tese - faraujo - 2011-01-31

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE EDUCAÇÃO FRANCISCO ANTÔNIO DE ARAÚJO E SOUZA AVALIAÇÃO E PLANEJAMENTO PARA O DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL DE UNIVERSIDADES Fortaleza Ceará 2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEAR FACULDADE DE EDUCAO FRANCISCO ANTNIO DE ARAJO E SOUZA

AVALIAO E PLANEJAMENTO PARA O DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL DE UNIVERSIDADES

Fortaleza Cear 2010

FRANCISCO ANTNIO DE ARAJO E SOUZA

AVALIAO E PLANEJAMENTO PARA O DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL DE UNIVERSIDADES

Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Educao Brasileira da Faculdade de Educao Universidade Federal do Cear, como requisito parcial para obteno do ttulo de Doutor em Educao.

Orientador: Prof. Dr. Marcos Antnio Martins Lima

Fortaleza Cear 2010

Ficha catalogrfica elaborada por: Maria Josineide Silva Gis CRB-3/657 Universidade Federal do Cear. Biblioteca de Cincias Humanas

S715a

Souza, Francisco Antnio de Arajo e. Avaliao e planejamento para o desenvolvimento institucional de universidades. / Francisco Antnio de Arajo e Souza. Fortaleza, 2010. 636f.: il.; 31 cm. Tese (Doutorado) Universidade Federal do Cear. Faculdade de Educao. Programa de Ps-Graduao em Educao, Fortaleza (CE), 2010. Orientao: Prof. Dr. Marcos Antnio Martins Lima.

1- AVALIAO INSTITUCIONAL-BRASIL. 2- AVALIAO DO ENSINO SUPERIOR-BRASIL. 4- PLANEJAMENTO DA UNIVERSIDADE-BRASIL. 5MISSO DA UNIVERSIDADE-BRASIL. 6- SISTEMA NACIONAL DE AVALIAO DA EDUCAO SUPERIOR. I-Lima, Marcos Antnio Martins (Orient.). II-Ttulo. CDD: 378.010981

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEAR UFC FACULDADE DE EDUCAO FACED PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM EDUCAO BRASILEIRA CURSO DE DOUTORADO EM EDUCAO FRANCISCO ANTNIO DE ARAJO E SOUZA

AVALIAO E PLANEJAMENTO PARA O DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL DE UNIVERSIDADES

Tese submetida apreciao da Comisso Examinadora como parte dos requisitos necessrios obteno do ttulo de Doutor em Educao, outorgado pela Universidade Federal do Cear (UFC). Encontra-se disposio dos interessados na Biblioteca do Centro de Humanidades da UFC. A citao de qualquer trecho desta tese permitida e incentivada, desde que em conformidade com as normas da tica e da atitude cientfica.

TESE DEFENDIDA E APROVADA EM: 16 / 12 / 2010 BANCA EXAMINADORA

_________________________________________Prof. Dr. Marcos Antnio Martins Lima Orientador e Presidente da Banca Examinadora

______________________________Prof.ra D.ra Ana Maria Fontenelle Catrib Membro da Banca Examinadora UNIFOR

____________________________Prof. Dr. Nicolino Trompieri Filho Membro da Banca Examinadora UFC

______________________________Prof. Ph.D. Brendan Coleman McDonald Membro da Banca Examinadora UFC

____________________________Prof. Dr. Adagenor Lobato Ribeiro Membro da Banca Examinadora UFPA

______________________________Prof. Ph.D. Jacques Therrien Membro da Banca Examinadora UFC

DEDICATRIA

Aos meus estudantes: Apenas por eles continuo a me dedicar Educao.

Aos meus queridos irmos, Luz Maria, Charles, Emanuel e Jorge: Mesmo longe, nos momentos difceis, sei que sempre esto comigo.

Aos meus pais (in memoriam): D. Hilda, por sua determinao e esforos em nossa educao. Ao Prof. Daltro pela inspirao e estmulo vida docente.

impossvel citar e agradecer a todas as pessoas com quem convivi... e que me ensinaram e inspiraram. Entretanto, por compreender como nossa vida se faz por meio de outras e essas por meio da nossa, reconheo o enorme privilgio de ter convivido com todas as pessoas, sem exceo, sem o que eu no estaria aqui agradecendo.

No apenas por dever de tica acadmica, mas por uma questo de honra e reconhecimento, cito explicitamente as obras de meus mais recentes mestres. Implicitamente, tambm por reconhecimento e honra, invoco os demais, pois, mesmo ausentes, todos esto presentes em cada palavra, cada ideia, cada lembrana...

Pois nossas vidas so mais do que nossas existncias.

AGRADECIMENTOS

Universidade Federal do Cear, por sua contribuio ao desenvolvimento do Cear e do Nordeste do Brasil. Ao Prof. Dr. Marcos Antnio Martins Lima, pelo convvio fraterno, valiosa e rigorosa orientao, rica em sugestes e ideias, oferecidas durante todos os momentos do estudo e aps as leituras de rascunhos dos captulos. Os erros e equvocos que porventura persistam, certamente dever-se-o inobservncia de recomendaes dele recebidas. Ao Prof. Ph.D. Jacques Therrien, por cuja mo atravessei o rio. Ao Prof. Dr. Nicolino Trompieri Filho, sempre presente, comigo e com todos. Ao Prof. Dr. Adagenor Lobato Ribeiro, quem primeiro me apresentou, com seu trabalho docente, o mundo da universidade. Ao Prof. Ph.D. Brendan Coleman McDonald, pela confiana e serenidade ao enfrentar os desafios de uma universidade no Nordeste do Brasil. Aos profissionais da Coordenao do Programa de Ps-Graduao em Educao, em especial a Adalgisa, a Geisa, a Nataly, o Srgio e o Prof. Dr. Enas de Arajo Arrais Neto, eis uma equipe! Aos professores da Faculdade de Educao da Universidade Federal do Cear com quem convivi e tive a oportunidade de refletir sobre o sentido da educao e da vida, nessa curta jornada, somente suportada porque estiveram comigo. Ao Prof. Dr. Jos Dias Sobrinho, pelo estmulo e compartilhamento de sua viso sobre a educao e a universidade brasileira. s instituies onde aprendi a conhecer fazendo; onde aprendi a ser convivendo... pelos piores e melhores caminhos. Aos companheiros de um cotidiano cearense to rduo, embora rico em experincias e circunstncias; todas agregadas emocional e racionalmente a esse esforo que, para alm de meu crescimento intelectual, procura compreender algo sobre o desenvolvimento humano. Aquele que, s cegas (mas com lanterna mo), ainda busco.

Raboni, ut videamBartimeu in Mc 10, 46-52

RESUMO

Elaborar o conceito de desenvolvimento institucional para a universidade brasileira contempornea constitui um considervel desafio: por ser uma questo recente, suas bases conceituais ainda no esto consolidadas, inexistindo estudos e pesquisas que indiquem caractersticas, obstculos e evidncias desse fenmeno. Esta tese, iniciada como estudo no Programa de Ps-Graduao em Educao da Universidade Federal do Cear (UFC), procura abordar esse problema como categoria central, para propor, por meio das categorias de anlise Avaliao, Planejamento e Sinaes, um modelo de desenvolvimento institucional que venha a indicar como pressuposto, para alm da qualidade das dimenses da universidade baseada no Sistema Nacional de Avaliao da Educao Superior (Sinaes), a sua pertinncia social. Com essa inteno, buscaram-se, nas misses enunciadas pelas universidades brasileiras, os principais referentes, enquanto elementos, funes ou estruturas, os quais foram organizados em vinte categorias de anlise, possibilitando, assim, caracterizar a universidade brasileira contempornea com base em sua misso enquanto razo de ser institucional. Nessa anlise, constatouse que, com maior frequncia a universidade brasileira se caracteriza por oferecer Ensino, Pesquisa e Extenso, Saber & Conhecimento e Formao Humanstica & Profissional, com os propsitos de: Desenvolvimento & Progresso, Sociedade & Comunidade, Incluso Social & Cidadania. Com base nessa compreenso do campo temtico, pela multirreferencialidade e pela transdisciplinaridade, caracterizou-se o processo de desenvolvimento institucional da universidade e seus obstculos, chegando-se s concepes de sociedade, sujeito e instituio, para propor um modelo em que fosse superado o principal obstculo ao desenvolvimento institucional, identificado como a desarticulao entre os macroprocessos de avaliao e planejamento institucional. Para contextualizar a educao no mundo e no Brasil, foram analisados os indicadores da Organizao para Cooperao e Desenvolvimento Econmico, consignados no relatrio Education at a Glance: lndicators Report OECD 2007, com base no modelo CIPP, proposto por Stufflebeam, com resultados apresentados na forma de tabelas, diagramas e grficos. Assim, o modelo proposto uma primeira aproximao para anlise do desenvolvimento institucional da universidade brasileira contempornea, numa perspectiva scio-histrica, organizada pelas anlises sistmica, crtica e institucional, que constatou ser a cultura o principal fator nesse fenmeno; no haver apenas um nico modelo para o desenvolvimento capaz de orientar a

institucional da universidade; ser necessria uma misso, como razo para ao,

universidade, seu corpo social e seu projeto poltico e pedaggico nas seguintes direes: do sistema econmico sociedade; da organizao instituio; do indivduo-agente ao sujeito-cidado. Uma misso que realinhe seus objetivos e projetos institucionais para alm do ensino, da pesquisa e da extenso.

Palavras-chave: Educao superior. Universidade. Desenvolvimento institucional. Avaliao e planejamento.

ABSTRACT

Finding an adequate concept for institutional development in a contemporary Brazilian university is a considerable challenge. Not only because it is a relatively new study, with a conceptual ground work not yet consolidated; but also because there are very few studies or research available indicating certain features, obstacles and evidence of this phenomenon. This thesis began as a study conducted in the Graduate Program in Education in the Federal University of Cear (UFC) and aimed to address institutional development as a central theme in order to propose through analysis, categories and systems such as "Assessment", "Planning" and "Sinaes" (Brazilian National System for the Assessment of Higher Education), a model for institutional development which will help transcend the quality of of Brazilian universities based on Sinaes, especially in the field of social relevance. With this in view, research was carried out into the clearly stated missions of Brazilian universities looking for the main references, elements, functions and structures, which were then organized into twenty categories for analysis. This enabled us to describe the features of contemporary Brazilian universities based on their objectives and what these represented to them as an institution. In our analysis it became evident that some of the most common features of Brazilian universities was providing Teaching, Research and Extension; Learning and Knowledge and Humanistic and Professional Education aiming at: Development and Progress, Society and Community, Social Inclusion and Citizenship. Based on that understanding of the thematic field with its multitude of references and subjects, we described the universities institutional development processes and their obstacles by arriving at the concepts of society, individual and institutional in order to propose a model in which the main obstacle to institutional development could be overcome, that is the incoherence between the macro-processes of institutional assessment and planning. In order to contextualize education in the world and in Brazil, we analyzed the Organization for Economic Co-operation and Development indicators listed in the report Education at a Glance: lndicators Report OECD 2007, based on the CIPP model proposed by Stufflebeam and with results presented in tables, diagrams and graphs. Therefore, the model we propose is an initial comparison for analyzing the institutional development of contemporary Brazilian universities through a social-historical perspective and organized according to systemic, critical and institutional analysis. The conclusion is that culture is the main factor in this phenomenon. There is not only one model for the institutional development of universities; it is therefore necessary to have a mission as a reason for action which can guide the university, its social body and its political and pedagogical projects in the following directions: from an economic system to society; from organization to the institution; from the individual-agent to the subject-citizen. A mission that realigns its institutional goals and projects beyond teaching, research and extension.

Keywords: Higher education. University. Institutional development. Assessment and planning.

RESUMEN

Elaborar el concepto de desarrollo institucional para la universidad brasilea contempornea constituye un considerable desafo: por tratarse de una cuestin reciente, sus bases conceptuales an no estn consolidadas, no existiendo estudios o investigaciones que indiquen caractersticas, obstculos y evidencias de este fenmeno. Esta tesis, iniciada como un estudio en el Programa de Posgrado en Educacin de la Universidad Federal de Cear (UFC), busca abordar este problema como categora central, para proponer, por medio de las categoras de anlisis Evaluacin, Planificacin y Sinaes (Sistema Nacional de Evaluacin Superior), un modelo de desarrollo institucional que seale como presupuesto, ms all de la calidad de las dimensiones de la universidad basada en el Sinaes, su pertinencia social. Con esta intencin, se buscaron, en las misiones enunciadas por las universidades brasileas, los principales referentes, en la forma de elementos, funciones o estructuras, los cuales se organizaron en veinte categoras de anlisis que permiten caracterizar a la universidad brasilea contempornea con base en su misin en cuanto razn de ser institucional. En este anlisis se constat que, con mayor frecuencia, la universidad brasilea se caracteriza por ofrecer Enseanza, Investigacin y Extensin, Saber y Conocimiento y Formacin Humanstica y Profesional con los fines de Desarrollo y Progreso, Sociedad y Comunidad, Inclusin Social y Ciudadana. Con base en esa comprensin del campo temtico, por la multirreferencialidad y la transdisciplinariedad, se caracteriz el proceso de desarrollo institucional de la universidad y sus obstculos, llegndose a las concepciones de sociedad, sujeto e institucin, para proponer un modelo en el que se superase el principal obstculo al desarrollo institucional, identificado como la desarticulacin entre los macroprocesos de evaluacin y planificacin institucional. Para contextualizar la educacin en el mundo y en Brasil, se analizaron los indicadores de la Organizacin para la Cooperacin y el Desarrollo Econmico, consignados en el informe Education at a Glance: Indicators Report OECD 2007, con base en el modelo CIPP, propuesto por Stufflebeam, con resultados presentados en forma de tablas, diagramas y grficos. As, el modelo propuesto es una primera aproximacin para analizar el desarrollo institucional de la universidad brasilea contempornea en una perspectiva sociohistrica, organizada por los anlisis sistmico, crtico e institucional, que constat que la cultura es el principal factor en ese fenmeno; que no existe apenas un nico modelo para el desarrollo institucional de la universidad; que es necesaria una misin, como razn para la accin, capaz de orientar a la universidad, su cuerpo social y su proyecto poltico y pedaggico en las siguientes direcciones: del sistema econmico a la sociedad, de la organizacin a la institucin, del individuo-agente al sujeto-ciudadano. Una misin que reoriente sus objetivos y proyectos institucionales ms all de la enseanza, de la investigacin y de la extensin.

Palabras clave: Educacin superior. Universidad. Desarrollo institucional. Evaluacin y planificacin.

RESUM

laborer le concept de dveloppement institutionnel en regard l'universit brsilienne contemporaine constitue un considrable dfi: sagissant dune approche assez rcente, les fondements conceptuels ncessaires ne sont pas suffisamment consolids tant donn le manque d'tudes et de recherches qui indiquent les caractristiques, les obstacles, et les progrs de ce phnomne. Cette thse, dveloppe com sujet de recherche au Programme d'tudes Suprieures en ducation l'Universit Fdrale de Cear (UFC), aborde cette question comme objet central laide de catgories d'analyse, savoir valuation, planification et Sinaes, qui permettent de concevoir un modle de dveloppement institutionnel ayant comme condition pralable sa pertinence sociale, en plus de dimensions de qualit d'une universit selon les fonctions dfinies dans le Systme National d'valuation de l'Enseignement Suprieur au Brsil (Sinaes). Pour ce faire, nous avons dabord cherch a dfinr les diverses missions dclares par diffrentes universits brsiliennes en ce qui concerne leurs principaux lments constitutifs, leurs fonctions et leur structures. Nous avons ainsi russi a organiser une vingtaine de catgories d'analyse qui nous ont permis de caractriser l'universit contemporaine brsillienne en fonction de sa mission comme raison dtre institutionnel. Cet examen nous a conduit a constater que le plus souvent l'universit brsilienne se caractrise pour offrir Enseignement, Recherche et Extension, Savoir et Connaissance , Formation humaniste et professionnelle ou ayant pour but Dveloppement et Progrs, Socit et Communaut, Inclusion sociale et Citoyennet. Cette approche de notre objet dtude sous lappui de multiples rfrences et de la transdisciplinarit, nous a permis de dfinir les processus de dveloppement institutionnel de l'universit et les obstacles rencontrs. De cette faon if fut possible darriver a une conception de socit, de sujet et dinstitution de faon a proposer un modle qui surpasse le principal obstacle au dveloppement institutionnel, a savoir la dconnexion entre la macro-valuation et la planification institutionnelle. De faon situer l'ducation au Brsil et dans le monde nous avons eu recours notamment aux indicateurs d'analyse proposs par l'Organisation de Coopration et de Dveloppement conomique - OCDE, figurant dans le rapport Regards sur l'ducation: lndicateurs - Rapport de l'OCDE 2007 en accord avec le modle CIPP de Stufflebeam et prsents sous forme de tableaux, diagrammes et graphiques. Ainsi, le modle propos constitue une premire approche pour l'examen de l'volution institutionnelle de l'universit dans une perspective socio-historique du Brsil contemporain. L'analyse systmique, critique et institutionnelle permet de constater que la culture constitue le principal facteur du phnomne en question; il ne faut pas prtendre trouver un modle unique de dveloppement institutionnel de l'universit; luniversit doit dfinir sa mission comme tche ncessaire et motif d'action capable de guider son corps social et son projet politique et pdagogique dans une triple direction: du systme conomique la socit, de lorganization linstitution et de l'individu-agent au sujet-citoyen. Une mission de rorienter ses objectifs et ses projets institutionnels au-dela de l'enseignement, de la recherche et de lextension.

Mots-cl: Enseignement suprieur, Universit, Dveloppement institutionnel, valuation et planification.

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Dimenso Terica................................................................................................ 45 FIGURA 2 - Dimenso Aplicada. ............................................................................................ 46 FIGURA 3 - Os polos da prtica metodolgica O modelo de Bruyne et al. ......................... 58 FIGURA 4 - Modelo bsico da escola do Design .................................................................. 146 FIGURA 5 - O Modelo Steiner de Planejamento Estratgico ................................................ 147 FIGURA 6 - Sistema de Planos sugerido pelo Stanford Research Institute ....................... 148 FIGURA 7 - Ciclo Anual de Planejamento na General Electric. ........................................... 149 FIGURA 8 - As quatro hierarquias de planejamento ............................................................. 150 FIGURA 9 - Matriz de crescimento-participao do BCG .................................................... 152 FIGURA 10 - Matriz de crescimento-participao do BCG .................................................. 152 FIGURA 11 - Elementos de estrutura da indstria ................................................................ 153 FIGURA 12 - Processo visionrio do empreendedor ............................................................. 155 FIGURA 13 - Modelo de processo paralelo de tomada de decises estratgicas .................. 156 FIGURA 14 - Modelo de processo de Burgelman de Empreend. Corp. Interno (ICV). ........ 158 FIGURA 15 - Modelo da escola do Poder ............................................................................. 160 FIGURA 16 - Modelo da escola Cultural ............................................................................... 162 FIGURA 17 - Modelo da escola Ambiental ........................................................................... 164 FIGURA 18 - Modelo da escola de Configurao ................................................................. 166 FIGURA 19 - Evoluo das escolas prescritivas.................................................................... 167 FIGURA 20 - Evoluo das escolas descritivas ..................................................................... 168 FIGURA 21 - Modelo de avaliao dos sistemas educacionais da OECD ............................ 204 FIGURA 22 - Estrutura org. de arranjos de avaliao e responsabilizao no mundo. ......... 280

FIGURA 23 - Ministrio da Educao Estrutura Organizacional. ...................................... 313 FIGURA 24 - Sistema de Educao Superior Brasileiro. ...................................................... 321 FIGURA 25 - Distribuio de bolsistas da Capes no exterior 2008.................................... 337 FIGURA 26 - Concesso de bolsas de ps-graduao da CAPES no Brasil - 2008 .............. 339 FIGURA 27 - Distribuio de discentes de ps-graduao Brasil 2008 ............................. 340 FIGURA 28 - Distribuio de docentes de ps-graduao Brasil 2008 .............................. 341 FIGURA 29 - Distribuio de programas de ps-graduao Brasil 2008 ........................... 342 FIGURA 30 - Distribuio de programas de ps-graduao Brasil 2008 NOTA 3 ......... 377 FIGURA 31 - Distribuio de programas de ps-graduao Brasil 2008 NOTA 4 ......... 378 FIGURA 32 - Distribuio de programas de ps-graduao Brasil 2008 NOTA 5 ......... 379 FIGURA 33 - Distribuio de programas de ps-graduao Brasil 2008 NOTA 6 ......... 380 FIGURA 34 - Distribuio de programas de ps-graduao Brasil 2008 NOTA 7 ......... 381 FIGURA 35 - Sistema Nacional de Avaliao da Educao Superior (Sinaes). .................... 415 FIGURA 36 - As dimenses da IES conforme o Sinaes. ....................................................... 417 FIGURA 37 - As instncias da IES com base no Sinaes........................................................ 418 FIGURA 38 - Modelo Nvel 0 O Sistema Sociedade-Universidade. .................................. 424 FIGURA 39 - Modelo Nvel 1 O Sistema Institucional e suas Estruturas de Produo. .... 427 FIGURA 40 - Modelo Nvel 2 Os Subsistemas de Avaliao e Planejamento ................... 429 FIGURA 41 - Modelo Nvel 3 Construo de Aes para o Desenvolvimento ................. 431 FIGURA 42 - Fases do Ciclo de Desenvolvimento Institucional. ......................................... 435

LISTA DE GRFICOS

GRFICO A1.2 - Populao que concluiu no mnimo o ensino mdio (2005) ..................... 211 GRFICO A1.3 - Populao que concluiu no mnimo a educao superior (2005) ............. 212 GRFICO A2.3 - Taxas de graduao no ensino mdio para programas gerais, por gnero (2005) ..................................................................................................................................... 215 GRFICO A3.1 - Taxas de graduao na educao superior tipo A (1995, 2000, 2005) ..... 217 GRFICO A3.3 - Taxas de graduao na educao superior tipo B (1995, 2000, 2005) ..... 218 GRFICO A4.1 - Porcentagem de estudantes que esperam concluir diferente nveis educacionais (2003) ................................................................................................................ 220 GRFICO A5.1 - Classificao dos pases com bases nas atitudes dos estudantes em relao a matemtica, abordagem aprendizagem e ndices relacionados a escola (2003) ............... 222 GRFICO A6.1 - Diferenas no desempenho em matemtica por condio de imigrantes (2003) ..................................................................................................................................... 224 GRFICO A7.1 - Status ocupacional de pais de estudantes .................................................. 226 GRFICO A8.2 - Taxas de emprego, por realizao educacional (2005) ............................. 228 GRFICO A9.1 - Taxas de retorno interno privado referentes a um indivduo que conclui o ensino mdio ou ps-ensino mdio no superior (ISCED 3/4) e um indivduo que consegue graduao de nvel universitrio (ISCED 5/6) (2003) ............................................................ 231 GRFICO B1.1 - Gastos anuais com instituies educacionais por estudante, do ensino fundamental ao ensino superior (2004) .................................................................................. 235 GRFICO B1.2 - Gastos anuais com instituies educacionais por estudante, para todos os servios, por nvel de educao (2004) .................................................................................. 236

GRFICO B.2.1 - Gastos com instituies educacionais como porcentagem do PIB, para todos os nveis de educao (1995, 2004) .............................................................................. 238 GRFICO B2.2 - Gastos com instituies educacionais como porcentagem do PIB (2004) 239 GRFICO B3.2 - Distribuio de gastos pblicos e privados com instituies educacionais (2004) ..................................................................................................................................... 241 GRFICO B4.1 - Total de gastos pblicos com educao como porcentagem do total de gastos pblicos (1995,2004) ................................................................................................... 243 GRFICO B5.2 - Subsdios pblicos para educao no ensino superior (2004)................... 245 GRFICO B6.1 - Distribuio de gastos correntes com instituies educacionais para os nveis fundamental, mdio e ps-ensino mdio no-superior (2004) ..................................... 247 GRFICO B7.1 - Nveis de eficincia no ensino fundamental (EF1 e EF2) ......................... 249 GRFICO C1.1 - Diferenas no desempenho em matemtica associadas orientao do programa frequentado pelos estudantes (2003) ...................................................................... 252 GRFICO C2.1 - Taxas de ingresso na educao superior tipo A (1995, 2000, 2005) ........ 254 GRFICO C2.2 - Taxas de escolarizao de estudantes de 15 a 19 anos de idade (1995, 2000, 2005) ....................................................................................................................................... 255 GRFICO C2.4 - Taxas de escolarizao de indivduos de 20 a 29 anos de idade (1995, 2000, 05) ........................................................................................................................................... 255 GRFICO C3.1 - Mobilidade de estudantes na educao superior (2005) ........................... 258 GRFICO C4.1 - Parcela de indivduos de 25 a 29 anos de idade desempregados e fora do sistema educacional, por nvel de realizao educacional (2005) .......................................... 260 GRFICO C5.2 - Expectativa de nmero de horas de atividades no-formais de educao e capacitao relacionadas ao trabalho, por nvel de realizao educacional (2003)................ 262 GRFICO D1.1 - Nmero total de horas de instruo planejadas em instituies pblicas para estudantes entre 7 e 14 anos de idade (2005) ......................................................................... 265

GRFICO D2.3 - Razo estudantes/equipe de ensino em instituies educacionais, por nvel de educao (2005) ................................................................................................................. 267 GRFICO D3.1 - Salrios de professores no ciclo final do ensino fundamental (EF2) (2005) ................................................................................................................................................ 269 GRFICO D4.1 - Nmero anual de horas de instruo em EF2 (2005)................................ 272 GRFICO D6.1 - Distribuio de professores por idade....................................................... 281 GRFICO D6.2 - Distribuio de professores de educao superior por sexo (2005).......... 282 GRFICO 3.01 - Brasil Projeo Demogrfica para 2050 ................................................. 303 GRFICO 3.02 - Evoluo do nmero de IES no Brasil 1994-2007 ................................. 326 GRFICO 3.03 - Evoluo do nmero de Cursos de Graduao no Brasil 2002-2007 ..... 327 GRFICO 3.04 - Evoluo do nmero de Matrculas no Brasil 2002-2007 ...................... 328 GRFICO 3.05 - Evoluo do nmero de Ingressos no Brasil 2002-2007 ........................ 329 GRFICO 3.06 - Evoluo do nmero de Concluintes no Brasil 2002-2007 .................... 330 GRFICO 3.07 - Concluintes do ensino mdio que ingressam no ensino superior .............. 331 GRFICO 3.08 - Proporo (%) de jovens cursando graduao ........................................... 332 GRFICO 3.09 - Quantidade de docentes no Brasil 2002-2007 ........................................ 333 GRFICO 3.10 - Quantidade de docentes por titulao no Brasil 2002-2007 ................... 334 GRFICO 3.11 - Distribuio porcentual de docentes por titulao no Brasil 2002-2007 335 GRFICO 3.12 - Bolsas por nvel de ps-graduao da Capes Brasil 2008 ...................... 337 GRFICO 3.13 - Evoluo de Inscries no ENEM ............................................................. 361 GRFICO 3.14 - Quantidade e porcent. de IES por organizao acad. no Brasil em 2008. . 387 GRFICO 3.15 - Quant. mdia de docentes por organizao acad. no Brasil em 2008........ 388 GRFICO 3.16 - Quant. mdia de matrculas por organizao acad.no Brasil em 2008. ..... 388 GRFICO 3.17 - Quant. mdia de concluintes por Organizao Acad. no Brasil em 2008. 389

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - As escolas de formulao de estratgia ........................................................... 143 QUADRO 2 - Sistema de Educao Brasileira e suas atuais caractersticas.......................... 306

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - Classificao Internacional Normalizada da Educao .................................... 208 TABELA 2 (D5.1) - Avaliao de escolas Pblica de EF2 (Ciclo final do EF, 2005) ......... 277 TABELA 3 - Distribuio de bolsistas da Capes no exterior 2008 ..................................... 338 TABELA 4 - Concesso de bolsas de ps-graduao da Capes no Brasil 2008 ................. 339 TABELA 5 - Distribuio de discentes de ps-graduao Brasil 2008 .............................. 340 TABELA 6 - Distribuio de docentes de ps-graduao Brasil 2008 ............................... 341 TABELA 7 - Distribuio de programas de ps-graduao Brasil 2008 ............................ 342 TABELA 8 - ndice de Desenvolvimento da Educao Bsica IDEB ................................ 360 TABELA 9 - Evoluo de Inscries no Enem ...................................................................... 362 TABELA 10 - Inscries no Enem e Populao por UF ........................................................ 363 TABELA 11 - Dimenses da Avaliao Institucional ........................................................... 366 TABELA 12 - Dimenses dos Cursos de Graduao............................................................. 368 TABELA 13 - Distribuio do CPC no Brasil em 2007 ........................................................ 372 TABELA 14 - Total de Instituies de Educao Superior e Universidades, ........................ 392 TABELA 15 Universidades e os conceitos em suas misses.............................................. 395

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

Sigla ACE ACG ACO ADCT AMAN ANDES/SN ANEB ANPED ANRESC AUS AUT AVALIES BCG BEL BFL BFR BID BNDES BRA CAN CAPES CDD CDU CEF CEFET CEPAL CET CHE CHL CIPP CIRET CLT CNE CNPJ CNPQ COFINS CONAES

Denominao Avaliao das Condies de Ensino Avaliao dos Cursos de Graduao Avaliao das Condies de Oferta Ato das Disposies Constitucionais Transitrias Academia Militar das Agulhas Negras Associao Nacional de Docentes do Ensino Superior / Sindicato Nacional Avaliao Nacional da Educao Bsica Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em Educao Avaliao Nacional do Rendimento Escolar Austrlia ustria Avaliao da Educao Superior Boston Consulting Group Blgica Blgica (fl.) Blgica (fr.) Banco Interamericano de Desenvolvimento Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social Brasil Canad Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior Classificao Decimal de Dewey Classificao Decimal Universal Caixa Econmica Federal Centro Federal de Educao Tecnolgica Comisso Econmica para a Amrica Latina e o Caribe Centro de Educao Tecnolgica Sua Chile Context-Input-Process-Product Centre International de Recherches et d`tudes transdisciplinaires Consolidao das Leis do Trabalho Conselho Nacional de Educao Cadastro Nacional de Pessoa Jurdica Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico Contribuio para o Financiamento da Seguridade Social Comisso Nacional de Avaliao da Educao Superior

CPA CPC CSLL CZE DCN DE DEU DNK DRU EAD ECP EF EJA EMBRAPA EM ENADE ENC ENEM ENG ESG ESP EST EUA FACED FAP FAT FATEC FGTS FHC FIES FIN FINEP FMI FNDE FRA FUA FUNDEB FURG GATS GEOCAPES GERES GRC HUN

Comisso Prpria de Avaliao Conceito Preliminar de Curso Contribuio Social sobre o Lucro Lquido Repblica Checa Diretrizes Curriculares Nacionais Dedicao Exclusiva Alemanha Dinamarca Desvinculao de Receitas da Unio Educao A Distncia Educao e Capacitao Profissional Ensino Fundamental Educao de Jovens e Adultos Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria Escola Naval Exame Nacional do Desempenho de Estudantes Exame Nacional de Cursos (antigo Provo) Exame Nacional do Ensino Mdio Inglaterra Escola Superior de Guerra Espanha Estnia Estados Unidos da Amrica Faculdade de Educao Fundao de Amparo Pesquisa Fundo de Amparo ao Trabalhador Faculdade de Tecnologia Fundo de Garantia do Tempo de Servio Fernando Henrique Cardoso Financiamento Estudantil Finlndia Financiadora de Estudos e Projetos Fundo Monetrio Internacional Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao Frana Fundao Universidade Federal do Amazonas Fundo de Manuteno e Desenvolvimento da Educao Bsica e de Valorizao dos Profissionais da Educao Fundao Universidade Federal do Rio Grande Acordo Geral sobre Comrcio em Servios Sistema de Dados Estatsticos Georeferenciados da Capes Grupo Executivo da Reforma da Educao Superior Grcia Hungria

IBGE IDD IDEB IDH IES IFES IFET IGC IME INEP INES INPE IPEA IPES IRL IRPJ ISCED ISL ISR ITA JPN KOR LDBN LIBRAS LUX MCT MDE MEC MEX MF MIT NLD NOR NSA NZL OECD OMC ONU OSCE PAD PAIUB PARU PASEP PCN

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica Indicador de Diferena de Desempenho ndice de Desenvolvimento da Educao Bsica ndice de Desenvolvimento Humano Instituio de Ensino Superior Instituio Federal de Ensino Superior Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia ndice Geral de Cursos Instituto Militar de Engenharia Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira Indicadores Educacionais Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada Instituio Privada de Ensino Superior Irlanda Imposto de Renda de Pessoa Jurdica International Standard Classification of Education Islndia Israel Itlia Japo Coreia do Sul Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional Lngua Brasileira de Sinais Luxemburgo Ministrio de Cincia e Tecnologia Manuteno e Desenvolvimento do Ensino Ministrio da Educao Mxico Ministrio da Fazenda Massachusetts Institute of Technology Holanda Noruega No Se Aplica Nova Zelndia Organizao para Cooperao e Desenvolvimento Econmico Organizao Mundial do Comrcio Organizao das Naes Unidas Organizao para Segurana e Cooperao na Europa Programa de Aprimoramento Discente Programa de Avaliao Institucional Programa de Avaliao da Reforma Universitria Programa de Formao do Patrimnio do Servidor Pblico Parmetros Curriculares Nacionais

PDE PDI PEC PET PIB PIN PIS PISA PND PNE PNLD PNPG PNUD POL PPC PPI PROUNI PRT PUCMG PUC-Rio PUCRS RCNS RDE RDH RDIDP REUNI RTC RTP RUS SAEB SARESP SBPC SCO SEEC SESU SIED SINAES SIS SNPG STN SUDAM SUDENE SVK

Plano de Desenvolvimento da Educao Plano de Desenvolvimento Institucional Proposta de Emenda Constituio Programa de Educao Tutorial Produto Interno Bruto Plano de Integrao Nacional Programa de Integrao Social Programa Internacional de Avaliao de Estudantes Plano Nacional de Desenvolvimento Plano Nacional de Educao Programa Nacional do Livro Didtico Plano Nacional de Ps-Graduao Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento Polnia Projeto Pedaggico de Curso Projeto Pedaggico Institucional Programa Universidade para Todos Portugal Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul Referenciais Curriculares Nacionais Regime de Dedicao Exclusiva Relatrio de Desenvolvimento Humano Regime de Dedicao Integral Docncia e Pesquisa Programa de Apoio a Planos de Reestruturao e Expanso das Universidades Federais Regime de Tempo Completo Regime de Tempo Parcial Federao Russa Sistema Nacional de Avaliao da Educao Bsica Sistema de Avaliao de Rendimento Escolar do Estado de So Paulo Sociedade Brasileira para o Progresso da Cincia Esccia Secretaria Estadual de Educao e Cultura Secretaria de Educao Superior Sistema Integrado de Informaes Educacionais Sistema Nacional de Avaliao da Educao Superior Sntese de Indicadores Sociais Sistema Nacional de Ps-Graduao Secretaria do Tesouro Nacional Superintendncia do Desenvolvimento da Amaznia Superintendncia do Desenvolvimento do Nordeste Eslovquia

SVN SWE TCC TI TIC TUR UCB UCSal EU UEA UECE UEFS UEG UEL UEMG UEPA UERJ UESB UF UFAC UFBA UFC UFCG UFES UFG UFLA UFMG UFMS UFMT UFPA UFPB UFPE UFPEL UFPI UFPR UFRA UFRGS UFRJ UFRN UFRPE UFRR UFS UFSC UFSM

Eslovnia Sucia Trabalho de Concluso de Curso Tempo Integral Tecnologia de Informao e Comunicao Turquia Universidade Catlica de Braslia Universidade Catlica de Salvador Universidade Estadual Universidade Estadual do Amazonas Universidade Estadual do Cear Universidade Estadual de Feira de Santana Universidade Estadual de Gois Universidade Estadual de Londrina Universidade do Estado de Minas Gerais Universidade do Estado do Par Universidade do Estado do Rio de Janeiro Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia Universidade Federal Fundao Universidade Federal do Acre Universidade Federal da Bahia Universidade Federal do Cear Universidade Federal de Campina Grande Universidade Federal do Esprito Santo Universidade Federal de Gois Universidade Federal de Lavras Universidade Federal de Minas Gerais Fundao Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Fundao Universidade Federal de Mato Grosso Universidade Federal do Par Universidade Federal da Paraba Universidade Federal de Pernambuco Fundao Universidade Federal de Pelotas Fundao Universidade Federal do Piau Universidade Federal do Paran Universidade Federal Rural da Amaznia Universidade Federal do Rio Grande do Sul Universidade Federal do Rio de Janeiro Universidade Federal do Rio Grande do Norte Universidade Federal Rural de Pernambuco Fundao Universidade Federal de Roraima Fundao Universidade Federal de Sergipe Universidade Federal de Santa Catarina Universidade Federal de Santa Maria

UFTM UFU UFV UKM ULBRA UNAMA UnB UNE UNEB UNEMAT UNESA UNESCO UNIBAN UNICAMP UNIFESP UNIFOR UNIMESP UNIMONTES UNINORTE UNIP UNIR UNIRIO UNOPAR URCA USA ZDP

Universidade Federal do Tringulo Mineiro Universidade Federal de Uberlndia Fundao Universidade Federal de Viosa Reino Unido Universidade Luterana do Brasil Universidade da Amaznia Fundao Universidade de Braslia Unio Nacional dos Estudantes Universidade do Estado da Bahia Universidade do Estado de Mato Grosso Universidade Estcio de S Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura Universidade Bandeirante de So Paulo Universidade Estadual de Campinas Universidade Federal de So Paulo Universidade de Fortaleza Universidade Metodista de So Paulo Universidade Estadual de Montes Claros Unio Educacional do Norte Universidade Paulista Fundao Universidade Federal de Rondnia Universidade do Rio de Janeiro Universidade do Norte do Paran Universidade Regional do Cariri Estados Unidos da Amrica Zona de Desenvolvimento Proximal

LISTA DE SMBOLOS

Smbolo A

Significado Dados no aplicveis, porque a categoria no se aplica Estimativas insuficientes para permitir confiabilidade (isto , h menos de 3% de estudantes para essa clula ou muito poucas escolas para

C inferncias vlidas). No entanto, essas estatsticas foram includas no clculo de mdias atravs dos pases M N W Dados no disponveis Magnitude desprezvel ou igual a zero Os dados foram excludos por solicitao do pas em questo Os dados foram includos em outra categoria ou coluna da tabela (por X exemplo, x(2) significa que os dados esto includos na coluna 2 da tabela) ~ A mdia no comparvel a outros nveis de educao

SUMRIO

PRLOGO ............................................................................................................................... 34 PANORMICA SOBRE O ESTUDO ..................................................................................... 40 CAPTULO 1 OS FUNDAMENTOS EPISTEMOLGICOS ........................................ 55 1.1 BASE EPISTEMOLGICA ............................................................................................. 55 1.1.2 Os princpios da epistemologia geral ............................................................................ 61 1.1.3 Princpios da epistemologia interna ............................................................................. 62 1.1.3.1 Objeto e problemtica cientfica ................................................................................. 63 1.1.3.2 Objetos real, percebido e construdo A ruptura epistemolgica ........................... 63 1.1.4 Da compreenso sobre Epistemologia ........................................................................ 68 1.1.5 Da compreenso sobre Modelo ................................................................................... 69 1.2 DA COMPREENSO SOBRE A UNIVERSIDADE E A EDUCAO........................ 77 1.3 CATEGORIAS CENTRAL E DE ANLISE................................................................... 79 1.3.1 Desenvolvimento Institucional ....................................................................................... 79 1.3.2 Avaliao Institucional ................................................................................................... 80 1.3.3 Planejamento Institucional ............................................................................................. 84 1.4 DAS LIMITAES DO ESTUDO .................................................................................. 86 CAPTULO 2 OS REFERENCIAIS TERICOS .................................................................. 90 2.1 BASE TERICA ............................................................................................................... 90 2.1.1 Multirreferencialidade .................................................................................................... 91 2.1.2 Transdisciplinaridade...................................................................................................... 98 2.1.3 Anlise Sistmica ......................................................................................................... 108 2.1.4 Anlise Crtica .............................................................................................................. 112 2.1.5 Anlise Institucional ..................................................................................................... 122 2.1.6 As trs teorias e seus autores ........................................................................................ 124 2.1.6.1 Teoria de Celso Furtado Do Sistema Econmico Sociedade .............................. 126 2.1.6.1.1 O Brasil e sua formao econmica ....................................................................... 130 2.1.6.1.2 A dependncia como causa do subdesenvolvimento.............................................. 131 2.1.6.1.3 Brasil: uma construo interrompida ...................................................................... 136

2.1.6.1.4 O mito do desenvolvimento econmico ................................................................. 138 2.1.6.2 Teoria de Henry Mintzberg Da Organizao Instituio ..................................... 141 2.1.6.2.1 As escolas de pensamento estratgico .................................................................... 143 2.1.6.2.1.01 A Escola do Design A estratgia como processo de concepo..................... 144 2.1.6.2.1.02 A Escola do Planejamento A estratgia como processo formal ..................... 147 2.1.6.2.1.03 A Escola do Posicionamento A estratgia como processo analtico .............. 151 2.1.6.2.1.04 A Escola Empreendedora A estratgia como processo visionrio ................. 154 2.1.6.2.1.05 A Escola Cognitiva A estratgia como processo mental ................................ 156 2.1.6.2.1.06 A Escola de Aprendizado A estratgia como processo emergente ................ 157 2.1.6.2.1.07 A Escola do Poder A estratgia como processo de negociao ..................... 159 2.1.6.2.1.08 A Escola Cultural A estratgia como processo coletivo ................................ 161 2.1.6.2.1.09 A Escola Ambiental A estratgia como processo reativo............................... 163 2.1.6.2.1.10 A Escola de Configurao A estratgia como processo de transformao .... 165 2.1.6.2.2 A evoluo das escolas de pensamento estratgico ................................................ 167 2.1.6.2.3 Os modelos para estratgias organizacionais ......................................................... 168 2.1.6.2.4 Poltica, estratgia e sistema decisrio ................................................................... 169 2.1.6.3 Teoria de Lev Vygotsky Do Agente ao Sujeito...................................................... 172 2.1.6.3.1 As concepes terico-epistemgicas de Vygotsky ............................................... 173 2.1.6.3.2 A formao dos processos psquicos superiores .................................................... 176 2.1.6.3.3 A linguagem e o pensamento ................................................................................. 180 2.1.6.3.4 O desenvolvimento e o aprendizado ....................................................................... 182 2.1.6.3.5 O desenvolvimento institucional de universidades ................................................ 183 2.1.6.3.6 Uma sntese das concepes de Vygotsky ............................................................. 184 2.2 SOBRE UM NOVO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL..... 187 2.3 A DESARTICULAO ENTRE A AVALIAO E O PLANEJAMENTO NA UNIVERSIDADE .................................................................................................................. 189 2.4 AVALIAO E PLANEJAMENTO: BINMIO QUE LEVA AO DESENVOLVIMENTO DA UNIVERSIDADE? ................................................................. 190 CAPTULO 3 A EDUCAO NO MUNDO CONTEMPORNEO .................................. 194 3.1 BASE TCNICA ............................................................................................................. 194 3.2 OS SISTEMAS EDUCACIONAIS NO MUNDO .......................................................... 197 3.2.1 O Modelo de Avaliao dos Sistemas Educacionais da OECD ................................... 203 3.2.2 A Avaliao de Sistemas Educacionais pela OECD .................................................... 209

3.2.2.1 Dimenso A A Produo das Instituies Educacionais e o Impacto da Aprendizagem ......................................................................................................................... 210 3.2.2.2 Dimenso B Recursos Financeiros e Humanos Investidos em Educao .............. 234 3.2.2.3 Dimenso C Acesso Educao, Participao e Progresso ................................. 250 3.2.2.4 Dimenso D O Ambiente de Aprendizagem e a Organizao das Escolas ............ 264 3.2.3 Sntese das Principais Constataes da OECD por Dimenso ..................................... 284 3.2.4 Consideraes sobre Sistemas de Avaliao e Planejamento ...................................... 287 3.2.5 Os Cenrios Futuros da Educao Superior para 2030 da OECD ................................ 289 3.2.5.1 Cenrio 1 Redes abertas ......................................................................................... 290 3.2.5.2 Cenrio 2 Servindo as comunidades locais ............................................................ 291 3.2.5.3 Cenrio 3 Novo tipo de administrao pblica ...................................................... 291 3.2.5.4 Cenrio 4 Educao Superior S/A .......................................................................... 292 3.2.6 Crtica ao Modelo da OECD ........................................................................................ 293 3.3 O SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO .............................................................. 299 3.3.1 A Educao Brasileira e seu Contexto Histrico.......................................................... 299 3.3.2 As Diretrizes da Educao Brasileira ........................................................................... 306 3.3.2.1 A Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional................................................... 307 3.3.2.2 O Plano Nacional da Educao ................................................................................. 308 3.3.2.3 O Plano de Desenvolvimento da Educao ............................................................... 310 3.3.3 A Educao Brasileira e sua Estrutura ......................................................................... 312 3.3.3.1 A Educao Bsica .................................................................................................... 314 3.3.3.1.1 A Educao Infantil ................................................................................................ 314 3.3.3.1.2 O Ensino Fundamental ........................................................................................... 315 3.3.3.1.3 O Ensino Mdio ...................................................................................................... 316 3.3.3.2 A Educao Especial ................................................................................................. 316 3.3.3.3 A Educao de Jovens e Adultos ............................................................................... 317 3.3.3.4 A Educao Profissional............................................................................................ 318 3.3.3.5 A Educao Superior Brasileira ................................................................................ 318 3.3.3.5.1 A Graduao ........................................................................................................... 319 3.3.3.5.2 Os Cursos Sequenciais ........................................................................................... 319 3.3.3.5.3 A Ps-Graduao .................................................................................................... 336 3.3.4 O Financiamento da Educao Brasileira ..................................................................... 343 3.3.4.1 O Financiamento da Educao no Ensino Pblico .................................................... 344

3.3.4.1.1 O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao (FNDE) ............................. 344 3.3.4.1.2 O Fundo de Manuteno e Desenvolvimento da Educao Bsica e de Valorizao dos Profissionais da Educao (Fundeb) ................................................................................ 344 3.3.4.2 O Financiamento da Educao no Ensino Privado.................................................... 346 3.3.4.2.1 O Financiamento Estudantil (FIES) ....................................................................... 346 3.3.4.2.2 O Programa Universidade para Todos (Prouni) ..................................................... 347 3.3.5 A Avaliao da Educao no Brasil ............................................................................. 348 3.3.5.1 A Avaliao da Educao Bsica .............................................................................. 348 3.3.5.1.1 O Censo Escolar da Educao Bsica .................................................................... 349 3.3.5.1.2 A Avaliao Nacional da Educao Bsica (Aneb) ............................................... 353 3.3.5.1.3 A Avaliao Nacional do Rendimento Escolar ANRESC (Prova Brasil) ........... 354 3.3.5.1.4 A Prova Brasil ........................................................................................................ 356 3.3.5.1.5 O ndice de Desenvolvimento da Educao Bsica (Ideb)..................................... 358 3.3.5.1.6 O Exame Nacional do Ensino Mdio (Enem) ........................................................ 360 3.3.5.2 A Avaliao da Educao Superior ........................................................................... 363 3.3.5.2.1 A Avaliao pelo Sinaes ......................................................................................... 365 3.3.5.2.2 A Avaliao pelo sistema da Capes ........................................................................ 374 3.4 SOBRE A MISSO DA UNIVERSIDADE E SUA (IM)PERTINNCIA.................... 384 CAPTULO 4 UM MODELO PARA O DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL ....... 399 4.1 BASE MORFOLGICA ................................................................................................. 404 4.1.1 Quadro de Anlise do Modelo ...................................................................................... 406 4.1.2 O Sistema Nacional de Avaliao da Educao Superior (Sinaes) .............................. 410 4.1.2.1 A Avaliao das Instituies de Ensino Superior (Avalies) ...................................... 411 4.1.2.2 A Avaliao dos Cursos de Graduao (ACG) ......................................................... 413 4.1.2.3 O Exame Nacional do Desempenho dos Estudantes (Enade) ................................... 414 4.1.3 Objetos e sujeitos da avaliao no Sinaes .................................................................... 415 4.1.4 As Dimenses da Avaliao Institucional da IES ........................................................ 417 4.2 SOBRE O MODELO PROPOSTO E SUAS POSSIBILIDADES ................................. 422 4.2.1 Os quatro nveis do modelo para o desenvolvimento institucional .............................. 423 4.2.2 Algumas recomendaes .............................................................................................. 432 4.3 ORIENTAES SOBRE A DIMENSO ANALTICA ............................................... 433 4.4 O SISTEMA DE INFORMAES, SUA LGICA E PROCEDIMENTOS ................ 434 CONSIDERAES E RECOMENDAES FINAIS ......................................................... 440

Obstculos ao desenvolvimento social e institucional ........................................................... 443 1 Obstculo Compreenso do sistema institucional .......................................................... 444 2 Obstculo Interesses individuais e grupais .................................................................... 446 3 Obstculo Escassez de Recursos .................................................................................... 446 4 Obstculo Competncia de Gesto................................................................................. 447 Algumas proposies para estudos e pesquisas futuras ......................................................... 452 E ainda algumas reflexes... ................................................................................................... 455 EPLOGO ............................................................................................................................... 458 REFERNCIAS ..................................................................................................................... 464 GLOSSRIO .......................................................................................................................... 478 APNDICE 1 Instrumento de Avaliao e Planejamento .................................................. 533 ANEXOS ................................................................................................................................ 586 ANEXO 1 - Lei n 9.394, de 20/12/1996 ............................................................................... 587 ANEXO 2 - Lei n 10.861, de 14/04/2004 ............................................................................. 598 ANEXO 3 Decreto Federal n 5.773, de 09/05/2006 .......................................................... 604 ANEXO 4 A Universidade brasileira e sua misso ............................................................. 627

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PRLOGO

Ento, h um princpio de incerteza, que seria o seguinte: eu falo, mas, quando falo, quem fala? Sou "Eu" s quem fala? Ser que por intermdio do meu "eu" um ns que fala (a coletividade calorosa, o grupo, a ptria, o partido a que perteno)? Ser um "pronome indefinido" que fala (a coletividade fria, a organizao social, a organizao cultural que dita meu pensamento, sem que eu saiba, por meio de seus paradigmas, seus princpios de controle do discurso que aceito inconscientemente)? Ou um "isso", uma mquina annima infrapessoal, que fala e me d a iluso de que fala de mim mesmo? Nunca se sabe at que ponto "Eu" falo, at que ponto "Eu" fao um discurso pessoal e autnomo, ou at que ponto, sob a aparncia que acredito ser pessoal e autnoma, eu fao mais que repetir as ideias impressas em mim. (MORIN, 2000, p. 126)

Tendo chegado ao final de minha jornada de estudos e pesquisas no Programa de Doutorado em Educao Brasileira na Faculdade de Educao, da Universidade Federal do Cear, agora, ao trmino do ano de dois mil e dez, preparo-me para deixar aqui o registro de algumas reflexes e experincias, resultantes dos fecundos e difceis momentos que, at ento, vivenciei em minha vida na educao superior, iniciada no ano de mil novecentos e setenta e cinco como estudante, professor e gestor, no Norte e no Nordeste do Brasil. Que o Senhor me conceda sabedoria e graa para relatar essas reflexes e experincias de meu aevum, na forma de um conhecimento organizado; humildade diante da imensa riqueza do tema que vivenciei e investiguei; altrusmo na busca desse entendimento; honestidade e preciso de mtodo; pacincia e disposio de aceitar evidncias e provas em contrrio; permitindo-me ento rever minhas concepes e teorias. Assim, ao narrar essa jornada em tempo de vida, apresento minha origem em breve crnica, que se inicia aqui. Parece que dificilmente conseguimos pensar um sujeito sem sua capacidade reflexiva de recuperar aquilo que viveu e foi sua histria. E ento, como filho de D. Hilda e Prof. Daltro, ambos servidores pblicos (ela educadora na vida e ele professor militante at a morte) em mil novecentos e cinquenta e oito nasci Francisco Antnio, o primognito de quatro filhos, irmo de Jos Jorge, Luz Maria e Emanuel Sebastio. Com esses nomes de santos, evidentemente, todos criados catlicos e nascidos na Metrpole da Amaznia, a cidade

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de Santa Maria de Belm do Gro Par, onde crescemos e convivemos com os numerosos filhos de oito tios e tias, por sua vez, filhos de Dr. Manoel Pedro e D. Honorina, avs maternos, portugueses que migraram de Algarves para o Brasil no ano de mil novecentos e trs; o Sr. Pedro Daltro e D. Firmina, avs paternos, brasileiros. Em retrospectiva, refletindo sobre minha origem, verifico na adolescncia o surgimento de primeiros esboos de uma quase concepo de mundo, quando iniciei escrevendo contos a partir de acontecimentos naquela comunidade de parentes e vizinhos. Naquele tempo, no ambiente diverso e adverso em que vivi e sobrevivi, trs problemas claramente me afligiam e me enchiam de questionamentos: a pobreza, a ignorncia e a doena. Em plena dcada de sessenta, no percebia que esses problemas humanos estavam sempre presentes nos lugarejos mais distantes dos centros desenvolvidos do pas, como era o caso de minha cidade. Muito tempo se passou at que compreendesse que esses problemas, ainda to presentes, no dependem de fatores geoeconmicos. Embora a cincia, na modernidade (compreendida como a crena na razo como instrumento suficiente para o conhecimento), queira me convencer de que a soluo vem da articulao entre polticas de Estado, aes de governo e cultura da sociedade, ainda penso que mais coerente argumentar que esses, assim como todos os problemas humanos, so sempre problemas morais. J na adolescncia sentia quase inconsciente a urgncia de olhar para o homem e sua humanidade, mas ingenuamente pensava ser possvel conhec-lo verdadeiramente atravs de um nico meio: seus sonhos e, em seguida, em retrospectiva, a observao e compreenso de sua histria. Pensava que s assim seria possvel descobrir algo comum entre todos ns... que estamos sempre em busca de algo... mais dinheiro, mais bem-estar, mais sade, mais conhecimentos, mais amor... mais liberdade... e sabe-se l o que mais... que nessa busca talvez tivssemos s mais uma oportunidade! Lembro imaginar que todos fingamos no saber que o que realmente procurvamos era mais desta extraordinria vida! E que, incautos, sempre queramos mais... embora a histria nos mostrasse que sempre acabvamos com menos... e no fim: nem mais, nem menos. Inconformado e sempre tentando fazer algo contra esses trs algozes, ao concluir o ensino mdio, ento curso cientfico, mesmo jovem e j trabalhando no campo da engenharia civil, pretendi estudar medicina. Alguns anos depois, cursei simultaneamente bacharelado em Filosofia (Universidade Federal do Par UFPA) e em Cincias Econmicas (Universidade da Amaznia UNAMA). Quase ao final desses cursos, em funo de minha condio de

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trabalhador-estudante e ento servidor pblico, vi-me obrigado a optar. E assim me graduei em Cincias Econmicas. Insistindo ontologicamente em relatar minha condio histrica (entre o perene e o efmero), percebo que reflito sobre a presena de algo ausente. Enquanto se passavam os anos (e os eventos, os empregos e as pessoas...), sempre mantive meu vnculo com a academia, ora como discente nos cursos de especializao e mestrado, ora como docente e dirigente. Sempre conduzindo at ela quem comigo conviveu, hoje percebo que esse vnculo sempre foi meu sentido de vida, aquele que me ajudou a suportar fracassos, obstculos e amarguras; com esperana, pacincia e entusiasmo, assim, a cada dia menos alienado. Habitu de realidades (in)comuns, como qualquer habitante desses mundos, tenho vivido numa teia de memrias coletivas. Na academia, participando inicialmente de atividades e cursos de extenso universitria, desde cedo convivi e me envolvi com diversas instituies de educao. Mais tarde, as graduaes e ps-graduaes me possibilitaram viv-las mais intensamente, quando, num primeiro momento at a graduao, busquei por formao e qualificao; e em seguida, at o presente, por meio de cursos de ps-graduao e atividades profissionais, tenho procurado compreend-las e melhor interpret-las, como meio de contribuir, retribuindo-lhes assim o sentido de existncia que me do em vida. Essas oportunidades de compreenses e interpretaes surgiram mais

significativamente nas avaliaes institucionais, projetos e atividades que tenho exercido, enquanto avaliador institucional capacitado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira INEP/MEC; consultor em desenvolvimento institucional; coordenador de avaliao e planejamento institucional; membro de comisses prprias de avaliaes institucionais; e dirigente de instituies de ensino superior. A propsito, foi em 2004, num dos cursos de capacitao do INEP/MEC para avaliadores institucionais em Braslia, que conheci o Prof. Jos Dias Sobrinho, o qual dispensa apresentaes. Naquela oportunidade, em dilogo sobre o Sinaes, presenteando-me com seus livros e ateno, me estimulou a avanar nos estudos e pesquisas em avaliao institucional. Estimulado e orientado, aps ler sua obra, fiquei impressionado com a clareza e a profundidade de suas ideias. Nos anos que se seguiram, aps vrios projetos nessa linha de pesquisa, me candidatei seleo pblica, sendo aprovado com o projeto de pesquisa que originou esta tese, no Programa de Doutorado em Educao Brasileira da Faculdade de Educao da Universidade Federal do Cear.

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A pouca liberdade sempre me deu muita autonomia, pois que sempre comprometido e entendido independente, me confesso um pesquisador participante, intrprete sobrevivente de vrias realidades, vistas no com um olhar distanciado da academia, porque sempre de corpo presente... e agora me parece que no sou de l nem de c, mas desse mundo. Sobre o mundo, lembro-me novamente de minha primeira noo, e, nessa explicao, compreendo que talvez aqueles trs cursos escolhidos na graduao se deram, mais ou menos, em funo daquelas, tambm trs aflies e dvidas da longnqua adolescncia, momento que certamente foi meu despertar. A reflexividade parece descobrir os nexos, atravs daquilo que lhes d sentido: a conexo mesma entre os sujeitos do mundo e seus objetos. Muito tempo depois daquele meu despertar, no ano de mil novecentos e noventa, o economista paquistans Mahbub ul Haq (1934-1998) apresentava o conceito de Desenvolvimento Humano com base num indicador que permitia, em colaborao com o economista indiano Amartya Sen ganhador do Prmio Nobel de Economia de 1998 as anlises que subsidiaram a elaborao do Relatrio de Desenvolvimento Humano (RDH) do Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD/ONU). Esse conceito e seu indicador, denominado ndice de Desenvolvimento Humano IDH, pretendia ser (e ainda ) uma medida geral, sinttica, do desenvolvimento humano. Assim, no abrangendo todos os aspectos de desenvolvimento, no uma representao da "felicidade" das pessoas, nem indica "o melhor lugar no mundo para se viver". No obstante essas restries, oferece um contraponto a outro indicador muito utilizado: o Produto Interno Bruto (PIB) per capita, que considera apenas a dimenso econmica do desenvolvimento. Assim, com essa concepo e conceito, o IDH se estrutura em trs componentes: Renda (Sistema econmico e o PIB per capita); Educao (Sistema educacional, o ndice de analfabetismo e a Taxa de matrcula em todos os nveis de ensino); e Longevidade (Sistema de sade e a Expectativa de vida ao nascer). Quando o PNUD/ONU publicou o RDH naquele ano de mil novecentos e noventa, perplexo, observei que aqueles componentes, sistemas e variveis tratavam exatamente de pobreza, de ignorncia e de doena, coisas que ento me indispunham, quando nem conhecia questes fundamentais das cincias e do mundo, porque possua apenas uma compreenso curta de minha realidade comunitria, numa aldeia da Amaznia, na dcada de sessenta.

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Novamente observo e compreendo que nossa reflexividade parece descobrir os nexos, atravs daquilo que nos d sentido: a conexo mesma entre ns, sujeitos do mundo e os nossos objetos. Sem dvida, esses trs problemas humanos a pobreza, a ignorncia e a doena persistem ainda hoje aqui, mais alm e no mundo. Como pessoa ser humano como agente social ainda em agonia, agora quase compreendo esses problemas de forma autoconsciente. Mesmo que o ser humano no seja algo que tenha soluo, assim vou em frente, sempre em busca de sentidos... peregrinando e observando. Mesmo solitrio nas percepes, digo que esses so os meus ps, com os quais caminho. E esses so os meus olhos, com os quais tento ver pela conscincia... ps e olhos que sempre terei, pois...Ler significa reler e, compreender, interpretar. Cada um l com os olhos que tem. E interpreta a partir de onde os ps pisam. Todo ponto de vista a vista de um ponto. Para entender como algum l, necessrio saber como so seus olhos e qual sua viso de mundo. Isso faz da leitura sempre uma releitura. A cabea pensa a partir de onde os ps pisam. Para compreender, essencial conhecer o lugar social de quem olha. [...] Isso faz da compreenso sempre uma interpretao. Sendo assim, fica evidente que cada leitor coautor. Porque cada um l e rel com os olhos que tem. Porque compreende e interpreta a partir do mundo que habita. (BOFF, 1997, p. 9-10)

E quem fala com estes ps e olhos? Sei que sempre o estudante, o ainda professor e o quase gestor. Acautelo-me com minha experincia profissional e formao acadmica, que se limitam s Cincias Sociais (Cincias Econmicas, no campo do Planejamento do Desenvolvimento Regional) e s Cincias Humanas (Educao, nos campos do Ensino, do Planejamento e Avaliao Educacional), recorrendo multirreferencialidade e transdisciplinaridade para argumentar sobre o objeto Desenvolvimento Institucional, no campo emprico da Universidade brasileira contempornea, atravs de seus instrumentos legais referentes ao objeto1, na categoria central Sistema Nacional de Avaliao da Educao Superior - Sinaes e nas categorias de anlise Dimenses institucionais no Sinaes. Mas, o que devo fazer para no apenas repetir as ideias impressas em mim? Caso supere essa denncia em Morin, terei apresentado algumas novas ideias sobre o objeto,1

Anexo 1 Lei n 9.394, de 20/12/1996 Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional LDBN. Anexo 2 Lei n 10.861, de 14/04/2004 Sistema Nacional de Avaliao da Educao Superior Sinaes. Anexo 3 Decreto Federal n 5.773, de 09/05/2006 Funes de regulao, superviso e avaliao de Instituies de Educao Superior e cursos superiores no Sistema Federal de Ensino do Brasil.

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materializadas nos modelos que proponho, prudentemente entendidos como abstraes, que no se prestaro s generalizaes universais. Sem mais existencialismo, neste princpio rogo perdo por atribuir ao objeto e corpo deste relato um pouco de minha histria, da realidade em que tenho vivido, dos valores culturais da comunidade a que me sinto pertencer e na qual me desenvolvi... de minha Weltanschauung.Resulta, ento, na nossa perspectiva, que dicilmente acedemos a nveis mais elaborados ou mais abstratos do pensamento sem essa tela narrativa prvia onde visualizamos e xamos o nosso trajeto como protagonistas das aes em que nos envolvemos, mesmo se a verdade destas nos escapa ou, alis, porque a verdade destas nos escapa. No acedemos reexo ou ao ajuizamento sem contarmos mesmo se implicitamente, por vezes em monlogo explorativo a histria dos acontecimentos sobre os quais vamos emitir juzos factuais ou avaliativos. (ANDRADE, 2000, p. 6)

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PANORMICA SOBRE O ESTUDO

Os limites de minha linguagem significam os limites de meu mundo. (WITTGENSTEIN, l994, p. 245)

O processo de institucionalizao da Universidade brasileira contempornea, que pode ser interpretado pelo seu desenvolvimento institucional, aspira, por meio de sua autonomia e histria, que essa instituio se torne cada dia menos vulnervel. Para tanto, os conceitos de pertinncia e qualidade devem ser reelaborados, comunicados, compreendidos, de forma que possam ser tambm institucionalizados. possvel que mesmo no contexto histrico e poltico do ltimo quarto de sculo, a Universidade brasileira no tenha conseguido superar muitas de suas vulnerabilidades na perspectiva de sua institucionalizao, pelo fato de, no processo de luta por autonomia, em defesa de sua histria e memria, haver esquecido, no reconhecido, ou excludo de sua linguagem, narrativa e comunicao as concepes evocadas pelos conceitos de pertinncia social e qualidade organizacional, causando, com isso, um colapso de sentido na institucionalizao de seu projeto educacional, compreensvel apenas pela anlise histrica e lgica da ps-modernidade. Paralelamente, observa-se que a sociedade e o Estado brasileiros, devido ao curto perodo no qual ainda esperam consolidar suas instituies democrticas, ainda no propuseram um projeto de nao no qual a educao, para alm da formao profissional, seja compreendida como uma, se no a nica, possibilidade de mitigar as desigualdades que ainda perduram nos sistemas social, econmico e poltico brasileiros. Em nem to longa retrospectiva histrica possvel observar o quanto e quais governos tiveram suas agendas conduzidas pela instabilidade econmica, e mesmo financeira, com relao s polticas de endividamento externo junto ao Fundo Monetrio Internacional (FMI) e ao Banco Mundial; pela instabilidade cambial; pelo combate ao crescimento da inflao; pela moratria da dvida externa; e pela intensa energia gasta na institucionalizao de organizaes de fomento ao desenvolvimento regional, como, por exemplo, a

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Superintendncia do Desenvolvimento da Amaznia (SUDAM)2 e a Superintendncia do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE)3. Para coroar o processo de democratizao brasileiro, pretendeu-se em 1988 que o projeto de nao to almejado pela sociedade emergisse por sua nova Constituio Federal, que, embora tenha atualizado juridicamente o Estado, a sociedade e a cidadania, no deu conta de articular mesmo com toda a bricolagem aplicada para acomodao de interesses polticos e possibilidades econmicas , para alm da instncia jurdica, uma compreenso de nao e seu projeto futuro, ao ponto de ainda subsistir dvidas, incertezas e indefinies sobre o sistema previdencirio e de assistncia social, o sistema de sade e saneamento bsico e o sistema tributrio e fiscal, dentre outros, como, por exemplo, mais pragmtica e operacionalmente, o sistema de repartio de royalties de energia entre Unidades da Federao. Diante desses e de outros problemas sociais, polticos e econmicos, constata-se o ensurdecedor silncio da Universidade brasileira, em colapso de sentidos sobre seu desenvolvimento e processo de institucionalizao, no pelo Estado, mas pela sociedade. Caberia questionar: Autonomia para quem? Para qu? Que sentido h nesse silncio? Um silncio que na prxis da Universidade pode desaparecer com a simples ateno desses problemas como objetos de pesquisa, de ensino e de atividades extensionistas, dando evidncia s questes, posicionando-se, elaborando e reelaborando os problemas numa perspectiva scio-histrica capaz de formular polticas pblicas que desenvolvam a sociedade e o cidado. Porque nada ocorre no vazio e ao acaso, possvel suspeitar que esse colapso de sentidos sobre a pertinncia social da Universidade emane de seus sujeitos, pelo menos daqueles que, embora no alienados, finjam-se como tal, pela primitiva razo de sobrevivncia, acreditando e, por vezes, constatando amargamente que a academia no o frum do debate poltico, no o lcus da prtica poltica, no sentido mesmo da plis, prtica sem a qual o processo de institucionalizao da Universidade no tem sentido se, para vencer o tempo, precisa conquistar o lugar, como diz Certeau (1990, p. 59).2

Em 1966, no governo Castelo Branco, a Superintendncia do Plano de Valorizao Econmica da Amaznia (SPVEA) foi substituda pela Superintendncia do Desenvolvimento da Amaznia (Sudam). A Sudam foi extinta por Medida Provisria em maio de 2001, no governo Fernando Henrique Cardoso, criando-se em seu lugar a Agncia de Desenvolvimento da Amaznia (ADA). A ADA foi extinta em 2007, com a recriao da Sudam pelo governo Lula, com a nova misso de propor e coordenar a implantao do Plano de Desenvolvimento da Amaznia, sob superviso do Ministrio da Integrao Nacional. 3 Criada em 1959 no governo de Juscelino Kubitschek, a Superintendncia do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) foi extinta em 2001 pelo governo Fernando Henrique Cardoso e recriada em 2007 pelo governo Lula, vinculada ao Ministrio da Integrao Nacional.

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Estando ou no a Universidade com suas vulnerabilidades evidentes, como poder acontecer sua institucionalizao plena, atravs de seu desenvolvimento institucional, sem que seus instituidores (a sociedade e seu corpo social) se instituam? Sem distanciamento crtico, quem l esses argumentos, para que relembre a relevncia da Universidade, que se pergunte se por ela se instituiu... mesmo que por difusa intencionalidade prpria, porque inicial, de se esperar que a resposta seja positiva. Para alm de uma razo comunicativa, necessrio que, nesse processo e momento de desenvolvimento da Universidade brasileira, uma razo compreensiva faa emergir, pela esfera das comunicaes intersubjetivas, os sentidos que justifiquem a misso da Universidade, sua histria pela de seus sujeitos, de tal forma inteligvel, que aquele lugar no seria, mesmo com o longo tempo transcorrido, o espao social desenvolvido sem ela. Sentidos que a histria transporte para o futuro, atravs da dinmica e das contradies da sociedade, onde a Universidade, alm de perene, seja reconhecida por sua pertinncia social e qualidade organizacional, e assim siga em permanente processo reflexivo sobre suas possibilidades de desenvolvimento institucional, rumo institucionalizao. E, para tanto, como meio de criar e interpretar esses sentidos, menos como prescrio e mais pela definio de Weick (1995) de que criar sentido, primeiramente construir uma identidade, que s possvel numa perspectiva histrica, num contexto social, pela ao e pelo discurso que reporta e interpreta eventos em curso, de onde se extraem sinais que permitem guiar pela plausibilidade, e no pela verdade, pois a criao de sentido a fonte que alimenta o processo de institucionalizao (p. 36). E nesse caminho, em busca pelo sentido sobre o desenvolvimento institucional da Universidade, tambm necessrio compreender como Andrade (2000), que adverte:O sentido global escapa-se-nos sempre. Apenas vemos, experimentamos e compreendemos quadros, isto , pores de realidade. Produzir ou captar sentidos implica que me coloque ou me deixe colocar numa encruzilhada. Mas quantos caminhos h numa encruzilhada? Dois, sempre dois, mesmo que comecem por ser muitos. Reencontramos a reduo binria, isto , a narrativa, isto , o sentido, isto , a ao como formas de explorar, mais factual ou mais imaginativamente, os mundos em que diariamente nos movemos e se movem as organizaes. (ANDRADE, 2000, p. 5)

A Universidade, mais complexa que uma organizao, independentemente de seu modelo organizacional, decisrio e fins, como qualquer organizao, pretende ardentemente,

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por mais implcito que se manifeste, institucionalizar-se (POWELL; DIMAGGIO, 1991, p. 63). Institucionalizar-se a despeito do tempo e do espao e com essa pretenso e nesse percurso na dinmica das mudanas que lhe exigem contnuas e crescentes atualizaes e reinvenes de si mesma; de sua misso e servios e, portanto, de sua identidade; do sentido pelo qual deve buscar seu desenvolvimento institucional ocorre que surgem contradies como a de que, tentando atender a essas exigncias, culmina por conspirar contra a prpria estabilidade e institucionalizao (num sentido tradicional e arcaico desses dois termos), e busca, num sentido mais atual, instituir, interpretar, integrar para institucionalizar. Essa vontade de institucionalizar corresponde na Universidade inteno e ao de ocupar um lugar privilegiado no campo da cincia e da educao; na rede interinstitucional em que se inclui; na sociedade, entendido assim porque [...] revela a necessidade muito antiga dos indivduos e de suas organizaes assegurarem a estabilidade de condutas, ganharem um Centro do Mundo. (ANDRADE, 2000, p. 9) E para que a Universidade ganhe o Centro do Mundo, necessrio primeiro compreender que h uma contradio insupervel enquanto o desenvolvimento institucional no for entendido como um devir de institucionalizao atravs de sua pertinncia social, como algo de fora para dentro da Universidade; e na sua qualidade organizacional, no sentido inverso. Nesse processo surge tambm um obstculo, quando se insiste em aceitar que a Universidade, sendo identificada equivocadamente como qualquer outra instituio ou organizao, em busca por subsistir, assim como aquelas, crie tambm seu sistema de regulao normativa ou simblica, para reprovar os desvios, os erros, e recompensar os acertos e conformidades, de acordo com o iderio e o discurso do institudo de planto. Como estratgia para reflexo, elaborao de concepes e formulao de questes sobre o desenvolvimento institucional da Universidade, so concebidos dois modelos: o primeiro modelo (cfe. Fig. 1), numa Dimenso Terica, parte do campo temtico da Universidade e seu princpio de indissociabilidade4 entre o ensino, a pesquisa e a extenso, e, atravs da multirreferencialidade5 terica entre as Anlises Institucional, Sistmica e Crtica, como racionalidade comunicativa (HABERMAS, 1981), para chegar a uma

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A universidade, na forma do disposto no artigo 207 da Constituio Federal Brasileira, gozam de autonomia didtico-cientfica, administrativa e de gesto financeira e patrimonial, e obedecero ao princpio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extenso. 5 Com base nas concepes seminais de Ardoino (1988), Barbier (1997) e Lapassade (1993).

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concepo sobre desenvolvimento institucional enquanto categoria central, que, no segundo modelo (cfe. Fig. 2), de Dimenso Aplicada, ponto de partida para representar a Universidade em seu Plano de Desenvolvimento Institucional, seu Projeto Poltico Pedaggico e seus Projetos Pedaggicos de Cursos, como fontes de seu sentido, originados numa transdisciplinaridade capaz de articular a avaliao e o planejamento institucional, na perspectiva do Sinaes, enquanto categorias de anlise de uma racionalidade instrumental (HABERMAS, 1981). Esses dois modelos conduziro o desenvolvimento da tese, que tem como principal objetivo elaborar um modelo de desenvolvimento institucional para a Universidade brasileira contempornea, com base na hiptese de que o desenvolvimento organizacional, que ocorre na evoluo da qualidade das dimenses da Universidade, de acordo com o Sinaes, condio bsica para o desenvolvimento institucional, mas somente presente pela pertinncia social da Universidade, alcanada atravs da articulao entre os processos de avaliao e de planejamento, na perspectiva de sua misso e projeto poltico pedaggico. Esse objetivo se concretiza pela realizao dos seguintes objetivos especficos: 1o) com base nas cincias sociais e humanas e no pensamento de alguns autores, refletir sobre o desenvolvimento de sistemas sociais, polticos e econmicos, especificamente no campo da educao, procurando compreender concepes e significados sobre o desenvolvimento institucional da Universidade; 2o) com a compreenso e reelaborao de um conceito sobre desenvolvimento institucional da Universidade, atravs de uma abordagem multirreferencial e transdisciplinar, identificar caractersticas, elementos e fatores que revelem causas, consequncias e possibilidades do fenmeno desenvolvimento institucional da Universidade brasileira contempornea; e 3o) a partir dos resultados dessa abordagem multirreferencial e transdisciplinar, elaborar um modelo que articule os processos de avaliao e de planejamento ao Sinaes para o desenvolvimento institucional da Universidade.

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Dimenso Terica

UNIVERSIDADEMISSO

Ensino

PesquisaCAMPO TEMTICO

Extenso

Racionalidade ComunicativaMULTIRREFERENCIALIDADE(Teorias)

ANLISE SISTMICA

ANLISE CRTICA

ANLISE INSTITUCIONAL

FurtadoEconomiaSociedade

VygotskyAgente Sujeito

MintzbergOrganizaoInstituio

DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONALCATEGORIA CENTRAL

FIGURA 1 - Dimenso Terica. Fonte: Elaborada pelo autor.

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Dimenso Aplicada

DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONALCATEGORIA CENTRAL

Racionalidade InstrumentalTRANSDISCIPLINARIDADECincias Sociais Cincias Humanas

CATEGORIAS DE ANLISE

AVALIAO

SINAES

PLANEJAMENTO

DIAGNSTICA

FORMATIVA

SOMATIVA

PLANOS

PROGRAMAS

PROJETOS

UNIVERSIDADEMISSOPDIPLANO DE DESENV. INSTITUCIONAL

PPIPROJETO PEDAGGICO INSTITUCIONAL

PPCsPROJETOS PEDAGGICOS DE CURSOS

FIGURA 2 - Dimenso Aplicada. Fonte: Elaborada pelo autor.

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Assim, apresentar um modelo para o desenvolvimento institucional de universidades, considerando o Sistema Nacional de Avaliao da Educao Superior (Sinaes), o objetivo central deste estudo. Numa perspectiva epistemolgica, tal objetivo se estruturar pela composio de um conjunto de conhecimentos que tm por objeto o desenvolvimento institucional da Universidade enquanto instituio de educao superior brasileira contempornea. O modelo resultante proposto fundamenta-se na compreenso de que o desenvolvimento institucional no ocorre naturalmente com a adoo das orientaes contidas na Lei n 10.861, de 14 de abril de 2004, atravs da qual se estabeleceu o Sinaes (Anexo 2), pois a avaliao institucional (mesmo como processo isolado e autnomo, como se observa empiricamente) um processo complexo, com variedade de aspectos, cuja compreenso deve partir de anlises nas perspectivas da multirreferencialidade e da transdisciplinaridade. Propor um modelo no qual os processos de Avaliao e Planejamento, articulados, induzam o desenvolvimento institucional de universidades, na perspectiva do Sinaes, um desafio que no se enfrenta sem conscincia dos obstculos epistemolgicos e tericos, ante os problemas morfolgicos e tcnicos. Assim, o estudo terico e aplicado realizado pelo autor, ao longo de seus estudos e experincias profissionais, permitiu abordar o objeto definido e reconhecvel no campo da educao: a Universidade. Nesse objeto, a inteno procurar compreender o fenmeno desenvolvimento institucional, muito discutido, porm pouco definido e entendido. O Sinaes definiu um conjunto genrico de informaes e processos articulados consistentemente num modelo institucional multidimensional, como principal referencial para a avaliao de Instituies de Educao Superior (IES) pelo Estado, numa perspectiva reguladora e controladora, que, em princpio, exige das instituies requisitos bsicos para subsidiar decises nos processos de autorizao, credenciamento e recredenciamento institucional. Por uma tica diferente dos tradicionais estudos, para alm de rever o que j se disse em geral, o desafio procurar dizer, sobre seu objeto, algo que ainda no foi dito, em particular, sobre suas possibilidades de desenvolvimento institucional. Em que direo est, pode ou deve se desenvolver a Universidade? Quem so os principais sujeitos em cada uma de suas dimenses? Quais so suas foras, fragilidades e potencialidades mais relevantes? Que crticas e sugestes podem ser formuladas sobre a Universidade? So algumas questes que possibilitam iniciar um processo institucional

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dialgico, conduzido pelos processos de planejamento e avaliao, integrando grupos e sujeitos da Universidade. Sem respostas para essas e outras questes atuais, analisando-se os relatrios de avaliao institucional, possvel observar empiricamente a existncia de inmeras universidades onde os sistemas de planejamento e de avaliao no so interdependentes, mas, por variadas causas, desarticulados em menor ou maior grau, principalmente pela inexistncia de um modelo integrador; de indicadores institucionais; das compreenses compartilhadas sobre desenvolvimento institucional, dentre outros fatores que propiciem anlises dialgicas nas avaliaes diagnsticas da Universidade; das avaliaes formativas de seus planos, programas, projetos e atividades e de avaliaes somativas de seus objetivos institucionais, formulando, acompanhando e reformulando suas polticas de desenvolvimento institucional. Ao invocar estudiosos sobre o tema desta tese, especialmente aqueles escolhidos para fundamentar a concepo de desenvolvimento do autor, conforme se apresenta no Captulo 2, pretende-se demonstrar que, no obstante a diversidade cultural e histrica vivenciada por esses estudiosos, eles convergem sobre concepes fundantes para uma sociedade democrtica, uma educao formadora de cidados e uma Universidade capaz de preparar esses cidados para formar essa sociedade, a despeito das persistentes divergncias e contradies da realidade brasileira. Esses estudiosos, destacados como referncia para a constituio de uma concepo multirreferencial sobre desenvolvimento, ou mais especificamente desenvolvimento da Universidade, apontam para a abertura de possveis caminhos de reflexo e ao em busca de mediar as necessrias contradies, entendendo-as como essenciais a uma dinmica de rupturas, retrocessos e avanos que pem em movimento os sujeitos, suas relaes e a sociedade, numa perspectiva de permanentes questionamentos sobre a cultura, suas prticas e intencionalidades, numa racionalidade indesejada porque mais instrumental do que comunicativa; onde sujeitos convivem entre tenses do racional e do irracional, do objetivo e do subjetivo, do concreto e do abstrato, do empirismo e do racionalismo, da ordem e do caos, do fato e do mito, do subdesenvolvido e do desenvolvido, parecendo no haver meio-termo, nem formas de articular essas tenses e contradies, que, se inexistentes, nada se pode compreender de plausvel sobre uma realidade to rica em aparncias.

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Nas vises e vontades convergentes desses estudiosos e autores, surgem uma sociedade e um sujeito, possveis atravs de instituies, de universidades com concepes sobre si mesmas e sobre o homem, que se desenvolvem por evoluo cultural, advindas de interaes inteligentes, que considerem a subjetividade, o autoconhecimento, a autocrtica, a autoavaliao, o planejamento participativo e o processo decisrio institucional democrtico, construindo assim outro olhar sobre essa sociedade e sobre esse homem enquanto sujeito, compreendido como indivduo real, portador de determinaes, que capaz de propor objetivos e praticar aes, consciente de suas consequncias porque autnomo, autodeterminado e emancipado. Que outras concepes e perspectivas seriam capazes de conduzir sociedades e pases de vigor democrtico ainda to incipiente? No contexto brasileiro, ainda em discurso neoliberal, discut