tese final
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Educação, Sociedade e Desenvolvimento em Mondim de BastoTRANSCRIPT
1
LICÍNIO ANTÓNIO TEIXEIRA BORGES
EDUCAÇÃO, SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO
EM
MONDIM DE BASTO
DESDE O MARQUÊS DE POMBAL À TRANSIÇÃO PARA A
CONTEMPORANEIDADE
Universidade do Minho
Braga 1999
2
Índice
1ª Parte ............................................................................................................................. 8
Geografia Sociedade e Tecido Económico em Mondim de Basto, ............................. 8
1- Geografia. .................................................................................................................... 9
1.1 - Geografia física. ....................................................................................................... 9
2 - Geografia política. ................................................................................................... 10
2.1 – Mondim. ................................................................................................................ 10 2.2 – Atei. ....................................................................................................................... 11 2.3 – Ermelo. .................................................................................................................. 11
3 – A População. ............................................................................................................. 14
3.1 – A Evolução Demográfica: (dos fins do século XVIII à actualidade). ................... 14
QUADRO Nº 1: A Evolução da População de Mondim de Basto (1796 / 1991) ..... 15
GRÁFICO Nº 1. A Evolução da População. .................................................................. 16
3.2 - A População Activa. ............................................................................................... 19
Quadro nº 2. Distribuição da População por Profissões .......................................... 19
Fonte: (MENDES, ob. cit: quadro nº XIII) . .............................................................. 19
Quadro n.º 3. A Distribuição da População Activa por Sectores de Actividade para
Fins do Século XVIII. ................................................................................................... 22
Quadro n.º 4. Profissões Identificadas para fins do Século XIX .............................. 22
Quadro n.º 5. A Distribuição da População por Sectores de Actividade em Fins do
Século XIX. .................................................................................................................... 23
4 – A Sociedade. ............................................................................................................. 24
4.1- O Clero. ................................................................................................................... 24
4.2 - A Nobreza. ............................................................................................................ 28 4.3 - O Terceiro Estado................................................................................................... 29
5 – O TECIDO ECONÓMICO ................................................................................... 30
5. 1 - A Agricultura ....................................................................................................... 30
5.2 - O Vinho. ................................................................................................................ 31
5.3 – Cereais. ................................................................................................................. 32
5.4 – Pecuária. ............................................................................................................... 32
5.5 – Fruticultura. ......................................................................................................... 33
5.6 – Indústria. .............................................................................................................. 34
5.7 – Comércio. ............................................................................................................. 36
3
6 – Rede Viária. ............................................................................................................. 36
7 – Emigração. .............................................................................................................. 39
7.1 – Emigração para o Brasil ..................................................................................... 39
( A partir da 2ª metade do século XIX) .......................................................................... 39
7.2 – Condicionalismos. ................................................................................................ 40
Quadro n.º 6. A Emigração de Mondim de Basto para o Brasil entre 1850 e 1870. 42
2ª Parte ........................................................................................................................... 44
A Escolarização ............................................................................................................. 44
Em .................................................................................................................................. 44
Mondim de Basto .......................................................................................................... 44
EDUCAÇÃO ................................................................................................................. 45
– Génesis do Sistema Educativo Mondinense. ............................................................... 45 1.1 A Reforma Pombalina. ........................................................................................ 45 Quadro nº 7. O Actual Distrito de Vila Real no Mapa Escolar Pombalino .................... 47 Gráfico nº 2. Distribuição das Cadeiras. ......................................................................... 47
1.2 - O Período Mariano. ................................................................................................ 50
Quadro nº 8. O Actual Distrito de Vila Real no Mapa Escolar Mariano...................... 51
Quadro nº 9. A Implantação Efectiva dos Professores Régios do Século XVIII em
Mondim de Basto ........................................................................................................... 54 1.3 - A Real Junta da Directoria Geral dos Estudos ....................................................... 55
1.4 - Conclusão ............................................................................................................... 56
2 – CONSOLIDAÇÃO DO SISTEMA EDUCATIVO MONDINENSE. ..................... 59 - A REFORMA DE COSTA CABRAL. ........................................................................ 59
Introdução ....................................................................................................................... 59
2. 1 – Efeitos Fundamentais da Reforma em Mondim de Basto. ................................... 59 Quadro n.º10. Número das Escolas Primárias Portuguesas de 1843 A 1859 ................. 62
3 – O Movimento da Regeneração. Um Tom de Esperança. ......................................... 65 3.1 – Inquéritos de 1863 – 1864. .................................................................................... 65
Quadro nº 11. Estatística das Escolas de Instrução Primária do concelho de Mondim de
Basto, Segundo os dados da Inspecção de 1863 - 1864 ................................................. 66 1 – Das Escolas ............................................................................................................... 66 2 – Dos Professores: ....................................................................................................... 67 3 – População das escolas e ensino dos alunos .............................................................. 67
3.2. – Análise sumária sobre os resultados dos inquéritos. ............................................ 68
3.2.1. - Das escolas. ........................................................................................................ 68
3.2.2 - Do professorado. ................................................................................................ 69 Quadro nº 12 . Professores do ensino elementar em Mondim de Basto a cargo do
Estado à data do Inquérito de 1863-64. .......................................................................... 69 3.2.3 – Dos alunos. ......................................................................................................... 70 Quadro nº 13. Inquéritos Escolares: 1873/1874 ............................................................. 72
Mapa estatístico dos alunos de instrução primária ......................................................... 72
Mapa da distribuição por disciplinas e classes, dos alunos que frequentaram a escola e dos que apresentam à inspecção ............................................................. 73
1873 / 1874 ................................................................................................................... 73
4
Mapa da distribuição por disciplinas e classes, dos alunos que frequentaram a escola e dos que apresentam à inspecção ............................................................. 74 1873 / 1874 ................................................................................................................... 74 Mapa Estatístico dos Alunos de Instrução Primária, com Relação ao Ano Lectivo 1873 /
1874 ................................................................................................................................ 75
Quadro n.º 14.Resultado da Inspecção no dia 6 de Julho de 1875 .................... 76 3.4 – Conclusões. ............................................................................................................ 77 4 – A UNIVERSALIZAÇÃO DO ENSINO EM MONDIM DE BASTO .................... 81 - A REFORMA DE RODRIGUES SAMPAIO. ............................................................ 81
Introdução ..................................................................................................................... 81
4.1 - Aspectos fundamentais da reforma. ....................................................................... 81 4.2 – Efeitos práticos da Reforma em Mondim. ............................................................. 84 4.2.1 - A Rede Escolar. ................................................................................................... 85
4.2.2 - O Professorado. ................................................................................................... 85 Quadro nº 15. Professores do ensino elementar a cargo do Estado,, da Câmara
Municipal de Mondim de Basto e das Confrarias das Almas de 1878 a 1910 ............... 93 4.2.3 - Nomeação dos Professores. ................................................................................. 96 4.2.4 - Mobilidade/Estabilidade do Corpo Docente. ...................................................... 96
4.2.5 - Os professores Particulares. ............................................................................... 96
4.2.6– Os Professores Adjuntos. ..................................................................................... 98 4.2.7 – Os Salários. ......................................................................................................... 98 4.3 – As Comissões Promotoras de Beneficência. ....................................................... 100
4.4 – Dos Alunos .......................................................................................................... 101
Quadro nº 16. Número de alunos aprovados em exame de Instrução Primária entre
1882 - 1894 em Mondim de Basto ............................................................................... 102
Quadro nº 17 ................................................................................................................ 102
Quadro nº 18 ................................................................................................................ 102
Quadro n.º 19 ............................................................................................................... 102
4.5 - Conclusões ........................................................................................................... 103
5 - OS EDIFÍCIOS ESCOLARES ............................................................................... 104 5.1 - Mondim de Basto. ................................................................................................ 104
Quadro nº 20. Receitas e despesas da Câmara Municipal para a Educação (1901 a
1904). ............................................................................................................................ 108 5. 2 – Atei. .................................................................................................................... 108
Quadro nº 21. Orçam. da Inst. Primária para o ano de 1886 na freguesia de Atei. ...... 110 5. 3 – Bilhó. .................................................................................................................. 112
5. 4 – Anta e Bobal. ...................................................................................................... 114
5. 5 – Ermelo. ............................................................................................................... 115
5. 6 – Fervença. ........................................................................................................... 117
5. 7 – Paradança. ......................................................................................................... 118
5. 8 – Vilar de ferreiros. ............................................................................................. 120
5.9 – Vilarinho. ............................................................................................................ 121
5. 10 – Campanhó, Vilar de Viando e Pardelhas. .................................................... 122
Quadro nº 22. Situação dos edifícios escolares em Mondim de Basto em 1915 ... 124
5
Total ............................................................................................................................. 124
3º Parte .......................................................................................................................... 126
A Alfabetização em Mondim de Basto ........................................................................ 126
2ª Metade do séc. XIX .................................................................................................. 126
1 – INTRODUÇÃO. ..................................................................................................... 127
2 - PROVENIÊNCIA DOS TESTAMENTOS. ........................................................... 128
QUADRO Nº 23. Distribuição dos Testamentos por Freguesias. .......................... 129
GRÁFICO Nº 3. Proveniência dos Testamentos...................................................... 129
2.1 – Tipo de testadores e respectiva profissão. ....................................................... 129
Quadro Nº 24. Profissão dos Testadores (as). .......................................................... 130
Gráfico Nº 4. Profissão dos Testadores. .................................................................... 130
2.2 – Testadores face à alfabetização. ....................................................................... 130
Quadro Nº 25. Tipos de Assinaturas. ........................................................................ 131
3 – TESTEMUNHAS. .................................................................................................. 131
3.1 – Profissões das testemunhas. .............................................................................. 131
Quadro nº 26. Profissões das Testemunhas. ............................................................. 132
3.2- As assinaturas das testemunhas. ........................................................................ 132
Quadro nº 27. Número de Chancelas Contabilizadas por Profissão. .................... 133
Quadro nº 28. Tipos de Assinaturas ......................................................................... 133
Quadro nº 29. Grupos de Assinantes de “ Cruz”..................................................... 134
3.3- Frequência de assinatura das testemunhas. ...................................................... 135
II ................................................................................................................................... 137
4 - OS JURADOS ........................................................................................................ 137
4.1 – A instituição do júri. .......................................................................................... 137
4.2 – Quem é convidado para jurado? ...................................................................... 137
Quadro nº 30. Recenseamento do Júri Comum de 1900 a 1911 ............................. 138
GRÁFICO Nº 5. PROFISSÕES DOS JURADOS ................................................... 138
5 – Conclusão. ............................................................................................................. 139
6 - ANÁLISE DO GRAU DE ALFABETIZAÇÃO DA POPULAÇÃO MONDINENSE
EM 1878 E A SUA EVOLUÇÃO ATÉ 1890 .............................................................. 141
6.1 – Introdução. ........................................................................................................... 141
QUADRO Nº31 . CENSOS DE 1878 PARA MONDIM DE BASTO .................... 142
6.2 - O NÍVEL DE ESCOLARIDADE POR FREGUESIA NO CONCELHO DE
MONDIM DE BASTO EM 1878. .............................................................................. 144
6
7 - ANÁLISE DO NÍVEL DE ESCOLARIDADE POR FREGUESIA NO
CONCELHO DE MONDIM DE BASTO COM BASE NOS CENSOS DE 1890. 148
Quadro nº 32. RESULTADOS DOS CENSOS DE 1890 ........................................ 148
7.1 - Escalas de classificação do conceito de alfabeto, segundo o censo de 1890. .. 149
7.2 – Análise dos dados. .............................................................................................. 149
8 – Conclusão. ............................................................................................................. 151
Quadro nº 33. Comparação Entre Índices de Alfabetização a Nível Nacional e
Mondim de Basto. ....................................................................................................... 151
MÉDIA ........................................................................................................................ 151
MONDIM ..................................................................................................................... 151
MÉDIA NACIONAL .................................................................................................. 151
4ª Parte .......................................................................................................................... 154
O Desenvolvimento ...................................................................................................... 154
1 - O LENTO CAMINHO DA MUDANÇA ............................................................. 155
1.1 – Introdução. ........................................................................................................... 155
2 – A ESTRUTURA SOCIAL: PERMANÊNCIAS E MUDANÇAS .................... 156
2.1 - O Povo. ................................................................................................................ 156
2.2 - O Clero. ............................................................................................................... 158
2.3 - A Nobreza. .......................................................................................................... 159
2.4 - A Burguesia. ........................................................................................................ 160
2.5 – Conclusão. .......................................................................................................... 160
3 - FUNÇÕES E PRÁTICAS DA ALFABETIZAÇÃO E DA ESCOLARIZAÇÃO
...................................................................................................................................... 161
3.1 - A Alfabetização como Desenvolvimento ............................................................. 161
3.2 - A Escolarização e o seu Papel Alfabetizador ....................................................... 164
4 - MATERIALIDADE E ACÇÃO ........................................................................... 166
4.1 -- As Elites e a Classe Média na Gestão Municipal e Paroquial ....................... 166
4.1.1 – Biografia 1: ...................................................................................................... 168
4.1.2 - Biografia 2: ...................................................................................................... 168
4.2 – Oportunidades e Destinos de Vida ................................................................... 169
QUADRO Nº 34. Oportunidades e Destinos de Vida dos Alunos que Fizeram o
Exame Elementar entre 1882 e 1894 ........................................................................ 170
4.3 - HISTÓRIAS DE VIDA DE ALGUNS EMIGRANTES ................................. 173
5 - CONCLUSÕES FINAIS ....................................................................................... 177
7
BIBLIOGRAFIA: ......................................................................................................... 182
MANUSCRITA ........................................................................................................... 182
1 - ARQUIVOS CENTRAIS ...................................................................................... 182
2 - ARQUIVOS DISTRITAIS ................................................................................... 182
3 - ARQUIVOS LOCAIS ........................................................................................... 183
4 - ARQUIVOS PAROQUIAIS ................................................................................. 183
BIBLIOGRAFIA IMPRESSA: ................................................................................. 184
9
1- Geografia.
1.1 - Geografia física.
Mondim.
Concelho rural, distrito e diocese de Vila Real, província de Trás - os - Montes
situa-se na margem esquerda do Tâmega e faz parte integrante da Região de Basto,
região que se caracteriza por uma certa identidade de aspectos comuns a toda ela. Não
apenas as condições gerais do clima e posição mas ainda as particularidades da natureza
e do relevo do solo, o manto vegetal e as marcas da presença humana, nos darão o
sentimento de não sairmos da mesma terra, como escreveu Orlando Ribeiro.
A Região de Basto estendendo-se pelo troço médio da bacia hidrográfica do rio
Tâmega, com uma área aproximada de 825 Km2 quadrados, é definida a Noroeste e a
Norte pela serra da Cabreira e serra das Alturas, a Oeste pelo planalto do Monte Longo
e a Este pela serra do Alvão e Altos das Caravelas. É limitada a Norte pelos concelhos
de Boticas e Montalegre, a sul pelo concelho de Amarante, a Oeste pelos concelhos de
Vieira do Minho, Fafe e Felgueiras e a Este pelos concelhos de Vila Real e Vila Pouca
de Aguiar. Faz parte da denominada Região de Basto, região de montanhas
“entrecortada de fecundas campinas e vales (VASCONCELLOS, 1942: III: 191). “Esta
região da bacia média do Tâmega reveste uma fisionomia peculiar, em que, se ainda
aparecem traços transmontanos, já dominam as características do território de entre
Douro e Minho (TABORDA, 1932: 9).
O Concelho tem uma área de 178,48 km2, distribuídos por oito freguesias: Atei,
Bilhó, Campanhó, Ermelo, Mondim de Basto, Paradança, Pardelhas e Vilar de Ferreiros
Encontra-se inserido na faixa de transição entre o litoral e o interior norte o que
faz com que a sul existam áreas planas sujeitas a uma forte ocupação e a norte a
montanha, sinuosa, fortemente declivada e pouco propícia à colonização. Existem, por
isso, poucos solos propícios à fixação das populações. A tipologia dos solos
condicionou ao longo dos séculos a forma de povoamento. Assim, encontramos no
concelho duas formas de povoamento: o disperso e o concentrado. O primeiro assenta
num esquema social, vindo dos séculos XVII e XVIII, em que a propriedade se
mantinha pelo sistema de morgadio. As grandes propriedades tinham implantado a
“Casa Senhorial” e dependências agrícolas em lugares estratégicos possibilitando o
10
controlo das casas dos caseiros que se encontravam dispersas por áreas de exploração
menores e que dependiam directamente de uma família. O segundo é visível na zona de
montanha e resulta das condições naturais. O grosso da população vive na sede do
concelho, sede esta que funciona como pólo aglutinador do mesmo.
2 - Geografia política.
( a partir da segunda metade do século XVIII )
2.1 – Mondim.
Havia recebido foral de D. Manuel I em 3.6.1514. Em fins do século XVIII era
“Donatário dele o Marquês de Marialva. Foi da correição de Guimarães e hoje [finais
de setecentos], pela regulação da lei de mil setecentos e noventa e dois só lhe pertence
pela provedoria. Está unido á correição de Vila Real, a quem também é sujeito pelo
eclesiástico, por ser do arcebispado de Braga. Tem juiz ordinário, eleito pelo corregedor
da dita comarca, confirmado pelo donatário, e juiz de órfãos, separado” (MENDES,
1981: 501).
Esta forma de poder irá ser alterada brevemente. Efectivamente em 1820 foi
proclamado o regime liberal. Em 1826, a 29 de Abril é outorgada ao reino a carta
constitucional. O país transforma-se num vespeiro de sublevações. A 26 de Novembro
de 1830, por reforma administrativa, são instituídas as Juntas de Paróquia as quais, por
decreto de 19 de Fevereiro de 1831 vêem os suas competências muito alargadas: para
além do poder político recebem o encargo da administração temporal das igrejas e
capelas, acabadas de subtrair à autoridade dos prelados.
Em 1851, a Câmara envia ao Duque da Saldanha uma carta a felicitá-lo pelo
movimento da Regeneração.
Em 1 de Fevereiro de 1865 a mesma Câmara solicita à Rainha, num extenso
documento, que seja criada a Comarca de Mondim de Basto, deixando assim de
pertencer à de Vila Pouca de Aguiar e procurando-se dessa forma que não passasse a
pertencer à de Celorico de Basto, conforme uma proposta de Lei previa.
Pelo decreto de 26.09.1895, foi este concelho agrupado ao de Celorico de Basto,
vindo a ser suprimido em 26.06.1896. Foi restaurado em 26.01.1898. Assim se mantém
até hoje.
11
2.2 – Atei.
Teve foral concedido por D. Manuel em 3.6.1514. Era vigairaria da
apresentação do convento de Santa Clara de Vila do Conde.
Era donatário o Marquês de Marialva. Tinha cadeia e Casa da Câmara. “Foi da
correição e provedoria de Guimarães e hoje [finais de setecentos], só é da dita
provedoria e comarca de Vila Real, a quem também pertence pelo eclesiástico por ser
do arcebispado de Braga. Tem juiz ordinário, juiz de órfãos, sargento-mor de
ordenanças que serve neste concelho e nos de Mondim , Cerva e Ermelo, e sete capitães
da sua repartição “(MENDES, ob. cit.: 469).
Em 1835 deu-se a revolução de Setembro que trouxe ao poder Passos Manuel.
Por decreto de 6 de Novembro reduziam-se a 351 os concelhos do País, sendo
suprimidos 465, entre os quais Atei que passou a integrar-se como simples freguesia no
de Cerva até 1853 altura em que passa definitivamente para o de Mondim de Basto.
2.3 – Ermelo.
Em Abril de 1196 D. Sancho I concedeu-lhe a 1ª carta de foral, que foi
confirmada mais tarde, em Março de 1218, por nova carta. A 3 de Junho de 1514, D.
Manuel I concedeu-lhe nova carta.
A antiga freguesia era abadia de apresentação do Marquês de Marialva.
Na resposta ao inquérito dirigido pelo padre Luís Cardoso, lemos: “Esta
freguesia fica situada entre dois montes de serras, uma é o Marão da parte do
nascente, e da parte do norte a serra da Lousa, há mais serra que vales mas não se
descobrem povoações nenhumas. Esta freguesia é comarca de Vila Real Arcebispado
de Braga, Termo e concelho da vila de Ermelo da provedoria da vila de Guimarães. É
donatário desta igreja o ilustríssimo e excelentíssimo Marquês de Marialva...
Há nesta vila e freguesia Juiz ordinário dois vereadores um procurador,
nomeados em pauta e confirmados pelo donatário, estes fazem câmara, tem escrivão
do judicial (...) e orfãos. Tem escrivão da câmara e fazem quatro vereações no ano,
correição e fazem audiência às segundas feiras...” (CARDOSO, 1758: Vol 13, Maço
30, folha 241).
12
Em 1840 a freguesia da Campeã, com Vila Cova e Quintã passam a pertencer ao
concelho de Ermelo.
Em 1843 tentou-se acabar também com este concelho mas, por força da vontade
popular que enviou à Rainha um extenso documento com noventa assinaturas onde se
fazia uma longa exposição para que o concelho se mantivesse, este manter-se-á mais
alguns anos.
A 31 de Dezembro de 1853 o concelho não resiste à investida da Regeneração e
é extinto, por reforma administrativa e anexado ao de Mondim de Basto.
Em 1/08/1867 a Junta de Paróquia reúne-se extraordinariamente sob a
presidência de Francisco Assunção Monteiro e com a presença dos vereadores José
Maria Pinheiro e Manuel José Alves Machado e do regedor da freguesia, Manuel da
Costa Peixoto, cumprindo o que determinava a lei de 26 de Julho e instruções de 11
de Julho do mesmo ano, para dar o parecer sobre a nova divisão do território relativo à
formação da paróquia civil, o presidente disse que “reunindo Ermelo, outrora cabeça
de concelho, todos os requisitos que a lei exige, deve constituir-se em sede de
paróquia civil anexando-se-lhe as freguesias de Campanhó, Pardelhas, Bilhó e Lamas
de Olo, as quais com esta de Ermelo formaram por mais de três séculos o concelho
deste nome, e cujo número de fogos se eleva actualmente a 719, que apresentava a sua
proposta à discussão da Junta e Regedor para que, tendo em vista a comodidade dos
povos, deliberassem e dessem a sua consulta sobre este objecto. Em seguida, a junta e
regedor, depois de maduras reflexões, tendo em consideração as relações tradicionais
desta freguesia de Ermelo, atendendo a que foi cabeça de concelho de 1514 até 1853,
e que tem desde remota época uma cadeira de instrução primária, que há nela uma
feira mensal, a que concorrem com seus gados todas as freguesias indicadas, que é a
mais populosa pois consta de 305 fogos, e fica no centro de todas, e que apesar de ser
unida em 1853 a Mondim de Basto, se conservou nela sempre um distrito de Juiz de
Paz; atendendo a que a freguesia de Campanhó contém somente 76 fogos, fica
distante de Ermelo 6 quilómetros e não pode fazer parte da paróquia de Mondim de
Basto, em razão da longitude e dificultosa passagem do rio Olo; atendendo a que a
freguesia de Pardelhas dista de Ermelo somente 3 quilómetros, e contém apenas 55
fogos; atendendo a que a freguesia do Bilhó consta de 230 fogos, fica distante de
Ermelo 5 quilómetros não podendo formar de per si paróquia civil, nem ser anexada a
Mondim ou Atei pela grande distância, dez ou onze quilómetros, e por causa dos
13
péssimos caminhos, e grandes ribeiros; atendendo a que a freguesia de Lamas de Olo,
apesar de ficar distante de Ermelo 9 quilómetros não pode formar paróquia civil, por
conter somente 53 fogos, e não pode pertencer senão a Ermelo por ficar distante das
outras paróquias do concelho mais de 12 quilómetros; atendendo principalmente à
facilidade de comunicações entre todas estas freguesias; à identidade dos seus hábitos
e costumes pois se tem regulado sempre pelo mesmo livro de posturas, e enquanto
formavam o antigo concelho, viveram sempre em boa harmonia. Por todas as
ponderosas razões alegadas a divisão a apontar é circunscrita como se acha pela
própria natureza do solo e assim deve ser aproveitada..... pelo governo de sua
majestade para constituir em paróquia civil as freguesias mencionadas, designando
Ermelo para sua sede. E concluída assim a presente sessão ordenou o presidente que
se extraísse cópia dela assinada por todos os membros e regedor e fosse enviada à
administração deste concelho para seguir o devido destino” (A.J.F.E.).
Apesar destes argumentos não serão concretizadas estas justas aspirações.
Mais tarde, de 26 de Junho de 1896 a 13 de Janeiro de 1898 pertencerá ao
concelho de Celorico de Basto.
Nesta data volta de novo, e agora definitivamente, ao Concelho de Mondim de
Basto, com uma área aproximada de 4.108 ha, tendo como limites as freguesias de
Mondim de Basto, Vilar de Ferreiros, Bilhó, Pardelhas, Paradança, Campanhó e Vila
Real e como povoados os lugares de Assureira, Barreiro, Covas, Ermelo, Fervença,
Paço, Ponte de Olo e Varzigueto.
A integração de Ermelo no concelho de Mondim de Basto fará com que caia
numa espécie de adormecimento, tanto por culpa do poder central como concelhio,
perdendo muito da sua dinâmica. Aliás isto é confirmado por uma notícia publicada a
12/05/1909 no jornal “O PROGRESSO DE MONDIM ” onde se lê: “a freguesia de
Ermelo começa a despertar do sono indiferente em que tem vivido e a interessar-se
pelos seus melhoramentos. Ouvimos que se a diligência conseguir o serviço de correio
para Vila Real pelo caminho mais curto, que é de Mondim por Ermelo e Campeã, com
o que muito lucrará esta terra e até todo o concelho, pois pode receber em dia a
correspondência permutada com a sua capital de distrito, ao passo que por Vila Pouca
a demora é de três dias, com prejuízo tanto para o comércio como para os serviços
inerentes”.
14
3 – A População.
3.1 – A Evolução Demográfica: (dos fins do século XVIII à actualidade).
A análise da componente demográfica de uma área específica é fundamental
para o seu conhecimento qualitativo e quantitativo, assim como para avaliar com
rectidão o potencial de desenvolvimento dessa área, de modo a que os vários agentes
actuantes e todas as instituições obtenham um suporte para as suas diversas formas de
intervenção, definição de necessidades e implementação dos programas de acção.
A evolução da população no concelho está efectivamente associada a marcos da
história nacional, que directa ou indirectamente tiveram reflexo nos mais ínfimos
espaços da nação. Consequentemente estes marcos produziram alterações profundas na
sociedade em geral e em particular na distribuição e estrutura da população.
O estudo apresentado apenas evidencia uma vertente simplista da análise
demográfica, uma vez que, apenas pretende retractar o sentido evolutivo da população
do concelho (quadro nº 1).
Na realização deste estudo ficaram patentes, devendo-se realçar certas
incongruências e imperfeições nos dados observados, revelando-se muitas vezes a
recolha de dados impossível para medir todas as ocorrências da evolução da população
que este estudo exigia.
15
QUADRO Nº 1: A Evolução da População de Mondim de Basto (1796 / 1991)
ANO
CONC.º
FOGOS
POPULA.
FONTE
1796
Mondim
Atei
Ermelo
Atei
Ermelo
724
320
483
2303
1106
1441
Da Visitação de Ribeiro de Castro
1798
Mondim
Atei
Ermelo
724
320
483 (*)
2303
1106
1441
Censo de Pina Manique
1801 Mondim
Atei
Ermelo
662
309
2471
2466
1171
1959
Tábuas Topográficas e Estatísticas de 1801
1864 Mondim
7059 Censo nº 1 de Janeiro de 1864.
Lisboa, 1868.
1875
Mondim 1843 Anuário Estatístico do Reino de Portugal
1878 Mondim 1811 7016 Censo de João da Costa, Lisboa, I.N.E.,1881
1890 Mondim 7109 Censo da População de Portugal,
1.12.1890, Vol I,pag.230/1 , Vol II, pag. 281
e Vol III, pag. 182 e 248.
1900 Mondim 7641 INE
1911 “ 7923 ”
1920 “ 8398 “
1930 “ 9508 “
1940 “ 9508 “
1950 “ 10539 “
1960 “ 10328 “
1970 “ 9640 “
1981 “ 9904 “
1991 “ 9518 “
2001 “ 9540 “
2011 “ 7496 “
16
GRÁFICO Nº 1. A Evolução da População.
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
1801 1864 1878 1890 1900 1911 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1981 1991 2001 2011
A evolução da população do concelho evidencia uma forte irregularidade, cujas
causas resultam dos reflexos da conjugação de dois importantes fenómenos
demográficos, crescimento natural e crescimento migratório. Estes últimos assentam nas
transformações socioeconómicas e políticas que ocorreram no território e em particular
no concelho.
Atendendo ao ano a que o início deste estudo se reporta 1796, finais do século
XVIII, o concelho1 regista uma população absoluta de 4850 habitantes, por comparação
com a contagem seguinte que dista no tempo cinco anos (1801), o mesmo concelho
regista um relativo aumento da sua população absoluta, ou seja, um crescimento
efectivo na ordem dos 15,38%, totalizando um valor absoluto de 5596 habitantes.
A evolução de 1796 para 1801 (um espaço muito curto) revela-nos importantes
alterações de quantitativos, sobretudo no concelho de Ermelo onde se assiste a um
aumento de 400% do número de fogos (de 438 para 2471) e do número de habitantes
em 50% (de 1441 para 2059), o que é manifestamente impossível. A evolução do
número médio de pessoas por fogo - de um valor normal para um valor anómalo -, leva-
nos à conclusão de que houve erro no cômputo de 1801. Aliás, se atendermos ao censo
de Pina Manique de 1798 verificamos que o número de fogos atribuídos a Ermelo é de
480 - menos três do que o censo de Columbano - e que se entendermos que o índice três
é aceitável teremos uma população de 1440 indivíduos, o que é praticamente igual ao
número de Columbano e reforça portanto a ideia de que o censo de 1801 está
1 Junção da população de Mondim, Ermelo e Atei.
17
efectivamente muito exagerado. Naturalmente temos que ter sempre presente que
estamos a falar de possíveis hipóteses dado que não nos podemos esquecer da forma
como os censos anteriores a 1864 foram feitos, baseados num sistema de recolha de
dados muito imperfeitos de que resultaram números que nos devem merecer muitas
cautelas quando os utilizamos, como nos diz Amado Mendes “não exijamos mais das
fontes demográficas do século XVIII do que elas nos podem dar - uma indicação
aproximada da realidade com a qual se relacionam”.
Ao longo de todo o século XIX a população de Mondim (incluímos os três
concelhos) aumenta muito insignificativamente. Várias são as hipóteses explicativas,
entre as quais sobressairão a forte saída para o estrangeiro - principalmente o Brasil -
num movimento bastante regular a partir dos meados do século XIX e que se prolongará
pelo século seguinte, o que fará da região de Basto uma das regiões onde o fenómeno da
emigração será mais fortemente acentuado. Outra das hipóteses a considerar tem a ver
com as condições económicas. O concelho era bastante diminuído de rendimentos - à
excepção de um número muito reduzido de famílias -, e a fracas condições económicas
corresponderiam fracas condições de sobrevivência que se reflectiam num número
diminuto de casamentos e da natalidade e num número elevado de mortalidade.
De 1801 a 1864, a população absoluta passou de 5596 para 7059, registando um
acréscimo do efectivo populacional da ordem dos 26,14%, para um período de 63 anos,
o que reflecte um ritmo de crescimento populacional lento comparado com o anterior.
São conhecidas desta época as tendências migratórias para o Brasil.
A contagem da população a partir de 1864 passa a ter um carácter oficial, já que
é efectuado por organismos nacionais, os quais procuram abranger a totalidade do reino.
De 1864, data do primeiro censo oficial, até 1950, o concelho evidenciou um
relativo aumento da população absoluta, registando nesta última década o seu valor
máximo jamais atingido, ou seja, um total de 10539 habitantes.
Para testar as incompatibilidades na contagem da população, o “Censo de João
da Costa de 1878“ regista para o mesmo ano uma população absoluta da ordem dos
7016 habitantes, valor inferior ao do ano de 1864 contrariando assim a tendência geral
já exposta.
Neste período a taxa de crescimento efectivo variou entre os -0,6% de 1864 a
1878; 1,32% de 1878 a 1890; 7,48% de 1890 a 1900.
A primeira metade do século XX, corresponde a um período de forte
crescimento populacional no concelho, registando taxas de crescimento efectivo que
18
variam entre os 3,69% de 1900 a 1911 e os 13,2% registados no período que vai de
1920 a 1930. Contudo este ritmo de crescimento não foi gradual, pois na década
seguinte registou praticamente um crescimento nulo, mais concretamente, a população
absoluta de 1940 correspondia aproximadamente à da década anterior.
Dobrada a primeira metade do século XX, a tendência geral da evolução da
população do concelho passa por uma crescente diminuição dos efectivos
populacionais. Assim sendo, de uma população absoluta de 10539 em 1950 passamos
para 10328, em 1960.
Nestas décadas são particularmente visíveis as consequências dos movimentos
migratórios, tendo-se pautado a estrutura demográfica do concelho pela maior ou menor
incidência do fenómeno dentro do mesmo.
De 1960 a 1970 a população absoluta passou de 10328 para 9640 habitantes, de
1970 a 1981, inverte-se a tendência oficializada na década de 50, neste período o
concelho evidenciou um relativo aumento da sua população absoluta, passando de 9640
para 9904 habitantes. Contudo na década seguinte 1991, registou-se novamente uma
diminuição da população absoluta, centrando-se nos 9518 habitantes.
Em termos de crescimento efectivo a segunda metade do século trouxe para o
concelho taxas negativas, variando entre os -6,66%, registados no período que vai de
1960 a 1970 e os 2,7% registados na década seguinte. É de salientar pela negativa que
de 1981 a 1991 o concelho evidenciou nova quebra da taxa de crescimento efectivo,
registando o valor de -3,89%.
Rematando esta análise pode-se concluir que a evolução da população do
concelho de Mondim de Basto conheceu dois momentos distintos, atendendo ao período
em análise.
O primeiro período engloba o ano de 1796 até 1950, em que a tendência geral da
evolução da população é positiva. Registando uma taxa de variação da ordem dos
117,2% (curiosidade - foram necessários 154 anos para a população duplicar).
O segundo período, que vai de 1950 a 1991, regista uma evolução negativa da
população, evidenciando uma taxa de variação que se cifra nos -17,9% da população.
19
3.2 - A População Activa.
O concelho de Mondim de Basto possui uma vasta área de montanha, o que vai
moldar em parte as actividades que nele se desenvolvem. Destas destaca-se como
actividade predominante a agrícola, aproveitando por um lado a capacidade do uso dos
solos e por outro os recursos hídricos disponíveis. A tipologia geográfica faz com que
“os homens sejam corpulentos, robustos e muito aptos para o serviço militar por causa
da aspereza da situação, valentes e cobiçosos de honra. As mulheres são igualmente
fortes e ajudam seus maridos na cultura das terras”, como nos diz Ribeiro de Castro.
Quadro nº 2. Distribuição da População por Profissões
PROFISSÕES MONDIM % ATEI % ERMELO % TOTAL %
Eclesiásticos 33 2,3 8 2,3 12 2,5 53 4
P. Literárias 7 1,1 4 1,1 1 0,2 12 1
Sem ocupação 66 10,8 22 6,3 71 14,8 159 11
Cirurgiões 1 0,2 1 0,3 2 0,4 4 0
Boticários 1 0,2 1 0,3 0 0 2 0
Barbeiros 4 0,6 2 0,6 9 1,9 15 1
Lavradores 196 32,1 87 24,8 268 55,8 551 38
Jornaleiros 104 17 111 31,6 19 4 234 16
Alfaiates 28 4,6 14 4 18 3,8 60 4
Sapateiros 5 0,8 3 0,8 2 0,4 10 1
Carpinteiros 9 1,5 8 2,3 24 5 41 3
Negociantes 0 0 6 1,7 0 0 6 0
F. courama 50 8,2 0 0 0 0 50 3
Pedreiros 2 0,3 3 0,9 6 1,2 11 1
Ferreiros 3 0,5 1 0,3 3 0,6 7 0
Ferradores 1 0,2 1 0,3 0 0 2 0
Almocreves 2 0,3 4 1,1 2 0,4 8 1
Criados 47 7,7 37 10,5 25 5,2 109 8
Criadas 52 8,5 38 10,8 18 3,8 108 7
Total 611 100 351 100 480 100 1442 100
Fonte: (MENDES, ob. cit: quadro nº XIII)2 .
Este quadro permite-nos verificar como é que a população se distribuía pelas
diferentes actividades económicas nos fins do século XVIII. Assim:
2 O cálculo das percentagens foi feito por nós.
20
Para a província de Vila Real são referidos cinquenta e seis grupos ocupacionais.
Para Mondim (somando os três concelhos) são referidos apenas dezanove, o que revela
a pouca especialização das profissões.
Os dados apresentados permitem-nos verificar o peso que cada actividade económica
apresenta para o conjunto da população activa dos locais em análise. De um total de
4850 habitantes, cerca de 1/3 dessa população, mais concretamente 1442 indivíduos
exerce uma actividade económica. Este é um valor comum ao resto da província. “...Isto
permite-nos sugerir que a classificação levada a efeito terá sido, essencialmente, dos
cabeças dos agregados familiares...“ como Joel Serrão constatou. No entanto do total da
população activa, saliente-se o facto de cerca de 11% desta população corresponder aos
indivíduos sem ocupação.
Mondim é sem dúvida o lugar com uma população activa mais elevada, 42,4%
logo seguido pelo lugar de Ermelo, 33,3% e pelo lugar de Atei com cerca de 24,3%.
De um modo geral não existem grandes contrastes ao nível da distribuição dos activos
segundo a sua profissão relativamente aos três lugares. Só pontualmente no caso dos
eclesiásticos que apresentam um maior número em Mondim; os carpinteiros estão
bastante representados em Ermelo; “negociantes” é uma actividade apenas presente em
Atei; assim como os fabricantes de courama apenas figuram em Mondim.
Como os dados evidenciam é de salientar a supremacia das actividades ligadas à
agricultura (lavradores e jornaleiros) que compreende 54% do total da população activa.
Para alem desta actividade, a classe dos criados e das criadas evidenciam também uma
forte ocupação, cerca de 15% da população activa.
Sem dúvida que o sector primário, alicerçado pela grande percentagem de
população activa na agricultura, respectivamente 38% de lavradores e 16% de
jornaleiros, aparece como o principal sector económico. Comparando o total de
lavradores dos três lugares, Mondim 32;1%; Atei 24,8% e Ermelo 55,8% com o total de
jornaleiros, Mondim 17%; Atei 31,6% e Ermelo 4% verificamos que a propriedade se
encontra pouco dividida em Mondim e Atei e muito dividida em Ermelo o que explicará
a existência de tão diminuto número de jornaleiros neste concelho, onde serão os
próprios donos das terras quem as trabalha. Curiosamente não aparece o conceito de
proprietários.
Outra actividade económica que subsiste com elevados efectivos activos diz
respeito à categoria dos criados e criadas, que no total representa 15% da população
activa total.
21
Se associarmos as anteriores classes podemos concluir que os regimes de poder
pessoal (Feudo) controlam fortemente e preservam a autoridade e o poder de grandes
proprietários da terra.
Atendendo a esta estrutura funcional predominante, e dado o peso pouco
significativo das outras actividades económicas, como sapateiros com 1%, carpinteiros,
3%, ferreiros e ferradores com valores inferiores a 1%, é provável que exercessem a sua
actividade profissional em parceria com a agricultura.
A actividade comercial apresenta uma parcela relativamente pequena do total da
população activa. Mais concretamente 1% de almocreves e menos de 1% para o grupo
dos negociantes. Por um lado a existência de um sistema de economia fechado, da qual
não se exclui um sistema de produção virado para o auto-consumo, pode estar na base
da fraca importância deste sector e por outro, dado o facto de por aqui não passar
qualquer via importante funcionava como factor desencorajador. Não entendemos, no
entanto, como é que sendo Mondim o concelho mais importante dos três, ali não se faça
referência à existência de qualquer negociante. De qualquer modo podemos ver aqui
uma fraca presença do grupo social da Burguesia.
Os eclesiásticos representam uma actividade com relativa expressão,
concretamente 4% da população activa o que revela o forte peso que a Igreja possui
enquanto instituição “eclesiástica” e “nobiliárquica”. Não se trata de um valor
conjuntural pois que, ao longo de todo o século XIX, o número será sempre elevado.
É insignificante o número de pessoas literárias referidas. Já o padre Luís
Cardoso havia afirmado que aqui encontrou referência a apenas duas pessoas “insignes
nas artes liberais” (CARDOSO, 1758: ob. cit., vol 24, maço 176, folha 1159).Trata-se
de Frei Manuel de Jesus Maria Joseph, Geral dos Carmelitas Descalços e do doutor
Desembargador da Relação do Porto Manuel de Carvalho Pais.
A situação pouco evoluirá ao longo do século XVIII3.
Se fizermos o agrupamento por sectores de actividade - excluindo os sem
ocupação e os clérigos que representam 15% do total - ficamos com 17 grupos assim
distribuídos: Sector Primário : lavradores e jornaleiros; Sector Secundário: fabricantes
de courama, carpinteiros, sapateiros, pedreiros e ferreiros; Sector Terciário: negociantes,
3 Devemos salientar a figura de José Bernardo Borges de Azevedo Mourão, nascido a 7 de Abril de 1767, na Rua
Velha, na casa dos Azevedos Mourões. Doutorou-se em Teologia na Universidade de Coimbra aos 27 anos de
idade em 20.06.1794. Entre outros aspectos da sua vida, interessa-nos o facto de a partir de 1806 passar a Mestre
de Latim no convento de Palmela. Será, a partir de 1821, cónego da Sé de Lisboa, cidade onde granjeou grande
fama. Escreveu várias obras, de cariz político, fundamentalmente, das quais salientamos “Resposta e Parecer sobre
o Método de Convocar as Cortes”.
22
criados, criadas, alfaiates, almocreves, cirurgiões, boticários, pessoas literárias,
ferradores e barbeiros obtemos o seguinte quadro:
Quadro n.º 3. A Distribuição da População Activa por Sectores de Actividade para
Fins do Século XVIII.
Activos por Sector Número %
Activos no Sector Primário 785 54
Activos no sector Secundário 119 8
Activos no Sector Terciário 638 38
TOTAL 1442 100
A ordem de importância dos vários sectores - primário, terciário e secundário -
é sempre idêntica no conjunto da província, como Joel Serrão já havia constatado.
Ao longo do século XIX, o concelho de Mondim de Basto continuará a revelar-
se profundamente rural (quadro nº 4). Até 1853 são extintos os concelhos de Atei e
Ermelo por razões de carácter administrativo.
Quadro n.º 4. Profissões Identificadas para fins do Século XIX4
De todas as idades - 20 anos 20 a 39
anos
40 a 59
anos
+ de 60
anos
Sem
Ocupação
Lucrativa
Serviço
doméstico
PROFISSÕES
TOTAL
H
M
H
M
H
M
H
M
H
M
H
M
H
M
Trabalhos Agrícolas 4.624 2.224 2.400 612 566 863 1000 612 751 436 384 775 919 10 71
Extracção de minerais 2 1 1
Indústria 332 172 160 18 23 84 67 40 51 30 19 103 140 1
Transportes 9 7 2 1 3 1 1 2
Comércio 96 42 54 2 3 17 20 14 10 9 21 22 36 2
Força Publica 1 1 1 3
Administração Publica 12 12 6 5 1 7 7
Profissões Liberais 30 28 2 4 10 1 6 1 8 5 10 7 12
Vive dos Rendimentos 3 2 1 2 1
4 Não entendemos porque é que as pessoas consideradas “Sem Ocupação Lucrativa” e “Serviço Doméstico”
aparecem situadas na coluna das idades, quando seria mais lógico aparecerem na das profissões. Será que esses
indivíduos exerciam uma actividade que não cabia dentro das actividades tipo? Ou será que entram como uma
terceira coluna?
23
Improdutivos. Profissão
Desconhecida
116 34 82 11 14 4 11 5 19 14 38
Fonte: (INE, Censos de 1890: 182, 183).
Do século XVIII para o século XIX, atendendo à comparação dos quadros 2 e
4 é difícil estabelecer uma relação directa entre as profissões expressas nos referidos
quadros, no entanto estabelecendo a relação das profissões, podemos construir um novo
quadro que nos dá o total de indivíduos por sector da actividade e a respectiva % para
fins do século XIX.
Quadro n.º 5. A Distribuição da População por Sectores de Actividade em
Fins do Século XIX.
Activos por sector Total %
Primário 4624 90,6%
Secundário 332 6,5%
Terciário 151 2,9%
TOTAL 5107 100
Partindo deste ponto, o sector primário é fortemente reforçado face à
percentagem da população activa a trabalhar na agricultura, dado que um dos aspectos
mais relevantes da importância da actividade agrícola se prende com elevados valores
da sua população activa.
A estrutura da propriedade não deve divergir muito do século anterior, sendo
muito dividido e de pequena dimensão, resultado não só das irregularidades do relevo,
mas também das iniciativas individuais de apropriação da terra (presúria).
A actividade agrícola caracteriza-se pelo uso de técnicas tradicionais, suporte de
trabalho de alguns artesãos, como por exemplo, ferreiros, ferradores, e a jusante da
produção, por uma actividade comercial de base local da qual sobressai os fabricantes
de courama e os negociantes.
Relativamente ao sector secundário verifica-se um aumento do total absoluto da
população activa, fruto do aumento demográfico. No entanto este sector face ao período
anterior regista uma diminuição do seu peso relativo, passando de 8% no século XVIII
para 6,5% no séc. XIX.
24
Sem especificar que tipo de indústria está relacionada com o Concelho (quadro
n.º 4), podemos desde já avançar com as suas possíveis características. Predominam as
indústrias (manufacturas) de ramos tradicionais que exploram alguma matéria prima
local (curtumes, têxtil).
O sector terciário, que regista um decréscimo acentuado da sua população activa,
verifica o aparecimento da participação da Administração Pública e da Força pública na
população activa deste sector. As actividades ligadas ao sector terciário incluem
profissões instáveis de fraca relevância económica, que no século XVIII era exercida
em parceria com actividades do sector primário.
4 – A Sociedade.
“Na sociedade de antigo Regime, o mais aparente é a divisão em estados ou
ordens - clero, nobreza e braço popular. É uma divisão jurídica, por um lado, é por outro
uma divisão de valores e de comportamentos que estão estereotipados, fixados de uma
vez para sempre, salvo raras excepções. Cada qual ocupa uma posição numa hierarquia
rígida, segundo tem, ou não títulos, e tem, ou não direito a certas formas de tratamento”
(GODINHO, 1977: 72). É visível ainda em 1796 a sociedade mondinense estruturada
daquela forma.
4.1- O Clero.
Em fins do século XVIII são 53 os membros registados por C. Ribeiro de Castro.
Este número refere-se apenas aos sacerdotes, tendo sido excluídos os Párocos,
normalmente um por cada freguesia, os Ordinandos e os Pretendentes, o que elevaria o
número total.
Dos sacerdotes temos 1 por cada 91,5 habitantes do concelho (incluímos Atei e
Ermelo) e 5,9 sacerdotes de média por freguesia. No conjunto da província de Trás-os-
Montes havia em 1796, segundo Ribeiro de Castro, 3,6 padres por freguesia e 1 padre
por 97,5 habitantes (SOUSA, 1976: 16). Estes valores reforçam o peso do clero em
Mondim dada a média ser superior ao resto da província.
O clero tinha algumas propriedades e um rendimento de décimas de 136:340 réis
em Atei, 173: 380 réis em Ermelo e de 289:500 réis em Mondim (MENDES, ob. cit:
488 e 501).
Como é sabido o décimo ou dízimo era 1/10 da produção nacional, cuja
instituição remonta ao século XII. A pressão social e económica do clero não resulta
25
propriamente do número dos que o constituem, mas sim dos laços que a si prendem toda
a população sobre a qual exercem uma forte pedagogia, interferindo necessariamente
nos seus destinos (GODINHO, ob. cit: 87).
Relativamente à proveniência social do Clero Secular verificamos que em
Mondim de Basto o recrutamento era feito em todos os grupos sociais com um peso
maior para os oriundos do povo.
Isto compreendesse dado estarmos perante uma sociedade tipicamente rural pelo
que ao longo dos séculos XVIII e XIX há da parte dos pequenos e médios proprietários,
mais do que um fugir à miséria “uma propensão para ordenar seus filhos com o fim de
honrarem as famílias” (SOUSA, 1976: 17), e da parte dos outros grupos sociais uma
necessidade de promoção social, onde todos procuram ter em casa pelo menos um
padre, de preferência o filho mais velho. E se até na hora de fazer o testamento as
primeiras palavras são sempre de profundo respeito para com a igreja, reflectindo-se no
desejo de, na hora da mesma se ter o maior número de missas possível e rezadas pelo
maior número de padres, também é possível ver aí uma forma de promoção e prestígio
social reforçados ainda nos muitos legados que são feitos à Igreja, normalmente em
terras ou em dinheiro, para pagamento de ofícios, ofertas ao altar ou para obras de
assistência.
Quanto ao local de origem dos membros do clero registados quase todos são
originários da terra onde exercem as suas funções pastorais. A título de exemplo
vejamos o caso de Atei na visitação de 1795: são oito os padres, para além do pároco,
dos ordinandos e dos pretendentes. Apenas dois são de fora do concelho. Um é de
Mondim e o outro da freguesia de S. Martinho de Mateus, Vila Real.
Quanto à sua formação, apenas o pároco, António José de Neiva Machado tinha
boa instrução pois era formado em Cânones. Dos oito sacerdotes todos tinham uma
instrução sofrível ou menos que mediana. A escrita era sofrível ou mesmo medíocre.
Só dois são referidos como pobres. Os outros tinham património legítimo ou
suficiente. Tendo em consideração os dados fornecidos pela visitação de 1825 (anexo
n.º 4), verificamos que os religiosos regressados a Mondim após o fim das Ordens
Religiosas em 1834, por decreto de 28 de Maio assinado por Joaquim António de
Aguiar, haviam pertencido às ordens de S. João Evangelista, S. Francisco, Arrábidos e
Beneditinos. De entre eles merece destaque o Beneditino Revº Frei António de S.
Bernardo Queirós, que foi Dom Abade no mosteiro de Arnóia. Homem extremamente
26
culto teve a honra de ser sepultado na igreja matriz quando tal prática já se havia
abandonado pois os enterros já eram feitos no cemitério público.
Continuando ainda a analisar os dados verificamos que nessa data, para além dos
párocos e dos ordinandos, encontramos 2 padres no Bilhó, 11 em Mondim, 4 em
Ermelo, 1 em Vilar de Ferreiros, 2 em Paradança, 0 em Campanhó e 0 em Pardelhas,
num total de 20. Atei não entrava pois fora incluída na 1ª parte da visitação.
Destes, apenas o pároco de Vilar de Ferreiros era graduado em Cânones pela
Universidade de Coimbra. Todos os outros, pela avaliação feita pelo visitador, eram
trapalhões ou desmazelados; tinham fracas qualidades de espírito ou desleixados.
Quanto a conhecimentos ficavam-se por poucos, sofríveis ou medianos. Esta escala
merece da nossa parte algumas reservas dado não concordarmos com o citado visitador.
De facto, se o pároco do Bilhó ensina aos minoristas leitura, escrita e gramática, ao
ponto do minorista Luís da Cunha vir a ser futuro professor e director da escola; se o
mesmo se passa com o minorista Inácio da Costa de Vilar de Ferreiros que estuda
gramática com o seu pároco; com quatro minoristas de Mondim que também recebem
lições de gramática ensinada pelo respectivo pároco, então os párocos dispunham dos
conhecimentos essenciais e, o que se revela importante, transmitiam-nos àqueles que
eventualmente os viriam a substituir. Como nota curiosa registe-se o facto do pároco de
Ermelo ser dado a leituras “romanescas e fortes” . Que tipo de leituras não sabemos mas
ficamos a saber que o facto do citado pároco praticar leituras diversas pode indiciar um
espírito aberto, culto e crítico.
A conduta moral era, de um modo geral, boa.
Apesar do fim das ordens religiosas, o padre não vê beliscada a influência moral,
religiosa ou política de que dispunha. Continua a fazer o registo de baptismos,
casamentos e óbitos. Alguns são ainda professores e outros exercem cargos políticos.
Impõe, afinal, o ritmo de vida da paróquia.
No último quartel do século XIX o número ainda é elevado. A título de
exemplo encontramos dois padres na casa do Retiro e dois na casa do Outeiro.
“Mondim era um alfobre de vocações religiosas, haja em vista que tinha 15 capelas
além da Srª da Graça, e numerosos altares nas melhores casas particulares” (CASTRO,
1968: 65).
27
Sendo o clero tão numeroso não nos admira que muitos desses membros tenham
tido uma vida política e romântica também muito agitada5. De facto são numerosos os
padres que têm filhos e que os assumem na maioria das vezes6, como numerosos são os
que têm ou tiveram relações sexuais com mulheres à data das várias visitações.
Por sua vez foi das mãos de um padre que partiu a feitura do primeiro jornal de
Mondim chamado o Progresso de Mondim onde a apologia ao regime monárquico era
por demais evidente. É claro que o regime surgido com a 1ª república fará acabar com o
citado jornal e o seu autor e mentor, padre António Guilherme de Queirós Saavedra irá
partir em 1910 para o exílio no Brasil donde só regressará 15 anos mais tarde. Também
os cargos de presidente das Juntas de Paróquia e de Presidente da Câmara serão
ocupados por padres, o que se por um lado demonstra bem do poder dos mesmos, por
outro lado também quererá dizer que se eles ocupavam esses cargos é porque seriam dos
poucos que saberiam ler e escrever, condição sem dúvida essencial para se ocupar
aqueles cargos. A entrada no século XX irá modificar as coisas. Efectivamente, se
continuamos a ver muito jovem a ir estudar para os seminários, alguns abandonam os
estudos à procura de um emprego público e por outro lado outros jovens encontram nos
liceus a possibilidade de prosseguimento dos estudos que até então quase só
encontravam no seminário. Isso fará com que o anteriormente numeroso grupo de
padres se vá tornando cada vez menor, mas ainda com alguma importância, como atesta
o facto de às portas da implantação da República termos a completar a sua formação
religiosa António Guilherme de Queirós Saavedra, Adão de Moura, Manuel Inácio de
Moura Guerra, António Gomes Ribeiro e José Bento Martins de Carvalho Ramos,
segundo os dados retirados do citado jornal.
5 O duvidoso comportamento moral de alguns padres conduzia-os a situações delicadas e pouco favoráveis à
credibilidade que era suposto terem. Por isso, frei Caetano Brandão escrevia : “depois do estudo e da oração,
segue-se a obrigação de instruir as almas nos preceitos da vida eterna (...) que as obrigações do homem eclesiástico
não se devem restringir unicamente à reza do breviário; mas (...) sobre esta tem outra mais própria e inalienável por
ser de instituição divina, que é de se pôr hábil para desempenhar a qualidade de mestre público da Religião”
(SOUSA, 1976: 440, citado por MAGALHÃES, 1989: 122).
6 A 4. 5. 1893 o padre Tomás Peixoto, de Ermelo escreve no seu testamento: “declaro que por fragilidades humanas,
tenho com uma mulher livre quatro filhos, de nomes José Joaquim, Francisco, Patrocina e Maria Emília, todos
nascidos e baptizados na freguesia de Ermelo. Todos os filhos acima mencionados, foram por mim criados em
minha companhia e debaixo da minha protecção e assim se conservam actualmente, os quais são de menor idade e
para descargo da minha consciência a todos perfilho e reconheço como meus filhos para todos os efeitos legais“.
ACMM, In livro de testamentos nº 25, página 13.
28
4.2 - A Nobreza.
É antiga a tradição nobre em Mondim de Basto. De facto desde o princípio da
nacionalidade que encontramos na região de Basto famílias nobres muito importantes.
No entanto não nos interessa fazer aqui o estudo dessas famílias, interessando-
nos antes perceber a sua evolução a partir da segunda metade do século XVIII.
Assim, em fins do século XVIII é donatário dos três concelhos o Marquês de
Marialva que cobrava de foro “oitenta réis aos casados e quarenta aos viúvos o que
importava em 127:000 réis”. Aqui se incluía também o foro cobrado ao concelho de
Cerva. De rendimentos totais obtém 1.830:000 réis em Ermelo, 900:000 no lugar do
Bilhó, 1. 940:000 réis em Mondim, 1.200:00 no lugar de Vilar de Ferreiros e em Atei
1.401:000 réis e ainda “há duas barcas no rio Tâmega , uma no porto do Arnado, donde
se junta o rio Basto, outra chamada de Baixo, no porto de Rebufa, que ambas são
foreiras ao mesmo donatário” (MENDES, ob. cit: 469).
Incluímos ainda no grupo da Nobreza os licenciados, os Juízes de Fora, os
Bacharéis, os Médicos e o professor de Gramática Latina que dava aula em Mondim.
Não poderemos incluir os poucos comerciantes assinalados dado que não o seriam “de
grosso trato” (Lobão in GODINHO ob. cit: 246 e ss). Embora o peso deste grupo social
seja muito diminuto em termos de quantitativos não podemos deixar de referir alguns
membros que tiveram alguma importância, tais como:
- Dr. Manuel Francisco da Silva Veiga Magro e Moura, cavaleiro da Ordem de
Cristo, Desembargador da Relação do Porto. Ano de 1758 (ANTT, Leitura de Bacharéis
Mc 39 nº 7). Era filho de João Francisco Magro e Moura, natural de Pedravedra em
Mondim de Basto.
- Dr. Manuel António de Oliveira e Andrade, de Atei. Requereu a Carta de Armas
a 16.6.1762, que lhe foi concedida.
- Pedro António Teixeira de Carvalho, da casa de Viacova, Mondim. Bacharel. À
data do inquérito do padre Luís Cardoso era o Sargento-mor dos quatro concelhos:
Mondim, Atei, Cerva e Ermelo.
- Teve um filho, o Dr. Manuel Vicente Teixeira de Carvalho, que foi
desembargador do Paço e cavaleiro da Ordem de Cristo. Teve carta de Brasão de Armas
a 30.10.1786.
- Teve este, por sua vez, dois filhos: Eduardo Augusto Teixeira de Carvalho, Juiz
de Órfãos em Barcelos, em 1831 e Pedro António Teixeira de Carvalho,
Desembargador da Relação de Goa, na Índia.
29
- João Manuel de Carvalho Pires, de Mondim, teve Carta de Armas em 1.7.1781.
Com o advento do liberalismo a estrutura social foi fortemente abalada. “Os fidalgos de
terras de Basto vão-se acabando. Tenho pena e saudade. Aqui há trinta anos, com os
brasões e apelidos das famílias heráldicas dentre Vizela e Tâmega recompunha-se a
história lendária de Portugal. Quem soubesse ler a simbólica das arrogantes armas
encimadas nos portões das quintas, podia leccionar um curso de história pátria com
tanta filosofia como frei Bernardo de Brito e o sr. João Félix Pereira, o das várias
faculdades. Em redor daqueles paços senhoriais pesava um silêncio triste e torvo. Era o
luto de Portugal de D. João II e de D. Manuel.
Afinal, o temperamento sanguíneo dos cavalheiros de Basto borbulhou em
comichões de novas ideias, todos eles se coçaram mais ou menos com a carta
constitucional. A liberdade vencera; mas as proeminências congénitas daquela plêiade
de Bayards, quase todos capitães-mores, desvaneceram-se nas brumas da epopeia, que
nunca mais terá pessoa em que pegue naquela região onde já não há tradição da velha
tirania dos patíbulos, excepto o vinho que ainda é de enforcado” (BRANCO, 1903: II: 9
e ss).
4.3 - O Terceiro Estado.
Naturalmente o grupo social mais numeroso, divide os seus modos de vida por:
proprietário, arrendatário, ser amo ou ter ofício de mester. Preocupa-o a sobrevivência
no dia-a-dia. Rouba à natureza os solos para cultivo e dos melhores frutos guarda as
melhores sementes que lançará à terra na sementeira seguinte, numa escolha criteriosa
que, por tradição, fará passar de geração em geração.
O povo mondinense revela-se, ao mesmo tempo, lavrador e artesão.
Encontramo-lo, quando as condições atmosféricas não o deixam ir para o campo, na sua
oficina improvisada a (re) construir as suas pipas, sacholas, tamancos, carros de bois. À
mulher competirá cozer a broa, fazer os “enchidos”, o queijo e trabalhar o linho.
Nestas tarefas detectam-se vários “saberes” desde a arte de entrançar o junco,
donde resultavam as croças, os coruchos e perneiras; o fazer de cestos com rebentos de
castanheiros; chapéus com palha de centeio; capuchas em lã escura; tricotar meiotes de
lã; tecer farrapos; trabalhar o ferro; trabalhar a madeira para as alfaias agrícolas; cozer o
pão; construção do forno, moinho e canastro; a armação em madeira e o telhado de
30
colmo de uma casa tradicional; trabalhar o granito, etc., tudo isto com recurso a técnicas
rudimentares que traduzem simultaneamente uma influência e uma adaptação ao meio.
Sendo lavrador e dispondo de cabeças de gado, o mondinense adapta a sua
construção habitacional a essas circunstâncias. Assim as construções de apoio à
agricultura fazem normalmente parte do mesmo bloco habitacional e deste é reservado o
piso térreo para funcionar como “corte” (permanência do gado) ou como palheiro e
também como simples armazém de alfaias agrícolas. No lugar do Barreiro disseram-nos
que a permanência do gado no piso térreo servia também para, com o seu arfar, aquecer
a habitação no Inverno. Há ainda os casos de habitações que já não são utilizadas como
tal sendo-o antes para, no piso inferior funcionar de corte e o superior de palheiro.
5 – O TECIDO ECONÓMICO
5. 1 - A Agricultura
A actividade agrícola surge com uma importância significativa mais em termos
sociais que em termos económicos, principalmente porque ocupa praticamente todos os
braços úteis.
Apesar da pobreza dos solos a população mondinense ao longo dos séculos
trabalhou os solos e aperfeiçoou técnicas que levaram à extensão das áreas cultivadas.
Mondim sempre foi obrigada a sobreviver à custa da agricultura. Nas zonas baixas, os
terrenos aluviais têm boa capacidade agrícola. A zona de montanha é constituída por
terrenos pobres. O tipo de sua superfície acidentada é de muita elevação, a sua posição
geográfica, que lhe deixa abertos o Sudoeste ás ventanias, que trazem as chuvas do mar,
e o Noroeste aos gelos de Sanábria , obstam à sua fertilidade, e produzem as geadas, que
são o principal inimigo das culturas destes terrenos. O clima também é pouco favorável.
Os invernos são longos e os verões secos e curtos. Todas estas condicionantes
contribuíram para que a produção agrícola nunca tivesse atingido níveis muito notáveis.
Daí o recurso à pastorícia7, - actividade complementar - a qual não teve qualquer
dificuldade de adaptação, principalmente nos terrenos acima dos 450 metros de altitude.
7 Havendo alguma contradição entre as informações prestadas nas Memórias Paroquiais e os conhecimentos que
temos e que nos chegam por Via Oral, percorremos as freguesias de montanha inquirindo os actuais pastores sobre
o tempo de prática da actividade. Todos referem que já a herdaram dos pais e avós num recuar de tempos que nos
faz acreditar ser a actividade já ancestral e como tal incorrectas as informações prestadas pelo padre Luís Cardoso
na obra referida.
31
Usando técnicas rudimentares, o recurso a prolongados pousios era prática comum.
“O pousio, o compascuo, a rotina, a ignorância, o abandono em que as povoações destes
terrenos têm vivido até aqui, são a causa da decadência da agricultura” queixava-se o
Governador Civil (SOUSA, 1976: 64).
A adubação dos solos era prática já ancestral: o gado pisava e fazia apodrecer
nas “cortes” e nos caminhos por onde passava os matos rasteiros que eram cortados nos
baldios, convertendo-os em estrume, que depois eram espalhados como fertilizantes
pelos solos a cultivar.
As pequenas áreas de exploração agrícola localizavam-se em redor dos
povoados onde apresentam culturas praticadas em solos armados em estruturas de
compartimentação - socalcos ou muros -, e de rega - moinhos, açudes, levadas –
arduamente conquistados aos declives da topografia, com muito esforço e engenho, num
espaço temporal que se perde no tempo. Atestam esse esforço e engenho as Levadas de
água que com os seus muitos quilómetros de extensão potenciam o efeito de
demonstração do funcionamento dos principais sistemas de produção do mundo rural do
norte de Portugal, que fazem a admiração de qualquer técnico. Duas há a destacar em
Ermelo: a Porca Ruça, que começava no rio Olo e a Chelas na ribeira de Sião. Este
sistema permitia que a sua força motriz movimente cinco moinhos, dois lagares de
azeite e na passagem regue campos agrícolas e uma em Atei que começava no rio
Póvoa, e por efeito de gravidade regava os férteis campos do lugar.
5.2 - O Vinho.
Verde, de enforcado, revelava-se importante, principalmente em Atei e em
Mondim, e menos em Ermelo. Há referência, até, em meados do século XIX, a dois
negociantes de vinhos de Atei estabelecidos na cidade do Porto que se encarregariam de
vender naquela cidade o vinho desta região. Também abundavam os lagares e
alambiques, reveladores da importância do vinho e seus derivados na economia destas
populações. No entanto nem em todos os anos agrícolas o vinho produzido o era em
excesso, ou muito raramente o era, dado que nem sempre chega sequer para consumo
interno, havendo necessidade de o importar da Região Duriense, o qual era tabelado a
preços muito superiores ao produzido aqui. A título de exemplo vejam-se os preços do
ano de 1843 : vinho maduro: 480 réis o almude; vinho verde: 320 réis o almude.
32
5.3 – Cereais.
O centeio era, na primeira metade do século XIX o cereal mais importante,
ocupando extensas áreas de cultivo nas zonas planálticas do concelho. Anos haveria em
que a boa produção permitia que algum fosse vendido sobretudo na região vinícola do
Douro, onde escasseava, tal como nos refere o “Relatório acerca das Industrias no
Distrito de Vila Real” (SOUSA, ob. cit.: 79). O centeio não fornece apenas o grão mas
também a palha que servirá para a cobertura dos telhados, de uma maneira muito sui
generis. Lentamente irá ser substituída pela Lousa, que dará ao casario um imponente
aspecto, principalmente no norte do concelho. À medida que o século vai avançando, o
milho - facilmente adaptável às férteis veigas de Atei e Mondim -, ganhou gradual
importância, tornando-se num óptimo complemento alimentar. Contudo a sua produção
nem sempre será em quantidade suficiente para satisfazer as necessidades destes povos,
havendo necessidade de se recorrer à importação do mesmo. Realmente era vulgar a
aquisição de milho, por parte da câmara, por manifesta falta deste no concelho. Ou
porque se não cultivava em quantidades suficientes ou porque a filoxera atacava os
milheirais, deixando-os num estado lastimável. A 23 de Junho de 1909, deliberou a
câmara “adquirir sulfureto de carbono, a fim de combater a filoloxera e a bicha amarela
que tanto prejuízo causava nas vinhas e nos milheirais”. Isto demonstra que, mesmo
depois de entrados no século XX o problema se mantinha (ACMM, acta da sessão de 23
de Junho de 1909). Nesta mesma acta regista-se como nota curiosa o facto de o
Administrador do Conselho adiantar do seu próprio bolso o dinheiro para nova
importação de milho dado que a Câmara não dispunha de verbas. Aliás essa era uma
prática corrente dado vir referida em muitas das actas que consultámos.
5.4 – Pecuária.
É impossível imaginarmos o homem mondinense sem o vermos acompanhado
pelos seus animais.
Segundo as informações recolhidas pelo citado padre Luís Cardoso, a freguesia
de Ermelo tinha “... todo o género de gado... muitas perdizes, algumas lebres, muitos
porcos monteses e lobos e mais bicharia” (CARDOSO, ob. cit: Vol 13, Maço 30, folha
242).
33
O mesmo se passava em relação a Mondim e a Atei. O gado constitui desde muito
cedo um elemento de relevo na economia mondinense. Fornecia a carne e o leite, que
com o queijo e a manteiga constituía bons complementos alimentares. Naturalmente que
facilmente se compreende por que o gado constituía um dos principais artigos de
comércio: era uma mercadoria que se deslocava por si própria, factor relevante para a
época e a região, devido às carências de vias de comunicação e de meios de transporte.
Era também o produto mais transaccionado nas feiras locais.
5.5 – Fruticultura.
Se durante muitos séculos a castanha, o centeio e o vinho foram a base da
alimentação, à medida que o século XVIII avança alarga-se a área de exploração de
novos produtos: azeite e milho.
Em fins do Século XVIII, dizia Columbano R. de Castro que aqui se colhia toda
a qualidade de frutos, os quais se exportavam para a província do Minho (MENDES,
ob. cit: 504).
A batata só quando já for adiantado o século XIX.
Associados a estas culturas estão o surgimento dos lagares de azeite - no final do
século XIX há vários em laboração -, os canastros ou espigueiros para armazenamento
do milho e as eiras em pedra, onde o mesmo era desfolhado. Estas obras vão ficar
localizadas junto das habitações. Os espigueiros mais antigos datam de 1835.
No que diz respeito à exploração florestal, as populações mantêm alguns
castanheiros para fornecimento de frutos e madeira. Aliás, a castanha teve grande
expressão nas aldeias serranas. Era consumida na sopa ou como substituto do pão.
Ainda hoje as pessoas mais idosas de Ermelo nos lembram que até a davam aos porcos,
nos anos em que a “fartura” era maior.
Limoeiros e laranjeiras também eram cultivados embora com pouca importância
económica.
Naturalmente que os aspectos económicos preocupavam os representantes
municipais. Isso vê-se pela leitura das actas das respectivas reuniões. Todos os meses os
preços dos produtos essenciais eram fixados e vigiado o seu cumprimento. O milhão, o
centeio, o vinho e o azeite são os quatro produtos que figuram em todas as actas.
Pontualmente aparece o preço da castanha, da cereja e do medronho, entre outros, o que
revela os aspectos da sua sazonalidade. Se compararmos os preços daqueles produtos
34
em três anos escolhidos aleatoriamente num prazo de dez anos - mês de Março de 1843,
mês de Julho de 1849 e mês de Abril de 1852, obtemos os seguintes valores: (13/03/
1843): milhão: 640 réis; centeio: 500; azeite: 4800 o almude. Para (30/07/1849):
milhão: 320 réis; centeio: 300; vinho: 240; azeite: 4300 e trigo: 600. (19/3/1852):
milho:400 réis; centeio: 380; trigo: 540; vinho verde: 400; vinho maduro: 720 e azeite
50008.
As pessoas podiam sempre optar por comprar os líquidos em quartilhos, dado
que figuram sempre os preços para esta medida. Será um sinal evidente do pouco poder
de compra das populações?
A primeira observação a fazer prende-se com o facto dos preços do milho terem
baixado bastante. Naturalmente que isso se deve ao facto desse produto ter visto
aumentada a área de cultivo, funcionando a lei da oferta e da procura.
O centeio e o azeite oscilam de preços o que revela que os mesmos ora subiam
ora desciam consoante a produção anual.
Por sua vez o vinho maduro e o trigo mantêm preços elevados pois eram
produtos importados, o que os encarecia.
“O crescimento económico marca passo. A agricultura, a actividade económica
quase exclusiva das populações do distrito, permanece uma agricultura de subsistência,
rotineira e arcaica, desprovida de capitais e progressos técnicos de melhoramento de
plantas, animais e de granjeio” (SOUSA, ob. cit: 50).
5.6 – Indústria.
Era exercida ao nível doméstico e essencialmente artesanal - sempre como
complemento à satisfação das necessidades básicas -, com exploração de matérias-
primas locais. Desde tempos remotos que em Mondim se exploraram minas de chumbo,
cobre, ferro, volfrâmio e estanho. Segundo o padre Luís Cardoso, “em Ermelo... dizem
que no sítio do Linhar onde chamam Prado há sinais de estanho fino, mas disso se não
saber” (SOUSA, ob. cit.: 68).
Também Columbano refere a mesma mina de estanho fino dizendo que “embora
agora já estivesse fechada já de lá se havia retirado grande quantidade de mineral”
(MENDES, ob. cit.: 490).
8 AJFE: Das actas de vereação dos dias e meses referidos.
35
O mesmo autor refere para Mondim de Basto “uma fábrica de curtumes e
couros que já esteve em maior abundância e ainda hoje tem quinze comerciantes.
Entretêm-se nesta fabrica até cinquenta pessoas e giram neste negócio mais de
6.000:000 de réis. Pode-se adiantar muito mais, pois tem no mesmo concelho todos os
preparos necessários para esta fábrica, do qual tiram grande interesse” (MENDES, ob.
cit: 504).
Para Atei não é referida qualquer indústria.
O governo Setembrista, na década de 1830, através de decretos assinados por
Passos Manuel, pedia para que fosse dada prioridade aos produtos nacionais. Para isso
procedeu à realização de um inquérito onde pedia que lhe fosse indicado o número de
fábricas (pouco mais que simples oficinas), a sua localização, a identificação dos
proprietários e o número de trabalhadores utilizados. Para Ermelo são referenciadas 4
fábricas de aguardente e 6 de cal, - estas com 32 trabalhadores - (situadas na actual
freguesia de Campanhó). Segundo as mesmas fontes, as fábricas de cal apenas
trabalhavam no verão, preparando em cada época três fornadas. As de aguardente
trabalhavam 20 a 120 dias, dependendo da quantidade de vinho ou de medronhos a
destilar e utilizavam grandes quantidades de lenha como combustível, apanhada nos
terrenos baldios, tornando-os muito empobrecidos e por isso alvo das críticas do
governador Civil de Vila Real que em 1853 escrevia: “As fornalhas das máquinas de
destilação consomem inumeráveis carros de combustível cada dia, e ainda felizmente
que o sistema de Berorne veio substituir os antigos caldeirões de companhia, que
consumiam para fazer cada vinte e um almudes de aguardente dez carros de lenha
(SOUSA, ob. cit: 68). Entretanto a já citada mina de estanho estava em plena laboração
mas fechará na década seguinte, dado que as receitas não cobriam as despesas.
A tecelagem9 era também praticada, mas para abastecimento de casa.
Trabalhava-se a lã e o linho, produtos que abundavam no local, em detrimento dos
produtos vindos de fora.
Elucidativo é o facto de em 2200 teares existentes no distrito em 1860, 513
estarem localizados em Mondim de Basto, ou seja cerca de 20% (SOUSA, ob. cit: 40).
A indústria da cera também tinha alguma importância no concelho dado que a
mesma era exportada principalmente para a cidade do Porto.
9 A tecelagem aparece-nos essencialmente como profissão feminina. As mulheres aprendiam a tecer logo que
chegassem com os pés ás Premedeiras (são os pedais que permitem a mudança dos liços). Os materiais utilizados
eram : Ripo, Espadela, Maço, Sedeiro, Roca, Fuso, Sarilho, Dobadoira, Caneleiro, Urdideira, Noveleiro, Tábua dos
Liços, Restilho, Tear Normal, Tear de Franja e Lançadeira.
36
A situação económica do distrito de Vila Real em geral e a dos três concelhos
em particular, ao longo do século XIX, revela-se dramática e inquietante o que leva a
que, desassombradamente o Governador Civil - António Pinto de Lemos - em meados
do século XIX, acuse o Estado de votar no esquecimento a província transmontana, a
“jóia mais preciosa da coroa portuguesa, a qual, em paga do aumento que traz à riqueza
nacional, se deixa consumir numa inanição incrível, como se a terra, de que faz parte,
lhe fora madrasta” (SOUSA, ob. cit: 13).
5.7 – Comércio.
“O comércio efectuado dentro da própria província desempenhava
naturalmente uma importante função, visto tratar-se de uma economia que
frequentemente tinha de bastar-se a si própria” ( MENDES, ob. cit: 13).
As feiras revelavam-se importantes para o comércio local e até regional. São antigas
as de Mondim e de Ermelo.
Se qualquer um podia ser feirante sazonal já em relação ao número de
negociantes referidos por Ribeiro de Castro para fins do século XVIII - apenas 6 - isso é
demonstrativo do pouco desenvolvimento da actividade comercial como actividade
independente e reforça a ideia de que a região vivia fundamentalmente dos recursos da
terra e que o comércio era uma actividade muito complementar. Se os seis negociantes
referidos são todos de Atei, isso terá a ver com o facto de aí passar uma via de
comunicação que ligava Chaves a Braga. Para além daquela via de comunicação havia
também no rio Tâmega duas barcas que faziam a ligação entre Trás-os-Montes e a
província do Minho. Vimos também em várias actas que as tropas de Chaves quando
por aqui passavam ficavam aquarteladas em Atei. Estas razões contribuiriam por si para
o aparecimento da profissão de negociante.
6 – Rede Viária.
Dum modo geral cada uma das sedes dos três concelhos fica implantada no
centro do território geográfico que corresponde a cada qual. Os seus núcleos
populacionais mais afastados distam no máximo uma hora a pé, formando assim uma
rede bastante homogénea e bem distribuída. Essa distribuição está umbilicalmente
37
ligada à rede viária que atravessa os concelhos. São duas as vias principais,
complementadas por um emaranhado de veredas e caminhos vicinais.
O primeiro era a estrada que de Chaves partia para Vila Real. Daqui e pela
estrada do Marão “a mais áspera da província e talvez do reino”, no dizer de Ribeiro de
Castro, partia da zona da Campeã um ramal para Mondim de Basto, passando por
Ermelo e fazia a ligação para o Minho (Braga), pelo vale do rio Olo. Tinha aqui duas
importantes pontes: a medieval, denominada dos Presuntos, construída em pedra e
situada num local chamado Várzea e a segunda, em madeira, situada num local
denominado de Abelheira. Ao longo de todo o século XIX esta ponte será alvo de várias
intervenções de reparação, dado que tinha um movimento interessante de pessoas e
carros de tracção animal, que a danificavam, segundo as actas da vereação.
No local denominado Alto do Alvão esta estrada devia ser sinuosa, estreita e
péssima de condições dado que em 1874 um cidadão da Campeã se dirige à
Administração do Concelho de Mondim a queixar-se contra um seu vizinho proprietário
o qual havia aberto uma vala na estrada para dar passagem a águas de rega tendo
estragado a estrada e não permitindo por isso a passagem ao seu carro de bois. Pedia por
isso que o infractor fosse devidamente castigado10
.
Em Mondim a estrada flectia para a esquerda para, depois de se passar a ponte,
se entrar na província do Minho, em direcção a Guimarães e Braga. Essa ponte tinha os
pegões em pedra mas o tabuleiro, de oito arcos, era de madeira. De passagem
obrigatória, por não haver mais nenhuma, será alvo de alguns arranjos até à sua
substituição no reinado de Dª Maria II. Efectivamente “sendo de instante necessidade
efectuar a construção da ponte sobre o rio Tâmega, em Mondim de Basto, para a qual
foi estabelecido um imposto especial por carta de lei de 12 de Setembro de 1842, manda
Sua Majestade El-Rei, que o Director das Obras Públicas do distrito de Vila Real remeta
sem demora, a este ministério o novo projecto para a execução daquela obra, e o
respectivo programa de arrematação, elaborados em harmonia com as indicações que,
sobre o primitivo trabalho técnico por ele proposto, foram feitas em consulta do
Conselho de Obras Públicas e Minas, e mandadas observar em data de 16 de Novembro
último; devendo o sobredito Director ficar na inteligência de que, tendo o governo em
especial atenção esta importante obra, tornará efectiva a sua responsabilidade pela falta
do cumprimento ao que lhe fica determinado.
10 ACMM: Livro de Registo de correspondência Entrada, nº 1.
38
Paço, em 16 de Fevereiro de 1856.= António Maria de Fontes Pereira de Mello11
.
Eram depois estabelecidas as condições da obra e a tabela dos direitos de
trânsito. Assim, não deveria exceder 600 palmos em cumprimento, em 30 de largura e
seria construída em cinco anos. Os direitos variavam de 10 réis para os passageiros a pé
ou a cavalo e os 180 réis para carro carregado12
. A ponte só será inaugurada em 188213
.
A segunda era a estrada que ligava Mondim, Atei até à serra do Alvão onde
entroncava na que ia para Chaves, vinda de Braga e tinha uma importante ponte sobre o
rio Tâmega no lugar de Cavêz. Esta era uma estrada muito importante para as gentes de
Mondim pois era por ela que se fazia a principal ligação com Vila Real.
Como caminhos secundários mas que revelavam alguma importância, devemos
destacar dois: o primeiro que partia de Mondim por Vilar de Ferreiros e Bilhó e o
segundo que, partindo de Ermelo vinha entroncar naquele e pela serra do Alvão dava
ligação a Vila Real e a Chaves. Esses caminhos eram pouco percorridos dado que os
Invernos eram rigorosos, transformando-os em verdadeiros rios e também porque os
assaltos eram frequentes.
Fazendo parte da rede viária não podemos deixar de destacar a importância que
as Barcas de passagem dos rios tinham. De facto são referidas duas para o concelho de
Atei em que, apesar de às vezes virarem e morrer gente, nunca o movimento de
passageiros abrandou. Também para Mondim se refere o facto de, com a entrada em
funcionamento da nova ponte no último quartel do século XIX, não deixarem as Barcas
de ter uma grande utilidade, ao ponto até de a lei permitir ao construtor da nova ponte os
direitos por trinta anos sobre as mesmas. O facto é que passados os ditos trinta anos o
construtor continuou a levar dinheiro pela travessia nas barcas numa atitude
perfeitamente injusta, mas naturalmente rendosa.
Em fins do século XVIII as estradas eram precárias e em número reduzido o que
naturalmente não facilitava os transportes.
Em meados do século XIX, o Visconde de Lemos dizia: “Por que não há
estradas que ponham em comunicação estes povos com os do Minho e do Distrito,
11 D. do G. de 22 de Fevereiro, nº 45. Esta ponte só será inaugurada em 1882.
12 In Jornal Povo de Basto, nº 209, ano V, de 11.12.1914.
13 A obra demorou afinal muitos mais anos a construir do que inicialmente previsto, isto porque no registo de um
casamento efectuado na igreja de Mondim em 22.2.1857 consta como testemunha presente no acto, António
Caetano P. F. S. Andrade, que se intitulou como Chefe de Secção Encarregado das Obras Públicas na ponte de
Mondim de Basto. E num outro registo de casamento ocorrido na mesma igreja em 21.1.1858 esteve presente
como testemunha o capitão Luís António dos Santos que se intitulou como Chefe dos Trabalhos na ponte de
Mondim.
39
vivem miseravelmente; são grosseiros em tudo o que importa a civilização; os seus
produtos não acham saída; a povoação emigra, por falta de trabalho” (SOUSA, ob. cit:
80).
A partir do último quartel do século XIX vamos assistir a uma mobilização mais
ou menos concertada dos residentes, para que se criem condições para que se acelerem
as ligações entre o concelho e a capital de distrito.
Em fins do século XIX, princípios do XX, são inúmeras as pressões para que o
governo conclua a estrada nº 47 - ligação de Mondim a Ribeira de Pena - No entanto
será em 1909 que um grupo de 125 indivíduos naturais de Mondim de Basto, Ribeira de
Pena e Vila Pouca de Aguiar, mas residentes em Pernambuco, no Brasil, decidem enviar
a El-Rei uma petição, por intermédio do mondinense Alfredo Álvares de Carvalho onde
se pedia a conclusão da citada estrada, iniciada já há trinta anos, mas onde faltavam
ainda catorze quilómetros para que ficasse concluída. Recebido pelo Marquês de
Alvito, o sr. Alfredo A. Carvalho recebeu a promessa de que a estrada finalmente iria
ser concluída. A notícia causou grande alegria nas populações locais e foi manchete em
vários jornais da época, tais como o “Século”, a “Mala da Europa” e o “Diário de
Notícias”14
. No entanto, será preciso esperar pelo advento da República para ser
cumprida a promessa.
7 – Emigração.
7.1 – Emigração para o Brasil
( A partir da 2ª metade do século XIX)
A emigração mondinense ao longo da 2ª metade do século XIX e princípios
do XX teve um carácter transoceânico.
O seu estudo torna-se difícil, dadas as lacunas existentes em relação aos
elementos disponíveis no que toca aos movimentos migratórios, à diversidade de fontes,
à dificuldade de quantificar a emigração clandestina e até muitas vezes por razões de
ordem política.
14 O “ Século “ escrevia: “ Ao chefe do Estado, pelo sr. Alfredo Alvares de Carvalho, comerciante em Pernambuco,
uma representação assignada por 125 portugueses residentes na referida cidade brasileira, na qual se pede a
conclusão da estrada distrital que liga os concelhos de Mondim de Basto, Ribeira de Pena e Vila Pouca de Aguiar
com a sede do distrito, estrada esta que ha 30 anos foi começada...”. Citado no “Progresso de Mondim “ nº 134 em
1909.
40
7.2 – Condicionalismos.
“Na Europa, os países mais evoluídos encontram-se a braços com as
consequências sócio - económicas das respectivas revoluções industriais em curso, que
se traduzem por largas migrações dos campos para as cidades, das tarefas agrícolas ou
artesanais para a indústria ou para o sector dos serviços” (SERRÃO, 1980: 166)
enquanto do lado de lá do Atlântico o Brasil procura desenvolver-se, mas a libertação
dos escravos cria problemas de falta de mão-de-obra e daí o recurso à mão-de-obra
europeia. E é nesta base que devemos compreender a corrente migratória para o Brasil.
É claro que outra das razões assentará no facto de se partir para “uma terra conhecida”,
isto é, onde se falava a mesma língua.
“A nossa melhor colónia é o Brasil, depois que deixou de ser colónia nossa”,
assim escrevia Herculano na década de 1870 (SERRÃO, 1973: 61).
Por sua vez, com o fim dos morgadios, a propriedade passa a ser alvo de maiores
divisões - devido a partilhas - e isso fará com que a grande propriedade dê lugar à média
e pequena fazendo com que rendeiros e lavradores procurem em primeiro lugar garantir
a sua subsistência e a de suas famílias e depois pagar a renda. De facto o predomínio da
pequena propriedade implicava uma agricultura pouco produtiva e como tal geradora de
baixos rendimentos. Perante este cenário sem futuro, não nos admira que os jovens
vejam na emigração a possibilidade de, por um lado se libertarem das modernas formas
de servidão e por outro procurar no império do Brasil a fortuna de que outros falam e
que todos julgam estar ao seu alcance. Naturalmente que o “brasileiro” quando vem
passar férias fala de uma forma empolgada do país de onde vem e naturalmente não
daria nas suas descrições a mesmo ênfase aos aspectos negativos, que eram muitos. É
este o mais importante leitmotiv: Sonha-se com o eldorado brasileiro e para lá se
emigra, com a intenção de enriquecer depressa e depressa se regressar à pátria como
“brasileiro” endinheirado e digno de admiração. Naturalmente que a realidade se
revelará diferente e a sorte apenas bafejará alguns.
O esquema de partida é igual para todos. Começa por um pedido do competente
passaporte às autoridades distritais, cujo Governador Civil despacha por um prazo de
três meses a respectiva autorização (nos anos por nós analisados encontramos o caso de
um único indivíduo que deixou caducar o prazo e teve de requerer novo passaporte).
41
Parte-se muito novo. A média de idades para os anos estudados é de 20,9 anos
de idade. Muitos têm 10 ou 11 anos. Quase todos embarcam da cidade do Porto com
destino ao Maranhão. Aqui cabe a pertinência de uma questão. Indo quase todos os
jovens trabalhar para a firma comercial Álvares de Carvalho isso não os obrigaria a ser
possuidores dos rudimentos indispensáveis do Ler, Escrever ou Contar? Provavelmente
sim. E continuando nesta linha de raciocínio não poderemos pensar que estes jovens
teriam feito pelo menos a 3ª classe cujo móbil era o poderem emigrar?
Outros jovens, cremos que num número muito limitado vão clandestinamente
sem avisar a administração local de tal intenção o que traz alguns problemas
institucionais15
.
Encontramos, entre os que partem, apenas duas mulheres e uma já com 75 anos
de idade, que provavelmente se iria juntar a algum familiar. São valores insignificantes,
portanto, e prova que a emigração é tipicamente masculina.
Não se pense, porém, que só os filhos de famílias pobres é que emigravam, dado
que também emigram filhos de famílias remediadas ou mesmo abastadas. Estes, de um
modo geral não partem como mão-de-obra indiferenciada, pois quando partem já sabem
que se vão juntar nos negócios que o primo ou qualquer outro parente lá tem,
contribuindo assim - com trabalho duro - para o aumento das fortunas, que cheguem o
mais depressa possível para fazer casa, comprar terras e melhorar o modo de vida.
E o regresso de “brasileiros” endinheirados fará espicaçar noutros a vontade de
partir, num ciclo que se repetirá e se prolongará até aos nossos dias, ao ponto de ainda
hoje em Mondim quase todos terem parentes no Brasil.
O retorno de alguns deveria ser encarado como um factor potencialmente
positivo de desenvolvimento dado que as grandes somas investidas e os conhecimentos
trazidos contribuiriam a seu modo para o desenvolvimento do concelho. Porém nem
sempre assim foi.
De facto não houve visão por parte de quem chegou endinheirado para fazer
investimentos em actividades produtivas. O dinheiro foi gasto na construção de
imponentes solares e na aquisição de propriedades, por aqui se quedando. O concelho
permaneceria igualmente rural durante décadas e décadas até praticamente aos nossos
dias.
15 Vimos em vários registos camarários o Administrador chamar o pai do emigrante e obrigá-lo ao pagamento de
coimas por causa dos filhos terem partido clandestinamente.
42
Pela análise do quadro número 6 verificamos que nos primeiros anos a
emigração se revela muito tímida, o que é reforçado pelo facto de entre 1837 e 1850 –
anos por nós também analisados -, apenas terem emigrado três pessoas: duas de Vilar de
Ferreiros em 1842 e uma de Ermelo em 1845.
Nos anos em que se verifica um maior número de saídas isso poderá estar
directamente relacionado com maus anos agrícolas. (A partir de 1850 a filoxera atacou
muitas vezes as vinhas e os milheirais, o que contribuía para o empobrecimento dos
povos). Desses anos destacamos 1857, com 40 saídas; 1862 com 45 saídas e 1869 com
25 saídas.
As freguesias que mais contribuem com mão-de-obra para o Brasil são Mondim
e Atei, que por si só entram com 126 emigrantes, quase 50% do total. Várias serão as
hipóteses explicativas mas ao seu complexo conjunto não serão alheios os factos de
ambas as freguesias se encontraram no limite fronteiriço com a província do Minho e
como esta era a província de onde mais se emigrava criava-se nestas freguesias um
fenómeno de arrastamento. Para além disso é nestas freguesias que havia um maior
número de alfabetizados e como tal mais bem capacitados para arranjaram um emprego
como caixeiros, sobretudo. Também a pequena divisão da propriedade inibiria os jovens
de por cá quererem ficar.
Nas freguesias onde a saída é nula ou pouco significativa isso terá a ver com o
facto de se tratar de freguesias de montanha, isoladas e com falta de acessibilidades e
também com a pouca população aí existente.
Quadro n.º 6. A Emigração de Mondim de Basto para o Brasil entre 1850 e 1870.
ANOS MONDIM ATEI BILHÓ PARADª V.FERREIR ERMELO CAMPAN PARDELHA
TOTAL
1850 0 0 0 0 0 0 0 0 0
51 0 0 0 0 0 0 0 0 0
52 0 0 0 0 0 0 0 0 0
53 0 0 3 0 1 5 1 0 10
54 0 0 3 0 0 1 0 0 4
55 0 1 0 0 0 1 0 0 2
56 0 0 0 0 0 0 0 0 0
57 13 11 7 0 7 2 0 0 40
58 3 3 3 1 1 2 1 0 14
59 6 1 0 0 0 0 0 0 7
60 1 5 0 0 0 0 0 0 6
61 5 8 0 2 5 4 0 0 24
43
62 9 2 9 4 7 10 4 0 45
63 0 0 0 2 3 0 0 0 5
64 3 4 1 0 1 1 0 0 10
65 1 1 0 1 0 0 0 0 3
66 3 3 0 0 0 1 0 0 7
67 3 3 0 0 0 0 0 0 6
68 0 3 0 1 0 0 0 0 4
69 8 13 4 0 0 0 0 0 25
1870 6 7 2 0 0 4 0 0 19
TOTAL 61 65 32 11 25 31 6 0 231
Fonte: ADVR: Livros de Registos de Passaportes números 123 a 131.
45
EDUCAÇÃO
– Génesis do Sistema Educativo Mondinense.
1.1 A Reforma Pombalina.
D. José subiu ao trono em 1750. Para ministro dos Negócios estrangeiros e
Guerra, escolheu Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro Marquês de Pombal, o qual
viria a expulsar os jesuítas de Portugal a 12 de Janeiro de 1759, criando com essa
atitude um profundo vazio no ensino e levará à sua reforma.
Assim em 28 de Junho de 1759, o Marquês de Pombal manda publicar um alvará
que se revelará de extrema importância para o ensino em Portugal. Através dele privava
os jesuítas - até então tão poderosos - de exercerem o ensino e extinguia todas as escolas
e classes que lhe estavam confiadas. Para além disso, Pombal lançava as bases de uma
reforma geral do ensino da qual destacamos alguns aspectos importantes como sejam a
criação de Escolas nas localidades com mais de mil habitantes, mas controladas pelo
Estado, - política centralizadora -, a gratuitidade do ensino, a conversão dos mestres em
funcionários do Estado, pagos pelo erário público e nomeados pelo poder central -.
Exigia novos métodos de ensino e a mudança radical dos compêndios até então usados.
E inovador - na história do ensino em Portugal - é a criação do lugar de Director Geral
dos Estudos, o qual terá por missão superintender nos serviços do ensino elementar e
médio. Também o alvará contém as disposições relativas aos professores de gramática
latina - deveria passar a haver um ou dois em cada uma das vilas da província - de
Grego e de Retórica. No entanto, em 1771, a Directoria Geral dos Estudos foi extinta,
surgindo em seu lugar a Real Mesa Censória, que havia sido criada por alvará de 5 de
Abril de 1769.
Por carta de lei de 6 de Novembro de 1772, o Marquês criava uma rede pública
de cadeiras e letras - o Ensino Primário Oficial -, por ela “ determinava que os mestres
de ler, escrever e contar fossem obrigados a ensinar “a boa forma dos caracteres”, “as
regras gerais da ortografia portuguesa” e “o que necessário for da sintaxe dela”, para
que os alunos pudessem escrever correctamente, “pelo menos as quatro espécies de
Aritmética simples” e “o Catecismo, e regras da civilidade em um breve compêndio”
(ADÃO,1995: 223) e pretendia que ele chegasse às principais povoações do país, para
que o benefício da instrução chegasse “ao maior número de povos e de habitantes deles,
que a possibilidade pudesse permitir”. De facto não poderemos falar de ensino
46
universal, dado que na lei de 6 de Novembro de 1772 podemos ler: “Bastará a uns, que
se contenham nos exercícios de ler, escrever e contar; a outros, que se reduzam à precisa
instrução da língua latina; de sorte, que somente se fará necessário habilitar-se para a
Filologia o menor número dos outros mancebos, que aspiram às aplicações daquelas
faculdades académicas, que fazem figurar os homens nos Estados”.
Estavam, de qualquer modo, lançadas as bases para que fosse possível um
emergir de um sistema de ensino controlado, orientado, divulgado e mantido pelo
Estado.
No entanto, nas condições económicas e ideológicas do século XVIII, era, de
facto impraticável um ensino para todos. Seria, aliás, um anacronismo julgar a obra do
Marquês de Pombal tomando como pontos de referência conceitos como “ensino para
todos”, “democratização do ensinou” e “igualdade de oportunidades” pois esses
conceitos são dos nossos dias.
Para levar para diante o seu plano, o Marquês mandou elaborar “ um plano e
cálculo geral e particular de todas e cada uma das câmaras e do número de habitantes
delas que, por um regular e prudente arbítrio, podem gozar do benefício das escolas
menores “, desde que tivessem mais de mil habitantes.
Naturalmente que ao pretender situar as escolas nas principais vilas, tinha na
mente educar jovens que num futuro próximo fossem capacitados para a boa execução
de tarefas “liberais” tão necessárias ao País e a formação de quadros técnicos e
jurídicos. Em suma, pretendia-se uma instrução que fosse capaz de corresponder às
necessidades fundamentais do sistema político vigente.
Ouvido o parecer do tribunal da Real Mesa Censória, ministros, do Conselho
Privado e de Estado, D. José I acabou por aprovar o plano, ou mapa a 6/11/1772, no
qual constam 837 lugares a nível nacional mas nenhum nem em Mondim de Basto, nem
em Atei nem em Ermelo, à altura concelhos pertencentes à comarca de Guimarães.
(quadro nº 7).
47
Quadro nº 7. O Actual Distrito de Vila Real16
no Mapa Escolar Pombalino
A) A Distribuição das Cadeiras.
LER G. LATINA L. GREGA RETÓRICA FILOSOFIA TOTAL
CONT. 440 205 31 39 28 743
ILHAS 15 10 3 3 3 34
ULTRAM 24 21 4 7 4 60
TOTAL 479 236 38 49 35 837
LER G. LATINA L. GREGA RETÓRICA FILOSOFIA TOTAL
CONTINEN. 440 205 31 39 28 743
VILA REAL 28 19 2 2 1 50 % 6,36 9,26 6,45 5,12 3,57 6,72%
Fonte: (GOMES,1989: 35 e ss).
Gráfico nº 2. Distribuição das Cadeiras.
CONT. ILHAS ULTR.0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
CONT. ILHAS ULTR.
M. de LER
G. LATINA
L. GREGA
RETÓRICA
FILOSOFIA
16 A comarca de Vila Real foi criada por lei de 19 de Julho de 1790. Um alvará de 7 de Janeiro de 1792 integrava-lhe
mais quinze povoações concelhos, coutos e honras, antes integradas nas comarcas de Lamego, Braga, Guimarães e
Moncorvo, ficando com as características geográficas que tem actualmente.
48
B) - A Distribuição dos mestres.
COMARCA LOCALIDADE
MESTRE DE
LER,
ESCREVER E
CONTAR
PROFESSOR
DE
GRAMÁTICA
LATINA
PROFESSR
DE LÍNGUA
GREGA
PROFESSOR
DE
RETÓRICA
PROFESSOR
DE
FILOSOFIA
VILA REAL Cidade 1- António S. Machado
2- ??
3 - ??
1- Francisco da Costa *
1 – António José S. do
Amaral
1 – Francisco Pereira R.
Fonseca *
1 – Damião José Álvares
Rebelo
Provezende 1 1
Canelas 1
Celeirós 1 a)
Sabrosa 1 1 a) José Caetano
Correia e Sousa *
Parada do
Pinhão
1
Vilar de
Massada
1 a) 1 a) José Manuel
de Morais
Lordelo 1 1
Favaios 1 1 – José António
Pereira Coelho
TORRE DE
MONCORVO Murça 1 1 – João Carlos
Pereira de Sousa
GUIMARÃES Mondim de
Basto
1 – a)
Vila P. de
Aguiar
1 – a) 1 – a)
BRAGANÇA Chaves 1 – Manuel Pires
de Miranda 2 - ??
1 – Manuel
Álvares Nogueira *
Montalegre 1 - ?
2 -?
1 .- Bento J. M.
Fontoura
LAMEGO Régua 1 1 – José Manuel
Correia Monteiro
1 1 –António
José Botelho
Mesão Frio 1 1
Barqueiros 1
Valdigem 1
PORTO /
PENAFIEL Sever 1 1
Lobrigos17
1 1
Fontelas 1 – José Custódio 1
Loureiro 1 1
Sedielos 1 1
Medrões 1
Fontes 1 –José Cardoso
de Matos *
1
TOTAIS
LUGARES 28 19 2 2 2
NOTAS - a) -Lugares criados pelo alvará de 11.11.1773
* - Presbíteros seculares
Fonte: (GOMES, 1989: 35 e ss).
17 Sendo um lugarejo vê ser-lhe atribuída uma escola muito provavelmente devido à amizade que ligava o Marquês
ao padre Mestre Doutor Frei João de Mansilha, que aqui nasceu em 18 de Maio de 1711. Trata-se do pai da ideia
da demarcação do Douro e que desempenhou o papel principal nos requerimentos enviados à corte pelos quais se
solicitava a criação da companhia (Real Companhia Velha ).
49
Pela análise do presente mapa podemos deduzir que se interessava ao Marquês
o número de habitantes de cada lugar como factor primordial para a criação de uma
cadeira de primeiras letras, se considerarmos todos os lugares da região vinhateira do
Douro onde o marquês criava um lugar, verificamos que muitos desses lugares poucos
habitantes têm: Sever tem 678 habitantes e S. Miguel de Lobrigos 424, por exemplo.
Serão então os critérios de natureza económica os mais importantes a nortear a política
do marquês? Naturalmente que, pondo o mesmo, um grande interesse pelo
desenvolvimento vinhateiro do Douro, havia também todo o interesse em elevar o nível
de conhecimentos dos seus habitantes. De qualquer forma muitos desses lugares ficam
vagos ou por falta de provimento, ou porque os mestres acabados de nomear se
recusaram a tomar conta do lugar. Esta política provoca descontentamentos em vilas e
lugares que se achavam com direito a terem também uma escola.
Mais tarde, a 11/11/1773, D. José I vê-se então pressionado para ampliar o
número de escolas - e cria mais 47 lugares de mestres de ler, escrever e contar -, a
pedido de câmaras e pessoas principais de algumas vilas e lugares. Pela análise do novo
mapa, que era afinal um suplemento ao mapa que acompanhava a carta de lei de 6/11/
1772, verifica-se que entre outras é criado um lugar em Mondim de Basto, ficando de
fora os concelhos de Atei e Ermelo. Mesmo criado o lugar em Mondim este não foi de
imediato ocupado, sendo-o apenas a partir de 1/1/1780, já em pleno reinado de Dª Maria
Iª. Era também criado um lugar de Gramática Latina.
Para dar execução ao seu plano de reforma, o Marquês de Pombal teve
consciência de que era necessário arranjar fundos certos e permanentes para fazer face
às despesas que a reforma naturalmente traria. Foi assim que criou o Subsídio Literário,
pela carta de lei de 10/11/1772. Para isso, mandou que fossem “abolidas e extintas todas
as colectas que nos cabeções das sisas ou em quaisquer outros livros ou cadernos de
arrecadação foram até agora lançadas, para por elas serem pagos mestres de ler,
escrever, ou de solfa, ou de gramática, ou de qualquer outra instrução de meninos”
(artigo I) e, em lugar delas, se estabelecesse o “único imposto, a saber: Nestes Reinos e
Ilhas dos Açores e Madeira, de um real em cada canada de vinho e de quatro réis em
cada canada de aguardente, de cento e sessenta reis por cada pipa de vinagre; na
América e na África, de um real em cada arrátel de carne da que se cortar nos açougues;
e nelas e na Ásia, de dez reis em cada canada de aguardente das que se fazem nas terras,
debaixo de qualquer nome que se lhe dê ou venha a dar” (artigo II).
50
A criação do Subsídio Literário como forma de financiar os mestres régios
gerou grande controvérsia dado que muitas povoações que mais contribuíram não foram
as mais beneficiadas com uma cadeira régia. A título de exemplo vejamos: o território
correspondente – grosso modo – aos actuais distritos de Vila Real e Bragança contribuiu
com 34% do total de receitas, em média, no período de 1774 a 1793, valores muito
acima de qualquer outra região (NÓVOA, 1987: 209). Por sua vez nessa mesma região
e para o mesmo período foram gastos com vencimentos apenas 7% das receitas, o que
equivale à menor despesa feita a nível nacional (NÓVOA, 1987:210).
Ao concelho de Mondim de Basto foi aplicado um subsídio literário que em
1796 era de 31:500 réis, em Atei de 83:000 réis e em Ermelo de 19:280 réis. Apesar de
pagarem subsídio literário nenhum daqueles concelhos vê ser-lhe atribuída qualquer
escola.
Este imposto manter-se-á, no continente até 1857, altura em que por carta de lei
desse ano será extinto. Devemos salientar, no entanto, que o poder local protesta e
reivindica os benefícios da criação de lugares de primeiras letras, numa demonstração
do poder político que efectivamente tinham. As razões apresentadas eram normalmente
de três tipos: o facto de pagarem elevado Subsídio Literário, a distância da terra mais
próxima onde se leccionava e o número de habitantes.
1.2 - O Período Mariano.
A morte de D. José I (Fevereiro de 1777) levou à queda política do Marquês de
Pombal e do influente frei Manuel do Cenáculo, o qual se vê substituído pelo arcebispo
D. António Bonifácio Coelho. Mantêm-se, no entanto, algumas das estruturas do
governo anterior. “A rede escolar do ensino elementar estava fracamente implantada,
com menos de um terço dos mestres previstos. Por isso, em fins de Outubro de 1778,
eram apenas 138 os mestres que recebiam vencimento” (ADÃO, 1995: 179).
Em 1779 - lei de 16 de Agosto - Dª Maria I inicia uma nova reforma das escolas
menores, após consulta à Real Mesa Censória. Essa reforma será marcada por uma forte
reacção anti-pombalina dado que se vão repor muitas das situações de que antes
beneficiavam, material ou ideologicamente, determinadas instituições e pessoas. Pela
análise da “ Lista das terras, conventos e pessoas ...” verificamos que as escolas de
primeiras letras passam de 526 para 722, aí constando pela primeira vez lugares criados
51
em Atei e em Ermelo, mantendo-se o lugar de Mondim de Basto e este concelho ainda
viu ser-lhe atribuída uma cadeira de Gramática Latina que seria da responsabilidade do
professor José Alves de Mesquita (quadro nº 8).
Quadro nº 8. O Actual Distrito de Vila Real no Mapa Escolar Mariano
COMARCA LOCALIDADE MESTRE De LER
nLLER,ESCREVER E
CONTAR
PROF. GRAMÁTICA
LATINA VILA REAL Cidade 1- Relig. Da Prov. da Conceição
1- José A. P. Coelho
Provezende 1- Falecido
Alijó 1- Francisco de S. Paio
Celeirós 1 – Manuel de S. Paio Almada 1 - José M. de Morais
Sabrosa 1- José Caetano C. e Sousa * 1 - João C. P. de Sousa
Parada do Pinhão 1 – António José Gomes
Vilar de Massada 1 – Jerónimo M. De Azevedo
Lordelo 1- Falecido.
Favaios 1- Falecido.
Carrazedo 1- António Joaquim Marques
Dornelas 1- Manuel de Morais Pequeno
Guivães 1- José Correia de Carvalho
Galegos 1- Falecido.
Torre do Pinhão 1-António de Sousa Machado
S. M. Riba Tua 1- Falecido.
MONCORVO Murça 1- José Caetano de Lobão 1- António F. de Além
GUIMARÃES Mondim de Basto 1 – João Lobo de Sousa 1- José A. de Mesquita
Ermelo18 1- Manuel Ferreira de S. Paio
Serva 1- Diogo Gonçalves Cabeças
Vila P. de Aguiar 1- Manuel Luís de S. de Faria 1- Manuel de Matos
Atei 1 – António F. de C. e Oliveira
BRAGANÇA Chaves 1 – O Conv. Relig. Da Prov. Conc.
Provínciada Soledade
1 - O Conv. Dos Relig. da
P. da Soledade Termo de Chaves 1- Manuel Pires de Miranda 1- Manuel A. Nogueira
Montalegre - António José da Silva 1- Bento J. M. Fontoura
Os Arrabaldes 1- Manuel Gonçalves Pereira
LAMEGO Régua 1- Bernardo da F. de Carvalho 1- José M. C. Monteiro
Mesão Frio 1- O Conv. Relig. de S. Franc. 1-O Conv. de S. Francis.
Barqueiros 1- José da Mata Pereira
Fontes 1- José Cardoso de Matos *
Vila Seca 1- José de Moura da Fonseca
Valdigem 1- Manuel de Paiva
PORT/ PENAF. Sever 1- Manuel da Fonseca R. e Sousa
Lobrigos 1- Manuel R. dos Santos e Melo 1- António José Pereira
Fontelas 1 – José Custódio 1- José António Capela
Penaguião 1- Manuel José C. P. da Silva
Sedielos 1- António Pinto Teixeira 1- Manuel C. S. Matos
NOTAS - * - Presbíteros seculares. Fonte: (GOMES, 1989: 57 e ss).
18 Na Pauta das Pessoas que foram nomeados Juízes, Vereadores ou Procuradores para o concelho de Mondim de
Basto no ano de 1780 encontramos o nome de Manuel Gomes de S. Paio eleito como Vereador, cujo nome se
encontra riscado com a indicação de que foi eleito Mestre de Meninos. Tratar-se-á da mesma pessoa ou será algum
irmão?
52
Estas escolas não vão abrir de imediato pois os mestres não se apresentaram ao
serviço o que vai motivar uma queixa à rainha por parte da câmara de Mondim, tendo
esta respondido nos termos seguintes: “Dona Maria por graça de Deus rainha de
Portugal e dos Algarves ... mando a vós, corregedor da comarca de Guimarães, que logo
logo (sic) me informeis sobre o requerimento que com esta vos remeto da Câmara de
Mondim de Basto, informando-vos também se os mestres de que trata o mesmo
requerimento cumprem com as suas obrigações, e do que achardes me dareis parte pela
minha Real Mesa Censória e por mão do secretário que esta subscreveu...Lisboa, aos
dez de Maio de 1781“ (BGUC, códice 2533: doc nº 59). Aliás a escola de Mondim
esteve encerrada de 1.1.1790 a 8.2.1790 e a de Ermelo esteve encerrada por duas vezes,
de 1.1.1788 a 29.6. 1788 e de 1.1.1791 a 25.9.1791 (ADÃO, ob. cit: 502).
De facto dos mestres régios colocados em Atei, Mondim e Ermelo,
respectivamente António Francisco de Carvalho e Oliveira, nomeado por alvará de
16.8.1779, João Lobo de Sousa, idem e Manuel Ferreira de S. Paio, ibidem, nenhum
tomou posse do lugar esse ano, aparecendo para Atei o substituto Francisco de Oliveira
de Araújo em 16-2-1785, para Mondim o mestre régio António Dinis Alves em
1.1.1780 e para Ermelo o substituto Manuel José Pereira em 12.4.1785 (Quadro nº 9).
Com o mestre António Dinis Alves passa-se uma situação no mínimo curiosa.
Tendo sido nomeado em 11.11.1773 para Celorico de Basto, de cujo lugar recebeu
vencimento entre 10.6.1774 e 13.4.1782, foi confirmado para a escola pela lei de
16.8.1779. No entanto aparece-nos igualmente a receber como mestre de Mondim de
1.1.1780 a 8.5.1780 e depois, a partir de 17.4.1782 a 14.4.1786, quando “fez demissão”
por doença e velhice. A partir daí passou a ser substituído pelo irmão Domingos Dinis
Alves, que era substituto.
Por sua vez João Lobo de Sousa tendo sido nomeado a 16.8.1779 só começou a
exercer a partir de 9.5.1780.
O vencimento destes mestres, bem como o dos substitutos, era pago ao ano, no
valor de 40$000 réis mas sujeito ao desconto da décima, restando portanto 36$000 reis.
Se a este valor descontarmos a percentagem que era devida ao recebedor que tinha que
se deslocar a Lisboa (pelo menos até 1794-95, altura em que os vencimentos
começaram a ser pagos pela comarca sob a responsabilidade do provedor) para fazer o
respectivo levantamento, fácil é percebermos quão exíguo era o vencimento líquido.
53
No inquérito levado a efeito por Ribeiro de Castro é referido que em Atei
havia um professor de primeiras letras com um ordenado de 30$000 réis pagos pela
Irmandade das Almas (MENDES, ob. cit: 139 e 471). Evidentemente que há aqui um
ligeiro lapso. O mestre em causa recebia um vencimento igual ao dos colegas,
simplesmente em 1794 António de Oliveira de Andrade instituiu um legado de 30$000
réis que deveria ser administrado pela Irmandade citada para ajudar ao pagamento do
vencimento do mestre (ATC: códice nº 3764, fl.33).
A precariedade da situação vivida – com mestres a serem colocados e a não se
apresentarem -, obrigava a que os jovens de Ermelo que quisessem aprender a Ler,
Escrever ou Contar teriam que se dirigir para Vila Real par o “Convento das Religiosas
da Província da Conceição” e os jovens de Atei teriam que ir para Mondim. As
condições, tanto para uns como para outros não seriam as ideais - o que seria geral a
nível nacional - o que fez, por isso, com que Santos Marrocos na sua Memória se
interrogasse: “que era de esperar? que grandes frutos se têm colhido destas searas com
vinte anos de cultura? (de 1779 a 1799) (CARVALHO, 1986: 490). Também Bento
José de Sousa Farinha, professor de Estudos Menores dizia: “Por isso a mocidade que
pretende saber ler chora a desgraça de estar obrigada a sair da sua terra ou do seu lugar,
por calmas e frios, para ir buscar o fradinho leigo que está no convento fora do povoado
e longe dele, o qual nunca teve curiosidade de aprender, nem paciência para isso, e
agora um dia lhe não aparece, outro lhe troca a doutrina em conversação, outro a manda
a recados e negócios mais do seu interesse. Chora a mocidade que pretende saber
escrever porque lhe põem por mestre um homem que além de não saber nada de
ortografia, e linguagem portuguesa, nunca soube escrever nem aparar uma pena”.
(CARVALHO, 1986: 490/91).
54
Quadro nº 9. A Implantação Efectiva dos Professores Régios do Século XVIII
em Mondim de Basto19
Concelho Professor Categoria Provimento
ATEI
Francisco de Oliveira
de Araújo
Substituto 16.2.1785 a 31.7.1791
João Borges de
Azevedo
Substituto 3.8.1791 a 1795
ERMELO
Manuel José Pereira Substituto 12.4.1785 a 31.12.1787
Manuel Mendes
Pereira
Substituto 30.6.1788 a fins 1790
Bento José Martins Substituto 26.9.1791 a Março de 1793
José Ferreira Mourão Substituto 11.3.1793 a 1795
MONDIM
António Dinis Alves Mestre 1.1.1780 a 8.5.1780 e de 17.4.1782
a 10 de 1786
João Lobo de Sousa Mestre 9.5.1780 a Abril de 1782
Domingos Dinis Alves Substituto 3.10.1786 a fins de 1789
José Félix da Silva
Bastos
Substituto 9.2.1790 a 1795
Fonte: ATC, “Livros de Assentamento dos ordenados pagos pelo cofre do Subsídio Literário – 1773-94”
Pela análise do quadro n.º 9 podemos verificar que apenas dois mestres
ocuparam os lugares para os quais foram nomeados, sendo os restantes ocupados por
substitutos, o que prova que os mestres não cumpriam escrupulosamente a lei, daí a
insatisfação e as queixas apresentadas pela câmara à rainha. Daí também alguns
excessos de controlo.
Também verificamos que a maioria dos professores está muito pouco tempo em
funções. Porquê? Arranjaram provimento noutra escola? Saíram do ensino para ocupar
outros cargos mais rendosos? Pelo menos esse foi o caso de João Borges de Azevedo
que deixou o ensino para ocupar um lugar político/administrativo. Esta situação leva-
nos a procurar saber “se estes mestres ou os substitutos usufruíam uma garantida
estabilidade profissional, se conservavam por muito tempo esse estatuto ou se, pelo
contrário a sua actividade docente não durava senão alguns anos” (NÓVOA, 1987:
19 A Srª Doutora Áurea Adão facilitou-nos estes dados numa aula do Mestrado em fevereiro de 1997 e que ela própria
recolheu dos “ Livros de Assentamento dos ordenados ... pagos pelo cofre do subsídio Literário – 1773-1794” no
Arquivo do Tribunal de Contas, à qual agradecemos encarecidamente.
55
272). É evidente que, para uma resposta concreta teríamos que seguir o percurso
profissional de cada um dos indivíduos registados no quadro acima. De qualquer modo
conseguimos saber que Francisco de Oliveira de Araújo recebeu o vencimento até fins
de 1791 e Domingos Alves até fins de 1789. Ambos faleceram no decurso da sua
actividade.
(ADÃO, ob. cit: 637). Sabemos também que a 31.12.1890, o mestre Manuel Mendes
Pereira, de Ermelo, terminou a sua actividade por motivo de suspensão (ADÃO, ob. cit:
644).
1.3 - A Real Junta da Directoria Geral dos Estudos
Criada por carta régia de 17 de Dezembro de 1794, passava a funcionar na
Universidade de Coimbra. À sua frente estava o reitor, com seis vogais. Tinha um
secretário privativo e era servido por quatro oficiais de secretaria. Havia ainda três
comissários, que a representavam nas províncias afastadas e que tinham uma missão
fiscalizadora. A junta reunia-se em conferência e dava despacho em dois dias certos em
cada semana.
Foi no âmbito das suas competências que organizou logo em 1801 um inquérito
à escala nacional, para a elaboração de um mapa estatístico que deveria ser preenchido
tanto por mestres oficiais como particulares onde, todos os anos, a Junta deveria ser
informada do nome dos alunos, do seu aproveitamento, suas qualidades pessoais e
outras particularidades. Também são instituídos exames para os concorrentes ao
professorado20
, onde estes deveriam provar que sabia ler e que conhecia as quatro
operações aritméticas, todas as letras maiúsculas e minúsculas do alfabeto e o
catecismo. Como já se referiu, o facto de haver um currículo obrigava a que a
contratação dos mestres obedecesse a critérios que até então nunca haviam sido
considerados, num claro aumento de qualidade do ensino.
A Junta publicou em 1827 uma “ Relação dos empregos, Estabelecimentos,
Escolas e substituições de Ensino Público ... com declaração dos seus locais,
disciplinas, nomes dos professores, Mestres de Letras, vacaturas, jubilações,
aposentações, número de discípulos , ordenados e despesas” (BGUC, ms 1341, fl 33 -
55). Pela análise desse documento verificamos que há em Mondim de Basto uma
20 “ Instruções para a forma dos exames dos mestres de primeiras letras”, Coimbra 1801, in ( CARVALHO, 1986:
497) .
56
cadeira de Latim cujo professor é António José Alves, que auferia um vencimento de
200$000 réis. Verificamos também que as três escolas de Primeiras Letras se mantêm a
funcionar. Assim, é professor na de Mondim José Máximo de Morais, na de Atei José
António Pereira de Oliveira e na de Ermelo José Ferreira Mourão, auferindo cada um o
vencimento de 90$000 réis (BGUC, doc. cit pág 48 e 49 ).
De salientar que a escola do Bilhó, que havia sido criada por instituição de um
legado em 23.12.1791, se mantinha fechada (só recomeçará a funcionar com
regularidade em 1830, depois de ter funcionado entre 1792 e 1796).
Dois anos mais tarde é publicada uma Resolução Real com data de 20 de Março
de 1829 em que são suprimidas “por desnecessárias” algumas cadeiras de latim. Ao
mesmo tempo publica-se uma listagem que contém os nomes das cadeiras que se
mantêm em actividade. A de Mondim permanece, fazendo parte do lote das dez que
restam na comarca de Guimarães. Cabeceiras de Basto e Celorico de Basto, concelhos
vizinhos de Mondim, perdem-nas.
A 31 de Julho do mesmo ano são suprimidas cinquenta escolas de Primeiras
Letras no país, ficando este com apenas seiscentas em funcionamento (BGUC, cód.
1341, fl 10 e ss). As do concelho de Mondim (incluímos Atei e Ermelo) permanecem
intactas, o que demonstra uma certa regularidade de funcionamento.
1.4 - Conclusão
Alguns aspectos importantes haverá a destacar nestes períodos Pombalino e
Mariano. Por um lado o lançamento de uma Rede Pública de Ensino que definia
definitivamente o papel do Estado nesse sector e por outro lado delimitava bem o peso
da urbanidade sobre a ruralidade, peso esse que se manterá até aos nossos dias. Fazia-se
também uma ligação que se manterá sempre actual: Ensino/Desenvolvimento
Económico, ou a Instrução ao serviço da produtividade.
Outro aspecto, defendido por alguns historiadores, é o facto de que com a
criação das escolas régias de ler, escrever e contar, o Marquês de Pombal não tinha em
vista alfabetizar as classes populares mas tão-só beneficiar a nobreza de toga, os
proprietários fundiários e a burguesia em geral, os quais constituíam “a base social do
seu governo” (NÓVOA, 1987: 227). Saber ler e escrever não era uma necessidade
básica do povo nem era factor de promoção social. Era importante para os que
quisessem ingressar na vida eclesiástica.
57
A situação melhora ligeiramente com Dª Maria I. Se compararmos as listagens
apresentadas nos quadros acima verificamos que o Marquês criou 28 lugares de
Primeiras Letras mas apenas quatro foram de imediato ocupadas, restando vagas 24.
Com Dª Maria o número de lugares alargou-se a 37 e só 5 ficaram vagos, por
falecimento do respectivo titular. Situação idêntica aconteceu em relação aos mestres de
Latim. O Marquês criou 19 lugares, tendo sido preenchidos apenas 8, enquanto com Dª
Maria passaram a estar preenchidos 14.
De qualquer modo os concelhos não se industrializam, continuam rurais, e assim
possuir conhecimentos continua a não representar uma primeira necessidade. A escola,
assim, pouco importa. Os conhecimentos - essencialmente práticos e técnicos - são
transmitidos oralmente de pais para filhos. Se esta é uma situação vulgar na globalidade,
assistimos também a um despertar da consciência social das populações nas sedes dos
mesmos. De facto a atribuição das cadeiras de primeiras letras irá despoletar um
movimento reivindicativo por parte das populações que não se viram contempladas e
que se achavam com direitos, aproveitando para mostrar o seu desagrado enviando
representações ao rei.
O despertar dessa consciência não terá o seguimento que seria desejável pois, se
por um lado muitas das reivindicações foram atendidas, principalmente no período
mariano, não se conseguiram mudanças significativas nem ao nível da transferência de
poderes - do central para o local - nem ao nível da criação de uma nova e desejável
estrutura político- administrativa. E mesmo quando chegar a revolução liberal - atrasada
em relação a outras que ocorreram na Europa -, a Paróquia e a Diocese continuarão a
dominar os meios rurais num processo que se arrastará até ao século XX. Fenómeno
marcante se nos lembrar que nos meios pequenos o pároco é muitas vezes o professor, o
presidente do município ou da paróquia, marcando ele próprio o ritmo de acordo com os
seus interesses pessoais.
Também não será exagero considerar como “moda” muitos dos protestos ou
reivindicações dado que quando se poderia assistir a um crescendo da rede escolar com
o virar do século e o princípio do seguinte verificamos em muitos casos um regredir - o
caso do Bilhó que vê fechar a escola em 1787 e só regressará em 1830 por imposição do
visitador - ou o facto de mais nenhuma escola ter sido criada no concelho de Mondim
pelo menos até 1866. Razões de ordem política, ideológica, económica e financeira
explicam o retrocesso. A título de exemplo verificamos que nas vereações camarárias
(de Ermelo e Atei dado que não encontramos as de Mondim) encontramos em todas as
58
actas decisões relativas ao tabelamento dos preços, às multas a aplicar, a assuntos de
gestão corrente e muito poucos ao sistema de ensino. E mesmo neste as referências vão
quase sempre para as desculpas de não se poder pagar a tempo o vencimento do
professor. As reuniões das vereações são feitas “a correr” mas são mais ou menos
regulares (de quinze em quinze dias). Nada encontramos sobre sugestões ou críticas à
Real Mesa Censória.
Chegados ao fim do século XVIII - e até ao segundo quartel do seguinte -, a
Rede Pública de Ensino dispõe de escola em Mondim, em Atei e em Ermelo. O Bilhó
acaba de a perder.
Para uma população de 4726 pessoas 21
cada uma das três escolas régias
destinar-se-ia a uma média de 1575 habitantes e abrangia um conjunto de 489 fogos. A
média nacional calculada por Áurea Adão dá cada escola a destinar-se a uma média de
3.379 habitantes abrangendo um conjunto de 845 fogos, a nível nacional e cada escola a
abranger 3484 habitantes e 871 fogos para a província de Trás-os-Montes (ADÃO,
1995: 181 e 182).
Aparentemente os três concelhos até nem estariam mal servidos tendo em conta
a média nacional, só que a rede está apenas implantada nas sedes de concelho, que
revelam algum dinamismo social - existência do município ,dos oficiais, do Juiz de Paz,
da cadeia, do Sargento - Mor, do Escrivão, etc. - e económico - existência de uma feira
em cada concelho -, mas dada a grande dispersão geográfica, acreditamos que poucos
acabam por ser os alunos beneficiados. Naturalmente que com as fontes disponíveis não
conseguimos saber qual o número exacto de alunos que vão à escola no fim do século
XVIII, qual o seu grau de progressão e qual o uso que eles acabaram por fazer da
cultura escolar adquirida.
21 Utilizamos o Censo de Pina Manique.
59
2 – CONSOLIDAÇÃO DO SISTEMA EDUCATIVO MONDINENSE.
- A REFORMA DE COSTA CABRAL.
Introdução
Será no século XIX, prolongado pelo século XX, que assistiremos ao
lançamento das grandes reformas educativas. Nem todas chegaram a ser
implementadas, ficando-se nos decretos-lei ou na boa vontade dos seus
autores, que viviam preocupados com a situação do ensino em Portugal.
Dessas reformas escolhemos para o nosso trabalho as duas que nos
parecerem as que mais importância tiveram, por um lado, no alargamento da
instrução no concelho de Mondim de Basto, e por outro porque “através da
análise das leis ou das reformas, podemos em muitos casos surpreender a
explicação correcta de certos factos que antes nos pareciam de significado
obscuro ou impreciso” (ALBUQUERQUE, 1960: 7).
2. 1 – Efeitos Fundamentais da Reforma em Mondim de Basto.
Em 20 de Setembro de 1844, ao tempo de Costa Cabral, procedeu-se a uma
nova reforma do Ensino Primário (oito anos após a Reforma de Passos Manuel),
inovadora em alguns aspectos. Assim, o ensino primário era dividido em dois graus: o
elementar e o complementar. O primeiro grau ocupava-se de Ler, Escrever e Contar,
Exercícios Gramaticais, Corografia e História de Portugal, Moral, Doutrina Cristã e
Civilidade. Os alunos do segundo grau, para além daquelas disciplinas teriam ainda
Gramática, Desenho Linear, Geografia, História Geral, História Sagrada do Antigo e do
Novo Testamento, Aritmética e Geometria e Escrituração (do artigo 1º).
Como forma de combater o exasperante analfabetismo, Costa Cabral tomava medidas
de certo modo idealistas. Assim decretava que todos os “pais, tutores, e outros quaisquer
indivíduos residentes nas povoações em que estiverem colocadas as escolas as escolas
de Instrução Primária, ou dentro de um quarto de légua em circunferência delas”,
mandem à escola “os seus filhos, pupilos, ou outros subordinados desde os 7 anos até
aos 15 anos de idade” (CARVALHO, 1986: 578). Os pais a quem fosse “penosa a falta
60
de trabalhos dos meninos” poderiam mandá-los à escola apenas “em uma das lições
diárias” (art. 33º e 34º). Para o caso concreto de Mondim de Basto ficavam sem
desculpas os pais com filhos em idade escolar na vila, em Atei em Ermelo e no Bilhó,
muito pouco em relação à totalidade do concelho.
Aqueles pais que não enviassem os filhos à escola seriam punidos política e
financeiramente por tal.22
. Assim, politicamente seriam “suspensos dos seus direitos,
por espaço de 5 anos, os pais, tutores e outros indivíduos, cujos filhos, pupilos ou outros
subordinados, tiverem completado a idade de 15 anos, sem saber ler e escrever,
passados dez anos da publicação do presente decreto” e “ninguém poderá exercer
direitos políticos sem saber ler e escrever, seis anos depois de publicado o presente
decreto” (Artigos 35º e 36º in MARREIROS, 1981: 125).
Também a preparação do corpo docente estava prevista nesse diploma. O artigo
17 estipulava que “o Governo é autorizado para organizar, logo que possível, as escolas
normais dos Distritos de Lisboa e Porto”. Apesar desta convicção, a Escola Normal de
Lisboa esperará dezassete anos para começar a funcionar, apesar de no papel estar muito
bem organizada, ter professores do quadro, nomeados por alvarás ministeriais e com os
vencimentos em dia. Naturalmente que a formação dos docentes irá ressentir-se deste
longo atraso, provocando situações surrealistas: como não eram formados
convenientemente os professores e em número suficiente, os lugares vagos eram
preenchidos por indivíduos sem os necessários conhecimentos científicos nem
pedagógicos. Se juntarmos a isto o facto dos ordenados serem baixos, (durante muitos
anos os ordenados dos professores régios serão sempre de cento e dez mil réis anuais,
onde se incluem os vinte mil de subsídio das câmaras) de nem sempre os subsídios
serem recebidos a tempo e horas, (normalmente eram pagos por altura da importante
feira de S. Miguel que se realiza no mês de Setembro em Cabeceiras de Basto), mas
encontramos muitos anos com ordenados em atraso e, até, vários anos em que os
mesmos são pagos em duas tranches anuais). Perante tudo isto só quem não arranjava
outro modo de vida aceitava esta situação. Acontecia, porém, que havia situações de
duplo emprego, o que só reforçava a ideia generalizada de que a inspecção não actuava.
Dois exemplos flagrantes: o professor de Mondim em 1850 era José Rodrigues de
Carvalho, que exercia ao mesmo tempo as funções de secretário da câmara. A situação
22 O DG nº 230 de 28 de Setembro era bastante minucioso: assim definia o intervalo das idades de frequência escolar
- entre os 7 e os 15 anos de idade -; indicava o quantitativo das multas a aplicar - entre 500 até 1$ooo réis - e o
que o administrador do concelho deveria fazer para que a lei fosse cumprida.
61
mantém-se até 1853. Como professor auferia 20$000 réis de vencimento e como
secretário 40$000. A partir de 1853 abandonou o lugar de professor. O segundo
exemplo refere-se ao professor João António da Silva Ramos. Iniciou a carreira em
1857. Como era um abastado proprietário, com propriedades mesmo por detrás da rua
onde morava e dava aulas, a rua do Escourido, abandonava frequentemente os alunos
para ir trabalhar para o campo. A mesma situação se passava com quase todos os
professores, até porque maioritariamente eram padres e portanto tinham outras fontes de
rendimentos.
As câmaras municipais vêm as suas competências também alargadas. São
chamadas a “coordenar o sistema de instrução, vigiar o comportamento moral e político
dos professores e assegurando o pagamento dos poucos professores régios, mediando,
por conseguinte, entre o poder central, a quem cabia por lei garantir um sistema de
instrução, público e eficiente, e as populações a sociedade, (como falava Herculano, em
1838) que, libertas pela constituição de 1820 para estabelecerem escolas, constituíam de
facto o principal suporte do sistema vigente” (MAGALHÃES,1992: 129).
Para além disso são responsabilizadas pelas instalações escolares, pelas obras de
remodelação, pelo apetrechamento e pela vigilância da frequência escolar dos alunos.
Em relação aos edifícios escolares, e porque os professores eram obrigados por lei a
reservar nas suas moradias espaços onde recebessem os seus alunos, as câmaras pouco
ligavam a isso, limitando-se a pagar as respectivas rendas, quando houvesse
disponibilidade financeira para tal, julgando que assim cumpriam a legislação em vigor.
Também não deixará de se atribuir este desleixo ao facto de que o artigo 6º dizer
“sempre que for possível, o lugar da escola será em edifício público ou outro
especialmente acomodado a esse fim”. A ser assim competiria ao governo fazer os
edifícios e como tal as câmaras pouco se importavam com esse assunto.
No artigo 155, do citado decreto de 20 de Setembro de 1844, Costa Cabral recria
o Conselho Superior de Instrução Pública, cujo regulamento data do ano seguinte.
Dizemos recria dado que em 1835 já Rodrigo da Fonseca o havia criado embora tivesse
durado apenas dois meses. Podemos dizer esse Conselho Superior tinha as funções de
um verdadeiro ministério da Instrução. Estabelecido em Coimbra, compunha-se de um
presidente, de oito vogais ordinários e de vogais extraordinários, sem número fixo, e
dividia-se em dois Conselhos: um Conselho Geral e um Conselho Ordinário. “Todavia,
o Conselho Superior mostrou-se sempre incapaz de resolver os problemas fundamentais
que lhe surgiram; limitou-se a desempenhar funções de pura administração da lei em
62
vigor, só introduzindo novas matérias de doutrina na regulamentação burocrática da
orgânica interna das escolas e nas normas dos concursos para as prover de professores”
(ALBUQUERQUE, 1960: 174).
Este Conselho produziu extensos relatórios. Com base nos mesmos podemos
ficar com uma ideia da evolução do ensino de 1843 a 1859.
Quadro n.º10. Número das Escolas Primárias Portuguesas de 1843 A 185923
( Municipais, Paroquiais, de Confrarias, de Legados e de Diferentes Sociedades )
ANOS ESCOLAS
PÚBLICAS
ESCOLAS
PARTICULARES
TOTAL
ALUNOS
POPULA
ÇÃO
AULAS ALUNOS AULAS ALUNOS
1843-44 1.116 (1) 42.761 1.084 18.776 61.537 3.412.500
1844-45 1.189 45.500 1.084 18.776 64.276 3.412.500
1846-47 122224 (2)
1847-48 1.169 45.500 (3) 1.084 18.786 64.276 3.412.500
1848-49 1169 34.635 (4) 63 2.462 70.000 (5) 3.412.500
1849-50 1168 (6 ) 39.801 1.076 70.000 (5) 3.622.964
1850-51 1168 (7) 82 70.000 (5)
1851-52 (8) 47.471 12.665 60.136
1852-53 1175 37.172 203 3.487 40.559 (9) 3.600.000
1853-54 119925
(10) 325 (10) 65.000 3.600.000
1854-55 1272 55.117 25.479 80.596
1855-56 1379 55.451 449 (11) 55.451
1856-57 1438 (12) 60.552 467 17.402 77.954
1857-58 1518 64.465 280 11.261 75.766
1858-59 1528 (13) 66.749 15.529 82.278
NOTAS:
1- Falta a relação das Ilhas, Aveiro, Guarda e Beja.
23
Fonte: (GOMES, 1985) – Relatórios do Conselho Superior de Instrução. Coimbra, INIC. páginas 18,
27,28,61,62,84,105, 132,156,171,205,227,248,257,258 e 288.
24 D. António da Costa refere este número dizendo que o retirou da Sinopse da Legislação Primária, Coimbra 1848,
página 32 (cota 5- 25-47-24).
25 D. António da Costa refere 1194 escolas oficiais e 1032 particulares e municipais com um total de 92.000 alunos.
Valores retirados da Synopse.
63
2- São referidos os valores de 1845.
3- Valor calculado um pouco aleatoriamente, dado que apenas foram enviados 744 mapas com 30.180
alunos, tendo faltado 337 mapas. Daí calcular-se o valor de 45.500 alunos.
4- Valores retirados de apenas 306 mapas recebidos do continente e de 28 cadeiras de Angra, Funchal
e Horta.
5- Números calculados por estimativa, tendo em consideração os mapas que faltam.
6- Acham-se vagas 64 e reservadas 15.
7- Acham-se vagas 62, a concurso 46 e reservadas 16.
8- Refere-se que os dados se encontram nos mapas 1, 2 e 3, mas os mapas não são transcritos.
9- Os dados foram retirados de 898 mapas. Se todos os mapas tivessem sido enviados é provável que o
valor fosse superior aos 65.000 alunos.
10- Embora não sendo referido o número de alunos e tendo em consideração que houve um aumento de
24 escolas públicas e de 122 particulares é de todo provável que o número total seja igual ou superior ao
indicado.
11- Faz-se referência ao mapa nº 7 mas não se indica o nº de alunos.
12- As escolas efectivas eram 1230.
13- Deste número 147 deixaram de funcionar.
Dado que os elementos de cálculo se revelam assim bastante incompletos –
devido à irregularidade do envio dos mapas -, é provável que os números fossem bem
mais elevados.
Entre a promulgação da reforma de Costa Cabral (1844) e a reforma de
Rodrigues Sampaio (1878), um espaço de 34 anos, portanto, o ensino em Mondim de
Basto apresentará como grandes novidades a criação de duas escolas do sexo feminino,
uma em Mondim, em 1866 e outra em Atei, em 1876 e a criação de aulas nocturnas em
Mondim, 1869, em Ermelo,1874, em Atei,1874 e no Bilhó, 1876.
O primeiro professor de Mondim a dar aulas à noite foi João António da Silva
Ramos. A 3 de Setembro de 1869, o citado professor solicita à Câmara que “suprima a
aula nocturna nos meses de Setembro a Abril por serem pouco concorridas,
principiando cada ano lectivo no primeiro de Outubro e a terminar a 31 de Março”.
Aproveitava para pedir que lhe dividissem o ordenado pelos meses de aulas e que lhe
fizessem o respectivo pagamento no fim de cada mês26
.
Logo no primeiro ano de funcionamento a população revelava pouco interesse
pelas aulas nocturnas, uma situação que irá melhorar ao longo dos anos seguintes.
26 ACMM: Livro de Correspondência Recebida, nº 1 ( 1850...1874).
64
No ano seguinte, a 26 de Abril de 1870 o mesmo professor escreve à Câmara a
queixar-se de que havia pedido que esta lhe dividisse o ordenado pelos meses do ano
lectivo que era na altura de 35$000 réis. A Câmara dividiu-lhe o ordenado pelos doze
meses do ano, passando a pagar-lhe apenas os meses em que havia aulas de facto. O
subsídio baixava por essa razão a 26$000 réis, o que causava naturalmente grande
prejuízo ao citado professor, o qual, em futuras cartas havia de expressar esse
descontentamento.
Quanto às condições pedagógicas em que se processava o ensino acreditamos
que em Mondim não seria muito diferente daquilo que se passava no resto dos país, a
avaliar pelos resultados do Inquérito à Instrução Pública relativa aos anos de 1863-1864
(quadro nº 11). De facto a câmara continua a mostrar-se muito relutante no que
concerne ao dispêndio de verbas a gastar com a educação, quer no pagamento dos
vencimentos aos mestres - sempre em atraso -, quer na aquisição de mobílias para as
escolas. Vejamos: a 23 de Fevereiro de 1856 paga ao professor de Atei 4$800 réis pela
compra de utensílios para a escola. Não se especifica que tipo de utensílios. A 26 de
Abril atribui a mesma quantia ao professor de Ermelo. A 17 de Dezembro atribui ao
professor de Mondim a quantia de 4$800 reis para a aquisição de utensílios para a
escola. Em ambas não se especifica também que tipo de utensílios. A 9 de Agosto de
1866 paga 5$000 réis pela aquisição de uma mesa grande e um estrado para a escola
feminina de Mondim. A 19 de Novembro paga 7$750 réis pela aquisição de 4 mesas e
seis bancos do mesmo tamanho e 4 réguas para a “casa da aula materna”. A 23 de Junho
o mesmo professor solicita à Câmara “ uma mesa e três bancos para mobilar a sua aula”.
Em 1 de Abril de 1873 é atribuído ao mesmo professor um subsídio de 4$000
réis “para luzes”. A 30 de Junho de 1874 são pagos 11$900 réis ao carpinteiro de Atei
por ter feito para a escola dessa freguesia “5 mesas, 10 bancos e um estrado”27
.
Podemos inferir que a preocupação principal seria equipar as escolas com o
material didáctico mínimo indispensável. Não encontramos referências a livros, a
mapas, a Sólidos Geométricos, à existência ou não de bibliotecas escolares.
A inexistência de uma norma legal específica que regulasse as receitas e
despesas das câmaras para o sector da Educação não seria a culpada pelos fracos
investimentos nesse campo?
27 ACMM: livro de RECEITAS e DESPESAS nº 1 ( 1850-1874).
65
Para além disso, poucas novidades conseguimos obter. Assim, a câmara vai
pagando conforme pode as contribuições devidas à Universidade de Coimbra: a 27 de
Fevereiro de 1851 paga a quantia de 23$419 réis referentes aos anos de 1848 - 1849; a
12 de Março de 1857 paga-lhes a contribuição referente aos anos de 1853 - 1854; e a 4
de Novembro de 1858 paga as contribuições referentes aos anos de 1856 - 1857. Não
encontramos mais referências a estas transferências de verbas, daí supormos que a partir
de 1857 acabou aquele pagamento.
A 18 de Abril de 1851 paga a câmara para o liceu de Vila Real a quantia de
7$200 réis. Não sabemos a que se deveu este pagamento, dado que no livro de
lançamento daquela despesa não se especificou a que se devia.
3 – O Movimento da Regeneração. Um Tom de Esperança.
A partir de 1851 o liberalismo português procura, por um lado, libertar-se dos
“atavismos da estrutura nacional” (D.H.P., V: 251) e, por outro, influenciado pelas
novidades que chegavam de além Pirenéus, imprimir novos ritmos à economia,
sociedade e culturas portuguesas “numa tardia, lenta e sinuosa desenvolução” (D.H.P.
V: 251). Será durante o período auto denominado Regeneração (1861-68) que se
procedeu no país à realização dos inquéritos escolares de 1863-64.
3.1 – Inquéritos de 1863 – 1864.
Pelo decreto de 20 de Setembro de 1844 foi ordenada a inspecção das escolas
do reino, devendo o processo ser organizado pelo Conselho Superior de Instrução
Pública. Devido aos problemas políticos que o país atravessava não foi possível levar a
efeito esta importante tarefa. Só em 1859, após criado o novo Conselho Geral de
Instrução Pública estariam criadas as condições para que se procedesse à inspecção das
escolas. Mesmo assim, o primeiro ensaio, que se limitaria às escolas do distrito de
Lisboa, também não passou das intenções.
Em 1861 e 1862, foram os inspectores de pesos e medidas que procederam a
uma inspecção que não chegou a compreender todas as escolas do País.
Em 12 de Abril de 1862 foi ordenado aos administradores de concelho que
visitassem as escolas, para dar cumprimento ao disposto no artigo 248º, nº 1 do código
66
administrativo, mas acreditamos que o de Mondim nada fez pois não encontramos
qualquer referência a essa inspecção.
Finalmente em 1863, por portaria de 23 de Julho, o governo ordenou uma
inspecção a todas as escolas do reino, fixando todos os itens sobre os quais os
inspectores se deviam debruçar. São os seguintes os resultados da inspecção feita às
escolas do concelho de Mondim de Basto28
:
Quadro nº 11. Estatística das Escolas de Instrução Primária do concelho de
Mondim de Basto, Segundo os dados da Inspecção de 1863 - 186429
1 – Das Escolas
1 – CADEIRAS:
Em exercício do Sexo masculino: 3
Em exercício do Sexo feminino: 0
2 –EDIFÍCIOS:
Ministrados pela iniciativa individual : 1
Ministrados por professores: 2
Capacidade suficiente:2
Capacidade insuficiente:1
Conservação e condições de higiene:
Boa:1
Más:2
3 – MOBÍLIA:
Ministrada por: Câmara:1; Associações:1; Professores:1.
Suficiente:2. Insuficiente:1
4 –ALFAIAS:
Ministradas por: Câmaras: 3
Insuficiente:3
5 –ESCOLAS NÃO MANTIDAS PELO ESTADO:
Para o Sexo masculino: 1. Para o Sexo feminino: 0
Sustentada: Associações:1
28 Resultados publicados no Diário de Lisboa, número 255 de Sexta-Feira, 9 de Novembro de 1866, páginas 3037 e
3038.
29 Diário de Lisboa, 1866, número 255 de 9 de Novembro.
67
2 – Dos Professores:
1- PROFESSORES:
Número de professores seculares: 3.
Estado físico: bom
Não exercem outro emprego: 2
2 – DEVERES DO MAGISTÉRIO:
Zelo pelo ensino: Professores com suficiente: 3
Disciplina: Professores que a conservam: 3
Programas: Professores que os não têem:3.
Registo de matrículas: Professores que os têm:2. Professores que os não têm:1.
Classes: Professores que as têm: 1. Professores que as não têm: 2.
Castigos corporais: Professores que os não empregam: 3.
3 – ESCOLA NÃO MANTIDA PELO ESTADO:
Número de professores seculares:1
Número de professores com título de habilitação: 1
3 – População das escolas e ensino dos alunos
1 – POPULAÇÃO DAS ESCOLAS:
Alunos matriculados: Do sexo masculino: 131. Do sexo feminino: 6.
Número dos alunos com frequência regular: 75.
2 – TIPO DE ENSINO:
Mutuo:1 escola. Simultâneo 2 escolas. Individual 2 escolas.
3 – NÚMERO DE ESCOLAS EM QUE O APROVEITAMENTO DO ENSINO FOI:
Em doutrina. Suficiente 1. Insuficiente: 2.
Em Leitura. Suficiente 2. Insuficiente: 1.
Em Escrita. Suficiente 1. Insuficiente: 2.
Em Aritmética. Suficiente 2. Insuficiente: 1.
Em Sistema métrico. Suficiente 2. Insuficiente:1.
Em Prendas do Sexo Feminino. Suficiente -. Insuficiente:-.
Em Gramática, História e Cronologia. Suficiente 1. Insuficiente:-.
Número de escolas sem ensino de Gramática:2.
4 – PRÉMIOS:
Números de escolas que os tiveram: 2
Números de escolas que os não tiveram: 1.
5 – EXAMES FINAIS:
68
Número de escolas em que os houve: -.
Número de escolas em que os não houve: 3.
6 – NÚMERO DE ALUNOS PRONTOS NO FIM DO ANO:
Com exame: -.
Sem exame: 4.
7 – ESCOLAS NÃO MANTIDAS PELO ESTADO.
Número de alunos externos: 15.
Modo de ensino: Individual.
Fonte: (ANTT, Diário de Lisboa, 1866, número 255 de 9 de Novembro).
3.2. – Análise sumária sobre os resultados dos inquéritos.
3.2.1. - Das escolas.
1 - No total dos 14 concelhos que constituem o Distrito de Vila Real estão
em funcionamento 99 escolas oficiais para o sexo masculino - 93% -, e apenas 7 - 7% -,
para o sector feminino, num total de 106. Se a este número somarmos as escolas não
mantidas pelo estado - num total de 16 - temos um total de 122 escolas no distrito.
Mondim de Basto tem apenas 4 em funcionamento, todas do sexo masculino.
2- Com apenas 7 escolas do sexo feminino em funcionamento, só 50% dos
concelhos estão abrangidos. Nenhum concelho dispõe de mais do que uma escola, o que
significa - para os casos concretos de Vila Real e Chaves, os maiores centros urbanos -
que nem todas as jovens em idade escolar têm acesso ao ensino oficial.
3 - Em todo o distrito existem apenas duas escolas pertença de Associações.
Trata-se da escola do sexo masculino do Bilhó, no concelho de Mondim de Basto que é
pertença da Irmandade das Almas local e de uma escola em Vila Real.
4 - Nenhum dos 3 edifícios do concelho com escola oficial é Estatal, camarário
ou paroquial. Um (1) pertence a um particular e dois (2) aos próprios professores.
Situação idêntica acontece apenas com os concelhos de Mesão Frio e Sta Marta de
Penaguião. Nestes três concelhos são os professores que chamam a si a principal
responsabilidade nesta matéria, o que prova que a câmara municipal revelava muitas
dificuldades em cumprir o disposto nos artigos 6º e 168º do decreto de 20 de Setembro
de 1844.
5 - Três (3) das quatro (4) escolas do concelho - incluímos a particular - têm
capacidade para albergar os alunos inscritos. Não tendo cada uma das salas capacidade
69
para ter ao mesmo tempo mais de 15 ou 20 alunos em simultâneo, - e mesmo assim não
havia bancos para todos, o que obrigava a maioria dos alunos a sentarem-se ao fundo da
sala mas no chão -, só poderemos concluir que o absentismo escolar era enorme, numa
clara demonstração do pouco interesse pela escola.
6 - As más condições de estado, higiene e conservação de dois dos três
edifícios oficiais também deveriam ser factores inibidores da frequência escolar.
7 - O material escolar é todo fornecido pela câmara municipal, fenómeno
único em todo o distrito. Analisando o livro de “Receitas e Despesas” da câmara de
1850 até à data dos inquéritos encontramos como despesas apenas o pagamento dos
subsídios
(20$000 réis) aos professores e a compra de algumas mesas e cadeiras. Isto é, se nos 13
ou 14 anos anteriores aos inquéritos não encontramos senão despesas com os materiais
referidos, concluiremos que as escolas do concelho não estavam apetrechadas com os
materiais pedagógicos que deveriam ter, tais como réguas, colecções de pesos e
medidas, metro de algibeira, compassos, caixas der desenho, globos, termómetros,
mapas de Portugal, das Colónias ou do Continente, esquadro de agrimensor de limbo
graduado com agulhas e luneta, colecções de sólidos geométricos, esqueleto ou até
estantes com livros.
3.2.2 - Do professorado.
1 - No total do distrito estão ao serviço efectivo 87 professores seculares, 12
eclesiásticos e 7 professoras num total de 106 professores. São seculares os quatro
professores de Mondim (quadro nº 12).
Quadro nº 12 . Professores do ensino elementar em Mondim de Basto a cargo
do Estado à data do Inquérito de 1863-64.
LOCAL PROFESSOR
PROVIMENTO
MONDIM João António da Silva Ramos 23.6.1857
ATEI António Teixeira de Magalhães 4.6.1855
ERMELO José Bernardino da Fonseca 30.4.1840
BILHÓ José Dinis G. Rodrigues Não Refere
70
2 - Todos os professores de Mondim têm um bom estado físico e uma boa
capacidade moral. Todos têm outras actividades e daí talvez o facto de serem
classificados apenas com suficiente na rubrica sobre o “Zelo pelo ensino”.
3 - São disciplinadores mas não têm programa de ensino. Três seguem o
ensino individual, dois o ensino simultâneo e um o mútuo. Ou seja, todos os
professores optam por um modelo Misto: dois seguem um modelo
Simultâneo/Individual e um segue um modelo Mútuo/Individual. Apenas dois têm
registo de matrículas e só um tem o sistema de “classe”. Nenhum é referido como
utilizador de castigos corporais30
.
4 – O facto de três professores praticarem o Ensino Individual não nos faz
admirar dado que neste meio rural era praticamente impossível o ensino grupal ou o
simultâneo. Por um lado a escassez de livros por parte dos alunos, ainda o facto de nem
todos entrarem ao mesmo tempo para a escola e naturalmente o elevado absentismo
eram factores inibidores para a prática de qualquer outro método.
5 – Assistimos ainda à primazia do modo simultâneo (53 escolas contra 52 a
nível distrital e 2 contra 1 a nível do concelho de Mondim), apesar dos esforços que se
vinham desenvolvendo desde que o ensino mútuo chegou a Portugal (1815), quer por
parte de Cândido Xavier (1818), pelas disposições do Regulamento Geral da Instrução
primária (7 de Setembro de 1835), por Passos Manuel (1835) ou por Costa Cabral
(1844), para que o mesmo fosse aceite pelos professores. Mas estes, principalmente no
mundo rural, não dispunham de condições para passar à prática as propostas
governamentais com a celeridade desejada.
3.2.3 – Dos alunos.
1 - Estão matriculados no distrito 3.966 alunos do sexo masculino e 466 do sexo
feminino num total de 4.432 alunos. São 66.187 a nível nacional, que corresponde a
uma percentagem de 1,73% da população do continente. Dos 466 do sexo feminino 136
frequentam as escolas masculinas. Apenas 2.000 alunos frequentam a escola
regularmente. São 36.521 a nível nacional, a que corresponde uma percentagem de
30 Não acreditamos fielmente nesta informação dado que é da tradição oral que o professor de Mondim na altura, João
Ramos, batia frequentemente nos alunos, ao ponto de haver alguns que saltavam da janela da sala de jantar, que era
a sala de aula, para o edifício em frente, pertença da câmara municipal.
71
55,2%. Para o concelho de Mondim de Basto estão inscritos 146 alunos do sexo
masculino (incluímos os 15 da escola particular) e apenas 6 do sexo feminino os quais
frequentam as escolas masculinas. Apenas 75 frequentam a escola regularmente, ou seja
49,3%. Isto é, uma percentagem muito aproximada da média nacional.
2 - É muito fraco o nível de aproveitamento. Em nenhuma escola houve
exames finais e apenas 4 alunos estavam “Prontos no fim do Ano” mas sem exame.
Estamos perante escolas que apenas produzem “produtos inacabados”?
Qual o nível de alfabetização que caracteriza a enormíssima percentagem dos que,
apesar de terem frequentado a escola, não obtiveram um diploma acreditador?
Muito provavelmente converteram-se em leitores/assinantes. E, enquanto uns
regrediriam à forma de quase analfabetos (analfabetos funcionais?), dado não terem
oportunidades de porem em prática o que aprenderam na escola, outros, aqueles que
escolheram o caminho da emigração para o Brasil para trabalharem em casas
comerciais, com certeza que ampliaram os seus conhecimentos pela prática do dia-a-dia.
No Relatório de 1857-58 do conselho Superior de Instrução podemos ler: ”onde
predomina a ignorância, a falta de zelo, a grosseria e também a fome, como exigir a
reflexão, o estudo, a prática e a devida apreciação de qualquer melhoramento, que saia
um pouco da mais rançosa rotina?” (GOMES, 1985: 262).
3 - Em suma, “embora o currículo de instrução primária exigisse um
funcionamento em regime de curso, nem a preparação da generalidade dos mestres de
primeiras letras, nem as instalações e materiais didácticos, nem as expectativas de boa
parte da população escolar, favoreciam uma acção pedagógica para além dos
rudimentos do ler, escrever e contar (MAGALHÃES, 1996: 30), até porque a posse
destes era mais que suficiente para permitir uma participação cívica activa (participar
nos Jurados, por exemplo), ou para a solução dos problemas que uma crescente, embora
lenta, urbanidade naturalmente originava.
A situação, apesar do visível esforço desenvolvido por Costa Cabral,
praticamente permanece idêntica aquando dos inquéritos de 1873-74, conforme
podemos observar no quadro nº 13 e na Inspecção de 1775, quadro nº 14.
72
Quadro nº 13. Inquéritos Escolares: 1873/1874
Mapa estatístico dos alunos de instrução primária
Mapa da distribuição por disciplinas e classes, dos alunos que frequentaram a escola e dos que apresentam à inspecção
1873 / 1874
MONDIM DE BASTO NÚMERO DOS QUE
FREQUENTAM REGULARMENTE
NÚMERO DOS PRESENTES À INSPECÇÃO
NÚMERO DOS INSPECCIONADOS
DISCI- PLINAS
CLAS- -SES
SÓ AULA
DIURNA
SÓ AULA NOCT.
DE AMBAS SIMULT.
T O T
SÓ AULA DIURNA
SÓ AULA NOCT.
DE AMBAS SIMULT.
T O T
SÓ AULA DIURNA
SÓ AULA NOCT.
DE AMBAS SIMULT.
T O T
M F M F M F M F M F M F M F M F M F
1ª 22 A) 4 A) 3 A) 29 36 22 58 2 2 4
LEITURA 2ª 15 6 2 23 11 11 22 3 3 6
3ª 3 11 4 18 8 12 20 2 3 5
1ª 20 3 4 27 17 8 25 3 2 5
ESC. 2ª 6 5 2 13 5 8 13 1 3 4
3ª 4 8 3 15 6 3 9 3 0 3
1ª 26 3 4 33 7 5 12 3 0 3
ARIT. 2ª 6 7 3 16 25 17 42 2 4 6
3ª 4 11 1 16 3 0 3 2 0 2
1ª 0 0 0 0 3 4 7 2 1 3
S. MÉTR 2ª 0 0 0 0 0 0
3ª 2 1 1 4 0 4 0
1ª 0
GRAM. 2ª 0
3ª 0
DOUTRI ÚN 46 46 55 7 7
COROG ÚN
HISTÓR ÚN
D. L. ÚN
F. M 8 8
P. C. 2 2
LABOR. COS. 6 6
B. B 3 3
B. C 1 1
T R 1 1
TOTAL 154 59 27 240 176 135 311 30 38 68
A) NÃO SE PODE RESPONDER A ESTA PARTE D´ESTE MAPA POR NÃO HAVER ESCRIPTURAÇÃO ALGUMA QUE POSSA HABILITAR A FAZÊ-LO.
73
Mapa da distribuição por disciplinas e classes, dos
alunos que frequentaram a escola e dos que apresentam à
inspecção
1873 / 1874
ATEI
NÚMERO DOS QUE FREQUENTAM
REGULARMENTE
NÚMERO DOS PRESENTES À INSPECÇÃO
NÚMERO DOS INSPECCIONADOS
DISCI PLINAS
CLASSES
AULA DIURNA
AULA NOCT.
AMB. SIMUL
T O T A L
AULA DIURNA
AULA NOCT.
AMB. SIMUL.
T O T A L
AULA DIURNA
AULA NOCT.
AMB. SIMUL.
T O T A L
M F M F M F M F M F M F M F M F M F
1ª 53 5 5 63 23 2 25 2 1 3
LEIT. 2ª 15 2 3 20 20 5 25 2 2 4
3ª 16 3 6 25 15 0 15 2 0 2
1ª 14 5 7 26 6 3 9 2 2 4
ESC. 2ª 25 2 5 32 5 0 5 1 0 1
3ª 16 0 1 17 8 0 8 1 0 1
1ª 0 0 8 8 11 0 11 1 0 1
ARIT. 2ª 4 7 6 17 5 0 5 1 0 1
3ª 16 0 0 16 3 0 3 2 0 2
1ª 0 0 6 6 8 0 8 0 0 0
S. MÉT 2ª 4 0 0 4 7 0 7 0 0 0
3ª 16 0 0 16 4 0 4 2 0 2
1ª 0 0 0 0 1 0 1 0 0 0
GRA. 2ª 0 0 0 4 0 0 0 0 0 0
3ª 4 0 0 117 28 7 3 1 0 1
D. C. ÚNI 91 12 14 1 1 0 35 6 3 9
CHOR. ÚNI 1 0 0 2 3 0 1 1 0 1
H. P. ÚNI 2 0 0 1 1 0 3 1 0 1
D. L. ÚNI 1 0 0 1 1 0 1
F.M.
P.C.
LABOR COS
B.B.
B.C.
T.R.
Total 278 36 61 375 152 17 169 26 8 34
74
Mapa da distribuição por disciplinas e classes, dos alunos que
frequentaram a escola e dos que apresentam à inspecção
1873/
1874
ERMELO NÚMERO DOS QUE
FREQUENTAM REGULARMENTE
NÚMERO DOS PRESENTES
À INSPECÇÃO
NÚMERO DOS INSPECCIONADOS
DISCI PLINAS
CLASSES
AULA DIURN
AULA NOCT.
AMBAS SIMULT.
T O T A L
AULA DIURNA
AULA NOCT.
AMBAS SIMULT.
T O T A L
AULA DIURNA
AULA NOCT.
AMBAS SIMULT.
T O T A L
M F M F M F M F M F M F M F M F M F
1ª A) A) 7 7 2 2
LEIT. 2ª 1 1 1 1
3ª 2 2 2 2
1ª 2 2 2 2
ESC. 2ª 1 1 1 1
3ª 0 0 0 0
1ª 2 2 2 2
ARIT. 2ª 2 2 2 2
3ª 2 2
1ª
S. M. 2ª
3ª
1ª
GRAM 2ª
3ª
D. C. ÚNI
CHOR. ÚNI 10 10 5
H. P. ÚNI
D. L ÚNI
F. M
P.C.
LABOR COS
B.B.
B.C.
T.R.
T.GER. 27 27 17 17
A) NÃO SE PODE RESPONDER A ESTA PARTE D´ESTE MAPA POR NÃO HAVER ESCRITURAÇÃO ALGUMA QUE POSSA HABILITAR A FAZÊ-LO.
NOTAS EXPLICATIVAS: UN= única F.M. = fazer meia PC. = ponto de cruz COS = coser B:B: =
bordar a branco BC. = bordar a cor T.R. = talhar roupa.
75
Mapa Estatístico dos Alunos de Instrução Primária, com Relação ao
Ano Lectivo 1873 / 1874
Alunos
Matriculados Com Frequência
Regular ( A )
Prontos no fim do Ano
Aprov. / exames F. nas p. escolas
Aprov./ exame
adm. Liceu
10 Anos
10 a 12
12 a 14
Adultos
M F M F M F M F M F M F M F M F
Só aula diurna 29 16 16 15 8 43 6
Mondim Só aula
( Masc. ) Nocturna 2 4 4 14 16
De Ambas
Simult. 2 3 6 0 11
Total 33 16 23 25 22 70 6
Só aula diurna 42 19 18 8 19 7 3 3 66 18
Só aula
Atei Nocturna 14 14
De Ambas
Simult. Total 42 19 18 8 19 7 17 3 80 18
Ermelo Não se Pode preencher este mapa, por não haver meio fácil e sobretudo verdadeiro que habilite a preenchê-lo.
Só aula diurna 28 8 8 5 35
Mondim ( Feminino)
Só aula Nocturna
De Ambas Simult.
Total 28 8 8 5 35
A) – Entende-se que frequentou regularmente o aluno que concorreu à escola mais de metade dos dias em que ela funcionou, depois da sua matrícula.
76
Quadro n.º 14.Resultado da Inspecção no dia 6 de Julho de
1875
Nº de Matríc. Alunos Inspec- Cionad
os
I D A D E
Meses de Freq.
Ensino
Leitura Escrita Arite Mética
Sist. Métric
Gramát Ica
Dout Crist
Coro grafi
Hist. Pát.
Des. Lin.
Lavores
1 2 3 4 5 6
Diur Noct.
a) b) a) b) a) b) a) b) a) b) b) b) b) b) b) b) b) b) b) b)
28 10 26 - 1 S 1 M 1 M S S
40 11 20 - 1 S 1 S 1 M S S
27 12 36 - 2 S 3 S 2 S S S
Mondim 23 12 24 - 2 S 2 S 3 M S S
( Masc. ) 34 7 11 - 2 B 1 S 1 S S B
30 13 44 - 3 S 3 S 3 S 1 S S S
29 13 30 - 3 S 3 S 3 S 1 S S
52 7 18 - 1 S - - - -
38 7 20 - 1 S - - - -
Atei 21 9 15 - 2 B 1 S 1 B
(Masc. ) 8 13 9 - 2 S 1 S 2 S
9 12 22 - 3 B 3 B 3 B 3 B B B B B B B
5 13 22 - 3 B 2 S 3 S 3 S - - S
2 9 22 - 1 M - - - - S
Atei 6 9 7 - 2 S 1 M - - B
(Fem.) 10 12 12 - 2 M 1 M - - B
8 10 - 1 M - - - - M
19 8 - 1 S - - - - S
Ermelo 10 9 - 2 S 1 M - - S
(Masc.) 35 10 - 3 S 1 M 2 S 1 M S
11 11 - 3 S 2 B 2 B 1 M S
Mondim (Fem.)
34 9 5 - 1 S - - - - S M - M - - -
38 7 26 - 1 M - - - - S S - - - - -
12 10 28 - 1 S 1 S - - S S - M - - -
48 6 7 - 2 S - - - - S S - - - - -
9 10 40 - 2 S 1 S 2 S S S - S - - -
3 11 64 - 3 B 2 S 2 S B B - S S - -
8 15 75 - 3 S 2 S 2 S S S S S M - S
2 7 27 - 3 B 2 S 2 B 1 S S M S S S S -
a) Classe
b)- B – Bom
S – Suficiente
M – Medíocre
Inspector – António Roque da Silveira (comum a todas as escolas).
Fonte: ( A.N.T.T, Ministério do Reino: livro 1087 - 2286/87/88/89).
77
3.4 – Conclusões.
1 - Relativamente ao mapa “Estatístico”, verificamos que os alunos têm uma
frequência escolar regular são 68% em Mondim e 69% em Atei. O mapa referente a
Ermelo está por preencher. A frequência da escola feminina é de 71% em Mondim e
49% em Atei. Quanto ao ensino nocturno a frequência regular atinge os 66,7%. Estes
números são extraordinariamente elevados para a época.
2 - Pela análise do “Mapa de distribuição ...” não deixa de merecer alguma
reflexão o facto de o número de alunos presentes à inspecção em Mondim de Basto -
311, que inclui 135 alunas - ser superior ao número de alunos - 240, todos do sexo
masculino - que frequentam regularmente a escola. O problema situa-se ao nível do
ensino feminino. Aqui não há um registo do número de alunas que frequentam a escola.
Se 135 alunas compareceram à inspecção isso significará que o número das que
frequentavam a escola era muito superior. Então porque é que a professora não dispunha
de registos actualizados? Seria pelo facto de a escola ainda ser recente e o sistema não
estar organizado? A frequência seria muito irregular e a professora teria dificuldade em
actualizar os registos?
Extraordinário é também o número de alunos de ambos os sexos - 375 - que
frequentam regularmente a escola em Atei. Destes, 169 (45%) foram presentes à
inspecção.
Lamenta-se o facto de o inspector ter tido muitas dificuldades em elaborar os
mapas para a freguesia de Ermelo, ao ponto de ficarmos sem esse importante registo.
No entanto acreditamos que o número de alunos quer dum quer doutro sexo deveria ser
bem elevado, como elevado deveria ser o absentismo escolar. O que se compreende se
tivermos em linha de conta que Ermelo havia deixado de ser concelho, se situava em
zona montanhosa e afastada do centro de decisões o que contribuiria para que não
fossem muitas as oportunidades para “converter em rendimento monetário acrescido o
aumento da qualificação que a alfabetização representava” (REIS, 1988: 77) e portanto
escassos os motivos para ir à escola.
3 - Aquando da inspecção (quadro nº 14) apresentaram-se perante o inspector
73,3% dos alunos do sexo masculino e 28% do feminino em Mondim tendo sido
inspeccionados 17% e 28% respectivamente. Em Atei apresentaram-se 44,8% do sexo
masculino e 27,8% do feminino. Foram inspeccionados 17% do sexo masculino e 63%
78
do feminino. Relativamente a Ermelo, o número é muito reduzido mas ainda assim
compareceram 27 alunos perante o inspector dos quais 17 (63%) foram inspeccionados.
Assim a não urbanização das freguesias está directamente ligada ao absentismo
escolar. De facto, à freguesia mais urbanizada, Mondim, corresponde uma taxa de
absentismo - 26,7% - menor; a Atei, freguesia contígua à de Mondim, corresponde uma
taxa de absentismo de 55,2% e a Ermelo corresponderá uma enorme taxa de absentismo
de tal modo que o inspector não conseguiu preencher os mapas respectivos. Ao facto de
Ermelo ser uma freguesia de montanha, ruralizada, afastada dos centros de decisão e
com aldeias muito dispersas e afastadas da escola, se deverá aquela situação. Aliás a
questão das distâncias será sempre a razão principal apontada quando a Junta de
Paróquia em anos próximos futuros pedir a criação de novas escolas.
4 - Apesar deste número elevado de frequência verificamos que no final do ano
lectivo apenas 6 alunos, e todos de Mondim, “estavam prontos”, não havendo nenhum
aprovado em exames finais ou de admissão a “algum liceu”.
5- A explicação para o verificado no ponto anterior pode ter a ver com a
importância dada a cada disciplina em cada classe. Assim, analisando o número de
alunos que frequentam as diversas classes, nas diferentes disciplinas verificamos estar
perante uma sequencialidade regressiva em que o índice maior de frequência se situa na
1ª classe e o menor na 3ª. Olhando os dados referentes a Mondim de Basto temos, em
Leitura, 70 alunos inscritos na 1ª classe com 41,4% e apenas 25,7% na 3ª. Para Atei
temos 118 alunos dos quais 53,4% na 1ª e apenas 21,2% na 3ª classe.
A mesma tendência acontece na Escrita. Em Mondim, dos 55 alunos inscritos,
45,45% estão na 1ª classe e apenas 27,3% na 3ª. Em Atei são 75 alunos os inscritos,
representando 34,66% para a 1ª classe e 22,66% na 3ª.
Quanto à Aritmética a situação mantém-se. Do total dos 65 alunos inscritos em
Mondim 50,76% frequentam a 1ª classe e 24,6% a 2ª. Para Atei acontece a excepção à
regra, pois aqui dos 41 alunos inscritos apenas 19,5% frequentam a 1ª classe e 39% a
terceira. De registar o facto de neste ano não se ter inscrito nenhum aluno nesta cadeira.
6 - Verificamos que no conjunto das três localidades há uma ordem decrescente
do número de alunos inspeccionados, o que está directamente relacionado com o
número de matriculados por disciplina. Assim a Leitura vem à frente com 175 alunos
presentes à inspecção e 27 a serem inspeccionados; segue-se a Doutrina Cristã com 95
e 21, a Escrita com 72 e 21, a Aritmética com 70 e 18, o Sistema Métrico com 30 e 5,
respectivamente. A disciplina de Gramática apenas tem 4 alunos a frequentar em Atei,
79
dos quais 3 estiveram perante o inspector e apenas um foi inspeccionado. Entenderemos
melhor estes dados com a análise dos resultados da inspecção do ano seguinte. Assim:
7 - Pela análise do “Resultado da Inspecção de 6 de Julho de 1875” verificamos
que em relação ao número de alunos inspeccionados por disciplina se mantém a ordem
de importância verificada no mapa anterior. À disciplina de Leitura são examinados 29
alunos onde 4 obtêm a classificação de Mau, 19 de Suficiente e 6 de Bom. A doutrina
Cristã são também examinados 29, com 1 a obter a classificação de Mau, 21 de
Suficiente e 7 de Bom. A Escrita são examinados 21 com 5 alunos a obter Mau, 14
suficiente e 2 Bom. A Aritmética são examinados 17, com 3 classificados de Mau, 10 de
Suficiente e 4 de Bom. A Sistema Métrico são examinados 7, tendo 2 obtido a
classificação de Mau, 4 de Suficiente e 1 de Bom. A Gramática foi sujeito à inspecção
apenas 1 aluno que obteve a classificação de Bom.
A matrícula a História, a Gramática e a Corografia é muito insignificante, o que
mais uma vez demonstra o pouco interesse dos alunos por prosseguirem os estudos.
Poderemos, no entanto, questionar se o facto daquelas disciplinas praticamente serem
letra morta no currículo dos alunos mondinenses, isso os inibia de num futuro próximo
se tornarem bons cidadãos e incapazes de uma iniciação profissional. A resposta exige
uma análise do tipo sociológico, mas, como constatou Justino Magalhães aquelas “bases
da escolarização foram também em parte cumpridas através de processos de
alfabetização mais rudimentares e pouco formalizados “( MAGALHÃES, 1996:18).
As “Histórias de Vida” de muitos mondinenses provam-no (ver capítulo
específico).
A disciplina de Doutrina é muito concorrida. Estamos perante uma situação do
reforço da dimensão formativa nas vertentes cristã e civilidade, o que reforça a tese de
que a instrução primária era vista como “ servindo para moldar as almas, para fins
morais, religiosos e sociais, e apenas subsidiariamente para desenvolver nas crianças
capacidades mais ou menos técnicas, que poderiam um dia trazer-lhes benefícios
económicos. Primeiro que tudo, a instrução primária servia para inculcar a legitimidade
das instituições, a aceitação da ordem social e o respeito pela religião oficial e pelas leis.
A alfabetização em si era somente o caminho para atingir esses objectivos” (REIS,
1988: 77).
No que diz respeito à disciplina de Lavores verificamos que das 8 alunas
inspeccionadas todas estavam aptas a fazer meia, apenas 2 sabiam fazer Ponto de Cruz,
6 sabiam coser, 3 bordavam a Branco, 1 bordava a cor e apenas 1 talhava roupa. Isto é,
80
de um vasto conjunto de aprendizagens, as alunas optam por dar mais importância
àquelas que lhe são mais úteis no quotidiano, relegando para lugar secundário outros
saberes, numa aceitação da escola para a vida.
8 – Outros aspectos sobressaem da análise dos mapas. No quadro número 13
verificamos que, relativamente a Mondim de Basto, há apenas 3 alunos inscritos na 3ª
classe à disciplina de Leitura na Aula Diurna e esse número sobe para 11 na Aula
Nocturna. Situação similar encontramos na disciplina de Escrita. São apenas 4 os alunos
inscritos na Aula diurna e 11 na Aula nocturna. Que razões estarão por detrás desta
situação? Estaremos perante um caso pontual? Acreditamos mais que estamos perante
duas ordens de razões: a primeira terá a ver com o facto de que os alunos que agora
estão matriculados na Aula Nocturna quando deveriam ter frequentado a Diurna não o
fizeram porque os pais precisariam deles nos trabalhos dos campos; a Segunda razão
terá a ver com o facto de que, agora que têm idade para participar nos actos vitais da
Paróquia é que se apercebem que lhes faltam os rudimentos escolares necessários para o
fazer.
9 – Em Atei para o ano lectivo de 1873/74 não se inscreve qualquer aluno na
primeira classe às disciplinas de Escrita e Aritmética, mas aparecem matriculados a
essas mesmas disciplinas na Aula Nocturna 8 e 6 alunos, respectivamente. Se aceitamos
estes últimos valores como perfeitamente normais, o mesmo não pensamos em relação à
ausência de matriculados atrás referidos. Aqui inclinamo-nos para um erro de
preenchimento de mapas, pelo menos no que diz respeito à disciplina de Escrita, dado
que não compreendemos como é que no mesmo ano se inscrevem 14 alunos na primeira
classe à disciplina de Leitura e não o fazem à disciplina de Escrita sabendo nós que a
aprendizagem das duas se fazia de um modo geral em simultâneo.
Acreditamos que a reforma de Costa Cabral pretendeu por em prática uma
política de descentralização e de gestão escolar, (para usarmos uma expressão de hoje)
julgando com isso criar um maior dinamismo na administração dos centros educativos.
Só que as câmaras estavam sem recursos financeiros para manter em funcionamento as
escolas.
A descentralização permite uma administração autónoma das escolas e ao
mesmo tempo a administração autónoma dos recursos. Se a escola não tem recursos,
deverá ser a comunidade a fornecê-los. Se a comunidade rural de Mondim é pobre não
fornece os recursos. O município também o é, investindo por isso o mínimo dos
81
mínimos indispensáveis. O resultado é uma escola sem possibilidades de manter um
elevado nível de qualidade para a maioria, nem sequer lhes dá garantia de permanência
no sistema, contribuindo muitas vezes para uma espécie de “expulsão” camuflada.
Esta é a situação que mais se aproximará da realidade à data da implementação
da reforma de A. Rodrigues Sampaio.
4 – A UNIVERSALIZAÇÃO DO ENSINO EM MONDIM DE
BASTO
- A REFORMA DE RODRIGUES SAMPAIO.
Introdução
À medida que nos aproximamos do fim do século XIX, verificamos
que a escolarização se revela mais ambiciosa do que a simples
alfabetização. Enquanto esta se continua a ficar pela transmissão de
rudimentos simples que permitiam ao alfabetizado satisfazer os seus
problemas no dia-a-dia e quando muito uma participação pouco crítica
nos actos vitais da paróquia, aquela preocupa-se em atingir já objectivos
sociais, culturais e ideológicos – pois os diversos governantes foram
percebendo que a educação era um factor decisivo do progresso nacional
e por isso era necessário aumentar cada vez mais a taxa de participação
na educação. É também sobre este ponto de vista que devemos perceber
a reforma de Rodrigues Sampaio.
4.1 - Aspectos fundamentais da reforma.
Pela carta de lei de 2 de Maio de 1878, procedeu-se a uma outra reforma do
ensino primário. Esta não chegou a ser regulamentada porque o ministro só esteve no
poder um mês. Nela podemos ler que passava a ser da responsabilidade das câmaras
82
municipais o dotar e manter as escolas primárias. Pela lei de 11 de Junho de 1880, esta
disposição era ligeiramente alterada e determinava-se que as despesas passassem a ser
repartidas pelas Juntas Gerais do Distrito e Governo caso as câmaras não dispusessem
de verbas suficientes que lhes permitissem suportar sozinhas todos os encargos com a
educação. Deveriam ainda as Juntas Paroquiais colaborar com o governo na expansão
do ensino, quer fornecendo mobiliário e casa para a escola e residência dos professores,
quer organizando a biblioteca escolar e inscrever no orçamento uma verba destinada a
auxiliar os alunos pobres.
Esta lei permitia uma interessante flexibilização dos horários escolares, de modo
a que estes pudessem conciliar o trabalho com os estudos. O sistema de multas para os
prevaricadores mantinha-se.
Três anos depois, e novamente no poder, Rodrigues Sampaio teve então tempo
para assinar o regulamento da citada lei, a 28 de Julho de 1881. Mantinha-se a divisão
da instrução primária em dois graus.
Mantém a obrigatoriedade do ensino mas ficavam dispensados os alunos que
vivessem a mais de 2 quilómetros de distância da escola e aquelas cujos pais não
puderem mandá-las “por motivo de extrema pobreza”, ou que sejam “declaradas
incapazes de receber ensino em três exames sucessivos” (art. 5º).
O número de alunos por cada professor não deveria exceder sessenta.
Deveriam funcionar aulas separadas para ambos os sexos, mesmo em escolas
mistas.
Também responsabilizava pela educação das crianças dos seis aos doze anos os
pais, tutores ou pessoas encarregadas do seu sustento e educação. Novidade era o facto
de essa responsabilidade também recair sobre os donos de fábricas, oficinas e empresas
agrícolas ou industriais. Do texto era retirada a parte sobre o subsídio a alunos pobres,
por parte das Juntas de Paróquias e comissões promotoras de beneficência e ensino.
Previa também a criação de uma escola normal de 2º classe nas capitais de Distrito,
destinadas à preparação de professores e professoras para as escolas primárias
elementares, pois era sabido de todos que “sem Escola Normal não podiam formar-se
professores convenientemente habilitados, e nas vagas das várias escolas, depois do
concurso, aberto pelo Conselho Superior, iam sendo providos homens sem os
necessários conhecimentos pedagógicos” (ALBUQUERQUE,1960: 175). Alguns anos
antes (1 de Março de 1875) também se defendia que “o pronto remédio para o mal
incalculável da incapacidade dos professores, não pode ser senão a elevação dos
83
ordenados e a criação, pelo menos, de uma escola normal na capital de cada distrito
onde sejam obrigados à sua frequência todos os que quisessem seguir a carreira do
professorado” (Gualdino de Valladares cit. em COSTA, ob. Cit: 50).
Os encargos da instrução cabem às câmaras municipais e estas deveriam
promover a organização de Comissões Promotoras de Beneficência e Ensino, nas
localidades onde houvesse escola primária, para prestar auxílio aos alunos.
A habilitação profissional constituía uma das preocupações das autoridades
administrativas e dos próprios docentes que participam activamente nas Conferências
Pedagógicas do Círculo onde aproveitavam para discutir todos os assuntos relacionados
com a educação. As conferências Pedagógicas ao permitirem “a franca e leal
comunicação dos conhecimentos adquiridos pela meditação ou pela prática de ensino e
discutindo, divulgando e resolvendo os problemas mais interessantes da educação e
instrução popular, são um poderoso instrumento de progresso e a salvaguarda das
tradições do corpo docente” (ROCHA, 1984: 167).
Para que se procedesse a uma eficaz fiscalização do cumprimento da lei, o
continente foi dividido em dez circunscrições escolares, as quais pela lei de 11 de Junho
de 1880 eram subdivididas em Círculos Escolares (artº 5º), compostas por mais do que
um concelho. No caso concreto do concelho de Mondim de Basto este passou a integrar
o círculo de Vila Pouca de Aguiar e a 3ª circunscrição do Porto.
Na sede do concelho havia uma Junta Escolar, - composta de três vogais,
nomeados pela câmara, por um período de dois anos e escolhidos entre os vereadores ou
outros quaisquer cidadãos -, que coadjuvava as câmaras e os inspectores (artº 51º e 52º)
no exercício das suas funções.
A primeira Junta era constituída por António Guilherme de Queirós Saavedra
(acórdão de 4.2.1890), professor, Manuel António Borges (acórdão de 4.2.1890), padre
e José Rodrigues de Carvalho (acórdão de 4.2.1890), também padre. Para Atei foi
nomeado um Delegado Paroquial em 11.3.1890, Esmeraldo Augusto Ferreira Falcão.
Haveria anualmente, em cada concelho, conferências de professores para
actualização e modernização de métodos pedagógicos. Sobre as conferências que teriam
decorrido em Mondim não encontramos qualquer registo, pese embora o enorme
esforço desenvolvido nesse sentido31
.
31 Fomos informados de que a câmara municipal em 1948 queimou grandes quantidades de papéis, Diários da
República da 3ª série e alguns livros velhos, pois não dispunha de local de armazenamento para esses materiais.
Possivelmente os livros a que nos referimos foram também queimados.
84
Todos os assuntos escolares eram tratados pelo sub-inspector, que tinha
residência em Vila Pouca de Aguiar. Este, por sua vez, quando o assunto a resolver
ultrapassava as suas competências, oficiava o inspector, - com residência no Porto -,
pedindo-lhe para que resolvesse os assuntos em questão, e vários foram os assuntos que
este teve que resolver, ligados principalmente a questões de aluguer de casas quer para
habitação do professorado quer para servirem de escola.
Não podemos omitir também a importância que o Governador Civil do distrito
passa a ter. Era a autoridade mais importante e tinha como uma das funções fazer a
ponte entre os municípios e o poder central. De facto, é profusa a troca de
correspondência entre aqueles dois órgãos e que se encontra registada nos livros de
“Correspondência Recebida e Expedida” da câmara municipal. Por essa
correspondência podemos ver o contributo importante dado pelo Governo Civil para a
construção dos edifícios das escolas de Mondim e Atei mas também o papel
desempenhado na solução dos problemas de natureza pedagógica, e vários foram os que
teve que ajudar a resolver.
As receitas das câmaras e das juntas de paróquia para cobrir as despesas
poderiam retirar-se dos impostos indirectos ou directos que poderiam elevar-se até uma
soma igual ao produto de 15 % adicionais às contribuições gerais directas do Estado, no
caso de lançadas pelas Câmaras Municipais, 3% se lançadas pelas Juntas de Paróquias.
Legados, Heranças ou Doações também estavam previstas.
Podemos considerar que esta reforma – não podendo ser vista desenquadrada da
legislação assinada por Martens Ferrão ou das propostas de lei de D. António da Costa –
vai permitir que a intervenção municipal se torne mais consequente na instrução pública
ao decidir sobre a colocação de professores, a planificação da rede escolar, o
recenseamento das crianças ou zelar pela assiduidade das mesmas. Isto só era possível
pela existência de instrumentos específicos ao serviço do município: junta Escolar,
Vereador de Instrução e a abertura de uma rubrica específica no livro de Receitas e
Despesas.
Com esta reforma, Rodrigues Sampaio perseguia, pelo menos, três importantes
objectivos: a formação ideológica das massas, a inserção das mesmas à causa Estado/
Cidadania e a preparação para a própria cidadania.
4.2 – Efeitos práticos da Reforma em Mondim.
85
4.2.1 - A Rede Escolar.
À medida que caminhamos para o fim do século vamos assistir a um grande
incremento da rede escolar no concelho. De facto, em poucos anos todas as freguesias
que ainda não tinham escola, acabam por tê-la, a saber: Vilar de Ferreiros com duas
escolas; uma na freguesia e outra no lugar de Vilarinho e Paradança, Pardelhas e
Campanhó com uma escola cada. Por sua vez a freguesia de Ermelo passa a ter outra
escola no lugar da Fervença, e Mondim passa a ter também outra no lugar de Vilar de
Viando.
O tipo de escola vai variar conforme a importância da freguesia e o número de
alunos que havia em idade escolar. Assim Atei passará a dispor de uma escola para cada
sexo a funcionar em salas separadas, bem como Mondim e Ermelo. Vilar de Viando,
Pardelhas, Vilar de Ferreiros e Campanhó ficarão com escolas mistas e Paradança e
Vilarinho apenas com escolas do sexo masculino.
4.2.2 - O Professorado.
A nomeação dos professores continuava a fazer-se pelas Câmaras Municipais,
mediante concurso, de entre os indivíduos com habilitação para o exercício do
magistério. As próprias Juntas de Paróquias dão o seu parecer, quando acham que é de
dar, e sobretudo quando acham que devem fazer valer a sua opinião. Assim, por
exemplo assistimos à tentativa por parte de Junta de Paróquia de Atei de substituir o
professor oficial, Bernardo José Moreira, alegando que: “sendo esta freguesia muito
importante e populosa estava à muito tempo sem o devido e necessário ensino primário
para as crianças do sexo masculino, porque o professor, que está servindo interinamente
não cumpre nem pode cumprir os seus deveres porque é muito idoso e doente, e não
pode por isso ensinar os muitos meninos que há nesta freguesia, nem tem as habilitações
que hoje se exigem a um professor do ensino primário em vista do progresso e
desenvolvimento dos conhecimentos elementares que as leis actuais e os programas
demandam, e por isso era necessário que esta Junta como auxiliar da fiscalização do
Ensino Primário levasse ao conhecimento da Excelentíssima Câmara Municipal o
estado lastimoso em que se encontra a escola de meninos desta freguesia pois que a falta
dum bom mestre causa graves prejuízos a muitas famílias e tolhe a carreira e o futuro a
muitos mancebos; tanto mais que desta freguesia costumam sair para o comércio pelos
86
estudos, tanto para o país como para o estrangeiro muitos filhos destas famílias; e tanto
era verdade o professor actual não satisfazer que a escola está quase abandonada sendo
apenas frequentada por dez ou doze meninos; que por tudo isto e em nome dos
interesses de muitas famílias e meninos propunha que esta junta deliberasse fazer saber
à Câmara a urgente necessidade de ser demitido o actual professor e nomeado outro
com melhores habilitações e competência e entendia que o padre Luís Felismino
Teixeira de Andrade está no caso de exercer o cargo de professor por ter para isso
habilitação científica e que desta acta se remetesse uma cópia à Excelentíssima câmara
para os devidos efeitos. O presidente propôs à discussão esta proposta e por todos os
vogais presentes foi dito que era de toda a justiça e que se não podia duvidar de que o
ensino primário nesta freguesia estava completamente descurado e num estado de tal
ordem que os meninos não podem aprender pelas razões constantes na proposta”32
.
Apesar destes argumentos o professor irá manter-se mais dois anos no activo.
Mas os elementos da Junta de Paróquia estavam decididos a promover um salto
qualitativo no ensino ministrado na freguesia, ensino caduco, desactualizado, bolorento
e desinteressante. Assim em 1886 voltam de novo à carga e a modos que a papel
químico esgrimem os mesmos argumentos para verem satisfeitas as suas reivindicações.
Em reunião extraordinária de 18 de Fevereiro, o presidente começou por dizer: “Sendo
esta freguesia muito importante e muito populosa estava há muito tempo sem o devido e
necessário ensino primário tanto para as crianças do sexo masculino como feminino,
que a escola do sexo masculino ainda não tinha sido aberta no corrente ano com grande
prejuízo dos meninos e das suas famílias, pois que a falta de um bom mestre tolhe a
carreira e futuro a muitos mancebos e prejudica assim consideravelmente as suas
famílias, em quem se reflecte este estado lastimoso; que a escola do sexo feminino,
apesar se ali se encontrar a respectiva professora se achava nas mesmas condições de
abandono das crianças; que não só a professora actual mostrava a falta de
conhecimentos e habilitações que hoje se exigem a uma professora do ensino primário
em vista do progresso e desenvolvimento dos conhecimentos elementares que as leis
actuais e os programas demandam, mas também não se pode aplicar a ele devidamente,
porque tendo alguns filhos ainda de tenra idade estes lhe absorvem todo o tempo, com
prejuízo do ensino; que estas faltas podem muito bem ser suprimidas e entendia que esta
32
AJFA: Acta da Junta de Paróquia de Atei em 6 de Dezembro de 1883
87
junta como auxiliar da fiscalização das escolas, levasse ao conhecimento da
Excelentíssima Câmara Municipal deste concelho o estado lastimoso em que elas se
encontram o qual muito bem pode ser reparado por quanto algumas famílias mais
remediadas mandam seus filhos receber o ensino nesta freguesia do Reverendo
Victorino Teixeira Pires em quem se encontram todas as qualidades requeridas a um
bom mestre, e o mesmo caso se estava dando com as meninas, que ao passo que a
escola oficial se encontra deserta a professora particular, Maria de Jesus Gonçalves da
Silva, cujas melhores habilitações e competência, reconhecidas por toda a freguesia,
administra o ensino a quantidades grandes de meninas, cujos pais tem meios para ali as
mandar, que nestas condições entendia a Junta dever fazer lembrar da Excelentíssima
Câmara, a urgente necessidade de nomear professores para o ensino primário desta
freguesia, apresentando ao mesmo tempo... os nomes daqueles dois professores, em
quem se encontram requisitos de saber necessários para bons mestres estando ela
competentemente habilitada além disso para poder ficar provida definitivamente na
referida escola” (AJFA: Acta da Sessão de 18 de Fevereiro de 1886).
Desta vez a Junta leva a melhor e a câmara lá acaba por nomear aqueles dois
professores para Atei, interinamente, numa primeira fase (anexo nº 11), não sem que
antes a professora, que era professora particular até àquela data, solicitasse à Junta um
certificado do seu comportamento moral e de serviço, naturalmente para concorrer à
propriedade da cadeira em questão. A Junta resolveu que lhe fosse passado “no sentido
mais louvável para aquela professora pois que tem sido incansável no ensino das
crianças a seu cargo e que são em grande número” (AJFA: Acta da Sessão de 10 de
Junho de 1886).
Pareciam, finalmente, satisfeitos os membros da Junta. O padre Victorino esteve
pouco tempo a dar aulas - passou a ser o presidente da Junta de Paróquia -, tendo sido
substituído por Homero Dias Peixoto. Este, cremos por se ter apaixonado pela
professora - numa altura em que já era casado -, e por esta ser correspondido, criou com
essa atitude uma desconfiança num membro da Junta - o vogal padre Miranda - o qual
passou a desconsiderá-lo, o que lhe terá desagradado e levado a querer mudar de escola.
Assim ambos solicitam que “... a Junta lhes ateste sob juramento em como têm
cumprido fielmente os deveres a seu cargo com todo o zelo e aptidão e com o máximo
empenho no aproveitamento dos seus alunos, bem como o seu bom comportamento
moral, cível e religioso” (AJFA: Acta da Sessão de 16 de Julho de 1891). Postos à
discussão da junta estes dois requerimentos, o presidente disse que era de toda a justiça
88
que ambos fossem diferidos. Os vogais António José de Moura e José Joaquim De
Oliveira concordaram. O padre Manuel António de Miranda disse “que não podia
assentir ao despacho favorável das petições retro, porque sendo tão latas, não podia de
momento dar um despacho consciencioso de justiça, propondo o adiamento do mesmo
despacho a fim de que não ficassem lesados os requerentes nem tão pouco a Junta se
expusesse ao perigo de errar; pois que para isso, não sendo da competência da Junta
sindicar os actos dos professores precisava de recorrer, para dar a sua informação, a
quem por lei pertence”. Posta esta proposta à votação, foi rejeitada por maioria. O
presidente disse “que ainda que não lhe pertencesse a fiscalização das aulas, todavia
pelos conhecimentos particulares que tem, não se lhe oferece dúvida em despachar
favoravelmente desde já aos dois referidos requerimentos, seguindo o exemplo da Junta
Escolar do Concelho, que com data de oito de Julho corrente, informou ao mesmo
requerente neste sentido”. A Junta resolveu, por isso, por maioria, que se exarasse nos
dois requerimentos o seguinte acórdão: ”que atestam sob juramento que Homero Dias
Peixoto, casado, professor de instrução primeira desta freguesia, tem cumprido
fielmente os deveres do seu cargo, como tem mostrado pelos alunos que tem preparado
para exame, que bem mostra o seu zelo e aptidão pelo aproveitamento dos seus alunos,
bem como tem bom comportamento moral , cível e religioso”. Pelo vogal padre António
de Miranda foi dito “que lhe não parecia verdadeiro o conhecimento particular que o
presidente desta junta e mais membros, dizem ter, pois que, por eles é conhecido e
reconhecido que um chefe de família traz, digo, alguns chefes de família têm trazido e
trazem seus filhos a educar fora de aqui, e não fazem isto por mero gosto de gastar
dinheiro”. Assim o padre Miranda não votava a favor os requerimentos e acusava os
colegas da Junta por eles não estarem do seu lado e achava que o próprio presidente se
havia precipitado na decisão tomada. Ia mais longe nos seus argumentos dizendo que:
”não podia assentir ao despacho favorável das respectivas petições porque não podia de
momento esta paroquia passar atestados conscienciosos e de justiça conforme lhe eram
pedidos nessa sessão e por isso nela havia proposto adiamento do despacho; que
infelizmente vira a sua proposta rejeitada; que agora sente porque vê que esta junta
errou; sente por ser vogal dela e ainda que o não fosse, por ocupar a presidência o seu
amigo padre Victorino Teixeira Pires, seu colega no sacerdócio que procedeu
precipitadamente, como provará: “as paixões devem-se refrear e o adiamento que ele
vogal havia proposto era bom para todos se informarem e reflectirem sobre o requerido.
Depois de rejeitada a proposta de adiamento... disse o senhor presidente que não se lhe
89
oferecia dúvida em despachar favoravelmente aos dois requerimentos apresentados
porque seguia o exemplo da junta escolar. Isto para seguir o exemplo de outro é
necessário discernimento e perspicácia bastante que ele vogal não tem para que não
possa haver precipitação. Foi o caso, o senhor presidente precipitou-se e com ele a
maioria da junta, como vai provar com a seguinte certidão: “Para cumprimento do
venerando despacho do presidente da junta escolar do concelho de Mondim de Basto, e
na ausência do secretário da mesma, certifico eu abaixo assinado, amanuense da câmara
municipal e empregado auxiliar da dita junta, que revendo o livro das actas das sessões
da junta escolar nele não encontro sessão alguma que tivesse tido lugar no dia oito do
mês de Julho do ano corrente de mil, oitocentos noventa e um, pelo que se não lavrou
acta. É o que tenho a certificar em face do respectivo livro das actas arquivadas na sala
das sessões da junta”.
Os atestados passados fora das sessões ou local ordinário delas, são nulos, por
conseguinte nulo o atestado da Junta Escolar, e esta junta a basear as suas afirmações
em um atestado nulo! Que são nulos prova-se pelo artigo trinta parágrafo quarto do
código administrativo. Acresce ainda que nos atestados passados em dezasseis de Julho,
por esta junta sob juramento, dizem que os professores têm cumprido fielmente os
deveres de seu cargo como têm mostrado pelos alunos que têm preparado para exames.
Sente não poder concordar com esta opinião, porque como o senhor presidente e mais
colegas sabem os professores auferem um certo lucro de cada aluno que apresentam a
exame, e portanto bem pode acontecer que os professores se dediquem exclusivamente
ao ensino destes descurando o ensino dos demais alunos. Para ele vogal o caso é
totalmente ignorado e portanto seja-lhe permitido perguntar ao senhor presidente e seus
colegas, se sabem qual o número de alunos que frequentam as aulas desta freguesia,
qual o tempo em que foram matriculados e se o aproveitamento corresponde ao tempo
que têm de frequência. E pelo presidente foi dito agradece ao seu colega a compaixão e
interesse que mostra por ele, porem que lhe afirma com toda a certeza que não procedeu
irreflectidamente ou por paixão nem contra os ditames da sua consciência, mas sim
procedeu convicto de que assim devia obrar. Que é verdade passar o atestado em
harmonia com o da Junta Escolar por este lhe ser apresentado no acto da sessão mas que
nem por isso deixaria passá-lo como passou, embora aquele não aparecesse, e que está
disposto a defender o conteúdo dos atestados quando a isso seja compelido, e que
suposto o atestado da Junta Escolar não ter a força de lei como diz o senhor vice-
presidente, a tinha a desta Junta de Paroquia, por ser passado em plena sessão e
90
aprovado por maioria. Que não é provável que os professores se dediquem só ao ensino
daqueles que têm de fazer o exame com o fim de auferirem as gratificações respectivas,
pois que muitos outros frequentam as aulas, e entre eles, digo, e entre estes alguns filhos
dos membros desta junta que assinaram com ele presidente os atestados exigidos pelos
professores, e que eles mesmos afirmaram que lhes parecia que seus filhos tenham
aproveitado o tempo que têm frequentado as aulas... Mais, se outros professores têm
mostrado maior zelo pelos resultados dos seus alunos, todavia isso depende de várias
circunstâncias que nesta freguesia escasseiam. E pelo vogal padre Miranda foi dito que
não sabia a que circunstâncias o senhor presidente se referia mas que para ele tem como
certo que o aproveitamento dos alunos e a sua frequência depende única e
exclusivamente da aptidão e zelo dos professores” (AJFA: Acta da Sessão de 6 de
Agosto de 1891). O presidente da Junta leva novamente a assunto à reunião seguinte -
13 de Agosto - e, mesmo não estando presente o vogal padre Miranda, começou por
dizer que “o certificado que o ilustre vice-presidente apresentou na última reunião é
nulo; porque nem a lei faculta nem a Junta Escolar deu nunca direito a intrusos ou
auxiliares para passarem certidões das suas actas; isso pertencia ao respectivo secretário
como a lei determina e a quem nunca fora apresentado requerimento para os devidos
efeitos. Está no caso do sacristão que passasse certidão jurada das missas que o pároco
diz, pois que o sacristão é auxiliar do pároco; segunda: suposto que são efectivamente
nulos os atestados passados fora de sessão, mas são somente nulos para os efeitos nulos
digo legais e não para o foro da consciência de que o ilustre vice-presidente tão bem se
tem servido sendo seu apologético, e a consciência rectamente formada é uma das
normas do recto obrar; terceira: que o número de alunos e a data da sua matrícula em
nada prejudica a sessão a que me venho referindo; porque isso pertence por um lado ao
delegado paroquial e em instância superior à Junta Escolar, e pelo outro lado pode servir
para uma estatística mas de modo algum aproveita para atestar do bom ou mau
comportamento dos professores que nada têm com o recenseamento dos alunos; por isso
aconselho-os que leiam, se sabem, a lei; quarto: é menos verdadeiro e orça quase pela
inépcia o afirmar-se que o aproveitamento dos alunos e a sua frequência depende da
aptidão e zelo dos professores; porque a frequência pertence ao Delegado Paroquial
obrigá-la em conformidade com o disposto na lei de dois de Maio de mil oitocentos
setenta e oito, e o aproveitamento depende do cumprimento daqueles deveres e da
capacidade dos alunos, pois que é já sabido que nem todos são para tudo. Não se afirme
que uns professores ensinam mais do que outros com a mira nas gratificações, porque os
91
professores desta freguesia não podiam nem podem deslumbrar-se com a perspectiva
daquela ganância porque anda muita gente apostada em não lhes pagar as gratificações,
e porque não tem jeito nem feitio deslustrar o seu nome e entenebrecer os seus brios por
uma ninharia. Por essa mesma razão podia dizer-se que os padres que recebem a esmola
pela missa, a dizem por causa da esmola e não para honra e glória de Deus; portanto
esta junta continua a sustentar a sua opinião favorável aos professores desta freguesia e
a considera-los como irrepreensíveis e íntegros no cumprimento dos seus deveres. Estas
considerações foram aprovadas por unanimidade” (AJFA: Acta da Sessão de 13 de
Agosto de 1891).
Alongámo-nos nesta polémica mas fizemo-lo com o propósito de testemunhar
um efeito provocado pela reforma de Rodrigues Sampaio. De facto, ao dar preferência
aos professores normalistas a lei chocava com os interesses adquiridos no tempo pelo
clero, o qual via um importante pilar da sociedade – a educação -, a fugir-lhe. Isto é,
este conflito é sintomático da tensão surgida entre a clericalização e a estatização da
sociedade em fins do século XIX e que em Mondim se prolongará pelo século XX.
Estávamos no início de um processo que se revelaria imparável no século XX,
processo que os padres não querem perder quer fazendo parte ou das Juntas de Paróquia
ou das Juntas Escolares. Contudo foi curto o tempo de duração das Juntas Escolares.
Razões várias que se prendem ou com a desconfiança dos pais, dos próprios professores
e até mesmo das Juntas de Paróquia levam ao seu fim em 1892 (DG nº 104 de 10 de
Maio de 1892). As Juntas de Paróquia duram até à implantação da república em 1910, e
vamos encontrar muitos professores primários desde a primeira hora de alma e coração
com as novas ideias republicanas - a ocupar desde logo cargos que até então estiveram
nas mãos dos padres. O professor Homero foi, em Ermelo, eleito presidente da Junta de
Freguesia (Já era presidente já Junta de Paróquia desde 1902), tal como o professor
Carlos Barreira, em Atei, eleito também para presidente da Junta de Freguesia, são dois
dos vários exemplos.
Finalmente os professores que causaram tanta polémica foram providos nas
escolas de Ermelo, escolas por eles escolhidas.
Para o lugar do professor Homero entrou o professor Carlos da Silva Barreira o
qual vai ser protagonista de um episódio caricato.
A revolução de Outubro destitui o padre Vitorino de presidente da Junta de
Paróquia,
92
sendo substituído pelo professor Carlos Barreira, conforme acima já referimos. Este,
desde logo se revela um adepto do novo regime e esquece um pouco a escola e os seus
alunos, ganhando com isso a animosidade da população. As queixas chegam ao próprio
inspector que oficia a câmara no sentido de esta “se digne informá-lo com urgência, se o
professor de Atei, Carlos da Silva Barreira, abandonou ultimamente durante alguns dias,
a regência da sua escola, sem licença nem motivo justificado e se pela sua falta de zelo e
de assiduidade no cumprimento dos seus deveres profissionais e pelo seu repreensível
comportamento civil e profissional, tem alienado de si as simpatias dos chefes de
família dessa freguesia” (ACMM: Acta da Sessão de 15 de Dezembro de 1910. Livro
de Actas nº 2, pág. 202v e 203 ).
A câmara interroga a Junta de Paróquia sobre o assunto em questão e recebe um
ofício da mesma onde se dizia: “ser verdade que o professor Carlos da Silva Barreira,
ter abandonado a regência da sua escola, sem licença nem motivo justificado, durante a
segunda quinzena do mês de Novembro, assim como também pela falta de zelo e
assiduidade, no cumprimento dos seus deveres profissionais e repreensível
comportamento civil e profissional tem alienado de si as simpatias dos chefes de família
desta freguesia sendo muito diminuto o número de alunos que frequentam a escola, em
relação ao número de crianças recenseadas. Saúde e fraternidade. Atei, dezanove de
Dezembro de mil novecentos e dez” (ACMM: Acta de 22 de Dezembro de 1910. Livro
de Actas nº 2, pág. 205v, 206 e 207 ).
Não sabemos qual a repreensão, se é que a houve, que sofreu o citado professor.
De qualquer modo em 1914 ainda era professor em Atei e pago pela Câmara
Municipal33
.
As nomeações dos professores, por parte da câmara, continuavam a basear-se no
artigo 30º da lei de 2 de Maio de 1878. E se a lei era igual para todos não encontramos
justificação para haver diferenças nas nomeações dos professores e das professoras. De
facto, em relação aos professores, à frente da sua nomeação acrescenta-se sempre “por
concorrerem nele as circunstâncias para bem desempenhar os deveres”; quanto às
professoras, à frente da sua nomeação acrescenta-se “em visto das provas dadas em
concurso público, como mostra pelos documentos, que ficam arquivados nesta câmara,
33 Segundo informações orais que recolhemos sobre o citado professor parece-nos que ele era bastante violento com
os alunos, faltava bastante e a partir de determinada fase da sua vida passou a ter um comportamento no mínimo
estranho. Alguns alunos mais espevitados faziam inclusive versos onde criticavam o professor.
93
e das informações havidas se acha o seu procedimento moral, civil e religioso”34
. Só
assim se passava o alvará. Era uma atitude discriminatória, mas a que nenhuma
professora conseguia escapar.
Também não encontramos os documentos que foram arquivados, segundo consta
das actas acima referidas.
Com base nos documentos que conseguimos encontrar e através de leituras
cruzadas entre eles elaboramos a listagem dos professores que o foram no concelho de
Mondim de Basto, a partir da reforma de 2 de Maio (Quadro nº 15).
Quadro nº 15. Professores do ensino elementar a cargo do Estado35
,, da Câmara
Municipal de Mondim de Basto36
e das Confrarias das Almas de 1878 a 1910
FREGUESIA DE MONDIM
PROFESSOR
ANOS
PROVIMENTOS
João António da Silva Ramos 1857 – 1894 - Carta Régia de 17 de Nov. de 1855
Manuel Joaquim de Miranda ( ajudante .) 1890 – 1894 Prov. 9.01.1890
José dos Santos Martins Ribeiro 1904 – 1910 Prov. 22.9.1904
Teresa Augusta A. de Carvalho ( fem. ) 1866 – 1889 Prov. de 17 de Abril de 1866 e Carta
de Mercê de 18 de Maio de 1869.
Laurinda Marinho da Mota ( Fem.) 1889 – 1910 Prov. 15.9.1899
FREGUESIA DO BILHÓ
Durante todo o século XIX os professores são pagos pela Confraria das Almas37
Padre Luiz da Cunha de Carvalho 1830 - Nomeação
particular
José Dinis Gonçalves Rodrigues - 1892 “ “
José Gonçalves 1893 – 1895 “ “
Pedro Martins Machado 1895 - .... “ “
34 ACMM: Livro de TERMOS DE POSSE de 1889 a 1894.
35 Utilizamos os livros de “ Vencimentos “ números 312, 313, 314, 315 e 316 do Arquivo distrital de Vila Real.
36 Utilizamos o livro de TERMOS DE POSSE acima referido.
37 O livro refere o nome dos professores, o vencimento e os anos mas não refere o dia em que cada um deles tomou
posse.
94
FREGUESIA DE ATEI
PROFESSOR
ANOS PROVIMENTO
Padre Bernardo José Fernandes Moreira
1873 – 1876 –
1885
Desp temp. de 28 de Maio de
1873 e vitalício de 29 de Maio
de 1876.
Padre Luís Felismino Teixeira de Andrade 1885 – 1886 1885
Padre Victorino Teixeira Pires 1886 – 1886 Nom. Int. em 22.1.1886
Homero Dias Peixoto 1886-1903 Nom. Temp. a 24.12.1886 e vit
a 5.12.1889.
Maria Miquelina da Mota Lobo 1881-1885 1881
Teresa Gonçalves de Oliveira 1885-1886 1885
Maria de Jesus Gonçalves da Silva ( fem. ) 1886-1903 Nom. Int. a 12.3.1886 e vit. A
5.12.1889.
Rosa da Conceição Mota ( fem.) 1898-1910 Prov. 1.8.1898
Carlos da Silva Barreira 1903-1910 Prov. 13.09.1903
FREGUESIA DE ERMELO
PROFESSOR
Padre José Bernardino da Fonseca 1837 – 1889 Carta Régia de 30
de Abril de 1840
Padre José Paulino de Carvalho Peixoto 1889 – 1890 11.10.1889
Manuel Joaquim De Almeida 1890 – 1890 11.03.1890
Cândido Teixeira de Morais 1890 – 1902 15.07.1890
Homero Dias Peixoto 1903 – 1910 1.10.1886
Maria de Jesus G. da Silva ( feminino ) 1903 – 1910 12.3.1886
FREGUESIA DE CAMPANHÓ
Teresa Rodrigues Pomar 1905... 10.2.1905
95
FREGUESIA DE VILAR DE FERREIROS
Rosa de Jesus da Costa 1891 –1909 Nom. Int. a 4.2.1891
Luísa dos Santos Ramalho ( masc. ) 1909 ... 1909
FREGUESIA DE PARADANÇA
Ana Alves de Figueiredo ( masc. ) 1908 – 1910 1908
Pela análise do quadro acima verificamos que a vila – sede do concelho -, Atei
e Ermelo dispuseram de professores ininterruptamente. Em Mondim leccionou até um
professor de gramática latina até 1863. Tratava-se do mesmo professor já identificado
em 1829.
Até à reforma de Rodrigues Sampaio assistimos a um predomínio avassalador de
professores padres. A partir daí os normalistas – formados em Braga, na sua maioria -,
começam a concorrer aos lugares o que em alguns casos provocou alguns atritos mal
sanados.
O peso do professorado é essencialmente masculino. Só o fim do século abrirá
as portas ao feminino, num processo imparável que se manterá em crescendo até aos
nossos dias. Em alguns lugares nota-se muito o peso dos professores particulares,
principalmente em Atei. Acreditamos até que pelo menos nesta freguesia houve uma
certa tradição deste tipo de ensino, pois, pela leitura das actas parece transparecer até
uma certa rivalidade entre os professores oficiais e os particulares no que tocava à
preparação e apresentação dos alunos a exame. É claro que a questão económica não era
alheia a esta rivalidade até porque é sabido que por cada aluno diplomado o professor
recebia uma gratificação e, para quem tinha um ordenado baixo, aquela vinha sempre a
calhar.
Mas o ser-se professor particular tinha também outras vantagens. De facto
encontramos várias actas em que se refere que se vai recomendar à câmara municipal
para atribuir o lugar vago ao professor ou professora tal pois têm provas dadas no sector
particular.
96
4.2.3 - Nomeação dos Professores.
Encontramos em Mondim duas situações diferentes no que concerne à
nomeação dos professores: a daqueles que foram nomeados vitaliciamente por Carta de
Mercê e aqueles outros nomeados temporários, normalmente por um período de três
anos, como preconizava a lei de Costa Cabral. Muitas vezes a nomeação provisória
convertia-se em definitiva. As formas de nomeação mantêm-se com Rodrigues Sampaio
embora o artigo vinte exigisse que só passaria a professor efectivo aquele que tivesse
três anos de bom e efectivo serviço. Ultrapassada esta situação, a segurança na carreira
docente ficaria praticamente assegurada e muito dificilmente o professor a perdia.
4.2.4 - Mobilidade/Estabilidade do Corpo Docente.
Em Mondim de Basto é perfeitamente visível que a mobilidade do corpo
docente é extremamente fraca. Praticamente todos os professores de nomeação
definitiva permanecem imensos anos na mesma escola sem se preocuparem em mudar
para outra. A mesma situação acontece com os provisórios. São poucas as excepções no
longo período em observação, a saber: em 15 de Janeiro de 1837 o professor régio de
Ermelo compareceu na câmara municipal para informar que “desistia da continuação e
exercício da sua cadeira por algumas moléstias que tem, requerendo que a câmara lhe
aceite a desistência”. A desistência foi aceite e a vereação decidiu “para que o ensino da
cadeira não padeça nem a mocidade que concorre à escola, nomear para exercer
interinamente José Bernardino da Fonseca e Andrade, clérigo in minóribus, a quem
reconhecem a sabedoria e moral própria para o desempenho da mesma cadeira”. Este
professor só desistiu por se encontrar velho e doente. Os professores Homero Peixoto e
Maria G. da Silva mudam-se de Atei para Ermelo, para aí continuarem durante muitos
anos e o professor José dos Santos Martins percorreu três escolas enquanto temporário
antes de se efectivar em Vilar de Viando. É o caso típico do professor jovem em início
de carreira.
4.2.5 - Os professores Particulares.
Em Mondim e em Atei - as duas principais terras do concelho -, abundam os
professores particulares, sintoma do desenvolvimento económico e demonstrativo do
elevado número de crianças em idade escolar.
Nem sempre o papel destes professores foi bem compreendido - a relação
professor/ missionário e professor/mercantilista não se conjugavam -, embora nos
97
pareça que um estudo desta natureza ficaria bem mais incompleto sem uma abordagem
ao papel por eles desempenhado. O próprio Estado não aceitava muito bem a situação
mas como oferecia baixos aumentos salariais acabava ele próprio por “tolerar e até
mesmo autorizar essa situação” (NÓVOA, 1987: 400).
Devemos distinguir algumas situações:
A) - A dos professores pagos por particulares ricos (onde sobressai a Casa da Igreja),
dado que estas famílias não queriam que os seus filhos se “misturassem com a
gentalha”. Nesta situação os alunos são preparados em suas próprias casas para o
exame de acesso aos liceus.
B) - A dos professores (principalmente padres), que recebem os alunos em suas casas
e aí lhes ensinam os rudimentos de ler, escrever e contar, recebendo uma gratificação
em troca. Alguns desses alunos chegam a entrar para os liceus.
C) - A dos professores que, embora sendo oficiais, levam para sua própria casa os
alunos que têm perspectivas de serem bons alunos e como tal recebem aulas
complementares para melhor se prepararem para o exame. Ficou célebre o professor
Aventino Teixeira de quem ainda hoje muitos dos antigos alunos se lembram com
saudade.
D) - A das professoras que recebem em sua casa as alunas que não iam à escola oficial
- ou porque a não havia ou porque os pais não as queriam misturadas com os rapazes.
Nas Conferências Pedagógicas do Círculo de Vila Real essa situação será discutida.
Essas alunas recebiam ensinamentos que as preparavam para a vida. Merece destaque
a “professora” Maria das Dores Alves de Carvalho que no lugar do Bobal, em plena
serra, durante décadas ensinou as meninas, e até rapazes, recebendo o salário em
géneros. Graças a essa professora muitos jovens puderam ser alfabetizados.
Verificamos em algumas situações que, as professoras antes de serem nomeadas
interinas, já exerciam na qualidade de privadas e eram propostas em reuniões das Juntas
de Paróquia para professoras oficiais mercê dos créditos que granjearam como
particulares.
Dos exemplos apontados podemos concluir que o ensino particular
desempenhou um importante papel no desenvolvimento escolar no concelho.
98
4.2.6– Os Professores Adjuntos.
Pela análise dos quadros acima transcritos, verificamos que apenas um único
professor com a categoria de Adjunto é referido. Trata-se do professor Manuel Joaquim
de Miranda que a partir de 1890 passa a auxiliar o já idoso professor João Ramos.
Pouca sabemos sobre o citado adjunto mas tendo em consideração o disposto no artigo
33º da reforma de Rodrigues Sampaio onde se diz que os adjuntos eram escolhidos
“entre os indivíduos possuidores de habilitações legais” para o exercício do ensino
primário ou então entre “ as pessoas idóneas da localidade “, acreditamos que o adjunto
dispunha das condições exigidas por lei.
Recebia de salário 60$000 réis, já acrescido dos 30$000 de gratificação. O
professor Miranda esteve pouco tempo a dar aulas.
Se fizermos uma análise do que se passava a nível nacional verificamos que, por
exemplo, em 1885-1886 havia 119 adjuntos, a que equivalia uma percentagem de 3,2%
do total de professores primários (NÓVOA, 1987: 372). Ora, bastava que se cumprisse
o que dizia o artigo 26º da reforma de Costa Cabral que permitia que as escolas das vilas
ou aldeias que tivessem mais de trinta alunos poderiam dispor de um professor adjunto,
para que aquele número fosse muito superior.
Uma questão é susceptível de alguma pertinência: havendo tanta gente em idade
escolar no concelho porquê apenas um adjunto? Será que os professores particulares
colmatavam essa importante lacuna? A ser assim, mais uma vez se reforça o papel
desempenhado por esse tipo de docentes no desenvolvimento da educação e instrução
em Mondim.
4.2.7 – Os Salários.
Os salários dos professores oficiais do concelho eram – a partir da reforma de
Costa Cabral -, de 90$000 réis ilíquidos anuais, ou seja 81$000 líquidos depois de
deduzidos os 10% de descontos. Mensalmente dava uma importância de 6$750. A estes
valores havia a acrescentar a gratificação anual camarária de 20$000 réis. Para António
Nóvoa tratava-se de um salário miserável, o que facilmente se constatava se
comparando com os salários pagos noutras categorias profissionais (NÓVOA, 1987:
385 e ss.). Desta situação resultava uma categoria social com um baixíssimo nível
económico e assim não admira que ao longo do século XIX uma das principais
99
reivindicações dos professores tivesse a ver com aumentos salariais. E se a cada nova
reforma do ensino correspondiam novas e legítimas expectativas, quase sempre
resultavam em profunda frustração, dado os aumentos serem sempre exíguos38
.
O salário dos professores particulares devia ser pouco e incerto pois estava
muito dependente do número de alunos que frequentava as suas aulas e sobretudo do
número de alunos que o professor punha “prontos para exame”. E a ser verdade a
afirmação do vogal da Junta de Atei, padre Miranda de que, - a propósito da polémica
com os professores Homero e Maria G. da Silva -, “andavam pais apostados em não
lhes pagar as gratificações” então a situação ainda mais se agravaria.
Face a estes números, teremos que considerar que os professores em Mondim de
Basto (e no resto do país) estavam extremamente mal valorizados, o que os obrigaria a
recorrer muitas vezes a outras actividades para arranjar outro complemento salarial. É
extensiva a lista dos que o faziam e por isso vamos salientar apenas alguns exemplos: o
mestre régio António Borges de Macedo, dava aulas em Atei. Deixou o ensino para se
dedicar a actividades político – administrativas em 1796, cinco anos depois de ter
tomado posse. Passa a ocupar os lugares de Escrivão e Almotacés39
na câmara. Com
estes cargos o ex -professor passa a auferir um ordenado de 80$000 reis, exactamente o
dobro do que auferia como mestre régio.40
A partir de 1819 é nomeado Procurador41
do
concelho42
.
Em 1853 o professor municipal de Mondim, José Rodrigues Carvalho deixou o
ensino para ocupar o cargo de Escrivão. De 20$000 réis de ordenado passou para
40$000. Contudo, durante algum tempo ocupou os dois lugares.
O professor régio, João Ramos, abandonava muitas vezes os alunos, ou deixava-
os entregues ao seu adjunto, para se dedicar à orientação das suas muitas propriedades43
.
38 A Reforma de 1844 atribuía aos professores do 1º grau, nos meios rurais, um vencimento de 90$000, acrescidos de
20$000 de gratificação pagos pelas câmaras. A Reforma de 1878 aumentava nuns míseros 10$000 esse
vencimento. Instituía também um vencimento de 45$000 para os Professores Adjuntos. A Reforma de 1894
passava os vencimentos para 160$000 acrescidos de 60$000 de gratificação. Os Adjuntos passavam para 72$000
acrescidos de 30$000 de gratificação.
39 O almotacé era o oficial do concelho que tinha a seu cargo fiscalizar o abastecimento dos géneros alimentícios, os
preços de alguns deles, os salários dos oficiais, os pesos e medidas e evitar que os rendeiros fizessem avenças com
as partes ( in Dicionário de História de Portugal )
40 ACMM: “Livro das Correições da Câmara de Atei de 27 de Abril de 1796”.
41 O procurador era um funcionário municipal que podia ocupar vários ou até todos os lugares do concelho.
42 In “ Carta de Confirmação das Novas Justiças para o ano de 1819 Deste Concelho de Atei”. Esta carta foi aberta
em sessão de 14 de Janeiro de 1819 e transcrita para o citado livro das Correições.
43 Foi durante alguns anos o Maestro da Banda de Música. Ficou célebre a festa que organizou em honra do recém
nascido príncipe D. Luís I, em 1861.
100
O professor Homero quando passou a dar aulas em Ermelo foi eleito
presidente da Junta de Paróquia e da Irmandade das Almas local. Não sabemos se
auferia alguma gratificação por isso. Após a implantação da República continuou como
presidente da Junta de Freguesia.
O professor de Atei, Carlos Barreira era o representante oficial no concelho das
“famosas máquinas Singer para costura” que, segundo publicidade inserida no jornal
local “O Progresso de Mondim” em meados de 1907 eram o “móvel de mais utilidade e
lucro positivo de qualquer habitação”. Para além disso o citado professor era ainda
agente dos seguros “A Portuense de Seguros”. A partir de 1910, depois da revolução
exercerá o cargo de presidente da Junta de Freguesia.
Às professoras não conhecemos outras actividades mas como todas eram
oriundas das melhores casas do concelho sempre tinham mais alguns rendimentos. Para
além disso compunham a situação económica casando com os colegas de profissão. A
professora Maria G. da Silva casou-se com o professor Homero, a professora Teresa
Vieira de Castro com o professor Aventino Teixeira, a professora Rosa Mota com o
professor Carlos Barreira, a professora Teresa Carvalho com o Dr. Francisco Pinto
Coelho de Castro.
Não entrámos nesta análise com os professores provisório (sempre padres), dado
que estes exercem poucos anos seguidos e não fazem da profissão docente a sua
principal actividade.
4.3 – As Comissões Promotoras de Beneficência.
Pelo artigo 28º (DG nº 110 de 16 de Maio) determinava-se que as Câmaras
Municipais, em coordenação com os párocos e membros das Juntas de Paróquias,
organizassem as denominadas Comissões Promotoras de Beneficência e Ensino, para as
respectivas freguesias, as quais deviam promover e incentivar a frequência escolar,
adquirir vestuário, livros e outros materiais didácticos para auxiliar os alunos pobres,
fazer a distribuição de prémios aos alunos que mais se distinguissem e, de uma maneira
geral, promover acções que por si contribuíssem para uma maior difusão do ensino na
respectiva freguesia.
Por falta das actas quer da Câmara quer da Junta de Paróquia de Mondim,
ficamos sem saber quem fez parte dessas comissões e que tarefas desenvolveram. De
qualquer modo encontramos em vários orçamentos anuais de várias Juntas de Paróquias,
101
nas rubricas sobre Despesas com Educação, referências a verbas que se destinavam a
“Auxiliar os Alunos Pobres”, ou “Para Compra de Livros para Alunos Pobres”. Trata-se
normalmente de verbas muito diminutas, como podemos ver nos exemplos seguintes:
em 1886 a Junta de Paróquia de Atei inscreve na rubrica “Despesas” 4$500 réis para
“livros, papel e tinta para alunos pobres” e “3$000 réis para a Biblioteca Escolar”. Mais
modesta, a Junta de Paróquia do Bilhó, inscrevia em 1884 1$500 réis “para auxílio dos
alunos pobres”. São apenas dois exemplos mas que nos provam que as comissões
funcionavam.
Sabemos também que havia prémios para os melhores alunos que eram
distribuídos no final do ano em festa realizada na sede do concelho. Não sabemos,
contudo, se era organizada pela câmara ou pelas citadas comissões. A festa devia
revelar alguma pompa e circunstância dado que envolvia várias actividades lúdicas.
Nem sempre as coisas corriam do agrado de todos dado que, pelo que podemos
ler no jornal o “Progresso de Mondim” de 2 de Dezembro de 1909, o professor de
Vilarinho, José Martins Ribeiro, muito zangado por não ver reconhecido publicamente o
seu trabalho e o dos seus alunos resolveu, a expensas pessoais, realizar nova festa
escolar, desta vez na própria escola, tendo convidado as principais pessoas da
localidade. Abrilhantou a festa um “Concerto Musical” da vila de Mondim. “Os alunos
cantaram o hino da escola ideado (sic) pelo solicito professor. Seis alunos recitaram
lindas poesias selectas e nos intervalos tocaram-se peças de música escolhidas”.
Segundo o citado jornal o professor recitou o poema “Judia e outras apreciadas
poesias”, recebendo palmas e aplausos. Discursou também, dizendo o que é a escola
primária, narrando a incúria dos pais e a maneira como deviam olhar para ela e como
deveriam ser difundidas a instrução e a educação em todas as classes populares. O
jornal sublinhava que, sentia grande prazer por poder dar esta notícia por ver que “ainda
há professores que, como este, sabem cumprir o seu dever. Se todos assim/ fizessem as
crianças veriam no professor um amigo e iriam para a escola com maior satisfação”.
4.4 – Dos Alunos
Pouco sabemos acerca do número total de alunos, da frequência escolar, das
desistências, dos seus problemas, dúvidas ou anseios, dado que poucos são os registos
onde podemos buscar informação. Sabemos, porém, pela leitura das actas que o número
dos alunos em idade escolar devia ser bem elevada à qual não correspondia um número
102
nem de frequência nem de aprovações satisfatório, como podemos ver pelos quadros
seguinte:
Quadro nº 16. Número de alunos aprovados em exame de Instrução Primária
entre 1882 - 1894 em Mondim de Basto
LOCAL 1882 83 84 85 86 87 88 89 1890 91 92 93 94 TOT
MONDIM MAS 5 2 2 6 11 2 8 6 7 3 52
E ATEI FEM. 2 3 6 1 12
ERMELO A A
TOTAIS 5 2 2 8 14 8 9 6 7 3 64
A) Os alunos de Ermelo faziam exame em Vila Cova, Campeã. Não existem livros de termos de exame
nem na freguesia nem no arquivo Distrital de Vila Real.
Quadro nº 17
Idades dos alunos
IDADE QUANT. %
9 3 4,7
10 10 15,7
11 13 20,3
12 26 40,6
13 5 7,8
14 4 6,2
N. REF. 3 4,7
TOTAL 64 100%
Quadro nº 18
DISTRIBUIÇÃO POR SEXOS
MASC. 52 81,25
FEM. 12 18,75
TOTAL 64 100%
Quadro n.º 19
CLASSIFICAÇÃO OBTIDA
SUF. 49 76,6
BOM 14 21,8
DISTINTO 1 1,6
TOTAL 64 100%
Fonte: ( ACMM: Livro de Termos de Exames 1882-1894 )
103
4.5 - Conclusões
Se é certo que não conseguimos ter acesso aos Recenseamentos Escolares (com excepção
de apenas um), e como tal desconhecemos o número de crianças em idade escolar, não deixa de ser
verdade que, por leituras paralelas, ficamos a saber que esse número era de facto bem elevado.
Considerando válida a afirmação anterior, verificamos que ao elevado número de crianças em
idade escolar não corresponde nem uma frequência homogénea nem um número significativo de
alunos aprovados em exame. Deste modo, se analisarmos os resultados da escolarização por um
índice de distribuição de diplomas concluiremos que os resultados são bastante fracos.
A maioria dos 64 alunos (60,9%), completa a escolaridade entre os onze (20,3%) e os 12
anos (40,6%), o que nos parece ser um valor bastante interessante a que devemos juntar os 20,4%
dos que o fazem entre os 9 e 10 anos de idade (quadro nº 15). Acreditamos assim que estes alunos
se esforçavam por obter cedo um diploma certificador para poderem prosseguir os estudos. Muitos
fizeram-no, como demonstraremos adiante (quadro nº 34). Os outros alunos abandonariam a escola
ao fazerem a 3ª classe ou ainda antes. A obtenção do diploma de fim do curso é então
desvalorizada. Porquê? Será que a expectativa de utilização do diploma num meio rural como
factor de diferenciação na hierarquia social não têm cabimento dada a raridade de empregos? Será
porque o saber ler e contar são suficientes para a resolução das questões do dia-a-dia? Será porque
não se sentiam motivados ou não tinham posses para prosseguirem os estudos?
É ainda muito diminuto o número de meninas que fazem a 4ª classe (quadro nº 16) e todas
filhas de pais abastados. Algumas prosseguirão os estudos e converter-se-ão em professoras
primárias.
É nos locais onde a escola está há muito implementada - Atei, Ermelo e Mondim -, que há
uma maior procura e apetência pela procura e frequência escolar, diminuindo nos locais de
implementação recente.
Podemos dizer que, apesar de tudo, pela primeira vez começamos a assistir a uma certa
organização do sistema educativo em Mondim de Basto. De facto, para dar cumprimento ao
estabelecido no artigo 11º do regulamento de 28 de Julho de 1881 o presidente da câmara, Joaquim
Maria Rodrigues Morais Lobato, entrega à Junta Escolar, devidamente rubricado e assinado um
livro para nele serem lançados os termos de exames do ensino elementar. Todos os alunos das
freguesias de Mondim e Atei faziam o exame na sede do concelho. Os alunos de Ermelo iam fazer
exame à freguesia da Campeã, no concelho de Vila Real, devido por um lado à grande distância da
sede do concelho e, é claro, ao facto dos caminhos serem bastante maus.
104
Os primeiros anos do século XX reforçam, ainda, a ideia do desinteresse pela obtenção de
um diploma certificador. Em 1909, às portas do golpe republicano, o número de alunos aprovados
em exame de instrução primária foi a seguinte: Atei, 0 alunos. É verdade que se trata de uma
situação especial dado que havia 3 alunos prontos para fazer o exame mas uma arreliadora doença
impediu o professor Carlos Barreira de os acompanhar. Campanhó 1 aluno. Ermelo 1. Mondim, 10
rapazes e apenas 1 menina. Neste mesmo ano fizeram exame 3 meninas de Mondim na escola de
Vila Pouca de Aguiar. Vilar de Ferreiros 1 e Vilarinho 3. Total 19 rapazes e 4 meninas44
. De facto
continua a ser parco o número de alunos propostos a exame. Mondim revela algum dinamismo.
Será fruto da existência do edifício escolar oficial? A ser assim alargava-se o já enorme fosso entre
esta localidade e o resto do concelho.
A juntar a esta situação temos o facto de a câmara nem sempre pagar a tempo o aluguer das
casas que serviam de escola, o que chegou a enfurecer os seus proprietários que ameaçavam acabar
com a situação45
e ainda o facto de o mobiliário existente nesses locais ser insuficiente.
5 - OS EDIFÍCIOS ESCOLARES
É hoje por demais reconhecido que as escolas são espaços privilegiados onde o processo educativo se desenvolve no dia a dia e por isso locais de grande valor didáctico capazes de potenciar a aprendizagem colectiva. Porém, para o caso concreto das escolas de Mondim de Basto, para se chegar a esta situação um longo caminho foi preciso percorrer.
Vejamos a situação freguesia a freguesia
5.1 - Mondim de Basto.
44 Utilizamos as informações do jornal acima referido. Não sabemos, contudo, se na freguesia do Bilhó algum aluno foi
proposto para exame. Não se refere o nome dos alunos aprovados, daí não conseguirmos acompanhar o futuro escolar desses
alunos.
45 Em 12 de Maio de 1909, o jornal “Progresso de Mondim” publicava uma notícia do seguinte teor: “Consta que os
senhorios das casas arrendadas para as escolas de instrução primária deste concelho reunirão brevemente para solicitarem do
governo a importância das rendas em dívida à dois anos e meio”.
105
Apesar da escola primária oficial ter sido criada pelo Marquês de Pombal em 1772, teve o
seu primeiro mestre régio a partir de 1780 e durante mais de um século não terá edifício próprio
para o magistério do ensino. De facto durante muitos anos as aulas serão dadas em edifícios
alugados para o efeito pela câmara ou na casa do professor - situação vulgar - a quem a câmara,
além do vencimento também pagava o aluguer do edifício. Assim sucedeu, por exemplo, ao
professor António Bernardo Teixeira de Barros que, nos anos em que foi professor recebeu de
renda 2$400 réis, o mesmo sucedeu com o professor Silva Ramos e outros. A 27 de Fevereiro de
1866 o professor José Joaquim Alves de Carvalho recebeu da câmara a importância de 6$000 réis
da renda da sua casa para a escola do sexo feminino. É a primeira referência que encontramos à
escola feminina. A 23 de Julho desse mesmo ano o rei D. Luís autoriza por decreto as câmaras
municipais ou as Juntas de Paróquia a procederem à “expropriação de casas ou terrenos necessários
para a construção de edifícios e para os acessórios destes, destinados para a fundação das escolas
públicas de ensino primário” (Artigo 1º). Para além desta modalidade havia ainda a possibilidade
de as Juntas de Paróquia poderem “aforar ou vender em hasta pública, precedendo autorização do
Conselho de Distrito, bens próprios ou baldios de logradouro comum para aplicar o Plano de
Actividades um capítulo específico para o sector da educação, onde se revela já a preocupação da
construção de edifícios escolares condignos. De qualquer modo, devido talvez pelas atribulações
políticas por que o concelho irá passar, só em 1990 encontramos bem clarificado no ponto 21 da
previsão de receitas para o ano seguinte a quantia de 557$090 réis resultantes da “Dedução da
verba que no orçamento de 1878 a 1879 era destinada para instrução primária e de que se acha com
aplicação a despesas de exercício de 1900 a 1901, constante da tabela que fás parte do Decreto de
17 de Maio de 1900 (Diário do Governo nº 114, de 22 do dito mês e ano). Entrava também como
receita a quantia de 414$210 réis do “Produto das percentagens de 15% sobre as contribuições do
Estado, incluídas na mesma tabela. na rubrica de Despesas prevê-se gastar exactamente aquela
quantia, o que mais uma vez não virá a acontecer. No ano económico seguinte, aquelas
importâncias são acrescentados 29$884 reis resultantes do “produto dos mútuos e papéis de crédito
que foram da extinta confraria de Nossa Senhora do Rosário desta vila”. Para além disso entrava já
como receita a quantia de 400$000 réis “pelo que se espera da venda de terrenos baldios, segundo a
deliberação desta câmara tomada na sessão de 22 de Janeiro do ano corrente, com aplicação a
auxiliar o Estado na construção de edifícios escolares, mas irrealizável até hoje em virtude dos
preceitos da lei de desamortização”46
(anexo nº 13).
46
- ACMM: Na acta de 22 de Janeiro (livro nº 1, pág. 26 e 26v) podemos ler: “Pelo senhor presidente José António
Machado e Moura foi proposto que se representasse ao governo de sua majestade no sentido de serem construídos,
nesta freguesia e na de Atei para as aulas do ensino primário elementar visto não os haver, mas também por serem
insuficientes, para comportarem os alunos, as casas onde se acham instaladas as referidas escolas, as quais, além de
106
Naturalmente que as mesmas verbas entravam na rubrica de despesas (Quadro nº 20).
Mesmo assim as autoridades locais não revelam grande entusiasmo pela construção de
qualquer edifício escolar, preferindo continuar o sistema de pagamento de rendas. Assim a partir de
1893 a casa da escola do sexo masculino é arrendada ao padre Manuel António Borges e a do sexo
feminino a Daniel José Rodrigues. Esta casa estará arrendada até 1902 altura em que cremos que
por interesse da própria professora, que queria dar aulas em sua própria casa, solicita à câmara a
mudança. A 25 de Junho desse mesmo ano “um telegrama do Excelentíssimo Governador Civil
deste Distrito, numero cento e noventa e três autoriza a câmara a arrendar casa para aula do sexo
feminino e fazer a instalação quando julgar conveniente“ (ACMM: Acta de 25 de Janeiro de 1902.
Livro de Actas nº 1, pág. 40 e 40v.). Inteirada, deliberou a câmara ordenar de imediato a mudança
da casa da escola do sexo feminino, oficiando a respectiva professora.
Entre a reforma de 1878 e a de 1901 ainda tivemos outras duas, a de 1894 e a de 1897. A
de 1894 nada trouxe de novo à causa da Instrução. Manteve a centralização do ensino primário.
aboliu os exames do 1º grau e os do 2º só se faziam nas sedes dos liceus ou nas cidades. “Mais uma
vez o Estado monopolizava a administração do ensino, sem advertir que, restaurando os antigos
comissariados e escravizando a escola aos interesses de um estreito partidarismo, inutilizava, num
momento, todo esse laborioso e fecundo trabalho de alguns anos” (SANTOS, 1908: 513). A
reforma de 1897 manteve as disposições da de 1894. Finalmente em 1901 uma nova reforma vem
introduzir algumas modificações na estrutura do ensino Primário do país, numa altura em que o
analfabetismo ainda rondava os 78% e nos colocava na cauda dos países europeus (BÁRBARA,
1979: 77). Mantém a divisão do ensino em dois graus e obrigatório e gratuito para as crianças dos
dois sexos, dos seis aos doze anos. Estavam isentos os que morassem a mais de dois quilómetros de
distância de uma escola gratuita, pública ou particular, permanente ou temporária (art. 3º, nº 3).
As Escolas Primárias deviam funcionar em edifícios próprios e adequados. As
características dos edifícios eram especificadas “devendo situar-se em sítio central e de fácil acesso,
evitando-se, porém, todas as vizinhanças perigosas, incómodas e insalubres”. A sala de aula deveria
estar convenientemente apetrechada de material didáctico: carteiras, quadro negro, mapas parietais,
colecções de pesos e medidas, etc.
serem propriedade particular, foram já reprovadas pelo subdelegado de saúde, pois que não satisfariam as mais
rudimentares condições higiénicas, comprometendo-se este município e a junta de paroquia da freguesia de Atei à
cedência gratuita do terreno para as referidas edificações, deliberando esta câmara se procedesse à venda de terrenos
baldios municipais, até o seu produto perfazer a quantia de quatrocentos mil réis, afim de ser aplicada em auxiliar o
governo na construção das referidas casas de aulas”.
107
Para esses fins foi criado junto da Direcção Geral da Instrução Pública a Direcção técnica
das Construções Escolares, que tinha por missão estudar, mandar construir, administrar, fiscalizar,
conservar e instalar os edifícios escolares (art. 381º).
Foi criada a Inspecção sanitária escolar que era exercida por inspectores sanitários escolares e
pelos delegados e subdelegados de saúde, que tinham por missão a fiscalização dos edifícios
escolares.
É com base nesta reforma que finalmente será dado o empurrão para a construção dos edifícios
escolares de Mondim e Atei47
.
A 20 de Abril em sessão ordinária delibera-se sobre o orçamento da câmara para esse ano,
onde se especificam as verbas a gastar com a desejada construção.
A 18 de Maio de 1904, um oficio do engenheiro Adães Bermudes, “arquitecto director da
Direcção das construções escolares, em Lisboa”, solicitava à câmara que depositasse na Caixa
Geral de Depósitos, a crédito do fundo de Instrução Primária, a quantia de quatrocentos mil réis,
com que a câmara deliberou concorrer para a construção da escola primária do concelho....
Finalmente iniciava-se o processo que levaria à construção do edifício escolar de Mondim.
Para além daquela quantia era também inscrita na rubrica de “Despesas” a importância de 200$000
réis destinados à aquisição de mobiliário para apetrechar a nova escola, já em construção. Ainda
neste mesmo ano a 28 de Dezembro a câmara “deliberou pagar cinquenta e quatro mil quinhentos e
quinze réis a Avelino da Costa Machado, desta vila pela aquisição da mobília para as novas
escolas”. Com esta despesa, que foi gasta na aquisição apenas de cadeiras e mesas novas, a situação
financeira da câmara ficou bastante debilitada. De facto, logo no início do ano seguinte, a 25 de
Janeiro, é recebido um “ofício do Inspector pedindo que a câmara disponibilize com urgência uma
verba de cento e cinquenta mil réis destinada à aquisição de mobília e material de ensino para as
escolas deste concelho. E que sendo conveniente que aquela verba tenha o mais breve possível a
devida aplicação legal, rogava se providenciasse nesse sentido... “. Inteirada deste pedido urgente, a
câmara deliberou não dar qualquer resposta ao aludido oficio alegando falta de verbas (ACMM:
Acta de 25 de Janeiro de 1905. Livro de Actas nº 1, pág. 174 e 174v).
A 23 de Maio de 1906, o mesmo arquitecto, oficiava de novo a câmara dizendo que “o
edifício destinado a escolas primárias oficiais, que o governo mandara construir na vila, sede deste
concelho, ficava a partir desta data á disposição desta câmara municipal, para nele serem instalados
os serviços a que fora destinado. Deliberou mandar proceder à entrega das chaves às respectivas
professoras, a fim de se instalarem no respectivo edifício, bem como se fizesse entrega a cada uma
47 O cálculo para as despesas e receitas foi apresentado na reunião camarária de 29 de Novembro de 1902 e a especificação das
contas aparece no livro de Receitas e Despesas da Câmara nesse mesmo ano a páginas 70 a 72 verso.
108
a mobília e material escolar que esta câmara ultimamente requisitou para as escolas desta vila,
entregando-se a cada professora metade dessa mobília e material, à excepção das carteiras, as quais
seriam todas para a escola do sexo feminino, visto que, pelo seu tamanho, serem mais adequadas
para esta escola, providenciando-se oportunamente de forma a serem fornecidos à aula de sexo
masculino as carteiras que se tornarem necessárias para o regular funcionamento da mesma aula”.
Finalmente, 134 anos após a criação do ensino primário oficial em Mondim de Basto, era
inaugurado o primeiro edifício construído de raiz para o efeito. Este, hoje ainda em óptimas
condições - devido ao zelo camarário -, obedecia aos requisitos exigidos. Assim, localizado de
frente para a novíssima Rua Nova, desanexada dos terrenos do Olival do Senhor, a escola dispunha
de dois pisos, o primeiro com duas salas de aula com entradas distintas e o piso superior com duas
casas de habitação. Nas traseiras ficava um espaçoso pátio coberto onde as crianças podiam brincar
ou esperar pela chegado do professor. À volta da escola respirava-se silêncio dado que mais
nenhuma habitação aí existia. Cumpria-se o disposto na Reforma de 1901.
Quadro nº 20. Receitas e despesas da Câmara Municipal para a Educação (1901 a 1904).
RECEITAS ANO DESPESAS ANO
557$090
1901 - Da receita da câmara e fundo da extinta
confraria de Nª Srª. do Rosário - 557$090
- Produto das percentagens de 15%
sobre as contribuições do Estado - 414$210
1901
-
844$419 ( inclui 400$000 reis que se espera da venda de terrenos
baldios )
1902 “ “ “ - 844$419
- Inclui o subsídio ao Estado para a construção
das escolas primárias da vila e de Atei - 400$000
1902
- 1.295$690 1904 Compra de mobília para as novas escolas - 200$000
De acordo com a lei -1.295$690
1904
Fonte: ACMM: Ano de 1901, Livro de Receitas e Despesas pág. 10 e ss. /// Ano de 1902, o mesmo livro pág.
70 a 72v. //7 Ano de 1904 o mesmo livro a pág. 137 e ss.
5. 2 – Atei.
Vê ser-lhe atribuída a escola primária oficial por decreto de Dª Maria Iª em 1779. O
primeiro professor toma posse em 1785 começando a dar aulas num prédio pertencente à Confraria
das Almas. E assim será durante décadas. Um decreto de 8 de Novembro de 1876, vai permitir um
alargamento do ensino em Atei. De facto, esse decreto vinha finalmente criar uma escola do sexo
feminino, há muito desejada. Contudo só em reunião extraordinária de 10 de Novembro de 1878 a
Junta de Paróquia sob a presidência do Doutor Manuel Augusto Pereira e Cunha, estando presente
o regedor António de Oliveira Teixeira da Mota e os vogais José António Machado e Moura,
109
Manuel José Machado e Manuel Joaquim de Moura Guerra se decidia que “era urgente arranjar
casa e mobília para a instalação da escola (feminina) e por isso há na despesa uma verba para esse
fim...”.
Contudo, mais dois anos se passam sem que se volte a falar na escola feminina e só a 4 de
Abril de 1880 Sob a presidência do mesmo Doutor Manuel Augusto Pereira e Cunha e dos
mesmos vogais, a Junta de Paróquia voltava a reunir extraordinariamente para deliberar “sobre a
escolha dos terrenos mais convenientes para as escolas de ensino primário, em conformidade com a
circular do Ministério do Reino datado de dezoito de Dezembro último”.
Depois de alguma discussão a Junta resolveu por unanimidade que “as casas de escola
fossem edificadas no lugar de Souto Maior, sendo escolhido para a escola do sexo masculino,
habitação do respectivo professor e mais dependências da escola, o terreno em que está edificada
uma casa do padre Manuel António Borges e o quintal anexo à mesma; e sendo escolhido para a
escola do sexo feminino o terreno onde está edificada a casa chamada Renda, pertencente a
Bernardo José Borges48
, no campo denominado da Renda, pertencente a Rafael de Oliveira
Marques, os quais terrenos têm capacidade suficiente, não só para edificação da dita escola, mas
também para habitação da professora mais dependências em conformidade com as instruções legais
sobre o assunto”.
O processo estava desencadeado e a 8 de Maio de 1881, de novo em reunião extraordinária,
sob a presidência de José António Machado e Moura e dos vogais ... o presidente disse que “era
urgente que a junta tratasse, em conformidade com as leis vigentes sobre o ensino primário, de
obter casa para aula e habitação da professora e mobília para a escola”49
.
A Junta autorizou o presidente a fazer a sobredita aquisição e pediu-lhe que logo que se
obtivesse a casa, fizesse a devida participação à “autoridade Administrativa a fim de que a cadeira
pudesse ser provida o mais breve possível”.
Apesar da boa vontade demonstrada pelo magnífico elenco que constituía a Junta de
Paróquia - o seu presidente era um famoso Juiz de Direito Internacional, e dois dos vogais eram
Bacharéis e importantes proprietários50
-, o processo não andava por manifesta falta de verbas nos
cofres da Junta, e disso se queixava esta à administração do concelho, a 15 de Maio de 1884
dizendo que estava sobrecarregada de “elevadíssimas percentagens das contribuições directas
municipais...e com as despesas com as escolas e outros serviços, como a derrama com a côngrua do
48 Nesta altura era na casa da Renda que funcionava a escola recebendo o seu proprietário 6$750 reis de renda, que lhe eram pagos
por altura da feira de S. Miguel.
49 AJFA: Actas de 10 de Novembro de 1878 e de 8 de Maio de 1881 da Junta de Paróquia de Atei.
50 - Numa altura em que as outras Juntas de Paróquia eram dominadas por padres, nenhum destes elementos o era, daí o ineditismo
da situação.
110
pároco... para cuja dotação não há bens próprios além da casa da residência e um insignificante
quintal”. Assim a forma de arranjar dinheiro seria, em asta pública, proceder à venda de alguns
baldios.
De facto tornava-se complicado construir um edifício escolar sem verbas próprias. Nesse
mesmo ano são inscritas – na rubrica sobre educação - como receitas para o ano económico
seguinte 27$193 réis e de despesa 29$500 réis.
Os problemas económicos subsistiam e a 5 de Maio de 1885 a Junta teve necessidade de
deliberar o lançamento de um adicional “às contribuições directas, industrial, pessoal e predial de
10% que eram de 900$000 réis e dava portanto 90$000 réis, para suprir o déficit que havia com as
despesas do ano anterior (estava incluída a verba que se iria gastar com o início da construção do
cemitério novo), e mais percentagem obrigatória para as escolas. Para estas previa-se uma receita
de 27$000 réis e uma despesa de 46$453 réis”, conforme podemos observar no quadro seguinte:
Quadro nº 21. Orçam. da Inst. Primária para o ano de 1886 na freguesia de Atei.
RECEITAS
DESPESAS
- 27$000 réis - Renda da casa da Escola e
Habitação da professora -13$500
- Renda da casa do professor - 6$000
- Recenseamento escolar - - 4$000
- Livros, papel e tinta para os
alunos pobres - 4$500
- Expediente do Delegado Paroquial -4$000
- Biblioteca Escolar -3$000
- Consertos na casa da escola -11$453
SOMA 27$000 SOMA 46$453
Fonte: AJFA, livro de Actas n.º 2.
Neste mesmo ano a Junta aproveitou para proceder a algumas obras na casa da escola
masculina tendo despendido a importância de 3$100 réis com a compra de telha, 11$453 réis em
consertos vários e uma quantia não especificada aplicada na aquisição de mobílias para a escola dos
dois sexos.
De 1886 a 1888, Mondim de Basto deixa de ser concelho, por reforma administrativa e é
integrado no de Celorico de Basto. Talvez por isso o processo da construção do edifício escolar
tenha regredido.
111
Só em Janeiro de 1992 - altura em que o presidente da Câmara de Mondim de Basto era
José António Moura Machado, antigo vogal da Junta de Paróquia de Atei -, se volta a falar na
construção do edifício escolar de Atei51
. (ACMM: livro de Actas nº 1: 26 e 26v ).
A 24 de Abril de 1903 a Junta de Paróquia levou finalmente à praça a venda de alguns
terrenos baldios pois precisava de arranjar 300$000 réis para com eles satisfazer as despesas a fazer
no auxílio da construção do edifício escolar.
A 13 de Janeiro de 1904, o professor da escola do sexo masculino de Atei oficiava a Câmara
Municipal dizendo que ”no edifício se deslocaram e quebraram algumas telhas, penetrando nela
água dos caleiros na sala dos exercícios em grande abundância, pedindo por isso providencias com
urgência”. A câmara deliberou mandar fazer os respectivos arranjos, mas era notório que o edifício
não devia reunir condições pedagógicas mínimas.
A 10 de Fevereiro do mesmo ano um oficio do Inspector Escolar dizia que o professor de
Atei pedia providências para que lhe fosse fornecida “ casa de habitação que não ameace ruína
eminente, como aquela em que ele tem habitado”. A situação ainda se irá manter por mais algum
tempo o que fará com que o professor abandone a escola sem disso dar satisfação a ninguém.
O novo edifício vê a sua construção ser iniciada em 1904, ao mesmo tempo do edifício
escolar de Mondim. Dois anos depois estará pronto, mas não começará de imediato a funcionar.
A 3 de Dezembro de 1908 o presidente apresentou à Junta um requerimento do empreiteiro
que construiu o edifício escolar no qual pedia que, “visto o edifício que tomou a seu cargo, estar
concluído há dois anos sem que até ao presente a Direcção que superintende naqueles serviços
tenham tomado conta do dito edifício, bem assim o não lhe ter pago todos os seus créditos em
dívida; como julga esta junta interessada no mesmo edifício, visto o ser por ela peticionado e ter
tomado sobre si vários encargos, a tomar uma resolução sobre o assunto, e , não tendo uma solução
favorável em tempo oportuno, julgar o edifício abandonado. Em vista do exposto, e julgando ele
presidente o assunto de alta conveniência para bem da instrução pública, pois que esta tem
ministrado e ministra em casas impróprias por não reunir as condições higiénicas, sendo esta a
causa em que se fundamentou a petição do referido edifício, em mil novecentos e dois, que nos foi
concedido. Assim decidiu a junta enviar pelas vias competentes a sua Majestade El-Rei, para que
pelo seu governo sejam dadas as necessárias conveniências”.
A 7 de Outubro de 1909 um oficio do sub-inspector comunicava que, lhe tinha sido entregue
“oficialmente nesta data o novo edifício escolar de Atei, e ordenara aos professores daquela
51 - A decisão da construção do edifício escolar de Atei é tomada em simultâneo com a construção do de Mondim em sessão de 22 de
Janeiro de 1902. Livro de Actas nº 1, pág. 26 e 26v.
112
freguesia que instalassem imediatamente essas escolas e habitação no novo edifício e que
devolvessem à câmara as chaves do edifício antigo”.
Em 15 de Setembro de 1910 o presidente, pároco Victorino Teixeira Pires, disse na reunião
da Junta de paróquia que tinha recebido um ofício “do professor oficial desta freguesia , Carlos da
Silva Barreira, cujo teor é o seguinte: “I. Senhor. Tendo-me sido oficiado, digo, ordenado por
ordem superior, a transferência da escola a meu cargo para o novo edifício escolar construído nesta
freguesia, queira Vª Exª tomar conta do edifício em que a mesma escola tem funcionado visto que
de Vª Exª recebi a chave quando para aqui vim”.
O novíssimo edifício era finalmente inaugurado às portas da revolução de Outubro. Ainda
hoje se mantém em funcionamento.
5. 3 – Bilhó.
Em documento52
muito importante existente no arquivo da Igreja Paroquial do Bilhó (APB
e anexo n.º 3), poderemos verificar que a escola de primeiras letras só foi possível aqui ser criada
por um legado oferecido em 23 de Dezembro de 1791 por António Martins Gil, ao tempo sargento-
mor do exército no Arraial de Santa Luzia dos Estados do Brasil, o qual legou a quantia de
seiscentos mil réis para que a escola pudesse funcionar. O documento refere também que o
ordenado do professor seria o dos juros daquela importância, ao tempo pagos a cinco por cento.
A responsabilidade da criação da escola, da manutenção e do funcionamento passava a ser da
Irmandade das Almas.
Em 8 de Fevereiro de 1825 o visitador José António de Madureira, verificou que a escola só
havia funcionado até 1797 e que a Irmandade das almas havia posto a render o dinheiro do legado e
revelado um grande desleixo na recolha dos juros. Assim, o visitador obrigava a Irmandade a pôr a
contabilidade bem organizada e em livro próprio e a escola novamente a funcionar e sem qualquer
interrupção, fosse por que motivo fosse, para além de que deveria fiscalizar se o mestre cumpria
zelosamente o seu dever. Contudo só a partir de 1830 a escola começou a funcionar, num edifício
pertencente à Irmandade e tendo por mestre o padre Luís da Cunha e Carvalho, o qual ficou com
um vencimento de 59$878 réis, vencimento sempre igual para todos os mestres que se seguiram.
Com este padre e professor irá passar-se uma situação muito caricata, denunciada pelo seu próprio
irmão de nome José da Cunha de Carvalho. Segundo ele, o padre Luís tinha um comportamento
52 Trata-se do livro de Receita e Despesa da Irmandade das Almas do Bilhó feito propositadamente para controlar o dinheiro do
legado referido. O livro tem a contabilidade organizada desde 1833 até 1888. Pertence à Igreja do Bilhó, onde se encontra
arquivado.
113
pouco recomendável pois vivia com uma concubina e, além disso, não “dizia as missas nos dias
santos abolidos”, “não dava escola, tendo arranjado quem a desse por ele mas só pagava ao
professor metade do ordenado, ficando com a outra metade” e “não contribuía com os 5$000 reis
para a igreja a retirar do citado legado, ficando também com eles”. Todo este estranho
comportamento se devia, segundo o seu próprio irmão, ao facto do padre ter enlouquecido. Verdade
ou não é que a escola lhe será retirada. As missas pode continuar a dizê-las mas só quando lhe
apetecia.
Sobre o edifício onde a escola funcionou ao longo do século XIX pouco sabemos, a não ser
que era um edifício em pedra, ainda hoje bem conservado. As primeiras despesas com o mesmo
aparecem apenas em 1865, ano em que se gastaram 5$720 réis para “envidraçar a casa da escola“.
Estamos perante um dado interessantíssimo dado que, como nesta região não se fabricava aquele
material tinha que vir de fora do concelho e bastante caro. Para além de que a substituição das
janelas em madeira por vidro, permitia assim um melhor arejamento da sala e uma maior
luminosidade, o que representava um avanço pedagógico importante. Só em 1878 se voltam a fazer
obras, agora sim de verdadeira remodelação dado que se gastam 12$000 réis em cal e areia, 61$000
réis com o pedreiro, 50$000 réis com o carpinteiro, 22$220 réis com o caiador, 31$000 em telha e
$300 réis em papel53
.
Em 1868 no mesmo edifício começa a funcionar a Escola Nocturna. Em 1883 gastam-se
1$000 com o recenseamento escolar e 2$000 em correntes para a casa da escola. Em 1884 é
despendida a verba de 1$500 para alunos pobres e 1$500 em pequenos consertos Em 1885 são
gastos 2$000 com novo recenseamento escolar54
. Só em 1907, a 21 de Janeiro é dada autorização
para que a escola feminina pudesse começar a funcionar. À reunião da Câmara de 15 de Maio é
levado um ofício do presidente da Junta de Paroquia da freguesia do Bilhó, “de vinte e nove de
Abril último, rogando, afim de poder responder a um oficio do senhor sub-inspector, se lhe dissesse
se esta câmara arrendava casas para a escola daquela freguesia, criada em vinte e um de Janeiro de
mil novecentos e sete, devendo ser posta a concurso logo que haja casa e mobília. A Junta de
Paróquia concordava que a casa fosse arrendada ao senhor Manuel da Silva, casado, daquela
freguesia, feitos os devidos consertos. A Junta com bastante sacrifício fornecia a mobília e
utensílios escolares. Deliberado arrendar casa para a referida escola e habitação do respectivo
professor, que se encontre em melhores condições e cuja renda seja razoável, autorizando-se a
53 Do livro nº 1 de “ Receitas e Despesas “ da Irmandade das Almas, da Igreja do Bilhó.
54 AJFB: Estas despesas foram efectuadas pela Junta de Paróquia, conforme podemos ver no livro de Receitas e Despesas nº 1 da
mesma junta.
114
celebrar com os arrendatários o respectivo contracto de arrendamento” (ACMM, livro de Actas nº
2: 55 e 55v).
5. 4 – Anta e Bobal.55
Lugares da freguesia do Bilhó, mas desta afastadas por agreste serrania.
Por volta de 1890 decidiu o povo da Anta que também era merecedora de ter uma escola.
O senhor Francisco Ribeiro, a conselho do padre António, resolveu contratar uma “mestra” para
ensinar as crianças do lugar. Informado por familiares que possuía no couto de Adoufe, Vila Real,
foi encontrar essa “mestra” na povoação de Fortunho, da freguesia de S. Tomé do Castelo, naquela
cidade. Tratava-se de Maria das Dores Alves de Carvalho, de 15 anos de idade, com exame feito
com distinção e admissão.
Mais tarde, já adulta, fixou-se no Bobal, em casa de Bernardo da Silva, compadre do padre
António, o qual terá um papel importante na criação da escola neste lugar. Aqui vinham receber
lições alunos de Pioledo e Cavernelhe, para além dos da Anta e do Bobal.
A remuneração paga à “mestra” era por conta dos pais dos alunos os quais tinham que lhe
entregar anualmente um alqueire de centeio ou de trigo, por aluno. Havia desconto para os pais que
tivessem mais que um filho a estudar.
Nunca casou. Porque não o fez? Porque precisava de manter uma imagem de
respeitabilidade ou porque nunca encontrou ninguém com quem partilhasse ideias e interesses
comuns?
Para o lugar da Anta foi entretanto contratada a senhora Patrocínia Alves Teixeira, natural
de Ermelo, mas a residir na povoação de Dornelas, Lamas de Olo.
Antes de se desligar deste lugar, esta professora conseguiu requerer um Posto Escolar para
onde iriam ser destacadas as futuras Regentes Escolares.
Estávamos nos alvores do Estado Novo.
Em 1937 era então criado o Posto Escolar da Anta, cabendo no entanto à autarquia
providenciar no que respeitava a instalações, o que representava um problema. O senhor Ribeiro
disponibilizou então uma casa devoluta onde o povo, no qual se destacou o senhor José Carvalho,
fez as obras indispensáveis, sem receber qualquer salário.
O Posto funcionará até 1952, altura em que o Ultramar e algumas agências bancárias
aliciam os jovens professores, eternamente mal pagos, com melhores salários. O Posto é fechado
55 Agradecemos as informações prestadas por Joaquim de Carvalho, colaborador de vários jornais locais e investigador de temas
mondinenses.
115
por falta de candidatos, facto que é aproveitado pelo actual proprietário do edifício, António
Gonçalves Ribeiro, para tomar conta do mesmo, apesar dos pais dos alunos sempre lhe terem pago
a respectiva renda.
Fechava-se um ciclo. A terra nunca mais voltará a ter escola pois a futura será erigida no
lugar do Pioledo. Mas, seja como for, nunca compreenderemos a evolução da história da educação
em Mondim de Basto se não nos debruçarmos sobre o papel desempenhado por estas abnegadas
educadoras.
5. 5 – Ermelo.
Vê ser-lhe atribuída uma cadeira de primeiras letras por Dª Maria Iª pelo mesmo decreto
que também criava a de Atei. Como não dispunha de edifício próprio a Administração do Concelho
alugou uma casa para o efeito. Tal como em muitos lugares a casa da escola era a própria casa do
professor. Essa situação vai manter-se até 1853, ano da extinção do concelho. A partir daqui a Junta
de paróquia começa a pensar fazer obras na desanexada casa da cadeia para a converter em edifício
escolar. As obras só começarão em 1874 e até 1881 serão gastos 130$050 réis em “carpinteiros,
madeiras, ferragens e vidros e 11$025 réis no carreto de pedra”. Após concluídas as obras o velho
professor, padre José Bernardino da Fonseca56
não aceita mudar-se para o remodelado edifício,
continuando a dar escola na sua residência e exigindo continuar a receber a respectiva renda, que
era de 5$000 réis, o que irá enfurecer o presidente da Junta de Paróquia, Manuel José Gonçalves
Peixoto, o qual decidiu que a partir de 1882 não pagaria mais rendas ao citado professor, alegando
que, como ele era da terra não precisava do dinheiro da renda. Contudo nesta polémica o professor
acabou por vencer e continuou a recebê-la.
Quanto ao material pedagógico utilizado são parcas as referências. Só ao tempo do
professor Homero Peixoto é que encontramos a 19 de Novembro de 1902 um oficio do
administrador do concelho comunicando “ter-lhe o sub-inspector deste círculo escolar oficiado que
o professor oficial de Ermelo comprara, para a aula que dirige, um mapa de Portugal na
importância de quatro mil trezentos e quarenta réis e uma colecção de sólidos geométricos na
importância de três mil cento e cinquenta reis, para o que pedia o respectivo pagamento. Pedia
56 Este padre era professor desde 1837, altura em que substituiu o professor régio Joaquim José da Costa. Este pediu a sua
substituição a 15 de Janeiro de daquele ano através de ofício enviado à câmara Municipal de Ermelo. ADVR: Livro de Actas de
Vereações de Ermelo de 1834-1842 pág. 101 e 102.
116
também o respectivo professor que a câmara lhe fornecesse com urgência uma cadeira para seu uso
na regência de aula”57
.
A primeira referência à criação da escola feminina surge apenas em 1888. De facto, a 24
desse mês, a Junta de paróquia reunida em sessão extraordinária a pedido dos moradores da mesma
freguesia deliberou pedir com poderes competentes a criação de uma escola primária do sexo
feminino fundamentando a sua petição nas seguintes razões: “é esta freguesia de Ermelo uma das
mais populosas do concelho e uma das mais contributivas e das que melhor paga para as despesas
do estado e do município e tendo para cima de cento e setenta crianças o sexo feminino na idade
escolar não há, infelizmente, aqui uma única pessoa habilitada para poder confiar-lhes a educação
literária dessas crianças. E as escolas mais próximas desta freguesia são a de Mondim que está para
cima de quinze quilómetros e Atei que fica para cima de dezoito, e depois são os concelhos de Vila
Real ou Amarante, e quem poderia mandar umas crianças para essas distâncias com todos os seus
inconvenientes e despesas que andam juntas e tantas pessoas que são absolutamente pobres ...e
porque hoje mais que nunca uma mulher necessita de boa e sólida administração de sua casa e para
a educação de sua família mas e muito principalmente para que com a sua ilustração ... seja uma
mulher piedosa, bem educada, boa filha, boa esposa e boa mãe e que pode salvar a sociedade ....
Por tudo isto é que a junta de paróquia desta freguesia deliberou pedir a bem merecida graça da
criação para aqui de uma escola para o sexo feminino comprometendo-se pela sua parte a dar casa e
mobília para a escola e casa para a professora... desta sessão se lavrou a respectiva acta de que se
dará uma cópia ao administrador suplicando-lhe a graça de a fazer chegar ao seu destino. Ermelo,
24 de Dezembro de 1888“.
Apesar deste arrebatador discurso - a que não seria estranho o facto de estarmos em
vésperas de Natal -, seis anos se passariam sem que a desejada escola fosse criada. Só em Maio de
1894 a Junta volta à carga em reunião de 12 desse mês sob a presidência do abade Luís António
Machado e Cunha foi por este dito que era urgente: “... pedir a criação de uma escola do sexo
feminino, obrigando-se esta junta a dar casa para a escola e habitação da professora, mobília e mais
utensílios; e achando-se o respectivo processo pendente da informação municipal, propunha se
levasse ao conhecimento da câmara que era uma necessidade a criação da dita escola do sexo
feminino... a junta deliberou assegurar com permanência aqueles fornecimentos oferecendo para já
a casa de Bernardo Cordeiro da Costa situada no lugar de Caneiras”.
A 3/12/1894 a Junta reuniu com a presença de Bernardo Cordeiro da Costa, proprietário,
desta freguesia, dono da casa escolhida para a escola e habitação da professora e por este foi dito
57 ACMM: Ofício transcrito na acta da reunião de câmara de 19 de Novembro de 1902. Livro de Actas nº 1, pág. 60 e 60v.
117
que arrendava a dita casa, reservando para ele a adega a qual é sita no lugar das Caneiras e
confronta de nascente e norte com terras do mesmo, sul com o caminho, poente com herdeiros de
José Bernardino da Fonseca, pelo tempo de três anos, os quais serão contados desde o dia em que a
escola for eleita, pela quantia de nove mil réis anuais, sendo a conservação e reparação da mesma
casa feita pela Junta como é de lei e costume o que a junta aceitou...
Ora, passando a escola feminina a funcionar ao lado da adega, do lagar de azeite e das
alfaias agrícolas, bem como pertinho dos animais, facilmente deduzimos estarmos perante um
edifício bolorento da humidade, desconfortável, frio, paredes húmidas e negras de fumo e um
recreio exíguo. Mesmo assim a escola funcionará aqui alguns anos. Para esta escola não
encontramos referências ao material didáctico utilizado.
5. 6 – Fervença.
A freguesia de Ermelo está geograficamente muito dispersa, possuindo povoados a cinco
e mais quilómetros de distância, o que é um factor muito inibidor da frequência escolar dos jovens
que a desejariam ter. Assim, apercebendo-se dessa situação, a Junta de Paróquia deseja a instalação
de outra escola primária, do tipo mista, num dos povoados afastados do centro da freguesia. Em
reunião de 17 de Agosto de 1902, o presidente da Junta, padre José Paulino de Carvalho Peixoto
disse: “que por conhecimento próprio sabe a falta de instrução que há nos povos de Fervença,
Barreiro, Varzigueto e Assureira desta freguesia, motivada pela distância a que se encontram da
sede das escolas da mesma, sendo a do lugar mais próximo de cinco quilómetros e as outras daí
para cima até dez, acrescendo ainda que estas distâncias são sempre por caminhos ásperos,
montanhosos e difíceis, especialmente na estação invernosa por causa da neve e cheias dos ribeiros
que são completamente intransitáveis e ainda por outras razões sendo a mais importante a grande
vantagem que há em combater o analfabetismo em Portugal e derramar a instrução popular que,
nestes povos é importante como se vê do recenseamento escolar, em virtude de que esta junta devia
tomar isto na devida consideração, informar a câmara municipal de que é de toda a justiça a criação
de uma escola com sede na Fervença e convidar os habitantes daquelas povoações a levar neste
sentido uma representação a sua majestade”.
Sabendo da proposta, o administrador pediu que a Junta tendo em atenção o disposto no
artigo nº 102 da parte terceira do regulamento geral de ensino primário, o informasse do número de
crianças em idade escolar e da razão porque optavam pelo lugar da Fervença para a instalação da
escola. A Junta reuniu em sessão extraordinária e deliberou informar que a referida escola deveria
ser mista com sede na povoação da Fervença por ser a mais populosa e central e que “o número de
118
crianças em idade escolar é de cinquenta e nove como consta do recenseamento escolar que vai
junto”.
A 27 de Agosto do mesmo ano o vereador da Câmara Municipal, padre José Paulino
Carvalho Peixoto (sobrinho), assumindo-se como interprete dos habitantes dos lugares da Fervença,
Barreiro, Varzigueto e Assureira, da freguesia de Ermelo deste concelho, informou os restantes
membros de “que tinha sido presente uma representação a El-Rei pedindo a criação de uma escola
mista com sede na povoação da Fervença, afim de que a câmara não só a fizesse chegar ao seu
destino, mas também que se associasse a esta justa aspiração dos referidos povos” (ACMM, livro
de Actas nº : 53 - 53v).
A câmara, em sessão de Outubro de mil novecentos e dois, deliberou arrendar casa para a
escola e a 18 de Fevereiro do ano seguinte o Inspector da terceira circunscrição Escolar do Porto
pedia à câmara que, dado que esta havia tomado a “responsabilidade de fornecimento de casas para
escola e habitação da respectiva professora e mobília escolar para a escola mista de Fervença e não
tendo tomado o compromisso pelo fornecimento de utensílios escolares, vem rogar para que a
câmara tome este compromisso”58
. Acrescentava o mesmo pedido para as escolas mistas de
Pardelhas e Vilar de Viando. A câmara decidiu aprovar o pedido, mas só em 1903 dará inicio a este
processo e bastante precipitadamente, pois deu ordem para se alugar uma casa, pelo prazo de dez
anos, o que desagradou ao inspector escolar, pois por um lado não tinha sido informado da situação
e por outro o preço da renda estabelecida era demasiado elevado para a qualidade da casa. Assim,
em Janeiro de 1905 comunica dizendo que a escola de Fervença não podia ser criada “sem que
antes se arranjem casas para as aulas em melhores condições e mobílias e utensílios escolares, de
maneira que tudo se satisfaça quanto possível ao exigido nos artigos trinta e sete, trinta e oito e
trinta e nove do regulamento de dezanove de Setembro de mil novecentos e dois e logo que esteja
feita tal aquisição lhe seja comunicada afim dele ordenar a indispensável vistoria” (ACMM, livro
de Actas nº 2: 174 - 174v). O problema revelou-se inultrapassável e só a 30 de Dezembro de 1910,
já em período republicano, é que a Câmara assina um contrato de arrendamento com o senhor
Manuel da Costa Dias, por uma renda anual de 25$00. O edifício oficial só será construído em
pleno período Salazarista.
5. 7 – Paradança.
58 ACMM: Oficio nº 855 de 9 de Fevereiro de 1903. Livro de Actas nº 1, pág. 81v e 82.
119
Escola criada em fins do século XIX começa por funcionar numa sala pertencente à igreja
local e só para rapazes. Assim continuará até 1905, altura em que houve necessidade de transformar
a escola masculina em escola mista, o que fez com que a sala de aula no pavilhão paroquial se
revelasse exígua e houvesse necessidade de arrendar uma casa com melhores condições de
funcionalidade. Assim, após obter autorização superior, decidiu a Câmara Municipal arrendar “casa
de escola do sexo masculino e habitação da professora pelo prazo de dez anos ao senhor José Alves
Ribeiro Pereira, pelo preço anual de 15$000 réis. A professora é oficiada desta situação e enquanto
aguarda autorização para se mudar para o novo edifício continua a dar escola na Igreja, o que vai
fazer ainda nos quatro anos seguintes. Tendo conhecimento desta situação o presidente da Junta de
Paróquia e ao mesmo tempo padre da freguesia, António Gomes Ribeiro, aproveitou a reunião da
Junta de 3 de Outubro de 1909 para dizer que “era necessário retirar a consentimento tácito da
Exma. professora oficial da aula na sala das sessões da Junta de Paróquia, visto constar, estar
arrendada uma casa para habitação e escola oficial e precisando a Junta da sala para as sessões e
guardar os utensílios da Igreja para cujo fim foi construída” (AJFP). Finda a reunião o presidente
dirigiu-se à sala da escola e num acesso de cólera mal contido, derrubou a porta da sala a pontapé e
expulsou professora e alunos da mesma. Esta de imediato envia um ofício ao sub-inspector do
círculo escolar de Vila Pouca de Aguiar onde considera “de uma inqualificável violência, punível
por lei, a atitude tomada pelo pároco António Gomes Ribeiro, atitude essa que só prejudica os
serviços da instrução pública”.
Prometia o sub-inspector iniciar um processo de investigações para apurar a verdade e para
isso contava com a colaboração da Câmara Municipal.
Ouvido o pároco este declarou que se constava que, além da casa arrendada, havia uma
segunda onde a professora habitava e assim, com duas casas arrendadas não havia necessidade de ir
dar aulas para a igreja.
As suspeitas do pároco eram bem fundamentadas dado que no mês de Novembro de 1909
José Alves Ribeiro Pereira, casado, proprietário, do lugar e freguesia de Paradança, envia um
requerimento à Câmara em que se queixa da falta de cumprimento do contracto de arrendamento
para a casa da escola da mesma freguesia, efectuada com esta câmara em vinte e sete de Setembro
de mil novecentos e cinco, pois tem a casa devoluta e demais ultimamente não lhe tem sido paga a
renda, acrescendo ainda a circunstância de nem ao menos haver outra casa para escola; porque
aquela em que a professora vive apenas tem aposentos para dormir e cozinha e a que tem servido de
sala de aula, por benevolência da Junta de Paróquia, além de não ter as condições necessárias, não
mais pode ser utilizada para tal fim, visto que a dita junta, cansada de reclamar em vão, resolveu-se
a proceder tirando de lá para fora a mobília escolar. Deliberou por maioria, visto o senhor vereador
120
padre Miranda declarar neste acto abster-se de dar o seu parecer por não conhecer bem tal assunto
pois que tendo-se já oficiado nesse sentido ao subinspector e lhe enviado cópia do contracto de
arrendamento que está superiormente aprovado e sendo do inteiro conhecimento dele estes factos
se comunique também os mesmos ao governador civil e inspector do Porto... afim de que suas
excelências se dignem providenciar para que a autoridade desta câmara seja mantida e respeitados
os legítimos direitos do interessado e dos escolandos” (ACMM, livro de Actas nº 2: 149-149v e
150).
O subinspector informou que a inspecção não havia sido solicitada para fazer a prévia
vistoria, condição indispensável para que o edifício pudesse ser ou não alugado.
O pároco extremamente irritado leva o assunto para o jornal local “O progresso de Mondim”
onde o seu director, também padre, faz a defesa do colega aproveitando para criticar os políticos
que considerava uns verdadeiros incapazes59
.
A 1 de Dezembro de 1909 um oficio do Inspector Escolar do Porto, informava que, “depois
de colhidas as necessárias informações e que não tendo a casa arrendada para a escola e habitação
da professora de Paradança sido vistoriada, não podia este autorizar para ali a mudança nem tão
pouco abonar a respectiva renda” (ACMM, livro de Actas nº 2: 152 -152v).
A troca de acusações, por um lado, e de correspondência por outro, acabou por dar os seus
frutos. A Câmara acabou por resolver a delicada situação a contento de todos e a escola pode
finalmente mudar de casa.
5. 8 – Vilar de ferreiros.
Encontramos poucas referências à criação da escola nesta paróquia. Cremos que a mesma
terá começado a funcionar no ano lectivo de 1881/ 82 pois que no livro número 1 “Termos de
Exame” de 1882 a 1894 existente no arquivo da câmara municipal de Mondim encontramos 1
aluno de Vilar de Ferreiros, de nome Cândido Teixeira de Morais – futuro professor -, a fazer
exame no dia 25 de Maio de 1885.
Sabemos também que a Junta cumpria a legislação relativa ao recenseamento escolar, pois
encontramos, em razoáveis condições de conservação, o livro número 5: “Livro de Recenseamento
das Crianças em idade Escolar” do ano de 1884/1885. Trata-se do livro de recenseamento das
crianças do sexo feminino. São 115 meninas em idade escolar, o que reforça a ideia já aceite do
59 In “ O Progresso de Mondim”. Novembro de 1909.
121
elevado número de crianças em idade escolar existentes em todo o concelho. Destas 115 crianças,
91 eram filhas de Lavradores, 21 de Jornaleiros, 2 de Alfaiates e 1 de Carpinteiro.
No livro nº 2 “Contas da Junta de Paróquia” 1864-1927 encontramos em despesas relativas
ao ano económico de 1888 a seguinte rubrica: “deu-se a Domingos José de Oliveira pela mobília
escolar, mesas, banco e quadro a quantia de 8$465 réis”.
5.9 – Vilarinho.
Lugar da freguesia de Vilar de Ferreiros vê o ensino primário oficial ser-lhe atribuído em
1898. Sem edifício próprio, é um importante proprietário da terra, Alfredo Alves de Morais, quem
cede a título gratuito uma casa para o efeito. Punha como única condição que a Câmara Municipal
procedesse a obras de carácter urgente, na referida casa. Pagava do seu próprio bolso a primeira
mobília para equipar a escola. No livro nº 2 da junta de paróquia de 1864 a 1927 de Vilar de
Ferreiros, encontramos uma folha solta e sem data do seguinte teor: "Importância paga pelo
secretário da Junta de Paróquia Alfredo Alves de Morais para a mobília da escola de Vilarinho:
27$630 réis”. Este procedimento repete-se muitas vezes. O citado secretário adiantava
frequentemente dinheiro do seu próprio bolso para pagar as despesas com a educação e outras, para
mais tarde exigir os empréstimos de volta.
Os anos passam e as obras terão que ser feitas pelo próprio proprietário, dado o alheamento
da câmara, o que faz com que aquele a 18 de Janeiro de 1905 envie à câmara um requerimento em
que refere que “tendo ha sete anos cedido um seu prédio urbano para o fornecimento da escola do
sexo masculino do referido lugar, gratuitamente, e tendo o mesmo prédio obrigado o suplicante a
repetidos consertos, que lhe tem montado em grandes despesas, que não podia custear sem
remuneração, requeria que lhe arbitrassem uma renda anual, como a todas as demais instalações
escolares, afim de assim poder obviar aos encargos que lhe advêm. Deliberou deferir ao pedido no
presente requerimento arbitrando a quantia de dez mil réis de renda anual pela dita casa, exarando
um voto de louvor e agradecimento ao requerente pela cedência gratuita da referida casa para
escola, até á presente data (ACMM, livro de Actas nº 1: 172-172v).
Um ofício do subinspector de Vila Pouca de Aguiar não permite, contudo, que se faça
aquele pagamento pois alega que o proprietário cedeu a casa a título gratuito.
A 23 de Junho de 1909, o proprietário agora vereador da câmara propôs que “se
representasse ao governo de sua Majestade para que a escola do sexo masculino do lugar de
Vilarinho, freguesia de Vilar de Ferreiros, deste concelho, seja convertida em mista” (ACMM, livro
de Actas nº 2: 135v e 136).
122
A 27 de Outubro de 1909 chegava um ofício do Inspector da terceira circunscrição Escolar
do Porto participando que, “havendo esta câmara solicitado a conversão, em mista, da escola do
lugar de Vilarinho, e mostrando o recenseamento, que há cinquenta e duas crianças de sexo
masculino, que podem frequentar essa escola, vinha declarar que tal conversão não podia ter lugar
e que seria preferível pedir a criação de uma escola para o sexo feminino, visto haverem trinta e
nove crianças desse sexo que a podem frequentar”(ACMM, livro de Actas nº 2: 147-147v).
A 19 de Outubro de 1910, decidiu a câmara, na presença do vereador e proprietário, Alfredo
Alves de Morais “que é de inteira justiça pagar-se a renda da casa da escola de Vilarinho ao
respectivo proprietário porquanto da escrituração desta câmara não consta o mesmo tê-la cedido
gratuitamente, como refere o subinspector”. A decisão foi aprovada por todos os presentes
(ACMM, livro de Actas nº 2: 188).
5. 10 – Campanhó, Vilar de Viando e Pardelhas.
Estes três lugares seguem um trajecto comum na criação das respectivas escolas primárias.
Assim, a 27 de Agosto de 1902 o vereador Joaquim António do Nascimento Dinis, como interprete
dos povos de Vilar de Viando, freguesia de Mondim, considerava justas e inadiáveis “as
necessidades destes povos”. Deliberou a câmara “fazê-las chegar ao seu destino por intermédio do
Ilustre chefe deste distrito, Excelentíssimo Senhor Governador Civil, a quem rogará os seus
melhores ofícios perante o governo de sua Majestade para o conseguimento de uma aspiração tão
justa, franqueando desde já, caso sejam criadas as duas escolas, a mobília para a boa instalação e
funcionamento das mesmas”. Apenas foi autorizada a criação da escola do sexo masculino, e por
ofício do inspector da terceira circunscrição do Porto deveria a câmara mobilar a casa da professora
e da escola. Em Outubro de 1902 vão à reunião de câmara duas representações das Juntas de
Paróquia das freguesias de Campanhó e Pardelhas pedindo a criação de duas escolas mistas com
sede nas referidas freguesias. A câmara decidiu aprovar o pedido, e inicia o processo respectivo.
A 8 de Abril de 1903 um oficio do Inspector participava à câmara para que “se digne
mandar preparar as respectivas casas, mobílias e utensílios escolares... para as escolas mistas nas
freguesias de Pardelhas e Ermelo (lugar da Fervença) e informar a Inspecção logo que esteja
pronto. Um mês depois o mesmo inspector informava a câmara que tinha recebido “ordem superior
para proceder á vistoria das casas e mobílias escolares, destinadas ao funcionamento das cadeiras
que esta câmara pretende sejam criadas no lugar de Fervença e de Vilar de Viando deste concelho,
123
pede à câmara se as referidas casas e mobílias se acham já preparadas nas condições prescritas no
respectivo regulamento”60
.
Em 15 de Julho de 1903, Deliberou a câmara autorizar o senhor presidente a fazer” o
contrato de arrendamento duma casa para escola e habitação da professora da freguesia de
Campanhó, bem como a arrendar outra casa também para escola e habitação da professora do lugar
da Fervença, freguesia de Ermelo” (ACMM, livro de Actas nº 2: 104v ).
Em 25 de Janeiro de 1905 um “oficio do subinspector pedindo que lhe fosse enviado mapa
com o orçamento geral da despesa com a instrução. Deliberou a câmara aproveitar para informar o
subinspector de que nesta data vai rescindir o contracto de arrendamento das casas para as escolas
de Pardelhas e Fervença, não só por ser imensamente exorbitante a renda, que só manifesto
favoritismo por parte dos arrendatários a explica, mas também por se terem arrendado as ditas casas
pelo prazo dez anos, sem a competente autorização da estação tutelar, motivo por que tais rendas
devem ser excluídas do referido mapa” (ACMM, livro de Actas nº 2: 174 e 174v).
A 19 de Abril de 1905 por proposta do senhor presidente da câmara, foi deliberado se
representasse ao governo de sua Majestade, pedindo-lhe a conversão em mista da escola do sexo
masculino no lugar de Vilar de Viando, da freguesia de Mondim, o que veio a ser concedido
(ACMM, livro de Actas nº 2: 195 e 195v).
Embora lentamente, o mapa escolar mondinense desenvolveu-se e cresceu - sobretudo a
partir da reforma de R. Sampaio e à data da implantação da República todas as paróquias estão
servidas no tocante ao ensino masculino, - embora nem todos os lugares dessas paróquias tenham
escola -, o mesmo não se passando em relação ao ensino feminino. No entanto esta situação não
está isenta de algumas ambiguidades, a principal das quais diz respeito à incapacidade das
vereações camarárias e paroquiais não terem sido capazes de ultrapassar algumas deficiências
estruturais que emperravam o crescimento qualitativo do ensino. O resultado reflectia-se
principalmente na rede escolar que continuava precária de instalações.
E se a mudança de regime traz mais verbas para este sector, continua a verificar-se a
apetência para o aluguer de edifícios (quadro nº 22) em vez de se promover a construção de novos.
Teremos que esperar pelo Estado Novo para que isso aconteça.
60
ACMM: Ofício levado à reunião de 6 de MAIO de 1903:Livro de Actas nº 1, pág. 94 e 94v.
124
Quadro nº 22. Situação dos edifícios escolares em Mondim de Basto em 1915
LOCALIDADES NOME DO SENHORIO DATA DO
ARRENDAMENTO
RENDA
ANUAL
CAMPANHÓ José Ribeiro Peixoto 01.01.1911 10$00
ERMELO Homero Dias Peixoto 31.12.1910 30$00
FERVENÇA Manuel da Costa Dias 30.12.1910 25$00
PARADANÇA Alexandre Alves Ribeiro 31.12.1910 25$00
PARDELHAS António R. de C. Peixoto 31.12.1910 25$00
V. de FERREIROS Fernando A. Ferreiros 12.01.1911 25$00
VILARINHO Alfredo Alves de Morais 31.12.1910 25$00
VILAR de VIANDO Joaquim A. Diniz 31.12.1910 25$00
BILHÓ Nº 1 José Fraga Quiroga 26.07.1915 15$00
BILHÓ Nº 2 Irmandade das Almas 26.07.1915 15$00
Total 220$00
MONDIM (mas.) Edifício Próprio
MONDIM ( fem.) Edifício Próprio
ATEI ( masc.) Edifício Próprio
ATEI ( fem.) Edifício Próprio
Fonte: ACMM: Livro de registo das folhas das rendas de casas das escolas e habitações dos professores em Mondim
de Basto em 1915.
Chegados a este ponto do nosso trabalho em que desenvolvemos o mais
aprofundadamente possível o processo evolutivo do sistema escolar mondinense desde a sua
génese, passando pela consolidação até à universalização, importará agora questionar:
- Até que ponto a escola esteve presente no seio das populações e que influências exerceu sobre
elas?
- Quantos leitores, escreventes e assinantes, produziram?
- Que utilidade em saber ler, escrever e contar?
- Qual a evolução da população alfabetizada, segundo o sexo?
- Que relação entre o alfabetizado e a sua participação nos actos vitais (sociais e administrativos)
da paróquia?
- Em que profissões ou grupos socioprofissionais a que verificará uma relação directa entre o
grau de alfabetizado e o cargo que exerce?
- Até que ponto a que, num mundo de permanências e mudanças, a escola se revelou ao mesmo
tempo determinante e determinada?
- Em suma, que aproveitamento foi feito pela escola?
125
Os documentos que nos poderiam proporcionar respostas imediatas a essas questões são escassas
e até lacunares, fornecendo-nos apenas uma parte da informação pretendida. Mesmo assim optámos
por lançar mão a três tipos de fontes: traslados de testamentos, róis de jurados e censos de 1878
e 1890.
Sabemos que não há uma fonte privilegiada e que dê resposta a todas as interrogações por
nós aqui levantadas. Parece-nos que, pela análise das três poderemos constituir uma base
fundamental para as fases posteriores de observação, informação e análise.
Com estas três fontes constituiremos o capítulo seguinte ao qual damos o título genérico de
alfabetização em Mondim de Basto – na 2ª metade do século XIX.
127
1 – INTRODUÇÃO.
1- Este estudo representa uma análise tridimensional (Traslados de Testamentos de 1874 a
1900, Censos de 1878 e 1890 e Matrículas de Jurados de 1900 a 1911), que visa compreender a
dimensão do fenómeno da alfabetização e algumas das suas implicações a diversos níveis.
Naturalmente que uma resposta mais cabal só poderá ser dada com o cruzamento de outras fontes
(recenseamentos militares e eleitorais, manifestos de vinhos registos de casamentos, baptismos e
óbitos etc.). De qualquer modo procuramos ser criteriosos na análise das informações disponíveis
dado estarmos avisados de que “a história da Alfabetização se constrói com base em problemáticas
complexas” (MAGALHÃES, 1994: 248).
2- Metodologicamente recorreremos a análises seriais e quantitativas, cruzaremos as
informações numa perspectiva interdisciplinar, procurando dessa forma contribuir para a
explicação de um fenómeno que agora começa a despontar o interesse dos estudiosos portugueses,
principalmente aqueles mais ligados ao fenómeno da alfabetização.
3- Evidentemente que com este trabalho não pretendemos criar um modelo analítico como
garante científico das conclusões a tirar. Não, o que se pretende é desenvolver esforços no sentido
de - considerando a informação disponível - dar achegas para a compreensão do fenómeno da
alfabetização no mundo tipicamente rural de Mondim de Basto na 2ª metade do século XIX,
utilizando um processo que podemos considerar mais de indução que de dedução, que nos obrigará
a ter sempre alerta aquele espírito crítico para não nos deixar levar a considerar como certezas
coisas onde o grau de infalibilidade é grande e até porque sendo modestos os resultados, a maior
prudência estaremos sujeito.
4- Também não é objecto deste trabalho a análise da qualidade das assinaturas bem como
dos níveis de gradação em que as mesmas poderiam ser classificadas, dado que, nos traslados de
testamentos não aparece a assinatura nem do testador nem das testemunhas, apenas o tabelião
refere se o testador sabe ler e escrever, para poder assinar o respectivo nome, e quanto às
testemunhas era obrigatório por lei saber ler. O tabelião, por conhecer pessoalmente a testemunha,
podia aceitar o símbolo “cruz” como assinatura da mesma. Os censos também não referem a
qualidade das assinaturas e as listagens de Jurados também nada nos dizem a esse respeito.
5- A assinatura é utilizada nos testamentos como factor de distinção entre assinantes,
assinantes de cruz e não assinantes. A contagem destes três tipos, apesar de resultar de um trabalho
laborioso e cuidado produziria conclusões muito mais interessantes e animadoras se confrontadas
128
com outros documentos de natureza diferente que nos permitisse mais do que uma única
observação de cada sujeito.
6- Neste trabalho só vamos considerar como alfabetizados os indivíduos que estão
habilitados para utilizar minimamente a leitura e a escrita, sem entrarmos em consideração com
níveis mais elevados dado que as fontes que vamos utilizar apenas referem se os indivíduos “sabem
ler, sabem ler e escrever”, segundo os censos, “assinam ou assinam de cruz”, segundo os
testamentos e “assinam o nome” segundo o Rol dos Jurados.
7- Uma questão merece alguma pertinência: poderemos no final do trabalho comparar
índices de alfabetização com índices de Escolarização?
Pergunta de resposta complexa dado que se para a Escolarização dispomos de dados
(inquéritos de 1866, 1875/75, Livros de termos de exames, etc.), para a alfabetização os dados de
que dispomos (Censos de 1878, de 1890, matrículas de Jurados e Traslados de Testamentos),
podem revelar-se muito redutores e levar-nos a fazer afirmações que podem pecar por defeito. Isto
porque, ao contrário dos censos que apresentam valores claros e que nos dão alguma segurança, os
testamentos e as matrículas de jurados são portadores de uma grande ambiguidade principalmente
no que se refere à representatividade, mas nem por isso deixam de ser importantes fontes de
informação.
De qualquer modo podemos perceber que os dados da Escolarização nos permitem
concluir estar perante um fenómeno de alongamento da base na horizontal, onde se procura atingir
o maior número possível de indivíduos/alunos, que visa criar uma certa homogeneização social, e a
alfabetização nos aparece num movimento vertical, de cima para baixo, elitista e individual, mais
complexo em termos de quantificação.
2 - PROVENIÊNCIA DOS TESTAMENTOS.
O presente trabalho tem por base a análise de 150 traslados de testamentos feitos no
concelho de Mondim de Basto entre 1874 e 1900. O número de testamentos analisados não é igual
em todas as freguesias estando o mesmo em relação directa com a importância económica que cada
freguesia tem no conjunto do concelho (quadro 23 e gráfico n.º 6).
129
QUADRO Nº 23. Distribuição dos Testamentos por Freguesias.
FREGUESIA HOMENS MULHERES TOTAL
Atei 22 15 37
Bilhó 6 13 19
Campanhó 6 6 12
Ermelo 19 9 28
Mondim 23 16 39
Paradança 1 3 4
Pardelhas 0 0 0
V. Ferreiros 8 3 11
TOTAL 85 65 150
GRÁFICO Nº 3. Proveniência dos Testamentos
2.1 – Tipo de testadores e respectiva profissão.
Do conjunto dos 150 testamentos analisados, 65 pertencem a mulheres e 85 a homens,
cujas profissões se repartem por capitalistas, moleiro, padres, proprietários (as) e militar. 15 é o
número de indivíduos testadores cuja profissão não é referida pelos tabeliães (quadro 24 e gráfico
n.º 7).
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Ate
i
Bilhó
Cam
panhó
Erm
elo
Mondim
Pard
elh
as
Para
dança
V.
Ferr
eir
os
Proveniência dos testamentos
130
Quadro Nº 24. Profissão dos Testadores (as).
Capitalista 7
Doutor 1
Moleiro 1
Padre 5
Proprietário 120
Militar 1
Não Refere 15
TOTAL/Profissões 7
Gráfico Nº 4. Profissão dos Testadores.
Ca
pitalist
a
Do
uto
r
Mo
leir
o
Pa
dre
Pro
pri
et.
Milita
r
Nã
o R
ef.0
20
40
60
80
100
120
Ca
pitalist
a
Do
uto
r
Mo
leir
o
Pa
dre
Pro
pri
et.
Milita
r
Nã
o R
ef.
profissão dos testadores
2.2 – Testadores face à alfabetização.
A – Testamentos de homens: dos 85 testamentos, em 34 verificamos que todos os
testadores assinam e lêem, apenas 1 assina de cruz e 50 não assinam nem lêem, a que
correspondem 40%, 1,20% e 58,8% respectivamente.
Estamos perante um índice de alfabetização de 40% o que não deixa de ser uma
percentagem elevada (quadro nº 25).
131
B ) – Testamentos de mulheres : na análise dos 65 testamentos verificamos que há
treze mulheres a saber ler e assinar o nome, 1 só assina, 2 assinam de cruz e 49 não assinam nem
lêem, fazendo-o sempre a primeira das testemunhas “a rogo da testadora por esta declarar não o
saber fazer”.
Em termos percentuais temos 20,00%, 1,54%, 3,08% e 75,38% respectivamente. Ou seja, 20%
de mulheres alfabetizadas. De destacar o facto de a duas mulheres ser permitido assinar de cruz, o
que se revela como excepção à regra, uma regra que não permitia que as mulheres chancelassem de
cruz, num acto perfeitamente discriminatório (quadro nº 25).
Quadro Nº 25. Tipos de Assinaturas.
Testadores Homens Mulheres Total % Mulheres % Homens
Assina e Lê 34 13 47 20,00 40,00
Só assina 0 1 1 1,54 0,00
A. de cruz 1 2 3 3,08 1,80
Não assina n. lê 50 49 99 75,38 58,20
TOTAL 85 65 150 100,00 100,00
3 – TESTEMUNHAS.
De acordo com as obrigações legais, todo o testamento deveria ser validado com a
presença e assinatura de testemunhas. Nos testamentos analisados o número de testemunhas varia
de quatro até seis. O total de testemunhas é de 511, que chancelarão os 150 actos num total de 804
assinaturas.
De um modo geral as testemunhas são “recrutadas” na própria freguesia onde o testamento
é elaborado, havendo, no entanto, um número significativo de casos em que o testador (a) se
desloca à sede do concelho e aí faz o testamento. Nesses casos as testemunhas são arranjadas aí
mesmo.
3.1 – Profissões das testemunhas.
132
As 511 testemunhas distribuem-se por trinta e sete profissões, aparecendo numa posição
bastante destacada a dos proprietários com 289, depois os negociantes 33, os lavradores 3361
e os
padres com 23. A longa distância seguem as outras profissões (quadro nº 26).
Globalmente aquelas quatro profissões representam 74%, do total.
Quadro nº 26. Profissões das Testemunhas.
Profissão Quant. % Profissão Quant. %
Alfaiate 6 1,17% Juíz Paz 1 0,20%
Armador 1 0,20% Lavrador 33 6,46%
Bacharel 1 0,20% Marcenei. 1 0,20%
Barbeiro 4 0,78% Músico 2 0,39%
Militar 3 0,59% Negoci. 33 6,46%
Cantonei. 2 0,39% O.públicas 5 0,98%
Capitali 3 0,59% Ofic. Dilig. 7 1,37%
Carpintei 10 1,96% Padres 23 4,50%
Caseiro 10 1,96% Pedreiro 6 1,17%
Correeiro 1 0,20% Professor 6 1,17%
Criado 12 2,35% Propriet. 289 56,56%
Doutor 5 0,98% Relojoei. 1 0,20%
Escrivão 2 0,39% Sapateiro 6 1,17%
Espingard. 1 0,20% Secret. 1 0,20%
Farmacêut. 6 1,17% Solicit. 1 0,20%
Ferreiro 5 0,98% Tamanq. 4 0,78%
F..R. Água 5 0,98% Trabalhad. 1 0,20%
Jornalei. 7 1,37% Não Ref. 5 0,98%
Latoeiro 2 0,39%
TOTAL 86 16,83% 425 83,17% TOTAIS 511 100%
3.2- As assinaturas das testemunhas.
Às 804 chancelas de acto contabilizadas (quadro nº 27) correspondem 781 assinaturas
por extenso e apenas 23 chancelam de “cruz” (quadro nº 28).
61 É importante distinguir aqui Proprietário e Lavrador. O primeiro é dono da terra mas não a trabalha, submetendo-a ao regime de
parceria, o que explica a existência dos caseiros. O segundo grupo é dono da terra e ele próprio a trabalha.
133
Quadro nº 27. Número de Chancelas Contabilizadas por Profissão.
Profissão Quant. Percent. Profissão Quant. Percent.
Alfaiate 8 1,00% Juíz Paz 1 0,12%
Armador 1 0,12% Lavrador 40 4,98%
Bacharel 1 0,12% Marceneiro 1 0,12%
Barbeiro 6 0,75% Músico 3 0,37%
Militar 3 0,37% Negociante 44 5,47%
Cantoneiro 2 0,25% O.Públicas 5 0,62%
Capitalista 4 0,50% O.Diligências 14 1,74%
Carpinteiro 13 1,62% Padres 40 4,98%
Caseiro 17 2,11% Pedreiro 7 0,87%
Correeiro 1 0,12% Professor 7 0,87%
Criado 17 2,11% Proprietários 498 61,94%
Doutor 7 0,87% Relojoeiro 2 0,25%
Escrivão 4 0,50% Sapateiro 13 1,62%
Espingardeiro 1 0,12% Secret. 1 0,12%
Farmacêutico 6 0,75% Solicitador 1 0,12%
Ferreiro 10 1,24% Tamanqueiro 5 0,62%
F.R. Água 5 0,62% Trabalhador 2 0,25%
Jornaleiro 7 0,87% Não Ref. 5 0,62%
Latoeiro 2 0,25%
TOTAL 115 14,30% 689 85,70%
TOTAIS 804 100,00%
Quadro nº 28. Tipos de Assinaturas
TESTEMUNHAS TOTAL DE CHANCELAS
%
Assinam por extenso 781 97
Assinam de cruz 23 03
TOTAL 804 100
Não aparece nenhuma testemunha a não saber assinar, o que prova que a assinatura era
obrigatória. É certo que o tabelião aceita assinantes de “cruz”, quando assinar de cruz queria dizer
que o assinante não sabia assinar segundo o alfabeto. Mas será legítimo concluir que quem
chancelava de cruz não sabia ler?
134
Também não podemos verificar se há evolução do traço dos participantes ao longo da
sua vida dado que apenas dois assinantes de “cruz” o fazem por duas vezes cada um, ficando-se os
restantes por uma vez cada um.
O parco número de participações deste grupo só nos permite enquadrá-los no nível 1 da
escala de assinaturas seguida por Justino Magalhães (1994: 573).
Será que algum desses assinantes evoluiu para outro nível de assinatura?
Não serão estes indivíduos pelo menos leitores?
Não podemos porém esquecer que estamos numa época em que o formalismo e o sentido
de compromisso que presidem aos contratos de testamento – e outros – não são características
exclusivas dos contratos escritos. A palavra valia bem uma assinatura, pese embora o forte impacto
social que esta tinha um mundo tipicamente rural.
Todas as testemunhas são homens. Não é reconhecido à mulher o estatuto de testemunha
de acto, uma vez que não é convocada para testemunhar em qualquer testamento.
Será que o ler e escrever constitui uma destreza destinada apenas aos indivíduos do sexo
masculino? Estaremos perante indicadores reveladores de um poder social a que só os homens
tinham acesso? Podemos ver nisto uma forma de exclusão social da mulher?
Dos trinta e sete grupos socioeconómicos representados só em cinco aparecem
testemunhas a assinar de “cruz” (quadro Nº 29). Acreditando nós que os escreventes aprenderam a
fazê-lo de forma gradativa durante ou depois da aprendizagem da leitura, há uma fusão de ambas as
capacidades no mesmo indivíduo, capacidades que ele adquiriu não como um fim em si mesmo
mas como forma de acesso a uma carreira profissional
Quadro nº 29. Grupos de Assinantes de “ Cruz”.
Grupos/Assinam de Cruz
Total Assinantes Assina de cruz %
Caseiro 10 2 20,00%
Criado 12 5 41,66%
Lavrador 33 3 09,09%
Propriet. 289 9 03,11%
Carpint. 10 3 30,00%
TOTAL 354 23 100,00%
135
Merece destaque o facto de em 298 proprietários apenas nove assinam em forma de cruz,
ou seja 3,11%. O que, sendo este grupo económico o socialmente mais importante, quererá dizer
que estamos perante uma filiação imediata de causa e efeito entre a alfabetização e o
desenvolvimento socioeconómico, por um lado uma e uma “alfabetização que se inscreve, sob o
ponto de vista sociológico, num quadro de hegemonização de certos estratos, em consonância com
o rendimento económico e o desempenho de certas funções socioprofissionais e administrativas
com impacto social e culturalmente bem reconhecido” (MAGALHÃES, 1994: 20), por outro.
Também é interessante o número de criados e caseiros que sabem assinar.
Porquê o fazem? Com quem aprendem? Com os seus patrões?
Uma razão haverá a considerar: a imitação de papéis funcionaria como estímulo à
aprendizagem. A isto não seria alheio o facto de vivermos num contexto fortemente hierarquizado,
onde os fenómenos de imitação teriam alguma representatividade.
Do grupo de lavradores, 9,09% assina de cruz. Isto não quer dizer obviamente que os níveis
de alfabetização atingissem no grupo os 91%. É evidente que haveria muitos lavradores que não
saberiam ler nem escrever. Contudo, sendo o lavrador ao mesmo tempo proprietário e dono dos
meios de produção é natural que tivesse necessidade de aprender a ler e a escrever como factores de
solução dos problemas do dia a dia. Para estes ser alfabetizado surgia como “um meio para” e não
apenas um fim. Com quem aprenderam? Os pais ensinam os filhos, os amigos e os vizinhos?
Aprendem todos na escola? Hipótese pouco provável pois sabemos que o absentismo era muito
grande. O auto didactismo teria alguma relevância?
De referir o facto de todos os comerciantes que aparecem como testemunhas assinarem o
nome por extenso. A própria profissão os obrigaria a saber ler, escrever e contar. Assim, este grupo
era com certeza o mais fortemente alfabetizado, embora globalmente fosse um grupo pouco
representativo.
3.3- Frequência de assinatura das testemunhas.
São 804 os actos de testemunho contidos nos 150 testamentos. Desses, 210, ou seja 26%,
foram testemunhas apenas uma vez.
São apenas seis os professores que servem de testemunhas em apenas sete actos. Porquê tão
poucas vezes? Porque é que a participação dos professores neste acto vital da paróquia tem uma
participação tão esporádica e tão fortuita? Não teriam os professores um estatuto elevado que
136
permitisse dar ao testamento uma validade indesmentível? Seriam os horários escolares que não
lhes permitia participar mais vezes?
Das três testemunhas que assinam dez ou mais vezes nenhuma pertence à sede do
concelho, e todos são importantes proprietários. Isto significa que, embora o maior número de
testamentos seja feito na sede do concelho, o potencial testador encontra aí um leque variado de
testemunhas que sabem assinar, ao contrário das freguesias onde o leque diminui e havia, por isso,
necessidade de recorrer muitas vezes às mesmas pessoas.
Também se verifica que o maior número de repetências se dá com proprietários, donos ou
herdeiros das casas mais ricas do concelho. São exemplos as casas do Eirô, Barreira, Portelo e
Peixotos, em Ermelo; dos Barreiros, Lage, Cruz, Telha, Gougeva, Loureiro, Casal, Quinta de
Baixo, Igreja e Caibros, em Atei ou Barrio, Igreja, Eirô, Campo e Atalho, em Mondim.
A frequência elevada destes participantes confirma a importância social do grupo dos
proprietários na estrutura social do mundo rural nos fins do século XIX. Um caso muito sui géneris
acontece na sede do concelho em que muitas vezes aparecem como testemunhas - principalmente
de testadores de fora-, o administrador do concelho, um barbeiro, um ferreiro e um oficial de
diligências. Acontecia que o escritório do tabelião, a câmara e o local de trabalho dos restantes
indivíduos se encontravam na mesma praça que era no centro da vila onde giravam a vida
económica e social. Assim, de cada vez que o tabelião precisava de testemunhas tinha-as mesmo à
mão e estas de bom grado aceitariam ser testemunhas até pela mais-valia social que isso para eles
representava.
Mas que relação haverá entre o estatuto socioprofissional do barbeiro e o do ferreiro e o
facto de ambos serem alfabetizados?
A questão é de resposta difícil, mas o facto de ambos conviverem lado a lado, no dia a dia,
com pessoas importantes poderia potenciar um fenómeno de irradiação cultural de cima para baixo
com resultados deveras interessantes.
E o ferreiro e o barbeiro, principalmente este muito propenso para a tagarelice, não
ensinariam alguns amigos e clientes a ler e a escrever, sabendo-se que, tendo eles muito tempo
livre, seria uma das formas de melhor o ocupar?
137
II
4 - OS JURADOS
4.1 – A instituição do júri.
“ Tribunal composto de certa classe de cidadãos que, sob a presidência de um juiz de
direito, julga dos factos relativos a causas judiciais (Chaves e Castro) – é algo que merece ser
individualizado. Sustentado pelas Constituições de 1822 (artigo 177.º), de 1826 (artigo 118.º) e de
1838 (artigo 123º) e pelo já conhecido decreto de 16 de Maio de 1832 (artigo 7º) o júri cível é
obrigatório” (MATTOSO, 1993,Vol V: 171).
4.2 – Quem é convidado para jurado?
Segundo a lei de 16 de Março de 1832, todo o cidadão que reunisse ter mais de 25 anos
de idade, saber ler, escrever e contar e ter, no meio rural, um rendimento anual não inferior a
cinquenta mil réis (era de 100$000 nas cidades). O cumprimento destas obrigações fazia “ficar de
fora” grande parte da população, tornando-se por isso muito selectiva.
As pessoas consideradas socialmente mais importantes, porque eram detentoras de muitos
bens? Porque sabiam ler e escrever? Ambas cumulativamente? Nas listagens dos doze anos –
1900/1911 – por nós analisadas (quadro nº 30) praticamente não há alterações de nomes, mantendo-
se por isso as listagens muito iguais, o que também poderá indiciar algumas dificuldades na
renovação jurídico-administrativa.
Para além de que todos os indivíduos serem recrutados em apenas duas paróquias – Atei e
Mondim -, de onde subjaz a ideia de que se tornava complicado, por motivos de ordem geográfica,
recensear indivíduos de paróquias mais afastadas da sede do concelho.
A matrícula era feita pelo escrivão da câmara com base nos censos recolhidos pelas
comissões paroquiais. A listagem era depois enviada ao tribunal. Este, com a totalidade dos
inscritos fazia dois sorteios. O primeiro para escolher os membros do júri para os crimes comuns e
o segundo para os de crimes de moeda falsa.
Acreditamos que haveria na paróquia um número de leitores e escreventes muito superior
àquele.
138
Quadro nº 30. Recenseamento do Júri Comum de 1900 a 191162
ANO
Nº DE
RECEN-
SEADOS
PROFISSÃO
ESTADO CIVIL
NOTAS
PROPRIET. NEGOCIANT OUTROS SOLTEIR CASADOS VIÚVO
1900 120 105 13 2 (1) 14 97 9 (1) 2 -Bacharéis
1901 120 109 10 1 (2) 13 98 9 (2)- 1- Eng. Civil
1902 120 111 8 1 (2) 18 93 9
1903 120 109 9
2 (3), (4) 17 91 12 (3)- 1 Agrónomo
(4)-1 Lavrador
1904 120 103 14 3 (3), (5) 17 90 13 (5)- 2 lavradores
1905 120 103 15 2 (5) 17 90 13
1906 120 108 10 2(6),
(7) 19 91 10 (6) 1- Solicitador
(7) 1- Notário
1907 120 110 9 5 (1) (6) (8) 18 89 13 (8) 3 – Curso dos
Liceus
1908 120 108 9 3 (8) 15 94 11
1909 124 111 9 4 (4) (8) 19 94 11
1910 124 111 10 3 (8) 18 96 10
1911 124 110 9 5 (1) , (8) 18 96 10
GRÁFICO Nº 5. PROFISSÕES DOS JURADOS
Então porque há tão poucas alterações? Porque ser jurado era um estorvo (implicava a
perda de dias de trabalho não remunerado) e todas as artimanhas eram importantes para se fugir ao
62 Livro nº 1 de Recenseamento do Júri Comum, do Arquivo da Câmara Municipal de Mondim de Basto.
Médias por Profissão
Proprietários
Negociantes
Outros
139
desempenho daquele cargo? Ou o factor determinante era o rendimento e poucas mais pessoas
estariam em condições de ser jurado?
Considerando as profissões, mais uma vez ressalta o peso dos proprietários
(89,25%), seguido dos negociantes (8,59%) e profissões liberais (2,26%). Mais uma vez se
confirma a pouca importância do sector secundário, e mais uma vez se confirma estarmos em
presença de um concelho tipicamente rural, onde a propriedade fundiária não representava apenas
um instrumento de produção e um investimento seguro, “mas era condição de acesso a um estatuto
social e a uma posição prestigiada no seio da comunidade rural. De facto, ser-se proprietário era,
pelo menos até à implantação da República, uma das únicas formas de participar na vida política,
dado que a capacidade eleitoral se restringia aos cidadãos que pagassem um determinado montante
de contribuições directas ou que soubessem ler e escrever” (MATTOSO, ob. cit.: 481).
Ser jurado era, então, sinónimo de ser alfabetizado e isso era importante para o desempenho
de certos factores sociais e administrativos na paróquia.
Uma questão se levanta: Qual a percentagem da população real que estará representada
neste quadro?
5 – Conclusão.
Procuramos dar respostas, ainda que parciais, a questões como: Quem lê? Quem escreve?
Onde, quando e para quê? Como se acedeu a tal capacidade? Em que medida as opções e os
destinos de vida implicam e reflectem a capacidade de ler e escrever? (MAGALHÃES, 1994: 34).
Estas questões transportam-nos necessariamente para algumas observações:
1 - Estamos numa sociedade rural, hierarquizada, conservadora, prolongadora da estrutura
social do Antigo Regime, onde, apesar de afastada dos centros de decisão, nem por isso o
fenómeno da alfabetização deixa de estar presente.
É um fenómeno localizado, contextualizado, até porque “não há alfabetização fora do
contexto, não há alfabetização em abstracto. É para resolver os problemas do seu quotidiano, é para
dar sentido à sua existência que os indivíduos se alfabetizam” (MAGALHÃES, 1994: 265), isto é, a
origem e evolução dos sistemas de escrita estão associados a esquemas civilizacionais,
nomeadamente ao desenvolvimento de aspectos económicos, - economia complexa de
contabilização de lucros e mercantilização -, sociais e organizacionais - utilização com propriedade
das capacidades de leitura e de escrita na resolução das questões do quotidiano -.
2 - Merece algum destaque o facto de, para o período em estudo dos testamentos -
1874/1900 -, haver 20% de mulheres leitoras e escreventes, isto é, alfabetizadas. Se considerarmos
140
que quando foram fazer o testamento eram de maior idade, quase todas viúvas, com mais de 55 ou
60 anos de idade e que terão aprendido a ler e a escrever entre 1824/1850, numa altura em que só
havia no concelho escolas do sexo masculino, perguntaremos: então com quem aprenderam? E
como? Provavelmente em casa e por razões de carácter económico e social. De carácter económico
pois a mulher sentia necessidade de acompanhar os negócios do marido. Não nos podemos
esquecer de que a mulher falecia – de um modo geral -, depois do marido, ficando viúva e herdeira
de bens que ela tinha que administrar com competência. Daí a necessidade de saber ler, escrever e
contar. De carácter social porque a mulher precisaria de ser culta para poder participar nos actos
públicos e religiosos.
3 - Algumas mulheres, com certeza que praticariam a leitura - lendo o catecismo mas
também os folhetins “inspirados na mais sã moral” que o Comércio do Porto publicou a partir de
1861, onde se destacavam os romances de Camilo, Arnaldo Gama, Alberto Pimentel, Carlos
Malheiro Dias, etc. Acreditamos que, a julgar pelas informações orais prestadas e pela biblioteca de
uma casa por nós consultada – a casa de João Alarcão -, haveria senhoras que coleccionavam os
folhetins e que, num ambiente campestre, idílico, bucólico e romântico (Todas as casas apalaçadas
tinham frondosos jardins), os liam em voz alta para outras senhoras, provavelmente espicaçando
nestas a vontade de também aprender a ler e a escrever. O interesse pelos folhetins era visível dado
que todos os jornais que consultámos e que se publicaram na Região de Basto desde fins do século
XIX os traziam em páginas de destaque.
4 - Ainda nesta linha de pensamento, um outro aspecto merece alguma reflexão e algumas
interrogações: não haveria a ideia generalizada de que à mulher seria permitido saber ler numa
ideia básica do que deveria ser a educação feminina?
De facto se cruzarmos as preocupações apresentadas em muitas reuniões quer das vereações
camarárias quer das juntas de paróquias no último quartel do século XIX com algumas actas
emanadas das Conferências Pedagógicas do Círculo de Vila Real, sobretudo as de 6, 7, e 8 de
Outubro de 1886, onde se transmite a ideia de que muitos pais não querem enviar as suas filhas à
escola para que elas não aprendam a escrever pois dessa forma elas já poderiam corresponder-se
com quem quisessem, o que fugiria ao controlo dos próprios pais, poderemos deduzir que de facto
estaria aberta a porta de acesso à leitura de muitas mulheres, que muitas se teriam convertido em
leitoras e que, portanto, seria mais elevado o número de mulheres alfabetizadas (ou
semialfabetizadas) do que aquele que as percentagens apresentam. A abertura dessa porta teria sido
proporcionada pelo movimento de regeneração. De facto, os regeneradores ao pugnarem pela
promoção da família conduziram a alguns avanços na condição social da mulher, sobretudo no
respeitante à sua instrução. Se nos princípios tradicionais a educação reservada às meninas se
141
destinava a convertê-las em mulheres ociosas como sinal de prosperidade e êxito material dos
respectivos esposos, a regeneração irá imprimir algumas alterações neste modelo. As suas funções
tradicionais como esposa e mãe, sobretudo como educadora da primeira infância, tendem a ser
valorizadas. “Através do enaltecimento da maternidade e da responsabilidade da mãe na formação
da criança, encarregava-se a mulher de moldar a mudança e era ela que, no pensar queirosiano,
inculcava no filho os grandes princípios, religião, amor do trabalho, amor do dever, obediência,
honestidade, bondade” (REIS, 1990: 321).
5 - Também o facto de haver um elevado número de padres, - perfeitamente enquadrados
e enraizados socialmente -, que não descuravam uma função que lhes estava acometida, - ensinar a
ler e a escrever -, contribuiria para elevar os índices de alfabetização.
6 - Fazendo uma leitura cruzada das três fontes utilizadas constatamos que o critério da
alfabetização aparece permanentemente ligado ao do rendimento económico.
III
6 - ANÁLISE DO GRAU DE ALFABETIZAÇÃO DA POPULAÇÃO
MONDINENSE EM 1878 E A SUA EVOLUÇÃO ATÉ 1890
6.1 – Introdução.
A partir da revolução liberal de 1820 todos os governos se preocuparam com a situação da
Instrução Pública em Portugal, a par do desejado desenvolvimento económico, o que levou à
produção de muitos decretos-lei e algumas reformas educativas, só que os frutos tardaram a
aparecer como bem demonstram os resultados do inquérito de 1878, que apresentam para o país a
confrangedora percentagem de cerca de 80% de analfabetos contra cerca de 30% nos países mais
ricos do norte da Europa, o que colocava Portugal “na cauda das nações civilizadas de então,
ficando, deste ponto de vista, cada vez mais atrasado, mesmo relativamente a países mais parecidos
com o nosso” (REIS, 1988: 75).
E qual a situação no concelho de Mondim de Basto? Será que aqui existe algum nexo entre
os níveis de educação e do desenvolvimento económico?
Analisemos os dados no quadro nº 31.
142
QUADRO Nº31 . CENSOS DE 1878 PARA MONDIM DE BASTO63
LOCAL
FOGOS
POPULAÇÃO
SABEM LER E
ESCREVER
%
SABEM LER
%
NÃO
SABEM LER NEM
ESCREVER
%
A
T
E
I
424 V S- 410
A
R....C- 248
Õ
E....V-.034
S
F....S- 612
E
M...C-251
E
A...V- 067
S
80
55
09
54
21
00
19,5
22,2
26,4
8,82
8,36
0,00
09
05
00
12
05
00
2,2
2,0
0,00
1,90
2,00
0,00
321
188
025
546
225
067
78,7
75,8
73,5
89,2
89,6
100
B
I
L
H
Ó
198 V S- 307
A
R....C- 102
Õ
E....V-.022
S
F....S-.345
E
M....C- 106
E
A....V- 036
S
75
28
05
12
01
00
24,4
27,4
22,7
3,47
0,94
0,00
19
10
00
07
01
00
6,18
9,80
0,00
2,02
0,94
0,00
213
064
017
326
104
036
69,3
62,7
77,2
94,5
98,2
100
C
A
M
P
A
N
H
Ó
84 V S- 116
A
R....C- 057
Õ
E....V-.005
S
F....S- 111
E
M....C- 057
E
A....V- 008
S
04
06
00
00
00
00
3,44
10,5
0,00
0,00
0,00
0,00
02
01
00
00
00
00
1,72
1,75
0,00
0,00
0,00
0,00
110
050
005
111
057
008
94,8
87,7
100
100
100
100
E
R
M
E
L
O
260 V S- 358
A
R....C- 138
Õ
E....V-.026
S
F.....S- 352
E
M....C- 146
E
103
057
017
27
08
28,8
41,3
66,3
7,67
5,47
11
03
00
43
08
3,07
2,17
0,00
12,2
5,47
244
078
009
282
130
68,15
56,52
34,61
80,11
89,04
63 ANTT, INE. Censos de 1890: 183-84.
143
A....V- 042
S
03 7,14 01 2,38 038 90,47
M
O
N
D
I
M
479 V S- 421
A
R....C- 254
Õ
E....V-.046
S
F....S- 560
E
M....C- 265
E
A....V- 076
S
150
083
021
052
015
005
35,6
32,6
45,6
9,28
5,66
6,57
01
02
01
01
00
00
0,23
0,78
2,17
0,17
0,00
0,00
273
169
024
507
250
071
64,8
66,5
52,17
90,5
94,3
93,4
P
A
R
A
D
A
N
Ç
A
66 V S- 079
A
R....C- 038
Õ
E....V-.008
S
F....S- 112
E
M....C- 038
E
A....V- 011
S
37
17
03
05
04
01
46,8
44,7
37,5
4,46
10,5
9,09
01
01
00
02
01
00
1,26
2,63
0,00
1,78
2,63
0,00
41
20
05
105
033
010
51,9
52,6
62,5
93,75
86,8
90,9
P
A
R
D
E
L
H
A
S
50
V S- 54
A
R....C- 34
Õ
E....V-.08
S
F....S- 68
E
M...C- 36
E
A...V- 05
S
04
07
01
01
00
00
7,40
20,5
12,5
1,47
0,00
0,00
00
00
00
00
00
00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
50
27
07
67
36
05
92,59
79,41
87,5
98,5
100
100
V.
I
L
A
R
F
E
R
R
E
I
R
O
S
237 V S- 288
A
R....C- 123
Õ
E....V-.026
S
F....S- 329
E
M....C- 124
E
A....V- 036
S
74
32
06
03
02
00
25,7
26,0
23,0
0,91
1,61
0,00
17
08
09
03
02
01
5,90
6,50
34,6
0,91
1,61
2,77
197
083
011
323
120
035
68,4
67,4
42,3
98,1
96,7
97,2
144
6.2 - O NÍVEL DE ESCOLARIDADE POR FREGUESIA NO CONCELHO DE MONDIM
DE BASTO EM 1878.
O censo de 1878, apresenta um estudo do nível de instrução da população segundo o
número de indivíduos que sabem ler e escrever, apenas sabem ler e por último os que não sabem ler
e escrever, são analfabetos.
Esse estudo revela ainda a divisão da população segundo o sexo e o seu estado civil,
utilizando a seguinte nomenclatura: solteiros, casados e viúvos.
Centrando uma primeira análise nos dados estatísticos do espaço geográfico em estudo, - o
concelho de Mondim de Basto - , podemos dizer que para uma população de 3142 indivíduos do
sexo masculino, apenas 955 sabem ler e escrever, ou seja 30,4% da população é totalmente
instruída. Dessa população 3,1% só sabe ler, sendo os restantes 2087 indivíduos analfabetos, isto é,
os restantes 66,5% da população não sabe ler nem escrever.
A população feminina regista um total de 3793 habitantes. Deste total apenas sabem ler e
escrever 214 indivíduos, ou seja, 5,6% do total da população feminina. Só dominam a leitura 87
indivíduos do sexo feminino que corresponde a um total da população na ordem dos 2,3%. A
restante população - 3492 habitantes -, não sabe ler nem escrever, o que corresponde a 92% .
Podemos desde já concluir que a população masculina tem uma maior frequência da escola o que
se traduz numa maior percentagem de indivíduos que sabem ler e escrever. No entanto o que é de
realçar, diz respeito ao elevado número de analfabetos, que corresponde a 66,5% da população
masculina e 92% da população feminina.
A freguesia de Atei apresenta um total de população da ordem dos 1622 habitantes, dos
quais 692 são do sexo masculino. Destes, 410 indivíduos são solteiros e apenas 80 sabem ler e
escrever o que corresponde a 19,5% deste extracto da população; 2,2% da população apenas sabe
ler, o que corresponde a um total de 9 indivíduos; os restantes 321 não sabem ler nem escrever o
que representa 78,2% dos solteiros. Nesta mesma freguesia o número de casados é de 248. Destes,
22,2% sabem ler e escrever o que representa 55 do total de indivíduos, apenas 5 sabem ler o que
corresponde a 2% deste grupo; contudo o número de analfabetos é muito elevado na ordem dos
75,8%, ou seja, 188 indivíduos. Dos 34 viúvos apenas 9 sabem ler e escrever o que representa para
este extracto da população uma percentagem da ordem dos 26,4%, os restantes indivíduos não
sabem ler nem escrever, correspondendo a 25 indivíduos e 73,5% da população desse universo.
A população feminina representa um total de 930 habitantes encontrando-se dividida
segundo o estado civil da seguinte forma: 612 solteiras; 251 casadas e 67 viúvas. Desta divisão
podemos observar que da população solteira apenas 54 (8,8%) sabe ler e escrever. Relativamente às
145
casadas, podemos observar que apenas 21 sabem ler e escrever, a que corresponde 8,3% desse
universo, 2% apenas domina a leitura, correspondendo a 5 indivíduos. A classe das viúvas
apresenta 100% de taxa de analfabetismo, ou seja, não domina a escrita nem a leitura.
Na freguesia do Bilhó, para um universo de 431 indivíduos do sexo masculino, verifica-se
a existência de 307 solteiros; 102 casados e 22 viúvos. Desta divisão pode-se concluir com base na
leitura do quadro que dos solteiros apenas 75 indivíduos sabem ler e escrever, o que corresponde a
24,4% do total desse universo. Dos solteiros 19 apenas sabem ler, correspondendo a 6,2% da classe
em análise e 213 indivíduos não domina nenhuma das técnicas, representando os restantes 69,3%
dos solteiros. Relativamente à classe dos casados, podemos observar que apenas 28 (27,4% dessa
classe) domina a escrita e a leitura, 9,8% apenas sabe ler e os restantes 62,7% não sabem ler nem
escrever, representando um total de 64 indivíduos. Os viúvos representam a outra classe em análise.
Destes apenas 5 sabem ler e escrever e os restantes 17, que correspondem a 77;2% dessa classe, são
analfabetos.
Relativamente à população feminina, esta encontra-se dividida segundo as mesmas
classes: solteiras, casadas e viúvas. Desta divisão podemos observar que das solteiras apenas12
sabem ler e escrever, representando 3,5% do total desses indivíduos. 2% apenas sabe ler e 94,5%
não sabe ler nem escrever, correspondendo às restantes 326 solteiras. A classe das casadas
apresenta um total de indivíduos que sabem ler e escrever da ordem dos 0,9%. Os restantes 99,1%
são analfabetos. A classe das viúvas apresenta um índice de 100% de analfabetismo.
A freguesia de Campanhó regista uma população total na ordem dos 354 habitantes,
estando estes divididos em 178 do sexo masculino e 176 do sexo feminino. Dos indivíduos do sexo
masculino verifica-se a existência de 116 casados, 57 solteiros e 5 viúvos. Desta divisão podemos
observar que dos solteiros apenas sabem ler e escrever 4 ,o que representa 3,4% desse universo.
Apenas 2 sabem ler, o que representa 1,7% do total e os restantes 94,8% que corresponde a 110
indivíduos não sabem ler nem escrever. A classe dos casados apresenta um total de indivíduos que
sabem ler e escrever da ordem dos 10,5% ou seja, 6 pessoas. Incluído no grupo dos que apenas
sabem ler está 1 e os restantes 50, que representam 87,7% do total da classe, não sabem ler nem
escrever. Os viúvos desta freguesia, cujo total são 5, têm um índice de analfabetismo de 100%.
A população do sexo feminino regista um total de 111 mulheres solteiras, 57 mulheres
casadas e 8 viúvas. Todos os grupos atrás referidos apresentam um índice de 100% de
analfabetismo, isto é, nesta freguesia as mulheres não sabem ler nem escrever.
A freguesia de Ermelo, apresenta um total de população da ordem dos 1062 habitantes, os
quais se encontram divididos em 522 do sexo masculino e 540 do sexo feminino. Para o universo
do sexo masculino verifica-se a existência de 358 solteiros, 138 casados e 26 viúvos. Desta divisão
146
podemos observar que dos solteiros apenas 103 sabem ler e escrever, o que representa 28,8% do
total desses indivíduos. 3,1% apenas sabe ler e 68,1% não domina nenhuma das técnicas em
análise, correspondendo os restantes a 244 dos solteiros. Relativamente aos casados, estes
apresentam uma percentagem de 41.3% que sabem ler e escrever, apenas 2,2% sabem ler es os
restantes 56,5% que corresponde a 78 indivíduos não sabe ler nem escrever. A classe dos viúvos
apresenta 17 indivíduos que corresponde a 66,3% do total da classe que domina a escrita e a leitura.
Os restantes 34,7%, ou seja 9, não sabem ler nem escrever.
A população feminina desta freguesia apresenta um total de 352 mulheres solteiras, 164
casadas e 42 viúvas. Desta divisão podemos observar que do total de mulheres solteiras 7,7%
sabem ler e escrever, 12,2% apenas sabe ler e 8,1% não sabe ler nem escrever, representando 282
mulheres solteiras. A classe das casadas apresenta uma percentagem 5,5% de mulheres que
dominam a escrita e a leitura e a mesma percentagem para as que só sabem ler os restantes 89% das
mulheres casadas não sabe ler nem escrever, o que representa 130 indivíduos desse universo.
Relativamente às viúvas, 3 mulheres sabem ler e escrever o que representa 7,1% do total, apenas
uma se encontra na população que apenas sabe ler e os restantes 90,5%, que corresponde a 38
indivíduos, é analfabeta.
A freguesia de Mondim de Basto regista uma população total de 1622 habitantes, dos
quais 721 habitantes são do sexo masculino e 901habitantes são do sexo feminino. Do total da
população masculina verifica-se a existência de 421 indivíduos solteiros, 254 casados e 46 viúvos.
Desta divisão podemos observar que do total de solteiros apenas sabem ler e escrever 150 que
representa 35,6% desse universo, um domina apenas a leitura e os restantes 273, ou seja, 64,8% do
total não domina nenhuma das técnicas. Relativamente à classe dos casados 32,6%, um total de 83
indivíduos, sabe ler e escrever, 0,8% apenas sabe ler e os restantes 196 (66,5%), não sabem ler nem
escrever. Dos viúvos, 45,6% sabe ler e escrever, 2,2% apenas sabe ler e os restantes 52,8% não
sabe ler nem escrever, correspondendo respectivamente a 21, 1 e 24 indivíduos.
A população feminina encontra-se dividida em 560 mulheres solteiras, 265 mulheres
casadas e 76 viúvas. Desta divisão podemos observar que das mulheres solteiras apenas 52 (9,3%
do total) sabem ler e escrever, uma apenas sabe ler e as restantes 507 que representam 90,5% do
total não sabe ler nem escrever. Do total das mulheres casadas 5,6% domina a leitura e a escrita os
restantes 94,4% que corresponde a um total de 250 mulheres que não sabe ler nem escrever. A
classe das viúvas apresenta um total de 5 mulheres que sabem ler e escrever, correspondendo a
6,6% do total da classe. Os restantes 93,4%, a que corresponde um total efectivo de 71 mulheres,
não sabem ler nem escrever.
147
A freguesia de Paradança regista uma população total de 286 habitantes, os quais se
encontram divididos em 125 do sexo masculino e 161 do sexo feminino. Dos 125 indivíduos do
sexo masculino, existem 79 que são solteiros, 38 casados e 8 viúvos. Do total de solteiros, 37
indivíduos (46,8%) sabem ler e escrever, apenas 1 se encontra no grupo dos que apenas sabem ler e
os restantes 41 a que corresponde a percentagem de 51,9% dos que não sabem ler nem escrever. A
Classe dos casados apresenta um valor relativo de 44;7% da população que sabe ler e escrever;
2,6% apenas sabe ler e 52,6% da população não sabe ler nem escrever. Mais concrectamente 17
sabem ler e escrever e 1 apenas domina a leitura. Os restantes 20 não sabem ler nem escrever. A
classe dos viúvos apresenta um total de 5 indivíduos que não sabe ler nem escrever, isto é 62,5%;
os restantes 37,5% dominam quer a escrita quer a leitura.
Dos 161 habitantes do sexo feminino na freguesia de Paradança verifica-se a existência de
112 mulheres solteiras, 38 mulheres casadas e 11 viúvas. Desta divisão podemos observar que do
total de mulheres solteiras 5 sabem ler e escrever, 2 apenas sabem ler e 105 não sabem ler nem
escrever, ou seja respectivamente, 4,5% sabe ler e escrever, 1,8% apenas sabe ler e 93,7% não sabe
ler nem escrever. Relativamente às mulheres casadas 10,5% sabe ler e escrever, que corresponde a
um valor efectivo de 4 mulheres, 2,6% apenas sabe ler que corresponde a 1 mulher e 86,8% não
sabe ler nem escrever que corresponde a um total de 33 mulheres. As viúvas apresentam um índice
de 9,1% de mulheres que sabem ler e escrever e os restantes 90,9% que corresponde a 10 mulheres
não sabem ler nem escrever.
A freguesia de Pardelhas apresenta uma população total de 205 habitantes, 96 são do sexo
masculino e 109 do sexo feminino. Dos 96 indivíduos do sexo masculino 54 são solteiros, 34 são
casados e 9 são viúvos. Do total de solteiros 4 sabem ler e escrever, correspondendo ao valor
percentual de 7,4% e 50 são analfabetos, que corresponde a 92,6% do total. Os casados registam
uma percentagem de 20,5% ou seja 7 que sabem ler e escrever, os restantes 27 ,79,4% dessa
população, não sabem ler nem escrever. Os viúvos apresentam 12,5% da sua população que sabe
ler e escrever, ou seja apenas um indivíduo, enquanto os restantes 7 (87,5%) não sabem ler nem
escrever.
O grupo da população feminina desta freguesia apresenta um índice de 100% de
analfabetismo para a classe das casadas e das viúvas. Por sua vez a classe das mulheres solteiras
apresenta uma percentagem de 1,5% ou seja uma mulher que sabe ler e escrever, os restantes
98,5% que corresponde a 67 mulheres não sabe ler nem escrever.
A freguesia de Vilar de Ferreiros apresenta uma população total na ordem dos 926
habitantes, sendo 437 do sexo masculino e 489 do sexo feminino. Dos 437 do sexo feminino 329
são solteiras, 124 são casadas e 36 são viúvas. Desta divisão podemos observar que da população
148
solteira 3 mulheres (0,9%) sabe ler e escrever, 3 (0,9%) só sabe ler e 323 mulheres (98,2%) é
analfabeta. Da classe das casadas só 2 mulheres (1,6%) sabem ler e escrever; a mesma percentagem
para as que só sabem ler e os restantes 96,8% - que corresponde em termos efectivos a 120
mulheres - não sabem ler nem escrever. A classe das viúvas apresenta uma percentagem de 2,8% da
população que só sabem ler o que corresponde a uma mulher apenas e por sua vez 97,2% não sabe
ler nem escrever.
Relativamente à população masculina, esta regista a seguinte divisão: 288 indivíduos são
solteiros, 123 são casados e 26 são viúvos. Desta divisão podemos observar que a classe dos
solteiros apenas 25,7% saber ler e escrever, 5,9% apenas sabe ler e 68,4% da população não sabe
ler nem escrever. A classe dos casados regista uma percentagem de 26% da população que sabe ler
e escrever, o que corresponde a 32 indivíduos, 6,5% apenas sabe ler, respeitante a 8 indivíduos e
67,4% não sabe ler nem escrever, respeitante a uma população de 83. Os viúvos registam uma
percentagem de população que sabe ler e escrever na ordem dos 23% ou seja 6 neste grupo; 9
indivíduos apenas sabem ler o que corresponde a 34,6% da população. A percentagem daqueles que
não sabem ler nem escrever é de 42,3% que corresponde em termos efectivos a 11 indivíduos.
7 - ANÁLISE DO NÍVEL DE ESCOLARIDADE POR FREGUESIA NO CONCELHO DE
MONDIM DE BASTO COM BASE NOS CENSOS DE 1890.
Quadro nº 32. RESULTADOS DOS CENSOS DE 1890
FREGUESIA FOGOS POPULAÇAO SABEM
LER
E
ESCREVER
% SABEM
LER
% ANALFA
BETOS
%
ATEI 473 H.- 768
M.- 927
317
124
41,2
13,3
7
7
0,91
0,75
444
796
57,8
85,8
BILHÓ 211 H.- 417
M.- 452
62
12
14,8
2,65
12
06
2,87
1,32
343
434
82,2
96,0
CAMP. 94 H.-.184
M. –175
59
10
32,0
5,71
03
00
1,63
0,00
122
165
66,3
94,2
ERM. 281 H.- 553
M.- 534
135
022
24,4
4,11
23
05
4,15
0,93
395
508
71,4
95,1
MOND. 473 H.- 744
M. –909
257
171
34,5
18,8
20
10
2,68
1,10
467
728
62,7
80,0
PARAD. 67 H.-.107
M.- 160
39
10
36,4
6,25
00
00
0,00
0,00
069
150
64,5
93,7
PARDE. 47 H.-.92
M.- 97
12
00
13,4
0,00
02
00
2,17
0,00
78
97
84,8
100
V. FERR 261 H.- 465
M.- 504
107
021
23,0
4,16
46
04
9,89
0,79
312
479
67,0
95,0
149
7.1 - Escalas de classificação do conceito de alfabeto, segundo o censo de 1890.
Da leitura dos dados do censo de 1890 podemos identificar três escalas da classificação da
instrução no concelho: o primeiro grupo dos que sabem ler e escrever; o segundo grupo dos que
apenas sabem ler e o terceiro grupo dos que não dominam nenhumas das técnicas anteriores, isto é,
são analfabetos.
7.2 – Análise dos dados.
A análise do quadro permite-nos ainda estabelecer uma comparação directa entre o nível de
instrução por sexo. A par dos efectivos absolutos de cada freguesia, existe um valor relativizado
que nos possibilita uma melhor análise de conjunto.
O concelho de Mondim de Basto regista neste censo um total de 3330 indivíduos do sexo
masculino, dos quais 66,9% são analfabetos, 3,3% apenas sabem ler e 29,9% sabem ler e escrever.
Relativamente ao sexo feminino, o concelho regista um total de 3758 mulheres. Deste total 9,8%
sabe ler e escrever, 0,8% apenas sabe ler e 89,3% são analfabetas.
Podemos desde já realçar que o comportamento a nível das freguesias é um pouco
idêntico se não semelhante ao registado no concelho.
A freguesia de Atei apresenta um total de 768 indivíduos do sexo masculino, dos quais
41,2% dominam a escrita e a leitura, 0,91% apenas sabe ler e 57,8% não sabem ler nem escrever.
No sector feminino a freguesia regista um total de 927 habitantes. Destes 13,3% sabem ler e
escrever, 0,75% apenas sabe ler e 85,8% é analfabeta.
A freguesia do Bilhó regista uma população do sexo masculino e feminino da ordem dos
417 e 452 habitantes respectivamente. Do sexo masculino 14,8% sabem ler e escrever, 2,8% sabe
ler simplesmente e 82,2% não domina nenhuma destas técnicas, é completamente analfabeta.
Relativamente ao sexo feminino, 2,6% da população sabe ler e escreve, 1,3% apenas sabe ler e os
restantes 96% é analfabeta.
Quanto à freguesia de Campanhó, dos 154 habitantes do sexo masculino, 32% sabem ler
e escrever, 1,6% sabe ler e 66,3% não sabe ler nem escrever. Por sua vez a população do sexo
feminino regista um total de 175 habitantes, dos quais 5,7% sabe ler e escrever e os restantes 94,3%
são analfabetos.
A freguesia de Ermelo apresenta uma população masculina na ordem dos 553 habitantes,
destes 24,4% sabem ler e escrever, 4,1% sabem apenas ler e 71,4% não sabem ler nem escrever. O
150
grupo das mulheres apresentam um total de 534 habitantes. Deste total 4,1% sabe ler e escrever,
0,9% apenas domina a leitura e 95,1% é analfabeta.
A freguesia de Mondim de Basto regista uma população masculina na ordem dos 744
habitantes, dos quais, 34,5% domina a escrita e a leitura, 2,6% apenas domina a leitura e 62,7% não
domina nenhuma desta técnica. Das 909 habitantes que compõem o sector feminino 18,8% sabe ler
e escrever, 1,1% apenas sabe ler e 80% não sabe ler nem escrever.
A freguesia de Paradança apresenta uma população absoluta do sexo masculino na
ordem dos 107 habitantes. Destes 36,4% sabe ler e escrever, no entanto a restante população é
analfabeta. Da população do sexo feminino apenas 6,2% sabe escrever e ler e restante população
não domina qualquer uma destas técnicas. Sendo estes dados para um total de 160 habitantes.
Pardelhas é uma das freguesias que regista menor população, apenas 92 indivíduos do sexo
masculino e 97 do sexo feminino. Nesta freguesia a população feminina é completamente
analfabeta, uma vez que não sabe ler nem escrever. Por sua vez o sector masculino regista um valor
de 13% da população que sabe ler e escrever, 2,1% apenas sabe ler e 84,7% é analfabeta.
A freguesia de Vilar de Ferreiros apresenta um total de população masculina na ordem
dos 465 habitantes, entre os quais 23% sabe escrever e ler, 9,8% apenas sabe ler e 67% não sabe ler
nem escrever. O número de mulheres nesta freguesia é de 504, destas 4,1% domina a leitura e a
escrita, 0,7% apenas a leitura e os restantes 95% não dominam nem a escrita nem a leitura, isto é
são analfabetas.
Após a análise individualizada de cada freguesia e do concelho do nível de instrução
podemos concluir que em todas as freguesias praticamente mais de dois terços da população não
sabe ler nem escrever, chegando mesmo a registar na freguesia de Pardelhas e para o sexo feminino
uma taxa de analfabetismo de 100%. A média da população analfabeta é da ordem dos 92,2% para
o sexo feminino. São visíveis também as grandes diferenças entre o nível de instrução dos homens
e das mulheres. Normalmente a taxa de analfabetismo nas mulheres é muito superior à dos homens.
Traduzindo-se na realidade o número de analfabetos em valores, constatamos serem
superiores a 90% do total da população feminina.
Relativamente à população masculina o número de analfabetos ronda em média os 69% de
indivíduos.
151
8 – Conclusão.
Dos números e percentagens acima mencionados podemos concluir que a situação que
encontramos em Mondim de Basto é em muito idêntica à encontrada para o resto do país, conforme
podemos ver no quadro seguinte:
Quadro nº 33. Comparação Entre Índices de Alfabetização a Nível Nacional e Mondim de
Basto.
FREGUESIA POPULAÇAO
RESDIDENTE
EM 1878
1878
% de
ANALFABETOS
POPULAÇAO
RESDIDENTE
EM 1890
1890
% de
ANALFABETOS
ATEI H.- 692
M.-930
75,5
92,9
H.- 768
M.- 927
57,8
85,8
BILHÓ H.- 431
M. 487
69,7
97,6
H.- 417
M.- 452
82,2
96,0
CAMPANHÓ H.-178
M.-176
94,2
100
H.-.184
M. –175
66,3
94,2
ERMELO H.-522
M.-540
53,1
86,5
H.- 553
M.- 534
71,4
95,1
MONDIM H.- 721
M. 901
61,2
92,7
H.- 744
M. –909
62,7
80,0
PARADANÇA H.-125
M.-161
55,7
90,5
H.-.107
M.- 160
64,5
93,7
PARDELHAS H.- 96
M.-109
86,5
99,5
H.-.92
M.- 97
84,8
100
VILAR DE
FERREIROS
H.- 437
M.- 489
59,4
97,3
H.- 465
M.- 504
67,0
95,0
MÉDIA
MONDIM
81,0
MÉDIA
NACIONAL64
79,2
Naturalmente que não podemos aceitar que, tendo o número de escolas evoluído
positivamente no espaço de 12 anos – 1878 e 1890 -, o número de analfabetos se tenha mantido
praticamente inalterável, em Mondim de Basto, acreditando antes que estes números podem não
corresponder à realidade estando enfermados de erros próprios deste tipo de fontes, onde se pecava
por omissão ou até por falsas declarações. Acreditamos poder reforçar esta ideia com o facto de que
64 Dados retirados do Dicionário de História de Portugal, Dir. de Joel Serrão, artigo “Ensino Primário e Analfabetismo”, pág. 395.
152
a população residente pouco se ter alterado, passando de 6995 indivíduos em 1878 para 7088 em
189065
, ou seja, apenas aumentou em 93 indivíduos.
Comparando a média de analfabetos entre homens e mulheres para os dois anos em estudo
obtemos o seguinte resultado: em 1878 temos 69,41% de analfabetos masculinos e 94,6%
femininos; em 1890 temos 69,6% de analfabetismo masculino e 92,4% do feminino. A um ligeiro
recrudescimento de analfabetismo masculino correspondeu uma descida, também ligeira, do
feminino. Se entre ambos há cerca de treze pontos percentuais de diferença isso deve-se
naturalmente ao facto das escolas masculinas terem aparecido muito mais cedo do que as
femininas.
Por alturas do censo de 1890 temos apenas duas escolas femininas a funcionar em todo o
concelho e de criação relativamente recente. Em Mondim a população feminina alfabetizada atinge
18,8% e em Atei 13,3%. Em todas as freguesias, com excepção de Pardelhas, encontramos
mulheres alfabetizadas. Então com quem aprenderam a ler e a escrever?
É possível que tenham adquirido essa instrução em casa, com os familiares e, nalguns
casos conhecidos, com professores particulares.
Em relação ao número de alfabetizados do sexo masculino, saem beneficiados os
moradores dos concelhos mais urbanizados: Atei apresenta 41,2% de alfabetizados e Mondim
34,5%, média superior à nacional. Ermelo surge-nos como excepção nesta regra dado apresentar
apenas 24,4% de alfabetizados masculinos, o que vem apenas reforçar uma ideia já constatada
várias vezes: em Ermelo era enorme o absentismo escolar. Devemos salientar aqui que em Atei
entre as duas datas assinaladas o analfabetismo masculino diminuiu 17,7% e o feminino 7,1%. No
Bilhó o masculino subiu 13,5% e em Campanhó baixou 27,5%. Em Ermelo, a reforçar aquilo que
temos vindo a dizer, o analfabetismo masculino cresceu 18,3% e o feminino quase 9%. Em
Mondim o analfabetismo masculino sobe muito ligeiramente mas em compensação baixa 12,7% o
feminino.
Também algumas dúvidas nos surgem em relação à freguesia do Bilhó. Com apenas
14,8% de indivíduos alfabetizados, o número parece-nos muito exíguo para uma freguesia que
tinha escola desde 1833 sem qualquer sobressalto, e sabendo nós que no lugar do Bobal havia
uma professora que ensinava numa casa particular todos os que quisessem aprender a ler,
escrever e contar, para além de ensinar às meninas rudimentos de lavores e dar até lições de piano.
É certo que aqueles aprendentes – quase todos adolescentes ou mesmo já adultos -, não eram
65 Tanto o censo de 1878 como o de 1890 referem mais 21 indivíduos que não foram contabilizados por nós por fazerem parte da
população não residente.
153
propostos para exame. Se estes não eram contados como alfabetizados então isso quer dizer que só
o era quem tinha frequentado a escola primária e era portador de um certificado comprovador?
Pardelhas surge-nos como a freguesia com menor índice de alfabetismo ou até mesmo nulo para
o sexo feminino. A freguesia está envolta em serranias, sem acessibilidades quer à sede do
concelho quer do distrito. Vive modestamente dos gados e da fraca agricultura. Perante este cenário
que interesse tinha aprender a ler e a escrever? Mandar os filhos estudar para longe era dispendioso
e eles faziam falta no apascentamento do gado, tal como ainda hoje, finais do século XX se
verifica.
É baixíssima a percentagem de indivíduos dos dois sexos que só sabem ler o que
demonstra que a aprendizagem da leitura e escrita estavam associadas e que a aprendizagem de
uma levava quase automaticamente à aprendizagem da outra.
Se cruzarmos esta fonte com os resultados obtidos com as assinaturas das testemunhas nos
testamentos chegamos à mesma conclusão.
155
1 - O LENTO CAMINHO DA MUDANÇA
1.1 – Introdução.
Aqui, onde as aldeias envelhecem, a memória persiste, Cravada no granito das casas e nas rugas dos rostos. Em cada Agosto
que passa, aqueles que saíram regressam para beber da memória, matando uma sede a que também chamam saudade
(CAMPUS, 1998: 1)
Procuramos até aqui fazer uma caracterização física, política, económica, social, cultural e
educacional do actual concelho de Mondim de Basto a partir da segunda metade do século XVIII.
Verificamos estar perante um concelho típico do interior rural, onde as raízes estruturais do Antigo
Regime se prolongam muito para além da revolução liberal.
O quadro que nos é apresentado em 1825 pelo visitador José António Madureira é
esclarecedor. Segundo ele “Mondim está em grande decadência, tudo são ruínas e casas
depauperadas; a Igreja e as capelas vão seguindo a mesma sorte, sendo tudo, em outro tempo, bom”
(anexo nº 4). O panorama, segundo o mesmo visitador estende-se ao resto do concelho. Na visita
anterior, Atei fazia parte do grupo de terras denunciadas como más, onde reinava a luxúria e a
lascívia.
A rede de transportes e das comunicações mantém-se, de um modo geral e pelo menos
durante a primeira metade do século XIX a mesma que caracterizava o Antigo Regime.
Inexistência de estradas, pontes, etc.
A sociedade rural mondinense evoluiu de forma muito lenta dos fins do século XVIII até
aos nossos dias. Apesar das alterações (e altercações) políticas a nível nacional, de onde
destacamos as Invasões Francesas (1807-1810); a Revolução Liberal (1820); o retorno ao
Absolutismo (1828-1834); o Setembrismo (1836-1842); o Cartismo Cabralista (1842-1846); a
Patuleia (1847), a Regeneração (1851), etc., e das alterações legislativas, de onde destacamos a
abolição dos Direitos Banais (1821), a Redução dos Forais (1822), a propriedade consignada como
um dos direitos fundamentais do Cidadão (constituição de 1822), a Extinção das Ordens Religiosas
(1834), a Desamortização (1835), o fim dos Morgadios e Capelas (30 de Julho de 1860 e 19 de
Maio de 1863), etc, os ventos da mudança tardaram a chegar ao mundo rural onde a vida continuou
num ritmo próprio alheia às novas que chegavam de Lisboa ou do Porto, e onde a estrutura social
se mantém acomodada e praticamente inalterável.
O ruralismo repercute-se na estrutura da população. A dispersão desta e a ocupação
fundamentalmente agrícola estruturam a sociedade tradicional mondinense. Os dados falam por si:
156
de 54% da população activa no sector primário em 1795 passamos para cerca de 90% em 1890,
uma média superior à nacional que era de 88,5% em 1864, de 87,8% em 1878 e de 85% em 1890,
segundo os dados de Amorim Girão.
O sector secundário apesar de ver aumentar o número de indivíduos, não aumenta em
termos percentuais e o sector terciário, embora veja aparecer um conjunto de novas profissões
principalmente ligadas à prestação de serviços – promovidas pelo liberalismo, pela substituição do
senhorialismo pelo capitalismo, pelo tímido alargamento da rede viária -, continua pouco
significativo.
A pequena propriedade e o autoconsumo, que por si só não geram grandes riquezas,
produzem porém uma certa estabilidade social, onde cada um acha que o lugar que ocupa é o seu
sem haver lugar para grandes interrogações, o que era reforçado por uma doutrinação religiosa que
fazia a apologia da resignação, da deferência e do respeito.
O fraco desenvolvimento industrial, as sobrevivências aristocráticas e a persistência de
valores tradicionais definem os limites impostos à instauração da nova ordem social. “Longe do
radicalismo revolucionário de outras nações, a sociedade liberal portuguesa optou pela conciliação
entre grupos e quadros dirigentes oriundos do antigo regime e a integração de novos membros,
associando velhas e novas estruturas, tradição e modernidade” (MATTOSO, ob. Cit. 442), isto é,
não se conseguiram criar formas de ruptura capazes de nos libertarem das amarras do Antigo
Regime - que só desaparecerão num já adiantado século XX -, daí assistirmos a uma muito lenta
implantação do regime liberal.
Perante este quadro, tal como Joel Serrão também nós perguntaremos: “Como é que os
homens de então raciocinavam, e a partir de que elementos eles municiavam as suas mentes para a
compreensão da realidade envolvente?
Até que ponto a elite mais ou menos iluminada podia influir na pesada marcha das coisas?
Que tensões, desajustes, incompatibilidades seriam descortináveis entre os homens do mando e a
vasta massa popular, uns e outros com as suas culturas, as suas utensilagens mentais, as suas
implicações em dadas realidades?” (SERRÃO, 1973: 15). Em que medida é que os destinos de vida
reflectem ou não a escolarização?
2 – A ESTRUTURA SOCIAL: PERMANÊNCIAS E MUDANÇAS
2.1 - O Povo.
Como é que a população rural mondinense evoluiu ao longo do século XIX?
157
Em finais do século XVIII tínhamos 785 indivíduos ligados a actividades agrícolas
(quadro n.º 2) distribuídos por Lavradores (551) e jornaleiros (234), para uma população de 4850
indivíduos (quadro n.º 1). 100 anos mais tarde (1890) são referenciados 2226 indivíduos do sexo
masculino (quadro n.º 4) distribuídos por Trabalhadores Agrícolas (2224) e a Viver dos
Rendimentos (2), para uma população de 7109 indivíduos (quadro n.º 1). Com este tipo de
classificação ficamos sem um quadro social nítido. Subiu o número de proprietários ou baixou? E
os jornaleiros, rendeiros e pastores? A clarificação dos dados permitir-nos-ia perceber as linhas de
força da evolução do campesinato. Assim, deveremos interpretar estes dados com todos os
cuidados, mas, tendo em atenção a conjuntura nacional, é bem possível que o número de
proprietários tenha aumentado, ao mesmo tempo que diminuía o dos rendeiros, mantendo-se os
outros sensivelmente iguais. Ora, a um aumento do número de proprietários corresponderia
necessariamente um maior fraccionamento da propriedade, que levaria a uma diminuição dos
rendimentos – que se tornaria mais visível nos anos de fracas ou excessivas produções (e são vários
a partir de 1853), originando o abandono dos campos, levando à concentração fundiária, e abria
cada vez mais as portas da emigração. Acreditamos que esta tese ainda mais se reforça quando
olhamos para o número de mulheres – 2400 – que também se dedicam aos trabalhos agrícolas em
1890. De facto, se por um lado a participação da mulher nesses trabalhos era importante para a
manutenção da economia familiar, por outro lado o carácter selectivo da emigração –
fundamentalmente masculina -, contribuía para reforçar o seu papel na produção agrícola. Porém,
pouco ou nada sobeja e em cada novo ano repetir-se-á o ciclo da sobrevivência E se ao longo do
século XIX assistimos no País a mudanças estruturais que fariam prever uma melhoria qualitativa
na agricultura, por detrás disso continuarão a persistir estruturas tradicionais dificilmente mutáveis,
que emperrarão essas mesmas mudanças.
A organização económica das actividades produtivas assenta numa lógica familiar, onde o
recurso ao trabalho infantil e juvenil era prática corrente. Desde cedo as crianças contribuem com o
seu trabalho para a economia familiar, quer auxiliando nos trabalhos do campo, guardando o gado,
apanhando lenha ou ganhando o dia à “Jorna”. “Tem a altura de uma enxada e a utilidade de um
homem. Sai de madrugada, recolhe às trindades”, assim escrevia Eça. A existência da policultura
obriga a um trabalho permanente na terra, não permitindo a existência de tempos mortos e como tal
não favoráveis à prática da leitura e da escrita.
A miséria persiste no horizonte, miséria esta a causa principal enunciada por A. Herculano
em 1874 que estava por detrás do fantástico fenómeno da emigração para o Brasil: “era o fugir-se à
miséria pelo respiradouro das empresas marítimas e das conquistas, que consumiram as forças
158
vivas do reino e que, enriquecendo-o na aparência, o empobreceram na realidade, convertendo-o
num grémio social, cujas feições características foram por séculos o madraço e o mendigo”.
(Herculano in GODINHO, ob. cit: 258). Haverá algum exagero nesta análise, se tivermos em linha
de conta o inquérito parlamentar à emigração realizado em 1872, segundo o qual não era a penúria
e a falta de emprego que a provocava, visto que no Minho, (a parte sul do concelho de Mondim é
tipicamente minhota), local de grandes saídas, havia falta de braços o mesmo acontecendo noutras
partes do país (Aveiro, Alentejo e Douro, por exemplo) locais que em épocas de maior faina
agrícola recebiam braços de fora. Sabemos que de Mondim iam, e continuam a ir, “rogas” para o
Douro na época das vindimas, o que representava mais alguns proventos na economia familiar.
Para além disso a política fontista de construção de caminhos-de-ferro, pontes e estradas facilitou
emprego a muita gente, oriunda principalmente dos meios rurais e, a jusante, acabou por promover
o aumento da área cultivada conseguindo-se mais mercadorias a colocar nos mercados e também o
aumento dos lucros. Além do mais para se emigrar era preciso algum dinheiro para a viagem e só o
teria, ou quem tivesse propriedades, que poderia vender antes de partir, ou “courelas” – porção de
bens que segundo o código civil não podia deixar de herdar -, que serviam de garantia aos
emprestadores.
Para o fim do século e princípios do seguinte a construção de pontes e estradas permitirão
uma maior abertura ao exterior, maior acesso às novas técnicas agrárias (“O Progresso de Mondim”
faz frequentemente publicidade às novas máquinas agrícolas e aos novos adubos e sementes) e às
influências urbanas. Alargam-se os horizontes das populações rurais. Facilita-se a emigração.
Promove-se a aproximação do urbano com o rural. Afinal móbeis suficientes para um maior
interesse pela escola e pela cultura escolar.
2.2 - O Clero.
Como já dissemos continua numeroso e a exercer uma grande influência sobre o ritmo de
vida imposto no concelho. Compete-lhe, para além das práticas religiosas – muito abaladas pelo
fim das ordens religiosas em 183466
, mas continuando a ser muitas e muito importantes para o povo
rural -, exercer funções de natureza bancária – emprestando, através das Irmandades das Almas,
dinheiro a juros, normalmente a 5% -, - administrativas – registo paroquial, organização das
eleições, intervenção no recrutamento militar, etc, o que os convertia em verdadeiros agentes
66 Já em 1814 o Investigador Português em Inglaterra publicava um projecto de um plano para extinguir as ordens religiosas em
Portugal, preocupando-se ao mesmo tempo com o futuro dos clérigos. No ponto IV podemos ler: “Muitos empregos civis poderão
propriamente ser preenchidos pelos frades secularizados; a Educação, e ensino público de primeiras letras, línguas, e artes...”
(MATTOSO, ob. Cit.: 343).
159
Estado-nação -, e política – são muitos os que ao longo do século XIX e princípios do XX exercem
o cargo de vereadores ou presidentes das juntas de paróquias. São os casos dos padres Miranda e
Victorino Pires em Atei, Peixotos em Ermelo ou Luís Reis e Justino Lemos em Mondim. Prepara
intelectualmente os ordinandos e os clérigos in minóribus, ensinando-os a ler, escrever e noções de
gramática. É certo que as informações dos visitadores nem sempre são abonatórias do bom
comportamento cívico e moral que os padres deveriam ter ou dos conhecimentos que possuíam –
muitas vezes insuficientes quer em ortografia quer em caligrafia -, mas também não deixa de ser
verdade que muitos dos visitadores exagerariam nas informações prestadas. E se o Ensino não os
motiva nos primeiros anos do século XIX, a situação alterar-se-á com o liberalismo. De qualquer
modo é evidente que o poder dos membros do clero lhe advém do grau de escolarização que
possuía, facto que o transformava numa verdadeira elite local.
2.3 - A Nobreza.
Detentora de bens móveis ou de raiz e também bastante alfabetizada, o que seria obrigatório
em função dos cargos que exercia (tendo em consideração os exemplos que conseguimos
identificar).
A terra não os incentiva a por cá morarem, o que terá feito com que nenhum bacharel ou
doutor por cá se fixasse para exercer a sua profissão, pelo menos de 1820 até meados do século
XIX. Vivem longe, exercem cargos na administração do reino e só vêm à terra para receberem dos
caseiros, meeiros e rendeiros as rendas estipuladas. Com o fim dos morgados e capelas, provocados
pelo movimento da Regeneração que leva a uma maior divisão da propriedade, o grupo dilui-se
mas, como grandes proprietários que continuam a ser, continuam a escolarizar-se e a mandar os
seus filhos à escola onde aprendem a ler, escrever e contar e ainda para o colégio (Lamego) ou para
a universidade (Coimbra e Porto), conseguindo assim um estatuto que lhe permite o domínio, a par
do clero, da vida social e política pois auferem rendimentos que lhe dão poder e, claro, segurança
económica. Continuam a ser eleitos para cargos da administração central (Deputados,
Governadores Civis, etc.) ou da administração local (Câmara, Paróquia, etc.). Daqui resultava uma
complexa sobreposição de papéis e de funções.
Em suma, se progressivamente o grupo vai definhando ao mesmo tempo que se subvertem
os valores tradicionais da sociedade – que deixam de repousar no nascimento e na fortuna -,
também não deixa de ser verdade que conseguiu adaptar-se aos novos tempos e, muitas vezes
camuflado sob a figura de “cacique”, continuará a ser influente e a exercer influências.
160
2.4 - A Burguesia.
Tomando como base os Censos de 1890 (quadro n.º 4) e ainda as profissões identificadas
nos testadores e testemunhas dos traslados de testamentos bem como a relação dos eleitos para
jurados podemos incluir neste grupo os funcionários públicos, professores, advogados, médicos,
estudantes universitários, mercadores, homens de negócios, industriais, militares e os indivíduos
que vivem dos rendimentos, podemos calcular uma percentagem que se aproximará dos 10%. Valor
subestimado? Provavelmente sim dada o carácter muito impreciso de algumas nomenclaturas
utilizadas. Trata-se, de qualquer modo, de um número que nos merecem muitas reservas.
A burguesia, principalmente a partir da Regeneração compra os bens ou títulos
nobiliárquicos para ascender ao grupo dos nobres criando com isso “uma nova mentalidade de
compromisso, aliando-se os valores burgueses ao fascínio da tradição aristocrática e ao peso do
formalismo da etiqueta” (REIS, 1990: 316) mas depressa se apercebe que a solidez e crescimento
do seu grupo só é possível pelo reforço da instituição familiar, das regras de etiqueta e boas
maneiras. Deixa de contar a linhagem (que havia sido importante para a nobreza), para se valorizar
excepcionalmente a família – célula da sociedade -, enquanto projecto de aspirações. Assistimos,
assim, para o fim do século ao despertar de uma nova mentalidade cuja base de sustentação são a
Escola Primária e a Imprensa.
“O modo de vida e o nível de cultura, o mérito pessoal, a fortuna e a pertença a uma família
conhecida ou a um determinado meio eram elementos de consideração social cada vez mais
importante na novel sociedade burguesa” ( MATTOSO, ob. Cit. 449).
2.5 – Conclusão.
É o pequeno proprietário, dependente das crises de produção e sem outros meios, que
impera na realidade mondinense ao longo do século XIX e que encontra na emigração para o Brasil
ou no emprego na cidade a solução para os seus problemas económicos. Para estes a mobilidade
social permanecia fraca, mesmo por parte daqueles que se tornaram mestres de ofícios ou pequenos
comerciantes, os quais, apesar de alfabetizados, não ganham o suficiente para adquirir propriedades
e assim não adquiriam o estatuto que lhes permitiria ascender na hierarquia social. Têm lugar
apenas como eleitores, sem ser eleitos, e como membros dos Jurados, o que prova que a evolução é
muito lenta e que a posse da terra e a sua forma de exploração continuam a ser o principal critério
que determinava o lugar de cada um na hierarquia social. Paralelamente, temos o caso daqueles,
médios ou grandes proprietários, que sobrevivem às crises, que adquirem mais propriedades (em
161
1903 quando a Junta de Paróquia de Atei procedeu à venda de alguns baldios para arranjar dinheiro
para a construção da Escola e do Cemitério só conseguiu vender alguns numa primeira hasta
pública, pois os potenciais compradores achavam os preços exagerados e por isso só alguns a eles
tiveram acesso) e assim ascendem socialmente à nova classe média em formação num processo que
levará anos a consolidar-se mas que fará deles ao mesmo tempo esteios e principais beneficiados
com a República.
E são estes que, à medida que caminhamos para o fim do século XIX, ao adquirir mais
propriedades recebem mais lucros e acabam por perceber, por um lado, precisam de se alfabetizar
para poder satisfazer necessidades impostas pela burocracia e, por outro, de que “o acesso à cultura
escrita e a capacidade de a utilizar no quotidiano, não apenas se traduz numa formalização e
instrumentalização da observação da realidade, como afecta as formas de representação e afirmação
social” (MAGALHÃES, 1994: 275). Mandam, por isso, os filhos à escola ou aos serviços prestados
por professores particulares para se formar e informar. É, assim, este grupo que “compõe” em
grande parte a percentagem dos alfabetizados no concelho.
Saem assim, lentamente, de uma cristalização a caminho da promoção da mudança. Passam
a ocupar lugares a que só os padres e poucos mais tinham ocupado até então. Dedicam-se a
actividades ligadas ao sector terciário. Urbanizam-se. E também emigram.
Neste processo de lentas transformações, onde se entrecruzam linhas de força com
contornos ainda pouco definidos, porque nunca estudados, torna-se contudo visível que às portas da
implantação da República a sociedade mondinense se pode caracterizar pela existência de uma
grande maioria de gente do povo, que persiste na manutenção de valores tradicionais mas já
demonstrando alguma abertura aos valores urbanos, por uma burguesia em tímida ascensão que vai
ganhando paulatinamente consciência de classe, que se alfabetiza aceitando ser aculturada por uma
escola primária eivada de valores urbanos, por uma nobreza em franca decadência e por um clero
que, resistindo e adaptando-se – viveu-se uma situação harmoniosa entre a Igreja e o Estado entre
1848 e 1910-, viu os seus efectivos diminuir constantemente mas manteve sempre elevado o seu
prestígio.
3 - FUNÇÕES E PRÁTICAS DA ALFABETIZAÇÃO E DA ESCOLARIZAÇÃO
3.1 - A Alfabetização como Desenvolvimento
162
“Aqui, onde mito e rito se entrelaçam, há saberes que resistem, escurados no
tempo; há usos que nos fazem gente; há costumes que nos são intrínsecos; há
lendas que nos enriquecem; há um passado e um chão que explicam que sejamos
nós” (CAMPUS, 1998: 1).
Vulgarmente consideramos alfabetizado todo o indivíduo que adquiriu as capacidades do
ler, escrever e contar e aplica esses conhecimentos em situações de funcionalidade. Quanto a nós
trata-se de uma visão muito reducionista do conceito de alfabetizado isto porque sabemos que há
indivíduos tidos por analfabetos mas que são detentores de conhecimentos e saberes, de
competências e experiências que deveriam de ser tidos em consideração na construção do conceito
de alfabetizado. De facto, quando por via oral um membro do povo é capaz de transmitir às
gerações seguintes os meios e técnicas de fazer os utensílios ou as ferramentas habitualmente
usadas na comunidade não deveríamos inscrever esse indivíduo no grupo dos alfabetizados, ou,
pelo menos, semialfabetizados? Por outras palavras, o conceito de alfabetizado não deveria ser
mais abrangente do que é?
Se assim fosse as fontes fornecer-nos-iam outros números. E é com base nelas que
poderemos fazer uma ideia da evolução do número de alfabetizados ao longo da 2ª metade do
século XIX. Começamos pelos traslados de testamentos: 40% de testadores homens, de testamentos
feitos entre 1874 e 1900 sabem ler e escrever. São alfabetizados. Trata-se de percentagens muito
interessantes e que nos provam que o médios e grandes proprietário praticavam a leitura e a escrita,
ou porque exerciam funções de poder, ou porque tinham que ser administrador dos seus próprios
bens, participarem como testemunhas em testamentos, fazer inventários, manifestos de vinhos, etc.
Por sua vez 97% das testemunhas, sempre homens, também dominam a leitura e a escrita. Como se
distribuem por trinta e sete profissões poderemos deduzir que há uma grande interligação entre a
estrutura socioprofissional e o nível de alfabetização. Passando para outro indicador que nos é dado
pelos censos, verificamos que em Atei temos 24,5% de alfabetizados em 1878 número que sobe
para 42% em 1890. É uma subida espectacular mas que não é acompanhada nem em Mondim, onde
em 1878 tínhamos 39% de alfabetizados e 38% em 1890, nem em Ermelo onde de 46% de
alfabetizados em 1878 passamos para 29% em 1890. Se fizermos uma análise cruzada entre os
dados dos inquéritos de 1873-74, a inspecção de 1875 e os censos de 1878, ficamos admirados por
termos em Ermelo 46% de alfabetizados. Então, com um absentismo escolar tão elevado, como é
possível aquele número de alfabetizados?
Como já referimos a população nestes dois períodos manteve-se praticamente igual. Os
valores ainda assim são superiores à média nacional que era de 17,6% de alfabetizados em 1878 e
163
de cerca de 21% em 1890. A crescente urbanização dos lugares, por um lado, o aparecimento de
novas profissões e a emigração para o Brasil, por outro, seriam os móbeis responsáveis por esses
valores.
Nas restantes freguesias os índices de alfabetizados permanecem muito baixos. Se olharmos
para os índices de alfabetização femininos então as coisas complicam-se ainda mais. Nos 65
traslados de testamentos analisados verificamos que 20% de mulheres sabem ler e escrever. As
outras testadoras “rogam” a alguém que por elas assinem, depois de declararem não o saber fazer. É
um número elevado mas revelador do elitismo da situação quando olhamos para os resultados dos
censos onde encontramos índices de alfabetização nunca superiores a 15% - Mondim e Atei em
1890-, e de apenas 5% em média para as restantes freguesias. Isto é, se a partir dos meados do
século XIX se criaram as condições políticas favoráveis à instrução feminina dado que é “preciso
que as mulheres se vão habilitando a tornar-se cidadãs úteis e prestadias, porque são verdadeiros
membros do corpo político, e interessam directamente com a ordem social, e com o bom regímen
dos negócios públicos. É preciso que a inteligência feminina se revigore com o conhecimento das
verdades religiosas para evitar o fanatismo e a superstição, em proveito da família, seu e da
humanidade” (MATTOSO, ob. cit.: 451), os números revelados pelos censos analisados mostram-
nos que entre desejos políticos (teóricos) e as realidades (práticas) as distâncias eram
confrangedoras.
Já aqui referimos o caso da professora do Bobal. Segundo informações prestadas por
Joaquim de Carvalho, era a satisfação de necessidades básicas, onde sobressaía o entender o que o
médico dizia e escrevia nas respectivas receitas, que levava os indivíduos (adolescentes e adultos) a
procurar os seus ensinamentos. Aqui estaríamos perante um processo de alfabetização puro em que
o verdadeiro móbil era a satisfação de interesses pessoais. Por outras palavras: a alfabetização
visava uma dimensão eminentemente prática – capacitar os indivíduos com os rudimentos
necessários para a satisfação de necessidades pessoais e por alargamento para poderem participar
nos actos vitais da paróquia.
Enfim, ao longo do século XIX o acesso à leitura e à escrita revela-se sempre muito
selectivo, independentemente do facto de encontrarmos grupos socioprofissionais que lidam
regularmente com a leitura e a escrita. O fim do século fará mudar as coisas, para melhor.
164
3.2 - A Escolarização e o seu Papel Alfabetizador
Tendo por base o período de tempo analisado neste trabalho e as fontes seleccionadas que
serviram de base para o mesmo não podemos identificar com clareza uma demarcação de transição
da Alfabetização para a Escolarização mas podemos identificar momentos em que os dois
processos coexistem mas com móbeis diferentes e com estruturas, métodos e graus de
aprendizagem também diferente.
A escola surge em Mondim com um carácter de permanência no reinado de Dª. Maria I.
Periclitante, a princípio, o que provoca algumas reclamações, mas consolida-se com o andar dos
anos. Enquanto assistimos, na primeira parte do século XIX, ao fecho de várias escolas um pouco
por todo o país no que acompanham o fim de muitos concelhos, aqui as três escolas criadas
oficialmente e a particular, criada por legado pessoal, manter-se-ão sempre em funcionamento.
Não dispomos de dados quantificados antes dos inquéritos de 1863-64, o que provoca
naturalmente graves lacunas neste trabalho, ficando assim sem sabermos quantos alunos
frequentaram as escolas e que grau de aproveitamento dela tiveram. Aqueles inquéritos são os
primeiros a fornecer-nos alguns elementos, já por nós analisados em capítulo específico. Por eles
ficamos a saber que havia inscritos 131 alunos do sexo masculino nas escolas oficiais e apenas 15
na particular e que era de 6 o número de meninas. A frequência regular era de 75 alunos, ou seja,
cerca de 50%. Apenas quatro alunos completaram a escolaridade mas sem exame. Por esta altura
terão completado a sua formação escolar os jovens Joaquim Augusto Alves Ferreira e Manuel
Augusto Pereira e Cunha, duas figuras por nós adiante referidas.
Os inquéritos de 1873-74 e os resultados da inspecção de 1875 dizem-nos que frequentam a
escola em Mondim um total de 240 alunos (incluímos as meninas e os da escola nocturna), e em
Atei 375 alunos, num total de 615 alunos. Como não sabemos quantos andavam na escola de
Ermelo, por falta de preenchimento dos respectivos mapas, acreditamos que o número seria bem
mais elevado. Mesmo sem os números de Ermelo verificamos que no prazo de 10 anos – 1863 a
1873 -, o número de alunos passou de 152 para 615, o que representa uma subida de 404%, número
que não encontra justificação no aumento populacional pois de 7059 habitantes recenseados em
1864 o número baixa para 7016 em 1878. Sabendo das condições para a prática de ensino
perguntaremos: onde é que os professores “metiam” todos estes alunos? Que condições de
trabalho?
Os resultados finais continuam desanimadores. Apenas 6 alunos prontos, mas sem exame. A
situação começará a melhorar ligeiramente a partir de 1882 (quadro n.º 15). Perante estes
resultados, que conclusões podemos tirar?
165
Ao procurar atingir como metas objectivos de natureza social, política e ideológica; ao
procurar trazer uma forte marca de urbanidade para o seio das populações rurais onde não se
haveria de valorizar um conjunto de práticas e saberes que cada aluno transportaria a escola mais se
fechava do que se abria e tornava-se um “quebra-cabeças” para a esmagadora maioria dos alunos.
Diremos mesmo até que a escola não se revelava assim como um núcleo essencial do processo
educativo dado haver, segundo o que algumas actas deixam transparecer, muitos pais que enviam
os seus filhos aprender com professores particulares (em Mondim, Atei e Bobal, pelo menos).
Fazem-no, ou por falta de implantação da escola nesses lugares ou, apesar de a haver, postos
perante a degradação do sistema educativo escolhiam o ensino particular ou doméstico, em
detrimento do oficial.
Poderemos deduzir desta situação que uma grande maioria destas crianças abandona a
escola logo que sabe ler alguma coisa, escrever sofrivelmente e fazer algumas contas? Estaremos
perante um fenómeno de utilidade instrumental do ler, escrever e até contar? Ou teremos que
concordar com D. António da Costa que a juntar ao reduzido número de alunos inscritos a nível
nacional e ao grande absentismo referia a carência geral de um professorado competente, da
deficiência dos métodos, da falta de directórios, e do desleixo dos pais, a quem o estado concede a
absurda liberdade de matarem o espírito e a carreira de seus filhos” (COSTA, 1884: 264 e 265),
dado que os tiravam da escola quando nem sequer “tinham aprendido os primeiros
rudimentos”(COSTA, ob. cit: 278 e 279).
Cumprindo apenas um papel alfabetizador, estamos perante uma grande ineficácia do
sistema educativo, no que dizia respeito a uma tarefa que era suposto possuir: preparar os alunos
para o prosseguimento dos estudos. De quem era a culpa? Da família, que consideraria a escola um
empecilho no aumento dos rendimentos familiares? Da criança que, mal alimentada, vestida e
calçada, tem uma certa vergonha em passar o dia ao lado dos colegas melhor arranjados? Porque os
trabalhos dos campos se revelavam mais importantes? Porque, muitos alunos, juntos em salas
pequenas, também seriam desmotivantes? Porque os conteúdos programáticos nada diziam à
maioria dessas crianças? Porque as estratégias pedagógicas seriam desajustadas à idade dos alunos?
São muitas as interrogações e muitas as dúvidas e incertezas que não nos deixam senão ser
muito cuidadosos com as ilações que tiramos. Mas se a nós nos atormentam estas questões o
mesmo aconteceu aos professores que participavam das Conferências Pedagógicas do Círculo de
Vila Real. Também eles se interrogam se, para além dos saberes do domínio cognitivo que a escola
transmitia não seria também de grande utilidade ministrar-lhes aulas de Educação Física e outros
ensinamentos que os preparassem para se tornarem bons cidadãos. Agora uma outra se levanta:
continuidade ou ruptura entre os processos de alfabetização e de escolarização em Mondim de
166
Basto? É muito nítido que a partir dos meados do século XIX, o Estado ao permitir que os horários
escolares se tornassem flexíveis e se adaptassem ao calendário agrícola visava uma evolução na
continuidade. Mondim e Atei aperceberam-se disso desde logo e, mais tarde, Bilhó também.
Contudo, se assistimos, por um lado, ao facto de os alunos faltavam muito às aulas, revelando
desinteresse, por outro assistimos também a situações em que as pessoas querem aprender os
rudimentos mínimos que a alfabetização permite tendo como móbil a satisfação das suas
necessidades sociais do dia-a-dia, como é o caso do Bobal, Anta e Pioledo, sem que a existência da
Escola se revele fundamental. Parece-nos, assim, que os dois modelos coexistem durante muito
tempo.
4 - MATERIALIDADE E ACÇÃO
4.1 -- As Elites e a Classe Média na Gestão Municipal e Paroquial
Começamos por considerar elites “todos aqueles que se encontrem no vértice da
hierarquia social, exercitando funções importantes que são valorizadas e reconhecidas
publicamente através de recompensas materiais significativas, diversas formas de privilégios, de
prestígio e outros benefícios de direito e de facto” (Giovanni Busino, 1992, cit. Por MATTOSO,
ob. Cit.: 459).
Importa-nos então saber, por um lado, quem foram os indivíduos que poderemos incluir
naquela definição e, por outro, se ao exercício daquelas funções estaria intimamente ligada uma
determinada capacitação alfabética.
Os cargos de administração aparecem-nos sempre pela seguinte ordem: juiz, Vereador e
Procurador para o século XVIII e princípios do XIX para depois dar lugar a Administrador,
Presidente de Câmara e Vereadores.
Vejamos alguns exemplos: em 1778 encontramos eleito para juiz em Mondim o Dr. Manuel
Francisco Magro e Oliveira. No ano seguinte fará parte dos eleitos mas como vereador. Trata-se de
um nobre da família dos Magros e Mouras.
Em Atei em 1795, e pelo menos até 1821, encontramos como administrador o professor de
Primeiras letras João Borges de Azevedo, que posteriormente dará a vez a um filho seu. Em Ermelo
será da família dos Costas (Manuel Martins da Costa, administrador e Vicente José da Costa,
escrivão, por exemplo), que sairão a maioria dos escolhidos até 1850. Não sabemos se algum
possuía algum título mas verificamos que ambos assinam as actas pelo seu próprio punho e numa
escala que poderemos considerar elevada.
167
A revolução liberal e os movimentos políticos consequentes promovem uma
redistribuição social de rendimentos da terra e um sistema de recompensas sociais que assentarão
na fidelidade político-ideológica, penalizando muitos elementos da elite tradicional e colocam
novos elementos no topo da hierarquia. A partir da Regeneração a “genealogia social das elites
políticas difere substancialmente das do antigo Regime. As novas elites oitocentistas não são um
mero prolongamento das antigas, provindo maioritariamente dos grupos emergentes que
protagonizam a construção da ordem social” (Tavares de Almeida, 1991, in MATTOSO, ob. Cit.
466). O decreto de 30 de Setembro de 1852, dando cumprimento ao Acto Adicional de 5 de Julho
do mesmo ano, "prescrevia eleições directas mas mantinha o voto restrito e censitário: a capacidade
eleitoral era conferida apenas aos cidadãos (do sexo masculino, claro está) que percebessem uma
renda líquida anual mínima de 100$000 réis, provenientes dos bens de raiz, capitais, comércio,
indústria ou emprego inamovível, desde que gozassem de direitos civis e políticos e tivessem
atingido a maioridade legal, isto é, 25 anos completos, ou 21 anos, desde que fossem casados,
oficiais do exército ou da armada, clérigos de ordens sacras ou diplomados com qualquer curso
superior, médio ou liceal. Quanto aos elegíveis, eram-no apenas os eleitores que possuíssem uma
renda anual mínima de 400$000 réis, não podendo os governadores civis, os administradores dos
concelhos, os juízes e os comandantes militares ser eleitos na área onde exerciam as respectivas
funções” (REIS, ob. Cit.: 22 e MARQUES, 1974: 69). Podiam, no entanto, candidatar-se em outras
zonas. Foi o caso do Doutor Manuel Augusto Pereira e Cunha, que foi eleito deputado pelo círculo
de Cabeceiras de Basto, e um dos poucos que estaria nas condições “apertadas” definidas por lei.
Não sabemos se mais algum mondinense foi eleito deputado.
É neste emergir que ao tempo da Regeneração se torna presidente da câmara de Mondim o
professor de gramática latina, António José Álvares de Carvalho67
, que gerirá o concelho durante
alguns anos (alguns descendentes deste professor estarão também ligados à gestão municipal); em
Atei são os padres quem orientam os destinos da paróquia, depois que deixou de ser concelho. No
entanto, no último quartel do século (1878-1881) será escolhido o Doutor Manuel Augusto Pereira
e Cunha, para a partir dele se seguirem António Machado e Moura e António Augusto Machado,
que eram familiares, até 1893 e em Ermelo é da família dos Peixotos (António da Costa Peixoto,
Manuel Peixoto, Domingos Peixoto, o professor Homero Peixoto e os padres Paulinos Peixotos, tio
e sobrinho, eleitos também vereadores) que saem os eleitos até à implantação da República. Na
67 Em 4.01.1851 a dona da Casa da Igreja, Dª Teresa Emerenciana de Carvalho, fez uma escritura de obrigação a este professor e a
sua mulher nos termos seguintes: “Ela diz que confessa ser devedora (a ele) da quantia de 560.900 réis precedida esta quantia de
dinheiros que lhe emprestou para remediar necessidades como foi as despesas de funerais, bens de alma de seus irmãos, rendas,
nove anos do campo do Chão da vinha e mais que por ela pagou ao reverendo abade desta freguesia José Joaquim da Costa Leite e
a Francisco Gomes Ribeiro” ACMM, Livro de Notas do Tabelião, n.º 104: 25v. Assim, este professor acabaria por se tornar dono
da casa da Igreja, o que demonstra que deveria ter bons rendimentos.
168
mudança do século encontramos em Mondim o Bacharel e grande proprietário José António
Machado e Moura, grande impulsionador da construção dos edifícios escolares de Mondim e Atei;
aqui o padre Victorino desde 1891, seguido do padre Miranda e este do professor Barreira.
Com o advento da República alarga-se o leque dos eleitos para cargos administrativos. A uma
diminuição de padres corresponderá uma subida generalizada de professores, funcionários públicos
e comerciantes. Também alguns emigrantes regressados do Brasil, entre eles José Augusto Álvares
de Carvalho, Alfredo de Matos Pinto Coelho, etc., já com uma vida estabilizada e organizada, vão
ocupar lugares ou de administradores ou de presidentes do município.
Pela importância destacada nos cargos que exerceram destacamos as duas figuras seguintes
das quais resumimos breve biografia.
4.1.1 – Biografia 1:
Manuel Augusto Pereira e Cunha, nasceu no lugar dos Barreiros, Atei, em 15 de Outubro de
1855. Formou-se em direito em Coimbra, onde recusou o lugar como lente da Faculdade. Foi eleito
Deputado pelo Círculo de Cabeceiras de Basto e Administrador dos concelhos de Mondim de Basto
e Vila Real e Governador civil em Faro, Porto e Lisboa. Foi ainda Chefe de Repartição da Direcção
Geral da Administração Política e Civil do Ministério do Reino, Secretário Geral do Ministério do
Interior, Juiz dos Tribunais Mistos no Egipto, Juiz do Tribunal de Mausourah (15.12.1903), Juiz do
Tribunal de Alexandria (22.01.1907), Vice-Presidente (5.11.1912) e Presidente (11.11.1918) do
Tribunal de Alexandria. Foi promovido À Cour em 30.11.1919. Grande Oficial da Ordem do Nilo.
Sir, por distinção do Rei Eduardo VII.
Comenda e Grã Cruz das Ordens de Nossa Senhora de Vila Viçosa, de Cristo, de Avis, da Ordem
de Isabel, a Católica, e Grande Oficial da Ordem da Vitória de Inglaterra.
Exerceu o cargo de Presidente da Junta de Paróquia de Atei.
4.1.2 - Biografia 2:
Joaquim Augusto Alves Ferreira, nasceu no lugar da Praça em Mondim a 6 de Abril de 1857.
Formou-se na Faculdade de Direito de Coimbra em Junho de 1881. Foi promovido a Juiz de direito
em 1891 e colocado na presidência do Tribunal Administrativo de Angra do Heroísmo. Exerceu
ainda o cargo de Juiz das Execuções Fiscais em Loures e de Auditor Administrativo em Santarém.
Foi Governador Civil em Vila Real. Colocado como Juiz de Instrução Criminal em Lisboa, mandou
prender o Dr. Afonso Costa e João Pinto dos Santos e foi-lhe entregue o processo de investigação
do Regicídio. Em 1920 vamos encontrá-lo como inspector permanente dos Serviços Judiciários e
em 28 de Novembro de 1925 passa a Juiz do Supremo. Colaborou em muitos jornais e revistas.
169
Dirigiu as investigações sobre o célebre processo “Angola e Metrópole” ou “Caso Alves dos Reis”,
conseguindo fazer a descoberta do crime negando as acusações sobre a direcção do banco.
Aposentou-se em 6 de Março de 1929.
Pelo que fica exposto poderemos concluir que:
1º - O poder oligarquiza-se no seio de algumas famílias, perfeitamente identificadas e
localizadas que dificilmente abrem mão desse poder. Destacam-se a dos Magros e Mouras,
Carvalhos, Pires, Teixeiras, Álvares de Carvalho e Pintos Coelhos, oriundos das melhores casas de
Mondim, os Oliveiras e Borges de Azevedo de Atei e os Costas e Peixotos, de Ermelo, entre outros.
2º - Em várias dessas famílias verificamos que, muitas vezes, para além do pai também
um ou mais filhos – sempre homens, acabam por adquirir habilitações literárias elevadas que lhes
permitem vir a exercer o cargo de Desembargador, Juiz, Capitão-Mor, Presbítero, Governador
Civil, etc., numa demonstração do efeito “Reprodução Grupal ou familiar”. O mesmo acontecerá
com famílias de médios ou importantes proprietários.
3º - É evidente que foi o facto de disporem dessas habilitações, aliadas ao poderio
económico, que lhes permitiu a ascensão a esses cargos de chefia – administrativos, judiciais ou
militares -, e como tal ao controlo e destino dos concelhos.
4º - O liberalismo promoveu a criação da figura do cacique rural, o qual, sendo detentor da
maioria das propriedades fundiárias se servirá desse recurso patrimonial para exercer influências e
funções de natureza política, que lhe trazem prestígio social e o torna medianeiro “ao mesmo tempo
agente da pressão local sobre o Estado e o garante da acção do Estado sobre a sociedade”
(MATTOSO, ob. cit. 468). Poderemos considerar que o poder detido por aquelas famílias durante
anos seguidos o foi numa base de caciquismo.
4.2 – Oportunidades e Destinos de Vida
Naturalmente que se revelava importante neste estudo tentar descobrir até que ponto a
aquisição do exame elementar se revelaria de alguma forma útil no futuro dos alunos que o
obtinham, isto é, tentarmos perceber qual a influência da escola no comportamento literácito dos
indivíduos.
A investigação corre naturalmente o risco de ser muito redutora da realidade pois a falta de
dados anteriores a 1882 logo por si se revela uma grave lacuna.
Com a reforma de Rodrigues Sampaio e a obrigatoriedade da existência de um livro
específico onde se registava o nome dos alunos que faziam exame elementar (quadro n.º 16)
170
conseguimos saber quem foram os alunos que em Mondim de Basto fizeram esse exame entre 1882
e 1894. Com base nesses dados procurámos descobrir o que é que esses alunos fizeram depois do
exame. As investigações levaram-nos a produzir o quadro seguinte:
QUADRO Nº 34. Oportunidades e Destinos de Vida dos Alunos que Fizeram o Exame
Elementar entre 1882 e 1894 68
PROFISSÕES QUANTIDADE %
Emigrantes 10 15,6%
Comerciantes 4 6,0%
Médicos 1 1,5%
Enfermeiros 1 1,5%
Professores 2 3,0%
Professoras 1 1,5%
Padres 3 4,5%
Presidentes da Câmara 2 3,0%
Falecidos ainda estudantes 2 3,0%
Desistiram dos estudos 1 1,5%
Desconhecido 37 58,9%
Total 64 100%
Vejamos exemplo a exemplo os casos que conseguimos identificar. Em entre parêntesis
colocamos o dia, mês e ano do exame respectivo.
1 - Adriano Pinto Correia dos Reis (31.05.1882), de origem fidalga, emigrou para o
Brasil. Ao contrário de outros familiares, a fortuna não lhe sorriu mas ocupou um cargo importante,
o de “Tesoureiro da Agência Financial de Portugal” no Rio de Janeiro.
2 - Alfredo da Graça Pinto Coelho (31.05.1882), de origem fidalga, estudou no colégio
de Lamego. Emigrou para o Brasil, onde veio a desempenhar um importante lugar como
empresário (ver artigo específico no capítulo “Histórias de vida de Alguns Emigrantes”).
3 - Carlos Zeferino Pinto Correia dos Reis (31.05.1882), de origem fidalga, fez a
continuação dos seus estudos na Faculdade de Medicina do Porto, onde se licenciou.
68 Para construirmos este quadro utilizamos dados fornecidos pelo jornal O Progresso de Mondim entre 1907 e 1910, Actas várias
da Câmara e Juntas de Freguesia e Recolha Oral feita em várias localidades do concelho.
171
4 - José Júlio Pinto Coelho de Matos (31.05.1882), de origem fidalga, estudou no
colégio de Lamego. Regressou à terra para se tornar um importante proprietário. Foi eleito
presidente da câmara por um período de três mandatos consecutivos.
5 - Cândido Teixeira de Morais (22.05.1885), seguiu os estudos na Escola Normal,
tornando-se professor primário.
6 - José Augusto Rodrigues Teixeira (18.06.1886). Tornou-se comerciante explorando
uma pequena loja comercial em Mondim..
7 - Joaquim José da Costa (25.07.1887), faleceu muito jovem numa altura em que
andava a estudar no liceu de Guimarães.
8 - Manuel Joaquim de Miranda (10.08.1887), começou por exercer o cargo de
Ajudante do professor João Silva Ramos. Um casamento interessante fez dele um importante
proprietário.
9 - José Augusto Rodrigues (18.06.1886), tornou-se comerciante em Mondim.
10 - José Justino de Carvalho Lemos (25.07.1887) continuou os estudos em Braga,
tornou-se padre. Á data da implantação da República era o vice-presidente da Câmara. Fez parte da
primeira Comissão Municipal Republicana.
11 - Francisco Xavier Rodrigues (25.07.1887), emigrou para o Brasil.
12 - Rosa de Jesus da Costa (24.07.1887), seguiu os estudos da escola normal e tornou-se
professora.
13 - José Ferreira de Sousa (27.07.1888), emigrou para o Brasil.
14 - Alfredo Pereira Machado (27.07.1888), emigrou para o Brasil.
15 - Augusto Alves Ferreira (27.07.1888), estudou no liceu de Braga. Seguiu com um tio
padre para o seminário de Évora. Apenas aguentou um ano, desistindo dos estudos.
16 - Bento José da Costa (27.07.1888), emigrou para o Brasil onde enriqueceu. De
regresso a Portugal construiu a apalaçada casa da Freiria, no lugar de Parada, em Atei. Fez também
parte da primeira Comissão Republicana.
17 - Manuel de Moura Alegre (28.07.1888), tornou-se pequeno comerciante.
18 - Alfredo Coelho Machado (04.08.1890), emigrou para o Brasil.
19 - José de Oliveira (04.08.1890), emigrou para o Brasil.
20 - Bento Augusto de Miranda e Cunha (05.08.1891), morreu jovem, de tuberculose,
quando estudava no liceu de Braga.
21 - Plácido Dias Portela de Figueiredo (06.08.1891), seguiu os estudos no liceu de
Braga. Empregou-se na Fazenda Pública dessa mesma cidade. Exerceu o cargo de presidente da
câmara por três mandatos.
172
22 - Paulo Machado e Moura (02.08.1892), emigrou para o Brasil.
23 - Roberto de Miranda e Cunha (02.08.1892), ajudado por um tio padre ainda se
preparou para ingressar no liceu de Guimarães. Desistiu mas acabou por se tornar um importante
proprietário.
24 - Humberto Alvares de Carvalho (02.08.1892), filho do Comendador, nasceu no
Brasil. Fez o exame dos estudos elementares em Portugal, regressando de imediato ao Brasil onde
prosseguiu os estudos. Anos depois encontramo-lo, juntamente com o irmão Amadeu a gerir os
destinos da casa que seu pai fundou no século XIX, a casa Álvares de Carvalho.
25 - Joaquim Gonçalves Ribeiro (16.08.1893), da casa do Retiro, emigrou e enriqueceu
no Brasil.
26 - Joaquim de Oliveira Pinto (16.08.1893), emigrou para o Brasil.
27 – Bernardo Ferreira de Oliveira (02.08.1892), tornou-se comerciante e fez parte da
primeira Comissão Republicana.
28 – Luís Maria Correia dos Reis (06.08.1891), tornou-se padre. À data da implantação
da república era o secretário interino da Câmara Municipal.
29 – António Alexandre de Miranda (27.07.1888), tornou-se padre e à data da
implantação da república era vereador municipal.
Podemos inferir destes resultados que:
1º - Acreditamos que a maioria dos alunos que frequentava a escola o fazia, quando muito,
até à 3ª classe, abandonando-a de seguida, munidos dos conhecimentos indispensáveis de ler,
escrever e contar. Durante muitos anos, segundo informações orais recolhidas, vigorou a ideia de
que era muito bom conseguir fazer-se a 3ª classe e, a partir daí já haveria que se arranjar um
emprego.
2º - Os alunos que completam a instrução primária revelam interesse pelo prosseguimento
dos estudos (fizeram-no 41%). Isto é, não vêem na escola apenas a possibilidade de aquisição de
rudimentos de saber ler, escrever e contar mas também uma etapa que é preciso vencer para o
prosseguimento dos estudos.
3º - Grande parte dos novos escolarizados (mais de 15%), encontram as portas do poder
ou do desenvolvimento local fechadas, dado o pesado controlo que as grandes famílias ainda
continuam a exercer e resta-lhes a procura de um emprego no sector terciário ou a porta da
emigração, para o Brasil, principalmente para a casa Álvares de Carvalho e Cia.
4º - A escola cada vez se revela mais como “um meio para” e daí ser cada vez mais
procurada.
173
Como é sabido, a partir de 1894 o exame elementar era feito nos liceus o que nos complica
as buscas na identificação dos mondinenses que a partir dessa data fizeram o respectivo exame.
Utilizando as notícias publicadas no jornal “O Progresso de Mondim” conseguimos encontrar, nos
alvores da implantação da República um leque interessante de indivíduos que procuram a
promoção pela continuação dos estudos69
, como por exemplo os irmãos Bráulio – um virá a ser
colaborador do jornal “O Cabeceirense” e Joaquim Ferreira de Mattos Pinto Coelho e ainda Luís
António de Lemos que frequentam o 5º ano no liceu de Braga e a fazer o exame de 3º ano no
mesmo liceu Carlos Alberto Borges de Azevedo; daqui passará para o seminário de Portalegre onde
o seu tio dava aulas. Acabará por desistir dos estudos.
Frequentava o 3º ano da Escola Normal de Braga Maria de Jesus Vieira de Castro, futura
professora.
Fizeram exame de acesso nessa mesma escola Rosalina de Jesus Saavedra e Deolinda
Moraes Dias.
Completou o curso de preparatórios no seminário de Guimarães Morais Miranda.
Eram professores no liceu de Cabeceiras de Basto os Dres. Manuel Augusto Ferreira, de
Mondim e António Luiz Machado, de Atei, que era o reitor. Estudava na Escola Médica do Porto
Manuel Alves Machado.
Era enfermeiro no hospital do Rego em Lisboa Manuel da Cunha Oliveira.
Era professor no Seminário de Portalegre o cónego Manuel António Borges.
Era aspirante da fazenda em Braga Plácido Dias Portela de Figueiredo, que virá a ser eleito
presidente da câmara de Mondim.
Na Universidade de Coimbra estuda José António Teixeira Saavedra.
Estudavam no liceu da Póvoa de Varzim os sobrinhos do Comendador Nuno e Geraldo.
Todos os indivíduos acima referidos são oriundos de famílias mais ou menos abastadas e,
portanto, com boas condições económicas que lhes permite pagar os estudos dos filhos.
Quantos outros teriam prosseguido os estudos e o seu nome não veio publicado no citado jornal?
Não o sabemos; por isso devemos olhar estes dados com reserva e não considerar senão como
provisórias todas as considerações que possamos fazer.
4.3 - HISTÓRIAS DE VIDA DE ALGUNS EMIGRANTES
“Envoltas numa aura brasonada,
69 Estas referências foram retiradas do jornal “O Progresso de Mondim” nos números publicados em 1908 e 1909. É bem provável
que o número fosse superior, mas não dispomos de dados credíveis que nos permitam sustentar esta afirmação.
174
As casas solarengas existentes, Enquadram-se em paisagens imponentes
Onde o verde é bandeira desfraldada” (CAMPUS, 1998: 3).
A história da emigração mondinense está por fazer, o que não nos permite ter uma visão
alargada e correcta do quanto os nossos emigrantes fizeram em terras de Stª Cruz, e muito foi com
certeza.
Tendo sido, e continuando a ser, uma fonte de emigração que de um modo geral tem sido
vista como resultado de hipotéticas privações económicas, mas onde devemos considerar outras de
natureza psicológica e social – ambição de mais tarde se regressar rico e poderoso à pátria -,
Mondim tem tido entre os seus emigrantes gente que soube honrar o seu nome e a sua terra por,
com o seu laborioso trabalho e abnegação, terem contribuído para o engrandecimento da terra que
os acolheu e, no regresso, - quando regressaram -, darem o mesmo contributo à terra que os viu
partir.
Naturalmente que o movimento migratório teve várias consequências sociais e pessoais que
deixaram marcas profundas na sociedade e na paisagem mondinense. Sociais ao privar o concelho
da população activa precisamente na idade de maior rendimento produtivo. Por um lado despovoa-
se o concelho de uma importante mão-de-obra que poderia contribuir para o desenvolvimento do
mesmo - dado que quem emigrava eram especialmente os jovens adultos, cuja média de idade era
de 20,9 anos, conforme já referimos - e por outro lado, no regresso os investimentos são feitos em
habitações brasonadas, como forma de afirmação do poderio económico, que acarretava prestígio
social e político, que acabarão por marcar durante décadas a paisagem local. Podemos até dizer que
ao longo de muitos anos Mondim de Basto foi uma terra onde a história da emigração brasileira se
podia contar a partir da arquitectura das próprias casas. E pessoais ao arrancar o emigrante do seu
meio e ao ser inserido num ambiente social e cultural diferente.
Quantos mondinenses emigraram? Sabemos que muitos embora os dados por nós
apresentados (quadro n.º 6) possam dar uma visão contrária, dado que foram poucos os que
emigraram até 1870, mas essa foi a situação normal no resto do país. Vivia-se num estado de
“graça” da Regeneração. Foi a partir desse ano que os números dispararam (de 11000 saídas a nível
nacional em 1855, o número decresceu para menos de metade em 1871 para subir para os 10000
em 1878 e quase 20000 em 1884) (REIS, ob. cit.: 194).
Quantos foram os “torna-viagem” (depois de ricos regressaram ao país)? Quantos não
passaram de “mão-furada” (jamais regressaram)? Muitas questões a pedirem-nos um trabalho mais
aprofundado, mas que não cabe, por razões óbvias, neste trabalho.
175
São poucos os exemplos que a seguir apresentamos, correndo nós o risco de darmos uma
visão reducionista da dimensão que se terá atingido. Contudo, o que queremos demonstrar é que no
desenvolvimento de muitas cidades brasileiras estiveram - e continuam a estar - gentes de Mondim
de Basto:
- BERNARDO TEIXEIRA COUTINHO ÁLVARES DE CARVALHO - Natural de Mondim
de Basto, filho de Manuel Teixeira da Cunha e Andrade, licenciou-se em leis em 16 de Julho de
1780. Foi nomeado Presidente da alçada que em 1817 foi ao Pernambuco para conhecer os
implicados na revolta aí ocorrida nesse ano. Consta-se que o seu comportamento, nessas
investigações, foi pouco abonatório.
Chegou a ser desembargador do Paço na corte do Rio de Janeiro. Escreveu “Defesa das Teses de
direito Enfitêutico”, que se defenderam no ano de 1789 na Universidade de Coimbra e no ano
seguinte na de Lisboa (ESTEVES, e GUILHERME, 1904 - 1915: I vol., 366-385).
- PAULINO JOSÉ COELHO - Natural de Mondim de Basto, nasceu em 1794. Sabemos que nos
princípios do século XIX (1828) já se encontrava estabelecido em S. João da Paraíba, Estado do
Maranhão, onde era um importante proprietário.
Em 1844 foi nomeado vice-cônsul de Portugal naquela cidade, cargo que ocupou até 1862.
- JOSÉ DE CARVALHO CAMÕES - Nasceu em Mondim de Basto em 1859. Emigrou para o
Maranhão aos treze anos de idade, onde, como comerciante, granjeou uma fortuna considerável. Na
viragem do século regressou a Mondim e aplicou algum dinheiro em benefício da terra, comprando
o edifício da Rua Velha para aí instalar o futuro quartel dos bombeiros e construiu o jardim público
com o monumento aos mortos na 1ª guerra mundial, - hoje conhecida por Praça 9 de Abril -,
doando-o de seguida à câmara municipal.
- ALFREDO da GRAÇA PINTO COELHO - natural de Mondim, nasceu em 1869, filho de
Bernardo Gonçalves de Matos e de Maria do Patrocínio Pinto Coelho.
Fez o exame complementar em Mondim de onde passou para o colégio de Lamego. Não
prosseguiu os estudos em qualquer universidade.
Casou com a filha mais velha do comendador José Augusto Álvares de Carvalho, emigrando para
o Brasil em 1908. Aqui chegado, o sogro – que havia emigrado em 1865 - deu-lhe sociedade na sua
importante empresa, a firma “Álvares de Carvalho e Cia.”. A sorte sorriu-lhe com a 1ª Guerra
Mundial, dado que a venda do ferro acumulado lhe permitiu arranjar grande fortuna, que utilizou
176
para proveito pessoal mas, grande parte da qual, pôs ao serviço de actos beneméritos que lhe
granjearam grande admiração e reconhecimento tanto no continente como no próprio Brasil. Dessa
sua acção como benemérito destacamos: a restauração da Igreja Matriz em 1924 e a construção da
residência paroquial; a canalização da água potável para a vila de Mondim em 1928; a fundação da
Casa da Misericórdia em 1935; a ajuda para a compra do edifício que seria a futura sede dos
bombeiros de Mondim; a construção do jardim público em frente à actual Câmara Municipal, etc.
No Brasil foi também um benemérito, ficando famosas as contribuições para o portuguesíssimo
“Real Hospital de Beneficência Portuguesa” no Recife, o que lhe valeu a construção de um busto,
na entrada principal do citado hospital e que ainda hoje se lá mantém70
.
Devemos referir também um episódio ocorrido em 1909 e que é demonstrativo da influência
granjeada por esta personalidade, por um lado, e pela comunidade de emigrantes desta região por
outra. A 26 de Abril daquele ano, 125 emigrantes portugueses residentes em Pernambuco, mas
naturais de Mondim de Basto, Ribeira de Pena e Vila Pouca de Aguiar, decidem enviar uma
representação ao rei D. Manuel II, onde pediam a conclusão da estrada distrital nº 47, que fazia a
ligação de Mondim a Vila Real passando pelos outros dois concelhos referidos.
Nessa missiva podemos ler: “...embora afastados do seu querido torrão Natal, na luta constante
pela vida, os súbditos de Vª. Majestade ousam vir solicitar a conclusão dessa pequena estrada de
ligação, de reduzido dispêndio e grandíssima (sic) utilidade pública...”.
Aproveitam para recordar ao rei que a estrada havia sido começada há já 30 anos e que ainda
faltavam 14 km para a sua conclusão, o que em nada facilitava as comunicações nem “fomentava o
desenvolvimento das povoações e o bem estar dos habitantes”.
O primeiro signatário da missiva é precisamente Alfredo Pinto Coelho - que havia adoptado os
apelidos do sogro -, o qual será recebido pessoalmente pelo Rei que lhe prometeu interceder junto
do ministro da tutela para resolver o problema.
- ANTÓNIO CARVALHO da SILVA BRANCO – Natural de Mondim de Basto vamos
encontrá-lo como deputado ao congresso do Maranhão na 4ª legislatura (1901-1903) (COUTINHO,
1981: 235 e ss).
Em 6.3.1901 apresentou um projecto de reorganização do Corpo de Infantaria (A Guarda
Nacional de que ele era coronel).
70 informação colhida junto de João Alarcão, investigador de temas mondinenses, que ainda recentemente visitou a comunidade
portuguesa no Recife.
177
Em 9.3.1901 apresentou um projecto para ser suprimida a comarca de Riachão e anexava o novo
termo à Comarca da Carolina, criando também a comarca de Loreto, com os termos de Loreto e
Santo António das Balsas.
Em 10.2.1903 requereu que lhe fossem presentes os mapas de frequência escolar de todas as
escolas do estado relativos aos anos de 1901 e 1902, justificando esse pedido dizendo que pretendia
ter dados concretos para poder rebater as acusações injustas dos jornais da oposição,
nomeadamente “A Pacotilha”. É interessante recordar que nessa altura ele era o director do jornal
“O Federalista”.
Em 6.12.1903 foi reeleito para a 5ª legislatura (1904-1906) com 14.937 votos, obtendo o 12º
lugar da lista federalista.
Em 6.4.1904 aprova a segunda discussão da Reforma Constitucional e apresenta um projecto de
concessão de 50% de abatimento dos direitos de exportação aos lavradores que plantassem algodão
pelo sistema de arado.
A 3.2.1905 o Presidente do Congresso, Américo Vespúcio dos Reis anuncia o falecimento do
deputado António C. Branco. O deputado Pereira Rego propôs um voto de sentido pesar e foi eleita
uma comissão para ir representar o Congresso nos seus funerais.
Outros mondinenses deram e continuam a dar também o seu contributo.
Pelo que acima fica exposto não concordaremos de todo com Oliveira Martins quando em fins do
século passado (1891) se referia aos nossos emigrantes dizendo que “metade eram analfabetos e um
terço simples trabalhadores. Desde que a miséria é a causa principal da emigração, necessariamente
os emigrantes são os menos instruídos e habilitados para ganhar a vida, o que por forma alguma
quer dizer que sejam os menos sãos de corpo e alma” (SERRÃO, 1985: 996).
5 - CONCLUSÕES FINAIS
1 - Este trabalho de investigação pretendeu ser um contributo monográfico organizado em torno
de hipóteses que procuraram clarificar a problemática central - inserida num contorno histórico-
geográfico perfeitamente definido - centrada na relação entre Cultura Escrita e Quotidiano
(Sociedade e Desenvolvimento) e ao mesmo tempo pretendeu-se tão só abrir uma reflexão sobre
essa mesma problemática.
2 - Ao longo deste trabalho fomos tirando conclusões que nos permitiram perceber a Geografia e
a Sociedade mondinenses, sociedade profundamente rural com um peso enorme de profissões
ligadas à terra, onde sobressaem naturalmente os proprietários, e onde, sobretudo desde finais do
178
século XIX, mas muito lentamente, a escola, sem ser o único, se afirmou como o principal meio de
formação e informação da juventude mondinense. Diremos mesmo até que, só a partir dessa altura
a escola se imporá como condição de modernidade, tornando-se um processo irreversível até aos
nossos dias. Naturalmente que por detrás dessa situação esteve o desenvolvimento económico que
estimulou a procura de novas profissões, ligadas ao sector terciário, que por sua vez obrigavam à
aquisição de conhecimentos que só a escola transmitiria. Também a emigração desempenhou aqui
um papel motivador pois era quase garantido que, aqueles que eram escolarizados arranjavam um
emprego na firma Álvares de Carvalho, no Maranhão.
3 - De meados do século XVIII até meados do XIX assistimos em Mondim de Basto a uma muito
lenta terciarização da economia e a uma ausência quase completa do sector secundário – tendo até
regredido -, que por isso não se constituíram em factores determinantes para um verdadeiro
investimento na alfabetização e na escolarização das populações. Estas não sentiam necessidade de
se alfabetizarem, encarariam a escola como uma violência inútil, daí que o avanço da escola
pública não encontre junto dos grupos sócio-produtivos do sector primário uma grande
receptividade, não apenas porque se não apresenta como uma estratégia válida em termos de
mudança de vida, dada a precariedade de novos empregos mas também porque se reveste de um
grau de dificuldade em termos curriculares, intransponível por parte dos filhos dos camponeses.
(MAGALHÃES, 1994: 497/8). Enfim, a fracas condições económicas correspondiam fracas
expectativas de vida que resultavam em fraca especialização de profissões, num reduzido número
de comerciantes e reduzido número de pessoas literárias.
4 - A transição para a contemporaneidade provocou o fim de muitos concelhos, onde se incluem
os de Atei e Ermelo. E aqui surge uma situação interessante. No primeiro dos lugares, ao contrário
do que seria de esperar, conseguem os dirigentes manter um grande interesse pelo alargamento da
rede escolar, esforçando-se para que a mesma aconteça; manifestam preocupações sobre o
professorado e sobre a frequência escolar dos alunos. Dessa forma, a Educação, ganhava
paulatinamente o estatuto de “trave mestra do desenvolvimento”. Aqui, a existência de um maior
desenvolvimento económico estimulou a procura do bem-estar e do lucro e provocou uma maior
preocupação pela situação material por parte dos pais relativamente aos filhos. Pela escola passava
um importante papel. Para o segundo dos lugares, a manutenção de uma economia de tipo familiar
não beneficiava a apetência pela cultura escolar. Aqui não houve capacidade de fazer despoletar os
processos de secundarização e terciarização das actividades produtivas. Não queremos dizer com
isto que os dirigentes de Ermelo não se preocupassem com a Escola mas tão só que, ao interesse
179
revelado por estes pelo alargamento da Rede Escolar, não correspondia um interesse idêntico por
parte dos destinatários. Senão como compreenderíamos que a percentagem de alfabetizados em
Ermelo tivesse diminuído de 46% em 1878 para 29% em 1890? Os comportamentos das
populações revelavam-se, assim, muito diversos, apesar do reduzido tamanho do concelho.
Sabemos que o uso da leitura e da escrita (ou do cálculo) não se tornam funcionais se não se
convertem ao menos em algo esporadicamente necessário... Tanto uma como outra se reforçam se,
com o seu uso, o indivíduo obtém satisfações ou satisfaz necessidades, e, vice-versa, ambas se
debilitam quando em seu uso não se vêem vantagens materiais ou intelectuais, sociais ou
individuais, como nos diz V. Frago. Esta situação pode explicar os olhares diferentes sobre a forma
de encarar o papel da Educação por parte das gentes de Ermelo, pelo menos antes da viragem do
século. De facto, sem perspectivas de mudança ou melhoria de vida, que necessidade de se ser
alfabetizado?
5- Acreditamos assim que, independentemente do grau de habilitações, dos conhecimentos ou das
capacidades de cada elemento membro da câmara municipal ou das juntas de paróquias, a maioria
deles, à medida que o século XIX chegou ao fim e deu lugar ao XX, se apercebeu de como era
importante a escola e o seu papel na formação do homem e do cidadão, e se esforçaram para que a
mesma fosse chegando a um cada vez maior número de locais, para esbater o fantástico fenómeno
do analfabetismo. Apesar do esforço desenvolvido, a taxa de analfabetismo entre 1878 e 1890
baixou apenas 1,1% (quando a população se mantém praticamente igual), não tendo acompanhado
a média nacional que baixou 3,2%, mantendo-se em 81%, contra os 79% a nível nacional e 20 anos
depois, à data da implantação da República, ainda representava uma das nossas maiores vergonhas
nacionais –, cerca de 70% de analfabetos. Com taxas de analfabetismo tão elevadas em fins do
século XIX, Mondim é um concelho sem ritmo, adiado. Tal como o país.
6 – O fim do século XIX vinca, por um lado, o papel dos professores normalistas, que discutem a
sua situação nas Conferências Pedagógicas, conseguem uma já há muito desejada
profissionalização, e por outro lado assiste a uma cada vez maior feminilização do ensino primário,
fenómeno que se prolongará por todo o século XX. Estas vitórias não foram fáceis de conseguir. O
conflito surgido em Atei é sintomático da tensão surgida entre a clericalização e a estatização da
sociedade, conflito que em Mondim é visível e marcante, mesmo depois de entrado o século XX.
7 - Em relação aos aspectos pedagógicos dois aspectos devemos salientar:
180
7.1 - Sabemos que a Educação em geral e a Educação Escolar em particular têm como função
integrar o indivíduo na sociedade, por isso à escola foi pedido que exercesse um papel social
determinado e por ela passava a obrigação de formar os “especialistas” de que a sociedade
necessitava para poder funcionar. A escola assentava no poder autoritário do professor, no livro
único e no apelo à memorização. Isso exigia um programa preciso onde constavam os
conhecimentos considerados indispensáveis cuja assimilação era sancionada através de diploma
certificador. Para o obter obrigavam-se os alunos a entrar em competição entre si. O ambiente
escolar, com aspectos repressivos que passavam pelo uso da violência física, não estimulava a
criatividade ou a diferença. A orientação ia no sentido da fixação, tão completa quanto possível, do
que o professor dizia, pois era preciso estar bem preparado para o exame final. Isto acabava por se
revelar de uma violência inútil e provocava, naturalmente, o absentismo. Perante este quadro
apetece perguntar: Qual o papel da Educação como factor de mobilidade social, de igualdade de
oportunidades para todos e de democratização da estrutura social? Abrindo os estabelecimentos
escolares às camadas sociais até então pouco ou nada escolarizadas? Mas com isso não estará a
contribuir para o aumento do número de inadaptados escolares?
A família só em casos excepcionais tentava compensar as limitações da escola, ora arranjando
professores particulares, ora enviando os filhos para o colégio, o qual era encarado como um
prolongamento da educação familiar. Sobressai nesta situação a Casa da Igreja.
7.2 - Um dos traços mais chocantes é a falta de instalações e equipamentos para o cumprimento
dos programas escolares. A maioria das escolas não tem instalações condignas. Ora, se a escola não
tiver condições e recursos adequados não poderá jamais ser um lugar atraente e motivador, onde
alunos e professores gostem de estar e trabalhar. Será, pelo contrário, um lugar de rejeição, onde o
desinteresse cresce e a indisciplina grassa. Verifica-se até que, para o Município e Juntas de
Paróquia a educação foi sempre um parente pobre, dado que as verbas inscritas foram sempre
insuficientes. Sem casas próprias e adequadas, sem os materiais pedagógicos indispensáveis e sem
conforto não nos admira que os alunos fugissem da escola em vez de por esta serem cativados.
Portanto, a escola não se soube organizar no sentido de responder às diversidades transportadas por
cada aluno (sociais, culturais e económicas), e revelou-se incapaz de deixar de ser reprodutora e
certificadora de estratificações sociais.
8 - O grande absentismo verificado encontra justificação nas dificuldades económicas, a causa
que encabeça um longo rol de justificações. A estas dificuldades económicas andam associadas a
necessidade de cooperação das crianças nos trabalhos agrícolas e domésticos. A emigração. A
distância escola/casa. O desinteresse pelo prosseguimento dos estudos. A falta de condições e
confiança na escola.
181
9 - Estivemos, ao longo deste trabalho, perante um processo histórico que procuramos
compreender e caracterizar dado que custou a muitos mondinenses uma emigração mais ou menos
forçada e prolongada; que manteve, apesar do fim dos morgadios a grande ou média propriedade
rural e a dependência do regime de arrendamento e sublocação; um processo que mesmo assim foi
capaz de favorecer a cultura escolar, afirmando-se esta como instância de mobilização sociocultural
e económica. Uma escolarização que desde cedo abrangeu o sector masculino e um pouco
tardiamente o sector feminino, num processo feito de lentos progressos, onde haverá que valorizar a
iniciativa privada, sobretudo em Atei, Mondim e Bobal.
10 - A investigação chegou ao seu termo sem que isso tenha implicado a resolução de todas as
questões levantadas ao longo do trabalho, deixando até pistas abertas. No entanto, procurou ser
demonstrativa de uma profundidade de abordagem em torno das questões centrais e da
oportunidade do cruzamento e da construção de fontes e dados de informação da mesma natureza e
proveniência, para que dessa forma todas as afirmações ficassem demonstradas, por um lado, e, por
outro, resolvidas as problemáticas criadas.
182
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- Livros de Receitas e Despesas. 1850-1974. /// 1900-1910. Sem catalogação.
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3.2 - AJFA. - Livros de Actas de 1853 a 1910.
3.3 - AJFB. - Livros de Actas de 1870 a 1910.
3.4 - AJFE. - Livros de Actas de 1830 a 1910.
3.5 - AJFP. - Livros de actas de 1890 a 1915.
3.6 - AJFVF. - Livros de Actas nº 1, 3 e 4 de 1870 a 1910.
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