terpsicoretranseterapia (ttt): uma revisÃo atual · temos feito a ttt em um relativamente amplo...

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TERPSICORETRANSETERAPIA (TTT): UMA REVISÃO ATUAL Dr. David Akstein* CONSIDERAÇÕES PRÉVIAS A terpsicoretranseterapia (TTT) foi criada em 1965 ( 3 ) com base nos extraordinários benefícios produzidos pela intensa liberação emocional despertada durante o transe cinético ritual. Esta libera- ção emocional permite aos médiuns obter u m b o m equilíbrio biopsicosocial. Afora aqueles adeptos que praticam o transe ritual cinético, também os outros seguidores das seitas espíritas brasileiras (Umbanda, Quimbanda, Candomblé, Xangô e outras) obtêm o referido equi- líbrio através de outros elementos componentes do ritual como, confissões, conselhos, banhos de "descarga", feitiços" ou "despachos", etc. ( i a ). No Brasil, país de dimensões continentais, com número insuficiente de psiquiatras, os centros espíritas têm se constituído em núcleos de aplicação de um tipo especial de psicoterapia popular. muitos anos, autores como Lévi-Strauss, citado por Ajuriaguerra, ( 2 ) afirmava q u e as dan- ças ou cerimónias de possessão são fatores de equilíbrio. Louis Mars e Eskowitch, também citados por Ajuriaguerra ( 2 ), Mongruel (' 7 ) e outros autores têm mostrado o valor do transe ritual como meio de equilíbrio nervoso. Temos afirmado que, da mesma maneira que a Ciência encontrou aplicações farmacológicas pa- ra plantas que, desde tempos memoriais eram empiricamente usadas por feiticeiros e curandeiros, igualmente, dos transes cinéticos rituais efetuados por todos os povos primitivos dentro de suas reli- giões animísticas, temos extraído uma forma de psicoterapia de grupo, a Terpsicoretranseterapia (TTT), cujas bases psicofisiológicas são perfeitamente compreendidas à luz da Ciência moderna. ( 4 ) Nosso intento neste trabalho é dar a verdadeira dimensão do valor da T T T na Psiquiatria e Medi- cina Psicossomática. A TTT constitui-se em importante medida terapêutica e profilática. O seu papel tem sido princi- palmente o de facilitar uma mais rápida e fácil cura dos pacientes neuróticos o u c o m distúrbios psicos- somáticos. A T T T deve ser considerada como uma importante medida dentro do tratamento global destes pacientes. ( 3 ) Presidente-Fundador da Sociedade Brasileira de Hipnose Médica, da "International Society of Hypnosis",da "American Society of Clinicai Hypnosis", da Associação Brasileira de Psiquiatria, da Associação Psiquiátrica do Estado do Rio de Janeiro, Diretor do Centro Integrado de Pesquisas Médicas. 25

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TERPSICORETRANSETERAPIA (TTT): UMA REVISÃO ATUAL

Dr. David Akstein*

C O N S I D E R A Ç Õ E S P R É V I A S

A terps icore t ranseterap ia ( T T T ) f o i cr iada e m 1965 ( 3 ) c o m base nos e x t r a o r d i n á r i o s bene f í c ios

p r o d u z i d o s pela intensa l iberação e m o c i o n a l desper tada d u r a n t e o t ranse c i n é t i c o r i t u a l . Esta l ibera­

ção e m o c i o n a l p e r m i t e aos méd iuns o b t e r u m b o m e q u i l í b r i o b iops icosoc ia l .

A f o r a aqueles adeptos que p r a t i c a m o transe r i t ua l c i n é t i c o , t a m b é m os o u t r o s seguidores das

seitas esp í r i tas brasi leiras ( U m b a n d a , Q u i m b a n d a , C a n d o m b l é , X a n g ô e out ras) o b t ê m o re fe r ido equ i ­

l í b r i o através de o u t r o s e lementos c o m p o n e n t e s d o r i tua l c o m o , conf issões, conselhos, banhos de

" d e s c a r g a " , f e i t i ç o s " o u " d e s p a c h o s " , e tc . ( i a ) .

N o Bras i l , país de d imensões c o n t i n e n t a i s , c o m n ú m e r o insu f ic ien te de ps iqu ia t ras, os centros

esp í r i tas t ê m se c o n s t i t u í d o e m núc leos de apl icação de u m t i p o especial de ps icoterap ia popu la r .

Já há m u i t o s anos, autores c o m o Lévi -Strauss, c i t a d o p o r A j u r i a g u e r r a , ( 2 ) a f i rmava que as dan­

ças o u cer imón ias de possessão são fa to res de e q u i l í b r i o . Lou is Mars e E s k o w i t c h , t a m b é m c i tados por

Aju r iaguer ra ( 2 ) , M o n g r u e l ( ' 7 ) e o u t r o s autores t ê m m o s t r a d o o va lo r d o t ranse r i tua l c o m o m e i o de

e q u i l í b r i o nervoso.

T e m o s a f i r m a d o q u e , da mesma manei ra que a Ciência e n c o n t r o u apl icações fa rmaco lóg icas pa­

ra p lantas que , desde t e m p o s m e m o r i a i s eram e m p i r i c a m e n t e usadas p o r fe i t i ce i ros e cu rande i ros ,

i gua lmen te , dos transes c iné t icos r i tua is e fe tuados p o r t o d o s os povos p r i m i t i v o s d e n t r o de suas re l i ­

giões an im ís t i cas , t e m o s e x t r a í d o u m a f o r m a de ps icoterap ia de g r u p o , a Terps icore t ranseterap ia

( T T T ) , cujas bases ps icof is io lóg icas são p e r f e i t a m e n t e compreend idas à luz da Ciência m o d e r n a . ( 4 )

Nosso i n t e n t o neste t r a b a l h o é dar a verdadei ra d imensão d o va lor da T T T na Ps iqu ia t r ia e Med i ­

c ina Psicossomát ica.

A T T T const i tu i -se e m i m p o r t a n t e med ida te rapêu t i ca e p r o f i l á t i c a . O seu papel t e m sido p r i nc i ­

pa lmen te o de fac i l i t a r u m a mais ráp ida e fác i l cura dos pacientes neu ró t i cos o u c o m d is tú rb ios psicos­

somát icos . A T T T deve ser cons iderada c o m o u m a i m p o r t a n t e med ida d e n t r o d o t r a t a m e n t o g lobal

destes pacientes. ( 3 )

P r e s i d e n t e - F u n d a d o r da Soc iedade Brasi le i ra de H i p n o s e M é d i c a , da " I n t e r n a t i o n a l S o c i e t y o f H y p n o s i s " , d a

" A m e r i c a n S o c i e t y o f C l in ica i H y p n o s i s " , da Assoc iação Brasi le i ra de P s i q u i a t r i a , da Assoc iação P s i q u i á t r i c a

d o E s t a d o d o R i o de J a n e i r o , D i r e t o r d o C e n t r o I n t e g r a d o de Pesquisas Méd icas .

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A nossa terap ia de g r u p o , não-verba l , apresenta uma certa analogia c o m o m é t o d o da h ipno -s ín -

tese, p recon izado por Jacob H. C o n n ( ! 3 ) e c o m o m é t o d o empregado por Mesmer em Paris, de 1778

a 1784 . ( 6 )

A q u e l e ps iqu ia t ra amer i cano descreveu em 1 9 4 4 o seu m é t o d o da h ipno-s ín tese q u e , e m resu­

m o , consiste s implesmente na indução do i n d i v í d u o ao estado h i p n ó t i c o e sugerir- lhe que poderá des­

f r u t a r deste estado do m e l h o r m o d o que o desejar. A s s i m , poderá fa lar ou f i car em s i lênc io , poderá r ir

se f o r do seu agrado o u poderá fazer o que desejar, gozando da sensação de ser o que verdade i ramente é.

Seme lhan temen te , na T T T não i n d u z i m o s q u a l q u e r m o d e l o de c o n d u t a aos pacientes, n e m antes

e nem du ran te as sessões; não há q u a l q u e r c o m u n i c a ç ã o verbal d u r a n t e as mesmas, i12}

C o m respei to ao m é t o d o empregado por Mesmer , i n i c ia lmen te devemos re fer i r que ele apl icava

músicas por m e i o de u m ó rgão , o que ensejava intensa ação e m o c i o n a l e sugestiva, e s t i m u l a n d o o apa­

r e c i m e n t o das crises nos " s u j e t s " co locados em t o r n o d o " b a q u e t " .

T a m b é m na T T T as crises c o n s t i t u e m uma si tuação desejada. Igua lmente usamos música e, co­

m o já temos d i t o , sua me lod ia t e m i m p o r t â n c i a secundár ia em relação ao r i t m o , m a r c a d o pe lo

t a m b o r .

As crises, i n c l u i n d o as h istér icas, e as crises convuls ivas ep idêmicas que eram de ocor rênc ia co­

m u m na E u r o p a du ran te a Idade M é d i a , são, segundo nosso p o n t o de v is ta , u m arcaico processo de de­

fesa nervosa.

Devemos supor que as crises e ram f e n ó m e n o s bastante f requen tes nas épocas mais remotas do

h o m e m ; mais sensíveis, por serem mais débeis, e ram as células nervosas d o h o m e m daquelas épocas, e

a s s i m , por indução rec íp roca se i n s t i t u í a m mais fáceis in ib ições do có r tex cerebra l .

Na Idade Méd ia , b e m recentemente — p o d e m o s assim d izer , cons iderando o t e m p o re la t ivo à

h is tór ia d o h o m e m na Te r ra — e ram b e m c o m u m as possessões demon íacas . O i n s t i n t o de im i tação

(ou con tág io emoc iona l ) m u i t o c o n t r i b u i u para a mais fác i l d i fusão daquelas crises sob u m d e t e r m i n a ­

do padrão. I gua lmen te , nas possessões r i tuais brasi leiras observam-se mode los mais o u menos comuns

duran te a sua indução e evo lução .

A "g rande crise h i s t é r i c a " não é hoje tão e n c o n t r a d a c o m o naqueles t e m p o s . O sistema nervoso

centra l era b e m mais sensível e menos resistente aos e s t í m u l o s agressivos amb ien ta is . A ação supra l i -

m m a r de es t ímu los sobre os cent ros emoc iona is , subcor t ica is , i n d u z i a , p o r i ndução negat iva, uma

abrup ta in ib ição co r t i ca l de defesa.

C o m o dissemos, a " g r a n d e c r i s e " não é t â c f r e q u e n t e nos presentes dias; a doença se res t r ing iu a

equivalentes o u se m e t a m o r f o s e o u e m novas f o r m a s ps icopato lóg icas , ou e m certas d is funções psicos­

somát icas, que se desenvolveram c o m o u m resu l tado d o a u m e n t o da resistência nervosa; essas novas

condições der ivam da s i tuação atual de ma io r defesa do cór tex cerebra l , que apresenta ma io r con t ro le

das exc i tações aferenciais re t í cu lo -co r t i ca i s . Sem d ú v i d a , a resistência nervosa dos i n d i v í d u o s f o i sen­

d o i nc remen tada , p r i n c i p a l m e n t e a pa r t i r do século dezenove, pelo apa rec imen to de novos , m u l t i f o r ­

mes e crescentes e s t í m u l o s . N o século a tua l o h o m e m da c idade é s u b m e t i d o a u m a ta l pressão es t imu-

la t iva, que seria insupor táve l a u m o u t r o do século X V , por e x e m p l o . Presentemente, a inda cr iança o u

adolescente, o i n d i v í d u o já sofre u m i n f l u x o e s t i m u l a t i v o t r e m e n d o . ( 4 )

C o n f o r m e diz E l lenberger , ( 1 4 ) ao compara r o h o m e m francês da época de Mesmer e o da época

a tua l , " o h o m e m daquele t e m p o era não só social e ps ico log icamente , mas t a m b é m b io log i camen te d i ­

fe rente de nós. Eles e ram de pequena es ta tura , e x t r e m a m e n t e r i jos (não havia anestesia c i rú rg ica , ne­

n h u m analgésico) ; eles cresciam mais rap idamen te , passando d i r e t a m e n t e da fase de cr iança para a de

adu l tos ; enve lhec iam mais rap idamen te e v iv iam vidas mais c u r t a s " .

Devemos considerar que t e m hav ido uma al teração nervosa no h o m e m , levando a uma ma io r re­

sistência da A t i v i d a d e Nervosa Super io r através d o a p e r f e i ç o a m e n t o o n t o g e n é t i c o e f i l o g e n é t i c o . O

m u n d o moderno ' , a tua l , exerce sobre o i n d i v í d u o uma intensa e veloz es t imu lação , que par te de varia­

dos setores e c o m variações f requen tes , desde a mais ten ra in fânc ia . T o d a a sua v ida n e u r o - h o r m o n a l é

es t imu lada , ocas ionando mod i f i cações de várias naturezas, i n c i d i n d o , inc lus ive, sobre o c resc imen to .

O h o m e m d o m u n d o atual t e m esta tura mais a l t a , e ac red i tamos que isto não ocor ra só dev ido às v i ta ­

minas, a n t i b i ó t i c o s , medidas sanitár ias várias e a o u t r o s recursos m o d e r n o s . ( 4 )

A b o r d a n d o de n o v o a "g rande c r i se " , devemos repet i r que e la, que é hoje m u i t o menos encon­

t rada que em épocas passadas, se restr inge ou se m e t a m o r f o s e a em d is tú rb ios var iados, as chamadas

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conversões o u equiva lentes, o u os chamados d i s tú rb ios ps icossomát icos, re lac ionados c o m f o c o s pato­

lógicos estancados de processo e x c i t a t ó r i o n o c ó r t e x ce reb ra l ; o t o n o p o s i t i v o d o c ó r t e x já é mais ele­

vado e impede uma d i fusão i n i b i t ó r i a fác i l a pa r t i r da per i fe r ia desses focos (po r indução r e c í p r o c a ) ,

graças ao a p e r f e i ç o a m e n t o o n t o g e n é t i c o e f i l o g e n é t i c o .

A nossa terap ia age, e m m u i t o s casos, prec isamente levando o i n d i v í d u o à crise p r i m i t i v a , d i l u i n ­

do esses verdadei ros bolsões estancados d o processo e x c i t a t ó r i o no c ó r t e x , mas d a n d o , após a crise in­

t e n c i o n a l m e n t e p r o v o c a d a , ma io r t r a n q u i l i z a ç ã o e m o c i o n a l e ma io r t o n o pos i t i vo às células cor t i ca is ,

isto é, d a n d o a estas m e l h o r poder c o n t r o l a d o r , m o d e r a d o r e desat ivador das es t ru turas subcor t ica is . É

c o m o se desnudássemos u m i n d i v í d u o mal ves t ido e su jo , e após u m b o m b a n h o , uma boa " t o i l e t t e " ,

lhe cobr íssemos c o m uma bela r o u p a . ( 4 )

A analogia das crises mesméricas c o m as dos transes c inét icos pode ser t a m b é m ev idenc iada pelo

f a t o de que aquelas crises c o n s t i t u í a m uma ab-reação das neuroses c o m u n s , ( 1 4 ) igua lmente c o m o

ocor re nas crises du ran te os transes c iné t icos . O u t r a analogia se refere à d i m i n u i ç ã o progressiva da in­

tensidade das crises a cada sessão que se segue, o que o c o r r e nos transes c iné t i cos , c o m o oco r r i a no

t r a t a m e n t e m e s m é r i c o , is to é, u m a dessensibi l ização.

M e t o d o l o g i a da T T T — 0 nosso m é t o d o considera i m p o r t a n t e , d e n t r o d o c o n c e i t o de g r u p o ,

que cada g r u p o t e r a p ê u t i c o p r a t i c a n d o a T T T tenha n íve is sóc io-cu l tura is semelhantes. ( 7 )

O m i s t i c i s m o é c o m p l e t a m e n t e descar tado na T T T ; o m o n o i d e i s m o , que é m í s t i c o nos transes

r i tua is , está naquela l igado a o u t r a f i n a l i d a d e .

Devemos e luc idar , que a T T T , e m s i , não envo lve a discussão dos p rob lemas dos pacientes (seja

imed ia tamen te antes o u logo após a sessão). E la , por si mesma, leva a uma l iberação nervosa bené f i ca ,

que aumen ta a resistência nervosa dos pacientes, dando- íhes t r a n q u i l i d a d e , e melhores cond ições para

en f ren ta r e resolver os seus p rob lemas . N a t u r a l m e n t e , conhecemos p rev iamente os seus p rob lemas ,

eles, p o r é m são abordados e d i scu t idos n o c o n s u l t ó r i o , onde ap l icamos var iados recursos c o m o relaxa­

ção, h ipnose , ps icoterapia de a p o i o e de o r ien tação , medicação e o u t r o s , t u d o d e n t r o d o t r a t a m e n t o

g lobal a que os pacientes se s u b m e t e m .

As sessões são realizadas semana lmente , à n o i t e . Os pacientes novos já v ê m o r ien tados pelo mé­

d i co i n d u t o r o u o são i m e d i a t a m e n t e antes da sessão c o m respei to aos bene f í c i os d o m é t o d o e, até o n ­

de é poss íve l , c o m relação à técn ica e ao evolver da sessão, mas sem i m p o r o u sugerir u m m o d e l o de

c o n d u t a . O m é d i c o i n d u t o r deve sempre esclarecer aos pacientes que aqueles que não consegu i rem en­

t ra r e m transe devem permanecer na dança , execu tando-a c o m o b e m a dese jarem; m e s m o , nessa s i tua­

ção, uma benéf ica l iberação de tensões emoc iona is represadas é p r o d u z i d a .

T e m o s f e i t o a T T T em u m re la t i vamente a m p l o salão, que p e r m i t e t o t a l l iberdade de m o v i m e n ­

t o dos pacientes, p o r é m resguardando uma certa i n t i m i d a d e , desprov ido de e t ique tas . O local deve ser

t a m b é m agradável aos pacientes, t r a n q u i l o , c o m l im i tada e ind i re ta i l u m i n a ç ã o .

Os pacientes devem p re fe ren temen te v i r e m trajes espor t i vos , igua lmente c o m o o m é d i c o i n d u ­

t o r e seus aux i l ia res; t o d o s devem usar alpargatas o u f i car descalços, se p r e f e r i r e m .

A n t e r i o r m e n t e usávamos uma orques t ra c o m p o s t a por uns seis a sete mús icos , sendo o t a m b o r o

i n s t r u m e n t o mais i m p o r t a n t e . T o d a v i a , dev ido às d i f i cu ldades óbvias de reun i r semanalmente a or­

ques t ra , passamos a empregar u m toca-f itas c o m u m a gravação de al ta qua l i dade , fe i ta e m es túd io c o m

a mesma o rques t ra . Pos te r io rmen te , passamos a usar, a l t e rnadamen te , a refer ida gravação o u u m t a m ­

bor , que ora pode ser b a t i d o n o r i t m o h a b i t u a l , ora e m r i t m o mais ráp ido . Esta ú l t i m a manei ra nos

pe rm i te aumen ta r a exa l tação p s i c o m o t o r a dos pacientes d u r a n t e a T T T .

A s músicas que t e m o s empregado são algumas das mais bon i tas que são cantadas e m cent ros es­

p í r i t as de U m b a n d a (a ma io r das seitas afro-brasi le i ras.)

C o m o somente ace i tamos para a T T T pacientes que jamais f r e q u e n t a r a m cent ros esp í r i tas u m -

bandistas e eles, não c o n h e c e n d o prev iamente aquelas músicas, não te rão possib i l idade de apresentar

u m c o n d i c i o n a m e n t o negat ivo o u desagradável e m relação a elas.

Não t e m grande i m p o r t â n c i a a m e l o d i a , p o r é m o r i t m o , marcado pelas bat idas do t a m b o r , t ê m

i m p o r t a n t e f u n ç ã o n o desencadeamento e m a n u t e n ç ã o d o transe c iné t i co . ( 9 ) Por isso, du ran te as ses­

sões de T T T p o d e m o s usar un i camen te o t a m b o r , sendo pe r fe i t amen te dispensável o u t r o s i n s t r u m e n ­

tos .

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São u t i l i zados duas f ichas d i fe ren tes para registro das in fo rmações per t inen tes , antes e depois da

sessão: pressão a r te r ia l , pulsação, tensão emoc iona l e ou t ros dados c l í n i cos . A s caracter ís t icas d o t ran ­

se são igua lmente anotadas: p r o f u n d i d a d e , c o n t i n u i d a d e , t i pos de m o v i m e n t o s , reversão ocu la r , per­

turbações sensit ivas, d i s to rção do sen t ido do t e m p o , amnésia, h ipe rven t i l ação , f i xação seletiva de ins­

t r u m e n t o s musicais, tendênc ias mís t i cas , cond ições d o paciente en t re as sessões. São registradas igual­

mente in fo rmações sobre a reação da f a m í l i a ao t r a t a m e n t o , cond ições fami l ia res e a j u s t a m e n t o , e

t a m b é m sobre a adaptação ao m e i o de t r a b a l h o .

I n fo rmações sobre o m é t o d o t a m b é m p o d e m ser dadas imed ia tamen te antes da sessão, e não se

sugere e n e m se exige dos pacientes qua lquer m o d e l o o u padrão de c o n d u t a , c o n f o r m e já i n f o r m a m o s .

T o d a v i a , recomendamos- lhes que c o n t i n u e m dançando da manei ra que b e m o desejarem, mesmo que

não cheguem ao estado de t ranse. Por si só esta prá t ica já poderá p r o d u z i r uma regular l iberação emo­

c iona l .

Técn ica d o t ranse c i né t i co na T T T — Os pacientes, co locados em f i l e i ra , lado a l ado , são o r ien ta ­

dos para man te r os o lhos fechados e se c o n c e n t r a r e m n a q u i l o que mais dese jam: sua c u r a , seu bem-es-

tar , a so lução de seus p rob lemas fami l ia res ou sociais, o u o u t r o desejo i m p o r t a n t e . Buscamos c o m isto

ob te r u m e f ic ien te m o n o i d e í s m o , que t e m i m p o r t a n t e papel na indução d o t ranse.

A o man te r os o lhos fechados desde o i n í c i o , n e n h u m paciente poderá ver a indução e o desenro­

lar do transe dos demais pac ientes, e deste m o d o , não haverá u m m o d e l o a im i ta r . Por consequên­

cia, o t ranse de cada paciente f i ca d o t a d o de caracter ís t icas m u i t o pessoais.

Depois de i n d u z i d o o m o n o i d e í s m o , os pacientes são i n s t r u í d o s para fazer amp los e ráp idos m o ­

v i m e n t o s resp i ra tó r ios , no sent ido de produz i r -se uma h iperven t i lação . Na T T T estes m o v i m e n t o s res­

p i ra tó r ios d u r a m em média u m m i n u t o . É possível que e m i n d i v i d u e s m u i t o sensíveis haja, c o m o con­

sequência, neste c u r t o t e m p o , al terações e lec t ro l í t i cas e b ioe lec t rogenét icas , a u m e n t a n d o a in ib ição

co r t i ca l . É uma suposição, pois n e n h u m a medição f is io lóg ica f o i f e i ta neste sen t ido e m i n d i v í d u o s e m

transe c iné t i co . Sabemos p o r é m que a h ipervent i lação fac i l i t a a indução d o t ranse. Há m u i t o s anos

que Sargant e Fraser ( 2 0 ) t ê m r e c o m e n d a d o o uso da h ipervent i lação para fac i l i ta r a indução da h ip­

nose. Sargant, c i t a d o por Pr ince, ( 1 9 ) inc lu i a h ipervent i lação c o m o i m p o r t a n t e f a t o r para a p r o d u ç ã o

de estado'de possessão r i t u a l .

Logo após in ic iada a fase da h iperven t i l ação , fazemos soar a música o u s imp lesmente o t a m ­

bor. T e r m i n a d a a c i tada fase, os pacientes i n d i v i d u a l m e n t e são logo levados, pelo i n d u t o r , ao transe

c iné t i co med ian te m o v i m e n t o s g i ra tó r ios impos tos ao seu c o r p o e m posição a n t i - n a t u r a l : a cabeça in­

cl inada para b a i x o , c o m o q u e i x o o mais encos tado possível ao p e i t o ; o u a cabeça inc l inada para trás e

o ros to v o l t a d o para c i m a . O ideal seria os pacientes p o d e r e m ser t o d o s induz idos ao transe ao mesmo

t e m p o . Por essa razão, o m e l h o r seria p o d e r m o s con ta r c o m u m b o m n ú m e r o de i ndu to res e au­

x i l iares.

O m o v i m e n t o g i r a t ó r i o é ráp ido e não obedece p r o p r i a m e n t e a n e n h u m a cadênc ia ; p o r t a n t o ,

não há conexão en t re esse m o v i m e n t o e o r i t m o m a r c a d o pelo t a m b o r .

A l c a n ç a d o o estado de t ranse, o operador entrega o paciente aos cu idados de u m dos aux i l ia res,

o qua l o c o n d u z a u m m o v i m e n t o g radat ivamente mais len to até inco rporá - lo e equ i l i b rá - lo d e n t r o d o

r i t m o marcado pelo t a m b o r . A s s i m o c o r r e n d o , o pac iente é d e i x a d o por c p n t a p r ó p r i a , para que pos­

sa escolher o c o m p o r t a m e n t o que desejar.

Os aux i l ia res são d i s t r i b u í d o s entre, os pacientes para evi tar quedas, choques , o u para c o n t r o l a r

o desenvolver dos transes v io len tos .

Pode suceder que o pac iente i n t e r r o m p a espontaneamente o t ranse, p o r é m , passados alguns m i ­

n u t o s , o t ranse poderá ser f a c i l m e n t e r e i n d u z i d o .

Alguns dados sobre o c o m p o r t a m e n t o — A zona co r t i ca l de v ig i lância dos pacientes permanece

conec tada apenas aos e s t í m u l o s sonoros, os e s t í m u l o s verbais não t ê m p r o p r i a m e n t e e fe i to sobre eles.

Porém, uma conversação o u m u r m ú r i o por pe r to pode mesmo i r r i tá - los , d i m i n u i n d o a p r o f u n d i d a d e

d o t ranse. ( 8 ) Por esse m o t i v o é r e c o m e n d a d o a t o d o s os presentes (aux i l ia res, i ndu to res e acompa­

nhantes dos pacientes) que ev i tem fa lar d u r a n t e as sessões de T T T .

D u r a n t e as sessões alguns pacientes dançam c o m o se estivessem s a m b a n d o ; alguns dançam de­

m o n s t r a n d o exa l tada alegr ia, e n q u a n t o ou t ros c h o r a m ; alguns ba lance iam s implesmente o c o r p o , sem

sair d o lugar, e n q u a n t o o u t r o s f i c a m parados; ex i s tem aqueles que p r o d u z e m u m transe v i o l e n t o , c o m

28

grandes mani festações emot i vo -c iné t i cas (crises), p r i n c i p a l m e n t e nas sessões in ic ia is , e n q u a n t o ou t ros

i n t e r r o m p e m espontaneamente o transe e só então c o m e ç a m a c h o r a r ; alguns q u e r e m somente andar

pelo salão, e n q u a n t o o u t r o s p re fe rem f i car de i tados n o chão.

F a t o m u i t o interessante pudemos observar e m pacientes franceses e SUÍÇOS (sessões de T T T nas

c l ín icas dos Professores J . Donnars , em Paris, e R o b e r t K l e i n , e m Lausanne, e no Cent ro de Mus ico te­

rap ia , em Paris, c o m os Professores Gabai e J o s t ) : as mani festações ps i comoto ras , c o m f requen tes cri­

ses, e ram m u i t o mais acentuadas e exuberantes d o que as que temos observado e m nossas sessões aqui

em nosso país.

A c r e d i t a m o s que , c o m o consequênc ia de seu t i p o de c u l t u r a , c o m repressões b e m mais acentua­

das e constantes p u d e r a m , através d o transe c iné t i co , l iberar c o m exal tadas mani festações p s i c o m o t o ­

ras suas tensões repr imidas .

A p r o p ó s i t o , aqui devemos fazer u m i m p o r t a n t e parêntese para exa l ta r o m e r i t ó r i o papel que te­

ve o Prof. A i m ê M a r c h a n d , i lustre m é d i c o parisiense, c o m o i n t r o d u t o r e d i f uso r da T T T na E u r o p a .

A l é m da apl icação c l í n i c a a i números pacientes, t e m f e i t o diversas exper iências c o m o , por

e x e m p l o , na Univers idade de V incennes , j u n t o c o m o Prof . Jean Per r in , onde ap l i cou a T T T em u m

grande n ú m e r o de estudantes. ( 1 6 ) Preparou c o m o Prof . Perr in interessante vídeo-cassete sobre os ex­

pe r imen tos empreend idos naquela Univers idade.

M a r c h a n d t e m f e i t o interessantes recomendações c o m respei to à apl icação da T T T e m escolares

v í t i m a s da t i m i d e z c o m o , por e x e m p l o , uma med ida para homoge in i za r o m e i o e p e r m i t i r me lho r

e q u i l í b r i o nos t raba lhos escolares. í 1 6 )

I m p o r t a n t e opção descobr iu aquele colega parisiense: através de bat idas de palmas, ele t e m con­

seguido ob te r e s t í m u l o s sonoros capazes de subs t i tu i r os das bat idas do t a m b o r , i n d u z i n d o assim o

transe c iné t i co . A respei to d i s to , devemos refer i r que aqui no R i o de Jane i ro alguns Centros Esp í r i tas

Umband is tas usam as bat idas das palmas s u b s t i t u i n d o as do t a m b o r . Pudemos ali observar u m a menor

ação emoc iona l e, consequen temen te , transes menos p r o f u n d o s . Devemos esclarecer, t o d a v i a , que a re­

fe r ida observação de M a r c h a n d é de suma i m p o r t â n c i a , pois podemos em certas c i rcunstâncias não dis­

por de u m t a m b o r (ao v ivo ou em gravação).

O u t r a i m p o r t a n t e referência que aqu i merece ser fe i ta é a respei to d o t r a b a l h o d o Prof.

R a y m o n d A b r e z o l , de Lausanne, Su iça . Fo i ele o i n t r o d u t o r da T T T na Su iça , t e n d o f e i t o dezenas de

seminár ios sobre esta ps icoterap ia não-verbal em seu pa ís , na França e na A l e m a n h a . A sua exper iên ­

cia c l í n i ca c o m esta ps icoterapia já é bastante avanta jada.

O Prof . A b r e z o l esteve n o R i o de Jane i ro d u r a n t e o ú l t i m o Congresso Pan A m e r i c a n o de H i p n o -

logia (12 a 17 de março de 1 9 7 8 ) , q u a n d o apresentou interessante re la to sobre suas exper iências c o m

a T T T em crianças ( ' ) t e n d o t a m b é m naquela ocasião apresentado u m e x t r a o r d i n á r i o f i l m e sobre

uma sessão de T T T d i r ig ida por ele e sua equ ipe.

Na T T T a exa l tação m o t o r a cor responde à l iberação e m o c i o n a l , e n q u a n t o o c o n t r o l e m o t o r

(que p r o c u r a m o s ter , l i m i t a d a m e n t e , dos pacientes du ran te as sessões) cor responde ao c o n t r o l e emo­

c iona l . Por essa razão o ope rador e os auxi l iares p r o c u r a m modera r , até ce r to p o n t o , as mani festações

mo to ras des pacientes mais exa l tados , o que ocor re mais c o m u m e n t e nas pr imei ras sessões a que eles

v ê m .

Esse con t ro le é, até cer to p o n t o , para imped i r que a re fer ida exa l tação seja demasiada ou per i ­

gosa para o paciente. T o d a v i a , não podemos b loquear c o m p l e t a m e n t e aquela exal tação pois assim se

imped i rá a benéf ica l iberação e m o c i o n a l .

Devemos aprove i ta r aqu i para d izer que a l iberação das tensões emoc iona is rep r im idas to rna rá

o i n d i v í d u o mais e q u i l i b r a d o e m o c i o n a l e ps icossomat icamente .

A p r o p ó s i t o , devemos aqu i e luc idar que , c o m o os cent ros emoc iona is e neurovegetat ivos estão

conectados f is io lóg ica e a n a t o m i c a m e n t e , a l iberação das tensões emoc iona is represadas p roduz i rá

consequen temente uma m e l h o r a f u n c i o n a l ps íqu ica e neurovegeta t iva .

F e n o m e n o l o g i a :

1 — Ab-reações emoc iona is (crises)

2 — D is torsão d o t e m p o

3 — D is tú rb ios da sensibi l idade (anestesia e hiperestesia)

29

4 — Memor izações

5 — Regressão

6 — A m n é s i a espontânea

7 — E x i b i c i o n i s m o

8 — Dessensibi l ização progressiva.

A q u i devemos esclarecer que a T T T não evo lu i u n i c a m e n t e p o r ação das crises. A c r e d i t a m o s que

m u i t o s pacientes, que dever iam apresentar as crises, têm-nas, p o r é m , metamor foseadas o u subs t i tu í ­

das por regulares contorsões musculares e pela exa l tação p s i c o m o t o r a na dança .

É bastante c o m u m e m mui,tos pacientes a oco r rênc ia da d is to rção d o sen t ido d o t e m p o . 0 mais

c o m u m é a d is to rção para m e n o s : pensam ter estado e m transe somente por uns 15 m i n u t o s , p o r

e x e m p l o , q u a n d o na real idade o est iveram d u r a n t e 2 horas. Esse era o t e m p o de duração de nossas ses­

sões nos p r ime i ros anos de apl icação da T T T ; p o s t e r i o r m e n t e o reduz imos para 4 5 m i n u t o s , que t e m

s ido o su f i c ien te para o nosso des idera to .

Há pacientes que apresentam anestesia e m certas partes d o c o r p o , p r i n c i p a l m e n t e nos braços, se­

me lhan te ao que ocor re e m certas crises histér icas. T e m o s tes tado esta anestesia e m nossas sessões.

A l g u n s são levados a m e m o r i z a r fa tos e sensações que o c o r r e r a m há longos anos, mu i tas vezes

na in fânc ia . Eles, mesmo, depo is , não sabem exp l i ca r po rque o c o r r e r a m tais lembranças.

A regressão é f e n ó m e n o c o m u m t a n t o du ran te os transes r i tua is c o m o d u r a n t e os da T T T . O

c o m p o r t a m e n t o é m u d a d o e há u m a tendênc ia a p rocu ra r p r o t e ç ã o . Há regressão a n íve is p r o f u n d o s ,

l i be rando f o r m a s de c o n d u t a arcaicas. A regressão, segundo Pr ince, t 1 8 ) s ign i f ica o r e t o r n o a u m n íve l

an t igo de f u n c i o n a m e n t o , p o d e n d o ser " u m a resposta ao " s t r e s s " — o r e f ú g i o da real idade do lo rosa —

o u pode ser mais o u menos consc ien temente o b t i d a c o m o u m m e i o de rec reação . "

A amnésia espontânea se p r o d u z mais c o m u m e n t e nos pacientes q u e est iveram sob o t ranse p ro ­

f u n d o .

0 e x i b i c i o n i s m o é par te in tegran te da v ida de t o d o s os seres h u m a n o s , p o r é m é u m f e n ó m e n o

n i t i d a m e n t e e x a l t a d o seja d u r a n t e o transe c i n é t i c o r i t u a l , seja d u r a n t e o transe c iné t i co da T T T . Te­

mos v is to c o m o m u i t o s pacientes apresentam u m grande prazer e m exibir -se e m belas coreograf ias e

c o m m í m i c a s expressando var iados sen t imen tos .

A dessensibi l ização progressiva já havia s ido observada p o r Mesmer . A cada sessão, as crises t o r -

navam-se mais atenuadas. O m e s m o acontece na T T T , levando os pacientes, das mais exal tadas e x p l o ­

sões emot i vo -c iné t i cas à ma io r t r anqú i l i zação ps íqu ica e ps icossomát ica , à med ida que se sucedem as

sessões.

Neuro f i s io log ia d o t ranse c i n é t i c o — T e m o s m o s t r a d o e m diversos t raba lhos que são fa to res i m ­

por tan tes d e n t r o da neuro f i s io log ia d o t ranse c i n é t i c o :

1 — O m o n o i d e í s m o

2 — A s emoções desencadeadas pelos e s t í m u l o s sonoros r í t m i c o s e pela expec tação

3 — A ação d o m o v i m e n t o g i r a t ó r i o d o c o r p o , e m posição a n t i - n a t u r a l , sobre os cent ros vest i -

bulares.

4 — A h ipe rven t i l ação .

O m o n o i d e í s m o é t a n t o mais i n t e n s o i q u a n t o mais o é o r e f l e x o c o n c e n t r a d o r , que é a base so­

bre a qua l se desenvolve a f e n o m e n o l o g i a i n d u t o r a h i p n ó t i c a . Q u a n d o há essa atenção expec tan te já

há u m a l im i tação d o c a m p o da a t i v idade consc iente d o c ó r t e x cerebra l , p e r m i t i n d o uma série de fe­

n ó m e n o s h i p n ó t i c o s (h ipnose e m v ig í l i a ) , f 1 1 )

O m o n o i d e í s m o assim p r o d u z i d o p r o m o v e uma exc i tação p reponderan te e m u m a zona de v ig i ­

lância co r t i ca l b e m l i m i t a d a , a qua l p r o d u z , por indução negat iva, in ib ição de amplas áreas cor t i ca is ,

p o d e n d o i m p e d i r , en t re ou t ras percepções, a d o l o r o s a .

A ação d o m o v i m e n t o g i r a t ó r i o d o c o r p o , e m pos tu ra an t i -na tu ra l ( c o m a cabeça vo l tada para

o chão o u para o a l t o ) , p r o d u z u m d e s e q u i l í b r i o l a b i r í n t i c o que induz f o r t e exc i tação sobre os cent ros

vest ibulares.

Esta exc i tação s u p r a m a x i m a l n o subcór tex é a inda mais a u m e n t a d a pelas emoções desencadea­

das pela expec ta t i va e pelos e s t í m u l o s sonoros r í t m i c o s , p r o d u z i n d o - s e , ass im, u m a indução negat iva

d o c ó r t e x cerebra l . Desta f o r m a , a in ib i ção c o r t i c a l , já alcançada pela ação d o m o n o i d e í s m o , se d i f u n ­

de a inda mais em t o r n o da área de v ig i lânc ia .

30

Devemos crer que a h iperven t i l ação tenha u m a certa ação na d i fusão desta in ib ição c o r t i c a l , pois

passamos a ob te r mais f a c i l m e n t e o t ranse c iné t i co depois que i n s t i t u í m o s a p r o d u ç ã o da h iperven t i l a ­

ção em nossos pacientes: C o m o já d issemos, é possível que as al terações e lec t ro l í t i cas e b ioe lec t rogê-

nicas que surgem na h iperven t i l ação possam a u m e n t a r a in ib i ção c o r t i c a l . Es tando o t ranse i n s t i t u í d o ,

a área de v ig i lânc ia passa a f i ca r p reva len temente conectada c o m os e s t í m u l o s sonoros r í t m i c o s . O r i t ­

m o persistente marcado pe lo t a m b o r a juda a man te r as cond ições de h ipnogen ia d u r a n t e t o d a a

sessão.

Na i ndução d o t ranse c i n é t i c o t a n t o fa tores da h ipnose h u m a n a c o m o da chamada h ipnose an i ­

mal estão presentes. C o n t u d o , o transe c iné t i co é p r o d u z i d o em m a i o r par te pela ação de fa tores da

h ipnose an ima l que da h u m a n a . Na si tuação c l í n i c a ro t i ne i ra de c o n s u l t ó r i o , a estimulação* verbal é o

mais i m p o r t a n t e f a t o r na i n d u ç ã o , a p r o f u n d a m e n t o e manu tenção d o estado h i p n ó t i c o .

U m a das mais f requen tes técnicas de p r o d u ç ã o da h ipnose an ima l é através de m o v i m e n t o s ro ta ­

t ó r i o s . S v o r a d , ( 2 1 ) e Hoskovec e Svorad ( l s ) apresentaram interessantes e x p e r i m e n t o s usando esta

técn ica e m an imais .

Svora rd ( 2 1 ) usou u m apare lho especial para a ro tação d o an ima l e m t o r n o do seu e i x o verte­

b r a l , n u m a posição a n o r m a l , isto é, na posição sup ina .

O eventua l a p a r e c i m e n t o da ca tap lex ia e m cer tos pacientes na T T T mos t ra o u t r a analogia c o m a

chamada h ipnose an ima l .

E m 1 9 6 7 , j u n t o c o m a equ ipe d o I n s t i t u t o de E lec t roence fa log ra f ia d o R i u de Jane i ro ( ' 1 ) en­

cetamos uma série de exper iênc ias m e d i n d o à d is tânc ia o E E G de i n d i v í d u o s sob o transe c iné t i co ,

r i tua l da U m b a n d a e da T T T .

E m do is dos pacientes, sob e x p e r i m e n t o , i n d u z i m o s o transe c iné t i co med ian te m u i ráp idos m o ­

v i m e n t o s r o t a t ó r i o s , o b t e n d o u m estado ca tap lé t i co por poucos segundos. U m deles permaneceu por

12 segundos e m ca tap lex ia , su rg indo en tão no t raçado ab rup tos sur tos d i fusos e b i la tera is de ondas si

nusoidais de 3 a 4 c /s , isolados o u em grupos. Essa a t iv idade p a r o x í s t i c a (em pacientes norma is , c o m

t raçados no rma is em cond ições normais) faz o re fe r ido t raçado apresentar analogias b e m acentuadas

c o m os o b t i d o s por Svorad ( 2 1 ) e m coelhos sob ca tap lex ia ou in ib ição parox isma l (ou p a r o x í s t i c a ! ,

c o n f o r m e ele d e n o m i n a .

Hoskovec e Svorad ( l s ) d i z e m que a h ipnose an ima l cor responde a u m a in ib ição parox ismal

causada pelo d e s e n v o l v i m e n t o de u m e x c i t a t ó r i o processo nas regiões subcor t i ca is , nos cent ros ref le

xos d o e q u i l í b r i o . Este estado e x c i t a t ó r i o é consequênc ia da s i tuação a n o r m a l d o c o r p o e e x t r e m i d a ­

des no espaço, a qua l é s inal izada pelos receptores vest ibulares, p r o p r i o c e p t o r e s e ex te rocep to res cu­

tâneos.

Indicações e conclusões: — Bons resul tados t e m o s o b t i d o c o m a T T T n o t r a t a m e n t o das chama­

das doenças psicossomáticas e das mais c o m u n s neuroses. Exceção deve ser f e i t a c o m respei to às neu­

roses fóbico-obsessivas, para as quais não recomendamos a nossa te rap ia . Nestes casos, a indução d o

transe c i n é t i c o já é, p o r si p r ó p r i a , m u i t o d i f í c i l de se o b t e r .

Os resul tados mais ob je t i vos são most rados n o t r a t a m e n t o das cond ições que apresentam fo r tes

e in tempest ivas explosões e m o c i o n a i s , c o m o nas neuroses histér icas e na de l i nquênc ia j u v e n i l .

Nas neuroses depressivas leves, que podemos t a m b é m r o t u l a r de neuroses de fadiga o u neuroses

sociais, e nos d i s tú rb ios ps icossomát icos, a T T T igua lmente p r o d u z bons e fe i tos .

A s sessões de T T T t ê m s ido consideradas t a m b é m c o m o u m m e i o de soc io terap ia através do re­

l a c i o n a m e n t o social en t re aqueles que p a r t i c i p a m das sessões. ( 8 ) A s s i m , antes e após as sessões os pa­

cientes se sentam j u n t o s , em pequenos g rupos , t r o c a n d o impressões e con f idênc ias , cada u m fa lando

acerca d o seu p r ó p r i o caso, e assegurando uns aos o u t r o s uma m ú t u a a juda .

T e m o s cons iderado, de uns anos para cá, o possível va lor da T T T não só c o m o ps icoterap ia de

g r u p o mas t a m b é m de massa. ( 1 0 )

São as própr ias bases sóc io-cu l tu ra is da T T T que nos a le r tam a respei to das suas e x t r a o r d i n á ­

rias potenc ia l idades c o m o ps icoterap ia de massa. É f a c i l m e n t e constatável que os transes c inét icos r i ­

tua is , não só no Bras i l , mas t a m b é m em o u t r o s países c o m o o H a i t i e e m várias regiões da A f r i c a ,

c o n s t i t u e m u m a f o r m a de p r o f i l a x i a e t r a t a m e n t o de grandes massas de suas popu lações.

E m a p o i o ao nosso p o n t o de vista podemos relatar q u e , c o m o u m mecan ismo espontâneo, d i ­

r í a m o s quase i n s t i n t i v o , massas de i n d i v í d u o s e n c o n t r a r a m e m out ras épocas m e i o s imi lar de ab-rea-

31

ção das neuroses co let ivas, através das possessões ep idêmicas, e m alguns países da E u r o p a na Idade

Média , e da " m a n i a d a n ç a n t e " ou core ia h is tér ica, e p i d ê m i c a , o T a r a n t i s m o , na I tá l ia . ( 1 0 !

A c r e d i t a m o s que a T T T pode ser apl icada e m t o d o s os casos de neuroses colet ivas o r iundas de

pânicos o u f o r t e s choques e m o t i v o s causados por grandes catást rofes o u tragédias e n v o l v e n d o a co­

m u n i d a d e .

Pode ser apl icada t a m b é m e m grandes massas de i n d i v í d u o s que se des locaram de seu m e i o rura l

para os grandes cen t ros , onde v ivem em c o m u n i d a d e s isoladas, e e n t r a r a m em neurose pela perda de

seus padrões sóc io-cu l tura is e d o a p o i o de seus fami l ia res .

A T T T é con t ra - ind icada nos pacientes ep i lép t i cos e nos ps icó t icos ; igua lmente nos pacientes

c o m prob lemas ósteo-ar t icu lares, p o r não p o d e r e m se mover l i v remente , b e m c o m o naqueles c o m pro ­

blemas cardio-vasculares ( t r o m b o f l e b i t e , insuf ic iênc ia ca rd íaca , c o r o n a r i a n a , e t c ) .

E m ú l t imas palavras, que remos preconizar u m mais a m p l o emprego da Terps icore t ranse te rap ia ,

p o d e n d o ela ser apl icada sem d i f i c u l d a d e por quaisquer ps icoterapeutas capac i tados que seguem não

i m p o r t a que l inha teo ré t i ca .

B I B L I O G R A F I A

1 . A B R E Z O L , R. P. — T T T e t les e n f a n t s . IV Congresso Pan Americano de Hipnologia, R io de J a n e i r o , 12 — 17

de m a r ç o , 1 9 7 8 .

2 . A J U R I A G U E R R A , J . — Les Problèmes du Normal et du Pathologique en Psychiatrieà Partir desApportsPsy-

chosociologiques. Separa ta da C o n f e r ê n c i a p r o n u n c i a d a e m 2 8 de m a i o de 1 9 6 2 , e m Bale , S u i ç a , sob os

a u s p í c i o s de F. H o f f m a n n La R o c h e & C i e . S . A .

3 A K S T E I N , D. — Les Transes R i tue l les Brési l iennes et les Perspect ives de leur A p p l i c a t i o n à la Psych ia t r ie e t à la

Médec ine P s y c h o s o m a t i q u e . Congrès International d'Hypnose et de Médecine Psychosomatique. Paris, ab r i l

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