tese de licenciatura - ft-ajossefa-2011

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DETERMINANTES DO ACESSO AO SISTEMA FINANCEIRO:O CASO DE MOÇAMBIQUEAUTOR: ANTÓNIO LUCIANO JOSSEFA

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  • UNIVERSIDADE TCNICA DE LISBOA

    INSTITUTO SUPERIOR DE ECONOMIA E GESTO

    MESTRADO EM ECONOMIA MONETRIA E FINANCEIRA

    DETERMINANTES DO ACESSO AO SISTEMA FINANCEIRO:

    O CASO DE MOAMBIQUE

    ANTNIO LUCIANO JOSSEFA

    Orientador: Doutora Margarida Paula Calado Neca Vieira de Abreu

    Jri

    Presidente: Doutora Maria Rosa Vidigal Tavares Cruz Quartin Borges

    Vogais: Doutor Vivaldo Manuel Preira Mendes

    Doutora Margarida Paula Calado Neca Vieira de Abreu

    Lisboa, Agosto de 2011

  • UNIVERSIDADE TCNICA DE LISBOA

    INSTITUTO SUPERIOR DE ECONOMIA E GESTO

    MESTRADO EM ECONOMIA MONETRIA E FINANCEIRA

    DETERMINANTES DO ACESSO AO SISTEMA FINANCEIRO:

    O CASO DE MOAMBIQUE

    ANTNIO LUCIANO JOSSEFA

    Orientador: Doutora Margarida Paula Calado Neca Vieira de Abreu

    Jri

    Presidente: Doutora Maria Rosa Vidigal Tavares Cruz Quartin Borges

    Vogais: Doutor Vivaldo Manuel Preira Mendes

    Doutora Margarida Paula Calado Neca Vieira de Abreu

    Lisboa, Agosto de 2011

  • i

    NDICE

    DEDICATRIA .................................................................................................................................... iii

    AGRADECIMENTOS ........................................................................................................................... iv

    LISTA DE ABREVIATURAS .................................................................................................................v

    LISTA DE TABELAS E QUADROS ......................................................................................................v

    RESUMO ............................................................................................................................................. vi

    1. INTRODUO ............................................................................................................................. 1

    2. REVISO DE LITERATURA ........................................................................................................ 5

    2.1 Importncia do Sistema Financeiro ...................................................................................... 5

    2.2 Relao entre o Desenvolvimento Financeiro e o Crescimento Econmico ........................ 6

    2.3 Acesso aos Servios Financeiros e seus Determinantes ..................................................... 7

    2.4 Estudos Relacionados ....................................................................................................... 11

    3. SISTEMA FINANCEIRO MOAMBICANO ................................................................................ 14

    3.1 Descrio do Sistema Financeiro em Moambique ........................................................... 14

    3.2 Servios Financeiros Oferecidos........................................................................................ 15

    4. METODOLOGIA E BASE DE DADOS ....................................................................................... 18

    4.1 Variveis do Estudo ........................................................................................................... 18

    4.2 Hipteses ........................................................................................................................... 19

    4.3 Especificao do Modelo ................................................................................................... 21

    4.4 Base de Dados .................................................................................................................. 24

    5. RESULTADOS ........................................................................................................................... 27

    5.1 Anlise dos Resultados Economtricos ............................................................................. 27

    5.2 Anlise dos Efeitos Marginais ............................................................................................ 31

    5.3 Anlise Comparativa com Outros Estudos ......................................................................... 33

    6. CONCLUSO ............................................................................................................................ 35

    BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................................. 37

    ANEXOS ............................................................................................................................................ 42

    Anexo A. Teste de Significncia Global do Modelo ........................................................................... 42

  • ii

    Anexo B. Teste LM para a Heterocedastidade dos Erros .................................................................. 42

    Anexo C. Poder de Previso do Modelo do ASFFB ........................................................................... 43

    Anexo D. Poder de Previso do Modelo do ASFIN ............................................................................ 43

    Anexo E. Poder de Previso do Modelo do ASF ............................................................................... 43

    Anexo F. Teste de Normalidade dos Erros no Modelo de ASFFB ..................................................... 44

    Anexo G. Teste de Normalidade dos Erros no Modelo de ASFIN...................................................... 44

    Anexo H. Teste de Normalidade dos Erros no Modelo de ASF ......................................................... 44

  • iii

    DEDICATRIA

    Deus, meus pais, minha esposa, meus filhos e ao meu grande amigo pelas energias positivas que

    me transmitiram. Bem Hajam

  • iv

    AGRADECIMENTOS

    O culminar deste sonho devido em primeiro lugar Deus, pelo dom da vida. Professora

    Doutora Margarida Abreu, pelo incansvel apoio na orientao e delimitao do tema.

    Ao Banco de Moambique e Banco de Portugal, pelo apoio financeiro (sem o qual este

    sonho no teria sido possvel). Estendo a minha gratido Silvina de Abreu, Maria Esperana,

    Eugnio Saranga, Zeca, Artimisia Gove, Jamal, Joaquim Marta, Ilda Comiche, Otlia Zualo e os

    demais amigos e colegas no Departamento de Estudos Econmicos e Estatstica do Banco de

    Moambique, pelo apoio moral.

    minha esposa, Florncia Saquina Jossefa, aos meus filhos, Dinho, Jnior, e Lo e ao

    grande amigo, Padre Jorge, pelo apoio que sempre transmitiram naquelas horas de solido nas

    terras lusas.

    Aos Padres da Sociedade Missionria da Boa Nova (Casa de Lisboa), particularmente, os

    padres Viriato (Deus o tenha), Albino dos Anjos e Martinho, pelo apoio incansvel em relao

    minha acomodao. Os meus agradecimentos so extensivos aos padres Marco, Amaro e Pinto,

    pela amizade.

    Ao meu amigo Doutor Matias Farahane, pelo apoio proporcionado na correco e

    clarificao da verso final deste trabalho. Aos Doutores Lus Costa e Maximiano Pinheiro, pelo

    encorajamento nos momentos de suspeio. Ao Joo Paulo Calembo, pelas lies valiosas sobre o

    uso do software economtrico SPSS. Ao Rafael, Nelza, Teresa, Jack, Vasco e Chimene, pelas

    alegrias e tristezas porque passmos juntos.

    Ao dr. Erclio Infante, pela disponibilizao de informao e dados que permitiram a

    prossecuo dos objectivos deste trabalho.

    Finalmente, no me esqueo de agradecer aos meus colegas do curso de Economia

    Monetria e Financeira, pelas horas a fio que passmos juntos procura de felicidade, bem como a

    todos aqueles que no pude referir-me aqui. Bem Hajam.

  • v

    LISTA DE ABREVIATURAS

    ASF Acesso aos Servios Financeiros

    SADC Comunidade para o Desenvolvimento da frica Austral

    FMT FinMark Trust

    BM Banco de Moambique

    ASFFB Acesso aos Servios Financeiros Formais Bancrios

    ASFIN Acesso aos Servios Financeiros Informais

    PVD`s Pases em Vias de Desenvolvimento

    ATM`s Caixas Automticas

    POS Pontos de Venda

    LSMS Life Standard Measurement System

    INE Instituto Nacional de Estatstica

    LISTA DE TABELAS E QUADROS

    Tabela 1.1: Acesso aos Servios Financeiros na SADC (em % da Populao Adulta) ...................... 2

    Tabela 2.1: Acesso aos Servios Financeiros .... 11

    Tabela 3.1: Sistema Financeiro Moambicano, 1992 2009 ............................................................ 14

    Tabela 3.2: Localizao das Agncias de Bancos Autorizados, 2007 2009 ................................... 16

    Tabela 3.3: Evoluo de ATM e POS, 2007 - 2009 ........................................................................... 17

    Tabela 4.1: Sumrio Estatstico das Variveis Contnuas ................................................................. 25

    Tabela 4.2: Sumrio Estatstico das Variveis Binrias ..................................................................... 26

    Tabela 5.1: Resultados da Estimao da Regresso dos Factores Socioeconmicos ... 27

    Tabela 5.2: Resultados da Estimao da Regresso dos Factores Socioeconmicos e

    Comportamentais. .. 29

    Tabela 5.3: Efeitos Marginais dos Factores Socioeconmicos e Comportamentais ......................... 31

    Quadro 4.1: Variveis do Estudo .. 18

  • vi

    RESUMO

    O objectivo deste estudo foi investigar os determinantes do acesso ao sistema financeiro

    (ASF) em Moambique. Para alcanar este objectivo, adoptou-se o modelo Probit. A estimao

    deste modelo usou dados transversais extrados do inqurito de 2009 a 5.028 indivduos adultos

    residentes em Moambique. Os resultados do estudo indicam que em Moambique:

    ambos, factores socioeconmicos e comportamentais, determinam a probabilidade de ASF.

    os indivduos adultos com ASF formais bancrios so caracterizados por terem rendimentos

    altos (acima de 5 mil meticais), possurem um grau de escolaridade, viverem nas zonas urbanas

    e prximas das instituies financeiras, terem literacia financeira, deterem riqueza, exibirem

    sobreconfiana, serem optimistas moderados, e terem confiana nas instituies financeiras;

    os indivduos adultos com ASF informais caracterizam-se por deterem rendimentos altos, terem

    um grau de escolaridade, serem do sexo feminino, serem maiores de 35 anos de idade, viverem

    nas zonas urbanas e prximo das instituies financeiras, confiarem estas instituies, serem

    altrustas, formarem expectativas positivas acerca do futuro, e exibirem optimismo excessivo.

    Estas caractersticas individuais so extensivas aos indivduos adultos com ASF

    independentemente do tipo de instituio (formal e informal), os quais tambm so

    caracterizados por exibirem sobreconfiana.

    A incluso de variveis comportamentais no nosso estudo mostrou que as mesmas so

    relevantes para explicar o comportamento financeiro dos indivduos adultos em sistemas financeiros

    emergentes.

    Os resultados obtidos sugerem a necessidade das autoridades moambicanas tomarem em

    considerao no s os factores socioeconmicos quando formulam estratgias para o alargamento

    do acesso aos servios financeiros, mas tambm os factores comportamentais.

  • 1

    1. INTRODUO

    Nos anos recentes, a importncia dos mercados financeiros para o desenvolvimento

    econmico e social vem ganhando espao no sentido de que a ampliao do acesso aos mesmos

    gera impactos positivos na vida das populaes de baixo rendimento. Contudo, a questo do acesso

    aos servios financeiros (ASF) ganha contornos preocupantes tendo em conta que em 2005, a nvel

    mundial, cerca de 2.5 bilies de indivduos (o equivalente metade da populao mundial) no

    tiveram ASF. Daquele nmero de indivduos adultos, cerca de 38% viveram na sia, frica, Amrica

    Latina e Mdio Oriente, onde um pouco mais de 800 milhes de indivduos da populao que

    beneficia dos servios em causa dispem de menos do que USD 5 por dia (Chaia et al., 2009)

    A informao limitada do lado da procura sobre os factores que concorrem para que grande

    parte da populao do mundo no tenha ASF condiciona os fazedores de polticas a desenhar

    aces tendentes sua melhoria. Alm disso, os provedores dos servios financeiros podem

    enfrentar constrangimentos para identificar onde encontrar as oportunidades de investimento que

    visem a obteno de mais-valias sem custos acrescidos na sua actividade diria.

    Nos ltimos anos, o projecto FinScope1 tem realizado estudos em muitos pases,

    particularmente africanos, os quais envolvem a conduo de inquritos que tem como objectivo

    identificar possveis barreiras de ASF para os consumidores pobres. Embora estes inquritos no

    tenham uma base comum, eles permitem fazer comparaes entre os pases abrangidos nos

    estudos. A evidncia a partir dos dados derivados dos tais inquritos indica a existncia de elevados

    nmeros de indivduos adultos residentes nos pases membros da Comunidade para o

    1 O Projecto Finscope uma iniciativa da FinMark Trust (FMT), uma organizao independente que desenvolve estudos

    para avaliar o ASF em qualquer pas e os factores que impedem os pobres de aceder aos mercados financeiros

    (www.finscope.co.za).

  • 2

    Desenvolvimento da frica Austral (SADC) sem ASF. A Tabela 1.1 apresenta o sumrio das taxas

    de ASF naqueles pases.

    Tabela 1.1: Acesso aos Servios Financeiros na SADC (em % da Populao Adulta)

    Pases Formal - Bancos Outros Formais Informais Excludos

    frica do Sul (2009) 60 4 10 26

    Moambique (2009) 12 1 9 78

    Botswana (2009) 41 18 8 33

    Malawi (2008) 19 7 19 55

    Nambia (2007) 45 2 2 52

    Tanznia (2006) 9 2 35 54

    Zmbia (2005) 15 12 11 62

    Fonte: FinScope (2010)

    A tabela acima mostra que em 2009, a frica do Sul apresentou duas particularidades, sendo por um

    lado, o pas com uma taxa de ASF mais elevada e, por outro, a mais baixa taxa de excluso. Estes

    factos podem ser justificados pelo alto nvel de desenvolvimento do sistema financeiro sul-africano.

    O Botswana e a Nambia apresentam taxas de acesso elevadas, um facto que pode estar associado

    com a cultura de crdito nos dois pases. A Tanznia o pas com a taxa de acesso aos servios

    financeiros formais bancrios (ASFFB) mais baixa da regio

    Os nmeros da tabela acima mostram tambm que, em 2009, Moambique apresentou a

    taxa mais alta de excluso no ASF da SADC (cerca de 78%), mesmo considerando os esforos

    empreendidos nos ltimos anos pelo Banco de Moambique (BM) visando o alargamento dos

    servios em causa.

    O objectivo deste estudo identificar os factores que determinam o acesso ou a participao

    dos indivduos adultos residentes em Moambique no sector financeiro do pas. Como tal, o estudo

    tenta responder as seguintes perguntas:

    Ser que os factores socioeconmicos so os nicos que determinam a probabilidade dos

    indivduos adultos terem ASFFB?

    Ser que factores comportamentais tambm influenciam o ASFFB?

  • 3

    Ser que os factores que justificam a participao no sector financeiro formal2 so comuns

    aos factores que determinam a participao no sector informal3?

    Quais so os factores que determinam a participao no sistema financeiro moambicano

    formal e informal?

    Neste contexto, o presente trabalho procura identificar o perfil dos indivduos acima referidos,

    diferenciando-os daqueles que no participam no sistema financeiro. Alm disso, o estudo procura

    diferenciar as caractersticas prprias daqueles que participam no sector formal relativamente

    daqueles que participam no sector informal. Para responder as perguntas acima referidas,

    estimaram-se trs modelos probit, como forma de diferenciar as trs formas de participao no

    sistema financeiro moambicano, nomeadamente participao no sector formal bancrio,

    participao no sector financeiro informal, e participao no mercado financeiro independentemente

    do tipo de instituio (formal ou informal). Assim, o trabalho comea por analisar a importncia de

    um conjunto de variveis socioeconmicas que so normalmente apontadas como determinantes do

    (ASFFB) nos Pases em Vias de Desenvolvimento (PVDs). O estudo prossegue com a anlise de

    variveis de natureza comportamental visando descortinar a sua possvel influncia no ASFFB pelos

    indivduos adultos residentes em Moambique. Dado que o estudo no s pretende investigar o

    ASFFB, mas tambm aferir o ASF como um todo, a anlise alargada com a incluso do sector

    informal.

    H duas razes fundamentais que fazem com que o tpico deste estudo merea mais

    investigao. Primeiro, os resultados do inqurito aos indivduos adultos residentes em Moambique,

    conduzido pela FinScope em 2009, conduziram esta organizao a concluir que naquele ano os

    factores socioeconmicos contriburam para que, cerca de 78% de indivduos em causa estivessem

    excludos do ASF e que apenas 12% tivessem ASFFB. Trata-se de uma concluso baseada em

    resultados de um estudo meramente descritivo, e como tal, a sua validade pode ser questionada

    2 Instituies sujeitas a superviso prudencial do BM.

    3 Instituies sujeitas a monitorizao do BM.

  • 4

    uma vez que os mesmos no foram testados por mtodos estatsticos. Assim, torna-se necessrio

    conduzir um estudo de natureza emprica usando mtodos analticos mais sofisticados, os quais

    permitem no s testar estatisticamente o modelo de regresso, mas tambm a validade dos

    resultados estimados.

    Segundo, os dados existentes sobre o sistema financeiro em Moambique indicam que em

    2009, a rede de servios financeiros foi alargada para 352 balces contra os 228 existentes at

    2006, e que durante o mesmo perodo entraram em funcionamento duas novas instituies

    bancrias, 17 operadores de micro crdito, e 11 micro bancos, maioritariamente nas zonas rurais,

    para alm da dinmica evidenciada pelo sector informal, traduzida em 104 instituies (BM, 2009a).

    Estes dados parecem no ser consistentes com as concluses do estudo da FinScope acima

    referido. Dai que, torna-se necessrio identificar os factores que esto por detrs da fraca

    participao dos indivduos adultos residentes em Moambique aos servios financeiros.

    Esta dissertao est dividida em seis captulos. O segundo captulo apresenta a reviso de

    literatura. O terceiro captulo descreve o sistema financeiro moambicano. O quarto captulo

    apresenta a metodologia de anlise e a base de dados. O quinto captulo apresenta e analisa os

    resultados. O ltimo captulo apresenta a concluso.

  • 5

    2. REVISO DE LITERATURA

    Este captulo compreende quatro seces. A primeira seco aborda a importncia dos

    intermedirios financeiros. A segunda seco explora a relao entre o desenvolvimento financeiro e

    o crescimento econmico. A terceira seco descreve o ASF e seus determinantes e a ltima seco

    apresenta alguns estudos empricos relacionados com o tpico deste estudo.

    2.1 Importncia do Sistema Financeiro

    O sistema financeiro joga um papel multidimensional no processo de desenvolvimento

    econmico porque a interaco dos agentes econmicos na actividade econmica envolve custos de

    informao ou de transaco resultados das imperfeies dos mercados, os quais devem ser

    minimizados. Para o efeito, importante a existncia de intermedirios financeiros.

    A presena de intermedirios financeiros contribui para mitigar os problemas decorrentes

    dos custos de transaco e de informao, um facto que concorre para influenciar as decises de

    poupana e de investimentos, e, por via disso, o crescimento econmico. Os intermedirios

    financeiros podem influenciar o crescimento atravs dos seguintes canais:

    Reduo dos custos de aquisio e processamento de informao, e portanto, melhoramento da alocao de recursos para as famlias;

    Fortalecimento do acompanhamento das operaes das empresas, o que pode, por um lado, reduzir os nveis de racionamento de crdito, e, por outro, facilitar o fluxo de recursos dos aforradores para os investidores;

    Diversificao do risco, um facto que pode induzir os aforradores a direccionar a sua carteira de investimentos para projectos com retornos esperados elevados;

    Mobilizao de poupanas individuais com vista a aprofundar o processo de crescimento econmico, um facto que permite fazer melhor uso das economias de escala;

    Uso da moeda como um meio mais eficaz no processo das trocas, permitindo que os custos de transaco sejam reduzidos, promovendo dessa forma uma maior especializao, inovao e crescimento econmico (Mishkin, 2000, Bencivenga e Smith, 1993; La Fuente e Marin, 1996, Devereux e Smith, 1994; e Obstfeld, 1994).

  • 6

    Um sistema financeiro com intermedirios que cumpram cabalmente com as funes financeiras

    gera benefcios acrescidos para o crescimento econmico. De facto, a importncia do sistema

    financeiro no crescimento econmico no reside apenas na necessidade de aumentar a quantidade

    do investimento, mas tambm na qualidade do mesmo (Becsi e Wang, 1997).

    2.2 Relao entre o Desenvolvimento Financeiro e o Crescimento Econmico

    As correntes de pensamento econmico tradicionais so conflituantes quanto ao impacto do

    sistema financeiro no crescimento econmico. Os economistas do desenvolvimento como Meier e

    Seers (1984) e Lucas (1988) no do primazia ao papel do sistema financeiro no processo de

    crescimento econmico e baseiam as suas hipteses na teoria neoclssica defendida por Fama

    (1970). Esta teoria assume que os mercados so perfeitos e eficientes, e que os agentes

    econmicos agem de forma racional. Merton (1988), Gurley e Shaw (1955) e McKinnon (1973)

    consideram sem fundamento dissociar o sistema financeiro do processo de crescimento econmico,

    com base na viso schumpeteriana do processo de desenvolvimento que relaciona a liberalizao

    financeira com as taxas de juro e essas com o investimento ou poupana. Esta viso defendida por

    Levine (2005), Beck et al. (2000), Demirgu-Kunt e Maksimovic (1998), e Rajan e Zingales (1998).

    Fora daqueles debates, a literatura financeira notabilizou-se nas anlises do impacto das

    finanas na distribuio do rendimento e no alvio pobreza. Todavia, existe alguma literatura

    recente que aponta para o fraco contributo das finanas na distribuio do rendimento e na reduo

    da pobreza, particularmente, para as pequenas empresas e famlias pobres (Beck et al., 2005 e

    Beck et al., 2007). De acordo com Galor e Moav (2004), desde que se eliminem os factores que

    restringem o ASF, particularmente o acesso ao crdito, o sistema financeiro pode catapultar o

    aumento da eficincia na alocao de capital e a reduo da desigualdade no rendimento, gerando

    fluxos de capital com retornos de investimento elevados para os pobres. No entanto, os modelos de

    racionamento de crdito de Stiglitz e Weiss (1981) defendem que quando os sistemas financeiros

  • 7

    so subdesenvolvidos, como geralmente acontece nos PVDs, pode criar-se um entrave ao processo

    de crescimento econmico, visto que, no funcionando o mercado de crdito, as decises de

    investimento ficam determinadas pela riqueza individual, o que exclui partida os que no tm

    fundos.

    2.3 Acesso aos Servios Financeiros e seus Determinantes

    Segundo Campbell (2006), a anlise das finanas das famlias um desafio porque o

    comportamento das mesmas difcil de medir. Alm disso, as famlias defrontam-se com

    constrangimentos que raras vezes so capturados pelos modelos dos manuais de finanas, mas que

    so relevantes analisar dada a importncia do sistema financeiro na economia.

    O ASF pelas famlias no sinnimo do uso dos mesmos. De acordo com Claessens

    (2006), enquanto o acesso refere-se disponibilidade de servios financeiros de boa qualidade e a

    baixos custos, o uso corresponde ao consumo actual dos mesmos. Claessens (2006) apresenta a

    diferena entre o acesso e o uso dos servios financeiros na perspectiva das curvas da procura e

    oferta. Assim, o acesso refere-se oferta, enquanto o uso a intercesso das curvas da oferta e

    procura. Nesta perspectiva, o equilbrio depende da relao entre os custos incorridos pelas

    instituies e o rendimento das famlias. Se o custo for elevado, evidente que as famlias no vo

    usar os servios financeiros. Assim, um agente pode ter ASF mas no exercer o direito de uso,

    porque, por um lado, tais servios so incompatveis com a sua situao financeira, mas tambm

    no ter acesso aos mesmos e no exercer o direito de uso (Claessens, 2006).

    A literatura financeira no tem evidenciado casos de equilbrio entre a procura e oferta, dado

    que, como preconizado nos modelos de Stiglitz e Weiss (1981), as assimetrias de informao, a

    seleco adversa e o risco moral fazem com que as instituies financeiras no sejam capazes de

    ter um preo que satisfaa os indivduos. De acordo com Karlan e Zinman (2005) separar os efeitos

    da seleco adversa e do risco moral complicado. Assim, determinar empiricamente que um

  • 8

    indivduo tem ASF mas no os usa difcil. Apesar de haver vrios estudos que procuram explorar a

    relao entre o acesso e vrios indicadores econmicos, tais como as taxas de crescimento do PIB

    per capita, produtividade das empresas e da pobreza (Beck et al., (2000), Demirguc-Kunt e

    Maksimovic, (1998), Beck et al., (2005), e Klapper et al., (2006)), pouco se tem feito sobre os

    determinantes e as implicaes do acesso das famlias e indivduos aos mercados financeiros. A

    principal razo que pode justificar os poucos estudos sobre o ASF a dificuldade na recolha de

    dados.

    Dos poucos estudos que existem, h aqueles que derivam do lado da oferta. Estes oferecem

    apenas um lado da questo, como o caso do nmero de contas bancrias usadas pelos clientes

    (Hanohan, 2008). H estudos que enfatizam o lado da procura e apresentam informao sobre o

    sistema financeiro a partir dos inquritos no quadro do Life Standard Measurement System (LSMS)4.

    No entanto, estes estudos ignoram aspectos tais como as motivaes que determinam o uso dos

    servios pelas famlias, e a influncia que uma deciso individual exerce quando comparada com a

    da famlia em geral (Lundberg e Pollak (1996), e Scott e Cull, 2010).

    De acordo com Claessens (2006), mesmo que a utilizao destas fontes em muitos casos

    seja de difcil comparao, os dados produzidos mostram uma variao considervel no nvel de

    acesso entre os pases, sendo que em muitos PVDs muitas famlias no tm ASF e, como

    alternativa, elas recorrem a instituies no financeiras e informais.

    A dimenso reduzida das economias dos PVDs, aliada aos nveis de pobreza que as

    caracterizam, faz com que as autoridades financeiras apostem muitas vezes em instituies micro-

    financeiras, as quais no exigem grandes investimentos para o seu funcionamento, e geram taxas

    de retorno muito altas que podem ser aproveitadas pelas camadas mais pobres (Karlan e Morduch,

    2009; Aghion e Morduch, 2005; Honohan, 2004; e Robinson, 2001). Todavia, Hanson et al. (2003)

    4 Trata-se de inquritos aos agregados familiares coordenados pelo Banco Mundial que estudam as medidas de padro

    de vida das famlias.

  • 9

    consideram que tais instituies no so necessariamente benficas para os clientes finais dado

    que, em muitos casos, no chegam a alcanar a eficincia desejada no fornecimento dos servios

    financeiros, por envolverem custos elevados. Esta tese reforada por Hanohan (2008) que

    considera que o impacto das micro-finanas na reduo da pobreza inconclusivo, visto que, a sua

    avaliao deveria tomar em considerao os efeitos do deslocamento das populaes e a prpria

    endogeneizao do acesso financeiro.

    O rendimento mdio, a escolaridade, o ambiente institucional, localizao geogrfica e a

    distribuio etria so factores socioeconmicos apontados como os determinantes do ASF nos

    pases, em particular, nos PVDs. Por exemplo, Beck et al. (2005) apontam que o ambiente

    institucional o mais importante pelo facto de que os sistemas financeiros desenvolvidos e eficientes

    conduzem ao alargamento do ASF.

    Muitos dos poucos estudos existentes procuram explorar unicamente os efeitos dos factores

    socioeconmicos sobre o ASF. No entanto, h alguns estudos (Claessens (2006) e King e Hanohan

    (2009)) que indicam que os factores comportamentais tais como a convenincia, a confiana nas

    instituies e a averso ao risco tambm influenciam o ASF.

    Existem autores que procuram explorar os efeitos de factores comportamentais tais como a

    sobreconfiana, altrusmo, expectativas e optimismo sobre a participao nos mercados financeiros,

    mas estes estudos aplicam-se mais a mercados financeiros desenvolvidos. Estes factores

    comportamentais revelam-se importantes na explicao das decises de participao nos mercados,

    estratgias de investimento e escolha entre os diferentes tipos de instrumentos financeiros.

    Exemplos desses estudos so Puri e Robinson (2007), Odean (1998a, 1998b), e Shefrin (2009).

    Segundo Shefrin (2009), as finanas neoclssicas respeitam o princpio de que as

    preferncias dos investidores respeitam os axiomas da teoria de utilidade esperada, segundo a qual

    as expectativas so formadas com base na probabilidade das crenas, uma proposio que

    questionada na literatura da heurstica e enviesamentos. Segundo o mesmo autor, esta literatura

  • 10

    sugere a presena de erros sistemticos na tomada de decises que levam s crenas manifestadas

    em fenmenos como a confiana, altrusmo, expectativas, optimismo, sobreconfiana, entre outros.

    A sobreconfiana e o altrusmo so assumidos como a situao em que os investidores

    subestimam o risco, acabando por exagerar na avaliao do grau dos seus conhecimentos face

    carteira de investimentos que eles pretendem adquirir (Odean, 1998a). Guiso et al. (2008)

    consideram a confiana como a probabilidade subjectiva que os indivduos atribuem a forma como

    outros agentes podero desempenhar uma aco particular. Tal probabilidade subjectiva pode ser

    influenciada pelo ambiente social e cultural em que os indivduos se encontram inseridos. Por

    exemplo, o nvel de escolaridade e a cultura religiosa podem explicar diferenas nos nveis de

    confiana entre indivduos, regies, e pases (Guiso et al. 2004 e 2003).

    Puri e Robinson (2007), apontam o optimismo como a crena que os indivduos assumem

    sobre as condies econmicas futuras. Esta crena pode ser vista de uma forma moderada ou

    excessiva. No primeiro caso, os indivduos so conotados com hbitos e escolhas financeiras

    prudentes. Pelo contrrio, os indivduos que exibem o optimismo excessivo ignoram medidas

    bsicas sobre a poupana nos mercados financeiros. Finalmente, Scheier e Carver (1985) e Scheier

    et al. (1994) consideram o optimismo como as expectativas generalizadas sobre eventos futuros, dai

    que, sugerem que o optimismo e as expectativas so comportamentos que no podem ser

    dissociados.

    Neste estudo, pretendemos analisar a importncia destes factores (altrusmo, expectativas,

    optimismo e sobreconfiana), num pas com um sistema financeiro emergente como o caso do

    sistema financeiro moambicano.

  • 11

    2.4 Estudos Relacionados

    Existem dois tipos de estudos sobre o ASF. Uns so meramente descritivos baseados em

    inquritos aos indivduos adultos, enquanto outros so trabalhos empricos. Dentre os estudos

    descritivos destacam-se aqueles realizados pela FinScope em alguns pases africanos. A Tabela 2.1

    sumariza alguns resultados destes estudos.

    Tabela 2.1: Acesso aos Servios Financeiros

    Ano do Tamanho Idade de Formal Outros Informais

    Estudo da Amostra (indivduos)

    Referncia (anos) Bancrio Formais

    Moambique 2009 5028 16 12,0% 1,0% 9,0%

    frica do Sul 2009 3900 16 60,0% 4,0% 10,0%

    Malawi 2008 4993 18 19,0% 7,0% 19,0%

    Nambia 2007 1200 16 45,3% 1,5% 1,5% Fonte: FinScope (2010)

    Os nmeros da tabela acima mostram que Moambique o pas com a taxa mais baixa de ASFFB e

    de outros servios formais. Alm disso, depois da Nambia, Moambique o pas com menor

    Acesso aos Servios Financeiros Informais (ASFIN). A FinScope (2010) enfatiza como principais

    barreiras de ASF em frica em geral e em Moambique em particular os factores Socioeconmicos.

    Dentre os estudos empricos salientam-se aqueles conduzidos por Scott e Cull (2010),

    Denes e Repetto (2009), King e Hanohan (2009), e Porteaus (2007). O estudo de Scott e Cull (2010)

    examina o ASF no Gana a partir dos dados extrados do inqurito Finscope, os quais so

    comparados com os dados extrados do LSMS. Para alcanar o objectivo do estudo, eles usaram

    dados do inqurito aos 2291 indivduos adultos no Gana, realizado em 2006. Para o caso do ASF,

    Scott e Cull 2010 inspiraram-se nos inquritos da FinScope, tendo assumido o modelo de regresso

    Probit. A varivel explicada foi o nvel de ASF definido com base nos sete indicadores de incluso

    financeira, nomeadamente bancarizado, acesso indirecto, poupana no bancria, poupana

    informal, crdito formal, crdito informal, e seguros. Eles obtiveram resultados esperados indicando

    que o ASF era positivamente correlacionado com idade, escolaridade, emprego, e conhecimento

  • 12

    matemtico. A localizao na zona rural, nmero de dependentes na famlia, trabalhar na agricultura

    e auto-emprego foram negativamente associados com o ASF.

    Denes e Repetto (2009) examinaram o nvel de ASFFB das famlias argentinas. Para

    alcanar o objectivo do estudo, usaram dados do inqurito s 2415 famlias de 94 distritos com mais

    de 20 mil habitantes, realizado em 2007. Para identificar os determinantes do ASFFB, eles

    desenvolveram uma srie de modelos Logit Multimonial os quais incluam uma srie de variveis

    explicativas. Denes e Repetto obtiveram resultados que lhes conduziram concluso de que os

    factores tais como regio de residncia, nmero de membros com rendimento positivo, capacidade

    de poupana, estado social, participao no mercado do trabalho, gnero, idade, acesso ao seguro

    de sade, nacionalidade, desejo de fazer depsitos bancrios, pedido de emprstimo bancrio,

    utilidade do reembolso do VAT para os detentores de cartes de dbito, percepo em relao ao

    grau de controlo da sua situao financeira, grau de averso ao risco, recepo das ofertas do

    banco e nmero de instituies bancrias eram relevantes no acesso.

    A partir de uma amostra agregada de 14 pases africanos, King e Honohan (2009) usaram

    os dados dos inquritos da FinScope, e procuram identificar os determinantes do ASF assumindo

    que as caractersticas dos pases envolvidos eram similares, tendo adoptado o modelo de regresso

    Probit. Para o efeito, eles definiram o ASF como a posse de uma conta bancria. King e Honohan

    consideraram as seguintes variveis explicativas: idade, gnero, educao, rendimento, distncia em

    relao agncia mais prxima, uso do telemvel, localizao geogrfica (urbana ou rural), literacia

    financeira, confiana nas instituies financeiras, e grau de averso ao risco. Os resultados indicam

    que muitos coeficientes estimados so significativos e tm os sinais esperados, com a excepo do

    coeficiente da varivel gnero (que estatisticamente insignificante) e literacia financeira que tem

    um sinal contrrio. Com base nestes resultados King e Hanohan (2009) destacaram a importncia da

    confiana e literacia financeira e o alargamento das infra-estruturas econmicas no aumento da

    probabilidade de ASF. Eles tambm destacaram o papel do rendimento e da escolaridade no uso

    dos servios financeiros.

  • 13

    Porteous (2007) analisa os dados extrados dos inquritos da FinScope conduzidos em sete

    pases africanos para aferir as semelhanas e diferenas entre eles. Um dos objectivos do estudo foi

    aferir os factores que afectam o ASF naqueles pases. Com base numa combinao das bases de

    dados dos pases constituiu uma amostra de 18 observaes representando 78 milhes de

    indivduos adultos. No seu estudo, Porteous testou primeiro a probabilidade de ter ASFFB usando o

    modelo probit. De seguida, alargou a varivel dependente, com base no ndice de incluso financeira

    (constitudo por excludos, informalmente includos, semi-formalmente includos, formalmente

    includos mas no-bancarizados, e bancarizados), tendo para o efeito usado o modelo probit

    ordenado. Em ambos os casos, Porteous obteve resultados indicando que as caractersticas

    individuais como idade, gnero, pobreza, localizao urbana e escolaridade influenciam

    significativamente o ASF nos sete pases estudados. Em relao s variveis dummys, Porteous

    concluiu que havia ainda factores no observados que podiam explicar a questo da acessibilidade e

    que podiam estar do lado da procura ou da oferta.

  • 14

    3. SISTEMA FINANCEIRO MOAMBICANO

    Este captulo compreende duas seces. A primeira seco descreve o sistema financeiro

    moambicano. A segunda seco descreve a oferta dos servios financeiros.

    3.1 Descrio do Sistema Financeiro em Moambique

    Um sistema financeiro constitudo por intermedirios financeiros e mercados financeiros,

    os quais angariam fundos junto dos agentes econmicos excedentrios e os canalizam para os

    agentes econmicos deficitrios, garantindo desta forma o bem-estar e a eficincia na alocao dos

    recursos (Abreu et al., 2007).

    Em Moambique, o sistema financeiro pouco desenvolvido e tem como base o sector

    bancrio, constitudo principalmente por bancos comerciais e de investimento (que oferecem

    produtos como depsitos e crditos), bem como as cooperativas de crdito e micro-finanas. A

    Tabela 3.1 sumariza as instituies financeiras existentes.

    Tabela 3.1: Sistema Financeiro Moambicano, 1992-2009

    Tipos de Instituies 1992 2006 2009

    Banco de Moambique

    Sede 1 1 1

    Filiais 0 2 2

    Agncias 0 0 5

    Bancos de depsitos

    Bancos comerciais e de investimento 3 12 14

    Bancos de micro-finanas 0 0 3

    Cooperativas de crdito 0 6 6

    Outras instituies financeiras

    Companhias de seguros 0 4 6

    Instituies de locao financeira 0 2 1

    Bolsa de valores 0 1 1

    Organizaes de poupana e emprstimo 0 0 9

    Operadores de microcrdito 0 57 95

    Fonte: BM (2000, 2008a, 2009a)

  • 15

    A tabela acima mostra que associados aos bancos comerciais, esto as companhias de seguro e

    instituies de locao financeira. O sistema financeiro dispe ainda do mercado de capitais (o qual

    incipiente uma vez que constitudo por uma bolsa de valores com poucos ttulos cotados), e

    incorpora instituies financeiras no-bancrias pertencentes ao sector informal (as quais tm uma

    dimenso reduzida em termos de activos envolvidos, e concedem emprstimos s camadas mais

    vulnerveis (maioritariamente sem acesso banca formal).

    A grande contribuio dos bancos comerciais e de investimento no sistema financeiro foi

    impulsionada pela liberalizao econmica e financeira iniciada em 1992. Fruto das transformaes

    que ocorreram no pas, as autoridades moambicanas criaram incentivos fiscais, os quais, aliados

    ao elevado nvel de rendibilidade e ambiente regulamentar favorvel ao investimento estrangeiro,

    estimularam os investidores a direccionaram os seus capitais no sistema financeiro. De acordo com

    o BM (2008b), em 2008, os capitais estrangeiros detinham a maior fatia na gesto das instituies de

    crdito em Moambique, com uma participao da ordem de 73.3%, com capitais oriundos de

    Portugal (44.4%) e frica do Sul (60.6%).

    3.2 Servios Financeiros Oferecidos

    A oferta dos servios financeiros nacionais pode ser descrita nos termos indicados abaixo.

    O sistema financeiro moambicano concentrado e caracterizado pela existncia de assimetrias na distribuio das instituies financeiras, agravado pelo facto de a maior parte das mesmas estarem viradas para o segmento da populao de renda mdia e alta, e encontrarem-se localizadas na cidade e provncia de Maputo; Em 2006, os 12 bancos e as 6 cooperativas de crdito que operavam em Moambique cobriam apenas 28 distritos, ficando os restantes 100 sem cobertura bancria; Alguns dos argumentos evocados pelas instituies financeiras para a fraca presena nos distritos centravam-se na ausncia de infra-estruturas, como telefones, electricidade, internet, para alm dos elevados custos operacionais justificados pela reduzida economia rural (BM, 2007).

    Assim, em 2007 o BM, desenvolveu uma srie de aces para incentivar a extenso dos servios

    financeiros s zonas rurais com destaque para a melhoria das infra-estruturas de comunicao e

  • 16

    facilidades no cumprimento das normas prudenciais para as instituies que apostassem nas zonas

    rurais, o que de certo modo traduziu-se no aumento das autorizaes de agncias bancrias, de 46

    (em 2007), para 70 (em 2008), com um relativo decrscimo em 2009, como vem reportado na

    Tabela 3.2.

    Tabela 3.2: Localizao das Agncias de Bancos Autorizados, 2007-2009

    Provncia 2007 2008 2009

    Cidade de Maputo 20 23 12

    Provncia de Maputo 8 9 2

    Gaza 1 3 4

    Inhambane 3 5 8

    Total da Zona Sul 32 40 26

    Sofala 3 6 5

    Manica 2 2 5

    Tete 3 6 3

    Zambzia 0 4 3

    Total da Zona Centro 8 18 16

    Nampula 5 10 10

    Niassa 0 2 4

    Cabo Delgado 1 0 2

    Total da Zona Norte 6 12 16

    Total do Pas 46 70 58

    Fonte: BM (2009b)

    Na tabela acima, pode-se depreender o volume significativo de agncias na zona sul, pese embora a

    grande assimetria na distribuio das agncias ao longo do pas. Em 2007, apenas 34 dos 128

    distritos do pas dispunham de agncias, tendo em 2009, o nmero passado para 51, o que teve

    como consequncias a diminuio da cobertura mdia de cada agncia, de 2.629 km2 (em 2008)

    para 2.271 km2 (em 2009), ao mesmo tempo que a quantidade de contas bancrias de particulares

    crescia de 1.4 milhes para 1.9 milhes, respectivamente (BM, 2009a).

    O desenvolvimento fsico do sistema financeiro foi acompanhado pela evoluo das

    tecnologias de informao e comunicao. Assim, o alargamento dos servios financeiros foi

    realizado, com meios automticos de realizao de operaes, mormente as caixas automticas

    (ATMs) e pontos de venda (POS), como mostrado na Tabela 3.3.

  • 17

    Tabela 3.3: Evoluo de ATM e POS, 2007 - 2010

    Provncia 2007 2008 2009

    ATM POS ATM POS ATM POS

    Maputo 243 2537 277 2958 292 3315

    Gaza 25 155 27 135 40 156

    Inhambane 20 178 26 218 34 246

    Total da Zona Sul 288 2870 330 3311 366 3717

    Sofala 34 232 44 264 48 335

    Manica 14 75 21 83 22 96

    Tete 17 69 23 66 32 75

    Zambzia 15 61 18 68 25 62

    Total da Zona Centro 80 437 106 481 127 568

    Nampula 38 205 48 196 51 229

    Niassa 10 75 15 65 18 70

    Cabo Delgado 15 58 15 50 19 69

    Total da Zona Norte 63 338 78 311 88 368

    Total do Pas 431 3645 514 4103 581 4653

    Fonte: BM (2009b)

    A tabela acima destaca o crescimento observado no uso daqueles dois produtos financeiros em

    detrimento dos meios de pagamento tradicionais.

    Para mostrar o seu compromisso como gestor da poltica monetria, o BM, apostou na sua

    expanso geogrfica. At Dezembro de 2006, o BM estava representado por duas filiais (uma na

    Beira e outra na cidade de Nampula) e uma agncia (em Quelimane). No entanto, de 2007 e 2009, o

    BM abriu mais 4 agncias nas cidades de Lichinga, Pemba, Tete, e Maxixe. Alm disso, o BM

    identificou em 2008 que o preo pelo qual a populao pagava pelos servios financeiros continuava

    elevado, na forma de juros e comisses, o que concorreu para a dispensa na cobrana de

    comisses de alguns desses servios (BM 2008a).

  • 18

    4. METODOLOGIA E BASE DE DADOS

    Este captulo est dividido em quatro seces. A primeira seco apresenta as variveis do

    estudo. A segunda descreve as hipteses testadas. A terceira especifica o modelo de regresso. A

    quarta seco descreve os dados usados na anlise.

    4.1 Variveis do Estudo

    Para o presente estudo foram usadas as variveis apresentadas no quadro 4.1:

    Quadro 4.1: Variveis do Estudo

    Varivel Definio da Varivel

    asffb Varivel binria igual a 1 se o indivduo teve ASFFB e 0, caso contrrio.

    asfin Varivel dicotmica igual a 1 se o individuo teve ASFIN e 0, caso contrrio.

    asf Varivel binria igual a 1 se o individuo teve ASF e 0, caso contrrio.

    ren5_50 Rendimento compreendido entre 5 mil meticais e 50 mil meticais. Varivel binria igual a 1 se o rendimento esta compreendido entre 5 mil meticais e 50 mil meticais e 0, caso contrrio.

    ren_50 Rendimento acima de 50 mil meticais (varivel dicotmica igual a 1 se o rendimento est acima de 50 mil meticais e 0, caso contrrio)

    esc Escolaridade (medida pelo nmero de anos de escolaridade)

    gen Gnero (varivel binria igual a 1 se o individuo do sexo feminino e 0, caso contrrio)

    Ida Idade (medida pelo nmero de anos)

    ida2 Idade ao quadrado

    zon Localizao geogrfica (varivel binria igual a 1 se o individuo vive numa zona urbana e 0, caso contrrio)

    con Literacia financeira (medida pelo nmero de conceitos financeiros que o indivduo conhece)

    agn Proximidade das instituies financeiras em relao aos locais de residncia dos indivduos (varivel dicotmica igual a 1 se o individuo considera relevante a proximidade das instituies e 0, caso contrrio)

    riq Riqueza (medida pelo nmero de bens durveis na posse do individuo, como por exemplo, habitao, moageira, motorizada, carro, frigorifico, rdio, etc.)

    cof Confiana nas instituies financeiras (varivel binria igual a 1 se o individuo confia nas instituies financeiras e 0, caso contrrio)

    alt Altrusmo (varivel comportamental dicotmica construda a partir da seguinte questo: voc sente que pode fazer mais pela sua vida? no caso afirmativo as pessoas so consideradas altrustas).

    exp Expectativa em relao ao futuro medida pela percepo que o individuo tem sobre o seu futuro. Esta varivel foi construda a partir da pergunta: voc sente geralmente que a sua vida esta a melhorar ou a piorar. Assim, exp =1 se o indivduo pensa que a vida est a melhorar, e 0 caso contrrio

    opt Optimismo varivel medida pelo nmero de respostas afirmativas sobre o conceito de optimismo. Esta varivel foi construda a partir das perguntas como por exemplo, .Sente-

  • 19

    Varivel Definio da Varivel

    se bem a maior parte do tempo, considera-se uma pessoa fisicamente forte, sente-se bastante vivo e com muita energia, normalmente uma pessoa feliz, sente-se bem enquadrado / inserido, etc.

    sob Sobreconfiana varivel medida pelo nmero de respostas positivas s perguntas tais como Voc pode viver a sua vida facilmente sem uma conta bancria,Quando o assunto dinheiro, voc no confia no conselho dos outros, As pessoas normalmente lhe pedem conselhos sobre questes financeiras, Voc sente que est em controlo das questes em relao ao seu dinheiro, normalmente prefere gerir as questes relativas ao dinheiro sem consultar as instituies financeiras.

    pre Precauo (varivel dicotmica igual a 1 se o indivduo preocupa-se em deixar dinheiro para quando for velho, e 0 caso contrrio).

    4.2 Hipteses

    Para responder as perguntas da pesquisa foram testadas as seguintes hipteses:

    Os factores socioeconmicos tais como rendimento, escolaridade, idade, viver numa zona

    urbana, proximidade das instituies financeiras e riqueza influenciam positivamente o

    ASFFB dos indivduos adultos residentes em Moambique;

    A teoria econmica diz que a procura de bens e servios aumenta com o rendimento, pelo

    que se espera um sinal positivo dos coeficientes associados ao rendimento. O mesmo se

    espera dos coeficientes dos restantes factores que em muitos estudos relacionam-se

    positivamente com o ASFFB.

    O factor socioeconmico como o gnero afecta negativamente o ASFFB dos mesmos

    indivduos.

    Dada a hiptese geralmente aceite de que as mulheres africanas so discriminadas no

    acesso aos vrios servios porque elas detm poucos recursos econmicos em relao aos

    homens, espera-se que o coeficiente associado com esta varivel seja negativo.

    Os factores comportamentais tais como confiana nas instituies, altrusmo, optimismo,

    expectativas positivas em relao ao futuro e precauo influenciam positivamente o ASFFB

    dos indivduos adultos residentes em Moambique;

  • 20

    Puri e Robinson (2007), consideram que as finanas comportamentais esto em processo

    de transformao do quadro neoclssico para um quadro que incorpora aspectos

    psicolgicos. Por exemplo, as decises de investimento nos mercados financeiros tomam

    para alm do risco inerente, a confiana nos instrumentos em causa (Guiso et al. 2008). Na

    teoria da heurstica, os indivduos que exibem optimismo so crentes na probabilidade das

    condies futuras melhorarem e por essa via, aplicarem os seus recursos nas instituies

    financeiras, tal como os que exibem expectativas em relao ao futuro. Assim, espera-se

    que os coeficientes associados com as variveis comportamentais consideradas nesta

    hiptese sejam positivos.

    O factor comportamental como sobreconfiana afecta negativamente o ASFFB dos mesmos

    indivduos

    A teoria financeira prev que a sobreconfiana propicia a reduo da utilidade esperada j

    que a optimizao baseada em crenas incorrectas (Odean, 1998a), o que pode concorrer

    para que o ASFFB seja negativamente relacionado com os indivduos sobreconfiantes.

    Os factores que influenciam a participao no sector financeiro formal so comuns aos

    factores que determinam a participao no sector informal;

    Dado o carcter diminuto das economias nos PVDs, aliado aos nveis de pobreza, faz com

    que as autoridades financeiras apostem muitas vezes em instituies financeiras informais,

    as quais no exigem grandes investimentos para o seu funcionamento, e geram taxas de

    retorno altas que podem ser aproveitadas pelas camadas mais pobres (Aghion e Morduch,

    2005; Honohan, 2004; e Robinson, 2001). Assim, espera-se que os factores que afectam o

    ASFFB sejam comuns aos do ASFIN.

    Ambos os factores socioeconmicos e comportamentais influenciam o ASF dos indivduos

    em causa.

  • 21

    Os estudos desenvolvidos por Claessens (2006) e Hanohan (2009) so alguns dos

    exemplos da associao dos aspectos socioeconmicos e comportamentais na anlise dos

    factores que influenciam o ASF.

    4.3 Especificao do Modelo

    Para testar as hipteses formuladas na seco anterior, estimamos o modelo Probit, porque

    a nossa varivel dependente assume dois valores, nomeadamente 1 se o indivduo adulto tem ASF

    e 0, caso contrrio.

    Na literatura economtrica, existem trs abordagens para formalizar um modelo de escolha

    binria, nomeadamente o modelo de probabilidade linear, modelo logit, e modelo probit. De acordo

    com Gujarati (2006), a formalizao do modelo e explicao do comportamento de uma varivel

    dependente dicotmica pressupe o uso de uma funo de distribuio acumulada adequadamente

    escolhida, de modo a forar a probabilidade estimada a situar-se dentro do intervalo de 0-1, o que

    pode ser conseguido por modelos do tipo logit, probit, e tobit. Ainda de acordo com Gujarati, a

    escolha do modelo apropriado entre o Probit e Logit arbitrria e de convenincia matemtica. Dada

    esta convenincia, escolhemos o modelo Probit para testar as nossas hipteses. A escolha deste

    tipo de modelos tambm justificada pelo facto de que os mesmos tm a particularidade de a sua

    interpretao obedecer aos pressupostos da teoria de utilidade ou da perspectiva da escolha

    racional (McFadden 1973).

    Como ponto de partida de anlise, a probabilidade de ASF pode ser definida pela seguinte

    equao:

    Pr ( 1/ ) Pr ( 1/ ), 1,2,....iob y x ob y x i n (4.1)

    onde y a varivel dependente, x o vector das variveis explicativas, o subscrito i a dimenso da

    transversal representativa do nmero de indivduos adultos residentes em Moambique, e n o

    nmero de observaes.

  • 22

    O modelo probit pode ser derivado a partir de um modelo de regresso de varivel latente y*

    > 0 no observvel, determinada por:

    * ' , 1,2,...., ; 0,1,....,i o i jy x i n j k , (4.2)

    onde o o intercepto, 'x tem a definio acima indicada, j o vector dos coeficientes no

    observveis das variveis explicativas, e o termo residual no observvel. O modelo assume

    que independente de x, tem a distribuio normal padro G, e simetricamente distribudo ao

    redor de zero, ou seja, 1 G(-z) = G(z), para todos os nmeros reais z (Wooldridge, 2006). Com

    base na equao (4.2), a probabilidade de que um indivduo adulto tem ASF tal que,

    0 0 0( 1/ ) ( * 0 / ) [ ( / ] 1 [ ( )] ( )....(4.3)P y x P y x P x x G x G x

    Note que esta probabilidade de resposta deve tomar em conta a funo de distribuio normal

    padro G especificada da seguinte forma:

    2

    1/2( ) 2 ) exp( ),)2

    (z z

    z vz dG v

    (4.4)

    onde z a funo da distribuio normal cumulativa padro. A interpretao do modelo deve

    ser feita em termos de probabilidade porque trata-se de um modelo no linear. Dado que a nossa

    amostra composta por observaes individuais, a estimao dos coeficientes do modelo toma em

    considerao o procedimento no linear associado com o mtodo da mxima verosimilhana. De

    acordo com Greene (2003), a estatstica da verosimilhana a funo log-verosimilhana que

    assegura que se a funo de distribuio cumulativa G for normal-padro, ento os estimadores

    obtidos respeitam as propriedades do modelo probit.

    Para avaliar a magnitude dos coeficientes das variveis explicativas, analisam-se

    adicionalmente os efeitos marginais da variao no valor de uma varivel explicativa includa no

    modelo de regresso, com o intuito de avaliar a taxa de variao da probabilidade. Gujarati (2006)

    sublinha que, os efeitos marginais so dados por jf(Zi), onde f(Zi) a funo de densidade da

    varivel normal-padro e Zi o modelo de regresso usado. Desta forma e como em Lima (1996), o

  • 23

    impacto da varivel explicativa no modelo probit calculado a partir da primeira derivada da funo

    da densidade de distribuio cumulativa para cada observao.

    Os modelos de escolha binria (tal como nas regresses lineares) apresentam problemas.

    Os mais comuns so os erros de especificao, (a omisso de variveis relevantes e incluso de

    variveis irrelevantes), heterocedasticidade, determinao simultnea de variveis explicativas, e a

    especificao funcional do modelo. Assim, procedemos verificao da significncia global do

    modelo usando a razo de verossimilhana que consiste na realizao da estatstica do teste LR. A

    estatstica do teste LR dada por LR = -2(lnLR lnL), onde LR o valor mximo da funo de

    mxima verossimilhana estimado na hiptese nula de que as variveis explicativas no tm impacto

    sobre o ASF, e L quando no se aplica a restrio. Alm disso, realizamos o teste de

    heterocedasticidade com ajuda do teste do Multiplicador de Lagrange proposto por Davidson e

    Mackinnon (1993) que se baseia numa regresso artificial do termo erro.

    Como forma de testar a hiptese de que os factores socioeconmicos influenciam o ASFFB

    dos indivduos adultos residentes em Moambique, estimamos o seguinte modelo:

    2

    0 1 5_50 2 3 4 5 6

    7 8

    0

    9 1

    5

    0

    ,

    i

    i

    ren ren esc gen ida ida

    zon con agn ri

    sf

    q

    a fb

    (4.5)

    onde o termo erro e s so os parmetros estimados.

    Para testar a hiptese de que os factores comportamentais influenciam o ASFFB dos

    indivduos adultos residentes em Moambique, adicionmos como variveis explicativas os

    seguintes factores comportamentais: confiana, altrusmo, expectativas, optimismo, sobreconfiana,

    e precauo. Neste contexto, a equao (4.5) pode ser reescrita como segue abaixo.

    2

    0 1 5_50 2 3 4 5 6 7 8

    9 10

    50

    12 13 1 1 1611 4 5

    exp

    ,

    i

    i

    asffb

    alt opt sob pre

    ren ren esc gen ida ida zon con

    agn riq co f

    (4.6)

    onde o termo erro e s so os parmetros estimados.

    Para testar a hiptese de que os factores que influenciam a participao no sector financeiro

    formal so comuns aos factores que determinam a participao no sector informal, estimamos duas

  • 24

    regresses separadas do ASFIN, a partir das equaes (4.5) e (4.6). O mesmo procedimento foi

    seguido para testar a hiptese de que ambos os factores determinam o ASF como um todo.

    4.4 Base de Dados

    Para a estimao dos modelos especificados na seco 4.3, usmos dados transversais

    extrados do Inqurito FinScope Moambique 2009. Este inqurito visava medir e descrever o

    cenrio do espectro do ASF em Moambique. O inqurito foi conduzido pela Austral Cowi (empresa

    moambicana de auditoria), e teve o apoio financeiro da FMT. O inqurito teve como unidade de

    observao os indivduos residentes em Moambique maiores de 16 anos de idade (i.e., indivduos

    adultos), e seguiu o formato dos inquritos conduzidos noutros pases africanos pela FinScope.

    O inqurito teve lugar de Abril a Junho de 2009 cobrindo uma amostra seleccionada

    aleatoriamente de 5.028 indivduos, dos quais 2.651 vivem nas zonas urbanas e 2.377 nas zonas

    rurais. A Austral Cowi usou um inqurito estruturado que recolheu dados socioeconmicos e

    comportamentais dos indivduos, de modo a capturar os diferentes pontos de vista, atitudes e

    hbitos em relao aos servios financeiros. A recolha e compilao dos dados foi acompanhada

    pelo Instituto Nacional de Estatstica (INE) e pela FMT.

    Dadas as limitaes na identificao dos indivduos com ASF, devido ao facto de haver

    sobreposio na forma de uso dos servios entre os indivduos, optmos por limitar a nossa anlise

    s perguntas que nos permitiram obter dados com maior fiabilidade. Para o efeito, a amostra dos

    indivduos com ASF foi restringida para os indivduos que naquele ano afirmaram terem usado os

    servios fornecidos por 11 instituies bancrias, bem como para aqueles que responderam terem

    participado num conjunto de 9 instituies do sector informal. Os indivduos que partilharam os dois

    tipos de servios no foram considerados nas sub-amostras individuais. Entretanto, foram includos

    na amostra agregada. Assim, cerca de 7.8%, 6.7% e 2.6% dos includos em causa tiveram ASFFB,

  • 25

    ASFIN e partilharam os dois tipos de servios, respectivamente. Neste contexto, o ASF foi na ordem

    de 17.2%.

    As regresses especificadas na seco anterior incluram um total de 16 variveis, das quais

    9 so binrias e 7 so contnuas. A Tabela 4.1 apresenta o sumrio estatstico das variveis

    contnuas.

    Tabela 4.1: Sumrio Estatstico das Variveis Continuas

    Varireis Mdia Desvio-Padro Mximo Mnimo

    Escolaridade 5,0 4,2 16,0 0,0

    Idade 35,0 15,2 94,0 16,0

    Literacia Financeira 5,0 4,5 20,0 0,0

    Riqueza 1,5 1,1 8,0 0,0

    Optimismo 5,7 2,0 9,0 0,0

    Sobreconfiana 3,5 1,6 7,0 0,0

    A tabela acima mostra caractersticas interessantes dos dados em anlise. Com a excepo do

    optimismo e sobreconfiana, todas as variveis contnuas apresentam o valor mdio mais

    prximo dos valores mnimos. Por exemplo, o valor da varivel escolaridade indica que em 2009,

    os indivduos inquiridos apresentaram em mdia 5 anos de escolaridade (equivalentes ao ensino

    primrio) o que consentneo com as estatsticas do censo populacional de 2007 (INE, 2010). O

    valor mdio da literacia financeira pode estar associado com o baixo nvel de escolaridade. A

    varivel riqueza revela que, em mdia, os indivduos inquiridos apresentaram um reduzido nmero

    de recursos durveis, o que pode ser confrontado com o facto de cerca de 39.4% dos indivduos

    possurem rendimentos abaixo de 5 mil meticais. Um facto curioso que os indivduos inquiridos

    exibiram nveis mdios considerveis de optimismo e de sobreconfiana prximos do mximo, um

    facto que pode constituir um dilema do gnero preferncias reveladas e preferncias realizadas

    (caracterstico nos inquritos desta natureza).

  • 26

    A Tabela 4.2 apresenta o sumrio estatstico das variveis binrias.

    Tabela 4.2: Sumrio Estatstico das Variveis Binrias (%)

    Variveis Indivduos Inquiridos

    Rendimento entre 5.000,00 e 50.000,00 Meticais / ano 31,0

    Rendimento Superior a 50.000,00 Meticais / ano 3,0

    Gnero Feminino 57,5

    Vivem em Zonas Urbanas 52,7

    Relevncia da Proximidade das Instituies Financeiras 52,7

    Tem Confiana nas Instituies Financeiras 15,3

    Tem Expectativas Positivas 29,7

    Manifestam altrusmo 75,1

    Manifestam Precauo 96,4

    A tabela acima reporta as percentagens das respostas afirmativas dos inquiridos. Tratando-se de

    variveis binrias, as respostas foram sim ou no, tomando os valores de 1 se o inquirido

    respondeu afirmativamente e zero, negativamente. Assim, cerca de 39.4% dos indivduos inquiridos

    tiveram um rendimento mdio anual abaixo dos 5.000 meticais. Relativamente ao sexo, cerca de

    58% dos indivduos foram mulheres, um dado numrico que consistente com as estatsticas

    oficiais do censo populacional de 2007 que indicam que as mulheres representam a percentagem

    mais significativa da populao moambicana (INE, 2007). Apenas 15% dos indivduos confiam nas

    instituies financeiras, um facto que refora o reduzido conhecimento dos conceitos financeiros

    mostrado na Tabela 4.1. Os dados revelam que aproximadamente 53% dos indivduos vivem nas

    zonas urbanas o que consistente com as estatsticas de distribuio da amostra. Cerca de 30%

    dos inquiridos revelaram terem expectativas positivas em relao sua vida no futuro. Um dado

    importante que, em mdia, os indivduos com ASF esto conscientes de uma das principais

    funes da moeda, que a precauo a avaliar pelos 96.4% que responderam que pouparam para o

    futuro. Esta observao contradiz a crena segundo a qual a poupana nos PVDs muito baixa.

  • 27

    5. RESULTADOS

    Este captulo est dividido em trs seces. A primeira seco interpreta os resultados. A

    segunda seco analisa os efeitos marginais enquanto a terceira faz anlise comparativa com outros

    estudos relacionados.

    5.1 Anlise dos Resultados Economtricos

    Os resultados da estimao das regresses do ASFFB, ASFIN e ASF esto apresentados

    na tabela abaixo.

    Tabela 5.1. Resultados da Estimao da Regresso dos Factores Socioeconmicos

    Varivel ASFFB ASFIN ASF

    c -3,678 -2,654 -3,231

    0,000 0,000 0,000

    ren_5_50 0,276*** 0,240*** 0,287***

    (0,000) (0,000) (0,000)

    ren_50 0,375*** 0,392*** 0,744***

    (0,000) (0,003) (000,0)

    esc 0,051*** 0,024*** 0,046***

    (0,000) (0,000) (0,000)

    gen -0,074 0,120** 0,121***

    (0,276) (0,026) (0,017)

    ida 0,016 0,029*** 0,030***

    (0,123) (0,001) (0,000)

    ida2 0,000 -0,000*** -0,000***

    (0,261) (0,006) (0,004)

    zon 0,428*** 0,339*** 0,415***

    (0,000) (0,000) (0,000)

    con 0,093*** 0,042*** 0,096***

    (0,000) (0,000) (0,000)

    agn 0,363*** 0,080 0,259***

    (0,000) (0,226) (0,000)

    riq 0,207*** -0,023 0,162***

    (0,000) (0,329) (0,000)

    Estatstica LR 1046 269.6 1344

    Probabilidade LR 0,000 0,000 0,000

    McFadden R-squared 0,380 0,086 0,291

    Notas: *** p< 0.01, ** p< 0.05, * p < 0.1

  • 28

    A tabela acima mostra que na regresso do ASFFB, os coeficientes estimados das variveis

    rendimento, escolaridade, localizao geogrfica, literacia financeira, proximidade das

    instituies e riqueza so estatisticamente significativos e tm os sinais esperados. Quanto

    regresso do ASFIN, todos os coeficientes estimados tm os sinais esperados, com a excepo dos

    coeficientes de gnero e riqueza. Alm disso, os mesmos coeficientes so estatisticamente

    significativos exceptuando os da proximidade das instituies e riqueza. Estes resultados

    sugerem que o ASFFB e o ASFIN so determinados pelos mesmos factores socioeconmicos, com

    a excepo do gnero, idade, proximidade das instituies, e riqueza.

    Em relao regresso do ASF, os coeficientes estimados das variveis socioeconmicas

    so significativos e tm os sinais esperados, com a excepo do coeficiente do gnero (o qual tem

    um sinal positivo). Estes resultados sugerem que as variveis socioeconmicas determinam o ASF

    em Moambique, com a excepo do gnero. O sinal contrrio do coeficiente estimado da varivel

    gnero parece sugerir que em Moambique, ser um indivduo do sexo feminino no representa

    uma desvantagem para o ASF.

    A estimao dos modelos aumentados com a incluso de variveis comportamentais

    produziu os resultados apresentados na tabela abaixo.

  • 29

    Tabela 5.2. Resultados da Regresso dos Factores Socioeconmicos e Comportamentais

    Varivel ASFFB ASFIN ASF

    c -4,349 -2,929 -3,581

    0,000 0,000 0,000

    ren_5_50 0,208*** 0,205*** 0,228***

    (0,005) (0,000) (0,000)

    ren_50 0,190 0,335** 0,611***

    (0,211) (0,012) (0,000)

    esc 0,045*** 0,021*** 0,042***

    (0,000) (0,002) (0,000)

    gen -0,059 0,135** 0,146***

    (0,402) (0,013) (0,005)

    ida 0,019* 0,031*** 0,035***

    (0,089) (0,001) (0,000)

    ida2 -0,000 -0,000*** -0,000***

    (0,240) (0,007) (0,003)

    zon 0,354*** 0,319*** 0,362***

    (0,000) (0,000) (0,000)

    con 0,074*** 0,033*** 0,077***

    (0,000) (0,000) (0,000)

    agn 0,286*** 0,053 0,196***

    (0,000) (0,432) (0,001)

    riq 0,195*** -0,036 0,142***

    (0,000) (0,136) (0,000)

    cof 0,713*** 0,201*** 0,628***

    (0,000) (0,008) (0,000)

    exp 0,119 0,155*** 0,205***

    (0,103) (0,000) (0,000)

    alt -0,072 0,350*** 0,227***

    (0,468) (0,000) (0,001)

    opt 0,045** -0,027* -0,003

    (0,025) (0,064) (0,843)

    sob -0,071*** -0,013 -0,040**

    (0,001) (0,453) (0,013)

    pre 0,663* 0,140 0,241

    (0,082) (0,449) (0,199)

    Estatstica LR 1158 311.4 1476

    Probabilidade LR 0,000 0,000 0,000

    McFadden R-squared 0,420 0,100 0,320

    Notas: *** p< 0.01, ** p< 0.05, * p < 0.1

    A tabela acima mostra que na regresso do ASFFB, todos os coeficientes estimados so

    estatisticamente significativos, com a excepo do rendimento acima de 50 mil meticais, gnero,

  • 30

    expectativas, e altrusmo. Os mesmos coeficientes tm os sinais esperados, com a excepo do

    coeficiente da varivel altrusmo. Estes resultados indicam que em Moambique, a probabilidade

    de ASFFB aumenta para os indivduos que tm confiana nas instituies financeiras, vivem nas

    zonas urbanas e nas proximidades das instituies financeiras, tm rendimentos compreendidos

    entre 5 mil meticais e 50 mil meticais, detm nveis significativos de riqueza, tm um certo grau de

    escolaridade, manifestam o optimismo, e com literacia financeira. No entanto, aquela probabilidade

    diminui para os indivduos que exibem sobreconfiana.

    Na regresso do ASFIN, todos os coeficientes estimados so estatisticamente significativos,

    com a excepo dos coeficientes das variveis proximidade das instituies, riqueza,

    sobreconfiana, e precauo. Note que todos estes coeficientes tm os sinais esperados

    exceptuando os do gnero e optimismo. Estes resultados sugerem que em Moambique, a

    probabilidade de ASFIN aumenta para os indivduos com rendimentos acima de 5 mil meticais, que

    tm um certo grau de escolaridade, que so do gnero feminino, com idade acima de 35 anos, que

    vivem perto das instituies, com alguma literacia financeira, so altrustas, confiam nas instituies

    financeiras, e formam expectativas acerca do futuro A conjugao dos resultados acima

    apresentados, por sua vez, indica que os determinantes que no so comuns s duas formas de

    participao so os seguintes factores: rendimento acima de 50 mil meticais, gnero, expectativas,

    altrusmo, proximidade das instituies, riqueza, optimismo, sobreconfiana, e precauo.

    Finalmente, a estimao da regresso do ASF produziu resultados mostrando que todos os

    coeficientes estimados so estatisticamente significativos (com a excepo daqueles do optimismo

    e precauo) e tm os sinais esperados (com a excepo do gnero). Estes resultados indiciam

    que em Moambique a probabilidade de ASF aumenta para os indivduos que confiam nas

    instituies financeiras, com rendimentos altos, vivem nas zonas urbanas, so altrustas, e formam

    expectativas. Estes resultados sugerem que em Moambique, todas as variveis consideradas

    afectam positivamente o ASF, enquanto a sobreconfiana tem uma influncia negativa.

  • 31

    5.2 Anlise dos Efeitos Marginais

    A anlise feita nesta seco visa avaliar a magnitude da taxa de variao da probabilidade

    de ASF. Por exemplo, o efeito marginal de uma varivel qualquer representa uma variao na

    probabilidade de um dado evento ocorrer quando o seu valor muda. A Tabela 5.3 apresenta os

    efeitos marginais calculados.

    Tabela 5.3. Efeitos Marginais dos Factores Socioeconmicos e Comportamentais

    Variveis ASFFB ASFIN ASF

    c - - -

    ren_5_50 1,8% 3,2% 4,0%

    ren_50 - 6,1% 13,0%

    esc 0,8% 0,3% 0,7%

    gen - 2,0% 2,5%

    ida - 0,1% 0,2%

    zon 2,9% 4,7% 6,2%

    con 0,4% 0,4% 1,0%

    agn 2,6% - 3,5%

    riq 1,3% - 2,2%

    cof 7,8% 3,3% 13,5%

    exp - 2,4% 3,6%

    alt - 4,7% 3,7%

    opt 0,3% -0,5% -

    sob -0,3% - -0,8%

    O resultado importante quanto magnitude dos efeitos marginais apresentados na tabela

    acima que mantendo tudo constante, um aumento de 1% de indivduos faz com que a confiana

    nas instituies financeiras tenha maior impacto na probabilidade de um indivduo adulto ter ASFFB

    (da ordem de 7.8%), enquanto o impacto do optimismo (0.3%) relativamente reduzido. Alm

    disso, um aumento de 1% de indivduos reduz em 0.3% a probabilidade de os optimistas terem

    ASFFB. Altos rendimentos esto associados com um impacto significativo no ASFIN (6.1%),

    enquanto a idade (0.1%) revela ter um impacto relativamente menor. No entanto, o efeito marginal

  • 32

    da varivel optimismo negativo (-0.5%), um resultado que parece sugerir que os indivduos

    estudados manifestam um optimismo excessivo, o qual caracterstico daqueles que detm, de

    forma descontrolada, crenas erradas sobre o risco pessoal que eles prprios encontram em relao

    aos determinados fenmenos (Weinstein, 1980). No ASF, altos rendimentos e confiana nas

    instituies tem um impacto maior relativamente escolaridade. De uma forma geral, os resultados

    apresentados na tabela 5.3 sugerem o seguinte:

    A confiana nas instituies um dos indicadores cruciais para que os agentes econmicos

    estabeleam relaes comerciais;

    Os indivduos com nveis elevados de rendimentos tendem a participar nos mercados

    financeiros;

    Os indivduos que vivem nas zonas urbanas tm acesso a vrios servios entre eles, os

    financeiros, em parte devido ao nvel de desenvolvimento nestes locais;

    O altrusmo, optimismo e as expectativas criam um ambiente propcio ao desenvolvimento

    de capacidades cognitivas nos indivduos o qual lhes possibilita a participar cada vez mais

    nos mercados financeiros; e

    Os indivduos que exibem sobreconfiana muitas vezes tomam decises irracionais que

    culminam com posies de aplicao dos seus activos de uma forma desconcertada.

    Para testar a significncia global do modelo recorremos ao uso das estatsticas LR (anexo

    A), e comparmos os seus valores com os valores crticos do X2 (18.307 e 26.296, para o modelo

    com variveis socioeconmicas e o que inclui as variveis comportamentais, respectivamente). Note

    que os resultados deste teste indicam que os modelos so estatisticamente significativos. Os

    resultados do teste de heteroscedasticidade (anexo B) indicam os seguintes valores do teste LM

    obtidos para cada um dos trs modelos estimados: ASFFB (2395.687 e 2158.911), ASFIN (4603.67

    e 4481.71), e ASF (3945.484 e 3816.96). Estes resultados sugerem a presena de

    heteroscedasticidade nos trs modelos. Dado este problema economtrico, o modelo probit foi

    reestimado com recurso varincia robusta de White/Huber, um procedimento que permite com que

  • 33

    os coeficientes, desvios-padro e os p-values estimados sejam fiveis. Os resultados do modelo

    apresentam para alm do coeficiente de medida R2 de McFadden, o percentual de valores

    correctamente previstos para a probabilidade de ASF ser igual a 1. Segundo os valores constantes

    nos anexos C, D, e E, os modelos de ASFFB, ASFIN e ASF prevem que o total das estimativas

    correctas 87%, 59% e 80.4%, respectivamente. O teste de normalidade dos erros de Jarque Bera

    (Anexos F, G, H) rejeita a hiptese nula de que os erros seguem a distribuio normal. No entanto,

    para tamanhos de amostra suficientemente grandes, como o caso do tamanho da amostra do

    nosso estudo, a violao do pressuposto de normalidade dos erros virtualmente inconsequente

    (Brooks, 2002).

    5.3 Anlise Comparativa com Outros Estudos

    A reviso de literatura que fizemos na seco (3.5), indica que os estudos relacionados

    conduzidos anteriormente no tentaram investigar o impacto dos factores comportamentais no

    ASFFB, ASFIN e ASF.

    Neste contexto, os resultados produzidos pela estimao das regresses de ASFFB, ASFIN

    e ASF so semelhantes queles obtidos em estudos realizados por Denes e Repetto (2009), Scott e

    Cull (2010), King e Hanohan (2009), e Porteaus (2007). Os resultados destes estudos so

    consistentes com a hiptese de que os factores socioeconmicos influenciam o ASF nos PVDs.

    Em termos de especificidades, os resultados dos estudos acima referidos tambm so

    consistentes com a hiptese de que os indivduos com maiores nveis de rendimento e escolaridade

    tendem a participar mais nos mercados financeiros. Todavia, no caso moambicano, embora a

    escolaridade parea ser um dos determinantes do ASF, ela produz um efeito marginal pouco

    significativo. O rendimento em Moambique parece ter um grande impacto, um resultado que no

    consentneo com aquele obtido pelos autores acima referidos (os quais indicam que o rendimento

    produz um efeito pouco significativo em relao educao).

  • 34

    Um outro resultado interessante no nosso estudo est relacionado com o facto de que na

    regresso do ASFFB, o coeficiente estimado da varivel gnero estatisticamente insignificante.

    Trata-se de um resultado que semelhante com aquele obtido por King e Hanohan (2009) para o

    caso do Gana. Note que estes resultados parecem sugerir que ser um indivduo adulto do sexo

    feminino nestes dois pases no um factor relevante para o ASF.

    O resultado da escolaridade destaca-se porque, apesar de ser determinante do ASF em

    Moambique, tem um coeficiente pouco expressivo e um impacto marginal reduzido. Este resultado

    no consentneo com aquele obtido pelo estudo da FinScope (2009), o qual indica que o

    rendimento e a escolaridade so factores importantes no ASF. No obstante esta discrepncia, os

    dois resultados confirmam a hiptese de que a educao desenvolve aptides cognitivas nos

    indivduos que podem contribuir para a melhoria na compreenso dos fenmenos financeiros. Um

    outro resultado a salientar neste trabalho a insignificncia do coeficiente estimado da varivel

    gnero na regresso de ASFFB. Este resultado no consistente com aquele obtido pelo estudo

    da FinScope (2009). Estas diferenas em relao ao papel da educao e do gnero no ASF em

    Moambique podem ser explicadas, em parte, pelo facto de os dois estudos usarem mtodos de

    anlise diferentes.

    A incluso de variveis comportamentais no nosso estudo mostrou que as mesmas so

    relevantes para explicar o comportamento financeiro dos indivduos em sistemas financeiros

    emergentes. Assim, confirma-se que os indivduos que confiam nas instituies e que so optimistas

    tm maior probabilidade de aceder aos servios financeiros formais, enquanto para os

    sobreconfiantes essa probabilidade diminui.

  • 35

    6. CONCLUSO

    Esta dissertao visou investigar os determinantes do ASF em Moambique. Para alcanar

    este objectivo, testmos as hipteses de que em Moambique, os factores socioeconmicos e

    comportamentais influenciam o ASFFB e o ASF, e de que os factores que influenciam a participao

    no sector financeiro formal so comuns aos factores que determinam a participao no sector

    informal.

    Para testar aquelas hipteses adoptmos o modelo economtrico Probit, a partir do qual

    estimamos trs regresses envolvendo por um lado as trs formas de participao no mercado

    financeiro (nomeadamente ASFFB, ASFIN e ASF) e, por outro lado, factores socioeconmicos e

    comportamentais. Os dados usados para estimar estas regresses foram extrados do inqurito aos

    indivduos adultos residentes em Moambique, conduzido pela FinScope em 2009.

    Os resultados do estudo indicam que em Moambique, (i) ambos, factores socioeconmicos

    e comportamentais, determinam a probabilidade de ASF; (ii) os indivduos adultos com ASF formais

    bancrios so caracterizados por terem rendimentos anuais altos (acima de 5 mil meticais),

    possurem um grau de escolaridade, viverem nas zonas urbanas e prximas das instituies

    financeiras, terem literacia financeira, deterem riqueza, exibirem sobreconfiana, serem optimistas

    moderados, e terem confiana nas instituies financeiras; (iii) os indivduos adultos com ASF

    informais caracterizam-se por deterem rendimentos altos, terem um grau de escolaridade, serem do

    sexo feminino, serem maiores de 35 anos de idade, viverem nas zonas urbanas e prximo das

    instituies financeiras, confiarem estas instituies, serem altrustas, formarem expectativas

    positivas acerca do futuro, e exibirem optimismo excessivo. Estas caractersticas individuais so

    extensivas aos indivduos adultos com ASF formais e informais, os quais tambm so caracterizados

    por exibirem sobreconfiana.

    A incluso de variveis comportamentais no nosso estudo mostrou que as mesmas so

    relevantes para explicar o comportamento financeiro dos indivduos em sistemas financeiros

  • 36

    emergentes. Os resultados obtidos sugerem a necessidade das autoridades moambicanas

    tomarem em considerao no s os factores socioeconmicos quando formulam estratgias para o

    alargamento do acesso aos servios financeiros, mas tambm os factores comportamentais. Os

    resultados demonstram que no processo de tomada de deciso sobre a participao nos mercados

    financeiros, os indivduos so influenciados por factores comportamentais.

    Relativamente aos factores socioeconmicos, o aumento dos nveis de rendimento e

    escolaridade so cruciais neste processo, porque uma das justificaes para o alto nvel de

    desconfiana dos indivduos inquiridos em relao aos servios financeiros a baixa escolaridade e

    literacia financeira, fenmenos associados pobreza absoluta que afecta grande parte dos PVDs.

    A realizao do estudo do lado da oferta que pudesse pesquisar os servios financeiros

    existentes, os locais de actuao e os produtos financeiros oferecidos seria importante para

    complementar o trabalho iniciado neste projecto de dissertao. O trabalho de Porteous (2007)

    identificou a necessidade de estudos do gnero serem complementados com estudos do lado da

    oferta, dado que ainda h factores no observados que podem explicar a questo da acessibilidade

    e que se encontram do lado da oferta.

  • 37

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