tese optimização da quantidade de fermento utilizado no fabrico de queijo flamengo tipo barra
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Tese de licenciatura - melhoria na formulação do queijo flamengo produzido na fábrica da Unileite - S.Miguel: optimização da quantidade de fermento. Determinação de testes de coagulação, ensaios reológicos e sensoriais.TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA
INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
Optimização da quantidade de fermento utilizado no
fabrico de queijo flamengo tipo barra
Trabalho de Fim de Curso
Luís Cary de Velho Cabral Cordovil
Orientador Interno: Prof. Doutor António Pedro Louro Martins
Orientador Externo: Eng.º Téc.º Marco Paulo Fernandes Machado
Lisboa
2004
O Instituto Superior de
Agronomia não se
responsabiliza pelas ideias
expressas neste trabalho
i
Agradecimentos
Ao meu orientador Prof. Doutor Pedro Louro, cuja paciência e seriedade sempre me
acompanharam ao longo de todo o trabalho.
Ao Eng.º Tecº. Machado e todo a equipe que me acompanhou no meu estágio na UNILEITE,
obrigado pelo ambiente fantástico que me proporcionaram, pelo apoio e espírito de equipa.
À minha família obrigado por estarem aí por mim.
À Doutora Engª Vanessa Moreira, o teu sorriso foi uma constante que sempre me animou...
ii
Resumo
Este trabalho visa elaborar um corpo teórico e experimental que permita conhecer melhor a
actividade e a influência da aplicação dos fermentos na produção de Queijo Flamengo gordo
forma barra, produzido pela UNILEITE, UCRL.
Os fermentos são usados na produção de queijo com os seguintes propósitos: promover a
coagulação, desenvolver as propriedades organolépticas e controlar a flora endógena e/ou
contaminante. Na produção de queijo são usados fermentos homofermentativos e
heterofermentativos, sendo também designados por acidificantes e aromáticos
respectivamente.
Neste trabalho realizaram-se ensaios de coagulação de diferentes quantidades de fermentos,
não se observando qualquer efeito dos mesmos. Também se realizaram testes de perfil de
textura e provas de ordenação com combinações de fermento extraídas da matriz de custo vs
fermento. Os resultados obtidos revelaram-se pouco significativos, concluindo-se portanto
que as variações de fermento efectuadas não alteraram as características do produto final,
independentemente da combinação utilizada (unidades de fermento acidificante + unidades de
fermento aromático: 10+0, 8+0 e 6+2).
A combinação final aconselhada é a 8+0 por permitir reduzir em cerca de 34% o custo do
fermento utilizado e porque os resultados obtidos não revelaram diferenças significativas em
relação ao fabrico-padrão.
Palavras chave: bactérias lácticas, queijo, metabolismo bacteriano
iii
Abstract
It was the purpose of this work to elaborate an experimental and theoretical body that allowed
evaluating both activity and influence of starter usage in bar Dutch cheese produced in
UNILEITE, UCRL.
Starters or Lactic Acid Bacteria (LAB) are used in cheese production to improve curd
and flavour component formation as well as microbiological control of endogenous
flora. At the moment a mixture of homo- and heterofermentative LAB here called as
acidifying and aromatising starters.
Clotting tests showed no significant effect of different combinations of starters. Texture
profile analysis and sensorial analysis of cheeses with different starters combinations:
(acid+aromatic starter units) 8+2, 10+0, 8+0 (with laboratorial maturation) and 8+2,
6+2 (with industrial maturation) also led to no significant relations.
Therefore, considering a 34% cost saving for starter utilisation, it was advised to modify the
starter combination in use, 8+2, to 8+0.
Key-words: starter metabolism, cheese production,
iv
Índice
NOTA INTRODUTÓRIA............................................................................................................................... 1
I PARTE ......................................................................................................................................................... 2
1 QUEIJO FLAMENGO .............................................................................................................................. 2
1.1 Norma Portuguesa ..................................................................................................................... 2
1.2 Ficha técnica ............................................................................................................................. 2
2 CARACTERIZAÇÃO DO FABRICO ACTUAL .............................................................................................. 3
2.1 Fluxograma de Fabrico .............................................................................................................. 3
2.2 Descrição do Processo de Fabrico ............................................................................................. 3
2.2.1 Recepção do Leite ................................................................................................................................ 4
2.2.2 Termização, Desnate, Armazenagem e Mistura ..................................................................................... 4
2.2.3 Pasteurização ....................................................................................................................................... 6
2.2.4 Pré-maturação ...................................................................................................................................... 7
2.2.5 Coagulação .......................................................................................................................................... 9
a) Coagulação via ácida .......................................................................................................................... 10
b) Coagulação pelo via enzimática .......................................................................................................... 10
2.2.6 Corte, Agitação e Cozedura ................................................................................................................ 11
a) Sinérese ............................................................................................................................................. 12
2.2.7 Pré-prensagem e Encinchamento ......................................................................................................... 13
2.2.8 Prensagem e “Holding” ...................................................................................................................... 13
2.2.9 Salga .................................................................................................................................................. 13
2.2.10 Cura ................................................................................................................................................... 14
a) Coalho ............................................................................................................................................... 15
b) Enzimas do Leite ................................................................................................................................ 15
c) Fermentos e Flora Endógena ............................................................................................................... 16
3 NOTAS DE FABRICO: .......................................................................................................................... 18
3.1 Fermentos Utilizados no Processo Actual ................................................................................. 18
a) Ensaios de coagulação ........................................................................................................................ 21
3.2 pH e Teor de Humidade ........................................................................................................... 21
3.3 Interacções na Flora Queijeira................................................................................................. 22
3.4 Bactofugação ........................................................................................................................... 23
3.5 Propriedades organolépticas e reológicas do queijo ................................................................. 23
a) Flavour .............................................................................................................................................. 23
b) Textura .............................................................................................................................................. 24
c) Análise sensorial ................................................................................................................................ 26
II PARTE ...................................................................................................................................................... 27
1 DELINEAMENTO EXPERIMENTAL ........................................................................................................ 27
2 METODOLOGIA .................................................................................................................................. 28
2.1 Caracterização do Processo ..................................................................................................... 28
2.2 Análises Físico-Químicas ......................................................................................................... 29
v
a) pH e Acidez ....................................................................................................................................... 29
b) Composição Química ......................................................................................................................... 30
c) Teor de Humidade e Temperatura ....................................................................................................... 30
2.3 Análises Microbiológicas ......................................................................................................... 30
2.4 Matriz de custo vs. fermento ..................................................................................................... 30
2.5 Ensaios de Coagulação ............................................................................................................ 30
2.6 Ensaios pH e Acidez ................................................................................................................. 31
2.7 Análise Reológica .................................................................................................................... 31
a) Testes de perfil de textura ................................................................................................................... 31
2.8 Análise Sensorial ..................................................................................................................... 31
a) Prova de ordenação ............................................................................................................................ 31
2.9 Tratamento estatístico .............................................................................................................. 32
a) Análise Multivariada .......................................................................................................................... 32
III PARTE..................................................................................................................................................... 34
1 VARIÁVEIS DE PROCESSO ................................................................................................................... 34
a) Composição, Microbiologia e Acidez .................................................................................................. 34
b) pH, Teor de Humidade eTemperatura .................................................................................................. 34
c) Considerações económicas.................................................................................................................. 36
2 RESULTADOS ..................................................................................................................................... 36
2.1 Curvas de coagulação .............................................................................................................. 36
2.2 Curvas pH, acidez .................................................................................................................... 38
2.3 Análise Reológica e Sensorial .................................................................................................. 39
a) Teste de perfil de textura (TPA) .......................................................................................................... 39
b) Prova de ordenação ............................................................................................................................ 40
IV PARTE ..................................................................................................................................................... 43
1 DISCUSSÃO ........................................................................................................................................ 43
a) Levantamento da tecnologia................................................................................................................ 44
b) Evolução da coagulação ...................................................................................................................... 44
c) Avaliação das propriedades reológicas ................................................................................................ 45
d) Avaliação das propriedades sensoriais ................................................................................................. 45
2 CONCLUSÕES ..................................................................................................................................... 47
BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................................................... 48
ANEXOS ....................................................................................................................................................... 51
Curvas de pH e de Acidez ............................................................................................................................. 51
Análise Sensorial .......................................................................................................................................... 52
Testes de perfil de textura ............................................................................................................................. 53
Optigraph.................................................................................................................................................... 54
Matriz custo vs. fermento.............................................................................................................................. 57
vi
Índice de Figuras
Figura 1: Fluxograma tipo da produção do Queijo Flamengo barra (UNILEITE, 2001). .........3
Figura 2: Evolução da população de diferentes tipos de fermentos em queijo asséptico ao
longo do tempo (adaptado de Walstra et al, 1999b). ..................................................9
Figura 3: Capacidade de hidratação das caseínas (Mahaut et al, 2000). ................................. 10
Figura 4: Metabolismo do piruvato e do citrato nas bactérias lácticas (adaptado de Choisy,
1987). ..................................................................................................................... 16
Figura 5: Catabolismo da lactose nas bactérias lácticas (adaptado de Choisy, 1987).............. 17
Figura 6: Gráfico das curvas de acidificacção do fermento aromático (2 unidades/1000L de
leite meio gordo reconstituído a 9,5%; adaptado DSM, 2004). ................................ 18
Figura 7: Gráfico das curvas de acidificacção do fermento acidificante (2 unidades/1000L de
leite meio gordo reconstituído a 9,5%; adaptado DSM, 2004). ................................ 19
Figura 8: Sobreposição das curvas de acidificação dos fermentos ácido e aromáticos a
diferentes temperaturasde incubação (2 unidades/1000l de leite meio gordo
reconstituído a 9,5%; adaptado de DSM, 2004). ...................................................... 19
Figura 9: Representação esquemática do perfil de TPA (adaptado de Sousa, 1995) ............... 25
Figura 10: Fluxograma do delineamento experimental utilizado. .......................................... 27
Figura 11: Pontos de amostragem e análises respectivas no fluxograma de processo. ............ 29
Figura 12: Gráfico da evolução do pH ao longo do processamento desde o leite termizado até
ao queijo pré-salmoura. ........................................................................................... 35
Figura 13: Gráfico da evolução do teor de humidade presente desde a coalhada até pós-
salmoura. ................................................................................................................ 35
Figura 14: Evolução da temperatura do leite-queijo ao longo do tempo. ................................ 35
Figura 15: Distribuição dos parâmetros do Optigraph segundo os factores calculados na
análise de componentes principais. .......................................................................... 37
Figura 16: Distribuição das combinações de fermento vs tempo de pré-maturação. ............... 37
Figura 17: Evolução do pH e da acidez à escala laboratorial a 32ºC das combinações de
fermentos 8+2, 6+2, 10+0, 8+0 e 0+0...................................................................... 38
Figura 18: Dendograma com as várias combinações de fermentos de acordo com a sua dureza.
............................................................................................................................... 40
Figura 19: Dendograma dos provadores. ............................................................................... 41
Figura 20: Histograma dos lotes em análise sensorial ............................................................ 41
Figura 21: Dendograma dos lotes analisados sensorialmente. ................................................ 42
Figura 22: Ficha de prova utilizada na prova de ordenação. .................................................. 52
Figura 23: Optigrama 1 – Curvas de coagulação dos lotes 0+0, 0+2 e 2+2 aos 30min e ao fim
de duas horas .......................................................................................................... 55
Figura 24: Optigrama 2 – Curvas de coagulação dos lotes 4+2, 6+2 e 8+2 aos 30min e ao fim
de duas horas .......................................................................................................... 56
vii
Índice de Tabelas
Tabela 1: Composição centesimal do queijo flamengo forma barra da UNILEITE. .................2
Tabela 2: Microorganismos presentes no leite crú (adaptado de Scott, 1991). .........................5
Tabela 3: Lista dos microorganismos deteriorantes, patogénicos e defeitos que provocam
(adaptado de Scott, 1991). .........................................................................................6
Tabela 4: Características dos coágulos no início do escoamento em função do tipo de
coagulação (adaptado de Weber, 1987). .................................................................. 11
Tabela 5: Principais características dos Streptococcaceae dos fermentos (adaptado de Choisy,
1987). ..................................................................................................................... 20
Tabela 6: Principais características dos Lactobacillaceae dos fermentos (adaptado de Choisy,
1987). ..................................................................................................................... 20
Tabela 7: Quadro representativo das alterações que ocorrem durante as primeiras fases da
produção do queijo (adaptado de Walstra et al, 1999b). ........................................... 22
Tabela 8: Diferentes métodos, testes e análises estatísticas utilizadas em análise sensorial
(adaptado de Partidario e Bivar, 1989). ................................................................... 26
Tabela 9: pH observado no processo, do leite ao queijo. ....................................................... 34
Tabela 10: Matriz dos custos relativos das diferentes combinações de fermentos em estudo
utilizados na produção de queijo Flamengo forma barra da UNILEITE. .................. 36
Tabela 11: Valores próprios (ou de Eigen) dos parâmetros do Optigraph e das diferentes
combinações de fermento, para a análise de componentes principais. ...................... 36
Tabela 12: Resultados da dureza dos diferentes lotes avaliados. ............................................ 39
Tabela 13: Resultados do teste de Schéffe para a variável dureza (g) .................................... 39
Tabela 14: Curvas de evolução de pH e da acidez de diferentes combinações de fermentos à
escala laboratorial. .................................................................................................. 51
Tabela 15: Tabela de contingência dos resultados da análise sensorial. ................................. 52
Tabela 16: Resultados dos testes de perfil de textura: ............................................................ 53
Tabela 17: Resultados do Optigraph relativos às várias combinações de fermentos utilizadas
para um tempo de pré-maturação de 30min: ............................................................ 54
Tabela 18: Resultados do Optigraph relativos às várias combinações de fermentos utilizadas
para um tempo de pré-maturação de 2h: .................................................................. 54
Tabela 19: Matriz custo vs. fermento. ................................................................................... 57
1
Nota Introdutória
Com a realização deste trabalho a UNILEITE pretende obter um suporte teórico que lhe
permita num futuro próximo optimizar um factor de produção: os fermentos utilizados no
fabrico do queijo flamengo barra produzido pela UNILEITE; em vista a redução dos custos de
produção.
Inaugurada a 1 de Maio de 2000, a nova unidade fabril da UNILEITE (União das
Cooperativas de Laticínios e de Produtores de leite da ilha de São Miguel, UCRL) está
implementada nas Arribanas, freguesia dos Arrifes, uma das maiores bacias leiteiras da região
dos Açores. Actualmente emprega cerca de 150 trabalhadores, labora 83 milhões de litros de
leite (30% da produção de São Miguel e 17% de toda a região). No portofolio de produtos
facturados incluem-se os leites UHT achocolatado, normal (magro, meio gordo e gordo), nata
UHT, manteiga (com e sem sal), seis variedades de queijo (flamengo gordo com formatos de
barra e bola, prato curado gordo e meio-gordo de pasta semimole, e prato curado gordo de
pasta semimole com alho e salsa; ilha com 3 e 9 meses de cura ) e sumos pasteurizados
(maracujá, laranja e ananás). Recentemente constituíu, conjuntamente com a Cooperativa
Agrícola de Laticínios da ilha do Faial (CALF) e a Cooperativa de Laticínios de São Jorge
(UNIQUEIJO), a LactoAçores – empresa que efectua a distribuição e a representação dos
produtos das mesmas cooperativas.
Este trabalho decorreu durante cerca de três meses entre a dita unidade industrial; o
laboratório do DAIAT e o laboratório do NTLD-INIAP no Instituto Superior de Agronomia.
De forma a tornar o texto menos repetitivo fez-se o enquadramento do processo de fabrico
actualmente em vigor com a revisão bibliográfica dos respectivos processos de fabrico.
Posteriormente faz-se a apresentação da metodologia, dos resultados e por fim a discussão e
conclusão.
I Parte: Queijo Flamengo
2
I Parte
1 Queijo Flamengo
1.1 Norma Portuguesa
Segundo a norma Portuguesa NP-1920 (1985), o queijo flamengo é um queijo curado de pasta
amarela clara, semidura, com poucos olhos disseminados na massa, de consistência firma,
obtido por dessoramento após coagulação de leite inteiro ou parcialmente desnatado, depois
de pasteurizado. O teor de humidade pode variar de 54 a 63% (em relação ao queijo sem
gordura), e teor de matéria gorda de 10 a 60% (em resíduo seco), sendo classificado de queijo
gordo com 45-60% de teor de matéria gorda, queijo meio gordo se de 25-45% e queijo magro
se tiver 10-25%. Pode apresentar três formas: a barra, a bola e o prato. Os ingredientes
utilizados podem ser considerados essenciais (leite, coalho, sal e fermentos lácticos) ou
facultativos (leite em pó, nata, leitelho e proteína de soro, cloreto de cálcio, carbonato de
cálcio, outros aditivos). As condições de maturação deverão estar compreendidas nos
seguintes intervalos: temperatura 12-15ºC, humidade relativa do ar 85-90% e tempo mínimo
de cura 3 semanas. O coeficiente de maturação deverá ter no mínimo 28 (relação entre as
quantidades de azoto solúvel e azoto total existente, NP-1598 de 1983). A sua conservação
em armazém deverá ser feita entre 0-5ºC, no transporte e no retalhista a 0-10ºC.
1.2 Ficha técnica
O queijo, produzido pela UNILEITE, flamengo barra, cumpre as especificações das normas
portuguesas para queijo flamengo: NP-1920 (1985) e NP-1598 (1983). A sua composição
centesimal média é a seguinte (UNILEITE, 2001):
Tabela 1: Composição centesimal do queijo flamengo forma barra da UNILEITE.
Teor de Matéria Gorda 27%
Teor de Água 44%
Teor de Proteína 26%
Teor de Matéria Seca 56%
Matéria Gorda no Extracto Seco entre 45 a 60%
Teor de Humidade (em extracto seco sem matéria gorda) entre 54 a 63%
Peso médio 2200g
A embalagem é feita em vácuo (Cryovac) num saco vermelho tipo BK1 L (Cryovac).
I Parte: Caracterização do Fabrico Actual
3
2 Caracterização do Fabrico Actual
2.1 Fluxograma de Fabrico
A figura seguinte representa o fluxograma do fabrico de queijo flamengo barra como é
seguido na UNILEITE:
Recepção do leite
Termização / Desnate
Armazenagem
Mistura
Pasteurização
Pré-maturação
Coagulação
Corte
1º dessoramento
Agitação / Cozedura
2º dessoramento /
Pré-prensagem
Encinchamento
Prensagem
Salmoura
Cura
Leite crú
Leite
termizado
Fermentos
Cloreto de cálcio
Coalhada
Coalho 1ºSoro
Água
pasteurizada
2ºSoro
Salmoura
Fungicida
Produto
final
Leite
pasteurizado
Massa
Espera/”Holding”
Embalamento Filme protector
Leitelho
Nata
Nata
Figura 1: Fluxograma tipo da produção do Queijo Flamengo barra (adaptado de
UNILEITE, 2001).
2.2 Descrição do Processo de Fabrico
A transformação do leite em queijo inclui geralmente quatro etapas (Brulé e Lenoir, 1987):
i. A coagulação propriamente dita ocorre devido à acção conjunta ou não de enzimas
proteolíticas e de ácido láctico, formando-se uma rede proteíca (gel);
ii. O esgotamento ou sinérese, que consiste na expulsão e separação do soro lácteo da
coalhada por ruptura mecânica desta, por efeitos de corte ou de pressão, formando a coalhada;
iii. A salga, incorporação de sal à superfície ou no interior;
iv. A cura ou afinação, onde o queijo é deixado a repousar para que evolua nas suas
I Parte: Caracterização do Fabrico Actual
4
propriedades organolépticas.
O processo de fabrico do queijo flamengo barra UNILEITE consta das seguintes etapas, infra
citadas (UNILEITE, 2001) e descritas posteriormente: recepção do leite; termização, desnate;
armazenagem; mistura; pasteurização; pré-maturação; coagulação; corte; 1º dessoramento;
agitação e cozedura; 2º dessoramento ou pré-prensagem; encinchamento; prensagem; espera
(“holding”); salmoura; cura e embalamento, por fim.
2.2.1 Recepção do Leite
O leite crú é recepcionado na recepção. Antes de ser armazenado são realizadas análises
físico-químicas (e.g. acidez, pesquisa de inibidores, etc.). Após se verificarem os parâmetros
da aceitabilidade o leite dá entrada na fábrica. Inicialmente sofre um arrefecimento até aos
4±2ºC num permutador de placas, e armazenado por um período máximo de 24h.
Com efeito é de suma importância verificar os parâmetros de aceitabilidade do queijo,
proceder ao acerto dos seus constituintes (e.g. relação teor matéria gorda:proteína) de forma a
se obter o máximo rendimento e as características desejadas.
2.2.2 Termização, Desnate, Armazenagem e Mistura
O leite é termizado, a 60-70ºC c.a. 16s, antes da armazenagem, para prevenir o crescimento
de contaminantes psicrotróficos (Pseudomonas sp., entre outros), favorecendo a qualidade do
leite durante a sua armazenagem (Walstra et al, 1999b), e evitando a formação de lipases e
proteinases termorresistentes (Walstra et al, 1999a). Realiza-se o acerto de gordura, através de
uma desnatadeira (separadora centrífuga) aproveitando-se o facto do desnate ser mais
eficiente a temperaturas mais elevadas (devido à menor viscosidade do leite).
A contaminação inicial da matéria-prima é um parâmetro que influencia de forma
determinante o fabrico deste queijo. Amaral (2001) efectou contagens de mesófilos aeróbios
totais entre Maio e Novembro obtendo 1,77 x 106
± 1,51 x 106 U.F.C./ml (média ±desvio
padrão), e atribuíu as causas desse valor às variações ambientais, condições da ordenha e de
transporte, manuseamento do leite, alimentação das vacas (com especial relevância para a
contaminação por clostrídeos a partir da silagem).
Nas tabelas seguintes são apresentados os principais organismos endógenos, contaminantes e
patogénicos presentes no leite crú:
I Parte: Caracterização do Fabrico Actual
5
Tabela 2: Microorganismos presentes no leite crú (adaptado de Scott, 1991).
Microrganismos Comentários Grupo Microrganismos Comentários
Streptococcus bovis Termodúrico
Coliformes
Escherichia coli
Streptococcus faecalis Termodúrico Klebsiella freundii
Streptococcus
thermophilus Termodúrico Klebsiella cloacae
Streptococcus lactis Normal Klebsiella aerogenes Psicrótrofo
Streptococcus cremoris Normal
Enterobacter
liquifaceus Psicrótrofo
Streptococcus
citrovorus Normal
Esporos
anaeróbios
(bacilos)
Bacillus cereus Termodúrico
Streptococcus
agalactiae
doença de
ubre Bacillus subtillis Termodúrico
Streptococcus
dysgalactiae
doença de
ubre Bacillus lichenformis Termodúrico
Micrococcus luteus Termodúrico Bacillus circulans Termodúrico
Micrococcus varians Termodúrico
Bacilos
Gram -
Aeromonas
hydrophila Psicrótrofo
Micrococcus spp.
contaminação
ambiental Alcaligens viscosus Psicrótrofo
Staphylococcus aureus
doença de
ubre Acinobacter spp.
Pseudomonas
fluorescens Psicrótrofo Achromobacter spp.
Pseudomonas putida Psicrótrofo
Bacilos
Gram +
Brevibacterium spp.
Pseudomonas fragi Psicrótrofo
Microbacterium
lacticum
Pseudomonas cepacia Psicrótrofo Arthrobacter spp.
Pseudomonas
aeruginosa Lactobacillus spp.
Pseudomonas
maltophilia Streptomyces spp.
Pseudomonas
alcaligenes Actinomyces bovis
doença de
ubre
Pseudomonas
pseudoalcaligenes Leveduras
vários Ocasionais
Corynebacterium
lacticum Termodúrico Fungos vários Ocasionais
Corynebacterium bovis
Corynebacterium
pyrogenes
I Parte: Caracterização do Fabrico Actual
6
Tabela 3: Lista dos microorganismos deteriorantes, patogénicos e defeitos que
provocam (adaptado de Scott, 1991).
Microorganismos Defeitos Patogénicos provocam infecções alimentares
Clostrídeos, e.g. C. tyrobutyricum flátuo da coalhada
Coliformes flátuo da coalhada
Pseudomonas enzimas (proteolíticas e lipolíticas)
Esporos, e.g. Bacillus cereus e B. subtilis
actividade proteolítica
Microorganismos psicrófilos proliferação durante a armazenagem
Microorganismos termorresistentes
aromas estranhos no leite (Streptococcus faecalis)
Microorganismos produtores de antibióticos
actividade anómala dos fermentos (por inibição)
Leveduras flátuo da coalhada
Após a termização, o leite é novamente refrigerado a 4±2ºC e armazenado nos tanques à
mesma temperatura até ao máximo de 72h.
O leite é tratado na recepção de forma a se manter ou melhorar a sua qualidade intrínseca ao
nível da composição, qualidade microbiológica, rendimento e aptidão tecnológica. Com
efeito, o teor em caseína e gordura afectam o rendimento de produção e teor em gordura no do
produto final; o teor em lactose residual afecta o grau de acidez potencial do queijo. A
presença de defeitos (off-flavours) na matéria-prima pode também vir a contaminar o produto
final (Walstra et al, 1999b).
O lote antes ser pasteurizado é preparado de forma a se obter um leite com o rácio
proteína:matéria gorda de cerca de 1,2. Para tal, é adicionado ao lote leitelho, nata e outros
para se obter as mistura pretendida.
2.2.3 Pasteurização
A pasteurização da matéria-prima tem em vista as seguintes funções (Walstra et al, 1999b;
Nath, 1993):
o Eliminar os microrganismos patogénicos (apesar de não eliminar por vezes as
respectivas toxinas, e.g. Staphylococcus aureus), e os deteriorantes (como as
enterobacteriáceas, as bactérias lácticas e propiónicas – apesar de algumas espécies de
lactobacilos, de streptococos e esporos dos clostrídeos não serem completamente
eliminados);
o Inactivação das enzimas do leite e dos microrganismos, apesar das lipases e proteases
produzidas por psicrotróficos poderem serem termoestáveis;
I Parte: Caracterização do Fabrico Actual
7
o Maior uniformidade da matéria-prima, e maior rendimento devido ao aumento do teor
de proteínas séricas retidas por desnaturação parcial.
Por outro lado a pasteurização tem os seguintes efeitos negativos (Walstra et al, 1999b; Nath,
1993):
A desnaturação das proteínas séricas, leva a uma coagulação mais lenta, coalhada mais
fraca e a uma sinerése mais difícil,podendo ainda conferir um sabor amargo ao leite e,
por inerência, ao queijo;
Inactivação de enzimas benéficas, e.g. xantina oxidase (EC1.2.3.2.) responsável pela
conversão do nitrato em nitrito, de suma importância para a prevenção de
contaminações por clostrídeos;
Há maiores dificuladades em produzir o flavor típico.
Antes da entrada nas cubas, o leite é pasteurizado em HTST (High Temperature Short Time;
77-87ºC durante 15-16s), e arrefecido a 31±2ºC à saída do pasteurizador. Estes valores de
pasteurização são um pouco altos em comparação com os encontrados na literatura (e.g.20s a
72ºC; Walstra et al, 1999b). Pretende-se deste modo provocar a desnaturação parcial
propositada das proteínas séricas e aumentar o rendimento do queijo. Um dos efeitos
negativos deste aumento da temperatura de pasteurização é um maior tempo de sinérese, mas
este porém é compensado por uma agitação/cozedura do grão mais demorada, já incluída no
fabrico corrente.
2.2.4 Pré-maturação
Posteriormente procede-se ao enchimento das cubas (do tipo OST IV e V horizontais,
fechadas e com lira mecânica de programação automática ou manual, de 13800L de
capacidade), realizado a 32ºC, sendo entretanto adicionado ao leite os fermentos lácticos
acidificantes e aromáticos e o cloreto de cálcio (0,4g/L de leite) diluído em água tratada.
O cloreto de cálcio serve para optimizar, uniformizar e acelerar a coagulação e sinerése do
queijo, actua de duas formas: neutraliza as cargas das micelas (reduzindo a repulsão
electrostática destas entre si) e faz pontes salinas entre as paracaseínas (contribuindo para a
formação de “nós” na malha proteíca; Walstra et al, 1999a).
No fim do enchimento é adicionado o coalho. O tempo de enchimento das cubas (cerca de 1h)
é o tempo de pré-maturação. Durante este tempo os fermentos vão-se ambientar ao novo
meio, e começar a crescer e a fermentar a lactose.
A adição de fermentos visa os seguintes efeitos directos e indirectos na produção deste tipo de
I Parte: Caracterização do Fabrico Actual
8
queijo (Walstra et al, 1999b e Choisy, 1987):
Formar ácido láctico a partir da lactose e outros compostos secundários,
contribuindo para a preservação microbiológica do queijo quer pelo abaixamento do pH
(redução do pH do queijo para 5.1-5.2), quer pela redução do potencial redox para -140 a -
150mV, quer porque o próprio ácido láctico no queijo (cerca de 3% da massa do queijo) se
encontra principalmente na forma não dissociada (actuando portanto como um poderoso
bacteriostático, desregulando o pH interno da flora endógena e contaminante). Todos estes
efeitos ajudam na inibição do crescimento de microorganismos indesejáveis; para além da
salmoura e migração de sal, da presença de uma camada externa mais desidratada e do
tratamento da mesma com fungicidas.
Promover o actuação do coalho (pH óptimo da quimosina é pH=5) e das outras
enzimas presentes no queijo durante a cura cujos pH óptimos são em geral ácidos;
Aumentar as ligações quimosina – paracaseína, ou seja, o coalho residual presenta na
cura, devido à diminuição do pH, contribuindo para a taxa e efeito proteolítico que este possa
vir a desempenhar durante a maturação do queijo;
Influenciar a “força” da coalhada, através da extensão da dissolução dos colóides de
fosfato de cálcio (total a pH 4,9, donde coalhadas muito ácidas serem mais friáveis e menos
coesas devido à desmineralização excessiva). Este efeito pode modificar a susceptibilidade
das caseínas à proteólise durante a produção e afectar as propriedades reológicas do queijo,
afectando o rendimento de produção;
Promover a sinerése da coalhada, controlando assim indirectamente o nível de
humidade e o desenvolvimento microbiano do queijo, e deste modo o padrão e a taxa de
maturação do queijo;
Os fermentos lácticos compreendem um grupo de microrganismos, que apesar de distintos no
plano morfológico, se caracterizam pela produção de ácido láctico, i.e., aqueles que realizam
a fermentação láctica. São bactérias Gram positivas, imóveis, asporogéneas, não pigmentadas,
sem capacidade para reduzir o nitrato nem para produzir catálise. São anaeróbias mas
aerotolerantes e quanto à temperatura óptima de crescimento, temos os mesófilos (25º-35ºC) e
os termófilos (35º-45ºC; Choisy, 1987). Existem dois sub-grupos do ponto de vista
metabólico (Choisy , 1987). Os homolácticos (estreptococos e a maioria das bactérias
lácticas) produzem apenas ácido láctico a partir da lactose na proporção molar de 1,8:1
respectivamente. Os heterolácticos (Leuconostoc e L. Fermentum) para além de produzirem
ácido láctico, também produzem dióxido de carbono, ácido acético e etanol; a proporção
I Parte: Caracterização do Fabrico Actual
9
ácido láctico:lactose é de 1:1 (consideravelmente menor que a dos homolácticos).
O nível de inoculação no queijo é cerca de 107 UFC/ml e atinge no máximo 10
9 UFC/ ml,
após a entrada na salmoura (ver Figura 2) a população de fermentos começa a decrescer. Os
microrganismos mortos sofrem lise e libertam as suas enzimas intracelulares para o meio
exterior sendo uma fonte apreciável destas para o desenvolvimento da cura (Walstra et al,
1999b).
Figura 2: Evolução da população de diferentes tipos de fermentos em queijo
asséptico ao longo do tempo (adaptado de Walstra et al, 1999b).
Legenda: I – início do fabrico, S – entrada na salmoura, 1-7 diferentes tipos de fermentos
2.2.5 Coagulação
Após 1h do início do enchimento é adicionado ao leite na cuba o coalho Maxiren® 600, numa
concentração de 6,5x10-5
L de coalho/L de leite, mantendo-se a temperatura constante.
Este produto é uma preparação de quimosina produzida a partir de uma estirpe de levedura
láctica, a Kluyveromyces lactis (proveniente da flora natural do kefir). O produto tem estatuto
“Koscher.” A sua actividade coagulante (“força”) é superior a 600 IMCU/ml (International
Milk Clothing Units) e a preparação contém cerca de 3000mg de quimosina por litro. A
quimosina (E.C.3.4.23.4) possuí as seguintes características: peso molecular c.a. 35600;
temperatura óptima 42ºC; pH óptimo =5, estabilidade máxima a pH =5-6; concentração de
I Parte: Caracterização do Fabrico Actual
10
NaCl máxima 4%; fraca especificidade de acção; rompe as ligações implicando o
aparecimento de ácidos aminados hidrófobos (Ramet, 1987; Fox, 1999 e Maxiren, 2004). Esta
enzima é uma endopeptidase pertencente ao grupo das carboxilproteases e possuí dupla
actividade, uma acção específica sobre a caseína κ e indiferenciada sobre as restantes caseínas
(Ramet, 1987).
O processo de coagulação do queijo flamengo é misto com predominância da via enzimática
sobre a via ácida. Segundo Mietton (1991) a coagulação mista deste tipo de queijo
(enzimática dominante) caracteriza-se pelos seguintes parâmetros tecnológicos: presença de
fermentos lácticos, enzima coagulante utilizada entre os 20 a 40ml por cada 100L de leite, o
pH de coagulação está entre os 6,55 e os 6,75, a temperatura de coagulação é de 30 a 40ºC e o
tempo de coagulação demora 25 a 40min.
Estas características são o produto intermédio dos dois mecanismos de coagulação em acção:
via ácida e via enzimática, que de seguida se decrevem
a) Coagulação via ácida
Segundo Mahaut et al. (2000), devido à fermentação da lactose pelas bactérias lácticas, o pH
desce até ao ponto isoeléctrico das caseínas precipitando-as (pHi=4,6). Tal acontece dado a
descida de pH provocar a diminuição das cargas negativas da micela e por conseguinte a sua
capacidade de hidratação e de repulsão hidrostática intermicelar, assim como, provocar a
solubilização do cálcio e fósforo mineral (ver Figura 3). Estes efeitos provocam a
desestabilização, destruição, desmineralização e reorganização da estrutura micelar, à medida
que o pH se aproxima do pHi.
Figura 3: Capacidade de hidratação das caseínas (Mahaut et al, 2000).
b) Coagulação pelo via enzimática
I Parte: Caracterização do Fabrico Actual
11
A coagulação enzimática decorre em três fases (Mahaut et al, 2000). Na primeira, dita de fase
enzimática, o coalho ataca a ligação fenilalanina 105-metionina 106 da caseína κ, com
formação do caseinomacropeptido (CMP) e da paracaseina. Na segunda fase, onde ocorre a
agregação das micelas desestabilizadas, decorre a pH=6,6 e 80-90% da caseína κ está
hidrolizada. O CMP destaca-se da micela. Esta perde o seu carácter hidrófilo e observam-se o
aparecimento de ligações de Van der Waals entre as micelas modificadas. Na terceira fase, ou
fase de intensificação das ligações, as micelas agregadas reestruturam-se devido ao
estabelecimento de ligações mais fortes entre as paracaseínas, e.g. pontes fosfocálcicas e
sulfídricas.
Na tabela abaixo estão, em suma, as tendências de evolução das características dos coágulos
mistos:
Tabela 4: Características dos coágulos no início do escoamento em função do tipo
de coagulação (adaptado de Weber, 1987).
Tipo de coagulação carácteres do coágulo via enzimática via ácida mista
1
pH 6,7-6,5 <4,5 c
Estrutura micelar modificada destruída d
Mineralização (Ca ligado à caseína) + - d
Firmeza - + c
Friabilidade - + c
Elasticidade + - d
Permeabilidade - + c
Contractibilidade + - d
Tensão + - d
Aptidão ao escoamento espontâneo - + c
Aptidão aos tratamentos mecânicos + - d
Aptidão à evaporação - + c
Humidade da coalhada escorrida - + c
Coesão da coalhada escorrida + - d
Legenda: + carácter forte, - carácter fraco, c carácter crescente, d carácter decrescente; 1 sentido da evolução de
um coágulo enzimático para uma coalhada ácida.
2.2.6 Corte, Agitação e Cozedura
Decorridos 30min, após a adição do coalho segue-se o corte da coalhada (o tempo de corte
deverá ser cerca de 2 a 3 vezes o tempo de coagulação; Mahaut et al, 2000). A velocidade e o
ritmo de agitação são programados na cuba de forma a se obterem grãos do tamanho de bagos
de ervilha (aproximadamente 5mm de diâmetro). O gel é cortado de forma a se aumentar a
superfície específica deste para facilitar a transferência de soro e de outros elementos (e.g.
CMP, cálcio e fósforo mineral) para o meio envolvente (Mahaut et al, 2000).
I Parte: Caracterização do Fabrico Actual
12
Ao fim de 15min, parte do soro é descarregado para o tanque do soro, é o 1º dessoramento da
massa, sendo designado internamente por 1ºsoro, para facilitar o corte e agitação. Passados
outros 15min é adicionada água de forma a elevar a temperatura da coalhada até aos 36,5º-
37ºC, regulando posteriormente a própria cuba para os 38ºC para se cozer a massa. A
temperatura da água adicionada não deverá ser superior a 60ºC assim como a temperatura de
cozedura não deverá exceder no máximo os 40ºC, para não afectar o crescimento dos
fermentos nem provocar um cozimento excessivo da coalhada; Walstra et al, 1999b.
O aumento da temperatura durante a cozedura visa reduzir a viscosidade do soro e reforçar as
ligações hidrofóbicas do interior do grão (promovendo a contracção deste e consequente
expulsão do soro do seu interior; Mahaut et al, 2000), para além de promover a actuação dos
fermentos e correspondente abaixamento de pH. Por outro lado é realizada com a adição de
água dado se pretender com esta operação não só favorecer a sinérese e a desidratação do
grão, mas também a deslactossagem (dado o gradiente de lactose ser maior com a água do que
com o soro, o que facilita o deslocamento desta para a água). Pretende-se assim regular o teor
de água do queijo e ajustar-se o pH. Com efeito, quanto mais elevado for o teor de água no
queijo, menor o rácio lactose/substâncias tamponantes e daí menor o pH final – dado que,
idealmente toda a lactose se converte em ácido láctico. Assim um controlo independente do
teor de água e do pH no queijo pode ser obtido pela adição de água (Walstra et al, 1999b).
A cozedura da coalhada decorre por mais 60min em agitação não contínua (cuja programação
pode ser automática ou manual, se o queijeiro achar necessidade), após a qual parte do soro é
bombeado para a pré-prensa enformadora (modelo MKT), para que reduzir o choque da
massa com o tapete~e a formação de olhos mecânicos (dado que ao cair num líquido não se
verifica a formação de bolsas de ar que conduziriam à formação de olhos mecânicos).
Estas três etapas visam acelerar o processo de sinérese, promover a transferência de calor,
regular o teor de água e o pH da coalhada.
a) Sinérese
A sinérese ou esgotamento ocorre quando se verifica uma expulsão do soro do queijo devido à
contracção do coágulo. Começa durante a coagulação e continua até à 1ª semana de cura, a
perda de água cessa aquando do empacotamento do produto (o filme é permeável aos gases
mas não à água).
Os factores de esgotamento (Weber, 1987) podem ser directos, aqueles que entram em acção
I Parte: Caracterização do Fabrico Actual
13
após a formação do coágulo (são exclusivamente de natureza física, e.g. intensidade de corte);
e indirectos, os responsáveis pela coagulação (e.g. o coalho e o ácido láctico) e factores
intrínsecos ao leite, provenientes do seu manuseamento e transformações até chegar à
queijaria (e.g. pasteurizações, carga microbiana inicial).
2.2.7 Pré-prensagem e Encinchamento
A restante massa e soro são posteriormente descarregados para a MKT onde se dá inicio ao 2º
dessoramento, esta fase demora cerca de 15min.
A partir desta fase e até à entrada na salmoura já não é possível ajustar a temperatura da
massa, sendo esta a resultante do equilíbrio com a temperatura ambiente.
A massa é pré-prensada e dessorada, demorando outros 15min. Posteriormente dá-se o
esvaziamento da MKT e o enchimento automático dos moldes, que levam pelo menos 30min
a terminar.
2.2.8 Prensagem e “Holding”
Após o enchimento, os moldes são levados a prensar durante uma hora. Nesta etapa,
sequencialmente, vão ocorrer três fenómenos: expulsão do soro e do ar da massa, moldagem
da massa à forma do molde (e.g. barra, prato, bola) e formação de textura (através da fusão
dos grãos). Aos quais se podem associar as variações de pressão utilizadas: 10min a 70g/cm2,
20min a 125g/cm2 e 30min a 260g/cm
2.
Depois da prensagem, os moldes são levados para o “holding” (tapetes de transporte
existentes entre as prensas e a salmoura) onde o queijo é retido até se atingir pH 5,5±0.3 (em
geral ao fim de 50-60min), à temperatura ambiente.
2.2.9 Salga
A entrada do queijo na salmoura ocorre sensivelmente após 6h desde o começo da
pasteurização, permanecendo nesta durante as 18h seguintes. A salmoura está a 11ºC e com
18º Baumé de concentração de sal.
Segundo Walstra et al (1999b), a salmoura serve em primeiro lugar para aumentar o teor de
sal do queijo, depois para o arrefecer abaixo dos 15ºC (parando a sinérese e diminuíndo a
actividade microbiológica). Durante a salmoura a actividade dos fermentos é diminuída ou até
mesmo cessada na massa devido quer à baixa temperatura da salmoura quer pelo aumento da
I Parte: Caracterização do Fabrico Actual
14
concentração de sal quer ainda pela acção conjunta destes dois factores (ver Figura 2). A
salmoura atribui também uma certa rigidez, devido ao aumento da concentração em sal.
Ocorrem perdas de água e de matéria solúvel.
O sal adicionado na salmoura desempenha as seguintes funções (Hardy, 1987): completa a
sinérese e modifica a capacidade de hidratação das proteínas, intervindo na formação da
casca; actua ao nível do aw, influenciando quer a actividade dos microrganismos quer a das
enzimas; atribuí gosto ao queijo, para além de favorecer ou mascarar as características
sensoriais de determinadas substâncias.
2.2.10 Cura
À saída da salga o queijo é submetido a um tratamento antifúngico, à base de natamicina, e
colocado a secar em estantes a 10-12ºC com humidade relativa de 80-85%.
Ao fim de ±1 semana após a produção, o queijo apresenta-se relativamente seco e é embalado
em vácuo (saco retráctil para queijo inteiro e filme termoformável para queijo aos quartos),
pesado, etiquetado e rotulado. Assim pretende-se que durante a 1ª semana de cura a superfície
do queijo seque para que a operação de embalagem se faça de modo mais eficiente (a
máquina de embalar por vácuo funciona retirando a humidade superficial do produto, daí ser
mais eficiente se a superfície do queijo estiver seca). A desidratação excessiva é depois
compensada pela migração da água do interior da pasta.
Posteriormente é colocado na câmara de conservação a 6ºC, onde fica até à expedição, em
geral no prazo de uma semana, ou seja, a expedição faz-se no mínimo após duas semanas do
fabrico do lote. Não esquecer que para o tempo de cura total há a considerar o tempo de
transporte e de armazenagem nos retalhistas antes de chegar ao consumidor final, sendo este
perto de quatro semanas em média.
Durante a cura ou maturação importantes alterações ocorrem (Walstra et al, 1999b). A
estrutura e a composição tornam-se mais uniformes devido à consolidação das fusões dos
grãos de coalhada e redução dos gradientes de teor de água, de pH e de sal. O queijo perde
água por evaporação, continuação da sinérese (em especial na casca) e acção proteolítica dos
diferentes sistemas enzimáticos presentes (que reduzem a capacidade de hidratação das
proteínas). A maturação implica a quebra da malha de paracaseína, inicialmente por acção
proteolítica do coalho, acompanhada pelos os fermentos e em menor extensão pelas enzimas
do leite (Walstra et al, 1999b). O que causa a subida do pH (formação de grupos alcalinos
I Parte: Caracterização do Fabrico Actual
15
pela proteólise, degradação do ácido láctico) e aumento da plasticidade. Verifica-se a
formação de olhos, devido à fermentação do ácido cítrico pelos fermentos (Walstra et al,
1999b). Ocorre também alguma lipólise com formação, no caso do Gouda, de 6±0,5 Meq. de
Ácido Gordo por 100g de Matéria Gorda (Mahaut et al, 2000).
Por fim é durante a maturação que a maior parte dos compostos do flavour são produzidos e
que o queijo adquire as características reológicas finais.
As enzimas, os grandes agentes da cura, podem ter várias origens: do próprio leite, do coalho,
dos fermentos e da flora endógena (Choisy et al, 1987).
a) Coalho
As quantidades de coalho retidas nas coalhadas variam de queijo para queijo, sendo que foi
calculado para o Gouda o equivalente a 230-300μl de coalho por quilo de queijo (i.e., 10-15%
da quantidade fornecida inicialmente). Note-se, porém, que quanto mais baixo for o pH maior
é a quantidade de coalho retido (e.g. para o Gouda com pH 6,38-6,56 a quantidade de coalho é
de 280-300 μl). Por outro lado são sensíveis à temperatura da cozedura, para as temperaturas
35,5º-38º os conteúdos de coalho são respectivamente de 350 e 230 μl/kg (Choisy et al,1987).
De acordo com Walstra et al (1999b), a taxa de acidificação, o pH inicial dos queijos e a
composição do leite são igualmente de grande importância.
A quimosina, para além da sua acção específica sobre a caseína κ (actua na ligação), actua
rapidamente na degradação da caseína αs1 (80% hidrolisada num mês). A β-caseína é
degradada mais lentamente (50% em seis meses). Esta enzima é responsável portanto pela
formação de grande parte do azoto solúvel e de péptidos de altos e baixos pesos moleculares;
a quantidade de aminoácidos formados é baixa (Walstra et al, 1999b).
b) Enzimas do Leite
A actividade proteolítica das enzimas do leite é realizada por duas enzimas, principalmente,
sobre as micelas caseínicas (Choisy et al, 1987). A plasmina (pH óptimo=8, relativamente
termorresistente) pertence ao grupo das serina proteases e está na origem da formação das
caseínas γ e da protease peptona, pela sua acção na degradação da caseína β. A protease ácida
(pH óptimo=4, menos termorresistente que a anterior); actua sobretudo sobre a caseína αs.
A actividade destas enzimas no leite é apreciável, sendo a sua acção durante a cura bem
evidente. Visser (1977) na fabricação de Gouda via asséptica, após 6 meses de cura, estimou a
I Parte: Caracterização do Fabrico Actual
16
contribuição destas enzimas em 12% da proteólise de um queijo “normal”.
A actividade lipolítica das enzimas do leite é desprezável dado serem pouco termorresistentes
(Choisy et al, 1987).
c) Fermentos e Flora Endógena
Os microgranismos e as suas enzimas pertencem a quatro grandes grupos (Choisy et al,
1987):
A – as proteolíticas (E.C.3.4.) – divididas em dois subgrupos: as endopeptidases, que
hidrolizam as proteínas libertando peptídeos, e as exopeptidases (carboxipepetidases,
dipeptidases e aminopeptidases), que fraccionam os peptídeos em ácidos aminados;
B – as lipases (E.C.3.1.1.) – que transformam os triglicéridos em ácidos gordos e
glicéridos parciais;
C – os sistemas activos sobre os ácidos aminados (descarboxilase, desaminase,
transaminase, dimetiolase), que decompõem ou modificam os aminoácidos libertados pelas
exopeptidases;
D – os sistemas activos sobre os ácidos gordos e/ou seus derivados (desidrogenases,
descarboxilases), que estão na origem da formação dos ácidos β-cetónicos, das metilcetonas e
dos álcoois secundários.
Os microrganismos são também os principais responsáveis pela degradação dos hidratos de
carbono presentes no leite, sendo estes a sua principal fonte de energia. De seguida se
apresentam as vias metabólicas da degradação do citrato e da lactose (os principais açúcares
do leite):
TPP
Lactose
CO2
Acetil-P
Etanol
Ácido Láctico Piruvato
Acetaldeído-TPP
Acetil-CoA
Citrato
Oxalo-
acetato
Acetato
CO2
NAD+
Acetaldeído
CoA
P
NADH
CoA
NAD+
NADH
Acetato
ATP
ADP
Diacetilo
Ácido α-Acetoláctico
Acetona
TPPCoA
CoA Piruvato
CO2
NAD+
NADH
Figura 4: Metabolismo do piruvato e do citrato nas bactérias lácticas (adaptado de
Choisy, 1987).
I Parte: Caracterização do Fabrico Actual
17
Membrana
Via HomolácticaVia Heteroláctica
Lactose Lactose
? ?
Glucose – 6 - P Galactose – 6 - P Glucose – 6 - P
Frutose – 6 - P Tagatose – 6 - P 6-Fosfogluconato
Tagatose–1,6-DiP Ribose-5-PFrutose-1,6-DiP CO2
ATP
ADP
ATP
ADP
Gliceraldeído –3-PDihidroxiacetona-P
NAD+
NADH
Acetil Acetato
1,3-Difosfoglicerato
3-Fosfoglicerato
EtanolFosfo-enol-
piruvato
Piruvato
Ácido Láctico
Acetil-CoA
Acetaldeído
2-Fosfoglicerato
NADH
NAD+
NADH
NAD+
NADH
NAD+
NAD+
NADH
ADP
ATP
ADP
ATP
CoASH
CoASH
Pi
Pi
Figura 5: Catabolismo da lactose nas bactérias lácticas (adaptado de Choisy, 1987).
I Parte: Notas de Fabrico
18
3 Notas de Fabrico:
3.1 Fermentos Utilizados no Processo Actual
Existem no mercado três tipos de fermentos: O – fermentos homolácticos (L. ssp lactis e L.
ssp cremoris); L – fermentos heterolácticos com Leuconostoc sp; D – fermentos
heterolácticos com L. diacetylactis. Consoante se tratem de estirpes mesófilas ou termófilas
são do tipo M e T, respectivamente.
No processo de fabrico actual utilizam-se dois tipos de fermentos: os aromáticos e os
acidificantes. Pretende-se que tenham actividade acidificante (para facilitar a coagulação, a
sinérese e a deslactossagem), aromática (desenvolvimento de compostos aromáticos devido à
actividade metabólica) e controlo da flora endógena (por esgotamento da lactose e pela
competição que.exercem sobre esta).
i. Fermentos lácticos aromáticos
Os fermentos lácticos aromáticos utilizados na produção de queijo flamengo barra são uma
mistura das seguintes espécies: Lactococcus lactis ssp lactis, Lactococcus lactis ssp cremoris,
Lactococcus lactis ssp lactis biovar diacetylactis, Leuconostoc sp.
Os fermentos aromáticos utilizados neste queijo são constituídos por uma mistura de 80-87%
tipo O e de 13-20% tipo LD, ambos mesófilos e na forma liofilizada. Apresentam as seguintes
curvas de acidificação:
Figura 6: Gráfico das curvas de acidificacção do fermento aromático (2 unidades/1000L
de leite meio gordo reconstituído a 9,5%; adaptado DSM, 2004).
I Parte: Notas de Fabrico
19
ii. Fermentos lácticos acidificantes
Os fermentos lácticos acidificantes utilizados na produção de queijo flamengo barra são uma
mistura das seguintes espécies: Lactococcus lactis ssp lactis e cremoris, e Streptococcus
thermophilus. A mistura de fermentos acidificantes utilizada é composta por uma mistura de
fermentos homolácticos com 30-40% de termófilos e de 60-70% de mesófilos utilizados na
forma liofilizada, com as seguintes curvas de acidificação:
Figura 7: Gráfico das curvas de acidificacção do fermento acidificante (2
unidades/1000L de leite meio gordo reconstituído a 9,5%; adaptado DSM, 2004).
Sobrepondo as duas figuras anteriores teremos o seguinte resultado (a construção deste
gráfico será abordada novamente nos resultados):
Figura 8: Sobreposição das curvas de acidificação dos fermentos ácido e aromáticos a
diferentes temperaturasde incubação (2 unidades/1000l de leite meio gordo reconstituído
a 9,5%; adaptado de DSM, 2004).
De seguida apresentam-se duas tabelas com as características metabólicas das estirpes
I Parte: Notas de Fabrico
20
utilizadas nos fermentos segundo o seu género:
Tabela 5: Principais características dos Streptococcaceae dos fermentos (adaptado de
Choisy, 1987).
Streptococcus lactis
Streptococcus cremoris
Streptococcus diacetylactis
Streptococcus thermophilus
Leuconostoc cemoris
Modo de fermentação Homo homo homo homo Homo
Cultura a
10ºC + + + - +
39ºC + - ± + -
45ºC - - - + -
Resistência 30’ a 60ºC - - - + -
Crescimento em presença de NaCl
2% + + + - +
4% + - + - -
6,50% - - - - -
hidrólise da arginina + - + - -
Açúcare
s
ferm
enta
dos
Glucose + + + + +
Galactose + + + - ±
Lactose + + + + +
Sacarose ± - ± + -
Maltose + - + ± ±
Pentoses ± - ± ± -
Manitol ± - ± - -
Fermentação do citrato (em presença do açúcar)
- - + - +
GC% 39/40 39/40 39/40 40 39/42
Tabela 6: Principais características dos Lactobacillaceae dos fermentos (adaptado de
Choisy, 1987). Lactobacillus
bulgaricus Lactobacillus lactis
Lactobacillus helveticus
Lactobacillus fermentum
Modo de fermentação homo homo homo hetero
cultura a: 15ºC - - - -
45ºC + + + +
resistência 30' a 60ºC - - - -
crescimento em presença
de NaCl:
2% - + - +
4% - - - +
hidrólise da arginina - - - -
Açúcare
s
ferm
enta
dos:
Glucose + + + +
Galactose + + + +
Lactose + + + +
Sacarose - + - +
Maltose - + ± +
Pentoses - - - -
Manitol - - - -
GC% 50 50 39 53
I Parte: Notas de Fabrico
21
a) Ensaios de coagulação
A influência dos fermentos na coagulação foi avaliada através de ensaios de coagulação
realizados no Optigraph (Ysebaert, 2000). Este aparelho mede a interferência, no sinal óptico
no Infra-Vermelho próximo, causada pela alteração da estrutura das micelas de caseína
durante a coagulação. Através da monitorização desse sinal são construídos os optigramas do
qual se extraem os seguintes indicadores R – tempo de coagulação (minutos), e parâmetros da
consistência do gel [AR – intensidade do sinal passado 2R (volt), A2R – intensidade do sinal
após 3R (volt), A20 e A40 – intensidade do sinal pós 20 e 40 minutos respectivamente (volt) e
A30 – intensidade do sinal após 30 minutos (cm)].
3.2 pH e Teor de Humidade
A alteração do pH após o dia de fabrico deve-se à presença de ácido láctico e à presença de
substâncias tampão. O primeiro é produzido a partir da lactose (devido sobretudo à actividade
dos fermentos), enquanto que, as segundas são os complexos Ca-fosfato e Ca-caseína, e sub-
produtos da acção proteolítica e lipolítica do coalho e dos microrganismos (Walstra et al,
1999b).
As características que influenciam o pH são, segundo Walstra et al (1999b), a quantidade de
lactose no soro (ao invés do rácio lactose/caseína no leite) e a quantidade de fosfato de cálcio
nas micelas de caseína (que vai variar a capacidade tampão da coalhada).
O melhor processo para se controlar o pH é por lavagem (Walstra et al, 1999b). De facto, ao
lavar-se a coalhada promove-se a difusão da lactose para o soro e assim diminuições menores
do pH final da massa.
O pH do queijo é decisivo na selecção da flora do leite e do queijo (Choisy et al, 1987a). No
final do esgotamento, as coalhadas deverão possuir um pH inferior a 5,5 (devido à
fermentação láctica, à deslactossagem e à presença de substâncias tampão), sob pena, do
queijo ficar contaminado por flora bacteriana prejudicial e da degradação enzimática. Porém
não deverá ser em excesso para não se impedir as reacções químicas e bioquímicas que estão
na origem do amolecimento da pasta (e.g. interacções proteína-minerais, proteína-água e
reacções de proteólise).
Segundo Nath (1993), o pH dos queijos flamengos deverá ser entre 5,7 e 5,9 após 4h, entre
5,3 e 5,5 passadas 5,5h e ao fim de 24h entre 5,1 e 5,2.
I Parte: Notas de Fabrico
22
Na tabela seguinte estão representadas algumas variáveis de produção e a forma como estas
evoluem consoante a evolução dos diferentes parâmetros de produção:
Tabela 7: Quadro representativo das alterações que ocorrem durante as primeiras fases
da produção do queijo (adaptado de Walstra et al, 1999b).
Legenda: 1 – em queijo isento de gordura;
3.3 Interacções na Flora Queijeira
Os fermentos ao partilharem o mesmo “habitat” vão estabelecer relações biológicas entre si e
a flora presente no queijo (endógena e contaminante), havendo relações mais positivas e
outras menos (Choisy et al, 1987b):
Fenómenos de estimulação - A produção de péptidos, de peso molecular baixo (1000-1500
Daltons) por micrococos caseolíticos, favorece os estreptococos termófilos; as
aminopeptidases, presentes nos extractos solúveis de culturas de lactobacilos, favorece os
estreptococos termófilos.
Fenómenos de inibição - Produção de bacteriocinas (e.g. a nisina é produzida por certas
estirpes de Streptococcus lactis) activas sobre numerosas bactérias Gram positivas, assim
como nos esporos de Streptococcus cremoris; produção de pequenas quantidades no meio de
I Parte: Notas de Fabrico
23
peróxido de hidrogénio, cuja actuação é reforçada pelo sistema lactoperoxidase-tiocianato, ou
por péptidos ricos em aminoácidos aromáticos (e.g. tirosina e triptofano); actuação do ácido
láctico ao nível do pH e como bacteriostático.
3.4 Bactofugação
Uma operação também realizada mas que não se encontra presente nesta indústria é a
bactofugação. Esta operação consiste na possibilidade de através da força centrífuga separar
em leite aquecido os microrganismos. existem várias aplicações desta tecnologia na indústria
de laticínios mas é aplicada às queijarias onde se encontra mais amplamente difundida por
permitir a eliminação dos esporos (com eficácias até 98,7%) do Clostridiumn tyrobutyricum,
responsável pelo flato tardio (Bergère, 1997). Como se pode esperar o interesse da aplicação
desta operação neste fabrico prende-se sobretudo com a diminuição do risco de contaminação
do queijo por esporulados.
3.5 Propriedades organolépticas e reológicas do queijo
a) Flavour
Os sistemas enzimáticos presentes na cura (enunciados em 2.2.10 Cura) são responsáveis pela
produção dos seguintes compostos de flavour (Dumont et Adda, 1979), a partir de:
a) Os queijos curados contêm Bioconversão da lactose, dos ácidos láctico e cítrico: ácidos
(láctico, acético, propiónico, butírico e fórmico); compostos carbonilados como o
acetaldeído, diacetil, acetoína e acetona); álcoois (2-3-butanodiol); ésteres etílicos (acetato
de propilo, éster butírico);
b) Lipólise e catabolismo dos ácidos gordos: ácidos gordos livres (butírico, capriónico e
caprílico); metilcetonas (2 pentanona, 2 heptanona e 2 nonanona); álcoois secundários (2
pentanol, 2 heptanol e 2 nonanol); lactones (δ-decalactone, δ-dodecalactone, γ-
dodecalactone); derivados de 18:2 e 18:3 (1-octeno-3-ol, 1-octeno-3-ona; 1,5-octadieno-3-ol
e 1,5-octadieno-3-ona) e ésteres;
c) Degradação das proteínas e dos aminoácidos: aminoácidos, aminas, amoníaco, ácidos
voláteis (acético, propriónico, isobutírico, isocapriónico e 2 e 3 metilbutírico); álcoois (metil-
3-butanol e feniletanol); compostos sulfurosos (metanotiol, dissulfureto dimetilo,
trissulfureto dimetilo e tioacetato de metilo); compostos aromáticos (fenol, indol e crésol) e
pirazinas (2,5-dimetil–pirazina; 2-metoxi–isopropiol e 2-metoxi–pirazina). A paracaseína
I Parte: Notas de Fabrico
24
não tem sabor, mas os seus sub-produtos têm sabores característicos, e.g. os péptidos podem
ser amargos e muitos aminoácidos têm sabores amargos, doces, etc.
numerosos compostos voláteis (Walstra et al, 1999b) em pequenas quantidades fruto de
degradações dos aminoácidos, e.g. NH3, grupos aminas, H2S, ácido fenilacético. A libertação
desses mesmos compostos é afectada pela consistência (dependente da taxa de degradação
proteolítica). O dióxido de carbono embora inodor, pode influenciar o flavour ao contribuir
para arrastar moléculas de flavour aquando da sua libertação. O NaCl acentua o flavour. Os
ácidos gordos livres tornam o queijo picante, porventura também podem dar sabor a ranço se
forem os compostos de flavour predominantes no queijo.
A proteólise é favorecida por temperaturas elevadas, pH altos, aw elevados e baixas
concentrações em NaCl.
b) Textura
As condições iniciais da coagulação determinam o grau de agregação da caseína. A estrutura
básica da malha caseínica é modificada durante a produção de queijo pela quantidade de ácido
láctico formado pelas bactérias lácticas que altera a quantidade de cálcio nas caseínas (a
relação Ca-sólidos não gordos é característica para cada tipo de queijo). Durante a produção a
coalhada é cortada várias vezes, pré-prensada, enformada e prensada. Os grãos da coalhada
tornam-se mais ou menos distorcidos, consoante os diversos procedimentos utilizados, donde
que esta estrutura grosseira impõe um conjunto de propriedades reológicas à malha caseínica,
gordura e salmoura. Desta forma, existe uma grande variedade de possibilidades de falhas e
fraquezas que poderão afectar o comportamento do queijo. por fim a matriz caseínica é
modificada pela extensão da proteólise durante a cura (Prentice et al, 1993).
Walstra et al (1999b) enunciou os factores seguintes que afectam a textura: teor de água,
extensão da proteólise, pH, concentração en NaCl, teor em gordura, e respectiva distribuição
não homogénea dos mesmos no queijo. As propriedades reológicas do gele variam consoante
as condições da coagulação (quantidade de enzimas coagulantes, pH, temperatura, velocidade
de acidificação) e das características originais do leite (Noel et al, 1987). As propriedades da
matriz caseínica são modificadas pela presença de glóbulos de gordura, salmoura, pequenos
buracos mecânicos ou microbiológicos, fracturas e ligações entre os grãos da coalhada. A
água age como plastificante. A caseína forma o esqueleto rígido preenchido pela gordura,
bolsas de água (com salmoura e soro) e ar. O estado da água no queijo é principalmente livre
I Parte: Notas de Fabrico
25
com sais dissolvidos e em menor extensão ligada (Prentice et al, 1993)
Segundo Chen et al, 1987, os parâmetros acima descritos podem ser ordenados por ordem
decrescente de importância pela seguinte ordem:
Teor em proteínas> teor em sal> teor em água> pH> teor em matéria gorda.
Vários autores corroboram esta sequência, observando-se um máximo de firmeza a meio da
cura. Tal deve-se provavelmente ao efeito de dois mecanismos antagónicos: a desidratação
superficial e a proteólise (Adda, 1987).
Os resultados do teste de perfil de textura são apresentados por meio gráfico (texturograma)
onde se observa a força e o tempo a que o material foi sujeito pela penetração da sonda.
Através do texturograma (Figura 9) – podem-se determinar diferentes parâmetros
directamente (dureza, fracturabilidade, e adesividade) e / ou indirectamente (coesividade,
elasticidade, mastigabilidade, espalhabilidade, gomosidade).
Figura 9: Representação esquemática do perfil de TPA (adaptado de Sousa, 1995)
Legenda: F – Fracturabilidade; D – Dureza; A2/A1 – Coesividade; A3 – Adesividade; CE/AB – Elasticidade; Gomosidade=Dureza*Coesividade; Masticabilidade=Gomosidade*Elasticidade
O impacto na textura do queijo da taxa de acidificação deve-se à desmineralização das
caseínas e à maior vulnerabilidade das caseínas desmineralizadas à proteólise e/ou à maior
retenção de coalho devido ao menor pH (Law et al,1993).
As diferenças de textura nos queijos individualmente podem ser significativas consoante o
queijo tiver casca, a forma como foi virado durante a cura, o teor de humidade e sua
distribuição, actividade proteolítica. Em testes de compressão variações na ordem dos 10-25%
são comuns, nos testes por penetrometria as diferenças poderão ser da ordem dos 20-30%
(dado a sonda actuar de forma muito localizada, i.e., maior a susceptibilidade às variações
internas). Variações entre lotes podem ser grandes, donde que as medidas reológicas não
I Parte: Notas de Fabrico
26
distinguem tão bem as diferenças como as medidas sensoriais (Prentice et al, 1993).
c) Análise sensorial
A análise sensorial utiliza os órgãos dos sentidos como instrumentos de avaliação de
determinados atributos dos alimentos (Partidario e Bivar, 1989), tais como: aparência
(conjunto das propriedades visuais internas e/ou externas, e.g. forma, aspecto, cor, etc.),
consistência (sensações causadas pela principalmente pelos sensores do tacto, e.g. “toque” na
pele e esforço dos músculos da boca), “flavour” (combinação do gosto, cheiro, e tacto na
boca, nariz e palato) e som (não relevante no queijo).
A textura, o sabor e o aroma são dependentes da composição (teor de água, conteúdo em
proteína, matéria gorda e sais minerais), do pH da coalhada e das condições de cura; e
indirectamente com a natureza, intensidade do trabalho mecânico, do pH a que este ocorre e
da taxa de sinérese (Adda, 1987).
Na tabela abaixo estão indicados os métodos mais utilizados em análise sensorial e o
tratamento estatístico respectivo:
Tabela 8: Diferentes métodos, testes e análises estatísticas utilizadas em análise
sensorial (adaptado de Partidario e Bivar, 1989).
Classificação dos
Métodos
Tipos de testes Análise dos Resultados
Afectivos Amostra simples
Comparação Par
Ordenação
Hedónico
ANOVA (análise de variância)
Distribuição binomial
ANOVA ou análise de ordenação
ANOVA ou análise de ordenação
Analíticos:
Descriminativos
-diferenciais
Comparação Par
Duo Trio
Triangular
Classificação
Escalar
Distribuição Binomial
Distribuição Binomial
Distribuição binomial
ANOVA ou análise de ordenação
ANOVA ou análise de ordenação
Descriminativos
-sensitivos
Limiar
Diluição
Análise sequencial
Análise sequencial
Descritivos Amostra simples
Escalar
Pefil de textura
Perfil de “flavour”
Q.D.A.
(análise descritiva
quantitativa)
ANOVA
ANOVA ou análise de ordenação
Representação gráfica
Representação gráfica
ANOVA
Análise factorial
Análise de regressão
II Parte: Delineamento Experimental
27
II Parte
1 Delineamento Experimental
O objectivo deste trabalho era conhecer e caracterizar, dentro do possível, a
actividade/influência dos fermentos na produção de queijo Flamengo tipo barra, com vista a
sua utilização optimal.
No cômputo geral a parte experimental deste trabalho identifica-se com o seguinte
fluxograma:
Caracterização do processo
Caracterização do processo de produção actual:
a) Escolha das variáveis de processo;
b) Avaliação das características microbiológicas e físico-
químicas da matéria-prima;
c) Curvas de pH, acidez e teor de humidade do leite ao queijo;
d) Curvas de temperatura de processo.
– Escolha dos pontos a testar:
a) Matriz dos custos relativos das combinações de fermento.
Hipóteses
Influência na coagulação:
a) Curvas de pH e acidez à escala laboratorial;
b) Curvas de coagulação.
Efeito no controlo da flora endógena e contaminante:
a) Contagens microbiológicas no leite crú e termizado.
Influência nas propriedades organolépticas e reológicas:
a) Provas de ordenação;
b) Testes de perfil de textura.
Resultados
Obtenção dos dados das observações e experiências efectuadas;
Tratamento dos dados com EXCEL, CASIO CFX-9850GB e
STATISTICA 5.0
Discussão / Conclusão
Figura 10: Fluxograma do delineamento experimental utilizado.
II Parte: Metodologia
28
2 Metodologia
Para melhor se poder quantificar e avaliar os efeitos do fermento realizaram-se as seguintes
experiências (ver também Figura 10):
Levantamento da tecnologia – conhecer o processo de fabrico e avaliar a priori
as principais condicionantes da actividade dos fermentos no próprio fabrico, através
da observação e caracterização do fabrico e da monitorização de alguns parâmetros
de referência: binómio tempo/temperatura, pH, acidez, teor de humidade, composição
química e contagens microbiológicas.
Evolução da coagulação – realização de curvas de coagulação, de pH e de
acidez para avaliação do efeito da variação das combinações de fermento e dos
tempos de pré-maturação utilizados na evolução das características da coagulação.
Avaliação das propriedades reológicas – escolheu-se o teste de perfil de
textura por ser aquele cujos resultados mais se relacionam com a análise sensorial
podendo os valores obtidos serem relacionados com o seu desempenho sensorial.
Avaliação das propriedades sensoriais – realizaram-se provas hedónicas de
ordenação. O objectivo destas provas seria a ordenação das cinco amostras pela
ordem de preferência pessoal do consumidor, tendo sido deixado propositadamente
ao seu critério os parâmetros de selecção para assim se simular melhor os critérios
que o conjunto dos provadores do painel seleccionaria no seu acto de consumo.
As experiências realizadas recorreram por vezes a metodologias semelhantes entre si.
Todas as amostragens e experiências se processaram conforme as seguintes normas: NP 459
(1985), NP 4146; NP 1829; NP 2079 e NP 3005.
2.1 Caracterização do Processo
Para a caracterização do processo estableceram-se os seguintes pontos de controlo e análises
respectivas no fluxograma de fabrico, como se pode constar pela figura infra apresentada:
II Parte: Metodologia
29
Recepção /
tratamento do leite
Armazenagem /
Preparação
Pré-maturação
Coagulação
Corte
1º dessoramento
Agitação / Cozedura
2º dessoramento /
Pré-prensagem
Encinchamento
Prensagem
Salmoura
Armazenagem/
Expedição
Leite
crú
Leite
termizado
Coalhada
1ºSoro
2ºSoro
Produto
final
Leite
pasteurizado
Massa pH, acidez,
humidade
pH, acidez,
pH, acidez,
microbiologia
pH, acidez,
microbiologia e
composição físico-
química
pH, acidez,
pH, acidez,
pH, acidez, humidade,
composição química
pH, humidade Queijo
pre-holding
2 s
360'
0 s
180'
105'
165'
-
-
0
50-
60'
Espera/Holding
Queijo
prensadopH, humidade
200'
Embalamento
1 s pH, humidade Queijo não-
curado
pH, acidez,
microbiologia e
composição físico-
química
Cura
Leite fermentado
Figura 11: Pontos de amostragem e análises respectivas no fluxograma de processo.
Legenda: nos círculos estão indicados os tempos de amostragem, considerando o zero a partir do momento em que o leite entra na cuba (leite pasteurizado), os quadrados são referentes às etapas de fabrico, os losangos são os
produtos sujeitos a análise e os documentos, as observações a realizar.
Abaixo descrevem-se as metodologias seguidas para cada tipo de determinação. Sempre que
foi possível utilizaram-se dados disponibilizados pela UNILEITE relativos a fabricos
anteriores para as mesmas condições de fabrico.
2.2 Análises Físico-Químicas
a) pH e Acidez
A determinação do pH das amostras efectuaram-se através da medição por pontenciometria
das amostras. O potenciómetro utilizado na UNILEITE era da Hanna Instruments, modelo HI
9025, e no ISA era Metrohm.
A acidez foi determinada nos leites e no soro conforme a NP 470 (1983).
II Parte: Metodologia
30
b) Composição Química
Foi usado o Milko-Scan (133B) para a determinação do Teor em Proteína e Matéria Gorda
baseado na absorção de radiação na gama do Infra-Vermelho. O teor butiroso dos queijos foi
determinado conforme a Norma Portuguesa NP-469 (1983).
c) Teor de Humidade e Temperatura
A determinação do Teor de Humidade do queijo foi efectuada pelo método expedito de
secagem (método interno) através do aparelho Sartorius, modelo MA (Moisture Analyser) 30
à temperatura de 135º C, sem limite de tempo.
A curva de temperatura de processo foi elaborada com os dados fornecidos em UNILEITE
(2001).
2.3 Análises Microbiológicas
As contagens microbiológicas de mesófilos aeróbios totais e aeróbios facultativos e
microaerófilos foram realizadas num aparelho de contagens rápidas Don Whitley Scientific
Modelo - Rabit version 5.00 May 2003, à temperatura de 30ºC
2.4 Matriz de custo vs. fermento
Foram calculados os custos das diferentes combinações de fermentos em relação ao custo
actual, formando-se assim um índice de custo onde 0% corresponde à não utilização de
fermentos e 100% ao custo da combinação actualmente utilizada (ver Tabela 19 nos Anexos).
2.5 Ensaios de Coagulação
O ensaio de coagulação foi realizado no Optigraph. Este aparelho permite realizar até dez
análises em simultâneo, em cada análise efectuaram-se três repetições de três combinações
diferentes.. Foram definidos dois lotes de fermentos, com três combinações por lote (em
unidades de fermento acidificante + aromático): no 1º lote foram 4+2, 6+2 e 8+2; e no 2º lote
0+0, 0+2 e 2+2. O pH inicial dos dois lotes foi ajustado a 6,5, mas a acidez inicial foi
diferente: a do 1º lote era de 20ml de NaOH por 100ml de leite e a do 2ºlote de 22,04ml
NaOH /100ml de leite. Esta análise visou essencialmente quantificar o efeito da taxa de
acidificação e respectiva influência na evolução da coagulação, donde só se ter alterado a
quantidade de fermento acidificante.
II Parte: Metodologia
31
Os ensaios foram realizados ao fim de 30min e de duas horas após a inoculação (tempo de
pré-maturação) dos fermentos, sendo conservados durante esse tempo a 35ºC. Passado este
período colocaram-se 10ml de leite nas cuvetes e adicionou-se o coalho (0,200μl de preparado
de quimosina a 0,08%). Cada ensaio foi programado para 50min, ao fim dos quais os
seguintes parâmetros foram obtidos: R, AR, A2R, A20, A30 e A40.
2.6 Ensaios pH e Acidez
Em laboratório procedeu-se à recolha de leite pasteurizado dos lotes de leite preparado para o
fabrico de queijo flamengo barra. De seguida colocaram-se 200ml desse leite em frascos
esterilizados com tampa e procedeu-se à sua inoculação com as seguintes combinações de
fermentos: 0+0 (controlo), 8+2 (normal), 6+2, 10+0 e 8+2 (pontos em estudo). Posteriormente
foram a incubar em estufa a 37ºC. Realizaram-se observações de pH e de acidez às seguintes
horas: 0h, 2h, 4h, 6h e 8h.
2.7 Análise Reológica
a) Testes de perfil de textura
Efectuaram-se testes de perfil de textura a cinco lotes para se determinar a sua dureza relativa.
Nesta experiência usou-se um texturómetro TA–XT2 da Stable Microsystems. O perfil de
textura foi determinado através de um teste imitativo designado de TPA (Texture Profile
Analysis) ou de “two-bite test”, ou seja, o teste das duas dentadas com a sonda de compressão
de 75mm de diâmetro.
Os lotes analisados são provenientes directamente da fábrica e estão agrupados em dois sub-
grupos: a) dois lotes com duas semanas de cura (8+2 e 6+2 – cura industrial) e b) três com
dois dias de fabrico (8+2, 10+0 e 8+0 – com cura laboratorial num frigorífico doméstico a 8-
12ºC). Ambos foram analisados ao fim de duas semanas de cura.
O número de repetições realizadas foi tal que o erro (δ/ (√n*x) : δ –desvio padrão, n –
número de observações e x – média) obtido fosse menor que 6%
2.8 Análise Sensorial
a) Prova de ordenação
A prova de ordenação foi realizada na sala de provas do Pavilhão de Agro-Indústrias e
II Parte: Metodologia
32
Agronomia Tropical do Instituto Superior de Agronomia.
Foram fornecidas a um painel de provadores não treinados cinco amostras de queijo e lhes
pedido para as ordenarem por ordem de preferência pessoal (a ficha de provas encontra-se em
Anexos na Figura 22). Os lotes seleccionados foram os mesmos que os da análise reológica.
O número de provas efectuadas obteve uma frequência esperada superior a 5 observações.
2.9 Tratamento estatístico
Os resultados estão organizados em dois grupos: os de observação (Variáveis de processo:
composição química, teor de água, microbiologia, pH, acidez e matriz de custo)e os de
experimentação (Resultados: curvas de coagulação, curvas de acidez e de pH ao nível
laboratorial, TPA e análise sensorial).
Os resultados obtidos quando se tratem de médias e desvios padrão serão apresentados na
forma média ± desvio padrão, quando em contrário será indicado no texto o significado.
Foram aplicados os seguintes métodos estatísticos:
As curvas de pH e de acidez realizadas em laboratório foram apenas analisadas de uma
forma descritiva dado o pouco número de repetições.
Realizou-se a análise dos componentes principais e de variância aos dados obtidos no
Optigraph (parâmetros das curvas de coagulação).
Nos dados obtidos pelo texturómetro fez-se a análise de variância e teste de Schéffe,
para além de se realizar uma análise de classificação (dendograma).
Os resultados da análise sensorial foram organizados numa tabela de contingência, à
qual se efectuou-se o teste χ2
para se avaliar a influência da variação da variável
fermentos/cura com a variável preferência. Elaboram-se, com base nessa tabela, um
histograma (com média, erro padrão e desvio-padrão) e análise de classificação
(dendograma).
a) Análise Multivariada
A análise multivariada (AM) permite obter, com perdas mínimas de informação, bons
resultados gráficos e compreender de uma forma simples e rápida os dados obtidos. AM
oferece vários métodos para simplificar e interpretar eficientemente muitas variáveis
simultaneamente. Estes métodos revelam as principais estruturas e relações entre os dados
obtidos, fornecendo gráficos e tabelas simples com o máximo de informação e o mínimo
II Parte: Metodologia
33
ruído. (Martens H. et al,1982)
Os métodos de AM utilizados neste trabalho foram (Martens H. et al,1982):
Análise de componentes principais (ACP) – tenta descrever toda a variância de X (covariância
entre as variáveis e variâncias das variáveis individualmente) em alguns factores (os
componentes principais). A análise bilinear tenta descrever os dados de X em termos da soma
de factores latentes subjacentes (eixos, dimensões ou “principais tendências de variação”),
simplificando portanto a interpretação por concentração da informação e decréscimo do efeito
do ruído de fundo nos dados observados em X. Cada factor bilinear é descrito pelo produto de
dois tipos de parâmetros (loadings x scores, i.e., “carga x pontuações”).
Análise de classificação (AC) – pretende agrupar os valores observados e variáveis em X em
grupos de elementos semelhantes. Os métodos utilizados em AC basicamente diferem na
forma como claculam as distâncias entre os valores: entre os valores mais próximos, mais
afastados ou valores médios.
III Parte: Variáveis de Processo
34
III Parte
1 Variáveis de processo
a) Composição, Microbiologia e Acidez
O leite termizado apresenta uma proporção proteína: teor butiroso idealmente cerca de 1,2:1.;
os valores observadosapresentaram teores em proteína de 3,18% ± 0,08 e teor de matéria
gorda de 2,68% ± 0,09.
No leite fermentado, as proporções são relativamente semelhantes, teor de proteína 3,14%
±0,19 e teor de matéria gorda 2,66% ± 0,07.
As contagens de mesófilos totais aeróbios e anaeróbios do leite crú foram de 7,1x105 ufc/mL
±1,1x107 (erro 18,8%) e no leite termizado de 7x10
4 ufc/mL ±1,1x10
5 (erro 38%).
No fabrico normal, a acidez do leite pasteurizado foi de 18,0 ml NaOH/L ± 0,1. O leite
fermentado apresentou um ligeiro aumento (19,0 ml NaOH/L ± 0,1). O 1º soro apresenta em
média 12 ml NaOH/L de acidez e o 2º soro 9,0 ml NaOH/L ±0,2 unidades.
b) pH, Teor de Humidade eTemperatura
O pH dos diferentes leites e final do queijo está apresentado na tabela abaixo:
Tabela 9: pH observado no processo, do leite ao queijo.
Leite Queijo
pasteurizado fermentado 1ºSoro 2ºSoro pós-holding Pós-cura
Média 6,604 6,513 6,452 6,356 5,334 5,484
Desvio padrão 0,045 0,016 0,018 0,037 0,078 0,054
Note-se que o desvio padrão é cerca de 1% da média observada, indicador da homogeneidade
do processo.
A partir destes dados foi construído o gráfico abaixo, a recta de regressão escolhida foi a
polinomial de segunda ordem por ser a que apresentava um coeficiente de correlação superior.
III Parte: Variáveis de Processo
35
Figura 12: Gráfico da evolução do pH ao longo do processamento desde o leite
termizado até ao queijo pré-salmoura.
O teor de água ou de humidade apresenta um decréscimo que pode ser expresso pela seguinte
gráfico e recta exponecial:
y = 216,75x-0,246
R2 = 0,7922
30405060708090
020
040
060
080
010
00
1200
tempo (min)
teo
r d
e h
um
idad
e (
%)
Figura 13: Gráfico da evolução do teor de humidade presente desde a coalhada até pós-
salmoura.
A temperatura evoluí, conforme foi citado ao longo da revisão bibliográfica, de acordo com a
etapa de produção em que o queijo se encontrar, como se pode verificar pela figura abaixo:
Figura 14: Evolução da temperatura do leite-queijo ao longo do tempo.
III Parte: Variáveis de Processo
36
c) Considerações económicas
Com base na expressão referida nos métodos obtiveram-se vários valores de combinações
possíveis (ver na Tabela 19 nos Anexos). De entre as várias combinações escolheram-se para
o desenvolvimento das experiências aquelas cujos resultados obtidos até ao momento
ofereciam segurança suficiente para ser aplicada a nível industrial. Assim sendo, os lotes
seleccionados para se experimentar à escala industrial foram o 6+2, 10+0 e 8+0.
Tabela 10: Matriz dos custos relativos das diferentes combinações de fermentos em
estudo utilizados na produção de queijo Flamengo forma barra da UNILEITE.
Acidificante (unidades)
Aromático (unidades)
% do custo actual
8 2 100%
6 2 84%
10 0 82%
8 0 66%
2 Resultados
2.1 Curvas de coagulação
Os resultados das experiências com o Optigraph encontram-se nas Tabela 17e 18 nos Anexos.
A partir destes dados realizou-se a análise dos componentes principais para se conseguir
avaliar a relação entre os parâmetros e tentar observar as correlações existentes, para além de
ser observar a distribuição das modalidades de ensaio em função da relação entre os
parâmetros considerados
Nas condições de análise utilizadas, as duas primeiras componentes principais explicam cerca
de 97% da variância implícita dos resultados, como se pode observar na Tabela 11:
Tabela 11: Valores próprios (ou de Eigen) dos parâmetros do Optigraph e das
diferentes combinações de fermento, para a análise de componentes principais.
Factor Valor próprio % total Variância Valor próprio acumulado Variância acumulada
1 5,230703 87,17839 5,230703 87,17839
2 0,606903 10,11506 5,837607 97,29345
Na figura abaixo estão representados os parâmetros e a sua distribuição pelos dois
componentes:
III Parte: Resultados
37
Figura 15: Distribuição dos parâmetros do Optigraph segundo os factores calculados na
análise de componentes principais.
Da observação da mesma se pode inferir que todos os parâmetros considerados revelam uma
forte correlação positiva com a primeira componente principal, em particular no caso dos
parâmetros de consistência. A segunda componente principal opõe o tempo de coagulação ao
parâmetro A20, ambos com correlações significativas com esta componente, significando que
esta valorizará o atraso no desenvolvimento da consistência do gel (medida ao fim de 20
minutos de ensaio) motivado por tempos de coagulação mais alongados.
Representado as amostras, associadas às modalidades testadas de combinações de fermentos e
com os diferentes tempos de incubação, variáveis fermento e tempo, obtém-se a figura
seguinte:
Scatterplot (QUEIJO.STA 12v*68c)
y=-2,342e-9+4,649e-9*x+eps
NEWVAR11
NEW
VAR
12
A1
A1
A1
B1B1
B1
C1
C1C1
D1
D1
D1
E1E1
E1
F1
F1
F1
A2
A2
B2B2
B2
C2
C2
C2
D2
D2
D2
E2E2
E2
F2
F2F2
-2
-1
0
1
2
3
4
-2,0 -1,5 -1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5
Figura 16: Distribuição das combinações de fermento vs tempo de pré-maturação.
Legenda: A – 0+0, B – 0+2, C – 2+2, D – 4+2, E – 6+2 e F – 8+2; 1 – 30min e 2 – 2h de pré-maturação
X
Y
III Parte: Resultados
38
Desta se depreende que efectivamente não existem diferenças significativas entre os lotes em
função das diferentes misturas de fermentos (dado as três repetições de cada amostra
aparecerem muito dispersas no gráfico – observe-se A1 ou D2), exceptuando a separação
óbvia entre os conjuntos de A, B, C (grupo X) e de D, E, F (grupo Y), ou seja, conjuntos
definidos pelas modalidades de ensaio (combinações de fermentos e tempo de incubação)
ensaiadas com lotes de leite diferentes. O tempo não aparenta ter qualquer efeito, pois não
transparece nenhuma separação de modalidades em função desta variável de ensaio. Este é,
mesmo, o único factor de agregação de amostras/modalidades, reforçando a conclusão de
efeito não significativo da combinação de fermentos nos parâmetros de coagulação do leite.
2.2 Curvas pH, acidez
Os dados obtidos encontram-se em Anexo na Tabela 14, a partir dos quais se elaboraram as
seguintes curvas de evolução da acidez e do pH em função do tempo:
evolução pH e acidez
0
1
2
3
4
5
6
7
0 2 4 6 8
tempo (h)
pH
0
20
40
60
80
100
acid
ez
8+2 - pH 6+2- pH10+0- pH 8+0- pHcontrolo (0+0)- pH 8+2 - acidez6+2 - acidez 10+0 - acidez8+0 - acidez controlo (0+0) - acidez
Figura 17: Evolução do pH e da acidez à escala laboratorial a 32ºC das combinações de
fermentos 8+2, 6+2, 10+0, 8+0 e 0+0.
Foi a partir da observação destes dados que se efectou a sobreposição das curvas de
acidificação dos fermentos aromático e acidificantes. Da observação desse novo gráfico
(Figura 8) conclui-se que para as mesmas quantidades de fermento e para as mesmas
condições de fabrico o fermento acidificante tem menor capacidade que o aromático para
baixar o pH do leite (e.g. por comparação dos valores a 30º e 35ºC, entre a 1-2h).
III Parte: Resultados
39
Observa-se, na Figura 17, que todas as combinações em estudo permitem aumentar a acidez e
baixar o pH do leite à taxa desejada, uma vez que os declives obtidos são idênticos. Note-se
embora ainda que ligeiramente, para unidades totais iguais de fermentos (8+2 e 10+0) as
combinações com fermentos aromáticos são mais “acidificantes” (capacidade para
produzirem ácido láctico e de baixarem o pH) que as combinações compostas só por
fermentos acidificantes. Da mesma forma, combinações com mais unidades são mais mais
“acidificantes” que outras com menos unidades.
2.3 Análise Reológica e Sensorial
a) Teste de perfil de textura (TPA)
Dos TPA extrairam-se os valores da dureza dos cinco lotes (ver Tabela 16 em Anexos). A
partir desses valores elaboraram-se as tabelas abaixo. A Tabela 12 apresenta a análise
descritiva das durezas dos diferentes lotes de fermento.
Tabela 12: Resultados da dureza dos diferentes lotes avaliados.
Dureza (g)\ Lote 8+2a 10+0
a 8+0
a 6+2
b 8+2
b
Média (χ) 5406,05 4774,63 4750,98 3264,21 4455,05
Desvio padrão (δ) 790,55 833,27 845,74 606,20 948,25
C.V (δ/χ) 14,6% 17,5% 17,8% 18,6% 21,3%
Legenda: unidades de fermento acidificante+aromático; a – cura laboratorial, b – cura industrial; C.V. –
coeficiente de variação.
A análise de variância (ANOVA) destes dados concluí que as variâncias são
significativamente diferentes ( P<0,05; F=12,46). Por seu turno na Tabela 13 estão indicados
os resultados do teste de Schéffe entre os diferentes lotes:
Tabela 13: Resultados do teste de Schéffe para a variável dureza (g)
Fermento {1} {2} {3} {4} {5}
Média dureza (g) 5406,050 4774,633 4750,980 3264,214 4455,047
8+2a {1} 0,515 0,331 0,000 0,054
10+0 a {2} 0,515 1,000 0,002 0,928
8+0 a {3} 0,331 1,000 0,000 0,910
6+2 b {4} 0,000 0,002 0,000 0,007
8+2 b {5} 0,054 0,928 0,910 0,007
Legenda: unidades de fermento acidificante+aromático; a – cura laboratorial, b – cura industrial
Da observação da tabela anterior se pode constar que o lote 6+2b é significativamente
diferente dos outros lotes (P<0,05). Os restantes lotes (8+2ª, 10+0 ª, 8+0 ª e 8+2b) são
III Parte: Resultados
40
semelhantes (P>0,05) estando agrupados nos seguintes conjuntos abaixo representado no
dendograma.
Tree Diagram for 5 Variables
Single Linkage
Euclidean distances
Lin
kage D
ista
nce
2400
2600
2800
3000
3200
3400
3600
3800
4000
4200
D E C B A
Figura 18: Dendograma com as várias combinações de fermentos de acordo com a sua
dureza.
Legenda: Combinações dos fermentos utilizados 8+2a - A, 10+0 a – B, 8+0 a – C, 6+2b – D e 8+2 b – E.
Assim se pode constar que os lotes que os lotes 8+2b e 8+0ª são hierquicamente os mais
próximos. Por outro lado os lotes 8+2ª e 10+0ª estão surgem mais afastados mas com ligações
quase ao mesmo nível, e por fim, como era esperado o lote 6+2b é o que se apresenta mais
remotamente ligado aos restantes
b) Prova de ordenação
Os dados obtidos, na análise sensorial, foram organizados na tabela de contigência
apresentada na Tabela 15 em Anexos. A homogeneidade dos provadores foi testada pela
análise de classificação seguinte:
III Parte: Resultados
41
Tree Diagram for 62 Cases
Single Linkage
Euclidean distances
Lin
kage D
ista
nce
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
C_37
C_34
C_14
C_45
C_43
C_36
C_35
C_33
C_42
C_20
C_39
C_19
C_60
C_58
C_56
C_52
C_21
C_11
C_54
C_53
C_61
C_38
C_17
C_15
C_16
C_46
C_18
C_13
C_24
C_7
C_57
C_47
C_51
C_22
C_5
C_55
C_44
C_25
C_50
C_41
C_31
C_29
C_40
C_10
C_30
C_27
C_48
C_12
C_26
C_28
C_8
C_59
C_9
C_4
C_3
C_62
C_49
C_2
C_32
C_23
C_6
C_1
Figura 19: Dendograma dos provadores.
No dendograma acima representado se pode constar que os provadores constituiram grupos
homogéneos e abertos, sem formação de agrupamentos evidentes.
A partir da tabela de contingência, realizou-se então o teste não –paramétrico chi-quadrado
(χ2). A relação observada entre as variáveis em estudo (P=26,6%, χ
2=19,05) foi muito fraca,
isto é, a variação da combinação de fermento e do tempo de cura (no caso da combinação
repetida 8+2) está fracamente relacionada com a ordem de preferência dos provadores.
Como se pode observar também pelo histograma infra apresentado, as variáveis apresentam
médias e dispersões muito semelhantes, apesar de se destacarem ligeiramente os lotes B e C
(10+0a e 8+0
a, respectivamente):
±Std. Dev.
±Std. Err.
Mean
Box & Whisker Plot
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
4,0
4,5
5,0
A B C D E
Figura 20: Histograma dos lotes em análise sensorial
Legenda: Combinações dos fermentos utilizados 8+2a - A, 10+0 a – B, 8+0 a – C, 6+2b – D e 8+2 b – E.
III Parte: Resultados
42
No dendograma abaixo verifica-se que existe uma associação ténue dos lotes em dois sub-
grupos: A+B e E+D+C; sendo que os lotes 8+2a e 10+0
a são os hierarquicamente mais
próximos entre si.
Tree Diagram for 5 Variables
Single Linkage
Euclidean distances
Lin
kage D
ista
nce
15,0
15,5
16,0
16,5
17,0
17,5
E D C B A
Figura 21: Dendograma dos lotes analisados sensorialmente.
Legenda: Combinações dos fermentos utilizados 8+2a - A, 10+0 a – B, 8+0 a – C, 6+2b – D e 8+2 b – E.
IV Parte: Discussão
43
IV Parte
1 Discussão
O principal objectivo deste trabalho foi optimizar economicamente a quantidade de fermento
utilizado no fabrico de queijo flamengo tipo barra mantendo os parâmetros de fabrico actuais
( binómios tempo/temperaturas, rendimento de produção, propriedades reológicas e percepção
sensorial do produto final).
De acordo com a revisão bibliográfica efectuada, os efeitos causados pela alteração da
quantidade de fermento utilizado poder-se-iam fazer sentir aos seguintes níveis (com
relevância para a indústria face ao objectivo do trabalho):
1. Ao nível da coagulação – descida de pH causada pela acção dos fermentos influencia
a actividade do coalho,
2. Ao nível das propriedades reológicas – a alteração das condições de coagulação
origina novos equilíbrios nos constituintes do queijo provocando mudanças nas suas
propriedades reológicas, nomeadamente ao nível da taxa de escoamento,
3. Ao nível das propriedades sensoriais – o efeito dos fermentos no desenvolvimento
dos compostos de flavour durante a cura pode induzir a alterações na apreciação dos
consumidores finais,
4. Efeito no controlo da flora endógena e contaminante – apesar de as interacções entre
o fermento e a flora presente no leite serem ainda mal conhecidas e de difícil
quantificação.
Convém notar, porém, que as experiências tiveram as seguintes limitações:
Nos ensaios de coagulação não se pode utilizar nem o coalho nem a matéria-
prima usada na indústria. Com o efeito para concentrações de coagulante idênticas às
industriais, o Optigraph não conseguia realizar leituras. Utilizou-se portanto a
concentração e o coalho de referência do aparelho, partindo-se do pressuposto que as
diferenças destas alterações não seriam significativas dado o que se pretendia avaliar
era o efeito da variação dos fermentos para as mesmas condições de processo. Em
relação à matéria-prima, as dificuldades e onerosidade do transporte impediram a sua
utilização.
IV Parte: Discussão
44
No decurso da monitorização do pH dos diferentes lotes, acabou-se a solução
tampão necessária para a calibração do potenciómetro, assim os valores obtidos
poderão apresentar um erro superior ao desejado e díficil de se quantificar.
A cura dos lotes analisados no texturómetro não foi idêntica para todos os lotes
(como já foi referido em II. 2.7 Análise Reológica).
a) Levantamento da tecnologia
Os binómios tempo/temperaturas apresentados no fabrico deste queijo são do ponto de vista
metabólico muito restritivos da actividade dos fermentos. O tempo de pré-maturação,
considerando que o fermento é utilizado na forma liofilizada, é muito curto (1hora), sendo a
sua actividade acidificante durante esse período de tempo muito reduzida (ver Figura 17). Por
outro lado, o tempo desde o início do fabrico até à entrada na salmoura garante uma
deslactossagem e fermentação completa da lactose. A temperatura de salmoura e de cura por
serem muito baixas provocam uma grande dimuição da actividade metabólica dos fermentos,
ao que se considerar o tempo de cura (em média 2 semanas), não se preve que o queijo venha
a desenvolver características sensoriais e reológicas muito marcantes.
Os valores monitorizados revelam que o processo de fabrico actual está relativamente
padronizado, pois dados obtidos da evolução do pH e da acidez são muito consistentes e
homogéneos (desvio padrão é 1% da média e as correlações são superiores a 70%). Somente
os valores das análises microbiológicas apresentam variações grandes (na ordem dos
107ufc/ml), sendo o controle microbiológico a maior fonte de variabilidade da matéria-prima.
A importância da utilização do fermento para controlo da flora endógena foi no âmbito deste
trabalho considerada pouco relevante. Os binómios tempos/temperaturas do processo
garantem o controlo dessa flora – os tratamentos térmicos permitem uma redução de102 a 10
3
da população inicial e desde que conservado a menos de 8ºC o desenvolvimento de flato
tardio pode ser evitado.
b) Evolução da coagulação
As curvas de coagulação ensaiadas confirmaram o que se esperava. A evolução da coagulação
é mais susceptível à variação das características da matéria-prima (nomeadamente ao nível da
acidez inicial) do que à variação da quantidade de fermento utilizada (mesmo considerando a
sua não utilização e tempos de pré-maturação duplicados em relação ao fabrico padrão).
IV Parte: Discussão
45
Assim considerou-se que o contributo do fermento para o desenvolvimento da cogulação
neste fabrico é desprezável, independentemente da combinação utilizada.
Através da análise da matriz de custo vs. fermento e da elaboração das curvas de acidificação
e de pH, optou-se pela experimentação de outras combinações de fermentos nos ensaios
seguintes mais atractivos do ponto de vista económico. Com efeito garantido pelas curvas de
acidificação e de pH que as novas combinações apresentavam comportamentos semelhantes à
combinação em uso, procedeu-se aos ensaios à escala industrial dos mesmos.
c) Avaliação das propriedades reológicas
Os resultados obtidos pelo teste de perfil de textura são no seu geral inconclusivos. Os lotes,
embora apresentem variâncias diferentes (P<0,05; F=12,46), as médias não são
significativamente diferentes, exceptuando o lote 6+2b (P<0,05). Pressupõem-se portanto que
a dureza dos lotes não depende directamente da combinação de fermento utilizada. Outras
variáveis como o tempo de salmoura, a temperatura e o fluxo de ar na câmara de cura poderão
ter um papel mais preponderante no desenvolvimento da textura ao nível da dureza.
Os valores obtidos de variação dos lotes individuais encontram-se dentro do esperado pela
bibliografia, que indicavam coeficientes de variação na ordem dos 10-25% como comuns
(Prentice et al, 1993).
Note-se contudo, existem indícios que combinações mais acidificantes (ver 4.2 Curvas pH e
acidez) poderão originar queijos mais duros, nomeadamente porque comparando os sub-
grupos cura laboratorial e cura industrial observa-se que as combinações mais acidificantes
apresentam valores de dureza relativamente ao superiores:
Combinação 8+2a 10+0
a 8+0
a 8+2
b 6+2
b
Dureza (g) 5406,05 > 4774,63 > 4750,98 4455,05 > 3264,21
d) Avaliação das propriedades sensoriais
A ligação entre as variáveis combinação e preferência é muita fraca (P=26,6%), ou seja, a
variação da combinação de fermento só explica 26,6% da variação da ordem de preferência.
Este resultado antes demais significa que sensorialmente as diferenças que possam existir não
fortes o suficiente para marcar uma tendência clara na preferência dos consumidores,
podendo-se portanto assumir que qualquer das combinações utilizadas será sensorialmente
aceitável pelo público (ver também dendograma dos provadores – exemplo da
IV Parte: Discussão
46
homogeneidade das respostas do painel).
Esta análise é corrobada pela apreciação do histograma e do dendograma (Figura 20 e Figura
21). Em ambas as figuras se pode apreciar que os valores médios e as classificações não
aparecem associadas ao efeito acidificante ou aromático do fermento dado apresentarem
“grupos” contraditórios (e.g. os lotes que apresentam melhores distribuições no histograma,
10+0ª e 8+0ª, estão hierarquicamente afastados entre si no dendograma, o 8+0ª e o 8+2b são
os que apresentam ligações mais próximas).
IV Parte: Conclusão
47
2 Conclusões
Os objectivos deste trabalho foram no seu geral cumpridos:
a. Observou-se no decurso deste trabalho que o fermento, nas condições de produção
actuais, não teve efeito na evolução da coagulação.
b. No desenvolvimento das propriedades sensoriais e reológicas a variação das
combinações de fermento não se traduziu directamente em variação das propriedades finais
do queijo, sendo deste ponto de vista indiferente a combinação utilizada. De qualquer modo,
propõem-se a introdução no rótulo da indicação: “Recomenda-se fatiar a 6±2ºC”; como forma
de garantir que o queijo é fatiado correctamente.
c. Quanto ao controlo da flora endógena e contaminante sugere-se maior investimento
na qualidade inicial da matéria-prima (e.g. acções de formação aos produtores sobre higiene
da ordenha ou produção de silagem, ou ainda pela aquisição de uma bactofuga), pois a
utilização de fermentos para limitar o efeito da variação da carga microbiológica do queijo é
onerosa e arriscada.
Deste modo aconselha-se a UNILEITE a utilizar a combinação 8 unidades de fermento
acidificante no seu fabrico, permitindo a redução deste custo variável em cerca de 34%.
Convém também acompanhar de forma mais atenta os primeiros lotes, especialmente ao nível
da evolução durante a cura, pois é nesta fase que os efeitos da variação de fermento –
propriedades reológicas e sensoriais – apresentaram comportamentos menos previsíveis.
Aconselha-se também a elaboração de provas de análise sensorial descritivas e quantitativas
por um painel treinado quer dos produtos fabricados (como forma da avaliação da
homogeneidade do processo de fabrico) quer dos produtos da concorrência (informação
preciosa para se conhecer o posicionamento do produto no mercado e se conhecer as
caracteríscas desejadas pelo mercado – influenciando a evolução de “futuras melhorias”).
Por outro lado os dados obtidos antevêm combinações de fermentos mais vantajosas que
podem ser utilizadas. Para tal é necessário compreender melhor a evolução da cura dado ser a
este nível que os fermentos poderão ter um papel mais preponderante. Como indicadores
dessa actividade, pode-se fazer o acompanhamento da evolução do coeficiente de maturação e
do rácio de bactérias homofermentativas:heterofermentativas ao longo da cura, para além dos
testes reológicos e sensoriais.
48
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Publicações Europa-América, Lavoisier, pp 160-171
Walstra P., Geurts, T., Noomen, A., Jellema, A. & Boekel, J. (1999a)– Dairy
technology: Principles of milk properties and processes – Marcel Dekker, Inc., New York
Walstra P., Geurts, T. & Noomen, A. (1999b)- Dutch – Type varieties, In Fox P. (éd.),
Cheese – Chemistry, Physics and Microbiology, vol 2. –Aspen Publication (2ª Edição),
Maryland
Weber F. (1987)– O escoamento do coágulo –In Eck A. (éd.) – O Queijo, vol 1,
Publicações Europa-América, Lavoisier, pp 56-69
Ysebaert (2000) – Optigraph – User’s Manual – Dairy Division
51
Anexos
Curvas de pH e de Acidez
Tabela 14: Curvas de evolução de pH e da acidez de diferentes combinações de
fermentos à escala laboratorial.
tempo (h) 0 2 4 6 8
pH
8+2 6,62 6,58 6,19 5,4 4,4
6+2 6,62 6,59 6,22 5,52 4,44
10+0 6,62 6,61 6,32 5,55 4,42
8+0 6,62 6,62 6,36 5,66 4,43 controlo (0+0) 6,62 6,62 6,6 6,6 6,39
tempo (h) 0 2 4 6 8
acid
ez
8+2 17 17 26 45 81
6+2 17 17 25 43 76
10+0 17 17 24 44 75
8+0 17 17 23 38 73 controlo (0+0) 17 17 18 18 15
Anexos
52
Análise Sensorial
Figura 22: Ficha de prova utilizada na prova de ordenação.
Tabela 15: Tabela de contingência dos resultados da análise sensorial.
Lote 8+2a 10+0
a 8+0
a 6+2
b 8+2
b
Ord
em
de
pre
fer
ência
1 15 10 12 13 13
2 10 10 11 12 20
3 17 13 9 16 8
4 12 13 17 13 8
5 9 17 14 9 14
Legenda: Ordem de preferência 1 a 5: do que menos gostava para o que mais gostava.
PROVA DE ANÁLISE SENSORIAL
QUEIJO FLAMENGO (16-11-2004)
Ordena as amostras de queijo por preferência (5- o que
mais gostas e 1-o que menos gostas):
1 2 3 4 5
Código da
amostra
Obrigado pela colaboração,
Luís Cary
Anexos
53
Testes de perfil de textura
Tabela 16: Resultados dos testes de perfil de textura:
lote 8+2a 10+0
a 8+0
a 6+2
b 8+2
b
Dure
za
(g
) 5617,7 5462,5 3530,3 3799 3976,7
6150,1 6398,9 4465,5 3551,8 3554,5
5895,3 3941,3 5139,9 2949,3 4612,7
4988,7 3837,7 3729,2 2851 3258,1
5307 4602,6 4923,9 3489,9 5986,6
5031,2 4448 5024,3 3808,8 5658,3
5439,6 4649,3 5385,8 3518,6 4788,9
6408,5 4217,5 4890 2079,9 3346,2
5062,5 5413,9 4407,3 4378,2 3272,3
6442 5580,5 3495,3 4805,5
5883,3 6683,7 2409 3818,6
5620,3 4461,5 2805,3 4134,3
3731,9 3843,2 3073 4294,5
4106,6 3817,2 5683,5
5382,4 5635
Legenda: combinação de fermento unidades de acidificante + aromático; a cura laboratorial e b cura industrial.
Anexos
54
Optigraph
Tabela 17: Resultados do Optigraph relativos às várias combinações de fermentos
utilizadas para um tempo de pré-maturação de 30min:
Lotes (unidades de acidificante+unidades de aromático)
parâmetros 0+0 0+2 2+2 4+2 6+2 8+2
r 9:23 9:24 9:31 11:39 11:56 11:52
9:31 9:29 9:31 11:55 11:55 11:54
9:35 9:30 9:25 11:57 11:47 12:01
Ar 1,97 2,13 2,51 3,06 3,21 3,74
2,31 2,15 2,14 3,68 3,31 3,26
2,57 1,97 2,08 4,15 2,98 3,22
A20r 2,95 3,20 3,75 4,65 4,89 5,71
2,48 3,23 3,20 5,58 5,04 4,95
4,04 2,96 3,14 6,32 4,54 4,89
A20 2,13 2,30 2,66 2,43 2,51 2,87
2,46 2,30 2,27 2,81 2,52 2,50
2,81 2,10 2,24 3,15 2,28 2,43
A40 3,78 4,06 4,77 5,18 5,41 6,27
4,39 4,08 4,05 6,08 5,50 5,42
5,03 3,75 3,99 6,88 4,97 5,31
A30 1,24 1,31 1,45 1,49 1,54 1,72
1,38 1,31 1,30 1,69 1,56 1,54
1,52 1,23 1,29 1,85 1,44 1,52
Tabela 18: Resultados do Optigraph relativos às várias combinações de fermentos
utilizadas para um tempo de pré-maturação de 2h:
Lotes (unidades de acidificante+unidades de aromático)
parâmetros 0+0 0+2 2+2 4+2 6+2 8+2
r 9:32 9:39 9:42 11:34 11:44 11:40
9:47 9:43 9:46 11:48 11:44 11:44
9:39 9:44 11:53 11:50 11:49
Ar 1,86 2,02 2,58 2,89 3,12 3,67
2,22 2,06 2,07 3,39 3,17 3,14
1,88 2,01 3,92 2,90 3,08
A20r 2,76 3,02 3,80 4,41 4,77 5,61
3,31 3,07 3,06 5,11 4,80 4,77
2,81 3,00 5,97 4,45 4,67
A20 1,96 2,12 2,67 2,34 2,48 2,94
2,28 2,14 3,12 2,56 2,50 2,48
1,96 2,08 3,02 2,28 2,41
A40 3,15 3,71 4,65 4,89 5,21 6,19
4,07 3,78 3,75 5,59 5,30 5,25
3,47 4,69 6,54 4,82 5,10
A30 1,17 1,23 1,45 1,44 1,51 1,71
1,31 1,25 1,24 1,59 1,52 1,52
1,17 1,22 1,77 1,42 1,48
Anexos
55
Figura 23: Optigrama 1 – Curvas de coagulação dos lotes 0+0, 0+2 e 2+2 aos 30min e ao fim de duas horas
0+0 30min 0+2 30min 2+2 30min 0+0 2h 0+2 2h 2+2 2h
Anexos
56
Figura 24: Optigrama 2 – Curvas de coagulação dos lotes 4+2, 6+2 e 8+2 aos 30min e ao fim de duas horas
4+2 30min 6+2 30min 8+2 30min 4+2 2h 6+2 2h 8+2 2h
Anexos
57
Matriz custo vs. fermento
Tabela 19: Matriz custo vs. fermento.
Acidificante Aromático Custo
relativo Acidifcante Aromático Custo
relativo
8 2 100% 6 1 66%
10 1 99% 8 0 66%
12 0 99% 1 3 59%
1 5 94% 5 1 58%
5 3 92% 7 0 58%
9 1 91% 0 3 51%
11 0 91% 2 2 51%
0 5 85% 4 1 50%
2 4 85% 6 0 49%
4 3 84% 3 1 42%
6 2 84% 5 0 41%
8 1 83% 0 2 34%
10 0 82% 2 1 34%
3 3 76% 4 0 33%
7 1 75% 1 1 25%
9 0 74% 3 0 25%
0 4 68% 0 1 17%
2 3 68% 2 0 16%
4 2 67% 1 0 8%