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1 Luiz Henrique Junqueira Dieckmann Dependência de Cocaína/Crack: Estudo dapossível redução da compulsão com o uso de biperideno. São Paulo 2013 Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina para obtenção do título de Mestre em Ciências pelo programa de pós-graduação do Departamento de Psicobiologia.

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Luiz  Henrique  Junqueira  Dieckmann  

Dependência de Cocaína/Crack: Estudo dapossível

redução da compulsão com o uso de biperideno.

São Paulo

2013

Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina para obtenção do título de Mestre em Ciências pelo programa de pós-graduação do Departamento de Psicobiologia.

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Luiz  Henrique  Junqueira  Dieckmann

Dependência de Cocaína/Crack: Estudo dapossível

redução da compulsão com o uso de biperideno.

São Paulo

2013

Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina para obtenção do título de Mestre em Ciências pelo programa de pós-graduação do Departamento de Psicobiologia. Orientador: José Carlos F. Galduróz Colaboradora: Anna C. Ramos

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Dieckmann, Luiz Henrique Junqueira Biperideno: Dependência de Cocaína/Crack: Estudo da possível redução da compulsão com o uso de biperideno. Tese (Mestrado) – Universidade Federal de São Paulo. Escola Paulista de Medicina. Programa de Pós-graduação em Psicobiologia. Título em inglês: An effective alternative in the treatment of cocaine / crack compulsion. 1. cocaína 2. Crack 3. biperideno 4. Adesão 5. Antagonista colinérgico 6. Tratamento

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO

ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA DEPARTAMENTO DE PSICOBIOLOGIA

DISCIPLINA DE MEDICINA E SOCIOLOGIA DO ABUSO DE DROGAS Chefe do Departamento: Deborah Suchecki Coordenador do Curso de Pós-Graduação: Vânia D’Almeida

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Luiz  Henrique  Junqueira  Dieckmann

Dependência de Cocaína/Crack: Estudo da possível

redução da compulsão com o uso de biperideno.

Presidente da Banca : Prof. Dr. José Carlos Fernandez Galduróz

Banca Examinadora:

Prof. Dr. Dartiu Xavier da Silveira

Prof. Dr. Telmo Mota Ronzani

Profa. Dra. Roseli Boerngen de Lacerda

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Dedicatória

À minha esposa Paula, meu filho Lucas, meus pais e toda minha família, que tornam todos

os meus sonhos possíveis

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Agradecimentos

A realização desta dissertação de mestrado contou com importantes apoios e incentivos,

sem os quais este projeto não teria se tornado realidade.

Palavras não seriam suficientes para demonstrar minha gratidão diante de tantas pessoas

que tornaram e continuam tornando meus inúmeros sonhos possíveis.

À minha amada esposa Paula, apoio incondicional e paciência, amizade e gratidão, sempre

ao lado em todos os momentos da minha vida na última década, que parece já ser uma vida

completa. Com amor, carinho e paixão trilhamos juntos todos os momentos, em nossas

vidas pessoais, profissionais e acadêmica. E tenho certeza que este será o começo dos nossos

caminhos por toda uma longa vida em conjunto. Dois corpos e um coração.

Meu pequeno filho Lucas, que num tão pequeno corpo, já capaz de caber tanto amor.

Fonte inesgotável de felicidade, sorrisos contínuos e capaz de alegrar qualquer coração.

Tudo que fazemos, temos ele como meta.

Meus pais, Maria Laís e Luiz Carlos, que me deram a oportunidade de viver e aproveitar

a agradável companhia deles, me dando todas as ferramentas necessárias para trilhar o

caminho do estudo. Modelos de coragem, bases da minha formação, meu eterno

agradecimento.

Aos meus avós João (in memoriam), Neusa, Julieta (in memoriam) e Walter, por todos os

ensinamentos e demonstrações de amor ao longo da minha criação. Meus Avós

“emprestados” João (in memoriam) e Ruth, pelo carinho dedicado nos últimos anos.

Dedico também à minha irmã Cibele, que entre “gato e rato” nos nossos primeiros anos,

me fez ver a importância da família ao longo de nossas vidas. Hoje uma grande amiga,

junto com meus queridos cunhados Caio, Barbara e Raphael. Não deixaria nunca de

agradecer aos meus sogros, Raimundo e Ana Rosa, que hoje tenho certeza poder chamá-los

também de pais, por tudo que me fazem, e por todo o amor que temos uns pelos outros.

Ao meu grande professor e orientador Galduróz, hoje já chamo de amigo. Agradeço

pela sua orientação, total apoio, conhecimentos transmitidos, sugestões, críticas, "toques",

etc. Onde eu tinha uma dúvida, ele tinha uma solução. Caso não existisse uma solução, pelo

menos uma boa piada para descontrair. Palavras de incentivo, resposta para todos os

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emails, enfim, qualidades que podemos encontrar somente nos melhores orientadores. Fica

aqui meu agradecimento de coração.

À Anna Carolina, que tanto colaborou nas minhas mil Duvidas, na confecção do texto, na

análise estatística, na co-orientação, meu muito obrigado

Aos amigos e colegas de pós graduação, em especial “A Turma do Zé”, que estiveram ao

meu lado durante estes últimos anos, amenizando as dificuldades da trilha, pelo

companheirismo e pelas risadas compartilhadas em nossas reuniões.

Aos meus amigos do colegial, meus amigos da faculdade e também da residência, que

tornam nossa vida muito mais divertida e fácil de ser vivida.

Aos meus pacientes, que me fazem aprender a cada dia, me ajudando muito mais do que

nos livros, ensinando dia a dia a ser um profissional melhor.

Enfim, palavras não são suficientes, mas são muito sinceras.

Agradeço, finalmente, à AFIP e ao CNPq, que tornaram este projeto realidade.

Número do Processo CNPq: 402657/2010-1

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SUMÁRIO

Dedicatória------------------------------------------------------------------------------------------v

Agradecimentos------------------------------------------------------------------------------------vi

Listas------------------------------------------------------------------------------------------------viii

Resumo----------------------------------------------------------------------------------------------xi

1. INTRODUÇÃO --------------------------------------------------------------------------------- 01

1.1. Epidemiologia do uso de cocaína/crack no Brasil e no Mundo ---------------- 02

1.2. Neurobiologia da dependência de cocaína ---------------------------------------- 03

1.3. Tratamento farmacológico da dependência de cocaína-------------------------- 08

1.4. Envolvimento do sistema colinérgico na dependência de cocaína------------- 08

1.4.1 Biperideno---------------------------------------------------------------------------- 10

2. OBJETIVOS --------------------------------------------------------------------------------------12

2.1. Objetivo geral --------------------------------------------------------------------------13

2.2. Objetivos específicos -----------------------------------------------------------------13

3. MATERIAL E MÉTODOS ---------------------------------------------------------------------14

4. RESULTADOS -----------------------------------------------------------------------------------20

5. DISCUSSÃO --------------------------------------------------------------------------------------22

6. CONCLUSÃO ----------------------------------------------------------------------------------- 26

7. ANEXO ------------------------------------------------------------------------------------------- 32

8. REFERÊNCIAS ---------------------------------------------------------------------------------- 43

ABSTRACT ---------------------------------------------------------------------------------------- 48

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LISTA DE TABELAS E FIGURAS

Figura 1 - Ilustração dos mecanismos neurobiológicos e dos efeitos da cocaína------------------------------------------- 4

Figura 2 –Ilustração do sistema dopaminérgico e ilustração de uma sinapse dopaminérgica----------------------------- 7

Figura 3 - Modelo molecular do biperideno------------------------------------------------------------------------------------- 11

Figura 4 – Fluxograma do estudo (CONSORT) ------------------------------------------------------------------------------- 16

Figura 5 -Adesão ao tratamento comparando-se os grupos placebo e biperideno------------------------------------------ 22

Figura 6 - Doses de cocaína e crack ao longo do tratamento nos grupos Placebo e Biperideno--------------------------22

Figura 7 –Fissura ao longo do tratamento nos grupos placebo e biperideno ------------------------------------------------ 23

Figura 8 – Dias de uso de cocaína no último mês ao longo do tratamento -------------------------------------------------- 24

Tabela 1 –Dados sócio demográficos dos pacientes do estudo ----------------------------------------------------------------21

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LISTA DE ABREVIATURAS

ACh – Acetilcolina DA – Dopamina DSM IV TR - Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (4a edição – texto revisado) ITTA-LOCT – Análise Estatística da “Intenção de Tratar”, utilizando o último dado disponível da tabela até o final do tempo do estudo mAChR – Receptores muscarínicos de acetilcolina PCL – Preferência condicionada por lugar rCBF - Fluxo sanguíneo regional cerebral

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Resumo Introdução:O uso de cocaína afeta cerca de 13,4 milhões de pessoas ou 0,3% da população mundial de 15 a 64 anos. A dependência de drogas tem sido descrita por diversos autores como uma doença do sistema cerebral de recompensa. Considerando os efeitos do sistema colinérgico nos mecanismos de recompensa e auto-administração de drogas, a acetilcolina (ACh) pode apresentar um importante papel nos processos de dependência de cocaína. Objetivo:Avaliar a eficácia do biperideno (um antagonista colinérgico) na redução da fissura, da quantidade utilizada da droga e no aumento da adesão ao tratamento para a dependência de cocaína / crack. Métodos:Estudo duplo-cego, placebo-controlado, randomizado, de 8 semanas. Participaram 111 voluntários dependentes de cocaína e/ou crack, do sexo masculino, entre 18 e 50 anos de idade. Foram alocados no grupo Placebo (n = 55) ou Biperideno (n = 56), onde todos participaramde sessões semanais de terapia breve em grupo com orientação cognitivo-comportamental. A eficácia foi avaliada através da adesão ao tratamento, além da utilização de outros instrumentos: Escala de Fissura por Cocaína de Minnesota, as escalas de Beck de depressão e ansiedade e um questionário avaliando a quantidade de droga utilizada nos últimos 30 dias. Os participantes compareceram ao local do estudo semanalmente por 8 semanas. A Análise estatística foi feita juntamente com o método “Intent to Treat Analyses Using the Last Observation Carried Forward Method” Resultados:Dos 56 pacientes do grupo de biperideno, 24 completaram o tratamento (42,8%), em comparação com apenas 11 pacientes no grupo placebo (20%), sendo esta uma diferença estatisticamente significante (p = 0,009). A adesão ao tratamento foi 118% maior no grupo biperideno, que também foi o grupo que apresentou uma redução estatisticamente significante na quantidade de uso de cocaína / crack (p <0,001). Houve diferença estatisticamente significante tambémno escore de “fissura” no grupo biperideno. Conclusões: O bloqueio farmacológico do sistema colinérgico feito com o biperideno é uma alternativa promissora para o tratamento de dependência de cocaína / crack, ajudando os pacientes a reduzir a quantidade utilizada da droga e melhorar a adesão ao tratamento psicoterápico. Palavras-chave: 1. Cocaína 2. Crack 3. Biperideno 4. Adesão 5. Antagonista colinérgico 6.

Tratamento

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1- INTRODUÇÃO:

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1.1. Epidemiologia do uso de cocaína/crack no Brasil e no Mundo

O uso de cocaína afeta cerca de 13,4 milhões de pessoas ou o que equivale à 0,3% da

população mundial de 15 a 64 anos. A dependência de cocaína é um problema de saúde

pública mundial, que se caracteriza por recaídas e por uma série de problemas médicos e

complicações psicossociais (UNODC, 2012; SAMHSA,2011). Do ponto de vista médico,

aumenta o risco de diversas doenças infecciosas, como Hepatite B e C e HIV quando feito o

uso de cocaína injetável e também pode apresentar o aumento do risco de atitudes de risco,

como pratica de atos sexuais sem preservativos. Aumenta o risco de acidentes automotivos e

envolvimentos em discussões e atos de violência (UNODC, 2012).

Os dados epidemiológicos mostram taxas de uso de cocaína de 14,3% ao longo da vida na

população dos EUA, onde 1.4% da população fez uso ao longo do último ano

(SAMHSA,2011). É um importante problema de saúde pública também em diversos países

da União Européia, com prevalência de uso no último ano na ordem de 1,2% (UNODC,

2012).

Importante ressaltar que dados, considerados isoladamente, não devem compor o

cenário para análise do perfil de uma determinada sociedade (CARLINI-COTRIM,1991).

O cenário brasileiro também mostra dados de uso crescente da cocaína. Estudo realizado

pela CEBRID no Brasil em 2005 (nas 107 maiores cidades do país) mostrou que o uso de

cocaína na vida foi de 2,3% (IC – 1,3% - 3,3%) da população. Esta taxa era inferior em

relação aos Estados Unidos da América (14,3%). No entanto é similar às taxas do Chile

(4,5%), Espanha (3,2%), Reino Unido (3,0%), Holanda (2,6%) (CONACE 2001, SAMHSA

2011, EMCDDA 2005).

O uso de cocaína no Brasil varia bastante conforme sexo e idade: situa-se em 5,4% entre

homens e 1,2% entre mulheres (CEBRID, 2005). A faixa etária de maior uso ocorre entre 25 e

34 anos de idade, na qual atinge a porcentagem de 5,2%. Entre os adolescentes de 12 a 17

anos, 0,5% relatam já terem experimentado essa droga.

O consumo de cocaína dobrou no Brasil no prazo de seis anos, enquanto em outras partes

do mundo o uso dessa substância está caindo (UNODC, 2012).

O consumo de cocaína no Brasil aumentou segundo o mesmo relatório e atingiu 1,75% da

população com idade entre 15 e 64 anos em 2005 - ante 0,7% da população estimado pelo

relatório de 2001.

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Em relação ao uso de Crack, neste mesmo estudo, foi encontrado a taxa de 0,7% de uso ao

longo da vida na população brasileira (CEBRID, 2005), número inferior ao encontrado nos

EUA, com taxas de 2,4% da população. Homens experimentaram mais que mulheres, 1,5% e

0,2%, respectivamente. A maior porcentagem de uso se encontra na faixa etária de 25 a 34

anos, entre homens (CEBRID, 2005)

A nossa realidade de uso, apesar das semelhanças encontradas, mostram particularidades

que precisam ser consideradas no planejamentos de estratégias de prevenção, para se

adequarem à população (GALDURÓZ et al., 2007).

1.2. Neurobiologia da dependência de cocaína

A cocaína é um alcalóide extraído das folhas da planta Erythroxylon coca. Ela pode

ser encontrada sob a forma de um sal, o cloridrato de cocaína (pó), ou sob a forma de base, o

crack e a merla. Há ainda a pasta de coca, produto grosseiro obtido no início da extração, que

contém impurezas tóxicas (CEBRID, 2005).

Ao usar a cocaína, o indivíduo sente grande prazer, intensa euforia e sensação de

poder, geralmente voltando a usá-la depois do desaparecimento dos efeitos (Figura 1). Essa

compulsão é denominada “fissura”, vontade incontrolável de sentir os efeitos de prazer

gerados pela droga. No entanto, após uso intenso e repetitivo da cocaína (sob suas diversas

formas) ocorrem sensações desagradáveis, como cansaço e intensa depressão.

Adicionalmente, seu uso crônico pode provocar rabdomiólise, uma degeneração irreversível

dos músculos esqueléticos (CEBRID, 2005).

Da Silveira (2005) realizou estudo onde mostra que a fissura se mostra importante

marcador e correlato com o uso de cocaína, e que o tempo de abstinência desde o último uso

de cocaína e o método de consumo são preditores dos sintomas de fissura. Foram estudados

voluntários dependentes e também não dependentes. A freqüência da fissura estava

relacionada, neste estudo, com a freqüência de uso da cocaína e também com o Período de

abstinência. O Período da fissura foi inversamente proporcional à intensidade da fissura nos

voluntários.

A cocaína induz tolerância para os efeitos de prazer e, concomitantemente,

sensibilização para os efeitos desagradáveis, como paranóia, desconfiança e agressividade. O

aumento da dose gera comportamento violento, irritabilidade, tremores e atitudes bizarras,

devido ao aparecimento de paranóia, e pode causar alucinações e delírios. A esse conjunto de

sintomas dá-se o nome de psicose cocaínica (CEBRID, 2005), (Figura 1).

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Os processos neurobiológicos envolvidos no fenômeno da dependência da cocaína são

ainda apenas parcialmente compreendidos. Conhecimentos sobre a genética e sobre a

neuroimagem tem ajudado no entendimento do mesmo, mais ainda insuficientes para total

compreensão (GOLDSTEIN & VOLKOW, 2002).

Figura 1 - A ilustração dos mecanismos neurobiológicos e dos efeitos da cocaína. Autorizado o uso da imagem por Ec-Europe.

O sistema de recompensa cerebral é fundamental para a sobrevivência, por ser

responsável pela sensação de prazer nas nossas funções básicas de sobrevivência, como na

fome, na sede o no desejo sexual (HYMAN, 2005; SHIZGAL et al., 2001 ;DICHIARA E

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NORTH, 1992). Está localizado predominantemente nas estruturas límbicas do cérebro

(Figura 2). O principal neurotransmissor envolvido neste sistema é a dopamina, e seu núcleo

anatômico são neurônios dopaminérgicos da área tegumentar ventral, que tem projeções para

o núcleo accumbens, amígdala e córtex pré-frontal (VETULANI, 2001). A cocaína, por sua

vez, age sobre a neurotransmissão dopaminérgica destas áreas (Figura 2).

A dopamina é um neurotransmissor que atua como uma parte importante do sistema

de recompensa, além de provocar uma sensação de prazer (ou satisfação) exerce efeito sobre a

motivação e os processos de aprendizagem (VETULANI, 2001) . Experiências mostraram que

mesmo a memória do reforço positivo prévio pode aumentar os níveis de dopamina

temporariamente (VETULANI, 2001).

A dopamina também desempenha um papel importante no desempenho cognitivo. A

ativação da transmissão dopaminérgica é necessária nos processos de mudança de foco do

nosso processo atencional. Assim, a deficiência de transmissão dopaminérgica conduz a um

aumento da inércia do paciente, que se manifesta clinicamente, por exemplo, na lentidão dos

processos cognitivos e na perserveração de um estímulo . Estes são os sintomas cognitivos

comuns em doenças com deficiência dopaminérgica, como por exemplo, a doença de

Parkinson (ZAKHAROV et al., 2005).

Os efeitos euforizantes da cocaína são devidos, sobretudo, ao bloqueio da recaptação

de dopamina no sistema nervoso central (VOLKOW et al., 1999) (Figura 2). Na retirada

abrupta da substância, emergem sintomas devido a menor estimulação dopaminérgica

(LESHNER, 1996; ROBINSON AND KOLB, 2004).

A estimulação do núcleo accumbens provoca a sensação de prazer obtida com o uso

(via do reforço ou da gratificação), e o córtex pré-frontal está relacionado com os processos

de tomada de decisão, podendo influenciar no escalonamento do consumo de drogas

(KOOBet al., 1998; NESTLER, 2001). Isto porque, enquanto as atividades de recompensa

natural são controladas por mecanismos de “feedback”, que podem ativar centros aversivos, o

mesmo não ocorre com as respostas a estímulos artificiais como as drogas de abuso

(VETULANI, 2001).

De acordo com Williams & Adinoff (2008), a dependência de drogas tem sido descrita

como uma doença do sistema cerebral de recompensa, de forma que as drogas ativam o

circuito neuronal envolvido nos processos de recompensa e memória. Além disso, o efeito no

sistema colinérgico ativa mecanismos de recompensa e auto-administração de drogas,

podendo ter um importante papel nos processos de dependência de cocaína, por exemplo.

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Buscaremos, ao longo desta tese, descrever as diferentes abordagens atualmente

disponíveis e o conhecimento sobre os sistemas dopaminérgicos e colinérgicos,

principalmente.

Claro que a modulação entre processos psicológicos, ambientais e neurobiológicos

acabam compondo o cenário para entendermos melhor o processo da drogadição.

Para podermos abordar e planejar um tratamento, indubitável a necessidade de um

correto diagnóstico no início do tratamento. De acordo com o DSM IV - TR (APA , 2000),

um diagnóstico de abuso de substância é caracterizado quando existe a presença de um padrão

repetitivo de consumo, desencadeando problemas na vida social, interpessoal, física e/ou

jurídica. Em relação à dependência, caracteriza-se não só pelas conseqüências negativas no

funcionamento social e na saúde física, como também associação a duas alterações

fisiológicas, chamadas de tolerância e abstinência, além da perda do controle sobre o uso das

drogas . A dependência é caracterizada pelo uso compulsivo e descontrolado da substância,

com episódios de recorrência (APA, 2000).

O tratamento dos episódios de intoxicação diferem por completo do tratamento da

abstinência da substância. Geralmente as intoxicações são efetivamente tratadas com suporte

médico padrão (segurança da via aérea, monitorização da função cardíaca e hepática,

hemodiálise) (KLEBER et al., 2007). Em casos mais graves, intervenções farmacológicas

específicas podem ser necessárias, como antagonistas de receptores que são estimulados pelo

efeito da substância responsável pela intoxicação. Exemplos destas classes são a naltrexona,

antagonista do receptor opióide (agonista parcial) que reverte sintomas de intoxicação de

heroína ou opiáceos (GALANTER E KLEBER, 2008), e o flumazenil, um antagonista de

receptores GABA usado para intoxicação com benzodiazepinicos (KLEBER et al., 2007).

Algumas horas de abstinência podem acabar ocasionando a síndrome de abstinência,

que é caracterizada por sintomas físicos e psicológicos, muitas vezes intoleráveis, que

contribuem para a dificuldade em se manter abstinente no curto prazo.

Em algumas situações, os sintomas podem ser aliviados administrando fármacos que

substituem o efeito farmacodinâmico da substância causadora da abstinência.

Entretanto, a simples desintoxicação raramente é suficiente por si só para a remissão

prolongada ou sustentada do consumo da droga (MATTICK E HALL, 1996;. GOSSOP et al.,

2002).

Para a cocaína, não existem fármacos específicos para tratar a intoxicação, sendo

utilizado somente tratamento dos sintomas e estabilização hemodinâmica.

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Figura 2 – Estruturas importantes envolvidas no sistema dopaminérgico e ilustração de uma sinapse dopaminérgica. Autorizado o uso da imagem por Ec-Europe.

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1.3 Tratamento farmacológico da dependência de cocaína

Não existe, até o momento, nenhum tratamento específico e eficaz para tratar a

compulsão pela cocaína/crack. Vários estudos buscaram avaliar a administração de

antagonistas dopaminérgicos (AMATO et al., 2010), ou de agonistas dopaminérgicos, porém

não mostraram diferenças estatisticamente significante em relação ao placebo (MARIANI et

al., 2012). Além disso, outras formas de tratamento foram avaliadas, como medicações

serotonérgicas, gabaérgicas, além das dopaminérgicas, sem encontrar evidências positivas no

momento (SHORTER& KOSTEN, 2011; PIERCE, 2012).

Com este hiato no tratamento para o uso abusivo e a dependência de cocaína, outros

sistemas de neurotransmissão têm sido estudados, entre eles o sistema colinérgico que regula

de maneira conjunta, porém, oposta ao circuito dopaminérgico de recompensa (HIKIDA et

al., 2003).

1.4 Envolvimento do sistema colinérgico na dependência de cocaína

Os neurônios colinérgicos projetam-se para diversas regiões e regulam funções

cognitivas, afetivas e funções comportamentais (WILLIAMS & ADINOFF, 2008) . O

sistema da acetilcolina está envolvido no controle dos movimentos e também na modulação

de funções comportamentais associadas com informações vindas do nosso estado emocional ,

motivação e desejo (MESULAM, 1996) e também com processos cognitivos complexos,

como atenção, aprendizagem e memória (SARTER et al., 2003).

Em modelos animais, vários modelos têm sido utilizados para entender o papel do

sistema colinérgico na dependência, incluindo a auto-estimulação, a auto-administração, e a

preferência de local condicionado (O'BRIEN E GARDNER, 2005; SANCHIS-SEGURA &

SPANAGEL , 2006).

Já em 1954, Olds e Milner fizeram estudos de auto estimulação, fazendo estímulos

elétricos em regiões específicas do SNC de animais, iniciando o estudo da via colinérgica.

Os estudos de auto administração mensuram a quantidade de vezes que o animal procura a

alavanca que aciona a liberação da droga a ser estudada.. Quanto mais é pressionada, maior o

reforço que a droga produz (GARDNER, 2000; JACOBS et al., 2003).

Fazendo a ablação seletiva dos neurônios colinérgicos, Hikida et al demonstraram a

modulação do Núcleo Accumbens pelo sistema colinérgico. Também em modelo animal,

Itzhak et al. (2000), mostraram o uso da escopolamina (substância anticolinérgica)

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modificando o condicionamento após a administração da cocaína nos animais. A

escopolamina, aplicada em estruturas para-hipocampais (HASSELMO, 2006) pode,

analogicamente com lesões focais em certas estruturas com neurônios anticolinérgicos,

prejudicar a retenção de novas memórias no modelo animal. Williams e Adinoff (2008)

estudaram a relação do sistema anticolinérgico no tratamento da dependência, ao invés do

sistema dopaminérgico, glutamatérgico e serotoninérgico. Conseguiram demonstrar o papel

importante da acetilcolina na função executiva, na aprendizagem e na memória. Neste estudo

há uma análise da funções diversas da acetilcolina nas diferentes estruturas (hipocampo,

estriado, amígdala e região pré-frontal), correlacionando com a dependência da cocaína.

Alguns estudos têm mostrado que os efeitos da recompensa relacionadas com a

cocaína são mediados por receptores muscarínicos M5 na área tegmental (FINK-JENSENet

al., 2003;THOMSENet al., 2005;YEOMANS et al., 2001) Além disso, os receptores M4

podem influenciar a regulação da neurotransmissão dopaminérgica. Schmidt et al. (2011)

demonstraram que camundongos “knockout” para estes receptores M4 apresentaram um

aumento na auto-administração de cocaína. Além de inibir a recaptação de dopamina

diretamente, a cocaína age também sobre os receptores M1 e M2 (FLYNN et al., 1992).

Estes efeitos não são encontrados apenas com a escopolamina. O biperideno, um

antagonista de receptores muscarínicos de fraca ação periférica, juntamente com o

triexifenidil, mostram efeito amnésico nos ratos, porém com tempos de duração bastante

diferentes. Esta diferença do tempo de ação se deve, provavelmente, a ligação com o receptor

causada pelo biperideno ser parcialmente irreversível, enquanto o triexifenidil se liga aos

receptores de maneira completamente reversível (KIMURA et al., 1999).

Em um estudo com camundongos, o biperideno reduziu o desenvolvimento

(ZACARIAS et al., 2012) e a expressão da preferência condicionada por lugar induzidos pela

cocaína (RAMOS et al., 2012). Foram utilizados dois modelos animais: preferência

condicionada por lugar(PCL) e o da sensibilização comportamental em camundongos. Os

resultados demonstraram que o biperideno conseguiu bloquear a expressão da Preferência

condicionada de Lugar e aumento da expressão da sensibilização. Estes eventos podem estar

relacionados ao aumento da Dopamina no Núcleo Acumbens, diminuindo a busca pela droga,

e aumentando o prejuízo no condicionando ao afetar a evocação de memória pela medicação

anticolinérgica (RAMOS et al., 2012)

Os estudos clínicos em seres humanos demonstraram que o polimorfismo do gene

receptor muscarínicos de acetilcolina (mAChR) M2 (CHRM2) está envolvido em um

fenótipo que é preditivo de transtornos associados ao uso de substâncias (DICKet al., 2008).

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Adinoff et al. (2010) relataram que o fluxo sanguíneo regional cerebral (rCBF) nas regiões

límbicas de indivíduos dependentes de cocaína foi alterado depois da administração de

fisostigmina (um agonista colinérgico) e escopolamina (um antagonista muscarínico) em

comparação com o rCBF no grupo controle. Os receptores colinérgicos nicotínicos também

têm sido alvo de pesquisas. Um estudo placebo controlado, duplo-cego com

vareniclina(agonista parcial alfa4beta2), durante nove semanas mostrou uma redução

significativamente maior nas taxas de uso e de sintomas de recompensa da cocaína quando

comparado com o grupo placebo (PLEBANIet al., 2012).

Tendo em vista o bom resultado no modelo animal, decidimos por transpor e adaptar o

experimento com biperideno para um ensaio clínico com humanos, dado o perfil de segurança

da medicação e o potencial de uso da mesma

1.4.1 Biperideno

O biperideno é quimicamente conhecido como 3-piperidino-1-fenil-1- bicicloheptenil-

1-propanol, um agente anticolinérgico predominantemente central (Figura 3). O biperideno é

formalmente indicado para tratamento do Parkinsonismo e das reações adversas

extrapiramidais induzidas pelos neurolépticos e outras drogas que bloqueiam receptores de

dopamina nos gânglios da base e também criam uma deficiência funcional de dopamina.

O Biperideno é um pó branco, inodoro, cristalino, ligeiramente solúvel em água e

álcool, estável a temperaturas normais. É um agente anticolinérgico com efeito marcante no

sistema nervoso central e seus efeitos anticolinérgicos são relativamente pequenos quando

comparados aos da atropina. O biperideno se une de maneira competitiva aos receptores

muscarínicos (preferencialmente M1, o principal tipo de receptor muscarínico no cérebro)

periféricos e centrais.

Uma das hipóteses levantadas seria o potencial benefício do biperideno em diminuir a

compulsão em usuários de cocaína/crack e em aumentar a adesão ao tratamento

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Figura 3 –Modelo da molécula de biperideno, com base em dados de cristalografia de raios-x de Nobuhiro Marubayashi, Masami Yamashita e Noriaki Hirayama (1999). Autorizado o uso da imagem por Ec-Europe.

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2- OBJETIVOS:

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2.1. Objetivo Geral

1. Avaliar a eficácia do biperideno no tratamento da dependência de cocaína e crack

2.2. Objetivos Específicos

Avaliar a adesão e ao tratamento psicoterápico, a quantidade de uso e cocaína/crack,

os dias de uso no mês, os relatos dos pacientes de sintomas de ansiedade e depressão

associados.

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3- MATERIAIS E MÉTODOS:

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O presente estudo foi realizado no Departamento de Psicobiologia da Universidade

Federal de São Paulo (UNIFESP) - Escola Paulista de Medicina em um setor especializado no

atendimento a usuários de substâncias psicotrópicas: “Unidade de Dependência de Drogas

(UDED)” o qual conta com uma equipe multidisciplinar, composta por psicólogos, assistentes

sociais e médicos psiquiatras.

Foram recrutados 111 usuários de cocaína e/ou crack que preencheram os critérios de

inclusão de um total de 166 pacientes que passaram pela triagem clínica. O convite para

participação do estudo foi feito na intranet da UNIFESP, nos diversos setores da UNIFESP e

Hospital São Paulo, assim como em serviços de saúde públicos e rádios de São Paulo. Aos

indivíduos que procuraram o serviço foi explicado tratar-se de um projeto de pesquisa, cuja

participação era voluntária.

O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNIFESP, sob número

1777/10. Os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Na Figura 4 temos o fluxograma que descreve o processo de randomização e do

follow-up (CONSORT, 2010).

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Figura 4 –Fluxograma que descreve o processo de randomização e do follow-up.

Procedimentos

Os pacientes que se inscreverem para o tratamento fizeram uma entrevista inicial com

um dos médicos psiquiatras autores do projeto e assinaram um termo de consentimento livre e

esclarecido para a participação na pesquisa. Durante a entrevista foi realizada uma avaliação

psiquiátrica, incluindo a aplicação das escalas citadas a seguir e a avaliação do grau de

dependência de cocaína/crack dos pacientes através dos critérios do DSM IV - TR (APA,.

2000).

Foram realizados exames de “screening” do uso de drogas psicotrópicas: álcool;

anfetamínicos; cannabis; cocaína; benzodiazepínicos, além de outros exames:Urina Tipo I,

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Hemograma (série branca e vermelha), Hepatites: A, B e C, HIV, TGO (Transaminase,

glutâmico-oxalacético), TGP (Transaminase glutâmico-pirúvico), Gama GT, Bilirrubinas

(total e frações), Creatinina, Uréia, Ácido úrico, Glicose, Triglicérides, Colesterol (total e

frações): LDL, HDL, VLDL e T3, T4 e TSH, perfazendo o total de 45 ml de sangue.

Os pacientes fizeram retornos semanais para avaliação e retirada de cápsulas

suficientes para os próximos 15 dias, como forma de nos certificarmos do uso das substâncias

do estudo. Além disso, todos os 111 pacientes participaram de um tratamento psicoterápico

semanal através da técnica de Intervenção Breve em grupo. As sessões foram em grupos com

seis a quinze pacientes/grupo em média, totalizando nove grupos distintos ao longo do estudo.

Em linhas gerais, a Intervenção Cognitivo Comportamental Breve busca trabalhar os

aspectos psicológicos diretamente relacionados com o uso da droga em questão.

Originalmente desenvolvida por Sanches-Craig et al. no Canadá (FORMIGONI, 1992),

sugerem uma técnica simples e diretiva, muito útil no tratamento de dependentes de álcool e

outras drogas, pelo baixo custo e resultados rapidamente observáveis (MARQUES, 1997). O

tratamento breve envolve procedimentos de ensino de métodos de autocontrole para atingir os

objetivos de abstinência ou moderação. Comumente envolve estabelecimento de metas,

automonitorização do consumo, identificação de situações de risco e instruções para evitar

situações de consumo excessivo (FORMIGONI, 1992).

Critérios de inclusão/exclusão

- Pacientes com dependência de cocaína ou crack, segundo os critérios do DSM IV - TR

(APA , 2000);

- Idade entre 18 e 55 anos;

- Sexo masculino;

- Não fazer uso de medicamentos psicoativos;

- Não apresentar outros transtornos psiquiátricos;

- Não apresentar critério de dependência de outras drogas, exceto tabaco (comorbidade muito

freqüente).

Instrumentos

1 – Critérios diagnósticos do DSM IV - TR (APA,. 2000).

2 – Escala de "Fissura'' por Cocaína de Minnesota.

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Esta escala avalia a “fissura” (compulsão) através de cinco itens, que podem ser usados

independentemente, sendo preenchida pelos próprios pacientes (HALIKASet al., 1991).

3 – Questionário sobre consumo de Cocaína/Crack.

Este questionário consiste de dez itens, que tem por finalidade avaliar o padrão de

consumo da droga, abrangendo aspectos de quantidade e freqüência de uso

(Desenvolvida pela UDED – Unidade de Dependência do Depto. de Psicobiologia –

UNIFESP). Os pacientes usaram um calendário para lembrar a quantidade de seu uso

diário no mês anterior a cada um dos seus quatro compromissos. A quantificação do

consumo de drogas foi baseada no número de cápsulas / pacotes de cocaína ou de pedras

de crack (uma única dose é equivalente a um grama), considerando o uso no mês anterior

à entrevista. Para a análise, nós adicionamos a quantidade utilizada durante os três meses

do estudo.

4 – Escala de Beck para Ansiedade (BAI).

A escala de ansiedade desenvolvida por Beck é um instrumento de autopreenchimento

utilizado como um método diagnóstico complementar. Ela avalia níveis de ansiedade

apresentados pelos pacientes, através de uma lista de sintomas (BECK et al., 1988).

5 – Escala de Beck para Depressão (BDI).

Este questionário, também desenvolvido por Beck, é um instrumento diagnóstico

complementar que consiste em 21 grupos de afirmações, as quais devem ser escolhidas e

assinaladas pelo próprio paciente (BECK & STEER, 1961).

-Estes instrumentos estão disponibilizados nos Anexos.

Randomização e Mascaramento

Realizou-se um estudo clínico placebo controlado, duplo-cego e randomizado. Foi

administrado, por via oral em doses diárias, cápsulas de biperideno (4 a 6 mg divididos em

três tomadas diárias) a 56 pacientes do sexo masculino, ou placebo (nas mesmas condições

do biperideno) a outros 55 pacientes também do sexo masculino, totalizando 111 pacientes.

As cápsulas de biperideno e placebo tinham aparências idênticas.O alocamento dos pacientes

foi feita usando o software SPSS usando a distribuição uniforme (1:1), permitindo a inclusão

dos pacientes em dois grupos randomicamente.

Análise estatística

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Todos as análises estatísticas foram realizadas utilizando-se o Software SPSS 17.0

Foi realizado o teste ANOVA de medidas repetidas, seguida do teste post-hoc de

Bonferroni, para avaliação da eficácia do biperideno na diminuição do consumo de

cocaína/crack ( medido pelo número de pedras de crack ou cápsulas de cocaína em pó usados

durante o último mês) ao longo dos três tempos do estudo em relação ao placebo.

Para avaliar os resultados levando em consideração à perda dos pacientes ao longo do

tempo, foi utilizando ITTA-LOCF (Intent to Treat Analyses Using the Last Observation

Carried Forward Method), repetindo a mesma análise com a ANOVA de medidas repetidas.

A ITTA é um procedimento analítico utilizado para avaliar ensaios clínicos

randomizados e controlados, comparando os pacientes tanto que terminaram o estudo quanto

os “drop-outs” ( por desistência).

Dentro de estudos clínicos, em especial dentro da área de dependência química, há

uma perda de pacientes muito grande ao longo do tratamento (ANDERSON et al., 2009;

WALSH, 2013), o que dificulta a análise de intervenções feitas ambulatorialmente. A ITT

fornece uma avaliação realista do benefício de uma intervenção proposta e não apenas do

potencial benefício para pacientes que receberam o tratamento da maneira exata como foi

inicialmente projetado. No caso do ITTA-LOCF, o último valor coletado para os pacientes

drop-outs foi computado como sendo o valor final para os participantes drop-outs. Isso

aumenta o poder do teste estatístico (pois o N amostral aumenta), porém também aumenta o

número de pessoas que não tiveram efeito hipotético do remédio, reduzindo o efeito esperado

da intervenção, aumentando a chance de erro beta nos resultados. Como nosso objetivo o foi

verificar o efeito do biperideno, e dado o número de “dropouts”, um nível maior de rigidez no

teste estatístico, é aceitável para obter resultados mais precisos.

Para avaliação da adesão ao tratamento foi utilizado o teste de qui-quadrado

comparando o grupo placebo com o grupo biperideno. Os escores obtidos nas escalas de

Depressão de Beck foram utilizados como co-variáveis, a fim de verificar a possível

interferência destes fatores no resultado final da análise. O nível de significância assumido foi

p<0,05. Quando apropriado,a normalidade (teste de Kolmogorov) e a homogeneidade (teste

de Levene) da amostra foram verificadas (p>0,05).

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4- RESULTADOS

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Ao todo foram avaliados 166 pacientes. Destes, 55 não preencheram os critérios de

inclusão ou preencheram critérios de exclusão. Os principais motivos de exclusão foram à

presença de comorbidades clínicas (hepatite em atividade, tuberculose em tratamento e

epilepsia) e comorbidades psiquiátricas (Transtorno Ansioso, Transtorno Depressivo,

Esquizofrenia e Dependência de outras substâncias que não o tabaco).

Dos 111 pacientes que iniciaram o tratamento, observou-se que a média de idade dos

56 pacientes que usaram biperideno era de 32,9 anos (± 7,6 anos), e o grupo placebo com

idade média de 31,5 anos (± 6,6 anos). O tempo aproximado de uso de cocaína/crack no grupo

biperideno foi de 10,6 anos (± 8 anos), semelhantemente ao grupo placebo que tinha

aproximadamente 10,6 anos de uso (± 6,5 anos). A distribuição da média de idades e de

tempo de uso, o uso de álcool, cigarro e o tipo de droga consumida no início do tratamento

não diferiram estatisticamente entre os dois grupos (p>0,05). Os dois grupos apresentaram

uma distribuição normal e homogênea após a randomização, sem diferença estatística entre

eles. A normalidade (teste de Kolmogorov) e a homogeneidade (teste de Levene) foram

verificadas na análise (P>0,05) [Tabela 1].

Tabela 1 - Caracterização da amostra: distribuição entre os grupos.

Grupos Dados Sóciodemográficos Placebo (N = 55)

Biperideno (N = 56)

Idade (Anos) Média ± DP 31,4 ± 6,6 32,8 ± 7,6

Tempo de uso da Droga (Anos)

Média ± DP 10,5 ± 6,4 10,6 ± 8,0

Droga usada (%) Cocaína 31 (56,4%) 30 (53,6%)

Crack 11 (20,0%) 16 (28,6%) Cocaína e crack 13 (23,6%) 10 (17,9%)

Fumante Sim 38 (69,1%) 46 (81,9%) Não 17 (30,9%) 10 (17,9%)

Uso de álcool Sim 40 (72,7%) 43 (76,8%) Não 15 (27,3%) 13 (23,2%)

Dos 56 pacientes do grupo biperideno, 42,8% permaneceram até o final do tratamento

(n=24), enquanto dos 55 pacientes do grupo placebo, apenas 20% chegaram até o final do

tratamento (n=11). Esta relação mostrou uma adesão ao tratamento estatisticamente

significante (χ2=6,714 gl=1, p=0,009), sendo 118% maior no grupo biperideno [Figura 5].

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Figura 5 – Adesão ao tratamento comparando-se os grupos placebo e biperideno. A diferença é estatisticamente significante. (χ2=6,714, gl=1, p<0,01). Esta relação mostra uma adesão 118% maior ao tratamento proposto no grupo biperideno.

Foi feita uma ANOVA para medidas repetidas com os três tempos do estudo para

avaliar a redução no consumo de cocaína, comparando a dose inicial e final nos dois grupos.

A análise mostrou uma redução na quantidade de uso ao longo do tempo (F= 12·751,

gl=2, p<0,001). De acordo com o teste post-hoc de Bonferroni, essa diferença foi devida a

uma redução na utilização da droga maior no grupobiperideno do que no grupo placebo (p

<0,001). [Figura 6]

Figura 6 – Diminuição das doses de uso de cocaína e crack (quantificado em gramas) ao longo do tratamento no grupo Biperideno. Foi utilizado o teste ANOVA de medidas repetidas para avaliação da efetividade do biperideno na diminuição da dose A análise mostra que a redução da quantidade de uso no grupo biperideno foi significativamente maior quando comparado ao grupo placebo [ANOVA - Post-hoc de Bonferroni (F= 12,7519, gl=2, p <0,001)].

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A redução da quantidade usado no grupo do placebo, considerando apenas os 11

pacientes que completaram o estudo (81,2%) não foi estatisticamente significante (p> 0,05),

enquanto que no grupo biperideno, também considerando apenas os 24 pacientes que

concluiram o estudo (88%), foi estatisticamente significante (p = 0,013).

Ao aplicar o ITTA-LOCF (Intent to Treat Analysis Using the Last Observation

Carried Forward Method), observou-se uma redução de consumo de apenas 18% no grupo

placebo (p=0,017), em contraste com 44,5% no grupo de biperideno (p=0,000) (p<0,001)P1.

Além disso, o número de dias em que a droga foi consumida também foi reduzido através de

tratamento.A redução dos dias no grupo de placebo (79,7%), considerando apenas os 11

pacientes que completaram o estudo,não foi estatisticamente significante (p> 0,05), enquanto

que no grupo do biperideno (70,2%), também considerando apenas os 24 pacientes que

completaram o tratamento, foi estaticamente significativa (p=0,000) (p<0,001).

Ao aplicar o ITTA-LOCF, observou-se uma redução dos dias de uso de apenas 24,4%

no grupo placebo (p = 0,014) em contraste com 38% de redução no grupo biperideno (p =

0,000) (p<0,001).

A Escala de “Fissura de Minnesota foi aplicada no início, no meio e no final do

tratamento. Os pacientes no grupo placebo apresentaram uma média ± DP de 5,5 ± 2,6, de um

total de nove pontos, no início do tratamento e uma média ± DP de 2,7 ± 2,1 no final do

tratamento. O grupo biperideno começou com uma média ligeiramente superior ± DP de 5,9 ±

2,6, e terminou com uma pontuação inferior à do grupo de placebo (2,1 ± 2,2). [Figura 7]

Figura 7 – Mudança relatada da “Fissura” ao longo do tratamento nos voluntários dos grupos biperideno e placebo (Escala de "Fissura'' por Cocaína de

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Minnesota). Aplicado o ITTA-LOCF, houve uma redução de 19,1% da “fissura” no grupo placebo (p = 0,017) e de 37,6% no grupo biperideno (p = 0,000).

A redução da“fissura” no grupo placebo (considerando apenas os 11 pacientes que

seguiram adiante com o estudo), foi de 49%, não sendo estatisticamente significante (p>

0,05), enquanto no grupo biperideno foi de 65,5% (considerando apenas a 24 pacientes que

seguiram através do estudo), sendo significativa esta diminuição (p<0,001).

Os resultados acima seguiram a mesma tendência quando foi aplicado o ITTA-LOCF,

com uma redução de 19,1% da “fissura” no grupo placebo (p = 0,017) e de 37,6% no grupo

biperideno (p<0,001).

Além disso, o número de dias em que a droga foi consumida também foi reduzido

através de tratamento. A redução dos dias no grupo de placebo (79,7%), considerando apenas

os 11 pacientes que concluíram o estudo, não foi estatisticamente significante (p> 0,05),

enquanto que no grupo de biperideno (70,2%), também considerando apenas os 24 pacientes

que concluíram, foi significativa (p<0,001) [Figura 8].

Figura 8 – Dias de uso de cocaína no último mês ao longo do tratamento.Aplicando-se o ITTA-LOCF, observou-se uma redução do consumo de apenas 24,4% no grupo de placebo (p = 0,014) em contraste com 38% no grupo biperideno (p = 0,000).

Aplicando-se oITTA-LOCF, observou-se uma redução do consumo de apenas 24,4%

no grupo de placebo (p = 0,014) em contraste com 38% no grupo biperideno (p<0,001).

As escalas de Depressão e Ansiedade de Beck foram aplicadas no início e no final do

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tratamento nos pacientes, não sendo encontradas diferenças estatísticas ao longo do tempo

entre os grupos (p>0,05) .

Os efeitos adversos encontrados foram ressecamento das mucosas, principalmente da

boca, visão turva e prisão de ventre. Entretanto nenhuma interrupção foi relatada por conta

dos efeitos adversos, que foram considerados leves.

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5- DISCUSSÃO

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Os dados obtidos no presente estudo reforçam a hipótese de que a via colinérgica está

envolvida no circuito neuroquímico da dependência da cocaína, e que está é uma importante

evidência terapêutica que pode se tornar uma opção viável no arsenal de tratamento para a

síndrome da dependência de cocaína. Bloqueando o sistema colinérgico foi possível aumentar

a adesão dos pacientes ao tratamento, além de obter-se uma diminuição significativa na

quantidade de uso da cocaína/crack e da “fissura” relatada entre os voluntários.

Segundo de Pierce et al. (2012), já existem tratamentos farmacológicos disponíveis e

eficazes para as dependências de álcool, nicotina e opióides, porém não há nenhum tratamento

efetivo, até o momento, para drogas psicoestimulantes. Esta constatação desperta ainda mais

interesse para uma via pouca explorada no tratamento da dependência de psicoestimulantes, a

via colinérgica.

Em relação os nossos resultados, propomos ao menos duas explicações:

A primeira delas está relacionada ao bloqueio colinérgico. Estudos mostram que a

acetilcolina (ACh) regula o circuito dopaminérgica no nucleus accumbens (HIKIDA et al.,

2003, AOSAKI et al., 2010). Se os níveis de dopamina permanecerem constantes, o aumento

na capacidade de resposta dos receptores dopaminérgicos pode ser invertido. Quando os

indivíduos são repetidamente expostos às drogas de abuso, eles estão sujeitos a adaptações

moleculares, com mudanças na sinalização neuronal. Estas adaptações podem, eventualmente,

ser observadas nas alterações comportamentais complexas conhecidas como dependência. Os

sintomas incluem a tolerância, a sensibilização, a dependência, a “fissura” e recidiva.

(DACKIS et al., 2001;RON et al., 2005) Quando o uso de cocaína ocorre repetidamente,

existe um upregulation da 3 ', 5'-monofosfato de adenosina cíclico (cAMP) na via de

sinalização no núcleo accumbens, resultando numa interrupção da sinalização de receptores

dopaminérgicos D1/D2. Os eventos intracelulares resultantes do reforço da sinalização pós-

sináptica nos receptores D1 podem reforçar os efeitos da cocaína / crack (ANDERSON &

PIERCE, 2005;O'BRIEN, 1990).

Outro possível mecanismo para a redução na quantidade de uso de cocaína / crack

neste estudo pode estar relacionado com os processos de aprendizagem e memória, que estão

prejudicadas pela administração de biperideno, um antagonista colinérgico. Este dano pode ter

um aspecto benéfico, dissociando-se o uso de drogas a partir do prazer físico, associado com

o meio ambiente. Para os indivíduos que apresentam dependência de cocaína/crack, os

estímulos ambientais associados ao uso de drogas podem levar à “fissura”, aumentando as

chances de recaída (O'BRIEN et al., 1990).

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Sabemos que a “fissura” é um fenômeno subjetivo considerado um elemento

fundamental na caracterização da dependência química (HALIKASet al., 1991).

A “fissura" é particularmente importante na caracterização da dependência de

cocaína/crack. Pode ser tão intensa a ponto de perturbar a concentração, interferir com o

desempenho do indivíduo, controlando muitas vezes as ações subseqüentes. (HALIKASet al.,

1991). Em suma, a “fissura é uma vontade súbita e intensa de de usar uma substância e que

obriga o indivíduo à ir à procura de droga .

A dimuição da “fissura” nos dois grupos de tratamento pode ser possível consequência

da permanência no tratamento psicoterápico associado neste trabalho. O trabalho

psicoterápico breve desenvolvido em nosso estudo consistia, entre outros objetivos, em

identificar os estímulos externos e sentimentos que disparavam a “fissura. Tendo esta

identificação, era uma das metas a ser atingida pelo paciente desenvolver habilidades para

lidar com esses estímulos e sentimentos que surgem juntamente com esta forte vontade de

uso.

A dependência de drogas é um fenômeno complexo que envolve vários aspectos

psicossociais, além de alterações fisiopatológicas. Portanto, a psicoterapia é uma parte

essencial do tratamento. A adesão à intervenção cognitivo-comportamental breve em nosso

estudo foi de 42,8% no grupo do biperideno, mais de duas vezes o percentual observado no

grupo placebo (20%). Em outros estudos, a adesão ao tratamento variou entre 20% a 60%

para estudos com duração entre 8 e 12 semanas, mas sem diferenças entre os grupos ativo e

placebo (ANDERSON et al., 2009;WALSH, 2013).

A falta de adesão ao tratamento medicamentoso costuma ser regra nos estudos sobre

dependência (EVANS & SPELMAN, 1983). Apesar dos esforços por parte dos profissionais

de saúde, os resultados podem não ser os esperados caso os pacientes não adiram ao

tratamento. Assim, a adesão também tem sido um tema de preocupação clínica desde a década

de 1970. A adesão ao tratamento inclui não só a adesão do paciente à medicação, mas também

à fatores como dieta, exercício, ou mudanças no estilo de vida (JIN et al., 2008).

Além do impacto indesejável sobre os resultados clínicos no próprio paciente, a falta

de adesão também causa um aumento dos gastos públicos para a sociedade (SVARSTAD et

al., 2001). Temos como exemplo, citado pelo referido autor,que a não adesão tem sido

associada com um excesso de visitas aos serviços de urgências médicas, aumentos das

internações e custos de tratamento mais elevados. Portanto, tanto do ponto de vista da

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obtenção de resultados clínicos favoráveis e da diminuição dos gastos públicos , o efeito

negativo da não adesão precisa ser minimizado(JIN et al., 2008).

Jin et al. conduziu uma revisão da literatura em 2008 para avaliare identificar os

fatores relevantes relacionados à não adesão, e as evidências indicam que a não adesão ainda

é comum na área da saúde e nenhuma mudança substancial ocorreu apesar do grande número

de estudos que tentam resolver e destacar o problema, desde a década de 70. Além disso,

poucos estudos estão sendo feitos de forma sistemática para quantificar o impacto da não

adesão. A magnitude do impacto deveria, segundo o autor, ser alvo de pesquisas mais

específicas, tentando achar fatores que possam aumentar a adesão ao tratamento.

No presente estudo, poucos efeitos adversos foram observados durante o tratamento,

que foi bem tolerado pelos pacientes. Não houve nenhum relato de dropout motivado por

efeitos adversos da substância. O biperideno, cuja segurança já é bem conhecida, é largamente

utilizado na psiquiatria clínica (GERRETSENet al., 2011).

Finalmente, é importante ter em mente que o nosso estudo tem algumas limitações,

como o pequeno número de pacientes que completaram o tratamento ea ausência de exames

laboratoriais (metabólitos de cocaína) para corroborar os relatos dos pacientes (GRANDE et

al., 2012).

Mais estudos são necessários para confirmar os achados, mas evidências positivas

iniciais indicam que é um caminho promissor que pode ser traçado dentro do cenário atual.

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6- CONCLUSÃO

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A grande dificuldade no tratamento da dependência de cocaína/crack é a falta de

eficácia dos medicamentos para reduzir a “fissura”.

Os resultados foram consistentes em três diferentes vertentes: redução da quantidade

de cocaína / crack utilizado, bem como na “fissura”, e aumento da adesão ao tratamento.

Portanto, a administração de biperideno parece ser uma ferramenta promissora no tratamento

deste tipo de dependência. É uma medicação segura, já usada dentro da Psiquiatria clínica

para outras indicações, com possibilidade de expandir as possibilidades de tratamento. É

necessário estudos adicionais para replicar os achados, porém o início é animador.

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7- ANEXOS

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ANEXO II

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Este termo de consentimento livre e esclarecido refere-se à participação no estudo denominado “DEPENDÊNCIA DA COCAÍNA/CRACK: ESTUDO DA POSSÍVEL REDUÇÃO DA COMPULSÃO COM USO DO BIPERIDENO”. Essas informações estão sendo fornecidas para sua participação voluntária neste estudo, que visa avaliar a eficácia da administração de Biperideno na diminuição da compulsão em pacientes dependentes de cocaína/crack, ou seja avaliar o quanto o medicamento Biperideno ajuda em diminuir a vontade de usar cocaína/crack. Procedimentos Estou ciente que deverei ingerir, por via oral, três cápsulas de biperideno ou placebo diariamente, por 8 semanas. Estou ciente que poderei ser alocado em um dos dois grupos experimentais: Grupo Placebo (substância sem efeitos farmacológicos); Grupo Biperideno (Akineton). Através de sorteio entrarei em um dos dois grupos e somente saberei de qual Grupo participei após o término do estudo. Informarei a ocorrência de eventos adversos. No início do tratamento deverei comparecer ao Centro de Pesquisas em Psicobiologia da UNIFESP, onde serei submetido a exames laboratoriais para avaliar meu estado geral. Além da realização dos exames farei uma bateria de escalas e testes psicológicos. Após esses exames retornarei ao Centro de Pesquisas durante dois meses (uma vez/semana) para participar das sessões de terapia em grupo e para repetir os exames laboratoriais (dosagem de substâncias psicotrópicas: cocaína; anfetamínicos; álcool; maconha e benzodiazepínicos e as escalas de avaliação do meu consumo de cocaína ao final de cada mês. Retornarei também seis meses após o término do tratamento para repetir os exames e as escalas de avaliação com a finalidade de verificar o quanto o tratamento teve eficácia ao longo do tempo. Os efeitos colaterais mais freqüentes pelo uso de biperideno são: boca seca, visão embaçada, tontura e obstipação intestinal (prisão de ventre), normalmente de pequena intensidade e que desaparecem rapidamente com a interrupção do tratamento. Declaro ter recebido as instruções necessárias referentes à necessidade de coleta de urina e sangue por via venosa e que serão realizados os seguintes exames clínicos: Urina Tipo I, Hemograma (série branca e vermelha), Hepatites: A, B e C, HIV (anti-AIDS), TGO (Transaminase, glutâmico-oxalacético), TGP (Transaminase glutâmico-pirúvico), Gama GT, Bilirrubinas (total e frações), Creatinina, Uréia, Ácido úrico, Glicose, Triglicérides, Colesterol (total e frações): LDL, HDL, VLDL e T3, T4 e TSH, perfazendo o total de 45 ml de sangue. No caso de ocorrer algum efeito colateral, serei atendido (a) pelo responsável pelo estudo (Dr. José Carlos F. Galduróz, telefone 2149-0168 ou BIP 40038200 código 4015849). Se necessário este atendimento também será realizado pelo serviço de Pronto-Socorro do Hospital São Paulo – Universidade Federal de São Paulo. Terei garantida assistência médica e hospitalar necessária ao diagnóstico, tratamento e acompanhamento médico de qualquer evento adverso ou danos físicos relacionados à administração das drogas em estudo e que todas as providências serão tomadas pela Instituição onde será realizado o estudo.

Em qualquer etapa do estudo, você terá acesso aos profissionais responsáveis pela pesquisa para esclarecimento de eventuais dúvidas. O principal investigador é o Dr. José Carlos F. Galduróz, telefone 2149-0168 ou BIP 40038200 código 4015849, que pode ser encontrado no endereço: Rua Botucatu 862 – 1º andar – São Paulo. Se você tiver alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa, entre em

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contato com o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) – Rua Botucatu, 572 – 1º andar – cj 14, 5571-1062, FAX: 5539-7162 – E-mail: [email protected].

Todas as informações obtidas relativas à minha participação neste estudo serão analisadas em conjunto com aquelas obtidas com outros pacientes, resguardando, desta forma, a confidencialidade da minha participação.

Em caso de dano pessoal, diretamente causado pelos procedimentos ou tratamentos propostos neste estudo (nexo causal comprovado), o participante tem direito a tratamento médico na Instituição, bem como às indenizações legalmente estabelecidas.

É compromisso do pesquisador de utilizar os dados e o material coletado somente para esta pesquisa.

Fica assegurada a minha desistência de continuar participando do estudo em qualquer etapa do projeto, e caberá também ao médico pesquisador responsável, a qualquer momento, proceder a minha exclusão se for para o meu bem-estar.

Acredito ter sido suficientemente informado a respeito das informações que li ou que foram lidas para mim, descrevendo o estudo: “DEPENDÊNCIA DA COCAÍNA/CRACK: ESTUDO DA POSSÍVEL REDUÇÃO DA COMPULSÃO COM USO DO BIPERIDENO”.

Eu discuti com o Dr. José Carlos F. Galduróz sobre a minha decisão em participar nesse estudo. Ficaram claros para mim quais são os propósitos do estudo, os procedimentos a serem realizados, seus desconfortos e riscos, as garantias de confidencialidade e de esclarecimentos permanentes. Ficou claro também que minha participação é isenta de despesas e que tenho garantia do acesso a tratamento hospitalar quando necessário. Concordo voluntariamente em participar deste estudo e poderei retirar o meu consentimento a qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem penalidades ou prejuízo ou perda de qualquer benefício que eu possa ter adquirido, ou no meu atendimento neste Serviço.

------------------------------------------------- Data / /

Assinatura do paciente

--------------------------------------------------Data / / Assinatura da testemunha Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e Esclarecido deste paciente ou representante legal para a participação neste estudo. --------------------------------------------------Data / / Assinatura do responsável pelo estudo

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ANEXO III DIAGNÓSTICO – DSM IV

DEPENDÊNCIA [0 – Não 1 – Sim 99 – Não se aplica/não tem o dado/não respondeu] ALC 1 1. Tolerância, definida por qualquer um dos seguintes aspectos: (a) alguma necessidade de quantidades progressivamente maiores da substância Para adquirir a intoxicação ou efeito desejado; (b) acentuada redução do efeito com o uso continuado da mesma quantidade de substância.

( )

2. Abstinência, manifestada por qualquer dos seguintes aspectos: (a) síndrome de abstinência característica para a substância; (b) a mesma substância (ou 1 substância estreitamente relacionada) é consumida para aliviar ou evitar sintomas

( )

3. A substância é freqüentemente consumida em maiores quantidades ou por um período mais longo do que o pretendido. ( )

4. Existe um desejo persistente ou esforços mal sucedidos no sentido de reduzir ou controlar o uso ( )

5. Muito tempo é gasto em atividades necessárias para a obtenção da substância. ( )

6. Importantes atividades sociais, ocupacionais ou recreativas são abandonadas ou reduzidas em virtude do uso da substância. ( )

7. O uso da substância continua, apesar da consciência de ter um problema físico ou psicológico persistente ou recorrente que tende a ser causado ou exacerbado pela substância.

( )

OS QUADROS DE REMISSÃO SÓ SÃO POSSÍVEIS APÓS UM MÊS SEM PREENCHER CRITÉRIOS PARA DEPENDÊNCIA OU ABUSO.

1. REMISSÃO PARCIAL INICIAL: Pelo menos um critério de dependência satisfeito nos últimos 12 meses. 2. REMISSÃO PARCIAL MANTIDA: Um ou mais critérios de dependência satisfeitos nos últimos 12 meses 3. REMISSÃO COMPLETA INICIAL: Pelo menos um mês nos últimos 12 meses sem critério de dependência preenchido. 4. REMISSÃO COMPLETA MANTIDA: Nenhum critério de dependência preenchido nos últimos 12 meses. 5. ABUSO 6. DEPENDÊNCIA

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ANEXO IV

Escala de "Fissura'' por Cocaína de Minnesota (Halikas, 1991). Essa escala avalia o craving através de cinco itens, que podem ser usados independentemente, sendo preenchida pelos próprios pacientes. A escala foi adaptada e traduzida (Focchi, 2001), mas não foi validada.

1) Na linha abaixo assinale com um risco vertical (de cima para baixo) entre “Nenhuma=ZERO” e “Demasiada=DEZ” a fissura que você teve por cocaína na última semana:

INTENSIDADE: Avaliação da força da fissura pela cocaína na semana anterior Nenhuma !___!___!___!___!___!___!___!___!___!___! Demasiada ZERO DEZ 2) Anote abaixo qual a melhor alternativa para indicar a freqüência (quantas vezes por dia) você teve

fissura por cocaína na última semana: FREQÜÊNCIA: Quantas vezes ao dia 0 !___! 1 !___! 2 !___! 3 a 5 !___! 6 a 10 !___! 11 a 20 !___! Mais de 20 !___! 3) Anote nos quadrados abaixo o que melhor indica, em média, quanto tempo duraram os episódios de

fissura pela cocaína durante a última semana: DURAÇÂO: Quanto tempo é a duração média da fissura pela cocaína 0 a 5 min !___! 6 a 10 min !___! 11 a 20 !___! 21 a 30 min !___! 31 a 45 min !___! 46 a 60 min !___! 1 a 2 h !___! 2 ou mais h !___! 4) De maneira geral, como sua fissura por cocaína mudou em relação à semana anterior? Aumentou !___! Sem alteração !___! Diminuiu !___! 5) Como você sente que a medicação modificou sua fissura por cocaína na última semana? Reduziu muito !___! Reduziu pouco !___! Sem alteração !___! Aumentou pouco !___! Aumentou muito !___!

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ANEXO V

QUESTIONÁRIO SOBRE CONSUMO DE COCAÍNA/CRACK A. Padrão de consumo no último mês

0 Abstinente 1 Ocasional 2 Fins de Semana 3 Episódios de usar por vários dias ou semanas, com períodos de abstinência ou consumo muito baixo entre os episódios.

4 Freqüente (5 ou + dias por semana)

5 Diariamente

B . Número de dias de abstinência C . Número de dias em que usou D .Número de dias 1-4 papelotes/pedras E . Dose típica F . Número de dias 5-9 papelotes/pedras G . Dose típica H . Número de dias 10 ou mais papelotes/pedras I . Dose típica J . Número de dias em que a droga causou problemas (por exemplo: ressaca, perda de emprego, discussão)

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ANEXO VI

ESCALA DE ANSIEDADE DE BECK (BECK-A)

Data: ____ / ____ / _____ Checado por: _________________________

Abaixo temos uma lista de sintomas comuns à ansiedade. Favor preencher cada item da lista cuidadosamente. Indique agora os sintomas que você apresentou durante A ÚLTIMA SEMANA INCLUINDO HOJE. Marque com um X os espaços correspondentes a cada sintoma. 0 1 2 4

Ausente

Suave, Não me

incomoda muito

Moderado, é desagradável mas consigo

suportar

Severo, quase não consigo suportar

1. Dormência ou formigamento

2. Sensações de calor

3. Tremor nas pernas

4. Incapaz de relaxar

5. Medo de acontecimentos ruins

6. Confuso ou delirante

7. Coração batendo forte e rápido

8. Inseguro (a)

9. Apavorado (a)

10. Nervoso (a)

11. Sensação de sufocamento

12. Tremor nas mãos

13. Trêmulo (a)

14. Medo de perder o controle

15. Dificuldade de respirar

16. Medo de morrer

17. Assustado (a)

18. Indigestão ou desconforto

abdominal

19. Desmaios

20. Rubor facial

21. Sudorese (não devido ao calor) Desenvolvido por BECK, A.T.: EPSTEIN. N .et al. Na Inventory for measuring clinical anxiety: Psychometric properties. J. Consult. Clin.

Psychol. 1988 ; 56 :893-897

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ANEXO VII

ESCALA DE DEPRESSÃO DE BECK

Este questionário consiste em 21 grupos de afirmações. Depois de ler cuidadosamente cada grupo, faça um círculo em torno do número (0, 1, 2 ou 3) diante da afirmação, em cada grupo, que descreve melhor a maneira como você tem se sentido nesta semana, incluindo hoje. Se várias afirmações num grupo parecerem se aplicar igualmente bem, faça um círculo em cada uma. Tome o cuidado de ler todas as afirmações, em cada grupo, antes de fazer a sua escolha. 1. 0 Não me sinto triste. 1 Eu me sinto triste. 2 Estou sempre triste e não consigo sair disso. 3 Estou tão triste ou infeliz que não consigo suportar. 2. 0 Não estou especialmente desanimado quanto ao futuro. 1 Eu me sinto desanimado quanto ao futuro. 2 Acho que nada tenho a esperar. 3 Acho o futuro sem esperança e tenho a impressão de que as coisas não podem melhorar. 3. 0 Não me sinto um fracasso. 1 Acho que fracassei mais do que uma pessoa comum. 2 Quando olho para trás, na minha vida, tudo o que posso ver é um monte de fracassos. 3 Acho que, como pessoa, sou um completo fracasso. 4. 0 Tenho tanto prazer em tudo como antes. 1 Não sinto mais prazer nas coisas como antes. 2 Não encontro um prazer real em mais nada. 3 Estou insatisfeito ou aborrecido com tudo. 5. 0 Não me sinto especialmente culpado. 1 Eu me sinto culpado às vezes. 2 Eu me sinto culpado na maior parte do tempo. 3 Eu me sinto sempre culpado. 6. 0 Não acho que esteja sendo punido. 1 Acho que posso ser punido. 2 Creio que vou ser punido. 3 Acho que estou sendo punido. 7. 0 Não me sinto decepcionado comigo mesmo. 1 Estou decepcionado comigo mesmo. 2 Estou enojado de mim. 3 Eu me odeio. 8. 0 Não me sinto de qualquer modo pior que os outros. 1 Sou crítico em relação a mim devido a minhas fraquezas ou meus erros. 2 Eu me culpo sempre por minhas falhas. 3 Eu me culpo por tudo de mal que acontece. 9. 0 Não tenho quaisquer idéias de me matar. 1 Tenho idéias de me matar, mas não as executaria. 2 Gostaria de me matar. 3 Eu me mataria se tivesse oportunidade. 10. 0 Não choro mais que o habitual. 1 Choro mais agora do que costumava. 2 Agora, choro o tempo todo. 3 Costumava ser capaz de chorar, mas agora não consigo mesmo que o queira.

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11. 0 Não sou mais irritado agora do que já fui. 1 Fico molestado ou irritado mais facilmente do que costumava. 2 Atualmente me sinto irritado o tempo todo. 3 Absolutamente não me irrito com as coisas que costumavam irritar-me. 12. 0 Não perdi o interesse nas outras pessoas. 1 Interesso-me menos do que costumava pelas outras pessoas. 2 Perdi a maior parte do meu interesse nas outras pessoas. 3 Perdi todo o meu interesse nas outras pessoas. 13. 0 Tomo decisões mais ou menos tão bem como em outra época. 1 Adio minhas decisões mais do que costumava. 2 Tenho maior dificuldade em tomar decisões do que antes. 3 Não consigo mais tomar decisões. 14. 0 Não sinto que minha aparência seja pior do que costumava ser. 1 Preocupo-me por estar parecendo velho ou sem atrativos. 2 Sinto que há mudanças permanentes em minha aparência que me fazem parecer sem atrativos. 3 Considero-me feio. 15. 0 Posso trabalhar mais ou menos tão bem quanto antes. 1 Preciso de um esforço extra para começar qualquer coisa. 2 Tenho de me esforçar muito até fazer qualquer coisa. 3 Não consigo fazer nenhum trabalho. 16. 0 Durmo tão bem quanto de hábito. 1 Não durmo tão bem quanto costumava. 2 Acordo uma ou duas horas mais cedo do que de hábito e tenho dificuldade para voltar a dormir. 3 Acordo várias horas mais cedo do que costumava e tenho dificuldade para voltar a dormir. 17. 0 Não fico mais cansado que de hábito. 1 Fico cansado com mais facilidade do que costumava. 2 Sinto-me cansado ao fazer quase qualquer coisa. 3 Estou cansado demais para fazer qualquer coisa. 18. 0 Meu apetite não está pior do que de hábito. 1 Meu apetite não é tão bom quanto costumava ser. 2 Meu apetite está muito pior agora. 3 Não tenho mais nenhum apetite. 19. 0 Não perdi muito peso, se é que perdi algum ultimamente. 1 Perdi mais de 2,5 Kg. 2 Perdi mais de 5,0 Kg. 3 Perdi mais de 7,5 Kg. Estou deliberadamente tentando perder peso, comendo menos: SIM ( ) NÃO ( ) 20. 0 Não me preocupo mais que o de hábito com minha saúde. 1 Preocupo-me com problemas físicos como dores e aflições ou perturbações no estômago ou prisão de ventre. 2 Estou muito preocupado com problemas físicos e é difícil pensar em outra coisa que não isso. 3 Estou tão preocupado com meus problemas físicos que não consigo pensar em outra coisa. 21. 0 Não tenho observado qualquer mudança recente em meu interesse sexual. 1 Estou menos interessado por sexo que costumava. 2 Estou bem menos interessado em sexo atualmente. 3 Perdi completamente o interesse por sexo.

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8- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

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ABSTRACT IMPORTANCE Cocaine use affects approximately 13.4 million people, or 0.3% of the world’s population between 15 and 64 years of age. Several authors have described drug addiction as a disease of the brain reward system. Given that the cholinergic system impacts reward mechanisms and drug self-administration, acetylcholine (ACh) might play an important role in the cocaine addiction process. OBJECTIVE To evaluate the efficacy of biperiden (a cholinergic antagonist) in reducing craving and the amount used and in increasing compliance with treatment for cocaine/crack addiction. DESIGN, SETTING, AND PARTICIPANTSDouble-blind, randomised, placebo-controlled, 8-week trial of 111 cocaine or crack addicted male patients between 18 and 50 years old. INTERVENTIONS Placebo (n=55) or Biperiden (n=56) combined with weekly sessions of brief group cognitive-behavioural therapy. Measurements The efficacy of treatment was evaluated according to the patients’ compliance and several instruments: the Minnesota Cocaine Craving Scale, the Beck Depression and Anxiety Scales and a questionnaire assessing the amount of drug used. All of the patients attended weekly for two months. We analyzed the data considering the patients’ intention to treat based on our last observation. RESULTS Of the 56 patients in the biperiden group, 24 completed the treatment (42.8%) compared with only 11 patients in the placebo group (20%), which was a significant difference (p=0.009). Compliance with treatment was 118% higher in the biperiden group, which was also the group that presented a statistically significant reduction in the amount of cocaine/crack use (p<0.001). There was also statistically significant difference between the craving score in the biperiden group. CONCLUSIONS AND RELEVANCE Pharmacological blockade of the cholinergic system with biperiden is a promising alternative to treat cocaine/crack addiction, helping patients to reduce the amount used and improving compliance with psychotherapy treatment. TRIAL REGISTRATION clinicaltrials.gov Identifer: NCT01251393. Keywords Cocaine, Crack, Biperiden, Cholinergic antagonist, Treatment, Compliance