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Instituto Superior de Psicologia Aplicada O ESTADO DE ESPÍRITO E O COMPORTAMENTO ECONÓMICO: INFLUÊNCIA NO JOGO DO ULTIMATO Hugo Manuel Antunes Alves Tese submetida como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Psicologia Aplicada Especialidade em Psicologia Clínica 2008

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Psychology and Economics are two scientific areas who have walked different paths concerning the understanding of human behavior, many times with conflicting results. In this study we analyzed how mood, measured in it’s valence, affects economic behavior. For that we used the Ultimatum Game (UG), an economic decision game, played by Proposers and Receivers, in which concerns about fairness and self interest conflict. The results, although, not statistically significant, indicate that mood is an influence factor in the decisions made in the UG. Proposers in a positive mood show a greater proportion on unfair offers than Proposers in a negative mood, while Receivers in a negative mood are more willing to accept an unfair offer than Receivers in a positive mood. These results are in line with the mood theories that postulate mood as a mediator in the choice of cognitive processing mode, heuristic or systematic, and with the theories that view mood as a signal of the environment, that serves as a regulator of available resources.

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Page 1: Tese de Monografia

Instituto Superior de Psicologia Aplicada

O ESTADO DE ESPÍRITO E O COMPORTAMENTO ECONÓMICO: INFLUÊNCIA NO JOGO DO ULTIMATO

Hugo Manuel Antunes Alves

Tese submetida como requisito parcial para a obtenção do grau de

Mestre em Psicologia Aplicada

Especialidade em Psicologia Clínica

2008

Page 2: Tese de Monografia

Instituto Superior de Psicologia Aplicada

O ESTADO DE ESPÍRITO E O COMPORTAMENTO ECONÓMICO: INFLUÊNCIA NO JOGO DO ULTIMATO

Hugo Manuel Antunes Alves

Dissertação orientada por Professora Doutora Ana Cristina Monteiro Quelhas

Tese submetida como requisito parcial para a obtenção do grau de

Mestre em Psicologia Aplicada

Especialidade em psicologia clínica

2008

Page 3: Tese de Monografia

Dissertação de Mestrado realizada sob a orientação da Professora Doutora Ana Cristina Monteiro Quelhas, apresentada no Instituto Superior de Psicologia Aplicada para obtenção do grau de Mestre na especialidade de Psicologia Clínica conforme o despacho da DGES, nº 19673/2006 publicado em Diário da República 2ª série de 26 de Setembro de 2006

Page 4: Tese de Monografia

Agradecimentos

Gostaria de agradecer ás seguintes pessoas pelo contributo, idiossincrático obviamente,

que cada um teve no apoio à realização deste estudo e do meu percurso académico em

geral:

-À minha Avó. Serás sempre a minha luz e orientação. Esta é para ti!

-À minha Madrinha, por tudo, tudo... Sem ti seria impossível...

-Ao meu Pai, porque estiveste sempre lá, e pelo orgulho que tens demonstrado em mim.

-À minha Mãe, pelo amor que me tens, e porque mostramos que é possível avançar.

-Às minhas colegas, companheiras e, mais que tudo, amigas: Joana e Sofia. Por tudo.

-Ao Nico. Pelo estímulo, pelas nossas conversas. Muitas virão ainda.

-Ao Ricardo. Pela ajuda preciosa que foste.

-À Sarah. Pelas angústias e medos quase sincronizadas que partilhámos.

-À Professora Doutora Ana Cristina Monteiro Quelhas pelo investimento, orientação,

apoio, à vontade e confiança que sempre mostrou.

-Ao Dr. Csongor Juhos. Pela força e orientação que me deste, e pelo extraordinário

suporte que foste na altura de maior angústia.

-À Prof. Doutora Teresa Garcia-Marques pelo apoio e disponibilidade que demonstrou.

-À João. Por tudo.

-Ao Vítor, à Joana e ao Jorge. Porque estiveram sempre ao meu lado e porque a vida

não é só escola.

-À Rita. Pela orientação que foste para o “caloiro” e pela amizade, sempre.

-À Maria. Pela amizade, inquebrável.

-À Ana.

Page 5: Tese de Monografia

Resumo

Psicologia e Economia são duas disciplinas cientificas que trilharam caminhos

diferentes com relação ao estudo do comportamento humano, muitas vezes com conclusões

incompatíveis. Neste estudo analisámos de que forma o estado de espírito, medido na sua

valência, tem influência no comportamento económico. Para isso foi usado o Jogo do

Ultimato (JU), um jogo de decisão económica, constituído por Proponentes e Decisores, em

que preocupações de justiça e de interesse próprio se opõem. Os resultados, apesar de não

serem estatisticamente significativos, indicam que o estado de espírito é um factor de

influência nas decisões do JU. Os Proponentes em estado de espírito positivo exibem uma

maior proporção de ofertas injustas que os Proponentes num estado de espírito negativo,

enquanto os Decisores num estado de espírito negativo estão dispostos a aceitar uma maior

percentagem de propostas injustas que os Decisores num estado de espírito positivo. Estes

resultados estão em acordo com as perspectivas teóricas que defendem que o papel do

estado de espírito é o mediar o uso de heurísticas ou o uso de processamento sistemático e

também com as teorias que postulam o estado de espírito como sinalizador do meio

envolvente, servindo como orientador para a gestão dos recursos disponíveis.

Palavras-chave: Economia, Estado de espírito, Jogo do Ultimato, Processos

afectivos

Page 6: Tese de Monografia

Abstract

Psychology and Economics are two scientific areas who have walked different paths

concerning the understanding of human behavior, many times with conflicting results. In this

study we analyzed how mood, measured in it’s valence, affects economic behavior. For that

we used the Ultimatum Game (UG), an economic decision game, played by Proposers and

Receivers, in which concerns about fairness and self interest conflict. The results, although,

not statistically significant, indicate that mood is an influence factor in the decisions made in

the UG. Proposers in a positive mood show a greater proportion on unfair offers than

Proposers in a negative mood, while Receivers in a negative mood are more willing to accept

an unfair offer than Receivers in a positive mood. These results are in line with the mood

theories that postulate mood as a mediator in the choice of cognitive processing mode,

heuristic or systematic, and with the theories that view mood as a signal of the environment,

that serves as a regulator of available resources.

Keywords: Economics, Mood, Ultimatum Game, Affective processes

Page 7: Tese de Monografia

 I 

ÍNDICE

Lista de tabelas...........................................................................................................III

Lista de figuras............................................................................................................IV

Lista de anexos............................................................................................................V

Psicologia Económica..................................................................................................2

Assumpções da Teoria Económica Clássica...............................................................7

Diferenças entre as Duas Perspectivas ......................................................................7

Dois Novos Tipos de Abordagem na Economia..........................................................9

Teoria dos Jogos........................................................................................................10

Jogo do Ultimato.........................................................................................................11

Jogo do Ditador..........................................................................................................13

Jogo dos Bens Comuns.............................................................................................14

Teorias de Matriz Evolutiva........................................................................................14

Variáveis do Jogo do Ultimato...................................................................................16

Constructos e Teorias Associados ao Estudo dos Processos Cognitivos e

Afectivos..........................................................................................................19

Teorias do Estado de Espírito……………………………….........……….…......….22

Estado de Espírito como Informação…………....…………........……………...…..23

Estado de Espírito como Input………………………………........….......…….……25

Modelo da Infusão dos Afectos…………………………………....…….......….……26

Estado de Espírito e Uso de Estruturas Gerais do Conhecimento.....................27

Estado de Espírito como Reguladores dos Processos de Acomodação e

Assimilação.....................................................................................................28

A Heurística do Afecto…………………………………………..….....................….30

Modelo de Regulação de Erber e Erber………………........……………….......…30

Perspectiva Evolutiva do Estado de Espírito……….……….............…….….......31

Page 8: Tese de Monografia

  II 

Hipótese do Marcador Somático ……………………….....…………......…........…32

Efeitos do Estado de Espírito no Processamento Cognitivo...…..……...............33

Recordação e Estado de Espírito …………………………....…...........…………....33

Julgamentos e Estado de Espírito…………………………………...............................35

Processamento Dual e Estado de Espírito ...................………..…….…….................36

Estado de Espírito e Situações Interpessoais…………………………........................37

Estado de Espírito e Risco.........................................................................................38

MÉTODO..............................………..................…………….....……………................40

Amostra…………………………………….……….………..…………………........……..40

Material…………………………………………….……………….……….……………….41

Delineamento Experimental e Procedimento …………………………….……….........41

RESULTADOS E DISCUSSÃO GERAL…………..............................….……............43

Resultados…………………….………………………………………..................……....43

Discussão Geral…....…………….……………………….…………………..........……..50

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................……53

ANEXOS...............................................................................................……..............62

Page 9: Tese de Monografia

 III 

Lista de Tabelas:

Tabela 1: Valores dos quartis da variável estado de espírito nos grupos positivo e negativo..................................................................................................................................45 Tabela 2: Distribuição do tipo de oferta dos Proponentes por género dos participantes e por estado de espírito induzido...................................................................................46 Tabela 3: Distribuição do tipo de oferta mínima, justa ou injusta, por género dos participantes e por estado de espírito induzido...........................................................48

Page 10: Tese de Monografia

  IV 

Lista de figuras:

Figura 1: Árvore de decisão de um Jogo do Ultimato..................................................13 Figura 2: Distribuição das idades dos participantes.....................................................40

Figura 3: Médias do estado de espírito nos 3 grupos (positivo, neutro e negativo) antes e depois da realização da tarefa.........................................................................................44 Figura 4: Médias do estado de espírito dos dois novos grupos (positivo e negativo) antes e depois da realização da tarefa........................................................................46 Figura 5: Percentagem de ofertas justas e injustas no grupo de Proponentes em estado de espirito positivo........................................................................................................47 Figura 6: Percentagem de ofertas justas e injustas no grupo de Proponentes em estado de espírito negativo.......................................................................................................47 Figura 7: Percentagem de ofertas mínimas justas e injustas no grupo de Decisores em estado de espírito positivo. .............................................................................................49 Figura 8: Percentagem de ofertas mínimas justas e injustas no grupo de Decisores em estado de espírito negativo. ............................................................................................49

Page 11: Tese de Monografia

 V 

Lista de Anexos:

Medidas de Controlo...............................................................................................................63

Questionário Proponente. ......................................................................................................64

Questionário Decisor..............................................................................................................65

Estatísticas descriptivas dos valores médios do estado de espírito dos 3 grupos iniciais.....................................................................................................................................66

ANOVA para comparação dos valores do estado de espírito dos 3 grupos iniciais...............67

Teste t-student para comparação das médias do estado de espírito nos dois grupos criados. ................................................................................................................................................68

Teste t-student para comparação dos valores médios das ofertas dos dois grupos de Proponentes em estado de espírito positivo e negativo.........................................................69

Teste qui-quadrado para comparação das proporções das ofertas dos dois grupos de Proponentes. .........................................................................................................................70

Teste t-student para comparação dos valores médios das ofertas dos dois grupos de Decisores em estado de espírito positivo e negativo. ...........................................................71

Teste qui-quadrado para comparação das proporções das ofertas mínimas dos dois grupos de Decisores. .........................................................................................................................72

ANOVA do tipo 2 (Positivo e Negativo) x 2 (Proponente e Receptor) para análise da variação do estado de espírito entre antes e depois da tarrefa............................................................73

Page 12: Tese de Monografia

  VI 

Page 13: Tese de Monografia

1 1.

O modelo económico clássico prevê que os indivíduos se comportem,

consistentemente, de forma a maximizar os seus possíveis ganhos ou lucros. Contudo

são vários estudos têm demonstrado que tal não acontece. Vários têm sido os

instrumentos desenvolvidos para estudar as diversas variáveis que de alguma forma

explicam a diferença entre as decisões e comportamento observados e aqueles

previstos pela teoria clássica. Contudo, pouca atenção tem sido posta nas

componentes afectivas que estão envolvidas nessas decisões e comportamentos. O

presente estudo vem tentar contribuir para um melhor conhecimento da influência dos

processos afectivos nesse domínio. Nomeadamente, pretendemos estudar a influência

de estados afectivos de baixa intensidade, como o estado de espírito, em decisões que

envolvem a divisão de uma quantia de dinheiro.

O objectivo do presente estudo foi então perceber de que forma o estado de

espírito regula o comportamento no Jogo do Ultimato (JU). O JU é uma ferramenta

experimental desenvolvida com o intuito de estudar decisões económicas. No JU o

experimentador dá um determinado valor, o pote, ao primeiro jogador, chamado

Proponente, e pede-lhe que divida esse valor com um outro jogador, o Receptor. Se o

segundo jogador decidir aceitar a oferta, cada um ficará com o valor que o primeiro

jogador dividiu. Se o Receptor não aceitar a divisão, nenhum dos jogadores recebe

nada. Os jogadores não se conhecem e são mantidos anónimos um do outro para

assegurar que se excluem os efeitos derivados da reciprocidade.

De acordo com o modelo do estado de espírito-como-informação (Schwarz,

2001) e com as perspectivas evolutivas sobre a função do estado de espírito (Nesse,

1991, 2000) as pessoas usam o seu estado de espírito como pista para avaliar a

situação presente: em estado de espírito positivo, isso informa-as de que a situação

não apresenta problemas e que não há necessidade urgente de proteger ou reunir

recursos podendo ter uma atitude mais descontraída e arriscada; em estado de espírito

negativo, isso significa que a situação é problemática ou perigosa, necessitando uma

análise mais profunda para que seja possível garantir a manutenção ou o aumento dos

seus recursos.

Desta forma, prevemos que os Proponentes em estado de espírito positivo

perceberão a situação como sendo segura, aumentando a sua confiança de que a

oferta será aceite e ignorando a hipótese de rejeição por parte do Receptor.

Esperamos assim que proponham valores mais baixos para o Receptor seguindo o seu

interesse próprio focando-se no valor que conservam para si, tentando ganhar o

máximo possível do pote, quando comparados com os participantes em estado de

espírito negativo. Proponentes em estado de espírito negativo devem perceber a

Page 14: Tese de Monografia

2 1.

situação como mais problemática, focando-se assim na hipótese de rejeição e fazendo

dessa forma ofertas mais equitativas que as efectuadas pelos participantes em estado

de espírito positivo. Em relação à justiça da oferta, definida como injusta quando

menos de metade do pote e justa ou altruista quando metade ou mais, esperamos que

os participantes em estado de espírito positivo façam uma maior proporção de ofertas

injustas que os participantes em estado de espírito negativo, visto o seu estado de

espírito lhes transmitir a informação de que a situação é segura ignorando a hipótese

de rejeição por parte do Receptor.

Em relação aos Receptores, propomos que a quem foi induzido estado de

espírito positivo perceberão a situação como mais segura e estarão mais confiantes,

exigindo assim um valor mais elevado que os participantes em estado de espírito

negativo, não considerando a hipótese de o Proponente fazer ofertas baixas e que os

Receptores a quem foi induzido o estado de espírito negativo perceberão a situação de

forma mais problemática, e tentarão maximizar as suas hipóteses de ganhar algum

dinheiro, definindo valores mais baixos, que os definidos pelo grupo em estado de

espírito positivo, para as ofertas que estão dispostos a aceitar. Com relação à justiça

da oferta, esperamos que os Receptores em estado de espírito negativo estejam

dispostos a aceitar uma maior proporção de ofertas injustas, menores que metade do

pote, que os Receptores em estado de espírito positivo.

Para este estudo iremos apresentar uma revisão de literatura que irá focar-se

essencialmente nos tópicos da Psicologia Económica e dos construtos e teorias

associadas ao estudo dos processos afectivos.

Psicologia Económica

O presente estudo partilha da recente tentativa de reforçar a ligação entre

duas disciplinas (Zwick, Erev & Budescu, 1999), a Psicologia e a Economia, que têm

como objecto de estudo e ponto de intersecção o comportamento humano, mais

especificamente o comportamento económico. Um dos filósofos que, de forma mais

marcante, tentou perceber o comportamento humano na sua componente mais

económica, foi Adam Smith (Barracho, 2001). Duas das suas obras são essenciais na

compreensão da história e da ligação entre Psicologia e Economia. Elas são: “A

Riqueza das Nações”, a sua obra mais famosa e “Tratado dos Sentimentos Morais”, o

seu primeiro livro.

Em “A Riqueza das Nações”, Adam Smith (1999 [1776], pag. 95) afirma:

Não é da bondade do homem do talho, do cervejeiro ou do padeiro que

Page 15: Tese de Monografia

3 1.

podemos esperar o nosso jantar, mas da consideração em que eles têm o seu

próprio interesse. Apelamos, não para a sua humanidade, mas para o seu

egoísmo, e nunca lhes falamos das nossas necessidades, mas das vantagens

deles.

Esta visão do ser humano como alguém apenas preocupado com o seu ganho

tornar-se-ia um dos conceitos centrais na teoria económica posterior. Esta

simplificação, embora por vezes útil no sentido de construir hipóteses testáveis, é o

primeiro assomo do homo economicus que dominou o paradigma económico a partir

John Stuart Mill (Barracho, 2001).

Contudo, em “Teoria dos Sentimentos Morais” a visão do homem apresentada

por Smith (1999 [1759], pág. 64) é bastante diferente e complementar da oferecida

anteriormente:

Por muito egoísta que seja o homem, há evidentemente alguns princípios na

sua natureza que o fazem interessar-se pela sorte dos outros e precisar da

felicidade deles, embora nada ganhe com ela para além do prazer de os ver

felizes. É deste tipo a pena ou compaixão, emoção que sentimos em relação à

infelicidade dos outros, quando a observamos ou somos levados a pensar nela

de forma muito realista. Que ficamos tristes com a tristeza dos outros é facto

óbvio demais para necessitar provas, porque este sentimento, tal como outras

paixões originais da natureza humana, não se limita de forma alguma aos

virtuosos ou humanitários, embora eles possam experimentá-las através de

uma sensibilidade mais refinada. Nem o pior rufião nem o criminoso mais

endurecido estão completamente isentos dela.

Neste livro, Smith lança a semente dos modelos de processamento dual que

são agora centrais no estudo do comportamento humano. Para ele, a generalidade dos

comportamentos dependem de dois factores, as paixões, que englobam a fome, o

sexo, emoções como raiva e medo, e sensações como a dor; e aquilo a que chamou o

“espectador imparcial”, que garantiria a capacidade de adiar as recompensas imediatas

em prol de ganhos a longo prazo. Seria ele que seria responsável pela “...auto

negação, auto governo e pelo comando das paixões...” (Smith, 1999 [1759]).

Decouvieres (1998; cit. por Barracho, 2001) considera a “Teoria dos

sentimentos morais” o primeiro estágio da Psicologia Económica.

Num artigo recente, Ashraf, Camerer e Loewenstein (2005) enunciam cinco

áreas exploradas por Smith na sua primeira obra, que são coincidentes com linhas de

investigação actuais, algumas delas ligando comportamento económico com

pressupostos psicológicos. Elas são: aversão ao risco, escolha inter-temporal, auto-

controlo, excesso de confiança, altruísmo e justiça (fairness).

Page 16: Tese de Monografia

4 1.

A partir de Adam Smith, e em parte devido ao impacto que “A Riqueza das

Nações” teve na doutrina económica da época e à pouca atenção que a “Teoria dos

Sentimentos Morais” recebeu, a perspectiva do comportamento humano como dirigido

pelo maximizar do lucro e guiado pelo puro interesse próprio tomou conta do

pensamento económico, que considerava que estas condições eram suficientes para o

mercado se auto-regular, a chamada “mão invisível”, e tornou-o relativamente

insensível à investigação efectuada na área da psicologia.

Segundo Bruni e Sugden (2005), outro dos responsáveis por esta separação

foi Vilfredo Pareto, que no início do século passado, argumentou que a economia, não

só não necessitava da psicologia como esta devia ser activamente ignorada. Esta

asserção baseava-se no pressuposto de que as escolhas efectuadas representavam as

preferências reais dos indivíduos não sendo necessário inferir motivações ou

componentes psicológicas. Contudo, reconhecia que este pressuposto apenas se

verificava em situações que se repetissem, pois dependiam de aprendizagem. Logo

aqui se verifica uma vulnerabilidade como teoria geral, devido ao carácter único e

definitivo de muitas das decisões económicas, o que torna difícil a aprendizagem por

tentativa e erro (Camerer, 2005).

Apesar da asserção de Pareto, algumas figuras do pensamento económico

tinham continuado a introduzir, de forma mais ou menos consciente, noções

psicológicas na forma de estudar o comportamento económico. Uma delas foi Daniel

Bernoull (1738; cit. por Kahneman, 2003a, 2007), que introduziu a noção de utilidade

esperada. Entendia Bernoulli que, numa situação de risco, a medida a ser usada para

avaliar as preferências de cada indivíduo deveria ser o prazer ou felicidade ele obteria

de cada uma das opções, multiplicada pela probabilidade associada a cada uma delas.

Nesta visão, o Receptor do JU valoriza os resultados financeiros como se fossem

níveis de riqueza e ordena as opções através da utilidade esperada de cada um

desses estados de riqueza (Kahneman, 2003b). A sua escolha é assim independente

do seu nível de riqueza anterior e deve ser guiada, exclusivamente, pelo desejo de

aumentar a sua riqueza.

Stanley Devons foi o responsável pelo aparecimento do conceito de utilidade

marginal, fundando assim a escola marginalista, em conjunto com Karl Menger e que

durante o fim do século XIX e no inicio do Sec XX dominou o pensamento económico

(Barracho, 2001). Utilidade marginal é definida como (Nunes, 2007):

…o acréscimo de utilidade que se verifica quando é consumida mais uma unidade

do bem. Enquanto não é atingida a saciedade, a utilidade marginal é sempre

positiva, ou seja, existirá sempre algum acréscimo de utilidade quando é consumida

mais uma unidade do bem. Contudo, devido à Lei das Utilidades Marginais

Page 17: Tese de Monografia

5 1.

Decrescentes, este acréscimo de utilidade é cada vez menor. Por exemplo, quando

se consome a primeira maçã, é retirada uma determinada utilidade; ao consumir a

segunda maçã a utilidade total aumenta mas o incremento é inferior ao que se

verificou com o consumo da primeira maçã; quando se consome a terceira maçã,

supondo que ainda não se atingiu a saciedade, a utilidade volta a aumentar mas o

incremento volta a reduzir-se.

Em 1899, Thorstein Veblen publica “Theory of Idle Class”, no qual afirma que o

impulso básico do homem é em direcção ao status, sendo que são a época e as

condições sociais que medeiam os meios usados para o alcançar. Criticou também a

teoria da racionalidade visto pensar que as paixões e emoções eram determinantes na

orientação do comportamento humano (Barracho, 2001).

No início, a Psicologia Económica estava mais ligada às noções de

propriedade e posse, tendo evoluindo posteriormente para a análise de outras

componentes do comportamento económico, como os limites do processamento

humano.

Herbert Simon (1967) propõe uma abordagem ao estudo da emoção centrada

na noção de racionalidade confinada (“bounded rationality”), como reacção à noção de

utilidade esperada desenvolvida no âmbito das teorias económicas da tomada de

decisão. A proposta de Simon é que as representações e processos mentais são

diferentes das assumpções da racionalidade clássica, na qual um agente conhece a

informação exacta que necessita para computar, em princípio, qualquer utilidade que

deseje. A sua ideia é que os organismos estão adaptados ao seu ambiente de tal

modo, que a capacidade cognitiva de um organismo é suficiente para lhe permitir

sobreviver nesse ambiente. Não importa que o organismo viole as normas da

racionalidade desde que consiga encontrar comida e consiga evitar o perigo. Ou seja,

um organismo satisfaz um determinado nível de aspiração, no sentido de encontrar

uma solução suficientemente boa perante as condições em que se encontra, em vez de

maximizar, no sentido de tentar encontrar a solução óptima (Simon, 1956; Simon,

1967). Isto implicava a necessidade de heurísticas que impedissem um impasse

quando as possibilidades a analisar ultrapassassem as capacidades cognitivas.

O reconhecimento do facto que os organismos são limitados em termos de

recursos, quer físicos (como energia e tempo), quer cognitivos (como capacidade de

processamento e de memória), é um dos pontos de partida para a proposta seguinte,

que consiste na possibilidade da emoção desempenhar um papel importante para a

racionalidade, num contexto de limitação de recursos (Simon, 1967). De acordo com

Simon, sendo o sistema nervoso limitado em termos de capacidade de processamento

e de memória, um evento no ambiente, uma memória ou uma motivação deve poder

Page 18: Tese de Monografia

6 1.

interromper o processamento actual. Por exemplo, a presença de um predador pode

originar novos objectivos no sentido de lidar com a situação, entre outras

possibilidades, gerando uma resposta do tipo lutar ou fugir (“fight or flight”). Outros

efeitos da interrupção através de um estímulo incluem a mobilização fisiológica

(“arousal”) e a produção de sensações emocionais.

Simon estava principalmente interessado no processo de interrupção de

objectivos, com a consequente mudança de comportamento, em vez de nos fenómenos

fisiológicos ou subjectivos. Ou seja, a interrupção é necessária para garantir os

requisitos de comportamento em tempo-real de um organismo. No entanto, Simon

(1967) distingue entre interrupção adaptativa e não adaptativa. Os estímulos

emocionais são considerados essencialmente interrupções adaptativas, ajudando o

organismo a concretizar os seus objectivos. No entanto, em certos casos onde existe

persistência ou intensidade excessiva, considera que poderá ser não adaptativa.

Outro momento importante no estudo dos processos de tomada de decisão, e

que vem construir em cima da utilidade esperada de Bernoulli, é a Teoria Prospectiva

de Kahneman e Tversky (1979, 2007). São três os aspectos centrais da teoria: a

aversão ao risco, a não-linearidade das preferências e o enquadramento. A aversão ao

risco significa, de forma simplificada, que tem mais valor para nós evitar a perda de 10

euros do que ganhar 10 euros. A não-linearidade das preferências está ligada com a

propriedade da transitividade. Se A é preferido a B e B é preferido a C, então se as

preferências fossem lineares, A deveria ser preferido a C, contudo isto nem sempre se

verifica quando testado experimentalmente. A forma como as opções são apresentadas

é outro dos factores que se descobriu ser essencial na tomada de decisão. Está muitas

vezes ligada à aversão ao risco, pois enquadrar as opções como uma perda ou como

um ganho reverte a decisão, sem que a estrutura abstracta do problema seja diferente.

Estes princípios vão contra a consideração clássica do Homem económico.

Numa análise histórica, Farr (1996) defende que ancestrais são as figuras do

passado que criaram ou analisaram ideias essenciais no corpo de uma disciplina,

enquanto fundadores podem ser descritos como aqueles que para além das ideia são

também responsáveis por lhes dar uma forma mais institucional, procurando sintetiza-

las num corpo coerente e estruturado. Neste sentido considera Adam Smith e John

Stuart Mill com sendo ancestrais, figuras precursoras de uma forma de pensar a

economia mais ligada à psicologia e Gabriel Tarde e Thorstein Veblen como aqueles

que mais se aproximam da imagem de fundadores pela sua tentativa de sistematizar a

abordagem a estas temáticas e pelo impulso de investigação que deixaram depois de

si.

A expressão Psicologia Económica foi cunhada por Gabriel Tarde num artigo

Page 19: Tese de Monografia

7 1.

de 1881 para a revista Filosófica. Além disso, Gabriel Tarde é considerado o pai da

Psicologia Económica como disciplina definida. A publicação do curso - que ministrava

no Colégio de França – deu-se em dois volumes com o nome de Psicologia

Económica. Era seu objectivo explicar o lado subjectivo dos fenómenos económicos.

Para isto, propunha ser necessário estudar 3 mecanismos que considerava essenciais:

a imitação, a repetição e a inovação (Barracho, 2001).

Assumpções da Teoria Económica Clássica

Rabin (2002) enuncia 7 assumpções da Economia que as verificações

experimentais provaram ser falsas. Para a teoria económica clássica, as pessoas:

- São processadores baieseanos de informação.

- Têm preferências estáveis e bem definidas.

- Maximizam a sua utilidade esperada.

- Aplicam desconto exponencial quando reflectem sobre o bem-estar actual e

futuro.

- São orientadas pelo interesse próprio, no sentido estrito da noção.

- Têm preferências sobre resultados, não sobre alterações.

- Têm apenas uma apetência funcional ou instrumental pelas crenças e pela

informação.

Estas premissas constituem o perfil geral do que se convencionou chamar de

Homo Economicus (Thaler, 2000).

Diferenças entre as Duas Disciplinas

Segundo Zwick et al. (1999), as várias áreas nas quais se centram as

diferenças de perspectiva que mantêm a grande massa destas duas disciplinas

separadas são:

- Escassez: segundo a visão económica, a escassez existia ao nível dos

recursos do meio, sendo a gestão desses recursos a dimensão de maior interesse,

enquanto na visão psicológica a escassez existe ao nível de recursos internos,

nomeadamente cognitivos.

- Normatividade vs. Descriptividade: os mesmos autores afirmam que, embora

seja tentador afirmar que a ênfase da perspectiva económica está na normatividade,

ou seja, como se deviam comportar os indivíduos, enquanto a da perspectiva

Page 20: Tese de Monografia

8 1.

psicológica a descriptividade, ou seja como se comportam os indivíduos, esta divisão

não é linear como aparenta pois os estudos efectuados em ambas as áreas

reconhecem a importância de ambas as dimensões.

-Importância relativa da generalização e precisão: Reconhecendo à partida

que todos os cientistas procuram que os seus modelos cumpram ambos os conceitos,

Zwick et al. (1999) afirmam que a sua importância relativa difere conforme a área de

estudo. As teorias económicas tradicionais dão prioridade à generalização dos

modelos, esforçando-se para que um pequeno número de princípios gerais, sejam

aplicáveis ao maior número possível de situações. As teorias psicológicas à muito

deixaram de perseguir teorias gerais do comportamento humano, tendo-se focado em

domínios específicos da cognição e do comportamento, tentando estabelecer quais os

factores contextuais e variáveis inter e intra-pessoais, que afectam esses domínios.

Esta discriminação ao nível de análise dos factores de influência reflecte a

preocupação das teorias psicológicas com a precisão, e a importância atribuída à

coincidência das previsões teóricas com os resultados experimentais.

- Racionalidade: enquanto os psicólogos adoptam uma visão mais maleável da

racionalidade, para os economistas esta visão é estrita. Ambos concordam, de forma

geral, que a racionalidade consiste em que o indivíduo procure cumprir os seus

objectivos e metas de forma consistente. Embora este ponto comum, aquilo que é

considerado racional na perspectiva económica presume que o indivíduo dispõem de

toda a informação sobre a situação, tem recursos cognitivos ilimitados e motivação

para processar essa informação e usa de axiomas lógicos nesse processamento,

dando especial importância ao papel das escolhas conscientes. Já a perspectiva

psicológica põem ênfase nas limitações, quer a nível de recursos, quer a nível do papel

dos processos conscientes e inconscientes na tomada de decisão. Para os psicólogos,

as emoções e outros processos que ultrapassam a análise, baseada apenas em

pressupostos lógicos, proposta pelos economistas, são determinantes nos

julgamentos, escolhas e decisões que efectuamos.

Outro dos temas ligados a estas diferenças tem a ver com o tipo de

racionalidade estudada pelos economistas e pelos psicólogos. Para os psicólogos essa

racionalidade é avaliada ao nível dos processos empregues, racionalidade processual,

e para os economistas tem a ver com os resultados, racionalidade substantiva.

-Incentivos: o estudo dos incentivos é uma das fundações da teoria económica

comum, sendo prática comum o pagamento de acordo com o resultado das decisões

do participante. Este método facilita a análise dos dados pois reduz a estrutura de

incentivos a uma única medida de variável, sendo assim mais facilmente estudável. Na

psicologia, os incentivos não são unicamente definidos pelo pagamento monetário, e

Page 21: Tese de Monografia

9 1.

têm muitas vezes como força motriz motivações sociais induzidas, como por exemplo,

pedir ao sujeito que imagine que é um médico ou um gestor que tem de tomar uma

determinada decisão.

-Aprendizagem e Equilíbrio: o tipo de racionalidade que cada abordagem

privilegia, substantiva na economia e processual na psicologia, é reflectido aqui

também. A teoria económica tem maior interesse sobre os estados de equilíbrio, como

definidos pela teoria dos jogos, ou seja, no resultado final de repetidas interacções ou

de uma interacção em que os jogadores têm acesso a toda a informação. A

aprendizagem na teoria económica apenas tem sido estudada com o objectivo de

justificar os conceitos de equilíbrio que surgem nas diversas situações estudadas.

Na psicologia, a aprendizagem recebe muita atenção e os mecanismos ou

processos pelos quais os sujeitos aprendem são centrais para qualquer teoria

psicológica, seja qual for o seu enfoque específico. Embora isto, é de extrema

importância e abordagem comum a forma como os indivíduos se comportam perante

situações novas e de que forma processam essa situação.

-Cognição a quente vs. Racionalidade fria: até recentemente, grande parte dos

estudos, quer na economia quer na psicologia, procuravam a todo o custo a

“neutralidade” dos sujeitos, ou seja, que estes não estivessem em estados afectivos e

emocionais que pudessem alterar o seu procedimento. Grande parte dos estudos

económicos ainda assim é. Embora a tentativa inicial de manter as influências

afectivas fora do laboratório psicológico tenha permitido estudar profundamente vários

fenómenos, foi necessário abrir o espaço experimental a esta componente, que se veio

a revelar uma fonte fantástica de efeitos, muitas vezes paradoxais, sendo hoje uma

das áreas de investigação mais frutíferas ao nível da psicologia (Damásio, 1994).

Dois Novos Tipos de Abordagem da Economia

A economia experimental é um ramo da Economia que estuda as previsões da

teoria económica clássica com actores reais. As experiências realizadas nesta área

são constituídas por três elementos centrais: ambiente que envolva relações de

valor/custo, uma instituição que fixa as regras das trocas e o comportamento dos

participantes (“Experimental Economics”, 2008).

A economia comportamental, por outro lado, centra o seu trabalho na

modelação dos limites à racionalidade, motivação e interesse próprio, procurando a

partir daí introduzir assumpções mais realistas acerca do comportamento humano

(Camerer, 2005).

Page 22: Tese de Monografia

10 1.

A economia comportamental não é assim um sub campo da economia, mas um

estilo de modelação e uma forma de pensar e entender várias questões e problemas

económicos. Embora os seu trabalho e progresso seja feito através de estudos

experimentais, não é a mesma coisa que economia experimental.

Uma das ferramentas usadas pela economia clássica e hoje também usada,

com diferentes premissas, pela economia comportamental é a Teoria dos Jogos.

Teoria dos Jogos

A Teoria dos Jogos é um ramo da matemática aplicada que procura analisar a

tomada de decisão de agentes, os “jogadores”, que se afectam mutuamente nas suas

interacções. É muitas vezes considerada o corolário da teoria económica clássica pois

presume, na sua forma inicial e numa tentativa de simplificar a análise das interacções,

do interesse próprio absoluto de cada jogador.

Uma definição de jogo é apresentada por Heap e Varoufakis (1995), para estes

autores qualquer interacção entre agentes que seja governada por um grupo de regras

especificando os movimentos possíveis para cada participante e um grupo de

resultados para cada possível combinação de movimentos pode ser considerada um

jogo.

Numa definição menos académica, César das Neves (1995) define um jogo

como:

...situação onde um agente é colocado perante uma situação onde deve

escolher entre várias alternativas mas onde o resultado final de cada uma

dessas alternativas não está predeterminado; ele depende da acção de outros

agentes. Assim, a decisão que cada pessoa toma tem de entrar em conta com

a decisão tomada pelos demais. E como esta situação se verifica para todos

os participantes no “jogo”, então a decisão de cada um influencia as decisões

dos demais e é influenciada por elas, numa teia profunda de inter-relações e

incertezas.

A obra que marca o início desta teoria como disciplina cientifica é “Teoria dos

Jogos e Comportamento Económico” de von Neuman e Morgenstern de 1944 (Neves,

1995). Apesar das limitações iniciais, que lhe garantia aplicabilidade apenas a uma

zona reduzida de situações, estes problemas foram ultrapassados, nomeadamente

através do contributo de John Nash que propôs um critério que permitia avaliar a

consistência mútua das estratégias dos jogadores, o que daria origem à noção de

equilíbrio de Nash. Este equilíbrio refere-se ao momento em que nenhum dos

Page 23: Tese de Monografia

11 1.

indivíduos, egoisticamente motivados, tem interesse em mudar de estratégia.

Hoje a sua aplicabilidade estende-se desde a Economia, a Biologia Evolutiva,

o estudo dos mercados bolsistas, Ciência Politica, Estratégia Militar, Psicologia ou

Sociologia.

A Teoria dos Jogos permite estudar diversos tipos de interacções, tendo dado

origem a uma série de jogos desenvolvidos para estudar as diversas vertentes do

comportamento humano.

Um dos jogos mais conhecidos e estudados pela teoria dos jogos é o dilema

do prisioneiro. Este jogo pode ser descrito, por exemplo, da seguinte forma: ”Dois

suspeitos de um assalto a um banco são presos e impedidos de comunicar. A polícia,

sem provas suficientes para os incriminar, faz-lhes uma proposta. É dada a

oportunidade a cada um de incriminar o seu companheiro. Se nenhum deles incriminar

o outro, saem ambos em liberdade, visto a policia não ter provas suficientes. Ou seja,

comportamento cooperativo entre ambos os suspeitos contra a policia, não acusando o

outro, fará com que sejam libertos. Se um acusar e o outro não, o que acusar verá a

sua pena reduzida para 2 anos e o que não confessar terá a sua pena aumentada para

10 por se recusar a colaborar com a polícia. Se se acusarem mutuamente terão a pena

habitual para um assalto a um banco, 5 anos.”

A melhor estratégia seria ambos cooperarem saindo assim em liberdade,

contudo nenhum deles sabe qual será a opção do outro. Assim sendo, e excluindo a

estratégia de cooperação mútua, qualquer um fará melhor em acusar o companheiro.

Este dilema aborda o tema da confiança e procura mostrar os mecanismos que estão

por detrás de decisões que dependem não só do da pessoa à qual se apresenta a

escolha mas também das decisões de outros elementos dos quais apenas se pode

inferir o seu comportamento provável. Devido a incorporar a incerteza proveniente da

inferência de estados mentais e de os incluir no nosso processo de decisão, tornou-se

um exemplo clássico da forma da teoria dos jogos abordar os processos de interacção

social ou de decisões que envolvem inferir em relação aos estados mentais e crenças

dos outros elementos envolvidos.

Outros jogos criados pelos investigadores e sobre os quais a teoria dos jogos

faz previsões, partindo das assumpções da teoria clássica, que não se verificam, são o

Jogo do Ultimato, o Jogo do Ditador e o Jogo dos Bens Comuns.

Jogo do Ultimato

O Jogo do Ultimato (JU) é uma situação experimental criada para estudar o

Page 24: Tese de Monografia

12 1.

desvio do comportamento humano em relação à teoria dos jogos. Esta assume o

interesse próprio como único orientador do comportamento dos jogadores, contudo as

verificações experimentais não corroboram essa perspectiva.

O jogo na sua versão inicial é muito simples. Envolve dois jogadores a quem é

atribuída uma determinada quantia, o pote. Ao primeiro jogador, habitualmente

chamado Proponente, pede-se que efectue a divisão dessa quantia com o segundo

jogador, chamado Receptor. O Receptor pode aceitar ou rejeitar essa divisão, caso a

aceite, o valor em jogo é dividido conforme a proposta do primeiro jogador, se rejeitar a

proposta ambos os jogadores recebem zero. Os jogadores não se conhecem nem

contactam um com o outro de forma directa, o que garante o anonimato; e cada oferta

ou decisão é definitiva, logo não existe possibilidade de negociação. Para além disso

ambos os jogadores têm conhecimento total das regras do jogo (Camerer & Thaler,

1995, Guth, Schmittberger & Schwarze, 1982).

O JU pode ser jogado de duas formas diferentes (Solnick & Schweitzer, 1999):

o método do jogo e o método da estratégia. No método do jogo, as acções são

sequenciais, ou seja o Proponente faz uma proposta, o receptor vê essa proposta e

decide se a aceita ou não. Se a aceitar, cada um fica com o valor proposto, se a

rejeitar, ambos ficam com zero. No método da estratégia as decisões são simultâneas.

O Proponente decide uma divisão e ao mesmo tempo o receptor decide qual o valor

mínimo que está disposto a aceitar. Se o valor da proposta for superior ou igual ao

valor mínimo, dividem o pote de acordo com a proposta. Se for inferior cada um fica

com zero. Foi este o método que escolhemos para o nosso estudo devido à facilidade

com que permite recolher uma grande quantidade de respostas e por nos estudos

anteriores realizados com este método os resultados estarem de acordo com os

resultados obtidos pelo método do jogo, em que os jogadores tomam as decisões em

tempo real.

A previsão efectuada pela teoria dos jogos afirma que, sendo ambos os

jogadores maximizadores de rendimentos, a oferta do Proponente deveria ser a mais

baixa possível e o Receptor deveria aceitar qualquer proposta efectuada. As

verificações experimentais revelaram um quadro muito diferente. A média das ofertas

dos Proponentes normalmente situa-se entre os 30 e os 40 por cento do pote, com a

moda a ser frequentemente uma divisão de 50%-50%. As respostas dos Receptores

também não são coincidentes com a perspectiva prescritiva, tendo como maior desvio,

o facto de habitualmente as ofertas abaixo dos 30 por cento do pote serem rejeitadas. (

Camerer & Tahler, 1995). Na figura 1 mostramos uma árvore de decisão relativa a um

possível JU.

Page 25: Tese de Monografia

13 1.

Qual o valor que deseja conservar para si?

Figura 1: Árvore de decisão de um Jogo do Ultimato

Jogo do ditador

Um outro jogo usado para estudar o comportamento económico é o Jogo do

Ditador (JD). Este jogo é muito similar ao JU, contudo o segundo jogador nesta

situação não tem o poder de rejeitar a oferta, sendo completamente dependente da

decisão do Proponente. Este jogo foi criado por Kahneman, Knetsch e Thaler (1986)

com o intuito de estudar a possibilidade de o comportamento dos proponentes do JU

ser unicamente condicionado pelo medo de rejeição das ofertas mais baixas. Assim,

retirando a possibilidade de rejeição da proposta, e se as propostas efectuadas no JU

apenas dependessem do medo de rejeição, as propostas no Jogo do Ditador deveriam

ser em conformidade com a teoria clássica económica, que prevê que os indivíduos

sejam unicamente interessados com o aumentar dos seus recursos. Nesta primeira

versão do jogo do ditador, apenas eram dadas duas hipóteses de divisão ao

proponente: 18 dólares para si e 2 dólares para o receptor, ou 10 dólares para cada. A

previsão da economia clássica e da teoria dos jogos não se verificou. Mesmo nesta

situação de anonimato e poder absoluto existia uma preocupação com a justiça da

divisão, e a maioria dos jogadores, 76 por cento, escolheram a divisão equitativa

1 0 2 0 3 0 4 0 5 0 6 0 7 0 8 0 9 0

9 0 8 0 7 0 6 0 5 0 4 0 3 0 2 0 1 0

9 8 1 2 3 4 5 6 7

Oferece:

1 2 9 8 7 6 5 4 3

Page 26: Tese de Monografia

14 1.

enquanto 24 por cento escolheram a divisão mais lucrativa. Outros estudos realizados

com este jogo reproduzem esta preocupação (Camerer & Thaler, 1995)

Jogo dos Bens Comuns

Um outro jogo bastante utilizado nesta área é o jogo dos bens comuns. Neste

jogo, que envolve vários jogadores e várias repetições, cada um deve decidir como

dividir uma determinada quantia entre si e um pote comum que depois de ter o seu

valor multiplicado por um factor superior a 1 será dividido pelos jogadores. Aqui a

prescrição da teoria dos jogos é de que cada indivíduo contribua, desde o inicio, com o

mínimo possível para esse pote comum, pois se todos estão interessados em aumentar

o seu rendimento não teriam razões para partilhar nada num pote comum, devido ao

risco de que algum jogador não contribua. O que se verificou experimentalmente foi

que nas primeiras rondas os jogadores contribuem para o pote comum, contudo com o

decorrer do jogo essas contribuições diminuem até que se tornam zero. Os

investigadores argumentam que este padrão se deve a uma tentativa inicial de

colaboração por parte dos jogadores, contudo ao verificarem que nem todos

contribuem de forma igual, essa tentativa de colaboração desfaz-se dando origem ao

interesse próprio puro.

Teorias de Matriz Evolutiva

As teorias de biologia evolutiva prevêem directamente uma preocupação pelos

interesses dos nossos parentes e na medida proporcional com o património genético

que partilhamos com eles, a que se chama selecção por parentesco. Contudo, cuidar

e/ou ajudar pessoas não relacionadas geneticamente com o próprio, e muitas vezes

até desconhecidas, é uma acção humana comum que exige uma explicação mais

complexa em termos evolutivos (Gintis, Bowles, Boyd & Fehr, 2003).

Várias teorias foram propostas para explicar este fenómeno. Algumas estão

relacionadas com o nível ao qual operam os princípios da selecção natural, com alguns

investigadores a defenderem que ela se efectua ao nível do grupo, ao nível do

indivíduo, ao nível dos genes ou a vários níveis simultaneamente.

Uma dessas teorias é a do altruísmo recíproco. O conceito foi criado por

Robert Trivers em 1971 e desenvolvido por investigadores como Robert Axelrod e W.D

Hamilton (Dawkins, 2003).

Page 27: Tese de Monografia

15 1.

Altruísmo recíproco é definido como um comportamento cooperativo entre

indivíduos não relacionados (sem relações de parentesco) e em que todas as partes

envolvidas saem beneficiadas. A forma mais usada para estudar este conceito tem sido

o uso de jogos entre dois elementos em que ambos podem adoptar 2 tipos de

estratégias, cooperativa ou competitiva (Cosmides & Tooby, 1992). Neste tipo de jogos

a estratégia mais benéfica para ambos os jogadores a longo prazo é “tit for tat” que

pode ser traduzida para “olho por olho”. Esta estratégia consiste em o jogador cooperar

na primeira jogada e a partir dai ser recíproco em relação à estratégia do outro. Se o

oponente adopta uma estratégia competitiva, é essa a estratégia que o jogador

adoptará também. Se adoptar uma estratégia cooperativa é essa estratégia que

receberá do outro jogador. Richard Dawkins (2003) descreve, em “O Gene Egoísta”, o

seu influente livro que tem por tema a biologia evolutiva, de que forma as estratégias

de este género podem ser evolutivamente estáveis e “escolhidas” pela selecção

natural.

São três as condições necessárias para que o altruísmo recíproco possa surgir

(Trivers, 1989). As condições sociais não podem favorecer o anonimato, visto que a

reciprocidade funciona de forma mais eficaz em grupos pequenos nos quais é mais

fácil detectar quem “anda à boleia” dos outros. Outra das condições é um elevado nível

de dependência mútua entre os membros do grupo. Isto significa que os indivíduos

devem necessitar ajuda uns dos outros para que sejam bem sucedidos. E por fim, não

deve existir uma estrutura hierárquica rígida, para que seja possível a todos os

elementos prestar ajuda aos outros. Se estas condições se verificarem existem

condições no meio para que relações baseadas no altruísmo recíproco se

desenvolvam. Contudo é também necessário que os indivíduos tenham capacidades

cognitivas suficientes para que possam reconhecer os outros elementos do grupo e

recordarem interacções anteriores (de Vos & Zeggelink, 1997) e devem ser capazes de

pensar em termos de custos e ganhos, percebendo os desejos e intenções dos outros

e comunicando os nossos de forma eficaz (Cosmides & Tooby, 1992). Trivers (1971)

afirma que são as emoções sociais como a raiva, o orgulho, a vergonha ou a culpa que

permitiram ultrapassar o problema evolutivo do comprometimento, isto é, foi o carácter

incontrolável destas expressões emocionais que permitiu que as trocas sociais se

desenvolvessem na nossa história evolutiva.

Outra das abordagens evolutivas de este fenómeno comportamental e

alternativa à teoria do altruísmo recíproco é a reciprocidade forte (Gintis, Bowles, Boyd

& Fehr, 2003;). Segundo esta perspectiva o comportamento no JU pode ser explicado

através de uma predisposição para cooperar com os outros e punir aqueles que violam

as normas de cooperação. Esta punição acontece mesmo quando tem custos para o

Page 28: Tese de Monografia

16 1.

próprio e quando não há perspectivas de uma nova interacção no futuro. Esta

perspectiva contrasta com a do altruísmo recíproco, porque enquanto a última

considera o ser humano como motivado por um ganho a longo prazo e logo é uma

forma de pseudo-altruísmo, a primeira considera o indivíduo guiado por uma moral

embutida na gramática genética.

Na defesa desta perspectiva os autores citam o estudo de Henrich et al. (2001)

que através de recolha de dados em várias sociedades de pequena escala, concluíram

que o comportamento de punição é comum em todas, sendo que em algumas

rejeitavam ofertas consideradas demasiado justas.

Variáveis do Jogo do Ultimato

O JU tem sido objecto de numerosos estudos, em que a manipulação de

diversas variáveis, contextuais ou de personalidade, tem permitido compreender de

forma mais completa os processos por detrás do comportamento económico humano.

Na tentativa de averiguar a influência do tamanho do pote no JU, Slonim e

Roth (1998) conduziram um estudo na República da Eslováquia, em que usaram um

pote de valor equivalente ao ordenado de uma semana. Os experimentadores usaram

uma versão em que o jogo é repetido por várias vezes, o que permite aos jogadores

aprender e assim regular as suas opções em função da resposta do outro jogador.

Neste cenário as ofertas das primeiras rondas apresentam resultados idênticos aos do

jogo com apenas uma ronda. Contudo mesmo nas rondas iniciais, a percentagem de

rejeições é menor que os resultados experimentais anteriores, o que sugere que o

tamanho do pote tem efeito sobre o comportamento do receptor. Um outro dado

interessante diz respeito ao facto de os proponentes, com o passar do tempo e ao

ganharem experiência, terem tendência a baixar o valor proposto. Este resultado é

explicado por Slonim e Roth (1998) com o facto de os proponentes aprenderem que as

ofertas mais baixas não são rejeitadas.

Os resultados de uma análise transcultural, envolvendo dados de 15

sociedades (Henrich et al., 2001), de diferentes continentes, ambientes, base

económica ou padrão de residência, mostram um quadro mais complexo. Em todas as

sociedades, as ofertas consideradas injustas foram rejeitadas, com um número

crescente de indivíduos a escolher punir essas ofertas conforme se aproximavam de

zero. Um dos dados mais inesperados, porque não obtido habitualmente nas

sociedades ocidentais, é a rejeição de ofertas demasiado generosas em 9 das

sociedades estudadas. Este dado parece em consonância com as teorias da equidade,

Page 29: Tese de Monografia

17 1.

que por vezes têm sido usadas para explicar as ofertas dos proponentes no JU, e que

postulam que o ser humano se preocupa com os ganhos relativos nas interacções e

que a desigualdade é fonte de desconforto e motivação para restaurar uma situação de

equidade (Oxford reference, equity theory).

Contudo numa meta análise conduzida por Oosterbeek, Sloof e van Der Kuilen

(2004) envolvendo 37 estudos que originaram 75 conjuntos de resultados, concluíram

não existir diferenças significativas ao nível do comportamento dos Proponentes em

diferentes contextos culturais. Registaram, sim, diferenças entre o comportamento dos

Receptores, nomeadamente que os asiáticos tinham uma taxa de rejeição

significativamente superior à dos norte-americanos e que dentro dos EUA, os

originários da zona oeste, por comparação com a zona este, estavam dispostos a

aceitar ofertas mais baixas. Os autores tentaram também averiguar se existia alguma

relação entre as variáveis culturais estudadas por Hofstede (1991) e Inglehart (2000) e

o comportamento dos sujeitos. Nesta análise a única diferença encontrada é relativa

aos valores da escala de respeito à autoridade de Inglehart, que está correlacionada

negativamente com o valor das propostas efectuadas, as sociedades mais

caracterizadas por respeito à autoridade são aquelas que apresentam valores mais

baixos nas ofertas.

Solnick e Schweitzer (1999) procuraram perceber que influência a

atractividade física tinha no comportamento dos jogadores. Concluíra que não existiam

diferenças entre as propostas ou no valor mínimo que estavam dispostos a receber,

quando comparando os grupos dos que foram avaliados como mais atractivos e os

menos atractivos, ou seja, a beleza própria não era um factor que distinguisse as

ofertas que fizeram ou o valor que estavam dispostos a aceitar. Contudo quando

analisando as ofertas ou exigências à luz da beleza do par com que tinham sido

emparelhados, foi possível distinguir um padrão, as ofertas feitas a sujeitos

considerados mais bonitos eram significativamente superiores àquelas feitas a sujeitos

menos bonitos e as ofertas feitas a homens significativamente superiores às ofertas

feitas a mulheres. Curiosamente o nível de exigência reproduzia este padrão, no que

diz respeito às diferenças de beleza. Quando na posição de receptor, os sujeitos

também exigiam um valor superior quando estavam emparelhados com alguém mais

bonito que com alguém menos bonito.

Van der Bergh e Dewitte (2006) estudaram o efeito que pistas sexuais, como a

exposição a fotos de mulheres sexy ou o contacto com lingerie, na probabilidade de os

sujeitos rejeitarem ofertas injustas no JU. A previsão dos autores era de que este efeito

se verificaria nos sujeitos com um ratio dos dedos indicador e anelar mais baixo

(2D/4D). Este ratio está ligado à exposição a androgénios pré-natais e a altos níveis de

Page 30: Tese de Monografia

18 1.

testosterona (Maning, Scutt, Wilson & Lewis-Jones, 1998), e foi já estudado com

preditor de agressividade nos homens (Bailey & Hurd, 2005) ou da dominância nos

homens (Mazur & Booth, 1998). Foi esse o padrão que encontraram. Sujeitos com um

ratio 2D/4D mais baixo rejeitavam menos ofertas injustas, quando no grupo exposto a

pistas sexuais, mas rejeitavam mais ofertas injustas no grupo de sujeitos que não fora

exposto a pistas sexuais. Estes resultados estão em acordo com outro estudo

(Burnham, 2007), em que indivíduos com os níveis mais altos de testosterona tiveram

uma taxa de rejeição de ofertas injustas mais alta. Burnham (2007) infere que tal

comportamento se deve ao passado evolutivo da espécie humana, no qual as

interacções de uma só vez (one shot games) eram raras.

Com relação a variáveis de personalidade, Brandstatter e Guth (2002)

concluíram que a única variável estudada que influencia o comportamento no JU é a

orientação para a reciprocidade, que é preditora de um nível de exigência mais alto

nos Receptores. Com relação ao Jogo do Ditador, a única variável com efeitos

significativos foi a benevolência, que previa ofertas mais elevadas. Num outro estudo

relacionado com variáveis de personalidade, neste caso a orientação pró-self ou pró-

social, e usando também a assimetria de informação entre os jogadores como variável,

van Dijk, de Cremer e Handgraaf (2004) concluíram que a orientação para o self é

preditora de ofertas mais baixas, contudo este efeito apenas se verifica quando a

informação é assimétrica entre os jogadores, ou seja quando o proponente é o único

que sabe que as fichas usadas neste jogo têm mais valor para si que para o receptor,

condição de informação assimétrica. Quando ambos sabem esta informação as

propostas mais comuns reflectem essa diferença de valor, tentando compensá-la,

condição de informação simétrica. Os autores oferecem a imagem de “lobo em pele de

cordeiro” como hipótese explicativa das diferenças obtidas entre as duas condições de

informação, nos sujeitos com orientação pró-self.

A linguagem usada na formulação das alternativas foi outra das variáveis

estudadas. Handgraaf, van Dijk, Vermunt e Wilke (2003) estudaram como formular as

alternativas como 2 escolhas (8 para ele e 2 para si ou 0 para ele e 0 para si) e não

como aceitar ou rejeitar a oferta, aumenta de 33 para 63 por cento a probabilidade de

aceitarem ofertas injustas. Os autores explicam esta alteração do comportamento dos

jogadores por a formulação das instruções não frisar a recusa e por ênfase no conceito

de escolha.

Num estudo conduzido no Japão por Yamamori, Kato, Kawagoe e Matsui

(2004), as ofertas efectuadas pelos proponentes numa versão do jogo do ditador,

dependiam do valor que o receptor dizia que gostaria de receber. As ofertas

aumentavam em função do pedido para valores abaixo dos 50 por cento do pote.

Page 31: Tese de Monografia

19 1.

Quanto os receptores manifestam vontade de receber mais de 50 por cento, as ofertas

diminuíam, ou seja, quanto maior os pedidos menores as ofertas. Os autores

analisaram ainda a distribuição em clusters destes dados e descobriram que as ofertas

se organizavam em 3 clusters. O primeiro inclui os indiferentes aos pedidos e que

pretendia apenas maximizar o seu lucro e corresponde a 23 por cento dos sujeitos. O

segundo cluster é constituído por aqueles que oferecem a quantia pedida quando ela

se situa abaixo dos 50 por cento e dão 50 por cento quando o pedido é superior a isso,

neste estão 36 por cento dos sujeitos. E por último, os que até 50 por cento satisfaziam

o pedido mas para pedidos superiores ofereciam menos de 50 por cento, castigando a

ganância do receptor.

Os estudos de Falk, Fehr e Fischbacher (2003) tiveram como objectivo

perceber o impacto das opções disponíveis ao Proponente na decisão do Receptor. Os

investigadores criaram 4 jogos diferentes, em que variavam as opções de distribuição

oferecidas ao Proponente. Em 3 dos grupos experimentais, o Proponente apenas tinha

2 divisões possíveis (valores para Proponente/Receptor, 8/2 ou 5/5; 8/2 ou 2/8; 8/2 ou

10/0), no quarto grupo o Proponente era forçado a escolher a divisão 8/2. Assim sendo

a todos os proponentes era dada a hipótese de escolher ficar com 8 e oferecer 2, uma

divisão normalmente considerada injusta, sendo a outra opção a única que variava. Os

resultados mostraram que as taxas de rejeição em cada um dos grupos experimentais

dependiam da opção alternativa do Proponente. Assim as taxas de rejeição da divisão

8/2 foram, aproximadamente, 45% quando emparelhada com a opção 5/5, mais

equitativa, 25% com 2/8, menos equitativa, 20% quando era a única hipótese e 10%

quando a alternativa era 10/0, o que tornava a oferta 8/2 a mais justa. Destes dados

podemos concluir que, não só as pessoas se preocupam com a distribuição relativa,

mas também com o que essa distribuição significa no total das opções disponíveis.

Alguns modelos, como o de Fehr e Schmidt (1999), tentam integrar já

preocupações dos jogadores com a distribuição relativa do valor do pote. E outros

como o de Rabin (1993), procuram introduzir, no modelo clássico da teoria dos jogos,

as crenças dos jogadores acerca das acções do outro. Estes modelos são uma

tentativa de ultrapassar as limitações dos modelos clássicos, que estabelecem

utilidade como apenas a maximização das consequências materiais da situação.

Constructos e Teorias Associados ao Estudo dos Processos Cognitivos e Afectivos

Fridja (1993) distingue entre três tipos de estados afectivos: estado de espírito,

emoções e episódios emocionais. A distinção essencial por ele estabelecida concerne

Page 32: Tese de Monografia

20 1.

as emoções e o estado de espírito e são três os eixos a partir dos quais é feita essa

diferenciação:

- Duração, maior no caso do estado de espírito e menor no caso das emoções.

- Intensidade, maior nas emoções e menor no estado de espírito.

- Difusão, maior no estado de espírito e menor nas emoções, sendo que, uma

característica fundamental da caracterização destas por parte de vários autores, é o

facto de terem um objecto ao qual são direccionadas.

Ainda segundo este autor, uma das características do estado de espírito é

poder ser experimentado de duas formas diferentes. Como um estado não focado de

sensações agradáveis ou desagradáveis, ou como um estado em que o limiar para

avaliar determinada experiência como positiva ou negativa é modificado (Fridja, 1993).

Os episódios emocionais são caracterizados por um envolvimento emocional

com um objecto específico, que se prolonga no tempo e que envolve uma série de

emoções sucessivas.

Num outro artigo, Frijda (1994) reforça a ideia de que a distinção essencial se

deve basear num critério de pendor qualitativo, a existência ou não de um objecto

intencional. No caso do estado de espírito esse objecto não existe, sendo definido

como um estado afectivo não intencional. No caso das emoções esse objecto existe,

sendo ele o foco dos processos associados a essa emoção.

Alguns investigadores utilizam o termo afecto num sentido abrangente, no qual

incluem as noções de emoção e de estado de espírito (Matthews, Zeidner & Roberts,

2002). Em contrapartida, outros investigadores utilizam a noção de afecto para se

referir, especificamente, ao carácter agradável ou desagradável da experiência

subjectiva associada aos fenómenos emocionais (Scherer, 2001).

Numa tentativa de distinguir, com base em premissas funcionais em relação ao

processo de tomada de decisão, a categoria designada por emoções, Pfister e Bohm

(2008) propõem que a distinção entre os diversos estados afectivos se faça tendo em

conta os contributos funcionais efectuados. Os autores não fazem uma análise do

estado de espírito, não usando sequer o termo, preferindo partir da classificação

efectuada por Loewenstein e Lerner (2003) entre emoções antecipadas, que dizem

respeito às emoções que a pessoa crê vir a sentir como resultado da sua decisão e

emoções imediatas que são as emoções sentidas na altura da decisão. Estas últimas

podem ainda ser distinguidas entre emoções incidentais, que não estão relacionadas

com a decisão e emoções antecipatórias, que são causadas pelo problema que exige a

decisão. As quatro funções distinguidas por Pfister e Bohm são: fornecer informação,

aumentar a velocidade de resposta, definir relevância e implementar compromissos.

Os estados afectivos usados com função informativa são o prazer e a dor, o

Page 33: Tese de Monografia

21 1.

gostar e o desgostar. Estes estados são aquilo que os autores designam de emoções

redutíveis, emoções que possuem apenas valência e não representam uma avaliação

complexa da situação. O indivíduo pode assim usar estas emoções como fonte de

informação acerca do objecto de julgamento, isto acontece mesmo que a origem desse

estado não seja o objecto, mas que seja a ele atribuída, erroneamente, essa origem.

Outra função que alguns estados afectivos desempenham é a de acelerar o processo

de decisão. Os estados incluídos que contribuem para essa função são o medo, a

repulsa ou o impulso sexual. Os autores chamam a este tipo de emoções programas

afectivos e impulsos.

A terceira função é a de estabelecer o foco de atenção do sujeito nos aspectos

mais relevantes da situação tendo em conta os objectivos deste. As emoções que

desempenham esta função de definir a relevância dos diversos aspectos da situação,

são, por exemplo: a inveja, o arrependimento ou o orgulho. A estas o autor chama

emoções discretas. A última função desempenhada pelas emoções neste quadro de

referência é de implementar compromissos. Neste grupo está incluído o amor, a culpa

ou a raiva. Estas funcionam no sentido de fortalecer as relações sociais, servindo

como mecanismo sinalizador de comprometimento.

Clore et al. (2001) fazem a distinção entre 6 termos: afecto, estado, emoção,

estado de espírito, sensação, informação.

-Afectos são entendidos como qualquer coisa que tenha um valor de

positividade ou negatividade, incluindo preferências e atitudes, vistas como

disposições afectivas, e emoções e estados de estado de espírito, vistos como estados

afectivos.

-Estados são definidos como determinadas disposições do organismo,

envolvendo sistemas múltiplos. Incluem-se aqui as emoções e os estados do estado de

espírito.

-Emoções são o termo usado para estados que envolvam avaliações

específicas de positividade ou negatividade em relação a um objecto específico e que

desencadeiam um impulso para acção.

-Estado de espírito é usado para descrever estados similares aos emocionais,

contudo sem um objecto específico, não sendo assim dirigido para uma acção

imediata. Contudo, os autores salientam que, mais que duas categorias estanques, os

termos emoção e estado de espírito fazem parte de um contínuo no que diz respeito à

atribuição da origem do estado a um objecto. É assim possível existir uma emoção com

um objecto pouco definido e um estado de estado de espírito com um objecto

relativamente definido.

Page 34: Tese de Monografia

22 1.

-Sensações são representações experienciais de valor. Todos os sinais

internos que transmitam qualquer tipo de informação consciente estão abrangidos pela

designação de sensação.

-Informação é fornecida pelos afectos através de sensações. É necessário que

as sensações sejam conscientes para que possa ser retirada informação dos afectos,

contudo esta informação pode ser interpretada como sendo relativa a diversas fontes,

nomeadamente sobre a componente hedónica da tarefa, sobre a perfomance pessoal

ou sobre a estratégia escolhida.

É esta a classificação que iremos adoptar durante este estudo, pois sendo

bastante completa põem ênfase na ausência de um objecto especifico no estado de

espírito e na existência de uma valência especifica de carácter positivo ou negativo

Beedie, Terry & Lane (2005) exploraram as diferenças de representação dos

conceitos de estado de espírito em emoção entre académicos e não académicos. Para

isso puseram a questão, aos sujeitos não académicos: “Qual acredita ser a diferença

entre estado de espírito e emoção?”. Efectuaram depois uma análise de conteúdo das

respectivas respostas. Uma análise de conteúdo foi também efectuada na literatura

académica encontrada sobre tema.

Da análise das respostas não académicas extraíram 16 temas principais,

sendo os 5 mais representados: a causa (65% dos sujeitos), a duração (40%), o

controlo (25%), a experiência (15%) e as consequências (14%). Na literatura revista a

análise de conteúdo revelou 8 temas principais, com os 5 mais referidos sendo:

duração (62% dos autores), intencionalidade (41%), causa (31%), consequências

(31%) e função (18%).

Fica patente, neste estudo, que apesar dos diversos autores que produzem

artigos académicos não concordarem num único critério através do qual distinguir

emoção e estado de espírito, tendem a concordar numa série de critérios comuns para

efectuar essa distinção, sendo muitas vezes as diferenças observadas ao nível do

peso relativo atribuído a cada um dos factores de diferenciação.

Teorias do Estado de Espírito

As diversas teorias que procuram explicar os efeitos do estado de espírito

distinguem-se, por um lado, devido ao facto de umas postularem que as alterações se

dão devido a uma reduzida motivação ou capacidade de processamento durante o

estado de espírito positivo (Mackie & Worth, 1991), outras defendem que os efeitos se

Page 35: Tese de Monografia

23 1.

devem ao facto de o estado de espírito funcionar como sinalizador da situação actual

(Schwarz & Clore, 1983), e condicionar assim o uso de estruturas mais gerais de

conhecimento como scripts ou esquemas (Bless, 2001), quando positivo e um estilo de

processamento mais analítico de raciocínio, quando negativo.

Partindo do mesmo pressuposto que a teoria anterior, o estado de espírito

como sinalizador da situação actual, está o modelo do estado de espírito como input

proposto por Martin (e.g. Martin, 2001), contudo este atribui uma importância maior ao

contexto e à forma como este condiciona a interpretação da heurística “Como é que eu

me sinto acerca disto?” do modelo do estado de espírito como informação. Erber

(2001) defende a hipótese de reparação do estado de espírito, como sendo explicativa

de muitos dos efeitos do estado de espírito no tipo de processamento efectuado, se

mais heurístico ou mais sistemático, argumentando que essa mediação se faz em

função da congruência do estado de espírito com a situação. Na linha das teorias

envolvendo modelos de processamento dual, Fiedler (2001) defende que o estado de

espírito positivo activa um estado apetitivo estimulando processos de assimilação e

que o estado de espírito negativo promove um estado aversivo que promove processos

de acomodação como definidos por Piaget (1997). Uma das teorias mais integrativas

ao nível de articulação dos diversos efeitos do estado de espírito é o modelo de

infusão dos afectos de Forgas (2001), que postula a existência de 4 estratégias de

processamento e propõem de que forma elas são ou não afectadas pelo estado de

espírito.

Outras teorias realçam o papel que a evolução teve formação da capacidade

de ter um estado de espírito e de que forma isso é importante para o estudo das

modificações do processamento e comportamento causadas por ele (Nesse, 2000).

Por fim, há algumas linhas de investigação que apesar de não abordarem o

estado de espírito de forma directa, são importantes na medida em que salientam a

importância dos estados somáticos, que incluem o estado de espírito, na regulação do

processamento cognitivo e na tomada de decisão.

Passamos a rever as teorias de forma mais aprofundada.

O Estado de Espírito como Informação

Schwarz (2001) afirma que o nosso estado de espírito reflecte o estado do

nosso ambiente. Um estado de espírito negativo assinala que a situação presente é

problemática e necessita de cuidadosa avaliação e decisão e um estado de espírito

Page 36: Tese de Monografia

24 1.

positivo assinala que a situação benigna ou não problemática. Contudo se ele for

atribuído, mesmo que de forma incorrecta, a um objecto ele perde o seu valor

informativo.

Ainda segundo Schwarz (2001), podemos distinguir entre dois tipos de efeitos

do estado de espírito. Ao nível do julgamento avaliativo, usando da heurística “Como é

que eu me sinto em relação a isto?” e a nível do estilo de processamento, em que o

carácter informativo do estado de espírito assinala a necessidade ou não de um

processamento sistemático.

Segundo Clore et al. (2001), são cinco os princípios centrais na abordagem do

estado de espírito como informação:

1- Princípio da experiência: O modelo estado de espírito como informação põe

especial ênfase na componente experiencial consciente das sensações. Este princípio

é o exemplo disso. Clore et al. (2001) citam, por exemplo, um estudo de Gasper e

Clore (2000) como demonstração do efeito aumentado do estado de espírito em

indivíduos que monitorizam frequentemente as suas emoções. Para que se

compreenda bem a ênfase que este modelo põe na experiência consciente a seguinte

frase será esclarecedora: “One can have an emotion without doing anything or saying

anything, but not without felling anything.”

2- Princípio da informação: Clore et al. (2001) defendem que devido à

natureza, em grande parte, inconsciente dos processos avaliativos, um feedback

possível desse processo pode ocorrer na forma de sensações emocionais, destinadas

a assinalar a relevância de determinada situação tendo em conta os objectivos

pessoais. Cita como exemplo os estudos de António Damásio (1994) com pacientes

com lesões cerebrais, em que a falta de feedback emocional lhes diminui a capacidade

de decisão.

3- Princípio da atribuição: Este principio é fundamental na argumentação de

base do modelo, dado que muitos dos efeitos do estado de espírito que este modelo

procura explicar se devem ao facto dos sujeitos atribuírem a origem do seu estado de

espírito ao objecto do julgamento. Esta atribuição não necessita ser feita de forma

consciente, podendo ocorrer sem a percepção correspondente.

4- Princípio da atribuição constrangida: As atribuições são constrangidas em 2

eixos: um sendo a duração do afecto e o outro a saliência do objecto. Com relação à

saliência do objecto, os estados emocionais mais focados no objecto são as atitudes e

as emoções, sendo as atitudes mais permanentes temporalmente. Os estados mais

Page 37: Tese de Monografia

25 1.

virados para a situação são o temperamento e o estado de espírito, sendo aqui o

temperamento mais constante a nível temporal.

5- Princípio do imediatismo: As causas dos estados emocionais tendem a ser

imediatamente anteriores a estes. Devido a isto, sensações que não tenham sido

ligadas a um objecto específico podem ser associadas a um outro objecto sobre o qual

se produz uma avaliação. Assim, a informação do estado afectivo é usada, em relação

ao objecto a ser avaliado no momento devido a uma errónea atribuição, inconsciente,

desse afecto a esse mesmo objecto.

Estado de Espírito como Input

No seguimento das assumpções da linha teórica anterior mas com um enfoque

ligeiramente diferente, este modelo procura explicar os efeitos do estado de espírito

tendo em conta o valor informativo do estado de espírito, mas em dependência do

contexto. Martin (2001) afirma que as implicações que o estado de espírito tem nas

avaliações e na motivação são dependentes do contexto geral em que acontecem.

Sentirmo-nos alegres numa situação que seja caracterizada por tristeza, como um

funeral, pode ter diferentes interpretações e consequentes efeitos. Logo, qualquer

estado de espírito funciona como uma outra peça informativa, em que a sua

interpretação, devido à natureza paralela do processo avaliativo, é feita à luz de outras

variáveis do objecto e contextuais, como por exemplo, o comportamento que

consideramos socialmente expectável nessa situação.

Este modelo assume a possibilidade do uso de uma heurística similar à do

modelo do estado de espírito como informação, sendo que aqui a heurística proposta

pelos autores é “O que é que significa eu estar a sentir-me desta forma nesta

situação?”.

É posta uma grande ênfase também na questão dos papéis. Segundo este

modelo, as avaliações positivas de um objecto ou do próprio individuo surgem quando

o sujeito sente um estado de espírito, seja positivo ou negativo, que assinala o cumprir

de um papel positivo ou expectável da sua parte ou por parte do objecto, enquanto as

avaliações negativas surgem quando um individuo sente um estado de espírito que lhe

assinala o inverso. Desta forma, a valência do estado de espírito, só por si, não

determina a influência do afecto na motivação e nas avaliações. É necessário que essa

valência seja interpretada, de forma automática, à luz das condicionantes da situação

actual.

Page 38: Tese de Monografia

26 1.

Modelo da Infusão dos Afectos

Na perspectiva do modelo da infusão dos afectos (Forgas, 2000), afecto e

cognição são dois sistemas que funcionam de forma interactiva e muito próxima o que

permite que os afectos entrem no pensamento e dessa forma influenciem o

comportamento e motivações. Essa influencia pode ser a nível do conteúdo do

pensamento ou ao nível dos próprios processos e estratégias cognitivas.

Este modelo é, na sua essência e origem, um modelo ligado à cognição social,

contudo pela sua estrutura geral permite através da especificação de mecanismos

específicos previamente teorizados, como a primação afectiva ( no caso do

processamento substantivo ), e o afecto como informação ( no caso do processamento

heurístico), explicar os efeitos do estado de espírito em vários domínios como a

memória.

Forgas (2001) estabelece a distinção entre quatro estratégias de

processamento e de que forma estas estratégias são influenciadas pelo estado de

espírito. São elas:

- o acesso directo que é a estratégia mais simples e é usada quando o alvo do

julgamento é familiar e prototípico consistindo no uso de uma resposta armazenada,

quando o envolvimento é reduzido e quando não existem pistas contextuais que

induzam a necessidade de um processamento mais elaborado. Esta estratégia, devido

ao facto de ser a menos custosa ao nível dos recursos deverá ser usada sempre que

possível, contudo devido ao facto de não ser um estratégia generativa de novo

resultado, mas simplesmente reprodutiva, os efeitos do estado de espírito não devem

ser significativos segundo este modelo;

-o processamento motivado, que como o nome indica depende de uma

motivação forte e direccionada para um determinado objectivo, ou seja, os recursos

estão orientados no sentido de cumprir um objectivo. Devido a isto, o efeito de infusão

do afecto também será pequeno. Possíveis exemplos de motivações estudadas que

podem estar na origem deste tipo de processamento são: a reparação do estado de

espírito, a manutenção do estado de espírito, a manutenção da auto-avaliação ou a

afiliação ;

-o processamento heurístico, que ocorre em situações em que o objecto de

julgamento seja simples ou típico e não exista nenhuma motivação específica em

direcção a um objectivo concreto, quando quem efectua o julgamento tenha as

capacidades cognitivas limitadas, esteja com um estado de espírito positivo e com

quando as condicionantes situacionais não requeiram uma análise detalhada. Dentro

do uso desta estratégia o mecanismo do afecto como informação parece ser o

Page 39: Tese de Monografia

27 1.

responsável pela infusão do afecto, ou seja, será devido a um erro na atribuição da

origem do estado de espírito para que se dê a infusão dos afectos e estes condicionem

o processamento da informação;

-e o processamento substantivo, que, sendo a estratégia que usa mais

recursos devido ao facto de ajustar novos dados ou informações a estruturas de

conhecimentos prévias, é usada quando as restantes estratégias se revelam

ineficazes, exigindo por isso um nível de motivação alto contudo sem objectivo

específico a alcançar e um nível de recursos cognitivos suficiente para um

processamento mais analítico.

Parte de duas assumpções:

1- as variáveis ligadas à tarefa, pessoa ou situação são importantes na forma

como as pessoas abordam uma tarefa que envolva cognição social;

2- o uso de diferentes estratégias de processamento tem um papel mediador

nos efeitos do estado de espírito.

As principais variáveis que medeiam a escolha de estratégia de

processamento podem ser agrupadas em 3 grandes eixos: ligadas à tarefa, como a

familiaridade, tipicidade, complexidade ou dificuldade; à pessoa, como objectivos,

relevância pessoal, capacidade cognitiva ou estado afectivo; ou à situação, como a

exposição pública, a desejabilidade social, a necessidade de precisão ou o escrutínio

da decisão (Forgas, 2001).

Estes três níveis de regulação interligam-se condicionando assim a escolha do

tipo de processamento. Dos quatro tipos de estratégias, duas são de alto nível de

infusão de afectos: o processamento por heurísticas e o processamento substantivo.

As restantes duas, acesso directo e processamento motivado são de baixo nível de

infusão de afecto.

Uma das vantagens deste modelo, como descrito em Forgas (2001), é o

estabelecer uma hierarquia ao nível das estratégias, estabelecendo as condições

necessárias para a utilização de cada uma. Esta discriminação ao nivel das situações

em que os efeitos do estado de espírito se fazem mais sentir é um passo importante

porém a complexidade e sobreposição de mecanismos que acontece em situações não

laboratoriais não permite de forma imediata identificar qual ou quais as estratégias de

processamento envolvidas.

Estado de Espírito e Uso de Estruturas Gerais do Conhecimento

Bless (2001) desenvolve um modelo explicativo para o facto de o estado de

Page 40: Tese de Monografia

28 1.

espírito positivo estar associado com o uso de estruturas gerais de conhecimento como

os scripts, esquemas, heurísticas ou estereótipos. Este modelo tem como objectivo

principal perceber que efeitos do estado de espírito no tipo de processamento são

adaptativos e funcionais. Para isto, parte da assumpção fundamental do modelo do

estado de espírito como informação (Schwarz, 1990): de que o estado de espírito

sinaliza o estado da situação actual, como sendo problemática ou benigna. Mais

especificamente, Bless (2001) assume que os indivíduos se sentem bem em situações

caracterizadas por resultados positivos, em situações que não representem ameaça ou

que conjuguem ambos os requisitos. Pelo contrário, sentir-se-ão mal em situações que

ameacem os seus objectivos ou que sejam caracterizadas por resultados negativos.

Se um estado de espírito positivo significa uma situação não-problemática,

então o uso de estruturas gerais de conhecimento pode funcionar como uma forma de

conservar recursos, pois os elementos da situação que se encontrem na estrutura

geral requerem menos atenção, libertando assim recursos para outras aspectos da

situação. Segundo esta perspectiva os efeitos do estado de espírito estão localizados

não, necessariamente, na quantidade de processamento mas na atenção a cada uma

das variáveis situacionais. Este processamento, menos dispendioso cognitivamente,

não implica o descartar automático de informação inconsistente com a estrutura geral.

Se com motivação e capacidade suficiente, os indivíduos podem processar a

informação inconsistente com a estrutura usada. Outra das vantagens referidas por

este autor é de que estas estruturas gerais podem ser usadas para enriquecer o

estímulo e terem um papel facilitador na formação de inferências que estendam o seu

conteúdo para além da informação inicial. Esta situação, devido ao carácter mais

arriscado dessas soluções, conclui Bless (2001), seria mais adaptativa quando a

situação em mãos seja segura.

Com isto, não pretende afirmar que o uso de estruturas gerais de

conhecimento esteja confinado a essas situações, visto elas serem necessárias na

resolução de quase todos os tipos de tarefa, apenas que uma propensão para o seu

uso deverá ser verificada quando em estado de espírito positivo.

Estado de Espírito como Reguladores dos Processos de Acomodação e Assimilação

Sustentando-se na conceptualização criada por Piaget (1952) de processos de

acomodação ou adaptação do sistema cognitivo e estruturas de conhecimento aos

dados da situação, e assimilação ou adaptação dos dados às estruturas pré-existentes,

Fiedler (2001) defende que a função do estado de espírito é regular o uso destes

Page 41: Tese de Monografia

29 1.

processos. O uso destes processos está ligado ao uso destes dois tipos de

aprendizagem, uma ligada aos estados apetitivos, em que a exploração e a criatividade

são estimuladas, e outra associada aos estados aversivos, em que o evitamento do

erro é a prioridade.

Tal como na conceptualização descrita anteriormente (Bless, 2001), Fiedler

(2001) reconhece também que, virtualmente, qualquer tarefa usa os dois tipos de

processo. Contudo, nas tarefas que ocorrem fora dos cenários laboratoriais, existe

quase sempre uma tendência para o uso predominante de uma destas estratégias de

processamento.

Este modelo centra-se na valência do estado do estado de espírito, pois o seu

eixo positivo - negativo é análogo ao eixo apetitivo – aversivo que caracteriza as

situações. Assim sendo, Fiedler (2001) considera que os estados de espírito positivos

ou negativos servem como pistas com relação ao carácter apetitivo ou aversivo,

respectivamente, de uma determinada tarefa, estimulando assim o uso de processos

assimilativos quando a situação não representa perigo e processos acomodativos

quando o importante é evitar erros e considerar todos os dados.

Uma interessante experiência relacionada com estas duas tendências foi

efectuada por Bargh (1997). Nela era pedido aos sujeitos que puxassem ou

empurrassem uma alavanca assim que viam uma palavra no ecrã. A um dos grupos

pedia-se que puxassem, aproximação, e ao outro que empurrassem, afastamento.

Apesar de não ter sido dada qualquer instrução relativa ao conteúdo semântico das

palavras e os sujeitos não terem tempo de fazer uma avaliação consciente desse

conteúdo, os investigadores verificaram que o grupo a quem tinha sido pedido que

empurrasse era mais rápido para palavras com um conteúdo negativo, como “vómito”

do que para palavras com um conteúdo positivo como “amor”. O padrão inverso surgiu

no grupo a quem pediram para puxar a alavanca.

Não sendo este modelo uma perspectiva funcional dos efeitos do estado de

espírito, dá uma importância elevada às experiências anteriores e salienta um uso de

processos cognitivos diferenciados, não encarando um estado de espírito como

moderador da capacidade de processamento. É assim uma teoria que está virada para

o que as aprendizagens anteriores e os estados afectivos a elas associadas

condicionam as acções actuais. Nesta perspectiva, não são os objectivos futuros que

regulam o efeito do estado de espírito, é a sinalização que o estado de espírito faz de

uma situação aversiva ou apetitiva que vai condicionar o tipo de abordagem que se faz

à tarefa, uma função mais conservativa, acomodativa ou mais generativa, assimilativa,

respectivamente.

Page 42: Tese de Monografia

30 1.

A Heurística do Afecto

Zajonc (1980, p.152) foi um dos primeiros investigadores a reconhecer a

importância dos afectos nos processos de tomada de decisão:

Por vezes iludimo-nos pensando que procedemos de forma racional pesando

todos os prós e contras das várias alternativas. Contudo raramente é esse o caso.

Frequentemente “Decido a favor de X.” não é mais que “Gosto de X.”.

Slovic, Finucane, Peters, e Macgregor (2002) apresentam o afecto como uma

heurística que as pessoas usam quando tomam uma decisão. Sabendo que o processo

de tomada de decisão é muitas vezes guiado por processos afectivos e não por

processos cognitivos puramente computacionais (Epstein & Pacini, 1999), a Heurística

Afectiva (Slovic et al., 2002) propõe que as representações de objectos ou situações

na nossa mente estão marcadas com etiquetas afectivas com diferentes forças ou

intensidades. Quando confrontado com uma escolha, o Receptor consulta, consciente

ou inconscientemente, o pool afectivo em que se encontram as diferentes etiquetas

positivas ou negativas associadas às diferentes alternativas.

Assim, decisões baseadas nos afectos usam uma estrutura condensada da

situação por vez de uma representação mais exaustiva e dispendiosa cognitivamente

(Epstein & Pacini, 1999).

Modelo de Regulação de Erber e Erber

Erber e Erber (2001) analisam os efeitos do estado de espírito no raciocínio

tendo em conta os processos regulatórios do próprio estado de espírito.

Clark e Isen (1982) propuseram que a regulação do estado de espírito se podia

entender através de dois mecanismos principais: a manutenção do estado de espírito

positivo e a reparação do estado de espírito negativo. Contudo, é fácil pensar em

situações nas quais tal não acontece. Por exemplo, se estivermos muito bem dispostos

e nos formos encontrar com alguém que sabemos estar triste, devido a algum

infortúnio, tenderemos a baixar o nosso estado de espírito. Este é um dos exemplos

aos quais o modelo de regulação proposto por Clark e Isen (1982) não se aplica.

Erber e Erber (2001) propõem então um modelo de regulação do estado de

espírito que tem em conta esse tipo de variáveis, relacionadas com o contexto social.

Os autores reconhecem que a maioria dos estados positivos são inerentemente fonte

de prazer, sendo assim expectável que os indivíduos os tentem manter, e que o

desconforto causado pelos estados de espírito negativos será na maioria das vezes

Page 43: Tese de Monografia

31 1.

motivação para os tentar reparar, contudo devido à natureza social do homem existem

situações nas quais é necessário dissipar um estado de espírito de espírito positivo,

por exemplo, um funeral. Daí este modelo se centrar na análise das estratégias e

situações que estão relacionadas com a regulação do estado de espírito.

Perspectiva Evolutiva do Estado de Espírito

Esta perspectiva procura entender os efeitos do estado de espírito tendo em

conta os princípios da biologia evolutiva, ou seja, o estado de espírito é visto como um

mecanismo adaptativo, que serve de resposta a determinados problemas que surgiram

na nossa história evolutiva.

Tinberger (1963) afirma que todos os traços biológicos necessitam explicação

não só para o mecanismo proximal (o que despoleta o traço) mas também para as

pressões selectivas ao longo da evolução e que definiram a forma desses traços.

Uma perspectiva funcionalista estuda a organização do comportamento a altos

níveis categóricos e suporta-se no estudo dos mecanismos facultativos que ajustam o

comportamento às circunstâncias do ambiente e do meio que se alteram. Nesta

perspectiva esta capacidade, de ter um estado de espírito, foi esculpida pela

necessidade de gerir recursos de acordo com as diferenças dos diversos ambientes

com que o indivíduo se deparava.

A valência positiva e negativa das emoções e dos estados de estado de

espírito é expectável de um ponto de vista evolutivo, pois estes estados foram

moldados por situações que representavam uma oportunidade ou uma ameaça e não

por situações neutras em termos dos objectivos dos indivíduos (Nesse, 2006).

São várias as situações normalmente associadas à tristeza e ao estado de

espírito negativo. Muitas delas estão ligadas à perda de recursos. Estes podem ser de

vários tipos: propriedades, status, relações, saúde...

A tristeza pode ter sido útil, no decurso do nosso passado evolutivo, de várias

formas:

-motivação para recuperar recursos

-motivação para substituir recursos

-evitamento de situações similares à que originou a perda

-motivação para proteger outros recursos

-ajuste de estratégias que dependiam do recurso

-reflectir sobre a situação que originou a perda de forma a prevenir outra no

futuro

Page 44: Tese de Monografia

32 1.

-reparar danos causados se a perda foi causada pela violação de uma norma

social ou da expectativa de um parceiro.

Carver e Scheier (1998) mostraram que o estado de espírito depende não só

do nível de realização de objectivos mas também da velocidade a que nos

aproximamos ou afastamos deles. Assim sendo, para além do nível de realização total

de uma determinada situação, se estamos a aproximarmo-nos mais rápido ou mais

lento que o previsto tem também influência no estado de espírito, e o estado de

espírito tem também efeito de influenciar essa percepção.

A maior parte dos investigadores que argumentam que o estado de espírito

negativo pode ser adaptativo, defendem que a sua função será de domínio geral, tal

como sinalizar submissão após uma perda de status (Beck, Epstein & Harrison, 1983),

uma forma de comunicação social (Watson & Andrews, 2002) ou uma forma de

reavaliar planos falhados (Watson & Andrews, 2002). Outros têm proposto que a

selecção natural desenhou a nossa capacidade para estado de espírito negativo de

forma a permitir vantagem em situações que ameacem a capacidade reprodutiva,

nomeadamente envolvendo perdas ou investimentos que não se revelam vantajosos

(Nesse, 2000; Keller & Nesse, 2005). Nesse (1991) afirma que a função essencial o

estado de espírito é assinalar se uma situação é propicia ou não, querendo com isto

dizer que o estado de espírito positivo assinala uma situação em que se podem correr

riscos se os ganhos possíveis forem elevados, enquanto o estado de espírito negativo

assinala situações em que qualquer risco deve ser evitado mesmo envolvendo

possíveis ganhos elevados.

Hipótese do Marcador Somático

Os recentes desenvolvimentos na área das neurociências possibilitaram,

entretanto, um conhecimento acrescido acerca do papel abrangente da emoção em

múltiplos processos cognitivos, como formação de memórias, aprendizagem ou

raciocínio e tomada de decisão (Damásio, 1994). De facto, evidências crescentes

revelam uma intrincada relação entre emoção e cognição em geral, particularmente no

que diz respeito ao papel dos estados somáticos nessa relação. Por exemplo, Gray,

Braiver e Raichler (2002) apresentam evidências experimentais de ampla interacção

entre processamento emocional e cognitivo, com perda de especialização funcional,

indicando uma efectiva integração entre processamento emocional e cognitivo.

Damásio propõe a hipótese do marcador somático, segundo a qual

determinadas imagens mentais são marcadas com uma representação somática, isto

Page 45: Tese de Monografia

33 1.

é, do estado fisiológico do corpo. Os efeitos dos marcadores somáticos podem ser

fisiológicos ou hipotéticos, simulando a expressão corporal através de um mecanismo

“como se”, mas que manteria as mesmas características. Deste modo, o corpo

desempenha um papel central nos processos emocionais e decisórios, o que Damásio

designa como “teatro das emoções” (Damásio, 1994). Outros aspectos centrais das

conclusões de Damásio são a relação estreita entre emoção e regulação homeostática

e a sua relação com a promoção da sobrevivência e manutenção da vida, bem como o

facto das emoções serem inseparáveis dos estados de prazer ou dor, da ideia de bom

ou de mau, de consequências favoráveis ou desfavoráveis e da recompensa ou

punição por uma acção (Damásio, 2000), reforçando assim a ideia de que a valência é

um componente essencial de qualquer afecto.

Efeitos do Estado de Espírito no Processamento Cognitivo

O estudo dos efeitos do estado de espírito no raciocínio e noutros aspectos do

processamento cognitivo tem já alguns anos e várias têm sido as áreas estudadas. Um

dos estudos citado como pioneiro na área é o de Alice Isen de 1972 em que procurou

estudar a influência do estado de espírito positivo no comportamento de ajuda.

Recordação e Estado de Espírito

São várias as áreas sobre as quais se concentraram os estudos sobre o papel

do estado de espírito na cognição e comportamento humano, sendo uma a influência

do estado de espírito no processo de recordação, mais especificamente na memória

congruente e incongruente com o estado de espírito, juntamente com os factores que

medeiam estes processos.

Nesta área podemos distinguir dois tipos de efeito, que embora contrários, têm

consistentemente sido encontrados nos estudos realizados. Um deles prende-se com o

efeito da memória dependente do estado, em que é mais fácil recordar uma informação

quando o sujeito está no mesmo estado afectivo que no momento da codificação da

informação (Bower, 1981). Contudo, alguns estudos têm demonstrado que este efeito é

bastante diminuído em tarefas simples, como a aprendizagem de palavras (Eich &

Macauley, 2000). Forgas (2001) argumenta que isso se deve à própria natureza das

tarefas usadas para medir os efeitos. O carácter impessoal destas não promove a

elaboração construtiva, que o modelo de infusão dos afectos prevê necessária para

Page 46: Tese de Monografia

34 1.

que o efeito do estado de espírito se manifeste. Como exemplo, de tarefas que

envolvam processamento substantivo e nas quais tenham sido demonstrados efeitos

fortes do estado de espírito, cita os estudos de Fiedler e Forgas (1988) e de Forgas

(1991) em que as tarefas usadas envolviam percepção interpessoal e formação de

impressões, por exemplo, e em que foram encontradas diferenças significativas. A

explicação oferecida pelo modelo dos afectos como informação (Clore et al., 2001) é

de que a memória congruente com a situação é um fenómeno que ocorre devido à

activação de conceito afectivos e não das próprias sensações afectivas. Logo os seus

efeitos na recordação de determinadas memórias com valências específicas podem ser

explicadas em termos de primação semântica ou conceptual e não primação afectiva.

Estudos recentes, por Storbeck e Clore (2008), testaram a influência do estado

de espírito nestes dois tipos de primação, com três tarefas diferentes: avaliação,

categorização e decisão lexical. A indução do estado de espírito foi feita através de um

excerto musical, à qual se seguiu a tarefa. Os sujeitos que foram induzidos a um

estado de espírito negativo não foram afectados pela primação posterior, fosse ela

afectiva ou conceptual, e os sujeitos a quem fora induzido estado de espírito positivo

ou neutro demonstraram sensibilidade à primação em todas as 3 tarefas. Storbeck e

Clore (2008) citando Devrets e Rachel (1998) referem que os estudos do tipo

comportamental ou de imagiologia encontram menores diferenças entre os grupos de

controlo e o grupo em que é induzido o estado de espírito positivo do que entre o grupo

de controlo e o grupo a quem é induzido o estado de espírito negativo e a partir dai

inferem que, possivelmente, o estado de espírito negativo ou mau modifica o sistema

de processamento de base que funciona durante o estado de espírito positivo, o que

por sua vez reduz o efeito das primações.

Os efeitos de congruência com o estado de espírito foram estudados em

diversos domínios, como a atenção, percepção, memória e julgamentos (Bower, 1981;

Rusting, 1998). Contudo o efeito inverso, a incongruência com o estado de espírito

também foi demonstrado. Os estudos de Parrot e Sabini (1990) demonstraram que o

estado de espírito de uma valência pode motivar a recordação de material

incongruente ou seja de valência contrária. Os autores de este estudo e outros (Erber

& Erber, 1994) consideram que esse efeito se deve ao facto de os sujeito fazerem uma

tentativa de regulação do seu estado de espírito, e isso levar a que recordem material

de valência oposta. Estes resultados são particularmente fortes com relação ao estado

de espírito negativo, visto este ser causa de desconforto, motivando assim os sujeitos

para este processo (Josephon, Singer & Salovey, 1996).

Smith e Petty (1995) procuraram descobrir que variáveis de personalidade

mediavam este efeito. Concluíram que uma das variáveis envolvidas era a auto-estima.

Page 47: Tese de Monografia

35 1.

Indivíduos com alta auto-estima quando em estado de espírito negativo tendiam a

aceder a memórias incongruentes, enquanto indivíduos com baixa auto-estima tendiam

a aceder a memórias congruentes com o seu estado de espírito. Este efeito é ainda

reforçado por terem descoberto que quanto maior a auto-estima do individuo maior a

positividade das memórias acedidas.

No seguimento desta linha de investigação, Joormann e Siemer (2004) foram

um pouco mais longe e tentaram perceber se um conjunto de traços característicos da

depressão estava ligado a esta variação dos efeitos do estado de espírito negativo. O

que eles concluíram do seu estudo foi que sim. Quando pedido aos sujeitos que

recordassem episódios da sua vida, memórias autobiográficas, os sujeitos não-

disfóricos (que obtinham baixas pontuações num questionário desenhado para avaliar

a presença de traços depressivos em populações não clínicas) tinham mais

recordações congruentes quando o estado de espírito que lhes tinha sido induzido era

positivo e tinham mais recordações incongruentes quando o estado de espírito

induzido era negativo. Tal efeito não se verificava com os sujeitos disfóricos.

Para verificar se a manutenção do estado de espírito dependia ou não da

recordação de memórias positivas os investigadores pediram a sujeitos disfóricos em

estado de espírito negativo que recordassem episódios positivos da sua vida. Apesar

de recordarem episódios de valência contrária ao seu estado actual, isso não teve

influência no seu estado de espírito. Estes resultados estão de acordo com os estudos

de Conway e Ross (1984) que mostraram que recordar episódios positivos da memória

pode ter um efeito depressivo no estado de espírito se o momento actual representar

uma regressão em relação a esses episódios. Da mesma forma o efeito inverso pode

acontecer, se alguém recordar um episódio negativo e isso permitir perceber o estado

actual como uma evolução, pode ter um efeito positivo no estado de espírito.

Julgamentos e Estado de Espírito

Os efeitos do estado de espírito ao nível de várias áreas de estudo têm sido

muitas vezes explicados através dos efeitos do estado de espírito na memória, sendo

que a sua influência aconteceria assim por activar conteúdos de valência emocional

similar na memória e afectar assim indirectamente os processos. O estudo dos

processos de julgamento não foi excepção (e.g. Forgas & Bower, 1988).

Um dos estudos mais citados na literatura é o de Schwarz e Cole (1983), em

que os autores pediram aos sujeitos que avaliassem o nível de satisfação com a sua

vida, utilizando como variável independente o estado do tempo, dias de sol originavam

Page 48: Tese de Monografia

36 1.

bom estado de espírito ou dias de chuva que originavam mau estado de espírito, e

comprovaram que esta variável afectava significativamente as avaliações dos sujeitos.

Contudo, se a atenção dos sujeitos era direccionada, previamente, para a causa do

estado de espírito, o efeito sobre o julgamento de satisfação de vida desaparecia,

apesar de os efeitos sobre o estado de espírito se manterem.

Tentando perceber os efeitos do estado de espírito positivo, Sinclair (1988)

pediu aos sujeitos que efectuassem uma avaliação de desempenho de outro indivíduo.

Os resultados mostraram um aumento da susceptibilidade ao efeito de halo por

comparação com sujeito em estado de espírito neutro. Além disso avaliaram esses

desempenhos de forma geral mais positivamente que os sujeito em estado de espírito

neutro ou negativo (Sinclair, 1988).

No estudo de Riener, Stefanucci, Proffitt e Clore (2003) pediu-se aos sujeitos

que avaliassem a inclinação de um monte enquanto ouviam música triste ou alegre.

Foram retirados 3 tipos de medidas; uma verbal, os sujeitos diziam quantos graus

pensavam que a inclinação do monte tinha; uma visual, indicavam num transferidor

esses graus; e outra cinestésica, em que reproduziam com a palma da mão a

inclinação. Os resultados indicam que os sujeitos que estavam num estado de espírito

triste sobreavaliaram a inclinação quando comparados com os sujeitos em estado de

espírito positivo, o que está de acordo com as perspectivas do estado de espírito como

informação (Schwarz, 2001) e do estado de espírito como resposta evolutiva às

necessidades do ambiente (Nesse, 2000). Apenas na medida cinestésica ambos os

grupos tiveram resultados iguais.

Processamento Dual e Estado de Espírito

Uma das grandes linhas teóricas no estudo dos processos de raciocínio é a

das chamadas teorias de processamento dual. Interessa-nos aqui ver de que forma

elas se relacionam com o estado de espírito e como este pode ser entendido dentro

deste paradigma teórico.

Muitas das teorias que procuram explicar os efeitos do estado de espírito na

cognição assumem, de forma explícita ou implícita, a existência de dois tipos de

processamento, um mais heurístico e rápido e outro mais extenso e analítico. O estado

de espírito funcionaria assim como mediador da escolha do tipo de processamento.

Num estudo em que compara os efeitos do estado de espírito, Chepenik,

Cornew e Farah (2007), aplicaram uma bateria de testes cognitivos a sujeitos a quem

tinha sido induzido estado de espírito neutro ou estado de espírito negativo. Os

Page 49: Tese de Monografia

37 1.

resultados mostraram que o efeito é bastante circunscrito e que a influência do estado

de espírito negativo acontece apenas em duas variáveis: memória de reconhecimento,

em que os sujeitos em estado de espírito negativo sofriam um enviezamento em

direcção a palavras de valência negativa, e no reconhecimento de emoções em

expressões faciais, em que os sujeitos no grupo de estado de espírito neutro foeam

mais precisos que os sujeitos do grupo de estado de espírito negativo. Os autores

tentaram perceber se os erros do grupo negativo seriam efectuados de forma

sistemática, classificando as expressões mais negativamente, contudo tal

enviesamento não foi encontrado. Nas restantes variáveis estudadas (GO/N-GO; Digit

span; Object 2 back), atenção e função executiva não foram encontradas diferenças

significativas.

De Vries, Holland & Witteman (2008) estudaram os efeitos do estado de

espírito na Tarefa de Jogo do Iowa desenvolvida por Bechara, Damásio, Damásio e

Anderson (1994), em que os sujeitos têm de escolher entre um grupo de quatro

baralhos, uns mais vantajosos outros mais penalizadores, ao longo de uma série de

cinco blocos, o que permite perceber as estratégias e os ganhos associados a cada

bloco. Esta tarefa foi desenvolvida com o intuito de estudar a sensibilidade a pistas

afectivas e somáticas no processo de decisão e seria uma das bases a partir da qual

Damásio (1997) desenvolveu a Hipótese do Marcador Somático.

Estes efeitos não dependem da consciência desses mesmos estados, pois ele

condiciona as escolhas antes dos sujeitos terem consciência da estrutura dos baralhos.

Os resultados de De Vries, Holland & Witteman (2008) sugerem que o bom estado de

espírito aumenta a perfomance de forma significativa no segundo bloco, os autores

sugerem que isso acontece porque facilita o uso das pistas somáticas. Os sujeitos do

grupo de estado de espírito positivo têm melhor perfomance no segundo bloco, porque

o afecto positivo lhes facilita o uso dos marcadores somáticos associados às perdas

que tiveram durante no primeiro bloco.

Estado de Espírito e Situações Interpessoais

Forgas (2002) mostrou que indivíduos em estado de espírito positivo são mais

directos, indelicados e formulam pedidos menos elaborados que os sujeitos em estado

de espírito negativo quando confrontados com uma situação em que é necessário

formular um pedido a outra pessoa. Este estudo demonstrou também que os sujeitos

em estado de espírito negativo são mais hesitantes e demoram mais tempo a efectuar

o pedido que os sujeitos em estado de espírito neutro ou positivo.

Page 50: Tese de Monografia

38 1.

Outro efeito do estado de espírito negativo é o aumento da atenção aos

requerimentos das situações sociais. Este efeito faz com que estas situações sejam

processadas de uma forma mais analítica e facilita a produção de argumentos de maior

qualidade e mais persuasivos que os criados por indivíduos em estado de espírito

positivo, tal como foi demonstrado por Forgas (1998, 1999).

Segundo a perspectiva do modelo de infusão dos afectos de Forgas (1997), o

afecto positivo, através da primação de material positivo, deveria produzir

comportamentos mais assertivos, confiantes, optimistas e cooperativos, enquanto o

afecto negativo produziria comportamentos mais evitantes, defensivos e pouco

amistosos. Isto aconteceria apenas porque a tarefa exigia processamento substantivo.

Estado de Espírito e Risco

O papel dos estados de espírito nos processos de tomada de decisão que

envolvem risco é uma das áreas que mais pertinência apresenta para o presente

estudo.

Os estudos desenvolvidos até ao momento não são conclusivos acerca dos

efeitos gerais que o estado de espírito, positivo, neutro ou negativo, tem nas tomadas

de decisão ou na avaliação de situações que envolvem risco.

As decisões que envolvem risco podem ser consideradas um produto de uma

complexa interacção de factores cognitivos, como quantidade de recursos cognitivos

disponíveis, processamento da memória e escolha de estratégias de decisão (Yuen &

Lee, 2003).

Nos estudos de Johnson e Tversky (1983) foi observado que um estado de

espírito deprimido, induzido através da leitura de eventos negativos, aumentava os

julgamentos de risco de eventos negativos. Este aumento estava ligado não só aos

eventos sobre os quais liam, por exemplo cancro, mas também com relação a eventos

negativos sobre os quais não tinham lido, como risco de acidente ou divorcio. Nos

mesmos estudos verificou-se também o fenómeno simétrico de um aumento da

probabilidade estimada de eventos positivos após a leitura de material positivo.

Nygren, lsen, Taylor & Dulin (1996) afirmam que o efeito geral do estado de

espírito positivo é diminuir a tendência a apostar em situações que envolvam grandes

perdas potenciais.

Nos estudos conduzidos por estes, os participantes em estado de espírito

positivo avaliavam as probabilidades de ganho de uma forma optimista, ou seja

sobreavaliam-nas, contudo quando confrontados com a situação de jogo concreta, este

Page 51: Tese de Monografia

39 1.

otimismo não se reflectia nas suas decisões. Segundo a análise dos investigadores isto

deve-se ao facto de o afecto positivo fazer com que a regra de decisão se altere. A

regra usada comummente está ligada à consideração única das probabilidades como

base para a decisão, enquanto quando em estado de espírito positivo os participantes

focam-se no resultado numa perspectiva de ganho ou perda apenas.

Este estudo vem assim procurar estudar de que forma o estado de espírito

influencia o comportamento de ambos os jogadores no Jogo do Ultimato. Como se

pode observar pela revisão de literatura associada ao JU e ao estado de espírito, são

vários os factores envolvidos na tomada de decisão por parte do Proponente e do

Receptor e várias as formas de influência potencial do estado de espírito. Os factores

mais salientes para este estudo são: o risco envolvido na decisão, no caso do

Proponente o risco de ver a sua oferta rejeitada e no caso do Receptor o risco de a

oferta efectuada pelo outro jogador ser inferior á oferta mínima exigida; o modo de

processamento cognitivo envolvido na decisão, heurístico ou sistemático, sendo que no

caso dos Proponentes, se estes adoptarem um processamento heurístico será

expectável que sigam ou uma regra de divisão equitativa do valor do pote ou uma

regra de maximização do lucro e que não processem exaustivamente a situação,

dando menos importância a uma possível rejeição da oferta e se adoptarem um

processamento sistemático será expectável que orientem a sua decisão no sentido de

garantirem algum ganho com a situação tendo assim a decisão do outro jogador em

conta. No caso dos Receptores, um processamento heurístico terá tendência a seguir

também a regra de divisão equitativa ou do maior ganho absoluto possível e um

processamento sistemático dará origem a uma decisão que já tem em conta a oferta

provável do outro jogador.

Assim as nossas hipóteses são de que Proponentes em estado de espírito

positivo efectuam um valor médio de ofertas inferior ao valor proposto pelos

Proponentes em estado de espírito negativo. Para além disso, propomos também como

hipótese que a percentagem de ofertas justas (iguais ou superiores a metade do pote)

será maior no grupo de participantes a quem foi induzido o estado de espírito negativo,

quando comparado com o grupo em estado de espírito positivo, visto estes estarem

mais focados nos valores absolutos e não se centrarem na hipótese de rejeição da sua

oferta.

As hipóteses relativas ao comportamento dos Receptores são de que aqueles

a quem foi induzido estado de espírito positivo efectuam um valor médio de ofertas

mínimas exigidas superior ao valor mínimo exigido pelos participantes em estado de

espírito negativo. Com relação à justiça das ofertas, a nossa hipótese é de que os

Page 52: Tese de Monografia

40 1.

Receptores a quem foi induzido estado de espírito positivo serão mais exigentes, tendo

assim uma maior percentagem de ofertas mínimas justas que os Receptores em

estado de espírito negativo.

MÉTODO

Amostra

Participaram no presente estudo 109 alunos (73 do género feminino, 36 do

género masculino) do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA), com idades

compreendidas entre os 17 e os 56 anos e média de idades de 24,19 anos (DP=8,33).

A distribuição das idades dos participantes é apresentada na figura 2.

Figura 2: Distribuição das idades dos participantes

Material

Foram usados neste estudo 3 conjuntos de excertos de filmes ou

documentários. O primeiro conjunto dedicado a induzir estado de espírito positivo, era

constituído por uma par de cenas alegres, uma pertencendo ao filme “Quando Harry

conheceu Sally” e a outra ao filme “O Árbitro”. O segundo conjunto era constituído por

2 cenas de documentários, uma sobre a produção do vinho na Califórnia e o segundo

sobre o funcionamento da bolsa de Chicago. O terceiro conjunto destinava-se a induzir

estado de espírito negativo e era constituído por 2 cenas com conteúdo triste, uma do

filme “A escolha de Sofia.” e a outra do filme “O ladrão de bicicletas.” Estes excertos

foram usados em outros estudos tendo sido eficazes na indução do estado de espírito

pretendido (Garcia-Marques, 2004).

Foi usado um questionário constituído por um diferencial semântico de pares

46,8%

27,5%

6,4% 7,3% 11,9%

até 20 anos 21 - 25 26 - 30 31 - 35 > 35 anos

Page 53: Tese de Monografia

41 1.

de adjectivos numa escala de Likert de nove pontos. Os pares deste diferencial

semântico são Descansado-Cansado, Triste-Contente, Aborrecido-Alerta, Bem-Mal,

Positivo-Negativo e Relaxado-Tenso. Apenas os valores do segundo, quarto e quinto

par de adjectivos contribuíam para o cálculo da média do estado de espírito, sendo os

restantes itens incluídos apenas de forma a que os participantes não se apercebessem

que o verdadeiro intuito do estudo estava ligado ao estado de espírito.

Para recolha das respostas relativas ao JU foi usado um questionário adaptado

a partir do usado por Bethwaite e Tompkinson (1996). Este é constituído por uma

descrição das regras do jogo seguido por dez opções de divisão do pote (9-1;…;0-10)

sendo pedido aos sujeitos que indicassem a sua escolha, a oferta no caso dos

Proponentes ou o nível mínimo de aceitação no caso dos Receptores.

Delineamento Experimental e Procedimento

Cada participante foi aleatoriamente designado para uma das três condições

(estado de espírito positivo, estado de espírito neutro e estado de espírito negativo) e

posteriormente para uma das duas posições do JU (Proponente e Receptor). Desta

forma criou-se um desenho experimental do tipo 3 (estado de espírito positivo, neutro e

negativo) X 2 (Proponente e Receptor).

O processo de indução do estado de espírito foi efectuado através de uma

tarefa de avaliação da qualidade de som e vídeo que exigia o visionamento de 2

excertos de filmes, com duração aproximada entre os 10 e 15 minutos. Estes excertos

tinham sido usados em outros estudos e sido eficazes na indução do estado de espírito

desejado. Os participantes foram instruídos que os dois estudos não estavam

relacionados e que o visionamento dos filmes se destinava a um pré-teste de materiais.

Tentamos desta forma evitar que os efeitos do estado de espírito fossem atenuados

devido à atribuição externa desse mesmo estado de espírito.

As instruções foram as seguintes:

“Bom dia. / Boa tarde.

Gostaríamos de agradecer a vossa colaboração nestas duas investigações.

A primeira está ligada ao pré-teste de alguns materiais vídeo. A segunda é

independente da anterior e tem a ver com a forma como lidamos com

determinados problemas.

Agradecemos que esperem pela instrução de virarem as folhas, e que não as

separem.

Quando terminarem, deixem as folhas com o investigador e podem sair.

Page 54: Tese de Monografia

42 1.

Se tiverem alguma dúvida ou questão agradecemos que chamem

discretamente o investigador de forma a não perturbarem a participação dos

colegas.

Obrigado.”

A seguir ao visionamento dos filmes pedia-se aos sujeitos que virassem o seu

questionário, onde tinham de responder a duas questões acerca da qualidade do som

e da imagem dos filmes que tinham visto, de acordo com a cover story. A segunda

folha era constituída pelas “medidas de controlo” do primeiro estudo, onde era

efectuada a medição do estado de espírito. Estas medidas de controlo incluíam uma

questão com relação eram constituídas por uma série de seis itens: A terceira página

era constituída pelo script do JU, correspondente à posição para a qual tinham sido

designados, Proponente ou Receptor .

Esta incluía a seguinte descrição do jogo:

“É dada à pessoa A uma soma de dinheiro para dividir entre ela e a pessoa B.

A pessoa B sabe quanto dinheiro foi dado à pessoa A para dividir, contudo

eles não se conhecem e o papel de pessoa A e pessoa B foram determinados

pelo lançamento de uma moeda ao ar. A deve fazer uma oferta a B. B pode

aceitar, ficando assim com a oferta e A com o restante, ou pode rejeitar a

oferta, e assim ambos recebem zero. Note que A apenas pode fazer uma

oferta que não pode ser retirada e B apenas pode dar uma resposta. Por

outras palavras, não é permitido negociar.”

Esta descrição, na qual preferimos não usar os termos Proponente e Receptor

para evitar cargas semânticas associadas a ambos termos, era seguida por uma

instrução em que se pedia aos sujeitos que se imaginassem que a quantia em jogo era

dez euros em moedas de um euro, e que se colocassem na posição da pessoa A ou B,

conforme a condição para a qual tinham sido designados. Pedia-se-lhes depois que

escolhessem a oferta que fariam, no caso dos Proponentes, ou o valor mínimo que

estariam dispostos a aceitar, no caso dos Receptores.

Devido aos valores monetários incomportáveis normalmente envolvidos na versão

comum do JU e dada a facilidade que trazia para recolha de um elevado número de

respostas, foi decidido pedir aos sujeitos que imaginassem que estavam na situação do JU

e decidirem de acordo com ela, sem usar dinheiro real. Este procedimento é uma limitação

para a generalização dos resultados, contudo diversos estudos (e.g. Ortona, 1991;

Tompkinson & Bethwaite, 1995; Bethwaite &, Tompkinson, 1996) usaram já este método de

recolha de respostas sem diferenças significativas nos resultados comparáveis a estudos

anteriores efectuados com dinheiro real.

Kahenman e Tversky (1979) nos seus estudos da aversão ao risco usaram também

Page 55: Tese de Monografia

43 1.

apenas incentivos hipotéticos. Eles sugerem que o seu estudo parte da assumpção de que

as pessoas têm uma forma de agir especifica naquela situação e que não têm razões para

esconder as suas verdadeiras preferências. Alguns estudos recentes ( Holt & Laury, 2005)

parecem desafiar este argumento, sugerindo que a aversão ao risco aumenta com o valor

dos incentivos quando usado dinheiro real. Apesar disso o uso de cenários hipotéticos já

mostrou ser uma boa ferramenta experimental, associando ao facto de as respostas dos

sujeitos no nosso estudo serem anónimas e por isso não haver hipótese do experimentador

identificar os autores de cada uma das propostas faz-nos ter confiança nos resultados do

estudo.

A quarta e última página era constituída pelas segundas medidas de controlo

que tinham como objectivo confirmar que o estado de espírito se mantinha depois de

efectuada a tarefa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO GERAL

Resultados

Foram efectuadas uma série de análises estatísticas neste estudo. Para analisar os

dados recolhidos foi usado o programa Statistical Program for Social Sciences, versão 15.0,

(SPSS, 2006).

Este estudo tem como objectivo compreender a influência do estado de espírito no

comportamento dos jogadores no JU.

Para isso calculou-se a média aritmética simples dos valores dos itens de

diferenciação semântica Bem-Mal, Contente-Triste e Positivo-Negativo para cada um dos

participantes e usamos esse valor como medida do estado de espírito, de acordo com

Garcia-Marques (2004).

Para analisar as propriedades do diferencial semântico usado para a mensuração

do estado de espírito, procedeu-se à análise factorial dos seis pares que constituíam o

diferencial, tendo esta análise revelado dois factores principais, um factor comum aos seis

itens do diferencial e um outro factor comum a apenas os itens Bem-Mal, Contente-Triste e

Positivo-Negativo. Procedeu-se depois à análise da consistência interna destes 3 pares que

se mostrou ser elevada (alpha Cronbach = 0.766).

Os valores mais altos da escala são relativos ao pólo negativo dos itens, assim

quanto mais alto o valor de cada participante, mais negativo o seu estado de espírito. As

médias para os grupos que viram os filmes positivos, neutros e negativos mostram que o

grupo com média de estado de espírito mais negativa foi aquele que assistiu aos excertos

Page 56: Tese de Monografia

44 1.

tristes e o grupo com média do estado de espírito mais positiva foi o que viu os excertos

neutros. A figura 3 resume os dados obtidos para a média do estado de espírito de cada um

dos grupos, antes e depois da tarefa.

Figura 3: Médias do estado de espírito nos 3 grupos (positivo, neutro e negativo) antes e

depois da realização da tarefa.

Foi efectuada uma ANOVA para verificar se as médias do estado de espírito de

cada um dos grupos, antes da realização da tarefa, eram significativamente diferentes. Os

resultados desse análise indicam que as diferenças entre três grupos são apenas

marginalmente significativas (F (2,106)= 2,479, p=.089).

Visto o objectivo deste estudo ser estudar a influência do estado de espírito

induzido por excertos de filmes positivos e negativos no comportamento no JU, partindo do

pressuposto da sensibilidade dos participantes ao processo de indução, e dada a

consistência interna do instrumento revelada pela análise factorial e pelo alpha Cronbach,

que mostram que o teste realmente está a medir o construto pretendido, escolhemos

proceder efectuando uma reorganização do desenho experimental seleccionando os

participantes nos quais a indução tinha sido mais eficaz.

Correndo o risco de perder poder discriminatório na análise posterior dos

resultados, optamos por não incluir o grupo de controlo, que viu os excertos de conteúdo

neutro e usar os três quartis mais extremos dos dois grupos restantes, positivo e negativo,

obtendo assim dois grupos constituídos pelos participantes nos quais a indução de estado

de espírito (positivo e negativo) tinha sido mais eficaz. Calculou-se os quartis para o grupo

que assistiu aos filmes negativos e para o grupo que assistiu aos filmes positivos, donde se

obteve os valores apresentados na Tabela 1.

3,51  3,31 

4,11 

3,48  3,36 

4,11 

Posi-vo Antes 

Neutro Antes 

Nega-vo Antes 

Posi-vo Depois 

Neutro Depois 

Nega-vo Depois 

Page 57: Tese de Monografia

45 1.

Tabela 1: Valores dos quartis da variável estado de espírito nos grupos positivo e negativo.

Tipo de filmes Quartis

Positivos Negativos

1º 2,33 2,67

2º 3,165 4

3º 4,67 5,5

Tendo em conta que quanto mais alto o valor na nossa escala mais negativo era o

estado de espírito do participante, excluímos o primeiro quartil no grupo que assistiu aos

excertos tristes e excluímos o último quartil no grupo que assistiu aos excertos divertidos.

Desta forma procedeu-se à criação, a posteriori, de dois grupos que incluíam os elementos

com estado de espírito mais negativo daqueles que tinham assistido aos excertos tristes,

estado de espírito medido superior a 2,67, e os elementos com o estado de espírito mais

positivo daqueles que tinham assistido aos excertos alegres, estado de espírito medido

inferior a 4,67.

Foram assim criados dois novos grupos que foram testados de seguida para saber

se as médias do estado de espírito são significativamente diferentes. Para isso usou-se o

teste t-student para amostras independentes comparando a média do estado de espírito do

grupo positivo (M = 2.88, DP = 1.2) com a média do estado de espírito do grupo negativo (M

= 4.59, DP=1.26). Os resultados deste teste, t(58)=5,369, p<.01, confirmam que os grupos

criados diferem significativamente com relação às médias do estado de espírito medido.

Daqui podemos concluir que para um nível de significância de 0.05 existem

diferenças significativas entre os dois grupos na variável estado de espírito, dado que

p<.01.

Com o objectivo de verificar se a realização da tarefa tinha impacto no estado

de espírito dos participantes comparam-se as médias do estado de espírito antes e

depois de realizada a tarefa para ambos os grupos. Realizou-se uma anova de

medições repetidas do tipo 2 (positivo e negativo) x 2 (antes e depois). Os valores das

médias da variável estado de espírito, usados na anova de medições repetidas, para

cada grupo antes e depois da tarefa são apresentados no Figura 4.

Page 58: Tese de Monografia

46 1.

Figura 4: Médias do estado de espírito dos dois novos grupos (positivo e negativo)

antes e depois da realização da tarefa.

Os resultados da ANOVA de medições repetidas, F (1, 58) = .034, p=.855,

mostram que a realização da tarefa não influencia o estado de espírito, nem interage

com o estado de espírito induzido, mantendo-se este constante ao longo da

experiência. Tendo agora dois grupos com estado de espírito bem diferenciado,

prosseguimos com a análise dos dados relativos às respostas do JU.

Análise das ofertas efectuadas pelos Proponentes

Começando pelos Proponentes, procedeu-se à comparação das ofertas

efectuadas no grupo positivo (M=4.61, DP=0.98) e no grupo negativo (M=4.93,

DP=0.27). O nível de significância foi 0.05. Os resultados do teste t-student para

amostras independentes, t(30)=1.315, p=.20, mostram não existirem diferenças

significativas com relação ao valor médio das ofertas nos dois grupos.

A Tabela 2 apresenta a distribuição das ofertas, justas ou injustas, tendo em

conta o estado de espírito e o género dos participantes.

Oferta Estado de

Espírito

injustas justas Total

Feminino 4 11 15 Sexo

Masculino 0 3 3 Positivo

Total 4 14 18

Feminino 1 11 12 Sexo

Masculino 0 2 2 Negativo

Total 1 13 14

2,88 

4,59 

2,83 

4,51 

Posi-vo Antes 

Nega-vo Antes 

Posi-vo Depois 

Nega-vo Depois 

Page 59: Tese de Monografia

47 1.

Tabela 2: Distribuição do tipo de oferta dos Proponentes por género dos participantes e

por estado de espírito induzido.

Olhando para as ofertas divididas pela justiça, ofertas justas ou altruístas

(metade do pote ou mais) e ofertas injustas ou de interesse próprio (menos de metade

do pote), observamos que a proporção de ofertas justas é maior no grupo a quem foi

induzido estado de espírito negativo, como podemos ver nas figuras 5 e 6.

Figura 5: Percentagem de ofertas justas e injustas no grupo de Proponentes em estado

de espirito positivo.

Figura 6: Percentagem de ofertas justas e injustas no grupo de Proponentes em estado

de espírito negativo.

Para perceber se existiam diferenças significativas em relação a estas

proporções, isto é, se os participantes eram mais prováveis fazer uma oferta justa se

num estado de espírito negativo, usou-se o teste de Qui Quadrado, alpha = 0.05. Os

resultados do teste sugerem que a proporção de participantes que fizeram ofertas

justas quando em estado de espírito positivo não difere significativamente da

injustas 22% 

justas 78% 

injustas 7% 

justas 93% 

Page 60: Tese de Monografia

48 1.

proporção desse tipo de ofertas efectuadas pelos participantes em estado de espírito

negativo, X2(1,32) = 1,39, p=0.24. De forma geral, os resultados não mostram existir

diferenças, estatisticamente significativas, em relação ao comportamento dos Proponentes.

Análise das ofertas mínimas exigidas pelos Receptores

Procedemos para a análise do comportamento dos Receptores dos dois grupos em

estado de espírito diferente. Foram calculadas as médias da oferta mínima que cada grupo,

estado de espírito positivo e negativo, estaria disposto a receber (M=4.83, DP=0.39 e M=4,

DP=2.37, respectivamente). Para perceber se as diferenças entre estas médias são

significativas usou-se o teste t-student para amostras independentes. Os resultados deste

teste, t(26)=-1.384, p=.19, indicam que as diferenças entre as médias do valor mínimo

exigido pelos membros dos dois grupos não diferem de forma estatisticamente significativa.

A Tabela 3 apresenta a distribuição das ofertas mínimas, justas ou injustas,

tendo em conta o estado de espírito e o género dos participantes.

Tabela 3: Distribuição do tipo de oferta mínima, justa ou injusta, por género dos

participantes e por estado de espírito induzido.

As proporções das ofertas mínimas que os participantes dos dois grupos estavam

dispostos a receber, quando divididas pela justiça, justas e injustas, são apresentadas nas

figuras 7 e 8.

Oferta minima Estado de

Espírito

injustas justas Total

Feminino 1 6 7 Sexo

Masculino 1 4 5 Positivo

Total 2 10 12

Feminino 4 5 9 Sexo

Masculino 3 4 7 Negativo

Total 7 9 16

Page 61: Tese de Monografia

49 1.

Figura 7: Percentagem de ofertas mínimas justas e injustas no grupo de Receptores

em estado de espírito positivo.

Figura 8: Percentagem de ofertas mínimas justas e injustas no grupo de Receptores

em estado de espírito negativo.

Tentando perceber se as diferenças nestas proporções são estatisticamente

significativas efectuou-se o teste Qui-Quadrado para a comparação de proporções,

alpha=0.05. O resultado do teste (X2(1, 30) = 2.31, p=.12) indica que as diferenças entre

as proporções de ofertas mínimas justas e injustas dos dois grupos com estado de espírito

diferente são apenas marginalmente significativas.

No sentido de perceber se o estado de espírito dos Proponentes e dos Receptores

se alteraria de forma diferente consoante a posição e o tipo de estado de espírito induzido

foi efectuada uma ANOVA do tipo 2 (estado de espírito induzido) x 2 (posição do jogador)

para analisar a variação do estado de espírito antes e depois da tarefa, alpha=.05. Os

resultados desta análise indicam que nenhum dos efeitos produzidos pelas variáveis

analisadas é significativo. O estado de espírito não se altera de forma significativamente

diferente consoante o tipo de estado de espírito induzido (F(1,58)=.12, p=.73), consoante a

injustas 17% 

justas 83% 

injustas 44% 

justas 56% 

Page 62: Tese de Monografia

50 1.

posição dos participantes no JU (F(1,58)=3,33, p=.07) ou por interacção destes factores

(F(1,58)=1,420, p=.24). Apenas o valor relativo ao efeito da posição do Jogador se aproxima

de valores marginalmente significativos. O que indica que os Receptores têm tendência a

piorar o seu estado de espírito e os Proponentes a melhorá-lo.

Discussão Geral

As hipóteses do nosso estudo propunham que os Proponentes em estado de

espírito positivo se aperceberiam da situação como sendo não problemática e segura, e,

devido a isso, pusessem menos peso na possibilidade de rejeição da sua oferta pelo

Receptor, e logo efectuando ofertas de menor valor que os Proponentes em estado de

espírito negativo.

Os resultados obtidos quer das proporções de ofertas justas e injustas quer da

distribuição dos valores oferecidos, são na direcção das hipóteses propostas, contudo em

ambos os casos o valor de teste não é significativo. Estes resultados podem dever-se á

redução do tamanho da amostra ou ao facto de mais do que um processo de influência do

estado de espírito estar em funcionamento. Embora isto, os dados indicam existir uma

preocupação dos Proponentes em estado de espírito positivo em maximizar os seus

ganhos, não tendo em consideração a hipótese de rejeição da oferta por parte do Receptor.

Este resultado está de acordo com as perspectivas duais do processamento. Os

Proponentes em estado de espírito positivo apenas analisam a situação de forma mais

superficial, centrando-se apenas nos valores concretos da divisão enquanto os Proponentes

em estado de espírito negativo, para além de fazerem essa análise dão também importância

à possibilidade de rejeição da oferta, corrigindo-a assim tendo em conta essa mesma

possibilidade o que dá origem a uma maior percentagem de ofertas justas.

No caso dos Receptores, a percentagem de decisões de aceitação de ofertas

injustas é maior nos participantes a quem foi induzido um estado de espírito negativo do que

naqueles a quem foi induzido um estado de espírito positivo. Estes resultados estão também

de acordo com as hipóteses propostas. Os participantes em estado de espírito positivo

centram-se apenas nos valores envolvidos, tentando maximizar os seus ganhos e exigindo

ofertas mais elevadas. Os participantes em estado de espírito negativo para além dessa

análise, têm também em conta a possibilidade de a oferta possa ser baixa e dessa forma

estarem a rejeitar um possível ganho, que apesar de menor do que pretenderiam, seria

contudo positivo. Tendo isto em conta estão então dispostos a aceitar valores mais baixos

de forma a garantir que terão um saldo positivo no final do jogo.

Ambos os resultados estão também em acordo com as perspectivas do estado de

espírito como sinalizador da situação. Estas postulam que o estado de espírito sinaliza a

Page 63: Tese de Monografia

51 1.

situação como problemática ou segura, sendo que se problemática o individuo deve tentar

aproveitar todos os recursos disponíveis e se segura pode tentar maximizar os seus ganhos

correndo mais riscos.

O comportamento dos Proponentes pode então ser explicado da seguinte forma.

Quando em estado de espírito positivo, dão uma maior importância ao valor concreto da

divisão centrando-se no seu ganho e descurando a hipótese de rejeição por parte do

Receptor, daí a maior percentagem de ofertas injustas verificadas nos participantes com

estado de espírito positivo. Por outro lado, quando num estado de espírito negativo, a maior

preocupação é que o resultado final da interacção seja diferente de zero, logo têm em conta

a hipótese de rejeição por parte do Receptor e fazem uma maior percentagem de ofertas

justas quando comparados com os Proponentes em estado de espírito positivo.

Quanto aos Receptores, quando em estado de espírito negativo a sua preocupação

é de que o resultado da interacção seja diferente de zero e devido a isso estão dispostos a

aceitar uma maior percentagem de ofertas injustas que os Receptores em estado de espírito

positivo.

Os Receptores quando em estado de espírito positivo centram-se no valor absoluto

que podem ganhar e apesar de correrem o risco da oferta que lhes foi efectuada ser menor

que o valor mínimo definido por eles, fazem uma percentagem maior de exigência de ofertas

justas quando comparados com os Receptores em estado de espírito negativo.

Estes dados podem então ser interpretados da seguinte forma, os participantes

encaram o processo de decisão como sendo constituído por duas fases, uma primeira em

que apenas os valores em questão são considerados, sem ser tido em conta a decisão do

outro jogador e uma segunda fase em que as acções possíveis por parte do outro jogador já

são tidas em conta. Assim, quando em estado de espírito positivo, os participantes têm

tendência a analisar apenas a primeira fase, centrando-se nos ganhos absolutos possíveis.

Quando em estado de espírito negativo, o processo de decisão estende-se para a segunda

fase em que já são tidas em consideração as escolhas possíveis e prováveis do outro

jogador, o que leva à correcção da decisão inicial, intuitiva, e que procurava unicamente o

ganho máximo.

Estes resultados revelam uma dissociação do efeito do estado de espírito no

comportamento dos Proponentes e dos Receptores. Enquanto o estado de espírito positivo

aumenta a proporção de ofertas injustas efectuadas pelos Proponentes, o inverso acontece

quando o mesmo estado de espírito é induzido nos Receptores, visto nestes diminuir a

proporção de valores mínimos injustos exigidos, estando assim menos dispostos a aceitar

ofertas injustas. O inverso acontece quando induzido um estado de espírito negativo. Os

Proponentes efectuam uma proporção maior de ofertas justas que quando em estado de

espírito positivo e os Receptores estão dispostos a aceitar uma maior proporção se ofertas

Page 64: Tese de Monografia

52 1.

injustas que quando em estado de espírito positivo.

De um ponto de vista social os dados obtidos neste estudo podem ser um ponto de

partida para a reflexão. O que parecem indicar é uma tendência dos indivíduos em estado

de espírito negativo estarem preocupados com o seu nível de recursos actuais e de que

forma podem garantir um aumento dos mesmos, estando para isso dispostos a analisar a

situação de forma mais exaustiva. Este dado pode ter várias implicações a nível social,

nomeadamente na análise dos processos de decisão a nível comercial e de negociações.

Os resultados que foram obtidos neste estudo deixam várias questões para futuros

estudos. Futuros estudos poderão então usar uma amostra maior, no sentido de verificar se

a tendência verificada neste estudo se confirma de forma estatisticamente significativa.

Poderão também abordar de que forma outras variáveis são definidoras destes efeitos.

Nomeadamente, seria interessante, por exemplo, estudar o efeito que as variáveis de

personalidade como a auto-estima têm na mediação das respostas do JU, no seguimento

dos estudos na área da memória efectuados por Petty e Smith (1995)

Seria também interessante estudar o efeito do estado de espírito no Jogo do

Ditador, apenas nos Proponentes, de forma a perceber se os resultados obtidos neste

estudo se devem ao facto de os Proponentes terem em conta a hipótese de rejeição das

ofertas ou se existem outras variáveis não analisadas.

Em resumo, os dados obtidos sugerem a necessidade de procurar perceber mais

profundamente de que forma os processos afectivos são influentes nas decisões

económicas e também de que forma podemos tentar organizar a nossa estrutura social para

uma maior satisfação de todos.

Page 65: Tese de Monografia

53 1.

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Page 74: Tese de Monografia

62 1.

Anexos

Page 75: Tese de Monografia

63 1.

MEDIDAS DE CONTROLO Por favor, preencha o espaço em branco ou assinale com uma cruz por cima da alternativa correcta.

Idade ______

Sexo: Masculino ___ Feminino ___

Qual é a frequência com que tem participado em estudos e/ou pré-testes? 1.........2.........3.........4 Nunca Raramente Algumas Muitas vezes

Como se sente neste preciso momento? Descansado 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Cansado Triste 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Contente Aborrecido 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Alerta Bem 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Mal Positivo 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Negativo Tenso 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Relaxado 5. Sentiu algum constrangimento por estar nesta situação?

Page 76: Tese de Monografia

64 1.

Questionário Proponente

È dada à pessoa A uma soma de dinheiro para dividir entre ela e a pessoa

B. A pessoa B sabe quanto dinheiro foi dado à pessoa A para dividir, contudo eles

não se conhecem e o papel de pessoa A e pessoa B foram determinados pelo

lançamento de uma moeda ao ar. A deve fazer uma oferta a B. B pode aceitar,

ficando assim com a oferta e A com o restante, ou pode rejeitar a oferta, e assim

ambos recebem zero. Note que A apenas pode fazer uma oferta que não pode ser

retirada e B apenas pode dar uma resposta. Por outras palavras, não é permitido

negociar.

Imagine que é a pessoa A. A quantia em jogo é de 10 euros em moedas de

1 euro. As ofertas podem ser 1€, 2€, 3€ até aos 10€.

Qual a oferta que faria à pessoa B?

(Assinale apenas uma das opções.)

_____ 1€ (ficando com 9€)

_____ 2€ (ficando com 8€)

_____ 3€ (ficando com 7€)

_____ 4€ (ficando com 6€)

_____ 5€ (ficando com 5€)

_____ 6€ (ficando com 4€)

_____ 7€ (ficando com 3€)

_____ 8€ (ficando com 2€)

_____ 9€ (ficando com 1€)

_____10€ (ficando com 0€)

Page 77: Tese de Monografia

65 1.

Questionário Receptor

È dada à pessoa A uma soma de dinheiro para dividir entre ela e a pessoa

B. A pessoa B sabe quanto dinheiro foi dado à pessoa A para dividir, contudo eles

não se conhecem e o papel de pessoa A e pessoa B foram determinados pelo

lançamento de uma moeda ao ar. A deve fazer uma oferta a B. B pode aceitar,

ficando assim com a oferta e A com o restante, ou pode rejeitar a oferta, e assim

ambos recebem zero. Note que A apenas pode fazer uma oferta que não pode ser

retirada e B apenas pode dar uma resposta. Por outras palavras, não é permitido

negociar.

Imagine que é a pessoa B. A quantia em jogo é de 10 euros em moedas

de 1 euro. As ofertas podem ser 1€, 2€, 3€ até aos 10€.

Qual a oferta mínima que estaria disposto a aceitar?

(Assinale apenas uma das opções.)

_____ 1 € (ficando a pessoa A com 9€)

_____ 2€ (ficando a pessoa A com 8€)

_____ 3€ (ficando a pessoa A com 7€)

_____ 4€ (ficando a pessoa A com 6€)

_____ 5€ (ficando a pessoa A com 5€)

_____ 6€ (ficando a pessoa A com 4€)

_____ 7€ (ficando a pessoa A com 3€)

_____ 8€ (ficando a pessoa A com 2€)

_____ 9€ (ficando a pessoa A com 1€)

_____ 10€ (ficando a pessoa A com 0€)

Page 78: Tese de Monografia

66 1.

Estatísticas descritivas dos valores médios do estado de espírito dos 3 grupos iniciais

Intervalo de confiança a 95%

N Média DP L. inferior L. superior

Positivo 38 3,50 1,68 2,96 4,06

Neutro 34 3,31 1,53 2,78 3,85

Negativo 37 4,11 1,52 3,60 4,61

Total 109 3,65 1,60 3,35 3,96

Page 79: Tese de Monografia

67 1.

ANOVA para comparação dos valores do estado de espírito dos 3 grupos iniciais

Sum of Squares df Mean Square F Sig.

Between Groups 12,411 2 6,206 2,479 ,089 Within Groups 265,390 106 2,504

Total 277,801 108

Page 80: Tese de Monografia

68 1.

Teste t-student para comparação das médias do estado de espírito nos dois grupos criados Levene's Test for

Equality of Variances t-test for Equality of Means

95% Confidence Interval of the Difference

F Sig. t df Sig. (2-

tailed) Mean

Difference Std. Error Difference

Lower Upper Equal variances

assumed ,373 ,544 5,369 58 ,000 1,71167 ,31881 1,07349 2,34984

Equal variances not assumed 5,369 7,867 ,000 1,71167 ,31881 1,07346 2,34988

Page 81: Tese de Monografia

69 1.

Teste t-student para comparação dos valores médios das ofertas dos dois grupos de Proponentes em estado de espírito positivo e negativo.

Levene's Test for Equality of Variances

t-test for Equality of Means

95% Confidence Interval of the Difference

F Sig. t df Sig. (2-tailed)

Mean Difference

Std. Error Difference

Lower Upper Equal variances

assumed 5,080 ,032 1,176 30 ,249 ,317 ,270 -,234 ,868 Equal variances

not assumed 1,315 20,175 ,203 ,317 ,241 -,186 ,821

Page 82: Tese de Monografia

70 1.

Teste qui-quadrado para comparação das proporções das ofertas dos dois grupos de Proponentes.

Value df Asymp. Sig. (2-sided)

Exact Sig. (2-sided)

Exact Sig. (1-sided)

Pearson Chi-Square 1,358 1 ,244 Continuity

Correction(a) ,455 1 ,500

Likelihood Ratio 1,463 1 ,226 Fisher's Exact Test ,355 ,255 Linear-by-Linear

Association 1,316 1 ,251

N of Valid Cases 32

Page 83: Tese de Monografia

71 1.

Teste t-student para comparação dos valores médios das ofertas dos dois grupos de Receptores em estado de espírito positivo e negativo.

Levene's Test for Equality of Variances

t-test for Equality of Means

95% Confidence Interval of the Difference

F Sig. t df Sig. (2-tailed)

Mean Difference

Std. Error Difference

Lower Upper Equal variances

assumed 10,812 ,003 -1,202 26 ,240 -,833 ,693 -2,258 ,592 Equal variances

not assumed -1,384 16,07 ,185 -,833 ,602 -2,109 ,443

Page 84: Tese de Monografia

72 1.

Teste qui-quadrado para comparação das proporções das ofertas mínimas dos dois grupos de Receptores.

Value df Asymp. Sig. (2-sided)

Exact Sig. (2-sided)

Exact Sig. (1-sided)

Pearson Chi-Square 2,306 1 ,129 Continuity

Correction(a) 1,231 1 ,267

Likelihood Ratio 2,421 1 ,120 Fisher's Exact Test ,223 ,133 Linear-by-Linear

Association 2,224 1 ,136

N of Valid Cases 28

Page 85: Tese de Monografia

73 1.

ANOVA do tipo 2 (positivo e negativo) x 2 (Proponente e Receptor) para análise da variação do estado de espírito entre antes e depois da tarefa.

Source Type III Sum of Squares df Mean Square F Sig.

Corrected Model 2,522(b) 3 ,841 1,620 ,195 Intercept ,253 1 ,253 ,488 ,488 Posição 1,725 1 1,725 3,325 ,074

Grupo_mood ,063 1 ,063 ,122 ,728 Posição *

Grupo_mood ,737 1 ,737 1,420 ,238

Error 29,051 56 ,519 Total 31,805 60

Corrected Total 31,573 59