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233
Marisa Pereira Gonçalves Influência de um programa de treinamento muscular respiratório no desempenho cognitivo e na qualidade de vida do idoso Brasília, 2007

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  • Marisa Pereira Gonalves

    Influncia de um programa de treinamento muscular

    respiratrio no desempenho cognitivo e na qualidade de

    vida do idoso

    Braslia, 2007

  • Universidade de Braslia Faculdade de Cincias da Sade Programa de Ps-Graduao em Cincias da Sade Doutorado em Cincias da Sade

    INFLUNCIA DE UM PROGRAMA DE TREINAMENTO

    MUSCULAR RESPIRATRIO NO DESEMPENHO

    COGNITIVO E NA QUALIDADE DE VIDA DO IDOSO

    Por: Marisa Pereira Gonalves

    Orientador: Prof. Dr. Carlos Alberto Bezerra Tomaz

    Braslia

    DF 2007

  • Universidade de Braslia Faculdade de Cincias da Sade Programa de Ps-Graduao em Cincias da Sade Doutorado em Cincias da Sade

    INFLUNCIA DE UM PROGRAMA DE TREINAMENTO

    MUSCULAR RESPIRATRIO NO DESEMPENHO

    COGNITIVO E NA QUALIDADE DE VIDA DO IDOSO

    Por: Marisa Pereira Gonalves

    Orientador: Prof. Dr. Carlos Alberto Bezerra Tomaz

    Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Cincias da Sade, Universidade de Braslia-UNB, como parte dos requisitos para obteno do ttulo de Doutor.

    Braslia

    DF 2007

  • Gonalves, Marisa Pereira

    Influncia de um treinamento muscular respiratrio no desempenho cognitivo e na qualidade de vida do idoso / Marisa Pereira Gonalves.

    2007.

    247 f. : il.

    Tese (doutorado)--Universidade de Braslia, 2007.

    1. Idosos 2. Treinamento muscular respiratrio 3. Desempenho cognitivo 4. Qualidade de vida I. Ttulo

    CDD

  • MARISA PEREIRA GONALVES

    INFLUNCIA DE UM PROGRAMA DE TREINAMENTO MUSCULAR RESPIRATRIO NO DESEMPENHO COGNITIVO E A QUALIDADE

    DE VIDA DO IDOSO

    BANCA EXAMINADORA

    Prof. Dr. Carlos Alberto Bezerra Tomaz

    Presidente

    Universidade de Braslia

    Prof. Dr. Joaquim Pereira Brasil Neto

    Universidade de Braslia

    Prof. Dr. Valdir Filgueiras Pessoa

    Universidade de Braslia

    Prof. Dr. Jones Eduardo Agne

    Universidade Federal de Santa Maria

    Prof. Dr. Jos Francisco Silva Dias

    Universidade Federal de Santa Maria

  • DEDICATRIA

  • Dedicatria

    Dedico este trabalho aos meus queridos idosos!

    Idosos...

    Rostos e olhos enrugados, faces descoloridas...

    Coraes que entesouram tanta experincia, sabedoria e bondade!

    Idosos...

    Muitas vezes renegados pelos amigos, pela famlia,

    abandonados prpria sorte, guiados por mos estranhas,

    alimentados e vestidos com dedicao por desconhecidos,

    que ouvem suas histrias de outrora, narradas com um fio de voz...

    Um fio de voz que traduz muita esperana no corao

    de quem hoje uma criana que exibe a sua vivncia,

    passeia a sua experincia, segurando a mo que o acolhe e o acaricia...

    Idosos!

    Idosos... No ocaso da vida, que j atravessaram tempestades e confortaram

    coraes, eu quisera ser poeta para descrever a emoo

    de conviver com vocs, de aprender sobre e com vocs!

    Ah! Meus velhinhos, nos seus coraes a chama ainda acesa

    ilumina minha pobre existncia, alimenta meu corao, alenta minha alma em

    frangalhos, que sorve de seus exemplos o manancial que revigora o meu ser... Que

    me impede de solenizar minhas tristezas e desencantos...

    Que me desperta para sorrir... Sorrir hoje e sempre, agradecida pelos ensinamentos

    que me tornaram a vida mais florida!...

    Arneyde T. Marcheschi

  • AGRADECIMENTOS

  • Agradecimentos

    A realizao deste trabalho somente foi possvel devido ao auxlio e

    disponibilidade de vrias pessoas, as quais fizeram e faro para sempre parte da

    minha vida e histria.

    Quero inicialmente agradecer ao meu orientador, Prof. Dr. Carlos Alberto

    Bezerra Tomaz, por acreditar na importncia da atuao do Fisioterapeuta nas

    diferentes reas do conhecimento, pela orientao prestada na conduo deste

    trabalho, pelo incentivo e pela oportunidade.

    Ao Prof. Jos Francisco Silva Dias, pelo testemunho vivo da essncia, cincia

    e amor pelos idosos.

    Prof Ana Laura Felkel Cassiminho e Prof. Valduino Stefanel, pela amizade e

    auxlio na rea de Estatstica.

    Aos professores do Programa de Ps-Graduao em Cincias da Sade

    (UnB), pelos ensinamentos prestados.

    Ao Dr. Arnoldo Azevedo dos Santos, mdico cardiologista, pelo auxlio

    inestimvel na avaliao dos idosos.

    Ao Dr. Ariovaldo Fagundes, mdico pneumologista, pelo constante incentivo e

    exemplo profissional, demonstrados em todos os difceis momentos que

    enfrentamos durante o percurso.

    Aos colegas do Programa de Doutorado, Prof Maria Saleti Vogt, Prof Nara

    Maria Severo Ferraz, Prof Elhane Glass Morari Cassol, Prof Ana Lcia Cervi

    Prado, Prof Ana Ftima Viero Badar e Prof Claudia Trevisan por compartilharem

    comigo de todos os momentos de angstia e euforia, compatveis com a condio de

    alunos de ps-graduao.

    Ao Prof. Dr. Jones Agne, coordenador do Programa de Qualificao

    Institucional na UFSM, pela ateno, organizao e conduo do programa.

    Aos colegas do Departamento de Fisioterapia e Reabilitao e aos

    Fisioterapeutas funcionrios do Hospital Universitrio de Santa Maria.

    Aos meus pais, Waldir e Anita;

    ao meu esposo, Srgio Ricardo;

    aos meus filhos, Ricardo e Bibiana,

    pela compreenso e carinho que me dispensaram neste difcil percurso.

  • RESUMO

  • Resumo

    INFLUNCIA DE UM PROGRAMA DE TREINAMENTO MUSCULAR

    RESPIRATRIO NO DESEMPENHO COGNITIVO E NA QUALIDADE DE VIDA DO

    IDOSO

    A reduo da capacidade fisiolgica presente no processo do envelhecimento pode

    acarretar declnios fisiolgicos marcantes na funo pulmonar e cognitiva, podendo

    afetar potencialmente a qualidade de vida dos idosos. O objetivo proposto, neste

    estudo, foi investigar a influncia de um programa de treinamento muscular

    respiratrio especfico, no desempenho cognitivo e na melhoria da qualidade de vida

    do idoso. O estudo envolveu 32 idosos voluntrios, sedentrios, normotensos,

    saudveis, sem deficincia cognitiva, sem patologias pulmonares e cardiovasculares

    prvias e aptos prtica de atividade fsica, com idades entre 60-78 anos, de ambos

    os sexos, que foram distribudos em dois grupos: 1) Controle, que foi orientado a no

    alterar suas atividades rotineiras e a no se engajar em um programa de atividade

    fsica e 2) Experimental, que participou do programa de treinamento muscular

    respiratrio, utilizando o equipamento Threshold e exerccios de membros

    superiores com halteres, sete dias por semana, por trs meses. Os sujeitos dos dois

    grupos foram avaliados inicialmente e aps o perodo de trs meses. Para a

    avaliao utilizou-se um screening composto pelos testes: Peak Flow, VVM

    (Ventilao Voluntria Mxima), PIM (Presso Inspiratria Mxima), PEM (Presso

    Expiratria Mxima), Escala de Depresso de Hamilton, Inventrio de Ansiedade de

    Beck, Mini-Exame do Estado Mental, Teste de Qualidade de Vida (SF-36), Teste de

    Memria Emocional e Parmetros Bioqumicos. A comparao dos grupos aps o

    perodo de estudo mostrou que o grupo experimental obteve melhora da fora e do

    desempenho muscular respiratrio, reduo dos escores de depresso e ansiedade,

    aumento da memria episdica e qualidade de vida, enquanto os sujeitos do grupo

    controle no apresentaram alteraes positivas nos parmetros citados. Os dados

    sugerem que o treinamento muscular respiratrio proporcionou a melhora da

    performance respiratria, assim como, influenciou na melhora da qualidade de vida e

    do desempenho cognitivo, em especial da memria declarativa (episdica) e na

    diminuio dos sintomas de ansiedade e depresso dos sujeitos do grupo

    experimental.

  • ABSTRACT

  • Abstract

    INFLUENCE OF A RESPIRATORY MUSCULAR TRAINING PROGRAM IN THE

    COGNITIVE PERFORMANCE AND QUALITY OF LIFE OF THE ELDERS

    The reduction of the physiological capacity present in the aging process can cause

    remarkable physiological and cognitive decline in the pulmonary function, which may

    potentially affect the quality of life of the elders. The proposed objective, in this study,

    was to investigate the influence of a program of specific respiratory muscular training,

    in the cognitive performance and the improvement of the quality of life of the elders.

    The study involved 32 aged volunteers, sedentary, normotense, healthy, with no

    cognitive deficiency, previous pulmonary and cardiovascular pathologies and apt to

    the practice of a physical activity, with ages between 60-78 years old, of both sexes,

    that were distributed in two groups: 1) Control, that was guided not to modify their

    daily activities and not to engage in a physical activity program and 2) Experimental,

    that took part in the program of respiratory muscular training, using the Threshold

    equipment and exercises for superior limbs with bar bells, seven days a week, for

    three months. The individuals of the two groups were evaluated previously and after

    the period of three months. For the evaluation it was used a screening composed of

    the tests: Peak Flow, MVV (Maximum Voluntary Ventilation), MIP (Maximal

    Inspiratory Pressure), MEP (Maximal Expiratory Pressure), The Hamilton Depression

    Inventory, The Beck Anxiety Inventory, Mini Mental Status Exam, Quality of Life Test

    (SF-36), The Emotional Memory Test and Biochemical Parameters. The comparison

    of the two groups after the period of study showed that the experimental group had

    improvement in the force and the respiratory muscular performance, reduction of

    their levels of depression and anxiety, increase in the episodic memory and quality of

    life, while the individuals of the control group did not present positive alterations in

    the cited parameters. The data suggest that the muscular respiratory training

    provided the improvement of the respiratory performance, as well as, influenced the

    improvement of the quality of life and the cognitive performance, in special the

    declarative memory (episodic) and the reduction of the symptoms of anxiety and

    depression of the individuals of the experimental group.

  • LISTA DE TABELAS

  • Lista de tabelas

    TABELA 1 - Referncia de presso (fora) muscular inspiratria e

    expiratria ............................................................................

    77

    TABELA 2 - Resultados dos testes bioqumicos .....................................

    109

    TABELA 3 - Resultados dos testes de atividade de vida diria em

    relao ao tempo .................................................................

    117

    TABELA 4 - Resultados dos testes de atividade de vida diria em

    relao saturao de oxignio ......................................... 118

    TABELA 5 - Resultados da comparao dos valores iniciais dos

    domnios no teste SF36 entre os sujeitos depressivos e

    no depressivos .................................................................. 119

    TABELA 6 - Resultados da comparao intragrupos do Teste de

    Qualidade de Vida SF-36 .................................................... 135

    TABELA 7 - Avaliao dos parmetros bioqumicos, entre os deltas

    dos grupos controle e experimental (pr e ps-

    interveno) .........................................................................

    136

    TABELA 8 - Resultados da comparao intergrupos do Teste de

    Qualidade de Vida SF-36 .................................................... 137

    TABELA 9 - Resultados da comparao intergrupos dos parmetros

    respiratrios e neuropsicolgicos ........................................

    138

    TABELA 10 - Resultados da comparao intragrupos do Teste de

    Memria Emocional .............................................................

    138

  • LISTA DE QUADROS

  • Lista de Quadros

    QUADRO 1 - Influncia da atividade fsica regular na funo cerebral

    dos idosos ........................................................................... 62

    QUADRO 2 - Escalas para avaliao de ansiedade .................................

    76

    QUADRO 3 - Escala de referncia ........................................................... 95

    QUADRO 4 - Nveis de intensidade da ansiedade ................................... 96

    QUADRO 5 - Frases que acompanham os slides .................................... 99

    QUADRO 6 - tens de avaliao do SF-36 ............................................... 100

    QUADRO 7 - Resumo geral dos resultados ............................................. 142

  • LISTA DE FIGURAS

  • Lista de Figuras

    FIGURA 1 - Classificao da memria .................................................

    43

    FIGURA 2 - Tipos de memria e regies do Sistema Nervoso Central 44

    FIGURA 3 - Fatores que afetam a Qualidade de Vida ......................... 54

    FIGURA 4 - Caractersticas do BDNF como um candidato a mediar

    os benefcios do exerccio na sade mental .....................

    64

    FIGURA 5 - Ao do BDNF ..................................................................

    64

    FIGURA 6 - Mecanismos pelos quais a corrida voluntria conduz o

    crebro a representar a informao significativa a partir

    do meio ambiente ............................................................. 71

    FIGURA 7 - O envolvimento do BDNF no aumento da representao

    da informao e resistncia neural mediado pelo

    exerccio ........................................................................... 71

    FIGURA 8 - Equipamento Threshold ................................................ 79

    FIGURA 9 - Procedimentos ..................................................................

    86

    FIGURA 10 - Manovacumetro utilizado para a mensurao da

    Presso Inspiratria Mxima e Presso Expiratria

    Mxima ............................................................................. 87

    FIGURA 11 - Oxmetro ........................................................................... 90

    FIGURA 12 - Espirmetro ...................................................................... 92

    FIGURA 13 - Teste incremental de MMSS ............................................ 93

    FIGURA 14 - Treinamento muscular ventilatrio ....................................

    101

    FIGURA 15 - Movimento de diagonais ...................................................

    102

    FIGURA 16 - Desenho da realizao do experimento ........................... 104

    FIGURA 17 - Valores do Pico de Fluxo Expiratrio (mdiadesvio) no

    perodo inicial e final da interveno para os dois grupos

    (experimental e controle). Teste t-Student para dados

    pareados ...........................................................................

    110

    FIGURA 18 - Valores de Ventilao Voluntria Mxima

    (mdiadesvio) no perodo inicial e final da interveno

    para os dois grupos (experimental e controle) ................. 111

    FIGURA 19 - Valores de Presso Inspiratria Mxima (mdiadesvio)

  • no perodo inicial e final da interveno para os dois

    grupos (experimental e controle). A PIM est expressa

    em valores absolutos ........................................................

    112

    FIGURA 20 - Valores de Presso Expiratria Mxima (mdiadesvio)

    no perodo inicial e final da interveno para os dois

    grupos (experimental e controle) ...................................... 113

    FIGURA 21 - Resultados dos valores do nmero de repeties da

    primeira diagonal direita (mdiadesvio) no perodo

    inicial e final da interveno para os dois grupos ............. 114

    FIGURA 22 - Resultados dos valores do nmero de repeties da

    segunda diagonal direita ...................................................

    115

    FIGURA 23 - Resultados dos valores do nmero de repeties da

    primeira diagonal esquerda .............................................. 115

    FIGURA 24 - Resultados dos valores do nmero de repeties da

    segunda diagonal esquerda ............................................. 116

    FIGURA 25 - Distncia percorrida no teste de 6 minutos

    (mdiadesvio) no perodo inicial e final da interveno

    para os dois grupos (experimental e controle) ................. 117

    FIGURA 26 - Valores obtidos na Escala de Depresso de Hamilton

    (mdiadesvio) no perodo inicial e final da interveno

    para os dois grupos (experimental e controle) ................. 119

    FIGURA 27 - Valores obtidos no Inventrio de Ansiedade de Beck

    (mdiadesvio) no perodo inicial e final da interveno

    para os dois grupos (experimental e controle) ................. 120

    FIGURA 28 - Valores obtidos no Mini-Exame do Estado Mental

    (mdiadesvio) no perodo inicial e final da interveno

    para os dois grupos (experimental e controle) ................. 121

    FIGURA 29 - Valor emocional da histria atribudo pelos grupos neutro

    inicial e emocional inicial .................................................. 122

    FIGURA 30 - Resultados da Escala de Valor Emocional .......................

    123

    FIGURA 31 - Total de acertos + pontos adicionais do Teste de

    Recordao livre em comparao dos resultados finais .. 124

    FIGURA 32 - Total de acertos + pontos adicionais do Teste de

  • Recordao livre em comparao dos resultados iniciais

    e finais .............................................................................. 125

    FIGURA 33 - Total de acertos sem a contagem dos pontos adicionais

    do Teste de Recordao livre em comparao dos

    resultados finais ................................................................

    126

    FIGURA 34 - Total de acertos sem a contagem dos pontos adicionais

    do Teste de Recordao livre em comparao dos

    resultados finais ................................................................

    127

    FIGURA 35 - Teste de Recordao Livre (Fase 1) ................................ 128

    FIGURA 35a - Teste de Recordao Livre (Fase 2) ................................ 128

    FIGURA 35b - Teste de Recordao Livre (Fase 3) ................................ 129

    FIGURA 36 - Total de acertos do Teste de Reconhecimento em

    comparao dos resultados finais .................................... 131

    FIGURA 37 - Resultados do total de acertos do Teste de

    Reconhecimento referente aos grupos controle e

    emocional ......................................................................... 132

    FIGURA 38 - Teste de Reconhecimento (Fase 1) ................................. 133

    FIGURA 38a - Teste de Reconhecimento (Fase 2) ................................. 133

    FIGURA 38b - Teste de Reconhecimento (Fase 3) ................................. 134

  • LISTA DE ANEXOS

  • Lista de Anexos

    ANEXO A - Dados de identificao ........................................................ 186

    ANEXO B - Mini-Exame do Estado Mental ............................................ 187

    ANEXO C - Teste de Memria Emocional

    Entrevista ..........................

    188

    ANEXO D - Ficha de Avaliao Geral .................................................... 189

    ANEXO E - Pesquisa em Sade

    Avaliao do ndice de Qualidade

    de Vida

    SF-36 .................................................................. 190

    ANEXO F - Termo de Consentimento Livre e Informado .......................

    194

    ANEXO G - Testes PIM, FR, PA, FC, SpO2 .......................................... 196

    ANEXO H - Teste Incremental de MMSS ...............................................

    197

    ANEXO I - Avaliao das Atividades de Vida Diria .............................

    198

    ANEXO J - Teste da Caminhada dos 6 Minutos ....................................

    199

    ANEXO L - Escala de Borg Dispnia/Membros Inferiores ..................... 201

    ANEXO M - Inventrio de Ansiedade de Beck ....................................... 202

    ANEXO N - Escala de Depresso de Hamilton ..................................... 203

    ANEXO O - Teste de Memria Emocional ............................................. 209

    ANEXO P - Teste de Recordao Livre (10 Dias aps a apresentao

    da histria) ...........................................................................

    210

    ANEXO Q - Teste de Reconhecimento .................................................. 211

    ANEXO R - Treinamento Muscular Respiratrio .................................... 218

    ANEXO S - Treinamento de Membros Superiores .................................

    219

    ANEXO T - Valores Normais de Presses Respiratrias segundo

    Neder et al./Valores normais de Presses Respiratrias

    segundo Black & Hyatt ........................................................ 220

    ANEXO U - Slides do Teste de Memria Emocional ..............................

    221

    ANEXO V - Pontuao do Questionrio SF-36 ...................................... 225

    ANEXO X - Clculo do Escore (0-100) do SF-36 ...................................

    226

    ANEXO Y - Comit de tica ................................................................... 227

  • LISTA DE ABREVIATURAS

  • Lista de Abreviaturas

    ACh - Acetilcolina

    ACTH - Hormnio Adenocorticotrfico

    AV - Avaliao

    AVD - Atividades de Vida Diria

    BASF. - Basfilos

    BDNF - Fator Neurotrfico Derivado do Crebro

    CEF - Controle Emocional Final

    CEI - Controle Emocional Inicial

    CHCM - Concentrao de Hemoglobina Corpuscular Mdia

    cm/H2O Centmetros de gua

    CNF - Controle Neutro Final

    CNI - Controle Neutro Inicial

    CREATIN. - Creatinina

    CVF - Capacidade Vital Forada

    ECG - Eletrocardiograma

    EEF - Experimental Emocional Final

    EEI - Experimental Emocional Inicial

    ENF - Experimental Neutro Final

    ENI - Experimental Neutro Inicial

    EOSINF. Eosinfilos

    ERITRC - Eritrcitos

    FC - Freqncia Cardaca

    FEF - Fluxo Expiratrio Forado

    FGF2 - Fator de Crescimento Fibroblstico 2

    FR - Freqncia Respiratria

    FSC - Fluxo Sangneo Cerebral

    GABA - cido Gama Amino Butrico

    GLICO HEM. - Glico Hemoglobina

    HCM - Hemoglobina Corpuscular Mdia

    HDL - Lipoprotena de Alta Densidade

    HEMATOCR - Hematcrito

    HUSM - Hospital Universitrio de Santa Maria

  • Lista de Abreviaturas 23

    IGF-1 - Fator de Crescimento-1 insulin-like

    LDL - Lipoprotena de Baixa Densidade

    LEUCC. - Leuccitos

    LINFC. - Linfcitos

    LTM - Long Term Memory

    LTP - Potenciao de Longa Durao

    mg/dl - miligramas/decilitro

    milh - Milhes

    mm - Milmetros cbicos

    mmHg - Milmetros de Mercrio

    mMMSE - mini-exame do Estado Mental Modificado

    MMSE - Mini-Exame do Estado Mental

    MONCIT. - Moncitos

    NE - Noradrenalina

    NGE - Fator de Crescimento Neural

    NMDA - N-methyl-D-aspartate

    OMS - Organizao Mundial de Sade

    PEM - Presso Expiratria Mxima

    % - Percentual

    1 DIAG D - Primeira Diagonal Direita

    1 DIAG E - Primeira Diagonal Esquerda

    PF - Peak Flow

    PFE - Pico de Fluxo Espiratrio

    pg - Picograma

    PIM - Presso Inspiratria Mxima

    PLAQU - Plaquetas

    PaO2 - Presso Parcial de Oxignio

    QV - Qualidade de Vida

    RNAm - cido Ribonuclico Mensageiro

    2 DIAG D - Segunda Diagonal Direita

    2 DIAG E - Segunda Diagonal Esquerda

    SF36 - Short Form Health Survey

    SpO2 - Saturao de Oxignio

  • Lista de Abreviaturas 24

    STM - Short Term Memory

    T4 Livre - Tiroxina Livre

    TMR - Treinamento Muscular Respiratrio

    TSH - Hormnio Tireoestimulante

    VCM - Volume Corpuscular Mdio

    VVM - Ventilao Voluntria Mxima

    WHOQL - Questionrio de Qualidade de Vida da Organizao Mundial de

    Sade

  • SUMRIO

  • Sumrio

    1 INTRODUO ............................................................................................ 28

    1.1 Justificativa ............................................................................................. 30 1.2 Hiptese .................................................................................................. 31 1.3 Objetivos ................................................................................................. 32 1.3.1 Objetivo geral ........................................................................................ 32 1.3.2 Objetivos especficos .............................................................................

    32 1.4 Relevncia do estudo .............................................................................

    32

    2 REFERENCIAL TERICO ..........................................................................

    34

    2.1 Envelhecimento ...................................................................................... 35 2.2 Envelhecimento e sistema respiratrio ................................................

    36 2.3 Sistema nervoso e envelhecimento ......................................................

    39 2.4 Funes cognitivas e envelhecimento ................................................. 40 2.5 Memria ................................................................................................... 41 2.6 Memria emocional ................................................................................ 47 2.7 Qualidade de vida e envelhecimento ....................................................

    50 2.8 Envelhecimento e atividade fsica ........................................................ 55 2.9 Memria e exerccio ............................................................................... 62 2.9.1 Exerccios e neurotransmissores .......................................................... 67 2.9.2 Expresso do gene BDNF (fator neurotrfico derivado do crebro) ..... 68 2.10 Exerccios agudos e crnicos ............................................................. 72 2.11 Depresso e ansiedade ........................................................................

    73 2.12 Programa de treinamento dos msculos respiratrios .................... 76 2.12.1 Treinamento dos msculos ventilatrios inspiratrios ......................... 77 2.12.2 Treinamento de membros superiores ..................................................

    79 2.12.3 Treinamento de fora para idosos ....................................................... 80

    3 MTODOS .................................................................................................. 82

    3.1 Caracterizao do estudo ...................................................................... 83 3.2 Local da pesquisa e populao ............................................................ 83 3.3 Amostra ................................................................................................... 83 3.4 Coleta de dados ...................................................................................... 84 3.5 Procedimentos ........................................................................................

    84 3.5.1 Triagem ................................................................................................. 84 3.5.2 Testes de avaliao dos sujeitos aptos para o estudo ..........................

    86 3.6 Anlise dos resultados obtidos ............................................................ 102 3.7 Aspectos ticos ...................................................................................... 103 3.8 Desenho da realizao do experimento ............................................... 104

    4 LIMITAES DO ESTUDO ........................................................................ 105

    5 RESULTADOS ............................................................................................ 107

    5.1 Caracterizao da amostra .................................................................... 108 5.2 Comparao do desempenho pr e ps-interveno ......................... 108 5.2.1 Parmetros bioqumicos ........................................................................ 108 5.2.2 Parmetros respiratrios ....................................................................... 110

  • Sumrio 27

    5.2.3 Atividades da vida diria ........................................................................

    117

    5.2.4 Parmetros neuropsicolgicos .............................................................. 118 5.2.5 Qualidade de vida

    SF 36 .................................................................... 135

    5.3 Comparao dos efeitos da interveno ............................................. 136 5.3.1 Parmetros bioqumicos ........................................................................ 136 5.3.2 Qualidade de vida ..................................................................................

    137

    5.3.3 Parmetros respiratrios e neuropsicolgicos ...................................... 137

    6 DISCUSSO ............................................................................................... 140

    CONSIDERAES FINAIS ........................................................................... 160

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .............................................................. 163

    ANEXOS .........................................................................................................

    185

    PUBLICAES ..............................................................................................

    229

  • 1 INTRODUO

  • 1 Introduo 29

    De acordo com a Organizao Mundial da Sade (OMS), so considerados

    idosos todos os indivduos com idade igual ou superior a 60 anos. As estatsticas

    revelam que mais da metade dos indivduos acima dessa idade vivem em pases de

    terceiro mundo. No Brasil, esse nmero superior a 15 milhes de pessoas e

    mostra-se progressivamente crescente, praticamente dobrando a cada 20 anos

    (IBGE, 2000). Pensa-se que em razo disto dever haver uma modificao no

    comportamento da sociedade, subsidiando maior interesse ao estudo do

    envelhecimento, proporcionando novas concepes cujo objetivo seja melhorar a

    qualidade de vida destas pessoas.

    O estudo do processo de envelhecimento muito complexo, abrangendo

    diferentes reas da cincia. Embora sendo de interesse comum a todos os seres

    humanos, a sistematizao desse processo muito recente. Dessa ltima dcada

    que provm trabalhos e pesquisas mais especficas, mas ainda de entendimento

    limitado a respeito desse assunto.

    Classificado pelos gerontologistas como diminuio da capacidade de

    sobrevivncia do organismo, observa-se que as principais dificuldades neste campo

    consistem em separar o processo biolgico do envelhecimento, das doenas

    associadas, dos fatores ambientais e do fator desuso. Mesmo assim, as pesquisas

    sobre o envelhecimento vm se multiplicando e a busca por marcadores biolgicos

    do envelhecimento e melhora das condies de vida ganham nfase na literatura

    mundial. Apesar desses estudos, a indicao de determinadas atividades, que visam

    influir na quantidade e qualidade de vida do idoso, ainda no oferecem comprovao

    objetiva de seus benefcios sobre determinados rgos ou funes.

    Neste estudo, busca-se discutir o processo de envelhecimento humano, no

    mbito da funo pulmonar e cognitiva, enfocando a influncia de um programa de

    treinamento respiratrio no desempenho cognitivo, em particular na memria e na

    qualidade de vida do idoso.

  • 1 Introduo 30

    1.1 Justificativa

    Com um respiro inicia-se e conclui-se a vida de cada ser e entre estes dois

    momentos desenvolve-se a existncia humana, da qual a respirao constitui-se a

    corda natural vital (STRAUSS, 1977). E quantos percebem a importncia de respirar

    corretamente em todas as fases de sua existncia? Respirar natural e corretamente

    parece ser, nessa poca, um privilgio de poucos. Com o passar do tempo, alm

    das alteraes adquiridas no meio em que vivem, os indivduos ainda sofrem

    declnios fisiolgicos marcantes na sua funo pulmonar. Dentre esses, incluem-se a

    diminuio da fora dos msculos respiratrios, refletindo na intolerncia ao

    exerccio fsico e alteraes no desempenho cognitivo.

    As perdas cognitivas e as disfunes fsicas, decorrentes do envelhecimento,

    contribuem para maior reduo da independncia do idoso. Essas alteraes em

    cadeia refletem-se nos domnios sociais e psicolgicos, interferindo na qualidade de

    vida desses indivduos (PHILLIPS e HASKELL, 1995).

    De acordo com Izquierdo (2002, p. 77), a senilidade acompanhada de um

    enfraquecimento geral dos diversos tipos de memria. Isto se deve perda neuronal

    que se manifesta por meio de uma perda de funo . Aliada a isso, a depresso

    uma doena de incidncia elevada na velhice, manifestada em sua incapacidade

    fsica crescente e no enfraquecimento de seus poderes cognitivos, principalmente da

    memria.

    Existem diversos estudos sobre o exerccio aerbico e a funo cognitiva

    demonstrando seus benefcios (PERRI e TEMPLER, 1984; MOLLOY et al., 1988;

    ALREADY et al., 1991; FABRE et al., 2002; TOMPOROWSKI, 2003; MCDOWELL et

    al., 2003; CHAN et al., 2005), mas nenhum deles inclui na sua metodologia, o

    treinamento muscular respiratrio especfico. Adicionalmente, alguns estudos

    demonstraram o incremento da fora e desempenho dos msculos ventilatrios,

    atravs do treinamento muscular respiratrio especfico, levando ao aumento da

    tolerncia ao exerccio e a melhora da qualidade de vida (LEITH e BRADLEY, 1976;

    MANCINI et al., 1991; WEINER et al., 2002), apesar desses no investigarem

    alteraes no desempenho cognitivo.

  • 1 Introduo 31

    Nesse sentido, apresenta-se o problema desta pesquisa, que responder a

    seguinte questo: Um treinamento muscular respiratrio pode melhorar a

    capacidade funcional do idoso no seu desempenho cognitivo e na sua qualidade de

    vida?

    A Qualidade de Vida, neste estudo, analisada atravs do Questionrio de

    Qualidade de Vida SF-36 e por testes especficos de Atividades de Vida Diria

    (AVDs) e, o Desempenho Cognitivo, pelos testes Mini-mental, Inventrio de

    Ansiedade de Beck, Escala de Depresso de Hamilton e o Teste de Memria

    Emocional, observando que neste ltimo h evidncias na literatura de que a

    ativao emocional influencia na reteno da memria a longo prazo (FRANK e

    TOMAZ, 2003). Tal ativao emocional ocasiona mudanas no indivduo, as quais

    podem gerar uma melhora no desempenho do idoso que se manifesta num melhor

    enfrentamento de situaes novas, de ameaas e de sobrevivncia.

    Embora um instrumento para avaliar a cognio de um indivduo deva levar

    em conta os vrios componentes da funo intelectual, ou seja, o nvel de

    conscincia e de ateno, a linguagem, a memria, o julgamento, a abstrao e

    habilidade construtiva (STRUB e BLACK, 1980), o enfoque deste estudo, em relao

    ao desempenho cognitivo, considerando a originalidade do tema, est relacionado

    avaliao da Memria Emocional, pois ainda no existem estudos correlacionando

    esse componente com a prtica de treinamento muscular respiratrio especfico.

    Salientando a importncia desta pesquisa, considera-se necessria a criao

    de uma conscincia livre e transparente dos processos de envelhecimento, suas

    causas, seus efeitos e, paralelamente, a construo de um ambiente para que se

    possa usufruir deste perodo da vida com prazer integral, tranqila dignidade e plena

    atividade (MEIRELLES, 1997).

    1.2 Hiptese

    Um treinamento muscular respiratrio melhora a ventilao pulmonar e,

    conseqentemente, o aumento do aporte de oxignio ao crebro, levando melhora

    do desempenho cognitivo e da qualidade de vida dos idosos.

  • 1 Introduo 32

    1.3 Objetivos

    1.3.1 Objetivo geral

    Investigar a influncia de um programa de treinamento muscular respiratrio

    especfico no desempenho cognitivo e na melhora da qualidade de vida do idoso.

    1.3.2 Objetivos especficos

    - Testar a eficincia do programa de Treinamento Muscular Respiratrio

    (TMR) na fora dos msculos inspiratrios;

    - Verificar o efeito do programa TMR, atravs da avaliao da memria

    emocional do idoso (reprodutibilidade da potenciao mnemnica induzida

    por contedos emocionais alertadores e neutros), da ansiedade e da

    depresso, evidenciada na modificao do seu desempenho cognitivo;

    - Relacionar a aplicao do programa de TMR com a melhoria da qualidade

    de vida do idoso;

    - Mensurar e comparar parmetros bioqumicos antes e aps o programa

    TRM.

    1.4 Relevncia do estudo

    A importncia deste trabalho baseia-se no fato de que estudos sobre as

    questes do envelhecimento representam perspectivas de um futuro melhor e de

    maior qualidade para a populao idosa. Poucos estudos tm sido realizados

    associando a atividade fsica e a funo cognitiva e, especificamente, o treinamento

    aerbico e a memria emocional. Entendendo ser de suma importncia a atividade

    fsica, especialmente para esta faixa etria, props-se esta investigao

    experimental, visando entender as relaes entre as funes respiratrias e

  • 1 Introduo 33

    cognitivas. E, atravs desta metodologia, fechando algumas lacunas do

    conhecimento, propor uma assistncia inovadora para um envelhecimento saudvel,

    no mbito da terceira idade.

  • 2 REFERENCIAL TERICO

  • 2 Referencial Terico 35

    Neste referencial so abordados assuntos como o envelhecimento humano,

    envelhecimento e o sistema respiratrio, funes cognitivas e envelhecimento,

    envelhecimento e qualidade de vida, o programa de treinamento muscular

    respiratrio que serviu de base para este estudo e os mtodos de avaliao

    utilizados.

    2.1 Envelhecimento

    Para Gomes e Ferreira (1985), o envelhecimento considerado um processo

    biolgico bsico, onde o ser evolui continuamente da concepo at a morte.

    Spirduso (2005) diz que o termo envelhecimento usado para referir-se a um

    processo ou a um conjunto de processos que ocorrem em organismos vivos e que,

    com o passar do tempo, levam a uma perda de adaptabilidade, deficincia funcional

    e finalmente, morte.

    Vrias modificaes so impostas no organismo humano pela senilidade.

    medida que o indivduo envelhece, diversos rgos e tecidos diminuem sua

    capacidade funcional. Estas alteraes so inevitveis e no podem ser associadas

    a um estado de doena , pois possvel encontrar pessoas idosas plenamente

    saudveis, segundo o que relatam Neto e Ponte (1996).

    O organismo humano, com o avanar da idade, entra em lento processo de

    degenerao (AMORIM et al., 2002), acarretando a perda gradual da capacidade

    funcional e levando o idoso incapacidade para realizar as atividades de vida diria.

    Ocorrem perdas no domnio cognitivo e disfunes fsicas, as quais contribuem para

    a reduo da sua independncia (OKUMA, 1997). importante salientar a existncia

    de alteraes visuais, auditivas, distrbios de humor e prejuzos cognitivos,

    principalmente os dficits de memria (MAZZEO et al., 1998; ANTUNES, 2003).

    O envelhecimento fisiolgico apresenta quatro caractersticas: universal,

    progressivo, declinante e intrnseco. A universalidade separa o envelhecimento dos

    processos patolgicos e o identifica como fenmeno normal. progressivo e

  • 2 Referencial Terico 36

    declinante, porque se apresenta reduzida a capacidade do organismo para reagir

    frente ao meio ambiente, relacionando-se provavelmente com o maior risco de morte

    com os avanos da idade. Ocorre nestes casos, perdas funcionais importantes que

    vo desde a diminuio da massa celular ativa, diminuio do tempo de conduo

    neuronal, diminuio da fixao de oxignio, modificaes vasculares, diminuio

    das capacidades pulmonares, entre outros. um processo considerado individual,

    pois as manifestaes envelhecedoras se estabelecem diferentemente de pessoa

    para pessoa.

    No idoso, a deteriorao do desempenho fsico est intimamente ligada s

    alteraes da funo neuromuscular, osteoarticular e do sistema de transporte de

    oxignio. Salienta-se, neste aspecto, as alteraes do sistema respiratrio e

    cognio, por serem objetos principais desse estudo, embora haja uma ntima

    relao com as demais funes, observando que os processos de envelhecimento

    social, biolgico e psicolgico no ocorrem independentemente um do outro

    (STUART-HAMILTON, 2002).

    2.2 Envelhecimento e sistema respiratrio

    O ato respiratrio vital para o homem, pois, graas a ele, o oxignio alcana

    os tecidos orgnicos e o dixido de carbono se elimina do organismo. O pulmo o

    rgo responsvel pela ventilao e, conseqentemente est relacionado ao

    transporte de oxignio.

    Segundo Gomes e Ferreira (1985), o pulmo o rgo que melhor permite

    avaliar o processo de envelhecimento em evoluo, pelas modificaes verificadas

    em seus parmetros. Pode-se facilmente observar as alteraes de origem

    osteoarticular e problemas de calcificao que diminuem sobremaneira a

    expansibilidade deste rgo durante o ato respiratrio.

    Observa-se a deposio de clcio no sistema osteocartilaginoso,

    principalmente nas cartilagens costovertebrais, condroesternais e discos

    intervertebrais. Este fato pode acarretar uma discreta cifose, as costelas tornam-se

    mais rgidas e o indivduo adquire uma postura de semi-expirao, provocando

    diminuio do movimento do gradil costal, diminuindo a expanso da caixa torcica.

  • 2 Referencial Terico 37

    O sistema muscular tambm sofre alteraes, as quais so manifestadas pela atonia

    e hipotrofia da musculatura.

    Ainda para o mesmo autor, no indivduo jovem, existe predominncia de fibras

    elsticas em relao ao colgeno. Esta relao inverte com o envelhecimento onde,

    o colgeno sobrepe-se as fibras elsticas. Quando este fato associado a nveis

    de desidratao e de aterosclerose, ocorre atrofia do parnquima pulmonar,

    podendo ocasionar intrinsecamente o desaparecimento de alguns septos alveolares,

    com isto determinando maior insuflao alveolar.

    A diminuio do dimetro bronquiolar tambm uma alterao evidente,

    determinando, assim, um aumento da resistncia area, o que pode ser explicado

    pela diminuio dos ndices de fluxo expiratrio com a progresso da idade.

    Ocorre uma diminuio da superfcie alveolar, estimada em 4% por dcada,

    com diminuio do nmero de alvolos por unidade de volume. O aumento do

    nmero e tamanho das comunicaes interalveolares (poros de Kohn) contribui para

    essa perda do tecido alveolar (PUMP, 1976).

    O sistema linftico pulmonar tem funo de manter o espao alveolar sem

    lquido que interfira nas trocas gasosas. Este sistema tambm sofre alteraes com

    a idade, onde se observa a diminuio dos calibres dos vasos linfticos e, associado

    a isto, ocorre menor reabsoro da protena do lquido intersticial e elevao da

    presso onctica. Em casos de rpida hidratao pode ocorrer extravasamento de

    lquido para o interstcio e/ou alvolo (edema pulmonar).

    Para Nadeau et al. (1985), o avano da idade tambm determinante para

    uma diminuio progressiva do PO2 arterial devido a reduo da densidade dos

    capilares pulmonares e da capacidade de difuso. Aos 70 anos, a PaO2 se fixa em

    torno de 75 mmHg (LYNNE-DAVIES, 1977).

    Rippe (1990) refere que o gradiente alvolo arterial de oxignio que mede a

    eficincia de transporte de oxignio, do gs alveolar para o sangue capilar arterial

    pulmonar, est aumentado no idoso. Isto pode refletir maior heterogeneidade da

    distribuio da relao ventilao/perfuso alveolar. Enquanto que numa pessoa

    com 20 anos o gradiente de 5 a 10 mm Hg, aos 70 anos corresponde 15 a 30

    mm Hg.

  • 2 Referencial Terico 38

    A maioria dos volumes pulmonares altera-se muito pouco com o

    envelhecimento. Em condies de repouso, o volume corrente (volume de ar

    inspirado ou expirado a cada ciclo respiratrio) e a freqncia respiratria mudam,

    imperceptivelmente, com o aumento da idade. No adulto, este valor est em torno

    de 5 a 8 ml/kg de peso e no idoso cai de 10 a 15% deste valor, sem que o indivduo

    esteja com alguma enfermidade. A capacidade residual funcional, que a

    quantidade de ar restante nos pulmes aps uma expirao normal, o volume de

    reserva inspiratrio que a quantidade de ar que pode ser inspirado acima do ponto

    de pico de inspirao do volume corrente e o volume de reserva expiratrio

    determinado pela quantidade de ar que pode ser expirada aps uma expirao

    normal tambm esto relativamente inalterados nos idosos. O volume residual

    quantidade de ar remanescente nos pulmes aps um esforo expiratrio completo

    altera-se relativamente pouco em idosos no-fumantes e saudveis e, aumenta

    consideravelmente em sedentrios e fumantes. A capacidade pulmonar total

    volume total de ar nos pulmes ao final de uma inspirao mxima

    permanece

    inalterada durante o envelhecimento. O fato de o volume residual aumentar significa

    que a proporo de volume residual em relao capacidade pulmonar total

    aumenta com o envelhecimento em pessoas sedentrias. Enquanto que em

    indivduos jovens, o volume residual de aproximadamente 20% da capacidade

    pulmonar total, nos idosos aumenta para aproximadamente 40%. A capacidade vital

    forada

    quantidade mxima de ar que pode ser expirada aps uma inspirao

    mxima

    diminui linearmente cerca de 4% a 5% a cada dcada de vida,

    considerando que declnios no usuais podem ser indicativos de patologias

    pulmonares (SPIRDUSO, 2005).

    Num estudo realizado por Shephard (1987), foi demonstrado que sujeitos bem

    treinados, com idades entre 40 e 45 anos, a capacidade vital forada foi a mesma do

    que quando eles tinham 20 anos.

    As medidas de funo dinmica pulmonar tais como a ventilao voluntria

    mxima, o pico de fluxo expiratrio e a quantidade de ar que pode ser expirada

    foradamente em 1 segundo diminuem com a idade (SPIRDUSO, 2005).

    Para estas alteraes de volume pulmonares mencionadas existe uma srie

    de conseqncias clnicas, tais como, a diminuio do reflexo da tosse e, com isto, a

    reteno de secrees, processos atelectsicos, o aparecimento de enfisema

  • 2 Referencial Terico 39

    pulmonar e dificuldade de troca gasosa ocasionada pela diminuio da ao

    muscular, principalmente do diafragma. As alteraes de elasticidade promovem a

    diminuio da hematose e acmulo de dixido de carbono, podendo provocar,

    segundo Rippe (1990), dores de cabea, confuso, vertigem, espasmo muscular,

    entre outras.

    Existem ainda, patologias que so adquiridas pregressamente terceira idade,

    pelos prprios hbitos dos indivduos, a exemplo do fumo e do lcool, os quais

    podem por sua vez contribuir negativamente, acelerando o processo de

    envelhecimento.

    Algumas alteraes respiratrias, descritas na literatura, podem afetar o

    condicionamento fsico do idoso, tais como: diminuio da capacidade vital, sem

    alterao na capacidade pulmonar total; diminuio do volume expiratrio forado;

    aumento no volume residual, aumento no espao morto anatmico; aumento da

    ventilao durante o exerccio; menor mobilidade da parede torcica; diminuio da

    capacidade de difuso pulmonar; perda de elasticidade do tecido pulmonar e

    decrscimo da ventilao expiratria mxima (MATSUDO e MATSUDO, 1992).

    2.3 Sistema nervoso e envelhecimento

    O crebro diminui de peso em 10%-15% no curso do envelhecimento normal,

    o que pode ocasionar srias repercusses para o funcionamento psicolgico

    (BROMLEY, 1988; STUART-HAMILTON, 2002). Existem diversas hipteses para as

    perdas celulares (neurnios), como o baixo fluxo de sangue no crebro, levando

    morte dos neurnios por falta de oxignio. A reduo do fluxo pode ser entendida

    tambm (HUNKZIKER et al., 1978) de forma contrria, entendendo-se que existe

    uma adaptao do fluxo sangneo pelo baixo nmero de neurnios. Outra hiptese

    seria o aparecimento de pequenos infartos ou derrames no crebro, que levaria a

    diminuio do aporte sangneo na rea comprometida, ocasionando a morte dos

    neurnios. Tambm como hiptese, observa-se o declnio da funo de filtrao da

    barreira hematoenceflica, o qual expe o crebro a toxinas potencialmente danosas.

    Diversos estudos com Tomografia Computadorizada, Ressonncia Magntica e

    Tomografia por Exposio de Psitrons concluem que os declnios na massa e

  • 2 Referencial Terico 40

    metabolismo cerebral relacionados ao envelhecimento esto ligados a uma

    diminuio no desempenho intelectual e na memria dos idosos (WOODRUFF-PAK,

    1997). A perda celular pode concentrar-se, particularmente, em reas cerebrais

    envolvidas na memria, como o hipocampo (GOLOMB et al., 1996).

    2.4 Funes cognitivas e envelhecimento

    Funes cognitivas so sistemas de atividades mentais integradas e

    interdependentes que se caracterizam basicamente por memria, pensamento lgico,

    capacidade de aprendizagem, ateno concentrada, linguagem, capacidade de

    reconhecimento do ambiente (gnosias), capacidade de programao lgica da

    atividade psicomotora fina (praxias) e funes executivas (STELLA, 2004).

    Para Stoppe Junior e Louz Neto (2000), o termo cognio bastante amplo

    e abrange todas as esferas do funcionamento intelectual humano. Salientam os

    autores que em estudos sobre cognio necessrio definir a rea de atuao e um

    conceito do processo cognitivo. A funo cognitiva entendida como as fases do

    processo de informao como ateno, aprendizagem, percepo, raciocnio e

    soluo de problemas, assim como o tempo de reao, tempo de movimento e

    velocidade de desempenho (SUUTUAMA e RUOPPILA, 1998).

    O processo de envelhecimento tende a apresentar algumas mudanas das

    funes cognitivas as quais so associadas s modificaes cerebrais prprias do

    envelhecimento. O desempenho cognitivo apresenta tambm suas alteraes,

    sendo que estas esto intimamente relacionadas memria. Nitrini (1996) refere

    no existirem dvidas de que o envelhecimento acompanha-se de declnio de

    algumas funes cognitivas. Talvez a reduo mais evidente seja a das funes

    perceptivo motoras, em que o desempenho comea a cair na terceira ou quarta

    dcadas de vida. No envelhecimento normal tambm ocorrem declnios da

    capacidade de percepo vsuo-espacial, da inteligncia e de funes executivas

    que envolvem anlise, escolha de estratgia adequada e correo permanente das

    tticas na soluo de problemas.

    Embora todos os processos cognitivos estejam relacionados, as alteraes de

    memria no idoso tm recebido especial ateno dos pesquisadores, e estudos

  • 2 Referencial Terico 41

    sobre a memria e envelhecimento tm priorizado a distino entre a normalidade e

    quadros patolgicos, e a forma como as alteraes se do nestes quadros (RAMOS

    e MACEDO, 2000; STOPPE JUNIOR e LOUZ NETO, 2000).

    2.5 Memria

    O termo Memria, sob o aspecto denotativo a faculdade de reter idias,

    impresses e conhecimentos adquiridos (FERREIRA, 1999). Pode definir-se, ainda,

    como a conservao e evocao de informaes adquiridas atravs de experincias

    vividas (KANDEL et al., 2000; MORGADO, 1999). De acordo com Pereira (2002),

    uma das mais importantes funes do sistema nervoso central a capacidade de

    adquirir novas informaes, sendo a expresso da memria previamente adquirida

    de vital importncia para a sobrevivncia e evoluo das espcies

    (p. 01).

    Tomaz e Costa (2001) argumentam que a partir de anlises etolgicas e

    neurobiolgicas do comportamento pode-se considerar duas classes distintas de

    memria, a Memria Filogentica e a Memria Ontogentica:

    - memria filogentica: est presente em todos os seres vivos e determina

    as caractersticas de uma espcie, resultado do processo evolutivo,

    envolve a seleo de caracteres biologicamente vantajosos ao longo de

    muitas geraes e transmitida s geraes seguintes como um

    patrimnio gentico (Darwin apud TOMAZ e COSTA, 2001), alm de

    conter informaes fundamentais para a sobrevivncia de uma espcie em

    seu meio ambiente.

    - memria ontogentica: adquirida por cada indivduo por meio de suas

    experincias cotidianas atravs do processo de aprendizagem e no

    transferida geneticamente s geraes futuras pela reproduo. Alm

    disso, ajuda o indivduo a manter-se vivo, selecionando os

    comportamentos mais apropriados em resposta aos desafios de seu meio.

    Os seres humanos e os animais vivem de acordo com o que aprendem e

    recordam de suas experincias (BEVILAQUA, 2000). As memrias no consistem

  • 2 Referencial Terico 42

    em um processo nico, variando em contedo, durao (VIANNA, 2000) e funo

    (IZQUIERDO, 2002).

    Assim, as memrias no so iguais, pois o tempo que perduram

    considerado um fator diferencial entre elas, determinando seus tipos. As memrias

    podem ser segundo este critrio, memrias de curta e de longa durao. As

    memrias de curta durao

    STM (short-term memory) so aquelas retidas por

    horas ou minutos aps o aprendizado e as de memrias de longa durao

    LTM

    (long term memory) persistem dias, anos ou mesmo uma vida inteira.

    Quanto funo, exemplifica-se a memria do trabalho (working memory),

    que diz respeito a uma reteno de curta durao, segundos ou minutos, a

    memria imediata. No deixa traos neuroqumicos ou comportamentais e no

    produz arquivos. Muitos no consideram como um tipo de memria e sim como um

    sistema gerenciador central, que mantm a informao viva durante o tempo

    necessrio para poder eventualmente ou no entrar na memria propriamente dita

    (IZQUIERDO, 2002).

    De acordo com o seu contedo, as memrias podem ser classificadas como

    declarativas ou explcitas e no declarativas, procedurais ou implcitas

    (MARKOWITSCH, 1997).

    As memrias declarativas registram fatos, eventos ou conhecimentos, sendo

    chamadas declarativas porque podem ser acessadas conscientemente e seu

    contedo pode ser fcil e rapidamente declarado, comentado e explicado. Estas,

    ainda so subdivididas em episdica e semntica. As memrias episdicas so

    referentes a eventos aos quais assistimos ou dos quais participamos, como exemplo,

    pode-se citar as lembranas do nascimento de um filho, o primeiro namorado, e as

    memrias semnticas so as de conhecimentos gerais, como a cor do mar, o

    perfume das rosas, enfim, so de ndole geral (IZQUIERDO, 2002; SOUZA 2001).

    As memrias que no podem ser declaradas conscientemente so

    denominadas implcitas ou procedurais referindo-se a um conjunto de habilidades

    que no podem ser explicitadas. So os tipos de memria que no tem conexo

    direta com a conscincia, apresentando caractersticas automticas e reflexivas e

    so adquiridas, basicamente, por meio de treinos sucessivos em uma determinada

    tarefa (BEVILAQUA, 2000). Ainda, neste contexto, pode-se referir um tipo de

  • 2 Referencial Terico 43

    memria evocada por meio de dicas (Priming), como, por exemplo, informaes da

    forma geral de um labirinto e alguns poucos centmetros do labirinto, utilizando,

    assim, somente fragmentos do conjunto para lembrar o todo (IZQUIERDO, 2002).

    Na figura 1 observa-se a classificao da memria de acordo com as classes,

    sistemas e tipos.

    FIGURA 1

    Classificao da memria (adaptado de Tomaz e Costa (2001)

    Os tipos de memria e as regies cerebrais envolvidas nas mesmas, segundo

    a classificao por contedo, so demonstrados na figura 2. Como se pode observar,

    esta classificao no parece possuir um correlato biolgico certo, sendo

    demonstrado que as estruturas participantes no armazenamento de cada um dos

    diferentes subtipos de memria no so as mesmas (BEVILAQUA, 2000).

    HBITOS

    CONDICIONAMENTO

    LONGO PRAZO

    CLASSIFICAO DA MEMRIA

    CLASSES SISTEMAS TIPOS

    FILOGENTICA

    ONTOGENTICA CURTO PRAZO

    EXPLCITA

    EPISDICA

    SEMNTICA

    IMPLCITA

    HABILIDADES

  • 2 Referencial Terico 44

    FIGURA 2

    Tipos de memria e regies do sistema nervoso central (adaptado de Squire et al., 1996)

    As estruturas envolvidas na memria declarativa so o Hipocampo, Lobos

    Temporal e Medial, enquanto que na memria no declarativa encontram-se

    envolvidas estruturas como Cerebelo, Estriado, Crtex Motor, Neocrtex, Amigdala,

    Hipocampo, Crtex entorrinal e Medula espinhal.

    A memria constitui-se num fator determinante do comportamento e leva o

    indivduo a selecionar as reaes mais apropriadas s demandas do ambiente

    (TOMAZ, 1993). O processo de formao da memria evidencia-se em diferentes

    estgios. Inicia com a aquisio da informao que chega atravs dos sentidos

    Fatos

    Eventos

    Habilidades

    Priming

    Aprendizado associativo

    Aprendizado no

    associativo

    Respostas emocionais

    Musculatura esqueltica

    Hipocampo Lobo Temporal Medial

    Estriado, Cerebelo

    Crtex motor

    Neocortex

    Amigdala Hipocampo

    Crtex entorrinal

    Cerebelo Hipocampo

    Reflexos

    M E M R I A

    DECLARATIVA (Explcita)

    NO DECLARATIVA (Implcita)

  • 2 Referencial Terico 45

    (audio, viso, tato entre outros) uma vez que se apresenta algum estmulo; essa

    informao processada pelos sistemas sensoriais e armazenada no sistema de

    memria de curto prazo. Para que esta informao perdure necessrio que seja

    transmitida para um sistema de memria mais estvel, de longo prazo, por meio de

    um processo chamado consolidao, em que, aps a aquisio da informao, o

    processo de formao da memria leva certo perodo, durante o qual as informaes

    consolidam-se gradualmente para posteriormente serem recuperadas. Esta

    recuperao se d por meio da evocao, etapa ltima na formao de memria e

    que leva consigo respostas comportamentais.

    Conforme Tomaz e Costa (2001), a consolidao da informao parece ser

    mediada por estruturas do lobo temporal (hipocampo, amgdala, crtex entorrinal e

    giro-parahipocampal). A exemplo disto observa-se o caso do paciente H.M., o qual

    teve dficit de memria aps remoo bilateral de pores do lobo temporal

    conseqente a uma cirurgia para o controle de crises epilticas. O paciente

    apresentou conservao da memria a curto prazo (por segundos ou minutos), da

    memria a longo prazo sobre eventos antigos da sua vida, mas no daqueles

    acontecidos no perodo de dois ou trs anos imediatamente precedentes a cirurgia.

    Desta forma, estabeleceu-se um quadro de amnsia antergrada total (perda

    completa da memria para os eventos acontecidos aps a leso), associada a uma

    amnsia retrgrada parcial (restrita ao perodo anterior cirurgia). Em resumo, o

    paciente H.M. perdeu a capacidade de transformar memrias de curto prazo em

    memrias de longo prazo (KANDEL et al., 2003).

    Como conseqncia dos trs processos envolvidos na formao da memria,

    caracteriza-se a aprendizagem, o que contraria a maioria dos estudiosos que

    restringem a aprendizagem ao processo de aquisio de informaes (KANDEL et

    al., 2000; MORGADO, 1999). Na verdade, no h aprendizagem sem memria, nem

    memria sem aprendizagem, estando ambos os processos intimamente ligados a

    muitos processos cerebrais como, por exemplo, a percepo sensorial (SOUZA,

    2001).

    Os mecanismos cerebrais da memria e aprendizagem, em geral, esto

    tambm associados aos processos neurais responsveis pela ateno, percepo,

    motivao e pensamentos, assim como a outros processos neuropsicolgicos, de

    forma que perturbaes nestes processos podem afetar a memria e aprendizagem.

  • 2 Referencial Terico 46

    Assim, neste estudo, torna-se evidente salientar a plasticidade neural, a qual se

    refere alteraes estruturais e funcionais nas sinapses como resultado de

    processos adaptativos do organismo. Estas adaptaes promovem alteraes na

    eficincia sinptica e podem aumentar ou diminuir a transmisso de impulsos com a

    conseqente modulao do comportamento (SOUZA, 2001). De acordo com Squire

    et al. (2004), diferentes regies do crebro, simultaneamente, processam estmulos

    do ambiente externo e interno.

    Infelizmente, a queixa familiar, de muitas pessoas mais velhas, de que a

    memria no mais o que costumava ser, em geral, justificada. A memria diminui

    na velhice, e, embora algumas reas continuem relativamente preservadas, a

    perspectiva de declnio (STUART-HAMILTON, 2002).

    Ventura e Bottino (1996) referem que comum, durante o processo de

    envelhecimento, o aparecimento de queixas relacionadas a distrbios de memria.

    Essas queixas podem ser causadas por muitos fatores, desde estresse, ansiedade,

    depresso e as chamadas demncias. Perdas na memria podem ocorrer na velhice,

    devido a alguns fatores como o estado emocional, o background socioeconmico e o

    nvel de instruo (STUART-HAMILTON, 2002). Conforme esse autor, encontra-se

    um declnio geral com a idade, na velocidade de recuperao (retardamento) das

    vrias reservas, tericas, de memria.

    De acordo com Siegler e Poon (1992), o declnio na capacidade de memria

    relacionado idade encontrado, particularmente, na memria secundria (ou de

    fixao). Apesar das diferenas individuais, o retardo nos sistemas sensrio-motores

    inevitvel com o envelhecimento, mas este retardo, aparentemente, no afeta

    sensivelmente as capacidades de memria sensorial, primria (ou imediata) ou

    terciria (ou de evocao). O envelhecimento, entretanto, exerce um profundo efeito

    na aquisio e recuperao de novas informaes na memria secundria.

    A memria do trabalho, ou operacional, mantm-se praticamente intacta ou

    apresenta discreto declnio. Embora a memria de reconhecimento esteja, em geral,

    preservada, o idoso pode apresentar certa dificuldade em lembrar-se de contedos

    recentemente aprendidos, sobretudo, quando estes se referem a situaes

    episdicas ou isoladas. Em idosos com idade muito avanada, eventualmente

    observa-se a ocorrncia de discreta dificuldade de memria imediata e de memria

    recente. Porm, h preservao da memria de longa durao. A memria

  • 2 Referencial Terico 47

    semntica mantida relativamente intacta (STELLA, 2004). O idoso preserva a

    capacidade de utilizar-se de pistas contextuais para a recordao de contedos

    registrados, e para isso estabelecer associaes entre os elementos de uma

    situao que facilitem a recordao dos contedos memorizados. Mas, o

    armazenamento de novas memrias semnticas pode ficar um pouco pior na velhice,

    o que de certa forma pode comprometer a fluncia na recuperao destes tens

    (STUART-HAMILTON, 2002; CRAIK et al., 1998).

    Stoope Junior e Louz Neto (2000) referem que diferenas individuais como

    habilidade, treinamento, nvel educacional, estilo de vida, estado de humor, etc,

    influenciam os processos mnmicos relacionados idade. Para Izquierdo (2002), o

    uso contnuo da memria desacelera ou reduz o dficit funcional da memria que

    ocorre com a idade. Diz ainda que as funes cerebrais so o exemplo

    caracterstico de que funo faz o rgo (p. 32). No referente memria, salienta

    que quanto mais se usa, menos se perde.

    O declnio no nmero e na eficincia dos neurnios significa que o sistema

    fsico de armazenamento da memria est inevitavelmente comprometido, o que

    possibilita conseqncias psicolgicas (STUART-HAMILTON, 2002). Em pesquisas

    realizadas foram encontradas mudanas anatmicas e funcionais nos lobos frontais

    e hipocampo dos idosos, sendo estas regies cerebrais envolvidas diretamente com

    a memria (HAENNINEN et al., 1997; PURCELL et al., 1998). O comprometimento

    de rgos, como o corao e pulmes, podem afetar prejudicialmente o

    desempenho psicolgico. A diminuio na eficincia dos sistemas respiratrio e

    cardiovascular restringir o suprimento de oxignio e, conseqentemente, a energia

    disponvel para o funcionamento cerebral (STUART-HAMILTON, 2002). Se em

    alguns idosos os sinais de declnio fsico pode alert-los a ter uma vida mais ativa,

    guiada pela atividade fsica, em outros, estes sinais podem lev-los depresso

    (RASQUIN, 1979).

    2.6 Memria emocional

  • 2 Referencial Terico 48

    A memria emocional tem sido foco de estudos, principalmente, em relao

    atuao da amgdala como um processador na codificao. Situaes emocionais

    do passado podem ser revividas (FRANK e TOMAZ, 2000a). A memria de eventos

    emocionantes tem uma qualidade especial que os torna mais resistentes ao

    esquecimento e esta pode estar associada aos mecanismos de sobrevivncia e de

    defesa do indivduo.

    Evidncias, tanto em animais como em humanos, mostram que a amgdala

    est envolvida em aprendizagem de eventos emocionalmente significativos. O

    estado emocional ativado interfere na consolidao da memria e provavelmente os

    eventos emocionais so codificados de tal forma a serem mais resistentes extino

    (DAVIS, 1992; LEDOUX, 1992; CAHILL e McGAUGH, 1995).

    A amgdala tem participao nos processos mnemnicos com funo

    ponderadora. Esta estrutura atua como um processador na codificao, reforando

    a conotao emocional. Este processamento responsvel por uma evocao

    apoiada por pistas sensoriais que foram associadas ao significado emocional

    (FRANK e TOMAZ, 2000a).

    McGaugh et al. (1996) referem que o envolvimento da amgdala na memria

    se deve a ao de inmeros neurotransmissores. A ao combinada de

    neurotransmissores responsvel pela modulao que o complexo amigdalide,

    juntamente com outras estruturas do sistema lmbico, como o hipocampo, pode ter

    sobre a cognio em situao de estresse, seja salientando ou inibindo a evocao.

    Eventos emocionais so memorizados melhor que eventos neutros. O benefcio de

    estmulos emocionais na memria deve-se ao estado de alerta que estes estmulos

    normalmente desencadeiam, neste caso, maior do que os desencadeados por

    estmulos neutros.

    Adolphs et al. (2005), em um estudo sobre o prejuzo na memria emocional,

    em pacientes com dano na amgdala, concluram que existe uma forte evidncia que

    a amgdala humana ajuda a focalizar a memria declarativa para estmulos

    complexos, codificados por meio de contextos emocionais, e que a falta de

    integridade da amgdala resulta num prejuzo da memria em relao aos detalhes.

    O lobo temporal medial (incluindo o hipocampo, giro parahipocampal e crtex

    entorrinal) e o tlamo medial so as estruturas principais que participam da memria

  • 2 Referencial Terico 49

    declarativa. Alm dos estudos de Adolphs et al. (2005), McGaugh et al., em 1996,

    realizaram pesquisas em humanos normais, sugerindo o envolvimento da amgdala

    com a memria emocional declarativa.

    Alguns autores (MARKOWITSCH et al., 1994; ADOLPHS et al., 1997)

    observaram que a leso bilateral circunscrita da amgdala provoca dficit em

    aspectos especficos da memria com qualidades emocionais. Estas observaes

    levantam a possibilidade de uma dissociao entre sistemas de memria emocional

    e outros sistemas de memria (FRANK e TOMAZ, 2003). Markowitsch (1998)

    relacionou o papel das duas amgdalas e observou que a amgdala esquerda est

    mais envolvida no processamento de estmulos ameaadores (em especial na

    codificao), e a amgdala direita nos processos implcitos da informao afetiva

    (aspectos no conscientes) e nas evocaes implcita e explcita de informao

    emocional. Dessa forma, o efeito da lateralidade pode variar dependendo da

    valncia do estmulo (positiva ou negativa), do tipo de memria (implcita ou explcita)

    e da operao da memria (codificao ou evocao).

    Hamann (2001) apresenta dois efeitos na formao da memria declarativa

    emocional: efeito na fase de codificao, ateno e elaborao da informao no

    estado de ativao emocional e efeito na fase de ps-codificao e consolidao,

    sendo marcada pela liberao de substncias que permitem resistncia

    interferncia e ao esquecimento. Assim, a ao da amgdala contexto-dependente,

    ou seja, depende do estado do sujeito na aquisio da informao.

    Atravs dessas investigaes, a evocao livre de informao emocional,

    tomada imediatamente aps a aprendizagem (etapa de codificao), envolve a

    ativao da amgdala esquerda e a evocao livre tardia (sensvel consolidao)

    depende mais da amgdala direita. Entretanto, os estudos ainda so inconsistentes

    para esta possibilidade (FRANK e TOMAZ, 2003).

    Aplicando testes de memria emocional, em sujeitos saudveis, atravs de

    uma estria com contedos neutros e outra com contedos emocionais, alguns

    autores (CAHILL e McGAUGH, 1995; FRANK e TOMAZ, 2000b) observaram que

    estes sujeitos apresentaram uma memria mais duradoura em partes emocionantes

    de uma estria , quando comparada histria com contedos neutros, embora o

    contedo visual das mesmas fosse o mesmo. Assim, a foto mais emocionante da

    histria parece ter sido diferencialmente guardada na memria (FRANK e TOMAZ,

  • 2 Referencial Terico 50

    2003). Atravs de estudos neuroanatmicos, observa-se que a amgdala envia

    projees a todos os nveis das vias de processamento visual, de forma mais

    acentuada que recebe. Isto demonstra o envolvimento do crtex visual no

    processamento emocional de estmulos visuais, ocorrendo provavelmente pela

    interferncia da amgdala em resposta s pistas emocionais do estmulo.

    Abrisqueta et al. (1998) realizaram um estudo com pacientes portadores da

    Doena de Alzheimer e observaram que estes no se beneficiam do teor emocional

    de estmulos visuais em comparao a estmulos neutros, embora consigam

    discriminar os itens carregados emocionalmente, destes ltimos.

    2.7 Qualidade de vida e envelhecimento

    Qualidade de vida considerada a percepo do indivduo de sua posio na

    vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive em relao aos

    seus objetivos, expectativas, padres e preocupaes (THE WHOQOL GROUP,

    GRUPO DE QUALIDADE DE VIDA DA OMS, 1995).

    Atualmente existe um crescente interesse de pesquisadores em transform-la

    numa medida quantitativa a qual possa ser utilizada em ensaios clnicos e os

    resultados obtidos possam ser comparados entre populaes e at mesmo entre

    diferentes doenas (CICONELLI et al., 1999).

    Para Evans (1994), o estudo da qualidade de vida na populao geral muito

    importante para o desenvolvimento contnuo de indicadores sociais, para o

    desenvolvimento de padres normativos de comparao e como componente focal

    de esforos para promoo da sade. Adicionalmente, a avaliao da qualidade de

    vida tem se tornado imprescindvel na obteno dos resultados de um tratamento ou

    interveno que, para anlise de determinadas doenas crnicas, considerada to

    importante quanto a morbidade e mortalidade (DINIZ e SCHOR, 2006).

    Geralmente, os autores fazem referncia necessidade de considerar vrias

    dimenses da qualidade de vida, dentre elas os aspectos fsicos, emocionais e

    sociais. Lawton (1991) construiu um modelo de qualidade de vida na velhice em que

  • 2 Referencial Terico 51

    a multiplicidade de aspectos e influncias inerentes ao fenmeno representada em

    quatro dimenses inter-relacionadas:

    - condies ambientais

    dizem respeito ao contexto fsico, ecolgico e ao

    construdo pelo homem, que influi na qualidade de vida e proporciona as

    bases para competncia adaptativa (emocional, cognitiva e

    comportamental), ou seja, o ambiente deve oferecer condies adequadas

    vida das pessoas.

    - competncia comportamental

    traduz o desempenho dos indivduos

    frente s diferentes situaes de sua vida e, portanto, depende do

    potencial de cada um, de suas experincias e condies de vida, dos

    valores agregados durante o curso da vida e do desenvolvimento pessoal

    que, por sua vez, influenciado pelo contexto histrico-cultural;

    - qualidade de vida percebida

    reflete a avaliao da prpria vida

    influenciada pelos valores que o indivduo foi agregando e pelas

    expectativas pessoais e sociais. Igualmente, a pessoa avalia as condies

    de sade, ambiente fsico e social, e a eficcia de suas aes nesse

    ambiente;

    - bem-estar subjetivo

    significa a satisfao com a prpria vida satisfao

    global e a satisfao especfica em relao a determinados aspectos da

    vida. Reflete as relaes entre condies objetivas (ambientais),

    competncia adaptativa e percepo da prpria qualidade de vida, as trs

    dimenses precedentes. medida pelos antecedentes pessoais

    (histricos, genticos e scio-econmico-culturais), pela estrutura de

    traos de personalidade e pelos seus mecanismos de auto-regulao

    (senso de significado pessoal, sentido da vida,

    religiosidade/transcendncia, senso de controle, senso de eficcia pessoal

    e adaptabilidade).

    Na avaliao da qualidade de vida, de acordo com McNeil et al. (1981),

    devem ser considerados os aspectos particulares dos indivduos na chamada viso

    de utilidade . Esses autores realizaram um estudo com indivduos normais,

    oferecendo-lhes duas opes de tratamento caso tivessem cncer de laringe tais

    como: laringectomia, com maior sobrevida; e radioterapia com o risco de menor

  • 2 Referencial Terico 52

    sobrevida, mas com a preservao da voz. Os resultados demonstraram que os dois

    grupos estudados (executivos e bombeiros) desejaram perder 14% de sua

    expectativa de vida para conservar a voz. Observaram ainda que os executivos

    (17%) dispor-se-iam a perder um percentual maior do que os bombeiros (6%),

    indicando o grau de importncia (utilidade) atribuda por eles comunicao verbal.

    Spilker (1990) refere que a interferncia dos valores individuais dos doentes

    na percepo da qualidade de vida diante de um tratamento mdico ocorre atravs

    da interpretao dos benefcios e adversidades decorrentes destes tratamentos,

    filtradas pelos seus valores, crenas e julgamentos.

    A cincia e a tecnologia modernas triunfaram ao conseguir controlar a maioria

    das doenas infecciosas e endmicas e deficincias nutricionais. O impacto positivo

    dessa importante realizao foi que muitos indivduos nascidos, atualmente, podem

    almejar viver por muito tempo. O impacto negativo de um tempo de vida mais longo,

    para estes indivduos, poder acarretar potencialmente em doenas como artrite,

    osteoporose, cardiopatias, diabetes, entre outras, muitas vezes tornando-se

    questionvel se a vida pode ser aproveitada completamente nessas condies

    mrbidas que limitam as atividades (SPIRDUSO, 2005). Em 1980, Fries relatou

    vrios estudos importantes nos quais redues significativas da morbidade foram

    alcanadas pela educao e iniciao de programas para promover a sade. As

    evidncias desses estudos mostraram que, para cada hora de exerccio por semana,

    houve uma melhora de 10% nas condies de sade relatadas, aumentando a

    qualidade de vida dos sujeitos.

    De acordo com Nri (2004), um bom modelo de qualidade de vida na velhice

    deve contemplar todas as mudanas, negativas e positivas, que vm com o

    envelhecimento. As negativas podem ser representadas pelas dependentes de

    mecanismos gentico-biolgicos, como: alterao das capacidades biomecnicas,

    por exemplo, diminuio da fora e da resistncia; alteraes nas capacidades

    sensoriais e psicomotoras; mudanas na velocidade de processamento da

    informao, que se reflete em maior lentido e preciso na tomada de decises e no

    controle da ao; prejuzos memria operacional e a memria episdica;

    diminuio da capacidade de novas aprendizagens; reduo no controle

    instrumental. Como positivas destacam-se: maior seletividade socioemocional; maior

  • 2 Referencial Terico 53

    capacidade de estabelecer prioridades; maior capacidade de administrao dos

    eventos da vida prtica; maior prudncia e preciso ao realizar tarefas.

    Spirduso (2005), fundamentado no Simpsio Measuring the Quality of Life in

    the Frail Elderly (Medindo a Qualidade de Vida nos Idosos Debilitados), em 1990,

    refere ter sido formado um consenso de onze fatores que constituem a qualidade de

    vida para idosos. Os fatores foram assim classificados: condio de sade, funo

    fsica, energia e vitalidade, funo cognitiva e emocional, satisfao de vida e

    sensao de bem-estar, funo sexual e social, recreao e condio econmica.

    Os fatores de funo cognitiva e emocional refletem o desejo de cada um de

    manter a produtividade, independncia e uma interao ativa com o meio ambiente.

    A satisfao de vida e a sensao de bem-estar representam o controle emocional e

    sade mental. A independncia financeira, embora no essencial, tem o potencial de

    melhorar a qualidade de vida. As funes social, recreativa e sexual permitem as

    pessoas enriquecerem suas vidas. Est claro tambm que a dimenso fsica, que

    inclui a sade, funo fsica, energia e vitalidade, contribui de maneira muito

    significativa para a qualidade de vida destes idosos.

    Importante destacar que dos onze fatores considerados essenciais para uma

    excelente qualidade de vida, trs esto relacionados dimenso fsica: condio de

    sade, energia e vitalidade e funo fsica. Tais fatores, que auxiliam na execuo

    de tarefas fsicas, geralmente no so valorizados por uma pessoa jovem; porm, o

    dficit no desempenho, que comea a preocupar os adultos de meia-idade, torna-se

    uma preocupao maior para os idosos jovens e cresce at se tornar a principal

    preocupao para muitos idosos.

    A capacidade fsica a base para realizar atividades da vida diria como

    caminhar, comer, tomar banho e vestir-se; tarefas relacionadas ao trabalho, como

    digitar, escrever, levantar pesos e esticar-se para pegar objetos; e participar de

    atividades esportivas e recreativas. Na figura 3 so demonstrados os fatores que

    afetam a qualidade de vida.

  • 2 Referencial Terico 54

    FIGURA 3

    Fatores que afetam a qualidade de vida (adaptado de Spirduso, 2005)

    Os fatores so demonstrados atravs de trs correlaes principais: cognitivo

    e emocional, sade e condicionamento e, social e recreativo. A condio financeira

    tambm contribui de vrias maneiras, diretas e indiretas, mas considerada menos

    importante para os idosos.

    A medida da qualidade de vida no idoso pode ser til, nas cincias da sade,

    quando se deseja avaliar a efetividade das intervenes e quando se tornam

    necessrias informaes completas para servir de apoio nas decises clnicas. Na

    esfera dos recursos sociais, a medida da qualidade de vida pode ser til para a

    realizao de comparaes entre naes e para a estimativa das necessidades e

    dos anseios da populao. Observam-se na literatura (NRI, 2004), duas escalas

    gerais e multidimencionais de qualidade de vida aplicadas ao idoso que so:

    Questionrio de Qualidade de Vida da Organizao Mundial da Sade (WHOQL),

    contendo cem questes em sua verso completa e vinte e seis na reduzida,

    Qualidade de

    vida Energia

    e vitalidade

    Funo sexual

    Funo fsica Condio de sade

    Funo social

    Atividade recreativa

    Condio financeira

    Funo emocional

    Sensao de bem-estar

    Satisfao pessoal

    Funo cognitiva

  • 2 Referencial Terico 55

    organizadas em seis domnios (fsico, psicolgico, independncia, relaes sociais,

    ambiente, espiritualidade; Quality of Life Profile do Centre of Health Promotion (Perfil

    de Qualidade de Vida do Centro de Promoo de Sade, da Universidade de

    Toronto), composto por trs domnios (ser

    auto-descrio, pertencer

    conexes

    com o ambiente e vir a ser

    metas, expectativas e aspiraes).

    Ainda relacionado avaliao da qualidade de vida do idoso, observa-se o

    predomnio de instrumentos direcionados sade, capacidade funcional,

    capacidade mental e identificao de demncia e depresso. Desses instrumentos

    mais utilizados pode-se citar as escalas apresentadas por Nri (2004), a saber:

    Escala de Katz, Barthel, Lawton e Brody, OARS (Older Americans Resources and

    Services), MAI (Multilevel Assessment Instrument), SF-36 (Short Form Health

    Survey) 1 , Geriatric Quality of Life Questionnaire, Miniexame do Estado Mental,

    Depresso Geritrica, BEHAV-AD (Behavioural Pathology in Alzheimer s Disease

    Rating Scale), Cornell Scale for Depression in Dementia, Teste do relgio (Clock

    Drawing test) , NRS (neurobehavioural Rating Scale-Sultzer), RSD (Behavior Rating

    Scale for Dementia of the CERAD), BPSD (Inventrio de Sintomas Comportamentais

    e Psicolgicos na Demncia), CDR (Clinical Dementia Rating), NPI (neuropsychiatric

    Inventory).

    Para Nri (2004), a compreenso do contedo da qualidade de vida na

    velhice central ao desenvolvimento de iniciativas de interveno, visando

    preveno e reabilitao dos idosos. Sob este aspecto, foi utilizado no presente

    estudo, o questionrio SF-36 para a avaliao da Qualidade de Vida, relacionando-a

    a prtica da interveno aplicada aos idosos da pesquisa.

    2.8 Envelhecimento e atividade fsica2

    Est amplamente descrito, na literatura, que a inatividade fsica est

    relacionada reduo de parmetros fisiolgicos capazes de afetar o estado de

    sade e manuteno da autonomia do idoso (NIH-CONSENSUS CONFERENCE,

    1996; SESSO et al., 2000; WESTERTERP, 2001) e que a atividade fsica regular

    1 Teste utilizado na pesquisa. 2 Conforme publicao de Gonalves; Tomaz e Sangoi (2006, p. 101-108).

  • 2 Referencial Terico 56

    promove melhora das capacidades funcionais (RASO et al., 1997; PETROSKI, 1997;

    OKUMA, 1998; CHIAPETA et al., 1999).

    O sedentarismo , sem dvida, um dos mais importantes pontos no estudo

    dos males que acometem a sociedade atual (De VITTA, 2001; BLAIR et al.,1996;

    PATE et al., 1995). A falta de atividade apontada como a causa de inmeros

    danos sade e tem como conseqncia direta e indireta o aparecimento de

    doenas, tais como hipertenso, obesidade, doena arterial coronariana, ansiedade,

    depresso e desconfortos msculo-esquelticos (OURIQUES e FERNANDES, 1997).

    A vida sedentria estabelece um conjunto de eventos fisiolgicos que acabam

    intensificando a diminuio da capacidade aerbia mxima, da fora muscular, das

    respostas motoras e da capacidade funcional geral. Em conjunto, esses aspectos

    resultam no somente em diminuio da capacidade fsica, mas tambm provocam

    diminuio na disposio para as tarefas dirias, mas tambm influenciaram na

    durao e na qualidade de vida dos indivduos (ACHOUR JUNIOR, 1995; HUANG et

    al., 1998; KOO e ROHAN, 1999).

    O declnio em habilidade fsica e mental, freqentemente associada com

    idade crescente em adultos, tem implicaes sociais e econmicas que afetam a

    maioria das naes. Conseqentemente, a manuteno de capacidade funcional e

    independncia da pessoa mais velha pode ser benfica, tanto para o indivduo

    quanto sociedade, sendo o exerccio fsico uma estratgia para aumentar o

    funcionamento fisiolgico na velhice. (HASSMEN et al., 1992).

    Entre as razes que levam inatividade, um dos possveis fatores o

    desconhecimento sobre como se exercitar, as finalidades de cada exerccio,

    limitaes de alguns grupos populacionais e percepes distorcidas em relao aos

    benefcios do movimento. Freqentemente considerados como equivalentes, os

    termos atividade fsica e exerccio fsico no so sinnimos. Segundo Caspersen

    et al. (1985), atividade fsica qualquer movimento corporal produzido pela

    musculatura esqueltica, que resulte em um gasto energtico maior do que os nveis

    de repouso, enquanto que exerccio fsico toda atividade fsica planejada,

    estruturada e repetitiva que tem por objetivo a melhoria e a manuteno da aptido.

    Neste estudo, aborda-se a questo da atividade e exerccio fsicos com

    equivalncia, devido a prpria inconsistncia dos autores consultados em relao

    aos termos.

  • 2 Referencial Terico 57

    Relacionando-se a estes fatos e ao processo normal de envelhecimento que

    a atividade ou o exerccio fsico tem seu objetivo. Como relata Meirelles (1997), a

    atividade fsica retarda o processo natural, atravs da manuteno de um estado

    suficientemente saudvel, possibilitando a normalizao da vida do idoso, afastando

    os fatores de risco comuns terceira idade e promovendo uma melhor qualidade de

    vida a estes indivduos. Torna-se necessrio, portanto, que a prtica fsica seja

    realizada de forma variada, divertida, havendo envolvimento social e emocional para

    que possa produzir reais benefcios sade fsica e mental dos praticantes

    (WILSON et al., 2005)

    A manuteno da sade do crebro e plasticidade ao longo da vida deve ser

    considerada uma meta importante. Na literatura j est bem evidenciado que o

    comportamento de excitao e exerccios pode auxiliar o alcance deste objetivo.

    Durante a ltima dcada, vrios estudos em humanos mostraram os benefcios do

    exerccio para a sade e funo do crebro, particularmente em idosos (COTMAN e

    BERCHTOLD, 2002).

    Nadeau et al. (1985) referem que a prtica regular de atividades fsicas

    restringe as alteraes que ocorrem com o envelhecimento. Os indivduos

    praticantes de atividades fsicas apresentam maior vitalidade, capacidade fsica e

    resistncia s doenas e ao estresse, se comparados a indivduos sedentrios. J

    Meirelles (1997) complementa que, com a prtica de atividades fsicas, ocorre

    diminuio da destruio das clulas, acarretando a diminuio da fadiga e um

    aumento da performance, com conseqente economia de perda energtica durante

    o exercci