tese final

190
1 LICÍNIO ANTÓNIO TEIXEIRA BORGES EDUCAÇÃO, SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO EM MONDIM DE BASTO DESDE O MARQUÊS DE POMBAL À TRANSIÇÃO PARA A CONTEMPORANEIDADE Universidade do Minho Braga 1999

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Educação, Sociedade e Desenvolvimento em Mondim de Basto

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1

LICÍNIO ANTÓNIO TEIXEIRA BORGES

EDUCAÇÃO, SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO

EM

MONDIM DE BASTO

DESDE O MARQUÊS DE POMBAL À TRANSIÇÃO PARA A

CONTEMPORANEIDADE

Universidade do Minho

Braga 1999

2

Índice

1ª Parte ............................................................................................................................. 8

Geografia Sociedade e Tecido Económico em Mondim de Basto, ............................. 8

1- Geografia. .................................................................................................................... 9

1.1 - Geografia física. ....................................................................................................... 9

2 - Geografia política. ................................................................................................... 10

2.1 – Mondim. ................................................................................................................ 10 2.2 – Atei. ....................................................................................................................... 11 2.3 – Ermelo. .................................................................................................................. 11

3 – A População. ............................................................................................................. 14

3.1 – A Evolução Demográfica: (dos fins do século XVIII à actualidade). ................... 14

QUADRO Nº 1: A Evolução da População de Mondim de Basto (1796 / 1991) ..... 15

GRÁFICO Nº 1. A Evolução da População. .................................................................. 16

3.2 - A População Activa. ............................................................................................... 19

Quadro nº 2. Distribuição da População por Profissões .......................................... 19

Fonte: (MENDES, ob. cit: quadro nº XIII) . .............................................................. 19

Quadro n.º 3. A Distribuição da População Activa por Sectores de Actividade para

Fins do Século XVIII. ................................................................................................... 22

Quadro n.º 4. Profissões Identificadas para fins do Século XIX .............................. 22

Quadro n.º 5. A Distribuição da População por Sectores de Actividade em Fins do

Século XIX. .................................................................................................................... 23

4 – A Sociedade. ............................................................................................................. 24

4.1- O Clero. ................................................................................................................... 24

4.2 - A Nobreza. ............................................................................................................ 28 4.3 - O Terceiro Estado................................................................................................... 29

5 – O TECIDO ECONÓMICO ................................................................................... 30

5. 1 - A Agricultura ....................................................................................................... 30

5.2 - O Vinho. ................................................................................................................ 31

5.3 – Cereais. ................................................................................................................. 32

5.4 – Pecuária. ............................................................................................................... 32

5.5 – Fruticultura. ......................................................................................................... 33

5.6 – Indústria. .............................................................................................................. 34

5.7 – Comércio. ............................................................................................................. 36

3

6 – Rede Viária. ............................................................................................................. 36

7 – Emigração. .............................................................................................................. 39

7.1 – Emigração para o Brasil ..................................................................................... 39

( A partir da 2ª metade do século XIX) .......................................................................... 39

7.2 – Condicionalismos. ................................................................................................ 40

Quadro n.º 6. A Emigração de Mondim de Basto para o Brasil entre 1850 e 1870. 42

2ª Parte ........................................................................................................................... 44

A Escolarização ............................................................................................................. 44

Em .................................................................................................................................. 44

Mondim de Basto .......................................................................................................... 44

EDUCAÇÃO ................................................................................................................. 45

– Génesis do Sistema Educativo Mondinense. ............................................................... 45 1.1 A Reforma Pombalina. ........................................................................................ 45 Quadro nº 7. O Actual Distrito de Vila Real no Mapa Escolar Pombalino .................... 47 Gráfico nº 2. Distribuição das Cadeiras. ......................................................................... 47

1.2 - O Período Mariano. ................................................................................................ 50

Quadro nº 8. O Actual Distrito de Vila Real no Mapa Escolar Mariano...................... 51

Quadro nº 9. A Implantação Efectiva dos Professores Régios do Século XVIII em

Mondim de Basto ........................................................................................................... 54 1.3 - A Real Junta da Directoria Geral dos Estudos ....................................................... 55

1.4 - Conclusão ............................................................................................................... 56

2 – CONSOLIDAÇÃO DO SISTEMA EDUCATIVO MONDINENSE. ..................... 59 - A REFORMA DE COSTA CABRAL. ........................................................................ 59

Introdução ....................................................................................................................... 59

2. 1 – Efeitos Fundamentais da Reforma em Mondim de Basto. ................................... 59 Quadro n.º10. Número das Escolas Primárias Portuguesas de 1843 A 1859 ................. 62

3 – O Movimento da Regeneração. Um Tom de Esperança. ......................................... 65 3.1 – Inquéritos de 1863 – 1864. .................................................................................... 65

Quadro nº 11. Estatística das Escolas de Instrução Primária do concelho de Mondim de

Basto, Segundo os dados da Inspecção de 1863 - 1864 ................................................. 66 1 – Das Escolas ............................................................................................................... 66 2 – Dos Professores: ....................................................................................................... 67 3 – População das escolas e ensino dos alunos .............................................................. 67

3.2. – Análise sumária sobre os resultados dos inquéritos. ............................................ 68

3.2.1. - Das escolas. ........................................................................................................ 68

3.2.2 - Do professorado. ................................................................................................ 69 Quadro nº 12 . Professores do ensino elementar em Mondim de Basto a cargo do

Estado à data do Inquérito de 1863-64. .......................................................................... 69 3.2.3 – Dos alunos. ......................................................................................................... 70 Quadro nº 13. Inquéritos Escolares: 1873/1874 ............................................................. 72

Mapa estatístico dos alunos de instrução primária ......................................................... 72

Mapa da distribuição por disciplinas e classes, dos alunos que frequentaram a escola e dos que apresentam à inspecção ............................................................. 73

1873 / 1874 ................................................................................................................... 73

4

Mapa da distribuição por disciplinas e classes, dos alunos que frequentaram a escola e dos que apresentam à inspecção ............................................................. 74 1873 / 1874 ................................................................................................................... 74 Mapa Estatístico dos Alunos de Instrução Primária, com Relação ao Ano Lectivo 1873 /

1874 ................................................................................................................................ 75

Quadro n.º 14.Resultado da Inspecção no dia 6 de Julho de 1875 .................... 76 3.4 – Conclusões. ............................................................................................................ 77 4 – A UNIVERSALIZAÇÃO DO ENSINO EM MONDIM DE BASTO .................... 81 - A REFORMA DE RODRIGUES SAMPAIO. ............................................................ 81

Introdução ..................................................................................................................... 81

4.1 - Aspectos fundamentais da reforma. ....................................................................... 81 4.2 – Efeitos práticos da Reforma em Mondim. ............................................................. 84 4.2.1 - A Rede Escolar. ................................................................................................... 85

4.2.2 - O Professorado. ................................................................................................... 85 Quadro nº 15. Professores do ensino elementar a cargo do Estado,, da Câmara

Municipal de Mondim de Basto e das Confrarias das Almas de 1878 a 1910 ............... 93 4.2.3 - Nomeação dos Professores. ................................................................................. 96 4.2.4 - Mobilidade/Estabilidade do Corpo Docente. ...................................................... 96

4.2.5 - Os professores Particulares. ............................................................................... 96

4.2.6– Os Professores Adjuntos. ..................................................................................... 98 4.2.7 – Os Salários. ......................................................................................................... 98 4.3 – As Comissões Promotoras de Beneficência. ....................................................... 100

4.4 – Dos Alunos .......................................................................................................... 101

Quadro nº 16. Número de alunos aprovados em exame de Instrução Primária entre

1882 - 1894 em Mondim de Basto ............................................................................... 102

Quadro nº 17 ................................................................................................................ 102

Quadro nº 18 ................................................................................................................ 102

Quadro n.º 19 ............................................................................................................... 102

4.5 - Conclusões ........................................................................................................... 103

5 - OS EDIFÍCIOS ESCOLARES ............................................................................... 104 5.1 - Mondim de Basto. ................................................................................................ 104

Quadro nº 20. Receitas e despesas da Câmara Municipal para a Educação (1901 a

1904). ............................................................................................................................ 108 5. 2 – Atei. .................................................................................................................... 108

Quadro nº 21. Orçam. da Inst. Primária para o ano de 1886 na freguesia de Atei. ...... 110 5. 3 – Bilhó. .................................................................................................................. 112

5. 4 – Anta e Bobal. ...................................................................................................... 114

5. 5 – Ermelo. ............................................................................................................... 115

5. 6 – Fervença. ........................................................................................................... 117

5. 7 – Paradança. ......................................................................................................... 118

5. 8 – Vilar de ferreiros. ............................................................................................. 120

5.9 – Vilarinho. ............................................................................................................ 121

5. 10 – Campanhó, Vilar de Viando e Pardelhas. .................................................... 122

Quadro nº 22. Situação dos edifícios escolares em Mondim de Basto em 1915 ... 124

5

Total ............................................................................................................................. 124

3º Parte .......................................................................................................................... 126

A Alfabetização em Mondim de Basto ........................................................................ 126

2ª Metade do séc. XIX .................................................................................................. 126

1 – INTRODUÇÃO. ..................................................................................................... 127

2 - PROVENIÊNCIA DOS TESTAMENTOS. ........................................................... 128

QUADRO Nº 23. Distribuição dos Testamentos por Freguesias. .......................... 129

GRÁFICO Nº 3. Proveniência dos Testamentos...................................................... 129

2.1 – Tipo de testadores e respectiva profissão. ....................................................... 129

Quadro Nº 24. Profissão dos Testadores (as). .......................................................... 130

Gráfico Nº 4. Profissão dos Testadores. .................................................................... 130

2.2 – Testadores face à alfabetização. ....................................................................... 130

Quadro Nº 25. Tipos de Assinaturas. ........................................................................ 131

3 – TESTEMUNHAS. .................................................................................................. 131

3.1 – Profissões das testemunhas. .............................................................................. 131

Quadro nº 26. Profissões das Testemunhas. ............................................................. 132

3.2- As assinaturas das testemunhas. ........................................................................ 132

Quadro nº 27. Número de Chancelas Contabilizadas por Profissão. .................... 133

Quadro nº 28. Tipos de Assinaturas ......................................................................... 133

Quadro nº 29. Grupos de Assinantes de “ Cruz”..................................................... 134

3.3- Frequência de assinatura das testemunhas. ...................................................... 135

II ................................................................................................................................... 137

4 - OS JURADOS ........................................................................................................ 137

4.1 – A instituição do júri. .......................................................................................... 137

4.2 – Quem é convidado para jurado? ...................................................................... 137

Quadro nº 30. Recenseamento do Júri Comum de 1900 a 1911 ............................. 138

GRÁFICO Nº 5. PROFISSÕES DOS JURADOS ................................................... 138

5 – Conclusão. ............................................................................................................. 139

6 - ANÁLISE DO GRAU DE ALFABETIZAÇÃO DA POPULAÇÃO MONDINENSE

EM 1878 E A SUA EVOLUÇÃO ATÉ 1890 .............................................................. 141

6.1 – Introdução. ........................................................................................................... 141

QUADRO Nº31 . CENSOS DE 1878 PARA MONDIM DE BASTO .................... 142

6.2 - O NÍVEL DE ESCOLARIDADE POR FREGUESIA NO CONCELHO DE

MONDIM DE BASTO EM 1878. .............................................................................. 144

6

7 - ANÁLISE DO NÍVEL DE ESCOLARIDADE POR FREGUESIA NO

CONCELHO DE MONDIM DE BASTO COM BASE NOS CENSOS DE 1890. 148

Quadro nº 32. RESULTADOS DOS CENSOS DE 1890 ........................................ 148

7.1 - Escalas de classificação do conceito de alfabeto, segundo o censo de 1890. .. 149

7.2 – Análise dos dados. .............................................................................................. 149

8 – Conclusão. ............................................................................................................. 151

Quadro nº 33. Comparação Entre Índices de Alfabetização a Nível Nacional e

Mondim de Basto. ....................................................................................................... 151

MÉDIA ........................................................................................................................ 151

MONDIM ..................................................................................................................... 151

MÉDIA NACIONAL .................................................................................................. 151

4ª Parte .......................................................................................................................... 154

O Desenvolvimento ...................................................................................................... 154

1 - O LENTO CAMINHO DA MUDANÇA ............................................................. 155

1.1 – Introdução. ........................................................................................................... 155

2 – A ESTRUTURA SOCIAL: PERMANÊNCIAS E MUDANÇAS .................... 156

2.1 - O Povo. ................................................................................................................ 156

2.2 - O Clero. ............................................................................................................... 158

2.3 - A Nobreza. .......................................................................................................... 159

2.4 - A Burguesia. ........................................................................................................ 160

2.5 – Conclusão. .......................................................................................................... 160

3 - FUNÇÕES E PRÁTICAS DA ALFABETIZAÇÃO E DA ESCOLARIZAÇÃO

...................................................................................................................................... 161

3.1 - A Alfabetização como Desenvolvimento ............................................................. 161

3.2 - A Escolarização e o seu Papel Alfabetizador ....................................................... 164

4 - MATERIALIDADE E ACÇÃO ........................................................................... 166

4.1 -- As Elites e a Classe Média na Gestão Municipal e Paroquial ....................... 166

4.1.1 – Biografia 1: ...................................................................................................... 168

4.1.2 - Biografia 2: ...................................................................................................... 168

4.2 – Oportunidades e Destinos de Vida ................................................................... 169

QUADRO Nº 34. Oportunidades e Destinos de Vida dos Alunos que Fizeram o

Exame Elementar entre 1882 e 1894 ........................................................................ 170

4.3 - HISTÓRIAS DE VIDA DE ALGUNS EMIGRANTES ................................. 173

5 - CONCLUSÕES FINAIS ....................................................................................... 177

7

BIBLIOGRAFIA: ......................................................................................................... 182

MANUSCRITA ........................................................................................................... 182

1 - ARQUIVOS CENTRAIS ...................................................................................... 182

2 - ARQUIVOS DISTRITAIS ................................................................................... 182

3 - ARQUIVOS LOCAIS ........................................................................................... 183

4 - ARQUIVOS PAROQUIAIS ................................................................................. 183

BIBLIOGRAFIA IMPRESSA: ................................................................................. 184

8

1ª Parte

Geografia,

Sociedade

E Tecido Económico em

Mondim de Basto

9

1- Geografia.

1.1 - Geografia física.

Mondim.

Concelho rural, distrito e diocese de Vila Real, província de Trás - os - Montes

situa-se na margem esquerda do Tâmega e faz parte integrante da Região de Basto,

região que se caracteriza por uma certa identidade de aspectos comuns a toda ela. Não

apenas as condições gerais do clima e posição mas ainda as particularidades da natureza

e do relevo do solo, o manto vegetal e as marcas da presença humana, nos darão o

sentimento de não sairmos da mesma terra, como escreveu Orlando Ribeiro.

A Região de Basto estendendo-se pelo troço médio da bacia hidrográfica do rio

Tâmega, com uma área aproximada de 825 Km2 quadrados, é definida a Noroeste e a

Norte pela serra da Cabreira e serra das Alturas, a Oeste pelo planalto do Monte Longo

e a Este pela serra do Alvão e Altos das Caravelas. É limitada a Norte pelos concelhos

de Boticas e Montalegre, a sul pelo concelho de Amarante, a Oeste pelos concelhos de

Vieira do Minho, Fafe e Felgueiras e a Este pelos concelhos de Vila Real e Vila Pouca

de Aguiar. Faz parte da denominada Região de Basto, região de montanhas

“entrecortada de fecundas campinas e vales (VASCONCELLOS, 1942: III: 191). “Esta

região da bacia média do Tâmega reveste uma fisionomia peculiar, em que, se ainda

aparecem traços transmontanos, já dominam as características do território de entre

Douro e Minho (TABORDA, 1932: 9).

O Concelho tem uma área de 178,48 km2, distribuídos por oito freguesias: Atei,

Bilhó, Campanhó, Ermelo, Mondim de Basto, Paradança, Pardelhas e Vilar de Ferreiros

Encontra-se inserido na faixa de transição entre o litoral e o interior norte o que

faz com que a sul existam áreas planas sujeitas a uma forte ocupação e a norte a

montanha, sinuosa, fortemente declivada e pouco propícia à colonização. Existem, por

isso, poucos solos propícios à fixação das populações. A tipologia dos solos

condicionou ao longo dos séculos a forma de povoamento. Assim, encontramos no

concelho duas formas de povoamento: o disperso e o concentrado. O primeiro assenta

num esquema social, vindo dos séculos XVII e XVIII, em que a propriedade se

mantinha pelo sistema de morgadio. As grandes propriedades tinham implantado a

“Casa Senhorial” e dependências agrícolas em lugares estratégicos possibilitando o

10

controlo das casas dos caseiros que se encontravam dispersas por áreas de exploração

menores e que dependiam directamente de uma família. O segundo é visível na zona de

montanha e resulta das condições naturais. O grosso da população vive na sede do

concelho, sede esta que funciona como pólo aglutinador do mesmo.

2 - Geografia política.

( a partir da segunda metade do século XVIII )

2.1 – Mondim.

Havia recebido foral de D. Manuel I em 3.6.1514. Em fins do século XVIII era

“Donatário dele o Marquês de Marialva. Foi da correição de Guimarães e hoje [finais

de setecentos], pela regulação da lei de mil setecentos e noventa e dois só lhe pertence

pela provedoria. Está unido á correição de Vila Real, a quem também é sujeito pelo

eclesiástico, por ser do arcebispado de Braga. Tem juiz ordinário, eleito pelo corregedor

da dita comarca, confirmado pelo donatário, e juiz de órfãos, separado” (MENDES,

1981: 501).

Esta forma de poder irá ser alterada brevemente. Efectivamente em 1820 foi

proclamado o regime liberal. Em 1826, a 29 de Abril é outorgada ao reino a carta

constitucional. O país transforma-se num vespeiro de sublevações. A 26 de Novembro

de 1830, por reforma administrativa, são instituídas as Juntas de Paróquia as quais, por

decreto de 19 de Fevereiro de 1831 vêem os suas competências muito alargadas: para

além do poder político recebem o encargo da administração temporal das igrejas e

capelas, acabadas de subtrair à autoridade dos prelados.

Em 1851, a Câmara envia ao Duque da Saldanha uma carta a felicitá-lo pelo

movimento da Regeneração.

Em 1 de Fevereiro de 1865 a mesma Câmara solicita à Rainha, num extenso

documento, que seja criada a Comarca de Mondim de Basto, deixando assim de

pertencer à de Vila Pouca de Aguiar e procurando-se dessa forma que não passasse a

pertencer à de Celorico de Basto, conforme uma proposta de Lei previa.

Pelo decreto de 26.09.1895, foi este concelho agrupado ao de Celorico de Basto,

vindo a ser suprimido em 26.06.1896. Foi restaurado em 26.01.1898. Assim se mantém

até hoje.

11

2.2 – Atei.

Teve foral concedido por D. Manuel em 3.6.1514. Era vigairaria da

apresentação do convento de Santa Clara de Vila do Conde.

Era donatário o Marquês de Marialva. Tinha cadeia e Casa da Câmara. “Foi da

correição e provedoria de Guimarães e hoje [finais de setecentos], só é da dita

provedoria e comarca de Vila Real, a quem também pertence pelo eclesiástico por ser

do arcebispado de Braga. Tem juiz ordinário, juiz de órfãos, sargento-mor de

ordenanças que serve neste concelho e nos de Mondim , Cerva e Ermelo, e sete capitães

da sua repartição “(MENDES, ob. cit.: 469).

Em 1835 deu-se a revolução de Setembro que trouxe ao poder Passos Manuel.

Por decreto de 6 de Novembro reduziam-se a 351 os concelhos do País, sendo

suprimidos 465, entre os quais Atei que passou a integrar-se como simples freguesia no

de Cerva até 1853 altura em que passa definitivamente para o de Mondim de Basto.

2.3 – Ermelo.

Em Abril de 1196 D. Sancho I concedeu-lhe a 1ª carta de foral, que foi

confirmada mais tarde, em Março de 1218, por nova carta. A 3 de Junho de 1514, D.

Manuel I concedeu-lhe nova carta.

A antiga freguesia era abadia de apresentação do Marquês de Marialva.

Na resposta ao inquérito dirigido pelo padre Luís Cardoso, lemos: “Esta

freguesia fica situada entre dois montes de serras, uma é o Marão da parte do

nascente, e da parte do norte a serra da Lousa, há mais serra que vales mas não se

descobrem povoações nenhumas. Esta freguesia é comarca de Vila Real Arcebispado

de Braga, Termo e concelho da vila de Ermelo da provedoria da vila de Guimarães. É

donatário desta igreja o ilustríssimo e excelentíssimo Marquês de Marialva...

Há nesta vila e freguesia Juiz ordinário dois vereadores um procurador,

nomeados em pauta e confirmados pelo donatário, estes fazem câmara, tem escrivão

do judicial (...) e orfãos. Tem escrivão da câmara e fazem quatro vereações no ano,

correição e fazem audiência às segundas feiras...” (CARDOSO, 1758: Vol 13, Maço

30, folha 241).

12

Em 1840 a freguesia da Campeã, com Vila Cova e Quintã passam a pertencer ao

concelho de Ermelo.

Em 1843 tentou-se acabar também com este concelho mas, por força da vontade

popular que enviou à Rainha um extenso documento com noventa assinaturas onde se

fazia uma longa exposição para que o concelho se mantivesse, este manter-se-á mais

alguns anos.

A 31 de Dezembro de 1853 o concelho não resiste à investida da Regeneração e

é extinto, por reforma administrativa e anexado ao de Mondim de Basto.

Em 1/08/1867 a Junta de Paróquia reúne-se extraordinariamente sob a

presidência de Francisco Assunção Monteiro e com a presença dos vereadores José

Maria Pinheiro e Manuel José Alves Machado e do regedor da freguesia, Manuel da

Costa Peixoto, cumprindo o que determinava a lei de 26 de Julho e instruções de 11

de Julho do mesmo ano, para dar o parecer sobre a nova divisão do território relativo à

formação da paróquia civil, o presidente disse que “reunindo Ermelo, outrora cabeça

de concelho, todos os requisitos que a lei exige, deve constituir-se em sede de

paróquia civil anexando-se-lhe as freguesias de Campanhó, Pardelhas, Bilhó e Lamas

de Olo, as quais com esta de Ermelo formaram por mais de três séculos o concelho

deste nome, e cujo número de fogos se eleva actualmente a 719, que apresentava a sua

proposta à discussão da Junta e Regedor para que, tendo em vista a comodidade dos

povos, deliberassem e dessem a sua consulta sobre este objecto. Em seguida, a junta e

regedor, depois de maduras reflexões, tendo em consideração as relações tradicionais

desta freguesia de Ermelo, atendendo a que foi cabeça de concelho de 1514 até 1853,

e que tem desde remota época uma cadeira de instrução primária, que há nela uma

feira mensal, a que concorrem com seus gados todas as freguesias indicadas, que é a

mais populosa pois consta de 305 fogos, e fica no centro de todas, e que apesar de ser

unida em 1853 a Mondim de Basto, se conservou nela sempre um distrito de Juiz de

Paz; atendendo a que a freguesia de Campanhó contém somente 76 fogos, fica

distante de Ermelo 6 quilómetros e não pode fazer parte da paróquia de Mondim de

Basto, em razão da longitude e dificultosa passagem do rio Olo; atendendo a que a

freguesia de Pardelhas dista de Ermelo somente 3 quilómetros, e contém apenas 55

fogos; atendendo a que a freguesia do Bilhó consta de 230 fogos, fica distante de

Ermelo 5 quilómetros não podendo formar de per si paróquia civil, nem ser anexada a

Mondim ou Atei pela grande distância, dez ou onze quilómetros, e por causa dos

13

péssimos caminhos, e grandes ribeiros; atendendo a que a freguesia de Lamas de Olo,

apesar de ficar distante de Ermelo 9 quilómetros não pode formar paróquia civil, por

conter somente 53 fogos, e não pode pertencer senão a Ermelo por ficar distante das

outras paróquias do concelho mais de 12 quilómetros; atendendo principalmente à

facilidade de comunicações entre todas estas freguesias; à identidade dos seus hábitos

e costumes pois se tem regulado sempre pelo mesmo livro de posturas, e enquanto

formavam o antigo concelho, viveram sempre em boa harmonia. Por todas as

ponderosas razões alegadas a divisão a apontar é circunscrita como se acha pela

própria natureza do solo e assim deve ser aproveitada..... pelo governo de sua

majestade para constituir em paróquia civil as freguesias mencionadas, designando

Ermelo para sua sede. E concluída assim a presente sessão ordenou o presidente que

se extraísse cópia dela assinada por todos os membros e regedor e fosse enviada à

administração deste concelho para seguir o devido destino” (A.J.F.E.).

Apesar destes argumentos não serão concretizadas estas justas aspirações.

Mais tarde, de 26 de Junho de 1896 a 13 de Janeiro de 1898 pertencerá ao

concelho de Celorico de Basto.

Nesta data volta de novo, e agora definitivamente, ao Concelho de Mondim de

Basto, com uma área aproximada de 4.108 ha, tendo como limites as freguesias de

Mondim de Basto, Vilar de Ferreiros, Bilhó, Pardelhas, Paradança, Campanhó e Vila

Real e como povoados os lugares de Assureira, Barreiro, Covas, Ermelo, Fervença,

Paço, Ponte de Olo e Varzigueto.

A integração de Ermelo no concelho de Mondim de Basto fará com que caia

numa espécie de adormecimento, tanto por culpa do poder central como concelhio,

perdendo muito da sua dinâmica. Aliás isto é confirmado por uma notícia publicada a

12/05/1909 no jornal “O PROGRESSO DE MONDIM ” onde se lê: “a freguesia de

Ermelo começa a despertar do sono indiferente em que tem vivido e a interessar-se

pelos seus melhoramentos. Ouvimos que se a diligência conseguir o serviço de correio

para Vila Real pelo caminho mais curto, que é de Mondim por Ermelo e Campeã, com

o que muito lucrará esta terra e até todo o concelho, pois pode receber em dia a

correspondência permutada com a sua capital de distrito, ao passo que por Vila Pouca

a demora é de três dias, com prejuízo tanto para o comércio como para os serviços

inerentes”.

14

3 – A População.

3.1 – A Evolução Demográfica: (dos fins do século XVIII à actualidade).

A análise da componente demográfica de uma área específica é fundamental

para o seu conhecimento qualitativo e quantitativo, assim como para avaliar com

rectidão o potencial de desenvolvimento dessa área, de modo a que os vários agentes

actuantes e todas as instituições obtenham um suporte para as suas diversas formas de

intervenção, definição de necessidades e implementação dos programas de acção.

A evolução da população no concelho está efectivamente associada a marcos da

história nacional, que directa ou indirectamente tiveram reflexo nos mais ínfimos

espaços da nação. Consequentemente estes marcos produziram alterações profundas na

sociedade em geral e em particular na distribuição e estrutura da população.

O estudo apresentado apenas evidencia uma vertente simplista da análise

demográfica, uma vez que, apenas pretende retractar o sentido evolutivo da população

do concelho (quadro nº 1).

Na realização deste estudo ficaram patentes, devendo-se realçar certas

incongruências e imperfeições nos dados observados, revelando-se muitas vezes a

recolha de dados impossível para medir todas as ocorrências da evolução da população

que este estudo exigia.

15

QUADRO Nº 1: A Evolução da População de Mondim de Basto (1796 / 1991)

ANO

CONC.º

FOGOS

POPULA.

FONTE

1796

Mondim

Atei

Ermelo

Atei

Ermelo

724

320

483

2303

1106

1441

Da Visitação de Ribeiro de Castro

1798

Mondim

Atei

Ermelo

724

320

483 (*)

2303

1106

1441

Censo de Pina Manique

1801 Mondim

Atei

Ermelo

662

309

2471

2466

1171

1959

Tábuas Topográficas e Estatísticas de 1801

1864 Mondim

7059 Censo nº 1 de Janeiro de 1864.

Lisboa, 1868.

1875

Mondim 1843 Anuário Estatístico do Reino de Portugal

1878 Mondim 1811 7016 Censo de João da Costa, Lisboa, I.N.E.,1881

1890 Mondim 7109 Censo da População de Portugal,

1.12.1890, Vol I,pag.230/1 , Vol II, pag. 281

e Vol III, pag. 182 e 248.

1900 Mondim 7641 INE

1911 “ 7923 ”

1920 “ 8398 “

1930 “ 9508 “

1940 “ 9508 “

1950 “ 10539 “

1960 “ 10328 “

1970 “ 9640 “

1981 “ 9904 “

1991 “ 9518 “

2001 “ 9540 “

2011 “ 7496 “

16

GRÁFICO Nº 1. A Evolução da População.

0

2000

4000

6000

8000

10000

12000

1801 1864 1878 1890 1900 1911 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1981 1991 2001 2011

A evolução da população do concelho evidencia uma forte irregularidade, cujas

causas resultam dos reflexos da conjugação de dois importantes fenómenos

demográficos, crescimento natural e crescimento migratório. Estes últimos assentam nas

transformações socioeconómicas e políticas que ocorreram no território e em particular

no concelho.

Atendendo ao ano a que o início deste estudo se reporta 1796, finais do século

XVIII, o concelho1 regista uma população absoluta de 4850 habitantes, por comparação

com a contagem seguinte que dista no tempo cinco anos (1801), o mesmo concelho

regista um relativo aumento da sua população absoluta, ou seja, um crescimento

efectivo na ordem dos 15,38%, totalizando um valor absoluto de 5596 habitantes.

A evolução de 1796 para 1801 (um espaço muito curto) revela-nos importantes

alterações de quantitativos, sobretudo no concelho de Ermelo onde se assiste a um

aumento de 400% do número de fogos (de 438 para 2471) e do número de habitantes

em 50% (de 1441 para 2059), o que é manifestamente impossível. A evolução do

número médio de pessoas por fogo - de um valor normal para um valor anómalo -, leva-

nos à conclusão de que houve erro no cômputo de 1801. Aliás, se atendermos ao censo

de Pina Manique de 1798 verificamos que o número de fogos atribuídos a Ermelo é de

480 - menos três do que o censo de Columbano - e que se entendermos que o índice três

é aceitável teremos uma população de 1440 indivíduos, o que é praticamente igual ao

número de Columbano e reforça portanto a ideia de que o censo de 1801 está

1 Junção da população de Mondim, Ermelo e Atei.

17

efectivamente muito exagerado. Naturalmente temos que ter sempre presente que

estamos a falar de possíveis hipóteses dado que não nos podemos esquecer da forma

como os censos anteriores a 1864 foram feitos, baseados num sistema de recolha de

dados muito imperfeitos de que resultaram números que nos devem merecer muitas

cautelas quando os utilizamos, como nos diz Amado Mendes “não exijamos mais das

fontes demográficas do século XVIII do que elas nos podem dar - uma indicação

aproximada da realidade com a qual se relacionam”.

Ao longo de todo o século XIX a população de Mondim (incluímos os três

concelhos) aumenta muito insignificativamente. Várias são as hipóteses explicativas,

entre as quais sobressairão a forte saída para o estrangeiro - principalmente o Brasil -

num movimento bastante regular a partir dos meados do século XIX e que se prolongará

pelo século seguinte, o que fará da região de Basto uma das regiões onde o fenómeno da

emigração será mais fortemente acentuado. Outra das hipóteses a considerar tem a ver

com as condições económicas. O concelho era bastante diminuído de rendimentos - à

excepção de um número muito reduzido de famílias -, e a fracas condições económicas

corresponderiam fracas condições de sobrevivência que se reflectiam num número

diminuto de casamentos e da natalidade e num número elevado de mortalidade.

De 1801 a 1864, a população absoluta passou de 5596 para 7059, registando um

acréscimo do efectivo populacional da ordem dos 26,14%, para um período de 63 anos,

o que reflecte um ritmo de crescimento populacional lento comparado com o anterior.

São conhecidas desta época as tendências migratórias para o Brasil.

A contagem da população a partir de 1864 passa a ter um carácter oficial, já que

é efectuado por organismos nacionais, os quais procuram abranger a totalidade do reino.

De 1864, data do primeiro censo oficial, até 1950, o concelho evidenciou um

relativo aumento da população absoluta, registando nesta última década o seu valor

máximo jamais atingido, ou seja, um total de 10539 habitantes.

Para testar as incompatibilidades na contagem da população, o “Censo de João

da Costa de 1878“ regista para o mesmo ano uma população absoluta da ordem dos

7016 habitantes, valor inferior ao do ano de 1864 contrariando assim a tendência geral

já exposta.

Neste período a taxa de crescimento efectivo variou entre os -0,6% de 1864 a

1878; 1,32% de 1878 a 1890; 7,48% de 1890 a 1900.

A primeira metade do século XX, corresponde a um período de forte

crescimento populacional no concelho, registando taxas de crescimento efectivo que

18

variam entre os 3,69% de 1900 a 1911 e os 13,2% registados no período que vai de

1920 a 1930. Contudo este ritmo de crescimento não foi gradual, pois na década

seguinte registou praticamente um crescimento nulo, mais concretamente, a população

absoluta de 1940 correspondia aproximadamente à da década anterior.

Dobrada a primeira metade do século XX, a tendência geral da evolução da

população do concelho passa por uma crescente diminuição dos efectivos

populacionais. Assim sendo, de uma população absoluta de 10539 em 1950 passamos

para 10328, em 1960.

Nestas décadas são particularmente visíveis as consequências dos movimentos

migratórios, tendo-se pautado a estrutura demográfica do concelho pela maior ou menor

incidência do fenómeno dentro do mesmo.

De 1960 a 1970 a população absoluta passou de 10328 para 9640 habitantes, de

1970 a 1981, inverte-se a tendência oficializada na década de 50, neste período o

concelho evidenciou um relativo aumento da sua população absoluta, passando de 9640

para 9904 habitantes. Contudo na década seguinte 1991, registou-se novamente uma

diminuição da população absoluta, centrando-se nos 9518 habitantes.

Em termos de crescimento efectivo a segunda metade do século trouxe para o

concelho taxas negativas, variando entre os -6,66%, registados no período que vai de

1960 a 1970 e os 2,7% registados na década seguinte. É de salientar pela negativa que

de 1981 a 1991 o concelho evidenciou nova quebra da taxa de crescimento efectivo,

registando o valor de -3,89%.

Rematando esta análise pode-se concluir que a evolução da população do

concelho de Mondim de Basto conheceu dois momentos distintos, atendendo ao período

em análise.

O primeiro período engloba o ano de 1796 até 1950, em que a tendência geral da

evolução da população é positiva. Registando uma taxa de variação da ordem dos

117,2% (curiosidade - foram necessários 154 anos para a população duplicar).

O segundo período, que vai de 1950 a 1991, regista uma evolução negativa da

população, evidenciando uma taxa de variação que se cifra nos -17,9% da população.

19

3.2 - A População Activa.

O concelho de Mondim de Basto possui uma vasta área de montanha, o que vai

moldar em parte as actividades que nele se desenvolvem. Destas destaca-se como

actividade predominante a agrícola, aproveitando por um lado a capacidade do uso dos

solos e por outro os recursos hídricos disponíveis. A tipologia geográfica faz com que

“os homens sejam corpulentos, robustos e muito aptos para o serviço militar por causa

da aspereza da situação, valentes e cobiçosos de honra. As mulheres são igualmente

fortes e ajudam seus maridos na cultura das terras”, como nos diz Ribeiro de Castro.

Quadro nº 2. Distribuição da População por Profissões

PROFISSÕES MONDIM % ATEI % ERMELO % TOTAL %

Eclesiásticos 33 2,3 8 2,3 12 2,5 53 4

P. Literárias 7 1,1 4 1,1 1 0,2 12 1

Sem ocupação 66 10,8 22 6,3 71 14,8 159 11

Cirurgiões 1 0,2 1 0,3 2 0,4 4 0

Boticários 1 0,2 1 0,3 0 0 2 0

Barbeiros 4 0,6 2 0,6 9 1,9 15 1

Lavradores 196 32,1 87 24,8 268 55,8 551 38

Jornaleiros 104 17 111 31,6 19 4 234 16

Alfaiates 28 4,6 14 4 18 3,8 60 4

Sapateiros 5 0,8 3 0,8 2 0,4 10 1

Carpinteiros 9 1,5 8 2,3 24 5 41 3

Negociantes 0 0 6 1,7 0 0 6 0

F. courama 50 8,2 0 0 0 0 50 3

Pedreiros 2 0,3 3 0,9 6 1,2 11 1

Ferreiros 3 0,5 1 0,3 3 0,6 7 0

Ferradores 1 0,2 1 0,3 0 0 2 0

Almocreves 2 0,3 4 1,1 2 0,4 8 1

Criados 47 7,7 37 10,5 25 5,2 109 8

Criadas 52 8,5 38 10,8 18 3,8 108 7

Total 611 100 351 100 480 100 1442 100

Fonte: (MENDES, ob. cit: quadro nº XIII)2 .

Este quadro permite-nos verificar como é que a população se distribuía pelas

diferentes actividades económicas nos fins do século XVIII. Assim:

2 O cálculo das percentagens foi feito por nós.

20

Para a província de Vila Real são referidos cinquenta e seis grupos ocupacionais.

Para Mondim (somando os três concelhos) são referidos apenas dezanove, o que revela

a pouca especialização das profissões.

Os dados apresentados permitem-nos verificar o peso que cada actividade económica

apresenta para o conjunto da população activa dos locais em análise. De um total de

4850 habitantes, cerca de 1/3 dessa população, mais concretamente 1442 indivíduos

exerce uma actividade económica. Este é um valor comum ao resto da província. “...Isto

permite-nos sugerir que a classificação levada a efeito terá sido, essencialmente, dos

cabeças dos agregados familiares...“ como Joel Serrão constatou. No entanto do total da

população activa, saliente-se o facto de cerca de 11% desta população corresponder aos

indivíduos sem ocupação.

Mondim é sem dúvida o lugar com uma população activa mais elevada, 42,4%

logo seguido pelo lugar de Ermelo, 33,3% e pelo lugar de Atei com cerca de 24,3%.

De um modo geral não existem grandes contrastes ao nível da distribuição dos activos

segundo a sua profissão relativamente aos três lugares. Só pontualmente no caso dos

eclesiásticos que apresentam um maior número em Mondim; os carpinteiros estão

bastante representados em Ermelo; “negociantes” é uma actividade apenas presente em

Atei; assim como os fabricantes de courama apenas figuram em Mondim.

Como os dados evidenciam é de salientar a supremacia das actividades ligadas à

agricultura (lavradores e jornaleiros) que compreende 54% do total da população activa.

Para alem desta actividade, a classe dos criados e das criadas evidenciam também uma

forte ocupação, cerca de 15% da população activa.

Sem dúvida que o sector primário, alicerçado pela grande percentagem de

população activa na agricultura, respectivamente 38% de lavradores e 16% de

jornaleiros, aparece como o principal sector económico. Comparando o total de

lavradores dos três lugares, Mondim 32;1%; Atei 24,8% e Ermelo 55,8% com o total de

jornaleiros, Mondim 17%; Atei 31,6% e Ermelo 4% verificamos que a propriedade se

encontra pouco dividida em Mondim e Atei e muito dividida em Ermelo o que explicará

a existência de tão diminuto número de jornaleiros neste concelho, onde serão os

próprios donos das terras quem as trabalha. Curiosamente não aparece o conceito de

proprietários.

Outra actividade económica que subsiste com elevados efectivos activos diz

respeito à categoria dos criados e criadas, que no total representa 15% da população

activa total.

21

Se associarmos as anteriores classes podemos concluir que os regimes de poder

pessoal (Feudo) controlam fortemente e preservam a autoridade e o poder de grandes

proprietários da terra.

Atendendo a esta estrutura funcional predominante, e dado o peso pouco

significativo das outras actividades económicas, como sapateiros com 1%, carpinteiros,

3%, ferreiros e ferradores com valores inferiores a 1%, é provável que exercessem a sua

actividade profissional em parceria com a agricultura.

A actividade comercial apresenta uma parcela relativamente pequena do total da

população activa. Mais concretamente 1% de almocreves e menos de 1% para o grupo

dos negociantes. Por um lado a existência de um sistema de economia fechado, da qual

não se exclui um sistema de produção virado para o auto-consumo, pode estar na base

da fraca importância deste sector e por outro, dado o facto de por aqui não passar

qualquer via importante funcionava como factor desencorajador. Não entendemos, no

entanto, como é que sendo Mondim o concelho mais importante dos três, ali não se faça

referência à existência de qualquer negociante. De qualquer modo podemos ver aqui

uma fraca presença do grupo social da Burguesia.

Os eclesiásticos representam uma actividade com relativa expressão,

concretamente 4% da população activa o que revela o forte peso que a Igreja possui

enquanto instituição “eclesiástica” e “nobiliárquica”. Não se trata de um valor

conjuntural pois que, ao longo de todo o século XIX, o número será sempre elevado.

É insignificante o número de pessoas literárias referidas. Já o padre Luís

Cardoso havia afirmado que aqui encontrou referência a apenas duas pessoas “insignes

nas artes liberais” (CARDOSO, 1758: ob. cit., vol 24, maço 176, folha 1159).Trata-se

de Frei Manuel de Jesus Maria Joseph, Geral dos Carmelitas Descalços e do doutor

Desembargador da Relação do Porto Manuel de Carvalho Pais.

A situação pouco evoluirá ao longo do século XVIII3.

Se fizermos o agrupamento por sectores de actividade - excluindo os sem

ocupação e os clérigos que representam 15% do total - ficamos com 17 grupos assim

distribuídos: Sector Primário : lavradores e jornaleiros; Sector Secundário: fabricantes

de courama, carpinteiros, sapateiros, pedreiros e ferreiros; Sector Terciário: negociantes,

3 Devemos salientar a figura de José Bernardo Borges de Azevedo Mourão, nascido a 7 de Abril de 1767, na Rua

Velha, na casa dos Azevedos Mourões. Doutorou-se em Teologia na Universidade de Coimbra aos 27 anos de

idade em 20.06.1794. Entre outros aspectos da sua vida, interessa-nos o facto de a partir de 1806 passar a Mestre

de Latim no convento de Palmela. Será, a partir de 1821, cónego da Sé de Lisboa, cidade onde granjeou grande

fama. Escreveu várias obras, de cariz político, fundamentalmente, das quais salientamos “Resposta e Parecer sobre

o Método de Convocar as Cortes”.

22

criados, criadas, alfaiates, almocreves, cirurgiões, boticários, pessoas literárias,

ferradores e barbeiros obtemos o seguinte quadro:

Quadro n.º 3. A Distribuição da População Activa por Sectores de Actividade para

Fins do Século XVIII.

Activos por Sector Número %

Activos no Sector Primário 785 54

Activos no sector Secundário 119 8

Activos no Sector Terciário 638 38

TOTAL 1442 100

A ordem de importância dos vários sectores - primário, terciário e secundário -

é sempre idêntica no conjunto da província, como Joel Serrão já havia constatado.

Ao longo do século XIX, o concelho de Mondim de Basto continuará a revelar-

se profundamente rural (quadro nº 4). Até 1853 são extintos os concelhos de Atei e

Ermelo por razões de carácter administrativo.

Quadro n.º 4. Profissões Identificadas para fins do Século XIX4

De todas as idades - 20 anos 20 a 39

anos

40 a 59

anos

+ de 60

anos

Sem

Ocupação

Lucrativa

Serviço

doméstico

PROFISSÕES

TOTAL

H

M

H

M

H

M

H

M

H

M

H

M

H

M

Trabalhos Agrícolas 4.624 2.224 2.400 612 566 863 1000 612 751 436 384 775 919 10 71

Extracção de minerais 2 1 1

Indústria 332 172 160 18 23 84 67 40 51 30 19 103 140 1

Transportes 9 7 2 1 3 1 1 2

Comércio 96 42 54 2 3 17 20 14 10 9 21 22 36 2

Força Publica 1 1 1 3

Administração Publica 12 12 6 5 1 7 7

Profissões Liberais 30 28 2 4 10 1 6 1 8 5 10 7 12

Vive dos Rendimentos 3 2 1 2 1

4 Não entendemos porque é que as pessoas consideradas “Sem Ocupação Lucrativa” e “Serviço Doméstico”

aparecem situadas na coluna das idades, quando seria mais lógico aparecerem na das profissões. Será que esses

indivíduos exerciam uma actividade que não cabia dentro das actividades tipo? Ou será que entram como uma

terceira coluna?

23

Improdutivos. Profissão

Desconhecida

116 34 82 11 14 4 11 5 19 14 38

Fonte: (INE, Censos de 1890: 182, 183).

Do século XVIII para o século XIX, atendendo à comparação dos quadros 2 e

4 é difícil estabelecer uma relação directa entre as profissões expressas nos referidos

quadros, no entanto estabelecendo a relação das profissões, podemos construir um novo

quadro que nos dá o total de indivíduos por sector da actividade e a respectiva % para

fins do século XIX.

Quadro n.º 5. A Distribuição da População por Sectores de Actividade em

Fins do Século XIX.

Activos por sector Total %

Primário 4624 90,6%

Secundário 332 6,5%

Terciário 151 2,9%

TOTAL 5107 100

Partindo deste ponto, o sector primário é fortemente reforçado face à

percentagem da população activa a trabalhar na agricultura, dado que um dos aspectos

mais relevantes da importância da actividade agrícola se prende com elevados valores

da sua população activa.

A estrutura da propriedade não deve divergir muito do século anterior, sendo

muito dividido e de pequena dimensão, resultado não só das irregularidades do relevo,

mas também das iniciativas individuais de apropriação da terra (presúria).

A actividade agrícola caracteriza-se pelo uso de técnicas tradicionais, suporte de

trabalho de alguns artesãos, como por exemplo, ferreiros, ferradores, e a jusante da

produção, por uma actividade comercial de base local da qual sobressai os fabricantes

de courama e os negociantes.

Relativamente ao sector secundário verifica-se um aumento do total absoluto da

população activa, fruto do aumento demográfico. No entanto este sector face ao período

anterior regista uma diminuição do seu peso relativo, passando de 8% no século XVIII

para 6,5% no séc. XIX.

24

Sem especificar que tipo de indústria está relacionada com o Concelho (quadro

n.º 4), podemos desde já avançar com as suas possíveis características. Predominam as

indústrias (manufacturas) de ramos tradicionais que exploram alguma matéria prima

local (curtumes, têxtil).

O sector terciário, que regista um decréscimo acentuado da sua população activa,

verifica o aparecimento da participação da Administração Pública e da Força pública na

população activa deste sector. As actividades ligadas ao sector terciário incluem

profissões instáveis de fraca relevância económica, que no século XVIII era exercida

em parceria com actividades do sector primário.

4 – A Sociedade.

“Na sociedade de antigo Regime, o mais aparente é a divisão em estados ou

ordens - clero, nobreza e braço popular. É uma divisão jurídica, por um lado, é por outro

uma divisão de valores e de comportamentos que estão estereotipados, fixados de uma

vez para sempre, salvo raras excepções. Cada qual ocupa uma posição numa hierarquia

rígida, segundo tem, ou não títulos, e tem, ou não direito a certas formas de tratamento”

(GODINHO, 1977: 72). É visível ainda em 1796 a sociedade mondinense estruturada

daquela forma.

4.1- O Clero.

Em fins do século XVIII são 53 os membros registados por C. Ribeiro de Castro.

Este número refere-se apenas aos sacerdotes, tendo sido excluídos os Párocos,

normalmente um por cada freguesia, os Ordinandos e os Pretendentes, o que elevaria o

número total.

Dos sacerdotes temos 1 por cada 91,5 habitantes do concelho (incluímos Atei e

Ermelo) e 5,9 sacerdotes de média por freguesia. No conjunto da província de Trás-os-

Montes havia em 1796, segundo Ribeiro de Castro, 3,6 padres por freguesia e 1 padre

por 97,5 habitantes (SOUSA, 1976: 16). Estes valores reforçam o peso do clero em

Mondim dada a média ser superior ao resto da província.

O clero tinha algumas propriedades e um rendimento de décimas de 136:340 réis

em Atei, 173: 380 réis em Ermelo e de 289:500 réis em Mondim (MENDES, ob. cit:

488 e 501).

Como é sabido o décimo ou dízimo era 1/10 da produção nacional, cuja

instituição remonta ao século XII. A pressão social e económica do clero não resulta

25

propriamente do número dos que o constituem, mas sim dos laços que a si prendem toda

a população sobre a qual exercem uma forte pedagogia, interferindo necessariamente

nos seus destinos (GODINHO, ob. cit: 87).

Relativamente à proveniência social do Clero Secular verificamos que em

Mondim de Basto o recrutamento era feito em todos os grupos sociais com um peso

maior para os oriundos do povo.

Isto compreendesse dado estarmos perante uma sociedade tipicamente rural pelo

que ao longo dos séculos XVIII e XIX há da parte dos pequenos e médios proprietários,

mais do que um fugir à miséria “uma propensão para ordenar seus filhos com o fim de

honrarem as famílias” (SOUSA, 1976: 17), e da parte dos outros grupos sociais uma

necessidade de promoção social, onde todos procuram ter em casa pelo menos um

padre, de preferência o filho mais velho. E se até na hora de fazer o testamento as

primeiras palavras são sempre de profundo respeito para com a igreja, reflectindo-se no

desejo de, na hora da mesma se ter o maior número de missas possível e rezadas pelo

maior número de padres, também é possível ver aí uma forma de promoção e prestígio

social reforçados ainda nos muitos legados que são feitos à Igreja, normalmente em

terras ou em dinheiro, para pagamento de ofícios, ofertas ao altar ou para obras de

assistência.

Quanto ao local de origem dos membros do clero registados quase todos são

originários da terra onde exercem as suas funções pastorais. A título de exemplo

vejamos o caso de Atei na visitação de 1795: são oito os padres, para além do pároco,

dos ordinandos e dos pretendentes. Apenas dois são de fora do concelho. Um é de

Mondim e o outro da freguesia de S. Martinho de Mateus, Vila Real.

Quanto à sua formação, apenas o pároco, António José de Neiva Machado tinha

boa instrução pois era formado em Cânones. Dos oito sacerdotes todos tinham uma

instrução sofrível ou menos que mediana. A escrita era sofrível ou mesmo medíocre.

Só dois são referidos como pobres. Os outros tinham património legítimo ou

suficiente. Tendo em consideração os dados fornecidos pela visitação de 1825 (anexo

n.º 4), verificamos que os religiosos regressados a Mondim após o fim das Ordens

Religiosas em 1834, por decreto de 28 de Maio assinado por Joaquim António de

Aguiar, haviam pertencido às ordens de S. João Evangelista, S. Francisco, Arrábidos e

Beneditinos. De entre eles merece destaque o Beneditino Revº Frei António de S.

Bernardo Queirós, que foi Dom Abade no mosteiro de Arnóia. Homem extremamente

26

culto teve a honra de ser sepultado na igreja matriz quando tal prática já se havia

abandonado pois os enterros já eram feitos no cemitério público.

Continuando ainda a analisar os dados verificamos que nessa data, para além dos

párocos e dos ordinandos, encontramos 2 padres no Bilhó, 11 em Mondim, 4 em

Ermelo, 1 em Vilar de Ferreiros, 2 em Paradança, 0 em Campanhó e 0 em Pardelhas,

num total de 20. Atei não entrava pois fora incluída na 1ª parte da visitação.

Destes, apenas o pároco de Vilar de Ferreiros era graduado em Cânones pela

Universidade de Coimbra. Todos os outros, pela avaliação feita pelo visitador, eram

trapalhões ou desmazelados; tinham fracas qualidades de espírito ou desleixados.

Quanto a conhecimentos ficavam-se por poucos, sofríveis ou medianos. Esta escala

merece da nossa parte algumas reservas dado não concordarmos com o citado visitador.

De facto, se o pároco do Bilhó ensina aos minoristas leitura, escrita e gramática, ao

ponto do minorista Luís da Cunha vir a ser futuro professor e director da escola; se o

mesmo se passa com o minorista Inácio da Costa de Vilar de Ferreiros que estuda

gramática com o seu pároco; com quatro minoristas de Mondim que também recebem

lições de gramática ensinada pelo respectivo pároco, então os párocos dispunham dos

conhecimentos essenciais e, o que se revela importante, transmitiam-nos àqueles que

eventualmente os viriam a substituir. Como nota curiosa registe-se o facto do pároco de

Ermelo ser dado a leituras “romanescas e fortes” . Que tipo de leituras não sabemos mas

ficamos a saber que o facto do citado pároco praticar leituras diversas pode indiciar um

espírito aberto, culto e crítico.

A conduta moral era, de um modo geral, boa.

Apesar do fim das ordens religiosas, o padre não vê beliscada a influência moral,

religiosa ou política de que dispunha. Continua a fazer o registo de baptismos,

casamentos e óbitos. Alguns são ainda professores e outros exercem cargos políticos.

Impõe, afinal, o ritmo de vida da paróquia.

No último quartel do século XIX o número ainda é elevado. A título de

exemplo encontramos dois padres na casa do Retiro e dois na casa do Outeiro.

“Mondim era um alfobre de vocações religiosas, haja em vista que tinha 15 capelas

além da Srª da Graça, e numerosos altares nas melhores casas particulares” (CASTRO,

1968: 65).

27

Sendo o clero tão numeroso não nos admira que muitos desses membros tenham

tido uma vida política e romântica também muito agitada5. De facto são numerosos os

padres que têm filhos e que os assumem na maioria das vezes6, como numerosos são os

que têm ou tiveram relações sexuais com mulheres à data das várias visitações.

Por sua vez foi das mãos de um padre que partiu a feitura do primeiro jornal de

Mondim chamado o Progresso de Mondim onde a apologia ao regime monárquico era

por demais evidente. É claro que o regime surgido com a 1ª república fará acabar com o

citado jornal e o seu autor e mentor, padre António Guilherme de Queirós Saavedra irá

partir em 1910 para o exílio no Brasil donde só regressará 15 anos mais tarde. Também

os cargos de presidente das Juntas de Paróquia e de Presidente da Câmara serão

ocupados por padres, o que se por um lado demonstra bem do poder dos mesmos, por

outro lado também quererá dizer que se eles ocupavam esses cargos é porque seriam dos

poucos que saberiam ler e escrever, condição sem dúvida essencial para se ocupar

aqueles cargos. A entrada no século XX irá modificar as coisas. Efectivamente, se

continuamos a ver muito jovem a ir estudar para os seminários, alguns abandonam os

estudos à procura de um emprego público e por outro lado outros jovens encontram nos

liceus a possibilidade de prosseguimento dos estudos que até então quase só

encontravam no seminário. Isso fará com que o anteriormente numeroso grupo de

padres se vá tornando cada vez menor, mas ainda com alguma importância, como atesta

o facto de às portas da implantação da República termos a completar a sua formação

religiosa António Guilherme de Queirós Saavedra, Adão de Moura, Manuel Inácio de

Moura Guerra, António Gomes Ribeiro e José Bento Martins de Carvalho Ramos,

segundo os dados retirados do citado jornal.

5 O duvidoso comportamento moral de alguns padres conduzia-os a situações delicadas e pouco favoráveis à

credibilidade que era suposto terem. Por isso, frei Caetano Brandão escrevia : “depois do estudo e da oração,

segue-se a obrigação de instruir as almas nos preceitos da vida eterna (...) que as obrigações do homem eclesiástico

não se devem restringir unicamente à reza do breviário; mas (...) sobre esta tem outra mais própria e inalienável por

ser de instituição divina, que é de se pôr hábil para desempenhar a qualidade de mestre público da Religião”

(SOUSA, 1976: 440, citado por MAGALHÃES, 1989: 122).

6 A 4. 5. 1893 o padre Tomás Peixoto, de Ermelo escreve no seu testamento: “declaro que por fragilidades humanas,

tenho com uma mulher livre quatro filhos, de nomes José Joaquim, Francisco, Patrocina e Maria Emília, todos

nascidos e baptizados na freguesia de Ermelo. Todos os filhos acima mencionados, foram por mim criados em

minha companhia e debaixo da minha protecção e assim se conservam actualmente, os quais são de menor idade e

para descargo da minha consciência a todos perfilho e reconheço como meus filhos para todos os efeitos legais“.

ACMM, In livro de testamentos nº 25, página 13.

28

4.2 - A Nobreza.

É antiga a tradição nobre em Mondim de Basto. De facto desde o princípio da

nacionalidade que encontramos na região de Basto famílias nobres muito importantes.

No entanto não nos interessa fazer aqui o estudo dessas famílias, interessando-

nos antes perceber a sua evolução a partir da segunda metade do século XVIII.

Assim, em fins do século XVIII é donatário dos três concelhos o Marquês de

Marialva que cobrava de foro “oitenta réis aos casados e quarenta aos viúvos o que

importava em 127:000 réis”. Aqui se incluía também o foro cobrado ao concelho de

Cerva. De rendimentos totais obtém 1.830:000 réis em Ermelo, 900:000 no lugar do

Bilhó, 1. 940:000 réis em Mondim, 1.200:00 no lugar de Vilar de Ferreiros e em Atei

1.401:000 réis e ainda “há duas barcas no rio Tâmega , uma no porto do Arnado, donde

se junta o rio Basto, outra chamada de Baixo, no porto de Rebufa, que ambas são

foreiras ao mesmo donatário” (MENDES, ob. cit: 469).

Incluímos ainda no grupo da Nobreza os licenciados, os Juízes de Fora, os

Bacharéis, os Médicos e o professor de Gramática Latina que dava aula em Mondim.

Não poderemos incluir os poucos comerciantes assinalados dado que não o seriam “de

grosso trato” (Lobão in GODINHO ob. cit: 246 e ss). Embora o peso deste grupo social

seja muito diminuto em termos de quantitativos não podemos deixar de referir alguns

membros que tiveram alguma importância, tais como:

- Dr. Manuel Francisco da Silva Veiga Magro e Moura, cavaleiro da Ordem de

Cristo, Desembargador da Relação do Porto. Ano de 1758 (ANTT, Leitura de Bacharéis

Mc 39 nº 7). Era filho de João Francisco Magro e Moura, natural de Pedravedra em

Mondim de Basto.

- Dr. Manuel António de Oliveira e Andrade, de Atei. Requereu a Carta de Armas

a 16.6.1762, que lhe foi concedida.

- Pedro António Teixeira de Carvalho, da casa de Viacova, Mondim. Bacharel. À

data do inquérito do padre Luís Cardoso era o Sargento-mor dos quatro concelhos:

Mondim, Atei, Cerva e Ermelo.

- Teve um filho, o Dr. Manuel Vicente Teixeira de Carvalho, que foi

desembargador do Paço e cavaleiro da Ordem de Cristo. Teve carta de Brasão de Armas

a 30.10.1786.

- Teve este, por sua vez, dois filhos: Eduardo Augusto Teixeira de Carvalho, Juiz

de Órfãos em Barcelos, em 1831 e Pedro António Teixeira de Carvalho,

Desembargador da Relação de Goa, na Índia.

29

- João Manuel de Carvalho Pires, de Mondim, teve Carta de Armas em 1.7.1781.

Com o advento do liberalismo a estrutura social foi fortemente abalada. “Os fidalgos de

terras de Basto vão-se acabando. Tenho pena e saudade. Aqui há trinta anos, com os

brasões e apelidos das famílias heráldicas dentre Vizela e Tâmega recompunha-se a

história lendária de Portugal. Quem soubesse ler a simbólica das arrogantes armas

encimadas nos portões das quintas, podia leccionar um curso de história pátria com

tanta filosofia como frei Bernardo de Brito e o sr. João Félix Pereira, o das várias

faculdades. Em redor daqueles paços senhoriais pesava um silêncio triste e torvo. Era o

luto de Portugal de D. João II e de D. Manuel.

Afinal, o temperamento sanguíneo dos cavalheiros de Basto borbulhou em

comichões de novas ideias, todos eles se coçaram mais ou menos com a carta

constitucional. A liberdade vencera; mas as proeminências congénitas daquela plêiade

de Bayards, quase todos capitães-mores, desvaneceram-se nas brumas da epopeia, que

nunca mais terá pessoa em que pegue naquela região onde já não há tradição da velha

tirania dos patíbulos, excepto o vinho que ainda é de enforcado” (BRANCO, 1903: II: 9

e ss).

4.3 - O Terceiro Estado.

Naturalmente o grupo social mais numeroso, divide os seus modos de vida por:

proprietário, arrendatário, ser amo ou ter ofício de mester. Preocupa-o a sobrevivência

no dia-a-dia. Rouba à natureza os solos para cultivo e dos melhores frutos guarda as

melhores sementes que lançará à terra na sementeira seguinte, numa escolha criteriosa

que, por tradição, fará passar de geração em geração.

O povo mondinense revela-se, ao mesmo tempo, lavrador e artesão.

Encontramo-lo, quando as condições atmosféricas não o deixam ir para o campo, na sua

oficina improvisada a (re) construir as suas pipas, sacholas, tamancos, carros de bois. À

mulher competirá cozer a broa, fazer os “enchidos”, o queijo e trabalhar o linho.

Nestas tarefas detectam-se vários “saberes” desde a arte de entrançar o junco,

donde resultavam as croças, os coruchos e perneiras; o fazer de cestos com rebentos de

castanheiros; chapéus com palha de centeio; capuchas em lã escura; tricotar meiotes de

lã; tecer farrapos; trabalhar o ferro; trabalhar a madeira para as alfaias agrícolas; cozer o

pão; construção do forno, moinho e canastro; a armação em madeira e o telhado de

30

colmo de uma casa tradicional; trabalhar o granito, etc., tudo isto com recurso a técnicas

rudimentares que traduzem simultaneamente uma influência e uma adaptação ao meio.

Sendo lavrador e dispondo de cabeças de gado, o mondinense adapta a sua

construção habitacional a essas circunstâncias. Assim as construções de apoio à

agricultura fazem normalmente parte do mesmo bloco habitacional e deste é reservado o

piso térreo para funcionar como “corte” (permanência do gado) ou como palheiro e

também como simples armazém de alfaias agrícolas. No lugar do Barreiro disseram-nos

que a permanência do gado no piso térreo servia também para, com o seu arfar, aquecer

a habitação no Inverno. Há ainda os casos de habitações que já não são utilizadas como

tal sendo-o antes para, no piso inferior funcionar de corte e o superior de palheiro.

5 – O TECIDO ECONÓMICO

5. 1 - A Agricultura

A actividade agrícola surge com uma importância significativa mais em termos

sociais que em termos económicos, principalmente porque ocupa praticamente todos os

braços úteis.

Apesar da pobreza dos solos a população mondinense ao longo dos séculos

trabalhou os solos e aperfeiçoou técnicas que levaram à extensão das áreas cultivadas.

Mondim sempre foi obrigada a sobreviver à custa da agricultura. Nas zonas baixas, os

terrenos aluviais têm boa capacidade agrícola. A zona de montanha é constituída por

terrenos pobres. O tipo de sua superfície acidentada é de muita elevação, a sua posição

geográfica, que lhe deixa abertos o Sudoeste ás ventanias, que trazem as chuvas do mar,

e o Noroeste aos gelos de Sanábria , obstam à sua fertilidade, e produzem as geadas, que

são o principal inimigo das culturas destes terrenos. O clima também é pouco favorável.

Os invernos são longos e os verões secos e curtos. Todas estas condicionantes

contribuíram para que a produção agrícola nunca tivesse atingido níveis muito notáveis.

Daí o recurso à pastorícia7, - actividade complementar - a qual não teve qualquer

dificuldade de adaptação, principalmente nos terrenos acima dos 450 metros de altitude.

7 Havendo alguma contradição entre as informações prestadas nas Memórias Paroquiais e os conhecimentos que

temos e que nos chegam por Via Oral, percorremos as freguesias de montanha inquirindo os actuais pastores sobre

o tempo de prática da actividade. Todos referem que já a herdaram dos pais e avós num recuar de tempos que nos

faz acreditar ser a actividade já ancestral e como tal incorrectas as informações prestadas pelo padre Luís Cardoso

na obra referida.

31

Usando técnicas rudimentares, o recurso a prolongados pousios era prática comum.

“O pousio, o compascuo, a rotina, a ignorância, o abandono em que as povoações destes

terrenos têm vivido até aqui, são a causa da decadência da agricultura” queixava-se o

Governador Civil (SOUSA, 1976: 64).

A adubação dos solos era prática já ancestral: o gado pisava e fazia apodrecer

nas “cortes” e nos caminhos por onde passava os matos rasteiros que eram cortados nos

baldios, convertendo-os em estrume, que depois eram espalhados como fertilizantes

pelos solos a cultivar.

As pequenas áreas de exploração agrícola localizavam-se em redor dos

povoados onde apresentam culturas praticadas em solos armados em estruturas de

compartimentação - socalcos ou muros -, e de rega - moinhos, açudes, levadas –

arduamente conquistados aos declives da topografia, com muito esforço e engenho, num

espaço temporal que se perde no tempo. Atestam esse esforço e engenho as Levadas de

água que com os seus muitos quilómetros de extensão potenciam o efeito de

demonstração do funcionamento dos principais sistemas de produção do mundo rural do

norte de Portugal, que fazem a admiração de qualquer técnico. Duas há a destacar em

Ermelo: a Porca Ruça, que começava no rio Olo e a Chelas na ribeira de Sião. Este

sistema permitia que a sua força motriz movimente cinco moinhos, dois lagares de

azeite e na passagem regue campos agrícolas e uma em Atei que começava no rio

Póvoa, e por efeito de gravidade regava os férteis campos do lugar.

5.2 - O Vinho.

Verde, de enforcado, revelava-se importante, principalmente em Atei e em

Mondim, e menos em Ermelo. Há referência, até, em meados do século XIX, a dois

negociantes de vinhos de Atei estabelecidos na cidade do Porto que se encarregariam de

vender naquela cidade o vinho desta região. Também abundavam os lagares e

alambiques, reveladores da importância do vinho e seus derivados na economia destas

populações. No entanto nem em todos os anos agrícolas o vinho produzido o era em

excesso, ou muito raramente o era, dado que nem sempre chega sequer para consumo

interno, havendo necessidade de o importar da Região Duriense, o qual era tabelado a

preços muito superiores ao produzido aqui. A título de exemplo vejam-se os preços do

ano de 1843 : vinho maduro: 480 réis o almude; vinho verde: 320 réis o almude.

32

5.3 – Cereais.

O centeio era, na primeira metade do século XIX o cereal mais importante,

ocupando extensas áreas de cultivo nas zonas planálticas do concelho. Anos haveria em

que a boa produção permitia que algum fosse vendido sobretudo na região vinícola do

Douro, onde escasseava, tal como nos refere o “Relatório acerca das Industrias no

Distrito de Vila Real” (SOUSA, ob. cit.: 79). O centeio não fornece apenas o grão mas

também a palha que servirá para a cobertura dos telhados, de uma maneira muito sui

generis. Lentamente irá ser substituída pela Lousa, que dará ao casario um imponente

aspecto, principalmente no norte do concelho. À medida que o século vai avançando, o

milho - facilmente adaptável às férteis veigas de Atei e Mondim -, ganhou gradual

importância, tornando-se num óptimo complemento alimentar. Contudo a sua produção

nem sempre será em quantidade suficiente para satisfazer as necessidades destes povos,

havendo necessidade de se recorrer à importação do mesmo. Realmente era vulgar a

aquisição de milho, por parte da câmara, por manifesta falta deste no concelho. Ou

porque se não cultivava em quantidades suficientes ou porque a filoxera atacava os

milheirais, deixando-os num estado lastimável. A 23 de Junho de 1909, deliberou a

câmara “adquirir sulfureto de carbono, a fim de combater a filoloxera e a bicha amarela

que tanto prejuízo causava nas vinhas e nos milheirais”. Isto demonstra que, mesmo

depois de entrados no século XX o problema se mantinha (ACMM, acta da sessão de 23

de Junho de 1909). Nesta mesma acta regista-se como nota curiosa o facto de o

Administrador do Conselho adiantar do seu próprio bolso o dinheiro para nova

importação de milho dado que a Câmara não dispunha de verbas. Aliás essa era uma

prática corrente dado vir referida em muitas das actas que consultámos.

5.4 – Pecuária.

É impossível imaginarmos o homem mondinense sem o vermos acompanhado

pelos seus animais.

Segundo as informações recolhidas pelo citado padre Luís Cardoso, a freguesia

de Ermelo tinha “... todo o género de gado... muitas perdizes, algumas lebres, muitos

porcos monteses e lobos e mais bicharia” (CARDOSO, ob. cit: Vol 13, Maço 30, folha

242).

33

O mesmo se passava em relação a Mondim e a Atei. O gado constitui desde muito

cedo um elemento de relevo na economia mondinense. Fornecia a carne e o leite, que

com o queijo e a manteiga constituía bons complementos alimentares. Naturalmente que

facilmente se compreende por que o gado constituía um dos principais artigos de

comércio: era uma mercadoria que se deslocava por si própria, factor relevante para a

época e a região, devido às carências de vias de comunicação e de meios de transporte.

Era também o produto mais transaccionado nas feiras locais.

5.5 – Fruticultura.

Se durante muitos séculos a castanha, o centeio e o vinho foram a base da

alimentação, à medida que o século XVIII avança alarga-se a área de exploração de

novos produtos: azeite e milho.

Em fins do Século XVIII, dizia Columbano R. de Castro que aqui se colhia toda

a qualidade de frutos, os quais se exportavam para a província do Minho (MENDES,

ob. cit: 504).

A batata só quando já for adiantado o século XIX.

Associados a estas culturas estão o surgimento dos lagares de azeite - no final do

século XIX há vários em laboração -, os canastros ou espigueiros para armazenamento

do milho e as eiras em pedra, onde o mesmo era desfolhado. Estas obras vão ficar

localizadas junto das habitações. Os espigueiros mais antigos datam de 1835.

No que diz respeito à exploração florestal, as populações mantêm alguns

castanheiros para fornecimento de frutos e madeira. Aliás, a castanha teve grande

expressão nas aldeias serranas. Era consumida na sopa ou como substituto do pão.

Ainda hoje as pessoas mais idosas de Ermelo nos lembram que até a davam aos porcos,

nos anos em que a “fartura” era maior.

Limoeiros e laranjeiras também eram cultivados embora com pouca importância

económica.

Naturalmente que os aspectos económicos preocupavam os representantes

municipais. Isso vê-se pela leitura das actas das respectivas reuniões. Todos os meses os

preços dos produtos essenciais eram fixados e vigiado o seu cumprimento. O milhão, o

centeio, o vinho e o azeite são os quatro produtos que figuram em todas as actas.

Pontualmente aparece o preço da castanha, da cereja e do medronho, entre outros, o que

revela os aspectos da sua sazonalidade. Se compararmos os preços daqueles produtos

34

em três anos escolhidos aleatoriamente num prazo de dez anos - mês de Março de 1843,

mês de Julho de 1849 e mês de Abril de 1852, obtemos os seguintes valores: (13/03/

1843): milhão: 640 réis; centeio: 500; azeite: 4800 o almude. Para (30/07/1849):

milhão: 320 réis; centeio: 300; vinho: 240; azeite: 4300 e trigo: 600. (19/3/1852):

milho:400 réis; centeio: 380; trigo: 540; vinho verde: 400; vinho maduro: 720 e azeite

50008.

As pessoas podiam sempre optar por comprar os líquidos em quartilhos, dado

que figuram sempre os preços para esta medida. Será um sinal evidente do pouco poder

de compra das populações?

A primeira observação a fazer prende-se com o facto dos preços do milho terem

baixado bastante. Naturalmente que isso se deve ao facto desse produto ter visto

aumentada a área de cultivo, funcionando a lei da oferta e da procura.

O centeio e o azeite oscilam de preços o que revela que os mesmos ora subiam

ora desciam consoante a produção anual.

Por sua vez o vinho maduro e o trigo mantêm preços elevados pois eram

produtos importados, o que os encarecia.

“O crescimento económico marca passo. A agricultura, a actividade económica

quase exclusiva das populações do distrito, permanece uma agricultura de subsistência,

rotineira e arcaica, desprovida de capitais e progressos técnicos de melhoramento de

plantas, animais e de granjeio” (SOUSA, ob. cit: 50).

5.6 – Indústria.

Era exercida ao nível doméstico e essencialmente artesanal - sempre como

complemento à satisfação das necessidades básicas -, com exploração de matérias-

primas locais. Desde tempos remotos que em Mondim se exploraram minas de chumbo,

cobre, ferro, volfrâmio e estanho. Segundo o padre Luís Cardoso, “em Ermelo... dizem

que no sítio do Linhar onde chamam Prado há sinais de estanho fino, mas disso se não

saber” (SOUSA, ob. cit.: 68).

Também Columbano refere a mesma mina de estanho fino dizendo que “embora

agora já estivesse fechada já de lá se havia retirado grande quantidade de mineral”

(MENDES, ob. cit.: 490).

8 AJFE: Das actas de vereação dos dias e meses referidos.

35

O mesmo autor refere para Mondim de Basto “uma fábrica de curtumes e

couros que já esteve em maior abundância e ainda hoje tem quinze comerciantes.

Entretêm-se nesta fabrica até cinquenta pessoas e giram neste negócio mais de

6.000:000 de réis. Pode-se adiantar muito mais, pois tem no mesmo concelho todos os

preparos necessários para esta fábrica, do qual tiram grande interesse” (MENDES, ob.

cit: 504).

Para Atei não é referida qualquer indústria.

O governo Setembrista, na década de 1830, através de decretos assinados por

Passos Manuel, pedia para que fosse dada prioridade aos produtos nacionais. Para isso

procedeu à realização de um inquérito onde pedia que lhe fosse indicado o número de

fábricas (pouco mais que simples oficinas), a sua localização, a identificação dos

proprietários e o número de trabalhadores utilizados. Para Ermelo são referenciadas 4

fábricas de aguardente e 6 de cal, - estas com 32 trabalhadores - (situadas na actual

freguesia de Campanhó). Segundo as mesmas fontes, as fábricas de cal apenas

trabalhavam no verão, preparando em cada época três fornadas. As de aguardente

trabalhavam 20 a 120 dias, dependendo da quantidade de vinho ou de medronhos a

destilar e utilizavam grandes quantidades de lenha como combustível, apanhada nos

terrenos baldios, tornando-os muito empobrecidos e por isso alvo das críticas do

governador Civil de Vila Real que em 1853 escrevia: “As fornalhas das máquinas de

destilação consomem inumeráveis carros de combustível cada dia, e ainda felizmente

que o sistema de Berorne veio substituir os antigos caldeirões de companhia, que

consumiam para fazer cada vinte e um almudes de aguardente dez carros de lenha

(SOUSA, ob. cit: 68). Entretanto a já citada mina de estanho estava em plena laboração

mas fechará na década seguinte, dado que as receitas não cobriam as despesas.

A tecelagem9 era também praticada, mas para abastecimento de casa.

Trabalhava-se a lã e o linho, produtos que abundavam no local, em detrimento dos

produtos vindos de fora.

Elucidativo é o facto de em 2200 teares existentes no distrito em 1860, 513

estarem localizados em Mondim de Basto, ou seja cerca de 20% (SOUSA, ob. cit: 40).

A indústria da cera também tinha alguma importância no concelho dado que a

mesma era exportada principalmente para a cidade do Porto.

9 A tecelagem aparece-nos essencialmente como profissão feminina. As mulheres aprendiam a tecer logo que

chegassem com os pés ás Premedeiras (são os pedais que permitem a mudança dos liços). Os materiais utilizados

eram : Ripo, Espadela, Maço, Sedeiro, Roca, Fuso, Sarilho, Dobadoira, Caneleiro, Urdideira, Noveleiro, Tábua dos

Liços, Restilho, Tear Normal, Tear de Franja e Lançadeira.

36

A situação económica do distrito de Vila Real em geral e a dos três concelhos

em particular, ao longo do século XIX, revela-se dramática e inquietante o que leva a

que, desassombradamente o Governador Civil - António Pinto de Lemos - em meados

do século XIX, acuse o Estado de votar no esquecimento a província transmontana, a

“jóia mais preciosa da coroa portuguesa, a qual, em paga do aumento que traz à riqueza

nacional, se deixa consumir numa inanição incrível, como se a terra, de que faz parte,

lhe fora madrasta” (SOUSA, ob. cit: 13).

5.7 – Comércio.

“O comércio efectuado dentro da própria província desempenhava

naturalmente uma importante função, visto tratar-se de uma economia que

frequentemente tinha de bastar-se a si própria” ( MENDES, ob. cit: 13).

As feiras revelavam-se importantes para o comércio local e até regional. São antigas

as de Mondim e de Ermelo.

Se qualquer um podia ser feirante sazonal já em relação ao número de

negociantes referidos por Ribeiro de Castro para fins do século XVIII - apenas 6 - isso é

demonstrativo do pouco desenvolvimento da actividade comercial como actividade

independente e reforça a ideia de que a região vivia fundamentalmente dos recursos da

terra e que o comércio era uma actividade muito complementar. Se os seis negociantes

referidos são todos de Atei, isso terá a ver com o facto de aí passar uma via de

comunicação que ligava Chaves a Braga. Para além daquela via de comunicação havia

também no rio Tâmega duas barcas que faziam a ligação entre Trás-os-Montes e a

província do Minho. Vimos também em várias actas que as tropas de Chaves quando

por aqui passavam ficavam aquarteladas em Atei. Estas razões contribuiriam por si para

o aparecimento da profissão de negociante.

6 – Rede Viária.

Dum modo geral cada uma das sedes dos três concelhos fica implantada no

centro do território geográfico que corresponde a cada qual. Os seus núcleos

populacionais mais afastados distam no máximo uma hora a pé, formando assim uma

rede bastante homogénea e bem distribuída. Essa distribuição está umbilicalmente

37

ligada à rede viária que atravessa os concelhos. São duas as vias principais,

complementadas por um emaranhado de veredas e caminhos vicinais.

O primeiro era a estrada que de Chaves partia para Vila Real. Daqui e pela

estrada do Marão “a mais áspera da província e talvez do reino”, no dizer de Ribeiro de

Castro, partia da zona da Campeã um ramal para Mondim de Basto, passando por

Ermelo e fazia a ligação para o Minho (Braga), pelo vale do rio Olo. Tinha aqui duas

importantes pontes: a medieval, denominada dos Presuntos, construída em pedra e

situada num local chamado Várzea e a segunda, em madeira, situada num local

denominado de Abelheira. Ao longo de todo o século XIX esta ponte será alvo de várias

intervenções de reparação, dado que tinha um movimento interessante de pessoas e

carros de tracção animal, que a danificavam, segundo as actas da vereação.

No local denominado Alto do Alvão esta estrada devia ser sinuosa, estreita e

péssima de condições dado que em 1874 um cidadão da Campeã se dirige à

Administração do Concelho de Mondim a queixar-se contra um seu vizinho proprietário

o qual havia aberto uma vala na estrada para dar passagem a águas de rega tendo

estragado a estrada e não permitindo por isso a passagem ao seu carro de bois. Pedia por

isso que o infractor fosse devidamente castigado10

.

Em Mondim a estrada flectia para a esquerda para, depois de se passar a ponte,

se entrar na província do Minho, em direcção a Guimarães e Braga. Essa ponte tinha os

pegões em pedra mas o tabuleiro, de oito arcos, era de madeira. De passagem

obrigatória, por não haver mais nenhuma, será alvo de alguns arranjos até à sua

substituição no reinado de Dª Maria II. Efectivamente “sendo de instante necessidade

efectuar a construção da ponte sobre o rio Tâmega, em Mondim de Basto, para a qual

foi estabelecido um imposto especial por carta de lei de 12 de Setembro de 1842, manda

Sua Majestade El-Rei, que o Director das Obras Públicas do distrito de Vila Real remeta

sem demora, a este ministério o novo projecto para a execução daquela obra, e o

respectivo programa de arrematação, elaborados em harmonia com as indicações que,

sobre o primitivo trabalho técnico por ele proposto, foram feitas em consulta do

Conselho de Obras Públicas e Minas, e mandadas observar em data de 16 de Novembro

último; devendo o sobredito Director ficar na inteligência de que, tendo o governo em

especial atenção esta importante obra, tornará efectiva a sua responsabilidade pela falta

do cumprimento ao que lhe fica determinado.

10 ACMM: Livro de Registo de correspondência Entrada, nº 1.

38

Paço, em 16 de Fevereiro de 1856.= António Maria de Fontes Pereira de Mello11

.

Eram depois estabelecidas as condições da obra e a tabela dos direitos de

trânsito. Assim, não deveria exceder 600 palmos em cumprimento, em 30 de largura e

seria construída em cinco anos. Os direitos variavam de 10 réis para os passageiros a pé

ou a cavalo e os 180 réis para carro carregado12

. A ponte só será inaugurada em 188213

.

A segunda era a estrada que ligava Mondim, Atei até à serra do Alvão onde

entroncava na que ia para Chaves, vinda de Braga e tinha uma importante ponte sobre o

rio Tâmega no lugar de Cavêz. Esta era uma estrada muito importante para as gentes de

Mondim pois era por ela que se fazia a principal ligação com Vila Real.

Como caminhos secundários mas que revelavam alguma importância, devemos

destacar dois: o primeiro que partia de Mondim por Vilar de Ferreiros e Bilhó e o

segundo que, partindo de Ermelo vinha entroncar naquele e pela serra do Alvão dava

ligação a Vila Real e a Chaves. Esses caminhos eram pouco percorridos dado que os

Invernos eram rigorosos, transformando-os em verdadeiros rios e também porque os

assaltos eram frequentes.

Fazendo parte da rede viária não podemos deixar de destacar a importância que

as Barcas de passagem dos rios tinham. De facto são referidas duas para o concelho de

Atei em que, apesar de às vezes virarem e morrer gente, nunca o movimento de

passageiros abrandou. Também para Mondim se refere o facto de, com a entrada em

funcionamento da nova ponte no último quartel do século XIX, não deixarem as Barcas

de ter uma grande utilidade, ao ponto até de a lei permitir ao construtor da nova ponte os

direitos por trinta anos sobre as mesmas. O facto é que passados os ditos trinta anos o

construtor continuou a levar dinheiro pela travessia nas barcas numa atitude

perfeitamente injusta, mas naturalmente rendosa.

Em fins do século XVIII as estradas eram precárias e em número reduzido o que

naturalmente não facilitava os transportes.

Em meados do século XIX, o Visconde de Lemos dizia: “Por que não há

estradas que ponham em comunicação estes povos com os do Minho e do Distrito,

11 D. do G. de 22 de Fevereiro, nº 45. Esta ponte só será inaugurada em 1882.

12 In Jornal Povo de Basto, nº 209, ano V, de 11.12.1914.

13 A obra demorou afinal muitos mais anos a construir do que inicialmente previsto, isto porque no registo de um

casamento efectuado na igreja de Mondim em 22.2.1857 consta como testemunha presente no acto, António

Caetano P. F. S. Andrade, que se intitulou como Chefe de Secção Encarregado das Obras Públicas na ponte de

Mondim de Basto. E num outro registo de casamento ocorrido na mesma igreja em 21.1.1858 esteve presente

como testemunha o capitão Luís António dos Santos que se intitulou como Chefe dos Trabalhos na ponte de

Mondim.

39

vivem miseravelmente; são grosseiros em tudo o que importa a civilização; os seus

produtos não acham saída; a povoação emigra, por falta de trabalho” (SOUSA, ob. cit:

80).

A partir do último quartel do século XIX vamos assistir a uma mobilização mais

ou menos concertada dos residentes, para que se criem condições para que se acelerem

as ligações entre o concelho e a capital de distrito.

Em fins do século XIX, princípios do XX, são inúmeras as pressões para que o

governo conclua a estrada nº 47 - ligação de Mondim a Ribeira de Pena - No entanto

será em 1909 que um grupo de 125 indivíduos naturais de Mondim de Basto, Ribeira de

Pena e Vila Pouca de Aguiar, mas residentes em Pernambuco, no Brasil, decidem enviar

a El-Rei uma petição, por intermédio do mondinense Alfredo Álvares de Carvalho onde

se pedia a conclusão da citada estrada, iniciada já há trinta anos, mas onde faltavam

ainda catorze quilómetros para que ficasse concluída. Recebido pelo Marquês de

Alvito, o sr. Alfredo A. Carvalho recebeu a promessa de que a estrada finalmente iria

ser concluída. A notícia causou grande alegria nas populações locais e foi manchete em

vários jornais da época, tais como o “Século”, a “Mala da Europa” e o “Diário de

Notícias”14

. No entanto, será preciso esperar pelo advento da República para ser

cumprida a promessa.

7 – Emigração.

7.1 – Emigração para o Brasil

( A partir da 2ª metade do século XIX)

A emigração mondinense ao longo da 2ª metade do século XIX e princípios

do XX teve um carácter transoceânico.

O seu estudo torna-se difícil, dadas as lacunas existentes em relação aos

elementos disponíveis no que toca aos movimentos migratórios, à diversidade de fontes,

à dificuldade de quantificar a emigração clandestina e até muitas vezes por razões de

ordem política.

14 O “ Século “ escrevia: “ Ao chefe do Estado, pelo sr. Alfredo Alvares de Carvalho, comerciante em Pernambuco,

uma representação assignada por 125 portugueses residentes na referida cidade brasileira, na qual se pede a

conclusão da estrada distrital que liga os concelhos de Mondim de Basto, Ribeira de Pena e Vila Pouca de Aguiar

com a sede do distrito, estrada esta que ha 30 anos foi começada...”. Citado no “Progresso de Mondim “ nº 134 em

1909.

40

7.2 – Condicionalismos.

“Na Europa, os países mais evoluídos encontram-se a braços com as

consequências sócio - económicas das respectivas revoluções industriais em curso, que

se traduzem por largas migrações dos campos para as cidades, das tarefas agrícolas ou

artesanais para a indústria ou para o sector dos serviços” (SERRÃO, 1980: 166)

enquanto do lado de lá do Atlântico o Brasil procura desenvolver-se, mas a libertação

dos escravos cria problemas de falta de mão-de-obra e daí o recurso à mão-de-obra

europeia. E é nesta base que devemos compreender a corrente migratória para o Brasil.

É claro que outra das razões assentará no facto de se partir para “uma terra conhecida”,

isto é, onde se falava a mesma língua.

“A nossa melhor colónia é o Brasil, depois que deixou de ser colónia nossa”,

assim escrevia Herculano na década de 1870 (SERRÃO, 1973: 61).

Por sua vez, com o fim dos morgadios, a propriedade passa a ser alvo de maiores

divisões - devido a partilhas - e isso fará com que a grande propriedade dê lugar à média

e pequena fazendo com que rendeiros e lavradores procurem em primeiro lugar garantir

a sua subsistência e a de suas famílias e depois pagar a renda. De facto o predomínio da

pequena propriedade implicava uma agricultura pouco produtiva e como tal geradora de

baixos rendimentos. Perante este cenário sem futuro, não nos admira que os jovens

vejam na emigração a possibilidade de, por um lado se libertarem das modernas formas

de servidão e por outro procurar no império do Brasil a fortuna de que outros falam e

que todos julgam estar ao seu alcance. Naturalmente que o “brasileiro” quando vem

passar férias fala de uma forma empolgada do país de onde vem e naturalmente não

daria nas suas descrições a mesmo ênfase aos aspectos negativos, que eram muitos. É

este o mais importante leitmotiv: Sonha-se com o eldorado brasileiro e para lá se

emigra, com a intenção de enriquecer depressa e depressa se regressar à pátria como

“brasileiro” endinheirado e digno de admiração. Naturalmente que a realidade se

revelará diferente e a sorte apenas bafejará alguns.

O esquema de partida é igual para todos. Começa por um pedido do competente

passaporte às autoridades distritais, cujo Governador Civil despacha por um prazo de

três meses a respectiva autorização (nos anos por nós analisados encontramos o caso de

um único indivíduo que deixou caducar o prazo e teve de requerer novo passaporte).

41

Parte-se muito novo. A média de idades para os anos estudados é de 20,9 anos

de idade. Muitos têm 10 ou 11 anos. Quase todos embarcam da cidade do Porto com

destino ao Maranhão. Aqui cabe a pertinência de uma questão. Indo quase todos os

jovens trabalhar para a firma comercial Álvares de Carvalho isso não os obrigaria a ser

possuidores dos rudimentos indispensáveis do Ler, Escrever ou Contar? Provavelmente

sim. E continuando nesta linha de raciocínio não poderemos pensar que estes jovens

teriam feito pelo menos a 3ª classe cujo móbil era o poderem emigrar?

Outros jovens, cremos que num número muito limitado vão clandestinamente

sem avisar a administração local de tal intenção o que traz alguns problemas

institucionais15

.

Encontramos, entre os que partem, apenas duas mulheres e uma já com 75 anos

de idade, que provavelmente se iria juntar a algum familiar. São valores insignificantes,

portanto, e prova que a emigração é tipicamente masculina.

Não se pense, porém, que só os filhos de famílias pobres é que emigravam, dado

que também emigram filhos de famílias remediadas ou mesmo abastadas. Estes, de um

modo geral não partem como mão-de-obra indiferenciada, pois quando partem já sabem

que se vão juntar nos negócios que o primo ou qualquer outro parente lá tem,

contribuindo assim - com trabalho duro - para o aumento das fortunas, que cheguem o

mais depressa possível para fazer casa, comprar terras e melhorar o modo de vida.

E o regresso de “brasileiros” endinheirados fará espicaçar noutros a vontade de

partir, num ciclo que se repetirá e se prolongará até aos nossos dias, ao ponto de ainda

hoje em Mondim quase todos terem parentes no Brasil.

O retorno de alguns deveria ser encarado como um factor potencialmente

positivo de desenvolvimento dado que as grandes somas investidas e os conhecimentos

trazidos contribuiriam a seu modo para o desenvolvimento do concelho. Porém nem

sempre assim foi.

De facto não houve visão por parte de quem chegou endinheirado para fazer

investimentos em actividades produtivas. O dinheiro foi gasto na construção de

imponentes solares e na aquisição de propriedades, por aqui se quedando. O concelho

permaneceria igualmente rural durante décadas e décadas até praticamente aos nossos

dias.

15 Vimos em vários registos camarários o Administrador chamar o pai do emigrante e obrigá-lo ao pagamento de

coimas por causa dos filhos terem partido clandestinamente.

42

Pela análise do quadro número 6 verificamos que nos primeiros anos a

emigração se revela muito tímida, o que é reforçado pelo facto de entre 1837 e 1850 –

anos por nós também analisados -, apenas terem emigrado três pessoas: duas de Vilar de

Ferreiros em 1842 e uma de Ermelo em 1845.

Nos anos em que se verifica um maior número de saídas isso poderá estar

directamente relacionado com maus anos agrícolas. (A partir de 1850 a filoxera atacou

muitas vezes as vinhas e os milheirais, o que contribuía para o empobrecimento dos

povos). Desses anos destacamos 1857, com 40 saídas; 1862 com 45 saídas e 1869 com

25 saídas.

As freguesias que mais contribuem com mão-de-obra para o Brasil são Mondim

e Atei, que por si só entram com 126 emigrantes, quase 50% do total. Várias serão as

hipóteses explicativas mas ao seu complexo conjunto não serão alheios os factos de

ambas as freguesias se encontraram no limite fronteiriço com a província do Minho e

como esta era a província de onde mais se emigrava criava-se nestas freguesias um

fenómeno de arrastamento. Para além disso é nestas freguesias que havia um maior

número de alfabetizados e como tal mais bem capacitados para arranjaram um emprego

como caixeiros, sobretudo. Também a pequena divisão da propriedade inibiria os jovens

de por cá quererem ficar.

Nas freguesias onde a saída é nula ou pouco significativa isso terá a ver com o

facto de se tratar de freguesias de montanha, isoladas e com falta de acessibilidades e

também com a pouca população aí existente.

Quadro n.º 6. A Emigração de Mondim de Basto para o Brasil entre 1850 e 1870.

ANOS MONDIM ATEI BILHÓ PARADª V.FERREIR ERMELO CAMPAN PARDELHA

TOTAL

1850 0 0 0 0 0 0 0 0 0

51 0 0 0 0 0 0 0 0 0

52 0 0 0 0 0 0 0 0 0

53 0 0 3 0 1 5 1 0 10

54 0 0 3 0 0 1 0 0 4

55 0 1 0 0 0 1 0 0 2

56 0 0 0 0 0 0 0 0 0

57 13 11 7 0 7 2 0 0 40

58 3 3 3 1 1 2 1 0 14

59 6 1 0 0 0 0 0 0 7

60 1 5 0 0 0 0 0 0 6

61 5 8 0 2 5 4 0 0 24

43

62 9 2 9 4 7 10 4 0 45

63 0 0 0 2 3 0 0 0 5

64 3 4 1 0 1 1 0 0 10

65 1 1 0 1 0 0 0 0 3

66 3 3 0 0 0 1 0 0 7

67 3 3 0 0 0 0 0 0 6

68 0 3 0 1 0 0 0 0 4

69 8 13 4 0 0 0 0 0 25

1870 6 7 2 0 0 4 0 0 19

TOTAL 61 65 32 11 25 31 6 0 231

Fonte: ADVR: Livros de Registos de Passaportes números 123 a 131.

44

2ª Parte

A Escolarização

Em

Mondim de Basto

45

EDUCAÇÃO

– Génesis do Sistema Educativo Mondinense.

1.1 A Reforma Pombalina.

D. José subiu ao trono em 1750. Para ministro dos Negócios estrangeiros e

Guerra, escolheu Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro Marquês de Pombal, o qual

viria a expulsar os jesuítas de Portugal a 12 de Janeiro de 1759, criando com essa

atitude um profundo vazio no ensino e levará à sua reforma.

Assim em 28 de Junho de 1759, o Marquês de Pombal manda publicar um alvará

que se revelará de extrema importância para o ensino em Portugal. Através dele privava

os jesuítas - até então tão poderosos - de exercerem o ensino e extinguia todas as escolas

e classes que lhe estavam confiadas. Para além disso, Pombal lançava as bases de uma

reforma geral do ensino da qual destacamos alguns aspectos importantes como sejam a

criação de Escolas nas localidades com mais de mil habitantes, mas controladas pelo

Estado, - política centralizadora -, a gratuitidade do ensino, a conversão dos mestres em

funcionários do Estado, pagos pelo erário público e nomeados pelo poder central -.

Exigia novos métodos de ensino e a mudança radical dos compêndios até então usados.

E inovador - na história do ensino em Portugal - é a criação do lugar de Director Geral

dos Estudos, o qual terá por missão superintender nos serviços do ensino elementar e

médio. Também o alvará contém as disposições relativas aos professores de gramática

latina - deveria passar a haver um ou dois em cada uma das vilas da província - de

Grego e de Retórica. No entanto, em 1771, a Directoria Geral dos Estudos foi extinta,

surgindo em seu lugar a Real Mesa Censória, que havia sido criada por alvará de 5 de

Abril de 1769.

Por carta de lei de 6 de Novembro de 1772, o Marquês criava uma rede pública

de cadeiras e letras - o Ensino Primário Oficial -, por ela “ determinava que os mestres

de ler, escrever e contar fossem obrigados a ensinar “a boa forma dos caracteres”, “as

regras gerais da ortografia portuguesa” e “o que necessário for da sintaxe dela”, para

que os alunos pudessem escrever correctamente, “pelo menos as quatro espécies de

Aritmética simples” e “o Catecismo, e regras da civilidade em um breve compêndio”

(ADÃO,1995: 223) e pretendia que ele chegasse às principais povoações do país, para

que o benefício da instrução chegasse “ao maior número de povos e de habitantes deles,

que a possibilidade pudesse permitir”. De facto não poderemos falar de ensino

46

universal, dado que na lei de 6 de Novembro de 1772 podemos ler: “Bastará a uns, que

se contenham nos exercícios de ler, escrever e contar; a outros, que se reduzam à precisa

instrução da língua latina; de sorte, que somente se fará necessário habilitar-se para a

Filologia o menor número dos outros mancebos, que aspiram às aplicações daquelas

faculdades académicas, que fazem figurar os homens nos Estados”.

Estavam, de qualquer modo, lançadas as bases para que fosse possível um

emergir de um sistema de ensino controlado, orientado, divulgado e mantido pelo

Estado.

No entanto, nas condições económicas e ideológicas do século XVIII, era, de

facto impraticável um ensino para todos. Seria, aliás, um anacronismo julgar a obra do

Marquês de Pombal tomando como pontos de referência conceitos como “ensino para

todos”, “democratização do ensinou” e “igualdade de oportunidades” pois esses

conceitos são dos nossos dias.

Para levar para diante o seu plano, o Marquês mandou elaborar “ um plano e

cálculo geral e particular de todas e cada uma das câmaras e do número de habitantes

delas que, por um regular e prudente arbítrio, podem gozar do benefício das escolas

menores “, desde que tivessem mais de mil habitantes.

Naturalmente que ao pretender situar as escolas nas principais vilas, tinha na

mente educar jovens que num futuro próximo fossem capacitados para a boa execução

de tarefas “liberais” tão necessárias ao País e a formação de quadros técnicos e

jurídicos. Em suma, pretendia-se uma instrução que fosse capaz de corresponder às

necessidades fundamentais do sistema político vigente.

Ouvido o parecer do tribunal da Real Mesa Censória, ministros, do Conselho

Privado e de Estado, D. José I acabou por aprovar o plano, ou mapa a 6/11/1772, no

qual constam 837 lugares a nível nacional mas nenhum nem em Mondim de Basto, nem

em Atei nem em Ermelo, à altura concelhos pertencentes à comarca de Guimarães.

(quadro nº 7).

47

Quadro nº 7. O Actual Distrito de Vila Real16

no Mapa Escolar Pombalino

A) A Distribuição das Cadeiras.

LER G. LATINA L. GREGA RETÓRICA FILOSOFIA TOTAL

CONT. 440 205 31 39 28 743

ILHAS 15 10 3 3 3 34

ULTRAM 24 21 4 7 4 60

TOTAL 479 236 38 49 35 837

LER G. LATINA L. GREGA RETÓRICA FILOSOFIA TOTAL

CONTINEN. 440 205 31 39 28 743

VILA REAL 28 19 2 2 1 50 % 6,36 9,26 6,45 5,12 3,57 6,72%

Fonte: (GOMES,1989: 35 e ss).

Gráfico nº 2. Distribuição das Cadeiras.

CONT. ILHAS ULTR.0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

CONT. ILHAS ULTR.

M. de LER

G. LATINA

L. GREGA

RETÓRICA

FILOSOFIA

16 A comarca de Vila Real foi criada por lei de 19 de Julho de 1790. Um alvará de 7 de Janeiro de 1792 integrava-lhe

mais quinze povoações concelhos, coutos e honras, antes integradas nas comarcas de Lamego, Braga, Guimarães e

Moncorvo, ficando com as características geográficas que tem actualmente.

48

B) - A Distribuição dos mestres.

COMARCA LOCALIDADE

MESTRE DE

LER,

ESCREVER E

CONTAR

PROFESSOR

DE

GRAMÁTICA

LATINA

PROFESSR

DE LÍNGUA

GREGA

PROFESSOR

DE

RETÓRICA

PROFESSOR

DE

FILOSOFIA

VILA REAL Cidade 1- António S. Machado

2- ??

3 - ??

1- Francisco da Costa *

1 – António José S. do

Amaral

1 – Francisco Pereira R.

Fonseca *

1 – Damião José Álvares

Rebelo

Provezende 1 1

Canelas 1

Celeirós 1 a)

Sabrosa 1 1 a) José Caetano

Correia e Sousa *

Parada do

Pinhão

1

Vilar de

Massada

1 a) 1 a) José Manuel

de Morais

Lordelo 1 1

Favaios 1 1 – José António

Pereira Coelho

TORRE DE

MONCORVO Murça 1 1 – João Carlos

Pereira de Sousa

GUIMARÃES Mondim de

Basto

1 – a)

Vila P. de

Aguiar

1 – a) 1 – a)

BRAGANÇA Chaves 1 – Manuel Pires

de Miranda 2 - ??

1 – Manuel

Álvares Nogueira *

Montalegre 1 - ?

2 -?

1 .- Bento J. M.

Fontoura

LAMEGO Régua 1 1 – José Manuel

Correia Monteiro

1 1 –António

José Botelho

Mesão Frio 1 1

Barqueiros 1

Valdigem 1

PORTO /

PENAFIEL Sever 1 1

Lobrigos17

1 1

Fontelas 1 – José Custódio 1

Loureiro 1 1

Sedielos 1 1

Medrões 1

Fontes 1 –José Cardoso

de Matos *

1

TOTAIS

LUGARES 28 19 2 2 2

NOTAS - a) -Lugares criados pelo alvará de 11.11.1773

* - Presbíteros seculares

Fonte: (GOMES, 1989: 35 e ss).

17 Sendo um lugarejo vê ser-lhe atribuída uma escola muito provavelmente devido à amizade que ligava o Marquês

ao padre Mestre Doutor Frei João de Mansilha, que aqui nasceu em 18 de Maio de 1711. Trata-se do pai da ideia

da demarcação do Douro e que desempenhou o papel principal nos requerimentos enviados à corte pelos quais se

solicitava a criação da companhia (Real Companhia Velha ).

49

Pela análise do presente mapa podemos deduzir que se interessava ao Marquês

o número de habitantes de cada lugar como factor primordial para a criação de uma

cadeira de primeiras letras, se considerarmos todos os lugares da região vinhateira do

Douro onde o marquês criava um lugar, verificamos que muitos desses lugares poucos

habitantes têm: Sever tem 678 habitantes e S. Miguel de Lobrigos 424, por exemplo.

Serão então os critérios de natureza económica os mais importantes a nortear a política

do marquês? Naturalmente que, pondo o mesmo, um grande interesse pelo

desenvolvimento vinhateiro do Douro, havia também todo o interesse em elevar o nível

de conhecimentos dos seus habitantes. De qualquer forma muitos desses lugares ficam

vagos ou por falta de provimento, ou porque os mestres acabados de nomear se

recusaram a tomar conta do lugar. Esta política provoca descontentamentos em vilas e

lugares que se achavam com direito a terem também uma escola.

Mais tarde, a 11/11/1773, D. José I vê-se então pressionado para ampliar o

número de escolas - e cria mais 47 lugares de mestres de ler, escrever e contar -, a

pedido de câmaras e pessoas principais de algumas vilas e lugares. Pela análise do novo

mapa, que era afinal um suplemento ao mapa que acompanhava a carta de lei de 6/11/

1772, verifica-se que entre outras é criado um lugar em Mondim de Basto, ficando de

fora os concelhos de Atei e Ermelo. Mesmo criado o lugar em Mondim este não foi de

imediato ocupado, sendo-o apenas a partir de 1/1/1780, já em pleno reinado de Dª Maria

Iª. Era também criado um lugar de Gramática Latina.

Para dar execução ao seu plano de reforma, o Marquês de Pombal teve

consciência de que era necessário arranjar fundos certos e permanentes para fazer face

às despesas que a reforma naturalmente traria. Foi assim que criou o Subsídio Literário,

pela carta de lei de 10/11/1772. Para isso, mandou que fossem “abolidas e extintas todas

as colectas que nos cabeções das sisas ou em quaisquer outros livros ou cadernos de

arrecadação foram até agora lançadas, para por elas serem pagos mestres de ler,

escrever, ou de solfa, ou de gramática, ou de qualquer outra instrução de meninos”

(artigo I) e, em lugar delas, se estabelecesse o “único imposto, a saber: Nestes Reinos e

Ilhas dos Açores e Madeira, de um real em cada canada de vinho e de quatro réis em

cada canada de aguardente, de cento e sessenta reis por cada pipa de vinagre; na

América e na África, de um real em cada arrátel de carne da que se cortar nos açougues;

e nelas e na Ásia, de dez reis em cada canada de aguardente das que se fazem nas terras,

debaixo de qualquer nome que se lhe dê ou venha a dar” (artigo II).

50

A criação do Subsídio Literário como forma de financiar os mestres régios

gerou grande controvérsia dado que muitas povoações que mais contribuíram não foram

as mais beneficiadas com uma cadeira régia. A título de exemplo vejamos: o território

correspondente – grosso modo – aos actuais distritos de Vila Real e Bragança contribuiu

com 34% do total de receitas, em média, no período de 1774 a 1793, valores muito

acima de qualquer outra região (NÓVOA, 1987: 209). Por sua vez nessa mesma região

e para o mesmo período foram gastos com vencimentos apenas 7% das receitas, o que

equivale à menor despesa feita a nível nacional (NÓVOA, 1987:210).

Ao concelho de Mondim de Basto foi aplicado um subsídio literário que em

1796 era de 31:500 réis, em Atei de 83:000 réis e em Ermelo de 19:280 réis. Apesar de

pagarem subsídio literário nenhum daqueles concelhos vê ser-lhe atribuída qualquer

escola.

Este imposto manter-se-á, no continente até 1857, altura em que por carta de lei

desse ano será extinto. Devemos salientar, no entanto, que o poder local protesta e

reivindica os benefícios da criação de lugares de primeiras letras, numa demonstração

do poder político que efectivamente tinham. As razões apresentadas eram normalmente

de três tipos: o facto de pagarem elevado Subsídio Literário, a distância da terra mais

próxima onde se leccionava e o número de habitantes.

1.2 - O Período Mariano.

A morte de D. José I (Fevereiro de 1777) levou à queda política do Marquês de

Pombal e do influente frei Manuel do Cenáculo, o qual se vê substituído pelo arcebispo

D. António Bonifácio Coelho. Mantêm-se, no entanto, algumas das estruturas do

governo anterior. “A rede escolar do ensino elementar estava fracamente implantada,

com menos de um terço dos mestres previstos. Por isso, em fins de Outubro de 1778,

eram apenas 138 os mestres que recebiam vencimento” (ADÃO, 1995: 179).

Em 1779 - lei de 16 de Agosto - Dª Maria I inicia uma nova reforma das escolas

menores, após consulta à Real Mesa Censória. Essa reforma será marcada por uma forte

reacção anti-pombalina dado que se vão repor muitas das situações de que antes

beneficiavam, material ou ideologicamente, determinadas instituições e pessoas. Pela

análise da “ Lista das terras, conventos e pessoas ...” verificamos que as escolas de

primeiras letras passam de 526 para 722, aí constando pela primeira vez lugares criados

51

em Atei e em Ermelo, mantendo-se o lugar de Mondim de Basto e este concelho ainda

viu ser-lhe atribuída uma cadeira de Gramática Latina que seria da responsabilidade do

professor José Alves de Mesquita (quadro nº 8).

Quadro nº 8. O Actual Distrito de Vila Real no Mapa Escolar Mariano

COMARCA LOCALIDADE MESTRE De LER

nLLER,ESCREVER E

CONTAR

PROF. GRAMÁTICA

LATINA VILA REAL Cidade 1- Relig. Da Prov. da Conceição

1- José A. P. Coelho

Provezende 1- Falecido

Alijó 1- Francisco de S. Paio

Celeirós 1 – Manuel de S. Paio Almada 1 - José M. de Morais

Sabrosa 1- José Caetano C. e Sousa * 1 - João C. P. de Sousa

Parada do Pinhão 1 – António José Gomes

Vilar de Massada 1 – Jerónimo M. De Azevedo

Lordelo 1- Falecido.

Favaios 1- Falecido.

Carrazedo 1- António Joaquim Marques

Dornelas 1- Manuel de Morais Pequeno

Guivães 1- José Correia de Carvalho

Galegos 1- Falecido.

Torre do Pinhão 1-António de Sousa Machado

S. M. Riba Tua 1- Falecido.

MONCORVO Murça 1- José Caetano de Lobão 1- António F. de Além

GUIMARÃES Mondim de Basto 1 – João Lobo de Sousa 1- José A. de Mesquita

Ermelo18 1- Manuel Ferreira de S. Paio

Serva 1- Diogo Gonçalves Cabeças

Vila P. de Aguiar 1- Manuel Luís de S. de Faria 1- Manuel de Matos

Atei 1 – António F. de C. e Oliveira

BRAGANÇA Chaves 1 – O Conv. Relig. Da Prov. Conc.

Provínciada Soledade

1 - O Conv. Dos Relig. da

P. da Soledade Termo de Chaves 1- Manuel Pires de Miranda 1- Manuel A. Nogueira

Montalegre - António José da Silva 1- Bento J. M. Fontoura

Os Arrabaldes 1- Manuel Gonçalves Pereira

LAMEGO Régua 1- Bernardo da F. de Carvalho 1- José M. C. Monteiro

Mesão Frio 1- O Conv. Relig. de S. Franc. 1-O Conv. de S. Francis.

Barqueiros 1- José da Mata Pereira

Fontes 1- José Cardoso de Matos *

Vila Seca 1- José de Moura da Fonseca

Valdigem 1- Manuel de Paiva

PORT/ PENAF. Sever 1- Manuel da Fonseca R. e Sousa

Lobrigos 1- Manuel R. dos Santos e Melo 1- António José Pereira

Fontelas 1 – José Custódio 1- José António Capela

Penaguião 1- Manuel José C. P. da Silva

Sedielos 1- António Pinto Teixeira 1- Manuel C. S. Matos

NOTAS - * - Presbíteros seculares. Fonte: (GOMES, 1989: 57 e ss).

18 Na Pauta das Pessoas que foram nomeados Juízes, Vereadores ou Procuradores para o concelho de Mondim de

Basto no ano de 1780 encontramos o nome de Manuel Gomes de S. Paio eleito como Vereador, cujo nome se

encontra riscado com a indicação de que foi eleito Mestre de Meninos. Tratar-se-á da mesma pessoa ou será algum

irmão?

52

Estas escolas não vão abrir de imediato pois os mestres não se apresentaram ao

serviço o que vai motivar uma queixa à rainha por parte da câmara de Mondim, tendo

esta respondido nos termos seguintes: “Dona Maria por graça de Deus rainha de

Portugal e dos Algarves ... mando a vós, corregedor da comarca de Guimarães, que logo

logo (sic) me informeis sobre o requerimento que com esta vos remeto da Câmara de

Mondim de Basto, informando-vos também se os mestres de que trata o mesmo

requerimento cumprem com as suas obrigações, e do que achardes me dareis parte pela

minha Real Mesa Censória e por mão do secretário que esta subscreveu...Lisboa, aos

dez de Maio de 1781“ (BGUC, códice 2533: doc nº 59). Aliás a escola de Mondim

esteve encerrada de 1.1.1790 a 8.2.1790 e a de Ermelo esteve encerrada por duas vezes,

de 1.1.1788 a 29.6. 1788 e de 1.1.1791 a 25.9.1791 (ADÃO, ob. cit: 502).

De facto dos mestres régios colocados em Atei, Mondim e Ermelo,

respectivamente António Francisco de Carvalho e Oliveira, nomeado por alvará de

16.8.1779, João Lobo de Sousa, idem e Manuel Ferreira de S. Paio, ibidem, nenhum

tomou posse do lugar esse ano, aparecendo para Atei o substituto Francisco de Oliveira

de Araújo em 16-2-1785, para Mondim o mestre régio António Dinis Alves em

1.1.1780 e para Ermelo o substituto Manuel José Pereira em 12.4.1785 (Quadro nº 9).

Com o mestre António Dinis Alves passa-se uma situação no mínimo curiosa.

Tendo sido nomeado em 11.11.1773 para Celorico de Basto, de cujo lugar recebeu

vencimento entre 10.6.1774 e 13.4.1782, foi confirmado para a escola pela lei de

16.8.1779. No entanto aparece-nos igualmente a receber como mestre de Mondim de

1.1.1780 a 8.5.1780 e depois, a partir de 17.4.1782 a 14.4.1786, quando “fez demissão”

por doença e velhice. A partir daí passou a ser substituído pelo irmão Domingos Dinis

Alves, que era substituto.

Por sua vez João Lobo de Sousa tendo sido nomeado a 16.8.1779 só começou a

exercer a partir de 9.5.1780.

O vencimento destes mestres, bem como o dos substitutos, era pago ao ano, no

valor de 40$000 réis mas sujeito ao desconto da décima, restando portanto 36$000 reis.

Se a este valor descontarmos a percentagem que era devida ao recebedor que tinha que

se deslocar a Lisboa (pelo menos até 1794-95, altura em que os vencimentos

começaram a ser pagos pela comarca sob a responsabilidade do provedor) para fazer o

respectivo levantamento, fácil é percebermos quão exíguo era o vencimento líquido.

53

No inquérito levado a efeito por Ribeiro de Castro é referido que em Atei

havia um professor de primeiras letras com um ordenado de 30$000 réis pagos pela

Irmandade das Almas (MENDES, ob. cit: 139 e 471). Evidentemente que há aqui um

ligeiro lapso. O mestre em causa recebia um vencimento igual ao dos colegas,

simplesmente em 1794 António de Oliveira de Andrade instituiu um legado de 30$000

réis que deveria ser administrado pela Irmandade citada para ajudar ao pagamento do

vencimento do mestre (ATC: códice nº 3764, fl.33).

A precariedade da situação vivida – com mestres a serem colocados e a não se

apresentarem -, obrigava a que os jovens de Ermelo que quisessem aprender a Ler,

Escrever ou Contar teriam que se dirigir para Vila Real par o “Convento das Religiosas

da Província da Conceição” e os jovens de Atei teriam que ir para Mondim. As

condições, tanto para uns como para outros não seriam as ideais - o que seria geral a

nível nacional - o que fez, por isso, com que Santos Marrocos na sua Memória se

interrogasse: “que era de esperar? que grandes frutos se têm colhido destas searas com

vinte anos de cultura? (de 1779 a 1799) (CARVALHO, 1986: 490). Também Bento

José de Sousa Farinha, professor de Estudos Menores dizia: “Por isso a mocidade que

pretende saber ler chora a desgraça de estar obrigada a sair da sua terra ou do seu lugar,

por calmas e frios, para ir buscar o fradinho leigo que está no convento fora do povoado

e longe dele, o qual nunca teve curiosidade de aprender, nem paciência para isso, e

agora um dia lhe não aparece, outro lhe troca a doutrina em conversação, outro a manda

a recados e negócios mais do seu interesse. Chora a mocidade que pretende saber

escrever porque lhe põem por mestre um homem que além de não saber nada de

ortografia, e linguagem portuguesa, nunca soube escrever nem aparar uma pena”.

(CARVALHO, 1986: 490/91).

54

Quadro nº 9. A Implantação Efectiva dos Professores Régios do Século XVIII

em Mondim de Basto19

Concelho Professor Categoria Provimento

ATEI

Francisco de Oliveira

de Araújo

Substituto 16.2.1785 a 31.7.1791

João Borges de

Azevedo

Substituto 3.8.1791 a 1795

ERMELO

Manuel José Pereira Substituto 12.4.1785 a 31.12.1787

Manuel Mendes

Pereira

Substituto 30.6.1788 a fins 1790

Bento José Martins Substituto 26.9.1791 a Março de 1793

José Ferreira Mourão Substituto 11.3.1793 a 1795

MONDIM

António Dinis Alves Mestre 1.1.1780 a 8.5.1780 e de 17.4.1782

a 10 de 1786

João Lobo de Sousa Mestre 9.5.1780 a Abril de 1782

Domingos Dinis Alves Substituto 3.10.1786 a fins de 1789

José Félix da Silva

Bastos

Substituto 9.2.1790 a 1795

Fonte: ATC, “Livros de Assentamento dos ordenados pagos pelo cofre do Subsídio Literário – 1773-94”

Pela análise do quadro n.º 9 podemos verificar que apenas dois mestres

ocuparam os lugares para os quais foram nomeados, sendo os restantes ocupados por

substitutos, o que prova que os mestres não cumpriam escrupulosamente a lei, daí a

insatisfação e as queixas apresentadas pela câmara à rainha. Daí também alguns

excessos de controlo.

Também verificamos que a maioria dos professores está muito pouco tempo em

funções. Porquê? Arranjaram provimento noutra escola? Saíram do ensino para ocupar

outros cargos mais rendosos? Pelo menos esse foi o caso de João Borges de Azevedo

que deixou o ensino para ocupar um lugar político/administrativo. Esta situação leva-

nos a procurar saber “se estes mestres ou os substitutos usufruíam uma garantida

estabilidade profissional, se conservavam por muito tempo esse estatuto ou se, pelo

contrário a sua actividade docente não durava senão alguns anos” (NÓVOA, 1987:

19 A Srª Doutora Áurea Adão facilitou-nos estes dados numa aula do Mestrado em fevereiro de 1997 e que ela própria

recolheu dos “ Livros de Assentamento dos ordenados ... pagos pelo cofre do subsídio Literário – 1773-1794” no

Arquivo do Tribunal de Contas, à qual agradecemos encarecidamente.

55

272). É evidente que, para uma resposta concreta teríamos que seguir o percurso

profissional de cada um dos indivíduos registados no quadro acima. De qualquer modo

conseguimos saber que Francisco de Oliveira de Araújo recebeu o vencimento até fins

de 1791 e Domingos Alves até fins de 1789. Ambos faleceram no decurso da sua

actividade.

(ADÃO, ob. cit: 637). Sabemos também que a 31.12.1890, o mestre Manuel Mendes

Pereira, de Ermelo, terminou a sua actividade por motivo de suspensão (ADÃO, ob. cit:

644).

1.3 - A Real Junta da Directoria Geral dos Estudos

Criada por carta régia de 17 de Dezembro de 1794, passava a funcionar na

Universidade de Coimbra. À sua frente estava o reitor, com seis vogais. Tinha um

secretário privativo e era servido por quatro oficiais de secretaria. Havia ainda três

comissários, que a representavam nas províncias afastadas e que tinham uma missão

fiscalizadora. A junta reunia-se em conferência e dava despacho em dois dias certos em

cada semana.

Foi no âmbito das suas competências que organizou logo em 1801 um inquérito

à escala nacional, para a elaboração de um mapa estatístico que deveria ser preenchido

tanto por mestres oficiais como particulares onde, todos os anos, a Junta deveria ser

informada do nome dos alunos, do seu aproveitamento, suas qualidades pessoais e

outras particularidades. Também são instituídos exames para os concorrentes ao

professorado20

, onde estes deveriam provar que sabia ler e que conhecia as quatro

operações aritméticas, todas as letras maiúsculas e minúsculas do alfabeto e o

catecismo. Como já se referiu, o facto de haver um currículo obrigava a que a

contratação dos mestres obedecesse a critérios que até então nunca haviam sido

considerados, num claro aumento de qualidade do ensino.

A Junta publicou em 1827 uma “ Relação dos empregos, Estabelecimentos,

Escolas e substituições de Ensino Público ... com declaração dos seus locais,

disciplinas, nomes dos professores, Mestres de Letras, vacaturas, jubilações,

aposentações, número de discípulos , ordenados e despesas” (BGUC, ms 1341, fl 33 -

55). Pela análise desse documento verificamos que há em Mondim de Basto uma

20 “ Instruções para a forma dos exames dos mestres de primeiras letras”, Coimbra 1801, in ( CARVALHO, 1986:

497) .

56

cadeira de Latim cujo professor é António José Alves, que auferia um vencimento de

200$000 réis. Verificamos também que as três escolas de Primeiras Letras se mantêm a

funcionar. Assim, é professor na de Mondim José Máximo de Morais, na de Atei José

António Pereira de Oliveira e na de Ermelo José Ferreira Mourão, auferindo cada um o

vencimento de 90$000 réis (BGUC, doc. cit pág 48 e 49 ).

De salientar que a escola do Bilhó, que havia sido criada por instituição de um

legado em 23.12.1791, se mantinha fechada (só recomeçará a funcionar com

regularidade em 1830, depois de ter funcionado entre 1792 e 1796).

Dois anos mais tarde é publicada uma Resolução Real com data de 20 de Março

de 1829 em que são suprimidas “por desnecessárias” algumas cadeiras de latim. Ao

mesmo tempo publica-se uma listagem que contém os nomes das cadeiras que se

mantêm em actividade. A de Mondim permanece, fazendo parte do lote das dez que

restam na comarca de Guimarães. Cabeceiras de Basto e Celorico de Basto, concelhos

vizinhos de Mondim, perdem-nas.

A 31 de Julho do mesmo ano são suprimidas cinquenta escolas de Primeiras

Letras no país, ficando este com apenas seiscentas em funcionamento (BGUC, cód.

1341, fl 10 e ss). As do concelho de Mondim (incluímos Atei e Ermelo) permanecem

intactas, o que demonstra uma certa regularidade de funcionamento.

1.4 - Conclusão

Alguns aspectos importantes haverá a destacar nestes períodos Pombalino e

Mariano. Por um lado o lançamento de uma Rede Pública de Ensino que definia

definitivamente o papel do Estado nesse sector e por outro lado delimitava bem o peso

da urbanidade sobre a ruralidade, peso esse que se manterá até aos nossos dias. Fazia-se

também uma ligação que se manterá sempre actual: Ensino/Desenvolvimento

Económico, ou a Instrução ao serviço da produtividade.

Outro aspecto, defendido por alguns historiadores, é o facto de que com a

criação das escolas régias de ler, escrever e contar, o Marquês de Pombal não tinha em

vista alfabetizar as classes populares mas tão-só beneficiar a nobreza de toga, os

proprietários fundiários e a burguesia em geral, os quais constituíam “a base social do

seu governo” (NÓVOA, 1987: 227). Saber ler e escrever não era uma necessidade

básica do povo nem era factor de promoção social. Era importante para os que

quisessem ingressar na vida eclesiástica.

57

A situação melhora ligeiramente com Dª Maria I. Se compararmos as listagens

apresentadas nos quadros acima verificamos que o Marquês criou 28 lugares de

Primeiras Letras mas apenas quatro foram de imediato ocupadas, restando vagas 24.

Com Dª Maria o número de lugares alargou-se a 37 e só 5 ficaram vagos, por

falecimento do respectivo titular. Situação idêntica aconteceu em relação aos mestres de

Latim. O Marquês criou 19 lugares, tendo sido preenchidos apenas 8, enquanto com Dª

Maria passaram a estar preenchidos 14.

De qualquer modo os concelhos não se industrializam, continuam rurais, e assim

possuir conhecimentos continua a não representar uma primeira necessidade. A escola,

assim, pouco importa. Os conhecimentos - essencialmente práticos e técnicos - são

transmitidos oralmente de pais para filhos. Se esta é uma situação vulgar na globalidade,

assistimos também a um despertar da consciência social das populações nas sedes dos

mesmos. De facto a atribuição das cadeiras de primeiras letras irá despoletar um

movimento reivindicativo por parte das populações que não se viram contempladas e

que se achavam com direitos, aproveitando para mostrar o seu desagrado enviando

representações ao rei.

O despertar dessa consciência não terá o seguimento que seria desejável pois, se

por um lado muitas das reivindicações foram atendidas, principalmente no período

mariano, não se conseguiram mudanças significativas nem ao nível da transferência de

poderes - do central para o local - nem ao nível da criação de uma nova e desejável

estrutura político- administrativa. E mesmo quando chegar a revolução liberal - atrasada

em relação a outras que ocorreram na Europa -, a Paróquia e a Diocese continuarão a

dominar os meios rurais num processo que se arrastará até ao século XX. Fenómeno

marcante se nos lembrar que nos meios pequenos o pároco é muitas vezes o professor, o

presidente do município ou da paróquia, marcando ele próprio o ritmo de acordo com os

seus interesses pessoais.

Também não será exagero considerar como “moda” muitos dos protestos ou

reivindicações dado que quando se poderia assistir a um crescendo da rede escolar com

o virar do século e o princípio do seguinte verificamos em muitos casos um regredir - o

caso do Bilhó que vê fechar a escola em 1787 e só regressará em 1830 por imposição do

visitador - ou o facto de mais nenhuma escola ter sido criada no concelho de Mondim

pelo menos até 1866. Razões de ordem política, ideológica, económica e financeira

explicam o retrocesso. A título de exemplo verificamos que nas vereações camarárias

(de Ermelo e Atei dado que não encontramos as de Mondim) encontramos em todas as

58

actas decisões relativas ao tabelamento dos preços, às multas a aplicar, a assuntos de

gestão corrente e muito poucos ao sistema de ensino. E mesmo neste as referências vão

quase sempre para as desculpas de não se poder pagar a tempo o vencimento do

professor. As reuniões das vereações são feitas “a correr” mas são mais ou menos

regulares (de quinze em quinze dias). Nada encontramos sobre sugestões ou críticas à

Real Mesa Censória.

Chegados ao fim do século XVIII - e até ao segundo quartel do seguinte -, a

Rede Pública de Ensino dispõe de escola em Mondim, em Atei e em Ermelo. O Bilhó

acaba de a perder.

Para uma população de 4726 pessoas 21

cada uma das três escolas régias

destinar-se-ia a uma média de 1575 habitantes e abrangia um conjunto de 489 fogos. A

média nacional calculada por Áurea Adão dá cada escola a destinar-se a uma média de

3.379 habitantes abrangendo um conjunto de 845 fogos, a nível nacional e cada escola a

abranger 3484 habitantes e 871 fogos para a província de Trás-os-Montes (ADÃO,

1995: 181 e 182).

Aparentemente os três concelhos até nem estariam mal servidos tendo em conta

a média nacional, só que a rede está apenas implantada nas sedes de concelho, que

revelam algum dinamismo social - existência do município ,dos oficiais, do Juiz de Paz,

da cadeia, do Sargento - Mor, do Escrivão, etc. - e económico - existência de uma feira

em cada concelho -, mas dada a grande dispersão geográfica, acreditamos que poucos

acabam por ser os alunos beneficiados. Naturalmente que com as fontes disponíveis não

conseguimos saber qual o número exacto de alunos que vão à escola no fim do século

XVIII, qual o seu grau de progressão e qual o uso que eles acabaram por fazer da

cultura escolar adquirida.

21 Utilizamos o Censo de Pina Manique.

59

2 – CONSOLIDAÇÃO DO SISTEMA EDUCATIVO MONDINENSE.

- A REFORMA DE COSTA CABRAL.

Introdução

Será no século XIX, prolongado pelo século XX, que assistiremos ao

lançamento das grandes reformas educativas. Nem todas chegaram a ser

implementadas, ficando-se nos decretos-lei ou na boa vontade dos seus

autores, que viviam preocupados com a situação do ensino em Portugal.

Dessas reformas escolhemos para o nosso trabalho as duas que nos

parecerem as que mais importância tiveram, por um lado, no alargamento da

instrução no concelho de Mondim de Basto, e por outro porque “através da

análise das leis ou das reformas, podemos em muitos casos surpreender a

explicação correcta de certos factos que antes nos pareciam de significado

obscuro ou impreciso” (ALBUQUERQUE, 1960: 7).

2. 1 – Efeitos Fundamentais da Reforma em Mondim de Basto.

Em 20 de Setembro de 1844, ao tempo de Costa Cabral, procedeu-se a uma

nova reforma do Ensino Primário (oito anos após a Reforma de Passos Manuel),

inovadora em alguns aspectos. Assim, o ensino primário era dividido em dois graus: o

elementar e o complementar. O primeiro grau ocupava-se de Ler, Escrever e Contar,

Exercícios Gramaticais, Corografia e História de Portugal, Moral, Doutrina Cristã e

Civilidade. Os alunos do segundo grau, para além daquelas disciplinas teriam ainda

Gramática, Desenho Linear, Geografia, História Geral, História Sagrada do Antigo e do

Novo Testamento, Aritmética e Geometria e Escrituração (do artigo 1º).

Como forma de combater o exasperante analfabetismo, Costa Cabral tomava medidas

de certo modo idealistas. Assim decretava que todos os “pais, tutores, e outros quaisquer

indivíduos residentes nas povoações em que estiverem colocadas as escolas as escolas

de Instrução Primária, ou dentro de um quarto de légua em circunferência delas”,

mandem à escola “os seus filhos, pupilos, ou outros subordinados desde os 7 anos até

aos 15 anos de idade” (CARVALHO, 1986: 578). Os pais a quem fosse “penosa a falta

60

de trabalhos dos meninos” poderiam mandá-los à escola apenas “em uma das lições

diárias” (art. 33º e 34º). Para o caso concreto de Mondim de Basto ficavam sem

desculpas os pais com filhos em idade escolar na vila, em Atei em Ermelo e no Bilhó,

muito pouco em relação à totalidade do concelho.

Aqueles pais que não enviassem os filhos à escola seriam punidos política e

financeiramente por tal.22

. Assim, politicamente seriam “suspensos dos seus direitos,

por espaço de 5 anos, os pais, tutores e outros indivíduos, cujos filhos, pupilos ou outros

subordinados, tiverem completado a idade de 15 anos, sem saber ler e escrever,

passados dez anos da publicação do presente decreto” e “ninguém poderá exercer

direitos políticos sem saber ler e escrever, seis anos depois de publicado o presente

decreto” (Artigos 35º e 36º in MARREIROS, 1981: 125).

Também a preparação do corpo docente estava prevista nesse diploma. O artigo

17 estipulava que “o Governo é autorizado para organizar, logo que possível, as escolas

normais dos Distritos de Lisboa e Porto”. Apesar desta convicção, a Escola Normal de

Lisboa esperará dezassete anos para começar a funcionar, apesar de no papel estar muito

bem organizada, ter professores do quadro, nomeados por alvarás ministeriais e com os

vencimentos em dia. Naturalmente que a formação dos docentes irá ressentir-se deste

longo atraso, provocando situações surrealistas: como não eram formados

convenientemente os professores e em número suficiente, os lugares vagos eram

preenchidos por indivíduos sem os necessários conhecimentos científicos nem

pedagógicos. Se juntarmos a isto o facto dos ordenados serem baixos, (durante muitos

anos os ordenados dos professores régios serão sempre de cento e dez mil réis anuais,

onde se incluem os vinte mil de subsídio das câmaras) de nem sempre os subsídios

serem recebidos a tempo e horas, (normalmente eram pagos por altura da importante

feira de S. Miguel que se realiza no mês de Setembro em Cabeceiras de Basto), mas

encontramos muitos anos com ordenados em atraso e, até, vários anos em que os

mesmos são pagos em duas tranches anuais). Perante tudo isto só quem não arranjava

outro modo de vida aceitava esta situação. Acontecia, porém, que havia situações de

duplo emprego, o que só reforçava a ideia generalizada de que a inspecção não actuava.

Dois exemplos flagrantes: o professor de Mondim em 1850 era José Rodrigues de

Carvalho, que exercia ao mesmo tempo as funções de secretário da câmara. A situação

22 O DG nº 230 de 28 de Setembro era bastante minucioso: assim definia o intervalo das idades de frequência escolar

- entre os 7 e os 15 anos de idade -; indicava o quantitativo das multas a aplicar - entre 500 até 1$ooo réis - e o

que o administrador do concelho deveria fazer para que a lei fosse cumprida.

61

mantém-se até 1853. Como professor auferia 20$000 réis de vencimento e como

secretário 40$000. A partir de 1853 abandonou o lugar de professor. O segundo

exemplo refere-se ao professor João António da Silva Ramos. Iniciou a carreira em

1857. Como era um abastado proprietário, com propriedades mesmo por detrás da rua

onde morava e dava aulas, a rua do Escourido, abandonava frequentemente os alunos

para ir trabalhar para o campo. A mesma situação se passava com quase todos os

professores, até porque maioritariamente eram padres e portanto tinham outras fontes de

rendimentos.

As câmaras municipais vêm as suas competências também alargadas. São

chamadas a “coordenar o sistema de instrução, vigiar o comportamento moral e político

dos professores e assegurando o pagamento dos poucos professores régios, mediando,

por conseguinte, entre o poder central, a quem cabia por lei garantir um sistema de

instrução, público e eficiente, e as populações a sociedade, (como falava Herculano, em

1838) que, libertas pela constituição de 1820 para estabelecerem escolas, constituíam de

facto o principal suporte do sistema vigente” (MAGALHÃES,1992: 129).

Para além disso são responsabilizadas pelas instalações escolares, pelas obras de

remodelação, pelo apetrechamento e pela vigilância da frequência escolar dos alunos.

Em relação aos edifícios escolares, e porque os professores eram obrigados por lei a

reservar nas suas moradias espaços onde recebessem os seus alunos, as câmaras pouco

ligavam a isso, limitando-se a pagar as respectivas rendas, quando houvesse

disponibilidade financeira para tal, julgando que assim cumpriam a legislação em vigor.

Também não deixará de se atribuir este desleixo ao facto de que o artigo 6º dizer

“sempre que for possível, o lugar da escola será em edifício público ou outro

especialmente acomodado a esse fim”. A ser assim competiria ao governo fazer os

edifícios e como tal as câmaras pouco se importavam com esse assunto.

No artigo 155, do citado decreto de 20 de Setembro de 1844, Costa Cabral recria

o Conselho Superior de Instrução Pública, cujo regulamento data do ano seguinte.

Dizemos recria dado que em 1835 já Rodrigo da Fonseca o havia criado embora tivesse

durado apenas dois meses. Podemos dizer esse Conselho Superior tinha as funções de

um verdadeiro ministério da Instrução. Estabelecido em Coimbra, compunha-se de um

presidente, de oito vogais ordinários e de vogais extraordinários, sem número fixo, e

dividia-se em dois Conselhos: um Conselho Geral e um Conselho Ordinário. “Todavia,

o Conselho Superior mostrou-se sempre incapaz de resolver os problemas fundamentais

que lhe surgiram; limitou-se a desempenhar funções de pura administração da lei em

62

vigor, só introduzindo novas matérias de doutrina na regulamentação burocrática da

orgânica interna das escolas e nas normas dos concursos para as prover de professores”

(ALBUQUERQUE, 1960: 174).

Este Conselho produziu extensos relatórios. Com base nos mesmos podemos

ficar com uma ideia da evolução do ensino de 1843 a 1859.

Quadro n.º10. Número das Escolas Primárias Portuguesas de 1843 A 185923

( Municipais, Paroquiais, de Confrarias, de Legados e de Diferentes Sociedades )

ANOS ESCOLAS

PÚBLICAS

ESCOLAS

PARTICULARES

TOTAL

ALUNOS

POPULA

ÇÃO

AULAS ALUNOS AULAS ALUNOS

1843-44 1.116 (1) 42.761 1.084 18.776 61.537 3.412.500

1844-45 1.189 45.500 1.084 18.776 64.276 3.412.500

1846-47 122224 (2)

1847-48 1.169 45.500 (3) 1.084 18.786 64.276 3.412.500

1848-49 1169 34.635 (4) 63 2.462 70.000 (5) 3.412.500

1849-50 1168 (6 ) 39.801 1.076 70.000 (5) 3.622.964

1850-51 1168 (7) 82 70.000 (5)

1851-52 (8) 47.471 12.665 60.136

1852-53 1175 37.172 203 3.487 40.559 (9) 3.600.000

1853-54 119925

(10) 325 (10) 65.000 3.600.000

1854-55 1272 55.117 25.479 80.596

1855-56 1379 55.451 449 (11) 55.451

1856-57 1438 (12) 60.552 467 17.402 77.954

1857-58 1518 64.465 280 11.261 75.766

1858-59 1528 (13) 66.749 15.529 82.278

NOTAS:

1- Falta a relação das Ilhas, Aveiro, Guarda e Beja.

23

Fonte: (GOMES, 1985) – Relatórios do Conselho Superior de Instrução. Coimbra, INIC. páginas 18,

27,28,61,62,84,105, 132,156,171,205,227,248,257,258 e 288.

24 D. António da Costa refere este número dizendo que o retirou da Sinopse da Legislação Primária, Coimbra 1848,

página 32 (cota 5- 25-47-24).

25 D. António da Costa refere 1194 escolas oficiais e 1032 particulares e municipais com um total de 92.000 alunos.

Valores retirados da Synopse.

63

2- São referidos os valores de 1845.

3- Valor calculado um pouco aleatoriamente, dado que apenas foram enviados 744 mapas com 30.180

alunos, tendo faltado 337 mapas. Daí calcular-se o valor de 45.500 alunos.

4- Valores retirados de apenas 306 mapas recebidos do continente e de 28 cadeiras de Angra, Funchal

e Horta.

5- Números calculados por estimativa, tendo em consideração os mapas que faltam.

6- Acham-se vagas 64 e reservadas 15.

7- Acham-se vagas 62, a concurso 46 e reservadas 16.

8- Refere-se que os dados se encontram nos mapas 1, 2 e 3, mas os mapas não são transcritos.

9- Os dados foram retirados de 898 mapas. Se todos os mapas tivessem sido enviados é provável que o

valor fosse superior aos 65.000 alunos.

10- Embora não sendo referido o número de alunos e tendo em consideração que houve um aumento de

24 escolas públicas e de 122 particulares é de todo provável que o número total seja igual ou superior ao

indicado.

11- Faz-se referência ao mapa nº 7 mas não se indica o nº de alunos.

12- As escolas efectivas eram 1230.

13- Deste número 147 deixaram de funcionar.

Dado que os elementos de cálculo se revelam assim bastante incompletos –

devido à irregularidade do envio dos mapas -, é provável que os números fossem bem

mais elevados.

Entre a promulgação da reforma de Costa Cabral (1844) e a reforma de

Rodrigues Sampaio (1878), um espaço de 34 anos, portanto, o ensino em Mondim de

Basto apresentará como grandes novidades a criação de duas escolas do sexo feminino,

uma em Mondim, em 1866 e outra em Atei, em 1876 e a criação de aulas nocturnas em

Mondim, 1869, em Ermelo,1874, em Atei,1874 e no Bilhó, 1876.

O primeiro professor de Mondim a dar aulas à noite foi João António da Silva

Ramos. A 3 de Setembro de 1869, o citado professor solicita à Câmara que “suprima a

aula nocturna nos meses de Setembro a Abril por serem pouco concorridas,

principiando cada ano lectivo no primeiro de Outubro e a terminar a 31 de Março”.

Aproveitava para pedir que lhe dividissem o ordenado pelos meses de aulas e que lhe

fizessem o respectivo pagamento no fim de cada mês26

.

Logo no primeiro ano de funcionamento a população revelava pouco interesse

pelas aulas nocturnas, uma situação que irá melhorar ao longo dos anos seguintes.

26 ACMM: Livro de Correspondência Recebida, nº 1 ( 1850...1874).

64

No ano seguinte, a 26 de Abril de 1870 o mesmo professor escreve à Câmara a

queixar-se de que havia pedido que esta lhe dividisse o ordenado pelos meses do ano

lectivo que era na altura de 35$000 réis. A Câmara dividiu-lhe o ordenado pelos doze

meses do ano, passando a pagar-lhe apenas os meses em que havia aulas de facto. O

subsídio baixava por essa razão a 26$000 réis, o que causava naturalmente grande

prejuízo ao citado professor, o qual, em futuras cartas havia de expressar esse

descontentamento.

Quanto às condições pedagógicas em que se processava o ensino acreditamos

que em Mondim não seria muito diferente daquilo que se passava no resto dos país, a

avaliar pelos resultados do Inquérito à Instrução Pública relativa aos anos de 1863-1864

(quadro nº 11). De facto a câmara continua a mostrar-se muito relutante no que

concerne ao dispêndio de verbas a gastar com a educação, quer no pagamento dos

vencimentos aos mestres - sempre em atraso -, quer na aquisição de mobílias para as

escolas. Vejamos: a 23 de Fevereiro de 1856 paga ao professor de Atei 4$800 réis pela

compra de utensílios para a escola. Não se especifica que tipo de utensílios. A 26 de

Abril atribui a mesma quantia ao professor de Ermelo. A 17 de Dezembro atribui ao

professor de Mondim a quantia de 4$800 reis para a aquisição de utensílios para a

escola. Em ambas não se especifica também que tipo de utensílios. A 9 de Agosto de

1866 paga 5$000 réis pela aquisição de uma mesa grande e um estrado para a escola

feminina de Mondim. A 19 de Novembro paga 7$750 réis pela aquisição de 4 mesas e

seis bancos do mesmo tamanho e 4 réguas para a “casa da aula materna”. A 23 de Junho

o mesmo professor solicita à Câmara “ uma mesa e três bancos para mobilar a sua aula”.

Em 1 de Abril de 1873 é atribuído ao mesmo professor um subsídio de 4$000

réis “para luzes”. A 30 de Junho de 1874 são pagos 11$900 réis ao carpinteiro de Atei

por ter feito para a escola dessa freguesia “5 mesas, 10 bancos e um estrado”27

.

Podemos inferir que a preocupação principal seria equipar as escolas com o

material didáctico mínimo indispensável. Não encontramos referências a livros, a

mapas, a Sólidos Geométricos, à existência ou não de bibliotecas escolares.

A inexistência de uma norma legal específica que regulasse as receitas e

despesas das câmaras para o sector da Educação não seria a culpada pelos fracos

investimentos nesse campo?

27 ACMM: livro de RECEITAS e DESPESAS nº 1 ( 1850-1874).

65

Para além disso, poucas novidades conseguimos obter. Assim, a câmara vai

pagando conforme pode as contribuições devidas à Universidade de Coimbra: a 27 de

Fevereiro de 1851 paga a quantia de 23$419 réis referentes aos anos de 1848 - 1849; a

12 de Março de 1857 paga-lhes a contribuição referente aos anos de 1853 - 1854; e a 4

de Novembro de 1858 paga as contribuições referentes aos anos de 1856 - 1857. Não

encontramos mais referências a estas transferências de verbas, daí supormos que a partir

de 1857 acabou aquele pagamento.

A 18 de Abril de 1851 paga a câmara para o liceu de Vila Real a quantia de

7$200 réis. Não sabemos a que se deveu este pagamento, dado que no livro de

lançamento daquela despesa não se especificou a que se devia.

3 – O Movimento da Regeneração. Um Tom de Esperança.

A partir de 1851 o liberalismo português procura, por um lado, libertar-se dos

“atavismos da estrutura nacional” (D.H.P., V: 251) e, por outro, influenciado pelas

novidades que chegavam de além Pirenéus, imprimir novos ritmos à economia,

sociedade e culturas portuguesas “numa tardia, lenta e sinuosa desenvolução” (D.H.P.

V: 251). Será durante o período auto denominado Regeneração (1861-68) que se

procedeu no país à realização dos inquéritos escolares de 1863-64.

3.1 – Inquéritos de 1863 – 1864.

Pelo decreto de 20 de Setembro de 1844 foi ordenada a inspecção das escolas

do reino, devendo o processo ser organizado pelo Conselho Superior de Instrução

Pública. Devido aos problemas políticos que o país atravessava não foi possível levar a

efeito esta importante tarefa. Só em 1859, após criado o novo Conselho Geral de

Instrução Pública estariam criadas as condições para que se procedesse à inspecção das

escolas. Mesmo assim, o primeiro ensaio, que se limitaria às escolas do distrito de

Lisboa, também não passou das intenções.

Em 1861 e 1862, foram os inspectores de pesos e medidas que procederam a

uma inspecção que não chegou a compreender todas as escolas do País.

Em 12 de Abril de 1862 foi ordenado aos administradores de concelho que

visitassem as escolas, para dar cumprimento ao disposto no artigo 248º, nº 1 do código

66

administrativo, mas acreditamos que o de Mondim nada fez pois não encontramos

qualquer referência a essa inspecção.

Finalmente em 1863, por portaria de 23 de Julho, o governo ordenou uma

inspecção a todas as escolas do reino, fixando todos os itens sobre os quais os

inspectores se deviam debruçar. São os seguintes os resultados da inspecção feita às

escolas do concelho de Mondim de Basto28

:

Quadro nº 11. Estatística das Escolas de Instrução Primária do concelho de

Mondim de Basto, Segundo os dados da Inspecção de 1863 - 186429

1 – Das Escolas

1 – CADEIRAS:

Em exercício do Sexo masculino: 3

Em exercício do Sexo feminino: 0

2 –EDIFÍCIOS:

Ministrados pela iniciativa individual : 1

Ministrados por professores: 2

Capacidade suficiente:2

Capacidade insuficiente:1

Conservação e condições de higiene:

Boa:1

Más:2

3 – MOBÍLIA:

Ministrada por: Câmara:1; Associações:1; Professores:1.

Suficiente:2. Insuficiente:1

4 –ALFAIAS:

Ministradas por: Câmaras: 3

Insuficiente:3

5 –ESCOLAS NÃO MANTIDAS PELO ESTADO:

Para o Sexo masculino: 1. Para o Sexo feminino: 0

Sustentada: Associações:1

28 Resultados publicados no Diário de Lisboa, número 255 de Sexta-Feira, 9 de Novembro de 1866, páginas 3037 e

3038.

29 Diário de Lisboa, 1866, número 255 de 9 de Novembro.

67

2 – Dos Professores:

1- PROFESSORES:

Número de professores seculares: 3.

Estado físico: bom

Não exercem outro emprego: 2

2 – DEVERES DO MAGISTÉRIO:

Zelo pelo ensino: Professores com suficiente: 3

Disciplina: Professores que a conservam: 3

Programas: Professores que os não têem:3.

Registo de matrículas: Professores que os têm:2. Professores que os não têm:1.

Classes: Professores que as têm: 1. Professores que as não têm: 2.

Castigos corporais: Professores que os não empregam: 3.

3 – ESCOLA NÃO MANTIDA PELO ESTADO:

Número de professores seculares:1

Número de professores com título de habilitação: 1

3 – População das escolas e ensino dos alunos

1 – POPULAÇÃO DAS ESCOLAS:

Alunos matriculados: Do sexo masculino: 131. Do sexo feminino: 6.

Número dos alunos com frequência regular: 75.

2 – TIPO DE ENSINO:

Mutuo:1 escola. Simultâneo 2 escolas. Individual 2 escolas.

3 – NÚMERO DE ESCOLAS EM QUE O APROVEITAMENTO DO ENSINO FOI:

Em doutrina. Suficiente 1. Insuficiente: 2.

Em Leitura. Suficiente 2. Insuficiente: 1.

Em Escrita. Suficiente 1. Insuficiente: 2.

Em Aritmética. Suficiente 2. Insuficiente: 1.

Em Sistema métrico. Suficiente 2. Insuficiente:1.

Em Prendas do Sexo Feminino. Suficiente -. Insuficiente:-.

Em Gramática, História e Cronologia. Suficiente 1. Insuficiente:-.

Número de escolas sem ensino de Gramática:2.

4 – PRÉMIOS:

Números de escolas que os tiveram: 2

Números de escolas que os não tiveram: 1.

5 – EXAMES FINAIS:

68

Número de escolas em que os houve: -.

Número de escolas em que os não houve: 3.

6 – NÚMERO DE ALUNOS PRONTOS NO FIM DO ANO:

Com exame: -.

Sem exame: 4.

7 – ESCOLAS NÃO MANTIDAS PELO ESTADO.

Número de alunos externos: 15.

Modo de ensino: Individual.

Fonte: (ANTT, Diário de Lisboa, 1866, número 255 de 9 de Novembro).

3.2. – Análise sumária sobre os resultados dos inquéritos.

3.2.1. - Das escolas.

1 - No total dos 14 concelhos que constituem o Distrito de Vila Real estão

em funcionamento 99 escolas oficiais para o sexo masculino - 93% -, e apenas 7 - 7% -,

para o sector feminino, num total de 106. Se a este número somarmos as escolas não

mantidas pelo estado - num total de 16 - temos um total de 122 escolas no distrito.

Mondim de Basto tem apenas 4 em funcionamento, todas do sexo masculino.

2- Com apenas 7 escolas do sexo feminino em funcionamento, só 50% dos

concelhos estão abrangidos. Nenhum concelho dispõe de mais do que uma escola, o que

significa - para os casos concretos de Vila Real e Chaves, os maiores centros urbanos -

que nem todas as jovens em idade escolar têm acesso ao ensino oficial.

3 - Em todo o distrito existem apenas duas escolas pertença de Associações.

Trata-se da escola do sexo masculino do Bilhó, no concelho de Mondim de Basto que é

pertença da Irmandade das Almas local e de uma escola em Vila Real.

4 - Nenhum dos 3 edifícios do concelho com escola oficial é Estatal, camarário

ou paroquial. Um (1) pertence a um particular e dois (2) aos próprios professores.

Situação idêntica acontece apenas com os concelhos de Mesão Frio e Sta Marta de

Penaguião. Nestes três concelhos são os professores que chamam a si a principal

responsabilidade nesta matéria, o que prova que a câmara municipal revelava muitas

dificuldades em cumprir o disposto nos artigos 6º e 168º do decreto de 20 de Setembro

de 1844.

5 - Três (3) das quatro (4) escolas do concelho - incluímos a particular - têm

capacidade para albergar os alunos inscritos. Não tendo cada uma das salas capacidade

69

para ter ao mesmo tempo mais de 15 ou 20 alunos em simultâneo, - e mesmo assim não

havia bancos para todos, o que obrigava a maioria dos alunos a sentarem-se ao fundo da

sala mas no chão -, só poderemos concluir que o absentismo escolar era enorme, numa

clara demonstração do pouco interesse pela escola.

6 - As más condições de estado, higiene e conservação de dois dos três

edifícios oficiais também deveriam ser factores inibidores da frequência escolar.

7 - O material escolar é todo fornecido pela câmara municipal, fenómeno

único em todo o distrito. Analisando o livro de “Receitas e Despesas” da câmara de

1850 até à data dos inquéritos encontramos como despesas apenas o pagamento dos

subsídios

(20$000 réis) aos professores e a compra de algumas mesas e cadeiras. Isto é, se nos 13

ou 14 anos anteriores aos inquéritos não encontramos senão despesas com os materiais

referidos, concluiremos que as escolas do concelho não estavam apetrechadas com os

materiais pedagógicos que deveriam ter, tais como réguas, colecções de pesos e

medidas, metro de algibeira, compassos, caixas der desenho, globos, termómetros,

mapas de Portugal, das Colónias ou do Continente, esquadro de agrimensor de limbo

graduado com agulhas e luneta, colecções de sólidos geométricos, esqueleto ou até

estantes com livros.

3.2.2 - Do professorado.

1 - No total do distrito estão ao serviço efectivo 87 professores seculares, 12

eclesiásticos e 7 professoras num total de 106 professores. São seculares os quatro

professores de Mondim (quadro nº 12).

Quadro nº 12 . Professores do ensino elementar em Mondim de Basto a cargo

do Estado à data do Inquérito de 1863-64.

LOCAL PROFESSOR

PROVIMENTO

MONDIM João António da Silva Ramos 23.6.1857

ATEI António Teixeira de Magalhães 4.6.1855

ERMELO José Bernardino da Fonseca 30.4.1840

BILHÓ José Dinis G. Rodrigues Não Refere

70

2 - Todos os professores de Mondim têm um bom estado físico e uma boa

capacidade moral. Todos têm outras actividades e daí talvez o facto de serem

classificados apenas com suficiente na rubrica sobre o “Zelo pelo ensino”.

3 - São disciplinadores mas não têm programa de ensino. Três seguem o

ensino individual, dois o ensino simultâneo e um o mútuo. Ou seja, todos os

professores optam por um modelo Misto: dois seguem um modelo

Simultâneo/Individual e um segue um modelo Mútuo/Individual. Apenas dois têm

registo de matrículas e só um tem o sistema de “classe”. Nenhum é referido como

utilizador de castigos corporais30

.

4 – O facto de três professores praticarem o Ensino Individual não nos faz

admirar dado que neste meio rural era praticamente impossível o ensino grupal ou o

simultâneo. Por um lado a escassez de livros por parte dos alunos, ainda o facto de nem

todos entrarem ao mesmo tempo para a escola e naturalmente o elevado absentismo

eram factores inibidores para a prática de qualquer outro método.

5 – Assistimos ainda à primazia do modo simultâneo (53 escolas contra 52 a

nível distrital e 2 contra 1 a nível do concelho de Mondim), apesar dos esforços que se

vinham desenvolvendo desde que o ensino mútuo chegou a Portugal (1815), quer por

parte de Cândido Xavier (1818), pelas disposições do Regulamento Geral da Instrução

primária (7 de Setembro de 1835), por Passos Manuel (1835) ou por Costa Cabral

(1844), para que o mesmo fosse aceite pelos professores. Mas estes, principalmente no

mundo rural, não dispunham de condições para passar à prática as propostas

governamentais com a celeridade desejada.

3.2.3 – Dos alunos.

1 - Estão matriculados no distrito 3.966 alunos do sexo masculino e 466 do sexo

feminino num total de 4.432 alunos. São 66.187 a nível nacional, que corresponde a

uma percentagem de 1,73% da população do continente. Dos 466 do sexo feminino 136

frequentam as escolas masculinas. Apenas 2.000 alunos frequentam a escola

regularmente. São 36.521 a nível nacional, a que corresponde uma percentagem de

30 Não acreditamos fielmente nesta informação dado que é da tradição oral que o professor de Mondim na altura, João

Ramos, batia frequentemente nos alunos, ao ponto de haver alguns que saltavam da janela da sala de jantar, que era

a sala de aula, para o edifício em frente, pertença da câmara municipal.

71

55,2%. Para o concelho de Mondim de Basto estão inscritos 146 alunos do sexo

masculino (incluímos os 15 da escola particular) e apenas 6 do sexo feminino os quais

frequentam as escolas masculinas. Apenas 75 frequentam a escola regularmente, ou seja

49,3%. Isto é, uma percentagem muito aproximada da média nacional.

2 - É muito fraco o nível de aproveitamento. Em nenhuma escola houve

exames finais e apenas 4 alunos estavam “Prontos no fim do Ano” mas sem exame.

Estamos perante escolas que apenas produzem “produtos inacabados”?

Qual o nível de alfabetização que caracteriza a enormíssima percentagem dos que,

apesar de terem frequentado a escola, não obtiveram um diploma acreditador?

Muito provavelmente converteram-se em leitores/assinantes. E, enquanto uns

regrediriam à forma de quase analfabetos (analfabetos funcionais?), dado não terem

oportunidades de porem em prática o que aprenderam na escola, outros, aqueles que

escolheram o caminho da emigração para o Brasil para trabalharem em casas

comerciais, com certeza que ampliaram os seus conhecimentos pela prática do dia-a-dia.

No Relatório de 1857-58 do conselho Superior de Instrução podemos ler: ”onde

predomina a ignorância, a falta de zelo, a grosseria e também a fome, como exigir a

reflexão, o estudo, a prática e a devida apreciação de qualquer melhoramento, que saia

um pouco da mais rançosa rotina?” (GOMES, 1985: 262).

3 - Em suma, “embora o currículo de instrução primária exigisse um

funcionamento em regime de curso, nem a preparação da generalidade dos mestres de

primeiras letras, nem as instalações e materiais didácticos, nem as expectativas de boa

parte da população escolar, favoreciam uma acção pedagógica para além dos

rudimentos do ler, escrever e contar (MAGALHÃES, 1996: 30), até porque a posse

destes era mais que suficiente para permitir uma participação cívica activa (participar

nos Jurados, por exemplo), ou para a solução dos problemas que uma crescente, embora

lenta, urbanidade naturalmente originava.

A situação, apesar do visível esforço desenvolvido por Costa Cabral,

praticamente permanece idêntica aquando dos inquéritos de 1873-74, conforme

podemos observar no quadro nº 13 e na Inspecção de 1775, quadro nº 14.

72

Quadro nº 13. Inquéritos Escolares: 1873/1874

Mapa estatístico dos alunos de instrução primária

Mapa da distribuição por disciplinas e classes, dos alunos que frequentaram a escola e dos que apresentam à inspecção

1873 / 1874

MONDIM DE BASTO NÚMERO DOS QUE

FREQUENTAM REGULARMENTE

NÚMERO DOS PRESENTES À INSPECÇÃO

NÚMERO DOS INSPECCIONADOS

DISCI- PLINAS

CLAS- -SES

SÓ AULA

DIURNA

SÓ AULA NOCT.

DE AMBAS SIMULT.

T O T

SÓ AULA DIURNA

SÓ AULA NOCT.

DE AMBAS SIMULT.

T O T

SÓ AULA DIURNA

SÓ AULA NOCT.

DE AMBAS SIMULT.

T O T

M F M F M F M F M F M F M F M F M F

1ª 22 A) 4 A) 3 A) 29 36 22 58 2 2 4

LEITURA 2ª 15 6 2 23 11 11 22 3 3 6

3ª 3 11 4 18 8 12 20 2 3 5

1ª 20 3 4 27 17 8 25 3 2 5

ESC. 2ª 6 5 2 13 5 8 13 1 3 4

3ª 4 8 3 15 6 3 9 3 0 3

1ª 26 3 4 33 7 5 12 3 0 3

ARIT. 2ª 6 7 3 16 25 17 42 2 4 6

3ª 4 11 1 16 3 0 3 2 0 2

1ª 0 0 0 0 3 4 7 2 1 3

S. MÉTR 2ª 0 0 0 0 0 0

3ª 2 1 1 4 0 4 0

1ª 0

GRAM. 2ª 0

3ª 0

DOUTRI ÚN 46 46 55 7 7

COROG ÚN

HISTÓR ÚN

D. L. ÚN

F. M 8 8

P. C. 2 2

LABOR. COS. 6 6

B. B 3 3

B. C 1 1

T R 1 1

TOTAL 154 59 27 240 176 135 311 30 38 68

A) NÃO SE PODE RESPONDER A ESTA PARTE D´ESTE MAPA POR NÃO HAVER ESCRIPTURAÇÃO ALGUMA QUE POSSA HABILITAR A FAZÊ-LO.

73

Mapa da distribuição por disciplinas e classes, dos

alunos que frequentaram a escola e dos que apresentam à

inspecção

1873 / 1874

ATEI

NÚMERO DOS QUE FREQUENTAM

REGULARMENTE

NÚMERO DOS PRESENTES À INSPECÇÃO

NÚMERO DOS INSPECCIONADOS

DISCI PLINAS

CLASSES

AULA DIURNA

AULA NOCT.

AMB. SIMUL

T O T A L

AULA DIURNA

AULA NOCT.

AMB. SIMUL.

T O T A L

AULA DIURNA

AULA NOCT.

AMB. SIMUL.

T O T A L

M F M F M F M F M F M F M F M F M F

1ª 53 5 5 63 23 2 25 2 1 3

LEIT. 2ª 15 2 3 20 20 5 25 2 2 4

3ª 16 3 6 25 15 0 15 2 0 2

1ª 14 5 7 26 6 3 9 2 2 4

ESC. 2ª 25 2 5 32 5 0 5 1 0 1

3ª 16 0 1 17 8 0 8 1 0 1

1ª 0 0 8 8 11 0 11 1 0 1

ARIT. 2ª 4 7 6 17 5 0 5 1 0 1

3ª 16 0 0 16 3 0 3 2 0 2

1ª 0 0 6 6 8 0 8 0 0 0

S. MÉT 2ª 4 0 0 4 7 0 7 0 0 0

3ª 16 0 0 16 4 0 4 2 0 2

1ª 0 0 0 0 1 0 1 0 0 0

GRA. 2ª 0 0 0 4 0 0 0 0 0 0

3ª 4 0 0 117 28 7 3 1 0 1

D. C. ÚNI 91 12 14 1 1 0 35 6 3 9

CHOR. ÚNI 1 0 0 2 3 0 1 1 0 1

H. P. ÚNI 2 0 0 1 1 0 3 1 0 1

D. L. ÚNI 1 0 0 1 1 0 1

F.M.

P.C.

LABOR COS

B.B.

B.C.

T.R.

Total 278 36 61 375 152 17 169 26 8 34

74

Mapa da distribuição por disciplinas e classes, dos alunos que

frequentaram a escola e dos que apresentam à inspecção

1873/

1874

ERMELO NÚMERO DOS QUE

FREQUENTAM REGULARMENTE

NÚMERO DOS PRESENTES

À INSPECÇÃO

NÚMERO DOS INSPECCIONADOS

DISCI PLINAS

CLASSES

AULA DIURN

AULA NOCT.

AMBAS SIMULT.

T O T A L

AULA DIURNA

AULA NOCT.

AMBAS SIMULT.

T O T A L

AULA DIURNA

AULA NOCT.

AMBAS SIMULT.

T O T A L

M F M F M F M F M F M F M F M F M F

1ª A) A) 7 7 2 2

LEIT. 2ª 1 1 1 1

3ª 2 2 2 2

1ª 2 2 2 2

ESC. 2ª 1 1 1 1

3ª 0 0 0 0

1ª 2 2 2 2

ARIT. 2ª 2 2 2 2

3ª 2 2

S. M. 2ª

GRAM 2ª

D. C. ÚNI

CHOR. ÚNI 10 10 5

H. P. ÚNI

D. L ÚNI

F. M

P.C.

LABOR COS

B.B.

B.C.

T.R.

T.GER. 27 27 17 17

A) NÃO SE PODE RESPONDER A ESTA PARTE D´ESTE MAPA POR NÃO HAVER ESCRITURAÇÃO ALGUMA QUE POSSA HABILITAR A FAZÊ-LO.

NOTAS EXPLICATIVAS: UN= única F.M. = fazer meia PC. = ponto de cruz COS = coser B:B: =

bordar a branco BC. = bordar a cor T.R. = talhar roupa.

75

Mapa Estatístico dos Alunos de Instrução Primária, com Relação ao

Ano Lectivo 1873 / 1874

Alunos

Matriculados Com Frequência

Regular ( A )

Prontos no fim do Ano

Aprov. / exames F. nas p. escolas

Aprov./ exame

adm. Liceu

10 Anos

10 a 12

12 a 14

Adultos

M F M F M F M F M F M F M F M F

Só aula diurna 29 16 16 15 8 43 6

Mondim Só aula

( Masc. ) Nocturna 2 4 4 14 16

De Ambas

Simult. 2 3 6 0 11

Total 33 16 23 25 22 70 6

Só aula diurna 42 19 18 8 19 7 3 3 66 18

Só aula

Atei Nocturna 14 14

De Ambas

Simult. Total 42 19 18 8 19 7 17 3 80 18

Ermelo Não se Pode preencher este mapa, por não haver meio fácil e sobretudo verdadeiro que habilite a preenchê-lo.

Só aula diurna 28 8 8 5 35

Mondim ( Feminino)

Só aula Nocturna

De Ambas Simult.

Total 28 8 8 5 35

A) – Entende-se que frequentou regularmente o aluno que concorreu à escola mais de metade dos dias em que ela funcionou, depois da sua matrícula.

76

Quadro n.º 14.Resultado da Inspecção no dia 6 de Julho de

1875

Nº de Matríc. Alunos Inspec- Cionad

os

I D A D E

Meses de Freq.

Ensino

Leitura Escrita Arite Mética

Sist. Métric

Gramát Ica

Dout Crist

Coro grafi

Hist. Pát.

Des. Lin.

Lavores

1 2 3 4 5 6

Diur Noct.

a) b) a) b) a) b) a) b) a) b) b) b) b) b) b) b) b) b) b) b)

28 10 26 - 1 S 1 M 1 M S S

40 11 20 - 1 S 1 S 1 M S S

27 12 36 - 2 S 3 S 2 S S S

Mondim 23 12 24 - 2 S 2 S 3 M S S

( Masc. ) 34 7 11 - 2 B 1 S 1 S S B

30 13 44 - 3 S 3 S 3 S 1 S S S

29 13 30 - 3 S 3 S 3 S 1 S S

52 7 18 - 1 S - - - -

38 7 20 - 1 S - - - -

Atei 21 9 15 - 2 B 1 S 1 B

(Masc. ) 8 13 9 - 2 S 1 S 2 S

9 12 22 - 3 B 3 B 3 B 3 B B B B B B B

5 13 22 - 3 B 2 S 3 S 3 S - - S

2 9 22 - 1 M - - - - S

Atei 6 9 7 - 2 S 1 M - - B

(Fem.) 10 12 12 - 2 M 1 M - - B

8 10 - 1 M - - - - M

19 8 - 1 S - - - - S

Ermelo 10 9 - 2 S 1 M - - S

(Masc.) 35 10 - 3 S 1 M 2 S 1 M S

11 11 - 3 S 2 B 2 B 1 M S

Mondim (Fem.)

34 9 5 - 1 S - - - - S M - M - - -

38 7 26 - 1 M - - - - S S - - - - -

12 10 28 - 1 S 1 S - - S S - M - - -

48 6 7 - 2 S - - - - S S - - - - -

9 10 40 - 2 S 1 S 2 S S S - S - - -

3 11 64 - 3 B 2 S 2 S B B - S S - -

8 15 75 - 3 S 2 S 2 S S S S S M - S

2 7 27 - 3 B 2 S 2 B 1 S S M S S S S -

a) Classe

b)- B – Bom

S – Suficiente

M – Medíocre

Inspector – António Roque da Silveira (comum a todas as escolas).

Fonte: ( A.N.T.T, Ministério do Reino: livro 1087 - 2286/87/88/89).

77

3.4 – Conclusões.

1 - Relativamente ao mapa “Estatístico”, verificamos que os alunos têm uma

frequência escolar regular são 68% em Mondim e 69% em Atei. O mapa referente a

Ermelo está por preencher. A frequência da escola feminina é de 71% em Mondim e

49% em Atei. Quanto ao ensino nocturno a frequência regular atinge os 66,7%. Estes

números são extraordinariamente elevados para a época.

2 - Pela análise do “Mapa de distribuição ...” não deixa de merecer alguma

reflexão o facto de o número de alunos presentes à inspecção em Mondim de Basto -

311, que inclui 135 alunas - ser superior ao número de alunos - 240, todos do sexo

masculino - que frequentam regularmente a escola. O problema situa-se ao nível do

ensino feminino. Aqui não há um registo do número de alunas que frequentam a escola.

Se 135 alunas compareceram à inspecção isso significará que o número das que

frequentavam a escola era muito superior. Então porque é que a professora não dispunha

de registos actualizados? Seria pelo facto de a escola ainda ser recente e o sistema não

estar organizado? A frequência seria muito irregular e a professora teria dificuldade em

actualizar os registos?

Extraordinário é também o número de alunos de ambos os sexos - 375 - que

frequentam regularmente a escola em Atei. Destes, 169 (45%) foram presentes à

inspecção.

Lamenta-se o facto de o inspector ter tido muitas dificuldades em elaborar os

mapas para a freguesia de Ermelo, ao ponto de ficarmos sem esse importante registo.

No entanto acreditamos que o número de alunos quer dum quer doutro sexo deveria ser

bem elevado, como elevado deveria ser o absentismo escolar. O que se compreende se

tivermos em linha de conta que Ermelo havia deixado de ser concelho, se situava em

zona montanhosa e afastada do centro de decisões o que contribuiria para que não

fossem muitas as oportunidades para “converter em rendimento monetário acrescido o

aumento da qualificação que a alfabetização representava” (REIS, 1988: 77) e portanto

escassos os motivos para ir à escola.

3 - Aquando da inspecção (quadro nº 14) apresentaram-se perante o inspector

73,3% dos alunos do sexo masculino e 28% do feminino em Mondim tendo sido

inspeccionados 17% e 28% respectivamente. Em Atei apresentaram-se 44,8% do sexo

masculino e 27,8% do feminino. Foram inspeccionados 17% do sexo masculino e 63%

78

do feminino. Relativamente a Ermelo, o número é muito reduzido mas ainda assim

compareceram 27 alunos perante o inspector dos quais 17 (63%) foram inspeccionados.

Assim a não urbanização das freguesias está directamente ligada ao absentismo

escolar. De facto, à freguesia mais urbanizada, Mondim, corresponde uma taxa de

absentismo - 26,7% - menor; a Atei, freguesia contígua à de Mondim, corresponde uma

taxa de absentismo de 55,2% e a Ermelo corresponderá uma enorme taxa de absentismo

de tal modo que o inspector não conseguiu preencher os mapas respectivos. Ao facto de

Ermelo ser uma freguesia de montanha, ruralizada, afastada dos centros de decisão e

com aldeias muito dispersas e afastadas da escola, se deverá aquela situação. Aliás a

questão das distâncias será sempre a razão principal apontada quando a Junta de

Paróquia em anos próximos futuros pedir a criação de novas escolas.

4 - Apesar deste número elevado de frequência verificamos que no final do ano

lectivo apenas 6 alunos, e todos de Mondim, “estavam prontos”, não havendo nenhum

aprovado em exames finais ou de admissão a “algum liceu”.

5- A explicação para o verificado no ponto anterior pode ter a ver com a

importância dada a cada disciplina em cada classe. Assim, analisando o número de

alunos que frequentam as diversas classes, nas diferentes disciplinas verificamos estar

perante uma sequencialidade regressiva em que o índice maior de frequência se situa na

1ª classe e o menor na 3ª. Olhando os dados referentes a Mondim de Basto temos, em

Leitura, 70 alunos inscritos na 1ª classe com 41,4% e apenas 25,7% na 3ª. Para Atei

temos 118 alunos dos quais 53,4% na 1ª e apenas 21,2% na 3ª classe.

A mesma tendência acontece na Escrita. Em Mondim, dos 55 alunos inscritos,

45,45% estão na 1ª classe e apenas 27,3% na 3ª. Em Atei são 75 alunos os inscritos,

representando 34,66% para a 1ª classe e 22,66% na 3ª.

Quanto à Aritmética a situação mantém-se. Do total dos 65 alunos inscritos em

Mondim 50,76% frequentam a 1ª classe e 24,6% a 2ª. Para Atei acontece a excepção à

regra, pois aqui dos 41 alunos inscritos apenas 19,5% frequentam a 1ª classe e 39% a

terceira. De registar o facto de neste ano não se ter inscrito nenhum aluno nesta cadeira.

6 - Verificamos que no conjunto das três localidades há uma ordem decrescente

do número de alunos inspeccionados, o que está directamente relacionado com o

número de matriculados por disciplina. Assim a Leitura vem à frente com 175 alunos

presentes à inspecção e 27 a serem inspeccionados; segue-se a Doutrina Cristã com 95

e 21, a Escrita com 72 e 21, a Aritmética com 70 e 18, o Sistema Métrico com 30 e 5,

respectivamente. A disciplina de Gramática apenas tem 4 alunos a frequentar em Atei,

79

dos quais 3 estiveram perante o inspector e apenas um foi inspeccionado. Entenderemos

melhor estes dados com a análise dos resultados da inspecção do ano seguinte. Assim:

7 - Pela análise do “Resultado da Inspecção de 6 de Julho de 1875” verificamos

que em relação ao número de alunos inspeccionados por disciplina se mantém a ordem

de importância verificada no mapa anterior. À disciplina de Leitura são examinados 29

alunos onde 4 obtêm a classificação de Mau, 19 de Suficiente e 6 de Bom. A doutrina

Cristã são também examinados 29, com 1 a obter a classificação de Mau, 21 de

Suficiente e 7 de Bom. A Escrita são examinados 21 com 5 alunos a obter Mau, 14

suficiente e 2 Bom. A Aritmética são examinados 17, com 3 classificados de Mau, 10 de

Suficiente e 4 de Bom. A Sistema Métrico são examinados 7, tendo 2 obtido a

classificação de Mau, 4 de Suficiente e 1 de Bom. A Gramática foi sujeito à inspecção

apenas 1 aluno que obteve a classificação de Bom.

A matrícula a História, a Gramática e a Corografia é muito insignificante, o que

mais uma vez demonstra o pouco interesse dos alunos por prosseguirem os estudos.

Poderemos, no entanto, questionar se o facto daquelas disciplinas praticamente serem

letra morta no currículo dos alunos mondinenses, isso os inibia de num futuro próximo

se tornarem bons cidadãos e incapazes de uma iniciação profissional. A resposta exige

uma análise do tipo sociológico, mas, como constatou Justino Magalhães aquelas “bases

da escolarização foram também em parte cumpridas através de processos de

alfabetização mais rudimentares e pouco formalizados “( MAGALHÃES, 1996:18).

As “Histórias de Vida” de muitos mondinenses provam-no (ver capítulo

específico).

A disciplina de Doutrina é muito concorrida. Estamos perante uma situação do

reforço da dimensão formativa nas vertentes cristã e civilidade, o que reforça a tese de

que a instrução primária era vista como “ servindo para moldar as almas, para fins

morais, religiosos e sociais, e apenas subsidiariamente para desenvolver nas crianças

capacidades mais ou menos técnicas, que poderiam um dia trazer-lhes benefícios

económicos. Primeiro que tudo, a instrução primária servia para inculcar a legitimidade

das instituições, a aceitação da ordem social e o respeito pela religião oficial e pelas leis.

A alfabetização em si era somente o caminho para atingir esses objectivos” (REIS,

1988: 77).

No que diz respeito à disciplina de Lavores verificamos que das 8 alunas

inspeccionadas todas estavam aptas a fazer meia, apenas 2 sabiam fazer Ponto de Cruz,

6 sabiam coser, 3 bordavam a Branco, 1 bordava a cor e apenas 1 talhava roupa. Isto é,

80

de um vasto conjunto de aprendizagens, as alunas optam por dar mais importância

àquelas que lhe são mais úteis no quotidiano, relegando para lugar secundário outros

saberes, numa aceitação da escola para a vida.

8 – Outros aspectos sobressaem da análise dos mapas. No quadro número 13

verificamos que, relativamente a Mondim de Basto, há apenas 3 alunos inscritos na 3ª

classe à disciplina de Leitura na Aula Diurna e esse número sobe para 11 na Aula

Nocturna. Situação similar encontramos na disciplina de Escrita. São apenas 4 os alunos

inscritos na Aula diurna e 11 na Aula nocturna. Que razões estarão por detrás desta

situação? Estaremos perante um caso pontual? Acreditamos mais que estamos perante

duas ordens de razões: a primeira terá a ver com o facto de que os alunos que agora

estão matriculados na Aula Nocturna quando deveriam ter frequentado a Diurna não o

fizeram porque os pais precisariam deles nos trabalhos dos campos; a Segunda razão

terá a ver com o facto de que, agora que têm idade para participar nos actos vitais da

Paróquia é que se apercebem que lhes faltam os rudimentos escolares necessários para o

fazer.

9 – Em Atei para o ano lectivo de 1873/74 não se inscreve qualquer aluno na

primeira classe às disciplinas de Escrita e Aritmética, mas aparecem matriculados a

essas mesmas disciplinas na Aula Nocturna 8 e 6 alunos, respectivamente. Se aceitamos

estes últimos valores como perfeitamente normais, o mesmo não pensamos em relação à

ausência de matriculados atrás referidos. Aqui inclinamo-nos para um erro de

preenchimento de mapas, pelo menos no que diz respeito à disciplina de Escrita, dado

que não compreendemos como é que no mesmo ano se inscrevem 14 alunos na primeira

classe à disciplina de Leitura e não o fazem à disciplina de Escrita sabendo nós que a

aprendizagem das duas se fazia de um modo geral em simultâneo.

Acreditamos que a reforma de Costa Cabral pretendeu por em prática uma

política de descentralização e de gestão escolar, (para usarmos uma expressão de hoje)

julgando com isso criar um maior dinamismo na administração dos centros educativos.

Só que as câmaras estavam sem recursos financeiros para manter em funcionamento as

escolas.

A descentralização permite uma administração autónoma das escolas e ao

mesmo tempo a administração autónoma dos recursos. Se a escola não tem recursos,

deverá ser a comunidade a fornecê-los. Se a comunidade rural de Mondim é pobre não

fornece os recursos. O município também o é, investindo por isso o mínimo dos

81

mínimos indispensáveis. O resultado é uma escola sem possibilidades de manter um

elevado nível de qualidade para a maioria, nem sequer lhes dá garantia de permanência

no sistema, contribuindo muitas vezes para uma espécie de “expulsão” camuflada.

Esta é a situação que mais se aproximará da realidade à data da implementação

da reforma de A. Rodrigues Sampaio.

4 – A UNIVERSALIZAÇÃO DO ENSINO EM MONDIM DE

BASTO

- A REFORMA DE RODRIGUES SAMPAIO.

Introdução

À medida que nos aproximamos do fim do século XIX, verificamos

que a escolarização se revela mais ambiciosa do que a simples

alfabetização. Enquanto esta se continua a ficar pela transmissão de

rudimentos simples que permitiam ao alfabetizado satisfazer os seus

problemas no dia-a-dia e quando muito uma participação pouco crítica

nos actos vitais da paróquia, aquela preocupa-se em atingir já objectivos

sociais, culturais e ideológicos – pois os diversos governantes foram

percebendo que a educação era um factor decisivo do progresso nacional

e por isso era necessário aumentar cada vez mais a taxa de participação

na educação. É também sobre este ponto de vista que devemos perceber

a reforma de Rodrigues Sampaio.

4.1 - Aspectos fundamentais da reforma.

Pela carta de lei de 2 de Maio de 1878, procedeu-se a uma outra reforma do

ensino primário. Esta não chegou a ser regulamentada porque o ministro só esteve no

poder um mês. Nela podemos ler que passava a ser da responsabilidade das câmaras

82

municipais o dotar e manter as escolas primárias. Pela lei de 11 de Junho de 1880, esta

disposição era ligeiramente alterada e determinava-se que as despesas passassem a ser

repartidas pelas Juntas Gerais do Distrito e Governo caso as câmaras não dispusessem

de verbas suficientes que lhes permitissem suportar sozinhas todos os encargos com a

educação. Deveriam ainda as Juntas Paroquiais colaborar com o governo na expansão

do ensino, quer fornecendo mobiliário e casa para a escola e residência dos professores,

quer organizando a biblioteca escolar e inscrever no orçamento uma verba destinada a

auxiliar os alunos pobres.

Esta lei permitia uma interessante flexibilização dos horários escolares, de modo

a que estes pudessem conciliar o trabalho com os estudos. O sistema de multas para os

prevaricadores mantinha-se.

Três anos depois, e novamente no poder, Rodrigues Sampaio teve então tempo

para assinar o regulamento da citada lei, a 28 de Julho de 1881. Mantinha-se a divisão

da instrução primária em dois graus.

Mantém a obrigatoriedade do ensino mas ficavam dispensados os alunos que

vivessem a mais de 2 quilómetros de distância da escola e aquelas cujos pais não

puderem mandá-las “por motivo de extrema pobreza”, ou que sejam “declaradas

incapazes de receber ensino em três exames sucessivos” (art. 5º).

O número de alunos por cada professor não deveria exceder sessenta.

Deveriam funcionar aulas separadas para ambos os sexos, mesmo em escolas

mistas.

Também responsabilizava pela educação das crianças dos seis aos doze anos os

pais, tutores ou pessoas encarregadas do seu sustento e educação. Novidade era o facto

de essa responsabilidade também recair sobre os donos de fábricas, oficinas e empresas

agrícolas ou industriais. Do texto era retirada a parte sobre o subsídio a alunos pobres,

por parte das Juntas de Paróquias e comissões promotoras de beneficência e ensino.

Previa também a criação de uma escola normal de 2º classe nas capitais de Distrito,

destinadas à preparação de professores e professoras para as escolas primárias

elementares, pois era sabido de todos que “sem Escola Normal não podiam formar-se

professores convenientemente habilitados, e nas vagas das várias escolas, depois do

concurso, aberto pelo Conselho Superior, iam sendo providos homens sem os

necessários conhecimentos pedagógicos” (ALBUQUERQUE,1960: 175). Alguns anos

antes (1 de Março de 1875) também se defendia que “o pronto remédio para o mal

incalculável da incapacidade dos professores, não pode ser senão a elevação dos

83

ordenados e a criação, pelo menos, de uma escola normal na capital de cada distrito

onde sejam obrigados à sua frequência todos os que quisessem seguir a carreira do

professorado” (Gualdino de Valladares cit. em COSTA, ob. Cit: 50).

Os encargos da instrução cabem às câmaras municipais e estas deveriam

promover a organização de Comissões Promotoras de Beneficência e Ensino, nas

localidades onde houvesse escola primária, para prestar auxílio aos alunos.

A habilitação profissional constituía uma das preocupações das autoridades

administrativas e dos próprios docentes que participam activamente nas Conferências

Pedagógicas do Círculo onde aproveitavam para discutir todos os assuntos relacionados

com a educação. As conferências Pedagógicas ao permitirem “a franca e leal

comunicação dos conhecimentos adquiridos pela meditação ou pela prática de ensino e

discutindo, divulgando e resolvendo os problemas mais interessantes da educação e

instrução popular, são um poderoso instrumento de progresso e a salvaguarda das

tradições do corpo docente” (ROCHA, 1984: 167).

Para que se procedesse a uma eficaz fiscalização do cumprimento da lei, o

continente foi dividido em dez circunscrições escolares, as quais pela lei de 11 de Junho

de 1880 eram subdivididas em Círculos Escolares (artº 5º), compostas por mais do que

um concelho. No caso concreto do concelho de Mondim de Basto este passou a integrar

o círculo de Vila Pouca de Aguiar e a 3ª circunscrição do Porto.

Na sede do concelho havia uma Junta Escolar, - composta de três vogais,

nomeados pela câmara, por um período de dois anos e escolhidos entre os vereadores ou

outros quaisquer cidadãos -, que coadjuvava as câmaras e os inspectores (artº 51º e 52º)

no exercício das suas funções.

A primeira Junta era constituída por António Guilherme de Queirós Saavedra

(acórdão de 4.2.1890), professor, Manuel António Borges (acórdão de 4.2.1890), padre

e José Rodrigues de Carvalho (acórdão de 4.2.1890), também padre. Para Atei foi

nomeado um Delegado Paroquial em 11.3.1890, Esmeraldo Augusto Ferreira Falcão.

Haveria anualmente, em cada concelho, conferências de professores para

actualização e modernização de métodos pedagógicos. Sobre as conferências que teriam

decorrido em Mondim não encontramos qualquer registo, pese embora o enorme

esforço desenvolvido nesse sentido31

.

31 Fomos informados de que a câmara municipal em 1948 queimou grandes quantidades de papéis, Diários da

República da 3ª série e alguns livros velhos, pois não dispunha de local de armazenamento para esses materiais.

Possivelmente os livros a que nos referimos foram também queimados.

84

Todos os assuntos escolares eram tratados pelo sub-inspector, que tinha

residência em Vila Pouca de Aguiar. Este, por sua vez, quando o assunto a resolver

ultrapassava as suas competências, oficiava o inspector, - com residência no Porto -,

pedindo-lhe para que resolvesse os assuntos em questão, e vários foram os assuntos que

este teve que resolver, ligados principalmente a questões de aluguer de casas quer para

habitação do professorado quer para servirem de escola.

Não podemos omitir também a importância que o Governador Civil do distrito

passa a ter. Era a autoridade mais importante e tinha como uma das funções fazer a

ponte entre os municípios e o poder central. De facto, é profusa a troca de

correspondência entre aqueles dois órgãos e que se encontra registada nos livros de

“Correspondência Recebida e Expedida” da câmara municipal. Por essa

correspondência podemos ver o contributo importante dado pelo Governo Civil para a

construção dos edifícios das escolas de Mondim e Atei mas também o papel

desempenhado na solução dos problemas de natureza pedagógica, e vários foram os que

teve que ajudar a resolver.

As receitas das câmaras e das juntas de paróquia para cobrir as despesas

poderiam retirar-se dos impostos indirectos ou directos que poderiam elevar-se até uma

soma igual ao produto de 15 % adicionais às contribuições gerais directas do Estado, no

caso de lançadas pelas Câmaras Municipais, 3% se lançadas pelas Juntas de Paróquias.

Legados, Heranças ou Doações também estavam previstas.

Podemos considerar que esta reforma – não podendo ser vista desenquadrada da

legislação assinada por Martens Ferrão ou das propostas de lei de D. António da Costa –

vai permitir que a intervenção municipal se torne mais consequente na instrução pública

ao decidir sobre a colocação de professores, a planificação da rede escolar, o

recenseamento das crianças ou zelar pela assiduidade das mesmas. Isto só era possível

pela existência de instrumentos específicos ao serviço do município: junta Escolar,

Vereador de Instrução e a abertura de uma rubrica específica no livro de Receitas e

Despesas.

Com esta reforma, Rodrigues Sampaio perseguia, pelo menos, três importantes

objectivos: a formação ideológica das massas, a inserção das mesmas à causa Estado/

Cidadania e a preparação para a própria cidadania.

4.2 – Efeitos práticos da Reforma em Mondim.

85

4.2.1 - A Rede Escolar.

À medida que caminhamos para o fim do século vamos assistir a um grande

incremento da rede escolar no concelho. De facto, em poucos anos todas as freguesias

que ainda não tinham escola, acabam por tê-la, a saber: Vilar de Ferreiros com duas

escolas; uma na freguesia e outra no lugar de Vilarinho e Paradança, Pardelhas e

Campanhó com uma escola cada. Por sua vez a freguesia de Ermelo passa a ter outra

escola no lugar da Fervença, e Mondim passa a ter também outra no lugar de Vilar de

Viando.

O tipo de escola vai variar conforme a importância da freguesia e o número de

alunos que havia em idade escolar. Assim Atei passará a dispor de uma escola para cada

sexo a funcionar em salas separadas, bem como Mondim e Ermelo. Vilar de Viando,

Pardelhas, Vilar de Ferreiros e Campanhó ficarão com escolas mistas e Paradança e

Vilarinho apenas com escolas do sexo masculino.

4.2.2 - O Professorado.

A nomeação dos professores continuava a fazer-se pelas Câmaras Municipais,

mediante concurso, de entre os indivíduos com habilitação para o exercício do

magistério. As próprias Juntas de Paróquias dão o seu parecer, quando acham que é de

dar, e sobretudo quando acham que devem fazer valer a sua opinião. Assim, por

exemplo assistimos à tentativa por parte de Junta de Paróquia de Atei de substituir o

professor oficial, Bernardo José Moreira, alegando que: “sendo esta freguesia muito

importante e populosa estava à muito tempo sem o devido e necessário ensino primário

para as crianças do sexo masculino, porque o professor, que está servindo interinamente

não cumpre nem pode cumprir os seus deveres porque é muito idoso e doente, e não

pode por isso ensinar os muitos meninos que há nesta freguesia, nem tem as habilitações

que hoje se exigem a um professor do ensino primário em vista do progresso e

desenvolvimento dos conhecimentos elementares que as leis actuais e os programas

demandam, e por isso era necessário que esta Junta como auxiliar da fiscalização do

Ensino Primário levasse ao conhecimento da Excelentíssima Câmara Municipal o

estado lastimoso em que se encontra a escola de meninos desta freguesia pois que a falta

dum bom mestre causa graves prejuízos a muitas famílias e tolhe a carreira e o futuro a

muitos mancebos; tanto mais que desta freguesia costumam sair para o comércio pelos

86

estudos, tanto para o país como para o estrangeiro muitos filhos destas famílias; e tanto

era verdade o professor actual não satisfazer que a escola está quase abandonada sendo

apenas frequentada por dez ou doze meninos; que por tudo isto e em nome dos

interesses de muitas famílias e meninos propunha que esta junta deliberasse fazer saber

à Câmara a urgente necessidade de ser demitido o actual professor e nomeado outro

com melhores habilitações e competência e entendia que o padre Luís Felismino

Teixeira de Andrade está no caso de exercer o cargo de professor por ter para isso

habilitação científica e que desta acta se remetesse uma cópia à Excelentíssima câmara

para os devidos efeitos. O presidente propôs à discussão esta proposta e por todos os

vogais presentes foi dito que era de toda a justiça e que se não podia duvidar de que o

ensino primário nesta freguesia estava completamente descurado e num estado de tal

ordem que os meninos não podem aprender pelas razões constantes na proposta”32

.

Apesar destes argumentos o professor irá manter-se mais dois anos no activo.

Mas os elementos da Junta de Paróquia estavam decididos a promover um salto

qualitativo no ensino ministrado na freguesia, ensino caduco, desactualizado, bolorento

e desinteressante. Assim em 1886 voltam de novo à carga e a modos que a papel

químico esgrimem os mesmos argumentos para verem satisfeitas as suas reivindicações.

Em reunião extraordinária de 18 de Fevereiro, o presidente começou por dizer: “Sendo

esta freguesia muito importante e muito populosa estava há muito tempo sem o devido e

necessário ensino primário tanto para as crianças do sexo masculino como feminino,

que a escola do sexo masculino ainda não tinha sido aberta no corrente ano com grande

prejuízo dos meninos e das suas famílias, pois que a falta de um bom mestre tolhe a

carreira e futuro a muitos mancebos e prejudica assim consideravelmente as suas

famílias, em quem se reflecte este estado lastimoso; que a escola do sexo feminino,

apesar se ali se encontrar a respectiva professora se achava nas mesmas condições de

abandono das crianças; que não só a professora actual mostrava a falta de

conhecimentos e habilitações que hoje se exigem a uma professora do ensino primário

em vista do progresso e desenvolvimento dos conhecimentos elementares que as leis

actuais e os programas demandam, mas também não se pode aplicar a ele devidamente,

porque tendo alguns filhos ainda de tenra idade estes lhe absorvem todo o tempo, com

prejuízo do ensino; que estas faltas podem muito bem ser suprimidas e entendia que esta

32

AJFA: Acta da Junta de Paróquia de Atei em 6 de Dezembro de 1883

87

junta como auxiliar da fiscalização das escolas, levasse ao conhecimento da

Excelentíssima Câmara Municipal deste concelho o estado lastimoso em que elas se

encontram o qual muito bem pode ser reparado por quanto algumas famílias mais

remediadas mandam seus filhos receber o ensino nesta freguesia do Reverendo

Victorino Teixeira Pires em quem se encontram todas as qualidades requeridas a um

bom mestre, e o mesmo caso se estava dando com as meninas, que ao passo que a

escola oficial se encontra deserta a professora particular, Maria de Jesus Gonçalves da

Silva, cujas melhores habilitações e competência, reconhecidas por toda a freguesia,

administra o ensino a quantidades grandes de meninas, cujos pais tem meios para ali as

mandar, que nestas condições entendia a Junta dever fazer lembrar da Excelentíssima

Câmara, a urgente necessidade de nomear professores para o ensino primário desta

freguesia, apresentando ao mesmo tempo... os nomes daqueles dois professores, em

quem se encontram requisitos de saber necessários para bons mestres estando ela

competentemente habilitada além disso para poder ficar provida definitivamente na

referida escola” (AJFA: Acta da Sessão de 18 de Fevereiro de 1886).

Desta vez a Junta leva a melhor e a câmara lá acaba por nomear aqueles dois

professores para Atei, interinamente, numa primeira fase (anexo nº 11), não sem que

antes a professora, que era professora particular até àquela data, solicitasse à Junta um

certificado do seu comportamento moral e de serviço, naturalmente para concorrer à

propriedade da cadeira em questão. A Junta resolveu que lhe fosse passado “no sentido

mais louvável para aquela professora pois que tem sido incansável no ensino das

crianças a seu cargo e que são em grande número” (AJFA: Acta da Sessão de 10 de

Junho de 1886).

Pareciam, finalmente, satisfeitos os membros da Junta. O padre Victorino esteve

pouco tempo a dar aulas - passou a ser o presidente da Junta de Paróquia -, tendo sido

substituído por Homero Dias Peixoto. Este, cremos por se ter apaixonado pela

professora - numa altura em que já era casado -, e por esta ser correspondido, criou com

essa atitude uma desconfiança num membro da Junta - o vogal padre Miranda - o qual

passou a desconsiderá-lo, o que lhe terá desagradado e levado a querer mudar de escola.

Assim ambos solicitam que “... a Junta lhes ateste sob juramento em como têm

cumprido fielmente os deveres a seu cargo com todo o zelo e aptidão e com o máximo

empenho no aproveitamento dos seus alunos, bem como o seu bom comportamento

moral, cível e religioso” (AJFA: Acta da Sessão de 16 de Julho de 1891). Postos à

discussão da junta estes dois requerimentos, o presidente disse que era de toda a justiça

88

que ambos fossem diferidos. Os vogais António José de Moura e José Joaquim De

Oliveira concordaram. O padre Manuel António de Miranda disse “que não podia

assentir ao despacho favorável das petições retro, porque sendo tão latas, não podia de

momento dar um despacho consciencioso de justiça, propondo o adiamento do mesmo

despacho a fim de que não ficassem lesados os requerentes nem tão pouco a Junta se

expusesse ao perigo de errar; pois que para isso, não sendo da competência da Junta

sindicar os actos dos professores precisava de recorrer, para dar a sua informação, a

quem por lei pertence”. Posta esta proposta à votação, foi rejeitada por maioria. O

presidente disse “que ainda que não lhe pertencesse a fiscalização das aulas, todavia

pelos conhecimentos particulares que tem, não se lhe oferece dúvida em despachar

favoravelmente desde já aos dois referidos requerimentos, seguindo o exemplo da Junta

Escolar do Concelho, que com data de oito de Julho corrente, informou ao mesmo

requerente neste sentido”. A Junta resolveu, por isso, por maioria, que se exarasse nos

dois requerimentos o seguinte acórdão: ”que atestam sob juramento que Homero Dias

Peixoto, casado, professor de instrução primeira desta freguesia, tem cumprido

fielmente os deveres do seu cargo, como tem mostrado pelos alunos que tem preparado

para exame, que bem mostra o seu zelo e aptidão pelo aproveitamento dos seus alunos,

bem como tem bom comportamento moral , cível e religioso”. Pelo vogal padre António

de Miranda foi dito “que lhe não parecia verdadeiro o conhecimento particular que o

presidente desta junta e mais membros, dizem ter, pois que, por eles é conhecido e

reconhecido que um chefe de família traz, digo, alguns chefes de família têm trazido e

trazem seus filhos a educar fora de aqui, e não fazem isto por mero gosto de gastar

dinheiro”. Assim o padre Miranda não votava a favor os requerimentos e acusava os

colegas da Junta por eles não estarem do seu lado e achava que o próprio presidente se

havia precipitado na decisão tomada. Ia mais longe nos seus argumentos dizendo que:

”não podia assentir ao despacho favorável das respectivas petições porque não podia de

momento esta paroquia passar atestados conscienciosos e de justiça conforme lhe eram

pedidos nessa sessão e por isso nela havia proposto adiamento do despacho; que

infelizmente vira a sua proposta rejeitada; que agora sente porque vê que esta junta

errou; sente por ser vogal dela e ainda que o não fosse, por ocupar a presidência o seu

amigo padre Victorino Teixeira Pires, seu colega no sacerdócio que procedeu

precipitadamente, como provará: “as paixões devem-se refrear e o adiamento que ele

vogal havia proposto era bom para todos se informarem e reflectirem sobre o requerido.

Depois de rejeitada a proposta de adiamento... disse o senhor presidente que não se lhe

89

oferecia dúvida em despachar favoravelmente aos dois requerimentos apresentados

porque seguia o exemplo da junta escolar. Isto para seguir o exemplo de outro é

necessário discernimento e perspicácia bastante que ele vogal não tem para que não

possa haver precipitação. Foi o caso, o senhor presidente precipitou-se e com ele a

maioria da junta, como vai provar com a seguinte certidão: “Para cumprimento do

venerando despacho do presidente da junta escolar do concelho de Mondim de Basto, e

na ausência do secretário da mesma, certifico eu abaixo assinado, amanuense da câmara

municipal e empregado auxiliar da dita junta, que revendo o livro das actas das sessões

da junta escolar nele não encontro sessão alguma que tivesse tido lugar no dia oito do

mês de Julho do ano corrente de mil, oitocentos noventa e um, pelo que se não lavrou

acta. É o que tenho a certificar em face do respectivo livro das actas arquivadas na sala

das sessões da junta”.

Os atestados passados fora das sessões ou local ordinário delas, são nulos, por

conseguinte nulo o atestado da Junta Escolar, e esta junta a basear as suas afirmações

em um atestado nulo! Que são nulos prova-se pelo artigo trinta parágrafo quarto do

código administrativo. Acresce ainda que nos atestados passados em dezasseis de Julho,

por esta junta sob juramento, dizem que os professores têm cumprido fielmente os

deveres de seu cargo como têm mostrado pelos alunos que têm preparado para exames.

Sente não poder concordar com esta opinião, porque como o senhor presidente e mais

colegas sabem os professores auferem um certo lucro de cada aluno que apresentam a

exame, e portanto bem pode acontecer que os professores se dediquem exclusivamente

ao ensino destes descurando o ensino dos demais alunos. Para ele vogal o caso é

totalmente ignorado e portanto seja-lhe permitido perguntar ao senhor presidente e seus

colegas, se sabem qual o número de alunos que frequentam as aulas desta freguesia,

qual o tempo em que foram matriculados e se o aproveitamento corresponde ao tempo

que têm de frequência. E pelo presidente foi dito agradece ao seu colega a compaixão e

interesse que mostra por ele, porem que lhe afirma com toda a certeza que não procedeu

irreflectidamente ou por paixão nem contra os ditames da sua consciência, mas sim

procedeu convicto de que assim devia obrar. Que é verdade passar o atestado em

harmonia com o da Junta Escolar por este lhe ser apresentado no acto da sessão mas que

nem por isso deixaria passá-lo como passou, embora aquele não aparecesse, e que está

disposto a defender o conteúdo dos atestados quando a isso seja compelido, e que

suposto o atestado da Junta Escolar não ter a força de lei como diz o senhor vice-

presidente, a tinha a desta Junta de Paroquia, por ser passado em plena sessão e

90

aprovado por maioria. Que não é provável que os professores se dediquem só ao ensino

daqueles que têm de fazer o exame com o fim de auferirem as gratificações respectivas,

pois que muitos outros frequentam as aulas, e entre eles, digo, e entre estes alguns filhos

dos membros desta junta que assinaram com ele presidente os atestados exigidos pelos

professores, e que eles mesmos afirmaram que lhes parecia que seus filhos tenham

aproveitado o tempo que têm frequentado as aulas... Mais, se outros professores têm

mostrado maior zelo pelos resultados dos seus alunos, todavia isso depende de várias

circunstâncias que nesta freguesia escasseiam. E pelo vogal padre Miranda foi dito que

não sabia a que circunstâncias o senhor presidente se referia mas que para ele tem como

certo que o aproveitamento dos alunos e a sua frequência depende única e

exclusivamente da aptidão e zelo dos professores” (AJFA: Acta da Sessão de 6 de

Agosto de 1891). O presidente da Junta leva novamente a assunto à reunião seguinte -

13 de Agosto - e, mesmo não estando presente o vogal padre Miranda, começou por

dizer que “o certificado que o ilustre vice-presidente apresentou na última reunião é

nulo; porque nem a lei faculta nem a Junta Escolar deu nunca direito a intrusos ou

auxiliares para passarem certidões das suas actas; isso pertencia ao respectivo secretário

como a lei determina e a quem nunca fora apresentado requerimento para os devidos

efeitos. Está no caso do sacristão que passasse certidão jurada das missas que o pároco

diz, pois que o sacristão é auxiliar do pároco; segunda: suposto que são efectivamente

nulos os atestados passados fora de sessão, mas são somente nulos para os efeitos nulos

digo legais e não para o foro da consciência de que o ilustre vice-presidente tão bem se

tem servido sendo seu apologético, e a consciência rectamente formada é uma das

normas do recto obrar; terceira: que o número de alunos e a data da sua matrícula em

nada prejudica a sessão a que me venho referindo; porque isso pertence por um lado ao

delegado paroquial e em instância superior à Junta Escolar, e pelo outro lado pode servir

para uma estatística mas de modo algum aproveita para atestar do bom ou mau

comportamento dos professores que nada têm com o recenseamento dos alunos; por isso

aconselho-os que leiam, se sabem, a lei; quarto: é menos verdadeiro e orça quase pela

inépcia o afirmar-se que o aproveitamento dos alunos e a sua frequência depende da

aptidão e zelo dos professores; porque a frequência pertence ao Delegado Paroquial

obrigá-la em conformidade com o disposto na lei de dois de Maio de mil oitocentos

setenta e oito, e o aproveitamento depende do cumprimento daqueles deveres e da

capacidade dos alunos, pois que é já sabido que nem todos são para tudo. Não se afirme

que uns professores ensinam mais do que outros com a mira nas gratificações, porque os

91

professores desta freguesia não podiam nem podem deslumbrar-se com a perspectiva

daquela ganância porque anda muita gente apostada em não lhes pagar as gratificações,

e porque não tem jeito nem feitio deslustrar o seu nome e entenebrecer os seus brios por

uma ninharia. Por essa mesma razão podia dizer-se que os padres que recebem a esmola

pela missa, a dizem por causa da esmola e não para honra e glória de Deus; portanto

esta junta continua a sustentar a sua opinião favorável aos professores desta freguesia e

a considera-los como irrepreensíveis e íntegros no cumprimento dos seus deveres. Estas

considerações foram aprovadas por unanimidade” (AJFA: Acta da Sessão de 13 de

Agosto de 1891).

Alongámo-nos nesta polémica mas fizemo-lo com o propósito de testemunhar

um efeito provocado pela reforma de Rodrigues Sampaio. De facto, ao dar preferência

aos professores normalistas a lei chocava com os interesses adquiridos no tempo pelo

clero, o qual via um importante pilar da sociedade – a educação -, a fugir-lhe. Isto é,

este conflito é sintomático da tensão surgida entre a clericalização e a estatização da

sociedade em fins do século XIX e que em Mondim se prolongará pelo século XX.

Estávamos no início de um processo que se revelaria imparável no século XX,

processo que os padres não querem perder quer fazendo parte ou das Juntas de Paróquia

ou das Juntas Escolares. Contudo foi curto o tempo de duração das Juntas Escolares.

Razões várias que se prendem ou com a desconfiança dos pais, dos próprios professores

e até mesmo das Juntas de Paróquia levam ao seu fim em 1892 (DG nº 104 de 10 de

Maio de 1892). As Juntas de Paróquia duram até à implantação da república em 1910, e

vamos encontrar muitos professores primários desde a primeira hora de alma e coração

com as novas ideias republicanas - a ocupar desde logo cargos que até então estiveram

nas mãos dos padres. O professor Homero foi, em Ermelo, eleito presidente da Junta de

Freguesia (Já era presidente já Junta de Paróquia desde 1902), tal como o professor

Carlos Barreira, em Atei, eleito também para presidente da Junta de Freguesia, são dois

dos vários exemplos.

Finalmente os professores que causaram tanta polémica foram providos nas

escolas de Ermelo, escolas por eles escolhidas.

Para o lugar do professor Homero entrou o professor Carlos da Silva Barreira o

qual vai ser protagonista de um episódio caricato.

A revolução de Outubro destitui o padre Vitorino de presidente da Junta de

Paróquia,

92

sendo substituído pelo professor Carlos Barreira, conforme acima já referimos. Este,

desde logo se revela um adepto do novo regime e esquece um pouco a escola e os seus

alunos, ganhando com isso a animosidade da população. As queixas chegam ao próprio

inspector que oficia a câmara no sentido de esta “se digne informá-lo com urgência, se o

professor de Atei, Carlos da Silva Barreira, abandonou ultimamente durante alguns dias,

a regência da sua escola, sem licença nem motivo justificado e se pela sua falta de zelo e

de assiduidade no cumprimento dos seus deveres profissionais e pelo seu repreensível

comportamento civil e profissional, tem alienado de si as simpatias dos chefes de

família dessa freguesia” (ACMM: Acta da Sessão de 15 de Dezembro de 1910. Livro

de Actas nº 2, pág. 202v e 203 ).

A câmara interroga a Junta de Paróquia sobre o assunto em questão e recebe um

ofício da mesma onde se dizia: “ser verdade que o professor Carlos da Silva Barreira,

ter abandonado a regência da sua escola, sem licença nem motivo justificado, durante a

segunda quinzena do mês de Novembro, assim como também pela falta de zelo e

assiduidade, no cumprimento dos seus deveres profissionais e repreensível

comportamento civil e profissional tem alienado de si as simpatias dos chefes de família

desta freguesia sendo muito diminuto o número de alunos que frequentam a escola, em

relação ao número de crianças recenseadas. Saúde e fraternidade. Atei, dezanove de

Dezembro de mil novecentos e dez” (ACMM: Acta de 22 de Dezembro de 1910. Livro

de Actas nº 2, pág. 205v, 206 e 207 ).

Não sabemos qual a repreensão, se é que a houve, que sofreu o citado professor.

De qualquer modo em 1914 ainda era professor em Atei e pago pela Câmara

Municipal33

.

As nomeações dos professores, por parte da câmara, continuavam a basear-se no

artigo 30º da lei de 2 de Maio de 1878. E se a lei era igual para todos não encontramos

justificação para haver diferenças nas nomeações dos professores e das professoras. De

facto, em relação aos professores, à frente da sua nomeação acrescenta-se sempre “por

concorrerem nele as circunstâncias para bem desempenhar os deveres”; quanto às

professoras, à frente da sua nomeação acrescenta-se “em visto das provas dadas em

concurso público, como mostra pelos documentos, que ficam arquivados nesta câmara,

33 Segundo informações orais que recolhemos sobre o citado professor parece-nos que ele era bastante violento com

os alunos, faltava bastante e a partir de determinada fase da sua vida passou a ter um comportamento no mínimo

estranho. Alguns alunos mais espevitados faziam inclusive versos onde criticavam o professor.

93

e das informações havidas se acha o seu procedimento moral, civil e religioso”34

. Só

assim se passava o alvará. Era uma atitude discriminatória, mas a que nenhuma

professora conseguia escapar.

Também não encontramos os documentos que foram arquivados, segundo consta

das actas acima referidas.

Com base nos documentos que conseguimos encontrar e através de leituras

cruzadas entre eles elaboramos a listagem dos professores que o foram no concelho de

Mondim de Basto, a partir da reforma de 2 de Maio (Quadro nº 15).

Quadro nº 15. Professores do ensino elementar a cargo do Estado35

,, da Câmara

Municipal de Mondim de Basto36

e das Confrarias das Almas de 1878 a 1910

FREGUESIA DE MONDIM

PROFESSOR

ANOS

PROVIMENTOS

João António da Silva Ramos 1857 – 1894 - Carta Régia de 17 de Nov. de 1855

Manuel Joaquim de Miranda ( ajudante .) 1890 – 1894 Prov. 9.01.1890

José dos Santos Martins Ribeiro 1904 – 1910 Prov. 22.9.1904

Teresa Augusta A. de Carvalho ( fem. ) 1866 – 1889 Prov. de 17 de Abril de 1866 e Carta

de Mercê de 18 de Maio de 1869.

Laurinda Marinho da Mota ( Fem.) 1889 – 1910 Prov. 15.9.1899

FREGUESIA DO BILHÓ

Durante todo o século XIX os professores são pagos pela Confraria das Almas37

Padre Luiz da Cunha de Carvalho 1830 - Nomeação

particular

José Dinis Gonçalves Rodrigues - 1892 “ “

José Gonçalves 1893 – 1895 “ “

Pedro Martins Machado 1895 - .... “ “

34 ACMM: Livro de TERMOS DE POSSE de 1889 a 1894.

35 Utilizamos os livros de “ Vencimentos “ números 312, 313, 314, 315 e 316 do Arquivo distrital de Vila Real.

36 Utilizamos o livro de TERMOS DE POSSE acima referido.

37 O livro refere o nome dos professores, o vencimento e os anos mas não refere o dia em que cada um deles tomou

posse.

94

FREGUESIA DE ATEI

PROFESSOR

ANOS PROVIMENTO

Padre Bernardo José Fernandes Moreira

1873 – 1876 –

1885

Desp temp. de 28 de Maio de

1873 e vitalício de 29 de Maio

de 1876.

Padre Luís Felismino Teixeira de Andrade 1885 – 1886 1885

Padre Victorino Teixeira Pires 1886 – 1886 Nom. Int. em 22.1.1886

Homero Dias Peixoto 1886-1903 Nom. Temp. a 24.12.1886 e vit

a 5.12.1889.

Maria Miquelina da Mota Lobo 1881-1885 1881

Teresa Gonçalves de Oliveira 1885-1886 1885

Maria de Jesus Gonçalves da Silva ( fem. ) 1886-1903 Nom. Int. a 12.3.1886 e vit. A

5.12.1889.

Rosa da Conceição Mota ( fem.) 1898-1910 Prov. 1.8.1898

Carlos da Silva Barreira 1903-1910 Prov. 13.09.1903

FREGUESIA DE ERMELO

PROFESSOR

Padre José Bernardino da Fonseca 1837 – 1889 Carta Régia de 30

de Abril de 1840

Padre José Paulino de Carvalho Peixoto 1889 – 1890 11.10.1889

Manuel Joaquim De Almeida 1890 – 1890 11.03.1890

Cândido Teixeira de Morais 1890 – 1902 15.07.1890

Homero Dias Peixoto 1903 – 1910 1.10.1886

Maria de Jesus G. da Silva ( feminino ) 1903 – 1910 12.3.1886

FREGUESIA DE CAMPANHÓ

Teresa Rodrigues Pomar 1905... 10.2.1905

95

FREGUESIA DE VILAR DE FERREIROS

Rosa de Jesus da Costa 1891 –1909 Nom. Int. a 4.2.1891

Luísa dos Santos Ramalho ( masc. ) 1909 ... 1909

FREGUESIA DE PARADANÇA

Ana Alves de Figueiredo ( masc. ) 1908 – 1910 1908

Pela análise do quadro acima verificamos que a vila – sede do concelho -, Atei

e Ermelo dispuseram de professores ininterruptamente. Em Mondim leccionou até um

professor de gramática latina até 1863. Tratava-se do mesmo professor já identificado

em 1829.

Até à reforma de Rodrigues Sampaio assistimos a um predomínio avassalador de

professores padres. A partir daí os normalistas – formados em Braga, na sua maioria -,

começam a concorrer aos lugares o que em alguns casos provocou alguns atritos mal

sanados.

O peso do professorado é essencialmente masculino. Só o fim do século abrirá

as portas ao feminino, num processo imparável que se manterá em crescendo até aos

nossos dias. Em alguns lugares nota-se muito o peso dos professores particulares,

principalmente em Atei. Acreditamos até que pelo menos nesta freguesia houve uma

certa tradição deste tipo de ensino, pois, pela leitura das actas parece transparecer até

uma certa rivalidade entre os professores oficiais e os particulares no que tocava à

preparação e apresentação dos alunos a exame. É claro que a questão económica não era

alheia a esta rivalidade até porque é sabido que por cada aluno diplomado o professor

recebia uma gratificação e, para quem tinha um ordenado baixo, aquela vinha sempre a

calhar.

Mas o ser-se professor particular tinha também outras vantagens. De facto

encontramos várias actas em que se refere que se vai recomendar à câmara municipal

para atribuir o lugar vago ao professor ou professora tal pois têm provas dadas no sector

particular.

96

4.2.3 - Nomeação dos Professores.

Encontramos em Mondim duas situações diferentes no que concerne à

nomeação dos professores: a daqueles que foram nomeados vitaliciamente por Carta de

Mercê e aqueles outros nomeados temporários, normalmente por um período de três

anos, como preconizava a lei de Costa Cabral. Muitas vezes a nomeação provisória

convertia-se em definitiva. As formas de nomeação mantêm-se com Rodrigues Sampaio

embora o artigo vinte exigisse que só passaria a professor efectivo aquele que tivesse

três anos de bom e efectivo serviço. Ultrapassada esta situação, a segurança na carreira

docente ficaria praticamente assegurada e muito dificilmente o professor a perdia.

4.2.4 - Mobilidade/Estabilidade do Corpo Docente.

Em Mondim de Basto é perfeitamente visível que a mobilidade do corpo

docente é extremamente fraca. Praticamente todos os professores de nomeação

definitiva permanecem imensos anos na mesma escola sem se preocuparem em mudar

para outra. A mesma situação acontece com os provisórios. São poucas as excepções no

longo período em observação, a saber: em 15 de Janeiro de 1837 o professor régio de

Ermelo compareceu na câmara municipal para informar que “desistia da continuação e

exercício da sua cadeira por algumas moléstias que tem, requerendo que a câmara lhe

aceite a desistência”. A desistência foi aceite e a vereação decidiu “para que o ensino da

cadeira não padeça nem a mocidade que concorre à escola, nomear para exercer

interinamente José Bernardino da Fonseca e Andrade, clérigo in minóribus, a quem

reconhecem a sabedoria e moral própria para o desempenho da mesma cadeira”. Este

professor só desistiu por se encontrar velho e doente. Os professores Homero Peixoto e

Maria G. da Silva mudam-se de Atei para Ermelo, para aí continuarem durante muitos

anos e o professor José dos Santos Martins percorreu três escolas enquanto temporário

antes de se efectivar em Vilar de Viando. É o caso típico do professor jovem em início

de carreira.

4.2.5 - Os professores Particulares.

Em Mondim e em Atei - as duas principais terras do concelho -, abundam os

professores particulares, sintoma do desenvolvimento económico e demonstrativo do

elevado número de crianças em idade escolar.

Nem sempre o papel destes professores foi bem compreendido - a relação

professor/ missionário e professor/mercantilista não se conjugavam -, embora nos

97

pareça que um estudo desta natureza ficaria bem mais incompleto sem uma abordagem

ao papel por eles desempenhado. O próprio Estado não aceitava muito bem a situação

mas como oferecia baixos aumentos salariais acabava ele próprio por “tolerar e até

mesmo autorizar essa situação” (NÓVOA, 1987: 400).

Devemos distinguir algumas situações:

A) - A dos professores pagos por particulares ricos (onde sobressai a Casa da Igreja),

dado que estas famílias não queriam que os seus filhos se “misturassem com a

gentalha”. Nesta situação os alunos são preparados em suas próprias casas para o

exame de acesso aos liceus.

B) - A dos professores (principalmente padres), que recebem os alunos em suas casas

e aí lhes ensinam os rudimentos de ler, escrever e contar, recebendo uma gratificação

em troca. Alguns desses alunos chegam a entrar para os liceus.

C) - A dos professores que, embora sendo oficiais, levam para sua própria casa os

alunos que têm perspectivas de serem bons alunos e como tal recebem aulas

complementares para melhor se prepararem para o exame. Ficou célebre o professor

Aventino Teixeira de quem ainda hoje muitos dos antigos alunos se lembram com

saudade.

D) - A das professoras que recebem em sua casa as alunas que não iam à escola oficial

- ou porque a não havia ou porque os pais não as queriam misturadas com os rapazes.

Nas Conferências Pedagógicas do Círculo de Vila Real essa situação será discutida.

Essas alunas recebiam ensinamentos que as preparavam para a vida. Merece destaque

a “professora” Maria das Dores Alves de Carvalho que no lugar do Bobal, em plena

serra, durante décadas ensinou as meninas, e até rapazes, recebendo o salário em

géneros. Graças a essa professora muitos jovens puderam ser alfabetizados.

Verificamos em algumas situações que, as professoras antes de serem nomeadas

interinas, já exerciam na qualidade de privadas e eram propostas em reuniões das Juntas

de Paróquia para professoras oficiais mercê dos créditos que granjearam como

particulares.

Dos exemplos apontados podemos concluir que o ensino particular

desempenhou um importante papel no desenvolvimento escolar no concelho.

98

4.2.6– Os Professores Adjuntos.

Pela análise dos quadros acima transcritos, verificamos que apenas um único

professor com a categoria de Adjunto é referido. Trata-se do professor Manuel Joaquim

de Miranda que a partir de 1890 passa a auxiliar o já idoso professor João Ramos.

Pouca sabemos sobre o citado adjunto mas tendo em consideração o disposto no artigo

33º da reforma de Rodrigues Sampaio onde se diz que os adjuntos eram escolhidos

“entre os indivíduos possuidores de habilitações legais” para o exercício do ensino

primário ou então entre “ as pessoas idóneas da localidade “, acreditamos que o adjunto

dispunha das condições exigidas por lei.

Recebia de salário 60$000 réis, já acrescido dos 30$000 de gratificação. O

professor Miranda esteve pouco tempo a dar aulas.

Se fizermos uma análise do que se passava a nível nacional verificamos que, por

exemplo, em 1885-1886 havia 119 adjuntos, a que equivalia uma percentagem de 3,2%

do total de professores primários (NÓVOA, 1987: 372). Ora, bastava que se cumprisse

o que dizia o artigo 26º da reforma de Costa Cabral que permitia que as escolas das vilas

ou aldeias que tivessem mais de trinta alunos poderiam dispor de um professor adjunto,

para que aquele número fosse muito superior.

Uma questão é susceptível de alguma pertinência: havendo tanta gente em idade

escolar no concelho porquê apenas um adjunto? Será que os professores particulares

colmatavam essa importante lacuna? A ser assim, mais uma vez se reforça o papel

desempenhado por esse tipo de docentes no desenvolvimento da educação e instrução

em Mondim.

4.2.7 – Os Salários.

Os salários dos professores oficiais do concelho eram – a partir da reforma de

Costa Cabral -, de 90$000 réis ilíquidos anuais, ou seja 81$000 líquidos depois de

deduzidos os 10% de descontos. Mensalmente dava uma importância de 6$750. A estes

valores havia a acrescentar a gratificação anual camarária de 20$000 réis. Para António

Nóvoa tratava-se de um salário miserável, o que facilmente se constatava se

comparando com os salários pagos noutras categorias profissionais (NÓVOA, 1987:

385 e ss.). Desta situação resultava uma categoria social com um baixíssimo nível

económico e assim não admira que ao longo do século XIX uma das principais

99

reivindicações dos professores tivesse a ver com aumentos salariais. E se a cada nova

reforma do ensino correspondiam novas e legítimas expectativas, quase sempre

resultavam em profunda frustração, dado os aumentos serem sempre exíguos38

.

O salário dos professores particulares devia ser pouco e incerto pois estava

muito dependente do número de alunos que frequentava as suas aulas e sobretudo do

número de alunos que o professor punha “prontos para exame”. E a ser verdade a

afirmação do vogal da Junta de Atei, padre Miranda de que, - a propósito da polémica

com os professores Homero e Maria G. da Silva -, “andavam pais apostados em não

lhes pagar as gratificações” então a situação ainda mais se agravaria.

Face a estes números, teremos que considerar que os professores em Mondim de

Basto (e no resto do país) estavam extremamente mal valorizados, o que os obrigaria a

recorrer muitas vezes a outras actividades para arranjar outro complemento salarial. É

extensiva a lista dos que o faziam e por isso vamos salientar apenas alguns exemplos: o

mestre régio António Borges de Macedo, dava aulas em Atei. Deixou o ensino para se

dedicar a actividades político – administrativas em 1796, cinco anos depois de ter

tomado posse. Passa a ocupar os lugares de Escrivão e Almotacés39

na câmara. Com

estes cargos o ex -professor passa a auferir um ordenado de 80$000 reis, exactamente o

dobro do que auferia como mestre régio.40

A partir de 1819 é nomeado Procurador41

do

concelho42

.

Em 1853 o professor municipal de Mondim, José Rodrigues Carvalho deixou o

ensino para ocupar o cargo de Escrivão. De 20$000 réis de ordenado passou para

40$000. Contudo, durante algum tempo ocupou os dois lugares.

O professor régio, João Ramos, abandonava muitas vezes os alunos, ou deixava-

os entregues ao seu adjunto, para se dedicar à orientação das suas muitas propriedades43

.

38 A Reforma de 1844 atribuía aos professores do 1º grau, nos meios rurais, um vencimento de 90$000, acrescidos de

20$000 de gratificação pagos pelas câmaras. A Reforma de 1878 aumentava nuns míseros 10$000 esse

vencimento. Instituía também um vencimento de 45$000 para os Professores Adjuntos. A Reforma de 1894

passava os vencimentos para 160$000 acrescidos de 60$000 de gratificação. Os Adjuntos passavam para 72$000

acrescidos de 30$000 de gratificação.

39 O almotacé era o oficial do concelho que tinha a seu cargo fiscalizar o abastecimento dos géneros alimentícios, os

preços de alguns deles, os salários dos oficiais, os pesos e medidas e evitar que os rendeiros fizessem avenças com

as partes ( in Dicionário de História de Portugal )

40 ACMM: “Livro das Correições da Câmara de Atei de 27 de Abril de 1796”.

41 O procurador era um funcionário municipal que podia ocupar vários ou até todos os lugares do concelho.

42 In “ Carta de Confirmação das Novas Justiças para o ano de 1819 Deste Concelho de Atei”. Esta carta foi aberta

em sessão de 14 de Janeiro de 1819 e transcrita para o citado livro das Correições.

43 Foi durante alguns anos o Maestro da Banda de Música. Ficou célebre a festa que organizou em honra do recém

nascido príncipe D. Luís I, em 1861.

100

O professor Homero quando passou a dar aulas em Ermelo foi eleito

presidente da Junta de Paróquia e da Irmandade das Almas local. Não sabemos se

auferia alguma gratificação por isso. Após a implantação da República continuou como

presidente da Junta de Freguesia.

O professor de Atei, Carlos Barreira era o representante oficial no concelho das

“famosas máquinas Singer para costura” que, segundo publicidade inserida no jornal

local “O Progresso de Mondim” em meados de 1907 eram o “móvel de mais utilidade e

lucro positivo de qualquer habitação”. Para além disso o citado professor era ainda

agente dos seguros “A Portuense de Seguros”. A partir de 1910, depois da revolução

exercerá o cargo de presidente da Junta de Freguesia.

Às professoras não conhecemos outras actividades mas como todas eram

oriundas das melhores casas do concelho sempre tinham mais alguns rendimentos. Para

além disso compunham a situação económica casando com os colegas de profissão. A

professora Maria G. da Silva casou-se com o professor Homero, a professora Teresa

Vieira de Castro com o professor Aventino Teixeira, a professora Rosa Mota com o

professor Carlos Barreira, a professora Teresa Carvalho com o Dr. Francisco Pinto

Coelho de Castro.

Não entrámos nesta análise com os professores provisório (sempre padres), dado

que estes exercem poucos anos seguidos e não fazem da profissão docente a sua

principal actividade.

4.3 – As Comissões Promotoras de Beneficência.

Pelo artigo 28º (DG nº 110 de 16 de Maio) determinava-se que as Câmaras

Municipais, em coordenação com os párocos e membros das Juntas de Paróquias,

organizassem as denominadas Comissões Promotoras de Beneficência e Ensino, para as

respectivas freguesias, as quais deviam promover e incentivar a frequência escolar,

adquirir vestuário, livros e outros materiais didácticos para auxiliar os alunos pobres,

fazer a distribuição de prémios aos alunos que mais se distinguissem e, de uma maneira

geral, promover acções que por si contribuíssem para uma maior difusão do ensino na

respectiva freguesia.

Por falta das actas quer da Câmara quer da Junta de Paróquia de Mondim,

ficamos sem saber quem fez parte dessas comissões e que tarefas desenvolveram. De

qualquer modo encontramos em vários orçamentos anuais de várias Juntas de Paróquias,

101

nas rubricas sobre Despesas com Educação, referências a verbas que se destinavam a

“Auxiliar os Alunos Pobres”, ou “Para Compra de Livros para Alunos Pobres”. Trata-se

normalmente de verbas muito diminutas, como podemos ver nos exemplos seguintes:

em 1886 a Junta de Paróquia de Atei inscreve na rubrica “Despesas” 4$500 réis para

“livros, papel e tinta para alunos pobres” e “3$000 réis para a Biblioteca Escolar”. Mais

modesta, a Junta de Paróquia do Bilhó, inscrevia em 1884 1$500 réis “para auxílio dos

alunos pobres”. São apenas dois exemplos mas que nos provam que as comissões

funcionavam.

Sabemos também que havia prémios para os melhores alunos que eram

distribuídos no final do ano em festa realizada na sede do concelho. Não sabemos,

contudo, se era organizada pela câmara ou pelas citadas comissões. A festa devia

revelar alguma pompa e circunstância dado que envolvia várias actividades lúdicas.

Nem sempre as coisas corriam do agrado de todos dado que, pelo que podemos

ler no jornal o “Progresso de Mondim” de 2 de Dezembro de 1909, o professor de

Vilarinho, José Martins Ribeiro, muito zangado por não ver reconhecido publicamente o

seu trabalho e o dos seus alunos resolveu, a expensas pessoais, realizar nova festa

escolar, desta vez na própria escola, tendo convidado as principais pessoas da

localidade. Abrilhantou a festa um “Concerto Musical” da vila de Mondim. “Os alunos

cantaram o hino da escola ideado (sic) pelo solicito professor. Seis alunos recitaram

lindas poesias selectas e nos intervalos tocaram-se peças de música escolhidas”.

Segundo o citado jornal o professor recitou o poema “Judia e outras apreciadas

poesias”, recebendo palmas e aplausos. Discursou também, dizendo o que é a escola

primária, narrando a incúria dos pais e a maneira como deviam olhar para ela e como

deveriam ser difundidas a instrução e a educação em todas as classes populares. O

jornal sublinhava que, sentia grande prazer por poder dar esta notícia por ver que “ainda

há professores que, como este, sabem cumprir o seu dever. Se todos assim/ fizessem as

crianças veriam no professor um amigo e iriam para a escola com maior satisfação”.

4.4 – Dos Alunos

Pouco sabemos acerca do número total de alunos, da frequência escolar, das

desistências, dos seus problemas, dúvidas ou anseios, dado que poucos são os registos

onde podemos buscar informação. Sabemos, porém, pela leitura das actas que o número

dos alunos em idade escolar devia ser bem elevada à qual não correspondia um número

102

nem de frequência nem de aprovações satisfatório, como podemos ver pelos quadros

seguinte:

Quadro nº 16. Número de alunos aprovados em exame de Instrução Primária

entre 1882 - 1894 em Mondim de Basto

LOCAL 1882 83 84 85 86 87 88 89 1890 91 92 93 94 TOT

MONDIM MAS 5 2 2 6 11 2 8 6 7 3 52

E ATEI FEM. 2 3 6 1 12

ERMELO A A

TOTAIS 5 2 2 8 14 8 9 6 7 3 64

A) Os alunos de Ermelo faziam exame em Vila Cova, Campeã. Não existem livros de termos de exame

nem na freguesia nem no arquivo Distrital de Vila Real.

Quadro nº 17

Idades dos alunos

IDADE QUANT. %

9 3 4,7

10 10 15,7

11 13 20,3

12 26 40,6

13 5 7,8

14 4 6,2

N. REF. 3 4,7

TOTAL 64 100%

Quadro nº 18

DISTRIBUIÇÃO POR SEXOS

MASC. 52 81,25

FEM. 12 18,75

TOTAL 64 100%

Quadro n.º 19

CLASSIFICAÇÃO OBTIDA

SUF. 49 76,6

BOM 14 21,8

DISTINTO 1 1,6

TOTAL 64 100%

Fonte: ( ACMM: Livro de Termos de Exames 1882-1894 )

103

4.5 - Conclusões

Se é certo que não conseguimos ter acesso aos Recenseamentos Escolares (com excepção

de apenas um), e como tal desconhecemos o número de crianças em idade escolar, não deixa de ser

verdade que, por leituras paralelas, ficamos a saber que esse número era de facto bem elevado.

Considerando válida a afirmação anterior, verificamos que ao elevado número de crianças em

idade escolar não corresponde nem uma frequência homogénea nem um número significativo de

alunos aprovados em exame. Deste modo, se analisarmos os resultados da escolarização por um

índice de distribuição de diplomas concluiremos que os resultados são bastante fracos.

A maioria dos 64 alunos (60,9%), completa a escolaridade entre os onze (20,3%) e os 12

anos (40,6%), o que nos parece ser um valor bastante interessante a que devemos juntar os 20,4%

dos que o fazem entre os 9 e 10 anos de idade (quadro nº 15). Acreditamos assim que estes alunos

se esforçavam por obter cedo um diploma certificador para poderem prosseguir os estudos. Muitos

fizeram-no, como demonstraremos adiante (quadro nº 34). Os outros alunos abandonariam a escola

ao fazerem a 3ª classe ou ainda antes. A obtenção do diploma de fim do curso é então

desvalorizada. Porquê? Será que a expectativa de utilização do diploma num meio rural como

factor de diferenciação na hierarquia social não têm cabimento dada a raridade de empregos? Será

porque o saber ler e contar são suficientes para a resolução das questões do dia-a-dia? Será porque

não se sentiam motivados ou não tinham posses para prosseguirem os estudos?

É ainda muito diminuto o número de meninas que fazem a 4ª classe (quadro nº 16) e todas

filhas de pais abastados. Algumas prosseguirão os estudos e converter-se-ão em professoras

primárias.

É nos locais onde a escola está há muito implementada - Atei, Ermelo e Mondim -, que há

uma maior procura e apetência pela procura e frequência escolar, diminuindo nos locais de

implementação recente.

Podemos dizer que, apesar de tudo, pela primeira vez começamos a assistir a uma certa

organização do sistema educativo em Mondim de Basto. De facto, para dar cumprimento ao

estabelecido no artigo 11º do regulamento de 28 de Julho de 1881 o presidente da câmara, Joaquim

Maria Rodrigues Morais Lobato, entrega à Junta Escolar, devidamente rubricado e assinado um

livro para nele serem lançados os termos de exames do ensino elementar. Todos os alunos das

freguesias de Mondim e Atei faziam o exame na sede do concelho. Os alunos de Ermelo iam fazer

exame à freguesia da Campeã, no concelho de Vila Real, devido por um lado à grande distância da

sede do concelho e, é claro, ao facto dos caminhos serem bastante maus.

104

Os primeiros anos do século XX reforçam, ainda, a ideia do desinteresse pela obtenção de

um diploma certificador. Em 1909, às portas do golpe republicano, o número de alunos aprovados

em exame de instrução primária foi a seguinte: Atei, 0 alunos. É verdade que se trata de uma

situação especial dado que havia 3 alunos prontos para fazer o exame mas uma arreliadora doença

impediu o professor Carlos Barreira de os acompanhar. Campanhó 1 aluno. Ermelo 1. Mondim, 10

rapazes e apenas 1 menina. Neste mesmo ano fizeram exame 3 meninas de Mondim na escola de

Vila Pouca de Aguiar. Vilar de Ferreiros 1 e Vilarinho 3. Total 19 rapazes e 4 meninas44

. De facto

continua a ser parco o número de alunos propostos a exame. Mondim revela algum dinamismo.

Será fruto da existência do edifício escolar oficial? A ser assim alargava-se o já enorme fosso entre

esta localidade e o resto do concelho.

A juntar a esta situação temos o facto de a câmara nem sempre pagar a tempo o aluguer das

casas que serviam de escola, o que chegou a enfurecer os seus proprietários que ameaçavam acabar

com a situação45

e ainda o facto de o mobiliário existente nesses locais ser insuficiente.

5 - OS EDIFÍCIOS ESCOLARES

É hoje por demais reconhecido que as escolas são espaços privilegiados onde o processo educativo se desenvolve no dia a dia e por isso locais de grande valor didáctico capazes de potenciar a aprendizagem colectiva. Porém, para o caso concreto das escolas de Mondim de Basto, para se chegar a esta situação um longo caminho foi preciso percorrer.

Vejamos a situação freguesia a freguesia

5.1 - Mondim de Basto.

44 Utilizamos as informações do jornal acima referido. Não sabemos, contudo, se na freguesia do Bilhó algum aluno foi

proposto para exame. Não se refere o nome dos alunos aprovados, daí não conseguirmos acompanhar o futuro escolar desses

alunos.

45 Em 12 de Maio de 1909, o jornal “Progresso de Mondim” publicava uma notícia do seguinte teor: “Consta que os

senhorios das casas arrendadas para as escolas de instrução primária deste concelho reunirão brevemente para solicitarem do

governo a importância das rendas em dívida à dois anos e meio”.

105

Apesar da escola primária oficial ter sido criada pelo Marquês de Pombal em 1772, teve o

seu primeiro mestre régio a partir de 1780 e durante mais de um século não terá edifício próprio

para o magistério do ensino. De facto durante muitos anos as aulas serão dadas em edifícios

alugados para o efeito pela câmara ou na casa do professor - situação vulgar - a quem a câmara,

além do vencimento também pagava o aluguer do edifício. Assim sucedeu, por exemplo, ao

professor António Bernardo Teixeira de Barros que, nos anos em que foi professor recebeu de

renda 2$400 réis, o mesmo sucedeu com o professor Silva Ramos e outros. A 27 de Fevereiro de

1866 o professor José Joaquim Alves de Carvalho recebeu da câmara a importância de 6$000 réis

da renda da sua casa para a escola do sexo feminino. É a primeira referência que encontramos à

escola feminina. A 23 de Julho desse mesmo ano o rei D. Luís autoriza por decreto as câmaras

municipais ou as Juntas de Paróquia a procederem à “expropriação de casas ou terrenos necessários

para a construção de edifícios e para os acessórios destes, destinados para a fundação das escolas

públicas de ensino primário” (Artigo 1º). Para além desta modalidade havia ainda a possibilidade

de as Juntas de Paróquia poderem “aforar ou vender em hasta pública, precedendo autorização do

Conselho de Distrito, bens próprios ou baldios de logradouro comum para aplicar o Plano de

Actividades um capítulo específico para o sector da educação, onde se revela já a preocupação da

construção de edifícios escolares condignos. De qualquer modo, devido talvez pelas atribulações

políticas por que o concelho irá passar, só em 1990 encontramos bem clarificado no ponto 21 da

previsão de receitas para o ano seguinte a quantia de 557$090 réis resultantes da “Dedução da

verba que no orçamento de 1878 a 1879 era destinada para instrução primária e de que se acha com

aplicação a despesas de exercício de 1900 a 1901, constante da tabela que fás parte do Decreto de

17 de Maio de 1900 (Diário do Governo nº 114, de 22 do dito mês e ano). Entrava também como

receita a quantia de 414$210 réis do “Produto das percentagens de 15% sobre as contribuições do

Estado, incluídas na mesma tabela. na rubrica de Despesas prevê-se gastar exactamente aquela

quantia, o que mais uma vez não virá a acontecer. No ano económico seguinte, aquelas

importâncias são acrescentados 29$884 reis resultantes do “produto dos mútuos e papéis de crédito

que foram da extinta confraria de Nossa Senhora do Rosário desta vila”. Para além disso entrava já

como receita a quantia de 400$000 réis “pelo que se espera da venda de terrenos baldios, segundo a

deliberação desta câmara tomada na sessão de 22 de Janeiro do ano corrente, com aplicação a

auxiliar o Estado na construção de edifícios escolares, mas irrealizável até hoje em virtude dos

preceitos da lei de desamortização”46

(anexo nº 13).

46

- ACMM: Na acta de 22 de Janeiro (livro nº 1, pág. 26 e 26v) podemos ler: “Pelo senhor presidente José António

Machado e Moura foi proposto que se representasse ao governo de sua majestade no sentido de serem construídos,

nesta freguesia e na de Atei para as aulas do ensino primário elementar visto não os haver, mas também por serem

insuficientes, para comportarem os alunos, as casas onde se acham instaladas as referidas escolas, as quais, além de

106

Naturalmente que as mesmas verbas entravam na rubrica de despesas (Quadro nº 20).

Mesmo assim as autoridades locais não revelam grande entusiasmo pela construção de

qualquer edifício escolar, preferindo continuar o sistema de pagamento de rendas. Assim a partir de

1893 a casa da escola do sexo masculino é arrendada ao padre Manuel António Borges e a do sexo

feminino a Daniel José Rodrigues. Esta casa estará arrendada até 1902 altura em que cremos que

por interesse da própria professora, que queria dar aulas em sua própria casa, solicita à câmara a

mudança. A 25 de Junho desse mesmo ano “um telegrama do Excelentíssimo Governador Civil

deste Distrito, numero cento e noventa e três autoriza a câmara a arrendar casa para aula do sexo

feminino e fazer a instalação quando julgar conveniente“ (ACMM: Acta de 25 de Janeiro de 1902.

Livro de Actas nº 1, pág. 40 e 40v.). Inteirada, deliberou a câmara ordenar de imediato a mudança

da casa da escola do sexo feminino, oficiando a respectiva professora.

Entre a reforma de 1878 e a de 1901 ainda tivemos outras duas, a de 1894 e a de 1897. A

de 1894 nada trouxe de novo à causa da Instrução. Manteve a centralização do ensino primário.

aboliu os exames do 1º grau e os do 2º só se faziam nas sedes dos liceus ou nas cidades. “Mais uma

vez o Estado monopolizava a administração do ensino, sem advertir que, restaurando os antigos

comissariados e escravizando a escola aos interesses de um estreito partidarismo, inutilizava, num

momento, todo esse laborioso e fecundo trabalho de alguns anos” (SANTOS, 1908: 513). A

reforma de 1897 manteve as disposições da de 1894. Finalmente em 1901 uma nova reforma vem

introduzir algumas modificações na estrutura do ensino Primário do país, numa altura em que o

analfabetismo ainda rondava os 78% e nos colocava na cauda dos países europeus (BÁRBARA,

1979: 77). Mantém a divisão do ensino em dois graus e obrigatório e gratuito para as crianças dos

dois sexos, dos seis aos doze anos. Estavam isentos os que morassem a mais de dois quilómetros de

distância de uma escola gratuita, pública ou particular, permanente ou temporária (art. 3º, nº 3).

As Escolas Primárias deviam funcionar em edifícios próprios e adequados. As

características dos edifícios eram especificadas “devendo situar-se em sítio central e de fácil acesso,

evitando-se, porém, todas as vizinhanças perigosas, incómodas e insalubres”. A sala de aula deveria

estar convenientemente apetrechada de material didáctico: carteiras, quadro negro, mapas parietais,

colecções de pesos e medidas, etc.

serem propriedade particular, foram já reprovadas pelo subdelegado de saúde, pois que não satisfariam as mais

rudimentares condições higiénicas, comprometendo-se este município e a junta de paroquia da freguesia de Atei à

cedência gratuita do terreno para as referidas edificações, deliberando esta câmara se procedesse à venda de terrenos

baldios municipais, até o seu produto perfazer a quantia de quatrocentos mil réis, afim de ser aplicada em auxiliar o

governo na construção das referidas casas de aulas”.

107

Para esses fins foi criado junto da Direcção Geral da Instrução Pública a Direcção técnica

das Construções Escolares, que tinha por missão estudar, mandar construir, administrar, fiscalizar,

conservar e instalar os edifícios escolares (art. 381º).

Foi criada a Inspecção sanitária escolar que era exercida por inspectores sanitários escolares e

pelos delegados e subdelegados de saúde, que tinham por missão a fiscalização dos edifícios

escolares.

É com base nesta reforma que finalmente será dado o empurrão para a construção dos edifícios

escolares de Mondim e Atei47

.

A 20 de Abril em sessão ordinária delibera-se sobre o orçamento da câmara para esse ano,

onde se especificam as verbas a gastar com a desejada construção.

A 18 de Maio de 1904, um oficio do engenheiro Adães Bermudes, “arquitecto director da

Direcção das construções escolares, em Lisboa”, solicitava à câmara que depositasse na Caixa

Geral de Depósitos, a crédito do fundo de Instrução Primária, a quantia de quatrocentos mil réis,

com que a câmara deliberou concorrer para a construção da escola primária do concelho....

Finalmente iniciava-se o processo que levaria à construção do edifício escolar de Mondim.

Para além daquela quantia era também inscrita na rubrica de “Despesas” a importância de 200$000

réis destinados à aquisição de mobiliário para apetrechar a nova escola, já em construção. Ainda

neste mesmo ano a 28 de Dezembro a câmara “deliberou pagar cinquenta e quatro mil quinhentos e

quinze réis a Avelino da Costa Machado, desta vila pela aquisição da mobília para as novas

escolas”. Com esta despesa, que foi gasta na aquisição apenas de cadeiras e mesas novas, a situação

financeira da câmara ficou bastante debilitada. De facto, logo no início do ano seguinte, a 25 de

Janeiro, é recebido um “ofício do Inspector pedindo que a câmara disponibilize com urgência uma

verba de cento e cinquenta mil réis destinada à aquisição de mobília e material de ensino para as

escolas deste concelho. E que sendo conveniente que aquela verba tenha o mais breve possível a

devida aplicação legal, rogava se providenciasse nesse sentido... “. Inteirada deste pedido urgente, a

câmara deliberou não dar qualquer resposta ao aludido oficio alegando falta de verbas (ACMM:

Acta de 25 de Janeiro de 1905. Livro de Actas nº 1, pág. 174 e 174v).

A 23 de Maio de 1906, o mesmo arquitecto, oficiava de novo a câmara dizendo que “o

edifício destinado a escolas primárias oficiais, que o governo mandara construir na vila, sede deste

concelho, ficava a partir desta data á disposição desta câmara municipal, para nele serem instalados

os serviços a que fora destinado. Deliberou mandar proceder à entrega das chaves às respectivas

professoras, a fim de se instalarem no respectivo edifício, bem como se fizesse entrega a cada uma

47 O cálculo para as despesas e receitas foi apresentado na reunião camarária de 29 de Novembro de 1902 e a especificação das

contas aparece no livro de Receitas e Despesas da Câmara nesse mesmo ano a páginas 70 a 72 verso.

108

a mobília e material escolar que esta câmara ultimamente requisitou para as escolas desta vila,

entregando-se a cada professora metade dessa mobília e material, à excepção das carteiras, as quais

seriam todas para a escola do sexo feminino, visto que, pelo seu tamanho, serem mais adequadas

para esta escola, providenciando-se oportunamente de forma a serem fornecidos à aula de sexo

masculino as carteiras que se tornarem necessárias para o regular funcionamento da mesma aula”.

Finalmente, 134 anos após a criação do ensino primário oficial em Mondim de Basto, era

inaugurado o primeiro edifício construído de raiz para o efeito. Este, hoje ainda em óptimas

condições - devido ao zelo camarário -, obedecia aos requisitos exigidos. Assim, localizado de

frente para a novíssima Rua Nova, desanexada dos terrenos do Olival do Senhor, a escola dispunha

de dois pisos, o primeiro com duas salas de aula com entradas distintas e o piso superior com duas

casas de habitação. Nas traseiras ficava um espaçoso pátio coberto onde as crianças podiam brincar

ou esperar pela chegado do professor. À volta da escola respirava-se silêncio dado que mais

nenhuma habitação aí existia. Cumpria-se o disposto na Reforma de 1901.

Quadro nº 20. Receitas e despesas da Câmara Municipal para a Educação (1901 a 1904).

RECEITAS ANO DESPESAS ANO

557$090

1901 - Da receita da câmara e fundo da extinta

confraria de Nª Srª. do Rosário - 557$090

- Produto das percentagens de 15%

sobre as contribuições do Estado - 414$210

1901

-

844$419 ( inclui 400$000 reis que se espera da venda de terrenos

baldios )

1902 “ “ “ - 844$419

- Inclui o subsídio ao Estado para a construção

das escolas primárias da vila e de Atei - 400$000

1902

- 1.295$690 1904 Compra de mobília para as novas escolas - 200$000

De acordo com a lei -1.295$690

1904

Fonte: ACMM: Ano de 1901, Livro de Receitas e Despesas pág. 10 e ss. /// Ano de 1902, o mesmo livro pág.

70 a 72v. //7 Ano de 1904 o mesmo livro a pág. 137 e ss.

5. 2 – Atei.

Vê ser-lhe atribuída a escola primária oficial por decreto de Dª Maria Iª em 1779. O

primeiro professor toma posse em 1785 começando a dar aulas num prédio pertencente à Confraria

das Almas. E assim será durante décadas. Um decreto de 8 de Novembro de 1876, vai permitir um

alargamento do ensino em Atei. De facto, esse decreto vinha finalmente criar uma escola do sexo

feminino, há muito desejada. Contudo só em reunião extraordinária de 10 de Novembro de 1878 a

Junta de Paróquia sob a presidência do Doutor Manuel Augusto Pereira e Cunha, estando presente

o regedor António de Oliveira Teixeira da Mota e os vogais José António Machado e Moura,

109

Manuel José Machado e Manuel Joaquim de Moura Guerra se decidia que “era urgente arranjar

casa e mobília para a instalação da escola (feminina) e por isso há na despesa uma verba para esse

fim...”.

Contudo, mais dois anos se passam sem que se volte a falar na escola feminina e só a 4 de

Abril de 1880 Sob a presidência do mesmo Doutor Manuel Augusto Pereira e Cunha e dos

mesmos vogais, a Junta de Paróquia voltava a reunir extraordinariamente para deliberar “sobre a

escolha dos terrenos mais convenientes para as escolas de ensino primário, em conformidade com a

circular do Ministério do Reino datado de dezoito de Dezembro último”.

Depois de alguma discussão a Junta resolveu por unanimidade que “as casas de escola

fossem edificadas no lugar de Souto Maior, sendo escolhido para a escola do sexo masculino,

habitação do respectivo professor e mais dependências da escola, o terreno em que está edificada

uma casa do padre Manuel António Borges e o quintal anexo à mesma; e sendo escolhido para a

escola do sexo feminino o terreno onde está edificada a casa chamada Renda, pertencente a

Bernardo José Borges48

, no campo denominado da Renda, pertencente a Rafael de Oliveira

Marques, os quais terrenos têm capacidade suficiente, não só para edificação da dita escola, mas

também para habitação da professora mais dependências em conformidade com as instruções legais

sobre o assunto”.

O processo estava desencadeado e a 8 de Maio de 1881, de novo em reunião extraordinária,

sob a presidência de José António Machado e Moura e dos vogais ... o presidente disse que “era

urgente que a junta tratasse, em conformidade com as leis vigentes sobre o ensino primário, de

obter casa para aula e habitação da professora e mobília para a escola”49

.

A Junta autorizou o presidente a fazer a sobredita aquisição e pediu-lhe que logo que se

obtivesse a casa, fizesse a devida participação à “autoridade Administrativa a fim de que a cadeira

pudesse ser provida o mais breve possível”.

Apesar da boa vontade demonstrada pelo magnífico elenco que constituía a Junta de

Paróquia - o seu presidente era um famoso Juiz de Direito Internacional, e dois dos vogais eram

Bacharéis e importantes proprietários50

-, o processo não andava por manifesta falta de verbas nos

cofres da Junta, e disso se queixava esta à administração do concelho, a 15 de Maio de 1884

dizendo que estava sobrecarregada de “elevadíssimas percentagens das contribuições directas

municipais...e com as despesas com as escolas e outros serviços, como a derrama com a côngrua do

48 Nesta altura era na casa da Renda que funcionava a escola recebendo o seu proprietário 6$750 reis de renda, que lhe eram pagos

por altura da feira de S. Miguel.

49 AJFA: Actas de 10 de Novembro de 1878 e de 8 de Maio de 1881 da Junta de Paróquia de Atei.

50 - Numa altura em que as outras Juntas de Paróquia eram dominadas por padres, nenhum destes elementos o era, daí o ineditismo

da situação.

110

pároco... para cuja dotação não há bens próprios além da casa da residência e um insignificante

quintal”. Assim a forma de arranjar dinheiro seria, em asta pública, proceder à venda de alguns

baldios.

De facto tornava-se complicado construir um edifício escolar sem verbas próprias. Nesse

mesmo ano são inscritas – na rubrica sobre educação - como receitas para o ano económico

seguinte 27$193 réis e de despesa 29$500 réis.

Os problemas económicos subsistiam e a 5 de Maio de 1885 a Junta teve necessidade de

deliberar o lançamento de um adicional “às contribuições directas, industrial, pessoal e predial de

10% que eram de 900$000 réis e dava portanto 90$000 réis, para suprir o déficit que havia com as

despesas do ano anterior (estava incluída a verba que se iria gastar com o início da construção do

cemitério novo), e mais percentagem obrigatória para as escolas. Para estas previa-se uma receita

de 27$000 réis e uma despesa de 46$453 réis”, conforme podemos observar no quadro seguinte:

Quadro nº 21. Orçam. da Inst. Primária para o ano de 1886 na freguesia de Atei.

RECEITAS

DESPESAS

- 27$000 réis - Renda da casa da Escola e

Habitação da professora -13$500

- Renda da casa do professor - 6$000

- Recenseamento escolar - - 4$000

- Livros, papel e tinta para os

alunos pobres - 4$500

- Expediente do Delegado Paroquial -4$000

- Biblioteca Escolar -3$000

- Consertos na casa da escola -11$453

SOMA 27$000 SOMA 46$453

Fonte: AJFA, livro de Actas n.º 2.

Neste mesmo ano a Junta aproveitou para proceder a algumas obras na casa da escola

masculina tendo despendido a importância de 3$100 réis com a compra de telha, 11$453 réis em

consertos vários e uma quantia não especificada aplicada na aquisição de mobílias para a escola dos

dois sexos.

De 1886 a 1888, Mondim de Basto deixa de ser concelho, por reforma administrativa e é

integrado no de Celorico de Basto. Talvez por isso o processo da construção do edifício escolar

tenha regredido.

111

Só em Janeiro de 1992 - altura em que o presidente da Câmara de Mondim de Basto era

José António Moura Machado, antigo vogal da Junta de Paróquia de Atei -, se volta a falar na

construção do edifício escolar de Atei51

. (ACMM: livro de Actas nº 1: 26 e 26v ).

A 24 de Abril de 1903 a Junta de Paróquia levou finalmente à praça a venda de alguns

terrenos baldios pois precisava de arranjar 300$000 réis para com eles satisfazer as despesas a fazer

no auxílio da construção do edifício escolar.

A 13 de Janeiro de 1904, o professor da escola do sexo masculino de Atei oficiava a Câmara

Municipal dizendo que ”no edifício se deslocaram e quebraram algumas telhas, penetrando nela

água dos caleiros na sala dos exercícios em grande abundância, pedindo por isso providencias com

urgência”. A câmara deliberou mandar fazer os respectivos arranjos, mas era notório que o edifício

não devia reunir condições pedagógicas mínimas.

A 10 de Fevereiro do mesmo ano um oficio do Inspector Escolar dizia que o professor de

Atei pedia providências para que lhe fosse fornecida “ casa de habitação que não ameace ruína

eminente, como aquela em que ele tem habitado”. A situação ainda se irá manter por mais algum

tempo o que fará com que o professor abandone a escola sem disso dar satisfação a ninguém.

O novo edifício vê a sua construção ser iniciada em 1904, ao mesmo tempo do edifício

escolar de Mondim. Dois anos depois estará pronto, mas não começará de imediato a funcionar.

A 3 de Dezembro de 1908 o presidente apresentou à Junta um requerimento do empreiteiro

que construiu o edifício escolar no qual pedia que, “visto o edifício que tomou a seu cargo, estar

concluído há dois anos sem que até ao presente a Direcção que superintende naqueles serviços

tenham tomado conta do dito edifício, bem assim o não lhe ter pago todos os seus créditos em

dívida; como julga esta junta interessada no mesmo edifício, visto o ser por ela peticionado e ter

tomado sobre si vários encargos, a tomar uma resolução sobre o assunto, e , não tendo uma solução

favorável em tempo oportuno, julgar o edifício abandonado. Em vista do exposto, e julgando ele

presidente o assunto de alta conveniência para bem da instrução pública, pois que esta tem

ministrado e ministra em casas impróprias por não reunir as condições higiénicas, sendo esta a

causa em que se fundamentou a petição do referido edifício, em mil novecentos e dois, que nos foi

concedido. Assim decidiu a junta enviar pelas vias competentes a sua Majestade El-Rei, para que

pelo seu governo sejam dadas as necessárias conveniências”.

A 7 de Outubro de 1909 um oficio do sub-inspector comunicava que, lhe tinha sido entregue

“oficialmente nesta data o novo edifício escolar de Atei, e ordenara aos professores daquela

51 - A decisão da construção do edifício escolar de Atei é tomada em simultâneo com a construção do de Mondim em sessão de 22 de

Janeiro de 1902. Livro de Actas nº 1, pág. 26 e 26v.

112

freguesia que instalassem imediatamente essas escolas e habitação no novo edifício e que

devolvessem à câmara as chaves do edifício antigo”.

Em 15 de Setembro de 1910 o presidente, pároco Victorino Teixeira Pires, disse na reunião

da Junta de paróquia que tinha recebido um ofício “do professor oficial desta freguesia , Carlos da

Silva Barreira, cujo teor é o seguinte: “I. Senhor. Tendo-me sido oficiado, digo, ordenado por

ordem superior, a transferência da escola a meu cargo para o novo edifício escolar construído nesta

freguesia, queira Vª Exª tomar conta do edifício em que a mesma escola tem funcionado visto que

de Vª Exª recebi a chave quando para aqui vim”.

O novíssimo edifício era finalmente inaugurado às portas da revolução de Outubro. Ainda

hoje se mantém em funcionamento.

5. 3 – Bilhó.

Em documento52

muito importante existente no arquivo da Igreja Paroquial do Bilhó (APB

e anexo n.º 3), poderemos verificar que a escola de primeiras letras só foi possível aqui ser criada

por um legado oferecido em 23 de Dezembro de 1791 por António Martins Gil, ao tempo sargento-

mor do exército no Arraial de Santa Luzia dos Estados do Brasil, o qual legou a quantia de

seiscentos mil réis para que a escola pudesse funcionar. O documento refere também que o

ordenado do professor seria o dos juros daquela importância, ao tempo pagos a cinco por cento.

A responsabilidade da criação da escola, da manutenção e do funcionamento passava a ser da

Irmandade das Almas.

Em 8 de Fevereiro de 1825 o visitador José António de Madureira, verificou que a escola só

havia funcionado até 1797 e que a Irmandade das almas havia posto a render o dinheiro do legado e

revelado um grande desleixo na recolha dos juros. Assim, o visitador obrigava a Irmandade a pôr a

contabilidade bem organizada e em livro próprio e a escola novamente a funcionar e sem qualquer

interrupção, fosse por que motivo fosse, para além de que deveria fiscalizar se o mestre cumpria

zelosamente o seu dever. Contudo só a partir de 1830 a escola começou a funcionar, num edifício

pertencente à Irmandade e tendo por mestre o padre Luís da Cunha e Carvalho, o qual ficou com

um vencimento de 59$878 réis, vencimento sempre igual para todos os mestres que se seguiram.

Com este padre e professor irá passar-se uma situação muito caricata, denunciada pelo seu próprio

irmão de nome José da Cunha de Carvalho. Segundo ele, o padre Luís tinha um comportamento

52 Trata-se do livro de Receita e Despesa da Irmandade das Almas do Bilhó feito propositadamente para controlar o dinheiro do

legado referido. O livro tem a contabilidade organizada desde 1833 até 1888. Pertence à Igreja do Bilhó, onde se encontra

arquivado.

113

pouco recomendável pois vivia com uma concubina e, além disso, não “dizia as missas nos dias

santos abolidos”, “não dava escola, tendo arranjado quem a desse por ele mas só pagava ao

professor metade do ordenado, ficando com a outra metade” e “não contribuía com os 5$000 reis

para a igreja a retirar do citado legado, ficando também com eles”. Todo este estranho

comportamento se devia, segundo o seu próprio irmão, ao facto do padre ter enlouquecido. Verdade

ou não é que a escola lhe será retirada. As missas pode continuar a dizê-las mas só quando lhe

apetecia.

Sobre o edifício onde a escola funcionou ao longo do século XIX pouco sabemos, a não ser

que era um edifício em pedra, ainda hoje bem conservado. As primeiras despesas com o mesmo

aparecem apenas em 1865, ano em que se gastaram 5$720 réis para “envidraçar a casa da escola“.

Estamos perante um dado interessantíssimo dado que, como nesta região não se fabricava aquele

material tinha que vir de fora do concelho e bastante caro. Para além de que a substituição das

janelas em madeira por vidro, permitia assim um melhor arejamento da sala e uma maior

luminosidade, o que representava um avanço pedagógico importante. Só em 1878 se voltam a fazer

obras, agora sim de verdadeira remodelação dado que se gastam 12$000 réis em cal e areia, 61$000

réis com o pedreiro, 50$000 réis com o carpinteiro, 22$220 réis com o caiador, 31$000 em telha e

$300 réis em papel53

.

Em 1868 no mesmo edifício começa a funcionar a Escola Nocturna. Em 1883 gastam-se

1$000 com o recenseamento escolar e 2$000 em correntes para a casa da escola. Em 1884 é

despendida a verba de 1$500 para alunos pobres e 1$500 em pequenos consertos Em 1885 são

gastos 2$000 com novo recenseamento escolar54

. Só em 1907, a 21 de Janeiro é dada autorização

para que a escola feminina pudesse começar a funcionar. À reunião da Câmara de 15 de Maio é

levado um ofício do presidente da Junta de Paroquia da freguesia do Bilhó, “de vinte e nove de

Abril último, rogando, afim de poder responder a um oficio do senhor sub-inspector, se lhe dissesse

se esta câmara arrendava casas para a escola daquela freguesia, criada em vinte e um de Janeiro de

mil novecentos e sete, devendo ser posta a concurso logo que haja casa e mobília. A Junta de

Paróquia concordava que a casa fosse arrendada ao senhor Manuel da Silva, casado, daquela

freguesia, feitos os devidos consertos. A Junta com bastante sacrifício fornecia a mobília e

utensílios escolares. Deliberado arrendar casa para a referida escola e habitação do respectivo

professor, que se encontre em melhores condições e cuja renda seja razoável, autorizando-se a

53 Do livro nº 1 de “ Receitas e Despesas “ da Irmandade das Almas, da Igreja do Bilhó.

54 AJFB: Estas despesas foram efectuadas pela Junta de Paróquia, conforme podemos ver no livro de Receitas e Despesas nº 1 da

mesma junta.

114

celebrar com os arrendatários o respectivo contracto de arrendamento” (ACMM, livro de Actas nº

2: 55 e 55v).

5. 4 – Anta e Bobal.55

Lugares da freguesia do Bilhó, mas desta afastadas por agreste serrania.

Por volta de 1890 decidiu o povo da Anta que também era merecedora de ter uma escola.

O senhor Francisco Ribeiro, a conselho do padre António, resolveu contratar uma “mestra” para

ensinar as crianças do lugar. Informado por familiares que possuía no couto de Adoufe, Vila Real,

foi encontrar essa “mestra” na povoação de Fortunho, da freguesia de S. Tomé do Castelo, naquela

cidade. Tratava-se de Maria das Dores Alves de Carvalho, de 15 anos de idade, com exame feito

com distinção e admissão.

Mais tarde, já adulta, fixou-se no Bobal, em casa de Bernardo da Silva, compadre do padre

António, o qual terá um papel importante na criação da escola neste lugar. Aqui vinham receber

lições alunos de Pioledo e Cavernelhe, para além dos da Anta e do Bobal.

A remuneração paga à “mestra” era por conta dos pais dos alunos os quais tinham que lhe

entregar anualmente um alqueire de centeio ou de trigo, por aluno. Havia desconto para os pais que

tivessem mais que um filho a estudar.

Nunca casou. Porque não o fez? Porque precisava de manter uma imagem de

respeitabilidade ou porque nunca encontrou ninguém com quem partilhasse ideias e interesses

comuns?

Para o lugar da Anta foi entretanto contratada a senhora Patrocínia Alves Teixeira, natural

de Ermelo, mas a residir na povoação de Dornelas, Lamas de Olo.

Antes de se desligar deste lugar, esta professora conseguiu requerer um Posto Escolar para

onde iriam ser destacadas as futuras Regentes Escolares.

Estávamos nos alvores do Estado Novo.

Em 1937 era então criado o Posto Escolar da Anta, cabendo no entanto à autarquia

providenciar no que respeitava a instalações, o que representava um problema. O senhor Ribeiro

disponibilizou então uma casa devoluta onde o povo, no qual se destacou o senhor José Carvalho,

fez as obras indispensáveis, sem receber qualquer salário.

O Posto funcionará até 1952, altura em que o Ultramar e algumas agências bancárias

aliciam os jovens professores, eternamente mal pagos, com melhores salários. O Posto é fechado

55 Agradecemos as informações prestadas por Joaquim de Carvalho, colaborador de vários jornais locais e investigador de temas

mondinenses.

115

por falta de candidatos, facto que é aproveitado pelo actual proprietário do edifício, António

Gonçalves Ribeiro, para tomar conta do mesmo, apesar dos pais dos alunos sempre lhe terem pago

a respectiva renda.

Fechava-se um ciclo. A terra nunca mais voltará a ter escola pois a futura será erigida no

lugar do Pioledo. Mas, seja como for, nunca compreenderemos a evolução da história da educação

em Mondim de Basto se não nos debruçarmos sobre o papel desempenhado por estas abnegadas

educadoras.

5. 5 – Ermelo.

Vê ser-lhe atribuída uma cadeira de primeiras letras por Dª Maria Iª pelo mesmo decreto

que também criava a de Atei. Como não dispunha de edifício próprio a Administração do Concelho

alugou uma casa para o efeito. Tal como em muitos lugares a casa da escola era a própria casa do

professor. Essa situação vai manter-se até 1853, ano da extinção do concelho. A partir daqui a Junta

de paróquia começa a pensar fazer obras na desanexada casa da cadeia para a converter em edifício

escolar. As obras só começarão em 1874 e até 1881 serão gastos 130$050 réis em “carpinteiros,

madeiras, ferragens e vidros e 11$025 réis no carreto de pedra”. Após concluídas as obras o velho

professor, padre José Bernardino da Fonseca56

não aceita mudar-se para o remodelado edifício,

continuando a dar escola na sua residência e exigindo continuar a receber a respectiva renda, que

era de 5$000 réis, o que irá enfurecer o presidente da Junta de Paróquia, Manuel José Gonçalves

Peixoto, o qual decidiu que a partir de 1882 não pagaria mais rendas ao citado professor, alegando

que, como ele era da terra não precisava do dinheiro da renda. Contudo nesta polémica o professor

acabou por vencer e continuou a recebê-la.

Quanto ao material pedagógico utilizado são parcas as referências. Só ao tempo do

professor Homero Peixoto é que encontramos a 19 de Novembro de 1902 um oficio do

administrador do concelho comunicando “ter-lhe o sub-inspector deste círculo escolar oficiado que

o professor oficial de Ermelo comprara, para a aula que dirige, um mapa de Portugal na

importância de quatro mil trezentos e quarenta réis e uma colecção de sólidos geométricos na

importância de três mil cento e cinquenta reis, para o que pedia o respectivo pagamento. Pedia

56 Este padre era professor desde 1837, altura em que substituiu o professor régio Joaquim José da Costa. Este pediu a sua

substituição a 15 de Janeiro de daquele ano através de ofício enviado à câmara Municipal de Ermelo. ADVR: Livro de Actas de

Vereações de Ermelo de 1834-1842 pág. 101 e 102.

116

também o respectivo professor que a câmara lhe fornecesse com urgência uma cadeira para seu uso

na regência de aula”57

.

A primeira referência à criação da escola feminina surge apenas em 1888. De facto, a 24

desse mês, a Junta de paróquia reunida em sessão extraordinária a pedido dos moradores da mesma

freguesia deliberou pedir com poderes competentes a criação de uma escola primária do sexo

feminino fundamentando a sua petição nas seguintes razões: “é esta freguesia de Ermelo uma das

mais populosas do concelho e uma das mais contributivas e das que melhor paga para as despesas

do estado e do município e tendo para cima de cento e setenta crianças o sexo feminino na idade

escolar não há, infelizmente, aqui uma única pessoa habilitada para poder confiar-lhes a educação

literária dessas crianças. E as escolas mais próximas desta freguesia são a de Mondim que está para

cima de quinze quilómetros e Atei que fica para cima de dezoito, e depois são os concelhos de Vila

Real ou Amarante, e quem poderia mandar umas crianças para essas distâncias com todos os seus

inconvenientes e despesas que andam juntas e tantas pessoas que são absolutamente pobres ...e

porque hoje mais que nunca uma mulher necessita de boa e sólida administração de sua casa e para

a educação de sua família mas e muito principalmente para que com a sua ilustração ... seja uma

mulher piedosa, bem educada, boa filha, boa esposa e boa mãe e que pode salvar a sociedade ....

Por tudo isto é que a junta de paróquia desta freguesia deliberou pedir a bem merecida graça da

criação para aqui de uma escola para o sexo feminino comprometendo-se pela sua parte a dar casa e

mobília para a escola e casa para a professora... desta sessão se lavrou a respectiva acta de que se

dará uma cópia ao administrador suplicando-lhe a graça de a fazer chegar ao seu destino. Ermelo,

24 de Dezembro de 1888“.

Apesar deste arrebatador discurso - a que não seria estranho o facto de estarmos em

vésperas de Natal -, seis anos se passariam sem que a desejada escola fosse criada. Só em Maio de

1894 a Junta volta à carga em reunião de 12 desse mês sob a presidência do abade Luís António

Machado e Cunha foi por este dito que era urgente: “... pedir a criação de uma escola do sexo

feminino, obrigando-se esta junta a dar casa para a escola e habitação da professora, mobília e mais

utensílios; e achando-se o respectivo processo pendente da informação municipal, propunha se

levasse ao conhecimento da câmara que era uma necessidade a criação da dita escola do sexo

feminino... a junta deliberou assegurar com permanência aqueles fornecimentos oferecendo para já

a casa de Bernardo Cordeiro da Costa situada no lugar de Caneiras”.

A 3/12/1894 a Junta reuniu com a presença de Bernardo Cordeiro da Costa, proprietário,

desta freguesia, dono da casa escolhida para a escola e habitação da professora e por este foi dito

57 ACMM: Ofício transcrito na acta da reunião de câmara de 19 de Novembro de 1902. Livro de Actas nº 1, pág. 60 e 60v.

117

que arrendava a dita casa, reservando para ele a adega a qual é sita no lugar das Caneiras e

confronta de nascente e norte com terras do mesmo, sul com o caminho, poente com herdeiros de

José Bernardino da Fonseca, pelo tempo de três anos, os quais serão contados desde o dia em que a

escola for eleita, pela quantia de nove mil réis anuais, sendo a conservação e reparação da mesma

casa feita pela Junta como é de lei e costume o que a junta aceitou...

Ora, passando a escola feminina a funcionar ao lado da adega, do lagar de azeite e das

alfaias agrícolas, bem como pertinho dos animais, facilmente deduzimos estarmos perante um

edifício bolorento da humidade, desconfortável, frio, paredes húmidas e negras de fumo e um

recreio exíguo. Mesmo assim a escola funcionará aqui alguns anos. Para esta escola não

encontramos referências ao material didáctico utilizado.

5. 6 – Fervença.

A freguesia de Ermelo está geograficamente muito dispersa, possuindo povoados a cinco

e mais quilómetros de distância, o que é um factor muito inibidor da frequência escolar dos jovens

que a desejariam ter. Assim, apercebendo-se dessa situação, a Junta de Paróquia deseja a instalação

de outra escola primária, do tipo mista, num dos povoados afastados do centro da freguesia. Em

reunião de 17 de Agosto de 1902, o presidente da Junta, padre José Paulino de Carvalho Peixoto

disse: “que por conhecimento próprio sabe a falta de instrução que há nos povos de Fervença,

Barreiro, Varzigueto e Assureira desta freguesia, motivada pela distância a que se encontram da

sede das escolas da mesma, sendo a do lugar mais próximo de cinco quilómetros e as outras daí

para cima até dez, acrescendo ainda que estas distâncias são sempre por caminhos ásperos,

montanhosos e difíceis, especialmente na estação invernosa por causa da neve e cheias dos ribeiros

que são completamente intransitáveis e ainda por outras razões sendo a mais importante a grande

vantagem que há em combater o analfabetismo em Portugal e derramar a instrução popular que,

nestes povos é importante como se vê do recenseamento escolar, em virtude de que esta junta devia

tomar isto na devida consideração, informar a câmara municipal de que é de toda a justiça a criação

de uma escola com sede na Fervença e convidar os habitantes daquelas povoações a levar neste

sentido uma representação a sua majestade”.

Sabendo da proposta, o administrador pediu que a Junta tendo em atenção o disposto no

artigo nº 102 da parte terceira do regulamento geral de ensino primário, o informasse do número de

crianças em idade escolar e da razão porque optavam pelo lugar da Fervença para a instalação da

escola. A Junta reuniu em sessão extraordinária e deliberou informar que a referida escola deveria

ser mista com sede na povoação da Fervença por ser a mais populosa e central e que “o número de

118

crianças em idade escolar é de cinquenta e nove como consta do recenseamento escolar que vai

junto”.

A 27 de Agosto do mesmo ano o vereador da Câmara Municipal, padre José Paulino

Carvalho Peixoto (sobrinho), assumindo-se como interprete dos habitantes dos lugares da Fervença,

Barreiro, Varzigueto e Assureira, da freguesia de Ermelo deste concelho, informou os restantes

membros de “que tinha sido presente uma representação a El-Rei pedindo a criação de uma escola

mista com sede na povoação da Fervença, afim de que a câmara não só a fizesse chegar ao seu

destino, mas também que se associasse a esta justa aspiração dos referidos povos” (ACMM, livro

de Actas nº : 53 - 53v).

A câmara, em sessão de Outubro de mil novecentos e dois, deliberou arrendar casa para a

escola e a 18 de Fevereiro do ano seguinte o Inspector da terceira circunscrição Escolar do Porto

pedia à câmara que, dado que esta havia tomado a “responsabilidade de fornecimento de casas para

escola e habitação da respectiva professora e mobília escolar para a escola mista de Fervença e não

tendo tomado o compromisso pelo fornecimento de utensílios escolares, vem rogar para que a

câmara tome este compromisso”58

. Acrescentava o mesmo pedido para as escolas mistas de

Pardelhas e Vilar de Viando. A câmara decidiu aprovar o pedido, mas só em 1903 dará inicio a este

processo e bastante precipitadamente, pois deu ordem para se alugar uma casa, pelo prazo de dez

anos, o que desagradou ao inspector escolar, pois por um lado não tinha sido informado da situação

e por outro o preço da renda estabelecida era demasiado elevado para a qualidade da casa. Assim,

em Janeiro de 1905 comunica dizendo que a escola de Fervença não podia ser criada “sem que

antes se arranjem casas para as aulas em melhores condições e mobílias e utensílios escolares, de

maneira que tudo se satisfaça quanto possível ao exigido nos artigos trinta e sete, trinta e oito e

trinta e nove do regulamento de dezanove de Setembro de mil novecentos e dois e logo que esteja

feita tal aquisição lhe seja comunicada afim dele ordenar a indispensável vistoria” (ACMM, livro

de Actas nº 2: 174 - 174v). O problema revelou-se inultrapassável e só a 30 de Dezembro de 1910,

já em período republicano, é que a Câmara assina um contrato de arrendamento com o senhor

Manuel da Costa Dias, por uma renda anual de 25$00. O edifício oficial só será construído em

pleno período Salazarista.

5. 7 – Paradança.

58 ACMM: Oficio nº 855 de 9 de Fevereiro de 1903. Livro de Actas nº 1, pág. 81v e 82.

119

Escola criada em fins do século XIX começa por funcionar numa sala pertencente à igreja

local e só para rapazes. Assim continuará até 1905, altura em que houve necessidade de transformar

a escola masculina em escola mista, o que fez com que a sala de aula no pavilhão paroquial se

revelasse exígua e houvesse necessidade de arrendar uma casa com melhores condições de

funcionalidade. Assim, após obter autorização superior, decidiu a Câmara Municipal arrendar “casa

de escola do sexo masculino e habitação da professora pelo prazo de dez anos ao senhor José Alves

Ribeiro Pereira, pelo preço anual de 15$000 réis. A professora é oficiada desta situação e enquanto

aguarda autorização para se mudar para o novo edifício continua a dar escola na Igreja, o que vai

fazer ainda nos quatro anos seguintes. Tendo conhecimento desta situação o presidente da Junta de

Paróquia e ao mesmo tempo padre da freguesia, António Gomes Ribeiro, aproveitou a reunião da

Junta de 3 de Outubro de 1909 para dizer que “era necessário retirar a consentimento tácito da

Exma. professora oficial da aula na sala das sessões da Junta de Paróquia, visto constar, estar

arrendada uma casa para habitação e escola oficial e precisando a Junta da sala para as sessões e

guardar os utensílios da Igreja para cujo fim foi construída” (AJFP). Finda a reunião o presidente

dirigiu-se à sala da escola e num acesso de cólera mal contido, derrubou a porta da sala a pontapé e

expulsou professora e alunos da mesma. Esta de imediato envia um ofício ao sub-inspector do

círculo escolar de Vila Pouca de Aguiar onde considera “de uma inqualificável violência, punível

por lei, a atitude tomada pelo pároco António Gomes Ribeiro, atitude essa que só prejudica os

serviços da instrução pública”.

Prometia o sub-inspector iniciar um processo de investigações para apurar a verdade e para

isso contava com a colaboração da Câmara Municipal.

Ouvido o pároco este declarou que se constava que, além da casa arrendada, havia uma

segunda onde a professora habitava e assim, com duas casas arrendadas não havia necessidade de ir

dar aulas para a igreja.

As suspeitas do pároco eram bem fundamentadas dado que no mês de Novembro de 1909

José Alves Ribeiro Pereira, casado, proprietário, do lugar e freguesia de Paradança, envia um

requerimento à Câmara em que se queixa da falta de cumprimento do contracto de arrendamento

para a casa da escola da mesma freguesia, efectuada com esta câmara em vinte e sete de Setembro

de mil novecentos e cinco, pois tem a casa devoluta e demais ultimamente não lhe tem sido paga a

renda, acrescendo ainda a circunstância de nem ao menos haver outra casa para escola; porque

aquela em que a professora vive apenas tem aposentos para dormir e cozinha e a que tem servido de

sala de aula, por benevolência da Junta de Paróquia, além de não ter as condições necessárias, não

mais pode ser utilizada para tal fim, visto que a dita junta, cansada de reclamar em vão, resolveu-se

a proceder tirando de lá para fora a mobília escolar. Deliberou por maioria, visto o senhor vereador

120

padre Miranda declarar neste acto abster-se de dar o seu parecer por não conhecer bem tal assunto

pois que tendo-se já oficiado nesse sentido ao subinspector e lhe enviado cópia do contracto de

arrendamento que está superiormente aprovado e sendo do inteiro conhecimento dele estes factos

se comunique também os mesmos ao governador civil e inspector do Porto... afim de que suas

excelências se dignem providenciar para que a autoridade desta câmara seja mantida e respeitados

os legítimos direitos do interessado e dos escolandos” (ACMM, livro de Actas nº 2: 149-149v e

150).

O subinspector informou que a inspecção não havia sido solicitada para fazer a prévia

vistoria, condição indispensável para que o edifício pudesse ser ou não alugado.

O pároco extremamente irritado leva o assunto para o jornal local “O progresso de Mondim”

onde o seu director, também padre, faz a defesa do colega aproveitando para criticar os políticos

que considerava uns verdadeiros incapazes59

.

A 1 de Dezembro de 1909 um oficio do Inspector Escolar do Porto, informava que, “depois

de colhidas as necessárias informações e que não tendo a casa arrendada para a escola e habitação

da professora de Paradança sido vistoriada, não podia este autorizar para ali a mudança nem tão

pouco abonar a respectiva renda” (ACMM, livro de Actas nº 2: 152 -152v).

A troca de acusações, por um lado, e de correspondência por outro, acabou por dar os seus

frutos. A Câmara acabou por resolver a delicada situação a contento de todos e a escola pode

finalmente mudar de casa.

5. 8 – Vilar de ferreiros.

Encontramos poucas referências à criação da escola nesta paróquia. Cremos que a mesma

terá começado a funcionar no ano lectivo de 1881/ 82 pois que no livro número 1 “Termos de

Exame” de 1882 a 1894 existente no arquivo da câmara municipal de Mondim encontramos 1

aluno de Vilar de Ferreiros, de nome Cândido Teixeira de Morais – futuro professor -, a fazer

exame no dia 25 de Maio de 1885.

Sabemos também que a Junta cumpria a legislação relativa ao recenseamento escolar, pois

encontramos, em razoáveis condições de conservação, o livro número 5: “Livro de Recenseamento

das Crianças em idade Escolar” do ano de 1884/1885. Trata-se do livro de recenseamento das

crianças do sexo feminino. São 115 meninas em idade escolar, o que reforça a ideia já aceite do

59 In “ O Progresso de Mondim”. Novembro de 1909.

121

elevado número de crianças em idade escolar existentes em todo o concelho. Destas 115 crianças,

91 eram filhas de Lavradores, 21 de Jornaleiros, 2 de Alfaiates e 1 de Carpinteiro.

No livro nº 2 “Contas da Junta de Paróquia” 1864-1927 encontramos em despesas relativas

ao ano económico de 1888 a seguinte rubrica: “deu-se a Domingos José de Oliveira pela mobília

escolar, mesas, banco e quadro a quantia de 8$465 réis”.

5.9 – Vilarinho.

Lugar da freguesia de Vilar de Ferreiros vê o ensino primário oficial ser-lhe atribuído em

1898. Sem edifício próprio, é um importante proprietário da terra, Alfredo Alves de Morais, quem

cede a título gratuito uma casa para o efeito. Punha como única condição que a Câmara Municipal

procedesse a obras de carácter urgente, na referida casa. Pagava do seu próprio bolso a primeira

mobília para equipar a escola. No livro nº 2 da junta de paróquia de 1864 a 1927 de Vilar de

Ferreiros, encontramos uma folha solta e sem data do seguinte teor: "Importância paga pelo

secretário da Junta de Paróquia Alfredo Alves de Morais para a mobília da escola de Vilarinho:

27$630 réis”. Este procedimento repete-se muitas vezes. O citado secretário adiantava

frequentemente dinheiro do seu próprio bolso para pagar as despesas com a educação e outras, para

mais tarde exigir os empréstimos de volta.

Os anos passam e as obras terão que ser feitas pelo próprio proprietário, dado o alheamento

da câmara, o que faz com que aquele a 18 de Janeiro de 1905 envie à câmara um requerimento em

que refere que “tendo ha sete anos cedido um seu prédio urbano para o fornecimento da escola do

sexo masculino do referido lugar, gratuitamente, e tendo o mesmo prédio obrigado o suplicante a

repetidos consertos, que lhe tem montado em grandes despesas, que não podia custear sem

remuneração, requeria que lhe arbitrassem uma renda anual, como a todas as demais instalações

escolares, afim de assim poder obviar aos encargos que lhe advêm. Deliberou deferir ao pedido no

presente requerimento arbitrando a quantia de dez mil réis de renda anual pela dita casa, exarando

um voto de louvor e agradecimento ao requerente pela cedência gratuita da referida casa para

escola, até á presente data (ACMM, livro de Actas nº 1: 172-172v).

Um ofício do subinspector de Vila Pouca de Aguiar não permite, contudo, que se faça

aquele pagamento pois alega que o proprietário cedeu a casa a título gratuito.

A 23 de Junho de 1909, o proprietário agora vereador da câmara propôs que “se

representasse ao governo de sua Majestade para que a escola do sexo masculino do lugar de

Vilarinho, freguesia de Vilar de Ferreiros, deste concelho, seja convertida em mista” (ACMM, livro

de Actas nº 2: 135v e 136).

122

A 27 de Outubro de 1909 chegava um ofício do Inspector da terceira circunscrição Escolar

do Porto participando que, “havendo esta câmara solicitado a conversão, em mista, da escola do

lugar de Vilarinho, e mostrando o recenseamento, que há cinquenta e duas crianças de sexo

masculino, que podem frequentar essa escola, vinha declarar que tal conversão não podia ter lugar

e que seria preferível pedir a criação de uma escola para o sexo feminino, visto haverem trinta e

nove crianças desse sexo que a podem frequentar”(ACMM, livro de Actas nº 2: 147-147v).

A 19 de Outubro de 1910, decidiu a câmara, na presença do vereador e proprietário, Alfredo

Alves de Morais “que é de inteira justiça pagar-se a renda da casa da escola de Vilarinho ao

respectivo proprietário porquanto da escrituração desta câmara não consta o mesmo tê-la cedido

gratuitamente, como refere o subinspector”. A decisão foi aprovada por todos os presentes

(ACMM, livro de Actas nº 2: 188).

5. 10 – Campanhó, Vilar de Viando e Pardelhas.

Estes três lugares seguem um trajecto comum na criação das respectivas escolas primárias.

Assim, a 27 de Agosto de 1902 o vereador Joaquim António do Nascimento Dinis, como interprete

dos povos de Vilar de Viando, freguesia de Mondim, considerava justas e inadiáveis “as

necessidades destes povos”. Deliberou a câmara “fazê-las chegar ao seu destino por intermédio do

Ilustre chefe deste distrito, Excelentíssimo Senhor Governador Civil, a quem rogará os seus

melhores ofícios perante o governo de sua Majestade para o conseguimento de uma aspiração tão

justa, franqueando desde já, caso sejam criadas as duas escolas, a mobília para a boa instalação e

funcionamento das mesmas”. Apenas foi autorizada a criação da escola do sexo masculino, e por

ofício do inspector da terceira circunscrição do Porto deveria a câmara mobilar a casa da professora

e da escola. Em Outubro de 1902 vão à reunião de câmara duas representações das Juntas de

Paróquia das freguesias de Campanhó e Pardelhas pedindo a criação de duas escolas mistas com

sede nas referidas freguesias. A câmara decidiu aprovar o pedido, e inicia o processo respectivo.

A 8 de Abril de 1903 um oficio do Inspector participava à câmara para que “se digne

mandar preparar as respectivas casas, mobílias e utensílios escolares... para as escolas mistas nas

freguesias de Pardelhas e Ermelo (lugar da Fervença) e informar a Inspecção logo que esteja

pronto. Um mês depois o mesmo inspector informava a câmara que tinha recebido “ordem superior

para proceder á vistoria das casas e mobílias escolares, destinadas ao funcionamento das cadeiras

que esta câmara pretende sejam criadas no lugar de Fervença e de Vilar de Viando deste concelho,

123

pede à câmara se as referidas casas e mobílias se acham já preparadas nas condições prescritas no

respectivo regulamento”60

.

Em 15 de Julho de 1903, Deliberou a câmara autorizar o senhor presidente a fazer” o

contrato de arrendamento duma casa para escola e habitação da professora da freguesia de

Campanhó, bem como a arrendar outra casa também para escola e habitação da professora do lugar

da Fervença, freguesia de Ermelo” (ACMM, livro de Actas nº 2: 104v ).

Em 25 de Janeiro de 1905 um “oficio do subinspector pedindo que lhe fosse enviado mapa

com o orçamento geral da despesa com a instrução. Deliberou a câmara aproveitar para informar o

subinspector de que nesta data vai rescindir o contracto de arrendamento das casas para as escolas

de Pardelhas e Fervença, não só por ser imensamente exorbitante a renda, que só manifesto

favoritismo por parte dos arrendatários a explica, mas também por se terem arrendado as ditas casas

pelo prazo dez anos, sem a competente autorização da estação tutelar, motivo por que tais rendas

devem ser excluídas do referido mapa” (ACMM, livro de Actas nº 2: 174 e 174v).

A 19 de Abril de 1905 por proposta do senhor presidente da câmara, foi deliberado se

representasse ao governo de sua Majestade, pedindo-lhe a conversão em mista da escola do sexo

masculino no lugar de Vilar de Viando, da freguesia de Mondim, o que veio a ser concedido

(ACMM, livro de Actas nº 2: 195 e 195v).

Embora lentamente, o mapa escolar mondinense desenvolveu-se e cresceu - sobretudo a

partir da reforma de R. Sampaio e à data da implantação da República todas as paróquias estão

servidas no tocante ao ensino masculino, - embora nem todos os lugares dessas paróquias tenham

escola -, o mesmo não se passando em relação ao ensino feminino. No entanto esta situação não

está isenta de algumas ambiguidades, a principal das quais diz respeito à incapacidade das

vereações camarárias e paroquiais não terem sido capazes de ultrapassar algumas deficiências

estruturais que emperravam o crescimento qualitativo do ensino. O resultado reflectia-se

principalmente na rede escolar que continuava precária de instalações.

E se a mudança de regime traz mais verbas para este sector, continua a verificar-se a

apetência para o aluguer de edifícios (quadro nº 22) em vez de se promover a construção de novos.

Teremos que esperar pelo Estado Novo para que isso aconteça.

60

ACMM: Ofício levado à reunião de 6 de MAIO de 1903:Livro de Actas nº 1, pág. 94 e 94v.

124

Quadro nº 22. Situação dos edifícios escolares em Mondim de Basto em 1915

LOCALIDADES NOME DO SENHORIO DATA DO

ARRENDAMENTO

RENDA

ANUAL

CAMPANHÓ José Ribeiro Peixoto 01.01.1911 10$00

ERMELO Homero Dias Peixoto 31.12.1910 30$00

FERVENÇA Manuel da Costa Dias 30.12.1910 25$00

PARADANÇA Alexandre Alves Ribeiro 31.12.1910 25$00

PARDELHAS António R. de C. Peixoto 31.12.1910 25$00

V. de FERREIROS Fernando A. Ferreiros 12.01.1911 25$00

VILARINHO Alfredo Alves de Morais 31.12.1910 25$00

VILAR de VIANDO Joaquim A. Diniz 31.12.1910 25$00

BILHÓ Nº 1 José Fraga Quiroga 26.07.1915 15$00

BILHÓ Nº 2 Irmandade das Almas 26.07.1915 15$00

Total 220$00

MONDIM (mas.) Edifício Próprio

MONDIM ( fem.) Edifício Próprio

ATEI ( masc.) Edifício Próprio

ATEI ( fem.) Edifício Próprio

Fonte: ACMM: Livro de registo das folhas das rendas de casas das escolas e habitações dos professores em Mondim

de Basto em 1915.

Chegados a este ponto do nosso trabalho em que desenvolvemos o mais

aprofundadamente possível o processo evolutivo do sistema escolar mondinense desde a sua

génese, passando pela consolidação até à universalização, importará agora questionar:

- Até que ponto a escola esteve presente no seio das populações e que influências exerceu sobre

elas?

- Quantos leitores, escreventes e assinantes, produziram?

- Que utilidade em saber ler, escrever e contar?

- Qual a evolução da população alfabetizada, segundo o sexo?

- Que relação entre o alfabetizado e a sua participação nos actos vitais (sociais e administrativos)

da paróquia?

- Em que profissões ou grupos socioprofissionais a que verificará uma relação directa entre o

grau de alfabetizado e o cargo que exerce?

- Até que ponto a que, num mundo de permanências e mudanças, a escola se revelou ao mesmo

tempo determinante e determinada?

- Em suma, que aproveitamento foi feito pela escola?

125

Os documentos que nos poderiam proporcionar respostas imediatas a essas questões são escassas

e até lacunares, fornecendo-nos apenas uma parte da informação pretendida. Mesmo assim optámos

por lançar mão a três tipos de fontes: traslados de testamentos, róis de jurados e censos de 1878

e 1890.

Sabemos que não há uma fonte privilegiada e que dê resposta a todas as interrogações por

nós aqui levantadas. Parece-nos que, pela análise das três poderemos constituir uma base

fundamental para as fases posteriores de observação, informação e análise.

Com estas três fontes constituiremos o capítulo seguinte ao qual damos o título genérico de

alfabetização em Mondim de Basto – na 2ª metade do século XIX.

126

3º Parte

A Alfabetização em

Mondim de Basto

2ª Metade do séc. XIX

127

1 – INTRODUÇÃO.

1- Este estudo representa uma análise tridimensional (Traslados de Testamentos de 1874 a

1900, Censos de 1878 e 1890 e Matrículas de Jurados de 1900 a 1911), que visa compreender a

dimensão do fenómeno da alfabetização e algumas das suas implicações a diversos níveis.

Naturalmente que uma resposta mais cabal só poderá ser dada com o cruzamento de outras fontes

(recenseamentos militares e eleitorais, manifestos de vinhos registos de casamentos, baptismos e

óbitos etc.). De qualquer modo procuramos ser criteriosos na análise das informações disponíveis

dado estarmos avisados de que “a história da Alfabetização se constrói com base em problemáticas

complexas” (MAGALHÃES, 1994: 248).

2- Metodologicamente recorreremos a análises seriais e quantitativas, cruzaremos as

informações numa perspectiva interdisciplinar, procurando dessa forma contribuir para a

explicação de um fenómeno que agora começa a despontar o interesse dos estudiosos portugueses,

principalmente aqueles mais ligados ao fenómeno da alfabetização.

3- Evidentemente que com este trabalho não pretendemos criar um modelo analítico como

garante científico das conclusões a tirar. Não, o que se pretende é desenvolver esforços no sentido

de - considerando a informação disponível - dar achegas para a compreensão do fenómeno da

alfabetização no mundo tipicamente rural de Mondim de Basto na 2ª metade do século XIX,

utilizando um processo que podemos considerar mais de indução que de dedução, que nos obrigará

a ter sempre alerta aquele espírito crítico para não nos deixar levar a considerar como certezas

coisas onde o grau de infalibilidade é grande e até porque sendo modestos os resultados, a maior

prudência estaremos sujeito.

4- Também não é objecto deste trabalho a análise da qualidade das assinaturas bem como

dos níveis de gradação em que as mesmas poderiam ser classificadas, dado que, nos traslados de

testamentos não aparece a assinatura nem do testador nem das testemunhas, apenas o tabelião

refere se o testador sabe ler e escrever, para poder assinar o respectivo nome, e quanto às

testemunhas era obrigatório por lei saber ler. O tabelião, por conhecer pessoalmente a testemunha,

podia aceitar o símbolo “cruz” como assinatura da mesma. Os censos também não referem a

qualidade das assinaturas e as listagens de Jurados também nada nos dizem a esse respeito.

5- A assinatura é utilizada nos testamentos como factor de distinção entre assinantes,

assinantes de cruz e não assinantes. A contagem destes três tipos, apesar de resultar de um trabalho

laborioso e cuidado produziria conclusões muito mais interessantes e animadoras se confrontadas

128

com outros documentos de natureza diferente que nos permitisse mais do que uma única

observação de cada sujeito.

6- Neste trabalho só vamos considerar como alfabetizados os indivíduos que estão

habilitados para utilizar minimamente a leitura e a escrita, sem entrarmos em consideração com

níveis mais elevados dado que as fontes que vamos utilizar apenas referem se os indivíduos “sabem

ler, sabem ler e escrever”, segundo os censos, “assinam ou assinam de cruz”, segundo os

testamentos e “assinam o nome” segundo o Rol dos Jurados.

7- Uma questão merece alguma pertinência: poderemos no final do trabalho comparar

índices de alfabetização com índices de Escolarização?

Pergunta de resposta complexa dado que se para a Escolarização dispomos de dados

(inquéritos de 1866, 1875/75, Livros de termos de exames, etc.), para a alfabetização os dados de

que dispomos (Censos de 1878, de 1890, matrículas de Jurados e Traslados de Testamentos),

podem revelar-se muito redutores e levar-nos a fazer afirmações que podem pecar por defeito. Isto

porque, ao contrário dos censos que apresentam valores claros e que nos dão alguma segurança, os

testamentos e as matrículas de jurados são portadores de uma grande ambiguidade principalmente

no que se refere à representatividade, mas nem por isso deixam de ser importantes fontes de

informação.

De qualquer modo podemos perceber que os dados da Escolarização nos permitem

concluir estar perante um fenómeno de alongamento da base na horizontal, onde se procura atingir

o maior número possível de indivíduos/alunos, que visa criar uma certa homogeneização social, e a

alfabetização nos aparece num movimento vertical, de cima para baixo, elitista e individual, mais

complexo em termos de quantificação.

2 - PROVENIÊNCIA DOS TESTAMENTOS.

O presente trabalho tem por base a análise de 150 traslados de testamentos feitos no

concelho de Mondim de Basto entre 1874 e 1900. O número de testamentos analisados não é igual

em todas as freguesias estando o mesmo em relação directa com a importância económica que cada

freguesia tem no conjunto do concelho (quadro 23 e gráfico n.º 6).

129

QUADRO Nº 23. Distribuição dos Testamentos por Freguesias.

FREGUESIA HOMENS MULHERES TOTAL

Atei 22 15 37

Bilhó 6 13 19

Campanhó 6 6 12

Ermelo 19 9 28

Mondim 23 16 39

Paradança 1 3 4

Pardelhas 0 0 0

V. Ferreiros 8 3 11

TOTAL 85 65 150

GRÁFICO Nº 3. Proveniência dos Testamentos

2.1 – Tipo de testadores e respectiva profissão.

Do conjunto dos 150 testamentos analisados, 65 pertencem a mulheres e 85 a homens,

cujas profissões se repartem por capitalistas, moleiro, padres, proprietários (as) e militar. 15 é o

número de indivíduos testadores cuja profissão não é referida pelos tabeliães (quadro 24 e gráfico

n.º 7).

0

5

10

15

20

25

30

35

40

Ate

i

Bilhó

Cam

panhó

Erm

elo

Mondim

Pard

elh

as

Para

dança

V.

Ferr

eir

os

Proveniência dos testamentos

130

Quadro Nº 24. Profissão dos Testadores (as).

Capitalista 7

Doutor 1

Moleiro 1

Padre 5

Proprietário 120

Militar 1

Não Refere 15

TOTAL/Profissões 7

Gráfico Nº 4. Profissão dos Testadores.

Ca

pitalist

a

Do

uto

r

Mo

leir

o

Pa

dre

Pro

pri

et.

Milita

r

o R

ef.0

20

40

60

80

100

120

Ca

pitalist

a

Do

uto

r

Mo

leir

o

Pa

dre

Pro

pri

et.

Milita

r

o R

ef.

profissão dos testadores

2.2 – Testadores face à alfabetização.

A – Testamentos de homens: dos 85 testamentos, em 34 verificamos que todos os

testadores assinam e lêem, apenas 1 assina de cruz e 50 não assinam nem lêem, a que

correspondem 40%, 1,20% e 58,8% respectivamente.

Estamos perante um índice de alfabetização de 40% o que não deixa de ser uma

percentagem elevada (quadro nº 25).

131

B ) – Testamentos de mulheres : na análise dos 65 testamentos verificamos que há

treze mulheres a saber ler e assinar o nome, 1 só assina, 2 assinam de cruz e 49 não assinam nem

lêem, fazendo-o sempre a primeira das testemunhas “a rogo da testadora por esta declarar não o

saber fazer”.

Em termos percentuais temos 20,00%, 1,54%, 3,08% e 75,38% respectivamente. Ou seja, 20%

de mulheres alfabetizadas. De destacar o facto de a duas mulheres ser permitido assinar de cruz, o

que se revela como excepção à regra, uma regra que não permitia que as mulheres chancelassem de

cruz, num acto perfeitamente discriminatório (quadro nº 25).

Quadro Nº 25. Tipos de Assinaturas.

Testadores Homens Mulheres Total % Mulheres % Homens

Assina e Lê 34 13 47 20,00 40,00

Só assina 0 1 1 1,54 0,00

A. de cruz 1 2 3 3,08 1,80

Não assina n. lê 50 49 99 75,38 58,20

TOTAL 85 65 150 100,00 100,00

3 – TESTEMUNHAS.

De acordo com as obrigações legais, todo o testamento deveria ser validado com a

presença e assinatura de testemunhas. Nos testamentos analisados o número de testemunhas varia

de quatro até seis. O total de testemunhas é de 511, que chancelarão os 150 actos num total de 804

assinaturas.

De um modo geral as testemunhas são “recrutadas” na própria freguesia onde o testamento

é elaborado, havendo, no entanto, um número significativo de casos em que o testador (a) se

desloca à sede do concelho e aí faz o testamento. Nesses casos as testemunhas são arranjadas aí

mesmo.

3.1 – Profissões das testemunhas.

132

As 511 testemunhas distribuem-se por trinta e sete profissões, aparecendo numa posição

bastante destacada a dos proprietários com 289, depois os negociantes 33, os lavradores 3361

e os

padres com 23. A longa distância seguem as outras profissões (quadro nº 26).

Globalmente aquelas quatro profissões representam 74%, do total.

Quadro nº 26. Profissões das Testemunhas.

Profissão Quant. % Profissão Quant. %

Alfaiate 6 1,17% Juíz Paz 1 0,20%

Armador 1 0,20% Lavrador 33 6,46%

Bacharel 1 0,20% Marcenei. 1 0,20%

Barbeiro 4 0,78% Músico 2 0,39%

Militar 3 0,59% Negoci. 33 6,46%

Cantonei. 2 0,39% O.públicas 5 0,98%

Capitali 3 0,59% Ofic. Dilig. 7 1,37%

Carpintei 10 1,96% Padres 23 4,50%

Caseiro 10 1,96% Pedreiro 6 1,17%

Correeiro 1 0,20% Professor 6 1,17%

Criado 12 2,35% Propriet. 289 56,56%

Doutor 5 0,98% Relojoei. 1 0,20%

Escrivão 2 0,39% Sapateiro 6 1,17%

Espingard. 1 0,20% Secret. 1 0,20%

Farmacêut. 6 1,17% Solicit. 1 0,20%

Ferreiro 5 0,98% Tamanq. 4 0,78%

F..R. Água 5 0,98% Trabalhad. 1 0,20%

Jornalei. 7 1,37% Não Ref. 5 0,98%

Latoeiro 2 0,39%

TOTAL 86 16,83% 425 83,17% TOTAIS 511 100%

3.2- As assinaturas das testemunhas.

Às 804 chancelas de acto contabilizadas (quadro nº 27) correspondem 781 assinaturas

por extenso e apenas 23 chancelam de “cruz” (quadro nº 28).

61 É importante distinguir aqui Proprietário e Lavrador. O primeiro é dono da terra mas não a trabalha, submetendo-a ao regime de

parceria, o que explica a existência dos caseiros. O segundo grupo é dono da terra e ele próprio a trabalha.

133

Quadro nº 27. Número de Chancelas Contabilizadas por Profissão.

Profissão Quant. Percent. Profissão Quant. Percent.

Alfaiate 8 1,00% Juíz Paz 1 0,12%

Armador 1 0,12% Lavrador 40 4,98%

Bacharel 1 0,12% Marceneiro 1 0,12%

Barbeiro 6 0,75% Músico 3 0,37%

Militar 3 0,37% Negociante 44 5,47%

Cantoneiro 2 0,25% O.Públicas 5 0,62%

Capitalista 4 0,50% O.Diligências 14 1,74%

Carpinteiro 13 1,62% Padres 40 4,98%

Caseiro 17 2,11% Pedreiro 7 0,87%

Correeiro 1 0,12% Professor 7 0,87%

Criado 17 2,11% Proprietários 498 61,94%

Doutor 7 0,87% Relojoeiro 2 0,25%

Escrivão 4 0,50% Sapateiro 13 1,62%

Espingardeiro 1 0,12% Secret. 1 0,12%

Farmacêutico 6 0,75% Solicitador 1 0,12%

Ferreiro 10 1,24% Tamanqueiro 5 0,62%

F.R. Água 5 0,62% Trabalhador 2 0,25%

Jornaleiro 7 0,87% Não Ref. 5 0,62%

Latoeiro 2 0,25%

TOTAL 115 14,30% 689 85,70%

TOTAIS 804 100,00%

Quadro nº 28. Tipos de Assinaturas

TESTEMUNHAS TOTAL DE CHANCELAS

%

Assinam por extenso 781 97

Assinam de cruz 23 03

TOTAL 804 100

Não aparece nenhuma testemunha a não saber assinar, o que prova que a assinatura era

obrigatória. É certo que o tabelião aceita assinantes de “cruz”, quando assinar de cruz queria dizer

que o assinante não sabia assinar segundo o alfabeto. Mas será legítimo concluir que quem

chancelava de cruz não sabia ler?

134

Também não podemos verificar se há evolução do traço dos participantes ao longo da

sua vida dado que apenas dois assinantes de “cruz” o fazem por duas vezes cada um, ficando-se os

restantes por uma vez cada um.

O parco número de participações deste grupo só nos permite enquadrá-los no nível 1 da

escala de assinaturas seguida por Justino Magalhães (1994: 573).

Será que algum desses assinantes evoluiu para outro nível de assinatura?

Não serão estes indivíduos pelo menos leitores?

Não podemos porém esquecer que estamos numa época em que o formalismo e o sentido

de compromisso que presidem aos contratos de testamento – e outros – não são características

exclusivas dos contratos escritos. A palavra valia bem uma assinatura, pese embora o forte impacto

social que esta tinha um mundo tipicamente rural.

Todas as testemunhas são homens. Não é reconhecido à mulher o estatuto de testemunha

de acto, uma vez que não é convocada para testemunhar em qualquer testamento.

Será que o ler e escrever constitui uma destreza destinada apenas aos indivíduos do sexo

masculino? Estaremos perante indicadores reveladores de um poder social a que só os homens

tinham acesso? Podemos ver nisto uma forma de exclusão social da mulher?

Dos trinta e sete grupos socioeconómicos representados só em cinco aparecem

testemunhas a assinar de “cruz” (quadro Nº 29). Acreditando nós que os escreventes aprenderam a

fazê-lo de forma gradativa durante ou depois da aprendizagem da leitura, há uma fusão de ambas as

capacidades no mesmo indivíduo, capacidades que ele adquiriu não como um fim em si mesmo

mas como forma de acesso a uma carreira profissional

Quadro nº 29. Grupos de Assinantes de “ Cruz”.

Grupos/Assinam de Cruz

Total Assinantes Assina de cruz %

Caseiro 10 2 20,00%

Criado 12 5 41,66%

Lavrador 33 3 09,09%

Propriet. 289 9 03,11%

Carpint. 10 3 30,00%

TOTAL 354 23 100,00%

135

Merece destaque o facto de em 298 proprietários apenas nove assinam em forma de cruz,

ou seja 3,11%. O que, sendo este grupo económico o socialmente mais importante, quererá dizer

que estamos perante uma filiação imediata de causa e efeito entre a alfabetização e o

desenvolvimento socioeconómico, por um lado uma e uma “alfabetização que se inscreve, sob o

ponto de vista sociológico, num quadro de hegemonização de certos estratos, em consonância com

o rendimento económico e o desempenho de certas funções socioprofissionais e administrativas

com impacto social e culturalmente bem reconhecido” (MAGALHÃES, 1994: 20), por outro.

Também é interessante o número de criados e caseiros que sabem assinar.

Porquê o fazem? Com quem aprendem? Com os seus patrões?

Uma razão haverá a considerar: a imitação de papéis funcionaria como estímulo à

aprendizagem. A isto não seria alheio o facto de vivermos num contexto fortemente hierarquizado,

onde os fenómenos de imitação teriam alguma representatividade.

Do grupo de lavradores, 9,09% assina de cruz. Isto não quer dizer obviamente que os níveis

de alfabetização atingissem no grupo os 91%. É evidente que haveria muitos lavradores que não

saberiam ler nem escrever. Contudo, sendo o lavrador ao mesmo tempo proprietário e dono dos

meios de produção é natural que tivesse necessidade de aprender a ler e a escrever como factores de

solução dos problemas do dia a dia. Para estes ser alfabetizado surgia como “um meio para” e não

apenas um fim. Com quem aprenderam? Os pais ensinam os filhos, os amigos e os vizinhos?

Aprendem todos na escola? Hipótese pouco provável pois sabemos que o absentismo era muito

grande. O auto didactismo teria alguma relevância?

De referir o facto de todos os comerciantes que aparecem como testemunhas assinarem o

nome por extenso. A própria profissão os obrigaria a saber ler, escrever e contar. Assim, este grupo

era com certeza o mais fortemente alfabetizado, embora globalmente fosse um grupo pouco

representativo.

3.3- Frequência de assinatura das testemunhas.

São 804 os actos de testemunho contidos nos 150 testamentos. Desses, 210, ou seja 26%,

foram testemunhas apenas uma vez.

São apenas seis os professores que servem de testemunhas em apenas sete actos. Porquê tão

poucas vezes? Porque é que a participação dos professores neste acto vital da paróquia tem uma

participação tão esporádica e tão fortuita? Não teriam os professores um estatuto elevado que

136

permitisse dar ao testamento uma validade indesmentível? Seriam os horários escolares que não

lhes permitia participar mais vezes?

Das três testemunhas que assinam dez ou mais vezes nenhuma pertence à sede do

concelho, e todos são importantes proprietários. Isto significa que, embora o maior número de

testamentos seja feito na sede do concelho, o potencial testador encontra aí um leque variado de

testemunhas que sabem assinar, ao contrário das freguesias onde o leque diminui e havia, por isso,

necessidade de recorrer muitas vezes às mesmas pessoas.

Também se verifica que o maior número de repetências se dá com proprietários, donos ou

herdeiros das casas mais ricas do concelho. São exemplos as casas do Eirô, Barreira, Portelo e

Peixotos, em Ermelo; dos Barreiros, Lage, Cruz, Telha, Gougeva, Loureiro, Casal, Quinta de

Baixo, Igreja e Caibros, em Atei ou Barrio, Igreja, Eirô, Campo e Atalho, em Mondim.

A frequência elevada destes participantes confirma a importância social do grupo dos

proprietários na estrutura social do mundo rural nos fins do século XIX. Um caso muito sui géneris

acontece na sede do concelho em que muitas vezes aparecem como testemunhas - principalmente

de testadores de fora-, o administrador do concelho, um barbeiro, um ferreiro e um oficial de

diligências. Acontecia que o escritório do tabelião, a câmara e o local de trabalho dos restantes

indivíduos se encontravam na mesma praça que era no centro da vila onde giravam a vida

económica e social. Assim, de cada vez que o tabelião precisava de testemunhas tinha-as mesmo à

mão e estas de bom grado aceitariam ser testemunhas até pela mais-valia social que isso para eles

representava.

Mas que relação haverá entre o estatuto socioprofissional do barbeiro e o do ferreiro e o

facto de ambos serem alfabetizados?

A questão é de resposta difícil, mas o facto de ambos conviverem lado a lado, no dia a dia,

com pessoas importantes poderia potenciar um fenómeno de irradiação cultural de cima para baixo

com resultados deveras interessantes.

E o ferreiro e o barbeiro, principalmente este muito propenso para a tagarelice, não

ensinariam alguns amigos e clientes a ler e a escrever, sabendo-se que, tendo eles muito tempo

livre, seria uma das formas de melhor o ocupar?

137

II

4 - OS JURADOS

4.1 – A instituição do júri.

“ Tribunal composto de certa classe de cidadãos que, sob a presidência de um juiz de

direito, julga dos factos relativos a causas judiciais (Chaves e Castro) – é algo que merece ser

individualizado. Sustentado pelas Constituições de 1822 (artigo 177.º), de 1826 (artigo 118.º) e de

1838 (artigo 123º) e pelo já conhecido decreto de 16 de Maio de 1832 (artigo 7º) o júri cível é

obrigatório” (MATTOSO, 1993,Vol V: 171).

4.2 – Quem é convidado para jurado?

Segundo a lei de 16 de Março de 1832, todo o cidadão que reunisse ter mais de 25 anos

de idade, saber ler, escrever e contar e ter, no meio rural, um rendimento anual não inferior a

cinquenta mil réis (era de 100$000 nas cidades). O cumprimento destas obrigações fazia “ficar de

fora” grande parte da população, tornando-se por isso muito selectiva.

As pessoas consideradas socialmente mais importantes, porque eram detentoras de muitos

bens? Porque sabiam ler e escrever? Ambas cumulativamente? Nas listagens dos doze anos –

1900/1911 – por nós analisadas (quadro nº 30) praticamente não há alterações de nomes, mantendo-

se por isso as listagens muito iguais, o que também poderá indiciar algumas dificuldades na

renovação jurídico-administrativa.

Para além de que todos os indivíduos serem recrutados em apenas duas paróquias – Atei e

Mondim -, de onde subjaz a ideia de que se tornava complicado, por motivos de ordem geográfica,

recensear indivíduos de paróquias mais afastadas da sede do concelho.

A matrícula era feita pelo escrivão da câmara com base nos censos recolhidos pelas

comissões paroquiais. A listagem era depois enviada ao tribunal. Este, com a totalidade dos

inscritos fazia dois sorteios. O primeiro para escolher os membros do júri para os crimes comuns e

o segundo para os de crimes de moeda falsa.

Acreditamos que haveria na paróquia um número de leitores e escreventes muito superior

àquele.

138

Quadro nº 30. Recenseamento do Júri Comum de 1900 a 191162

ANO

Nº DE

RECEN-

SEADOS

PROFISSÃO

ESTADO CIVIL

NOTAS

PROPRIET. NEGOCIANT OUTROS SOLTEIR CASADOS VIÚVO

1900 120 105 13 2 (1) 14 97 9 (1) 2 -Bacharéis

1901 120 109 10 1 (2) 13 98 9 (2)- 1- Eng. Civil

1902 120 111 8 1 (2) 18 93 9

1903 120 109 9

2 (3), (4) 17 91 12 (3)- 1 Agrónomo

(4)-1 Lavrador

1904 120 103 14 3 (3), (5) 17 90 13 (5)- 2 lavradores

1905 120 103 15 2 (5) 17 90 13

1906 120 108 10 2(6),

(7) 19 91 10 (6) 1- Solicitador

(7) 1- Notário

1907 120 110 9 5 (1) (6) (8) 18 89 13 (8) 3 – Curso dos

Liceus

1908 120 108 9 3 (8) 15 94 11

1909 124 111 9 4 (4) (8) 19 94 11

1910 124 111 10 3 (8) 18 96 10

1911 124 110 9 5 (1) , (8) 18 96 10

GRÁFICO Nº 5. PROFISSÕES DOS JURADOS

Então porque há tão poucas alterações? Porque ser jurado era um estorvo (implicava a

perda de dias de trabalho não remunerado) e todas as artimanhas eram importantes para se fugir ao

62 Livro nº 1 de Recenseamento do Júri Comum, do Arquivo da Câmara Municipal de Mondim de Basto.

Médias por Profissão

Proprietários

Negociantes

Outros

139

desempenho daquele cargo? Ou o factor determinante era o rendimento e poucas mais pessoas

estariam em condições de ser jurado?

Considerando as profissões, mais uma vez ressalta o peso dos proprietários

(89,25%), seguido dos negociantes (8,59%) e profissões liberais (2,26%). Mais uma vez se

confirma a pouca importância do sector secundário, e mais uma vez se confirma estarmos em

presença de um concelho tipicamente rural, onde a propriedade fundiária não representava apenas

um instrumento de produção e um investimento seguro, “mas era condição de acesso a um estatuto

social e a uma posição prestigiada no seio da comunidade rural. De facto, ser-se proprietário era,

pelo menos até à implantação da República, uma das únicas formas de participar na vida política,

dado que a capacidade eleitoral se restringia aos cidadãos que pagassem um determinado montante

de contribuições directas ou que soubessem ler e escrever” (MATTOSO, ob. cit.: 481).

Ser jurado era, então, sinónimo de ser alfabetizado e isso era importante para o desempenho

de certos factores sociais e administrativos na paróquia.

Uma questão se levanta: Qual a percentagem da população real que estará representada

neste quadro?

5 – Conclusão.

Procuramos dar respostas, ainda que parciais, a questões como: Quem lê? Quem escreve?

Onde, quando e para quê? Como se acedeu a tal capacidade? Em que medida as opções e os

destinos de vida implicam e reflectem a capacidade de ler e escrever? (MAGALHÃES, 1994: 34).

Estas questões transportam-nos necessariamente para algumas observações:

1 - Estamos numa sociedade rural, hierarquizada, conservadora, prolongadora da estrutura

social do Antigo Regime, onde, apesar de afastada dos centros de decisão, nem por isso o

fenómeno da alfabetização deixa de estar presente.

É um fenómeno localizado, contextualizado, até porque “não há alfabetização fora do

contexto, não há alfabetização em abstracto. É para resolver os problemas do seu quotidiano, é para

dar sentido à sua existência que os indivíduos se alfabetizam” (MAGALHÃES, 1994: 265), isto é, a

origem e evolução dos sistemas de escrita estão associados a esquemas civilizacionais,

nomeadamente ao desenvolvimento de aspectos económicos, - economia complexa de

contabilização de lucros e mercantilização -, sociais e organizacionais - utilização com propriedade

das capacidades de leitura e de escrita na resolução das questões do quotidiano -.

2 - Merece algum destaque o facto de, para o período em estudo dos testamentos -

1874/1900 -, haver 20% de mulheres leitoras e escreventes, isto é, alfabetizadas. Se considerarmos

140

que quando foram fazer o testamento eram de maior idade, quase todas viúvas, com mais de 55 ou

60 anos de idade e que terão aprendido a ler e a escrever entre 1824/1850, numa altura em que só

havia no concelho escolas do sexo masculino, perguntaremos: então com quem aprenderam? E

como? Provavelmente em casa e por razões de carácter económico e social. De carácter económico

pois a mulher sentia necessidade de acompanhar os negócios do marido. Não nos podemos

esquecer de que a mulher falecia – de um modo geral -, depois do marido, ficando viúva e herdeira

de bens que ela tinha que administrar com competência. Daí a necessidade de saber ler, escrever e

contar. De carácter social porque a mulher precisaria de ser culta para poder participar nos actos

públicos e religiosos.

3 - Algumas mulheres, com certeza que praticariam a leitura - lendo o catecismo mas

também os folhetins “inspirados na mais sã moral” que o Comércio do Porto publicou a partir de

1861, onde se destacavam os romances de Camilo, Arnaldo Gama, Alberto Pimentel, Carlos

Malheiro Dias, etc. Acreditamos que, a julgar pelas informações orais prestadas e pela biblioteca de

uma casa por nós consultada – a casa de João Alarcão -, haveria senhoras que coleccionavam os

folhetins e que, num ambiente campestre, idílico, bucólico e romântico (Todas as casas apalaçadas

tinham frondosos jardins), os liam em voz alta para outras senhoras, provavelmente espicaçando

nestas a vontade de também aprender a ler e a escrever. O interesse pelos folhetins era visível dado

que todos os jornais que consultámos e que se publicaram na Região de Basto desde fins do século

XIX os traziam em páginas de destaque.

4 - Ainda nesta linha de pensamento, um outro aspecto merece alguma reflexão e algumas

interrogações: não haveria a ideia generalizada de que à mulher seria permitido saber ler numa

ideia básica do que deveria ser a educação feminina?

De facto se cruzarmos as preocupações apresentadas em muitas reuniões quer das vereações

camarárias quer das juntas de paróquias no último quartel do século XIX com algumas actas

emanadas das Conferências Pedagógicas do Círculo de Vila Real, sobretudo as de 6, 7, e 8 de

Outubro de 1886, onde se transmite a ideia de que muitos pais não querem enviar as suas filhas à

escola para que elas não aprendam a escrever pois dessa forma elas já poderiam corresponder-se

com quem quisessem, o que fugiria ao controlo dos próprios pais, poderemos deduzir que de facto

estaria aberta a porta de acesso à leitura de muitas mulheres, que muitas se teriam convertido em

leitoras e que, portanto, seria mais elevado o número de mulheres alfabetizadas (ou

semialfabetizadas) do que aquele que as percentagens apresentam. A abertura dessa porta teria sido

proporcionada pelo movimento de regeneração. De facto, os regeneradores ao pugnarem pela

promoção da família conduziram a alguns avanços na condição social da mulher, sobretudo no

respeitante à sua instrução. Se nos princípios tradicionais a educação reservada às meninas se

141

destinava a convertê-las em mulheres ociosas como sinal de prosperidade e êxito material dos

respectivos esposos, a regeneração irá imprimir algumas alterações neste modelo. As suas funções

tradicionais como esposa e mãe, sobretudo como educadora da primeira infância, tendem a ser

valorizadas. “Através do enaltecimento da maternidade e da responsabilidade da mãe na formação

da criança, encarregava-se a mulher de moldar a mudança e era ela que, no pensar queirosiano,

inculcava no filho os grandes princípios, religião, amor do trabalho, amor do dever, obediência,

honestidade, bondade” (REIS, 1990: 321).

5 - Também o facto de haver um elevado número de padres, - perfeitamente enquadrados

e enraizados socialmente -, que não descuravam uma função que lhes estava acometida, - ensinar a

ler e a escrever -, contribuiria para elevar os índices de alfabetização.

6 - Fazendo uma leitura cruzada das três fontes utilizadas constatamos que o critério da

alfabetização aparece permanentemente ligado ao do rendimento económico.

III

6 - ANÁLISE DO GRAU DE ALFABETIZAÇÃO DA POPULAÇÃO

MONDINENSE EM 1878 E A SUA EVOLUÇÃO ATÉ 1890

6.1 – Introdução.

A partir da revolução liberal de 1820 todos os governos se preocuparam com a situação da

Instrução Pública em Portugal, a par do desejado desenvolvimento económico, o que levou à

produção de muitos decretos-lei e algumas reformas educativas, só que os frutos tardaram a

aparecer como bem demonstram os resultados do inquérito de 1878, que apresentam para o país a

confrangedora percentagem de cerca de 80% de analfabetos contra cerca de 30% nos países mais

ricos do norte da Europa, o que colocava Portugal “na cauda das nações civilizadas de então,

ficando, deste ponto de vista, cada vez mais atrasado, mesmo relativamente a países mais parecidos

com o nosso” (REIS, 1988: 75).

E qual a situação no concelho de Mondim de Basto? Será que aqui existe algum nexo entre

os níveis de educação e do desenvolvimento económico?

Analisemos os dados no quadro nº 31.

142

QUADRO Nº31 . CENSOS DE 1878 PARA MONDIM DE BASTO63

LOCAL

FOGOS

POPULAÇÃO

SABEM LER E

ESCREVER

%

SABEM LER

%

NÃO

SABEM LER NEM

ESCREVER

%

A

T

E

I

424 V S- 410

A

R....C- 248

Õ

E....V-.034

S

F....S- 612

E

M...C-251

E

A...V- 067

S

80

55

09

54

21

00

19,5

22,2

26,4

8,82

8,36

0,00

09

05

00

12

05

00

2,2

2,0

0,00

1,90

2,00

0,00

321

188

025

546

225

067

78,7

75,8

73,5

89,2

89,6

100

B

I

L

H

Ó

198 V S- 307

A

R....C- 102

Õ

E....V-.022

S

F....S-.345

E

M....C- 106

E

A....V- 036

S

75

28

05

12

01

00

24,4

27,4

22,7

3,47

0,94

0,00

19

10

00

07

01

00

6,18

9,80

0,00

2,02

0,94

0,00

213

064

017

326

104

036

69,3

62,7

77,2

94,5

98,2

100

C

A

M

P

A

N

H

Ó

84 V S- 116

A

R....C- 057

Õ

E....V-.005

S

F....S- 111

E

M....C- 057

E

A....V- 008

S

04

06

00

00

00

00

3,44

10,5

0,00

0,00

0,00

0,00

02

01

00

00

00

00

1,72

1,75

0,00

0,00

0,00

0,00

110

050

005

111

057

008

94,8

87,7

100

100

100

100

E

R

M

E

L

O

260 V S- 358

A

R....C- 138

Õ

E....V-.026

S

F.....S- 352

E

M....C- 146

E

103

057

017

27

08

28,8

41,3

66,3

7,67

5,47

11

03

00

43

08

3,07

2,17

0,00

12,2

5,47

244

078

009

282

130

68,15

56,52

34,61

80,11

89,04

63 ANTT, INE. Censos de 1890: 183-84.

143

A....V- 042

S

03 7,14 01 2,38 038 90,47

M

O

N

D

I

M

479 V S- 421

A

R....C- 254

Õ

E....V-.046

S

F....S- 560

E

M....C- 265

E

A....V- 076

S

150

083

021

052

015

005

35,6

32,6

45,6

9,28

5,66

6,57

01

02

01

01

00

00

0,23

0,78

2,17

0,17

0,00

0,00

273

169

024

507

250

071

64,8

66,5

52,17

90,5

94,3

93,4

P

A

R

A

D

A

N

Ç

A

66 V S- 079

A

R....C- 038

Õ

E....V-.008

S

F....S- 112

E

M....C- 038

E

A....V- 011

S

37

17

03

05

04

01

46,8

44,7

37,5

4,46

10,5

9,09

01

01

00

02

01

00

1,26

2,63

0,00

1,78

2,63

0,00

41

20

05

105

033

010

51,9

52,6

62,5

93,75

86,8

90,9

P

A

R

D

E

L

H

A

S

50

V S- 54

A

R....C- 34

Õ

E....V-.08

S

F....S- 68

E

M...C- 36

E

A...V- 05

S

04

07

01

01

00

00

7,40

20,5

12,5

1,47

0,00

0,00

00

00

00

00

00

00

0,00

0,00

0,00

0,00

0,00

0,00

50

27

07

67

36

05

92,59

79,41

87,5

98,5

100

100

V.

I

L

A

R

F

E

R

R

E

I

R

O

S

237 V S- 288

A

R....C- 123

Õ

E....V-.026

S

F....S- 329

E

M....C- 124

E

A....V- 036

S

74

32

06

03

02

00

25,7

26,0

23,0

0,91

1,61

0,00

17

08

09

03

02

01

5,90

6,50

34,6

0,91

1,61

2,77

197

083

011

323

120

035

68,4

67,4

42,3

98,1

96,7

97,2

144

6.2 - O NÍVEL DE ESCOLARIDADE POR FREGUESIA NO CONCELHO DE MONDIM

DE BASTO EM 1878.

O censo de 1878, apresenta um estudo do nível de instrução da população segundo o

número de indivíduos que sabem ler e escrever, apenas sabem ler e por último os que não sabem ler

e escrever, são analfabetos.

Esse estudo revela ainda a divisão da população segundo o sexo e o seu estado civil,

utilizando a seguinte nomenclatura: solteiros, casados e viúvos.

Centrando uma primeira análise nos dados estatísticos do espaço geográfico em estudo, - o

concelho de Mondim de Basto - , podemos dizer que para uma população de 3142 indivíduos do

sexo masculino, apenas 955 sabem ler e escrever, ou seja 30,4% da população é totalmente

instruída. Dessa população 3,1% só sabe ler, sendo os restantes 2087 indivíduos analfabetos, isto é,

os restantes 66,5% da população não sabe ler nem escrever.

A população feminina regista um total de 3793 habitantes. Deste total apenas sabem ler e

escrever 214 indivíduos, ou seja, 5,6% do total da população feminina. Só dominam a leitura 87

indivíduos do sexo feminino que corresponde a um total da população na ordem dos 2,3%. A

restante população - 3492 habitantes -, não sabe ler nem escrever, o que corresponde a 92% .

Podemos desde já concluir que a população masculina tem uma maior frequência da escola o que

se traduz numa maior percentagem de indivíduos que sabem ler e escrever. No entanto o que é de

realçar, diz respeito ao elevado número de analfabetos, que corresponde a 66,5% da população

masculina e 92% da população feminina.

A freguesia de Atei apresenta um total de população da ordem dos 1622 habitantes, dos

quais 692 são do sexo masculino. Destes, 410 indivíduos são solteiros e apenas 80 sabem ler e

escrever o que corresponde a 19,5% deste extracto da população; 2,2% da população apenas sabe

ler, o que corresponde a um total de 9 indivíduos; os restantes 321 não sabem ler nem escrever o

que representa 78,2% dos solteiros. Nesta mesma freguesia o número de casados é de 248. Destes,

22,2% sabem ler e escrever o que representa 55 do total de indivíduos, apenas 5 sabem ler o que

corresponde a 2% deste grupo; contudo o número de analfabetos é muito elevado na ordem dos

75,8%, ou seja, 188 indivíduos. Dos 34 viúvos apenas 9 sabem ler e escrever o que representa para

este extracto da população uma percentagem da ordem dos 26,4%, os restantes indivíduos não

sabem ler nem escrever, correspondendo a 25 indivíduos e 73,5% da população desse universo.

A população feminina representa um total de 930 habitantes encontrando-se dividida

segundo o estado civil da seguinte forma: 612 solteiras; 251 casadas e 67 viúvas. Desta divisão

podemos observar que da população solteira apenas 54 (8,8%) sabe ler e escrever. Relativamente às

145

casadas, podemos observar que apenas 21 sabem ler e escrever, a que corresponde 8,3% desse

universo, 2% apenas domina a leitura, correspondendo a 5 indivíduos. A classe das viúvas

apresenta 100% de taxa de analfabetismo, ou seja, não domina a escrita nem a leitura.

Na freguesia do Bilhó, para um universo de 431 indivíduos do sexo masculino, verifica-se

a existência de 307 solteiros; 102 casados e 22 viúvos. Desta divisão pode-se concluir com base na

leitura do quadro que dos solteiros apenas 75 indivíduos sabem ler e escrever, o que corresponde a

24,4% do total desse universo. Dos solteiros 19 apenas sabem ler, correspondendo a 6,2% da classe

em análise e 213 indivíduos não domina nenhuma das técnicas, representando os restantes 69,3%

dos solteiros. Relativamente à classe dos casados, podemos observar que apenas 28 (27,4% dessa

classe) domina a escrita e a leitura, 9,8% apenas sabe ler e os restantes 62,7% não sabem ler nem

escrever, representando um total de 64 indivíduos. Os viúvos representam a outra classe em análise.

Destes apenas 5 sabem ler e escrever e os restantes 17, que correspondem a 77;2% dessa classe, são

analfabetos.

Relativamente à população feminina, esta encontra-se dividida segundo as mesmas

classes: solteiras, casadas e viúvas. Desta divisão podemos observar que das solteiras apenas12

sabem ler e escrever, representando 3,5% do total desses indivíduos. 2% apenas sabe ler e 94,5%

não sabe ler nem escrever, correspondendo às restantes 326 solteiras. A classe das casadas

apresenta um total de indivíduos que sabem ler e escrever da ordem dos 0,9%. Os restantes 99,1%

são analfabetos. A classe das viúvas apresenta um índice de 100% de analfabetismo.

A freguesia de Campanhó regista uma população total na ordem dos 354 habitantes,

estando estes divididos em 178 do sexo masculino e 176 do sexo feminino. Dos indivíduos do sexo

masculino verifica-se a existência de 116 casados, 57 solteiros e 5 viúvos. Desta divisão podemos

observar que dos solteiros apenas sabem ler e escrever 4 ,o que representa 3,4% desse universo.

Apenas 2 sabem ler, o que representa 1,7% do total e os restantes 94,8% que corresponde a 110

indivíduos não sabem ler nem escrever. A classe dos casados apresenta um total de indivíduos que

sabem ler e escrever da ordem dos 10,5% ou seja, 6 pessoas. Incluído no grupo dos que apenas

sabem ler está 1 e os restantes 50, que representam 87,7% do total da classe, não sabem ler nem

escrever. Os viúvos desta freguesia, cujo total são 5, têm um índice de analfabetismo de 100%.

A população do sexo feminino regista um total de 111 mulheres solteiras, 57 mulheres

casadas e 8 viúvas. Todos os grupos atrás referidos apresentam um índice de 100% de

analfabetismo, isto é, nesta freguesia as mulheres não sabem ler nem escrever.

A freguesia de Ermelo, apresenta um total de população da ordem dos 1062 habitantes, os

quais se encontram divididos em 522 do sexo masculino e 540 do sexo feminino. Para o universo

do sexo masculino verifica-se a existência de 358 solteiros, 138 casados e 26 viúvos. Desta divisão

146

podemos observar que dos solteiros apenas 103 sabem ler e escrever, o que representa 28,8% do

total desses indivíduos. 3,1% apenas sabe ler e 68,1% não domina nenhuma das técnicas em

análise, correspondendo os restantes a 244 dos solteiros. Relativamente aos casados, estes

apresentam uma percentagem de 41.3% que sabem ler e escrever, apenas 2,2% sabem ler es os

restantes 56,5% que corresponde a 78 indivíduos não sabe ler nem escrever. A classe dos viúvos

apresenta 17 indivíduos que corresponde a 66,3% do total da classe que domina a escrita e a leitura.

Os restantes 34,7%, ou seja 9, não sabem ler nem escrever.

A população feminina desta freguesia apresenta um total de 352 mulheres solteiras, 164

casadas e 42 viúvas. Desta divisão podemos observar que do total de mulheres solteiras 7,7%

sabem ler e escrever, 12,2% apenas sabe ler e 8,1% não sabe ler nem escrever, representando 282

mulheres solteiras. A classe das casadas apresenta uma percentagem 5,5% de mulheres que

dominam a escrita e a leitura e a mesma percentagem para as que só sabem ler os restantes 89% das

mulheres casadas não sabe ler nem escrever, o que representa 130 indivíduos desse universo.

Relativamente às viúvas, 3 mulheres sabem ler e escrever o que representa 7,1% do total, apenas

uma se encontra na população que apenas sabe ler e os restantes 90,5%, que corresponde a 38

indivíduos, é analfabeta.

A freguesia de Mondim de Basto regista uma população total de 1622 habitantes, dos

quais 721 habitantes são do sexo masculino e 901habitantes são do sexo feminino. Do total da

população masculina verifica-se a existência de 421 indivíduos solteiros, 254 casados e 46 viúvos.

Desta divisão podemos observar que do total de solteiros apenas sabem ler e escrever 150 que

representa 35,6% desse universo, um domina apenas a leitura e os restantes 273, ou seja, 64,8% do

total não domina nenhuma das técnicas. Relativamente à classe dos casados 32,6%, um total de 83

indivíduos, sabe ler e escrever, 0,8% apenas sabe ler e os restantes 196 (66,5%), não sabem ler nem

escrever. Dos viúvos, 45,6% sabe ler e escrever, 2,2% apenas sabe ler e os restantes 52,8% não

sabe ler nem escrever, correspondendo respectivamente a 21, 1 e 24 indivíduos.

A população feminina encontra-se dividida em 560 mulheres solteiras, 265 mulheres

casadas e 76 viúvas. Desta divisão podemos observar que das mulheres solteiras apenas 52 (9,3%

do total) sabem ler e escrever, uma apenas sabe ler e as restantes 507 que representam 90,5% do

total não sabe ler nem escrever. Do total das mulheres casadas 5,6% domina a leitura e a escrita os

restantes 94,4% que corresponde a um total de 250 mulheres que não sabe ler nem escrever. A

classe das viúvas apresenta um total de 5 mulheres que sabem ler e escrever, correspondendo a

6,6% do total da classe. Os restantes 93,4%, a que corresponde um total efectivo de 71 mulheres,

não sabem ler nem escrever.

147

A freguesia de Paradança regista uma população total de 286 habitantes, os quais se

encontram divididos em 125 do sexo masculino e 161 do sexo feminino. Dos 125 indivíduos do

sexo masculino, existem 79 que são solteiros, 38 casados e 8 viúvos. Do total de solteiros, 37

indivíduos (46,8%) sabem ler e escrever, apenas 1 se encontra no grupo dos que apenas sabem ler e

os restantes 41 a que corresponde a percentagem de 51,9% dos que não sabem ler nem escrever. A

Classe dos casados apresenta um valor relativo de 44;7% da população que sabe ler e escrever;

2,6% apenas sabe ler e 52,6% da população não sabe ler nem escrever. Mais concrectamente 17

sabem ler e escrever e 1 apenas domina a leitura. Os restantes 20 não sabem ler nem escrever. A

classe dos viúvos apresenta um total de 5 indivíduos que não sabe ler nem escrever, isto é 62,5%;

os restantes 37,5% dominam quer a escrita quer a leitura.

Dos 161 habitantes do sexo feminino na freguesia de Paradança verifica-se a existência de

112 mulheres solteiras, 38 mulheres casadas e 11 viúvas. Desta divisão podemos observar que do

total de mulheres solteiras 5 sabem ler e escrever, 2 apenas sabem ler e 105 não sabem ler nem

escrever, ou seja respectivamente, 4,5% sabe ler e escrever, 1,8% apenas sabe ler e 93,7% não sabe

ler nem escrever. Relativamente às mulheres casadas 10,5% sabe ler e escrever, que corresponde a

um valor efectivo de 4 mulheres, 2,6% apenas sabe ler que corresponde a 1 mulher e 86,8% não

sabe ler nem escrever que corresponde a um total de 33 mulheres. As viúvas apresentam um índice

de 9,1% de mulheres que sabem ler e escrever e os restantes 90,9% que corresponde a 10 mulheres

não sabem ler nem escrever.

A freguesia de Pardelhas apresenta uma população total de 205 habitantes, 96 são do sexo

masculino e 109 do sexo feminino. Dos 96 indivíduos do sexo masculino 54 são solteiros, 34 são

casados e 9 são viúvos. Do total de solteiros 4 sabem ler e escrever, correspondendo ao valor

percentual de 7,4% e 50 são analfabetos, que corresponde a 92,6% do total. Os casados registam

uma percentagem de 20,5% ou seja 7 que sabem ler e escrever, os restantes 27 ,79,4% dessa

população, não sabem ler nem escrever. Os viúvos apresentam 12,5% da sua população que sabe

ler e escrever, ou seja apenas um indivíduo, enquanto os restantes 7 (87,5%) não sabem ler nem

escrever.

O grupo da população feminina desta freguesia apresenta um índice de 100% de

analfabetismo para a classe das casadas e das viúvas. Por sua vez a classe das mulheres solteiras

apresenta uma percentagem de 1,5% ou seja uma mulher que sabe ler e escrever, os restantes

98,5% que corresponde a 67 mulheres não sabe ler nem escrever.

A freguesia de Vilar de Ferreiros apresenta uma população total na ordem dos 926

habitantes, sendo 437 do sexo masculino e 489 do sexo feminino. Dos 437 do sexo feminino 329

são solteiras, 124 são casadas e 36 são viúvas. Desta divisão podemos observar que da população

148

solteira 3 mulheres (0,9%) sabe ler e escrever, 3 (0,9%) só sabe ler e 323 mulheres (98,2%) é

analfabeta. Da classe das casadas só 2 mulheres (1,6%) sabem ler e escrever; a mesma percentagem

para as que só sabem ler e os restantes 96,8% - que corresponde em termos efectivos a 120

mulheres - não sabem ler nem escrever. A classe das viúvas apresenta uma percentagem de 2,8% da

população que só sabem ler o que corresponde a uma mulher apenas e por sua vez 97,2% não sabe

ler nem escrever.

Relativamente à população masculina, esta regista a seguinte divisão: 288 indivíduos são

solteiros, 123 são casados e 26 são viúvos. Desta divisão podemos observar que a classe dos

solteiros apenas 25,7% saber ler e escrever, 5,9% apenas sabe ler e 68,4% da população não sabe

ler nem escrever. A classe dos casados regista uma percentagem de 26% da população que sabe ler

e escrever, o que corresponde a 32 indivíduos, 6,5% apenas sabe ler, respeitante a 8 indivíduos e

67,4% não sabe ler nem escrever, respeitante a uma população de 83. Os viúvos registam uma

percentagem de população que sabe ler e escrever na ordem dos 23% ou seja 6 neste grupo; 9

indivíduos apenas sabem ler o que corresponde a 34,6% da população. A percentagem daqueles que

não sabem ler nem escrever é de 42,3% que corresponde em termos efectivos a 11 indivíduos.

7 - ANÁLISE DO NÍVEL DE ESCOLARIDADE POR FREGUESIA NO CONCELHO DE

MONDIM DE BASTO COM BASE NOS CENSOS DE 1890.

Quadro nº 32. RESULTADOS DOS CENSOS DE 1890

FREGUESIA FOGOS POPULAÇAO SABEM

LER

E

ESCREVER

% SABEM

LER

% ANALFA

BETOS

%

ATEI 473 H.- 768

M.- 927

317

124

41,2

13,3

7

7

0,91

0,75

444

796

57,8

85,8

BILHÓ 211 H.- 417

M.- 452

62

12

14,8

2,65

12

06

2,87

1,32

343

434

82,2

96,0

CAMP. 94 H.-.184

M. –175

59

10

32,0

5,71

03

00

1,63

0,00

122

165

66,3

94,2

ERM. 281 H.- 553

M.- 534

135

022

24,4

4,11

23

05

4,15

0,93

395

508

71,4

95,1

MOND. 473 H.- 744

M. –909

257

171

34,5

18,8

20

10

2,68

1,10

467

728

62,7

80,0

PARAD. 67 H.-.107

M.- 160

39

10

36,4

6,25

00

00

0,00

0,00

069

150

64,5

93,7

PARDE. 47 H.-.92

M.- 97

12

00

13,4

0,00

02

00

2,17

0,00

78

97

84,8

100

V. FERR 261 H.- 465

M.- 504

107

021

23,0

4,16

46

04

9,89

0,79

312

479

67,0

95,0

149

7.1 - Escalas de classificação do conceito de alfabeto, segundo o censo de 1890.

Da leitura dos dados do censo de 1890 podemos identificar três escalas da classificação da

instrução no concelho: o primeiro grupo dos que sabem ler e escrever; o segundo grupo dos que

apenas sabem ler e o terceiro grupo dos que não dominam nenhumas das técnicas anteriores, isto é,

são analfabetos.

7.2 – Análise dos dados.

A análise do quadro permite-nos ainda estabelecer uma comparação directa entre o nível de

instrução por sexo. A par dos efectivos absolutos de cada freguesia, existe um valor relativizado

que nos possibilita uma melhor análise de conjunto.

O concelho de Mondim de Basto regista neste censo um total de 3330 indivíduos do sexo

masculino, dos quais 66,9% são analfabetos, 3,3% apenas sabem ler e 29,9% sabem ler e escrever.

Relativamente ao sexo feminino, o concelho regista um total de 3758 mulheres. Deste total 9,8%

sabe ler e escrever, 0,8% apenas sabe ler e 89,3% são analfabetas.

Podemos desde já realçar que o comportamento a nível das freguesias é um pouco

idêntico se não semelhante ao registado no concelho.

A freguesia de Atei apresenta um total de 768 indivíduos do sexo masculino, dos quais

41,2% dominam a escrita e a leitura, 0,91% apenas sabe ler e 57,8% não sabem ler nem escrever.

No sector feminino a freguesia regista um total de 927 habitantes. Destes 13,3% sabem ler e

escrever, 0,75% apenas sabe ler e 85,8% é analfabeta.

A freguesia do Bilhó regista uma população do sexo masculino e feminino da ordem dos

417 e 452 habitantes respectivamente. Do sexo masculino 14,8% sabem ler e escrever, 2,8% sabe

ler simplesmente e 82,2% não domina nenhuma destas técnicas, é completamente analfabeta.

Relativamente ao sexo feminino, 2,6% da população sabe ler e escreve, 1,3% apenas sabe ler e os

restantes 96% é analfabeta.

Quanto à freguesia de Campanhó, dos 154 habitantes do sexo masculino, 32% sabem ler

e escrever, 1,6% sabe ler e 66,3% não sabe ler nem escrever. Por sua vez a população do sexo

feminino regista um total de 175 habitantes, dos quais 5,7% sabe ler e escrever e os restantes 94,3%

são analfabetos.

A freguesia de Ermelo apresenta uma população masculina na ordem dos 553 habitantes,

destes 24,4% sabem ler e escrever, 4,1% sabem apenas ler e 71,4% não sabem ler nem escrever. O

150

grupo das mulheres apresentam um total de 534 habitantes. Deste total 4,1% sabe ler e escrever,

0,9% apenas domina a leitura e 95,1% é analfabeta.

A freguesia de Mondim de Basto regista uma população masculina na ordem dos 744

habitantes, dos quais, 34,5% domina a escrita e a leitura, 2,6% apenas domina a leitura e 62,7% não

domina nenhuma desta técnica. Das 909 habitantes que compõem o sector feminino 18,8% sabe ler

e escrever, 1,1% apenas sabe ler e 80% não sabe ler nem escrever.

A freguesia de Paradança apresenta uma população absoluta do sexo masculino na

ordem dos 107 habitantes. Destes 36,4% sabe ler e escrever, no entanto a restante população é

analfabeta. Da população do sexo feminino apenas 6,2% sabe escrever e ler e restante população

não domina qualquer uma destas técnicas. Sendo estes dados para um total de 160 habitantes.

Pardelhas é uma das freguesias que regista menor população, apenas 92 indivíduos do sexo

masculino e 97 do sexo feminino. Nesta freguesia a população feminina é completamente

analfabeta, uma vez que não sabe ler nem escrever. Por sua vez o sector masculino regista um valor

de 13% da população que sabe ler e escrever, 2,1% apenas sabe ler e 84,7% é analfabeta.

A freguesia de Vilar de Ferreiros apresenta um total de população masculina na ordem

dos 465 habitantes, entre os quais 23% sabe escrever e ler, 9,8% apenas sabe ler e 67% não sabe ler

nem escrever. O número de mulheres nesta freguesia é de 504, destas 4,1% domina a leitura e a

escrita, 0,7% apenas a leitura e os restantes 95% não dominam nem a escrita nem a leitura, isto é

são analfabetas.

Após a análise individualizada de cada freguesia e do concelho do nível de instrução

podemos concluir que em todas as freguesias praticamente mais de dois terços da população não

sabe ler nem escrever, chegando mesmo a registar na freguesia de Pardelhas e para o sexo feminino

uma taxa de analfabetismo de 100%. A média da população analfabeta é da ordem dos 92,2% para

o sexo feminino. São visíveis também as grandes diferenças entre o nível de instrução dos homens

e das mulheres. Normalmente a taxa de analfabetismo nas mulheres é muito superior à dos homens.

Traduzindo-se na realidade o número de analfabetos em valores, constatamos serem

superiores a 90% do total da população feminina.

Relativamente à população masculina o número de analfabetos ronda em média os 69% de

indivíduos.

151

8 – Conclusão.

Dos números e percentagens acima mencionados podemos concluir que a situação que

encontramos em Mondim de Basto é em muito idêntica à encontrada para o resto do país, conforme

podemos ver no quadro seguinte:

Quadro nº 33. Comparação Entre Índices de Alfabetização a Nível Nacional e Mondim de

Basto.

FREGUESIA POPULAÇAO

RESDIDENTE

EM 1878

1878

% de

ANALFABETOS

POPULAÇAO

RESDIDENTE

EM 1890

1890

% de

ANALFABETOS

ATEI H.- 692

M.-930

75,5

92,9

H.- 768

M.- 927

57,8

85,8

BILHÓ H.- 431

M. 487

69,7

97,6

H.- 417

M.- 452

82,2

96,0

CAMPANHÓ H.-178

M.-176

94,2

100

H.-.184

M. –175

66,3

94,2

ERMELO H.-522

M.-540

53,1

86,5

H.- 553

M.- 534

71,4

95,1

MONDIM H.- 721

M. 901

61,2

92,7

H.- 744

M. –909

62,7

80,0

PARADANÇA H.-125

M.-161

55,7

90,5

H.-.107

M.- 160

64,5

93,7

PARDELHAS H.- 96

M.-109

86,5

99,5

H.-.92

M.- 97

84,8

100

VILAR DE

FERREIROS

H.- 437

M.- 489

59,4

97,3

H.- 465

M.- 504

67,0

95,0

MÉDIA

MONDIM

81,0

MÉDIA

NACIONAL64

79,2

Naturalmente que não podemos aceitar que, tendo o número de escolas evoluído

positivamente no espaço de 12 anos – 1878 e 1890 -, o número de analfabetos se tenha mantido

praticamente inalterável, em Mondim de Basto, acreditando antes que estes números podem não

corresponder à realidade estando enfermados de erros próprios deste tipo de fontes, onde se pecava

por omissão ou até por falsas declarações. Acreditamos poder reforçar esta ideia com o facto de que

64 Dados retirados do Dicionário de História de Portugal, Dir. de Joel Serrão, artigo “Ensino Primário e Analfabetismo”, pág. 395.

152

a população residente pouco se ter alterado, passando de 6995 indivíduos em 1878 para 7088 em

189065

, ou seja, apenas aumentou em 93 indivíduos.

Comparando a média de analfabetos entre homens e mulheres para os dois anos em estudo

obtemos o seguinte resultado: em 1878 temos 69,41% de analfabetos masculinos e 94,6%

femininos; em 1890 temos 69,6% de analfabetismo masculino e 92,4% do feminino. A um ligeiro

recrudescimento de analfabetismo masculino correspondeu uma descida, também ligeira, do

feminino. Se entre ambos há cerca de treze pontos percentuais de diferença isso deve-se

naturalmente ao facto das escolas masculinas terem aparecido muito mais cedo do que as

femininas.

Por alturas do censo de 1890 temos apenas duas escolas femininas a funcionar em todo o

concelho e de criação relativamente recente. Em Mondim a população feminina alfabetizada atinge

18,8% e em Atei 13,3%. Em todas as freguesias, com excepção de Pardelhas, encontramos

mulheres alfabetizadas. Então com quem aprenderam a ler e a escrever?

É possível que tenham adquirido essa instrução em casa, com os familiares e, nalguns

casos conhecidos, com professores particulares.

Em relação ao número de alfabetizados do sexo masculino, saem beneficiados os

moradores dos concelhos mais urbanizados: Atei apresenta 41,2% de alfabetizados e Mondim

34,5%, média superior à nacional. Ermelo surge-nos como excepção nesta regra dado apresentar

apenas 24,4% de alfabetizados masculinos, o que vem apenas reforçar uma ideia já constatada

várias vezes: em Ermelo era enorme o absentismo escolar. Devemos salientar aqui que em Atei

entre as duas datas assinaladas o analfabetismo masculino diminuiu 17,7% e o feminino 7,1%. No

Bilhó o masculino subiu 13,5% e em Campanhó baixou 27,5%. Em Ermelo, a reforçar aquilo que

temos vindo a dizer, o analfabetismo masculino cresceu 18,3% e o feminino quase 9%. Em

Mondim o analfabetismo masculino sobe muito ligeiramente mas em compensação baixa 12,7% o

feminino.

Também algumas dúvidas nos surgem em relação à freguesia do Bilhó. Com apenas

14,8% de indivíduos alfabetizados, o número parece-nos muito exíguo para uma freguesia que

tinha escola desde 1833 sem qualquer sobressalto, e sabendo nós que no lugar do Bobal havia

uma professora que ensinava numa casa particular todos os que quisessem aprender a ler,

escrever e contar, para além de ensinar às meninas rudimentos de lavores e dar até lições de piano.

É certo que aqueles aprendentes – quase todos adolescentes ou mesmo já adultos -, não eram

65 Tanto o censo de 1878 como o de 1890 referem mais 21 indivíduos que não foram contabilizados por nós por fazerem parte da

população não residente.

153

propostos para exame. Se estes não eram contados como alfabetizados então isso quer dizer que só

o era quem tinha frequentado a escola primária e era portador de um certificado comprovador?

Pardelhas surge-nos como a freguesia com menor índice de alfabetismo ou até mesmo nulo para

o sexo feminino. A freguesia está envolta em serranias, sem acessibilidades quer à sede do

concelho quer do distrito. Vive modestamente dos gados e da fraca agricultura. Perante este cenário

que interesse tinha aprender a ler e a escrever? Mandar os filhos estudar para longe era dispendioso

e eles faziam falta no apascentamento do gado, tal como ainda hoje, finais do século XX se

verifica.

É baixíssima a percentagem de indivíduos dos dois sexos que só sabem ler o que

demonstra que a aprendizagem da leitura e escrita estavam associadas e que a aprendizagem de

uma levava quase automaticamente à aprendizagem da outra.

Se cruzarmos esta fonte com os resultados obtidos com as assinaturas das testemunhas nos

testamentos chegamos à mesma conclusão.

154

4ª Parte

O Desenvolvimento

155

1 - O LENTO CAMINHO DA MUDANÇA

1.1 – Introdução.

Aqui, onde as aldeias envelhecem, a memória persiste, Cravada no granito das casas e nas rugas dos rostos. Em cada Agosto

que passa, aqueles que saíram regressam para beber da memória, matando uma sede a que também chamam saudade

(CAMPUS, 1998: 1)

Procuramos até aqui fazer uma caracterização física, política, económica, social, cultural e

educacional do actual concelho de Mondim de Basto a partir da segunda metade do século XVIII.

Verificamos estar perante um concelho típico do interior rural, onde as raízes estruturais do Antigo

Regime se prolongam muito para além da revolução liberal.

O quadro que nos é apresentado em 1825 pelo visitador José António Madureira é

esclarecedor. Segundo ele “Mondim está em grande decadência, tudo são ruínas e casas

depauperadas; a Igreja e as capelas vão seguindo a mesma sorte, sendo tudo, em outro tempo, bom”

(anexo nº 4). O panorama, segundo o mesmo visitador estende-se ao resto do concelho. Na visita

anterior, Atei fazia parte do grupo de terras denunciadas como más, onde reinava a luxúria e a

lascívia.

A rede de transportes e das comunicações mantém-se, de um modo geral e pelo menos

durante a primeira metade do século XIX a mesma que caracterizava o Antigo Regime.

Inexistência de estradas, pontes, etc.

A sociedade rural mondinense evoluiu de forma muito lenta dos fins do século XVIII até

aos nossos dias. Apesar das alterações (e altercações) políticas a nível nacional, de onde

destacamos as Invasões Francesas (1807-1810); a Revolução Liberal (1820); o retorno ao

Absolutismo (1828-1834); o Setembrismo (1836-1842); o Cartismo Cabralista (1842-1846); a

Patuleia (1847), a Regeneração (1851), etc., e das alterações legislativas, de onde destacamos a

abolição dos Direitos Banais (1821), a Redução dos Forais (1822), a propriedade consignada como

um dos direitos fundamentais do Cidadão (constituição de 1822), a Extinção das Ordens Religiosas

(1834), a Desamortização (1835), o fim dos Morgadios e Capelas (30 de Julho de 1860 e 19 de

Maio de 1863), etc, os ventos da mudança tardaram a chegar ao mundo rural onde a vida continuou

num ritmo próprio alheia às novas que chegavam de Lisboa ou do Porto, e onde a estrutura social

se mantém acomodada e praticamente inalterável.

O ruralismo repercute-se na estrutura da população. A dispersão desta e a ocupação

fundamentalmente agrícola estruturam a sociedade tradicional mondinense. Os dados falam por si:

156

de 54% da população activa no sector primário em 1795 passamos para cerca de 90% em 1890,

uma média superior à nacional que era de 88,5% em 1864, de 87,8% em 1878 e de 85% em 1890,

segundo os dados de Amorim Girão.

O sector secundário apesar de ver aumentar o número de indivíduos, não aumenta em

termos percentuais e o sector terciário, embora veja aparecer um conjunto de novas profissões

principalmente ligadas à prestação de serviços – promovidas pelo liberalismo, pela substituição do

senhorialismo pelo capitalismo, pelo tímido alargamento da rede viária -, continua pouco

significativo.

A pequena propriedade e o autoconsumo, que por si só não geram grandes riquezas,

produzem porém uma certa estabilidade social, onde cada um acha que o lugar que ocupa é o seu

sem haver lugar para grandes interrogações, o que era reforçado por uma doutrinação religiosa que

fazia a apologia da resignação, da deferência e do respeito.

O fraco desenvolvimento industrial, as sobrevivências aristocráticas e a persistência de

valores tradicionais definem os limites impostos à instauração da nova ordem social. “Longe do

radicalismo revolucionário de outras nações, a sociedade liberal portuguesa optou pela conciliação

entre grupos e quadros dirigentes oriundos do antigo regime e a integração de novos membros,

associando velhas e novas estruturas, tradição e modernidade” (MATTOSO, ob. Cit. 442), isto é,

não se conseguiram criar formas de ruptura capazes de nos libertarem das amarras do Antigo

Regime - que só desaparecerão num já adiantado século XX -, daí assistirmos a uma muito lenta

implantação do regime liberal.

Perante este quadro, tal como Joel Serrão também nós perguntaremos: “Como é que os

homens de então raciocinavam, e a partir de que elementos eles municiavam as suas mentes para a

compreensão da realidade envolvente?

Até que ponto a elite mais ou menos iluminada podia influir na pesada marcha das coisas?

Que tensões, desajustes, incompatibilidades seriam descortináveis entre os homens do mando e a

vasta massa popular, uns e outros com as suas culturas, as suas utensilagens mentais, as suas

implicações em dadas realidades?” (SERRÃO, 1973: 15). Em que medida é que os destinos de vida

reflectem ou não a escolarização?

2 – A ESTRUTURA SOCIAL: PERMANÊNCIAS E MUDANÇAS

2.1 - O Povo.

Como é que a população rural mondinense evoluiu ao longo do século XIX?

157

Em finais do século XVIII tínhamos 785 indivíduos ligados a actividades agrícolas

(quadro n.º 2) distribuídos por Lavradores (551) e jornaleiros (234), para uma população de 4850

indivíduos (quadro n.º 1). 100 anos mais tarde (1890) são referenciados 2226 indivíduos do sexo

masculino (quadro n.º 4) distribuídos por Trabalhadores Agrícolas (2224) e a Viver dos

Rendimentos (2), para uma população de 7109 indivíduos (quadro n.º 1). Com este tipo de

classificação ficamos sem um quadro social nítido. Subiu o número de proprietários ou baixou? E

os jornaleiros, rendeiros e pastores? A clarificação dos dados permitir-nos-ia perceber as linhas de

força da evolução do campesinato. Assim, deveremos interpretar estes dados com todos os

cuidados, mas, tendo em atenção a conjuntura nacional, é bem possível que o número de

proprietários tenha aumentado, ao mesmo tempo que diminuía o dos rendeiros, mantendo-se os

outros sensivelmente iguais. Ora, a um aumento do número de proprietários corresponderia

necessariamente um maior fraccionamento da propriedade, que levaria a uma diminuição dos

rendimentos – que se tornaria mais visível nos anos de fracas ou excessivas produções (e são vários

a partir de 1853), originando o abandono dos campos, levando à concentração fundiária, e abria

cada vez mais as portas da emigração. Acreditamos que esta tese ainda mais se reforça quando

olhamos para o número de mulheres – 2400 – que também se dedicam aos trabalhos agrícolas em

1890. De facto, se por um lado a participação da mulher nesses trabalhos era importante para a

manutenção da economia familiar, por outro lado o carácter selectivo da emigração –

fundamentalmente masculina -, contribuía para reforçar o seu papel na produção agrícola. Porém,

pouco ou nada sobeja e em cada novo ano repetir-se-á o ciclo da sobrevivência E se ao longo do

século XIX assistimos no País a mudanças estruturais que fariam prever uma melhoria qualitativa

na agricultura, por detrás disso continuarão a persistir estruturas tradicionais dificilmente mutáveis,

que emperrarão essas mesmas mudanças.

A organização económica das actividades produtivas assenta numa lógica familiar, onde o

recurso ao trabalho infantil e juvenil era prática corrente. Desde cedo as crianças contribuem com o

seu trabalho para a economia familiar, quer auxiliando nos trabalhos do campo, guardando o gado,

apanhando lenha ou ganhando o dia à “Jorna”. “Tem a altura de uma enxada e a utilidade de um

homem. Sai de madrugada, recolhe às trindades”, assim escrevia Eça. A existência da policultura

obriga a um trabalho permanente na terra, não permitindo a existência de tempos mortos e como tal

não favoráveis à prática da leitura e da escrita.

A miséria persiste no horizonte, miséria esta a causa principal enunciada por A. Herculano

em 1874 que estava por detrás do fantástico fenómeno da emigração para o Brasil: “era o fugir-se à

miséria pelo respiradouro das empresas marítimas e das conquistas, que consumiram as forças

158

vivas do reino e que, enriquecendo-o na aparência, o empobreceram na realidade, convertendo-o

num grémio social, cujas feições características foram por séculos o madraço e o mendigo”.

(Herculano in GODINHO, ob. cit: 258). Haverá algum exagero nesta análise, se tivermos em linha

de conta o inquérito parlamentar à emigração realizado em 1872, segundo o qual não era a penúria

e a falta de emprego que a provocava, visto que no Minho, (a parte sul do concelho de Mondim é

tipicamente minhota), local de grandes saídas, havia falta de braços o mesmo acontecendo noutras

partes do país (Aveiro, Alentejo e Douro, por exemplo) locais que em épocas de maior faina

agrícola recebiam braços de fora. Sabemos que de Mondim iam, e continuam a ir, “rogas” para o

Douro na época das vindimas, o que representava mais alguns proventos na economia familiar.

Para além disso a política fontista de construção de caminhos-de-ferro, pontes e estradas facilitou

emprego a muita gente, oriunda principalmente dos meios rurais e, a jusante, acabou por promover

o aumento da área cultivada conseguindo-se mais mercadorias a colocar nos mercados e também o

aumento dos lucros. Além do mais para se emigrar era preciso algum dinheiro para a viagem e só o

teria, ou quem tivesse propriedades, que poderia vender antes de partir, ou “courelas” – porção de

bens que segundo o código civil não podia deixar de herdar -, que serviam de garantia aos

emprestadores.

Para o fim do século e princípios do seguinte a construção de pontes e estradas permitirão

uma maior abertura ao exterior, maior acesso às novas técnicas agrárias (“O Progresso de Mondim”

faz frequentemente publicidade às novas máquinas agrícolas e aos novos adubos e sementes) e às

influências urbanas. Alargam-se os horizontes das populações rurais. Facilita-se a emigração.

Promove-se a aproximação do urbano com o rural. Afinal móbeis suficientes para um maior

interesse pela escola e pela cultura escolar.

2.2 - O Clero.

Como já dissemos continua numeroso e a exercer uma grande influência sobre o ritmo de

vida imposto no concelho. Compete-lhe, para além das práticas religiosas – muito abaladas pelo

fim das ordens religiosas em 183466

, mas continuando a ser muitas e muito importantes para o povo

rural -, exercer funções de natureza bancária – emprestando, através das Irmandades das Almas,

dinheiro a juros, normalmente a 5% -, - administrativas – registo paroquial, organização das

eleições, intervenção no recrutamento militar, etc, o que os convertia em verdadeiros agentes

66 Já em 1814 o Investigador Português em Inglaterra publicava um projecto de um plano para extinguir as ordens religiosas em

Portugal, preocupando-se ao mesmo tempo com o futuro dos clérigos. No ponto IV podemos ler: “Muitos empregos civis poderão

propriamente ser preenchidos pelos frades secularizados; a Educação, e ensino público de primeiras letras, línguas, e artes...”

(MATTOSO, ob. Cit.: 343).

159

Estado-nação -, e política – são muitos os que ao longo do século XIX e princípios do XX exercem

o cargo de vereadores ou presidentes das juntas de paróquias. São os casos dos padres Miranda e

Victorino Pires em Atei, Peixotos em Ermelo ou Luís Reis e Justino Lemos em Mondim. Prepara

intelectualmente os ordinandos e os clérigos in minóribus, ensinando-os a ler, escrever e noções de

gramática. É certo que as informações dos visitadores nem sempre são abonatórias do bom

comportamento cívico e moral que os padres deveriam ter ou dos conhecimentos que possuíam –

muitas vezes insuficientes quer em ortografia quer em caligrafia -, mas também não deixa de ser

verdade que muitos dos visitadores exagerariam nas informações prestadas. E se o Ensino não os

motiva nos primeiros anos do século XIX, a situação alterar-se-á com o liberalismo. De qualquer

modo é evidente que o poder dos membros do clero lhe advém do grau de escolarização que

possuía, facto que o transformava numa verdadeira elite local.

2.3 - A Nobreza.

Detentora de bens móveis ou de raiz e também bastante alfabetizada, o que seria obrigatório

em função dos cargos que exercia (tendo em consideração os exemplos que conseguimos

identificar).

A terra não os incentiva a por cá morarem, o que terá feito com que nenhum bacharel ou

doutor por cá se fixasse para exercer a sua profissão, pelo menos de 1820 até meados do século

XIX. Vivem longe, exercem cargos na administração do reino e só vêm à terra para receberem dos

caseiros, meeiros e rendeiros as rendas estipuladas. Com o fim dos morgados e capelas, provocados

pelo movimento da Regeneração que leva a uma maior divisão da propriedade, o grupo dilui-se

mas, como grandes proprietários que continuam a ser, continuam a escolarizar-se e a mandar os

seus filhos à escola onde aprendem a ler, escrever e contar e ainda para o colégio (Lamego) ou para

a universidade (Coimbra e Porto), conseguindo assim um estatuto que lhe permite o domínio, a par

do clero, da vida social e política pois auferem rendimentos que lhe dão poder e, claro, segurança

económica. Continuam a ser eleitos para cargos da administração central (Deputados,

Governadores Civis, etc.) ou da administração local (Câmara, Paróquia, etc.). Daqui resultava uma

complexa sobreposição de papéis e de funções.

Em suma, se progressivamente o grupo vai definhando ao mesmo tempo que se subvertem

os valores tradicionais da sociedade – que deixam de repousar no nascimento e na fortuna -,

também não deixa de ser verdade que conseguiu adaptar-se aos novos tempos e, muitas vezes

camuflado sob a figura de “cacique”, continuará a ser influente e a exercer influências.

160

2.4 - A Burguesia.

Tomando como base os Censos de 1890 (quadro n.º 4) e ainda as profissões identificadas

nos testadores e testemunhas dos traslados de testamentos bem como a relação dos eleitos para

jurados podemos incluir neste grupo os funcionários públicos, professores, advogados, médicos,

estudantes universitários, mercadores, homens de negócios, industriais, militares e os indivíduos

que vivem dos rendimentos, podemos calcular uma percentagem que se aproximará dos 10%. Valor

subestimado? Provavelmente sim dada o carácter muito impreciso de algumas nomenclaturas

utilizadas. Trata-se, de qualquer modo, de um número que nos merecem muitas reservas.

A burguesia, principalmente a partir da Regeneração compra os bens ou títulos

nobiliárquicos para ascender ao grupo dos nobres criando com isso “uma nova mentalidade de

compromisso, aliando-se os valores burgueses ao fascínio da tradição aristocrática e ao peso do

formalismo da etiqueta” (REIS, 1990: 316) mas depressa se apercebe que a solidez e crescimento

do seu grupo só é possível pelo reforço da instituição familiar, das regras de etiqueta e boas

maneiras. Deixa de contar a linhagem (que havia sido importante para a nobreza), para se valorizar

excepcionalmente a família – célula da sociedade -, enquanto projecto de aspirações. Assistimos,

assim, para o fim do século ao despertar de uma nova mentalidade cuja base de sustentação são a

Escola Primária e a Imprensa.

“O modo de vida e o nível de cultura, o mérito pessoal, a fortuna e a pertença a uma família

conhecida ou a um determinado meio eram elementos de consideração social cada vez mais

importante na novel sociedade burguesa” ( MATTOSO, ob. Cit. 449).

2.5 – Conclusão.

É o pequeno proprietário, dependente das crises de produção e sem outros meios, que

impera na realidade mondinense ao longo do século XIX e que encontra na emigração para o Brasil

ou no emprego na cidade a solução para os seus problemas económicos. Para estes a mobilidade

social permanecia fraca, mesmo por parte daqueles que se tornaram mestres de ofícios ou pequenos

comerciantes, os quais, apesar de alfabetizados, não ganham o suficiente para adquirir propriedades

e assim não adquiriam o estatuto que lhes permitiria ascender na hierarquia social. Têm lugar

apenas como eleitores, sem ser eleitos, e como membros dos Jurados, o que prova que a evolução é

muito lenta e que a posse da terra e a sua forma de exploração continuam a ser o principal critério

que determinava o lugar de cada um na hierarquia social. Paralelamente, temos o caso daqueles,

médios ou grandes proprietários, que sobrevivem às crises, que adquirem mais propriedades (em

161

1903 quando a Junta de Paróquia de Atei procedeu à venda de alguns baldios para arranjar dinheiro

para a construção da Escola e do Cemitério só conseguiu vender alguns numa primeira hasta

pública, pois os potenciais compradores achavam os preços exagerados e por isso só alguns a eles

tiveram acesso) e assim ascendem socialmente à nova classe média em formação num processo que

levará anos a consolidar-se mas que fará deles ao mesmo tempo esteios e principais beneficiados

com a República.

E são estes que, à medida que caminhamos para o fim do século XIX, ao adquirir mais

propriedades recebem mais lucros e acabam por perceber, por um lado, precisam de se alfabetizar

para poder satisfazer necessidades impostas pela burocracia e, por outro, de que “o acesso à cultura

escrita e a capacidade de a utilizar no quotidiano, não apenas se traduz numa formalização e

instrumentalização da observação da realidade, como afecta as formas de representação e afirmação

social” (MAGALHÃES, 1994: 275). Mandam, por isso, os filhos à escola ou aos serviços prestados

por professores particulares para se formar e informar. É, assim, este grupo que “compõe” em

grande parte a percentagem dos alfabetizados no concelho.

Saem assim, lentamente, de uma cristalização a caminho da promoção da mudança. Passam

a ocupar lugares a que só os padres e poucos mais tinham ocupado até então. Dedicam-se a

actividades ligadas ao sector terciário. Urbanizam-se. E também emigram.

Neste processo de lentas transformações, onde se entrecruzam linhas de força com

contornos ainda pouco definidos, porque nunca estudados, torna-se contudo visível que às portas da

implantação da República a sociedade mondinense se pode caracterizar pela existência de uma

grande maioria de gente do povo, que persiste na manutenção de valores tradicionais mas já

demonstrando alguma abertura aos valores urbanos, por uma burguesia em tímida ascensão que vai

ganhando paulatinamente consciência de classe, que se alfabetiza aceitando ser aculturada por uma

escola primária eivada de valores urbanos, por uma nobreza em franca decadência e por um clero

que, resistindo e adaptando-se – viveu-se uma situação harmoniosa entre a Igreja e o Estado entre

1848 e 1910-, viu os seus efectivos diminuir constantemente mas manteve sempre elevado o seu

prestígio.

3 - FUNÇÕES E PRÁTICAS DA ALFABETIZAÇÃO E DA ESCOLARIZAÇÃO

3.1 - A Alfabetização como Desenvolvimento

162

“Aqui, onde mito e rito se entrelaçam, há saberes que resistem, escurados no

tempo; há usos que nos fazem gente; há costumes que nos são intrínsecos; há

lendas que nos enriquecem; há um passado e um chão que explicam que sejamos

nós” (CAMPUS, 1998: 1).

Vulgarmente consideramos alfabetizado todo o indivíduo que adquiriu as capacidades do

ler, escrever e contar e aplica esses conhecimentos em situações de funcionalidade. Quanto a nós

trata-se de uma visão muito reducionista do conceito de alfabetizado isto porque sabemos que há

indivíduos tidos por analfabetos mas que são detentores de conhecimentos e saberes, de

competências e experiências que deveriam de ser tidos em consideração na construção do conceito

de alfabetizado. De facto, quando por via oral um membro do povo é capaz de transmitir às

gerações seguintes os meios e técnicas de fazer os utensílios ou as ferramentas habitualmente

usadas na comunidade não deveríamos inscrever esse indivíduo no grupo dos alfabetizados, ou,

pelo menos, semialfabetizados? Por outras palavras, o conceito de alfabetizado não deveria ser

mais abrangente do que é?

Se assim fosse as fontes fornecer-nos-iam outros números. E é com base nelas que

poderemos fazer uma ideia da evolução do número de alfabetizados ao longo da 2ª metade do

século XIX. Começamos pelos traslados de testamentos: 40% de testadores homens, de testamentos

feitos entre 1874 e 1900 sabem ler e escrever. São alfabetizados. Trata-se de percentagens muito

interessantes e que nos provam que o médios e grandes proprietário praticavam a leitura e a escrita,

ou porque exerciam funções de poder, ou porque tinham que ser administrador dos seus próprios

bens, participarem como testemunhas em testamentos, fazer inventários, manifestos de vinhos, etc.

Por sua vez 97% das testemunhas, sempre homens, também dominam a leitura e a escrita. Como se

distribuem por trinta e sete profissões poderemos deduzir que há uma grande interligação entre a

estrutura socioprofissional e o nível de alfabetização. Passando para outro indicador que nos é dado

pelos censos, verificamos que em Atei temos 24,5% de alfabetizados em 1878 número que sobe

para 42% em 1890. É uma subida espectacular mas que não é acompanhada nem em Mondim, onde

em 1878 tínhamos 39% de alfabetizados e 38% em 1890, nem em Ermelo onde de 46% de

alfabetizados em 1878 passamos para 29% em 1890. Se fizermos uma análise cruzada entre os

dados dos inquéritos de 1873-74, a inspecção de 1875 e os censos de 1878, ficamos admirados por

termos em Ermelo 46% de alfabetizados. Então, com um absentismo escolar tão elevado, como é

possível aquele número de alfabetizados?

Como já referimos a população nestes dois períodos manteve-se praticamente igual. Os

valores ainda assim são superiores à média nacional que era de 17,6% de alfabetizados em 1878 e

163

de cerca de 21% em 1890. A crescente urbanização dos lugares, por um lado, o aparecimento de

novas profissões e a emigração para o Brasil, por outro, seriam os móbeis responsáveis por esses

valores.

Nas restantes freguesias os índices de alfabetizados permanecem muito baixos. Se olharmos

para os índices de alfabetização femininos então as coisas complicam-se ainda mais. Nos 65

traslados de testamentos analisados verificamos que 20% de mulheres sabem ler e escrever. As

outras testadoras “rogam” a alguém que por elas assinem, depois de declararem não o saber fazer. É

um número elevado mas revelador do elitismo da situação quando olhamos para os resultados dos

censos onde encontramos índices de alfabetização nunca superiores a 15% - Mondim e Atei em

1890-, e de apenas 5% em média para as restantes freguesias. Isto é, se a partir dos meados do

século XIX se criaram as condições políticas favoráveis à instrução feminina dado que é “preciso

que as mulheres se vão habilitando a tornar-se cidadãs úteis e prestadias, porque são verdadeiros

membros do corpo político, e interessam directamente com a ordem social, e com o bom regímen

dos negócios públicos. É preciso que a inteligência feminina se revigore com o conhecimento das

verdades religiosas para evitar o fanatismo e a superstição, em proveito da família, seu e da

humanidade” (MATTOSO, ob. cit.: 451), os números revelados pelos censos analisados mostram-

nos que entre desejos políticos (teóricos) e as realidades (práticas) as distâncias eram

confrangedoras.

Já aqui referimos o caso da professora do Bobal. Segundo informações prestadas por

Joaquim de Carvalho, era a satisfação de necessidades básicas, onde sobressaía o entender o que o

médico dizia e escrevia nas respectivas receitas, que levava os indivíduos (adolescentes e adultos) a

procurar os seus ensinamentos. Aqui estaríamos perante um processo de alfabetização puro em que

o verdadeiro móbil era a satisfação de interesses pessoais. Por outras palavras: a alfabetização

visava uma dimensão eminentemente prática – capacitar os indivíduos com os rudimentos

necessários para a satisfação de necessidades pessoais e por alargamento para poderem participar

nos actos vitais da paróquia.

Enfim, ao longo do século XIX o acesso à leitura e à escrita revela-se sempre muito

selectivo, independentemente do facto de encontrarmos grupos socioprofissionais que lidam

regularmente com a leitura e a escrita. O fim do século fará mudar as coisas, para melhor.

164

3.2 - A Escolarização e o seu Papel Alfabetizador

Tendo por base o período de tempo analisado neste trabalho e as fontes seleccionadas que

serviram de base para o mesmo não podemos identificar com clareza uma demarcação de transição

da Alfabetização para a Escolarização mas podemos identificar momentos em que os dois

processos coexistem mas com móbeis diferentes e com estruturas, métodos e graus de

aprendizagem também diferente.

A escola surge em Mondim com um carácter de permanência no reinado de Dª. Maria I.

Periclitante, a princípio, o que provoca algumas reclamações, mas consolida-se com o andar dos

anos. Enquanto assistimos, na primeira parte do século XIX, ao fecho de várias escolas um pouco

por todo o país no que acompanham o fim de muitos concelhos, aqui as três escolas criadas

oficialmente e a particular, criada por legado pessoal, manter-se-ão sempre em funcionamento.

Não dispomos de dados quantificados antes dos inquéritos de 1863-64, o que provoca

naturalmente graves lacunas neste trabalho, ficando assim sem sabermos quantos alunos

frequentaram as escolas e que grau de aproveitamento dela tiveram. Aqueles inquéritos são os

primeiros a fornecer-nos alguns elementos, já por nós analisados em capítulo específico. Por eles

ficamos a saber que havia inscritos 131 alunos do sexo masculino nas escolas oficiais e apenas 15

na particular e que era de 6 o número de meninas. A frequência regular era de 75 alunos, ou seja,

cerca de 50%. Apenas quatro alunos completaram a escolaridade mas sem exame. Por esta altura

terão completado a sua formação escolar os jovens Joaquim Augusto Alves Ferreira e Manuel

Augusto Pereira e Cunha, duas figuras por nós adiante referidas.

Os inquéritos de 1873-74 e os resultados da inspecção de 1875 dizem-nos que frequentam a

escola em Mondim um total de 240 alunos (incluímos as meninas e os da escola nocturna), e em

Atei 375 alunos, num total de 615 alunos. Como não sabemos quantos andavam na escola de

Ermelo, por falta de preenchimento dos respectivos mapas, acreditamos que o número seria bem

mais elevado. Mesmo sem os números de Ermelo verificamos que no prazo de 10 anos – 1863 a

1873 -, o número de alunos passou de 152 para 615, o que representa uma subida de 404%, número

que não encontra justificação no aumento populacional pois de 7059 habitantes recenseados em

1864 o número baixa para 7016 em 1878. Sabendo das condições para a prática de ensino

perguntaremos: onde é que os professores “metiam” todos estes alunos? Que condições de

trabalho?

Os resultados finais continuam desanimadores. Apenas 6 alunos prontos, mas sem exame. A

situação começará a melhorar ligeiramente a partir de 1882 (quadro n.º 15). Perante estes

resultados, que conclusões podemos tirar?

165

Ao procurar atingir como metas objectivos de natureza social, política e ideológica; ao

procurar trazer uma forte marca de urbanidade para o seio das populações rurais onde não se

haveria de valorizar um conjunto de práticas e saberes que cada aluno transportaria a escola mais se

fechava do que se abria e tornava-se um “quebra-cabeças” para a esmagadora maioria dos alunos.

Diremos mesmo até que a escola não se revelava assim como um núcleo essencial do processo

educativo dado haver, segundo o que algumas actas deixam transparecer, muitos pais que enviam

os seus filhos aprender com professores particulares (em Mondim, Atei e Bobal, pelo menos).

Fazem-no, ou por falta de implantação da escola nesses lugares ou, apesar de a haver, postos

perante a degradação do sistema educativo escolhiam o ensino particular ou doméstico, em

detrimento do oficial.

Poderemos deduzir desta situação que uma grande maioria destas crianças abandona a

escola logo que sabe ler alguma coisa, escrever sofrivelmente e fazer algumas contas? Estaremos

perante um fenómeno de utilidade instrumental do ler, escrever e até contar? Ou teremos que

concordar com D. António da Costa que a juntar ao reduzido número de alunos inscritos a nível

nacional e ao grande absentismo referia a carência geral de um professorado competente, da

deficiência dos métodos, da falta de directórios, e do desleixo dos pais, a quem o estado concede a

absurda liberdade de matarem o espírito e a carreira de seus filhos” (COSTA, 1884: 264 e 265),

dado que os tiravam da escola quando nem sequer “tinham aprendido os primeiros

rudimentos”(COSTA, ob. cit: 278 e 279).

Cumprindo apenas um papel alfabetizador, estamos perante uma grande ineficácia do

sistema educativo, no que dizia respeito a uma tarefa que era suposto possuir: preparar os alunos

para o prosseguimento dos estudos. De quem era a culpa? Da família, que consideraria a escola um

empecilho no aumento dos rendimentos familiares? Da criança que, mal alimentada, vestida e

calçada, tem uma certa vergonha em passar o dia ao lado dos colegas melhor arranjados? Porque os

trabalhos dos campos se revelavam mais importantes? Porque, muitos alunos, juntos em salas

pequenas, também seriam desmotivantes? Porque os conteúdos programáticos nada diziam à

maioria dessas crianças? Porque as estratégias pedagógicas seriam desajustadas à idade dos alunos?

São muitas as interrogações e muitas as dúvidas e incertezas que não nos deixam senão ser

muito cuidadosos com as ilações que tiramos. Mas se a nós nos atormentam estas questões o

mesmo aconteceu aos professores que participavam das Conferências Pedagógicas do Círculo de

Vila Real. Também eles se interrogam se, para além dos saberes do domínio cognitivo que a escola

transmitia não seria também de grande utilidade ministrar-lhes aulas de Educação Física e outros

ensinamentos que os preparassem para se tornarem bons cidadãos. Agora uma outra se levanta:

continuidade ou ruptura entre os processos de alfabetização e de escolarização em Mondim de

166

Basto? É muito nítido que a partir dos meados do século XIX, o Estado ao permitir que os horários

escolares se tornassem flexíveis e se adaptassem ao calendário agrícola visava uma evolução na

continuidade. Mondim e Atei aperceberam-se disso desde logo e, mais tarde, Bilhó também.

Contudo, se assistimos, por um lado, ao facto de os alunos faltavam muito às aulas, revelando

desinteresse, por outro assistimos também a situações em que as pessoas querem aprender os

rudimentos mínimos que a alfabetização permite tendo como móbil a satisfação das suas

necessidades sociais do dia-a-dia, como é o caso do Bobal, Anta e Pioledo, sem que a existência da

Escola se revele fundamental. Parece-nos, assim, que os dois modelos coexistem durante muito

tempo.

4 - MATERIALIDADE E ACÇÃO

4.1 -- As Elites e a Classe Média na Gestão Municipal e Paroquial

Começamos por considerar elites “todos aqueles que se encontrem no vértice da

hierarquia social, exercitando funções importantes que são valorizadas e reconhecidas

publicamente através de recompensas materiais significativas, diversas formas de privilégios, de

prestígio e outros benefícios de direito e de facto” (Giovanni Busino, 1992, cit. Por MATTOSO,

ob. Cit.: 459).

Importa-nos então saber, por um lado, quem foram os indivíduos que poderemos incluir

naquela definição e, por outro, se ao exercício daquelas funções estaria intimamente ligada uma

determinada capacitação alfabética.

Os cargos de administração aparecem-nos sempre pela seguinte ordem: juiz, Vereador e

Procurador para o século XVIII e princípios do XIX para depois dar lugar a Administrador,

Presidente de Câmara e Vereadores.

Vejamos alguns exemplos: em 1778 encontramos eleito para juiz em Mondim o Dr. Manuel

Francisco Magro e Oliveira. No ano seguinte fará parte dos eleitos mas como vereador. Trata-se de

um nobre da família dos Magros e Mouras.

Em Atei em 1795, e pelo menos até 1821, encontramos como administrador o professor de

Primeiras letras João Borges de Azevedo, que posteriormente dará a vez a um filho seu. Em Ermelo

será da família dos Costas (Manuel Martins da Costa, administrador e Vicente José da Costa,

escrivão, por exemplo), que sairão a maioria dos escolhidos até 1850. Não sabemos se algum

possuía algum título mas verificamos que ambos assinam as actas pelo seu próprio punho e numa

escala que poderemos considerar elevada.

167

A revolução liberal e os movimentos políticos consequentes promovem uma

redistribuição social de rendimentos da terra e um sistema de recompensas sociais que assentarão

na fidelidade político-ideológica, penalizando muitos elementos da elite tradicional e colocam

novos elementos no topo da hierarquia. A partir da Regeneração a “genealogia social das elites

políticas difere substancialmente das do antigo Regime. As novas elites oitocentistas não são um

mero prolongamento das antigas, provindo maioritariamente dos grupos emergentes que

protagonizam a construção da ordem social” (Tavares de Almeida, 1991, in MATTOSO, ob. Cit.

466). O decreto de 30 de Setembro de 1852, dando cumprimento ao Acto Adicional de 5 de Julho

do mesmo ano, "prescrevia eleições directas mas mantinha o voto restrito e censitário: a capacidade

eleitoral era conferida apenas aos cidadãos (do sexo masculino, claro está) que percebessem uma

renda líquida anual mínima de 100$000 réis, provenientes dos bens de raiz, capitais, comércio,

indústria ou emprego inamovível, desde que gozassem de direitos civis e políticos e tivessem

atingido a maioridade legal, isto é, 25 anos completos, ou 21 anos, desde que fossem casados,

oficiais do exército ou da armada, clérigos de ordens sacras ou diplomados com qualquer curso

superior, médio ou liceal. Quanto aos elegíveis, eram-no apenas os eleitores que possuíssem uma

renda anual mínima de 400$000 réis, não podendo os governadores civis, os administradores dos

concelhos, os juízes e os comandantes militares ser eleitos na área onde exerciam as respectivas

funções” (REIS, ob. Cit.: 22 e MARQUES, 1974: 69). Podiam, no entanto, candidatar-se em outras

zonas. Foi o caso do Doutor Manuel Augusto Pereira e Cunha, que foi eleito deputado pelo círculo

de Cabeceiras de Basto, e um dos poucos que estaria nas condições “apertadas” definidas por lei.

Não sabemos se mais algum mondinense foi eleito deputado.

É neste emergir que ao tempo da Regeneração se torna presidente da câmara de Mondim o

professor de gramática latina, António José Álvares de Carvalho67

, que gerirá o concelho durante

alguns anos (alguns descendentes deste professor estarão também ligados à gestão municipal); em

Atei são os padres quem orientam os destinos da paróquia, depois que deixou de ser concelho. No

entanto, no último quartel do século (1878-1881) será escolhido o Doutor Manuel Augusto Pereira

e Cunha, para a partir dele se seguirem António Machado e Moura e António Augusto Machado,

que eram familiares, até 1893 e em Ermelo é da família dos Peixotos (António da Costa Peixoto,

Manuel Peixoto, Domingos Peixoto, o professor Homero Peixoto e os padres Paulinos Peixotos, tio

e sobrinho, eleitos também vereadores) que saem os eleitos até à implantação da República. Na

67 Em 4.01.1851 a dona da Casa da Igreja, Dª Teresa Emerenciana de Carvalho, fez uma escritura de obrigação a este professor e a

sua mulher nos termos seguintes: “Ela diz que confessa ser devedora (a ele) da quantia de 560.900 réis precedida esta quantia de

dinheiros que lhe emprestou para remediar necessidades como foi as despesas de funerais, bens de alma de seus irmãos, rendas,

nove anos do campo do Chão da vinha e mais que por ela pagou ao reverendo abade desta freguesia José Joaquim da Costa Leite e

a Francisco Gomes Ribeiro” ACMM, Livro de Notas do Tabelião, n.º 104: 25v. Assim, este professor acabaria por se tornar dono

da casa da Igreja, o que demonstra que deveria ter bons rendimentos.

168

mudança do século encontramos em Mondim o Bacharel e grande proprietário José António

Machado e Moura, grande impulsionador da construção dos edifícios escolares de Mondim e Atei;

aqui o padre Victorino desde 1891, seguido do padre Miranda e este do professor Barreira.

Com o advento da República alarga-se o leque dos eleitos para cargos administrativos. A uma

diminuição de padres corresponderá uma subida generalizada de professores, funcionários públicos

e comerciantes. Também alguns emigrantes regressados do Brasil, entre eles José Augusto Álvares

de Carvalho, Alfredo de Matos Pinto Coelho, etc., já com uma vida estabilizada e organizada, vão

ocupar lugares ou de administradores ou de presidentes do município.

Pela importância destacada nos cargos que exerceram destacamos as duas figuras seguintes

das quais resumimos breve biografia.

4.1.1 – Biografia 1:

Manuel Augusto Pereira e Cunha, nasceu no lugar dos Barreiros, Atei, em 15 de Outubro de

1855. Formou-se em direito em Coimbra, onde recusou o lugar como lente da Faculdade. Foi eleito

Deputado pelo Círculo de Cabeceiras de Basto e Administrador dos concelhos de Mondim de Basto

e Vila Real e Governador civil em Faro, Porto e Lisboa. Foi ainda Chefe de Repartição da Direcção

Geral da Administração Política e Civil do Ministério do Reino, Secretário Geral do Ministério do

Interior, Juiz dos Tribunais Mistos no Egipto, Juiz do Tribunal de Mausourah (15.12.1903), Juiz do

Tribunal de Alexandria (22.01.1907), Vice-Presidente (5.11.1912) e Presidente (11.11.1918) do

Tribunal de Alexandria. Foi promovido À Cour em 30.11.1919. Grande Oficial da Ordem do Nilo.

Sir, por distinção do Rei Eduardo VII.

Comenda e Grã Cruz das Ordens de Nossa Senhora de Vila Viçosa, de Cristo, de Avis, da Ordem

de Isabel, a Católica, e Grande Oficial da Ordem da Vitória de Inglaterra.

Exerceu o cargo de Presidente da Junta de Paróquia de Atei.

4.1.2 - Biografia 2:

Joaquim Augusto Alves Ferreira, nasceu no lugar da Praça em Mondim a 6 de Abril de 1857.

Formou-se na Faculdade de Direito de Coimbra em Junho de 1881. Foi promovido a Juiz de direito

em 1891 e colocado na presidência do Tribunal Administrativo de Angra do Heroísmo. Exerceu

ainda o cargo de Juiz das Execuções Fiscais em Loures e de Auditor Administrativo em Santarém.

Foi Governador Civil em Vila Real. Colocado como Juiz de Instrução Criminal em Lisboa, mandou

prender o Dr. Afonso Costa e João Pinto dos Santos e foi-lhe entregue o processo de investigação

do Regicídio. Em 1920 vamos encontrá-lo como inspector permanente dos Serviços Judiciários e

em 28 de Novembro de 1925 passa a Juiz do Supremo. Colaborou em muitos jornais e revistas.

169

Dirigiu as investigações sobre o célebre processo “Angola e Metrópole” ou “Caso Alves dos Reis”,

conseguindo fazer a descoberta do crime negando as acusações sobre a direcção do banco.

Aposentou-se em 6 de Março de 1929.

Pelo que fica exposto poderemos concluir que:

1º - O poder oligarquiza-se no seio de algumas famílias, perfeitamente identificadas e

localizadas que dificilmente abrem mão desse poder. Destacam-se a dos Magros e Mouras,

Carvalhos, Pires, Teixeiras, Álvares de Carvalho e Pintos Coelhos, oriundos das melhores casas de

Mondim, os Oliveiras e Borges de Azevedo de Atei e os Costas e Peixotos, de Ermelo, entre outros.

2º - Em várias dessas famílias verificamos que, muitas vezes, para além do pai também

um ou mais filhos – sempre homens, acabam por adquirir habilitações literárias elevadas que lhes

permitem vir a exercer o cargo de Desembargador, Juiz, Capitão-Mor, Presbítero, Governador

Civil, etc., numa demonstração do efeito “Reprodução Grupal ou familiar”. O mesmo acontecerá

com famílias de médios ou importantes proprietários.

3º - É evidente que foi o facto de disporem dessas habilitações, aliadas ao poderio

económico, que lhes permitiu a ascensão a esses cargos de chefia – administrativos, judiciais ou

militares -, e como tal ao controlo e destino dos concelhos.

4º - O liberalismo promoveu a criação da figura do cacique rural, o qual, sendo detentor da

maioria das propriedades fundiárias se servirá desse recurso patrimonial para exercer influências e

funções de natureza política, que lhe trazem prestígio social e o torna medianeiro “ao mesmo tempo

agente da pressão local sobre o Estado e o garante da acção do Estado sobre a sociedade”

(MATTOSO, ob. cit. 468). Poderemos considerar que o poder detido por aquelas famílias durante

anos seguidos o foi numa base de caciquismo.

4.2 – Oportunidades e Destinos de Vida

Naturalmente que se revelava importante neste estudo tentar descobrir até que ponto a

aquisição do exame elementar se revelaria de alguma forma útil no futuro dos alunos que o

obtinham, isto é, tentarmos perceber qual a influência da escola no comportamento literácito dos

indivíduos.

A investigação corre naturalmente o risco de ser muito redutora da realidade pois a falta de

dados anteriores a 1882 logo por si se revela uma grave lacuna.

Com a reforma de Rodrigues Sampaio e a obrigatoriedade da existência de um livro

específico onde se registava o nome dos alunos que faziam exame elementar (quadro n.º 16)

170

conseguimos saber quem foram os alunos que em Mondim de Basto fizeram esse exame entre 1882

e 1894. Com base nesses dados procurámos descobrir o que é que esses alunos fizeram depois do

exame. As investigações levaram-nos a produzir o quadro seguinte:

QUADRO Nº 34. Oportunidades e Destinos de Vida dos Alunos que Fizeram o Exame

Elementar entre 1882 e 1894 68

PROFISSÕES QUANTIDADE %

Emigrantes 10 15,6%

Comerciantes 4 6,0%

Médicos 1 1,5%

Enfermeiros 1 1,5%

Professores 2 3,0%

Professoras 1 1,5%

Padres 3 4,5%

Presidentes da Câmara 2 3,0%

Falecidos ainda estudantes 2 3,0%

Desistiram dos estudos 1 1,5%

Desconhecido 37 58,9%

Total 64 100%

Vejamos exemplo a exemplo os casos que conseguimos identificar. Em entre parêntesis

colocamos o dia, mês e ano do exame respectivo.

1 - Adriano Pinto Correia dos Reis (31.05.1882), de origem fidalga, emigrou para o

Brasil. Ao contrário de outros familiares, a fortuna não lhe sorriu mas ocupou um cargo importante,

o de “Tesoureiro da Agência Financial de Portugal” no Rio de Janeiro.

2 - Alfredo da Graça Pinto Coelho (31.05.1882), de origem fidalga, estudou no colégio

de Lamego. Emigrou para o Brasil, onde veio a desempenhar um importante lugar como

empresário (ver artigo específico no capítulo “Histórias de vida de Alguns Emigrantes”).

3 - Carlos Zeferino Pinto Correia dos Reis (31.05.1882), de origem fidalga, fez a

continuação dos seus estudos na Faculdade de Medicina do Porto, onde se licenciou.

68 Para construirmos este quadro utilizamos dados fornecidos pelo jornal O Progresso de Mondim entre 1907 e 1910, Actas várias

da Câmara e Juntas de Freguesia e Recolha Oral feita em várias localidades do concelho.

171

4 - José Júlio Pinto Coelho de Matos (31.05.1882), de origem fidalga, estudou no

colégio de Lamego. Regressou à terra para se tornar um importante proprietário. Foi eleito

presidente da câmara por um período de três mandatos consecutivos.

5 - Cândido Teixeira de Morais (22.05.1885), seguiu os estudos na Escola Normal,

tornando-se professor primário.

6 - José Augusto Rodrigues Teixeira (18.06.1886). Tornou-se comerciante explorando

uma pequena loja comercial em Mondim..

7 - Joaquim José da Costa (25.07.1887), faleceu muito jovem numa altura em que

andava a estudar no liceu de Guimarães.

8 - Manuel Joaquim de Miranda (10.08.1887), começou por exercer o cargo de

Ajudante do professor João Silva Ramos. Um casamento interessante fez dele um importante

proprietário.

9 - José Augusto Rodrigues (18.06.1886), tornou-se comerciante em Mondim.

10 - José Justino de Carvalho Lemos (25.07.1887) continuou os estudos em Braga,

tornou-se padre. Á data da implantação da República era o vice-presidente da Câmara. Fez parte da

primeira Comissão Municipal Republicana.

11 - Francisco Xavier Rodrigues (25.07.1887), emigrou para o Brasil.

12 - Rosa de Jesus da Costa (24.07.1887), seguiu os estudos da escola normal e tornou-se

professora.

13 - José Ferreira de Sousa (27.07.1888), emigrou para o Brasil.

14 - Alfredo Pereira Machado (27.07.1888), emigrou para o Brasil.

15 - Augusto Alves Ferreira (27.07.1888), estudou no liceu de Braga. Seguiu com um tio

padre para o seminário de Évora. Apenas aguentou um ano, desistindo dos estudos.

16 - Bento José da Costa (27.07.1888), emigrou para o Brasil onde enriqueceu. De

regresso a Portugal construiu a apalaçada casa da Freiria, no lugar de Parada, em Atei. Fez também

parte da primeira Comissão Republicana.

17 - Manuel de Moura Alegre (28.07.1888), tornou-se pequeno comerciante.

18 - Alfredo Coelho Machado (04.08.1890), emigrou para o Brasil.

19 - José de Oliveira (04.08.1890), emigrou para o Brasil.

20 - Bento Augusto de Miranda e Cunha (05.08.1891), morreu jovem, de tuberculose,

quando estudava no liceu de Braga.

21 - Plácido Dias Portela de Figueiredo (06.08.1891), seguiu os estudos no liceu de

Braga. Empregou-se na Fazenda Pública dessa mesma cidade. Exerceu o cargo de presidente da

câmara por três mandatos.

172

22 - Paulo Machado e Moura (02.08.1892), emigrou para o Brasil.

23 - Roberto de Miranda e Cunha (02.08.1892), ajudado por um tio padre ainda se

preparou para ingressar no liceu de Guimarães. Desistiu mas acabou por se tornar um importante

proprietário.

24 - Humberto Alvares de Carvalho (02.08.1892), filho do Comendador, nasceu no

Brasil. Fez o exame dos estudos elementares em Portugal, regressando de imediato ao Brasil onde

prosseguiu os estudos. Anos depois encontramo-lo, juntamente com o irmão Amadeu a gerir os

destinos da casa que seu pai fundou no século XIX, a casa Álvares de Carvalho.

25 - Joaquim Gonçalves Ribeiro (16.08.1893), da casa do Retiro, emigrou e enriqueceu

no Brasil.

26 - Joaquim de Oliveira Pinto (16.08.1893), emigrou para o Brasil.

27 – Bernardo Ferreira de Oliveira (02.08.1892), tornou-se comerciante e fez parte da

primeira Comissão Republicana.

28 – Luís Maria Correia dos Reis (06.08.1891), tornou-se padre. À data da implantação

da república era o secretário interino da Câmara Municipal.

29 – António Alexandre de Miranda (27.07.1888), tornou-se padre e à data da

implantação da república era vereador municipal.

Podemos inferir destes resultados que:

1º - Acreditamos que a maioria dos alunos que frequentava a escola o fazia, quando muito,

até à 3ª classe, abandonando-a de seguida, munidos dos conhecimentos indispensáveis de ler,

escrever e contar. Durante muitos anos, segundo informações orais recolhidas, vigorou a ideia de

que era muito bom conseguir fazer-se a 3ª classe e, a partir daí já haveria que se arranjar um

emprego.

2º - Os alunos que completam a instrução primária revelam interesse pelo prosseguimento

dos estudos (fizeram-no 41%). Isto é, não vêem na escola apenas a possibilidade de aquisição de

rudimentos de saber ler, escrever e contar mas também uma etapa que é preciso vencer para o

prosseguimento dos estudos.

3º - Grande parte dos novos escolarizados (mais de 15%), encontram as portas do poder

ou do desenvolvimento local fechadas, dado o pesado controlo que as grandes famílias ainda

continuam a exercer e resta-lhes a procura de um emprego no sector terciário ou a porta da

emigração, para o Brasil, principalmente para a casa Álvares de Carvalho e Cia.

4º - A escola cada vez se revela mais como “um meio para” e daí ser cada vez mais

procurada.

173

Como é sabido, a partir de 1894 o exame elementar era feito nos liceus o que nos complica

as buscas na identificação dos mondinenses que a partir dessa data fizeram o respectivo exame.

Utilizando as notícias publicadas no jornal “O Progresso de Mondim” conseguimos encontrar, nos

alvores da implantação da República um leque interessante de indivíduos que procuram a

promoção pela continuação dos estudos69

, como por exemplo os irmãos Bráulio – um virá a ser

colaborador do jornal “O Cabeceirense” e Joaquim Ferreira de Mattos Pinto Coelho e ainda Luís

António de Lemos que frequentam o 5º ano no liceu de Braga e a fazer o exame de 3º ano no

mesmo liceu Carlos Alberto Borges de Azevedo; daqui passará para o seminário de Portalegre onde

o seu tio dava aulas. Acabará por desistir dos estudos.

Frequentava o 3º ano da Escola Normal de Braga Maria de Jesus Vieira de Castro, futura

professora.

Fizeram exame de acesso nessa mesma escola Rosalina de Jesus Saavedra e Deolinda

Moraes Dias.

Completou o curso de preparatórios no seminário de Guimarães Morais Miranda.

Eram professores no liceu de Cabeceiras de Basto os Dres. Manuel Augusto Ferreira, de

Mondim e António Luiz Machado, de Atei, que era o reitor. Estudava na Escola Médica do Porto

Manuel Alves Machado.

Era enfermeiro no hospital do Rego em Lisboa Manuel da Cunha Oliveira.

Era professor no Seminário de Portalegre o cónego Manuel António Borges.

Era aspirante da fazenda em Braga Plácido Dias Portela de Figueiredo, que virá a ser eleito

presidente da câmara de Mondim.

Na Universidade de Coimbra estuda José António Teixeira Saavedra.

Estudavam no liceu da Póvoa de Varzim os sobrinhos do Comendador Nuno e Geraldo.

Todos os indivíduos acima referidos são oriundos de famílias mais ou menos abastadas e,

portanto, com boas condições económicas que lhes permite pagar os estudos dos filhos.

Quantos outros teriam prosseguido os estudos e o seu nome não veio publicado no citado jornal?

Não o sabemos; por isso devemos olhar estes dados com reserva e não considerar senão como

provisórias todas as considerações que possamos fazer.

4.3 - HISTÓRIAS DE VIDA DE ALGUNS EMIGRANTES

“Envoltas numa aura brasonada,

69 Estas referências foram retiradas do jornal “O Progresso de Mondim” nos números publicados em 1908 e 1909. É bem provável

que o número fosse superior, mas não dispomos de dados credíveis que nos permitam sustentar esta afirmação.

174

As casas solarengas existentes, Enquadram-se em paisagens imponentes

Onde o verde é bandeira desfraldada” (CAMPUS, 1998: 3).

A história da emigração mondinense está por fazer, o que não nos permite ter uma visão

alargada e correcta do quanto os nossos emigrantes fizeram em terras de Stª Cruz, e muito foi com

certeza.

Tendo sido, e continuando a ser, uma fonte de emigração que de um modo geral tem sido

vista como resultado de hipotéticas privações económicas, mas onde devemos considerar outras de

natureza psicológica e social – ambição de mais tarde se regressar rico e poderoso à pátria -,

Mondim tem tido entre os seus emigrantes gente que soube honrar o seu nome e a sua terra por,

com o seu laborioso trabalho e abnegação, terem contribuído para o engrandecimento da terra que

os acolheu e, no regresso, - quando regressaram -, darem o mesmo contributo à terra que os viu

partir.

Naturalmente que o movimento migratório teve várias consequências sociais e pessoais que

deixaram marcas profundas na sociedade e na paisagem mondinense. Sociais ao privar o concelho

da população activa precisamente na idade de maior rendimento produtivo. Por um lado despovoa-

se o concelho de uma importante mão-de-obra que poderia contribuir para o desenvolvimento do

mesmo - dado que quem emigrava eram especialmente os jovens adultos, cuja média de idade era

de 20,9 anos, conforme já referimos - e por outro lado, no regresso os investimentos são feitos em

habitações brasonadas, como forma de afirmação do poderio económico, que acarretava prestígio

social e político, que acabarão por marcar durante décadas a paisagem local. Podemos até dizer que

ao longo de muitos anos Mondim de Basto foi uma terra onde a história da emigração brasileira se

podia contar a partir da arquitectura das próprias casas. E pessoais ao arrancar o emigrante do seu

meio e ao ser inserido num ambiente social e cultural diferente.

Quantos mondinenses emigraram? Sabemos que muitos embora os dados por nós

apresentados (quadro n.º 6) possam dar uma visão contrária, dado que foram poucos os que

emigraram até 1870, mas essa foi a situação normal no resto do país. Vivia-se num estado de

“graça” da Regeneração. Foi a partir desse ano que os números dispararam (de 11000 saídas a nível

nacional em 1855, o número decresceu para menos de metade em 1871 para subir para os 10000

em 1878 e quase 20000 em 1884) (REIS, ob. cit.: 194).

Quantos foram os “torna-viagem” (depois de ricos regressaram ao país)? Quantos não

passaram de “mão-furada” (jamais regressaram)? Muitas questões a pedirem-nos um trabalho mais

aprofundado, mas que não cabe, por razões óbvias, neste trabalho.

175

São poucos os exemplos que a seguir apresentamos, correndo nós o risco de darmos uma

visão reducionista da dimensão que se terá atingido. Contudo, o que queremos demonstrar é que no

desenvolvimento de muitas cidades brasileiras estiveram - e continuam a estar - gentes de Mondim

de Basto:

- BERNARDO TEIXEIRA COUTINHO ÁLVARES DE CARVALHO - Natural de Mondim

de Basto, filho de Manuel Teixeira da Cunha e Andrade, licenciou-se em leis em 16 de Julho de

1780. Foi nomeado Presidente da alçada que em 1817 foi ao Pernambuco para conhecer os

implicados na revolta aí ocorrida nesse ano. Consta-se que o seu comportamento, nessas

investigações, foi pouco abonatório.

Chegou a ser desembargador do Paço na corte do Rio de Janeiro. Escreveu “Defesa das Teses de

direito Enfitêutico”, que se defenderam no ano de 1789 na Universidade de Coimbra e no ano

seguinte na de Lisboa (ESTEVES, e GUILHERME, 1904 - 1915: I vol., 366-385).

- PAULINO JOSÉ COELHO - Natural de Mondim de Basto, nasceu em 1794. Sabemos que nos

princípios do século XIX (1828) já se encontrava estabelecido em S. João da Paraíba, Estado do

Maranhão, onde era um importante proprietário.

Em 1844 foi nomeado vice-cônsul de Portugal naquela cidade, cargo que ocupou até 1862.

- JOSÉ DE CARVALHO CAMÕES - Nasceu em Mondim de Basto em 1859. Emigrou para o

Maranhão aos treze anos de idade, onde, como comerciante, granjeou uma fortuna considerável. Na

viragem do século regressou a Mondim e aplicou algum dinheiro em benefício da terra, comprando

o edifício da Rua Velha para aí instalar o futuro quartel dos bombeiros e construiu o jardim público

com o monumento aos mortos na 1ª guerra mundial, - hoje conhecida por Praça 9 de Abril -,

doando-o de seguida à câmara municipal.

- ALFREDO da GRAÇA PINTO COELHO - natural de Mondim, nasceu em 1869, filho de

Bernardo Gonçalves de Matos e de Maria do Patrocínio Pinto Coelho.

Fez o exame complementar em Mondim de onde passou para o colégio de Lamego. Não

prosseguiu os estudos em qualquer universidade.

Casou com a filha mais velha do comendador José Augusto Álvares de Carvalho, emigrando para

o Brasil em 1908. Aqui chegado, o sogro – que havia emigrado em 1865 - deu-lhe sociedade na sua

importante empresa, a firma “Álvares de Carvalho e Cia.”. A sorte sorriu-lhe com a 1ª Guerra

Mundial, dado que a venda do ferro acumulado lhe permitiu arranjar grande fortuna, que utilizou

176

para proveito pessoal mas, grande parte da qual, pôs ao serviço de actos beneméritos que lhe

granjearam grande admiração e reconhecimento tanto no continente como no próprio Brasil. Dessa

sua acção como benemérito destacamos: a restauração da Igreja Matriz em 1924 e a construção da

residência paroquial; a canalização da água potável para a vila de Mondim em 1928; a fundação da

Casa da Misericórdia em 1935; a ajuda para a compra do edifício que seria a futura sede dos

bombeiros de Mondim; a construção do jardim público em frente à actual Câmara Municipal, etc.

No Brasil foi também um benemérito, ficando famosas as contribuições para o portuguesíssimo

“Real Hospital de Beneficência Portuguesa” no Recife, o que lhe valeu a construção de um busto,

na entrada principal do citado hospital e que ainda hoje se lá mantém70

.

Devemos referir também um episódio ocorrido em 1909 e que é demonstrativo da influência

granjeada por esta personalidade, por um lado, e pela comunidade de emigrantes desta região por

outra. A 26 de Abril daquele ano, 125 emigrantes portugueses residentes em Pernambuco, mas

naturais de Mondim de Basto, Ribeira de Pena e Vila Pouca de Aguiar, decidem enviar uma

representação ao rei D. Manuel II, onde pediam a conclusão da estrada distrital nº 47, que fazia a

ligação de Mondim a Vila Real passando pelos outros dois concelhos referidos.

Nessa missiva podemos ler: “...embora afastados do seu querido torrão Natal, na luta constante

pela vida, os súbditos de Vª. Majestade ousam vir solicitar a conclusão dessa pequena estrada de

ligação, de reduzido dispêndio e grandíssima (sic) utilidade pública...”.

Aproveitam para recordar ao rei que a estrada havia sido começada há já 30 anos e que ainda

faltavam 14 km para a sua conclusão, o que em nada facilitava as comunicações nem “fomentava o

desenvolvimento das povoações e o bem estar dos habitantes”.

O primeiro signatário da missiva é precisamente Alfredo Pinto Coelho - que havia adoptado os

apelidos do sogro -, o qual será recebido pessoalmente pelo Rei que lhe prometeu interceder junto

do ministro da tutela para resolver o problema.

- ANTÓNIO CARVALHO da SILVA BRANCO – Natural de Mondim de Basto vamos

encontrá-lo como deputado ao congresso do Maranhão na 4ª legislatura (1901-1903) (COUTINHO,

1981: 235 e ss).

Em 6.3.1901 apresentou um projecto de reorganização do Corpo de Infantaria (A Guarda

Nacional de que ele era coronel).

70 informação colhida junto de João Alarcão, investigador de temas mondinenses, que ainda recentemente visitou a comunidade

portuguesa no Recife.

177

Em 9.3.1901 apresentou um projecto para ser suprimida a comarca de Riachão e anexava o novo

termo à Comarca da Carolina, criando também a comarca de Loreto, com os termos de Loreto e

Santo António das Balsas.

Em 10.2.1903 requereu que lhe fossem presentes os mapas de frequência escolar de todas as

escolas do estado relativos aos anos de 1901 e 1902, justificando esse pedido dizendo que pretendia

ter dados concretos para poder rebater as acusações injustas dos jornais da oposição,

nomeadamente “A Pacotilha”. É interessante recordar que nessa altura ele era o director do jornal

“O Federalista”.

Em 6.12.1903 foi reeleito para a 5ª legislatura (1904-1906) com 14.937 votos, obtendo o 12º

lugar da lista federalista.

Em 6.4.1904 aprova a segunda discussão da Reforma Constitucional e apresenta um projecto de

concessão de 50% de abatimento dos direitos de exportação aos lavradores que plantassem algodão

pelo sistema de arado.

A 3.2.1905 o Presidente do Congresso, Américo Vespúcio dos Reis anuncia o falecimento do

deputado António C. Branco. O deputado Pereira Rego propôs um voto de sentido pesar e foi eleita

uma comissão para ir representar o Congresso nos seus funerais.

Outros mondinenses deram e continuam a dar também o seu contributo.

Pelo que acima fica exposto não concordaremos de todo com Oliveira Martins quando em fins do

século passado (1891) se referia aos nossos emigrantes dizendo que “metade eram analfabetos e um

terço simples trabalhadores. Desde que a miséria é a causa principal da emigração, necessariamente

os emigrantes são os menos instruídos e habilitados para ganhar a vida, o que por forma alguma

quer dizer que sejam os menos sãos de corpo e alma” (SERRÃO, 1985: 996).

5 - CONCLUSÕES FINAIS

1 - Este trabalho de investigação pretendeu ser um contributo monográfico organizado em torno

de hipóteses que procuraram clarificar a problemática central - inserida num contorno histórico-

geográfico perfeitamente definido - centrada na relação entre Cultura Escrita e Quotidiano

(Sociedade e Desenvolvimento) e ao mesmo tempo pretendeu-se tão só abrir uma reflexão sobre

essa mesma problemática.

2 - Ao longo deste trabalho fomos tirando conclusões que nos permitiram perceber a Geografia e

a Sociedade mondinenses, sociedade profundamente rural com um peso enorme de profissões

ligadas à terra, onde sobressaem naturalmente os proprietários, e onde, sobretudo desde finais do

178

século XIX, mas muito lentamente, a escola, sem ser o único, se afirmou como o principal meio de

formação e informação da juventude mondinense. Diremos mesmo até que, só a partir dessa altura

a escola se imporá como condição de modernidade, tornando-se um processo irreversível até aos

nossos dias. Naturalmente que por detrás dessa situação esteve o desenvolvimento económico que

estimulou a procura de novas profissões, ligadas ao sector terciário, que por sua vez obrigavam à

aquisição de conhecimentos que só a escola transmitiria. Também a emigração desempenhou aqui

um papel motivador pois era quase garantido que, aqueles que eram escolarizados arranjavam um

emprego na firma Álvares de Carvalho, no Maranhão.

3 - De meados do século XVIII até meados do XIX assistimos em Mondim de Basto a uma muito

lenta terciarização da economia e a uma ausência quase completa do sector secundário – tendo até

regredido -, que por isso não se constituíram em factores determinantes para um verdadeiro

investimento na alfabetização e na escolarização das populações. Estas não sentiam necessidade de

se alfabetizarem, encarariam a escola como uma violência inútil, daí que o avanço da escola

pública não encontre junto dos grupos sócio-produtivos do sector primário uma grande

receptividade, não apenas porque se não apresenta como uma estratégia válida em termos de

mudança de vida, dada a precariedade de novos empregos mas também porque se reveste de um

grau de dificuldade em termos curriculares, intransponível por parte dos filhos dos camponeses.

(MAGALHÃES, 1994: 497/8). Enfim, a fracas condições económicas correspondiam fracas

expectativas de vida que resultavam em fraca especialização de profissões, num reduzido número

de comerciantes e reduzido número de pessoas literárias.

4 - A transição para a contemporaneidade provocou o fim de muitos concelhos, onde se incluem

os de Atei e Ermelo. E aqui surge uma situação interessante. No primeiro dos lugares, ao contrário

do que seria de esperar, conseguem os dirigentes manter um grande interesse pelo alargamento da

rede escolar, esforçando-se para que a mesma aconteça; manifestam preocupações sobre o

professorado e sobre a frequência escolar dos alunos. Dessa forma, a Educação, ganhava

paulatinamente o estatuto de “trave mestra do desenvolvimento”. Aqui, a existência de um maior

desenvolvimento económico estimulou a procura do bem-estar e do lucro e provocou uma maior

preocupação pela situação material por parte dos pais relativamente aos filhos. Pela escola passava

um importante papel. Para o segundo dos lugares, a manutenção de uma economia de tipo familiar

não beneficiava a apetência pela cultura escolar. Aqui não houve capacidade de fazer despoletar os

processos de secundarização e terciarização das actividades produtivas. Não queremos dizer com

isto que os dirigentes de Ermelo não se preocupassem com a Escola mas tão só que, ao interesse

179

revelado por estes pelo alargamento da Rede Escolar, não correspondia um interesse idêntico por

parte dos destinatários. Senão como compreenderíamos que a percentagem de alfabetizados em

Ermelo tivesse diminuído de 46% em 1878 para 29% em 1890? Os comportamentos das

populações revelavam-se, assim, muito diversos, apesar do reduzido tamanho do concelho.

Sabemos que o uso da leitura e da escrita (ou do cálculo) não se tornam funcionais se não se

convertem ao menos em algo esporadicamente necessário... Tanto uma como outra se reforçam se,

com o seu uso, o indivíduo obtém satisfações ou satisfaz necessidades, e, vice-versa, ambas se

debilitam quando em seu uso não se vêem vantagens materiais ou intelectuais, sociais ou

individuais, como nos diz V. Frago. Esta situação pode explicar os olhares diferentes sobre a forma

de encarar o papel da Educação por parte das gentes de Ermelo, pelo menos antes da viragem do

século. De facto, sem perspectivas de mudança ou melhoria de vida, que necessidade de se ser

alfabetizado?

5- Acreditamos assim que, independentemente do grau de habilitações, dos conhecimentos ou das

capacidades de cada elemento membro da câmara municipal ou das juntas de paróquias, a maioria

deles, à medida que o século XIX chegou ao fim e deu lugar ao XX, se apercebeu de como era

importante a escola e o seu papel na formação do homem e do cidadão, e se esforçaram para que a

mesma fosse chegando a um cada vez maior número de locais, para esbater o fantástico fenómeno

do analfabetismo. Apesar do esforço desenvolvido, a taxa de analfabetismo entre 1878 e 1890

baixou apenas 1,1% (quando a população se mantém praticamente igual), não tendo acompanhado

a média nacional que baixou 3,2%, mantendo-se em 81%, contra os 79% a nível nacional e 20 anos

depois, à data da implantação da República, ainda representava uma das nossas maiores vergonhas

nacionais –, cerca de 70% de analfabetos. Com taxas de analfabetismo tão elevadas em fins do

século XIX, Mondim é um concelho sem ritmo, adiado. Tal como o país.

6 – O fim do século XIX vinca, por um lado, o papel dos professores normalistas, que discutem a

sua situação nas Conferências Pedagógicas, conseguem uma já há muito desejada

profissionalização, e por outro lado assiste a uma cada vez maior feminilização do ensino primário,

fenómeno que se prolongará por todo o século XX. Estas vitórias não foram fáceis de conseguir. O

conflito surgido em Atei é sintomático da tensão surgida entre a clericalização e a estatização da

sociedade, conflito que em Mondim é visível e marcante, mesmo depois de entrado o século XX.

7 - Em relação aos aspectos pedagógicos dois aspectos devemos salientar:

180

7.1 - Sabemos que a Educação em geral e a Educação Escolar em particular têm como função

integrar o indivíduo na sociedade, por isso à escola foi pedido que exercesse um papel social

determinado e por ela passava a obrigação de formar os “especialistas” de que a sociedade

necessitava para poder funcionar. A escola assentava no poder autoritário do professor, no livro

único e no apelo à memorização. Isso exigia um programa preciso onde constavam os

conhecimentos considerados indispensáveis cuja assimilação era sancionada através de diploma

certificador. Para o obter obrigavam-se os alunos a entrar em competição entre si. O ambiente

escolar, com aspectos repressivos que passavam pelo uso da violência física, não estimulava a

criatividade ou a diferença. A orientação ia no sentido da fixação, tão completa quanto possível, do

que o professor dizia, pois era preciso estar bem preparado para o exame final. Isto acabava por se

revelar de uma violência inútil e provocava, naturalmente, o absentismo. Perante este quadro

apetece perguntar: Qual o papel da Educação como factor de mobilidade social, de igualdade de

oportunidades para todos e de democratização da estrutura social? Abrindo os estabelecimentos

escolares às camadas sociais até então pouco ou nada escolarizadas? Mas com isso não estará a

contribuir para o aumento do número de inadaptados escolares?

A família só em casos excepcionais tentava compensar as limitações da escola, ora arranjando

professores particulares, ora enviando os filhos para o colégio, o qual era encarado como um

prolongamento da educação familiar. Sobressai nesta situação a Casa da Igreja.

7.2 - Um dos traços mais chocantes é a falta de instalações e equipamentos para o cumprimento

dos programas escolares. A maioria das escolas não tem instalações condignas. Ora, se a escola não

tiver condições e recursos adequados não poderá jamais ser um lugar atraente e motivador, onde

alunos e professores gostem de estar e trabalhar. Será, pelo contrário, um lugar de rejeição, onde o

desinteresse cresce e a indisciplina grassa. Verifica-se até que, para o Município e Juntas de

Paróquia a educação foi sempre um parente pobre, dado que as verbas inscritas foram sempre

insuficientes. Sem casas próprias e adequadas, sem os materiais pedagógicos indispensáveis e sem

conforto não nos admira que os alunos fugissem da escola em vez de por esta serem cativados.

Portanto, a escola não se soube organizar no sentido de responder às diversidades transportadas por

cada aluno (sociais, culturais e económicas), e revelou-se incapaz de deixar de ser reprodutora e

certificadora de estratificações sociais.

8 - O grande absentismo verificado encontra justificação nas dificuldades económicas, a causa

que encabeça um longo rol de justificações. A estas dificuldades económicas andam associadas a

necessidade de cooperação das crianças nos trabalhos agrícolas e domésticos. A emigração. A

distância escola/casa. O desinteresse pelo prosseguimento dos estudos. A falta de condições e

confiança na escola.

181

9 - Estivemos, ao longo deste trabalho, perante um processo histórico que procuramos

compreender e caracterizar dado que custou a muitos mondinenses uma emigração mais ou menos

forçada e prolongada; que manteve, apesar do fim dos morgadios a grande ou média propriedade

rural e a dependência do regime de arrendamento e sublocação; um processo que mesmo assim foi

capaz de favorecer a cultura escolar, afirmando-se esta como instância de mobilização sociocultural

e económica. Uma escolarização que desde cedo abrangeu o sector masculino e um pouco

tardiamente o sector feminino, num processo feito de lentos progressos, onde haverá que valorizar a

iniciativa privada, sobretudo em Atei, Mondim e Bobal.

10 - A investigação chegou ao seu termo sem que isso tenha implicado a resolução de todas as

questões levantadas ao longo do trabalho, deixando até pistas abertas. No entanto, procurou ser

demonstrativa de uma profundidade de abordagem em torno das questões centrais e da

oportunidade do cruzamento e da construção de fontes e dados de informação da mesma natureza e

proveniência, para que dessa forma todas as afirmações ficassem demonstradas, por um lado, e, por

outro, resolvidas as problemáticas criadas.

182

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- Livros de Receitas e Despesas. 1850-1974. /// 1900-1910. Sem catalogação.

– Livro nº 1 de Listagens de Jurados. 1900 a 1911. Sem Catalogação.

- Livro de Registo das Folhas das Rendas de Casas das Escolas e Habitação de

Professores. 1911- 1940. Sem Catalogação.

- Livro de Registo de Exames. 1882-1894. Sem Catalogação.

- Alvarás de Nomeação de Professores e outros Funcionários. 1886-1914.

3.2 - AJFA. - Livros de Actas de 1853 a 1910.

3.3 - AJFB. - Livros de Actas de 1870 a 1910.

3.4 - AJFE. - Livros de Actas de 1830 a 1910.

3.5 - AJFP. - Livros de actas de 1890 a 1915.

3.6 - AJFVF. - Livros de Actas nº 1, 3 e 4 de 1870 a 1910.

- Livro nº 5. Recenseamento das Crianças em Idade Escolar.

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