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Matemática Financeira Um projeto eólico constitui um investimento com uma duração típica de 20 a 30 anos, sendo que no decorrer desses anos existem fluxos de caixa representativos de custos e benefícios relacionados com o projeto. Os benefícios económicos de um projeto são o motivo básico de qualquer investimento efetuado por uma sociedade capitalista. Aquando a realização de um projeto é necessário clarificar economicamente diferentes panoramas em que coexistem investimentos pontuais com rendimentos periódicos, com o objetivo de avaliar a sua viabilidade. [6] Juro O juro pode ser definido como o valor pago pelo direito de usar o capital de outrem, ou como o valor a receber como compensação por cedência de capital pessoal para uso de outrem. O juro é normalmente calculado como uma percentagem desse mesmo capital. Existem dois tipos de designação para o juro, nomeadamente o juro simples e o juro composto. O juro simples resulta da adição de prestações periódicas calculadas como uma percentagem do capital cedido. Dado um capital inicial ! e uma taxa de juro ,o juro durante anos é dado por (1). [18] !"#$%&! = ! (1) Usualmente o juro devido é adicionado ao capital inicial, ou seja, o capital em dívida é incrementado, passando a contar para o cálculo do juro nos períodos que se seguem. Ao fim do primeiro ano, somase o juro vencido ao capital inicial, transformandose numa dívida também, sendo que nos anos que se seguem o processo é repetido. Um capital inicial ! em dívida, sujeito a um juro composto a uma taxa de juro , corresponde no ano a um capital ! calculado através de (2). ! = ! 1 + ! (2) De modo a avaliar a viabilidade económica de um projeto é necessário que os fluxos de caixa dos diferentes anos sejam representados num tempo de referência comum. A expressão (2) pode ser moldada, (3), de forma a permitir o cálculo da atualização de um capital considerando um ano . [6][18] ! = ! 1 + ! (3) Rendas Uma renda R é uma prestação periódica de valor constante, sendo que o seu pagamento ao longo de anos permite acumular capital. Basicamente, ao fim do primeiro ano recebese a renda , ao fim do segundo recebese a renda novamente e acumulamse juros da primeira, sendo o processo repetido nos anos seguintes. O capital ! acumulado no ano através do pagamento de uma renda é dado por (4). ! = 1 + ! 1 (4)

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Matemática  Financeira       Um  projeto  eólico  constitui  um  investimento  com  uma  duração  típica  de  20  a  30  anos,   sendo   que   no   decorrer   desses   anos   existem   fluxos   de   caixa   representativos   de  custos  e  benefícios  relacionados  com  o  projeto.     Os   benefícios   económicos   de   um   projeto   são   o   motivo   básico   de   qualquer  investimento   efetuado   por   uma   sociedade   capitalista.   Aquando   a   realização   de   um  projeto  é  necessário  clarificar  economicamente  diferentes  panoramas  em  que  coexistem  investimentos   pontuais   com   rendimentos   periódicos,   com   o   objetivo   de   avaliar   a   sua  viabilidade.[6]    

Juro         O   juro   pode   ser   definido   como   o   valor   pago   pelo   direito   de   usar   o   capital   de  outrem,  ou  como  o  valor  a  receber  como  compensação  por  cedência  de  capital  pessoal  para   uso   de   outrem.   O   juro   é   normalmente   calculado   como   uma   percentagem   desse  mesmo   capital.   Existem   dois   tipos   de   designação   para   o   juro,   nomeadamente   o   juro  simples  e  o  juro  composto.     O   juro   simples   resulta   da   adição   de  𝑛  prestações   periódicas   calculadas   como  uma  percentagem  do   capital   cedido.  Dado  um   capital   inicial  𝐶!  e   uma   taxa  de   juro  𝑖,   o  juro  𝐽  durante  𝑛  anos  é  dado  por  (1).[18]    

𝐽!"#$%&! = 𝑛 ∙ 𝑖 ∙ 𝐶!   (1)         Usualmente   o   juro   devido   é   adicionado   ao   capital   inicial,   ou   seja,   o   capital   em  dívida   é   incrementado,   passando   a   contar   para   o   cálculo   do   juro   nos   períodos   que   se  seguem.   Ao   fim   do   primeiro   ano,   soma-­‐se   o   juro   vencido   ao   capital   inicial,  transformando-­‐se  numa  dívida  também,  sendo  que  nos  anos  que  se  seguem  o  processo  é  repetido.  Um  capital  inicial  𝐶!  em  dívida,  sujeito  a  um  juro  composto  a  uma  taxa  de  juro  𝑖,  corresponde  no  ano  𝑛  a  um  capital  𝐶!  calculado  através  de  (2).    

𝐶! = 𝐶! ∙ 1 + 𝑖 !   (2)       De  modo   a   avaliar   a   viabilidade   económica  de  um  projeto   é   necessário   que  os  fluxos   de   caixa   dos   diferentes   anos   sejam   representados   num   tempo   de   referência  comum.   A   expressão   (2)   pode   ser   moldada,   (3),   de   forma   a   permitir   o   cálculo   da  atualização  de  um  capital  considerando  um  ano  𝑛.[6][18]    

𝐶! =𝐶!

1 + 𝑖 !   (3)  

 

Rendas         Uma   renda   R   é   uma   prestação   periódica   de   valor   constante,   sendo   que   o   seu  pagamento   ao   longo   de  𝑛  anos   permite   acumular   capital.   Basicamente,   ao   fim   do  primeiro  ano  recebe-­‐se  a  renda  𝑅,  ao  fim  do  segundo  recebe-­‐se  a  renda  𝑅  novamente  e  acumulam-­‐se  juros  da  primeira,  sendo  o  processo  repetido  nos  anos  seguintes.  O  capital  𝐶!  acumulado  no  ano  𝑛  através  do  pagamento  de  uma  renda  𝑅  é  dado  por  (4).    

𝐶! = 𝑅 ∙1 + 𝑖 ! − 1

𝑖   (4)  

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    Um  dos   estudos  de   interesse   consiste   em  averiguar  qual   o   capital   equivalente,  hoje,   de   uma   renda   a   receber   durante  𝑛  anos.   Tal   pode-­‐se   obter   conjugando   as  expressões   (2)   e   (4).   A   capitalização   de   uma   renda  𝑅  que   permite   converter   um  pagamento  periódico  num  capital  único,  hoje,  é  dada  por  (5).[6][18]    

𝐶! = 𝑅 ∙1 + 𝑖 ! − 1𝑖 ∙ 1 + 𝑖 !   (5)  

 

Taxas  nominais  e  reais         Um  parâmetro  de  grande  relevância  para  a  avaliação  dos  aspectos  económicos  de  um  investimento  é  a  inflação.  A  inflação  pode  ser  descrita  como  o  aumento  do  preço  de  serviços  e  bens  através  de  um  período  de  tempo,  sendo  que  reduz  o  valor  monetário.     Existe  um  valor  nominal  para  o  capital  e  um  valor  real  que  corresponde  ao  poder  de  aquisição  a  cada  instante.  Num  investimento  decorrente  no  tempo,  os  juros  são  pagos  a  uma  taxa  de  juro  nominal  𝑖,  mas  o  seu  valor  é  desvalorizado  a  uma  taxa  inflação  𝑟.  É,  no  entanto,  permitida  a  realização  de  cálculos  com  o  valor  real  do  capital  e  da   taxa  de  juro,  em  detrimento  dos  seus  valores  nominais,  assumindo  que  se  encontra  num  regime  sem  inflação.  A  taxa  de  juro  real  𝐼  é  dada  por  (6).[6][18]    

𝐼 =1 + 𝑖1 + 𝑟

− 1   (6)  

 

Avaliação  Económica       Existem   vários   métodos   para   a   avaliação   económica   da   viabilidade   de   um  investimento   num  projeto,   nomeadamente,   o  método   do   Valor   Atual   Líquido,   da   Taxa  Interna  de  Rentabilidade  e  o  Período  de  Recuperação  do  Investimento.  Para  a  utilização  destes   métodos   é   necessário   ter   em   conta   um   lote   de   fatores   principais   relativos   ao  investimento  a  realizar,  poupanças  geradas,  valor  residual  dos  equipamentos,  custos  de  manutenção  e  custo  de  oportunidade.[18]    

Valor  Atual  Líquido       O   método   do   Valor   Atual   Líquido,   VAL,   transporta   todos   os   fluxos   de   caixa  periódicos  para  a  presente  data.  Os  factores  necessários  para  o  cálculo  do  VAL,  dado  por  (7),  são  os  investimentos,  as  rendas  a  pagar  ou  a  receber  e  o  valor  residual.        

𝑉𝐴𝐿 =−𝐼𝑛𝑣𝑒𝑠𝑡𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜!

(1 + 𝑖)!

!

!!!

+𝐹𝐶!

(1 + 𝑖)!

!

!!!

+𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟  𝑅𝑒𝑠𝑖𝑑𝑢𝑎𝑙

(1 + 𝑖)!   (7)  

    Em  que  𝐹𝐶!  é  o  fluxo  de  caixa  no  instante  𝑘,  exibindo  sinal  negativo  ou  positivo  se  o  fluxo  de  caixa  corresponder  a  um  custo  ou  a  um  ganho  respectivamente.  O  fluxo  de  caixa  em  𝑘 = 0  corresponde  ao  investimento  inicial.     Obtendo   o   valor   de  VAL   analisa-­‐se   a   viabilidade   do   projeto.   Se   o   seu   valor   for  positivo,   então   o   projeto   é   economicamente   viável,   pois   permite   recuperar   o  investimento  realizado  na  sua  totalidade  e  ainda  gerar  benefícios  financeiros.  Se  o  VAL  for  negativo,  o  projeto  é  economicamente  inviável.  A  situação  limite  entre  os  dois  casos  anteriores   ocorre   quando   o   VAL   apresenta   um   valor   nulo,   sendo   que   neste   caso   é  

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recuperado  o  investimento  e  o  investidor  recebe  a  remuneração  exigida,  isto  é,  o  custo  de  oportunidade,  no  entanto,  não  apresenta  benefícios  financeiros.[18]    

Taxa  Interna  de  Rentabilidade       Para  a  resolução  do  método  da  Taxa  Interna  de  Rentabilidade,  TIR,  é  necessário  recorrer  a  um  algoritmo  iterativo,  que  tem  como  solução  a  taxa  de  juro  𝑖  que  equivale  à  remuneração  do  capital  obtido.  Para  tal  é  necessário  resolver  a  expressão  (7)  em  ordem  a  𝑖  e  com  um  VAL  nulo,  ou  seja,  calcula-­‐se  a  taxa  de  rentabilidade  que  ao  fim  de  𝑛  anos  corresponde  a  um  VAL  igual  a  zero.    

0 =−𝐼𝑛𝑣𝑒𝑠𝑡𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜!

(1 + 𝑖)!

!

!!!

+𝐹𝐶!

(1 + 𝑖)!

!

!!!

+𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟  𝑅𝑒𝑠𝑖𝑑𝑢𝑎𝑙

(1 + 𝑖)!   (8)  

      O  valor  obtido  através  de  (8)  permite  analisar  até  que  valores  da  taxa  se  poderá  obter  a  remuneração  do  capital  investido,  de  modo  a  tornar  o  projeto  economicamente  viável.   Se  o  valor   calculado  da   taxa   for   superior  ao  custo  de  oportunidade,  o  projeto  é  viável   sendo   que   quanto   maior   for   a   diferença   entre   a   taxa   calculada   e   o   custo   de  oportunidade,  maior  a  robustez  e  segurança  da  solução  face  aos  seus  riscos.[18]    

Período  de  Recuperação  de  Investimento       O   objetivo   do   método   do   Período   de   Recuperação   de   Investimento,   PRI,   é  calcular   o   número   de   anos   necessários   para   que   o   capital   inicial   investido   seja  recuperado   através   dos   fluxo   de   caixa   gerados.   Visa   responder   à   questão   de   quantos  anos  demoraria  o  projeto  a  pagar-­‐se  na  sua  totalidade  para  começar  a  gerar  benefícios  financeiros.   Logicamente   que   projetos   que   recuperam   o   seu   investimento   mais  rapidamente  são  economicamente  mais  atraentes.     O  PRI  pode  ser  calculado  de  duas  formas  distintas.  A  primeira,  matematicamente  exata,  consiste  em  reduzir  os  fluxos  de  caixa  a  uma  renda  equivalente,  e  verificar  qual  o  𝑛  que  faz  com  que  a  renda  equilibre  o  investimento  à  taxa  do  custo  de  oportunidade.  A  segunda,  matematicamente  inexata,  reparte  o  valor  capitalizado  dos  fluxos  de  caixa  pelo  numero  de  anos  do  projeto.  Tal  pode  ser  dado  pela  expressão  (9).    

𝑃𝑅𝐼 =

−𝐼𝑛𝑣𝑒𝑠𝑡𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜!(1 + 𝑖)!

!!!!

1𝑛 ∙

𝐹𝐶!(1 + 𝑖)!

!!!! + 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟  𝑅𝑒𝑠𝑖𝑑𝑢𝑎𝑙(1 + 𝑖)!

  (8)  

    Esta  metodologia  de  avaliação  económica  deve  ser  utilizada  como  um  índice  de  risco  e  não  como  uma  metodologia  de  comparação  de  projetos,  essencialmente  quando  os  projetos  alternativos  têm  períodos  de  vida  diferentes.[18]    

Custos  de  Investimento       Os   custos   iniciais   de   investimento   para   o   projeto   de   um   parque   eólico   estão  maioritariamente  associados  ao  custo  das  turbinas  eólicas  a   instalar.  Porém,  há  outros  custos  a  considerar,  nomeadamente  custos  de  terreno,  controlo,   infraestrutura  elétrica  para  integração  na  rede,  mão  de  obra,  custos  de  acessórios  se  estes  não  se  encontrarem  

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disponíveis  com  a  turbina  eólica,  entre  outros.  Na  Figura  1  encontram-­‐se  discriminados  os   vários   custos   que   constituem   o   custo   inicial   de   investimento   para   um   projeto   de  energia  eólica.[6]    

 Figura  1  –  Custos  iniciais  de  investimento  para  um  projeto  de  energia  eólica  

    O   custo   de   investimento  médio   numa   turbina   eólica,   entre   os   anos   de   2000   e  2002,  rondava  o  valor  de  $700/𝑘𝑊,  porém,  no  ano  2009,  o  preço  médio  de  uma  turbina  eólica   atingia   valores   superiores   a  $1500/𝑘𝑊 .   Desde   então,   apesar   dos   avanços  tecnológicos   ao   longo   do   tempo   e   da   contínua   melhoria   das   turbinas,   o   preço   médio  destas  tem  vindo  a  decrescer.  Atualmente  o  preço  das  turbinas  situa-­‐se  no  intervalo  de  $950/𝑘𝑊  a  $1300/𝑘𝑊.       O  custo  médio  da  instalação  de  um  parque  eólico  rondou  o  valor  de  $1940/𝑘𝑊  no  ano  de  2012.  Na  Figura  2  podem-­‐se  observar  os  custos  de  investimento  individuais  para   um   total   de  118  projetos   de   parques   eólicos   instalados   no   mesmo   ano.   Pode-­‐se  ainda  verificar  a  média  dos  custos  de  investimento,  organizada  por  capacidade  a  instalar  no  parque.[17]    

 Figura  2  –  Custos  iniciais  de  investimento  para  uma  amostra  de  parques  eólicos  instalados  em  2012  

     

69%  

9%  

2%  11%  

7%  

2%  

Turbina  Eólica  

Infraestrutura  Elétrica  

Instalação  

Mão  de  obra  

Integração  na  rede  

Outros  

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Custos  de  Operação  e  Manutenção       Nas   centrais   elétricas   convencionais,   a  maior  porção  dos   custos  de   operação   e  manutenção   ocorre   devido   a   encargos   com   combustível   e   lubrificação.   Nas   centrais  eólicas   o   combustível   é   gratuito,   contudo   as   turbinas   eólicas   requerem   a   devida  manutenção   de   modo   a   operarem   sem   qualquer   inconveniente.[6]   Existem   ainda  relatórios  que  incluem  nos  custos  de  operação  e  manutenção,  custos  de  salários,  rendas  e  materiais  associados  à  operação  e  manutenção  da  instalação.[17]     Os  custos  de  operação  e  de  manutenção  de  um  parque  eólico  representam  uma  porção   significativa   dos   custos   totais   do   projeto   em   questão,   e   podem   variar  substancialmente   de   projeto   para   projeto.   Recentes   análises   indicam   que   um   dos  principais  desafios  da  industria  de  energia  eólica  ocorre  devido  a  ações  de  manutenção  não  programadas  e  a  saídas  de  serviço  de  componentes.     Apesar  da  sua  relevância,  torna-­‐se  difícil  obter  dados  de  mercado  disponíveis  no  domínio   público   sobre   este   tipo   de   custos   em   projetos   reais.   Quando   os   dados   estão  disponíveis   é   necessário   cautela   na   sua   análise,   dadas   as   mudanças   na   tecnologia   de  turbinas  eólicas  que  ocorreram  nos  últimos  tempos.     Na  Figura  3  verificam-­‐se  os  custos  de  operação  e  manutenção  de  uma  amostra  de  projetos  eólicos,  por  data  de  operação.    

 Figura  3  –  Custo  médio  de  operação  e  manutenção,  por  data  de  operação  

    Como   referido   anteriormente,   através   dos   dados   expostos,   verifica-­‐se   que   os  custos  de  operação  e  manutenção  de  um  parque  eólico  não   são   constantes.  É  possível  concluir   que   o   custo   médio   de   operação   e   manutenção   tem   decrescido   ao   longo   dos  anos.  Tal  facto  deve-­‐se  à  redução  de  custos  de  operação  e  manutenção  em  projetos  mais  sofisticados,   recentemente   instalados,   apesar   de   estes   custos   serem   também  influenciados  pelo  aumento  da  idade  das  turbinas  eólicas,  falhas  de  componentes  que  se  vão  tornando  mais  comuns  e  ainda  garantias  que  vão  expirando.     Em   2012,   a   EDPR   teve   custos   devido   a   operação   e  manutenção   na   ordem  dos  $23,9/𝑀𝑊ℎ  nos   EUA.   Estes   custos   encontram-­‐se   divididos   em   três   categorias,  nomeadamente,  fornecimento  e  serviços,  $15,1/𝑀𝑊ℎ,  custos  com  pessoal,  $3,8/𝑀𝑊ℎ,  e  outros  custos  operacionais,  $5,1/𝑀𝑊ℎ.  Este  exemplo  serve  para  demonstrar  uma  ideia  geral   sobre   os   encargos   que   um   investidor   tem   com   a   operação   e  manutenção   de   um  parque   eólico,   no   entanto,   os   encargos   relatados   nem   sempre   são   idênticos   em  diferentes  projetos,  e  daí  alguma  disparidade  no  valor  dos  custos.     Numa  análise  mais  recente  feita  pela  NREL,  baseada  em  dados  de  DNV  KEMA  em  projetos   comissionados   antes   do   ano  de   2009,  mostra   que   os   encargos   de   operação   e  manutenção  se  encontram  entre  $40  a  $60  por  kilowatts-­‐ano,  dependendo  da  idade  do  projeto.[17]  

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Remuneração  para  Centrais  Renováveis       As   instalações   licenciadas   designadas   por   centrais   renováveis   serão  remuneradas  pelo  funcionamento  da  eletricidade  entregue  à  rede  através  da  expressão  que  se  segue.    

𝑉𝑅𝐷! = 𝐾𝑀𝐻𝑂! ∙ 𝑃𝐹(𝑉𝑅𝐷)! + 𝑃𝑉(𝑉𝑅𝐷)! + 𝑃𝐴(𝑉𝑅𝐷)! ∙ 𝑍 ∙𝐼𝑃𝐶!!!𝐼𝑃𝐶!"#

∙1

(1 − 𝐿𝐸𝑉)  

      Onde:  

• 𝑉𝑅𝐷! ,  é  a  remuneração  aplicável  a  centrais  renováveis,  no  mês  𝑚;  • 𝐾𝑀𝐻𝑂! ,   é   um   coeficiente   que   modula   os   valores   de  𝑃𝐹(𝑉𝑅𝐷)! ,   de  

𝑃𝑉(𝑉𝑅𝐷)!  e   de  𝑃𝐴(𝑉𝑅𝐷)!  em   função   do   posto   horário   em   que   a  eletricidade  tenha  sido  fornecida;  

• 𝑃𝐹(𝑉𝑅𝐷)! ,   é   a   parcela   fixa   da   remuneração   aplicável   a   centrais  renováveis,  no  mês  𝑚;  

• 𝑃𝑉(𝑉𝑅𝐷)! ,   é   a   parcela   variável   da   remuneração   aplicável   a   centrais  renováveis,  no  mês  𝑚;  

• 𝑃𝐴(𝑉𝑅𝐷)! ,   é   a   parcela   ambiental   da   remuneração   aplicável   a   centrais  renováveis,  no  mês  𝑚;  

• 𝐼𝑃𝐶!!! ,   é   o   índice   de   preços   do   consumidor,   sem   habitação,   no  continente,  referente  ao  mês  𝑚 − 1;  

• 𝑍,  é  o  coeficiente  adimensional  que  traduz  as  características  especificas  do  recurso  endógeno  e  da  tecnologia  utilizada  na  instalação  licenciada;  

• 𝐼𝑃𝐶!"# ,   é   o   índice   de   preços   no   consumidor,   sem   habitação,   no  continente,   referente   ao  mês   anterior   ao   do   início   do   fornecimento   de  eletricidade  à  rede  pela  central  renovável;  

• 𝐿𝐸𝑉,   representa   as   perdas,   nas   redes   de   transporte   e   de   distribuição,  evitadas  pela  central  renovável.  

    O  coeficiente  𝑍,    aplicável  a  centrais  eólicas,  assume  o  valor  de  4,6.  O  parâmetro  𝐿𝐸𝑉  assume   os   valores   de  0,015,   no   caso   de   centrais   com   potência   maior   ou   igual   a  5  𝑀𝑊,  ou  de  0,035,  no  caso  de  centrais  com  potência  menor  que  5  𝑀𝑊.[16]     Por   cada   aumento   de   1%   da   capacidade   instalada   em   relação   à   potência   de  injeção   na   rede,   a   tarifa   aplicável   às   centrais   renováveis   sofrerá   um   desconto   de  0,12%.[12]    

Coeficiente  de  modulação  em  função  do  posto  horário  de  fornecimento       As   centrais   eólicas   deverão   decidir   no   ato   do   licenciamento,   se   optam   ou   não  pela  modulação  tarifária  traduzida  pelo  coeficiente  𝐾𝑀𝐻𝑂! .  Para  as  centrais  eólicas  que  não  optarem  pela  modulação  tarifária  traduzida  pelo  coeficiente  𝐾𝑀𝐻𝑂! ,  este  assumirá  o  valor  1.  Para  as  centrais  eólicas  que  optarem  por  este  tipo  de  modulação,  o  coeficiente  𝐾𝑀𝐻𝑂!  assumirá  o  valor  calculado  através  da  expressão  que  se  segue.    

𝐾𝑀𝐻𝑂! =𝐾𝑀𝐻𝑂!" ∙ 𝐸𝐶𝑅!",! ∙ 𝐾𝑀𝐻𝑂! ∙ 𝐸𝐶𝑅!,!

𝐸𝐶𝑅!  

             

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  Onde:  • 𝐾𝑀𝐻𝑂!" ,   é   um   fator   que   representa   a   modulação   correspondente   a  

horas   cheias   e   de   ponta,   o   qual,   toma   o   valor   de  1,25  para   as   centrais  eólicas;  

• 𝐸𝐶𝑅!",! ,   é   a   eletricidade   produzida   pela   central   renovável   nas   horas  cheias  e  de  ponta  do  mês  𝑚,  expressa  em  kilowatts-­‐hora;  

• 𝐾𝑀𝐻𝑂! ,  é  um  fator  que  representa  a  modulação  correspondente  a  horas  de  vazio,  o  qual,  toma  valor  de  0,65  para  as  centrais  eólicas;  

• 𝐸𝐶𝑅!,! ,   é   a   eletricidade  produzida  pela   central   renovável  nas  horas  de  vazio  do  mês  𝑚,  expressa  em  kilowatts-­‐hora;  

• 𝐸𝐶𝑅! ,   é   a   eletricidade   produzida   pela   central   renovável   no   mês  𝑚 ,  expressa  em  kilowatts-­‐hora.  

    Considera-­‐se  que  no  período  de  hora  legal  de  Inverno,  as  horas  vazias  ocorrem  entre   as  0  e   as  8  e   entre   as  22  e   as  24  horas,   sendo   as   restantes   horas   do   dia  consideradas   cheias   e   de   ponta.   No   período   de   hora   legal   de   Verão,   as   horas   vazias  ocorrem   entre   as  0  e   as  9  e   entre   as  23  e   as  24  horas,   sendo   as   restantes   horas   do   dia  consideradas  horas  cheias  e  de  ponta.[16]    

Parcela  Fixa    

𝑃𝐹(𝑉𝑅𝐷)! = 𝑃𝐹(𝑈)!"# ∙ 𝐶𝑂𝐸𝐹!"#,! ∙ 𝑃𝑂𝑇!"#,!       Onde:  

• 𝑃𝐹(𝑈)!"# ,   é   o   valor   unitário   de   referência   para   𝑃𝐹(𝑉𝑅𝐷)! ,   que  corresponde   à   mensualização   do   custo   unitário   de   investimento   nos  novos   meios   de   produção   cuja   construção   é   evitada   por   uma   central  renovável  que  assegure  o  mesmo  nível  de  garantia  de  potência  que  seria  proporcionado   por   esses   novos  meios   de   produção.   Assume   o   valor   de  5,44€  por  kilowatts-­‐hora  por  mês;  

• 𝐶𝑂𝐸𝐹!"#,! ,   é  um  coeficiente  adimensional  que   traduz  a   contribuição  da  central  renovável,  no  mês  𝑚,  para  a  garantia  de  potência  proporcionada  pela  rede  pública;  

• 𝑃𝑂𝑇!"#,! ,  é   a   potência   média   disponibilizada   pela   central   renovável   à  rede  publica  no  mês  𝑚,  expressa  em  kilowatts.  

 

𝐶𝑂𝐸𝐹!"#,! =𝐸𝐶𝑅!

576 ∙ 𝑃𝑂𝑇!"#  

    Onde:  

• 𝑃𝑂𝑇!"# ,   é   a   potência   da   central,   declarada   pelo   produtor   no   ato   de  licenciamento,  expressa  em  kilowatts-­‐hora.  

 

𝑃𝑂𝑇!"#,! = 𝑚𝑖𝑛   𝑃𝑂𝑇!"#;𝐸𝐶𝑅!

24 ∙ 𝑁𝐷𝑀!  

    Onde:  

• 𝑁𝐷𝑀! ,  é  o  número  de  dias  do  mês  𝑚,  o  qual,  toma  o  valor  30.[16]    

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Parcela  Variável    

𝑃𝑉(𝑉𝑅𝐷)! = 𝑃𝑉(𝑈)!"# ∙ 𝐸𝐶𝑅!     Onde:  

• 𝑃𝑉(𝑈)!"# ,   é   o   valor   unitário   de   referência   para   𝑃𝑉(𝑉𝑅𝐷)! ,   que  corresponde   ao   custos   de   operação   e   manutenção   que   seriam  necessários  à  exploração  dos  novos  meios  de  produção  cuja  construção  é  evitada  pela  central   renovável.  Assume  o  valor  de  0,036€  por  kilowatts-­‐hora.[16]  

 

Parcela  Ambiental    

𝑃𝐴(𝑉𝑅𝐷)! = 𝐸𝐶𝐸(𝑈)!"# ∙ 𝐶𝐶𝑅!"# ∙ 𝐸𝐶𝑅!       Onde:  

• 𝐸𝐶𝐸(𝑈)!"# ,  é  o  valor  unitário  de  referência  para  as  emissões  de  dióxido  de   carbono   evitadas   pela   central   renovável.   Assume   o   valor   de  2 ∙10!!  €/𝑔;  

• 𝐶𝐶𝑅!"# ,   é   o  montante   unitário   das   emissões   de   dióxido   de   carbono   da  central  de  referência.  Assume  o  valor  de  370  𝑔  por  kilowatts-­‐hora.[16]  

   

   

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Referências    [6]   Sathyajith,   Mathew.  Wind   Energy:   Fundamentals   Resource   Analysis   and   Economics.  Springer,  2006;  [12]  Decreto-­‐Lei  n.º  51/2010,  de  20  de  Maio;  [16]  Decreto-­‐Lei  n.º  225/2007,    de  31  de  Maio;  [17]  Wiser,  R.  H.,  Bolinger,  M.  2012  Wind  Technologies  Market  Report.  U.  S.  Department  of  Energy,  Energy  Efficiency  &  Renewable  Energy,  2013;  [18]  Miranda,  Vladimiro.  (2006).  Tópicos  de  Matemática  Financeira  –  para  Aplicação  em  Gestão  de  Energia.  Apontamentos  da  cadeira  de  GENE  –  FEUP.