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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG Instituto de Ciências da Natureza Curso de Geografia Licenciatura JOSIAS FELIPE DE OLIVEIRA TERRITÓRIO E TERRITORIALIDADE DA RELIGIÃO DE UMBANDA NO MUNICÍPIO DE ALFENAS - MG. Alfenas - MG 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG

Instituto de Ciências da Natureza

Curso de Geografia Licenciatura

JOSIAS FELIPE DE OLIVEIRA

TERRITÓRIO E TERRITORIALIDADE DA

RELIGIÃO DE UMBANDA NO MUNICÍPIO DE

ALFENAS - MG.

Alfenas - MG

2013

JOSIAS FELIPE DE OLIVEIRA

TERRITÓRIO E TERRITORIALIDADE DA RELIGIÃO

DE UMBANDA NO MUNICÍPIO DE ALFENAS - MG.

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado como parte dos

requisitos para obtenção do título de

Licenciado em Geografia pelo

Instituto de Ciências da Natureza da

Universidade Federal de Alfenas-

MG, sob orientação do Prof. Dr.

Flamarion Dutra Alves.

Alfenas – MG

2013

JOSIAS FELIPE DE OLIVEIRA

TERRITÓRIO E TERRITORIALIDADE DA RELIGIÃO

DE UMBANDA NO MUNICÍPIO DE ALFENAS - MG.

A Banca examinadora abaixo-assinada

aprova o Trabalho de Conclusão de

Curso apresentado como parte dos

requisitos para obtenção do título de

Licenciado em Geografia pela

Universidade Federal de Alfenas. Área

de concentração: Geografia da Religião.

Aprovada em:

Profº. :

Instituição: Assinatura:

Profº. :

Instituição: Assinatura:

Profº. :

Instituição: Assinatura:

Alfenas – MG

2013

Dedico à minha eterna professora e

querida amiga Waldirene Porto, como

pedido de desculpas por meu tempo de

preconceito e ignorância.

AGRADECIMENTOS

Antes de todos agradeço aos meus pais, por me proporcionarem a

oportunidade de uma formação acadêmica. Sem eles jamais teria me tornado o

humano que sou.

Às minhas irmãs pelo carinho a mim direcionado. E ao meu irmão pelas

longas horas de videogames e sadias gargalhadas.

À minha namorada, pelo carinho, dedicação e paciência nos momentos

mais críticos. Sem seu amor eu não teria chegado ao fim. Você foi e é

fundamental.

Ao meu orientador e amigo Flamarion Dutra Alves, pela dedicação e por

guiar-me nessa longa empreitada. Suas palavras de encorajamento nos

momentos difíceis me trouxeram até aqui.

Ao meu grande amigo e companheiro Denis dos Anjos Pallos, pela

fundamental ajuda durante os árduos dias de pesquisa e pela boa vontade em

demostrada ao se prontificar a ajudar. Não tive dúvidas que poderia contar com

sua ajuda.

Ao amigo Felipe Sousa, pela boa vontade, prontidão e pelo tempo

disponibilizado para me ajudar. Você foi peça chave na construção deste

trabalho.

À Mãe Wilma e os demais membros do Templo de Umbanda Caboclo

Pena Branca e à Mãe Cida e demais membros da Tenda de Umbanda e

Candomblé Maria Baiana de Aguiné, pela educação, receptividade e grande

ajuda durante a pesquisa.

À minha grande amiga Waldirene Porto, por ter me apresentado a

religião de Umbanda.

Por último, agradeço aos estimados professores do Curso de Geografia

Licenciatura da Universidade Federal de Alfenas, pelos preciosos

ensinamentos.

"Nunca é muito tarde para

abandonarmos nossos preconceitos."

Henry David Thoreau

RESUMO

O falseamento dos dados censitários do IBGE diminui a expressividade

da religião de Umbanda perante as demais religiões no Brasil. Um dos motivos

para tal falseamento é o medo do umbandista em se assumir como tal, devido

ao preconceito que este sofre por parte da sociedade. Evidenciar a existência

de tal preconceito pode ajudar na diminuição do mesmo.

Nesta perspectiva, colocar em evidência os territórios e territorialidades

da Umbanda serve, não só para mostrar a força desta religião na cidade na

qual ela está inserida, como também valorizá-la como manifestação cultural.

Este trabalho procura estudar os conceitos de território e territorialidade

religioso, aplicados à religião de Umbanda, na cidade de Alfenas – MG, dentro

das perspectivas da Geografia Cultural e, principalmente de seu subcampo

Geografia da Religião. Buscando evidenciar o preconceito existente contra tal

religião, por meio da análise da percepção do umbandista e da sociedade

alfenense para com o mesmo.

Palavras chave: Território; Territorialidade; Identidade; Umbanda; Religião;

Preconceito.

ABSTRACT

The falsification of census data of the IBGE decreases the expression of

the religion of Umbanda towards other religions in Brazil. One of the reasons is

fear of distortion in umbandista be assumed as such because of prejudice that it

suffers from society. Demonstrate the existence of such prejudice can help in

reduction.

In this perspective, to highlight the territories and territoriality of Umbanda

serves not only to show the strength of this religion in the city in which it is

embedded, but also value it as a cultural manifestation.

This work aims to study the concepts of territory and territoriality

religious, applied to the religion of Umbanda in the city of Alfenas - MG, within

the perspectives of Cultural Geography, and especially its subfield Geography

of Religion. Seeking to highlight the existing prejudice against this religion, by

analyzing the perception of Umbanda and society alfenense for the same.

Keywords: Territory; Territoriality; Identity; Umbanda; Religion; Prejudice.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 9 2 OBJETIVOS .................................................................................................. 13 2.1 Objetivo geral ............................................................................................. 13

2.2 Objetivos específicos ................................................................................. 13

3 JUSTIFICATIVA ............................................................................................. 14 4 METODOLOGIA ............................................................................................ 18 5 O ESTUDO DA RELIGIÃO NA GEOGRAFIA CULTURAL ............................. 21

5.1 Evolução da geografia cultural ................................................................... 21

5.2 Geografia cultural e geografia da religião no Brasil .................................... 22

5.3 Geografia da religião: propostas de Gil Filho e Zeny Rosendahl ............... 24

6 TERRITÓRIO, IDENTIDADE TERRITORIAL E TERRITORIALIDADE. ........ 29 6.1 Território religioso e territorialidade religiosa .............................................. 31

7 UMBANDA: ESTRUTURA, ORGANIZAÇÃO, ELEMENTOS DO CULTO E SACRAMENTOS. ............................................................................................. 38

7.1 Hierarquia nos terreiros de Umbanda ........................................................ 40

7.2 As “Giras” e os elementos do culto umbandista ......................................... 42

7.3 Sacramentos da Umbanda ......................................................................... 49

7.4 Os preconceitos contra Umbanda .............................................................. 50

8 A REALIDADE DA RELIGIÃO DE UMBANDA NO MUNICÍPIO DE ALFENAS – MG. ................................................................................................................ 54

8.1 A dimensão econômica da Umbanda em Alfenas ...................................... 56

8.2 A dimensão política da Umbanda em Alfenas ............................................ 57

8.3 A dimensão de lugar da Umbanda em Alfenas ........................................... 59

8.4 Análise dos dados pesquisados ................................................................. 62

8.5 Análise das opiniões pessoais sobre a Umbanda ...................................... 77

9 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 83 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ........................................................... 84

APÊNDICE A: ENTREVISTA COM A SOCIEDADE ........................................ 87 APÊNDICE B: ENTREVISTA COM A LIDERANÇA ESPIRITUAL ................... 88 APÊNDICE C: ENTREVISTA COM OS MEMBROS DA UMBANDA ............... 90 APÊNDICE D: ENTREVISTA COM A VIZINHANÇA DA UMBANDA ............... 91 APÊNDICE E: ENTREVISTA COM OS CONSULENTES ................................ 92

9

1 INTRODUÇÃO:

Não obstante a Umbanda ter raízes africanas, tal religião foi fundada em

solo brasileiro. Trata-se, portanto, de uma religião brasileira. Embora seja ela a

principal representante das religiões afro-brasileiras, em número de adeptos, os

dados oficiais nos mostram que a Umbanda ainda está muito longe das demais

religiões existentes no país, ficando atrás, até mesmo, dos que se declaram

sem religião.

Segundo o recenciamento do IBGE 20101, as religiões afro-brasileiras

são representadas por 0,3% da população brasileira, o que daria

aproximadamente 588.000 pessoas, das quais aproximadamente 407.000

pessoas teriam se declarado umbandistas. Em contrapartida, o número dos

que se declaram sem religião, teria chegado ao percentual de 8% da

população, ultrapassando 15 milhões de pessoas.

Os dados apresentados, todavia, não representam fidedignamente a

realidade. Grande parte dos adeptos da Umbanda não se declara umbandista.

Prandi (2004) corrobora a infidelidade desses dados ao afirmar:

Quando se trata das religiões afro-brasileiras, as estatísticas sobre os seguidores costumam oferecem números subestimados, o que se deve às circunstâncias históricas nas quais essas religiões surgiram no século XIX, quando o catolicismo era a única religião tolerada no País, a religião oficial, e a fonte básica de legitimidade social (p.225).

Antes da proclamação da República, qualquer prática religiosa, que não

a católica, era proibida no Brasil. Na condição de escravo, o negro trás consigo

sua identidade e sua religiosidade africana. Segundo Prandi naquela época

“para se viver no Brasil, mesmo sendo escravo, e principalmente depois, sendo

negro livre, era indispensável, antes de mais nada, ser católico” (2004, p. 225).

Mesmo com o catolicismo obrigatório, as religiões afro-brasileiras

conseguiram sobreviver a toda supressão, graças à clandestinidade e

principalmente ao sincretismo. Esta foi uma das maneiras que o negro, então

1 IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Dados censo IBGE 2010:

religião. , 2012. Disponível em:

<http://ftp://ftp.ibge.gov.br/Censos/Censo_Demografico_2010/Caracteristicas_Gerais_Religiao_Deficien

cia/tab1_4.pdf>. Acesso em: 11 set. 2012.

10

escravo, encontrou de “camuflar” suas divindades sobre as imagens das

divindades católicas. Por exemplo, para as religiões afro-brasileiras Nossa

Senhora dos Navegantes (ou Nossa Senhora da Glória em algumas regiões) é

representada pelo Orixá Iemanjá, assim como Santo Antônio é representado

por Exu, São Jerônimo é visto como Xangô, São Jorge como Ogum, etc. Sobre

este sincretismo Prandi afirma que:

Desde o início as religiões afro-brasileiras se fizeram sincréticas, estabelecendo paralelismos entre divindades africanas e santos católicos, adotando o calendário de festas do catolicismo, valorizando a frequência aos ritos e sacramentos da Igreja católica. (2004, p.225).

Naquele período em algumas cidades, devido ao preconceito e a

desvalorização social, o negro era proibido frequentar os mesmos templos

religiosos que os brancos, para “solucionar” tal problema, surgiam as “Igrejas

dos homens pretos”, como era o caso da cidade de Ouro Preto – MG, onde se

encontra a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, dedicada à

padroeira dos negros e mulatos.

Somente com a Constituição Republicana de 1891, o catolicismo

deixaria de ser a religião oficial e a laicidade do Estado seria instituída. Agora

as religiões afro-brasileiras podiam requerer seu espaço perante a sociedade,

sem permanecerem na clandestinidade. Porém o preconceito, o desprezo e,

posteriormente, a demonização de seus cultos e práticas religiosas pela elite

cristã brasileira dominante à época, fez com que os adeptos das religiões afro-

brasileiras, mais uma vez, se calassem e se escondessem atrás da máscara do

sincretismo, que continuava enraizado naquelas religiões. Oliveira (2007)

elucida como este sincretismo ajudaria na fundação de uma nova religião:

Longe de ser um culto organizado, a macumba era um agregado de elementos da cabula bantu, do Candomblé jeje-nagô, das tradições indígenas e do Catolicismo popular, sem o suporte de uma doutrina capaz de integrar os diversos pedaços que lhe davam forma. É desse conjunto heterogêneo, acrescida de elementos egressos do Kardecismo, que nascerá a nova religião. (p.177)

11

Dezessete anos após a Constituição de 1981, em meados de 1908 é

fundado o primeiro templo de Umbanda que se tem relatos2, sobre a nova

religião, Oliveira afirma que “O vocábulo umbanda vai ganhar status de religião

quando o Caboclo das Sete Encruzilhadas manifestado no médium Zélio de

Moraes, no dia 15 de novembro de 1908, anuncia o início de uma nova prática

religiosa”. (2007, p.177)

Como visto, a Umbanda surge da “mistura” de crenças, portanto não é

incomum que adeptos daquela religião se declarem também seguidores de

outras religiões como: catolicismo, espiritismo, xamanismo e até mesmo do

Candomblé. Como elucida Prandi:

No início, a nova religião denominou-se espiritismo de umbanda, e não é incomum, ainda atualmente, os umbandistas se chamarem de espíritas, quando não de católicos. A umbanda conservou do candomblé o sincretismo católico: mais que isto, assimilou preces, devoções e valores católicos que não fazem parte do universo do candomblé. Na sua constituição interna, a umbanda é muito mais sincrética que o candomblé. (2004, p.226)

O autor prossegue enfatizando como tal sincretismo é necessário para a

Umbanda:

Nos ritos da umbanda, as preces católicas e a invocação de Jesus, Maria e santos da igreja nas letras dos cantos sagrados continuam indispensáveis. Num hipotético processo de dessincretização da umbanda, grande parte de seu hinário teria que ser abandonada, pois as referências às crenças católicas são muito explícitas. (2004, p.226)

Além do receio em enfrentar o preconceito, o próprio sincretismo

esconde o verdadeiro tamanho da Umbanda no Brasil, visto que os dados

censitários não abarcam o total real de adeptos desta religião. Sobre os dados

do Censo IBGE, Prandi afirma que “até hoje o catolicismo é uma máscara

usada pelas religiões afro-brasileiras, máscara que, evidentemente, as esconde

também dos recenseamentos” (2004, p.225 – 226).

A falta de organização entre os vários terreiros é outro fator que,

indiretamente, sustenta o receio do umbandista em se assumir como tal. Ainda

que existentes, as federações de umbanda não conseguem organizar-se e,

2 Segundo OLIVEIRA (2007, p.176 – 177), há relatos de ritos e práticas da Umbanda anteriores a 1908,

porém só a partir desta data convencionou-se o uso do nome “Umbanda” e houve estabelecimento de

normas para os cultos e rituais.

12

consequentemente, representar todos os terreiros de umbanda. Estes templos,

liderados pelos pais e mães de santo, gozam de autonomia, criam –

conduzidos espiritualmente – e seguem suas próprias regras e normas. Sobre

essa não organização dos terreiros e a autonomia que os mesmos gozam,

Prandi nos remete que:

Candomblé e umbanda são religiões de pequenos grupos que se congregam em torno de uma mãe ou pai-de-santo, denominando-se terreiro também cada um desses grupos. Embora se cultivem relações protocolares de parentesco iniciático entre terreiros, cada um deles é autônomo e autossuficiente, e não há organização institucional eficaz alguma que os unifique ou que permita uma ordenação mínima capaz de estabelecer planos e estratégias comuns na relação da religião afro-brasileira com as outras religiões e o resto da sociedade. (2004, p.229)

O “falseamento” dos dados oficiais dificulta um estudo aprofundado do

tema religião no Brasil. Prandi corrobora tal afirmação ao dizer que “isso faz

com que as religiões afro-brasileiras apareçam subestimadas nos censos

oficiais do Brasil, em que o quesito religião só pode ser pesquisado de modo

superficial” (2004, p.225). Porém, tal estudo é necessário para várias áreas do

conhecimento, dentre elas a Geografia.

13

2 OBJETIVOS:

2.1 Objetivo geral

Compreender a territorialidade e identidade umbandista no município de

Alfenas – MG.

2.2 Objetivos específicos

Entender a percepção da população alfenense em a relação à religião

de Umbanda.

Discutir as bases teóricas da Geografia da Religião e o uso do

território/territorialidade nesta perspectiva geográfica.

Estudar brevemente as características da religião de Umbanda

(Estrutura, Organização, Elementos do Culto e Sacramentos).

Identificar o território a territorialidade da Umbanda em Alfenas – MG.

14

3 JUSTIFICATIVA:

Somente a importância vital da territorialidade para a sobrevivência de

qualquer religião, já seria suporte para o referido estudo sobre o território e a

territorialidade da Umbanda em Alfenas. Rosendahl (2003) corrobora tal

afirmação ao mencionar que:

A religião só se mantém se sua territorialidade for preservada e, neste sentido, pode-se acrescentar que é pela existência de uma religião que se cria um território e é pelo território que se fortalecem as experiências religiosas coletivas ou individuais. E para a manutenção dessas relações, estratégias político-espaciais são adotadas. (p.195)

Segundo esta autora é o território que favorece o exercício da fé e é por

meio dele que se encarna a relação simbólica que há entre a cultura e espaço

(2003, p.195). A importância estudo do território e, principalmente, da

territorialidade da Umbanda pela Geografia é elucidado em outra citação de

Rosendahl (2003):

A dimensão política do sagrado permite conhecer múltiplas

estratégias espaciais existentes entre religião e espaço. O estudo da

territorialidade tem significado tanto para as sociedades modernas

quanto para aquelas que permanecem tradicionais. “O espaço

assume uma dimensão simbólica e cultural onde se enraízam seus

valores e através do qual se afirma a sua identidade”. (ROSENDAHL,

2003: p.194; apud BONNEMAISON, 1981: 249).

Rosendahl (2005) reafirma a importância de tal estudo ao dizer que, é

papel do geógrafo “elucidar como determinada instituição religiosa mantém sua

territorialidade preservada e, consequentemente, como o território fortalece as

experiências religiosas coletivas ou individuais” (p.12932).

O município de Alfenas, localizado no sul do estado de Minas Gerais,

pode ser tido como um “palco” para o estudo da religião Umbanda. Antes

mesmo da emancipação da cidade3 (época dos arraiais), entre os séculos XVIII

e XIX, a presença de escravos já era registrada na documentação histórica do

3 Alfenas fora emancipada em 15 de outubro de 1869.

15

município. Segundo registros históricos4 da Prefeitura Municipal de Alfenas,

“durante o século XIX, os colonizadores, acompanhados de escravos de

diversas nações africanas, cuidaram de desenvolver na região as lavouras de

cereais, colocadas às questões relativas à fundação do arraial” (ALFENAS,

2011). Tais registros5 ainda acrescentam:

Nos livros de Assentos de Batismos da paróquia de São José e Dores

6 encontramos o registro de batizados de escravos de diversas

nações, entre elas Benguella, Congo, Moçambique, Angolla e Criolla. Encontramos também registros de pardos, filhos de escravas e pais desconhecidos, como a nos revelar que a miscigenação racial, pelo menos entre brancos e negros, já estavam a galope naquela época. (ALFENAS, 2011)

Certamente a presença do negro, então escravo, foi um fator marcante

na construção da história do município de Alfenas. Os registros históricos7

desta cidade corroboram tal afirmação ao mencionar que “a presença dos

negros devia ser bastante expressiva, pois, em 1819 foi construída uma

segunda capela no arraial, inaugurada em 1820, tinha como devoção Nossa

Senhora do Rosário, tradicional protetora dos homens pretos” (ALFENAS,

2011). Tais registros, citando o historiador Senna, nos remetem sobre a

importância do negro para o desenvolvimento da cidade:

Todo esse desenvolvimento contou com o precioso trabalho dos escravos. "Em 1888, por ocasião da Abolição, ainda havia nesse município, cerca de 4.500 escravos matriculados, fora os ingênuos da lei do ventre livre" (SENNA1909, apud, ALFENAS 2011, p. 182).

Nestes registros, não há menção sobre quaisquer terreiros e/ou templos

de religiões afro-brasileiras. Porém a presença de uma Igreja de Nossa

Senhora do Rosário nos remete ao catolicismo obrigatório e ao racismo das

etnias dominantes para com os negros, que proibia a participação destes nos

templos e cerimônias das quais aquelas etnias faziam parte. Assim como foi

mencionado o caso de Ouro Preto.

4 MINAS GERAIS. Prefeitura Municipal de Alfenas. Arquivo Histórico (Org.). História de Alfenas - MG.

Disponível em: <http://epidemiologia.alfenas.mg.gov.br/download/historia_alfenas.pdf>. Acesso em: 22

set. 2012. 5 Idem.

6 Nome dos arraiais que mais tarde dariam origem a cidade de Alfenas.

7 MINAS GERAIS. Prefeitura Municipal de Alfenas. Arquivo Histórico (Org.). História de Alfenas - MG.

Disponível em: <http://epidemiologia.alfenas.mg.gov.br/download/historia_alfenas.pdf>. Acesso em: 22

set. 2012.

16

É difícil pensar que com a comprovação da presença de escravos

oriundos de, pelo menos, cinco nações africanas, a cultura e as religiões

africanas não tenham sido trazidas com eles, para a região que deu origem a

cidade de Alfenas. Tais fatos nos levam a deduzir que, o exemplo de Alfenas

não é muito diferente das cidades nas quais as religiões afro-brasileiras foram

suprimidas pelas religiões cristãs “dominantes”, pelo preconceito, discriminação

social e, até mesmo, pelo racismo.

A herança cultural africana e sua importância para a identidade cultural

do município é retratada nos registros históricos8 da seguinte forma:

Os negros foram (e ainda o são) importantes figuras na manutenção deste patrimônio cultural representado pelas festas e folguedos populares. Hoje compõem grupos que, já misturados aos brancos, quer seja pela miscigenação racial, quer seja pela convivência social, são expressivos mantenedores da cultura popular na região, conservando costumes de origem africana como as congadas e, além deles, o folclore de origem lusitana, como as pastorinhas e as folias de reis. Para o estudo da cultura popular em Alfenas, o contato com a população negra certamente oferece um rico filão para a compreensão da formação, ou a (re) criação da identidade local. (ALFENAS, 2011)

Fazem-se necessários estudos sobre as “africanidades” da cidade de

Alfenas. Estudos que tenham em foco a identidade cultural, as tradições, as

religiões, os territórios e as redes que envolvem os afrodescendentes neste

município.

Não foram encontrados estudos de nenhuma área do conhecimento que

abarque o cenário religioso da Umbanda no município de Alfenas. A produção

de material teórico sobre a realidade desta religião, neste município, fazia-se

necessária. Evidenciar o território, a territorialidade e suas redes, é uma forma

de manter viva a identidade desta religião - já tão estigmatizada pela sociedade

e vítima de variadas formas de preconceito – na cidade de Alfenas.

Tentar compreender a dinâmica da religião de Umbanda no município é

uma das premissas deste trabalho. Este tenta contribuir para uma valorização

daqueles religiosos por parte do poder público municipal. Tal estudo vem ouvir

8 MINAS GERAIS. Prefeitura Municipal de Alfenas. Arquivo Histórico (Org.). História de Alfenas - MG.

Disponível em: <http://epidemiologia.alfenas.mg.gov.br/download/historia_alfenas.pdf>. Acesso em: 22

set. 2012.

17

os líderes e os adeptos da religião, buscando entender como eles veem a

sociedade da qual fazem parte e como a mesma os vê.

Tal estudo visou, ainda, “quebrar os tabus” existentes em torno da

Umbanda e do umbandista, na tentativa de valorizar esse segmento religioso e,

consequentemente, diminuir o preconceito existente da sociedade, para com

seus adeptos. E ainda responder a problemas de pesquisa tais como:

Qual o real número de terreiros de Umbanda do município de Alfenas?

Onde estão localizados os terreiros de Umbanda de Alfenas (centro ou

periferia)?

Como o umbandista vê a Umbanda em Alfenas (perante outras religiões

e outros terreiros que não o seu)?

Como a sociedade alfenense enxerga a Umbanda?

Como o umbandista se vê em relação aos outros religiosos de Alfenas?

Onde se dão os rituais e as práticas religiosas da Umbanda em Alfenas?

Quais os territórios e/ou as redes da Umbanda na cidade de Alfenas?

Qual a territorialidade da Umbanda em Alfenas?

18

4 METODOLOGIA:

Nossa pesquisa consiste no estudo fenomenológico do território e

territorialidade da religião de Umbanda no município de Alfenas, sobre a

perspectiva da Geografia da Religião.

Para tanto, fez-se uma vasta revisão bibliográfica em Geografia da

Religião, que abarcou evolução do pensamento geográfico no campo da

Geografia Cultural; a introdução da Geografia da Religião no Brasil, os autores

e obras pioneiras; as linhas de pesquisa em Geografia da Religião seguidas

por Zeny Rosendahl e Sylvio Fausto Gil Filho; estudo da dimensão econômica,

dimensão política e dimensão de Lugar da religião, propostas por Rosendahl.

Realizou-se também revisão bibliográfica dos conceitos de Território,

Identidade Territorial, Territorialidade, Território e Territorialidade religiosa para

dimensionar as relações espaciais da religião da Umbanda em Alfenas.

Fez-se ainda revisão bibliográfica sobre os principais aspectos da

religião de Umbanda. Aspectos tais como estrutura, organização, elementos do

Culto umbandista e sacramentos desta religião com intuito de esclarecer

brevemente os princípios dessa religião.

Numa outra etapa, pesquisamos os registros sobre templos religiosos

cadastrados junto à Secretaria da Fazenda da Prefeitura de Alfenas, visando

encontrar o número total de terreiros de Umbanda registrados. Como só havia

um registro, nos guiamos por informações de conhecidos, desconhecidos e

pesquisa “boca-a-boca” para encontrarmos o máximo de terreiros de Umbanda

possível, para a realização deste estudo.

Elaboramos questionários na forma de entrevista para serem

respondidos pela liderança espiritual dos terreiros; os membros dos terreiros

encontrados; os consulentes que participam das assistências dos terreiros; a

vizinhança dos terreiros de umbanda encontrados; e questionários aleatórios

para serem aplicados junto à sociedade de Alfenas, ou seja, a ideia de

diversificar o público pesquisado visa entender a percepção da Umbanda em

seus diferentes atores, além da população em geral.

Para a liderança espiritual foram aplicados quatro questionários, que

corresponde ao número máximo de terreiros de Umbanda encontrados. Os

questionários continham perguntas socioeconômicas e de opinião pessoal,

como nome; gênero; idade; bairro em que reside; escolaridade; se possui

profissão; qual segmento da Umbanda o terreiro faz parte; se o terreiro se

localiza junto à residência do líder; se já existia em outro lugar antes do atual;

número de membros do terreiro; número de consulentes por sessão e por mês;

se o líder percebe preconceito por parte da sociedade; etc. Tais questionários

foram tabulados e foram gerados gráficos para o melhor entendimento dos

resultados encontrado.

19

Para os membros dos terreiros foi perguntado sobre idade; gênero;

bairro em que reside; escolaridade; renda mensal média; se os mesmos se

declaravam umbandistas; o bairro onde está localizado o terrei que frequentam;

há quanto tempo fazem parte da Umbanda; se frequentam outro segmento

religioso e se percebem preconceito por parte da sociedade. Os dados gerados

foram tabulados e transformados em gráficos para o melhor entendimento.

Foram aplicados 11 questionários deste tipo, representando o máximo

encontrado.

Para os consulentes dos terreiros foi perguntado sobre idade; gênero;

bairro em que reside; escolaridade; renda mensal média; a religião do

entrevistado; com que frequência participa das sessões; se conhecem os

símbolos da Umbanda e por último, uma pergunta de opinião pessoal sobre

como eles enxergam a Umbanda. As questões foram tabuladas e foram

gerados gráficos que auxiliam na compreensão dos dados. A questão de

opinião pessoal foi usada na forma de citação no trabalho. Foram aplicados 17

questionários deste tipo, representando o máximo encontrado.

Para a vizinhança do terreiro foi perguntado sobre idade; gênero; bairro

em que reside; escolaridade; renda mensal média; a religião do entrevistado;

se sabem onde se localiza algum terreiro em Alfenas; se já frequentou algum

terreiro, ou participou de algum ritual da Umbanda e por último, uma pergunta

de opinião pessoal sobre como eles enxergam a Umbanda. As questões foram

tabuladas e foram gerados gráficos que auxiliam na compreensão dos dados. A

questão de opinião pessoal foi usada na forma de citação no trabalho. Foram

aplicados 22 questionários deste tipo, representando o máximo encontrado.

Consideramos vizinhança dos terreiros as casas que se encontravam no

mesmo quarteirão (mesma quadra) do terreiro.

O questionário destinado à sociedade alfenense foi aplicado de maneira

aleatória na praça central da cidade de Alfenas e possuía perguntas sobre

idade; gênero; bairro em que reside; escolaridade; renda mensal média; a

religião do entrevistado; se sabem onde se localiza algum terreiro em Alfenas;

se já frequentou algum terreiro, ou participou de algum ritual da Umbanda; se

conheciam algum umbandista na cidade de Alfenas e por último, uma pergunta

de opinião pessoal sobre como eles enxergam a Umbanda. As questões foram

tabuladas e foram gerados gráficos que auxiliam na compreensão dos dados. A

questão de opinião pessoal foi usada na forma de citação no trabalho. Para

esta categoria foi definido o número mínimo de 50 questionários aplicados. Ao

todo, foram aplicados 55 questionários deste tipo.

Durante a realização do trabalho, participamos de três sessões de

Umbanda nos terreiros “Templo de Umbanda Caboclo Pena Branca”, “Tenda de

Umbanda e Candomblé Maria Baiana de Aguiné” e o terreiro Umbanda

Esotérica liderado por “Dona” Ana Lúcia Barreto, que se encontram

20

respectivamente nos bairros Morada do Sol, Jardim Alvorada e Jardim

Panorama em Alfenas – MG.

21

5 O ESTUDO DA RELIGIÃO NA GEOGRAFIA CULTURAL

5.1 Evolução da geografia cultural

Para parte dos geógrafos estudiosos da Geografia da Religião, esta

disciplina se encontra inserida no campo da Geografia Cultural, portanto pode

ser considerada como um subcampo da mesma. Faz-se necessária uma breve

síntese acerca da evolução daquele campo, e consequentemente do

subcampo em questão, até o desenvolvimento de tais temas por autores

brasileiros.

A princípio, à luz do positivismo, no início do século XX a geografia

cultural voltava seus estudos para aspectos materiais de determinada cultura.

Aspectos tais como vestuários, utensílios, técnicas, regionalismos, dentre

outros. Estudos voltados aos modos de existência de grupos humanos, as

marcas deixadas por tais grupos na paisagem natural, a paisagem cultural e as

novas organizações espaciais criadas pela interferência antrópica impressa no

espaço. Essa linha de pesquisa ficou conhecida como Escola de Berkeley

(Califórnia), ou geografia saueriana, nome em referência ao grande

pesquisador Carl Sauer, que é tido como maior representante dessa escola.

Porém, após 1940 as abordagens da geografia saueriana sofreram

críticas devidas à ênfase dada aos aspectos materiais da cultura, ao passo que

tais ideias desviavam das tendências pós-modernas ao ignorarem os aspectos

não materiais da cultura. Aspectos como, as crenças, representações, signos e

subjetividades. Elementos, estes, que o positivismo não consegue abarcar

(FRANGELLI, 2010).

A partir de 1970 é possível identificar o surgimento de uma geografia

cultural renovada. Trabalhos contendo abordagens tanto de aspectos materiais,

quanto de não materiais da cultura, surgem e dão características a essa nova

corrente. A corrente viria ser denominada como Nova Geografia Cultural.

(ROSENDAHL, 1999 apud FRANGELLI, 2010).

Contudo essa nova corrente também não escapou das críticas. Segundo

Frangelli (2010), geógrafos dessa corrente são constantemente acusados de

22

“não contrabalancearem o peso da relação materialidade-imaterialidade” e, até

mesmo, de “desejarem infiltrar-se no interior de seus objetos de pesquisa a fim

de descobrir a essência deste simbolismo” (p.43).

Frangelli trás uma importante contribuição ao mencionar que:

A geografia cultural não se define em termos de seus objetos de estudo ou de um objeto de estudo em especial, como exemplos: uma festa, um costume, um templo, uma prática de peregrinação, uma estátua, uma centralidade simbólica gerada por uma praça; ela é definida ou identificada em termos de uma abordagem sobre quaisquer objetos da vida humana, sendo eles materiais ou imateriais. (2010, p.43 - 44)

A abordagem da Nova Geografia Cultural, que justifica estudos sobre a

imaterialidade da cultura, permite estudos acerca da religião. Visto que, dentro

da abordagem cultural tradicional a religião era estudada no que tange a

espacialização das tradições, costumes, festas religiosas. A religião e seu

poder transformador, como agente modelador do espaço, eram simplesmente

ignorados.

Em seu estudo, Frangelli (2010) citando Maria das Graças Mouga Poças

Santos (2006) nos remete que “é somente após a Segunda Guerra Mundial

que uma verdadeira geografia da religião começa a ser estudada e pesquisada,

pois as informações religiosas antes deste período eram aplicadas apenas

como suporte ao entendimento das realidades espaciais” (p. 39-40). E

prossegue dizendo que somente depois de 1970 que “a geografia da religião se

firma como subcampo reconhecido na ciência geográfica. Com essa validação

científica, novos métodos são inseridos seguindo a trilha da geografia cultural”

(p.40).

5.2 Geografia cultural e geografia da religião no Brasil

O surgimento da geografia cultural no Brasil pode ser considerado tardio.

Na década de 1970 com as traduções de artigos e livros de Yi Fu-Tuan por

Lívia de Oliveira, da UNESP – Rio Claro, que a perspectiva humanística e

cultural entra no debate geográfico brasileiro. Questões da imaterialidade do

sujeito, percepção, espaço vivido e a categoria lugar marcam seu início no

referencial teórico-metodológico.

23

Somente em 1989 com o início das publicações de Roberto Lobato

Corrêa sobre a obra de Carl Sauer e do ingresso de Zeny Rosendahl no

doutorado na USP com a temática da geografia da religião, é que a geografia

cultural passa a compor um campo de estudo no Brasil. Sendo assim, Lívia de

Oliveira através da inserção do método fenomenológico de Tuan, e os estudos

sobre percepção ambiental e percepção comportamental, Corrêa iniciando a

discussão teórico-metodológica do campo em questão, enquanto Rosendahl

foca no subcampo geografia da religião. Estes podem ser considerados os

intelectuais pioneiros de uma geografia cultural brasileira.

Quanto ao estudo específico sobre geografia e religião, segundo

Frangelli (2010), pode ser considerado um dos trabalhos pioneiros deste

subcampo, a tese de doutorado Pequenos Centros Paulistas de Função

Religiosa, defendida e publicada na USP em 1972, de autoria da pesquisadora

Maria Cecília França. Para Frangelli (2010), tal estudo foi realizado sob a ótica

da geografia cultural tradicional, realizando estudos sobre as cidades em que

há predominância das funções religiosas sobre as demais atividades. Este

estudo foi referente ao Catolicismo brasileiro, mais precisamente sobre a

peregrinação de fiéis de pequenos centros paulistas pela devoção à Bom Jesus

da Cana Verde.

O primeiro estudo brasileiro sobre geografia da religião sob a

perspectiva da Nova Geografia Cultural aparece com a tese de doutorado da

geógrafa Zeny Rosendahl. Defendida na USP em 1994 e intitulada Porto das

Caixas: Espaço Sagrado da Baixada Fluminense, o estudo aborda:

A compreensão do fenômeno religioso no contexto geográfico de apropriação dos elementos do espaço e dos modos sociais de produção do espaço sagrado, no qual o poder transformador da religião é interpretado enquanto sistema religioso organizado na cidade de Porto das Caixas, Itaboraí/ Rio de Janeiro. (FRANGELLI, 2010, p.51)

Contudo, vale ressaltar a diferença de 22 anos entre os trabalhos em

geografia da religião de França (1972) e Rosendahl (1994). E que somente o

trabalho desta autora se preocupou em uma proposta metodológica para o

estudo do subcampo em questão no Brasil. Entretanto, ambos são

24

considerados trabalhos pioneiros na geografia da religião brasileira. Frangelli

(2010) corrobora tal afirmação ao mencionar que “apesar de possuírem pesos

funcionais diferenciados no campo em termos de um determinado espaço-

tempo social, simbólico e historicamente construído, eles classificam como

agentes intelectuais acadêmicos pioneiros” (p.51).

5.3 Geografia da religião: propostas de Gil Filho e Zeny Rosendahl

Após a proposta metodológica de Rosendahl (1994), somente o

geógrafo Sylvio Fausto Gil Filho (2001) apresentou uma proposta para os

estudos em geografia da religião. Este autor não toma a geografia da religião

como ramificação da geografia cultural, como Rosendahl o faz, todavia a

considera como uma subdisciplina da Geografia Humana, portanto goza de

certa autonomia, possuindo métodos e abordagens próprias, podendo assim

dialogar com outras disciplinas que estudam o fenômeno religioso, como

Sociologia e Antropologia.

Gil Filho busca entender manifestações religiosas a partir do caráter

fenomenológico - ou seja, a percepção do homem religioso - das dimensões

estruturantes e das estruturas estruturadas da religião. Compreendendo o

espaço de determinada religião a partir das ações dos fiéis, as representações

e as percepções perante o discurso da religião (SILVA e GIL FILHO, 2009,

apud FRANGELLI, 2010).

Pereira (2013) nos remete que a linha teórica seguida por Gil Filho, trás

uma abordagem que, “partindo de uma base fenomenológica das

manifestações religiosas, se ocupa em grande parte das dimensões não

visíveis da religião ao mesmo tempo em que destaca a ação humana na

construção de sua realidade” (p.33). Pereira cita Silva para corroborar tal

afirmação: “Presume-se que é pelo espaço da ação do fiel que se podem

vislumbrar os espaços da religião, são as representações, as percepções do

fiel em face do discurso religioso os estruturantes do fenômeno religioso”

(SILVA, 2010, p.39 apud PEREIRA, 2013, p.33).

25

Gil Filho faz uma diferenciação entre uma geografia religiosa e uma

geografia das religiões. Para ele, a geografia religiosa estaria ligada à

influência de determinada religião sobre a percepção do homem, sobre o

mundo e sobre si mesmo. Desta maneira, a geografia religiosa estaria ligada

aos estudos cosmológicos e teológicos. Em contrapartida, a geografia das

religiões se ateria às relações de determinada religião com a sociedade e o

meio-ambiente. As religiões, então, seriam percebidas como instituições,

pertencendo, portanto, a diversos campos das ciências sociais.

É sobre esta geografia das religiões que recai as críticas feitas por Gil

Filho. Segundo o autor as religiões vistas como instituições se reduzem ou a

mera ideologia, ou a pressupostos pertencentes à cultura. Para o pesquisador

tal redução eliminaria a maior peculiaridade da religião, a sacralidade. O

referido autor propõe então o “sagrado” como uma categoria de análise.

No estudo feito por Frangelli (2010) sobre a obra de Gil Filho, aquela

autora nos diz que para este geógrafo “a religião não se reduziria aos aspectos

racionais, ou seja, doutrinários, comportamentais ou ritualísticos, ela teria uma

dimensão fenomenológica o qual o sentimento religioso poderia ser estudado”

(p.59). É este sentimento religioso que faz com que o religioso reconheça o

sagrado e suas manifestações. Segundo Frangelli (2010), Gil Filho toma o

sagrado como único e universal. “Único porque singular em sua especificidade

e gênese e universal enquanto possibilitador de diversas experiências” (p.60).

Em seu estudo, Frangelli identifica três dimensões de análise propostas

por Gil Filho. São Elas:

A dimensão do homem enquanto indivíduo concreto na dinâmica do

espaço-tempo histórico. A prática, o discurso e seus contextos só são

inteligíveis nos limites da experiência institucional da religião;

A dimensão social no qual a rede de relações integra a prática e o

discurso, no qual os consagrados classificam e constroem imagens do

mundo;

A dimensão institucional religiosa, a qual a ação institucional configura a

apropriação do sagrado, do controle do grupo e dos indivíduos, dos

26

dogmas e do dizer, tanto nas relações sociais quanto em sua

espacialidade.

Rosendahl busca entender as manifestações do fenômeno religioso a

partir de formas religiosas impressas na paisagem. A geógrafa, por sua vez, se

atém ao enfoque das estruturas espaciais de determinada religião e a nítida

dicotomia sagrado e profano. Segundo Frangelli,

[...] com a definição de categorias de análise primordiais como espaço sagrado e espaço profano a partir da dicotomia dos conceitos de sagrado e profano, Rosendahl pode definir tipologias aos quais as pesquisas em geografia da religião poderiam ser classificadas (2010, p. 53).

Zeny Rosendahl define espaço sagrado como:

[...] um campo de forças e de valores que eleva o homem religioso acima de si mesmo, que o transporta para um meio distinto daquele no qual transcorre sua existência. É por meio dos símbolos, dos mitos e dos ritos que o sagrado exerce sua função de mediação entre o homem e a divindade. E é o espaço sagrado, enquanto expressão do sagrado, que possibilita ao homem entrar em contato com a realidade transcendente chamada deuses, nas religiões politeístas, e Deus nas monoteístas (ROSENDAHL, 1994, p.42, apud FRANGELLI, 2010, p.53).

Num sentido contrário, o espaço profano seria aquele em que há

ausência do sagrado, o espaço onde transcorre a vida, as ações do cotidiano

que não possuem ligação com o sagrado. Deste modo, não seria incomum

encontrarmos espaços que ora se comportam como espaços sagrados, ora

como espaços profanos. Como exemplo de tais espaços, temos certos terreiros

de umbanda que funcionam como templos e como casa do líder daquele

terreiro. São espaços sagrados enquanto se realizam as práticas e rituais,

porém são espaços profanos enquanto casa do pai de santo e sua família.

Todavia voltaremos neste assunto mais adiante.

Ao se deparar com as dificuldades de aprofundar no estudo de geografia

da religião devido à falta de sistematização dentro do subcampo, Rosendahl

elabora um temário como proposição temática aos estudos futuros em

geografia da religião. Frangelli nos remete que tal temário trata-se de uma

adaptação de temas da geografia humana sob a ótica da geografia da religião.

27

Percebendo que a complexidade entre religião a as diversas dimensões da vida de relações dificultava a observação direta do papel do geógrafo frente ao debate, a pesquisadora propôs um conjunto de temas oriundos da geografia humana, porém adaptados ao viés da geografia da religião (FRANGELLI, 2010, p.54).

Tais temas são:

Fé, espaço e tempo: difusão e área de abrangência das religiões;

Neste tema são acoplados trabalhos que analisam as relações dos que creem, dos que não creem na produção reprodução e transformação de determinado lócus pela experiência da fé espaço-temporalmente. A dinâmica da vida de relações no que concerne a sua difusão e abrangência também se encontra imbricado neste tema, visto que de seu local de origem, no conflito entre crentes e não crentes, as religiões e seitas difundem a sua mensagem (FRANGELLI, 2010, p.54-55).

Centros de convergências e irradiação religiosa;

Os lócus sagrados variam escalarmente em tanto em tamanho e importância. Importância essa normalmente considerada em termos de símbolo e significado, como também capacidade de convergência de crentes e não crentes, e irradiação de suas ideias intrínsecas. Deste modo, o peregrino se destaca neste contexto ao realizar seu ato de deslocamento a um centro gerando itinerários do seu local de origem ao centro de convergência, incluindo os itinerários no interior destes centros. Muitos trabalhos geográficos abordam este fenômeno, visto que sua espacialidade é explicita (FRANGELLI, 2010, p. 55).

Religião, território e territorialidade;

As comunidades religiosas podem ser analisadas sobre o viés da apropriação espacial, ou seja, um território. Neste território, através de estratégias de controle de pessoas e coisas – sua territorialidade-, uma dada religião pode ser compreendida como uma entidade, muitas vezes institucional. Este tema engloba os comportamentos espaciais e estratégicos adotados pelas religiões a fim de manter, organizar e expandir seu controle. Encontram-se alocados aqui os jogos de poder, as questões de coexistência, de conflitos etc. Neste tópico se destaca as relações entre sistemas religiosos e política (FRANGELLI, 2010, p. 55).

28

Espaço e lugar sagrado: vivência, percepção e simbolismo.

Neste tema estão acoplados os aspectos subjetivos que produzem, reproduzem e transformam os lócus religiosos. A análise da composição, escolha e refutação de determinados objetos, símbolos e moralidades de cunho religioso em espaços e tempos qualitativamente diferenciados tornam-se objetos de estudo dos geógrafos. Espaço sagrado, espaço profano, lugar sagrado e outras categorias de análise surgem para identificar determinadas práticas de vivência, modos de percepção e concepções simbólicas (ROSENDAHL, 1994, apud FRANGELLI, 2010, p. 55).

As diferenças entre as propostas de estudo de Rosendahl (1994) e Gil

Filho (2001) são evidentes. Ambos trabalham com o conceito de sagrado.

Entretanto, como afirma Frangelli (2010), para Rosendahl “o sagrado se

apresenta como manifestação cultural, desta maneira sendo objeto da

geografia da religião” (p.61), porém, para Gil Filho “a natureza fenomenológica

do sagrado é o objeto da geografia do sagrado, o qual seria uma abordagem

para a geografia da religião” (p.61).

Esses foram alguns pesquisadores que alavancaram os estudos de

geografia da religião no Brasil e que hoje dão embasamento para diversos

trabalhos, deste campo de estudo ainda recente que necessita de mais

pesquisas empíricas para desenvolver e amadurecer os pressupostos teóricos

da geografia da religião.

29

6 TERRITÓRIO, IDENTIDADE TERRITORIAL E TERRITORIALIDADE.

Para entender questões políticas e culturais da geografia humana, um

dos conceitos mais importantes nessa análise é o território. Este conceito surge

na geografia clássica com Ratzel para delimitar o espaço vital, demarcações de

fronteiras, ou seja, um apelo à materialidade da sociedade.

Na perspectiva da geografia crítica de Raffestin e Sack trabalham com a

dimensão política e cultural numa ótica da imaterialidade. Raffestin preocupou-

se em diferenciar espaço e território. Para este autor, o espaço é anterior ao

território, “o espaço é a ‘prisão original’, o território é a prisão que os homens

constroem pra si” (RAFFESTIN, 2011, p.128).

Nesta concepção o território, então, se forma a partir do espaço, desde

que este sofra ação conduzida por um ator. “Ao se apropriar de um espaço,

concreta ou abstratamente (por exemplo, pela representação), o ator

‘territorializa’ o espaço” (RAFFESTIN, 2011, p.128).

Esta apropriação - mencionada por Raffestin – torna-se inimaginável

sem as relações de poder. Souza (2001) corrobora tal afirmação ao mencionar

que o território “se define a partir de dois ingredientes, espaço e poder” (p.106).

Este autor nos remete que “todo espaço definido e delimitado por e a partir de

relações de poder é um território [...]” (p.111).

Em seus estudos, Souza & Pedon (2007) acrescentam que o espaço

pode ser definido como:

[...] o palco de dimensões simbólicas e culturais que o transforma em território a partir de uma identidade própria criada pelos seus habitantes que o apropriam, não necessariamente como propriedade, mas com a ideologia-cultural manifestada nas relações políticas, sociais, econômicas e culturais. (p.133)

Nesta perspectiva, o território é o espaço concreto ocupado por um

grupo social. Souza (2001) corrobora tal afirmação:

[...] sempre que houver homens em interação com um espaço, primeiramente transformando a natureza (espaço natural) através do trabalho, e depois criando continuamente valor ao modificar e retrabalhar o espaço social estar-se-á também diante de um território [...] (p. 96).

Em seu livro Geografia e filosofia, analisando o conceito de território,

Sposito concorda com Souza (2001) ao citar Johnston (1994):

[...] o território refere-se a um espaço social definido, ocupado e utilizado por diferentes grupos sociais como consequência de sua prática de territorialidade ou campo de força exercitado sobre o espaço pelas instituições dominantes (SPOSITO, 2003, p.112).

Sobre o território Souza & Pedon (2007) acrescentam que “as

dimensões econômica, política, cultural e a natureza formam uma intricada

30

configuração onde o território surge como elemento que dá unidade a ação dos

sujeitos sociais” (p.133).

Para Rogério Haesbaert (2009), o território pode ser definido como:

[...] produto de uma relação desigual de forças, envolvendo o domínio ou controle político-econômico do espaço e sua apropriação simbólica, ora conjugados e mutuamente reforçados, ora desconectados e contraditoriamente articulados. (p.121)

Estes territórios desconectados, porém articulados citados por

Haesbaert nos remete ao conceito de “territórios descontínuos” trabalhado em

Souza (2001). Segundo este autor, territórios descontínuos tratam-se de redes,

“um conjunto de pontos – nós – conectados entre si por segmentos – arcos –

que correspondem aos fluxos que interligam, costuram os nós – fluxos de bens,

pessoas ou informações – sendo que viabilizam o deslocamento dos fluxos”

(p.93). Evidenciar a existência de tais territórios descontínuos é essencial para

o estudo do território reivindicado por um determinado grupo.

A identificação simbólica que um grupo social desenvolve com seu

espaço concreto vivido, é chamada de identidade territorial. Segundo Morais

“na construção do espaço é primordial que se destaque a importância do papel

do sujeito na construção das identidades sociais/territoriais, através de suas

relações com os outros e com os inúmeros objetos da contemporaneidade”

(2010, p.106). São as dimensões simbólicas e culturais, juntamente com as

relações de poder, que transformam o espaço em território. É essa identidade

territorial que dá ao território o caráter de território.

Para Haesbaert (2007):

A identidade é, por excelência, territorial, já que toda relação social se faz no espaço, dado o seu caráter multidimensional. Se o território é fruto das relações de poder, sejam elas políticas, econômicas e/ou simbólicas, ele expressa a luta de diferentes grupos pela construção de suas identidades assim como das respectivas territorialidades, ou seja, as práticas espaciais que constituem um território (HAESBAERT, 2007, apud MORAIS, 2010, p.99).

Sobre a construção do território e das identidades territoriais, Souza &

Pedon (2007) reiteram a importância da cultura e do “vivido” neste processo ao

afirmar que:

Os símbolos, imagens e aspectos culturais são na verdade, valores, talvez invisíveis, endogenamente falando, que para a população local materializa uma identidade incorporada aos processos cotidianos dando um sentido de território, de pertença e de defesa dos valores, do território, da identidade, utilizando-se das vertentes político-cultural, que na verdade são relações de poder e defesa de uma cultura adquirida ou em construção. (p.132)

É da relação identidade e território que surge a territorialidade. Esta, por

sua vez, trata-se da interação entre homem e espaço. Robert Sack define

territorialidade como a “tentativa por um indivíduo ou grupo de atingir,

31

influenciar ou controlar pessoas, fenômenos e relacionamentos, através do

controle sobre uma área geográfica” (2011, p.76). Nesta perspectiva, o

exercício do poder torna-se inconcebível sem a territorialidade. “Territorialidade

é a forma espacial primária que o poder assume” (SACK, 2011, p.88).

Segundo Raffestin (2011), a territorialidade “reflete a

multidimensionalidade do ‘vivido’ territorial pelos membros de uma coletividade,

pelas sociedades em geral” (p.142). Portanto, para este autor, a territorialidade

adquiriria um valor de bem particular. Para Sposito (2003), a territorialidade

está ligada ao “mundo dos sentidos (e, portanto da cultura), das interações cuja

referência básica é a pessoa” (p.113) e a capacidade de cada um de se

locomover e deslocar.

Ao falar sobre territorialidade, em seu trabalho, Morais (2010) cita

Moraes (2009, p.42) para contribuir com a discussão do assunto:

A territorialidade implica em múltiplas referências territoriais que interagem na produção identitária. Este conceito nos parece oportuno na medida em que permite tanto dar conta da dinâmica identitária e territorial, quanto da estrutura dos fenômenos sociais [...]. Permite que identidade e território sejam entendidos como fenômenos múltiplos, heterogêneos, multifacetados. As referências interpretativas das relações identidade e território articulado em diferentes territorialidades (o corpo, o terreiro, a comunidade e a cidade), contextualizam esta polissemia presente nas práticas [...]. (MORAES 2009, apud MORAIS 2010, p.106).

Nesta perspectiva, a territorialidade pode ser entendida ao mesmo tempo como algo pessoal, íntimo, próprio de cada indivíduo e como coletiva, quando um grupo partilha da mesma territorialidade, por exemplo, os membros de uma comunidade religiosa. Cabe a nós, então, analisarmos como essa territorialidade se expressa no território das religiões.

6.1 Território religioso e territorialidade religiosa

Por meio da identidade territorial e, consequentemente, da

territorialidade, podemos diferenciar os territórios específicos no urbano. Como

exemplo, os territórios das religiões. Souza & Pedon (2007) usam Rodrigues

(1992) para ressaltar “a consciência da igualdade do grupo que compartilha o

território. Nestes espaços a comunicação dá lugar à constituição de uma

identidade, o reconhecimento de si no outro (igualdade)” (p.134).

Segundo Rosendahl “cabe aos geógrafos elucidar como determinada

instituição religiosa mantém sua territorialidade preservada e,

consequentemente, como o território fortalece as experiências religiosas

coletivas ou individuais” (2005, p.12932).

Estamos nos referindo aos territórios demarcados, onde o acesso é controlado e dentro dos quais a autoridade é exercida por um profissional religioso. O território religioso constitui-se, assim, dotado

32

de estruturas específicas, incluindo um modo de distribuição espacial e de gestão de espaço (ROSENDAHL, 2005, p.12933).

Contudo, para a realização de estudos acerca da religião, Rosendahl

(2005) propõe dois focos de análise: sagrado e profano. A geógrafa parte da

concepção de sagrado e profano proposta por Mircea Eliade e do pressuposto

que há locais em que o sagrado domina, tais lugares seriam marcados por

signos e significados. Em contrapartida, existem locais que designam uma

realidade não divina, onde a consagração se mostra ausente. Os primeiros

locais seriam os territórios do sagrado, enquanto os segundos, territórios

profanos. A partir de tal concepção, Rosendahl (2005) propõe três dimensões

de análise da religião, a dimensão econômica, a dimensão política e a

dimensão do lugar.

A dimensão econômica estaria ligada à produção e comércio de bens

sagrados. Segundo Rosendahl (2005), “a ênfase desta análise recai sobre os

símbolos e o valor de bens simbólicos religiosos, considerados como bens que

expressam a revelação do sagrado” (p.12929). Tais bens assumiriam o valor

cultural, ao expressar o significado, e o valor mercantil, sendo visto como

mercadoria. A análise geográfica desta dimensão poderia ser feita sobre

“capacidade que a instituição religiosa tem de atender a demanda dos devotos

na oferta de bens por intermédio da rede de distribuição envolvendo diversos

agentes sociais” (ROSENDAHL, 2005, p.12929).

A dimensão política estaria ligada às estratégias usadas pelas

instituições religiosas, a fim de manter o controle sobre seus membros.

Rosendahl (2005) nos remete que:

São múltiplas as estratégias interligando religião e território, e a dimensão política do sagrado objetiva investigar as normas e formas adotadas pelas instituições religiosas a fim de assegurar a vivência da fé e a vigilância dos fiéis, afirmando assim sua identidade religiosa (p.12930).

A autora ainda complementa dizendo que “a sacralização de normas, valores e

ideias simbolizadoras do poder político são celebradas no espaço” (p.12931).

A dimensão do lugar estaria voltada á ligação emocional criada pelo fiel

com o lugar sagrado. Rosendahl nos remete que “sagrado, profano e território

contribuem para que o grupo religioso reforce o sentido de pertencimento à

instituição religiosa” (2005, p.12932). E prossegue dizendo que “a manutenção

do lugar sagrado favorece a noção de que a comunidade partilha uma

identidade comum, um sentimento de integração e de comunidade religiosa”

(ROSENDAHL, 2005, p.12932). Segundo Rosendahl (2005), não há como

separar a dimensão de lugar, das dimensões política e econômica.

Rosendahl (2005) cita Bonnemaison (2002) para alertar que existe “uma

oscilação contínua entre, de um lado, o território que dá segurança, símbolo da

identidade, e, de outro, o espaço que separa a liberdade, às vezes também

33

para a alienação” (p.12930). A autora complementa dizendo que “o território

religioso muda, morre ou renasce para melhor corresponder à afirmação do

poder” (p.12930).

Sobre a relação religião e território, Rosendahl (2005) destaca o caráter

cultural do território:

Nos tempos atuais o território, impregnado de significados, símbolos e imagens, constitui-se em um dado segmento do espaço, via de regra delimitado, que resulta da apropriação e controle por parte de um determinado agente social, um grupo humano, uma empresa ou uma instituição. O território é, em realidade, um importante instrumento da existência e reprodução do agente social que o criou e o controla. O território apresenta, além do caráter político, um nítido caráter cultural, especialmente quando os agentes sociais são grupos étnicos, religiosos ou de outras identidades. (p.12933)

Para Rosendahl a territorialidade “é uma estratégia de poder e

manutenção independente do tamanho da área a ser dominada ou do caráter

meramente quantitativo do agente dominador” (2005, p.12934). Deve ser

reconhecida, portanto, como uma estratégia de controle.

Torna-se importante compreender o fenômeno religioso neste contexto, isto é, interpretar a “poderosa estratégia geográfica de controle de pessoas e coisas sobre territórios que a religião se estrutura enquanto instituição, criando territórios seus” (ROSENDAHL, [1996: 56], apud ROSENDAHL, 2005, p.12934).

A autora prossegue dizendo que

Territorialidade religiosa, por sua vez, significa o conjunto de práticas desenvolvido por instituições ou grupos no sentido de controlar um dado território, onde o efeito do poder do sagrado reflete uma identidade de fé e um sentimento de propriedade mútuo. A territorialidade é fortalecida pelas experiências religiosas coletivas ou individuais que o grupo mantém no lugar sagrado e nos itinerários que constituem seu território. (p.12934)

Ainda sobre a territorialidade religiosa Rosendahl (2003) afirma que esta

“engloba, ao mesmo tempo as relações que o grupo mantém com o lugar

sagrado (fixo) e os itinerários que constituem seu território” (p.195).

A territorialidade religiosa é evidenciada no cotidiano das cidades. Não é

difícil identificar certos territórios religiosos em meio à paisagem urbana, como

é o caso da Igreja Católica. Os templos possuem símbolos que nos permitem

identificar tais espaços como territórios daquela religião. A própria arquitetura

das igrejas, o crucifixo no ponto mais alto dos templos, são exemplos de

símbolos, através dos quais podemos identificar a existência da religião no

local, sem que seja necessária qualquer placa de identificação.

Outra característica dos templos católicos é a posição estratégica em

que estes, geralmente, se encontram. O catolicismo tende a adotar uma

estratégia centralizadora de expansão da religião. Não é raro encontrarmos

exemplos de cidades (principalmente no Brasil, onde o catolicismo se faz

34

presente desde a dominação portuguesa) em cuja expansão urbana se deu a

partir da igreja católica. Sendo assim, tais templos reivindicam o espaço central

(estratégico, devido ao acesso) das cidades como parte de seu território e área

de influência de sua territorialidade. Como é o caso da cidade de Alfenas – MG,

onde o principal templo católico (matriz) está localizado no bairro central da

cidade.

Todavia, os centros das cidades não se constituem como território

religioso exclusivo do catolicismo. Outros segmentos religiosos, como templos

protestantes, kardecistas, dentre outros, também reivindicam pra si territórios

nos espaços centrais urbanos. Segundo Heleniza Ávila Campos, “entre outros

aspectos, as construções religiosas das áreas centrais destacam-se por seu

reconhecido valor cultural para a sociedade local” (2011, p.124). Tal valor

cultural faz com que haja conflitos, entre as instituições religiosas, por espaços

nos centros das cidades.

No caso das igrejas pentecostais, neopentecostais (protestantes, de um

modo geral), as estratégias adotadas visando expansão de seus territórios nas

cidades, são diferentes as da Igreja Católica. Segundo Campos, “a

descentralização e flexibilidade dessa estrutura encontram-se na forma

espontânea de expansão destas igrejas, sem um clero profissional que

centraliza todas as decisões” (2011, p.125). Tal descentralização faz com que

estas igrejas cresçam nos bairros periféricos e aumente seu domínio dentro da

cidade. Campos corrobora tal afirmação ao mencionar que “a descentralização

é, portanto, a mola que impulsiona todo ciclo de reprodução pentecostal” (2011,

p.125). Essas igrejas também possuem elementos que evidenciam sua

territorialidade e, consequentemente, nos permitem identifica-las facilmente nos

espaços urbanos em que as mesmas ocupam. Elementos tais quais, placas de

identificação, faixas e bandeiras remissivas à religião.

Entretanto, quando se trata das religiões não cristãs, principalmente as

de origem afro-brasileiras, a realidade é completamente diferente das demais

religiões. Segundo Barros (2008), “ao contrário das igrejas cristãs, que ocupam

pontos de destaque na geografia urbana, os terreiros de umbanda são difíceis

de serem encontrados, o que é compatível com o lugar social dessa religião na

sociedade” (p.56). Todavia, vale ressaltar que tais religiões, como Candomblé e

Umbanda, “fazem parte e participam como instituições reconhecidas e

incorporadas no cotidiano da vida urbana brasileira” (BARROS, 2008, p.56).

Porém, estas religiões não recebem o merecido valor, por grande parte da

sociedade urbana das cidades onde elas se fazem presentes.

Algumas divisões do espaço podem ser generalizadas para as religiões de matriz afro-brasileira. O terreiro é o espaço central para as práticas rituais dessas religiões e dentro dele existe uma série de lugares estabelecidos para momentos específicos do ritual (BEM & DORFMAN 2011, p.100).

35

Dificilmente encontraremos templos das religiões afro-brasileiras nos

centros das cidades. Além disso, a territorialidade de tais templos não se

mostra tão evidente como no caso das religiões cristãs. Não é raro

encontrarmos terreiros de Candomblé e Umbanda sem ao menos uma placa de

identificação. Um dos fatores que explicam isto, segundo Barros, é que “quase

nunca o terreiro é um edifício construído específica e exclusivamente para este

fim” (2008, p.56).

O terreiro, na maioria dos casos, se encontra inserido na casa de seu

líder religioso (pais e mães-de-santo). Nesta concepção, o mesmo espaço que

possui função sagrada em alguns momentos, passa a ter função profana em

outros. Segundo Barros,

Isto faz com que os espaços profanos e sagrados nunca estejam totalmente delimitados. Assim como as partes profanas da moradia podem ser usadas religiosamente (uma “consulta” na cozinha ou no quarto, uma cerimônia na sala, etc.) o recinto cerimonial fora das horas de “trabalho” também poderão ser utilizados profanamente (como sala de estar, de costura, de baile, de dormir, etc.) (2008, p.56 -

57).

Remete-nos ainda que

O terreiro também é casa não apenas do pai ou mãe-de-santo, mas também de muitos de seus filhos consanguíneos e espirituais. Ele é simultaneamente templo e moradia. A família de santo divide os cômodos de seu cotidiano profano com o espaço sagrado de seus deuses (BARROS, 2008, p.59).

E acrescenta que, assim como o espaço físico, os objetos da casa também

podem adquirir funções sagradas e profanas.

O mesmo ocorrerá com muitos objetos da casa que poderão cumprir um papel religioso ou profano, conforme a ocasião: panelas, pratos, copos e talheres usados cotidianamente têm uma utilização ritual nas cerimônias, uma lata de óleo vazia pode ser utilizada na defumação, uma mesa de centro ou cadeira se transformará em um “mini-congá”, etc. (BARROS, 2008, p.57).

Por mais que o terreiro oscile entre as funções sagradas e profanas,

para os membros daquela instituição religiosa, aquele espaço sagrado está

isolado do profano que ocupa seus limites espaciais.

Para o grupo religioso que os frequenta, os terreiros constituem, à sua maneira, ponto fixo, “centro do mundo”, em que a noção de espaço sagrado implica na ideia da repetição da “hierofania” que consagrou esse espaço “transfigurando-o, em resumo, isolando-o do espaço profano à sua volta” (ELIADE, 1993, p. 295, apud BARROS, 2008, p.56).

Segundo Barros, para os filhos da casa (membros do terreiro) o terreiro

representa

36

[...] um espaço social, mítico, simbólico, em que a natureza e os fiéis se unem para viver uma realidade diferente daquela que o cotidiano ou a sociedade lhes apresenta como real, na qual as pessoas que o constituem acreditam. É nesse espaço que se dá a transmissão e aquisição dos conhecimentos da tradição religiosa afro-brasileira (2008, p.56).

Contudo, mesmo que não esteja evidente, isso não significa dizer que a

territorialidade religiosa das religiões afro-brasileiras é inexistente. Pelo

contrário, ela se mostra muito presente em espaços em que, na maioria das

vezes, as outras religiões não se manifestam. O território religioso da

Umbanda, por exemplo, vai muito além dos limites do terreiro. Esta religião se

apropria de diversos espaços urbanos a fim de realizar seus rituais e trabalhos.

Barros corrobora tal afirmação ao mencionar que

Os limites do terreiro não se resumem ao espaço fechado entre os muros. Todavia, os limites do terreiro são os limites espaciais de um grupo social. Isso é, as fronteiras desse espaço sagrado simbolizam também os espaços “naturais” ou de “natureza construída” que lhes estão mais próximos, tais como praias, cachoeiras, matas, ruas, cemitérios e encruzilhadas, dentre outros, onde também se realizam cerimônias religiosas (BARROS, 2008, p.57).

Segundo Bem & Dorfman, as religiões de matrizes afro-brasileiras “atribuem

grande valor às forças e elementos da natureza, daí a escolha, através da

prescrição mitológica, dessas paisagens naturais para a realização de rituais

importantes” (2011, p.101).

Os chamados trabalhos, ou ebós (ou ainda despachos) funcionam como

símbolos da territorialidade da Umbanda no espaço urbano. Ao nos

depararmos com tais trabalhos nas ruas, encruzilhadas, matas, podemos

identificar que a religião de Umbanda se faz presente ali. E mais, que estamos

diante de um espaço sagrado em meio ao espaço profano da cidade. Barros

nos remete que “os ‘ebós’, também conhecidos como ‘despachos’, são os

elementos mais visíveis e frequentes que saem do terreiro para a rua, sendo o

principal responsável pela identificação de ‘forças místicas’ nos espaços da

cidade” (2008, p.57).

Sendo assim, o terreiro não deve ser entendido apenas como o templo

onde acontecem os encontros, reuniões, consultas, rituais, que geralmente é a

casa do pai ou mãe-de-santo. O território sagrado da Umbanda se estende

além dos limites físicos do templo. Os locais sagrados onde ocorrem os

trabalhos rituais, também são parte integrante do terreiro. Segundo Barros

O terreiro, portanto, é o ponto de encontro dos homens com seus “guias”. A terra dos homens opõe-se à terra dos orixás, o terreiro, porque nela se dá esse encontro dos homens com seus deuses, simbolizando também nos pontos de encontro da natureza, pois o terreiro é também, como se pode perceber, mar, cachoeira, rio, caminhos, matas, florestas, encruzilhadas, ruas e cemitério (BARROS, 2008, p.59).

37

Nesta perspectiva, Barros acrescenta que:

[...] as cidades passam a ser pensadas com parte integrante do cosmos umbandista, que extrapola o domínio dos terreiros. Ao demarcar seu território com ações e práticas religiosas, o grupo religioso identifica-se com a cidade, criando uma identidade visual/espacial (BARROS, 2008, p.60).

Assim também é para os umbandistas da cidade de Alfenas, no estado

de Minas Gerais. Tal cidade faz parte do cosmo umbandista na medida em que

abriga os territórios sagrados daquela religião.

Todavia, antes de tratarmos o caso específico deste município, devemos

entender como se estrutura a religião de Umbanda, no que tange sua

organização e hierarquia, os principais elementos do culto umbandista, seus

rituais, obrigações e sacramentos.

38

7 UMBANDA: ESTRUTURA, ORGANIZAÇÃO, ELEMENTOS DO CULTO E SACRAMENTOS.

Como vimos na introdução, a Umbanda ganha status de religião a partir

de 15 de Novembro de 1908, quando o médium Zélio Fernandino de Moraes,

tomado pela entidade Caboclo das Sete Encruzilhadas, anuncia o início

daquela religião. Em seu livro “TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE

UMBANDA” de 2008, Janaina Azevedo nos remete que:

[...] não existe uma única história que conte, de maneira uniforme, a história de todos os caminhos e manifestações da Umbanda. Cada vertente tem as suas tem suas origens e história, entretanto, por convenção, desde a década de 1970, aceitou-se que Zélio Fernandino de Moraes teria sido o anunciador da Umbanda por meio do Caboclo das Sete Encruzilhadas, em 1908, criando moldes e parâmetros, firmando fundamentos, bases e dogmas que possibilitaram sua institucionalização como religião (AZEVEDO, 2008, p.10).

A Umbanda, então, foi constituída como religião, possuindo todos os

aspectos necessários para ser vista como tal. Segundo Barbosa Júnior, “a

Umbanda é uma religião constituída, com fundamentos, teologia própria,

hierarquia, sacerdotes e sacramentos” (2011, p.5). E mais que isso, a

Umbanda é uma religião fundada no Brasil, portanto, brasileira.

Para Barbosa Júnior (2011) o nome Umbanda tem origem nas línguas

africanas Umbundo e Quimbundo e tem um significado próximo de medicina,

arte de curandeiro, ciência médica. “O termo passou a designar,

genericamente, o sistema religioso que, dentre outros aspectos, assimilou

elementos religiosos afro-brasileiros ao espiritismo urbano (Kardecismo)”

(BARBOSA JÚNIOR, 2011, p.5).

Tal assimilação destes elementos de outras religiões configura o

sincretismo. Através deste, a religião de umbanda foi estruturada. Sendo assim,

torna-se difícil vislumbrar a Umbanda sem sua tradicional mistura de crenças.

Pois o sincretismo é uma das essências da Umbanda.

Sobre o sincretismo, Azevedo nos remete que,

[...] a Umbanda, embora possuidora de um padrão ritualístico próprio e distanciado de qualquer outro, formou-se devido à junção de pelo menos quatro religiões: os diferentes cultos africanos trazidos pelos escravos negros provenientes da África; o catolicismo, base religiosa de todo o processo colonizatório brasileiro; as religiões de diferentes povos indígenas do próprio território; e, mais recentemente, ao instruir-se, no século XX, o espiritismo de Allan Kardec, principalmente (AZEVEDO, 2008, p.9).

39

Podemos acrescentar a esta lista, ainda, o sincretismo com as religiões

orientais, ou “Orientalismo”. Nesta perspectiva a Umbanda assimila elementos

de religiões indianas e do extremo oriente, em seu culto.

Devido a este vasto sincretismo, os umbandistas cultuam os Orixás dos

cultos africanos, os santos do catolicismo e os espíritos do plano espiritual,

advindo da filosofia kardecista. Os médiuns de incorporação, geralmente,

recebem espíritos do plano espiritual com o objetivo de realizar trabalhos no

plano físico.

O sincretismo ainda norteia o segmento que cada casa de Umbanda

costuma seguir. Alguns dos muitos segmentos da Umbanda que podemos citar

são: Umbanda de Alma e/ou Angola; Umbanda Branca e/ou de Mesa;

Umbanda de Caboclo; Umbanda Esotérica; Umbanda Iniciática; Umbanda

Omolocô; Umbanda Popular; Umbanda de Preto-velho; Umbanda Traçada ou

Umbandomblé e Umbanda Tradicional, dentre outros mais.

Apesar de todos os segmentos fazerem parte da mesma religião - de

Umbanda - os ritos, trabalhos, cultos se diferem de segmento para segmento.

Há casas de Umbanda que mantém mais contato com elementos do

Candomblé. Outras mais voltadas ao Espiritismo Kardecista. Muitas preservam

características do catolicismo, como por exemplo, o ato de proferir as orações

“Pai Nosso” e “Ave Maria” durante seu culto.

Não obstante a diversidade de segmentos da Umbanda, para Barbosa

Júnior “a Umbanda é uma só. Contudo, há ramificações diversas, nas quais

cada sacerdote, cada filho e cada consulente se sentem mais à vontade para

trabalhar sua conexão com o divino e desenvolver a mediunidade” (2011,

p.141).

De um modo geral, os médiuns de incorporação de uma casa de

Umbanda não recebem Orixás, mas sim espíritos representantes destes. Tais

espíritos são chamados de guias, entidades e/ou falangeiros. Barbosa Júnior

corrobora tal afirmação ao mencionar que “na linguagem e na concepção

umbandista, portanto, quem incorpora em uma Gira de Umbanda não são os

Orixás propriamente ditos, mas seus falangeiros, em nome dos próprios

Orixás” (2011, p.22).

Todavia, devida à diversidade de segmentos e divisões dos terreiros de

Umbanda, em certas casas, há médiuns que incorporam alguns dos muitos

Orixás. Segundo Barbosa Júnior (2011):

Mesmo que essa visão não seja consensual, ao menos se admite no meio umbandista que o Orixá que incorpora possui um grau adequado de adaptação à energia dos encarnados, o que seria incompatível para os Orixás hierarquicamente superiores (p.23).

Porém, é mais comum encontrarmos segmentos da Umbanda em que

apenas entidades são incorporadas pelos médiuns. Para o umbandista, tais

40

entidades vêm ao plano físico no intuito de trabalhar, orientar e/ou tentar ajudar

os “encarnados” (como o umbandista descreve as pessoas viventes no plano

físico).

Sobre tais entidades, Azevedo complementa dizendo geralmente elas

são

[...] espíritos ancestrais, encantados ou, ainda, espíritos desencarnados que, sob supervisão dos Orixás e de outros espíritos em diferentes graus de evolução, incorporam os médiuns para, dotados de plenas capacidades do plano físico, aconselhar e trabalhar em prol dos encarnados (2008, p.8 - 9).

Para um melhor entendimento da religião de Umbanda, cabe a nós

compreendermos como se estrutura um templo de Umbanda, no que diz

respeito a sua hierarquia e a organização interna.

7.1 Hierarquia nos terreiros de Umbanda

A casa de santo (ou terreiro de Umbanda), geralmente, é comandada

por um Dirigente espiritual. “Pai-de-santo” e “Mãe-de-santo”, “Babalorixá”

(homens) ou “Babá” e “Iyalorixá” (mulheres) ou “Iya”, “Tatalorixá” ou “Tata”, são

alguns dos nomes pelos quais são conhecidos tais dirigentes. Estes,

geralmente, são médiuns de incorporação. Rebem as entidades que

comandam determinado terreiro.

Na maioria das vezes, são “donos” do terreno onde está instalado o

centro de Umbanda e, em muitos casos, possuem residência no mesmo

endereço do templo religioso. Terreiros em cujo espaço do sagrado - onde

ocorrem os rituais e cultos - faz fronteira com o espaço profano – espaço de

vivência do líder espiritual e sua família – como mencionado anteriormente.

Os dirigentes do terreiro, geralmente são auxiliados nos deveres,

obrigações, cultos, por médiuns com vasta experiência espiritual na casa, que

são conhecidos como “Pai pequeno” e “Mãe pequena”. Na ausência do “Babá”,

são eles que devem assumir e conduzir o andamento do terreiro. Barbosa

Júnior (2011) corrobora tal afirmação ao nos dizer que “na direção espiritual da

casa, conta-se ainda com o pai pequeno e/ou com a mãe pequena, auxiliares

diretos do (a) babá e, em sua ausência, substitutos” (p.109). Porém, eles

devem respeito às decisões do líder da casa.

A baixo dos “Pais e Mães pequenos” na linha de hierarquia estão os

“Ogãs”. Estes se caracterizam como médiuns que se dedicam aos toques e

cantos entonados no terreiro durante os cultos. Geralmente eles não são

médiuns de incorporação, o que não impede que existam Ogãs que também

incorporem as entidades.

Todavia, a parte musical da Umbanda - conhecida como “Pontos

cantados”- sob a responsabilidade dos Ogãs, se mostra de extrema

41

importância para o culto umbandista no que tange a incorporação por parte dos

médiuns que recebem as entidades. É a música, aliada à preparação espiritual

do médium e os chamados “Pontos riscados”, que “chamam” as entidades para

os trabalhos na casa.

Sobre aqueles médiuns, Barbosa Júnior nos remete que “o Ogã na

Umbanda relaciona-se à curimba, dedicando-se ao toque e ao canto” e se trata

de “um médium de sustentação, de firmeza durante os rituais, atento ao

andamento da gira, a fim de que, por meio do toque e do canto, manter a

vibração necessária e desejada” (2011, p.110).

Entretanto, existem templos de Umbanda em que os líderes não são

médiuns de incorporação. Nestes, os Ogãs podem ser os chefes das casas.

Porém, na maioria dos casos, os Ogãs estão sob a autoridade dos Pais e Mães

pequenos e, principalmente, do líder espiritual da casa.

Sob a autoridade destes também se encontram os Cambonos. Estes são

médiuns que auxiliam os médiuns de incorporação, enquanto estes se

encontram incorporados. Geralmente o Cambone não incorpora, porém, assim

como no caso dos Ogãs, isto pode ocorrer.

Cambone é o médium de firmeza encarregado de, dentre várias funções, auxiliar os médiuns e a Espiritualidade incorporada, bem como fazer anotações, cuidar de detalhes da organização do terreiro, dar explicações e assistência aos consulentes (BARBOSA JÚNIOR, 2011, p.110).

Em algumas casas de Umbanda (principalmente da chamada Umbanda

de Nação) existem as Ekédis. Estas são um tipo de cambonas que auxiliam

uma entidade específica daquele terreiro. A função de Ekédi no terreiro é

específica das mulheres.

Os médiuns rodantes de uma casa, geralmente são “filhos” do terreiro

que possuem a capacidade de incorporar os guias e entidades. As entidades

denominam os médiuns de incorporação como “aparelhos”, “instrumentos”,

“cavalos”, ou mesmo “burros”. Podemos dizer que os médiuns rodantes,

“emprestam” seus corpos para que as entidades possam realizar seus

trabalhos no plano físico, por isso são chamados assim.

Segundo Barbosa Júnior, o médium rodante “é o médium que incorpora

Orixás, Guias e Entidades, os quais se acoplam à estrutura do aparelho ou

cavalo, de modo a se servirem de seu corpo físico para os trabalhos

espirituais”, todavia, “o desenvolvimento mediúnico desses médiuns (como de

todos os outros) deve ser bastante disciplinado, orientado e supervisionado

pelos Guias-chefes, bem como pelos dirigentes espirituais” (2011, p.113).

As pessoas que frequentam os terreiros de Umbanda, em busca de

consultas espirituais; ajuda advinda do plano espiritual; bênçãos; visando

42

participar dos rituais; ou mesmo por mera curiosidade, são conhecidas pelos

umbandistas como “Assistência”.

Para Barbosa Júnior (2011),

A assistência é composta de pessoas que, regular ou esporadicamente, frequentam as giras. Podem ou não ser umbandistas. Algumas dessas pessoas costumam contribuir com doações para a manutenção do terreiro, festas, atividades assistenciais etc. (BARBOSA JÚNIOR, 2011, p.113).

Estas pessoas também podem ser conhecidas como “Consulentes” e/ou

“Demanda” em alguns terreiros. Eles ficam em um lugar separado dentro do

“barracão” onde ocorrem os rituais e, geralmente, só participam dos rituais

quando são chamados pelas entidades para a “consulta espiritual”.

Portanto, é assim que se organiza e se estrutura um terreiro de

Umbanda, no que tange sua organização hierárquica. Cabe a nós, então,

analisarmos os elementos próprios do culto umbandista, ou “Gira” como é

conhecido pelos adeptos daquela religião.

7.2 As “Giras” e os elementos do culto umbandista

Como já discutido anteriormente, o território sagrado da Umbanda não

se atem aos limites físicos do terreiro. Tal território abarca locais específicos

nos quais também se dão as práticas e rituais umbandistas, como por exemplo,

as encruzilhadas, matas, cachoeiras, nascentes de rios, etc. Portanto, o culto

umbandista se dá também nestes locais, assim como nos templos de

Umbanda.

Azevedo corrobora tal afirmação ao colocar que

O culto umbandista se realiza, prioritariamente, em dois tipos de lugar: no Centro, terreiro, templo/tenda, mas também pode se realizar, em ocasiões de festividade, comemoração ou trabalhos, no ambiente natural de alguns dos Orixás – pedreiras, cachoeiras, beira-mar etc. (2008, p.25).

Normalmente, são conhecidos por “giras” os cultos praticados no terreiro

de Umbanda. “As giras são os trabalhos ritualísticos mais conhecidos na

Umbanda” (BARBOSA JÚNIOR, 2011, p.117).

43

Figura 1: Culto Umbandista. Fonte: Blog Casa de Caridade R.O.S.A. Disponível em:

http://casadecaridaderosa.blogspot.com.br/2011/02/gira-de-oxossi.html. Acesso em 27/03/2013.

Para que uma gira aconteça, alguns elementos ritualísticos são

essenciais, como por exemplo:

As “defumações” que, segundo Barbosa Júnior (2011), é “uma das mais

conhecidas formas de limpeza energética feita na Umbanda, as defumações

ocorrem não apenas no início dos trabalhos (especialmente das giras), mas em

outros locais e circunstâncias em que se fizerem necessárias” (p.117);

44

Figura 2: Defumação no culto umbandista. Fonte: sítio eletrônico Raízes Espirituais. disponível em:

http://www.raizesespirituais.com.br/defumacao-incenso-e-simpatia-defumador-tablete-ambientes-

diversos/. Acesso em 27/03/2013.

O uso das “ervas”, que são “fundamentais nos rituais de Umbanda para

os banhos, defumações, chás e outros, as ervas devem ser utilizadas com

orientação da Espiritualidade e do dirigente espiritual” (BARBOSA JÚNIOR,

2011, p.118);

Figura 3: Ervas usadas nos rituais da Umbanda. Fonte: sítio Em Defesa da Umbanda. Disponível em:

45

http://www.emdefesadaumbanda.com.br/index.php/2011/06/21/banhos-de-ervas/. Acesso em

27/03/2013.

Os “pontos cantados”, já citados ao nos referirmos às funções dos Ogãs

no terreiro. Para Barbosa Júnior, o ponto cantado “impregna o ambiente de

determinadas energias enquanto o libera de outras, indesejadas. Verdadeiros

mantras, os pontos mobilizam forças da natureza, atraem determinadas

vibrações, Orixás, Guias e Entidades” (2011, p.122);

Os atabaques, instrumentos tocados pelos Ogãs durante as giras e os

próprios cantos entonados pelos mesmos, também são elementos essenciais

no culto umbandista. “Esses instrumentos são muito importantes, constituindo-

se em um dos fundamentos do culto aos Orixás” (BARBOSA JÚNIOR, 2011,

p.124);

Figura 4: Atabaques da Umbanda tocados pelos Ogãs. Fonte: Sítio eletrônico Templo de Umbanda Caboclo Tupinamba e Cabocla Guacira. Disponível em: http://caboclostugua.blogspot.com.br/2012/10/o-oga-e-curimba.html. Acesso em 27/03/2013.

Os “pontos riscados” (também já mencionados) se configuram como

desenhos específicos, normalmente, riscados com giz (ou pemba para os

umbandistas) servem como “chaves” para o contato com os Orixás, Guias e

entidades.

Muito mais do que meio de identificação de Orixás, Guias e Entidades, os pontos riscados constituem fundamento de Umbanda, sendo instrumentos de trabalhos magísticos, riscados com pemba

46

(giz), bordados em tecidos etc. Funcionam como chaves, meios de comunicação entre os planos, proteção; tendo, ainda, diversas outras funções, tanto no plano dos encarnados quanto no da Espiritualidade (BARBOSA JÚNIOR, 2011, p.126);

Figura 5: Exemplos de pontos riscados da Umbanda. Fonte: Sítio eletrônico Centro espírita Urubatan. Disponível em: http://www.centroespiritaurubatan.com.br/fundamentos/ponto-riscado.html. Acesso em 27/03/2013.

As “guias”, que são colares de contas coloridas usadas pelos membros

do terreiro durante as giras. A combinação de cores das contas destes

amuletos faz referência às cores de afinidade de cada Orixá e entidade,

invocados nos cultos. Por isso, cada guia é preparada e consagrada pelos

líderes das casas, com a finalidade de serem usadas em momentos

específicos do culto. Sobre tais guias, Barbosa Júnior nos remete que “também

conhecidas como fios de contas, colares de santo ou cordões de santo, as

guias são preparadas pelo dirigente espiritual, ou por auxiliares e cruzadas”

(2011, p.127);

47

Figura 6: Guias usadas nos cultos e rituais de Umbanda. Fonte: Blog Umbanda de Preto Velho. Disponível

em: http://umbandadepretovelho.blogspot.com.br/2011/04/as-guias.html. Acesso em 27/03/2013.

Outro elemento essencial dos cultos e rituais umbandistas são as velas.

Segundo Barbosa Júnior (2011), “a vela reforça a energia, a conexão, o desejo,

além de fornecer a energia da vida (ígnea). Ajuda a dissipar energias deletérias

e, portanto, abre espaço para que as energias positivas se instaurem e/ou

permaneçam no ambiente” (p.127). Para este autor “o uso de velas é bastante

importante nos fundamentos e nas práticas umbandistas” (BARBOSA JÚNIOR,

2011, p.127);

48

Figura 7: velas usadas nos rituais e cultos da Umbanda. Fonte: Blog Espada de Ogum. Disponível em:

http://espadadeogum.blogspot.com.br/2009/05/velas-da-umbanda-suas-cores-e-como.html. Acesso em

27/03/2013.

Nos cultos e rituais umbandistas é extremamente natural o uso do

tabaco e do álcool. Certas entidades têm afinidades com tipos de bebidas

alcoólicas específicas, como cachaça, conhaque, uísque, dentre outros, e

variedades de tabaco específicas, como cigarros de papel, charutos, cigarros

de palha, etc. Para Barbosa Júnior, “o fumo desagrega energias deletérias e é

fonte de energias positivas, atuando em pessoas, ambientes e outros” e “o

álcool, por sua vez, também serve de verdadeiro combustível para a magia,

além de limpar e descarregar, seja organismos ou pontos de pemba ou pólvora,

por exemplo” (2011, p.129);

Os banhos de ervas também se configuram elemento importante no

cenário umbandista. Segundo Barbosa Júnior,

A água, enquanto elemento de terapêutica espiritual, é empregada em diversas tradições espirituais e/ou religiosas. Na Umbanda, em poucas palavras, pode-se dizer que a indicação, as formas de preparo, os cuidados, a coleta, sua ritualística ou compra de folhas, dentre tantos aspectos, devem ser orientados pela Espiritualidade e/ou pela direção espiritual de uma casa (BARBOSA JÚNIOR, 2011, p.129).

49

Tentamos, assim, abarcar brevemente os principais elementos do culto

umbandista. Cabe a nós agora descrever alguns cuidados específicos que o

umbandista deve guardar durante os rituais.

Geralmente, antes dos rituais umbandistas e das giras pede-se que o

umbandista abstenha-se de bebidas alcoólicas e de relações sexuais, a fim de

manter o “corpo limpo” para que os espíritos possam trabalhar. O período desta

abstenção varia de acordo com o segmento de Umbanda da casa, mas,

geralmente, pede-se 24 horas para esta purificação.

Os umbandistas ainda têm que cumprir certas “obrigações” rituais. Tais

obrigações se dão no sentido de um compromisso assumido pelo umbandista

com o seu Orixá, ou entidade, mas também como uma maneira do umbandista,

como servo, agradecer aos seus senhores no plano espiritual. Estes rituais,

muitas vezes, se configuram como a entrega de comidas, presentes e até

mesmo sacrifício de animais (em alguns segmentos da Umbanda) às

divindades na forma de oferendas. “Em linhas gerais, as obrigações se

constituem em oferendas feitas para, dentre outros motivos, agradecer, fazer

pedidos, reconciliar-se, isto é, reequilibrar a própria energia com as energias

dos Orixás, Guias e Entidades” (BARBOSA JÚNIOR, 2011, p.133).

Quanto às roupas usadas na Umbanda, existe um vestuário

característico para os membros do terreiro. Normalmente, durante as sessões,

os filhos do terreiro se vestem de todos de branco e, geralmente, com os pés

descalços. Contudo, em dias de festa para os Orixás e divindades desta

religião, os membros - principalmente os médiuns de incorporação – se vestem

e se ornamentam com roupas especiais em homenagem àqueles deuses. Para

Barbosa Júnior,

O vestuário na Umbanda caracteriza-se pela simplicidade. Geralmente é composto de calça (e/ou saia) e camisa brancas, com uniforme específico para os trabalhos de Esquerda. Contudo, algumas casas possuem também uniformes de festa e outros (2011, p.137).

Alguns acessórios também podem ser usados pelos médiuns durante as

incorporações. Tais como, brincos, pulseiras, colares, bengalas, lenços,

chapéus e cartolas, cachimbos, etc. “Por influência dos Cultos de Nação,

outros elementos podem compor a variabilidade do vestuário, como panos de

cabeça, panos da costa e outros. Além disso, conforme a linha de trabalho,

utilizam-se bengalas, chapéus etc.” (BARBOSA JÚNIOR, 2011, p.137).

7.3 Sacramentos da Umbanda

Como religião constituída, a Umbanda possui sacramentos. Como por

exemplo, batismo e casamento.

50

Assim como em outras religiões, a Umbanda também possui batismo

como um de seus sacramentos. “Na Umbanda, o Batismo significa a lavagem

espiritual e a recepção do irmão de fé pela comunidade” (BARBOSA JÚNIOR,

2011, p.139). Todavia, a Umbanda reconhece o batismo realizado em outras

religiões, como afirma Barbosa Júnior (2011): “A Umbanda reconhece o

Batismo realizado em outras religiões. Nesses casos, realiza um Batismo

simbólico, representando a entrada na religião, sem necessariamente emitir o

documento chamado popularmente de batistério” (p.139).

Quanto ao sacramento do casamento, Barbosa Júnior nos afirma que

“enquanto religião constituída, a Umbanda oferece a benção matrimonial,

geralmente feita pelo Guia-chefe do terreiro ou outra Entidade com a qual

trabalhe o dirigente espiritual da casa” (2011, p.139).

Um aspecto da Umbanda de extrema relevância e pertinência que não

poderíamos deixar de destacar aqui é o valor do gênero feminino, da mulher

dentro desta religião.

Ao contrário de outras religiões, na Umbanda as mulheres são muito

valorizadas. Existem rituais que devem ser feitos especificamente por pessoas

do gênero feminino. Os trabalhos nas cozinhas de muitos terreiros, o papel das

Ekédis, como já foi dito e muitos outros mais.

Diferentemente da Igreja Católica, na Umbanda as mulheres podem

assumir os mais altos cargos do sacerdócio, como por exemplo, as Mães-de-

santo, Iyalorixás e Tatalorixás.

Muitos Orixás e espíritos que “baixam” no terreiro se apresentam como

entidades femininas. Como por exemplo, os Orixás, “Iemanjá”, “Nanã”, “Oxum”,

“Iansã” e as entidades “Pombas-gira”, “Ciganas”, “Pretas-velhas, dentre outras.

Com isso, apresentamos até aqui alguns aspectos essenciais da religião

de Umbanda, sua hierarquia, os elementos de seu culto, a importância das

obrigações para o umbandista, os sacramentos e o papel da mulher na religião.

Portanto, é assim que se estrutura a Umbanda e é desta forma que,

como os devotos de outras religiões, o umbandista exerce sua fé. Entretanto,

este religioso costuma ser vítima de preconceitos por parte da sociedade.

Entender os motivos de tal preconceito não é tarefa fácil. Apesar do

preconceito se mostrar como algo irracional, o preconceituoso é capaz de

enumerar diversos motivos para justificar sua maneira (retrograda) de pensar.

Todavia tentaremos inferir sobre alguns desses motivos.

7.4 Os preconceitos contra Umbanda

A Umbanda desde o início se mostrou como religião dos menos

favorecidos. A princípio, por suas raízes africanas, essa religião foi taxada de

51

religião de negros e, portanto, era mal visto por uma sociedade em que o

racismo ainda se fazia presente, mesmo vinte anos após a abolição da

escravatura.

Posteriormente, a Umbanda foi proibida e perseguida, o que levava o

umbandista à clandestinidade. Tal clandestinidade também era mal vista, pois o

umbandista era tido pela sociedade com o mesmo valor de criminosos da pior

estirpe.

Depois, mesmo com a religião livre das proibições, a Umbanda era

praticada nas periferias, liberta dos preconceitos sociais, mas ainda vítima de

preconceito por parte de uma sociedade cristã elitista. A Umbanda foi (e ainda

é) taxada como “religião de pobres”.

O próprio sincretismo, característico deste grupo religioso, foi um dos

fatores que “deram justificava” e sustento ao preconceito, desde os primórdios

da Umbanda até os dias atuais.

Como já vimos anteriormente, através do sincretismo a Umbanda

associa suas divindades as divindades do catolicismo e de outras religiões.

Sobretudo, nem todas as divindades são associadas aos santos católicos.

Algumas entidades foram sincretizadas com as potestades do cristianismo,

como “Lúcifer”, “Belzebu” e outros mais.

Existem vários motivos pelos quais os umbandistas acolheram tal

sincretismo. Todavia podemos inferir que lhes era conveniente associar a

imagem do “mal” do cristianismo às suas divindades, em uma época em que a

Umbanda era proibida e perseguida. Assim a perseguição, por parte da maioria

cristã, esbarrava no medo gerado por tal sincretismo. Isto servia como uma

proteção para o Umbandista. Porém, tal sincretismo perdurou e se transformou

em um estigma para o umbandista. A Umbanda, ainda hoje, é associada ao

inferno pela sociedade cristã brasileira.

Os locais e horários em que são realizados alguns trabalhos e rituais -

como encruzilhadas e cemitérios, geralmente à meia noite - também servem de

desculpa para o preconceito. Os ignorantes costumam associar tais rituais e

trabalhos a “forças negativas” e “demoníacas”.

Entretanto, o umbandista não enxerga suas divindades sincretizadas

com o “mal” cristão como representantes do mal. Muito menos veem problemas

em seus ritos e trabalhos.

A noção de bem e mal na Umbanda é muito diferente da visão cristã. A umbanda, porém, quando se formou, se imaginou também como religião ética, capaz de fazer a distinção entre o bem e o mal, à moda ocidental, cristã. Mas acabou criando para si uma armadilha. Separou o campo do bem do campo do mal. Povoou o primeiro com seus guias de caridade, os caboclos, pretos-velhos e outros espíritos bons, à moda kardecista. Para controlar o segundo, arregimentou um

52

panteão de exus-espíritos e pombagiras, entidades que não se acanham em trabalhar para o mal quando o mal é considerado necessário. (PRANDI, 2004, p.228)

Em muitos casos, o bem e o mal não estão nas divindades, mas sim nos

devotos que buscam tais divindades. É o devoto quem vai ser “cobrado” no

plano espiritual, pelo mal provocado.

Até mesmo o fato de a Umbanda ser uma religião de todos, ou seja, livre

de preconceitos, faz com este grupo religioso seja vítima de preconceitos.

Como nos afirma Azevedo (2008):

A Umbanda ainda foi alvo de perseguições por aceitar muitas restrições, na grande maioria das Casas, os adeptos que fossem homossexuais ou bissexuais, entendendo, por exemplo, que o sexo é uma questão física, que o amor pode e se manifesta por meio da essência ou polaridade do espírito, das energias afins dos indivíduos, desmitificando as concepções de pecado e sendo uma das primeiras a abolir tabus sexuais no âmbito religioso (AZEVEDO, 2008, p.23).

O preconceito contra a Umbanda toma proporções de “guerra espiritual”

para igrejas protestantes do pentecostalismo. Para estes religiosos o terreiro de

Umbanda é território do inimigo e, portanto, deve ser derrotado. Prandi

corrobora tal afirmação ao citar Mariano (1999):

O neopentecostalismo leva ao pé da letra a ideia de que o diabo está entre nós, incitando seus seguidores a divisá-lo nos transes rituais dos terreiros de candomblé e umbanda. Pastores da Igreja Universal do Reino de Deus, em cerimônias fartamente veiculadas pela televisão, submetem desertores da umbanda e do candomblé, em estado de transe, a rituais de exorcismo, que têm por fim humilhar e escorraçar as entidades espirituais afro-brasileiras incorporadas, que eles consideram manifestações do demônio (2004, p.229).

A extinção dos terreiros de Umbanda faz parte do planejamento de

expansão de grande parte das igrejas do pentecostalismo nos bairros em que

estas estão inseridas. Como afirma Prandi:

[...] a derrota das religiões afro-brasileiras é item explícito do planejamento expansionista pentecostal: há igrejas evangélicas em que o ataque às religiões afro-brasileiras e a conquista de seus seguidores são práticas exercidas com regularidade e justificadas teologicamente. Por exemplo, na prática expansiva de uma das mais dinâmicas igrejas neopentecostais, fazer fechar o maior número de terreiros de umbanda e candomblé existentes na área em que se instala um novo templo é meta que o pastor tem que cumprir (2004, p.230).

A extinção dos terreiros não significaria simplesmente a hegemonia

cristã local sobre os demais grupos religiosos, mas também a morte de uma

cultura, de imensa importância nacional (visto que se trata de uma religião

brasileira), já tão estigmatizada pelas várias formas de preconceito.

53

Tal preconceito é um dos fatores que fazem com que o umbandista

tenha medo e/ou vergonha de se assumir como tal perante uma sociedade de

maioria cristã. Isto gera o falseamento dos dados censitários brasileiros sobre a

religião, mencionado na introdução deste trabalho.

Infelizmente esta é a realidade da Umbanda na maioria dos municípios

brasileiros. Sobretudo nos municípios do interior do estado de Minas Gerais,

onde o catolicismo exibe sua força ainda nos dias atuais. Por isso, cabe a nós

analisarmos o caso específico da religião de Umbanda no município de

Alfenas, região sul do Estado de Minas Gerais.

54

8 A REALIDADE DA RELIGIÃO DE UMBANDA NO MUNICÍPIO

DE ALFENAS – MG.

O município de Alfenas está localizado na região sul do estado de Minas

Gerais. Esta cidade possui aproximadamente 73.700 habitantes, segundo

dados do Censo IBGE 20109. Vários grupos religiosos se fazem presentes no

município, como cristãos católicos; cristãos protestantes; espíritas kardecistas;

testemunhas de Jeová; umbandistas; dentre outros.

Não conseguimos dados oficiais sobre o número de adeptos das

religiões de Alfenas, mas certamente o número de cristãos deve ser superior

aos demais. Afinal o cristianismo (representado pelo catolicismo) se faz

presente aqui desde os primórdios da cidade.

Em Alfenas o catolicismo se mostra bem representado. Além de possuir

sua matriz (figura) na região mais central da cidade, na praça central, possuiu

vários templos espalhados pelos bairros

periféricos.

Figura 8:Igreja Matriz de São José e Dores, no centro de Alfenas – MG. Fonte: sítio Fala Turista, disponível

em: http://www.falaturista.com.br/blog/pontos-turisticos-alfenas/. Acesso em 27/03/2013.

O protestantismo também reivindica seu espaço no município.

Representado por diversas denominações, as igrejas evangélicas possuem

territórios tanto nas áreas centrais da cidade, como nas áreas periféricas10.

9 BRASIL. IBGE. IBGE Cidades@: Disponível em:

<http://www.ibge.gov.br/cidadesat/painel/painel.php?codmun=310160#>. Acesso em: 23 mar. 2013. 10

Em alguns bairros, chegamos a encontrar cinco denominações diferentes de igrejas protestantes.

55

Assim também é o espiritismo kardecista. Embora em menor número,

esta religião se faz presente tanto no bairro central da cidade como em alguns

bairros da periferia.

Porém esta não é a realidade dos terreiros de Umbanda de Alfenas. Tal

religião não possui templos no centro da cidade, como na maioria das cidades

brasileiras em que a Umbanda se faz presente. Todos os templos pesquisados

aqui, se encontram em bairros periféricos, porém com realidades distintas entre

eles.

Segundo registros oficiais da Prefeitura de Alfenas11, entre todos os

templos religiosos cadastrados, existe apenas um terreiro de Umbanda no

município, denominado “Templo de Umbanda Caboclo Pena Branca” e dirigido

pela “Mãe” Wilma.

Figura 9: Templo de Umbanda Caboclo Pena Branca, Morada do Sol, Alfenas – MG. Fonte: Acervo

pessoal.

Porém tais registros não condizem com a realidade. Existem mais

terreiros de Umbanda em Alfenas, sobretudo a maioria deles não se encontra

registrado e/ou funcionam na clandestinidade. Existem casos de casas de

Umbanda no município que possuem registro em outras cidades, como por

exemplo, em Poços de Caldas – MG. Podem ser vários os motivos pelos quais

11

Pesquisa referente ao número de templos religiosos cadastrados na Secretaria da Fazenda do município de

Alfenas-MG.

56

tais terreiros não possuem registro junto à prefeitura, todavia retomaremos está

discussão mais adiante.

Esta ausência de registros se mostrou como um dos fatores de

limitantes desta pesquisa. Tivemos que contar com pesquisas informais (“boca-

a-boca”) e informações da população para encontrarmos alguns dos terreiros

não registrados. Porém, devido à dificuldade de informações, está claro pra nós

que esta pesquisa não abarcou a totalidade da Umbanda no município de

Alfenas. Todavia, tal pesquisa foi de fundamental importância para evidenciar a

realidade umbandista na cidade. Passemos, então, à análise das dimensões

econômica, política e do lugar desta religião em Alfenas, conforme proposto por

Rosendahl (2005).

8.1 A dimensão econômica da Umbanda em Alfenas

A dimensão econômica da Umbanda em Alfenas não se mostra muito

expressiva. Existe apenas uma loja específica de artigos religiosos que atende

ao umbandista na cidade, a “Yemanjá Produtos Religiosos”, que está localizada

no centro do município.

Figura 10: Loja de artigos religiosos Yemanjá, no centro de Alfenas-MG. Fonte: Acervo pessoal.

Alguns artigos religiosos usados no culto umbandista são vendidos em

lojas não específicas, como por exemplo, a “Tabacaria Poço Fundo”, localizada

57

no mercado central da cidade, onde se comercializam velas coloridas,

incensos, cachimbos e outros artigos usados naquela religião.

Figura 11: Tabacaria Poço Fundo, na antiga rodoviária, centro de Alfenas – MG. Fonte: Acervo pessoal.

Segundo o proprietário da loja “Yemanjá Produtos Religiosos”, a maior

parte do lucro da loja vem de consumidores de outras cidades. Em Alfenas,

vende-se pouco para a Umbanda. Uns dos fatores que podem explicar isto, é

que o umbandista, por temer o preconceito local, busca nas cidades vizinhas

os produtos para a realização dos seus cultos, trabalhos e rituais.

A dimensão econômica conta ainda com as consultas particulares, jogos

de Tarô e Búzios realizados, geralmente, por líderes espirituais umbandistas,

em suas residências, locais específicos e templos de Umbanda em Alfenas.

Tais atividades, geralmente, são cobradas, pois exigem tempo, concentração e

“força” daquela liderança umbandista. Porém, na maioria dos casos, estas

atividades são feitas de maneira informal.

Ainda que em pequeno número, as atividades econômicas mencionadas

- ligadas à religião de Umbanda - geram renda, geram impostos, geram

empregos e, assim, ajudam a movimentar a economia do município.

8.2 A dimensão política da Umbanda em Alfenas

Ao contrário das religiões cristãs, os templos de Umbanda não são tão

unidos. Ainda que existentes, as federações de Umbanda não têm tanta força

58

(no que diz respeito ao número de terreiros cadastrados) quanto a

organizações católicas e protestantes. Entretanto tais federações, além de unir,

dão total apoio, até mesmo jurídico, aos terreiros filiados.

Em Alfenas, o terreiro “Templo de Umbanda Caboclo Pena Branca”

possui registro junto a Federação Espírita Umbandista do Estado de Minas

Gerais, segundo “Mãe” Wilma. Todavia, tal federação encontra-se sediada na

cidade de Belo Horizonte, quase 350 quilômetros de distância de Alfenas. Esta

distância faz com que o contato entre as partes – terreiro e federação – seja

mínimo. Os demais templos de Umbanda abarcados nesta pesquisa, ou não

possuem registro junto à federação estadual, ou não mencionaram tal registro.

Entre os terreiros de Umbanda de Alfenas existe pouco, ou nenhum

contato. Tal desunião é normal, visto que, não são muito incomuns as rixas

entre diferentes terreiros no cenário brasileiro da Umbanda. Todavia nenhum

desses conflitos foi explicitado durante esta pesquisa.

Quanto às estratégias para expansão desta religião, não é comum no

meio umbandista a busca por novos membros, como nas evangelizações

cristãs. A Umbanda apesar de acolher a todos, é mais restrita no que diz

respeito à aceitação de novas pessoas no grupo. Os membros realmente

devem querer fazer parte do terreiro e seguir, então, os preceitos e obrigações

de tal religião. Muitos começam a frequentar as sessões como consulentes e,

depois de um tempo, decidem fazer parte daquele grupo.

Outro aspecto da dimensão política da Umbanda em Alfenas, já

mencionado, é o registro junto à secretaria da Fazenda do município. Como já

dito, apenas o “Templo de Umbanda Caboclo Pena Branca” possui tal registro.

A “Tenda de Umbanda e Candomblé Maria Baiana de Aguiné”, segundo sua

líder, “Mãe Cida”, possui tal registro junto à Prefeitura da cidade de Poços de

Caldas. Segundo ela, na época em que o terreiro foi registrado não se fazia

registro junto à Prefeitura de Alfenas. Como o templo descende da Umbanda

de Poços de Caldas, o mesmo foi registrado naquele município.

Os outros dois templos abarcados nesta pesquisa não possuem registro

algum, funcionado na clandestinidade. Um dos fatores pelo não registro de um

templo de Umbanda é a questão financeira. Apesar desses registros não serem

cobrados (por se tratarem de instituições religiosas), para liberação dos

mesmos os terreiros devem atender as exigências de segurança especificadas

pelo Corpo de Bombeiros local. Para tanto, na maioria dos casos, reformas na

estrutura física dos templos serão exigidas. Tais reformas demandam um

investimento que, na maioria dos casos, não está dentro do orçamento

daquelas comunidades religiosas. Por isso a negligência no registro de tais

terreiros. Entretanto, vale ressaltar que os terreiros que não atendem as

normas de segurança propostas pelo Corpo de Bombeiros, estão sujeitos a

graves riscos.

59

8.3 A dimensão de lugar da Umbanda em Alfenas

O conceito de lugar para a Geografia Humanística está ligado à

identidade que o sujeito tem com o local no qual habita, frequenta e estabelece

suas relações sociais, materiais e imateriais. A identidade umbandista

alfenense foi evidenciada por meio da identificação de alguns dos territórios da

religião na cidade e por meio das visões da sociedade para com o umbandista

e do umbandista em meio à sociedade, presentes nesta pesquisa.

Ao todo, foram encontrados e estudados os aspectos geográficos de

quatro templos de Umbanda (gráfico 1) na cidade de Alfenas. Confirmando

nossa teoria, nenhum está localizado no centro da cidade.

Gráfico 1: Liderança Espiritual dos Terreiros de Umbanda de Alfenas-MG.

O terreiro “Templo de Umbanda Caboclo Pena Branca”, liderado pela

“Mãe” Wilma, faz parte do segmento (ver gráfico 2) Umbanda Traçada e se

encontra no bairro Morada do Sol. O terreiro “Tenda de Umbanda e Candomblé

Maria Baiana de Aguiné”, liderado pela “Mãe” Cida, faz parte do segmento

Umbanda Branca e se encontra no bairro Jardim Alvorada. O terreiro “Centro

Espírita Umbandista Ilê de Xangô Ayra”, liderado pelo “Pai” José Victor, faz

parte do segmento Umbanda Traçada e encontra-se no bairro Jardim Boa

Esperança. O último templo estudado faz parte do segmento Umbanda

Esotérica, é liderado por “Dona” Ana Lúcia Barreto, não foi mencionado o nome

do templo e o mesmo encontra-se no bairro Jardim Panorama. Todos os

bairros mencionados encontram-se, nas periferias de Alfenas, a uma distancia

considerável do centro do município.

60

Gráfico 2: Segmentos de Umbanda dos líderes espirituais de Alfenas – MG.

Foram aplicados questionários como forma de entrevista aos líderes de

todos os terreiros mencionados acima. Por meio de tais questionários, foram

respondidas algumas dúvidas sobre a Umbanda em Alfenas.

O terreiro localizado no bairro Jardim Panorama, liderado por “Dona”

Ana Lúcia é o mais antigo entre os estudados. Está presente na cidade de

Alfenas há 25 anos. Os terreiros “Centro Espírita Umbandista Ilê de Xangô

Ayra”, liderado pelo “Pai” José Victor e “Tenda de Umbanda e Candomblé Maria

Baiana de Aguiné”, liderado por “Mãe” Cida, estão presentes em Alfenas há 22

anos. E por último, o terreiro “Templo de Umbanda Caboclo Pena Branca”,

liderado por “Mãe” Wilma, se faz presente em Alfenas há 12 anos.

A maioria dos líderes entrevistados, responderam que o terreiro existia

em outro lugar antes do atual (conforme gráfico 3). Somente o terreiro liderado

por “Pai” José Victor funciona no mesmo local desde a inauguração. O terreiro

liderado por “Mãe” Wilma existia na cidade de São Paulo antes de vir pra

Alfenas. O terreiro liderado por “Mãe” Cida existia em outro endereço na cidade

de Alfenas antes do atual. Localizava-se no bairro Pinheirinho. Apesar de a

61

“Dona” Ana Lúcia ter respondido que o templo liderado por ela existia em outro

local antes do atual, não mencionou este local.

Gráfico 3: Existência do terreiro em outro local antes do atual.

Sobre o local em que se localizam tais terreiros, foi perguntado aos

líderes se os templos se encontram junto às residências dos mesmos (gráfico

4). Isto é muito comum entre os terreiros de Umbanda. Raramente

encontramos terreiros em cuja residência do líder espiritual está localizada em

outro endereço.

Gráfico 4: Terreiros de Umbanda junto à residência do líder espiritual.

62

Na tabela abaixo está registrado o segmento do templo na Umbanda e o

número de membros e consulentes que frequentam os terreiros de Umbanda

em Alfenas:

Templo Segmento

da

Umbanda

Membros/

Filhos

Consulentes

por sessão

Consulentes

por mês

Templo de

Umbanda Caboclo

Pena Branca

Umbanda

Traçada

(Umbando

mblé)

16

membros.

Aproximadam

ente 20

pessoas.

Aproximadam

ente 80

pessoas.

Tenda de Umbanda

e Candomblé Maria

Baiana de Aguiné

Umbanda

Branca

21

membros.

Aproximadam

ente 20

pessoas.

Aproximadam

ente 100

pessoas.

Centro Espírita

Umbandista Ilê de

Xangô Ayra

Umbanda

Traçada

(Umbando

mblé)

18

membros.

De 30 a 40

pessoas.

Aproximadam

ente 150

pessoas.

Terreiro de “Dona”

Ana Lúcia

Umbanda

Esotérica

15

membros.

Não

respondeu.

Não

respondeu.

Tabela 1: Relação de segmentos, membros e consulentes dos terreiros de Umbanda de

Alfenas-MG.

Se contarmos o número total de umbandistas contabilizados pelos

líderes dos terreiros estudados, temos, no mínimo, 70 umbandistas na cidade.

Juntos os terreiros em questão costumam receber aproximadamente 330

consulentes por mês.

Tais pessoas são responsáveis por construírem a identidade da

Umbanda em Alfenas e o consequente “lugar umbandista” na cidade. Mas qual

o perfil destes umbandistas e consulentes? Como a sociedade alfenense

enxerga a Umbanda? Será que o umbandista de Alfenas se considera vítima

de preconceito? Visando sanar tais questões foram aplicados questionários

que nos serviram como suporte. Estes questionários se tratam de entrevistas

com os líderes e membros dos terreiros de Umbanda, com consulentes, a

vizinhança do terreiro e com a sociedade alfenense de maneira geral.

Passemos então à análise dos dados coletados em campo.

8.4 Análise dos dados pesquisados

Com relação à escolaridade dos líderes espirituais entrevistados 50%

cursaram apenas o Ensino Fundamental, porém não completaram. 25%

63

cursaram até o Ensino Médio e o completaram. Os outros 25% completaram

Curso Superior. Conforme mostra o gráfico abaixo:

Gráfico 5: Escolaridade dos líderes espirituais da Umbanda de Alfenas – MG.

O líder espiritual é o responsável pela condução das atividades do

terreiro. Geralmente, este sacerdote dedica todo seu tempo aos serviços

espirituais. Por isso questionamos aos entrevistados se eles exerciam qualquer

função profissional em paralelo às atividades espirituais. Do total, 75%

responderam que sim, possuem uma profissão, dos quais 25% são

cozinheiros, 25% comerciantes e 25% professoras. Os outros 25%

responderam que não possuem atividade profissional. Conforme o gráfico

abaixo:

64

Gráfico 6: Líderes religiosos umbandistas de Alfenas e atividades profissionais.

Conseguimos traçar assim o perfil dos líderes religiosos da Umbanda

alfenense. Passemos então à análise das características dos membros dos

terreiros, umbandistas de Alfenas.

Com relação ao gênero dos umbandistas entrevistados pudemos notar

que 59% são mulheres, enquanto 41% são homens. Isto pode ser constatado

no gráfico abaixo:

41%

59%

Entrevistas com os Membros dos Terreiros de Alfenas - MG.

Homens = 7

Mulheres = 10

Total = 17

Gráfico 7: Relação de gêneros entre os filhos dos terreiros de Umbanda de Alfenas – MG.

65

Com relação à escolaridade dos umbandistas entrevistados, notamos

que 23% nem completaram o Ensino Fundamental, enquanto 18% apenas

completaram o Ensino Fundamental. Param no Ensino Médio 6%, enquanto

35% conseguiram fechar este ciclo de aprendizagem. Nenhum entrevistado

tem formação superior, 18% deles já iniciaram, porém não concluíram Curso

Superior. Nenhum entrevistado possui Pós-Graduação. Como podemos

observar no gráfico abaixo:

23%

18%

6%

35%

18%

0%0%

0% 0%

0%

Membros: Escolaridade dos Entrevistados

Fundamental Incompleto

Fundamental Completo

Médio Incompleto

Médio Completo

Superior Incompleto

Superior Completo

Especialização

Mestrado

Doutorado

Não Responderam

Gráfico 8: Escolaridades dos membros da Umbanda em Alfenas-MG.

Com relação à renda média dos entrevistados, 41% recebem até 1

salário mínimo. 35% recebem de 1 a 3 salários mínimos. 12% recebem de 4 a

10 salários mínimos e 12% preferiram não responder. Conforme o gráfico

abaixo:

66

Gráfico 9: Renda média dos membros da Umbanda em Alfenas – MG.

Questionados se frequenta outro segmento religioso, 53% disseram que

frequentam somente a Umbanda. 35% afirmaram frequentar o catolicismo,

enquanto os outros 12% afirmaram frequentar o espiritismo.

Gráfico 10: Relação dos membros de terreiros que frequentam outro segmento religioso em Alfenas –

MG.

Questionados sobre quantos se declaram umbandistas, todos os

entrevistados responderam que sim, se declaram umbandistas, se veem como

membros da Umbanda. Conforme nos mostra o gráfico abaixo:

67

Gráfico 11: Membros da Umbanda em Alfenas que se declaram umbandistas.

Este é então o perfil dos membros da Umbanda alfenense. Passemos

então à análise das características dos frequentadores das assistências dos

terreiros, os consulentes da Umbanda em Alfenas.

Quanto à divisão dos consulentes por gênero, pudemos constatar que

91% dos entrevistados eram mulheres, enquanto 9% eram homens.

Gráfico 12: Gênero dos consulentes dos terreiros de Umbanda entrevistados em Alfenas – MG.

68

Com relação às religiões dos entrevistados, 27% se declararam

católicos, 73% se declaram espíritas e nenhum se declarou umbandista.

Conforme nos mostra o gráfico abaixo:

Gráfico 13: Religiões dos consulentes de terreiros de Umbanda entrevistados em Alfenas – MG.

Com relação à escolaridade, 9% alegaram não terem concluído (se

quer) o Ensino Fundamental, enquanto que outros 9% alegaram terem

concluído, pelo menos, este ciclo de ensino. 18% concluíram o Ensino Médio.

28% começaram, mas não concluíram ainda Curso Superior, enquanto outros

27% já se graduaram nesta modalidade. Os 9% restantes fizeram

Especialização.

9%9% 0%

18%

28%

27%

9%

0%0% 0%

Consulentes: Escolaridade dos Entrevistados

Fundamental Incompleto

Fundamental Completo

Médio Incompleto

Médio Completo

Superior Incompleto

Superior Completo

Especialização

Mestrado

Doutorado

Gráfico 14: Escolaridade dos consulentes de terreiros de Umbanda da cidade de Alfenas – MG.

69

Sobre a renda média dos entrevistados, 46% responderam receber até 1

salário mínimo. 36% recebem de 4 a 10 salários mínimos. 9% recebem mais de

20 salários mínimos, enquanto outros 9% não quiseram responder a pergunta

(ver gráfico 15).

Gráfico 15: Renda média dos consulentes de terreiros de Umbanda da cidade de Alfenas – MG.

Uma última questão feita aos consulentes foi se estes conheciam os

signos, símbolos e divindades da umbanda. Todos responderam

afirmativamente. Conforme nos mostra o gráfico abaixo:

70

100%

0%

Consulentes: Conhecem os Símbolos da Umbanda

SIM

NÃO

Gráfico 16: Quantos consulentes dos terreiros conhecem os símbolos da Umbanda.

Traçamos assim o perfil dos consulentes da Umbanda em Alfenas.

Analisaremos agora o perfil da vizinhança dos terreiros de Umbanda estudados

na cidade.

Sobre a vizinhança da Umbanda em Alfenas, foram entrevistadas 22

pessoas que moravam no mesmo quarteirão (quadra) dos terreiros. 41% dos

entrevistados eram homens, enquanto 59% mulheres. Conforme o gráfico

abaixo:

41%

59%

Entrevista com a Vizinhança dos Terreiros de Umbanda de Alfenas

Homens = 9

Mulheres = 13

Total = 22

Gráfico 17: Divisão por gênero da vizinhança dos terreiros de Umbanda entrevistada em Alfenas – MG.

71

Quanto à escolaridade dos entrevistados, percebemos que a maioria

(32%) não havia completado o Ensino Fundamental. 9% apenas concluíram

esta etapa de ensino. 14% pararam no Ensino Médio, enquanto 14%

conseguiram concluir esta etapa. 14% possuíam Ensino Superior incompleto.

Os outros 4% possuíam Doutorado. Conforme o gráfico abaixo:

32%

9%

14%

27%

14%

0%0% 0%

4%

0%

Vizinhança: Escolaridade dos Entrevistados

Fundamental Incompleto

Fundamental Completo

Médio Incompleto

Médio Completo

Superior Incompleto

Superior Completo

Especialização

Mestrado

Doutorado

Não Responderam

Gráfico 18: Escolaridade da vizinhança dos terreiros de Umbanda entrevistada em Alfenas – MG.

Com relação à renda média dos entrevistados, 27% possuem renda de

até 1 salário mínimo. A maioria dos entrevistados (41%) recebe de 1 a 3

salários mínimos. Outros 27% recebem entre 4 e 10 salários mínimos. 5% não

quiseram responder.

Gráfico 19: Renda média da vizinhança dos terreiros de Umbanda entrevistada em Alfenas – MG.

72

Foi questionada, ainda, a religião dos entrevistados e notamos que a

maior parte dessa vizinhança (64%) é composta por católicos (ver gráfico 20).

Gráfico 20: Religiões da vizinhança dos terreiros de Umbanda entrevistada em Alfenas – MG.

Os vizinhos que já frequentaram, alguma vez, terreiro de Umbanda entre

os entrevistados representam apenas 9% do total. Os outros 91% nunca (se

quer) entraram em um templo desta religião. Conforme o gráfico abaixo:

Gráfico 21: Quantidade de vizinhos que já frequentaram terreiro de Umbanda.

73

Todavia, o resultado mais surpreendente veio quando perguntado se

esta vizinhança sabia onde se localizava algum terreiro de Umbanda em

Alfenas. Apesar de morarem na mesma quadra em que se localizam os

templos desta religião, a maioria dos entrevistados (55%) afirmou não saber

onde se encontram tais terreiros. Este resultado pode ser conferido no gráfico

abaixo:

Gráfico 22: Vizinhos da Umbanda que sabem localização de algum terreiro em Alfenas – MG.

Traçamos assim o perfil da vizinhança dos templos umbandistas no

município de Alfenas. Sobretudo, nos falta ainda definir o perfil da sociedade

alfenense entrevistada neste trabalho.

As entrevistas com a sociedade foram realizadas de forma aleatória, por

meio de abordagem direta, na praça central da cidade. Tal entrevista visou

traçar o perfil da sociedade alfenense, e responder algumas perguntas de vital

importância para este trabalho. Ao todo, foram respondidos 55 questionários.

Entre os entrevistados, 42% são homens, enquanto 58% mulheres (ver gráfico

23).

74

Gráfico 23: Divisão por gênero dos entrevistados da sociedade de Alfenas – MG.

Quanto à escolaridade, devido ao grande número de pessoas

entrevistadas, as diferenças se apresentaram de maneira heterogênea.

Podemos verificar esta escolaridade analisando o gráfico abaixo:

Gráfico 24: Escolaridade dos entrevistados da sociedade de Alfenas – MG.

Sobre a renda média dos entrevistados, notamos que 31% dos

entrevistados recebem até 1 salário mínimo. A maioria (47%) recebe de 1 a 3

salários mínimos. 15% do total recebem entre 4 e 10 salários, enquanto 2%

recebem entre 10 e 20 salários mínimos. Os 5% restante optaram por não

responder.

75

31%

47%

15%

2% 0%

5%

Sociedade: Renda Média dos Entrevistados

Até 1 salário mínimo

De 1 a 3 salários mínimos

De 4 a 10 salários mínimos

De 10 a 20 salários mínimos

Mais de 20 salários mínimos

Não Responderam

Gráfico 25: Renda média dos entrevistados da sociedade de Alfenas – MG.

Questionados sobre qual segmento religioso fazem parte, notamos que

a maioria esmagadora (64%) se declarou católica. 25% se declararam

protestante, enquanto apenas 3% se declararam espírita. 2% se declararam

Testemunha de Jeová, 4% ateus e/ou agnósticos e 2% não responderam (ver

gráfico 26).

Gráfico 26: Religiões dos entrevistados da sociedade de Alfenas – MG.

Questionados se já teriam frequentado terreiros de Umbanda, a maioria

esmagadora dos entrevistados (85%) respondeu que não. Sendo que apenas

15% responderam sim.

76

Gráfico 27: Pessoas da sociedade alfenense que já frequentaram terreiro de Umbanda.

No gráfico abaixo, podemos analisar o percentual dos entrevistados que

responderam saber onde se localiza algum terreiro de Umbanda na cidade de

Alfenas. A grande maioria dos que responderam (82%) disseram não terem

conhecimento de nenhum terreiro de Umbanda no município. Outros 18%

responderam que sabem onde se localiza algum templo desta religião na

cidade.

Gráfico 28: Percentual da sociedade que conhece algum terreiro de Umbanda em Alfenas – MG.·.

18%

82%

Sociedade: Conhecem Algum Terreiro de Umbanda em Alfenas - MG.

SIM

NÃO

77

Por último, foi questionado à sociedade se conheciam algum

Umbandista na cidade de Alfenas. A grande maioria respondeu que não

conhecem. O resultado pode ser conferido no gráfico abaixo:

31%

69%

Sociedade: Conhece Algum Umbandista na Cidade de Alfenas - MG.

SIM

NÃO

Gráfico 29: Percentual da sociedade que conhecem umbandista em Alfenas – MG.

Assim, construímos o perfil de todos os entrevistados em todas as

categorias da análise proposta. Entretanto faz necessário que analisemos

algumas opiniões dos consulentes, da vizinhança dos terreiros e da sociedade

sobre a Umbanda.

8.5 Análise das opiniões pessoais sobre a Umbanda

Ao questionarmos os consulentes dos terreiros sobre o que os mesmos

pensam acerca da religião de Umbanda obtivemos respostas tais quais:

“É uma Religião que transmite paz, tranquilidade e responde perguntas do seu

interior”.

“A Umbanda é uma religião boa e humilde, a Umbanda é mal compreendida”.

“Uma religião boa, a gente sempre aprende com os guias e Orixás, é um

ensinamento de vida”.

“Uma forma maravilhosa de viver, bem estar, uma ajuda”.

“Traz paz espiritual, proximidade com Deus”.

“A Umbanda é uma religião interessante por explicar alguns acontecimentos da

vida”.

“Uma religião em que me sinto mais próxima de Deus e mais protegida”.

78

Em tais respostas podemos perceber que, apesar de a maioria dos

consulentes não fazerem parte da Umbanda (ver gráfico 13), existe um respeito

e admiração por parte dos mesmos para com esta religião.

Entre a vizinhança dos terreiros de Umbanda de Alfenas, percebemos

opiniões tais quais:

“Acho que não faz mal pra ninguém. Não sou contra, acho até bonito.”

“Não me incomoda em nada”.

“Não sou a favor nem contra. É preciso ter fé. Tendo fé onde você estiver, dá

certo”.

“Não faz diferença alguma”.

“Não tenho nada contra, cada um tem sua religião”.

“A gente não pode falar mal, cada um segue o que quiser”.

Tais opiniões denotam certo respeito e/ou indiferença de parte da

vizinhança para com a Umbanda. Todavia, também verificamos o medo

presente em parte da vizinhança ao analisarmos opiniões tais quais:

“Acho que tem o lado bom e o lado ruim. Uns usam pra fazer o bem outra pra

fazer o mal”.

“Pouco conhecimento sobre o assunto, mas com muito medo, não passo na

porta, nem aceito nada”.

“Não faz muita diferença, mas tenho muito medo”.

“Tenho até medo”.

Também encontramos opiniões totalmente contrárias à Umbanda e que

denotam não só um receio, mas também certo preconceito por parte da

vizinhança entrevistada, com esta religião:

“Me incomoda, muito”.

“Não gosto, não aceito nada deles, mas também não critico”.

“Não concordo com as crenças deles”.

“Não enxergo como uma coisa de Deus”.

Dentre as respostas concedidas pela sociedade alfenense, verificamos

um grande número de pessoas que se quer conhecem a Umbanda. Outros

tantos não tinham opinião formada sobre o assunto:

“Não tenho muito conhecimento sobre essa religião. O pouco que conheço não

me agradou, não vejo nenhum benefício pra mim.”

79

“Não conheço”.

“Não tenho uma opinião formada”.

Encontramos também algumas opiniões sensatas sobre tal religião,

como por exemplo:

“Não acredito, mas respeito”.

“Religião como outra qualquer”.

“Toda religião é boa desde que conduza as pessoas ao bem. Admiro a

Umbanda, até mesmo pelas questões culturais”.

“Na minha opinião, deve haver um respeito entre as partes. Cada cidadão

segue a religião que acredita”.

“Não conheço bem. Mas não tenho preconceito sobre, embora seja cristão”.

“Da mesma forma que enxergo as outras (religiões): uma forma coletiva e

cultural de trabalhar a espiritualidade”.

“Normal, temos que apoiar as diferentes culturas, pois assim seremos mais

desenvolvidos”.

“Para mim qualquer religião que nos leva até Deus é importante. Não importa

se for espírita, umbanda, etc. Desde que não façamos o mal ao próximo e não

desejamos mal de ninguém”.

Todavia, a maior parte das respostas consiste em opiniões negativas

sobre a Umbanda, tais quais:

“Uma religião totalmente errada”

“Não enxergo como religião”

“Acho que seja centro de ritual, de coisas satânicas, ou seja, macumbaria”.

“Não considero que seja uma religião, é totalmente fora dos princípios bíblicos

do qual estamos acostumados a seguir. Um tipo de ritual totalmente desprovido

de Deus”.

“Umbanda é a mesma coisa que feitiçaria, com rituais... Enxergo como

bruxaria”.

“Eu acho que está ligada a espiritismo, mas de uma forma má, que não me

agrada não, não conheço bem ao fundo, mas é isso”.

“Pra mim é centro de macumba. Que faz parte do mal, que não existe bondade

nisso”!

80

“Não considero uma religião cristã, então está totalmente fora de cogitação”.

“Eu acredito que é um ritual não promissor que não tem fundamentos, acredito

em um só Deus”.

“A falta de confiança no Deus verdadeiro leva as pessoas a invocarem os

espíritos para os auxiliarem, que na verdade são suas divindades – entidades.

Na verdade são espíritos de trevas vestidos de luz. Muita mistura (sincretismo).

Tenho pena de quem está envolvido com essas forças”.

Tais opiniões denotam a falta de conhecimento e o preconceito, por parte

da sociedade, com esta religião e consequentemente com seus membros.

Todavia questionamos os umbandistas de Alfenas (líderes e membros) se os

mesmos percebem esse preconceito por parte da sociedade. O resultado foi

organizado nos dois gráficos abaixo:

Gráfico 30: Liderança espiritual que se diz vítima de preconceito por ser umbandista em Alfenas – MG.

Podemos notar que metade dos líderes umbandistas entrevistados alega

sofrer preconceito da sociedade por serem umbandistas.

81

Gráfico 31: Membros de terreiros de Umbanda que se dizem vítima de preconceito por serem

umbandistas em Alfenas – MG.

Entre os membros os números são mais expressivos. Do total de

entrevistados, 65% alegam serem vítimas de preconceito por parte da

sociedade. Os outros 35% alegam não sofrerem preconceito.

Fica claro então, para nós, que grande parte da sociedade alfenense vê

o umbandista com preconceito e que este percebe e convive com tal

preconceito. Isto faz com que o umbandista seja diminuído e que a Umbanda

seja desvalorizada como seguimento religioso e como manifestação cultural.

Como visto anteriormente, os motivos pelos quais ocorre tal preconceito podem

ser inúmeros e difíceis de serem mensurados.

Como visto anteriormente, a ocupação dos territórios centrais da

cidade leva uma religião a ter seu valor cultural reconhecido pela sociedade.

Porém, no caso de Alfenas o território umbandista encontra-se distante do

centro da cidade. A Umbanda se apropria então de espaços periféricos, onde

delimita seu território religioso e exerce suas práticas rituais e,

consequentemente, sua territorialidade.

Vimos que o território da Umbanda dentro de uma cidade não se limita

ao espaço físico do terreno onde está localizado o templo. A Umbanda

extrapola tais limites ao “territorializar” ruas, matas, cachoeiras, nascentes,

encruzilhadas, dentre outros locais mais. São escolhidos locais e horários

próprios para a realização dos ebós (trabalhos). Locais, normalmente, com

pouco ou nenhum movimento e horários específicos, visando manter o sigilo

exigido em tais rituais. Tais locais dificilmente encontram-se nas regiões

centrais da cidade.

82

A territorialidade umbandista em Alfenas pode (e deve) ser percebida,

não só pelas poucas placas que evidenciam seus templos na cidade, mas pela

vestimenta branca dos membros, pelo som característico dos atabaques

durante as giras, pelos trabalhos e oferendas deixadas nas ruas e

encruzilhadas, pelos mistérios e pelo sigilo que envolve seus cultos e práticas

rituais.

É pela manutenção destes territórios e destas territorialidades que a

Umbanda se mantem viva no cenário religioso alfenense.

83

9 CONSIDERAÇÕES FINAIS:

A religião de Umbanda certamente aparece subestimada nos dados

censitários do Brasil. Um dos motivos pelo qual isso ocorre é o preconceito

religioso sofrido pelos membros dessa religião. Muitos têm medo, ou mesmo

vergonha de se assumirem umbandistas. Isso faz com que essa religião seja

mais desvalorizada socialmente.

Entretanto, os territórios dessa religião estão espalhados pelas cidades

nas quais ela se faz presente. Embora não seja do interesse de grande parte

dos terreiros de Umbanda, a territorialidade umbandista nos ajudar a localizar

tais territórios em meio ao urbano.

A Umbanda se desenvolve nas periferias da cidade de Alfenas o que

mostra certo grau de “marginalidade” dessa religião. Porém, há somente um

terreiro de Umbanda registrado junto à Prefeitura municipal neste município.

Devida à ausência de registros, muitos terreiros funcionam na clandestinidade

e, portanto, não são fáceis de serem encontrados dificultando a real noção dos

territórios da Umbanda.

O presente trabalho buscou abarcar o maior número de terreiros de

Umbanda possível. Todavia conseguimos encontrar e estudar apenas quatro

templos. Embora suponhamos a existência de mais terreiros, encontra-los não

é tarefa fácil.

Buscamos então traçar o perfil do umbandista, do frequentador de

terreiros, da vizinhança dos templos e da sociedade alfenense, expondo seus

pensamentos e opiniões acerca da Umbanda. Assim, não foi difícil

percebermos que o preconceito contra o umbandista, também se faz presente

na cidade e, sobretudo, na opinião de grande parte sociedade alfenense.

Vimos também que a maioria dos umbandistas percebe tal preconceito vindo

da sociedade.

Valorizar as distintas manifestações culturais (dentre elas as religiões) é

de extrema importância para manutenção e fortalecimento da identidade de um

povo.

Este trabalho se mostrou como uma tentativa de valorização da religião

de Umbanda no município de Alfenas. Todavia, esperamos que tal trabalho seja

apenas o início dos estudos sobre religião de Umbanda nesta cidade.

Ressaltamos que tais estudos não devem sessar aqui. Faz-se necessário a

construção de um mapa que evidencie o território religioso e as redes da

religião em questão no município de Alfenas.

84

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86

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.

87

APÊNDICE A: ENTREVISTA COM A SOCIEDADE

ENTREVISTA ALEATÓRIA NA CIDADE DE ALFENAS – MG:

1. Idade:______ 2. Gênero: Masculino

Feminino

3. Em que bairro de Alfenas você reside? __________________________________________________________

4. Escolaridade:

Fundamental: Completo Incompleto

Médio: Completo Incompleto

Superior: Completo Incompleto

Pós-Graduação: Especialização Mestrado Doutorado

5. Renda mensal média:

Até 01 salário mínimo de 01 a 03 salários mínimos

de 04 a 10 salários mínimos de 10 a 20 salários mínimos

acima de 20 salários mínimos

6. Qual sua RELIGIÃO? _______________________________________________________________

7. Qual sua opinião sobre a UMBANDA (como você enxerga esta religião)? _______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

8. Você já frequentou (ou frequenta) algum terreiro/centro/templo ou participou de algum ritual/sessão de UMBANDA? Sim Não

9. Você conhece (sabe onde se localiza) algum terreiro de UMBANDA em Alfenas?

Sim Não

Se sim, em que bairro? __________________________________________________________

10. Conhece algum UMBANDISTA na cidade de Alfenas? Sim Não

Entrevista referente ao Trabalho de Conclusão de Curso em Geografia – Licenciatura, do discente Josias Felipe de Oliveira, sob orientação do Prof. Dr. Flamarion Dutra Alves.

88

APÊNDICE B: ENTREVISTA COM A LIDERANÇA ESPIRITUAL

ENTREVISTA COM LÍDER/CHEFE/PAI/MÃE DE TERREIRO DE UMBANDA NA CIDADE DE ALFENAS – MG:

1. Nome: _______________________________________________________

2.Idade:______ 3. Gênero: Masculino

Feminino

4. Em que bairro de Alfenas você reside? __________________________________________________________

5. Escolaridade:

Fundamental: Completo Incompleto

Médio: Completo Incompleto

Superior: Completo Incompleto

Pós-Graduação: Especialização Mestrado Doutorado

6. Qual o nome do Terreiro/Templo/Centro de UMBANDA que você lidera?

_______________________________________________________________

7. Além da liderança espiritual, possuí outra profissão? Sim Não

Se sim, qual? _______________________________________________________________

8. Há quanto tempo existe o Terreiro/Centro/Templo de UMBANDA que você lidera na cidade de Alfenas? _______________________________________________________________

9. Qual segmento da UMBANDA o Terreiro que você lidera faz parte?

Umbanda de Almas e/ou de Angola Umbanda Branca e/ou de Mesa

Umbanda de Caboclo Umbanda Esotérica Umbanda Iniciática

Umbanda Omolocô Umbanda Popular Umbanda de Preto-velho

Umbanda Traçada (Umbandomblé) Umbanda Tradicional

Outra; Qual? __________________________________________________

10. O Terreiro/Centro/Templo de UMBANDA que você lidera está localizado junto à sua residência? Sim Não

11. O Terreiro/Centro/Templo já existia em outro local antes do atual?

Entrevista referente ao Trabalho de Conclusão de Curso em Geografia – Licenciatura, do discente Josias Felipe de Oliveira, sob orientação do Prof. Dr. Flamarion Dutra Alves.

89

Sim Não

Se sim, onde? _______________________________________________________________

12. Quantos membros (filhos) frequentam o Terreiro que você lidera?

_______________________________________________________________

13. Em média, quantos consulentes (frequentadores) frequentam o Terreiro por sessão?

_______________________________________________________________

E por mês?

_______________________________________________________________

14. Você percebe qualquer tipo de preconceito, por parte da sociedade, por ser UMBANDISTA em Alfenas?

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

90

APÊNDICE C: ENTREVISTA COM OS MEMBROS DA UMBANDA

ENTREVISTA COM OS MEMBROS/FILHOS DOS TERREIROS DE UMBANDA DA CIDADE DE ALFENAS – MG:

1. Idade:______ 2. Gênero: Masculino

Feminino

3. Em que bairro de Alfenas você reside? __________________________________________________________

4. Escolaridade:

Fundamental: Completo Incompleto

Médio: Completo Incompleto

Superior: Completo Incompleto

Pós-Graduação: Especialização Mestrado Doutorado

5. Renda mensal média:

Até 01 salário mínimo de 01 a 03 salários mínimos

de 04 a 10 salários mínimos de 10 a 20 salários mínimos

acima de 20 salários mínimos

6. Você se declara UMBANDISTA?

Sim Não

7. Em que bairro de Alfenas se localiza o terreiro/centro/templo de UMBANDA que você costuma frequentar? ______________________________________

8. Há quanto tempo você frequenta o terreiro/centro/templo de UMBANDA? _______________________________________________________________

9. Frequenta outro segmento religioso? Sim Não

Se sim, qual? ____________________________________________________

10. Você percebe qualquer tipo de preconceito, por parte da sociedade, por fazer parte da UMBANDA em Alfenas?

_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Entrevista referente ao Trabalho de Conclusão de Curso em Geografia – Licenciatura, do discente Josias Felipe de Oliveira, sob orientação do Prof. Dr. Flamarion Dutra Alves.

91

APÊNDICE D: ENTREVISTA COM A VIZINHANÇA DA UMBANDA

ENTREVISTA COM A VIZINHANÇA DOS TERREIROS DE UMBANDA DA CIDADE DE ALFENAS – MG:

1. Idade:______ 2. Gênero: Masculino

Feminino

3. Em que bairro de Alfenas você reside? __________________________________________________________

4. Escolaridade:

Fundamental: Completo Incompleto

Médio: Completo Incompleto

Superior: Completo Incompleto

Pós-Graduação: Especialização Mestrado Doutorado

5. Renda mensal média:

Até 01 salário mínimo de 01 a 03 salários mínimos

de 04 a 10 salários mínimos de 10 a 20 salários mínimos

acima de 20 salários mínimos

6. Qual sua RELIGIÃO? _______________________________________________________________

7. Você conhece (sabe onde se localiza) algum terreiro de UMBANDA em Alfenas? Sim Não

Se sim, em que bairro? _______________________________________________________________

8. Você já frequentou algum terreiro/centro/templo ou participou de algum ritual de UMBANDA?

Sim Não

9. Qual sua opinião sobre a UMBANDA (como você enxerga esta religião)? _______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

Entrevista referente ao Trabalho de Conclusão de Curso em Geografia – Licenciatura, do discente Josias Felipe de Oliveira, sob orientação do Prof. Dr. Flamarion Dutra Alves.

92

APÊNDICE E: ENTREVISTA COM OS CONSULENTES

ENTREVISTA COM OS CONSULENTES/FREQUENTADORES DOS TERREIROS DE UMBANDA EM ALFENAS – MG:

1. Idade:______ 2. Gênero: Masculino

Feminino

3. Em que bairro de Alfenas você reside? __________________________________________________________

4. Escolaridade:

Fundamental: Completo Incompleto

Médio: Completo Incompleto

Superior: Completo Incompleto

Pós-Graduação: Especialização Mestrado Doutorado

5. Renda mensal média:

Até 01 salário mínimo de 01 a 03 salários mínimos

de 04 a 10 salários mínimos de 10 a 20 salários mínimos

acima de 20 salários mínimos

6. Qual sua RELIGIÃO? _______________________________________________________________

7. Qual sua opinião sobre a UMBANDA (como você enxerga esta religião)?

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

8. Com que frequência você participa das sessões/rituais/consultas nos terreiros de UMBANDA? _______________________________________________________________

9. Você conhece os símbolos (Santos, Orixás, Entidades) e/ou rituais da Umbanda? Sim Não

Se sim, quais? ______________________________________________________________________________________________________________________________

Entrevista referente ao Trabalho de Conclusão de Curso em Geografia – Licenciatura, do discente Josias Felipe de Oliveira, sob orientação do Prof. Dr. Flamarion Dutra Alves.