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TERESINA E SUA CONDIÇÃO URBANA Maria do Socorro Teixeira Mello Sales UFPI/TROPEN Luiz Botelho Albuquerque, Ph.D UFC INTRODUÇÃO Teresina, capital do estado do Piauí, completou em 2002, dia 16 de agosto, 150 anos de existência. Sua relação com o verde vem de muito tempo. O poeta ambientalista maranhense no final do século XIX, impressionado pelo verde da cidade, chamou Teresina de “Cidade Verde”. Teresina desperta em seus visitantes, ainda hoje, um misto de curiosidade e simpatia. Esta admiração pelo verde da cidade se completa com a instituição do Caneleiro como árvore símbolo em 1993, pelo Prefeito Wall Ferraz 1[1] . Situação local à época da fundação A Vila Velha do Poti, para receber a sede da capital, teve que resolver alguns problemas de infra-estrutura básica. As enchentes, um destes problemas e o mais sério, provocavam e ainda hoje provocam, insalubridade das áreas alagadas e grandes danos materiais como destruição das moradias, plantações e perda de produtos comerciais, etc. As moléstias resultantes das enchentes constantes, no encontro dos rios, e a necessidade de abrigar um maior número de pessoas para a administração da província, pela transferência da capital, de Oeiras para aquela região, fez com que o Conselheiro Saraiva 2[2] , presidente da província à época, transferisse a Vila Velha do Poti para uma região mais elevada e menos sujeita a enchente. A nova sede tomou 1[1] Decreto nº 2407, de 13 de agosto de 1993 2[2] Conselheiro José Antonio Saraiva.

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TERESINA E SUA CONDIÇÃO URBANA

Maria do Socorro Teixeira Mello Sales

UFPI/TROPEN

Luiz Botelho Albuquerque, Ph.D

UFC

INTRODUÇÃO

Teresina, capital do estado do Piauí, completou em 2002, dia 16 de agosto,

150 anos de existência. Sua relação com o verde vem de muito tempo. O poeta

ambientalista maranhense no final do século XIX, impressionado pelo verde da

cidade, chamou Teresina de “Cidade Verde”. Teresina desperta em seus visitantes,

ainda hoje, um misto de curiosidade e simpatia. Esta admiração pelo verde da

cidade se completa com a instituição do Caneleiro como árvore símbolo em 1993,

pelo Prefeito Wall Ferraz1[1].

Situação local à época da fundação

A Vila Velha do Poti, para receber a sede da capital, teve que resolver

alguns problemas de infra-estrutura básica. As enchentes, um destes problemas e o

mais sério, provocavam e ainda hoje provocam, insalubridade das áreas alagadas e

grandes danos materiais como destruição das moradias, plantações e perda de

produtos comerciais, etc.

As moléstias resultantes das enchentes constantes, no encontro dos rios, e

a necessidade de abrigar um maior número de pessoas para a administração da

província, pela transferência da capital, de Oeiras para aquela região, fez com que o

Conselheiro Saraiva2[2], presidente da província à época, transferisse a Vila Velha do

Poti para uma região mais elevada e menos sujeita a enchente. A nova sede tomou

1[1]

Decreto nº 2407, de 13 de agosto de 1993 2[2]

Conselheiro José Antonio Saraiva.

lugar próximo ao Rio Parnaíba, pela necessidade do uso da navegação como meio

de comunicação e transporte, no planalto da Chapada do Corisco3[3] .

A cidade e o verde

O verde da mata nativa, à época da fundação da cidade, era formado

predominantemente pelas copas das palmeiras de babaçu que constituem os vales

úmidos dos rios Parnaíba e Poti. Esse cenário de palmeiras, paulatinamente dá

lugar à cidade de Teresina.

O ambiente natural urbano é marcado pela presença de dois

rios, o Poty e o Parnaíba; seu relevo é plano, sua vegetação é

caracterizada pelas espécies que compõem a mata dos cocais,

como o babaçu, o tucum, a carnaúba, e belíssimas árvores

como o caneleiro, o angico, os ipês amarelos e roxos, os

flamboyants, oitizeiros, entre outras. ( MELO, 2002)

A cidade inicialmente era constituída de uma área central formada por um

espaço vazio destinado a construção da praça, da igreja e de imóveis

administrativos, seguidos por lotes residenciais, distribuídos em quadras

organizadas em formato de tabuleiro de xadrez. Em seguida vinham os sítios e logo

depois as fazendas. No inicio os lotes, em área da sesmaria Data Covas, foram

doados para atrair habitantes para a cidade. Os seus habitantes ao chegarem no

local, diversificam os tons de verde do lugar ao plantarem nos sítios e quintais das

casas, árvores frutíferas. Nas ruas, calçadas e praças os pés de oiti, algarobas e

almendra predominavam

“Cidade Verde” torna-se uma marca de Teresina, chegando a ser

considerada por alguns ambientalistas, apenas uma jogada da mídia para atrair

turista, considerando que os níveis de arborização da cidade não tem valores

significativos quando comparados aos níveis de outras cidades como Curitiba e João

Pessoa.

3[3]

Denominação dada a região pela freqüência das descargas elétricas provenientes da atmosfera, conhecidas no

linguajar popular como “Corisco”.

A preocupação institucional com o verde da cidade tem lugar nos diversos

Planos Estruturais de Teresina, como se pode verificar: no plano de 1867, com a

obrigatoriedade da plantação de árvores frutíferas nas ruas e quintais da cidade; no

plano de 1969 se estabelece um sistema de arborização de ruas e praças, baseado

no princípio da utilização de árvores adequadas ao espaço urbano e na legislação

ambiental de Teresina de 1996 se verifica à preocupação com a preservação das

árvores existentes às margens de rios.

As áreas verdes, como um sistema de sustentação da vida e

com a interação do meio natural com o urbanizado, melhoram a

qualidade do ambiente e com isto a qualidade de vida. A árvore

fornece sombra para pedestre e veículos; absorve os raios

solares e refresca o ambiente através da transpiração,

baixando a temperatura média e tendo desta maneira,

influência no micro clima; funciona como amortecedora de som

amenizando a poluição sonora; garante estabilidade emocional

quebrando a monotonia do cinza dos prédios; fornece flores e

abrigo para os pássaros; proporciona lazer nos bosques e nas

praças, e ambiente para descanso e recreação.

(Santiago,1978)

Alguns livros e jornais, editados na época da comemoração do

sesquicentenário4[4], têm divulgado o fato de que a cidade ultrapassou os níveis

recomendado pela Organização Mundial de Saúde em termos de vegetação mínima

necessária à vida humana para cidades com as características de Teresina (12

m²/hab ). Segundo essas fontes, a cidade atingiu 13 m² de cobertura vegetal por

habitante.

“O VERDE” ostentado por Teresina, resistirá quando analisado a partir dos

novos conceitos de sustentabilidade e preservação do meio ambiente e urbanização,

propostos pelas conferências internacionais: Tbilisi e Estocolmo, sobre educação;

Rio 92 - Agenda 21, com as suas recomendações sobre cidade sustentável; Habitat

4[4]

Teresina 1852- 2002. Teresina, editora Halley S.A, 2002.

Jornal Meio Norte, agosto 2002.

II, sobre direito a habitação e qualidade de vida nos assentamentos humanos e

outras em fase de realização?

Neste trabalho, estudamos a paisagem de Teresina na sua zona urbana5[5].

Foram considerados os fatores físicos, ambientais e culturais que interferem na

paisagem a partir de diagnóstico constante do relatório final da Agenda 2015 para

Teresina e de levantamentos fotográficos executados em pontos degradados ou em

processo de degradação na área em estudo, analisando a participação de agentes

degradantes como a indústria da construção civil, a educação ambiental da

população e os atos institucionais públicos e privados que concorrem para a

degradação na zona urbana da cidade.

Movimentos ambientalistas internacionais e sua repercussão na

cidade.

Um dos impactos ambientais na paisagem mais preocupantes sem dúvida

nenhuma vêm sendo os assentamentos irregulares e a falta de qualidade de vida

para determinada camada da população. A preocupação atual da humanidade,

resultantes das orientações colocadas pelas agendas internacionais, está na busca

de assentamentos mais humanos, mas adequados ao homem e que tragam uma

perspectiva de vida melhor.

As conferências internacionais, representadas por acordos, agendas,

protocolos, etc, não têm valor de lei nos países signatários destas conferências,

apenas apresentam fundamentos e diretrizes gerais a serem seguidas pelos países.

Não tendo valor de lei, e não podendo ser aplicadas imediatamente, sempre

acontece defasagem, às vezes muito grande, desde os acontecimentos

internacionais e a sua institucionalização nos diversos paises do mundo. A partir

destas conferências, dependendo do seu grau de aceitação e repercussão, surgem,

nos paises, leis que regulamentam esses instrumentos.

A Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, realizada em

Estocolmo, em junho de 1972, lançou a declaração sobre o meio ambiente,

constando de 26 princípios, que deu origem ao chamado “Espírito de Estocolmo”

5[5] Lei de Zoneamento Urbano de Teresina de 1988 e modificações posteriores.

que demonstrava a preocupação com a degradação da biosfera e a necessidade de

se formular um novo tipo de desenvolvimento. Desde então, a Educação Ambiental

passa a ser considerada como campo da ação pedagógica, adquirindo relevância e

vigências internacionais.

Em 1974, Ignacy Sachs formula os princípios básicos desta nova versão de

desenvolvimento, que demonstram ligações com o Self-reliance defendido épocas

atrás por Gandhi, considerando seis aspectos que deveriam guiar os caminhos do

desenvolvimento: satisfação das necessidades básicas; solidariedade com as

gerações futuras; participação das populações envolvidas; preservação dos recursos

naturais e do meio ambiente em geral; elaboração de um sistema social garantindo

emprego segurança social e respeito a outras culturas e o estabelecimento de

programas de educação em todos os paises do mundo.

A primeira conferência internacional sobre educação ambiental, organizada

pela UNESCO, em colaboração com o PNUMA, em outubro de 1977, em Tbilisi (ex

URSS) constituiu-se em um marco, contribuindo para precisar a natureza da

educação ambiental, definindo seus objetivos e suas características, assim como as

estratégias pertinentes no plano nacional e internacional a serem implementadas

pelos países signatários.

No Brasil, somente em 1981 surge uma definição legal do conceito de meio

ambiente com a Lei Federal 6938/81, conhecida como Lei da Política Nacional de

Meio Ambiente Brasileira. O que existia, anteriormente, eram códigos de caráter

individuais de proteção à fauna, flora, água e a extração mineral sem uma visão

compartilhada destes fatores que formam o meio ambiente e os ecossistemas e do

valor que a educação ambiental da população possui na preservação/conservação

destes.

A Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6938/81) define o meio

ambiente como o “conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem

física, química, e biológica que permite, abriga e rege a vida em todas as suas

formas de vida” (art. 3.° I) e “considera o ambiente como um patrimônio público a

ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo.” (art. 2.°

I).(LANFREDI, 2002)

Esta Lei tem por objetivo, ainda, “a preservação, melhoria e recuperação da

qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar no país condições ao

desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à

proteção da dignidade da vida humana” (art. 2°). Para alcançar estes objetivos,

ainda estabelece que “a educação ambiental deve ser oferecida a todos os níveis do

ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para a

participação ativa na defesa do meio ambiente”.(art.2.° X).

A consciência ecológica, com o avanço das comunicações, chega a um

número cada vez maior de pessoas. No Brasil, formam-se associações não

governamentais. As instituições governamentais passam a ter em seus quadros

pessoas comprometidas com as questões ambientais. O Brasil atinge a sua fase

institucional em relação aos problemas ambientais.

Em 1986, surge uma articulação formada por várias entidades do

movimento popular, ONGs, federações de sindicatos urbanos, setores universitários

e ainda técnicos de órgãos públicos congregadas no Fórum Nacional de Reforma

Urbana (FNRU). Essas organizações atuaram no sentido de implementar uma

bandeira de luta direcionada para a organização, discussão e encaminhamento de

propostas de solução às questões relativas à degradação da vida nas cidades

brasileiras, encaminhando uma emenda popular que veio a constituir os artigos 182

e 183 da Constituição de 1988.

A constituição de 1988, como resultado de manifestações populares

comandadas pelo Fórum Nacional de Reforma Urbana, no seu artigo 182,

estabelece que a política de desenvolvimento urbano tem por objetivo ordenar o

pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade, no artigo

183 estabelece a Uso Capião Urbana, possibilitando a regularização de extensas

áreas ocupadas por favelas, vilas, alagados, invasões ou loteamentos clandestinos e

ainda complementando a nova visão, o artigo 225, consagra o meio ambiente

ecologicamente equilibrado como um direito de todo os cidadãos.

A partir da Constituição de 1988, conhecida como Constituição Cidadã,

criam-se Leis Federais, como os Parâmetros Curriculares, que incluem Educação

Ambiental como tema transversal em todas as disciplinas e a Lei do Estatuto da

Cidade6[6], que traz instrumentos que permitem a população, estabelecer vínculos

entre qualidade ambiental e cidadania, possibilitando a participação da população no

planejamento e gestão dos municípios brasileiros.

6[6] Lei 10.257 de junho de 2001.

O conceito de sustentabilidade para as aglomerações urbanas,

fundamentado no planejamento e gestão das cidades com participação popular

estabelecido pela Agenda 21 – Rio 92 e Habitat II em 1996, destacam a importância

do combate à pobreza e à necessidade de oferta de moradia adequada a todos,

como fatores fundamentais ao equilíbrio social das populações urbanas.

Como rebatimento dos preceitos constantes da Constituição Federal de

1988, das Agendas 21 e Habitat II, aparece na Lei Estadual 4.854/96 o artigo 237

que diz “Todos têm o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de

uso comum do povo e essencial a sadia qualidade de vida impondo-se ao poder

Público e a coletividade o dever de defendê-lo, preservá-lo e harmonizá-lo

racionalmente, com as necessidades do desenvolvimento socio-econômico para as

presentes e futuras gerações”.

No âmbito Municipal, a Lei 2.475 de 04 de julho de 1996, no seu artigo 1°,

estabelece que “A política do meio ambiente do município de Teresina tem como

objetivo, respeitadas as competências da União e do estado, manter ecologicamente

equilibrado o meio ambiente, considerando bem de uso comum do povo, essencial à

sadia qualidade de vida, razão pela qual impõe-se ao poder Público e à coletividade

o dever de protegê-lo e recuperá-lo, e desenvolvê-lo”.

Apesar da defasagem existente entre as conferências internacionais e a

concretização destes preceitos em leis, verifica-se que a legislação existente no país

nos três níveis, Federal, Estadual e Municipal procuram contemplar as abordagens

necessárias ao desenvolvimento sustentável, podendo ser considerada com das

mais completas em relação aos países em desenvolvimento, embora sejam muitas

as dificuldades encontradas para a efetivação destas leis que vão desde a falta de

recursos econômicos até a falta de recursos humanos, passando pela falta de

compromisso das políticas de desenvolvimento, para a efetivação dos preceitos ali

estabelecidos.

Viver em cidade, no século XX, tornou-se um desafio. No século XXI,

continua ainda maior o jogo de interesses aí existentes decorrentes da dinâmica

cotidiana das cidades, como uma organização viva com suas diversas partes em

permanente interação. Isso acarreta uma série de problemas sociais e ambientais

que acabam tornando a sobrevivência, nesses espaços, cada vez mais difícil.

Dantas (2002), para explicar este fenômeno, diz que “A produção do espaço urbano

embora apresente uma aparente desordem, se dar dentro de uma ordem coerente

com o modo de produção dominante”.7[7]

Teresina, como capital do estado do Piauí, foi planejada para se ocupar da

administração do Estado e aos poucos tem se especializado em outros campos da

área de prestação de serviços, como, pólo de saúde,8[8] educação, além de centro

comercial. Esses quatro fatores, somados à migração provocada pelas constantes

secas na região, às péssimas condições de vida no campo, instalação da agricultura

mecanizada em grandes áreas de cerrado no sul do estado, à falta de políticas

públicas que permitam a permanência da população rural nestas áreas, têm

provocado um grande crescimento de Teresina pela migração destas populações.

A expansão urbana da cidade, como em todo processo de urbanização das

cidades brasileiras, tem provocado uma interferência muito grande em suas áreas

verdes. A necessidade de moradia, para a população, determinada pelo

crescimento demográfico da cidade e a centralização desta população na área

urbana, onde 13,5% do território abriga 95% da população do município,9[9] vêm

provocando desequilíbrio no seu meio ambiente urbano, empurrando a população

pobre para áreas mais distantes, a classe média alta para áreas verticalizadas,

provocando o surgimento de espaços ociosos, vazios urbanos e grande quantidade

de moradias vazias nos bairros nobres da cidade, resultante da corrida para

apartamentos à procura de maior segurança.

IMPACTOS AMBIENTAIS

a) Problemas ambientais decorrentes da Urbanização.

A necessidade de habitação, provocada pelos fenômenos que determinaram

o crescimento urbano acelerado da cidade, fez com que surgisse, em Teresina, a

indústria da construção civil e com ela os impactos ambientais devastadores do

desmatamento de grandes áreas nas três margens de rios, uma do Parnaíba e

duas do Poti, para a implantação de conjuntos habitacionais.

7[7]

Citação do artigo de Fagner Cordeiro Dantas , “Da intervenção prática à prática política: o urbanismo no

mundo” publicado no site www.urbanismo.npg.ig.com.br em 09/02/02) 8[8]

Cerca de 30% dos atendimentos no setor de saúde são proveniente de outros estados (Teresina agenda 2015) 9[9]

715.360 habitantes moram na zona urbana (Teresina Agenda 2015. 2002. p15)

O baixo preço dos terrenos nas áreas mais baixas da cidade, apesar de não

disporem de infra-estrutura urbana, tem sido fator de atração para muitos conjuntos

habitacionais de baixa renda, financiados pelo Sistema Financeiro de Habitação, a

partir da década de 1970. Essas áreas desvalorizadas são sujeitas a alagamento,

não possuem coleta de esgoto sanitário, lixo e água encanada. Foram muitos os

conjuntos habitacionais construídos pelas cooperativas habitacionais com

financiamentos através da COHAB, IAPEP, BNH e CAIXA, nas proximidades dos

rios, nas últimas décadas. A população que na época da fundação da cidade deixou

estas áreas pela insalubridade do local, agora volta a esses lugares empurrada pela

falta de moradia na área mais alta da cidade.

O desmatamento ilegal, para a ocupação destes terrenos cobertos por mata

de babaçu10[10], se dar com a retirada praticamente total da cobertura vegetal do

terreno, na fase de instalação de loteamentos para construção de imóveis

residenciais ou na fase de implantação de sítios nos arredores da cidade. A

deficiência de fiscalização e a ganância dos empreendedores permitem a instalação

de conjuntos habitacionais sem reserva de áreas verdes ou a invasão destas

reservas para moradias de pessoas indigentes.

A retirada da vegetação, próxima às margens de rios e lagoas, pela

construção de conjuntos habitacionais e para o uso na agricultura, vem provocando

o carreamento da areia, que antes era fixada pela vegetação nativa às margens dos

rios, para o leito destes, nas épocas de chuva e o conseqüente processo de erosão

das margens e assoreamento dos leitos dos rios, chegando a formar “coroas” de

grande porte no leito dos rios.

A temperatura elevada, nos meses de “B. R. O. BROS” na cidade,11[11] faz

com que a população pobre sem condição de lazer, inacessível ao seu poder

econômico, encontre no rio, uma opção. Estes locais se tornam atrativos pela

pequena distância de suas moradias e pela facilidade de acesso a essas coroas.

Muitas vezes, pela pouca profundidade do rio assoreado, na época da seca, o

acesso a essas coroas é feito a pé.

O processo de degradação ambiental acontece de maneira que a ruptura do

equilíbrio de um determinado ponto do ecossistema provoca a geração de outros

10[10]

Em nível estadual, Lei 4854 de 10 de julho de 1996, parágrafo 7° art. V “São área de preservação

Permanete: carnaubais, babaçuais, pequizeiros e buritizais.” 11[11]

Como são conhecidos os meses de setembro, outubro, novembro e dezembro, pela sua temperatura

bastante elevada.

desequilíbrios em cadeia. As coroas, formadas nos leitos dos rios, atraem banhistas

e assim provocam um outro problema ambiental que é a contaminação das águas

por dejetos humanos diretamente lançados ao rio ou pela construção de banheiros

nestas coroas sem o adequado tratamento dos resíduos. A deposição de lixo, nas

coroas e margens dos rios, também é outro problema provocado pela utilização das

coroas. O problema do lixo nas margens dos rios é agravado pela falta de coleta

regular nas áreas ribeirinhas, fazendo com que a população jogue o lixo nas

proximidades do rio. Esta situação é agravada pela falta de fiscalização pelos órgãos

competentes e pela falta de programas de educação ambiental para conscientização

da população.

Além dos problemas de desmatamento provocados diretamente pela

construção de habitações, temos ainda desmatamentos e outros problemas

ambientais provocados indiretamente pela indústria da construção civil, como os

ligados à extração de produtos minerais: massará, seixo, pedra, argila, que

degradam o ambiente pela ocupação de espaços para estocagem do material; pela

compactação do solo, poluição do ar e poluição sonora provocada pela passagem

dos veículos de transporte de material; pela abertura de crateras quando da retirada

de materiais como seixo e pedra nas jazidas de maneira irregular, pelo tratamento

irregular dos taludes e pela não recomposição da vegetação nestes locais; pela

lavagem do seixo e a instalação de indústrias de concreto nas margens dos dois rios

da cidade provocando, erosão nas margens e poluição das águas pela lavagem dos

equipamentos às margens dos rios; pelas dragas na extração de areia dos rios que

precisam de grandes áreas para estocagem do material; pelo aterramento de

lagoas, não só para construção de conjuntos habitacionais como também para

construção de Shopping Center, praças, etc.

Não podendo passar despercebida, também, a devastação da vegetação

pela retirada de madeira, decorrente do uso em coberturas, escoras na construção

civil, formas para concreto, etc. que por insuficiência na região, recebe também

madeira do interior do Maranhão e Pará.

A extração de massará e de seixo são feitas sem atender às normas básicas

de extração mineral e de recomposição das áreas de vegetação e, também, sem o

cuidado necessário à segurança dos trabalhadores. Após a retirada do material,

formam-se grandes áreas desmatadas com barreiras de inclinação acentuada que

muitas vezes, desmoronam e provocam até mesmo a morte de operários. Os

terrenos degradados, sem valor comercial, são abandonados pelos proprietários e

são, na sua maioria, invadido pela população de baixa renda, que os ocupam com

moradias sujeitas aos riscos de desmoronamento do terreno.

As indústrias de concreto, situadas nas margens dos rios, por causa da

facilidade de utilização de água para a lavagem do seixo e da brita, e da facilidade

para a retirada da areia dos rios, pelas dragas, entre outros fatores, têm provocado

o desmatamento de grandes áreas para a estocagem de material (seixo, brita e

areia), adensamento dos terrenos pela passagem dos veículos de transporte de

material, que causam também poluição sonora, poluição do ar pela poeira nas ruas

não pavimentadas e até mesmo pelo efeito poluidor do cimento usado na mistura do

concreto.

As dragas, que se distribuem ao longo dos rios, utilizam-se de grandes áreas

verdes ribeirinhas para a estocagem da areia, provocando a morte das árvores por

recobrimento (deposição da areia retirada pelas dragas e colocadas junto às arvores

até que fiquem soterradas).

Outro problema que a construção civil trás para a cidade é o bota fora de

entulho, restos de construção e demolição de prédios. A colocação deste material,

em terrenos baldios, lagoas e depressões, sem nenhum controle do adensamento

destes terrenos, tem provocado grandes problemas de rachaduras em construções

executadas sem um acompanhamento técnico eficiente e até a queda de prédios

como o da Av. Dom Severino esquina com João XXIII.

A construção civil, não trás só problema para a cidade, é também uma das

maiores fontes de emprego, tanto que a cidade já conta com duas escolas de nível

superior para formação de Engenheiros Civis e uma para a formação de

Engenheiros Eletricistas, além de cursos de formação de tecnólogos ligados à área

de construção civil.

Com a verticalização da Av. Marechal Castelo Branco, bairro Ilhotas, e a

expansão das habitações residenciais, para além do Rio Poti, algumas áreas

alagadas da cidade, que possuíam uma camada vegetal expressiva, como é o caso

da margem direita do Rio Poti, tornaram-se pontos estratégicos para o comércio.

Os principais centros comerciais, construídos na zona leste da cidade, foram

edificados sobre aterros nessa área de lagoa. O Riverside Walking e o Teresina

Shopping foram construído e ainda hoje se expandem sobre lagoas. Essas áreas,

anteriormente serviam para o controle do escoamento, filtragem e absorção mais

natural da poluição das águas servidas que escoavam para o rio, ajudando a

controlar o problema das cheias nas áreas ribeirinhas, pelo controle da vazão do rio.

Considerando que o aterramento das lagoas não foi acompanhado de uma

fiscalização eficiente das ligações de esgoto clandestino para o rio Poti, as suas

água, hoje, não podem ser usadas para o lazer e consumo humano. É constante a

necessidade da retirada de aguapés deste rio, que tem sua população aumentada

em decorrência do nível de poluição das águas do rio.

Outros exemplos de interferências nas áreas de lagoas na cidade são as

construções de parques e praças que aqui podemos citar: A praça Da Costa e Silva,

antiga Lagoa da Palha de Arroz, que possui um lindo projeto paisagístico criado por

Burle Max, propiciando uma área verde muito bonita; a praça central do Conjunto

Acarape, localizada em uma depressão do terreno e que em épocas de cheia tem se

manifestado e contribuído para o alagamento da região; a Praça do Liceu

construída no local de descanso de animais que se dirigiam ao centro da cidade,

vindo da periferia e cidades vizinhas. A Poticabana resultante de um aterro de mais

de 4,0m de altura, às margens do rio, executada a partir da retirada de areia do rio

Poti, abriga um centro de lazer, que foi muito utilizado na sua fase inicial, mas passa

grande parte do tempo fechado sem utilização. Em 2002, a Poticabana passou a

abrigar um centro de educação ambiental. As áreas verdes, neste parque, são

bastante reduzidas, considerando-se a quantidade de áreas pavimentadas e

urbanizadas com piscinas, bares, restaurantes, palco para apresentações e pistas

para execução de alguns esportes. As praças são soluções viáveis para a

urbanização de áreas alagadas, desde que o seu projeto urbanístico não agrida a

função ecológica do espaço urbanizado. As áreas de absorção de água devem ser

mantidas para o equilíbrio da drenagem na região.

A intensificação do comércio, na zona central da cidade, é outro fator de

redução das áreas verdes. A valorização dos terrenos provocou mudanças no

código de obras da cidade, o qual permite hoje em alguns locais, a utilização de

100% de aproveitamento das áreas dos terrenos em seus subsolos, estimulando a

retirada de árvores, ainda existentes nos quintais para dar lugar à construção de

prédios de área construída cada vez maior.

O crescimento da cidade exige a construção de infra-estrutura de apoio que

também tem provocado a diminuição dos espaços verdes da cidade. A construção

de grandes lagoas de estabilização, aterros sanitários e estações de tratamento de

água, são, também, exemplos de fatores de redução das áreas verdes. Seria insano

considerar que os equipamentos urbanos não devessem ter sido construídos para

poder preservar a vegetação, não podemos desconhecer a importância destas obras

para a saúde pública dos assentamentos urbanos. O que precisa se ter em mente é

a necessidade de controle destes equipamentos e a necessidade da minimização

destes impactos sobre a natureza. O controle eficiente dos efluentes lançados nos

rios pelas lagoas de estabilização, o controle sanitário das águas utilizadas pela

estação de tratamento de água e a recomposição da vegetação próxima às lagoas

de estabilização e aterro sanitário, devem ser motivo de vigilância constante.

b) Problemas ambientais decorrentes da falta de Educação ambiental

Mas nem sempre a construção civil é a única vilã deste processo. A falta de

educação ambiental da população, e aqui ficam incluídos como população, todos os

atores da cidade: empresários, população civil, instituições públicas e privadas;

também é um fator preponderante na devastação da cobertura vegetal e na

depredação ambiental que ocorre na sua área urbana. Essa falta de saber

ambiental pode ser verificada nos efeitos resultantes do uso irregular do solo urbano

cujos problemas ambientais são descritos a seguir:

· O corte das matas de babaçu no momento da instalação de sítios

nos arredores da cidade, pela classe média alta e a destruição das áreas verdes nos

loteamentos, são fatores de extrema preocupação.

· A utilização das margens de rios para a agricultura de subsistência,

tem provocado a erosão das encostas dos rios, possibilitando a invasão pelas

águas, nas épocas de chuva, de áreas antes não alagadas. A erosão, provoca o

alargamento do rio na região, diminui a sua velocidade e como conseqüência,

provoca o assoreamento do rio.

· A utilização de material argiloso no bairro Poti Velho para o

artesanato e produção de tijolos, provoca desmatamento e formação de crateras ou

lagoas. Esses locais geralmente são usados para a colocação de lixo doméstico,

quando abandonados por ter se esgotado a argila ou por se tornarem muito

profundos. Essa situação é mais um problema ambiental da cidade e se mostra

também como um problema social, pois, sem este trabalho, muitas famílias não tem

como sobreviverem naquela área da cidade.

· O baixo poder aquisitivo da população, gera situações de

sobrevivência que implicam em devastação das áreas verde e agravam a poluição

do ar. A falta de condição para comprar o gás, por parte da população de baixa

renda, leva ao uso do carvão vegetal, muito comum em Teresina. O costume de

fazer “Caieira” tem si mostrado como fator de redução das áreas verdes e poluição

da cidade. Edifícios próximos a favelas, onde é mais freqüente o problema de

caieiras, tornam-se inabitáveis.

· Hábitos antigos, como o de varrer a rua e queimar o lixo ao final da

tarde, encontram na deficiência de coleta regular de lixo motivo para se

restabelecer. O costume da queima de madeira se faz presente, também, nas

queimadas de roças ao redor da zona urbana que têm a fumaça canalizada pelo

vale formado pelo leito do rio Poti, tornando insuportável a permanência nos edifícios

da Av. Marechal Castelo Branco e nos bairros periféricos.

· Por outro lado a vegetação que é uma das soluções para os

problemas de poluição e combate as elevadas temperaturas, também traz

problemas. A arborização com plantas exóticas como é o caso do fícus e do

flamboyam tem trazido grandes problemas provocados por suas raízes que

invadem o subsolo das edificações a procura de água. Nos Fícus, as raízes,

chegam a tingir mais de 15 metros de comprimento, rachando as paredes das

construções, levantando os pisos e provocando assim prejuízos. Os Flamboyants,

durante o seu crescimento, alargam o seu tronco e provocam a quebra de calçadas

e rachaduras em casas.

· Um fato histórico de devastação de vegetação, está ligado às

usinas termoelétricas instaladas no estado. Teresina e algumas cidades do Piauí,

tiveram durante algum tempo iluminação a partir de usinas termoelétricas o que

contribuiu para o desaparecimento de muitas espécies nativas da região, cortadas

para serem utilizadas como combustível nestas usinas. A utilização de madeira

como combustível em cerâmicas, padarias e fornos de restaurantes, denotando a

falta de sensibilidade para a questão ambiental.

São inúmeros os fatores que denotam a falta de saber ambiental da

população. Estes vão desde as ligações clandestinas de esgotos domésticos nos

rios, ao lixo depositado nas margens de rios, lagoas e riachos, à construção de

casas nas suas margens. Este comportamento, de desrespeito aos mananciais de

água, provoca a morte destes e o conseqüente desaparecimento da flora e da

fauna que dependem de suas águas para sobreviverem.

c) Problemas ambientais decorrentes das falhas institucionais.

Além dos problemas de educação ambiental da população, já citados

anteriormente, temos também os problemas institucionais de permissão de

instalação de equipamentos de infra- estrutura básica em locais inadequados.

Segundo a visão de cidades sustentáveis, preconiza pela Agenda 21 e

Habitat II, os assentamentos humanos devem oferecer serviços de infra-estrutura

ambiental adequado e integrado com a finalidade de melhorar as condições de

saúde da população. Assegurando o acesso de todos a um abastecimento

suficiente e constante de água potável e a um serviço de saneamento com coleta e

eliminação de dejetos. Prestando especial atenção, aos setores das populações que

vivem na pobreza. Em Teresina, é necessária a ação imediata das instituições para

a solução de alguns problemas ambientais relevantes aos assentamentos humanos.

· O cemitério do Bairro Areias, próximo ao rio Parnaíba, localizado

em região habitada por população de baixa renda, funciona como um foco de

transmissão de doenças de veiculação hídrica. Formou-se espontânea às margens

do Rio, em local de lençol freático muito raso. Uma das soluções que se apresenta

para o problema é a transformação do local em parque ambiental, criando-se um

novo cemitério para a região em local mais adequado.

· As decisões institucionais muitas vezes são tomadas sem levar em

considerações os riscos que representam para a população. A nossa estação de

tratamento d’água, pode ser citada como exemplo. Instalada muito próxima do

distrito industrial e de uma fábrica de cerveja, ainda capta água do Rio Parnaíba,

que funciona com receptor de esgoto doméstico de várias cidades que se encontram

a montante de Teresina, como Floriano e Amarante, no Piauí e São Francisco e

Barão de Grajaú, no Maranhão, entre muitas outras. Esta situação de vizinhança e

convivência com o perigo, exige vigilância sanitária permanente da qualidade da

água da estação de tratamento. O direito a água e saneamento básico preconizado

na agenda 21, Habitat II e na constituição estadual através do direito de um meio

ambiente sadio parecem esquecidos quando da instalação destes equipamentos.

· A permissão institucional para utilização da madeira como

combustível em indústrias cerâmicas, padarias e restaurantes deveriam ser

prescindida de manifestações dos órgãos competentes de meio ambiente, para a

verificação da responsabilidade pela restituição da vegetação nas áreas

desmatadas, além do acompanhamento da implantação das medidas mitigadoras. A

poda irregular de árvores, praticada pelas empresas de manutenção, ligadas às

concessionárias de energia (CEPISA), para a proteção das redes de distribuição de

energia e de tráfego aéreo (INFRAERO), com vista à segurança dos vôos, tem

danificado as copas das árvores, provocando desequilíbrio destas e muitas vezes

até a queda durante os ventos fortes da estação chuvosa. Nesse sentido a

população de Teresina tem se manifestado contra a poda radical das árvores da Av.

Centenário conseguindo que a INFRAERO modificasse o seu sistema de poda

radical.

· A instalação de praças em cima das lagoas principalmente os

Shopping’s, também se constitui como um problema institucional, além de ser um

problema de educação ambiental, tanto da população que não conhece os

benefícios destas lagoas, quanto dos técnicos e proprietários que colocam os lucros

acima da questão ambiental.

As conferências internacionais como Estocolmo, Tbilisi, Rio 92 e

Habitat II, têm de certa forma influído na conscientização dos povos em todo o

mundo. A partir do final da década de 80, tem se verificado uma certa preocupação

com a questão do Verde na cidade, como fator de qualidade de vida da população.

Essa preocupação, que anteriormente estava restrita quase que exclusivamente as

ruas, praças e quintais, se faz presente em intervenções em favor da preservação

de áreas verdes públicas, com a criação de parque ambientais, e na

preservação/conservação das avenidas, passeios e das três margens de rio da

cidade. A preocupação ambiental se torna mais intensa a partir da Rio-92 com as

recomendações da Agenda 21 - sobre cidades sustentáveis. Os parques ambientais

foram surgindo com o objetivo de se estabelecer um programa de educação, a partir

destes ambientes considerados ecologicamente corretos.

Aspectos positivos da ação institucional

Agora próximo do sesquicentenário, divulgou-se que as áreas verdes de

Teresina haviam alcançado os 13 m²/hab. Um índice que apenas alcança o patamar

mínimo recomendado pelas instituições internacionais (OMS) como necessário para

saúde humana (12,00 m²/hab), no entanto, é suplantado por várias cidades como

Curitiba com 20 m²/hab., João Pessoa que dispõe de 39,00 m²/hab, Washington,

com 117 m²/hab., Amsterdam com 80 m²/hab e Moscou com 60 m²/hab. É preciso

que se registre também que temos cidades importantes com índices abaixo do

nosso, como Rio de Janeiro, a cidade maravilhosa, que só possui 9 m²/hab, São

Paulo que tem apenas 1 m²/hab., e Porto Alegre que possui menos de 1 m²/hab.

Através de levantamento realizado, junto a publicações da Prefeitura de

Teresina, verifica-se um aumento significativo das áreas verdes públicas da cidade,

nas últimas décadas, mostrando um crescimento acentuado relativo ao crescimento

da população. Em 1993, Teresina dispunha de 2,0 m²/hab12[12], em 1998 já contava

com 4,8 m²/hab, em 2000 essa cota foi elevada para 7,0 m²/hab 13[13] índice

conseguido como resultado da criação de parques ambientais, e em 2002 para

13,00m²/hab14[14].

Os trabalhos desenvolvidos pela Prefeitura, no sentido de

preservar/conservar as áreas verdes da cidade, são sazonais e ainda se mostram

insipientes. A Prefeitura faz campanha de distribuição de mudas de árvores a

população, em datas como o dia do Caneleiro, a semana do meio ambientes etc.

Essa política tem si mostrado eficiente na reconstituição das árvores perdidas,

principalmente na zona central da cidade, em ruas de muito movimento de pedestre

e veículos. As ruas do centro já perderam quase todas as suas árvores.

A educação ambiental, como um processo a ser alcançado em longo prazo,

tem encontrado na criação e conservação de parques ambientais, um local

adequado para a sua prática. As escolas de Educação Ambiental informal,

instaladas nos parques ambientais, encontram nas caminhadas ecológicas,

12[12]

Teresina, aspectos e características. Perfil 1993, revisto e atualizado publicação da Prefeitura Municipal de

Teresina. 13[13]

Diagnóstico da capacidade institucional da Prefeitura Municipal de Teresina para intervenção no setor

habitacional urbano, 2000. 14[14]

Teresina 1852 a 2002 da Gráfica Halley em comemoração ao aniversário da cidade

passeios de barcos e no convívio de alunos e visitantes com a natureza uma boa

opção de conscientização da população.

Segundo publicação da SEMAN,15[15] em 2000, a cidade de Teresina

contava com 18 parques ambientais, num total de mais de 309 ha. Levantamento

florístico realizado no centro de Teresina, compreendendo a região entre a avenida

Maranhão, Av. Joaquim Ribeiro e Av. Miguel Rosa, demonstra que Teresina dispõe

de 10 praças nessa região, com um total de 13,4 ha de área verde16[16]. Em 1993,

Teresina dispunha apenas de 04 parques ambientais, com área aproximada de 180

ha e 5,5 ha de praças.17[17]

Das áreas destinadas a Parque Ambientais em Teresina, chamamos a

atenção para o Parque Zoobotânico, com 150 ha de área verde, sendo 90 ha de

preservação ambiental e 60 ha. de área para a visitação (zoológico e equipamentos

de apoio), totalmente arborizada.

O Parque da Cidade é destaque entre os parques ambientais, ocupa uma

área de 17 ha. Também conhecido como Parque ambiental Jose Olimpio de Melo,

foi inaugurado em 1982 e depois assim nomeado em 12 de maio de 1993. Neste

parque ambiental funciona a escola 15 de outubro, dedicada à Educação Ambiental

de alunos e visitantes.

Em 2002, o Parque Poticabana, também recebeu um centro de Educação

Ambiental, administrado pelo Governo Estadual. Este centro funciona com um

sistema de Educação Ambiental realizando passeios de barco no rio Poti, saindo da

Poticabana até o Parque Zoobotânico, onde o visitante tem a oportunidade de

conviver com os problemas ambientais por que passa o Rio Poti. Neste passeio,

tem-se também a oportunidade de se verificar como o Rio é usado pela população

como ponto de lazer, apesar do seu elevado índice de poluição.

O parque da floresta fóssil, ao lado da Poticabana, não vem cumprindo a

função que seu projeto se propunha, funciona com um campo de futebol na sua

parte interna que contribui para a degradação da vegetação ali existente. A

drenagem, executada para desvio das águas da lagoa ocupada pelo Teresina

Shopping, provoca erosão nas margens do rio dentro do parque ambiental. A cerca

15[15]

Revista SEMAM em ação da secretaria do meio ambiente de Teresina, março de 2000. 16[16]

Censo Florístico da cidade de Teresina Piauí- quadrilátero central. SEMAM, 2000 17[17]

Teresina, aspectos e características, perfil 1993, revisto e atualizado..

de contorno encontra-se danificada. Dada a sua situação de conservação só é

visitado pelos usuários do campo de futebol.

A preocupação com as margens dos rios, tem tomado a forma de parques

ambientais, destinados a caminhada e lazer. Foram criados, para proteger as

margens dos rios, os Parques Ambientais Poti I e o Parque ambiental Beira Rio às

margens do Rio Poti e os parques, Parque Municipal Parnaíba I, Parque Prainha e

Parque Ambiental do Acarape, à margens do no Rio Parnaíba. O Parque Ambiental

Encontro dos Rios, foi criado no encontro das águas do Rio Poti e do Rio Parnaíba.

As hortas comunitárias, têm surgido como uma forma de se manter limpas

as áreas embaixo das linhas de transmissão da CHESF, que por lei devem manter o

espaço sempre sobre controle. Esta solução tem se mostrado eficiente pois

consegue trazer benefício tanto para a população de baixa renda, pelo consumo de

hortaliças e comercialização destas, como para a CHESF, que mantém o espaço

sempre limpo sem despesas.

A consciência ambiental da população, ainda deixa muito a desejar. As

principais praças da cidade, Praça da Bandeira, Praça Saraiva e Praça Da Costa e

Silva, tiveram que ser fechadas – gradeadas para que fossem protegidas dos

vândalos.

CONCLUSÃO

Teresina, Cidade Verde?

A expressão “Cidade Verde,” quando analisada somente no aspecto dos

índices alcançado de cobertura vegetal, em função das áreas verdes públicas,

levara a conclusão de que Teresina apenas consegue estabelecer uma cobertura

vegetal mínima à manutenção da saúde da sua população. A cobertura vegetal da

cidade, porém, não se restringe apenas às áreas verdes institucionais, cadastradas

em Parques Ambientais, Avenidas e Praças levadas em consideração nos cálculos

de índices de áreas verdes urbanas. O verde existente nos quintais e terrenos

vazios, dá um aspecto verde muito característico à cidade, desde a sua criação.

Analisando a expressão “Cidade Verde” sob o ponto de vista da paisagem

cultural, onde interage o meio físico, o cultural e o social, a cidade tem vários

problemas a resolver. Procuramos comentar neste trabalho, dentre muitos

problemas existentes em Teresina, alguns pontos em que a cidade ainda não

conseguiu resolver na perspectiva do equilíbrio com a natureza, preconizado pelas

Agendas Internacionais.

Os pontos aqui colocados não esgotam os problemas ambientais da cidade

e não querem dizer que as obras executadas em lugares “impróprios” do ponto de

vista ambiental, não devessem ter sido construídas, mas sim, que a construção de

um empreendimento, que venha a prejudicar o funcionamento de ecossistemas

naturais, deve sempre levar em consideração os seus impactos ambientais e as

medidas mitigadoras necessária ao seu re-equilíbrio.

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