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UNIVERSIDADE TECNOLGICA FEDERAL DO PARAN PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM TECNOLOGIA

GRAU DE INOVATIVIDADE DE PRODUTOS INDICADORES PARA A AVALIAO SOB A TICA DA EMPRESA

PAULO ALBERTO BASTOS JUNIOR

Dissertao apresentada como requisito parcial para a obteno do grau de Mestre em Tecnologia. Programa de Ps-Graduao em Tecnologia, Universidade Tecnolgica Federal do Paran. Orientador: Prof. Dr. Hlio Gomes de Carvalho

CURITIBA 2007

PAULO ALBERTO BASTOS JUNIOR

GRAU DE INOVATIVIDADE DE PRODUTOS INDICADORES PARA A AVALIAO SOB A TICA DA EMPRESA

Dissertao apresentada como requisito parcial para a obteno do grau de Mestre em Tecnologia. Programa de Ps-Graduao em Tecnologia, Universidade Tecnolgica Federal do Paran. Orientador: Prof. Dr. Hlio Gomes de Carvalho

CURITIBA 2007

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Dedico este trabalho ao meu pai, que em presena me inspirou e na ausncia me fortaleceu.

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AGRADECIMENTOS

Quero fazer destes agradecimentos um singelo tributo, nunca feito antes, provavelmente por descuido, s pessoas que so mais importantes na minha vida: aos membros da minha famlia. Agradeo entusiasticamente a Deise minha esposa pelos constantes puxes de orelha, que na verdade foram empurres que me levaram adiante. Aos meus filhos eu agradeo pois, seus rostos que fito todo dia foram a perspectiva de futuro presente nesta tarefa e nunca me deixaram esquecer da importncia de realiz-la. Aos meus pais. Aqui justificativas no so necessrias, j que, mesmo se nada mais me proporcionassem, me deram a vida e com ela todas s suas possibilidades. De modo muitssimo especial agradeo ao meu orientador, agora de pblico, pela sua pacincia, pelos seus incansveis incentivos e principalmente pelo modelo de profissional e mestre que sempre demonstrou ser, um referencial em que vale a pena se espelhar. Agradeo a todos da equipe do projeto GEM Brasil (Global Entrepreneurship Monitor) do IBQP, por terem sido amigos fiis e compreensivos durante toda esta jornada. Meu muito obrigado muito carinhoso tambm se encaminha a todas aquelas pessoas (e organizaes), que mesmo sem qualquer vnculo pessoal anterior se dispuseram a me auxiliar para realizao desta tarefa, aqui destaco o imprescindvel apoio recebido da Associao Brasileira da Indstria Eltrica e Eletrnica ABINEE, regional Paran, na figura de seu Gerente Regional, o Senhor Dilney Bilbao.

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SUMRIO LISTA DE FIGURAS ................................................................................................. vi LISTA DE TABELAS ............................................................................................... vii LISTA DE QUADROS ............................................................................................. viii RESUMO .................................................................................................................. ix ABSTRACT .... x 1. INTRODUO. .................................................................................................. 11 1.1 JUSTIFICATIVA........................................................................................................12 1.2 PROBLEMA DE PESQUISA.....................................................................................13 1.3 OBJETIVOS DA PESQUISA ....................................................................................14 1.4 DELIMITAO DO PROBLEMA...............................................................................14 2. A GESTO DA INOVAO TECNOLGICA................................................... 16 2.1 A INOVAO TECNOLGICA.................................................................................16 2.2 INOVAES DE PRODUTO....................................................................................23 2.3 PANORAMA DA INOVAO NA INDSTRIA BRASILEIRA...............................25 2.4 CONSIDERAES FINAIS DO CAPTULO........................................................29 3. A FUNO DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS NAS EMPRESAS........... 31 3.1 PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE NOVOS PRODUTOS.....................34 3.1.1 Deciso Organizacional.........................................................................................35 3.1.2. A Deciso no Desenvolvimento de Novos Produtos........................................36 3. 2 CONSIDERAES FINAIS DO CAPTULO..........................................................40 4. A INOVATIVIDADE DE PRODUTO................................................................... 41 5. METODOLOGIA ................................................................................................ 47 5.1 MODELO METODOLGICO E OBJETIVOS DA PESQUISA..............................48 6. APRESENTAO E DISCUSSO DE RESULTADOS ................................... 57 6.1 RESULTADO DA PRIMEIRA ETAPA DA PESQUISA...........................................57 6.2 RESULTADO DA SEGUNDA ETAPA DA PESQUISA.......................................58 6.3 RESULTADO DA TERCEIRA ETAPA DA PESQUISA......................................61 6.4 RESULTADO DA QUARTA ETAPA DA PESQUISA..........................................62 6.5 RESULTADO DA QUINTA ETAPA DA PESQUISA...............................................64 7. CONSIDERAES FINAIS............................................................................... 68 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ........................................................................ 71 APNDICE A - TERMO PARA SOLICITAO DE APOIO PESQUISA ABINEE ................................................................................................................................. 75 APNDICE B - INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS..................................... 78 APNDICE C - FLUXOGRAMA SIMPLIFICADO DO PROCESSO DE AVALIAO DO GRAU DE INOVATIVIDADE DE PRODUTOS................................................... 80v

LISTA DE FIGURASFIGURA 01 FUNIL DE DESENVOLVIMENTO ...................................................... 37 FIGURA 02 FLUXO DE ATIVIDADES PROPOSTO NO MODELO METODOLGICO DA PESQUISA.................................................................... 50 FIGURA 03 - INSTRUMENTO DE AVALIAO DA INOVATIVIDADE DE NOVOS PRODUTOS, NA PERSPECTIVA DA EMPRESA............................................. 62 FIGURA 04 - TELA INICIAL DA FERRAMENTA...................................................... 65 FIGURA 05 - TELA PARA REDISTRIBUIO DOS PESOS RELATIVOS A CADA UM DOS FATORES DE INOVATIVIDADE........................................................ 65 FIGURA 06 - TELA DE AVALIAO DOS FATORES DE INOVATIVIDADE DOS PRODUTOS ...................................................................................................... 66 FIGURA 07 - TELA DE RESUMO GERAL DO PROCESSO DE AVALIAO DA INOVATIVIDADE DOS PRODUTOS................................................................. 67 FIGURA 08 - TELA DE GRFICOS ......................................................................... 67

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LISTA DE TABELASTABELA 01 - PARTICIPAO PERCENTUAL DO NMERO DE EMPRESAS QUE IMPLEMENTARAM INOVAES NA INDSTRIA BRASIL (1998-2000, 2001-2003, 2003-2005) ..................................................................................... 27 TABELA 02 - ESTRATGIA COMPETITIVA DAS FIRMAS NA INDUSTRIA BRASILEIRA 2000 ......................................................................................... 29

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LISTA DE QUADROSQUADRO 01 - AS FASES DO FUNIL DE DESENVOLVIMENTO (McGRATH) ....... 39 QUADRO 02 - TIPOLOGIA DE NOVOS PRODUTOS DE BOOZ, ALLEN E HAMILTON........................................................................................................ 43 QUADRO 03 - DIMENSES DA INOVATIVIDADE DE PRODUTOS NA PERSPECTIVA DA EMPRESA ......................................................................... 46 QUADRO 04 - PARMETROS PARA DETERMINAO DO GRAU DE INOVATIVIDADE DE PRODUTOS.................................................................... 55 QUADRO 05 - FATORES DE INOVATIVIDADE (1 FASE) ..................................... 57 QUADRO 06 - PERCEPO QUANTO IMPORTNCIA DO ATRIBUTO INOVAO DE PRODUTOS ............................................................................ 59 QUADRO 07 - RELEVNCIA DOS FATORES DE INOVATIVIDADE ...................... 60 QUADRO 08 - RESULTADOS DO PROCESSO DE VALIDAO DO INSTRUMENTO DE AVALIAO DA INOVATIVIDADE DE NOVOS PRODUTOS ...................................................................................................... 63

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RESUMOO objetivo desta pesquisa foi desenvolver um conjunto de indicadores de avaliao do grau de inovao de produtos com o qual fosse possvel estabelecer anlises comparativas. Foram identificadas, inicialmente, variveis (tecnolgicas e mercadolgicas) relevantes para a composio de um conjunto de indicadores do grau de inovatividade de produtos. Nesta fase foi realizada pesquisa exploratria por meio de (a) levantamento bibliogrfico; (b) entrevistas semi-estruturadas com profissionais de P&D de 12 empresas do setor eletro-eletrnico amostradas intencionalmente. Em seguida, foi elaborado um Mapa de Avaliao da Inovatividade de Produtos baseado em levantamento bibliogrfico e em entrevistas com profissionais de P&D e MKT. Esse Mapa possui indicadores pr-estabelecidos e pesos para avaliao do grau de inovatividade de produtos. Foi realizada uma validao do mesmo, a partir de entrevistas com alguns dos entrevistados da fase anterior e que avaliaram o grau de inovatividade dos produtos de suas empresas comparando-os com produtos de concorrentes de modo a verificar a adequao do modelo e propor ajustes no mesmo. Por fim, foi desenvolvida uma ferramenta (planilha em Excel) automatizada para realizao de avaliaes de inovatividade de produtos.

Palavras-chave: Gesto de tecnologia e inovao; Ferramentas de apoio gesto da inovao; Desenvolvimento de Novos Produtos

reas de conhecimento: Desenvolvimento de Produto; Tecnologia

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ABSTRACTThe objective of this research was to develop a group of indicators for evaluation of the degree of innovativeness of products, with which was possible to establish comparative analyses. Initially, the variables (technological and of market) relevant for the composition of a group of indicators of the "degree of product innovativeness" were identified. In this phase, exploratory research was accomplished through (a) bibliographical survey; (b) semi-structured interviews with professionals of R&D of 12 electroelectronic companies intentionally sampled. Next, a Map of Evaluation of Product Innovativeness was elaborated based on bibliographical survey and on interviews with professionals of R&D and MKT. That Map shows pre-established indicators and weights for evaluation of the "degree of product innovativeness". A validation was accomplished, starting from interviews with some of the interviewees of the previous phase, who evaluated the degree of innovativeness of the products of their companies, comparing them with products of concurrent companies to verify the model adequacy and to propose adjustments. Finally, an automated tool (Excel spreadsheet) was developed to evaluate the innovativeness of products. Key-word: Technology and innovation management; Support tools to the innovation management; New Products Development Knowledge areas: Product Development; Technology

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1. INTRODUO A literatura sobre tecnologia, economia e gesto empresarial tm

demonstrado por meio de diversos estudos que o tema da inovao tecnolgica cumpre papel preponderante no cenrio da competitividade organizacional e das naes. No Brasil, um estudo publicado pelo Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (IPEA), pode ser considerado emblemtico neste contexto. O IPEA valendo-se de dados coletados pela PINTEC Pesquisa de Inovao Tecnolgica Industrial do IBGE trs ao lume em toda sua amplitude, fatos que j se conhecia, ou por exemplos restritos localizados setorialmente ou por senso comum propagado por gurus da administrao ou pela mdia de modo especial. A inovao tecnolgica concretamente uma rota pela qual as organizaes alcanam posio de destaque no comrcio internacional, os pases conseguem gerar

desenvolvimento econmico (De Negri, Salerno e Castro, 2005). Em sntese, inovar faz bem no sentido restrito (empresa) e geral (regies e pases), a histria e estudos nos demonstram isso, entretanto sensvel que o contedo intrnseco das inovaes e de que forma avali-las no tem merecido o mesmo destaque. Inmeras definies tm sido propostas, vrios so os focos (mundo, pas ou firma) onde a inovao pode ser considerada, diversos so os Prmios distribudos pelo mundo afora a fim de prestigiar empresas e produtos inovadores, inmeras so as abordagens em torno do processo de desenvolvimento de novos produtos, porm, quais so os fatores que permitem comparar se um novo produto mais ou menos inovador que um outro? A pesquisa realizada teve nesta questo o seu maior desafio. sabido que responder a pergunta Qual produto mais inovador, A ou B? no uma tarefa comezinha, e qualquer tentativa de soluo a este problema tem limitaes inerentes prpria natureza dos produtos envolvidos. Assim sendo, em ltima anlise, a relevncia cientfica e social da pesquisa a possibilidade concreta de apresentar um conjunto mnimo de critrios, objetivamente definidos, para mensurar o grau de inovatividade de produtos, o que por sua vez pode se constituir como um elemento orientador do processo de gesto do desenvolvimento de novos produtos em empresas de base tecnolgica.

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As empresas, sobretudo as de base tecnolgica, estruturam suas reas de Desenvolvimento de Novos Produtos baseadas em objetivos comerciais a serem atendidos, avaliaes do ambiente tecnolgico nos quais se inserem e capacidades acumuladas da organizao. Entretanto, mesmo considerando que o grau de inovatividade de produto possa ser um aspecto relevante para o sucesso comercial do produto, percebe-se que tal aspecto tem sido negligenciado. 1.1 JUSTIFICATIVA A presente pesquisa apresenta dois ncleos argumentativos que a justificam: o primeiro refere-se a fatores internos s organizaes, em especial ao processo de gesto estratgica das empresas; o segundo tem foco no ambiente externo das empresas. Para agentes externos organizao, como clientes, rgos financiadores e entidades promotoras da inovao tecnolgica, critrios objetivos que avaliem o grau de inovatividade de produtos se constitui em ferramenta til para subsidiar tambm processos decisrios relativos a compras tcnicas, concesso de crditos e atribuio de premiaes no mbito do estmulo ao desenvolvimento tecnolgico das empresas nacionais. Entretanto, mesmo considerando a relevncia acima descrita, o estudo em questo enfatizar, integralmente, aspectos contributivos da avaliao do grau de inovatividade de produtos na seara especfica de cada organizao, de modo particular no que tange aos seus processos internos de desenvolvimento de novos produtos. Para uma empresa que conscientemente formula suas estratgias

contemplando a diferenciao de produtos, conhecer um conjunto de indicadores que permita avaliar o grau de inovatividade de produtos importante, pois estabelece um referencial comparativo cujo resultado pode orientar os tomadores de decises da empresa no sentido de minimizar riscos envolvidos, que so inerentes ao processo de desenvolvimento e lanamento de novos produtos. Pesquisas tm revelado (Kleinschimidt e Cooper, 1991 e Dannels e Kleinschimidt, 2001), que a inovatividade de produtos no um fator que por si s garante o sucesso de um novo lanamento. H que se conhecer a estratgia de portfolio de produto utilizada pela empresa e o grau de inovatidade de produtos historicamente por ela desenvolvidos.

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Ou seja, se uma empresa que parte de produtos no inovadores em que mudanas institudas so simplesmente revises de verses anteriores ou alteraes visando reduo de custo em direo a novos itens e linhas de produto, com fortes caractersticas de inovatividade, a taxa de sucesso decai, evidenciando que nesta situao que o aumento da inovatividade produz resultados negativos, conforme resultados e anlises de Kleinschimidt e Cooper (1991, p.50). Por outro lado, tomando como base a mesma referncia, se uma empresa se move a partir de uma situao de produtos com inovatividade moderada para o desenvolvimento de linhas de produtos efetivamente novas, inclusive para o mundo, a sim a performance mercadolgica do produto evolui. Ento, neste caso, o incremento no grau de inovatividade de produtos um aspecto contributivo para o sucesso dos produtos. O que se quer demonstrar com a pesquisa mencionada a importncia de se reconhecer o atributo inovatividade de produto quando se est envolvido em atividades e processos decisrios relacionados ao desenvolvimento de produto. Principalmente quando as decises a serem tomadas so aquelas efetuadas nas fases iniciais dos projetos que determinam pela escolha entre alternativas e se investimentos sero ou no realizados. 1.2 PROBLEMA DE PESQUISA As empresas, de um modo geral no possuem um conjunto de critrios que permita realizar avaliaes comparativas de produtos, quanto ao seu grau de inovatividade. Assim sendo, tem-se o seguinte problema de pesquisa: Qual o melhor conjunto de critrios para estabelecer o grau de inovatividade entre produtos considerando a perspectiva da empresa? A inovatividade de produtos, no contexto desta dissertao, investigada a partir aspectos mercadolgicos (ambiente de negcios no qual o novo produto estar inserido), tecnolgicos (condies em que o novo produto desenvolvido e produzido na empresa) e de performance (resultados obtidos pela empresa a partir do novo produto lanado no mercado). Cabe ainda frisar, que o presente trabalho tem como premissa a avaliao da inovatividade de produtos, na tica da empresa que o desenvolve, no ser tratado aqui de forma aprofundada elementos que

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caracterizem o contedo inovador de um produto a partir da percepo do consumidor ou do mercado. 1.3 OBJETIVOS DA PESQUISA Diante do que foi exposto, considerando a importncia que a avaliao do grau de inovatividade de produtos apresenta para minimizar os riscos assumidos no processo de desenvolvimento de novos produtos, tem-se que o objetivo Geral da pesquisa : Desenvolver um conjunto de indicadores de avaliao do grau de inovatividade de produtos com o qual seja possvel estabelecer anlises comparativas internamente nas empresas, em seus processos de

desenvolvimento de novos produtos. A partir do desdobramento do Objetivo Geral, os seguintes Objetivos Especficos foram propostos (os procedimentos realizados para a consecuo de cada um deles, sero descritos adiante, no captulo referente metodologia da pesquisa): A. Identificar variveis (tecnolgicas e mercadolgicas) relevantes para a composio de um conjunto de indicadores do grau de inovatividade de produtos. B. Elaborar um Instrumento de avaliao da inovatividade de novos produtos. C. Validar o Instrumento de avaliao da inovatividade de produtos. D. Desenvolver uma ferramenta (planilha) automatizada para realizao de avaliaes de inovatividade de produtos. 1.4 DELIMITAO DO PROBLEMA O problema em questo foi tratado no mbito de organizaes Filiadas Associao Brasileira da Indstria Eltrica e Eletrnica ABINEE, regional Paran e que possuam reas de P&D formalmente estruturadas. O termo para a solicitao de apoio pode ser observado no Apndice 01.

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Das 18 empresas filiadas a ABINEE PR, situadas Regio Metropolitana de Curitiba, 15 tinham reas de desenvolvimento de produtos. Profissionais de todas as 15 empresas receberam a solicitao para participao na pesquisa, no entanto, foi possvel realizar 13 entrevistas com pessoas de 12 organizaes distintas (em uma das empresas duas pessoas foram entrevistadas). pertinente sublinhar desde j que os resultados alcanados nesta pesquisa so vlidos e representam o grupo amostral utilizado na pesquisa, ou seja, profissionais envolvidos com atividades de desenvolvimento de novos produtos de empresas do setor eletro-eletrnico filiadas associao que prestou apoio ao estudo, dito de outra forma, por demais plausvel admitir que os resultados obtidos seriam diferentes caso empresas de outros setores da economia fossem escolhidas. Ou porventura, profissionais de filiao funcional distintas daquela citada e considerada na pesquisa.

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2. A GESTO DA INOVAO TECNOLGICA Neste captulo sero tratados de forma breve, alguns conceitos relativos a inovao, e sobretudo, a inovao tecnolgica e de produtos. Ser discutido tambm o significado da inovao de produtos como o principal motor de ampliao da competitividade das organizaes de maneira sustentvel. Por fim ser abordado o panorama da inovao tecnolgica no Brasil e a importncia da estratgia de diferenciao de produtos para o crescimento das empresas, e por que no dizer, para o desenvolvimento econmico e social do Pas. 2.1 A INOVAO TECNOLGICA De acordo com Furtado (2007), apropriando-se de idia expressa de Shumpeter (1939), a inovao muito mais do que inveno, a inovao no relaciona-se apenas com a criao de capacidades tcnicas ou a aplicao prtica de conhecimentos cientficos, para o autor a inovao est em outro plano e possui requisitos adicionais. A inveno est para a curiosidade e a engenhosidade como a inovao est para a determinao e o pragmatismo. Segundo Holanda (1992), citado por Reis (2004), para que um produto inventado passe a ser uma inovao, premente que o mesmo seja colocado no mercado e principalmente usado (adquirido) por ele. A criatividade de um invento no garante o seu xito comercial, necessrio que se crie e desfrute de oportunidades de mercado. O que diferencia uma inveno de uma inovao que esta ltima de interesse comercial, ou seja, existe demanda para a inveno. Ento, a inovao pode ocorrer no produto, no servio e/ou no processo, podendo acontecer tanto nas reas tcnica como na administrativa e requer estudo em conjunto dessas duas reas para que o processo no seja fragmentado (Van de Vem, 1986). Pode-se ainda compreender a inovao como um processo de experimento, descoberta, desenvolvimento, imitao, como tambm de adaptao de bens e processos operacionais e/ou administrativos (Dosi, 1988). E, para constituir uma inovao, a idia precisa ser testada, reforada, modificada e complementada com conhecimentos novos ou os j existentes, conforme a situao, do contrrio ser

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apenas uma idia ou inveno (Hargadon e Sutton, 2000; Swaminathan, Tayur e Thomke, 1998). Como um processo, ela constituda de diversas fases, incluindo desde o surgimento da idia, o desenvolvimento da tecnologia, at a utilizao da inovao de forma rotineira pelo usurio. Para Furtado (2007, p.2), a inovao[...] na definio original, consiste numa realizao original, de natureza econmica. Pode ser um novo produto ou processo, ou uma forma de comercializao nova (para ficarmos no mais evidente). Para Schumpeter, a inovao est sempre associada ao atributo mais raro e mais desigualmente distribudo entre os indivduos: a capacidade empreendedora. Nela est presente o estalo mgico, s vezes; ou a perseverana e a tenacidade, outras vezes; e sempre envolver risco, sobrepujado pela anteviso dos louros, das recompensas, dos lucros, a moeda comum da realizao no capitalismo.

Cumpre destacar do comentrio acima a percepo do risco envolvido em todo e qualquer ato inovador, seja no desenvolvimento de um novo produto, processo ou na gesto empresarial. Para Yates e Stone (1992) citados por Mullins, Forlani e Walker (1999), risco pode ser definido como o grau de incerteza e de perda potencial que se segue a um dado comportamento ou conjunto de comportamentos. Os autores destacam trs elementos que devem ser levados em conta ao longo da gesto de riscos de qualquer projeto: as perdas potenciais avaliadas objetivamente, a significncia destas perdas dentro de um contexto organizacional e a incerteza quanto s perdas potenciais. Estes elementos indicam um aspecto comportamental da tomada de decises que se refere a capacidade de assumir riscos, caracterstica essa inevitvel aos lderes envolvidos em atividades inovadoras. A principal e mais abrangente fonte de informaes acerca do perfil inovador da indstria brasileira, que a Pesquisa Industrial de Inovao Tecnolgica (Pintec), capitaneada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), tem como definio operacional do conceito que [...][...] a inovao tecnolgica definida pela implementao de produtos (bens ou servios) ou processos tecnologicamente novos ou substancialmente aprimorados. A implementao da inovao ocorre quando o produto introduzido no mercado ou quando o processo passa a ser operado pela empresa (IBGE, 2004, p.20).

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A inovao um processo fundamental no mbito das empresas pois cria condies para seu crescimento e para sua lucratividade (Gambim, 1998, citado por Meza et al, 2007). A inovao pode ser compreendida como a aplicao de uma idia para a produo de um novo bem (produto ou servio), para a melhoria de um bem j existente ou ainda para a modificao de processos operacionais e/ou administrativos. Todas essas mudanas devem ser percebidas como algo novo e de relevante aplicao para empresrios e, principalmente, para consumidores (Rogers, 1995). Outra importante referncia para o tema da inovao tecnolgica o Manual de Oslo (2004), documento elaborado conjuntamente pela Organizao para Cooperao e Desenvolvimento Econmico (OCDE) e o Gabinete Estatstico das Comunidades Europias (Eurostat), que em sua segunda edio, originalmente publicada em 1997, recomenda que os motivos pelos quais uma empresa se engaja em determinadas atividades de inovao sejam identificados a partir de objetivos econmicos relacionados a produtos ou mercados. De forma geral, segundo o Manual de Oslo (2004, p.79) os objetivos da inovao expressos em termos econmicos so: substituir produtos que estejam sendo descontinuados; aumentar a linha de produtos: - dentro do campo do produto principal; - fora do campo do produto principal. desenvolver produtos amistosos em termos de meio ambiente; manter ou aumentar a participao de mercado; abrir novos mercados: - no exterior; - novos grupos-alvos domsticos; aumentar a flexibilidade da produo; reduzir os custos de produo atravs: - da reduo dos custos unitrios de mo de obra; - do corte de materiais de consumo; - do corte do consumo de energia; - da reduo da taxa de rejeio; - da reduo dos custos de desenho do produto;

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- da reduo dos prazos de incio de produo. melhorar a qualidade do produto; melhorar as condies de trabalho; reduzir os danos ao meio ambiente. Schumpeter (1985) traz uma abordagem complementar para compreender a importncia da inovao no ambiente empresarial, o autor o faz quando apresenta a sua tipologia da inovao, na qual so identificadas cinco formas diferentes de se inovar: Introduo de um novo produto ou a introduo de uma qualidade nova em um j existente (inovao de produto). Introduo de um novo mtodo de produo ainda no testado operacionalmente (inovao de processo operacional). Abertura de um novo mercado consumidor seja ele pr-existente ou no. Criao de um novo tipo de organizao industrial. Desenvolvimento de novas fontes provedoras de matrias-primas e outros insumos. O Manual de Oslo, em sua terceira edio (2005) divide a inovao em quatro reas: produto, processo, marketing e organizao. Inovao, portanto, conforme o documento mencionado :[...] a implementao de um produto (bem ou servio) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo mtodo de marketing, ou um novo mtodo organizacional nas prticas de negcios, na organizao do local de trabalho ou nas relaes externas.

Essa definio abrangente compreende um amplo conjunto inovaes possveis, porm, no prprio Manual de Oslo existe a indicao de que o requisito mnimo para se definir uma inovao que o produto, o processo, o mtodo de marketing ou organizacional sejam novos (ou significativamente novos) para a empresa. Dito de outra forma, o lcus no qual se avalia se algo ou no inovador reside objetivamente na empresa, assim sendo inovao inclui produtos, processos

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e mtodos que as empresas so as pioneiras a desenvolver e aqueles que foram adotados de outras empresas ou organizaes. Para Freeman (1997), citado por Meza et al (2007) existe uma ampla difuso na literatura de dois tipos de inovaes, a saber: radical e incremental. O primeiro est associado ao desenvolvimento de novos bens e processos por meio de novos conhecimentos. J o segundo tipo refere-se melhoria de bens e processos j conhecidos e existentes, neste caso para os economistas neo-schumpeterianos no representa de fato uma inovao, mas o desenvolvimento de novos produtos e/ou servios (Luecke, 2003). Em relao ao primeiro tipo (radical), a inovao se fundamenta num novo paradigma tecnolgico, que definido como um padro para a soluo de problemas tcnico-econmicos selecionados e baseados nos princpios derivados da cincia natural (Dosi, 1988, p.226). Para Leifer, OConnor e Rice (2002), inovaes radicais (tambm tratadas como revolucionrias) modificam as formas de relacionamento entre consumidores e fornecedores, afetam a dinmica econmica dos mercados e desestabilizam produtos existentes e fomentam o surgimento de novas categorias de produtos. Refere-se, ento, a um produto ou processo que demonstre caractersticas de desempenho sem precedentes ou caractersticas j conhecidas que gerem melhorias significativas no desempenho ou no custo, transformando tambm os mercados existentes ou propiciando o surgimento de novos mercados. Esse tipo de inovao frequentemente concebida a partir de novas idias que redundam em projetos bem estruturados de desenvolvimento de novos produtos, executados com a participao de parceiros diversos. A inovao radical considerada pelos neo-shumpeterianos como a inovao de fato por utilizar novos paradigmas tecnolgicos. Ambos os tipos de inovaes ocorrem, em muitos casos, simultaneamente e, comumente, logo aps as inovaes radicais ocorre um ciclo de inovaes incrementais, que aprimoram a inovao radical (Luecke, 2003). Em relao s caractersticas prprias desse processo, pode-se destacar: i) a incerteza dos resultados tanto no aspecto tcnico-cientfico como no mercadolgico; ii) a relao entre novos conhecimentos cientficos e as oportunidades tecnolgicas; iii) a existncia de uma atividade formal de pesquisa e desenvolvimento (P&D); iv) a aprendizagem pela auto-execuo ou por processos informais de acumulao de

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conhecimentos tecnolgicos nas organizaes denominada learning-by-doing ou using e v) a atividade tecnolgica acumulada, pois para haver mudanas tecnolgicas preciso considerar a natureza tecnolgica da organizao e as condies econmicas (Dosi,1988). Em relao atividade tecnolgica acumulada, a capacidade de inovao de uma empresa evolutiva, ou seja, est armazenada e acumulada em quatro componentes, a saber (Lall, 1992; Bell e Pavitt, 1993; Figueiredo, 2004 apud Meza et al., 2007): a) no sistema tcnico-fsico das empresas (maquinas e equipamentos, tecnologias de informao e informao e plantas industriais); b) no conhecimento e qualificao das pessoas (conhecimento tcito, experincias, habilidades adquiridas ao longo do tempo e qualificao formal); c) no sistema organizacional (conhecimento acumulado nas rotinas organizacionais e gerenciais, procedimentos, documentao; tecnologias de gesto; processos e fluxos de produo); d) nos laboratrios de P&D (projeto, desenvolvimento, prototipagem). As inovaes incrementais, conforme Ribault, Martinet e Libidois (1995), so frequentemente originadas de necessidades do mercado, impostas pelas demandas dos consumidores que, uma vez analisada a sua viabilidade, gera a inovao de modo a satisfazer a essa demanda. Dito de outra forma, de um produto existente para o produto de uma gerao subseqente a tecnologia modificada para o atendimento de necessidades expressas ou identificadas, ou eliminar um defeito do produto anterior. Pavitt (1990), citado por Fontanini (2005), descreve quatro caractersticas das atividades inovativas consideradas principais para uma empresa: Todo esforo inovador envolve uma contnua e massiva integrao entre diferentes grupos funcionais da empresa: pesquisa e

desenvolvimento, produo, marketing entre outros para proceder a implementao, organizao e finanas para decises estratgicas. So atividades de grande incerteza. Em torno de 10% dos projetos de desenvolvimento de novos produtos atendem aos objetivos tcnicos e comerciais a que se propunham.

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Elas so acumulativas. Embora as organizaes possam adquirir tecnologias e habilidades externas, o que elas desenvolvem no passado, determina em larga medida o que faro no futuro.

As atividades de inovao so muito diferenciadas e especficas quando se considera o setor da atividade econmica, ou seja, habilidades tecnolgicas especficas de uma rea podem ser aplicadas em poucas reas e correlatas, portanto tem emprego limitado.

Tidd, Bessant e Pavitt (1997, p.14), sugerem que as empresas devem administrar quatro etapas para a conformao de um sistema de gesto da inovao: As organizaes devem monitorar seus ambientes, interno e externo, a fim de detectar sinais indicativos de potenciais inovaes. Estes sinais podem ser originrios de necessidades identificadas, ou oportunidades levantadas a partir de pesquisas, ou de presses provenientes de legislaes, ou comportamento dos concorrentes. Com base em um conjunto de potenciais oportunidades para a inovao, a empresa deve proceder a uma escolha estratgica entre as alternativas, as quais sero objeto do comprometimento organizacional para que se tornem de fato fontes de vantagens competitivas. Uma vez escolhida a alternativa a ser seguida, cumpre organizao prover os recursos os recursos necessrios, sejam eles tecnolgicos, humanos ou financeiros, para a realizao dos projetos selecionados. Por fim a empresa deve levar a cabo o desenvolvimento do produto, perpassando todas as fases do processo, que vai da assuno da idia original ao lanamento do produto finalizado no mercado. Uma quinta etapa, mencionada pelos autores como opcional, porm recomendvel, trata da reflexo sistematizada a respeito de todas as fases anterior com o propsito de criar um ambiente de aprendizagem continuada a partir de experincias vivenciadas, com efeitos de aperfeioamento em projetos posteriores.

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2.2 INOVAES DE PRODUTO De acordo com Mattos e Guimares (2005), independentemente do motivo ou do tipo de mudana, fato que nas ltimas trs dcadas as empresas vm modificando substancialmente o seu modus operandi. Como j dito anteriormente, as mudanas acontecem com o objetivo central de manter ou aumentar a sua competitividade, o que se vincula de forma inexorvel com a prpria necessidade de sobrevivncia das organizaes. Diante dessa realidade duas tendncias globais inter-relacionadas se destacam: a incorporao de novas tecnologias e a personalizao calcada na diferenciao de produtos. A diferenciao de produto uma poderosa arma contra a estratgia baseada em preo, algumas empresas para incrementarem a rentabilidade de suas operaes criam diferenciao de seus produtos sobre os concorrentes, gerando assim barreiras de entrada no mercado tornando os produtos diferentes de modo que os substitutos no mais consigam competir baseados somente em preos (Schnaars, 1998, p. 34, apud, Pace e Brito, 2003). A diferenciao de produtos decorre necessariamente da incluso de algum tipo de contedo inovador neste produto, ento, tomando novamente como base o Manual de Oslo (2005, p.57), depreende-se que [...] [...] uma inovao de produto1 a introduo de um bem ou servio novo ousignificativamente melhorado no que concerne a suas caractersticas ou usos previstos. Incluem-se melhoramentos significativos em especificaes tcnicas, componentes e materiais, softwares incorporados, facilidade de uso ou outras caractersticas funcionais.

As inovaes de produto podem utilizar conhecimentos ou tecnologias novas, mas tambm podem estar baseados em novos usos ou combinaes para conhecimentos e tecnologias j existentes. As inovaes de produto incluem tanto a introduo produtos efetivamente novos (novidade), como tambm de

melhoramentos significativos nas caractersticas funcionais ou de uso de produtos j existentes. Neste sentido um produto s pode ser considerado novo quando diferir

Embora a terminologia utilizada para a palavra produto, no mbito do manual de Oslo envolva tanto bens como servios, no contexto deste trabalho considerar-se- o termo produto apenas como bens materiais.

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significativamente em suas caractersticas ou usos previstos dos produtos previamente produzidos pela empresa. A ttulo de exemplificao diz-se que os primeiros microprocessadores e cmeras digitais foram exemplos de novos produtos usando novas tecnologias. O primeiro tocador de MP3 porttil, que combinou padres de softwares existentes com a tecnologia de disco rgido miniaturizado, foi uma nova combinao de tecnologias existentes (Manual de Oslo, 2005, p.57). O documento em questo, no af de tornar compreensvel ao extremo as bases conceituais que preconiza, vai adiante em suas explicaes e ilustraes, portanto, segundo o Manual de Oslo (2005, p.58) o desenvolvimento de um novo uso para um produto onde se insere apenas algumas pequenas modificaes em suas especificaes tcnicas uma inovao de produto. Este aspecto ilustrado com o seguinte exemplo: a introduo de um novo detergente com uma composio qumica que j tinha sido previamente utilizada como um insumo apenas para a produo de revestimentos. A mudana de materiais ou componentes so algumas das formas mencionadas para obteno de melhorias significativas em produtos j existentes com o consequente aprimoramento de seu desempenho. Exemplificando:A introduo dos freios ABS, dos sistemas de navegao GPS (Global Positioning System), ou outras melhorias em subsistemas de automveis so exemplos de inovaes de produto baseadas em mudanas parciais ou na adio de um subsistema em vrios subsistemas tcnicos integrados. O uso de tecidos respirveis em vesturio um exemplo de uma inovao de produto que utiliza novos materiais, capazes de melhorar o desempenho do produto.

Conforme a mesma referncia, no podem ser consideradas inovaes de produto, meras mudanas no design do produto que no afetem significativamente as caractersticas funcionais ou os usos previstos dos mesmos, embora se admita que design seja parte integrante do desenvolvimento e da implementao de uma inovao. Atualizaes de rotina, tpicas de softwares ou mudanas sazonais no configuram tambm inovao de produto. Conforme expem Takahashi e Takahashi (2007, p.23-24), produtos inovadores so alcanados mediante o estabelecimento de uma estratgia conscientemente estabelecida que tenha como propsito:

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Focar os esforos para identificao de novas oportunidades de produtos estabelecendo a direo em que a empresa deve atuar.

Estabelecer uma estrutura para a estratgia de plataforma de produtos (especialmente em empresas que possuem mltiplos produtos fundamentados em uma mesma tecnologia).

Guiar as atividades de desenvolvimento de produto, auxiliar a tomada de decises no nvel de projeto consistente com a viso estratgica da organizao, estabelecer os vetores-chave da diferenciao

orientadores do posicionamento competitivo alm de firmar metas de desempenho. guisa de simplificao, pode-se afirmar que a estratgia que fundamenta as atividades de desenvolvimento de produtos inovadores se ocupa de garantir o alinhamento de tais atividades com as competncias e recursos existentes na

organizao, oramentos e cronogramas de projetos. 2.3 PANORAMA DA INOVAO NA INDSTRIA BRASILEIRA A inovao, de modo especial, a tecnolgica, tem ocupado lugar de destaque na lista de prioridades das empresas. No Pas, ainda que tardiamente, a inovao enquanto conceito tem figurado com a importncia merecida no crculo de discusses e debates acerca das polticas para o desenvolvimento industrial brasileiro. Esta afirmao corroborada pelo que expe Furtado (2004): a inovao importante no aquela que possui um grande alcance em si mesma; mas aquela que desencadeia um processo importante. O autor, a partir desta declarao explica que, a inovao, que pode ser considerada a mola mestra da competio contempornea, alcanou j um patamar bastante promissor na economia brasileira. Ou seja, considerar apenas inovao como aquilo que se convencionou chamar de inovao radical parece ser inadequado no que respeita s circunstncias atuais da economia brasileira. O progresso tecnolgico sempre ocupou lugar de destaque na teoria econmica. Desde o estudo na fbrica de alfinetes da Riqueza das naes, de Adam Smith, at mais recentemente na economia baseada no conhecimento, o desenvolvimento e incorporao de novas tecnologias sempre foram tomados como

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propulsores de ganhos de produtividade e financeiros (Bastos, Rebouas e Bivar, 2003). Para os autores, o primeiro passo para entender e, por ventura, intervir diante de um componente to complexo e crucial para o desenvolvimento econmico, deve ser a criao de mecanismos de avaliao, tanto quantitativa como qualitativamente, o processo de gerao, difuso e incorporao de progresso tecnolgico. O Brasil, ao implantar a Pesquisa Industrial de Inovao Tecnolgica Pintec, realizada pelo IBGE, segue essa tendncia de mensurao j encampada por pases mais desenvolvidos, uma vez que a Pintec traz em seu bojo aspectos metodolgicos prescritos pelo Manual de Oslo. Uma caracterstica importante da Pintec permitir a realizao de estudos que considerem tanto a dimenso tecnolgica, quanto a dimenso econmica do processo inovativo (Tironi, 2005, p.46). A Pintec, em sua terceira, e mais recente edio, identifica importantes caractersticas ou padres da inovao tecnolgica na indstria brasileira. Aproximadamente um tero das empresas industriais implementam inovaes, a proporo de empresas que implementam inovaes de processos

significativamente superior s que adotam inovao de produto (Tabela 01), em geral a maior parte das inovaes dizem respeito aprimoramentos de produtos ou processos e produtos e processos novos no mbito da empresa, e uma pequena proporo de empresas implementam inovaes de produto ou processo que sejam consideradas novidades para o setor ou mercado, seja ele nacional ou mundial (Tironi, 2006; Arruda, Vermulm e Hollanda, 2006). O fato de serem mais intensos os esforos em promover inovaes em processos do que em produtos, reflete a grande preocupao com a reduo de custo e com a eficincia produtiva, que segundo Arruda et al (2006, p.15), uma caracterstica estrutural da indstria brasileira.

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TABELA 01: PARTICIPAO PERCENTUAL DO NMERO DE EMPRESAS QUE IMPLEMENTARAM INOVAES NA INDSTRIA BRASIL (1998-2000, 20012003, 2003-2005)Inovao s em Processos Pintec 2000 (1998-2000) Pintec 2003 (2001-2003) Pintec 2005 (2003-2005) 13,9 12,9 13,8 Inovao s em Produtos 6,3 6,4 6,5 Inovao em Produto e Processo 11,3 14,0 13,1 Total 31,5 33,3 33,4

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenao de Indstria, Pesquisa Industrial de Inovao Tecnolgica (Pintec) 2005.

Uma importante contribuio para o conhecimento da realidade brasileira sobre o tema foi propiciada pelo Instituto de Pesquisas Econmicas Aplicadas IPEA, que ao reunir dados de diferentes origens, sobretudo da Pintec/IBGE, produz a obra intitulada Inovaes, padres tecnolgicos e desempenho das firmas industriais brasileiras, tomada como uma referncia no apontamento do papel que ocupa a inovao tecnolgica nas firmas industriais. De Negri, Salerno e Castro (2005) analisam a inovao nas organizaes industriais brasileiras a partir de suas estratgias competitivas, uma vez que a literatura demonstra que a inovao uma estratgia que possibilita s empresas auferirem maiores ganhos, particularmente se ocorrer diferenciao de produto que possibilite a obteno de preo prmio pela empresa. Com base nesse raciocnio, os autores afirmam que a realizao de esforos para a gerao de produtos diferenciados contribui para a lucratividade das empresas, tornando-as menos sujeitas concorrncia via estruturas de custos esprias, tais como baixos salrios ou jornadas de trabalho dilatadas, ou as flutuaes de preo comum no mercado de recursos naturais (commodities). Para a indstria brasileira as estratgias de competio das firmas podem ser traduzidas, do ponto de vista emprico (base amostral da Pintec 20002) em trs categorias (De Negri et al, 2005) cap 17:

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Embora os resultados de duas outras edies da Pintec tenham sido divulgados, o estudo feito com base no vis analtico proposto por DeNegri et al (2005) no foi replicado, o que no inviabiliza a utilizao das informaes e tampouco desconsidera-las para representar a realidade da indstria brasileira, j que os prprios resultados gerais da Pintec em suas trs edies indicam pequenas oscilaes nas taxas de inovao da indstria.

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A) Firmas que inovam e diferenciam produtos so aquelas que realizaram inovao de produto para o mercado e obtiveram preo prmio acima de 30% nas suas exportaes quando comparadas com as demais exportadoras brasileiras do mesmo produto. Inclui-se nesse grupo, portanto, as empresas que compe o segmento mais dinmico que retm parte significativa da renda produzida pela indstria brasileira ao agregar valor aos seus produtos; B) Firmas especializadas em produtos padronizados a estratgia competitiva dessas empresas impe que o foco de sua atuao seja a reduo de custos e no a criao de valor como descrito na primeira categoria. De acordo com o perfil organizacional, as empresas includas neste grupo, tendem a ser atualizadas no que respeita s caracterstica operacionais (fabricao, gesto da produo, gesto da qualidade e logstica) que so imperativos para a sustentao de baixos custos, porm, apresentam-se defasadas no que tange a P&D, marketing e gesto de marcas quando comparadas quelas enquadradas na categoria anterior. Objetivamente, so consideradas aqui, as firmas exportadoras no includas no conjunto A e as no exportadoras que apresentam indicadores de eficincia igual ou maior do que as firmas exportadoras nesta categoria; C) Firmas que no diferenciam produtos e tm produtividade menor demais firmas no classificadas nas categorias anteriores. De modo geral aqui esto as empresas tipicamente no exportadoras, menores, que podem, inclusive, inovar, no entanto so menos eficientes nos mais variados sentidos e atuam em segmentos menos dinmicos competindo, sobretudo em preo. Ao se observar a Indstria Brasileira no que se refere a inovao e diferenciao de produtos, esta revela-se marcadamente pouco inovadora. De acordo com os dados da Pintec-IBGE, processados por De Negri et al (2005), existiam aproximadamente 72 mil firmas industriais no Brasil com mais de dez empregados e destas 1.199 (1,7%) desenvolviam uma estratgia competitiva baseada na inovao e diferenciao de produtos. O grande contingente de empresas, em torno de 77% delas, situa-se na categoria das empresas que no diferenciam produtos e tm produtividade menor. A superioridade numrica das empresas que no diferenciam produtos, no se reflete na participao da categoria no faturamento e no emprego industrial, 11,5% e 38,2% respectivamente. O contrrio tambm pode ser considerado, pois,

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quando so observadas as empresas que inovam e diferenciam produtos, mesmo que estas numericamente representem menos de dois por cento do total, quando se trata de faturamento e mo-de-obra ocupada na indstria, percebe-se que as 1.199 empresas que compe esta categoria so responsveis por 25,9% do faturamento industrial e 13,2% dos empregos gerados (Tabela 02). TABELA 02 Estratgia competitiva das firmas na indstria brasileira 2000Estratgia competitiva Inovam e diferenciam produtos Especializadas em produtos padronizados No diferenciam e tm produtividade menor TotalFonte: De Negri et al (2005)

Nmero de firmas1.199 (1,7%) 15.311 (21,3%) 55.495 (77,1%) 72.005

Participao no faturamento (%)25,9 62,6 11,5 100,0

Participao no emprego (%)13,2 48,7 38,2 100,0

Os resultados apontados por De Negri et al (2005) demonstram de modo inequvoco quo bem o esforo inovativo em torno da diferenciao de produtos faz para as empresas no que se refere possibilidade de crescimento, gerao de riqueza, expectativa de exportao e criao de postos de trabalho com salrios mais atrativos. Outros autores tambm destacam os benefcios gerados para a empresa e para pases ao se investir em desenvolvimento de novos produtos. Tidd, Bessant, Pavitt (1997, p.4) declaram que existe uma forte correlao entre a performance mercadolgica de uma empresa e novos produtos. Novos produtos auxiliam a conquistar e manter participao de mercado e o aumento da lucratividade nestes mercados. No caso de segmentos de produtos mais maduros e estveis, segundo os autores, no se obtm crescimento competitivo de vendas simplesmente pela capacidade de oferecer baixos preos, mas tambm a partir de uma srie de outros fatores como o design, a personalizao e a qualidade. 2.4 CONSIDERAES FINAIS DO CAPTULO Neste captulo pode-se perceber que a inovao tecnolgica constitui uma poderosa arma para o fomento da competitividade de empresas e naes. As definies sobre o que vm a ser uma inovao no so unnimes, porm,

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possvel extrair a compreenso de que o conceito amplo e envolve no apenas aquilo que uma novidade pioneira para a tica do mercado, mas tambm aquilo que representa verdadeira mudana no ambiente interno das organizaes. No cenrio nacional nota-se uma nfase maior na gerao de inovaes processuais e menos na busca pelo desenvolvimento de novos produtos que sejam capazes de ampliar a capacidade de competir das empresas. Isto posto, no prximo captulo ser discutido o processo de desenvolvimento de novos produtos, gnese da estratgia competitiva baseada em diferenciao, que a partir do final do sculo XX, marcado por instabilidades econmicas, intensificao do fenmeno dos mercados globais, desregulamentao comercial e massificao do uso de tecnologias de informao e comunicao (Tics), tem sido to valorizada no ambiente empresarial (Porter, 1998).

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3. A FUNO DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS NAS EMPRESAS

A atividade de Desenvolvimento de Produtos representa um ponto fulcral na formulao e implementao das estratgias organizacionais. Segundo Takahashi e Takahashi (2007), os projetos devem refletir a direo e a inteno estratgica dos negcios da empresa, essa atividade determina cerca de 70% a 90% do custo final dos produtos e de outros desempenhos relacionados qualidade, diversificao e ao tempo de introduo no mercado. Para Walsh et al (1992), citado por Rimoli (2005), o desenvolvimento de produtos o processo que permite transformar idias, tcnicas, necessidades e oportunidades mercadolgicas em um novo produto a ser lanado no mercado. Em Slack et al (1997) depreende-se que o projeto de novos produtos tem por objetivo satisfazer os consumidores ao atender suas necessidades e expectativas atuais e futuras, aumentando com isso a competitividade da empresa no ambiente concorrencial em que atua. Segundo Arajo (2006), as pesquisas em torno do tema desenvolvimento de novos produtos evidenciam que a dinmica desta atividade empresarial se efetiva a partir de sua natureza processual e multidisciplinar. O Processo de Desenvolvimento de Produtos, para Amaral et al (2006) apresenta caractersticas especficas que o torna diferenciado em relao a outros processos de negcios presentes nas empresas. As principais caractersticas diferenciadoras citadas pelos autores so: elevado grau de incertezas e riscos das atividades e resultados; decises importantes devem ser tomadas no incio do processo, quando as incertezas so ainda maiores; dificuldade de mudar as decises iniciais; manipulao e gerao de alto volume de informaes; as informaes e atividades provm de diversas fontes e reas da empresa e da cadeia de suprimentos; e multiplicidade de requisitos a serem atendidos pelo processo, considerando todas as fases do ciclo de vida do produto e seus clientes.

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Conforme Mattos e Guimares (2005), o desenvolvimento de produtos uma atividade que est relacionada gesto da qualidade total, uma vez que traduz as necessidades do usurio, descobertas por intermdio de informaes de campo, em um conjunto de requisitos do projeto do produto para a sua posterior fabricao. Os autores descrevem a atividade como um caos bem organizado baseado em interaes mltiplas (internas e externas empresa), tendo como resultado a criao de um produto cujo princpio atender necessidades identificadas no mercado e consequentemente garantir a sobrevivncia e o crescimento da empresa. O processo de gesto de inovao de produtos, de acordo com Takahashi e Takahashi (2007), passou por quatro fases evolutivas, cada uma delas marcadas por objetivos peculiares e caractersticas especficas, so elas: fase da produtividade, fase da qualidade, fase da flexibilidade e fase da inovao. Na fase da produtividade (1960), o desafio central consiste em alcanar grandes volumes de produo, j que a demanda em geral excedia em muito a capacidade de oferta de produtos. O processo de desenvolvimento de produtos era uma atividade circunscrita rea de engenharia das empresas e a freqncia de introduo de novos produtos no mercado pode ser considerada pequena. Na fase seguinte, a fase da qualidade, inicia-se um tempo no qual as necessidades dos clientes assumem importncia estratgica para as organizaes. Assim sendp, a atividade de desenvolvimento de produtos incorpora a viso de mercado e para tanto se faz presente uma maior integrao de diferentes reas funcionais da empresa visando a identificao de necessidades dos consumidores, e a conseqente produo e entrega dos produtos. Na fase da flexibilidade a tnica reside na diferenciao de produtos como elemento de competitividade das empresas, ou seja, alm da qualidade de produtos as empresas so impelidas, em razo do ambiente competitivo, a introduzir com freqncia e rapidez novos produtos no mercado. Para responder a esta presso as empresas intensificam as aes de mudana na estrutura organizacional, notadamente pela reduo dos nveis hierrquicos, descentralizao do processo decisrio e fortalecimento de equipes multifuncionais envolvidas com atividades de desenvolvimento de novos produtos. O desenvolvimento de produtos pode ser considerado como um processo multidisciplinar (Mundin, 2002), pois exige uma integrao informacional com praticamente todas as reas funcionais de uma

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empresa, o que eleva o grau de complexidade da atividade. Soma-se a isso, o fato de que desenvolver produtos configura-se como um processo ad hoc, em que cada projeto apresenta traos especficos e peculiares. Na fase, ou paradigma, da inovao, a nfase est na capacidade de criao de conhecimento, nos processos de aprendizagem organizacional e na gesto dos ativos intangveis. As redes colaborativas entre empresas, fornecedores, clientes e demais parceiros tornam-se mais intensas e vitais para o desenvolvimento de novos produtos. Convm ressaltar que a gesto da informao assume uma condio sine qua non aos processos de inovao de produtos dada ao fluxo e a diversidade de dados e informaes presentes no ambiente. Para Amaral et al (2006), a compreenso e o gerenciamento do fluxo de informaes so vitais medida que as atividades de desenvolvimento de novos produtos geram e fazem uso de entradas e sadas de conhecimentos e informaes provenientes tanto das diferentes reas funcionais da empresa (ambiente interno), quanto de elementos presentes no exterior da organizao. Dignos de nota aparecem os clientes e fornecedores, mas tambm os concorrentes atuais e potenciais, assim como de componentes difusos do macroambiente, tais como cenrio econmico, social, poltico-legal, etc. Os relacionamentos multifuncionais requeridos para a atividade de

desenvolvimento de novos produtos e a sua conseqente agregao de valor para os negcios, influencia no grau de inovatividade dos produtos desenvolvidos a partir da tica da empresa. Clark e Wheelwright (1993) apud Urdan e Osaku (2005), argumentam pela existncia de seis temas fundamentais para o desenvolvimento efetivo de novos produtos: (a) objetivos claros e compreenso compartilhada, que perpasse toda a organizao, a respeito dos projetos, fomento a resoluo rpida de conflitos caso ocorram; (b) antecipao de necessidades futuras dos consumidores e proviso de continuidade nas ofertas; (c) ateno para o tempo de chegada no mercado, a partir de resoluo criativa de problemas e viso sistmica do projeto; (d) teste e validao do produto e projeto antes do incio da produo em escala comercial, ou seja, projetar bem logo da primeira vez; (e) ampla competncia em funes crticas, responsabilidade e comprometimento da equipe de desenvolvimento e busca de

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soluo integrada de problemas; (f) forte liderana e comunicao muito bem sistematizada e disseminada. 3.1 PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE NOVOS PRODUTOS O processo de desenvolvimento de novos produtos de fundamental importncia para a adequada insero da empresa no ambiente competitivo atual, pois a partir dele que a qualidade, custo baixo e outros diferenciais estaro presentes em novos produtos para superar os concorrentes. Florenzano (1999), citado por Sassi e Miguel (2003), caracteriza o processo de desenvolvimento como sendo um sistema de informao considerando a anlise do desenvolvimento de produtos, o fluxo de criao, comunicao e utilizao das informaes desenvolvidas, englobando a produo, marketing e o prprio comportamento do consumidor. A percepo do processo de desenvolvimento de produtos como um fluxo de atividades e informaes permite compreender as ligaes crticas entre as reas da empresa e desta com o mercado, cadeia de suprimentos, redes de distribuio, fontes de informao tecnolgica e instituies de regulamentao do produto. Esta noo exige que todas as atividades, e suas decises relacionadas, sejam realizadas de forma conjunta e integradas, ressaltando a necessidade de estruturar um processo especfico que seja planejado e gerenciado de forma dedicada (Amaral et al, 2006). Os autores observam ainda que a partir desta conotao o processo torna-se mais coeso em que o planejamento e a execuo do projeto e o acompanhamento do produto ps-venda esto integrados em um mesmo processo de negcio (p.11). Tratando novamente do fluxo de informao presente no processo de desenvolvimento de novos produtos, importante salientar que este fluxo tem caracterstica multi-direcional. A informao importante na fase de

desenvolvimento do produto, tambm o nas fases posteriores ao lanamento. A identificao oportuna da satisfao do cliente, ou de problemas apresentados pelos produtos em campo, devem ser compilada e sistematizada, a fim de retro-alimentar o planejamento e as decises tomadas durante o desenvolvimento de outros produtos ou melhorias daqueles j existentes.

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De acordo com Takahashi e Takahashi (2007, p.42), ao citarem diversos autores como Clark e Fujimoto (1991), Adler (1996), Clark e Wheelwright (1993), Nonaka e Takeuchi (1995) e Cooper (1999), o desenvolvimento de novos produtos um processo de tomada de deciso complexo e interativo com vrios estgios e filtros entre esses estgios. 3.1.1 Deciso Organizacional Um dos temas de maior interesse aos estudiosos da Teoria das Organizaes, o que se refere ao processo de tomada de deciso, suas implicaes e influncia no funcionamento das organizaes. Decises podem ser definidas como o processo pelo qual se escolhe um determinado rumo, no sentido de se obter a soluo a certos problemas ou situaes que se configuram relevantes ao atingimento de metas e objetivos especficos das organizaes. Percebe-se desta maneira que a atitude de decidir relaciona-se no somente com a soluo de crises organizacionais, mas tambm com a sensibilidade dos tomadores de deciso, frente ao aparecimento de possveis oportunidades que permitam ultrapassar os objetivos previamente estabelecidos. O processo decisrio, de acordo com Simon (1965), citado por Gontijo e Maia (2004), pode ser definido como o processo de pensamento e ao que culminar em uma escolha. A escolha consiste em selecionar opes alternativas de aes ou mesmo aceitar ou rejeitar uma ao especfica. Katz e Kahn (1976, p.313), afirmam que o processo de tomada de deciso afetado (a) pela natureza do problema (sobre o que decidir), (b) pelo contexto organizacional (objetivos a serem alcanados), (c) pelas caractersticas bsicas da personalidade de quem toma a deciso e (d) pelas limitaes cognitivas dos seres humanos, que tm origem tanto nos fatores do contexto como nos da personalidade. Este aspecto tem relao com o fluxo de informaes consideradas no processo decisrio. A tomada de deciso uma das atividades mais crticas de um administrador, e se confunde com os prprios processos administrativos, devido a sua grande amplitude, ou seja, cabe ao administrador estabelecer as metas da organizao, os meios a serem utilizados para se atingir um determinado fim, defender a organizao de "ataques externos, e proceder a resoluo de conflitos internos. A

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tomada de deciso d forma aos planos estratgicos e operacionais de uma empresa, assim todo administrador necessita desenvolver e aprimorar suas habilidades em tomar decises e resolver problemas (Hall, 1984). March e Simon (1981) sugerem que a tomada de deciso, alm da importncia bvia que desempenha no estabelecimento de metas e meios para serem atingidos, tambm importante para: executar procedimentos operacionais e preencher expectativas de papis, tarefas e compromissos anteriores; definir valores organizacionais, para descobrir ou interpretar o que acontece ou no acontece com eles, para justific-los; exercitar ou reafirmar antagonismos, poder, status e outros relacionamentos; expressar e descobrir "interesse pessoal" e "interesse grupal"; socializao e participao em um processo de escolha.

3.1.2. A Deciso no Desenvolvimento de Novos Produtos Para Webster (2004), a deciso de uma firma inovar deve ser observada a partir dos objetivos pretendidos. Empresas com fins lucrativos, inovam para melhorar a sua eficincia operacional, reduzindo assim seus custos ou para alargar as fronteiras de seu mercado, ampliando ento suas receitas. Em ambos os casos os objetivos so alcanados por meio de decises tomadas acerca da alocao de tecnologias fsicas e humanas (incluindo as estruturas organizacionais) disposio do projeto de inovao. Para Amaral et al (2006) o desenvolvimento de produtosconsiste em um conjunto de atividades por meio das quais busca-se, a partir da necessidades do mercado e das possibilidades e restries tecnolgicas, e considerando as estratgias competitivas e de produto da empresa, chegar s especificaes de projeto de um produto e de seu processo de produo para que a manufatura seja capaz de produzi-lo. O desenvolvimento de produtos tambm envolve as atividades de acompanhamento do produto aps o lanamento.

De forma complementar, Ulrich e Eppinger (2000) citados por Takahashi e Takahashi (2007) afirmam que o processo de desenvolvimento de produtos uma seqncia de passos ou atividades que uma empresa emprega para conceber, projetar e comercializar um produto.

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Pode-se dizer, portanto, que o desenvolvimento de produtos uma funo empresarial que apresenta uma interface muito estreita com o mercado, com a estratgia organizacional e que no se encerra na produo, vai alm, perpassa a comercializao do produto, envolve aes de ps-venda. As fases iniciais do processo de desenvolvimento do produto so apontadas coma as mais crticas, tanto em termos do sucesso do resultado final, quanto no que concerne ao investimento a ser realizado, pois so nestas fases que so definidas as principais solues construtivas e as especificaes do produto. Amaral et al (2006, p.6) argumentam que as escolhas feitas no incio do ciclo de desenvolvimento so responsveis por cerca de 85% do custo do produto final. Segundo MacGrath (1996), em Takahashi e Takahashi (2007) o processo de desenvolvimento de novos produtos pode ser caracterizado tomando como base trs nveis de anlise: Nvel de tomada de deciso gerencial refere-se ao mtodo de como uma

idia se transforma em produto concreto e do modo como as decises fundamentais devem ser tomadas. Este mtodo foi denominado por Clark e Wheelwright (1993) apud Takahashi (1999) de funil de desenvolvimento, que ser descrito com mais detalhes a seguir. Nvel de processo de execuo faz referncia descrio das

atividades/etapas especficas ao desenvolvimento de novos produtos. Nvel de inter-relacionamento das atividades diz respeito s vrias

modalidades de inter-relaes presentes nas atividades de desenvolvimento de novos produtos. No primeiro nvel analtico mencionado, o de tomada de deciso gerencial, destaca-se o conceito de funil de desenvolvimento que consiste na definio do modo como a organizao identifica, seleciona, revisa e converge para o contedo do projeto de desenvolvimento de produto, ou seja, como o processo da idia para a realidade (Clark e Wheelwright, 1992). A transformao, portanto, do abstrato, intangvel, que so as idias do produto, para o concreto e tangvel, que o produto fisicamente constitudo, envolve vrias decises de natureza e cronologia distintas (Figura 01).

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FIGURA 01: FUNIL DE DESENVOLVIMENTO

Alternativas

Decises

Solues

Tempo

Fonte: Takahashi (1999), adaptado.

O funil estabelece uma estrutura global para o desenvolvimento de produtos: gerao e avaliao de alternativas, a sequncia de decises crticas, onde so includos os envolvidos na tomada de deciso, bem como os critrios utilizados (Takahashi,1999). Para Amaral et al (2006), a partir desta abordagem que o desenvolvimento de produtos, passa a ser visto como um processo, em que a integrao entre as atividades de desenvolvimento propriamente dito e o planejamento estratgico de mercado e negcio se faz presente. Neste contexto o Processo de desenvolvimento de produto comea pelo planejamento de um conjunto de projetos (portflio de produtos) e, por meio de um processo de negcio disciplinado, com diversas fases e momentos de avaliaes, apenas os produtos com maior probabilidade de sucesso chegam ao mercado. Outro aspecto desta abordagem, que ela propicia, com maior confiabilidade, que o novo produto seja desenvolvido de modo a contemplar necessidades especficas de diferenciados grupos de clientes, e consequentemente, que sejam atendidas as metas da estratgia de diferenciao da empresa (Amaral, 2006, p.19). As diferentes decises que so prescritas no modelo de funil de desenvolvimento, necessitam de grandes quantidades de informaes, e da qualidade destas depende a qualidade da deciso tomada, que por sua vez afeta a qualidade e a perspectiva de sucesso do projeto desenvolvido. McGrath (1996) citado por Takahashi e Takahashi (2007), apresenta o conceito de funil de desenvolvimento nico constitudo por cinco fases, em que as

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duas primeiras relacionam-se com atividade de planejamento e tomada de decises e as demais esto relacionadas com variaes baseadas nas caractersticas dos produtos que esto sendo desenvolvidos. Para o autor o modelo ainda prescreve a existncia de uma etapa de reviso ao final de cada fase, onde analisado o desempenho alcanado comparativamente ao que foi planejado na etapa anterior. As fases do funil de desenvolvimento esto descritas no Quadro 01: QUADRO 01: AS FASES DO FUNIL DE DESENVOLVIMENTO (McGRATH)Fase 1 Avaliao de conceito: tem como objetivo avaliar as oportunidades de produto, mediante escolha entre alternativas, e iniciar o processo de desenvolvimento do produto. Planejamento e especificao: nesta fase que definido claramente o produto, identificada suas vantagens competitivas e determinada a viabilidade do desenvolvimento em um grau mais detalhado do que na fase 1. Desenvolvimento: nesta fase ocorre o desenvolvimento do produto efetivamente, baseando-se nas decises tomadas por ocasio da reviso da fase anterior. Os detalhes de projeto e atividades de desenvolvimento acontecem nessa fase. Teste e avaliao: tem a finalidade de realizao de testes finais e preparar para a produo e o lanamento do produto. Liberao do produto: verifica-se nessa fase se a produo, o marketing de lanamento do produto, o sistema de distribuio e o suporte ao produto esto preparados para iniciar as atividades.

Fase 2

Fase 3

Fase 4

Fase 5

Para Clark e Wheelwrigt (1993) citados por Takahashi (1999), diante do modelo de funil de desenvolvimento, trs desafios so impostos s organizaes: a) a empresa deve expandir sua base de conhecimento e acesso s informaes a fim de ampliar o nmero de idias de produtos e processo; b) aps a gerao de uma variedade de alternativas de conceitos e idias, devese proceder a escolha entre elas e focar recursos nas oportunidades atrativas. O processo de tomada de deciso (reduo no nmero de alternativas) deve ser baseado numa srie de critrios que ajustam as oportunidades tecnolgicas da empresa com o uso efetivo de seus recursos de desenvolvimento coerentes com as necessidades estratgicas e financeiras da empresa, ou seja, as escolhas feitas no mbito do desenvolvimento do produto devem refletir a disponibilidade de recursos e as opes estratgicas da organizao;

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c) garantir que os projetos de produtos selecionados expressem os objetivos antecipados de negcios. 3. 2 CONSIDERAES FINAIS DO CAPTULO Neste sentido pode-se dizer que o presente estudo, referente a elaborao de um conjunto de critrios para a determinao do grau de inovatividade de produtos, tm seu lcus de utilizao prtica no que se chamou de fase 2 do Funil de Desenvolvimento, segundo a perspectiva de McGrath, no qual as decises mais importantes do processo de desenvolvimento de produtos so tomadas. Decises que esto relacionadas ao realizar ou no os investimentos necessrios para o desenvolvimento dos processos e, sobretudo, a verificao da plena compatibilidade entre as intenes do projeto, disponibilidade de recursos e objetivos estratgicos da organizao (segundo desafio elencado por Clark e Wheelwrigt).

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4. A INOVATIVIDADE DE PRODUTO

Inovatividade de produto um tema que apenas recentemente comeou a despertar real interesse nas comunidades cientficas e empresariais, que at ento sempre manifestaram especial ateno a outros aspectos relacionados inovao, tais como: o desenvolvimento de sistemas nacionais de inovao, fontes de financiamentos s atividades de pesquisas cientficas e tecnolgicas, cooperao universidade-empresa, entre outros. Numerosos fatores tm sido prescritos como indicativos do sucesso de um novo produto, citam-se: a qualificao da equipe de desenvolvimento, caractersticas dos lderes de projetos, disponibilidade e uso de ferramentas de anlises tcnicas de mercado, publicidade entre outros. Cooper (1993) citado por Urdan e Osaku (2005), sistematiza uma lista de 10 fatores (apresentados em ordem decrescente) que seriam os mais importantes para a obteno de produtos de sucesso: 1 - Produto superior capaz de entregar benefcios nicos ao usurio; 2 - Produto bem definido antes da fase de desenvolvimento; 3 - Qualidade da execuo das atividades tecnolgicas; 4 - Sinergia tecnolgica; 5 - Qualidade das atividades de pr-desenvolvimento; 6 - Sinergia de marketing; 7 - Qualidade das atividades de marketing; 8 - Atratividade do mercado; 9 - Situao competitiva; 10 - Suporte da cpula da empresa. No entanto segundo Kleinschimidt e Cooper (1991, p. 240) uma das questes em torno deste tema que resta inconclusa, o papel que o grau de inovatividade do produto desempenha na equao de seu sucesso. Os autores com o propsito de clarear a lgica desta discusso, apresentam dois argumentos considerados clssicos: a) aquelas empresas que perseguem o desenvolvimento de produtos mais inovadores declaram: um produto inovador possui a qualidade de ser

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nico, diferente e at mesmo patentevel. A empresa que inova assim adquire um posicionamento diferenciado e proprietrio, e maior a sua probabilidade de sucesso que das empresas seguidoras. b) aquelas empresas que elegem uma estratgia mais conservadora, desenvolvendo produtos familiares para mercados familiares, contrape: inovaes e lanamentos freqentes de produtos envolvem mais riscos. Conduzir as empresas para situaes tcnicas e de mercado que so novas para a firma e para o mundo, leva tambm a uma grande probabilidade de algo dar errado (ou algum evento imprevisto ocorrer) e neste caso as possibilidades de sucesso seriam baixas. Com base nos argumentos expostos, duas citaes pode ser feitas acerca do impacto da inovatividade dos produtos na sua performance de mercado: Produtos mais inovadores de so capazes e de criar maiores

oportunidades

diferenciao

vantagens

competitivas,

consequentemente impacto positivo no desempenho; Contrariamente, produtos menos inovadores so mais familiares ao mercado, menos incertos e podem gerar sinergias mais

acentuadas, e consequentemente mais elevadas taxas de sucesso. No cerne dos esforos para equacionar esta discusso est a perspectiva em que a inovatividade de um produtos ser considerada, desta maneira, para Dannels e Kleinschmidt (2001), a inovatividade de produtos pode ser observada por dois ngulos distintos: o do consumidor e o da empresa. Esta pesquisa centrada na inovatividade de produtos na perspectiva da empresa, sendo a perspectiva do consumidor tratada de forma apenas conceitual e breve. Segundo a tipologia de novos produtos de Booz, Allen e Hamilton (1982) citada por Salvou (2004), um novo produto pode ser categorizado segundo duas dimenses do que considerado o novo (novidade): novo para a firma e novo para o mercado (Quadro2).

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QUADRO 2 - TIPOLOGIA DE NOVOS PRODUTOS DE BOOZ, ALLEN E HAMILTONNovidade para o Mercado Baixa Alta Novidade para a Firma Nova linha de produtos Alta Produtos novos para mundo Incrementos/revises nos produtos existentes Ampliao na linha de produtos existentes

Baixa

Reduo de custo

Reposicionamentos

Fonte: Bozz, Allen, Hamilton (1982) apud Dannels e Kleinschmidt (2001)

Produtos novos para o mundo so aqueles que simultaneamente so novos para a empresa e para o mercado. Eles representam, normalmente, o tipo mais inovativo. J, o foco em reduo de custo, consiste em prover produtos com desempenho similar a produtos j existentes, mas a custos inferiores. Eles representam a menos inovativa das categorias apresentadas na tipologia. Entre esses dois extremos, esto os seguintes outros tipos: Reposicionamentos produtos existentes dirigidos para novos mercados. Ampliao na linha de produtos existentes quando algo de novo para a empresa e para o mercado introduzido na linha de produtos vigente. Incrementos/revises nos produtos existentes quando alguma coisa nova para a empresa e no para o mercado incorporada aos produtos. Nova linha de produtos quando novos produtos para a empresa e no para o mercado so lanados. A novidade para o mercado pode ser interpretada como a percepo do contedo inovador de determinado produto para aqueles que so ou sero seus potenciais consumidores, a partir de um conjunto de experincias e padres de consumo. Conforme Salvou (2004), ela reflete o grau de mudana no

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comportamento dos consumidores ao adotar um novo produto e os riscos associados adoo de tais produtos. Rogers (1995) prope cinco atributos das inovaes que influenciam a maneira como essas inovaes so adotadas pelos clientes. So eles: Vantagem relativa o atributo segundo o qual a inovao apresentada percebida como sendo melhor que a idia que ir substituir. Compatibilidade a caracterstica na qual uma inovao percebida de modo consistente com os valores existentes, experincias anteriores e necessidades dos potenciais adotantes. Complexidade operacional a caracterstica mediante a qual uma inovao percebida segundo a dificuldade em ser entendida e utilizada. Experimentao refere-se possibilidade que uma inovao tem de ser experimentada antes da adoo definitiva. Tem relao com a diminuio do risco percebido pelos potenciais adotantes. Visibilidade a caracterstica que se relaciona ao quo visvel so os efeitos da inovao. A inovatividade de produtos, com enfoque na perspectiva da empresa, representa uma temtica, sobretudo, voltada s condies internas de

funcionamento e gesto de uma organizao, com nfase em questes relacionadas ao ambiente mercadolgico e tecnolgico da empresa. Isso se d por que a inovatividade de produtos apresenta uma grande oportunidade das empresas crescerem e se expandirem em direo a reas at ento no exploradas (cumpre lembrar que os riscos envolvidos tambm so significativos). Inovaes de grande monta tornam possvel que as organizaes estabeleam um posicionamento competitivo dominante, alm de permitir que empresas nascentes firmem-se no mercado. No se despreza, contudo, que se por um lado a inovao pode propiciar as vantagens mencionadas, por outro, os riscos e desafios a ela associados tambm so importantes, uma vez que, pesquisas tm demonstrado, quanto maior a inovatividade requerida a um produto, maior tambm so os requisitos de recursos e capacidade de gesto a fim de se garantir o sucesso do projeto.

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A novidade para a empresa (tipologia de Booz, Allen e Hamilton), relaciona-se a quanto inovador o produto para a empresa que o desenvolve. Para Dannels e Kleinschmidt (2001), a inovatividade de produtos na perspectiva da empresa avaliada de maneira bi-dimensional, como familiaridade e adequao. O conceito de novidade como familiaridade dentro da teoria das organizaes lana olhar ao relacionamento existente entre a organizao e seu ambiente. Thompson (1967), citado por Kamps e Plos (1999), argumenta que todas as organizaes estabelecem campos de atuao onde se identificam os pontos dos quais a organizao depende, particularmente, os inputs provenientes do seu ambiente. Normann (1971), citado por Dannels e Kleinschmidt (2001), demonstra que o ambiente tecnolgico e o ambiente mercadolgico perfazem os campos mais importantes no que diz respeito ao desenvolvimento de novos produtos. Vista por esse ngulo, a dimenso familiaridade da inovatividade de produtos pode ser descrita como, o quanto a organizao que est inovando conhece o mercado, concorrentes e os consumidores alvo do novo produto, assim como toda a estrutura tecnolgica necessria ao desenvolvimento, produo e assistncia tcnica relacionada este produto. Adequao outra maneira de perceber o quanto de novidade h em um produto a partir da tica da empresa. Este enfoque tem origem na abordagem da organizao baseada em recursos, criada por Edith Penrose em seu livro The Theory of the Growth of the Firm de 1959. Segundo Kor e Mahoney (2004), so trs as principais contribuies de Penrose teoria da estratgia organizacional. Na primeira contribuio, ela sustenta que a empresa pode criar valor econmico, no devido mera possesso de recursos, mas devido gesto efetiva e inovadora destes recursos. Na segunda contribuio, a autora prope a existncia de uma relao de causa e efeito entre os recursos disponveis e a gerao de oportunidades produtivas para crescimento e inovao. Nesta concepo os gestores atuam como catalisadores na converso dos recursos da empresa em capacidade organizacional e criao de novos produtos. Existe aqui uma estreita relao entre os vrios tipos de recursos com os quais uma empresa trabalha e o desenvolvimento de idias experincias e conhecimentos de seus gestores ou empreendedores, propiciando

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assim fonte de vantagens competitivas ao facilitar novas combinaes de recursos inovao no interior das empresas. Na terceira contribuio, explicada que a disponibilidade de talentos gerenciais e tcnicos so gargalos para a taxa de crescimento da empresa em um determinado perodo de tempo e que a base de conhecimentos vigente assim como a subutilizao de recursos da empresa determina o sentido do crescimento desta. Dito de outra forma, segundo Wernerfelt (1984) citado por Dannels e Kleinschmidt (2001), uma organizao pode ser vista como uma coleo de recursos antes que de produtos. A abordagem da empresa baseada em recursos foca nos recursos que a empresa controla e no uso produtivo destes, como por exemplo, a inovao em produtos. Recursos que permitem a empresa desenvolver novos produtos inclui a experincia em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), conhecimento das

necessidades dos consumidores e situao da concorrncia, fora de vendas, capacitao em pesquisas de mercado, infra-estrutura de produo, entre outros. De acordo com Dannels e Kleinschmidt (2001), qualquer novo produto necessita destes recursos, sejam eles tangveis ou intangveis, para serem desenvolvidos e comercializados satisfatoriamente. Dannels (1998) sugere que a variedade de recursos utilizados em uma inovao de produtos podem ser classificados em, recursos relativos ao mercado e ao consumidor e recursos tecnolgicos. Assim sendo, so requeridas da empresa que inova competncias relacionadas tecnologia (permite elaborao do novo produto) e relacionadas ao cliente (permite servir determinado cliente) (Quadro 3).

QUADRO 3 - DIMENSES PERSPECTIVA DA EMPRESAFamiliaridade Ambiente Tecnolgico Ambiente

DA

INOVATIVIDADE

DE

PRODUTOS

NA

Dimenso Adequao Recursos Tecnolgicos Recursos de Marketing

Mercadolgico

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5. METODOLOGIA

O estudo realizado pode ser caracterizado fundamentalmente como uma pesquisa exploratria, que para Santos (1999) pode ser explicada assim:Explorar tipicamente a primeira aproximao de um tema e visa criar maior familiaridade em relao a um fato ou fenmeno. Quase sempre busca-se essa familiaridade pela prospeco de materiais que possam informar ao pesquisador a real importncia do problema, o estgio em que se encontram as informaes j disponveis a respeito do assunto, e at mesmo, revelar ao pesquisador novas fontes de informao. Por isso, a pesquisa exploratria quase sempre feita como levantamento bibliogrfico, entrevistas com profissionais que estudam/atuam na rea, visitas a web sites etc.

Com o intuito de melhor compreender em que realmente consiste este tipo de pesquisa, Theodorson e Theodorson (1970), autores da obra A modern dictionary of sociology, citados por Piovesan e Temporini (1995), observam que o estudo exploratrio, no qual podem ser usadas uma grande variedade de tcnicas de coleta de informao, em geral utilizando grupos amostrais de reduzida dimenso, permite ao pesquisador definir melhor seu problema de pesquisa, alm de orientar a construo dos instrumentos de coleta de dados a serem usados em fases posteriores da pesquisa. Piovesan e Temporini (1995) recorrem a Babbie (1986), para apresentar de forma concisa as finalidades tpicas dos estudos exploratrios, que so trs: 1) simplesmente para satisfazer a curiosidade do pesquisador e o desejo de melhor entendimento acerca de um fenmeno ou varivel, 2) testar a viabilidade de comprometer-se com um estudo mais detalhado, 3) desenvolver os mtodos a ser empregados em um estudo mais profundo. A partir do exposto pode-se perceber que o estudo em questo enquadra-se precisamente nesta categoria de pesquisa cientfica, embora, de acordo com Cervo e Brevian (2002, p.69) alguns autores considerem a pesquisa exploratria como quase-cientfica. A inteno deste trabalho foi levantar dados da realidade, embasados por uma prvia reviso de literatura, em torno da temtica grau de inovatividade de produtos e suas formas de avaliao, que por sua vez se insere dentro da rea de conhecimento Gesto da Inovao Tecnolgica. Pode-se dizer a respeito deste tpico, que sobre ele a disponibilidade de estudos e pesquisas escassa e os conhecimentos pouco sistematizados,

exigindo, portanto, uma aproximao prvia com o tema a partir de entrevistas semi-

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estruturadas, aplicao de questionrios fechados, perante um grupo amostral restrito de profissionais, envolvidos em com reas especficas de atuao dentro das empresas, no caso, profissionais da rea de desenvolvimento de novos produtos de empresas do setor eletro-eletrnico do Paran. Vale a pena dizer, que as entrevistas e aplicao dos questionrios foram conduzidas pelo mtodo face a face, a exceo de um dos entrevistados que se submeteu coleta de informaes de forma remota, ou seja, por e-mail. O grupo de entrevistados foi formado intencionalmente, representando uma amostra no probabilstica. Os profissionais participantes da pesquisa, de forma isolada e com alto teor de subjetividade, apresentaram o seu ponto de vista em relao ao tema, suas opinies em relao aos questionamentos apresentados. Este processo, ao incorporar as diferentes percepes e opinies, se no confere objetividade plena ao mtodo, o insere em um contexto de subjetividade compartilhada, que sem adentrar no mrito de debates filosficos ou psicanalticos, pode ser reconhecido como um exerccio da intersubjetividade, e que permitiu a criao de uma estrutura de avaliao da inovatividade de produtos representativa em relao ao pensamento do grupo, testada posteriormente fase exploratria da pesquisa, por intermdio de um mtodo intuitivamente criado para realizar a simulao prtica de tal estrutura. Optou-se pela utilizao de uma tcnica de simulao para a validao da ferramenta de avaliao do grau de inovatividade dos produtos, devido a impossibilidade de insero do pesquisador em um ambiente real de

desenvolvimento de novos produtos. Assim sendo, a validao simulada da ferramenta foi a alternativa encontrada para se verificar a pertinncia quanto a sua funcionalidade e utilizao. 5.1 MODELO METODOLGICO E OBJETIVOS DA PESQUISA Para a realizao desta pesquisa foi constitudo um fluxo de atividades composto por cinco etapas seqenciais (Figura 02), organizadas de modo a permitir o alcance dos objetivos previamente propostos, a saber:

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Objetivo Geral: Desenvolver um conjunto de indicadores de avaliao do grau de inovatividade de produtos com o qual seja possvel estabelecer anlises comparativas.

Objetivos Especficos: A. Identificar variveis (tecnolgicas e mercadolgicas) relevantes para a composio de um conjunto de indicadores do grau de inovatividade de produtos. B. Elaborar um Instrumento de avaliao da inovatividade de novos produtos. C. Validar o Instrumento de avaliao da inovatividade de produtos. D. Desenvolver uma ferramenta (planilha) automatizada para realizao de avaliaes de inovatividade de produtos. Cada uma das etapas, seus procedimentos e objetivos com os quais se relacionam sero descritos a seguir, ainda no bojo deste captulo. Os resultados alcanados em cada uma das etapas da pesquisa sero apresentados e discutidos no Captulo 6 desta dissertao Apresentao e anlise de resultados.

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FIGURA 2 FLUXO DE ATIVIDADES METODOLGICO DA PESQUISA

PROPOSTO

NO

MODELO

A primeira etapa, bsica em todo o processo de pesquisa, foi a da reviso da literatura ou pesquisa bibliogrfica. Nesta etapa o que se buscou, alm de um conhecimento mais aprofundado sobre a importncia e influncia da dinmica inovativa na sociedade mundial e melhor compreenso quanto s atividades de desenvolvimento de novos produtos, foi a identificao de possveis fatores a serem considerados para a avaliao do grau de inovatividade de produtos, a partir da perspectiva intrnseca da empresa. A lgica conceitual utilizada na proposio da maioria destes fatores teve como base as dimenses da inovatividade mencionadas anteriormente, ou seja,

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familiaridade da empresa com os ambientes tecnolgico e mercadolgico e adequao dos recursos tecnolgicos e de marketing existentes na empresa. A segunda etapa da pesquisa consistiu em submeter a uma anlise valorativa cada um dos 17 fatores de inovatividade identificados na fase anterior, fundamentada na percepo de sua relevncia como indicador constituinte de um modelo de avaliao da inovatividade de novos produtos. Esta etapa foi desenvolvida utilizando a tcnica de entrevista estruturada, com auxlio de questionrio com perguntas fechadas, cuja formatao foi baseada na escala Likert de cinco pontos. O Instrumento foi constitudo em trs blocos (Apndice 2), sendo o primeiro deles composto por questes cuja finalidade apreender informaes referentes ao perfil do entrevistado, sobretudo no que tange aspectos relativos a sua experincia profissional, em especial na rea de desenvolvimento de produtos. O segundo bloco, formado por algumas poucas questes, cumpre a finalidade bsica de checar o quanto o atributo organizacional Inovao valorizado pela empresa representada pelo entrevistado, assim como sua percepo quanto ao valor dado inovao por empresas do mesmo segmento3. Por fim, no terceiro bloco, considerado o cerne do instrumento, foram listados os 17 fatores a fim de que fossem avaliados quanto a sua importncia individual e independente dos demais fatores, para a composio de um conjunto de indicadores usado na determinao do grau de inovatividade de produtos. O grupo de entrevistados, encarregados de realizar a seleo dos fatores de inovatividade mais relevantes ao intuito da pesquisa, foi constitudo por 13 profissionais atuantes nas reas de Desenvolvimento de Novos Produtos de 12 empresas do setor eletro-eletrnico da regio Metropolitana de Curitiba (Paran, Brasil), filiadas Associao Brasileira da Indstria Eltrica e Eletrnica ABINEE.

3

Convm sublinhar que a presena deste conjunto de questes, nesta pesquisa, pode ser considerada desnecessria uma vez que as empresas e profissionais selecionados apresentam perfil voltado inovao, j que so profissionais atuantes em reas de desenvolvimento de novos produtos, em empresas em que essas reas so formalmente constitudas. Optou-se em manter tais perguntas no instrumento de coleta de dados, com o intuito de preservar o registro das questes formuladas, caso o mesmo seja aplicado futuramente em um contexto onde no seja t