tese de doutorado de duciane oliveira de freitas furtado
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
ENGENHARIA MECÂNICA
DUCIANE OLIVEIRA DE FREITAS FURTADO
NANOREVESTIMENTO DE TECIDO DE ALGODÃO ATRAVÉS DE
IMPREGNAÇÃO DE TiO 2 E FILME DLC DEPOSITADO POR
PLASMA.
ORIENTADOR PROF. DR. CLODOMIRO ALVES JÚNIOR
NATAL – RN
2015
DUCIANE OLIVEIRA DE FREITAS FURTADO
NANOREVESTIMENTO DE TECIDO DE ALGODÃO ATRAVÉS DE
IMPREGNAÇÃO DE TiO 2 E FILME DLC DEPOSITADO POR
PLASMA.
Tese de doutorado apresentada para defesa ao Programa de
Pós-Graduação em Engenharia Mecânica do Centro de
Tecnologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
como parte dos requisitos para obtenção do título de doutora
em Engenharia Mecânica.
Área de concentração: Mecânica do contato.
Orientador: Profº Dr. Clodomiro Alves Júnior
NATAL – RN
2015
UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede.
Catalogação da Publicação na Fonte Furtado, Duciane Oliveira de Freitas. Nanorevestimento de tecido de algodão através de impregnação de TiO2 e filme DLC depositado por plasma / Duciane Oliveira de Freitas Furtado. – Natal, RN, 2015. 93 f. : il.
Orientador: Profº Dr. Clodomiro Alves Júnior.
Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Tecnologia. Programa de Pós-graduação em Engenharia Mecânica.
1. Algodão – Tese. 2. Fotodegradação – Tese. 3. Molhabilidade – Tese. 4. Plasma – Tese. 5. Tecido – Tese. 6.
TiO2 – Tese. I. Alves Júnior, Clodomiro. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. RN/UF/BCZM CDU 633.51
DUCIANE OLIVEIRA DE FREITAS FURTADO
NANOREVESTIMENTO DE TECIDO DE ALGODÃO ATRAVÉS DE
IMPREGNAÇÃO DE TiO 2 E FILME DLC DEPOSITADO POR
PLASMA.
Tese de doutorado apresentada para defesa ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia
Mecânica do Centro de Tecnologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como
parte dos requisitos para obtenção do título de doutora em Engenharia Mecânica.
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________
Profº Dr. Clodomiro Alves Júnior – Orientador (Presidente) Programa de Pós Graduação em Engenharia Mecânica – UFRN
email: [email protected]
_________________________________________
Profª Dra. Lúcia Vieira Santos – Examinador Externo Universidade do Vale do Paraíba – São José dos Campos-SP
email: [email protected]
___________________________________________________ Profª Dra. Iêda Maria Garcia dos Santos-Examinador Externo
Universidade Federal da Paraíba – João Pessoa-PB email:[email protected]
___________________________________________________
Profº Dr. José Heriberto O. do Nascimento-Examinador Interno. Departamento de Engenharia Têxtil - UFRN
___________________________________________________
Profª Dra. Viviane Muniz Fonseca – Examinador Interno Departamento de Engenharia Têxti – UFRN
email: [email protected]
Membros Suplentes:
___________________________________________________ Profº Dr. Custódio L. de Brito Guerra Neto – Examinador Interno
Departamento de Engenharia Biomédica – UFRN
________________________________________________________ Profº Dr. José Alzamir Pereira da Costa-Examinador Externo
Universidade Estadual do Rio Grande do Norte -UERN
Julgada em:__/__/___
Dedico este trabalho a minha mãe que esteve sempre do
meu lado, a minha avó Maria Marieta e meu pai Antônio Medeiros de
Freitas (ambos in memorium), ao meu marido Christian Furtado Pinheiro
do Carmo que, nos momentos mais complicados da execução, deu toda a
estrutura necessária para que eu pudesse concluir este trabalho. E a todos
aqueles que mesmo frente a tantos obstáculos impostos, sejam burocráticos
ou de ordem estrutural, não desistem de fazer pesquisa científica em nosso
país.
AGRADECIMENTOS
Nesta página tão especial deste trabalho, gostaria de agradecer a algumas pessoas e instituições,
dentre tantas que me ajudaram a realizá-lo.
A Deus a quem sempre pedi forças, determinação e paciência para não desistir e prosseguir
com meu trabalho.
Ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Mecânica da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte.
Ao Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da Universidade do Vale da Paraíba, UNIVAP,
em São José dos Campos, SP, através da Profª Dra. Lúcia Vieira dos Santos, Profº Dr. Airton
A. Martin do Laboratório de Espectroscopia Vibracional Biomédica, à técnica Priscila M.C.S.
Leite do Laboratório de Microscopia Eletrônica de Varredura e à aluna de mestrado Fernanda
Lídia Carvalho Lucas e aos demais que fazem parte do instituto pela atenção e disponibilidade
a mim dispensados.
Ao Profº Dr. Clodomiro Alves Júnior pela orientação e perseverança no desenvolvimento deste
trabalho.
Ao Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (CETENE), através de Francisco Rangel,
técnico do Laboratório de Microscopia e Microanálise (LAMM).
À Pró-reitoria de Pós-graduação da UFRN através do Profº Rubens Maribondo pela atenção e
incentivo na viabilização da realização de experimentos em São José dos Campos – SP.
Ao amigo Profº Dr. Haroldo Reis do Instituto Federal do Piauí, campi Picos, cuja contribuição
foi de relevante importância na análise das imagens.
Ao Profº Dr. Heriberto Oliveira do Nascimento do Laboratório químico Têxtil do Departamento
de Engenharia Têxtil e ao seu aluno de IC, Felipe Mendonça Fontes Galvão, ambos pela atenção
e disponibilidade nas análises de fotodegradação.
À amiga Laura Camila Diniz dos Santos, companheira na batalha da pesquisa científica.
Aos Técnicos Igor Zumba Damasceno e Carla Laíze dos Santos Cruz Costa do Laboratório de
Microscopia Eletrônica de Varredura do Departamento de Ciências e Engenharia dos Materiais
da UFRN, pela atenção, presteza e profissionalismo dispensados na análise das minhas
amostras.
A todos aqueles que fizeram parte do Laboratório de Processamento de Materiais a Plasma –
Labplasma-UFRN- Natal -RN, especialmente (em ordem alfabética): Dr. Custódio Guerra,
Erisson A.D. Leal, Hugo Fernandes M. da Silva, Dr. Júlio Cesar (hoje professor UFERSA –
RN), Jussier de O. Vitoriano, Dra. Marina Macedo, Dr. Marco Aurélio, Dra. Natália Daudt,
Raquel Carvalho, José Quinzinho de Medeiros Neto.
À Capes – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior pelo patrocínio deste
doutorado;
A todos os meus familiares, amigos e colegas pelo apoio, admiração e palavras de força em
todos os momentos.
“Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim, decidir entre rir ou chorar, ir ou ficar,
desistir ou lutar, porque descobri, no caminho incerto da vida, que o mais importante é o
DECIDIR. ”
(Escritora Cora Coralina).
Nanorevestimento de tecido de algodão através de impregnação de TiO2 e filme DLC depositado por plasma
RESUMO
O uso de nanomateriais na indústria têxtil vem recebendo destaque nas áreas de engenharia de superfície e acabamento de tecidos planos, malhas, fios e fibras. Os produtos têxteis, tratados com estes nanomateriais, adquirem novas propriedades dentre elas está a autolimpeza. Esta propriedade tem como característica a capacidade de decompor substâncias orgânicas, adsorvidas sobre a superfície do material; isto ocorre por meio da fotodegradação (reação química produzida na presença de um fotocatalizador). O dióxido de titânio (TiO2) está entre os nanomateriais mais utilizados como fotocatalizador na indústria. Diversos métodos são empregados para a deposição de TiO2. Um exemplo comum deste tipo de processo para aplicação em tecidos têxteis é a pré-ativação da superfície através de plasma, seguida de imersão em solução sol-gel com TiO2. Neste caso, são utilizados elementos químicos que elevam os custos do processo, além de se tornarem tóxicos. Neste âmbito, este trabalho propõe uma técnica alternativa para acabamento têxtil com TiO2. Ela consiste em aspergir sobre o tecido, as nanopartículas (NPs) de TiO2 suspensas em água destilada, utilizando um nebulizador pneumático a jato de ar. A técnica também utiliza um filme de carbono (Diamond-like carbon – DLC) para reduzir a hidrofilicidade do tecido de algodão potencializando, assim, o processo de autolimpeza na superfície do tecido. As amostras, após a aspersão, foram secadas em estufa por 5 minutos a 100ºC e introduzidas em reator de plasma, com fonte de descarga contínua pulsada, para deposição do filme de DLC em atmosfera CH4 (gás metano) em três tempos diferentes de deposição: 10, 20 e 30 minutos. A caracterização do material foi realizada por Microscopia eletrônica de varredura (MEV), Espectroscopia de energia dispersiva (EDS), Espectroscopia Raman, contagem de distribuição de partículas, fotodegradação por radiação de luz Ultra Violeta (UV) e análise de molhabilidade por método wicking de espalhamento e absorção de líquido. Na análise da morfologia da superfície, os resultados mostraram boa distribuição das partículas sobre a amostra. Em relação ao tempo de deposição do DLC, as amostras tratadas em 10 minutos apresentaram os melhores resultados tanto para a fotodegradação do corante azul metileno sob luz UV, quanto para o espalhamento e absorção de líquidos. Esses resultados mostraram que a utilização do nebulizador para depositar TiO2 sobre um material têxtil é viável e que o filme de DLC, além de funcionar como ancoragem para as NPs, também diminui a hidrofilicidade do tecido de algodão sem interromper a ação de fotodegradação do TiO2. Além disso, a técnica proposta reduz a quantidade de água como veículo de deposição das NPs, o tempo e custo no processo de acabamento têxtil. Todos esses aspectos são relevantes para a produção industrial no momento em que se busca redução dos custos aliada ao menor impacto ambiental.
Palavras-chave: Algodão. Fotodegradação. Molhabilidade. Plasma. Tecido. TiO2.
Cotton fabric nano coating by impregnation of TiO2 and the DLC film deposited by plasma.
ABSTRACT Nanomaterials have received increasing interest in the textile industry, e.g. in engineering surface and textile finishing of woven fabrics, knits, yarns and fibers. Textile materials treated with these nanomaterials acquire new properties like self-cleaning. Self-cleaning is the ability to decompose organic materials adsorbed on surface, which occurs through photodegradation reaction. Titanium dioxide (TiO2) is one of the nanomaterials most used as photocatalysts in textile industry. Several methods have been employed for TiO2 deposition on textile fabrics surfaces. A common example is immerse a fabric to a sol-gel solution with pre-activation of substrate surface by plasma. In this context, we present an alternative technique for textile finishing: TiO2 nanoparticles suspended in distilled water and spraying on cotton woven fabric sample by using pneumatic air blast nebulizer. Afterwards, the samples were dried in oven at 100°C for 5 minutes. Then, fabric were introduced in the plasma reactor of d.c. pulsed source for DLC film deposition. The plasma atmosphere was composed of CH4 (methane gas) and three different deposition times were employed: 10, 20 and 30 minutes. The samples were characterized by Scanning Electron Microscopy (SEM), Energy Dispersive Spectroscopy (EDS), Raman Spectroscopy, wettability analysis by wicking method of spreading and absorption of liquid, count of particles distribution, and photodegradation by UV light radiation. The results of surface morphology analysis showed good distribution of particles on the substrate surface. The samples modified by TiO2 and plasma deposition of DLC film at 10 minutes, had the best results of methylene blue dye degradation in UV light, as well as spreading and absorption of liquids. These results showed that the use of nebulizer to deposit TiO2 on textile material is feasible and the DLC film in addition to anchor TiO2 NPs, decreases the cotton fabric hydrophilicity without interrupting the action of photodegradation of TiO2. Furthermore, the proposed technique reduces the amount of water as a vehicle for depositing the nanoparticles, the time and costs in the textile finishing process. All these aspects are relevant for industrial production at the moment when it seeks to reduce costs coupled with lower environmental impact. Keywords: TiO2. Photodegradation. Wettability. Cotton. Plasma. Fabric.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Classificação das fibras têxteis conforme ABNT (Associação Brasileira de Normas
Técnicas). Em destaque, as fibras naturais vegetais derivadas de sementes....................... . 24
Figura 2 – Fórmula molecular da celulose. Polímeros natural derivado do monômero de glucose
que forma a estrutura química da fibra de algodão. Fórmula empírica (C6H10O5)n (Cook,
2001)............................................................................................................................................. 25
Figura 3 – Esquema gráfico da parede celular de uma fibra de algodão. Adaptação (Cook,
2011).................................................................................................................................... 25
Figura 4 – Fibra de algodão. a) Imagem microscópica de fibras de algodão apresentado as
convoluções; b) Capulho aberto e fechado do algodoeiro ................................................. 26
Figura 5 – Estrutura dos tecidos. a) Tecido malha; b) Tecido não tecido; c) tecido
plano................................................................................................................................... 28
Figura 6 – Padronagens básicas do tecido plano com identificação dos fios de urdume e
trama(Adanur, 2001)............................................................................................................ 29
Figura 7 – Aplicações de acabamento têxtil em tecido para alteração das propriedades e
performance. Adaptação (Sawhney et al., 2008).............................................................. 30
Figura 8 – Estruturas moleculares das três formas mais comuns do titânio encontradas na
natureza anatase, rutilo e brookita.................................................................................... 32
Figura 9 – Mecanismo de fotocatálise do TiO2 (Ahmed et al.,
2010)................................................................................................................................. 33
Figura 10 - Estrutura molecular da celulose (Yuranova, Laub e Kiwi,
2007)................................................................................................................................ 35
Figura 11 - Diagrama do processo de ligação TiO2 com tecido de algodão através do uso de
substâncias que funcionam como “spacers” (Yuranova, Laub e Kiwi,
2007)................................................................................................................................. 35
Figura 12 - Diagrama de fase ternária C-H o qual apresenta os possíveis tipos de carbono amorfo
(Robertson, 2002; Maia da Costa, 2005; Marciano, 2008)............................................. 36
Figura 13 - Visão esquemática do movimento das partículas que formam o plasma (a) e da
descarga (b)...................................................................................................................... 38
Figura 14 – Esquema das reações que ocorrem na polimerização por
plasma.............................................................................................................................. 40
Figura 15 – Esquema do processo de molhabilidade de uma superfície sólida.............. 42
Figura 16 - Configurações do contato da gota com uma superfície sólida (Heywood,
2003).............................................................................................................................. 42
Figura 17 - Esquema do processo de espalhamento de um líquido sobre uma superfície porosa
(Starov, 2010)................................................................................................................ 43
Figura 18 - Plano de observação (A) e curva da capilaridade-absorção (B) sobre um
tecido(D´Silva et al., 2000)........................................................................................... 44
Figura 19 - Esquema da montagem experimental para análise de espalhamento de um líquido
sobre a superfície de um tecido adaptação da referência (Arora, Deshpande e Chakravarthy,
2006)............................................................................................................................. 45
Figura 20 - Processo de transferência de líquido através de um meio poroso. Adaptação da
referência (Das et al., 2007)......................................................................................... 46
Figura 21 - Fluxograma dos procedimentos experimentais para a modificação superficial das
amostras de tecido plano de algodão utilizando aspersão de TiO2 com água e deposição filme
de DLC......................................................................................................................... 47
Figura 22 - Amostra do tecido 100% algodão cortado em formato circular com 0,1m de
diâmetro........................................................................................................................... 48
Figura 23 – Nebulizador pneumático a jato de ar utilizado para aspergir as NPs de TiO2 diluídas
em água destilada sobre a amostra.................................................................................. 49
Figura 24 – Deposição de filme de DLC por PACVD. a) Reator de plasma; b) Amostras durante
a deposição do filme....................................................................................................... 50
Figura 25 – Imagem da tela do programa Image ProPlus 4.5 utilizado para contagem do número
de partículas de TiO2 sobre as amostras de tecido a fim de avaliar a distribuição das partículas
após aspersão com nebulizador pneumático a jato de ar................................................. 52
Figura 26 – Análise de espalhamento do líquido sobre o tecido. a) Microscópio óptico para
captura das imagens; b) imagem da gota espalhada sobre o tecido sem tratamento....... 54
Figura 27 – Imagem da tela do programa Image ProPlus 4.5 para cálculo das áreas
correspondentes a absorção (A) e ao espalhamento (B) do líquido sobre a amostra de
tecido............................................................................................................................... 55
Figura 28 – Preparação para análise de fotodegradação. a) Solução água-corante; b) amostras
antes e depois do gotejamento com a solução............................................................. 55
Figura 29 – Equipamentos usados para análise de fotodegradação. a) Cabine de avaliação de
cor com lâmpada UV; b) Placa de petri sobre uma proveta utilizada para expor a amostra a luz
UV com distância de 0,06m........................................................................................ 56
Figura 30 – Espectrofotômetro portátil acoplado a um computador para leitura da concentração
do corante nas amostras após a exposição à luz UV................................................... 57
Figura 31- – Imagens de Microscopia eletrônica de varredura (MEV) da amostra de tecido não
tratada (NT)................................................................................................................. 59
Figura 32 – Imagens de Microscopia eletrônica de varredura (MEV) da amostra de tecido com
TiO2 (C/ TiO2)............................................................................................................ 59
Figura 33 – Imagens de Microscopia eletrônica de varredura (MEV) da amostra de tecido com
TiO2 e filme DLC depositado por 10 minutos (TiO2DLC10)....................................... 60
Figura 34 - Imagens de Microscopia eletrônica de varredura (MEV) da amostra de tecido com
TiO2 e filme DLC depositado por 20 minutos (TiO2DLC20)..................................... 61
Figura 35 - Imagens de Microscopia eletrônica de varredura (MEV) da amostra de tecido com
TiO2 e filme DLC depositado por 30 minutos (TiO2DLC30)......................................... 61
Figura 36 – Análise de espectroscopia de energia dispersiva (EDS) da amostra TiO2DLC10. a)
Resultados encontrados sobre a partícula visualizada; b) Resultados encontrados sobre a
superfície da fibra e indicação fissuras sobre a fibra aspecto característico de rompimento de
filme................................................................................................................................ 62
Figura 37 – Imagens do mapeamento de EDS para avaliação da presença do elemento titânio
na amostra NT. a) Delimitação da área a ser analisada; b) Oxigênio; c) Carbono e d) Titânio.
........................................................................................................................................ 64
Figura 38 – Distribuição do elemento titânio sobre a superfície da amostra TiO2DLC10. Q1 =
303, Q2=209, Q3=283 e Q4=187 partículas.................................................................. 65
Figura 39 – Distribuição do elemento titânio sobre a superfície da amostra TiO2DLC20. Q1 =
199, Q2=146, Q3=223 e Q4=153 partículas................................................................ 66
Figura 40 – Distribuição do elemento titânio sobre a superfície da amostra TiO2DLC30. Q1 =
151, Q2=124, Q3=180 e Q4=126 partículas................................................................ 66
Figura 41 – Distribuição do elemento carbono sobre a superfície da amostra TiO2DLC10. Q1
= 1705, Q2=1663, Q3=1729e Q4=1578 partículas...................................................... 67
Figura 42 – Distribuição do elemento carbono sobre a superfície da amostra TiO2DLC20. Q1
= 2798, Q2=2577, Q3=2780 e Q4=2543 partículas..................................................... 68
Figura 43 – Distribuição do elemento carbono sobre a superfície da amostra TiO2DLC30. Q1
= 2844, Q2=2812, Q3=2866 e Q4=2646 partículas.................................................... 68
Figura 44 – Espectroscopia Raman. Espectros das amostras NT, TiO2DLC10, TiO2DLC20 e
TiO2DLC30, obtidos com laser de 1064nm, em alta frequência, apresentando a banda 2895cm-
1 característica do algodão cru na região de 2400-3500cm-1........................................ 69
Figura 45 – Espectroscopia Raman. Espectros das amostras NT, TiO2DLC10, TiO2DLC20 e
TiO2DLC30, obtidos com laser de 1064nm, em baixa frequência, apresentando as bandas
características do algodão cru na região de 100-1800cm-1........................................... 70
Figura 46 – Gráfico de intensidade normalizada referente a amostra NT dos resultados da
análise de Raman em alta frequência obtidos com laser de 1064nm.................................. 71
Figura 47 – Gráfico do raio de espalhamento do líquido em relação ao tempo sobre as amostras
de tecido............................................................................................................................. 73
Figura 48 – Gráfico do raio de absorção do líquido em relação ao tempo do sobre as amostras
de tecido............................................................................................................................ 75
Figura 49 – Imagens do espalhamento da gota da solução de corante sobre as amostras de tecido
para análise de molhabilidade, método Wicking. a) NT; b) C/TiO2; c) TiO2DLC10; d)
TiO2DLC20; e) TiO2DLC30............................................................................................. 77
Figura 50 – Representação da zona de espalhamento e absorção de líquido das amostras NT,
C/TiO2, TiO2DLC10, TiO2DLC20 e TiO2DLC30........................................................... 78
Figura 51 – Espectrofotometria. Análise de fotodegradação do corante azul metileno nas
amostras NT (a) e C/TiO2 (b) com destaque para a faixa de 665nm referente ao mesmo (a1 e
b1).................................................................................................................................... 81
Figura 52 – Espectrofotometria. Análise de fotodegradação das amostras. a) C/TiO2 b)
TiO2DLC10; c) com TiO2DLC20; d) com TiO2DLC30................................................. 82
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Parâmetros de deposição do filme de DLC por PACVD............................. 50
Tabela 2 - Valores absolutos dos raios de espalhamento e absorção de líquido das amostras de
tecido de algodão.......................................................................................................... 78
Quadro 1 - Siglas de identificação das amostras do experimento............................... 58
LISTA DE SÍMBOLOS
TiO2DLC Amostra com dióxido de titânio e filme DLC
TiO2DLC10 Amostra com dióxido de titânio e filme DLC depositado no tempo de 10 min.
TiO2DLC20 Amostra com dióxido de titânio e filme DLC depositado no tempo de 20 min.
TiO2DLC30 Amostra com dióxido de titânio e filme DLC depositado no tempo de 20 min.
DLC Diamond-like carbon
PACVD Plasma Assisted Chemical Vapor Deposition
nm nanômetro
Vb banda de valência
Cb banda de condução
e- elétron
h+ vacância eletrônica
eV elétron volts
hυ energia de incidência
CVD Chemical Vapor Deposition
G0 átomo ou molécula de gás no estado fundamental
G+ íon de gás.
Vrf diferença de potencial
°C graus Celsius
NT Amostra não tratada
NTM Amostra não tratada marcada
TiO2DLC10M Amostra com dióxido de titânio e filme de DLC depositado em 10 min.
marcada
TiO2DLC20M Amostra com dióxido de titânio e filme de DLC depositado em 20 min.
marcada
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 21
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA............................................................................ 24
2.1. Fibra e Tecido de Algodão................................................................................... 24
2.2. Acabamento Têxtil............................................................................................... 29
2.3. Dióxido de Titânio (TiO2) – Propriedades e Aplicação em Têxteis................. 31
2.4. Filme de DLC Produzido por PACVD............................................................... 36
2.5. Molhabilidade....................................................................................................... 40
2.5.1. Espalhamento e absorção de líquido sobre têxteis – Método Wicking................. 41
3. PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS....................................................... 47
3.1. Amostras de tecido plano 100% algodão.......................................................... 47
3.2. Aspersão das nanopartículas de TiO2................................................................. 48
3.3. Deposição do filme de DLC por PACVD.......................................................... 49
3.4. Caracterização das Amostras............................................................................ 51
3.4.1. Microscopia eletrônica de varredura (MEV)....................................................... 51
3.4.2. Espectroscopia de energia dispersiva (EDS)...................................................... 51
3.4.3. Distribuição das partículas................................................................................. 51
3.4.4. Espectroscopia Raman....................................................................................... 52
3.4.5. Molhabilidade – Espalhamento e absorção do líquido sobre o Tecido............. 53
3.4.6. Análise de Fotodegradação................................................................................ 55
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO...................................................................... 58
4.1. Microscopia Eletrônica de Varredura – MEV.................................................... 58
4.2. Espectroscopia de energia dispersiva (EDS)...................................................... 61
4.3. Distribuição das partículas................................................................................... 63
4.4. Espectroscopia Raman......................................................................................... 69
4.5. MOLHABILIDADE............................................................................................. 72
4.5.1. Espalhamento do líquido no tecido...................................................................... 72 4.5.2. Absorção do líquido no tecido............................................................................. 74
4.6. Análise de Fotodegradação.................................................................................. 79
5. CONCLUSÕES E SUGESTÕES............................................................................... 85
5.1. Sugestões de Trabalhos Futuros.............................................................................. 86
REFERÊNCIAS.................................................................................................. 87
21
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO
O desenvolvimento de têxteis funcionais que atendam às necessidades do mercado se
tornou um desafio nos últimos anos. A nanotecnologia surge como uma abordagem para
substituir processos têxteis químicos, físicos e físicos-químicos convencionais, utilizando
materiais em nano escala, a fim de melhorar as características já conhecidas ou dar ao produto
propriedades inovadoras como a autolimpeza.
A propriedade de autolimpeza é adquirida através da aplicação de nanopartículas
fotocatalizadoras capazes de decompor material orgânico adsorvido em sua superfície, quando
submetido à radiação luz UV; isto acontece por meio do efeito fotocatalítico ou fotodegradação
(Carosio, Alongi e Frache, 2011; Joshi e Bhattacharyya, 2011; Pakdel e Daoud, 2013; Wu et
al., 2013).
Na nanotecnologia as dimensões trabalhadas estão entre 1 a 100 nanômetros (1nm =
10-9m). Os nanomateriais têm estruturas que exibem novas formas físicas, funcionalidade e
propriedades químicas e biológicas, devido a seu tamanho em nano escala. Além disso,
apresentam tamanho de grão inferior a 100 nm, o que torna maior tanto a área superficial quanto
o número de átomos distribuídos na superfície, resultando em propriedades excepcionais (Joshi
e Bhattacharyya, 2011).
Neste aspecto, nanopartículas (NPs), tais como óxidos metálicos, são usadas na
manufatura têxtil objetivando a produção de têxteis com propriedade auto limpante. Um
material têxtil com efeito auto limpante possui amplo campo de aplicação, podendo ser utilizado
desde o setor automotivo, vestimentas de uso comum, aeroespacial, além de têxteis médicos,
dentre outros (Szymanowski et al., 2005; Sobczyk-Guzenda et al., 2009; Wu et al., 2009;
Doakhan et al., 2013; Sobczyk-Guzenda, Szymanowski, et al., 2013).
Introdução 22
Entre os óxidos mais utilizados está o dióxido de titânio (TiO2), um semicondutor
fotocatalizador que, além de possuir uma alta eficiência fotocatalítica, apresenta estabilidade
físico-química, atoxidade, alto coeficiente de refração, absorção do raio UV, ação
antimicrobiana e é obtido a um baixo custo (QIAN e HINESTROZA, 2004; Taga, 2009).
Os métodos de aplicação das NPs de TiO2 são diversos. Na literatura é comum o uso de
soluções coloidais preparadas com TiO2, em que o tecido é imerso e em seguida é aquecido
para a termo fixação das NPs. Também é utilizada a combinação entre as soluções coloidais e
o processamento a plasma, que ativa a superfície do tecido, antes ou depois de ser imerso na
solução (Bozzi et al., 2005; Uddin et al., 2008; Noureddine Abidi, 2009; D. Mihailovic´ • Z. S
ˇ aponjic´ • M. Radoicˇic´, 2011; Hebeish, Abdelhady e Youssef, 2013).
Entre os processos a plasma utilizados para produção de têxteis funcionais, o método
mais comum é o de deposição a vapor químico assistido por plasma (PACVD - do inglês Plasma
Assisted Chemical Vapor Deposition). PACVD consiste de reações entre a superfície do
substrato e substâncias gasosas reagentes, presentes no ambiente do processo, sem necessidade
de aquecimento (Almeida, 2003). Esta técnica permite a deposição de filmes de carbono do tipo
DLC (Diamond-like Carbon) que é semicondutor e possui propriedades como inércia química,
biocompatibilidade, resistência à corrosão, dentre outras (Robertson, 2002).
Contudo, as soluções coloidais utilizadas para a impregnação das NPs de TiO2 em
tecidos têxteis, apesar de apresentarem bons resultados de fixação, utilizam produtos químicos
como ácidos e álcoois que se transformam em efluentes e necessitam de tratamento para
posterior descarte no meio ambiente ou mesmo reutilização na linha de produção, o que eleva
os custos da atividade industrial têxtil.
Custo e meio ambiente são temas aliados às pesquisas relacionadas a produção têxtil.
(Costa, 2009) relatou em sua tese que a atividade industrial é a que mais contribui para a
contaminação ambiental, principalmente as águas dos rios, pois a maioria dos processos
Introdução 23
industriais utilizam grandes volumes de água, e produzem, consequentemente, rejeitos líquidos
contendo espécies tóxicas ou difíceis de serem degradadas.
Neste sentido, este trabalho apresenta um método alternativo para acabamento têxtil de
efeito fotocatalítico em tecido plano de algodão. Para isto, NPs de TiO2 foram diluídas em água
destilada e aspergidas sobre o tecido, utilizando um nebulizador pneumático a jato de ar. Em
seguida, um filme de DLC foi depositado por PACVD, objetivando potencializar o acabamento,
por auxiliar na fixação das NPs de TiO2 sobre o tecido, bem como, equilibrar a hidrofilicidade
natural da fibra do algodão. Com este método, propõe-se eliminar elementos químicos que
podem se tornarem tóxicos, quando em grande quantidade e que elevam os custos do processo,
além de diminuir, consideravelmente, a quantidade de água utilizada.
O conteúdo desta tese é distribuído conforme os capítulos seguintes: O Capítulo 2
apresenta a revisão bibliográfica em que são apresentados conceitos sobre fibra de algodão,
tecidos, e acabamento têxtil; dióxido de titânio (propriedades e aplicação em têxteis), Plasma,
filmes de DLC e molhabilidade com foque na análise de espalhamento horizontal de líquidos
sobre superfícies, utilizando o método wicking. No Capítulo 3, são descritos os procedimentos
experimentais, materiais e métodos utilizados e os tipos de caracterização. No Capítulo 4 são
apresentados e discutidos os resultados obtidos das caracterizações por microscopia eletrônica
de varredura (MEV), espectroscopia de energia dispersiva (EDS), contagem de distribuição de
partículas, espectroscopia Raman, fotodegradação por radiação de luz Ultra Violeta (UV) e
análise de molhabilidade por método wicking de espalhamento e absorção de líquido e, por fim,
o Capítulo 5 contém as conclusões e, em seguida, as referências.
Revisão Bibliográfica 24
2.1. Fibra e Tecido de algodão.
A fibra de algodão é a principal matéria prima da indústria têxtil mundial e, conforme a
ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), é classificada como uma fibra natural
vegetal derivada das sementes da planta do algodoeiro da espécie Gossypium L. da família da
Malváceas (Figura 1).
Figura 1 – Classificação das fibras têxteis conforme ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). Em destaque, as fibras naturais vegetais derivadas de sementes.
Nas fibras vegetais, a celulose é o elemento químico preponderante na sua composição
e é um polímero natural que tem como monômero a glucose cuja fórmula empírica é (C6H10O5)n
(Figura 2). No caso da fibra de algodão, dependendo de sua origem, pode-se encontrar até 94%
de celulose e 6% referente a graxas, pectina, minerais, proteína, ácidos orgânicos, açucares e
CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
FIBRAS
NATURAIS
ANIMAIS VEGETAIS
SEMENTES
ALGODÃO
FOLHAS CAULE FRUTOS
MINERAIS
QUÍMICAS
REGENERADAS SINTÉTICAS
Revisão Bibliográfica 25
pigmentos. Grande parte destes elementos são removidos no processo de limpeza e alvejamento
da fibra, fazendo com que a porcentagem de celulose eleve-se para 99%.
Figura 2 - Fórmula molecular da celulose. Polímero natural derivado do monômero de glucose que forma a estrutura química da fibra de algodão. Fórmula empírica (C6H10O5)n (Cook, 2001)
A formação da fibra de algodão consiste em camadas de celulose constituídas de fibrilas
que crescem com inclinação diferente a cada camada (Figura 3). O número de camadas de
celulose em uma fibra, define a idade da mesma. As fibrilas são responsáveis por determinarem
as convoluções, que é um dos aspectos morfológicos da fibra de algodão.
Figura 3 – Esquema gráfico da parede celular de uma fibra de algodão. Adaptação (Cook, 2001).
As convoluções são leves torções (Figura 4 a) que a fibra de algodão adquire quando o
capulho se abre e toda a umidade, retida na fibra, evapora. O capulho é a estrutura da planta do
algodoeiro que guarda as fibras do algodão (Figura 4 b). Com a perda da umidade, a fibra toma
Lúmen = canal central da fibra
Cutícula ou camada externa
Camada secundária
Camada primária externa
Fibrilas com inclinações em ângulos diferentes a cada camada.
Revisão Bibliográfica 26
forma de um tubo achatado que tende a inclinar-se em sentidos diferentes, conforme a
inclinação das fibrilas. Esta característica é exclusiva da fibra de algodão.
Figura 4 – Fibra de algodão. a) Imagem microscópica de fibras de algodão apresentando as convoluções; b) Capulho aberto e fechado do algodoeiro.(National museums Liverpool -Scanning electron microscopy, 2015; primeirahora.com.br, 2015)
O algodão é uma fibra muito resistente a produtos químicos comuns, quando usados
com razoável cuidado. Corantes, alvejantes moderados e materiais similares não têm efeito
significativo sobre material têxtil fabricado com algodão. A eliminação das impurezas e
estabilidade da celulose fazem do algodão um material notavelmente durável. Prova disto, são
os registros de peças de algodão encontradas em tumbas indianas datadas de 3.000 a.C e
algumas evidências de que teria sido usado no Egito 12.000 a.C.(Cook, 2001).
Entretanto, se exposto a fortes agentes oxidantes como peróxido de hidrogênio e
alvejamento de cloro, o algodão é danificado. O mesmo acontece sobre efeito do calor. Apesar
de sua excelente resistência a degradação, o algodão começa a ter sua estrutura comprometida
após algumas horas a 120ºC, apresentando cor amarelada; se decompõe notadamente a 150ºC,
resultado do processo de oxidação, sendo totalmente danificado em alguns minutos a 240ºC
(Trotman, 1985; Cook, 2001).
Já em relação à resistência, à tração, fibras e fios de algodão sofrem influência da
umidade do ar. A fibra de algodão é higroscópica, isto é, absorve com facilidade a umidade do
ar. Sob condições médias de umidade, o algodão absorve entre 6 a 8% de umidade e tem um
a b
Revisão Bibliográfica 27
Regain de 8,5%, isto significa que depois de seco se colocado em uma atmosfera normalizada
a 20ºC com 65% de umidade, a fibra retomará 8,5% de água e a 100% de umidade sua absorção
é de 25 a 27%. Nestas condições, observa-se que há um aumento da resistência da fibra. Fibras
saturadas são cerca de 20% mais fortes do que as fibras secas e os fios de algodão expostos a
altas umidades relativas do ar, se tornam mais resistente (Trotman, 1985; Cook, 2001).
Outro aspecto importante da fibra de algodão é seu comportamento perante a ação da
água. Apesar das moléculas de celulose estarem firmemente vinculadas umas às outras dentro
das fibrilas, a água consegue penetrar na fibra através dos capilares e dos espaços entre as
fibrilas e as áreas de menor ligação das próprias fibrilas, atribuindo-se, também, às ligações
químicas dos grupos das moléculas de celulose. Desta maneira, as moléculas de água forçam
as moléculas de celulose a se separarem, diminuindo as forças que mantêm as moléculas de
celulose em conjunto e, destruindo a rigidez de toda a estrutura da celulose (Cook, 2001).
Sendo assim, a água dá mais “plasticidade” ao algodão. Ao penetrar na massa de
moléculas de celulose firmemente ligadas, ela permite que as moléculas se movam mais
livremente uma em relação à outra. A massa de celulose é suavizada e pode mudar sua forma
mais facilmente sob os efeitos de uma força aplicada. As moléculas de celulose no algodão
molhado são tão bem lubrificadas pelas moléculas da água que as fibras se tornam bastante
plásticas e facilmente deformáveis (Cook, 2001). Tais características, fazem com que roupas
fabricadas a partir de tecidos têxteis de algodão, tornem-se de uso agradável, pois são mais
confortáveis e de toque macio.
Tecido têxtil é todo material formado a partir do entrelaçamento de fios que podem ser
formados por fibras naturais ou químicas. O processo de entrelaçamento dos fios é denominado
tecelagem, através do qual pode-se obter três tipos de tecido: Tecido malha, não tecido e tecido
plano (Figura 5).
Revisão Bibliográfica 28
Figura 5 – Estrutura dos tecidos. a) Tecido malha; b) Tecido não tecido; c) Tecido plano (Behera e Hari, 2004).
O tecido malha é formado por laçadas de fios, sendo o tricô e a malha Jersey bons
exemplos deste. Já a formação do não tecido se dá a partir de fibras, ordenadas ou não, sobre
uma pasta polimérica, que juntas podem ser submetidas a diversos processos, tais como o
processo mecânico (fricção), o processo químico (adesão), o processo térmico (coesão), ou
ainda a combinação entre eles para consolidação do não tecido. Neste caso, tem-se como
exemplos os forros de absorventes e as fraldas descartáveis. E o último tipo de tecido é o tecido
plano o qual é formado pelo entrelaçamento de dois conjuntos de fios em um ângulo de 90º,
denominados de fios de urdume e fios de trama. Os fios de urdume são aqueles posicionados
no sentido vertical do tecido e os fios de trama são os fios posicionados no sentido horizontal.
Alguns exemplos de tecido plano são: o Jeans, o Brim e a Cambraia. O tecido plano é o mais
usado comercialmente tendo em vista o uso do jeans e, por esse motivo foi escolhido para a
elaboração deste trabalho (Adanur, 2001; Behera e Hari, 2004).
Assim como os demais tipos de tecido, o plano surge a partir de um planejamento que
se refere à forma de efetuar o cruzamento entre os fios de urdume e trama, denominado de
Padronagem. A partir das três padronagens básicas: tela, sarja e cetim (figura 6) é possível obter
uma infinidade de tecidos planos. A sarja é a que apresenta menor espaço entre os fios,
proporcionando um tecido à tração. Além disso, esta é uma das mais produzidas pela indústria
têxtil, uma vez que é a formação para o tecido Jeans.
A B C
Revisão Bibliográfica 29
TELA SARJA CETIM
Figura 6 – Padronagens básicas do tecido plano com identificação dos fios de urdume e trama (Adanur, 2001).
2.2. Acabamento Têxtil
O setor de acabamento têxtil é caracterizado por processos físicos e, principalmente,
químicos, aplicados aos materiais na forma de fibra, fio, tecido ou peça confeccionada. O
emprego de água e inúmeros produtos químicos geram efeitos de limpeza, branqueamento,
coloração, modificação de toque e diversas funcionalidades ao material (Araújo e Castro, 1984).
Neste sentido, o advento da nanotecnologia trouxe novos rumos demonstrando um
grande potencial para inovações na área da engenharia de superfícies, destacando aqui a área
da indústria têxtil (Sawhney et al., 2008). Através da aplicação de nanomateriais, são obtidas
características de desempenho avançado como a repelência à água, retardamento de fogo,
resistência aos microorganismos e self-cleanning, bem como, os atributos comumente
desejados dos tecidos têxteis como maciez, durabilidade e capacidade de troca de calor. Aliado
a isto, o uso dos nanomateriais traz enormes benefícios tecnológicos, econômicos e ecológicos
ao setor de acabamento têxtil (Parthasarathi, 2008).
Há muitas maneiras em que as propriedades de superfície de um tecido podem ser
manipuladas e melhoradas, através da implementação de acabamento apropriado e técnicas de
UR
DU
ME
TRAMA
Revisão Bibliográfica 30
alteração superficial com o uso da nanotecnologia. Na figura 7 são apresentadas algumas
aplicações de acabamento têxtil em tecido (Sawhney et al., 2008).
Figura 7 – Aplicações de acabamento têxtil em tecido para alteração das propriedades e performance. Adaptação (Sawhney et al., 2008).
Para proteção a radiação UV (1), em tecidos de algumas como as fibras vegetais e
regeneradas, são aplicadas substâncias químicas como os derivados de ácido oxálico dianilide
e benzatriazole os quais execem função de absorvidores da luz ultravioleta (UV) de
comprimento de onda na faixa de 300-320 nm, uma vez que a faixa de 305-310 nm apresenta
perigo máximo para a pele humana. Estas substâncias devem transformar rapidamente a mais
alta energia UV em energia vibracional nas moléculas de absorção e depois em energia térmica,
sem fotodegradação. Todo esse processo é medido através de espectroscopia, seguindo os
valores padrões do Fator de Proteção Solar (FPS) o qual dá uma medida relativa de quanto uma
pessoa pode se expor a radiação solar sem causar danos a sua saúde (Schindler e Hauser, 2004).
O controle de respirabilidade e temperatura (2) é requerido para tecidos usados em
esporte, roupas de instrução militar ou proteção contra fluídos corporais para trabalhadores da
1
3 2
4 4
Proteção a radiação UV
Controle de respirabilidade e
temperatura
Nano esferas para transporte de moléculas.
Não absorção de fluídos e sujeira
devido a presença de nano estruturas.
Manchas Gotas de fluídos
Revisão Bibliográfica 31
saúde. Tais tecidos precisam apresentar algumas características específicas como
permeabilidade a vapor de ar, a prova de água e de vento. Para isto, são empregados filmes
microporosos a base de poliuretano ou politetrafluoroetileno, no revestimento ou laminagem
dos tecidos (Sen, 2001).
Revestimentos de nano partículas para transporte de moléculas (3) têm finalidade
estética, quando utilizadas microcápsulas com fragrância que permitem um tecido perfumado
por mais tempo, além de impedir a proliferação de micro organismos. O tecido também pode
ser usado com finalidade terapêutica, quando são aplicadas nano ou micro cápsulas com drogas
para tratamento de doenças diversas em que as substâncias vão sendo absorvidas através da
pele do paciente. Em ambos os exemplos, os tecidos são imersos em soluções químicas
contendo os nanomateriais para impregnação dos mesmos sobre o tecido têxtil (Monllor, Bonet
e Cases, 2007; Ma et al., 2009; Hu et al., 2011).
Não absorção de fluídos e sujeira (4) é uma propriedade adquirida por mecanismos
químicos que podem ser produzidos pela aplicação de copolímeros ácido poliacrílico e ácido
adípico, de fluorcarbonicos híbridos ou tratamento por plasma para implantação de grupos
carboxílicos e hidroxílicos. Dependendo da fibra que constitui o tecido, estas substâncias
aumentam ou diminuem a hidrofilicidade (absorção de fluídos) ou oleofobicidade tornando
mais fácil a eliminação de substâncias adsorvidas na superfície do tecido (Schindler e Hauser,
2004). É neste trabalhte último tipo de acabamento têxtil que se enquadra o processo proposto
neste trabalho.
2.3. Dióxido de Titânio (TiO2) – Propriedades e aplicação em têxteis
Entre os nanomateriais mais utilizados no acabamento têxtil está o dióxido de titânio
(TiO2), aliás este semicondutor tem sido o principal foco das pesquisas no campo da engenharia
de superfície.
Revisão Bibliográfica 32
O aumento do uso do TiO2 se deve as suas propriedades de alta atividade fotocatalítica,
atoxidade e estabilidade físico-química (Montazer e Pakdel, 2011). A titânia pertence a família
dos óxidos de metal de transição e tem uma produção mundial que, segundo o sumário mineral
2014 do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM)(DNPM, 2014), em 2013 foi de
7,6 milhões de toneladas. No Brasil, a produção teve um aumento de 13,2% entre 2012 e 2013
passando de 71 mil toneladas para 80 mil toneladas. Em geral, anatase, rutilo e brookita são as
formas mais comuns do titânio e são diferenciadas a partir da distorção na estrutura de cada
octaédrico e pela montagem das cadeias octaédricas (figura 8). A anatase e o rutilo possuem
estruturas estáveis em baixa e alta temperatura, respectivamente (Montazer e Pakdel, 2011).
Dentre as três formas do titânio, a anatase é a preferida para o uso em pesquisas devido
a algumas de suas características como mobilidade mais alta de elétrons, constante dielétrica,
densidade mais baixa e temperatura de deposição mais baixa (Carp, Huisman e Reller, 2004).
Anatase Rutilo Brookita
Figura 8 – Estruturas moleculares das três formas mais comuns do titânio encontradas na natureza: anatase, rutilo e brookita. Fonte: Titanium Dioxide (TiO2) Photocatalysis in Concrete by Shanon http://pavemaintenance.wikispaces.com/TiO2+Photocatalys+-+Shannon, Acessado: 13/07/2014, 23h:09min.
A propriedade fotocatalítica sob raios UV (Ultravioleta) do TiO2 desencadeia uma série
de reações de redução e oxidação. Ele é usualmente utilizado na remoção de contaminação na
água e ar, e mantém a superfície limpa e esterilizada através da atividade fotocatalítica
(Montazer e Pakdel, 2011). A atividade fotocatalítica do TiO2, é bem descrita em vários
trabalhos, como o fizeram Gaya e Abdullah, 2008, Singh e Kaur, 2010.
Revisão Bibliográfica 33
O processo fotocatalítico tem início quando o TiO2 é iluminado ou irradiado por raios
UV, com energia igual ou superior a “band gap” (3,2 eV para a anatase). Os elétrons da banda
de valência são promovidos para a banda de condução, gerando lacunas e elétrons sobre a banda
de valência e de condução, respectivamente (Montazer e Pakdel, 2011).
A lacuna produzida é fortemente oxidante enquanto que o elétron tem caráter,
naturalmente, redutivo. De forma sequencial, as lacunas (h+ [bv]) (onde h+= lacuna, bv = banda
de valência) reagem com moléculas de água e geram radicais hidroxila (OH), enquanto que os
elétrons (e- [bc]) (onde e- = elétron, bc = banda de condução) reagem com moléculas de
oxigênio, reduzindo-as a radicais ânions superóxidos. Os radicais hidroxila podem mudar a
configuração de manchas e outros poluentes, convertendo-os em compostos não tóxicos. Neste
caso, as lacunas (h+ [bv]) têm grande tendência a decompor compostos nocivos. A maior parte
dos contaminantes, tais como odores, sujeira, manchas e micro-organismos, é decomposta
através deste mecanismo (Ahmed et al., 2010)(figura 9).
Figura 9 – Mecanismo de fotocatálise do TiO2 (Ahmed et al., 2010).
Revisão Bibliográfica 34
+•+ +→+ HOHOHh 2
As equações 1,2 e 3 apresentam as etapas do mecanismo de fotodegradação descritas
por Ahmed et al (2010).
Ativação do Fotocatalizador (1)
Reação oxidação (2)
Reação de Redução (3)
A fotodegradação também pode ocorrer por reação direta de um pigmento excitado do
composto orgânico (�*) com lacunas fotoinduzidas (ℎ+)(4)(Yuranova, Laub e Kiwi, 2007).
�∗ + ℎ���→ �•� → �� ���� � ���� �çã� (4)
As lacunas podem reagir diretamente com ácido carboxílico gerando ��� através de
uma reação do tipo foto-Kolbe (5) (Yuranova, Laub e Kiwi, 2007).
����� + ℎ���→ �• + ��� (5)
O mecanismo de fotodegradação do TiO2 é a base para a modificação superficial de
tecidos têxteis com propriedade de autolimpeza a qual também está relacionada com a
molhabilidade.
A molhabilidade no TiO2 é reversível. Ele apresenta capacidade de aumentar sua
hidrofilicidade (absorção de líquidos) pela fotoexcitação da sua banda gap e reverte-la para
hidrofobicidade (repelência a líquidos) quando estocado no escuro (Sobczyk-Guzenda,
Pietrzyk, et al., 2013; Sobczyk-Guzenda, Szymanowski, et al., 2013).
Várias técnicas são aplicadas a fim de imobilizar as nanopartículas de TiO2 sobre o
substrato, sendo as mais comumente usadas o método sol-gel com termo fixação, deposição a
−•− →+ 22 OOecb
2COorgânicoh →++
2COorgânicoOH →+•
+−+→+ hehTiO υ2
Revisão Bibliográfica 35
vapor químico (CVD) e deposição eletroforética (Shan, Ghazi e Rashid, 2010; Hebeish,
Abdelhady e Youssef, 2013).
No caso do tecido de algodão, as técnicas de deposição do TiO2 visam carregar a
superfície com grupos funcionais para que eles auxiliem na ligação do TiO2 com o tecido. Por
este motivo, a combinação de técnicas se faz necessária com um pré ou pós tratamento para
ativação da superfície do tecido (Bozzi et al., 2005).
Yuranova, Laub e Kiwi, 2007, submeteram amostras de tecido de algodão a uma
suspensão coloidal com TiO2 e, em seguida, trataram-as com plasma de rádio-frequência, a fim
de introduzir uma densa variedade de grupos negativos como –COO- e –OO-. Estes grupos se
ligam aos vários grupos de hidroxila (OH) presentes na celulose (figuras 10) através de ligações
covalentes devido à esterificação do grupo carboxílico, criando o que os autores chamaram de
“spacers”, substâncias que funcionam como uma espécie de interface entre o algodão e o TiO2.
O TiO2 é ligado ao algodão com o Ti4+ por interação eletrostática (figura 11).
Figura 10 – Estrutura molecular da celulose (Yuranova, Laub e Kiwi, 2007)
Figura 11 – Diagrama do processo de ligação TiO2 com tecido de algodão através do uso de substâncias que funcionam como “spacers”(Yuranova, Laub e Kiwi, 2007).
Revisão Bibliográfica 36
2.4. Filme de DLC produzido por PACVD.
Diamond-like carbono (DLC) é uma forma de carbono amorfo do tipo diamante que
contém uma fração significativa de ligações sp3 e que apresenta propriedades importantes como
alta dureza mecânica, transparência ótica e inércia química, além de uma larga banda “gap”
semicondutora. Sua deposição em forma de filme é produzida através de deposição química a
vapor assistido por plasma (PACVD- Plasma Assisted Chemical Vapor Deposition) cuja técnica
é uma das mais usadas para a deposição de filmes finos por plasma (Winters et al., 1985).
Filmes de DLC se encontram classificados em um diagrama de fase ternária (figura 12).
Eles estão representados na ponta superior do triângulo ternário, com fração igualmente
distribuída entre as hibridizações sp2, sp3 e com um conteúdo de hidrogênio inferior a 30 at.%.
Na parte superior esquerda do triângulo ternário estão os filmes a-C que possuem estruturas de
grafite desordenadas. Na parte inferior direita apresenta-se as cadeias poliméricas (CH2)n e
(CH)n (Robertson, 2002; Maia da Costa, 2005).
Figura 12 - Diagrama de fase ternária C-H o qual apresenta os possíveis tipos de carbono amorfo (Robertson, 2002; Maia da Costa, 2005; Marciano, 2008).
Em termos de molhabilidade, o filme de DLC ou carbono, apresenta caráter hidrofóbico
conforme sua hidrogenação, ou seja, menor ou maior quantidade de hidrogênio em sua
estrutura. Esta hidrofobicidade do DLC é alvo de pesquisas como a de Enomoto et al., 2010
Sp3
Sp2 H
Revisão Bibliográfica 37
cujo objetivo é criar biomateriais poliméricos revestidos com DLC capazes de controlar a
liberação de fármacos. Ele depositou DLC em vários tipos de polímeros, sempre relacionando
o tempo e a quantidade de fármaco liberada pelo biomaterial. Observou que através dos
polímeros revestidos com DLC, obtinha-se um melhor controle do fármaco em meio biológico.
Este trabalho e outros com DLC são citados por Yoshida et al., 2013 em uma revisão sobre
modificação superficial de polímeros por tramento a plasma onde um capítulo é dedicado ao
DLC.
A técnica de plasma é um processo seco, que pode adaptar polímeros a diferentes formas
como por exemplo fios, fibras e partículas, a fim de modificar as propriedades de suas
superfície, sem alterar suas propriedades estruturas intrínsecas. O Plasma, foi assim nomeado,
a partir do conceito de quarto estado da matéria, sugerido por Sir Willian Crook, em 1879, para
ser utilizado em assuntos sobre descarga elétrica (Nicholson, 1983; Denes e Manolache, 2004).
Mas só em 1929 que Tonks e Langmuir introduziram o termo “Plasma” para designar “Uma
descarga tipo arco, na qual as densidades de íons e elétrons são altas, mas substancialmente
iguais”. Nas oscilações desta região, Tonks e Langmuir notaram que “enquanto os elétrons
oscilavam os íons positivos se comportavam como uma rígida geleia...”. É possível que Tonks
e Langmuir visem uma analogia entre este comportamento de descarga de arco e o
comportamento dos componentes do sangue, no qual as partículas, como corpúsculos, se
movem pelo plasma fluido (Lieberman e Lichtenberg, 1994; Bittencourt, 1995).
Quando moléculas de gás são submetidas a uma temperatura suficientemente alta, estas
se decompõem em forma de gás de átomos, movendo-se livremente em direções randômicas,
com exceção de colisões infrequentes. Elevando-se ainda mais a temperatura, os átomos se
decompõem em partículas carregadas de movimentos livres (elétrons e íons positivos) e, assim,
a substância entra no estado de plasma (Figura 13a) (Rossnagel, Cuomo e Westwood, 1989;
Lieberman e Lichtenberg, 1994). Todo esse processo acontece através de uma descarga elétrica,
Revisão Bibliográfica 38
−+− +→+ eGGe 20
oriunda de uma fonte de voltagem que direciona corrente por um gás de baixa pressão entre
duas placas paralelas condutoras ou eletrodos, contidos em um sistema hermeticamente fechado
(Figura 15b). Elétrons e íons são acelerados pelo campo elétrico, colidindo com outras
partículas e produzindo assim mais íons e elétrons através da seguinte combinação (Sánchez,
2004).
(6)
onde G0 é o átomo ou molécula do gás no estado fundamental e G+ representa um íon deste gás.
Figura 13 – Visão esquemática do movimento das partículas que formam o plasma (a) e da descarga (b). Dependendo dos átomos e moléculas constituintes, densidade, energia e grau de
ionização, pode-se caracterizar o plasma. O grau de ionização (fração das espécies neutras
originais que foram ionizadas) é um dos mais importantes parâmetros do plasma; é através dele
que se define o tipo de Plasma gerado. Quando a ionização alcança 100%, a temperatura dos
íons é igual à temperatura dos elétrons, com energia que pode ir além da ordem entre 2 a 5 eV,
onde 1 eV equivale a 11.327ºC. Neste caso, define-se como Plasma de equilíbrio
termodinâmico. Por outro lado, quando ionização é baixa, o número de partículas carregadas
em relação às neutras está entre 10-3 a 10-6 e a temperatura da mistura das espécies neutras com
os íons é entre 100 e 1500ºC, que denomina-se Plasma de não equilíbrio termodinâmico
(Chapman, 1980; Alves Jr, 2001; Fridman, 2012). A deposição de filmes do tipo DLC ocorre
por processo de polimerização utilizando plasma frio o qual também é usado para modificação
a b
Revisão Bibliográfica 39
superficial de sólidos com foco na limpeza superficial, alteração química, etching ou
texturização.
A formação de um filme fino por polimerização a plasma sobre a superfície de um
polímero, se dá pela polimerização de um monômero orgânico tal como, CH4, C2H6, C2F4 e
C3F6. O metano (CH4) é a combinação gasosa orgânica mais simples; não pode ser polimerizado
por meios convencionais, mas somente por polimerização a plasma (Chan, Ko e Hiraoka, 1996).
A superfície de polímeros pode ser modificada pela introdução de grupos funcionais,
por grafting de superfície (enxertar elementos na superfície) utilizando plasma sem processo de
revestimento ou por deposição a plasma de filmes orgânicos para revestimento ou inorgânicos
com propriedades desejadas (Arefi-Khonsaria et al., 2005). No âmbito da modificação
superficial por deposição de filmes orgânicos, o filme de diamond-like carbon (DLC) é um
deles.
A ação do plasma sobre uma superfície orgânica pode promover reações de
polimerização distintas das convencionais em função das energias envolvidas no ambiente de
plasma e da descarga que ocorre in situ, o que usualmente leva à formação de reticulação
altamente ramificados e insolúveis, estabelecendo uma matriz muito mais homogênea que as
conseguidas por via úmida (Assis, 2010).
A deposição a vapor químico assistido por plasma, PACVD, consiste de reações entre a
superfície do substrato e substâncias gasosas reagentes, presentes no ambiente do processo, sem
necessidade de aquecimento (Almeida, 2003). Na figura 14 são ilustradas algumas dessas
reações.
Revisão Bibliográfica 40
Figura 14 – Esquema das reações que ocorrem na polimerização por plasma.
A primeira delas é a ativação eletrônica onde uma partícula neutra ao se chocar com um
elétron, resulta em dois radicais livres. Na etapa de reação fase gás, radicais livres se chocam,
resultando em uma partícula neutra. E na etapa de reação superfície, um radical livre choca-se
com a superfície resultando em uma molécula.
2.5. MOLHABILIDADE
A molhabilidade é importante para os processos têxteis e para caracterização da
superfície da fibra, transporte de líquidos, interação das fibras com líquido e surfactantes, e
adesão com polímeros. A aplicação de materiais celulósicos, por exemplo, está diretamente
ligada com absorção de umidade e suas propriedades hidrofílicas são importantes para
processos como tingimento e acabamentos especiais. O conteúdo de umidade na fibra também
altera suas propriedades mecânicas (Wong et al., 2001).
Lévy, 1992, diz que molhabilidade é habilidade de um líquido em manter contato com
uma superfície sólida, resultante de interações intermoleculares quando os dois são colocados
Revisão Bibliográfica 41
juntos. O grau de umectação (molhabilidade) é determinado por um equilíbrio entre as forças
coesivas e de aderência.
Vários testes de análise da molhabilidade podem ser realizados para obter dados sobre
transporte de líquidos, absorção, repelência, transporte de umidade entre outros. Um deles é
capilaridade horizontal – Método Wicking (Wong et al., 2001).
2.5.1. Espalhamento e absorção de líquido sobre têxteis – Método Wicking
Molhabilidade e capilaridade (Wicking) estão relacionadas. Um líquido não pode
molhar uma fibra se ele não pode se espalhar por um tecido. Portanto, o espalhamento (wicking)
só ocorre quando o espaço capilar entre as fibras é ocupado pelo líquido. Sendo assim, a
molhabilidade descreve o comportamento inicial de uma fibra, fio ou tecido em contato com
um líquido. Além disso, ela se torna bastante complexa em material fibroso, devido aos vários
mecanismos que podem ocorrer simultaneamente, como imersão, adesão, penetração capilar,
além do espalhamento. Somado a isso, tem-se a dependência da natureza química da superfície
da fibra que constitui o tecido, a geometria do conjunto de fibras, diâmetro da fibra, rugosidade,
incluindo a distribuição do tamanho dos poros (Wong et al., 2001; Das et al., 2007).
A transmissão de umidade através de têxteis é apresentada por Das et al., 2007, em um
trabalho detalhado sobre métodos de evolução e modelagem. Na primeira parte do trabalho, ele
cita que o fluxo de líquido através dos têxteis é causado por atração molecular na superfície do
material da fibra, determinado, principalmente, pela tensão superficial e distribuição efetiva dos
poros capilares. O equilíbrio das forças no limite entre sólido e líquido é demonstrado na figura
15 e descrito pela equação de Young-Dupre (equação 4), Onde: ��� é a tensão superficial
sólido-vapor, ��� é a tensão superficial sólido-líquido, ��� é a tensão superficial líquido-vapor
e � !" é o cosseno do ângulo formado com a tangente da gota.
Revisão Bibliográfica 42
θγγγ cosLVSLSV +=
Figura 15 – Esquema do processo de molhabilidade de uma superfície sólida.
(4)
A partir do valor de#, pode-se obter três configurações de molhabilidade da superfície,
conforme figura 16.
Figura 16 – Configurações do contato da gota com uma superfície sólida (Heywood, 2003).
Na configuração A, a gota se espalha sobre a superfície até atingir um ângulo# menor
de 90º, sendo que esta configuração é denominada de superfície molhável. Na configuração B,
a gota se espalha até atingir um ângulo# maior que 90º, esta configuração denomina-se
superfície não molhável e, por fim, na configuração C, a gota se espalha completamente,
recobrindo toda a superfície, formando um filme fino do líquido molhante. Neste caso presume-
se que # = 0º ou no mínimo, # 0º (Heywood, 2003).
θ
Líquido
Vapor LVγ
SVγ
SLγ
θ
θ V
L S S
V
L
L
V
S
A B C
Revisão Bibliográfica 43
No caso do TiO2, um aspecto interessante é a sua molhabilidade reversível. Yin et al.,
2013 demonstram a reversibilidade dinâmica da molhabilidade do tecido de algodão revestido
por solução sol-gel dopada com flúor e dióxido de titânio (F/TiO2) irradiado por 24 horas
apresentando ângulo de contato 0º e após 36 horas de ausência de luz, o ângulo de contato do
tecido revestido passa para 133,1º. Ou seja, na presença de luz a superfície do TiO2 tem caráter
hidrofílico e na ausência de luz torna-se hidrofóbico.
Segundo Starov et al., 2002, Starov et al., 2003; Starov, 2010, um espalhamento sobre
substratos finos e porosos, segue a mesma lei de energia para casos de espalhamento de
substratos sólidos secos. Na figura 17 é apresentado o esquema para o espalhamento sobre
superfície porosa.
Figura 17 – Esquema do processo de espalhamento de um líquido sobre uma superfície porosa (Starov, 2010). Onde:
∆ = Seção transversal de um espalhamento axi-simétrico da gota sobre o substrato inicialmente
poroso.
L(t) = Raio da base da gota;
l(t) = Raio da área molhada dentro do substrato poroso;
r, z = Sistema de coordenadas;
h(t,r) = Perfil do espalhamento da gota;
1 = Gota do líquido; 2 = Região molhada dentro do substrato poroso;
3 = Região seca dentro do substrato poroso.
Revisão Bibliográfica 44
A movimentação da gota modela o comportamento do espalhamento sobre a camada
porosa e é gerada por dois processos de ação recíproca:
I. O espalhamento da gota sobre partes saturadas da camada porosa resulta em uma
expansão da base da gota.
II. A absorção da gota através dos poros do substrato resulta em um encolhimento da
base da gota e uma expansão da região molhada no interior da camada porosa.
D´Silva et al., 2000, desenvolveram um método de teste para capilaridade plana
(Wicking) e absorção com o qual é possível obter os valores dos resultados de ambos os
processos simultaneamente.
O método consiste em medir o espalhamento do líquido observando a forma circular
deixada pelo mesmo sobre a superfície do tecido. Naturalmente, dois círculos se formam: o
primeiro chamado de zona A = espalhamento e o segundo chamado de zona B= absorção. Em
seguida, os dados da área destes círculos são calculados e plotados em gráficos conforme figura
18. É importante ressaltar que em tecidos malha, o espalhamento do líquido toma a forma
elíptica, sendo assim, se faz necessário recalcular a área para adequar a este formato.
Figura 18 – Plano de observação (A) e curva da capilaridade-absorção (B) sobre um tecido(D´Silva et al., 2000).
A B
Zo
na d
e E
spal
ham
ento
.
Zo
na d
e A
bso
rção
.
Tempo
Tot
al d
e ág
ua c
apta
da
Revisão Bibliográfica 45
)1()( 0nktRtR +=
Seguindo esta metodologia, Arora, Deshpande e Chakravarthy, 2006, realiza um estudo
de espalhamento sobre substrato poroso (Figura 19), onde diz que o espalhamento sobre
substrato sólidos é regida pela lei da potência demonstrada a seguir:
(5)
Onde: R(t) = Raio de espalhamento; R0 = Raio de espalhamento inicial; k = Constante de
espalhamento e n = Expoente de espalhamento.
Figura 19 – Esquema da montagem experimental para análise de espalhamento de um líquido sobre a superfície de um tecido. Adaptação da referência (Arora, Deshpande e Chakravarthy, 2006).
No gráfico da figura 18, nota-se que o espalhamento da água sobre a superfície tem um
comportamento crescente, enquanto que a absorção após um pequeno espaço de tempo em
ascensão, tende a ficar constante. Este comportamento indica que há uma certa resistência do
tecido em absorver o líquido e, portanto, o líquido não molha o tecido com eficiência.
Das et al., 2007 explica que quando se observa um tecido molhado por um líquido, isto
significa que o líquido atingiu todos os espaços entre as fibras e produziu uma pressão capilar.
O líquido é forçado por esta pressão e é arrastado ao longo do capilar devido à curva do menisco
Raio de Espalhamento
Microscópio + Computador
Visualização frontal do fluxo
Raio de contato ou Absorção
Revisão Bibliográfica 46
nos limites estreitos dos poros (Figura 20). O valor da pressão capilar é calculado pela equação
de Laplace, (equação 6).
$ =�&'(.*+, -
./ (6)
Onde P é a pressão capilar em um tubo de raio, 0�, ��� é a tensão superficial líquido-vapor e
123 " é o cosseno do ângulo formado com a tangente da gota sobre a superfície.
Uma diferença de pressão capilar nos poros causa espalhamento do fluído no meio. Por
isso, um fluído que não molha as fibras não pode se espalhar no tecido (Das et al., 2007).
Figura 20 – Processo de transferência de líquido através de um meio poroso. Adaptação da referência (Das et al., 2007).
Procedimentos Experimentais 47
Preparação das amostras
pesagem do pó de TiO2
PARTE I
Aspersão do TiO2com nebulizador
pneumático a jato de ar
Secagem das amostras em estufa por 5 min a 100ºC
PARTE IIDeposição do filme
DLC em atmosfera de CH4
10, 20 e 30 minutos
PARTE IIICaracterização das
amostras
MEV e EDS
Contagem das partículas
depositadas na amostra
Espectroscopia Raman
Molhabilidade
Fotodegradação
No fluxograma da figura 21, são ilustradas as etapas dos procedimentos experimentais
executados neste trabalho.
Figura 21 – Fluxograma dos procedimentos experimentais para a modificação superficial das amostras de tecido plano de algodão utilizando aspersão de TiO2 com água e deposição filme de DLC.
3.1. Amostras de tecido plano 100% algodão.
Para realização deste trabalho, foi utilizado, como substrato, tecido plano 100% algodão
de gramatura 250,02 g/m2, padronagem sarja 2x1. Este tecido foi retirado diretamente do setor
de desengomagem, etapa anterior ao processo de acabamento têxtil final. Na linguagem
industrial, este tecido é chamado de tecido cru ou PT (pronto para tingir). As amostras do tecido
CAPÍTULO 3 – PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS
Procedimentos Experimentais 48
foram cortadas em formato circular com diâmetro de 0,1 m, sendo três amostras para cada
condição de tratamento e tipo de análise. Devido o tecido ser retirado diretamente do setor de
desengomagem, ele não foi lavado, mas manipulado com luvas, pinças e armazenado em sacos
plásticos com zíper, conforme pode ser observado na imagem da figura 24.
Figura 22 – Amostra do tecido 100% algodão cortado em formato circular com 0,1m de diâmetro.
3.2. Aspersão das nanopartículas de TiO2.
O pó de dióxido de titânio, fornecido por Nanostrutured & Amorphous materials, USA
do tipo anatase com dimensão de partícula de 15 nm e pureza de 99,7%, foi pesado em 0,029 g
e diluído em 10 mL de água destilada a fim de utilizar a capacidade máxima do equipamento
para este uso. A quantidade de dióxido de titânio foi determinada após observar que a estrutura
do nebulizador não suportava quantidades maiores à que foi trabalhada.
A princípio se utilizou 0,40 g de dióxido de titânio para compor a suspensão. Entretanto,
foi observado que a água (10 mL) se evaporava e parte do TiO2 permanecia no fundo
reservatório. Este fato levou a crer em duas hipóteses: 1- o conduto ficava obstruído permitindo
apenas a evaporação da água e 2 – a suspensão ficava saturada impedindo que a totalidade das
nanopartículas fossem levadas pela água. Sendo assim, foi testado várias quantidades
diminuindo cerca de 5% do TiO2 a cada tentativa, partindo da quantidade inicial (0,40g) até
obtermos um parâmetro adequado.
Procedimentos Experimentais 49
Reservatório
A partir disto, deu-se inicio a nebulização da suspensão utilizando o nebulizador
pneumático a jato de ar, marca Pulmopar Plus Soniclear com fluxo de operação de 10 litros de
ar por minuto, pressão de trabalho 27,57x106 Pa, vazão de 5mL em 15 minutos, micropartículas
eficientes menores do que 5µm e capacidade de 10mL (Figura 23). Este processo foi realizado
no laboratório de plasma do Instituto de pesquisa e desenvolvimento da UNIVAP, São José dos
Campos, SP e, também, no laboratório de química analítica do centro de inovação tecnológica
do semi-árido da Universidade Federal Rural do Semi-árido – UFERSA-RN.
Figura 23 – Nebulizador pneumático a jato de ar utilizado para aspergir as NPs de TiO2 diluídas em água destilada sobre a amostra.
3.3. Deposição do Filme de DLC por PACVD.
O filme de diamond-like carbon (DLC) foi depositado utilizando um reator NPE-4000,
PECVD System Nano-master, Inc., de fonte pulsada do laboratório de plasma do Instituto de
pesquisa e desenvolvimento da UNIVAP, São José dos Campos, SP (Figura 24).
Estrutura de vidro para evitar
espalhamento do material.
Mangueira do ar Motor
Procedimentos Experimentais 50
A deposição foi realizada nos tempos de 10, 20 e 30 minutos de duração em atmosfera
de 100% metano (CH4), conforme parâmetros apresentados na tabela 1.
Após a deposição do filme de DLC sobre as amostras, estas foram guardadas na ausência
de luz para não haver interferência na análise de fotodegradação.
Figura 24 – Deposição de filme de DLC por PACVD. a) Reator de plasma; b) Amostras durante a deposição do filme.
Parâmetro Valor Unidade Pressão 6.66 Pa Frequência 100 kHZ Potência 100 watts Corrente 0,23 A Pulso 4,5 µs Fluxo CH4 20 cm3/s Voltagem 450 V
Tabela 1 – Parâmetros de deposição do filme de DLC por PACVD.
a b
Procedimentos Experimentais 51
3.4. Caracterização das Amostras.
3.4.1. Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)
A morfologia da superfície das amostras foi analisada utilizando MEV modelos
EVO MA10, Oxford Instruments Zeiss IncaPentaFetx3 do Instituto de pesquisa e
desenvolvimento da UNIVAP, São José dos Campos, SP e TM3000 HITACHI modelo de
bancada, do laboratório de caracterização de materiais do departamento de Ciência e
Engenharia de Materiais da UFRN, Natal, RN.
3.4.2. Espectroscopia de energia dispersiva (EDS).
Caracterização química da superfície das amostras foi realizada por EDS com
equipamento modelo Swifted 3000, Oxford Instruments pertencente ao Laboratório de
Caracterização de Materiais do Departamento de Ciência e Engenharia de Materiais da UFRN.
3.4.3. Distribuição das partículas.
A metodologia usada para avaliar a eficiência do processo de aspersão das NPs
de TiO2, utilizando um nebulizador pneumático a jato de ar, consistiu em analisar a distribuição
dos pontos na imagem e assim, saber se a aspersão se deu de forma uniforme. Portanto, as NPs
de TiO2 foram contadas a partir de imagens geradas do mapeamento realizado pelo EDS e
inseridas no programa Image Proplus 4.5. Cada imagem foi dividida em quatro partes iguais
utilizando a ferramenta seleção de área, sendo que a delimitação dos quadrantes era realizada
manualmente. Em seguida, a ferramenta contagem era acionada e o número de pontos
Procedimentos Experimentais 52
calculado, automaticamente pelo programa, por quadrante, conforme ilustrado na figura 25 a
qual apresenta um printscreen (escaneamento da tela do computador) do software.
Ainda na ilustração da figura 25 observa-se uma janela do software com o título
course/size ao lado da imagem da amostra dividida em quadrantes. Na course/size, a função
Automatic Bright objects era acionada e a contagem dos pontos brancos, representando o TiO2,
era iniciada. Em seguida, o resultado total, do número dos pontos brancos, é apresentado ao
lado no espaço Total count que na figura aparece no valor de 153. A área total de cada imagem
também é fornecida pelo programa, neste caso, o valor é de 803,28µm2.
Figura 25 – Imagem da tela do programa Image ProPlus 4.5 utilizado para contagem do número de partículas de TiO2 sobre as amostras de tecido a fim de avaliar a distribuição das partículas após aspersão com nebulizador pneumático a jato de ar.
3.4.4. Espectroscopia Raman
A espectroscopia Raman é uma análise qualitativa, baseada na irradiação de uma
molécula por uma potente fonte de luz laser monocromática onde grande parte desta luz se
espalha em um ângulo medido por um espectrômetro que, frequentemente, tem valor de 90°.
Cerca de 99% da radiação espalhada tem a mesma frequência da luz incidente e a outra parte
desta luz (1%) está em outras frequências.
Procedimentos Experimentais 53
A diferença entre estas frequências é o que caracteriza a molécula irradiada e é idêntica,
numericamente, a certas frequências vibracionais e rotacionais da molécula (Mendham et al.,
2002; Holler, Skoog e Crouch, 2009).
Sendo assim, a análise Raman apresenta algumas vantagens como poder trabalhar com
tamanho minúsculo de amostra, não ser destrutiva e de fácil manuseio. A espectroscopia Raman
é uma técnica linear em que a intensidade dos picos é diretamente proporcional à quantidade
da substância na amostra. Outra vantagem é a de não ser afetada pela água, pois o escaneamento
do pico da água é muito fraco, portanto, análise em meio úmido é possível (Adebajo, M.O. et
al., 2006; Zięba-Palus e Wąs-Gubała, 2011).
Objetivo do uso da espectroscopia Raman neste trabalho é constatar mudança nas
amostras após o tratamento, através identificação dos elementos presentes na amostra antes e
depois do experimento. Para isso, foram analisadas 4 amostras (NT, TiO2DLC10, TiO2DLC20
e TiO2DLC30) e o equipamento utilizado foi um FT Raman Bruker rfs/100, energia de
excitação 1064 nm, potência de 300 mW, tempo de integração 300 scans com média de 3 pontos
por amostra e detector de germânio refrigerado nitrogênio líquido, pertencente ao laboratório
de Espectroscopia Vibracional Biomédica da UNIVAP- Universidade do Vale do Paraíba, São
José dos Campos, SP.
3.4.5. Molhabilidade – Espalhamento e absorção do líquido sobre o tecido.
O comportamento do espalhamento de líquido sobre o tecido pós tratamento foi
realizado fixando a amostra na base de um microscópio óptico Bresser com USB, sem tensionar
o tecido. Em seguida, uma solução de água destilada e corante azul metileno (fórmula molecular
C16H18N3SCl, peso molecular 319,85 g/mL e comprimento de onda λ (665 nm), foi gotejada sobre
o tecido, com o auxílio de um pipetador com volume 1µL, e observado por 5 minutos, com o
objetivo de marcar o espalhamento do líquido.
Procedimentos Experimentais 54
As imagens do espalhamento foram capturadas a uma magnitude de 20 vezes,
pelo programa AVEO USB 2.0 PC CAMERA (U2HGCV3P31048) do próprio microscópio
durante 100 segundos. A análise foi realizada no laboratório de Plasma da UFERSA –
Universidade Federal Rural do Semi-árido, Mossoró, RN, a uma temperatura controlada de
25ºC. Conforme mostra a figura 26.
Figura 26 – Análise de espalhamento do líquido sobre o tecido. a) Microscópio óptico para captura das imagens; b) imagem da gota espalhada sobre o tecido sem tratamento.
A medição dos raios de absorção e espalhamento do líquido sobre o tecido
(conforme descrito no item 2.6 do capítulo 2) também foi realizada através do programa de
medição Image Proplus 4.5.
A figura 27 apresenta o printscreen da tela do programa Image Proplus 4.5 com
a imagem da amostra marcada com a solução água-corante. Nota-se, claramente, a formação de
dois círculos sobre o tecido, onde o menor representa a absorção do líquido e o maior o
espalhamento do líquido sobre o tecido. A ferramenta Draw/Merge objets é acionada e,
manualmente, as áreas dos círculos são delimitadas e, posteriormente, o programa fornece o
valor da área marcada.
a b
Procedimentos Experimentais 55
Figura 27 – Imagem da tela do programa Image ProPlus 4.5 para cálculo das áreas correspondentes a absorção (A) e ao espalhamento (B) do líquido sobre a amostra de tecido.
3.4.6. Análise de Fotodegradação.
As amostras de tecido, tratadas e armazenadas na ausência de luz, foram cortadas
em formato retangular de dimensões 0,015 x 0,015 m, gotejadas com 20 µL da solução água-
corante (Figura 28 a e 28 b) e expostas à luz Ultravioleta (UV) em uma cabine de avaliação de
cor modelo TC 200-600 com lâmpada UV de 214,4 lúmen/s, durante 120 minutos (Figura 29
a) no Laboratório de química têxtil do Departamento de Engenharia Têxtil da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte - UFRN. As mesmas foram posicionadas em uma placa petri
sobre uma proveta, e expostas à luz da lâmpada UV a uma distância de 0,06m (Figura 29 b).
Figura 28 – Preparação para análise de fotodegradação. a) Solução água-corante; b) amostras antes e depois do gotejamento com a solução.
a b
A
B
Procedimentos Experimentais 56
( )S
K
R
RRf =−=
2
)1( 2
Figura 29 – Equipamentos usados para análise de fotodegradação. a) Cabine de avaliação de cor com lâmpada UV; b) Placa de petri sobre uma proveta utilizada para expor a amostra a luz UV com distância de 0,06m.
A cada 15 minutos a amostra era retirada da exposição à radiação UV e
submetida à leitura do espectrofotômetro portátil Konica Minolta com abertura de perspectiva
de 3mm e lâmpadas de xenônio pulsada (Figura 30). Depois a amostra era recolocada na cabine
(Figura 29 a) para prosseguir com a análise.
Os dados foram coletados e analisados pelo software do espectrofotômetro e
posteriormente plotados em gráficos de K/S em relação ao comprimento de onda. K/S é a
relação entre refletância e absorção, calculada através da equação de Kubelka-Munk (equação
7):
Onde a refletância absoluta da camada exposta é (R), coeficiente de absorção é (K) e o
Coeficiente de dispersão é representado por (S) (Yin, Wang e Wang, 2012).
Portanto, a mudança na cor pela exposição à luz, RL, é obtida usando a seguinte
equação (8):
Placa de petri.
a b
Lâmpada de UV
(7)
Procedimentos Experimentais 57
�4 =(67)94 − (
67);4
(67);4
× 100%
Onde (K/S)DL é K/S depois da radiação UV, (K/S)AL é K/s antes da radiação UV. Os valores
de(K/S)AL e (K/S)DL são determinados pelo valor máximo do espectro da absorção dos tecidos.
O objetivo da análise de fotodegradação é verificar se houve efeito fotocatalítico
no tecido após a deposição de TiO2 e filme de DLC, ou seja, se a mancha produzida pelo corante
azul metileno sofreria degradação ao longo do tempo.
Figura 30 – Espectrofotômetro portátil acoplado a um computador para leitura da concentração do corante nas amostras após a exposição à luz UV.
Espectrofotômetro portátil
(8)
58
No quadro 1 são descritas cada amostra do experimento com suas respectivas siglas.
Quadro 1 - Siglas de identificação das amostras do experimento
4.1. Microscopia Eletrônica de Varredura – MEV
As imagens da microscopia eletrônica de varredura (MEV) foram realizadas antes e
após a aspersão do TiO2 e deposição do filme de DLC sobre as amostras de tecido. Estas
imagens são apresentadas em baixa e alta amplitude para melhor visualização da morfologia da
superfície das fibras.
A amostra NT (Figuras 31 a e b) apresenta uma superfície com nervuras, limpa e sem
material aderido. Aspectos compatíveis a um tecido e fibra de algodão limpos e oriundos de um
processo de desengomagem. Entretanto, ao analisar as imagens da amostra C/TiO2, (Figura 32
CAPÍTULO 4 – RESULTADOS E DISCUSSÃO
Descrição da amostra Identificação da amostra
Não tratada NT
Com TiO2 C/ TiO2
Com TiO2, e filme de DLC depositado por 10 minutos
TiO2DLC10
Com TiO2 e filme de DLC depositado por 20 minutos
TiO2DLC20
Com TiO2 e filme de DLC depositado por 30 minutos
TiO2DLC30
Resultados e Discussões 59
a), nota-se que as fibras estão mais unidas umas às outras, e com pontos brancos distribuídos
sobre suas superfícies. Após ampliação de imagem (Figura 32 b), percebe-se que os pontos
brancos são partículas sobre toda a extensão da fibra que são atribuídas como sendo as NPs de
TiO2 depositadas por aspersão.
Figura 31 – Imagens de Microscopia eletrônica de varredura (MEV) da amostra de tecido não tratada (NT).
Figura 32 - Imagens de Microscopia eletrônica de varredura (MEV) da amostra de tecido com TiO2 (C/ TiO2).
a b
a b
Resultados e Discussões 60
Na figura 33 são apresentadas imagens da amostra TiO2DLC10. Nestas, também se
observa (Figura 33 a) partículas distribuídas pela superfície como na amostra C/TiO2, porém,
na ampliação da imagem (Figura 33 b), verifica-se que estão mais espaçadas em comparação
com a amostra C/TiO2. Neste caso, o filme de DLC pode ter recoberto grande parte das
partículas TiO2 durante o processo de deposição a plasma e os pontos, agora observados, serem
tanto NP´s de TiO2 como material oriundo do filme de DLC.
As imagens das amostras TiO2DLC20 e TiO2DLC30 (Figura 34 e 35) apresentando
perfis morfológicos semelhantes ao da amostra TiO2DLC10, porém com a superfície da fibra
mais recoberta.
Figura 33 - Imagens de Microscopia eletrônica de varredura (MEV) da amostra de tecido com TiO2 e filme DLC depositado por 10 minutos (TiO2DLC10).
a b
Resultados e Discussões 61
Figura 34 - Imagens de Microscopia eletrônica de varredura (MEV) da amostra de tecido com TiO2 e filme DLC depositado por 20 minutos (TiO2DLC20).
Figura 35 - Imagens de Microscopia eletrônica de varredura (MEV) da amostra de tecido com TiO2 e filme DLC depositado por 30 minutos (TiO2DLC30).
4.2. Espectroscopia de energia dispersiva (EDS)
Para identificar a presença do titânio e outros elementos químicos na superfície do
tecido, foi realizada micro análise de EDS. Sabendo-se que o EDS é uma análise pontual, foram
avaliados os elementos químicos sobre uma partícula qualquer (Figura 36 a) e, depois, sobre a
superfície da fibra (Figura 36 b) na amostra TiO2DLC10. Em ambas as superfícies foram
detectados os elementos: carbono, oxigênio e titânio.
a b
b a
Resultados e Discussão 62
Figura 36 – Análise de espectroscopia de energia dispersiva (EDS) da amostra TiO2DLC10. a) Resultados encontrados sobre a partícula visualizada; b) resultados encontrados sobre a superfície da fibra e indicação fissuras sobre a fibra aspecto característico de rompimento de filme.
Entretanto, sobre a partícula analisada, foi detectado um sinal mais forte para o carbono
e oxigênio, do que para o titânio. Já a análise sobre a superfície da fibra os sinais do carbono e
oxigênio regridem, enquanto o sinal da titânia aumenta. Os sinais mais fortes para o elemento
carbono e oxigênio são esperados, uma vez que o carbono está presente tanto na celulose do
algodão quanto no filme de DLC e o oxigênio compõe a celulose.
Este fato, pode ser atribuído a uma boa dispersão das NPs de TiO2 o que estaria
dificultando a leitura da titânia pelo EDS, conforme foi observado nas imagens de MEV,
apresentadas no item anterior. Além disso, também poder-se-ia atribuir ao recobrimento parcial
das NPs de TiO2 pelo filme de DLC. Soma-se a isto, o fato de serem visualizadas fissuras sobre
a fibra (figura 38 b) que são características de deposição de filme sobre superfícies. Tais fissuras
b
a
Resultados e Discussão 63
ocorrem comumente quando o filme sofre a ação de algum tipo de stress como, por exemplo,
diferença de temperatura.
4.3. Distribuição das partículas
Conforme descrito no item 3.5, capítulo 3, a contagem das partículas foi realizada para
avaliar se a aspersão das NP´s de TiO2 sobre a superfície do tecido, utilizando um nebulizador
pneumático, é eficiente, e verificar a relação com a deposição do filme de DLC.
As amostras foram analisadas buscando comparar a quantidade dos principais
elementos, presentes nas estruturas do tecido e do filme de DLC que são o carbono e o oxigênio,
além da própria titânia.
A primeira amostra analisada foi a NT (Figura 37). Em primeiro lugar, foi demarcada a
região da amostra que seria analisada (Figura 37 a), depois a visualização dos elementos
correspondentes ao oxigênio (Figura 37 b), carbono (Figura 37 c) e titânia (Figura 37 d). Ficou
evidente que o elemento titânia (Ti k a1) é quase inexistente na amostra NT. Vale lembrar que
a contaminação nunca é zero, principalmente, em ambiente com manipulação de pós como é o
caso do pó de TiO2 o que, neste caso, não influenciou nos resultados. Além disso, a análise de
EDS promove um mapeamento dos elementos químicos nas amostras e, por isso, podem ocorrer
leitura de dois ou mais pontos como um só, o que dá uma margem de erro significativa. Porém,
o intuito é saber se a aspersão de TiO2 diluído em água destilada se deu de forma coerente e
aceitável, bem como, o comportamento do mesmo em relação ao filme de DLC.
Inicialmente, não houve aglomeração de TiO2 como se poderia imaginar. Ao contrário
disso, houve uma dispersão uniforme de TiO2, conforme observado na análise de imagens.
Resultados e Discussão 64
Figura 37 – Imagens do mapeamento de EDS para avaliação da presença do elemento titânio na amostra NT. a) Delimitação da área a ser analisada; b) Oxigênio; c) Carbono e d) Titânio.
Nas amostras com NPs de TiO2 e submetida a deposição do filme de DLC por plasma
(TiO2DLC10 (Figura 38), TiO2DLC20 (Figura 39) e TiO2DLC 30 (Figura 40)), a avaliação da
titânia foi realizada dividindo-se as imagens em quadrantes.
a b
d c
Resultados e Discussão 65
Figura 38 – Distribuição do elemento titânio sobre a superfície da amostra TiO2DLC10. Q1 = 303, Q2=209, Q3=283 e Q4=187 partículas.
Observou-se, então, que a diminuição da quantidade do elemento titânia (Ti k a1) tinha
relação com o tempo de deposição do filme de DLC. Quanto maior o tempo de deposição,
menor o número de Titânia. Este fato pode estar ligado ao recobrimento das NP´s de TiO2 pelo
filme, pois a medida em que aumenta o tempo de deposição, maior é a quantidade de material
polimérico sobre a superfície da amostra; dificultando, assim, a identificação da titânia pelo
EDS, ou ainda, pela alta dispersão da titânia sobre a superfície como dito anteriormente.
O aumento da quantidade de carbono nas amostras após serem submetidas ao tratamento
com plasma (Figuras 41, 42 e 43), é um fator que pode constatar a deposição do filme e,
consequentemente, o recobrimento das NP´s de TiO2.
Q1 Q2
Q3 Q4
Resultados e Discussão 66
Figura 39 – Distribuição do elemento titânio sobre a superfície da amostra TiO2DLC20. Q1 = 199, Q2=146, Q3=223 e Q4=153 partículas.
Figura 40 – Distribuição do elemento titânio sobre a superfície da amostra TiO2DLC30. Q1 = 151, Q2=124, Q3=180 e Q4=126 partículas.
Q1 Q2
Q3 Q4
Q1 Q2
Q3 Q4
Resultados e Discussão 67
Figura 41 – Distribuição do elemento carbono sobre a superfície da amostra TiO2DLC10. Q1 = 1705, Q2=1663, Q3=1729e Q4=1578 partículas.
Figura 42 – Distribuição do elemento carbono sobre a superfície da amostra TiO2DLC20. Q1 = 2798, Q2=2577, Q3=2780 e Q4=2543 partículas.
Q1 Q2
Q3 Q4
Q1
Q3 Q4
Q2
Resultados e Discussão 68
Figura 43 – Distribuição do elemento carbono sobre a superfície da amostra TiO2DLC30. Q1 = 2844, Q2=2812, Q3=2866 e Q4=2646 partículas.
Q1 Q2
Q4 Q3
Resultados e Discussão 69
2400 2600 2800 3000 3200 3400
NT
Porta amostra
TiO2DLC10
TiO2DLC20
Inte
nsid
ade
(u.
a.)
Número de onda (cm-1)
TiO2DLC30
289
5
4.4. Espectroscopia Raman
Os espectros da análise Raman são apresentados nas figuras 44 e 45. Primeiro em alta
frequência (Figura 44) e depois em baixa frequência (Figura 45). Nos espectros são
identificados os picos característicos do algodão e do elemento principal de sua estrutura
química, a celulose. Através deles, pode-se identificar a mudança da superfície com a evolução
do tempo de deposição do filme DLC.
Figura 44 – Espectroscopia Raman. Espectros das amostras NT, TiO2DLC10, TiO2DLC20 e TiO2DLC30, obtidos com laser de 1064nm, em alta frequência, apresentando a banda 2895cm-1 característica do algodão cru na região de 2400-3500cm-1.
Os espectros apresentam os perfis característicos do algodão cru ou que não sofreu
acabamento final têxtil. Neles, são identificadas as bandas mais fortes associadas com a
estrutura da celulose de acordo com a literatura (Edwards, Farwell e Williams, 1994; Edwards,
Farwell e Webster, 1997; Adebajo, M. O. et al., 2006; Lepot et al., 2008; Kavkler e Demšar,
2011). Além disso, o sinal captado como sendo do porta amostra é apresentado separadamente
para que não haja interferência na interpretação dos espectros das amostras.
Resultados e Discussão 70
200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800
NT
TiO2DLC10
TiO2DLC20
Inte
nsid
ade
(u.a
.)
Número de onda (cm-1)
460
380
Porta amostra
TiO2DLC30
109
4
112
1
137
8
52043
7
Para cada banda observada nos espectros, há uma relação com a estrutura química do
algodão. A banda 2895 cm-1 (Figura 44) está associada com as vibrações de alongamento
assimétrica e simétrica da molécula CH2 e a 1378 cm-1 (Figura 45) está associada com às
vibrações de deformação, também, da molécula CH2. Já a banda 1121 cm-1 (Figura 45)
corresponde as vibrações das ligações do anel β-1-4 glicosídico que estão entre as unidades de
D-glucose presentes na celulose. A banda em 1121cm-1 juntamente com 1094 cm-1 (Figura 45)
é descrita como vibração assimétrica e simétrica da ligação C-O-C glicosídica (Adebajo, M. O.
et al., 2006).
Figura 45 – Espectroscopia Raman. Espectros das amostras NT, TiO2DLC10, TiO2DLC20 e TiO2DLC30, obtidos com laser de 1064nm, em baixa frequência, apresentando as bandas características do algodão cru na região de 100-1800cm-1.
Na região de número de onda mais baixo, a banda em 380 cm-1 está relacionada com o
sinal médio da deformação do anel simétrico C-C-C (Figura 46). Enquanto que a banda 437
cm-1 (Figura 45) é associada a um sinal médio da deformação do anel C-C-O e C-C-C. E por
fim, 460 e 520 cm-1 associados a deformação e flexão da estrutura do anel C-C-O e C-C-C
ligados entre si (Kavkler e Demšar, 2011).
Segundo Kavkler e Demšar, 2011, ao se analisar espectros de fibras vegetais, a banda
em 1600 cm-1 é típica da lignina, substância presente nas fibras derivadas de caules, mas
Resultados e Discussão 71
NT TiO2DLC10 TiO2DLC20 TiO2DLC300,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1,0
1,1
Inte
nsid
ade
Nor
mal
izad
a (u
.a.)
Amostras
Valor normalizado com referência a NT
completamente ausente nas fibras de algodão; o que confirma ser o algodão representante da
mais pura celulose. Neste caso, pode-se afirmar que a amostra trabalhada do tecido de algodão
é 100% pura e limpa.
Apesar dos espectros apresentarem semelhanças entre si (o que é comum quando se
analisa fibra de algodão), percebe-se que a intensidade da banda 2895 cm-1 (Figura 44) diminui
à medida que aumenta o tempo de deposição do filme DLC, nas amostras TiO2DLC. O que é
melhor observado no gráfico da Figura 46 onde são apresentados valores normalizados com
referência a amostra NT.
Figura 46 – Gráfico de intensidade normalizada referente a amostra NT dos resultados da análise de Raman em alta frequência obtidos com laser de 1064nm.
Nos espectros em baixa frequência da figura 46, estão identificados o anel β-1-4
glicosídico e a ligação C-O-C glicosídica de bandas 1094 e 1121cm-1, respectivamente,
representantes mais fortes da celulose. Estes também têm decréscimos nas intensidades dos
sinais à medida que aumenta o tempo de deposição por plasma do filme de DLC.
Resultados e Discussão 72
Com o sinal de energia das bandas do anel β-1-4 glicosídico e da ligação C-O-C
glicosídica diminuindo em relação ao tempo de deposição, significa que a celulose presente no
tecido está sendo recoberta, bem como, todo e qualquer material que tenha sido colocado antes
da deposição do filme de DLC.
Os resultados da espectroscopia Raman podem ser relacionados com a análise da
morfologia das fibras do tecido, observadas nas imagens de MEV onde a superfície das fibras
apresenta material aderido após a aspersão do TiO2 e deposição do filme de DLC. Também
pode haver relação com o aumento do carbono verificado no mapeamento do EDS, quando as
imagens foram analisando para a distribuição do TiO2.
4.5. MOLHABILIDADE
Com a modificação superficial promovida na superfície da amostra de tecido de algodão
através da aplicação de TiO2 e filme de DLC, obtém-se uma espécie de composto de três
materiais que permeiam entre a repelência e absorção de líquidos, o que influencia diretamente
no efeito autolimpeza, conforme descrito no capítulo 2.
4.5.1. Espalhamento do líquido no tecido.
Após o tratamento, as amostras foram gotejadas com a solução de corante azul
metileno e o comportamento do seu espalhamento sobre o tecido foi observado. Os resultados
foram plotados no gráfico da figura 47 onde são apresentadas curvas correspondentes ao raio
de espalhamento das amostras NT, C/TiO2, TiO2DLC10, TiO2DLC20 e TiO2DLC30.
Resultados e Discussão 73
0 20 40 60 80 100
0
50
100
150
200
250
Rai
o de
esp
alha
men
to ( µm
)
Tempo (s)
NT C/TiO
2
TiO2DLC10
TiO2DLC20
TiO2DLC30
Figura 47– Gráfico do raio de espalhamento do líquido em relação ao tempo sobre as amostras de tecido. As amostras NT e C/TiO2 apresentam alto valor da curva para o raio de
espalhamento e este valor, tende gradativamente a tornar-se constante. Em relação à amostra
NT, D´Silva et al., 2000 explicam que este fato pode ter relação com o inchaço das fibras de
algodão que adquirem este aspecto, após processos de beneficiamento, da fibra e/ou fio como,
por exemplo, a mercerização que tem a finalidade de aumentar a hidrofilicidade, através do
inchaço das fibras, maciez e remover impurezas como ceras, através de banho em solução de
hidróxido de sódio (NaOH) (Cook, 2001), processo ao qual as fibras das amostras propostas
foram submetidas.
Sendo assim, quando a solução entra em contato com a superfície da amostra,
ela é logo absorvida pelas fibras do fio e só depois a solução começa a ocupar os demais espaços
entre as fibras, no sentido horizontal do tecido.
Resultados e Discussão 74
Algo semelhante ocorre com a amostra C/TiO2 que apresenta uma curva com
diferença ínfima em relação a curva da amostra NT. Isto porque além do aspecto da fibra
beneficiada, descrita anteriormente, o TiO2 tem caráter hidrofílico na presença da luz. Assim,
nos primeiros instantes, o raio ganha um valor alto e, em seguida, este valor também tende a
ficar constante.
Seguindo a observação do gráfico, ainda na figura 47, a amostra TiO2DLC30
apresenta um raio de espalhamento maior longo, nos 5 primeiros segundos, mas depois disto,
sua difusão tende a estacionar, permanecendo assim até o final do tempo da análise. Neste caso,
o caráter hidrofóbico do filme de DLC faz com que o líquido se espalhe mais rápido,
horizontalmente, pois não é absorvido pelas fibras do fio de imediato.
4.5.2. Absorção do líquido no tecido
A segunda fase da análise da molhabilidade, usando o método wicking, é a
observação da absorção do líquido. Assim como na observação do espalhamento do líquido, o
raio do círculo da absorção também é medido. Portanto, os resultados foram plotados e são
apresentados no gráfico da figura 48.
As amostras NT e C/TiO2 apresentam comportamento compatível com seu
caráter hidrofílico, pois a absorção da solução na amostra NT é tão rápida, que não se consegue
acompanhar a evolução do raio de absorção e, muito menos, realizar as suas medidas, já que,
visualmente, este desaparece. Na amostra C/TiO2, o óxido dificulta um pouco mais a absorção
da solução, porém a medida do raio é praticamente a mesma da amostra NT.
Na amostra TiO2DLC30 a curva de absorção muda seu comportamento quase
que abruptamente, ou seja, durante os 5 segundos iniciais, a curva tem uma ascendência muito
maior, porém, ela se torna de valor constante após este tempo, demonstrando ter estacionado
Resultados e Discussão 75
0 20 40 60 80 100
0
10
20
30
40
50
Rai
o de
abs
orçã
o ( µm
)
Tempo (s)
NT C/TiO
2
TiO2DLC10
TiO2DLC20
TiO2DLC30
em relação a sua evolução inicial. Ao contrário das amostras TiO2DLC20 e TiO2DLC10 que
apresentaram curvas com ascendência suave e gradativa.
Figura 48– Gráfico do raio de absorção do líquido em relação ao tempo do sobre as amostras de tecido.
O comportamento das curvas de absorção do gráfico da figura 48 pode ser
explicado tendo como base a teoria da modelagem do comportamento do espalhamento sobre
uma camada porosa a qual é citada no item 2.5.1 do capítulo 2 da referência de Starov (2010)
e que diz: “a absorção da gota através dos poros do substrato resulta em um encolhimento da
base da gota e uma expansão da região molhada no interior da camada porosa”. Visto isso, as
amostras NT e C/TiO2 têm uma boa absorção de líquido. A gota da solução teve sua base
contraída (representada aqui pelo raio da absorção do líquido), caracterizando total penetração
da solução nas camadas do tecido.
O inverso ocorreu com as amostras TiO2DLC10, TiO2DLC20 e TiO2DLC30
onde a base da gota não contraiu, chegando a se estabilizar em termos de dimensão
(TiO2DLC30) ou o valor de sua dimensão teve evolução lenta, mas ascendente (TiO2DLC10 e
Resultados e Discussão 76
TiO2DLC20). Neste caso, a solução tem dificuldades de penetrar na região porosa do tecido (os
espaços entre fibras no sentido vertical) devido a hidrofobicidade do filme de DLC, pois quanto
maior o tempo de deposição do filme, maior a quantidade de DLC e, consequentemente, maior
a hidrofobicidade da superfície modificada. A hidrofobicidade do filme de DLC foi constatada
por Marciano et al., 2009 quando comparou o ângulo de contato da água sobre a superfície do
aço inoxidável revestido com filmes de DLC e filmes de TiO2 + DLC e verificaram que o ângulo
de contato diminuia à medida que a concentração de NPs de TiO2 no filme aumentava.
Os referidos círculos de espalhamento e absorção, visualizados no contato da
solução com o tecido, são observados na figura 49. Na amostra NT (Figura 49 a) é observado
um único círculo e a este denominado de espalhamento, pois conforme descrito anteriormente
a base da gota se contrai inteiramente, não deixando nenhum vestígio na superfície do tecido.
A amostra C/TiO2 (Figura 49 b) apresentou um aspecto visual semelhante ao da
imagem da amostra NT, nota-se, apenas uma pequena parte escura, não centrada no círculo de
espalhamento, também mencionado em parágrafos anteriores.
Por outro lado, as demais imagens referentes as amostras com TiO2 e DLC
apresentam os círculos de espalhamento e absorção perfeitamente visíveis. Nota-se que na
amostra TiO2DLC30 (Figura 49 e) os círculos de espalhamento e absorção são visualizados
com tamanho maiores do que os círculos das amostras TiO2DLC10 (Figura 49 c) e TiO2DLC20
(Figura 49 d).
Essas observações demonstram que a base da gota do líquido usado contraiu
menos na superfície com TiO2DLC30 do que nas demais amostras. Isto significa que, por
apresentar maior quantidade de filme DLC, a superfície passa a ter um caráter mais hidrofóbico.
Com isso, o líquido tem mais facilidade de espalhamento na horizontal do que de penetração
(absorção) na estrutura física do tecido. Por esse motivo, a amostra TiO2DLC30 apresenta
círculos de espalhamento e absorção bem mais definidos do que das demais amostras.
Resultados e Discussão 77
Os valores absolutos dos raios e a representação das zonas de espalhamento e absorção
das amostras são apresentados na Tabela 2 e figura 52, respectivamente.
Figura 49 – Imagens do espalhamento da gota da solução de corante sobre as amostras de tecido para análise de molhabilidade, método Wicking. a) NT; b) C/TiO2; c) TiO2DLC10; d) TiO2DLC20; e) TiO2DLC30.
A
D C
B
Círculo de Espalhamento
Círculo de Absorção
E
Resultados e Discussão 78
0 20 40 60 80 100
0
50
100
150
200
250
Zon
a de
abs
orçã
o
*
*
*
*
Med
ida
do r
aio
( µm
)
Tempo (s)
NT C/TiO2 TiO
2DLC10 TiO
2DLC20 TiO
2DLC30
NT* C/TiO2* TiO
2DLC10* TiO
2DLC20* TiO
2DLC30*
*Z
ona
de
Esp
alha
men
to
*Os valores absolutos dos raios de espalhamento e absorção de líquido das amostras de tecido de algodão que constam na tabela 2 foram plotados usando o programa Origin 8.5 e a ferramenta de análise fitting / nonlinear curv fit/POW2P1 a fim de definir as curvas apresentadas no gráfico abaixo da figura 52.
Figura 50 – Representação da zona de espalhamento e absorção de líquido das amostras NT, C/TiO2, TiO2DLC10, TiO2DLC20 e TiO2DLC30.
Amostra Raio de espalhamento
final (µm) Raio de absorção
final (µm)
NT 249,48 0
C/TiO2 245,39 0,95
TiO2DLC10 100,30 32,60
TiO2DLC20 122,68 34,19
TiO2DLC30 151,53 46,9
Tabela 2 - Valores absolutos dos raios de espalhamento e absorção de líquido das amostras de tecido de algodão*.
Resultados e Discussão 79
Na figura 50 os valores dos raios de espalhamento e absorção de todas as amostras são
plotados juntos, onde visualiza-se as zonas de espalhamento e absorção, conforme apresentado
na figura 20, página 44, capítulo 2.5.1, referência D´Silva et al., 2000.
4.6. Análise de Fotodegradação
A análise de espectrofotometria é realizada para avaliar se as NPs de TiO2, depositadas
pelo método proposto nesse trabalho, realizam a fotodegradação do material orgânico sobre a
superfície do tecido, obtendo assim, um tecido funcional com ação auto limpante.
Além disso, através da espectrofotometria pode-se avaliar se o filme de DLC interfere
na ação fotocatalítica do TiO2, uma vez que o fato de recobrir as nanopartículas já é um indício
que ele faz o papel de ancoragem das mesmas sobre o tecido.
Neste caso, o material adsorvido é o corante azul metileno CI52015, da Merck o qual
foi utilizado para marcar as amostras como descrito no item 3.4.5 e 3.4.6, capítulo 3.
No quadro 3 são apresentados os valores de comprimento de onda do corante e do
Diamond-like carbon (DLC), bem como, a identificação das amostras na análise.
Quadro 3- Dados para a análise de Fotodegradação.
Material Identificação das amostras Comprimento de onda (nm)
NT NT —
NT marcada NTM —
C/TiO2 marcada C/TiO2M —
TiO2DLC10 marcada TiO2DLC10M —
TiO2DLC20 marcada TiO2DLC20M —
TiO2DLC30 marcada TiO2DLC30M —
Azul metileno CI52015 — 665
DLC — 400-800
Resultados e Discussão 80
Os dados da espectrofotometria foram captados a cada 15 minutos durante os 120
minutos da análise, porém são apresentados apenas os resultados referente a 15, 60 e 120
minutos para que se tenha uma melhor visualização dos gráficos.
Os espectros das amostras seguem uma ordem de leitura que inicia com a amostra sem
marcação (mancha), depois com marcação e com 15, 60 e 120 minutos de exposição à radiação
UV, e seus gráficos são apresentados nesta sequência para cada tipo de amostra. As amostras
sem marcação foram consideradas padrão ou referência do branco em cada análise.
Os resultados da amostra NT (Figura 51 a) mostram valores de K/S maiores na faixa de
665 nm, em relação à amostra padrão, definindo, assim, a presença do corante no tecido.
Após 15 minutos de exposição à radiação UV, nota-se uma pequena variação no K/S.
Enquanto na amostra NTM o valor de K/S é de 97,09, após a radiação este passa para 77,31
correspondendo a 20,37% de decréscimo na cor do corante. Entretanto, nas leituras de 60 e 120
minutos o valor de K/S não varia. Isto é melhor avaliado, quando reproduzido o espectro
referente a faixa de 630 a 700 nm (Figura 51 a1). Nele fica evidente que na faixa de 665 nm,
não houve variação da cor nos tempos 60 e 120 minutos, uma vez que os valores são
praticamente iguais.
Quando analisada a amostra com o dióxido de titânio (C/TiO2) (Figura 51 b), se constata
que o valor de K/S para azul metileno antes da exposição à radiação UV (C/TiO2M) é de 378,76
e depois dos 15 minutos de radiação UV, este valor decresce para 173,33. Uma variação de K/S
de 54,23%.
Se comparado o índice de variação entre C/TiO2 e NT, a cor do corante sofre maior
variação na amostra C/TiO2 do que na amostra NT. Isto demonstra a ação fotocatalítica sobre
o corante pela presença do TiO2 na amostra, o que é confirmado quando observado o espectro
que destaca a faixa de comprimento de onda 665 nm na amostra C/TiO2, onde K/S continuar a
decrescer apresentando valor, após 120 minutos, de 165,40, o que representa uma variação de
Resultados e Discussão 81
400 450 500 550 600 650 7000
50
100
150
200
250
300
350
400
450
630 640 650 660 670 680 690 7000
50
100
150
200
250
300
350
400
450
400 450 500 550 600 650 7000
50
100
150
200
250
300
350
400
450
630 640 650 660 670 680 690 7000
50
100
150
200
250
300
350
400
450
K/S
Comprimento de onda (nm)
NTNM NTM 15min 60min 120min
K/S
Comprimento de onda (nm)
NTNM NTM 15min 60min 120min
K/S
Comprimento de onda (nm)
C/TiO2
C/TiO2M
15min 60min 120min
K/S
Comprimento de onda (nm)
C/TiO2
C/TiO2M
15min 60min 120min
56,33% em relação ao valor da amostra antes da radiação, significando maior degradação do
corante com o tempo de exposição à radiação UV.
Figura 51 – Espectrofotometria. Análise de fotodegradação do corante azul metileno nas amostras NT (a) e C/TiO2 (b) com destaque para a faixa de 665nm referente ao mesmo (a1 e b1).
Nos gráficos da figura 52 são apresentados os valores de K/S das amostras C/TiO2,
TiO2DLC10, TiO2DLC20 e TiO2DLC30 para comparação.
O primeiro aspecto observado nos gráficos das amostras com a presença do DLC é a
variação do K/S em todas as faixas de comprimento de onda, inclusive na amostra padrão.
b
a
665 nm –Azul metileno
a1
b1
Resultados e Discussão 82
400 450 500 550 600 650 7000
50
100
150
200
250
300
350
400
450
400 450 500 550 600 650 7000
50
100
150
200
250
300
350
400
450
400 450 500 550 600 650 7000
50
100
150
200
250
300
350
400
450
400 450 500 550 600 650 7000
50
100
150
200
250
300
350
400
450
K/S
Comprimento de onda (nm)
C/TiO2
C/TiO2M
15min 60min 120min
K/S
Comprimento de onda (nm)
TiO2DLC10
TiO2DLC10M
15min 60min 120min
K/S
Comprimento de onda (nm)
TiO2DLC20
TiO2DLC20M
15min 60min 120min
K/S
Comprimento de onda (nm)
TiO2DLC30
TiO2DLC30M
15min 60min 120min
b
c d
Isto porque, além da faixa de 665 nm (corante azul metileno), o filme de DLC tem refletância
na faixa entre 300 e 800 nm (Pandey et al., 2012).
Figura 52 – Espectrofotometria. Análise de fotodegradação das amostras. a) C/TiO2 b) TiO2DLC10; c) com TiO2DLC20; d) com TiO2DLC30.
Ait-Hamouda et al., 2007 estudou as propriedades ópticas do DLC depositando o
mesmo em substrato de vidro. Ele verificou que quanto maior a espessura do DLC, ou seja, a
quantidade de DLC depositado, maior é a porcentagem de refletância. Isto poderia explicar o
rebatimento dos gráficos das amostras com DLC, em toda a faixa de comprimento de onda
analisada.
a
Resultados e Discussão 83
Quanto a variação de K/S após a exposição à radiação, se verifica que o valor varia
para todas as amostras com DLC após os 15 minutos de radiação UV. Entretanto, comparando
as amostras entre si (Figura 52), nota-se que o aumento do tempo de deposição do DLC tem
relação com a diminuição da variação da cor do corante. Tal fato é notado quando se avalia as
amostras tendo como referência a amostra C/TiO2. Constatou-se que a amostra TiO2DLC10M
tem K/S = 212,48, após radiação passa para 102,61, correspondendo a uma variação de 51,70%.
A amostra TiO2DLC20M tem K/S = 141,84, após radiação apresenta valor de K/S = 94,74, uma
variação de 33% e a amostra TiO2DLC30M tem K/S = 139,06, após radiação passa a ter valor
de K/S=106,16, variação de 23%.
Ban e Hasegawa, 2012, também avaliaram a fotodegradação do corante azul
metileno sobre filmes de DLC com TiO2 depositados sobre discos de silício, introduzindo as
NPs de TiO2 por um sistema de aerosol acoplado a câmera de plasma. Eles comparam amostras
tratadas com tensões polarizadas entre -50V / -400V e -50V / -100V constataram que esta
última, produziu filmes medianos em termos de espessura, mas com maior poder de degradação
do corante.
Sendo assim, a baixa variação do corante nas amostras com DLC, quando comparada
a amostra C/TiO2, pode ser devido a quantidade de DLC depositado o que diminuiria a área de
incidência de luz sobre a titânia diminuindo, consequentemente, a variação da cor do corante
sobre o tecido, após à radiação UV. O que também poderia explicar a diminuição dos pontos
representativos da titânia no mapeamento do EDS e a modificação da morfologia da superfície
das fibras indicando recobrimento das mesmas.
Portanto, fica evidenciado que a amostra C/TiO2, produzida com a utilização do
nebulizador pneumático a jato de ar utilizando água como meio de dispersão das nanopartículas,
apresenta a ação fotocatalítica. A composição de TiO2 com filme de DLC, apesar de em menor
Resultados e Discussão 84
porcentagem, também apresentou ação fotodegradação com destaque para amostra TiO2DLC10
com os melhores resultados em relação as demais amostras com DLC.
Os resultados da ação fotocatalítica indicam que a funcionalidade da superfície do
tecido modificado para o efeito auto limpante foi alcançada; ou seja, é capaz de degradar
material orgânico em sua superfície.
Ainda se faz necessário algumas análises complementares com relação a ancoragem
das NPs de TiO2 pelo filme de DLC, como por exemplo a lavagem do tecido para verificar a
permanência do revestimento, porém, os resultados até então apresentados são satisfatórios com
relação a aplicação da técnica.
Sendo assim, a técnica se mostrou viável para aplicação na indústria têxtil, inclusive,
com a possibilidade de adaptação de maquinário têxtil utilizado para vaporização de tecido
acabado, diminuindo o consumo de água no processo, evitando, também, a necessidade de
obtenção de maquinário específico, além da própria câmera de plasma.
Conclusões 85
No presente trabalho, foi desenvolvida uma metodologia para a impregnação de TiO2
em tecidos a qual mostrou ser mais simples e com menor custo que os processos têxteis
convencionais para este fim. Desta forma, a partir dos resultados obtidos, pode-se concluir que
o método de aspersão de partículas de TiO2 através de nebulizador pneumático a jato de ar
utilizando água destilada, é eficaz.
Os resultados de MEV e EDS mostram a modificação da superfície do tecido com
partículas aderidas após a aspersão e deposição do filme de DLC, enquanto que os resultados
de EDS, confirmaram a presença de titânio na superfície. A partir do mapeamento do EDS foi
constatado a distribuição proporcional das NPs de TiO2, bem como, o comportamento da titânia
após a deposição de DLC. A espectroscopia Raman acompanhou o decréscimo do sinal da
celulose na superfície do tecido de algodão após o tratamento, indicando recobrimento da
superfície, bem como, os elementos acima dela, no caso as NPs de TiO2.
A análise da molhabilidade mostrou elevação da hidrofobicidade da superfície do tecido
de algodão após a deposição do filme de DLC.
A espectrofotometria avaliou a fotodegradação do corante azul metileno, comparando a
sua cor após exposição à radiação UV, através da medição do K/S. Os resultados mostraram
que a amostra C/TiO2 apresenta ação fotocatalítica com uma variação de K/S = 56,36% entre o
antes e depois da exposição à radiação UV superior a amostra NT que foi de 20,37%. Já para
as amostras com filme de DLC, a amostra TiO2DLC10 apresentou variação de 51,70% contra
33% e 23% das amostras TiO2DLC20 e TiO2DLC30, respectivamente. O que demonstrou
CAPÍTULO 5 – CONCLUSÕES
Conclusões 86
influência direta da quantidade de DLC sobre a superfície com a qualidade da degradação do
material orgânico adsorvido na superfície do tecido.
Portanto, este trabalho mostrou uma nova técnica de revestimento para tecidos têxteis
utilizando TiO2 e DLC, com redução da quantidade de água no processo para fins de
acabamento têxtil de efeito autolimpantes.
5.2. Sugestões de trabalhos futuros
Ensaios de lavagem para análise de durabilidade da fixação das nanopartículas e filme
de DLC sobre o tecido.
Análise de espectroscopia fotoelétrica de raio-X (XPS) para melhor constatação dos
grupos químicos formados na superfície após a deposição das NPs de TiO2 e do filme
de DLC.
Realizar análise de fotodegradação em tempos maiores para avaliar a total degradação
do corante azul metileno, bem como, outros materiais orgânicos como vinho, café e
sangue, além de testes utilizando tecido tingindo.
Ensaio com cultura de bactéria para analisar se há efeito bactericida após a submissão
das amostras ao método proposto.
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