no-

    activo, que neste estudo integra as estratgias retractivas mas tambm estratgias

    internas, aumenta significativamente com a idade (Cleto & Costa, 1996).

    Objectivos

    Ao verificar os resultados pouco animadores obtidos com a adaptao dos dois

    questionrios referidos para a populao portuguesa (as subescalas obtidas no

    correspondem s dimenses tericas subjacentes elaborao do questionrio; existe

    um nmero reduzido de categorias de estratgias de coping e existe uma reduzida

    varincia explicada pelos factores encontrados). Pretende-se analisar um questionrio

    que tivesse em conta um maior nmero de estratgias de coping e fosse sensvel a

    mudanas desenvolvimentistas na sua utilizao.

  • Enquadramento terico

    33

    Assim, dado estar em estudo um questionrio elaborado especificamente para a

    populao portuguesa e j ter sido aplicado a crianas e jovens entre os 10 e os 17

    anos, os dados obtidos foram analisados com o objectivo de:

    1 estudar as caractersticas psicomtricas do instrumento;

    2 explorar possveis diferenas entre as idades e o gnero.

  • Mtodo

    34

    III- Mtodo

    Descrio da amostra

    Participaram neste estudo 271 jovens de ambos os sexos (121 rapazes e 150

    raparigas) com idades compreendidas entre os 10 e os 17 anos (idade media de 13,58

    anos). Seleccionou-se uma amostra de convenincia entre os estudantes pertencentes

    ao ensino regular pblico em escolas da zona do Barreiro, a frequentar desde o 5 ano

    ao 11 anos de escolaridade.

    Quadro 1

    Distribuio da amostra por idade e sexo.

    Idade Sexo

    Rapazes Raparigas Total

    10 anos 11 10 21

    11 anos 17 16 33

    12 anos 12 31 43

    13 anos 10 25 35

    14 anos 18 17 35

    15 anos 18 22 40

    16 anos 20 21 41

    17 anos 15 8 23

    Total 121 150 271

  • Mtodo

    35

    Instrumento de avaliao

    Foi aplicado o Questionrio de estratgias de Coping e de Regulao

    Emocional (ver anexo A) de Moreira, Crusellas, Ribeiro, Vaz. (2005).

    Este questionrio uma medida de auto-relato, constituda por 21 itens que

    reflectem a percepo que os indivduos tm acerca das estratgias de coping que

    utilizam perante um acontecimento negativo. As estratgias de coping avaliadas pelo

    questionrio so as seguintes: Culpabilizao tendncia das crianas/adolescentes

    para se culpabilizarem pela ocorrncia dos acontecimentos negativos; Aceitao

    aceitao por parte das crianas/adolescentes para aceitar a ocorrncia de

    acontecimentos stressantes; Distraco perante uma situao problemtica as

    crianas/adolescentes tendem a recorrer distraco; Catastrofizao tendncia das

    crianas/adolescentes para considerarem que aquilo que lhe est a acontecer, ou que

    lhe ir acontecer, de tal modo terrvel que so incapazes de lidarem com esse

    acontecimento; Reavaliao Positiva a situao stressante encarada como um

    desafio, existindo a possibilidade de dai retirar algo positivo; Expresso Emocional

    perante um acontecimento adverso as crianas/adolescentes tm a capacidade para

    expressar as suas emoes; Suporte Social perante um problema as

    crianas/adolescentes recorrem a fontes de apoio social, como o grupo de pares ou

    famlia. Estas estratgias de coping derivam de vrios estudos e de diversos autores

    (Anderson, Miller, Riger & Sedikides, 1994; Carver, Scheier & Weintraub, 1989;

    Endler & Parker, 1990; Sullivan, Bishop & Pivik, 1995).

    Pedia-se aos sujeitos que face a cada item indicassem na escala de 4 pontos a

    frequncia de utilizao dessa estratgia: Nunca (1 ponto), s vezes (2 pontos),

    Muitas vezes (3 pontos), e Sempre (4 pontos) (Torres, Inverno & Gonalves, 2006).

  • Mtodo

    36

    Procedimento

    Este questionrio foi aplicado conjuntamente com outros trs questionrios no

    mbito de um trabalho de investigao (Torres, Inverno & Gonalves, 2006), que

    tinha como principais objectivos avaliar a qualidade de vida relacionada com a sade

    em crianas e adolescentes; avaliar quais as estratgias de coping que os jovens

    utilizam para lidar com situaes do dia a dia, mais ou menos problemticas, e o

    modo como estas estratgias potenciam o seu ajustamento; e adaptar, para a

    populao portuguesa, a Escala de Esperana para Crianas (Torres, Inverno &

    Gonalves, 2006).

    O primeiro passo para a aplicao do questionrio foi o contacto com as

    escolas, este foi feito na semana de 20 a 26 de Abril de 2006. Neste primeiro

    contacto o objectivo era apresentar o estudo a realizar e pedir a colaborao da

    escola, no sentido de facilitar o acesso a jovens com as idades pretendidas. A

    apresentao do estudo foi realizada verbalmente s Presidentes dos Conselhos

    Directivos das escolas contactadas, tendo sido tambm fornecida uma carta de

    apresentao s mesmas (Torres, Inverno & Gonalves, 2006).

    Posteriormente, por contacto telefnico, marcou-se a data das aplicaes dos

    questionrios. A primeira aplicao realizou-se a 30 de Abril de 2006, numa das

    escolas, tendo a segunda decorrido a 20 de Maio de 2006 (Torres, Inverno &

    Gonalves, 2006).

    A aplicao dos questionrios demorou cerca de uma hora e quinze minutos

    para cada turma. Aquando da entrega dos questionrios aos alunos fez-se uma breve

    explicao dos propsitos da avaliao em causa. Os alunos foram informados ainda

  • Mtodo

    37

    que a tarefa no tinha tempo limite bem como da disponibilidade das examinadoras

    para o esclarecimento de todo o tipo de dvidas (Torres, Inverno & Gonalves,

    2006).

  • Resultados

    38

    IV- Resultados

    A anlise dos resultados teve por objectivos: a) avaliar as qualidades

    psicomtricas do instrumento de avaliao utilizado; b) analisar as diferenas

    desenvolvimentistas.

    Estudo do questionrio

    O questionrio foi submetido a uma Anlise Factorial em Componentes

    Principais, para determinar a adequao das dimenses tericas s estruturas

    factoriais observadas, aps o que se procedeu avaliao da consistncia interna das

    subescalas encontradas, atravs do coeficiente alpha de Conbrach.

    A primeira anlise feita revelou que uma soluo a 7 factores, tendo em conta

    as dimenses tericas propostas, explicava 64.72% da varincia total. A anlise das

    saturaes de cada item em cada factor mostrou que dois deles (itens 9 e 13)

    apresentavam contribuies semelhantes para mais do que um factor.

    O facto destes itens se relacionarem com diferentes factores pode dever-se em

    grande parte sua interpretao. O item 9 sentir que no vale a pena fazer nada

    perante coisas ms, pode ser visto como a Aceitao de algo negativo ou como uma

    emoo exageradamente negativa, fazendo assim sentido que tambm se possa

    integrar na dimenso Catastrofizao. O item 13 tento esconder o que sinto perante

    coisas ms, pode ser interpretado como Supresso/ Expresso emocional, ou como

    uma maneira de Culpabilizao tentando esconder a vergonha ou culpa que possa

    sentir. Foi decidido mudar estes itens para factores diferentes dos iniciais pois, pelo

    estudo do seu comportamento, concluiu-se que se fossem integrados nos factores a

  • Resultados

    39

    que teoricamente deviam pertencer diminuam a sua consistncia interna, e se fossem

    integrados nas dimenses onde tinham mais peso aumentavam a consistncia interna

    do factor.

    Devido sua fraca consistncia interna (= .13) foi retirada da anlise a dimenso Supresso/ Expresso emocional, tambm como foi referido acima um dos

    itens que compem esta dimenso est presente na dimenso Culpabilizao e os

    outros dois apresentam uma co-varincia negativa.

    Os resultados da anlise factorial so apresentados no quadro 2.

    Analisando os itens de cada factor, temos que o Factor 1 (3 itens) corresponde

    dimenso Suporte Social (percepo do apoio proporcionado pela rede social), o

    Factor 2 (4 itens) que representa a Culpabilizao (pensamentos de culpabilizao de

    si prprio pelo acontecido), o Factor 3 (4 itens) corresponde Catastrofizao

    (enfatizao dos aspectos negativos da experincia), o Factor 4 (3 itens) constitudo

    por itens da dimenso Distraco (pensar em assuntos agradveis em vez de pensar

    no acontecimento actual), o Factor 5 (2 itens) corresponde dimenso Supresso/

    Expresso emocional que pelas razes referidas, foi retirado. O Factor 6 (3 itens)

    representa o Pensamento positivo (atribuio de significado positivo a um

    acontecimento), o Factor 7 (2 itens) corresponde dimenso Aceitao (pensamentos

    de resignao perante o que aconteceu). Os de Cronbach de cada dimenso so .82, .72, .65, .69, .56, .57, respectivamente, evidenciando boas consistncias internas.

  • Resultados

    40

    Quadro 2

    Questionrio de estratgias de coping e regulao emocional

    Padro factorial do questionrio de coping (Rotao Varimax normalizada)

    Factores Valor prprio % Varincia explicada (total 64.72)

    1 4.41 21.03

    2 3.04 14.59

    3 1.63 7.77

    4 1.45 6.88

    5 1.13 5.36

    6 .97 4.62

    7 .93 4.46

    7. Procurar apoio de amigos quando acontecem coisas ms.

    .82

    14. Peo ajuda, perante coisas ms. .76 21. Tentar falar com outros quando coisas ms acontecem.

    .76

    1. Culpado pelo que aconteceu. .74 8. Pensar ser-se responsvel pelas coisas ms.

    .69

    15. Sentir que se errou, quando algo de mau acontece.

    .74

    4. Pensar que as coisas ms so terrveis. .59 11. As coisas ms so o pior que podiam acontecer.

    .75

    18. Coisas ms so piores do que acontecem a outros.

    .75

    3. Pensar coisas boas. .81 10. Fazer coisas agradveis. .57 17. Fazer coisas divertidas para esquecer as ms.

    .70

    6. Mostrar o que se sente perante coisas ms.

    .72

    13. Tento esconder o que sinto perante coisas ms.

    .57 -.37

    20. Mostrar o que se sente, perante coisas ms.

    .80

    5. Aprender com as coisas ms. .43 12. As coisas ms tm lado positivo. .77 19. Pensar que as coisas ms nos tornam mais fortes.

    .62

    2. Aceitar coisas ms .67 9. Sentir que no vale a pena fazer nada perante coisas ms.

    .53 .03

    16. Pensar que se tem que aceitar o que aconteceu.

    .83

  • Resultados

    41

    Quadro 3

    Correlaes entre as estratgias de coping

    Suporte

    Social

    Culpabilizao

    Catastrofizao Distraco Reavaliao

    Positiva

    Suporte Social .079 .123* .428** .326**

    Culpabilizao .404** .039 .205**

    Catastrofizao .144* .129*

    Distraco .382**

    Nota: * p< .05; ** p< .01

    As correlaes entre as estratgias de coping podem ser consultadas no Quadro

    3 (ver anexo B). Como se pode observar foram retiradas duas estratgias de coping

    na anlise das correlaes, devido no caso da Supresso/Expresso emocional,

    fraca consistncia interna e por ser apenas constituda por 2 itens no caso da

    Aceitao.

    Ao analisarmos estas correlaes podemos verificar que existem estratgias de

    coping que se relacionam mais fortemente entre si. As estratgias de culpabilizao e

    de catastrofizao apresentam-se significativamente correlacionadas. Do mesmo

    modo as estratgias Suporte Social, Distraco e Reavaliao positiva apresentam

    correlaes moderadas e significativas entre si.

    Um outro aspecto importante da anlise das correlaes que as estratgias

    agruparam-se de forma, teoricamente, parecida. Isto , as estratgias tidas como mais

    negativistas e desadaptadas (catastrofizao e culpabilizao) apresentam correlaes

    mais fortes, e as estratgias distraco, reavaliao positiva e suporte social, que so

  • Resultados

    42

    percepcionadas como mais positivas e adaptativas, esto mais correlacionadas entre

    si.

    Anlise desenvolvimentista

    A anlise das mdias e dos desvios-padro esto apresentados no quadro 4. A

    comparao relativa aos diferentes grupos etrios e gnero, no conjunto de variveis

    dependentes, foi feita atravs de anlises de varincia multivariada (MANOVAs).

    Como se pode ver no quadro 5 parecem s existir mudanas nas estratgias de

    coping com a idade (ver anexo C).

    Quadro 5

    Valores do lambda de Wilks e p

    Grupos Estratgias de coping

    p Idade .79 .007

    Sexo .98 n.s.

    Idade * Sexo .85 n.s.

  • Resultados

    43

    Quadro 4

    Estatstica descritiva

    Mdias e desvios padro por idade e gnero

    Culpabilizao Distraco Catastrofizao Reavaliao Positiva Suporte Social n M DP n M DP n M DP n M DP n M DP

    Idade

    10 20 2.10 .73 21 3.13 .73 21 2.48 .84 21 2.82 .71 21 3.05 .78 11 33 1.99 .60 31 2.74 .79 31 2.24 .60 31 2.45 .60 31 2.89 .89 12 43 2.15 .66 42 2.71 .73 43 2.22 .76 43 2.57 .58 43 2.64 .81 13 35 2.14 .62 35 2.70 .76 35 2.05 .58 35 2.61 .57 35 2.88 .80 14 35 2.05 .52 35 2.70 .75 35 2.10 .65 35 2.75 .66 35 2.48 .80 15 40 2.05 .62 40 2.45 .63 40 2.07 .60 40 2.67 .70 40 2.60 .89 16 41 1.98 .50 41 2.46 .69 40 1.85 .53 41 2.62 .74 41 2.50 .62 17 23 2.01 .49 21 2.51 .60 22 1.82 .48 22 2.56 .66 22 2.76 .86

    Sexo M 121 1.99 .60 117 2.62 .72 118 1.99 .62 118 2.60 .64 118 2.60 .80 F 149 2.12 .58 149 2.68 .74 149 2.17 .67 150 2.64 .67 150 2.76 .82

  • Resultados

    44

    A anlise dos testes univariados, segundo os critrios propostos por Appelbaum

    e McCall (1983 cit. in S, 1999), permite determinar quais as variveis dependentes

    que contribuem para a explicao do efeito multivariado e para a discriminao dos

    grupos (ver Quadro 6).

    Quadro 6

    Resultados da anlise multivariada das estratgias de coping

    (F univariados)

    Variveis

    Dependentes

    Idade

    F p

    Suporte Social 1.67 n.s.

    Culpabilizao .44 n.s.

    Catastrofizao 2.80 .008

    Distraco 3.16 .003

    Reavaliao Positiva .83 n.s.

    Desta forma, verifica-se que as subescalas Catastrofizao e Distraco so as

    mais importantes na discriminao dos grupos etrios. A anlise de tendncias

    revelou que estas duas subescalas diminuem linearmente com a idade (F (7,264)=

    2.80, p= .008; F (7,264)=3.16, p=.003). Portanto, com o desenvolvimento diminuem

    as estratgias de coping Distraco e Catastrofizao. As outras subescalas (Suporte

    Social, Culpabilizao, Reavaliao Positiva) no apresentam diferenas

    significativas com a idade.

  • 45

    V- Discusso e concluses

    Este estudo tinha como objectivo analisar mudanas na utilizao de estratgias

    de coping ao longo do desenvolvimento do indivduo e perceber se os instrumentos

    utilizados avaliam as diferenas nas estratgias conforme o desenvolvimento do

    sujeito.

    Discutindo as concluses atravs das questes de investigao, podemos ver

    que existe uma grande diferena entre as estratgias utilizadas pelas crianas e as

    utilizadas pelos adolescentes. Mesmo que no existam diferenas na dimenso, as

    estratgias podem ter uma natureza mais cognitiva ou comportamental dependendo

    do estado de desenvolvimento do indivduo. Como Skinner e Zimmer-Gembeck

    (2007) demonstram no seu estudo, muitas estratgias podem ser utilizadas de forma

    comportamental (distraindo-se lendo um livro), ou de forma cognitiva (distraindo-se

    pensando noutra coisa). Sendo que as crianas tendem a usar a forma

    comportamental e, com o desenvolvimento, comeam a utilizar tambm a forma

    cognitiva.

    Uma outra concluso bastante importante que se pode retirar que no existem

    umas estratgias mais eficazes que outras. Todas as estratgias so adaptativas de

    alguma forma dependendo do contexto em que so utilizadas (Dell Aglio, 2003).

    No presente estudo para analisar as estratgias de coping que as crianas e os

    adolescentes utilizam foi utilizado o Questionrio de estratgias de coping e

    regulao emocional elaborado por Moreira, Crusellas, Ribeiro e Vaz, (2005).

    O estudo psicomtrico do questionrio indicou que duas estratgias de coping

    no parecem adequadas para a populao estudada: aceitao e supresso/expresso

    emocional. Tal parece dever-se, por um lado, forma como alguns itens esto

  • 46

    formulados, por exemplo: o item 9 sentir que no vale a pena fazer nada perante

    coisas ms e o item 13 tento esconder o que sinto perante coisas ms.

    Por outro lado, estas dimenses confundem-se com outras como a

    catastrofizao e a aceitao.

    Temos assim que o questionrio parece ser composto por 5 subescalas (Suporte

    Social, Catastrofizao, Culpabilizao, Reavaliao Positiva, Distraco) que

    apresentam boa consistncia interna.

    Como j foi referido nos resultados, existe uma forte correlao entre a

    culpabilizao e a catastrofizao. Esta correlao pode-se dever natureza das

    subescalas, uma vez que ambas so percepcionadas como incapacitantes, e partilham

    de uma interpretao negativa dos acontecimentos causadores de stress.

    Parece existir uma forte correlao entre as estratgias de coping distraco,

    reavaliao positiva e suporte social. Estas estratgias, como as referidas j referidas,

    partilham entre elas uma avaliao positiva da situao.

    interessante referir que as estratgias relacionam-se, teoricamente, em

    estratgias menos adaptativas e em estratgias mais adaptativas, respectivamente.

    Esta situao pode-se dever forma como as crianas e os adolescentes

    percepcionam as estratgias utilizadas. Por exemplo ao utilizar a estratgia de coping

    suporte social a criana consegue distrair-se e tem ajuda para avaliar a situao de

    uma outra forma para assim a conseguir superar. Ao utilizar a catastrofizao

    percepciona a situao como horrvel e sente-se incapaz de lidar com ela,

    culpabilizando-se.

    Em relao s estratgias de coping utilizadas observou-se que as estratgias de

    coping Catastrofizao e Distraco vo diminuindo com a idade, enquanto que as

    subescalas Suporte Social, Culpabilizao e Reavaliao Positiva se mantm

  • 47

    estveis. Este resultado contrrio aos estudos realizados anteriormente que

    apontavam para um aumento da utilizao das estratgias de Distraco com

    desenvolvimento (Skinner & Zimmer-Gembeck, 2007). Estes resultados demonstram

    que com o desenvolvimento os adolescentes tendem a utilizar cada vez menos a

    Distraco como forma de coping. Provavelmente este resultado deve-se ao facto de

    no presente questionrio, a subescala distraco incluir itens quer comportamentais

    quer cognitivos. Alis, dois dos itens da subescala so estratgias comportamentais

    referidas, em estudos anteriores, como diminuindo com a idade.

    A catastrofizao tem tambm um padro de diminuio com o

    desenvolvimento do sujeito, este resultado no tem nenhum estudo de comparao na

    reviso de literatura realizada para este trabalho. Uma possvel explicao deste

    resultado que com o desenvolvimento as crianas se tornem mais autnomas e

    conscientes das suas competncias para lidarem com situaes stressantes sem que

    estas sejam rotuladas de terrveis.

    Por outro lado as estratgias de coping Suporte Social e de Reavaliao

    Positiva, nos estudos de Skinner e Zimmer- Gembeck (2007), so relatadas como

    muito utilizadas por crianas e adolescentes. Igualmente, no presente estudo, estas

    subescalas aparecem como tendo uma elevada utilizao, em todas as idades.

    No presente estudo no foram encontradas diferenas entre as estratgias de

    coping utilizadas entre rapazes e raparigas. Estes dados podem sugerir uma elevada

    importncia do desenvolvimento em detrimento do gnero. Ou seja, no que respeita

    s estratgias de coping utilizadas o desenvolvimento tem um papel preponderante

    quando comparado com o gnero do sujeito. No entanto existem estudos (Cleto &

    Costa, 1996), em que se encontra diferenas entre os gneros em relao s

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    estratgias de coping utilizadas, mas referem-se a categorias de estratgias de coping

    mais amplas.

    Estes resultados tm implicaes para a interveno psicolgica, uma vez que

    vr