tese - a promoção de uma cultura de segurança nos alunos do ensino básico
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Mestrado interdisciplinar em Dinmicas Sociais, Riscos Naturais e Tecnolgicos
A promoo de uma cultura de segurana nos alunos do ensino
bsico: um estudo de caso nos segundo e terceiro ciclos
Maria Clara Arajo Gomes Incio
Coimbra
Novembro de 2010
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Dissertao para a obteno do grau de mestre em Dinmicas Sociais, Riscos Naturais e
Tecnolgicos, no curso interdisciplinar das Faculdades de Letras, Cincias e Tecnologia
e Economia da Universidade de Coimbra
Orientadores: Prof. Doutor Jos Manuel Mendes
Prof. Doutor Luciano Fernandes Loureno
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Em memria daquele de quem recebi os mais dignos exemplos de civismo e cidadania.
Eterna saudade, querido pai
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Agradecimentos
Agradecer a todas as pessoas que concorreram para a concretizao deste meu
projecto a etapa que, emocionalmente, se me apresenta mais difcil, pois receio
cometer a injustia de esquecer algum que, de alguma forma, para tal contribuiu. Assim,
a todos os que estiveram do meu lado, apoiando, incentivando, fazendo-me olhar em
frente, o meu sincero bem haja.
Ao Professor Doutor Jos Manuel Mendes, qualquer agradecimento que aqui
possa expressar fica aqum da sua efectiva responsabilidade nesta epopeia. Para alm
do apoio e constante disponibilidade na sua orientao, destaco o alento e o ter impedido
que eu baixasse os braos quando, por mais de uma vez, estive tentada a desistir do
projecto.
Ao Professor Doutor Luciano Fernandes Loureno, reconheo com gratido os
valiosos contributos de quem conhece sobremaneira os meandros do nosso sistema de
ensino, palco em que se desenvolve este estudo.
Aos alunos de 2008/2009 (as minhas trs turmas do 7. ano e aos do 5.),
agradeo toda a disponibilidade em responder ao inqurito.
Aos colegas da Escola E B 2 e 3 com Ensino Secundrio de Aguiar da Beira que
prontamente acederam a prestar a sua colaborao no preenchimento do inqurito. Uma
palavra especial para os Directores de Turma do 5. ano, Alcino Gomes, Maria da Luz
Soares e Delfina Pimentel, pela prontido com que corresponderam s minhas
solicitaes.
Deixo tambm uma palavra de gratido aos sete entrevistados, que por razes
bvias no deverei identificar, pela solicitude com que se disponibilizaram a colaborar.
O meu reconhecimento s colegas da Direco Executiva pela compreenso que
tm demonstrado, sobretudo na recta final deste trabalho, em me aliviar das minhas
incumbncias profissionais. Em particular Directora, a amiga Sandra Correia, pelo
encorajamento, pelo companheirismo e cumplicidade - qualquer agradecimento que aqui
expresse ficar sempre aqum do que lhe devido.
Uma palavra especial de agradecimento para trs amigas pelo apoio e pacincia
na leitura e reviso deste trabalho. Cada uma com a sua perspectiva e segundo uma
sensibilidade to prpria, agradeo Delfina Pimentel, Cristina Maltez e Paula Gonalves.
minha me fica o reconhecimento pelos seus constantes incentivos, no presente
como em toda a minha existncia, sempre naquele seu jeito to prprio de ser.
Finalmente, e porque os ltimos so os primeiros, as derradeiras palavras de
agradecimento vo para aqueles que so o verdadeiro motivo do meu empenho, esforo
e dedicao, j que mais no seja pelo exemplo que lhes devo como herana - os meus
filhos. Estefnia, principal responsvel por eu ter embarcado nesta aventura quando,
ao inscrever-se no seu 2. ciclo, deixou aberto o stio da Universidade de Coimbra e
assim, numa daquelas coincidncias com que a vida me tem brindado, deparei-me com a
possibilidade de a ter como colega de mestrado. E claro, obrigada pela ajuda na
transcrio das entrevistas. Ao Carlos Eduardo, pela guarida na sua casa de estudante,
pelo carinho e cumplicidade. Ana, por todas as horas em que no pude estar presente
e a privei do acompanhamento que lhe era devido.
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Resumo
Com este trabalho pretende-se abordar o desenvolvimento de uma cultura de
segurana, temtica que se encontra na ordem do dia, particularmente enfatizada aps a
grande catstrofe que assolou o Sudeste asitico, em Dezembro de 2004.
Vai ser analisado o contexto escolar enquanto um dos palcos privilegiados para a
construo de uma epistemologia cvica, reflectir sobre o papel que os diferentes
actores/intervenientes tm em todo este processo. Procurar avaliar-se at que ponto a
aco pedaggica veiculada preconiza a construo da cultura de segurana ou, se pelo
contrrio, existe uma discrepncia entre o que est a ser implementado e o que seria
expectvel.
O estudo de caso abrange os alunos dos 5. e 7. anos da Escola E B 2 e 3 / S de
Aguiar da Beira, bem como, a outra vertente fundamental neste processo, os professores,
sobre quem, em primeira instncia, recai esta responsabilidade. Procurar-se-o, ainda,
identificar os principais constrangimentos em todo este processo e acrescentar as
vises de entidades/instituies que de algum modo nele esto implicadas.
Finalmente, pretende-se chegar a um conjunto de boas prticas ou percursos
facilitadores de projectos e/ou programas de informao/formao em meio escolar
destinados a alunos dos 2. e 3. ciclos da escolaridade bsica.
Abstract
The development of a safety culture is nowadays an up to date issue, due to the
huge emphasized catastrophe in the Southeast Asia in December 2004.
In the school context, a privileged set in the conception of a civic epistemology,
different actors/interveners take a significant role concerning the safety culture process.
Pedagogic action allows its construction but it may, on the contrary, show evidence of a
gap between what is being implemented and what is supposed to be expected.
This case study comprises the 5th and 7th grade students from Aguiar da Beira
Secondary School as well as the teachers, the other important part in the process, whom
fall back, in first stage, the whole responsibility. Furthermore, the embarrassments in all
the process are fundamental to be identified, and the entities/institutions views, which are
implied in it, to be included.
Finally, it is intended to draw out a new set of good practices and to perform newer
and easier projects and/or information programs itineraries amongst the school
environment to elementary students.
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Lista de siglas
ANPC Autoridade Nacional de Proteco Civil CDOS Comando Distrital de Operaes de Socorro CPC Clube da Proteco Civil EIRD Estratgia Internacional para a Reduo dos Desastres LBPC Lei de Bases da Proteco Civil MAI Ministrio da Administrao Interna ME Ministrio da Educao PC Proteco Civil SMPC Servio Municipal de Proteco Civil UE Unio Europeia UNDP United Nations Development Programme
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NDICE GERAL
Dedicatria........ iii
Agradecimentos... vii
Resumo / Abstract ... v
Lista de siglas... vi
ndice Geral vii
Introduo ......................................................................................................................1
1 - Objectivos .................................................................................................................1
1.1 - Geral ...................................................................................................................2
1.2 - Especficos .........................................................................................................2
2 - Enquadramento .........................................................................................................3
2.1 - Razo de ser ......................................................................................................3
2.2 - Fundamentao terica ......................................................................................5
3 - Limitaes do estudo ................................................................................................8
1. Captulo - Contextualizao da cultura de segurana ...............................................9
1.1 - O contexto internacional .....................................................................................9
1.1.1 - Estratgia Internacional para a Reduo das Catstrofes ...........................9
1.1.2 - Quadro de Aco de Hyogo - 2005-2015.....................................................9
1.1.3 - Unio Europeia ..........................................................................................10
1.2 - O contexto portugus .......................................................................................11
1.2.1 - Lei de Bases da Proteco Civil ................................................................11
1.2.2 - Organizao da Proteco Civil - mbito municipal ...................................12
1.2.3 - Clube de Proteco Civil ...........................................................................13
1.2.4 - Protocolos entre escolas e corpos de bombeiros.......................................16
1.3 - A cultura de segurana na Escola ....................................................................17
1.3.1 - Os programas curriculares do 5. ao 9. ano .............................................17
1.3.2 - Manual de Utilizao, Manuteno e Segurana nas Escolas ...................18
1.3.3 - Programa Escola Segura ...........................................................................19
1.3.4 - Mdulo Cidadania e Segurana ..............................................................19
2. Captulo - Metodologia ............................................................................................22
2.1 - Inquritos ..........................................................................................................22
2.2 - Entrevistas ........................................................................................................23
2.3 - Caractersticas das amostras............................................................................24
2.4 - Breve caracterizao do meio...........................................................................25
2.4.1 - Estabelecimento de ensino ........................................................................25
2.4.2 - Concelho de Aguiar da Beira .....................................................................26
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3. Captulo - A cultura de segurana e a Escola: anlise emprica ..............................29
3.1 - Alunos ..............................................................................................................29
3.1.1 1. Bloco - Caracterizao do entrevistado e do agregado familiar ...........29
3.1.2 2. Bloco - A preparao para a emergncia na escola.............................31
3.1.3 3. Bloco - Situaes de emergncia em casa ..........................................35
3.1.4 4. Bloco - As situaes potencialmente perigosas ...................................38
3.2 - Professores ......................................................................................................43
3.2.1 1. Bloco - Caracterizao do entrevistado ...............................................43
3.2.2 2. Bloco - Exerccios de evacuao .........................................................45
3.2.3 3. Bloco - O desenvolvimento da cultura de segurana em meio escolar .....47
4. Captulo - Cultura de segurana: a viso institucional .............................................50
4.1 - mbito regional .................................................................................................54
4.2 - mbito local ......................................................................................................66
Concluso e recomendaes .......................................................................................81
Referncias bibliogrficas ............................................................................................84
ndice de Tabelas
ndice de Figuras
ndice de Anexos
Anexos
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Introduo
1 - Objectivos
Ao longo dos tempos, o ser humano foi ocupando o territrio, e foi-se organizando
em sociedades cada vez mais complexas e artificiais, tornando cada vez mais precrio o
equilbrio entre os seus interesses/aspiraes e o ambiente. Cerca de 75% da populao
mundial reside em reas que foram afectadas, pelo menos uma vez, por um evento
natural catastrfico, no perodo entre 1980 e 2000 (UNDP, 2004, p.1). Por vezes, estes
eventos ocorrem ciclicamente numa mesma regio e, amide, desencadeiam processos
de rotura entre o sistema social e o ambiente natural.
O impacte que um evento potencialmente danoso vai desencadear num
determinado espao reflecte o grau de preparao da sociedade que nele est inserida.
Por vezes, um fenmeno de uma mesma tipologia, com uma magnitude semelhante,
pode acarretar graves disfunes numa regio e deixar uma outra praticamente inclume.
Assim sendo, o aprofundamento do conhecimento cientfico e tcnico das ocorrncias
potencialmente perigosas de cada regio constitui uma prioridade inalienvel. S deste
modo, as instituies que tm como misso a preveno e a proteco da sociedade
estaro mais capacitadas para a minimizao ou mitigao dos riscos inerentes a cada
regio.
comum ouvirmos dizer que os portugueses so tradicionalmente um povo
avesso autoridade, disciplina e organizao o que, consequentemente, tambm o
transforma num povo sem cultura de segurana, tendo muitas vezes a convico de que
o mal e os problemas s acontecem aos outros. Quem poder esquecer as reportagens
da comunicao social, na sequncia do desmoronamento do leixo na praia Maria
Lusa, a 21 de Agosto de 2009, onde os banhistas, que no dia seguinte recorriam
exactamente nos mesmos comportamentos, referiam que no vai acontecer todos os
dias! Afirmaes como esta demonstram inequivocamente as alteridades
tranquilizadoras, o conceito de invulnerabilidade, o pode acontecer mas no a mim.
Recomendaes internacionais incitam a que o desenvolvimento desta cultura de
segurana comece logo nos bancos da escola. Esta problemtica de investigao, a
que me proponho, consubstancia-se no objecto de estudo que tem subjacente a seguinte
proposio: a escolaridade bsica tem de estar preparada para desenvolver nos seus
alunos uma cultura de segurana.
A formulao desta proposio foi sustentada, na fase inicial do estudo, em
pesquisa bibliogrfica, na leitura das recomendaes internacionais e dos normativos
nacionais que sustentam as polticas de Proteco Civil, especificamente as que tecem
consideraes relativas abordagem desta temtica em contexto escolar. Ambicionando
atingir o propsito enunciado, defino como objectivos os abaixo.
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1.1 - Geral
Avaliar de que forma a Escola est a promover uma cultura de segurana.
1.2 - Especficos
Analisar o discurso oficial espelhado na produo legislativa que, de forma directa
ou indirecta, sustenta a sua implementao nas prticas quotidianas dos 2. e 3.
ciclos.
Relacionar a formao recebida em contexto escolar com as atitudes/
comportamentos em situaes de risco.
Caracterizar o modo como est a ser implementada esta temtica na escola
seleccionada para o estudo, para da inferir boas prticas e/ou constrangimentos.
Avaliar o grau de sensibilizao dos docentes relativamente a esta temtica,
nomeadamente a importncia que atribuem aos exerccios de evacuao.
Conhecer que tipo de formao tm os professores para cumprirem esta misso.
Clarificar a percepo que entidades externas tm sobre os contedos, os
mtodos e as estratgias mobilizados ou a mobilizar no desenvolvimento de uma
cultura de segurana nas escolas dos 2. e 3. ciclos do ensino bsico.
Identificar, nos discursos sobre as prticas, aces e projectos, as polticas que
sustentam o propsito do estudo.
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2 - Enquadramento
2.1 - Razo de ser
Uma notcia que li num jornal, na sequncia do trgico tsunami que afectou o
sudeste asitico no final de 2004, despertou-me para a importncia desta temtica. Nela,
dava-se conta que uma menina inglesa de 10 anos, com a sua famlia a passar frias na
praia de Maikhao, na ilha de Phuket, na Tailndia, tinha poupado a vida de cerca de 100
pessoas graas ao seu professor de Geografia, j que lhe havia explicado como prever
um tsunami. Poderei at suspeitar da capacidade persuasiva que uma criana de 10
anos tem para convencer 100 pessoas a adoptarem um comportamento de
autoproteco. Mas, no me custa acreditar que, pelo menos a sua famlia pde de facto
ter sido salva quando a menina reconheceu os sinais de alerta que tinham sido
abordados nas aulas. O professor explicara aos seus alunos que, a partir do momento
em que o mar recuasse, teriam apenas alguns minutos para reagir antes da chegada do
tsunami.
Sendo eu professora de Geografia, no pude deixar de reflectir na altura, sobre a
relevncia dos ensinamentos que transmitimos (ou que deveramos transmitir),
particularmente se algum dia vierem a contribuir para salvar uma vida que seja. Para
alm do mbito da disciplina que lecciono, esta investigao reveste-se ainda de especial
relevncia pessoal e profissional, j que no trinio 2006/2009 desempenhei o cargo de
Coordenadora de Directores de Turma.
Uma das atribuies de superviso inerente a este cargo , junto dos Directores
de Turma, apoiar a tarefa da formao/informao quanto aos procedimentos a adoptar
pelos alunos no mbito dos Planos de Preveno e Emergncia. Da ser meu ensejo
identificar eventuais lacunas e aspectos passveis de serem melhorados. Mais importante
ainda, servir indubitavelmente para me apetrechar para o novo desafio com que me
deparo no quadrinio 2009/2013 - o desempenho do cargo de Responsvel de segurana
da escola, com as responsabilidades inerentes construo de um espao privilegiado
para a mudana de comportamentos e vector essencial de formao do futuro cidado,
interveniente e responsvel.
Para o processo ensino/aprendizagem na escola poder realmente influenciar a
definio e desenvolvimento de atitudes e criar uma cultura de preveno de riscos nos
alunos, imperioso que os actuais currculos incluam as questes ambientais e
preveno de catstrofes nos seus objectivos, contedos e actividades. Embora os
programas, objectivos e contedos actuais j abordem estas temticas, fazem-no de uma
forma pontual e espordica e, acima de tudo, sem uma sequncia lgica e estruturada.
premente a necessidade de promover, valorizar e abordar estas questes com maior
profundidade e consentaneidade.
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Numa primeira fase, o desenvolvimento deste trabalho passa pelo enquadramento
terico subjacente abordagem desta temtica, uma recenso dos conceitos com base
no levantamento da literatura existente e na anlise dos relatos de experincias
realizadas noutros pases e respectivas lies aprendidas. Numa anlise comparativa da
situao portuguesa com outras experincias internacionais pde-se constatar que
apenas estamos a ensaiar os primeiros passos, ainda muito tmidos, e que um longo
caminho h para percorrer. Estudos realizados nos ltimos anos revelam que o
desenvolvimento de atitudes pr-activas nos alunos depende de mltiplos factores, mas
os dois mais importantes so o processo ensino/aprendizagem na Escola e os vnculos
que os alunos estabelecem com as suas famlias e comunidades.
Ao longo do primeiro captulo, procede-se reviso das recomendaes
internacionais e dos normativos nacionais que regem a transposio desta problemtica
para o sistema educativo portugus. Na preparao do aluno para o exerccio de uma
cidadania plena, vai aparecendo nos currculos escolares, com uma relevncia crescente,
um conjunto de competncias individuais, interpessoais e sociais relacionadas com as
temticas da preveno e minimizao dos riscos. Esta preocupao por parte da tutela,
o Ministrio da Educao, que, como j foi referido, resultante das orientaes
internacionais, vai ser consubstanciada de uma forma mais evidente nas determinaes a
operacionalizar na rea curricular no disciplinar de Formao Cvica, que sero
explanadas no ponto 1.3.4.
Com base nesta reviso da literatura, constituda na sua quase maioria por fontes
primrias, foram-se definindo algumas das reas a investigar, bem como delineado o
trilho metodolgico para a investigao, que explanado no segundo captulo.
Sendo um trabalho essencialmente emprico, a recolha de informao adveio dos
inquritos e das entrevistas pessoais a responsveis por algumas entidades, permitindo
caracterizar o estdio de desenvolvimento da cultura de segurana nestes nveis de
ensino, o grau de sensibilizao/informao para esta problemtica por parte dos
professores em geral, e ainda, perceber quais as prticas em exerccio no dia-a-dia dos
colectivos institucionais.
No terceiro captulo, tendo como base uma escola inserida num concelho rural do
interior, Aguiar da Beira, tenta-se avaliar de que forma a Escola est a cumprir a sua
tarefa de promoo de uma cultura de segurana, equacionar at que ponto a formao
recebida em contexto escolar leva adopo de correctas atitudes/comportamentos em
situaes de risco, bem como compreender que expectativas tm os jovens relativamente
abordagem desta temtica. Para tal, aplicaram-se inquritos aos alunos dos 5. e
7.anos deste estabelecimento de ensino.
Uma dimenso que no estava inicialmente prevista neste estudo (os professores),
foi-se afigurando imprescindvel medida que se iam consultando as vrias experincias
internacionais. Se alguns planos curriculares da formao inicial dos docentes j focam
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estas questes, constatamos que a rea de Formao Cvica (rea curricular no
disciplinar com um papel relevante na difuso destes conhecimentos), atribuda ao
Director de Turma, docente que pode ser proveniente de qualquer grupo de
recrutamento. Recorrendo a um inqurito, pretendeu-se chegar a um diagnstico
caracterizador do corpo docente da referida escola, da sua sensibilidade para a
abordagem e da relevncia que atribuem cultura de segurana. A anlise dos
resultados obtidos nos dois inquritos (alunos e professores) explanada ao longo do
terceiro captulo deste trabalho.
Se a responsabilidade do desenvolvimento de uma cultura de segurana em meio
escolar atribuda em primeira instncia aos professores, tal incumbncia no pode ser
empreendida isoladamente mas sim implicando um trabalho colaborativo com outras
entidades/instituies. Com o intuito de conhecer a multiplicidade de motivaes e
implicaes que estes vrios contributos tm (ou deveriam ter) nesta tarefa, pretendeu-se
com o recurso a entrevistas auscultar as vivncias de quem, com vrios anos de
experincia acumulada, ou pelo contrrio, a ensaiar os primeiros passos neste domnio,
poderia constituir uma mais-valia para este trabalho. A anlise de contedo destas
entrevistas constitui o quarto e derradeiro captulo deste trabalho.
2.2 - Fundamentao terica
Desde sempre o ser humano conviveu com episdios que ameaavam a sua
estabilidade. Nos primrdios os fenmenos potencialmente danosos restringiam-se quase
exclusivamente ao mbito fsico e a sua origem era atribuda ira de entidades
sobrenaturais e divinas que s seria apaziguada com o derramamento de sangue de
sacrifcios de animais ou at mesmo de vidas humanas. A pouco e pouco foram surgindo
riscos como consequncia das actividades antrpicas, podendo estes ter ou no uma
componente natural. De um modo geral, pode-se dizer que a gnese dos riscos, assim
como o aumento da capacidade de gerar danos e da sua escala de abrangncia,
acompanham a evoluo da humanidade.
essencial clarificar antes de mais a conceptualizao subjacente a este
trabalho, pois se o conceito de risco est amplamente difundido na sociedade
contempornea, enquanto objecto de investigao cientfica sistemtica ainda no
alcanou no seio da comunidade acadmica um consenso quanto sua definio,
variando esta de autor para autor.
Tendo como referncia de base a explicitao dos conceitos que preconizada
pela Autoridade Nacional de Proteco Civil, naquele que o recurso privilegiado a que
os educadores recorrem quando se pretendem documentar nesta temtica, vejamos o
que consta no Dossier que foi distribudo s escolas. Neste, perigo definido como o
conjunto de circunstncias ou factores que eventualmente podem vir a causar prejuzos
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ou dano a pessoas e bens e risco como a probabilidade desse perigo se traduzir numa
ocorrncia danosa para pessoas e bens (p. 7). Coloca-se, desde j, uma objeco a esta
definio onde, em vez de perigo, deveria constar processo potencialmente perigoso,
j que o perigo tem a ver com a proximidade de manifestao iminente do risco ou,
ento, com a prpria manifestao, deixando de ser probabilidade remota. Isso risco!
Assim, considere-se como definio de risco, a preconizada na Lei n. 113/91, de
29 de Agosto - Lei de Bases da Proteco Civil, (entretanto revogada), em que risco um
sistema complexo de processos cuja modificao de funcionamento susceptvel de
acarretar prejuzos directos ou indirectos (perda de recursos) a uma dada populao
Voltando ao mesmo Dossier da ANPC, os riscos aparecem-nos organizados em
dois grandes grupos: os naturais e os tecnolgicos (p. 8). Esta distino afigura-se como
demasiadamente redutora, pelo que, neste mbito, se ir seguir a tipologia preconizada
por Loureno (2003), em funo da sua origem: naturais, antrpicos e mistos. Segundo
este autor, trata-se de riscos naturais quando o fenmeno que produz os danos est
associado evoluo da Terra, ao longo do tempo (2003, p. 92), e esto aqui includos
os geofsicos, os climtico-meteorolgicos, os geomorfolgicos e os hidrolgicos. A
definio que atribui a riscos antrpicos quando os fenmenos que causam os danos
resultam da interveno do ser humano, em resultado da sua prpria evoluo face da
Terra (2003, p. 92), e neles se incluem os tecnolgicos, os sociais e os biolgicos.
Quando aos riscos mistos, considera o mesmo que so quando concorrem condies
naturais e aces antrpicas (2003, p. 92), apontando o dendrocaustolgico, de eroso e
de desertificao. Esta discriminao pode, primeira vista, parecer excessivamente
exaustiva, no entanto, dada a abrangncia desta temtica, dela ir resultar a lista que
ser objecto de anlise nos contedos curriculares entre o 5. e o 9. ano, a que se dar
relevo no primeiro captulo.
Partindo do pressuposto que o suporte natural influencia o modo como o ser
humano se apropria do espao e o vai modelando, s com o conhecimento profundo e
aturado do suporte fsico vivel uma adequada gesto de recursos e interesses. A
identificao dos perigos associados a cada regio e a sua probabilidade de ocorrncia
(perigosidade), bem como, a sua susceptibilidade (propenso para ser afectada por
processos danosos como consequncia da conjugao de factores condicionantes e
desencadeantes) revelam-se de crucial importncia na abordagem que deve ser
efectuada no meio escolar. Enquanto espao de ocupao antrpica, importa ainda
analisar em pormenor a vulnerabilidade que est associada a cada territrio, ou seja, o
grau de perda que advm para o ser humano, em consequncia da actuao de um
processo danoso.
No caso da vulnerabilidade social, segundo Mendes (2007), esta reflecte o grau
de exposio aos riscos e depende da capacidade de resistncia e resilincia dos
indivduos, que, por sua vez, esto correlacionadas, entre outros factores, com o nvel de
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conhecimento e de adaptao que estes manifestam em situaes adversas. Deste
modo, o incremento da resilincia cognitiva que se pretende alcanar nos jovens dos 2.
e 3. ciclos resultar numa atenuao das alteridades tranquilizadoras, em que o mal s
acontece aos outros, e contribuir para a diminuio da vulnerabilidade social.
Destacam-se dois artigos que foram tidos como uma referncia no
desenvolvimento deste trabalho Aprendizagem proactiva: um novo paradigma na
educao de desastres, (Shiwaku & Shaw, 2008) e A Educao dos perigos para a
juventude: uma investigao Quasi-Experimental (Ronan & Johnston, 2003).
O primeiro, descreve e avalia uma experincia realizada na Escola Secundria de
Maiko, no Japo, que desenvolveu um curso de educao no mbito da mitigao das
catstrofes e a sua comparao com outras escolas de ensino tradicional. Este estudo
comparativo foi baseado num inqurito realizado em 12 escolas (1065 alunos) de
diferentes partes do Japo, incluindo a Escola Secundria de Maiko, para entender a
ligao entre a educao para os processos potencialmente danosos e a consciencializao
dos alunos. Entre 2000 e 2002, dois professores desta escola receberam formao
atravs da participao em workshops, seminrios e conferncias. Alm disso,
interagiram com muitos profissionais e especialistas de universidades, departamentos de
socorro, bombeiros municipais, e ONG. Os resultados obtidos nesta investigao
revelaram-se cruciais para os professores da escola e departamentos da educao enquanto
desenhadores na concepo do currculo da educao para as catstrofes.
O segundo artigo, baseia-se numa amostra de crianas em idade escolar de
Auckland, Nova Zelndia, cujas concluses apontam para a forte correlao existente
entre a participao em programas educacionais para os riscos e: (1) o aumento do
conhecimento das resposta relacionadas com as actividades de autoproteco, (2) o
aumento do planeamento no seio do agregado familiar para uma emergncia, (3) o
aumento do nmero de relatos de pais e crianas que apresentam adaptaes aos riscos
em casa. Neste mesmo estudo verificou-se ainda o aumento da interaco entre as
crianas e os seus pais resultante da aplicao destes programas educacionais de
preparao para situaes potencialmente perigosas.
De mbito nacional, destaca-se a consulta efectuada dissertao de mestrado
intitulada Sensibilizao em Proteco Civil Uma investigao centrada na Casa
Municipal de Proteco Civil de Coimbra (Lopes, 2009). Trata-se de um estudo que
incide tambm sobre o pblico escolar mas numa perspectiva outside, ou seja, baseada
numa actividade para os alunos, a exposio S.O.S. Riscos Naturais, que decorreu
entre 29 de Fevereiro e 14 de Maro de 2008, numa das instituies que a par da Escola,
tambm partilha responsabilidades neste domnio. Segundo a autora, Os resultados
obtidos permitem concluir que a interveno ter contribudo para incrementar a
sensibilizao dos alunos envolvidos por temticas do mbito da proteco civil
relacionadas com riscos naturais e tecnolgicos, o que os poder tornar mais aptos a
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enfrentarem adequadamente situaes de emergncia que envolvam esse tipo de
perigos. Estes resultados podem constituir referncia a ter em conta na realizao de
actividades de sensibilizao em proteco civil, junto do pblico escolar, protagonizadas
por instituies com responsabilidades nesta rea que, para as realizarem, pretendam
utilizar os seus prprios espaos (op. cit.). Esta exposio , inclusivamente, apontada
por Mendes & Tavares (2009), como exemplo de boas prticas por parte das instituies
com responsabilidades em matria de formao/informao dos cidados em geral e,
neste caso, dos jovens em particular.
3 - Limitaes do estudo
Na concretizao deste trabalho alguns constrangimentos foram surgindo.
O primeiro, que se colocou logo da fase inicial de pesquisa bibliogrfica, foi a
lacuna, sobretudo a nvel nacional, de estudos ou publicaes no mbito da cultura de
segurana, que pudessem servir como sustentculo de recenso. Encontraram-se alguns
mas referentes a outras realidades e a outros sistemas de ensino o que tornou difcil a
primeira fase do trabalho e contribuiu para um certo desalento j que o edifcio parecia
no ganhar alicerces.
Outro constrangimento foi a seleco da linha de investigao j que se impem
opes que acabam por valorizar determinadas facetas e dimenses, sendo outras,
inevitavelmente, abandonadas ou subalternizadas. Refiro-me concretamente ao facto de
ter limitado a recolha de dados referentes aos alunos a uma amostra que abrange uma
nica realidade, a de um meio rural. Um estudo comparativo entre diferentes realidades
socioeconmicas e culturais permitiria certamente retirar um manancial de concluses
muito mais profcuo.
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1. Captulo - Contextualizao da cultura de segurana
Passa-se seguidamente a explanar o quadro de referncia que formata o
desenvolvimento da cultura de segurana em meio escolar. Em cada subcaptulo os
documentos so apresentados respeitando a ordem cronolgica pela qual foram
emanados.
1.1 - O contexto internacional
1.1.1 - Estratgia Internacional para a Reduo das Catstrofes
Em 1989 a Assembleia Geral das Naes Unidas, atravs da sua Resoluo
44/236, designou os anos 90 como a Dcada Internacional para a Reduo das
Catstrofes Naturais. Este foi considerado o primeiro esforo universal com vista a
reduzir as perdas humanas, sociais, ambientais e econmicas que decorrem das
situaes de catstrofes ambientais e tecnolgicas. Para alm do seu objectivo principal,
a EIRD prope-se ainda apostar na sensibilizao pblica, tendo como lema: a
Preveno comea com a Informao. Para a prossecuo da sua misso e atribuies,
a EIRD possui um secretariado que funciona como ponto focal do sistema das Naes
Unidas para a promoo de laos e sinergias nesta rea de interveno. Este rgo
constitui ainda uma plataforma internacional para a troca de informaes e
conhecimentos nessa rea de actividade, promovendo o desenvolvimento de campanhas
de sensibilizao pblica e a produo de artigos e material promocional.
1.1.2 - Quadro de Aco de Hyogo - 2005-2015
A comunidade das Naes Unidas tem vindo a intensificar os seus esforos para
aumentar e melhorar a informao, educao e consciencializao pblica,
preocupaes bem patentes na Conferncia Mundial sobre Preveno de Catstrofes,
reunida em Kobe, no Japo, em Janeiro de 2005 e que constam num documento, o
Quadro de Aco de Hyogo 2005-2015, onde so elencados objectivos estratgicos e
prioridades de aco. Nestas prioridades de aco e no que ao mbito deste trabalho diz
respeito, ressalta a nmero 3 (p. 9-10) Usar o conhecimento, inovao e educao para
construir uma cultura de segurana e de resistncia, a todos os nveis. As suas alneas
h) e j) determinam, respectivamente, Promover a incluso dos conhecimentos de
reduo de risco de catstrofes nas seces relevantes dos currculos escolares, a todos
os nveis e a utilizao de outros canais formais e informais para chegar a jovens e
crianas com informaes; promover a integrao de reduo de riscos de catstrofes
como um elemento intrnseco da dcada das Naes Unidas da educao para o
desenvolvimento sustentvel (20052015) e Promover a implementao de programas
e actividades nas escolas para aprender a minimizar os efeitos dos riscos UN (2005).
O documento final da Conferncia foi assinado por 168 pases, com o
compromisso de virem a ser promovidas aces para aumentar a resilincia face s
-
10
catstrofes. Na sequncia desta conferncia foi lanada a campanha mundial Rumo a
uma cultura de preveno: a reduo do risco de catstrofes comea na Escola,
desenvolvida em 2006 e 2007 pela EIRD.
1.1.3 - Unio Europeia
O espao geogrfico da Unio Europeia tem sido atingido por catstrofes de
diversas categorias. A ttulo de exemplo, evocam-se o sismo de 1980 em Itlia, que
causou 2739 mortos; as cheias de 1973 em Espanha, 350 mortos, a onda de calor de
2003 que, s em Frana, vitimou quase 15000 pessoas e os incndios florestais de 2003
e 2005 que atingiram, por vezes em simultneo, os pases do sul Portugal, Espanha,
Frana, Itlia e Grcia. Desde ento, vrias resolues tm sido adoptadas e vrios
instrumentos tm sido criados com o objectivo de transformar o espao europeu num
espao cada vez mais seguro e eficaz na reaco a situaes de emergncia.
Ao nvel da Comisso e sob a alada da Direco-Geral do Ambiente, foi criada a
Unidade Proteco Civil, rgo com responsabilidade de gerir aspectos comunitrios
relacionados com a PC, garantir a observncia dos instrumentos legislativos e fomentar a
cooperao e a articulao entre os Estados-membros. Mediante propostas da
Comisso, desde 1997 que o Conselho da UE tem vindo a melhorar as bases de trabalho,
nomeadamente atravs do estabelecimento de programas de aco comunitrios no
domnio da PC.
Pretende-se que estes programas funcionem como uma ferramenta de trabalho
essencial, na observncia daquelas que so as suas reas prioritrias de interveno:
- Apoiar os esforos para a melhoria da preveno e dos nveis de resposta
desenvolvidos ao nvel nacional, regional e local, pelas autoridades responsveis
pela PC e pela gesto da resposta em situao de catstrofe;
- Contribuir para a melhoria da informao ao pblico com vista sensibilizao
dos cidados europeus para questes como medidas de auto proteco;
- Definir as bases para uma efectiva e rpida cooperao entre as estruturas
nacionais de PC sempre que se tome necessrio recorrer a ajuda mtua;
- Fortalecer a coerncia das aces desenvolvidas ao nvel internacional e no
domnio da PC. (EU, 2002).
Encontraram-se muitas directivas e disposies da UE relativas ao planeamento e
gesto de emergncias mas o mesmo no se pode afirmar no que diz respeito ao
segundo domnio que este organismo se prope alcanar. Neste mbito, destaca-se a
Comunicao da Comisso ao Parlamento Europeu, ao Conselho, ao Comit Econmico
e Social Europeu e ao Comit das Regies de 23.2.2009 COM (2009) 82 final, intitulada:
Abordagem comunitria sobre a preveno de catstrofes naturais ou provocadas pelo
homem que, na pgina 7, no ponto 3.2.2., Formao e sensibilizao na rea da
preveno de catstrofes, refere: A Comisso est a elaborar propostas destinadas a
-
11
promover a formao sobre gesto de catstrofes ao nvel da Comunidade. A Comisso
integrar as questes de preveno nestas propostas e criar cursos especficos sobre
preveno no programa comunitrio de formao no domnio da proteco civil.
A sensibilizao do grande pblico pode igualmente contribuir para a preveno
de catstrofes - por exemplo, os cidados devero saber o que fazer em caso de sismo.
A Comisso aproveitar a oportunidade proporcionada pelos prximos convites
apresentao de propostas para projectos de cooperao no mbito do Instrumento
Financeiro para a Proteco Civil para incluir a possibilidade de apoio a projectos de
sensibilizao e educao do pblico, como por exemplo a identificao de melhores
prticas e a preparao dos currculos escolares (UE, 2009).
J a 18 de Maio de 2009, o Projecto de concluses do Conselho da UE sobre
sensibilizao em matria de PC nada refere em termos de currculos escolares,
limitando-se, no ponto 14, alnea f), a convidar os Estados-Membros a Promoverem a
sensibilizao dos grupos vulnerveis, incluindo crianas e jovens, atravs de programas
de proteco civil especficos (por exemplo concursos no contexto do ensino escolar) (p.
5), o que se afigura extremamente redutor (EU, 2009).
1.2 - O contexto portugus
1.2.1 - Lei de Bases da Proteco Civil
As orientaes internacionais concernentes Proteco Civil so implementadas
em Portugal atravs do articulado da Lei de Bases da Proteco Civil (Lei n. 27/2006, de
3 de Julho), que veio revogar a anterior (Lei n. 113/91, de 29 de Agosto). Importa aqui
analisar a evoluo registada nestes dois suportes legislativos (Tabela 1), no que ao
mbito deste trabalho diz respeito, num perodo temporal de 15 anos.
Tabela 1 - Comparao entre o articulado da LBPC de 1991 e 2006
Lei n. 113/91 Lei n. 27/2006
Ob
jectivo
s
a) Prevenir a ocorrncia de riscos colectivos resultantes de acidente grave, de catstrofe ou de calamidade
a) Prevenir os riscos colectivos e a ocorrncia de acidente grave ou de catstrofe deles resultante
Do
mn
ios c) Informao e formao das
populaes, visando a sua sensibilizao em matria de autoproteco e de colaborao com as autoridades
c) Informao e formao das populaes, visando a sua sensibilizao em matria de autoproteco e de colaborao com as autoridades
Prin
cp
ios
(no consta)
h) O princpio da informao, que traduz o dever de assegurar a divulgao das informaes relevantes em matria de proteco civil, com vista prossecuo dos objectivos previstos no artigo 4
-
12
Artigo 2
Objectivos e domnios de actuao
2 A actividade de proteco civil municipal exerce-se nos seguintes domnios:
c) Informao e formao das populaes do municpio, visando a sua
sensibilizao em matria de autoproteco e de colaborao com as
autoridades
Artigo 10
Competncias dos servios municipais de proteco civil
3 Nos domnios da preveno e segurana, o SMPC competente para:
e) Promover campanhas de informao sobre medidas preventivas, dirigidas a
segmentos especficos da populao alvo, ou sobre riscos especficos em
cenrios provveis previamente definidos;
4 No que se refere matria da informao pblica, o SMPC dispe dos seguintes
poderes:
d) Promover e incentivar aces de divulgao sobre proteco civil junto dos
muncipes com vista adopo de medidas de autoproteco;
Info
rma
o
e fo
rma
o
do
s c
idad
o
s
3 Os programas de ensino, nos seus diversos graus, incluiro, na rea de formao cvica, matrias de proteco civil e autoproteco, com a finalidade de difundir conhecimentos prticos e regras de comportamento a adoptar no caso de acidente grave, catstrofe ou calamidade
3 Os programas de ensino, nos seus diversos graus, devem incluir, na rea de formao cvica, matrias de proteco civil e autoproteco, com a finalidade de difundir conhecimentos prticos e regras de comportamento a adoptar no caso de acidente grave ou catstrofe
Estava bem patente, j em 1991, a inteno do legislador de transferir para o
sistema educativo a tarefa do desenvolvimento da cultura de segurana. No se pode
deixar de realar o preciosismo no que diz respeito Informao e formao dos
cidados que em 1991 promete que se incluiro (no futuro) e em 2006 substitui por
devem incluir. Esta alterao da forma verbal parece no ter nada de inocente.
1.2.2 - Organizao da Proteco Civil - mbito municipal
A 12 de Novembro de 2007 publicada a Lei n. 65, que regulamenta a
Organizao da Proteco Civil - mbito municipal. Neste documento encontramos
tambm 2 artigos que, nunca fazendo uma referncia especfica e directa ao pblico
escolar, se considera que vm entroncar neste domnio e que aqui se transcrevem:
-
13
Desta breve exposio do enquadramento institucional e jurdico que tem vindo a
ser implementado, abrangendo os diferentes nveis hierrquicos (nacional, regional e
local) depreende-se que, no que diz respeito vertente de informao/formao do
pblico, a misso foi confiada escala municipal. Por outro lado, e especificamente
para a populao escolar, a responsabilidade foi sacudida para o Ministrio da
Educao, que dever introduzir esta temtica na rea de Formao Cvica, nos seus
diversos graus.
O ritmo de produo legislativa, demasiado clere e nem sempre consequente,
implica grandes dificuldades de consolidao de polticas e prticas efectivas. Assim, no
raramente se encontra uma abissal discrepncia entre o legislado e a prtica corrente,
como se ir constatar ao longo do trabalho.
1.2.3 - Clube de Proteco Civil
No final do ano lectivo 2006/2007, por iniciativa do ex-Servio Nacional de
Bombeiros e Proteco Civil, actual ANPC, surge o Clube de Proteco Civil, projecto
inscrito no seu programa de sensibilizao pblica. A implementao deste projecto
processou-se a nvel distrital, sendo da responsabilidade de cada Comando Distrital de
Operaes de Socorro, o qual tinha a incumbncia de distribuir um Dossier ao Presidente
do Conselho Executivo de cada escola. A conduo que foi dada a este processo
dependeu no s da sensibilidade de cada rgo de gesto, mas tambm da existncia
de pelo menos um docente com motivao/formao, para lhe dar seguimento. O Dossier
distribudo apresenta ao longo de 7 captulos, um conjunto de recursos informativos e
propostas de actividades, cuja estrutura se passa a explanar:
No captulo introdutrio faz-se uma breve contextualizao do projecto, dos seus
objectivos e fundamentao. dada particular relevncia ao contexto escolar como
territrio preferencial de interveno neste domnio, quer pelo impacto directo das
comunidades educativas na populao em geral, quer pelos efeitos multiplicadores nas
futuras geraes.
No segundo captulo, A PROTECO CIVIL ESTRUTURA E DOMNIOS,
procede-se definio de conceitos como proteco civil, acidente grave, catstrofe.
Numa linguagem acessvel e de uma forma bastante sucinta, encontram-se aqui alguns
dos artigos da LBPC, que constituem uma base indispensvel de contextualizao para
os docentes que venham a dinamizar este projecto e que comummente no esto muito
familiarizados com a estrutura organizacional da Proteco Civil.
O terceiro captulo, RISCOS NATURAIS E TECNOLGICOS PREVENO E
AUTOPROTECO, comea com a definio de conceitos como perigo,
vulnerabilidade e risco. Dos riscos feita a distino entre naturais (hidrolgicos,
temperaturas extremas, incndios florestais, fenmenos de natureza convectiva, sismos e
ciclones) e tecnolgicos (acidentes industriais, transporte de matrias perigosas, NRBQ -
-
14
ameaas radiolgicas, bacteriolgicas e qumicas e incndios urbanos). Para cada um
destes, feita uma breve caracterizao, as reas de Portugal mais susceptveis, bem
como as principais medidas de preveno e autoproteco. Constitui uma base de
informao e um ponto de partida para pesquisas mais aprofundadas, como tal, deveria
ser objecto de um maior rigor cientfico, colocando-se as mesmas objeces que j
ficaram referidas no ponto 2.2 (p. 6).
No quarto captulo, A NOSSA ESCOLA, so abordados especificamente os dois
instrumentos que cada estabelecimento de ensino deve observar, no que preveno de
riscos diz respeito. O Manual de Utilizao, Manuteno e Segurana, elaborado por
cada escola, com base num guio editado pelo Ministrio da Educao e destinado a
ajudar os rgos de gesto de cada estabelecimento de ensino, a encontrar as solues
apropriadas resoluo dos problemas com que se depara, em termos da segurana de
pessoas e bens. O segundo documento, o Plano de Preveno e Emergncia, deve
prever e organizar os meios existentes para salvaguardar a comunidade educativa, em
caso de ocorrncia de uma situao perigosa. sobretudo este que pressupe uma
efectiva envolvncia de toda a comunidade educativa, pois, ao estabelecer os possveis
cenrios e regras de actuao em caso de acidente, permite organizar os meios e as
misses a atribuir aos vrios intervenientes.
Na quinta seco do Dossier, O CLUBE DE PROTECO CIVIL, so abordadas
mais em pormenor as finalidades e os objectivos que se pretendem alcanar, a
organizao do Clube, bem como sugestes de actividades a desenvolver. No que
concerne organizao, refira-se que pressupe a participao de alunos, professores e,
sempre que possvel, pessoal no docente. discriminado o processo organizacional em
que o professor dinamizador, que pode ser o Delegado de Segurana da escola, submete
a proposta ao Conselho Pedaggico. Nesta, devem constar os objectivos, a estrutura, o
responsvel, o horrio e o respectivo plano de actividades. Deve envolver um grupo de
15 a 20 alunos e 1 ou 2 professores. Desenvolver as actividades num mnimo de 90
minutos semanais, com cada grupo de alunos. Dever dispor de espao prprio com
armrio e estante, computador com acesso internet e outros materiais de acordo com
as actividades planificadas.
Voltando s actividades que so sugeridas neste captulo, so apontadas 13 a
realizar intramuros (ateliers, cinemateca da proteco civil, palestras/ sesses de
sensibilizao, comemorao de efemrides, gincana da segurana, jogo interactivo,
oficinas, painel informativo, percursos de segurana, projectos, semana cultural, stio do
Clube e planificao de visitas de estudo), e 4 actividades de exterior (exerccios e
simulacros, gincana da segurana, percursos de segurana e visitas de estudo).
O sexto captulo, BIBLIOGRAFIA E REFERNCIAS, apresenta publicaes e
outros recursos que podem ser utilizados no desenvolvimento das vrias actividades, tais
-
15
como livros de actividades, CD-ROM, vdeos, para alm de uma lista de referncias
bibliogrficas que podem ser consultadas.
No ltimo captulo, SUGESTES DE TRABALHO, pormenorizam-se algumas das
propostas apresentadas no ponto 5, bem como outras actividades para serem
desenvolvidas noutros contextos. So 19, as sugestes de trabalho, que encontram aqui
um esboo da sua planificao, passando por propostas de abordagem ao nvel da
Formao Cvica, explicitao de regras bsicas de orientao para serem aplicadas em
percursos, planos de sesso/aula, entre outras.
Aps uma anlise atenta de todos os elementos, informaes, propostas e
sugestes que integram este Dossier, facilmente se conclui tratar-se de um projecto
bastante consistente, no um produto acabado, mas uma base de trabalho coerente que
abre caminho a um leque muito variado de abordagens possveis. No entanto, pela
designao Clube da Proteco Civil, tudo leva a crer que este pressupe um esquema
organizacional extracurricular, ou seja, actividades diversificadas que cada escola oferece
aps as aulas, de frequncia facultativa, mediante inscrio no incio do ano lectivo e
destinadas a ocupar os tempos livres dos alunos. precisamente neste ponto que reside
a principal objeco que se pode colocar a esta filosofia de implementao.
Um clube pressupe um trabalho semanal com os alunos, mas apenas um
nmero muito limitado, o ideal situar-se-ia entre os 15 e os 20. Como evidente, esta
uma nfima parte do pblico-alvo, e embora com este pequeno nmero se pudessem
desenvolver aces destinadas a toda a escola, estas seriam de carcter espordico e
pontual. A relevncia cultural que assumem as temticas relacionadas com a preveno
dos riscos e adopo de comportamentos de autoproteco no se coaduna com
actividades pontuais e, sobretudo, facultativas. Obviamente que no se quer dizer com
isto que esta concepo est completamente condenada ao insucesso, nem que dela
no se podero retirar quaisquer dividendos pedaggicos, uma vez que estes esto
condicionados pela dinmica prpria de cada contexto escolar e muito pela aco do(s)
dinamizador(es) do projecto, mas nunca se devero restringir ao tal grupo limitado de alunos.
Introduz-se aqui o que o Presidente da ANPC, Major-General Arnaldo Cruz,
referiu na Sesso de Abertura do V Encontro Nacional, I Congresso Internacional de
Riscos em 29 de Maio de 2009. Segundo esta fonte, esto implementados 302 Clubes de
Proteco Civil em escolas dos 2., 3. e ensino secundrio e 161 em estabelecimentos
do 1 ciclo. Cruzando esta informao com a obtida num documento de divulgao do
CDOS do Porto, disponvel em http://www.cm-porto.pt/users/0/58/EngOlgaSampaio_
70e0b3502f18b655d8d0039266ac7654.pdf onde se refere que na sua rea esto
implementados 205 Clubes de Proteco Civil, afigura-se um pouco estranho que apenas
um distrito possua quase metade dos clubes existentes no pas.
Para se esclarecer esta discrepncia de nmeros, reproduz-se o que a este
propsito foi referido na entrevista pelo representante de um CDOS. Ao ser questionado
-
16
sobre quantos Clubes estariam implementados no pas, afirmou: No fao ideia, no
tenho esse nmero. Para mim, no sei se so 300, se so 250, se so 1000, no sei.
Sinceramente, qualquer nmero para mim fictcio. Sabe porqu? Porque todo o
feedback que eu tenho tido: - O nosso Clube de PC est a funcionar! Na medida em que
se faa umas aces de sensibilizao e formao, faa uns simulacros, chamam quilo
um Clube. Ou, por outro lado: - Um clube s quando est formalmente constitudo! No
h regras de formalidade e eu j vou explicar, portanto, qualquer das situaes vlida.
O que que importante? O importante chegar esta informao l. Temos aqui o
Dossier, est aqui este Dossier, distribumos para todas as escolas, todos os Conselhos
Executivos, todos os Delegados de segurana, todos os municpios tm o Dossier, a
explicar-lhes qual era a essncia, o que que pode ser desenvolvido.
Esta triste constatao bem elucidativa das linhas orientadoras da poltica de
sensibilizao em Proteco Civil nas escolas. Adjectivo no mnimo de estranho, que no
exista uma aferio de critrios para a contabilizao do nmero de Clubes que esto
implementados. caso para questionar se a escola em que lecciono, s porque lhe foi
entregue um exemplar deste Dossier, tambm entra nesta estatstica, apesar de no ter
um Clube de PC?
Uma vez que, no 4. Captulo, 2 entrevistados iro fazer um paralelismo este
Clube e o Clube da Floresta, no se pode deixar de confrontar a indefinio do primeiro,
com a rigorosa contabilizao do segundo, bem patente em Loureno (2003, p. 28 e 29)
e (2006, p. 15).
1.2.4 - Protocolos entre escolas e corpos de bombeiros
O mais recente aporte legislativo neste mbito o Despacho conjunto dos Ministrios
da Administrao Interna e da Educao n. 13993/2009 de 19 de Junho, que determina:
1 - As entidades detentoras de corpos de bombeiros podem celebrar protocolos com
os agrupamentos de escolas e escolas no agrupadas da sua rea de influncia,
com o objectivo de contribuir para o reforo da relao entre a escola e o seu meio
envolvente e para o desenvolvimento das competncias das crianas e dos jovens
nas reas da proteco e socorro, do voluntariado e da formao de esprito
solidrio.
2 - Tais protocolos, enquadrados pelos projectos educativos e pelos planos de
actividades das escolas, podem dizer respeito, nomeadamente:
a) s actividades a realizar na rea curricular no disciplinar de formao cvica;
b) realizao de aces conjuntas de preveno e de percepo de riscos
existentes;
c) participao em exerccios e simulacros;
d) realizao de actividades prticas diversificadas que motivem os alunos para
as questes da segurana;
e) formao de clubes de proteco civil.
-
17
Desta forma, possvel institucionalizar uma srie de actividades que se vo
desenvolvendo informalmente em muitos estabelecimentos de ensino. , sem dvida,
uma mais-valia que vai permitir s escolas e aos bombeiros fomentarem, numa dinmica
local, a partilha de responsabilidades e de deveres.
1.3 - A cultura de segurana na Escola
1.3.1 - Os programas curriculares do 5. ao 9. ano
O ensino bsico em Portugal desenrola-se num quadro de desenvolvimento
curricular suportado pelo Decreto-Lei n. 6/2001, de 18 de Janeiro - Reorganizao
Curricular do Ensino Bsico (Rectificado pela Declarao de Rectificao n. 4-A/2001,
de 28 de Fevereiro e alterado pelo Decreto-Lei n. 209/2002, de 17 de Outubro). Neste
normativo estabelecem-se para os 3 ciclos do ensino bsico, os princpios orientadores
da organizao e gesto curricular, da avaliao das aprendizagens e do processo de
desenvolvimento do currculo nacional, bem como, os desenhos curriculares que
integram reas curriculares disciplinares e no disciplinares.
A anlise dos programas curriculares do 5. ao 9. ano (Tabela 2), revela
os aportes que so dados aos riscos que ficaram definidos no ponto 2.2, qual o ano e a
disciplina em que feito este contributo para a cultura de segurana. Pela anlise dos
referenciais curriculares pode-se constatar que esta abordagem feita, na maior parte
das vezes, apenas na vertente da descrio dos processos, sobretudo dos naturais, no
enfatizando as vulnerabilidades e o desencadeamento de consequncias danosas.
A primeira ilao a retirar prende-se com o vazio ao nvel do 2. ciclo (5. e 6.
anos). A abordagem limita-se disciplina de Cincias da Natureza e praticamente cinge-
se ao 5. ano. No 6. ano, a referncia poluio atmosfrica muito superficial (razo
pela qual est assinalada a itlico) e inserida no Tema - Higiene e problemas sociais, em
que so esplanadas questes direccionadas para a higiene pessoal, tabagismo,
alcoolismo, outras drogas e poluio.
Ao nvel do 3. ciclo (7., 8. e 9. anos), j aparecem abordagens bem mais
consistentes, com referncias concretas s medidas de autoproteco e proteco das
populaes. No 7. ano, a disciplina de Geografia no Tema - Riscos e catstrofes naturais
refere as causas das catstrofes naturais e os efeitos sobre o homem e sobre o ambiente.
No 8. ano, a disciplina de Cincias Naturais, no subtema - Perturbaes no equilbrio dos
ecossistemas, repete praticamente o mesmo na abordagem s catstrofes naturais e
introduz as catstrofes directamente provocadas pelo Homem. Com uma incidncia
exagerada aparece-nos a trade, Destruio da camada de ozono/ Efeito de estufa/
Chuvas cidas, no 8. e no 9. ano, no sendo raro ouvir da boca dos alunos: Isso outra vez?
Fica ento bem patente que h uma abordagem curricular dos riscos, sejam eles
naturais, antrpicos ou mistos. Simplesmente esta no consentnea, no parece haver
um fio condutor, nem to pouco, uma sequencialidade.
-
18
C.N. - Cincias da Natureza (5 e 6) / Cincias Naturais (7, 8 e 9)
F.Q. - Cincias Fsico-Qumicas Geo - Geografia
1.3.2 - Manual de Utilizao, Manuteno e Segurana nas Escolas
Em Dezembro de 2003, foi publicado pelo ME o Manual de Utilizao,
Manuteno e Segurana nas Escolas, documento que visava apoiar os
estabelecimentos de ensino no cumprimento de vrias competncias que lhes estavam
atribudas, nomeadamente a Portaria n. 1444/2002 de 7 de Novembro Normas de
segurana contra incndio a observar na explorao de estabelecimentos escolares.
Na altura, muitos Conselhos Executivos, sem conhecimentos e preparao para
tal, viam-se na obrigao de encomendar a entidades externas os respectivos Planos e
deste modo cumprirem com o exigido. Quanto ao documento, considero que deu um
contributo bastante significativo, na medida em que colige ensinamentos teis para quem,
sem formao especfica na rea, se v a braos com a responsabilidade de organizar a
segurana das escolas.
Tabela 2 - Abordagens disciplinares aos riscos naturais, antrpicos e mistos
5 6 7 8 9
NA
TU
RA
IS
Vulces C.N./ Geo
Sismos C.N./ Geo
Maremotos C.N./ Geo
Tempestades (furaces) Geo C.N.
Ondas de calor Geo
Vagas de frio / geadas Geo
Secas Geo C.N.
Avalanchas Geo
Cheias /inundaes Geo C.N.
Movimentos de vertente Geo
AN
TR
P
ICO
S Poluio da gua C.N. C.N. Geo
Poluio do ar C.N. C.N. C.N. Geo
Alteraes climticas C.N. Geo
Matrias perigosas / Smbolos de perigo
F.Q.
NRBQ C.N.
Circulao rodoviria F.Q.
Sociais (terrorismo, guerra )
C.N.
MIS
TO
S
Destruio do ozono C.N. C.N./ F.Q. Geo
Efeito de estufa C.N. C.N./ F.Q. Geo
Chuvas cidas C.N. C.N./ F.Q. Geo
Eroso C.N. C.N. Geo
Desertificao C.N. C.N. Geo
Dendrocaustolgico C.N. C.N. Geo
-
19
Destaco aqui a elaborao do Plano de Segurana Interno, constitudo pelos
Planos de Preveno, de Emergncia Interno e pelos Registos de Segurana. No
primeiro consta uma caracterizao do espao, a sua localizao geogrfica, edifcios
envolventes, instalaes da escola, fontes de energia e extintores; uma identificao dos
riscos internos e externos; o levantamento de meios e recursos existentes na escola e
que possam permitir s equipas internas intervir em situao de emergncia; a prpria
organizao de segurana que visa a preparao interna para actuao em caso de
emergncia de forma a garantir que se tomem as medidas necessrias preservao da
vida e dos bens. Do Plano de Emergncia Interno consta todo o sistema organizativo a
ser activado aps a ocorrncia de um acidente e em que esto definidas as funes
operacionais especficas que professores e assistentes devem desempenhar. Quanto aos
Registos de Segurana so diversos como, por exemplo, os relatrios das ocorrncias.
1.3.3 - Programa Escola Segura
Uma constante ao longo do desenvolvimento deste trabalho foi a percepo de
que, a abordagem feita ao tema da segurana, por parte da tutela, privilegia muito mais a
perspectiva security do que a perspectiva safety. Para validar esta afirmao veja-se o
Programa Escola Segura implementado pelo Despacho conjunto dos Ministrios da
Administrao Interna e da Educao n. 105-A/2005 de 19 de Janeiro, revogado pelo
Despacho n. 25650/2006 de 29 de Novembro. A referncia que aqui se faz a este
Programa to somente a coincidncia de nos seus objectivos, vir logo cabea
Promover uma cultura de segurana nas escolas. No entanto, o programa est todo ele
vocacionado para o combate aos comportamentos desviantes e anti-sociais.
1.3.4 - Mdulo Cidadania e Segurana
A determinao da LBPC referida no ponto 1.2.1 vem a ser operacionalizada
atravs da Circular n. 18/2007, de 11 de Dezembro, emanada da Direco de Servios
de Inovao Educacional, determinando a implementao do Mdulo Cidadania e
Segurana ao longo do 5. ano de escolaridade. Coloca-se desde j a primeira grande
discrepncia entre a teoria e a prtica. Enquanto no articulado da LBPC se preconiza que
esta abordagem deve ser feita nos diversos graus de ensino, na realidade vai aparecer
s e apenas no 5. ano.
Relativamente aplicao do mdulo refere-se que deve ser operacionalizado em
5 aulas de 90 minutos, na rea curricular no disciplinar de Formao Cvica, abrangendo
3 temas: Viver com os outros, As situaes de conflito e a violncia e Comportamentos
especficos de segurana. A sequncia destas reas de trabalho e a sua insero
curricular so definidas pelo agrupamento e pela escola de acordo com o respectivo
projecto educativo. Atentemos agora para os objectivos do mdulo:
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promover a compreenso da importncia do valor da relao com os outros e
da construo de regras de convivncia na escola e na sociedade;
aumentar a capacidade para a resoluo de situaes de conflito de forma
no violenta;
promover competncias para agir adequadamente face agresso;
desenvolver a capacidade de identificao de comportamentos de risco e
incentivar atitudes de preveno;
desenvolver uma cultura de segurana e capacitar para a auto-proteco.
Mais uma vez ressalta a sobrevalorizao do security. No que se discorde com
a relevncia que esta temtica tem de assumir, e cada vez mais, no quotidiano escolar.
Apenas a triste constatao de que, com a carga horria estipulada para este mdulo, o
seu terceiro tema que o que est focalizado na vertente safety, ter na melhor das
hipteses, a atribuio de duas aulas de 90 minutos.
Afigura-se manifestamente difcil, se no impossvel, abordar o que preconizado
na supra citada Circular. Atentando apenas para o Tema 3, Comportamentos especficos
de segurana, por ser o que directamente entronca neste mbito, reproduzem-se as
linhas orientadoras (Tabela 3).
Tabela 3 - Planificao do Tema 3 do Mdulo Cidadania e Segurana, 5. ano
Sub-Tema Contedo Competncias
Segurana de pessoas e bens
Noo de segurana de pessoas e bens. Comportamentos adequados para a segurana de pessoas e bens. Segurana em casa. Segurana na rua e espaos pblicos. - Enquanto peo; - Enquanto utente de transportes; - Enquanto ciclista; - Segurana na internet.
Conhece as regras de segurana que deve observar em casa, nomeadamente: Para prevenir acidentes; Quando fica s; Em ambiente rodovirio; Outras regras de segurana em espaos pblicos.
Preveno de Riscos Naturais e Tecnolgicos
Noo de riscos naturais Caracterizao de riscos naturais. Comportamentos adequados para a segurana em situao de risco natural. Noo de riscos tecnolgicos Caracterizao de riscos tecnolgicos. Comportamentos adequados para a segurana em situao de risco tecnolgico.
Aplica as regras de segurana que deve observar em situao de risco
Aps a anlise deste Tema 3 do Mdulo Cidadania e Segurana refora-se a
convico de inoperacionalidade desta planificao ao considerar as sugestes de
actividades que so apontadas na mesma Circular. certo que se trata de sugestes,
mas tambm certo que estamos a trabalhar com um pblico-alvo do 5. ano, com
idades compreendidas entre os 9-10 anos, pelo que a abordagem deste terceiro tema,
-
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Comportamentos especficos de segurana, deveria ser implementada num lapso
temporal nunca inferior a 8 aulas de 90 minutos, cerca de 2 meses. Para corroborar esta
convico, transcrevem-se integralmente as sugestes de actividades (p.18-21):
- Dramatizao de uma situao imaginria com base na sua descrio, por exemplo:
em casa, a irm mais velha toma precaues adequadas e faz recomendaes ao irmo
mais novo sobre como prevenir acidentes; analisam e debatem a situao dramatizada.
- Relato de acidentes vividos; anlise das situaes descritas e identificao das
causas e dos comportamentos adequados/inadequados ocorridos.
- Comentrio de notcia(s) sobre acidente(s); identificao das causas, consequncias
e comportamentos adequados e inadequados.
- Elaborao do quadro de comunicaes.
- Representao grfica do percurso casa-escola-casa e identificao de situaes de
perigo.
- Visionamento de um vdeo ou DVD sobre o tema Atravessamento; anlise e
discusso dos comportamentos adequados e desadequados.
- Observao, levantamento e registo escrito e fotogrfico - da zona perifrica da
escola, da sinalizao vertical e horizontal e sua adequao.
- Pesquisa de notcias sobre acidentes rodovirios ocorridos no dia x, em diversos
jornais; identificao de tipos de acidentes; seleco de um caso e anlise das suas
causas e consequncias.
- Elaborao de um guia de procedimentos e comportamentos adequados em
viagem/quando se deslocam/quando brincam (regras de conduta e ilustrao) para
distribuio aos colegas.
- Resposta a um questionrio, por exemplo, o disponibilizado no mbito do projecto
Segur@net, do Safer Internet Programme, coordenado pelo Ministrio da
Educaohttp://www.seguranet.crie.minedu.pt/segura/Arquivo/Guia_profs_SAFT/saft-
quiz-parta_body_pt.swf Anlise dos seus resultados e discusso sobre a utilizao
esclarecida, crtica e segura da internet.
- Participao numa apresentao feita por um elemento da Proteco Civil com
eventual simulacro.
Se a limitao temporal dada a estes contedos pode ser questionada, mais
relevante que a sua abordagem, dentro do contexto da rea curricular no disciplinar de
Formao Cvica (atribuda ao Director de Turma, docente que pode pertencer a qualquer
grupo de docncia), se restrinja ao 5. ano.
-
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2. Captulo - Metodologia
Neste captulo sero explanados os recursos metodolgicos utilizados neste
trabalho, assim como, apresentada uma contextualizao do meio em que a investigao
emprica decorreu.
2.1 - Inquritos
Para a recolha de informao junto de alunos e professores optei pelo inqurito
por questionrio devido a todas as vantagens que este mtodo apresenta. O inqurito
pode ser definido como, uma interrogao particular acerca de uma situao englobando
indivduos, com o objectivo de generalizar (Ghiglione e Matalon, 1992, p. 2). Para estes
mesmos autores, trata-se de um instrumento rigorosamente estandardizado, tanto na
redaco que deve ser dada s questes como na ordem pela qual so colocadas. As
vantagens desta tcnica prendem-se com a forma simples de se aplicar, podendo ser
realizado em praticamente qualquer lugar, no implicando gastos excessivos, nem sendo
necessrios aparelhos complicados. No sentido de garantir a comparabilidade das
respostas dadas por todos os indivduos, indispensvel assegurar a equidade nas
condies em que aplicado, ou seja, o mesmo tipo de abordagem a cada pessoa, sem
adaptaes nem explicaes suplementares resultantes da iniciativa do investigador.
A aplicao de inquritos/realizao de estudos de investigao em meio escolar
est sujeita a autorizao da tutela, cujos procedimentos esto discriminados na pgina
da Direco-Geral de Inovao e Desenvolvimento Curricular e que foram integralmente
acatados na realizao deste trabalho.
Tanto no caso dos alunos como dos docentes, a aplicao realizou-se mediante a
aceitao de participao atravs do consentimento individual. A todos os participantes
foi assegurado que os dados recolhidos seriam somente utilizados neste trabalho, e que
seriam respeitadas todas as normas ticas e deontolgicas, quer no tratamento
estatstico, quer na apresentao final dos resultados, no que se refere ao sigilo e
confidencialidade, atravs da codificao de todas as informaes disponibilizadas.
O processo iniciou-se no ms de Maio de 2009, foram abordados todos os alunos
sobre a sua disponibilidade em responder a um questionrio para um trabalho
acadmico. Obteve-se uma receptividade bastante satisfatria. Na ltima semana deste
ms, foram enviados os pedidos de autorizao aos Encarregados de Educao para os
respectivos educandos poderem responder. Salienta-se o facto de todos os alunos terem
obtido a respectiva autorizao, que foi devolvida devidamente assinada (foram poucos
os casos de alunos mais esquecidos que o fizeram no prazo mximo de dez dias).
As perguntas foram redigidas numa linguagem acessvel ao nvel etrio do
pblico-alvo para que as explicaes orais fossem reduzidas ao mnimo indispensvel. A
aplicao do questionrio foi feita em contexto de sala de aula, utilizada a mesma
metodologia em todas as turmas, tendo optado pelo procedimento que utilizo
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habitualmente na realizao de um qualquer teste escrito. Neste caso concreto, depois
de lida cada pergunta, com a devida entoao para facilitar a compreenso e explicitao
do que se pretendia, seguia-se o tempo necessrio para a resposta. No houve
discrepncias significativas no tempo de aplicao do questionrio entre as vrias turmas
de cada ano curricular, uma vez que os respondentes iam assinalando cada opo de
resposta ao ritmo da leitura de cada pergunta. Foi previamente combinado que, se
mesmo com a leitura e breve explicao persistissem dvidas, no haveria pedidos de
esclarecimento adicionais, evitando-se, deste modo, a possibilidade de haver troca de
ideias entre os alunos. Nesse caso, deveriam optar pelo no responde.
Para a aplicao do inqurito s turmas do 5. ano, recorri aos respectivos
Directores de Turma que, prontamente, me cederam uma aula de 45 minutos da rea
curricular no disciplinar de Formao Cvica. Os docentes estiveram presentes na sala
de aula, mas foi-me proporcionada toda a liberdade de aco.
Para o 7. ano, a metodologia foi bastante semelhante s que, em vez de ser
implementada nas aulas de diferentes professores, na rea de Formao Cvica, foi no
mbito da disciplina que lecciono, Geografia, no tema Meio Natural: Riscos e catstrofes
naturais.
A aplicao do questionrio aos docentes da Escola E B 2, 3 com Ensino
Secundrio de Aguiar da Beira tambm foi feita por mim, imediatamente antes de uma
aco de sensibilizao, inserida na Semana Cultural da Escola, em que se procurava
alertar para a importncia destas temticas, nomeadamente o correcto desempenho de
todo o corpo docente em exerccios de evacuao.
Os dados apurados no preenchimento destes questionrios foram coligidos em
bases de dados com recurso ao programa SPSS (Statistical Package for the Social
Sciences) na sua verso 17.0. Desta forma, foi possvel gerir a informao, realizar
clculos, descrever estatisticamente uma varivel (anlise univariada) ou, em
determinados casos, anlise bivariada, e finalmente a visualizao dos dados na forma
de tabelas ou grficos, que constam nos pontos 3.1 e 3.2.
2.2 - Entrevistas
Diagnosticada a diversidade e complexidade de interesses e actores envolvidos,
sentiu-se a necessidade de focalizar e direccionar a pesquisa para as vrias entidades
envolventes Escola que detm responsabilidades e incumbncias neste domnio.
Interessou saber quais as suas ligaes ou relaes com o meio escolar, o sentido de
actuao que pauta as suas aces e deste modo se poder aspirar a uma avaliao das
polticas de interveno.
Para sentir este pulsar e recolher esta informao, recorreu-se tcnica da
entrevista. De entre as suas vrias cambiantes, foi seleccionado um tipo misto entre a
variante semi-directiva, o entrevistador conhece todos os temas sobre os quais tem de
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obter reaces por parte do inquirido, mas a ordem e a forma como os ir introduzir so
deixadas ao seu critrio, sendo apenas fixada uma orientao para o incio da entrevista
e um questionrio aberto a formulao e a ordem das questes so fixas mas a pessoa
pode dar uma resposta to longa quanto desejar e pode ser incitada por insistncia do
entrevistador (Ghiglione e Matalon, 1992, p. 64). O nvel de anlise pode ser
considerado maioritariamente de aprofundamento, mas que em determinados domnios
foi de explorao, quando a informao a recolher, era desconhecida. Esta abordagem
essencialmente compreensiva afigurou-se como a mais adequada a este que, sendo
ainda um perodo de crise na implementao de polticas, acarreta as inevitveis
discrepncias de dinmicas e sentido de aco. exactamente nestes perodos de
crise que emergem as assimetrias, as heterogeneidades, pois os actores manifestam
diferentes formas de adaptao, no dispem dos mesmos recursos, no tm idnticas
competncias para se movimentarem dentro da sua microestrutura de modo a
coincidirem em pleno ao nvel macro estrutural.
A unidade de anlise foi a instituio e, a de observao, o indivduo (responsvel
pela instituio ou pelo sector da instituio) que, directa ou indirectamente est
implicado neste processo. Foram previamente contactados telefonicamente para serem
agendadas as entrevistas, que decorreram nos meses de Julho e Agosto de 2009.
Todas as entrevistas foram realizadas por mim e decorrerem nos locais
escolhidos pelos entrevistados, porque no indiferente que a entrevista tenha lugar
num stio calmo ou barulhento, num escritrio ou na rua, no local de trabalho do
entrevistado ou, ao contrrio, que o entrevistado se encontre no escritrio do
entrevistador (Ghiglione e Matalon, 1992, p. 70). Considero que todas se realizaram em
condies de privacidade e com um esprito de franca colaborao. A nica ressalva vai
para algumas interrupes que se prendiam com as solicitaes que os entrevistados
tinham telefonicamente, j que se encontravam no local de trabalho e em perodo
operativo. Este pequeno constrangimento veio dificultar, pontualmente, o retomar das
respostas e, de certo modo, a sua anlise e transcrio.
2.3 - Caractersticas das amostras
Para os alunos, a seleco de uma amostragem no aleatria foi uma opo
deliberada, tendo-se restringido os casos deste estudo aos que frequentavam o 5. ano
(56 alunos de 3 turmas) e o 7. ano (57 alunos de 3 turmas).
Os critrios de elegibilidade da amostra a inquirir foram:
Ser aluno das turmas do 5. e 7. anos da Escola E B 2,3 com Ensino Secundrio
de Aguiar da Beira;
Ter autorizao dos Encarregados de Educao para participao no estudo;
Ter acedido responder ao questionrio.
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A opo pelo 5. ano justifica-se pelo facto de estar sujeito abordagem do
Mdulo Cidadania e Segurana na rea curricular no disciplinar de Formao Cvica,
que leccionada pelo Director de Turma, e porque, na sua maioria, vivenciaram pela
primeira vez um exerccio de evacuao. Neste caso, reuni informalmente com os trs
professores, Directores das trs turmas, cujos grupos de recrutamento so, Histria e
Geografia de Portugal, Educao Visual e Tecnolgica e Educao Musical, antes de
iniciarem a abordagem deste Mdulo na rea Curricular no disciplinar de Formao
Cvica. Explicitei devidamente quais eram os meus objectivos, solicitei a colaborao
para esta minha pesquisa que passaria pela aplicao do inqurito no final do ano lectivo,
sugeri algumas formas de trabalho ficando, no entanto, a deciso da forma de
implementao e seleco de metodologia inteira responsabilidade de cada docente.
O 7. ano foi seleccionado por ser o incio do ltimo ciclo da escolaridade bsica,
os alunos j terem pelo menos trs anos de experincia de exerccios de evacuao e,
acima de tudo, por serem meus alunos e este estudo ter todo o cabimento na abordagem
da ltima unidade do currculo da disciplina que lecciono, Geografia e que Riscos e
catstrofes naturais.
No que diz respeito aos docentes, como j referi, a sua colaborao neste estudo
consistiu na resposta ao questionrio nos minutos iniciais de uma aco de sensibilizao
que promovi, inserida na Semana Cultural da Escola, realizada no dia que antecedeu a
realizao do exerccio de evacuao anual. Nesse ano lectivo, o corpo docente era
constitudo por 68 professores, tendo respondido 64 (94,1% do universo), os que
participaram nas duas sesses da aco de formao.
2.4 - Breve caracterizao do meio
2.4.1 - Estabelecimento de ensino
A informao em que se baseia este estudo foi recolhida junto de alunos e
professores da Escola E B 2,3 com Ensino Secundrio de Aguiar da Beira, escola sede
do Agrupamento que iniciou a actividade em 1993. Dispondo de condies fsicas
bastante razoveis para o funcionamento das actividades, composta por um edifcio
principal em que esto instalados os servios (secretaria, cantina, bufete, papelaria,
reprografia e biblioteca) e 18 salas de aulas. Existe um segundo pavilho, inaugurado em
2001, onde se encontram os 4 laboratrios e 8 salas de aulas destinadas essencialmente
s actividades lectivas do 9. ano e ensino secundrio. O Pavilho Gimnodesportivo
encontra-se fora do gradeamento da escola e pertence ao Municpio.
Relativamente aos alunos constata-se que, maioritariamente, tm baixas
expectativas relativamente escolarizao, oriundos de famlias que no privilegiam a
formao escolar e que no fazem um acompanhamento activo dos seus educandos. O
trabalho de estudo em casa secundarizado, em alguns casos, por trabalhos agrcolas.
Para alm deste grupo de nvel socioeconmico mais baixo, temos um nmero
-
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considervel de alunos que, apesar de em termos econmicos viverem algumas
restries, tm expectativas mais elevadas, de concluso do ensino secundrio, de
preferncia de nvel profissional, preparando-os para o mercado de trabalho. So
oriundos de famlias que lhes incutem o valor do trabalho. Neste grupo, as dificuldades
econmicas so minimizadas pela Aco Social Escolar. Outra minoria, pertence classe
mdia/alta do concelho, em que as famlias se dedicam ao comrcio, pequena indstria e
servios. Usufruem de acompanhamento dos Encarregados de Educao, denotando-se
uma preocupao com a melhor opo quanto ao plano de estudos, perspectivando o
acesso ao ensino superior. O contexto socioeconmico, os nveis de emigrao, a
existncia de famlias disfuncionais, de avs que substituem os pais, leva necessidade
de um acompanhamento dos alunos, usufruindo estes de apoio scio educativo, tutorias,
apoio individualizado, aulas de recuperao e salas de estudo.
Para alm do ensino bsico, pretende-se que a oferta v ao encontro dos
interesses dos alunos, sem descurar a formao de nvel secundrio, ainda que no
tenha por objectivo prioritrio o prosseguimento para o ensino superior, procurando
prevenir situaes de desistncia e de abandono escolar. Inclui na oferta educativa
Percursos Curriculares Alternativos, Cursos de Educao e Formao de Jovens, Cursos
Profissionais, um Curso Tecnolgico e, includos na Iniciativa Novas Oportunidades,
respondendo baixa escolarizao da populao, Cursos de Educao e Formao de
Adultos de nvel B3 e Secundrio. No ano lectivo de 2008/2009 frequentaram esta escola
432 alunos desde o 5. ao 12. ano.
2.4.2 - Concelho de Aguiar da Beira
Numa breve caracterizao do concelho em que se localiza a escola em questo,
refira-se que este se situa na regio Centro de Portugal, na NUT III Do-Lafes, pertence
ao distrito da Guarda. Dista cerca de 70km da capital de distrito, embora a mais prxima,
Viseu, fique, apenas, a 40km de distncia. Tem uma rea de 206,9 Km2, distribuda por
13 freguesias: Aguiar da Beira, Carapito, Cortiada, Coruche, Dornelas, Eirado,
Forninhos, Gradiz, Penaverde, Pinheiro, Sequeiros, Souto de Aguiar da Beira e Valverde.
Sendo um concelho rural do interior que, de acordo com os dados dos Censos de
2001, registava uma populao residente de 6 247 habitantes, encontra-se em processo
de despovoamento, uma vez que este valor tem vindo a diminuir ao longo das ltimas
dcadas, j que em 1960, a populao residente ultrapassava 10 000 habitantes, e, na
actualidade, anda volta de 6 000 residentes (fig. 1). Este fenmeno a consequncia
directa do xodo rural, de um acentuado surto migratrio para pases da Unio Europeia
e Sua, bem como, de uma reduo da taxa de natalidade.
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Fig. 1 Evoluo da populao do concelho de Aguiar da Beira, 1960-2001
Fonte: Elaborao prpria a partir de dados do INE, Recenseamento Geral da Populao e Habitao.
A tendncia para o envelhecimento da populao est bem patente neste
municpio, em que evidente uma diminuio de efectivos nos dois escales etrios mais
jovens, diminuio esta que mais significativa na populao at aos 15 anos. Pelo
contrrio, nos grupos etrios superiores, particularmente no dos idosos (mais de 64
anos), h um aumento de populao (fig. 2). Esta tendncia est, alis, bem patente
tanto no ndice de envelhecimento, que em 2001 registava o valor de 24,8%, como no
ndice de juventude, que era de apenas 15,2%.
Fig. 2 - Estrutura etria da populao do concelho de Aguiar da Beira, 1991-2001
Fonte: Elaborao prpria a partir de dados do INE, Recenseamento Geral da Populao e Habitao, 2001
Populao do Concelho de Aguiar da Beira
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
1960 1970 1981 1991 2001
0 1000 2000 3000 4000
< 15
15-24
25-64
>64
2001
1991
-
28
No que concerne ao nvel de instruo, observou-se que bastante baixo,
predominando a populao com uma qualificao que no vai alm do 1 ciclo do ensino
bsico. O analfabetismo tambm bastante significativo, sendo preponderante, nestes
dois grupos, a populao feminina (fig. 3).
Fig. 3 Grau de instruo da populao do concelho de Aguiar da Beira
Fonte: Elaborao prpria a partir de dados do INE, Recenseamento Geral da Populao e Habitao.
Sendo um concelho rural do interior, onde predomina economicamente o sector
primrio, na agricultura e actividades complementares que a maior parte dos agregados
familiares encontram o seu sustento. O queijo da serra, a ma das terras altas, a
castanha e a batata so os produtos com mais tradio. A eles, se junta a criao de
animais, nomeadamente em avirios, pocilgas e vacarias.
Salienta-se ainda a existncia de algumas indstrias transformadoras,
nomeadamente as respeitantes aos lacticnios e madeiras.
Fig. 4 Sectores de actividade e desemprego no concelho de Aguiar da Beira
Fonte: Elaborao prpria a partir de dados do INE, Recenseamento Geral da Populao e Habitao.
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
Analf 1 C 2 C 3 C Sec. Mdio Sup.
Mulheres
Homens
1
2
3
Desemp.
-
29
3. Captulo - A cultura de segurana e a Escola: anlise emprica
Com o intuito de no sobrecarregar em demasia este captulo com a
apresentao de todas as tabelas decorrentes do apuramento dos inquritos, optei por
apenas colocar as que considero cruciais, ou pela pertinncia para o estudo, ou pelo
inusitado dos resultados obtidos. Das restantes feita a respectiva anlise descritiva,
sendo o leitor remetido para a sua consulta no Anexo.
3.1 - Alunos
Os inquritos aplicados aos dois nveis de ensino seleccionados (5. e 7.), tm
muitas semelhanas porque se pretende que os resultados obtidos vo ao encontro dos
objectivos da pesquisa e, ao mesmo tempo, contrapor posturas de alunos que entram
pela primeira vez na escola sede do Ag