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Marisa Pereira Gonalves
Influncia de um programa de treinamento muscular
respiratrio no desempenho cognitivo e na qualidade de
vida do idoso
Braslia, 2007
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Universidade de Braslia Faculdade de Cincias da Sade Programa de Ps-Graduao em Cincias da Sade Doutorado em Cincias da Sade
INFLUNCIA DE UM PROGRAMA DE TREINAMENTO
MUSCULAR RESPIRATRIO NO DESEMPENHO
COGNITIVO E NA QUALIDADE DE VIDA DO IDOSO
Por: Marisa Pereira Gonalves
Orientador: Prof. Dr. Carlos Alberto Bezerra Tomaz
Braslia
DF 2007
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Universidade de Braslia Faculdade de Cincias da Sade Programa de Ps-Graduao em Cincias da Sade Doutorado em Cincias da Sade
INFLUNCIA DE UM PROGRAMA DE TREINAMENTO
MUSCULAR RESPIRATRIO NO DESEMPENHO
COGNITIVO E NA QUALIDADE DE VIDA DO IDOSO
Por: Marisa Pereira Gonalves
Orientador: Prof. Dr. Carlos Alberto Bezerra Tomaz
Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Cincias da Sade, Universidade de Braslia-UNB, como parte dos requisitos para obteno do ttulo de Doutor.
Braslia
DF 2007
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Gonalves, Marisa Pereira
Influncia de um treinamento muscular respiratrio no desempenho cognitivo e na qualidade de vida do idoso / Marisa Pereira Gonalves.
2007.
247 f. : il.
Tese (doutorado)--Universidade de Braslia, 2007.
1. Idosos 2. Treinamento muscular respiratrio 3. Desempenho cognitivo 4. Qualidade de vida I. Ttulo
CDD
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MARISA PEREIRA GONALVES
INFLUNCIA DE UM PROGRAMA DE TREINAMENTO MUSCULAR RESPIRATRIO NO DESEMPENHO COGNITIVO E A QUALIDADE
DE VIDA DO IDOSO
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. Carlos Alberto Bezerra Tomaz
Presidente
Universidade de Braslia
Prof. Dr. Joaquim Pereira Brasil Neto
Universidade de Braslia
Prof. Dr. Valdir Filgueiras Pessoa
Universidade de Braslia
Prof. Dr. Jones Eduardo Agne
Universidade Federal de Santa Maria
Prof. Dr. Jos Francisco Silva Dias
Universidade Federal de Santa Maria
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DEDICATRIA
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Dedicatria
Dedico este trabalho aos meus queridos idosos!
Idosos...
Rostos e olhos enrugados, faces descoloridas...
Coraes que entesouram tanta experincia, sabedoria e bondade!
Idosos...
Muitas vezes renegados pelos amigos, pela famlia,
abandonados prpria sorte, guiados por mos estranhas,
alimentados e vestidos com dedicao por desconhecidos,
que ouvem suas histrias de outrora, narradas com um fio de voz...
Um fio de voz que traduz muita esperana no corao
de quem hoje uma criana que exibe a sua vivncia,
passeia a sua experincia, segurando a mo que o acolhe e o acaricia...
Idosos!
Idosos... No ocaso da vida, que j atravessaram tempestades e confortaram
coraes, eu quisera ser poeta para descrever a emoo
de conviver com vocs, de aprender sobre e com vocs!
Ah! Meus velhinhos, nos seus coraes a chama ainda acesa
ilumina minha pobre existncia, alimenta meu corao, alenta minha alma em
frangalhos, que sorve de seus exemplos o manancial que revigora o meu ser... Que
me impede de solenizar minhas tristezas e desencantos...
Que me desperta para sorrir... Sorrir hoje e sempre, agradecida pelos ensinamentos
que me tornaram a vida mais florida!...
Arneyde T. Marcheschi
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AGRADECIMENTOS
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Agradecimentos
A realizao deste trabalho somente foi possvel devido ao auxlio e
disponibilidade de vrias pessoas, as quais fizeram e faro para sempre parte da
minha vida e histria.
Quero inicialmente agradecer ao meu orientador, Prof. Dr. Carlos Alberto
Bezerra Tomaz, por acreditar na importncia da atuao do Fisioterapeuta nas
diferentes reas do conhecimento, pela orientao prestada na conduo deste
trabalho, pelo incentivo e pela oportunidade.
Ao Prof. Jos Francisco Silva Dias, pelo testemunho vivo da essncia, cincia
e amor pelos idosos.
Prof Ana Laura Felkel Cassiminho e Prof. Valduino Stefanel, pela amizade e
auxlio na rea de Estatstica.
Aos professores do Programa de Ps-Graduao em Cincias da Sade
(UnB), pelos ensinamentos prestados.
Ao Dr. Arnoldo Azevedo dos Santos, mdico cardiologista, pelo auxlio
inestimvel na avaliao dos idosos.
Ao Dr. Ariovaldo Fagundes, mdico pneumologista, pelo constante incentivo e
exemplo profissional, demonstrados em todos os difceis momentos que
enfrentamos durante o percurso.
Aos colegas do Programa de Doutorado, Prof Maria Saleti Vogt, Prof Nara
Maria Severo Ferraz, Prof Elhane Glass Morari Cassol, Prof Ana Lcia Cervi
Prado, Prof Ana Ftima Viero Badar e Prof Claudia Trevisan por compartilharem
comigo de todos os momentos de angstia e euforia, compatveis com a condio de
alunos de ps-graduao.
Ao Prof. Dr. Jones Agne, coordenador do Programa de Qualificao
Institucional na UFSM, pela ateno, organizao e conduo do programa.
Aos colegas do Departamento de Fisioterapia e Reabilitao e aos
Fisioterapeutas funcionrios do Hospital Universitrio de Santa Maria.
Aos meus pais, Waldir e Anita;
ao meu esposo, Srgio Ricardo;
aos meus filhos, Ricardo e Bibiana,
pela compreenso e carinho que me dispensaram neste difcil percurso.
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RESUMO
-
Resumo
INFLUNCIA DE UM PROGRAMA DE TREINAMENTO MUSCULAR
RESPIRATRIO NO DESEMPENHO COGNITIVO E NA QUALIDADE DE VIDA DO
IDOSO
A reduo da capacidade fisiolgica presente no processo do envelhecimento pode
acarretar declnios fisiolgicos marcantes na funo pulmonar e cognitiva, podendo
afetar potencialmente a qualidade de vida dos idosos. O objetivo proposto, neste
estudo, foi investigar a influncia de um programa de treinamento muscular
respiratrio especfico, no desempenho cognitivo e na melhoria da qualidade de vida
do idoso. O estudo envolveu 32 idosos voluntrios, sedentrios, normotensos,
saudveis, sem deficincia cognitiva, sem patologias pulmonares e cardiovasculares
prvias e aptos prtica de atividade fsica, com idades entre 60-78 anos, de ambos
os sexos, que foram distribudos em dois grupos: 1) Controle, que foi orientado a no
alterar suas atividades rotineiras e a no se engajar em um programa de atividade
fsica e 2) Experimental, que participou do programa de treinamento muscular
respiratrio, utilizando o equipamento Threshold e exerccios de membros
superiores com halteres, sete dias por semana, por trs meses. Os sujeitos dos dois
grupos foram avaliados inicialmente e aps o perodo de trs meses. Para a
avaliao utilizou-se um screening composto pelos testes: Peak Flow, VVM
(Ventilao Voluntria Mxima), PIM (Presso Inspiratria Mxima), PEM (Presso
Expiratria Mxima), Escala de Depresso de Hamilton, Inventrio de Ansiedade de
Beck, Mini-Exame do Estado Mental, Teste de Qualidade de Vida (SF-36), Teste de
Memria Emocional e Parmetros Bioqumicos. A comparao dos grupos aps o
perodo de estudo mostrou que o grupo experimental obteve melhora da fora e do
desempenho muscular respiratrio, reduo dos escores de depresso e ansiedade,
aumento da memria episdica e qualidade de vida, enquanto os sujeitos do grupo
controle no apresentaram alteraes positivas nos parmetros citados. Os dados
sugerem que o treinamento muscular respiratrio proporcionou a melhora da
performance respiratria, assim como, influenciou na melhora da qualidade de vida e
do desempenho cognitivo, em especial da memria declarativa (episdica) e na
diminuio dos sintomas de ansiedade e depresso dos sujeitos do grupo
experimental.
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ABSTRACT
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Abstract
INFLUENCE OF A RESPIRATORY MUSCULAR TRAINING PROGRAM IN THE
COGNITIVE PERFORMANCE AND QUALITY OF LIFE OF THE ELDERS
The reduction of the physiological capacity present in the aging process can cause
remarkable physiological and cognitive decline in the pulmonary function, which may
potentially affect the quality of life of the elders. The proposed objective, in this study,
was to investigate the influence of a program of specific respiratory muscular training,
in the cognitive performance and the improvement of the quality of life of the elders.
The study involved 32 aged volunteers, sedentary, normotense, healthy, with no
cognitive deficiency, previous pulmonary and cardiovascular pathologies and apt to
the practice of a physical activity, with ages between 60-78 years old, of both sexes,
that were distributed in two groups: 1) Control, that was guided not to modify their
daily activities and not to engage in a physical activity program and 2) Experimental,
that took part in the program of respiratory muscular training, using the Threshold
equipment and exercises for superior limbs with bar bells, seven days a week, for
three months. The individuals of the two groups were evaluated previously and after
the period of three months. For the evaluation it was used a screening composed of
the tests: Peak Flow, MVV (Maximum Voluntary Ventilation), MIP (Maximal
Inspiratory Pressure), MEP (Maximal Expiratory Pressure), The Hamilton Depression
Inventory, The Beck Anxiety Inventory, Mini Mental Status Exam, Quality of Life Test
(SF-36), The Emotional Memory Test and Biochemical Parameters. The comparison
of the two groups after the period of study showed that the experimental group had
improvement in the force and the respiratory muscular performance, reduction of
their levels of depression and anxiety, increase in the episodic memory and quality of
life, while the individuals of the control group did not present positive alterations in
the cited parameters. The data suggest that the muscular respiratory training
provided the improvement of the respiratory performance, as well as, influenced the
improvement of the quality of life and the cognitive performance, in special the
declarative memory (episodic) and the reduction of the symptoms of anxiety and
depression of the individuals of the experimental group.
-
LISTA DE TABELAS
-
Lista de tabelas
TABELA 1 - Referncia de presso (fora) muscular inspiratria e
expiratria ............................................................................
77
TABELA 2 - Resultados dos testes bioqumicos .....................................
109
TABELA 3 - Resultados dos testes de atividade de vida diria em
relao ao tempo .................................................................
117
TABELA 4 - Resultados dos testes de atividade de vida diria em
relao saturao de oxignio ......................................... 118
TABELA 5 - Resultados da comparao dos valores iniciais dos
domnios no teste SF36 entre os sujeitos depressivos e
no depressivos .................................................................. 119
TABELA 6 - Resultados da comparao intragrupos do Teste de
Qualidade de Vida SF-36 .................................................... 135
TABELA 7 - Avaliao dos parmetros bioqumicos, entre os deltas
dos grupos controle e experimental (pr e ps-
interveno) .........................................................................
136
TABELA 8 - Resultados da comparao intergrupos do Teste de
Qualidade de Vida SF-36 .................................................... 137
TABELA 9 - Resultados da comparao intergrupos dos parmetros
respiratrios e neuropsicolgicos ........................................
138
TABELA 10 - Resultados da comparao intragrupos do Teste de
Memria Emocional .............................................................
138
-
LISTA DE QUADROS
-
Lista de Quadros
QUADRO 1 - Influncia da atividade fsica regular na funo cerebral
dos idosos ........................................................................... 62
QUADRO 2 - Escalas para avaliao de ansiedade .................................
76
QUADRO 3 - Escala de referncia ........................................................... 95
QUADRO 4 - Nveis de intensidade da ansiedade ................................... 96
QUADRO 5 - Frases que acompanham os slides .................................... 99
QUADRO 6 - tens de avaliao do SF-36 ............................................... 100
QUADRO 7 - Resumo geral dos resultados ............................................. 142
-
LISTA DE FIGURAS
-
Lista de Figuras
FIGURA 1 - Classificao da memria .................................................
43
FIGURA 2 - Tipos de memria e regies do Sistema Nervoso Central 44
FIGURA 3 - Fatores que afetam a Qualidade de Vida ......................... 54
FIGURA 4 - Caractersticas do BDNF como um candidato a mediar
os benefcios do exerccio na sade mental .....................
64
FIGURA 5 - Ao do BDNF ..................................................................
64
FIGURA 6 - Mecanismos pelos quais a corrida voluntria conduz o
crebro a representar a informao significativa a partir
do meio ambiente ............................................................. 71
FIGURA 7 - O envolvimento do BDNF no aumento da representao
da informao e resistncia neural mediado pelo
exerccio ........................................................................... 71
FIGURA 8 - Equipamento Threshold ................................................ 79
FIGURA 9 - Procedimentos ..................................................................
86
FIGURA 10 - Manovacumetro utilizado para a mensurao da
Presso Inspiratria Mxima e Presso Expiratria
Mxima ............................................................................. 87
FIGURA 11 - Oxmetro ........................................................................... 90
FIGURA 12 - Espirmetro ...................................................................... 92
FIGURA 13 - Teste incremental de MMSS ............................................ 93
FIGURA 14 - Treinamento muscular ventilatrio ....................................
101
FIGURA 15 - Movimento de diagonais ...................................................
102
FIGURA 16 - Desenho da realizao do experimento ........................... 104
FIGURA 17 - Valores do Pico de Fluxo Expiratrio (mdiadesvio) no
perodo inicial e final da interveno para os dois grupos
(experimental e controle). Teste t-Student para dados
pareados ...........................................................................
110
FIGURA 18 - Valores de Ventilao Voluntria Mxima
(mdiadesvio) no perodo inicial e final da interveno
para os dois grupos (experimental e controle) ................. 111
FIGURA 19 - Valores de Presso Inspiratria Mxima (mdiadesvio)
-
no perodo inicial e final da interveno para os dois
grupos (experimental e controle). A PIM est expressa
em valores absolutos ........................................................
112
FIGURA 20 - Valores de Presso Expiratria Mxima (mdiadesvio)
no perodo inicial e final da interveno para os dois
grupos (experimental e controle) ...................................... 113
FIGURA 21 - Resultados dos valores do nmero de repeties da
primeira diagonal direita (mdiadesvio) no perodo
inicial e final da interveno para os dois grupos ............. 114
FIGURA 22 - Resultados dos valores do nmero de repeties da
segunda diagonal direita ...................................................
115
FIGURA 23 - Resultados dos valores do nmero de repeties da
primeira diagonal esquerda .............................................. 115
FIGURA 24 - Resultados dos valores do nmero de repeties da
segunda diagonal esquerda ............................................. 116
FIGURA 25 - Distncia percorrida no teste de 6 minutos
(mdiadesvio) no perodo inicial e final da interveno
para os dois grupos (experimental e controle) ................. 117
FIGURA 26 - Valores obtidos na Escala de Depresso de Hamilton
(mdiadesvio) no perodo inicial e final da interveno
para os dois grupos (experimental e controle) ................. 119
FIGURA 27 - Valores obtidos no Inventrio de Ansiedade de Beck
(mdiadesvio) no perodo inicial e final da interveno
para os dois grupos (experimental e controle) ................. 120
FIGURA 28 - Valores obtidos no Mini-Exame do Estado Mental
(mdiadesvio) no perodo inicial e final da interveno
para os dois grupos (experimental e controle) ................. 121
FIGURA 29 - Valor emocional da histria atribudo pelos grupos neutro
inicial e emocional inicial .................................................. 122
FIGURA 30 - Resultados da Escala de Valor Emocional .......................
123
FIGURA 31 - Total de acertos + pontos adicionais do Teste de
Recordao livre em comparao dos resultados finais .. 124
FIGURA 32 - Total de acertos + pontos adicionais do Teste de
-
Recordao livre em comparao dos resultados iniciais
e finais .............................................................................. 125
FIGURA 33 - Total de acertos sem a contagem dos pontos adicionais
do Teste de Recordao livre em comparao dos
resultados finais ................................................................
126
FIGURA 34 - Total de acertos sem a contagem dos pontos adicionais
do Teste de Recordao livre em comparao dos
resultados finais ................................................................
127
FIGURA 35 - Teste de Recordao Livre (Fase 1) ................................ 128
FIGURA 35a - Teste de Recordao Livre (Fase 2) ................................ 128
FIGURA 35b - Teste de Recordao Livre (Fase 3) ................................ 129
FIGURA 36 - Total de acertos do Teste de Reconhecimento em
comparao dos resultados finais .................................... 131
FIGURA 37 - Resultados do total de acertos do Teste de
Reconhecimento referente aos grupos controle e
emocional ......................................................................... 132
FIGURA 38 - Teste de Reconhecimento (Fase 1) ................................. 133
FIGURA 38a - Teste de Reconhecimento (Fase 2) ................................. 133
FIGURA 38b - Teste de Reconhecimento (Fase 3) ................................. 134
-
LISTA DE ANEXOS
-
Lista de Anexos
ANEXO A - Dados de identificao ........................................................ 186
ANEXO B - Mini-Exame do Estado Mental ............................................ 187
ANEXO C - Teste de Memria Emocional
Entrevista ..........................
188
ANEXO D - Ficha de Avaliao Geral .................................................... 189
ANEXO E - Pesquisa em Sade
Avaliao do ndice de Qualidade
de Vida
SF-36 .................................................................. 190
ANEXO F - Termo de Consentimento Livre e Informado .......................
194
ANEXO G - Testes PIM, FR, PA, FC, SpO2 .......................................... 196
ANEXO H - Teste Incremental de MMSS ...............................................
197
ANEXO I - Avaliao das Atividades de Vida Diria .............................
198
ANEXO J - Teste da Caminhada dos 6 Minutos ....................................
199
ANEXO L - Escala de Borg Dispnia/Membros Inferiores ..................... 201
ANEXO M - Inventrio de Ansiedade de Beck ....................................... 202
ANEXO N - Escala de Depresso de Hamilton ..................................... 203
ANEXO O - Teste de Memria Emocional ............................................. 209
ANEXO P - Teste de Recordao Livre (10 Dias aps a apresentao
da histria) ...........................................................................
210
ANEXO Q - Teste de Reconhecimento .................................................. 211
ANEXO R - Treinamento Muscular Respiratrio .................................... 218
ANEXO S - Treinamento de Membros Superiores .................................
219
ANEXO T - Valores Normais de Presses Respiratrias segundo
Neder et al./Valores normais de Presses Respiratrias
segundo Black & Hyatt ........................................................ 220
ANEXO U - Slides do Teste de Memria Emocional ..............................
221
ANEXO V - Pontuao do Questionrio SF-36 ...................................... 225
ANEXO X - Clculo do Escore (0-100) do SF-36 ...................................
226
ANEXO Y - Comit de tica ................................................................... 227
-
LISTA DE ABREVIATURAS
-
Lista de Abreviaturas
ACh - Acetilcolina
ACTH - Hormnio Adenocorticotrfico
AV - Avaliao
AVD - Atividades de Vida Diria
BASF. - Basfilos
BDNF - Fator Neurotrfico Derivado do Crebro
CEF - Controle Emocional Final
CEI - Controle Emocional Inicial
CHCM - Concentrao de Hemoglobina Corpuscular Mdia
cm/H2O Centmetros de gua
CNF - Controle Neutro Final
CNI - Controle Neutro Inicial
CREATIN. - Creatinina
CVF - Capacidade Vital Forada
ECG - Eletrocardiograma
EEF - Experimental Emocional Final
EEI - Experimental Emocional Inicial
ENF - Experimental Neutro Final
ENI - Experimental Neutro Inicial
EOSINF. Eosinfilos
ERITRC - Eritrcitos
FC - Freqncia Cardaca
FEF - Fluxo Expiratrio Forado
FGF2 - Fator de Crescimento Fibroblstico 2
FR - Freqncia Respiratria
FSC - Fluxo Sangneo Cerebral
GABA - cido Gama Amino Butrico
GLICO HEM. - Glico Hemoglobina
HCM - Hemoglobina Corpuscular Mdia
HDL - Lipoprotena de Alta Densidade
HEMATOCR - Hematcrito
HUSM - Hospital Universitrio de Santa Maria
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Lista de Abreviaturas 23
IGF-1 - Fator de Crescimento-1 insulin-like
LDL - Lipoprotena de Baixa Densidade
LEUCC. - Leuccitos
LINFC. - Linfcitos
LTM - Long Term Memory
LTP - Potenciao de Longa Durao
mg/dl - miligramas/decilitro
milh - Milhes
mm - Milmetros cbicos
mmHg - Milmetros de Mercrio
mMMSE - mini-exame do Estado Mental Modificado
MMSE - Mini-Exame do Estado Mental
MONCIT. - Moncitos
NE - Noradrenalina
NGE - Fator de Crescimento Neural
NMDA - N-methyl-D-aspartate
OMS - Organizao Mundial de Sade
PEM - Presso Expiratria Mxima
% - Percentual
1 DIAG D - Primeira Diagonal Direita
1 DIAG E - Primeira Diagonal Esquerda
PF - Peak Flow
PFE - Pico de Fluxo Espiratrio
pg - Picograma
PIM - Presso Inspiratria Mxima
PLAQU - Plaquetas
PaO2 - Presso Parcial de Oxignio
QV - Qualidade de Vida
RNAm - cido Ribonuclico Mensageiro
2 DIAG D - Segunda Diagonal Direita
2 DIAG E - Segunda Diagonal Esquerda
SF36 - Short Form Health Survey
SpO2 - Saturao de Oxignio
-
Lista de Abreviaturas 24
STM - Short Term Memory
T4 Livre - Tiroxina Livre
TMR - Treinamento Muscular Respiratrio
TSH - Hormnio Tireoestimulante
VCM - Volume Corpuscular Mdio
VVM - Ventilao Voluntria Mxima
WHOQL - Questionrio de Qualidade de Vida da Organizao Mundial de
Sade
-
SUMRIO
-
Sumrio
1 INTRODUO ............................................................................................ 28
1.1 Justificativa ............................................................................................. 30 1.2 Hiptese .................................................................................................. 31 1.3 Objetivos ................................................................................................. 32 1.3.1 Objetivo geral ........................................................................................ 32 1.3.2 Objetivos especficos .............................................................................
32 1.4 Relevncia do estudo .............................................................................
32
2 REFERENCIAL TERICO ..........................................................................
34
2.1 Envelhecimento ...................................................................................... 35 2.2 Envelhecimento e sistema respiratrio ................................................
36 2.3 Sistema nervoso e envelhecimento ......................................................
39 2.4 Funes cognitivas e envelhecimento ................................................. 40 2.5 Memria ................................................................................................... 41 2.6 Memria emocional ................................................................................ 47 2.7 Qualidade de vida e envelhecimento ....................................................
50 2.8 Envelhecimento e atividade fsica ........................................................ 55 2.9 Memria e exerccio ............................................................................... 62 2.9.1 Exerccios e neurotransmissores .......................................................... 67 2.9.2 Expresso do gene BDNF (fator neurotrfico derivado do crebro) ..... 68 2.10 Exerccios agudos e crnicos ............................................................. 72 2.11 Depresso e ansiedade ........................................................................
73 2.12 Programa de treinamento dos msculos respiratrios .................... 76 2.12.1 Treinamento dos msculos ventilatrios inspiratrios ......................... 77 2.12.2 Treinamento de membros superiores ..................................................
79 2.12.3 Treinamento de fora para idosos ....................................................... 80
3 MTODOS .................................................................................................. 82
3.1 Caracterizao do estudo ...................................................................... 83 3.2 Local da pesquisa e populao ............................................................ 83 3.3 Amostra ................................................................................................... 83 3.4 Coleta de dados ...................................................................................... 84 3.5 Procedimentos ........................................................................................
84 3.5.1 Triagem ................................................................................................. 84 3.5.2 Testes de avaliao dos sujeitos aptos para o estudo ..........................
86 3.6 Anlise dos resultados obtidos ............................................................ 102 3.7 Aspectos ticos ...................................................................................... 103 3.8 Desenho da realizao do experimento ............................................... 104
4 LIMITAES DO ESTUDO ........................................................................ 105
5 RESULTADOS ............................................................................................ 107
5.1 Caracterizao da amostra .................................................................... 108 5.2 Comparao do desempenho pr e ps-interveno ......................... 108 5.2.1 Parmetros bioqumicos ........................................................................ 108 5.2.2 Parmetros respiratrios ....................................................................... 110
-
Sumrio 27
5.2.3 Atividades da vida diria ........................................................................
117
5.2.4 Parmetros neuropsicolgicos .............................................................. 118 5.2.5 Qualidade de vida
SF 36 .................................................................... 135
5.3 Comparao dos efeitos da interveno ............................................. 136 5.3.1 Parmetros bioqumicos ........................................................................ 136 5.3.2 Qualidade de vida ..................................................................................
137
5.3.3 Parmetros respiratrios e neuropsicolgicos ...................................... 137
6 DISCUSSO ............................................................................................... 140
CONSIDERAES FINAIS ........................................................................... 160
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .............................................................. 163
ANEXOS .........................................................................................................
185
PUBLICAES ..............................................................................................
229
-
1 INTRODUO
-
1 Introduo 29
De acordo com a Organizao Mundial da Sade (OMS), so considerados
idosos todos os indivduos com idade igual ou superior a 60 anos. As estatsticas
revelam que mais da metade dos indivduos acima dessa idade vivem em pases de
terceiro mundo. No Brasil, esse nmero superior a 15 milhes de pessoas e
mostra-se progressivamente crescente, praticamente dobrando a cada 20 anos
(IBGE, 2000). Pensa-se que em razo disto dever haver uma modificao no
comportamento da sociedade, subsidiando maior interesse ao estudo do
envelhecimento, proporcionando novas concepes cujo objetivo seja melhorar a
qualidade de vida destas pessoas.
O estudo do processo de envelhecimento muito complexo, abrangendo
diferentes reas da cincia. Embora sendo de interesse comum a todos os seres
humanos, a sistematizao desse processo muito recente. Dessa ltima dcada
que provm trabalhos e pesquisas mais especficas, mas ainda de entendimento
limitado a respeito desse assunto.
Classificado pelos gerontologistas como diminuio da capacidade de
sobrevivncia do organismo, observa-se que as principais dificuldades neste campo
consistem em separar o processo biolgico do envelhecimento, das doenas
associadas, dos fatores ambientais e do fator desuso. Mesmo assim, as pesquisas
sobre o envelhecimento vm se multiplicando e a busca por marcadores biolgicos
do envelhecimento e melhora das condies de vida ganham nfase na literatura
mundial. Apesar desses estudos, a indicao de determinadas atividades, que visam
influir na quantidade e qualidade de vida do idoso, ainda no oferecem comprovao
objetiva de seus benefcios sobre determinados rgos ou funes.
Neste estudo, busca-se discutir o processo de envelhecimento humano, no
mbito da funo pulmonar e cognitiva, enfocando a influncia de um programa de
treinamento respiratrio no desempenho cognitivo, em particular na memria e na
qualidade de vida do idoso.
-
1 Introduo 30
1.1 Justificativa
Com um respiro inicia-se e conclui-se a vida de cada ser e entre estes dois
momentos desenvolve-se a existncia humana, da qual a respirao constitui-se a
corda natural vital (STRAUSS, 1977). E quantos percebem a importncia de respirar
corretamente em todas as fases de sua existncia? Respirar natural e corretamente
parece ser, nessa poca, um privilgio de poucos. Com o passar do tempo, alm
das alteraes adquiridas no meio em que vivem, os indivduos ainda sofrem
declnios fisiolgicos marcantes na sua funo pulmonar. Dentre esses, incluem-se a
diminuio da fora dos msculos respiratrios, refletindo na intolerncia ao
exerccio fsico e alteraes no desempenho cognitivo.
As perdas cognitivas e as disfunes fsicas, decorrentes do envelhecimento,
contribuem para maior reduo da independncia do idoso. Essas alteraes em
cadeia refletem-se nos domnios sociais e psicolgicos, interferindo na qualidade de
vida desses indivduos (PHILLIPS e HASKELL, 1995).
De acordo com Izquierdo (2002, p. 77), a senilidade acompanhada de um
enfraquecimento geral dos diversos tipos de memria. Isto se deve perda neuronal
que se manifesta por meio de uma perda de funo . Aliada a isso, a depresso
uma doena de incidncia elevada na velhice, manifestada em sua incapacidade
fsica crescente e no enfraquecimento de seus poderes cognitivos, principalmente da
memria.
Existem diversos estudos sobre o exerccio aerbico e a funo cognitiva
demonstrando seus benefcios (PERRI e TEMPLER, 1984; MOLLOY et al., 1988;
ALREADY et al., 1991; FABRE et al., 2002; TOMPOROWSKI, 2003; MCDOWELL et
al., 2003; CHAN et al., 2005), mas nenhum deles inclui na sua metodologia, o
treinamento muscular respiratrio especfico. Adicionalmente, alguns estudos
demonstraram o incremento da fora e desempenho dos msculos ventilatrios,
atravs do treinamento muscular respiratrio especfico, levando ao aumento da
tolerncia ao exerccio e a melhora da qualidade de vida (LEITH e BRADLEY, 1976;
MANCINI et al., 1991; WEINER et al., 2002), apesar desses no investigarem
alteraes no desempenho cognitivo.
-
1 Introduo 31
Nesse sentido, apresenta-se o problema desta pesquisa, que responder a
seguinte questo: Um treinamento muscular respiratrio pode melhorar a
capacidade funcional do idoso no seu desempenho cognitivo e na sua qualidade de
vida?
A Qualidade de Vida, neste estudo, analisada atravs do Questionrio de
Qualidade de Vida SF-36 e por testes especficos de Atividades de Vida Diria
(AVDs) e, o Desempenho Cognitivo, pelos testes Mini-mental, Inventrio de
Ansiedade de Beck, Escala de Depresso de Hamilton e o Teste de Memria
Emocional, observando que neste ltimo h evidncias na literatura de que a
ativao emocional influencia na reteno da memria a longo prazo (FRANK e
TOMAZ, 2003). Tal ativao emocional ocasiona mudanas no indivduo, as quais
podem gerar uma melhora no desempenho do idoso que se manifesta num melhor
enfrentamento de situaes novas, de ameaas e de sobrevivncia.
Embora um instrumento para avaliar a cognio de um indivduo deva levar
em conta os vrios componentes da funo intelectual, ou seja, o nvel de
conscincia e de ateno, a linguagem, a memria, o julgamento, a abstrao e
habilidade construtiva (STRUB e BLACK, 1980), o enfoque deste estudo, em relao
ao desempenho cognitivo, considerando a originalidade do tema, est relacionado
avaliao da Memria Emocional, pois ainda no existem estudos correlacionando
esse componente com a prtica de treinamento muscular respiratrio especfico.
Salientando a importncia desta pesquisa, considera-se necessria a criao
de uma conscincia livre e transparente dos processos de envelhecimento, suas
causas, seus efeitos e, paralelamente, a construo de um ambiente para que se
possa usufruir deste perodo da vida com prazer integral, tranqila dignidade e plena
atividade (MEIRELLES, 1997).
1.2 Hiptese
Um treinamento muscular respiratrio melhora a ventilao pulmonar e,
conseqentemente, o aumento do aporte de oxignio ao crebro, levando melhora
do desempenho cognitivo e da qualidade de vida dos idosos.
-
1 Introduo 32
1.3 Objetivos
1.3.1 Objetivo geral
Investigar a influncia de um programa de treinamento muscular respiratrio
especfico no desempenho cognitivo e na melhora da qualidade de vida do idoso.
1.3.2 Objetivos especficos
- Testar a eficincia do programa de Treinamento Muscular Respiratrio
(TMR) na fora dos msculos inspiratrios;
- Verificar o efeito do programa TMR, atravs da avaliao da memria
emocional do idoso (reprodutibilidade da potenciao mnemnica induzida
por contedos emocionais alertadores e neutros), da ansiedade e da
depresso, evidenciada na modificao do seu desempenho cognitivo;
- Relacionar a aplicao do programa de TMR com a melhoria da qualidade
de vida do idoso;
- Mensurar e comparar parmetros bioqumicos antes e aps o programa
TRM.
1.4 Relevncia do estudo
A importncia deste trabalho baseia-se no fato de que estudos sobre as
questes do envelhecimento representam perspectivas de um futuro melhor e de
maior qualidade para a populao idosa. Poucos estudos tm sido realizados
associando a atividade fsica e a funo cognitiva e, especificamente, o treinamento
aerbico e a memria emocional. Entendendo ser de suma importncia a atividade
fsica, especialmente para esta faixa etria, props-se esta investigao
experimental, visando entender as relaes entre as funes respiratrias e
-
1 Introduo 33
cognitivas. E, atravs desta metodologia, fechando algumas lacunas do
conhecimento, propor uma assistncia inovadora para um envelhecimento saudvel,
no mbito da terceira idade.
-
2 REFERENCIAL TERICO
-
2 Referencial Terico 35
Neste referencial so abordados assuntos como o envelhecimento humano,
envelhecimento e o sistema respiratrio, funes cognitivas e envelhecimento,
envelhecimento e qualidade de vida, o programa de treinamento muscular
respiratrio que serviu de base para este estudo e os mtodos de avaliao
utilizados.
2.1 Envelhecimento
Para Gomes e Ferreira (1985), o envelhecimento considerado um processo
biolgico bsico, onde o ser evolui continuamente da concepo at a morte.
Spirduso (2005) diz que o termo envelhecimento usado para referir-se a um
processo ou a um conjunto de processos que ocorrem em organismos vivos e que,
com o passar do tempo, levam a uma perda de adaptabilidade, deficincia funcional
e finalmente, morte.
Vrias modificaes so impostas no organismo humano pela senilidade.
medida que o indivduo envelhece, diversos rgos e tecidos diminuem sua
capacidade funcional. Estas alteraes so inevitveis e no podem ser associadas
a um estado de doena , pois possvel encontrar pessoas idosas plenamente
saudveis, segundo o que relatam Neto e Ponte (1996).
O organismo humano, com o avanar da idade, entra em lento processo de
degenerao (AMORIM et al., 2002), acarretando a perda gradual da capacidade
funcional e levando o idoso incapacidade para realizar as atividades de vida diria.
Ocorrem perdas no domnio cognitivo e disfunes fsicas, as quais contribuem para
a reduo da sua independncia (OKUMA, 1997). importante salientar a existncia
de alteraes visuais, auditivas, distrbios de humor e prejuzos cognitivos,
principalmente os dficits de memria (MAZZEO et al., 1998; ANTUNES, 2003).
O envelhecimento fisiolgico apresenta quatro caractersticas: universal,
progressivo, declinante e intrnseco. A universalidade separa o envelhecimento dos
processos patolgicos e o identifica como fenmeno normal. progressivo e
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2 Referencial Terico 36
declinante, porque se apresenta reduzida a capacidade do organismo para reagir
frente ao meio ambiente, relacionando-se provavelmente com o maior risco de morte
com os avanos da idade. Ocorre nestes casos, perdas funcionais importantes que
vo desde a diminuio da massa celular ativa, diminuio do tempo de conduo
neuronal, diminuio da fixao de oxignio, modificaes vasculares, diminuio
das capacidades pulmonares, entre outros. um processo considerado individual,
pois as manifestaes envelhecedoras se estabelecem diferentemente de pessoa
para pessoa.
No idoso, a deteriorao do desempenho fsico est intimamente ligada s
alteraes da funo neuromuscular, osteoarticular e do sistema de transporte de
oxignio. Salienta-se, neste aspecto, as alteraes do sistema respiratrio e
cognio, por serem objetos principais desse estudo, embora haja uma ntima
relao com as demais funes, observando que os processos de envelhecimento
social, biolgico e psicolgico no ocorrem independentemente um do outro
(STUART-HAMILTON, 2002).
2.2 Envelhecimento e sistema respiratrio
O ato respiratrio vital para o homem, pois, graas a ele, o oxignio alcana
os tecidos orgnicos e o dixido de carbono se elimina do organismo. O pulmo o
rgo responsvel pela ventilao e, conseqentemente est relacionado ao
transporte de oxignio.
Segundo Gomes e Ferreira (1985), o pulmo o rgo que melhor permite
avaliar o processo de envelhecimento em evoluo, pelas modificaes verificadas
em seus parmetros. Pode-se facilmente observar as alteraes de origem
osteoarticular e problemas de calcificao que diminuem sobremaneira a
expansibilidade deste rgo durante o ato respiratrio.
Observa-se a deposio de clcio no sistema osteocartilaginoso,
principalmente nas cartilagens costovertebrais, condroesternais e discos
intervertebrais. Este fato pode acarretar uma discreta cifose, as costelas tornam-se
mais rgidas e o indivduo adquire uma postura de semi-expirao, provocando
diminuio do movimento do gradil costal, diminuindo a expanso da caixa torcica.
-
2 Referencial Terico 37
O sistema muscular tambm sofre alteraes, as quais so manifestadas pela atonia
e hipotrofia da musculatura.
Ainda para o mesmo autor, no indivduo jovem, existe predominncia de fibras
elsticas em relao ao colgeno. Esta relao inverte com o envelhecimento onde,
o colgeno sobrepe-se as fibras elsticas. Quando este fato associado a nveis
de desidratao e de aterosclerose, ocorre atrofia do parnquima pulmonar,
podendo ocasionar intrinsecamente o desaparecimento de alguns septos alveolares,
com isto determinando maior insuflao alveolar.
A diminuio do dimetro bronquiolar tambm uma alterao evidente,
determinando, assim, um aumento da resistncia area, o que pode ser explicado
pela diminuio dos ndices de fluxo expiratrio com a progresso da idade.
Ocorre uma diminuio da superfcie alveolar, estimada em 4% por dcada,
com diminuio do nmero de alvolos por unidade de volume. O aumento do
nmero e tamanho das comunicaes interalveolares (poros de Kohn) contribui para
essa perda do tecido alveolar (PUMP, 1976).
O sistema linftico pulmonar tem funo de manter o espao alveolar sem
lquido que interfira nas trocas gasosas. Este sistema tambm sofre alteraes com
a idade, onde se observa a diminuio dos calibres dos vasos linfticos e, associado
a isto, ocorre menor reabsoro da protena do lquido intersticial e elevao da
presso onctica. Em casos de rpida hidratao pode ocorrer extravasamento de
lquido para o interstcio e/ou alvolo (edema pulmonar).
Para Nadeau et al. (1985), o avano da idade tambm determinante para
uma diminuio progressiva do PO2 arterial devido a reduo da densidade dos
capilares pulmonares e da capacidade de difuso. Aos 70 anos, a PaO2 se fixa em
torno de 75 mmHg (LYNNE-DAVIES, 1977).
Rippe (1990) refere que o gradiente alvolo arterial de oxignio que mede a
eficincia de transporte de oxignio, do gs alveolar para o sangue capilar arterial
pulmonar, est aumentado no idoso. Isto pode refletir maior heterogeneidade da
distribuio da relao ventilao/perfuso alveolar. Enquanto que numa pessoa
com 20 anos o gradiente de 5 a 10 mm Hg, aos 70 anos corresponde 15 a 30
mm Hg.
-
2 Referencial Terico 38
A maioria dos volumes pulmonares altera-se muito pouco com o
envelhecimento. Em condies de repouso, o volume corrente (volume de ar
inspirado ou expirado a cada ciclo respiratrio) e a freqncia respiratria mudam,
imperceptivelmente, com o aumento da idade. No adulto, este valor est em torno
de 5 a 8 ml/kg de peso e no idoso cai de 10 a 15% deste valor, sem que o indivduo
esteja com alguma enfermidade. A capacidade residual funcional, que a
quantidade de ar restante nos pulmes aps uma expirao normal, o volume de
reserva inspiratrio que a quantidade de ar que pode ser inspirado acima do ponto
de pico de inspirao do volume corrente e o volume de reserva expiratrio
determinado pela quantidade de ar que pode ser expirada aps uma expirao
normal tambm esto relativamente inalterados nos idosos. O volume residual
quantidade de ar remanescente nos pulmes aps um esforo expiratrio completo
altera-se relativamente pouco em idosos no-fumantes e saudveis e, aumenta
consideravelmente em sedentrios e fumantes. A capacidade pulmonar total
volume total de ar nos pulmes ao final de uma inspirao mxima
permanece
inalterada durante o envelhecimento. O fato de o volume residual aumentar significa
que a proporo de volume residual em relao capacidade pulmonar total
aumenta com o envelhecimento em pessoas sedentrias. Enquanto que em
indivduos jovens, o volume residual de aproximadamente 20% da capacidade
pulmonar total, nos idosos aumenta para aproximadamente 40%. A capacidade vital
forada
quantidade mxima de ar que pode ser expirada aps uma inspirao
mxima
diminui linearmente cerca de 4% a 5% a cada dcada de vida,
considerando que declnios no usuais podem ser indicativos de patologias
pulmonares (SPIRDUSO, 2005).
Num estudo realizado por Shephard (1987), foi demonstrado que sujeitos bem
treinados, com idades entre 40 e 45 anos, a capacidade vital forada foi a mesma do
que quando eles tinham 20 anos.
As medidas de funo dinmica pulmonar tais como a ventilao voluntria
mxima, o pico de fluxo expiratrio e a quantidade de ar que pode ser expirada
foradamente em 1 segundo diminuem com a idade (SPIRDUSO, 2005).
Para estas alteraes de volume pulmonares mencionadas existe uma srie
de conseqncias clnicas, tais como, a diminuio do reflexo da tosse e, com isto, a
reteno de secrees, processos atelectsicos, o aparecimento de enfisema
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2 Referencial Terico 39
pulmonar e dificuldade de troca gasosa ocasionada pela diminuio da ao
muscular, principalmente do diafragma. As alteraes de elasticidade promovem a
diminuio da hematose e acmulo de dixido de carbono, podendo provocar,
segundo Rippe (1990), dores de cabea, confuso, vertigem, espasmo muscular,
entre outras.
Existem ainda, patologias que so adquiridas pregressamente terceira idade,
pelos prprios hbitos dos indivduos, a exemplo do fumo e do lcool, os quais
podem por sua vez contribuir negativamente, acelerando o processo de
envelhecimento.
Algumas alteraes respiratrias, descritas na literatura, podem afetar o
condicionamento fsico do idoso, tais como: diminuio da capacidade vital, sem
alterao na capacidade pulmonar total; diminuio do volume expiratrio forado;
aumento no volume residual, aumento no espao morto anatmico; aumento da
ventilao durante o exerccio; menor mobilidade da parede torcica; diminuio da
capacidade de difuso pulmonar; perda de elasticidade do tecido pulmonar e
decrscimo da ventilao expiratria mxima (MATSUDO e MATSUDO, 1992).
2.3 Sistema nervoso e envelhecimento
O crebro diminui de peso em 10%-15% no curso do envelhecimento normal,
o que pode ocasionar srias repercusses para o funcionamento psicolgico
(BROMLEY, 1988; STUART-HAMILTON, 2002). Existem diversas hipteses para as
perdas celulares (neurnios), como o baixo fluxo de sangue no crebro, levando
morte dos neurnios por falta de oxignio. A reduo do fluxo pode ser entendida
tambm (HUNKZIKER et al., 1978) de forma contrria, entendendo-se que existe
uma adaptao do fluxo sangneo pelo baixo nmero de neurnios. Outra hiptese
seria o aparecimento de pequenos infartos ou derrames no crebro, que levaria a
diminuio do aporte sangneo na rea comprometida, ocasionando a morte dos
neurnios. Tambm como hiptese, observa-se o declnio da funo de filtrao da
barreira hematoenceflica, o qual expe o crebro a toxinas potencialmente danosas.
Diversos estudos com Tomografia Computadorizada, Ressonncia Magntica e
Tomografia por Exposio de Psitrons concluem que os declnios na massa e
-
2 Referencial Terico 40
metabolismo cerebral relacionados ao envelhecimento esto ligados a uma
diminuio no desempenho intelectual e na memria dos idosos (WOODRUFF-PAK,
1997). A perda celular pode concentrar-se, particularmente, em reas cerebrais
envolvidas na memria, como o hipocampo (GOLOMB et al., 1996).
2.4 Funes cognitivas e envelhecimento
Funes cognitivas so sistemas de atividades mentais integradas e
interdependentes que se caracterizam basicamente por memria, pensamento lgico,
capacidade de aprendizagem, ateno concentrada, linguagem, capacidade de
reconhecimento do ambiente (gnosias), capacidade de programao lgica da
atividade psicomotora fina (praxias) e funes executivas (STELLA, 2004).
Para Stoppe Junior e Louz Neto (2000), o termo cognio bastante amplo
e abrange todas as esferas do funcionamento intelectual humano. Salientam os
autores que em estudos sobre cognio necessrio definir a rea de atuao e um
conceito do processo cognitivo. A funo cognitiva entendida como as fases do
processo de informao como ateno, aprendizagem, percepo, raciocnio e
soluo de problemas, assim como o tempo de reao, tempo de movimento e
velocidade de desempenho (SUUTUAMA e RUOPPILA, 1998).
O processo de envelhecimento tende a apresentar algumas mudanas das
funes cognitivas as quais so associadas s modificaes cerebrais prprias do
envelhecimento. O desempenho cognitivo apresenta tambm suas alteraes,
sendo que estas esto intimamente relacionadas memria. Nitrini (1996) refere
no existirem dvidas de que o envelhecimento acompanha-se de declnio de
algumas funes cognitivas. Talvez a reduo mais evidente seja a das funes
perceptivo motoras, em que o desempenho comea a cair na terceira ou quarta
dcadas de vida. No envelhecimento normal tambm ocorrem declnios da
capacidade de percepo vsuo-espacial, da inteligncia e de funes executivas
que envolvem anlise, escolha de estratgia adequada e correo permanente das
tticas na soluo de problemas.
Embora todos os processos cognitivos estejam relacionados, as alteraes de
memria no idoso tm recebido especial ateno dos pesquisadores, e estudos
-
2 Referencial Terico 41
sobre a memria e envelhecimento tm priorizado a distino entre a normalidade e
quadros patolgicos, e a forma como as alteraes se do nestes quadros (RAMOS
e MACEDO, 2000; STOPPE JUNIOR e LOUZ NETO, 2000).
2.5 Memria
O termo Memria, sob o aspecto denotativo a faculdade de reter idias,
impresses e conhecimentos adquiridos (FERREIRA, 1999). Pode definir-se, ainda,
como a conservao e evocao de informaes adquiridas atravs de experincias
vividas (KANDEL et al., 2000; MORGADO, 1999). De acordo com Pereira (2002),
uma das mais importantes funes do sistema nervoso central a capacidade de
adquirir novas informaes, sendo a expresso da memria previamente adquirida
de vital importncia para a sobrevivncia e evoluo das espcies
(p. 01).
Tomaz e Costa (2001) argumentam que a partir de anlises etolgicas e
neurobiolgicas do comportamento pode-se considerar duas classes distintas de
memria, a Memria Filogentica e a Memria Ontogentica:
- memria filogentica: est presente em todos os seres vivos e determina
as caractersticas de uma espcie, resultado do processo evolutivo,
envolve a seleo de caracteres biologicamente vantajosos ao longo de
muitas geraes e transmitida s geraes seguintes como um
patrimnio gentico (Darwin apud TOMAZ e COSTA, 2001), alm de
conter informaes fundamentais para a sobrevivncia de uma espcie em
seu meio ambiente.
- memria ontogentica: adquirida por cada indivduo por meio de suas
experincias cotidianas atravs do processo de aprendizagem e no
transferida geneticamente s geraes futuras pela reproduo. Alm
disso, ajuda o indivduo a manter-se vivo, selecionando os
comportamentos mais apropriados em resposta aos desafios de seu meio.
Os seres humanos e os animais vivem de acordo com o que aprendem e
recordam de suas experincias (BEVILAQUA, 2000). As memrias no consistem
-
2 Referencial Terico 42
em um processo nico, variando em contedo, durao (VIANNA, 2000) e funo
(IZQUIERDO, 2002).
Assim, as memrias no so iguais, pois o tempo que perduram
considerado um fator diferencial entre elas, determinando seus tipos. As memrias
podem ser segundo este critrio, memrias de curta e de longa durao. As
memrias de curta durao
STM (short-term memory) so aquelas retidas por
horas ou minutos aps o aprendizado e as de memrias de longa durao
LTM
(long term memory) persistem dias, anos ou mesmo uma vida inteira.
Quanto funo, exemplifica-se a memria do trabalho (working memory),
que diz respeito a uma reteno de curta durao, segundos ou minutos, a
memria imediata. No deixa traos neuroqumicos ou comportamentais e no
produz arquivos. Muitos no consideram como um tipo de memria e sim como um
sistema gerenciador central, que mantm a informao viva durante o tempo
necessrio para poder eventualmente ou no entrar na memria propriamente dita
(IZQUIERDO, 2002).
De acordo com o seu contedo, as memrias podem ser classificadas como
declarativas ou explcitas e no declarativas, procedurais ou implcitas
(MARKOWITSCH, 1997).
As memrias declarativas registram fatos, eventos ou conhecimentos, sendo
chamadas declarativas porque podem ser acessadas conscientemente e seu
contedo pode ser fcil e rapidamente declarado, comentado e explicado. Estas,
ainda so subdivididas em episdica e semntica. As memrias episdicas so
referentes a eventos aos quais assistimos ou dos quais participamos, como exemplo,
pode-se citar as lembranas do nascimento de um filho, o primeiro namorado, e as
memrias semnticas so as de conhecimentos gerais, como a cor do mar, o
perfume das rosas, enfim, so de ndole geral (IZQUIERDO, 2002; SOUZA 2001).
As memrias que no podem ser declaradas conscientemente so
denominadas implcitas ou procedurais referindo-se a um conjunto de habilidades
que no podem ser explicitadas. So os tipos de memria que no tem conexo
direta com a conscincia, apresentando caractersticas automticas e reflexivas e
so adquiridas, basicamente, por meio de treinos sucessivos em uma determinada
tarefa (BEVILAQUA, 2000). Ainda, neste contexto, pode-se referir um tipo de
-
2 Referencial Terico 43
memria evocada por meio de dicas (Priming), como, por exemplo, informaes da
forma geral de um labirinto e alguns poucos centmetros do labirinto, utilizando,
assim, somente fragmentos do conjunto para lembrar o todo (IZQUIERDO, 2002).
Na figura 1 observa-se a classificao da memria de acordo com as classes,
sistemas e tipos.
FIGURA 1
Classificao da memria (adaptado de Tomaz e Costa (2001)
Os tipos de memria e as regies cerebrais envolvidas nas mesmas, segundo
a classificao por contedo, so demonstrados na figura 2. Como se pode observar,
esta classificao no parece possuir um correlato biolgico certo, sendo
demonstrado que as estruturas participantes no armazenamento de cada um dos
diferentes subtipos de memria no so as mesmas (BEVILAQUA, 2000).
HBITOS
CONDICIONAMENTO
LONGO PRAZO
CLASSIFICAO DA MEMRIA
CLASSES SISTEMAS TIPOS
FILOGENTICA
ONTOGENTICA CURTO PRAZO
EXPLCITA
EPISDICA
SEMNTICA
IMPLCITA
HABILIDADES
-
2 Referencial Terico 44
FIGURA 2
Tipos de memria e regies do sistema nervoso central (adaptado de Squire et al., 1996)
As estruturas envolvidas na memria declarativa so o Hipocampo, Lobos
Temporal e Medial, enquanto que na memria no declarativa encontram-se
envolvidas estruturas como Cerebelo, Estriado, Crtex Motor, Neocrtex, Amigdala,
Hipocampo, Crtex entorrinal e Medula espinhal.
A memria constitui-se num fator determinante do comportamento e leva o
indivduo a selecionar as reaes mais apropriadas s demandas do ambiente
(TOMAZ, 1993). O processo de formao da memria evidencia-se em diferentes
estgios. Inicia com a aquisio da informao que chega atravs dos sentidos
Fatos
Eventos
Habilidades
Priming
Aprendizado associativo
Aprendizado no
associativo
Respostas emocionais
Musculatura esqueltica
Hipocampo Lobo Temporal Medial
Estriado, Cerebelo
Crtex motor
Neocortex
Amigdala Hipocampo
Crtex entorrinal
Cerebelo Hipocampo
Reflexos
M E M R I A
DECLARATIVA (Explcita)
NO DECLARATIVA (Implcita)
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2 Referencial Terico 45
(audio, viso, tato entre outros) uma vez que se apresenta algum estmulo; essa
informao processada pelos sistemas sensoriais e armazenada no sistema de
memria de curto prazo. Para que esta informao perdure necessrio que seja
transmitida para um sistema de memria mais estvel, de longo prazo, por meio de
um processo chamado consolidao, em que, aps a aquisio da informao, o
processo de formao da memria leva certo perodo, durante o qual as informaes
consolidam-se gradualmente para posteriormente serem recuperadas. Esta
recuperao se d por meio da evocao, etapa ltima na formao de memria e
que leva consigo respostas comportamentais.
Conforme Tomaz e Costa (2001), a consolidao da informao parece ser
mediada por estruturas do lobo temporal (hipocampo, amgdala, crtex entorrinal e
giro-parahipocampal). A exemplo disto observa-se o caso do paciente H.M., o qual
teve dficit de memria aps remoo bilateral de pores do lobo temporal
conseqente a uma cirurgia para o controle de crises epilticas. O paciente
apresentou conservao da memria a curto prazo (por segundos ou minutos), da
memria a longo prazo sobre eventos antigos da sua vida, mas no daqueles
acontecidos no perodo de dois ou trs anos imediatamente precedentes a cirurgia.
Desta forma, estabeleceu-se um quadro de amnsia antergrada total (perda
completa da memria para os eventos acontecidos aps a leso), associada a uma
amnsia retrgrada parcial (restrita ao perodo anterior cirurgia). Em resumo, o
paciente H.M. perdeu a capacidade de transformar memrias de curto prazo em
memrias de longo prazo (KANDEL et al., 2003).
Como conseqncia dos trs processos envolvidos na formao da memria,
caracteriza-se a aprendizagem, o que contraria a maioria dos estudiosos que
restringem a aprendizagem ao processo de aquisio de informaes (KANDEL et
al., 2000; MORGADO, 1999). Na verdade, no h aprendizagem sem memria, nem
memria sem aprendizagem, estando ambos os processos intimamente ligados a
muitos processos cerebrais como, por exemplo, a percepo sensorial (SOUZA,
2001).
Os mecanismos cerebrais da memria e aprendizagem, em geral, esto
tambm associados aos processos neurais responsveis pela ateno, percepo,
motivao e pensamentos, assim como a outros processos neuropsicolgicos, de
forma que perturbaes nestes processos podem afetar a memria e aprendizagem.
-
2 Referencial Terico 46
Assim, neste estudo, torna-se evidente salientar a plasticidade neural, a qual se
refere alteraes estruturais e funcionais nas sinapses como resultado de
processos adaptativos do organismo. Estas adaptaes promovem alteraes na
eficincia sinptica e podem aumentar ou diminuir a transmisso de impulsos com a
conseqente modulao do comportamento (SOUZA, 2001). De acordo com Squire
et al. (2004), diferentes regies do crebro, simultaneamente, processam estmulos
do ambiente externo e interno.
Infelizmente, a queixa familiar, de muitas pessoas mais velhas, de que a
memria no mais o que costumava ser, em geral, justificada. A memria diminui
na velhice, e, embora algumas reas continuem relativamente preservadas, a
perspectiva de declnio (STUART-HAMILTON, 2002).
Ventura e Bottino (1996) referem que comum, durante o processo de
envelhecimento, o aparecimento de queixas relacionadas a distrbios de memria.
Essas queixas podem ser causadas por muitos fatores, desde estresse, ansiedade,
depresso e as chamadas demncias. Perdas na memria podem ocorrer na velhice,
devido a alguns fatores como o estado emocional, o background socioeconmico e o
nvel de instruo (STUART-HAMILTON, 2002). Conforme esse autor, encontra-se
um declnio geral com a idade, na velocidade de recuperao (retardamento) das
vrias reservas, tericas, de memria.
De acordo com Siegler e Poon (1992), o declnio na capacidade de memria
relacionado idade encontrado, particularmente, na memria secundria (ou de
fixao). Apesar das diferenas individuais, o retardo nos sistemas sensrio-motores
inevitvel com o envelhecimento, mas este retardo, aparentemente, no afeta
sensivelmente as capacidades de memria sensorial, primria (ou imediata) ou
terciria (ou de evocao). O envelhecimento, entretanto, exerce um profundo efeito
na aquisio e recuperao de novas informaes na memria secundria.
A memria do trabalho, ou operacional, mantm-se praticamente intacta ou
apresenta discreto declnio. Embora a memria de reconhecimento esteja, em geral,
preservada, o idoso pode apresentar certa dificuldade em lembrar-se de contedos
recentemente aprendidos, sobretudo, quando estes se referem a situaes
episdicas ou isoladas. Em idosos com idade muito avanada, eventualmente
observa-se a ocorrncia de discreta dificuldade de memria imediata e de memria
recente. Porm, h preservao da memria de longa durao. A memria
-
2 Referencial Terico 47
semntica mantida relativamente intacta (STELLA, 2004). O idoso preserva a
capacidade de utilizar-se de pistas contextuais para a recordao de contedos
registrados, e para isso estabelecer associaes entre os elementos de uma
situao que facilitem a recordao dos contedos memorizados. Mas, o
armazenamento de novas memrias semnticas pode ficar um pouco pior na velhice,
o que de certa forma pode comprometer a fluncia na recuperao destes tens
(STUART-HAMILTON, 2002; CRAIK et al., 1998).
Stoope Junior e Louz Neto (2000) referem que diferenas individuais como
habilidade, treinamento, nvel educacional, estilo de vida, estado de humor, etc,
influenciam os processos mnmicos relacionados idade. Para Izquierdo (2002), o
uso contnuo da memria desacelera ou reduz o dficit funcional da memria que
ocorre com a idade. Diz ainda que as funes cerebrais so o exemplo
caracterstico de que funo faz o rgo (p. 32). No referente memria, salienta
que quanto mais se usa, menos se perde.
O declnio no nmero e na eficincia dos neurnios significa que o sistema
fsico de armazenamento da memria est inevitavelmente comprometido, o que
possibilita conseqncias psicolgicas (STUART-HAMILTON, 2002). Em pesquisas
realizadas foram encontradas mudanas anatmicas e funcionais nos lobos frontais
e hipocampo dos idosos, sendo estas regies cerebrais envolvidas diretamente com
a memria (HAENNINEN et al., 1997; PURCELL et al., 1998). O comprometimento
de rgos, como o corao e pulmes, podem afetar prejudicialmente o
desempenho psicolgico. A diminuio na eficincia dos sistemas respiratrio e
cardiovascular restringir o suprimento de oxignio e, conseqentemente, a energia
disponvel para o funcionamento cerebral (STUART-HAMILTON, 2002). Se em
alguns idosos os sinais de declnio fsico pode alert-los a ter uma vida mais ativa,
guiada pela atividade fsica, em outros, estes sinais podem lev-los depresso
(RASQUIN, 1979).
2.6 Memria emocional
-
2 Referencial Terico 48
A memria emocional tem sido foco de estudos, principalmente, em relao
atuao da amgdala como um processador na codificao. Situaes emocionais
do passado podem ser revividas (FRANK e TOMAZ, 2000a). A memria de eventos
emocionantes tem uma qualidade especial que os torna mais resistentes ao
esquecimento e esta pode estar associada aos mecanismos de sobrevivncia e de
defesa do indivduo.
Evidncias, tanto em animais como em humanos, mostram que a amgdala
est envolvida em aprendizagem de eventos emocionalmente significativos. O
estado emocional ativado interfere na consolidao da memria e provavelmente os
eventos emocionais so codificados de tal forma a serem mais resistentes extino
(DAVIS, 1992; LEDOUX, 1992; CAHILL e McGAUGH, 1995).
A amgdala tem participao nos processos mnemnicos com funo
ponderadora. Esta estrutura atua como um processador na codificao, reforando
a conotao emocional. Este processamento responsvel por uma evocao
apoiada por pistas sensoriais que foram associadas ao significado emocional
(FRANK e TOMAZ, 2000a).
McGaugh et al. (1996) referem que o envolvimento da amgdala na memria
se deve a ao de inmeros neurotransmissores. A ao combinada de
neurotransmissores responsvel pela modulao que o complexo amigdalide,
juntamente com outras estruturas do sistema lmbico, como o hipocampo, pode ter
sobre a cognio em situao de estresse, seja salientando ou inibindo a evocao.
Eventos emocionais so memorizados melhor que eventos neutros. O benefcio de
estmulos emocionais na memria deve-se ao estado de alerta que estes estmulos
normalmente desencadeiam, neste caso, maior do que os desencadeados por
estmulos neutros.
Adolphs et al. (2005), em um estudo sobre o prejuzo na memria emocional,
em pacientes com dano na amgdala, concluram que existe uma forte evidncia que
a amgdala humana ajuda a focalizar a memria declarativa para estmulos
complexos, codificados por meio de contextos emocionais, e que a falta de
integridade da amgdala resulta num prejuzo da memria em relao aos detalhes.
O lobo temporal medial (incluindo o hipocampo, giro parahipocampal e crtex
entorrinal) e o tlamo medial so as estruturas principais que participam da memria
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2 Referencial Terico 49
declarativa. Alm dos estudos de Adolphs et al. (2005), McGaugh et al., em 1996,
realizaram pesquisas em humanos normais, sugerindo o envolvimento da amgdala
com a memria emocional declarativa.
Alguns autores (MARKOWITSCH et al., 1994; ADOLPHS et al., 1997)
observaram que a leso bilateral circunscrita da amgdala provoca dficit em
aspectos especficos da memria com qualidades emocionais. Estas observaes
levantam a possibilidade de uma dissociao entre sistemas de memria emocional
e outros sistemas de memria (FRANK e TOMAZ, 2003). Markowitsch (1998)
relacionou o papel das duas amgdalas e observou que a amgdala esquerda est
mais envolvida no processamento de estmulos ameaadores (em especial na
codificao), e a amgdala direita nos processos implcitos da informao afetiva
(aspectos no conscientes) e nas evocaes implcita e explcita de informao
emocional. Dessa forma, o efeito da lateralidade pode variar dependendo da
valncia do estmulo (positiva ou negativa), do tipo de memria (implcita ou explcita)
e da operao da memria (codificao ou evocao).
Hamann (2001) apresenta dois efeitos na formao da memria declarativa
emocional: efeito na fase de codificao, ateno e elaborao da informao no
estado de ativao emocional e efeito na fase de ps-codificao e consolidao,
sendo marcada pela liberao de substncias que permitem resistncia
interferncia e ao esquecimento. Assim, a ao da amgdala contexto-dependente,
ou seja, depende do estado do sujeito na aquisio da informao.
Atravs dessas investigaes, a evocao livre de informao emocional,
tomada imediatamente aps a aprendizagem (etapa de codificao), envolve a
ativao da amgdala esquerda e a evocao livre tardia (sensvel consolidao)
depende mais da amgdala direita. Entretanto, os estudos ainda so inconsistentes
para esta possibilidade (FRANK e TOMAZ, 2003).
Aplicando testes de memria emocional, em sujeitos saudveis, atravs de
uma estria com contedos neutros e outra com contedos emocionais, alguns
autores (CAHILL e McGAUGH, 1995; FRANK e TOMAZ, 2000b) observaram que
estes sujeitos apresentaram uma memria mais duradoura em partes emocionantes
de uma estria , quando comparada histria com contedos neutros, embora o
contedo visual das mesmas fosse o mesmo. Assim, a foto mais emocionante da
histria parece ter sido diferencialmente guardada na memria (FRANK e TOMAZ,
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2 Referencial Terico 50
2003). Atravs de estudos neuroanatmicos, observa-se que a amgdala envia
projees a todos os nveis das vias de processamento visual, de forma mais
acentuada que recebe. Isto demonstra o envolvimento do crtex visual no
processamento emocional de estmulos visuais, ocorrendo provavelmente pela
interferncia da amgdala em resposta s pistas emocionais do estmulo.
Abrisqueta et al. (1998) realizaram um estudo com pacientes portadores da
Doena de Alzheimer e observaram que estes no se beneficiam do teor emocional
de estmulos visuais em comparao a estmulos neutros, embora consigam
discriminar os itens carregados emocionalmente, destes ltimos.
2.7 Qualidade de vida e envelhecimento
Qualidade de vida considerada a percepo do indivduo de sua posio na
vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive em relao aos
seus objetivos, expectativas, padres e preocupaes (THE WHOQOL GROUP,
GRUPO DE QUALIDADE DE VIDA DA OMS, 1995).
Atualmente existe um crescente interesse de pesquisadores em transform-la
numa medida quantitativa a qual possa ser utilizada em ensaios clnicos e os
resultados obtidos possam ser comparados entre populaes e at mesmo entre
diferentes doenas (CICONELLI et al., 1999).
Para Evans (1994), o estudo da qualidade de vida na populao geral muito
importante para o desenvolvimento contnuo de indicadores sociais, para o
desenvolvimento de padres normativos de comparao e como componente focal
de esforos para promoo da sade. Adicionalmente, a avaliao da qualidade de
vida tem se tornado imprescindvel na obteno dos resultados de um tratamento ou
interveno que, para anlise de determinadas doenas crnicas, considerada to
importante quanto a morbidade e mortalidade (DINIZ e SCHOR, 2006).
Geralmente, os autores fazem referncia necessidade de considerar vrias
dimenses da qualidade de vida, dentre elas os aspectos fsicos, emocionais e
sociais. Lawton (1991) construiu um modelo de qualidade de vida na velhice em que
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2 Referencial Terico 51
a multiplicidade de aspectos e influncias inerentes ao fenmeno representada em
quatro dimenses inter-relacionadas:
- condies ambientais
dizem respeito ao contexto fsico, ecolgico e ao
construdo pelo homem, que influi na qualidade de vida e proporciona as
bases para competncia adaptativa (emocional, cognitiva e
comportamental), ou seja, o ambiente deve oferecer condies adequadas
vida das pessoas.
- competncia comportamental
traduz o desempenho dos indivduos
frente s diferentes situaes de sua vida e, portanto, depende do
potencial de cada um, de suas experincias e condies de vida, dos
valores agregados durante o curso da vida e do desenvolvimento pessoal
que, por sua vez, influenciado pelo contexto histrico-cultural;
- qualidade de vida percebida
reflete a avaliao da prpria vida
influenciada pelos valores que o indivduo foi agregando e pelas
expectativas pessoais e sociais. Igualmente, a pessoa avalia as condies
de sade, ambiente fsico e social, e a eficcia de suas aes nesse
ambiente;
- bem-estar subjetivo
significa a satisfao com a prpria vida satisfao
global e a satisfao especfica em relao a determinados aspectos da
vida. Reflete as relaes entre condies objetivas (ambientais),
competncia adaptativa e percepo da prpria qualidade de vida, as trs
dimenses precedentes. medida pelos antecedentes pessoais
(histricos, genticos e scio-econmico-culturais), pela estrutura de
traos de personalidade e pelos seus mecanismos de auto-regulao
(senso de significado pessoal, sentido da vida,
religiosidade/transcendncia, senso de controle, senso de eficcia pessoal
e adaptabilidade).
Na avaliao da qualidade de vida, de acordo com McNeil et al. (1981),
devem ser considerados os aspectos particulares dos indivduos na chamada viso
de utilidade . Esses autores realizaram um estudo com indivduos normais,
oferecendo-lhes duas opes de tratamento caso tivessem cncer de laringe tais
como: laringectomia, com maior sobrevida; e radioterapia com o risco de menor
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2 Referencial Terico 52
sobrevida, mas com a preservao da voz. Os resultados demonstraram que os dois
grupos estudados (executivos e bombeiros) desejaram perder 14% de sua
expectativa de vida para conservar a voz. Observaram ainda que os executivos
(17%) dispor-se-iam a perder um percentual maior do que os bombeiros (6%),
indicando o grau de importncia (utilidade) atribuda por eles comunicao verbal.
Spilker (1990) refere que a interferncia dos valores individuais dos doentes
na percepo da qualidade de vida diante de um tratamento mdico ocorre atravs
da interpretao dos benefcios e adversidades decorrentes destes tratamentos,
filtradas pelos seus valores, crenas e julgamentos.
A cincia e a tecnologia modernas triunfaram ao conseguir controlar a maioria
das doenas infecciosas e endmicas e deficincias nutricionais. O impacto positivo
dessa importante realizao foi que muitos indivduos nascidos, atualmente, podem
almejar viver por muito tempo. O impacto negativo de um tempo de vida mais longo,
para estes indivduos, poder acarretar potencialmente em doenas como artrite,
osteoporose, cardiopatias, diabetes, entre outras, muitas vezes tornando-se
questionvel se a vida pode ser aproveitada completamente nessas condies
mrbidas que limitam as atividades (SPIRDUSO, 2005). Em 1980, Fries relatou
vrios estudos importantes nos quais redues significativas da morbidade foram
alcanadas pela educao e iniciao de programas para promover a sade. As
evidncias desses estudos mostraram que, para cada hora de exerccio por semana,
houve uma melhora de 10% nas condies de sade relatadas, aumentando a
qualidade de vida dos sujeitos.
De acordo com Nri (2004), um bom modelo de qualidade de vida na velhice
deve contemplar todas as mudanas, negativas e positivas, que vm com o
envelhecimento. As negativas podem ser representadas pelas dependentes de
mecanismos gentico-biolgicos, como: alterao das capacidades biomecnicas,
por exemplo, diminuio da fora e da resistncia; alteraes nas capacidades
sensoriais e psicomotoras; mudanas na velocidade de processamento da
informao, que se reflete em maior lentido e preciso na tomada de decises e no
controle da ao; prejuzos memria operacional e a memria episdica;
diminuio da capacidade de novas aprendizagens; reduo no controle
instrumental. Como positivas destacam-se: maior seletividade socioemocional; maior
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2 Referencial Terico 53
capacidade de estabelecer prioridades; maior capacidade de administrao dos
eventos da vida prtica; maior prudncia e preciso ao realizar tarefas.
Spirduso (2005), fundamentado no Simpsio Measuring the Quality of Life in
the Frail Elderly (Medindo a Qualidade de Vida nos Idosos Debilitados), em 1990,
refere ter sido formado um consenso de onze fatores que constituem a qualidade de
vida para idosos. Os fatores foram assim classificados: condio de sade, funo
fsica, energia e vitalidade, funo cognitiva e emocional, satisfao de vida e
sensao de bem-estar, funo sexual e social, recreao e condio econmica.
Os fatores de funo cognitiva e emocional refletem o desejo de cada um de
manter a produtividade, independncia e uma interao ativa com o meio ambiente.
A satisfao de vida e a sensao de bem-estar representam o controle emocional e
sade mental. A independncia financeira, embora no essencial, tem o potencial de
melhorar a qualidade de vida. As funes social, recreativa e sexual permitem as
pessoas enriquecerem suas vidas. Est claro tambm que a dimenso fsica, que
inclui a sade, funo fsica, energia e vitalidade, contribui de maneira muito
significativa para a qualidade de vida destes idosos.
Importante destacar que dos onze fatores considerados essenciais para uma
excelente qualidade de vida, trs esto relacionados dimenso fsica: condio de
sade, energia e vitalidade e funo fsica. Tais fatores, que auxiliam na execuo
de tarefas fsicas, geralmente no so valorizados por uma pessoa jovem; porm, o
dficit no desempenho, que comea a preocupar os adultos de meia-idade, torna-se
uma preocupao maior para os idosos jovens e cresce at se tornar a principal
preocupao para muitos idosos.
A capacidade fsica a base para realizar atividades da vida diria como
caminhar, comer, tomar banho e vestir-se; tarefas relacionadas ao trabalho, como
digitar, escrever, levantar pesos e esticar-se para pegar objetos; e participar de
atividades esportivas e recreativas. Na figura 3 so demonstrados os fatores que
afetam a qualidade de vida.
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2 Referencial Terico 54
FIGURA 3
Fatores que afetam a qualidade de vida (adaptado de Spirduso, 2005)
Os fatores so demonstrados atravs de trs correlaes principais: cognitivo
e emocional, sade e condicionamento e, social e recreativo. A condio financeira
tambm contribui de vrias maneiras, diretas e indiretas, mas considerada menos
importante para os idosos.
A medida da qualidade de vida no idoso pode ser til, nas cincias da sade,
quando se deseja avaliar a efetividade das intervenes e quando se tornam
necessrias informaes completas para servir de apoio nas decises clnicas. Na
esfera dos recursos sociais, a medida da qualidade de vida pode ser til para a
realizao de comparaes entre naes e para a estimativa das necessidades e
dos anseios da populao. Observam-se na literatura (NRI, 2004), duas escalas
gerais e multidimencionais de qualidade de vida aplicadas ao idoso que so:
Questionrio de Qualidade de Vida da Organizao Mundial da Sade (WHOQL),
contendo cem questes em sua verso completa e vinte e seis na reduzida,
Qualidade de
vida Energia
e vitalidade
Funo sexual
Funo fsica Condio de sade
Funo social
Atividade recreativa
Condio financeira
Funo emocional
Sensao de bem-estar
Satisfao pessoal
Funo cognitiva
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2 Referencial Terico 55
organizadas em seis domnios (fsico, psicolgico, independncia, relaes sociais,
ambiente, espiritualidade; Quality of Life Profile do Centre of Health Promotion (Perfil
de Qualidade de Vida do Centro de Promoo de Sade, da Universidade de
Toronto), composto por trs domnios (ser
auto-descrio, pertencer
conexes
com o ambiente e vir a ser
metas, expectativas e aspiraes).
Ainda relacionado avaliao da qualidade de vida do idoso, observa-se o
predomnio de instrumentos direcionados sade, capacidade funcional,
capacidade mental e identificao de demncia e depresso. Desses instrumentos
mais utilizados pode-se citar as escalas apresentadas por Nri (2004), a saber:
Escala de Katz, Barthel, Lawton e Brody, OARS (Older Americans Resources and
Services), MAI (Multilevel Assessment Instrument), SF-36 (Short Form Health
Survey) 1 , Geriatric Quality of Life Questionnaire, Miniexame do Estado Mental,
Depresso Geritrica, BEHAV-AD (Behavioural Pathology in Alzheimer s Disease
Rating Scale), Cornell Scale for Depression in Dementia, Teste do relgio (Clock
Drawing test) , NRS (neurobehavioural Rating Scale-Sultzer), RSD (Behavior Rating
Scale for Dementia of the CERAD), BPSD (Inventrio de Sintomas Comportamentais
e Psicolgicos na Demncia), CDR (Clinical Dementia Rating), NPI (neuropsychiatric
Inventory).
Para Nri (2004), a compreenso do contedo da qualidade de vida na
velhice central ao desenvolvimento de iniciativas de interveno, visando
preveno e reabilitao dos idosos. Sob este aspecto, foi utilizado no presente
estudo, o questionrio SF-36 para a avaliao da Qualidade de Vida, relacionando-a
a prtica da interveno aplicada aos idosos da pesquisa.
2.8 Envelhecimento e atividade fsica2
Est amplamente descrito, na literatura, que a inatividade fsica est
relacionada reduo de parmetros fisiolgicos capazes de afetar o estado de
sade e manuteno da autonomia do idoso (NIH-CONSENSUS CONFERENCE,
1996; SESSO et al., 2000; WESTERTERP, 2001) e que a atividade fsica regular
1 Teste utilizado na pesquisa. 2 Conforme publicao de Gonalves; Tomaz e Sangoi (2006, p. 101-108).
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2 Referencial Terico 56
promove melhora das capacidades funcionais (RASO et al., 1997; PETROSKI, 1997;
OKUMA, 1998; CHIAPETA et al., 1999).
O sedentarismo , sem dvida, um dos mais importantes pontos no estudo
dos males que acometem a sociedade atual (De VITTA, 2001; BLAIR et al.,1996;
PATE et al., 1995). A falta de atividade apontada como a causa de inmeros
danos sade e tem como conseqncia direta e indireta o aparecimento de
doenas, tais como hipertenso, obesidade, doena arterial coronariana, ansiedade,
depresso e desconfortos msculo-esquelticos (OURIQUES e FERNANDES, 1997).
A vida sedentria estabelece um conjunto de eventos fisiolgicos que acabam
intensificando a diminuio da capacidade aerbia mxima, da fora muscular, das
respostas motoras e da capacidade funcional geral. Em conjunto, esses aspectos
resultam no somente em diminuio da capacidade fsica, mas tambm provocam
diminuio na disposio para as tarefas dirias, mas tambm influenciaram na
durao e na qualidade de vida dos indivduos (ACHOUR JUNIOR, 1995; HUANG et
al., 1998; KOO e ROHAN, 1999).
O declnio em habilidade fsica e mental, freqentemente associada com
idade crescente em adultos, tem implicaes sociais e econmicas que afetam a
maioria das naes. Conseqentemente, a manuteno de capacidade funcional e
independncia da pessoa mais velha pode ser benfica, tanto para o indivduo
quanto sociedade, sendo o exerccio fsico uma estratgia para aumentar o
funcionamento fisiolgico na velhice. (HASSMEN et al., 1992).
Entre as razes que levam inatividade, um dos possveis fatores o
desconhecimento sobre como se exercitar, as finalidades de cada exerccio,
limitaes de alguns grupos populacionais e percepes distorcidas em relao aos
benefcios do movimento. Freqentemente considerados como equivalentes, os
termos atividade fsica e exerccio fsico no so sinnimos. Segundo Caspersen
et al. (1985), atividade fsica qualquer movimento corporal produzido pela
musculatura esqueltica, que resulte em um gasto energtico maior do que os nveis
de repouso, enquanto que exerccio fsico toda atividade fsica planejada,
estruturada e repetitiva que tem por objetivo a melhoria e a manuteno da aptido.
Neste estudo, aborda-se a questo da atividade e exerccio fsicos com
equivalncia, devido a prpria inconsistncia dos autores consultados em relao
aos termos.
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2 Referencial Terico 57
Relacionando-se a estes fatos e ao processo normal de envelhecimento que
a atividade ou o exerccio fsico tem seu objetivo. Como relata Meirelles (1997), a
atividade fsica retarda o processo natural, atravs da manuteno de um estado
suficientemente saudvel, possibilitando a normalizao da vida do idoso, afastando
os fatores de risco comuns terceira idade e promovendo uma melhor qualidade de
vida a estes indivduos. Torna-se necessrio, portanto, que a prtica fsica seja
realizada de forma variada, divertida, havendo envolvimento social e emocional para
que possa produzir reais benefcios sade fsica e mental dos praticantes
(WILSON et al., 2005)
A manuteno da sade do crebro e plasticidade ao longo da vida deve ser
considerada uma meta importante. Na literatura j est bem evidenciado que o
comportamento de excitao e exerccios pode auxiliar o alcance deste objetivo.
Durante a ltima dcada, vrios estudos em humanos mostraram os benefcios do
exerccio para a sade e funo do crebro, particularmente em idosos (COTMAN e
BERCHTOLD, 2002).
Nadeau et al. (1985) referem que a prtica regular de atividades fsicas
restringe as alteraes que ocorrem com o envelhecimento. Os indivduos
praticantes de atividades fsicas apresentam maior vitalidade, capacidade fsica e
resistncia s doenas e ao estresse, se comparados a indivduos sedentrios. J
Meirelles (1997) complementa que, com a prtica de atividades fsicas, ocorre
diminuio da destruio das clulas, acarretando a diminuio da fadiga e um
aumento da performance, com conseqente economia de perda energtica durante
o exercci