tese de mestrado - a integração das minorias étnicas no agrupamento de escolas do cerco do porto
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CARLA MÓNICA FERREIRA DO REGO PIRES
A INTEGRAÇÃO DAS MINORIAS ÉTNICAS NO
AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DO CERCO
ESCOLA SUPERIOR DA EDUCAÇÃO DO PORTO, 2011
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
2 Carla Rêgo Pires
Instituto Politécnico do Porto - Escola Superior da educação
A INTEGRAÇÃO DAS MINORIAS ÉTNICAS NO
AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DO CERCO
CARLA MÓNICA FERREIRA DO REGO PIRES
PROJECTO DE MESTRADO PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE
Com a orientação do Professor Doutor Luís Rothes
ESCOLA SUPERIOR DA EDUCAÇÃO DO PORTO, 2011
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
3 Carla Rêgo Pires
Agradecimentos:
Agradeço, em primeiro lugar ao meu marido, Artur Pires, que confiou na minha
ambição académica e me encorajou a continuar mesmo quando tudo parecia tão difícil
de realizar. Agradeço-lhe o carinho com que tratou dos nossos filhos nas minhas longas
ausências dedicadas ao estudo e investigação.
Agradeço em particular ao Professor Doutor Luís Rothes pelas directrizes sábias na
condução do meu trabalho.
Agradeço a todos quantos no Agrupamento de Escolas do Cerco colaboraram comigo
na procura de respostas para uma questão tão pertinente.
Um trabalho desta envergadura não seria possível sem a colaboração de tantos colegas e
amigos a quem peço desculpa pela minha letargia social ao longo de quase dois anos.
Aos meus filhos, Bárbara e Tomás, peço desculpa pelo tempo que jamais recuperarei.
Pelos jogos que não joguei e pelas conversas que, sem tempo, não realizei.
Não posso deixar de agradecer aos meus pais que acompanham desde sempre ao longo
de todo o meu percurso académico.
Um bem-haja para todos!
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
4 Carla Rêgo Pires
Pensamento:
«Nós temos cinco dedos na mão. São
todos diferentes. São todos
necessários.”
Olga Mariano – Assembleia da República, na apresentação pública do Relatório das
audições sobre ciganos portugueses, no dia 17 de Março de 2009
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
5 Carla Rêgo Pires
Resumo:
Este projecto de investigação/acção tem como objectivo compreender a forma como os
docentes agem perante o multiculturalismo existente no Agrupamento de Escolas do
Cerco e, conscientes da necessidade de serem professores interculturais, como
actualizam a sua formação académica de base nestas dinâmicas culturais.
Com este trabalho investigativo foi possível criar correspondências entre a educação
escolar e a diversidade cultural da etnia cigana existente nesta organização a fim de se
promover planos de acção capazes de dar respostas ao insucesso académico destes
alunos.
Nas leituras realizadas percebi que há aspectos de carácter social, económico e cultural
que estabelecem obstáculos e circunscrevem a exequibilidade de uma Escola aberta ao
intercâmbio cultural e democrático num sistema educativo que se assume integrador e
inclusivo.
Aquando a realização de entrevistas e inquéritos justifiquei as minhas preocupações ao
compreender que são partilhadas pela generalidade do corpo docente. Aliás, este
mostrou-se receptivo a propostas de melhoria na caminhada do sucesso educativo destes
alunos de etnia cigana.
O estudo das informações recolhidas abriu a reflexão para a diversidade vivida neste
agrupamento e permitiu perceber que há claramente uma vontade de todos aos actores
educativos em propiciar um ambiente de ensino/aprendizagem valorativo das diferentes
realidades sociais e culturais, assim como capaz de uma integração plena direccionada
para o sucesso dos alunos pertencentes a este grupo minoritário.
Palavras-chave: Integração das Minorias, Flexibilidade Curricular, Cultura da
Escola, Multiculturalismo e Monoculturalismo, Educação Intercultural, Professor
Intercultural.
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
6 Carla Rêgo Pires
Índice
Agradecimentos: .............................................................................................................................. 3
Pensamento: ..................................................................................................................................... 4
Resumo: ......................................................................................................................................... 5
Abreviaturas/Siglas: ...................................................................................................................... 8
Introdução: ............................................................................................................................................ 9
Parte I ................................................................................................................................................... 11
Fundamentação Teórica ....................................................................................................................... 11
Capítulo 1 ............................................................................................................................................ 12
1.1 Propósitos e questões neste projecto ..................................................................................... 12
1.2 Relevância deste projecto ........................................................................................................ 15
Capítulo II: ........................................................................................................................................... 18
2.1 Os Ciganos – o que foram e o que são – breve referência histórica ................................... 18
Capítulo III ........................................................................................................................................... 21
3.1 A Escola - Cultura minoritária ou simplesmente cultura (s)? ................................................ 21
3.2 O Currículo como instrumento facilitador da Integração: ...................................................... 26
3.3 Educação Multicultural: ............................................................................................................ 29
3.4 Aculturar ou Integrar: ................................................................................................................ 31
3.5 Escola Inclusiva / Integradora: ................................................................................................. 34
Capítulo IV ........................................................................................................................................... 39
4.1 O Papel do Docente: ................................................................................................................ 39
4.2 Integração e o processo de Autonomia das Escolas – enquadramento legal da
problemática em análise: ................................................................................................................ 42
II Parte .................................................................................................................................................. 47
Estudo Empírico ................................................................................................................................... 47
Capítulo V ............................................................................................................................................ 48
5.1 Contextualização sócio - geográfica da problemática em estudo ........................................ 48
5.2 O Agrupamento de escolas do Cerco – breve descrição...................................................... 49
5.3 Definição do Problema no Agrupamento de Escolas do Cerco: .......................................... 51
Capítulo VI ........................................................................................................................................... 53
6.1 Objectivos deste Projecto ......................................................................................................... 53
6.2.Instrumentos de recolha de dados: entrevista e inquérito: ................................................... 55
6.2.1 A Entrevista: ......................................................................................................................... 55
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
7 Carla Rêgo Pires
6.2.2 O Inquérito ............................................................................................................................ 56
6.2.3 Pesquisa Documental............................................................................................................. 57
6.2.4 Observação Directa/Participante ............................................................................................ 58
6.3 Procedimento na análise de dados ......................................................................................... 58
Apresentação e Análise dos Dados Recolhidos .................................................................................... 59
Capítulo VII .......................................................................................................................................... 60
7.1 Cruzamento e Análise de Dados obtidos no Inquérito por Questionário ............................ 60
7.1.1 Gráficos dos dados pessoais e profissionais dos Inquiridos .................................................... 60
7.1.2 Gráficos dos dados de opinião ............................................................................................... 62
7.2 As Entrevistas ............................................................................................................................ 72
7.2.1 Entrevista ao Director do Agrupamento de Escolas do Cerco................................................. 72
7.2.2 Entrevista aos docentes do Agrupamento de Escolas do Cerco .............................................. 75
7.3 Diagnóstico dos Problemas ..................................................................................................... 77
7.3.1 Diagnóstico dos Problemas .................................................................................................... 78
7.4 Propostas de Melhoria .............................................................................................................. 82
7.5 Resultados Almejados e Avaliação do Projecto .................................................................... 85
8. Considerações Finais:.................................................................................................................. 89
Bibliografia ........................................................................................................................................... 92
Anexos ................................................................................................................................................... 94
Pedido de Autorização ....................................................................................................................... 95
Guião de Entrevista aos Docentes ...................................................................................................... 96
Inquérito por Questionário ................................................................................................................. 97
Sobre a Integração de Grupos Minoritários ....................................................................................... 97
B – Dados de Opinião ........................................................................................................................ 99
Guião de Entrevista ao Director do Agrupamento de Escolas do Cerco ........................................... 102
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
8 Carla Rêgo Pires
Abreviaturas/Siglas:
AEC – Agrupamento de Escolas do Cerco
AP – Associação de Pais
AP – Área Projecto
APA – Apoio Pedagógico Individualizado
ARTº - Artigo
CEF – Curso de Educação e Formação
DT – Director de Turma
EE – Encarregado de Educação
EFA – Educação e Formação de Adultos
LBSE – Lei de Bases do Sistema Educativo
ME – Ministério da Educação
PA – Percurso Alternativo
PE – Projecto Educativo
PEE – Projecto Educativo de Escola
PCE – Projecto Curricular de Escola
PCT – Projecto Curricular de Turma
PQND – Professor do Quadro de Nomeação Definitiva
PQZP – Professor do Quadro de Zona Pedagógica
SPO – Serviço de Psicologia e Orientação
TEIP – Território Educativo de Intervenção Prioritária
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
9 Carla Rêgo Pires
Introdução:
Este trabalho de Investigação/Acção tem como finalidade analisar e compreender as
diferentes amplitudes do processo de integração/inclusão dos alunos de uma minoria
étnica específica – o povo cigano.
Consciente das transformações que o sistema escolar tem vindo a sofrer, torna-se
imperativo analisar o lugar da Escola, como sistema democrático, e dos seus actores
numa educação que se assume intercultural.
Em contacto diário com práticas pedagógicas heterogéneas de professores com
características profissionais e individuais distintas, percebe-se que é imperativo
questionar, actualmente, a organização de um trabalho que se quer cooperativo no
sentido de se analisarem contextos específicos, quer relativamente ao macro-espaço
geográfico que a escola ocupa, como ao micro-espaço da sala de aula onde alunos de
etnia cigana procuram a sua integração no sistema educativo.
A Escola tem pretendido respostas e evoluções nas suas concepções educativas. O
contacto com diferentes raças, etnias e culturas de base por parte dos discentes tem
vindo a crescer dada a abertura política à emigração. Interagir neste melting pot traz
consequências no desenvolvimento do currículo e na actuação dos docentes na sua
aplicação.
De acordo com a Lei de Bases do Sistema Educativo, «Todos os portugueses têm direito
à educação, à cultura, nos termos da Constituição da República», art.2º. Ora, aqui reside
o desafio da Escola - atender a todos, num mesmo local, com as mesmas condições, isto
é, um leque diversificado de indivíduos que buscam sapiência no usufruto pleno da sua
cidadania.
Assim, a abordagem desta temática da diversidade cultural é actual e fulcral a partir do
momento em que a Escola busca respostas num ensino integrador e respeitador das
diferenças. Aliás, a própria escola tem a sua identidade, rodeada por uma comunidade
diferente das outras no plano geográfico, económico e até cultural. A comunidade
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
10 Carla Rêgo Pires
educativa contempla idiossincrasias que a identificam numa sociedade heterogénea.
Seria contraproducente não fazer um trabalho diversificado, envolvendo actividades
realizadas em grupo ou individuais com o intuito de se favorecer a riqueza da troca de
experiências, tão importante no crescimento de cada um.
Os indivíduos são o resultado de influências exteriores que recebem num espaço e num
tempo específico. Ao professor cabe o papel de ponderar e aplicar a democratização do
ensino, «garantindo o direito a uma justa e efectiva igualdade de oportunidades no
acesso e sucesso escolares», LBSE, artº2ª.
Os desafios, no sentido de diversificarmos o trabalho docente, são o currículo e a
interdisciplinaridade, mobilizadora de potencialidades; e uma necessidade de rasgar o
sistema convencional de ensino e promover diferentes sapiências em diferentes níveis
de ensino. Olhar para a diferença cultural com curiosidade e respeito por costumes,
rituais e crenças que não são da maioria, mas que devem ser privilegiados para que se
possa estabelecer uma relação real entre o que se ensina e a quem se ensina.
É precisamente este o cerne da questão – o desafio de buscar respostas de acções
capazes e efectivas na promoção da inclusão de alunos de etnia cigana.
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
11 Carla Rêgo Pires
Parte I
Fundamentação
Teórica
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
12 Carla Rêgo Pires
Capítulo 1
1.1 Propósitos e questões neste projecto
A Escola apresenta-se-nos como um campo de batalha cultural onde o vitorioso é aquele
que joga em casa. Na verdade, ainda hoje, esquece-se a promoção de um intercâmbio
cultural em prol de uma perpetuação da cultura da maioria.
A concepção de Cultura torna-se fundamental na procura da compreensão da Escola e
do seu modo de funcionar. Os actores educativos e a própria organização escolar
existem em função de um tempo e de um espaço, logo, sob influências diversas que
pautam a sua identidade.
Ao não ser hermética, a Escola absorve conhecimentos e transmite-os, ou melhor
dizendo, trabalha-os dogmaticamente e desencadeia um diálogo constante com a
comunidade educativa. É deste contacto profícuo que se desenvolvem os conteúdos da
educação, tais como hábitos, valores, normas e competências.
A Escola produz saberes, mas também os reproduz numa dialéctica aberta à inclusão.
Há uma enorme variedade de ideias quanto ao papel social da Escola, mas quase todas
se inclinam para a sua responsabilização quanto ao futuro das gerações que se preparam,
com maior ou menor afinco, acreditando que levarão a receita para o sucesso económico
individual, e, consequentemente, social. Aliás, «Se, de forma distinta, se considerar que
o objectivo da educação escolar é a educação em sentido lato, compreendendo a par do
ensino das matérias dos programas, a sociabilização para a integração e intervenção
activa na sociedade, a definição dos efeitos da escola tem de ser coerente com esta
concepção de objectivos». (Pinto, 1995, p.52)1
A Educação está situada no cerne deste processo no qual o ser humano participa em
sistemas que interagem em reciprocidade com o objectivo de se transmitir a dita cultura
escolar. Uma das expectativas criadas em relação à Escola tem a ver com a utópica
possibilidade de se reduzirem as desigualdades sociais – esta seria a missão, por
1 Pinto, Conceição Alves. Sociologia da Escola, Ed. McGraw-Hill, 1995.
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
13 Carla Rêgo Pires
excelência, promotora de mobilidades ascendentes integradoras. Mas todos sabemos
que a verdade não passa por aqui. A Escola é uma organização social integradora, mas,
também, selectiva. Assim, «Com o aparecimento de uma exclusão social baseada
sobretudo em factores de natureza sociocultural e de um mercado de trabalho mais
flexível, rapidamente se percebe que não basta avaliar as competências cognitivas
adquiridas, é preciso avaliar também as performances (…) e o sistema. (…) diversifica-
-se o currículo, a pedagogia e avaliação, em nome da eficácia e do combate à exclusão
social …». (Stoer, 1998,p.33)2
No entanto, a Escola permanece fundamentalmente selectiva ao continuar a convergir
para si o domínio dos saberes instituídos como elementares na escalada social. A esta
instituição é pedido que promova a educação das gerações futuras e formação
especializada daqueles que continuamente procuram aumentar/melhorar o seu
contributo social. Mas educar na Escola é mais do que instruir, sociabilizar ou mesmo
aculturar. Há uma pedagogia obrigatória, definida num curriculum formal,
politicamente subjugado, que organiza os procedimentos adoptados. A Sociedade pede
à Escola que transmita conhecimentos escolares disciplinares, que passe informação,
que sociabilize e introduza normas de conduta comportamental na formação de jovens
que chegam à escola como matéria bruta, sedentos de aprendizagem. Todos começam
por querer saber ler, escrever e contar com muita vontade e gosto, mas ao longo da
escolaridade obrigatória essa ânsia vai esmorecendo e destruindo a ambição de muitos.
A questão que se põe à Escola passa, também, por saber a razão e encontrar uma
possível solução. Motivar para o êxito será uma das grandes exigências que se faz. O
cariz eminentemente teoricista da formação académica dos docentes afasta as suas
atitudes desta visão da Escola integradora e correctiva de desigualdades sociais, onde os
saberes se apresentam democraticamente e são recebidos por uma diversidade social de
indivíduos, cujo background social, económico e cultural é múltiplo.
2 Stephen Stoer, António Magalhães. Excelência Académica. Escola para todos e cidadania. Profedições
- Colecção Andarilho/4. 1998.
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
14 Carla Rêgo Pires
O processo de aculturação do povo cigano encontra-se numa fase de assimilação da
cultura da maioria e negação de um problema que ultrapassa a formação de base de
todos os actores presentes na Escola, devido ao desconhecimento de singularidades
socioculturais.
É da responsabilidade da Escola a sociabilização de todos, por conseguinte não poderá
anular-se o conteúdo cultural das minorias, promovendo-se apenas a cultura de base
nacional. Até porque, ao fazê-lo, estaria a ser deturpada a identidade escolar única e
individual. A intercessão deve ser reflexiva, não facultando a imposição de valores,
crenças, costumes e, mesmo, estereótipos estranguladores do direito a uma educação
que «promove o desenvolvimento do espírito democrático e pluralista, respeitador dos
outros e das suas ideias, aberto ao diálogo e à livre troca de opiniões, formando
cidadãos capazes de julgarem com espírito crítico e criativo o meio social em que se
integram e de se empenharem na sua transformação progressiva». (LBSE; artº2)
Ora, são destas condicionantes que surgem modelos de cidadania abertos a todas as
influências. O modo como este aspecto é trabalhado em contexto escola é primordial no
desenvolvimento cognitivo dos discentes, assim como no da sua integração futura na
sociedade laboral, que se quer interventiva e proactiva.
A própria massificação da escolaridade e o seu alargamento democrático implicou que
se fosse abandonando a ideia de um ensino igualitário como sinónimo de democrático.
Na verdade, ao anularmos a individualidade, multiplicamos a desigualdade.
Compete à organização escolar a promoção de espaços de debate, reflexão e cooperação
entre pares e restantes membros da comunidade educativa, para se encontrarem
caminhos que, não desrespeitando a cultura nacional, cruzem, num mesmo espaço,
projectos de interesse a todos os envolvidos. Não podemos permitir que se martirize o
que resiste à cultura nacional, mas compreender e procurar interagir positivamente.
Cooperação será o sustentáculo de uma aprendizagem efectiva. A identidade da escola
construir-se-á a partir de relações e interacções entre os agentes educativos.
O Projecto Educativo contribui para o desenvolvimento de um ensino de qualidade, ao
introduzir coesão e conformidade na acção educativa numa partilha de valores, numa
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
15 Carla Rêgo Pires
visão comum de objectivos a ansiar. O Projecto Educativo é, na verdade, um documento
de base à política educativa defendida pela organização escolar. Como
complementaridade cultural, o Projecto Educativo contempla a identidade, imagem,
valores e projectos que tornam cada escola singular. Aliás, «Os projectos pedagógicos
da verdade construída (ou, talvez melhor, em construção) contemplam e exprimem em,
si mesmos, esta nova situação, pelo que estão opticamente colocados para desafiarem o
pressuposto de que a educação serve apenas para reproduzir e perpetuar valores. Com
eles a educação procura promover (o que não quer dizer que, em perfeita conformidade,
o consiga) o próprio desafio da mudança». (Carvalho, Adalberto, 1988, p.162)3
Esta singularidade existe na relação com os encarregados de educação, nas actividades
escolares, na realização de projectos comunitários, na celebração de datas específicas,
na apresentação da escola a novos elementos, enfim, em todos os actos que a
caracterizam e que se moldam em função de um público-alvo. Compete à Escola mediar
este diálogo que se quer permanente e conseguir equilibrar sentimentos, condutas
sociais e, principalmente, promover uma integração social dos discentes, afastando-se
dos desequilíbrios de práticas educativas alheias à diferença e centradas num ensino
igualitário que não tira partido da magnificência do multiculturalismo.
1.2 Relevância deste projecto
Este projecto tem vindo a pautar-se pela necessidade de tentar minimizar a incapacidade
evidente por parte dos diferentes actores educativos para repensarem os direitos comuns
a todo o ser humano numa perspectiva intercultural integradora.
Mais do que isto, há uma necessidade de se compreender a etnia cigana para sermos
capazes de lhes oferecer uma proposta de mudança social que não atente contra os seus
princípios culturais. Só assim poderemos considerar possível uma melhoria da sua
qualificação académica e promover alterações sócio-económicas eficazes na
3 CARVALHO, Adalberto, Epistemologia das Ciências da Educação, Porto, Afrontamento, 1988.
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
16 Carla Rêgo Pires
participação activa na macro sociedade que tem vindo a acolher esta e outras minorias
ao longo das últimas décadas.
Com o fenómeno da imigração o nosso país tem-se tornado cada vez mais multicultural
e a homogeneidade de outrora deu lugar a uma enorme diversidade de culturas. Entra-se
na questão do direito à cidadania, isto é, o direito à acomodação e integração numa
sociedade activa produtora e consumidora de bens indispensáveis à sobrevivência da
economia nacional e internacional.
Munir a etnia cigana de elementos capazes de a preparar para esta integração implica
capacitar as escolas do seu papel fundamental – a inserção na vida activa futura dos
jovens que frequentam a escola e que, por vezes, não compreendem muito bem o que
esperar dela.
Jean-Pierre Liégeois (2001)4 defende que a educação, para a etnia cigana, «valoriza e
torna mais positiva a imagem ainda demasiado frequentemente negativa e estereotipada
que os outros dela fazem». Mais do que isto e, de acordo com o mesmo autor, a
escolarização tornará este povo mais independente na sua adaptação e assimilação de
processos de conduta social contribuindo para «o afastamento do campo da assistência
social», proporcionando «a entrada no campo do desenvolvimento cultural e político».
Um dos objectivos primordiais deste trabalho é, também, perceber a dimensão da
participação da população cigana na vida escolar dos seus filhos e a importância dada à
escolarização no processo de uma inclusão social interventiva.
As escolas públicas assumem-se democráticas e interculturais, aceitando as diferenças,
mas não são contempladas as idiossincrasias culturais na organização curricular dos
programas que procuram criar a igualdade na diversidade.
Promover a integração social da etnia cigana corresponderia a formar e incluir estes
cidadãos nas relações sociais que nos movimentam. Para que tal seja possível, para que
se perceba que para exercer o direito à cidadania tem de haver integração, é importante
a escolarização e a redução do absentismo e desinteresse escolar.
4 Liégeois, Jean-Pierre - «La scolarisation des enfants tsiganes et voyageurs», Paris, Ministério da
Educação Nacional/ Centre de Recherches tsiganes, 1986.
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
17 Carla Rêgo Pires
A sociabilização do povo cigano ainda passa muito pelos valores da família. Se em
tempos idos estudar ia contra a «lei» cigana, hoje o cigano vai à Escola. Importa, então,
repensar e reorganizar estruturas a fim de se continuar a alterar a tradição e modificar as
estruturas sociais deste povo, sem, no entanto, apagar a sua riqueza cultural.
Pessoalmente, considero este trabalho de investigação/acção necessário para a minha
formação profissional. Ao ser professora num agrupamento onde há inúmeros alunos de
etnia cigana e eu própria ter trabalhado com uma dessas turmas, senti um receio do
desconhecido. A minha identidade individual e profissional modificou-se ao contactar
com estes alunos. Questionei a ideia de liberdade, democracia e cidadania. Percebi a
minha insegurança e investiguei.
A juntar a isto há um desejo de reflectir sobre a discriminação visível deste povo. As
relações alteram-se e as formas de tratamento entre discentes e docentes mostram que é
necessário pensarem-se acções multiculturais que facilitem o direito à igualdade de
oportunidades. «Somos todos irmãos porque descendemos todos de uma só mãe, a
terra», como disse Mahatma Gandi, logo há que ponderar a actuação da organização
escolar.
Neste projecto ambiciono, sobretudo, cooperar na gestão da organização com a singela
intenção de reduzir a taxa de absentismo e abandono escolar.
Além disso, parece-me pertinente que se criem estruturas organizacionais de apoio ao
docente para que, consciente das suas inseguranças, possa ser apoiado na sua relação
professor/aluno.
Um ambiente pedagógico saudável, fundamentado por relações de respeito e
solidariedade poderá ajudar a aliciar as famílias a trazer os seus filhos à Escola.
Este é o trajecto que tenho vindo a fazer ao longo deste mestrado e estas são as minhas
preocupações enquanto professora e formadora consciente das minhas limitações, mas
capaz de enfrentar desafios com a intenção de optimizar a minha prestação profissional.
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
18 Carla Rêgo Pires
Capítulo II:
2.1 Os Ciganos – o que foram e o que são – breve referência
histórica
Pensa-se que o povo cigano é originário da Europa de Leste, mais especificamente do
Egipto. Habitam em território nacional desde os séculos XV-XVI e estão distribuídos
pelo nosso território em grupos cuja dimensão é variável. Este povo, na sua
generalidade, desconhece a sua própria história e as suas origens perdem-se de geração
em geração, até porque a tradição que impera é a passagem do legado cultural por via
oral.
Autores como Nunes5, Fraser
6, e Kenrick
7 estão convictos de que a origem deste povo
se reporta ao território da Índia, devido ao seu dialecto que comporta influências das
línguas indianas. Importa referir que, efectivamente, dados concretos não existem. O
que se conhece refere-se às invasões do povo Persa na Índia, no ano 224 a 241, no
reinado de Ardashir. Nesta altura, crê-se que parte da população terá fugido para a
Pérsia, procurando encontrar condições de vida mais favoráveis. Aqui, os indianos
entrelaçaram-se através do matrimónio com este novo povo que chegava ao território,
visto os persas serem adversos ao tom de pele escura. De acordo com Kenrick, este
novo grupo social nomeou-se Rom.
Mantidos como personas non gratas, os Rom eram vistos como cidadãos de menor
valor, assim, durante as conquistas juntaram-se ao povo árabe na invasão da Índia e
receberam o nome Zott.
Seguidamente, o povo grego partiu para a conquista do território dos árabes, deportando
estes povos descendentes dos índios para a Grécia continental, de acordo com Kenrick,
1998, para Antioquia, no Mediterrâneo.
5 NUNES, Olímpio (1996) – O Povo Cigano. Obra Nacional da Pastoral dos Ciganos. Lisboa: Grafilarte
6 FRASER, Angus (1998) – História do Povo Cigano – 1ªed. Lisboa: Editorial Teorema.
7 KENRICK, Donald (1998) – Ciganos: da Índia ao Mediterrâneo, Ed. Centre de Recherches Tsiganes e
Secretariado Entreculturas. Colecção Interface. Lisboa
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19 Carla Rêgo Pires
Ainda se sabe, de acordo com o mesmo autor, que nem todos os indianos abandonaram
a Pérsia, havendo, assim, grupos a falar o indiano no médio oriente.
Provado parece estar o facto de, até cerca do ano de 850, muitos Zott, Sindhi, Dom e
Kalé chegaram até à Europa, mais concretamente à Grécia. (Costa8, 1996).
A razão da deslocação deste povo deveu-se, essencialmente, à necessidade de fuga das
invasões, e consequente reclusão, exílio e fuga às perseguições; mas também à procura
de trabalho emergente da sua crescente sedentarização.
Em Portugal a história deste povo, maioritariamente nómada é feita de contendas,
litígios e manutenção das ideias pejorativas que a sociedade alimenta.
Costa (1995)9 afiança que este povo chegou ao nosso território na segunda metade do
século XV. O Cancioneiro Geral de Garcia de Resende faz registos documentais
relativos ao século XVI (1510). Gil Vicente, em 1521, alude ao povo cigano na Farsa
das Ciganas. Desde então que são frequentes as querelas com este povo nómada e, em
1526, D. João III cria um diploma proibindo a entrada e decretando a expulsão deste
povo do território português.
Ao longo dos tempos foram sendo feitas legislações que continuaram esta querela,
excluindo o povo cigano da sociedade portuguesa. A Lei de 14 de Março de 1573,
assinada por D. Sebastião promove a expulsão, ao dar um prazo de trinta dias para a
abalada dos ciganos do território nacional. Já com Filipe I de Portugal, em 1592, com a
Lei de 28 de Agosto, aumentam as perseguições aos ciganos que estavam em Portugal,
dando-lhes quatro meses para abandonarem o território nacional. Em caso de
incumprimento, seriam condenados à morte. Em 1686, com o Alvará de 15 de Julho,
atenua-se este ódio generalizado ao ser dada ordem de expulsão aos ciganos que
8 COSTA, Elisa Maria Lopes da (1996) – O Povo Cigano em Portugal: da história à Escola – um
caleidoscópio de informação. ESE de Setúbal.
9 COSTA, Eduardo Maia (1995), Os Ciganos em Portugal: breve história de uma exclusão», in Luiza
Cortesão e Fátima Pinto (org.), O Povo Cigano, cidadão na sombra, Porto, Afrontamento: 13-20.
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
20 Carla Rêgo Pires
procuravam entrar em território português, mas tenta-se aculturar os ciganos residentes
há gerações, exigindo a sedentarização, aquisição de hábitos da cultura dominante e
realização de actividades laborais dignas. Na verdade, estamos perante o primeiro
registo de uma tentativa de incutir a nossa cultura a este povo. Ao procurar-se mudar a
sua linguagem, a sua indumentária e a sua estrutura social, procuramos modificar
comportamentos, aproximando-os dos restantes cidadãos nacionais.
Ora, estamos a falar de um povo com uma personalidade étnica muito vincada, um povo
para quem a união familiar e a questão de pertença ao grupo se afirma em rituais
ancestrais imortais.
Nesta perspectiva mais liberal percebem-se como necessários, a quando a Revolução
Liberal, a realização da Constituição de 1822 e a Carta Constitucional de 1826. Nestes
documentos extinguem-se desigualdades em função da raça e é reconhecido o usufruto
da cidadania portuguesa aos indivíduos de etnia cigana nascidos e registados em
território português. No entanto, (Costa, ibid.) este povo continuou a ser alvo de
«vigilância» especial pelas autoridades policiais, como se verifica na Portaria de 18 de
Abril de 1848 e pelo regulamento da Guarda Nacional Republicana, de 1920.
Salvaguarde-se que, apesar destas investidas na integração dos ciganos, continua-se a
entender que este povo carece de vigilância apertada no sentido de se controlarem os
seus roubos e actividades ilícitas.
Em pleno século XX, e até a Revolução dos Cravos, em 1974, os ciganos estiveram
proibidos de acamparem mais do que vinte e quatro horas no mesmo local. Este facto é
corroborado em 1985, na Portaria nº 722/85, de 25 de Setembro, onde é feita referência
a este povo nómada.
Parece-me claro que, ainda hoje, este povo, que já está perfeitamente sedentarizado e
integrado em estruturas de apoio social, é vítima de atitudes e comentários racistas por
parte da maioria dos cidadãos portugueses. Como se verificou pelos dados históricos
que apresentei, esta perseguição é ancestral. O preconceito faz parte da nossa
caracterização nacional e as imagens sociais que temos são negativas, castradoras do
longo pseudo - processo de integração que se vem fazendo. Na verdade, o processo tem
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
21 Carla Rêgo Pires
vindo a ser desenvolvido numa perspectiva vertical e não horizontal. Espera-se que este
povo se subordine às influências da cultura dominante e não se promovem acções de
intercâmbio cultural enriquecedoras. Isto acaba por ser um circuito fechado – ao não ser
dada hipótese de afirmação cultural a este povo tão ciente das suas identidades, falha-se
na tentativa de integração social, até porque, dadas as representações sociais
predominantemente negativas, não há muita oferta de emprego e os ciganos ficam
confinados, na sua maioria à venda ambulante nos mercados de rua.
Capítulo III
3.1 A Escola - Cultura minoritária ou simplesmente cultura (s)?
Perceber que a Escola é um espaço de transferência de culturas implica aceitar a
diversidade de actores que por ela transitam e nela se reflectem. Esta intersecção cria
situações de tensão e salienta contrastes que, se não forem vistos num prisma de
abertura, levam a situações de parcialidade educativa.
A Escola representa um conjunto diversificado de conhecimentos e saberes, vivenciados
num espaço social e cultural partilhado por uma heterogeneidade de indivíduos. Estes
devem ter um espírito reflexivo e crítico, devem expressar o seu próprio pensamento
sem atitudes de superioridade perante a minoria. Esta miscelânea existente nas escolas
recria a identidade cultural de modo democrático se for aceite com orientações nesse
sentido. Sendo que «A cultura implica poder e ajuda a produzir assimetrias nas
habilidades dos indivíduos e grupos sociais para definir as suas necessidades (…) a
cultura é um espaço de diferenças e lutas sociais». (Pérez Gomes, 2004, p.14)10
Compete a todos os actores, onde incluo a Escola e a Família, apelar a esta partilha
necessária de identidades culturais e consequente convívio democrático entre todas. A
relação Escola/Família será fulcral neste processo de sociabilização e na criação de
vínculos entre todos os elementos das comunidades.
Parece inevitável que se pense a questão do Currículo como um elemento onde sejam
reflectidas as motivações e carências dos discentes. Aqui a colaboração com entidades
10 Pérez, Gómez, A.I., 2004: La cultura escolar en la sociedad neoliberal. Madrid. Nercea.
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
22 Carla Rêgo Pires
exteriores à Escola, mas conhecedoras das características das minorias que a
frequentam, parece ser positiva no trabalho de se efectivar um currículo intercultural,
promotor de sucesso escolar, aproximando a escola e a comunidade num trabalho de
partilha e cooperação intercomunitárias.
Há que conhecer, respeitar, tecer atitudes críticas construtivas e transformar
responsavelmente, promovendo o usufruto de uma cidadania plena. A Escola mediatiza
esta troca significativa entre os indivíduos em processo de formação, mas também entre
corpo docente cuja sensibilidade para estas questões tem de ser trabalhada. Actualmente
parte-se muito para um ensino reprodutor de conhecimentos, numa sociedade
conservadora e única.
A Escola deverá participar na divulgação de interculturalidades dada a sua população
escolar ser cada vez mais heterogénea. A organização escolar, hoje, continua a fazer
turmas com alunos agrupados em função das idades e dos conhecimentos. Estes
aprendem os mesmos conteúdos, num mesmo espaço físico e temporal. De seguida são
submetidos aos mesmos exames nacionais e respondem às mesmas questões. Agrupam-
se em rankings que ignoram a identidade de cada organização escolar e não contemplam
as idiossincrasias da comunidade circundante - a este sistema chama-se ensino
democrático.
É certo que a massificação do ensino que ocorreu pós 25 de Abril de 1974 criou
dificuldades às escolas. Foi necessário encontrarem-se estruturas logísticas e criarem-se
normas que possibilitassem aos docentes ministrar conjuntamente a tantos alunos.
Agora há que reconsiderar estes valores que se creram elementares, mas que já não
respondem à crescente função socializadora da Escola. Hoje pensa-se que é relevante
ajustar as práticas pedagógicas a uma disparidade social e cultural de alunos. Fala-se em
respeito, mas sobretudo em igualdade efectiva de oportunidades de sucesso académico e
social.
A coabitação sociocultural implica tolerância e aceitação do pluralismo. Parece evidente
que há necessidade de uma intervenção política no caminho que se tem vindo a
percorrer e cada escola pode traçar o seu caminho na promoção de uma relação justa
entre as diversidades culturais.
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
23 Carla Rêgo Pires
Até porque «se à diversidade de origens socioculturais se responder com uniformidade
de tratamento criam-se situações de uns serem mais iguais do que outros, ou seja,
situações de verdadeira desigualdade». (Alves-Pinto, 1995, p.3)11
O diálogo começa na sala dos professores e, só depois, poderá ser levado até ao
contexto sala de aula. A preparação do aluno está nas mãos do professor que se quer
alerta para estas problemáticas e em formação permanente para poder melhorar a sua
aptidão académica e profissional. Reconhecer as culturas e aceitar diferenças levará à
divulgação de valores comuns num futuro em conjunto.
Democratizar o ensino será comunicar em várias línguas e vários dialectos. Importa
abrir a Escola ao desafio e procurar uma cultura que seja capaz de interagir com outras,
mobilizar os seus elementos, socializar e integrar pacificamente. A Escola deve
reconhecer a necessidade da mudança permanente e consequente busca de equilíbrio.
A aprendizagem não está apenas relacionada com aspectos biológicos dos indivíduos,
mas com estímulos recebidos ao longo da vida. Cada um tem a sua identidade particular
e única, reflexiva de factores exteriores que a escola não pode anular. Como diz
Morin12
, «a cultura é constituída pelo conjunto de saberes, fazeres, regras, normas,
proibições, estratégias, crenças, ideias, valores, mitos, que se transmitem de geração em
geração, se reproduzem em cada indivíduo, controlam a existência da sociedade e
mantém a complexidade psicológica e social (…) Assim, sempre existe a cultura nas
culturas, mas a cultura existe apenas por meio de culturas».
No Agrupamento que me propus observar, se, por um lado, temos a nossa cultura
nacional maioritária, por outro, partilhamos espaços com a comunidade cigana.
O ideal não é esta ideia inerente de separação, mas a simbiose entre histórias de vida e
identidades, sem perda das particularidades próprias das diferenças.
Criarem-se pontes e permitir-se passagens sem receios, sem distâncias, nem confrontos
raciais. Eis o desafio – potenciar um intercâmbio profícuo, promovendo a igualdade.
11 ALVES-Pinto,C (1995): Sociologia da Escola, Lisboa: MacGraw-Hill
12 Morin, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2001.
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
24 Carla Rêgo Pires
Ao reportarmo-nos a práticas pedagógicas distintas numa organização escolar que
comporta elementos de outras etnias, aceitamos o facto de haver grupos culturais
minoritários na nossa sociedade ocidental e, por conseguinte, na nossa escola. Há que
considerar diferenças culturais, educativas, financeiras e sociais na ultrapassagem de
impedimentos ao acesso às mesmas oportunidades. Todos estes factores convergem
num sistema educativo que terá de coordenar vários aspectos – os seus actores, o
currículo, a contextualização da organização educativa e o próprio sistema político
vigente, sem esquecer as diversidades inerentes ao ser humano. Neste panorama de
ideias, e citando Forquin (1989)13
, «o pensamento pedagógico contemporâneo não se
pode esquivar de uma reflexão sobre a questão da cultura e dos elementos culturais dos
diferentes tipos de escolhas educativas».
Ora, o saber é reflectido e contextualizado na organização educativa. As escolas e o
modo como transmitem conhecimentos caracterizam as suas intenções pedagógicas que
devem ser interculturais, criando experiências nas quais a apropriação do saber se
intersecciona com identidades culturais. Neste sentido, deve haver investimento no
corpo docente que deverá adaptar as suas atitudes pedagógicas à instituição onde estão
inseridos. Não podemos desprezar a problemática dos conteúdos e programas
curriculares, nem os meios físicos e materiais que condicionam esta adaptação, muitas
vezes beneficiando desigualmente as culturas dos discentes da organização.
Presentemente, a Escola está atenta a estas diferenças e à necessária igualdade de
oportunidades, daí que o trabalho pedagógico tenha vindo a ser desenvolvido em torno
da valorização e produção cultural da escola.
Compreendemos que a diversidade é natural à espécie humana: seres humanos são
dissemelhantes nas suas práticas culturais, são particulares nas suas personalidades e
são também variados nas suas formas de conceber o mundo. Os seres humanos
apresentam, ainda, multiplicidade biológica.
13 FORQUIN, J. C. (1989). École et culture. Le point de vue des sociologues britaniques, Bruxelles: Ed.
De Boeck Université. McCARTHY, C. (1994).
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
25 Carla Rêgo Pires
Deste modo, ao estarem integrados na Escola, terá de ser aqui que se defende o direito
de todos à educação e formação e o direito à igualdade de oportunidades, pelo que não
se pode negligenciar este multiculturalismo nem as diversidades referidas
Sabemos que a educação escolar é um factor fundamental no desenvolvimento do
indivíduo como pessoa e como ser social, daí que seja importante a promoção de um
currículo que responda às diversidades.
Os currículos e rotinas escolares que promovem este aspecto aproximam-se mais da
riqueza da diversidade humana, cultural e social, melhorando os processos de
socialização de todos. Sem diferenciação pedagógica, teremos cada vez mais
desigualdades que se acentuam.
Relativamente à diversidade cultural, somos diferentes, mas algo análogos. Há
comportamentos partilhados e outros que se apresentam como um desafio no caminho
para a convivência. A diversidade constrói-se num contexto social, histórico e político
que tem de ser trabalhado num diálogo aberto e susceptível de reinterpretações.
O Currículo reflecte essas reinterpretações e pontos de vista, levados em consideração
nas atitudes pedagógicas, nas relações sociais que se estabelecem entre os actores que
preenchem determinado espaço escolar. O Currículo não é um processo de transmissão
de conteúdos programáticos, é, sim, um reflector de carácter político, histórico e social,
onde se criam relações de poder entre grupos sociais distintos. Assim, o Currículo é um
conjunto de ideias, experiências e práticas que se definem entre actores que partilham
relações de poder efectivas.
O Currículo reflecte o facto de aos alunos lhes ter sido aceite o direito à diversidade na
própria Lei de Bases do Sistema Educativo - «O sistema educativo organiza-se de forma
a: d) Assegurar o direito à diferença, mercê do respeito pelas personalidades e pelos
projectos individuais da existência, bem como da consideração e valorização dos
diferentes saberes e culturas», LBSE, artº3º.
Um dos aspectos presentes na Educação será a questão da política educacional num
panorama onde a Escola é vista como um espaço de socialização e inserção social numa
pluralidade cultural.
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
26 Carla Rêgo Pires
A aceitação deste facto permite o reconhecimento da cultura do professor, do aluno e da
comunidade da qual a organização faz parte. Ao reconhecermos as diversidades
culturais em todos os seus prismas – históricos, culturais e sociais – aceitamos a
necessidade de um novo modelo curricular: «A política curricular do ME deve, como é
hoje admitido no discurso oficial, reservar à escola opções e decisões acerca de o que
ensinar e de quando ensinar e não apenas acerca de como ensinar. Isto é, o currículo
oficialmente prescrito deve ser aberto» (Diogo, Fernando)14
Salvaguarde-se que o facto de as escolas perceberem a necessidade de interagir com a
comunidade circundante e de desenvolver o currículo em projectos interdisciplinares
não afasta a predomínio de um ensino ainda muito centrado na transmissão de
conhecimentos e menos na construção de saberes sobre o mundo que rodeia os
discentes, facilitadores da sua integração social.
Hoje é pertinente que se criem interacções em toda a estrutura da organização escolar. A
ligação Escola/Sociedade deve ser significativa e promotora do desenvolvimento de
competências, distantes da lógica da reprodução de saberes cognitivos.
3.2 O Currículo como instrumento facilitador da Integração:
Ao falarmos de diversidade curricular e igualdade de oportunidades somos levados a
pensar em alternativas curriculares promotoras destes princípios ideológicos e perceber
qual o papel do professor neste contexto de heterogeneidades.
A priori, percebemos que a existência de diversidades implica mudanças no currículo,
mudanças políticas, ideológicas e individuais. Há que repensar os discentes em todas as
suas vertentes, isto é, nas suas identidades e modos de interagirem.
Não esquecendo que a diversidade é uma grandeza social, compete à escola/professores
nutrir respeito e defender idiossincrasias. As atitudes pedagógicas dos docentes devem
ser alicerçadas por estas directrizes, compreendendo que a educação é um direito básico
14 DIOGO, Fernando (2007/08) «Teoria do Currículo e Desenvolvimento Curricular», Textos de Apoio: 33.
ESE
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
27 Carla Rêgo Pires
a todo o ser humano, assim como a igualdade de oportunidades. Apesar disto importa
não esquecer que «O currículo é profundamente influenciado pela estrutura da
sociedade, pela ideologia dos detentores da autoridade e pelos que ensinam, e bem
assim pelo estado actual das ciências e do comportamento normais». (Musgrave, 1979,
p. 236).15
Assim sendo, a escola deve criar condições para que o direito universal à Educação e
igualdade de oportunidades, em conjunto com o respeito pelas individualidades dos
alunos sejam factos concretos. A flexibilização curricular dos currículos alternativos é
prioritária no tratamento deste facto.
Os currículos alternativos são uma forma de adequar e adaptar o currículo padrão à
diversidade dos discentes. Não é um currículo menor que se destina a alunos com
dificuldades de aprendizagem ou de integração escolar. Estes currículos apostam em
finalidades sociais e resolução de problemas de integração trazidas na sequência da
massificação da escolaridade.
O currículo alternativo não será mais do que uma medida para evitar a exclusão e o
abandono escolar, criando-se inclusivamente um maior envolvimento dos docentes que
se sentem mais realizados perante o sucesso dos seus clientes.
A flexibilização curricular reflectida no currículo alternativo resulta de posições críticas,
principalmente dos docentes, face à problemática inerente aos alunos que manifestam
maiores dificuldades de aprendizagem e integração social. A escola terá a possibilidade,
na plenitude da sua autonomia, de colmatar estas situações de desigualdade. Não é
tarefa fácil, até porque estamos a falar de um sem número de desigualdades às quais é
necessário responder – culturais, étnicas, sociais, cognitivas, individuais, etc. Mas, na
verdade, o direito do aluno de escolher o seu percurso educativo e o reconhecimento das
diferenças transformaram a educação de massas e alteraram a visão sobre o currículo
prescrito, em busca de dinâmicas de inclusão efectivas na organização escolar.
A flexibilização curricular é uma forma de se enfrentar a reprodução de desigualdades
entre os alunos e atenuar as próprias desigualdades sociais. É certo que a Escola não
poderá solucionar todos os problemas relacionados com a estratificação social, mas
15 MUSGRAVE, P.W., Sociologia da Educação, Fundação Calouste Gulbenkian, 1994.
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
28 Carla Rêgo Pires
pode dissipá-los. Ao implementar estes currículos promove a integração social tendo
como base as expectativas dos alunos e as suas condições individuais. Ao persistirmos
em divulgar um currículo padrão prescrito a nível nacional sentenciamos os alunos ao
insucesso escolar e, consequentemente, ao insucesso social. A intenção da Escola falha
e, enquanto promotora de igualdade de oportunidades, deixa de fazer sentido.
O currículo tem de ter significado e ser objectivamente claro para os seus destinatários.
Com efeito, a diferenciação curricular acontece no Projecto Curricular de Escola e, por
conseguinte, no Projecto Curricular de Turma, pois ambos devem ser responsáveis pela
aceitação de identidades específicas e respeitá-las de forma a promover o sucesso de
todos. É clara uma responsabilização nesta flexibilização do currículo do órgão de
gestão da organização. Este processo engloba todos actores da organização,
principalmente os professores e implica um uso da autonomia curricular inerente à
autonomia das escolas. A configuração de currículos específicos ao público a que se
destinam implica um trabalho docente acentuado, bem como também alterações a nível
da organização do sistema educativo e da aplicação do currículo na escola.
Saliente-se que o facto de um aluno estar integrado num currículo alternativo não
implica que não possa prosseguir estudos superiores futuramente. O currículo prescrito
torna acessível para todos aprendizagens e competências fundamentais. Este promove a
distribuição de pré-requisitos para se apreender outras aprendizagens importantes numa
escola democrática e inclusiva. No entanto, não podemos educar todos os alunos
indiscriminadamente, sob o prejuízo de se desvalorizar o diálogo entre culturas
identificativas da comunidade onde o aluno está inserido.
Estamos numa era de globalização social/geográfica. Eliminaram-se fronteiras culturais
e formaram-se micro-sociedades em espaços concretos. Hoje vive-se a concretização de
identidades históricas, sociais, étnicas e culturais em espaços de partilha e compromisso
entre as partes envolvidas.
A escola é um espaço privilegiado neste diálogo, uma vez que ao ser massificada e
obrigatória, se tornou num local de preparação das crianças e dos jovens para a
integração social no mundo dos adultos.
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
29 Carla Rêgo Pires
A homogeneidade não existe, daí que se fale em conflitos entre a globalização e a
diversidade, mas é destes conflitos que sai um enriquecimento cultural. Aliás, o acto
educativo não é simples. Já não se fala apenas em transmissão de conhecimentos do
currículo oficial de modo linear.
Hoje, não se esquecem as singularidades, isto é, as subjectividades não ponderadas no
currículo nacional. Ora, insistirmos num currículo único seria negar o processo de
globalização e falhar nos princípios da própria escola de massas – igualdade de
oportunidades e afastamento da exclusão social.
O professor adquire um papel primordial neste processo de organização curricular em
torno das idiossincrasias da comunidade onde a escola está integrada. Ao currículo
oficial nacional terá de acrescentar um diálogo entre culturas e promover trocas
saudáveis entre todos os actores. A partir daqui poderá haver uma apropriação de
conhecimentos e competências que a escola quer divulgar. O conhecimento é trabalhado
e adaptado à realidade. Efectivamente, há uma modelação do currículo oficial feita pelo
professor que se torna um investigador/observador participante.
O contacto in loco com os alunos em contexto sala de aula e escola facilita o acesso do
professor à análise das competências de cada um. O professor fará o filtro do sistema
escolar, educativo e social, criando ligações, contactos cognitivos e culturais positivos.
3.3 Educação Multicultural:
Como um espaço multicultural, a Escola será a possibilidade de se mostrarem todas as
identidades necessárias na estruturação das aprendizagens dos alunos. O Professor terá
de ter vontade em investigar no conhecimento dos seus discentes e resolver diariamente
o conflito entre a globalização e a diversidade. Ao apostar no respeito e consideração
pela diferença, faz do currículo oficial o início de um currículo vivido plenamente pelos
alunos no processo de coesão e integração social.
A educação intercultural tem subjacente uma gestão flexível do currículo de suma
importância na Escola e na actuação dos professores nas adaptações curriculares que
devem fazer. Fala-se numa adequação do trabalho docente à diversidade dos contextos
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
30 Carla Rêgo Pires
culturais no sentido de se atingir um ensino mais capaz de promover a igualdade de
oportunidades. É imperativo perceber que cada escola tem de ter um projecto educativo
específico para a sua comunidade, portanto terá de exercitar o seu direito à autonomia
escolar.
Os professores necessitam de participar nesta configuração de um ensino menos
centralizado. Educar é mais do que passar conhecimentos académicos, é instruir sob o
ponto de vista individual e social – eis o novo paradigma da escola inclusiva.
Ora, é no exercício da interdisciplinaridade que o currículo vivido se integra mais
capazmente e se afasta do ensino monodisciplinar de até então.
A Escola abre-se à comunidade, criando relações entre ela e os seus elementos que
deverão ser tidas em conta quando se integram alunos oriundos de culturas, etnias e
raças diferentes. A criação de turmas de Percursos Alternativos e as Adaptações
Curriculares são as respostas, entre outras, como os Cursos de Formação Profissional,
que a escola procura com o objectivo de permitir a estes alunos uma escolha mais
adequada às suas expectativas de futuro laboral. No entanto, em momento algum lhes é
retirada a possibilidade de prosseguirem estudos a avançarem na sua vida académica.
Isto não seria possível se executássemos o currículo prescrito como único.
Para além de educar, a escola procura nesta flexibilização curricular instruir os
discentes, mostrando aos docentes a possibilidade de livremente desenvolverem
processos significativos de transmitirem conteúdos, sem isolarem os alunos da sua
identidade cultural. Há, claramente, um afastamento das práticas lectivas uniformes,
quase estandardizadas.
No processo de globalização que se tem vindo a realizar, deixou de ser profícuo definir
os mesmos objectivos, conteúdos, usar os mesmos materiais educativos e organizar a
carga lectiva nos mesmos moldes. Há que respeitar heterogeneidades, estruturando
dinâmicas de inclusão e interacção pedagogicamente diferenciadas.
Nesta perspectiva, torna-se imprescindível reconhecer à escola a sua autonomia, e fazê-
la acreditar que pode ser inovadora, mudando a visão que alguns alunos nutrem pela
escola. Os projectos curriculares, se adequados pelos professores, são funcionais e
promovem uma educação escolar de qualidade na construção de saberes prescritos e
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
31 Carla Rêgo Pires
vividos, só assim gerando inovação, integração e aproveitamento de recursos no
caminho para o sucesso de todos.
Citando Diogo (2004)16
, «A gestão flexível do currículo pressupõe e exige um professor
reflexivo e colaborativo que centre as suas preocupações e a sua acção na aprendizagem
e não no ensino, partilha conhecimento e interrogações, assume responsabilidades e
desafios e investiga com os seus pares os caminhos da adequação educativa aos seus
destinatários».
Na realidade, aquilo que acontece na Escola é que o professor pauta a sua tarefa de
prática pedagógica por uma atitude onde o domínio dos conhecimentos e conteúdos é
maior do que o desenvolvimento individual e psicológico do aluno. Valorizam-se pouco
estratégias de aprendizagem profundas e menos mecanizadas. O ensino ainda é muito
centrado na pedagogia do professor, embora tenha havido um aumento da preocupação
com o aluno que manifesta dificuldades de aprendizagem, aplicando-se medidas
pedagógicas definidas em planos de recuperação a pôr em prática no contexto escolar.
Saliente-se que há docentes para quem o desenvolvimento psicossocial e individual do
aluno é fulcral, apostando no crescimento de competências científicas, da autonomia, da
cooperação e do trabalho de equipa com os seus pares na busca de estratégias
estimuladoras de competências pertinentes na formação geral dos discentes.
3.4 Aculturar ou Integrar:
Presentemente, há uma organização social que apela à gestão democrática dos seus
cidadãos, num Estado-Nação promotor da igualdade de oportunidades e de direitos.
A Escola, como organização eminentemente social, fomenta estes princípios de
igualdade ao afirmar, de acordo com a LBSE, que «Todos os portugueses têm direito à
educação e cultura, nos termos da Constituição da República.»17
Subentende-se que a
16 DIOGO, Fernando (2004) Comunicação em Seminário organizado pela Câmara Municipal de
Mangualde.
17 Lei de Bases do Sistema Educativo, Capítulo I, Artigo 2º.
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
32 Carla Rêgo Pires
escolarização obrigatória deva servir para preparar todos os indivíduos para a sua
integração no mundo laboral e, consequentemente, social. Contudo, o que se preconiza
na Escola é a uniformização de capacidades pela transmissão de paradigmas
representantes de um modelo aceite pela maioria. Assim, parece claro que o acesso
análogo a direitos cívicos, políticos e sociais não acontece tal e qual se preconiza, apesar
de formalmente registado em documentos legislativos.
Relativamente ao povo cigano, perante a lei, são considerados cidadãos de plenos
direitos, quando, efectivamente, na realidade continuam a ser vítimas de xenofobias e
racismos descontextualizados, mas hereditários. Este aspecto só contribui para acentuar
as actividades marginais que realizam e sustentar uma economia paralela, em nada
abonatória para o equilíbrio financeiro do país. Esta população, sem representação
política, vive diariamente episódios de exclusão social, muito embora tenha havido um
investimento político de reinserção – hoje o cigano já tem condições confortáveis de
habitação e já vai à escola, logo reduzindo, deste modo, o desconforto de entidades
empregadoras aquando da selecção de pessoal. Apesar disto, a segregação social
acontece devido a estereótipos que se criaram e se alimentam há quase cinco séculos.
Quando questionados sobre o povo cigano, o cidadão comum manifesta-se apreensivo,
desconfiado e acusador de actos violentos e ilícitos por parte deste povo. A generalidade
das pessoas mostra incompreensão perante a ausência de regras laborais. O cigano não
obedece ao estereótipo do trabalhador que aceita a necessidade de se integrar no mundo
do trabalho e respeitar as suas regras como necessárias à manutenção da estrutura social
e familiar. Ele realiza actividades que lhe permitem gerir as suas próprias regras, em
função das suas necessidades. Isto é, trabalha livremente, criando os seus horários e
usufruindo de benefícios financeiros que não declara ao Estado, não contribuindo, por
isso, para o equilíbrio económico do país que o acolhe.
Na verdade, este facto demonstra, claramente, o vínculo cultural do povo cigano. É uma
questão de identidade que os une e distancia dos demais. Este povo incrementa as suas
desigualdades como forma de afirmação, de identidade étnica, cuja simbologia passa
por actuar no seu dia-a-dia de modo diferenciado. «A identidade constrói-se, assim, em
grande parte, pela diferença: cada grupo dá valor à sua diferença dos outros grupos para
manter a sua originalidade…» (Liégeois, 1986)
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
33 Carla Rêgo Pires
O convívio com a sociedade dominante e a necessidade de apoios financeiros
mostraram ao cigano a necessidade de adaptação ao meio que o envolve e consequente
aculturação de aspectos da cultura dominante de forma a contornar a exclusão e
fomentar a sua inclusão social.
Importa, agora, percebermos a questão cultural que faz deste povo alvo de exclusão.
Sendo a cultura uma identidade do indivíduo que pertence a um grupo, ela é passada
entre gerações que a assumem como uma aprendizagem necessária, demonstrando
respeito pelas origens. Desde sempre o povo cigano foi, fundamentalmente, nómada.
Como tal absorveu identidades culturais sem, no entanto, negligenciar a sua. As
influências permitiram assimilação e adaptação à população por onde foram passando.
Os problemas nascem a partir do momento em que é exigido ao povo cigano a
sedentarização e adaptação a novas circunstâncias de vida, afastadas das actividades que
até então praticavam quase em regime de exclusividade – a venda ambulante. Se uns
aceitam, outros há que recusam esta imposição de um sistema económico que os apoia,
mas exige retorno financeiro.
A nossa sociedade é, fundamentalmente, organizada em torno de actividades laborais –
há uma organização do quotidiano em função de horários de trabalho e em função de
uma organização económica de uma sociedade de consumo. Ora, o cigano não se
identifica de imediato com estes aspectos e, no seu grupo, começa a haver desunião –
uns percebem a necessidade de adaptação e integração, outros manifestam uma vontade
renitente de afirmarem a sua identidade cultural e liberdade étnica. O povo cigano sente
uma ameaça inerente à sua integração, mas, por outro lado, deseja a aceitação e os
apoios sociais vinculados pela mesma. Ciente de que a aculturação trará mudanças nos
seus hábitos e alterações nos seus valores, quer morais, quer culturais, mostra-se
receoso, até desconfiado.
Bastide (1989)18
defende que as consequências da aculturação são indefiníveis na
medida em que não se controla o que será mantido e o que será alterado. Não
poderemos saber até que ponto estamos perante aspectos herdados da sociedade
dominante e quando deixou de haver o processo de simbiose.
18 BASTIDE, Roger (1989) – As Religiões Africanas no Brasil – Contribuição de uma Sociologia das
Interpenetrações de Civilizações, 3ª Ed., São Paulo, Pioneira Editora
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
34 Carla Rêgo Pires
A ambiguidade é, assim, inerente a todo o processo a partir do momento em que há uma
certa coacção da sociedade que recebe estas minorias. Não deixa de ser curioso que,
apesar de perceberem o quão necessário é a integração, esta minoria étnica aceita o que
lhe traz benefícios para a sua vida pessoal e grupal.
O facto de aceitarem abandonar a vida nómada e de viverem em casas camarárias,
permite-lhes aceder a condições de vida e regalias sociais que não tinham outrora.
Embora afirmem que gostavam da vida em barracas, melhoram as circunstâncias que
lhes permitem o acesso a estruturas como a Escola, a Saúde, e apoios financeiros que os
tiram da mendicidade e precariedade em que viviam. A Aculturação acontece, mas a
identidade do grupo é forte e mantém-se identificativa. O povo cigano continua a
manifestar a sua cultura de base em momentos festivos e até mesmo na sua forma de
ser/estar.
No entanto, já compreende a necessidade da escolarização, embora ainda haja uma
elevada percentagem de absentismo e abandono escolar.
3.5 Escola Inclusiva / Integradora:
Ao considerar-se este aspecto, afere-se de imediato que a ideia de estagnação na
instituição escolar é errada. A adaptação da Escola passa por reformas que não podem
ser radicais, nem podem cortar com o passado sem dele retirarem algo. Mudar implica
contornar mentalidades, logo mexer com o perfil psicológico do indivíduo, o que não é
fácil, uma vez que estamos perante uma imensa heterogeneidade de questões sociais e
individuais que envolvem todo o trabalho escolar.
A Escola será um reflexo da sociedade ao não ser passiva perante o meio envolvente. A
Sociedade depende daquilo que a Escola for, mas esta tem de ter em linha de conta
factores geográficos, sócio-económicos e culturais para permanecer e evoluir.
À Escola é-lhe reconhecida uma autonomia relativa face à Sociedade. No entanto, não
deixa de ter de prestar contas a um poder político estrategicamente controlador. As
contradições do modelo de gestão escolar acontecem quando se defende que os
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
35 Carla Rêgo Pires
contornos sociais implicam contextos escolares diferenciados, mas depois se verifica
uma administração centralizada e dependente do poder político vigente. A relação da
Escola com o meio local não é, nem poderá ser, passiva ou inconsciente. As
probabilidades de inter-influência podem ser eficazes e competitivas com vista a uma
integração efectiva do indivíduo no sistema laboral.
O conceito de Educação, embora tenha vindo a sofrer alterações diversas, ainda não está
perfeitamente clarificado no corpo docente activo. Emile Durkheim (1984) considera a
educação uma «socialização metódica» na procura do «ideal de homem». Só assim se
entende a sua defesa da homogeneidade dos indivíduos através da Escola. Esta
perspectiva socializadora contra o individualismo é contrária ao que hoje se preconiza –
a acção escolar, gradualmente, deixou de se centrar na figura do professor e procura-se,
agora, apelar ao desabrochar de actividades individuais criativas, afirmando-se a
valorização das diferenças e não a homogeneidade de aprendizagens. Assim, tal como
afirma João Barroso, «o que está em causa na continuidade não é a pessoa do rei, mas a
função»19
.
Hoje pede-se à Escola que pondere as variáveis sociais e organizacionais no sentido de
se promover um sucesso escolar profícuo em competências capazes de gerar um
aumento do bem-estar social comunitário. Esta organização social está em fase de
mudança nos seus paradigmas pedagógicos. O conceito de Educação não possa mais
afastar-se da questão do Poder que está implícito nos processos pedagógicos, daí que a
Educação não possamos admitir neutralidade e independência no seu campo de acção.
Os actores deste cenário educativo não podem perder de vista a finalidade do processo –
o Ensino. A Educação tem de ter uma intencionalidade definida e uma tentativa de
transformar o outro, criando-se, desta forma, uma interacção/relação social promotora
de desigualdades, ao partir da individualidade de cada um. O cidadão passa por
processos políticos, económicos, sociais e culturais que o transformam. E é aqui que
não podemos esquecer a estrutura do Poder que se manifesta e se constrói nas relações e
interacções sociais.
19 Barroso, João. Questões Emergentes e Desenvolvimentos Futuros, Universidade de Lisboa, 2007, p.164
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
36 Carla Rêgo Pires
Efectivamente, a Escola tem de mudar para continuar a impor-se como modelo de
referência para a educação de todos os discentes, como defende João Barroso20
.
Contudo, importa não nos afastarmos da ideia de que a Escola perdeu a sua função
essencial de transmissão de conhecimentos e o seu papel deixou de ser claro para a
sociedade que a sustenta. A Escola tem por obrigação ensinar os que não sabem, usando
os que sabem nessa dialéctica organizacional de base.
A Escola, neste domínio de educadora, tem vindo a desaparecer ao não cumprir o seu
papel de promotora da igualdade na integração do indivíduo, gerando as desigualdades,
que embora façam a máquina social movimentar-se, não permitem a todos opções de
escolha equitativas.
É de todo pertinente que os professores tenham clarificadas as funções sociais da
Escola. Pensamos que a formação excessivamente científica e teórica que os docentes
trazem consigo na sua formação académica de base possa colocar entraves a orientações
teórico-pedagógicas que promovam, como defendemos, a transmissão de
conhecimentos, ideias, habilidades, capacidades, atitudes, interesses e comportamentos
com base na sociabilização dos alunos.
«A Escola transborda de encargos e expectativas», António Nóvoa (2005, p.19)21
, pois
espera-se que os alunos sejam preparados para a sua integração individual no mundo do
trabalho e que sejam criados cidadãos adultos, participantes na vida social, cidadãos
proactivos, consumidores e produtores de bens sociais. Assim, garantir a reprodução
social e cultural é condição sine qua non para a sobrevivência da própria sociedade.
Ora, surge, aqui, a função reprodutora das massas, alheia a diferenças étnicas e
individuais, onde o curricula opera, indiferente, com objectivos claramente definidos.
Se tivermos em linha de conta que à Escola compete apenas potenciar os jovens de
competências e motivações capazes de incrementar a sua aprendizagem vitalícia,
20 Idem.
21 NÓVOA; António, As Organizações escolares em análise, Lisboa. D. Quixote/ Instituto de Inovação
educacional, 1992.
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
37 Carla Rêgo Pires
poderemos entender esta violência simbólica como a base de trabalho futuro, que
poderá ser o ponto de partida para a afirmação individual. A função educativa não pode,
apesar disto, ser negligenciada.
É importante que se utilize o conhecimento na compreensão das origens culturais de
cada um. Os mecanismos educativos, embora reprodutores da sociedade em que se
integra o indivíduo, devem procurar compensar, diminuir até, os efeitos da diversidade e
capacitar o aluno na defesa dos seus princípios e objectivos individuais na globalidade
social.
O docente preparado, será, agora, aquele que facilita a construção de conhecimentos,
atitudes e comportamentos onde as suas práticas sociais de base de reorganizam na
Escola com vista a alcançar o sucesso. A sociedade moderna considera que a Escola
abarca funções para além da simples transmissão de conteúdos cognitivos e aquisição de
competências que preparam para o mundo do trabalho. Presentemente, é reconhecida a
participação de factores como a estrutura escolar, a família, as características
individuais do aluno e a própria sociedade que o acolhe na relação ensino-
aprendizagem.
Não basta que a escola seja boa, ela tem de ser boa para todos os alunos,
independentemente do seu nível económico, social, e das diferenças raciais/étnicas.
Se muitos consideram a Escola como educadora social, outros há que pensam nela
como entidade socializadora e responsável pelo acompanhamento do processo de
crescimento biológico e social do indivíduo. A este é-lhe requerido que adquira
competências para participar de forma integrada e positivamente participativa no seu
grupo social. Não podemos esquecer que a Educação tem, hoje, uma função pertinente a
nível da criação de possibilidades igualitárias na melhoria de condições de vida pessoal
e social de cada um.
Obviamente que as estratégias da Escola para realizar isto têm de ser criativas e
inovadoras. Responsável pela protecção e educação social, a Escola terá de procurar
minimizar situações sociais injustas e que poderão conduzir a situações de revolta
violenta. Aliás, em muitos casos, as manifestações de violência nas Escola, e na
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
38 Carla Rêgo Pires
sociedade em geral, advêm de insatisfações sentidas e da convicção de que alguns são
privados do direito ao sucesso social/individual almejado por todos.
É crucial, embora difícil, que avaliemos a Escola em todas as perspectivas, ou seja, num
carácter sistémico globalizante.
Todos os actores deste processo devem sentir que estão a trabalhar com políticas
públicas inclusivas. Nos últimos anos, os desenvolvimentos no campo dos estudos sobre
a Educação têm privilegiado a qualidade do ensino e a gestão educativa. As conclusões
têm demonstrado que a qualidade dos sistemas educativos não pode estar balizada por
burocracias lentas e centralizadoras, preocupadas com normas impeditivas da célere
resolução de problemas locais.
Sim, é verdade que a Escola marca a diferença no desempenho dos alunos e, aqui, entra
o papel fundamental da gestão escolar quanto ao alcance de objectivos eficazes. Os
factores considerados fundamentais na promoção da qualidade do ensino são o
compromisso político, as parcerias locais, a valorização do pessoal docente, uma gestão
democrática, a modernização da gestão escolar, e a racionalização/produtividade do
sistema educativo.
A situação de desigualdade nacional que se vive nas escolas públicas remete-nos, de
igual modo, para uma atitude de submissão em que os próprios professores se
encontram perante o poder político, resultante do controlo formal da administração
central e do próprio ambiente escolar do qual fazem parte. Importa não esquecer que os
professores se consideram meros divulgadores de conhecimentos de uma cultura
científica instituída que consumiram. Este tem sido um dos aspectos que nos leva a
considerar a Escola como uma organização resistente à transformação, embora aposte
na melhoria de qualidade do ensino, mas ainda longe da equidade do mesmo.
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
39 Carla Rêgo Pires
Capítulo IV
4.1 O Papel do Docente:
Tem vindo a questionar-se a formação ideal e necessária dos professores desde há muito
tempo. Procurar integrar a teoria com a prática e promover a interdisciplinaridade são
conceitos que se afirmam nas políticas nacionais de formação de docentes. Estes
assumem um papel imprescindível porque «O ensino das aptidões básicas necessárias à
angariação da substância numa comunidade moderna passou para o sistema educativo».
(Musgrave, 1979, p.50)22
«O ponto de vista pedagógico não é uma soma de parcelas de saberes teóricos que,
embora necessários, nunca serão suficientes para alicerçar a compreensão da situação
escolar e a formação do discernimento do educador. Nesses termos, é claro que não há
fórmulas prontas para orientar essa formação, mas o próprio conceito de vida escolar é
básico para que se alcance esse discernimento». (Azanha, José, 2004, p.370)23
Na verdade, num país onde as diferenças económicas, culturais e sociais se agravam
com a globalização e abertura de mercados poderia considerar-se que a formação capaz
de responder a esta problemática fosse a ditada pela Lei de Bases do Sistema Educativo.
Aqui, promove-se um vértice comum na Educação – a necessidade da integração do
indivíduo no seio sócio-cultural a que pertence.
Conceitos como Educação, Cidadão e Sociedade não são estanques e inter-relacionam-
se constantemente. Separá-los colocaria em risco o grande objectivo do sistema
educativo: é fundamental ter em conta todos os componentes do sistema, compreender
22 MUSGRAVE, P.W., Sociologia da Educação, Fundação Calouste Gulbenkian, 1994.
23 AZANHA, José Mário Pires. Uma reflexão sobre a formação do professor da escola básica. Edu.
Pesqui, 2004, volume 30.
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
40 Carla Rêgo Pires
as suas inter-relações, descodificar possibilidades de solução e prever consequências da
sua aplicação.
Mais uma vez, é pedido ao professor/técnico que fomente a conjugação, no indivíduo,
de atitudes activas, reflectidas e intervenientes na grande escala social e cultural a que
pertence, assim como a compreensão do que lhe é exterior, de modo a poder tomar
atitudes activas e produtivas.
A formação de professores tem levantado questões diversas no plano educativo. A
procura de novas formas de organizar o seu trabalho reflecte-se em acções de formação
contínua que incentivam a divulgação de novas propostas de posicionamento laboral. O
processo de mudança é lento e a resistência à mudança é real, pois na actuação docente,
existem práticas rotineiras confortáveis na aplicação de directivas. No dia-a-dia do
professor surgem problemas distintos na sua transmissão e validação de conhecimentos
que devem ser ponderados na análise das relações do processo ensino-aprendizagem.
Importa não esquecer que a mudança não se caracteriza por um processo de ruptura com
práticas tradicionais. Aliás, toda a mudança ocorre lenta e gradativamente, no sentido de
se irem abandonando práticas anteriores e aplicar novas formas de promoção de ensino.
Obviamente, há factores individuais que levam a práticas diferentes. É o caso das
características pessoais do professor e do próprio modo como vivencia as propostas de
mudança. Qualquer alteração na concepção do ensino desencadeia mudanças na forma
de trabalho da organização escolar. A necessidade de transformação das organizações
escolares implica, sem margem de dúvida, uma mudança na formação dos professores,
na prática pedagógica na sala de aula, assim como o investimento em projectos
escolares, e, também, uma mudança ao nível da organização escolar e do seu
funcionamento.
Saliente-se que, aplicar mudanças na prática sem descurar o equilíbrio entre o realismo
conservador e o optimismo ingénuo, como defende Perrenoud (1993)24
, e procurar uma
24
Perrenoud, Ph. (1993). Práticas pedagógicas, profissão docente e formação : perspectivas
sociológicas. Lisboa: Dom Quixote.
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
41 Carla Rêgo Pires
distância ideal entre a formação de professores e a sua prática em contexto escolar, não
é claro para todos. Esta distância que surge fundamental na redução das injustiças do
sistema, deve ser feita longe de radicalismos que só acentuariam o insucesso escolar e a
frustração do corpo docente, até porque, o processo de mudança na prática docente é
complexo, exige tempo e muita reflexão, quer individual, quer dentro do próprio grupo
disciplinar/escolar. Desafiar a postura do professor como figura central no processo
ensino-aprendizagem traz limitações e resistências à novidade.
É importante pensarmos que, quando há uma proposta de mudança que é imposta
politicamente por órgãos externos às escolas, ela tem de atingir o professor para ser
significativa, reflexiva e real.
É evidente que estamos perante um desafio, mas esse é, também, o problema que se
coloca à Escola de hoje – o desafio diário de milhares de docentes que procuram a
solução milagrosa no sentido de optimizarem os resultados escolares e possibilitarem
um ensino de qualidade e equidade.
Diferenciar parece ser fundamental numa educação igualitária. Respeitar as
idiossincrasias, os diferentes contextos escolares, e as próprias individualidades exige
um professor preparado e alerta para compreender a diversidade. E não me reporto
apenas a aspectos culturais, mas também a factores económicos e sociais. Diferenciar
envolve, pois, dispor da possibilidade de selecções curriculares. O trabalho docente terá
de ser reavaliado para possibilitar a adopção de práticas em contextos multiculturais.
Sabemos que, sem este ajustamento social e cultural, não será possível uma real
igualdade de oportunidades. Os próprios processos de avaliação de conhecimentos não
são neutros ao aferir sobre a cultura dominante em regime de exclusividade. Sejamos
realistas: esta é mais uma forma de se garantir a estratificação social necessária ao
equilíbrio dos cidadãos. O comportamento pedagógico do docente não é alheio a esta
imparcialidade ao ter expectativas distintas face a alunos de minorias étnicas.
Os colegas e os próprios alunos assumem esta avaliação como verdadeira e agem em
conformidade com as expectativas que são criadas face a eles. Se, socialmente, têm uma
posição desfavorecida, a sua auto-estima, motivação e categorização por parte dos
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
42 Carla Rêgo Pires
avaliadores, contribui para o insucesso, abandono e indisciplina em contexto escolar. E,
assim sendo, é-lhes negada a igualdade de oportunidades.
Se analisarmos a realidade das infra-estruturas, verificamos que os valores presentes na
escola de elementos decorativos, de projectos escolares, de celebração de datas festivas
e de selecção de pessoal auxiliar identificam a cultura dominante. É um pouco como
acolher visitas sem, contudo, lhes fornecer o necessário para que se sintam «em casa».
Os professores podem usufruir de uma certa margem de manobra e fazer escolhas, quer
relativas aos objectivos, quer aos conteúdos, representativas da diversidade existente na
escola.
4.2 Integração e o processo de Autonomia das Escolas –
enquadramento legal da problemática em análise:
Muitas vezes, a introdução de novas práticas não passam, para alguns, da alteração do
discurso individual ou colectivo, levando à criação de conflitos, quer dentro da Escola,
quer com o poder político vigente. Muitos desses conflitos são marcados pelas atitudes
diversificadas de integração do trabalho docente no contexto da Escola e da Sociedade.
Assim, surgem diferentes problemas que tendem a reduzir a autonomia escolar e
aumentar a resistência à mudança. Agradar a Gregos e Troianos sempre foi muita
ambição.
Note-se que o processo de autonomia já vem acontecendo desde 1974, quando acontece
a mudança política e se passa de um Estado centralizado, para um processo de
desconcentração administrativa. Esta mudança prolifera com a criação da Lei de Bases
do Sistema Educativo, onde é promovida a ligação da Escola à comunidade educativa –
criando-se, deste modo, uma administração, gestão escolar e alterações curriculares
diferentes.
João Formosinho (2000)25
diz mesmo que se concretizam medidas para descentralizar
decisões em parceria com organismos locais fortes e autónomos. A ligação entre o
25 Formosinho, João, Fernando Ilídio Ferreira, Joaquim Machado. Políticas educativas e autonomia das
escolas. Porto: Asa. 2000
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
43 Carla Rêgo Pires
Poder Central e a Administração Local unem esforços no sentido de «intervir na
mudança na escola através de formas de governança» (Barroso, 2007,p.171)26
. Há que
pensar, agora, na questão de Poder e Autoridade, e no jogo de papéis que estes dois
aspectos potenciam.
Estes aspectos advêm do facto de as escolas terem acesso a recursos diversos, quer em
termos de quantidade, quer de qualidade, na promoção do novo modelo de gestão. A
questão que se coloca agora é se esses mesmos recursos, que supostamente dariam
maior autonomia de gestão escolar, estão a ser correctamente usados nesse sentido. As
relações de Poder que se instalam no âmbito da escola pública tornam mais complexas
as mudanças necessárias para optimizarem resultados na micro-organização que é a
escola/agrupamento.
A acção de todos os intervenientes acontece com uma naturalidade rotineira passiva - há
uma hierarquia definida desde o Ministério da Educação até às escolas que mobiliza
todos os actores, mesmo quando não se conformam com as regras ou ordens que têm de
respeitar.
O papel do Estado e os modos de regulação de toda esta dinâmica são pertinentes, na
medida em que permitem a criação de procedimentos normativos e legais imparciais,
mas não podem ter uma perspectiva impositiva e taxativa inflexível. Ao professor
compete, entre outros aspectos, a tarefa de reajustar as Normas ao seu contexto laboral.
Fala-se, agora, em descentralização. A transferência de poderes de decisão, confinados
até então ao Estado, passa para entidades especializadas, independentes do Estado
central. Trata-se de uma descentralização funcional ao estar confinada a decisões que
abarcam gestão de recursos e que permitem às Escolas definir o seu projecto educativo,
o seu plano anual de actividades e o seu regulamento interno.
Saliente-se, no entanto, que a legislação de base a todo este trabalho vem do Ministério
da Educação, e não poderá ser ilegalmente adulterado sob o prejuízo de uma infracção
26 Barroso, João. Questões Emergentes e Desenvolvimentos Futuros, Universidade de Lisboa, 2007, p.171
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
44 Carla Rêgo Pires
grave ao equilíbrio de sistema educativo. Apela-se, agora, a um compromisso firme
entre todos os actores.
O reforço da Autonomia das Escolas trouxe novos parceiros de trabalho. A Escola abriu
as suas portas à comunidade circundante local. O apelo à participação dos pais, das
Câmaras Municipais e das Juntas de Freguesia, transformou a estrutura organizativa das
Escolas. Assim, ao Estado cabe o papel de estabelecer e regular os parâmetros
elementares no sistema educativo. A negociação para a execução de projectos, a análise
do trabalho docente/não docente, a verificação do (in) sucesso e absentismo passam a
ser redistribuídas no seio da governação pública.
Considera-se, deste modo, haver uma repartição do Poder e das Responsabilidades. As
lógicas de acção passam para o poder autárquico no âmbito educativo e para os diversos
actores nesta mudança do papel político interventivo do Estado. Trabalha-se num bem
comum a todos e do qual todos tiram benefícios, sem descartar as suas
responsabilidades. A lógica de acção individual ou colectiva resulta da observação
reflexiva contextualizada, que permite ver como a realidade está a ser interpretada.
Importa, então, aceitar que uma organização não é apenas coesão. Os diferentes pontos
de vista são fundamentais na acção social ao dar dinamismo à própria organização.
Todos procuramos o que consideramos ser melhor, mas o paradigma da análise da
realidade passa por esta luta na abordagem da interpretação e aplicação de soluções.
Resolver situações traz constrangimentos quer a nível de recursos, quer a nível da
consciência individual de cada um.
A educação dos cidadãos está, desde sempre, ligada a factores históricos. A sua
definição e a sua organização são impostas por políticas sociais estruturadoras da
própria sociedade, com vista ao bem-estar geral. O aglomerado destes trâmites interfere
na concepção e desenvolvimento da educação.
O contrato que é feito com as Escolas é essencial para responder à própria
modernização que se tem vindo a vivenciar a nível de valores e condutas mundiais. A
aplicação deste modelo vigente clarifica os papéis de todos, aumentando eficazmente a
gestão escolar pela responsabilização hierárquica.
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
45 Carla Rêgo Pires
A alteração da posição do Estado na organização do sistema educativo conduz-nos a
novas lógicas de acção específicas para cada contexto, mas, também cria tensões entre o
Poder central e o Poder local. As respostas encontradas na tentativa de abranger os
domínios do serviço escolar público – Acesso, Sucesso, Apoio socioeducativo e de
guarda, Participação, e Cidadania - encontram fraquezas na afirmação do processo
educativo local. As condicionantes financeiras e humanas são regulamentadas pela
Administração Central, ora, as relações entre esta e os poderes locais são distintas,
levando a atitudes diferenciadas.
Os novos modos de regulação de resultados da Escola têm a intervenção do Poder local,
criando-se uma relação entre ambos, condicionada por lógicas de acção dos autarcas e
dos professores.
É nestes que mais se reflecte a mudança na organização escolar ao ser-lhes pedido que,
para além de passarem conhecimentos no contexto sala de aula, trabalhem os alunos
com vista a atitudes proactivas que lhes permitam uma realização social/individual
plena e se afastem da exclusão social.
Fala-se em ensino individualizado e em transformação de práticas escolares, mas este
discurso político não é inovador. Sempre se tentou colmatar as diferenças com atitudes
diferenciadas de acordo com as potencialidades de cada um.
O grande desafio é, agora, partir destes ideais de Escola integradora e afastarmo-nos da
perspectiva darwinista, dando ferramentas iguais a todos os actores. Resta sempre o
problema de que nem todos vão operar do mesmo modo.
Munir as escolas de recursos e dar-lhes liberdade de gestão vai ao encontro do princípio
da equidade ao tornar possível adequar os meios e estratégias de aplicação ao contexto
específico da realidade escolar em questão.
A grande dúvida que se coloca é saber se, com esta reforma de gestão, há alteração no
contexto sala de aula capaz de minimizar os efeitos da passagem do ensino elitista
anterior, para a actual massificação do mesmo.
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
46 Carla Rêgo Pires
O sistema educativo fomenta a dita cultura de escola, que não é mais do que o reflexo
de uma cultura média, alheia a extremos e promotora de desequilíbrios dentro de sala de
aula que, posteriormente, se reflectem em violência no contexto escolar e abandono da
escolaridade. A Escola está integrada num contexto da classe dominante e o professor,
ao transmitir esses valores, está a promover um ensino homogeneizado, discriminatório
e simbolicamente violento. Na verdade, esta posição continua a ser muito cómoda para
o docente. O conceito de Classe, de que fala João Barroso, entre muitos outros, é um
modo de compartimentar alunos e criar a selecção dos mesmos, dividindo-os dentro da
sala de aula ao considerarmos o indivíduo pelo todo. Então, o que se faz é caracterizar
elitistamente o massificado e generalizado a todas as classes sociais.
Naturalmente, sabe-se que não é fácil trabalhar cada aluno como se fosse um só, tendo
de cumprir planos educativos impostos para a maioria. Organiza-se o núcleo escolar do
mesmo modo que outrora. A turma/classe coexiste num espaço comum e partilham
actores neste processo global. Se nos afastámos da massificação nacional, estamos
agora num plano mais circunscrito, mas semelhante. Continua-se a afastar a necessidade
de se perceber a heterogeneidade de todos, não só a nível superior de gestão/direcção
escolar, como a nível intermédio na relação pedagógica. Em cada escola, há um
conjunto de factores que a tornam específica – financeiros, culturais, políticos, sociais e
individuais. A possibilidade de os docentes considerarem estes factores na sua actuação
pedagógica parece irreal quando é feita uma avaliação externa que tem em linha de
conta resultados em exames nacionais sobre conteúdos obrigatórios.
A organização escolar está repleta de contradições e é preciso que os professores
tenham consciência delas a fim de se poder minimizar os seus impactos sociais. A
mudança também assume um carácter hierárquico e global ao passar por todos. São
estas variáveis que dificultam o sucesso da reorganização pedagógica.
A Autonomia e a Descentralização deram à Escola a possibilidade de interpretar o
currículo a nível local. Apela-se, presentemente, a uma abertura da classe docente e a
uma alteração do modo de ensino. João Barroso (2003) afirma que a entrada no século
XXI inicia um novo ciclo nas políticas educativas portuguesas, a que chama
descontentamento. Embora se trate de um problema contemporâneo, é pautado por uma
crise de soluções que buscam promover a igualdade com base na desigualdade.
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
47 Carla Rêgo Pires
II Parte
Estudo Empírico
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
48 Carla Rêgo Pires
Capítulo V
5.1 Contextualização sócio - geográfica da problemática em
estudo
O Agrupamento de Escolas do Cerco está situado na zona oriental da Cidade do Porto,
freguesia de Campanhã.
Esta freguesia constitui-se como uma das mais populosas da cidade (cerca de 40.000
habitantes), sendo a maior em termos geográficos. Ocupa um quinto da área do
concelho do Porto (cerca de 8,13Km2).
Uma zona de forte exploração agrícola e importantes indústrias do tecido industrial
portuense no passado depara-se, actualmente, com um declínio das actividades mais
tradicionais.
A sua população, constituída em grande parte por operários, dedica-se, cada vez mais,
ao comércio e serviços.
Na generalidade, os níveis de escolaridade e a motivação para o estudo são baixos; os
códigos linguísticos da maior parte das famílias são restritos bem como a qualificação
profissional, nomeadamente, no que se refere à inserção e manutenção no mercado de
trabalho.
A freguesia de Campanhã concentra o maior número de Bairros Sociais da Cidade:
Cerco, Falcão, Lagarteiro, PegoNegro, Polícia, S. Roque, Monte da Bela e Ilhéu. Neles
coabita um grande número de indivíduos de etnia cigana – desalojados do bairro S. João
de Deus (implodido por ter sido considerado “socialmente inaceitável”) e de outros -
que têm vindo a integrar a população escolar do Agrupamento.
Nos últimos anos, num enquadramento de crise económica, os problemas sociais têm
vindo a acentuar-se assim como as vulnerabilidades e riscos envolvidos. Os
realojamentos compulsivos, com tudo o que representam na falta de resiliência por parte
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
49 Carla Rêgo Pires
das populações, aliados ao carácter obrigatório da frequência escolar - condição para o
recebimento do Rendimento Social de Inserção - têm potenciado problemas acrescidos
para o Agrupamento, nomeadamente, no que diz respeito ao insucesso, absentismo e
abandono.
Uma grande parte da população vive em condições económica e socialmente
desfavorecidas. Um grande número de agregados familiares vive em situação instável,
com empregos precários, com práticas de trabalho atípicas, com um rendimento abaixo
do salário mínimo nacional, dependendo de subsídios e imobilizando-se numa
assistência instalada, crentes no RSI.
As situações de exclusão social decorrem de um processo mais ou menos avançado de
acumulação de rupturas várias: ao nível do trabalho, do habitat, da família e, grosso
modo, ao nível da participação nos modos de vida dominantes, com a consequente
interiorização de identidades desvalorizadas.
5.2 O Agrupamento de escolas do Cerco – breve descrição
O Agrupamento de Escolas do Cerco - o maior da cidade do Porto - é constituído por
seis Jardins de Infância, cinco escolas EB 1 e uma Escola Básica e Secundária. Convive,
paredes-meias, com o bairro do Cerco.
O aglomerado e a proximidade de bairros sociais configuram-se como mais um factor
de marginalização urbana e de exclusão social, dificultando a construção de projectos de
vida.
Estas exclusões, indissociáveis, influenciam a estigmatização das escolas do
Agrupamento e dos seus contextos de inserção.
No geral, os agregados familiares dos alunos são do tipo tradicional verificando-se, no
entanto, um aumento das famílias monoparentais, com uma presença muito acentuada
dos avós como figuras tutelares.
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
50 Carla Rêgo Pires
As condições sociais dos encarregados de educação condicionam as expectativas e o
acompanhamento em relação ao percurso escolar dos seus educandos. Neste contexto, a
iliteracia funcional não favorece projectos de vida sustentados na valorização da escola.
Encontram-se alguns alunos que ainda procuram na escola e nos educadores/
professores quadros de referência, mas muitos outros que demonstram a sua
desmotivação e frustração através da irregularidade dos percursos de aprendizagem,
acumulando repetidos insucessos analisados em avaliações internas e registados no
Relatório anual de Avaliação do Projecto Educativo TEIP, 2009/2010.
Estas adversidades contribuem, de entre outros factores, para a existência de
comportamentos disfuncionais e de absentismo, em particular, no 2.º e 3.º ciclos e
ensino secundário. Esta situação, precursora de exclusão social e, potencialmente,
incursora na marginalidade, exige propostas educativas diferenciadas e complementares
de ensino, fulcrais para os jovens em situação de risco.
O cenário que caracteriza o Agrupamento e, consequentemente, os problemas que o
afectam (vulnerabilidade e riscos) dificultam e/ou impedem, em muitos casos, a
aprendizagem e a aquisição de competências por parte dos alunos.
A interacção de múltiplos factores nas origens e manifestações dos problemas implica
uma abordagem complexa e, por vezes, difícil de contextualizar, compreender e
mensurar com indicadores precisos, já que os grupos sociais desfavorecidos acumulam,
tendencialmente, uma série de handicaps decorrentes de situações de fragilidade a
vários níveis.
Trata-se de uma luta de forças constante entre o indivíduo, a sua história e contextos de
vida. Estes enformam um conjunto de representações que podem constituir obstáculos à
mensagem que a Escola pretende passar.
A comunidade escolar tem sentido alguns constrangimentos na adaptação a logísticas
que se prendem com a junção de estabelecimentos (Escola Básica e Secundária) e com a
definição, por parte da tutela, do território geo - educativo.
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
51 Carla Rêgo Pires
Estas logísticas, geradoras de obras de requalificação -com as dificuldades de gestão de
espaços inerentes - geraram, igualmente, uma participação pouco consertada de dois
tipos de cultura a que era preciso dar resposta: a de Território Educativo de intervenção
Prioritária e a de outra perspectiva das práticas pedagógicas.
5.3 Definição do Problema no Agrupamento de Escolas do
Cerco:
Presentemente, vivemos mutações sociais e financeiras capazes de alterações nos modos
de vida individual. O posicionamento do senso comum alterou-se significativamente,
atingindo características inerentes à personalidade de cada um. Falamos, agora, do
fenómeno de globalização, abertura de fronteiras e rapidez de comunicação.
Ora, é pertinente que se perceba o valor inquestionável das boas relações entre a Escola
e as famílias na formação de gerações futuras capazes de assegurar uma sociedade
equilibrada e responsável.
Como tal, compete à Escola certificar-se de que há passagem de identidades culturais,
valores morais, hábitos e convicções. No entanto, a Escola também é sinónimo de
inovação e criatividade. A Escola não se escusa a análises críticas das realidades sociais
que a preenchem. Há, pois, que reflectir sem preconceitos ou estereótipos definidos,
facilitadores de atitudes racistas. Para nos conhecermos, é importante conhecer os
outros e aceitar a validade das suas identidades.
O papel da Escola redescobre-se ao compreender esta estrutura multifacetada de uma
sociedade aberta e receptiva à novidade. A relação professor - aluno renasce no
entendimento de novas realidades.
Perceber a existência de culturas várias altera modos de pensar o Mundo, daí que se
reflicta no contexto escolar. Nós somos um produto cultural, somos circunscritos em
valores, normas, leis, crenças e paradigmas culturais que fazem de nós cidadãos plenos.
A Escola, como parte da sociedade, engloba indivíduos culturalmente distintos mas,
também, homogeneizados pelas influências que recebem da sociedade que os acolhe.
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
52 Carla Rêgo Pires
Discernir identidades individuais e separá-las de aspectos raciais e classes sociais deixa
à Escola o árduo trabalho de formar saudavelmente discentes perante as idiossincrasias
culturais.
Parece claro que, em contexto sala de aula, haja uma disparidade de diferenças, não só
raciais, mas também económicas, culturais, pessoais, e até mesmo relativas a ambições
e projectos futuros.
A inclusão de alunos de minorias étnicas, nomeadamente, ciganos, no Agrupamento de
Escolas do Cerco está ligada a factores externos, nomeadamente a concentração destas
famílias no bairro do Cerco, e à organização escolar, não deixando de receber
influências internas também.
O papel do docente é basilar na construção e organização de todo este processo de
integração. Ao serem mais conhecedores das realidades culturais, sociais e, até,
comunicativas, estão mais preparados para efectivarem práticas de integração social na
escola. É da sua responsabilidade promover experiências e exemplos de integração,
orientando o sistema educativo para a aceitação da diversidade e respeito mútuo das
identidades culturais, sem prejuízo da afirmação da cultura minoritária perante a cultura
predominante. Cada discente tem em si valores e ambições semelhantes a todo o ser
humano.
Por conseguinte, e voltando à questão que tornou válido este projecto de investigação,
importa perceber, neste contexto educativo específico, quais as atitudes de todos os seus
actores na promoção de uma educação democrática e integradora.
O currículo oficial cria um bloqueio ao ensino multicultural que tem de ser efectivado
numa escola que se quer acessível e generalizada, impulsionadora da educação de todos
os alunos, independentemente das suas origens e características individuais.
Não me parece possível minimizar as diferenças de oportunidades de sucesso e de
integração de todos os cidadãos, sem primeiro se ultrapassarem as dificuldades inerentes
a um ensino ainda massificado e descontextualizado.
Analisar este ambiente escolar e trabalhar a partir daí a integração destes alunos de
maneira a que eles sintam que a sua cultura, embora diferente da cultura da escola,
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
53 Carla Rêgo Pires
também é tida em linha de conta nas suas aprendizagens curriculares é o primeiro passo
a dar.
Neste agrupamento cruzam-se e interagem diferentes actores presentes no processo de
ensino-aprendizagem. Assim, é importante criar-se um bom ambiente de aceitação e
coexistência entre todos, percebendo que cada um tem algo a acrescentar a um trabalho
que se quer colaborativo.
O problema de desajuste de identidades terá de ser trabalhado na escola e pela escola,
num processo de construção de uma aprendizagem multicultural e intercultural.
Parece-me importante mostrar a toda a comunidade educativa a crescente diversidade
étnica que temos vindo a viver. Seria bom que, efectivamente, se trabalhasse a
igualdade de oportunidades na chegada ao saber e se equilibrasse num currículo flexível
o ajuste necessário às expectativas destes alunos em relação à escola. Os professores
têm de reconhecer a diversidade e transformar aquilo que é uma desvantagem num
proveito cultural generalizado a toda a comunidade educativa.
A questão passa por potenciar um confronto com uma organização cada vez mais
multicultural.
Capítulo VI
6.1 Objectivos deste Projecto
O projecto que pretendo desenvolver centra-se, fundamentalmente, na problemática da
integração de alunos oriundos da etnia cigana nas escolas públicas nacionais, mais
concretamente no Agrupamento de Escolas do Cerco.
Cada vez mais as nossas escolas recebem alunos de origens diferentes, com identidades
culturais distintas e sui generis, muitas vezes provocando reacções adversas, alheias ao
contributo que estas culturas podem acrescentar à cultura de escola.
Tendo, eu, trabalhado com percursos alternativos com alunos ciganos, percebi as
problemáticas existentes em contexto sala de aula e escolar.
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
54 Carla Rêgo Pires
O Agrupamento de Escolas do Cerco recebe cada vez mais alunos de etnia cigana e o
receio manifestado pela generalidade dos docentes em trabalharem estes alunos parece
afectar a sua prestação em contexto escolar.
Perceber, compreender para poder aceitar sem constrangimentos é fulcral para que o
processo de ensino aprendizagem aconteça com sucesso.
Para mim, a resolução deste problema seria a resposta para problemas sociais
relacionados com o povo cigano. A escolarização permite o acesso a uma escalada
social que faz falta para que a marginalidade desta etnia minimize.
No que diz respeito a esta investigação, procurarei perceber se os docentes adoptam a
educação intercultural como fundamental na assunção do enriquecimento social e
individual.
Mais concretamente, parece-me crucial ponderar sobre a formação dos docentes
relativamente a práticas de educação multicultural, saber qual o seu conhecimento deste
aspecto no contexto laboral em análise e compreender o que pensam acerca da
organização curricular numa perspectiva multicultural. Assim, será possível a reflexão
sobre os modelos de acção aplicados numa escola integradora de alunos de etnia cigana.
Finalmente, conhecer diferentes ópticas face à formação do que se poderá chamar o
«professor intercultural».
Após esta análise, há que tentar perceber as reais expectativas dos discentes de etnia
cigana face à escola, o que esperam desta instituição e que relações mantêm com os
restantes actores da organização. Um outro aspecto que procuro saber é o teor da
relação escola/família.
Por conseguinte, só fazendo este trabalho de investigação, será possível partir para uma
análise da resposta do agrupamento às necessidades de uma educação intercultural e
promover uma reflexão activa nos docentes relativamente às necessidades de resposta à
integração efectiva de todos os alunos.
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
55 Carla Rêgo Pires
6.2.Instrumentos de recolha de dados: entrevista e inquérito:
Com o intuito de dar seguimento à necessária recolha de dados relativos ao projecto a
realizar, foi feito um pedido de autorização ao Director do Agrupamento de Escolas do
Cerco, Dr. Manuel António Sousa Oliveira. Após o deferimento do documento e, no
seguimento de uma reunião com a direcção, onde foi dado a conhecer o teor da
investigação com mais pormenores, foram apresentados os inquéritos e guiões de
entrevistas a realizar na organização.
Para além desta metodologia, e, na medida em que também eu tive contacto próximo
com turma maioritariamente composta por alunos de etnia cigana, pareceu-me
conveniente fazer uma pesquisa qualitativa de forma a descrever toda a multiplicidade
de comportamentos e partir de uma perspectiva do docente na qual me incluo. Deste
modo, foi mais facilitada a observação directa do ambiente escolar e do meio inerente
ao mesmo partindo de conversas informais realizadas com docentes em contexto Sala de
Professores.
6.2.1 A Entrevista:
Este método de trabalho pautou-se por uma abertura comunicativa entre os
intervenientes de forma a garantir a espontaneidade das respostas e possíveis ligações
com aspectos inerentes à problemática em estudo. Embora obedecendo à estrutura de
um guião, no decorrer da entrevista foi possível registar opiniões individuais dos
entrevistados e manter uma conversa flexível ao longo do processo.
O ambiente onde as entrevistas foram realizadas foi a sede do Agrupamento de Escolas
do Cerco, não havendo qualquer inibição por parte dos entrevistados. Importa registar
que todas as entrevistas aconteceram com a autorização expressa dos intervenientes e
foi-lhes garantido sigilo face às respostas dadas e relativamente à sua identidade.
A entrevista a docentes procurou apelar a uma reflexão sobre as práticas educativas em
contexto sala de aula e perceber se, efectivamente, há a aplicação de um ensino
individualizado, ou se, pelo contrário, se fomenta a massificação do mesmo.
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
56 Carla Rêgo Pires
O número de entrevistados, oito, visou apenas uma pequena parte do corpo docente
desta instituição, que, no entanto, foi significativa na medida em que os professores
seleccionados estão a trabalhar com os alunos de etnia cigana no corrente ano lectivo.
Este foi o critério que me pareceu relevante na minha escolha, uma vez que, ao estarem
em contacto com alunos de etnia cigana, podem mais facilmente opinar sobre as
dialécticas que experienciam em contexto escolar com estes discentes.
Por este motivo, considero que a validade interna deste trabalho possa vir a ser
pertinente na prossecução dos objectivos TEIP27
aplicados no Agrupamento - «No
quadro de uma ESCOLA INCLUSIVA E EMERGENTE, assumimo-nos como um
importante agente de mudança e desenvolvimento social já que, sociais são também os
problemas com os quais a escola se depara.»28
6.2.2 O Inquérito
Consciente de que as técnicas de investigação num projecto se reportam a um conjunto
de dados claros e facilmente interpretados, e percebendo a necessária intenção de estes
poderem fomentar uma recolha de dados que permitem o estudo e compreensão da
realidade, optei por aplicar a entrevista semi-aberta e o inquérito por questionário.
Este método pareceu-me ser o mais adequado no prosseguimento dos meus propósitos
investigativos, dado que limita a participação dos inquiridos e restringe a evasão ao
propósito da questão. O inquérito foi seleccionado a partir de um outro realizado por
Pinto (2007)29
. O inquérito original apresentou-se apenas como exemplo a ser
trabalhado, dado a indispensabilidade de inserção de outros aspectos necessários à
investigação em curso.
27 Território Educativo de Intervenção Prioritária.
28 Projecto TEIP II do Agrupamento te Escola do Cerco, 2007-2010, p.33
29 PINTO, Sónia Rosa Ferreira: As representações dos professores no diálogo de culturas nas escolas. Universidade
Portucalense – Infante D. Henrique. Porto, 2007
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
57 Carla Rêgo Pires
Para proceder à validação do Inquérito, apliquei-o a dois docentes do agrupamento a ser
trabalhado. Houve uma aparente dificuldade inicial e foi necessário aplicar-se uma
adaptação semântica mais adequada e directa. Após este processo, realizei vinte
inquéritos e não houve manifestação de dificuldades em responder aos mesmos.
O documento aplicado organizou-se em dois grandes grupos – recolha de dados
pessoais e profissionais, e recolha de dados de opinião. No que concerne ao primeiro
grupo, pareceu-me importante enquadrar as respostas com a formação de base dos
docentes e, principalmente, procurar perceber quaisquer hipotéticas relações com as
respostas seguintes.
Quanto aos dados de opinião, estes centraram-se em três pólos:
Categoria Questão
Escola e Diversidade Cultural 15-22
Integração de Grupos Minoritários 23-29
Formação de Professores 30-37
À semelhança do inquérito realizado por Pinto (2007), também aqui pareceu pertinente
focalizar a investigação no corpo docente a fim de se perceber a existência, ou não de
práticas interculturais e simbióticas na sua relação de ensino - aprendizagem com os
discentes de etnia cigana. Procurar compreender o que pensam os professores sobre a
diversidade cultural inerente a uma Escola inclusiva e de que modo agem na promoção
desse aspecto foi condição sine e qua none para poder avançar com a investigação.
6.2.3 Pesquisa Documental
Este projecto de investigação/acção partiu, obviamente, de uma análise documental
referente ao Agrupamento e à sua dinâmica de gestão. Foram consultados os
documentos referentes ao Projecto Educativo TEIP, nomeadamente o documento que
consta da página da internet, o Plano Anual de Actividades, Regulamento Interno, o
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
58 Carla Rêgo Pires
Projecto Curricular de Turma de uma turma maioritariamente composta por alunos
ciganos, e o documento de Avaliação Externa realizada pela Inspecção Geral da
Educação no ano 2008/2009.
6.2.4 Observação Directa/Participante
As condições logísticas em que este projecto de investigação/acção se realizou
permitiram uma observação da realidade in loco dado que eu própria faço parte do
corpo docente dos quadros deste Agrupamento de Escolas do Cerco. A observação
acabou por ser participante ao acontecer em espaços escolares de partilha comum, como
a Sala dos Professores. A realização desta estratégia de recolha de informações criou
uma maior aproximação afectiva entre a investigadora e os investigados, possibilitando-
se uma caracterização concreta da realidade e, também, uma maior compreensão do
significado das problemáticas levantadas em redor do tema em análise.
6.3 Procedimento na análise de dados
Relativamente ao tratamento dado às informações recebidas, foi feita uma abordagem
estatística a partir da qual é possível uma exposição mais correcta dos dados recolhidos.
Considero que este processo se torna mais rigoroso na elaboração de conclusões e
observações perante a realidade em estudo. É certo que haverá sempre uma margem de
erro a considerar, até porque o inquérito englobou apenas uma parte do corpo docente
do Agrupamento, mas, dada a falta de tempo para apresentar as conclusões desta
investigação, não me foi possível aplicar o inquérito a todo o corpo docente,
independentemente de trabalharem, ou não, com alunos de etnia cigana. Esta decisão
manteve-se coerente face aos objectivos de toda a investigação, trabalhando com o
corpo docente a leccionar turmas maioritariamente compostas por discentes ciganos.
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
59 Carla Rêgo Pires
Apresentação e
Análise dos Dados
Recolhidos
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
60 Carla Rêgo Pires
Capítulo VII
7.1 Cruzamento e Análise de Dados obtidos no Inquérito por
Questionário
Na amostra dos docentes seleccionados, foram consideradas questões relevantes para as
conclusões do trabalho de investigação realizado. Penso que factores como a idade,
sexo, os anos de docência e a formação académica e profissional são marcantes para
perceber algumas das respostas, uma vez que pode haver influência destes pormenores
na selecção das escolhas dos inquiridos.
No seguimento destes aspectos de carácter individual, parti para um questionário mais
específico no âmbito da integração das minorias étnicas no Agrupamento.
7.1.1 Gráficos dos dados pessoais e profissionais dos
Inquiridos
19%
37%
25%
19%
Idade
20 a 29
30 a 39
40 a 49
50 a 59
60 ou mais
Gráfico 1
69%
31%
Sexo
MASCULINO
FEMININO
Gráfico 2
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
61 Carla Rêgo Pires
Ao realizar as questões que pretendia ver respondidas no inquérito por questionário que
apresentei, pareceu-me pertinente contemplar possiveis ligações entre as informações de
carácter mais pessoal e as mais opinativas – partes A e B. Assim, foi-me permissível
perceber que as respostas dos inquiridos não variam em função da idade, do sexo, das
habilitações académicas, dos anos de docência ou da formação profissional do
inquirido. Logo, não constatei quaisquer ligações que me pudessem permitir criar
grupos de respostas semelhantes em função das questões que englobavam dados
pessoais e profissionais, e questões sobre os dados opinativos.
19%
37%25%
13%6%
Anos de docência
Menos de6
Anos
De 6 a 14
anos
De 15 a 24
anos
De 25 a 35
anos
36 ou mais
Gráfico 3
36%
7%57%
Habilitações
Académicas
Doutoramento
Mestrado
Pós-Gradução
Licenciatura
Bacharelato
OutroGráfico 4
80%
7%
13%
Formação
Profissional
Em exercicio
Ramo
Educacional
Formação
Classica
Outro
Gráfico 5
69%
19%
12%
Situação
ProfissionalPQND
PQND
Destacado
PQZP
P. em
Profissionali
zaçãoGráfico 6
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
62 Carla Rêgo Pires
7.1.2 Gráficos dos dados de opinião
15. A escola deve dispor de instrumentos de compensação para os grupos minoritários uma vez que estes
são mais fracos.
16. A diversidade cultural na escola cria obstáculos para um desenvolvimento efectivo do processo
ensino-aprendizagem.
17. A escola deve enaltecer a cultura de nascimento das crianças relativas aos grupos minoritários.
18. As escolas devem eleger um curriculum que auxilie a homogeneização cultural.
12%
75%
13%
Questão 15
CP
C
D
DP
Gráfico 7
6%
31%
44%
19%
Questão 16
CP
C
D
DP
Gráfico 8
6%
69%
19%
6%
Questão 17
CP
C
D
DP
Gráfico 9
62%
38%
Questão 18
CP
C
D
DP
Gráfico 10
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
63 Carla Rêgo Pires
19. A família dos grupos minoritários vai, por sua iniciativa, menos vezes à escola, do que a família dos
grupos maioritários.
20. As práticas monoculturalistas dos sistemas educativos fomentam a rejeição social.
21. A escola tem autonomia para alterar os conteúdos programáticos, adaptando-os ao seu contexto.
22.Os docentes justificam a sua oposição à mudança devido ao controlo da administração.
25%
31%
44%
Questão 19
CP
C
D
DP
Gráfico 11
12%
44%25%
19%
Questão 20
CP
C
D
DP
Gráfico 12
19%
50%
31%
Questão 21
CP
C
D
DP
Gráfico 13
35%
47%
18%
Questão 22
CP
C
D
DP
Gráfico 14
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
64 Carla Rêgo Pires
23. A presença de alunos minoritários na turma/escola estorva o rendimento dos alunos maioritários.
24. O projecto educativo da escola deve espelhar as necessidades e proveitos de todos os alunos.
25.As escolas devem reconhecer explicitamente os valores culturais das minorias que pretendem
completar.
26.O trabalho em equipa com diferentes parceiros/cenários, interiores e exteriores à escola, ajuda à
assimilação escolar.
12%
17%
53%
18%
Questão 23
CP
C
D
DP
Gráfico 15
71%
29%
Questão 24
CP
C
D
DP
Gráfico 16
53%35%
12%
Questão 25
CP
C
D
DP
Gráfico 17
29%
71%
Questão26
CP
C
D
DP
Gráfico 18
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
65 Carla Rêgo Pires
27.Os grupos minoritários devem estar tão abertos ao diálogo como os grupos referentes às culturas
maioritárias.
28.A inclusão social das famílias pertencentes a grupos minoritários é elementar para a integração escolar
dos seus filhos.
29. A presença da Associação de Pais facilita a inclusão de grupos minoritários na escola.
47%53%
Questão27
CP
C
D
DP
Gráfico 19
47%
47%
6%
Questão 28
CP
C
D
DP
Gráfico 20
23%
47%
24%
6%
Questão 29
CP
C
D
DP
Gráfico 21
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
66 Carla Rêgo Pires
30. Os paradigmas de formação de professores satisfazem uma concepção de professores como
aplicadores de teorias.
31.A posição profissional dos professores exige uma permanente meditação crítica, individual e/ ou em
grupo, sobre a educação.
32.Um professor implicado com o ensino deve trabalhar com e não para os grupos minoritários.
33.A formação continuada dos professores deve realizar-se a partir das dificuldades da escola.
44%
56%
Questão 30
CP
C
D
DP
Gráfico 22
47%
47%
6%
Questão 31
CP
C
D
DP
Gráfico 23
47%
47%
6%
Questão 32
CP
C
D
DP
Gráfico 24
18%
35%
47%
Questão 33
CP
C
D
DP
Gráfico 25
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
67 Carla Rêgo Pires
34.A formação preambular e contínua dos docentes deve fazer parte da sua cultura profissional.
35.A formação de professores, num panorama intercultural, deve contemplar distintos aspectos, como por
exemplo:
a) Saberes de Línguas;
b) Participação em programas que abranjam comunidades minoritárias;
c) Estágios em escolas frequentadas por estudantes minoritários;
47%
47%
6%
Questão 34
CP
C
D
DP
Gráfico 26
17%
65%
18%
Questão 35 a)
CP
C
D
DP
Gráfico 27
35%
41%
24%
Questão 35 b)
CP
C
D
DP
Gráfico 28
12%
47%
41%
Questão 35 c)
CP
C
D
DP
Gráfico 29
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
68 Carla Rêgo Pires
d) Conferências, seminários e cursos sobre culturas minoritárias;
e) Reflexão sobre rotinas escolares que concorrem para a propagação das discrepâncias sociais;
f) Apreciação dos alunos na sua diversidade;
36.Os docentes, em geral, estão prontos para replicar aos desafios da instrução intercultural.
23%
53%
24%
Questão 35 d)
CP
C
D
DP
Gráfico 30
29%
53%
18%
Questão 35 e)
CP
C
D
DP
Gráfico 31
29%
59%
12%
Questão 35 f)
CP
C
D
DP
Gráfico 32
53%41%
6%
Questão 36
CP
C
D
DP
Gráfico 33
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
69 Carla Rêgo Pires
37.O docente do futuro deve conter uma formatura intercultural.
No final do estudo que efectivei, pude observar que, embora o corpo docente tivesse
sido seleccionado de acordo com as suas experiências de trabalho com turmas de
minorias étnicas, não poderei estender os resultados apurados a todo o corpo docente
uniformemente.
Fundamentalmente, indaguei as questões da posição da Escola em relação à diversidade
cultural e integração de grupos minoritários, procurando compreender a posição do
corpo docente e as suas necessidades face às exigências de um docente intercultural.
Este trabalho de investigação procurou, apenas, questionar aspectos relativos à
integração de alunos da comunidade cigana a frequentar o Agrupamento de Escolas do
Cerco.
Orientei o trabalho numa perspectiva de apuramento do perfil do docente que ministra
neste contexto educativo. Saber o que pensam sobre a Escola do presente e sobre a
inclusão/integração de alunos ciganos possibilita elencar algumas características
necessárias na selecção do corpo docente. Obviamente que os juízos de valor dos
professores relativamente a uma comunidade estigmatizada socialmente como
problemática conduz-me ao conhecimento das preocupações e receios que evidenciam
face a uma ausência de formação de base intercultural, carecendo de apoio nas suas
relações e interacções pedagógicas.
29%
59%
12%
Questão 37
CP
C
D
DP
Gráfico 33
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
70 Carla Rêgo Pires
Ao longo do inquérito por questionário, foi dada a hipótese de quatro respostas
possíveis, agrupadas em dois graus de concordância ou discordância.
No que concerne ao primeiro grupo de questões – Escola e Diversidade Cultural,
verifica-se que, na sua maioria, os professores consideram que as escolas deveriam
apostar na facilitação de instrumentos de compensação para grupos minoritários, uma
vez que a diversidade cultural será, na sua óptica, um obstáculo ao desenvolvimento
capaz do processo de ensino-aprendizagem.
É notório que os inquiridos aceitam a cultura de base dos discentes e, assumem que a
prática de um ensino monoculturalista incrementa a rejeição social de alunos ciganos
(Gráficos 17 e 20).
Conscientes disto, contradizem as suas opiniões ao manifestarem práticas de oposição à
necessidade de mudança. Se, por um lado, 50% dos docentes afirma que a escola tem
autonomia para alterar os conteúdos programáticos, adaptando-os ao seu contexto
específico, por outro, alegam que não efectivam esta adaptação devido a controlo
administrativo (Gráficos 21-22).
No segundo grupo de questões colocadas sobre – Integração de Grupos Minoritários,
53% não é de opinião que a existência de alunos destes grupos dificulte o rendimento
dos restantes. Aliás, 71% dos inquiridos defende que o Projecto Educativo do
Agrupamento/Escola deve contemplar as necessidades e proveitos de todos os alunos
(Gráfico 23) e reconhecer os valores culturais de todos, inclusivamente das minorias
que se quer completar e integrar socialmente (Gráfico 25).
Quanto à importância das parcerias interiores e exteriores à organização educativa, 71%
dos docentes aceita que estas ajudam a assimilação escolar e, por conseguinte, de
conhecimentos válidos numa futura integração laboral que se quer capaz de dar
respostas a um mercado cada vez mais carenciado de mão-de-obra especializada.
Embora com uma variação de grau, todos os pedagogos vêem a abertura ao diálogo
numa perspectiva bilateral, isto é, tanto o grupo minoritário como o grupo que o acolhe
devem promover uma comunicação aberta à mudança e ao crescimento pelo contacto
com o outro (Gráfico 27). Um dos aspectos que poderá contribuir para esta
probabilidade será, e mais uma vez temos maioria absoluta nas respostas, a inclusão
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
71 Carla Rêgo Pires
social das famílias destes grupos na vida escolar dos seus educandos. Para isso, o papel
da Associação de Pais é fulcral e facilitador (Gráfico 29).
Finalmente, o último grupo de questões – Formação de Professores – permitiu
conclusões relativas à percepção dos docentes quanto às suas dificuldades em lidar com
diferenças culturais. Por conseguinte, 56% não se sente satisfeito com os actuais
paradigmas de formação de professores e a maioria percebe que há uma exigência
permanente de meditação crítica individual ou grupal sobre Educação (Gráfico 31). É
obrigação do docente trabalhar com e não para os grupos minoritários e, para que tal
seja possível, a formação contínua poderá partir das dificuldades da escola, mas deve,
sobretudo, fazer parte da cultura profissional do Professor (Gráfico 33-34).
A participação do professor é uma consequência do novo modelo de gestão mais
participativo e implicativo expresso pelo Decreto-Lei nº 172/91, de 10 de Maio - «A
gestão democrática dos estabelecimentos dos ensinos básico e secundário constitui uma
referência importante na evolução da escola portuguesa. Os princípios de participação e
de democraticidade que a inspiram alteraram profundamente as relações no interior da
escola, favoreceram a sua abertura à mudança e despertaram nos professores novas
atitudes de responsabilidade».30
Importa, ainda, acrescentar que esta democraticidade se
alarga a todos os actores educativos implicados no processo educativo, esbatendo-se
barreiras e entraves à participação da comunidade na realização do Projecto Educativo
das escolas.
Conscientes do alargamento das suas competências, os professores assumem a
necessidade de uma formação intercultural capaz de responder a novos propósitos
educativos. Há, claramente, uma visão mais abrangente nas relações entre os currículos
a serem ministrados e os valores a serem passados aos alunos de minorias étnicas. Na
busca de relações proveitosas no âmbito de processo de ensino-aprendizagem, os
professores acreditam que a formação intercultural deverá incluir saberes de línguas,
participação em programas que abranjam comunidades minoritárias, conferências,
seminários e cursos sobre culturas minoritárias, apostando-se numa reflexão sobre
discrepâncias sociais e apreciação de alunos na sua diversidade (Gráficos 35 a, b, c, d, e,
f). 30 Http://www.igf.min-financas.pt/inflegal/bd_igf/bd_legis_geral/Leg_geral_docs/DL_172_91.htm
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
72 Carla Rêgo Pires
Ao realizarem este inquérito, os professores foram levados a ponderar sobre as suas
reais carências formativas e, enquanto 53% se considera pronto para os desafios de uma
instrução intercultural, 41% não se vê em condições de dar resposta a este desafio.
Neste sentido, o corpo docente que participou neste questionário acredita que o
professor do futuro deva ter uma formação de base intercultural para dar resposta à
incapacidade inerente ao ser humano de responder aos inúmeros desafios que lhe vão
sendo colocados no seu percurso de vida.
7.2 As Entrevistas
7.2.1 Entrevista ao Director do Agrupamento de Escolas do
Cerco
Ao realizar a entrevista ao director do agrupamento em estudo, Dr. Manuel António
Sousa Oliveira, procurei, sobretudo, apurar a visão do órgão máximo que dirige esta
organização educativa. Embora conhecedora do Projecto de Intervenção entregue pelo
director aquando da sua candidatura ao lugar e, por conseguinte dos seus propósitos
dirigentes, a entrevista semi-aberta possibilitou desvios conducentes à verdade que se
quer num projecto de investigação/acção.
A entrevista decorreu em contexto escolar, no gabinete da direcção, num clima afável e
cordial, como seria de esperar de um director que se mostra sempre solícito, embora
com uma agenda bastante preenchida. O Dr. Manuel António Oliveira respondeu sem
evasivas às questões que lhe fui fazendo e, sem qualquer impedimento, avançou com
informações pertinentes para este trabalho.
Dei início à entrevista questionando a razão pela qual este agrupamento tem um número
considerável de alunos – cerca de 110 – de etnia cigana. De acordo com o entrevistado,
este facto ficou a dever-se à demolição do Bairro S. João de Deus e, por conseguinte, à
vinda da comunidade cigana que lá habitava para o Bairro do Cerco, onde está integrado
este agrupamento de escolas. Assim, a explicação está em constrangimentos de ordem
social da área periférica do Porto.
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
73 Carla Rêgo Pires
O Dr. Manuel António Oliveira está consciente de que os alunos da comunidade cigana
que têm chegado ao AEC, manifestam desajustes a nível da sua integração,
evidenciando pequenos problemas relativos à sua inclusão devido à desvalorização que,
de acordo com o entrevistado, esta comunidade atribui à Escola e, também, devido ao
facto de não se reverem em grande parte do papel que a Escola assume socialmente. A
ideia que este povo tem da Escola é muito relativizada e não contempla o que é
essencial e fulcral nela e nas aprendizagens que transmite.
De acordo com o director deste Agrupamento, as questões de insucesso e de problemas
comportamentais que vão acontecendo ficam a dever-se ao facto de esta comunidade
não aceitar, ou recusar, regras, reflectindo na Escola as atitudes que aplica no seu
quotidiano. Deste modo, algumas dificuldades de relacionamento advêm do desafio à
hierarquia necessária para o funcionamento da organização educativa.
Quando o Director foi questionado sobre a razão desta dificuldade de integração, foi
peremptório em assumir convictamente que há uma desmotivação inerente aos próprios
encarregados de educação, e, por arrastamento, transmitida aos seus educandos. Aliás
são os EE os que mais vezes não cumprem as regras estipuladas no Regulamento
Interno do Agrupamento e dadas a conhecer a todos no início de cada ano lectivo. As
regras são normas de conduta estipuladas para todos sem excepção. Mas, na verdade,
quando os EE não as cumprem, os seus educandos tendem a fazer o mesmo. Logo,
considera o Dr. Manuel António que os alunos são uma consequência e não uma causa.
Na opinião do director, não se pode falar em questões de desmotivação, inclusão ou
sociabilização destes alunos, mas sim de incumprimento de regras. Ou estas vão ao
encontro das suas pretensões, ou simplesmente não as respeitam. Salientou, no entanto,
que esta comunidade não age toda da mesma forma.
Quando indagado sobre a relação entre o sucesso escolar e os alunos ciganos, mostrou-
se seguro de que o aproveitamento destes é menor do que os alunos lusos. O AEC
preocupa-se em contornar estes dados com adaptações curriculares. Aliás, o TEIP tem
orientações nesse sentido e tem vindo a procurar dar respostas várias a este facto
merecedor da maior atenção por parte da comunidade educativa, mas ainda muito pode
ser feito na Escola Pública. Projectos como a existência de turmas Percursos
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
74 Carla Rêgo Pires
Alternativos e CEF’s são uma das orientações para este tipo de alunos que não vê na
Escola a possibilidade de aprendizagens fundamentais na sua escalada social. A
realização de cursos EFA’s é outra das tentativas de contornar o descrédito que a Escola
tem junto desta comunidade. E o Director do Agrupamento corrobora, mais uma vez,
que tem de haver por parte dos encarregados de educação um compromisso tácito face
ao que está planeado pela organização; há que cumprir as normas e não apenas ver na
Escola a possibilidade de se requerer apoios financeiros. Este facto poderá, até, vir a
agravar-se dada a situação económica debilitada que o país está a atravessar. Não se
encontram soluções se não houver um compromisso, a implicação de todos.
No seguimento da entrevista, foi sendo clara a preocupação da escola em procurar
respostas para um problema de integração cultural e social que se manifesta, não só no
abandono escolar como no insucesso académico e na prática de actos de violência em
contexto escolar.
Quando questionado sobre a preparação do professores para trabalharem com este tipo
de discentes, foi clara a sua recusa face à possibilidade de haver choques culturais entre
os docentes e estes alunos. O AEC tem cerca de 5% de alunos ciganos e os critérios de
selecção dos docentes passam por uma análise de perfil feita a partir do conhecimento
que a direcção tem do professor. Não está estipulado um perfil específico nem uma
formação especial, mas sim a observação que se vai fazendo do trabalho docente no
agrupamento. Deste modo, a selecção dos docentes para estas turmas recai,
principalmente, sobre docentes dos quadros de agrupamento, uma vez que só assim se
assegura o arranque destas aulas desde o início do ano lectivo.
O director é de opinião que «não existe uma parede de betão entre esta comunidade e os
docentes» e não acredita que os docentes não estejam minimamente preparados para
lidar com estas diferenças culturais. Hoje, há muita literatura sobre o assunto e cursos de
formação que trabalham esta temática. Após esta afirmação, questionei-o sobre a oferta
do Agrupamento relativamente a esta formação intercultural ao que respondeu que a
viabilidade de tal acontecer não existe uma vez que o Agrupamento está ligado a um
centro de formação e, como tal, todas as necessidades formativas passam pela sua
aprovação e disponibilidade de resposta. O problema passará, eventualmente, também
pela falta de verbas que possam financiar um plano formativo capaz de responder a
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
75 Carla Rêgo Pires
necessidades tão específicas como a necessidade da formação contínua dos docentes em
áreas culturais específicas. Apesar deste contratempo financeiro, o Dr. Manuel António
considerou que a realização de uma formação específica para apoiar os docentes que
ministram nestas turmas seria óptima para o Agrupamento e, caso a acção fosse
creditada, uma mais-valia para a organização escolar que dirige.
Finalmente, questionei-o sobre os critérios de selecção do corpo docente e, mais uma
vez, reiterou a ideia de que, havendo docentes com preparação intercultural, será
pertinente a afectação destes a este tipo de turmas específicas.
Parece-me evidente que as necessidades do Agrupamento vão ao encontro das respostas
que busco neste projecto de investigação/acção e esta questão é, sem dúvida, uma das
grandes questões a que esta direcção procura responder – a integração equilibrada destes
discentes numa formação académica capaz de os integrar numa sociedade aberta e
receptiva ao seu legado cultural, mas, ao mesmo tempo, emissora de regras e
conhecimentos capazes de dar resposta social às necessidades de mercado laboral.
7.2.2 Entrevista aos docentes do Agrupamento de Escolas do
Cerco
As entrevistas realizadas aos professores foram realizadas em contexto escola, na sala
de reuniões específica para trabalhos que requerem concentração. Os docentes
mostraram-se disponíveis e interessados em participar na procura de solução para uma
questão que continua a importunar o sucesso escolar e, por conseguinte, social, dos
alunos da comunidade cigana.
Há, claramente, no corpo docente uma descrença relativa à motivação destes alunos. Na
sua generalidade, os professores consideram que há uma desmotivação que já vem da
família de origem. Esta não vê na Escola a possibilidade de sucesso, mas traz, de acordo
com os entrevistados, os filhos à escola porque são obrigados e para receberem
subsídios financeiros que lhes são necessários para a sua sobrevivência. A comunidade
desvaloriza a Escola e tem dificuldades em cumprir regras de funcionamento.
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
76 Carla Rêgo Pires
Os docentes entrevistados afirmam que estes alunos perturbam o bom funcionamento
das aulas e permanecem fechados a uma integração que a Escola lhes possibilita.
Ficou claro que não há um currículo adaptado a diferenças culturais, nem o Projecto
Curricular de Turma é feito com esse cuidado. Os docentes fazem voluntariamente
adaptações esporádicas sempre que consideram pertinente, não havendo comunicação
com os seus pares nesse sentido.
Apesar disto, consideram fundamental haver abertura ao multiculturalismo em contexto
aula e escola. O ritmo de aprendizagem destes alunos não é semelhante aos da maioria
dos discentes uma vez que trazem lacunas a nível da leitura e da escrita que não
adquiriram em ciclos anteriores.
Este aspecto, por si só, é desmotivador e perante o insucesso, por vezes, estes alunos
manifestam a sua frustração académica com actos de violência física e verbal para com
os demais.
Sabedores de que estes alunos têm outros hábitos e costumes, os docentes mostraram-se
conscientes da sua falta de preparação intercultural. Embora dialoguem com facilidade
com os alunos, sentem dificuldades em passar conteúdos com os quais os alunos não se
identificam. Quando lhes é dada a possibilidade de cantarem ou dançarem,
especificamente em áreas curriculares como Educação Musical ou Educação Física, eles
parecem realizados e satisfeitos por poderem exibir a sua identidade cultural.
No que concerne a regras e normas de funcionamento da organização há uma relutância
geral. Se, há cerca de cinco anos, poderiam ser considerados marginais sociais, de
acordo com os entrevistados, hoje, a escola tem vindo a conquistar mais terreno na
sociabilização e integração desta etnia. Mas é necessário algo mais porque integrar será
cumprir regras numa relação de respeito mútuo.
Os docentes que participaram nesta entrevista mostraram-se receptivos à possibilidade
de fazerem uma formação específica acerca desta cultura para melhor compreenderem e
colmatarem diferenças impeditivas de uma relação ensino-aprendizagem saudável.
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
77 Carla Rêgo Pires
7.3 Diagnóstico dos Problemas
Na Escola actual e na própria reforma educativa que tem vindo a acontecer a nível
administrativo, há, efectivamente, uma mudança do papel que a Escola efectua no
processo social do qual faz parte e para o qual muito contribui.
Organizar o trabalho pedagógico é tarefa complexa e, concomitantemente, surge a
necessidade de formação capaz de preparar os professores para o desempenho eficaz da
sua performance. A Escola é uma organização em mudança permanente que exige
muito de todos os seus intervenientes. Contudo, os interesses dos diferentes actores
educativos nem sempre são unânimes, levando à adopção de estratégias de combate a
problemas díspares e impeditivos da tão desejada uniformização de critérios no combate
ao insucesso académico de todos os discentes. Para tal, é necessário ter em linha de
acção as diversidades e idiossincrasias dos indivíduos implicados no processo.
Encaminhar os seus interesses e objectivos de forma a conduzir os discentes ao sucesso
social pressupõe a resolução de questões várias, tais como a inclusão e o
multiculturalismo e a interculturalidade.
Neste projecto de investigação/acção, após a constatação de um número considerável de
alunos de etnia cigana no agrupamento (5%) e tendo verificado as dificuldades do corpo
docente em conviver profissionalmente com as diferenças culturais, parti para um
diagnóstico dos problemas relativos à integração destes alunos no contexto do AEC.
No quadro que se segue, esquematizo de modo sucinto as questões às quais pretendo
propor solução no âmbito da integração das minorias no agrupamento.
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
78 Carla Rêgo Pires
7.3.1 Diagnóstico dos Problemas
Problemas Causas Identificadas População Afectada Recursos Disponíveis Necessidades
Identificadas
Abandono e Absentismo
escolar
- Falta de motivação escolar
- Desvalorização da Escola
- Baixo nível de expectativas
pessoais e parentais
- Indefinição de um percurso de
vida
- Falta de hábitos de estudo
- Baixo aproveitamento escolar
- Dificuldades económicas
- Parco apoio familiar e social
- Insuficiente articulação entre
os diferentes ciclos
- Baixa escolaridade parental
Alunos
- Gabinete de SPO
- Existência de CEF’s
- Actividades extra-curriculares
- Acção Tutorial
- Aulas de Recuperação
- APA’s
- Turmas PA
-Motivar para a escola
- Promover condições capazes
de facilitar a integração dos
discentes na vida activa exterior
à escola
- Promover projectos escolares
de retaguarda para alunos de
modo a estimular e motivar as
aprendizagens
- Promover a articulação entre
diferentes ciclos e áreas
curriculares
- Estimular comportamentos
cívicos correctos de acordo com
diferentes contextos
Disponibilizar apoio psicológico
individual a alunos
considerados em risco social
-Articular projectos com as
parcerias existentes com o
Agrupamento
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
79 Carla Rêgo Pires
Problemas Causas Identificadas População Afectada Recursos Disponíveis Necessidades
Identificadas
Indisciplina e Violência
- Reduzido apoio familiar
- Baixo nível de competências
pessoais e sociais
- Comportamentos desviantes
- Dificuldades de comunicação
interpares
- Desrespeito pela autoridade do
professor
Alunos
-GAPA
- Acção tutorial
- SPO
-Desenvolver competências de
relacionamento Interpessoal
- Possibilitar apoio pelo SPO
-Apostar em actividades que
criem situações de interacção
individual e grupal, optimizando
o processo comunicativo, assim
como relações socais
hierárquicas
- Mediatizar confrontos em
contexto escolar, dentro e fora
da sala
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
80 Carla Rêgo Pires
Problemas Causas Identificadas População Afectada Recursos Disponíveis Necessidades
Identificadas
Relação pouco
participada
Escola -Família
- Contexto familiar e social
precário
- Situação familiar laboral
incerta
- Pouco envolvimento dos
Encarregados de Educação na
vida escolar dos educandos
- Desvalorização do papel da
escola na vida dos seus
educandos
Família e Docentes
Família e Docentes
- Eventos Culturais abertos à
comunidade
- Disponibilização gratuita de
infra-estruturas para a
realização de actividades
desportivas
- Diálogo permanente entre DT
e EE
- Reuniões de Pais
- Associação de Pais
- Acções de Centro de Dia
articuladas com o parceiro Porto
Social Fundação
- Estimular e desenvolver
processos de co-
responsabilização das famílias
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
81 Carla Rêgo Pires
Problemas Causas Identificadas População Afectada Recursos Disponíveis Necessidades Identificadas
Dificuldades do corpo
docente inerentes a
identidades culturais
- Resistência a regras sociais
- Obstáculos a estratégias de
comunicação e negociação
- Percepções diferentes da
realidade
- Dificuldade em aceitar regras de
conduta social e autoridade
hierarquizada
- Desconhecimento da cultura do
povo cigano
- Falta de especialização do corpo
docente face a minorias étnicas.
Docentes e
Alunos
- Facilitar aconselhamento à comunidade
educativa
- Promover a formação dos docentes
-Incrementar reforços positivos nos
diferentes actores intervenientes em todo o
processo educativo
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
82 Carla Rêgo Pires
7.4 Propostas de Melhoria
Os objectivos desta investigação pautaram-se, a grosso modo, pela análise do processo
de integração dos alunos ciganos no AEC.
Fundamentalmente, procurei, recorrendo a entrevistas e inquéritos, compreender as
razões apontadas pelo corpo docente para justificar o absentismo e abandono escolar
destes alunos, assim como o seu insucesso académico. Do estudo da literatura que fiz na
preparação deste trabalho, percebi que há uma necessidade de mudança da estrutura de
funcionamento da organização educativa, mas também da forma de pensar deste povo
relativamente a aspectos de ordem social. Verifiquei que são vários os estudos que se
têm vindo a fazer sobre esta temática e percebi que estes terão implicações se
direccionados especificamente para uma realidade concreta, delimitada no espaço e no
tempo. As pressuposições do trabalho que desenvolvi relacionam-se com o desejo de
incluir a interculturalidade nas práticas educativas do agrupamento e a vontade inerente
de permitir apoios formativos aos docentes que trabalham com estes alunos.
A perspectiva estigmatizada que existe na generalidade social relativamente a este povo
poderá ser impeditiva de relações pedagógicas positivas. Todos sabemos que a
ancestralidade cultural do povo cigano e a sua clausura no seu grupo étnico criam
barreiras e entraves a uma integração social efectiva. É neste sentido que creio ser
positivo a aproximação das famílias à escola e a abertura cultural dos currículos a
ministrar nestes percursos escolares.
O equilíbrio entre o que é fundamental no currículo prescrito ministerialmente e a
liberdade homologada às escolas públicas a nível da gestão pedagógica poderá
contribuir para a organização de estratégias de articulação cultural de currículos entre
diferentes ciclos escolares e entre diferentes áreas curriculares. Para tal, é
imprescindível que se efectivem alterações no funcionamento de estruturas de gestão
intermédias na Escola. Reporto-me, essencialmente, ao Conselho de Turma destas
turmas onde há alunos desta etnia e também aos coordenadores dos projectos a serem
aplicados em contexto escolar.
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
83 Carla Rêgo Pires
O corpo docente carece de supervisão na aplicação de articulações curriculares e de um
plano de gestão pedagógica capaz de promover um diálogo na procura do sucesso e
sustentabilidade do Projecto Educativo do AEC.
É desejável uma progressão das aprendizagens ao longo do percurso escolar dos alunos
e o desenvolvimento de um currículo continuado, evitando-se a repetição desnecessária
de conteúdos. Esta ideia aplica-se claramente no Projecto Curricular de Turma que, ao
ser realizado pelo corpo docente em reunião, deverá criar ligações de
complementaridade entre as diferentes áreas curriculares.
A questão neste projecto passa, principalmente, por criar essa complementaridade numa
perspectiva intercultural, integradora e inclusiva. Importa salientar que a educação
intercultural «não é sinónimo de aceitação passiva da diferença. Ela pressupõe a
aceitação, a convivência, a troca, a interacção, no sentido de se influenciarem
mutuamente e de crescerem juntas». (Castro, 2000)31
Ao partirmos para estas ligações, e no desenvolvimento de um PCT, poderemos
implicar e co-responsabilizar, em actividades distintas, as famílias, logo, aumentando a
interacção social com a comunidade.
Nesta linha de pensamento, creio que poderá haver um decréscimo dos problemas
inerentes ao insucesso escolar dos alunos ciganos, até porque a presença das famílias
possibilitaria a mediatização cultural e, ao mesmo tempo, o crescimento do reflexo de
identidades numa escola multicultural.
A selecção dos docentes para trabalharem com esta diversidade deverá obedecer a
critérios de escolha cuidadosamente estipulados e definidos em conjunto pelo órgão de
gestão e pelo SPO uma vez que serão os mais aptos e conhecedores da realidade do
AEC. Acredito que o inicio do processo de selecção do corpo docente deva passar por
uma entrevista pessoal e, inicialmente, recorrer a candidatos em regime voluntário. O
trabalho ganha contornos mais eficazes quando realizado com empenho e dedicação. É
nesse sentido que considero que a escolha de professores deva partir da sua decisão e só
depois ser ponderada pela equipa que coordenará a preferência dos professores a
trabalharem com estas turmas.
31
Castro, Anabela. Que sorte, ciganos na nossa escola!, Colecção Interface, 2001, p.117
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
84 Carla Rêgo Pires
Finalmente, e para dar por terminadas as intenções desta investigação, importa referir a
necessária formação contínua dos docentes a fim de lhes possibilitar escolhas
curriculares conscientes e lhes permitir compreender uma realidade cultural diferente da
sua. A formação dos professores seleccionados deverá acontecer em contexto escolar e
efectivar-se ao longo de todo o ano lectivo nas reuniões que se vão realizando. Estes
percursos alternativos por si só já fazem adaptações curriculares, mas fazem-nas em
função de conhecimentos que se crêem basilares na progressão da aprendizagem e não
em função de adaptações interculturais. Não descurando este apoio permanente ao corpo
docente, creio que uma formação específica em cultura cigana pudesse contribuir para
melhor se compreenderem determinados comportamentos e, assim, melhor se
contornarem os problemas que daí possam advir.
No AEC, há turmas maioritariamente compostas por alunos ciganos, mas também há
CEF’s onde estes alunos estão integrados. A presença de um docente especializado na
integração de minorias étnicas nestas reuniões poderá ser útil na contra-argumentação
de um insucesso que se justifica, normalmente, por desmotivação e incompatibilidades
entre estes alunos e os demais actores do processo educativo.
Há duas questões que deixo em aberto – até que ponto será viável abrir-se o currículo ao
multiculturalismo e até que ponto será possível formar todos os docentes que têm estes
alunos numa perspectiva que englobe todas as turmas onde existem discentes ciganos?
A resposta estará no órgão de gestão que deverá possibilitar e propor a creditação para
acções de formação sobre interculturalidade.
A Escola não está preparada para este grande desafio social. Hoje, a Escola pública
ainda é muito uma escola de massas e não de etnias mas devido aos contextos
específicos de certas realidades, torna-se premente uma resposta perspectivada num
multiculturalismo presente em projectos curriculares facilitadores da integração.
É neste quadro que visualizo a necessidade de promover PCT’s e Projectos de
Intervenção que efectivem posturas de incentivo ao apoio, à tolerância e à aceitação de
uma sociedade multicultural, sem barreiras racistas ou xenófobas. É cada vez mais
importante conhecermos o outro e concebermos a cultura como um termo inesgotável
de sapiência.
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
85 Carla Rêgo Pires
Apresento, de seguida, de modo esquematizado, o que penso poder ser o projecto de
acção possível para a realidade que venho estudando, no sentido de melhor responder
aos desafios da escola integradora de minorias e favorável a uma educação intercultural.
Continuamente, realizei um plano de acção mais específico relativamente ao que
considero ser o ponto de partida para que este projecto de investigação/acção seja
validado – a selecção do corpo docente.
7.5 Resultados Almejados e Avaliação do Projecto
Com este projecto de investigação/acção procuro reduzir o abandono e absentismo
escolar dos alunos da comunidade cigana assim como desenvolver competências
pessoais e sociais do corpo docente e discente capazes de responder a uma integração
social eminente e necessária num futuro exigente a nível de aptidões laborais.
Creio que, ao aumentar a participação e responsabilidade das famílias no
desenvolvimento do Projecto Educativo do Agrupamento e ao promover uma
articulação curricular multi e intercultural, estarei a capacitar a organização escolar para
responder à abertura de fronteiras que temos vindo a vivenciar cada vez mais.
Ora, urge capacitar o docente de conhecimentos culturais capazes para poder tornar a
Escola um espaço de encontro de culturas agradável, onde o convívio das comunidades
aconteça saudavelmente. Assim, estará a aumentar-se a capacidade de resolução de
conflitos interpares, tão prejudicial ao bom aproveitamento escolar.
A avaliação de todo o plano de acção será feita ao longo do ano lectivo em avaliações
intermédias, no final de cada período escolar. Serão realizadas grelhas de observação
pelo docente coordenador de projectos e serão realizadas auto e hetero-avaliações dos
docentes que ministram em turmas com alunos de etnia cigana. A monitorização do
processo será condição sine e qua none para a realização do relatório final onde devem
constar todas as informações relativas ao aproveitamento e comportamento destes
alunos, não descurando o registo de faltas de presença e disciplinares.
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
86 Carla Rêgo Pires
Parece-me importante, também, uma análise das presenças dos encarregados de
educação a fim de se perceber se, verdadeiramente, está a haver receptividade desta
comunidade às tentativas de resposta do Agrupamento ao multiculturalismo e
integração dos alunos cigano.
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
87 Carla Rêgo Pires
Planificação do Projecto de Acção
A integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
Problema 1:
Abandono e Absentismo escolar; Insucesso Escolar;
Indisciplina e Violência por parte de alunos ciganos.
Problema 2:
Insuficiente ligação entre ciclos;
Fraca articulação curricular.
Problema 3:
Ausência do docente intercultural;
Parco relacionamento entre a comunidade educativa e a familiar.
Promover uma Educação de Sucesso para alunos de etnia cigana.
OBJECTIVOS GERAIS
Favorecer uma Educação Intercultural
Propiciar um ensino/aprendizagem
intercultural/multicultural.
OBJECTIVOS ESPECIFICOS
1.Diminuir o abandono, absentismo e insucesso
escolar de alunos ciganos, facilitando a sua
integração na vida activa.
1.Promover e apoiar a articulação dos
currículos das diferentes áreas disciplinares de
modo intercultural e sequencial entre os
diferentes ciclos de escolaridade.
1.Aumentar a interacção social com a
comunidade cigana.
2.Prevenir a Indisciplina e violência. 2.Desenvolver competências dos docentes
a nível do conhecimento multicultural.
2.Disponibilizar recursos de conhecimentos a
docentes.
3.Promover condições pedagógicas motivadoras e
necessárias à aprendizagem.
3.Proporcionar a mediatização
especializada entre a comunidade
educativa e a cigana.
3.Incrementar parcerias especificamente
facilitadoras de simbioses culturais.
PCT- Projecto Curricular de Turma
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
88 Carla Rêgo Pires
Plano de Acção
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco 2010/11
CALENDARIZAÇÃO OBJECTIVOS: Selecção de docentes GESTÃO de RECURSOS
ESTRATÉGIAS
RECURSOS MATERIAIS RECURSOS HUMANOS ACÇÕES ORÇAMENTO AVALIAÇÃO
Março 2011
Abril 2011
Maio 2011
Junho 2011
Comunicar ao corpo docente critérios relativos ao
perfil do professor a trabalhar com esta minoria
étnica.
Abrir candidaturas voluntárias a docentes que
pretendam leccionar estas turmas.
Reunir com Coordenadores de Projectos do
Agrupamento.
Accionar documentação necessária ao
desenvolvimento do projecto.
Entregar proposta para apreciação e aprovação da
direcção escolar.
Inicio das entrevistas aos docentes dos quadros.
Organização do corpo docente para o próximo ano
lectivo.
Fotocópias
Material de Informática
Docente a realizar o projecto.
Serviço de Psicologia e Orientação
Escolar.
Coordenadora de Projectos do
Agrupamento.
Direcção do Agrupamento.
Comunicação de critérios/perfil do
docente para trabalhar com estes
grupos minoritários.
Reuniões com grupo de trabalho
dos projectos do agrupamento.
Realização de entrevistas
individuais aos docentes.
Não carece de um
orçamento elevado,
uma vez que conta
com os recursos já
disponibilizados pelo
agrupamento.
Avaliação interna ao
longo do processo.
Avaliação externa
no final do mandato
desta direcção pela
IGE.
8. Considerações Finais:
A execução deste trabalho de investigação/acção mostrou-me o quão preocupante é a
integração escolar e o sucesso académico dos alunos da comunidade cigana.
Exaustivamente, procurei literatura que me mostrasse o que é ser cigano, pertencer a
uma cultura ancestral cheia de carisma e repleta de estigmas. Mas isto não foi suficiente,
porque percebi que continua a haver atitudes sociais depreciativas face à diferença.
Perder o preconceito e possibilitar uma integração efectiva passa por conhecer e
perceber o outro em todas as suas vertentes.
Quando se faz um trabalho com uma intenção altruísta, pensamos que podemos mudar o
Mundo. E foi assim que idealizei o meu projecto – uma tentativa de mudar o mundo do
agrupamento de escolas onde lecciono. Acredito que posso ajudar na melhoria da
integração dos alunos de etnia cigana e proporcionar-lhes um futuro longe da
marginalidade em que a sociedade em geral os posiciona.
Observei os problemas e percebi que ainda há aspectos a nível da relação pedagógica
que podem ser mudados e optimizados.
As famílias ciganas, cujos alunos frequentam estas escolas do AEC, têm carências
económicas e culturais que se arrastam há gerações. É notória a dificuldade de
interacção família/escola. Continua a haver uma certa relutância em deixarem os filhos
frequentarem as aulas, pois isto é encarado como um corte com a família.
Ora, mostrar a esta comunidade que a Escola é saber, saber ser e saber estar torna-se
fundamental. Mostrar-lhes que a Escola é um lugar aprazível de aprendizagens
propiciadoras de conhecimentos necessários à escalada social não é tarefa fácil devido à
pouca credibilidade que a Escola tem junto deste povo.
Parece-me que o passo a ser dado terá de partir da instituição escolar no sentido de criar
uma relação de confiança e de credibilidade junto destes discentes. Portanto, torna-se
imperativo preparar os professores nesta investida. O contacto inicial Escola–Família é
determinante para os contactos seguintes.
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
90 Carla Rêgo Pires
Cooperação, empenho, dedicação e espírito de abertura são condições necessárias para
que o corpo docente possa, em conjunto, realizar um Projecto Curricular de Turma
capaz de uma organização pedagógica que responda à diversidade e faculte a
integração. A equipa pedagógica terá de trabalhar em uníssono, num projecto
heterogéneo, numa Escola que se diz igualitária. Marcar a diferença sem ser diferente,
isto é, contornar a igualdade de saberes numa perspectiva multicultural e intercultural. A
simbiose será enriquecedora.
O professor não pode avançar para o seu trabalho com expectativas derrotistas, mas com
a ideia de que poderá realizar um trabalho estimulante com alunos que precisam de
acreditar na função da Escola.
A flexibilidade curricular e o facto de se tratar de uma escola TEIP são excelentes
argumentos para se negociarem saberes culturais e se assumirem compromissos
interculturais facilitadores da sociabilização.
Na minha óptica, uma melhoria da integração desta minoria étnica no AEC passa por
potenciar a coesão do corpo docente num PCT feito em função das idiossincrasias do
público-alvo.
Só será possível efectivar projectos educativos que partam da confirmação da existência
de riqueza cultural em todas as raças e comunidades e se reflictam bilateralmente na
organização educativa quando, verdadeiramente, se assegurar uma formação contínua
multicultural e se lutar contra o etnocentrismo do currículo prescrito pelo ME.
O AEC tem flexibilidade estrutural, organizativa e pedagógica suficiente para continuar
a procurar respostas que favoreçam uma integração social da comunidade cigana.
O PCT deve dar resposta à diversidade destes alunos e deve procurar encaixar as
ambições de vida destes alunos. Tudo isto deve ser feito num misto de métodos de
trabalho singulares, inovadores e permanentemente reflexivos. As diferenças culturais
não poderão ser um estorvo à aprendizagem e ao aperfeiçoamento individual e social.
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
91 Carla Rêgo Pires
Neste trabalho, proponho a cooperação, uma ligação entre culturas e não uma
sociabilização. Reconhecer valores numa cultura diferente da promovida pela Escola e
valorizar aquisições culturais profícuas num crescimento de Todos.
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
92 Carla Rêgo Pires
Bibliografia
Azanha, José Mário Pires. Uma reflexão sobre a formação do professor da escola
básica. Edu. Pesqui, 2004, volume 30.
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Programas de Educação Multicultura, Ministério da Educação.
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Lisboa: Secretariado Entreculturas, Ministério da Educação.
Carvalho, Adalberto, Epistemologia das Ciências da Educação, Porto, Afrontamento,
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Formosinho, J., Políticas educativas e Autonomia das escolas. 2000
Leite, Carlinda (2000): “A Flexibilização Curricular na Construção de uma
Escola mais Democrática e mais Inclusiva” in Território Educativo, n.º 7,
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
93 Carla Rêgo Pires
Porto, Revista da Direcção Regional De Educação do Norte.
Leite, Carlinda (2002): Currículo e o Multiculturalismo no Sistema Educativo
Português, Textos Universitários de Ciências Sociais e Humanas, Lisboa, Fundação
Calouste Gulbenkien.
Lima, L., Construindo modelos de gestão escolar, Lisboa: Instituto de Inovação
educacional. 1996
Musgrave, P.W., Sociologia da Educação, Fundação Calouste Gulbenkian, 1994.
Nóvoa; António, As Organizações escolares em análise, Lisboa. D. Quixote/ Instituto
de Inovação educacional, 1992.
Pinto, Conceição Alves, Sociologia da Escola, Mcgraw-Hill de Portugal, 1995
Stoer, Stephen R., Magalhães, António, A Diferença somos nós. Biblioteca das Ciências
Sociais. Edições Afrontamento, 2005
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
94 Carla Rêgo Pires
Anexos
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
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Pedido de Autorização
Exmo. Senhor Director,
Carla Mónica Ferreira do Rêgo Pires, professora dos quadros de agrupamento desta
organização escolar, integrada no grupo 300, Português, 3º ciclo e secundário, estando
inscrita no segundo ano do curso de Mestrado em Administração de Organizações
Educativas, na Escola Superior da Educação, vem, por este meio, solicitar a V. Exa.
autorização para proceder a um trabalho de investigação neste agrupamento de escolas
que superintende, a fim de elaborar o seu projecto final, segundo a metodologia de
entrevistas e inquéritos por questionário. Este destina-se a ser respondido pelo pessoal
docente e é referente ao tema «A integração das Minorias Étnicas no Agrupamento».
Mais informo que o nome de todos os participantes nunca será referido ou divulgado,
sendo qualquer informação utilizada no trabalho feita sob anonimato, garantindo, ainda,
que ninguém terá acesso aos materiais recolhidos, para além de mim.
Desde já, agradeço a colaboração prestada e manifesto a minha inteira disponibilidade
para qualquer esclarecimento que considere necessário.
Com os meus melhores cumprimentos,
Pede deferimento
______________________________
(Carla Mónica Ferreira do Rêgo Pires)
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
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Guião de Entrevista aos Docentes
1º Na sua perspectiva, descreva os alunos de etnia cigana no que concerne ao seu
comportamento em contexto sala de aula e contexto escola.
2º Das suas experiências com estes alunos quais as que lhe trouxeram mais dificuldades
na tarefa de ensino-aprendizagem?
3º Dialoga facilmente com estes alunos?
4º No programa da sua unidade curricular está contemplado a cultura cigana?
5º Não pondera criar uma relação cultural simbiótica nas suas aulas?
6º Estes alunos acompanham o ritmo de aprendizagem dos restantes?
7º O seu trabalho de ensino é diferenciado?
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Inquérito por Questionário
Opinião dos Docentes
Sobre a Integração de Grupos Minoritários
A- DADOS PESSOAIS E PROFISSIONAIS
1- Idade
A- 20 a 29 anos D- 50 a 59 anos
B- 30 a 39 anos E - 60 ou mais anos
C- 40 a 49 anos
2- Sexo
Masculino Feminino
3- Anos de Docência
A- Menos de 6 anos D- De 25 a 35 anos
B-De 6 a 14 anos E- 36 ou mais anos
C- De 15 a 24 anos
4- Habilitações Académicas
A- Doutoramento D- Licenciatura
B- Mestrado E- Bacharelato
C-Pós-Graduação F- Outro
Especifique_______________________
5- Formação Profissional
A- Em exercício C- Formação Clássica
B- Ramo Educacional D- Outro
Especifique_______________________
6- Situação Profissional
PQND P. não Profissionalizado
PQND Destacado P. Contratado
PQZP P. em Substituição
P. em Profissionalização Outra Situação
Especifique________________________
7- Número anos de Serviço
8- Número de anos que exerce funções docentes nessa escola:
A- Menos de 1 ano
B- De 1 a 4 anos
C- 5 ou mais anos
Este Inquérito por Questionário faz parte de um trabalho de investigação para a conclusão de um projecto de mestrado em “Administração de Organizações Educativas” e tem como objectivo saber a opinião dos docentes face à integração / inclusão de alunos pertencentes às minorias étnicas neste agrupamento. Os dados recolhidos são estritamente confidenciais e não serão usados para outro fim. A vossa participação é imprescindível, por favor colabore.
Obrigada pela sua ajuda.
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9- Exerce funções docentes na Localidade onde reside?
A- Sim
B- Não
10- Ano (s) de escolaridade que lecciona no presente ano lectivo:
A- 1º Ciclo
B- 2ºe 3º ciclo
C- Secundário
D- Profissionais
11- Percentagem (aproximada) de alunos minoritários que frequentam a sua Turma (s)
A- 0 a 9%
B-10 a 24
C- 25 A 39%
D- 40% ou mais
12- Número de alunos na sua Turma
13- Número de alunos de minorias étnicas na sua turma:
A- Do sexo Masculino B- Do sexo Feminino
14- Número de alunos que desistiu
A- Do sexo Masculino B- Do sexo Feminino
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
99 Carla Rêgo Pires
B – Dados de Opinião
Assinale com uma cruz o seu grau de concordância com as seguintes afirmações
Escola e Diversidade Cultural CP C D DP
15. A escola deve dispor de instrumentos de compensação para os grupos minoritários
uma vez que estes são mais fracos.
16. A diversidade cultural na escola cria obstáculos para um desenvolvimento efectivo do
processo ensino-aprendizagem.
17. A escola deve enaltecer a cultura de nascimento das crianças relativas aos grupos
minoritários.
18. As escolas devem eleger um curriculum que auxilie a homogeneização cultural.
19. A família dos grupos minoritários vai, por sua iniciativa, menos vezes à escola, do que
a família dos grupos maioritários.
20. As práticas monoculturalistas dos sistemas educativos fomentam a rejeição social.
21. A escola tem autonomia para alterar os conteúdos programáticos, adaptando-os ao seu
contexto.
22.Os docentes justificam a sua oposição à mudança devido ao controlo da administração.
INSTRUÇÕES SOBRE O PREENCHIMENTO DO QUESTIONÁRIO 1 - Marque com uma cruz, a opção que melhor se adapta à sua opinião.
2 - O significado dos símbolos utilizados é: a)-Concordo Plenamente (CP)
b)-Concordo (C) c)-Discordo (D)
d)-Discordo Plenamente (DP)
aasasasasasasasasassasa
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
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Integração de Grupos Minoritários CP C D DP
23. A presença de alunos minoritários na turma/escola estorva o rendimento dos alunos
maioritários
24. O projecto educativo da escola deve espelhar as necessidades e proveitos de todos os
alunos.
25.As escolas devem reconhecer explicitamente os valores culturais das minorias que
pretendem completar.
26.O trabalho em equipa com diferentes parceiros/cenários, interiores e exteriores à
escola, ajuda a assimilação escolar.
27.Os grupos minoritários devem estar tão abertos ao diálogo como os grupos referentes
às culturas maioritárias
28.A inclusão social das famílias pertencentes a grupos minoritários é elementar para a
integração escolar dos seus filhos.
29. A presença da Associação de Pais facilita a inclusão de grupos minoritários na escola.
Formação de professores CP C D DP
30. Os paradigmas de formação de professores satisfazem uma concepção de professores
como aplicadores de teorias.
31.A posição profissional dos professores exige uma permanente meditação critica,
individual e/ ou em grupo, sobre a educação.
32.Um professor implicado com o ensino deve trabalhar com e não para os grupos
minoritários.
33.A formação continuada dos professores deve realizar-se a partir das dificuldades da
escola.
34.A formação preambular e contínua dos docentes deve fazer parte da sua cultura
profissional.
35.A formação de professores, num panorama intercultural, deve contemplar distintos
aspectos, como por exemplo:
a) Saberes de Línguas;
b) Participação em programas que abranjam comunidades minoritárias;
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
101 Carla Rêgo Pires
c) Estágios em escolas frequentadas por estudantes minoritários;
d) Conferências, seminários e cursos sobre culturas minoritárias;
e) Reflexão sobre rotinas escolares que concorrem para a propagação das discrepâncias
sociais;
f) Apreciação dos alunos na sua diversidade;
36.Os docentes, em geral, estão prontos para replicar aos desafios da instrução
intercultural.
37.O docente do futuro deve conter uma formatura intercultural.
Terminou o preenchimento deste questionário.
Muito Obrigada
A Integração das Minorias Étnicas no Agrupamento de Escolas do Cerco
102 Carla Rêgo Pires
Guião de Entrevista ao Director do Agrupamento de Escolas do Cerco
DADOS PESSOAIS E PROFISSIONAIS:
Idade:____________________
Anos de Docência:____________________
Habilitações Académicas:______________________
Formação Profissional:_______________________
Situação Profissional:__________________________
Número de Anos de Funções nesta Escola/Agrupamento:_________________
DADOS DE OPINIÃO:
1. Certamente é sabedor de que este agrupamento tem um grande número de alunos de
etnia cigana. Na sua perspectiva a que se deve este facto?
2. Considera que esta minoria teve/tem dificuldade em se integrar nas escolas deste
agrupamento? Porquê?
3. Tem registo da desistência de algum aluno/a desta minoria? Quantos? Porquê?
4. Considera que a Escola deve valorizar a identidade cultural de origem destes alunos
desta minoria étnica?
5. É defensor da ideia de que as escolas devem adoptar um currículo que promova a
homogeneização cultural?
6. Acredita que devem ser criadas escolas específicas para estas minorias?
7. Vê alguma relação entre a integração destes alunos de etnia cigana na escola/turma e os
resultados escolares dos outros alunos da cultura dominante?
8. A administração deste agrupamento investe na formação do corpo docente a nível
intercultural?
9. Acredita que o professor futuramente deverá ter formação intercultural de base?
Porquê?
10. Qual a totalidade de alunos de etnia cigana que há neste agrupamento.