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TERRA DE PASSAGEM: O MUNICÍPIO DE VIANA (ES) E SUA
IMPORTÂNCIA LOGÍSTICA NA REGIÃO METROPOLITANA DA
GRANDE VITÓRIA
ÉLEN RÚBIA DE ANDRADE SILVA1
JULIANO PRATA HONORATO2
Resumo: Este estudo consiste na análise espaço-temporal, utilizando o conceito de geografia
histórica, do município de Viana (ES), entre os séculos XIX e XXI a fim de acentuar as características
ligadas às dinâmicas de transporte de cargas, ocasionada pelo seu posicionamento espacial na Região
Metropolitana da Grande Vitória (RMGV). Atualmente assume, dentro da atividade logística, papel de
considerável importância para a economia da região. Contudo, esta característica do território pode ser
notada desde séculos passados.
Palavras-chave: Viana (ES); Transporte; Geografia histórica.
Abstract: This study consists of a spatial-temporal analysis, using the concept of historical
geography, of the municipality of Viana-ES, between the XIX and XXI centuries in order to accentuate
the characteristics related to the dynamics of cargo transportation, caused by its spatial positioning in
the Metropolitan Region of Greater Vitória (RMGV). Today it assumes a role of considerable importance
for the region's economy within logistics. However, this characteristic of the territory can be noticed from
past centuries.
Key-words: Viana (ES); Transport; Historical geography.
1 – Introdução
O estudo da geografia histórica contribui na análise dos fenômenos tempo e
espaço em múltiplas dimensões, possibilitando uma compreensão holística do espaço
urbano em sua atualidade. Milton Santos (1992) definiu o espaço como “a acumulação
desigual de tempos” sendo que as inter-relações vivenciadas por indivíduos
coexistindo em certo lugar se traduzem em uma acumulação de experiências
desiguais que definem, de certo modo, a memória coletiva. Memória esta que é
construída ou formada por meio das relações cotidianas entre os cidadãos, que são
1Acadêmica do programa de pós-graduação em Geografia da Universidade Federal do
Espírito Santo. E-mail de contato: [email protected] - Bolsista pela CAPES. 2Acadêmico do programa de pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Federal do Espírito Santo. E-mail de contato: [email protected] - Bolsista pela FAPES.
estabelecidas em lugares que representam fragmentos de passado e presente
acompanhados de identidades impressas no espaço.
Para compreensão do espaço urbano, Carlos (2001) afirma que a cidade possui
uma história, e as formas que a mesma assume não são estáticas e definidas, pois se
manifesta de maneiras distintas ao longo do seu processo histórico, não podendo ser
estudada como um fenômeno absoluto.
A ocupação do território e a composição das vias de transporte possuem relação
direta como são mostradas na história mundial. “Há casos em que a constituição de
tais vias é apontada como determinante do processo de ocupação territorial e outros
em que este último a determina” (NATAL, 1991; 293). E, no caso do Brasil, foram as
ocupações do período colonial que determinaram a conformação das vias de
transporte. A história da ocupação do Espírito Santo no período colonial apresenta
características semelhantes aos demais povoamentos da época; uma ocupação com
núcleos de povoação dispersos ao longo da costa, que servia de base de apoio para,
a partir daí, adentrar ao território. No início do século XVIII, a fazenda de Araçatiba já
aparecia como núcleo de povoamento no município de Viana, em documentos dos
jesuítas. A produção e o acesso à fazenda eram feitos com uso de embarcações que
atracavam em seu porto e navegavam pelo rio Jucu, até chegar à costa (LEITE, 1938).
Mesmo com presença marcante da ordem jesuítica na região, a ocupação do território
e interiorização eram proibidas por lei, por isto se deu de forma modesta, contando
com poucos habitantes, dentre portugueses, índios nativos e escravos até o século
XIX (BALESTRERO, 2012).
No início do século XIX a imigração europeia é intensificada no Brasil, e tem em
Viana um dos primeiros destinos (BALESTRERO, 2012). No ano de 1813, 53 famílias
de ilhéus açorianos, foram encaminhadas para a colônia de Santo Agostinho, atual
Viana. Em 1847 chegam à região imigrantes germânicos, ocupando a região serrana,
fundando um povoamento em Santa Isabel, que atualmente pertence ao município de
Domingos Martins. No ano de 1865, outro contingente de imigrantes germânicos
chegou à Viana e se instalaram entre as duas localidades. Os imigrantes italianos
chegaram à região em 1874, ocupando a localidade de Baía Nova, que atualmente
pertence a Guarapari (BALESTRERO, 2012). Para promover desenvolvimento
econômico na região, foi instalada a ferrovia no final do século XIX; no século XX o
transporte rodoviarista se impõe sobre o ferroviarista e alcança destaque no contexto
nacional e estadual (NATAL, 1991). Já, no século XXI, o governo estadual reconhece
as características do território vianense e considera, por meio de lei, o município de
Viana como capital logística do Espírito Santo (ESPÍRITO SANTO, 2018). No item 3,
adiante, estes assuntos serão aprofundados.
Desta forma, o objetivo deste trabalho se concentra na análise das mudanças
ocorridas no território, diretamente ligadas à atividade econômica de transportes e
logística, e a sua importância no contexto metropolitano, que são influenciadas, em
parte, pelo posicionamento espacial do município. A motivação da pesquisa se deu
com o intuito de entender a ação da sociedade impressa no espaço pelos processos
produtivos no decorrer da história e também, pelo fato de que o estudo da geografia
histórica, no campo da geografia urbana, ainda é pouco difundido. A metodologia
utilizada na pesquisa está baseada em uma revisão bibliográfica sobre os assuntos
relacionados à geografia histórica além de documentos e acervos sobre a área de
estudo, afim de compreender as alterações ocorridas em Viana ao longo do tempo.
2 –Geografia Histórica: uma perspectiva temporal do espaço
Um dos campos da ciência geográfica é o da geografia histórica que tem a
finalidade de estudar o passado sem se desprender do espaço. A despeito da
desconsideração da dimensão temporal por alguns geógrafos, Santos (1992) e Abreu
(1998) defendem a relevância significativa do tema nos estudos de produção e
organização do espaço.
Santos (1992) afirma que, para análise do espaço geográfico é necessário
considerar a dimensão espaço-temporal, pois o espaço é resultado de processos
produtivos impostos pela sociedade ao longo da história. Alguns elementos mais
modernos vão tomando lugar de outros passados, porém alguns se conservam, face
à essa modernização, fazendo com que elementos de tempos distintos coexistam num
mesmo espaço e período (SANTOS, 1992).
Para Abreu (1997) são fundamentais a preservação e o registro das formas do
passado da cidade, independentemente do que o futuro considerará significativo, para
que se tenha uma valorização da memória, pois o presente dos lugares é uma
sobreposição das formas do passado, que não são totalmente destruídas, apesar das
mudanças que ocorrem. Porém, o autor salienta que:
Não basta, entretanto, trabalhar com as escalas espaciais; há que se dar igual atenção à dimensão temporal. No que diz respeito às formas já sabemos que devemos considerar as cidades como acumulações de tempo. Mas isso não basta. É preciso também que reconheçamos que os processos sociais que ocorrem no presente das cidades, que dão sentido às formas que ali estão, precisam – eles também – ser inseridos em múltiplas escalas temporais. Se o tempo do evento, do acontecimento, do imediato é aquele que mais nos chama a atenção, por estar mais próximo de nós, por se materializar em paisagens e representações que são rapidamente captadas pelos nossos sentidos, por alterar a nossa vida quotidiana, ele só adquire significado maior se o inserirmos em tempos mais espessos, tempos braudelianos, tempos da conjuntura e da longa duração. E estes, por sua vez, só podem ser corretamente compreendidos quando relacionados com as escalas espaciais. Isto porque o que nos interessa é o tempo social, e este só faz sentido quando relacionado ao espaço. Fecha-se, pois, o círculo (ABREU, 2003; 97).
As formas construídas na cidade em cada época são consideradas por Santos
(1996) como a materialização do tempo que permite ao pesquisador realizar o seu
estudo empírico, chamada de rugosidades pelo autor, definindo-as como formas do
passado que permaneceram como forma, espaço construído ou paisagem numa nova
conjuntura sócio-espacial, se apresentando de modo isolado ou como arranjos. Assim
sendo, “o espaço urbano capitalista é um produto social, resultado de ações acumuladas
através do tempo, e engendradas por agentes que produzem e consomem espaço” (Corrêa
1992; 11).
Santos (1997) afirma que, aos geógrafos não é facultativo, mas sim uma
obrigação, uma contextualização histórica quando se estudam as cidades e
juntamente com Abreu (2003), ressalta a importância na abordagem numa escala
espaço-temporal no estudo do espaço urbano. Para Abreu (1998), o estudo da
Geografia Histórica deve abordar também as legislações e normas sociais, e não se
limitar às formas morfológicas, pois estas formas não espaciais também influenciam
na constituição do espaço ao longo do tempo.
3 – Terra de passagem: Viana
O município de Viana é um dos sete que compõem a RMGV no Espírito Santo,
sendo os demais Cariacica, Fundão, Guarapari, Serra, Vila Velha e Vitória, a capital
capixaba. Faz divisa com os municípios de Guarapari, Vila Velha, Cariacica,
Domingos Martins e Marechal Floriano, sendo os dois últimos integrantes da Região
Serrana e possui uma população de aproximadamente 77mil habitantes, sendo que
90% residem em área urbana (IBGE, 2018), dispondo de uma área total de 312,22
km², com um perímetro urbano de 111,0 km², conforme figura 01.
Viana tem seu território atravessado por duas importantes rodovias do país, BR
101 e BR 262 e representa um importante elo entre as cidades da região. No século
XXI o município assume seu posicionamento dentro do estado do Espírito Santo,
sendo considerado como “capital estadual da logística”, por meio da Lei estadual Nº
237, de 17 de outubro de 2018. O município apresenta características favoráveis para
o desenvolvimento da atividade de logística de transportes, pois seus limites distam,
aproximadamente, 10 km do porto de Vitória, 13 km do porto de Capuaba e 30 km do
porto de Tubarão, além de possuir extensas áreas de vazios urbanos ao longo das
BR’s 101 e 262, que fazem seu entroncamento dentro do limite municipal. Sobre a
ferrovia existente, ainda se especula a implantação de um novo trecho ferroviário, que
ligará o estado com o Rio de Janeiro e São Paulo, tratado no plano como Ferrovia
Litorânea Sul, de acordo com o Plano Estratégico de Logística e de Transportes do
Espírito Santo (IJSN, 2017), que também indica a adequação da BR-262 e a
duplicação da BR-101.
Figura 01 – Sobreposições dos perímetros urbanos de Viana, ES. Fonte: Prefeitura Municipal de
Viana GEOBASES; IJSN; IEMA; IBGE, 2019. Elaborado pelo autor.
A atividade logística, que “é o processo de gestão dos fluxos de produtos, de serviços
e da informação associada, entre fornecedores e clientes (finais ou intermédios) e
vice-versa” (MOURA, 2006; 15), vem sendo atraída para o município, devido à
infraestrutura existente e a oferta de grandes glebas dentro do limite urbano. Até 2018,
Viana contava com 07 km² de áreas licenciadas para terraplanagem e implantação de
empreendimentos destinados a receber galpões para atividades logísticas (Viana,
2018). Segundo Villaça (2001), as vias são eixos de crescimento urbano que atraem
investimentos pela facilidade de infraestrutura oferecida. Caso que pode ser
observado também em Viana.
Recentemente, a BR 101/262 passa por intervenções em alguns trechos com
a construção de viadutos a fim de solucionar problemas nos gargalos das vias. Como
exemplo, tem-se a construção do viaduto na frente da empresa Real Café e do
condomínio logístico LogViana que fará ligação da BR 101-262 ao porto de Capuaba,
pela BR-447. Há também, outro viaduto sendo construído, onde supostamente
ocorrerá o cruzamento entre ferrovia Litorânea Sul e as Rodovias, e nesta região se
concentram vários empreendimentos ligados à logística. Ainda existe um terceiro
viaduto em construção no trecho de entroncamento das rodovias BR-101 e BR-262
(figura 02), pois nesta área foi projetada uma via para ligar Viana à região norte do
estado conhecida como Contorno do Mestre Álvaro (IJSN, 2018).
Figura 02 – IJSN (2018), Google Earth. Acervo do autor. Adaptados pelo autor.
Para Santos (1996), o espaço é formado apenas por fixos e fluxos, quando diz que:
O espaço é, também e sempre, formado de fixos e de fluxos. Nós temos coisas fixas, fluxos que se originam dessas coisas fixas, fluxos que chegam a essas coisas fixas. Tudo isso, junto, é o espaço. Os fixos geram fluxos e os fluxos geram fixos (...). Os fluxos são o movimento, a circulação e assim eles nos dão, também, a explicação dos fenômenos da distribuição e do consumo. Desse modo, as categorias clássicas, isto é, a produção propriamente dita, a circulação, a distribuição e o consumo, podem ser estudados através desses dois elementos: fixos e fluxos (SANTOS, 1996; 77).
Isso pode ser observado no município, pois sua característica ligada ao
transporte não é algo novo. Viana apresenta desde o início de sua ocupação relação
com o transporte, que apesar de ter passado por várias alterações, ainda manifesta
em seu espaço, resquícios desses tempos pretéritos.
No século XVIII, já havia em Araçatiba uma importante fazenda com igreja
dedicada à Nossa Senhora da Ajuda, residência, engenho, oficinas e senzalas. A
produção de açúcar e a criação de gado eram as principais atividades, que serviam
para abastecer o Colégio de Vitória, sendo uma casa reitoral administrada pelos
jesuítas. Esta produção e o acesso à fazenda eram feitos com uso de embarcações
que atracavam em seu porto e navegavam pelo rio Jucu, até chegar à costa (LEITE,
1938), conforme figura 03.
Figura 03 – Porto e entreposto comercial de Araçatiba, Viana, ES. 1907/1908. Fotografia de Eutychio
d’Oliver. Fundo documental do IPHAN-ES, coleção Eutychio d’Oliver – Um olhar sobre o Espírito
Santo do início do século XX. (A foto tem uma marcação escrita, datando o ano de 1910, porém foi
uma intervenção que o documento sofreu, mas não é essa a data da fotografia).
Em 1813, famílias açorianas chegaram a Viana, que na época era distrito de Vitória,
e se instalaram às margens do rio Jucu e seus afluentes, Formate e Santo Agostinho,
onde atualmente se encontra a sede do município; era o início da intensificação do
processo de imigração europeia no Espírito Santo (BALESTRERO, 2012). No ano de
1814 se inicia a abertura da estrada São Pedro de Alcântara, que ligaria Viana até a
região de Ouro Preto, capital mineira na época, fato que significava um importante elo
entre o Espírito Santo e a região centro-oeste do país (BALESTRERO, 2012).
Em 1847 acontece a penetração da região, com a ocupação de outros imigrantes
europeus, que acessavam as terras, por um trecho de caminho que era navegável
pelo Rio Jucu até as proximidades de Viana, segundo Rölke (2016):
Com os péssimos caminhos no interior, impôs-se a utilização de tropas de burro para fazer o transporte do café na medida em que crescia a sua produção. As tropas foram usadas desde o século XIX, para escoar a produção até os portos fluviais, como Benevente, Itapemirim, Santa Leopoldina e Viana. Dos portos fluviais, transportavam para o interior toda sorte de mercadorias, como açúcar, sal, querosene, bebidas, peixe salgado, utensílios caseiros, tecidos, calçados e ferramentas. Ainda até os anos 1940, elas eram usadas no transporte de mercadorias, quando foram finalmente substituídas pelos caminhões de carga. (RÖLKE, 2016; 505)
A Revolução Industrial iniciada na Europa, promoveu avanços também nos
transportes. Com o fim do período colonial, em 1822, quando iniciou o período de
Brasil Império, até a constituição da república em 1889, o Brasil foi inserido em um
novo perfil econômico. A inserção dos países americanos na economia capitalista
exigiu destes, investimentos em infraestrutura aumentar a eficiência na importação e
exportação dos produtos, diminuindo custos com transportes (NATAL, 1991).
No Brasil, a ocupação dispersa do território dificultava a comunicação, comércio
e escoamento de produtos e demandava grandes investimentos em sistemas de
transportes, que era contrário à lógica do capital. No período Imperial, a construção
de estradas de ferro foi o meio, mais rentável à época, encontrado para interligar a
região portuária com centros produtores no interior, existindo grande dependência
entre a ligação ferrovia e porto (NATAL, 1991).
A primeira Guerra Mundial entre 1914 e 1918, a quebra da bolsa de Nova Iorque
em 1929 e a revolução brasileira de 1930, colocando fim à República Velha, foram
decisivos para a alteração do perfil econômico do país. Se antes a base da economia
era agroexportadora, passou para uma fase de desenvolvimento industrial, rompendo
com as bases agrárias tradicionais da economia colonial (SIQUEIRA, 2001). O capital
estrangeiro foi responsável por alguns dos investimentos em infraestrutura, que
possibilitaram a expansão ferroviária, que tinha como finalidade sustentar a economia
brasileira, que era focada no exterior, e por outro lado, era limitada no que dizia
respeito às ligações entre regiões internas. Devido ao modo de ocupação disperso no
território, as ligações entre as povoações que tinham alguma importância econômica
eram dificultadas pelo elevado custo de implantação de novas vias férreas. Essas
barreiras espaciais também serviam como entrave para o desenvolvimento do
mercado interno brasileiro (NATAL, 1991).
Foi iniciado, em 1892 um projeto para implantação de uma ferrovia entre Vitória
e Cachoeiro de Itapemirim, impulsionada pelos cafeicultores do sul do estado. A linha
foi inaugurada em 1895 e concluída em 1910, com o primeiro trecho ligando Vitória a
Viana (figuras 04 e 05); posteriormente, o Espírito Santo foi ligado ao Rio de Janeiro
e a Minas Gerais. As vias férreas estimularam ainda mais, a cultura do café, sendo
consideradas como um significativo progresso para o estado, no que diz respeito às
vias de transporte (GROSSELLI, 1952).
Figuras 04 e 05 – À esquerda, a estação em 1904 (O Malho, 28/5/1904). À direita, a estação e a
locomotiva a vapor que ora posa a seu lado (Foto Waldson Menezes em maio de
2008).www.estacoesferroviarias.com.br/efl_rj_litoral/viana.htm, acesso em: 25 de julho de 2019.
A baixa interligação entre as ferrovias e o alto custo de implantação permitiram
a ascensão de um novo tipo de transportes, o automobilístico-rodoviarista a partir de
1930, que possibilitou a integração de diferentes regiões com um menor custo frente
à ferrovia. Isto foi possível, pois nas rodovias as obras de execução podiam ser
espaçadas no tempo, visto que primeiro se abria a rodovia com piso de terra batida, e
posteriormente implantava-se a pavimentação naquela via. Os encargos com compra
de veículos, assim como a infraestrutura de apoio ao longo da via era custeado por
particulares (NATAL, 1991).
Foi a partir da década de 1960 que se consolidou o processo de urbanização do
município, com o surgimento dos loteamentos localizados às margens da BR-262,
tendo sido motivados pela atividade comercial e industrial que se desenvolviam
próximos daquele sítio (SIQUEIRA, 2001). No Censo de 1970, já se somavam oito
empresas que desenvolviam atividades industriais. Ainda assim, a atividade rural
detinha a maior parte da população, chegando a 85% do total de habitantes. Foi a
década de 1970 (SIQUEIRA, 2001) que marcou a história de Viana, quando se
intensificou o processo de urbanização, determinado principalmente pelo
asfaltamento da BR 101 e da BR 262 (figura 06), e por haver no município grandes
extensões de terras disponíveis, o que estimulou a instalação de indústrias.
Figura 06 –Trevo das BR's 262 e 101 em Viana, fim dos anos 1970.
https://www.instagram.com/p/Btx78Ljg-Mm/?utm_source=ig_web_copy_link, acesso em: 25 de junho
de 2019.
Siqueira (2001) aponta que até o ano de 1975 haviam doze indústrias instaladas
no município, sendo que sete eram consideradas de grande porte. Outras empresas
continuaram a se instalar em Viana ao longo da década de 1970 até os dias atuais.
Outro fato importante foram as obras de duplicação das BR’s, que iniciariam no final
dos anos 2000, a partir de um projeto do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC),
com um trecho partindo de Viana até a divisa com Minas Gerais, na BR 262 – obras
não foram concluídas e se encontram paradas – e outro na BR 101 – obras em estágio
avançado – de Viana até Guarapari.
5 – Considerações finais
Conforme exposto ao longo do artigo, as alterações nos meios de transporte
sempre trouxeram para as cidades, e também para Viana, modificações
infraestruturais e econômicas.Tais alterações foram e são impactantes na realidade
urbana, modificando a dinâmica e as relações comerciais do município, da região e
do estado. A característica logística, que hoje o município possui, foi engendrada ao
longo dos séculos de ocupação, sempre se adaptando à realidade e ao que de mais
moderno existia à época, para suprir demandas comerciais, que até o século XIX eram
realizadas por meio de embarcações e caminho de tropeiros, e que foi superada neste
mesmo século, pelo trasporte ferroviário. este, por sua vez, foi superado pelo
transporte automobilistico-rodoviarista no século XX, sem que houvesse, contudo, um
desligamento total das atividades anteriores. Atualmente, esta interdependência do
transporte modal na região não mais existe, mas ainda assim, as marcas destas
atividades passadas se expressam nos costumes e nas paisagens da cidade.
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