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TEREZA MARGARIDA COSTA DE FIGUEIREDO O DIREITO AO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO EQUILIBRADO E A (IN) APLICAÇÃO DAS CONVENÇÕES DA OIT SOBRE A SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHADOR: PANORAMA JURÍDICO BRASILEIRO DE TUTELA AO AMBIENTE LABORAL Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Direito - PPGD do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Direito. Orientadora: Profa. Dra. Yara Maria Pereira Gurgel NATAL/RN 2016

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TEREZA MARGARIDA COSTA DE FIGUEIREDO

O DIREITO AO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO EQUILIBRADO E A (IN)

APLICAÇÃO DAS CONVENÇÕES DA OIT SOBRE A SAÚDE E SEGURANÇA DO

TRABALHADOR: PANORAMA JURÍDICO BRASILEIRO DE TUTELA AO

AMBIENTE LABORAL

Dissertação apresentada ao Programa de

PósGraduação em Direito - PPGD do Centro de

Ciências Sociais Aplicadas da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, como requisito

parcial para a obtenção do título de Mestre em

Direito.

Orientadora: Profa. Dra. Yara Maria Pereira

Gurgel

NATAL/RN

2016

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Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA

Figueiredo, Tereza Margarida Costa de. O direito ao meio ambiente do trabalho equilibrado e a (in) aplicação das

convenções da OIT sobre a saúde e segurança do trabalhador: panorama jurídico

brasileiro de tutela ao ambiente laboral / Tereza Margarida Costa de Figueiredo. -

Natal, RN, 2016.

180 f.

Orientador: Profa. Dra. Yara Maria Pereira Gurgel.

Dissertação (Mestrado em Direito) - Universidade Federal do Rio Grande do

Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Programa de Pós-graduação em

Direito.

1. Proteção - Meio ambiente do trabalho – Dissertação. 2. Direito internacional -

Direitos humanos - Dissertação. 3. Direito Internacional do Trabalho - Dissertação.

4. Convenções da OIT - Segurança do trabalhador – Dissertação. I. Gurgel, Yara

Maria Pereira. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

RN/BS/CCSA CDU 331.45:349.24

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha família, em

especial a minha mãe Valdete, cujo apoio foi

fundamental para esta conquista acadêmica.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, em primeiro lugar, a Deus e a toda a minha família pelo incentivo que me foi

dado durante a elaboração deste trabalho. Em especial, agradeço a minha mãe, Valdete, minha

maior companheira, de quem recebi apoio e compreensão desde a escolha da carreira

acadêmica, e ao meu tio, irmão e pai “tio Júnior”, cujos conselhos me levaram a esta escolha

profissional.

Agradeço também aos meus amigos, de quem sempre recebi palavras de ânimo e

estímulo nos momentos de dúvida e esgotamento. Dentre eles, não posso deixar de expressar a

extrema gratidão que tenho por Jéssica Flávia Rodrigues, amiga que o curso de Direito me deu

e irmã que escolhi, cujo bom humor e afeto me fizeram acreditar no meu potencial.

Registro meu profundo agradecimento a todos os professores com os quais tive a

oportunidade de receber algum aprendizado não apenas neste Programa de Pós-graduação, mas

em toda a minha formação profissional e especialmente à Professora Doutora Yara Maria

Pereira Gurgel, com quem compartilho a paixão pelo Direito do Trabalho e de quem recebi

ajuda inestimável para a conclusão desta pesquisa.

Por fim, devo também agradecer a todos os colegas da turma 2014, os quais me

receberam com extrema simpatia e presteza, tornando mais fácil este degrau da carreira

acadêmica.

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RESUMO

A proteção à saúde e segurança do trabalhador e ao meio ambiente do trabalho não é uma

preocupação recente, estando presente direta ou indiretamente nos mais importantes

documentos de Direitos Humanos, tanto nos âmbitos de proteção global quanto regional. No

Brasil, o tema foi tratado em diversas oportunidades na Constituição Federal de 1988, bem

como na legislação infraconstitucional. A principal problemática desta pesquisa é a discussão

acerca da concretização do direito ao meio ambiente do trabalho sadio no Brasil sob as

perspectivas constitucional e internacional vigentes. Atenta-se, principalmente, para o status

que as convenções da OIT que disciplinam o tema assumem quando da sua ratificação pelo

Estado brasileiro, defendendo-se que por tratarem de matéria de Direitos Humanos e estarem

em total harmonia com a ordem constitucional vigente, integram o catálogo de direitos

fundamentais, gozando assim de aplicabilidade imediata desde a sua ratificação. Ademais,

discute-se ainda a necessidade de ampliação do conceito de trabalho decente proposto pela OIT,

passando as condições de trabalho a integrá-lo formalmente devido à sua importância para a

concretização desta diretriz. Por fim, analisa-se o panorama jurídico brasileiro de tutela ao meio

ambiente de trabalho, havendo a necessidade de interpretar a legislação pátria concernente ao

tema a partir da realização dos controles de constitucionalidade e de convencionalidade, tendo

em vista que as convenções da OIT, depois de ratificadas e em vigor, só podem deixar de ser

aplicadas em caso de legislação interna mais favorável, o que não ocorre no caso do Brasil.

Aborda-se também o papel de cada ente legitimado para a concretização do direito ao meio

ambiente do trabalho sadio, apontando as mudanças necessárias para a sua efetivação.

Palavras-chave: 1. Meio ambiente do trabalho equilibrado; 2. Direito Internacional dos

Direitos Humanos; 3. Direito Internacional do Trabalho

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ABSTRACT

Protecting the health and safety of workers and the working environment is not a new concern,

being directly or indirectly present in the most important human rights documents, both in the

areas of global and regional security. In Brazil, the subject was treated on several occasions in

the Federal Constitution of 1988 and the ordinary legislation. The main problem of this research

is the discussion about the realization of the right to the healthy work environment in Brazil

under the constitutional and international perspectives in force. On this hand, it is also discussed

the status of conventions related to the issue upon its ratification by the Brazilian state, arguing

that as they dealt with matters of human rights and are in total harmony with the prevailing

constitutional order, they must be considered as part of the catalog of fundamental rights,

enjoying so immediate applicability since its ratification. Moreover, there is a need to expand

the concept of decent work proposed by the ILO, through working conditions to integrate it

formally because of its importance for the implementation of this guideline. Finally, this

research analyzes the Brazilian legal landscape of protection to the working environment, with

the need to interpret the intern legislation concerning the theme from the realization of

constitutionality and conventionality controls, given that the ILO conventions, after being

ratified and in force, can only cease to be applied in the event of more favorable domestic law,

which does not occur in the case of Brazil. It also discusses the role of each being legitimized

for the realization of the right to the environment healthy work, pointing out the changes

necessary for its realization.

Keywords: 1. Balanced working environment; 2. International human rights law; 3.

International labour law.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 10

2. DIREITO AO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO E O

MEIO AMBIENTE DO TRABALHO ................................................................................ 13

2.1 O DIREITO AO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO E A

TEORIA DIMENSIONAL DOS DIREITOS HUMANOS......................................................19

2.2 A PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE NO ORDENAMENTO JURÍDICO

PÁTRIO....................................................................................................................................23

2.3 A PROTEÇÃO INTERNACIONAL AO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO E OS

PRINCÍPIOS QUE O REGEM.................................................................................................27

2.3.1 Princípios do Direito Ambiental...................................................................................36

2.3.2Princípios do Direito do Trabalho.................................................................................41

3. A TUTELA DO MEIO AMBIENTE DE TRABALHO PELA ORGANIZAÇÃO

INTERNACIONAL DO TRABALHO.................................................................................49

3.1 A INCORPORAÇÃO DAS CONVENÇÕES DA OIT AO ORDENAMENTO

BRASILEIRO...........................................................................................................................58

3.1.1 O princípio pro homine na interpretação das Convenções da

OIT...........................................................................................................................................66

3.2 PRINCIPAIS CONVENÇÕES DA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO

TRABALHO SOBRE SAÚDE, SEGURANÇA E HIGIENE DO TRABALHO

RATIFICADAS PELO BRASIL..............................................................................................69

3.2.1 Convenção nº 81.............................................................................................................71

3.2.2 Convenção nº 148...........................................................................................................78

3.2.3 Convenção nº 155...........................................................................................................83

3.2.4 Convenção nº 161...........................................................................................................92

3.3 A CONVENÇÃO Nº 187 DA OIT E A SUA (NÃO) RATIFICAÇÃO PELO

BRASIL..................................................................................................................................102

4. A PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO NO ORDENAMENTO

JURÍDICO BRASILEIRO...................................................................................................106

4.1 TUTELA CONSTITUCIONAL AO MEIO AMBIENTE DE

TRABALHO...........................................................................................................................106

4.2 TUTELA LEGAL AO MEIO AMBIENTE DE

TRABALHO...........................................................................................................................110

4.3 PRINCIPAIS DESAFIOS À CONCRETIZAÇÃO DO DIREITO AO MEIO AMBIENTE

DE TRABALHO SADIO NO ORDENAMENTO

PÁTRIO................................................................................................................................. 113

4.3.1Trabalho insalubre........................................................................................................123

4.3.2Trabalho perigoso.........................................................................................................134

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4.3.3Trabalho penoso............................................................................................................137

4.3.4 Trabalho noturno.........................................................................................................140

4.3.5Trabalho extraordinário...............................................................................................145

4.4 A CUMULAÇÃO DOS ADICIONAIS E A MONETIZAÇÃO DA

SAÚDE...................................................................................................................................150

4.5 AS CONVENÇÕES DA OIT SOBRE SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHADOR E

O EXERCÍCIO DO CONTROLE INTERNO DE CONVENCIONALIDADE COMO FORMA

DE GARANTIR O DIREITO AO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO

EQUILIBRADO.....................................................................................................................158

6. CONCLUSÃO...................................................................................................................166

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................172

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1. INTRODUÇÃO

O direito ao meio ambiente do trabalho sadio implica em garantir ao trabalhador a

preservação de sua saúde e bem-estar quando do desenvolvimento das atividades de labor. Seu

objeto é amplo, abrangendo tudo que diz respeito às condições de trabalho e saúde e segurança do

trabalhador.

Para a garantia do direito ao meio ambiente do trabalho hígido é necessária uma atuação

coletiva e integrada entre o Poder Público, a sociedade civil e os indivíduos, mais

especificamente aqueles que integram o contrato de trabalho, independentemente de sua natureza.

Não importa o tipo de trabalho desempenhado, nem tampouco se há contraprestação

pecuniária, sempre devem ser fornecidas condições mínimas para a prestação laboral sem

comprometimento de quem a desenvolve, tendo em vista que um desequilíbrio labor ambiental

pode atingir não apenas os sujeitos do contrato de trabalho, mas também a coletividade.

A proteção ao meio ambiente do trabalho não é um tema recente na pauta de discussão

internacional, estando presente nos mais diversos documentos de Direitos Humanos, tanto no

âmbito global quanto no âmbito regional.

No plano internacional, destaca-se a atuação da Organização Internacional de Trabalho,

onde as condições de saúde e segurança no desempenho das atividades de labor têm sido alvo de

sua normativa desde a sua fundação, levando-se em conta a nova divisão social do trabalho

inaugurada pela Revolução Industrial.

Dentre as convenções da OIT, destacam-se, para o presente trabalho, as Convenções nº

81, 148, 155, 161 e 187, tendo em vista que todas disciplinam de forma genérica o direito ao

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meio ambiente do trabalho sadio. Estas convenções, apesar de sua inegável importância para o

desenvolvimento de um trabalho que respeite os patamares mínimos de dignidade dos indivíduos,

não são consideradas como parte do arcabouço jurídico que fundamenta o trabalho decente,

principal objetivo norteador da atuação da OIT.

As convenções da OIT que tratam da saúde e segurança do trabalhador e meio ambiente

de trabalho dispõem de matéria de Direitos Humanos e, dessa forma, a partir da sua ratificação

pelo Estado brasileiro passam a integrar o catálogo de direitos fundamentais, sendo exigíveis

imediatamente, sem necessidade do decreto presidencial de promulgação.

As principais convenções da OIT que disciplinam as condições de trabalho foram

ratificadas pelo Brasil, com exceção da de nº 187, mas não passaram a integrar a prática jurídica,

de modo que raramente são aplicadas, apesar de estarem em total harmonia com as diretrizes da

Constituição Federal de 1988 de valorização social do trabalho e dignidade da pessoa humana.

A Constituição da OIT deixa claro que sua normativa só pode deixar de ser aplicada em

caso de legislação interna mais favorável para o trabalhador, o que não é o caso brasileiro. No

Brasil, a maior parte dos dispositivos acerca das condições de trabalho e saúde e segurança do

trabalhador consta do texto celetista, anterior à Constituição Federal de 1988 e a sua nova ordem

de proteção ao indivíduo. A CLT delega ainda competência para que o Ministério do Trabalho e

Previdência Social discipline em quadros próprios as atividades consideradas como insalubres e

perigosas.

A legislação ambiental, em especial a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente e a

Lei de Crimes Ambientais, é plenamente aplicável à tutela do meio ambiente do trabalho, em

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determinados aspectos, mas raramente é utilizada com este intuito, devido à visão privatística e

individualista que ainda ronda o Direito do Trabalho.

A legislação sobre o meio ambiente do trabalho no Brasil é fragmentada, o que acaba

por dificultar a concretização deste direito. Inegável a necessidade de sua atualização, mas mais

importante do que isto é a aplicação dos dispositivos já existentes a luz dos valores

constitucionais e internacionais de proteção e promoção do trabalho, tendo em vista que nem a

fragmentação nem a desatualização dos dispositivos que cuidam do meio ambiente do trabalho

sadio devem ser utilizadas como justificativa para a sua violação.

A constitucionalização do tema reafirma a sua importância, posto que o direito ao meio

ambiente do trabalho equilibrado é garantido expressamente na Constituição Federal e é trazido

pontualmente em diversas de suas passagens, demonstrando total harmonia com parâmetros

internacionais de promoção ao trabalho decente. Dessa forma, toda normativa que vá de encontro

a esta nova ordem constitucional de proteção e valorização social do trabalho deve ser refutada.

Nesta perspectiva, o presente trabalho visa responder a seguinte pergunta: o direito ao

meio ambiente do trabalho sadio é garantido hoje, no Brasil, levando-se em consideração as

perspectivas constitucional e internacional de proteção?

Esta pesquisa, realizada a partir de pesquisa bibliográfica e jurisprudencial, divide-se em

partes para melhor responder ao questionamento acima proposto, estudando-se a sua atualidade,

pertinência temática, viés internacional e constitucional.

Primeiramente, discute-se o surgimento e o objeto do direito ao meio ambiente

equilibrado, o qual o direito ao meio ambiente do trabalho integra. Posteriormente, propõe-se a

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ampliação do objeto do direito ao meio ambiente do trabalho sadio a partir de uma leitura

interdisciplinar, elencando-se os princípios ambientais e trabalhistas aplicáveis a esse direito.

No plano internacional, estuda-se a atuação da OIT na busca do trabalho decente e de

condições de labor minimamente sadias nos seus Estados-membros, apontando e discutindo as

principais convenções neste sentido ratificadas pelo Brasil. Discute-se ainda a forma de

interpretação e internalização de tais documentos internacionais no ordenamento jurídico pátrio,

bem como a necessidade de ampliação do conceito formal de trabalho decente, de modo que as

condições de trabalho passem a integrá-lo.

Por fim, discute-se o direito ao meio ambiente do trabalho sadio no Brasil, atentando para

o seu fundamento constitucional e infraconstitucional, as normas aplicáveis na sua tutela, os

principais desafios e fatores nocivos da atualidade e a necessidade não apenas do controle de

constitucionalidade, mas também do exercício do controle de convencionalidade para a sua

efetivação. Ademais, elencam-se as demais medidas a serem tomadas pelos outros entes

envolvidos na garantia de um meio ambiente do trabalho sadio, tendo em vista que a sua

efetivação só é possível a partir de uma atuação integrada e sistêmica.

2. DIREITO AO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO E O MEIO

AMBIENTE DO TRABALHO

Um ambiente hígido é condição primordial para que haja vida em seu sentido biológico,

mas também é imprescindível para que haja vida com qualidade, somente assim sendo possível o

gozo e exercício dos demais direitos. Assegurar um ambiente balanceado é permitir que a geração

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presente exerça o direito à vida digna1e demais direitos sem que prejudique a geração futura no

gozo destes, visto que esta também é titular do direito ao meio ambiente hígido por ser da

condição humana e, como tal, detentora de dignidade. Ademais, não é necessário que se assegure

apenas o direito à vida em sentido estrito dos indivíduos que estão por nascer, mas também

devem lhes ser deixados recursos ambientais para gerir.

Ao servir de alicerce para a execução de demais direitos e do próprio direito à vida, seja

em seu sentido biológico, seja em seu sentido mais amplo, o meio ambiente reclama uma atenção

ainda maior. Suas peculiaridades tais como a atemporalidade, a responsabilidade compartilhada e

o objeto abrangente fizeram do meio ambiente mais do que um mero assunto de ordem mundial,

passando a ser relacionado, diretamente, aos Direitos Humanos e, no âmbito interno dos Estados,

aos direitos fundamentais constitucionalmente assegurados, em uma verdadeira mudança de

paradigma na sua tratativa a nível global.

Neste contexto, surge o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, direito

difuso, pois transcende o próprio indivíduo, indivisível, e cujos titulares são pessoas

indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato, e não por uma relação jurídica específica.2 O

objeto do Direito Ambiental Contemporâneo é bastante amplo, dissociando-se da ideia de

equivalência entre meio ambiente e natureza. Em consequência, aspectos antes relegados à tutela

de outras disciplinas jurídicas passaram a ser analisados a partir da interdisciplinaridade que é

1 A partir do princípio da dignidade da pessoa humana surgem os princípios da igualdade, da integridade física e

moral, da liberdade e da solidariedade: o indivíduo reconhece a existência de outro sujeito igual a ele (igual em

direitos e deveres, sendo respeitadas suas peculiaridades), que tanto quanto ele merece ter seu bem-estar físico e psicológico respeitados, assim como sua autonomia da vontade. Portanto, o direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado se funda no reconhecimento dos indivíduos desta geração de que aqueles das gerações vindouras são

também titulares do direito em questão e que, portanto, merecem ter sua futura margem de escolha resguardada, não

podendo esta ser comprometida por atitudes tomadas no presente. Cf,: MORAES, Maria Celina Bodin de. O conceito

de dignidade humana: substrato axiológico e conteúdo normativo. In: SARLET, Ingo Wolfgang (Org.) Constituição,

Direitos Fundamentais e Direito Privado. 3 ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010, p.120. 2 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 14 ed. São Paulo: ed. Saraiva, 2013,

p. 32-37.

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característica do Direito Ambiental; a exemplo do que ocorreu com o estudo do meio ambiente do

trabalho, tema central desta pesquisa.

Guilherme José Purvin de Figueiredo3 caracteriza a década de 1930 como a “infância” do

Direito Internacional do Meio Ambiente, tendo em vista que a partir de então diversos

documentos internacionais acerca da proteção da natureza foram firmados, a exemplo da

Convenção de Londres - relativa à conservação da fauna e da flora - e da Convenção de

Washington, que dispõe sobre a proteção da flora, da fauna, das belezas cênicas naturais e das

aves migratórias. Posteriormente, na década de 1950, surgiram tentativas de tutela ao mar, que

culminaram na Convenção de Londres para a prevenção da poluição dos mares por

hidrocarbonetos, na Convenção MARPOL, na Convenção de Bonn e na Convenção de Bruxelas.

O debate mundial sobre a proteção internacional do meio ambiente foi intensificado a

partir da década de 604, devido ao estreitamento das relações multilaterais entre os Estados com

este propósito. Neste sentido, Fabio Fernandes5 aponta o Pacto Internacional de Direitos Sociais,

Econômicos e Culturais, datado de 1966, como o primeiro documento internacional a tratar do

meio ambiente sadio de forma global e não apenas como sinônimo de recursos naturais.

O Pacto Internacional de Direitos Sociais, Econômicos e Culturais traz inovações

importantes não apenas na forma que trata o meio ambiente, reconhecendo-o como direito

autônomo, mas também por assegurar o direito ao mais elevado nível de saúde física e mental ao

indivíduo (artigo 12.1). Assim, apesar de o referido documento não se aprofundar na tutela do

3 FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin de. Curso de Direito Ambiental. 4 ed. São Paulo: Editora Revista dos

Tribunais, 2011, p.89-90

4 OLIVEIRA, Rafael Santos de. A evolução da proteção internacional do meio ambiente e o papel da "soft law". Portal Jus Navigandi. Disponível em:http://jus.com.br/artigos/17154/a-evolucao-da-protecao-internacional-do-

meio-ambiente-e-o-papel-da-soft-law#ixzz2c47jQjbf Acesso em: 20 jul. 2013

5 FERNANDES, Fábio. Meio Ambiente Geral e Meio Ambiente do Trabalho: uma visão sistêmica. São Paulo:

LTR, 2009, p.40

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meio ambiente, não elencando uma definição ou formas de promoção, é inegável que o fato de

apresentar um conceito amplo para a saúde e de trazer expressamente o termo meio ambiente em

vez de natureza em seu texto mostra o início de um novo olhar da comunidade internacional para

o tema.

No âmbito de proteção regional, a tutela ao meio ambiente não foi ostensiva, mas também

não se quedou inerte. O Protocolo Adicional à Convenção Americana sobre Direitos Humanos

em Matéria de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (Protocolo de San Salvador), em seu

artigo 11, garante expressamente o direito a um meio ambiente sadio, devendo os Estados Partes

promover a sua proteção, preservação e melhoramento.

O surgimento de diversos problemas ambientais6 sinalizou para a necessidade de abordar

a degradação ambiental de forma conjunta e não mais pontual, como havia sido feito no cenário

internacional até então. Percebendo esta necessidade, as Nações Unidas deram início ao que

formaria uma série de convenções para debater a questão ambiental e o desenvolvimento

predatório, analisadas na sequência.

A primeira conferência neste sentido organizada pela ONU, em 1972, em Estocolmo,

resultou na Declaração de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano7, documento de caráter

6 Como exemplos de desastres ambientais que ocorreram no mundo tem-se: a explosão de uma fábrica em Bhopal

(Índia) e o fenômeno do Rio Vermelho. Na Ucrânia, falha no sistema de segurança na Usina de Chernobyl causou o

maior acidente de contaminação por radioatividade na História. No Alasca, acidente com navio petroleiro resultou no

derramamento de mais de 41,5 milhões de litros de petróleo. Cf: ACCIOLY, Hildebrando; CASELLA, Paulo Borba; NASCIMENTO E SILVA, G.E. do. Manual de Direito Internacional Público. 20 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p.

869-871. 7 A partir de conceitos voltados para a relação do indivíduo com o ambiente que o cerca, a Declaração de Estocolmo

sobre o Meio Ambiente Humano situa o homem como obra e construtor do mesmo, devendo promove-lo e preservá-

lo para que possa desenvolver-se intelectual, moral, social e espiritualmente. Cf: ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES

UNIDAS. DECLARAÇÃO DE ESTOCOLMO SOBRE O MEIO AMBIENTE HUMANO. Disponível em:

http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Meio-Ambiente/declaracao-de-estocolmo-sobre-o-ambiente-

humano.html Acesso em: 20 jan. 2016

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meramente principiológico8, mas que inova ao abordar a temática do meio ambiente como bem

jurídico autônomo, em sentido amplo, cabendo aos países regulamentarem a matéria em seu

ordenamento a partir das diretrizes ali traçadas.

O referido documento cuida ainda de dividir o meio ambiente humano em dois aspectos: o

natural e o artificial; categorização esta que é fundamental para a dissociação entre meio

ambiente e natureza. Assim, os recursos naturais passam a ser apenas um aspecto do meio

ambiente, possibilitando o alargamento do objeto protegido pelo Direito Ambiental.

Apesar de não obrigar de forma coercitiva os Estados, a Declaração de Estocolmo pode

ser apontada como marco do surgimento da preocupação com o meio ambiente a nível mundial9

por ter introduzido, na agenda internacional, a necessidade de cautela em relação ao crescimento

econômico, pois se constatou, nesta oportunidade, que o modelo tradicional de desenvolvimento

até então adotado culminaria no esgotamento dos recursos ambientais, levando,

consequentemente, à inviabilidade da vida no planeta10.

Após a Conferência de Estocolmo, um outro marco a ser destacado é a Conferência das

Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, ocorrida em 1992. Também conhecida

como Conferência do Rio de Janeiro11, resultou em importantes documentos, destacando-se a

8 Quanto ao conteúdo principiológico exposto na Declaração de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano, fica

clara a importância de se garantir um meio ambiente sadio para que se desfrute de uma vida digna e que seja viável o

exercício dos demais direitos, sendo esta uma garantia das presentes e futuras gerações (princípio 1). Percebe-se

ainda a necessidade de que o desenvolvimento econômico e social preze por um ambiente de vida e de trabalho

favorável ao indivíduo (princípio 8) e, por fim, que a ciência e tecnologia envidem esforços para descobrir, evitar e

combater riscos que ameacem o meio ambiente (princípio 18). O princípio nº 18, por sua vez, transformou-se em um

megaprincípio informador do Direito Ambiental - o princípio da precaução - a ser melhor delineado e expressamente

declarado na oportunidade da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de

Janeiro, em 1992. 9 COSTA, Cristiane Ramos. O Direito Ambiental do Trabalho e a Insalubridade: aspectos da proteção jurídica

à saúde do trabalhador sob o enfoque dos direitos fundamentais. São Paulo: LTR, 2013. p. 48.

10 FERNANDES, Fábio. Meio Ambiente Geral e Meio Ambiente do Trabalho: uma visão sistêmica. São Paulo:

LTR, 2009, p. 131 11 Dentre os vinte anos que separaram estas duas conferências, Fábio Freitas Minardi destaca a iniciativa da

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Agenda 21, a Declaração do Rio12, a Declaração de Princípios sobre o Uso das Florestas, o

Convênio sobre a Diversidade Biológica e a Convenção sobre Mudanças Climáticas.

Dentre os mencionados documentos, importante ressaltar a Declaração do Rio, que

reafirma as políticas e objetivos da Conferência de Estocolmo, visando consolidar a parceria

global e a cooperação entre os Estados, respeitando seus interesses e resguardando a integridade

global do meio ambiente.

Em 2002, Joanesburgo sediou a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável,

mais conhecida como Rio + 10, visando avaliar os resultados e a implantação dos planos e

objetivos discutidos na Rio 92. Entretanto, este encontro não restou bem-sucedido em seus

objetivos13, visto que houve pouco avanço quanto aos debates realizados na conferência anterior

e foi marcado pela resistência de alguns Estados em assinar acordos que, de alguma forma,

implicassem na diminuição de sua exploração econômica.

Assembleia Geral da ONU em 1983 para formar uma comissão com o objetivo de examinar os grandes problemas planetários relativos ao meio ambiente. O relatório final desta comissão apontou proposições realistas a fim de

solucionar as questões acerca do meio ambiente e do desenvolvimento, tendo sido o primeiro documento a trazer o

conceito de desenvolvimento sustentável. In: MINARDI, Fabio Freitas. Meio ambiente do trabalho: proteção

jurídica à saúde mental. Curitiba: Juruá, 2010, p.20. 12 A Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento teve como principais diretrizes a colocação do

homem no centro das preocupações (visão antropocêntrica reafirmada); o dever dos Estados de assegurar que suas

atividades não causem danos ao meio ambiente de outros Estados ou de áreas além dos limites da jurisdição

nacional; o exercício do direito ao desenvolvimento levando em consideração as necessidades de desenvolvimento e

de meio ambiente sadio não só das gerações presentes, mas também futuras ; o desenvolvimento sustentável e a

tutela ambiental como parte do processo de desenvolvimento, havendo cooperação entre Estados e indivíduos;

repartição isonômica de responsabilidade ambiental; fomento à participação popular; direito à informação; legislação

ambiental eficaz (nos âmbitos interno e internacional); previsão expressa do princípio da precaução e do poluidor-pagador; previsão de estudo de impacto ambiental prévio, a cargo da autoridade nacional competente; participação

da mulher, da juventude e dos povos indígenas e outras minorias na busca pelo meio ambiente equilibrado e

desenvolvimento sustentável; interdependência e indivisibilidade entre a paz, o desenvolvimento e a proteção

ambiental. Cf: ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. DECLARAÇÃO DO RIO SOBRE MEIO

AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO. Disponível em: http://www.onu.org.br/rio20/img/2012/01/rio92.pdf

Acesso em: 22 jan. 2016 13 FERNANDES, Fábio. Meio Ambiente Geral e Meio Ambiente do Trabalho: uma visão sistêmica. São Paulo:

LTR, 2009, p. 141-145.

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Atualmente, apesar de já haver um número significativo de convenções internacionais

sobre o meio ambiente, não existe uma coordenação internacional destinada a implementar

políticas de preservação, tutela e fiscalização ambiental, o que acaba por minar a efetividade dos

documentos existentes14. Ademais, alguns Estados ainda permanecem relutantes em ratificar

convenções que venham a atingir seus interesses econômicos e aqueles que procedem à

ratificação dificilmente implementam internamente as medidas acordadas ou cooperam com

outros Estados a fim de fazê-lo no campo global15. Não basta a atuação isolada dos Estados para

uma promoção efetiva do meio ambiente, mas há necessidade de ações conjuntas, dentre diversos

países e grupos, para que sejam evitados danos de extensões além das fronteiras territoriais,

visando à preservação de condições adequadas de vida humana - e não humana - para as atuais

gerações e as futuras.

2.1 O DIREITO AO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO E A TEORIA

DIMENSIONAL DOS DIREITOS HUMANOS

O sistema de proteção internacional de Direitos Humanos coloca o homem como seu

objeto de tutela, preocupando-se em jamais abrir espaço para que experiências como as Grandes

Guerras e o Nazismo possam desumaniza-lo novamente. O indivíduo passa a ser verdadeiro fim

da tutela dos Estados e dos organismos internacionais, não podendo ser coisificado, reduzido à

14 FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin de. Curso de Direito Ambiental. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p.99 15 Como bem pontua Bobbio, em relação ao reconhecimento de direitos no âmbito internacional, “quando se trata de

enunciá-los, o acordo é obtido com relativa facilidade [...]quando se trata de passar à ação, ainda que o fundamento

seja inquestionável, começam as reservas e as oposições.”. Cf. BOBBIO, Norberto. A era dos Direitos. 3ª reimp.

Rio de Janeiro: Elsevier, 2004, p.43

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indignidade. Procura-se, para tanto, resguardar uma gama mínima de proteção não apenas no

âmbito dos Estados, mas fora deles.

O Direito Internacional dos Direitos Humanos e seu respectivo sistema de proteção (tanto

no âmbito universal quanto nos subsistemas regionais) não visa substituir às vezes do Estado na

promoção dos direitos do indivíduo, mas complementar a atuação deste, sendo uma garantia

adicional de proteção ao indivíduo, e não excludente.

Consoante destaca Flávia Piovesan16, o Direito Internacional dos Direitos Humanos

funciona como um verdadeiro Direito pós-guerra, tendo como principais consequências a revisão

do conceito de soberania nacional e absoluta dos Estados e a conscientização de que o ser

humano necessita de uma gama de direitos que sejam tutelados na esfera internacional. De acordo

com a autora, a noção contemporânea dos Direitos Humanos foi introduzida pela Declaração

Universal dos Direitos Humanos, a partir da qual os referidos direitos passaram a ser concebidos

como unidade interdependente, inter-relacionada, indivisível e dotada de universalidade.

Ainda no que concerne a importância da Declaração Universal dos Direitos Humanos

enquanto marco para o Direito Internacional dos Direitos Humanos, Norberto Bobbio17 destaca

que somente a partir dela um sistema de princípios fundamentais norteadores da conduta humana

foi aceito de forma livre pela maioria dos homens, através de seus respectivos governos18.

Entretanto, esta aceitação não significa que haja um valor absoluto a justificar a existência e

aplicabilidade dos Direitos Humanos, mas sim um consenso na comunidade internacional quanto

16 PIOVESAN, Flávia. Temas de Direitos Humanos. 8 ed. São Paulo: Saraiva, 2015, p.85

17 BOBBIO, Norberto. A era dos Direitos. 3ª reimp. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004, p.47 18 Neste sentido, importante frisar a lição de Norberto Bobbio de que a universalidade dos direitos humanos não

significa sua naturalidade, mas que tais direitos compõem este rol por uma determinação da comunidade humana.

Portanto, os direitos humanos, apesar de partirem de um consenso da comunidade internacional acerca de sua

importância e tutela, não nascem sendo direitos humanos, são construções sociais. In: Ibidem, p.78.

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ao seu papel de assegurar, em diferentes níveis, que o indivíduo não seja coisificado ou

desumanizado a partir de critérios discriminatórios. Assim sendo, conforme ressalta André de

Carvalho Ramos19, a principal função dos Direitos Humanos é tutelar o direito a uma vida digna,

na qual o indivíduo possua condições de participar de forma ativa na comunidade que integra.

De acordo com Paulo Bonavides20, apesar da divisão doutrinária dos Direitos Humanos

em dimensões, não existe qualquer hierarquia entre estes, de modo que esta divisão possui viés

meramente estrutural e cronológico, baseando-se no contexto vinculado à aparição e

consolidação histórica destes direitos21. Os Direitos Humanos são, assim, conquistas culturais,

cultivadas a longo prazo, não se encerrando quando do surgimento de uma nova categoria, posto

que fazem parte de um processo cumulativo.

A sua categorização em dimensões se faz justamente devido ao fenômeno de sua

multiplicação ou proliferação, provocado a partir do alargamento dos bens considerados como

merecedores de tutela, a extensão da titularidade de alguns direitos a seres diversos do homem e

da ressignificação do sujeito, este não mais considerado ente genérico e abstrato, mas sendo

analisado enquanto pertencente a grupos e comunidades, sem que com isso perca sua

individualidade.22 Com o desenvolvimento tecnológico, reclama-se a tutela de direitos antes

impensados, relacionados à nova realidade vivenciada, e que não se encaixam nas categorias de

direitos preexistentes pelos seus aspectos peculiares, a exemplo o próprio direito ao meio

19 RAMOS, André de Carvalho. Teoria Geral dos Direitos Humanos na ordem internacional. 2 ed. São Paulo:

Saraiva, 2012, p. 27

20BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Malheiros, 2009, p.559-562.

21 Importante destacar que apesar da categorização dos Direitos Humanos em dimensões, estes não aparecem

necessariamente nesta ordem em todo o globo. O surgimento dos Direitos Humanos na Europa, por exemplo, não

pode ser simplesmente transportado e copiado para a experiência latino-americana, onde os direitos civis, de primeira

dimensão, ainda encontram sérios problemas de efetivação, de modo que os direitos sociais, de segunda dimensão,

acabaram por tomar a dianteira em questões de concretização. 22 BOBBIO, Norberto. A era dos Direitos. 3ª reimp. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004, p.83.

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ambiente ecologicamente equilibrado, considerado “carro-chefe” dos direitos de terceira

dimensão.

Grande parte da doutrina, ao discorrer acerca dos Direitos Humanos, divide-os em três

categorias, de acordo com o momento histórico em que surgiram e as características que

ostentam. Paulo Bonavides23, por sua vez, indica o surgimento de mais dois segmentos,

desencadeados pelo fenômeno da globalização política e pelos avanços na biotecnologia e

genética (quarta dimensão), e pelo direito à paz como pertencente a uma categoria própria (quinta

dimensão). O constitucionalista defende ainda a adoção do termo “dimensão” e não geração para

tratar sobre as categorias de Direitos Humanos24, visto que o termo geração subentende ideia de

superação do “velho” pelo novo, e não de concomitância, entendimento ao qual se filia este

trabalho.

Apesar de não possuir um objeto recente - pois o meio ambiente é presente desde os

primórdios dos tempos como, inclusive, condição indispensável para o surgimento e

desenvolvimento da vida -, o reconhecimento do direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado na comunidade mundial é, no contexto histórico, um dado novo. Assim sendo, a

ordem de dificuldades que este direito encontra é ainda maior, passando inclusive pela sua

consolidação enquanto direito humano25.

23 BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 24 ed. São Paulo: Malheiros, 2009, p.559-562. 24 Neste mesmo sentido, importante é a lição de Flávia Piovesan: “[...]adota-se o entendimento de que uma geração

de direitos não substitui a outra, mas com ela interage. Isto é, afasta-se a ideia da sucessão 'geracional' de direitos, na medida em que se acolhe a ideia da expansão, cumulação e fortalecimento dos direitos humanos consagrados, todos

essencialmente complementares e em constante dinâmica de interação. ” In: PIOVESAN, Flávia. Temas de Direitos

Humanos. 8 ed. São Paulo: Saraiva, 2015, p.56. 25 Alguns autores questionam o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado enquanto direito humano por

não constar, expressamente, em nenhum dos principais documentos internacionais como tal. Entretanto, o presente

trabalho não se filia a esta posição estritamente literal. Apesar de não constar de forma gramaticalmente expressa

como direito humano, o meio ambiente sadio integra o rol de direitos humanos por fazer parte dos principais

documentos internacionais, os quais atentam para a necessidade de sua higidez como objetivo e dever dos Estados.

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Ao ser considerado como direito humano em diversos documentos internacionais,

conforme demonstrado no início deste capítulo, o meio ambiente ecologicamente sadio passou a

inaugurar uma nova dimensão de Direitos Humanos, a terceira, a qual tem como principais

características o alto teor humanista e universal26, não se destinando de forma específica a

proteger interesses individuais, grupais ou de um respectivo Estado: o que se busca é proteger os

interesses e resguardar o direito à vida do gênero humano como um todo.

2.2 A PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE NO ORDENAMENTO JURÍDICO PÁTRIO

Quanto à previsão constitucional do meio ambiente, destaca-se o artigo 225, caput, da

CF/88, o qual assegura a todos o direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado,

impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo, não só para a

geração presente, mas também para as futuras, devido a sua imprescindibilidade para uma sadia

qualidade de vida.

Anteriormente, nenhuma constituição brasileira havia mencionado, de forma expressa, o

direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado27, apesar de a tutela a tal instituto não ser

Ademais, no âmbito interno, o meio ambiente passou a ser constitucionalmente tutelado em seu aspecto mais amplo,

em consonância com o que é internacionalmente discutido e acordado. Portanto, não se encara como crise de

legitimidade o fato de o meio ambiente não vir expressamente erigido a direito humano. Suas dificuldades reais são

de ordem de eficácia e exigibilidade. Neste sentido, cf. LOPES, Syglea Rejane Magalhães. O Sistema Interamericano

de Proteção dos Direitos Humanos e o Meio Ambiente Ecologicamente Equilibrado. In: BENJAMIN, Antonio

Herman (Org) Direitos Humanos e Meio Ambiente. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, v.1, 2006. p.283-295. 26 BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 24 ed. São Paulo: Malheiros, 2009, p. 569.

27 A CF 1967/69 colocava sob a proteção especial do Poder Público “os monumentos e as paisagens naturais

notáveis” (semelhantes: CF 1946, CF 1937 e CF 1934.) As Constituições anteriores a 1988 atribuíam à União a

competência de legislar sobre normas gerais de defesa da saúde, mineração, águas, florestas, caça e pesca. Neste

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verdadeiramente uma novidade para o nosso ordenamento, que já o previa, de forma direta ou

indireta, desde as Ordenações Afonsinas28, com intensa produção legislativa na década de 6029.

Assim sendo, a constitucionalização do meio ambiente ocorreu apenas com a Carta Magna de

198830, a qual reservou um capítulo exclusivamente para disciplinar o tema.

A Constituição Federal é clara quanto a necessidade de uma tutela rígida e preventiva do

meio ambiente, ainda mais quando o dano não for previsível 31, exigindo estudo prévio de

impacto ambiental para a instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de

significativa degradação (art. 225, § 1º, IV).

Esta posição rígida por parte do constituinte é justificada pela extensão que os danos

ambientais podem assumir - tanto no aspecto geográfico quanto no aspecto temporal - tendo em

vista que alcançam toda a população do entorno e ainda aqueles indivíduos que não nasceram.

Ainda no que concerne a tutela constitucional do meio ambiente hígido, outro dispositivo

importante é o artigo 170, presente no Título VII, que traz diretrizes para a ordem financeira e

sentido, cf. KRELL, Andreas Joachim. Comentário ao artigo 225, caput. In: CANOTILHO, J.J. Gomes et al

(Coords.) Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva/Almedina, 2013. p.2078-2086.

28Conforme destaca Fábio Fernandes, durante as Ordenações Afonsinas, seguidas pelas Ordenações Manuelinas, a

proteção das florestas e de outros recursos naturais se dava apenas para garantir a exclusividade na exploração pela

Coroa Portuguesa. O autor ainda divide o período pós-colonial em dois: o primeiro com escassa tutela e o segundo,

marcado pelo advento da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, onde há um enfoque integral nos aspectos que

compõem o meio ambiente em seu sentido amplo. In: FERNANDES, Fábio. Meio Ambiente Geral e Meio

Ambiente do Trabalho: uma visão sistêmica. São Paulo: LTR, 2009, p.117-119. 29 SOUZA, Landolfo Andrade de. O papel do Ministério Público no controle das políticas públicas ambientais.

Revista Jurídica da Escola Superior do Ministério Público de São Paulo, São Paulo, v. 3, n. 3, p.27-51, 2013.

Disponível em: <http://www.esmp.sp.gov.br/revista_esmp/index.php/RJESMPSP/article/view/75>. Acesso em: 20

jun. 2015.

30 Andreas Joachim Krell aponta ainda que, ao elencar o meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito fundamental de forma expressa, em seu artigo 225, caput, a Constituição Federal acaba por estabelecer uma

proibição do retrocesso ambiental e um mínimo existencial ecológico. KRELL, Andreas Joachim. Op. cit., p. 2083. 31 De acordo com Paulo Affonso Leme Machado, “o dano ambiental não precisa ser identificável ‘a priori’, pois

senão seria desnecessário o estudo. A utilização do termo ‘significativa degradação’ não indica que a agressão

ambiental tenha que ser extraordinária ou excepcional. O objeto da análise é o provável impacto ambiental que

poderá alterar ou desequilibrar negativamente o meio ambiente. ” In: MACHADO, Paulo Affonso Leme.

Comentário ao artigo 225, §1º, IV. In: CANOTILHO, J.J. Gomes et al (Coords.) Comentários à Constituição do

Brasil. São Paulo: Saraiva/Almedina, 2013. p.2091.

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econômica do país. Neste artigo, o meio ambiente é posto como princípio a ser observado pela

ordem econômica, fundada na valorização do trabalho e na livre iniciativa, assegurando a todos

uma existência digna, em consonância com a justiça social (art. 170, VI).

Ao elencar o meio ambiente como instituto a ser observado pelo desenvolvimento

econômico, a Constituição Federal quebra a ideia de antagonismo entre estes institutos. O

desenvolvimento econômico, imprescindível para o crescimento do Estado interna e

internacionalmente, precisa ser pautado, dentre outros princípios, na tutela do meio ambiente,

visto que não constitui fim em si mesmo32. Esta quebra de paradigma quanto a tutela do meio

ambiente, apesar de se consolidar com a sua constitucionalização, foi iniciada quando da

elaboração da Lei 6.938/81 – Lei da Política Nacional do Meio Ambiente33.

Esta lei, apesar de anterior à elaboração do artigo 225, da Constituição Federal brasileira

vigente, complementa diversas de suas lacunas, de modo que uma compreensão ampla sobre o

tratamento do meio ambiente no ordenamento jurídico brasileiro só pode ser aferida a partir de

uma leitura sistemática de ambos dispositivos.

Um dos aspectos mais importantes – senão o mais importante – da Lei da Política

32“Assim, o legislador constituinte de 1988, ao verificar a necessidade de um novo tratamento para o crescimento das

atividades econômicas, buscou a preservação do meio ambiente, porquanto sua contínua degradação implicaria em

diminuição da própria capacidade econômica do País, impedindo assim o desfrute (não só da nossa, mas das futuras

gerações) da vida com qualidade. Desta forma, a livre-iniciativa passa a ser compreendida de forma mais restrita,

voltada a atender, e que esteja à disposição de um meio ambiente ecologicamente equilibrado.” In: FIORILLO, Celso

Antonio Pacheco. Comentário ao artigo 170, VI. In: CANOTILHO, J.J. Gomes et al (Coords.) Comentários à

Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva/Almedina, 2013, p.1813. 33 A Lei da Política Nacional do Meio Ambiente configura uma resposta à repercussão mundial dos danos ambientais

ocorridos em zonas industrializadas, na década de 80, sendo uma verdadeira “certidão de nascimento” do Direito

Ambiental Brasileiro. Seu principal objetivo é a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental

propícia à vida, visando assegurar condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança

nacional e à proteção da dignidade da vida humana (art. 2º, caput). Dentre seus princípios, destacam-se os princípios

do controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras, do acompanhamento do estado da

qualidade ambiental, da proteção de áreas ameaçadas de degradação, da recuperação de áreas degradadas e da

educação ambiental (art. 2º, incisos V, VII, VIII, IX e X).

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Nacional do Meio Ambiente está disposto no seu artigo 3º34, que cuida de apontar o conceito

legal de meio ambiente, de poluição e de quem poderia ser considerado poluidor (incisos I, III e

IV)35. Estes conceitos, devido a sua amplitude e generalidade, podem ser utilizados em situações

que não sejam apenas relacionadas à degradação da natureza.

A definição legal apresentada para o meio ambiente supre a omissão constitucional quanto

a este instituto. Nota-se que este conceito está em completa coordenação com o artigo 225, caput,

CF, estando-se diante de um modelo de Estado que preza pela tutela ambiental em sua plenitude,

em consonância com o internacionalmente acordado. Neste norte, a partir da definição ampla de

meio ambiente adotada pela Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, a doutrina passou a

dividi-lo considerando o seu objeto de tutela, dissociando-o da mera proteção aos recursos

naturais, tendência corroborada pela ampla abrangência constitucional destinada ao tema.

Neste contexto, Celso Antônio Pacheco Fiorillo36 classifica os aspectos do meio ambiente

em natural, artificial, cultural e do trabalho; este último objeto da presente pesquisa. Esta

classificação, adotada pelo presente trabalho, demonstra claramente que a amplitude conceitual

34 O meio ambiente é tratado em seu conceito amplo, abrangendo a natureza, mas indo além da sua proteção. Cf: Art.

3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e

interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas; 35 A poluição é conceituada como a degradação da qualidade ambiental causada por atividades que, de forma direta

ou indireta, prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; criem condições adversas às atividades

sociais e econômicas; afetem desfavoravelmente a biota; afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio

ambiente ou lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos (art. 3º, III).

Qualquer pessoa, física ou jurídica, de direito público ou privado, que seja responsável, ainda que indiretamente, pela

atividade que desencadeou a degradação ambiental será considerada poluidor (art. 3°, IV) e, como tal, será obrigada

a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros afetados, sem prejuízo das demais

penalidades; dentre as quais a suspensão de sua atividade (art. 14, caput, inciso IV e § 1º). 36 Esta classificação também é adotada por Guilherme José Purvin de Figueiredo. Como bem ressalta este autor, o

meio ambiente não é constituído apenas pelo seu aspecto natural, mas também pelo ambiente criado e modificado

pela ação humana (meio ambiente artificial). Entretanto, destacam-se do meio ambiente artificial o seu aspecto

cultural, devido ao seu valor para a civilização e o meio ambiente do trabalho, relativo ao espaço (não

necessariamente físico, geográfico) onde o trabalhador se insere, no exercício de suas atribuições. Cf.

FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin de. Curso de Direito Ambiental. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,

2011, p. 56-58; FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 14 ed. São Paulo: ed.

Saraiva, 2013.

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de meio ambiente atinge, em consequência, o objeto de tutela do Direito Ambiental

contemporâneo, de modo que este passa a abranger e reger situações outrora disciplinadas de

forma exclusiva por outros ramos do Direito, a exemplo do meio ambiente do trabalho.

Surge, portanto, com o Direito Ambiental contemporâneo, uma gama de novos direitos

que têm natureza híbrida, não podendo claramente ser categorizados nem como pertencentes ao

Direito Público nem tampouco ao Direito Privado. Surge também, como sua principal

característica, a interdisciplinaridade, que possibilita um olhar multifacetado de institutos antes

enxergados de forma isolada.

2.3 A PROTEÇÃO INTERNACIONAL AO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO E OS

PRINCÍPIOS QUE O REGEM

Como visto a partir da classificação de Celso Antonio Pacheco Fiorillo, adotada por esta

pesquisa, dentre os aspectos do meio ambiente consta o meio ambiente laboral, figura

interdisciplinar que reclama atenção tanto do Direito do Trabalho quanto do Direito Ambiental.

No âmbito global, a Declaração Universal de Direitos Humanos (1948)37 aborda a

temática do ambiente de trabalho de forma indireta, assegurando a todo ser humano o direito a

condições justas e favoráveis de trabalho (art. XXIII, 1) e o direito ao repouso e lazer, inclusive

com limitação da jornada de trabalho e férias remuneradas; a serem gozadas periodicamente (art.

XXIV). O Pacto Internacional de Direitos Sociais, Econômicos e Culturais (1966)38 traz, em seu

37 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal de Direitos Humanos. Disponível em:

http://www.dudh.org.br/wp-content/uploads/2014/12/dudh.pdf Acesso em: 15 jan. 2016 38 ____________________________________. Pacto Internacional de Direitos Sociais, Econômicos e Culturais.

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artigo 12.2, “b”, o dever de os Estados signatários adotarem medidas que assegurem a melhoria

de todos os aspectos da higiene do trabalho e do meio ambiente, relacionando expressamente

estes institutos ao trazê-los juntos. O mesmo instrumento, em seu artigo 7º, reconhece o direito de

todo indivíduo de gozar de condições de trabalho justas e favoráveis que assegurem, dentre

outras, a segurança e higiene no trabalho e o descanso, lazer, razoabilidade da jornada e férias

periódicas remuneradas (art. 7º, “b”, “d”). Ademais, a proteção ao meio ambiente do trabalho de

forma específica pode ser encontrada expressamente no princípio 8 da Declaração de

Estocolmo39 , marco do Direito Ambiental contemporâneo.

No âmbito regional, a proteção ao local e às condições de trabalho aparecem na

Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem (1948)40, onde são assegurados o

direito ao trabalho em condições dignas (art. XIV), o direito ao descanso (art. XV) e o dever de

trabalhar dentro das suas capacidades e possibilidades (art. XXXVII), demonstrando uma

preocupação para com as particularidades de cada indivíduo, de modo que é a atividade que deve

se adequar ao trabalhador e não o contrário.

A Convenção Americana sobre Direitos Humanos (1969)41, por sua vez, não disciplina o

direito ao local de trabalho sadio ou às condições adequadas para o desempenho das atividades de

labor, mas destaca, em seu art. 5.1, o direito à integridade física, psíquica e moral, direito este que

não pode ser renunciado nem tampouco mitigado quando da prestação laboral.

Disponível em: http://www.unfpa.org.br/Arquivos/pacto_internacional.pdf Acesso em: 15 jan. 2016 39 Princípio 8: O desenvolvimento econômico e social é indispensável para assegurar ao homem um ambiente de

vida e trabalho favorável e para criar na terra as condições necessárias de melhoria da qualidade de vida. 40 ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem.

Disponível em: https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/b.Declaracao_Americana.htm Acesso em: 16 jan. 2016 41 ________________________________________. Convenção Americana sobre Direitos Humanos. Disponível

em: https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/c.convencao_americana.htm Acesso em: 16 jan. 2016

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A fim de compensar o silêncio da Convenção Americana sobre Direitos Humanos quanto

à temática, o Protocolo de San Salvador42 trouxe importantíssimas disposições neste sentido,

reafirmando o direito ao trabalho - consistindo este na oportunidade de obter os meios para levar

uma vida digna e decorosa (art. 6.1) - e estabelecendo o compromisso dos Estados em adotar

medidas para efetiva-lo (art. 6.2); bem como garantindo o exercício do direito ao trabalho em

condições justas, equitativas e satisfatórias a partir de uma remuneração adequada, de liberdade e

crescimento profissional, da estabilidade, segurança e higiene no trabalho, vedação do trabalho

noturno, insalubre ou perigoso aos menores de 18 anos, limitação da jornada de trabalho e

repouso e férias remunerados (art. 7).

Outro importante dispositivo do Protocolo de San Salvador a ser destacado é o artigo

10.1, que traz a definição de saúde como o mais alto nível de bem-estar físico, mental e social,

não sendo apenas, portanto, a ausência de doenças. Por fim, o artigo 11 traz o direito ao meio

ambiente sadio (11.1) e o dever do Estado em promover a proteção, a preservação e o

melhoramento do respectivo ambiente (11.2), sem, todavia, estabelecer o que compreenderia tal

ambiente, o que permite uma interpretação ampliada de seu objeto.

Percebe-se, portanto, que o direito a um meio ambiente laboral hígido tem sido pensado,

ainda que incidentalmente, nos principais documentos internacionais sobre Direitos Humanos e,

de forma mais específica, sobre o meio ambiente. Alguns disciplinam medidas de saúde e

segurança do trabalho ao passo em que outros oferecem uma tutela mais genérica, referindo-se

apenas a condições de trabalho adequadas. Outrossim, o meio ambiente do trabalho tem sido

objeto específico da Organização Internacional do Trabalho desde a sua criação, seja por meio de

42 ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Protocolo Adicional à Convenção Americana Sobre

Direitos Humanos em Matéria De Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, “Protocolo De San Salvador”. Disponível em: http://www.cidh.org/Basicos/Portugues/e.Protocolo_de_San_Salvador.htm Acesso em: 16 jan. 2016.

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disposições genéricas, seja através da disciplina de condições específicas capazes de

desequilibra-lo.

O surgimento da tutela do meio ambiente e da tutela do local de trabalho nos documentos

internacionais em época parecida e muitas vezes dentro da mesma disposição não é mera

coincidência; apenas demonstra que ambos são advindos do mesmo fenômeno social.

A Revolução Industrial trouxe uma complexidade social não suportada pelo Direito Civil,

emergindo assim, consequentemente, o subsistema do Direito do Trabalho. A sociedade pós-

moderna, ainda mais complexa quanto à sua organização, passou a demandar a criação de

mecanismos para efetivar os direitos de terceira dimensão, proporcionando o surgimento do

subsistema do Direito Ambiental do Trabalho, o qual atua ligado a vários ramos do Direito para

cumprir sua função especializada.43 Assim sendo, o meio ambiente laboral não é apenas

subdivisão do meio ambiente lato sensu, tendo ganhado importância e tutela próprias,

constituindo ponto de necessária intersecção entre dois ramos do Direito.

No que concerne ao viés trabalhista do direito ao meio ambiente hígido, sua origem,

indubitavelmente, remonta à necessidade da melhoria das condições de trabalho nas fábricas:

indivíduos desenvolviam suas atividades por horas a fio, sem descanso e sem nenhuma proteção

contra acidentes ou injúrias decorrentes do labor44. Muitas vezes, estes indivíduos começavam a

trabalhar ainda crianças e passavam a vida inteira nestes ambientes hostis, até a morte.

Dedicavam suas vidas em troca de pouco ou nenhum pagamento, para manter apenas uma

43 PRATA, Marcelo Rodrigues. O Direito Ambiental do Trabalho numa perspectiva sistêmica. São Paulo: LTR,

2013, p. 76. 44 Neste sentido, destaca João Manoel Grott: “Nas grandes cidades inglesas o baixo nível de vida e as famílias com

numerosos filhos garantiam um suprimento fácil de mão-de-obra, sendo aceitos como trabalhadores não só homens

mas também mulheres e mesmo crianças, sem quaisquer restrições quanto ao estado de saúde, desenvolvimento

físico”. In: GROTT, João Manoel. Meio ambiente do trabalho: prevenção – a salvaguarda do trabalhador. 1 ed.

5 reimp. Curitiba: Juruá, 2012, p.108.

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sobrevida. Assim, o conteúdo das primeiras normas trabalhistas foi relacionado diretamente à

higiene, saúde e segurança no trabalho para tentar coibir a exploração do trabalhador e aumentar

sua expectativa de vida dentro e fora do local de prestação de serviço.

As experiências com o trabalho em condições indignas, especialmente após a

industrialização, demonstraram que a atividade econômica deve ser balizada por condições

mínimas de respeito ao trabalhador, caso contrário haverá uma subversão de valores: o

desenvolvimento a qualquer custo ocupando o topo e a dignidade da pessoa humana sendo

relativizada, monetizada, para atender a fins exclusivamente exploratórios.

Em busca da preservação de seus valores e de uma proteção mais ampla, vez que o

trabalhador não pode ser isolado do ambiente em que vive, é que o Direito do Trabalho se abre

para a análise multifacetada. Na seara específica da proteção ao ambiente do trabalho visando

resguardar o bem-estar dos indivíduos a partir do todo, esse ramo se aproxima do jovem Direito

Ambiental, mais rígido em suas disposições devido à importância e urgência de proteção ao seu

objeto.

As normas que tutelam a saúde e segurança do obreiro não são exclusivamente advindas

do direto trabalhista, posto serem irrenunciáveis, imperativas e inderrogáveis pela mera vontade

das partes. São normas, em um primeiro plano, de saúde, que, por vezes também se utilizam de

aspectos estranhos ao universo jurídico.45 Portanto, a garantia do direito ao meio ambiente do

trabalho hígido é, definitivamente, uma questão de ordem pública e deve ser realizada da forma

mais abrangente possível.

45 FERNANDES, Fábio. Meio Ambiente Geral e Meio Ambiente do Trabalho: uma visão sistêmica. São Paulo:

LTR, 2009, p.243-244.

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A análise interdisciplinar do tema se justifica ainda em face do objeto a ser tutelado, tendo

em vista que a proteção do meio ambiente do trabalho abrange também os mecanismos

estruturais, exteriores aos trabalhadores, mas não se encerra nestes, abarcando ainda as condições

de trabalho.46 Dessa forma, se mostra mais efetivo conciliar os princípios e normativas

específicas do direito trabalhista com a tutela holística e agregadora do direito ambiental, posto

que o local de trabalho integra o meio ambiente em seu conceito mais amplo 47. Neste contexto, a

tutela oferecida pelo Direito Ambiental é fundamental para a concretização do direito ao meio

ambiente do trabalho hígido por enxergar a coletividade, valendo-se primeiramente de métodos

preventivos e eliminatórios do dano na sua fonte para, apenas em um segundo momento, quando

inviável a eliminação e neutralização dos danos causados, partir para a tutela individualizada ou

compensação financeira, sendo estas sempre opções residuais, jamais prioridade.

A análise interdisciplinar do meio ambiente do trabalho não esvazia seu conteúdo, mas

permite uma proteção mais completa e compreensão aproximada de tudo que ele implica. Não se

protege o ambiente apenas como um fim em si mesmo48, mas para viabilizar o trabalho em

condições dignas e preservar não apenas a saúde do trabalhador, mas de todos aqueles que

possam ser prejudicados pelo seu desequilíbrio.

46 PRATA, Marcelo Rodrigues. O Direito Ambiental do Trabalho numa perspectiva sistêmica. São Paulo: LTR,

2013, p.35 47 Como bem sintetiza Fábio Fernandes, “a crescente conscientização da problemática ambiental vem lançar novas

luzes sobre a proteção do meio ambiente do trabalho, cuja visão privatística da relação contratual entre trabalhador e

empregador cede espaço ao conteúdo eminentemente público das normas jurídicas ambientais a exigir do operador

do direito do trabalho uma nova postura em relação à questão que não aquela de relegá-la a um grau de importância

menor no que tange às demais normas componentes do Direito Material do Trabalho” In: FERNANDES, Fábio.

Meio Ambiente Geral e Meio Ambiente do Trabalho: uma visão sistêmica. São Paulo: LTR, 2009, p.48. 48 Neste sentido, leciona Norma Sueli Padilha: “O direito ao equilíbrio do meio ambiente do trabalho está inserido na

complexidade que envolve a questão ambiental nos ambientes laborais, desde a análise acurada dos riscos da

atividade econômica, da degradação e poluição labor-ambiental, dos impactos à saúde, no seu sentido mais amplo,

bem como, ao modo de organização e técnicas de trabalho, a avaliação dos danos, sua dimensão e fixação,

perpassando pela revisão das responsabilidades, além de várias outras questões pertinentes a uma temática tão

abrangente.” In: PADILHA, Norma Sueli. MEIO AMBIENTE DO TRABALHO: UM DIREITO FUNDAMENTAL

DO TRABALHADOR E A SUPERAÇÃO DA MONETIZAÇÃO DO RISCO, p.173-182. In: Rev. TST, Brasília,

vol. 79, no 4, out/dez 2013, p.177

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Assumindo a necessidade de uma leitura sistêmica entre institutos trabalhistas e

ambientais para se proteger o local de trabalho, parte-se para a delimitação de seu objeto. Desde

já, importa frisar que esta tarefa não é simples, nem busca restringir o alcance do direito em

estudo, mas é necessária a fim de que se compreenda o conjunto de elementos que o integram.

Para Amauri Mascaro Nascimento49, o meio ambiente do trabalho é tudo que envolve o complexo

máquina-trabalho: as instalações do estabelecimento, os equipamentos de proteção, as condições

em que são desempenhadas as atividades, os meios de prevenção à fadiga e demais fatores

nocivos à saúde do trabalhador, o controle das jornadas de trabalho, dos intervalos, descansos,

férias, etc.

Portanto, tudo que diz respeito às condições necessárias para que a atividade seja

desempenhada sem que haja exploração do trabalhador é considerado matéria relacionada ao

ambiente de trabalho e, como tal, abrangida pelo direito em tela, de forma que a aceitação de um

objeto amplo não torna o direito ao meio ambiente do trabalho sadio um conceito vazio, mas sim

um conceito plural, capaz de abarcar tudo que guarda relação com as condições em que as

atividades de labor são desempenhadas e seu impacto na qualidade de vida do obreiro e das

pessoas que podem ser afetadas por tais relações50. Por conseguinte, quanto aos titulares deste

direito, vale destacar que a preservação do local de trabalho não é restrita apenas aos

trabalhadores subordinados, mas a qualquer tipo de trabalhador.

O direito ao meio ambiente do trabalho sadio é direito de segunda e terceira dimensão,

implicando em um esforço conjunto entre Estado, sociedade civil e particulares (mais

49 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. 26 ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 846 50 Como bem destaca Fabio Freitas Minardi acerca da amplitude do objeto do direito ao meio ambiente do trabalho

sadio: “[...]a tutela jurídica do hodierno meio ambiente do trabalho vai desde a qualidade do ambiente físico interno e

externo do local de trabalho, até a manutenção da boa saúde física e mental do trabalhador”. In: MINARDI, Fabio

Freitas. Meio ambiente do trabalho: proteção jurídica à saúde mental. Curitiba: Juruá, 2010, p. 39.

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especificamente empregados e empregadores) a fim de que sejam fornecidas condições mínimas

de labor, permitindo assim desenvolver as atividades inerentes ao trabalho sem prejuízo à saúde e

integridade dos indivíduos. Portanto, o direito ao meio ambiente do trabalho sadio é direito de

todos, independentemente do tipo de contrato realizado, e engloba tudo aquilo que diz respeito às

condições mínimas de higidez na prestação laboral, apresentando assim um objeto extremamente

abrangente.

Um ambiente de trabalho sadio implica não apenas na reparação monetária dos

trabalhadores pelo risco experimentado, nem tampouco no fornecimento de equipamentos de

proteção individual que minimizem os fatores de agressão. Cuida-se do maquinário, das técnicas

desenvolvidas, da higidez do ambiente, mas também não se deve esquecer da necessidade de

respeitar os limites de jornada, de eliminar ou neutralizar a níveis toleráveis os fatores nocivos, de

garantir o justo refazimento e inserção social do trabalhador, etc. Ademais, o direito ao meio

ambiente do trabalho hígido possui ainda mais um aspecto, que perpassa a coletividade de

empregados: implica também na manutenção da saúde e bem-estar da população ao entorno, não

precisando esta, necessariamente prestar serviço naquele local.

Justamente por ostentar um objeto tão amplo, a violação ao direito em comento pode

assumir diversas perspectivas, tendo em vista que tudo que prejudicar a prestação laboral a ser

desenvolvida em condições de higidez e equilíbrio é violação ao direito ao meio ambiente do

trabalho sadio. Dessa forma, a infinidade de agressões possíveis ao local de trabalho e à saúde do

trabalhador enseja uma mudança de paradigma, uma visão alargada a fim de que também se

aumentem as possibilidades de proteção e punição do responsável pelo desequilíbrio labor

ambiental.

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A proteção ao local de trabalho visa, acima de tudo, a promoção de um trabalho

emancipador, que reafirme e expanda a personalidade do indivíduo, estimulando seu

desenvolvimento adequado dentro e fora do local de labor. O trabalho não deve ser considerado

como apenas um meio para a subsistência, mas sim como uma forma de criação e consolidação

de uma identidade social51, não podendo ser reduzido à submissão do indivíduo aos desmandos

do empregador em troca de uma contraprestação pecuniária. O trabalho não pode comprometer

nem relativizar a dignidade humana, de modo que qualquer tentativa que vise fazê-lo deve ser

afastada, sob pena de se comprometer seriamente as próprias bases do Direito do Trabalho. É,

portanto, o desafio da promoção de um trabalho decente que o Direito do Trabalho enfrenta,

sendo necessária uma revisão em suas estruturas para que a proteção ao trabalhador seja

consolidada como valor nas conjunturas atuais.

No atual mundo globalizado, são abertas as fronteiras aos capitais, bens e serviços, mas

não ao que mais interessa: os seres humanos52. A preocupação mundial com as condições de vida

dos indivíduos tem sido substituída pela busca incessante pelo lucro, posicionando o ser humano

como meio para obtê-lo.

Na busca pelo real desenvolvimento, aquele que só pode ser alcançado a partir do respeito

à dignidade do indivíduo, deve-se resguardar sua força de trabalho, de modo que toda proteção

fragmentada é insuficiente.

Diante do exposto, para a melhor compreensão do direito ao meio ambiente do trabalho

sadio tendo em vista sua amplitude, é mister elencar os princípios ambientais e trabalhistas que

51 COSTA, Aline Moreira de; GONÇALVES, Leandro Krebs; ALMEIDA, Victor Hugo de. Meio ambiente do

trabalho e proteção jurídica do trabalhador: (re) significando paradigmas sob a perspectiva constitucional. In:

FELICIANO, Guilherme Guimarães; URIAS, João (Coord.). DIREITO AMBIENTAL DO TRABALHO:

apontamentos para uma teoria geral. São Paulo: LTR, v. 1, 2013. p.140 52 CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. Tratado de Direito Internacional dos Direitos Humanos. Porto

Alegre: Sergio Fabris Editor, v.2, 1999, p. 266.

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lhe são aplicáveis, tendo em vista que seu estudo a partir de apenas um destes ramos do Direito

estaria incompleto e fadado ao insucesso. Neste sentido, importa destacar a definição de

princípios apresentada por Alice Monteiro de Barros53, que os conceitua como as normas que

informam o legislador, orientam a atuação do magistrado na interpretação e integram o Direito.

2.3.1 Princípios do Direito Ambiental

Dentre os princípios que informam o Direito Ambiental e que são plenamente aplicáveis à

tutela do ambiente de trabalho, Fábio Fernandes 54 destaca os princípios da supremacia e da

indisponibilidade do interesse público na proteção do meio ambiente, ressaltando mais uma vez a

necessidade de quebra da visão privatística que envolve o Direito do Trabalho.

A aplicação de tais princípios à proteção do local de trabalho se justifica pela natureza dos

danos que podem advir de seu desequilíbrio bem como pela imprescindibilidade de que seja

assegurada a dignidade do ser humano quando este exerce suas atividades de labor.

Desse modo, não pode o trabalhador dispor livremente dos direitos que visam resguardar

sua segurança e saúde, apesar de a realidade demonstrar o contrário: a cada dia a monetização da

saúde do obreiro se torna a primeira opção tanto dos empregadores quanto dos empregados, que

não entendem os riscos que esta prática envolve. O Poder Público, por sua vez, de forma velada

legitima esta inversão na ordem de tutela do ambiente laboral.

53 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 7 ed. São Paulo: LTR, 2011, p.141 54 FERNANDES, Fábio. Meio Ambiente Geral e Meio Ambiente do Trabalho: uma visão sistêmica. São Paulo:

LTR, 2009, p.49-56.

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Guilherme José Purvin de Figueiredo55, por sua vez, elegeu como norteadores do Direito

Ambiental o princípio da precaução, o princípio do poluidor-pagador, o princípio do

desenvolvimento sustentável, o princípio da função social da propriedade, o princípio da

participação democrática e o princípio da vedação de retrocesso. Dentro desta classificação, o

presente trabalho tecerá comentários quanto aos princípios pertinentes à tutela ao local de

trabalho, acrescentando ainda outros princípios correlatos.

O princípio da precaução pode ser tido como uma das principais diretrizes deste ramo do

Direito, tendo em vista sua ideia de prevenção56 máxima em detrimento da mera reparação.

Consagrado pela Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, está em constante

evolução, sendo aplicável em caso de incerteza científica quanto aos riscos oriundos de

determinada tecnologia ou produto introduzido no mercado.

Acerca do princípio da precaução, importa ainda ressaltar a diferença entre este e o

princípio da prevenção: a precaução ocorre quando há incerteza quanto aos danos que podem

advir do desequilíbrio ambiental, ao passo em que a prevenção se configura quando da certeza do

dano. Pode-se dizer, portanto, que a precaução seria a prevenção em seu sentido mais cauteloso.

No ambiente de trabalho, a aplicação do princípio da precaução ocorre quando

configurada incerteza sobre a potencialidade danosa de determinado produto ou prática, não

sendo recomendada a exposição dos trabalhadores a estes por não ser possível arriscar o bem da

vida ou da vida com qualidade em prol do lucro do empregador.57 O princípio da prevenção, por

sua vez, ao ser aplicado à tutela do meio ambiente do trabalho resguarda a integridade do

55 FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin de. Curso de Direito Ambiental. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,

2011, p. 117-144 56 Na acepção ampla do vocábulo, onde estariam englobados os princípios da precaução e da prevenção stricto sensu. 57 FERNANDES, Fábio. Meio Ambiente Geral e Meio Ambiente do Trabalho: uma visão sistêmica. São Paulo:

LTR, 2009, p. 103-106.

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indivíduo quando da prestação de serviço, impedindo assim que este tenha a sua saúde e

segurança relativizados com o único propósito de obter lucro e fomentar o crescimento

econômico do trabalhador.

O princípio do poluidor –pagador58, também consagrado na Declaração do Rio de Janeiro

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, envolve dois aspectos fundamentais: responsabilidade

pelo dano ambiental e inserção, no custo final, das despesas com a reparação do meio ambiente.

Este princípio implica, acima de tudo, a responsabilização daquele que provocou o dano ou não

tomou as devidas precauções para evita-lo, não podendo e não devendo esta responsabilização

recair sobre os trabalhadores e sobre o próprio Estado como regra.

O princípio do desenvolvimento sustentável, por sua vez, também ficou mais popular a

partir da Rio 92, apesar de a discussão acerca da necessidade de se adotar políticas sustentáveis

de desenvolvimento econômico ter iniciado na Conferência de Estocolmo.

No âmbito da proteção ao meio ambiente de trabalho, o princípio do desenvolvimento

sustentável atua como forma de compatibilizar o trabalho digno e a livre iniciativa, implicando

tanto na proteção dos recursos naturais quanto do próprio local de trabalho, almejando sempre

resguardar a saúde do trabalhador.59 Dessa forma, o lucro não é um fim em si mesmo e por isso

não pode ser utilizado como fundamento para mitigar a dignidade do indivíduo na prestação

58 Um grande problema que decorre deste princípio é a sua má interpretação: acreditou-se, durante muito tempo, que

se poderia utilizar dos recursos do meio ambiente de forma desmedida, desde que houvesse uma compensação

financeira equivalente. Entretanto, a extensão dos danos ambientais raramente pode ser neutralizada ou eliminada com a mera retribuição pecuniária, o que implica que a aplicação deste princípio em seu aspecto compensatório deve

ser feita de forma residual. O desrespeito às normas de saúde e segurança do trabalhador não pode ser utilizado pelo

empregador como justificativa para baratear o produto ou serviço. Cabe ao empregador o ônus pelo desenvolvimento

da atividade, não podendo o mesmo ser repassado ao trabalhador a partir da violação dos seus direitos mais

intrínsecos. Importa ressaltar ainda que o mero pagamento dos adicionais ou eventuais danos não esgota este

princípio, posto que ele não pode ser utilizado como respaldo para a monetização da saúde. 59 FERNANDES, Fábio. Meio Ambiente Geral e Meio Ambiente do Trabalho: uma visão sistêmica. São Paulo:

LTR, 2009, p.60.

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laboral. Deve, portanto, haver harmonização entre os interesses do empregador e os direitos do

empregado, dentre entes o direito de laborar em um ambiente minimamente hígido.

O princípio da função social da propriedade tem como objeto de proteção a qualidade de

vida. A Constituição Federal de 1988 assegura, dentre o rol de direitos e garantias fundamentais,

o direito de propriedade, devendo esta atender a sua função social (art. 5º, XXII e XXIII).

Ademais, aponta ainda a função social da propriedade como princípio regulador da ordem

econômica do país (art. 170, III)60. Todavia, não foi criado um conceito constitucional ou legal

para o que seria uma propriedade dotada de função social. Assim sendo, pode-se entender que o

direito de propriedade, ao ser exercido conforme sua função social, implica na realização de

objetivos sociais que ultrapassem o interesse individual do proprietário, dentre eles a higidez do

local a serem desempenhadas as atividades de labor.

O princípio da informação, amplamente agregado ao rol informador dos princípios do

Direito Ambiental também na Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento, diz respeito ao conhecimento sobre os fatores nocivos e seus efeitos na saúde e

segurança do trabalhador, sendo dever do Estado e dos empregadores disponibilizar informações

para facilitar a conscientização pública e a transparência da prestação laboral.

60 A ideia de propriedade dotada de função social apareceu, no direito constitucional brasileiro, na Constituição de

1934, que relativizou o direito de propriedade, historicamente visto como sendo de natureza individual, absoluta. A

Constituição de 1937, entretanto, suprimiu a necessidade de uso da propriedade com destinação social. Com a

redemocratização do país, a Constituição de 1946 voltou a fazer menção a utilização da propriedade mediante destinação social, determinação esta que foi mantida da Constituição de 1967 – primeira a trazer expressamente o

termo “função social” - e na Emenda Constitucional nº 1/69. A Constituição Federal de 1988, por sua vez, conservou

a necessidade de que o direito de propriedade fosse exercido em consonância com a sua destinação social, mantendo

a previsão da função social da propriedade dentre os princípios reguladores da ordem econômica, mas também

inovando ao fazendo referência à função social da propriedade dentre os direitos e garantias fundamentais, bem

como em diversas outras passagens de seu texto. Neste sentido, cf. FACCHINI NETO, Eugênio. Comentário ao art.

5º, XXIII. In: CANOTILHO, J.J. Gomes et al (Coords.) Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo:

Saraiva/Almedina, 2013, p.314-317.

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Outro princípio a ser destacado e que guarda estreita relação com o princípio da

informação é o da educação ambiental. A partir da educação ambiental, o Poder Público visa

promover os valores relativos ao meio ambiente:61não basta apenas não poluir, mas deve ser

adotada uma postura ativa, pautada em valores éticos, para que a proteção ao meio ambiente seja

eficaz, de modo que a população entenda o seu papel na garantia deste direito a esta geração e às

futuras.

A conscientização ambiental deve ser fomentada em todos os níveis, tanto na educação

formal quanto informal. Somente poderá se falar em proteção efetiva do ambiente de trabalho

quando houver a conscientização de que é dever do empregador oferecer condições adequadas de

prestação de serviço e somente quando impossível fazê-lo é que se deve partir para os

mecanismos reparatórios ou indenizatórios.

O princípio da vedação de retrocesso é classificado como setorial por estar relacionado

aos direitos e garantias fundamentais e não apenas especificamente ao Direito Ambiental. O

referido princípio invalida a revogação de normas regulamentadoras dos direitos fundamentais

sem que sejam substituídas por normas mais benéficas, mais abrangentes, sendo voltado, de

acordo com Guilherme José Purvin de Figueiredo62, à proteção da coletividade face ao Poder

Legislativo e ao Poder Executivo quando no exercício de sua atividade legiferante. Também

plenamente aplicável quanto à tutela do meio ambiente do trabalho hígido, o princípio da vedação

ao retrocesso proíbe que as normas que hoje cuidam da saúde e segurança do trabalhador sejam

substituídas por outras menos protetivas.

61FERNANDES, Fábio. Meio Ambiente Geral e Meio Ambiente do Trabalho: uma visão sistêmica. São Paulo:

LTR, 2009, p. 79. 62 FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin de. Curso de Direito Ambiental. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,

2011, p.143.

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Destaca-se, ainda, quanto aos princípios do Direito Ambiental aplicáveis ao meio

ambiente de trabalho o princípio da correção do risco na fonte, que dispõe que devem ser

envidados esforços para que as causas do dano sejam eliminadas em sua origem, sendo este o

método mais eficaz de manter o equilíbrio ambiental. 63 Este princípio relaciona-se diretamente

com os princípios da precaução e da prevenção, reforçando a ideia de tutela preventiva em vez de

reparatória do ambiente, inclusive do laboral.

O princípio da correção do risco na fonte, quando aplicado ao ambiente de trabalho,

implica que a higidez deste deve ser prioridade e somente quando impossível a eliminação ou

neutralização do risco é que se deve partir para a ação reparatória (fornecimento de EPI, EPC,

pagamento de adicionais, etc.), em uma clara vedação à monetização da saúde do obreiro.

2.3.2 Princípios do Direito do Trabalho

As primeiras leis de proteção ao obreiro visaram minorar as condições precárias de

trabalho impostas, de modo que o surgimento do Direito do Trabalho relaciona-se às normas de

segurança e saúde do trabalhador e à proteção do local de trabalho64. De grande importância no

processo de dignificação do trabalhador a partir das consequências da Revolução Industrial foi a

doutrina social difundida pela Encíclica Rerum Novarum, do Papa Leão XIII, ao tratar o trabalho

não como mercadoria, mas como mecanismo de expressão direta da pessoa humana, valorizando

assim o trabalho sob a perspectiva cristã.

63 FERNANDES, Fábio. Meio Ambiente Geral e Meio Ambiente do Trabalho: uma visão sistêmica. São Paulo:

LTR, 2009, p. 67. 64 Ibidem, p. 191-192.

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O Direito do Trabalho preza, acima de tudo, pela garantia de dignidade do indivíduo ao

desempenhar suas atividades de labor. Considerando a natureza da relação que existe entre

empregado e empregador, esse ramo do Direito não se funda na mesma base privatísica do

Direito Civil: a igualdade formal cede espaço ao reconhecimento da desigualdade entre as partes

como forma de assegurar, à parte hipossuficiente, a garantia de seus direitos e a sua não

coisificação em prol dos interesses do mercado65. Assim, pela sua natureza, o Direito do Trabalho

não promove a igualdade66, mas ressalta o reconhecimento da desigualdade como mecanismo de

proteção do trabalhador em face à exploração.

Os princípios específicos do Direito do Trabalho têm uma capacidade de adaptação e

ajuste a distintos contextos e, portanto, são plenamente aptos a acompanhar as legítimas

tentativas de flexibilização67, que não visam coisificar o trabalhador.68 Por prezar pela verdade

real, mais ainda que os demais ramos do Direito, o Direito do Trabalho deve ser sensível ao

mundo dos fatos sem perder seu fator diferenciador: a concessão de determinados mecanismos

em prol do trabalhador, parte hipossuficiente, não para beneficiá-lo, mas apenas para garantir que

o mesmo não seja ludibriado ou explorado por aquele que detém o poder nesta relação contratual.

65 Neste sentido, “O Direito do Trabalho surge como consequência de uma desigualdade: a decorrente da

inferioridade econômica do trabalhador. Essa é a origem da questão social e do Direito do Trabalho.” Cf.

RODRIGUEZ, Américo Plá. Princípios do Direito do Trabalho. 3 ed. São Paulo: LTR, 2000, p.27 66 De acordo com o que dispõe Maria Celina Bodin de Moraes, o Direito do Trabalho foi o primeiro ramo do Direito

a subverter regra do conceito de igualdade como igualdade perante a lei, em seu aspecto formal, atribuindo ao

trabalhador benefícios que contrariam, inclusive, o princípio da hierarquia normativa, visto que nas relações

trabalhistas aplica-se a norma mais benéfica ao obreiro. Cf.: MORAES, Maria Celina Bodin de. O conceito de

dignidade humana: substrato axiológico e conteúdo normativo. In: SARLET, Ingo Wolfgang (Org.). Constituição,

Direitos Fundamentais e Direito Privado. 3. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010, p. 139. 67 A flexibilização, por si só, não demonstra perigo ao trabalhador: todo ramo do Direito deve flexibilizar-se como forma de acompanhar o desenvolvimento da sociedade complexa na qual as relações que tutela se desenvolvem.

Entretanto, flexibilizar não pode ser tido como sinônimo de desregulamentar, ainda mais quando visa sacrificar

direitos e garantias do trabalhador em prol do mercado. Neste sentido, o Direito do Trabalho e seus princípios têm

um aspecto de flexibilização frente às peculiaridades das relações de trabalho que surgem corriqueiramente, mas não

se pode, por outro lado, desejar que este ramo do Direito que visa justamente impedir a violação da dignidade do

trabalhador seja ordenado em prol de necessidades inteiramente exploratórias, as quais utilizam o empregado como

meio para a obtenção de lucro a qualquer custo. 68 RODRIGUEZ, Américo Plá, op. cit., p. 33

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Como bem destaca Alice Monteiro de Barros69, o grande desafio é encontrar o equilíbrio entre a

flexibilização legítima, sensível às preocupações das empresas e às condições de trabalho dos

obreiros.

A doutrina trabalhista não é uníssona ao elencar os princípios específicos a nortear este

ramo do Direito. Todavia, interessante é a lição apresentada por Américo Plá Rodriguez70, que

aponta como princípios específicos do Direito do Trabalho – tanto em seu aspecto individual

quanto coletivo, atentando para as peculiaridades deste último - o princípio da proteção (o qual se

concretiza nas regras do in dubio pro operario, aplicação da norma mais favorável e da condição

mais benéfica), princípio da irrenunciabilidade dos direitos, princípio da continuidade da relação

de emprego, princípio da primazia da realidade, princípio da razoabilidade, princípio da boa-fé e

princípio da não discriminação. 71 Para o autor, este rol de princípios deve ser considerado o rol

de princípios específicos do Direito do Trabalho por deixar claro o reconhecimento da

desigualdade presente na relação tutelada. Serão destacados, a seguir, dentro da classificação

realizada pelo autor, a qual se filia esta pesquisa, aqueles que guardam relação direta com a tutela

do meio ambiente do trabalho.

O princípio da proteção pode ser considerado como o princípio base do direito trabalhista,

tendo surgido para equilibrar, a partir de uma desigualdade jurídica favorável, a desigualdade

fática existente72. Sua definição, portanto, guarda relação direta com o próprio objeto do ramo do

Direito que informa.

69 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 7 ed. São Paulo: LTR, 2011, p. 144 70 RODRIGUEZ, Américo Plá de. Princípios do Direito do Trabalho. 3 ed. São Paulo: LTR, 2000, p.24-25 71 Em sua obra, Américo Plá Rodriguez não nega a existência de outros princípios informadores do direito

trabalhista, mas atém-se aos acima elencados por considerá-los basilares. Ademais, o autor ressalta que o

alargamento demasiado do rol de princípios pode minar a sua eficácia. 72 RODRIGUEZ, Américo Plá de. op. cit, p. 33

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Pode-se dizer que o princípio da proteção surgiu como desdobramento do princípio da

igualdade material e da dignidade da pessoa humana. Relativiza-se o princípio da autonomia da

vontade individual, que inspira o Direito Civil, e estende-se ao empregado uma rede de proteção,

composta por um rol de direitos mínimos e indisponíveis que resguardam a sua dignidade.73 É

clara a relação entre o princípio da proteção e o direito ao meio ambiente do trabalho hígido, este

integrando a gama de direitos mínimos que asseguram a dignidade do obreiro na relação de

trabalho.

Seguindo a classificação principiológica apontada por Américo Plá Rodriguez, o princípio

da proteção – informador de todo o direito trabalhista - se concretiza nas ideias do in dubio pro

operario, da aplicação da norma mais favorável e da manutenção da condição mais benéfica.

O in dubio pro operario74, adaptação do princípio jurídico penal in dubio pro reo, implica

que, em situações de confronto entre interpretações de uma norma, deve-se optar por aquela que

se apresente mais favorável ao trabalhador75. Entretanto, deve-se atentar para a correta aplicação

deste procedimento, não sendo possível recorrer ao mesmo em caso de lacuna normativa nem

tampouco para ludibriar interpretação clara da norma ou atribuir-lhe sentido que não advém de

seu texto ou contexto.76 Neste mesmo sentido, importante ressaltar que não se pode também

73 Neste sentido, dispõe o artigo 444 da CLT que, apesar de as relações contratuais trabalhistas serem objeto de livre

pactuação entre as partes, tal pactuação não pode ir de encontro aos mecanismos de proteção ao trabalho, aos

contratos coletivos e às decisões das autoridades competentes, mostrando assim, claramente, uma mitigação do

princípio da autonomia da vontade em detrimento da proteção à parte hipossuficiente na relação em estudo. 74 Maurício Godinho Delgado coloca este princípio no rol de princípios justrabalhistas especiais controvertidos

devido a sua dupla dimensão. O in dubio pro operário tanto se refere à utilização da interpretação mais favorável ao

trabalhador quando houver pluralidade interpretativa quanto ao aspecto fático de sua aplicação: no caso de dúvida na análise dos fatos, deve o operador do Direito decidir a favor do trabalhador. Para o autor, este primeiro aspecto do in

dubio pro operário é válido e estaria englobado pelo princípio da aplicação da norma mais favorável, mas o segundo

aspecto se mostra bastante perigoso e desatualizado, inconciliável com a teoria do ônus da prova, sedimentada no

Direito Processual do Trabalho. Exige-se, dessa forma, razoabilidade e proporcionalidade na aplicação do in dubio

pro operario, tendo em vista que, como qualquer princípio, não é absoluto. Cf. DELGAGO, Maurício Godinho.

Curso de Direito do Trabalho. 14 ed. São Paulo: LTR, 2015, p.214-216 75 Ibidem, p.215 76 RODRIGUEZ, Américo Plá. Princípios do Direito do Trabalho. 3 ed. São Paulo: LTR, 2000, p. 47

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recorrer ao in dubio pro operario em caso de deficiência probatória cujo ônus competia ao

trabalhador, nem tampouco sacrificar o interesse público em prol da satisfação de um interesse

privado.77 Assim sendo, o in dubio pro operario pode - e deve - ser aplicado na garantia de um

ambiente de trabalho hígido, tendo em vista que quando houver mais de uma interpretação

normativa cabível, deve-se escolher aquela que melhor tutelar a sua integridade.

A aplicação da regra mais benéfica guarda estreita relação com o in dubio pro operario,

mas se diferencia de tal instituto, pois sua aplicação se justifica quando há várias normas

passíveis de serem aplicadas a uma mesma situação – e não várias interpretações de uma mesma

norma -, devendo-se optar pela mais protetiva ao trabalhador.78 Sua peculiaridade, que merece ser

destacada, é que a aplicação de uma norma mais favorável independe da observância de sua

hierarquia.79 No que concerne à tutela do meio ambiente do trabalho, a aplicação da regra mais

benéfica ocorre quando houver possibilidade de escolha quanto às normas aplicáveis a um

mesmo caso concreto, devendo-se preferir uma norma que resguarde o ambiente como um todo

em detrimento de normas com aspectos paliativos ou de tutela individual.

A aplicação da condição mais benéfica80, por sua vez, presume a existência de uma

situação anteriormente reconhecida e determina que a mesma seja respeitada quando mais

favorável ao trabalhador em detrimento da nova norma. Portanto, visa proteger condições mais

77 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 7 ed. São Paulo: LTR, 2011, p.146 78 RODRIGUEZ, Américo Plá. Princípios do Direito do Trabalho. 3 ed. São Paulo: LTR, 2000, p. 51 79 Alice Monteiro de Barros destaca ainda que no Brasil adota-se a teoria do conglobamento mitigado, havendo uma

comparação parcial entre os grupos homogêneos de matérias de uma ou outra norma. Cf. BARROS, Alice Monteiro

de. Op. Cit., p.146 80 As condições podem ser causais (quando se relacionam a uma qualidade específica do empregado) ou concessivas

(quando outorgadas pelo empregador, podendo estas últimas serem alvo de compensação através de norma legal ou

convencional posterior, devido à sua natureza homogênea). Quanto aos seus limites, estes podem ser intrínsecos,

quando, por exemplo, não há concessão de vantagens dispostas no regimento interno da empresa a empregado

admitido após sua revogação ou ainda quando não há proteção à incorporação ao contrato individual de trabalho de

vantagens inseridas em norma coletiva. Os limites podem também ser extrínsecos, posto que a edição de norma

posterior que seja mais vantajosa implica no desaparecimento da condição benéfica atual, sendo estas vantagens

inacumuláveis. Cf: Ibidem, p.142-143.

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vantajosas já incorporadas ao patrimônio do empregado por força do contrato, tácita ou

expressamente.

Importante destacar que, apesar de relacionar-se com os procedimentos do in dubio pro

operario e da aplicação da regra mais benéfica, a condição mais favorável tem suas próprias

peculiaridades, o que a diferencia das demais regras concretizadoras do princípio da proteção,

pois o in dubio pro operario é determinação mais geral, dotada de formulação jurídico-positiva

expressa, e a aplicação da regra mais benéfica diz respeito a uma norma de caracterização geral e

não referente a uma situação pontual.81 Em suma, pode-se dizer que a condição mais benéfica é

aplicável quando há sucessão normativa, assegurando assim a manutenção dos níveis alcançados

com a norma derrogada, caso estes sejam mais benéficos que os presentes na norma substitutiva.

O princípio da indisponibilidade dos direitos trabalhistas82, por sua vez, advém da

imperatividade das normas do referido ramo do Direito. Não faria sentido prever toda uma gama

de mecanismos protetivos se estes pudessem simplesmente ser negociados de forma livre pelo

trabalhador.

Devido à natureza do objeto que se tutela, ao direito ao meio ambiente do trabalho

adequado aplica-se o princípio da indisponibilidade, não sendo aceitável que o obreiro abra mão

81 RODRIGUEZ, Américo Plá. Princípios do Direito do Trabalho. 3 ed. São Paulo: LTR, 2000, p. 54-55 82 Para Maurício Godinho Delgado, o conteúdo do princípio da irrenunciabilidade é o mesmo que informa o

princípio da indisponibilidade dos direitos trabalhistas. Todavia, tanto o autor quanto Américo Plá Rodriguez fazem

menção à diferença entre estes termos. Para Maurício Godinho Delgado, a indisponibilidade é mais ampla e inclui a

irrenunciabilidade de direitos. Américo Plá Rodriguez, por sua vez, ressalta que a indisponibilidade assume as formas da irrenunciabilidade e da intransigibilidade, mas aponta como inegável princípio norteador do direito

trabalhista o princípio da irrenunciabilidade em uma noção mais ampla, como sendo a impossibilidade jurídica de

privar-se voluntariamente das vantagens concedidas; um conceito, como se nota, muito próximo da

indisponibilidade. O presente trabalho, apesar de ciente da divergência entre os vocábulos irrenunciabilidade e

indisponibilidade, filia-se à posição adotada por Maurício Godinho Delgado, erigindo à princípio trabalhista a

indisponibilidade, a qual contém a irrenunciabilidade em seu núcleo. Cf. DELGADO, Maurício Godinho. Curso de

Direito do Trabalho. 14 ed. São Paulo: LTR, 2015, p.204-205; RODRIGUEZ, Américo Plá. Princípios do Direito do

Trabalho. 3 ed. São Paulo: LTR, 2000, p.58-61

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de normas que tutelam a sua saúde e segurança. Essas normas gozam ainda de imperatividade,

não podendo ter sua aplicabilidade rejeitada por mera convenção das partes.

A aplicação do princípio da indisponibilidade obsta a monetização da saúde do obreiro, de

modo que este não pode escolher entre a percepção de adicionais de insalubridade,

periculosidade ou por trabalho extraordinário, por exemplo, e o respeito às normas de saúde e

segurança do trabalho, somente sendo devido o respectivo pagamento em caso de impossibilidade

da eliminação ou neutralização do fator causador do desequilíbrio ambiental.

O princípio da primazia da realidade, por sua vez, preza pelo reconhecimento da prática

efetivada durante a prestação de serviços em detrimento do que consta expressamente no

instrumento contratual, visto que este muitas vezes é redigido unilateralmente pelo empregador,

ou nem mesmo existe, já que não é requisito indispensável para a caracterização da relação de

labor.

O princípio da primazia da realidade preza ainda por uma postura mais ativa dos órgãos

trabalhistas de fiscalização ambiental, já que muitas vezes as condições ambientais presentes nos

documentos e licenças não condizem com a realidade. Não basta que seja feito um estudo de

impacto ambiental ou que este seja prévio, mas é necessário que haja fiscalização constante e

confecção de relatórios periódicos pormenorizando as reais condições ambientais, de modo que

efetivamente se verifique se as condições presentes nesses documentos retratam a verdade.

Como se pode perceber da análise dos princípios específicos trabalhistas83, este ramo do

Direito se volta para a garantia da proteção do trabalhador, criando uma gama de mecanismos que

83 Apesar de ter seguido o rol de princípios apresentado por Américo Plá Rodriguez como específicos do Direito do

Trabalho, esta pesquisa não discorrerá acerca de todos os princípios elencados pelo autor, apontando apenas aqueles

que guardam relação direita com a tutela do meio ambiente de trabalho.

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propiciem uma desigualdade jurídica compensadora da desigualdade fática em que a relação

empregatícia se dá.

A função dos princípios trabalhistas acima comentados é a de fazer com que a relação de

labor se desenvolva de forma a não submeter o trabalhador a condições indignas. Resguardam-se

patamares mínimos84, não podendo ser rebaixados, mas devendo sempre ser elevados.

Neste sentido de integração e tutela máxima ao ambiente de trabalho, as normas

trabalhistas que dispõem sobre a saúde e segurança não esgotam a proteção do objeto em estudo,

apenas traçam um patamar mínimo de respeito ao mesmo. Portanto, a utilização de princípios e

mecanismos típicos do Direito Ambiental não descaracterizam nem invalidam os princípios e

normas trabalhistas aplicáveis ao local de trabalho, mas visam fortalecer e conferir máxima

eficácia à sua proteção.

Não se procura neste trabalho forçar um conceito de ambiente de trabalho, mas apenas

reconhecer seu viés amplo e interdisciplinar, o qual reclama uma análise sistêmica, considerando

o todo e os diversos olhares que o tutelam 85. Os princípios ambientais e trabalhistas acima

relacionados, portanto, se tornam plenamente aplicáveis quando da proteção do ambiente de

trabalho porque o mesmo é objeto de ambas as disciplinas jurídicas.

84 Dessa forma, sintetiza Américo Plá Rodriguez: “o característico no Direito do Trabalho é que cada uma de suas

normas fixa níveis mínimos de proteção. Ou seja, nada impede que acima desses níveis - que determinam o piso,

porém não o teto, das condições de trabalho [...] - possam ir sendo aprovadas outras normas que melhorem aqueles

níveis de proteção”. In: RODRIGUES, Américo Plá. Princípios do Direito do Trabalho. 3 ed. São Paulo: LTR,

2000, p.51 85 Assim sendo, “não se trata de alargar os limites de alcance do meio ambiente do trabalho, de modo que,

conceitualmente, passe a se apropriar de outras estruturas ambientais. Trata-se tão somente de não ignorar a

interdependência do meio ambiente do trabalho com o meio ambiente urbano, rural e meio ambiente cultural, os

quais, como visto, a todo momento dialogam e negociam com o ser humano e, dessa forma, determinam a qualidade

de vida dentro e fora do trabalho” In: COSTA, Aline Moreira de; GONÇALVES, Leandro Krebs; ALMEIDA, Victor

Hugo de. Meio ambiente do trabalho e proteção jurídica do trabalhador: (re) significando paradigmas sob a

perspectiva constitucional. In: FELICIANO, Guilherme Guimarães; URIAS, João (Coord.). DIREITO AMBIENTAL

DO TRABALHO: apontamentos para uma teoria geral. São Paulo: LTR, v. 1, 2013, p.136.

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3. A TUTELA DO MEIO AMBIENTE DE TRABALHO PELA ORGANIZAÇÃO

INTERNACIONAL DO TRABALHO

O ambiente de trabalho, conforme visto e ressaltado em diversas oportunidades ao longo

desta pesquisa, exige uma abordagem interdisciplinar para uma melhor compreensão acerca de

seu objeto, bem como para uma proteção mais eficaz, a partir da junção dos aspectos protetivos

dispostos nas legislações trabalhista e ambiental. Ademais, as condições de trabalho não são um

assunto a ser tratado apenas no âmbito interno dos Estados, motivo pelo qual a necessidade de

sua proteção e melhoria encontra-se disposta, explícita ou implicitamente, nos mais importantes

documentos internacionais.

As discussões sobre as condições de trabalho em âmbito mundial são de extrema

importância para que o trabalhador resguarde sua dignidade independentemente de onde

desenvolva as atividades laborativas, especialmente após a intensa industrialização e incremento

das relações de comércio, produtos e serviços entre os Estados.

Assim sendo, o Direito Internacional do Trabalho trata da proteção, universalização e

normatização das atividades de labor no cenário internacional86, fundamentando-se,

principalmente, na necessidade de nivelamento do custo das medidas sociais de proteção ao

trabalho e na universalização dos princípios de justiça social e dignidade do trabalhador. De

acordo com a lição de Arnaldo Sussekind87, o Direito Internacional do Trabalho visa também a

uniformização das normas jurídicas pertinentes e o estudo das questões conexas ao seu objeto,

bem como fomenta a cooperação internacional para a melhoria das condições de vida no trabalho.

86 GUNTHER, Luiz Eduardo. A OIT e o Direito do Trabalho no Brasil. 2 reimp. Curitiba: Juruá, 2013, p.32-34. 87 SUSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. In: ____________et al. Instituições de Direito do

Trabalho. 17. ed. São Paulo: Ltr, v. 2, 1997, p.1432.

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Como objeto, o Direito Internacional do Trabalho tutela as relações entre os Estados e entre estes

e os organismos internacionais competentes, desenvolve atividade normativa direcionada para a

incorporação de direitos e obrigações aos sistemas jurídicos nacionais e busca a adoção de

programas de assistência técnica para convergir o desenvolvimento econômico e o progresso

social.

A ordem de assuntos discutida no Direito Internacional do Trabalho se reveste do caráter

público, pois é de interesse de todos os Estados a fim de evitar a exploração desmedida do

trabalhador no desempenhar de suas atividades, buscando-se resguardar um patamar mínimo de

condições que preservem e promovam sua saúde e qualidade de vida.

O reconhecimento do Direito Internacional do Trabalho traz consigo duas implicações: a

primeira ocorre após as suas disposições tornarem-se direito positivo, surgindo para os

trabalhadores e sindicatos o direito de exigir a sua aplicação e cumprimento, tanto de forma

individual quanto coletiva. A segunda implicação ocorre devido ao seu caráter normativo, não

podendo ter sua aplicação reduzida pela mera vontade das partes, negociação coletiva ou decisões

da Justiça do Trabalho, a não ser que tais mecanismos apresentem uma situação mais benéfica ao

trabalhador.

A Organização Internacional do Trabalho, um dos principais senão o principal agente

produtor de normas de Direito Internacional do Trabalho, foi criada após a Primeira Guerra

Mundial e figura dentre os primeiros marcos do processo de internacionalização dos direitos

humanos88. Agência especializada das Nações Unidas, teve sua criação em momento anterior a

88 “Os tratados internacionais têm tido remarcada influência no campo das relações de trabalho; principalmente as

convenções adotadas no âmbito da Organização Internacional do Trabalho, desde 1919. A atividade normativa da

OIT, desde sua criação, importou numa significativa inovação do Direito Internacional, porquanto as convenções

adotadas nas sucessivas reuniões da sua Conferência contêm normas cujo destino é a incorporação ao direito interno

dos Estados que manifestarem sua adesão” In: SUSSEKIND, Arnaldo. Direito Constitucional do Trabalho. 4 ed.

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esta, de modo que muito do disposto em sua Constituição e anexo serviu de inspiração para a

Declaração Universal dos Direitos Humanos e os Pactos que a sucederam.

Com o fim da Primeira Guerra Mundial em 1918, instalou-se a Conferência Preliminar da

Paz, no ano seguinte, a qual colocava dentre os principais pontos a serem discutidos a criação de

uma legislação internacional do trabalho. No âmbito desta conferência, criou-se uma Comissão

de Legislação do Trabalho que, pela primeira vez, incluiu oficialmente entre seus membros

representantes dos trabalhadores e desenvolveu seus trabalhos com vistas à criação de um

organismo especializado para tratar da legislação internacional do trabalho. Na sessão da

Conferência da Paz de 11/04/1919 foi aprovado o conjunto normativo que deu ensejo à criação da

Organização Internacional do Trabalho, a qual realizou sua primeira conferência em outubro do

mesmo ano, em Washington, e iniciou suas atividades regulares em 192089. Percebe-se, portanto,

que o surgimento da OIT adveio da necessidade de se garantir que o trabalhador não tivesse sua

dignidade mitigada na prestação de serviço, criando-se patamares mínimos a serem adotados

pelos Estados para o desenvolvimento das prestações laborais.

A Organização Internacional do Trabalho nasceu em decorrência do acordado na Parte

XIII do Tratado de Versalhes – em especial no seu artigo 23 – a qual dispôs que os Estados-

membros da Sociedade das Nações deveriam envidar esforços a fim de assegurar condições de

trabalho justas, equitativas e humanitárias.90 O Brasil encontra-se entre os membros fundadores

da OIT, participando da Conferência Internacional do Trabalho desde a primeira reunião desta.

As razões apontadas para a criação da OIT, no Preâmbulo da Parte XIII do referido

tratado, foram a busca pela justiça social, a imprescindibilidade de se revisar as condições de

Rio de Janeiro: Renovar: 2010, p. 82 89 CRIVELLI, Ericson. Direito Internacional do Trabalho Contemporâneo. São Paulo: LTR, 2010, p.53-65. 90 GUNTHER, Luiz Eduardo. A OIT e o Direito do Trabalho no Brasil. 2 reimp. Curitiba: Juruá, 2013, p.34

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trabalho existentes naquela época - as quais colocavam em risco a paz e a harmonia de todos - e,

por fim, a necessidade de se promover um trabalho decente, que não implicasse em risco e,

concomitantemente, promovesse a melhoria das condições de vida e o bem-estar do indivíduo.91

Pode-se dizer, portanto, que a missão da OIT consiste em promover oportunidades de acesso a

um trabalho digno, decente e produtivo, para homens e mulheres.

Nos seus primeiros anos de funcionamento, a OIT voltou sua atenção à regulamentação

das condições de trabalho e emprego, com intensa atividade normativa. Iniciou-se, ainda, um

processo lento e gradual de independência em relação à Sociedade das Nações, transferindo,

inclusive, sua sede em 1940 para Montreal, apesar de o Tratado de Versalhes prever seu

funcionamento na sede da Sociedade Nações. Com este processo de autonomia e desvinculação

em relação à Sociedade das Nações, a OIT ganhou personalidade jurídica de direito internacional,

por iniciativa própria, antes mesmo da dissolução formal da Sociedade das Nações92, apenas

endossando a atuação proativa e autônoma que vinha exercendo desde a sua criação. Com a

criação da Organização das Nações Unidas, a OIT passou a estabelecer com esta uma relação de

coordenação, distinta da que estabelecera com a Sociedade das Nações, não havendo perda de sua

autonomia jurídica, mas sim seu empoderamento.

No contexto da Segunda Guerra Mundial, a OIT realizou, em 1944, sua 26ª Conferência

na Filadélfia. Este evento, apesar de não ter resultado na adoção de nenhuma nova convenção,

acabou por produzir a Declaração Relativa aos Fins e Objetivos da OIT (Declaração de

Filadélfia), anexada na forma de emenda à constituição desta organização. A Declaração da

Filadélfia representou uma grande mudança em razão de seu conteúdo e dos enunciados trazidos

91 GUNTHER, Luiz Eduardo. A OIT e o Direito do Trabalho no Brasil. 2 reimp. Curitiba: Juruá, 2013, p. 34-35. 92 CRIVELLI, Ericson. Direito Internacional do Trabalho Contemporâneo. São Paulo: LTR, 2010, p.53-65.

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que visaram atualizar os objetivos da organização, adequando-os à sociedade internacional do

pós-guerra.

A Declaração da Filadélfia reafirma o princípio de que o trabalho não é mercadoria e o

trabalhador não pode, de forma alguma, ser usado como meio para obtenção de lucro. Desse

modo, este documento almeja auxiliar os Estados a adotar normas para a melhoria das condições

de trabalho, assegurando, de uma forma geral, uma proteção adequada da vida e saúde dos

trabalhadores em todas as ocupações.

Em sua preocupação constante em proteger o trabalho, assegurando-lhe o

desenvolvimento em condições dignas, a OIT elaborou a Declaração sobre os Princípios e

Direitos Fundamentais no Trabalho93 (Declaração de 1998), que enfatiza a necessidade de todos

os Estados-membros respeitarem os direitos estabelecidos nas determinações dessa organização

internacional, independentemente da ratificação de seus documentos, pelo único motivo de terem

se filiado à OIT94. Esta força cogente se justifica devido à natureza dos assuntos abordados no

âmbito de tal organismo, visto que se somente a ratificação obrigasse seus países-membros, estes

se utilizariam desta prerrogativa para desrespeitar as diretrizes traçadas na busca pelo trabalho

digno, não ratificando instrumentos importantes e adotando tal postura para fugir de suas

responsabilidades, mesmo sendo membros do organismo. Assim sendo, o simples fato de

93 Os Princípios e Direitos Fundamentais do Trabalho são traduzidos em 8 Convenções da OIT, as quais possuem

status de Tratados de Direitos Humanos e são consideradas convenções fundamentais ao tratar da liberdade sindical

(convenção nº 87), direito de sindicalização à negociação coletiva (convenção nº 98), erradicação do trabalho infantil (convenções ns. 138 e 182), abolição do trabalho forçado e obrigatório (convenção nº 105) e a eliminação da

discriminação em matéria de emprego e ocupação (convenções ns. 100 e 111). Neste sentido, cf. GURGEL, Yara

Maria Pereira. Direitos Humanos, Princípio da Igualdade e Não Discriminação: sua aplicação às relações de

trabalho, São Paulo: LTR, 2010, p.105-111. 94 DELGADO, Gabriela Neves. Direitos Humanos dos Trabalhadores: Perspectiva de análise a partir dos Princípios

Internacionais do Direito do Trabalho e do Direito Previdenciário. In: DELGADO, Maurício Godinho; DELGADO,

Gabriela Neves. Constituição da República e Direitos Fundamentais: Dignidade da Pessoa Humana, Justiça

Social e Direito do Trabalho. 3 ed. São Paulo: LTR, 2015, p. 184.

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pertencer à OIT implica que o Estado se afina às diretrizes ali traçadas e, portanto, se obriga a

cumpri-las, dentro de sua realidade interna.

O trabalho decente, objetivo de toda a normativa e ações especializadas deste organismo,

teve seu conceito formalizado em 1999, e pode ser definido como a atividade exercida com

igualdade, liberdade, equidade, respeito à saúde e segurança do trabalhador, mediante

remuneração livre, justa e isenta de qualquer margem discriminatória, de condição análoga à de

escravo, de trabalho infantil, etc., visando à minimização das desigualdades sociais. 95 O

arcabouço jurídico que fundamenta o trabalho decente é composto pelos preceitos das

Convenções da OIT, em especial àqueles inseridos na Declaração sobre os Princípios e Direitos

Fundamentais do Trabalho.

Quanto às características da OIT, ressalta-se que a mesma tem personalidade jurídica

independente, apesar de seu status de agência especializada da ONU. Sua base institucional é o

tripartismo, composição que visa assegurar a participação não apenas dos governos, mas também

dos trabalhadores e empregadores nos seus debates; levando-se em conta a legitimidade destes

dois grupos como maiores interessados e conhecedores da realidade fática e social de cada

Estado.96 Desse modo, a OIT é a única das agências especializadas das Nações Unidas que

incorpora, em sua estrutura, parceiros não-governamentais, sendo estes dotados ainda de poder de

decisão97, característica esta presente desde a sua criação.

Quanto a sua estrutura orgânica, a OIT apresenta uma Conferência Internacional do

Trabalho, que é o órgão responsável pela elaboração da regulamentação internacional do

95 GURGEL, Yara Maria Pereira. Direitos Humanos, Princípio da Igualdade e Não Discriminação: sua aplicação

às relações de trabalho. São Paulo: LTR, 2010, p.120-121. 96 GUNTHER, Luiz Eduardo. A OIT e o Direito do Trabalho no Brasil. 2 reimp. Curitiba: Juruá, 2013, p.42. 97 CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. Tratado de Direito Internacional dos Direitos Humanos. 2 ed.

Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, v. 1, 2003, p.310.

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trabalho, o Conselho de Administração, órgão administrativo colegiado, e a Repartição

Internacional do Trabalho, que atua como uma secretaria técnico-administrativa.

As convenções da OIT são tratados normativos abertos à ratificação dos Estados

membros, podendo assumir caráter regulamentar; visar a adoção de princípios a serem aplicados

em consonância com as condições socioeconômicas dos Estados (aprovadas, nesta hipótese,

juntamente com recomendações detalhadas), ou terem natureza promocional, fixando objetivos a

serem executados em etapas sucessivas.98 Da convenção emanam normas jurídicas de caráter

geral, sendo um tratado-lei de caráter multilateral, posto que a ela podem aderir diversos

Estados.99 Desta dupla característica surge como desdobramento da convenção a criação de

norma internacional que, a partir da ratificação por parte de cada Estado-membro, gera o

compromisso deste submeter-se as suas disposições.

As recomendações, juntamente com as convenções, são fontes normativas inaugurais da

OIT. Não possuem natureza jurídica de tratado internacional, visto que não estão abertas à

ratificação, mas ainda assim ensejam duas obrigações: submissão à autoridade nacional

competente para a transformação em lei ou adoção de outra medida para sua introdução à pratica

nacional e informação periódica, por parte dos Estados-membros, acerca das medidas

nacionalmente tomadas consoante o conteúdo das recomendações.100 Outrossim, importante

destacar que podem ainda ser adotados pela Conferência Internacional do Trabalho as

resoluções101, com papel majoritariamente de orientação normativa e supressão de lacunas

deixadas por convenções ou recomendações.

98 SUSSEKIND, Arnaldo. Direito Constitucional do Trabalho. 4 ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2010, p.62 99 GUNTHER, Luiz Eduardo. A OIT e o Direito do Trabalho no Brasil. 2 reimp. Curitiba: Juruá, 2013, p.50 100 CRIVELLI, Ericson. Direito Internacional do Trabalho Contemporâneo. São Paulo: LTR, 2010, p. 75-76. 101Arnaldo Sussekind ressalta que a Constituição da OIT faz referência apenas às convenções e às recomendações ao

tratar de tua atividade normativa. Cf. SUSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. In: ____________et

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Quanto ao seu funcionamento, a OIT aprova suas normas na Conferência Internacional do

Trabalho, por meio de votação entre seus Estados-membros. São dois votos para o governo do

país, um voto da representação da classe trabalhadora e outro voto para os representantes dos

empregadores. Por fim, para que a Convenção seja aprovada, é necessário que haja dupla votação

– em anos distintos -, com a obtenção de dois terços dos votos. Em caso de não aprovação da

Convenção, esta pode tornar-se Recomendação.102 Para o Estado que ingressa na OIT, cria-se a

obrigação formal de submeter toda convenção no prazo de 12 meses – podendo,

excepcionalmente ser estendido para 18 meses - de sua adoção à autoridade nacional

competente103, ficando a cargo do estado-membro definir a forma de incorporação das diretrizes

ali traçadas104, sendo esta flexibilização apenas mais uma característica da OIT que visa fazer

com que sua normativa seja adotada de acordo com as particularidades de cada país.

No caso do Brasil, por expressa disposição constitucional, é o Congresso Nacional que

autoriza ou não a internalização das convenções no ordenamento brasileiro105. Caso a autorização

seja concedida, cabe ao Presidente da República, quem celebrou o compromisso internacional

primeiramente, proceder com o Decreto de Promulgação.

Conforme será melhor debatido adiante, os tratados internacionais não gozam do mesmo

status normativo no direito brasileiro quando da sua internalização106, de modo que este status

al. Instituições de Direito do Trabalho. 17. ed. São Paulo: Ltr, v. 2, 1997, p. 1456. 102 GUNTHER, Luiz Eduardo. A OIT e o Direito do Trabalho no Brasil. 2 reimp. Curitiba: Juruá, 2013, p.12 103 O conceito de autoridade competente não é delimitado pela OIT, cabendo a cada Estado-membro fazê-lo de

acordo com seu direito nacional. 104DELGADO, Gabriela Neves. Direitos Humanos dos Trabalhadores: Perspectiva de análise a partir dos Princípios Internacionais do Direito do Trabalho e do Direito Previdenciário, p. 173-188 In: DELGADO, Maurício Godinho;

_________________________. Constituição da República e Direitos Fundamentais: Dignidade da Pessoa

Humana, Justiça Social e Direito do Trabalho. 3 ed. São Paulo: LTR, 2015, p. 184. 105 Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:

I - resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos

gravosos ao patrimônio nacional; 106 Neste sentido, justifica Cançado Trindade a diferença de posição entre os tratados internacionais que versam sobre

outros temas daqueles que têm conteúdo de direitos humanos, in verbis: “Os tratados de direitos humanos, em suma,

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varia conforme o assunto do qual dispõem, sendo aqueles que versam sobre direitos humanos,

caso cumpridos os procedimentos expressos no artigo 5, § 3º, CF, equiparados formalmente às

emendas constitucionais.

As Convenções da OIT sobre saúde e segurança do trabalho visam, acima de tudo,

estabelecer um padrão mínimo mundial de condições dignas para o exercício das atividades de

labor, dispondo assim claramente de matéria de Direitos Humanos, com total correspondência

constitucional, sendo aplicável a estes institutos o disposto no art. 5º, § 1º, da CF, que preza pela

aplicabilidade imediata das normas definidoras de direitos e garantias fundamentais. Isto significa

que estas convenções são aplicáveis desde a sua ratificação e entrada em vigor para o Brasil107,

não sendo assim necessária a sua promulgação pelo Presidente da República para que o seu

conteúdo seja exigível e aplicável no ordenamento pátrio108 (desde que não contenham

disposições programáticas, obviamente), bastando apenas a sua ratificação pelo Estado brasileiro

para tanto e a submissão ao Congresso Nacional, conforme expressa disposição constitucional.

As convenções sobre saúde e segurança do trabalhador e meio ambiente de trabalho tanto

adotam medidas de cunho genérico, a serem individualizadas de acordo com as condições de

cada Estado membro, bem como apresentam padrões mínimos a serem seguidos por estes a fim

se erigem em premissas distintas dos tratados clássicos (a regulamentarem interesses recíprocos entre as partes),

inspirados que são na noção de garantia coletiva dos direitos do ser humano e dotados que são de mecanismos de

supervisão próprios, a requerem uma interpretação e aplicação guiadas pelos valores comuns superiores que

abrigam”. In: CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. Tratado de Direito Internacional dos Direitos

Humanos. 1 ed. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, v.2, 1999, p.46 107 Neste sentido, corrobora Fabio Freitas Minardi: “Ora, se as convenções da OIT consolidam dispositivos sociais

que visam à proteção ao trabalhador (e, via de consequência, da pessoa humana), atualmente não se pode mais sustentar o seu caráter meramente programático (regras de normatividade abstrata), ou seja, que necessitariam de

regulamentação legislativa para possuírem eficácia em nosso sistema de direito positivo, mormente que não seriam

autoexecutórias (self executing)”. In: MINARDI, Fabio Freitas. Meio ambiente do trabalho: proteção jurídica à

saúde mental. Curitiba: Juruá, 2010, p. 33 108 Ressalta Arnaldo Sussekind que após a celebração das convenções internacionais estas devem ser

obrigatoriamente submetidas ao Congresso Nacional, de modo a se cumprir a expressa determinação constitucional

do artigo 49,I. Cf.: SUSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. In: ____________et al. Instituições de

Direito do Trabalho. 17. ed. São Paulo: Ltr, v. 2, 1997, p. 1471.

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de que o exercício do trabalho jamais comprometa a dignidade do trabalhador e até mesmo de

terceiros que podem ser afetados por danos labor ambientais. Suas disposições se afinam com a

valorização do trabalho, trazida pela Constituição Federal de 1988, bem como com a necessidade

de redução dos riscos inerentes ao labor, direito social também expresso pela Carta Magna.

Ademais, traduzem o direito ao meio ambiente do trabalho sadio, elencado pela Constituição sem

que houvesse a delimitação de seu objeto.

As principais convenções da OIT sobre saúde e segurança do trabalhador e meio ambiente

do trabalho foram ratificadas pelo Brasil, mas será que estão sendo efetivamente cumpridas? Sua

normativa de fato passou a integrar o ordenamento pátrio? Quais benefícios foram

experimentados pela classe trabalhadora após a internalização destes documentos, tendo em vista

que os mesmos trazem parâmetros bem mais protetivos à saúde e segurança do indivíduo que a

legislação pátria referente ao tema?

Devido à densidade deste tema e a sua pertinência para o desenvolvimento da presente

pesquisa, o mesmo será abordado em tópico próprio, analisando a situação dos tratados

internacionais no ordenamento jurídico brasileiro, para ao final discutir acerca da posição

ocupada pelas Convenções da OIT, mais especificamente as que tratam sobre saúde e segurança

do trabalhador e meio ambiente de trabalho.

3.1 A INCORPORAÇÃO DAS CONVENÇÕES DA OIT AO ORDENAMENTO BRASILEIRO

O Supremo Tribunal Federal já adotou diversas posições quando suscitado algum conflito

no que tange à recepção, na hierarquia normativa nacional, de algum dispositivo internacional. A

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decisão no Recurso Extraordinário 80.004, de 1977, pode ser considerada o marco da mudança de

paradigma quanto ao entendimento da posição hierárquica dos tratados internacionais no direito

brasileiro, estes agora sendo equiparados a lei federal109 após os trâmites de internalização.

Com o advento da Constituição Federal de 1988 e a redemocratização do país, percebeu-

se a necessidade de dispensar tratamento diferenciado aos tratados internacionais de Direitos

Humanos, tendo em vista o seu conteúdo. Este tratamento diferenciado em relação aos demais

tratados internacionais fica claro consoante disposto no artigo 5º, em seus parágrafos §1º, que

prevê a aplicabilidade imediata de normas que versem sobre direitos e garantias fundamentais, e

§ 2º, responsável por alargar o bloco de constitucionalidade através da recepção de direitos e

garantias decorrentes do regime e dos princípios adotados pela Constituição Federal e dos

tratados internacionais celebrados pelo Brasil. Posteriormente, com a Emenda Constitucional nº

45 de 2004 e o advento do § 3º, vislumbra-se a possibilidade de ingresso formal dos tratados de

direitos humanos ao conteúdo constitucional, a partir da submissão destes ao mesmo rito

reservado às emendas constitucionais. Para os tratados que versem sobre Direitos Humanos e não

sejam submetidos a tal trâmite resta, de acordo com o entendimento do STF, a supralegalidade.

No que tange aos tratados internacionais de conteúdo que não o de Direitos Humanos,

atualmente, mantém-se a posição adotada pela Suprema Corte em 1977, a qual determina a

equiparação destes tratados às leis federais, consoante disposto no artigo 102, III, b, da

Constituição Federal, havendo portanto a possibilidade de que uma lei interna possa revogar um

tratado, utilizando-se do critério cronológico.

Tal posicionamento, todavia, vai de encontro ao disposto no artigo 27, da Convenção de

Viena, que dispõe que um Estado não pode invocar dispositivos do seu direito interno para

109 PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. 7 ed. São Paulo: Saraiva,

2007, p. 61

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eximir-se de cumprir um tratado internacional, visto que, se um Estado não deseja mais ser parte

de uma convenção deve denunciá-la para que, só então fique isento de seu cumprimento; nos

moldes em que esta determinar110. Isto posto, um tratado em que o Brasil seja parte,

independentemente de seu objeto, o obriga não apenas no cenário internacional, mas também

interno, sem que isso signifique a perda de sua soberania ou a desvalorização da legislação

nacional. Utilizar-se do critério cronológico para burlar um compromisso assumido perante

outros Estados e organismos internacionais não é admissível como conduta séria e idônea.

Deve, portanto, haver maior responsabilidade do Brasil ao celebrar negociações

internacionais, de modo a observar, pormenorizadamente, seus efeitos no cenário interno e,

quando não mais desejar ser parte destas, recorrer ao instituto da denúncia, tendo em vista que a

mera ratificação dos documentos internacionais não basta, é apenas ato formal, devendo ser

adotadas medidas para a real internalização de seus efeitos.

Como visto, as Convenções da OIT, ao serem ratificadas pelo Brasil e desde que em vigor

no plano internacional e também no plano interno, podem ser utilizadas na normativa interna

antes e independentemente de sua promulgação pelo Presidente da República, desde que seu

conteúdo seja atinente a direitos e garantias fundamentais111, em interpretação harmônica entre os

parágrafos 1º e 2º do artigo 5º da Constituição Federal.

As principais convenções da OIT sobre saúde e segurança do trabalhador e meio ambiente

do trabalho foram ratificadas pelo Brasil e incorporadas ao ordenamento pátrio. O conteúdo de

tais documentos encontra respaldo constitucional, visto que é assegurado ao trabalhador a

110Neste sentido, oportuna a crítica de Flávia Piovesan: “[...]se o Estado, no livre e pleno exercício de sua soberania,

ratifica um tratado, não pode posteriormente obstar seu cumprimento. Além disso, o término de um tratado está

submetido à disciplina da denúncia, ato unilateral do Estado pelo qual manifesta seu desejo de deixar de ser parte de

um tratado” In: PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. 7 ed. São Paulo:

Saraiva, 2007, p. 63 111 Para esta pesquisa, não há necessidade que estas convenções sejam aquelas consideradas como as oito convenções

fundamentais, mas deve ser analisado o conteúdo e a natureza do documento que se internaliza de forma

individualizada.

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redução dos riscos inerentes ao trabalho, além de outras disposições que visam resguardar sua

saúde e bem-estar (art. 7, XXII, CF). Portanto, tais convenções gozam de aplicabilidade imediata

por estarem em consonância com o artigo 5º, § 1º, CF, e fazem parte do arcabouço jurídico

prático desde a ratificação e a respectiva decorrência do período de vacância presente em cada

convenção específica.

O artigo 5º, § 1º foi mais uma das inovações da Constituição Federal de 1988 - sem

nenhuma correspondência nos textos constitucionais anteriores - e pode ser considerado como o

marco da adoção de uma interpretação pautada na promoção dos direitos e garantias

fundamentais.

A partir de sua leitura, entende-se que um tratado que cuide de direitos e garantias

fundamentais é plenamente aplicável no ordenamento doméstico desde a sua simples ratificação

pelo Brasil, devendo apenas se tratar de norma passível de pronta aplicação ou execução pelos

tribunais e juízes nacionais, com direito e objeto bem definidos para tanto para que prontamente

entre em vigor.112 Neste mesmo sentido, endossa Valério de Oliveira Mazzuoli113 que os tratados

de direitos humanos ratificados pelo Brasil podem ser imediatamente aplicados pelo Poder

Judiciário, independentemente de sua promulgação e publicação no Diário Oficial da União114.

Para um melhor entendimento acerca da necessidade de interpretação harmônica e não

excludente entre os parágrafos 1º e 2º do artigo 5º, deve-se proceder a uma breve explanação

112 CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. Tratado de Direito Internacional dos Direitos Humanos. 2 ed.

Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, v.1, 2003, p. 538 113 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. O controle jurisdicional da convencionalidade das leis. 3 ed. São Paulo:

Revista dos Tribunais, 2013, p.78. 114 Importante mencionar, neste contexto, o posicionamento adotado por Antônio Augusto Cançado Trindade, como

se segue: “Se, para os tratados internacionais em geral, tem-se exigido a intermediação pelo Poder Legislativo de ato

com força de lei de modo a outorgar a suas disposições vigência ou obrigatoriedade no plano do ordenamento

jurídico interno, distintamente, no tocante aos tratados de direitos humanos em que o Brasil é Parte, os direitos

fundamentais neles garantidos passam, consoante os parágrafos 2 e 1 do artigo 5 da Constituição Brasileira de 1988,

pela primeira vez entre nós a integrar o elenco dos direitos constitucionalmente consagrados e direta e imediatamente

exigíveis no plano de nosso ordenamento jurídico interno” In: CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. Tratado

de Direito Internacional dos Direitos Humanos. 1 ed. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, v.3, 2003, p.623

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sobre as distinções entre direitos e fundamentais e direitos humanos.

Conforme leciona Yara Maria Pereira Gurgel115, os direitos fundamentais são normas

consagradas no ordenamento constitucional de cada Estado, com aplicação restrita ao seu

respectivo território. Os direitos humanos, por sua vez, são parâmetros mínimos de proteção

inseridos nos tratados internacionais, consagrados na Ordem Internacional e destinados a todas as

pessoas.

Como se percebe, a distinção entre os direitos fundamentais e direitos humanos é muito

mais de ordem de abrangência do que conceitual. Assim, quando os tratados internacionais de

direitos humanos são ratificados e passam a pertencer ao ordenamento jurídico pátrio, os direitos

humanos ali dispostos adquirem status de direitos fundamentais e gozam, portanto, da

aplicabilidade imediata disposta no artigo 5º, § 1º, CF quando encontrarem respaldo nos valores

constitucionalmente promovidos.

As principais convenções da OIT sobre saúde e segurança do trabalhador analisadas neste

trabalho não integram as oito convenções consideradas como detentoras de status de Tratados de

Direitos Humanos116. Todavia, para a OIT a saúde e a segurança no trabalho é matéria de direitos

humanos117, de forma que a melhoria das condições de trabalho está presente dentre os objetivos

desta agência especializada desde a sua criação.

José Cláudio Monteiro de Brito Filho118 afirma que o conceito de trabalho decente

115 GURGEL, Yara Maria Pereira. Direitos Humanos, Princípio da Igualdade e Não Discriminação: sua

aplicação às relações de trabalho. São Paulo: LTR, 2010, p. 140. 116 Convenções nº 29, 87, 98, 100, 105, 111, 138 e 182, assim consideradas devido ao conteúdo de suas disposições, tido como fundamental para os trabalhadores, conforme já foi explanado em momento anterior. 117 PADILHA, Norma Sueli. Meio ambiente do trabalho: um direito fundamental do trabalhador e a superação da

monetização do risco. In: Revista do Tribunal Superior do Trabalho, São Paulo, v. 79, n. 4, p.175, out./dez. 2013.

Trimestral. Disponível em:

<http://aplicacao.tst.jus.br/dspace/bitstream/handle/1939/55993/009_padilha.pdf?sequence=1>. Acesso em: 20 fev.

2016. 118 BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro. Trabalho Decente: análise jurídica da exploração do trabalho –

trabalho escravo e outras formas de trabalho indigno. 4 ed. São Paulo: LTR, 2016, p.56.

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formalizado e perseguido pela OIT - apesar de expressar a necessidade de melhorias em diversos

setores de trabalho - é insuficiente e deveria ser mais abrangente, visto que o desrespeito às

condições adequadas ao trabalho, por exemplo, pode caracterizar o trabalho em condições

degradantes e, apesar do trabalho em condições degradantes não estar expressamente disposto no

conceito de trabalho decente nem tampouco nas oito convenções tidas como direitos

fundamentais dos trabalhadores, este deve ser abolido para que haja o respeito à condição

humana e o trabalho emancipador possa ser implementado.

Questionando o conceito de trabalho decente formalizado pela OIT, José Cláudio

Monteiro de Brito Filho119 propõe uma ampliação de seus objetos. Para este autor, o trabalho

decente deve englobar o direito ao trabalho, a liberdade de escolha do trabalho, a igualdade de

oportunidades para e no exercício do trabalho, o direito a uma justa remuneração, a proibição do

trabalho infantil, a liberdade sindical, a proteção contra o desemprego e outros riscos sociais, o

direito a justas condições de trabalho e o direito a exercer o trabalho em condições que preservem

a saúde do trabalhador, tendo em vista que a coisificação do obreiro a partir de um meio ambiente

desequilibrado pode levar ao trabalho em condições degradantes.

O conceito de trabalho decente acima proposto consegue abranger aspectos

imprescindíveis para uma relação de trabalho equilibrada, com respeito à dignificação do obreiro.

Esses direitos mínimos é que devem caracterizar o trabalho decente promovido pela OIT, visto

que menos do que essas garantias comprometeria a qualidade de vida do empregado.

Assim sendo, a partir da ampliação de objetos abrangidos pelo trabalho decente, tem-se

que o cumprimento das convenções da OIT que tratam sobre a saúde e segurança do trabalhador

e condições de trabalho é indispensável para um trabalho realizado em condições dignas, de

119 BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro. Trabalho Decente: análise jurídica da exploração do trabalho –

trabalho escravo e outras formas de trabalho indigno. 4 ed. São Paulo: LTR, 2016, p.50-55.

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modo que seu conteúdo é matéria de direitos humanos e deve ser tratado como tal por parte dos

Estados.

A abrangência do conceito formal de trabalho decente para que sejam incluídas as

condições de trabalho é essencial para reforçar o cumprimento das convenções acerca do tema

pelos Estados signatários, bem como exigir a ratificação destes instrumentos pelos países que

ainda não o fizeram. Ademais, seria apenas reconhecer expressamente o conteúdo de direitos

humanos desta temática que visa tornar a prestação laboral não ofensiva à saúde do trabalhador.

Fica claro que o conteúdo presente nas convenções da OIT sobre saúde e segurança do

trabalhador é de direitos humanos e, no momento em que tais documentos foram ratificados e

passaram a ser plenamente vigentes no ordenamento pátrio, suas disposições passaram a integrar

os direitos fundamentais constitucionalmente exigíveis, por força dos parágrafos 1º e 2º do artigo

5º, CF, bem como pela plena harmonia entre o conteúdo destas convenções e as disposições

constitucionais de proteção ao trabalhador e valorização do trabalho. Todavia, apesar do status

constitucional, nenhuma destas convenções é considerada como parte da Constituição, apenas por

não terem sido submetidas ao quórum qualificado presente no § 3º do artigo 5º, CF.

Para Valério de Oliveira Mazzuoli120, os tratados de direitos humanos têm status de norma

constitucional independentemente de terem sido submetidos ou não ao quórum do referido artigo

5º, §3º, CF, pois na verdade este dispositivo constitucional apenas autoriza o Congresso Nacional

a proceder com esta tramitação específica, mas não o obriga a tanto. Portanto, o § 3º não tem o

condão de prejudicar a aplicabilidade imediata nos tratados de direitos humanos e, neste caso

específico, das convenções da OIT ora analisadas, já que deve ser interpretado em consonância

com o disposto nos parágrafos que o antecedem e que objetivam alargar o bloco de

120 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. O controle jurisdicional da convencionalidade das leis. 3 ed. São Paulo:

Revista dos Tribunais, 2013, p.73-77.

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constitucionalidade e não o reduzir. Ademais, o artigo 5º, §1º, CF, ao prever a aplicabilidade

imediata dos dispositivos que tratem de direitos e garantias fundamentais não faz qualquer

distinção quanto a sua origem ou processo legislativo, deixando claro que observa apenas o

conteúdo ali presente. O parágrafo segundo do artigo em comento, por sua vez, endossa a

necessidade de leitura complementar e integrada entre o arcabouço jurídico interno e

internacional.

Ainda neste sentido, importante destacar o compromisso assumido pela República

Federativa Brasileira ao elencar a prevalência dos direitos humanos (art. 4º, II, CF) como um dos

princípios a nortear suas relações internacionais. Desse modo, tendo a sua atuação pautada

expressamente na prevalência dos direitos humanos não pode negar o status constitucional de

normas que tenham justamente este conteúdo, ainda que estas não tenham sido submetidas ao

quórum qualificado para que venham a ser consideradas formalmente como emendas à

Constituição.

As convenções da OIT sobre a saúde do trabalhador e o ambiente de trabalho não entram

em conflito com o disposto na legislação interna acerca do tema, demonstrando a atualidade e

interdisciplinariedade necessárias na sua tratativa. São, além disso, totalmente afinadas com a

ordem e os valores constitucionais vigentes, nada impedindo a sua pronta aplicação, tendo em

vista que além de gozarem da aplicabilidade imediata em razão do tema, passaram pela

incorporação formal ao ordenamento. Não é justo, ainda, que estes documentos internacionais

gozem de status supralegal apenas por não ter sido submetido a um mero formalismo burocrático.

Justamente para dirimir qualquer tipo de conflito entre seus instrumentos e a legislação

interna dos Estados-membros, a OIT traz, no artigo 19.8 de sua Constituição121, a previsão de que

121 “Em caso algum, a adoção, pela Conferência, de uma convenção ou recomendação, ou a ratificação, por um

Estado-Membro, de uma convenção, deverão ser consideradas como afetando qualquer lei, sentença, costumes ou

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a sua normativa só pode deixar de ser aplicada caso na legislação interna do Estado-membro haja

disposição mais favorável ao trabalhador.

Esta disposição constitucional mostra, claramente, que a OIT respeita e aplica o princípio

da vedação ao retrocesso social, preocupando-se sempre em melhorar as condições de trabalho,

mesmo que para isso sua normativa seja momentaneamente inaplicada. Assim sendo, é

indiscutível que a OIT realiza uma interpretação pautada no princípio pro homine.

De acordo com esse princípio, nenhuma norma de direitos humanos deve ser utilizada

para reduzir o exercício de qualquer direito ou liberdade já reconhecido através de outra norma,

seja ela nacional ou internacional122. Dessa forma, em caso de conflito, deve ser aplicada a norma

mais favorável ao indivíduo, independentemente de sua origem ser interna ou internacional 123 .

Percebe-se, portanto, que o principal objetivo do princípio pro homine é promover o diálogo

entre direito pátrio e direito internacional e devido a sua importância para a aplicação da

normativa advinda da OIT, o mesmo será objeto de subtópico específico.

3.1.1 O princípio pro homine na interpretação das Convenções da OIT

Conforme acima mencionado, o princípio pro homine estabelece uma cláusula de

acordos que assegurem aos trabalhadores interessados condições mais favoráveis que as previstas pela convenção ou

recomendação”. In: ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. CONSTITUIÇÃO E ANEXO.

Disponível em: http://www.oit.org.br/sites/default/files/topic/decent_work/doc/constituicao_oit_538.pdf Acesso em:

10 jan. 2016 122 “O propósito de tratados de direitos humanos mais recentes não pode de modo algum ter sido o de ‘rebaixar’ o

grau existente de proteção já assegurado por outros tratados de direitos humanos; a interpretação própria e evolutiva

de tratados sucessivos de direitos humanos, inspirada pela identidade predominante de propósito destes últimos, só

pode vir a assistir cada vez mais eficazmente as supostas vítimas, em busca e necessidade de proteção” In:

CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. In: Tratado de Direito Internacional dos Direitos Humanos.1 ed.

Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, v.2, 1999, p.46. 123 RAMOS, André de Carvalho. Teoria Geral dos Direitos Humanos na Ordem Internacional. 2 ed. São Paulo:

Saraiva, 2012, p.67.

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comunicação entre distintos ordenamentos, permitindo entre estes complementariedade em vez

de exclusão, almejando o propósito maior de proteção ao indivíduo.

O princípio pro homine deve ser enxergado como vaso comunicante entre ordenamentos,

mostrando-se como método de concretização, possibilidade de diálogo e harmonização entre o

ordenamento interno e o internacional em vez da mera primazia de um destes sobre o outro, tendo

em vista que não se pode pensar em reduzir a proteção do ser humano em razão de um direito

internacionalmente consagrado que se mostre, naquela situação específica, menos benéfico que o

ordenamento interno de determinado Estado.

Ao prever expressamente o princípio pro homine em sua Constituição, a OIT deixa clara a

opção interpretativa desta organização no que tange à aplicação de sua normativa no âmbito

interno dos Estados-membros: preza-se, acima de tudo, pela maior proteção ao trabalhador, e

caso esta seja concedida por mecanismo interno, este deverá ser aplicado em detrimento da

Convenção ou outro ato normativo advindo dessa agência especializada. Assim sendo, o que

importa verdadeiramente é o aumento do grau de eficácia da proteção concedida ao

trabalhador124, optando sempre, no caso concreto, pela norma que melhor proteja, não

importando se esta será advinda do direito interno ou internacional.

Esta opção interpretativa quando da concretização do direito não implica necessariamente

na denúncia da normativa da OIT ou ainda na responsabilização do Estado-membro por

descumprimento desta, já que há permissão expressa para a sua não aplicação em caso de

dispositivo interno mais favorável. Outrossim, é imprescindível frisar que o princípio pro homine

não pode ser utilizado de forma irresponsável, para respaldar a inaplicação de Convenção da OIT

de ou qualquer de seus atos.

124 CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. Tratado de Direito Internacional dos Direitos Humanos. 2 ed.

Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, v.1, 2003, p. 545

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Essa cláusula de abertura, que se mostra um importante avanço na conformação do direito

interno com o direito internacional, não pode ser utilizada para burlar as normas internacionais,

ratificando-as, mas não as aplicando sob o pretexto de que as disposições internas dos países são

mais favoráveis ao trabalhador ainda que não o sejam.

Portanto, deve-se proceder a uma aplicação cautelosa do princípio pro homine para que

esta opção interpretativa não venha a surtir o efeito diverso do pretendido quando da sua menção

expressão na Constituição da OIT, culminando em uma redução na cogência e eficácia de suas

convenções e criando sérias barreiras para a melhoria das condições de trabalho nos países

signatários.

Infelizmente, o que se constata ao observar o panorama brasileiro é que a inaplicação das

convenções da OIT, mais especificamente das que tratam da saúde do trabalhador e do meio

ambiente de trabalho, acontece devido à grande dificuldade que se tem de introduzir os

documentos internacionais à prática jurídica e não por haver uma normativa interna que seja mais

avançada neste sentido. Todavia, como bem destaca Cláudio Brandão125, ao ratificar inúmeras

convenções internacionais que disciplinam a proteção da saúde e segurança do trabalhador, o

Brasil elevou a patamar constitucional os dispositivos nelas inseridos, plenamente abrangidos

pelo direito ao meio ambiente de trabalho equilibrado. Dessa forma, não se pode simplesmente

refutar a aplicação dessas convenções, tendo em vista que a abertura normativa expressa na

Constituição da OIT tem como objetivo o alargamento do campo de proteção do trabalhador e

não o contrário.

125 BRANDÃO, Cláudio. Meio ambiente do trabalho saudável: direito fundamental do trabalhador p. 89-98 In:

Revista do TRT da 1ª Região. Rio de Janeiro, v. 21 n. 49, jan./jun. 2011, p.96. Disponível em:

http://portal2.trtrio.gov.br:7777/pls/portal/docs/PAGE/GRPPORTALTRT/PAGINAPRINCIPAL/JURISPRUDENCIA

_NOVA/REVISTAS%20TRT-RJ/049/11_REVTRT49_WEB_CLAUDIO.PDF Acesso em: 20 dez. 2015.

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A hierarquia de valores deve ser refletida na hierarquia normativa, seja no plano nacional

ou internacional. Assim, os tratados de direitos humanos possuem caráter especial em razão de

seu conteúdo, e tal caráter deve ser levado em consideração quando de sua ratificação pelos

Estados, o que justifica, portanto, uma posição normativa diferenciada nos ordenamentos

internos.126 No caso do Brasil, desde a promulgação da Constituição Federal de 1988 ficou claro

o viés constitucional conferido aos tratados de direitos humanos celebrados pelo país, não

havendo nenhum obstáculo jurídico para a sua plena concretização, ainda que não tenham sido

submetidos ao quórum previsto no artigo 5º, §3º, CF.

Diante do exposto, não há dúvida quanto ao conteúdo constitucional das convenções da

OIT a respeito da saúde e segurança no trabalho, bem como sua plena vigência em nosso

ordenamento sob o status de direito fundamental. Além do que, em consonância com o disposto

na Constituição da OIT acerca da aplicação da normativa dessa agência especializada, não há

razão para a inaplicação de suas convenções na prática jurídica brasileira, tendo em vista que

todas foram ratificadas e já cumpriram o período de vacância estabelecido, se mostrando

totalmente atualizadas e harmônicas com as disposições constitucionais de proteção ao

trabalhador e ao meio ambiente e apresentando condições mais benéficas que a legislação

infraconstitucional vigente.

3.2 PRINCIPAIS CONVENÇÕES DA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO

SOBRE SAÚDE, SEGURANÇA E HIGIENE DO TRABALHO RATIFICADAS PELO

BRASIL

126 CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. Tratado de Direito Internacional dos Direitos Humanos.1 ed.

Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, v.3, 2003, p. 623-624.

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Como visto, o conceito de trabalho decente adotado pela OIT, apesar de tocar em pontos

extremamente problemáticos quanto às condições de trabalho atuais, não menciona, de forma

expressa, aspectos relacionados ao meio ambiente de trabalho ou à saúde do trabalhador, apesar

de estes aspectos fazerem parte de toda a atuação da OIT e são imprescindíveis para a

implementação de um trabalho emancipador.

Conforme amplamente discorrido, as convenções que tratam da saúde e segurança do

trabalhador ostentam conteúdo de direitos humanos e ao serem incorporadas ao ordenamento

pátrio, passam a integrar o rol de direitos fundamentais constitucionalmente expressos. Ademais,

por estabelecerem padrões mínimos de condições de trabalho, estas convenções não obrigam

apenas o Poder Público, mas implicam em diretrizes a serem cumpridas também pelos

particulares127, ainda que a atividade desenvolvida não tenha como característica o lucro.128

Como bem destaca Cançado Trindade129, o dever consagrado nestes documentos abrange a

obrigação de o Estado respeitá-los e não os violar, mas não se esgota apenas nisso, devendo o

Estado tomar todas as providências possíveis no sentido de garantir que os direitos tutelados

sejam respeitados pelos seus agentes, órgãos e inclusive particulares, no exercício do seu dever

127 Neste sentido, leciona Fabio Freitas Minardi: “[...] o empregador privado (e mesmo o público) deverá ser –

sempre – alcançado pela eficácia dos direitos fundamentais, ainda mais, porque no Direito do Trabalho, de

característica eminentemente protecionista, que nasceu de manifestações populares contra os abusos e descasos dos

patrões, para os quais o proletariado prestava serviços em jornadas de trabalho de 14 a 16 horas seguidas, sem

descanso, sem oportunidades de desenvolvimento intelectual, em um meio ambiente do trabalho insalubre e indigno,

em ainda com a percepção de um baixo salário”. In: MINARDI, Fabio Freitas. Meio ambiente do trabalho:

proteção jurídica à saúde mental. Curitiba: Juruá, 2010, p. 124. 128 Não se pode pensar apenas no empregador como o detentor e responsável pela atividade lucrativa. O empregador doméstico, por exemplo, não enseja a obtenção de lucro, mas ainda assim deve respeitar patamares mínimos de

higidez na contratação do empregado, não podendo fazê-lo se menor de 18 anos, por exemplo. Ademais, deve

garantir um ambiente propício para o desenvolvimento das atividades inerentes ao cargo, como qualquer outro

empregador. Não é a atividade econômica que gera a obrigação de respeitar condições mínimas de trabalho, mas a

relação em si: ninguém pode ser explorado, tendo reduzida a sua dignidade, ao desenvolver suas atividades

laborativas. 129 CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. Tratado de Direito Internacional dos Direitos Humanos. 2 ed.

Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, v. 1, 2003, p 370.

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de prevenção, investigação e sanção .

Nesta perspectiva, verifica-se não apenas a eficácia vertical de suas determinações, mas a

necessidade de que estas sejam também cumpridas pelos particulares, a partir do reconhecimento

de sua inevitável eficácia horizontal130.

Como visto, as convenções da OIT, ratificadas pelo Brasil, implicam na sua aplicabilidade

imediata no direito interno, podendo ser exigíveis antes mesmo de sua promulgação através de

decreto, desde que superado seu período de vacância. Ao surtir seus efeitos no ordenamento

pátrio, estes tratados internacionais implicam em obrigações não apenas o Poder Público, mas

também para os particulares131, e mais especificamente para os empregadores e empregados.

A normativa da OIT se funda, de forma genérica, na garantia de um trabalho digno,

desenvolvido em condições que não comprometam a qualidade de vida do empregado. Para o

presente trabalho, serão analisadas as principais convenções sobre saúde, segurança e higiene do

trabalho, ressaltando-se, desde já, que esta escolha não foi determinada por estes documentos

serem de maior importância, mas porque traçam disposições abrangentes, aplicáveis às relações

de trabalho de forma genérica, não se atendo a uma classe específica.

3.2.1 Convenção nº 81

130 Assim sendo, torna-se oportuno o transporte das considerações tecidas por Ingo W. Sarlet acerca da eficácia

horizontal dos direitos fundamentais que se segue, tendo em vista que após a sua internalização, tais documentos

passam a integrar o rol destes direitos: “A eficácia jurídica das normas de direitos fundamentais está (...) diretamente

conectada com a necessária vinculação (...)de todos os órgãos estatais aos direitos fundamentais, na condição de

destinatários (...). Da mesma forma, assume relevância o problema da vinculação dos particulares. ” In: SARLET, Ingo Wolfgang. Comentário ao artigo 5º, § 1º. In: CANOTILHO, J.J. Gomes et al (Coords.). Comentários à

Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva/Almedina, 2013, p. 515. 131 No que tange às convenções da OIT que tratam da saúde e segurança do trabalhador e da higidez do local de

trabalho, ressalta Fabio Freitas Minardi que, conforme posição amplamente defendida por esta pesquisa: “[...] as

convenções da OIT, relativas ao meio ambiente do trabalho, [...] por importarem na preservação da integridade física

e da saúde do trabalhador, qualificavam-se como direitos humanos e, portanto, com plena e imediata eficácia

(inclusive nas relações interprivadas)[...]” In: MINARDI, Fabio Freitas. Meio ambiente do trabalho: proteção

jurídica à saúde mental. Curitiba: Juruá, 2010, p.34

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A convenção nº 81 trata da Inspeção do Trabalho na Indústria e no Comércio, tendo sido

acompanhada da Recomendação nº 81 como meio de reforçar seu conteúdo132. Seu maior

objetivo é a manutenção, pelos Estados-membros da OIT que a ratificarem, de um sistema de

inspeção do trabalho nas indústrias. Dentre as suas principais disposições, destaca-se a

necessidade de cooperação entre os serviços de inspeção, outros serviços governamentais e as

instituições, públicas e privadas, que exerçam atividades análogas à inspeção. O documento prevê

também a colaboração entre os inspetores do trabalho, os empregadores e trabalhadores na

manutenção das condições adequadas para o labor.

O número de inspetores do trabalho deve ser suficiente para assegurar a eficácia dos

serviços de inspeção, e para isto a convenção elenca parâmetros para a sua fixação. Os inspetores,

por sua vez, são autorizados a interferir em situações ou ambientes que acreditem ser prejudiciais

à saúde e segurança dos trabalhadores. Estes profissionais têm total competência para a aplicação

de sanções legais (a cargo do ordenamento jurídico de cada país signatário), podendo ainda

substituir tais sanções por advertências ou recomendações, a seu juízo, desde que não contrariada

a opção legislativa adotada pelo país-membro. Ademais, a referida convenção estabelece a

necessidade de frequência na inspeção dos estabelecimentos, devendo esta ser uma atividade

corriqueira e não desempenhada apenas mediante provocação ou denúncia.

No Brasil, o órgão responsável pela fiscalização do ambiente de trabalho de forma mais

ostensiva é o Ministério do Trabalho e Previdência Social, sendo considerado o órgão ambiental

132 De acordo com dados disponibilizados no portal da OIT, este tratado entrou em vigor no plano internacional em

1950 e no Brasil em 1958. Entretanto, a referida convenção foi denunciada pelo Estado brasileiro em 1971, devido às

cobranças efetuadas pela OIT para a tomada de medidas efetivas em seu cumprimento, sendo renovada a sua

ratificação em 1987. Atualmente, 145 países ratificaram o seu conteúdo, não tendo havido nenhuma denúncia. In:

ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Convenção nº 81 sobre Inspeção do Trabalho na

Indústria e no Comércio. Disponível em: http://www.oitbrasil.org.br/node/457 Acesso em: 10 jan. 2016

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trabalhista. De acordo com a lição de Fábio Fernandes133, o Ministério do Trabalho e Previdência

Social é o órgão competente para fiscalizar o cumprimento das normas de segurança e medicina

do trabalho, adotando as medidas que se façam cabíveis em caso de descumprimento destas.

Deve ainda determinar os reparos e obras necessários em qualquer local de trabalho, impondo

penalidades e até mesmo interditando estabelecimentos ou equipamentos e embargando obras

quando, comprovadamente, se demonstre grave e iminente risco para o trabalhador.

Para o desempenho de suas funções, a inspeção do trabalho combina regras da

Administração Pública com preceitos da legislação trabalhista e recursos técnicos de higiene,

segurança, medicina e saúde no trabalho134, tendo em vista que é necessária uma visão

multidisciplinar para nortear a sua atuação.

A legislação interna é farta quanto à inspeção do trabalho, havendo, por exemplo,

disposições na CLT e no Decreto nº 4.552/2002, que aprova o regulamento da Inspeção do

Trabalho, sem que haja esgotamento da matéria. Dentre os dispositivos da legislação pátria que

regulamentam a inspeção do trabalho importa ressaltar a necessidade de inspeção prévia e

aprovação das instalações de um estabelecimento para que este possa iniciar suas atividades (art.

160, CLT). Importante destacar que a inspeção prévia não exime o fiscal do trabalho de

periodicamente proceder a visitas nos estabelecimentos de forma a garantir que o ambiente ali se

mantenha minimamente equilibrado e apropriado para a prestação laboral.

Cabe ainda aos inspetores do trabalho a fiscalização do fiel cumprimento das normas de

proteção ao trabalho (art. 626, CLT) e para tanto lhes é assegurado o livre acesso aos

estabelecimentos, sendo os empregadores obrigados a prestar-lhes os esclarecimentos necessários

133 FERNANDES, Fábio. Meio Ambiente Geral e Meio Ambiente do Trabalho: uma visão sistêmica. São Paulo:

LTR, 2009, p. 235. 134 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 6 ed. São Paulo: LTR, 2011, p.

465.

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(art. 630, § 3º, CLT). Essa liberdade de atuação busca justamente tornar o fiscal do trabalho um

sujeito ativo na concretização do direito ao meio ambiente do trabalho sadio, ofertando-lhe

independência para desempenhar as suas atividades com o máximo de efetividade e autonomia.

Sem prejuízo da liberdade de ingresso nos estabelecimentos, é facultado aos agentes

responsáveis por efetuar a inspeção do trabalho a assistência da autoridade policial quando assim

julgarem necessário para o desempenho de suas atividades.

Como se nota, a postura do inspetor do trabalho é bastante dinâmica, sendo de sua

responsabilidade a verificação imediata do cumprimento das disposições normativas e

regulamentares acerca das condições de trabalho135. Para tanto, não é discricionariedade, mas sim

dever inerente a sua função a realização de inspeções periódicas, ainda que não tenha sido

provocado.

Apesar de toda a liberdade concedida ao inspetor do trabalho para fiscalizar as condições

de labor, incluindo-se dentro da sua competência a possibilidade de aplicação de multa,

interdição de estabelecimento ou embargo de obras136, nota-se que a sua atuação é

majoritariamente repressiva, cuidando apenas dos casos em que há denúncia de algum ilícito

contra o meio ambiente de trabalho137. Não há, desse modo, a devida observância ao princípio da

prevenção ou da necessidade de fiscalização de ofício periódica, cuidando apenas de reprimir o

dano já causado.

135 Neste sentido, endossa Sebastião Geraldo de Oliveira: [...]o ‘poder’ administrativo que instrumentaliza a ação do

inspetor do trabalho não é simplesmente uma faculdade que poderá ser exercitada ao seu livre critério; ao contrário

[...] a atribuição de poder conjuga-se com o dever, pois a indisponibilidade do interesse público impõe sua obrigação de agir, sob pena de responsabilidade por omissão”. In: OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à

saúde do trabalhador. 6 ed. São Paulo: LTR, 2011, p. 473 136 Importante destacar, dentre as Normas Regulamentadoras emitidas pelo Ministério do Trabalho e Previdência

Social a NR 02, que trata da inspeção prévia, e a NR 03, que prevê o embargo ou interdição de estabelecimentos,

dispositivos que destacam e norteiam a atuação preventiva do fiscal do trabalho, complementando a previsão

celetista no mesmo sentido, utilizando-se claramente de preceitos preconizados nas normas e princípios ambientais. 137 PRATA, Marcelo Rodrigues. O Direito Ambiental do Trabalho numa perspectiva sistêmica. São Paulo: LTR,

2013, p. 170

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Um grande impedimento à devida proatividade na atuação dos fiscais do trabalho é seu

número reduzido, em total desatenção à proporcionalidade indicada na Convenção nº 81. A

escassez de profissionais impede uma fiscalização mais intensa e autônoma, tendo em vista que

os inspetores ativos se encontram sobrecarregados de trabalho. Dessa forma, é necessário maior

infraestrutura e o provimento de concursos com maior periodicidade, tendo em vista que

investindo em medidas preventivas o Estado acaba por, além de corrigir o risco na fonte,

economizar ao reduzir o número de aposentadorias especiais e benefícios previdenciários.

A Inspeção no Trabalho possui importante função preventiva, utilizando-se da abordagem

multidisciplinar que lhe é requerida para garantir um ambiente de trabalho adequado e

periodicamente avaliado. Dessa forma, quando o aspecto preventivo de sua atuação é retirado,

muito da sua razão de ser se perde. A Inspeção no Trabalho busca sobretudo proteger com

antecedência e não apenas reprimir. A utilização do poder de polícia para legitimar suas ações –

aplicação de multas, embargos às obras e interdição de estabelecimentos, por exemplo – visa

apenas reforçar a eficiência de uma fiscalização preventiva.

A realização de uma fiscalização mais ostensiva dos locais de trabalho, integrada com a

atuação de outros setores – Ministério Público, sindicatos e Poder Judiciário – reduziria e muito o

número de acidentes do trabalho, doenças profissionais e demais injúrias causadas pelo

desequilíbrio ambiental.

A falta de recursos para o aumento dos profissionais da Inspeção do Trabalho e de

investimento de uma forma geral nesta carreira138 provoca sérias consequências para a saúde do

trabalhador e para o Poder Público como um todo: permite-se, de forma velada, a monetização do

138 Endossa este entendimento Marcelo Rodrigues Prata, conforme se segue: “[...] o governo ainda não percebeu que

a ausência de investimentos numa fiscalização eficiente do meio ambiente do trabalho redundará em economia com o

pagamento de benefícios previdenciários”. In: PRATA, Marcelo Rodrigues. O Direito Ambiental do Trabalho

numa perspectiva sistêmica. São Paulo: LTR, 2013, p. 172

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bem-estar do obreiro e, ao final, a Previdência Social fica sobrecarregada com os mecanismos

reparatórios do dano causado, seja pela concessão de benefícios ou de aposentadorias especiais.

A inspeção do trabalho é uma “vacina”, que deve ser largamente difundida e aplicada para

que se previna a doença do desequilíbrio ambiental no local de trabalho139. Ademais, a atuação

dos fiscais do trabalho além de autônoma deve ser realizada de forma conjugada com outros

setores envolvidos na proteção do trabalhador e ambiente de trabalho, a fim de potencializar os

resultados alcançados. Assim, a atuação dos fiscais do trabalho deveria ser integrada à rede

hospitalar, havendo levantamento por parte desta acerca das empresas responsáveis por grandes

índices de trabalhadores doentes. O INSS, por sua vez, deveria indicar de onde estão surgindo

mais afastamentos; e por fim, a presença dos fiscais de trabalho na distribuição dos processos na

Justiça do Trabalho ajudaria a acompanhar de perto as reclamações trabalhistas ajuizadas em face

de cada empresa.

A adoção destas medidas, todas possíveis através da informatização, somadas ao

provimento periódico de concurso público para o cargo de fiscais do trabalho e maiores

incentivos à carreira, ajudariam de forma incisiva na tutela preventiva do local de trabalho em

detrimento da mera reparação do dano causado ou compensação financeira pelo mesmo que,

além de sobrecarregarem o Poder Público, apenas configuram medidas paliativas ao problema.

Percebendo a importância de uma Inspeção no Trabalho atuante na prevenção dos danos

advindos da violação à saúde e segurança do trabalhador ao desempenhar suas atividades, a OIT

formulou o Protocolo Adicional à Convenção nº 81, ainda não ratificado pelo Brasil. O objetivo

deste documento é justamente abarcar os trabalhadores de setores não-comerciais, estendendo-

lhes as disposições da Convenção nº 81, visto que este documento, quando de sua elaboração,

139 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 6 ed. São Paulo: LTR, 2011, p.

484-485

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voltou-se apenas para a inspeção no trabalho na indústria e no comércio, não tutelando assim a

parcela de obreiros advindos de outros setores econômicos.

É de extrema importância a ratificação do Protocolo Adicional à Convenção nº 81, tendo

em vista que não apenas os setores de comércio devem ser inspecionados. A inspeção do trabalho

é o que garante que a maior parte dos danos labor ambientais sejam reparados na sua fonte, sendo

ainda o primeiro contato entre trabalhadores e Poder Público. Dessa forma, se o direito ao meio

ambiente do trabalho equilibrado abarca todos os tipos de trabalhadores, independentemente do

vínculo ostentado, não é logico que a inspeção seja obrigatória apenas nos setores comerciais.

Conforme amplamente discorrido ao longo deste tópico, a inspeção do trabalho é

detentora de uma função majoritariamente preventiva, apesar de possuir mecanismos de coerção

e punição. Sua atuação é imprescindível para a verificação de desequilíbrios labor ambientais,

tendo em vista que é o fiscal do trabalho aquele que tem contato mais próximo e corriqueiro com

o trabalhador e o local onde este desempenha suas atividades. Ademais, o inspetor do trabalho

possui autonomia para exercer suas funções, tendo ampla margem para verificar as condições de

saúde e segurança e independência funcional para tanto, tendo em vista que não se submete ao

poder diretivo do empregador. O fortalecimento da inspeção no trabalho contribuiria para uma

redução no número de danos provocados pela violação ao meio ambiente em todos os seus

aspectos, além do que a realização frequente de inspeções periódicas coagiria os empregadores a

manter os fatores nocivos presentes nos locais de trabalho sob controle.

Deve o Poder Público investir na inspeção do trabalho devido ao seu aspecto preventivo,

pois dessa forma haveria uma diminuição das ações reparatórias do Estado a partir da correção do

risco na fonte sempre que possível, a medida mais efetiva na concretização do direito ao meio

ambiente do trabalho sadio.

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3.2.2 Convenção nº 148

A Convenção nº 148 da OIT visa prevenir e limitar os riscos profissionais no ambiente de

trabalho advindos da contaminação do ar, ruído e vibrações140. Esta convenção não cuida apenas

do meio ambiente do trabalho e seus reflexos na vida dos trabalhadores, mas também da

população atingida em caso de desequilíbrio labor ambiental. Ademais, sua aplicação é cabível

em todos os ramos de atividade econômica (art. 1.1).

Ainda em consonância com a ideia de uma proteção alargada, estendida aos mais diversos

ramos de atividade econômica e não apenas aos trabalhadores, mas à população que possa ser

atingida pelo desequilíbrio de determinado ambiente, as definições apresentadas para

contaminação do ar, ruído e vibrações são amplas, na medida em que visam abranger qualquer

desconformidade que prejudique a higidez do local de trabalho (art. 3).

A referida convenção deixa a cargo do ordenamento de cada país signatário a adoção de

medidas preventivas e limitadoras dos riscos profissionais advindos da contaminação do ar, ruído

e vibrações; podendo-se recorrer à normas técnicas, recomendações práticas e outros meios que

se mostrem adequados para a proteção dos trabalhadores destes agentes de risco (art. 4). Esta

previsão visa estimular o enfoque interdisciplinar do ambiente de trabalho, utilizando-se de

disposições que não sejam necessariamente de ordem trabalhista e até mesmo jurídicas para a sua

proteção integral. No Brasil, a aplicação deste artigo pode ser vista a partir da utilização das

140 A Convenção nº 148 foi ratificada por 45 países, sem nenhuma denúncia. Pelo Brasil, o referido documento foi

ratificado em 1982, entrando em vigor no plano interno no ano seguinte. In: ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL

DO TRABALHO. Convenção nº 148 sobre Contaminação do Ar, Ruído e Vibrações. Disponível em:

http://www.oitbrasil.org.br/node/500 Acesso em: 15 jan. 2016

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Normas Regulamentadoras emitidas pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social,

responsáveis por estabelecer os limites tolerados pelo organismo humano dos respectivos agentes

nocivos e quais fatores são considerados como tais.

É fixada a responsabilidade do empregador na aplicação das medidas previstas para tutela

e prevenção do risco, devendo haver estreita colaboração entre empregadores e empregados para

a efetividade dos mecanismos adotados (arts. 5.3 e 6.1). Ao trabalhador, cabe ainda a observância

das normas de segurança, podendo apresentar propostas, receber orientações e recorrer a

instâncias apropriadas a fim de assegurar a proteção contra os riscos profissionais advindos da

contaminação do ar, ruído e das vibrações (art. 7), adotando uma postura proativa. Na prática,

esta postura resta prejudicada pelo medo de perder seu emprego.

Uma importante disposição a ser destacada neste documento internacional é a previsão

expressa de necessidade de revisão periódica dos critérios e limites de exposição a partir dos

novos conhecimentos e de dados nacionais e internacionais, devendo ser levado em conta o

aumento dos riscos profissionais resultantes da exposição simultânea a diversos fatores nocivos

no ambiente de trabalho (art. 8.3). Esta revisão visa justamente acompanhar os resultados de

estudos e pesquisas acerca dos fatores nocivos, tendo em vista que deve o trabalhador também ser

beneficiado pelos avanços tecnológicos. O direito ao meio ambiente do trabalho sadio implica,

acima de tudo, na constante busca pela proteção à saúde e integridade do trabalhador.

A Convenção nº 148 impõe ainda o dever de eliminar todo o risco devido à contaminação

do ar, ao ruído e às vibrações no local de trabalho, sempre que possível. Somente em total

impossibilidade de eliminação e de redução da contaminação a níveis de tolerância é que o

empregador deverá fornecer o equipamento de proteção pessoal, sem nenhum custo para o

trabalhador (art. 10), devendo ainda ser adequado ao agente nocivo que se pretende neutralizar.

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80

Deve-se também observar o estado de saúde dos trabalhadores expostos aos riscos, a

partir de exames prévios ao ingresso no emprego e exames periódicos, também sem que haja

nenhum custo para o trabalhador pela sua realização141. Se, de acordo com orientação médica, o

trabalhador não puder permanecer na sua função devido à contaminação a que está exposto,

deverão ser adotadas todas as medidas possíveis para sua transferência para uma função

adequada, assegurando ainda a manutenção de seus rendimentos (art. 11). Prevê-se, portanto,

uma adaptação do trabalho ao indivíduo e não deste às atividades laborativas, de modo que suas

capacidades e limitações devem ser levadas em consideração no momento da designação de suas

atribuições.

O princípio da informação é trazido de forma bastante clara pelo artigo 13, o qual prevê a

necessidade de esclarecimento sobre os agentes de risco e o ambiente em si para os trabalhadores

e quaisquer interessados. Por fim, o artigo 14 prevê a necessidade da adoção de medidas,

considerando as condições e os recursos nacionais, para a promoção de pesquisa no sentido de

prevenir e limitar os riscos advindos da contaminação do ar, do ruído e das vibrações.

141 Esta disposição pode ser observada na redação do artigo 168, da CLT, in verbis: Art. 168 - Será obrigatório

exame médico, por conta do empregador, nas condições estabelecidas neste artigo e nas instruções complementares a

serem expedidas pelo Ministério do Trabalho:

I - a admissão;

II - na demissão;

III - periodicamente.

§ 1º - O Ministério do Trabalho baixará instruções relativas aos casos em que serão exigíveis exames:

a) por ocasião da demissão;

b) complementares.

§ 2º - Outros exames complementares poderão ser exigidos, a critério médico, para apuração da capacidade ou

aptidão física e mental do empregado para a função que deva exercer.

§ 3º - O Ministério do Trabalho estabelecerá, de acordo com o risco da atividade e o tempo de exposição, a periodicidade dos exames médicos.

§ 4º - O empregador manterá, no estabelecimento, o material necessário à prestação de primeiros socorros médicos,

de acordo com o risco da atividade.

§ 5º - O resultado dos exames médicos, inclusive o exame complementar, será comunicado ao trabalhador,

observados os preceitos da ética médica.

§ 6 - Serão exigidos exames toxicológicos, previamente à admissão e por ocasião do desligamento, quando se tratar

de motorista profissional, assegurados o direito à contraprova em caso de resultado positivo e a confidencialidade

dos resultados dos respectivos exames.

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Como se percebe, a Convenção nº 148, apesar de sua elaboração não tão recente, traz

importantes disposições para a saúde e segurança do trabalhador, muitas não observadas pela

legislação pátria. Marcada pelo viés de proteção integral, tutelando o trabalhador, mas também a

população que pode eventualmente ser atingida, esta convenção se dirige principalmente para a

manutenção da higidez do local de trabalho, e não para a proteção do empregado de forma

individualizada. Ainda neste sentido, a possibilidade de sua aplicação a qualquer tipo de atividade

econômica e as definições amplas fornecidas para a caracterização de contaminação do ar, ruído

ou vibrações que provoquem o risco à atividade profissional aumentam ainda mais a sua

abrangência.

Entretanto, o que mais chama atenção na análise deste documento internacional é que este

é marcado pela adoção de medidas preventivas, que visam eliminar ou ao menos limitar ao

mínimo os fatores de risco no local de trabalho e, somente em sua impossibilidade é que se deve

partir para a proteção individualizada e reparatória, através do fornecimento de equipamentos de

proteção individual adequados ou a compensação monetária. A previsão de um acompanhamento

periódico da saúde do trabalhador, por sua vez, visa barrar a prática de condutas exploratórias que

coisifiquem o trabalhador, dispensando-o após a perda ou redução de sua capacidade laborativa.

Assim sendo, pode-se dizer que a Convenção nº 148 da OIT acaba por consagrar uma

tendência de eliminação do risco em detrimento da mera neutralização, que só é permitida

quando houver impossibilidade técnica. Ademais, uma de suas características é a importância

concedida ao direito do trabalhador à informação sobre os riscos a que está exposto, devendo

receber instruções adequadas para proteger-se ou ao menos limitar os riscos eventualmente

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presentes.142 Igualmente, a necessidade de revisão periódica dos limites de tolerância e das

medidas adotadas na proteção do ambiente e do trabalhador é de imprescindível observância

prática, tendo em vista que a tecnologia e informatização devem ser utilizadas a favor da saúde e

da melhoria de sua qualidade.

A inércia do desenvolvimento de pesquisas que visem melhorar as condições do local de

trabalho implica na estagnação do sistema protetor, tornando-o ineficaz, insuficiente para as

demandas que surgem na sociedade complexa. Medidas preventivas sempre devem ser buscadas

e, quando não forem viáveis, deve-se aumentar a proteção e higidez do ambiente tanto quanto

possível.

Finalmente, não se pode deixar de comentar a necessidade de atenção para os riscos

profissionais provenientes da exposição simultânea a diversos fatores nocivos no ambiente de

trabalho, posto que este dispositivo é flagrantemente desrespeitado pela legislação brasileira.

Obviamente, haverá maior prejuízo à saúde do empregado exposto a mais de um fator de

risco de forma simultânea e, caso não seja possível a eliminação de ao menos um dos fatores ou a

sua neutralização, imprescindível que haja a compensação pela múltipla exposição ao risco. A

legislação trabalhista pátria, infelizmente, prevê apenas o pagamento do adicional de

insalubridade ou de periculosidade, sendo impossível a sua cumulação mesmo que o ambiente

seja simultaneamente perigoso e insalubre143. A vedação ocorre ainda quando o trabalhador está

exposto a mais de um fator insalubre, havendo a percepção apenas relativa ao mais grave.

142 COSTA, Aline Moreira de; GONÇALVES, Leandro Krebs; ALMEIDA, Victor Hugo de. Meio ambiente do

trabalho e proteção jurídica do trabalhador: (re) significando paradigmas sob a perspectiva constitucional. In:

FELICIANO, Guilherme Guimarães; URIAS, João (Coord.). DIREITO AMBIENTAL DO TRABALHO:

apontamentos para uma teoria geral. São Paulo: LTR, v. 1, 2013, p.124.

143 Art. 193. São consideradas atividades ou operações perigosas, na forma da regulamentação aprovada pelo

Ministério do Trabalho e Emprego, aquelas que, por sua natureza ou métodos de trabalho, impliquem risco acentuado

em virtude de exposição permanente do trabalhador a: (...)

§ 2º - O empregado poderá optar pelo adicional de insalubridade que porventura lhe seja devido.

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Estas vedações em muito limitam o espectro protetivo à saúde do empregado, visto que

não são envidados esforços suficientes na garantia de um ambiente hígido nem tampouco é

realizada a compensação financeira devida pela degradação da saúde do indivíduo ao

desempenhar suas atividades. De toda sorte, apesar de registradas estas considerações por se

fazerem oportunas e pontuais, a questão da cumulação dos adicionais e a monetização da saúde

do trabalhador serão alvo de tópico próprio.

3.2.3 Convenção nº 155

A ideia para a adoção da Convenção nº 155144 surgiu a partir dos estudos realizados no

âmbito do PIACT (Programa Internacional para Melhorar as Condições de Trabalho e Meio

Ambiente de Trabalho) 145; programa criado a partir da Conferência de Estocolmo e desenvolvido

em sintonia com o PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente).

Os principais objetivos do PIACT são a proteção contra os efeitos indesejados de fatores

de ordem física, química e biológica no local de trabalho e no meio ambiente imediato; a

prevenção contra os efeitos da jornada excessiva, do trabalho exaustivo ou monótono; a

promoção de melhores condições de trabalho e adaptação das instalações e locais de trabalho ao

trabalhador e não o contrário.146 De uma forma geral, o PIACT visa assessorar trabalhadores,

144 A Convenção nº 155 da OIT foi ratificada por 64 países, não havendo nenhuma denúncia. Pelo Brasil, foi

ratificada 1992, entrando em vigor internamente um ano depois. In: ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO

TRABALHO. Convenção nº 155 sobre Segurança e Saúde dos Trabalhadores. Disponível em:

http://www.oitbrasil.org.br/node/504 Acesso em: 20 dez. 2015 145 FERNANDES, Fábio. Meio Ambiente Geral e Meio Ambiente do Trabalho: uma visão sistêmica. São Paulo:

LTR, 2009, p.186-190. 146 SUSSEKIND, Arnaldo. Direito Constitucional do Trabalho. 4 ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2010, p.265-266.

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empregadores e governos a impulsionar os programas locais para a melhoria das condições de

trabalho e de vida dos trabalhadores, de modo que a sistematização de suas ações e objetivos foi

condensada na elaboração da Convenção nº 155 e complementada pela Recomendação nº 164147,

que visa basicamente melhor explanar as diretrizes da referida convenção.

Assim sendo, a Recomendação nº 164 basicamente suplementa as disposições da

Convenção nº 155, devendo ser aplicada a todos os ramos de atividade econômica e todas as

categorias de trabalhadores. Essa recomendação traz ainda um conceito abrangente para saúde,

local de trabalho, ramos de atividade, trabalhadores e regulamentos, procurando assim abranger o

máximo de situações possíveis em seu espectro de aplicação, assim como a Convenção nº 155 o

faz.

A Recomendação nº 164 tem como princípio embasador a eliminação do dano em sua

fonte, elencando algumas medidas a serem tomadas para o estabelecimento da política prevista

no artigo 4 da Convenção nº 155. Igualmente, aponta ainda, no que tange à competência das

autoridades competentes em cada país, para a necessidade de códigos e regulamentação de uma

forma geral - revisados periodicamente, a luz dos avanços científicos e tecnológicos - acerca de

segurança e saúde, bem como jornada de trabalho e descansos inter e intrajornadas. Devem

também ser promovidos estudos e pesquisas a fim de identificar e eliminar fatores nocivos e

prover informações aos trabalhadores; enfatizando a necessidade de treinar os trabalhadores

imigrantes em sua língua materna e integrar e auxiliar os trabalhadores deficientes, buscando,

assim, a adaptação da atividade ao trabalhador, e não o contrário.

147 MELO, Raimundo Simão de. Direito Ambiental do Trabalho e a Saúde do Trabalhador. 5 ed. São Paulo: LTR,

2013, p. 106

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Dentre as obrigações dos empregadores constam: proporcionar e manter o local de

trabalho adequado, utilizar métodos de trabalho considerados seguros, fornecer instruções e

treinamentos necessários, levar em consideração as funções e capacidades de cada trabalhador,

supervisionar adequadamente o trabalho, fornecer equipamentos de proteção individual e outro

tipos de equipamentos que sejam necessários para minimizar os efeitos dos agentes nocivos

quando estes não puderem ser prevenidos ou controlados, respeitar a jornada de trabalho e os

intervalos inter e intrajornada, eliminar a fadiga mental e física, pesquisar sobre os agentes

danosos, instituir programas de saúde ocupacional e segurança, etc.

São direitos dos trabalhadores: informação adequada, encorajamento na participação e

sugestão de medidas pertinentes ao assunto, consulta quanto às alterações no processo de

trabalho, proteção quanto à demissão e outras medidas prejudiciais, contribuição na tomada de

decisões da empresa, acesso a todas as partes do local de trabalho, comunicação livre com outros

funcionários sobre temas como segurança e saúde durante o horário de trabalho e no próprio

estabelecimento, receber treinamento adequado, fazer parte das negociações pertinentes, ter

auxílio de profissionais para orientação em problemas de saúde e segurança.

Por outro lado, são responsabilidades da classe trabalhadora: cuidado adequado com a

segurança, seguir as instruções recebidas, usar os serviços de saúde e equipamentos de proteção

disponibilizados, avisar acidentes ou infortúnios ocorridos, reclamar sobre as condições de

trabalho, sem que sejam punidos por esta razão.

A convenção nº 155 adota, em seu texto, os vocábulos “áreas de atividade econômica” e

“trabalhadores” em seu conceito mais amplo, abrangendo inclusive a Administração Pública e

seus respectivos funcionários. O local de trabalho é definido como todo lugar que o trabalhador

deva permanecer sob o controle direto ou indireto do empregador.

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O termo saúde também é colocado de forma ampla, ressaltando-se a sua relação com o

trabalho e implicando não apenas na ausência de doenças, mas também na proteção dos

elementos físicos e mentais diretamente relacionados com a segurança e higiene do trabalho (art.

3). A amplitude deste conceito se mostra fundamental para que novas formas de proteção à

integridade do trabalhador sejam encaixadas dentro do objeto do direito ao meio ambiente de

trabalho sadio, a exemplo da saúde mental, tão importante para o desenvolvimento pessoal

quanto a saúde física148, mas que goza de proteção jurídica ainda incipiente.

A Convenção n. 155 tem sua importância reafirmada por tratar de medidas sobre a

segurança e saúde do ambiente de trabalho em seu sentido mais amplo, atingindo tanto a

iniciativa privada quanto o Poder Público em suas relações de trabalho. Neste mesmo sentido, ao

conceituar saúde como algo além da ausência de doenças, compreende-se que para que haja a

verdadeira proteção à saúde do trabalhador não é necessário apenas o mero tratamento e

prevenção de doenças e epidemias.

O artigo 4, um dos mais importantes desta Convenção, impõe ainda aos Estados

signatários, o dever de formular, pôr em prática e reexaminar periodicamente uma política

nacional que objetive prevenir os acidentes e danos à saúde oriundos do trabalho ou relacionados

a este, reduzindo ao mínimo as causas dos riscos inerentes ao meio ambiente de trabalho.

No Brasil, como forma de concretizar as diretrizes presentes nesse artigo, foi instituída a

Comissão Tripartite de Saúde e Segurança no Trabalho, através da Portaria Interministerial nº

148 Oportuno destacar, quanto à importância da proteção à saúde mental, as considerações tecidas por Maria José

Giannella: “A humilhação repetitiva e de longa duração, interfere na vida do assediado de modo direto,

comprometendo sua identidade, dignidade e relações afetivas e sociais, ocasionando graves danos a saúde física e

mental, que podem evoluir para a incapacidade laborativa, desemprego ou mesmo a morte, constituindo um risco

invisível, porém concreto, nas relações e condições de trabalho” In: CATALDI, Maria José Giannella. O assédio

moral no meio ambiente de trabalho. In: _____________________________. O stress no meio ambiente de

trabalho. São Paulo: LTR, 2002, p. 85.

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152, de 13 de maio de 2008. Seu principal objetivo, além da criação de um programa integrado

de saúde e segurança do trabalhador, era avaliar a implementação da Convenção nº 187 da OIT, a

ser analisada posteriormente.

Dentre as competências da Comissão, conforme mencionado, encontra-se a revisão e

ampliação da proposta da Política Nacional de Segurança e Saúde do Trabalhador, como forma

de concretizar o disposto no referido artigo 4. A Comissão deve ainda aperfeiçoar o sistema

nacional de segurança e saúde no trabalho e elaborar um Programa Nacional de Saúde e

Segurança no Trabalho, a ser revisado periodicamente.

Em 2009, a Comissão aprovou o texto básico da Política Nacional de Segurança e Saúde

no Trabalho149, sendo este efetivamente publicado através do Decreto nº 7.602 de 7 de novembro

de 2011, após apreciação dos Ministros do Trabalho e Emprego, da Previdência Social e da

Saúde e decisão da Presidência da República.

O grande diferencial da Política Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho é a sua

construção coletiva, levando-se em consideração as experiências e opiniões do Poder Público,

dos empregadores e dos trabalhadores, em um verdadeiro diálogo social, característico da própria

estrutura da OIT e de sua produção normativa.

Posteriormente, a Comissão passou a discutir a formulação de um Plano Nacional de

Segurança e Saúde no Trabalho, lastreado em estratégias e ações para concretizar as diretrizes da

mencionada Política Nacional. Assim sendo, o Plano Nacional de Segurança e Saúde no

149 Esta política tem como principais objetivos a promoção da saúde e melhoria do bem-estar do trabalhador e a

prevenção de danos e acidentes oriundos ou relacionados com o trabalho, eliminando ou reduzindo os riscos nos

ambientes de labor, norteando-se pelos princípios da universalidade, da prevenção, da precedência das ações de

promoção, proteção e prevenção sobre as de assistência, reabilitação e reparação, do diálogo social e da

integralidade. A Política Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho deve ser implementada a partir da ação

conjunta e coordenada do governo e das organizações de trabalhadores e empregadores.

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Trabalho, também construído a partir do diálogo entre órgãos governamentais e representantes

dos trabalhadores e empregadores, busca uma aplicação prática do que foi estabelecido na

Política Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho, sendo mais uma forma de concretização do

disposto na Convenção nº 155 no âmbito interno.

Outras disposições importantes dessa convenção são a avaliação periódica da segurança e

saúde dos trabalhadores, a realização progressiva das medidas previstas e a necessidade de se

levar em consideração os riscos para a saúde decorrentes da exposição simultânea a múltiplos

agentes ou substâncias que impliquem em risco, em plena coordenação com o texto da

Convenção nº 148, o que leva mais uma vez à discussão acerca da possibilidade de cumulação

dos adicionais no ordenamento jurídico brasileiro, a ser melhor desenvolvida em tópico oportuno.

A convenção prevê também a necessidade de realização de sindicância em caso de

acidente de trabalho, doença profissional ou qualquer outro tipo de dano à saúde ocorrido durante

o trabalho ou que, relacionado a este, indique uma situação grave. Esta determinação não visa

supervalorizar as lesões isoladas ao empregado, mas investigar se estas não estão mascarando um

desequilíbrio de ordem estrutural; prezando-se mais uma vez pela tutela do todo pela sua maior

efetividade.

Ainda no que tange às principais disposições desta convenção, importa destacar o teor do

artigo 13, que prevê a possibilidade de paralisação das atividades pelo trabalhador150 que julgue

150 No ordenamento jurídico brasileiro este direito de resistência quando exercido coletivamente pode dar ensejo ao

fenômeno da greve ambiental. O direito de greve é previsto na Constituição Federal de 1988, em seu artigo 9º. Infraconstitucionalmente, este direito é previsto na Lei de Greve (Lei Nº 7.783/89). Tanto a previsão constitucional

quanto a previsão legal deixam a cargo do trabalhador a decisão sobre a oportunidade de exercer o respectivo direito

bem como os interesses por ele defendidos, abrindo grande margem de conformação para os trabalhadores

deliberarem acerca de que assuntos podem ser reivindicados. Não há, portanto, qualquer impedimento legal ou

constitucional ao exercício do direito de greve para a melhoria das condições de trabalho. Raimundo Simão de Melo

define a greve ambiental como sendo “a paralisação coletiva ou individual, temporária, parcial ou total da prestação

de trabalho a um tomador, qualquer que seja a relação de trabalho, com a finalidade de preservar e defender o meio

ambiente do trabalho e a saúde do trabalhador”. Como se percebe, para o autor, a greve tanto pode ser individual

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necessário assim proceder por considerar, mediante motivos razoáveis, que tais atividades

envolvem perigo iminente para a sua vida ou saúde; sendo este direito de resistência observado

de acordo com as condições internas de cada Estado-membro.

Os princípios da educação e informação ambiental também são encontrados neste

documento internacional a partir da adoção de medidas para inclusão das questões de segurança,

higiene e meio ambiente de trabalho em todos os níveis de ensino e treinamento, visando

sobretudo formar um trabalhador mais consciente. Esta determinação é de fundamental

importância por buscar uma modificação nas estruturas da sociedade, educando o trabalhador

para que este não venda sua saúde e assuma uma postura mais ativa quando da violação de seu

direito a um local de trabalho hígido. Deve o empregado estar ciente de todos os riscos em que

está inserido, do seu papel na manutenção e preservação do equilíbrio ambiental e quais as

atitudes que pode tomar em caso de violação do mesmo.

O referido documento internacional exige do trabalhador, ainda, dentro da razoabilidade,

que preze pela segurança dos locais, equipamentos e operações de trabalho sob seu controle.

Entretanto, frisa-se a responsabilidade do empregador pelo fornecimento de um ambiente

adequado para a prestação do trabalho. O trabalhador deve apenas manter as condições

adequadas, sendo dever do empregador garantir a sua higidez, sempre melhorando a sua

qualidade.

quanto coletiva, posicionamento minoritário dentro da doutrina, que encara como direito de resistência a paralisação

individual. Raimundo Simão de Melo diferencia ainda a greve que se funda em risco comum daquela que é

desencadeada pela existência de riscos excepcionais. A greve que se funda em riscos comuns deve seguir os trâmites

estabelecidos pela Lei de Greve, enquanto que a greve que é fundamentada por riscos excepcionais não precisa

atender a essa exigência, tendo em vista que não há tempo hábil para fazê-lo, não precisando nem mesmo cumprir as

disposições acerca das atividades essenciais devido ao risco à vida e à integridade em que se encontra a vida do

trabalhador. In: MELO, Raimundo Simão de. A greve no direito brasileiro. São Paulo: LTR, 2006, p. 98-102.

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Por fim, é prevista a cooperação entre trabalhador e empregador, não podendo este exigir

dos trabalhadores que permaneçam ou retornem para situações de perigo grave ou iminente para

a sua vida ou saúde, devendo assim adotar medidas corretivas para a manutenção do ambiente

equilibrado para que haja o efetivo retorno dos empregados sem nenhum risco. Dessa forma, a

atividade deve ser interrompida até que o local de trabalho se encontre adequado à prestação dos

serviços sem que haja risco ao obreiro.

A Convenção em análise se afigura como a mais importante para o objeto desta pesquisa,

tendo em vista a abrangência do conteúdo tratado151, inserindo-se assim, na sua tutela, o meio

ambiente do trabalho em seu aspecto mais amplo: protege o trabalhador independentemente da

atividade exercida e de quem seja seu empregador, estabelece um conceito de saúde não

vinculado à ausência de doenças, mas sim ao bem-estar do indivíduo e abrange todo local onde

venham a ser desempenhadas atividades laborais152. Além do que, prevê o exercício do direito de

resistência pelo empregado em caso de perigo à sua vida e saúde e a necessidade de adoção de

151 Neste sentido, acrescenta Cláudio Brandão “A aprovação, em 1981, da Convenção nº 155 da OIT provocou substancial mudança no tratamento da proteção à saúde nos tratados até então firmados. Rompeu definitivamente

com o paradigma individualista do direito e passou a compreendê-lo como elemento integrante do conceito de meio

ambiente, mais especificamente do meio ambiente do trabalho[...]”. In: BRANDÃO, Cláudio. Meio ambiente do

trabalho saudável: direito fundamental do trabalhador In: Revista do TRT da 1ª Região. Rio de Janeiro, v. 21 n. 49,

p. 91, jan./jun. 2011 Disponível em:

http://portal2.trtrio.gov.br:7777/pls/portal/docs/PAGE/GRPPORTALTRT/PAGINAPRINCIPAL/JURISPRUDENCIA

_NOVA/REVISTAS%20TRT-RJ/049/11_REVTRT49_WEB_CLAUDIO.PDF Acesso em: 20 dez. 2015. 152 Em síntese: “A Convenção n. 155 da OIT representa o principal embasamento à releitura constitucional então

proposta, estabelecendo normas e princípios de segurança e de saúde dos trabalhadores no meio ambiente do

trabalho. Preleciona que o país instituirá política nacional na matéria, a partir da sistemática coerente, efetiva e

periodicamente reexaminada, que priorize a prevenção de acidentes e de danos à saúde do trabalhador. Para tanto,

essas medidas focalizarão reduzir, ao mínimo possível e razoável, as causas dos riscos inerentes ao ambiente laboral. Havendo possibilidade técnica, o empregador é obrigado a reduzir a presença do agente agressor. O aspecto mais

importante dessa Convenção, no entanto, é a determinação de que o meio ambiente do trabalho deverá ser adaptado

às capacidades físicas e mentais dos trabalhadores, e não o contrário. Veja-se que argumento se coaduna exatamente

com o objetivo do legislador constitucional brasileiro ao garantir ao trabalhador o direito à redução dos riscos

inerentes à sua atividade laborativa (…) ” In: COSTA, Aline Moreira de; GONÇALVES, Leandro Krebs;

ALMEIDA, Victor Hugo de. Meio ambiente do trabalho e proteção jurídica do trabalhador: (re) significando

paradigmas sob a perspectiva constitucional. In: FELICIANO, Guilherme Guimarães; URIAS, João (Coord.).

DIREITO AMBIENTAL DO TRABALHO: apontamentos para uma teoria geral. São Paulo: LTR, v. 1, 2013, p.124.

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uma política nacional consistente, medida que só foi adotada pelo Brasil mais de uma década

após a ratificação do tratado.

Apesar de a referida Convenção também atentar para a necessidade de levar em

consideração a exposição a mais de um fator de risco para a saúde do trabalhador, percebe-se que

esta disposição não é observada no ordenamento pátrio, posto que é vedada, conforme

mencionado, a acumulação de adicionais, ainda que estes advenham de causas distintas153. Um

outro aspecto que deve ser mencionado é que a devida progressividade para a implantação das

diretrizes da Convenção nº 155, prevista no próprio documento, está sendo usada como respaldo

para os Estados signatários, a exemplo do Brasil, agirem com morosidade na prevenção do risco à

vida e à saúde no local de trabalho.154 A OIT, em todas as suas ações, prevê a progressividade

153 A Constituição Federal, ao prever dentre os direitos sociais, os adicionais de periculosidade, insalubridade e

penosidade (ainda não havendo regulamentação deste último) não veda sua cumulação, de modo que apenas a CLT e

a Norma Regulamentadora nº 16 o fazem, dispositivos anteriores à CF/88 e consequentemente à toda a ordem

constitucional de proteção ao indivíduo e valorização do trabalho por ela estabelecida. Portanto, a inacumulabilidade

de tais adicionais não foi recepcionada pelo texto constitucional e tampouco pode prevalecer sobre norma de matéria

constitucional e internacional. Neste sentido, percebe-se a tendência dos tribunais trabalhistas em resistir à

cumulação dos adicionais em detrimento da expressa menção de texto internacional para a necessidade de reconhecer

e tratar de forma diferenciada atividade que exponha o empregado a múltiplos riscos. Este tipo de posicionamento

em muito favorece o empregador que, sabendo que apenas será condenado ao pagamento de um adicional, não se

importa em equilibrar os fatores nocivos ou ao menos reduzi-los a níveis toleráveis. 154 A título ilustrativo segue in verbis ementa de acórdão em que é negada a pretensão de percepção cumulada dos

adicionais de insalubridade e periculosidade sob a argumentação de que a Convenção nº 155 prevê sua aplicação

progressiva. Ressalva-se que progressividade e arbitrariedade – ou ainda, morosidade – não são sinônimos.

CUMULAÇÃO DE ADICIONAIS - CONVENÇÃO N. 155, DA OIT - NÃO APLICABILIDADE - Na

medida em que o empregado está exposto a agentes tanto insalubres, como periculosos, tem-se que as nocividades

são múltiplas, de modo que, em tese, os adicionais também deveriam ser. Conclusão distinta ensejaria prática

vantajosa para quem se beneficia da mão de obra em detrimento do valor proteção ao trabalho, não estimulando o

empregador à promover modificações no ambiente de trabalho, livrando-o de agentes nocivos à saúde dos

empregados (art.7º, XXII, CF/88). A despeito do ora exposto, o art. 193, § 2º, da CLT traz vedação expressa quanto à

cumulação de adicionais (O empregado poderá optar pelo adicional de insalubridade que porventura lhe seja devido).

A Convenção n. 155, da OIT, em seus arts. 4º e 11, "b, tem o escopo de formular uma política de segurança e saúde

dos trabalhadores e meio ambiente de trabalho, não trazendo de forma explícita a previsão de cumulação de adicionais (de insalubridade e periculosidade), de maneira que as disposições ali contidas devem ser interpretadas de

forma sistematizada com o teor da legislação interna (no caso, o art. 193, § 2º, da CLT). A Convenção prevê que a

política de proteção deve considerar "as condições e prática nacionais" (art. 4º), bem como que "a fim de tornar

efetiva a política a que se refere o Artigo 4 do presente Convênio, a autoridade ou autoridades competentes deverão

garantir a realização progressiva das seguintes funções" (art. 11), donde se conclui que as medidas ali estabelecidas

devem ser promovidas pelo país membro que a tenha ratificado, de forma progressiva, conforme sua situação social,

econômica, política, implementando, portanto, gradativamente, melhorias na condição social do trabalhador. Recurso

Ordinário do reclamante ao qual se nega provimento quanto à matéria. (Processo: RO - 01923-2012-594-09-00-3

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92

como forma de adequar suas disposições à realidade de cada Estado-membro, mas esta

flexibilidade não pode ser utilizada para justificar o descumprimento de sua normativa quando há

condições para tanto, não sendo assim um permissivo para a discricionariedade.

Em 2002, verificando a falta de compromisso de muitos dos Estados signatários em

efetivamente cumprir o disposto na Convenção nº 155 – especialmente a adoção de uma política

integrada de saúde e segurança do trabalhador, disposta em seu artigo 4 -, a OIT adotou um

protocolo adicional ao seu texto, o qual traz normas específicas sobre acidente de trabalho,

doença ocupacional, acidente de trajeto, regras de notificação e registro das ocorrências, bem

como publicação das estatísticas acidentárias anualmente155, a fim de garantir transparência e

reclamar atitudes concretas dos Estados quanto à higidez do ambiente de trabalho. Até o presente,

o Brasil ainda não ratificou o referido documento, demonstrando falta de compromisso tanto em

efetivamente cumprir os documentos internacionais aos quais manifesta adesão bem como não

ratificando instrumentos novos, com mecanismos atualizados de concretização do direito em

comento.

3.2.4 Convenção nº 161

A Convenção nº 161 trata, de uma forma geral, da saúde e segurança dos trabalhadores,

estabelecendo parâmetros para a criação e funcionamento dos serviços de saúde no local de

Data de julgamento: 27/11/2013 Relator Ministro: ARCHIMEDES CASTRO CAMPOS JÚNIOR, 3ª Turma, Data de

publicação: DEJT 02/07/2014). 155 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 6 ed. São Paulo: LTR, 2011, p.96

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trabalho, cujo papel é predominantemente preventivo156. Seus principais objetivos são o

estabelecimento e manutenção de um ambiente de trabalho seguro e salubre, visando a adaptação

das atividades às capacidades dos trabalhadores e não o inverso, de modo a resguardar a

dignificação do trabalho e do próprio indivíduo quando no seu desempenho.

A Convenção nº 161, em disposição bastante semelhante à Convenção nº 155, estabelece

o dever de todo Estado-membro definir e colocar em prática, sem prejuízo do reexame periódico,

uma política nacional, sendo esta voltada para os serviços específicos de saúde e segurança no

trabalho. Em consequência, todo membro se compromete a instituir, progressivamente, serviços

de saúde no trabalho para todos os empregados, sendo de responsabilidade de cada empregador o

respeito e o cuidado com a saúde no trabalho daqueles que emprega, devendo haver intensa

participação dos trabalhadores tanto na proteção, quanto na reclamação por serviços relacionados

à sua saúde e bem-estar no labor. A Convenção elenca ainda uma série de funções a serem

realizadas de acordo com a realidade de cada Estado signatário e da empresa em si.

Para a instituição de serviços de saúde no trabalho devem ser adotadas tanto iniciativas

legislativas quanto de negociações coletivas, não sendo estas medidas exaustivas, mas apenas

exemplificativas: o que se busca é a proteção mais ampla possível, a partir da coordenação dos

diversos setores da sociedade civil organizada, dos empregados e empregadores e do Poder

Público.

Os serviços de saúde no trabalho devem ser multidisciplinares, a fim de que se

proporcione uma proteção e prevenção mais completas do ambiente de labor em si. Deve haver

156 A Convenção nº 161 foi ratificada pelo Brasil em 1990, entrando em vigor no âmbito interno em 1991. Até o

presente, recebeu 32 ratificações e nenhuma denúncia. In: ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO.

Convenção nº 161 sobre Serviços de Saúde do Trabalho. Disponível em: http://www.oitbrasil.org.br/node/507

Acesso em: 20 fev. 2016

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ainda uma cooperação entre os serviços de saúde no trabalho e os demais serviços envolvidos na

prestação dos serviços de saúde, a fim de que os resultados alcançados sejam potencializados.

Aos profissionais prestadores dos serviços de saúde no trabalho deve ser garantida

independência profissional para que tenham plena liberdade ao desempenhar as atividades

inerentes ao seu cargo, ainda que estas onerem ou apresentem algum prejuízo ao empregador.

Com a necessária e completa autonomia funcional, o prestador de serviço de saúde atuará no

sentido de descobrir os reais riscos profissionais, as formas de sua prevenção bem como analisar

a eficácia das medidas protetivas já existentes, sem precisar preocupar-se em perder seu emprego.

A ideia central dos serviços de saúde no trabalho não é o favorecimento da classe trabalhadora

nem tampouco o resguardo dos interesses patronais, mas sim a manutenção da higidez do local de

trabalho a partir de medidas sempre atualizadas e otimizadas de cunho preventivo e apenas

residualmente reparatório para a manutenção de seu equilíbrio. Assim, os serviços de saúde o

trabalho não devem se ater apenas à medicalização, mas a adoção de medidas investigativas a fim

de prevenir e reparar o risco na fonte sempre que possível e viável.

Infelizmente, esta autonomia funcional é cada vez mais intangível, tendo em vista que os

profissionais responsáveis pelos serviços de saúde são remunerados pelo empregador e,

dificilmente, tomam alguma atitude que venha a prejudica-lo por medo de represálias e de perder

seu próprio emprego. Dessa forma, limitam-se a reparar minimamente os danos causados e fazem

vista grossa para condições inadequadas de labor. Para uma real independência no

desenvolvimento deste trabalho, a mesma deveria ser prevista normativamente, como ocorre com

o caso da CIPA, a ser analisado em momento posterior.

O acompanhamento da saúde dos trabalhadores e sua relação com o trabalho deve ser

ostensivo e gratuito, devendo ter lugar, sempre que possível, durante o expediente, tendo em vista

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que não deve implicar em ônus ao obreiro. Ademais, os serviços de saúde devem ser informados

de qualquer fator suspeito no ambiente de trabalho, bem como dos casos de doença e faltas por

motivos de saúde, a fim de que possam apurar se tais eventos guardam alguma relação com o

local de trabalho ou se realmente são fatos isolados. O empregador, por sua vez, não pode

impedir ou dificultar a averiguação realizada sobre o fundamento ou as razões de faltas ao

serviço.

Mais uma vez, assim como na análise nas duas últimas convenções, o princípio da

informação esteve presente de forma expressa em diversos pontos da Convenção nº 161, isto

porque todos os trabalhadores devem ser informados dos riscos à saúde inerentes a seu trabalho,

havendo necessidade de cooperação entre os setores de saúde e segurança no trabalho, o

empregador e o empregado para que novos fatores sejam descobertos e eliminados com

agilidade, ou no mínimo neutralizados.

O ordenamento jurídico brasileiro dispõe de todo um aparato de órgãos e programas que

visam proteger e prevenir às agressões ao ambiente de trabalho. Por conseguinte, serão citadas as

principais iniciativas neste sentido, como abaixo se segue.

Os Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho –

SESMT, previstos na CLT em seu artigo 162157 e pormenorizados na NR - 4, visam promover

atividades de conscientização e educação dos trabalhadores para a prevenção de acidentes do

trabalho e doenças ocupacionais. Tais atividades são realizadas através de campanhas periódicas

ou de duração permanente e não se dirigem exclusivamente ao trabalhador, visto que também

almejam a mudança de atitude do empregador sobre a importância de um ambiente de trabalho

157 Art. 162 - As empresas, de acordo com normas a serem expedidas pelo Ministério do Trabalho, estarão obrigadas

a manter serviços especializados em segurança e em medicina do trabalho. (...)

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adequado. 158 Dessa forma, a empresa é obrigada a manter os SESMT - observando a quantidade

de empregados e o grau de risco da atividade desempenhada -composto por médico do trabalho,

engenheiro de segurança do trabalho, enfermeiro do trabalho, técnico de segurança do trabalho e

auxiliar de enfermagem do trabalho159, visando o máximo de proteção a partir de uma equipe

multidisciplinar160 capacitada.

A instauração dos SESMT nas empresas teve início com a adoção da Recomendação n.

112 pela OIT, em 1959, sobre os serviços de medicina nos locais de trabalho. Suas disposições

serviram de inspiração e diretriz para a legislação nacional nesta matéria, apesar de a

regulamentação atual do SESMT estar ultrapassada161, não tendo acompanhado de forma apurada

as inovações trazidas pela Convenção n. 161, de modo que na maioria das empresas o SESMT se

reduz a atuar na medicalização, não buscando a efetiva eliminação dos agentes agressivos

advindos das atividades de labor e não adotando medidas para a participação equitativa dos

trabalhadores em sua estrutura162, essencial para uma atuação mais justa, norteada por interesses

balanceados.

158 FERNANDES, Fábio. Meio Ambiente Geral e Meio Ambiente do Trabalho: uma visão sistêmica. São Paulo:

LTR, 2009, p. 213. 159 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 6 ed. São Paulo: LTR, 2011, p.

442 160 Quanto ao quadro profissional do SESMT oportuna é a crítica tecida por João Manoel Grott: “atualmente o

quadro profissional conta com auxiliar de enfermagem do trabalho, enfermeiro do trabalho, técnico de segurança,

médico do trabalho e engenheiro de segurança do trabalho. De tal quadro o que se pode concluir é sua desatualização

tanto ao número de profissionais, quanto a suas especializações, pois fica clara a necessidade de profissionais como

fisioterapeutas, fonoaudiólogos, ergonomistas e professores de educação física”. In: GROTT, João Manoel. Meio

ambiente do trabalho: prevenção – a salvaguarda do trabalhador. 1 ed. 5 reimp. Curitiba: Juruá, 2012, p.120-121. 161 “Há de se observar que o serviço especializado em segurança e medicina no trabalho, na realidade brasileira em

muito precisa avançar, pois, no Sistema implementado, em que os representantes do referido setor são funcionários

da empresa e a ela devem obediência, perde-se na autonomia da identificação e avaliação dos riscos efetivos. Pois

sendo o corpo técnico, funcionário da empresa, dificilmente este tomará atitudes que possam vir a prejudicar sua

empregadora; e assim, muitas vezes, os riscos e os próprios acidentes e doenças são mascarados e encobertos pelo

poder dominante e econômico do empregador”. In: Ibidem, p.121-122. 162OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Op. Cit., p. 441-444

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A Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – CIPA, disciplinada nos artigos 163-165

da CLT163 e na NR – 5, tem por competência observar e relatar condições de risco no ambiente de

labor, podendo solicitar medidas para a eliminação ou redução dos riscos existentes, contestando

os acidentes ocorridos e exigindo medidas preventivas bem como informando os empregados

sobre os riscos profissionais à sua saúde e bem-estar. 164 A CIPA foi introduzida no ordenamento

pátrio há mais de 50 anos, sendo considerado o primeiro passo efetivo na prevenção165, ao abrir

espaços para outras importantes medidas e programas de mesmo caráter.

A CIPA é um importante órgão de representação paritária (número igual de representantes

dos empregados e dos empregadores) objetivando a prevenção de acidentes e doenças oriundas

do trabalho166. Sua missão é conciliar o trabalho com a preservação da vida e saúde do

trabalhador, observando de forma permanente as condições de risco167, ostentando natureza

paritária como forma equilibrar os interesses patronais e trabalhistas na tentativa de manter o

local de trabalho hígido, utilizando-se de todos os meios disponíveis e viáveis para tanto.

Aos representantes dos empregados eleitos para a CIPA, assim como também aos seus

suplentes, é garantida a estabilidade provisória, de modo que não podem sofrer dispensa

163 Art. 163 - Será obrigatória a constituição de Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), de

conformidade com instruções expedidas pelo Ministério do Trabalho, nos estabelecimentos ou locais de obra nelas

especificadas.

Parágrafo único - O Ministério do Trabalho regulamentará as atribuições, a composição e o funcionamento das

CIPA (s). 164 MELO, Demis Roberto Correia de. Manual de Meio Ambiente do Trabalho. São Paulo: LTR, 2010, p.51. 165 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 6 ed. São Paulo: LTR, 2011, p.

438. 166 Como bem ressalta João Manoel Grott, “as atribuições da CIPA são amplas e têm um certo grau de complexidade, mas que, se bem cumpridas, atendem a todas as necessidades dos princípios ambientais da prevenção, da informação,

da participação, da precaução e da educação ambiental. [...] Entenda-se que na realidade brasileira as atribuições da

CIPA ficam muito a desejar, pois, na prática, não se observam cipistas tecnicamente preparados e treinados para

desempenho de papel de suma importância, salvo raras exceções. Assim parte considerável de suas atribuições são

realizadas pelo SESMT da empresa ou por consultorias especializadas”. In: GROTT, João Manoel. Meio ambiente

do trabalho: prevenção – a salvaguarda do trabalhador. 1 ed. 5 reimp. Curitiba: Juruá, 2012, p.123-124. 167 FERNANDES, Fábio. Meio Ambiente Geral e Meio Ambiente do Trabalho: uma visão sistêmica. São Paulo:

LTR, 2009, p. 209

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arbitrária, sendo ônus do empregador, em caso de reclamação à Justiça do Trabalho, a

comprovação da existência de motivos de ordem disciplinar, técnica, econômica ou financeira

para a demissão, sob pena de ser obrigado a reintegrar o empregado168. Neste sentido, dispõem o

artigo 10, II, “a” do ADCT169 e a Súmula 339170, do TST, corroborada pelo STF através da

Súmula de número 676171.

Um grande problema da CIPA é, muitas vezes, a falta de preparo de seus integrantes,

tendo em vista que muitos são atraídos pela estabilidade inerente à posição de cipeiro, não

demonstrando real interesse em fiscalizar as condições de trabalho e de utilizar a referida

estabilidade para exigir as suas melhorias, em uma atuação integrada com os outros serviços de

saúde no trabalho.

O Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional – PCMSO, por sua vez,

estabelece a obrigatoriedade de realização de exames médicos admissionais, periódicos, de

retorno ao trabalho, de mudança de função e demissional. No ordenamento jurídico brasileiro,

está previsto nos artigos 168 e 169 da CLT e na NR – 7.

168 Art. 165 - Os titulares da representação dos empregados nas CIPA (s) não poderão sofrer despedida arbitrária,

entendendo-se como tal a que não se fundar em motivo disciplinar, técnico, econômico ou financeiro.

Parágrafo único - Ocorrendo a despedida, caberá ao empregador, em caso de reclamação à Justiça do Trabalho,

comprovar a existência de qualquer dos motivos mencionados neste artigo, sob pena de ser condenado a reintegrar o

empregado. 169 Art. 10. Até que seja promulgada a lei complementar a que se refere o art. 7º, I, da Constituição:

(...)

II - fica vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa:

a) do empregado eleito para cargo de direção de comissões internas de prevenção de acidentes, desde o registro de

sua candidatura até um ano após o final de seu mandato;

170 Súmula 339 do TST. CIPA. SUPLENTE. GARANTIA DE EMPREGO. CF/1988

I - O suplente da CIPA goza da garantia de emprego prevista no art. 10, II, "a", do ADCT a partir da promulgação da

Constituição Federal de 1988.

II - A estabilidade provisória do cipeiro não constitui vantagem pessoal, mas garantia para as atividades dos

membros da CIPA, que somente tem razão de ser quando em atividade a empresa. Extinto o estabelecimento, não se

verifica a despedida arbitrária, sendo impossível a reintegração e indevida a indenização do período estabilitário.

171 SÚMULA 676 do STF. A GARANTIA DA ESTABILIDADE PROVISÓRIA PREVISTA NO ART. 10, II, "A",

DO ATO DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS, TAMBÉM SE APLICA AO SUPLENTE

DO CARGO DE DIREÇÃO DE COMISSÕES INTERNAS DE PREVENÇÃO DE ACIDENTES (CIPA).

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O PCMSO possui caráter eminentemente preventivo, sendo farto em princípios

ambientais (da participação, da prevenção, da precaução e da informação)172 e buscando rastrear

e diagnosticar o mais cedo possível qualquer anormalidade provocada à saúde do trabalhador que

tenha relação com sua atividade laborativa.

Ainda acerca dos programas adotados na prevenção e proteção do ambiente de trabalho

importa mencionar o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA, o qual tem como

principais características a ênfase no controle por meio de medidas para a eliminação, a

minimização ou o controle dos riscos ambientas; adoção de medidas de proteção coletiva, com

prévio treinamento dos trabalhadores; a adoção de medidas de caráter administrativo ou de

organização do trabalho; a utilização de EPI; direito de interrupção do trabalho por existência de

risco ambiental que coloque em situação de grave e iminente perigo um ou mais trabalhadores.173

Em suma, o PPRA, disciplinado na NR – 9, objetiva a preservação da saúde do trabalhador

através do conhecimento prévio de potenciais riscos labor ambientais, devendo constar, quando

da sua elaboração, todos os agentes físicos, químicos e biológicos existentes e que possam causar

danos à saúde ou à integridade dos trabalhadores.

Na elaboração do PPRA devem ainda ser elencados: a identificação dos riscos e a

determinação e localização das possíveis fontes geradoras; a identificação das possíveis

trajetórias e dos meios de propagação dos agentes no ambiente de trabalho; a identificação das

funções e determinação do número de trabalhadores expostos; a caracterização das atividades e

tipo de exposição; a obtenção de dados existentes na empresa; indicativos de possível

comprometimento da saúde em decorrência do labor ou danos à saúde relacionados aos riscos

172 GROTT, João Manoel. Meio ambiente do trabalho: prevenção – a salvaguarda do trabalhador. 1 ed. 5 reimp.

Curitiba: Juruá, 2012, p. 125. 173 FERNANDES, Fábio. Meio Ambiente Geral e Meio Ambiente do Trabalho: uma visão sistêmica. São Paulo:

LTR, 2009, p. 219-220.

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profissionais, disponíveis na literatura técnica; descrição das medidas de controle já existentes174 .

Como se nota, o PPRA atua como um mapeamento detalhado de todos os fatores que podem

sofrer algum tipo de desequilíbrio labor ambiental, almejando prever e reparar na fonte eventual

risco ao bem-estar do trabalhador.

Os riscos identificados devem ser avaliados e controlados, devendo ser adotadas medidas

que eliminem ou reduzam a utilização ou a formação de agentes prejudiciais à saúde; medidas

que previnam a liberação ou disseminação dos agentes no ambiente de trabalho; medidas que

reduzam os níveis ou a concentração dos agentes no local de trabalho.175 A proteção buscada pelo

PPRA é ampla, prezando-se sempre pela prevenção e eliminação do risco quando possível e

viável.

Na elaboração e execução das diretrizes do PPRA são obrigações dos empregadores

estabelecer e implementar o seu cumprimento como atividade permanente, bem como informar

aos trabalhadores sobre os riscos ambientais advindos do local de trabalho e quais são os meios

disponíveis para eliminá-los, neutralizá-los e, principalmente, preveni-los. Aos empregados cabe

a colaboração na implantação e execução do próprio PPRA e o atendimento às orientações nele

fornecidas, devendo informar ao seu superior hierárquico qualquer ocorrência que possa implicar

em riscos à saúde176. Busca-se, dessa forma, repartir proporcionalmente a responsabilidade pela

higidez do local de trabalho.

Outro mecanismo de prevenção ambiental que não pode deixar de ser citado é o Estudo

Prévio de Impacto Ambiental – EPIA, responsável por identificar e avaliar os impactos

174 MELO, Demis Roberto Correia de. Manual de Meio Ambiente do Trabalho. São Paulo: LTR, 2010, p. 71. 175 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 6 ed. São Paulo: LTR, 2011l,

p.447 176MELO, Demis Roberto Correia de. Op. cit., p.73

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ambientais gerados na implantação e na operação de atividade ou obra.177 Apesar de o EPIA não

constar expressamente na legislação trabalhista, o artigo 160 da CLT178 deixa clara a necessidade

de prévia inspeção e aprovação das instalações antes do início das atividades de um

estabelecimento.

O EPIA é previsto constitucionalmente, pelo artigo 225, § 1º, IV179, dispositivo que trata

do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Sua aplicabilidade ao meio ambiente de

trabalho é legítima e pertinente, tendo em vista o local de trabalho fazer parte do meio ambiente

lato sensu e ser imprescindível, para a saúde e bem-estar do empregado, que o local aonde venha

a desenvolver suas atividades seja seguro e hígido180. Pode-se dizer, em suma, que os objetivos

do EPIA são bastante semelhantes aos do PPRA e sua aplicação é imprescindível no

fortalecimento da identificação e reparação do dano labor ambiental na sua fonte.

Importante frisar que, por outro lado, não basta haver o Estudo Prévio de Impacto

Ambiental, sendo necessário que sejam realizadas visitas periódicas para verificar a manutenção

da qualidade ambiental, conforme já ressaltado quando da análise da Convenção nº 81, sobre a

177 _____, Raimundo Simão de. Direito Ambiental do Trabalho e a Saúde do Trabalhador. 5 ed. São Paulo: LTR,

2013, p. 107 178 Art. 160 - Nenhum estabelecimento poderá iniciar suas atividades sem prévia inspeção e aprovação das

respectivas instalações pela autoridade regional competente em matéria de segurança e medicina do trabalho

179 Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e

essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-

lo para as presentes e futuras gerações.

§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:(...)

IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa

degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;

180 Sobre o EPIA ressalta Raimundo Simão de Melo: “Trata-se, o Estudo Prévio de Impacto Ambiental, para o âmbito

trabalhista, de importante instrumento de tutela ambiental que, não obstante isso, infelizmente é pouco utilizado [...]

como forma de se prevenirem efetivamente os riscos ambientais e os consequentes danos à saúde e integridade física

e psíquica dos trabalhadores”. In: MELO, Raimundo Simão de. Direito Ambiental do Trabalho e a Saúde do

Trabalhador. 5 ed. São Paulo: LTR, 2013, p. 108.

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Inspeção no Trabalho. Devido à sua natureza, ao EPIA são aplicáveis os dispositivos que tratam

da fiscalização trabalhista, bem como da inspeção prévia e do embargo ou interdição.

Como se percebe, não são poucos os mecanismos de proteção à saúde e à segurança no

trabalho previstos pela legislação brasileira. Todavia, sua efetividade é questionável, visto que em

vez de uma atuação conjunta, sistemática e complementar entre estes, o que se nota é que cada

serviço ou programa é desenvolvido de forma individual, fragmentada, sem que haja a

comunicação devida entre eles, prejudicando assim os resultados obtidos na prevenção dos danos

labor ambientais. Ademais, o seu caráter preventivo é extremamente prejudicado pela posição

que ocupam - também subordinados ao poder diretivo do empregador - visto que somente para os

empregados membros da CIPA há previsão expressa da garantia de emprego face à dispensa

arbitrária, de modo que os outros serviços e programas de saúde e segurança no trabalho acabam

por ter uma atuação precária devido à necessidade de preservação do emprego dos trabalhadores

responsáveis por estes.

3.3 A CONVENÇÃO Nº 187 DA OIT E A SUA (NÃO) RATIFICAÇÃO PELO BRASIL

A Convenção nº 187 da OIT foi adotada em 2006, mas somente entrou em vigor no

âmbito internacional em 2009, já tendo sido ratificada por 39 países181. Este documento é

denominado de “Convenção sobre o Marco Promocional da Segurança e Saúde no Trabalho” e

181 ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Convenção nº 187 sobre o Marco Promocional para

a Segurança e Saúde no Trabalho. Disponível em:

http://www.ilo.org/dyn/normlex/es/f?p=NORMLEXPUB:12100:0::NO:12100:P12100_INSTRUMENT_ID:312332:

NO Acesso em: 5 mar. 2016.

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visa reforçar o disposto nas Convenção nº 155 e Recomendação nº 164, reafirmando a

necessidade de se garantir a saúde e segurança no trabalho como forma de se chegar ao trabalho

decente.

De um modo geral, essa convenção almeja concretizar os institutos previstos nos

documentos internacionais acima referidos, fazendo menção expressa a estes em todo o seu texto.

A sua formulação se deu em decorrência dos altos números de acidentes do trabalho e doenças

ocupacionais do início do século XXI, o que demonstrou a necessidade de novas ações a fim de

aplicar os mecanismos já previstos pela OIT na busca de um ambiente do trabalho sadio.

Portanto, a Convenção nº 187 oferece uma infraestrutura de apoio para o que já foi estabelecido

principalmente na Convenção nº 155, gerando para o país que a ratificar o dever de instituir e

atualizar normas sobre saúde e segurança do trabalho e assegurar inspeção suficiente e adequada

para fiscalizar o cumprimento destas normas.

Esse documento internacional ressalta, em suma, a necessidade de um meio ambiente do

trabalho seguro e saudável, a ser respeitado em todos os níveis, devendo o princípio da prevenção

receber a mais alta prioridade (art. 1, “d”). Seu objetivo é desenvolver uma política, um sistema e

um programa nacionais, em harmonia com as organizações mais representativas dos

trabalhadores e empregadores (art. 2.1), visando uma atuação integrada para a garantia efetiva de

um local de trabalho hígido.

A política nacional a que se refere a Convenção nº 187 é a prevista no artigo 4º da

Convenção nº 155, devendo ter como princípios básicos a avaliação dos riscos ou perigos

relativos ao trabalho; o combate aos riscos e perigos relacionados ao trabalho na fonte; o

desenvolvimento de uma cultura nacional de prevenção em matéria de segurança e saúde que

inclua informação, orientação e formação (art. 3.3).

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O Brasil, até o presente, não ratificou essa convenção. Em 2008, conforme já mencionado

quando da análise da Convenção nº 155, foi instituída a Comissão Tripartite de Saúde e

Segurança no Trabalho a fim de avaliar a possibilidade de implementação deste documento, sem

que até o presente tenha havido avanços. Entretanto, a grande contribuição desta Comissão é

percebida pela elaboração da Política Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho e do Plano

Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho, mecanismos que visam concretizar a diretriz

estabelecida pelo artigo 4º da Convenção nº 155 e constituem um avanço na criação de um

programa integrado e atualizado de tutela ao meio ambiente do trabalho.

O que se constata, diante da análise destas convenções, é que o Brasil tem adotado uma

postura ambígua no que diz respeito à concretização do direito ao meio ambiente do trabalho

sadio, pois ao mesmo tempo em que já ratificou importantes documentos neste sentido,

apresentou certa morosidade em efetivamente aplicar as diretrizes ali dispostas. Ademais, alguns

dos mecanismos já presentes no ordenamento pátrio não foram devidamente atualizados à luz dos

documentos internacionais, o que ilustra o grande problema da falta de sintonia entre o

ordenamento interno e o que é ratificado, não havendo real integralização destes institutos à

prática jurídica.

Apesar de ter ratificado a Convenção nº 155, o Brasil, até o presente, não ratificou seu

protocolo adicional e tampouco a Convenção nº 187, que visa justamente garantir a concretização

do que já fora estabelecido, cobrando uma postura ativa dos Estados signatários. Neste mesmo

sentido, o Brasil também não ratificou o Protocolo Adicional à Convenção nº 81, extremamente

importante para a propagação da cultura prevencionista para outros setores que não apenas a

indústria e o comércio. Dessa forma, fica claro que o Brasil não tem acompanhado a evolução da

discussão internacional do direito ao meio ambiente do trabalho sadio, nem tampouco cuidou de

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atualizar sua legislação neste sentido, apresentando quadros desatualizados de agentes nocivos e

limites toleráveis pelo ser humano.

A instituição de uma Comissão específica para a implementação da Convenção nº 187 e

para a aprovação de uma política e plano nacionais de segurança e saúde no trabalho mostra certo

descompasso com o que fora internacionalmente acordado, tendo em vista que a Convenção nº

155 entrou em vigor, para o Brasil, em 1993 e somente em 2011 uma Política Nacional de Saúde

e Segurança foi de fato adotada, sendo ainda apenas o primeiro passo rumo a um programa

integrado de iniciativas atualizadas de prevenção e proteção ao trabalhador, em implementação.

A ratificação da Convenção nº 187 pelo Brasil significaria uma renovação de seu

compromisso já firmado na ratificação da Convenção nº 155, mas ainda pouquíssimo cumprido.

Significaria o reconhecimento da necessidade urgente de implementação de uma infraestrutura

apropriada e integrada para que se concretize o direito a um local de trabalho hígido em todos os

níveis, pautado no princípio da prevenção, de acordo com as limitações físicas e mentais dos

trabalhadores amplamente considerados, tendo em vista que a forma que a saúde e segurança do

obreiro são tratadas pelo ordenamento pátrio é lastreada em uma lógica compensatória e

individualista.

Finalizando as principais considerações acerca das mais importantes e genéricas

convenções adotadas pela OIT e ratificadas pelo Brasil sobre a saúde, segurança e higiene do

ambiente de labor (exceto pela Convenção nº 187, ainda não internalizada), passa-se para a

análise da situação da proteção ao local de trabalho atualmente no Estado brasileiro, apontando as

suas principais falhas e eventuais medidas a serem adotadas por diversos setores para repará-las.

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4. A PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO NO ORDENAMENTO

JURÍDICO BRASILEIRO

No Brasil, as condições de trabalho e a saúde do trabalhador são protegidas de forma

direta e indireta no texto constitucional, na legislação ordinária e a partir da ratificação dos

tratados internacionais que versam sobre este assunto, sendo os principais já analisados em

capítulo anterior.

4.1 TUTELA CONSTITUCIONAL AO MEIO AMBIENTE DE TRABALHO

Na Constituição Federal, a tutela jurídica do ambiente de labor está presente no artigo

225, caput, de forma indireta, ao ser ressaltada a necessidade de um meio ambiente

ecologicamente equilibrado em seu sentido mais amplo. De forma direta, está presente no artigo

200, VIII, que prevê a colaboração do SUS para a manutenção de um ambiente de trabalho

hígido, sem, entretanto, defini-lo.

A omissão182 quanto ao que poderia ser englobado pelo conceito de meio ambiente de

trabalho, todavia, não é maléfica e tampouco deve causar insegurança jurídica quando da

182 Neste sentido, importante é a lição de Cláudio Brandão: “Trata-se de conceito jurídico indeterminado,

propositadamente inserido pelo legislador, com o fim de criar um espaço positivo de incidência da norma e evitar

que ficassem fora do alcance do conceito numerosas situações que normalmente seriam nele contempladas, caso

houvesse uma definição precisa”. In: BRANDÃO, Cláudio. Meio ambiente do trabalho saudável: direito

fundamental do trabalhador In: Revista do TRT da 1ª Região. Rio de Janeiro, v. 21 n. 49, p. 92, jan./jun. 2011

Disponível em:

http://portal2.trtrio.gov.br:7777/pls/portal/docs/PAGE/GRPPORTALTRT/PAGINAPRINCIPAL/JURISPRUDENCIA

_NOVA/REVISTAS%20TRT-RJ/049/11_REVTRT49_WEB_CLAUDIO.PDF Acesso em: 20 dez. 2015.

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efetivação deste direito ou limitar seu exercício, mas deve servir como forma de alargar a sua

abrangência.

O direito ao meio ambiente do trabalho equilibrado, portanto, visa abranger a saúde do

trabalhador a partir da higidez no desempenho de suas atividades, não restringindo, mas sim

sempre buscando ampliar o viés de proteção. Esta proteção é assegurada ao trabalhador, sentido

lato sensu, contra qualquer fator de risco que vise prejudicar o contrato de labor de forma

demasiada. O que se busca, em suma, é resguardar o respeito à dignidade do obreiro na prestação

de serviços. A saúde, que deve ser entendida em sentido amplo, não pode ser utilizada como

moeda de troca, relativizada em prol da atividade econômica.

Como bem destaca Amauri Mascaro Nascimento183, é imprescindível que os

trabalhadores exerçam suas atividades em um local apropriado, devendo o Direito fixar

parâmetros mínimos a serem observados pelas empresas de modo a impedir que danos labor

ambientais sejam causados ao bem-estar do obreiro.

O artigo 7º, também da Carta Magna, elenca uma série de direitos, em rol exemplificativo,

para a melhoria das condições sociais dos trabalhadores. Dentre as garantias ali dispostas, várias

se referem, implícita ou explicitamente, a normas de saúde e bem-estar do trabalhador ao

desenvolver suas atividades. Os principais incisos, neste sentido, são: IX (remuneração superior

para o trabalho noturno); XIII (jornada de trabalho); XIV (jornada diferenciada para trabalho

realizado em turnos ininterruptos de revezamento); XV (repouso semanal remunerado); XVI

(adicional de hora extra); XVII (férias); XVIII (licença à gestante); XIX (licença paternidade);

XXIII (adicional de remuneração para as atividades penosas, perigosas e insalubres); XXXIII

183 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. 26 ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 845

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(vedação do trabalho noturno, perigoso ou insalubre para menores de 18 anos e de qualquer

trabalho para os menores de 16 anos, salvo na condição de aprendiz a partir dos 14 anos).

Um importante inciso a ser destacado na tutela do local de trabalho é o XXII, ainda do

artigo 7º, que prevê a redução dos riscos inerentes ao trabalho por meio de normas de saúde,

higiene e segurança. A importância deste inciso se dá pela clara intenção do constituinte de

proteger não apenas o trabalhador de forma isolada, mas a prestação do serviço em si, de modo

que se tutele de forma integral todos aqueles que laborem em condições semelhantes. Este inciso

implica ainda na constante tentativa de minimização de danos à saúde e bem-estar do obreiro,

buscando-se um ambiente de trabalho hígido e equilibrado como objetivo contínuo.

O artigo 7º, em sua integralidade, é aplicável aos trabalhadores urbanos e rurais. Alguns

de seus dispositivos se aplicam ainda aos empregados domésticos184. Esta amplitude nos

detentores de tais direitos sociais é reforçada pelo disposto no inciso XXXIV, que prevê a

igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e o trabalhador

avulso, posto que na ordem jurídica estabelecida pelo Estado Democrático de Direito o trabalho

não é sinônimo de sujeição, mas sim de direito juridicamente protegido185, independentemente da

sua configuração. Outrossim, apesar de a relação empregatícia ser a forma mais comum de

184 Este é um importante avanço na garantia do trabalho decente, visto que até pouco tempo os trabalhadores rurais e

empregados domésticos não eram tinham tais direitos. O trabalho doméstico, regulamentado em lei específica após a

CLT, tinha muitos pontos obscuros, carentes de regulamentação. Seu âmbito de proteção foi alargado a partir da

Emenda Constitucional nº 72/03, que propiciou uma maior gama dos direitos elencados no artigo 7º, da CF, a esta

categoria. Esta Emenda, por sua vez, só foi regulamentada dois anos depois, pela LC 150/15, importante marco

legislativo para o trabalho doméstico, tratando de institutos como a caracterização do vínculo e pormenorizando os

direitos sociais constitucionalmente estendidos à categoria. Quanto aos trabalhadores rurais, estes também tiveram

sua atividade regulamentada em legislação específica, na Lei nº 5.889/73, mas ainda assim não são tratados com a isonomia e atenção necessárias. Neste sentido, ressalta Fábio Fernandes: “[...] no meio ambiente rural a situação é

extremamente preocupante, pois a degradação das condições de trabalho em face da ausência de cumprimento das

normas ambientais trabalhistas é a regra imperante, independentemente do porte do empreendimento rural.” Cf.:

FERNANDES, Fábio. Meio Ambiente Geral e Meio Ambiente do Trabalho: uma visão sistêmica. São Paulo:

LTR, 2009, p. 236. 185 DELGADO, Maurício Godinho. Constituição da República, Estado Democrático de Direito e Direito do Trabalho.

In: _________; DELGADO, Gabriela Neves. Constituição da República e direitos fundamentais: Dignidade da

Pessoa Humana, Justiça Social e Direito do Trabalho. 3 ed. São Paulo: LTR, 2015, p.64

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trabalho, deve-se ressaltar que toda relação de trabalho deve se estruturar em determinadas

prerrogativas a fim de que seja resguardada a isonomia e a dignidade do trabalhador186. Portanto,

mesmo no trabalho autônomo, avulso ou informal, ao indivíduo devem ser concedidas condições

mínimas para desenvolver suas atividades sem que haja prejuízo de sua saúde.

Outra disposição constitucional a ser destacada é o artigo 1º, IV, onde os valores sociais

do trabalho e da livre iniciativa são elevados a fundamento da República Federativa do Brasil. O

fato de que estes institutos estejam dispostos conjuntamente, no mesmo dispositivo

constitucional, apenas destaca a importância da não mercantilização do trabalho em detrimento

do crescimento econômico, prezando-se pelo desenvolvimento sustentável, capaz de atender as

necessidades do mercado sem abrir mão do bem-estar e da saúde dos trabalhadores ao

desempenhar suas atividades. O artigo 6º, que elenca exemplificativamente alguns dos direitos

sociais dos trabalhadores, enumera dentre estes a saúde e segurança de uma forma geral.

Neste mesmo sentido, o artigo 170 da Carta Magna estabelece que a ordem econômica

deve ser fundada na valorização do trabalho e da livre iniciativa, assegurando a todos uma

existência digna, balizada nos ditames da justiça social, observando, dentre outras diretrizes, a

defesa do meio ambiente (VI) e a busca pelo pleno emprego (VIII).

Neste norte, percebe-se que toda a ordem constitucional se funda na valorização do

trabalho, como aplicabilidade direta da dignidade humana às relações de labor. Dessa forma,

186 Destaca Maurício Godinho Delgado, “A relação de emprego, erigindo-se a partir do trabalho livre, mas

simultaneamente subordinado, permite ao empresário usufruir do máximo de energia, da emoção, da inteligência e da

criatividade humanas, dando origem a um mecanismo de integração da pessoa ao sistema produtivo dotado de

potencialidade máxima no tocante à geração de bens e serviços na sociedade histórica”. Cf: DELGADO, Maurício

Godinho. Relação de Emprego e Relações de Trabalho – A Retomada do Expansionismo do Direito Trabalhista. In:

_________; DELGADO, Gabriela Neves. Constituição da República e direitos fundamentais: Dignidade da

Pessoa Humana, Justiça Social e Direito do Trabalho. 3 ed. São Paulo: LTR, 2015, p.107.

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nenhuma tentativa de desenvolvimento que vise mercantilizar a força de trabalho ou torná-la

apenas um meio para a obtenção de lucros deve prosperar.

4.2 TUTELA LEGAL AO MEIO AMBIENTE DE TRABALHO

No âmbito da legislação infraconstitucional, a proteção do ambiente de trabalho e da

saúde do trabalhador não restou esquecida, estando presente na Consolidação das Leis

Trabalhistas, nas Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho e Previdência Social, em

legislações específicas para determinadas categorias se na legislação ambiental cabível.

Para o presente trabalho, devido à generalidade, serão abordadas as disposições celetistas

e ambientais acerca do meio ambiente do trabalho, destacando-se o Capítulo V (arts. 154 a 201)

da CLT, que trata da Segurança e da Medicina do Trabalho. Ademais, em todo o texto

consolidado, encontram-se disposições a fim de resguardar a saúde e bem-estar do trabalhador.

As Normas Regulamentadoras, por sua vez, foram criadas com o intuito de pormenorizar

algumas disposições celetistas atinentes às condições de trabalho. Assim sendo, são normas

técnicas de viés preventivo emitidas pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social,

responsáveis por estabelecer padrões mínimos para os empregadores seguirem a fim de manter o

equilíbrio labor ambiental187, existindo NRs tanto para o trabalho urbano (em maior número)

quanto para o trabalho rural, devido às suas peculiaridades. Um dos grandes problemas das

Normas Regulamentadoras é que o seu conteúdo é aplicável somente aos trabalhadores celetistas,

marginalizando assim grande parte dos trabalhadores brasileiros. Além do que, as disposições 187 GROTT, João Manoel. Meio ambiente do trabalho: prevenção – a salvaguarda do trabalhador. 1 ed. 5 reimp.

Curitiba: Juruá, 2012, p. 117.

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sobre saúde e segurança dispostas nas NRs, apesar de inspiradas em preceitos ambientais de

educação, informação e prevenção não são atualizadas com a frequência devida, deixando de fora

de sua abrangência diversos fatores nocivos descobertos em pesquisas científicas mais recentes.

No que concerne à tutela mediata infraconstitucional do local de trabalho importa destacar

a aplicação da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81), que em seu artigo 3º, I,

apresenta o conceito de meio ambiente em seu aspecto alargado, recepcionado pela Carta Magna,

no qual se inclui o meio ambiente do trabalho.

O conceito apresentado na referida lei para poluição também pode ser aplicado quando do

desequilíbrio do ambiente de trabalho, visto que a poluição é definida como sendo a degradação

ambiental advinda de atividades que prejudiquem a saúde, segurança e bem-estar da população

ou criem condições adversas às atividades sociais e econômicas (art. 3º, III, “a”, “b”).

Conforme já abordado em tópico específico, a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente

marca uma nova fase na proteção jurídica ambiental, pois enfoca o meio ambiente de forma

integral e não fragmentada188, deixando clara a existência de outras esferas do meio ambiente que

não o natural, esferas estas que têm características e objetos de proteção específicos, mas que se

encontram interligadas.

Assim sendo, transportando a definição legal de poluição trazida por este dispositivo para

o âmbito da tutela do local de trabalho, surge a poluição labor-ambiental189, que pode ser

conceituada como a degradação do ambiente de trabalho causado pelo desequilíbrio das

188 FERNANDES, Fábio. Meio Ambiente Geral e Meio Ambiente do Trabalho: uma visão sistêmica. São Paulo:

LTR, 2009, p. 119.

189 SALOMÃO, Claudia Regina; VALENTE, Ricardo Trajano; DONATELLI, Sandra. Algumas Medidas legislativas,

técnicas e médicas no combate da poluição labor-ambiental visando ao meio ambiente do trabalho hígido e

equilibrado. In: FELICIANO, Guilherme Guimarães; URIAS, João (Coord.). DIREITO AMBIENTAL DO

TRABALHO: apontamentos para uma teoria geral. São Paulo: LTR, v. 1, 2013, p. 75.

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condições, leis, influências e interações físicas, químicas ou biológicas que incidem sobre o

indivíduo ao desempenhar suas atividades.

A partir da aplicação do conceito de poluição à degradação do local de trabalho, permite-

se a aplicação da Lei 9.605/98, responsável por prever sanções penais e administrativas derivadas

de condutas ou atividades lesivas ao meio ambiente. Seu artigo 54 tipifica a poluição de qualquer

natureza, em níveis que resultem danos à saúde humana, mortandade de animais ou destruição

significativa da flora como crime, com pena de reclusão de um a quatro anos mais multa.

O Direito Ambiental oferece o viés público de proteção necessário ao se tratar das

condições adequadas para o trabalho. A constitucionalização do tema, com o compromisso de

melhoria das condições de segurança e higiene do trabalho, bem como com a elevação do valor

social do trabalho a fundamento da República e princípio norteador da ordem econômica

brasileira e a menção expressa ao meio ambiente do trabalho dentre as tarefas atribuídas ao SUS

reforça a ideia de se prezar por um desenvolvimento sustentável. Outrossim, resta impossível

falar em desenvolvimento sustentável sem que sejam asseguradas condições adequadas para o

indivíduo desempenhar suas atividades de labor, visando não apenas reparar os danos à saúde do

obreiro, mas envidar o máximo de esforços para impedir o desequilíbrio labor ambiental em sua

fonte.

Diante de todo o exposto, percebe-se que o maior desafio à concretização do direito ao

meio ambiente sadio não é a ausência de normativa pertinente. A proteção ao meio ambiente do

trabalho é prevista na Constituição Federal, na legislação trabalhista, ambiental e em diversos

documentos internacionais. O grande problema, portanto, é a falta de uma interpretação sistêmica

entre estes dispositivos, tendo em vista a fragmentação da matéria. É inegável que a normativa

pátria que diz respeito às condições de saúde e segurança no trabalho necessita de atualização,

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mas não há qualquer impedimento à aplicação das convenções da OIT, tendo em vista já terem

sido ratificadas e serem mais benéficas ao trabalhador por se afinarem às diretrizes do trabalho

decente e da valorização social do trabalho.

4.3 PRINCIPAIS DESAFIOS À CONCRETIZAÇÃO DO DIREITO AO MEIO AMBIENTE DE

TRABALHO SADIO NO ORDENAMENTO PÁTRIO

A interdisciplinariedade que marca a proteção do ambiente de trabalho, para alguns

autores, justificaria a criação de ramo próprio, bem como de codificação específica, destacada

dos diplomas trabalhistas e ambientais. Com a devida vênia, a criação do Direito do Meio

Ambiente do Trabalho como disciplina autônoma não resolve, por si só, a questão da eficácia de

seus dispositivos. O primeiro grande passo para uma tutela mais efetiva é a leitura sistêmica dos

diversos dispositivos que resguardam a higidez do local de trabalho e a saúde do trabalhador.

Outro aspecto que se percebe, na ordem de dificuldades na proteção do local de trabalho,

é que a visão dicotômica entre Direito Público e Privado ainda não foi totalmente abandonada

pela construção jurídica ocidental. Dessa forma, não se consegue enxergar a amplitude que

implica o reconhecimento do direito ao meio ambiente do trabalho equilibrado, não sendo

possível trata-lo apenas a partir das disposições trabalhistas nem tampouco daquelas fornecidas

pelo Direito Ambiental que, apesar de seu caráter público, traça diretriz de tutela do meio

ambiente como um todo, de modo genérico, não pormenorizando os mecanismos necessários

para a proteção destacada do local de trabalho.

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As principais normas de segurança e saúde do trabalhador estão defasadas, não tendo

incorporado os avanços ocorridos no Direito Ambiental, as diretrizes estabelecidas pela

Constituição Federal de 1988 e tampouco as inovações e atualizações trazidas pelas Convenções

da OIT já ratificadas pelo Brasil e em pleno vigor190. Assim sendo, muito mais do que um

problema de independência e destaque como ramo autônomo, a tutela do local de trabalho passa

por crises de atualização e aplicação sistematizada.

Ao se falar de direito ao meio ambiente do trabalho sadio não se deve distinguir entre

normas trabalhistas (internas ou internacionais) e ambientais, mas deve se proceder à sua leitura

contextualizada, norteada pelas diretrizes constitucionais e internacionais e pelos princípios

aplicáveis à proteção do local de trabalho. A aplicação parcial das normas de saúde e segurança

do trabalhador mascaram o real cerne do problema e não conseguem concretizar o direito ora

analisado, mas apenas determinados aspectos deste.

A natureza interdisciplinar inerente ao meio ambiente do trabalho reclama ainda uma

abordagem a partir de ramos que não são jurídicos, mas que se voltam essencialmente para a

saúde e segurança do trabalhador. Em consequência, não se pode pensar em uma proteção ampla

do local de trabalho sem que sejam analisados aspectos atinentes à Ergonomia, Higiene

Ocupacional e Epidemiologia.

A Análise Ergonômica do Trabalho tem como objetivo analisar o trabalho de forma real, a

partir da perspectiva da causa do dano ambiental e, com isso, contextualizar o caso estudado,

individualizando-o a partir das características do empregador, dos trabalhadores, do contexto

socioeconômico presente, etc. Ao final, propõe recomendações para a melhoria das condições do

190 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 6 ed. São Paulo: LTR, 2011, p.

136

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local de trabalho191. A Higiene Ocupacional, por sua vez, busca implantar e aprimorar

mecanismos de controle ou modificar situações de risco, almejando a prevenção do ambiente de

trabalho. Já a Epidemiologia, disciplina que integra a Saúde Pública, objetiva estudar o corpo ou

o aspecto populacional a fim de investigar os efeitos e causas das alterações sofridas,

possibilitando evidenciar o impacto do processo e local de trabalho nos danos à saúde dos

indivíduos192.

Do direito ao ambiente de trabalho sadio decorrem o direito à vida e à integridade

psicossomática; o direito à promoção da correção dos riscos ambientais; o direito da denúncia

pública; o direito à informação; o direito de resistência193 e o direito à indenidade patrimonial e

moral, este último derivado do princípio do poluidor-pagador, que implica no ressarcimento e

compensação econômica em caso de impossibilidade de prevenção ambiental, de reparação ou

proteção contra o dano194. Em suma, é direito do trabalhador que tenha sua dignidade respeitada

191 A NR 17 trata da Ergonomia no trabalho, demonstrando um certo avanço da normativa pátria no sentido de

considerar mecanismos estranhos ao universo jurídico na garantia de um local de trabalho minimamente sadio.

Entretanto, como coloca João Manoel Grott, “[...]atualmente o que se observa ainda é uma ergonomia bastante

incipiente que trabalha principalmente com o homem, como, por exemplo, os exercícios ou ginástica laboral e os

rodízios de função, mas pouco ou nada se faz para mudar os meios de produção e os sistemas de trabalho”. In: GROTT, João Manoel. Meio ambiente do trabalho: prevenção – a salvaguarda do trabalhador. 1 ed. 5 reimp.

Curitiba: Juruá, 2012, p. 136. 192 SALOMÃO, Claudia Regina; VALENTE, Ricardo Trajano; DONATELLI, Sandra. Algumas Medidas legislativas,

técnicas e médicas no combate da poluição labor-ambiental visando ao meio ambiente do trabalho hígido e

equilibrado. In: FELICIANO, Guilherme Guimarães; URIAS, João (Coord.). DIREITO AMBIENTAL DO

TRABALHO: apontamentos para uma teoria geral. São Paulo: LTR, v.1, 2013, p.81-82. 193 O direito de resistência advém da primazia da dignidade humana quando em conflito com o desenvolvimento da

atividade econômica. Assim sendo, em caso de perigo à vida e à integridade dos trabalhadores é legítima a recusa de

trabalho sem que haja o prejuízo de qualquer direito trabalhista. O direito de resistência, conforme visto, pode ser

exercido individual ou coletivamente (greve ambiental) e está de acordo com a permissão constitucional para o seu

exercício, com a Lei de Greve, em seu artigo 1º, bem como com a Convenção nº 155 da OIT, ratificada pelo Brasil. A

recusa em trabalhar em condições insalubres ou que prejudiquem o bem-estar do trabalhador é legítima até que o risco seja eliminado ou devidamente contornado. Para o exercício desta autotutela, são preteridos os princípios da

livre-iniciativa e da propriedade privada, posto que não podem ser utilizados como justificativa para mercantilizar a

força de trabalho, utilizando-o como apenas um meio para a obtenção de lucro. O poder diretivo do empregador,

presente quando da pactuação laboral, não pode servir de respaldo para coagir o obreiro a desempenhar suas

atividades em ambiente desequilibrado. 194 FELICIANO, Guilherme Guimarães. O meio ambiente do trabalho e a responsabilidade civil patronal:

reconhecendo a danosidade sistêmica. In: ____________; URIAS, João (Coord.). DIREITO AMBIENTAL DO

TRABALHO: apontamentos para uma teoria geral. São Paulo: LTR, v. 1, 2013, p. 15-18.

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também no ambiente de trabalho, devendo ainda ser informado sobre os riscos que corre ao

desenvolver suas atividades. Consequentemente, é dever do empregador fornecer um local de

trabalho sadio, prevenindo desequilíbrios quando possível e os reparando ou minimizando os

danos decorrentes destes sempre. Em caso de violação ao direito ao meio ambiente de trabalho

saudável, é direito do trabalhador paralisar a prestação de serviços até que a situação seja

normalizada.

A denúncia pública pode e deve ser exercida em caso de desrespeito às condições do local

de trabalho. Pode o empregado recorrer ao empregador, mas não é necessário que reclame

perante este para que possa acionar o Poder Judiciário, o Ministério Público, a Inspeção do

Trabalho ou o sindicato da categoria. Importa destacar que não é necessário que o próprio

trabalhador que se encontra ameaçado pelo desrespeito às condições ideais para o

desenvolvimento de suas atividades faça a denúncia, pois as normas que protegem a saúde do

trabalhador e a higidez do local de trabalho são normas de natureza indisponível.

Os órgãos ambientais internos das empresas têm como função o controle diário e contínuo

das condições ambientais, mas é necessário frisar a importância de uma postura ativa por parte do

Ministério Público do Trabalho, dos fiscais do trabalho, dos sindicatos das categorias e do Poder

Judiciário, todos sujeitos legítimos para intervir quando da violação ao direito em comento e que

devem agir de forma integrada para tanto.

Na prática, os indivíduos pertencentes aos órgãos ambientais internos da empresa por

diversas vezes têm uma atuação restrita, tendo em vista também estarem subordinados ao

empregador. Os sindicatos preocupam-se em lutar contra o desemprego estrutural, muitas vezes

realizando negociações que violam de forma flagrante os direitos dos trabalhadores a fim de que

sejam mantidos os vínculos empregatícios.

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O Ministério Público do Trabalho, por sua vez, apesar de também ser detentor de poder

para fiscalizar o desequilíbrio labor ambiental e propor medidas a fim de combatê-lo, queda-se

inerte, aguardando na maior parte do tempo a provocação para que venha a agir.

Por fim, o Poder Judiciário, ao apreciar as reclamações trabalhistas, atenta apenas para o

problema de forma individualizada, não buscando o seu cerne. Enxerga-se a violação individual

dos direitos do trabalhador, reparando-a quase que exclusivamente por via monetária. Não há um

esforço maior em investigar se aquela violação não decorre de algum desequilíbrio ambiental,

nem tampouco são adotadas medidas de punição efetivas, que realmente impliquem em

significativa redução patrimonial para os empregadores e, ao mesmo tempo, reestabeleçam a

higidez do local de trabalho. Assim, torna-se mais barato desrespeitar os direitos trabalhistas do

que os cumprir, posto que mesmo em caso de eventual condenação se pagará muito menos do que

pela adequação das condições ambientais. Aplica-se a letra “fria” e desatualizada da lei,

olvidando-se de toda a construção constitucional e internacional pertinente.

O trabalhador, de forma individualizada, somente reclama pela violação ao seu direito ao

ambiente de trabalho sadio quando extinto o contrato de trabalho, visto que teme ser penalizado

ou perseguido pelo empregador ou perder seu emprego. Ainda que acione o Poder Judiciário

antes do prazo prescricional para reclamar seus créditos trabalhistas, o empregado ainda sai em

desvantagem, visto que normalmente reclama apenas a reparação do dano já sofrido, permitindo

que o desequilíbrio se prolongue a toda a coletividade de empregados e, em alguns casos, à

população ao entorno.

A postura inerte ou fragmentada dos entes legitimados a prezar pela sadia condição de

trabalho permite que se prolongue a cultura da monetização da saúde do obreiro, esquecendo-se

da real finalidade de se considerar o direito em análise como indisponível, qual seja, a de resgatar

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e proteger a dignidade e qualidade de vida do trabalhador195. Não é justo que a responsabilidade

pela defesa da qualidade ambiental recaia de forma exclusiva sob o empregado, visto que dentre

os legitimados é aquele que possui menos independência e autonomia para agir isoladamente.

A continuidade deste panorama implica em desrespeito ao trabalho decente, à justiça

social e ao desenvolvimento sustentável. Implica ainda em uma grande oneração do Estado,

responsável por arcar com aposentadorias especiais e benefícios previdenciários. Obviamente,

por não realizar a fiscalização devida apesar de dispor de todo o aparato para tanto e não punir

adequadamente os responsáveis pelo dano, o Estado deve ser responsabilizado, mas não pode

arcar com todo o ônus desta violação, cabendo ao empregador ser mais severamente penalizado.

Como direito híbrido, de segunda e terceira dimensão, o direito ao meio ambiente do

trabalho sadio exige uma atuação conjunta entre Poder Público (sentido lato sensu), iniciativa

privada e indivíduo para ser concretizado196. Não basta apenas o Estado se abster da violação, mas

deve promover a sua tutela e sobretudo garantir que os particulares não o violem.

O risco incrementado deve passar a ser considerado como poluição labor ambiental, e se

dele resultar em desequilíbrio, haverá a responsabilização objetiva do empregador. Em caso de

não caracterização de risco incrementado, a responsabilidade será subjetiva, justificada pela

presença do próprio risco, mas com inversão do ônus da prova197. Caso contrário, os

195 MAEDA, Fabíola Miotto; FRANCO, Rita de Cássia de Lima. Danos labor-ambientais na jurisprudência

brasileira: o caso recanto dos pássaros (Paulínia). In: FELICIANO, Guilherme Guimarães; URIAS, João (Coord.).

DIREITO AMBIENTAL DO TRABALHO: apontamentos para uma teoria geral. São Paulo: LTR, v. 1, 2013, p

57.

196 “[...] os direitos sociais mesmo como direitos a prestações não podem, pelo menos no Brasil, serem reduzidos à

noção de direitos a prestações estatais, já que pelo menos os direitos dos trabalhadores (que também envolvem

prestações, como é o caso do salário mínimo, adicionais de insalubridade e periculosidade, entre outros) vinculam

expressa e diretamente particulares. ” In: SARLET, Ingo Wolfgang. Neoconstitucionalismo e influência dos direitos

fundamentais no direito privado: algumas notas sobre a evolução brasileira. In: __________. (Org.). Constituição,

Direitos Fundamentais e Direito Privado. 3 ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2010. p.33. 197 FELICIANO, Guilherme Guimarães. O meio ambiente do trabalho e a responsabilidade civil patronal:

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119

empregadores pagarão sempre o mínimo pelo dano labor ambiental, o que em nada desestimula a

continuidade desta prática lesiva. Deve o Estado, portanto, agir no sentido de promover o direito

ao meio ambiente do trabalho hígido, fortalecendo ainda a inspeção do trabalho e reprimindo

mais severamente aqueles indivíduos que tentem coisificar o obreiro em prol do lucro.

Neste contexto, além da falta de atuação integrada entre os entes legitimados para a defesa

do direito à saúde e bem-estar do obreiro em seu ambiente de trabalho, um outro problema que

pode ser constatado – e talvez o mais sério – é a inversão na ordem de importância quanto às

medidas adotadas para resguardar a higidez do local de trabalho.

De acordo com a OIT, existem quatro modalidades de prevenção contra agentes danosos,

a serem adotadas nesta ordem: eliminação do risco, eliminação da exposição do trabalhador ao

risco, isolamento do risco e proteção do trabalhador198. No Brasil, as medidas adotadas para a

proteção do trabalhador e do local de trabalho seguem a ordem inversa, de modo que primeiro se

preza pela compensação financeira e proteção do trabalhador, individualmente, e raramente se

discute eliminar o risco.

Na tutela do local de trabalho, o princípio do poluidor-pagador é interpretado de forma

errônea e superficial. Este princípio ensina que o poluidor se responsabilize pelas consequências

dos danos causados, mas não o exime de tentar, ao máximo, não causar tais danos. Admitir a

poluição – neste caso, a poluição labor ambiental – desde que haja compensação financeira seria

esvaziar o conceito desse princípio tão importante para a responsabilização dos provocadores dos

desequilíbrios ambientais.

reconhecendo a danosidade sistêmica. In: _____________________________; URIAS, João (Coord.). DIREITO

AMBIENTAL DO TRABALHO: apontamentos para uma teoria geral. São Paulo: LTR, v. 1, 2013, p 21-23. 198 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 6 ed. São Paulo: LTR, 2011, p.

423

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O fornecimento de equipamentos de proteção individual e o pagamento dos adicionais de

trabalho extraordinário, trabalho noturno, insalubre e perigoso são as medidas mais frequentes

adotadas pelos empregadores no que concerne à saúde, higiene e segurança do trabalho.

Entretanto, como se nota, todas estas medidas são paliativas, reparatórias, visando apenas

compensar, minimamente, o trabalhador pelo desgaste à sua saúde e qualidade de vida. Na

realidade, não são adotadas medidas que ensejem a prevenção dos desequilíbrios ambientais no

local de trabalho, o que indubitavelmente beneficiaria um número bem maior de trabalhadores.

O mero pagamento dos referidos adicionais juntamente com o medo do desemprego

levam o trabalhador a esquecer o real cerne do problema e se contentar com um aumento salarial

irrisório, negociando sua dignidade. Dessa forma, o trabalhador que deveria lutar por um meio

ambiente do trabalho sadio acaba por buscar irracional e imediatamente o aumento de sua renda,

mesmo que isto signifique o sacrifício de seu bem-estar físico e psicológico199, podendo tal

postura acarretar em danos irreparáveis à qualidade de vida do obreiro e à própria vida em

sentido estrito.

O problema, como já se explanou, não é normativo, de modo que o legislador deixou bem

claro a ordem a ser adotada quando da proteção ao local de trabalho e ao bem-estar do

trabalhador, conforme redação do artigo 166, da CLT200, que dispõe que a empresa somente é

obrigada a fornecer os EPIs quando as medidas de ordem geral não forem passíveis da tutela

completa contra os riscos de acidentes e danos à saúde dos empregados; postura que se

harmoniza com a Constituição Federal e com a normativa internacional a respeito.

199 PRATA, Marcelo Rodrigues. O Direito Ambiental do Trabalho numa perspectiva sistêmica. São Paulo: LTR,

2013, p. 168. 200 Art. 166 - A empresa é obrigada a fornecer aos empregados, gratuitamente, equipamento de proteção individual

adequado ao risco e em perfeito estado de conservação e funcionamento, sempre que as medidas de ordem geral não

ofereçam completa proteção contra os riscos de acidentes e danos à saúde dos empregados.

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Assim, primeiro deve o empregador tentar proteger o todo, o ambiente em si, das

condições que ameacem a sua higidez e, somente na impossibilidade da eliminação do risco ou

redução a nível aceitável (neutralização) é que se pode partir para a tutela individual, com o

fornecimento dos EPIs e o pagamento dos adicionais de periculosidade e insalubridade201.

O direito à redução dos riscos inerentes ao trabalho deve prevalecer sob qualquer tentativa

de reparação dos prejuízos sofridos, de modo a se garantir a efetividade do texto constitucional,

em total harmonia com as diretrizes internacionais. Estabelecer a prevenção como prioridade é

colocar o bem-estar dos trabalhadores como finalidade da proteção ao local de trabalho,

impedindo que esses tenham sua dignidade negociada em troca do crescimento econômico. A

redução dos riscos é meta e objetivo constante a ser perseguido, utilizando os avanços científicos

e tecnológicos a seu favor202. A medida mais eficaz ao combate aos fatores nocivos sempre será a

sua eliminação, mas como esta nem sempre é possível ou viável, permite-se a neutralização dos

agentes de risco somente de modo residual, para manter tudo aquilo que desequilibra o ambiente

em um limite tolerável ao organismo humano.

De toda sorte, deve haver periódica revisão dos agentes nocivos à saúde e integridade

física do trabalhador, acompanhando os efeitos que podem advir da exposição a estes. O que não

se pode é considerar como cumprida a tarefa do empregador em garantir um ambiente

minimamente equilibrado somente com o fornecimento de EPIs ou pagamento de adicionais: a

201 Importante ainda destacar que o mero fornecimento de EPI não desobriga o empregador da sua tarefa contínua de

manutenção do ambiente em condições favoráveis para o labor. Neste sentido, dispõe a Súmula nº 289 do TST:

INSALUBRIDADE. ADICIONAL. FORNECIMENTO DO APARELHO DE PROTEÇÃO. EFEITO O

simples fornecimento do aparelho de proteção pelo empregador não o exime do pagamento do adicional de

insalubridade. Cabe-lhe tomar as medidas que conduzam à diminuição ou eliminação da nocividade, entre as quais as

relativas ao uso efetivo do equipamento pelo empregado. 202 COSTA, Aline Moreira de; GONÇALVES, Leandro Krebs; ALMEIDA, Victor Hugo de. Meio ambiente do

trabalho e proteção jurídica do trabalhador: (re) significando paradigmas sob a perspectiva constitucional. In:

FELICIANO, Guilherme Guimarães; URIAS, João (Coord.). DIREITO AMBIENTAL DO TRABALHO:

apontamentos para uma teoria geral. São Paulo: LTR, v. 1, 2013, p. 124-127.

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saúde do trabalhador não é moeda de troca e, sua prevenção deve ocupar o topo das prioridades

da atividade econômica, não importando a sua natureza.

Assim sendo, não há que se falar em direito ao meio ambiente do trabalho equilibrado

somente para aqueles que estão em uma relação de trabalho remunerado203. Conforme já

ressaltado em diversos pontos desta pesquisa, não importa o tipo de contrato de trabalho

celebrado, a todo trabalhador deve ser garantida a manutenção de sua dignidade ao desempenhar

as atividades inerentes ao seu labor.

Apesar de os maiores danos causados aos trabalhadores serem representados pelos

acidentes de trabalho ou doenças ocupacionais, são muitos os agentes que colocam em risco a

higidez do ambiente de trabalho: jornada exaustiva, trabalho noturno, insalubre, penoso,

perigoso, violência à saúde física e mental do trabalhador, etc.

A ideia principal, conforme já reforçado durante toda esta pesquisa, é de eliminar a causa

do dano em sua fonte, impedindo este de efetivamente acontecer. Os acidentes de trabalho, as

doenças profissionais e ocupacionais e até mesmo as diversas formas de assédio não deixam de

configurar o dano às condições de trabalho, mas são apenas potencializações de uma poluição

labor ambiental não eliminada em sua fonte. Dessa forma, quanto aos trabalhadores já atingidos o

que resta é a reparação e compensação, mas não é somente esta a obrigação do empregador: cabe

a ele rever as condições ambientais para que os demais indivíduos não cheguem a este ponto de

injúria à saúde, que pode atingir até a terceiros estranhos à relação laboral.

203 MARTINS, Ana Luísa Leitão; LOUSAS, Juliana Ramalho; ALMEIDA, Taisa Luizari Fontoura da Silva de. O

direito dos não fumantes no ambiente de trabalho. In: FELICIANO, Guilherme Guimarães; URIAS, João (Coord).

DIREITO AMBIENTAL DO TRABALHO: apontamentos para uma teoria geral. São Paulo: LTR, v. 1, 2013, p.

60.

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Para o aprofundamento necessário na temática, o presente capítulo cuidará das principais

formas de violação à saúde do trabalhador e equilíbrio do local de trabalho.

4.3.1 Trabalho insalubre

As atividades insalubres são expressamente conceituadas no texto da CLT, em seu artigo

189, sendo definidas como aquelas que colocam o trabalhador em contato com agentes nocivos à

saúde em limites acima dos permitidos, vindo a provocar doenças e outros males, por vezes

irreversíveis204. Percebe-se, portanto, que a insalubridade é classificada mediante critério

quantitativo (limites permitidos de exposição) e qualitativo (agentes a serem considerados como

nocivos).

Cabe ao Ministério do Trabalho e Previdência Social, através de Norma

Regulamentadora, aprovar quadro com atividades e operações insalubres, bem como adotar

critérios para a caracterização e tolerância da insalubridade, elencando os agentes agressivos, os

meios de proteção e tempo máximo de exposição recomendável (art. 190, caput, CLT). Dessa

forma, mesmo que a atividade de fato traga prejuízos à saúde do trabalhador, se não estiver

prevista no quadro de atividades do Ministério do Trabalho e Previdência Social, não será

considerada insalubre para todos os efeitos legais, o que prejudica sobremaneira a garantia do

direito ao meio ambiente do trabalho sadio.

204 MELO, Raimundo Simão de. Direito Ambiental do Trabalho e a Saúde do Trabalhador. 5 ed. São Paulo:

LTR, 2013.p.207

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O Ministério do Trabalho e Previdência Social considera como insalubres os agentes de

ordem física, química e biológica, apresentando um conceito ultrapassado de saúde ao levar em

consideração somente os danos provocados ao corpo físico do trabalhador205, em sentido

totalmente oposto ao adotado pela Convenção nº 155 da OIT e pela Constituição Federal, em seu

artigo 196.

A Norma Regulamentadora nº 15 cuida das atividades e operações insalubres, trazendo

disposições semelhantes ao texto celetista acrescentadas de mais algumas especificidades quanto

ao tema. Os seus anexos trazem o rol de atividades consideradas pelo Ministério do Trabalho e

Previdência Social como insalubres; rol este taxativo e bastante reduzido.

A NR 15 e seus anexos não têm sido atualizados com a frequência necessária206, estando

ultrapassados quando considerados os avanços tecnológicos e descobertas nacionais e

internacionais na matéria, de modo que muitos dos limites trazidos neste documento já foram

revistos e diversos agentes nocivos já descobertos como tais ainda não integram o rol nacional.

O quadro de atividades insalubres apresentado pelo Ministério do Trabalho e Previdência

Social advém de decisão meramente burocrática deste órgão, não abrangendo de forma

aprofundada as atividades que prejudicam o bem-estar e a saúde dos trabalhadores por razões

discricionárias, de ordem técnica. Como resultado, muitos trabalhadores acabam por

desempenhar funções que comprometem sua qualidade de vida sem que isto seja ao menos

205 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 6 ed. São Paulo: LTR, 2011, p. 196-197. 206 Oportuna é a observação feita por João Manoel Grott: “Observa-se tanto na insalubridade, como na

periculosidade, uma restrição de agentes, deixando um grande abismo entre os agentes elencados e a realidade de

agentes existentes no mundo atual. O exemplo deste triste fato é o reconhecimento por parte da OIT, de

aproximadamente 40.000 novas substâncias químicas com certo potencial de toxicidade ao ser humano, enquanto a

Lei 3.214/78 em sua NR 15 elenca aproximadamente 140 agentes químicos com merecedores da insalubridade”. In:

GROTT, João Manoel. Meio ambiente do trabalho: prevenção – a salvaguarda do trabalhador. 1 ed. 5 reimp.

Curitiba: Juruá, 2012, p.133.

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reconhecido legalmente, não se tornando exigível a redução dos riscos inerentes ao trabalho a

partir da eliminação ou redução da poluição labor ambiental, pois para o ordenamento ela sequer

existe. Não há obrigação para o empregador nem mesmo de fornecer os equipamentos de

proteção individual ou efetuar o pagamento do adicional de insalubridade, permitindo-se

tacitamente o dano ao local do trabalho e à saúde do trabalhador.

Uma atividade não pode deixar de ser considerada como insalubre somente por não

constar em um quadro emitido pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social, quadro este

raramente atualizado e que trabalha com um conceito de saúde reduzido, limitado ao bem-estar

físico 207 do indivíduo. O artigo 190 da CLT não pode ser interpretado a fim de obstar a

concretização do direito ao meio ambiente do trabalho hígido em seu aspecto mais rudimentar, de

compensação monetária pela poluição labor ambiental através do respectivo adicional.

Inviabilizar este direito por falta de atuação de órgão administrativo é desrespeitar, além do texto

constitucional que preza pela redução dos riscos inerentes ao trabalho, o disposto nos artigos 186

e 927 do Código Civil de 2002, plenamente aplicáveis pela ocorrência do dano.

A insalubridade pode ser eliminada ou neutralizada a partir da adoção de medidas que

mantenham o local de trabalho dentro dos limites de tolerância (art. 191, I, CLT) e com a

utilização de equipamentos de proteção individual que reduzam a intensidade da agressão à níveis

toleráveis (art. 191, II. CLT).

207 Neste sentido: “[...] se os adicionais de insalubridade, de periculosidade e por trabalho penoso têm por fim

‘indenizar’ o trabalhador pelos danos e riscos à sua saúde em razão do contato com os respectivos agentes, não tem

cabimento isentar o empregador-poluidor do pagamento correspondente, quando constatada a existência de tais

agentes, apenas porque o Ministério do Trabalho não os enquadrou [...]” In: MELO, Raimundo Simão de. Direito

Ambiental do Trabalho e a Saúde do Trabalhador. 5 ed. São Paulo: LTR, 2013, p. 210-211

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O equipamento de proteção individual, como forma de neutralizar o dano, deve ser

adequado ao risco e permitir a redução da intensidade do agente insalubre a limites de tolerância

estabelecidos na norma regulamentadora respectiva208 sendo uma medida residual a ser adotada

quando as medidas de ordem geral não forem possíveis ou adequadas. Como se vê, a função do

EPI não é anular a causa do dano, mas apenas controlar os efeitos da insalubridade209, para que o

trabalhador conviva com ela.

Importa ainda destacar que o mero fornecimento do EPI pelo empregador não o exime do

pagamento do adicional de insalubridade, devendo ser adotadas medidas para a eliminação ou

redução do agente nocivo para tanto. Portanto, o dever de assegurar um ambiente adequado para

a prestação laboral não está cumprido com o fornecimento dos EPIs, devendo o empregador se

certificar de que estes estão sendo utilizados de forma adequada, bem como que sejam trocados

com periodicidade e estejam em consonância com os avanços tecnológicos e científicos.210 Caso

mesmo com a utilização do EPI o ambiente ainda esteja contaminado por algum agente nocivo à

saúde do trabalhador, este fará jus ao respectivo adicional, desde que a atividade conste no rol de

atividades insalubres já mencionado.

O desempenho de atividade insalubre acima dos limites estabelecidos pelo Ministério do

Trabalho e Previdência Social como toleráveis enseja o pagamento de adicional nos valores de

10%, 20% ou 40% a depender do grau (mínimo, médio ou máximo, respectivamente).

Atualmente, discute-se em que tais percentuais deveriam incidir.

208 MELO, Demis Roberto Correia de. Manual de Meio Ambiente do Trabalho. São Paulo: LTR, 2010, p.42 209 MARTINS, Sergio Pinto. Comentários à CLT. 19 ed. São Paulo: ed. Atlas, 2015, p. 209. 210 Súmula nº 289 do TST. INSALUBRIDADE. ADICIONAL. FORNECIMENTO DO APARELHO DE

PROTEÇÃO. EFEITO (mantida) - Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003 O simples fornecimento do aparelho de

proteção pelo empregador não o exime do pagamento do adicional de insalubridade. Cabe-lhe tomar as medidas que

conduzam à diminuição ou eliminação da nocividade, entre as quais as relativas ao uso efetivo do equipamento pelo

empregado.

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O TST havia firmado jurisprudência permitindo que o adicional de insalubridade fosse

calculado sobre o salário profissional determinado por força de lei, convenção coletiva ou

sentença normativa211 e, somente de forma residual, sobre o salário mínimo disposto no artigo 76

do texto consolidado212. A edição da Súmula Vinculante nº 4213 pelo STF, por sua vez,

determinou que, salvo nos casos expressamente previstos no texto constitucional, é vedada a

utilização do salário mínimo como indexador de base de cálculo, não podendo este ser substituído

por decisão judicial.

A Constituição Federal veda a vinculação do salário mínimo para qualquer fim, sendo este

não mais regional, mas nacionalmente unificado, devendo atender às necessidades básicas do

indivíduo e de sua família, bem como moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário,

higiene, transporte e previdência social, passando por reajustes periódicos para que não perca seu

poder aquisitivo (art. 7º, IV). Dessa forma, restou aparentemente sem base de cálculo o adicional

de insalubridade, tendo em vista não mais haver salário mínimo regional e não ser possível a

indexação do salário mínimo nacionalmente unificado além das hipóteses constitucionalmente

expressas.

A fim de sanar esta problemática, o TST alterou a redação da Súmula 228, permitindo a

utilização do salário básico para o cálculo do adicional de insalubridade, salvo critério mais

vantajoso presente em instrumento coletivo.

211 Súmula nº 17 do TST. ADICIONAL DE INSALUBRIDADE (cancelada na sessão do Tribunal Pleno realizada

em 26.06.2008) - Res. 148/2008, DJ 04 e 07.07.2008 - Republicada DJ 08, 09 e 10.07.2008

O adicional de insalubridade devido a empregado que, por força de lei, convenção coletiva ou sentença normativa,

percebe salário profissional será sobre este calculado. 212 Súmula nº 228 do TST. ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. BASE DE CÁLCULO Adicional de

insalubridade. Base de cálculo. O percentual do adicional de insalubridade incide sobre o salário mínimo de que

cogita o art. 76 da CLT, salvo as hipóteses previstas na Súmula nº 17. 213 Súmula Vinculante 4 Salvo nos casos previstos na Constituição, o salário mínimo não pode ser usado como

indexador de base de cálculo de vantagem de servidor público ou de empregado, nem ser substituído por decisão

judicial.

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A mudança de redação da Súmula nº 228 do TST (e, por consequência, da base de cálculo

do adicional de insalubridade) foi questionada perante o STF214 que determinou, por decisão

214 RECLAMAÇÃO. SÚMULA N. 228 DO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO. ALEGADA AFRONTA À

SÚMULA VINCULANTE N. 4 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. LIMINAR DEFERIDA.

PROVIDÊNCIAS PROCESSUAIS. 1. Reclamação, com pedido de liminar, ajuizada pela Confederação

Nacional da Indústria – CNI contra ato do Tribunal Superior do Trabalho que, ao aprovar a Súmula 228, teria

descumprido a Súmula Vinculante n. 4 do Supremo Tribunal Federal. 2. Em 15.7.2008, nos termos do art. 13.

inc. VIII, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, o Ministro Gilmar Mendes deferiu a liminar

pleiteada para “suspender a aplicação da Súmula 228/TST na parte em que permite a utilização do salário básico

para calcular o adicional de insalubridade” (fl. 37). 3. Em 21.7.2008, identificando-se como advogado militante perante a Justiça do Trabalho, Antonio Augusto Dallapiccola Sampaio apresentou “um pequeno desabafo” (fl.

76), por meio do qual externou seu apreço pela decisão do Supremo Tribunal Federal que teria afastado a

utilização do salário mínimo como base de cálculo do adicional de insalubridade. 4. Em suas informações,

prestadas em 22.7.2008, a autoridade judiciária reclamada ponderou que a nova redação da Súmula 228, alterada

pela Resolução n. 148 do Tribunal Superior do Trabalho em 26.6.2008, teria “busca[do] uniformizar a

controvertida jurisprudência dos Tribunais do Trabalho em torno da presente matéria, adequando-a à nova

orientação da Súmula Vinculante n. 4 do Supremo Tribunal Federal, nos exatos termos em que foi assegurado

pela ratio decidendi da decisão proferida nos autos do[Recurso Extraordinário n. 565.714/SP]” (fl. 122). 5. A

Confederação Nacional dos Trabalhadores da Indústria Química – CNTQ (fls. 139-142); a Confederação

Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos – CNTN (fls. 166-168); a Central dos Trabalhadores e das

Trabalhadoras do Brasil – CTB; e o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul (fls. 212-214) requereram seus ingressos na lide, na qualidade de

Interessados, oportunidade em que apresentaram impugnação à presente Reclamação. Em 12.8.2008, a Central

dos Trabalhadores e das Trabalhadoras do Brasil – CTB e o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias

Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul requereram a reconsideração da decisão liminar

deferida nesta Reclamação ou o acolhimento de sua petição como agravo regimental (fls. 233-267). 6. Em

25.8.2008, a Procuradoria-Geral da República manifestou-se pela improcedência da presente Reclamação (fls.

128-134). 7. Em 18.9.2008, o Ministro Gilmar Mendes determinou o cumprimento da parte final das decisões

proferidas nas Reclamações ns. 6.275/SP e 6.277/DF e o apensamento dos autos daquelas ações aos desta

Reclamação. Examinados os elementos havidos nos autos, DECIDO. 8. Inicialmente, deve-se aferir se as

entidades representativas de trabalhadores que apresentaram impugnações à presente Reclamação detêm a

qualidade de partes juridicamente interessadas, condição imprescindível para sejam admitidas suas manifestações na presente ação. Em seu art. 13, a Lei n. 8.038/90, que instituiu normas procedimentais para os

processos perante o Supremo Tribunal, repetiu o que disposto no art. 156 do Regimento Interno do Supremo

Tribunal e previu que a Reclamação poderia ser ajuizada pelo Ministério Público ou pela parte interessada. Na

assentada de 7.11.2002, no julgamento do Agravo Regimental na Reclamação n. 1.880/SP, Relator o Ministro

Maurício Corrêa, o Plenário do Supremo Tribunal Federal decidiu: “ QUESTÃO DE ORDEM. AÇÃO DIRETA

DE INCONSTITUCIONALIDADE. JULGAMENTO DE MÉRITO. PARÁGRAFO ÚNICO DO ARTIGO 28

DA LEI 9868/99: CONSTITUCIONALIDADE. EFICÁCIA VINCULANTE DA DECISÃO. REFLEXOS.

RECLAMAÇÃO. LEGITIMIDADE ATIVA. (...) 3. A eficácia vinculante da ação declaratória de

constitucionalidade, fixada pelo § 2º do artigo 102 da Carta da Republica, não se distingue, em essência, dos

efeitos das decisões de mérito proferidas nas ações diretas de inconstitucionalidade. 4. Reclamação.

Reconhecimento de legitimidade ativa ad causam de todos que comprovem prejuízo oriundo de decisões dos

órgãos do Poder Judiciário, bem como da Administração Pública de todos os níveis, contrárias ao julgado do Tribunal. Ampliação do conceito de parte interessada (Lei 8038/90, artigo 13). Reflexos processuais da eficácia

vinculante do acórdão a ser preservado. 5. Apreciado o mérito da ADI 1662-SP , está o Município legitimado

para propor reclamação.(DJ de 30.08.01) Agravo regimental provido” (DJ 19.3.2004, grifos nossos). 9. Embora

o precedente acima transcrito refira-se à legitimidade ativa do interessado para o ajuizamento da Reclamação, é

forçoso concluir que esse entendimento estende-se às partes alcançadas pela decisão que, reconhecendo

liminarmente o descumprimento de decisão de eficácia vinculante proferida pelo Supremo Tribunal Federal,

determina a suspensão da decisão reclamada. Dessa forma, não há como afastar, ao menos por ora, a qualidade

de Interessadas das entidades representativas de trabalhadores que se manifestaram pela improcedência desta

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129

monocrática, a suspensão de sua eficácia, entendendo que a mudança na base de cálculo não

poderia ter sido feita por decisão judicial, em atenção ao disposto na Súmula Vinculante nº 4.

Dessa forma, entende o STF haver necessidade de edição de nova lei para alterar a redação do

artigo 192 da CLT e estabelecer base de cálculo diversa para o adicional de insalubridade, tendo

em vista a vedação constitucional de vinculação do salário mínimo para qualquer fim que não os

já trazidos pelo texto da Constituição Federal (art. 7º. IV). Todavia, enquanto não há edição de

nova lei, deve ser mantido o salário-mínimo como base de cálculo, salvo convenção coletiva que

fixe parâmetro mais proveitoso ao empregado.

Reclamação, uma vez que, de acordo com o art. 159 do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal e com o

art. 15 do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, “qualquer interessado poderá impugnar o pedido do

reclamante”. Ressalto, entretanto, que, ao ingressarem na lide, os ora Interessados recebem a causa no estado em

que estiver. Nesse sentido: “EMENTAS: 1. INTERVENÇÃO DE TERCEIRO. Terceiro prejudicado ou

interessado. Reclamação. Admissibilidade. Magistrado incluído em lista tríplice impugnada. Destinatário da

eficácia gravosa de eventual decisão favorável à reclamante. Recepção da causa no estado em que a encontre.

Poder de sustentação oral deferida. Aplicação do art. 15 da Lei nº 8.038/1990. Precedente. Admite-se, em

reclamação, que intervenha terceiro juridicamente interessado ou prejudicado, com direito de exercer poderes

processuais a partir do momento da intervenção, entre os quais o de fazer sustentação oral. (...)” (Rcl 2.772/DF,

Rel. Min. Cezar Peluso, Tribunal Pleno, DJ 5.5.2006). “EMENTA: RECLAMAÇÃO - POSSIBILIDADE DE INTERVENÇÃO ESPONTÂNEA DO INTERESSADO - DESNECESSIDADE DO CHAMAMENTO

JUDICIAL - AUSÊNCIA DE OFENSA À GARANTIA DO CONTRADITÓRIO - INTERVENÇÃO QUE SE

DÁ NO ESTADO EM QUE SE ENCONTRA O PROCESSO - AGRAVO IMPROVIDO. -A Lei nº 8.038/90

estabelece que qualquer interessado poderá impugnar o pedido do reclamante (art. 15). O interessado - vale

dizer, aquela pessoa que dispõe de interesse jurídico na causa - qualifica-se como sujeito meramente eventual da

relação processual formada com o ajuizamento da reclamação. A intervenção do interessado no processo de

reclamação é caracterizada pela nota da simples facultatividade. Isso significa que não se impõe, para efeito de

integração necessária e de válida composição da relação processual, o chamamento formal do interessado, pois

este, para ingressar no processo de reclamação, deverá fazê-lo espontaneamente, recebendo a causa no estado em

que se encontra. O interessado, uma vez admitido ao processo de reclamação - e observada a fase procedimental

em que este se acha -, tem o direito de ser intimado dos atos e termos processuais, assistindo-lhes, ainda, a

prerrogativa de fazer sustentação oral, quando do julgamento final da causa. Precedente” (Rcl 449-AgR/SP, Rel.Min. Celso de Mello, Tribunal Pleno, DJ 21.2.1997). 10. Pelo exposto, defiro os pedidos de ingresso no feito

da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Indústria Química – CNTQ; da Confederação Nacional dos

Trabalhadores Metalúrgicos – CNTN; da Central dos Trabalhadores e das Trabalhadoras do Brasil–CTB; e do

Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul, na

qualidade de Interessados, os quais terão suas impugnações apreciadas em momento oportuno. À Secretaria do

Supremo Tribunal Federal, para as providências necessárias. Publique-se. Brasília, 14 de outubro de 2008.

Ministra CÁRMEN LÚCIA Relatora (STF - Rcl: 6266 DF, Relator: Min. CÁRMEN LÚCIA, Data de

Julgamento: 14/10/2008, Data de Publicação: DJe-208 DIVULG 03/11/2008 PUBLIC 04/11/2008)

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Sergio Pinto Martins215 aponta a decisão do STF como contraditória, pois ao mesmo

tempo que reafirma a vedação à indexação do salário mínimo fora das hipóteses

constitucionalmente trazidas o mantém como base de cálculo do adicional de insalubridade até

que haja edição de lei que disponha em sentido diverso ou ainda convenção coletiva mais

benéfica para o trabalhador. Ademais, importa ressaltar que o antigo entendimento adotado pelo

TST é mais sensato ao permitir a utilização do salário profissional ou salário básico como base de

cálculo, visto que isto oneraria um pouco mais o empregador, cumprindo assim a real função do

adicional: indenizar pelo trabalho realizado em condições prejudiciais à qualidade de vida do

empregado e coibir a sua prática, sendo mais viável para o empregador manter o ambiente

salubre do que pagar pelo dano labor ambiental, fazendo com que este tente constantemente

eliminar ou ao menos reduzir a níveis de tolerância aos agentes nocivos.

Não se pode olvidar da verdadeira causa que envolve o pagamento não só do adicional de

insalubridade, mas também dos demais (a serem analisados em momento e tópico oportunos): a

poluição labor ambiental216. O adicional de insalubridade não constitui um fim em si mesmo e

reclamar a modificação da sua base de cálculo e ainda do seu pagamento mesmo quando a

atividade não conste no quadro do Ministério do Trabalho e Previdência Social não é apenas para

aumentar o valor percebido pelos trabalhadores, mas sim para que haja ainda que de forma

mínima a compensação pelo dano provocado ao local de trabalho e à saúde dos trabalhadores,

quando a prevenção do risco ambiental não for uma opção viável.

215 MARTINS, Sergio Pinto. Comentários à CLT. 19 ed. São Paulo: ed. Atlas, 2015, p.212. 216 Conforme bem ressalta Raimundo Simão de Melo: “[...] esses adicionais, para realmente surtirem efeito punitivo,

como é o esperado e, assim, obrigar as empresas a adotarem as necessárias medidas preventivas, devem ser pesados a

ponto de não compensar o desrespeito às normas de saúde, medicina e segurança do trabalho. ” In: MELO,

Raimundo Simão de. Direito Ambiental do Trabalho e a Saúde do Trabalhador. 5 ed. São Paulo: LTR, 2013, p.

215

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131

Deve ficar claro que o pagamento do adicional de insalubridade é exceção e não regra e só

deve ser apontado como saída quando nenhuma outra prática de prevenção ou reparação

ambiental for possível. Entretanto, o que se constata na realidade brasileira é exatamente a

adoção do caminho inverso: o adicional de insalubridade passa a ser regra e é pago pelo

empregador sem que mais nenhuma outra medida seja tomada para manter o local de trabalho

sadio. Em casos piores – e infelizmente mais recorrentes – sequer há o pagamento do referido

adicional, havendo necessidade de acionar o Poder Judiciário para tanto. Este, por sua vez, limita-

se a arbitrar o pagamento dos adicionais suprimidos sem que tome nenhuma outra medida

punitiva ou investigue se aquela supressão de adicionais é prática recorrente do empregador, se

há possibilidade de reduzir o fator nocivo em questão, caracterizando assim não apenas a

violação de um direito individual, mas a configuração do dano ambiental por afetar toda a

coletividade.

O pagamento do adicional de insalubridade é o mínimo que o empregador pode e deve

fazer na garantia de um ambiente hígido. Considerando que, muitas vezes é só isto que o

empregador se limita a fazer, deve-se rever com urgência alguns pontos acerca da percepção do

adicional em comento.

Primeiramente, é urgente rever a sua base de cálculo. A incidência dos percentuais de

10%, 20% ou 40% sobre o salário mínimo torna economicamente mais viável para o empregador

pagar o adicional em vez de envidar esforços para eliminar ou ao menos reduzir a níveis de

tolerância o agente nocivo. Somente quando o pagamento do adicional de insalubridade se tornar

oneroso para o empregador este será coagido a tomar outras medidas para a proteção ao local de

trabalho e a saúde e segurança do obreiro.

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Outro ponto que não pode ser esquecido é a necessidade de aumentar o rol de atividades

consideradas como insalubres pelo ordenamento. Ademais, o Ministério do Trabalho e

Previdência Social deve rever o conceito de saúde adotado, englobando outros aspectos que não o

dano físico ao trabalhador. A revisão periódica dos quadros de atividades desse órgão a partir de

parâmetros nacionais e internacionais é de extrema importância para a concretização do direito ao

meio ambiente de trabalho sadio, visto que quando uma atividade passa a ser considerada, pelo

ordenamento jurídico, como insalubre, surge o direito de exigir o seu desempenho em condições

toleráveis.

Outrossim, limitar-se a considerar legalmente como insalubres apenas as atividades

reconhecidas pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social reduz por demasiado o direito à

reparação pelo dano à saúde do trabalhador. Deve haver maior independência na atuação dos

peritos217, por exemplo, visto que mesmo quando estes detectam a nocividade de uma atividade

se esta não constar no quadro de atividades insalubres não haverá pagamento do adicional em

análise.

O rol de atividades insalubres é definido de forma técnica, o que não se coaduna com a

disposição constitucional de redução dos riscos inerentes ao trabalho nem tampouco com a

necessidade de reparação em caso de constatado o dano. A competência exclusiva do Ministério

do Trabalho e Previdência Social para dispor sobre os agentes nocivos além de sobrecarrega-lo,

torna ineficaz as medidas reparatórias do dano causado ao local de trabalho e ao trabalhador.

217 SÚMULA 460 STF Para efeito do adicional de insalubridade, a perícia judicial, em reclamação trabalhista, não

dispensa o enquadramento da atividade entre as insalubres, que é ato da competência do Ministro do Trabalho e

Previdência Social.

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A perícia judicial, exercida por experts, tem condições de detectar se uma atividade é

exercida na presença de agentes nocivos ou não e, dessa forma, consegue atender com maior

rapidez à demanda por reparação do dano ao bem-estar do obreiro. Ademais, sua atuação acaba

sendo mais célere e capaz de acompanhar com maior fidedignidade o surgimento de novos

agentes nocivos, não devendo haver uma atuação excludente entre o Ministério do Trabalho e

Previdência Social e os peritos judiciais, mas sim complementar, visto que o mais importante é

garantir que ainda que minimamente o direito ao meio ambiente do trabalho sadio seja respeitado

e exercido, ainda que em seu cunho reparatório, quando esta for a única opção.

A inclusão de novos agentes nocivos no ordenamento permite não apenas que o adicional

de insalubridade se torne exigível para um maior número de trabalhadores, mas principalmente

que estes possam reclamar a adoção de medidas preventivas e a eliminação ou ao menos

neutralização do risco de novas atividades, antes não consideradas prejudiciais.

Entretanto, o que se percebe, ao analisar o panorama atual, é que o adicional de

insalubridade tem funcionado como um permissivo institucionalizado para expor o trabalhador ao

fator nocivo218. O baixo valor do adicional de insalubridade somado à fiscalização fragmentada

do ambiente de trabalho acabam por legitimar a violação do direito ao meio ambiente de trabalho

hígido.

Outro problema a ser abordado é a impossibilidade de percepção cumulativa em caso de

incidência de mais de um fator de insalubridade, sendo considerado apenas o de grau mais

elevado para o acréscimo salarial.

218 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 6 ed. São Paulo: LTR, 2011, p.

197.

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Esta disposição, expressamente contida na NR 15.3, aumenta ainda mais a impunidade do

empregador que, mesmo deixando o ambiente inadequado pela presença de diversos fatores

nocivos pagará apenas pelo considerado de maior dano à saúde do trabalhador.

A NR 15.3, além de ultrapassada, visa atender exclusivamente aos interesses patronais,

em clara violação ao princípio da proteção. Ademais, confronta as disposições trazidas nas

Convenções da OIT que tratam da saúde e segurança do trabalhador (em especial, as Convenções

nº 148 e 155), as quais preveem a necessidade de se considerar os mais diversos fatores nocivos

presentes no ambiente em que são desenvolvidas as atividades.

Se o pagamento do adicional de insalubridade for a única opção viável, deve ser feita da

forma correta: incidindo sobre base de cálculo maior, bem como levando em consideração a

presença de múltiplos fatores de agressão ao ambiente. De todo modo, deve ser constatado o

esforço contínuo do empregador em eliminar ou neutralizar os agentes nocivos, utilizando-se dos

conhecimentos e avanços tecnológicos nacionais e internacionais para tanto. Somente a partir

desta leitura do adicional de insalubridade realiza-se o seu verdadeiro objetivo, sistematizando o

disposto nas Convenções da OIT, na Constituição Federal e na legislação ambiental e trabalhista

a serviço da proteção da saúde do trabalhador.

4.3.2 Trabalho perigoso

A CLT, em seu artigo 193, aponta como atividades ou operações perigosas aquelas que,

por sua natureza ou método de trabalho, configurem risco acentuado causado pela exposição

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permanente do trabalhador a inflamáveis, explosivos, energia elétrica (art. 193, I), roubos ou

outras espécies de violência física nas atividades profissionais de segurança pessoal ou

patrimonial (art. 193, II). Posteriormente, a atividade de trabalhador em motocicleta veio a

integrar o rol de atividades consideradas perigosas pelo texto da CLT (art. 193, § 4º).

Para a categorização de uma atividade como perigosa é necessária a aprovação de

regulamentação pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social, a exemplo do que ocorreu

com o trabalho com radiações ionizantes ou ainda com substâncias radioativas (art. 2º da Portaria

nº 518/03). Da competência atribuída a este órgão, criou-se a Norma Regulamentadora nº 16 e

seus anexos, os quais pormenorizam as atividades e operações consideradas perigosas por

critérios exclusivamente técnicos, semelhante ao que ocorre com a categorização das atividades

insalubres.

A exposição permanente para configurar do perigo de que trata o texto consolidado não é

quantificada, de modo que, de acordo com a interpretação da Seção de Dissídios Individuais do

TST, deve ser entendida como a exposição diária219. Neste sentido, o TST definiu que tem direito

ao adicional de periculosidade o empregado exposto de forma permanente ou intermitente, sendo

o referido adicional indevido quando o contato for habitual ou ocorrer por tempo extremamente

reduzido220.

Como se nota, não há um conceito legal para periculosidade, mas apenas para o trabalho

considerado perigoso. A grande distinção entre a periculosidade e a insalubridade é que ambos

219 MARTINS, Sergio Pinto. Comentários à CLT. 19 ed. São Paulo: ed. Atlas, 2015, p. 215 220 Súmula nº 364 do TST. ADICIONAL DE PERICULOSIDADE. EXPOSIÇÃO EVENTUAL,

PERMANENTE E INTERMITENTE (cancelado o item II e dada nova redação ao item I) - Res. 174/2011,

DEJT divulgado em 27, 30 e 31.05.201 Tem direito ao adicional de periculosidade o empregado exposto

permanentemente ou que, de forma intermitente, sujeita-se a condições de risco. Indevido, apenas, quando o contato

dá-se de forma eventual, assim considerado o fortuito, ou o que, sendo habitual, dá-se por tempo extremamente

reduzido. (ex-Ojs da SBDI-1 nºs 05 - inserida em 14.03.1994 - e 280 - DJ 11.08.2003)

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prejudicam o indivíduo, mas de formas distintas221, isto porque a exposição a agentes insalubres

leva à perda paulatina da saúde enquanto que o contato com agentes perigosos pode levar

repentinamente à incapacidade ou à morte.

Surge, assim, a necessidade de indenizar o trabalhador pela exposição constante de sua

vida, tendo em vista que não há como neutralizar o risco nem tampouco medi-lo: ou a atividade é

perigosa ou não o é. Desse modo, com o intuito de reparar o empregado pelo risco corrido lhe é

concedido o adicional de periculosidade, previsto no art. 193, § 1º, da CLT.

O adicional de periculosidade, diferentemente do adicional de insalubridade, tem valor

único de 30%, pois não há como se verificar proporcionalmente o risco222; ou ele existe ou a

atividade não se caracteriza como perigosa, não havendo assim uma gradação da periculosidade.

Sua base de cálculo incide sobre o salário sem os acréscimos resultantes de gratificações,

prêmios ou participações nos lucros da empresa, sendo mais benéfica para o trabalhador que a

base de cálculo atualmente adotada para o adicional de insalubridade (o salário mínimo).

O adicional de periculosidade torna-se mais oneroso para o empregador devido ao próprio

bem que está em risco: a vida. Todavia, ainda existem algumas questões problemáticas que

devem ser discutidas acerca da verba em comento.

Assim como mencionado anteriormente, a atividade perigosa deve estar expressamente

prevista como tal pelo órgão competente, da mesma forma que as atividades insalubres. Esta

necessidade de classificação da atividade bem como a ausência de um conceito formal para

periculosidade obstam a efetivação do direito ao meio ambiente sadio, visto que se a atividade

221 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 6 ed. São Paulo: LTR, 2011,

p.202 222 MELO, Raimundo Simão de. Direito Ambiental do Trabalho e a Saúde do Trabalhador. 5 ed. São Paulo: LTR,

2013, p. 219

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realizada pelo empregado não estiver classificada como tal, não ensejará o pagamento do

respectivo adicional 223, ainda que de fato, para a sua execução, seja colocada em risco a vida do

trabalhador.

Mesmo que a atividade necessariamente tenha que ser desempenhada em condições

perigosas, deve o empregador utilizar-se dos conhecimentos científicos nacionais e internacionais

para tentar eliminar o risco, pois o direito ao meio ambiente de trabalho sadio não é satisfeito

com o mero pagamento de um adicional e gera o dever de constantemente atualizar-se na

tentativa de manter o local de trabalho mais hígido quanto for possível.

Não cabe falar em percepção de adicional de periculosidade majorado em caso de mais de

uma fonte de risco no desempenho da atividade, visto que o risco em si é a causa do pagamento

da referida verba. Desse modo, para onerar o empregador a ponto de que este busque a melhoria

do local de trabalho – quando for viável, obviamente – deve-se aumentar o porcentual do

adicional. Entretanto, mais importante do que isto é verificar se o pagamento do referido

adicional está ocorrendo de forma adequada, visto que, importa ressaltar, diversas atividades não

podem ser exercidas sem que haja risco, não podendo ainda ser extintas em determinados casos.

Assim, quando o perigo é intrínseco à natureza do labor, o mínimo que se pode fazer é a

compensação monetária devida.

4.3.3 Trabalho penoso

223 MARTINS, Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 6 ed. São Paulo: LTR, 2011, p. 217

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A Constituição Federal, em seu artigo 7º, XXIII, prevê, além do adicional de

periculosidade e insalubridade, o adicional de penosidade.

A legislação ordinária tratou de disciplinar, ainda que de forma problemática, o trabalho

insalubre e perigoso, mas não se debruçou na questão do trabalho penoso, de forma que o

adicional de penosidade jamais foi regulamentado. Dessa forma, fica a cargo da doutrina e

jurisprudência definir o que seria penosidade.

Como bem coloca Sebastião Geraldo de Oliveira224, qualquer trabalho pode vir a tornar-se

penoso desde que desenvolvido precariamente, em más condições ambientais ou organizacionais.

Percebe-se, portanto, que a penosidade advém das condições em que o trabalho é realizado,

condições estas que tornam a atividade prejudicial à saúde e ao bem-estar do obreiro. Assim,

penoso é o trabalho desgastante, que por si só ou pela forma que é desenvolvido expõe o

trabalhador a um esforço maior do que o necessário para demais atividades225, provocando, por

consequência, um desgaste elevado para o organismo humano.

A não regulamentação do adicional de penosidade é apenas um aspecto da questão: o que

precisa de regulamentação, na verdade, é o trabalho penoso em si. Não se almeja o mero

pagamento de adicional para legitimar a realização de atividades em condições que prejudiquem

o obreiro, mas se requer que, caso não seja possível eliminar ou minimizar os agentes nocivos a

níveis de tolerância para o organismo humano, haja a compensação financeira.

Em que pese nada obstar a regulamentação do trabalho penoso na atualidade nem

tampouco a sua previsão em instrumentos de negociação coletiva, poucas são as iniciativas neste

224 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 6 ed. São Paulo: LTR, 2011, p.

210. 225 MELO, Raimundo Simão de. Direito Ambiental do Trabalho e a Saúde do Trabalhador. 5 ed. São Paulo:

LTR, 2013, p.226.

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sentido. Enquanto isso, diversas formas de trabalho penoso são legitimadas e praticadas como

não prejudiciais à vida do obreiro, ignorando-se que, devido ao desgaste intenso, o trabalho em

condições penosas corriqueiramente desencadeia problemas de coluna, de coração,

gastrointestinais, bem como fadiga e problemas de ordem mental, problemas estes que poderiam

ser evitados caso o trabalho penoso fosse regulamentado.

A não regulamentação do trabalho desenvolvido em condições penosas acaba por criar um

permissivo legal para o empregador não revisar periodicamente os mecanismos de redução e

eliminação dos fatores nocivos, legitimando assim um desequilíbrio labor ambiental.

Consequentemente, o trabalhador fica de mãos atadas ao não encontrar embasamento legal para

questionar as condições em que presta serviços caso o fator de poluição labor ambiental não

esteja dentre os agentes insalubres e perigosos já regulamentados.

Por outro lado, não pode o texto constitucional ser encarado como letra morta, de modo a

não ser respeitado devido a uma omissão do legislador ordinário. A admissão em nosso

ordenamento do trabalho penoso vai de encontro à redução dos riscos constitucionalmente

prevista, bem como aos textos das Convenções da OIT sobre saúde, segurança e higiene do

trabalho já comentados.

Assim sendo, a falta de norma regulamentadora não pode obstar o gozo deste direito

constitucionalmente previsto226, levando-se em consideração a redação do artigo 8º da CLT, que

226 Neste sentido, esta pesquisa acredita ainda ser possível a utilização de Mandado de Injunção para a efetivação

deste direito constitucional, tendo em vista que a situação em tela se encaixa perfeitamente dentro da hipótese de cabimento deste remédio constitucional, presente no artigo 5º, LXXI, CF. Concorda com esta posição Raimundo

Simão de Melo: “(...) penso que é possível buscar-se-á uma tutela abstrata num mandado de injunção, a qual será

aplicada nos casos concretos mediante comando judicial condenatório, podendo, também, ser aforadas ações

individuais ou coletivas reparatórias, com pedidos de arbitramento pelo juiz, de indenização substitutiva do adicional

pelo trabalho penoso, com base em uma perícia que descreva as condições de trabalho como penosas(...)” In: MELO,

Raimundo Simão de. Mesmo sem lei, Judiciário pode reconhecer direito ao adicional de penosidade. Consultor

Jurídico. Disponível em: http://www.conjur.com.br/2016-abr-15/reflexoes-trabalhistas-possivel-cobrar-adicional-

penosidade-mandado-injuncao Acesso em: 10 maio 2016.

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prevê que, em caso de lacuna legal, a decisão seja proferida a partir da jurisprudência, analogia,

equidade e outros princípios e normas gerais de direito, principalmente do direito do trabalho.

Ademais, apesar de as convenções da OIT acima analisadas não tratarem expressamente do

trabalho penoso, acabam por inclui-lo ainda que incidentalmente dentro da proteção máxima

ofertada ao meio ambiente do trabalho.

Utilizar-se da falta de regulamentação para a violação deste direito do trabalhador seria

utilizar a norma constitucional em seu desfavor, desvirtuando-a. Esta interpretação, além de

inconstitucional, vai de encontro aos princípios que regem o meio ambiente do trabalho. Deve o

trabalho penoso ser mais bem debatido, tendo em vista a quantidade de situações que pode

abranger, pois uma atividade que aparentemente não traria qualquer problema ao obreiro caso

desempenhada em condições inadequadas pode vir a ser enxergada como penosa. A sua não

regulamentação causa insegurança jurídica, marginalizando o trabalhador que exerce suas

atividades em condições penosas.

4.3.4 Trabalho noturno

O artigo 7º, IX, da Constituição Federal determina que a remuneração do trabalho noturno

deve ser superior à do trabalho diurno. O referido artigo veda ainda o trabalho noturno para o

menor de 18 anos, em seu inciso XXXIII.

Uma interpretação sistematizada destas disposições constitucionais leva a conclusão que a

diferença de remuneração para o trabalho desempenhado à noite não é uma bonificação ao

trabalhador, conforme leva a crer a leitura isolada do inciso IX, mas sim uma forma de

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compensá-lo pela agressão ao seu bem-estar, pois caso o adicional noturno fosse uma bonificação

não seria vedado para um determinado grupo (menores de 18 anos).

A vedação a esses indivíduos se justifica devido à natureza prejudicial do labor realizado

à noite, não recomendado a ninguém, mas expressamente proibido aos menores de 18 anos por

ainda serem indivíduos em formação.

O trabalho noturno inverte a rotina do empregado, de modo que durante seu período de

descanso sua família e amigos estarão desempenhando suas atividades, nunca ou raramente

coincidindo os momentos de lazer e interação social entre estes. Além disso, o acúmulo constante

de sono pode vir a provocar a fadiga ou outras doenças, pois a recuperação do organismo humano

das atividades realizadas à noite ocorre de forma mais lenta, não sendo, inclusive, uma

recuperação total. Dessa forma, apesar de o empregado aparentar estar pronto para outro turno a

ser realizado durante o período noturno, esta prática reiterada implicará em consequências

irreversíveis para o seu corpo.

Apesar das consequências de difícil reparação ou irreparáveis para o organismo humano,

o trabalho noturno muitas vezes é imprescindível para certos tipos de profissões. Por exemplo,

não pode haver o fechamento de hospitais à noite com a argumentação de não prejudicar a saúde

e bem-estar dos profissionais que ali prestam serviços, visto que as consequências e o impacto

social seriam extremamente adversos.

Deve haver, portanto, um ponto de intersecção entre as necessidades socioeconômicas e a

dignidade do trabalhador. Raimundo Simão de Melo227 aponta como opções de recuperação do

empregado bem como prevenção de danos à sua saúde: a redução da jornada para todos os

227 MELO, Raimundo Simão de. Direito Ambiental do Trabalho e a Saúde do Trabalhador. 5 ed. São Paulo:

LTR, 2013, p. 190-193.

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trabalhadores noturnos - e não apenas para os que se enquadram nos turnos ininterruptos de

revezamento, hipótese constitucional com jornada reduzida para 6h, salvo negociação coletiva -;

folga de pelo menos 48h após o período do trabalho realizado à noite; preservação do final de

semana para refazimento e integração social; turnos de revezamento realizados na rotação

horária; proibição de horas extras durante a jornada noturna, exceto em casos de força maior,

conclusão de serviços inadiáveis ou mediante folgas compensatórias.

Na legislação ordinária, o trabalho noturno é previsto na Seção IV da CLT. O artigo 73 do

texto consolidado fixa o valor do adicional para trabalho realizado durante à noite em no mínimo

20% sobre a hora diurna, estabelecendo a hora do trabalho noturno como de 52 minutos e 30

segundos (art. 73, §1º, CLT) e noturno o período entre às 22h de um dia e às 5h do dia seguinte

(art. 73, § 2º, CLT)228.

A Carta Magna não menciona o período considerado como noturno ao prever a

necessidade de uma maior remuneração para o labor desempenhado neste. Entretanto, no artigo

7º da CF/88 fica clara a intenção do constituinte de apenas exemplificar sem esgotar alguns dos

direitos dos trabalhadores. Dessa forma, a omissão constitucional quanto a este aspecto da hora

ficta bem como do valor para o adicional noturno não pode ser usada para prejudicar o

trabalhador, sendo necessária uma interpretação conjugada entre o referido artigo 7º e as

disposições da CLT229, visto que não são dispositivos excludentes.

228 Importante lembrar que a hora noturna ficta de 52 minutos e 30 segundos, o percentual do adicional de 20% e o

horário tido como noturno apontados pela CLT não são aplicáveis ao trabalhador rural. Outras categorias de

trabalhadores também possuem peculiaridades em relação ao trabalho noturno. 229 O STF esclareceu este ponto com a edição da Súmula 214, que dispõe: A duração legal da hora de serviço noturno

(52 minutos e trinta segundos) constitui vantagem suplementar que não dispensa o salário adicional. Neste sentido,

pronunciou-se ainda o TST: OJ nº 127 da SDI do TST: HORA NOTURNA REDUZIDA. SUBSISTÊNCIA APÓS

A CF/1988 (inserida em 20.04.1998) O art. 73, § 1º da CLT, que prevê a redução da hora noturna, não foi revogado

pelo inciso IX do art. 7º da CF/1988.

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143

Apesar de o caput do artigo 73 da CLT ressalvar o pagamento do adicional noturno nos

casos de revezamento semanal ou quinzenal, o STF pronunciou-se, através da Súmula 213230, no

sentido de garantir o respectivo adicional ainda que o empregado esteja sujeito ao regime de

revezamento. Assim, encontra-se derrogado o texto do referido artigo celetista.

Acerca do cálculo do adicional noturno, leciona Sergio Pinto Martins231 que este é

realizado sobre a hora diurna. Nos estabelecimentos onde não há trabalho noturno frequente, o

respectivo adicional será pago tendo como base os quantitativos pagos por trabalhos diurnos que

tenham natureza semelhante.

Entende o TST232 que o adicional noturno deve integrar a base de cálculo das horas extras

prestadas no período da noite. Por sua vez, o presente trabalho concorda com o posicionamento

deste tribunal, tendo em vista que não faz sentido separar o cálculo destes adicionais caso o labor

extraordinário seja desempenhado no período legalmente compreendido como noturno. Esta

separação, além de prejudicial ao trabalhador, seria uma forma de permitir que o empregador

obtivesse vantagem financeira do dano à saúde do obreiro.

Quanto à prorrogação de jornada noturna, posicionou-se o TST no sentido de estender o

pagamento do adicional noturno quanto às horas prorrogadas caso cumprida integralmente a

jornada no período da noite (Súmula 60, II, TST233).

230 Súmula 213 do STF É devido o adicional de serviço noturno, ainda que sujeito o empregado ao regime de

revezamento. 231 MARTINS, Sergio Pinto. Comentários à CLT. 19 ed. São Paulo: ed. Atlas, 2015, p. 131 232 OJ nº97 da SBDI-1. HORAS EXTRAS. ADICIONAL NOTURNO. BASE DE CÁLCULO (inserida em

30.05.1997) O adicional noturno integra a base de cálculo das horas extras prestadas no período noturno. 233 Súmula nº 60 do TST ADICIONAL NOTURNO. INTEGRAÇÃO NO SALÁRIO E PRORROGAÇÃO EM

HORÁRIO DIURNO (incorporada a Orientação Jurisprudencial nº 6 da SBDI-1) - Res. 129/2005, DJ 20, 22 e

25.04.2005 I - O adicional noturno, pago com habitualidade, integra o salário do empregado para todos os efeitos. (ex-Súmula nº

60 - RA 105/1974, DJ 24.10.1974)

II - Cumprida integralmente a jornada no período noturno e prorrogada esta, devido é também o adicional quanto às

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144

No âmbito internacional, importante destacar a Convenção nº 171 da OIT sobre trabalho

noturno, ratificada pelo Brasil em 2002234. Apesar de muitas de suas disposições se coadunarem

ao tratamento constitucional e celetista dispensado ao tema, o referido documento traz inovações

sem correspondência no ordenamento pátrio.

Dentre os seus mais importantes artigos, destaca-se o artigo 3, que prevê a adoção de

medidas para a proteção da saúde dos trabalhadores bem como para ajuda-los nas suas

responsabilidades familiares e sociais, proporcionando-os oportunidades de melhoria na carreira e

compensando-os de forma adequada. Tais medidas, podendo ser aplicadas progressivamente,

devem ainda ser adotadas para a proteção e segurança da maternidade.

Como se vê, o dispositivo em comento dispensa uma proteção bem mais completa ao

trabalhador, não se limitando ao mero pagamento do adicional noturno. De fato, deve haver

responsabilização do empregador pelo trabalho noturno e pelas consequências advindas deste na

vida dos empregados. Destaca-se, não apenas nesse artigo, mas em todo o texto da Convenção nº

171, a necessidade de proteger a maternidade nas atividades noturnas.

O artigo 4 prevê a realização de avaliações gratuitas do estado de saúde dos trabalhadores,

sendo estes orientados continuamente na tentativa de reduzir ou evitar os problemas relacionados

ao trabalho noturno. Em caso de inaptidão temporária para o trabalho, haverá, para o empregado,

proteção contra a demissão (art. 6.3). Ao trabalhador que tenha total inaptidão para o labor

noturno deve ser concedida chance de adaptação no quadro da empresa em função similar (art.

6.1)

horas prorrogadas. Exegese do art. 73, § 5º, da CLT. (ex-OJ nº 6 da SBDI-1 - inserida em 25.11.1996) 234ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Convenção nº 171

sobre Trabalho Noturno. Disponível em: http://www.oitbrasil.org.br/node/515 Acesso em: 22 fev. 2016

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Outro dispositivo que merece destaque é o artigo 10, visto que dispõe sobre a necessidade

de o empregador consultar os representantes dos trabalhadores interessados antes da introdução

do horário noturno, devendo haver pactuação e explanação acerca dos seus detalhes para que

sejam pensadas formas de organização do trabalho noturno que melhor se adaptem tanto aos

interesses do empregador quanto aos interesses dos empregados.

A Convenção nº 171, apesar de ter sido ratificada pelo Brasil, ainda tem muitos pontos

não internalizados Deve haver uma maior observância de seus dispositivos, tendo em vista que

oferecem uma nova perspectiva acerca do trabalho noturno, apontando sua nocividade e

buscando o máximo reduzir o seu impacto para o trabalhador.

4.3.5 Trabalho extraordinário

A Constituição Federal, em seu artigo 7º, XIII, fixa a duração do trabalho normal não

superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, sendo facultada a compensação de

horários e a redução da jornada, mediante negociação coletiva. Para o serviço realizado de forma

extraordinária, a Constituição prevê ainda remuneração superior, no mínimo, em cinquenta por

cento à do serviço normal (art. 7º, XVI, CF).

A CLT, em sua Seção II, trata da jornada de trabalho. O artigo 58, fixa o limite de oito

horas diárias, que poderá ser modificado, em consonância com as disposições constitucionais.

Para o trabalho realizado em turno ininterrupto de revezamento, a Constituição Federal, em seu

artigo 7º, XIV, prevê um limite de jornada diferenciado, de seis horas, salvo negociação coletiva

em sentido contrário. Isso ocorre porque o empregado trabalha sempre em turnos variáveis, não

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tendo como manter uma rotina em sua vida social ou convívio familiar, além do que seu relógio

biológico é frequentemente desregulado, sem que haja tempo hábil ou descanso suficiente para

que o organismo se recupere.

Ressalte-se ainda que, apesar de aparentar ser uma forma de trabalho mais vantajosa para

o empregado, o labor em turnos ininterruptos de revezamento prejudica de forma ainda mais

agressiva o seu bem-estar do que o trabalho noturno, por isso que o texto constitucional lhe fixou

um limite de jornada inferior. Todavia, tal limite pode ser – e é – majorado através de negociação

coletiva, relativizando e enfraquecendo a peculiaridade instituída pela Carta Magna.

Neste sentido, as negociações coletivas que intentem majorar este limite de jornada de

trabalho devem estar preocupadas com a saúde do obreiro em um primeiro plano, tendo em vista

as consequências nocivas desta forma de labor. Caso contrário, o que ocorrerá é uma

desobediência ao texto constitucional, aplicando-se ao trabalhador em turno ininterrupto de

revezamento os mesmos limites para aquele que desempenha atividade em horário comum,

desconsiderando-se a natureza dos danos experimentados, sendo necessário levar em

consideração que, além do prejuízo à saúde do trabalhador, a jornada demasiadamente

prolongada e variável compromete o convívio familiar e social, bem como a formação pessoal do

trabalhador.235 O trabalho extraordinário, ainda que não realizado em turnos ininterruptos de

revezamento ou em outras condições adversas (trabalho insalubre, perigoso ou noturno), é, por si

só, prejudicial à qualidade de vida do empregado quando configurar um hábito.

O trabalho realizado de forma extraordinária deveria ocorrer apenas em condições

adversas, que fujam da normalidade do ritmo de labor, conforme disposto na redação do artigo

235 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 6 ed. São Paulo: LTR, 2011, p. 183

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61236, da CLT. Assim, a realização de trabalho extraordinário em regra é uma faculdade do

empregado. Entretanto, na prática, a autonomia de vontade do trabalhador é comprometida pela

sua posição hipossuficiente, de modo que este ato de escolha raramente acontece: o empregador

determina o cumprimento de horas extras mesmo que não haja nenhuma condição anormal e o

empregado o obedece por medo de ser dispensado, fazendo da jornada extraordinária uma

habitualidade.

O artigo 59237, do texto consolidado, prevê a possibilidade de acréscimo de até duas horas

suplementares à jornada, mediante acordo escrito ou contrato coletivo. Seu parágrafo primeiro

estabelece o valor do respectivo adicional em pelo menos 20% a mais do que a hora normal,

percentual este majorado pela Constituição Federal para 50%, visando intimidar a prática de

horas extras habituais.

236 Art. 61 - Ocorrendo necessidade imperiosa, poderá a duração do trabalho exceder do limite legal ou

convencionado, seja para fazer face a motivo de força maior, seja para atender à realização ou conclusão de serviços

inadiáveis ou cuja inexecução possa acarretar prejuízo manifesto.

§ 1º - O excesso, nos casos deste artigo, poderá ser exigido independentemente de acordo ou contrato coletivo e

deverá ser comunicado, dentro de 10 (dez) dias, à autoridade competente em matéria de trabalho, ou, antes desse

prazo, justificado no momento da fiscalização sem prejuízo dessa comunicação.

§ 2º - Nos casos de excesso de horário por motivo de força maior, a remuneração da hora excedente não será inferior à da hora normal. Nos demais casos de excesso previstos neste artigo, a remuneração será, pelo menos, 25% (vinte e

cinco por cento) superior à da hora normal, e o trabalho não poderá exceder de 12 (doze) horas, desde que a lei não

fixe expressamente outro limite.

§ 3º - Sempre que ocorrer interrupção do trabalho, resultante de causas acidentais, ou de força maior, que

determinem a impossibilidade de sua realização, a duração do trabalho poderá ser prorrogada pelo tempo necessário

até o máximo de 2 (duas) horas, durante o número de dias indispensáveis à recuperação do tempo perdido, desde que

não exceda de 10 (dez) horas diárias, em período não superior a 45 (quarenta e cinco) dias por ano, sujeita essa

recuperação à prévia autorização da autoridade competente. 237 Art. 59 - A duração normal do trabalho poderá ser acrescida de horas suplementares, em número não excedente

de 2 (duas), mediante acordo escrito entre empregador e empregado, ou mediante contrato coletivo de trabalho.

§ 1º - Do acordo ou do contrato coletivo de trabalho deverá constar, obrigatoriamente, a importância da remuneração

da hora suplementar, que será, pelo menos, 20% (vinte por cento) superior à da hora normal. § 2º - Poderá ser dispensado o acréscimo de salário se, por força de acordo ou convenção coletiva de trabalho, o

excesso de horas em um dia for compensado pela correspondente diminuição em outro dia, de maneira que não

exceda, no período máximo de um ano, à soma das jornadas semanais de trabalho previstas, nem seja ultrapassado o

limite máximo de dez horas diárias.

§ 3º - Na hipótese de rescisão do contrato de trabalho sem que tenha havido a compensação integral da jornada

extraordinária, na forma do parágrafo anterior, fará o trabalhador jus ao pagamento das horas extras não

compensadas, calculadas sobre o valor da remuneração na data da rescisão.

§ 4º - Os empregados sob o regime de tempo parcial não poderão prestar horas extras.

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O referido artigo da CLT, em seus parágrafos 4º e 2º, respectivamente, prevê ainda a

vedação ao trabalho extraordinário para os empregados sob o regime de tempo parcial, bem como

estabelece formas de dispensa do pagamento do respectivo adicional através do famoso “banco

de horas”.

As formas de “combate” ao trabalho extraordinário no ordenamento brasileiro não

conseguem exterminá-lo ou reduzi-lo, mas parecem fomentá-lo. O que deveria ser exceção vira

regra, pois para o empregador é mais viável adotar a prática constante do trabalho extraordinário

do que contratar mais funcionários.

O trabalhador não tem voz ativa para se insurgir contra o trabalho exaustivo praticado

com assiduidade. A compensação financeira acaba soando tentadora, e de forma inconsciente o

trabalhador vende sua qualidade de vida por um irrisório valor. Por outro lado, o instituto do

banco de horas e os acordos de compensação, apesar de minimizarem o problema da monetização

da saúde, são mecanismos impostos ao trabalhador e não realmente dialogados. Como bem

ressalta Sebastião Geraldo de Oliveira238, o trabalhador, sozinho, não tem força e autonomia para

negociar a forma e a amplitude das compensações. Além do que, muitas vezes estes mecanismos

são desvirtuados, de modo que o empregador nem compensa monetariamente o empregado nem

fornece o repouso adequado ao seu refazimento, que deveria ser a primeira opção a ser adotada.

A adoção do trabalho extraordinário como regra, mediante pagamento de adicional ou

compensação (esta sendo elastecida de forma demasiada pelos bancos de horas) prejudica a saúde

física e mental do trabalhador, mas não apenas isto. Em que pese aparentemente tratar-se de uma

problemática individual, o trabalho extraordinário habitual revela uma questão de origem mais

238 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 6 ed. São Paulo: LTR, 2011, p.

183

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profunda, um verdadeiro desequilíbrio labor ambiental, visto que geralmente a prestação de

serviço em caráter extraordinário não se restringe a um trabalhador ou um setor, mas é política do

empregador em todos ou na maior parte dos contratos de trabalho celebrados.

O que se visa proteger, quando do combate ao trabalho extraordinário, não é a saúde e

segurança do trabalhador individualmente considerado, mas atentar para a ordem deste

desequilíbrio, que é de natureza estrutural239. Algumas vezes o agente nocivo está tão arraigado

no cotidiano que é legitimado, olvidando-se das suas consequências para o trabalhador.

Para uma melhor proteção do trabalhador deste fator de desequilíbrio labor ambiental é

necessário que se harmonize as diretrizes constitucionais com o disposto em legislação ordinária,

restringindo a prestação de horas extras às hipóteses de força maior ou conclusão de serviço

inadiável240. A adoção destas medidas além de beneficiar o trabalhador e lhe proporcionar um

maior tempo para refazimento e convívio social, ajudaria ainda no problema do desemprego

estrutural, tendo em vista que para suprir a demanda de determinadas atividades haveria a

necessidade de contratação de outros funcionários para preencher o período que era de labor

extraordinário. Neste ponto, os sindicatos das categorias, o Ministério do Trabalho e Previdência

Social e o Ministério Público do Trabalho devem atentar para as negociações realizadas, visto

que muitas delas ostentam objetivos de majoração do lucro dos empregadores a partir da

coisificação do trabalhador, mascarando seus interesses com o argumento de evitar o fantasma do

239 Em suma, “O meio ambiente do trabalho[...] foca a proteção da saúde do trabalhador não apenas contra infortúnios e doenças laborais, mas também a favor da manutenção da sadia qualidade de vida no trabalho, pela

própria importância social e pessoal da atividade laboral: o tempo desprendido nessa atividade, a interação entre as

pessoas, as relações interpessoais por vezes dotadas de hierarquia, competição ou cooperação” In: MARTINS, Ana

Luísa Leitão; LOUSAS, Juliana Ramalho; ALMEIDA, Taisa Luizari Fontoura da Silva de. O direito dos não

fumantes no ambiente de trabalho. In: FELICIANO, Guilherme Guimarães; URIAS, João (Coord.). DIREITO

AMBIENTAL DO TRABALHO: apontamentos para uma teoria geral. São Paulo: LTR, v.1, 2013, p.60. 240 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 6 ed. São Paulo: LTR, 2011, p.

182.

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desemprego estrutural, implicando em flexibilização de direitos apenas para a classe

trabalhadora.

4.4 A CUMULAÇÃO DOS ADICIONAIS E A MONETIZAÇÃO DA SAÚDE

O pagamento de qualquer tipo de adicional, independentemente da sua causa, deve ser

tido como última opção, quando nada mais puder ser feito para prevenir ou ao menos neutralizar

o dano ao ambiente de trabalho. Sabido que, em algumas atividades, a eliminação e até mesmo a

neutralização do agente nocivo são inviáveis, deve-se, portanto, estabelecer paradigmas mais

firmes para os adicionais instituídos em lei para que efetivamente cumpram com seus objetivos.

Primeiramente, deve-se lembrar que antes da previsão constitucional, os adicionais de

hora extra, trabalho noturno, trabalho em condições insalubres e perigosas já estavam presentes

na legislação trabalhista brasileira. A Constituição Federal de 1988 trouxe consigo uma ordem

fundada na dignidade humana e na valorização social do trabalho, fazendo com que todo o

ordenamento seja visto e interpretado sobre esta ótica protetiva, inclusive a legislação trabalhista,

mesmo aquela já vigente quando da promulgação do novo texto constitucional.

Desse modo, todo documento do universo jurídico pátrio ou que a ele venha integrar deve

ser analisado com fulcro nos valores constitucionais. Assim, como boa parte da legislação

trabalhista vigente advém da CLT ou de legislação esparsa anterior à Carta Magna, ainda que

tenha sido recepcionada por esta, deve ser interpretada à luz de seus dispositivos e não os

contrariando, visto que à época em que tais instrumentos normativos foram editados os valores

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protegidos eram outros e as ideias de saúde, segurança e higiene do trabalho, principalmente,

foram atualizadas e ampliadas.

Portanto, apesar das modificações normativas sofridas pela CLT e pelo constante

processo de adequação realizado através da interpretação jurisprudencial 241, a leitura isolada de

seus dispositivos compromete a proteção do trabalhador, legitimando-se, por vezes, a

monetização de sua saúde e elegendo-se a compensação financeira como primeira opção na

efetivação do direito ao meio ambiente do trabalho adequado.

Na época da sistematização das normas trabalhistas na CLT, o capítulo que tratava sobre a

Higiene e Segurança do Trabalho foi considerado um dos mais completos da legislação

comparada neste assunto242. Em 1977, novo capítulo denominado “Segurança e Medicina do

Trabalho” foi aprovado, enfatizando a neutralização e eliminação do agente agressor e atribuindo

ao Ministério do Trabalho e Previdência Social a competência para expedir normas para a

aplicação das disposições ali enunciadas, além da sua função fiscalizadora. Como se nota, o

capítulo é anterior à CF/88, necessitando de atualização e leitura conforme o texto e valores

constitucionais vigentes.

A competência normativa atribuída ao Ministério do Trabalho e Previdência Social é

materializada a partir da edição das Normas Regulamentadoras, instrumentos de suma

importância para a proteção da saúde, segurança e bem-estar do indivíduo no local de trabalho,

largamente mencionadas ao longo desta pesquisa.243 Todavia, este avanço normativo não

241 DELGADO, Maurício Godinho; DELGADO, Gabriela Neves. Direito do Trabalho e Inclusão Social – Estrutura,

Evolução e Papel da CLT no Brasil. In: ________________. Constituição da República e Direitos Fundamentais:

Dignidade da Pessoa Humana, Justiça Social e Direito do Trabalho. 3 ed. São Paulo: LTR, 2015, p.123 242 SUSSEKIND, Arnaldo. Direito Constitucional do Trabalho. 4 ed. Rio de Janeiro: Renovar, p.269-271 243 PADILHA, Norma Sueli. Meio ambiente do trabalho: um direito fundamental do trabalhador e a superação da

monetização do risco. In: Revista do Tribunal Superior do Trabalho, São Paulo, v. 79, n. 4, p.176, out./dez. 2013.

Trimestral. Disponível em:

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provocou efetiva mudança no cenário do desrespeito à saúde do trabalhador e à higidez do

ambiente de labor, não conseguindo acompanhar os novos fatores nocivos oriundos dos avanços

tecnológicos e, por diversas vezes, burocratizando mais do que efetivamente garantindo a

concretização do direito ao meio ambiente de trabalho sadio.

É, portanto, diante deste panorama que se faz necessária uma nova leitura do texto

consolidado, bem como das disposições normativas do Ministério do Trabalho e Previdência

Social à luz das diretrizes constitucionais de valorização e proteção do trabalhador244. Caso

contrário, legitima-se a venda de seu bem-estar e qualidade de vida.

A grande importância de se adotar uma leitura constitucional da proteção do trabalhador

e, mais especificamente, do ambiente de trabalho é o alargamento do objeto a ser tutelado e as

respectivas possibilidades de fazê-lo. Admite-se, ainda mais, que este não é um problema a ser

enxergado somente a partir das disposições trabalhistas, tendo em vista que muitas, apesar de

formalmente recepcionadas, não se coadunam com os valores constitucionais e tampouco com os

documentos internacionais incorporados pelo Brasil, muito mais alinhados com a valorização do

trabalho constitucionalmente promovida.

O Direito do Trabalho, no Brasil, ainda se volta para a reparação do dano, em vez de

privilegiar a adoção de medidas preventivas e correção do risco na fonte. O grande número de

<http://aplicacao.tst.jus.br/dspace/bitstream/handle/1939/55993/009_padilha.pdf?sequence=1>. Acesso em: 20 fev.

2016.

244 Neste sentido, brilhantemente pontuam Maurício Godinho Delgado e Gabriela Neves Delgado: “[...] a

promulgação da Constituição Federal de 1988 é um marco no debate em torno desse processo de desmercantilização,

por elaborar fundamentos mais sistematizados de proteção ao trabalho. Notadamente, o elenco de direitos

fundamentais previstos na Constituição unifica o sentido de proteção ao trabalho e, em certa medida, direciona o

sentido de atuação da Justiça do Trabalho” In: DELGADO, Maurício Godinho; DELGADO, Gabriela Neves. O

Papel da Justiça do Trabalho no Brasil. In: ________________. Constituição da República e Direitos

Fundamentais: Dignidade da Pessoa Humana, Justiça Social e Direito do Trabalho. 3 ed. São Paulo: LTR, 2015,

p.161

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acidentes de trabalho245 externa apenas as consequências da falta de sistematização na garantia do

direito ao meio ambiente de labor sadio, prejudicando o trabalhador e sobrecarregando o Estado,

mas não ensejando em punições e represálias para o empregador, maior responsável pelo ato

danoso.

A previsão constitucional para o pagamento dos adicionais de periculosidade, de

insalubridade e de penosidade, bem como da retribuição pecuniária pelo trabalho noturno e

extraordinário deve ser lida em conjunto com o inciso que institui a redução dos riscos inerentes

ao trabalho como objetivo e dever do empregador. A interpretação, portanto, é sistêmica, não

excludente.

Neste sentido, resguardando os mesmos valores que norteiam a ordem constitucional

brasileira, as Convenções da OIT sobre saúde, segurança do trabalhador e meio ambiente de

trabalho estabelecem a necessidade de constante esforço para eliminar ou neutralizar o máximo

possível os agentes nocivos e, quando não for possível, deve ser levado em consideração se o

ambiente é prejudicado por mais de um fator de risco à vida ou à saúde. Entretanto, apesar de

ratificados e em vigor, esses documentos não têm seu texto de fato incorporado ao ordenamento

pátrio. Em vez disso, continuam a ser aplicados dispositivos desatualizados de natureza

meramente reparatória e prejudicial ao trabalhador, em desrespeito não apenas ao pactuado

internacionalmente, mas aos próprios valores e fundamentos escolhidos pelo Estado brasileiro.

A legislação pátria não permite a cumulação de adicional, ou ainda o cálculo de adicional

sobre adicional, ao menos em regra. Neste norte, a NR 15.3 veda a percepção de mais de um

adicional de insalubridade, ainda que o trabalhador esteja exposto a mais de um agente insalubre.

245 De acordo com dados divulgados no Portal do TST, em 2013 o total de acidentes no Brasil foi de 559.081, sendo

432.254 acidentes típicos, 111.601 acidentes de trajeto, 15.226 doenças e 2.797 mortes. Em média, diariamente 48

trabalhadores são excluídos do mundo do trabalho por doenças ocupacionais ou acidentes de trabalho. Disponível

em: http://www.tst.jus.br/documents/1199940/1207004/Estat%C3%ADstica Acesso em: 02 maio 2016.

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O artigo 193, § 2º da CLT e a NR 16.2.1, por sua vez, vedam a percepção cumulativa dos

adicionais de insalubridade e periculosidade, devendo o indivíduo optar por apenas um, mesmo

que desempenhe suas atividades em ambiente insalubre e perigoso. Ainda nesta interpretação

restritiva, a Súmula nº 191 do TST246 dispõe que o adicional de periculosidade incide apenas

sobre o salário básico e não sobre este acrescido de outros adicionais.

Percebe-se que o problema não é a presença dos adicionais como forma de proteção à

higidez do local de trabalho. O problema, na verdade, é o modo que os adicionais são previstos, a

posição que ocupam na escala de medidas de tutela (em vez de serem a última opção, são a única)

e, ainda mais, o seu caráter irrisório.

Assim, os trabalhos perigosos, insalubres, noturnos ou extraordinários não assumem mais

o caráter esporádico, mas passam a incorporar definitivamente o contrato de trabalho247. O

trabalho penoso, por sua vez, sequer foi regulamento na legislação trabalhista, estando presente

apenas na Previdência Social, como forma de aposentadoria especial, o que legitima sua prática

de forma desmedida, pois qualquer trabalho desenvolvido em condições precárias pode vir a se

enquadrar como penoso.

Neste mesmo norte, constata-se que o adicional de insalubridade possui base de cálculo

problemática e irrisória e, mesmo que o indivíduo esteja sujeito à influência de mais de um fator

insalubre somente será compensado, financeiramente, pelo mais grave, aplicando-se o disposto

em uma norma regulamentadora desatualizada em detrimento da expressa menção nas

convenções da OIT ratificadas pelo Brasil da necessidade de constante atualização e revisão

246 Súmula nº 191 ADICIONAL. PERICULOSIDADE. INCIDÊNCIA (nova redação) - Res. 121/2003, DJ 19,

20 e 21.11.2003 O adicional de periculosidade incide apenas sobre o salário básico e não sobre este acrescido de

outros adicionais. Em relação aos eletricitários, o cálculo do adicional de periculosidade deverá ser efetuado sobre a

totalidade das parcelas de natureza salarial. 247 PRATA, Marcelo Rodrigues. O Direito Ambiental do Trabalho numa perspectiva sistêmica. São Paulo: LTR,

2013, p. 160.

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periódica do quadro de atividades consideradas como nocivas e da consideração de todos os

fatores poluentes presentes.

O adicional de periculosidade, apesar de possuir base de cálculo mais benéfica, não incide

sobre o salário acrescido de outros adicionais, o que torna economicamente ainda mais viável

para o empregador arriscar a vida do obreiro em prol da atividade financeira.

O trabalho extraordinário é realizado de forma tão frequente que sua nomenclatura chega

a ser contraditória; e para o trabalho noturno não há repouso adequado: há um total descaso com

o bem-estar do empregado, havendo até mesmo crítica à OJ nº 97, da SBDI-1 do TST, que prevê

a integração do adicional noturno à base de cálculo das horas extras.

Se é bem verdade que o mero pagamento dos adicionais não resolve o problema, como

pode ser constatado pelas consequências que a prática da monetização da saúde trouxe para o

trabalhador brasileiro, pagá-lo da forma equivocada só contribui para violação deste direito

internacional e constitucionalmente tutelado.

Dessa forma, além da modificação na base de cálculo, deve-se aceitar a percepção

cumulativa dos adicionais, caso de fato haja mais de um fator nocivo no ambiente em que o

indivíduo desenvolve seus serviços e nenhum destes possa ser ao menos reduzido a um nível

tolerável. Caso o trabalho extraordinário seja realizado à noite, este dado tem que ser considerado

para o cálculo do adicional de hora extra. O mesmo deve ocorrer ainda no cálculo dos adicionais

de insalubridade e periculosidade, caso o ambiente seja tanto insalubre quanto perigoso, pois

somente assim o empregador será realmente onerado pela sua inércia quanto à modificação das

condições ambientais. Os percentuais, isoladamente, bem como suas bases de cálculo acabam

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compensando a violação à saúde do trabalhador, legitimando assim a sua monetização em prol do

lucro, priorizando-se a lógica do capital em detrimento da saúde e bem-estar do obreiro.

Não há razão para prosperar a vedação da cumulação dos adicionais de periculosidade e

insalubridade presente no artigo 193, § 2º, CLT e na NR 16.2.1 - ou da incidência de mais de um

adicional de insalubridade, em caso de mais de um fator nocivo à saúde presente no local de

trabalho -, tendo em vista que estes têm origens distintas. Não pode o trabalhador ser compensado

apenas por um dano se está exposto a múltiplos, porque um agente nocivo não anula o outro, mas

sim o potencializa.

Proibir a cumulação dos adicionais é agravar, ainda mais, a questão da tutela do local de

trabalho, visto que na maioria dos casos o direito ao meio ambiente de trabalho hígido é

assegurado apenas de forma mediata, com o pagamento destes. Já no que diz respeito à percepção

cumulada dos adicionais de insalubridade e periculosidade com adicional de penosidade, importa

destacar, não existe qualquer vedação legal, constitucional ou internacional.

O empregador é responsável pela atividade econômica, não podendo repassar seus custos

para os trabalhadores. Fazê-lo seria subverter o real sentido do princípio do poluidor-pagador,

transferindo para o empregado a responsabilidade pela viabilidade dos negócios. Não há

crescimento econômico que se sobreponha à valorização do trabalho, conforme expressa

disposição constitucional. Por outro lado, não pode ainda o custo pelo descumprimento dos

deveres do empregador de zelar pelo local de trabalho ser repassado de forma integral para o

Estado, porque este não consegue atender aos indivíduos prejudicados da forma apropriada, tendo

em vista que estes muitas vezes são alvo de danos irreparáveis. O Estado deve ser

responsabilizado apenas de forma subsidiária, por não fiscalizar na periodicidade necessária, mas

não pode ser visto como o principal violador neste caso, pois, a priori, se é o empregador

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responsável pelos lucros e custos do empreendimento, é sua a responsabilidade pelas despesas

inerentes a um ambiente de trabalho sadio248, cabendo ao Poder Público exercer uma inspeção

mais intensa e repressiva para efetivamente assegurar a concretização deste direito.

Dessa forma, não se pretende aqui defender a inversão na ordem de proteção do ambiente

de trabalho, mas se propõe uma leitura sistemática dos seus instrumentos protetivos, de modo a

permitir a cumulação entre os adicionais quando a neutralização ou eliminação não se fizerem

possíveis.

Assim, os incisos XXII e XXIII do artigo 7º da Constituição Federal são compatíveis e

não excludentes ao entender-se que o adicional só é devido de forma residual, quando não for

possível eliminar os riscos inerentes ao trabalho. 249 Em entendimento contrário, Alice Monteiro

de Barros250 defende que existe, na Constituição, uma antinomia entre os artigos que tutelam a

saúde do trabalhador (art. 225, caput, art. 200, VIII, art. 7º, XXII) e o art. 7º, XXIII, que lhe

assegura o adicional de insalubridade, periculosidade e penosidade.

Com a devida vênia, a incongruência de tais dispositivos é dissipada quando de sua leitura

à luz dos fundamentos constitucionais e dos documentos da OIT, pois se chega à conclusão que a

compensação financeira é aceitável, mas somente como última opção. A interpretação do direito

ao pagamento destes adicionais jamais pode ser realizada com vistas a beneficiar o empregador,

tendo este que envidar todos os esforços possíveis para manter as condições do local de trabalho

248 FERNANDES, Fábio. Meio Ambiente Geral e Meio Ambiente do Trabalho: uma visão sistêmica. São Paulo:

LTR, 2009, p. 109. 249COSTA, Aline Moreira de; GONÇALVES, Leandro Krebs; ALMEIDA, Victor Hugo de. Meio ambiente do

trabalho e proteção jurídica do trabalhador: (re) significando paradigmas sob a perspectiva constitucional. In:

FELICIANO, Guilherme Guimarães; URIAS, João (Coord.). DIREITO AMBIENTAL DO TRABALHO:

apontamentos para uma teoria geral. São Paulo: LTR, v. 1, 2013, p.131. 250 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 7 ed. São Paulo: LTR, 2011, p. 850

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equilibradas e somente em total impossibilidade é que se deve proceder ao pagamento de tais

verbas, as quais devem ainda ter sua base de cálculo revista.

A meta do empregador deve ser sempre a eliminação dos fatores nocivos, somente

partindo para a sua neutralização e, por fim, à compensação financeira relativa à exposição em

caso de inviabilidade. Assim, o pagamento dos adicionais é, repisa-se, residual, jamais primeira

opção, e deve realmente onerar o empregador, de forma a estimulá-lo a buscar mecanismos que

mantenham o ambiente adequado à prestação laboral.

4.5 AS CONVENÇÕES DA OIT SOBRE SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHADOR E O

EXERCÍCIO DO CONTROLE INTERNO DE CONVENCIONALIDADE COMO FORMA DE

GARANTIR O DIREITO AO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO EQUILIBRADO

No intuito de chegar a soluções para problemas considerados comuns, os Estados

celebram os tratados internacionais, visando assim disciplinar as relações interestatais nos níveis

global e regional. Os tratados, após a sua ratificação e entrada em vigor para o país signatário, são

de observância obrigatória no seu âmbito interno, por todos os seus poderes e instituições,

atendendo-se assim aos princípios da boa-fé contratual e do pacta sunt servanda 251, que norteiam

os Estados nas suas relações internacionais. Portanto, não se pode assumir um compromisso com

outros Estados ou organismos internacionais se não há intenção de efetivamente colocar em

prática o que ali foi acordado em seu âmbito interno.

251 MARTINS, Leonardo; MOREIRA, Thiago Oliveira. Controle de convencionalidade de atos do poder público:

concorrência ou hierarquia em face do controle de constitucionalidade? In: PAGLIARINI, Alexandre Coutinho;

DIMOULIS, Dimitri (Coord.) Direito Constitucional e internacional dos direitos humanos. Belo Horizonte:

Fórum, 2012, p.293-315.

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Conforme já debatido em tópico anterior, os tratados internacionais, quando da sua

ratificação, não ocupam a mesma posição no ordenamento jurídico brasileiro, havendo distinção

de acordo com a matéria de que cuidam e da forma com que são incorporados.

Aos tratados internacionais que versam sobre Direitos Humanos são apontados dois

caminhos: ratificação mediante quórum qualificado, reservado às emendas constitucionais, a

partir da qual passam a integrar formal e materialmente a Constituição Federal de 1988252, ou a

ratificação comum, quando passam a integrar o texto constitucional apenas em seu aspecto

material, por força do artigo 5º, §2º, CF253. Aos tratados comuns, que versem sobre temas

diversos que não de Direitos Humanos, cabe, de acordo com o entendimento doutrinário e

jurisprudencial dominante, o status de lei federal, apesar de todas as ressalvas já feitas neste

trabalho acerca deste posicionamento254. Assim sendo, as leis infraconstitucionais devem

obedecer aos seguintes limites verticais: a Constituição Federal, os tratados de Direitos Humanos

e os demais tratados255, servindo tais limites de controle de produção normativa doméstica.

Dessa forma, toda a normativa doméstica deve ser observada tendo em vista esses três

parâmetros, de modo que para ser considerada válida deve estar em consonância não apenas com

as diretrizes constitucionais, mas também com o disposto nos tratados internacionais de Direitos

Humanos e nos tratados internacionais comuns.

252 Passando, inclusive, a figurar dentre as cláusulas pétreas, em consonância com o disposto no artigo 60, § 4º, IV,

CF 253 Destaca-se que a posição hoje dominante no STF é de que tais tratados têm natureza supralegal, conforme voto do Ministro Gilmar Mendes no RE 466.343/SP. Entretanto, esta não é a posição defendida e adotada neste trabalho. 254 Para Valério Mazzuoli, posição a qual o presente trabalho também se coaduna, estes tratados assumem, na

hierarquia normativa, a posição de supralegalidade, tendo em vista que não pode ser revogado por lei interna

posterior, sob pena de violação ao artigo 27 da Convenção de Viena de 1969. Cf: MAZZUOLI, Valério de Oliveira.

O controle jurisdicional da convencionalidade das leis. 3 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, p.81 255 Pois se entende que mesmo não se tratando de documento que verse sobre Direitos Humanos, o tratado

internacional não pode assumir status de lei federal, tendo em vista que não pode ser revogado por lei posterior.

Assume, assim, status supralegal. Neste sentido, cf: Ibidem.

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160

Quanto a este procedimento de aferição de compatibilidade de leis, Valério Mazzuoli256

destaca três fenômenos: o controle de constitucionalidade, o controle de convencionalidade e o

controle de supralegalidade257. O controle de constitucionalidade quando da verificação da

harmonia entre a lei e a Constituição; o controle de convencionalidade ocorre quando da

compatibilidade entre os tratados internacionais de Direitos Humanos ratificados e em vigor e a

normativa pátria; e o controle de supralegalidade, por fim, ocorre quando da verificação de

harmonia entre os demais tratados e as leis.

Quanto ao controle de convencionalidade, ressalte-se ainda que este pode ocorrer tanto

nas formas difusa quanto concentrada, dependendo do status do tratado de Direitos Humanos

quando de sua incorporação: se incorporado através do quórum qualificado, haverá possibilidade

de controle de convencionalidade nas duas formas; caso ostente apenas aspecto materialmente

constitucional, é passível apenas de controle de convencionalidade em sua forma difusa.

As convenções da OIT sobre saúde e segurança do trabalhador analisadas nesta pesquisa

não foram aprovadas, quando de sua internalização, através de quórum qualificado e, portanto,

ostentam apenas o status materialmente constitucional. Outrossim, todas estão em pleno vigor,

sendo, além de aplicáveis, verdadeiros limites para aferição de controle de convencionalidade e

não apenas de supralegalidade. Assim, além de plenamente exigíveis quanto ao seu cumprimento,

estes instrumentos internacionais servem de limites para a legislação doméstica, não se admitindo

256 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. O controle jurisdicional da convencionalidade das leis. 3 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, p.73-147. 257 Os controles de constitucionalidade e de supralegalidade não serão melhor desenvolvidos neste tópico tendo em

vista a pertinência temática. Quanto ao controle de constitucionalidade, a doutrina é vasta e quanto ao controle de

supralegalidade não há interesse em maior desenvolvimento posto que para o tema que será explano, qual seja a

utilização das convenções da OIT como parâmetro para a normativa doméstica, não haver relação, vez que esta

pesquisa aceita tais convenções como passiveis de controle de convencionalidade devido ao seu aspecto

materialmente constitucional, em razão da matéria que ostentam, e não apenas passíveis de controle de

supralegalidade.

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nenhuma produção normativa que vá de encontro ao que ali está disposto, somente se mais

favorável ao trabalhador por expressa disposição da Constituição da OIT.

O controle de convencionalidade não é apenas técnica legislativa de compatibilização ou

mero mecanismo internacional de apuração dos atos do Estado, mas deve ser encarado como

meio judicial de declaração de invalidade de leis incompatíveis com os tratados de Direitos

Humanos, através de controle difuso, no caso das convenções da OIT sobre saúde e segurança do

trabalhador.

Portanto, a legislação doméstica deve atentar para o disposto nestes documentos

internacionais, não podendo dispor de forma contrária, prejudicando o trabalhador. Ademais, o

Poder Judiciário é plenamente competente para proceder ao controle de convencionalidade

quando da tutela jurisdicional, não havendo qualquer respaldo para a inaplicação das referidas

convenções e seus dispositivos, tendo em vista que a legislação interna se encontra defasada e em

total desacordo com os valores internacionais e constitucionais de proteção ao trabalhador e ao

ambiente de trabalho. Sem prejuízo, o conteúdo de tais documentos é oponível perante todo o

Poder Público, de forma a embasar sua atuação punitiva e preventiva.

Apesar da grande resistência por parte da doutrina e da Justiça do Trabalho no sentido de

exercer o controle de convencionalidade, a Sétima Turma do TST recentemente decidiu, nos

autos do Recurso de Revista nº 1072-72.2011.5.02.0384258, pela cumulação dos adicionais de

258 Devido à extrema pertinência e avanço na decisão ora mencionada, colaciona-se na íntegra sua ementa, conforme

se segue: RECURSO DE REVISTA. CUMULAÇÃO DOS ADICIONAIS DE INSALUBRIDADE E PERICULOSIDADE. POSSIBILIDADE. PREVALÊNCIA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS E

SUPRALEGAIS SOBRE A CLT. JURISPRUDÊNCIA CONSOLIDADA DO STF QUANTO AO EFEITO

PARALISANTE DAS NORMAS INTERNAS EM DESCOMPASSO COM OS TRATADOS INTERNACIONAIS

DE DIREITOS HUMANOS. INCOMPATIBILIDADE MATERIAL. CONVENÇÕES NOS 148 E 155 DA OIT.

NORMAS DE DIREITO SOCIAL. CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE. NOVA FORMA DE

VERIFICAÇÃO DE COMPATIBILIDADE DAS NORMAS INTEGRANTES DO ORDENAMENTO JURÍDICO.

A previsão contida no artigo 193, § 2º, da CLT não foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988, que, em seu

artigo 7º, XXIII, garantiu de forma plena o direito ao recebimento dos adicionais de penosidade, insalubridade e

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periculosidade e insalubridade, fazendo expressa menção ao disposto nas Convenções nº 148 e

155 da OIT sobre saúde e segurança do trabalhador que determinam a necessidade de considerar

os diversos fatores nocivos a que o trabalhador está exposto. Na decisão ficou ressaltado ainda

que o artigo 193, § 2º da CLT, que veda a percepção cumulativa dos adicionais, não foi

recepcionado pela Constituição Federal de 1988, além do que prevaleceu o entendimento de que

as normas constitucionais e supralegais – tratando as referidas convenções da OIT como

supralegais, tendo em vista que não foram formalmente incorporadas ao texto constitucional - são

hierarquicamente superiores ao texto consolidado.

Esta decisão mostra uma tímida mudança de paradigma259, adotando-se uma interpretação

mais articulada entre direito interno e internacional para a proteção do trabalhador, concretizando

periculosidade, sem qualquer ressalva no que tange à cumulação, ainda que tenha remetido sua regulação à lei

ordinária. A possibilidade da aludida cumulação se justifica em virtude de os fatos geradores dos direitos serem

diversos. Não se há de falar em bis in idem. No caso da insalubridade, o bem tutelado é a saúde do obreiro, haja vista

as condições nocivas presentes no meio ambiente de trabalho; já a periculosidade traduz situação de perigo iminente

que, uma vez ocorrida, pode ceifar a vida do trabalhador, sendo este o bem a que se visa proteger. A regulamentação

complementar prevista no citado preceito da Lei Maior deve se pautar pelos princípios e valores insculpidos no texto

constitucional, como forma de alcançar, efetivamente, a finalidade da norma. Outro fator que sustenta a

inaplicabilidade do preceito celetista é a introdução no sistema jurídico interno das Convenções Internacionais nos

148 e 155, com status de norma materialmente constitucional ou, pelo menos, supralegal, como decidido pelo STF. A

primeira consagra a necessidade de atualização constante da legislação sobre as condições nocivas de trabalho e a segunda determina que sejam levados em conta os -riscos para a saúde decorrentes da exposição simultânea a

diversas substâncias ou agentes-. Nesse contexto, não há mais espaço para a aplicação do artigo 193, § 2º, da CLT.

Recurso de revista de que se conhece e a que se nega provimento. (RR - 1072-72.2011.5.02.0384 Data de

Julgamento: 24/09/2014, Relator Ministro: Cláudio Mascarenhas Brandão, 7ª Turma, Data de Publicação: DEJT

03/10/2014).

259 Neste mesmo sentido, destaca-se decisão mais atual de mesma turma em sede de Recurso de Revista,

corroborando o posicionamento anterior: RECURSO DE REVISTA DA RECLAMADA - CUMULAÇÃO DO

ADICIONAL DE INSALUBRIDADE E DO ADICIONAL DE PERICULOSIDADE - POSSIBILIDADE -

PREVALÊNCIA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS E SUPRALEGAIS SOBRE A CLT - JURISPRUDÊNCIA

DO STF - OBSERVÂNCIA DAS CONVENÇÕES NºS 148 E 155 DA OIT. No julgamento do RR - 1072-

72.2011.5.02.0384, de relatoria do Min. Cláudio Mascarenhas Brandão, esta Turma julgadora firmou entendimento de que a norma contida no art. 193, § 2º, da CLT não foi recepcionada pela Constituição Federal, que, em seu art. 7º,

XXIII, garantiu o direito dos trabalhadores ao percebimento dos adicionais de insalubridade e de periculosidade, sem

ressalva acerca da cumulação. A possibilidade de recebimento cumulado dos mencionados adicionais se justifica em

face de os fatos geradores dos direitos serem diversos. No caso, a Corte a quo manteve a sentença que deferira o

pedido de pagamento do adicional de insalubridade em grau máximo decorrente do contato com álcalis cáusticos e

hidrocarbonetos e de pagamento do adicional de periculosidade em face da exposição do obreiro à fonte radioativa. A

inclusão no sistema jurídico interno das Convenções Internacionais nºs 148 e 155, com a qualidade de normas

materialmente constitucionais ou supralegais, como decidido pelo STF, determina a atualização contínua da

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o fundamento da valorização social do trabalho e realizando a necessária atualização do Direito

do Trabalho. De toda sorte, como era de se esperar, foram opostos Embargos de Divergência e o

processo ainda está em tramitação, aguardando uma uniformização de jurisprudência.

Caso esse entendimento prevaleça, representará uma virada na jurisprudência trabalhista

no sentido de efetivamente aplicar os documentos internacionais trabalhistas, tendo em vista

serem mais favoráveis ao trabalhador na proteção de um ambiente hígido e plenamente

compatíveis com os valores constitucionais pátrios e os princípios norteadores do direito em

comento.

A resistência para essa mudança, entretanto, será grande, pois se ameaça realmente mexer

com o bolso do empregador pelo desrespeito à saúde do obreiro, deixando de ser lucrativo pagar

os respectivos adicionais sem nada se fazer para minimizar o impacto dos fatores nocivos na vida

dos trabalhadores.

Não deve, contudo, o Judiciário intimidar-se e retroceder260; é necessário que cumpra com

sua tarefa de atualizar e manter a aplicação do Direito oxigenada, articulada e, principalmente,

sistemática261. Estes valores, absorvidos pela ordem constitucional brasileira e reafirmados em

legislação acerca das condições nocivas de labor e a consideração dos riscos para a saúde do trabalhador oriundos da

exposição simultânea a várias substâncias insalubres e agentes perigosos. Assim, não se aplica mais a mencionada

norma da CLT, afigurando-se acertado o entendimento adotado pela Corte a quo que manteve a condenação ao

pagamento cumulado dos adicionais de insalubridade e de periculosidade. Recurso de revista não conhecido. (TST -

RR: 7761220115040411, Relator: Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, Data de Julgamento: 20/05/2015, 7ª Turma, Data de Publicação: DEJT 22/05/2015) 260 Como bem destaca Fabio Freitas Minardi, quanto à tarefa cabível ao Judiciário de concretizar os direitos

fundamentais e proceder a uma leitura pautada pelos valores e fundamentos expressos na nossa Constituição que, no

caso das convenções da OIT sobre meio ambiente de trabalho, é totalmente harmônica com seu conteúdo: “[...] em

caso de omissão do legislador privado, ou na hipótese de norma jurídica contrária aos preceitos insculpidos na

Constituição da República de 1988, deve sim, o Judiciário, adotar uma postura que garanta ao cidadão o efetivo

cumprimento de seus direitos fundamentais, em uma leitura proeminente da Constituição, de forma a concretizar os

objetivos do Estado Democrático de Direito”. In: MINARDI, Fábio Freitas. Meio ambiente do trabalho: proteção

jurídica à saúde mental. Curitiba: Juruá, 2010, p. 125. 261 Neste aspecto, oportuna é a crítica tecida por Maurício Godinho Delgado: “[...]graves problemas enfrentados pela

República desde 1988 não são solucionados exatamente porque o Judiciário insiste em dar validade a certos

insensatos, antissociais e corporativistas preceitos infraconstitucionais que vicejam em situação de manifesta

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documentos internacionais plenamente aplicáveis não podem ser relativizados em prol de

interesses econômicos escusos e de dispositivos ultrapassados, ainda pautados em outra ordem

constitucional e que se mostram em total desarmonia os princípios trabalhistas e ambientais

aplicáveis à tutela do meio ambiente do trabalho.

Portanto, não pode a Justiça do Trabalho fechar os olhos para a alarmante realidade: a

violação ao direito ao meio ambiente de trabalho equilibrado é legitimada, legalizada e

promovida a partir da aplicação de instrumentos normativos defasados e explicitamente mais

danosos ao trabalhador. Mais do que a edição de novas normas, é necessária uma leitura

conformadora, não podendo entender-se a progressividade das medidas presentes nas convenções

da OIT como arbitrariedade dos Estados em aplica-las. As normas de proteção ao ambiente de

trabalho existem, só carecem de aplicação.

As convenções da OIT sobre saúde e segurança do trabalhador são de matéria de Direitos

Humanos e, assim que internalizadas, passam a integrar materialmente a Constituição Federal.

Ademais, se mostram mais protetivas que a legislação interna, o que somente respalda a sua

aplicação em seu detrimento. A CLT e as Normas Regulamentadoras, apesar de toda a sua

importância social, necessitam de atualização face aos novos tipos de fatores nocivos e aos

princípios norteadores do Estado brasileiro, devendo-se prezar por uma interpretação pautada no

trabalho desenvolvido de forma digna, sem prejuízo da saúde e segurança do obreiro para a sua

execução.

agressão a diversos princípios e regras da Constituição”. In: DELGADO, Maurício Godinho. Justiça do Trabalho e

Sistema Trabalhista: Elementos para a Efetividade do Direito do Trabalho e do Direito Processual do Trabalho no

Brasil. Constituição da República e Direitos Fundamentais: Dignidade da Pessoa Humana, Justiça Social e

Direito do Trabalho. 3 ed. São Paulo: LTR, 2015, p 168.

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A falta de sistematização da matéria que trata do meio ambiente do trabalho não pode ser

utilizada como respaldo para a sua inaplicação, ou ainda para a aplicação de institutos que

claramente necessitam de uma leitura constitucional e internacional. O dever, todavia, não é

apenas do Poder Judiciário de aplicar as referidas convenções em detrimento da normativa

interna, mas de todos os atores que são responsáveis pela concretização deste direito que,

conforme visto, enseja atitudes tanto do Poder Público quanto da sociedade civil, inclusive do

próprio trabalhador.

Assim sendo, é necessário que haja uma ação integrada entre o Ministério Público do

Trabalho, sindicatos, órgãos e programas responsáveis por fiscalizar as condições de trabalho

dentro das empresas e inspetores do trabalho de modo a não agir somente quando houver

provocação. Ademais, as penalidades cominadas quando da violação ao meio ambiente do

trabalho não devem se resumir a compensar financeiramente o trabalhador ou o grupo de

trabalhadores pelo dano sofrido, mas deve visar a implementação de melhores condições de

saúde e segurança nos locais de labor para que outros trabalhadores provavelmente expostos aos

mesmos fatores nocivos não experimentem este tipo de dano.

A aplicação das convenções da OIT por parte do Poder Judiciário e a realização do

controle de convencionalidade além do controle de constitucionalidade – bem como a ratificação

da Convenção nº 187 e do Protocolo adicional às Convenções nº 81 e 155, por exemplo – são

passos rumo à concretização do direito ao meio ambiente do trabalho sadio, mas não esgotam o

dever do Poder Público em promovê-lo, devendo haver maior fiscalização e fomento às ações

preventivas no sentido de tentar ao máximo eliminar o dano em sua fonte, o que só é possível a

partir de um programa integrado de ações conjuntas e interligadas entre todos os legitimados para

a garantia e efetivação deste direito.

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5. CONCLUSÃO

O direito ao meio ambiente do trabalho equilibrado atualmente não é garantido no Brasil,

quando utilizados os parâmetros constitucionais e internacionais de proteção e valorização do

trabalho. Devido à natureza do direito em comento, é necessária uma atuação conjunta e

integrada entre Poder Público, sociedade civil e indivíduos, especialmente os sujeitos envolvidos

na relação trabalhista, independentemente de sua natureza.

A ordem de proteção ao meio ambiente do trabalho não pode ser invertida, cabendo uma

maior atuação do Ministério do Trabalho e Previdência Social em duas vertentes: primeiramente,

fiscalizando com proatividade os estabelecimentos de trabalho e não apenas quando da sua

abertura ou em caso de denúncia e, segundo, atualizando com maior frequência o quadro de

atividades consideradas como insalubres e perigosas.

Ao legislador, cabe revisar as normas atinentes ao meio ambiente de trabalho,

atualizando-as e desburocratizando o exercício deste direito. Um excelente início seria a

regulamentação das atividades penosas e do respectivo adicional, bem como a exclusão do

instrumento que proíbe a cumulação entre adicionais, a instituição de uma nova base de cálculo

para o adicional de insalubridade e a desnecessidade de quadro de atividades insalubres e

perigosas para o surgimento do direito de reparação para o trabalhador, tendo em vista que os

peritos judiciais são capazes de analisar com rapidez e propriedade técnico-científica se uma

atividade implica em risco à sadia qualidade de vida do trabalhador ou não, devendo a sua

atuação ser conjunta com a do Ministério do Trabalho e Previdência Social, não excludente.

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A Constituição Federal em momento algum veda a percepção cumulativa de adicionais, e

os documentos da OIT expressamente preveem a necessidade de se observar se o local de

trabalho está sendo afetado por agentes múltiplos. Portanto, permitir a cumulação é fazer com

que o trabalhador seja compensado por todos os danos que sofre, não eximindo o empregador de

rever as condições do labor periodicamente, mas coagindo-o para tanto.

Aos sindicatos e entes responsáveis pelo acompanhamento da saúde dos trabalhadores nas

empresas, cabe uma atuação mais articulada, realmente pautada na prevenção e promoção da

saúde do trabalhador e não visando somente reparar eventuais danos ou esconder sintomas de

desequilíbrios labor ambientais, sem que se discuta o real motivo do problema: precisa-se

reestruturar o ambiente de trabalho.

Ao Ministério Público do Trabalho cabe uma atuação proativa e norteada pelo princípio

da prevenção e da máxima tutela ao trabalhador, devendo-se investigar mais severamente os

empregadores que desrespeitam o direito ao meio ambiente do trabalho hígido e não tratar tais

violações como casos isolados, realizando, mediante utilização dos mecanismos inerentes à sua

função, um trabalho integrado junto aos sindicatos, serviços de saúde nas empresas e inspetores

do trabalho no fomento de ações preventivas e educativas bem como de fiscalizações periódicas

realizadas sem prévio aviso, visto que só assim os resultados na concretização do direito ao meio

ambiente sadio serão sólidos e satisfatórios.

Ao Poder Judiciário cabe a aplicação das convenções da OIT sobre saúde e segurança do

trabalhador e meio ambiente do trabalho tendo em vista que estas tratam de matéria

constitucional, são vigentes e se mostram bem mais protetivas e alinhadas à ordem constitucional

de valorização do trabalho que a legislação interna que trata da matéria, devendo ainda ser

exercido o controle de constitucionalidade bem como o controle de convencionalidade.

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As convenções da OIT, já incorporadas ao ordenamento pátrio, apresentam medidas

muito mais efetivas e atualizadas na proteção do direito ao meio ambiente sadio, mas

frequentemente são postas de lado em detrimento da aplicação de normas regulamentadoras e leis

ultrapassadas, carentes de revisão, não afinadas com as ordens constitucional e internacional

vigentes.

Esquece-se que além de plenamente vigentes, estas convenções tratam de matéria de

Direitos Humanos, ainda que não tenham sido incorporadas ao ordenamento pátrio através de

quórum qualificado, conforme leitura harmônica entre os parágrafos 2º e 3º do artigo 5º. A sua

aplicabilidade imediata por força do artigo 5, §1º, CF, ressalta seu viés de direito fundamental, e

como tal, plenamente exigível e tutelável internamente, integrando assim o bloco de

constitucionalidade alargado.

A Constituição da OIT deixa clara que sua normativa só deve deixar de ser aplicada em

caso de outra mais favorável, que não é o caso da legislação brasileira neste âmbito. Portanto,

este mecanismo de diálogo entre ordenamentos não pode ser utilizado para mitigar o direito do

trabalhador a exercer suas atividades em um ambiente hígido, mas para promovê-lo, não

assistindo nenhuma razão à inaplicação das convenções da OIT sobre saúde e segurança do

trabalhador em detrimento da legislação interna.

Ademais, longas jornadas, condições prejudiciais à qualidade de vida e trabalho noturno

reiterado e sem o devido descanso devem ser compensados, prioritariamente, não pela via

monetária, mas a partir de medidas mais efetivas, de proteção à saúde do trabalhador: para os

locais em que inevitavelmente existem fatores nocivos, a jornada deve ser reduzida; para o

trabalho noturno, o descanso deve ser prolongado e permitir além do refazimento, a interação

social; para as longas jornadas, ainda que realizadas em condições adequadas, deve-se optar pelo

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trabalho em regime parcial, admitindo-se mais empregados em vez de pagar o respectivo

adicional aos já contratados. Estas medidas, além de assegurar um trabalho exercido sem perda

da dignidade, criam postos de emprego e mantém a qualidade da mão-de-obra.

O que se constata, na prática, é que o interesse da classe obreira gira em torno do aumento

remuneratório, havendo ainda a expectativa da aposentaria especial como forma de recompensa

pelo trabalho executado em condições adversas. E aqui se adentra em um problema ainda mais

sério e talvez o maior deles: a falta de consciência tanto do trabalhador em defender seus

interesses quanto do empregador em prezar pela higidez na prestação de serviço. Apesar de toda

a gama de direitos estendida ao trabalhador, este dificilmente age de forma individualizada para

reclamar o seu cumprimento, temendo a represália patronal e a perda do emprego. Além do que,

na maior parte das vezes ao empregado é omitido os riscos à sua saúde, vindo a descobrir

somente quando sofre o dano.

A educação e a informação ambiental são imprescindíveis no fomento de uma cultura

prevencionista, tanto para o trabalhador quanto para o empregador, devendo este entender que

sua tarefa de redução dos riscos inerentes ao trabalho é constante e inerente ao próprio contrato

de labor.

O conceito de saúde a ser promovido na ordem brasileira precisa ser amplo, não se

limitando a observar apenas os danos ao corpo físico do trabalhador. Dessa forma, diversos tipos

de assédio e quadros de estresse são tratados como infortúnios isolados, quando na realidade são

indícios de um desequilíbrio labor ambiental grave.

O número de acidentes de trabalho no Brasil é alarmante, mas é apenas a explosão de uma

questão muito mais séria: a relativização da dignidade do trabalhador em prol do lucro. Não falta

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normatização, faltam sistematização e mudança de paradigma e de leitura dos instrumentos

existentes, devendo haver maior ainda utilização da legislação ambiental pertinente.

Não se pode desvirtuar o Direito do Trabalho em sua essência, que é resguardar a classe

trabalhadora dos desmandos do empregador. Ademais, quando se fala em ambiente do trabalho

não apenas as normas e princípios de ordem trabalhista devem ser considerados. O objetivo maior

sempre será a prevenção, evitando o dano em seu nascedouro, conforme pode ser aferido a partir

dos princípios que norteiam o direito ao meio ambiente do trabalho sadio. Se isto não for

possível, deve ao menos ser tentado, de forma periódica, valendo-se das inovações tecnológicas

para tanto. Como forma residual é que se parte para a neutralização, para a tutela individual e, por

fim, a compensação monetária, não podendo jamais esta ordem ser invertida.

Para a concretização do direito ao meio ambiente do trabalho sadio mais do que a

necessidade de nova legislação trabalhista ou de criação de um ramo jurídico específico,

necessita-se de uma nova interpretação, que não veja como antagônicas a legislação pátria e a

legislação internacional, mas que seja capaz de coordená-las de acordo com os valores

constitucionais e internacionais de proteção ao obreiro e com os princípios trabalhistas e

ambientais aplicáveis a tutela do meio ambiente de trabalho, neste compreendido não apenas o

local que o indivíduo desempenha suas atividades, mas também as condições em que estas

ocorrem. Cabe ainda o exercício do controle de convencionalidade, bem como do controle de

constitucionalidade, tendo em vista que as convenções da OIT além de vigentes são válidas,

dispõem de matéria de Direitos Humanos, em consonância com a Constituição Federal, e

plenamente aplicáveis, de modo que nenhuma legislação que seja menos benéfica ao trabalhador

pode ser utilizada em seu lugar.

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O Brasil, enquanto Estado-membro da OIT e signatário dos seus mais importantes

documentos assume internacionalmente o compromisso de instaurar as disposições ali previstas

em seu âmbito interno, a menos que apresente normativa mais favorável. Internamente, ao eleger

o valor social do trabalho como fundamento da República e fazer menção expressa ao meio

ambiente do trabalho em seu texto constitucional, compromete-se em balizar toda a sua

legislação infraconstitucional trabalhista a partir dessas diretrizes de tutela labor ambiental.

Portanto, tudo que diminua este espectro de proteção deve ser refutado.

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noturno (52 minutos e trinta segundos) constitui vantagem suplementar que não dispensa o

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a perícia judicial, em reclamação trabalhista, não dispensa o enquadramento da atividade entre as

insalubres, que é ato da competência do Ministro do Trabalho e Previdência Social. Disponível

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_____________________________. Reclamação nº 6266 DF. Relator: Min. CÁRMEN

LÚCIA, Data de Julgamento: 14/10/2008, Data de Publicação: DJe-208 DIVULG 03/11/2008

PUBLIC 04/11/2008

BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região. Recurso Ordinário nº 01923-2012-594-

09-00-3 Data de julgamento: 27/11/2013 Relator: Ministro Archimedes Castro Campos Júnior, 3ª

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Recorrente AMSTED MAXION FUNDIÇÃO E EQUIPAMENTOS FERROVIÁRIOS S.A.

Recorrido IVANILDO BANDEIRA, Data de Julgamento: 24/09/2014 Relator: Ministro Cláudio

Brandão, 7ª Turma, Diário Oficial da União, 03 out. 2014.

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174

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Philippe Vieira de Mello Filho, Data de Julgamento: 20/05/2015, 7ª Turma, DEJT, 22 maio 2015.

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(cancelada na sessão do Tribunal Pleno realizada em 26.06.2008) - Res. 148/2008, DJ 04 e

07.07.2008 - Republicada DJ 08, 09 e 10.07.2008 O adicional de insalubridade devido a

empregado que, por força de lei, convenção coletiva ou sentença normativa, percebe salário

profissional será sobre este calculado. Disponível em:

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Acesso em: 11 dez. 2015.

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INTEGRAÇÃO NO SALÁRIO E PRORROGAÇÃO EM HORÁRIO DIURNO

(incorporada a Orientação Jurisprudencial nº 6 da SBDI-1) - Res. 129/2005, DJ 20, 22 e

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______________________________. Súmula nº 191. ADICIONAL. PERICULOSIDADE.

INCIDÊNCIA (nova redação) - Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003 O adicional de

periculosidade incide apenas sobre o salário básico e não sobre este acrescido de outros

adicionais. Em relação aos eletricitários, o cálculo do adicional de periculosidade deverá ser

efetuado sobre a totalidade das parcelas de natureza salarial. Disponível em:

http://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_151_200.html#SUM-

191 . Acesso em: 16 dez. 2015.

______________________________. Súmula nº 228. ADICIONAL DE INSALUBRIDADE.

BASE DE CÁLCULO (redação alterada na sessão do Tribunal Pleno em 26.06.2008) - Res.

148/2008, DJ 04 e 07.07.2008 - Republicada DJ 08, 09 e 10.07.2008. SÚMULA CUJA

EFICÁCIA ESTÁ SUSPENSA POR DECISÃO LIMINAR DO SUPREMO TRIBUNAL

FEDERAL - Res. 185/2012, DEJT divulgado em 25, 26 e 27.09.2012. A partir de 9 de maio de

2008, data da publicação da Súmula Vinculante nº 4 do Supremo Tribunal Federal, o adicional de

insalubridade será calculado sobre o salário básico, salvo critério mais vantajoso fixado em

instrumento coletivo. Disponível em:

http://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_201_250.html#SUM-

228 Acesso em: 20 dez. 2015.

______________________________. Súmula nº 289. INSALUBRIDADE. ADICIONAL.

FORNECIMENTO DO APARELHO DE PROTEÇÃO. EFEITO (mantida) - Res.

121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003. O simples fornecimento do aparelho de proteção pelo

empregador não o exime do pagamento do adicional de insalubridade. Cabe-lhe tomar as medidas

que conduzam à diminuição ou eliminação da nocividade, entre as quais as relativas ao uso

efetivo do equipamento pelo empregado. Disponível em:

http://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_251_300.html#SUM-

289

______________________________. Súmula nº 339. CIPA. SUPLENTE. GARANTIA DE

EMPREGO. CF/1988 (incorporadas as Orientações Jurisprudenciais nºs 25 e 329 da SBDI-

1) - Res. 129/2005, DJ 20, 22 e 25.04.2005. Disponível em:

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175

______________________________.Súmula nº 364. ADICIONAL DE PERICULOSIDADE.

EXPOSIÇÃO EVENTUAL, PERMANENTE E INTERMITENTE (cancelado o item II e

dada nova redação ao item I) - Res. 174/2011, DEJT divulgado em 27, 30 e 31.05.2011

Tem direito ao adicional de periculosidade o empregado exposto permanentemente ou que, de

forma intermitente, sujeita-se a condições de risco. Indevido, apenas, quando o contato dá-se de

forma eventual, assim considerado o fortuito, ou o que, sendo habitual, dá-se por tempo

extremamente reduzido. (ex-Ojs da SBDI-1 nºs 05 - inserida em 14.03.1994 - e 280 - DJ

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