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Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

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Page 1: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

Teoria e prática de

redação para

jornalismo impresso

Page 2: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

ReitoraIrmã Jacinta Turolo Garcia

Vice-Reitora e Pró-Reitora Comunitária Irmã Ilda Basso

Pró-Reitora AdministrativaIrmã Olívia Santarosa

Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-GraduaçãoJosé Jobson de Andrade Arruda

Pró-Reitora AcadêmicaRegina Célia Baptista Belluzzo

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Nota: Do mesmo modo como no uso da fórmula do“com”, deve-se evitar mais de um complemento, ou complemen-to muito longo para o “por”.

8. Fórmula do “GERÚNDIO”: é mais um tipo de recursousado quando se quer enfatizar uma explicação antes de citar ofato propriamente dito, ou quando se quer destacar uma infor-mação que não estaria nas primeiras linhas numa frase em or-dem direta – de sujeito, verbo e complementos.

Exemplo:Tentando evitar que se repita o problema ocorrido com Jô

Soares na última semana, a Globo lança, juntamente com sua ta-bela de preços de julho, novas normas para veicular anúncios fei-tos por atores e apresentadores contratados de outras emissoras.

9. Fórmula do “PARTICÍPIO”: é uma das inversões da or-dem direta dos elementos de abertura que mais imprime força eatração ao texto. Sua utilização pressupõe, em geral, que o reda-tor possa fazer uma afirmação indiscutível antes de citar o sujei-to do fato e sua ação.

Exemplo:Alarmado com os 947 mil cruzados, de Imposto de Ren-

da, que terá de pagar à vista ou em oito parcelas reajustáveis, oexcêntrico Renato, recusando todas as propostas do Flamengo,insiste em ser negociado para o Exterior. Na Itália, pensa ele, serámuito mais fácil driblar o Leão.

Nota: Entre os riscos do uso dessa fórmula está o de exa-gerar. Outro risco é o comum de todas as inversões: fazer um pe-ríodo longo demais.

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– que em princípio seria apenas complementar – deve ser alça-da à primeira linha da notícia.

Exemplo 1 (destaque de um objetivo):Com o objetivo de reduzir em 700 bilhões de reais as

despesas com a folha de pagamento do funcionalismo federal,o presidente Fernando Henrique Cardoso assinou ontem umdecreto-lei congelando os reajustes salariais com base na infla-ção dos meses de abril e maio.

Exemplo 2 (para enfatizar a explicação de um fato):Com a explicação de que está reduzindo o número de em-

pregados para diminuir custos – feita pelo porta-voz AntônioAugusto de Oliveira -, a Embraer demtiu ontem 42 funcionários.

6. Fórmula do “INFINITIVO”: pode ser utilizada parasubstituir, vantajosamente, a fórmula do “com”, quando estadestaca objetivos.

Exemplo:Aumentar a eficiência da máquina administrativa; possibili-

tar um maior controle da sonegação de impostos; agilizar o siste-ma de arrecadação tributária; eliminar as isenções de impostos nasexportações; e obter autorização para a rolagem de toda a dívidapública estadual. Estes são os objetivos do projeto encaminhadoontem à Assembléia Legislativa pelo governador Fulano de Tal.

7. Fórmula do “POR”: “recurso semelhante ao da fórmu-la do “com”, usando quando se quer citar de início determinadainformação que seria complementar, mas que, por algum moti-vo, entendemos ter se tornado muito relevante. É comum vereste recurso, por exemplo, nas notícias de decisões de tribunais.

Exemplo:Por unanimidade, o Tribunal de Contas do Estado julgou

irregular a prestação de contas do governador Fulano de Tal, re-lativa ao ano passado, e o condenou a…

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

Teoria e prática de

redação para

jornalismo impresso

Luís Henrique Marques

BoletimCultural

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ISSN 0103-1589

Page 4: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

Copyright© EDUSC, 2003

Marques, Luís Henrique.Teoria e prática de redação para jornalismo impresso / Luís

Henrique Marques. -- Bauru, SP : EDUSC, 2003.104 p. ; 21 cm. -- (Boletim Cultural; 33)

Inclui bibliografia.ISSN 0103-1589

1. Jornalismo - Manual de redação e estilo. 2. Jornalismo impresso.I. Título. II. Série.

CDD 070.4

Rua Irmã Arminda, 10-50CEP 17011-160 - Bauru - SP

Fone (14) 235-7111 - Fax (14) 235-7219e-mail: [email protected]

M3574t

e-mail do autor: [email protected]

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4. Fórmula das “ASPAS”: é utilizada, em regra, quando al-guém fez uma declaração que se destaca excepcionalmente, sejapela contundência, seja pelo ridículo, pitoresco ou insólito.

Exemplo:“Estou convencida de que Dom Reagan realmente não gos-

ta de mim”, afirmou a primeira dama Nancy Reagan, segundosua secretária Elaine Crispen, ao comentar o livro do ex-chefe daCasa Civil da Casa Branca.

Nota 1: Uma vantagem da fórmula das aspas é que elapode dar grande força para a matéria, se a declaração for mesmoboa. (...) O risco é colocar uma afirmação boba... começar comcitações pretensamente espirituosas ou sábias, mas que não pas-sam de lugares-comuns e banalidades.

Nota 2: Também é possível abrir a matéria com uma es-pécie de declaração, mas não entre aspas.

Exemplo: O Judiciário não pode colaborar com políticasde governo, foi o que deixou claro o presidente do TST, MarceloPimentel, depois de uma reunião em que Sarney e seus minis-tros ofereceram aos presidentes dos tribunais supremos infor-mações sobre o risco que correm as contas da União, se as cau-sas contra o congelamento da URP vencerem.

Nota 3: Outro cuidado que o redator deve ter em rela-ção a declarações (...) é o de não passar recibo. Isto é, não en-dossar o que foi dito por quem quer seja.

Exemplo: O candidato Fulano de Tal está convicto deque ganhará as eleições. Ou: O candidato Fulano não temmedo de perder as eleições.

Sempre que alguém diz alguma coisa, é preciso explici-tar que foi esse alguém que disse.

5. Fórmula do “COM”: é um recurso empregado em di-versas situações, quando se julga que determinada informação

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Page 5: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

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Exemplo:Ao reunir-se ontem, em Genebra, com o secretário de Es-

tado George Schultz, o chanceler soviético, Eduard Shevard-nadze, disse que não há nenhuma possibilidade de um acordosobre a redução dos arsenais de armas de longo alcance entre assuperpotências antes da reunião de cúpula Reagan-Gorbachev,no fim deste mês.

Nota: O risco é que o “AO” e seus complementos se tor-nem muito longos, fazendo com que sujeito efetivo da notícia ea sua ação só apareçam lá pela sétima linha.

2. Fórmula do “ENQUANTO”: é outro recurso para asso-ciar fatos, em especial quando contraditórios.

Exemplo:Enquanto o governador Fulano de Tal, do PMDB, afirma-

va, ontem, que seu partido votará unido em relação ao projeto“X”, o líder do PMDB na Assembléia Legislativa, deputado Beltra-no, advertia para o crescimento das divergências internas na ban-cada, e dizia não ter condições de prever o resultado da votação.

Nota: A fórmula possibilita textos contundentes. Mastambém oferece riscos. Um deles é o de fatos associados não te-rem exatamente relação entre si ou terem relação tão sutil ou tê-nue que escape à percepção do leitor.

3. Fórmula do “EMBORA”, “MESMO” ou “APESAR DE”:e outras expressões de função semelhante, podemos tanto asso-ciar fatos produzidos por fontes diferentes, como colocar emconfronto elementos de uma mesma fonte.

Exemplo:Embora o presidente Fulano de Tal tenha garantido, an-

teontem, que não haveria congelamento dos salários do funcio-nalismo federal, baixou ontem um decreto-lei, suspendendo ascorreções, com base na URP, nos meses de abril e maio.

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

INTRODUÇÃO

7 Informações gerais sobre o texto jornalístico

CAPÍTULO 115 Gêneros do texto jornalístico impresso: definição

CAPÍTULO 219 Pauta

CAPÍTULO 323 Lead

CAPÍTULO 433 Notícia e Reportagem

CAPÍTULO 539 Chamada, chapéu, título, olho, legenda e texto-legenda

CAPÍTULO 645 Artigo e Editorial

SUMÁRIO

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CAPÍTULO 755 Perfil

CAPÍTULO 861 Suíte

CAPÍTULO 963 Entrevista e Declarações

CAPÍTULO 1071 Press-Release (ou Release)

CAPÍTULO 1175 Peculiaridades do texto jornalístico para revista

CAPÍTULO 1285 Análise ideológica de um texto jornalístico

CAPÍTULO 1393 O texto em algumas editorias específicas:

considerações gerais

101 BIBLIOGRAFIA

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4. Que realça a pessoa (contar a história pessoal, colocan-do-se em causa ou pondo em cena o leitor):

“Quantas oportunidades você perdeu por não saber dan-çar?” A máxima comum a várias academias de dança de salãonão é mera isca para alunos em potencial. A história digna deCinderela ocorreu com uma aluna do professor Jorge Paulo,cujo nome ele não revela por sua privilegiada condição social.

5. Que joga com fórmulas (frases feitas ou clichês, reten-do-os tal e qual ou alterando-os):

Pode ser até que elas gostem mais, mas eles não gostam deser carecas. E, para alívio dessa fatia da população brasileira, estáchegando ao Brasil uma nova técnica de implante de cabelos,mais natural e menos dolorosa.

6. Que joga com as palavras (trocadilhos, paradoxos, ane-dotas, etc.)

DOMINGO próximo, quando o esquadrão rubro-negroadentrar o tapete verde do Maracanã para o embate com osmulatinhos rosados da Moça Bonita, o futebol, essa caixinha desurpresas, terá mais uma vez ao seu lado a voz de Waldir Ama-ral, estreando na Rádio Jornal do Brasil. É uma profissão pecu-liar, e entre outras dificuldades ela expõe o locutor a uma horae meia de fala incessante. Para encher o máximo de tempo, eleinventa aquelas expressões delirantes – todas fora do repertóriomoderno de Waldir.

Alexandre Castro (1991), em sua obra Redação jornalísti-ca de bico, dá-nos as fórmulas utilizadas no jornalismo:

1. Fórmula do “AO”: é muito usada quando se quer rela-cionar dois fatos importantes, e dar ênfase maior ao que for re-ferido em segundo lugar.

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Page 7: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

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1. Que realça a visão (abertura fotográfica, cinematográ-fica ou descritiva):

A tainha acaba de ser pescada. Está cega, olhos completa-mente brancos. Ao se debater no fundo do barco, algumas esca-mas se soltam com facilidade. Ela cheira mal. Está viva, mas játem aparência de peixe podre. Essa tainha – viva e podre – cau-saria espanto e nojo a qualquer pessoa. Mas não aos pescadoresdo estuário de Santos. Quase todos os dias eles encontram pei-xes, como esse, envenenados pela poluição que domina o ar res-pirado por esses homens e as águas, onde lutam dia e noite, paratirar o sustento de suas famílias.

2. Que realça a audição (abertura-citação-declaração –real ou imaginária):

Os americanos estão desembarcando. A notícia, comouma senha, se espalha rapidamente e, em poucos minutos, ocais da Praça Mauá é invadido por uma multidão de táxis, mu-lheres e cambistas. São as primeiras batalhas de uma verdadei-ra guerra, um vale-tudo, na disputa pelos dólares dos 2 mil 500marinheiros que integram a Força-Tarefa Norte-Americana,que acaba de atracar no Rio.

3. Que realça a imaginação (abertura comparativa ouimaginativa):

O povo amava Mané Garrincha. Em dezembro de 1973,foi vê-lo movimentar-se pela última vez dentro das quatro li-nhas do Maracanã, no “jogo da gratidão”, como se chamou pie-dosamente o afinal inútil ato de caridade em benefício do já ani-quilado herói das Copas de 58 e 62. Na última quinta-feira, 20,o povo voltou ao Maracanã, agora para contemplar o corpoinerte do ídolo de outrora, cujos feitos a maioria só conhece defilmes ou de ouvir contar.

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

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Só escreve bem, acima da pura habilitação mecânica,

quem lê muito e escolhe bem o que lê.

L. Garcia, Manual de redação e estilo de O Globo

O texto noticioso deve ter uma relação clara com o fato:o primeiro não deve ir além do segundo. Agora, “se o fato é inex-plicável, nem por isso se torna impublicável”, diz Garcia (1986).Para ele, “deve-se afirmar abertamente que a notícia provocaperguntas que não há como responder”.

Segundo o Manual de Redação da Folha de S. Paulo(1987), “os fatos são a matéria-prima de qualquer tipo de jor-nalismo. É mais valioso revelá-los do que relatar declarações arespeito deles”.

Ainda segundo Folha (1987), o jornal “deve poupar tra-balho ao leitor”. Isto é:

Deve relatar todas as hipóteses em torno de um fato em vez de

esperar que o leitor as imagine. Deve publicar cronologias e biogra-

fias em vez de supor que o leitor vai recordar ou pesquisar por con-

INTRODUÇÃO:INFORMAÇÕES GERAIS SOBRE

O TEXTO JORNALÍSTICO

Page 8: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

8

ta própria. Deve explicar cada aspecto da notícia, em vez de julgar

que o leitor já está familiarizado com ela. Deve organizar os temas

de modo que o leitor não se surpreenda com assuntos correlatos

em lugares distintos do jornal. Deve diagramar os textos de modo

que o leitor não tenha dificuldade de ler.

Cada tema deve ser decomposto em suas partes constitutivas,

esmiuçado, explicado e levado ao leitor de maneira simples e didá-

tica, sob uma forma gráfica lógica e acessível.

Na linha de raciocínio citada, vale a preocupação com umcerto didatismo no tratamento do texto noticioso:

… deve ser redigido a partir do pressuposto de que o leitor não está

familiarizado com o assunto. Tudo deve ser explicado, esclarecido e

detalhado, de forma concisa, exata, simples. As operações de política,

da economia, da administração pública, as regras dos esportes, as

tramas das relações internacionais, as peculiaridades da academia e

da ciência, as nuances das artes e espetáculos, tudo deve ser ofereci-

do de forma didática ao leitor. (FOLHA DE S. PAULO, 1987)

O texto, como um todo, exige “exatidão” (para não en-ganar o leitor); “clareza” (para que ele entenda o que lê) e “con-cisão” (para não desperdiçar nem o tempo dele nem o espaçodo jornal, isto é, “tudo que puder ser dito em uma linha nãodeve ser dito em duas”).

Sobre a lógica do texto noticioso, vale o que recomenda oManual da Folha:

Cada frase deve conter uma só idéia. Frases curtas são mais efi-

cazes que as longas. O tamanho ideal é entre uma linha e linha e

meia de setenta toques datilográficos. (…) Só se deve iniciar frases

com declarações textuais quando estas forem muito importantes.

Não se deve iniciar frase com advérbios, pronomes pessoais do

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

25

7. Contraste (revela fatos diferentes e antagônicos):Enquanto o milionário Pedro da Silva acertava ontem,

sozinho, os 13 pontos da Loteria Esportiva, seu irmão, Antônioda Silva, era sepultado como indigente no Cemitério da Sauda-de. Seu corpo fora encontrado no pequeno barraco, construídocom tábuas, no qual vivia, em bairro periférico.

8. Chavão (cita um ditado ou slogan. Não é muito usado.):“Quem com ferro fere, com ferro será ferido” – declarou

ontem Pedro da Silva, para justificar ter assassinado Joaquim deAlmeida, que matara seu pai, em janeiro de 1974.

9. Documentário (serve de base histórica):“O campus da Pontifícia Universidade Católica foi inau-

gurado ontem com a presença do núncio apostólico no Brasil, oministro da Educação, reitores, autoridades e convidados.” (Aseguir, a cerimônia é descrita resumidamente, no lead, de manei-ra a que, no futuro, o texto possa servir como elemento históri-co, a respeito da inauguração.)

10. Direto (anuncia a notícia sem rodeios, indo direta-mente ao fato):

Um terremoto, com duração de 15 segundos, destruiuhoje parcialmente a capital da Nicaragua, provocando 500 mor-tes e ferindo 10 mil pessoas.

11. Pessoal (fala ao leitor):Você poderá, a partir de hoje, telefonar para a delegacia da

Receita Federal, a fim de obter esclarecimentos sobre as suas dúvi-das quanto ao preenchimento da declaração do imposto de renda.

Segundo Muniz Sodré e Maria Helena Ferrari (Técnica deReportagem: notas sobre a narrativa jornalística, 1986), o leadpode ser aquele:

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24

2. Composto ou Resumo (anuncia vários fatos importan-tes, abrindo a notícia e contando, praticamente, tudo o queocorreu ou vai ocorrer):

Inauguração da Biblioteca Pública Municipal com 20 an-dares, sessão solene na Câmara Municipal para a entrega de per-gaminhos aos novos cidadãos paulistanos, jogo entre o Palmei-ras e o Grêmio (de Porto Alegre) e a chegada do Concorde, emsua viagem inaugural entre Paris e Viracopos, assinalirão do-mingo próximo o aniversário da fundação de S. Paulo. O Presi-dente da República desembarcará em Congonhas às 8 horas e,depois de todas as comemorações, retornará a Brasília, à noite.

3. Integral (dá a noção perfeita e completa do fato porresponder a todas as questões fundamentais do jornalismo):

Estudantes paulistas prometem para a tarde de amanhãnovos atos de protesto pelas ruas centrais da capital e, além des-sa passeata, pretendem realizar comícios para denunciar a indis-criminada criação de Faculdades de fins de semana.

4. Suspense ou Dramático (provoca emoção em quem o lê):Enquanto os bombeiros de Belo Horizonte acreditam que

poderão salvar o menino Joaquim da Silva, de dois anos, quecaiu ontem, às 23 horas em um poço no quintal de sua casa, lo-calizada na rua Presidente Wilson 500, os médicos do Pronto So-corro afirmam que o menor dificilmente suportará as dores dasfraturas que sofreu, se não for retirado até a amanhã de hoje.

5. Flash (introdução lacônica de uma notícia):Estudantes da capital prometem novos atos de protesto,

amanhã, contra a criação de Faculdades de fim de semana.

6. Citação (transcreve um pronunciamento):“Este ano não será possível construir nova estação de

passageiros no aeroporto”, declarou o diretor de Viracopos.

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

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caso oblíquo, adjetivos ou interjeições. Não usar a conjunção de-

pois de ponto. (FOLHA DE S. PAULO, 1987)

O texto exige ainda uma cadeia lógica de informações.Exemplo: João, que tem 1,80 m de altura, chegou ao Rio

há dois anos. (pouco lógico)Melhor: Nascido em São Paulo, João chegou ao Rio há

dois anos. (lógica clara)“A ordem dos elementos na frase também precisa ser coe-

rente: o ONDE se junta ao lugar, o QUANDO se cola ao mo-mento. Errado: ‘… em Recife, na presença do deputado, onde osenador disse…’ Certo: ‘…na presença do deputado, em Recife,onde o senador disse…’”. (GARCIA, 1986).

Objetividade – Não existe objetividade em jornalismo. Ao redi-

gir um texto e editá-lo, o jornalista toma uma série de decisões que

são em larga medida subjetivas, influenciadas por suas posições

pessoais, hábitos e emoções.

Isso não o exime, porém, da obrigação de procurar ser o mais

objetivo possível. Para retratar com fidelidade, reproduzindo a for-

ma em que ocorreram, bem como suas circunstâncias e repercus-

sões, o jornalista deve procurar vê-los com distanciamento e frieza,

o que não significa apatia nem desinteresse. Consultar os colegas

na Redação e procurar lembrar-se de fatos análogos ocorridos no

passado são dois procedimentos que podem auxiliar na ampliação

da objetividade possível. (FOLHA DE S. PAULO, 1987)

Limitação de palavras, uso de períodos curtos e observa-ção das regras gramaticais facilitam a comunicação.

“… quem menos sabe usar o idioma mais tende à reda-ção sinuosa, cheia de frases superlotadas e redundantes”.(GARCIA, 1986).

“Regra prática: evitar, no mesmo período, mais de umMAS (ou seus equivalentes) ou mais de QUE.” (GARCIA, 1986).

Introdução

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10

Preferir a ORDEM DIRETA (sujeito + verbo + predica-do): também facilita a leitura.

O uso da 3ª pessoa é OBRIGATÓRIO: a retórica da notí-cia é referencial, por definição:

“Em princípio, o jornalista é testemunha, não persona-gem”. (GARCIA, 1986).

A respeito do uso dos verbos na construção da sentençada notícia, Lage (1979) chama a atenção para o fato de que “umaprimeira particularidade verbal decorre da referencialidade: ouso do modo indicativo”. Além disso, esse autor salienta que, emgeral, os fatos noticiados pertencem a um passado recente. “Opassado é o tempo da notícia, quando relato do sucedido”, expli-ca.“Quando anúncio, virá no futuro simples ou no presente usa-do pelo futuro”.

Trate a fonte impessoalmente. Não escreva, por exemplo,“a Xuxa”, mas simplesmente “Xuxa” ou “apresentadora Xuxa”.Ainda sobre o personagem da notícia, interesse é levar em con-ta as recomendações do Manual da Folha de S. Paulo (1987):

O personagem da notícia deve ser identificado para o leitor.

Deve ser qualificado pela condição ou cargo que exerce e pela sua

idade. Pode-se omitir a idade de pessoa referida ocasionalmente no

texto. Qualificações passadas (ex-presidente, ex-prefeito) só devem

ser utilizadas quando relevantes no contexto.

A idade do personagem da notícia deve ser informada entre

vírgulas, logo após o seu nome. Se ele não quiser ver sua idade pu-

blicada pelo jornal, o desejo deve ser respeitado.

Exemplo de identificação de personagem da notícia: “O enge-

nheiro José da Silva, 34, ex-prefeito de Caraguatatuba”.

O personagem da notícia deve ser identificado pelo seu nome

completo ou pelo nome através do qual é mais conhecido.

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

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DEFINIÇÃO

É a abertura da matéria. Nos textos noticiosos, deve incluir,em duas ou três frases, as informações essenciais que transmitamao leitor um resumo completo do fato. Precisa sempre responderàs questões fundamentais do jornalismo: O QUE, QUEM,QUANDO, ONDE, COMO e POR QUÊ. (MARTINS, 1990).

CLASSIFICAÇÃO

Segundo Mário L. Erbolato (Técnicas de Codificação emJornalismo, 1991), o lead classifica-se em:

1. Simples (refere-se apenas a um fato principal):Uma descompressão explosiva maciça a 7 mil metros de

altura provocou a queda, ontem, nas proximidades de Saigon,do avião C-5 A Galaxy, o maior do mundo, que transportava 150crianças sul-vietnamitas órfãs, para os Estados Unidos.

Lead

Capítulo 3

Page 11: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

11

Quando a naturalidade do personagem da notícia for uma in-

formação relevante, ela também deve constar do texto (“o químico

João da Silva, 34, maranhense”).

Não deve constar a identificação do personagem da notícia seu

sexo, cor, raça, religião, partido político, preferência ideológica ou

opção sexual a não ser quando relevante no contexto.

Ainda sobre o tratamento do personagem da notícia, oManual da Folha de S. Paulo recomenda (a exemplo dos jornaisem geral) “não tratar qualquer personagem da notícia como‘elemento’, ‘marginal’, ‘trombadinha’, ‘pivete’ ou qualquer outraexpressão depreciativa ou injuriosa”. O mesmo vale para este-reótipos como “pé-rapado”, “pobretão”, “milionário”, “preto”,“china”, “japa”, “papa-hóstias”, “comuna”, “bicha”, “sapatão”,“machão” e “vermelho”.

Vocabulário: deve ser rico, mas sem ostentação. Os ter-mos técnicos, provenientes de profissões (jargões), atividades eramos do conhecimento, quando é impossível substituí-los, de-vem ser explicados. As gírias também devem ser evitadas.

“O estilo jornalístico é um meio-termo entre a linguagemliterária e a falada” (MARTINS, 1990). Nesse caso, a linguagemcoloquial costuma ser a mais adequada, o que, naturalmente, in-corre em evitar erros gramaticais, gírias e a deselegância de estilo.

Atenção para advogados, economistas e políticos: muitasvezes, usam um vocabulário inacessível ao leitor médio ou pseu-dotécnico para esconder a realidade.

A prudência ensina a evitar generalizações: por exemplo, nolugar de “os dez maiores do mundo”,“dez dos maiores do mundo”.

Conceitos que expressam subjetividade devem ser excluí-dos: não é notícia o que alguém “pensou”, “imaginou”, “conce-

Introdução

Page 12: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

12

beu”, “sonhou”, mas o que alguém “disse”, “propôs”, “relatou” e“confessou”. (Veja mais a respeito na página 63).

Evitar referências imprecisas: não se escreve “alguns mani-festantes”, mas, sempre que possível, “10, 12 ou 15 manifestantes”.

Adjetivos cuja referência varia de pessoa para pessoa de-vem ser evitados. Por exemplo, “edifício alto”. O que é um “edi-fício alto” para o leitor? E quando se tem que lidar com gran-dezas para as quais não há referencial de consenso, torna-seconveniente utilizar comparações. Exemplo: A usina é capaz deabastecer uma cidade de 50 mil habitantes.

“Deturpa o sentido transformar em adjetivo o substantivoque vem em seguida a um ‘DE’”. (GARCIA, 1986). Exemplo: “ven-dedor lotérico” não é a mesma coisa que “vendedor de loteria”.

Sobre os adjetivos em geral, vale a recomendação: usá-loscom cautela ou – o que é melhor – evitá-los. “A opinião sustenta-da em fatos é muito mais forte que a adjetivada”. (GARCIA, 1986).

Semelhante à recomendação geral sobre o uso de adjeti-vos em textos noticiosos, os advérbios devem ser utilizados commoderação. Evitar, sobretudo, os que possuem o sufixo -mente,por se tratarem de palavras, em geral, muito compridas. Nesseúltimo caso, é preciso levar em conta que seu uso é próprio de“quem não tem o que dizer e quer gastar tempo”. Evitar ainda:iniciar frases com advérbios e o emprego de adjetivos na funçãode advérbios (Exemplo: Ninguém anda “rápido”. As pessoas an-dam “rapidamente” ou “devagar”.).

Uso de entretítulo (em matérias de jornais, em geral, após2º parágrafo) não é absolutamente necessário. Seu uso se dá porrazões estéticas e de motivação de leitura.

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

21

• um breve histórico dos acontecimentos que constituem oobjeto da reportagem;

• um roteiro das questões essenciais que a reportagem de-verá responder;

• pelo menos uma hipótese que a reportagem vai confir-mar ou refutar;

• os aspectos mais relevantes para a linha editorial do jor-nal no tema da reportagem;

• os aspectos até então pouco explorados do assunto;• indicações de nomes de pessoas, com endereço e telefone,

que podem ser procuradas como fonte de informação.

Pauta

Page 13: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

20

Pautas óbvias não necessitarão de muito texto. Espera-se, por exemplo, que um repórter de cidade saiba o que per-guntar ao prefeito ou a um secretário, o que apurar numa mu-dança de trânsito, como cobrir uma expulsão de invasores deárea pública, etc.

O repórter deverá também ter bom senso suficiente paramudar a angulação de uma pauta sempre que um assunto levan-tado no meio de uma entrevista ou cobertura se sobrepuser aosdemais pedidos pela pauta. Em caso de dúvida, convém que eleentre em contato com o pauteiro ou editor para saber se a suadecisão é correta.

Evite dispersão desnecessária de esforços ao montaruma pauta. Você não precisa pedir a toda a rede local e nacio-nal da empresa entrevistas com 30 ou 40 médicos sobre oavanço da Aids, nem depoimentos de 30 ou 40 pacientes a res-peito da doença, quando meia dúzia já darão um quadro sa-tisfatório da situação.

De qualquer forma, não hesite em tornar uma pautagrande, sempre que o julgar necessário. Qualquer aspecto es-pecífico de um assunto somente poderá ser cobrado do repór-ter se tiver sido pedido na pauta. Mais do que isso, porém: opauteiro, por sua própria função (tentar cercar todos os ângu-los da notícia), pode ter idéias que não ocorreriam ao repórter.E vice-versa: por isso, é igualmente indispensável que o repór-ter complemente uma pauta que tenha deixado de lado algunsaspectos de um assunto.

Sugestão de roteiro de pauta (baseado no Manual de Re-dação da Folha de S. Paulo):

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

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Evitar excesso de vírgulas:Exemplo: Ele foi morto ontem, em Jacarepaguá, depois

de ter sido rendido, com a namorada, por dois homens, emNova Friburgo.

Melhor: Ele foi morto ontem em Jacarepaguá por doishomens que o tinham seqüestrado, com a namorada, em NovaFriburgo.

Evitar ainda:Nariz de cera – parágrafo introdutório e desnecessário no

início dos textos. O “nariz de cera” retarda a entrada no assuntoespecífico do texto e tende à prolixidade. Recurso utilizado nojornalismo do passado.

Gato – troca de palavra ou de letra por outra ou erro ti-pográfico semelhante proveniente de descuido ou de qualquerinterpretação errada do original.

Gerúndio – forma verbal que quase sempre tem funçãode advérbio ou adjetivo. Deve ser evitada no texto jornalístico. Équase sempre utilizado para prolongar períodos sem acrescentarinformação relevante. Tira a agilidade do texto.

Cacoetes de linguagem – deve-se evitar o emprego de ex-pressões desgastadas pelo uso exagerado ou irrefletido. Exemplos:

a) a nível de, por outro lado, ao mesmo tempo, por suavez, via de regra (quase todas essas desnecessárias e destituídasde qualquer valor semântico);

b) verdadeiro caos, pavoroso incêndio, confortável man-são, precioso líquido, gol espetacular (todas estas inúteis paraque o leitor tenha uma compreensão mais exata do que o jorna-lista descreve);

c) e outras como: ataque fulminante, inserido no contex-to, fortuna incalculável, preencher uma lacuna, audaciosa ma-nobra, perda irreparável, familiares inconsoláveis, monstruosocongestionamento, estrepitosas vaias, trair-se pela emoção.

Introdução

Page 14: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

14

Hipérbole – figura de linguagem que consiste no exagerodesmesurado das dimensões verdadeiras de qualquer coisa.Exemplos: milhões de vezes, gigantesca manifestação, aplausosensurdecedores. Deve ser evitada nos textos jornalísticos. O bomtexto jornalístico deve ser contido e descrever os fatos e os fenô-menos de forma que o leitor possa ter a compreensão mais pró-xima possível da realidade.

Emoção – o texto jornalístico deve registrar a emoção noseventos que noticia e transmiti-la ao leitor. Mas o jornalista nãodeve se deixar envolver pela emoção no desempenho do seu tra-balho. O jornalista também deve impedir, ao registrar a emoçãodo fato, que seu texto se torne choroso, triunfalista, eufórico oupiegas. A emoção deve ser registrada sem que o texto se torne,por si mesmo, emotivo.

O jornalista não deve especular sobre os estados emocio-nais, pensamentos e intenções do personagem, exceto quandoescrever textos de análise/interpretação ou artigos. Exemplo: emvez de dizer que “o governador demonstrava sinais de visívelnervosismo na entrevista coletiva que concedeu ontem”, dizerque “na entrevista coletiva que concedeu ontem, o governadorfumou oito cigarros em quarenta minutos”.

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

19

Segundo Martins (1990), chama-se pauta tanto o conjun-to de assuntos que uma editoria está cobrindo para determinadaedição do jornal como a série de indicações transmitidas ao re-pórter, não apenas para situá-lo sobre algum tema, mas, princi-palmente, para orientá-lo sobre os ângulos a explorar na notícia.

A pauta constitui um roteiro mínimo fornecido ao re-pórter. Se ela for muito específica e pedir que ele apure apenasalguns aspectos da notícia, o repórter deverá obedecer a essaorientação, para evitar que suas informações conflitem com asde outros jornalistas que estejam trabalhando no mesmo ou asrepitam.

O pauteiro (preparador da pauta) deverá, sempre quepossível, incluir na pauta os telefones de pessoas a entrevistar,endereços de locais que deverão ser procurados e dados seme-lhantes, que permitarão ganho de tempo. O repórter, no entan-to, deverá ter iniciativa suficiente para encontrar as pessoas ouos locais necessários quando esses dados não estiverem disponí-veis ou forem insuficientes.

PAUTA

Capítulo 2

Page 15: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

18

tro, ou melhor, não coincidem com o seu momento eclosivo. Doponto de vista da angulagem espacial, somente a caricatura es-trutura-se articuladamente com o ambiente peculiar à institui-ção jornalística, ou seja, nutre-se daqueles valores que dão “es-pírito e corpo” à redação de um jornal, emissora ou revista. Acarta distancia-se totalmente, reproduzindo o ângulo de obser-vação que resgata o outro lado do fluxo jornalístico: o do recep-tor, o da coletividade. A crônica e a coluna incorporam ou fazema mediação da ótica da comunidade ou dos grupos sociais a queinstituição jornalística se dirige.

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

15

a) Editorial: “texto onde o jornal expressa sua opinião.Não é assinado para que caracterize formalmente a posição doveículo”. (DIAS, 1994).

b) Artigo: “texto assinado por pessoa cuja notoriedadeprofissional, política ou acadêmica lhe dá autoridade para abor-dar e opinar sobre um determinado tema”. (DIAS, 1994). Podeser escrito em primeira pessoa.

c) Notícia: “informação que se reveste de interesse jorna-lístico. Puro registro de fatos sem comentários, julgamentos e/ouinterpretações”. (DIAS, 1994).

d) Nota: “É uma notícia curta”. Há ainda o Suelto, “expres-são de origem espanhola, em desuso no jornalismo, que designauma pequena nota seguida de breves comentários”. (FOLHA DES. PAULO, 1987).

e) Reportagem: “pode ser considerada a própria essênciade um jornal e difere da notícia pelo conteúdo, extensão e profun-didade”. (MARTINS, 1990). Tem como principais características:

GÊNEROS DO TEXTO

JORNALÍSTICO IMPRESSO: DEFINIÇÃO

Capítulo 1

Page 16: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

16

• predominância da forma narrativa;• humanização do relato;• texto de natureza impressionista;• objetividade dos fatos narrados. (SODRÉ, 1986).

e) Perfil: “reportagem biográfica que mistura declaraçõesde uma pessoa, dados biográficos e comentários sobre o persona-gem em foco”. (DIAS, 1994).

O jornalista e professor José Marques de Melo, em suaobra A opinião no jornalismo brasileiro (1994), após analisar asdiferentes classificações de gêneros do texto jornalístico (euro-péias, norte-americanas, hispano-americanas e brasileiras), pro-põe a sua própria classificação, que nos parece equilibrada:

A) Jornalismo informativo1. Nota2. Notícia3. Reportagem4. Entrevista

B) Jornalismo opinativo5. Editorial6. Comentário7. Artigo8. Resenha9. Coluna10. Crônica11. Caricatura12. Carta

A distinção entre a nota, a notícia e a reportagem está exa-tamente na progressão dos acontecimentos, sua captação pelainstituição jornalística e a acessibilidade de que goza o público.

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

17

A nota corresponde ao relato de acontecimentos que estão emprocesso de configuração e por isso é mais freqüente no rádio ena televisão. A notícia é o relato integral de um fato que já eclo-diu no organismo social. A reportagem é o relato ampliado deum acontecimento que já repercutiu no organismo social e pro-duziu alterações que são percebidas pela instituição jornalísti-ca. Por sua vez, a entrevista é um relato que privilegia um oumais protagonistas do acontecer, possibilitando-lhes contatodireto com a coletividade.

No caso dos gêneros opinativos, deparamo-nos com al-guns que se estruturam semelhantemente enquanto narraçãodos valores contidos nos acontecimentos, mas assumem identi-dades diversas a partir da autoria/angulagem. O comentário, oartigo e a resenha pressupõem autoria definida e explicitada, poiseste é o indicador que orienta a sintonização do receptor; já oeditorial não tem autoria, divulgando-se como espaço da opi-nião institucional (ou seja, a autoria corresponde à instituiçãojornalística). O comentário e o editorial estruturam-se segundouma angulagem temporal que exige continuidade e imediatis-mo; isso não ocorre com a resenha e o artigo, pois o primeiro,embora freqüente, descobre os valores de bens culturais diferen-ciados, e o segundo, embora também contemple fenômenos di-ferentes, não se caracteriza pela freqüência, aparecendo aleato-riamente. O que também aproxima a resenha do artigo é a cir-cunstância de serem gêneros cuja angulagem é determinada pelocritério de competência dos autores na busca dos valores ineren-tes aos fatos que analisam. Em relação à coluna, crônica, carica-tura e carta um traço comum é a identificação da autoria. Já asangulagens são distintas. A coluna e a caricatura emitem opi-niões temporalmente contínuas, sincronizadas com o emergir eo repercutir dos acontecimentos. A crônica e a carta estruturam-se de modo temporalmente mais defasado; vinculam-se direta-mente aos fatos que estão acontecendo, mas seguem-lhe o ras-

Gêneros do texto jornalístico impresso: definição

Page 17: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

16

• predominância da forma narrativa;• humanização do relato;• texto de natureza impressionista;• objetividade dos fatos narrados. (SODRÉ, 1986).

e) Perfil: “reportagem biográfica que mistura declaraçõesde uma pessoa, dados biográficos e comentários sobre o persona-gem em foco”. (DIAS, 1994).

O jornalista e professor José Marques de Melo, em suaobra A opinião no jornalismo brasileiro (1994), após analisar asdiferentes classificações de gêneros do texto jornalístico (euro-péias, norte-americanas, hispano-americanas e brasileiras), pro-põe a sua própria classificação, que nos parece equilibrada:

A) Jornalismo informativo1. Nota2. Notícia3. Reportagem4. Entrevista

B) Jornalismo opinativo5. Editorial6. Comentário7. Artigo8. Resenha9. Coluna10. Crônica11. Caricatura12. Carta

A distinção entre a nota, a notícia e a reportagem está exa-tamente na progressão dos acontecimentos, sua captação pelainstituição jornalística e a acessibilidade de que goza o público.

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

17

A nota corresponde ao relato de acontecimentos que estão emprocesso de configuração e por isso é mais freqüente no rádio ena televisão. A notícia é o relato integral de um fato que já eclo-diu no organismo social. A reportagem é o relato ampliado deum acontecimento que já repercutiu no organismo social e pro-duziu alterações que são percebidas pela instituição jornalísti-ca. Por sua vez, a entrevista é um relato que privilegia um oumais protagonistas do acontecer, possibilitando-lhes contatodireto com a coletividade.

No caso dos gêneros opinativos, deparamo-nos com al-guns que se estruturam semelhantemente enquanto narraçãodos valores contidos nos acontecimentos, mas assumem identi-dades diversas a partir da autoria/angulagem. O comentário, oartigo e a resenha pressupõem autoria definida e explicitada, poiseste é o indicador que orienta a sintonização do receptor; já oeditorial não tem autoria, divulgando-se como espaço da opi-nião institucional (ou seja, a autoria corresponde à instituiçãojornalística). O comentário e o editorial estruturam-se segundouma angulagem temporal que exige continuidade e imediatis-mo; isso não ocorre com a resenha e o artigo, pois o primeiro,embora freqüente, descobre os valores de bens culturais diferen-ciados, e o segundo, embora também contemple fenômenos di-ferentes, não se caracteriza pela freqüência, aparecendo aleato-riamente. O que também aproxima a resenha do artigo é a cir-cunstância de serem gêneros cuja angulagem é determinada pelocritério de competência dos autores na busca dos valores ineren-tes aos fatos que analisam. Em relação à coluna, crônica, carica-tura e carta um traço comum é a identificação da autoria. Já asangulagens são distintas. A coluna e a caricatura emitem opi-niões temporalmente contínuas, sincronizadas com o emergir eo repercutir dos acontecimentos. A crônica e a carta estruturam-se de modo temporalmente mais defasado; vinculam-se direta-mente aos fatos que estão acontecendo, mas seguem-lhe o ras-

Gêneros do texto jornalístico impresso: definição

Page 18: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

18

tro, ou melhor, não coincidem com o seu momento eclosivo. Doponto de vista da angulagem espacial, somente a caricatura es-trutura-se articuladamente com o ambiente peculiar à institui-ção jornalística, ou seja, nutre-se daqueles valores que dão “es-pírito e corpo” à redação de um jornal, emissora ou revista. Acarta distancia-se totalmente, reproduzindo o ângulo de obser-vação que resgata o outro lado do fluxo jornalístico: o do recep-tor, o da coletividade. A crônica e a coluna incorporam ou fazema mediação da ótica da comunidade ou dos grupos sociais a queinstituição jornalística se dirige.

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

15

a) Editorial: “texto onde o jornal expressa sua opinião.Não é assinado para que caracterize formalmente a posição doveículo”. (DIAS, 1994).

b) Artigo: “texto assinado por pessoa cuja notoriedadeprofissional, política ou acadêmica lhe dá autoridade para abor-dar e opinar sobre um determinado tema”. (DIAS, 1994). Podeser escrito em primeira pessoa.

c) Notícia: “informação que se reveste de interesse jorna-lístico. Puro registro de fatos sem comentários, julgamentos e/ouinterpretações”. (DIAS, 1994).

d) Nota: “É uma notícia curta”. Há ainda o Suelto, “expres-são de origem espanhola, em desuso no jornalismo, que designauma pequena nota seguida de breves comentários”. (FOLHA DES. PAULO, 1987).

e) Reportagem: “pode ser considerada a própria essênciade um jornal e difere da notícia pelo conteúdo, extensão e profun-didade”. (MARTINS, 1990). Tem como principais características:

GÊNEROS DO TEXTO

JORNALÍSTICO IMPRESSO: DEFINIÇÃO

Capítulo 1

Page 19: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

14

Hipérbole – figura de linguagem que consiste no exagerodesmesurado das dimensões verdadeiras de qualquer coisa.Exemplos: milhões de vezes, gigantesca manifestação, aplausosensurdecedores. Deve ser evitada nos textos jornalísticos. O bomtexto jornalístico deve ser contido e descrever os fatos e os fenô-menos de forma que o leitor possa ter a compreensão mais pró-xima possível da realidade.

Emoção – o texto jornalístico deve registrar a emoção noseventos que noticia e transmiti-la ao leitor. Mas o jornalista nãodeve se deixar envolver pela emoção no desempenho do seu tra-balho. O jornalista também deve impedir, ao registrar a emoçãodo fato, que seu texto se torne choroso, triunfalista, eufórico oupiegas. A emoção deve ser registrada sem que o texto se torne,por si mesmo, emotivo.

O jornalista não deve especular sobre os estados emocio-nais, pensamentos e intenções do personagem, exceto quandoescrever textos de análise/interpretação ou artigos. Exemplo: emvez de dizer que “o governador demonstrava sinais de visívelnervosismo na entrevista coletiva que concedeu ontem”, dizerque “na entrevista coletiva que concedeu ontem, o governadorfumou oito cigarros em quarenta minutos”.

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

19

Segundo Martins (1990), chama-se pauta tanto o conjun-to de assuntos que uma editoria está cobrindo para determinadaedição do jornal como a série de indicações transmitidas ao re-pórter, não apenas para situá-lo sobre algum tema, mas, princi-palmente, para orientá-lo sobre os ângulos a explorar na notícia.

A pauta constitui um roteiro mínimo fornecido ao re-pórter. Se ela for muito específica e pedir que ele apure apenasalguns aspectos da notícia, o repórter deverá obedecer a essaorientação, para evitar que suas informações conflitem com asde outros jornalistas que estejam trabalhando no mesmo ou asrepitam.

O pauteiro (preparador da pauta) deverá, sempre quepossível, incluir na pauta os telefones de pessoas a entrevistar,endereços de locais que deverão ser procurados e dados seme-lhantes, que permitarão ganho de tempo. O repórter, no entan-to, deverá ter iniciativa suficiente para encontrar as pessoas ouos locais necessários quando esses dados não estiverem disponí-veis ou forem insuficientes.

PAUTA

Capítulo 2

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20

Pautas óbvias não necessitarão de muito texto. Espera-se, por exemplo, que um repórter de cidade saiba o que per-guntar ao prefeito ou a um secretário, o que apurar numa mu-dança de trânsito, como cobrir uma expulsão de invasores deárea pública, etc.

O repórter deverá também ter bom senso suficiente paramudar a angulação de uma pauta sempre que um assunto levan-tado no meio de uma entrevista ou cobertura se sobrepuser aosdemais pedidos pela pauta. Em caso de dúvida, convém que eleentre em contato com o pauteiro ou editor para saber se a suadecisão é correta.

Evite dispersão desnecessária de esforços ao montaruma pauta. Você não precisa pedir a toda a rede local e nacio-nal da empresa entrevistas com 30 ou 40 médicos sobre oavanço da Aids, nem depoimentos de 30 ou 40 pacientes a res-peito da doença, quando meia dúzia já darão um quadro sa-tisfatório da situação.

De qualquer forma, não hesite em tornar uma pautagrande, sempre que o julgar necessário. Qualquer aspecto es-pecífico de um assunto somente poderá ser cobrado do repór-ter se tiver sido pedido na pauta. Mais do que isso, porém: opauteiro, por sua própria função (tentar cercar todos os ângu-los da notícia), pode ter idéias que não ocorreriam ao repórter.E vice-versa: por isso, é igualmente indispensável que o repór-ter complemente uma pauta que tenha deixado de lado algunsaspectos de um assunto.

Sugestão de roteiro de pauta (baseado no Manual de Re-dação da Folha de S. Paulo):

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

13

Evitar excesso de vírgulas:Exemplo: Ele foi morto ontem, em Jacarepaguá, depois

de ter sido rendido, com a namorada, por dois homens, emNova Friburgo.

Melhor: Ele foi morto ontem em Jacarepaguá por doishomens que o tinham seqüestrado, com a namorada, em NovaFriburgo.

Evitar ainda:Nariz de cera – parágrafo introdutório e desnecessário no

início dos textos. O “nariz de cera” retarda a entrada no assuntoespecífico do texto e tende à prolixidade. Recurso utilizado nojornalismo do passado.

Gato – troca de palavra ou de letra por outra ou erro ti-pográfico semelhante proveniente de descuido ou de qualquerinterpretação errada do original.

Gerúndio – forma verbal que quase sempre tem funçãode advérbio ou adjetivo. Deve ser evitada no texto jornalístico. Équase sempre utilizado para prolongar períodos sem acrescentarinformação relevante. Tira a agilidade do texto.

Cacoetes de linguagem – deve-se evitar o emprego de ex-pressões desgastadas pelo uso exagerado ou irrefletido. Exemplos:

a) a nível de, por outro lado, ao mesmo tempo, por suavez, via de regra (quase todas essas desnecessárias e destituídasde qualquer valor semântico);

b) verdadeiro caos, pavoroso incêndio, confortável man-são, precioso líquido, gol espetacular (todas estas inúteis paraque o leitor tenha uma compreensão mais exata do que o jorna-lista descreve);

c) e outras como: ataque fulminante, inserido no contex-to, fortuna incalculável, preencher uma lacuna, audaciosa ma-nobra, perda irreparável, familiares inconsoláveis, monstruosocongestionamento, estrepitosas vaias, trair-se pela emoção.

Introdução

Page 21: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

12

beu”, “sonhou”, mas o que alguém “disse”, “propôs”, “relatou” e“confessou”. (Veja mais a respeito na página 63).

Evitar referências imprecisas: não se escreve “alguns mani-festantes”, mas, sempre que possível, “10, 12 ou 15 manifestantes”.

Adjetivos cuja referência varia de pessoa para pessoa de-vem ser evitados. Por exemplo, “edifício alto”. O que é um “edi-fício alto” para o leitor? E quando se tem que lidar com gran-dezas para as quais não há referencial de consenso, torna-seconveniente utilizar comparações. Exemplo: A usina é capaz deabastecer uma cidade de 50 mil habitantes.

“Deturpa o sentido transformar em adjetivo o substantivoque vem em seguida a um ‘DE’”. (GARCIA, 1986). Exemplo: “ven-dedor lotérico” não é a mesma coisa que “vendedor de loteria”.

Sobre os adjetivos em geral, vale a recomendação: usá-loscom cautela ou – o que é melhor – evitá-los. “A opinião sustenta-da em fatos é muito mais forte que a adjetivada”. (GARCIA, 1986).

Semelhante à recomendação geral sobre o uso de adjeti-vos em textos noticiosos, os advérbios devem ser utilizados commoderação. Evitar, sobretudo, os que possuem o sufixo -mente,por se tratarem de palavras, em geral, muito compridas. Nesseúltimo caso, é preciso levar em conta que seu uso é próprio de“quem não tem o que dizer e quer gastar tempo”. Evitar ainda:iniciar frases com advérbios e o emprego de adjetivos na funçãode advérbios (Exemplo: Ninguém anda “rápido”. As pessoas an-dam “rapidamente” ou “devagar”.).

Uso de entretítulo (em matérias de jornais, em geral, após2º parágrafo) não é absolutamente necessário. Seu uso se dá porrazões estéticas e de motivação de leitura.

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

21

• um breve histórico dos acontecimentos que constituem oobjeto da reportagem;

• um roteiro das questões essenciais que a reportagem de-verá responder;

• pelo menos uma hipótese que a reportagem vai confir-mar ou refutar;

• os aspectos mais relevantes para a linha editorial do jor-nal no tema da reportagem;

• os aspectos até então pouco explorados do assunto;• indicações de nomes de pessoas, com endereço e telefone,

que podem ser procuradas como fonte de informação.

Pauta

Page 22: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

11

Quando a naturalidade do personagem da notícia for uma in-

formação relevante, ela também deve constar do texto (“o químico

João da Silva, 34, maranhense”).

Não deve constar a identificação do personagem da notícia seu

sexo, cor, raça, religião, partido político, preferência ideológica ou

opção sexual a não ser quando relevante no contexto.

Ainda sobre o tratamento do personagem da notícia, oManual da Folha de S. Paulo recomenda (a exemplo dos jornaisem geral) “não tratar qualquer personagem da notícia como‘elemento’, ‘marginal’, ‘trombadinha’, ‘pivete’ ou qualquer outraexpressão depreciativa ou injuriosa”. O mesmo vale para este-reótipos como “pé-rapado”, “pobretão”, “milionário”, “preto”,“china”, “japa”, “papa-hóstias”, “comuna”, “bicha”, “sapatão”,“machão” e “vermelho”.

Vocabulário: deve ser rico, mas sem ostentação. Os ter-mos técnicos, provenientes de profissões (jargões), atividades eramos do conhecimento, quando é impossível substituí-los, de-vem ser explicados. As gírias também devem ser evitadas.

“O estilo jornalístico é um meio-termo entre a linguagemliterária e a falada” (MARTINS, 1990). Nesse caso, a linguagemcoloquial costuma ser a mais adequada, o que, naturalmente, in-corre em evitar erros gramaticais, gírias e a deselegância de estilo.

Atenção para advogados, economistas e políticos: muitasvezes, usam um vocabulário inacessível ao leitor médio ou pseu-dotécnico para esconder a realidade.

A prudência ensina a evitar generalizações: por exemplo, nolugar de “os dez maiores do mundo”,“dez dos maiores do mundo”.

Conceitos que expressam subjetividade devem ser excluí-dos: não é notícia o que alguém “pensou”, “imaginou”, “conce-

Introdução

Page 23: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

10

Preferir a ORDEM DIRETA (sujeito + verbo + predica-do): também facilita a leitura.

O uso da 3ª pessoa é OBRIGATÓRIO: a retórica da notí-cia é referencial, por definição:

“Em princípio, o jornalista é testemunha, não persona-gem”. (GARCIA, 1986).

A respeito do uso dos verbos na construção da sentençada notícia, Lage (1979) chama a atenção para o fato de que “umaprimeira particularidade verbal decorre da referencialidade: ouso do modo indicativo”. Além disso, esse autor salienta que, emgeral, os fatos noticiados pertencem a um passado recente. “Opassado é o tempo da notícia, quando relato do sucedido”, expli-ca.“Quando anúncio, virá no futuro simples ou no presente usa-do pelo futuro”.

Trate a fonte impessoalmente. Não escreva, por exemplo,“a Xuxa”, mas simplesmente “Xuxa” ou “apresentadora Xuxa”.Ainda sobre o personagem da notícia, interesse é levar em con-ta as recomendações do Manual da Folha de S. Paulo (1987):

O personagem da notícia deve ser identificado para o leitor.

Deve ser qualificado pela condição ou cargo que exerce e pela sua

idade. Pode-se omitir a idade de pessoa referida ocasionalmente no

texto. Qualificações passadas (ex-presidente, ex-prefeito) só devem

ser utilizadas quando relevantes no contexto.

A idade do personagem da notícia deve ser informada entre

vírgulas, logo após o seu nome. Se ele não quiser ver sua idade pu-

blicada pelo jornal, o desejo deve ser respeitado.

Exemplo de identificação de personagem da notícia: “O enge-

nheiro José da Silva, 34, ex-prefeito de Caraguatatuba”.

O personagem da notícia deve ser identificado pelo seu nome

completo ou pelo nome através do qual é mais conhecido.

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

23

DEFINIÇÃO

É a abertura da matéria. Nos textos noticiosos, deve incluir,em duas ou três frases, as informações essenciais que transmitamao leitor um resumo completo do fato. Precisa sempre responderàs questões fundamentais do jornalismo: O QUE, QUEM,QUANDO, ONDE, COMO e POR QUÊ. (MARTINS, 1990).

CLASSIFICAÇÃO

Segundo Mário L. Erbolato (Técnicas de Codificação emJornalismo, 1991), o lead classifica-se em:

1. Simples (refere-se apenas a um fato principal):Uma descompressão explosiva maciça a 7 mil metros de

altura provocou a queda, ontem, nas proximidades de Saigon,do avião C-5 A Galaxy, o maior do mundo, que transportava 150crianças sul-vietnamitas órfãs, para os Estados Unidos.

Lead

Capítulo 3

Page 24: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

24

2. Composto ou Resumo (anuncia vários fatos importan-tes, abrindo a notícia e contando, praticamente, tudo o queocorreu ou vai ocorrer):

Inauguração da Biblioteca Pública Municipal com 20 an-dares, sessão solene na Câmara Municipal para a entrega de per-gaminhos aos novos cidadãos paulistanos, jogo entre o Palmei-ras e o Grêmio (de Porto Alegre) e a chegada do Concorde, emsua viagem inaugural entre Paris e Viracopos, assinalirão do-mingo próximo o aniversário da fundação de S. Paulo. O Presi-dente da República desembarcará em Congonhas às 8 horas e,depois de todas as comemorações, retornará a Brasília, à noite.

3. Integral (dá a noção perfeita e completa do fato porresponder a todas as questões fundamentais do jornalismo):

Estudantes paulistas prometem para a tarde de amanhãnovos atos de protesto pelas ruas centrais da capital e, além des-sa passeata, pretendem realizar comícios para denunciar a indis-criminada criação de Faculdades de fins de semana.

4. Suspense ou Dramático (provoca emoção em quem o lê):Enquanto os bombeiros de Belo Horizonte acreditam que

poderão salvar o menino Joaquim da Silva, de dois anos, quecaiu ontem, às 23 horas em um poço no quintal de sua casa, lo-calizada na rua Presidente Wilson 500, os médicos do Pronto So-corro afirmam que o menor dificilmente suportará as dores dasfraturas que sofreu, se não for retirado até a amanhã de hoje.

5. Flash (introdução lacônica de uma notícia):Estudantes da capital prometem novos atos de protesto,

amanhã, contra a criação de Faculdades de fim de semana.

6. Citação (transcreve um pronunciamento):“Este ano não será possível construir nova estação de

passageiros no aeroporto”, declarou o diretor de Viracopos.

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

9

caso oblíquo, adjetivos ou interjeições. Não usar a conjunção de-

pois de ponto. (FOLHA DE S. PAULO, 1987)

O texto exige ainda uma cadeia lógica de informações.Exemplo: João, que tem 1,80 m de altura, chegou ao Rio

há dois anos. (pouco lógico)Melhor: Nascido em São Paulo, João chegou ao Rio há

dois anos. (lógica clara)“A ordem dos elementos na frase também precisa ser coe-

rente: o ONDE se junta ao lugar, o QUANDO se cola ao mo-mento. Errado: ‘… em Recife, na presença do deputado, onde osenador disse…’ Certo: ‘…na presença do deputado, em Recife,onde o senador disse…’”. (GARCIA, 1986).

Objetividade – Não existe objetividade em jornalismo. Ao redi-

gir um texto e editá-lo, o jornalista toma uma série de decisões que

são em larga medida subjetivas, influenciadas por suas posições

pessoais, hábitos e emoções.

Isso não o exime, porém, da obrigação de procurar ser o mais

objetivo possível. Para retratar com fidelidade, reproduzindo a for-

ma em que ocorreram, bem como suas circunstâncias e repercus-

sões, o jornalista deve procurar vê-los com distanciamento e frieza,

o que não significa apatia nem desinteresse. Consultar os colegas

na Redação e procurar lembrar-se de fatos análogos ocorridos no

passado são dois procedimentos que podem auxiliar na ampliação

da objetividade possível. (FOLHA DE S. PAULO, 1987)

Limitação de palavras, uso de períodos curtos e observa-ção das regras gramaticais facilitam a comunicação.

“… quem menos sabe usar o idioma mais tende à reda-ção sinuosa, cheia de frases superlotadas e redundantes”.(GARCIA, 1986).

“Regra prática: evitar, no mesmo período, mais de umMAS (ou seus equivalentes) ou mais de QUE.” (GARCIA, 1986).

Introdução

Page 25: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

8

ta própria. Deve explicar cada aspecto da notícia, em vez de julgar

que o leitor já está familiarizado com ela. Deve organizar os temas

de modo que o leitor não se surpreenda com assuntos correlatos

em lugares distintos do jornal. Deve diagramar os textos de modo

que o leitor não tenha dificuldade de ler.

Cada tema deve ser decomposto em suas partes constitutivas,

esmiuçado, explicado e levado ao leitor de maneira simples e didá-

tica, sob uma forma gráfica lógica e acessível.

Na linha de raciocínio citada, vale a preocupação com umcerto didatismo no tratamento do texto noticioso:

… deve ser redigido a partir do pressuposto de que o leitor não está

familiarizado com o assunto. Tudo deve ser explicado, esclarecido e

detalhado, de forma concisa, exata, simples. As operações de política,

da economia, da administração pública, as regras dos esportes, as

tramas das relações internacionais, as peculiaridades da academia e

da ciência, as nuances das artes e espetáculos, tudo deve ser ofereci-

do de forma didática ao leitor. (FOLHA DE S. PAULO, 1987)

O texto, como um todo, exige “exatidão” (para não en-ganar o leitor); “clareza” (para que ele entenda o que lê) e “con-cisão” (para não desperdiçar nem o tempo dele nem o espaçodo jornal, isto é, “tudo que puder ser dito em uma linha nãodeve ser dito em duas”).

Sobre a lógica do texto noticioso, vale o que recomenda oManual da Folha:

Cada frase deve conter uma só idéia. Frases curtas são mais efi-

cazes que as longas. O tamanho ideal é entre uma linha e linha e

meia de setenta toques datilográficos. (…) Só se deve iniciar frases

com declarações textuais quando estas forem muito importantes.

Não se deve iniciar frase com advérbios, pronomes pessoais do

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

25

7. Contraste (revela fatos diferentes e antagônicos):Enquanto o milionário Pedro da Silva acertava ontem,

sozinho, os 13 pontos da Loteria Esportiva, seu irmão, Antônioda Silva, era sepultado como indigente no Cemitério da Sauda-de. Seu corpo fora encontrado no pequeno barraco, construídocom tábuas, no qual vivia, em bairro periférico.

8. Chavão (cita um ditado ou slogan. Não é muito usado.):“Quem com ferro fere, com ferro será ferido” – declarou

ontem Pedro da Silva, para justificar ter assassinado Joaquim deAlmeida, que matara seu pai, em janeiro de 1974.

9. Documentário (serve de base histórica):“O campus da Pontifícia Universidade Católica foi inau-

gurado ontem com a presença do núncio apostólico no Brasil, oministro da Educação, reitores, autoridades e convidados.” (Aseguir, a cerimônia é descrita resumidamente, no lead, de manei-ra a que, no futuro, o texto possa servir como elemento históri-co, a respeito da inauguração.)

10. Direto (anuncia a notícia sem rodeios, indo direta-mente ao fato):

Um terremoto, com duração de 15 segundos, destruiuhoje parcialmente a capital da Nicaragua, provocando 500 mor-tes e ferindo 10 mil pessoas.

11. Pessoal (fala ao leitor):Você poderá, a partir de hoje, telefonar para a delegacia da

Receita Federal, a fim de obter esclarecimentos sobre as suas dúvi-das quanto ao preenchimento da declaração do imposto de renda.

Segundo Muniz Sodré e Maria Helena Ferrari (Técnica deReportagem: notas sobre a narrativa jornalística, 1986), o leadpode ser aquele:

Lead

Page 26: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

26

1. Que realça a visão (abertura fotográfica, cinematográ-fica ou descritiva):

A tainha acaba de ser pescada. Está cega, olhos completa-mente brancos. Ao se debater no fundo do barco, algumas esca-mas se soltam com facilidade. Ela cheira mal. Está viva, mas játem aparência de peixe podre. Essa tainha – viva e podre – cau-saria espanto e nojo a qualquer pessoa. Mas não aos pescadoresdo estuário de Santos. Quase todos os dias eles encontram pei-xes, como esse, envenenados pela poluição que domina o ar res-pirado por esses homens e as águas, onde lutam dia e noite, paratirar o sustento de suas famílias.

2. Que realça a audição (abertura-citação-declaração –real ou imaginária):

Os americanos estão desembarcando. A notícia, comouma senha, se espalha rapidamente e, em poucos minutos, ocais da Praça Mauá é invadido por uma multidão de táxis, mu-lheres e cambistas. São as primeiras batalhas de uma verdadei-ra guerra, um vale-tudo, na disputa pelos dólares dos 2 mil 500marinheiros que integram a Força-Tarefa Norte-Americana,que acaba de atracar no Rio.

3. Que realça a imaginação (abertura comparativa ouimaginativa):

O povo amava Mané Garrincha. Em dezembro de 1973,foi vê-lo movimentar-se pela última vez dentro das quatro li-nhas do Maracanã, no “jogo da gratidão”, como se chamou pie-dosamente o afinal inútil ato de caridade em benefício do já ani-quilado herói das Copas de 58 e 62. Na última quinta-feira, 20,o povo voltou ao Maracanã, agora para contemplar o corpoinerte do ídolo de outrora, cujos feitos a maioria só conhece defilmes ou de ouvir contar.

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

7

Só escreve bem, acima da pura habilitação mecânica,

quem lê muito e escolhe bem o que lê.

L. Garcia, Manual de redação e estilo de O Globo

O texto noticioso deve ter uma relação clara com o fato:o primeiro não deve ir além do segundo. Agora, “se o fato é inex-plicável, nem por isso se torna impublicável”, diz Garcia (1986).Para ele, “deve-se afirmar abertamente que a notícia provocaperguntas que não há como responder”.

Segundo o Manual de Redação da Folha de S. Paulo(1987), “os fatos são a matéria-prima de qualquer tipo de jor-nalismo. É mais valioso revelá-los do que relatar declarações arespeito deles”.

Ainda segundo Folha (1987), o jornal “deve poupar tra-balho ao leitor”. Isto é:

Deve relatar todas as hipóteses em torno de um fato em vez de

esperar que o leitor as imagine. Deve publicar cronologias e biogra-

fias em vez de supor que o leitor vai recordar ou pesquisar por con-

INTRODUÇÃO:INFORMAÇÕES GERAIS SOBRE

O TEXTO JORNALÍSTICO

Page 27: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

CAPÍTULO 755 Perfil

CAPÍTULO 861 Suíte

CAPÍTULO 963 Entrevista e Declarações

CAPÍTULO 1071 Press-Release (ou Release)

CAPÍTULO 1175 Peculiaridades do texto jornalístico para revista

CAPÍTULO 1285 Análise ideológica de um texto jornalístico

CAPÍTULO 1393 O texto em algumas editorias específicas:

considerações gerais

101 BIBLIOGRAFIA

27

4. Que realça a pessoa (contar a história pessoal, colocan-do-se em causa ou pondo em cena o leitor):

“Quantas oportunidades você perdeu por não saber dan-çar?” A máxima comum a várias academias de dança de salãonão é mera isca para alunos em potencial. A história digna deCinderela ocorreu com uma aluna do professor Jorge Paulo,cujo nome ele não revela por sua privilegiada condição social.

5. Que joga com fórmulas (frases feitas ou clichês, reten-do-os tal e qual ou alterando-os):

Pode ser até que elas gostem mais, mas eles não gostam deser carecas. E, para alívio dessa fatia da população brasileira, estáchegando ao Brasil uma nova técnica de implante de cabelos,mais natural e menos dolorosa.

6. Que joga com as palavras (trocadilhos, paradoxos, ane-dotas, etc.)

DOMINGO próximo, quando o esquadrão rubro-negroadentrar o tapete verde do Maracanã para o embate com osmulatinhos rosados da Moça Bonita, o futebol, essa caixinha desurpresas, terá mais uma vez ao seu lado a voz de Waldir Ama-ral, estreando na Rádio Jornal do Brasil. É uma profissão pecu-liar, e entre outras dificuldades ela expõe o locutor a uma horae meia de fala incessante. Para encher o máximo de tempo, eleinventa aquelas expressões delirantes – todas fora do repertóriomoderno de Waldir.

Alexandre Castro (1991), em sua obra Redação jornalísti-ca de bico, dá-nos as fórmulas utilizadas no jornalismo:

1. Fórmula do “AO”: é muito usada quando se quer rela-cionar dois fatos importantes, e dar ênfase maior ao que for re-ferido em segundo lugar.

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Page 28: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

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Exemplo:Ao reunir-se ontem, em Genebra, com o secretário de Es-

tado George Schultz, o chanceler soviético, Eduard Shevard-nadze, disse que não há nenhuma possibilidade de um acordosobre a redução dos arsenais de armas de longo alcance entre assuperpotências antes da reunião de cúpula Reagan-Gorbachev,no fim deste mês.

Nota: O risco é que o “AO” e seus complementos se tor-nem muito longos, fazendo com que sujeito efetivo da notícia ea sua ação só apareçam lá pela sétima linha.

2. Fórmula do “ENQUANTO”: é outro recurso para asso-ciar fatos, em especial quando contraditórios.

Exemplo:Enquanto o governador Fulano de Tal, do PMDB, afirma-

va, ontem, que seu partido votará unido em relação ao projeto“X”, o líder do PMDB na Assembléia Legislativa, deputado Beltra-no, advertia para o crescimento das divergências internas na ban-cada, e dizia não ter condições de prever o resultado da votação.

Nota: A fórmula possibilita textos contundentes. Mastambém oferece riscos. Um deles é o de fatos associados não te-rem exatamente relação entre si ou terem relação tão sutil ou tê-nue que escape à percepção do leitor.

3. Fórmula do “EMBORA”, “MESMO” ou “APESAR DE”:e outras expressões de função semelhante, podemos tanto asso-ciar fatos produzidos por fontes diferentes, como colocar emconfronto elementos de uma mesma fonte.

Exemplo:Embora o presidente Fulano de Tal tenha garantido, an-

teontem, que não haveria congelamento dos salários do funcio-nalismo federal, baixou ontem um decreto-lei, suspendendo ascorreções, com base na URP, nos meses de abril e maio.

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

INTRODUÇÃO

7 Informações gerais sobre o texto jornalístico

CAPÍTULO 115 Gêneros do texto jornalístico impresso: definição

CAPÍTULO 219 Pauta

CAPÍTULO 323 Lead

CAPÍTULO 433 Notícia e Reportagem

CAPÍTULO 539 Chamada, chapéu, título, olho, legenda e texto-legenda

CAPÍTULO 645 Artigo e Editorial

SUMÁRIO

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Copyright© EDUSC, 2003

Marques, Luís Henrique.Teoria e prática de redação para jornalismo impresso / Luís

Henrique Marques. -- Bauru, SP : EDUSC, 2003.104 p. ; 21 cm. -- (Boletim Cultural; 33)

Inclui bibliografia.ISSN 0103-1589

1. Jornalismo - Manual de redação e estilo. 2. Jornalismo impresso.I. Título. II. Série.

CDD 070.4

Rua Irmã Arminda, 10-50CEP 17011-160 - Bauru - SP

Fone (14) 235-7111 - Fax (14) 235-7219e-mail: [email protected]

M3574t

e-mail do autor: [email protected]

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4. Fórmula das “ASPAS”: é utilizada, em regra, quando al-guém fez uma declaração que se destaca excepcionalmente, sejapela contundência, seja pelo ridículo, pitoresco ou insólito.

Exemplo:“Estou convencida de que Dom Reagan realmente não gos-

ta de mim”, afirmou a primeira dama Nancy Reagan, segundosua secretária Elaine Crispen, ao comentar o livro do ex-chefe daCasa Civil da Casa Branca.

Nota 1: Uma vantagem da fórmula das aspas é que elapode dar grande força para a matéria, se a declaração for mesmoboa. (...) O risco é colocar uma afirmação boba... começar comcitações pretensamente espirituosas ou sábias, mas que não pas-sam de lugares-comuns e banalidades.

Nota 2: Também é possível abrir a matéria com uma es-pécie de declaração, mas não entre aspas.

Exemplo: O Judiciário não pode colaborar com políticasde governo, foi o que deixou claro o presidente do TST, MarceloPimentel, depois de uma reunião em que Sarney e seus minis-tros ofereceram aos presidentes dos tribunais supremos infor-mações sobre o risco que correm as contas da União, se as cau-sas contra o congelamento da URP vencerem.

Nota 3: Outro cuidado que o redator deve ter em rela-ção a declarações (...) é o de não passar recibo. Isto é, não en-dossar o que foi dito por quem quer seja.

Exemplo: O candidato Fulano de Tal está convicto deque ganhará as eleições. Ou: O candidato Fulano não temmedo de perder as eleições.

Sempre que alguém diz alguma coisa, é preciso explici-tar que foi esse alguém que disse.

5. Fórmula do “COM”: é um recurso empregado em di-versas situações, quando se julga que determinada informação

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– que em princípio seria apenas complementar – deve ser alça-da à primeira linha da notícia.

Exemplo 1 (destaque de um objetivo):Com o objetivo de reduzir em 700 bilhões de reais as

despesas com a folha de pagamento do funcionalismo federal,o presidente Fernando Henrique Cardoso assinou ontem umdecreto-lei congelando os reajustes salariais com base na infla-ção dos meses de abril e maio.

Exemplo 2 (para enfatizar a explicação de um fato):Com a explicação de que está reduzindo o número de em-

pregados para diminuir custos – feita pelo porta-voz AntônioAugusto de Oliveira -, a Embraer demtiu ontem 42 funcionários.

6. Fórmula do “INFINITIVO”: pode ser utilizada parasubstituir, vantajosamente, a fórmula do “com”, quando estadestaca objetivos.

Exemplo:Aumentar a eficiência da máquina administrativa; possibili-

tar um maior controle da sonegação de impostos; agilizar o siste-ma de arrecadação tributária; eliminar as isenções de impostos nasexportações; e obter autorização para a rolagem de toda a dívidapública estadual. Estes são os objetivos do projeto encaminhadoontem à Assembléia Legislativa pelo governador Fulano de Tal.

7. Fórmula do “POR”: “recurso semelhante ao da fórmu-la do “com”, usando quando se quer citar de início determinadainformação que seria complementar, mas que, por algum moti-vo, entendemos ter se tornado muito relevante. É comum vereste recurso, por exemplo, nas notícias de decisões de tribunais.

Exemplo:Por unanimidade, o Tribunal de Contas do Estado julgou

irregular a prestação de contas do governador Fulano de Tal, re-lativa ao ano passado, e o condenou a…

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

Teoria e prática de

redação para

jornalismo impresso

Luís Henrique Marques

BoletimCultural

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ISSN 0103-1589

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ReitoraIrmã Jacinta Turolo Garcia

Vice-Reitora e Pró-Reitora Comunitária Irmã Ilda Basso

Pró-Reitora AdministrativaIrmã Olívia Santarosa

Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-GraduaçãoJosé Jobson de Andrade Arruda

Pró-Reitora AcadêmicaRegina Célia Baptista Belluzzo

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Nota: Do mesmo modo como no uso da fórmula do“com”, deve-se evitar mais de um complemento, ou complemen-to muito longo para o “por”.

8. Fórmula do “GERÚNDIO”: é mais um tipo de recursousado quando se quer enfatizar uma explicação antes de citar ofato propriamente dito, ou quando se quer destacar uma infor-mação que não estaria nas primeiras linhas numa frase em or-dem direta – de sujeito, verbo e complementos.

Exemplo:Tentando evitar que se repita o problema ocorrido com Jô

Soares na última semana, a Globo lança, juntamente com sua ta-bela de preços de julho, novas normas para veicular anúncios fei-tos por atores e apresentadores contratados de outras emissoras.

9. Fórmula do “PARTICÍPIO”: é uma das inversões da or-dem direta dos elementos de abertura que mais imprime força eatração ao texto. Sua utilização pressupõe, em geral, que o reda-tor possa fazer uma afirmação indiscutível antes de citar o sujei-to do fato e sua ação.

Exemplo:Alarmado com os 947 mil cruzados, de Imposto de Ren-

da, que terá de pagar à vista ou em oito parcelas reajustáveis, oexcêntrico Renato, recusando todas as propostas do Flamengo,insiste em ser negociado para o Exterior. Na Itália, pensa ele, serámuito mais fácil driblar o Leão.

Nota: Entre os riscos do uso dessa fórmula está o de exa-gerar. Outro risco é o comum de todas as inversões: fazer um pe-ríodo longo demais.

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Teoria e prática de

redação para

jornalismo impresso

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trocinada pelo CERIS (Centro de Estatística Religiosa e Investi-gações Sociais), com Sede no Rio de Janeiro (RJ), e o Setor deComunicação Social do Regional Sul-1 da CNBB (ConferênciaNacional dos Bispos do Brasil). Pela Diocese de Bauru, partici-param a Irmã Rosária Lopes do Carmo Lorentti (Pró-ReitoraComunitária da USC) e o radialista Sérgio Purini. Confira, a se-guir, a entrevista que a reportagem do Informe fez com LúciaPedrosa, representante do CERIS que coordenou o treinamentona USC, sobre esse trabalho:

Informe: Em linhas gerais, qual a razão desse encontroaqui na USC?

Lúcia Pedrosa: O CERIS está realizando a pesquisa que sechama “A presença da Igreja Católica do Regional Sul-1 nosmeios de comunicação social”. É uma pesquisa realizada em par-ceria com o Setor de Comunicação do Regional Sul-1 que abran-ge, praticamente, o Estado de S. Paulo. Estamos aqui para reali-zar um treinamento de preparação para o início desse trabalho.

Informe: Quem está participando desse treinamento?

Pedrosa: Este treinamento é direcionado aos entrevista-dores que são aquelas pessoas que, em cada paróquia, em cadadiocese, vão poder passar um “pente fino” da presença da Igrejanos meios de comunicação pela proximidade, pelo conhecimen-to. Então, é muito importante – para que essa pesquisa seja leva-da a contento até a sua terceira etapa – que, de preferência, to-das as dioceses que compõem o Regional Sul-1 possam partici-par, trazendo seus representantes para esse tipo de treinamento.

Informe: Qual a abrangência dessa pesquisa?

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

33

UMA DEFINIÇÃO

Notícia – É a informação que se reveste de interesse jor-nalístico; puro registro dos fatos, sem comentário nem interpre-tação. A exatidão é seu elemento-chave. Mas vários fatos, descri-tos com exatidão, podem ser justapostos de maneira tendencio-sa. Suprimir uma informação ou inseri-la pode alterar o signifi-cado da notícia. (...) A definição do interesse jornalístico depen-de de critérios flexíveis que variam em função do tempo, lugar,tipo de publicação etc. (FOLHA DE S. PAULO, 1987).

Estes são os critérios elementares para a definição da im-portância de uma notícia, segundo o Manual da Folha de S.Paulo (1987):

a) ineditismo (a notícia inédita é mais importante que ajá publicada);

b) improbabilidade (a notícia menos provável é mais im-portante que a esperada);

c) impacto (quanto mais pessoas cuja existência concretapossa ser afetada pela notícia, tanto mais importante ela é);

NOTÍCIA E

REPORTAGEM

Capítulo 4

Page 34: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

34

d) apelo (quanto maior a curiosidade pública que a notí-cia possa motivar, tanto mais importante ela é).

Comparando Notícia e Reportagem, temos que:

A reportagem pode ser considerada a própria essência de um

jornal e difere da notícia, pelo conteúdo, extensão e profundidade.

A notícia, de um modo geral, descreve o fato e, no máximo, seus

efeitos e conseqüências. A reportagem busca mais: partindo da pró-

pria notícia, desenvolve uma seqüência investigativa que não cabe à

notícia. Assim, apura não somente as origens do fato, mas suas ra-

zões e efeitos. Abre o debate sobre o acontecimento, desdobra-o em

seus aspectos mais importantes e divide-o, quando se justifica, em

retrancas diferentes que poderão ser agrupadas em uma ou mais pá-

ginas. A notícia não esgota o fato; a reportagem pretende fazê-lo. Na

maior parte dos casos, a reportagem decorre de uma pauta que a

chefia encaminha ao repórter, mas é comum o próprio repórter es-

colher um assunto e sugeri-lo aos superiores. (MARTINS, 1990).

A notícia muda de caráter quando demanda uma reportagem.

A reportagem mostra como e por que uma determinada notícia

entrou para a história. Desdobra-se, pormenoriza e dá amplo rela-

to aos fatos principais e também aos fatos subjacentes da notícia.

Quando a notícia salta de uma simples nota para uma reportagem,

é preciso ir além, detalhar, questionar causas e efeitos, interpretar,

causar impacto.

A reportagem é uma notícia, mas não uma notícia qualquer. É

uma notícia avançada na medida em que sua importância é projeta-

da em múltiplas versões, ângulos e indagações. Ao valorizar a notícia,

a reportagem revitaliza o estilo jornalístico, soltando um pouco as

amarras da padronização. Uma boa reportagem não deve abrir mão

de pesquisa, sob pena de alterar o espírito de investigação, curiosida-

de, desafio e surpresa, que estão acima de tudo”. (VILAS BOAS, 1996).

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

67

mento do entrevistado e maior facilidade de leitura. Deve serusado em todas as entrevistas longas – e mesmo, quando possí-vel, em curtas.

Para Garcia (1998), a abertura não é parte da entrevista pin-gue-pongue, e sim uma introdução, que, exceto por breve sumárioou referência à declaração mais importante, dedica-se à pessoa doentrevistado e a circunstâncias da entrevista e do momento em quefoi feita. Se abertura e entrevista são preparadas por recursos grá-ficos, a primeira não deve terminar com dois-pontos.

Exemplo de abertura de entrevista “pingue-pongue”:

A melhoria das condições de vida da população está nasmãos do próprio brasileiro. Essa é a opinião do arcebispo emé-rito Dom Paulo Evaristo Arns, 77 anos. Ele esteve em Bauru nolançamento do livro “Dom Paulo Evaristo Arns: um homemamado e perseguido”, escrito por Evanize Sydow e Marilda Fer-ri. Arcebispo de São Paulo durante 28 anos, defensor dos direi-tos humanos e árduo combatente da opressão durante a ditadu-ra militar, dom Paulo adota atualmente uma postura mais con-tida. A seguir, a entrevista concedida à imprensa.

Exemplo de entrevista pingue-pongue:

Universidade sedia treinamento para pesquisa do Regio-nal Sul-1 da CNBB9

No final de outubro, a USC recebeu representantes de di-versas dioceses do interior do Estado de S. Paulo para participarde treinamento tendo em vista a aplicação de uma pesquisa pa-

Entrevista e Declarações

9 Entrevista publicada na edição de dezembro de 1999, página 2, do InformeAcadêmico, órgão informativo da Universidade do Sagrado Coração.

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17. Lembrar: só pode ser usado quando há referência afato passado e já conhecido.

18. Falar: expressar-se por meio de palavras, discorrer sobredeterminado assunto, orar (discursar), pregar, anunciar e ensinar,além de outros 22 significados, segundo o Aurélio. As pessoas fa-lam francês, português, inglês ou tupi. Alguém fala a fulano. Oufala (discursa) pura e simplesmente. Mas é mau estilo o “fala que”.

19. Revelar: perigoso, porque ao usá-lo, o jornal está coo-nestando (fazendo parecer honesta) afirmação de responsabili-dade alheia.

ENTREVISTA (ESTILO “PINGUE-PONGUE”)

Definição: “é o diálogo entre o jornalista e o personagemda notícia”.

Finalidade e orientações: Conforme Folha de S.Paulo(1987), a finalidade de uma entrevista é permitir que o leitorconheça opiniões, idéias, pensamentos e observações do perso-nagem entrevistado, não as do entrevistador. As perguntas de-vem ser breves e diretas e não devem conter uma resposta im-plícita, mas podem conter uma hipótese. Entrevista não épress-release. Sem polemizar com o entrevistado, o jornalistadeve identificar contradições, mencionar pontos de vista opos-tos aos do interlocutor, levantar objeções etc.

O editor, de comum acordo com a Secretaria de Redação,decide quando será editada uma entrevista com perguntas e res-postas. A regra geral é que as entrevistas devem ser redigidas emdiscurso indireto.

O estilo pingue-pongue (perguntas e respostas em se-qüência) é a fórmula que garante maior fidelidade ao pensa-

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

35

Segundo Sodré (1986), podemos classificar a reportagemem:

1. Reportagem de fatos: trata-se do relato objetivo deacontecimentos, que obedece na redação à forma da pirâmideinvertida.1 Como na notícia, os fatos são narrados em sucessão,por ordem de importância.

2. Reportagem de ação: é o relato mais ou menos movi-mentado, que começa sempre pelo fato mais atraente, para irdescendo aos poucos na exposição dos detalhes. O importante,nessa reportagem, é o desenrolar dos acontecimentos de manei-ra anunciante, próxima do leitor, que fica envolvido com a vi-sualização das cenas, como num filme.

3. Reportagem documental: é o relato documentado queapresenta os elementos de maneira objetiva, acompanhados decitações que complementam e esclarecem o assunto tratado. Co-mum no jornalismo escrito, esse modelo é mais habitual nos do-cumentários da televisão ou do cinema. A reportagem docu-mental é expositiva e aproxima-se da pesquisa. Às vezes, tem ca-

1 A expressão “pirâmide invertida” refere-se a uma das técnicas para a apre-sentação das matérias, conforme classificação proposta por Mário L.Erbolato (1991):

a) Pirâmide invertida: 1. entrada ou fatos culminantes; 2. fatos importantesligados à entrada; 3. pormenores interessantes; 4. detalhes dispensáveis.Segundo a Folha de S. Paulo (1987), “essa técnica foi formulada para servir àsagências de notícias. Assim, as notícias podiam ser transmitidas a diversos jor-nais diferentes, que as utilizavam conforme suas necessidades, cortando pelopé os textos na altura que desejassem, sem que as informações essenciais deix-assem de ser publicadas. Acabou por servir ao leitor, que também pode realizara mesma operação de corte. Lido o primeiro parágrafo, o leitor já está infor-mado do que há de mais importante e pode dispensar o resto, se desejar. É atécnica de redação jornalística mais disseminada no mundo ocidental”.

b) Forma literária (ou pirâmide normal): 1. detalhes da introdução; 2. fatosde crescente importância (visando a criar suspense); 3. fatos culminantes;4. desenlace.

c) Sistema misto: 1. fatos culminantes (entrada); 2. narração em ordemcronológica.

Notícia e Reportagem

Page 36: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

36

ráter denunciante. Mas, na maioria dos casos, apoiada em dadosque lhe conferem fundamentação, adquire cunho pedagógico ese pronuncia a respeito do tema em questão.

Com o intuito de produzir um bom texto, cabe levarmosem conta algumas dicas:

1. “A maior dificuldade é dividir o texto em capítulos (nojargão das redações, retrancas ou sub-retrancas) sem perda deunidade. Cada parte precisa ter vida própria, mas é defeito gra-ve repetir dados que já aparecem em outras; em cada retranca,bastam referências abreviadas a tudo o que já foi abordado emdetalhe nas outras”.

2. “A reportagem é muitas vezes uma história: fatos que sesucederam até um desenlace. Nesse caso, uma retranca,2 possi-velmente a mais importante em seguida ao lead, será dedicada àreconstituição cronológica. Outras retrancas serão reservadaspara explicações, análises, conseqüências e, principalmente, parahistórias dos personagens do episódio”. (GARCIA, 1998).

3. “Mesmo que a reportagem seja sobre assunto já conhe-cido, procure iniciar o texto com algum fato novo ou que tenhapassado despercebido”.

4. “Se sua reportagem tiver começo, meio e fim, será mui-to maior a possibilidade de que o leitor consiga acompanhá-lasem esforço e sem largá-la no meio”.

5. “Ordene os fatos. Eles são muitos numa reportagem e,por isso, deverão ser agrupados em blocos que guardem relaçãoentre si”.

6. “Informações de ambiente, quando relacionadas comos fatos descritos na reportagem, contribuem para enriquecê-lae torná-la mais viva e completa”. (MARTINS, 1990).

2 O sentido original da expressão “retranca” é “a identificação, feita através denúmeros e letras, que permite localizar a unidade de texto no diagrama deuma página” (FOLHA DE S. PAULO, 1987). Aqui, a palavra está sendousada no sentido de “capítulo”, “parte” de uma reportagem.

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

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4. Admitir: tem sentido de confessar, revelar com relutân-cia, a contragosto; é importante saber se o entrevistado admitiuespontaneamente ou em resposta a uma pergunta.

5. Advertir: tem muitos significados, como censurar,chamar a atenção, notar, prevenir etc. Convém evitá-lo, para fu-gir à ambigüidade.

6. Aduzir: não significa acrescentar, mas expor, apresentar,trazer (um argumento, um documento). Não é de uso corrente.

7. Afirmar: sugere opinião, tomada de posição; declarar éum afirmar mais solene.

8. Ameaçar: não é, como alguns pensam, prometer dra-maticamente; a ameaça envolve necessariamente uma ação con-tra alguém.

9. Argumentar: tentar, convencer; alegar é argumentarcom intenção de defesa.

10. Confessar: ninguém confessa o que lhe é favorável.11. Confirmar: não deve ser confundido com repetir; se A

disse novamente que B é ladrão, ele está repetindo a acusação,não confirmando.

12. Desabafar: usa-se demais esse verbo, que presume sin-ceridade e só merece aparecer quando alguém realmente soltauma mágoa, reprimida, não quando simplesmente reclama dealguma coisa.

13. Desmentir: sugere que aquilo que está sendo desmen-tido é mesmo mentira. Quase sempre o verbo mais adequado,porque mais isento, é contestar.

14. Disparar: também usado excessivamente; significa co-mentar de forma incisiva, cortante.

15. Garantir dar certeza absoluta, assegurar sob palavra.Garante-se algo que é ou está; se a referência é a algo que vai ser,o verbo adequado é prometer.

16. Informar: relatar fatos. Diferente de comentar (opinarsobre os fatos).

Entrevista e Declarações

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aceito (primeira pessoa) integrar a comissão”. Certo: O deputa-do disse: - Não aceito integrar a comissão.”

Em declarações longas, a referência ao autor deve estar:1. Antes das aspas ou do travessão, ou2. No primeiro ponto em que seja possível interromper a

transcrição.A identificação (preferencialmente) não deve ser deixada

para o fim do período (porque a atenção do leitor pode nãochegar até lá).

Se diversas pessoas expressam a mesma opinião, não cabeo uso de aspas – a não ser que elas tenham falado em coro. Oque, convenhamos, é muito raro.

Ao reproduzir a frase de alguém que gritou, bradou, es-bravejou, vociferou, é indispensável o ponto de exclamação.

O jornal não pode reproduzir passivamente erros de por-tuguês e agressões evidentes à lógica ou aos fatos. Quando al-guém fala errado, deve-se corrigir no texto, exceto se houvermotivo para manter o erro – e então é sempre preciso apontá-loao leitor.

Segundo Garcia (1998), há os mais freqüentes verbos usa-dos em declarações:

1. Dizer: está sempre certo; é melhor abusar dele do queusar outro verbo inadequadamente.

2. Acentuar, destacar: isolam um fato ou argumento paramostrar sua importância.

3. Acreditar: verbo perigoso, porque o jornalista não en-tra na cabeça das pessoas para ter certeza se elas acreditam mes-mo ou apenas dizem que acreditam.

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

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Especificamente sobre esse último item, é preciso levarem consideração o “contexto” da reportagem. Segundo Folhade S. Paulo (1987), quando o leitor lê uma reportagem a res-peito de uma determinada cidade, não está obrigado a saberonde ela se localiza, quantos habitantes tem, quais suas princi-pais atividades econômicas, etc. Ao ler sobre a morte de umaatriz, não está obrigado a saber que filmes estrelou, se haviaabandonado a carreira há poucos anos, etc. O jornal deve in-formar ao leitor sobre o contexto em que os fatos se desenvol-vem. A contextualização pode ser feita no interior do própriotexto principal ou à parte, em box.

Texto complementarO gênero reportagem3

Como estilo de texto (não como departamento das reda-ções), a reportagem é difícil de definir. Compreende desde asimples complementação de uma notícia – uma expansão quesitua o fato em suas relações mais óbvias com outros fatos ante-cedentes, conseqüentes ou correlatos – até o ensaio capaz de re-velar, a partir da prática histórica, conteúdos de interesse perma-nente, como acontece com o relato da campanha de Canudospor Euclides da Cunha.

Na prática contemporânea do jornalismo impresso, existea tendência de transformar em reportagem (sobre a construçãonaval, as vias navegáveis, a indústria pesada) cada fato programa-do (o lançamento de um novo cargueiro). Mesmo um fato ines-perado (um desabamento) pode ser complementado eficiente-mente por uma reportagem (sobre as mazelas da construção ci-vil), à medida que a indústria jornalística desenvolve técnicas eprocessos bastante rápidos para coleta e processamento de dados.

3 LAGE, Nilson. Ideologia e técnica da notícia. Petrópolis: Vozes, 1979. p. 83.

Notícia e Reportagem

Page 38: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

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Do ponto de vista da produção, podemos considerar re-portagens do tipo investigação, em que se parte de um fato pararevelar outros mais ou menos ocultados e, através deles, o perfilde uma situação de interesse jornalístico (como em Watergate, ouno levantamento do episódio de Mi Lai, na guerra do Vietname);do tipo interpretação, em que o conjunto de fatos é observado daperspectiva metodológica de uma dada ciência (as interpretaçõesmais freqüentes são sociológicas ou econômicas); e as que, inves-tindo justamente na revelação de uma práxis humana não teori-zada, busca apreender a essência do fenômeno aplicando técnicasliterárias na construção de situações e episódios narrados.

O jornalismo norte-americano tem a investigação em altaconta, o que se deve tanto a fatores históricos quanto à acumu-lação geral de conhecimentos no campo do processamento deinformações, para uso militar, técnico-científico e administrati-vo. Já a reportagem interpretativa, em sua forma quase pura, émais freqüente no jornalismo europeu, contemplando certa tra-dição humanística. Presentemente, a aplicação de técnicas literá-rias à reportagem, que não é em absoluto novidade, ganha umcerto status acadêmico, que se manifesta, no Brasil, pela recupe-ração de trabalhos como os de João do Rio (Paulo Barreto) noâmbito das faculdades de Letras.

Saiba que...Novo Jornalismo (ou New Journalism) é o nome dado ao

movimento de modificação no estilo de escrever reportagens degrande fôlego ocorrido no início da década de 60 nos EstadosUnidos e com repercussões em todo o jornalismo ocidental. Ostextos do Novo Jornalismo combinam levantamento de fatos emuita pesquisa. A técnica de construção do texto remete para agrande novela realista (construção cena por cena, diálogo, pon-tos de vista e detalhes importantes, entre outros elementos cons-titutivos). (FOLHA DE S. PAULO, 1987).

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

63

DECLARAÇÕES

De acordo com Folha de S. Paulo (1987), transcrições li-terais de trechos de livros ou artigos, frases de autores ou perso-nalidades devem ser reproduzidas sempre entre aspas. O jorna-lista deve nomear sempre o autor e o local de onde o trecho foitranscrito. As transcrições não devem ultrapassar cinco linhas desetenta toques. Quando não houver certeza da literalidade deuma transcrição, não usar aspas.

É necessário reproduzir exatamente o que se ouviu, pala-vra por palavra, ou se trata de informação (cuja fonte será clara-mente identificada) que pode ser parafraseada sem perda desubstância? O bom senso de cada um dará as respostas; mas é re-comendável considerar aspas e travessão instrumentos a seremusados parcimoniosamente (de maneira econômica), para defi-nir e valorizar a informação.

Atenção para erro freqüente: mudar a oração pelo uso deaspas. Exemplo: O deputado disse (terceira pessoa) que “não

ENTREVISTA E

DECLARAÇÕES

Capítulo 9

Page 39: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

39

a) CHAMADADefinição: “resumo de uma notícia, colocada na primeira

página, com indicativos sobre a sua localização no interior dojornal”. (HAJE, s/d).

Sobre a redação do texto: “A chamada precisa ao mesmotempo atrair a atenção do leitor para as páginas internas e cons-tituir informação completa em si. Valem para ela os princípiosque regem a redação de leads…”. (GARCIA, 1998).

“A chamada de primeira página deve ser escrita com fra-ses curtas, quase telegráficas, secas, substantivas. Deve transmi-tir ao leitor uma idéia de rapidez e concretude. Deve ser evita-do o excesso de expressões como ontem, que, segundo, afirmou,muito comuns nesse tipo de texto. Deve sempre remeter para apágina onde está o material a que ela se refere”. (FOLHA DE S.PAULO, 1987).

b) CHAPÉUDefinição: “é uma palavra, nome ou expressão, sempre su-

blinhada, usada acima do título, em corpo pequeno, para carac-terizar o assunto da notícia”. (FOLHA DE S. PAULO, 1987).

CHAMADA, CHAPÉU, TÍTULO, OLHO, LEGENDA

E TEXTO-LEGENDA

Capítulo 5

Page 40: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

40

c) TÍTULODefinição: é o anúncio da notícia, concentrado no fato de

que provavelmente mais despertará a atenção.Sobre a redação: “Como na boa propaganda, é proibido a

esse anúncio prometer mais que a matéria realmente contém ouafirmar algo que nela não existe”. (GARCIA, 1998). Tradicional-mente, o título de texto noticioso é construído a partir do lead ecostuma conter um verbo de ação (este, quando se refere ao pre-sente ou ao passado imediato, vai no presente). O uso de abre-viaturas deve se limitar a siglas e nomes bastante conhecidos dopúblico. Os títulos de reportagens e matérias leves (sobretudoem revistas) têm abolido o uso tradicional do verbo e restringin-do-se a expressões chamativas.

Sobre a manchete: “é o título do assunto principal de cadaedição. O assunto principal do dia deve merecer a manchete dojornal. O assunto principal de cada grupo de temas reunidosnuma só página deve merecer a manchete da página”. (FOLHADE S. PAULO, 1987).

d) OLHO (ou ABERTURA)Definição: “São títulos auxiliares ou pequenas frases

postas no meio do texto. Servem para tornar mais leve o aspec-to da página. Mas precisam também ser um foco para o inte-resse do leitor, destacando aspectos relevantes da matéria.”(GARCIA, 1998).

Sobre a redação: “deve ter entre três e cinco linhas. Admi-te o uso da vírgula, ponto-e-vírgula e dois pontos. Não pode terponto. Não admite a quebra de palavras. Quando estiver nasfunções de intertítulo, cada olho deve fazer referências a algumdos assuntos subseqüentes até o olho seguinte. É vedado o usosimultâneo de olhos e intertítulos ao longo de um mesmo tex-to”. (FOLHA DE S. PAULO, 1987).

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

61

Para Martins (1990), suíte é o desenvolvimento, nos diasseguintes, de uma notícia publicada pelo jornal. Indispensávellogo após a divulgação do fato, como seu desdobramento natu-ral ou mesmo provocado, deve, no entanto, ser suspensa quan-do não houver novas informações a respeito e os textos já esti-verem apenas repetindo os dados colhidos nos dias anteriores.

Nunca deixe o noticiário chegar a extremos como: “Nãohouve ontem nenhuma novidade sobre o caso X” ou “O caso Ycontinua na estaca zero.” Só se justifica matéria nestas circuns-tâncias se o que se pretende ressaltar é exatamente a omissão dealguém em relação ao fato.

A suíte deve sempre lembrar sumariamente de que casose está tratando e suas implicações, para permitir que mesmoquem não tenha lido as primeiras informações possa acompa-nhar a seqüência do noticiário.

SUÍTE

Capítulo 8

Page 41: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

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Exemplos:

1. Exemplo de TÍTULO, CHAPÉU e OLHO:

ComportamentoAmor de perdição

Para psicanálise, a separação conjugal pode provocar per-da simbólica ou imaginária, dependendo de valores pessoais e de

quanto o parceiro era idealizado

2. Exemplo de TÍTULO, CHAPÉU e CHAMADA:

Menores na noiteJustiça aperta o cerco

O juiz Ubirajara Maintiguer, da Vara da Infância e Juven-tude, baixou em Bauru portaria que restringe a permanência demenores de idade em boates, bares, shows e festas. Eles só poderãocircular em danceterias, por exemplo, se estiverem acompanhadosdos pais ou responsáveis. O próprio juiz está comandando a fisca-lização. Páginas 21 e 22.

3. Exemplo de TÍTULO, CHAPÉU e “CHAMADA-LE-GENDA”:

ReligiãoOtimismo – Amado e perseguido, como diz o subtítulo

da biografia escrita pelas jornalistas Marilda Ferri e EvanizeSydow, Dom Paulo Evaristo Arns (foto) é, aos 77 anos, otimis-ta com o futuro do Brasil e defensor da organização popularcomo forma de melhorar o País. Para isso, ele acha, o povoprecisa ser animado e não bombardeado com críticas constan-tes. Página 14.

Chamada, chapéu, título, olho, legenda e texto-legenda

Page 42: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

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e) LEGENDADefinição: “Texto que identifica personagens e/ou cena

na foto jornalística” (ou ilustração, tabelas, gráficos, mapas, etc.,se necessário). (DIAS, 1994).

Formato: possui, normalmente, uma única linha, con-cluída sem ponto-final.

Sobre seu texto: pode apresentar indicativos que facilitemo leitor reconhecer cada uma das pessoas presentes na foto quenecessitem ser identificadas individualmente. Evitar ser óbvio,isto é, ser redundante, descrevendo na legenda o que se vê nafoto (exceção a cenas muito complexas). A informação contidana legenda deve estar presente no texto a que se refere a foto.Duas ou mais fotos podem possuir uma única legenda.

f) TEXTO-LEGENDADefinição: “texto curto e sempre editado com uma foto”.

(DIAS, 1994).Formato: tem, em média, 3 a 5 linhas (2 frases). Não pos-

sui parágrafo e, em geral, possui um título que reproduz umpormenor da notícia ou a sintetiza.

Exemplos de Legenda e Texto-legenda a partir da fotoabaixo:

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

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Num dado momento, talvez entusiasmada com a minhavisita, ela perguntou-me se não gostaria de ouvir uma canção queeles costumam cantar na sua igreja. “Quando eu era moça, eutambém cantava bastante”, me diz. Constante resolveu acompa-nhá-la: “Se não, ela não consegue. Ela anda um pouco sem voz”.

Quando os Capelozza fundaram a Continental, convida-ram o amigo Constante para fazer parte da orquestra. Depoisque se mudaram para Marília, Ometto permaneceu na Conti-nental. Ao voltarem para Jaú, os Capelozza fundaram a LíderOrquestra. Novamente, em nome da antiga amizade, o saxofo-nista Constante saiu da Continental para acompanhar os Cape-lozza. Ali permaneceu até o fim de Capelozza e sua Orquestra.

Com o passar do tempo e com a chegada dos filhos (tive-ram um casal, 6 netos e até aqui 7 bisnetos), viver apenas de mú-sica deixou de ser um bom negócio. Ou pelo menos, deixou degarantir por si só o sustento da família. Assim, Constante passoua trabalhar na prefeitura, por onde acabou se aposentando.

Sobre as orquestras de Jaú, Constante não esconde asaudade que sente daquele tempo. Ele ressaltou sobretudo orespeito e prazer com que as pessoas se divertiam nos bailes ecomo as orquestras da cidade eram muito aplaudidas por ondese apresentavam.

Sentados na cozinha de sua casa, eu, Constante e Apare-cida, parecíamos velhos conhecidos, embora tivéssemos nosconhecido há pouco mais de uma hora. Ambos os meus entre-vistados demonstravam-se entusiasmados com a conversa e asua jovialidade me deixava de tal forma à vontade que não medei conta da notável diferença de gerações. A um certo mo-mento, Ometto perguntou-me como o havia encontrado. En-tão, contei-lhe como fizera. E ele me disse: “Estou contente quetenha se lembrado de mim”. Posso entender o porquê disso. Seo vissem andar pelas ruas de Jaú a pé ou no seu modesto fuscaverde petróleo, pouquíssimas pessoas hoje, lhe dariam o devi-do valor que merece.

Perfil

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nião de sua mãe, partiu para um investimento arrojado. Foi apren-der música para ganhar mais dinheiro. Seus “professores”: os ir-mãos Capelozza. Depois de estudar a teoria, optou pelo sax.Aprendeu também a tocar o clarinete, mas era do sax que gostava.

Para ele, a música, pelo menos no início, foi um empreen-dimento que deu certo. De fato, os seus rendimentos aumenta-ram muito desde que começou a tocar no cabaré da cidade.8 “Aminha vida melhorou bastante naquele tempo”.

E precisava realmente que melhorasse, uma vez que, nes-sa época, já estava casado. Constante casou cedo, porque antesde tudo desejava sentir-se livre das antigas pressões familiares,em especial da mãe que via o trabalho de músico com descrédi-to. Dona Aparecida, sua primeira e única namorada e esposa háquase 50 anos, ao contrário, apoiava e muito o trabalho no ca-baré. “Mas não havia problema em casa por tocar num lugar da-queles?”, insisto. “Não, não. Porque a gente ia lá para trabalhar,não para perder tempo com outras coisas”.

A esse propósito, não teve dúvidas. Participou de nossaconversa a dona Aparecida, esposa de Constante, que com suasimplicidade e espontaneidade, endossava cada palavra do ma-rido. E mais que isso: o já não tão jovem casal demonstrou atodo momento de nossa entrevista uma harmonia comovente.

Com vários problemas de saúde, entre eles o da audição,algumas vezes e de forma inocente, dona Aparecida desviava aconversa do assunto com seus comentários. Nesses momentos,Constante, com uma paciência incomum, dizia-me: “Ela não es-cuta direito, não entende sobre o que estamos conversando. Porisso, interrompe...” E procurava, com a mesma paciência, ouvi-la e ajudá-la a participar do assunto.

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

8 Na verdade, não se tratava de um cabaré propriamente dito, pelo menosnão do tipo que sabemos ter existido nas grandes cidades. Tratava-se dealgo recatado, que não feria muito a imagem da cidade tradicional do inte-rior de São Paulo.

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1. O público presente à missa carismática, realizada ontem ànoite na USC, lotou o Teatro Universitário Veritas2. Padre Enedir Gonçalvez Moreira (na foto, carregando o osten-sório): “É entusiasmante ver a comunidade universitária unir-separa rezar”3. Missa carismática na USC: fé e dons do Espírito Santo

Ciência e Fé – membros da comunidade universitária deBauru participam de celebração carismática no Teatro Universi-tário Veritas, campus da Universidade do Sagrado Coração(USC). Nos últimos anos, professores, alunos e funcionários dasfaculdades e universidades de Bauru têm engrossado as fileirasda Renovação Carismática Católica, movimento predominante-mente leigo, cuja atuação ameaça a concorrência pentecostalpela conquista de fiéis.

Chamada, chapéu, título, olho, legenda e texto-legenda

Page 44: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

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Constante Ometto7

Luís Henrique Marques

Custou, mas encontrei. Ele estava em casa, no fundo doquintal, cuidando dos frangos. Aos 77 anos, aposentado há umbom tempo, aquele trabalho todo com as galinhas era para “se sen-tir útil”. Mas a verdade é que o “seo” Constante gosta daquele ser-viço. Afinal, nasceu na roça e lá se aprende a gostar dessas coisas.

E justamente o fato de ter vivido e trabalhado no campodurante a sua infância e juventude é que faz da história do músico(saxofonista e clarinetista) Constante Ometto, uma história única.

A simplicidade ao narrar episódios de sua vida pessoal,bem como enquanto músico das orquestras Continental e Cape-lozza, lembra um romance clássico. Talvez o fato de possuir umaforte fé religiosa (é membro da Igreja Adventista de Jaú) faz comque Constante veja a vida, mesmo as dificuldades do passado,como “um dom de Deus”. Por isso, seu discurso é sempre entre-meado de trechos bíblicos e alusões à fé.

Desde cedo, Constante demonstrara uma forte inclinaçãopara a música:“Vivia cantando, na roça, vivia cantando”. Apesar desua mãe ser contra (inconformada com o gosto musical do filho,certa vez, quebrara sua viola), Constante adorava fazer seresta.

Entretanto, a vida no sítio era dura. “Essa coisa de ter quedormir cedo para acordar de madrugada e ir para a roça dificul-tava a gente fazer seresta”. E como se não bastasse, “trabalhava-se muito e ganhava-se pouco”.

Diante dessa situação, adorar música e estar descontentecom que ganhava no campo, Constante, ainda contrariando a opi-

Perfil

7 Este texto corresponde ao 10º capítulo do trabalho “Jaú em ritmo de baile– Reconstituição jornalística da história das Orquestras Continental e Ca-pelozza de Jaú”, projeto experimental de final de curso no estilo “livro-re-portagem” apresentado tendo em vista a obtenção do título de bacharel emComunicação Social, habilitação em Jornalismo pela Universidade EstadualPaulista (Unesp), campus de Bauru, 2º semestre de 1991.

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histórias independentes. Na biografia, por menor que seja o regis-tro, não podem faltar dados de família: mulher, filhos etc. Quan-to à coleta de depoimentos sobre o falecido, só faz sentido ouvirquem de alguma forma se relacionava com ele: o contemporâneo,o estudioso de sua área de atuação, o amigo.

Já para a Folha de S. Paulo (1987), perfil é uma reporta-gem biográfica que mescla declarações de pessoas entrevistadas,dados de sua vida e comentários sobre a figura em foco. O per-fil busca traçar as opiniões da personalidade em pauta, sua in-serção cultural ou política na sociedade e os fatos mais relevan-tes de sua vida, além dos detalhes de seu cotidiano.

A palavra também pode designar uma pequena nota bio-gráfica que acompanha declarações ou informações detalhadassobre qualquer atividade humana.

Uma recomendação, segundo Vilas Boas (1996):

Os traços característicos, no entanto, não podem escapar aos

olhos do jornalista. Se a leitura do personagem for unidimensional,

a captação da informação também será. E, conseqüentemente, afe-

ta a redação do texto. Isso ocorre com muita freqüência em maté-

rias de perfil. A valorização de um único objetivo – enaltecer a in-

telectualidade, por exemplo – impede que venha à superfície a “di-

mensão” cotidiana do cidadão comum. Por mais rígido, um perso-

nagem nunca é linear. Os atos e os sentimentos dos seres humanos

são contraditórios. Por isso, quanto mais autêntica e pluridimen-

sional for a descrição do personagem, melhor para o leitor. E para

o jornalismo.

O texto a seguir é um exemplo de perfil (outros exemplospodem ser encontrados em Técnica de reportagem, de Sodré eFerrari (1994):

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

45

EDITORIAL

Embora as estatísticas comprovem que os editoriais são pouco lidos,

a imprensa continua a mantê-los. O leitor inteira-se das notícias,

mas quer, também, meditar sobre os fatos a que elas se referem…

Mário L. Erbolato

“É o gênero jornalístico que expressa a opinião oficial daempresa diante dos fatos de maior repercussão no momento”.(MELO, 1994). Contudo, “nas sociedades capitalistas, o edito-rial reflete não exatamente a opinião dos seus proprietáriosnominais, mas o consenso das opiniões que emanam dos dife-rentes núcleos que participam da organização”: acionistas ma-joritários, financiadores, anunciantes e braços do aparelho bu-rocrático do Estado.

A quem se dirige, na realidade? Em tese, dirige-se à cole-tividade, constituindo-se num indicador de que o veículo pre-tende orientar a opinião pública. No Brasil, porém, os editoriais,

ARTIGO E

EDITORIAL

Capítulo 6

Page 46: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

46

na verdade, “encerram uma relação de diálogo com o Estado”, dequem pretendem defender os segmentos empresariais e finan-ceiros que representam.

Segundo Marques de Melo (1994), “cada editorial, numagrande empresa jornalística, passa por um sofisticado processode depuração dos fatos, de conferência dos dados, de checagemdas fontes”. Ele afirma que “a decisão é tomada pela diretoria,funcionando o editorialista, que se imagina alguém integrado nalinha da linha da instituição, como intérprete dos pontos de vis-ta que se convenciona devam ser divulgados”.

Erbolato (1981) propõe, a esse respeito, o que consideraser uma estrutura básica para o editorial:

1. título – para que o leitor se inteire do assunto a sercomentado;

2. exposição sintética do fato que será abordado;3. opiniões favoráveis e contrárias, conhecidas sobre o

assunto;4. conclusão do jornal, ou seja, o que ele pensa a respei-

to da questão.

Para Luiz Beltrão (apud MELO, 1994), há 4 atributos es-pecíficos do editorial:

1. impessoalidade – “não se trata de matéria assinada,utilizando portanto a terceira pessoa do singular ou a primei-ra do plural”;

2. topicalidade – “trata de um tema bem delimitado, mes-mo que ainda não tenha adquirido configuração pública”;

3. condensalidade – “poucas idéias, dando maior ênfaseàs afirmações que às demonstrações”;

4. plasticidade – “flexibilidade, maleabilidade, não dog-matismo”.

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

55

“Em jornalismo, perfil significa enfoque na pessoa – sejauma celebridade seja um tipo popular, mas sempre o focalizado éprotagonista de uma história: sua própria vida.” (SODRÉ, 1986).

Segundo Garcia (1998), perfil é uma reportagem sobreuma pessoa. Não basta um depoimento dela; nem estará o per-fil completo com o acréscimo de elogios de amigos e críticas deinimigos. Tanto elogios como críticas devem ser vistos com des-confiança e usados com economia: perfis são escritos para des-crever e revelar, não para exaltar ou denegrir.

O perfil se alimenta, principalmente, do testemunho dequem conhece a pessoa, quem convive com etapas de seu dia-a-dia sem precisar amá-la ou odiá-la. É feito também com obser-vações do repórter sobre a aparência e o comportamento de seuretratado – traços, gestos, hábitos, maneiras, preferências.

É preciso cuidado para separar, no perfil de pessoa notó-ria, episódios acontecidos de histórias inventadas. Quanto maisfamosa a pessoa, mais fantasias circulam – algumas elogiosas,outras caluniosas, todas com reputação de verdadeiras.

Na reportagem sobre o morto ilustre, não se deve misturara descrição de velório e enterro com a biografia do falecido: são

PERFIL

Capítulo 7

Page 47: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

47

Algumas razões para que o leitor brasileiro recuse, em ge-ral, o editorial:

1. é massudo, sem subtítulos, com poucos parágrafos,muito intelectualizado;

2. destina-se a uma determinada classe de leitores (em-presários e políticos);

3. não é valorizado (figura isoladamente à superfície im-pressa, distante das matérias que tratam informativamente dosmesmos temas);

4. não interessa ao leitor (geralmente, o tema abordadonão diz respeito ao universo específico do público).

Classificações segundo variáveis:1. morfologia – artigo de fundo (editorial principal),

suelto (pequena análise sobre um fato da atualidade) e nota (re-gistro ligeiro de uma ocorrência, antecipando suas conseqüên-cias ao leitor);

2. topicalidade – preventivo (focalizando aspectos novosque podem produzir mudanças) de ação (apreendendo o im-pacto de uma ocorrência) e de conseqüência (visualizando re-percussões e efeitos);

3. conteúdo – informativo (esclarecedor), normativo(exortador) e ilustrativo (educador);

4. estilo – o intelectual (racionalizante) e o emocional(sensibilizante);

5. natureza – promocional (coerente com a linha de em-presa), circunstancial (oportunista, imediatista) e polêmico(contestador, provocador).

Artigo e Editorial

Page 48: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

48

Texto complementarQualidades do editorialista4

O editorialista deve possuir certas qualidades e adotar al-gumas recomendações:

1. Estar bem informado. Ninguém pode escrever e, inclu-sive, criticar o que desconhece. O hábito da leitura é recomendá-vel, para que o cabedal de conhecimento do jornalista aumentegradativamente e ele continue atualizado.

2. Especializar-se nos assuntos sobre os quais escreve. Navariedade de comentários, os jornais abordam artigos ligados apecuária, agricultura, medicina, urbanismo, economia, ecologiae outros. Será recomendável que o editorialista tenha, preferen-cialmente, cursos sobre os assuntos que aborda, desde que exi-jam conhecimentos técnicos.

3. Ser imparcial nas opiniões. Cada tema será tratado deforma objetiva. Todas as pessoas (e entre elas incluem-se os jor-nalistas) têm, psicologicamente, suas preferências, ódios e repul-sas, mas não será no editorial que devem ser externadas, pois oartigo representa a manifestação do jornal.5

4. Rever as suas conclusões, se porventura a evolução dosacontecimentos comprovar que houve erro em editorial anterior.Persistir no engano seria desastroso, o que levaria o leitor a ra-ciocínios falsos.

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

4 ERBOLATO, Mário L. Jornalismo especializado: emissão de textos no jor-nalismo impresso. São Paulo: Atlas, 1981. p. 116.

5 Concretamente, isto é impossível, porque objetividade, neutralidade e im-parcialidade são, na realidade, mitos produzidos pelo jornalismo a serviçoda Indústria Cultural. O melhor que o bom editorialista pode aspirar e exi-gir de si mesmo é ser menos parcial e esforçar-se para ser o mais objetivo eneutro possível. Trata-se, portanto, de estabelecer a si mesmo uma meta aser alcançada, um ideal. Sobre o assunto, confira capítulo 12 sobre Análiseideológica de um texto jornalístico, página 85. (N.A.)

53

instigadas pela fantasia dos mal-informados, esotéricos e coi-sas do gênero – acreditaram que o tal Bug afetaria sobremanei-ra a vida na Terra.

Pior, na realidade, é a situação daqueles que acreditavampiamente que, com a virada de ano, chegaríamos ao fim domundo. Assisti pela TV uma reportagem que abordava o assun-to. Foi constrangedor ver o repórter questionar alguns dos “tor-cedores do juízo final” a respeito do que eles tinham a dizer so-bre o fato do mundo não ter acabado. As respostas, em geral, nãopassavam de um amarelo “graças a Deus...”.

O consolo para estes é que ignorância não é pecado. Opecado é talvez crer em discursos que contrariam o que o pró-prio Deus tem ensinado ao longo da nossa História: não cabeao homem saber sobre o juízo final ou outras questões que lheescapam à razão porque sua resposta vem de Deus. E quando ohomem souber tudo o que Deus sabe, deixará de ser homem.Ou então, Deus deixará de ser Deus. Pelo contrário, a Verdadede Deus se revela ao homem claramente através de sua expe-riência, de suas atitudes. Além da oração, é por meio disso queDeus mostra ao homem o que é necessário, a cada momento,para sua realização.

Ao contrário, o que se vê é a insistente mania de se culti-var descontroladamente, no imaginário popular, o mito; de sereverenciar a fantasia, enquanto o real permanece aí, ignoradoe, muitas vezes, sem solução. Se é válido acreditar em Deus, issosó faz sentido se existe uma relação com Ele, e, se nessa relação,o homem faz a sua parte e deixa espaço para que Deus faça aDele. É mediante essa relação que a realidade do homem seconstrói. Ou não.

Artigo e Editorial

Page 49: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

52

Entretanto, José Marques de Melo adverte para o fato deque, “sendo colaboração espontânea ou solicitação nem sempreremunerada, o artigo confere liberdade completa ao seu autor”.

Dica:“O recurso à ironia só é admissível em textos assinados...”

Mesmo nesse caso, “convém cautela na utilização desse recurso:a ironia em excesso tende a irritar o leitor e a ironia deselegante,canhestra ou forçada ridiculariza o autor. É recomendável que ojornalismo seja cético, mas o ceticismo não exige neces-sariamente a ironia”. (FOLHA DE S. PAULO, 1987).

Exemplo de artigo do tipo doutrinário, segundo classifi-cação de José Marques de Melo (1994):

Bug, o fim do mundo e o imaginário popular6

Luís Henrique Marques

Um dia desses, uma amiga – pessoa simples – me disse es-tar preocupada com essa história do “Bug do ano 2000”. Segun-do o que ela havia apurado, era provável que ao iniciarmos onovo ano, tal seria a pane nos computadores que seríamos im-placavelmente vitimados por um novo apagão. Diante da sim-plicidade do seu comentário, não me contive e logo propus queprovidenciássemos, então, uma porção de velas para nos prepa-ramos para a chegada do Ano Novo. Assim, pelo menos, conse-guiríamos contornar, de uma certa forma, a inoportuna situaçãode permanecer no escuro...

Passada a virada do ano e segundo informações divulga-das pela imprensa do mundo todo, salvo exceções, o Bug foi, narealidade, um fiasco. Nada ou pouco mudou no cotidiano daspessoas. Exceto, talvez, daquelas como a minha amiga que –

6 Artigo publicado no semanário Folha Popular, de Lençóis Paulista (ediçãode 08 jan. 2000) e no Jornal da Cidade, de Bauru (edição de 10 jan. 2000).

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

49

5. Ter a faculdade de discernir. Entre vários assuntos, deuma ou de várias áreas, deve saber qual o mais importante, quemereça ser comentado com preferência.

6. Dominar os estilos narrativo e argumentativo. Exporinicialmente o fato (notícia resumidíssima) e depois, em se-qüência lógica, emitir seu ponto de vista, que será, como temosinsistido, o do jornal.

7. Explicar bem os fatos. O editorialista age como um pro-fessor diante dos alunos, mostrando por que algo ocorreu, os fa-tores que possivelmente influíram no acontecido e de que formapoderá ser afetada toda a comunidade ou apenas pequenos ougrandes grupos.

8. Dar os antecedentes. No comentário, colocar o assuntodentro de seu contexto histórico, relacionando-o com o que hajaocorrido antes e mostrar que o fato talvez pudesse ter sido evi-tado (no caso de haver provocado danos).

9. Estabelecer juízos. Guardiães da consciência pública, oseditorialistas dizem o que vai bem ou mal, na cidade, no país eaté no mundo, porém sempre fazendo deduções.

10. Usar sempre a primeira pessoa do plural e não a do sin-gular. Não é o jornalista, pessoalmente, que doutrina ou opina,mas a instituição para a qual trabalha.

ARTIGO

“A palavra artigo possui duas significações. O senso co-mum atribui-lhe o sentido de matéria publicada em jornal ou re-vista” (MELO, 1994). Porém, é mais peculiar nas instituições jor-nalísticas, defini-lo como “uma matéria jornalística onde alguém(jornalista ou não) desenvolve uma idéia e apresenta sua opinião”.

Quem escreve artigos no jornalismo brasileiro? Além dopróprio jornalista, existe a “figura do colaborador (escritor, pro-

Artigo e Editorial

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fessor, pesquisador, político, profissional liberal), convidado aescrever sobre assunto da sua competência”.

“O artigo é o gênero que democratiza a opinião no jornal,tornando-a não um privilégio da instituição jornalística e dosseus profissionais, mas possibilitando o seu acesso às liderançasemergentes na sociedade”.

“O artigo é um gênero jornalístico peculiar à imprensa.Sua expressão não ocorre no rádio e na televisão, pela naturezaabstrata que possui, mesclando fatos e idéias, mas trabalhandosobretudo os argumentos. Nos veículos audiovisuais, o papelque cumpre a intelectualidade através de artigos de jornal é su-prido por intermédio da entrevista”.

Para Martín Vivaldi (apud MELO, 1994), dois elementossão específicos ao artigo jornalístico:

1. Atualidade – “O articulista tem liberdade de conteúdoe de forma, mas ele deve tratar de fato ou idéia da atualidade,coadunando-se com o espírito do jornal. É claro que o sentidoda atualidade não se restringe ao cotidiano, mas ao momentohistórico vivido”.

2. Opinião – “A significação maior do gênero está contidano ponto de vista que alguém expõe. E essa avaliação não pode seroculta... A opinião ali emitida vincula-se à assinatura do autor”.

Formalmente, é possível identificar dois tipos de artigo:1. Artigo (propriamente dito) – cujo tratamento dado

“contém julgamentos mais ou menos provisórios, porque escri-to enquanto os fatos ainda estão se configurando” e argumenta-ção “baseia-se no próprio conhecimento e sensibilidade do arti-culista”. É publicado, em geral, em edições convencionais do jor-nal ou da revista.

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

51

2. Ensaio – cujo tratamento dado “apresenta pontos devista mais definitivos, alicerçados com solidez, porque tem com-preensão mais abrangente do fato e pretende sistematizar o seuconhecimento” e argumentação “se apóia em fontes que se legi-timam pela sua credibilidade documental, permitindo a confir-mação das idéias definidas pelo autor”. “O ensaio encontra espa-ço mais adequado nos suplementos especiais, edições domini-cais dos jornais ou edições temáticas das revistas”.

Quanto à finalidade, pode ser classificado em:1. Doutrinário – “mais apropriadamente chamado de ar-

tigo jornalístico e que se destina a analisar uma questão de atua-lidade, sugerindo ao público uma determinada maneira de vê-laou de julgá-la”.

2. Científico – “destina-se a tornar público o avanço daciência, repartindo com os leitores novos conhecimentos, novosconceitos”. Subdividi-se em:

3. Artigo de divulgação – “destinado simplesmente a fazerchegar ao conhecimento dos leitores novas descobertas, novashipóteses, ou sumariar o estado da pesquisa sobre um determi-nado setor científico”.

4. Artigo educativo – “destinado a convencer os leitoresda adoção de novos conhecimentos e o emprego de novas des-cobertas”.

Segundo Luiz Beltrão (apud MELO, 1994), a estruturanarrativa do artigo é semelhante à do editorial, conferindo os se-guintes elementos:

a) título,b) introdução,c) discussão/argumentação,d) conclusão.

Artigo e Editorial

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fessor, pesquisador, político, profissional liberal), convidado aescrever sobre assunto da sua competência”.

“O artigo é o gênero que democratiza a opinião no jornal,tornando-a não um privilégio da instituição jornalística e dosseus profissionais, mas possibilitando o seu acesso às liderançasemergentes na sociedade”.

“O artigo é um gênero jornalístico peculiar à imprensa.Sua expressão não ocorre no rádio e na televisão, pela naturezaabstrata que possui, mesclando fatos e idéias, mas trabalhandosobretudo os argumentos. Nos veículos audiovisuais, o papelque cumpre a intelectualidade através de artigos de jornal é su-prido por intermédio da entrevista”.

Para Martín Vivaldi (apud MELO, 1994), dois elementossão específicos ao artigo jornalístico:

1. Atualidade – “O articulista tem liberdade de conteúdoe de forma, mas ele deve tratar de fato ou idéia da atualidade,coadunando-se com o espírito do jornal. É claro que o sentidoda atualidade não se restringe ao cotidiano, mas ao momentohistórico vivido”.

2. Opinião – “A significação maior do gênero está contidano ponto de vista que alguém expõe. E essa avaliação não pode seroculta... A opinião ali emitida vincula-se à assinatura do autor”.

Formalmente, é possível identificar dois tipos de artigo:1. Artigo (propriamente dito) – cujo tratamento dado

“contém julgamentos mais ou menos provisórios, porque escri-to enquanto os fatos ainda estão se configurando” e argumenta-ção “baseia-se no próprio conhecimento e sensibilidade do arti-culista”. É publicado, em geral, em edições convencionais do jor-nal ou da revista.

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2. Ensaio – cujo tratamento dado “apresenta pontos devista mais definitivos, alicerçados com solidez, porque tem com-preensão mais abrangente do fato e pretende sistematizar o seuconhecimento” e argumentação “se apóia em fontes que se legi-timam pela sua credibilidade documental, permitindo a confir-mação das idéias definidas pelo autor”. “O ensaio encontra espa-ço mais adequado nos suplementos especiais, edições domini-cais dos jornais ou edições temáticas das revistas”.

Quanto à finalidade, pode ser classificado em:1. Doutrinário – “mais apropriadamente chamado de ar-

tigo jornalístico e que se destina a analisar uma questão de atua-lidade, sugerindo ao público uma determinada maneira de vê-laou de julgá-la”.

2. Científico – “destina-se a tornar público o avanço daciência, repartindo com os leitores novos conhecimentos, novosconceitos”. Subdividi-se em:

3. Artigo de divulgação – “destinado simplesmente a fazerchegar ao conhecimento dos leitores novas descobertas, novashipóteses, ou sumariar o estado da pesquisa sobre um determi-nado setor científico”.

4. Artigo educativo – “destinado a convencer os leitoresda adoção de novos conhecimentos e o emprego de novas des-cobertas”.

Segundo Luiz Beltrão (apud MELO, 1994), a estruturanarrativa do artigo é semelhante à do editorial, conferindo os se-guintes elementos:

a) título,b) introdução,c) discussão/argumentação,d) conclusão.

Artigo e Editorial

Page 52: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

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Entretanto, José Marques de Melo adverte para o fato deque, “sendo colaboração espontânea ou solicitação nem sempreremunerada, o artigo confere liberdade completa ao seu autor”.

Dica:“O recurso à ironia só é admissível em textos assinados...”

Mesmo nesse caso, “convém cautela na utilização desse recurso:a ironia em excesso tende a irritar o leitor e a ironia deselegante,canhestra ou forçada ridiculariza o autor. É recomendável que ojornalismo seja cético, mas o ceticismo não exige neces-sariamente a ironia”. (FOLHA DE S. PAULO, 1987).

Exemplo de artigo do tipo doutrinário, segundo classifi-cação de José Marques de Melo (1994):

Bug, o fim do mundo e o imaginário popular6

Luís Henrique Marques

Um dia desses, uma amiga – pessoa simples – me disse es-tar preocupada com essa história do “Bug do ano 2000”. Segun-do o que ela havia apurado, era provável que ao iniciarmos onovo ano, tal seria a pane nos computadores que seríamos im-placavelmente vitimados por um novo apagão. Diante da sim-plicidade do seu comentário, não me contive e logo propus queprovidenciássemos, então, uma porção de velas para nos prepa-ramos para a chegada do Ano Novo. Assim, pelo menos, conse-guiríamos contornar, de uma certa forma, a inoportuna situaçãode permanecer no escuro...

Passada a virada do ano e segundo informações divulga-das pela imprensa do mundo todo, salvo exceções, o Bug foi, narealidade, um fiasco. Nada ou pouco mudou no cotidiano daspessoas. Exceto, talvez, daquelas como a minha amiga que –

6 Artigo publicado no semanário Folha Popular, de Lençóis Paulista (ediçãode 08 jan. 2000) e no Jornal da Cidade, de Bauru (edição de 10 jan. 2000).

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

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5. Ter a faculdade de discernir. Entre vários assuntos, deuma ou de várias áreas, deve saber qual o mais importante, quemereça ser comentado com preferência.

6. Dominar os estilos narrativo e argumentativo. Exporinicialmente o fato (notícia resumidíssima) e depois, em se-qüência lógica, emitir seu ponto de vista, que será, como temosinsistido, o do jornal.

7. Explicar bem os fatos. O editorialista age como um pro-fessor diante dos alunos, mostrando por que algo ocorreu, os fa-tores que possivelmente influíram no acontecido e de que formapoderá ser afetada toda a comunidade ou apenas pequenos ougrandes grupos.

8. Dar os antecedentes. No comentário, colocar o assuntodentro de seu contexto histórico, relacionando-o com o que hajaocorrido antes e mostrar que o fato talvez pudesse ter sido evi-tado (no caso de haver provocado danos).

9. Estabelecer juízos. Guardiães da consciência pública, oseditorialistas dizem o que vai bem ou mal, na cidade, no país eaté no mundo, porém sempre fazendo deduções.

10. Usar sempre a primeira pessoa do plural e não a do sin-gular. Não é o jornalista, pessoalmente, que doutrina ou opina,mas a instituição para a qual trabalha.

ARTIGO

“A palavra artigo possui duas significações. O senso co-mum atribui-lhe o sentido de matéria publicada em jornal ou re-vista” (MELO, 1994). Porém, é mais peculiar nas instituições jor-nalísticas, defini-lo como “uma matéria jornalística onde alguém(jornalista ou não) desenvolve uma idéia e apresenta sua opinião”.

Quem escreve artigos no jornalismo brasileiro? Além dopróprio jornalista, existe a “figura do colaborador (escritor, pro-

Artigo e Editorial

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Texto complementarQualidades do editorialista4

O editorialista deve possuir certas qualidades e adotar al-gumas recomendações:

1. Estar bem informado. Ninguém pode escrever e, inclu-sive, criticar o que desconhece. O hábito da leitura é recomendá-vel, para que o cabedal de conhecimento do jornalista aumentegradativamente e ele continue atualizado.

2. Especializar-se nos assuntos sobre os quais escreve. Navariedade de comentários, os jornais abordam artigos ligados apecuária, agricultura, medicina, urbanismo, economia, ecologiae outros. Será recomendável que o editorialista tenha, preferen-cialmente, cursos sobre os assuntos que aborda, desde que exi-jam conhecimentos técnicos.

3. Ser imparcial nas opiniões. Cada tema será tratado deforma objetiva. Todas as pessoas (e entre elas incluem-se os jor-nalistas) têm, psicologicamente, suas preferências, ódios e repul-sas, mas não será no editorial que devem ser externadas, pois oartigo representa a manifestação do jornal.5

4. Rever as suas conclusões, se porventura a evolução dosacontecimentos comprovar que houve erro em editorial anterior.Persistir no engano seria desastroso, o que levaria o leitor a ra-ciocínios falsos.

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

4 ERBOLATO, Mário L. Jornalismo especializado: emissão de textos no jor-nalismo impresso. São Paulo: Atlas, 1981. p. 116.

5 Concretamente, isto é impossível, porque objetividade, neutralidade e im-parcialidade são, na realidade, mitos produzidos pelo jornalismo a serviçoda Indústria Cultural. O melhor que o bom editorialista pode aspirar e exi-gir de si mesmo é ser menos parcial e esforçar-se para ser o mais objetivo eneutro possível. Trata-se, portanto, de estabelecer a si mesmo uma meta aser alcançada, um ideal. Sobre o assunto, confira capítulo 12 sobre Análiseideológica de um texto jornalístico, página 85. (N.A.)

53

instigadas pela fantasia dos mal-informados, esotéricos e coi-sas do gênero – acreditaram que o tal Bug afetaria sobremanei-ra a vida na Terra.

Pior, na realidade, é a situação daqueles que acreditavampiamente que, com a virada de ano, chegaríamos ao fim domundo. Assisti pela TV uma reportagem que abordava o assun-to. Foi constrangedor ver o repórter questionar alguns dos “tor-cedores do juízo final” a respeito do que eles tinham a dizer so-bre o fato do mundo não ter acabado. As respostas, em geral, nãopassavam de um amarelo “graças a Deus...”.

O consolo para estes é que ignorância não é pecado. Opecado é talvez crer em discursos que contrariam o que o pró-prio Deus tem ensinado ao longo da nossa História: não cabeao homem saber sobre o juízo final ou outras questões que lheescapam à razão porque sua resposta vem de Deus. E quando ohomem souber tudo o que Deus sabe, deixará de ser homem.Ou então, Deus deixará de ser Deus. Pelo contrário, a Verdadede Deus se revela ao homem claramente através de sua expe-riência, de suas atitudes. Além da oração, é por meio disso queDeus mostra ao homem o que é necessário, a cada momento,para sua realização.

Ao contrário, o que se vê é a insistente mania de se culti-var descontroladamente, no imaginário popular, o mito; de sereverenciar a fantasia, enquanto o real permanece aí, ignoradoe, muitas vezes, sem solução. Se é válido acreditar em Deus, issosó faz sentido se existe uma relação com Ele, e, se nessa relação,o homem faz a sua parte e deixa espaço para que Deus faça aDele. É mediante essa relação que a realidade do homem seconstrói. Ou não.

Artigo e Editorial

Page 54: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

47

Algumas razões para que o leitor brasileiro recuse, em ge-ral, o editorial:

1. é massudo, sem subtítulos, com poucos parágrafos,muito intelectualizado;

2. destina-se a uma determinada classe de leitores (em-presários e políticos);

3. não é valorizado (figura isoladamente à superfície im-pressa, distante das matérias que tratam informativamente dosmesmos temas);

4. não interessa ao leitor (geralmente, o tema abordadonão diz respeito ao universo específico do público).

Classificações segundo variáveis:1. morfologia – artigo de fundo (editorial principal),

suelto (pequena análise sobre um fato da atualidade) e nota (re-gistro ligeiro de uma ocorrência, antecipando suas conseqüên-cias ao leitor);

2. topicalidade – preventivo (focalizando aspectos novosque podem produzir mudanças) de ação (apreendendo o im-pacto de uma ocorrência) e de conseqüência (visualizando re-percussões e efeitos);

3. conteúdo – informativo (esclarecedor), normativo(exortador) e ilustrativo (educador);

4. estilo – o intelectual (racionalizante) e o emocional(sensibilizante);

5. natureza – promocional (coerente com a linha de em-presa), circunstancial (oportunista, imediatista) e polêmico(contestador, provocador).

Artigo e Editorial

Page 55: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

46

na verdade, “encerram uma relação de diálogo com o Estado”, dequem pretendem defender os segmentos empresariais e finan-ceiros que representam.

Segundo Marques de Melo (1994), “cada editorial, numagrande empresa jornalística, passa por um sofisticado processode depuração dos fatos, de conferência dos dados, de checagemdas fontes”. Ele afirma que “a decisão é tomada pela diretoria,funcionando o editorialista, que se imagina alguém integrado nalinha da linha da instituição, como intérprete dos pontos de vis-ta que se convenciona devam ser divulgados”.

Erbolato (1981) propõe, a esse respeito, o que consideraser uma estrutura básica para o editorial:

1. título – para que o leitor se inteire do assunto a sercomentado;

2. exposição sintética do fato que será abordado;3. opiniões favoráveis e contrárias, conhecidas sobre o

assunto;4. conclusão do jornal, ou seja, o que ele pensa a respei-

to da questão.

Para Luiz Beltrão (apud MELO, 1994), há 4 atributos es-pecíficos do editorial:

1. impessoalidade – “não se trata de matéria assinada,utilizando portanto a terceira pessoa do singular ou a primei-ra do plural”;

2. topicalidade – “trata de um tema bem delimitado, mes-mo que ainda não tenha adquirido configuração pública”;

3. condensalidade – “poucas idéias, dando maior ênfaseàs afirmações que às demonstrações”;

4. plasticidade – “flexibilidade, maleabilidade, não dog-matismo”.

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

55

“Em jornalismo, perfil significa enfoque na pessoa – sejauma celebridade seja um tipo popular, mas sempre o focalizado éprotagonista de uma história: sua própria vida.” (SODRÉ, 1986).

Segundo Garcia (1998), perfil é uma reportagem sobreuma pessoa. Não basta um depoimento dela; nem estará o per-fil completo com o acréscimo de elogios de amigos e críticas deinimigos. Tanto elogios como críticas devem ser vistos com des-confiança e usados com economia: perfis são escritos para des-crever e revelar, não para exaltar ou denegrir.

O perfil se alimenta, principalmente, do testemunho dequem conhece a pessoa, quem convive com etapas de seu dia-a-dia sem precisar amá-la ou odiá-la. É feito também com obser-vações do repórter sobre a aparência e o comportamento de seuretratado – traços, gestos, hábitos, maneiras, preferências.

É preciso cuidado para separar, no perfil de pessoa notó-ria, episódios acontecidos de histórias inventadas. Quanto maisfamosa a pessoa, mais fantasias circulam – algumas elogiosas,outras caluniosas, todas com reputação de verdadeiras.

Na reportagem sobre o morto ilustre, não se deve misturara descrição de velório e enterro com a biografia do falecido: são

PERFIL

Capítulo 7

Page 56: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

56

histórias independentes. Na biografia, por menor que seja o regis-tro, não podem faltar dados de família: mulher, filhos etc. Quan-to à coleta de depoimentos sobre o falecido, só faz sentido ouvirquem de alguma forma se relacionava com ele: o contemporâneo,o estudioso de sua área de atuação, o amigo.

Já para a Folha de S. Paulo (1987), perfil é uma reporta-gem biográfica que mescla declarações de pessoas entrevistadas,dados de sua vida e comentários sobre a figura em foco. O per-fil busca traçar as opiniões da personalidade em pauta, sua in-serção cultural ou política na sociedade e os fatos mais relevan-tes de sua vida, além dos detalhes de seu cotidiano.

A palavra também pode designar uma pequena nota bio-gráfica que acompanha declarações ou informações detalhadassobre qualquer atividade humana.

Uma recomendação, segundo Vilas Boas (1996):

Os traços característicos, no entanto, não podem escapar aos

olhos do jornalista. Se a leitura do personagem for unidimensional,

a captação da informação também será. E, conseqüentemente, afe-

ta a redação do texto. Isso ocorre com muita freqüência em maté-

rias de perfil. A valorização de um único objetivo – enaltecer a in-

telectualidade, por exemplo – impede que venha à superfície a “di-

mensão” cotidiana do cidadão comum. Por mais rígido, um perso-

nagem nunca é linear. Os atos e os sentimentos dos seres humanos

são contraditórios. Por isso, quanto mais autêntica e pluridimen-

sional for a descrição do personagem, melhor para o leitor. E para

o jornalismo.

O texto a seguir é um exemplo de perfil (outros exemplospodem ser encontrados em Técnica de reportagem, de Sodré eFerrari (1994):

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

45

EDITORIAL

Embora as estatísticas comprovem que os editoriais são pouco lidos,

a imprensa continua a mantê-los. O leitor inteira-se das notícias,

mas quer, também, meditar sobre os fatos a que elas se referem…

Mário L. Erbolato

“É o gênero jornalístico que expressa a opinião oficial daempresa diante dos fatos de maior repercussão no momento”.(MELO, 1994). Contudo, “nas sociedades capitalistas, o edito-rial reflete não exatamente a opinião dos seus proprietáriosnominais, mas o consenso das opiniões que emanam dos dife-rentes núcleos que participam da organização”: acionistas ma-joritários, financiadores, anunciantes e braços do aparelho bu-rocrático do Estado.

A quem se dirige, na realidade? Em tese, dirige-se à cole-tividade, constituindo-se num indicador de que o veículo pre-tende orientar a opinião pública. No Brasil, porém, os editoriais,

ARTIGO E

EDITORIAL

Capítulo 6

Page 57: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

57

Constante Ometto7

Luís Henrique Marques

Custou, mas encontrei. Ele estava em casa, no fundo doquintal, cuidando dos frangos. Aos 77 anos, aposentado há umbom tempo, aquele trabalho todo com as galinhas era para “se sen-tir útil”. Mas a verdade é que o “seo” Constante gosta daquele ser-viço. Afinal, nasceu na roça e lá se aprende a gostar dessas coisas.

E justamente o fato de ter vivido e trabalhado no campodurante a sua infância e juventude é que faz da história do músico(saxofonista e clarinetista) Constante Ometto, uma história única.

A simplicidade ao narrar episódios de sua vida pessoal,bem como enquanto músico das orquestras Continental e Cape-lozza, lembra um romance clássico. Talvez o fato de possuir umaforte fé religiosa (é membro da Igreja Adventista de Jaú) faz comque Constante veja a vida, mesmo as dificuldades do passado,como “um dom de Deus”. Por isso, seu discurso é sempre entre-meado de trechos bíblicos e alusões à fé.

Desde cedo, Constante demonstrara uma forte inclinaçãopara a música:“Vivia cantando, na roça, vivia cantando”. Apesar desua mãe ser contra (inconformada com o gosto musical do filho,certa vez, quebrara sua viola), Constante adorava fazer seresta.

Entretanto, a vida no sítio era dura. “Essa coisa de ter quedormir cedo para acordar de madrugada e ir para a roça dificul-tava a gente fazer seresta”. E como se não bastasse, “trabalhava-se muito e ganhava-se pouco”.

Diante dessa situação, adorar música e estar descontentecom que ganhava no campo, Constante, ainda contrariando a opi-

Perfil

7 Este texto corresponde ao 10º capítulo do trabalho “Jaú em ritmo de baile– Reconstituição jornalística da história das Orquestras Continental e Ca-pelozza de Jaú”, projeto experimental de final de curso no estilo “livro-re-portagem” apresentado tendo em vista a obtenção do título de bacharel emComunicação Social, habilitação em Jornalismo pela Universidade EstadualPaulista (Unesp), campus de Bauru, 2º semestre de 1991.

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nião de sua mãe, partiu para um investimento arrojado. Foi apren-der música para ganhar mais dinheiro. Seus “professores”: os ir-mãos Capelozza. Depois de estudar a teoria, optou pelo sax.Aprendeu também a tocar o clarinete, mas era do sax que gostava.

Para ele, a música, pelo menos no início, foi um empreen-dimento que deu certo. De fato, os seus rendimentos aumenta-ram muito desde que começou a tocar no cabaré da cidade.8 “Aminha vida melhorou bastante naquele tempo”.

E precisava realmente que melhorasse, uma vez que, nes-sa época, já estava casado. Constante casou cedo, porque antesde tudo desejava sentir-se livre das antigas pressões familiares,em especial da mãe que via o trabalho de músico com descrédi-to. Dona Aparecida, sua primeira e única namorada e esposa háquase 50 anos, ao contrário, apoiava e muito o trabalho no ca-baré. “Mas não havia problema em casa por tocar num lugar da-queles?”, insisto. “Não, não. Porque a gente ia lá para trabalhar,não para perder tempo com outras coisas”.

A esse propósito, não teve dúvidas. Participou de nossaconversa a dona Aparecida, esposa de Constante, que com suasimplicidade e espontaneidade, endossava cada palavra do ma-rido. E mais que isso: o já não tão jovem casal demonstrou atodo momento de nossa entrevista uma harmonia comovente.

Com vários problemas de saúde, entre eles o da audição,algumas vezes e de forma inocente, dona Aparecida desviava aconversa do assunto com seus comentários. Nesses momentos,Constante, com uma paciência incomum, dizia-me: “Ela não es-cuta direito, não entende sobre o que estamos conversando. Porisso, interrompe...” E procurava, com a mesma paciência, ouvi-la e ajudá-la a participar do assunto.

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

8 Na verdade, não se tratava de um cabaré propriamente dito, pelo menosnão do tipo que sabemos ter existido nas grandes cidades. Tratava-se dealgo recatado, que não feria muito a imagem da cidade tradicional do inte-rior de São Paulo.

43

1. O público presente à missa carismática, realizada ontem ànoite na USC, lotou o Teatro Universitário Veritas2. Padre Enedir Gonçalvez Moreira (na foto, carregando o osten-sório): “É entusiasmante ver a comunidade universitária unir-separa rezar”3. Missa carismática na USC: fé e dons do Espírito Santo

Ciência e Fé – membros da comunidade universitária deBauru participam de celebração carismática no Teatro Universi-tário Veritas, campus da Universidade do Sagrado Coração(USC). Nos últimos anos, professores, alunos e funcionários dasfaculdades e universidades de Bauru têm engrossado as fileirasda Renovação Carismática Católica, movimento predominante-mente leigo, cuja atuação ameaça a concorrência pentecostalpela conquista de fiéis.

Chamada, chapéu, título, olho, legenda e texto-legenda

Page 59: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

42

e) LEGENDADefinição: “Texto que identifica personagens e/ou cena

na foto jornalística” (ou ilustração, tabelas, gráficos, mapas, etc.,se necessário). (DIAS, 1994).

Formato: possui, normalmente, uma única linha, con-cluída sem ponto-final.

Sobre seu texto: pode apresentar indicativos que facilitemo leitor reconhecer cada uma das pessoas presentes na foto quenecessitem ser identificadas individualmente. Evitar ser óbvio,isto é, ser redundante, descrevendo na legenda o que se vê nafoto (exceção a cenas muito complexas). A informação contidana legenda deve estar presente no texto a que se refere a foto.Duas ou mais fotos podem possuir uma única legenda.

f) TEXTO-LEGENDADefinição: “texto curto e sempre editado com uma foto”.

(DIAS, 1994).Formato: tem, em média, 3 a 5 linhas (2 frases). Não pos-

sui parágrafo e, em geral, possui um título que reproduz umpormenor da notícia ou a sintetiza.

Exemplos de Legenda e Texto-legenda a partir da fotoabaixo:

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

59

Num dado momento, talvez entusiasmada com a minhavisita, ela perguntou-me se não gostaria de ouvir uma canção queeles costumam cantar na sua igreja. “Quando eu era moça, eutambém cantava bastante”, me diz. Constante resolveu acompa-nhá-la: “Se não, ela não consegue. Ela anda um pouco sem voz”.

Quando os Capelozza fundaram a Continental, convida-ram o amigo Constante para fazer parte da orquestra. Depoisque se mudaram para Marília, Ometto permaneceu na Conti-nental. Ao voltarem para Jaú, os Capelozza fundaram a LíderOrquestra. Novamente, em nome da antiga amizade, o saxofo-nista Constante saiu da Continental para acompanhar os Cape-lozza. Ali permaneceu até o fim de Capelozza e sua Orquestra.

Com o passar do tempo e com a chegada dos filhos (tive-ram um casal, 6 netos e até aqui 7 bisnetos), viver apenas de mú-sica deixou de ser um bom negócio. Ou pelo menos, deixou degarantir por si só o sustento da família. Assim, Constante passoua trabalhar na prefeitura, por onde acabou se aposentando.

Sobre as orquestras de Jaú, Constante não esconde asaudade que sente daquele tempo. Ele ressaltou sobretudo orespeito e prazer com que as pessoas se divertiam nos bailes ecomo as orquestras da cidade eram muito aplaudidas por ondese apresentavam.

Sentados na cozinha de sua casa, eu, Constante e Apare-cida, parecíamos velhos conhecidos, embora tivéssemos nosconhecido há pouco mais de uma hora. Ambos os meus entre-vistados demonstravam-se entusiasmados com a conversa e asua jovialidade me deixava de tal forma à vontade que não medei conta da notável diferença de gerações. A um certo mo-mento, Ometto perguntou-me como o havia encontrado. En-tão, contei-lhe como fizera. E ele me disse: “Estou contente quetenha se lembrado de mim”. Posso entender o porquê disso. Seo vissem andar pelas ruas de Jaú a pé ou no seu modesto fuscaverde petróleo, pouquíssimas pessoas hoje, lhe dariam o devi-do valor que merece.

Perfil

Page 60: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

41

Exemplos:

1. Exemplo de TÍTULO, CHAPÉU e OLHO:

ComportamentoAmor de perdição

Para psicanálise, a separação conjugal pode provocar per-da simbólica ou imaginária, dependendo de valores pessoais e de

quanto o parceiro era idealizado

2. Exemplo de TÍTULO, CHAPÉU e CHAMADA:

Menores na noiteJustiça aperta o cerco

O juiz Ubirajara Maintiguer, da Vara da Infância e Juven-tude, baixou em Bauru portaria que restringe a permanência demenores de idade em boates, bares, shows e festas. Eles só poderãocircular em danceterias, por exemplo, se estiverem acompanhadosdos pais ou responsáveis. O próprio juiz está comandando a fisca-lização. Páginas 21 e 22.

3. Exemplo de TÍTULO, CHAPÉU e “CHAMADA-LE-GENDA”:

ReligiãoOtimismo – Amado e perseguido, como diz o subtítulo

da biografia escrita pelas jornalistas Marilda Ferri e EvanizeSydow, Dom Paulo Evaristo Arns (foto) é, aos 77 anos, otimis-ta com o futuro do Brasil e defensor da organização popularcomo forma de melhorar o País. Para isso, ele acha, o povoprecisa ser animado e não bombardeado com críticas constan-tes. Página 14.

Chamada, chapéu, título, olho, legenda e texto-legenda

Page 61: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

40

c) TÍTULODefinição: é o anúncio da notícia, concentrado no fato de

que provavelmente mais despertará a atenção.Sobre a redação: “Como na boa propaganda, é proibido a

esse anúncio prometer mais que a matéria realmente contém ouafirmar algo que nela não existe”. (GARCIA, 1998). Tradicional-mente, o título de texto noticioso é construído a partir do lead ecostuma conter um verbo de ação (este, quando se refere ao pre-sente ou ao passado imediato, vai no presente). O uso de abre-viaturas deve se limitar a siglas e nomes bastante conhecidos dopúblico. Os títulos de reportagens e matérias leves (sobretudoem revistas) têm abolido o uso tradicional do verbo e restringin-do-se a expressões chamativas.

Sobre a manchete: “é o título do assunto principal de cadaedição. O assunto principal do dia deve merecer a manchete dojornal. O assunto principal de cada grupo de temas reunidosnuma só página deve merecer a manchete da página”. (FOLHADE S. PAULO, 1987).

d) OLHO (ou ABERTURA)Definição: “São títulos auxiliares ou pequenas frases

postas no meio do texto. Servem para tornar mais leve o aspec-to da página. Mas precisam também ser um foco para o inte-resse do leitor, destacando aspectos relevantes da matéria.”(GARCIA, 1998).

Sobre a redação: “deve ter entre três e cinco linhas. Admi-te o uso da vírgula, ponto-e-vírgula e dois pontos. Não pode terponto. Não admite a quebra de palavras. Quando estiver nasfunções de intertítulo, cada olho deve fazer referências a algumdos assuntos subseqüentes até o olho seguinte. É vedado o usosimultâneo de olhos e intertítulos ao longo de um mesmo tex-to”. (FOLHA DE S. PAULO, 1987).

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

61

Para Martins (1990), suíte é o desenvolvimento, nos diasseguintes, de uma notícia publicada pelo jornal. Indispensávellogo após a divulgação do fato, como seu desdobramento natu-ral ou mesmo provocado, deve, no entanto, ser suspensa quan-do não houver novas informações a respeito e os textos já esti-verem apenas repetindo os dados colhidos nos dias anteriores.

Nunca deixe o noticiário chegar a extremos como: “Nãohouve ontem nenhuma novidade sobre o caso X” ou “O caso Ycontinua na estaca zero.” Só se justifica matéria nestas circuns-tâncias se o que se pretende ressaltar é exatamente a omissão dealguém em relação ao fato.

A suíte deve sempre lembrar sumariamente de que casose está tratando e suas implicações, para permitir que mesmoquem não tenha lido as primeiras informações possa acompa-nhar a seqüência do noticiário.

SUÍTE

Capítulo 8

Page 62: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

39

a) CHAMADADefinição: “resumo de uma notícia, colocada na primeira

página, com indicativos sobre a sua localização no interior dojornal”. (HAJE, s/d).

Sobre a redação do texto: “A chamada precisa ao mesmotempo atrair a atenção do leitor para as páginas internas e cons-tituir informação completa em si. Valem para ela os princípiosque regem a redação de leads…”. (GARCIA, 1998).

“A chamada de primeira página deve ser escrita com fra-ses curtas, quase telegráficas, secas, substantivas. Deve transmi-tir ao leitor uma idéia de rapidez e concretude. Deve ser evita-do o excesso de expressões como ontem, que, segundo, afirmou,muito comuns nesse tipo de texto. Deve sempre remeter para apágina onde está o material a que ela se refere”. (FOLHA DE S.PAULO, 1987).

b) CHAPÉUDefinição: “é uma palavra, nome ou expressão, sempre su-

blinhada, usada acima do título, em corpo pequeno, para carac-terizar o assunto da notícia”. (FOLHA DE S. PAULO, 1987).

CHAMADA, CHAPÉU, TÍTULO, OLHO, LEGENDA

E TEXTO-LEGENDA

Capítulo 5

Page 63: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

38

Do ponto de vista da produção, podemos considerar re-portagens do tipo investigação, em que se parte de um fato pararevelar outros mais ou menos ocultados e, através deles, o perfilde uma situação de interesse jornalístico (como em Watergate, ouno levantamento do episódio de Mi Lai, na guerra do Vietname);do tipo interpretação, em que o conjunto de fatos é observado daperspectiva metodológica de uma dada ciência (as interpretaçõesmais freqüentes são sociológicas ou econômicas); e as que, inves-tindo justamente na revelação de uma práxis humana não teori-zada, busca apreender a essência do fenômeno aplicando técnicasliterárias na construção de situações e episódios narrados.

O jornalismo norte-americano tem a investigação em altaconta, o que se deve tanto a fatores históricos quanto à acumu-lação geral de conhecimentos no campo do processamento deinformações, para uso militar, técnico-científico e administrati-vo. Já a reportagem interpretativa, em sua forma quase pura, émais freqüente no jornalismo europeu, contemplando certa tra-dição humanística. Presentemente, a aplicação de técnicas literá-rias à reportagem, que não é em absoluto novidade, ganha umcerto status acadêmico, que se manifesta, no Brasil, pela recupe-ração de trabalhos como os de João do Rio (Paulo Barreto) noâmbito das faculdades de Letras.

Saiba que...Novo Jornalismo (ou New Journalism) é o nome dado ao

movimento de modificação no estilo de escrever reportagens degrande fôlego ocorrido no início da década de 60 nos EstadosUnidos e com repercussões em todo o jornalismo ocidental. Ostextos do Novo Jornalismo combinam levantamento de fatos emuita pesquisa. A técnica de construção do texto remete para agrande novela realista (construção cena por cena, diálogo, pon-tos de vista e detalhes importantes, entre outros elementos cons-titutivos). (FOLHA DE S. PAULO, 1987).

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

63

DECLARAÇÕES

De acordo com Folha de S. Paulo (1987), transcrições li-terais de trechos de livros ou artigos, frases de autores ou perso-nalidades devem ser reproduzidas sempre entre aspas. O jorna-lista deve nomear sempre o autor e o local de onde o trecho foitranscrito. As transcrições não devem ultrapassar cinco linhas desetenta toques. Quando não houver certeza da literalidade deuma transcrição, não usar aspas.

É necessário reproduzir exatamente o que se ouviu, pala-vra por palavra, ou se trata de informação (cuja fonte será clara-mente identificada) que pode ser parafraseada sem perda desubstância? O bom senso de cada um dará as respostas; mas é re-comendável considerar aspas e travessão instrumentos a seremusados parcimoniosamente (de maneira econômica), para defi-nir e valorizar a informação.

Atenção para erro freqüente: mudar a oração pelo uso deaspas. Exemplo: O deputado disse (terceira pessoa) que “não

ENTREVISTA E

DECLARAÇÕES

Capítulo 9

Page 64: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

64

aceito (primeira pessoa) integrar a comissão”. Certo: O deputa-do disse: - Não aceito integrar a comissão.”

Em declarações longas, a referência ao autor deve estar:1. Antes das aspas ou do travessão, ou2. No primeiro ponto em que seja possível interromper a

transcrição.A identificação (preferencialmente) não deve ser deixada

para o fim do período (porque a atenção do leitor pode nãochegar até lá).

Se diversas pessoas expressam a mesma opinião, não cabeo uso de aspas – a não ser que elas tenham falado em coro. Oque, convenhamos, é muito raro.

Ao reproduzir a frase de alguém que gritou, bradou, es-bravejou, vociferou, é indispensável o ponto de exclamação.

O jornal não pode reproduzir passivamente erros de por-tuguês e agressões evidentes à lógica ou aos fatos. Quando al-guém fala errado, deve-se corrigir no texto, exceto se houvermotivo para manter o erro – e então é sempre preciso apontá-loao leitor.

Segundo Garcia (1998), há os mais freqüentes verbos usa-dos em declarações:

1. Dizer: está sempre certo; é melhor abusar dele do queusar outro verbo inadequadamente.

2. Acentuar, destacar: isolam um fato ou argumento paramostrar sua importância.

3. Acreditar: verbo perigoso, porque o jornalista não en-tra na cabeça das pessoas para ter certeza se elas acreditam mes-mo ou apenas dizem que acreditam.

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

37

Especificamente sobre esse último item, é preciso levarem consideração o “contexto” da reportagem. Segundo Folhade S. Paulo (1987), quando o leitor lê uma reportagem a res-peito de uma determinada cidade, não está obrigado a saberonde ela se localiza, quantos habitantes tem, quais suas princi-pais atividades econômicas, etc. Ao ler sobre a morte de umaatriz, não está obrigado a saber que filmes estrelou, se haviaabandonado a carreira há poucos anos, etc. O jornal deve in-formar ao leitor sobre o contexto em que os fatos se desenvol-vem. A contextualização pode ser feita no interior do própriotexto principal ou à parte, em box.

Texto complementarO gênero reportagem3

Como estilo de texto (não como departamento das reda-ções), a reportagem é difícil de definir. Compreende desde asimples complementação de uma notícia – uma expansão quesitua o fato em suas relações mais óbvias com outros fatos ante-cedentes, conseqüentes ou correlatos – até o ensaio capaz de re-velar, a partir da prática histórica, conteúdos de interesse perma-nente, como acontece com o relato da campanha de Canudospor Euclides da Cunha.

Na prática contemporânea do jornalismo impresso, existea tendência de transformar em reportagem (sobre a construçãonaval, as vias navegáveis, a indústria pesada) cada fato programa-do (o lançamento de um novo cargueiro). Mesmo um fato ines-perado (um desabamento) pode ser complementado eficiente-mente por uma reportagem (sobre as mazelas da construção ci-vil), à medida que a indústria jornalística desenvolve técnicas eprocessos bastante rápidos para coleta e processamento de dados.

3 LAGE, Nilson. Ideologia e técnica da notícia. Petrópolis: Vozes, 1979. p. 83.

Notícia e Reportagem

Page 65: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

36

ráter denunciante. Mas, na maioria dos casos, apoiada em dadosque lhe conferem fundamentação, adquire cunho pedagógico ese pronuncia a respeito do tema em questão.

Com o intuito de produzir um bom texto, cabe levarmosem conta algumas dicas:

1. “A maior dificuldade é dividir o texto em capítulos (nojargão das redações, retrancas ou sub-retrancas) sem perda deunidade. Cada parte precisa ter vida própria, mas é defeito gra-ve repetir dados que já aparecem em outras; em cada retranca,bastam referências abreviadas a tudo o que já foi abordado emdetalhe nas outras”.

2. “A reportagem é muitas vezes uma história: fatos que sesucederam até um desenlace. Nesse caso, uma retranca,2 possi-velmente a mais importante em seguida ao lead, será dedicada àreconstituição cronológica. Outras retrancas serão reservadaspara explicações, análises, conseqüências e, principalmente, parahistórias dos personagens do episódio”. (GARCIA, 1998).

3. “Mesmo que a reportagem seja sobre assunto já conhe-cido, procure iniciar o texto com algum fato novo ou que tenhapassado despercebido”.

4. “Se sua reportagem tiver começo, meio e fim, será mui-to maior a possibilidade de que o leitor consiga acompanhá-lasem esforço e sem largá-la no meio”.

5. “Ordene os fatos. Eles são muitos numa reportagem e,por isso, deverão ser agrupados em blocos que guardem relaçãoentre si”.

6. “Informações de ambiente, quando relacionadas comos fatos descritos na reportagem, contribuem para enriquecê-lae torná-la mais viva e completa”. (MARTINS, 1990).

2 O sentido original da expressão “retranca” é “a identificação, feita através denúmeros e letras, que permite localizar a unidade de texto no diagrama deuma página” (FOLHA DE S. PAULO, 1987). Aqui, a palavra está sendousada no sentido de “capítulo”, “parte” de uma reportagem.

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

65

4. Admitir: tem sentido de confessar, revelar com relutân-cia, a contragosto; é importante saber se o entrevistado admitiuespontaneamente ou em resposta a uma pergunta.

5. Advertir: tem muitos significados, como censurar,chamar a atenção, notar, prevenir etc. Convém evitá-lo, para fu-gir à ambigüidade.

6. Aduzir: não significa acrescentar, mas expor, apresentar,trazer (um argumento, um documento). Não é de uso corrente.

7. Afirmar: sugere opinião, tomada de posição; declarar éum afirmar mais solene.

8. Ameaçar: não é, como alguns pensam, prometer dra-maticamente; a ameaça envolve necessariamente uma ação con-tra alguém.

9. Argumentar: tentar, convencer; alegar é argumentarcom intenção de defesa.

10. Confessar: ninguém confessa o que lhe é favorável.11. Confirmar: não deve ser confundido com repetir; se A

disse novamente que B é ladrão, ele está repetindo a acusação,não confirmando.

12. Desabafar: usa-se demais esse verbo, que presume sin-ceridade e só merece aparecer quando alguém realmente soltauma mágoa, reprimida, não quando simplesmente reclama dealguma coisa.

13. Desmentir: sugere que aquilo que está sendo desmen-tido é mesmo mentira. Quase sempre o verbo mais adequado,porque mais isento, é contestar.

14. Disparar: também usado excessivamente; significa co-mentar de forma incisiva, cortante.

15. Garantir dar certeza absoluta, assegurar sob palavra.Garante-se algo que é ou está; se a referência é a algo que vai ser,o verbo adequado é prometer.

16. Informar: relatar fatos. Diferente de comentar (opinarsobre os fatos).

Entrevista e Declarações

Page 66: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

66

17. Lembrar: só pode ser usado quando há referência afato passado e já conhecido.

18. Falar: expressar-se por meio de palavras, discorrer sobredeterminado assunto, orar (discursar), pregar, anunciar e ensinar,além de outros 22 significados, segundo o Aurélio. As pessoas fa-lam francês, português, inglês ou tupi. Alguém fala a fulano. Oufala (discursa) pura e simplesmente. Mas é mau estilo o “fala que”.

19. Revelar: perigoso, porque ao usá-lo, o jornal está coo-nestando (fazendo parecer honesta) afirmação de responsabili-dade alheia.

ENTREVISTA (ESTILO “PINGUE-PONGUE”)

Definição: “é o diálogo entre o jornalista e o personagemda notícia”.

Finalidade e orientações: Conforme Folha de S.Paulo(1987), a finalidade de uma entrevista é permitir que o leitorconheça opiniões, idéias, pensamentos e observações do perso-nagem entrevistado, não as do entrevistador. As perguntas de-vem ser breves e diretas e não devem conter uma resposta im-plícita, mas podem conter uma hipótese. Entrevista não épress-release. Sem polemizar com o entrevistado, o jornalistadeve identificar contradições, mencionar pontos de vista opos-tos aos do interlocutor, levantar objeções etc.

O editor, de comum acordo com a Secretaria de Redação,decide quando será editada uma entrevista com perguntas e res-postas. A regra geral é que as entrevistas devem ser redigidas emdiscurso indireto.

O estilo pingue-pongue (perguntas e respostas em se-qüência) é a fórmula que garante maior fidelidade ao pensa-

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

35

Segundo Sodré (1986), podemos classificar a reportagemem:

1. Reportagem de fatos: trata-se do relato objetivo deacontecimentos, que obedece na redação à forma da pirâmideinvertida.1 Como na notícia, os fatos são narrados em sucessão,por ordem de importância.

2. Reportagem de ação: é o relato mais ou menos movi-mentado, que começa sempre pelo fato mais atraente, para irdescendo aos poucos na exposição dos detalhes. O importante,nessa reportagem, é o desenrolar dos acontecimentos de manei-ra anunciante, próxima do leitor, que fica envolvido com a vi-sualização das cenas, como num filme.

3. Reportagem documental: é o relato documentado queapresenta os elementos de maneira objetiva, acompanhados decitações que complementam e esclarecem o assunto tratado. Co-mum no jornalismo escrito, esse modelo é mais habitual nos do-cumentários da televisão ou do cinema. A reportagem docu-mental é expositiva e aproxima-se da pesquisa. Às vezes, tem ca-

1 A expressão “pirâmide invertida” refere-se a uma das técnicas para a apre-sentação das matérias, conforme classificação proposta por Mário L.Erbolato (1991):

a) Pirâmide invertida: 1. entrada ou fatos culminantes; 2. fatos importantesligados à entrada; 3. pormenores interessantes; 4. detalhes dispensáveis.Segundo a Folha de S. Paulo (1987), “essa técnica foi formulada para servir àsagências de notícias. Assim, as notícias podiam ser transmitidas a diversos jor-nais diferentes, que as utilizavam conforme suas necessidades, cortando pelopé os textos na altura que desejassem, sem que as informações essenciais deix-assem de ser publicadas. Acabou por servir ao leitor, que também pode realizara mesma operação de corte. Lido o primeiro parágrafo, o leitor já está infor-mado do que há de mais importante e pode dispensar o resto, se desejar. É atécnica de redação jornalística mais disseminada no mundo ocidental”.

b) Forma literária (ou pirâmide normal): 1. detalhes da introdução; 2. fatosde crescente importância (visando a criar suspense); 3. fatos culminantes;4. desenlace.

c) Sistema misto: 1. fatos culminantes (entrada); 2. narração em ordemcronológica.

Notícia e Reportagem

Page 67: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

34

d) apelo (quanto maior a curiosidade pública que a notí-cia possa motivar, tanto mais importante ela é).

Comparando Notícia e Reportagem, temos que:

A reportagem pode ser considerada a própria essência de um

jornal e difere da notícia, pelo conteúdo, extensão e profundidade.

A notícia, de um modo geral, descreve o fato e, no máximo, seus

efeitos e conseqüências. A reportagem busca mais: partindo da pró-

pria notícia, desenvolve uma seqüência investigativa que não cabe à

notícia. Assim, apura não somente as origens do fato, mas suas ra-

zões e efeitos. Abre o debate sobre o acontecimento, desdobra-o em

seus aspectos mais importantes e divide-o, quando se justifica, em

retrancas diferentes que poderão ser agrupadas em uma ou mais pá-

ginas. A notícia não esgota o fato; a reportagem pretende fazê-lo. Na

maior parte dos casos, a reportagem decorre de uma pauta que a

chefia encaminha ao repórter, mas é comum o próprio repórter es-

colher um assunto e sugeri-lo aos superiores. (MARTINS, 1990).

A notícia muda de caráter quando demanda uma reportagem.

A reportagem mostra como e por que uma determinada notícia

entrou para a história. Desdobra-se, pormenoriza e dá amplo rela-

to aos fatos principais e também aos fatos subjacentes da notícia.

Quando a notícia salta de uma simples nota para uma reportagem,

é preciso ir além, detalhar, questionar causas e efeitos, interpretar,

causar impacto.

A reportagem é uma notícia, mas não uma notícia qualquer. É

uma notícia avançada na medida em que sua importância é projeta-

da em múltiplas versões, ângulos e indagações. Ao valorizar a notícia,

a reportagem revitaliza o estilo jornalístico, soltando um pouco as

amarras da padronização. Uma boa reportagem não deve abrir mão

de pesquisa, sob pena de alterar o espírito de investigação, curiosida-

de, desafio e surpresa, que estão acima de tudo”. (VILAS BOAS, 1996).

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

67

mento do entrevistado e maior facilidade de leitura. Deve serusado em todas as entrevistas longas – e mesmo, quando possí-vel, em curtas.

Para Garcia (1998), a abertura não é parte da entrevista pin-gue-pongue, e sim uma introdução, que, exceto por breve sumárioou referência à declaração mais importante, dedica-se à pessoa doentrevistado e a circunstâncias da entrevista e do momento em quefoi feita. Se abertura e entrevista são preparadas por recursos grá-ficos, a primeira não deve terminar com dois-pontos.

Exemplo de abertura de entrevista “pingue-pongue”:

A melhoria das condições de vida da população está nasmãos do próprio brasileiro. Essa é a opinião do arcebispo emé-rito Dom Paulo Evaristo Arns, 77 anos. Ele esteve em Bauru nolançamento do livro “Dom Paulo Evaristo Arns: um homemamado e perseguido”, escrito por Evanize Sydow e Marilda Fer-ri. Arcebispo de São Paulo durante 28 anos, defensor dos direi-tos humanos e árduo combatente da opressão durante a ditadu-ra militar, dom Paulo adota atualmente uma postura mais con-tida. A seguir, a entrevista concedida à imprensa.

Exemplo de entrevista pingue-pongue:

Universidade sedia treinamento para pesquisa do Regio-nal Sul-1 da CNBB9

No final de outubro, a USC recebeu representantes de di-versas dioceses do interior do Estado de S. Paulo para participarde treinamento tendo em vista a aplicação de uma pesquisa pa-

Entrevista e Declarações

9 Entrevista publicada na edição de dezembro de 1999, página 2, do InformeAcadêmico, órgão informativo da Universidade do Sagrado Coração.

Page 68: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

68

trocinada pelo CERIS (Centro de Estatística Religiosa e Investi-gações Sociais), com Sede no Rio de Janeiro (RJ), e o Setor deComunicação Social do Regional Sul-1 da CNBB (ConferênciaNacional dos Bispos do Brasil). Pela Diocese de Bauru, partici-param a Irmã Rosária Lopes do Carmo Lorentti (Pró-ReitoraComunitária da USC) e o radialista Sérgio Purini. Confira, a se-guir, a entrevista que a reportagem do Informe fez com LúciaPedrosa, representante do CERIS que coordenou o treinamentona USC, sobre esse trabalho:

Informe: Em linhas gerais, qual a razão desse encontroaqui na USC?

Lúcia Pedrosa: O CERIS está realizando a pesquisa que sechama “A presença da Igreja Católica do Regional Sul-1 nosmeios de comunicação social”. É uma pesquisa realizada em par-ceria com o Setor de Comunicação do Regional Sul-1 que abran-ge, praticamente, o Estado de S. Paulo. Estamos aqui para reali-zar um treinamento de preparação para o início desse trabalho.

Informe: Quem está participando desse treinamento?

Pedrosa: Este treinamento é direcionado aos entrevista-dores que são aquelas pessoas que, em cada paróquia, em cadadiocese, vão poder passar um “pente fino” da presença da Igrejanos meios de comunicação pela proximidade, pelo conhecimen-to. Então, é muito importante – para que essa pesquisa seja leva-da a contento até a sua terceira etapa – que, de preferência, to-das as dioceses que compõem o Regional Sul-1 possam partici-par, trazendo seus representantes para esse tipo de treinamento.

Informe: Qual a abrangência dessa pesquisa?

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

33

UMA DEFINIÇÃO

Notícia – É a informação que se reveste de interesse jor-nalístico; puro registro dos fatos, sem comentário nem interpre-tação. A exatidão é seu elemento-chave. Mas vários fatos, descri-tos com exatidão, podem ser justapostos de maneira tendencio-sa. Suprimir uma informação ou inseri-la pode alterar o signifi-cado da notícia. (...) A definição do interesse jornalístico depen-de de critérios flexíveis que variam em função do tempo, lugar,tipo de publicação etc. (FOLHA DE S. PAULO, 1987).

Estes são os critérios elementares para a definição da im-portância de uma notícia, segundo o Manual da Folha de S.Paulo (1987):

a) ineditismo (a notícia inédita é mais importante que ajá publicada);

b) improbabilidade (a notícia menos provável é mais im-portante que a esperada);

c) impacto (quanto mais pessoas cuja existência concretapossa ser afetada pela notícia, tanto mais importante ela é);

NOTÍCIA E

REPORTAGEM

Capítulo 4

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Sobre o Livro

Formato 14x21 cm

Tipologia Minion (texto)

Helvética Light (títulos)

Papel

Cartão Supremo 250g/m2 (capa)

Impressão Sob demanda

Acabamento Costurado e colado

Tiragem 1.000

Equipe de Realização

Coordenação Executiva Luzia Bianchi

Produção Gráfica Renato Valderramas

Edição de Texto Renata Vieira e Villas Bôas

Assistentes de Edição de Texto Beatriz Rodrigues de Lima

Fernanda Godoy Tarcinalli

Valéria Biondo

Revisão Angela Lemes de Moraes

Glória Maria Palma

Projeto Gráfico Equipe EDUSC

Criação da Capa Tatiana Peres

Catalogação Eliane de Jesus Charret

Diagramação Carolina de Freitas Roveda

Impressão e Acabamento

Gráfica Bandeirantes S/A

69

Pedrosa: A pesquisa vai abranger os seguintes meios decomunicação: a imprensa, a rádio, a televisão e os sites da inter-net. Vai haver um levantamento de toda a imprensa utilizadapela Igreja Católica no Estado de S. Paulo. Na questão das rádiose da televisão, haverá um levantamento dos meios que são utili-zados e também a análise da programação e da audiência.

Informe: O que se pretende após esses levantamentos?

Pedrosa: Bem, essa pesquisa será realizada para ajudar aPastoral da Comunicação e o Setor de Comunicação do Regio-nal Sul-1 a conhecer e utilizar de maneira mais eficiente, maisadequada esses meios. Então, essa pesquisa tem 3 etapas: a pri-meira para conhecer; a segunda para avaliar e a terceira, traçaras estratégias de comunicação a partir de dados mais concretose um conhecimento mais amplo da sua rede de comunicação.

Informe: Como será feito o trabalho da primeira etapaem que ocorrem o levantamento de dados?

Pedrosa: Na primeira etapa, os entrevistadores têm comoinstrumento de trabalho um questionário. De posse desse ques-tionário e também dos cadastrados que conseguimos junto àRede Católica de Imprensa (RCI) e dos cadastrados de rádio etelevisão do Estado de S. Paulo, os entrevistadores deverão en-trar em contato com esses veículos (por telefone e depois, pes-soalmente, através de entrevistas) para atualizar os dados cadas-trados. Para esse trabalho, os entrevistados vão se servir tambémdas informações obtidas junto aos párocos e conselhos de pasto-ral das paróquias. (LHM).

Entrevista e Declarações

Reciclato 70g/m2 (miolo)

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102

MARQUES, L. H. Bug, o fim do mundo e o imaginário popular.Folha Popular, Lençóis Paulista, p. 2, 08 jan. 2000, e Jornal da Ci-dade, Bauru, p. 2, 10 jan. 2000.

_______. Constante Ometto. In: Jaú em ritmo de baile: reconsti-tuição jornalística da história das Orquestras Continental e Ca-pelozza de Jaú. Bauru: projeto experimental do curso de Jorna-lismo da Unesp, 1991. Mimeografado.

_______. Universidade sedia treinamento para pesquisa do Re-gional Sul-1 da CNBB. Informe Acadêmico, USC, Bauru, p. 2,dez. 1988.

MARTINS, E. O Estado de São Paulo: manual de redação e esti-lo. São Paulo: O Estado de São Paulo, 1990.

MEDINA, C. Notícia, um produto à venda: jornalismo na socie-dade urbana e industrial. 2. ed. São Paulo: Summus, 1988. (No-vas Buscas em Comunicação).

MELO, J. M. A opinião no jornalismo brasileiro. 2. ed. revisada.Petrópolis: Vozes, 1994.

NEOTTI, C. (Coord.). Comunicação e Ideologia. São Paulo: Lo-yola, 1980.

SODRÉ, M.; FERRARI, M. H. Técnicas de reportagem: notas so-bre a narrativa jornalística. São Paulo: Summus, 1986.

VILAS BOAS, S. O Estilo Magazine: o texto em revista. São Pau-lo: Atlas, 1991. (Novas Buscas em Comunicação).

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

71

Definição: é a informação escrita que as assessorias deimprensa, de órgãos públicos ou privados, enviam às redaçõesou fornecem a jornalistas.

De acordo com Lima (1985), a função primordial do re-lease – e de seu irmão mais gordo, o press-book – não é a de serpublicada como matéria acabada, mas de provocar a notícia. Sena pequena imprensa do interior e nos jornais de bairros, o pro-duto pronto para o consumo facilita o trabalho de equipes inci-pientes – e até o substitui – na grande imprensa ele recebe novaembalagem ou apenas dá o pontapé inicial da grande jogada. Oideal é que um mesmo press-release seja reescrito para divulga-ção em órgãos de natureza diferente (impresso, rádio e TV) ousejam produzidos releases específicos para órgãos de imprensaigualmente específicos.

Estrutura:1. Quanto ao título: segue as mesmas regras de uma notí-

cia ou reportagem, isto é, deve chamar a atenção do leitor; tra-zer o mais importante do lead; conter, de preferência, um verbo

PRESS-RELEASE

(OU RELEASE)

Capítulo 10

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e este, o quanto possível, de ação; e o tempo verbal deve ser, pre-ferencialmente, o do presente simples (histórico).

Há também o problema do nome da empresa no título.Deve ou não deve ser colocado? Bem, o critério aqui é o mesmoutilizado por qualquer titulador de jornal. Se o nome da empre-sa se constituir em notícia evidentemente poderá ser incluído notítulo; caso contrário, será mera publicidade institucional.

2. Quanto ao texto:a) não deve ser demasiado longo (“por causa dos proble-

mas de espaço que normalmente se fazem sentir nas redações”);b) os parágrafos devem ter entre quatro a sete linhas. Isso

assegura um padrão visual de texto quando estampado no jor-nal ao mesmo tempo que facilita a leitura, tornando os parágra-fos de acessível assimilação pelo leitor.

c) é indicado que em cada parágrafo apareçam pelo me-nos dois pontos finais (ou seja, duas orações completas), paraque o período não fique muito longo. A redação deve ser simplese clara, com frases curtas e uso de palavras não muito longas ede uso corrente.

d) é aconselhável o uso de intertítulos para não só facili-tar a leitura, mas permitir a identificação do texto como mate-rial jornalístico, evitando, assim, ser confundido com uma car-ta-ofício, por exemplo.

3. Quanto ao conteúdo:a) deve ser estritamente informativo, só trazendo opi-

niões quando essas forem colocadas na boca de alguém;b) deve ser redigido do mais para o menos importante,

dando-se ênfase ao lead que é formado por um gancho (o pon-to mais importante do texto que vai pendurar o leitor) acresci-do das respostas às seis perguntas clássicas (do jornalismo).

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

101

BERTRAND, C. A deontologia das mídias. Bauru: EDUSC, 1999.

CASTRO, A. Redação jornalística de bico. Curitiba: Ed. Universi-tária Champagnat e São Paulo: IBRASA, 1991.

ERBOLATO, M. Jornalismo especializado: emissão de textos nojornalismo impresso. São Paulo: Atlas, 1981.

_______. Técnicas de codificação do jornalismo: redação, capta-ção e edição no jornal diário. São Paulo: Ática, 1991.

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_______. Linguagem jornalística. 2. ed. São Paulo: Ática, 1986.

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BIBLIOGRAFIA

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100

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

15 Adaptado do texto do CIMPEC – Centro Interamericano para la Produc-ción de Material Educativo y Científico para la Prensa. Extraído do livroJornalismo especializado: emissão de textos no jornalismo impresso, de Má-rio L. Erbolato, Vozes, página 45.

Saiba que…

enquanto o cientista

É um redator ocasional…

Escreve apenas quando necessário epode ficar muito tempo sem redigir…

Tem um estilo polido, fiel, capricha-do, embora alguns não o entendam…

Não aceita limites para a extensão, or-ganização, apresentação e estilo de seustrabalhos…

Especializa-se em uma ciência e àsvezes apenas em uma parte dela e temescassos conhecimentos sobre comu-nicação,…

Tende ao tecnicismo, o que pode tor-nar obscuro seu trabalho,…

Tem a ciência como o seu trabalho…

É exato e rigoroso…

Pode ser vítima de pressões…

Possui como virtudes o rigor e a pro-fundidade…

Pode se tornar um especialista mes-quinho, sábio, inculto, rotineiro, frutode uma formação incompleta e desu-manizada…

o jornalista

…é um redator permanente.

…tem o exercício da escrita comoseu trabalho de todos os dias.

…redige com facilidade e quer que to-dos o compreendam.

…deve seguir determinados estilos eadaptar-se às normas do jornal que lheindica, inclusive, o espaço que dispõe.

…não é especializado em ciências, masdomina as técnicas da comunicação.

…interessa-lhe sobretudo a clareza eo entendimento do que escreve.

…vê a ciência como notícia.

…é descritivo e ameno.

…pode ser vítima da falsa ciência.

…possui como virtudes a rapidez e averdade.

…pode se tonar um desavergonha-do, despreocupado com a sua socie-dade e que se deixa levar pelo opor-tunismo e pela ignorância.15

73

4. Quanto aos tipos (uma classificação):Release para colunismo social – evidencia pessoas e seus

cargos, embora não deve-se esquecer de que são muitas as vezesem que o centro das atenções é a organização, principalmentenos casos de inaugurações, aniversários, lançamentos etc. É ela-borado sobretudo segundo o estilo texto-legenda. Costumaapresentar muitos adjetivos, advérbios e palavras de alto grau deconotação, diminutivos afetivos, superlativos afetados, além deestrangeirismos e abreviações do tipo champã (campanha); su(sucesso) e niver (aniversário).

Release-convite – é um mini-release, muito mais umconvite do que um texto jornalístico, apesar de trazer informa-ções que podem ser transformadas em matéria. Geralmente,esses press-releases acompanham um programa oficial do even-to que também serve de material informativo. Releases dessetipo dificilmente apresentam título ou textos que ultrapassema dois parágrafos.

Release cobertura – pode ser chamado de release-antece-dência. Isso porque o press-release de cobertura de um eventotem que ser feito antes que o fato aconteça, a não ser, é claro,que o encarregado de redigi-lo faça-o logo após a consecuçãoda notícia.

Há outros tipos de classificações como release-brinde, re-lease-depoimento, release-cortesia, etc. cujo estilo confunde-semuito com materiais de Relações Públicas e de Propaganda ePublicidade.

Press-Release (ou Release)

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74

Exemplo de press-release padrão:

USC e Conservatório Pio XII realizam sarau músico-literário

Uma homenagem aos 250 anos do escritor alemão Jo-han Wolfgang von Goethe através da música e da literatura ro-mântica. Este é o objetivo do sarau músico-literário intitulado“Goethe e os Românticos”, programado pelo Departamento deLetras e Artes da Universidade do Sagrado Coração (USC) eConservatório Musical Pio XII para o próximo dia 22 destemês, a partir das 20 horas, no Teatro Universitário Veritas(TUV). Aberto ao público em geral, o evento tem entradafranca. Patrocinam o sarau Costa Mundi Turismo e DoceriaViena, de Bauru.

A iniciativa, coordenada pelos professores Ms. ÉlidaMaria da Fonseca Costa Farias, Antonio Walter Ribeiro de Bar-ros Júnior e Dra. Rosa Maria Tolón, reunirá alunos do curso deTradutor da USC e do Pio XII que apresentarão poemas e mú-sicas inspiradas na obra de Goethe e de autores românticos. Ospoemas são de autores brasileiros e portugueses do Romantis-mo cuja obra mantém relação com as idéias de Goethe, enquan-to as canções são de Beethoven, Brahmams, Schumann e Schu-bert. Destaque para a participação dos intérpretes Danilo Stola-gli e Edna Manfio Tardarelli.

Release enviado à imprensa de Bauru no dia 18/10/99Jornalista: Luís Henrique Marques

Assessoria de Comunicação da Universidade do SagradoCoração (USC)

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

99

O jornalista encarregado de dirigir seções científicas pre-cisará perseguir os princípios:

1. ser desejoso de compreender e conhecer;2. discutir e perguntar sobre todas as coisas;3. procurar informações e seu significado;4. pedir a comprovação de qualquer postulado;5. respeitar a lógica;6. considerar sempre as premissas;7. avaliar as conseqüências.

O texto em algumas editorias específicas: considerações gerais

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98

pre há a opinião breve do colunista, que se arrisca a elogiar ou acriticar algum empreendimento”.

A crônica social é responsável ainda pelo surgimento demuitos neologismos (criação de frases ou palavras novas ou usode palavras em português ou inglês com um sentido novo).Exemplos: “circular” pela cidade; “troca de alianças”; “figurinhabadalada”; “par constante”; “belle époque”; “colocando aliançasna mão esquerda”; “avant-première”, “charme”, “drincar”, etc.

JORNALISMO CIENTÍFICO

“A divulgação científica não deve fugir às normas geraisda redação e necessita apresentar clareza, eliminando sempreque possível a aridez do assunto, com a inclusão de um toque dehumor e graça. Os jornais precisam explicar, interpretar e infor-mar o máximo possível sobre as descobertas e orientações cien-tíficas, ainda que muitas delas já sejam rudimentarmente do co-nhecimento geral, porque ‘os meios de comunicação coletivaconstituem hoje a única escola popular e permanente’, segundoacentuou Gonzalo Cordova G., ex-diretor do Ciespal”.

“A ciência, diz David Warren Burkett (em Como escreverciência para o público), caiu no domínio público. Há milhares deanos, o homem procura compreender o universo que o rodeia ese, hoje, um editor ainda acreditar que a ciência só aos especia-listas interessa estará fora do seu tempo e enganando-se a si mes-mo. O relato apresentado ao público deverá ser o de nível popu-lar, entre o elementar e o especializado”.

“Diariamente o jornalista enfrenta problemas científicos,esclarecidos ou em fase de pesquisa, cumprindo-lhe porémmostrar o que de útil pode ser feito em favor dos leitores”. O jor-nalista, ao redigir a matéria, não só estará divulgando e infor-mando, mas especialmente indicando os cuidados que a popu-lação deve ter, para não adquirir, por exemplo, uma doença.

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

75

A combinação de fotografia, diagramação e texto de umarevista revelam uma produção bem mais artística quanto aos as-pectos de programação visual. Isso lhe confere um apelo bemmaior, isto é, a revista é um produto visualmente bem mais se-dutor que o jornal, até porque, ao permanecer mais tempo nabanca, precisa ser mais cativante que o diário. A própria capapossui atrativos de uma embalagem.

Enquanto que para os jornais diários (mais precisamente,de segunda a sábado) o que importa é o factual, as revistas (e aexemplo destas, os jornais aos domingos, especialmente seus su-plementos) são determinados pelo estilo de texto e pela exigên-cia de maior “interpretação” dos fatos (seleção crítica de dados esua transformação em matéria). Nesse caso, há um claro desdo-bramento das notícias em reportagens (que são a alma da revis-ta). É evidente, portanto, que “a periodicidade de uma revista édeterminante para o estilo de texto”. (VILAS BOAS, 1996).

Nota: “Enquanto estilo, os cadernos de cultura os as cha-mas segundas-seções (dos jornais diários) costumam conciliar a

PECULIARIDADES DO TEXTO

JORNALÍSTICO PARA REVISTA(E ALGUMAS ANÁLISES COMPARATIVAS ENTRE

OS TEXTOS PARA JORNAL E REVISTA)

Capítulo 11

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técnica jornalística com a crítica, analisando ao mesmo tempoa obra e o fato ou acontecimento gerado por ela. As revistas,para se distinguirem, acrescentam ao texto noticioso um con-teúdo complementar ou uma angulação ainda mais específica”.(VILAS BOAS, 1996).

De modo a contribuir para cobrir o vazio deixado pelainformação puramente episódica, seca e objetiva do jornalismodiário, a revista lança mão da documentação para medir os por-quês do fato.

Sobre o texto interpretativo, é preciso considerar que estenão deve conter a “palavra final”, permitindo que o próprio lei-tor interprete. Isso implica, primeiro, segundo Vilas Boas (1996),puxar o cordão dos fatos, desamarrar o fio dos eventos, oferecerdiferentes ângulos de visão da situação, complementando comhistóricos, depoimentos, dados estatísticos, documentário foto-gráfico, enquadramentos ideológicos e prognósticos. Para LuizBeltrão (apud VILAS BOAS, 1996):

… no jornalismo interpretativo, os critérios de valoração específi-

cos, que levam a identificar o objeto de maior importância (da re-

portagem), podem ser adotados com base numa escala de valores.

Primeiramente, o valor absoluto, aquele que a notícia tem por si

mesma. Em segundo lugar, o valor intrinsecamente relativo é obti-

do por um detalhe, um matiz que dá um relevo inesperado à notí-

cia. Por último, o valor extrinsecamente relativo. Este depende das

circunstâncias para se obter um número maior ou menor de leito-

res para os quais a notícia é fundamental.

Aliado a isso, é preciso considerar ainda o número e aqualidade das pessoas envolvidas com o fato que originou areportagem.

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

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“A Seção Política de qualquer jornal pode abordar temasque, à primeira vista, parecem não ter qualquer relação com essaEditoria. Porém, considera-se política ‘a direção dos negócios pú-blicos’, ‘a arte de governar os povos’ ou ‘o conjunto de planos deação’. A transferência da capital de um Estado, a construção de viasde acesso a bairros e a designação de um embaixador podem me-recer ou exigir que esses assuntos sejam interpretados sob o pris-ma político. O repórter e o redator têm obrigação de conhecer aConstituição Federal e as Estaduais, que sejam de interesse para onoticiário, bem como as Leis Orgânicas dos Municípios e toda a le-gislação da Prefeitura da cidade em que exercem sua profissão”.

“A cobertura referente aos assuntos municipais permitepraticamente pesquisas, enquetes e interpretação de qualquerassunto, já que qualquer ocorrência apresenta a característicada ‘proximidade’”.

CRÔNICA SOCIAL

“A crônica social começou a ser publicada nos grandesjornais quase como as mesmas formas e características comoainda se conserva nos pequenos diários ou semanários do inte-rior: uma seção em que se registram aniversários de nascimen-to, noivados, batizados, casamentos, bailes, viagens, novas dire-torias de clubes, conferências, almoços e jantares de clubes deserviço e as clássicas ‘visitas à redação’”.

“A partir da década de 50, surgiu o ‘colunismo social’, queocupa atualmente uma ou duas páginas diárias do jornal. As-suntos ecléticos merecem cobertura e, em alguns casos, o pró-prio jornal chega a tomar iniciativas, como a da escolha das ‘10mais elegantes’ ou dos ‘20 empresários de destaque’. Alguns co-lunistas promovem festas beneficentes ou patrocinam bailes dedebutantes, coroação de rainhas de estudantes ou desfiles demodas. O noticiário social é vasto e, além de informação, sem-

O texto em algumas editorias específicas: considerações gerais

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mação, pode uma Seção Esportiva abordar aspectos variadíssi-mos, dependendo da orientação da Editoria e da Produção”.

ECONOMIA E FINANÇAS

“As regras básicas da imprensa aplicam-se ao JornalismoEconômico: redução de qualquer assunto técnico à altura dacompreensão do leitor comum, explicação (se possível comexemplos ou hipóteses) do que significam certas determinaçõesoficiais, interpretação estatística e comparações. Orientar, en-fim, o leitor das matérias especializadas”.

“Alguns jornais efetuam levantamentos, semanais ouquinzenais, sobre preços de alimentos nos supermercados e pu-blicam as respectivas tabelas comparativas. É uma forma deatender ao consumidor, dando-lhe a informação precisa e segu-ra, capaz de proporcionar às donas de casa um cálculo antecipa-do de quanto irá gastar e onde deve efetuar suas compras”.

“Eventualmente, poderá ir para as páginas de Economiauma reportagem também adequada para o setor policial: falên-cia fraudulenta ou venda indevida de ações. O mesmo se pode-ria dizer de matéria referente a turismo, porém analisada sob oaspecto estatístico”.

COBERTURA POLÍTICA E ADMINISTRATIVA

Diante da complexidade que é a administração pública(nas esferas municipal, estadual e federal),“ao jornalista cabe sa-ber a que fontes deve dirigir-se. Há os repórteres de setor (ou se-toristas) que freqüentam uma ou várias repartições invariavel-mente e que melhor se inteiram dos assuntos da “especialidade”dos ministérios, das secretarias, das autarquias, das sociedadesde economia mista e de outras para as quais são destacados”.

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

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As revistas se aproximam ainda mais da literatura que ojornalismo diário. Por essa razão, “admite usos estéticos da pala-vra e recursos gráficos de modo bem mais flagrante que os jor-nais”. De fato, enquanto o jornalismo diário opta preferencial-mente pelo sentido conotativo das palavras, o texto jornalísticoda revista extrapola ao sentido imposto pelo dicionário. É o queanalisa Vilas Boas (1996):

O estilo gráfico e a linguagem tendem para uma gramática pró-

pria do gênero revista. Na escolha dos significados, além do habi-

tual estilo formal-coloquial do jornalismo, a revista toma expres-

sões da literatura e as transpõe para o uso corrente. Da mesma for-

ma o faz com expressões populares (jargões, neologismos, colo-

quialismos etc). Daí pode-se obter uma outra forma de expressão,

ao mesmo tempo criativa e erudita.

Esse “namoro” com a literatura faz com que o texto pararevista, sendo um texto jornalístico, privilegia a forma narrati-va (própria da reportagem) e abordagem do perfil de um oumais personagens (interessante, aqui, retomar notas sobre Per-fil na página 55).

Vilas Boas (1996) faz ainda algumas recomendações paraque o texto para revista, sem sair dos padrões jornalísticos, ga-nhe um “rebolado” próprio:

O ritmo e a sonoridade das palavras também são muito impor-

tantes. Ler o texto em voz alta é uma boa medida para perceber se

as palavras estão acompanhando a orquestração das idéias e se as

frases estão no tamanho certo.

Fique atento também às diferentes entonações que você pode

obter com travessões, vírgulas, pontos, espaços e dois-pontos. Ex-

traia deles o máximo efeito. Experimente usar a pontuação e o rit-

Peculiaridades do texto jornalístico para revista

Page 78: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

78

mo das palavras para transmitir sentido, substituindo dois pontos

por ponto-e-vírgula ou vírgula por um ponto, por exemplo. En-

tão, observe a diferença que isso faz. Pontue de modo que lhe pa-

recer mais lógico, efetivo e econômico.

UMA CLASSIFICAÇÃO PARA AS REVISTAS EREGULARIDADES DE ESTILO

Segundo Lage (1979), “costuma-se classificar as revistas-magazines em três grupos: ilustradas, de informação geral e es-pecializada”. Ele afirma que “não devemos esperar que as revis-tas tenham fórmulas de redação tão rigidamente estabelecidasquanto as notícias de jornal”. Lage prefere apontar regularida-des, presentes nesses três tipos clássicos de revistas:

Nas revistas ilustradas, a palavra escrita é com freqüênciamera acompanhante, necessária porém discreta, da exposição fo-tográfica. Quem realmente produz a matéria é quem seleciona asfotos. A técnica é essencialmente audiviosual, como a do cinemaou da TV. A fotografia de abertura e o elenco fotográfico de cadalayout darão o mote para as glosas do título e do texto; trata-se,assim, de uma organização fundada na redundância. (…) Nãosurpreende que a proporção de fotos publicadas sobre as fotos ob-tidas, num magazine contemporâneo, ultrapasse usualmente umpor cem: para contar significados, é preciso dispor de uma amplavariedade de unidades semânticas. O texto circunstancia as fotos,não o contrário, mas o sentido da mensagem estará determinado,ou pelo menos circunscrito, pela seleção fotográfica. (…)

Nas magazines de informação geral, a estrutura do textorecupera a organização do discurso em tópicos frasais e docu-mentações. Como ocorre indiscriminadamente com as revistas,trata-se de abordar o assunto e não o fato; este fica por conta dos

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

95

“Ao se referirem ao criminoso, e também à vítima, devemos jornais ter o cuidado para mencionar-lhes os nomes correta-mente, e seria ideal que não citassem seus parentes e as firmas emque trabalham. Dados pessoais do acusado, menção de defeitos fí-sicos, cor da pele e referências à religião somente seriam admitidosse o criminoso estivesse foragido e oferecesse perigo e a imprensapretendesse cooperar com a polícia para que fosse capturado”.

“Nomes de menores não podem ser divulgados quandosão autores de fatos criminosos. Apenas são mencionadas as suasiniciais. Nas fotos, se publicadas, deverá haver uma tarja nosolhos. O sigilo, contudo, na prática, não é mantido. Se a notíciainformar que o menor M.A.F., filho de Márcio de Abreu, resi-dente em São Paulo, na rua Cotovia, 3456, matou ontem um co-lega, pelo menos seus vizinhos e amigos identificá-lo-ão pormeio do endereço e do nome do pai”.

Sobre os processos judiciais: “o repórter e o comentaristadevem, pois, conhecer o rito, ou seja, o andamento de cada pro-cesso e saber onde pedir as informações, a respeito deles, em cadafase. Todavia, algumas ações processam-se em segredo de justiça,em benefício da própria sociedade ou das partes nelas envolvidas”.

NOTICIÁRIO ESPORTIVO

“Além de conhecer as regras e os regulamentos de cadamodalidade de esporte, o jornalista precisa inteirar-se de umasérie de fatos que, por serem infringidos ou esquecidos, podemconstituir base para um bom noticiário”.

“Para cada especialidade (esportiva) recomenda-se umjornalista que entenda do assunto e que explique e comente aspossibilidades dos concorrentes e as conseqüências de uma vitó-ria, derrota ou empate em algumas competições. Aplicando-seas regras gerais sobre entrevista, reportagem, redação e diagra-

O texto em algumas editorias específicas: considerações gerais

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Não incluímos aqui nenhuma consideração específica so-bre a editoria de Cultura ou semelhante pela amplitude do as-sunto, haja vista que essa editoria, segundo Erbolato (1981)apresenta variados tipos de texto em função da variada quanti-dade de assuntos que esta pode abordar, a saber: literatura, cine-ma, crítica de televisão e rádio, horóscopo, lazer, música, artesplásticas, espetáculos em geral, etc. O autor propõe, inclusive, as-suntos que, por sua relevância, tornaram-se, atualmente, edito-rias independentes, como turismo, assuntos femininos e infan-tis, entre outros.

COBERTURA POLICIAL E JUDICIÁRIA

“É penosa, até certo ponto, a missão do jornalista quan-do deve noticiar fatos policiais, sabendo que a publicação iráatingir pessoas que estão passando por um choque enorme,como a perda de pessoas da família. Os fatos, em sua maioria,não podem deixar de ser publicados, porque, por sua impor-tância e por apresentarem facetas curiosas, passam para o do-mínio público instantes depois de ocorrerem e poucas horasantes de o jornal rodar na madrugada seguinte. Todavia, emqualquer hipótese, deve ser adotado o critério de não tripudiarcom ninguém”.

“As notícias sobre tentativas de suicídio sempre foramcondenadas. Explorar o fato seria lançar um estigma sobre quemtentou matar-se e sobreviveu. Enlamear a reputação dessas pes-soas, tornando pública a sua atitude, tomada quase sempre emmomento de desespero, seria impedi-las de se reencontrarem nasociedade. Expecionalmente, alguns jornais adotam o critério depublicar essas tentativas desde que a pessoa esteja envolvida emfato importante, já divulgado, como, por exemplo, uma falênciafraudulenta ou crime de morte”.

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

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jornais e, hoje, do rádio e da televisão, quando o controle socialo permite. A matéria abre eventualmente com uma narrativa cli-mática que antecede o primeiro tópico frasal. Este é organizadocom base em uma antítese, ou contradição entre notações…

Na revista especializada, por fim, a categorização do pú-blico e do assunto preside a organização estilística. Este proces-so de tomar os fatos como significantes de uma essência adqui-re aí uma condição axial: é o próprio eixo do tratamento textual.Por outro lado, na medida em que as hipercategorizações do pú-blico não correspondem à realidade no plano da socioeconomia,será necessário reiterá-las através da simbolização da feminilida-de (na revista feminina), da masculinidade, do individualismoempático dos astros (que eventualmente operarão com elemen-tos de absorção simbólica de intenções de libertação previsíveisnos leitores). Tudo isto se irá compor com a intenção funda-mental de jamais esgotar o assunto.

As revistas de informação geral preocupam-se, na reali-dade, em abordar o assunto e não o fato. Neste último, cabe maisos jornais diários, rádio e TV. Isso propicia uma redação menosrígida, a começar pelo lead. Para Vilas Boas (1996):

A abertura das matérias é quase sempre uma narrativa climáti-

ca seguida do primeiro tópico frasal. Geralmente, é uma estrutura

baseada em antíteses: o fato e a sua circunstância, do fato e sua con-

seqüência. Criado o clima de tensão e angústia, que é a própria mo-

tivação para a leitura, logo depois vem a explicação da antítese.

Além dessa forma antitética, há outras, como, por exem-plo, a construção claramente interpretativa, isto é, primeiro dá-se o nome ao fato, para depois quantificá-lo. De qualquer forma,usando da criatividade e buscando envolver o leitor, a aberturado texto jornalístico substitui, em geral, o tradicional lead.

Peculiaridades do texto jornalístico para revista

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Outro recurso comumente usado pela revista para seduziro público é o sensacionalismo. Mesmo se não seja um privilégioda revista, este recurso parece ganhar nela uma importância par-ticular. Segundo Vilas Boas (1996), é o caso da Revista Veja, queao valorizar o sucesso, evidencia o luxo, a alta posição social, fei-tos extraordinários, beleza física, entre outros atributos do gêne-ro, configurando-se conforme uma “filosofia do agradável”.

Tanto ou mais que a informação e a orientação da opi-nião pública, a revista tem a qualidade de “relaxar o leitor”, istoé, é feita para o entretenimento.10

ANÁLISES

Tendências diversas11

Nas duas grandes guerras, as revistas desempenharamum papel abrangente. Além do mais, eram as únicas que podiamoferecer aos seus leitores imagens nítidas dos acontecimentos re-latados diariamente pelos jornais. Mas, a partir dos anos 50,uma avalanche de novas tecnologias se abateu sobre o universoda informação. Assim, as revistas tiveram de descobrir outras ro-tas para resistir à televisão, por exemplo, a arquiinimiga.

Em 1957, começou a ser usar a cor em O Cruzeiro e Man-chete, uma espécie de ação preventiva contra o preto-e-branco

10 “A fronteira entre jornalismo e entretenimento nunca foi nítida e é cadavez menos: a imprensa popular sempre privilegiou o divertimento e a mí-dia comercial impregna agora todos os seus produtos com entretenimen-to. A sobreposição é quase inevitável: uma notícia pode ser interessante esem importância; em contrapartida, aprende-se muito divertindo-se”.(BERTRAND, 1999).

11 VILAS BOAS, Sérgio. O Estilo Magazine: o texto em revista. São Paulo:Altar, 1991. p.85-6. (Coleção Novas Buscas em Comunicação).

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

93

A proposta deste tema é apresentar, o quanto possível,considerações específicas sobre a produção textual de matériasem algumas editorias específicas, entre as mais presentes no jor-nal diário. Fundamentalmente, a redação de uma matéria sobreum assunto específico (e, portanto, de uma editoria específica)exige do redator conhecimento da área com que está lidando ecapacidade de “traduzir” expressões e termos técnicos, específi-cos do assunto abordado, para uma linguagem “leiga”, que aten-da às expectativas do leitor médio de um jornal diário.

Um razoável trabalho para consulta, que contém, entreoutras dicas práticas, sugestões de pauta e uma pesquisa de vo-cabulário técnico a ser utilizado pelo redator em algumas dasprincipais editorias, encontra-se na obra Jornalismo especializa-do: emissão de textos no jornalismo impresso, do jornalista eprofessor Mário L. Erbolato.

De sua obra, transcrevemos algumas considerações ge-rais sobre as principais editorias encontradas num jornal diário.Vale ressaltar que os comentários que se seguem são amplos,não se restringem a questões de redação, mas ao trabalho daeditoria como um todo, uma vez que não é possível desvinculara redação do resto.

O TEXTO EM ALGUMAS

EDITORIAS ESPECÍFICAS: CONSIDERAÇÕES GERAIS

Capítulo 13

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mentos – dos lapsos entre uma e outra informação e das suges-tões que deixa ao consumidor sobre como preenchê-los – é averdade como adequação histórica.

m) Os jornais, em suma, não têm saída: são veículo deideologias práticas, mesquinharias. Mas têm saída: há neles indí-cios da realidade e rudimentos de filosofia prática, crítica mili-tante, grandeza submetida, porém, insubmissa.

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

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da TV. Em termos econômicos, no entanto, as revistas semanaisse tornaram inviáveis. O fenômeno ocorreu em outras parte domundo, onde também revistas fotográficas mensais e quinzenaisnão puderam fazer frente aos altos custos. Apesar de tudo, as re-vistas acabaram criando um lugar para a complementação donoticiário diário: “A revista interpretativa. Entre o novo jornal ea velha revista fortificaram-se as revistas noticiosas, gênero ima-ginado por Henry Luce na década de 20, quando criou Time, em1992”. (DINES, 1974, p. 67).

O glamour de revistas como Manchete, Look, Life, Reali-dade e O Cruzeiro foi inviabilizado pela explosão dos meios tele-visivos. Quando a americana Life fechou as portas, vendia aindade seis a sete milhões de exemplares por semana. Mas nada deanúncios. Assim, o preço necessário para vender a revista e decirculação era muito alto, impossibilitando o equilíbrio das ven-das. Era preciso um enorme volume de publicidade semanal,que não se conseguia mais. Atualmente, grande parte das tira-gens das revistas, inclusive Veja e IstoÉ, é comercializada pormeio de assinaturas. A disputa não é só por anunciantes, mastambém por “assinantes”.

Versões variadas – Em 1976, Mino Carta deixou a Veja eparticipou do lançamento de IstoÉ, então uma revista mensal,que no ano seguinte passou a ser semanal e concorrer direta-mente com Veja. Mino Carta explicou a diferença básica entre asduas revistas no primeiro número semanal de IstoÉ. Segundoele, IstoÉ suscitaria debates, não havendo exigência em termosde “opiniões convergentes”: “Por isso, é freqüente o leitor encon-trar determinado enfoque numa página, e outro, bem diverso,nas páginas subseqüentes” (…).

De certa forma, esta preocupação com a linha editorial deIstoÉ ainda resiste: personalização do estilo e da opinião dos re-pórteres. Já o modelo de “texto pasteurizado”, obtido por Veja du-rante longo tempo, não existe mais. No entanto, trata-se tambémde um estilo, é bom lembrar. Um estilo (modelo) adotado, inclu-

Peculiaridades do texto jornalístico para revista

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sive, pelas magazines norte-americanas. Veja ainda adota uma es-trutura redacional bastante hierarquizada, com redatores especí-ficos e várias graduações no corpo do comando editorial. Em Is-toÉ, cabe ao repórter apurar, redigir e, na maioria das vezes, assi-nar o texto. Contudo, esta diferenciação tende a reduzir-se.

A personalização elimina, pelo menos em parte, a preo-cupação com a uniformidade tanto da linha editorial quanto dasangulações específicas de cada matéria. A maneira de ser de IstoÉlhe confere um estilo de jornalismo mais ousado. Um bomexemplo do caráter investigativo da revista foi a cobertura doimpeachment do ex-presidente Fernando Collor. Durante todo oprocesso IstoÉ mostrou disposição de ir fundo na verdade dosfatos e de preencher os vazios deixados pelo jornal diário e pelaTV, às vezes até antecipando-se a eles. Mas, como qualquer re-vista, IstoÉ se sustenta em grande parte pelo número de assinan-tes. Sendo assim, sabe o que seus leitores querem.

Lembre-se de que, no conjunto, o texto de qualquer revis-ta – não importando o estilo – esconde uma tendência. A tendên-cia de uma revista é a inclinação de seus leitores. Então, é adap-tar-se a eles. Os diagnósticos apresentados na interpretação deum fato também não estão imunes às tendências. A imparcialida-de, por excelência, também não existe nas revistas semanais deinformação. Talvez por isso IstoÉ adote em seus textos constru-ções estilísticas menos ousadas do ponto de vista da linguagem,mas de conteúdo fundamentado nos vários testemunhos do fato.

Enquanto o indício expressa uma probabilidade, o teste-munho muitas vezes aponta uma evidência. De qualquer forma,a presença de dez pessoas no instante do acontecimento podegerar versões variadas. Mas o testemunho nem sempre é provainegável. Para valer como “evidência”, o testemunho deve ser fi-dedigno e autorizado. Já os dados estatísticos, como nos dizOthon Garcia, são valiosos se incontestáveis. Mas podem servirtanto para provar quanto para refutar a mesma tese (…).

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

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g) Dados os fatos, porém, pode-se inverter o sentido dotexto jornalístico. Uma palavra, uma nota podem evidenciar comclareza tudo o que se quer esconder. A pequena nota reveladoracostuma gritar mais do que a manchete espalhafatosa e confor-mista. Por isso os jornais são temidos e os próprios editores jamaisabrirão o calhamaço de páginas com tranqüilidade absoluta.

h) Quanto mais a verdade (essencial) se oculta numa no-tícia (nas aparências), mais ela se revela. Isto é uma interpreta-ção livre de um fragmento de Heráclito, filósofo eleata.

i) Os eruditos queixam-se da superficialidade dos jornais,lamentam o laconismo das notas de rádio e flashes de televisão,esperam livros que talvez não leiam. Os educadores lamentamseu antididatismo, por quem confundem cultura com transmis-são pura e simples de procedimentos, conceitos. A indústria cul-tural é, no entanto, menos servil e bem mais problemática doque a escola formal e programada. Embora seu objetivo últimoseja preservar as relações sociais, ela pretende alcançá-lo e con-formando-se e dialogando com os fatos noticiados e com os fa-tos sociais que influem em sua estratégia.

j) O saber dos jornais é extremamente superficial, mas ex-tenso. Eles se confessam perecíveis; não tratam de fins ou prin-cípios. Os espíritos positivos se irritam com a coragem com queos jornais afirmam o impreciso. Mas um jornal sem erros não sepoderia escrever; e só os ingênuos acreditam que não têm inte-resses capazes de levá-los a deturpar os fatos.

k) Os peritos apontam a propaganda oculta; mas é lendoque descobrem qual a propaganda. O sentido, o tom e as formasda propaganda, oculta ou ostensiva, são outras coisas que os jor-nais informam (e os noticiários de rádio e TV).

l) Há, portanto, dois gêneros de verdade consideráveis nasnotícias. Uma verdade está no acordo íntimo entre o que estásendo narrado e o que de fato ocorreu. Outra, disposta no para-digma da escolha das palavras, da ordem e seleção dos aconteci-

Análise ideológica de um texto jornalístico

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a) A primeira coisa que um jornal informa é sua ideolo-gia. Num grande diário, será a ideologia de um segmento econô-mico bastante forte para suportar os custos (mediante publici-dade, o que é comum, ou verbas diretas, na imprensa partidária,religiosa ou oficial). O grau desse óculo deformante e seu pesorelativo têm importância.

b) O compromisso do jornalismo com as visões particu-lares, de cada ciência, é, de modo geral, tênue. O que ele traduzé um contato prático, corrente e social: ao mesmo tempo, dadosdo que aconteceu e é noticiado e dados implícitos sobre o quedominantemente a sociedade (quem a domina) está pensando.

c) Daí os técnicos e os cientistas terem uma espontâneadesconfiança dos jornalistas. “Torcem o que se diz”, falam. E, desua perspectiva, é certo. Algumas vezes, esses técnicos e cientis-tas procuram algum espaço nos jornais, rádios, televisões; se têmêxito como jornalistas, sofrem dos ex-colegas as mesmas críticasfeitas aos demais jornalistas.

d) O aprofundamento da investigação jornalística é umageneralizada abertura ao senso comum, mas também um cami-nho único para a exploração do objeto.

e) No jornal está a verdade da censura e do liberalismo,da dominação e da independência. Há corrupção, medo e espe-rança nos jornais, mas eles não são feitos com tais substâncias;fazem-se com relatos imperfeitos de acontecimentos. Fazem-setambém com opiniões, e os melhores articulistas não são, certa-mente, os “imparciais” (o que contraria a opinião de Erbolato,1981 – veja item 3 da página 27).

f) O mundo fragmentário dos jornais apresenta a realida-de (de uma guerra) em segmentos (combate, vitória e rendição,avanço e recuo), mas não decomposta (a estratégia, a política).Mais do que falar sobre, falam de. A imparcialidade e a objetivi-dade são máscaras eventuais que mal ocultam a presença huma-na, o engajamento e a participação).

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

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O estilo magazine12

A literatura de base semiológica sobre jornalismo é pou-co extensa; particularmente incomuns são os estudos que tratamde revistas-magazines. No entanto, elas formam um universoatraente, onde se encontram a fotografia, o design e o texto.Com periodicidade semanal, quinzenal, mensal ou circulando aintervalos maiores, a revista-magazine compreende uma varie-dade grande de estilos e constitui, sem dúvida, uma prática jor-nalística diferenciada.

A revista-magazine reflete uma proposta discursiva en-gendrada socialmente e é raro que sobreviva dessa proposta. Suaexistência é, por outro lado, marcada pela contínua adaptaçãoaos aspectos emergentes da sociedade. Isto é fácil constatar fo-lheando velhas publicações periódicas, seja A Vida Doméstica, OCruzeiro, Manchete da década de 50, A Careta ou aquele interes-santíssimo house organ que foi a Revista Sul América: mais doque técnicas superadas, qualquer revista antiga guarda um as-pecto reminiscente, nostálgico, que reflete valores, pensamentose aflições de tempos idos.

(…)Teríamos eventualmente a mesma sensação folheando

jornais antigos. No entanto, a diferença reside no simples fato deque os jornais que sobreviveram, e ainda circulam hoje, não es-tão em absoluto marcados por esse estigma nostálgico que im-pregnava tanto o título quanto a forma e o modo de ser das re-vistas. De fato, a novas configurações da ideologia costumamcorresponder novas revistas, e é usualmente mais fácil lançar umtítulo – grafismo, conjunto de formulações textuais e composi-ções fotográficas – do que recompor, remoldar títulos antigos. Se

Peculiaridades do texto jornalístico para revista

12 LAGE, Nilson. Ideologia e técnica da notícia. Petrópolis: Vozes, 1979. p. 91-92 e 96.

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estes, na avaliação corrente, se articulam de modo tão íntimocom a representação de consciência de uma época, não há comofugir da comparação: os nomes das revistas, sua diagramação,seu critério de escolha de assuntos e de modelos fotogênicoscompõem um conjunto significativo arbitrariamente vinculado aalgo mais amplo. Nada de extraordinário: o mesmo ocorre coma arte aplicada da arquitetura, da decoração e das embalagens.

Embora permaneçam mais tempo nas bancas, as revistassão em sua essência simbólica produtos menos duráveis do queos jornais. Se estes costumam usar em proveito a tradição, os ma-gazines promovem habitualmente sua contemporaneidade, seuatualismo. Para a imprensa diária, a atualização do modelo gráfi-co faz-se espaçadamente e o mesmo ocorre quanto à linha edito-rial. Já as revistas adaptam-se até o esgotamento de sua proposta.

(…)Entre jornal e revista há interpretações: certas revistas es-

pecializadas (em artistas de televisão, por exemplo) costumamconter noticiário à maneira dos jornais e estes procuram fazerrevista em seus segundos ou terceiros cadernos. Certos jornaisincluem ainda páginas, tablóides ou cadernos de ensaios (anti-gamente literários, hoje mais sociológicos e econômicos), masisto não os transforma em tratados ou manuais. Está claro que oque caracteriza o veículo é o que nele domina, não o que carre-ga nos suplementos, por mais que tais apêndices contemplem aqualidade ditada pelas modas culturais.

É necessário lembrar que a revista é mais literária que ojornal, no que se refere ao tratamento do texto, e mais artísticaquanto aos aspectos de programação visual. Nisto não vai qual-quer juízo de valor: tal literatura e tal arte nada mais são do queformações ideológicas. Mas nos importa que a revista, enquan-to linguagem, admita usos estéticos das palavra e dos materiaisgráficos, de modo bem mais flagrante do que os jornais.

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

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LEGENDAS

Ainda segundo Medina (1998), as legendas “foram os veí-culos mais recentes, especialmente a revista Veja e o Jornal daTarde, que recuperaram as legendas como apelo. Para isso, ja-mais identifica redundantemente a foto. Opta por informaçõesinterpretativas, joga com detalhes concretos da cena, destaca umtipo e associa ironicamente posições racionais às posturas ges-tuais, lança certo suspense interrompido, brinca com elementospitorescos da cena. Também pode utilizar a narrativa ficcional,contar história, o era uma vez de qualquer legenda antiga de fil-me mudo. O interessante, na práxis jornalística, é que sempresobra pouco tempo para a elaboração das legendas, o apelo maisdescuidado. Talvez por esse motivo, as legendas de uma revistasemanal são as que oferecem mais variedade lingüística. Seja alegenda isolada (uma para cada foto), a multilegenda (uma paravárias fotos) ou a legenda encadeada (que se liga à legenda se-guinte, ao lado, por uma frase interrompida por três pontos), aVeja sempre se vale desse apelo com mais atenção e, freqüente-mente, oferece os melhores exemplos dessa criação tão descui-dada nos jornais diários”.

Texto complementarAinda assim, muitas verdades consistentes14

Apesar disso tudo, e por causa disso tudo, as notícias sãotidas em geral como verdadeiras. Governantes, cientistas, jorna-listas e gente de todo o tipo lêem, ouvem e vêem notícias. O quepodem encontrar?

14 LAGE, Nilson. Ideologia e técnica da notícia. Petrópolis: Vozes, 1979. p. 110.

Análise ideológica de um texto jornalístico

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padrões de consumo. Daí o uso de subtítulos (ou olhos) comoprolongamentos do lead e do título.

VOCABULÁRIO

De acordo com Cremilda Medina (1988), enquanto “osmanuais de jornalismo insistem no vocabulário simples, acessí-vel, de uso atual, como recomendação de estilo”, na realidade, re-velam mais que normas, mas sim “uma realidade inerente aouniverso lexical de indústria cultural”. Em outras palavras, asimplicidade de estilo e a valorização dos vocábulos de uso ime-diato (gírias, coloquialismo), remetendo-se diretamente à línguafalada, são recursos utilizados pelo jornalismo, tendo em vistaatingir um maior número de leitores cujo universo vocabular émediano (nem vulgar nem erudito).

Tal preocupação fez com que o jornalismo norte-ameri-cano (e a exemplo deste, outros, como o espanhol) adotasse“fórmulas de legibilidade e listas de vocabulário médio” comoreferencial para a produção dos textos noticiosos. Para a pesqui-sadora da ECA-USP, “os jornalistas, mesmo sem a lista, usamnormalmente um vocabulário médio, sem especialização – o ní-vel de legibilidade, por esse ângulo, não oferece maiores dificul-dades, principalmente porque ‘decorre’ de um contexto maisamplo, já assumido – o da indústria cultural”.

Ainda dentro da questão do vocabulário, Medina faz re-ferência ao que ela chama de contexto do “binômio sonho/rea-lidade (ou grande consumo/informação referenciada)” percebi-do na “contradição vocabular – palavras muito concretas, refe-renciadas a realidades imediatas, envolvidas por diversas formasde conotação que carregam de ambigüidade a proposição refe-rencial”. Isto é, “a função apelativa de uma linguagem de consu-mo (no caso, própria do jornalismo) leva a jogos estilísticos quese aproximam da função expressiva da literatura”.

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

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É um consenso entre muitos estudiosos do Jornalismo eda Teoria da Comunicação que o jornal e a revista são hoje, es-sencialmente, produtos de consumo. E de consumo rápido. É oque defende a professora Cremilda Medina (da Escola de Co-municações e Artes da Universidade de S. Paulo) no livro Jor-nal, um produto à venda, texto que figura entre as obras clássi-cas do estudo sobre o jornalismo no Brasil. Medina (1988) con-textualiza essa atual razão de ser do jornal como fruto da comu-nicação de massa, que, por sua vez, é justificada pela indústriacultural que, por último, revela-se como um fenômeno da so-ciedade urbana e industrial.

Não faremos aqui um estudo específico sobre o jornal en-quanto produto da comunicação de massa, tema que é mais ade-quado a uma abordagem direta pela Teoria e Sociologia da Co-municação, bem como pela Ética Jornalística. É preciso eviden-ciar que, ao contrário do que possam pensar os ingênuos e desa-visados, o fato do jornal ter se tornado um veículo de massa, nãoo faz dele algo exatamente democrático. Em outras palavras, aoatingir uma quantidade massiva de leitores, o jornal não signifi-ca, necessariamente, que está democratizando a informação. Em

ANÁLISE IDEOLÓGICA DE

UM TEXTO JORNALÍSTICO(ALGUMAS CONSIDERAÇÕES)

Capítulo 12

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geral, acontece o contrário: ele massifica, pasteuriza a informa-ção de modo a ser digerida por um maior número de leitores,digo, consumidores.

Desse modo, seria mais correto falar que o jornal pro-duz comunicação para a massa e não de massa. Esta, a exemplodo que acontece na sua relação com toda produção da indús-tria cultural, permanece alienada do bem produzido. A infor-mação veiculada por jornais e revistas, em função desses dire-cionamentos ideológicos (e mais precisamente, mercadológi-cos) passa por um processo de produção (entenda-se, edição)inacessível ao leitor comum que acaba, muitas vezes, tomandopor verdade o que o jornal divulga. Na realidade, contudo, ojornal só é capaz de publicar, quanto muito, versões sobre ofato noticiado.

Partindo desses e de outros pressupostos – a serem devi-damente refletidos com base na produção dos teóricos da comu-nicação – é especialmente pertinente ao jornalista, tanto quantosaber produzir um bom texto, ser capaz de ler “nas entrelinhas”a orientação ideológica13 a partir da qual um texto jornalístico(seja informativo ou opinativo) foi produzido. Vejamos, a seguir,algumas considerações teóricas que podem ajudar o leitor – so-bretudo o jornalista – a posicionar-se criticamente diante de umtexto jornalístico. Essas considerações se remetem especifica-mente aos recursos textuais comumente utilizados em textos dejornal e revista.

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

13 É pertinente, aqui, levar em conta o que Clodovis Boff (in Neotti, 1980)considera como ideologia. Para ele, trata-se de uma “dissimulação da reali-dade social”. Segundo Boff, “a ideologia tem uma função primordial deocultação, de mistificação, de mascaramento, de escamoteação, enfim, defalsificação, consciente (mentira) ou inconsciente (ilusão) da realidadesocial. Passa então a ser chamado de ideológico tudo o que dissimula a ver-dade desta realidade”.

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TÍTULOS

Figurando, historicamente, como o primeiro apelo verbaljunto ao leitor, “os títulos chamam o consumidor pela diagra-mação, pela forma verbal literária, pela malícia dos dados emjogo, pela intimidade com que falam ao leitor com um você,aqui e outras formas imperativas, ou simplesmente pelo prazerlúdico do quebra-cabeças”, afirma Medina (1988). Para a pes-quisadora, “até o títulos interrogativos – pecado original nosclássicos manuais – se constituem num apelo direto”.

LEADS

Também a abertura de matérias, o lead, prova a integra-ção com os componentes da estrutura da mensagem. Um leadmostra, em primeiro lugar, um esforço de captação – “por ondevou começar a matéria”, preocupação sintomática do repórter,equivale à angústia de captar uma significativa parte do real. Aedição acentua seu valor quando dedica um tempo especial parao acabamento do lead que, por sua vez, revela a angulação daeditoria, do setor do jornal. A categoria lead-sumário (summarypara os norte-americanos que o sistematizaram) transparece ovalor ideológico da objetividade: em poucas linhas, no máximoum parágrafo de duas frases, o lead deve apresentar um resumodas unidades de informação do acontecimento. Dentro da nar-rativa seqüencial decrescente, chamada pirâmide invertidada,esse é o lançamento ideal. (MEDINA, 1988).

Vale salientar ainda o que diz Medina (1988): as varia-ções de lead em relação ao tradicional sumário representam adinâmica de modelos de criação na cultura de massa que Ed-gar Morin aborda mesmo neste segmento de formulação. A in-quietude da abertura como apelo significa a busca de novos

Análise ideológica de um texto jornalístico

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geral, acontece o contrário: ele massifica, pasteuriza a informa-ção de modo a ser digerida por um maior número de leitores,digo, consumidores.

Desse modo, seria mais correto falar que o jornal pro-duz comunicação para a massa e não de massa. Esta, a exemplodo que acontece na sua relação com toda produção da indús-tria cultural, permanece alienada do bem produzido. A infor-mação veiculada por jornais e revistas, em função desses dire-cionamentos ideológicos (e mais precisamente, mercadológi-cos) passa por um processo de produção (entenda-se, edição)inacessível ao leitor comum que acaba, muitas vezes, tomandopor verdade o que o jornal divulga. Na realidade, contudo, ojornal só é capaz de publicar, quanto muito, versões sobre ofato noticiado.

Partindo desses e de outros pressupostos – a serem devi-damente refletidos com base na produção dos teóricos da comu-nicação – é especialmente pertinente ao jornalista, tanto quantosaber produzir um bom texto, ser capaz de ler “nas entrelinhas”a orientação ideológica13 a partir da qual um texto jornalístico(seja informativo ou opinativo) foi produzido. Vejamos, a seguir,algumas considerações teóricas que podem ajudar o leitor – so-bretudo o jornalista – a posicionar-se criticamente diante de umtexto jornalístico. Essas considerações se remetem especifica-mente aos recursos textuais comumente utilizados em textos dejornal e revista.

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

13 É pertinente, aqui, levar em conta o que Clodovis Boff (in Neotti, 1980)considera como ideologia. Para ele, trata-se de uma “dissimulação da reali-dade social”. Segundo Boff, “a ideologia tem uma função primordial deocultação, de mistificação, de mascaramento, de escamoteação, enfim, defalsificação, consciente (mentira) ou inconsciente (ilusão) da realidadesocial. Passa então a ser chamado de ideológico tudo o que dissimula a ver-dade desta realidade”.

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TÍTULOS

Figurando, historicamente, como o primeiro apelo verbaljunto ao leitor, “os títulos chamam o consumidor pela diagra-mação, pela forma verbal literária, pela malícia dos dados emjogo, pela intimidade com que falam ao leitor com um você,aqui e outras formas imperativas, ou simplesmente pelo prazerlúdico do quebra-cabeças”, afirma Medina (1988). Para a pes-quisadora, “até o títulos interrogativos – pecado original nosclássicos manuais – se constituem num apelo direto”.

LEADS

Também a abertura de matérias, o lead, prova a integra-ção com os componentes da estrutura da mensagem. Um leadmostra, em primeiro lugar, um esforço de captação – “por ondevou começar a matéria”, preocupação sintomática do repórter,equivale à angústia de captar uma significativa parte do real. Aedição acentua seu valor quando dedica um tempo especial parao acabamento do lead que, por sua vez, revela a angulação daeditoria, do setor do jornal. A categoria lead-sumário (summarypara os norte-americanos que o sistematizaram) transparece ovalor ideológico da objetividade: em poucas linhas, no máximoum parágrafo de duas frases, o lead deve apresentar um resumodas unidades de informação do acontecimento. Dentro da nar-rativa seqüencial decrescente, chamada pirâmide invertidada,esse é o lançamento ideal. (MEDINA, 1988).

Vale salientar ainda o que diz Medina (1988): as varia-ções de lead em relação ao tradicional sumário representam adinâmica de modelos de criação na cultura de massa que Ed-gar Morin aborda mesmo neste segmento de formulação. A in-quietude da abertura como apelo significa a busca de novos

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padrões de consumo. Daí o uso de subtítulos (ou olhos) comoprolongamentos do lead e do título.

VOCABULÁRIO

De acordo com Cremilda Medina (1988), enquanto “osmanuais de jornalismo insistem no vocabulário simples, acessí-vel, de uso atual, como recomendação de estilo”, na realidade, re-velam mais que normas, mas sim “uma realidade inerente aouniverso lexical de indústria cultural”. Em outras palavras, asimplicidade de estilo e a valorização dos vocábulos de uso ime-diato (gírias, coloquialismo), remetendo-se diretamente à línguafalada, são recursos utilizados pelo jornalismo, tendo em vistaatingir um maior número de leitores cujo universo vocabular émediano (nem vulgar nem erudito).

Tal preocupação fez com que o jornalismo norte-ameri-cano (e a exemplo deste, outros, como o espanhol) adotasse“fórmulas de legibilidade e listas de vocabulário médio” comoreferencial para a produção dos textos noticiosos. Para a pesqui-sadora da ECA-USP, “os jornalistas, mesmo sem a lista, usamnormalmente um vocabulário médio, sem especialização – o ní-vel de legibilidade, por esse ângulo, não oferece maiores dificul-dades, principalmente porque ‘decorre’ de um contexto maisamplo, já assumido – o da indústria cultural”.

Ainda dentro da questão do vocabulário, Medina faz re-ferência ao que ela chama de contexto do “binômio sonho/rea-lidade (ou grande consumo/informação referenciada)” percebi-do na “contradição vocabular – palavras muito concretas, refe-renciadas a realidades imediatas, envolvidas por diversas formasde conotação que carregam de ambigüidade a proposição refe-rencial”. Isto é, “a função apelativa de uma linguagem de consu-mo (no caso, própria do jornalismo) leva a jogos estilísticos quese aproximam da função expressiva da literatura”.

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É um consenso entre muitos estudiosos do Jornalismo eda Teoria da Comunicação que o jornal e a revista são hoje, es-sencialmente, produtos de consumo. E de consumo rápido. É oque defende a professora Cremilda Medina (da Escola de Co-municações e Artes da Universidade de S. Paulo) no livro Jor-nal, um produto à venda, texto que figura entre as obras clássi-cas do estudo sobre o jornalismo no Brasil. Medina (1988) con-textualiza essa atual razão de ser do jornal como fruto da comu-nicação de massa, que, por sua vez, é justificada pela indústriacultural que, por último, revela-se como um fenômeno da so-ciedade urbana e industrial.

Não faremos aqui um estudo específico sobre o jornal en-quanto produto da comunicação de massa, tema que é mais ade-quado a uma abordagem direta pela Teoria e Sociologia da Co-municação, bem como pela Ética Jornalística. É preciso eviden-ciar que, ao contrário do que possam pensar os ingênuos e desa-visados, o fato do jornal ter se tornado um veículo de massa, nãoo faz dele algo exatamente democrático. Em outras palavras, aoatingir uma quantidade massiva de leitores, o jornal não signifi-ca, necessariamente, que está democratizando a informação. Em

ANÁLISE IDEOLÓGICA DE

UM TEXTO JORNALÍSTICO(ALGUMAS CONSIDERAÇÕES)

Capítulo 12

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estes, na avaliação corrente, se articulam de modo tão íntimocom a representação de consciência de uma época, não há comofugir da comparação: os nomes das revistas, sua diagramação,seu critério de escolha de assuntos e de modelos fotogênicoscompõem um conjunto significativo arbitrariamente vinculado aalgo mais amplo. Nada de extraordinário: o mesmo ocorre coma arte aplicada da arquitetura, da decoração e das embalagens.

Embora permaneçam mais tempo nas bancas, as revistassão em sua essência simbólica produtos menos duráveis do queos jornais. Se estes costumam usar em proveito a tradição, os ma-gazines promovem habitualmente sua contemporaneidade, seuatualismo. Para a imprensa diária, a atualização do modelo gráfi-co faz-se espaçadamente e o mesmo ocorre quanto à linha edito-rial. Já as revistas adaptam-se até o esgotamento de sua proposta.

(…)Entre jornal e revista há interpretações: certas revistas es-

pecializadas (em artistas de televisão, por exemplo) costumamconter noticiário à maneira dos jornais e estes procuram fazerrevista em seus segundos ou terceiros cadernos. Certos jornaisincluem ainda páginas, tablóides ou cadernos de ensaios (anti-gamente literários, hoje mais sociológicos e econômicos), masisto não os transforma em tratados ou manuais. Está claro que oque caracteriza o veículo é o que nele domina, não o que carre-ga nos suplementos, por mais que tais apêndices contemplem aqualidade ditada pelas modas culturais.

É necessário lembrar que a revista é mais literária que ojornal, no que se refere ao tratamento do texto, e mais artísticaquanto aos aspectos de programação visual. Nisto não vai qual-quer juízo de valor: tal literatura e tal arte nada mais são do queformações ideológicas. Mas nos importa que a revista, enquan-to linguagem, admita usos estéticos das palavra e dos materiaisgráficos, de modo bem mais flagrante do que os jornais.

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

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LEGENDAS

Ainda segundo Medina (1998), as legendas “foram os veí-culos mais recentes, especialmente a revista Veja e o Jornal daTarde, que recuperaram as legendas como apelo. Para isso, ja-mais identifica redundantemente a foto. Opta por informaçõesinterpretativas, joga com detalhes concretos da cena, destaca umtipo e associa ironicamente posições racionais às posturas ges-tuais, lança certo suspense interrompido, brinca com elementospitorescos da cena. Também pode utilizar a narrativa ficcional,contar história, o era uma vez de qualquer legenda antiga de fil-me mudo. O interessante, na práxis jornalística, é que sempresobra pouco tempo para a elaboração das legendas, o apelo maisdescuidado. Talvez por esse motivo, as legendas de uma revistasemanal são as que oferecem mais variedade lingüística. Seja alegenda isolada (uma para cada foto), a multilegenda (uma paravárias fotos) ou a legenda encadeada (que se liga à legenda se-guinte, ao lado, por uma frase interrompida por três pontos), aVeja sempre se vale desse apelo com mais atenção e, freqüente-mente, oferece os melhores exemplos dessa criação tão descui-dada nos jornais diários”.

Texto complementarAinda assim, muitas verdades consistentes14

Apesar disso tudo, e por causa disso tudo, as notícias sãotidas em geral como verdadeiras. Governantes, cientistas, jorna-listas e gente de todo o tipo lêem, ouvem e vêem notícias. O quepodem encontrar?

14 LAGE, Nilson. Ideologia e técnica da notícia. Petrópolis: Vozes, 1979. p. 110.

Análise ideológica de um texto jornalístico

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a) A primeira coisa que um jornal informa é sua ideolo-gia. Num grande diário, será a ideologia de um segmento econô-mico bastante forte para suportar os custos (mediante publici-dade, o que é comum, ou verbas diretas, na imprensa partidária,religiosa ou oficial). O grau desse óculo deformante e seu pesorelativo têm importância.

b) O compromisso do jornalismo com as visões particu-lares, de cada ciência, é, de modo geral, tênue. O que ele traduzé um contato prático, corrente e social: ao mesmo tempo, dadosdo que aconteceu e é noticiado e dados implícitos sobre o quedominantemente a sociedade (quem a domina) está pensando.

c) Daí os técnicos e os cientistas terem uma espontâneadesconfiança dos jornalistas. “Torcem o que se diz”, falam. E, desua perspectiva, é certo. Algumas vezes, esses técnicos e cientis-tas procuram algum espaço nos jornais, rádios, televisões; se têmêxito como jornalistas, sofrem dos ex-colegas as mesmas críticasfeitas aos demais jornalistas.

d) O aprofundamento da investigação jornalística é umageneralizada abertura ao senso comum, mas também um cami-nho único para a exploração do objeto.

e) No jornal está a verdade da censura e do liberalismo,da dominação e da independência. Há corrupção, medo e espe-rança nos jornais, mas eles não são feitos com tais substâncias;fazem-se com relatos imperfeitos de acontecimentos. Fazem-setambém com opiniões, e os melhores articulistas não são, certa-mente, os “imparciais” (o que contraria a opinião de Erbolato,1981 – veja item 3 da página 27).

f) O mundo fragmentário dos jornais apresenta a realida-de (de uma guerra) em segmentos (combate, vitória e rendição,avanço e recuo), mas não decomposta (a estratégia, a política).Mais do que falar sobre, falam de. A imparcialidade e a objetivi-dade são máscaras eventuais que mal ocultam a presença huma-na, o engajamento e a participação).

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

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O estilo magazine12

A literatura de base semiológica sobre jornalismo é pou-co extensa; particularmente incomuns são os estudos que tratamde revistas-magazines. No entanto, elas formam um universoatraente, onde se encontram a fotografia, o design e o texto.Com periodicidade semanal, quinzenal, mensal ou circulando aintervalos maiores, a revista-magazine compreende uma varie-dade grande de estilos e constitui, sem dúvida, uma prática jor-nalística diferenciada.

A revista-magazine reflete uma proposta discursiva en-gendrada socialmente e é raro que sobreviva dessa proposta. Suaexistência é, por outro lado, marcada pela contínua adaptaçãoaos aspectos emergentes da sociedade. Isto é fácil constatar fo-lheando velhas publicações periódicas, seja A Vida Doméstica, OCruzeiro, Manchete da década de 50, A Careta ou aquele interes-santíssimo house organ que foi a Revista Sul América: mais doque técnicas superadas, qualquer revista antiga guarda um as-pecto reminiscente, nostálgico, que reflete valores, pensamentose aflições de tempos idos.

(…)Teríamos eventualmente a mesma sensação folheando

jornais antigos. No entanto, a diferença reside no simples fato deque os jornais que sobreviveram, e ainda circulam hoje, não es-tão em absoluto marcados por esse estigma nostálgico que im-pregnava tanto o título quanto a forma e o modo de ser das re-vistas. De fato, a novas configurações da ideologia costumamcorresponder novas revistas, e é usualmente mais fácil lançar umtítulo – grafismo, conjunto de formulações textuais e composi-ções fotográficas – do que recompor, remoldar títulos antigos. Se

Peculiaridades do texto jornalístico para revista

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sive, pelas magazines norte-americanas. Veja ainda adota uma es-trutura redacional bastante hierarquizada, com redatores especí-ficos e várias graduações no corpo do comando editorial. Em Is-toÉ, cabe ao repórter apurar, redigir e, na maioria das vezes, assi-nar o texto. Contudo, esta diferenciação tende a reduzir-se.

A personalização elimina, pelo menos em parte, a preo-cupação com a uniformidade tanto da linha editorial quanto dasangulações específicas de cada matéria. A maneira de ser de IstoÉlhe confere um estilo de jornalismo mais ousado. Um bomexemplo do caráter investigativo da revista foi a cobertura doimpeachment do ex-presidente Fernando Collor. Durante todo oprocesso IstoÉ mostrou disposição de ir fundo na verdade dosfatos e de preencher os vazios deixados pelo jornal diário e pelaTV, às vezes até antecipando-se a eles. Mas, como qualquer re-vista, IstoÉ se sustenta em grande parte pelo número de assinan-tes. Sendo assim, sabe o que seus leitores querem.

Lembre-se de que, no conjunto, o texto de qualquer revis-ta – não importando o estilo – esconde uma tendência. A tendên-cia de uma revista é a inclinação de seus leitores. Então, é adap-tar-se a eles. Os diagnósticos apresentados na interpretação deum fato também não estão imunes às tendências. A imparcialida-de, por excelência, também não existe nas revistas semanais deinformação. Talvez por isso IstoÉ adote em seus textos constru-ções estilísticas menos ousadas do ponto de vista da linguagem,mas de conteúdo fundamentado nos vários testemunhos do fato.

Enquanto o indício expressa uma probabilidade, o teste-munho muitas vezes aponta uma evidência. De qualquer forma,a presença de dez pessoas no instante do acontecimento podegerar versões variadas. Mas o testemunho nem sempre é provainegável. Para valer como “evidência”, o testemunho deve ser fi-dedigno e autorizado. Já os dados estatísticos, como nos dizOthon Garcia, são valiosos se incontestáveis. Mas podem servirtanto para provar quanto para refutar a mesma tese (…).

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

91

g) Dados os fatos, porém, pode-se inverter o sentido dotexto jornalístico. Uma palavra, uma nota podem evidenciar comclareza tudo o que se quer esconder. A pequena nota reveladoracostuma gritar mais do que a manchete espalhafatosa e confor-mista. Por isso os jornais são temidos e os próprios editores jamaisabrirão o calhamaço de páginas com tranqüilidade absoluta.

h) Quanto mais a verdade (essencial) se oculta numa no-tícia (nas aparências), mais ela se revela. Isto é uma interpreta-ção livre de um fragmento de Heráclito, filósofo eleata.

i) Os eruditos queixam-se da superficialidade dos jornais,lamentam o laconismo das notas de rádio e flashes de televisão,esperam livros que talvez não leiam. Os educadores lamentamseu antididatismo, por quem confundem cultura com transmis-são pura e simples de procedimentos, conceitos. A indústria cul-tural é, no entanto, menos servil e bem mais problemática doque a escola formal e programada. Embora seu objetivo últimoseja preservar as relações sociais, ela pretende alcançá-lo e con-formando-se e dialogando com os fatos noticiados e com os fa-tos sociais que influem em sua estratégia.

j) O saber dos jornais é extremamente superficial, mas ex-tenso. Eles se confessam perecíveis; não tratam de fins ou prin-cípios. Os espíritos positivos se irritam com a coragem com queos jornais afirmam o impreciso. Mas um jornal sem erros não sepoderia escrever; e só os ingênuos acreditam que não têm inte-resses capazes de levá-los a deturpar os fatos.

k) Os peritos apontam a propaganda oculta; mas é lendoque descobrem qual a propaganda. O sentido, o tom e as formasda propaganda, oculta ou ostensiva, são outras coisas que os jor-nais informam (e os noticiários de rádio e TV).

l) Há, portanto, dois gêneros de verdade consideráveis nasnotícias. Uma verdade está no acordo íntimo entre o que estásendo narrado e o que de fato ocorreu. Outra, disposta no para-digma da escolha das palavras, da ordem e seleção dos aconteci-

Análise ideológica de um texto jornalístico

Page 92: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

92

mentos – dos lapsos entre uma e outra informação e das suges-tões que deixa ao consumidor sobre como preenchê-los – é averdade como adequação histórica.

m) Os jornais, em suma, não têm saída: são veículo deideologias práticas, mesquinharias. Mas têm saída: há neles indí-cios da realidade e rudimentos de filosofia prática, crítica mili-tante, grandeza submetida, porém, insubmissa.

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

81

da TV. Em termos econômicos, no entanto, as revistas semanaisse tornaram inviáveis. O fenômeno ocorreu em outras parte domundo, onde também revistas fotográficas mensais e quinzenaisnão puderam fazer frente aos altos custos. Apesar de tudo, as re-vistas acabaram criando um lugar para a complementação donoticiário diário: “A revista interpretativa. Entre o novo jornal ea velha revista fortificaram-se as revistas noticiosas, gênero ima-ginado por Henry Luce na década de 20, quando criou Time, em1992”. (DINES, 1974, p. 67).

O glamour de revistas como Manchete, Look, Life, Reali-dade e O Cruzeiro foi inviabilizado pela explosão dos meios tele-visivos. Quando a americana Life fechou as portas, vendia aindade seis a sete milhões de exemplares por semana. Mas nada deanúncios. Assim, o preço necessário para vender a revista e decirculação era muito alto, impossibilitando o equilíbrio das ven-das. Era preciso um enorme volume de publicidade semanal,que não se conseguia mais. Atualmente, grande parte das tira-gens das revistas, inclusive Veja e IstoÉ, é comercializada pormeio de assinaturas. A disputa não é só por anunciantes, mastambém por “assinantes”.

Versões variadas – Em 1976, Mino Carta deixou a Veja eparticipou do lançamento de IstoÉ, então uma revista mensal,que no ano seguinte passou a ser semanal e concorrer direta-mente com Veja. Mino Carta explicou a diferença básica entre asduas revistas no primeiro número semanal de IstoÉ. Segundoele, IstoÉ suscitaria debates, não havendo exigência em termosde “opiniões convergentes”: “Por isso, é freqüente o leitor encon-trar determinado enfoque numa página, e outro, bem diverso,nas páginas subseqüentes” (…).

De certa forma, esta preocupação com a linha editorial deIstoÉ ainda resiste: personalização do estilo e da opinião dos re-pórteres. Já o modelo de “texto pasteurizado”, obtido por Veja du-rante longo tempo, não existe mais. No entanto, trata-se tambémde um estilo, é bom lembrar. Um estilo (modelo) adotado, inclu-

Peculiaridades do texto jornalístico para revista

Page 93: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

80

Outro recurso comumente usado pela revista para seduziro público é o sensacionalismo. Mesmo se não seja um privilégioda revista, este recurso parece ganhar nela uma importância par-ticular. Segundo Vilas Boas (1996), é o caso da Revista Veja, queao valorizar o sucesso, evidencia o luxo, a alta posição social, fei-tos extraordinários, beleza física, entre outros atributos do gêne-ro, configurando-se conforme uma “filosofia do agradável”.

Tanto ou mais que a informação e a orientação da opi-nião pública, a revista tem a qualidade de “relaxar o leitor”, istoé, é feita para o entretenimento.10

ANÁLISES

Tendências diversas11

Nas duas grandes guerras, as revistas desempenharamum papel abrangente. Além do mais, eram as únicas que podiamoferecer aos seus leitores imagens nítidas dos acontecimentos re-latados diariamente pelos jornais. Mas, a partir dos anos 50,uma avalanche de novas tecnologias se abateu sobre o universoda informação. Assim, as revistas tiveram de descobrir outras ro-tas para resistir à televisão, por exemplo, a arquiinimiga.

Em 1957, começou a ser usar a cor em O Cruzeiro e Man-chete, uma espécie de ação preventiva contra o preto-e-branco

10 “A fronteira entre jornalismo e entretenimento nunca foi nítida e é cadavez menos: a imprensa popular sempre privilegiou o divertimento e a mí-dia comercial impregna agora todos os seus produtos com entretenimen-to. A sobreposição é quase inevitável: uma notícia pode ser interessante esem importância; em contrapartida, aprende-se muito divertindo-se”.(BERTRAND, 1999).

11 VILAS BOAS, Sérgio. O Estilo Magazine: o texto em revista. São Paulo:Altar, 1991. p.85-6. (Coleção Novas Buscas em Comunicação).

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

93

A proposta deste tema é apresentar, o quanto possível,considerações específicas sobre a produção textual de matériasem algumas editorias específicas, entre as mais presentes no jor-nal diário. Fundamentalmente, a redação de uma matéria sobreum assunto específico (e, portanto, de uma editoria específica)exige do redator conhecimento da área com que está lidando ecapacidade de “traduzir” expressões e termos técnicos, específi-cos do assunto abordado, para uma linguagem “leiga”, que aten-da às expectativas do leitor médio de um jornal diário.

Um razoável trabalho para consulta, que contém, entreoutras dicas práticas, sugestões de pauta e uma pesquisa de vo-cabulário técnico a ser utilizado pelo redator em algumas dasprincipais editorias, encontra-se na obra Jornalismo especializa-do: emissão de textos no jornalismo impresso, do jornalista eprofessor Mário L. Erbolato.

De sua obra, transcrevemos algumas considerações ge-rais sobre as principais editorias encontradas num jornal diário.Vale ressaltar que os comentários que se seguem são amplos,não se restringem a questões de redação, mas ao trabalho daeditoria como um todo, uma vez que não é possível desvinculara redação do resto.

O TEXTO EM ALGUMAS

EDITORIAS ESPECÍFICAS: CONSIDERAÇÕES GERAIS

Capítulo 13

Page 94: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

94

Não incluímos aqui nenhuma consideração específica so-bre a editoria de Cultura ou semelhante pela amplitude do as-sunto, haja vista que essa editoria, segundo Erbolato (1981)apresenta variados tipos de texto em função da variada quanti-dade de assuntos que esta pode abordar, a saber: literatura, cine-ma, crítica de televisão e rádio, horóscopo, lazer, música, artesplásticas, espetáculos em geral, etc. O autor propõe, inclusive, as-suntos que, por sua relevância, tornaram-se, atualmente, edito-rias independentes, como turismo, assuntos femininos e infan-tis, entre outros.

COBERTURA POLICIAL E JUDICIÁRIA

“É penosa, até certo ponto, a missão do jornalista quan-do deve noticiar fatos policiais, sabendo que a publicação iráatingir pessoas que estão passando por um choque enorme,como a perda de pessoas da família. Os fatos, em sua maioria,não podem deixar de ser publicados, porque, por sua impor-tância e por apresentarem facetas curiosas, passam para o do-mínio público instantes depois de ocorrerem e poucas horasantes de o jornal rodar na madrugada seguinte. Todavia, emqualquer hipótese, deve ser adotado o critério de não tripudiarcom ninguém”.

“As notícias sobre tentativas de suicídio sempre foramcondenadas. Explorar o fato seria lançar um estigma sobre quemtentou matar-se e sobreviveu. Enlamear a reputação dessas pes-soas, tornando pública a sua atitude, tomada quase sempre emmomento de desespero, seria impedi-las de se reencontrarem nasociedade. Expecionalmente, alguns jornais adotam o critério depublicar essas tentativas desde que a pessoa esteja envolvida emfato importante, já divulgado, como, por exemplo, uma falênciafraudulenta ou crime de morte”.

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

79

jornais e, hoje, do rádio e da televisão, quando o controle socialo permite. A matéria abre eventualmente com uma narrativa cli-mática que antecede o primeiro tópico frasal. Este é organizadocom base em uma antítese, ou contradição entre notações…

Na revista especializada, por fim, a categorização do pú-blico e do assunto preside a organização estilística. Este proces-so de tomar os fatos como significantes de uma essência adqui-re aí uma condição axial: é o próprio eixo do tratamento textual.Por outro lado, na medida em que as hipercategorizações do pú-blico não correspondem à realidade no plano da socioeconomia,será necessário reiterá-las através da simbolização da feminilida-de (na revista feminina), da masculinidade, do individualismoempático dos astros (que eventualmente operarão com elemen-tos de absorção simbólica de intenções de libertação previsíveisnos leitores). Tudo isto se irá compor com a intenção funda-mental de jamais esgotar o assunto.

As revistas de informação geral preocupam-se, na reali-dade, em abordar o assunto e não o fato. Neste último, cabe maisos jornais diários, rádio e TV. Isso propicia uma redação menosrígida, a começar pelo lead. Para Vilas Boas (1996):

A abertura das matérias é quase sempre uma narrativa climáti-

ca seguida do primeiro tópico frasal. Geralmente, é uma estrutura

baseada em antíteses: o fato e a sua circunstância, do fato e sua con-

seqüência. Criado o clima de tensão e angústia, que é a própria mo-

tivação para a leitura, logo depois vem a explicação da antítese.

Além dessa forma antitética, há outras, como, por exem-plo, a construção claramente interpretativa, isto é, primeiro dá-se o nome ao fato, para depois quantificá-lo. De qualquer forma,usando da criatividade e buscando envolver o leitor, a aberturado texto jornalístico substitui, em geral, o tradicional lead.

Peculiaridades do texto jornalístico para revista

Page 95: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

78

mo das palavras para transmitir sentido, substituindo dois pontos

por ponto-e-vírgula ou vírgula por um ponto, por exemplo. En-

tão, observe a diferença que isso faz. Pontue de modo que lhe pa-

recer mais lógico, efetivo e econômico.

UMA CLASSIFICAÇÃO PARA AS REVISTAS EREGULARIDADES DE ESTILO

Segundo Lage (1979), “costuma-se classificar as revistas-magazines em três grupos: ilustradas, de informação geral e es-pecializada”. Ele afirma que “não devemos esperar que as revis-tas tenham fórmulas de redação tão rigidamente estabelecidasquanto as notícias de jornal”. Lage prefere apontar regularida-des, presentes nesses três tipos clássicos de revistas:

Nas revistas ilustradas, a palavra escrita é com freqüênciamera acompanhante, necessária porém discreta, da exposição fo-tográfica. Quem realmente produz a matéria é quem seleciona asfotos. A técnica é essencialmente audiviosual, como a do cinemaou da TV. A fotografia de abertura e o elenco fotográfico de cadalayout darão o mote para as glosas do título e do texto; trata-se,assim, de uma organização fundada na redundância. (…) Nãosurpreende que a proporção de fotos publicadas sobre as fotos ob-tidas, num magazine contemporâneo, ultrapasse usualmente umpor cem: para contar significados, é preciso dispor de uma amplavariedade de unidades semânticas. O texto circunstancia as fotos,não o contrário, mas o sentido da mensagem estará determinado,ou pelo menos circunscrito, pela seleção fotográfica. (…)

Nas magazines de informação geral, a estrutura do textorecupera a organização do discurso em tópicos frasais e docu-mentações. Como ocorre indiscriminadamente com as revistas,trata-se de abordar o assunto e não o fato; este fica por conta dos

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

95

“Ao se referirem ao criminoso, e também à vítima, devemos jornais ter o cuidado para mencionar-lhes os nomes correta-mente, e seria ideal que não citassem seus parentes e as firmas emque trabalham. Dados pessoais do acusado, menção de defeitos fí-sicos, cor da pele e referências à religião somente seriam admitidosse o criminoso estivesse foragido e oferecesse perigo e a imprensapretendesse cooperar com a polícia para que fosse capturado”.

“Nomes de menores não podem ser divulgados quandosão autores de fatos criminosos. Apenas são mencionadas as suasiniciais. Nas fotos, se publicadas, deverá haver uma tarja nosolhos. O sigilo, contudo, na prática, não é mantido. Se a notíciainformar que o menor M.A.F., filho de Márcio de Abreu, resi-dente em São Paulo, na rua Cotovia, 3456, matou ontem um co-lega, pelo menos seus vizinhos e amigos identificá-lo-ão pormeio do endereço e do nome do pai”.

Sobre os processos judiciais: “o repórter e o comentaristadevem, pois, conhecer o rito, ou seja, o andamento de cada pro-cesso e saber onde pedir as informações, a respeito deles, em cadafase. Todavia, algumas ações processam-se em segredo de justiça,em benefício da própria sociedade ou das partes nelas envolvidas”.

NOTICIÁRIO ESPORTIVO

“Além de conhecer as regras e os regulamentos de cadamodalidade de esporte, o jornalista precisa inteirar-se de umasérie de fatos que, por serem infringidos ou esquecidos, podemconstituir base para um bom noticiário”.

“Para cada especialidade (esportiva) recomenda-se umjornalista que entenda do assunto e que explique e comente aspossibilidades dos concorrentes e as conseqüências de uma vitó-ria, derrota ou empate em algumas competições. Aplicando-seas regras gerais sobre entrevista, reportagem, redação e diagra-

O texto em algumas editorias específicas: considerações gerais

Page 96: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

96

mação, pode uma Seção Esportiva abordar aspectos variadíssi-mos, dependendo da orientação da Editoria e da Produção”.

ECONOMIA E FINANÇAS

“As regras básicas da imprensa aplicam-se ao JornalismoEconômico: redução de qualquer assunto técnico à altura dacompreensão do leitor comum, explicação (se possível comexemplos ou hipóteses) do que significam certas determinaçõesoficiais, interpretação estatística e comparações. Orientar, en-fim, o leitor das matérias especializadas”.

“Alguns jornais efetuam levantamentos, semanais ouquinzenais, sobre preços de alimentos nos supermercados e pu-blicam as respectivas tabelas comparativas. É uma forma deatender ao consumidor, dando-lhe a informação precisa e segu-ra, capaz de proporcionar às donas de casa um cálculo antecipa-do de quanto irá gastar e onde deve efetuar suas compras”.

“Eventualmente, poderá ir para as páginas de Economiauma reportagem também adequada para o setor policial: falên-cia fraudulenta ou venda indevida de ações. O mesmo se pode-ria dizer de matéria referente a turismo, porém analisada sob oaspecto estatístico”.

COBERTURA POLÍTICA E ADMINISTRATIVA

Diante da complexidade que é a administração pública(nas esferas municipal, estadual e federal),“ao jornalista cabe sa-ber a que fontes deve dirigir-se. Há os repórteres de setor (ou se-toristas) que freqüentam uma ou várias repartições invariavel-mente e que melhor se inteiram dos assuntos da “especialidade”dos ministérios, das secretarias, das autarquias, das sociedadesde economia mista e de outras para as quais são destacados”.

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

77

As revistas se aproximam ainda mais da literatura que ojornalismo diário. Por essa razão, “admite usos estéticos da pala-vra e recursos gráficos de modo bem mais flagrante que os jor-nais”. De fato, enquanto o jornalismo diário opta preferencial-mente pelo sentido conotativo das palavras, o texto jornalísticoda revista extrapola ao sentido imposto pelo dicionário. É o queanalisa Vilas Boas (1996):

O estilo gráfico e a linguagem tendem para uma gramática pró-

pria do gênero revista. Na escolha dos significados, além do habi-

tual estilo formal-coloquial do jornalismo, a revista toma expres-

sões da literatura e as transpõe para o uso corrente. Da mesma for-

ma o faz com expressões populares (jargões, neologismos, colo-

quialismos etc). Daí pode-se obter uma outra forma de expressão,

ao mesmo tempo criativa e erudita.

Esse “namoro” com a literatura faz com que o texto pararevista, sendo um texto jornalístico, privilegia a forma narrati-va (própria da reportagem) e abordagem do perfil de um oumais personagens (interessante, aqui, retomar notas sobre Per-fil na página 55).

Vilas Boas (1996) faz ainda algumas recomendações paraque o texto para revista, sem sair dos padrões jornalísticos, ga-nhe um “rebolado” próprio:

O ritmo e a sonoridade das palavras também são muito impor-

tantes. Ler o texto em voz alta é uma boa medida para perceber se

as palavras estão acompanhando a orquestração das idéias e se as

frases estão no tamanho certo.

Fique atento também às diferentes entonações que você pode

obter com travessões, vírgulas, pontos, espaços e dois-pontos. Ex-

traia deles o máximo efeito. Experimente usar a pontuação e o rit-

Peculiaridades do texto jornalístico para revista

Page 97: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

76

técnica jornalística com a crítica, analisando ao mesmo tempoa obra e o fato ou acontecimento gerado por ela. As revistas,para se distinguirem, acrescentam ao texto noticioso um con-teúdo complementar ou uma angulação ainda mais específica”.(VILAS BOAS, 1996).

De modo a contribuir para cobrir o vazio deixado pelainformação puramente episódica, seca e objetiva do jornalismodiário, a revista lança mão da documentação para medir os por-quês do fato.

Sobre o texto interpretativo, é preciso considerar que estenão deve conter a “palavra final”, permitindo que o próprio lei-tor interprete. Isso implica, primeiro, segundo Vilas Boas (1996),puxar o cordão dos fatos, desamarrar o fio dos eventos, oferecerdiferentes ângulos de visão da situação, complementando comhistóricos, depoimentos, dados estatísticos, documentário foto-gráfico, enquadramentos ideológicos e prognósticos. Para LuizBeltrão (apud VILAS BOAS, 1996):

… no jornalismo interpretativo, os critérios de valoração específi-

cos, que levam a identificar o objeto de maior importância (da re-

portagem), podem ser adotados com base numa escala de valores.

Primeiramente, o valor absoluto, aquele que a notícia tem por si

mesma. Em segundo lugar, o valor intrinsecamente relativo é obti-

do por um detalhe, um matiz que dá um relevo inesperado à notí-

cia. Por último, o valor extrinsecamente relativo. Este depende das

circunstâncias para se obter um número maior ou menor de leito-

res para os quais a notícia é fundamental.

Aliado a isso, é preciso considerar ainda o número e aqualidade das pessoas envolvidas com o fato que originou areportagem.

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

97

“A Seção Política de qualquer jornal pode abordar temasque, à primeira vista, parecem não ter qualquer relação com essaEditoria. Porém, considera-se política ‘a direção dos negócios pú-blicos’, ‘a arte de governar os povos’ ou ‘o conjunto de planos deação’. A transferência da capital de um Estado, a construção de viasde acesso a bairros e a designação de um embaixador podem me-recer ou exigir que esses assuntos sejam interpretados sob o pris-ma político. O repórter e o redator têm obrigação de conhecer aConstituição Federal e as Estaduais, que sejam de interesse para onoticiário, bem como as Leis Orgânicas dos Municípios e toda a le-gislação da Prefeitura da cidade em que exercem sua profissão”.

“A cobertura referente aos assuntos municipais permitepraticamente pesquisas, enquetes e interpretação de qualquerassunto, já que qualquer ocorrência apresenta a característicada ‘proximidade’”.

CRÔNICA SOCIAL

“A crônica social começou a ser publicada nos grandesjornais quase como as mesmas formas e características comoainda se conserva nos pequenos diários ou semanários do inte-rior: uma seção em que se registram aniversários de nascimen-to, noivados, batizados, casamentos, bailes, viagens, novas dire-torias de clubes, conferências, almoços e jantares de clubes deserviço e as clássicas ‘visitas à redação’”.

“A partir da década de 50, surgiu o ‘colunismo social’, queocupa atualmente uma ou duas páginas diárias do jornal. As-suntos ecléticos merecem cobertura e, em alguns casos, o pró-prio jornal chega a tomar iniciativas, como a da escolha das ‘10mais elegantes’ ou dos ‘20 empresários de destaque’. Alguns co-lunistas promovem festas beneficentes ou patrocinam bailes dedebutantes, coroação de rainhas de estudantes ou desfiles demodas. O noticiário social é vasto e, além de informação, sem-

O texto em algumas editorias específicas: considerações gerais

Page 98: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

98

pre há a opinião breve do colunista, que se arrisca a elogiar ou acriticar algum empreendimento”.

A crônica social é responsável ainda pelo surgimento demuitos neologismos (criação de frases ou palavras novas ou usode palavras em português ou inglês com um sentido novo).Exemplos: “circular” pela cidade; “troca de alianças”; “figurinhabadalada”; “par constante”; “belle époque”; “colocando aliançasna mão esquerda”; “avant-première”, “charme”, “drincar”, etc.

JORNALISMO CIENTÍFICO

“A divulgação científica não deve fugir às normas geraisda redação e necessita apresentar clareza, eliminando sempreque possível a aridez do assunto, com a inclusão de um toque dehumor e graça. Os jornais precisam explicar, interpretar e infor-mar o máximo possível sobre as descobertas e orientações cien-tíficas, ainda que muitas delas já sejam rudimentarmente do co-nhecimento geral, porque ‘os meios de comunicação coletivaconstituem hoje a única escola popular e permanente’, segundoacentuou Gonzalo Cordova G., ex-diretor do Ciespal”.

“A ciência, diz David Warren Burkett (em Como escreverciência para o público), caiu no domínio público. Há milhares deanos, o homem procura compreender o universo que o rodeia ese, hoje, um editor ainda acreditar que a ciência só aos especia-listas interessa estará fora do seu tempo e enganando-se a si mes-mo. O relato apresentado ao público deverá ser o de nível popu-lar, entre o elementar e o especializado”.

“Diariamente o jornalista enfrenta problemas científicos,esclarecidos ou em fase de pesquisa, cumprindo-lhe porémmostrar o que de útil pode ser feito em favor dos leitores”. O jor-nalista, ao redigir a matéria, não só estará divulgando e infor-mando, mas especialmente indicando os cuidados que a popu-lação deve ter, para não adquirir, por exemplo, uma doença.

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

75

A combinação de fotografia, diagramação e texto de umarevista revelam uma produção bem mais artística quanto aos as-pectos de programação visual. Isso lhe confere um apelo bemmaior, isto é, a revista é um produto visualmente bem mais se-dutor que o jornal, até porque, ao permanecer mais tempo nabanca, precisa ser mais cativante que o diário. A própria capapossui atrativos de uma embalagem.

Enquanto que para os jornais diários (mais precisamente,de segunda a sábado) o que importa é o factual, as revistas (e aexemplo destas, os jornais aos domingos, especialmente seus su-plementos) são determinados pelo estilo de texto e pela exigên-cia de maior “interpretação” dos fatos (seleção crítica de dados esua transformação em matéria). Nesse caso, há um claro desdo-bramento das notícias em reportagens (que são a alma da revis-ta). É evidente, portanto, que “a periodicidade de uma revista édeterminante para o estilo de texto”. (VILAS BOAS, 1996).

Nota: “Enquanto estilo, os cadernos de cultura os as cha-mas segundas-seções (dos jornais diários) costumam conciliar a

PECULIARIDADES DO TEXTO

JORNALÍSTICO PARA REVISTA(E ALGUMAS ANÁLISES COMPARATIVAS ENTRE

OS TEXTOS PARA JORNAL E REVISTA)

Capítulo 11

Page 99: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

74

Exemplo de press-release padrão:

USC e Conservatório Pio XII realizam sarau músico-literário

Uma homenagem aos 250 anos do escritor alemão Jo-han Wolfgang von Goethe através da música e da literatura ro-mântica. Este é o objetivo do sarau músico-literário intitulado“Goethe e os Românticos”, programado pelo Departamento deLetras e Artes da Universidade do Sagrado Coração (USC) eConservatório Musical Pio XII para o próximo dia 22 destemês, a partir das 20 horas, no Teatro Universitário Veritas(TUV). Aberto ao público em geral, o evento tem entradafranca. Patrocinam o sarau Costa Mundi Turismo e DoceriaViena, de Bauru.

A iniciativa, coordenada pelos professores Ms. ÉlidaMaria da Fonseca Costa Farias, Antonio Walter Ribeiro de Bar-ros Júnior e Dra. Rosa Maria Tolón, reunirá alunos do curso deTradutor da USC e do Pio XII que apresentarão poemas e mú-sicas inspiradas na obra de Goethe e de autores românticos. Ospoemas são de autores brasileiros e portugueses do Romantis-mo cuja obra mantém relação com as idéias de Goethe, enquan-to as canções são de Beethoven, Brahmams, Schumann e Schu-bert. Destaque para a participação dos intérpretes Danilo Stola-gli e Edna Manfio Tardarelli.

Release enviado à imprensa de Bauru no dia 18/10/99Jornalista: Luís Henrique Marques

Assessoria de Comunicação da Universidade do SagradoCoração (USC)

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

99

O jornalista encarregado de dirigir seções científicas pre-cisará perseguir os princípios:

1. ser desejoso de compreender e conhecer;2. discutir e perguntar sobre todas as coisas;3. procurar informações e seu significado;4. pedir a comprovação de qualquer postulado;5. respeitar a lógica;6. considerar sempre as premissas;7. avaliar as conseqüências.

O texto em algumas editorias específicas: considerações gerais

Page 100: Teoria Pratica Jornalismo Impresso

100

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

15 Adaptado do texto do CIMPEC – Centro Interamericano para la Produc-ción de Material Educativo y Científico para la Prensa. Extraído do livroJornalismo especializado: emissão de textos no jornalismo impresso, de Má-rio L. Erbolato, Vozes, página 45.

Saiba que…

enquanto o cientista

É um redator ocasional…

Escreve apenas quando necessário epode ficar muito tempo sem redigir…

Tem um estilo polido, fiel, capricha-do, embora alguns não o entendam…

Não aceita limites para a extensão, or-ganização, apresentação e estilo de seustrabalhos…

Especializa-se em uma ciência e àsvezes apenas em uma parte dela e temescassos conhecimentos sobre comu-nicação,…

Tende ao tecnicismo, o que pode tor-nar obscuro seu trabalho,…

Tem a ciência como o seu trabalho…

É exato e rigoroso…

Pode ser vítima de pressões…

Possui como virtudes o rigor e a pro-fundidade…

Pode se tornar um especialista mes-quinho, sábio, inculto, rotineiro, frutode uma formação incompleta e desu-manizada…

o jornalista

…é um redator permanente.

…tem o exercício da escrita comoseu trabalho de todos os dias.

…redige com facilidade e quer que to-dos o compreendam.

…deve seguir determinados estilos eadaptar-se às normas do jornal que lheindica, inclusive, o espaço que dispõe.

…não é especializado em ciências, masdomina as técnicas da comunicação.

…interessa-lhe sobretudo a clareza eo entendimento do que escreve.

…vê a ciência como notícia.

…é descritivo e ameno.

…pode ser vítima da falsa ciência.

…possui como virtudes a rapidez e averdade.

…pode se tonar um desavergonha-do, despreocupado com a sua socie-dade e que se deixa levar pelo opor-tunismo e pela ignorância.15

73

4. Quanto aos tipos (uma classificação):Release para colunismo social – evidencia pessoas e seus

cargos, embora não deve-se esquecer de que são muitas as vezesem que o centro das atenções é a organização, principalmentenos casos de inaugurações, aniversários, lançamentos etc. É ela-borado sobretudo segundo o estilo texto-legenda. Costumaapresentar muitos adjetivos, advérbios e palavras de alto grau deconotação, diminutivos afetivos, superlativos afetados, além deestrangeirismos e abreviações do tipo champã (campanha); su(sucesso) e niver (aniversário).

Release-convite – é um mini-release, muito mais umconvite do que um texto jornalístico, apesar de trazer informa-ções que podem ser transformadas em matéria. Geralmente,esses press-releases acompanham um programa oficial do even-to que também serve de material informativo. Releases dessetipo dificilmente apresentam título ou textos que ultrapassema dois parágrafos.

Release cobertura – pode ser chamado de release-antece-dência. Isso porque o press-release de cobertura de um eventotem que ser feito antes que o fato aconteça, a não ser, é claro,que o encarregado de redigi-lo faça-o logo após a consecuçãoda notícia.

Há outros tipos de classificações como release-brinde, re-lease-depoimento, release-cortesia, etc. cujo estilo confunde-semuito com materiais de Relações Públicas e de Propaganda ePublicidade.

Press-Release (ou Release)

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e este, o quanto possível, de ação; e o tempo verbal deve ser, pre-ferencialmente, o do presente simples (histórico).

Há também o problema do nome da empresa no título.Deve ou não deve ser colocado? Bem, o critério aqui é o mesmoutilizado por qualquer titulador de jornal. Se o nome da empre-sa se constituir em notícia evidentemente poderá ser incluído notítulo; caso contrário, será mera publicidade institucional.

2. Quanto ao texto:a) não deve ser demasiado longo (“por causa dos proble-

mas de espaço que normalmente se fazem sentir nas redações”);b) os parágrafos devem ter entre quatro a sete linhas. Isso

assegura um padrão visual de texto quando estampado no jor-nal ao mesmo tempo que facilita a leitura, tornando os parágra-fos de acessível assimilação pelo leitor.

c) é indicado que em cada parágrafo apareçam pelo me-nos dois pontos finais (ou seja, duas orações completas), paraque o período não fique muito longo. A redação deve ser simplese clara, com frases curtas e uso de palavras não muito longas ede uso corrente.

d) é aconselhável o uso de intertítulos para não só facili-tar a leitura, mas permitir a identificação do texto como mate-rial jornalístico, evitando, assim, ser confundido com uma car-ta-ofício, por exemplo.

3. Quanto ao conteúdo:a) deve ser estritamente informativo, só trazendo opi-

niões quando essas forem colocadas na boca de alguém;b) deve ser redigido do mais para o menos importante,

dando-se ênfase ao lead que é formado por um gancho (o pon-to mais importante do texto que vai pendurar o leitor) acresci-do das respostas às seis perguntas clássicas (do jornalismo).

Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

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BERTRAND, C. A deontologia das mídias. Bauru: EDUSC, 1999.

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Teoria e prática de redação para jornalismo impresso

71

Definição: é a informação escrita que as assessorias deimprensa, de órgãos públicos ou privados, enviam às redaçõesou fornecem a jornalistas.

De acordo com Lima (1985), a função primordial do re-lease – e de seu irmão mais gordo, o press-book – não é a de serpublicada como matéria acabada, mas de provocar a notícia. Sena pequena imprensa do interior e nos jornais de bairros, o pro-duto pronto para o consumo facilita o trabalho de equipes inci-pientes – e até o substitui – na grande imprensa ele recebe novaembalagem ou apenas dá o pontapé inicial da grande jogada. Oideal é que um mesmo press-release seja reescrito para divulga-ção em órgãos de natureza diferente (impresso, rádio e TV) ousejam produzidos releases específicos para órgãos de imprensaigualmente específicos.

Estrutura:1. Quanto ao título: segue as mesmas regras de uma notí-

cia ou reportagem, isto é, deve chamar a atenção do leitor; tra-zer o mais importante do lead; conter, de preferência, um verbo

PRESS-RELEASE

(OU RELEASE)

Capítulo 10

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Sobre o Livro

Formato 14x21 cm

Tipologia Minion (texto)

Helvética Light (títulos)

Papel

Cartão Supremo 250g/m2 (capa)

Impressão Sob demanda

Acabamento Costurado e colado

Tiragem 1.000

Equipe de Realização

Coordenação Executiva Luzia Bianchi

Produção Gráfica Renato Valderramas

Edição de Texto Renata Vieira e Villas Bôas

Assistentes de Edição de Texto Beatriz Rodrigues de Lima

Fernanda Godoy Tarcinalli

Valéria Biondo

Revisão Angela Lemes de Moraes

Glória Maria Palma

Projeto Gráfico Equipe EDUSC

Criação da Capa Tatiana Peres

Catalogação Eliane de Jesus Charret

Diagramação Carolina de Freitas Roveda

Impressão e Acabamento

Gráfica Bandeirantes S/A

69

Pedrosa: A pesquisa vai abranger os seguintes meios decomunicação: a imprensa, a rádio, a televisão e os sites da inter-net. Vai haver um levantamento de toda a imprensa utilizadapela Igreja Católica no Estado de S. Paulo. Na questão das rádiose da televisão, haverá um levantamento dos meios que são utili-zados e também a análise da programação e da audiência.

Informe: O que se pretende após esses levantamentos?

Pedrosa: Bem, essa pesquisa será realizada para ajudar aPastoral da Comunicação e o Setor de Comunicação do Regio-nal Sul-1 a conhecer e utilizar de maneira mais eficiente, maisadequada esses meios. Então, essa pesquisa tem 3 etapas: a pri-meira para conhecer; a segunda para avaliar e a terceira, traçaras estratégias de comunicação a partir de dados mais concretose um conhecimento mais amplo da sua rede de comunicação.

Informe: Como será feito o trabalho da primeira etapaem que ocorrem o levantamento de dados?

Pedrosa: Na primeira etapa, os entrevistadores têm comoinstrumento de trabalho um questionário. De posse desse ques-tionário e também dos cadastrados que conseguimos junto àRede Católica de Imprensa (RCI) e dos cadastrados de rádio etelevisão do Estado de S. Paulo, os entrevistadores deverão en-trar em contato com esses veículos (por telefone e depois, pes-soalmente, através de entrevistas) para atualizar os dados cadas-trados. Para esse trabalho, os entrevistados vão se servir tambémdas informações obtidas junto aos párocos e conselhos de pasto-ral das paróquias. (LHM).

Entrevista e Declarações

Reciclato 70g/m2 (miolo)