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INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO Universidade Técnica de Lisboa Estudo da influência da dosagem de ligante no desempenho de rebocos para edifícios antigos João Martins Pavão Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Civil Presidente: Doutor António Heleno Domingues Moret Rodrigues Orientador: Doutora Ana Paula Teixeira Ferreira Pinto Franca de Santana Co-Orientador: Doutor Augusto Martins Gomes Vogais: Doutor José Manuel Gaspar Nero Outubro de 2010

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INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO

Universidade Técnica de Lisboa

Estudo da influência da dosagem de ligante no

desempenho de rebocos para edifícios antigos

João Martins Pavão

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Civil

Presidente: Doutor António Heleno Domingues Moret Rodrigues

Orientador: Doutora Ana Paula Teixeira Ferreira Pinto Franca de Santana

Co-Orientador: Doutor Augusto Martins Gomes

Vogais: Doutor José Manuel Gaspar Nero

Outubro de 2010

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I

Agradecimentos

Em primeiro lugar, à minha orientadora Professora Doutora Ana Paula Ferreira Pinto, pelos

conhecimentos transmitidos, disponibilidade demonstrada e especialmente pela atenção, apoio e

motivação concedida na fase final deste estudo. Os meus mais profundos agradecimentos. Também

gostaria de agradecer ao meu co-orientador Professor Doutor Augusto Gomes, pela sua colaboração,

disponibilidade e confiança demonstrada.

A todos os meus amigos e colegas de trabalho, que directa ou indirectamente me apoiaram na

realização deste trabalho, especialmente aqueles que me acompanharam no decorrer da minha vida

académica e que com eles também aprendi e cresci como pessoa.

O meu agradecimento sincero aos funcionários do laboratório, especialmente ao Sr. Leonel e ao Sr.

Fernando pelo apoio e empenhamento demonstrado durante a realização dos ensaios.

À Eng.ª Rita Nogueira pela sua disponibilidade e cooperação na realização do trabalho laboratorial.

Em último lugar, mas não menos importante, à minha família em especial aos meus irmãos Carmen e

Daniel, à minha tia Rosário e principalmente à minha mãe, Matilde, quero exprimir o meu

reconhecimento e gratidão pelos incentivos, ensinamentos, e apoio que sempre demonstraram ao

longo de toda a minha vida.

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II

Resumo

As intervenções de conservação e reabilitação em edifícios antigos são acções frequentes e

necessárias, para que os edifícios possam corresponder às exigências de uso.

A substituição de rebocos de paredes constitui-se como uma das intervenções mais frequentes, dada

a permanente exposição a inúmeras acções agressivas a que estão sujeitos. A sua substituição

requer uma abordagem criteriosa devido às características das paredes antigas e à protecção que os

revestimentos conferem às alvenarias.

A selecção dos rebocos de substituição recai naturalmente nas argamassas tradicionais de cal aérea,

muito embora a sua utilização tenha caído em desuso nas últimas décadas com o surgimento do

cimento, o qual manifestou pouca compatibilidade com este género de paredes.

O presente estudo tem como objectivo contribuir para o incremento do conhecimento e da prática de

aplicação de argamassas de cal aérea em rebocos de substituição de edifícios antigos, no que se

refere à avaliação da influência da dosagem de ligante nas características das argamassas e na sua

susceptibilidade à degradação por sais solúveis.

As propriedades físicas e mecânicas de uma argamassa são fortemente influenciadas pela

quantidade de ligante existente na sua matriz, condicionando a sua aplicação em rebocos de edifícios

antigos. Assim, estuda-se a evolução das características físicas e mecânicas a diferentes idades de

quatro formulações de argamassa, nas quais se incluem dois traços diferentes (1:2,5 e 1:3,5). Cada

traço foi estudado com duas relações água/ligante, sendo que uma delas corresponde à necessária

para se obter uma consistência avaliada por espalhamento de 165 mm.

Procurou-se averiguar em fase avançada deste estudo, a vulnerabilidade destas argamassas face ao

fenómeno de cristalização de sais, uma das principais causas de degradação de rebocos em edifícios

antigos, através do estudo de provetes contaminados com solução de cloreto de sódio.

De um modo geral, os resultados permitiram concluir que as argamassas com menor teor em ligante,

em especial aquelas que possuam menor quantidade de água de amassadura, exibem menor aptidão

para absorver água por capilaridade, apresentam maior facilidade de secagem e de desenvolvimento

da carbonatação, porém revelam menor resistência mecânica, facto que pode assumir relevância

perante mecanismos de degradação das argamassas por acção de cristalização de sais.

Palavras-chave:

Cal aérea; dosagem de ligante; desempenho; reboco; argamassa de substituição; cristalização de

sais.

Page 5: Tese 2,8 MB

III

Abstract

Conservation interventions and rehabilitation on old buildings are common practices and necessary to

meet building usage requirements.

Replacing wall coatings can be one of the primary types of interventions, given the permanent

exposure to numerous aggressive actions at which they are subjected. Its replacement requires a

judicious approach due to the characteristics of old walls and their protective coatings.

The selection of replacement plaster falls naturally in traditional lime mortar, although its use has fallen

into disuse in recent decades with the rise of cement, which showed little compatibility with this type of

wall.

The present study aims to contribute and increased knowledge and practical application to mortars of

lime in replacement plaster on old buildings, with regard to the evaluation of the influence of binder

content on mortars characteristics and its susceptibility to degradation by soluble salts.

Physical and mechanical properties of mortar are strongly influenced by the amount of binder in the

matrix, which will condition the application of plaster in old buildings. Thus, we study the evolution of

physical and mechanical characteristics at different ages of four formulations of mortar, which include

two different traits (1:2,5 and 1:3,5). Each trait was studied with two relation types water / binder, one

of which corresponds to requirement to achieve a spreading consistency assessed by 165 mm.

It was examined at an advanced stage of this study, the vulnerability of these mortars against the

phenomenon of crystallization of salts, a major cause of degradation of plaster on old buildings,

through the study of test specimens contaminated with sodium chloride solution.

In general, the results showed that mortars with lower binder content, especially those that have the

least amount of mixing water, show less ability to absorb water by capillary action, and have ease of

drying and development of carbonation, but show lower mechanical strength, which may be relevant

before degradation mechanisms of mortars by the action of salt crystallization.

Key-words:

Aerial lime; binder content; performance; render; Replacement mortar; Salt crystallization.

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IV

Índice

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................1

1.1. Enquadramento e justificação do tema ...................................................................1 1.2. Objectivos ...............................................................................................................3 1.3. Organização do texto ..............................................................................................3

2. CAL AÉREA EM REBOCOS .................................................................................................4

2.1. Breve enquadramento histórico ..............................................................................4 2.2. Considerações gerais .............................................................................................5 2.3. Constituintes das argamassas ................................................................................5

2.3.1. Agregados .................................................................................................................6 2.3.2. Cal aérea ...................................................................................................................6 2.3.3. Água ..........................................................................................................................8

2.4. Constituição dos revestimentos antigos ..................................................................9 2.5. Anomalias das construções associadas aos rebocos e suas causas ....................10 2.6. Aspectos a ter em conta na reabilitação................................................................15 2.7. Requisitos exigidos às argamassas aplicadas em paredes antigas ......................18

3. CAMPANHA EXPERIMENTAL ............................................................................................19

3.1. Considerações prévias ..........................................................................................19 3.2. Formulações estudadas e provetes produzidos ....................................................20 3.3. Plano de ensaios e caracterização efectuada .......................................................21 3.4. Caracterização dos agregados e do ligante ..........................................................24 3.5. Produção de argamassa e dos provetes ...............................................................25

3.5.1. Produção das argamassas ....................................................................................... 26 3.5.2. Produção dos provetes prismáticos .......................................................................... 26 3.5.3. Camadas de revestimento de tijolos ......................................................................... 27 3.5.4. Enchimento de calhas metálicas com argamassa..................................................... 28

3.6. Caracterização das argamassas no estado fresco ................................................29 3.6.1. Consistência por espalhamento ............................................................................... 29 3.6.2. Massa volúmica aparente da argamassa no estado fresco ....................................... 29 3.6.3. Retenção de água.................................................................................................... 30

3.7. Caracterização das argamassas no estado endurecido ........................................31 3.7.1. Caracterização mecânica ......................................................................................... 31 3.7.2. Caracterização física................................................................................................ 36 3.7.3. Comportamento face à cristalização de sais ............................................................. 42 3.7.4. Outros – Susceptibilidade à fendilhação / fissuração ................................................ 46

4. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS ................................................46

4.1. Caracterização das argamassas no estado fresco ................................................46 4.2. Caracterização das argamassas no estado endurecido ........................................48

4.2.1. Caracterização mecânica ......................................................................................... 48 4.2.2. Caracterização Física .............................................................................................. 56 4.2.3. Comportamento das argamassas face à cristalização de sais .................................. 67 4.2.4. Outros - Susceptibilidade à fendilhação / fissuração ................................................. 80

5. CONCLUSÕES E DESENVOLVIMENTOS FUTUROS ...............................................................81

5.1. Conclusões gerais ................................................................................................81 5.2. Desenvolvimentos futuros .....................................................................................86

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..............................................................................................87

ANEXOS

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V

Índice de Figuras

Figura 3.1 - Cal aérea hidratada comercializada em sacos de 22 kg.................................................. 25

Figura 3.2 - Aspecto dos provetes antes e após a desmoldagem ...................................................... 27

Figura 3.3 - Argamassa aplicada como camada de revestimento de tijolo antes da desmoldagem .... 27

Figura 3.4 - Aspecto geral de provetes em que as argamassas foram aplicadas em calhas metálicas. ..................................................................................................................................... 28

Figura 3.5 - Determinação da tensão de rotura à compressão e flexão .............................................. 32

Figura 3.6 - Equipamento de medição da velocidade de propagação de ultra-sons ........................... 33

Figura 3.7 - Determinação da velocidade de propagação de ultra-sons nas argamassas aplicadas como camadas de revestimento .................................................................................... 33

Figura 3.8 - Avaliação da dureza superficial por recurso ao esclerómetro pendular ........................... 34

Figura 3.9 - Ensaio de arrancamento ................................................................................................ 36

Figura 3.10 - Ensaio de capilaridade ................................................................................................. 37

Figura 3.11 - Ensaio de absorção de água sob baixa pressão ........................................................... 39

Figura 3.12 - Aspecto da superfície do provete após aplicação de fenolftaleína ................................. 40

Figura 3.13 - Ensaio de secagem ...................................................................................................... 41

Figura 3.14 - Comportamento das argamassas Arg. I e Arg. II face à cristalização de sais – Procedimento I .............................................................................................................. 44

Figura 4.1 - Consistência por espalhamento das argamassas I e II com A/L=1,62 (esq.) e relação A/L necessária para a obtenção de 165 mm de espalhamento (I a e II a) ............................. 47

Figura 4.2 - Evolução da resistência à flexão e à compressão das argamassas ................................ 49

Figura 4.3 - Resistência à compressão e à flexão aos 90 dias das argamassas estudadas ............... 49

Figura 4.4 - Tensões de rotura à flexão e à compressão, aos 90 dias, para argamassas com razão A/L=1,62 ou 165 mm de espalhamento, segundo os traços volumétricos estudados ...... 50

Figura 4.5 - Evolução da velocidade de ultra-sons em prismas .......................................................... 51

Figura 4.6 - Correlação entre a velocidade de propagação de ultra-sons e a resistência mecânica à compressão (Rc) e flexão (Rf) ....................................................................................... 51

Figura 4.7 - Velocidade de ultra-sons em prismas aos 90 dias de idade ............................................ 52

Figura 4.8 - Ultra-sons em argamassas aplicadas como camada de revestimento de tijolos aos 90 dias de idade ................................................................................................................. 52

Figura 4.9 - Evolução da velocidade de ultra-sons em argamassas aplicadas como camadas de revestimento de tijolos ................................................................................................... 53

Figura 4.10 - Valores de ressalto obtidos nas argamassas Arg. I e Arg. II ao longo do tempo ............ 54

Figura 4.11 - Destruição do reboco aos 14 dias devido ao impacto do esclerómetro pendular ........... 54

Figura 4.12 - Correlação entre os valores da tensão de rotura à compressão e do ressalto ............... 55

Figura 4.13 - Ensaio de arrancamento .............................................................................................. 55

Figura 4.14 - Resultado do ensaio de arrancamento ......................................................................... 56

Figura 4.15 - Evolução da porosidade das argamassas no tempo ..................................................... 56

Figura 4.16 - Porosidade das argamassas aos 90 dias de idade ....................................................... 57

Figura 4.17 - Massa volúmica aparente e real das argamassas ......................................................... 58

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VI

Figura 4.18 - Curvas de absorção de água por capilaridade – valores médios de 2 provetes / argamassa aos 90 dias ................................................................................................. 59

Figura 4.19 - Curvas de absorção de água por capilaridade – valores médios de 2 provetes / argamassa, aos 90 dias – período de ensaio: 0-60 min ................................................. 59

Figura 4.20 - Evolução dos coeficientes de capilaridade das argamassas I e II.................................. 60

Figura 4.21 - Evolução do teor em água das argamassas I e II .......................................................... 61

Figura 4.22 - Teor em água das argamassas aos 90 dias de idade ................................................... 62

Figura 4.23 - Absorção de água sob baixa pressão aos 90 dias ........................................................ 62

Figura 4.24 - Evolução da absorção de água sob baixa pressão das argamassas através de curvas de regressão ...................................................................................................................... 63

Figura 4.25 - Água Absorvida ao fim de 2 minutos, por cada argamassa, às idades de referência ..... 63

Figura 4.26 - Espessura carbonatada ................................................................................................ 64

Figura 4.27 - Cinética de secagem das argamassas aos 90 dias ....................................................... 65

Figura 4.28 - Comparação da cinética de secagem após imersão em água potável e em solução salina ............................................................................................................................ 66

Figura 4.29 - Dessalinização dos provetes ........................................................................................ 68

Figura 4.30 - Cristalização de sais à superfície dos provetes ............................................................. 68

Figura 4.31 - Degradação das faces e arestas dos provetes pela acção do sal ................................. 69

Figura 4.32 - Provetes após a dessalinização ................................................................................... 71

Figura 4.33 - Ensaio de capilaridade após dessalinização ................................................................. 71

Figura 4.34 - Ensaio de capilaridade antes e depois da acção da degradação por sais solúveis ........ 72

Figura 4.35 - Resistência mecânica à flexão antes e depois da degradação por sais solúveis ........... 73

Figura 4.36 - Evolução da cristalização de sais. Procedimento II a) ................................................... 74

Figura 4.37 - Procedimento II a) – argamassa I ................................................................................. 75

Figura 4.38 - Procedimento II a) – argamassa II ................................................................................ 75

Figura 4.39 - Ensaios de secagem. Argamassa I – antes e após o processo de degradação (Procedimento II a) ........................................................................................................ 76

Figura 4.40 - Ensaios de secagem. Argamassa II – antes e após o processo de degradação (procedimento II a) ........................................................................................................ 76

Figura 4.41 - Procedimento II b) – Fases 1 e 2 .................................................................................. 77

Figura 4.42 - Procedimento II b). Argamassa I................................................................................... 78

Figura 4.43 - Procedimento II b). Argamassa II.................................................................................. 78

Figura 4.44 - Cinética de secagem antes e após a acção da cristalização de sais (Procedimento II b) ..................................................................................................................................... 79

Figura 4.45 - Topos e centro das calhas metálicas ............................................................................ 80

Figura 4.46 - Argamassa I – ocorrência de fissuração ....................................................................... 80

Page 9: Tese 2,8 MB

VII

Índice de Quadros

Quadro 2.1 - Quadro geral de anomalias (Carrió, 2006) .................................................................... 11

Quadro 3.1 - Formulações de argamassa ......................................................................................... 21

Quadro 3.2 - Quantidade total de provetes produzidos ...................................................................... 21

Quadro 3.3 - Número de provetes prismáticos e caracterização efectuada para cada idade .............. 22

Quadro 3.4 - Ensaios envolvidos na caracterização das argamassas e idades estudadas ................. 23

Quadro 3.5 - Caracterização dos agregados (7) ................................................................................ 24

Quadro 3.6 - Baridade das matérias-primas e massa volúmica real da cal aérea (7) ......................... 24

Quadro 3.7 - Traço das argamassas de Agostinho (espalhamento 165mm) ...................................... 25

Quadro 4.1 - Consistência por espalhamento, massa volúmica aparente e retenção de água das argamassas .................................................................................................................. 47

Quadro 4.2 - Resistência à Flexão e Compressão das argamassas estudadas ................................. 49

Quadro 4.3 - Velocidade de propagação de ultra-sons em provetes prismáticos e em argamassas aplicadas como revestimento de tijolos (m/s) ................................................................. 50

Quadro 4.4 - Valores médios do ressalto nas argamassas estudadas ............................................... 54

Quadro 4.5 - Massa volúmica e porosidade aberta das argamassas estudadas ................................ 57

Quadro 4.6 - Coeficiente de capilaridade (C.C) e valores assintóticos das argamassas aos 90 dias .. 60

Quadro 4.7 - Coeficientes de capilaridade das argamassas I e II ....................................................... 60

Quadro 4.8 - Teor em água das argamassas às diferentes idades .................................................... 61

Quadro 4.9 - Água absorvida ao fim de 2 minutos, argamassas I e II , às idades de referência.......... 63

Quadro 4.10 - Espessura carbonatada .............................................................................................. 65

Quadro 4.11 - Valores médios do índice de secagem e do teor em água e em solução salina no inicio do ensaio ...................................................................................................................... 67

Quadro 4.12 - Condutividade da água utilizada na dessalinização dos provetes ................................ 67

Quadro 4.13 - Cristalização de sais. Procedimento I (4ciclos realizados) ........................................... 69

Quadro 4.14 - Variação de massa dos provetes pela acção do sal. Procedimento I ........................... 70

Quadro 4.15 - Comparação do C.C das argamassas antes e depois da degradação por sais solúveis ..................................................................................................................................... 72

Quadro 4.16 - Resistência mecânica à flexão antes e depois da degradação por sais solúveis ......... 73

Quadro 4.17 - Variação de massa dos provetes pela acção da cristalização de sais, Procedimento II a) – 6 ciclos ................................................................................................................... 74

Quadro 4.18 - Procedimento II b) – variação de massa ..................................................................... 79

Page 10: Tese 2,8 MB

1

1. Introdução

1.1. Enquadramento e justificação do tema

Nas últimas décadas, o país atravessou um surto construtivo de grande intensidade que integrou a

utilização de novos materiais e avançadas técnicas construtivas. Durante este período, a reabilitação

em Portugal teve pouca expressão, confinando-se maioritariamente, às construções ou monumentos

considerados patrimónios arquitectónicos. Tendo em conta que o edificado urbano, sobretudo os

núcleos históricos, é constituído na sua generalidade por edificações seculares, assistiu-se ao

abandono e degradação de muito deste edificado, ao mesmo tempo que ocorria o crescimento

massivo das construções novas na periferia das cidades.

“O património dum povo constitui uma das suas heranças mais importantes e, simultaneamente, um

legado essencial às gerações futuras, as quais julgarão de forma implacável os erros e omissões

cometidos no presente” (1).

A indústria da construção está actualmente no inicio de um novo ciclo, onde impera a

sustentabilidade e a integração do sector com o meio ambiente. Neste âmbito, a citação anterior, ao

mesmo tempo que alerta para a necessidade de salvaguardar o património, lança a base para a

construção sustentável e para a reabilitação.

“… buildings, in general, are supposed to have a service life of tens of years. On the contrary,

architectural heritage is supposed to live for “eternity” which means hundreds or thousands of years.”

(2)

A reflexão anterior, à semelhança da primeira, incute às civilizações a necessidade de preservar as

construções, porém alerta para a existência de dificuldades na reabilitação. A questão subjacente é

reincidente em todas as gerações, pois é necessário munir as edificações antigas ou adapta-las aos

mesmos níveis de conforto e comodidade que as construções novas proporcionam, pois em poucas

dezenas de anos, os edifícios deixam de corresponder às exigências das populações, acabando por

ficar abandonados e degradados se não forem tomadas medidas que garantam a sua permanência

em serviço.

Perante este cenário, a reabilitação tende a assumir maior importância no sector da construção, na

estética das cidades e na qualidade de vida das populações, sendo certo que eventualmente será

necessária a todo o edificado, independentemente das técnicas construtivas adoptadas, dos materiais

envolvidos ou da época construtiva em que foram construídos.

Perante este facto podemos separar a reabilitação, de uma forma geral e simplista em duas épocas,

tendo como marco, a descoberta do cimento. Em poucas dezenas de anos, este material alterou

radicalmente a base dos processos construtivos, as técnicas utilizadas até então e permitiu o

surgimento de muitos outros materiais. De forma progressiva e rápida, as potencialidades desta

Page 11: Tese 2,8 MB

2

descoberta, fez cair em desuso muitos dos materiais e técnicas construtivas, utilizadas até então.

Este facto acabou por ter repercussões negativas na reabilitação, pois o cimento acabou por revelar

pouca compatibilidade com os materiais utilizados até ao seu aparecimento, agravando problemas,

aos quais se propunha solucionar.

O principal material a cair em desuso, e actualmente com uma produção industrial muito reduzida, foi

a cal aérea.

“A cal aérea continuou a ser o ligante quase único em argamassas de revestimento até que o

cimento, descoberto no inicio do século XIX, a foi substituindo, primeiro nos elementos resistentes da

construção e mais tarde nos próprios revestimentos.” (3)

A reabilitação do edificado antigo pode ocorrer por diversas razões e associada a níveis de

intervenção distintos. Porém, vulgarmente os primeiros sinais de degradação, evidenciando a

necessidade de reparação, surgem nos rebocos.

“Os revestimentos dos edifícios, como camada de protecção que são, encontram-se sujeitos a

inúmeras acções agressivas que conduzem à sua degradação precoce relativamente a outros

elementos.” (4)

Muito embora os rebocos sejam considerados camadas de desgaste/sacrifício para benefício das

estruturas de alvenaria, sendo eventualmente substituídos ou reparados, variadas vezes, durante o

tempo útil de vida dos edifícios, eles possuem muitas vezes funções decorativas e apresentam um

papel determinante na protecção das alvenarias antigas.

“Uma das actividades mais frequentes e cruciais para quem lida com a conservação de edifícios

antigos é a substituição de argamassas deterioradas.” (5)

“Contudo, a substituição deveria ser a última opção, porque a ética da conservação exige a

preservação dos materiais e tecnologia antiga sempre que possível, mas também porque é difícil

especificar argamassas de substituição compatíveis com os elementos pré-existentes.” (6)

Assim, revela-se fundamental definir as principais exigências e as características de argamassas de

cal aérea, a aplicar em edifícios antigos. Este trabalho pretende deste modo, contribuir para o

incremento do conhecimento existente no domínio das argamassas de cal aérea, através do estudo

da influência da dosagem de cal aérea nas características físicas e mecânicas de argamassas, bem

como a sua influência no comportamento face à degradação associada a fenómenos de cristalização

de sais.

Page 12: Tese 2,8 MB

3

1.2. Objectivos

A presente dissertação tem como objectivo principal, estudar a influência da dosagem de ligante (cal

aérea) no desempenho de rebocos de substituição para edifícios antigos.

Este trabalho surge no seguimento do estudo desenvolvido por Agostinho (7) sobre argamassas de

cal aérea e pretende dar seguimento ao trabalho desenvolvido por esta autora. O presente estudo

utilizou a formulação de Agostinho (7) como argamassa de referência, a qual apresenta um traço

volumétrico de 1:3 e uma consistência avaliada pelo ensaio de espalhamento da ordem de 165 mm.

Com este intuito, estabeleceram-se 4 formulações de argamassas baseadas em dois traços

volumétricos diferentes (1:2,5 e (1:3,5). Cada traço foi estudado com duas relações água/ligante,

sendo que uma delas corresponde à necessária para obter uma consistência avaliada por

espalhamento de 165 mm.

A par do objectivo principal, o trabalho teve também como finalidade estudar a influência da

quantidade de água de amassadura, presente em cada formulação, bem como o estudo do

comportamento das argamassas face à cristalização de sais.

Para poder dar resposta aos objectivos estabelecidos, procedeu-se à caracterização física e

mecânica das formulações seleccionadas e por último, procurou-se determinar a influência da

dosagem de ligante, na susceptibilidade à degradação por fenómenos de cristalização de sais de

argamassas de cal aérea.

Uma vez concluída esta dissertação, pretende-se através do trabalho experimental desenvolvido

enriquecer o conhecimento das características e potencialidades de argamassas de cal aérea,

especialmente quando aplicadas em edifícios antigos, sob a forma de rebocos.

1.3. Organização do texto

O texto está organizado em 5 capítulos, nos quais se inclui a presente introdução. O capítulo 2

efectua a análise do conhecimento existente sobre argamassas de cal aérea para edifícios antigos e

inclui algumas considerações relativas aos constituintes das argamassas, constituição dos

revestimentos antigos, anomalias das construções e os aspectos e requisitos a ter em conta na

reabilitação.

Os capítulos 3 e 4 e apresentam o trabalho experimental desenvolvido. O capítulo 3 apresenta os

procedimentos e metodologias de ensaio adoptadas no trabalho experimental e o capítulo 4,

apresenta e analisa as características das argamassas no estado fresco e endurecido, bem como o

estudo do comportamento das argamassas face a fenómenos de cristalização de sais.

Por fim, no capítulo 5 apresentam-se as conclusões de todo o trabalho desenvolvido, através de uma

síntese crítica aos resultados experimentais obtidos e apresentam-se ainda propostas para

desenvolvimentos futuros neste domínio.

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4

2. Cal aérea em rebocos

2.1. Breve enquadramento histórico

Desde há muito que o Homem descobriu as potencialidades da cal aérea como material de

construção, sendo dos primeiros materiais utilizados no revestimento exterior de paredes. Os

primeiros vestígios da sua utilização em revestimentos remontam ao século VII A.C. A fabricação e o

domínio da cal foram familiares a todos os povos da antiguidade, espalhados um pouco por todo o

mundo, nomeadamente chineses, egípcios, etruscos, fenícios e incas, porém o seu grande

desenvolvimento e utilização na construção, ocorreu durante o Império Romano. Durante este

período, a cal foi empregue nas grandes construções e aperfeiçoada para ser utilizada em

revestimentos. O elevado grau de desenvolvimento dos Romanos, e a atenção que atribuíram à

arquitectura, levou-os a um nível superior de entendimento das argamassas e das suas

potencialidades, tendo já na altura, incorporado adições nas argamassas de cal, tais como pozolanas.

Este Império permitiu espalhar o conhecimento e a experiência do manuseamento da cal aérea na

construção, de modo que ainda hoje, são inúmeros os exemplos de revestimentos de cal aérea, bem

conservados, espalhados um pouco por toda a Europa, desse tempo. (3) (8) (9)

Com o império Romano, a cal aérea atingiu o apogeu como material de construção. Porém a queda

deste, e as consequências daí advindas, trouxeram uma nova realidade à construção e às técnicas

construtivas existentes. A utilização da tecnologia empregue pelos Romanos, exigia um grande

esforço económico, que os povos de então, não conseguiram manter nas suas construções, muito

menos fomentar o seu conhecimento.

Estas construções de menor qualidade perduraram até ao século VIII D.C, altura em que ocorreu a

invasão da Península Ibérica pelos árabes. Estes vieram introduzir novos conceitos no que diz

respeito às argamassas, tendo estes, desenvolvido e estudado novos aditivos, os quais dotavam as

argamassas de melhorias significativas. O conhecimento desenvolvido pelos árabes em matéria de

argamassas, permitiu que estas fossem aplicadas em juntas, estuques e rebocos em interiores e

exteriores e chegassem até aos nossos dias. (8)

Desde o seu descobrimento e aplicação em revestimentos, a cal aérea assumiu-se como principal

material de construção constituinte de rebocos, até ao surgimento do cimento no século XIX. Em

poucos anos, este novo material retirou o protagonismo que a cal aérea desfrutou durante séculos na

construção, sendo hoje a sua utilização nas novas construções praticamente inexistente.

Porém, a cal aérea e todo o conhecimento associado à arte do seu manuseamento, continua a ser

bastante solicitada no actual mundo da construção, dada a necessidade de reabilitar os edifícios

antigos e perante o insucesso da introdução do cimento nesta área.

Page 14: Tese 2,8 MB

5

2.2. Considerações gerais

Os edifícios antigos possuem uma estrutura e um modelo de funcionamento bastante diferentes dos

actuais, sendo os materiais e modos construtivos utilizados, a prova disso. Não dispondo do grande

leque de materiais de que usufruímos hoje, e com um conhecimento na área da construção bastante

inferior ao actual, os responsáveis pela construção souberam contornar muitas das questões e

problemas com os quais se depararam, conhecendo bem as características dos materiais de que

dispunham e retirando o maior partido das suas potencialidades.

Os rebocos aplicados em paredes antigas (cantaria, alvenaria de pedra aparelhada, alvenaria

ordinária, paredes mistas de alvenaria e cantaria, adobe, taipa, etc.), tais como nas paredes actuais,

desempenham um papel fundamental na preservação e na estanqueidade das paredes. Porém ao

contrário dos rebocos actuais, os rebocos antigos apresentam permeabilidade considerável,

permitindo a entrada e saída de água dos paramentos com maior facilidade. Estas características

eram controladas, recorrendo a grandes espessuras de paredes e utilizando materiais porosos nos

rebocos, que apesar de não garantirem a estanqueidade, facilitam a rápida saída de água dos

paramentos por evaporação. (4)

Os rebocos antigos para além da função protectora dos paramentos, funcionando como camada de

sacrifício face às adversidades atmosféricas, acções mecânicas e desgaste natural, são ainda

utilizados desde tempos remotos, como elementos decorativos de valor estético relevante. Afiguram-

se como testemunho do tempo e do passado, devendo ser preservados, dada a sua importância

técnica, histórica e estética. (10)

Uma vez consciencializada a importância da cal aérea no actual mundo da construção, as mesmas

razões que levam à reparação ou substituição de rebocos, justificam também um grande cuidado nas

intervenções, tornando-se essencial o conhecimento da constituição e funcionamento das

argamassas que compõem os revestimentos antigos.

2.3. Constituintes das argamassas

A composição de uma argamassa de cal aérea inclui um aglomerante (a cal aérea), agregados de

reduzidas dimensões e água. Uma vez misturados em proporções adequadas, formam uma mistura

homogénea, a qual endurece naturalmente ao ar, adquirindo as formas desejadas. As características

das argamassas podem ser modificadas com recurso a adjuvantes ou adições com funções diversas.

Page 15: Tese 2,8 MB

6

2.3.1. Agregados

Rodrigues, citada por Fernandes (11), classifica os agregados utilizados na produção de argamassas

como materiais granulados finos, os quais constituem o esqueleto das argamassas. Segundo estes, a

utilização de areias com dimensões superiores a 4,75 mm, comprometem o propósito a que se

destinam, sendo desaconselhável a sua utilização em argamassas.

As areias são um material resultante da meteorização de rochas e apresentam geralmente uma

estrutura estável e uma reactividade muito baixa, ou inexistente, características que conferem maior

valia às argamassas. Para além deste facto, com a introdução dos agregados, pretende-se diminuir a

retracção da argamassa, aumentar a porosidade para efeitos de carbonatação e não menos

importante, a redução de custos, através da diminuição da quantidade de ligante, elemento mais

oneroso da mistura. (12)

As areias podem apresentar formas e dimensões variadas. Trabalhos anteriores permitiram concluir

que areias com elevada esfericidade, conferem maior trabalhabilidade às argamassas e que a

aderência entre a pasta e os agregados é fomentada, no caso de a areia possuir angularidade

considerável. (11)

O âmbito deste trabalho exclui a influência das características dos agregados nas propriedades das

argamassas. Perante este facto, atribuiu-se a todas as formulações em estudo areias do mesmo

género e dotou-se cada formulação com 50% de areia de rio e os restantes 50% com areia

proveniente de areeiro.

2.3.2. Cal aérea

O reboco tradicional é essencialmente constituído por cal e areia. Segundo a NP EN 459-1:2002, as

cais aéreas, são constituídas por óxidos ou hidróxidos de cálcio que, amassados com água,

endurecem lentamente ao ar, reagindo com o dióxido de carbono da atmosfera, porém não

endurecem debaixo de água por não terem propriedades hidráulicas. Este ligante possui duas

designações consoante o seu fornecimento, cal viva (Q) ou cal hidratada (S) (13) (5) (7) (11). Utilizou-

se na presente dissertação, cal hidratada.

A cal aérea é o ligante que resulta da decomposição, pela acção da temperatura de uma rocha com

percentagem não inferior a 95% de carbonato de cálcio, CaCO3, ou carbonato de cálcio e magnésio,

CaMg(CO3)2 , na sua composição. Assim, consoante a rocha utilizada como matéria-prima, a cal é

denominada cálcica (CL), ou dolomítica/magnesiana (DL). A rocha para a produção de cal dolomítica

deverá possuir um teor em óxido de magnésio superior a 20%.

Page 16: Tese 2,8 MB

7

A classificação deste tipo de ligante pode ainda ser subdividida em cais gordas, no caso de derivarem

de calcários com teores de carbonato de cálcio não inferiores a 99% e cais magras, caso provenham

de calcários com teores de argila e de outras impurezas compreendidas entre 1 e 5%.

A cal aérea é hoje um produto facilmente adquirido e pronto a ser utilizado que pode ser fornecido

sob diversas formas, nomeadamente sob a forma de pó muito fino, exibindo elevados níveis de

controlo e qualidade.

O processo de obtenção e endurecimento da cal aérea é habitualmente sob a forma de um ciclo que

inclui 3 fases distintas, denominadas por calcinação, hidratação e por último a carbonatação da cal.

(5) (11) (14) (7)

A calcinação consiste na obtenção do óxido de cálcio (CaO), vulgarmente designado por cal viva.

Este processo desenvolve-se na presença de temperaturas da ordem de 900ºC, sendo o carbonato

de cálcio (CaCO3) decomposto em dióxido de carbono (CO2) e no pretendido óxido de cálcio. Este

processo pode ser simplificadamente descrito da seguinte forma:

2.1

A NP EN 459-1:2002 refere que as cais vivas obtidas são cais aéreas que consistem em óxido de

cálcio (ou magnésio) produzido por calcinação da rocha calcária (ou dolomítica) e que produzem uma

reacção exotérmica quando em contacto com a água, podendo surgir desde a forma de pedra até a

pó fino. (5)

Porém a cal viva não pode ser utilizada na construção, dado ser um material altamente instável. Este

facto é colmatado com a hidratação desta cal, vulgarmente designado por extinção da cal viva. Neste

processo o óxido de cálcio (CaO), quando na presença de água (H2O), transforma-se em hidróxido de

cálcio ( Ca(OH)2 ), a comum cal apagada, extinta ou hidratada, correspondendo à 2ª fase do ciclo.

2.2

Este processo requer alguma atenção, dado que a hidratação do óxido de cálcio desencadeia uma

reacção muito expansiva e exotérmica. (14) (5)

O processo de hidratação pode ser efectuado por imersão do óxido de cálcio, obtendo-se cal em

pasta, ou por aspersão controlada, resultando a cal apagada em pó. Apesar de ambos os processos

possibilitarem o uso da cal aérea na construção, são conhecidas vantagens e inconvenientes a cada

um. Porém dado que apenas se utilizou cal aérea hidratada em pó nesta dissertação, não serão tidas

em conta, pois não estão inseridas no âmbito deste trabalho.

Page 17: Tese 2,8 MB

8

Por último, para que a cal cumpra o propósito ao qual se destina, falta o seu endurecimento. Este

processo fecha o ciclo da cal, ocorrendo por carbonatação do hidróxido de cálcio ( (Ca(OH)2 ), através

da reacção com o dióxido de carbono (C02), presente na atmosfera. Esta reacção origina a formação

de carbonato de cálcio (CACO3), vapor de água (H2O) e calor.

2.3

A velocidade de carbonatação depende de vários factores, dos quais se destaca a humidade. A

carbonatação ocorre através da referida exposição do hidróxido de cálcio ao dióxido de carbono,

porém para que esta ocorra, é necessária uma quantidade mínima de água, a qual funciona como

veículo da reacção, onde o dióxido de carbono se dissolve. Na ausência desta água, a difusão do

dióxido de carbono é muito mais lenta, pondo em causa a carbonatação. (11) (5)

Durante este período, a estrutura porosa e consequentemente as propriedades higroscópicas da

argamassa são redefinidas, primeiro por evaporação de água e posteriormente pelos cristais de

carbonato de cálcio. Segundo Moorehead, (15) a carbonatação dá-se com a diminuição do volume

dos poros, pois estes são parcialmente preenchidos com o aumento da massa de cal hidratada, sem

que este facto seja detectável, porém a argamassa torna-se cada vez menos permeável à medida

que o processo se desenvolve.

2.3.3. Água

A água é o elemento sempre presente e necessário para que os ligantes hidrófilos, aéreos ou

hidráulicos, adquiram propriedades aglutinantes, formando argamassas. O seu manuseamento e

integração com os restantes elementos de uma argamassa não acarreta dificuldade, porém o seu uso

em quantidades inadequadas, quer em défice, quer em excesso, condicionam a consistência, o

processo de endurecimento, a aderência ao suporte, as características no estado endurecido e a

qualidade final dos revestimentos. (7) (16)

A produção das argamassas deve evitar o recurso a águas salobras, e principalmente a água do mar,

devido ao elevado teor em sais solúveis. Para além destas, o uso de águas impróprias para consumo

não é adequado, pois poderão conter substâncias capazes de alterar as características de uma

argamassa e as águas minerais são também desaconselháveis, dada a dificuldade destas em atingir

a saturação, alterando assim o processo de presa. (17) (7)

Segundo Cavaco (17), o volume de água a utilizar em cada amassadura, deverá ser apenas o

estritamente necessário, para que a argamassa adquira a consistência apropriada à sua aplicação. A

Page 18: Tese 2,8 MB

9

utilização de água de amassadura nestes termos, possibilita bons rendimentos de aplicação e

fomenta as bases para o bom desempenho das argamassas no estado endurecido.

Por último, a temperatura exerce influência no tempo de presa das argamassas, motivo pelo qual é

aconselhável utilizar água a uma temperatura compreendida entre os 7 e os 30ºC, pois a presa é

acelerada a temperaturas elevadas, acontecendo o inverso para temperaturas baixas. (7)

2.4. Constituição dos revestimentos antigos

Os rebocos das construções de alvenaria desempenham várias funções, contribuindo

significativamente para a durabilidade e aparência das construções, das quais se destacam a

protecção das paredes e de outros elementos construtivos, a regularização das superfícies e a

decoração dos paramentos.

Os rebocos tradicionais são normalmente constituídos por várias camadas, sobre o qual é aplicada

pintura, em geral mineral. As camadas referidas, têm a função de regularização e protecção,

enquanto a pintura, para além de acumular a função de protecção, funciona ainda como acabamento

e decoração.

As camadas de regularização e protecção eram essencialmente constituídas por argamassas de cal e

areia, tendo por vezes adições minerais e aditivos orgânicos. Os rebocos antigos apresentavam boa

compatibilidade com os diversos materiais constituintes dos paramentos, porém havia a necessidade

de os adequar às deformações estruturais e à água. Para fazer face a estas adversidades, as

camadas internas possuíam uma granulometria mais grosseira que as externas e a deformabilidade e

porosidade iam aumentando das camadas internas para as externas.

O número de camadas em cada revestimento não era fixo, sendo muito comum e aconselhável o

recurso a um maior número de camadas para a mesma espessura total. Deste modo cada camada

principal dividia-se em várias subcamadas, possibilitando uma melhor protecção, face ao surgimento

de fendas no revestimento, promovendo ainda um bom comportamento à água.

Os barramentos, também conhecidos como guarnecimentos, funcionam de forma semelhante às

camadas anteriores, porém são constituídos por massas finas de pasta de cal, por vezes misturadas

com pó de pedra.

Por último, a pintura era geralmente aplicada sobre os barramentos, sendo constituída vulgarmente

por cal, aditivada com pigmentos e outras adições minerais.

Apesar de estes revestimentos aparentarem alguma fragilidade, apresentam grande resistência e

durabilidade, desde que sejam cuidadosamente executados e aplicados segundo as técnicas

construtivas adequadas. (6) (18)

Page 19: Tese 2,8 MB

10

Estes revestimentos, possuem geralmente traços (relações volumétricas) cal/areia fortes em ligante,

normalmente 1:3, com um ou mais tipos de areia, tendo sido regulados pelo princípio da obtenção da

máxima compacidade, a qual exigia o uso de cais finas e areias graduadas e um pouco angulosas,

que, assim “encaixassem” bem entre si, diminuído os vazios. Porém é comum recorrer a traços mais

fortes de 1:2 ou mesmo 1:1,5 quando se utilizam areias de rio (grãos muito arredondados) e

granulometrias muito descontínuas. (7) (3)

2.5. Anomalias das construções associadas aos rebocos e suas

causas

As anomalias surgem no mundo da construção quando os edifícios, ou suas partes, deixam de

apresentar o desempenho mínimo pré-estabelecido para o qual foram projectados. Estas podem

surgir devido a causas diversas, nomeadamente devido a degradação dos materiais, utilizações e

manutenção inadequadas, entre outros.

As anomalias nos rebocos são frequentes devido à permanente exposição dos revestimentos a

condições ambientais adversas, a inúmeras agressões do meio e à própria estrutura porosa das

argamassas, a qual favorece o desenvolvimento de determinados mecanismos de deterioração.

Os inconvenientes que as anomalias provocam nas construções, originando a ocorrência de

situações de degradação pontual ou generalizada de elementos construtivos, criaram desde cedo a

necessidade de recuperação do património existente, motivada por razões económicas, culturais e

sociais. Para fazer face a estas preocupações, tem vindo a desenvolver-se o estudo dos mecanismos

e causas de degradação dos materiais, o qual se divide em duas abordagens distintas. A linha

clássica, baseia-se em estudos de processos e formas de degradação específicas, onde se procura

descrever os sintomas e apresentar soluções, determinando-se ainda as causas. A segunda

abordagem, mais em foco actualmente, procura sistematizar as causas que podem originar as

anomalias, através do estudo aprofundado dos fenómenos que as originam, permitindo assim antever

quais os sintomas que poderão ocorrer. (19)

A avaliação e estudo do estado de conservação das construções possuem dois objectivos básicos, a

prevenção e a reparação. O primeiro implica, entre outros, o estudo do modo construtivo dos

elementos em questão, o conhecimento das acções mecânicas, físicas e químicas actuantes sobre

os elementos construtivos, a identificação de possíveis vulnerabilidades e o conhecimento da

durabilidade e da manutenção necessária dos materiais. Por sua vez, a reparação refere-se às

actividades de conservação de um edifício como o conjunto de medidas a tomar perante o inicio dos

processos de degradação, pretendendo assim, recuperar as características históricas, funcionais,

físicas e químicas dos elementos construtivos afectados. (20)

Page 20: Tese 2,8 MB

11

Um estudo desta natureza requer uma análise cuidada e segue uma metodologia, a qual assegura a

intervenção mais adequada a implementar em cada situação. Inicia-se com a análise das anomalias e

determinação da sua tipologia, seguindo-se a associação destas irregularidades às causas que

estiveram na sua génese. A par desta análise é necessário garantir o registo actualizado da anomalia

em causa, para permitir aferir o correcto diagnóstico. (20)

Porém, dado o âmbito desta dissertação, apenas será dado ênfase às principais causas de

degradação de argamassas e às anomalias que podem originar nas construções.

As anomalias verificadas em rebocos podem ser agrupadas em 3 famílias (físicas, mecânicas e

químicas), as quais abrangem as anomalias visíveis nas construções, de acordo com o Quadro 2.1.

Quadro 2.1 - Quadro geral de anomalias (Carrió, 2006)

Família Anomalia Origem

Físicas

Humidades

De obra

Capilar

De infiltração

De condensação

Acidental

Sujidade Por depósito

Por lavagem diferencial

Erosão Meteorológica

Mecânicas

Deformações

Assentamento

Colapso

Torção

Flexão

Encurvadura

Fendas Por cargas

Por dilatação/contracção

Fissuras Devido ao suporte

Devido ao acabamento

Erosão Golpes e fricção

Químicas

Eflorescências Cristalização de sais solúveis

Acção química dos sais

Organismos Presença e ataque de animais

Presença de plantas

Erosão Por contaminação

Uma vez identificadas e descritas as anomalias é importante determinar as causas que estiveram na

sua génese, distinguindo-as em causas de origem directa e indirecta. As primeiras caracterizam-se

por acções que iniciam o processo de degradação e marcam o seu carácter, sendo habitualmente

consequência da própria funcionalidade construtiva do elemento. Aqui insere-se as anomalias

referidas anteriormente. As causas indirectas provêm de erros de processo que favorecem a

Page 21: Tese 2,8 MB

12

vulnerabilidade do elemento construtivo, destacando-se os erros de projecto e de execução em obra,

a escolha inadequada dos materiais e a manutenção desadequada. (20)

Aguiar et al. (10) atribuem a deterioração dos revestimentos a factores físicos, mecânicos, químicos

ou biológicos e apontam a perda de coesão e de aderência ao suporte como sendo das principais

formas de degradação que afectam os revestimentos. A perda de aderência consiste na separação

ou destacamento que pode ocorrer entre as diferentes camadas de um reboco ou entre o reboco e o

suporte. Para além destes, apontam ainda a descamação, destacamento, descolamento,

desagregação, enfarinhamento, pulverulência e fissuração, como importantes mecanismos de

degradação.

Por sua vez, Sousa et al. (4), também contribuíram para a elucidação das causas de degradação de

rebocos antigos, organizando-as do seguinte modo:

Acção da água; Sendo dado ênfase à humidade, à possibilidade de alternância dos seus

estados e por último, constitui o veículo ideal para a penetração e acção nefasta dos sais

solúveis;

Agentes biológicos; Todos os seres vivos capazes de deteriorar os rebocos pelas suas

acções e segregações químicas;

Acções mecânicas; Destacando-se a retracção, o vento, a temperatura, as deformações do

suporte e as acções acidentais;

Acção do Homem; Pela sua capacidade de interferir directa ou indirectamente através da

tecnologia, manutenção, poluição e vandalismo.

Segundo estes mesmos autores (4), a água, sob as diversas formas que pode ocorrer, é o principal

agente de degradação dos rebocos tradicionais, condicionando ainda a manifestação de outras

causas, nomeadamente associadas a diversos agentes biológicos. A água é responsável pelo

desenvolvimento de muitas das reacções químicas que prejudicam os rebocos, pois é o meio

adequado para que estas se desenvolvam e se difundam em profundidade, sendo ainda veículo de

transporte de muitas substâncias químicas para o interior das argamassas, quer no seu estado

líquido ou gasoso. (5)

A humidade é responsável por muitos dos problemas existentes nos edifícios, provocando

deterioração dos materiais de construção, comprometendo o seu desempenho nomeadamente no

que se refere à durabilidade, estanquidade e à degradação do aspecto, e proporciona condições

insalubres para quem neles habita.

Apesar de ser conhecida a origem do excesso de humidade nos rebocos (Quadro 2.1), sem esquecer

a humidade devido a fenómenos de higroscopicidade (21), a situação ideal de ocorrência isolada de

cada um destes fenómenos não corresponde à generalidade dos casos, sendo frequente, a

Page 22: Tese 2,8 MB

13

manifestação em simultâneo de vários destes fenómenos, quer por existirem as condições propícias

para tal, ou porque, em certos casos uns podem ser consequência dos outros.

Em qualquer um dos fenómenos mencionados para explicar a existência de humidade excessiva nos

rebocos, contribui de forma decisiva para o seu agravamento, a estrutura porosa das argamassas de

cal aérea, a qual por ser muito permeável, facilita a entrada de água juntamente com todas as

substâncias nela dissolvidas.

A capacidade que a água apresenta em alterar o seu estado físico em função de um conjunto

propício de condições ambientais, onde se destaca a acção da temperatura, ocasiona inúmeros

processos de deterioração de rebocos de cal aérea. Estes podem ocorrer pela sua acção directa,

caso da ocorrência de ciclos gelo/degelo, onde o aumento do volume específico da água na

passagem do estado líquido ao sólido gera tensões no interior dos poros originando fendas, ou pela

sua acção indirecta, quando na presença de sais higroscópios.

“Existe um conjunto de sais capazes de serem transportados para o interior de materiais, como

rochas, adobe ou outros materiais de alvenarias, e cristalizar nesse meio provocando perdas de

coesão nos materiais por expansão. De facto, muitos sais apresentam equilíbrios higroscópicos a

humidades relativas consideravelmente abaixo dos 100%, o que significa que se podem tornar

deliquescentes quando a sua humidade é excedida e recristalizar quando a sua humidade relativa

baixar aquém do ponto critico”, (22).

Segundo Woolfitt (23), “Os sais solúveis são o principal agente de degradação dos materiais porosos

utilizados na construção e um motivo de grande frustração para as pessoas envolvidas na

conservação dos edifícios históricos.” Na mesma linha de raciocínio, Gonçalves (24), considera a

acção dos sais solúveis como um dos mecanismos mais poderosos de degradação de materiais

porosos, utilizados pelo Homem nas construções.

A ocorrência de degradação associada a fenómenos de cristalização de sais requer em simultâneo a

presença de sais solúveis, água nos poros dos materiais de construção e condições ambientais

propícias. Este fenómeno, resultante da acção destes 3 factores, origina o aparecimento de cristais

de sal à superfície das argamassas (eflorescências) ou no interior destas (criptoflorescências).

Durante o processo de cristalização, ocorre a precipitação de cristais de sal na frente de secagem, à

medida que a água é evaporada e a concentração da solução aumenta até à máxima solubilidade do

sal. Neste processo a frente húmida tende a encontrar uma posição de equilíbrio, condicionada pela

razão entre o fluxo líquido e o fluxo de evaporação de água. Eflorescências ocorrem quando o fluxo

líquido é suficientemente elevado para compensar o fluxo de evaporação, permitindo que este

consiga chegar à superfície e evaporar no exterior do material. Por sua vez, as criptoflorescências

ocorrem quando o fluxo de líquido não é elevado o suficiente, permitindo que a frente de secagem se

encontre localizada no interior do material e não à superfície, (24) (4).

Page 23: Tese 2,8 MB

14

As anomalias causadas pela cristalização de sais podem manifestar-se segundo uma vasta panóplia

de situações, destacando-se as eflorescências, as manchas, humidade causada pela retenção de

água nos cristais, arenização de argamassas e destacamento de camadas. Estas anomalias podem

originar 3 tipos de danos: danos materiais, danos estéticos ou danos associados à presença de

humidade, (24).

As criptoflorescências podem introduzir tensões internas capazes de exceder a resistência mecânica

dos materiais porosos e consequentemente causar danos nas argamassas. As eflorescências por seu

lado, não provocam este género de problemas, porém uma vez dissolvidos, podem ser reabsorvidos

pelo material poroso e eventualmente recristalizar como subflorescências, mas contribuem

decisivamente para problemas estéticos e de humidade, bem como a degradação superficial dos

materiais, (24).

Os sais mais comuns nas paredes antigas são os nitratos, os sulfatos, os cloretos e os carbonatos de

sódio, potássio, magnésio ou cálcio, sendo habitual surgirem nos rebocos em combinações e

raramente aparecem isolados. Estes têm origem diversa, destacando-se a água do mar no caso dos

cloretos, águas subterrâneas contaminadas com nitratos resultantes da decomposição de materiais

orgânicos, o próprio solo para o caso dos sulfatos, os materiais de construção possuem na sua

constituição, entre outros, carbonatos e os ambientes poluídos apresentam-se como fornecedores

abundantes de muitos destes sais, (24).

Os rebocos tradicionais, quer pela sua estrutura porosa, quer pela facilidade com que a água se

movimenta nestes rebocos, constituem-se meio propício para o desenvolvimento de diversas

comunidades de seres vivos. A estrutura porosa permite a sua fixação e a humidade em conjunto

com a acção do sol favorecem o aparecimento de seres vivos. Entre estes, destacam-se os

microrganismos litófilos, fotoautotróficos, quimiotróficos e os líquenes, pois são os primeiros a

surgirem, não existindo ainda qualquer vestígio de matéria orgânica no reboco, causando as

primeiras agressões químicas e/ou mecânicas. Posteriormente, o aparecimento de compostos de

amónia e fósforo, depositados pela acção do vento, ou pela acumulação de fezes de animais,

permitem em condições adequadas, o aparecimento de organismos superiores, capazes de majorar

os danos iniciais.Com o aumento do desgaste da superfície do reboco, estes seres vivos potenciam

as suas acções, criando o efeito de “solo” permitindo surgir ecossistemas mais completos com a

presença de uma microfauna especializada e muito adaptável. Por esta altura os danos provocados

nos rebocos são já muito graves e por vezes irreparáveis. As actividades metabólicas destes

organismos induzem danos físicos (abrasão e tensões mecânicas), químicos (dissolução, reacções

de oxidação/redução) e estéticos (manchas coloridas e incrustações), (4).

O fenómeno de origem mecânica que maior dano provoca aos rebocos, em condições normais, é a

retracção durante o período de cura, a qual inevitavelmente origina fendilhação. As tensões

excessivas que se estabelecem nos rebocos, provocando esta anomalia, são essencialmente

Page 24: Tese 2,8 MB

15

provenientes de más práticas de aplicação da argamassa, associadas a razões água/ligante

desajustadas. Para além desta causa, destacam-se neste âmbito, as condições ambientais adversas,

onde o vento e a temperatura assumem destaque. O vento é um poderoso agente erosivo em

paredes exteriores, actuando ao longo dos anos, através da acção mecânica proveniente do embate

de pequenas partículas sólidas, enquanto as variações de temperatura, provocam contracções e

dilatações diferenciadas nos materiais que compõem as paredes, devido aos seus diferentes

coeficientes de dilatação. Por último, destaca-se ainda a deterioração do reboco provocada por

deformações do suporte, causada na maioria das vezes por razões excepcionais, tais como, a acção

sísmica, assentamentos diferencias, acção do fogo ou cargas excessivas, (21) (25) (4).

A acção humana encontra-se invariavelmente associada à maioria das causas que provocam as

anomalias, podendo esta acção ser dividida em dois grupos: “(…) as acções directas, como a

tecnologia de produção e aplicação dos rebocos e a manutenção adequada e atempada dos

mesmos; e as acções indirectas, como a poluição atmosférica e o uso,” (4).

A degradação que a acção humana cria nos rebocos, ainda que na maioria involuntária, é

amplamente agravada pelos factores referidos anteriormente, obrigando o Homem a rever as suas

acções e a realizar manutenções regulares ao edificado.

2.6. Aspectos a ter em conta na reabilitação

“Preservar uma casa, edifício ou monumento é um processo contínuo, uma luta contra as leis

naturais, essas mesmas que, a longo prazo, transformam a pedra em areia e a madeira em pó. (…) A

intervenção, seja ela qual for, vai sempre alterar o objecto, na maioria das vezes, irreversivelmente.

Manutenção, recuperação, reabilitação, etc. devem sempre partir do principio que o novo deverá ser

adaptado ao velho, e não o contrário. O objecto que vai sofrer uma intervenção deve ser respeitado

como testemunho e portador de uma história da qual os seus valores materiais, técnicos,

arquitectónicos, artísticos ou outros, nunca devem ser separados ou ignorados”, (26).

“As intervenções de conservação e reabilitação a realizar sobre edifícios antigos devem respeitar os

modelos de funcionamento originais, sob pena de provocar anomalias mais graves que as que se

pretende reparar. Para isso, é essencial manter os materiais e soluções originais ou, quando

necessário, substituí-los por outros compatíveis, se possível com as características determinantes

para o seu comportamento semelhantes ao dos materiais e soluções pré-existentes”, (27).

Ao ser efectuada uma reabilitação devem ser preservados valores tais como técnicas de construção e

materiais usados, visto serem representativos de determinada época, e especiais num contexto

histórico se forem pioneiras ou únicas, bem como os valores arquitectónicos ou artísticos,

normalmente exponentes de uma época, de um estilo e de uma utilização definida, especialmente no

Page 25: Tese 2,8 MB

16

caso de obras únicas ou com finalidades especiais, raras ou portadoras de mensagens históricas,

económicas ou sociais, (26).

Os revestimentos exteriores normalmente expostos a condições adversas podem apresentar

elevados índices de degradação. Perante este facto, existe uma enorme tendência para os remover

completamente e substituir por outros novos. Porém, a substituição deveria ser a última opção,

porque a ética da conservação exige a preservação dos materiais e tecnologia antiga sempre que

possível, e também pela dificuldade em especificar argamassas de substituição compatíveis com os

elementos pré-existentes, (6) (3).

As intervenções podem ser de ordem de grandeza diversa, dependendo do objectivo pretendido e do

estado de conservação do edifício. Ainda assim, existem alguns critérios base a ter em conta quando

se pretende reabilitar, (26) (28):

Preservar o mais possível: é preservando que se mantém a autenticidade do edifício. Um

edifício é um conjunto de materiais e técnicas construtivas, e a sua conjugação constitui a sua

identidade. Preservar significa prolongar essa identidade no tempo;

Reduzir as intervenções ao mínimo: restringir as intervenções ao mínimo necessário tem

várias vantagens. Não só do ponto de vista económico, como também do ponto de vista

ecológico, minimizando também consequências de possíveis erros provenientes da aplicação

de materiais ou técnicas incompatíveis;

Usar materiais e técnicas de origem ou compatíveis: é preciso ter em consideração as

técnicas e materiais que compõem o edifício em que se pretende fazer a intervenção. A

utilização de materiais e técnicas recentes pode ser desastrosa não só em termos estéticos

como de durabilidade (caso de aplicação de argamassas de cimento em edifícios antigos);

Adaptar o novo ao velho: os novos conceitos e os novos materiais devem ser adaptados ao

existente e não o contrário. A introdução de elementos novos deverá ser sempre ponderada,

nunca devendo significar a destruição desnecessária do existente. Ao longo da vida de um

edifício é natural que novas exigências e novos conceitos exijam algumas adaptações, no

entanto estas devem ser feitas respeitando o existente;

Procurar garantir a reversibilidade futura: a incorporação de novos elementos ou a

substituição dos existentes deverá, sempre que possível, considerar a possibilidade de uma

reversibilidade futura. Isto requer uma intervenção mais cuidadosa.

Numa reabilitação, para além da necessidade de ter em atenção os aspectos já referidos e o

imprescindível respeito pelos critérios base essenciais, surgem ainda condicionalismos, dos quais se

destacam os seguintes, (28):

Page 26: Tese 2,8 MB

17

Estado de degradação: a degradação pode ser profunda ou superficial, e ainda ser parcial ou

total. Daí resultam diferentes estratégias de intervenção;

Tipo de anomalia: a reabilitação exigirá um estudo aprofundado, cujo diagnóstico e medidas

de intervenção adoptadas, serão na sua maioria únicas a cada caso;

Localização do edifício: as dificuldades de execução dos trabalhos são acrescidas pela falta

de espaço e existirá maior preocupação com o período de implantação do estaleiro, caso de

obras no interior das cidades e em especial em centros históricos;

Disponibilidade de meios: tecnologia, mão-de-obra, tempo e verbas disponíveis são factores

importantes, visto serem completamente distintos dos actuais processos construtivos.

As intervenções em rebocos de edifícios antigos devem ser estabelecidas avaliando sempre a

possibilidade da sua conservação, dado que esta solução geralmente acarreta menos custos,

estando também de acordo com a sustentabilidade ambiental da construção. Porém, quando esta

opção não é viável face aos danos existentes, será então necessário proceder a reparações pontuais

e só em último caso efectuar a substituição parcial ou total, através do recurso a argamassas de

substituição, com compatibilidade e durabilidade adequadas, capazes de proteger o suporte e não

prejudicar o aspecto visual do edifício ou descaracterizá-lo, (28). Perante este cenário, Veiga et al

(18) recomendam o uso de argamassas de cal em rebocos de substituição.

Antes de estes serem aplicados é importante conhecer e dominar bem o manuseamento da cal aérea

e conhecer as vantagens e as desvantagens do seu uso em argamassas de substituição, aspectos

abordados neste estudo.

Para garantir a adequada aplicação de rebocos de substituição e a obtenção de um reboco que

satisfaça as exigências funcionais é importante, (29):

Usar quantidades de água de amassadura bem controladas; ou, por outras palavras, utilizar

apenas a água estritamente necessária, para garantir a obtenção de argamassas bastante

consistentes, embora sendo mais difícil a sua aplicação, resultando num revestimento mais

compacto, com menor tendência para fissurar e menor permeabilidade à água;

Promover uma mistura perfeita, através de uma amassadura adequada; eliminando possíveis

vulnerabilidades da argamassa no estado endurecido;

Apertar bem a argamassa contra o suporte, ou contra a camada anterior; este acto para além

de fomentar a aderência da argamassa contribui para garantir maior compacidade e reduzir a

ocorrência de fissuração;

Aplicar a argamassa em várias camadas finas; esta metodologia construtiva favorece a

carbonatação, reduz as tensões de retracção, inerentes às argamassas durante o seu

endurecimento, reduzindo também a fissuração;

Page 27: Tese 2,8 MB

18

Dosear a exposição à radiação solar; favorece a carbonatação da cal e o consequente

endurecimento do revestimento. Deve ser evitada a exposição excessiva ao sol e a

temperaturas elevadas para evitar a ocorrência de fissuração por dessecação rápida.

2.7. Requisitos exigidos às argamassas aplicadas em paredes

antigas

A realização periódica de substituição parcial ou integral dos rebocos antigos, quando se encontram

em avançado estado de degradação, tem suscitado controvérsia pelo uso de materiais e técnicas de

construção recentes. Os novos rebocos revelam muitas vezes reduzida compatibilidade com os

suportes, constituindo-se nestes casos como soluções pouco duráveis e potencialmente geradoras de

novos processos de degradação das alvenarias, (12).

Para contornar esta problemática, tem vindo a ser desenvolvidos estudos com o objectivo de

contribuírem para a definição das características que as argamassas de substituição devem

apresentar. As argamassas de substituição devem contribuir para a protecção e conservação das

alvenarias, destacando-se neste âmbito, a correcta avaliação da compatibilidade da argamassa com

os materiais existentes. Deste modo, deverá ser garantida a reversibilidade ou pelo menos a

possibilidade de reaplicações em intervenções futuras, sem causar danos nas alvenarias. Depois de

assegurada a preservação das alvenarias, devemos introduzir o critério de durabilidade intrínseca da

argamassa, sendo esta traduzida pelo conjunto das características adequadas para prevenir ou

minimizar a sua degradação. Para além destes dois critérios, as argamassas de substituição devem

ser definidas procurando ter em atenção o respeito pela autenticidade histórica e estética do edifício,

(30).

Em seguida, procede-se à identificação das principais características a ter em atenção na selecção

das argamassas para rebocos de substituição, (30), (31), (32), (33).

Para garantir protecção das alvenarias, as argamassas deverão apresentar:

Baixa absorção capilar, quer em termos de velocidade de absorção (coeficiente de

capilaridade, quer quanto a quantidade total de água absorvida (valor assintótico de

absorção);

Adequada permeabilidade ao vapor de agua, não devendo esta ser inferior à do suporte,

aumentando de dentro para fora nas várias camadas que constituam o revestimento;

Estabilidade dimensional a curto (onde as eventuais retracções podem induzir fendilhação) e

longo prazo (onde as variações dimensionais podem criar esforços dentro da alvenaria ou no

reboco), ou ainda a perda de aderência entre ele;

Page 28: Tese 2,8 MB

19

Características mecânicas adequadas, nomeadamente devem ser mais deformáveis e mais

fracas que as que constituem as alvenarias de suporte e que cada camada sucessiva;

Boa aderência com o suporte, sem que o ponto anterior seja colocado em causa;

Reduzido teor em sais solúveis, não só para a preservação da alvenaria como para a

minimização da degradação da argamassa.

As argamassas de substituição deverão ser formuladas de modo a garantir a obtenção de rebocos

duráveis. Para tal, as argamassas deverão apresentar:

Boa resistência aos sais solúveis;

Boa resistência a ciclos de gelo/degelo;

Características de secagem adequadas;

Resistência mecânica adequada para suportarem as acções anteriormente referidas e por

acção de choques;

Capacidade de desenvolver presa em período de tempo suficientemente curto (quer em

ambientes secos, quer em ambientes húmidos).

A satisfação das propriedades atrás referidas e o respeito pela autenticidade histórica e estética do

edifício, leva a que a definição de argamassas de substituição para aplicação em rebocos de edifícios

antigos se constitua tarefa árdua e exigente devido à dificuldade na obtenção de um balanço correcto

entre algumas das suas características, (30).

3. Campanha Experimental

3.1. Considerações prévias

O presente trabalho pretende contribuir para o estudo da influência da dosagem de ligante no

desempenho de rebocos para edifícios antigos, através do recurso a uma forte componente

experimental com o objectivo de avaliar as características físicas e mecânicas de quatro formulações

de argamassa, nas quais se incluem dois traços diferentes (1:2,5 e 1:3,5). Cada traço foi estudado

com duas relações água/ligante, sendo que uma delas corresponde à necessária para se obter uma

consistência avaliada por espalhamento de 165 mm. Surge no seguimento de uma dissertação

intitulada “Estudo da evolução do desempenho no tempo de argamassas de cal aérea” (7), dado que

integra alguns dos resultados obtidos no âmbito desta dissertação e procura contribuir para o

incremento do estudo do desempenho de argamassas de cal aérea.

Page 29: Tese 2,8 MB

20

Com base nestes objectivos, as características das argamassas foram avaliadas em provetes

prismáticos e através da sua aplicação como camadas de revestimento de tijolos. O estudo efectuado

em provetes prismáticos de dimensões normalizadas 40×40×160 [mm3], constitui prática corrente

neste género de estudos e permitiu caracterizar, quer física, quer mecanicamente as argamassas às

idades de 14, 28, 60 e 90 dias de idade. Por outro lado, procurou-se também averiguar as

características das argamassas quando aplicadas em suportes reais, através da simulação da sua

aplicação como camada de revestimento de tijolos cerâmicos de 30×20×11 [cm3].

Procurou-se averiguar em fase avançada deste estudo, a vulnerabilidade destas argamassas face ao

fenómeno de cristalização de sais, uma das principais causas de degradação de rebocos em edifícios

antigos, através do estudo de provetes contaminados com solução de cloreto de sódio.

A propensão das argamassas à fendilhação foi avaliada qualitativamente através da sua aplicação

em calhas metálicas apropriadas.

Todo o trabalho experimental realizado no âmbito da presente dissertação foi efectuado no

Laboratório da Construção do DECIVIL do Instituto Superior Técnico.

3.2. Formulações estudadas e provetes produzidos

As formulações utilizadas neste estudo tiveram como base a formulação utilizada por Agostinho (7), a

qual possui um traço volumétrico de 1:3 e utiliza duas areias (areia amarela e areia de rio) em iguais

proporções (1;1,5;1,5). Pretendendo dar seguimento aos seus objectivos, Agostinho (7) estabeleceu

para esta formulação um espalhamento da ordem dos 165mm, utilizando para este efeito uma razão

A/L de 1,62. Esta formulação é crucial no desenvolvimento da presente dissertação, dado que se

constituiu como referência para a definição das quatro formulações estudadas no presente trabalho.

As formulações em estudo são constituídas pelo mesmo ligante (cal aérea) e utilizam os mesmos

agregados em proporções idênticas às utilizadas por Agostinho (50% areia amarela e 50 % areia de

rio). Podem ser agrupadas em dois grupos em função da consistência de espalhamento pretendida

(165mm) ou da razão A/L definida (1,62) e distinguem-se dentro destes através do traço volumétrico

pretendido (1:2,5 ou 1:3,5). Estas imposições às formulações permitiram criar quatro argamassas

distintas, porem semelhantes entre si e com a formulação de Agostinho. As diferenças entre as

formulações estudadas verificam-se essencialmente na quantidade de ligante utilizado, fruto de

diferentes traços volumétricos e na quantidade de água de amassadura necessária para respeitar

estas imposições, Quadro 3.1.

Page 30: Tese 2,8 MB

21

Quadro 3.1 - Formulações de argamassa

Argamassa Traço em Volume

Traço em massa

Razão A/L

Consistência espalhamento

Agregados

Agostinho (7) 1 : 3 1 : 8 1,62 165 mm 50% areia de

rio (A.R.)

50% areia amarela (A.A)

I 1 : 2,5 1 : 6,7 1.62

217 mm

II 1 : 3,5 1 : 9,3 127 mm

I a 1 : 2,5 1 : 6,7 1,38 165 mm

II a 1 : 3,5 1 : 9,3 1,84

No decorrer desta dissertação foram efectuados ensaios que permitiram caracterizar física e

mecanicamente estas quatro formulações de argamassas. Esta caracterização foi realizada,

recorrendo a três tipos de provetes, Quadro 3.2.

Quadro 3.2 - Quantidade total de provetes produzidos

Argamassa

Provetes

Prismáticos "Calhas" Camadas de revestimento

de tijolos

I 48 2 8

II 48 2 8

I a 12 - -

II a 12 - -

Total 120 4 16

Durante a produção destes provetes procurou-se minimizar os desperdícios de argamassa. Contudo,

para evitar oscilações das características das mesmas, procurou-se uniformizar as quantidades de

material utilizadas em cada amassadura. Cada amassadura permitiu a produção de dois moldes de

provetes prismáticos, aproximando-se da capacidade máxima do balde da misturadora mecânica.

Para a produção destes provetes, Quadro 3.2, foram efectuadas 52 amassaduras, 20 das quais foram

produzidas para os provetes prismáticos, nas condições referidas. Relativamente às camadas de

revestimento de tijolos, foi necessário realizar uma amassadura para a obtenção de cada camada

realizada. Por sua vez, as calhas como utilizam pouco material, produziu-se apenas duas

amassaduras, uma para cada argamassa. Por último, as restantes amassaduras foram efectuadas

para a obtenção da consistência de espalhamento no valor de 165 mm, correspondendo 6

amassaduras à Arg. I a) e 8 à Arg. II a).

3.3. Plano de ensaios e caracterização efectuada

Todas as formulações estudadas foram caracterizadas em termos físicos e mecânicos aos 90 dias de

idade. As características das argamassas Arg. I e Arg. II foram avaliadas também aos 14, 28 e 60

dias, com o objectivo de estudar a evolução no tempo de argamassas de cal aérea formuladas com

Page 31: Tese 2,8 MB

22

diferente dosagem de ligante e igual relação água/ligante. Neste estudo foi incluído os resultados

obtidos por Agostinho (7). Além da caracterização física e mecânica, procedeu-se também ao estudo

das argamassas Arg. I e Arg. II aos 90 dias de idade em termos do seu comportamento face a

ensaios artificiais de cristalização de sais, à semelhança do estudo efectuado por Agostinho (7) na

argamassa ao traço volumétrico 1:3 e razão água/ligante de 1,62.

O Quadro 3.3 apresenta de forma esquemática o plano de ensaios e o número de provetes

prismáticos envolvidos em cada uma das caracterizações.

Quadro 3.3 - Número de provetes prismáticos e caracterização efectuada para cada idade

Nº de provetes

prismáticos

1ª Fase Ensaios

Nº metades resultantes

2ª Fase Ensaios 3ª Fase Ensaios

Ensaios de cristalização de sais

6 Ultra-sons/

Flexão

6 Esp. Carbonatação/

Compressão -

3 Ensaio secagem Procedimento II a)

3

Porosidade/massa volúmica

Procedimento II b)

2 Capilaridade - Procedimento I

1 W48 h -

3 Testes

W48 h – Teor em água às 48 horas; Esp. – Espessura

Como é visível através do Quadro 3.3, foram produzidos 12 provetes prismáticos para cada idade

estudada. Preferiu-se produzir em excesso para precaver algum acidente, colmatando deste modo, a

possível falta de provetes para realizar os ensaios necessários.

A caracterização das argamassas foi efectuada em provetes prismáticos (determinação da velocidade

de propagação de ultra-sons, da tensão de rotura à flexão, da absorção de água por capilaridade e do

w48h) e nos meios prismas que resultaram da determinação da tensão de rotura à flexão. Tal como é

indicado no Quadro 3.3, seis meios provetes foram utilizados na determinação da espessura de

carbonatação e em seguida, os mesmos, foram utilizados na determinação da tensão de rotura à

compressão. As outras 6 metades resultantes da flexão destinaram-se aos ensaios de determinação

da cinética de secagem e à determinação da porosidade/massa volúmica, com 3 metades atribuídas

a cada uma destas determinações.

Os ensaios destinados a avaliar a absorção de água, tanto por capilaridade como por imersão foram

efectuados em prismas inteiros, tendo sido atribuídos 2 prismas ao ensaio de capilaridade e 1 ao

ensaio de determinação do teor em água após imersão. Estes provetes prismáticos foram

posteriormente alvo de ensaio da determinação da porosidade/massa volúmica.

Page 32: Tese 2,8 MB

23

O comportamento das argamassas Arg. I e Arg. II aos 90 dias de idade face a ensaios de

cristalização de sais foi determinado através do recurso a 3 procedimentos descritos no ponto 3.7.3.

Os procedimentos II a) e II b) foram efectuados através do recurso a 6 meios provetes, três deles

resultantes do ensaio de secagem (procedimento II a) e os restantes três provenientes do ensaio da

determinação da porosidade/massa volúmica (procedimento II b). Por último, o procedimento I foi

efectuado após a realização do ensaio da determinação da porosidade/massa volúmica em três

provetes inteiros.

A caracterização das argamassas Arg. I e Arg. II foi também efectuada com o objectivo de avaliar a

susceptibilidade à retracção e fendilhação. Para tal, procedeu-se à preparação de 2 “calhas”

metálicas para cada uma das formulações, Quadro 3.2.

Procedeu-se também ao estudo das argamassas Arg. I e Arg. II, aos 14, 28, 60 e 90 dias, como

camada de revestimento de tijolos cerâmicos com 30*20*11 [cm3] de dimensões, para simulação da

sua aplicação como reboco, tendo-se produzido dois provetes deste tipo para cada uma das

formulações e por idade. Uma das camadas de revestimento destinou-se à avaliação da resistência

superficial e a outra à determinação da velocidade de ultra-sons e da absorção de água sob baixa

pressão. Aos 90 dias de idade das camadas de revestimento procedeu-se à avaliação da aderência

da argamassa ao suporte.

O Quadro 3.4 descreve sucintamente todos os ensaios envolvidos na caracterização das argamassas

no estado fresco e endurecido.

Quadro 3.4 - Ensaios envolvidos na caracterização das argamassas e idades estudadas

Ensaios Determinação Arg. I Arg. II Arg. I a Arg. II a

Estado Fresco

Espalhamento * * * *

Massa volúmica * * * *

Retenção de água * * - -

Estado Endurecido

Porosidade

14, 28, 60 e 90 dias

14, 28, 60 e 90 dias

90 dias 90 dias

MVap

w48 h

Capilaridade

Cinética secagem

Ultra-sons em prismas

Rt

Rc

Absorção sob baixa pressão - -

Ultra-sons em tijolos - -

Resistência Superficial - -

Aderência

90 dias 90 dias

- -

Procedimento I (sais) - -

Procedimento II a (sais) - -

Procedimento II b (sais) - -

Page 33: Tese 2,8 MB

24

3.4. Caracterização dos agregados e do ligante

As areias e o ligante utilizados no presente estudo não foram objecto de caracterização, dado que

corresponderam aos mesmos materiais utilizados por Agostinho (7) que procedeu à sua

caracterização. Deste modo, apresenta-se neste subcapítulo a caracterização dos agregados e do

ligante efectuado por Agostinho (7).

A análise granulométrica dos agregados foi efectuada tendo como base a NP1379.

A determinação da baridade dos mesmos recorreu a dois métodos, o primeiro recorrendo à NP

955:1793 e o segundo, denominado de baridade 1, método este, que tenta simular a prática corrente

em obra. Este método consiste em encher o recipiente com o agregado ou o ligante, utilizando uma

colher e deixando o material cair de uma altura inferior a 5 cm em relação ao topo do recipiente. Uma

vez completo o enchimento do recipiente, nivela-se a superfície do material a determinar pelo topo do

recipiente e pesa-se o conjunto. Assim a baridade é determinada pelo quociente da diferença entre a

massa do conjunto e a massa do recipiente vazio, pelo volume do recipiente. Este método também foi

utilizado para a determinação da baridade do ligante.

Os Quadro 3.5 e Quadro 3.6 expressam os resultados obtidos por Agostinho (7) durante a fase

experimental do seu trabalho.

A análise granulométrica efectuada por Agostinho (7) permitiu verificar que as areias possuem

granulometrias semelhantes, apresentando valores idênticos para a máxima e mínima dimensão do

agregado, valores estes de 2,38mm e 0,149mm, respectivamente.

Quadro 3.5 - Caracterização dos agregados (7)

Areia Amarela Areia Rio

Dmáx [mm] 2,38 2,38

Dmin [mm] 0,149 0,149

Módulo de finura 3,1 2,7

Quadro 3.6 - Baridade das matérias-primas e massa volúmica real da cal aérea (7)

Matéria-prima

Baridade NP 955:1793 [kg/m3]

N Baridade1

[kg/m3]

Massa Vol. real [kg/m

3] N

Com compactação

N Sem

compactação

Areia Rio 3 1597 3 1401 3 1569 -

Areia Amarela

3 1634 3 1476 3 1548 -

Cal aérea - - - - 3 584 2200

N – número de determinações

Page 34: Tese 2,8 MB

25

Na determinação da baridade, Agostinho (7) efectuou três determinações, expressas no Quadro 3.6,

contudo optou por escolher aquela que mais se assemelha à baridade dos materiais avaliada em

obra, baridade 1, visto que na prática, as argamassas são formuladas pelo seu traço em volume.

O ligante utilizado neste trabalho (cal aérea hidratada em pó - CL90) de origem Nacional foi obtido no

mercado, comercializado em sacos de 22kg, Figura 3.1. As restantes características deste material

estão expressas na ficha técnica da cal aérea, apresentada em anexo.

Figura 3.1 - Cal aérea hidratada comercializada em sacos de 22 kg

Com esta informação, e com um traço em volume de 1:3, Agostinho obteve um traço em massa

aproximadamente de 1:8. O Quadro 3.7 apresenta esta informação, bem como a relação A/L

determinada, para a obtenção de um espalhamento de 165mm.

Quadro 3.7 - Traço das argamassas de Agostinho (espalhamento 165mm)

Traço em volume Traço em massa Relação água/ligante

Cal aérea 1:1,5:1,5 1:4:4 1,62

No desenvolver da presente dissertação utilizou-se as informações presentes nos Quadro 3.5 a

Quadro 3.7 para a formulação das argamassas aqui em estudo. Através desta informação, procurou-

se cruzar os dados e estabelecer pontos de comparação, com o intuito de a enriquecer e contribuir

para o estudo de argamassas de cal aérea.

3.5. Produção de argamassa e dos provetes

No presente subcapítulo procede-se à descrição das metodologias de ensaio utilizadas no decorrer

deste trabalho e mencionam-se as normas em que se basearam.

Page 35: Tese 2,8 MB

26

3.5.1. Produção das argamassas

A produção da argamassa tem início com a prévia pesagem dos seus constituintes, tendo-se

recorrido para tal a uma balança de precisão 0,1 g. Após pesagem dos constituintes e

humedecimento do balde da misturadora, coloca-se neste a água e posteriormente o ligante. O balde

é colocado na misturadora e esta é ligada em modo automático. Neste primeiro período efectua-se a

mistura entre o ligante e a água em movimento lento (140 ± 5 r.p.m). Passados 30 segundos, a

misturadora emite um sinal sonoro, anunciando a etapa seguinte, ou seja, a colocação dos agregados

por ordem decrescente de dimensões, mantendo a mesma rotação. Uma vez inseridos todos os

componentes da argamassa, a misturadora aumenta a sua velocidade de rotação (285 ± 5 r.p.m) e

procede à amassadura durante cerca de 30 segundos. Terminado este período, a misturadora pára e

com uma raspadeira de borracha retira-se do topo das paredes do balde o material aí aderente e

juntasse-o à restante argamassa. Este período tem uma duração de 60 segundos, ao que se segue

mais 60 segundos de mistura.

3.5.2. Produção dos provetes prismáticos

A produção de provetes prismáticos de dimensões normalizadas 160×40×40 [mm3] é efectuada

recorrendo a moldes que possibilitam executar três provetes em simultâneo.

O primeiro passo consiste na limpeza dos moldes, seguido da aplicação de óleo descofrante através

de um pincel em toda a superfície de contacto com a argamassa. Posteriormente, coloca-se o molde

acoplado com uma alonga sobre a mesa de vibração mecânica e fixa-se o conjunto à referida mesa.

Ao que se segue a fase de enchimento do molde, por recurso a colher de pedreiro, até metade da

sua capacidade e com o auxílio de uma espátula adequada, regulariza-se a argamassa no molde.

Seguidamente, acciona-se a mesa mecânica, a qual automaticamente, executa 60 pancadas,

compactando a argamassa. Posteriormente, conclui-se o enchimento do molde tendo o cuidado de

colocar um pouco de argamassa em excesso e repete-se o passo anterior, descrito para a primeira

camada.

Em seguida, o molde é retirado da mesa de compactação, a alonga removida e, através de uma

colher de pedreiro, regulariza-se a face de enchimento dos provetes, através de movimentos de

“serra”, retirando o excesso de argamassa.

A Figura 3.2 ilustra o aspecto dos provetes antes e após a desmoldagem dos provetes. A

desmoldagem dos provetes foi efectuada 7 dias após a produção dos provetes e estes foram sempre

conservados num ambiente caracterizado por 20 ± 2 ºC e 50 ± 5% de humidade relativa.

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27

Figura 3.2 - Aspecto dos provetes antes e após a desmoldagem

3.5.3. Camadas de revestimento de tijolos

Os provetes denominados camadas de revestimento consistem no revestimento de uma das faces de

um tijolo cerâmico, de dimensões 30×20×11 [cm3]. Como foi referido, este revestimento simula a

aplicação da argamassa como reboco. Assim sendo, procedeu-se à aplicação de camada de 2 [cm]

de argamassa, recorrendo a uma cofragem de madeira e ao recurso a uma colher de pedreiro,

através da qual foi exercida alguma pressão para fomentar a aderência entre a argamassa e o tijolo.

Uma vez atingida a altura da cofragem, o acabamento foi efectuado recorrendo a uma talocha com o

objectivo de remover o excesso de argamassa e homogeneizar a superfície. A Figura 3.3 ilustra o

revestimento do tijolo antes da desmoldagem.

Anteriormente à aplicação da argamassa nos tijolos, estes foram molhados para evitar a absorção da

água da amassadura, visto o material cerâmico ter grande capacidade de absorção, todavia, teve-se

o cuidado de não os saturar com água, de modo a não prejudicar a aderência entre o tijolo e a

argamassa.

A desmoldagem dos provetes foi efectuada 7 dias após a produção dos provetes e estes foram

sempre conservados num ambiente caracterizado por 20 ± 2 ºC e 50 ± 5% de humidade relativa.

Figura 3.3 - Argamassa aplicada como camada de revestimento de tijolo antes da desmoldagem

Page 37: Tese 2,8 MB

28

3.5.4. Enchimento de calhas metálicas com argamassa

As calhas onde foram aplicadas as argamassas em estudo, para a avaliação da retracção das

argamassas, são em aço com secção em “V” (4,3 cm2) e o comprimento de 1 metro potencia o

aparecimento de fendas ou fissuras perante o fenómeno da retracção. Porém, para potenciar a

ocorrência de retracção procedeu-se à “ancoragem” da argamassa nos topos do provete, evitando

deste modo o seu destacamento dos topos da calha e viabilizando o surgimento de fendas e/ou

fissuras ao longo do comprimento da calha. Esta ancoragem foi alcançada recorrendo ao uso de

parafusos com 5 cm de comprimento e ao auxílio de porcas e anilhas, estrategicamente colocadas,

que permitem a fixação dos parafusos perpendicularmente aos topos das calhas e em simultâneo

“ancorar” a argamassa.

O processo de preparação das “calhas” inicia-se com a colocação de óleo descofrante. Em seguida,

colocam-se os parafusos nas suas extremidades de forma a funcionarem como “ancoragem”.

Posteriormente, coloca-se a argamassa na calha, recorrendo ao auxílio de uma colher de pedreiro,

efectuando o acabamento com a mesma colher em movimentos de serra e alisamento da superfície.

Estes provetes (Figura 3.4) foram conservados em condições idênticas às adoptadas para os

provetes prismáticos e camadas de revestimento.

Figura 3.4 - Aspecto geral de provetes em que as argamassas foram aplicadas em calhas metálicas.

Page 38: Tese 2,8 MB

29

3.6. Caracterização das argamassas no estado fresco

3.6.1. Consistência por espalhamento

A determinação da consistência das argamassas foi efectuada em todas as amassaduras,

imediatamente após a realização das mesmas, segundo um procedimento baseado no disposto na

norma EN 1015-3 (1999).

Após a produção da argamassa, procedeu-se à determinação da sua consistência por espalhamento.

A argamassa foi colocada no interior de um molde tronco-cónico (situado no centro da mesa de

espalhamento) em duas camadas, cada uma compactada uniformemente com 25 pancadas,

utilizando para o efeito, um varão metálico com 12 mm de diâmetro. Previamente, tanto o prato da

mesa de espalhamento como o molde tronco-cónico foram devidamente humedecidos.

Posteriormente, recorrendo a uma colher de pedreiro, rasou-se o topo do molde e retirou-se o

excesso de argamassa presente na mesa, através de um pano húmido. Depois deste passo, retirou-

se o molde com cuidado e a amostra é submetida a 25 pancadas verticais efectuadas uniformemente

pela base da mesa, durante as quais, a amostra foi espalhada na mesa. Procedeu-se então à

realização de três medições de diâmetro de espalhamento da amostra, com o intuído de determinar o

espalhamento médio, expresso em milímetros.

3.6.2. Massa volúmica aparente da argamassa no estado fresco

A determinação da massa volúmica aparente das argamassas no estado fresco baseou-se no

disposto na norma EN 1015 – 6: 1998 e foi realizada após todas as amassaduras.

A determinação da massa volúmica tem início com a avaliação da massa e da capacidade de um

recipiente para a sua avaliação. O recipiente é então posteriormente cheio de argamassa, com uma

colher, até metade da sua capacidade. Recorrendo a um varão metálico, compacta-se a argamassa

através de 15 pancadas distribuídas uniformemente. A seguir, conclui-se o enchimento do recipiente,

tendo o cuidado de colocar argamassa em excesso, de modo a que após a compactação seja

possível rasar o topo do recipiente, recorrendo a uma colher de pedreiro. Procede-se então à

avaliação da massa do recipiente cheio de argamassa e à quantificação da massa volúmica no

estado fresco de argamassa através da seguinte expressão:

3.1

Page 39: Tese 2,8 MB

30

Em que,

ρ – massa volúmica aparente da argamassa no estado fresco [kg/m3];

m2 – massa da argamassa e recipiente juntos [kg];

m1 – massa do recipiente [kg];

V – volume do recipiente [m3].

3.6.3. Retenção de água

A avaliação da capacidade de retenção de água das argamassas baseou-se no disposto na EN 1015

– 8: 1999. Para a realização deste ensaio utilizou-se, entre outros utensílios, um molde cónico rígido

não absorvente, com 100 mm de diâmetro e 25 mm de profundidade, e papel de filtro com 2 mm de

espessura.

O processo inicia-se com a determinação da massa do molde em questão e do papel de filtro, ambos

devidamente secos. Posteriormente, recorrendo a uma espátula, enche-se o molde através de vários

incrementos e rasa-se o topo do mesmo, retirando-se o excesso de argamassa. Em seguida,

determina-se a massa do conjunto. Posteriormente, coloca-se sobre a argamassa presente no molde,

gaze e por cima desta o papel de filtro. Logo de imediato, coloca-se o conjunto de forma invertida,

sobre uma superfície não absorvente e sobre este coloca-se uma massa de 2 kg. O conjunto

permanece assim durante 5 minutos. Terminado este período, retira-se a massa, volta-se a inverter o

conjunto e pesa-se novamente o papel de filtro, agora húmido.

O cálculo da água retida na argamassa, expressa em percentagem da água total nela presente antes

do ensaio, é obtida através da seguinte expressão:

3.2

Em que,

WVR – retenção de água [%];

m água – massa de água presente na argamassa [g];

m argamassa – massa de argamassa [g];

m1 – massa do molde [g];

m2 – massa do papel de filtro seco [g];

m3 – massa do molde com a argamassa [g];

m4 – massa do papel de filtro húmido [g].

Page 40: Tese 2,8 MB

31

3.7. Caracterização das argamassas no estado endurecido

3.7.1. Caracterização mecânica

3.7.1.1. Determinação das tensões de rotura à flexão e compressão

A determinação das tensões de rotura à compressão e flexão basearam-se no disposto na EN 1015 –

11: 1999. Para a determinação da tensão de rotura à flexão, procede-se ao posicionamento do

provete prismático, segundo o seu eixo longitudinal, sobre dois apoios cilíndricos equidistantes do

centro. Posteriormente, a força é aplicada a meio do provete, lentamente e gradualmente através de

um cutelo ao ritmo de 50 ± 10 N/s, Figura 3.5. A tensão de rotura à flexão é determinada através da

seguinte expressão:

3.3

Sendo:

Do ensaio de flexão resultam dois meios provetes que são posteriormente utilizados na determinação

da tensão de rotura à compressão. Neste ensaio, os provetes prismáticos são colocados entre os

dois pratos da prensa e submetidos à aplicação lenta e gradual de força, ao ritmo de 2400 ± 200 N/s,

até à rotura. Os pratos da prensa possuem uma superfície saliente plana com a mesma largura que

os provetes. Os meios provetes são colocados com o seu eixo longitudinal perpendicular a esta

superfície, formando deste modo uma superfície de compressão quadrada igual para todos os meios

provetes.

Uma vez determinada a carga máxima aplicada pela prensa, é possível calcular a tensão de rotura à

compressão através da seguinte expressão:

3.4

Sendo:

Page 41: Tese 2,8 MB

32

Figura 3.5 - Determinação da tensão de rotura à compressão e flexão

3.7.1.2. Velocidade de propagação de ultra-sons

A determinação da velocidade de propagação de ultra-sons é efectuada recorrendo a um aparelho de

medição de ultra-sons, o qual, através de dois transdutores, um emissor e um receptor, emite uma

onda ultra-sónica que percorre a argamassa, sendo registado o tempo de percurso, Figura 3.6.

A determinação da velocidade dos ultra-sons foi efectuada por transmissão directa em provetes

prismáticos e por transmissão indirecta nas camadas de revestimento. Em ambas as situações

procurou-se melhorar o contacto entre os transdutores e a argamassa, alisando a argamassa e

recorrendo a uma massa de contacto.

O ensaio inicia-se com a calibração do equipamento. Uma vez calibrado o equipamento, procede-se

à realização dos ensaios.

Ensaio directo

Nos provetes prismáticos, procedeu-se ao posicionamento dos transdutores nos topos dos provetes e

à realização de três medições do tempo que a onda demora a percorrer o prisma (16 cm), sendo

deste modo possível determinar a velocidade de propagação de ultra-sons, através da média destas

três medições.

Page 42: Tese 2,8 MB

33

Figura 3.6 - Equipamento de medição da velocidade de propagação de ultra-sons

Ensaio indirecto

Para a avaliação da velocidade de propagação de ultra-sons nas argamassas aplicadas como

camadas de revestimento, procedeu-se à avaliação do tempo necessário para que a onda percorra

vários pontos da superfície da argamassa, pontos estes, previamente estabelecidos e utilizados para

todos os ensaios realizados neste tipo de provetes. Os pontos de medição encontram-se a distâncias

fixas entre os centros dos transdutores, tendo sido utilizadas as distâncias de 6, 7, 9, 11, 13, 15 e 17

cm, Figura 3.7.

Posteriormente, posiciona-se o transdutor emissor, fazendo variar o receptor pelos pontos pré

estabelecidos. Foram efectuadas três medições a cada distância, sendo a velocidade determinada

por recurso à análise de dromocrónicas.

Figura 3.7 - Determinação da velocidade de propagação de ultra-sons nas

argamassas aplicadas como camadas de revestimento

3.7.1.3. Esclerómetro pendular

A avaliação da dureza superficial das argamassas aplicadas como camadas de revestimento de

tijolos foi efectuada recorrendo a um esclerómetro pendular, Figura 3.8.

Page 43: Tese 2,8 MB

34

O ensaio inicia-se com a marcação uniformemente distribuída das zonas sobre as quais o

esclerómetro incidirá. Dividiu-se a área do tijolo de modo a que fosse possível realizar seis medições

em áreas com dimensão suficientemente grande para não haver hipótese de as áreas de influência

do impacto do esclerómetro se sobreporem. Procurou-se ainda evitar a realização de medições junto

da periferia da camada de argamassa aplicada como revestimento.

Posteriormente à marcação das zonas de impacto, o tijolo é posicionado junto a uma superfície

vertical. De seguida, posiciona-se o esclerómetro na área pretendida, realizando alguma pressão

deste na argamassa e consequentemente do tijolo à parede vertical, de modo a que o ensaio se

realize nas melhores condições, tal como a Figura 3.8 pretende ilustrar.

Por último, solta-se o pêndulo e regista-se o valor do ressalto.

Figura 3.8 - Avaliação da dureza superficial por recurso ao esclerómetro pendular

3.7.1.4. Ensaio de arrancamento por tracção “Pull off”

A determinação do ensaio de arrancamento baseou-se no disposto na norma EN 1015-12: 2000. Este

ensaio permite determinar a força de aderência recorrendo à máxima tensão aplicada por tracção

directa perpendicular à superfície de argamassa.

Para o efeito, recorreu-se a meios mecânicos capazes de efectuar a tracção directa da argamassa e

registar a máxima tensão aplicada. O equipamento utilizado está calibrado para trabalhar com

pastilhas circulares, contudo devido à fragilidade das argamassas em estudo, as quais, não

permitiram o uso de uma caroteadora, recorreu-se ao uso de pastilhas quadradas, tendo sido

utilizado para a realização dos entalhes, uma rebarbadora com disco fino.

A aderência das pastilhas metálicas à argamassa foi assegurada por recurso a cola epóxidica

adequada. A utilização do equipamento foi adaptada à nova geometria da pastilha metálica, sendo o

arrancamento efectuado a 200 N/s.

O ensaio inicia-se com a regularização da superfície da argamassa, utilizando para o efeito uma lixa

fina, devido à fragilidade das argamassas. Uma vez regularizada a superfície, executam-se os

Page 44: Tese 2,8 MB

35

entalhes recorrendo a uma rebarbadora de pouca potência e utilizando um disco fino. Retiram-se as

impurezas resultantes da acção da rebarbadora e colam-se as pastilhas à argamassa. Estas pastilhas

estão munidas de uma rosca à qual será acoplada um parafuso, a partir do qual será aplicada a força

de arrancamento. A cola deverá ser deixada a secar durante um mínimo de 48 horas. Findo este

período, coloca-se o parafuso na pastilha quadrada, liga-se este ao equipamento e através de uma

força perpendicular à pastilha é efectuado o ensaio, Figura 3.9.

A rotura poderá ocorrer de diversas formas, sendo que a única que corresponde a um ensaio não

válido corresponde à situação em que a rotura ocorra na interface da pastilha e da cola epóxidica. A

rotura poderá ocorrer então: na interface da ligação entre a argamassa o tijolo, sendo neste caso

denominada de rotura adesiva; no interior do tijolo ou da argamassa, tendo neste último caso a

denominação de rotura coesiva.

Tal como foi referido anteriormente, é necessário converter a tensão obtida pelo equipamento, visto

não terem sido utilizadas pastilhas circulares. Assim, para se obter a tensão correcta é necessário

efectuar a seguinte conversão:

3.5

Em que,

Para cada argamassa e idade, foram efectuados vários ensaios, apresentando-se para cada situação

o valor médio. Uma vez obtida a tensão de arrancamento equivalente, é possível determinar a força

de aderência:

3.6

Sendo,

Page 45: Tese 2,8 MB

36

Figura 3.9 - Ensaio de arrancamento

3.7.2. Caracterização física

3.7.2.1. Determinação da absorção de água por capilaridade

A determinação da absorção de água por capilaridade baseou-se no disposto na norma EN 1015-18.

O ensaio inicia-se, à idade pretendida, colocando-se os provetes prismáticos em estufa, à

temperatura de 60 ± 5 ºC, por um período nunca inferior a 48 horas. Os provetes são condicionados a

estas temperaturas para que seja eliminada a presença de água ou humidade, sem que ocorra

degradação dos provetes. Após este período e o adequado arrefecimento dos provetes procede-se à

avaliação da massa seca dos provetes.

Posteriormente, estes são colocados na vertical sobre varetas de vidro localizadas no fundo de um

tabuleiro plano, no qual é introduzido lentamente água até ser garantida a imersão de 5 ± 1 mm dos

provetes em água. Por último, coloca-se uma campânula de dimensões apropriadas sobre esta

montagem de modo a minimizar a evaporação de água.

Uma vez preparada a montagem, Figura 3.10, procede-se à avaliação da massa dos provetes ao

longo do tempo. Estas medições foram efectuadas aos 5 min, 10min, 15min, 30 min, 1h, 3h, 6h, 8h,

12h, 24h, 48h, 72h e daí em diante, todos os dias, até que a franja capilar atingiu o topo dos provetes

e ocorreu a saturação dos mesmos.

Em cada medição, é necessário retirar com cuidado os provetes do tabuleiro e com um pano húmido,

retirar o excesso de água nas faces destes, pesando-os numa balança com precisão 0,01 g. Deve-se

colocar o provete novamente no tabuleiro, com algum ângulo de inclinação, rodando-o até à vertical,

evitando assim criar aprisionamento de ar na face em contacto com a água. Sempre que necessário,

colocar água no tabuleiro, lentamente até ser reposta a altura de água desejada.

Page 46: Tese 2,8 MB

37

A massa de água absorvida por unidade de superfície do provete em contacto com a água ao fim do

tempo ti (ΔMi/S), é calculada pela expressão seguinte:

3.7

Em que,

Figura 3.10 - Ensaio de capilaridade

3.7.2.2. Determinação do teor em água após imersão durante 48 horas

A determinação do teor em água após imersão em água durante 48 horas baseou-se no disposto na

especificação E 394 do LNEC. Este ensaio tem início com a avaliação da massa seca dos provetes,

de forma em todo semelhante à descrita em 3.7.2.1.

Em seguida, os provetes são imersos em água lentamente e com um ângulo de inclinação

aproximado dos 45º, de modo a que as bolhas de ar que se formam nestas circunstâncias, sejam

eliminadas. Os provetes permanecem imersos em água durante 48 horas. Por último, estes são

retirados da água, limpos com um pano húmido e a sua massa avaliada.

O teor em água por imersão, ao fim de 48 horas (w48h), pode ser determinado, recorrendo

à seguinte expressão:

3.8

Page 47: Tese 2,8 MB

38

Sendo,

3.7.2.3. Absorção de água sob baixa pressão “método do cachimbo”

O ensaio de absorção de água sob baixa pressão pretende avaliar a permeabilidade à água de

materiais porosos e foi realizado de acordo com o disposto no procedimento da RILEM II.4 nas

argamassas aplicadas como camadas de revestimento, Figura 3.11.

Cada argamassa foi objecto de três determinações tendo-se garantido o adequado posicionamento

dos cachimbos de modo a garantir que as áreas resultantes da absorção associadas a cada

cachimbo não se sobreponham, Figura 3.11.

A realização deste ensaio teve início com a marcação da posição dos cachimbos no revestimento do

tijolo. Em seguida, recorrendo à utilização de um mástique aplicado nos bordos da boca dos

cachimbos, estes foram pressionados e posicionados na argamassa.

Uma vez posicionados os cachimbos correctamente na vertical, procede-se à introdução de água

lentamente no interior dos mesmos, até perfazer 4 cm3. De imediato, acciona-se o cronómetro,

registando-se os valores absorvidos pela argamassa, ao longo do tempo, em períodos pré-

estabelecidos, até que a argamassa absorva os 4 cm3 de água.

As argamassas de cal aérea apresentam elevada capacidade de absorção, característica que

justificou que os primeiros registos tivessem sido efectuados após alguns segundos. Foi estabelecida

a seguinte ordem de registos de absorção ao longo do tempo, iniciando-se aos 15s, seguindo-se aos

30s, 1min, 1,5min, 2min, 3min, 4min, 5min, 7min, 10min, 13min, 16min, 19min, 22min, até à absorção

total dos 4cm3 de água, registando-se em todos os casos este valor.

Além da apresentação do volume de água absorvido ao longo do tempo, procedeu-se também à

análise da quantidade de água absorvida por unidade de superfície ao longo do tempo, através da

seguinte expressão:

3.9

Sendo,

Page 48: Tese 2,8 MB

39

Figura 3.11 - Ensaio de absorção de água sob baixa pressão

3.7.2.4. Porosidade / Massa Volúmica

A determinação da porosidade e massa volúmica real e aparente das argamassas no estado

endurecido baseou-se no disposto na RILEM I.1 (1980).

O ensaio inicia-se com a secagem dos provetes em estufa, à temperatura de 60 ± 5 ºC, até ser

atingida massa constante, situação que leva à secagem dos provetes durante um período mínimo de

72 horas, devido ao facto de estarem completamente saturados, resultado do ensaio anterior

(capilaridade e W48h). Os provetes secos e arrefecidos em excicador são pesados numa balança com

precisão de 0,01 g (m1) e em seguida submetidos a vácuo, no interior de um excicador de 20 mmHg,

durante 24 horas. Terminado este período, os provetes são lentamente submersos em água durante,

um tempo mínimo de 15 minutos. Durante a entrada de água, a pressão é mantida no interior do

excicador e deverá ser garantida por mais 24 horas. Terminada esta fase, os provetes permanecem

imersos no excicador à pressão atmosférica, durante 24 horas.

Por último, os provetes são retirados do excicador e procede-se à sua pesagem hidrostática (m2) e à

avaliação da sua massa saturada (m3), numa balança com precisão de 0,1g.

Assim, uma vez completado este procedimento e determinadas as massas referidas anteriormente, é

possível determinar os valores da porosidade aberta, Pab, e da massa volúmica real, Mvol.real, e ainda

da massa volúmica aparente, Mvol. apar.:

3.10

3.11

Page 49: Tese 2,8 MB

40

3.12

Sendo,

3.7.2.5. Determinação da espessura carbonatada

A determinação da espessura carbonatada dos provetes prismáticos foi efectuada às diversas idades

previamente estabelecidas.

Para a realização deste ensaio recorreu-se ao uso de uma solução de fenolftaleína com uma

concentração de 0,2%. Esta solução quando em contacto com as argamassas de cal aérea, origina

colorações distintas nas áreas carbonatadas e não carbonatadas. As zonas que se encontrem

carbonatadas permanecem incolores, ou com coloração mais clara da que as áreas não

carbonatadas que se apresentam carmim. Estas reacções distintas devem-se ao facto do fenómeno

da carbonatação conduzir à diminuição do pH das argamassas.

A determinação da espessura carbonatada em provetes prismáticos foi efectuada nas secções de

rotura que resultaram de ensaio de determinação da tensão de rotura à flexão e imediatamente após

a sua realização.

Deste modo, após o ensaio de flexão, os meios provetes foram colocados ao alto, com o topo

resultante do corte por flexão virado para cima. De seguida, as secções de rotura foram pulverizadas

com solução de fenolftaleína e de imediato, com o recurso a uma régua, a profundidade de

carbonatação foi avaliada nas 4 faces do provete.

Figura 3.12 - Aspecto da superfície do provete após aplicação de fenolftaleína

Page 50: Tese 2,8 MB

41

3.7.2.6. Avaliação da cinética de secagem

A avaliação da cinética de secagem de cada uma das argamassas estudadas foi realizada em 3

meios provetes, resultantes do ensaio de flexão com comprimento da ordem de 75 [mm]. Este

comprimento resulta da necessidade de regularização da face resultante da rotura à flexão.

Este ensaio, e o método utilizado para o seu estudo, surgem no seguimento de trabalhos

semelhantes, que têm vindo a ser realizados pelo Grupo de Materiais de Construção do Instituto

Superior Técnico, nomeadamente, em (34) e (7), trabalhos estes, que tiveram como base (35).

As faces laterais dos provetes foram impermeabilizadas por recurso a uma resina epóxidica (Sicadur

32,5 N), permitindo deste modo, que a perda de água por secagem ocorra segundo um fluxo

unidireccional, Figura 3.13. Esta resina foi aplicada em duas demãos, com um intervalo de 24 horas,

em camadas finas, com o objectivo de minorar a probabilidade de ocorrência de futuros problemas

associados à retracção da resina e destruição parcial dos provetes. Após a aplicação das duas

demãos, secagem e endurecimento da mesma, os provetes foram secos em estufa, à temperatura de

60 ± 5 ºC, durante 48 horas, com o objectivo de avaliar a sua massa seca após o arrefecimento em

excicador durante 24 horas. Posteriormente, os provetes foram imersos em água durante 48 horas.

Findo este período, os provetes foram retirados da água e a sua massa saturada avaliada. Por último,

procedeu-se à protecção da base do provete com o objectivo de a isolar e, deste modo, garantir que

a evaporação de água ocorre por uma das faces, segundo um fluxo unidireccional. Estes foram

conservados em laboratório à temperatura ambiente e a sua massa avaliada diariamente até à

estabilização do seu teor em água.

Figura 3.13 - Ensaio de secagem

Através da avaliação diária da massa dos provetes é possível analisar a evolução do teor em água

dos provetes ao longo do tempo, recorrendo à seguinte expressão:

3.13

Page 51: Tese 2,8 MB

42

Sendo,

A expressão gráfica dos valores de wi ao longo do tempo, habitualmente designada por curva de

secagem, permite ainda calcular o índice de secagem (I.S.), através da integração da curva de

secagem, normalizada em função do teor máximo de água e em relação ao intervalo de tempo

necessário para ocorrer a secagem (35) . Quanto maior for este índice maior será o tempo de

secagem da argamassa.

3.14

Sendo,

A avaliação da cinética de secagem das argamassas foi efectuada para duas situações: água e

solução salina de cloreto de sódio com uma concentração de 15%. Para tal, recorreu-se aos mesmos

provetes que foram inicialmente submetidos à evaporação de água e, em seguida à evaporação de

solução salina. Ambos os ensaios foram realizados segundo os procedimentos já descritos.

A cinética de secagem de água foi avaliada para todas as idades e argamassas, enquanto a cinética

de secagem de solução salina apenas foi avaliada para a idade dos 90 dias.

3.7.3. Comportamento face à cristalização de sais

O estudo do comportamento das argamassas Arg. I e Arg. II face à cristalização de sais foi efectuado

recorrendo a três procedimentos de ensaios, Procedimento I, Procedimento II a) e II b), que tiveram

como base, os trabalhos efectuados por (34) e (7), e foram objecto, sempre que necessário, de

alterações com o objectivo de procurar incrementar os respectivos protocolos.

A degradação das argamassas através de fenómenos de cristalização de sais pode ser um processo

relativamente lento, que se desenvolve ao longo do tempo. O recurso a protocolos experimentais que

procuram simular a ocorrência de fenómenos de cristalização de sais, tem como objectivo estudar o

Page 52: Tese 2,8 MB

43

comportamento de materiais face a este tipo de fenómeno de forma artificial e que se pretende

acelerada.

A evolução da degradação desencadeada pela cristalização de sais foi monitorizada de forma regular

através da observação visual dos provetes e, no final do ensaio, através da avaliação da variação de

massa, da absorção de água por capilaridade, da avaliação da cinética de secagem e determinação

da tenção de rotura à flexão dos provetes em ensaio, após a sua dessalinização

3.7.3.1. Procedimento I

Este procedimento foi utilizado em trabalhos anteriores desenvolvidos com o objectivo de estudar o

comportamento de argamassas face à cristalização de sais, nomeadamente por (36), (37), (34) e (7).

O procedimento consiste na contaminação dos provetes através de absorção por capilaridade de

solução salina e o desencadear posterior de situações de dissolução e cristalização dos sais por

recurso a absorção de água destilada e sua evaporação.

Agostinho (7) utilizou para esse efeito 20 ml de solução salina, quantidade que se revelou excessiva

dado que originou a presença excessiva de sal no interior dos provetes. Perante este facto, e face

aos registos de absorção de água por capilaridade de cada argamassa estudada, optou-se por limitar

a contaminação dos provetes por recurso à absorção de 15 ml de solução salina.

O comportamento das argamassas face à cristalização de sais avaliada segundo o procedimento I foi

efectuado em três provetes prismáticos por argamassa, tendo estes, sido utilizados anteriormente no

ensaio de determinação da absorção de água por capilaridade e do teor em água.

Para a realização deste ensaio, os provetes são previamente secos a 60 ± 5 ºC, até massa constante

e a sua massa seca avaliada numa balança com precisão 0,01g.

Em seguida os provetes foram posicionados ao alto, em taças de vidro circulares, nas quais se

introduziu 15 ml de solução salina e sobre esta uma camada de parafina, Figura 3.14.

Imediatamente após a introdução de solução salina na taça tem inicio a sua absorção pelo provete.

Quando se regista a absorção da totalidade de solução salina permanece um volume vazio sob a

parafina capaz de conter 15 ml de líquido. Este vazio foi então alimentado periodicamente, através de

um pequeno tubo, colocado estrategicamente antes da parafina, para este efeito, o qual é obturado

com massa de mástique, evitando assim perda de líquido por evaporação. Nas três semanas

seguintes ao inicio do ensaio associado à absorção de solução salina foi introduzido uma vez por

semana, através do referido tubo, 15 ml de água destilada. Um ciclo tem a duração de 4 semanas em

que a primeira semana se regista a absorção de 15 ml de solução salina e a sua evaporação e em

cada uma das semanas seguintes, a absorção de 15 ml de água e a sua evaporação. Previamente a

Page 53: Tese 2,8 MB

44

cada nova introdução de líquido e diariamente durante todo o período de migração de sais, a

montagem é pesada cuidadosamente numa balança com precisão de 0,01 g.

O ensaio termina quando os provetes se encontram com o nível de degradação desejado, sendo

então submetidos a dessalinização. No presente estudo foram realizados 4 ciclos, porém o último não

foi efectuado na íntegra.

A dessalinização foi realizada por imersão em água destilada. Neste processo foram efectuadas

diversas renovações de água e a salinidade da água controlada por recurso à medição da sua

condutividade. O processo de dessalinização dos provetes é moroso e foi levado a efeito até à

obtenção de valores de condutividade da água em contacto com os provetes semelhantes aos da

água destilada.

Figura 3.14 - Comportamento das argamassas Arg. I e Arg. II face à cristalização de sais – Procedimento I

3.7.3.2. Procedimento II a)

O procedimento II a) de estudo do comportamento das argamassas face à cristalização de sais

pretende simular a acção nefasta que os sais provocam nas argamassas, essencialmente à

superfície, provocando a sua erosão. Foram submetidos a este procedimento de ensaio três provetes

de cada uma das argamassas com 90 dias de idade, previamente contaminados com cloreto de

sódio, resultantes da avaliação da cinética de secagem de solução salina (3.7.2.6).

Procurou-se desencadear o processo de degradação das argamassas através do recurso a ciclos de

molhagem/secagem e deste modo desencadear a dissolução e cristalização de cloreto de sódio, bem

como a migração dos sais do interior dos provetes até à sua superfície.

O ensaio teve início após a conclusão da avaliação da cinética de secagem das argamassas com

solução salina, através da determinação da massa dos provetes. Os provetes foram posicionados em

cima de varetas de vidro, no interior de um recipiente plano por tipo de argamassa. Em seguida,

procedeu-se à introdução lenta de água destilada no recipiente, de forma a garantir que 5 ± 1 mm dos

provetes ficassem imersos em água. Os provetes permaneceram em contacto com a água destilada

durante uma hora. Este período foi suficiente para garantir a ascensão de água até à completa

Page 54: Tese 2,8 MB

45

molhagem do topo dos provetes. Estes foram então retirados de água e a face dos provetes em

contacto com água, limpa com um pano húmido e a sua massa avaliada numa balança com 0,01g de

precisão. Com o objectivo de garantir a secagem dos provetes segundo um fluxo unidireccional,

procedeu-se ao isolamento da base do provete, deixando o topo destes livre. Os provetes foram

então conservados em laboratório à temperatura ambiente.

Cada ciclo deste procedimento tem assim a duração de uma semana, com inicio num processo de

molhagem por absorção de água por capilaridade durante uma hora. Foram efectuados seis ciclos. A

massa de cada provete é avaliada, em cada ciclo, antes e após o período de absorção de água, bem

como diariamente. No final deste ensaio, os provetes são dessalinizados de acordo com o descrito no

procedimento I.

3.7.3.3. Procedimento II b)

O procedimento II b) é muito semelhante ao anterior e procura também desencadear a degradação

superficial dos provetes por acção da cristalização de sais. Este procedimento recorreu a três meios

provetes por argamassa estudada com 90 dias de idade, com quatro faces impermeabilizadas com

resina epóxidica.

Este procedimento difere do II a) pelo facto de os provetes não serem previamente contaminados

com cloreto de sódio e incluir etapas de molhagem dos provetes com água e solução salina.

O procedimento II b) é dividido em duas fases distintas. Numa primeira fase procura-se avaliar a

destruição dos provetes quando expostos a solução salina, segundo a metodologia utilizada no

procedimento II a), durante um período prolongado. Esta fase teve a duração de 10 semanas.

Durante a primeira hora de cada uma destas 10 semanas, os provetes foram contaminados com

solução de cloreto de sódio (15%) através da sua absorção por capilaridade. Após a absorção de

solução salina, os provetes foram sempre conservados em ambiente de laboratório com o objectivo

de permitir a evaporação de água e a ocorrência de cristalização de sais.

Findo este período de 10 semanas, retiraram-se com cuidado as crostas de sal acumuladas no topo

de cada provete e procedeu-se ao registo das alterações verificadas na face superior dos provetes. A

segunda fase teve uma duração semelhante e difere da anterior apenas na substituição de solução

salina por água destilada. Neste período, procurou-se avaliar a destruição de provetes exibindo

elevado grau de contaminação, cessando a contaminação e fomentando a migração dos cristais de

sal.

À semelhança dos procedimentos anteriores, os provetes após o ensaio de cristalização de sais são

dessalinizados. O procedimento de dessalinização adoptado foi o descrito anteriormente.

Page 55: Tese 2,8 MB

46

3.7.4. Outros – Susceptibilidade à fendilhação / fissuração

A avaliação da susceptibilidade à fendilhação/fissuração das argamassas recorreu ao

acompanhamento das argamassas aplicadas nas “calhas metálicas” e das argamassas aplicadas

como camadas de revestimento de tijolos.

Após a execução destes provetes, procedeu-se à sua inspecção visual de forma regular ao longo do

tempo, nomeadamente às idades tidas como referência e durante a primeira semana após a

preparação dos provetes. Estas inspecções foram realizadas com o objectivo de identificar a

presença de fendas/fissuras, essencialmente nos topos e no centro das calhas, e proceder à sua

documentação através de registos fotográficos e da avaliação da sua abertura por recurso a lupa

binocular portátil específica para o efeito.

A avaliação de abertura de fendas/fissuras foi efectuada em pequenos segmentos ao longo da

extensão da fenda/fissura, com aproximadamente um centímetro de comprimento.

4. Apresentação, análise e discussão de resultados

O presente capítulo procede à caracterização no estado fresco e endurecido das argamassas

estudadas.

A caracterização no estado endurecido das argamassas aqui apresentada corresponde às

características avaliadas aos 14, 28, 60 e 90 dias de idade. Foi dado ênfase aos resultados obtidos

aos 90 dias de idade pela possibilidade de comparação de resultados das 4 formulações de

argamassa e pela análise dos comportamentos obtidos face aos ensaios de cristalização de sais

realizados.

No decorrer deste capítulo apresentar-se-á sempre que se justifique, alguns dos resultados obtidos

por Agostinho (7) no seu estudo.

4.1. Caracterização das argamassas no estado fresco

O Quadro 4.1 apresenta os resultados da caracterização das argamassas no estado fresco.

Page 56: Tese 2,8 MB

47

Quadro 4.1 - Consistência por espalhamento, massa volúmica aparente e retenção de água das

argamassas

Argamassa

Traço Relação A/L

Consistência espalhamento

[mm]

Massa volúmica aparente [kg/m3]

Retenção de água

[%] Vol. Massa

Referência Agostinho (7) 1 : 3 1 : 8 1,62 165 - 99

Igual Relação A/L

I 1 : 2,5 1 : 6,7 1,62

217 1970 92

II 1 : 3,5 1 : 9,3 127 1860 93

Igual consistência

I a) 1 : 2,5 1 : 6,7 1,38 165

1970 -

II a) 1 : 3,5 1 : 9,3 1,84 1950 -

De acordo com o Quadro 4.1 é possível constatar que, para a mesma relação água/ligante, a

consistência por espalhamento das argamassas I e II é bastante dispare, fruto dos diferentes traços

volumétricos, obtendo-se assim valores de espalhamento bastante diferentes. No caso das

argamassas I a) e II a) os traços volumétricos foram estabelecidos bem como a consistência de

165mm. Deste modo, o estabelecimento da relação A/L das argamassas I a) e II a) obrigou à

execução de diversas amassaduras até serem obtidos os valores em questão.

A Figura 4.1 apresenta a consistência e a relação A/L das argamassas estudadas em função dos

diferentes traços volumétricos. A inclusão dos resultados de Agostinho (7) nestes gráficos permite

verificar que quanto maior for a dosagem de agregados, menor será a consistência obtida para

argamassas com igual relação A/L. Por outro lado, o aumento da dosagem de agregado de uma

argamassa acompanha o aumento da relação A/L em argamassas com igual consistência. Em ambos

os casos, a diminuição, bem como o aumento verificado ocorrem a taxa constante.

Figura 4.1 - Consistência por espalhamento das argamassas I e II com A/L=1,62 (esq.) e relação A/L

necessária para a obtenção de 165 mm de espalhamento (I a e II a)

50

100

150

200

250

1 : 2,5 1 : 3 1 : 3,5

Esp

alh

amen

to [m

m]

Traço Volumétrico

A/L = 1,62

1,2

1,4

1,6

1,8

2

1 : 2,5 1 : 3 1 : 3,5

Re

laçã

o A

/L

Traço volumétrico

Espalhamento = 165 mm

Page 57: Tese 2,8 MB

48

As consistências apresentadas pelas argamassas I e II poderão dificultar o manuseamento e

consequente aplicação destas argamassas em suportes devido a excesso ou défice de fluidez. Este

facto não se verifica nas argamassas I a) e II a), visto ter-se fixado a consistência de ambas em

165mm, apesar da diferença verificada na razão A/L.

O valor médio das determinações da massa volúmica é apresentado no Quadro 4.1. A análise deste

quadro permite-nos concluir que as argamassas que possuem maior teor em ligante, apresentam

maiores valores de massa volúmica aparente. Este facto verifica-se na comparação das argamassas

que apresentam a mesma relação A/L, e ainda nas que apresentam a mesma consistência de

espalhamento. Porém estes resultados não estão em sintonia com os obtidos por Agostinho.

Por último, o Quadro 4.1 apresenta ainda os valores referentes ao ensaio de retenção de água. Os

resultados obtidos foram da mesma ordem de grandeza dos obtidos por Agostinho (7), 99%, apesar

de ambos serem inferiores. A diferença registada entre a argamassa I e II é praticamente inexistente.

Segundo Guerreiro (12), a progressiva redução de percentagem de cal aérea na formulação das

argamassas reduz a sua capacidade de retenção de água. Este facto não se verificou nestas duas

formulações, dada a semelhança dos valores obtidos entre a argamassa I e II e ainda pelo facto de a

formulação de Agostinho ter apresentado uma retenção de água superior à registada para a

argamassa I.

4.2. Caracterização das argamassas no estado endurecido

4.2.1. Caracterização mecânica

4.2.1.1. Resistência à flexão e compressão

O andamento das curvas da Figura 4.2 permitem verificar a tendência das argamassas I e II de

apresentarem resistência mecânica semelhante aos 90 dias de idade. Às idades tidas como

referência, a argamassa II (1:3,5) apresentou maior resistência mecânica à compressão, tendo o

mesmo sido verificado nos primeiros 60 dias para a resistência mecânica à flexão, Quadro 4.2.

Page 58: Tese 2,8 MB

49

Figura 4.2 - Evolução da resistência à flexão e à compressão das argamassas

Aos 90 dias de idade, tal como referido, procedeu-se à caracterização mecânica das argamassas

Arg. I a) e Arg. II a). A Arg. I a) revelou resistência à compressão ligeiramente superior à Arg. I e igual

resistência à flexão do que a Arg. II a), Figura 4.3.

Quadro 4.2 - Resistência à Flexão e Compressão

das argamassas estudadas

Ensaio Flexão [MPa]

Compressão [MPa]

Argamassa I II I II

Idade [

dia

s] 14 0,16 0,19 0,34 0,44

28 0,21 0,26 0,48 0,62

60 0,26 0,27 0,65 0,78

90 0,29 0,28 0,76 0,80

Argamassa I a II a I a II a

90 dias 0,31 0,31 0,89 0,83

Figura 4.3 - Resistência à compressão e à flexão

aos 90 dias das argamassas estudadas

Apesar de todas as diferenças verificadas entre estas quatro argamassas, obtiveram-se valores de

resistências mecânicas muito semelhantes entre si aos 90 dias, Quadro 4.2 e Figura 4.3.

Comparando estes valores com os obtidos por Agostinho, Figura 4.4, é possível verificar que não se

registaram variações significativas da resistência mecânica à compressão e à flexão, aos 90 dias de

idade, em função do traço volumétrico, tanto para as argamassas formuladas com igual A/L (1,62),

como com igual consistência (165 mm).

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0 25 50 75 100

Ten

são

de r

otu

ra à

co

mp

ressão

(M

Pa)

Ten

são

de r

otu

ra à

fle

xão

(M

Pa)

Idade (dias)

Arg. I (Rf) Arg. II (Rf)

Arg. I (Rc) Arg. II (Rc)

0,29 0,310,28

0,31

0,76

0,890,80 0,83

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

Arg I Arg I a Arg II Arg II a

Ten

es r

otu

ra (

MP

a)

90 dias

Flexão Compressão

Page 59: Tese 2,8 MB

50

Figura 4.4 - Tensões de rotura à flexão e à compressão, aos 90 dias, para argamassas com razão

A/L=1,62 ou 165 mm de espalhamento, segundo os traços volumétricos estudados

4.2.1.2. Velocidade de propagação de ultra-sons

A velocidade de propagação de ultra-sons foi avaliada às idades tidas como referência, tanto em

provetes prismáticos, como em argamassas aplicadas como revestimento de tijolos, Quadro 4.3.

Quadro 4.3 - Velocidade de propagação de ultra-sons em provetes prismáticos e em argamassas

aplicadas como revestimento de tijolos (m/s)

Argamassa Provetes prismáticos Revestimento de tijolos

I II I a II a I II

Idade (

dia

s) 14 1240 1330

- -

720 420

28 1340 1400 1020 850

60 1420 1440 600 360

90 1430 1470 1430 1470 1100 890

A Figura 4.5 permite verificar que foram obtidos valores crescentes de velocidade para ambas as

argamassas, I e II ao longo do tempo, evidenciando assim, um aumento gradual da resistência

mecânica no tempo.

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1 :2,5 1 : 3 1 : 3,5

Ten

são

de

rotu

ra (M

pa)

Traço volumétrico

Rf - 90 dias Rc - 90 dias

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1 :2,5 1 : 3 1 : 3,5

Ten

são

de

ro

tura

(Mp

a)

Traço volumétrico

Rf - 90 dias Rc - 90 dias

A/L=1,62 Espalhamento = 165mm

Page 60: Tese 2,8 MB

51

Figura 4.5 - Evolução da velocidade de ultra-sons em prismas

A correlação estabelecida entre os valores das tensões de rotura à compressão e flexão e a

velocidade de propagação de ultra-sons das argamassas I e II ao longo do tempo é apresenta na

Figura 4.6. A análise desta figura permite verificar que se obteve uma boa correlação entre os

resultados da velocidade de ultra-sons e as tensões de rotura à compressão e flexão, bem como a

semelhança destas argamassas, em termos das características mecânicas analisadas, a idades

avançadas (60/90 dias).

Figura 4.6 - Correlação entre a velocidade de propagação de ultra-sons e a resistência mecânica à

compressão (Rc) e flexão (Rf)

Os registos de velocidade de propagação de ultra-sons aos 90 dias apresentaram valores

semelhantes para as argamassas com o mesmo traço volumétrico, independentemente da

consistência e da razão A/L adoptada em cada formulação, Figura 4.7.

1240

1340

1420 1430

1330

1400

14401470

1200

1300

1400

1500

14 28 60 90

velo

cid

ade

de

pro

pag

açã

o d

e

ult

ra-s

on

s (m

/s)

Idade (dias)

Arg. I

Arg. II

R² = 0,9373R² = 0,974

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1200 1300 1400 1500

Rc

(Mp

a)

Velocidade (m/s)

Arg. I Arg. II

R² = 0,9603

R² = 0,9165

0,15

0,17

0,19

0,21

0,23

0,25

0,27

0,29

0,31

1200 1300 1400 1500

Rf (

Mp

a)

Velocidade (m/s)

Arg. I Arg. II

Page 61: Tese 2,8 MB

52

Figura 4.7 - Velocidade de ultra-sons em prismas aos 90 dias de idade

A análise da Figura 4.7 apresenta uma variação de 40 m/s entre as argamassas com traço

volumétrico 1:3,5 e as argamassas com traço volumétrico 1:2,5, tendo sido registado valores menores

de velocidade de propagação de ultra-sons em argamassas com maior teor em ligante. Contudo, a

diferença de velocidade verificada não é suficiente para concluir que estas 4 formulações apresentem

diferenças de resistência mecânica aos 90 dias. No entanto, seria espectável que a argamassa I a)

apresenta-se maiores registos de velocidade, dado o seu traço e consistência adoptada (165mm). A

formulação de Agostinho (7), traço 1:3, apresentou a esta idade valores de velocidade de propagação

de ultra-sons da ordem dos 1710 m/s, valor bastante superior ao obtido nas formulações aqui em

estudo.

A Figura 4.8 apresenta os valores de propagação de ultra-sons em tijolos, aos 90 dias de idade,

determinados nas argamassas I e II. È possível constatar que a argamassa I apresentou o maior

valor de velocidade de propagação de ultra-sons (1100 m/s), quando comparada com a argamassa II

(890 m/s).

Figura 4.8 - Ultra-sons em argamassas aplicadas como camada de revestimento

de tijolos aos 90 dias de idade

1430 1430

1470 1470

1400

1420

1440

1460

1480

Arg I [1:2,5]

Arg I a [1:2,5]

Arg II [1:3,5]

Arg II a [1:3,5]

Ve

loci

dad

e p

rop

aga

ção

de

ult

ra-

son

s (m

/s)

90 dias

y = 0,1102x - 10,18R² = 0,9441

y = 0,0894x - 2,4209R² = 0,9888

4

6

8

10

12

14

16

18

0 100 200 300

Dis

tân

cia

[cm

]

T empo propagação [µs]

Arg. I

Arg. II

Linear (Arg. I)

Linear (Arg. II)

Page 62: Tese 2,8 MB

53

Os valores da velocidade de propagação de ultra-sons avaliados na argamassa I aplicada como

camada de revestimentos de tijolos, Figura 4.9, foram sempre superiores ao obtido na argamassa II.

Esta tendência aqui registada não corresponde à identificada na análise dos resultados da

caracterização mecânica realizada nos provetes prismáticos. Os maiores valores de velocidade de

ultra-sons registados na argamassa I (1:2,5) quando aplicada como camada de revestimento podem

justificar-se pelo facto do processo de compactação utilizado ter originado maior compacidade.

Os valores de velocidade de propagação de ultra-sons obtidos aos 60 dias de idade, em ambas as

argamassas, foram excluídos da análise da evolução da velocidade de ultra-sons em argamassas

aplicadas como revestimento de tijolos, Figura 4.9, perante os valores apresentados. Os

revestimentos de tijolos analisados aos 60 dias não apresentavam indícios de fissuração. Presume-se

ter ocorrido erro na leitura das velocidades, ou problemas com o equipamento. Excepção feita aos

registos determinados aos 60 dias de idade, a velocidade de ultra-sons em argamassas aplicadas

como revestimento de tijolos aumentou gradualmente ao longo do tempo.

Figura 4.9 - Evolução da velocidade de ultra-sons em argamassas aplicadas como camadas de

revestimento de tijolos

4.2.1.3. Esclerómetro pendular

A Figura 4.10 e o Quadro 4.4 apresentam os valores de ressalto obtidos ao longo do tempo para as

argamassas I e II, sendo possível observar que em ambas se registou um aumento gradual dos

valores de ressalto e, de modo geral, coerentes com os valores das tensões de rotura à compressão.

200

400

600

800

1000

1200

14 28 60 90

Vel

oci

dad

e (m

/s)

Idade (dias)

Arg. I

Arg. II

Arg. I*

Arg. II*

Page 63: Tese 2,8 MB

54

Quadro 4.4 - Valores médios do ressalto nas

argamassas estudadas

Argamassa

Valor do ressalto

I II

Idade (

dia

s)

14 23 23

28 28 32

60 32 34

90 37 43

Figura 4.10 - Valores de ressalto obtidos nas

argamassas Arg. I e Arg. II ao longo do tempo

Importa referir que a camada de revestimento de ambas as argamassas, ensaiadas aos 14 dias,

destacaram-se durante a realização do ensaio, Figura 4.11. Esta ocorrência não voltou a registar-se

nas camadas de revestimento ensaiadas nas restantes idades.

Figura 4.11 - Destruição do reboco aos 14 dias devido ao impacto do esclerómetro pendular

Como se pode observar na Figura 4.12, obteve-se boa correlação entre os valores da resistência

mecânica à compressão e o ressalto, sendo que a argamassa I apresenta coeficientes de correlação

superiores aos obtidos na argamassa II. Constata-se ainda que, o ressalto obtido pelo esclerómetro é

tanto maior, quanto maior for a resistência mecânica à compressão.

20

25

30

35

40

45

14 28 60 90

Re

ssal

to

Idade (dias)

Arg. I Arg. II

Page 64: Tese 2,8 MB

55

Figura 4.12 - Correlação entre os valores da tensão de rotura à compressão e do ressalto

4.2.1.4. Ensaio de arrancamento por tracção “Pull off”

As argamassas Arg. I e Arg. II revelaram tensões de arrancamento semelhantes, Figura 4.13. No

entanto, a argamassa Arg. I apresentou uma rotura coesiva pela argamassa, enquanto que a

argamassa II revelou uma rotura parcialmente adesiva e coesiva pela argamassa, Figura 4.14. As

diferenças obtidas nos modos de rotura das argamassas justificam-se, possivelmente, devido ao facto

de as argamassas apresentarem consistências claramente distintas. A elevada fluidez da argamassa

I terá facilitado a aderência, enquanto que a menor fluidez da argamassa II terá prejudicado a

aderência ao suporte.

Figura 4.13 - Ensaio de arrancamento

R² = 0,9866

R² = 0,8332

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

20 25 30 35 40 45

Rc

(Mp

a)

Ressalto

Arg. I

Arg. II

Linear (Arg. I)

Linear (Arg. II)

0,043

0,038

0,00

0,01

0,02

0,03

0,04

0,05

90

Ten

são

de

arr

anca

men

to (M

Pa

)

Idade (dias)

Arg. I

Arg. II

Page 65: Tese 2,8 MB

56

Arg. I – [1:2,5] Arg. II – [1:3,5]

Figura 4.14 - Resultado do ensaio de arrancamento

4.2.2. Caracterização Física

4.2.2.1. Porosidade / Massa Volúmica

A Figura 4.15 apresenta a evolução dos valores de porosidade das argamassas Arg. I e Arg,. II ao

longo do tempo.

Figura 4.15 - Evolução da porosidade das argamassas no tempo

A argamassa I apresenta maior porosidade do que a argamassa II ao longo de todo o período de

estudo. Os valores de porosidade encontram-se de acordo com os comportamentos revelados por

ambas as argamassas no âmbito da sua caracterização física e mecânica.

A porosidade de uma argamassa é essencialmente condicionada pela quantidade de ligante, água de

amassadura e compacidade da mistura. As areias utilizadas em ambas as formulações foram

idênticas, muito embora a argamassa II possua maior quantidade de areia e o processo de

compactação de ambas as argamassas na execução dos provetes foi idêntico. Assim, seria

espectável que a argamassa que apresentasse maior quantidade de ligante exibisse menor volume

de vazios, pois ambas as argamassas possuem a mesma razão A/L. Contudo ao manter esta razão e

26,0

27,0

28,0

29,0

30,0

31,0

0 20 40 60 80 100

Po

rosi

dad

e (%

)

Idade (dias)

Arg. I (1:2,5) A/L=1,62

Arg. II (1:3,5) A/L=1,62

Page 66: Tese 2,8 MB

57

variando o traço, atribui-se diferentes quantidades de água de amassadura às formulações. A

argamassa Arg. I possui 17,4% de água na sua formulação enquanto a argamassa Arg. II possui

13,6%. Durante a fase de cura das argamassas, a água de amassadura é evaporada originando

vazios. A diferença de água de amassadura destas formulações exerceu maior influência na

porosidade das argamassas do que a diferença do teor em ligante.

Importa realçar que os resultados obtidos apontam para o incremento da porosidade com a idade das

argamassas. Segundo estudos anteriores, (15) e (5), não seria espectável, pois a carbonatação

origina diminuição da dimensão dos poros. Todavia, as argamassas de cal aérea são muito friáveis,

factor que tende a diminuir com o aumento da idade.

Quadro 4.5 - Massa volúmica e porosidade aberta das argamassas estudadas

Ensaio Porosidade aberta (%) Massa volúmica aparente (kg/m3)

Massa volúmica real (kg/m3)

Argamassa I II I II I II

Idade [

dia

s] 14 29.0 27.2 1840 1840 2590 2590

28 28.8 27.5 1850 1890 2600 2600

60 29.1 27.3 1840 1890 2600 2600

90 29.4 28.4 1840 1880 2610 2620

Argamassa I a II a I a II a I a II a

90 dias 28.0 28.1 1870 1880 2600 2610

A Figura 4.16 e o Quadro 4.5 ilustram os valores obtidos na determinação da porosidade para as 4

formulações de argamassas estudadas aos 90 dias.

Figura 4.16 - Porosidade das argamassas aos 90 dias de idade

29,4

28,4

28,0 28,1

27

28

29

30

Arg. I Arg. II Arg. I a Arg. II a

Po

rosi

dad

e ab

erta

(%)

90 dias

Page 67: Tese 2,8 MB

58

Os resultados permitem verificar a influência da consistência nos valores da porosidade, dado que as

argamassas I a) e II a) revelaram porosidade inferior às argamassas que relativamente a elas se

apresentaram, argamassa I e II, respectivamente.

A importância de formular argamassas com trabalhabilidade adequada está patente na comparação

dos valores de porosidade das formulações I e I a), com o mesmo teor em ligante.

A Figura 4.17 apresenta os valores de massa volúmica aparente e real das argamassas aos 90 dias

de idade e o Quadro 4.5 apresenta estes mesmos valores a todas as idades estudas.

Figura 4.17 - Massa volúmica aparente e real das argamassas

Os valores de massa volúmica aparente verificados estão de acordo com a porosidade aberta

registada aos 90 dias de idade. Quanto maior for a porosidade de uma argamassa menor será a sua

massa volúmica aparente. A argamassa Arg. I apresenta o menor valor de massa volúmica aparente

e as restantes formulações apresentam valores muito próximos, à semelhança do ocorrido na

determinação da porosidade.

4.2.2.2. Absorção de água por capilaridade

A Figura 4.18 apresenta as curvas de absorção de água por capilaridade dos provetes ensaiados aos

90 dias de idade, durante todo o período de ensaio. É notória a dificuldade em analisar o andamento

das curvas nos instantes iniciais do ensaio. Esta adversidade foi colmatada através da análise da

Figura 4.19, a qual apresenta a evolução das curvas da Figura 4.18 durante os primeiros 60 minutos

deste ensaio.

1840

1880

1870

1880

1800

1820

1840

1860

1880

1900

Arg. I Arg. II Arg. I a Arg. II a

Mas

sa v

olú

mic

a ap

are

nte

(kg/

m3 )

90 dias

26102620

26002610

2500

2530

2560

2590

2620

2650

Arg. I Arg. II Arg. I a Arg. II a

Mas

sa v

olú

mic

a re

al (

kg/m

3 )

90 dias

Page 68: Tese 2,8 MB

59

Figura 4.18 - Curvas de absorção de água por capilaridade – valores médios de

2 provetes / argamassa aos 90 dias

Figura 4.19 - Curvas de absorção de água por capilaridade – valores médios de

2 provetes / argamassa, aos 90 dias – período de ensaio: 0-60 min

Analisando os resultados obtidos aos 90 dias, foi possível constatar que as argamassas com maior

percentagem de teor em ligante apresentaram curvas de absorção semelhantes, Figura 4.18 e Figura

4.19, e coeficientes de capilaridade superiores às argamassas com menor teor em ligante, Quadro

4.6. Por outro lado, a argamassa II exibe em simultâneo o menor coeficiente de capilaridade e a

menor absorção de água, expressa graficamente pelo valor assintótico.

Por último, a Figura 4.18 revela que a saturação das argamassas ocorre aproximadamente em

simultâneo, em termos de consistência ou relação A/L apresentada por cada argamassa,

independentemente do traço apresentado.

0

5

10

15

20

25

30

35

0 500 1000 1500 2000 2500

ΔM

/S [

kg

/m2]

√(s)

Arg. I

Arg. II

Arg. I a

Arg. II a

0

2

4

6

8

10

12

14

0 20 40 60

ΔM

(S [

kg/m

2)

√(s)

Arg. I

Arg. II

Arg. I a

Arg. II a

Page 69: Tese 2,8 MB

60

Quadro 4.6 - Coeficiente de capilaridade (C.C) e valores assintóticos das

argamassas aos 90 dias

Argamassa Traço Vol.

Relação A/L

Consistência espalhamento

[mm]

C.C. (kg/m2.√s)

V.A. (kg/m2) (*)

I 1 : 2,5 1,62

217 0,226 32,0

II 1 : 3,5 127 0,168 27,1

I a) 1 : 2,5 1,38 165

0,223 31,6

II a) 1 : 3,5 1,84 0,195 28,7

(*) Valores determinados ao fim de 30 dias

A Figura 4.20 e o Quadro 4.7 apresentam a evolução dos valores dos coeficientes de capilaridade

das argamassas I e II ao longo do tempo. Este parâmetro não apresentou oscilações consideráveis

ao longo do tempo, em ambas as argamassas, e constata-se que a argamassa I apresentou em

todas as idades coeficiente de capilaridade superiores aos apresentados pela argamassa II.

Quadro 4.7 - Coeficientes de capilaridade das

argamassas I e II

Coeficiente de capilaridade (kg/m2.√s)

Argamassa I II

Idade [

dia

s]

14 0.228 0.196

28 0.236 0.192

60 0.25 0.211

90 0.226 0.168

Figura 4.20 - Evolução dos coeficientes de

capilaridade das argamassas I e II

A bibliografia consultada recomenda valores de coeficientes de capilaridade da ordem dos 0,13 a

0,20 (kg/m2.√s) para argamassas de rebocos de edifícios antigos (38), (5), (32), (39). A argamassa

estudada por Agostinho (7) apresentou valores superiores aos recomendados (0,41 kg/m2. √s), bem

como ambas as argamassas I e I a), ainda que apresentando valores ligeiramente superiores ao

recomendado.

0,00

0,05

0,10

0,15

0,20

0,25

0,30

14 28 60 90

Co

efic

ien

te c

apila

rid

ade

(kg/

m2 .

√s)

Tempo (dias)

Arg. I Arg. II

Page 70: Tese 2,8 MB

61

4.2.2.3. Teor em água após imersão em água

A Figura 4.21 e o Quadro 4.8 apresentam o valor do teor em água, após 48h de imersão em água,

das argamassas, sendo notória a diferença registada entre as argamassas I e II ao longo do tempo. A

argamassa I, como esperado, apresenta maiores valores de teor em água em todas as idades. Este

facto era espectável visto ambas as argamassas possuírem a mesma razão A/L e diferentes traços.

Esta conjuntura proporciona que a argamassa I seja mais fluida do que a argamassa II, tendo 17,4%

de água na sua amassadura perante os 13,6% de água na amassadura da argamassa II. Esta

diferença de água nas amassaduras proporciona à argamassa I maior capacidade de absorção e

porosidade.

Este facto superou a diferença de ligante existente nas duas formulações, pois seria espectável que a

argamassa com mais ligante originasse menos poros, logo menor absorção de água às 48 horas.

Quadro 4.8 - Teor em água das argamassas às

diferentes idades

Teor em água (%)

Argamassa I II

Idade [

dia

s] 14 10.5 8.7

28 10.6 9.1

60 10.7 8.8

90 10.3 8.6

Argamassa I a II a

90 dias 2.8 2.0 Figura 4.21 - Evolução do teor em água das

argamassas I e II

Ao comparar as quatro formulações aos 90 dias, Figura 4.22, é possível averiguar que as

argamassas I e II distinguem-se das I a) e II a) por absorverem maiores quantidades de água, Figura

4.22. Não seria espectável que as argamassas I a) e II a) apresentassem valores tão baixos quando

comparados com o valor obtido por Agostinho para uma argamassa com traço volumétrico de 1:3 e

relação A/L de 1,62 (9,4).

Destaca-se ainda o facto de a argamassa I a) apresentar teor em água ligeiramente superior à

argamassa II a), tendo ambas a mesma consistência. Seria espectável o contrário, visto a argamassa

I a) apresentar maior teor em ligante e menor relação A/L (1,38).

6,0

7,0

8,0

9,0

10,0

11,0

12,0

14 28 60 90

W48

h (

%)

Idade (dias)

Arg. I Arg.II

Page 71: Tese 2,8 MB

62

Figura 4.22 - Teor em água das argamassas aos 90 dias de idade

4.2.2.4. Absorção de água sob baixa pressão “método do cachimbo”

O estudo da absorção de água, sob baixa pressão, pelo método do cachimbo foi realizado até aos 2

minutos, sendo possível comparar a capacidade de absorção de todas as argamassas.

A Figura 4.23 revela a grande diferença da capacidade de absorção das duas argamassas aos 90

dias de idade, para os primeiros 2 minutos de ensaio. Neste gráfico recorreu-se a funções polinomiais

para proceder ao ajustamento dos valores obtidos. A argamassa I revelou claramente maior

capacidade de absorção do que a manifestada pela argamassa II.

Figura 4.23 - Absorção de água sob baixa pressão aos 90 dias

A maior capacidade de absorção da argamassa I manifestou-se em todas as idades de estudo, tal

como é possível verificar na Figura 4.24, para os primeiros 2 minutos de ensaio.

10,3

8,6

2,82,0

0,0

2,0

4,0

6,0

8,0

10,0

12,0

Arg. I [1:2,5]

Arg.II [1:3,5]

Arg. I a. [1:2,5]

Arg. II a. [1:3,5]

w 4

8ho

ras

(%)

90 dias

y = 0,0015x2 + 0,0335x - 0,0041R² = 0,9596

y = 0,0012x2 + 0,0059x - 0,0017R² = 0,9562

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,0 5,0 10,0 15,0

Ab

s. Á

gua

sob

bai

xa p

ress

ão (g

/cm

2)

Tempo *√(s)+

Arg. I

Arg. II

Page 72: Tese 2,8 MB

63

Figura 4.24 - Evolução da absorção de água sob baixa pressão das argamassas

através de curvas de regressão

Este comportamento encontra-se de acordo com o verificado nos ensaios de determinação de

absorção de água por capilaridade, do teor em água às 48 horas e da determinação da porosidade.

De notar ainda que as argamassas apresentam evoluções distintas da evolução das suas taxas de

absorção. À excepção dos valores registados aos 90 dias, a argamassa I tende a aumentar a

capacidade de absorção, enquanto por sua vez, a argamassa II tende a diminuir, Figura 4.25 e

Quadro 4.9.

Quadro 4.9 - Água absorvida ao fim de 2

minutos, argamassas I e II , às idades de

referência

Abs. água sob baixa pressão (g/cm2)

Argamassa I II

Idade [

dia

s]

14 0.53 0.26

28 0.61 0.25

60 0.66 0.18

90 0.55 0.21

Figura 4.25 - Água Absorvida ao fim de 2 minutos, por

cada argamassa, às idades de referência

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0

Ab

s. Á

gu

a s

ob

baix

a p

ressão

(g

/cm

2)

Tempo [√(s)]

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

14 28 60 90

Ab

s. á

gua

sob

bai

xa p

ress

ão (g

/cm

2 )

Tempo (dias)

Arg. I Arg. II

Page 73: Tese 2,8 MB

64

4.2.2.5. Determinação da espessura carbonatada

O fenómeno da carbonatação ocorre pela reacção do dióxido de carbono da atmosfera com o

hidróxido de cálcio presente nas argamassas, formando carbonato de cálcio e água. Durante este

processo ocorre a redução do valor do pH do hidróxido de cálcio de 12,5 para aproximadamente 8,3.

Perante estas diferenças de pH é possível estudar a profundidade de carbonatação de uma

argamassa, utilizando uma solução de fenolftaleína. Segundo Ferreira Pinto et al. (40) a taxa de

carbonatação depende de vários factores, dos quais se destacam a permeabilidade da argamassa e

a humidade relativa a que as argamassas estão sujeitas. A carbonatação ocorrerá tanto mais

rapidamente quanto maior for a permeabilidade e se a humidade relativa se mantiver entre 55 e 75%.

A taxa de carbonatação, para além de estar associada à porosidade e à humidade relativa, reflecte

directamente o grau de endurecimento de uma argamassa de cal aérea e a sua consequente

resistência mecânica.

A Figura 4.26 apresenta o valor da espessura carbonatada, ao longo do tempo das argamassas

estudadas.

Figura 4.26 - Espessura carbonatada

A Figura 4.26 e o Quadro 4.10 permitem observar que a argamassa II apresentou valores de

espessura carbonatada ligeiramente superiores aos da argamassa I, com excepção dos resultados

obtidos aos 14 dias. Este facto está em sintonia com os valores de resistência mecânica,

determinados para estas argamassas, muito embora a argamassa II apresente menor porosidade do

que a I, pelo que não seria espectável esta apresentar maior espessura de carbonatação. Tal poderá

justificar-se pelo facto de possuir menor quantidade de ligante a carbonatar, para o mesmo volume de

argamassa.

0

5

10

15

20

25

14 28 60 90

Esp

. C

arb

on

ata

da (

mm

)

Idade (dias)

Arg. I

Arg. II

0

5

10

15

20

25

Arg. I Arg. II Arg. I a Arg. II a

Esp

. Carb

on

ata

da

(mm

)

90 dias

Page 74: Tese 2,8 MB

65

Quadro 4.10 - Espessura carbonatada

Espessura carbonatada (mm)

Argamassa I II

Idade (

dia

s) 14 3 2

28 7 8

60 11 12

90 18 19

Argamassa I a II a

90 dias 14 17

As argamassas Arg. I a) e arg. II a) com igual consistência revelaram valores de espessura

carbonatada menores do que as restantes, o que se encontra de acordo com os valores de

porosidade avaliadas. Todavia, estas argamassas apresentam, à mesma idade, valores mais

elevados de resistências mecânicas, o que poderá ser explicado pela compacidade que estas

argamassas apresentam, dada a menor porosidade verificada.

As argamassas que possuem maior teor em ligante, tanto no que se refere às formulações com a

mesma relação A/L como as que apresentam a mesma consistência revelam menores valores de

espessura carbonatada.

4.2.2.6. Avaliação da cinética de secagem

A avaliação da cinética de secagem foi efectuada para todas as formulações de argamassa

estudadas aos 90 dias em 3 provetes por argamassa.

Todos os provetes de cada uma das argamassas apresentaram curvas de secagem muito

semelhantes, razão que motivou à opção de apresentação das suas respectivas curvas médias.

As Figura 4.27 e Figura 4.28 ilustram a secagem das argamassas e possibilitam a determinação do

índice de secagem.

Figura 4.27 - Cinética de secagem das argamassas aos 90 dias

0,0

2,0

4,0

6,0

8,0

10,0

12,0

0 5 10 15 20 25 30

Teo

r em

águ

a (%

)

Tempo (dias)

Arg. I

Arg. II

Arg. I a

Arg. II a

Page 75: Tese 2,8 MB

66

As quatro argamassas apresentaram curvas de secagem, teores em água iniciais e períodos de

secagem muito semelhantes, Figura 4.27.

As argamassas I a) e II a) possuem índices de secagem ligeiramente superiores, evidenciando uma

taxa de secagem inferior às argamassas I e II. Assim as formulações que manifestaram menor índice

de secagem foram as mesmas que revelaram os maiores valores de porosidade, a qual facilita a

secagem.

Face ao estudo de Agostinho (7) seria espectável que as argamassas I a) e II a) apresentassem

valores do índice de secagem superiores, visto ter sido obtido 0,59 nesse trabalho. Tal diferença

poderá explicar-se por diferentes condições ambientais a que os provetes estiveram sujeitos.

A Figura 4.28 apresenta as curvas de secagem de água e solução salina das argamassas I e II.

Figura 4.28 - Comparação da cinética de secagem após imersão em água

potável e em solução salina

A diferença verificada no processo de secagem das diferentes argamassas, envolvendo água e

solução salina é clara e notória. As argamassas sujeitas à secagem de água estabilizaram a sua

massa aos 23 dias de ensaio, apresentando um declive das suas curvas acentuado, enquanto que

quando sujeitas à secagem de solução salina apenas estabilizaram o seu teor em água ao fim de 70

dias.

O Quadro 4.11 apresenta os valores de índice de secagem das argamassas aos 90 dias.

0,0

2,0

4,0

6,0

8,0

10,0

12,0

0 20 40 60 80

Teo

r em

águ

a [%

]

Tempo (dias)

I (água)

II (água)

I (s. salina)

II (s.salina)

Page 76: Tese 2,8 MB

67

Quadro 4.11 - Valores médios do índice de secagem e do teor em água e em

solução salina no inicio do ensaio

Argamassa Teor inicial [%] Índice de secagem médio Nº

ensaios Água Solução salina Água Solução salina

I 10,2 11,21 0,188 0,362 3

II 8,4 9,32 0,182 0,327 3

I a 9,9 - 0,218 - 3

II a 9,3 - 0,198 - 3

Para além da diferença verificada no tempo de secagem dos provetes, o índice de secagem indica

que os provetes expostos a solução salina, não chegam a secar de forma tão completa quanto aquela

que se regista para a secagem de água. Tal facto encontra-se relacionado com a formação de cristais

de cloreto de sódio, os quais obstruem os poros e dificultam a saída de água.

4.2.3. Comportamento das argamassas face à cristalização de sais

O presente trabalho considerou 3 procedimentos para estudar o comportamento das argamassas

face a fenómenos de cristalização de sais. Em todas elas foi utilizada uma solução de cloreto de

sódio com uma concentração de 15% e no final os provetes foram objecto de dessalinização. O

Quadro 4.12 apresenta os valores da condutividade da água medidos no inicio e fim do processo de

dessalinização, em cada situação estudada. Os provetes foram, numa primeira fase, mergulhados em

água potável e, em fase mais avançada da dessalinização, mergulhados em água destilada, de

acordo com a Figura 4.29.

Quadro 4.12 - Condutividade da água utilizada na dessalinização dos provetes

Condutividade [µS]

Procedimento Arg. I Arg. II Água da

torneira Inicio Fim Inicio Fim

I 969 111,6 792 120,3

315 II a) 3110 81,3 2700 77,4

II b) 2470 98,2 1502 77,8

O processo de dessalinização demorou várias semanas e foi considerado terminado quando os

valores de condutividade da água de dessalinização atingiram valores inferiores aos da água da rede

pública, dada a dificuldade de garantir valores nulos, devido ao tempo necessário para o efeito.

Page 77: Tese 2,8 MB

68

Figura 4.29 - Dessalinização dos provetes

Os provetes utilizados nos três procedimentos foram contaminados por recurso a uma solução de

cloreto de sódio com uma concentração de 15%, porém o período em que estiveram expostos a esta

solução foi diferente. Independentemente deste facto, o procedimento I permitiu contaminar uma

maior percentagem do provete, motivo pelo qual a sua dessalinização foi mais demorada, expresso

pela maior condutividade da água no fim do processo de dessalinização. Nos restantes

procedimentos, a condutividade obtida para a água de dessalinização foi semelhante no final do

processo, facto que evidencia que os provetes degradados pelo procedimento II a) podem ter sido

objecto de um processo de dessalinização mais completo, Quadro 4.12.

4.2.3.1. Procedimento I

O Quadro 4.13 resume de forma simplificada as quantidades de solução salina e de água destilada

utilizada no processo de degradação dos provetes durante os ciclos de molhagem/secagem. A Figura

4.30 ilustra a ocorrência da cristalização de sais à superfície dos provetes.

Figura 4.30 - Cristalização de sais à superfície dos provetes

Page 78: Tese 2,8 MB

69

Quadro 4.13 - Cristalização de sais. Procedimento I (4ciclos realizados)

Monta

gem

Argamassa Arg. I (90 dias) Arg. II (90 dias)

Provete proveniente do ensaio de:

Absorção de água por capilaridade

Teor em água às 48h

Absorção de água por capilaridade

Teor em água às 48h

Massa do provete após secagem em estufa [g]

461,13 459,08 457,69 463,59 463,7 463,77

Solu

ção s

alin

a

Nº de adição de solução salina + uma semana de secagem

4 4

Total de solução salina adicionada [ml]

59,91 59,95 59,87 60,06 59,92 59,97

Quantidade média de solução salina adicionada por ciclo [ml]

14,98 14,99 14,97 15,02 14,98 14,99

Água d

estila

da

Nº de adição de água destilada + uma semana de secagem

10 * 10 *

Total de água destilada adicionada [ml]

148,27 149,49 149,71 149,63 149,76 149,78

Quantidade média de água destilada adicionada por ciclo [ml]

14,83 14,95 14,97 14,96 14,98 14,98

(*) – O 4º ciclo não foi concluído na íntegra. Faltaram 2 adições de água para a sua conclusão.

O ensaio correspondeu ao pretendido, na medida em que possibilitou a degradação dos provetes

através dos ciclos de cristalização/dissolução a que foram submetidos. Por intermédio de absorção

por capilaridade de água e solução salina associada a situações de evaporação, o cloreto de sódio

distribui-se nos provetes e foi sujeito a situações de cristalização e dissolução por recurso a absorção

de água. Deste modo, o sal presente no interior dos provetes e as crostas de sal, nas suas faces e

arestas, provocaram situações de perda de massa dos provetes. A Figura 4.31 exemplifica a

degradação provocada por este fenómeno em alguns dos provetes em fases mais avançadas do

procedimento, bem como as partículas destacadas.

Figura 4.31 - Degradação das faces e arestas dos provetes pela acção do sal

Page 79: Tese 2,8 MB

70

A degradação observada visualmente em ambas as argamassas é muito semelhante ao longo do

período de estudo, essencialmente pela camuflagem da degradação pelas crostas de sal. Todavia, foi

possível aferir diferenças. Estas verificaram-se, inicialmente, na finura das partículas destacadas, pois

a argamassa I (1:2,5) registou a perda de partículas mais finas, quando comparada com a argamassa

II (1:3,5). Um outro factor que diferenciou a degradação das duas argamassas foi a altura atingida

pelas crostas de sal, tendo esta sido ligeiramente superior na argamassa II.

O Quadro 4.14 ilustra a variação de massa registada em ambas as argamassas. Os espaços não

preenchidos correspondem a provetes que tiveram acidentes durante a dessalinização e foram

considerados não aptos para as considerações e ensaios seguintes.

Quadro 4.14 - Variação de massa dos provetes pela acção do sal. Procedimento I

Argamassa I II

Massa do provete na fase inicial do ensaio [g]

461,13 459,08 457,69 463,59 463,7 463,77

Massa do provete após degradação e

dessalinização [g] - 445,13 442,5 440,19 454,59 -

Variação de massa [%] - -3,04 -3,32 -5,05 -1,96 -

Média [%] -3,18 -3,51

A argamassa I apresenta maior homogeneidade na variação de massa dos seus provetes, contudo a

argamassa II apresenta um valor médio de perda de massa ligeiramente superior, tendência que

pode ser explicada pela altura média das crostas de sal atingida nos provetes da argamassa II, a qual

é superior à verificada na argamassa I, provocando maior área de provete degradado.

A Figura 4.32 ilustra a destruição superficial dos provetes após o primeiro dia de dessalinização e

finda a mesma. Apesar de não terem sido destacadas manualmente as crostas e porções de provete

mais fragilizadas pela acção do sal, o sucessivo manuseamento dos provetes em água no processo

de dessalinização acabou por os destacar, tendo a perda de massa estabilizado durante o processo.

Page 80: Tese 2,8 MB

71

Figura 4.32 - Provetes após a dessalinização

A degradação dos provetes provocada pelo cloreto de sódio está bem patente na Figura 4.33, sendo

possível averiguar a acção nefasta que estes fomentam nas argamassas de cal aérea, comparando

as áreas nas quais o sal actuou e a parte intacta do provete. Para além do aspecto visual e da

variação de massa dos provetes, procurou-se monitorizar esta degradação, através da avaliação de

alterações desencadeadas pela degradação nas características de absorção de água por

capilaridade e na resistência mecânica à flexão.

Figura 4.33 - Ensaio de capilaridade após dessalinização

A Figura 4.34 apresenta as curvas de absorção de água por capilaridade determinadas nos mesmos

provetes antes e após serem submetidos ao procedimento I de degradação. A análise desta Figura

permite verificar que se registaram algumas alterações na cinética de secagem de ambas as

argamassas que, em termos genéricos, correspondem a uma ligeira redução da capacidade de

absorção de água, nomeadamente dos coeficientes de absorção de água por capilaridade, Quadro

4.15.

1º dia Último dia

Arg. I Arg. II

Page 81: Tese 2,8 MB

72

Figura 4.34 - Ensaio de capilaridade antes e depois da acção da degradação por sais solúveis

A argamassa I foi a que registou maior alteração da cinética de absorção de água por capilaridade,

Figura 4.34. Note-se porém que a redução da capacidade de absorção de água por capilaridade

referida tem como justificação o facto de os provetes não se encontrarem completamente

dessalinizados.

Quadro 4.15 - Comparação do C.C das argamassas antes e depois da degradação por sais solúveis

Argamassa

C.C (kg/m2.√(s)) Diferença

(%) Antes Após cristalização de

sais

I 0,226 0,150 -33,6

II 0,168 0,123 -26,8

O andamento das curvas de capilaridade apresenta semelhanças consideráveis antes e após a acção

do cloreto de sódio. A sobreposição das curvas da argamassa II denota que a dessalinização ter-se-á

verificado com maior sucesso nesta argamassa.

Em relação ao sucedido no primeiro ensaio de capilaridade, importa realçar que a tendência do

andamento das curvas I e II mantêm-se, contudo pela acção do sal, as argamassas apresentam

maior capacidade de absorção de água, denotando a ocorrência de alterações da estrutura interna.

Pelo andamento das curvas, é possível concluir que estas alterações tiveram maior impacto na

argamassa II, visto que as curvas referentes a esta argamassa interceptaram-se muito antes do valor

assintótico registado no primeiro ensaio de capilaridade com a ausência de sal.

À semelhança dos comportamentos identificados no presente estudo, também Agostinho (7) conclui

no seu trabalho sobre argamassas de cal aérea, que a acção da cristalização de sais segundo um

procedimento semelhante, desencadeou alterações na estrutura interna das argamassas, contudo

estas alterações não se fizeram sentir com a mesma intensidade que a verificada por Agostinho.

0

5

10

15

20

25

30

35

0 500 1000 1500 2000

ΔM

/S (k

g/m

2 )

Idade (√s)

Arg. I (após)

Arg. II (após)

Arg. I (antes)

Arg. II (antes)

Page 82: Tese 2,8 MB

73

Como seria de esperar, a resistência mecânica das argamassas à flexão após o ensaio de

degradação diminuiu consideravelmente. Pela observação da Figura 4.35 e do Quadro 4.16 é notória

a redução dos valores da tensão de rotura à flexão de ambas as argamassas. Esta redução fez-se

sentir com maior intensidade na argamassa II, diminuindo cerca de 68% da sua capacidade inicial.

Contudo a argamassa I, apesar de possuir maior quantidade de ligante, apresenta também uma

redução de resistência significativa, de 64%. A redução da resistência mecânica avaliada ocorreu

devido a alterações da estrutura interna das argamassas, e foi também influenciada pela diminuição

da área de secção pela acção da degradação do cloreto de sódio.

Quadro 4.16 - Resistência mecânica à flexão

antes e depois da degradação por sais

solúveis

Resistência Mecânica à Flexão (MPa)

Argamassa Degradação por sais

Antes Após

I 0.29 0.10

II 0.28 0.09

Figura 4.35 - Resistência mecânica à flexão antes e

depois da degradação por sais solúveis

Os resultados obtidos demonstram a ocorrência de alterações nas características físicas e mecânicas

nas duas argamassas. No entanto, em ambas as argamassas as características mecânicas foram

aquelas que foram afectadas de forma mais significativa.

Os comportamentos identificados apontam para que o incremento da quantidade de ligante participe

para a menor redução da resistência mecânica em resultado da cristalização de sais e,

eventualmente, para o incremento da capacidade de absorção. No entanto os resultados obtidos

devem ser interpretados com cautela dado que não foi garantida a remoção da totalidade dos sais

presentes, facto que necessariamente afecta os comportamentos avaliados.

4.2.3.2. Procedimento II a)

O estudo do comportamento das argamassas face à cristalização de sais segundo o procedimento II

a) foi realizado de acordo com o descrito em 3.7.3 e envolveu a utilização de 3 provetes por

argamassa, previamente contaminados com cloreto de sódio.

0,00

0,05

0,10

0,15

0,20

0,25

0,30

0,35

Arg. I (antes)

Arg. II (antes)

Arg.I (após)

Arg.II (após)

Ten

sõe

s (M

Pa)

Page 83: Tese 2,8 MB

74

A Figura 4.36 ilustra a evolução do teor em água dos provetes nos 6 ciclos realizados. Cada ciclo

teve a duração de uma semana, com início na absorção de água por capilaridade durante 1 hora,

seguido de secagem até ao fim da sua duração (1 semana).

Figura 4.36 - Evolução da cristalização de sais. Procedimento II a)

A Figura 4.36 permite verificar que em todas eles os provetes iniciaram cada ciclo com um teor em

água semelhante, tendo-se registado alterações do teor em água no final dos ciclos 4, 5 e 6,

possivelmente devido a alterações das condições ambientais. O procedimento II a)desencadeou a

degradação superficial dos provetes, registando-se a presença de eflorescências à superfície dos

provetes.

O Quadro 4.17 apresenta a variação de massa dos provetes desencadeada por este procedimento

em ambas as formulações.

Quadro 4.17 - Variação de massa dos provetes pela acção da cristalização de

sais, Procedimento II a) – 6 ciclos

Argamassa I II

Massa do provete no início do ensaio [g]

210,41 231,19 213,78 226,63 215,69 232,14

Massa do provete após dessalinização [g]

208,66 228,1 210,1 222,69 211,44 227,22

Variação de massa [%] -0,83 -1,34 -1,72 -1,74 -1,97 -2,12

Média [%] -1,30 -1,94

Page 84: Tese 2,8 MB

75

A degradação provocada por este procedimento é superior na superfície dos provetes da argamassa

II, apresentando uma diferença de aproximadamente 33% quando comparado com as alterações de

massa da argamassa I. Esta tendência também já identificada nos resultados obtidos no

procedimento I, aponta para que a maior quantidade de ligante da formulação I, confira-lhe maior

resistência mecânica face à acção do cloreto de sódio.

As Figura 4.37 e Figura 4.38 ilustram a presença de eflorescências nos provetes numa fase inicial e

mais avançada da realização do ensaio, bem como o aspecto final dos provetes no final do ensaio,

após a sua dessalinização.

Figura 4.37 - Procedimento II a) – argamassa I

Figura 4.38 - Procedimento II a) – argamassa II

Após dessalinização as superfícies dos provetes de ambas as argamassas encontravam-se

degradadas de forma uniforme. Muito embora a degradação não tenha sido responsável pela

ocorrência de redução de massa significativa, registou-se: a remoção da tinta identificadora dos

provetes; a redução da altura do provete junto aos bordos impermeabilizados com resina epóxidica;

e, ainda o destacamento de partículas de areia de maiores dimensões, indicando que os finos que

geralmente afloram à superfície das argamassas no seu estado fresco foram removidos.

A avaliação da degradação desencadeada pela cristalização de sais foi efectuada através da análise

das alterações da cinética de secagem de água, Figura 4.39 e Figura 4.40, de provetes de ambas as

argamassas antes e após o processo de degradação simulado.

Início 1º ciclo

Início 3º ciclo

Após dessalinização

Início 1º ciclo

Início 3º ciclo

Após dessalinização

Page 85: Tese 2,8 MB

76

O procedimento II a) desencadeou alterações mais notórias na cinética de secagem da argamassa I.

Ambas as argamassas registam maior dificuldade de secagem após o ensaio realizado, sendo que

este facto se justifica pelo facto de o processo de dessalinização não ter permitido a total remoção

dos sais presentes no interior dos provetes.

Figura 4.39 - Ensaios de secagem. Argamassa I – antes e após o processo de

degradação (Procedimento II a)

Figura 4.40 - Ensaios de secagem. Argamassa II – antes e após o processo de

degradação (procedimento II a)

Tal como no procedimento anterior, o comportamento das argamassas face à acção dos sais parece

ser condicionado pelo teor em ligante e porosidade das argamassas.

0

2

4

6

8

10

12

0 20 40 60

Teo

r e

mág

ua

(%)

Tempo (dias)

Arg. I (antes) Arg. I (após)

0

2

4

6

8

10

0 20 40 60

Teo

r em

águ

a (%

)

Tempo (dias)

Arg. II (antes) Arg. II (após)

Page 86: Tese 2,8 MB

77

4.2.3.3. Procedimento II b)

O procedimento II b) utilizado para a avaliação do comportamento das argamassas face à

cristalização de sais é constituído por duas fases. Na primeira fase procede-se à contaminação dos

provetes, simulando uma exposição constante, prolongada e com incrementos graduais do teor em

sal presente no interior dos provetes. Por sua vez, a segunda fase procura mobilizar os sais

presentes, através do desencadeamento da sua dissolução e cristalização.

A Figura 4.41 ilustra estas duas fases, existindo uma semana de intervalo entre elas.

Figura 4.41 - Procedimento II b) – Fases 1 e 2

Durante a fase inicial (Fase 1) é possível constatar o incremento semanal do teor em solução salina

nos provetes e que o período de uma semana deixou de ser suficiente para que ocorre-se a total

evaporação da água absorvida em cada etapa da absorção de solução salina. Este facto encontra-se

relacionado com o preenchimento de parte da porosidade aberta pelos cristais de sal, formados em

cada etapa de secagem. O incremento do teor solução salina ao longo dos ciclos, que constituíram a

fase 1 do ensaio, aumentou a higroscopicidade das argamassas e reduziu a sua facilidade de

secagem, razão pela qual o teor em água dos provetes no final de cada ciclo desta fase foi

sucessivamente incrementado. Esta situação foi responsável pela reduzida degradação registada nos

provetes, Figura 4.42 e Figura 4.43, apesar da presença significativa de eflorescência à sua

superfície.

A segunda fase do ensaio proporcionou, para a mesma duração do período de secagem, a sucessiva

redução do teor em água dos provetes, devido ao facto de a absorção de água ter fomentado a

cristalização e dissolução dos sais presentes e, deste modo, a ocorrência de degradação superficial

dos provetes.

Page 87: Tese 2,8 MB

78

As Figura 4.42 e Figura 4.43 ilustram a degradação dos provetes de ambas as argamassas, durante

as fases 1 e 2 e o aspecto da superfície dos provetes após a dessalinização.

Figura 4.42 - Procedimento II b). Argamassa I

Figura 4.43 - Procedimento II b). Argamassa II

O processo de contaminação efectuado na Fase 1 do procedimento II b) produziu eflorescências em

ambas as argamassas. A contaminação sucessiva realizada durante esta fase originou a formação de

crostas de sal espessas, no topo dos provetes, inviabilizando a verificação da degradação realizada

durante este período. Para que a verificação fosse possível retiraram-se as crostas de sal dos

provetes, Figura 4.42 e Figura 4.43, Fase 1. Após inspecção visual dos provetes não foi possível

identificar destruição superficial das argamassas, dada a presença da tinta de identificação dos

provetes. As Figura 4.42 e Figura 4.43 ilustram também as eflorescências ocorridas durante a Fase 2

do Procedimento II b) em função da cristalização e dissolução dos sais introduzidos durante a Fase 1,

ao fim de cinco ciclos. Nesta fase já era possível verificar alguma degradação em especial na

argamassa II. Por último as Figura 4.42 e Figura 4.43 apresentam o aspecto final da degradação dos

provetes após o fim de ambas as fases do procedimento II b) e do processo de dessalinização.

A degradação superficial que ambas as argamassas apresentaram no fim do procedimento II b), bem

como os valores de variação de massa expressos no Quadro 4.18, evidenciam uma variação de

Fase 1 Fase 2 Após dessalinização

Fase 1 Fase 2 Após dessalinização

Page 88: Tese 2,8 MB

79

massa pouco significativa em ambas as argamassas, contudo fez-se sentir com maior intensidade na

argamassa II.

Quadro 4.18 - Procedimento II b) – variação de massa

Argamassa I II

Massa do provete no início do ensaio [g]

235,55 228,02 211,54 222,34 226,59 232,01

Massa do provete após dessalinização [g]

234,57 227,18 210,67 220,49 224,96 230,27

Variação de massa [%] -0,42 -0,37 -0,41 -0,83 -0,72 -0,75

Média [%] -0,40 -0,77

A análise da acção da cristalização de sais simulada foi efectuada após dessalinização dos provetes,

através da avaliação da cinética de secagem e da sua análise comparativa antes e após a acção da

cristalização de sais, Figura 4.44.

Figura 4.44 - Cinética de secagem antes e após a acção da cristalização de sais (Procedimento II b)

A análise da Figura 4.44 permite concluir que ao fim de 50 dias de secagem ambas as argamassas

apresentam um teor em água relevante, particularmente no que se refere à argamassa I que tal como

identificado anteriormente seca de forma mais lenta do que a argamassa II e ambas demoram mais

tempo a estabilizarem. Dado que a destruição superficial obtida por este meio é menor nas duas

argamassas, quando comprada com a verificada no procedimento II a), é possível deduzir que o

andamento das curvas é principalmente influenciado por uma dessalinização insuficiente e não pela

alteração da estrutura interna das argamassas.

0

2

4

6

8

10

12

0 20 40 60

Te

or

em

águ

a (%

)

Tempo (dias)

Arg. I (após) Arg. II (após)

Arg. I (antes) Arg. II (antes)

Page 89: Tese 2,8 MB

80

A análise dos resultados obtidos com o recurso aos procedimentos II a) e II b) permite concluir que a

degradação desencadeada nas argamassas é mais condicionada pela ocorrência de condições

propícias à cristalização e dissolução dos sais do que à presença de teores elevados em sal. A

formulação de argamassas de cal aérea com maior dosagem de ligante não impediu a sua

degradação, porém reduziu a sua taxa de degradação.

4.2.4. Outros - Susceptibilidade à fendilhação / fissuração

A observação da Figura 4.45 permite verificar que, em ambas as argamassas, não se registou a

presença de qualquer fenda ou fissura, apesar de este fenómeno ter sido fomentado, tal como

referido na metodologia do ensaio. Comportamento semelhante foi identificado por Agostinho (7) no

seu estudo de uma argamassa com traço volumétrico 1:3 e relação A/L de 1,62.

Figura 4.45 - Topos e centro das calhas metálicas

Todavia a monitorização do aparecimento deste fenómeno nas argamassas aplicadas como camadas

de revestimento de tijolos revelou a ocorrência de duas fissuras num dos provetes da argamassa I,

ilustradas na Figura 4.46.

Figura 4.46 - Argamassa I – ocorrência de fissuração

Page 90: Tese 2,8 MB

81

Estas fissuras foram documentadas, quer pelo seu comprimento, quer pela avaliação da sua largura

através do recurso a um binóculo de fendas. A maior fissura identificada apresentou

aproximadamente 13cm de comprimento e uma largura média de 0,7mm.

Apesar do aparecimento das fissuras ter ocorrido na argamassa I, indo ao encontro do sugerido por

(5), onde as argamassas que apresentem maior teor em água, são mais suspectiveis a estas

situações, considera-se não ser representativo do comportamento da argamassa I, dado que apenas

1 dos 8 tijolos revestidos com esta argamassa registou fissuração.

Deste modo, os resultados obtidos apontam para que ambas as argamassas não apresentem

elevada susceptibilidade para a fissuração.

5. Conclusões e desenvolvimentos futuros

5.1. Conclusões gerais

Os aspectos analisados neste trabalho permitiram contribuir para uma melhor compreensão da

influência da dosagem de ligante no desempenho de rebocos para edifícios antigos. Durante a sua

realização, procurou-se atingir os objectivos definidos inicialmente, através da caracterização física e

mecânica de formulações com diferentes teores em ligante, procurando-se, sempre que possível,

confrontar estas características com as exigidas para argamassas de substituição de rebocos antigos.

A influência da variação da dosagem de ligante analisada, com base nas argamassas estudadas, não

revelou influência significativa no desempenho global das argamassas estudadas, muito embora

tenha sido responsável por variações das características das argamassas, principalmente em termos

de absorção de água e susceptibilidade à degradação pela acção de sais solúveis.

Os resultados obtidos apontam para que argamassas formuladas com maior dosagem de cal aérea (I

e I a) revelem maior capacidade de absorção de água e menor susceptibilidade à degradação pela

acção de sais solúveis.

O teor em ligante das argamassas constituiu a principal variável em estudo neste trabalho, porém a

quantidade de água de amassadura revelou-se uma variável incontornável, assumindo-se como

fundamental em determinadas ocasiões. Os resultados dos ensaios mecânicos, nomeadamente as

tensões de rotura à flexão e compressão, são um bom exemplo desta situação, dado que nem

sempre as formulações com maior teor em ligante apresentaram os valores mais elevados de

resistência mecânica. De facto, poder-se-á concluir que em condições idênticas e adequadas de

trabalhabilidade, a argamassa que apresente maior teor em ligante na sua mistura, terá supremacia

neste âmbito, casos das argamassas I a) e II a), apesar de apresentar menor massa volúmica

aparente no estado endurecido, fruto das propriedades que a argamassa exibe no estado fresco em

Page 91: Tese 2,8 MB

82

função dos diferentes traços e ainda da menor carbonatação verificada, efeito de maior quantidade de

ligante e porosidade aberta semelhante.

Porém, os resultados mecânicos das argamassas I e II evidenciaram a influência que a quantidade de

água de amassadura poderá exercer nas características mecânicas das argamassas. De facto a

argamassa II tendo menor teor em ligante apresentou resistências mecânicas ligeiramente superiores

às verificadas para a argamassa I. Estes resultados devem-se ao facto de ambas as argamassas

possuírem a mesma razão A/L e traços volumétricos distintos. Fixando a razão A/L em 1,62 atribuiu-

se diferentes quantidades de água de amassadura às argamassas, resultando em consistências de

espalhamento distintas. A argamassa I possui 17,4% de água na sua formulação, enquanto a

argamassa II possui 13,6%. Esta diferença fez-se repercutir na porosidade apresentada por ambas as

argamassas, tendo a argamassa I apresentado maior porosidade aberta do que a argamassa II, facto

que revelou-se preponderante nos resultados mecânicos.

Os resultados mecânicos apresentados pelas argamassas I e II poderão ainda ser explicados pela

maior carbonatação verificada na argamassa II, muito embora o processo de carbonatação aos 90

dias de idade não se encontre concluído.

A avaliação das características das argamassas, de forma indirecta, através do ensaio de

determinação da velocidade de propagação de ultra-sons em provetes prismáticos, encontra-se de

acordo com os valores de porosidade determinados para as argamassas I e II ao longo do tempo e

com os valores das tensões de rotura à compressão e flexão determinados, muito embora a ordem

de variação da velocidade verificada não permita concluir que a resistência mecânica, ou mesmo a

velocidade de ultra-sons sejam necessariamente diferentes nas argamassas em análise. O ensaio de

determinação da velocidade de propagação de ultra-sons em provetes prismáticos não permitiu

averiguar a influência da dosagem de ligante e da quantidade de água de amassadura nas

argamassas, mas seria de esperar que argamassas mais porosas registassem velocidades de

propagação de ultra-sons mais reduzidas, apontando a menores resistências mecânicas.

O ensaio de capilaridade fornece dois parâmetros importantes para a caracterização das argamassas

em estudo, o coeficiente de absorção e o valor assintótico. A análise deste ensaio permitiu concluir

que as argamassas com maior teor em ligante (I e I.a), independentemente da porosidade

apresentada, são as que apresentam os maiores coeficientes de absorção e valores assintóticos.

Este facto revela que o processo de capilaridade poderá ser influenciado por características que não

foram alvo de estudo neste trabalho. A absorção de água por capilaridade ocorreu com maior

significado em argamassas com maior percentagem de finos na amassadura, quer em temos de

absorção de água, quer em termos de coeficientes de capilaridade, denotando que a porometria das

argamassas poderá exercer influencia neste ensaio, tal como sugerido por (41) e (42).

Page 92: Tese 2,8 MB

83

As argamassas com maior teor em ligante apresentam índices de secagem ligeiramente superiores

às restantes, quando comparados em termos de razão A/L ou de consistência, ou seja, tendência

para secagem mais lenta. A argamassa II é aquela que exibe o menor índice de secagem, tendo

evidenciado também, o menor coeficiente de capilaridade.

A carbonatação é uma característica intrínseca e necessária a estas argamassas, sem a qual não

ocorre o endurecimento da pasta, condicionando mesmo muitas das tendências verificadas. Foi

possível estabelecer uma correlação entre a evolução da resistência mecânica das argamassas I e II

com o desenvolvimento da espessura de carbonatação e verificar que a espessura de carbonatação,

ao longo do tempo, não é indiferente à quantidade de ligante de cada formulação, nem à porosidade

aberta das argamassas. De facto, argamassas mais porosas facilitam o fenómeno da carbonatação,

porém foi possível apurar, que a progressão da carbonatação é influenciada em grande parte pela

quantidade de ligante das formulações.

A análise do desempenho destas argamassas, quando aplicadas como camadas de reboco em

edifícios antigos, constituiu uma das prioridades deste trabalho. Neste sentido, procedeu-se também

à caracterização física e mecânica das argamassas quando aplicadas como camadas de

revestimento.

A caracterização mecânica das argamassas aplicadas como camadas de revestimentos foi efectuada

através de esclerómetro pendular e do ensaio de arrancamento. Em ambas as argamassas, os

resultados do ressalto apresentaram boa correlação com os valores de resistência mecânica, tendo a

argamassa II aplicada apresentado os valores mais elevados, à semelhança do ocorrido nos provetes

prismáticos. Por outro lado, a argamassa I destaca-se no ensaio de arrancamento por apresentar

maior aderência ao tijolo e por apresentar apenas rotura pela argamassa. Em ambos os casos, a

maior ou menor quantidade de ligante, não surge como principal explicação para os resultados. No

primeiro caso, a quantidade de água presente em cada amassadura influenciou a porosidade das

argamassas e consequentemente os resultados mecânicos. Porém, os resultados apontam para que

esta seja também a causa da maior aderência da argamassa I ao tijolo, visto permitir a penetração

dos finos em maior profundidade em contraste com o cariz mais seco da argamassa II.

A determinação da velocidade de propagação de ultra-sons evidenciou discrepâncias importantes

entre os ensaios realizados em provetes prismáticos e em argamassas aplicadas como revestimento

de tijolos, aludindo para a importância das reais condições de aplicação da argamassa em obra. Os

resultados apontam para que tenha ocorrido algo anómalo da determinação da velocidade de ultra-

sons aos 60 dias de idade, visto que os valores obtidos foram inferiores aos avaliados em idades

mais jovens e pelo facto de os resultados do ensaio do esclerómetro pendular não apontarem nesse

sentido. A argamassa II apresentou maior velocidade de propagação de ultra-sons em provetes

prismáticos, tendo ocorrido o inverso em argamassas aplicadas em revestimento de tijolos. Este facto

indicia que o suporte e as condições de compactação podem influenciar os resultados deste ensaio.

Page 93: Tese 2,8 MB

84

O ensaio de absorção sob baixa pressão permitiu averiguar a capacidade de absorção das

argamassas aplicadas como camada de revestimento e comparar estes resultados com os ensaios

de w48 h e o ensaio de capilaridade em provetes prismáticos. Os resultados da absorção de água sob

baixa pressão forneceram informações semelhantes à obtida por recurso ao w48 h e à capilaridade,

onde a argamassa I revelou maior capacidade de absorção, consequência de maior porosidade,

causada pelo facto de ambas as argamassas possuírem razão A/L igual e diferentes traços

volumétricos.

Desde sempre os sais solúveis constituíram um sério problema à durabilidade e salubridade das

construções. Perante esta problemática foi desenvolvido nesta dissertação um número considerável

de experiências com o intuito de estudar a influência da dosagem de ligante na susceptibilidade das

argamassas à degradação por fenómenos de cristalização de sais e averiguar, em simultâneo, a

influência que a água de amassadura exerce neste processo de degradação de argamassas de cal

aérea.

A presença de cloreto de sódio dificultou a secagem de ambas as argamassas, sendo este facto mais

notório em argamassas com maior teor em ligante. A argamassa I possui maior teor em ligante e

consequentemente maior quantidade de água de amassadura do que a argamassa II. A diferença na

água de amassadura revelou ser preponderante na porosidade apresentada por ambas as

argamassas, facilitando a absorção de água, tanto no ensaio de w48 h, como no ensaio de

capilaridade, porém este facto não se fez repercutir na secagem das argamassas, em especial na

secagem envolvendo solução salina. Este facto aponta para que a presença de sais na estrutura

porosa tenha reduzido a porosidade aberta da argamassa I e consequentemente a sua secagem.

Os resultados obtidos nas simulações da degradação das argamassas por acção de cristalização

apontam para que argamassas formuladas com maiores teores em ligante revelem menor

susceptibilidade à degradação pela acção de sais solúveis. Os três procedimentos realizados

indicaram que a perda de massa ocorreu de forma mais pronunciada na argamassa II, tendo esta

manifestado também menor resistência mecânica à flexão após dessalinização.

Todos os procedimentos utilizados para o estudo da susceptibilidade das argamassas estudadas à

degradação por sais facultaram a mesma informação, isto é, apontaram a argamassa II, com menor

dosagem de ligante, como a mais susceptível a fenómenos de degradação por acção de sais

solúveis.

A análise dos procedimentos I, II.a e II.b dos ensaios artificiais de degradação por sais solúveis,

realizados em termos da degradação produzida, do tempo necessário para a sua realização e dos

ensaios de monitorização da acção da degradação que são possíveis de realizar nos provetes em

ensaio, apontam o procedimento I como sendo o mais interessante de utilizar em estudos futuros.

Page 94: Tese 2,8 MB

85

No que concerne às exigências requeridas para as características mecânicas das argamassas de

revestimento de edifícios antigos, considera-se que todas as argamassas estudadas apresentaram

adequada resistência mecânica (38), (5), (32), tanto à compressão como à flexão, garantindo em

simultâneo, adequada reversibilidade no caso de substituição de rebocos (rotura adesiva, ou coesiva

pelo reboco).

Quanto aos requisitos estabelecidos para as características de comportamento à acção da água, aos

90 dias, apenas as argamassas com menor teor em ligante (II e II.a), possuem coeficientes de

capilaridade ajustados a este fim (38), (5), (32), (39). Porém, em função da cinética de secagem

ostentada pelas argamassas com maior teor em ligante, prevê-se que estas não comprometam a

qualidade e a durabilidade do reboco, pois à semelhança das restantes argamassas, possibilitam

uma libertação rápida da água absorvida.

A correcta aplicação em obra destas argamassas requer ainda alguma atenção com determinadas

características. A trabalhabilidade que a argamassa exibe tem influencia não só no rendimento do

operário como também em muitas das suas características, não devendo ocorrer a dissociação

destes casos. A trabalhabilidade que a argamassa I exibe pode ser inapropriada para aplicação em

paramentos verticais, devido à sua consistência de 217 mm, ao contrário das restantes argamassas.

Um outro factor importante durante a aplicação das argamassas é a capacidade que estas

apresentam para a retenção de água, dada a capacidade absorvente que vulgarmente os paramentos

exibem. Neste âmbito, tanto a argamassa I como a II apresentaram capacidade de retenção de água

semelhante e satisfatória, independentemente da quantidade de ligante de cada formulação.

O conjunto de resultados e a sua análise apontam para que o aumento do teor em ligante de uma

argamassa de cal aérea não origine necessariamente melhores desempenhos em rebocos para

aplicação em edifícios antigos. Note-se que, as argamassas com menor teor em ligante, em especial

aquelas que possuam menor quantidade de água de amassadura exibiram menor aptidão para

absorver água por capilaridade, apresentaram maior facilidade de secagem e de desenvolvimento da

carbonatação, muito embora tenham revelado resistência mecânica ligeiramente inferiores, facto que

pode assumir relevância perante mecanismos de degradação das argamassas por acção de

cristalização de sais.

Page 95: Tese 2,8 MB

86

5.2. Desenvolvimentos futuros

Os desenvolvimentos futuros que de seguida se propõem para o estudo desta temática resultam de

questões ou dificuldades que surgiram ao longo do trabalho e dos resultados obtidos com o presente

estudo:

Optimizar o processo de dessalinização de argamassas, reduzindo o tempo do processo e

aumentando a sua capacidade de dessalinização;

Estudar as características das argamassas quando aplicadas em condições reais de

aplicação em paredes de edifícios antigos ou em protótipos;

Estudar um conjunto mais alargado de formulações de argamassa de cal aérea que inclua um

grupo mais diversificado de dosagem de ligante;

Definir um protocolo de ensaio artificial de degradação por acção de sais solúveis que facilite

a análise comparativa da potencial susceptibilidade à degradação de diferentes formulações

de argamassa a este tipo de acções.

Page 96: Tese 2,8 MB

87

Referências Bibliográficas

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Anexos

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I

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II

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III

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IV

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V

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VI

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VII

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VIII

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IX

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