terras do tapajós - novembro/2010

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apajós erras do T A agenda positiva da reforma agrária Novembro de 2010 - Edição XXIII Retratos da reforma agrária na várzea do Baixo Amazonas Atuação do Incra: da criação de assentamentos à política de créditos. Pág. 2 Produção e renda nas comunidades tradicionais. Pág. 4 e 5 O homem e sua relação com o meio ambiente: experiências harmoniosas. Pág. 6 Inicia a construção de casas na várzea. Pág. 7 Ministro inaugura obras em Santarém. Pág. 8 Incra 40 anos

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Boletim informativo da Superintendência Regional do Incra no Oeste do Pará

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Page 1: Terras do Tapajós - Novembro/2010

apajóserras do

T A agenda positiva da reforma agráriaNovembro de 2010 - Edição XXIII

Retratos da reforma agráriana várzea do Baixo AmazonasAtuação do Incra: da criação de assentamentosà política de créditos. Pág. 2

Produção e renda nas comunidades tradicionais. Pág. 4 e 5

O homem e sua relação com o meio ambiente:experiências harmoniosas. Pág. 6

Inicia a construção de casas na várzea. Pág. 7

Ministro inaugura obras em Santarém. Pág. 8

Incra 40 anos

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Page 2: Terras do Tapajós - Novembro/2010

A ocupação da Amazônia teve início nas

margens e várzeas dos rios da Bacia

Amazônica, áreas até então ocupadas por

populações indígenas. A riqueza natural do

ecossistema de várzea sustentou diversos ciclos

econômicos. Nos últimos tempos, três

atividades se destacam neste ambiente: pesca,

agricultura e pecuária extensiva. O fato de tais

áreas serem historicamente ocupadas e

utilizadas pelo homem e não possuírem

legislação fundiária e ambiental adequada

gerou o Programa ProVárzea, com o objetivo de

nortear políticas públicas que garantissem o

manejo sustentável desse ecossistema.

Antes da atuação do INCRA nessas áreas, já

existiam diversos acordos comunitários

regionais de pesca. O IBAMA, juntamente com

o Provárzea, aproveitou essas experiências

para elaborar diversas Instruções Normativas

(IN's) relacionadas à pesca, com o principal

objetivo de garantir o estoque pesqueiro e

diminuir os conflitos. Aproximadamente em

2002, o Ministério Público Federal (MPF)

começou um trabalho para mediar conflitos

entre pecuaristas, agricultores e pescadores,

que resultou na assinatura de mais de 40

Termos de Ajustamento de Conduta (TAC).

Em 2005, Incra e SPU assinaram um Termo

de Cooperação Técnica, tendo como um de

seus principais objetivos a identificação das

situações possessórias para a criação de

Projetos de Assentamentos Agroextrativistas

(PAE's) às populações tradicionais ocupantes

dessas áreas. No final de 2005 e,

principalmente, no ano de 2006, o INCRA deu

início às atividades na várzea, resultando na

criação de mais de 40 PAE's.

É importante esclarecer que a modalidade

diferenciada de Projeto de Assentamento PAE é

destinada a populações tradicionais para

exploração de atividades economicamente

viáveis e sustentáveis. Tais áreas de domínio

público são administradas pelas organizações

comunitárias e receberão a concessão de

direito real de uso. O PAE prevê um instrumento

de gestão chamado Plano de Utilização (PU),

que é o regulamento discutido e elaborado

pelos moradores e aprovado pelo INCRA para a

melhor utilização da área. Os PU's buscam

atualizar e unificar todos os instrumentos

(TAC's e IN's) em apenas um documento.

Para garantir a sustentabilidade dos

projetos, no final de 2007, foi firmado um

convênio com o Instituto de Pesquisas

Ambientais da Amazônia (IPAM) para que este,

aproveitando sua longa experiência no

ambiente de várzea, acompanhasse a

elaboração de PU's e elaborasse Projetos

Básicos (PB's) para o Licenciamento Ambiental

de 15 PAE's de várzea.

As comunidades que se organizarem e, de

fato, aplicarem o PU terão grande avanço no

atendimento de suas demandas coletivas, na

mediação de conflitos, na luta por seus direitos

e, principalmente, na aplicação de políticas

públicas destinadas para estas áreas.

Atualmente, a Superintendência Regional do

Incra no Oeste do Pará está destinando grande

parte de sua capacidade de ação para a

implantação e desenvolvimento desses projetos

e, neste momento, inicia a aplicação do Crédito

Aquisição de Material de Construção. Desta

forma, a atuação do INCRA e de seus parceiros

tem colaborado significativamente na melhoria

da vida das famílias beneficiadas pelos projetos

e estimulado o abastecimento regional com

produtos de qualidade com origem na produção

familiar.

Direção do Incra no Oeste do Pará

Terras do Tapajós - Edição - Página 2XXIII

Incra 40 anos

Artigo

Histórico da presençagovernamental na várzea e a criação de Projetos Agroextrativistas

20052005

20062006

20072007

Incra e SPU assinam Termo de Cooperação Técnica

Incra dá início às atividades na várzea. São criados mais de 40 PAE's

Incra e Ipam assinam convênio para elaborar PU’s e PB’s de 15 assentamentos

Concluídos os PU's e PB's. Cartilhas contendo os PU's são impressas para os assentados

20102010

Na várzea do Baixo Amazonas

Page 3: Terras do Tapajós - Novembro/2010

A Superintendência Regional do Incra

no Oeste do Pará concedeu créditos a

2.460 famílias em oito Projetos de

Assentamento Agroextrativistas (PAE's)

nos municípios de Curuá (Salvação),

Alenquer (Madalena), Óbidos (Paraná de

Baixo e Três Ilhas) e Santarém (Aritapera,

Urucurituba, Tapará e Ituqui). A ação está

relacionada à aplicação do Crédito Apoio

Inicial, que corresponde a R$ 3.200 por

família.

“Orientamos a ação por preceitos

como participação popular e controle

social, valorização e fortalecimento das

entidades representativas dos assentados,

além da transparência na destinação do

recurso público”, explica o chefe da Divisão

de Desenvolvimento, Fagner Garcia

Vicente.

Até o momento, o investimento,

avaliado em R$ 7,8 milhões é referente

apenas ao Crédito Apoio Inicial, o primeiro

repassado pelo Incra a assentados da

reforma agrária. “O pescador pôde investir

na parte da infraestrutura da pesca,

comprando rabetas, por exemplo. Muitos

tinham de remar longas distâncias. Uma

viagem que ele fazia num dia inteiro, hoje,

ele faz em uma hora. Isso tem melhorado

a fonte de renda do pescador. Muitos

[pescadores] também compraram motor

de luz, facilitando muito a vida deles. Os

filhos podem fazer seus trabalhos

escolares à noite. Antes, era à base da

lamparina”, destaca Jander Ilson Rêgo

Pereira, diretor da Colônia de Pescadores

Z-20. Em 2009, em razão de uma grande

cheia do rio Amazonas, recursos do Crédito

Apoio Inicial também foram empregados,

parcialmente, no socorro às famílias.

Casas

O desafio que se coloca agora para o

Incra é o início da aplicação do Crédito

Aquisição de Material de Construção, que

viabiliza novas moradias a famílias

assentadas. Isso porque o ecossistema

várzea tem peculiaridades ambientais que

exigem o planejamento de um modelo de

habitação diferente em relação aos

assentamentos na terra firme.

Segundo Fagner Garcia, foram

disponibilizados recursos para iniciar um

projeto piloto envolvendo 100 casas em

quatro PAE's na várzea santarena:

Aritapera, Urucurituba, Tapará e Ituqui. “É

preciso encontrar soluções no dia a dia,

aproveitando a sabedoria do povo. Desde

2008, estamos discutindo a construção de

habitações na várzea. Temos um projeto

em conformidade com as normas

ambientais”, informa o chefe da Divisão de

Desenvolvimento.

Incra concede créditos a2.460 famílias na várzeaInvestimento é avaliado em R$ 7,8 milhões.Oito assentamentos são atendidos

Créditos do Incra na Amazônia - Modalidades e Valores

ApoioInicial

R$ 3.200

ApoioMulher

R$ 2.400

Aquisição de Materialde Construção

R$ 15 mil

FomentoR$ 3.200

AdicionalFomentoR$ 3.200

Recuperação/Materiaisde Construção

R$ 8 mil

Reabilitação de Créditode Produção

R$ 6 mil

CréditoAmbientalR$ 2.400

Terras do Tapajós - Edição XXIII - Página 3

Incra 40 anos

Assentado recebe material para armazenar pescado

Na várzea do Baixo Amazonas

Page 4: Terras do Tapajós - Novembro/2010

A oito horas de barco do Município de Santarém (PA), comunidades à beira do rio

Amazonas, no Município de Óbidos (PA), preservam uma tradição secular que as torna

peculiar: São Lázaro, Santa Cruz e Livramento, no Projeto de Assentamento

Agroextrativista (PAE) Cacoal Grande, mantêm o cultivo e o beneficiamento do cacau. Elas

estão na lista das que preservam a atividade em áreas de várzea no Baixo Amazonas.

Uma evidência de que o cacau é um elemento importante na história de Óbidos é a

presença, como ilustração, no brasão oficial do Município. Quem nos conta essa

singularidade é o professor Roberto Carlos Pinedo. Natural da Amazônia peruana, o

pesquisador encontra-se no Brasil desde 2007, quando veio ao país para desenvolver sua

tese de Doutorado, que tem como tema “O cacau do remanescente sistema agroflorestal

caboclo nas relações socioeconômicas das famílias ribeirinhas de várzea do Município de

Óbidos”.

“Sabe-se, pelos documentos históricos, que o município de Óbidos destacou-se na

produção de cacau durante e depois do período de colonização da Amazônia pelos

portugueses. Inclusive, registros oficiais revelam Óbidos como sendo o principal município

do Baixo Amazonas na produção e exportação de cacau”, revela Pinedo.

No auge do ciclo do cacau em Óbidos, segundo levantamento do pesquisador peruano,

a Coroa Portuguesa e, depois, o Império Brasileiro mantinham uma propriedade com mais

de 40 mil pés de cacau na várzea deste município. Esta propriedade era o “Cacaoal

Imperial”, cuja área hoje, transformada em campo de pastagem, é compartilhada entre as

comunidades de Santa Rita e Vila Barbosa, ambas pertencentes ao PAE Costa Fronteira.

Esses e outros fatos, de relevância histórica e da atualidade, foram descobertos no período

de abril de 2008 a junho de 2010, quando

Pinedo residiu na comunidade São Lázaro.

Dona Maria Dorotéia da Silva Carvalho,

56, e Julio Leão de Carvalho, 59, residentes

na comunidade São Lázaro, são um típico

casal que tem o cacau como presença

cotidiana desde o nascimento. Os avós de

Seu Júlio, portugueses, já trabalhavam com

o plantio e o beneficiamento do cacau.

Hoje, ele e a esposa tentam recuperar a

área plantada. “Neste ano, devemos

plantar, ao menos, mais 100 pés de cacau”,

planeja o assentado. Em 2009, a família

sofreu com os efeitos da grande cheia do rio

Amazonas.

Do cacau, Dona Maria e o marido obtêm

renda com a venda da semente, seca ou

ainda com parte da massa do fruto, e a

produção de geleia. De modo artesanal,

eles utilizam o tipiti, uma espécie de prensa

de palha herdada dos índios amazônidas,

para obter o vinho da massa do cacau, que

é levado ao forno até ganhar a consistência

de geleia.

As mulheres do PAE Cacoal Grande

criaram uma marca na venda da geleia do

cacau. Quem a vê, logo reconhece sua

origem. Em embalagens de tamanhos

diversos e com preços que, usualmente,

variam de R$ 3 a R$ 10, as geleias ganham

formas em desenhos de animais, por

exemplo. A venda ocorre sob encomenda

ou numa feira de produtores rurais,

localizada na área urbana do Município de

Óbidos.

Dona Maria da Conceição Marialva dos

Santos, 56, junto a outros assentados,

acorda de madrugada, por volta das 3

horas, para pegar o barco que os leva à

feira. Sua especialidade é a produção do

que ela chama de pão chocolate.

“Torramos a semente seca, descascamos,

espanamos e moemos até obter a massa”,

explica a assentada, que vende o pão

chocolate em bastões, que custam, cada

um, R$ 2,50.

Além da feira semanal, Dona Conceição

diz que um ótimo período de vendas é a

Festa de Santana, que ocorre, no mês de

julho, em Óbidos. O marido de Dona

Conceição, Francisco Dinanci Vinenti

Bentes, 52, ajuda na coleta, no

beneficiamento e na venda do cacau. O

casal se prepara para, em dezembro,

plantar mais de 100 mudas de cacau.

“Os diferentes produtos beneficiados do

cacau são de pequenas plantações que

i n t e g r a m d i f e r e n t e s e s p é c i e s

agroflorestais, como o taperebá. É possível

planejar políticas de desenvolvimento das

áreas de várzea visando recuperar o plantio

de cacau como o componente principal do

sistema agroflorestal, diminuir o

d e s m a t a m e n t o o u r e s t a u r a r o

ecossistema”, defende o pesquisador

Roberto Pinedo.

Assentadosmantêm tradiçãosecular do cacau

Produçãorica e diversana várzea

Na várzea, não só as moradias são

suspensas. A cerca de 30 minutos da área

urbana de Santarém, no Projeto de

Assentamento Agroextrativista (PAE)

Urucurituba, comunidade de São Ciríaco,

assentados da re fo rma agrár ia

reproduzem o mesmo modelo na

agricultura. Hortas são cultivadas numa

altura de até dois metros.

Marcelo Augusto de Sousa Santos, 31,

trabalha há 17 anos com hortas suspensas.

A medida é preventiva: durante o período

chuvoso, o rio Amazonas avança sobre as

comunidades, um ciclo anual característico

da várzea. Com a ajuda do tio, Genilson

Corrêa de Sousa, 40, Marcelo planta

couve, cebolinha, repolho e pimentão.

A produção do assentado é destinada

para abastecer o mercado santareno.

Durante o verão amazônida, ele diz que vai

ao Mercadão 2000, na área urbana de

Santarém, até três vezes por semana para

vender a produção.

Mel

No PAE Tapará, comunidade de Pixuna

do Tapará, em Santarém, há quatro anos

assentados da reforma agrária recebem

capacitação do Instituto de Pesquisa

Ambiental da Amazônia (Ipam) para

qualificar a produção do mel. “Hoje, a

gente percebe um maior interesse das

famílias em criar abelhas, que veem a

Pão chocolate faz sucesso em feira de Óbidos

Semelhante ao mel, capilé é umabebida obtida a partir do cacau

Geleia de cacau ganha formase se torna mais vendável

Assentados em áreas de várzea obtêm renda a partir de diversas atividades, como a pesca e a produção de mel, grãos e leguminosas

Terras do Tapajós - Edição XXIII - Página 5

atividade como importante para agregar

valor. A maioria das famílias que assistimos

já tem um local para a casa de abelhas, onde

elas ficam protegidas. Com esse trabalho,

melhoramos o sistema que as famílias

utilizavam e possibilitamos o aumento de

suas caixas de abelhas. O objetivo do Ipam

ago ra é me lho ra r a cade i a de

comercialização, com embalagem e

rotulagem do mel, além de criar uma

associação para esse trabalho”, adianta

Márcio Roberto Cunha, técnico do Ipam.

Antonio Ferreira Carvalho, 51, é um dos

assentados do PAE Tapará que tem a

produção do mel como complemento na

renda da família. Ele informa que a atividade

requer baixo custo e o tempo despendido

na manutenção não atrapalha as demais

atividades que desenvolve, a pesca e a

agricultura. Além disso, a espécie com que

trabalha não possui ferrão e não agride o

homem, o que permite o convívio nos

arredores da casa da família.

Atualmente, Antonio mantém 38 caixas

destinadas à meliponicultura, que, neste

ano, devem lhe render até 40 litros de mel.

A expectativa é vender cada litro a R$ 25,

perfazendo um faturamento de R$ 1 mil.

Manejo pesqueiro

Paralelamente, Antônio Ferreira se

dedica à pesca, que, segundo ele, é a

atividade mais rentável, embora se restrinja

a um período definido no ano, de março a

agosto. Isso porque a comunidade Pixuna

do Tapará usufrui de um lago mediante um

acordo comunitário de pesca.

“As comunidades que fazem esse

trabalho [de manejo pesqueiro], como é o

caso de Pixuna do Tapará e Santa Maria do

Tapará, não se preocupam só em pescar e

sim em conservar o pescado para que ele

possa ter sustentabilidade e durar muito

t empo . O s pe s c ado re s d e s s a s

comunidades nos relatam que o pescado

tem dobrado e a fonte de renda melhorado

muito”, informa Jander Ilson Rêgo Pereira,

diretor da Colônia de Pescadores Z-20, de

Santarém.

No século XIX, Óbidos se tornou o principal exportador de cacau do Baixo Amazonas. Mesmo passado o auge desse ciclo, assentados preservam a atividade

Tipiti é empregado nobeneficiamento do cacau

Incra 40 anos

Terras do Tapajós - Edição XXIII - Página 4

Na várzea do Baixo Amazonas

Page 5: Terras do Tapajós - Novembro/2010

A educação dentro das comunidades de várzea dos

Municípios do Baixo Amazonas passa por um processo de

amadurecimento dos projetos político-pedagógicos. A

metodologia tem de ser coerente com a realidade rural da

Amazônia e suas múltiplas diversidades. Dentro desse

mosaico, a educação ambiental torna-se um instrumento

importante para a formação de cidadãos coerentes com

planos de ação comunitários voltados para a

sustentabilidade ambiental.

O IPAM iniciou, em 1992, no Projeto de Assentamento

Agroextrativista (PAE) Ituqui, uma formação dentro do

eixo formal com professores. A partir de uma experiência

piloto, a metodologia foi readaptada e expandida para as

regiões dos PAE's Urucurituba, Tapará e Aritapera. Várias

lideranças comunitárias foram capacitadas, tornando-se

importantes para o processo de implementação dos

Projetos Agroextrativistas criados pelo Incra. As

iniciativas que surgiram a partir dos instrumentos formais

e informais de educação ambiental durante esses últimos

quinze anos foram muitos, mas podemos destacar as

iniciativas que tiveram sucesso não somente

comunitário, mas também em caráter regional.

O Projeto “Águas Limpas Comunidades Saudáveis”,

que iniciou na região do Tapará, é um exemplo de

experiência bem-sucedida, onde comunitários reuniram-

se para resolver o problema de dejetos jogados

diariamente no curso das águas. O projeto surgiu em

decorrência do comprometimento da água consumida.

No período de vazante do Amazonas, os agentes de

saúde descreviam o aumento de doenças de pele e

verminoses. A iniciativa foi incorporada aos Planos de

Utilização de PAE's na várzea do Baixo Amazonas.

Na dinâmica estabelecida pelo projeto e absorvida

pelas comunidades, o lixo produzido é classificado, de

forma que seja separado o material orgânico do não-

orgânico. O primeiro é aproveitado como adubo para os

canteiros suspensos e as lavouras de grãos. O segundo,

que inclui plástico, latas, pilhas e vidro, são recolhidos e

levados até a área urbana de Santarém. A empresa

responsável pela coleta de lixo na cidade recebe e dá a

devida destinação à carga.

Reflorestamento

Outra experiência bem-sucedida é o projeto de

reflorestamento na comunidade do Aracampina e

Igarapé do Costa, onde escola e comunidade uniram-se

para a recomposição de ambientes degradados. No

período da juta, muitas árvores nativas foram retidas

para o plantio dessa cultura, que, após o declínio,

segundo comunitários, deixou como consequência a

degradação.

Quelônios

Trabalhar as praias artificiais para acompanhar todo o

ciclo de vida dos quelônios é uma outra vivência

interessante: tornou-se um assunto transversal no

currículo das escolas da várzea. Crianças, adolescentes e

lideranças comunitárias, juntos, estão conhecendo a

importância do manejo sustentável da várzea através da

educação ambiental, afinal, esse é um dos alicerces do

desenvolvimento sustentável e equilíbrio, fundamentais

para a qualidade de vida das atuais e futuras gerações

dos PAE`s do Baixo Amazonas.

Edy Lopes - coord. de educação ambiental do IPAM

Terras do Tapajós - Edição XXIII - Página 6

A Educação Ambientalcomo instrumento decidadania e transformaçãonos PAE`s

Artigo

Comunitários fazem a coleta do lixo

Incra 40 anos

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Na várzea do Baixo Amazonas

Page 6: Terras do Tapajós - Novembro/2010

Assentados recebem materialde construção

Casas na várzea

Terras do Tapajós - Edição - Página 7XXIII

Incra 40 anos

As fam í l i a s a s sen tadas dos P ro j e to s

Agroextrativistas (PAE's) da várzea santarena

começaram a receber o material referente à construção

de casas. As primeiras comunidades atendidas estão

localizadas nos PAE's Aritapera e Tapará. A ação, que

inicialmente prevê a construção de 100 casas, também

compreende mais dois assentamentos: Urucurituba e

Ituqui.

O anúncio do início da construção de casas nos

assentamentos de várzea em Santarém foi realizado

pelo ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme

Cassel, em visita ao município, no dia 23 de outubro. A

iniciativa é financiada com recursos do Instituto

Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra),

através do Crédito Aquisição de Material de Construção,

que corresponde a R$ 15 mil por família. No total, será

investido R$ 1,5 milhão em créditos na primeira etapa

de construção de casas.

Essa é a primeira vez que um ente público financia a

construção de casas na várzea santarena. As

habitações existentes na região, até então, foram

erguidas pelos próprios moradores, cuja experiência

será empregada na execução das obras das novas

casas. “Estamos contratando carpinteiros das próprias

comunidades para trabalhar na construção das casas”,

revela o presidente do Conselho Regional de Pesca do

Urucurituba, Edivaldo José Pinheiro dos Santos.

Basicamente, a madeira será utilizada como

material, a exceção da estrutura do banheiro, em parte

de alvenaria. As casas terão área média de 42 metros

quadrados, segundo Assis Dantas, técnico do Incra

responsável pelo acompanhamento da construção das

casas. O modelo foi definido de forma participativa, em

reuniões nas comunidades com representantes do

Incra e do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia

(Ipam). “Foi feito tudo conforme o pedido das

comunidades”, afirma Edivaldo Santos.

Além dos costumes locais, as casas em construção

na várzea santarena têm por base a experiência na

Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

(RDSM), localizada no Amazonas. As habitações

estarão suspensas a até 2,5 metros de altura em

relação ao solo, como medida preventiva em relação à

subida do nível dos rios no período de cheia, e terão um

sistema sanitário para tratamento dos dejetos, através

de uma fossa de fermentação. O sistema exige a

construção de duas câmaras contíguas em alvenaria,

com uma casinhola de madeira e um assento feito de

ferro e cimento para adaptar uma tampa de vaso

sanitário comercial.

O modelo sanitário escolhido para as casas em

construção na várzea, segundo técnicos do Incra e do

Ipam, resiste aos ciclos de enchentes e secas, fortalece

as atividades de educação ambiental e diminui a

incidência de doenças, como a diarreia.

“Espera-se que, com a instalação de fossas de

fermentação, esta tecnologia social garanta melhorias

no requisito saúde, principalmente de crianças, e

reduza a incidência de doenças de veiculação hídrica e

doenças oriundas do contato com dejetos humanos e

vetores. Essas benfeitorias também serão úteis para

tentar proporcionar aumento da consciência

ambiental”, sustenta Alcilene Cardoso, chefe do

escritório do Ipam em Santarém.

Na várzea do Baixo Amazonas

Page 7: Terras do Tapajós - Novembro/2010

Terras do Tapajós - Edição - Página 8XXIII

Incra 40 anos

O impacto na vida das famílias

No final de 2008, o Incra iniciou uma ação de

infraestrutura de estradas que envolve a

complementação/construção de 393 quilômetros,

dos quais, 230 concluídos e 163 em execução. A

obra, no total, está orçada em R$ 10,7 milhões.

Comunidades passaram a ter acesso a estradas e

pontes, permitindo o melhor deslocamento das

pessoas e o escoamento da produção.

“Hoje, o que mais tem é gente querendo fazer

linha [de ônibus] para o PA Moju porque está mais

habitado e o assentamento evoluiu. Antes,

praticamente não tínhamos estrada, mas ramais,

fechados demais”, recorda-se Samuel Brito,

assentado e liderança comunitária. Ele acrescenta

que o acesso a estradas significou o fim de situações

como o deslocamento, a pé, por até 30 quilômetros,

das famílias de comunidades mais afastadas.

A dona de casa Maria da Conceição Santos de

Sousa, 55, além das estradas, destaca a recente

conclusão de um sistema simplificado de

abastecimento de água em frente à vila onde mora,

no PA Moju I e II. No período chuvoso, ela relata que

era difícil o consumo da água do igarapé.

“A água ficava suja, barrenta ou branca, e nós

tínhamos que usar mesmo assim. Hoje, temos água

limpa dentro de casa a qualquer hora do dia e da

noite”, informa a assentada, que mora com o

marido, José Oliveira de Sousa, 57, há sete anos no

PA Moju I e II.

A construção e a reforma de casas é outra ação

de impacto social do Incra no assentamento.

Famílias têm substituído barracos de palha e

madeira por casas de alvenaria. É o caso de Sady

Bandeira, 59, e de sua esposa, Erna Maria Bandeira,

54, que trocaram o Rio Grande do Sul pelo Pará há

sete anos. Recentemente, eles receberam a

primeira casa própria.

O Ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel inaugurou, no dia 22

de outubro, 230 quilômetros de estradas vicinais e sete sistemas simplificados de

abastecimento de água no Projeto de Assentamento Moju I e II, cuja área incide,

em parte, sobre os municípios de Santarém e Placas, Oeste do Pará. A solenidade

de inauguração, que ocorreu dentro da área do assentamento, contou também com

a presença de gestores que atuam na Presidência do Incra, em Brasília (DF), e na

Superintendência Regional da autarquia em Santarém.

Os investimentos correspondem a R$ 8,2 milhões. A complementação e a

construção de 230 quilômetros de estradas vicinais demandaram, até o momento,

R$ 7,1 milhões, enquanto nos sistemas de abastecimento de água foi aplicado R$

1,1 milhão.

A programação no PA Moju I e II incluiu ainda visita a casas recentemente

entregues a famílias assentadas. Só neste ano, 105 novas casas foram concluídas

no assentamento e outras 105 passaram por reforma. Nos últimos três anos, 500

casas foram construídas e recuperadas na área com a liberação de R$ 6,1 milhões.

Terras do Tapajós é uma publicação concebida e mantida pela Assessoria de Comunicação da Superintendência Regional do Incra no Oeste do Pará.

Entre em contato conosco. (93) 3523-1296 ou [email protected]

Projeto gráfico/Redação/edição de textos e imagens Luís Gustavo

ColaboradoresEdy Lopes e Márcio Roberto, ambos do IpamRoberto Pinedo (Doutorando da UFPA)

Autoria das imagensLuís Gustavo e Assis Dantas (Incra) /Ipam

SR-30/SedeAvenida Rui Barbosa, 1321, Centro - Santarém - ParáCEP: 68005-080 - Fone: (93) 3523 - 5831/1296

www.incra.gov.br

Superintendente titular: Cleide Antônia de SouzaSuperintendente substituto: Cláudio Ribeiro da SilvaChefe da Divisão de Administração: Antonio Israel SantanaChefe da Divisão de Desenvolvimento: Fagner Garcia VicenteChefe da Divisão de Obtenção de Terras: Francisco De LucaChefe da Divisão de Ordenamento Fundiário: Charles VidalChefe da Procuradoria Jurídica: Eliaci Nogueira

Ministro inaugura obrasno valor de R$ 8,2 milhões

Infraestrutura

Famílias do Projeto de Assentamento Moju I e IIsão atendidas com captação de água e estradas

Terra Firme