teoria geral e história do pensamento jurídico apostila 2º bimestre - 2011

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TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José E. Melhen - 2º bimestre - 2011 1 PODER JUDICIÁRIO O Poder, um dos elementos do Estado, possui tripartição de funções, a saber: uma função legislativa, uma executiva e uma judiciária. Ao Judiciário incumbe aplicar (dizer) o Direito em relação aos litígios que lhe são apresentados. Por litígio pode-se entender toda pretensão resistida colocada em Juízo. Há que se considerar que apenas o Estado tem o monopólio do uso da força (salvo raras exceções como a legítima defesa e o estado de necessidade), daí a razão pela qual ao Estado, na função Judiciária, dizer o direito aplicável aos litígios (jurisdição). As únicas decisões marcadas pela definitividade são as proferidas pelo Poder Judiciário. Essas, sim, fazem “coisa julgada”. Logo, decisões administrativas e decisões de Tribunal de Contas NÃO fazem coisa julgada. A jurisdição (juris dictio = dizer o direito) é substitutiva, definitiva e inerte. Conforme já mencionado em aula, os conceitos de litígio e conflito são diversos. O litígio é o conflito deduzido perante o Judiciário para análise e decisão. O conflito, por sua vez, é inerente ao ser humano e, ainda que o litígio tenha sido resolvido pelo Judiciário, o conflito muitas vezes continuará existindo. Pense-se em um caso de separação litigiosa proferida por sentença: o Judiciário solucionou o litígio, mas o conflito (rusgas pessoais) entre os ex-cônjuges possivelmente perdurará. Princípios fundamentais do Poder Judiciário: Inércia e devido processo legal (CF, 5º, LIV). O Judiciário é inerte porque não pode agir de ofício, mas, somente, mediante provocação das partes interessadas. Tal princípio visa resguardar sua independência, daí “Nemo judex sine actore” (não há juiz sem autor). A inércia assegura, portanto, a imparcialidade do juiz.

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TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José E. Melhen - 2º bimestre - 2011

1

PODER JUDICIÁRIO

O Poder, um dos elementos do Estado, possui tripartição de funções, a saber: uma função

legislativa, uma executiva e uma judiciária.

Ao Judiciário incumbe aplicar (dizer) o Direito em relação aos litígios que lhe são

apresentados.

Por litígio pode-se entender toda pretensão resistida colocada em Juízo. Há que se

considerar que apenas o Estado tem o monopólio do uso da força (salvo raras exceções

como a legítima defesa e o estado de necessidade), daí a razão pela qual ao Estado, na

função Judiciária, dizer o direito aplicável aos litígios (jurisdição). As únicas decisões

marcadas pela definitividade são as proferidas pelo Poder Judiciário. Essas, sim, fazem

“coisa julgada”. Logo, decisões administrativas e decisões de Tribunal de Contas NÃO

fazem coisa julgada. A jurisdição (juris dictio = dizer o direito) é substitutiva,

definitiva e inerte.

Conforme já mencionado em aula, os conceitos de litígio e conflito são diversos. O litígio é

o conflito deduzido perante o Judiciário para análise e decisão. O conflito, por sua vez, é

inerente ao ser humano e, ainda que o litígio tenha sido resolvido pelo Judiciário, o conflito

muitas vezes continuará existindo. Pense-se em um caso de separação litigiosa proferida

por sentença: o Judiciário solucionou o litígio, mas o conflito (rusgas pessoais) entre os

ex-cônjuges possivelmente perdurará.

Princípios fundamentais do Poder Judiciário: Inércia e devido processo legal (CF, 5º, LIV).

O Judiciário é inerte porque não pode agir de ofício, mas, somente, mediante provocação

das partes interessadas. Tal princípio visa resguardar sua independência, daí “Nemo

judex sine actore” (não há juiz sem autor). A inércia assegura, portanto, a imparcialidade

do juiz.

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A relação processual constitui um actum trium personarum, onde o Estado

(representado pelo juiz) encontra-se acima das partes e sem pender para o lado de

nenhuma delas.

Devido processo legal é aquele já previsto na legislação e, assim, ao menos em tese,

previamente conhecido pelas partes. O juiz não pode simplesmente criar um andamento

processual, mas, sim, obedecer àquele já previsto na legislação em vigor. A supressão de

atos, desrespeito às previsões processuais estampadas em lei e na Constituição podem

constituir violação a esse princípio.

Devido Processo Legal

Para entendermos a aplicação prática do princípio do Devido Processo Legal, devemos,

primeiro, entender o significado de Devido Processo Legal.

Sendo assim, não podemos perder de vista que o Devido Processo Legal é uma cláusula

geral.

E o que é uma “cláusula geral”? Cláusula geral é um tipo de texto normativo que

estabelece valores que serão preenchidos historicamente (valores a serem preenchidos

historicamente).

Ex. Imaginemos a seguinte placa em uma praia: “Proibido o uso de biquíni”. Se

estivéssemos em 1940, a interpretação seria a de que as mulheres deveriam permanecer

com roupas, sem colocar biquínis. Mas, se a placa for atual, dos tempos modernos,

entenderemos que aquela praia é uma praia de nudismo.

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O conceito de devido processo Legal depende da evolução social, do momento histórico

em que se vive. Assim, na época da Santa Inquisição, acreditava-se que existia devido

processo legal nos julgamentos levados a efeito, nas mortes na fogueira. De lá pra cá, a

sociedade evoluiu bastante e aquele conceito de devido processo legal não mais nos é

suficiente.

Os doutrinadores não têm receio de dizer que o devido processo Legal é o mais

importante princípio de direito processual.

É um princípio-mãe, está sempre gerando outros princípios. Nesse sentido, podemos

lembrar alguns princípios gerados pelo Devido Processo Legal:

- princípio do juiz natural;

- princípio do contraditório:

- princípio da efetividade;

- princípio da adequação;

- princípio da proibição de produção de provas ilícitas;

- princípio da duração razoável do processo.

Todos esses princípios são corolários, decorrentes do princípio do Devido Processo Legal.

A doutrina explica que o Devido Processo Legal possui duas diferentes dimensões:

- Devido Processo Legal Formal;

- Devido Processo Legal Substancial.

Devido Processo Legal Formal

Diz respeito a um prévio procedimento pautado nas formalidades legais. Ex. regras de

competência fixadas de maneira prévia, anterior. Existe um procedimento que deve ser

seguido. Assim, o juiz criminal não irá julgar causa trabalhista e vice-versa. O juiz do

trabalho não irá julgar se houve ou não um homicídio, se o réu é culpado. Existem regras

previamente traçadas sobre a competência dos órgãos jurisdicionais.

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Devido Processo Legal Substancial

De acordo com a dimensão substancial, material do Devido Processo Legal, as regras

devem ser razoáveis, justas. Em última análise, o Devido Processo Legal Substancial é

sinônimo (tem o mesmo significado) do Princípio da Proporcionalidade ou Princípio da

Razoabilidade.

Ex. imaginemos edital de concurso público para delegado de polícia, prevendo que, para

passar no concurso, a mulher precise fazer 10 barras. Muitos homens não conseguem

fazer uma barra sequer. Pensemos se há alguma razoabilidade, alguma justiça em se

exigir que a mulher consiga realizar 10 barras. E, como se controla isso? Pelo princípio do

Devido Processo Legal Substancial. No caso em exame, não há razoabilidade em se

exigir da mulher a realização de 10 barras. Percebamos, a partir desse exemplo, que o

Devido Processo Legal deve nortear não apenas o aplicador do Direito (o juiz no momento

do julgamento), mas também o Legislador (aquele que produz normas, ainda que

administrativas, como é o caso do edital).

Ex.2 – Edital de concurso para a magistratura que preveja a idade máxima de 45 anos

para que candidatos se inscrevam no concurso. Esse edital também não obedece ao

devido processo legal substancial, pois traz uma norma que é substancialmente

desproporcional. Ao contrário, a maturidade pode ser um elemento que só vem a

contribuir com o exercício da magistratura. Nesse sentido, o Conselho Nacional de Justiça

já declarou inválidas regras de editais de concurso para a magistratura, com reabertura

das inscrições, que previam a limitação da idade de 45 anos para a inscrição (caso

recente do TJ-MS).

Percebe-se, dessa maneira, que o Devido Processo Legal (substancial e formal) tem

aplicação em inúmeros casos. Então, p. ex., quem passou na parte escrita e oral do

concurso de delegado, mas não conseguiu fazer as barras impetra mandado de

segurança, alegando que a disposição editalícia é inconstitucional por ferir o princípio do

devido processo legal substancial (a disposição que prevê as 10 barras não contém

razoabilidade) e que possui o direito líquido e certo de tomar posse sem essa exigência

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desproporcional. O magistrado analisa o pedido e o candidato toma posse sem essa

exigência.

Existe Devido Processo Legal nas relações privadas?

Sim, é uma tendência nova no direito brasileiro.

Imagine-se que Caio seja sócio de um clube recreativo. Haverá um baile e Caio, muito

amigo do Tício, para ajudar o amigo, resolve colocá-lo no porta-malas do carro para entrar

no baile, dado que o amigo não é sócio do clube. Um funcionário do clube, entretanto,

flagra Tício saindo do porta-malas do carro de Caio. Imaginemos que no estatuto do clube

exista uma cláusula que diz que o associado que levar estranho no porta-malas será

expulso. E Caio acaba expulso do clube. Revoltado com a situação Caio vai procurar um

advogado. O advogado certamente perguntará a Caio: “o clube lhe concedeu

oportunidade para vc apresentar defesa e recurso antes de tomar a medida da expulsão?”

Se a resposta for negativa, não lhe foi assegurado o Devido processo legal, devendo Caio

tomar uma medida judicial para que a sua expulsão seja invalidada.

O art. 57 do Código Civil sofreu alteração no ano de 2005, para prever expressamente o

princípio do devido processo legal entre particulares, já que, a partir dessa alteração, a

exclusão de associado só será válida quando houver o direito de defesa e o de recurso.

Mas, e se o clube, ao invés da expulsão, suspende o associado? O raciocínio é o mesmo,

embora não haja artigo expresso. A suspensão só será válida se houver a possibilidade

de defesa. É a aplicação do princípio do devido processo legal aos particulares, às

relações privadas.

Exemplo 2. Imagine que um sujeito resida em um apartamento e que exista a seguinte

regra do condomínio: os condôminos podem ter cachorro, mas os cachorros não podem

pisar no chão do prédio, na área comum do prédio. Um dia tal pessoa está chegando em

casa com seu cão e a vizinha vê que o cachorro pisou no chão do elevador.

Conseqüência disso: o condomínio lhe aplica uma multa pelo fato de ele ter deixado o

cachorro tocar o solo. Pergunta: o condomínio lhe deu a oportunidade de defesa ou a

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pessoa recebeu a multa sem ser ouvida? Se não teve a oportunidade de defesa, poderá ir

a juízo pleitear a invalidade da multa que lhe foi aplicada.

O STF decidiu caso semelhante à situação colocada. Na decisão do STF, um associado

da União Brasileira de Compositores foi expulso sem que lhe fosse assegurada a

oportunidade de defesa. O STF considerou inválida a referida expulsão por violação ao

princípio do Devido Processo Legal.

Nesses exemplos (casos de expulsão, caso da aplicação da multa ao condômino), não

houve o devido processo legal formal, as partes não tiveram oportunidade de defesa.

Mais um exemplo. Imagine-se que exista a seguinte norma em um condomínio: O

condômino que não realizar o pagamento da taxa condominial não poderá utilizar os

elevadores. Então, um condômino, morador do 15º andar, que por uma infelicidade do

destino não pôde pagar o condomínio, estará impedida de usar o elevador.

Será que essa norma observa o princípio do devido processo legal substancial? Em outras

palavras, é uma norma razoável?

Em caso idêntico, o TJMG decidiu que a restrição ao uso dos elevadores, ainda que

prevista na Convenção do Condomínio, lança sobre o condômino punição vexatória, que

fere a dignidade da pessoa humana. Há, portanto, violação ao princípio do Devido

Processo Legal substancial, pois essa restrição não é razoável, proporcional.

Conclui-se, assim, que, nas relações privadas, é necessário que se observe o Devido

Processo Legal (formal e substancial).

Princípio do Juiz Natural

Em 1960, foi construído o muro de Berlim, que dividiu a Alemanha em Alemanha ocidental

(sob a influência dos EUA) e Alemanha oriental (sob a influência da ex-URSS). Ninguém

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podia atravessar o muro, vale dizer, as pessoas que se encontravam na parte oriental não

podiam ir à parte ocidental e vice-versa.

Logo após a construção do muro, um rapaz de 18 anos, chamado Peter, tentou, com um

amigo, atravessar o muro para encontrar a sua irmã. O amigo conseguiu passar, mas

Peter foi atingido pelos atiradores do muro, encarregados de não permitir a passagem das

pessoas. Muito bem, em 1989, cai o muro de Berlim e a Alemanha reunifica-se. Há, então,

o julgamento dos atiradores do muro de Berlim, que diziam estar cumprindo ordens.

Muitos atiradores foram julgados e condenados.

Houve aí obediência ao princípio do juiz natural?

Quando os atiradores praticaram a conduta, estariam submetidos ao julgamento por um

órgão jurisdicional da Alemanha Oriental. Após a queda do muro, foram julgados por um

tribunal da Alemanha unificada, em violação ao princípio do juiz natural, uma vez que o

tribunal da Alemanha unificada não detinha a atribuição originária para o julgamento

desses fatos.

Exemplo sobre a aplicação prática desse princípio no Brasil e sob a ótica do processo

civil:

Um extraordinário exemplo sobre a questão do juiz natural, no processo civil, é encontrado

na Reclamação n. 417 do STF.

Com a criação do Estado de Roraima (que até então era território), houve, também, a

necessidade de criação do Poder Judiciário Estadual de Roraima. Durante a criação do

Poder Judiciário de Roraima, foram nomeados os desembargadores do Tribunal de

Justiça. Alguém do povo, acreditando na existência de ilegalidades na nomeação desses

desembargadores, ajuizou ação popular para que fosse declarada a nulidade da

nomeação de todos os desembargadores do TJ de Roraima. E quem iria julgar essa ação

popular? Os juízes substitutos, que haviam acabado de passar no concurso da

magistratura, e que estavam diretamente vinculados aos RÉUS (desembargadores), pois

ainda não tinham a garantia da vitaliciedade.

O que os desembargadores do TJ de Roraima fizeram? “Me empreste um juiz aí, Estado

do Pará” “Pensando bem, me empreste dois juízes, para o caso de haver recurso”. O

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Estado do Pará disse: “pois não, empresto sim.” “Dr. Fulano e Dr. Siclano, julguem a

causa do pessoal de Roraima”.

O que o Procurador-Geral da República fez? Por entender que isso feria o princípio do juiz

natural, ingressou com uma medida judicial, pois os juízes do Pará não são juízes com

prévias atribuições para o julgamento dessa ação. Nesse caso, a competência é do STF.

O PGR ajuizou, então, reclamação ao STF para que órgão supremo julgasse a causa. E o

STF disse que o PGR estava certo, que não havia juiz natural para o caso e, portanto, o

próprio STF seria competente para o julgamento.

Princípio do contraditório

O princípio do contraditório traz duas idéias fundamentais: participação e poder de

influência.

O que isso quer dizer? Isso quer dizer que para existir o contraditório a parte tem o direito

de participar do processo, o magistrado tem de deixar a parte falar, a parte deve ser

ouvida. Não é possível impor alguma sanção, restringir bens, sem que se dê a

oportunidade para a parte contar a sua versão, participar do processo.

Mas, não se pode esquecer do poder de influência da parte, isto é, não basta que a parte

seja ouvida, a parte deve ser ouvida em condições de poder influenciar a decisão do

magistrado. Caso contrário, de nada adiantaria a participação da parte.

Princípio da efetividade

O princípio da efetividade não está previsto expressamente na CF, mas decorre do

princípio do Devido Processo Legal.

Vamos imaginar que, por uma grande infelicidade do destino, uma pessoa seja vítima de

um crime. A pessoa se envolveu em uma briga de trânsito e levou um tiro. Em decorrência

do tiro a pessoa precisa fazer um transplante de fígado urgente ou morrerá. Imagine que a

pessoa que te deu o tiro tem muito dinheiro. Imagine, por outro lado, que quem levou o tiro

não tem dinheiro para pagar o transplante. Imagine que para fazer a cirurgia o médico

cobrou R$ 200.000,00. A vítima ajuiza uma ação de indenização por danos materiais e

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morais em face da pessoa que te deu os tiros. Esse processo civil de indenização pode

durar anos, mas a sua cirurgia é para ontem. De que adiantaria ganhar o processo se a

sua morte já ocorreu? O Estado não pode deixar de efetivar o direito fundamental à vida.

E aí, imaginemos que a pessoa que atirou no na vítima está curtindo a vida em seu iate

em Angra dos Reis e a vítima vai morrer se não fizer a cirurgia. O advogado da vítima diria

“espere o término do processo para receber a sua indenização”? Ou será que existe a

possibilidade de receber essa indenização de uma forma célere, sem mesmo ouvir a parte

contrária? Sim, existe essa possibilidade, o advogado deverá fazer um pedido de tutela

antecipada para o juiz (ver os requisitos constantes do art. 273, do CPC).

O informativo nº 502 do STF traz situação muito semelhante ocorrida em Pernambuco.

Um cidadão caminhava em via pública, quando foi surpreendido por assaltantes.

Resultado: levou diversos tiros, ficou tetraplégico e respirava através de aparelhos. Nesse

caso, os assaltantes não tinham bens materiais. O que os advogados fizeram? Ajuizaram

ação contra o Estado de Pernambuco, já que o assalto havia ocorrido em via pública com

pedido de tutela antecipada, para que o Estado de Pernambuco pagasse todas as

despesas da cirurgia necessária, pois através daquela cirurgia a pessoa conseguiria

respirar sem a ajuda de aparelhos. O caso foi parar no STF. E o STF, por maioria,

concedeu a tutela.

Pelo princípio do contraditório, o juiz tem de ouvir as partes. Por outro lado, há situações

que o juiz, para fazer valer o princípio da efetividade, concede a tutela antecipada sem

ouvir a parte contrária. Não existe aí uma contradição?

Não há contradição. O que existe aí é uma ponderação de bens (no exemplo dado,

direito à efetividade da vida X direito ao contraditório).

Um bom exemplo sobre o princípio da ponderação de bens é a clássica história do

arremesso de anões na França. O dono de uma boate, para entreter o público, resolveu

criar uma competição, que consistia em arremessar o anão. Assim, o participante que

conseguisse lançar o anão mais longe na platéia, venceria o jogo.

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O fato é que a história foi parar nos tribunais franceses e os tribunais franceses proibiram

o famoso jogo do arremesso de anões. Mas, por que proibiram? Afinal, o jogo não

acontecia contra a vontade do anão. O anão ganhava dinheiro para isso. Percebe-se aí

um conflito, uma colisão entre o direito de liberdade individual (no caso, a liberdade do

anão, a autonomia privada do anão e o princípio da dignidade da pessoa humana). O

Tribunal entendeu que, naquele caso concreto, a dignidade humana do anão era violada

e, portanto, se sobrepunha ao princípio da liberdade individual.

O mesmo ocorre quando o juiz, diante de um caso concreto urgente, afasta a

preocupação imediata com o contraditório para efetivar o direito à vida. Há, aí, uma

ponderação de bens.

Além disso, o contraditório não é eliminado, mas jogado para depois (contraditório

postecipado). O juiz faz a seguinte ponderação: “se eu abrir a oportunidade para a parte

contrária dar a sua versão dos fatos agora, diante da urgência da situação, o autor pode

falecer. Então, em outro momento, abrirei oportunidade para o Réu contar a sua versão

dos fatos, mas não agora.”

Princípio da adequação

Processo Devido é processo adequado. O princípio da adequação impõe que as regras

processuais sejam adequadas.

Existe decisão recente do STJ, determinando que os processos judiciais de portadores do

vírus HIV, pessoas com câncer e pessoas que sofrem do mal de alzheimer terão

preferência temporal para julgamento. Vale lembrar que os idosos também têm

preferência na tramitação de processos judiciais. Essa preferência faz com que o tempo

de duração média dos processos (até a decisão final) caia pela metade.

Então, nos casos de portadores do vírus HIV, pessoas com câncer e mal de alzheimer,

essas pessoas precisam estar discutindo algo relacionado com a doença no processo

para que tenham preferência?

Não. Esse processo pode ser de qualquer espécie, pode ser um acidente de trânsito, um

dinheiro que ele tem pra receber. Qualquer tipo de processo merece atenção especial do

judiciário.

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O que é isso senão a aplicação do princípio da adequação? Quer dizer, as regras

processuais devem ser adequadas aos sujeitos que delas irão se valer. Não se pode dar a

um idoso, a alguém que está sofrendo de câncer o mesmo tratamento que conferido a um

jovem saudável.

Princípio da proibição de produção de provas ilícitas

O processo não é um jogo de espertezas, mas um instrumento a serviço da cidadania.

Logo, as provas devem ser produzidas em conformidade com as normas jurídicas e a

Constituição Federal, inclusive sem violação à intimidade dos envolvidos, salvo casos em

que há decisão judicial determinando que alguns órgãos (ex. Receita Federal do Brasil)

apresentem certos documentos.

Ex. juízes e tribunais podem obrigar um “suposto pai” a realizar exame de DNA? Ou essa

obrigatoriedade violaria o princípio da dignidade da pessoa humana e, portanto, seria

uma prova ilícita?

Levando em conta que essa situação poderia ser vexatória e ofender a dignidade humana

(e conseqüentemente a prova do resultado do exame de DNA seria considerada ilícita), o

STJ, para acabar com o problema, diz o seguinte: não precisa forçar o sujeito a realizar o

exame, mas a negativa será considerada como uma presunção de paternidade. Isso está

na súmula 301 do STJ.

Imagine, agora, a seguinte situação. O sujeito, casado, tem um filho com a sua esposa.

Com o passar do tempo ele desconfia que não é pai biológico do menino. Um belo dia,

sem que a esposa (mãe do garoto) saiba, o sujeito leva a criança a um laboratório e faz o

exame de DNA, vindo a descobrir, em seguida, que não é pai do menino. O sujeito, então,

ajuiza uma ação, negando a paternidade e utiliza como única prova aquele exame de

DNA. Pergunta: essa prova é lícita ou ilícita? A ação será julgada procedente ou

improcedente?

Se considerarmos que esse tipo de prova ofende a dignidade da pessoa humana, no

caso a dignidade da criança, a prova será considerada ilícita e ação julgada

improcedente.

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Na Alemanha, os juízes têm enfrentado essa questão e têm considerado que os dados

genéticos de uma pessoa não podem ser utilizados sem o seu consentimento (ou

sem o consentimento da mãe, no caso de filhos menores), pois isso violaria a

dignidade da pessoa humana. O pai teria de pedir que o exame fosse feito

judicialmente e a negativa da mãe poderia corresponder à presunção de que,

realmente, o pai não é o pai.

Outro caso interessante sobre a produção de provas ilícitas diz respeito ao caso real do

seqüestro do menino Pedrinho. Há alguns anos, a imprensa noticiou que uma mulher

(Wilma) havia seqüestrado um bebê e que, naquele momento, esse bebê estava com 17

anos. Na época em que o caso estava em alta na imprensa e iniciou-se a desconfiança de

que Roberta também havia sido “roubada” no hospital. Mas, a menina se negava a realizar

o exame de DNA. Então, o que fez o delegado? A menina estava prestando

esclarecimentos na delegacia e fumou um cigarro. O delegado, então, recolheu a bituca

do cigarro e, a partir da saliva da menina, realizou, sem que ela soubesse, exame de

DNA. Com isso, foi descoberto que Roberta também não era filha de Wilma e sim de uma

outra pessoa. A pergunta que se faz é: o recolhimento de saliva, a partir da bituca do

cigarro, sem o consentimento de Roberta, é uma prova lícita?

A discussão, então, foi calorosa. Havia a corrente daqueles que defendiam a licitude da

prova com fundamento de que o cigarro era um lixo da delegacia e que o delegado tinha a

liberdade na procura da verdade e a tese de que essa prova ofende a dignidade da

pessoa humana, já que foram utilizados dados genéticos sem o consentimento da pessoa.

O fato é que Roberta jamais se rebelou contra o fato. Mas, fica aí a discussão jurídica:

essa prova é válida?

Princípio da duração razoável do processo

Esse princípio está expressamente previsto na CF, no art. 5, inciso, LXXVIII (inserido pela

EC 45/04):

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A todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do

processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.

Processo com duração razoável significa que o processo deve ser rápido? Não. A

razoabilidade da duração do processo está ligada à complexidade da causa. Imagine uma

ação com 2.000 documentos a serem examinados.

Ex. Faz 06 anos que o processo está aqui na primeira instância e ainda não foi julgado. O

que eu faço para que se respeite o princípio da duração razoável do processo? Mandado

de segurança

Exemplo de caso real julgado pelo STJ. Mandado de Segurança n° 10.792-DF, de

Relatoria do Ministro HAMILTON CARVALHIDO, publicado no DJ 21.08.2006.

A Lei Federal nº 10.559⁄02 previu indenização para pessoas consideradas anistiadas

políticas (pessoas perseguidas ou que tiveram prejuízos durante a ditadura militar); essa

indenização seria concedida através de parecer favorável de uma Comissão de anistia,

que iria analisar cada caso (art.3°, §2°, da Lei 10559/02).

Nesse mandado de segurança, o impetrante pleiteava que o seu processo administrativo

de pedido de anistia fosse julgado, pois já havia 04 anos que o pedido tinha sido realizado

e até aquele momento nada acontecera.

O STJ analisou a situação e concluiu que o acúmulo de serviços não justificava tanta

demora para que o referido pedido administrativo de anistia fosse julgado e, portanto,

concedeu a ordem para que, no prazo de 90 dias, o processo administrativo do impetrante

fosse concluído.

SELEÇÃO DE MEMBROS DO PODER JUDICIÁRIO

1ª instância – sempre por concurso público de provas e títulos 93, I, CF.

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Promoções alternadas por antiguidade e merecimento: 93, II, CF.

Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o

Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios:

I - ingresso na carreira, cujo cargo inicial será o de juiz substituto, mediante concurso

público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em

todas as fases, exigindo-se do bacharel em direito, no mínimo, três anos de atividade

jurídica e obedecendo-se, nas nomeações, à ordem de classificação; (Redação dada pela

Emenda Constitucional nº 45, de 2004) (IMPORTANTE - sobre os três anos de atividade

jurídica, vide a Resolução 11, do Conselho Nacional de Justiça);

II - promoção de entrância para entrância, alternadamente, por antigüidade e

merecimento, atendidas as seguintes normas:

a) é obrigatória a promoção do juiz que figure por três vezes consecutivas ou cinco

alternadas em lista de merecimento;

b) a promoção por merecimento pressupõe dois anos de exercício na respectiva

entrância e integrar o juiz a primeira quinta parte da lista de antigüidade desta, salvo se

não houver com tais requisitos quem aceite o lugar vago;

c) aferição do merecimento conforme o desempenho e pelos critérios objetivos de

produtividade e presteza no exercício da jurisdição e pela freqüência e aproveitamento em

cursos oficiais ou reconhecidos de aperfeiçoamento; (Redação dada pela Emenda

Constitucional nº 45, de 2004)

d) na apuração de antigüidade, o tribunal somente poderá recusar o juiz mais antigo

pelo voto fundamentado de dois terços de seus membros, conforme procedimento próprio,

e assegurada ampla defesa, repetindo-se a votação até fixar-se a indicação; (Redação

dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

e) não será promovido o juiz que, injustificadamente, retiver autos em seu poder além

do prazo legal, não podendo devolvê-los ao cartório sem o devido despacho ou decisão;

(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

Para Tribunais a CF estabelece a nomeação de alguns cargos pelo Chefe do Poder

Executivo.

Quinto constitucional: art. 94, CF:

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Art. 94. Um quinto dos lugares dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais dos

Estados, e do Distrito Federal e Territórios será composto de membros, do Ministério

Público, com mais de dez anos de carreira, e de advogados de notório saber jurídico e de

reputação ilibada, com mais de dez anos de efetiva atividade profissional, indicados em

lista sêxtupla pelos órgãos de representação das respectivas classes.

Parágrafo único. Recebidas as indicações, o tribunal formará lista tríplice, enviando-a

ao Poder Executivo, que, nos vinte dias subseqüentes, escolherá um de seus integrantes

para nomeação.

STF, STJ, TST, TSE e STM: 101, par. único, 104, par. único, 111-A e 123, CF).

Art. 101. O Supremo Tribunal Federal compõe-se de onze Ministros, escolhidos dentre

cidadãos com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade, de

notável saber jurídico e reputação ilibada.

Parágrafo único. Os Ministros do Supremo Tribunal Federal serão nomeados pelo

Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado

Federal.

Art. 104. O Superior Tribunal de Justiça compõe-se de, no mínimo, trinta e três Ministros.

Parágrafo único. Os Ministros do Superior Tribunal de Justiça serão nomeados pelo

Presidente da República, dentre brasileiros com mais de trinta e cinco e menos de

sessenta e cinco anos, de notável saber jurídico e reputação ilibada, depois de aprovada a

escolha pela maioria absoluta do Senado Federal, sendo:

I - um terço dentre juízes dos Tribunais Regionais Federais e um terço dentre

desembargadores dos Tribunais de Justiça, indicados em lista tríplice elaborada pelo

próprio Tribunal;

II - um terço, em partes iguais, dentre advogados e membros do Ministério Público

Federal, Estadual, do Distrito Federal e dos Territórios, alternadamente, indicados na

forma do art. 94

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Art. 111-A. O Tribunal Superior do Trabalho compor-se-á de vinte e sete Ministros,

escolhidos dentre brasileiros com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco

anos, nomeados pelo Presidente da República após aprovação pela maioria absoluta do

Senado Federal, sendo:

I - um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade profissional e

membros do Ministério Público do Trabalho com mais de dez anos de efetivo exercício,

observado o disposto no art. 94;

II - os demais dentre juízes dos Tribunais Regionais do Trabalho, oriundos da

magistratura da carreira, indicados pelo próprio Tribunal Superior.

Art. 119. O Tribunal Superior Eleitoral compor-se-á, no mínimo, de sete membros,

escolhidos:

I - mediante eleição, pelo voto secreto:

a) três juízes dentre os Ministros do Supremo Tribunal Federal;

b) dois juízes dentre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça;

II - por nomeação do Presidente da República, dois juízes dentre seis advogados de

notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo Supremo Tribunal Federal.

Parágrafo único. O Tribunal Superior Eleitoral elegerá seu Presidente e o Vice-Presidente

dentre os Ministros do Supremo Tribunal Federal, e o Corregedor Eleitoral dentre os

Ministros do Superior Tribunal de Justiça.

Art. 123. O Superior Tribunal Militar compor-se-á de quinze Ministros vitalícios, nomeados

pelo Presidente da República, depois de aprovada a indicação pelo Senado Federal,

sendo três dentre oficiais-generais da Marinha, quatro dentre oficiais-generais do Exército,

três dentre oficiais-generais da Aeronáutica, todos da ativa e do posto mais elevado da

carreira, e cinco dentre civis.

Parágrafo único. Os Ministros civis serão escolhidos pelo Presidente da República dentre

brasileiros maiores de trinta e cinco anos, sendo:

I - três dentre advogados de notório saber jurídico e conduta ilibada, com mais de dez

anos de efetiva atividade profissional;

II - dois, por escolha paritária, dentre juízes-auditores e membros do Ministério Público da

Justiça Militar.

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GARANTIAS DO PODER JUDICIÁRIO

Garantias Institucionais:

1ª) eleição do presidente do tribunal, bem como de seus órgãos diretivos, pelos próprios

tribunais (CF, 96, I, a);

2ª Elaboração de seu regimento interno (CF, 96, I, b);

3ª) organização de seus serviços auxiliares (CF, 96, I, b e II);

4ª) ampla autonomia administrativa e financeira (CF, 99).

Art. 96. Compete privativamente:

I - aos tribunais:

a) eleger seus órgãos diretivos e elaborar seus regimentos internos, com observância das

normas de processo e das garantias processuais das partes, dispondo sobre a

competência e o funcionamento dos respectivos órgãos jurisdicionais e administrativos;

b) organizar suas secretarias e serviços auxiliares e os dos juízos que lhes forem

vinculados, velando pelo exercício da atividade correicional respectiva;

(...)

II - ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores e aos Tribunais de Justiça

propor ao Poder Legislativo respectivo, observado o disposto no art. 169:

a) a alteração do número de membros dos tribunais inferiores;

b) a criação e a extinção de cargos e a remuneração dos seus serviços auxiliares e dos

juízos que lhes forem vinculados, bem como a fixação do subsídio de seus membros e

dos juízes, inclusive dos tribunais inferiores, onde houver;

c) a criação ou extinção dos tribunais inferiores;

d) a alteração da organização e da divisão judiciárias;

Art. 99. Ao Poder Judiciário é assegurada autonomia administrativa e financeira.

§ 1º - Os tribunais elaborarão suas propostas orçamentárias dentro dos limites

estipulados conjuntamente com os demais Poderes na lei de diretrizes orçamentárias.

§ 2º - O encaminhamento da proposta, ouvidos os outros tribunais interessados,

compete:

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I - no âmbito da União, aos Presidentes do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais

Superiores, com a aprovação dos respectivos tribunais;

II - no âmbito dos Estados e no do Distrito Federal e Territórios, aos Presidentes dos

Tribunais de Justiça, com a aprovação dos respectivos tribunais.

§ 3º Se os órgãos referidos no § 2º não encaminharem as respectivas propostas

orçamentárias dentro do prazo estabelecido na lei de diretrizes orçamentárias, o Poder

Executivo considerará, para fins de consolidação da proposta orçamentária anual, os

valores aprovados na lei orçamentária vigente, ajustados de acordo com os limites

estipulados na forma do § 1º deste artigo. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de

2004)

§ 4º Se as propostas orçamentárias de que trata este artigo forem encaminhadas em

desacordo com os limites estipulados na forma do § 1º, o Poder Executivo procederá aos

ajustes necessários para fins de consolidação da proposta orçamentária anual. (Incluído

pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

§ 5º Durante a execução orçamentária do exercício, não poderá haver a realização de

despesas ou a assunção de obrigações que extrapolem os limites estabelecidos na lei de

diretrizes orçamentárias, exceto se previamente autorizadas, mediante a abertura de

créditos suplementares ou especiais. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de

2004)

Garantias de independência:

O exercício das funções jurisdicionais de forma independente exige algumas

garantias atribuídas ao Poder Judiciário como um todo, e outras garantias aos membros

desse Poder (os magistrados).

As garantias dos juízes são prerrogativas funcionais, e não privilégios pessoais,

sendo, portanto, irrenunciáveis:

a) Vitaliciedade

Em primeiro grau de jurisdição, é adquirida após dois anos de exercício.

Nos casos de nomeação direta para os Tribunais (a exemplo do provimento de

cargos pelo quinto constitucional ou dos cargos dos Tribunais Superiores), a vitaliciedade

é garantida desde a posse.

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Durante os dois primeiros anos a perda do cargo dá-se por deliberação da maioria

qualificada (2/3) dos membros do Tribunal (ou do órgão especial) a que o juiz estiver

vinculado, garantida a ampla defesa.

Após esse período, o Juiz de Carreira é vitaliciado, e a perda do cargo passa a

depender de sentença judicial transitada em julgado. Exceção aos ministros do Supremo

Tribunal Federal, sujeitos a processo de impeachment perante o Senado Federal.

Mesmo sem a sentença definitiva, o juiz vitalício pode ser colocado em

disponibilidade pelo voto de 2/3 dos membros do Tribunal a que estiver vinculado,

percebendo vencimentos proporcionais e não podendo exercer outro cargo ou função,

exceto uma de magistério.

b) Inamovibilidade

Pela inamovibilidade, o juiz titular somente deixa sua sede de atividades (por

remoção ou promoção) voluntariamente. Como exceção temos a remoção compulsória,

por motivo de interesse público, deliberada pelo voto de 2/3 dos membros do respectivo

Tribunal (ou Órgão Especial), assegurada a ampla defesa (arts. 93, inc. VIII, e 95, inc. II,

ambos da CF).

A remoção, a disponibilidade e a aposentadoria do magistrado, por interesse

público, somente são possíveis com o voto de 2/3 dos membros do respectivo Tribunal ou

Órgão Especial, assegurada a ampla defesa. A inamovibilidade, portanto, não é absoluta.

O magistrado da Justiça Militar pode ser obrigado a exercer suas funções nos

locais para onde as tropas forem deslocadas, em exceção à inamovibilidade.

c) Irredutibilidade de subsídios

Garantia estendida a todos os servidores públicos civis e militares pelo art. 37, inc.

XV, da Constituição Federal. De acordo com o Supremo Tribunal Federal, trata-se de

irredutibilidade meramente nominal, inexistindo direito à automática reposição do valor

corroído pela inflação.

Todos os magistrados estão sujeitos ao pagamento dos impostos legalmente

instituídos.

Art. 95. Os juízes gozam das seguintes garantias:

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I - vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após dois anos de exercício,

dependendo a perda do cargo, nesse período, de deliberação do tribunal a que o juiz

estiver vinculado, e, nos demais casos, de sentença judicial transitada em julgado;

II - inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, na forma do art. 93, VIII;

III - irredutibilidade de subsídio, ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI, 39, § 4º,

150, II, 153, III, e 153, § 2º, I. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

Garantias de imparcialidade – 95, par. único, CF (inclusive quarentena

de 3 anos, perante juízo ou tribunal ao qual atuavam).

Art. 95, Parágrafo único. Aos juízes é vedado:

I - exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de

magistério (IMPORTANTE – vide art.26, § 1º, da Lei Complementar 35/79 e Resolução 34,

do Conselho Nacional de Justiça);

II - receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em processo;

III - dedicar-se à atividade político-partidária (IMPORTANTE - vide art. 26, II, c, da Lei

Complementar 35/79 e Resolução 34, do Conselho Nacional de Justiça).

IV - receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas

físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei;

(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

V - exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos

três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração. (Incluído pela

Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

O inciso V trata da denominada “quarentena”. Nesse caso, deve se

entender, no caso do juiz, que estará ele proibido de exercer a advocacia perante a

comarca ou seção judiciária onde atuava e não somente na vara onde exercia suas

funções. Se o Ministro não pode advogar perante o Tribunal do que se afastou ou se

aposentou, não faria sentido que o juiz estivesse impedido de atuar somente perante a

vara. Essa é a interpretação dada por Alexandre de Moraes.

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ORGANOGRAMA DO PODER JUDICIÁRIO

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (101 a 103, CF)

É o órgão de cúpula do Poder Judiciário Brasileiro (embora não haja hierarquia entre

juízes: juiz substituto e Ministro do STF são independentes; é preciso não confundir poder

de reformar decisão via recurso com hierarquia!).

O STF aprecia questões constitucionais e é, por excelência, o guardião e fomentador da

Constituição Federal. Não é apenas um Tribunal Constitucional, pois outras atribuições

também foram incluídas no âmbito de sua competência.

Composição

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Art. 101. O Supremo Tribunal Federal compõe-se de onze Ministros, escolhidos dentre

cidadãos com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade, de

notável saber jurídico e reputação ilibada.

Parágrafo único. Os Ministros do Supremo Tribunal Federal serão nomeados pelo

Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado

Federal.

Só brasileiros natos (CF, 12, § 3º, IV, CF):

Art. 12, § 3º - São privativos de brasileiro nato os cargos:

IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;

Competência – 102, CF

Competência originária – a ação é proposta diretamente no Tribunal.

Competência recursal – o Tribunal aprecia a matéria em razão de recurso interposto

contra decisão de órgão inferior.

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da

Constituição, cabendo-lhe:

I - processar e julgar, originariamente:

a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e

a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal; (Redação dada

pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993)

b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-Presidente-

Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-

Geral da República;

c) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os Ministros de

Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, ressalvado o

disposto no art. 52, I, os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da

União e os chefes de missão diplomática de caráter permanente;(Redação dada pela

Emenda Constitucional nº 23, de 1999)

d) o "habeas-corpus", sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas alíneas

anteriores; o mandado de segurança e o "habeas-data" contra atos do Presidente da

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República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de

Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio Supremo Tribunal

Federal;

e) o litígio entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e a União, o Estado, o

Distrito Federal ou o Território;

f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou

entre uns e outros, inclusive as respectivas entidades da administração indireta;

g) a extradição solicitada por Estado estrangeiro;

h) (revogado pela Emenda Constitucional 45/2004);

i) o habeas corpus, quando o coator for Tribunal Superior ou quando o coator ou o

paciente for autoridade ou funcionário cujos atos estejam sujeitos diretamente à jurisdição

do Supremo Tribunal Federal, ou se trate de crime sujeito à mesma jurisdição em uma

única instância; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 22, de 1999)

j) a revisão criminal e a ação rescisória de seus julgados;

l) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de

suas decisões;

m) a execução de sentença nas causas de sua competência originária, facultada a

delegação de atribuições para a prática de atos processuais;

n) a ação em que todos os membros da magistratura sejam direta ou indiretamente

interessados, e aquela em que mais da metade dos membros do tribunal de origem

estejam impedidos ou sejam direta ou indiretamente interessados;

o) os conflitos de competência entre o Superior Tribunal de Justiça e quaisquer

tribunais, entre Tribunais Superiores, ou entre estes e qualquer outro tribunal;

p) o pedido de medida cautelar das ações diretas de inconstitucionalidade;

q) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for

atribuição do Presidente da República, do Congresso Nacional, da Câmara dos

Deputados, do Senado Federal, das Mesas de uma dessas Casas Legislativas, do

Tribunal de Contas da União, de um dos Tribunais Superiores, ou do próprio Supremo

Tribunal Federal;

r) as ações contra o Conselho Nacional de Justiça e contra o Conselho Nacional do

Ministério Público; (Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

II - julgar, em recurso ordinário:

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a) o "habeas-corpus", o mandado de segurança, o "habeas-data" e o mandado de

injunção decididos em única instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a

decisão;

b) o crime político;

III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última

instância, quando a decisão recorrida:

a) contrariar dispositivo desta Constituição;

b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;

c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição.

d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal. (Incluída pela Emenda

Constitucional nº 45, de 2004)

§ 1.º A argüição de descumprimento de preceito fundamental, decorrente desta

Constituição, será apreciada pelo Supremo Tribunal Federal, na forma da lei.

(Transformado em § 1º pela Emenda Constitucional nº 3, de 17/03/93)

§ 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas

ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade

produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do

Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e

municipal. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

§ 3º No recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar a repercussão geral

das questões constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, a fim de que o Tribunal

examine a admissão do recurso, somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois

terços de seus membros. (Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

Efeito vinculante:

Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação,

mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre

matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial,

terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração

pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à

sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei. (Incluído pela Emenda

Constitucional nº 45, de 2004)

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§ 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas

determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre

esses e a administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante

multiplicação de processos sobre questão idêntica.

§ 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a aprovação, revisão ou

cancelamento de súmula poderá ser provocada por aqueles que podem propor a ação

direta de inconstitucionalidade.

§ 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou que

indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a

procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada, e

determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o

caso."

A norma que regulamenta a Súmula Vinculante é a 11.417/2006.

Não se deve confundir a Súmula Vinculante com a Súmula Impeditiva de Recursos. A Lei

11.276/2006, inseriu, no artigo 518, do Código de Processo Civil, o parágrafo primeiro, diz:

"o juiz não receberá o recurso de apelação quando a sentença estiver em conformidade

com súmula do Superior Tribunal de Justiça ou do Supremo Tribunal Federal".

Aqui não se trata de súmula vinculante, porquanto só seja esta possível para as súmulas

do Supremo Tribunal Federal, de acordo com o imperativo constitucional do dispositivo

103-A, e sim de súmula impeditiva de recursos, permitida para súmulas do STF e do STJ

com as quais esteja acorde a sentença proferida. Assim, o dispositivo incluído pela Lei

11.276/2006 no artigo 518 do CPC, deve ser assim lido: o juízo não receberá o recurso de

apelação interposto contra sentença que esteja em conformidade com súmula do STJ ou

do STF.

Atualmente (maio/2011), temos 31 Súmulas Vinculantes no STF, a saber:

Súmula Vinculante 1

OFENDE A GARANTIA CONSTITUCIONAL DO ATO JURÍDICO PERFEITO A DECISÃO

QUE, SEM PONDERAR AS CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO CONCRETO,

DESCONSIDERA A VALIDEZ E A EFICÁCIA DE ACORDO CONSTANTE DE TERMO DE

ADESÃO INSTITUÍDO PELA LEI COMPLEMENTAR 110/2001.

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Data de Aprovação: Sessão Plenária de 30/05/2007

Súmula Vinculante 2

É INCONSTITUCIONAL A LEI OU ATO NORMATIVO ESTADUAL OU DISTRITAL QUE

DISPONHA SOBRE SISTEMAS DE CONSÓRCIOS E SORTEIOS, INCLUSIVE BINGOS

E LOTERIAS.

Data de Aprovação: Sessão Plenária de 30/05/2007

Súmula Vinculante 3

NOS PROCESSOS PERANTE O TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO ASSEGURAM-SE

O CONTRADITÓRIO E A AMPLA DEFESA QUANDO DA DECISÃO PUDER RESULTAR

ANULAÇÃO OU REVOGAÇÃO DE ATO ADMINISTRATIVO QUE BENEFICIE O

INTERESSADO, EXCETUADA A APRECIAÇÃO DA LEGALIDADE DO ATO DE

CONCESSÃO INICIAL DE APOSENTADORIA, REFORMA E PENSÃO.

Data de Aprovação: Sessão Plenária de 30/05/2007

Súmula Vinculante 4

SALVO NOS CASOS PREVISTOS NA CONSTITUIÇÃO, O SALÁRIO MÍNIMO NÃO

PODE SER

USADO COMO INDEXADOR DE BASE DE CÁLCULO DE VANTAGEM DE SERVIDOR

PÚBLICO OU DE EMPREGADO, NEM SER SUBSTITUÍDO POR DECISÃO JUDICIAL.

Data de Aprovação: Sessão Plenária de 30/04/2008

Súmula Vinculante 5

A FALTA DE DEFESA TÉCNICA POR ADVOGADO NO PROCESSO ADMINISTRATIVO

DISCIPLINAR NÃO OFENDE A CONSTITUIÇÃO.

Data de Aprovação: Sessão Plenária de 07/05/2008

Súmula Vinculante 6

NÃO VIOLA A CONSTITUIÇÃO O ESTABELECIMENTO DE REMUNERAÇÃO INFERIOR

AO SALÁRIO MÍNIMO PARA AS PRAÇAS PRESTADORAS DE SERVIÇO MILITAR

INICIAL.

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Data de Aprovação: Sessão Plenária de 07/05/2008

Súmula Vinculante 7

A NORMA DO §3º DO ARTIGO 192 DA CONSTITUIÇÃO, REVOGADA PELA EMENDA

CONSTITUCIONAL Nº 40/2003, QUE LIMITAVA A TAXA DE JUROS REAIS A 12% AO

ANO, TINHA SUA APLICAÇÃO CONDICIONADA À EDIÇÃO DE LEI COMPLEMENTAR.

Data de Aprovação: Sessão Plenária de 11/03/2008

Súmula Vinculante 8

SÃO INCONSTITUCIONAIS O PARÁGRAFO ÚNICO DO ARTIGO 5º DO DECRETO-LEI

Nº 1.569/1977 E OS ARTIGOS 45 E 46 DA LEI Nº 8.212/1991, QUE TRATAM DE

PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA DE CRÉDITO TRIBUTÁRIO.

Data de Aprovação: Sessão Plenária de 12/06/2008

Súmula Vinculante 9

O DISPOSTO NO ARTIGO 127 DA LEI Nº 7.210/1984 (LEI DE EXECUÇÃO PENAL) FOI

RECEBIDO PELA ORDEM CONSTITUCIONAL VIGENTE, E NÃO SE LHE APLICA O

LIMITE TEMPORAL PREVISTO NO CAPUT DO ARTIGO 58.

Data de Aprovação: Sessão Plenária de 12/06/2008

Súmula Vinculante 10

VIOLA A CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO (CF, ARTIGO 97) A DECISÃO DE

ÓRGÃO FRACIONÁRIO DE TRIBUNAL QUE, EMBORA NÃO DECLARE

EXPRESSAMENTE A INCONSTITUCIONALIDADE DE LEI OU ATO NORMATIVO DO

PODER PÚBLICO, AFASTA SUA INCIDÊNCIA, NO TODO OU EM PARTE.

Data de Aprovação: Sessão Plenária de 18/06/2008

Súmula Vinculante 11

SÓ É LÍCITO O USO DE ALGEMAS EM CASOS DE RESISTÊNCIA E DE FUNDADO

RECEIO DE FUGA OU DE PERIGO À INTEGRIDADE FÍSICA PRÓPRIA OU ALHEIA,

POR PARTE DO PRESO OU DE TERCEIROS, JUSTIFICADA A EXCEPCIONALIDADE

POR ESCRITO, SOB PENA DE RESPONSABILIDADE DISCIPLINAR, CIVIL E PENAL

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DO AGENTE OU DA AUTORIDADE E DE NULIDADE DA PRISÃO OU DO ATO

PROCESSUAL A QUE SE REFERE, SEM PREJUÍZO DA RESPONSABILIDADE CIVIL

DO ESTADO.

Data de Aprovação: Sessão Plenária de 13/08/2008

Súmula Vinculante 12

A COBRANÇA DE TAXA DE MATRÍCULA NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS VIOLA O

DISPOSTO NO ART. 206, IV, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.

Data de Aprovação: Sessão Plenária de 13/08/2008

Súmula Vinculante 13

A NOMEAÇÃO DE CÔNJUGE, COMPANHEIRO OU PARENTE EM LINHA RETA,

COLATERAL OU POR AFINIDADE, ATÉ O TERCEIRO GRAU, INCLUSIVE, DA

AUTORIDADE NOMEANTE OU DE SERVIDOR DA MESMA PESSOA JURÍDICA

INVESTIDO EM CARGO DE DIREÇÃO, CHEFIA OU ASSESSORAMENTO, PARA O

EXERCÍCIO DE CARGO EM COMISSÃO OU DE CONFIANÇA OU, AINDA, DE FUNÇÃO

GRATIFICADA NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIRETA E INDIRETA EM QUALQUER

DOS PODERES DA UNIÃO, DOS ESTADOS, DO DISTRITO FEDERAL E DOS

MUNICÍPIOS, COMPREENDIDO O AJUSTE MEDIANTE DESIGNAÇÕES RECÍPROCAS,

VIOLA A CONSTITUIÇÃO FEDERAL.

Data de Aprovação: Sessão Plenária de 21/08/2008

Súmula Vinculante 14

É DIREITO DO DEFENSOR, NO INTERESSE DO REPRESENTADO, TER ACESSO

AMPLO AOS ELEMENTOS DE PROVA QUE, JÁ DOCUMENTADOS EM

PROCEDIMENTO INVESTIGATÓRIO REALIZADO POR ÓRGÃO COM COMPETÊNCIA

DE POLÍCIA JUDICIÁRIA, DIGAM RESPEITO AO EXERCÍCIO DO DIREITO DE

DEFESA.

Data de Aprovação: Sessão Plenária de 02/02/2009

Súmula Vinculante 15

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O cálculo de gratificações e outras vantagens do servidor público não incide sobre o

abono utilizado para se atingir o salário mínimo.

Data de Aprovação: Sessão Plenária de 25/06/2009

Súmula Vinculante 16

Os artigos 7º, IV, e 39, § 3º (redação da EC 19/98), da Constituição, referem-se ao total da

remuneração percebida pelo servidor público.

Data de Aprovação: Sessão Plenária de 25/06/2009

Súmula Vinculante 17

Durante o período previsto no parágrafo 1º do artigo 100 da Constituição, não incidem

juros de mora sobre os precatórios que nele sejam pagos.

Data de Aprovação: Sessão Plenária de 29/10/2009

Súmula Vinculante 18

A dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, no curso do mandato, não afasta a

inelegibilidade prevista no § 7º do artigo 14 da Constituição Federal.

Data de Aprovação: Sessão Plenária de 29/10/2009

Súmula Vinculante 19

A taxa cobrada exclusivamente em razão dos serviços públicos de coleta, remoção e

tratamento ou destinação de lixo ou resíduos provenientes de imóveis, não viola o artigo

145, II, da Constituição Federal.

Data de Aprovação: Sessão Plenária de 29/10/2009

Súmula Vinculante 20

A Gratificação de Desempenho de Atividade Técnico-Administrativa – GDATA, instituída

pela Lei nº 10.404/2002, deve ser deferida aos inativos nos valores correspondentes a

37,5 (trinta e sete vírgula cinco) pontos no período de fevereiro a maio de 2002 e, nos

termos do artigo 5º, parágrafo único, da Lei nº 10.404/2002, no período de junho de 2002

até a conclusão dos efeitos do último ciclo de avaliação a que se refere o artigo 1º da

Medida Provisória no 198/2004, a partir da qual passa a ser de 60 (sessenta) pontos.

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Data de Aprovação: Sessão Plenária de 29/10/2009

Súmula Vinculante 21

É inconstitucional a exigência de depósito ou arrolamento prévios de dinheiro ou bens

para admissibilidade de recurso administrativo.

Data de Aprovação: Sessão Plenária de 29/10/2009

Súmula Vinculante 22

A Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar as ações de indenização por

danos morais e patrimoniais decorrentes de acidente de trabalho propostas por

empregado contra empregador, inclusive aquelas que ainda não possuíam sentença de

mérito em primeiro grau quando da promulgação da Emenda Constitucional nº 45/04.

Data de Aprovação: Sessão Plenária de 02/12/2009

Súmula Vinculante 23

A Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar ação possessória ajuizada em

decorrência do exercício do direito de greve pelos trabalhadores da iniciativa privada.

Data de Aprovação: Sessão Plenária de 02/12/2009

Súmula Vinculante 24

Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da

Lei nº 8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo.

Data de Aprovação: Sessão Plenária de 02/12/2009

Súmula Vinculante 25

É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito.

Data de Aprovação: Sessão Plenária de 16/12/2009

Súmula Vinculante 26

Para efeito de progressão de regime no cumprimento de pena por crime hediondo, ou

equiparado, o juízo da execução observará a inconstitucionalidade do art. 2o da Lei n.

8.072, de 25 de julho de 1990, sem prejuízo de avaliar se o condenado preenche, ou não,

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os requisitos objetivos e subjetivos do benefício, podendo determinar, para tal fim, de

modo fundamentado, a realização de exame criminológico.

Data de Aprovação: Sessão Plenária de 16/12/2009

Súmula Vinculante 27

Compete à Justiça estadual julgar causas entre consumidor e concessionária de serviço

público de telefonia, quando a ANATEL não seja litisconsorte passiva necessária,

assistente, nem opoente.

Data de Aprovação: Sessão Plenária de 18/12/2009

Súmula Vinculante 28

É inconstitucional a exigência de depósito prévio como requisito de admissibilidade de

ação judicial na qual se pretenda discutir a exigibilidade de crédito tributário.

Data de Aprovação: Sessão Plenária de 03/02/2010

Súmula Vinculante 29

É constitucional a adoção, no cálculo do valor de taxa, de um ou mais elementos da base

de cálculo própria de determinado imposto, desde que não haja integral identidade entre

uma base e outra.

Data de Aprovação: Sessão Plenária de 03/02/2010

Súmula Vinculante 30

É inconstitucional lei estadual que, a título de incentivo fiscal, retém parcela do ICMS

pertencente aos municípios.

Súmula Vinculante 31

É inconstitucional a incidência do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza – ISS

sobre operações de locação de bens móveis.

Data de Aprovação: Sessão Plenária de 04/02/2010

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA (104 e 105, CF)

Foi criado em 1988 após extinção do Tribunal Federal de Recursos. Tem por finalidade

apreciar questões relativas à lei federal, assegurando a supremacia da legislação federal

em todo o país, bem como a uniformidade de interpretação entre os tribunais das normas

emanadas da União.

Composição

Art. 104. O Superior Tribunal de Justiça compõe-se de, no mínimo, trinta e três

Ministros.

Parágrafo único. Os Ministros do Superior Tribunal de Justiça serão nomeados pelo

Presidente da República, dentre brasileiros com mais de trinta e cinco e menos de

sessenta e cinco anos, de notável saber jurídico e reputação ilibada, depois de aprovada a

escolha pela maioria absoluta do Senado Federal, sendo:(Redação dada pela Emenda

Constitucional nº 45, de 2004)

- um terço dentre juízes dos Tribunais Regionais Federais e um terço dentre

desembargadores dos Tribunais de Justiça, indicados em lista tríplice elaborada pelo

próprio Tribunal;

II - um terço, em partes iguais, dentre advogados e membros do Ministério Público

Federal, Estadual, do Distrito Federal e Territórios, alternadamente, indicados na forma do

art. 94.

Competência

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:

I - processar e julgar, originariamente:

a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, e, nestes

e nos de responsabilidade, os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e

do Distrito Federal, os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito

Federal, os dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do

Trabalho, os membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do

Ministério Público da União que oficiem perante tribunais;

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b) os mandados de segurança e os habeas data contra ato de Ministro de Estado, dos

Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica ou do próprio Tribunal;(Redação

dada pela Emenda Constitucional nº 23, de 1999)

c) os habeas corpus, quando o coator ou paciente for qualquer das pessoas

mencionadas na alínea "a", ou quando o coator for tribunal sujeito à sua jurisdição,

Ministro de Estado ou Comandante da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, ressalvada

a competência da Justiça Eleitoral; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 23, de

1999)

d) os conflitos de competência entre quaisquer tribunais, ressalvado o disposto no art.

102, I, "o", bem como entre tribunal e juízes a ele não vinculados e entre juízes vinculados

a tribunais diversos;

e) as revisões criminais e as ações rescisórias de seus julgados;

f) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de

suas decisões;

g) os conflitos de atribuições entre autoridades administrativas e judiciárias da União,

ou entre autoridades judiciárias de um Estado e administrativas de outro ou do Distrito

Federal, ou entre as deste e da União;

h) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for

atribuição de órgão, entidade ou autoridade federal, da administração direta ou indireta,

excetuados os casos de competência do Supremo Tribunal Federal e dos órgãos da

Justiça Militar, da Justiça Eleitoral, da Justiça do Trabalho e da Justiça Federal;

i) a homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de exequatur às cartas

rogatórias;(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

II - julgar, em recurso ordinário:

a) os "habeas-corpus" decididos em única ou última instância pelos Tribunais

Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios,

quando a decisão for denegatória;

b) os mandados de segurança decididos em única instância pelos Tribunais Regionais

Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando

denegatória a decisão;

c) as causas em que forem partes Estado estrangeiro ou organismo internacional, de

um lado, e, do outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País;

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III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância,

pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e

Territórios, quando a decisão recorrida:

a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência;

b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal;(Redação dada

pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal.

JUSTIÇA FEDERAL (106 A 110, CF)

Composição:

Art. 106. São órgãos da Justiça Federal:

I - os Tribunais Regionais Federais;

II - os Juízes Federais.

Fazem parte, também, da Justiça Federal:

a) O Tribunal do Júri, para julgar os crimes dolosos (intencionais) contra a vida cometidos

em detrimento de funcionários dos órgãos da Administração direta e indireta da União, no

exercício de suas funções;

b) O Juizados Especiais Federais (CF, art. 98, parágrafo único e Lei 10.259/2001).

Tribunais Regionais Federais: composição e competência

Art. 107. Os Tribunais Regionais Federais compõem-se de, no mínimo, sete juízes,

recrutados, quando possível, na respectiva região e nomeados pelo Presidente da

República dentre brasileiros com mais de trinta e menos de sessenta e cinco anos, sendo:

I - um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade profissional

e membros do Ministério Público Federal com mais de dez anos de carreira;

II - os demais, mediante promoção de juízes federais com mais de cinco anos de

exercício, por antigüidade e merecimento, alternadamente.

§ 1º A lei disciplinará a remoção ou a permuta de juízes dos Tribunais Regionais

Federais e determinará sua jurisdição e sede. (Renumerado pela Emenda Constitucional

nº 45, de 2004)

§ 2º Os Tribunais Regionais Federais instalarão a justiça itinerante, com a realização

de audiências e demais funções da atividade jurisdicional, nos limites territoriais da

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respectiva jurisdição, servindo-se de equipamentos públicos e comunitários. (Incluído pela

Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

§ 3º Os Tribunais Regionais Federais poderão funcionar descentralizadamente,

constituindo Câmaras regionais, a fim de assegurar o pleno acesso do jurisdicionado à

justiça em todas as fases do processo. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de

2004)

Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais:

I - processar e julgar, originariamente:

a) os juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos os da Justiça Militar e da

Justiça do Trabalho, nos crimes comuns e de responsabilidade, e os membros do

Ministério Público da União, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral;

b) as revisões criminais e as ações rescisórias de julgados seus ou dos juízes federais

da região;

c) os mandados de segurança e os "habeas-data" contra ato do próprio Tribunal ou de

juiz federal;

d) os "habeas-corpus", quando a autoridade coatora for juiz federal;

e) os conflitos de competência entre juízes federais vinculados ao Tribunal;

II - julgar, em grau de recurso, as causas decididas pelos juízes federais e pelos juízes

estaduais no exercício da competência federal da área de sua jurisdição.

Juízes Federais: competência

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:

I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem

interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de

falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do

Trabalho;

II - as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou

pessoa domiciliada ou residente no País;

III - as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou

organismo internacional;

IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens,

serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas,

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excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça

Eleitoral;

V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a

execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou

reciprocamente;

V-A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste

artigo;(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei,

contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira;

VII - os "habeas-corpus", em matéria criminal de sua competência ou quando o

constrangimento provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra

jurisdição;

VIII - os mandados de segurança e os "habeas-data" contra ato de autoridade federal,

excetuados os casos de competência dos tribunais federais;

IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência

da Justiça Militar;

X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de

carta rogatória, após o "exequatur", e de sentença estrangeira, após a homologação, as

causas referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização;

XI - a disputa sobre direitos indígenas.

§ 1º - As causas em que a União for autora serão aforadas na seção judiciária onde

tiver domicílio a outra parte.

§ 2º - As causas intentadas contra a União poderão ser aforadas na seção judiciária

em que for domiciliado o autor, naquela onde houver ocorrido o ato ou fato que deu

origem à demanda ou onde esteja situada a coisa, ou, ainda, no Distrito Federal.

§ 3º - Serão processadas e julgadas na justiça estadual, no foro do domicílio dos

segurados ou beneficiários, as causas em que forem parte instituição de previdência

social e segurado, sempre que a comarca não seja sede de vara do juízo federal, e, se

verificada essa condição, a lei poderá permitir que outras causas sejam também

processadas e julgadas pela justiça estadual.

§ 4º - Na hipótese do parágrafo anterior, o recurso cabível será sempre para o

Tribunal Regional Federal na área de jurisdição do juiz de primeiro grau.

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§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da

República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de

tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar,

perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo,

incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal. (Incluído pela Emenda

Constitucional nº 45, de 2004)

Importante – a Justiça Federal é dividida no Brasil da seguinte forma:

Segunda instância (TRFs) – Regiões

Primeira instância – Seções Judiciárias

Ex. a Seção Judiciária de São Paulo está vinculada ao TRF da 3ª Região.

JUSTIÇA DO TRABALHO (111 a 117, CF)

Tem por função conhecer e dirimir litígios de natureza trabalhista.

Órgãos – TST, TRTs, Juízes do Trabalho – 111, CF.

Art. 111. São órgãos da Justiça do Trabalho:

I - o Tribunal Superior do Trabalho;

II - os Tribunais Regionais do Trabalho;

III - Juizes do Trabalho.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 24, de 1999)

Não há mais a representação classista na Justiça do Trabalho. Por tal motivo, a antiga

denominação “Junta de Conciliação e Julgamento” (órgão de primeira instância) foi

substituída por “Vara do Trabalho”.

Art. 112. A lei criará varas da Justiça do Trabalho, podendo, nas comarcas não

abrangidas por sua jurisdição, atribuí-la aos juízes de direito, com recurso para o

respectivo Tribunal Regional do Trabalho. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº

45, de 2004)

TST:

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Art. 111-A. O Tribunal Superior do Trabalho compor-se-á de vinte e sete Ministros,

escolhidos dentre brasileiros com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco

anos, nomeados pelo Presidente da República após aprovação pela maioria absoluta do

Senado Federal, sendo: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

I um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade profissional

e membros do Ministério Público do Trabalho com mais de dez anos de efetivo exercício,

observado o disposto no art. 94;

II os demais dentre juízes dos Tribunais Regionais do Trabalho, oriundos da

magistratura da carreira, indicados pelo próprio Tribunal Superior.

Competência Justiça do Trabalho:

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: (Redação dada pela

Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

I as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público

externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito

Federal e dos Municípios; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

II as ações que envolvam exercício do direito de greve; (Incluído pela Emenda

Constitucional nº 45, de 2004)

III as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e

trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores; (Incluído pela Emenda Constitucional

nº 45, de 2004)

IV os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data , quando o ato

questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição; (Incluído pela Emenda

Constitucional nº 45, de 2004)

V os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista, ressalvado o

disposto no art. 102, I, o; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

VI as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de

trabalho; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

VII as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores

pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho; (Incluído pela Emenda

Constitucional nº 45, de 2004)

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VIII a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a , e II, e

seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir; (Incluído pela Emenda

Constitucional nº 45, de 2004)

IX outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei. (Incluído

pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

§ 1º - Frustrada a negociação coletiva, as partes poderão eleger árbitros.

§ 2º Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é

facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza econômica,

podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as disposições mínimas

legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente. (Redação

dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

§ 3º Em caso de greve em atividade essencial, com possibilidade de lesão do

interesse público, o Ministério Público do Trabalho poderá ajuizar dissídio coletivo,

competindo à Justiça do Trabalho decidir o conflito. (Redação dada pela Emenda

Constitucional nº 45, de 2004)

TRTs

Art. 115. Os Tribunais Regionais do Trabalho compõem-se de, no mínimo, sete juízes,

recrutados, quando possível, na respectiva região, e nomeados pelo Presidente da

República dentre brasileiros com mais de trinta e menos de sessenta e cinco anos, sendo:

(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

I um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade profissional

e membros do Ministério Público do Trabalho com mais de dez anos de efetivo exercício,

observado o disposto no art. 94;

II os demais, mediante promoção de juízes do trabalho por antigüidade e

merecimento, alternadamente.

§ 1º Os Tribunais Regionais do Trabalho instalarão a justiça itinerante, com a

realização de audiências e demais funções de atividade jurisdicional, nos limites territoriais

da respectiva jurisdição, servindo-se de equipamentos públicos e comunitários.

§ 2º Os Tribunais Regionais do Trabalho poderão funcionar descentralizadamente,

constituindo Câmaras regionais, a fim de assegurar o pleno acesso do jurisdicionado à

justiça em todas as fases do processo.

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No Estado de São Paulo há 2 TRTs, a saber: um, com sede na capital, com competência

para julgar recursos oriundos das varas do trabalho da capital; outro, em Campinas, com

competência para julgar recursos oriundos das varas do trabalho do interior do Estado.

JUSTIÇA ELEITORAL (118 a 121, CF)

Órgãos:

Art. 118. São órgãos da Justiça Eleitoral:

I - o Tribunal Superior Eleitoral;

II - os Tribunais Regionais Eleitorais;

III - os Juízes Eleitorais;

IV - as Juntas Eleitorais.

Composição:

Art. 119. O Tribunal Superior Eleitoral compor-se-á, no mínimo, de sete membros,

escolhidos:

I - mediante eleição, pelo voto secreto:

a) três juízes dentre os Ministros do Supremo Tribunal Federal;

b) dois juízes dentre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça;

II - por nomeação do Presidente da República, dois juízes dentre seis advogados de

notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo Supremo Tribunal Federal.

Parágrafo único. O Tribunal Superior Eleitoral elegerá seu Presidente e o Vice-

Presidente dentre os Ministros do Supremo Tribunal Federal, e o Corregedor Eleitoral

dentre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça.

TREs

Art. 120. Haverá um Tribunal Regional Eleitoral na Capital de cada Estado e no

Distrito Federal.

§ 1º - Os Tribunais Regionais Eleitorais compor-se-ão:

I - mediante eleição, pelo voto secreto:

a) de dois juízes dentre os desembargadores do Tribunal de Justiça;

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b) de dois juízes, dentre juízes de direito, escolhidos pelo Tribunal de Justiça;

II - de um juiz do Tribunal Regional Federal com sede na Capital do Estado ou no

Distrito Federal, ou, não havendo, de juiz federal, escolhido, em qualquer caso, pelo

Tribunal Regional Federal respectivo;

III - por nomeação, pelo Presidente da República, de dois juízes dentre seis

advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo Tribunal de

Justiça.

§ 2º - O Tribunal Regional Eleitoral elegerá seu Presidente e o Vice-Presidente- dentre

os desembargadores.

Art. 121. Lei complementar disporá sobre a organização e competência dos tribunais,

dos juízes de direito e das juntas eleitorais.

§ 1º - Os membros dos tribunais, os juízes de direito e os integrantes das juntas

eleitorais, no exercício de suas funções, e no que lhes for aplicável, gozarão de plenas

garantias e serão inamovíveis.

§ 2º - Os juízes dos tribunais eleitorais, salvo motivo justificado, servirão por dois

anos, no mínimo, e nunca por mais de dois biênios consecutivos, sendo os substitutos

escolhidos na mesma ocasião e pelo mesmo processo, em número igual para cada

categoria.

§ 3º - São irrecorríveis as decisões do Tribunal Superior Eleitoral, salvo as que

contrariarem esta Constituição e as denegatórias de "habeas-corpus" ou mandado de

segurança.

§ 4º - Das decisões dos Tribunais Regionais Eleitorais somente caberá recurso

quando:

I - forem proferidas contra disposição expressa desta Constituição ou de lei;

II - ocorrer divergência na interpretação de lei entre dois ou mais tribunais eleitorais;

III - versarem sobre inelegibilidade ou expedição de diplomas nas eleições federais ou

estaduais;

IV - anularem diplomas ou decretarem a perda de mandatos eletivos federais ou

estaduais;

V - denegarem "habeas-corpus", mandado de segurança, "habeas-data" ou mandado

de injunção.

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TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José E. Melhen - 2º bimestre - 2011

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JUSTIÇA MILITAR

Composição – 122, CF:

Art. 122. São órgãos da Justiça Militar:

I - o Superior Tribunal Militar;

II - os Tribunais e Juízes Militares instituídos por lei.

Composição STM – 123, CF:

Art. 123. O Superior Tribunal Militar compor-se-á de quinze Ministros vitalícios,

nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a indicação pelo Senado

Federal, sendo três dentre oficiais-generais da Marinha, quatro dentre oficiais-generais do

Exército, três dentre oficiais-generais da Aeronáutica, todos da ativa e do posto mais

elevado da carreira, e cinco dentre civis.

Parágrafo único. Os Ministros civis serão escolhidos pelo Presidente da República

dentre brasileiros maiores de trinta e cinco anos, sendo:

I - três dentre advogados de notório saber jurídico e conduta ilibada, com mais de dez

anos de efetiva atividade profissional;

II - dois, por escolha paritária, dentre juízes auditores e membros do Ministério Público

da Justiça Militar.

Competência:

Art. 124. à Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em

lei.

Parágrafo único. A lei disporá sobre a organização, o funcionamento e a competência

da Justiça Militar.

A CF estabelece a possibilidade de ser criada, mediante lei estadual proposta pelo TJ,

uma justiça militar estadual para julgar os crimes militares cometidos por policiais militares

e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressaltava a competência do Júri

quando a vítima for civil.

Em 1º grau – juízes de Direito e Conselhos de Justiça.

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TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José E. Melhen - 2º bimestre - 2011

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Nos Estados em que o efetivo militar seja superior a 20 mil integrantes é possível a

criação de um TJ Militar Estadual.

Os juízes de direito do juízo militar julgam, de forma singular, os crimes militares

cometidos contra civis e ações judiciais contra atos disciplinares militares.

Os Conselhos de Justiça, compostos por Oficiais da Polícia Militar, sob a presidência do

juiz de direito, julgam os demais crimes militares.

A Justiça Militar Estadual não possui competência para julgar civis. Compete à Justiça

comum processar e julgar civis acusados da prática de crimes contra as instituições

estaduais militares (Súmula 53, STJ).

125, § 3º, CF: A lei estadual poderá criar, mediante proposta do Tribunal de Justiça, a

Justiça Militar estadual, constituída, em primeiro grau, pelos juízes de direito e pelos

Conselhos de Justiça e, em segundo grau, pelo próprio Tribunal de Justiça, ou por

Tribunal de Justiça Militar nos Estados em que o efetivo militar seja superior a vinte mil

integrantes. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

- Militares e civis PODEM ser julgados pela prática de infrações previstas na legislação

penal de competência da Justiça Militar da União.

- Entretanto, isso não ocorre em relação à Justiça Militar dos Estados, que se

aplica somente a policiais e bombeiros militares:

125, § 4º, CF Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos

Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares

militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal

competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das

praças. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

Importante – a CF retirou da competência da Justiça Militar o julgamento dos crimes

políticos (109, IV, CF).

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JUSTIÇA ESTADUAL – 125 e 126, CF

Órgãos – Tribunal de Justiça (A Emenda Constitucional 45/2004 extinguiu os antigos

Tribunais de Alçada), Juízes de Direito, Tribunal do Júri e Juizados Especiais (Lei

9.099/95).

Competência – é residual: o que não couber à federal comum e às federais

especializadas (trabalhista, eleitoral e militar) e à Justiça Militar Estadual será de sua

competência.

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA

Integra o Judiciário, porém, sem função jurisdicional (tem funções administrativas e

correicionais) – art. 92, I-A, CF.

Tem sede na capital federal, de natureza administrativa, sem o exercício de qualquer

atribuição jurisdicional, com a finalidade de atender ao controle (externo) do Judiciário.

Composição – 103-B, CF.

Art. 103-B. O Conselho Nacional de Justiça compõe-se de 15 (quinze) membros com

mandato de 2 (dois) anos, admitida 1 (uma) recondução, sendo: (Redação dada pela

Emenda Constitucional nº 61, de 2009)

I - o Presidente do Supremo Tribunal Federal; (Redação dada pela Emenda Constitucional

nº 61, de 2009)

II um Ministro do Superior Tribunal de Justiça, indicado pelo respectivo tribunal;

III um Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, indicado pelo respectivo tribunal;

IV um desembargador de Tribunal de Justiça, indicado pelo Supremo Tribunal Federal;

V um juiz estadual, indicado pelo Supremo Tribunal Federal;

VI um juiz de Tribunal Regional Federal, indicado pelo Superior Tribunal de Justiça;

VII um juiz federal, indicado pelo Superior Tribunal de Justiça;

VIII um juiz de Tribunal Regional do Trabalho, indicado pelo Tribunal Superior do

Trabalho;

IX um juiz do trabalho, indicado pelo Tribunal Superior do Trabalho;

X um membro do Ministério Público da União, indicado pelo Procurador-Geral da

República;

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XI um membro do Ministério Público estadual, escolhido pelo Procurador-Geral da

República dentre os nomes indicados pelo órgão competente de cada instituição estadual;

XII dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;

XIII dois cidadãos, de notável saber jurídico e reputação ilibada, indicados um pela

Câmara dos Deputados e outro pelo Senado Federal.

§ 1º O Conselho será presidido pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal e, nas suas

ausências e impedimentos, pelo Vice-Presidente do Supremo Tribunal Federal. (Redação

dada pela Emenda Constitucional nº 61, de 2009)

§ 2º Os demais membros do Conselho serão nomeados pelo Presidente da República,

depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal. (Redação dada

pela Emenda Constitucional nº 61, de 2009)

§ 3º Não efetuadas, no prazo legal, as indicações previstas neste artigo, caberá a escolha

ao Supremo Tribunal Federal.

§ 4º Compete ao Conselho o controle da atuação administrativa e financeira do Poder

Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de

outras atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura:

I - zelar pela autonomia do Poder Judiciário e pelo cumprimento do Estatuto da

Magistratura, podendo expedir atos regulamentares, no âmbito de sua competência, ou

recomendar providências;

II - zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício ou mediante provocação, a

legalidade dos atos administrativos praticados por membros ou órgãos do Poder

Judiciário, podendo desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo para que se adotem as

providências necessárias ao exato cumprimento da lei, sem prejuízo da competência do

Tribunal de Contas da União;

III receber e conhecer das reclamações contra membros ou órgãos do Poder Judiciário,

inclusive contra seus serviços auxiliares, serventias e órgãos prestadores de serviços

notariais e de registro que atuem por delegação do poder público ou oficializados, sem

prejuízo da competência disciplinar e correicional dos tribunais, podendo avocar

processos disciplinares em curso e determinar a remoção, a disponibilidade ou a

aposentadoria com subsídios ou proventos proporcionais ao tempo de serviço e aplicar

outras sanções administrativas, assegurada ampla defesa;

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IV representar ao Ministério Público, no caso de crime contra a administração pública ou

de abuso de autoridade;

V rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de juízes e

membros de tribunais julgados há menos de um ano;

VI elaborar semestralmente relatório estatístico sobre processos e sentenças prolatadas,

por unidade da Federação, nos diferentes órgãos do Poder Judiciário;

VII elaborar relatório anual, propondo as providências que julgar necessárias, sobre a

situação do Poder Judiciário no País e as atividades do Conselho, o qual deve integrar

mensagem do Presidente do Supremo Tribunal Federal a ser remetida ao Congresso

Nacional, por ocasião da abertura da sessão legislativa.

§ 5º O Ministro do Superior Tribunal de Justiça exercerá a função de Ministro-Corregedor

e ficará excluído da distribuição de processos no Tribunal, competindo-lhe, além das

atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura, as seguintes:

I receber as reclamações e denúncias, de qualquer interessado, relativas aos magistrados

e aos serviços judiciários;

II exercer funções executivas do Conselho, de inspeção e de correição geral;

III requisitar e designar magistrados, delegando-lhes atribuições, e requisitar servidores de

juízos ou tribunais, inclusive nos Estados, Distrito Federal e Territórios.

§ 6º Junto ao Conselho oficiarão o Procurador-Geral da República e o Presidente do

Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil.

§ 7º A União, inclusive no Distrito Federal e nos Territórios, criará ouvidorias de justiça,

competentes para receber reclamações e denúncias de qualquer interessado contra

membros ou órgãos do Poder Judiciário, ou contra seus serviços auxiliares, representando

diretamente ao Conselho Nacional de Justiça.

FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA

Considerando-se que a atividade jurisdicional é inerte e, portanto, só age mediante

provocação, a Constituição prevê certas entidades que, elevadas ao posto de funções

essenciais á Justiça, têm por finalidade provocar a atuação do Judiciário. Tais funções

encontram-se estampadas nos arts. 127/134, da Constituição Federal.

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MINISTÉRIO PÚBLICO

Arts. 127/130, CF

A CF trata do MP em capítulo posterior ao Poder Judiciário, chamado “das funções

essenciais à Justiça”.

Essa posição topográfica do MP tem justificativa. A prestação jurisdicional possui as

seguintes características: inércia, substitutividade e definitividade. Devido à inércia

jurisdicional, é essencial a presença de advogados e MP para provocar a justiça.

HUGO NIGRO MAZZILLI diz que essa justificativa é insuficiente. Para ele, a CF diz menos

do que deveria dizer. O MP e os advogados não são essenciais só para a Justiça, mas

sim à própria existência do Estado, pois eles atuam extrajudicialmente (ex: transações).

É instituição permanente (não pode ser dissolvido), essencial à função jurisdicional do

Estado, incumbida da defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses

sociais e individuais indisponíveis.

O Ministério Público não é vinculado funcionalmente ao Judiciário, ao Legislativo ou ao

Executivo. Por tal motivo, alguns chegam a defini-lo, erroneamente, como um “quarto

Poder”.

Compete a ele atuar:

a) como órgão de defesa dos interesses sociais; b) como fiscal do rigoroso cumprimento

da lei; c) como defensor de interesses individuais indisponíveis.

Evolução histórica da posição constitucional do MP

O primeiro registro mais concreto veio da França. No dia 25 de março de 1302, o Rei

Felipe IV criou uma instituição chamada “procuradores do rei”. Seria o nascimento do MP.

CF/24: não tratou do MP

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Em 1832, foi editado o código de processo criminal do império. Aqui foi feita referência aos

“promotores de ação penal”.

CF/91: afirmou que o Procurador-Geral da República será escolhido dentre os ministros

do STF. Assim, o MP estava posicionado dentro do Poder Judiciário.

CF/34: o MP veio no capítulo de atividades de cooperação governamental. Assim, o MP

veio posicionado dentro do Poder Executivo.

CF/37: fez referência ao MP em 1 só artigo, mas não o tratou como instituição.

CF/46: o MP veio como instituição independente, fora dos 3 Poderes.

CF/67: o MP veio dentro do Poder Judiciário

CF/69: o MP veio dentro do Poder Executivo.

CF/88: por fim, hoje, formalmente, temos 3 órgãos de Poder, sendo que o MP não

está dentro de nenhum deles e nem constitui um 4º Poder. O MP é uma instituição extra-

poder: sem ser um Poder, ele exerce atribuições de Poder e garantias de Poder.

HUGO NIGRO MAZZILI entende que: “não interessa ser Poder, o que importa é ter

atribuições e garantias de Poder.”

JOSÉ AFONSO DA SILVA, por sua vez, entende de maneira diversa: para ele o MP é

uma instituição parte do Executivo pois se ele não legisla e suas decisões não têm força

de definitivas, seu atos são administrativos e, assim, integra o Poder Executivo.

Organização do Ministério Público (art. 128, CF)

1. Ministério Público da União (regulado pela LC 75/93)

a. Ministério Público Federal (MPF)

b. Ministério Público do Trabalho (MPT)

c. Ministério Público Militar (MPM )

d. Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios (MPDFT)

2. Ministério Público Estadual (regulado pela Lei 8625/93 e respectivas leis

complementares estaduais)

Obs: não temos MPDF porque o DF é pessoa jurídica com maiores limites que os

estados-membros e menos autonomia. Só existe o MPDFT, que está dentro do MPU e

abrange DF e territórios.

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Ministério Público da União:

O chefe do MPU é o Procurador Geral da República: art. 128, §1º

- é escolhido dentre os integrantes da carreira

Obs: a maioria entende que só pode ser escolhido por membros do MPF, pois os outros

ramos são específicos. A minoria entende que abrange todos os ramos, pois a CF não

restringe.

- com idade mínima de 35 anos

- é o Presidente da República que indica o nome

- o nome indicado precisa de aprovação do Senado, por maioria absoluta

- o seu afastamento se dá só por votação do Senado também.

- o Procurador Geral da República (PGR) exercerá mandato de 2 anos, permitindo-se

quantas reconduções o Presidente desejar. Obs: para JOSÉ AFONSO DA SILVA não é

mandato, mas sim investidura por prazo certo, pois, por exemplo, se o PGR deixar o

cargo, um novo o substituirá com nova investidura; o substituto não exerce só pelo final do

mandato do substituído (como ocorre em mandatos).

Cada ramo do MPU possui seu Procurador Geral próprio (ex: Procurador Geral do MPM),

menos o MPF, pois seu chefe é o PGR.

Quem escolhe o Procurador Geral do MPT e MPM é o PGR. Já o Procurador Geral do

MPDFT é escolhido pelo Presidente. Os mandatos são de 2 anos, permitindo-se uma

única recondução.

Ministério Público Federal:

Procurador da República: oficia perante o juiz federal

Procurador Regional da República: oficia perante um dos TRFs.

Sub-procurador Geral da República: oficia perante o STJ

Procurador Geral da República: oficia perante o STF

Ministério Público Estadual:

O chefe é o Procurador Geral de Justiça, que é escolhido entre os integrantes da carreira

pelo Governador, por mandato de 2 anos, permitindo-se uma única recondução.

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Diferenças entre a escolha do Procurador Geral da República (PGR) e Procurador Geral

de Justiça (PGJ):

PGR PGJ

É escolhido pelo Presidente da

República

É escolhido pelos governadores

O nome é único. A escolha

pelo Presidente é livre.

O governador escolhe o nome dentro de uma lista tríplice. A

escolha, assim, torna-se vinculada.

O nome deve ser aprovado

pelo Senado

Não precisa de aprovação da Assembléia. O STF disse que

será inconstitucional a CE que colocar esse requisito.

Não tem limites de

reconduções

É permitida uma única recondução

Autoridades do Ministério Público Estadual:

Promotor de Justiça: oficia perante o juiz de direito

Procurador de Justiça: oficia perante o TJ

Procurador Geral de Justiça: oficia perante o STJ

Obs: depende da Constituição Estadual e de Lei Complementar estadual quem pode ser

escolhido como PGJ. Em SP, só podem sê-lo os Procuradores de Justiça. Em outros

estados (ex: GO), se permitem sê-los os Promotores de Justiça.

MP do art. 130, da CF:

O MP do art. 130 não faz parte do MPU ou MPE. E o CNMP não o fiscaliza. Esse

artigo criou um MP especial perante o Tribunal de Contas da União. É o entendimento do

STF.

No TCE, quem oficia é o MPE, mas em alguns estados já foi criado o MP especial

estadual (RJ, GO MT).

O CNMP editou a resolução 22, no sentido de que não é mais possível que os

membros do MPE oficiem em TCE. Foi dado prazo para a mudança;

MP eleitoral: não existe. O correto é MP com atribuições eleitorais.

Princípios institucionais do MP

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1. Princípio da unidade: só existe 1 MP com 1 chefe (procurador geral). Essa

unidade se refere a cada ramo (MPF, MPM, MPE...). No instante em que um

membro se manifesta, ele fala pela instituição MP.

2. Princípio da indivisibilidade: decorre da unidade. É possível substituir um

membro pelo outro sem qualquer interferência na representação da instituição.

3. Princípio da independência funcional: ausência de subordinação hierárquica

pelos seus membros. O procurador geral é o chefe administrativo. É diferente de

autonomia funcional (art. 127, §2º, CF). Esta é independência da instituição

perante os Poderes. Justificativa da independência funcional: para garantia

fundamental do cidadão, não ficando amarrado a ninguém. Obs: as

recomendações dos conselhos superiores do MP não violam esse princípio pois

elas não o vinculam.

4. Princípio do promotor natural: decorre do sistema constitucional. O STF já o

reconheceu. É uma garantia fundamental do cidadão contra designações

arbitrárias, de encomenda. O cidadão tem direito de se verem processados por

membros do MP previamente estabelecido. Art. 5º, LIII - “ninguém será

processado (MP) e sentenciado (juiz) ...”

5. Princípio da federalização: art. 37, I e art. 72, LC 75/93. Como a justiça eleitoral

é federal, quem deve exercer as atribuições eleitorais é o MPF.

6. Princípio da delegação: art. 78, LC 75/93. Ainda que a justiça eleitoral seja

federal, o MPF pode delegar ao MPE suas atribuições eleitorais, em 1º grau.

Os princípios 1, 2 e 3 são expressos na CF, já o 4º é implícito nela. O 5 e 6 são

infra-constitucionais.

Atribuições do MP

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O rol de atribuições é exemplificativo, visto que o art. 129, IX fala em “exercer outras

funções que lhe forem conferidas”. Porém, para que outras lhe sejam proferidas, são 3 os

requisitos necessários:

1. Requisito formal: lei federal ou estadual

2. Requisito material: desde que compatível com as atribuições

constitucionais.

3. Requisito negativo: a CF proíbe que o MP faça a defesa de entidades

públicas (judicial ou por consultoria).

Atribuições genéricas: art. 127, CF

“instituição permanente”: é o princípio da essencialidade do MP. Essa instituição não

pode ser extinta. Seria inconstitucional acabar com a independência do MP porque

ocorreria a hipertrofia de um Poder, em detrimento dos outros.

“defesa da ordem jurídica”: ordem jurídica é o conjunto de regras e princípios de um

Estado em um determinado momento. É organização, disciplina da sociedade pelo Direito.

Para a defesa da ordem jurídica, o MP atua como órgão:

1. Interveniente: a) em razão da natureza jurídica da parte ou; b) em razão da

natureza jurídica da relação jurídica processual. Obs: em ação penal, ele é

interveniente em ação penal privada, em defesa do princípio da indivisibilidade.

2. Agente: ajuíza ações penais e civis.

“regime democrático”: é a proteção da liberdade, igualdade e dignidade da pessoa

humana, ou seja, é muito mais que o exercício de direitos políticos.

“interesses sociais e individuais indisponíveis”: interesse é posição jurídica favorável

para satisfação de determinada necessidade. Os interesses sociais são os direitos de 2ª

dimensão e os individuais indisponíveis são os que não podem ser disponibilizados pelos

particulares. Obs: direitos individuais homogêneos disponíveis podem ser de interesse do

MP se tiverem repercussão social.

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Atribuições específicas:

I. Faz referência ao sistema processual penal acusatório em que o MP é o titular da

ação penal. Por decorrência desse inciso, o MP tem o dever de provar a

acusação.

II e III – zela pelas atribuições dos órgãos do Estado; zela por serviços de

relevância pública (ex: saúde); zela pelo patrimônio público (material, imaterial moral e

ético) e por outros interesses difusos.

IV- Promove a ação de inconstitucionalidade pelo PGR e PGJ. O MP defende a

força normativa da CF. Obs: o MP atuando na ação de inconstitucionalidade interventiva é

promover a defesa do pacto federativo.

V- É competência do MPF. A defesa do interesses indígenas também pode ser feita

pelos próprios índios, suas comunidades e por organizações (art. 232, CF)

VI- O CNMP regrou por meio de uma resolução todo esse procedimento

administrativo. Esses procedimentos podem ser peças de informação ou inquérito civil.

É nesse inciso que se encontra o poder de requisição do MP. Se a requisição for

desatendida configura crime do art. 10, LACP (não é crime de desobediência).

VII- O CNMP já regulamentou o controle externo da atividade policial, que

repercute na atividade finalística da polícia.

VIII- A resolução 13 do CNMP regra o denominado PIQUE – procedimento de

investigação criminal do MP.

Investigação pelo MP:

Argumentos contra:

1. O poder investigativo do MP fere o sistema acusatório

2. O poder é exclusivo da polícia: art. 144, §1º, IV, CP

3. Não há previsão legal: art. 4º, par. único

4. O MP perde a imparcialidade

5. O MP não tem controle externo quando investiga

Argumentos a favor que rebatem os argumento contra:

1. Não fere o sistema acusatório porque a tarefa de investigar não foi monopolizada

para ninguém. Ele investiga para ele mesmo acusar.

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2. A expressão “exclusividade” do art. 144, §1º, IV é referente às outras polícias

descritas no art. 144. Não se refere aos órgãos ministeriais. Além disso, polícia

judiciária tem função de auxiliar a justiça, sendo diferente de polícia investigativa.

3. Tem previsão legal

- Leis orgânicas do MP

- art. 39, §5º, CPP: se o MP já tiver os elementos não precisa do IP

- Lei dos crimes contra o sistema financeiro e estatuto do idoso

- CF, art. 129, inc. I: se o MP pode promover a denúncia, ele também pode

investigar, diligenciar para promover a ação – quem pode o mais pode o menos.

É a teoria dos poderes implícitos. Outros incisos também mencionam: VI-

“procedimentos administrativos de sua competência”, VIII- “requisitar diligências”.

4. O MP não perde a imparcialidade pois senão ocorreria o mesmo na IC

5. O controle externo é realizado pela resolução do CNMP prevendo prazo de

investigação; e o juiz também o controla pelo art. 28.

6. O Pacto de São José da Costa Rica e o Tratado de Palermo afirmam que o MP

pode investigar.

STJ: pode investigar com base na súmula 234: o membro do MP que realiza a

investigação pode oferecer acusação.

STF: o assunto está no Pleno, inquérito 1968. Porém, uma coisa é tranqüila: se a

investigação do MP ocorreu no IC, a denúncia dispensa o IP.

MP pode advogar?

A CF proíbe que membros do MP advoguem, no entanto, o ADCT (art. 29, §3º) traz

uma exceção: os membros do MPF que adentraram na carreira antes de 1988 podem

advogar.

Atividade político-partidária:

Membros do MP que adentraram até 1988 podem exercer atividade político-

partidária. Assim, se ganharem eleição ficam de licença do cargo.

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Membros do MP que adentraram a partir de 05/10/88 até EC45/04 – temos duas

posições:

1ª: pode, pois a EC45/04 só se aplica para frente (licença)

2ª: não pode se candidatar a não ser que se exonere do cargo

O CNMP tem uma resolução sobre o assunto que deixa margem à dúvida.

Membros do MP que adentraram após a EC/45 não podem exercer atividade

político-partidária. Caso queiram se candidatar, devem se exonerar.

Garantias e Vedações do MP– 128, § 5º, CF:

128, § 5º - Leis complementares da União e dos Estados, cuja iniciativa é facultada

aos respectivos Procuradores-Gerais, estabelecerão a organização, as atribuições e o

estatuto de cada Ministério Público, observadas, relativamente a seus membros:

I - as seguintes garantias:

a) vitaliciedade, após dois anos de exercício, não podendo perder o cargo senão por

sentença judicial transitada em julgado;

b) inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, mediante decisão do órgão

colegiado competente do Ministério Público, pelo voto da maioria absoluta de seus

membros, assegurada ampla defesa; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45,

de 2004)

c) irredutibilidade de subsídio, fixado na forma do art. 39, § 4º, e ressalvado o disposto

nos arts. 37, X e XI, 150, II, 153, III, 153, § 2º, I; (Redação dada pela Emenda

Constitucional nº 19, de 1998)

II - as seguintes vedações:

a) receber, a qualquer título e sob qualquer pretexto, honorários, percentagens ou

custas processuais;

b) exercer a advocacia (IMPORTANTE – vide Resolução 8, do Conselho Nacional do

Ministério Público);

c) participar de sociedade comercial, na forma da lei;

d) exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra função pública, salvo uma de

magistério;

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e) exercer atividade político-partidária; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº

45, de 2004) (IMPORTANTE – vide Resolução 5, do Conselho Nacional do Ministério

Público);

f) receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas,

entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei. (Incluída pela

Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

§ 6º Aplica-se aos membros do Ministério Público o disposto no art. 95, parágrafo

único, V. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

Art. 95, par. único, V, CF (“quarentena”) - exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual

se afastou, antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou

exoneração.

Nesses casos, o entendimento é o mesmo mencionado em relação aos membros do

Judiciário: o membro do MP não pode atuar junto ao Tribunal do qual se afastou (2ª

instância) ou junto à comarca ou à seção judiciária na qual atuava (1ª instância).

CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO

É composto por 14 membros e presidido pelo PGR.

Atribuições:

- controla a atuação administrativa e financeira do MP

- fiscaliza se os membros do MP estão cumprindo o art. 37, CF.

Ele não pode adentrar no exercício das atribuições do MP nem discutir as

atribuições deste.

Composição, Competência e Funcionamento do CNMP

Art. 130-A. O Conselho Nacional do Ministério Público compõe-se de quatorze

membros nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela

maioria absoluta do Senado Federal, para um mandato de dois anos, admitida uma

recondução, sendo: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

I o Procurador-Geral da República, que o preside;

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II quatro membros do Ministério Público da União, assegurada a representação de

cada uma de suas carreiras;

III três membros do Ministério Público dos Estados;

IV dois juízes, indicados um pelo Supremo Tribunal Federal e outro pelo Superior

Tribunal de Justiça;

V dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do

Brasil;

VI dois cidadãos de notável saber jurídico e reputação ilibada, indicados um pela

Câmara dos Deputados e outro pelo Senado Federal.

§ 1º Os membros do Conselho oriundos do Ministério Público serão indicados pelos

respectivos Ministérios Públicos, na forma da lei.

§ 2º Compete ao Conselho Nacional do Ministério Público o controle da atuação

administrativa e financeira do Ministério Público e do cumprimento dos deveres funcionais

de seus membros, cabendo-lhe:

I - zelar pela autonomia funcional e administrativa do Ministério Público, podendo

expedir atos regulamentares, no âmbito de sua competência, ou recomendar providências;

II - zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício ou mediante provocação, a

legalidade dos atos administrativos praticados por membros ou órgãos do Ministério

Público da União e dos Estados, podendo desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo para

que se adotem as providências necessárias ao exato cumprimento da lei, sem prejuízo da

competência dos Tribunais de Contas;

III - receber e conhecer das reclamações contra membros ou órgãos do Ministério

Público da União ou dos Estados, inclusive contra seus serviços auxiliares, sem prejuízo

da competência disciplinar e correicional da instituição, podendo avocar processos

disciplinares em curso, determinar a remoção, a disponibilidade ou a aposentadoria com

subsídios ou proventos proporcionais ao tempo de serviço e aplicar outras sanções

administrativas, assegurada ampla defesa;

IV - rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de membros

do Ministério Público da União ou dos Estados julgados há menos de um ano;

V - elaborar relatório anual, propondo as providências que julgar necessárias sobre a

situação do Ministério Público no País e as atividades do Conselho, o qual deve integrar a

mensagem prevista no art. 84, XI.

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§ 3º O Conselho escolherá, em votação secreta, um Corregedor nacional, dentre os

membros do Ministério Público que o integram, vedada a recondução, competindo-lhe,

além das atribuições que lhe forem conferidas pela lei, as seguintes:

I - receber reclamações e denúncias, de qualquer interessado, relativas aos membros

do Ministério Público e dos seus serviços auxiliares;

II - exercer funções executivas do Conselho, de inspeção e correição geral;

III - requisitar e designar membros do Ministério Público, delegando-lhes atribuições, e

requisitar servidores de órgãos do Ministério Público.

§ 4º O Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil oficiará

junto ao Conselho.

§ 5º Leis da União e dos Estados criarão ouvidorias do Ministério Público,

competentes para receber reclamações e denúncias de qualquer interessado contra

membros ou órgãos do Ministério Público, inclusive contra seus serviços auxiliares,

representando diretamente ao Conselho Nacional do Ministério Público.

Art. 129, CF:

§ 3º O ingresso na carreira do Ministério Público far-se-á mediante concurso público

de provas e títulos, assegurada a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em sua

realização, exigindo-se do bacharel em direito, no mínimo, três anos de atividade jurídica e

observando-se, nas nomeações, a ordem de classificação. (Redação dada pela Emenda

Constitucional nº 45, de 2004) (IMPORTANTE – vide Resolução 29, do Conselho Nacional

do Ministério Público)

§ 4º Aplica-se ao Ministério Público, no que couber, o disposto no art. 93. (Redação

dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

§ 5º A distribuição de processos no Ministério Público será imediata. (Incluído pela

Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

ADVOCACIA

Divide-se em advocacia pública e privada.

ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO – art. 131, CF:

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Representa a União judicial e extrajudicialmente, além de exercer atividades de

consultoria e assessoramento.

Art. 131. A Advocacia-Geral da União é a instituição que, diretamente ou através de

órgão vinculado, representa a União, judicial e extrajudicialmente, cabendo-lhe, nos

termos da lei complementar que dispuser sobre sua organização e funcionamento, as

atividades de consultoria e assessoramento jurídico do Poder Executivo.

§ 1º - A Advocacia-Geral da União tem por chefe o Advogado-Geral da União, de livre

nomeação pelo Presidente da República dentre cidadãos maiores de trinta e cinco anos,

de notável saber jurídico e reputação ilibada.

§ 2º - O ingresso nas classes iniciais das carreiras da instituição de que trata este

artigo far-se-á mediante concurso público de provas e títulos.

§ 3º - Na execução da dívida ativa de natureza tributária, a representação da União

cabe à Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, observado o disposto em lei.

Procuradoria Geral do Estado – art. 132, CF

Representa judicial e extrajudicialmente os Estados, além das atividades de consultoria e

assessoramento.

Art. 132. Os Procuradores dos Estados e do Distrito Federal, organizados em carreira,

na qual o ingresso dependerá de concurso público de provas e títulos, com a participação

da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as suas fases, exercerão a representação

judicial e a consultoria jurídica das respectivas unidades federadas. (Redação dada pela

Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

Parágrafo único. Aos procuradores referidos neste artigo é assegurada estabilidade

após três anos de efetivo exercício, mediante avaliação de desempenho perante os

órgãos próprios, após relatório circunstanciado das corregedorias. (Redação dada pela

Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

Defensoria pública

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Não foi instituída, por ora, em todos Estados. Em SP, recentemente a Defensoria

Pública foi instituída, porém, haja vista o excesso de demanda promove-se a assessoria

jurídica dos hipossuficientes, também, por meio de convênio celebrado com a OAB/SP.

Art. 134. A Defensoria Pública é instituição essencial à função jurisdicional do Estado,

incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na

forma do art. 5º, LXXIV.)

§ 1º Lei complementar organizará a Defensoria Pública da União e do Distrito Federal

e dos Territórios e prescreverá normas gerais para sua organização nos Estados, em

cargos de carreira, providos, na classe inicial, mediante concurso público de provas e

títulos, assegurada a seus integrantes a garantia da inamovibilidade e vedado o exercício

da advocacia fora das atribuições institucionais. (Renumerado pela Emenda Constitucional

nº 45, de 2004)

§ 2º Às Defensorias Públicas Estaduais são asseguradas autonomia funcional e

administrativa e a iniciativa de sua proposta orçamentária dentro dos limites estabelecidos

na lei de diretrizes orçamentárias e subordinação ao disposto no art. 99, § 2º. (Incluído

pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

Art. 135. Os servidores integrantes das carreiras disciplinadas nas Seções II e III

deste Capítulo serão remunerados na forma do art. 39, § 4º. (Redação dada pela Emenda

Constitucional nº 19, de 1998)

Advocacia – art. 133

Art. 133. O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por

seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei.

Ao advogado aplicam-se as disposições do Código de Ética e Disciplina da OAB, bem

como as disposições da Lei n.º 8.906/94.

Os advogados públicos sujeitam-se às normas próprias de suas carreiras, porém, aplica-

se, na omissão dessas e em caráter subsidiário, as disposições do Código de Ética e

Disciplina da OAB e da Lei 8.906/94 (Estatuto da Advocacia).

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O advogado encontra legitimidade para representar seu cliente em juízo por meio da

procuração ad judicia (ou “procuração para o foro em geral”). Sem ela, seus atos são

reputados nulos. Advogados públicos não precisam juntar procuração aos autos.

Considerando-se que há entre advogado e cliente um contrato de mandato, por meio do

qual um se obriga a representar o outro, o instrumento que viabiliza o mandato é a

procuração. Logo, a procuração é o instrumento do mandato (alguns, erroneamente e por

falta de técnica ou de vernáculo, utilizam a expressão “instrumento de procuração”; repita-

se: a procuração é instrumento do mandato).

Em questões urgentes o advogado pode atuar sem procuração, porém obriga-se a juntar,

nos 10 dias subseqüentes à prática do ato, o instrumento do mandato (procuração).

Far-se-á remissão aos dispositivos mais pertinentes da Lei 8906/94 e do Código de Ética

e Disciplina das OAB, conforme amplamente discutido em salas de aula.

Lei nº 8.906, de 04 de julho de 1994

CAPÍTULO I

Da Atividade de Advocacia

Art. 1º São atividades privativas de advocacia:

I - a postulação a qualquer órgão do Poder Judiciário e aos juizados especiais; (Vide

ADIN 1127-8)

II - as atividades de consultoria, assessoria e direção jurídicas.

§ 1º Não se inclui na atividade privativa de advocacia a impetração de habeas corpus

em qualquer instância ou tribunal.

§ 2º Os atos e contratos constitutivos de pessoas jurídicas, sob pena de nulidade, só

podem ser admitidos a registro, nos órgãos competentes, quando visados por advogados.

§ 3º É vedada a divulgação de advocacia em conjunto com outra atividade.

Art. 2º O advogado é indispensável à administração da justiça.

§ 1º No seu ministério privado, o advogado presta serviço público e exerce função

social.

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§ 2º No processo judicial, o advogado contribui, na postulação de decisão favorável

ao seu constituinte, ao convencimento do julgador, e seus atos constituem múnus público.

§ 3º No exercício da profissão, o advogado é inviolável por seus atos e

manifestações, nos limites desta lei.

Art. 3º O exercício da atividade de advocacia no território brasileiro e a denominação

de advogado são privativos dos inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB),

§ 1º Exercem atividade de advocacia, sujeitando-se ao regime desta lei, além do

regime próprio a que se subordinem, os integrantes da Advocacia-Geral da União, da

Procuradoria da Fazenda Nacional, da Defensoria Pública e das Procuradorias e

Consultorias Jurídicas dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e das respectivas

entidades de administração indireta e fundacional.

§ 2º O estagiário de advocacia, regularmente inscrito, pode praticar os atos previstos

no art. 1º, na forma do regimento geral, em conjunto com advogado e sob

responsabilidade deste.

Art. 4º São nulos os atos privativos de advogado praticados por pessoa não inscrita

na OAB, sem prejuízo das sanções civis, penais e administrativas.

Parágrafo único. São também nulos os atos praticados por advogado impedido - no

âmbito do impedimento - suspenso, licenciado ou que passar a exercer atividade

incompatível com a advocacia.

Art. 5º O advogado postula, em juízo ou fora dele, fazendo prova do mandato.

§ 1º O advogado, afirmando urgência, pode atuar sem procuração, obrigando-se a

apresentá-la no prazo de quinze dias, prorrogável por igual período.

§ 2º A procuração para o foro em geral habilita o advogado a praticar todos os atos

judiciais, em qualquer juízo ou instância, salvo os que exijam poderes especiais.

§ 3º O advogado que renunciar ao mandato continuará, durante os dez dias

seguintes à notificação da renúncia, a representar o mandante, salvo se for substituído

antes do término desse prazo.

CAPÍTULO II

Dos Direitos do Advogado

Art. 6º Não há hierarquia nem subordinação entre advogados, magistrados e

membros do Ministério Público, devendo todos tratar-se com consideração e respeito

recíprocos.

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Parágrafo único. As autoridades, os servidores públicos e os serventuários da justiça

devem dispensar ao advogado, no exercício da profissão, tratamento compatível com a

dignidade da advocacia e condições adequadas a seu desempenho.

Art. 7º São direitos do advogado:

I - exercer, com liberdade, a profissão em todo o território nacional;

II - ter respeitada, em nome da liberdade de defesa e do sigilo profissional, a

inviolabilidade de seu escritório ou local de trabalho, de seus arquivos e dados, de sua

correspondência e de suas comunicações, inclusive telefônicas ou afins, salvo caso de

busca ou apreensão determinada por magistrado e acompanhada de representante da

OAB;

III - comunicar-se com seus clientes, pessoal e reservadamente, mesmo sem

procuração, quando estes se acharem presos, detidos ou recolhidos em estabelecimentos

civis ou militares, ainda que considerados incomunicáveis;

IV - ter a presença de representante da OAB, quando preso em flagrante, por motivo

ligado ao exercício da advocacia, para lavratura do auto respectivo, sob pena de nulidade

e, nos demais casos, a comunicação expressa à seccional da OAB;

V - não ser recolhido preso, antes de sentença transitada em julgado, senão em sala

de Estado Maior, com instalações e comodidades condignas, assim reconhecidas pela

OAB, e, na sua falta, em prisão domiciliar; (Vide ADIN 1127-8)

VI - ingressar livremente:

a) nas salas de sessões dos tribunais, mesmo além dos cancelos que separam a

parte reservada aos magistrados;

b) nas salas e dependências de audiências, secretarias, cartórios, ofícios de justiça,

serviços notariais e de registro, e, no caso de delegacias e prisões, mesmo fora da hora

de expediente e independentemente da presença de seus titulares;

c) em qualquer edifício ou recinto em que funcione repartição judicial ou outro serviço

público onde o advogado deva praticar ato ou colher prova ou informação útil ao exercício

da atividade profissional, dentro do expediente ou fora dele, e ser atendido, desde que se

ache presente qualquer servidor ou empregado;

d) em qualquer assembléia ou reunião de que participe ou possa participar o seu

cliente, ou perante a qual este deva comparecer, desde que munido de poderes especiais;

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VII - permanecer sentado ou em pé e retirar-se de quaisquer locais indicados no

inciso anterior, independentemente de licença;

VIII - dirigir-se diretamente aos magistrados nas salas e gabinetes de trabalho,

independentemente de horário previamente marcado ou outra condição, observando-se a

ordem de chegada;

IX - sustentar oralmente as razões de qualquer recurso ou processo, nas sessões de

julgamento, após o voto do relator, em instância judicial ou administrativa, pelo prazo de

quinze minutos, salvo se prazo maior for concedido; (Vide ADIN 1127-8)

X - usar da palavra, pela ordem, em qualquer juízo ou tribunal, mediante intervenção

sumária, para esclarecer equívoco ou dúvida surgida em relação a fatos, documentos ou

afirmações que influam no julgamento, bem como para replicar acusação ou censura que

lhe forem feitas;

XI - reclamar, verbalmente ou por escrito, perante qualquer juízo, tribunal ou

autoridade, contra a inobservância de preceito de lei, regulamento ou regimento;

XII - falar, sentado ou em pé, em juízo, tribunal ou órgão de deliberação coletiva da

Administração Pública ou do Poder Legislativo;

XIII - examinar, em qualquer órgão dos Poderes Judiciário e Legislativo, ou da

Administração Pública em geral, autos de processos findos ou em andamento, mesmo

sem procuração, quando não estejam sujeitos a sigilo, assegurada a obtenção de cópias,

podendo tomar apontamentos;

XIV - examinar em qualquer repartição policial, mesmo sem procuração, autos de

flagrante e de inquérito, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade,

podendo copiar peças e tomar apontamentos;

XV - ter vista dos processos judiciais ou administrativos de qualquer natureza, em

cartório ou na repartição competente, ou retirá-los pelos prazos legais;

XVI - retirar autos de processos findos, mesmo sem procuração, pelo prazo de dez

dias;

XVII - ser publicamente desagravado, quando ofendido no exercício da profissão ou

em razão dela;

XVIII - usar os símbolos privativos da profissão de advogado;

XIX - recusar-se a depor como testemunha em processo no qual funcionou ou deva

funcionar, ou sobre fato relacionado com pessoa de quem seja ou foi advogado, mesmo

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quando autorizado ou solicitado pelo constituinte, bem como sobre fato que constitua

sigilo profissional;

XX - retirar-se do recinto onde se encontre aguardando pregão para ato judicial, após

trinta minutos do horário designado e ao qual ainda não tenha comparecido a autoridade

que deva presidir a ele, mediante comunicação protocolizada em juízo.

§ 1º Não se aplica o disposto nos incisos XV e XVI:

1) aos processos sob regime de segredo de justiça;

2) quando existirem nos autos documentos originais de difícil restauração ou ocorrer

circunstância relevante que justifique a permanência dos autos no cartório, secretaria ou

repartição, reconhecida pela autoridade em despacho motivado, proferido de ofício,

mediante representação ou a requerimento da parte interessada;

3) até o encerramento do processo, ao advogado que houver deixado de devolver os

respectivos autos no prazo legal, e só o fizer depois de intimado.

§ 2º O advogado tem imunidade profissional, não constituindo injúria, difamação ou

desacato puníveis qualquer manifestação de sua parte, no exercício de sua atividade, em

juízo ou fora dele, sem prejuízo das sanções disciplinares perante a OAB, pelos excessos

que cometer. (Vide ADIN 1127-8)

§ 3º O advogado somente poderá ser preso em flagrante, por motivo de exercício da

profissão, em caso de crime inafiançável, observado o disposto no inciso IV deste artigo.

§ 4º O Poder Judiciário e o Poder Executivo devem instalar, em todos os juizados,

fóruns, tribunais, delegacias de polícia e presídios, salas especiais permanentes para os

advogados, com uso e controle assegurados à OAB. (Vide ADIN 1127-8)

§ 5º No caso de ofensa a inscrito na OAB, no exercício da profissão ou de cargo ou

função de órgão da OAB, o conselho competente deve promover o desagravo público do

ofendido, sem prejuízo da responsabilidade criminal em que incorrer o infrator.

CAPÍTULO III

Da Inscrição

Art. 8º Para inscrição como advogado é necessário:

I - capacidade civil;

II - diploma ou certidão de graduação em direito, obtido em instituição de ensino

oficialmente autorizada e credenciada;

III - título de eleitor e quitação do serviço militar, se brasileiro;

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IV - aprovação em Exame de Ordem;

V - não exercer atividade incompatível com a advocacia;

VI - idoneidade moral;

VII - prestar compromisso perante o conselho.

§ 1º O Exame da Ordem é regulamentado em provimento do Conselho Federal da

OAB.

§ 2º O estrangeiro ou brasileiro, quando não graduado em direito no Brasil, deve

fazer prova do título de graduação, obtido em instituição estrangeira, devidamente

revalidado, além de atender aos demais requisitos previstos neste artigo.

§ 3º A inidoneidade moral, suscitada por qualquer pessoa, deve ser declarada

mediante decisão que obtenha no mínimo dois terços dos votos de todos os membros do

conselho competente, em procedimento que observe os termos do processo disciplinar.

§ 4º Não atende ao requisito de idoneidade moral aquele que tiver sido condenado

por crime infamante, salvo reabilitação judicial.

Art. 9º Para inscrição como estagiário é necessário:

I - preencher os requisitos mencionados nos incisos I, III, V, VI e VII do art. 8º;

II - ter sido admitido em estágio profissional de advocacia.

§ 1º O estágio profissional de advocacia, com duração de dois anos, realizado nos

últimos anos do curso jurídico, pode ser mantido pelas respectivas instituições de ensino

superior pelos Conselhos da OAB, ou por setores, órgãos jurídicos e escritórios de

advocacia credenciados pela OAB, sendo obrigatório o estudo deste Estatuto e do Código

de Ética e Disciplina.

§ 2º A inscrição do estagiário é feita no Conselho Seccional em cujo território se

localize seu curso jurídico.

§ 3º O aluno de curso jurídico que exerça atividade incompatível com a advocacia

pode freqüentar o estágio ministrado pela respectiva instituição de ensino superior, para

fins de aprendizagem, vedada a inscrição na OAB.

§ 4º O estágio profissional poderá ser cumprido por bacharel em Direito que queira

se inscrever na Ordem.

Art. 10. A inscrição principal do advogado deve ser feita no Conselho Seccional em

cujo território pretende estabelecer o seu domicílio profissional, na forma do regulamento

geral.

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§ 1º Considera-se domicílio profissional a sede principal da atividade de advocacia,

prevalecendo, na dúvida, o domicílio da pessoa física do advogado.

§ 2º Além da principal, o advogado deve promover a inscrição suplementar nos

Conselhos Seccionais em cujos territórios passar a exercer habitualmente a profissão

considerando-se habitualidade a intervenção judicial que exceder de cinco causas por

ano.

§ 3º No caso de mudança efetiva de domicílio profissional para outra unidade

federativa, deve o advogado requerer a transferência de sua inscrição para o Conselho

Seccional correspondente.

§ 4º O Conselho Seccional deve suspender o pedido de transferência ou de inscrição

suplementar, ao verificar a existência de vício ou ilegalidade na inscrição principal, contra

ela representando ao Conselho Federal.

Art. 11. Cancela-se a inscrição do profissional que:

I - assim o requerer;

II - sofrer penalidade de exclusão;

III - falecer;

IV - passar a exercer, em caráter definitivo, atividade incompatível com a advocacia;

V - perder qualquer um dos requisitos necessários para inscrição.

§ 1º Ocorrendo uma das hipóteses dos incisos II, III e IV, o cancelamento deve ser

promovido, de ofício, pelo conselho competente ou em virtude de comunicação por

qualquer pessoa.

§ 2º Na hipótese de novo pedido de inscrição - que não restaura o número de

inscrição anterior - deve o interessado fazer prova dos requisitos dos incisos I, V, VI e VII

do art. 8º.

§ 3º Na hipótese do inciso II deste artigo, o novo pedido de inscrição também deve

ser acompanhado de provas de reabilitação.

Art. 12. Licencia-se o profissional que:

I - assim o requerer, por motivo justificado;

II - passar a exercer, em caráter temporário, atividade incompatível com o exercício

da advocacia;

III - sofrer doença mental considerada curável.

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Art. 13. O documento de identidade profissional, na forma prevista no regulamento

geral, é de uso obrigatório no exercício da atividade de advogado ou de estagiário e

constitui prova de identidade civil para todos os fins legais.

Art. 14. É obrigatória a indicação do nome e do número de inscrição em todos os

documentos assinados pelo advogado, no exercício de sua atividade.

Parágrafo único. É vedado anunciar ou divulgar qualquer atividade relacionada com o

exercício da advocacia ou o uso da expressão escritório de advocacia, sem indicação

expressa do nome e do número de inscrição dos advogados que o integrem ou o número

de registro da sociedade de advogados na OAB.

(...)

CAPÍTULO VI

Dos Honorários Advocatícios

Art. 22. A prestação de serviço profissional assegura aos inscritos na OAB o direito

aos honorários convencionados, aos fixados por arbitramento judicial e aos de

sucumbência.

§ 1º O advogado, quando indicado para patrocinar causa de juridicamente

necessitado, no caso de impossibilidade da Defensoria Pública no local da prestação de

serviço, tem direito aos honorários fixados pelo juiz, segundo tabela organizada pelo

Conselho Seccional da OAB, e pagos pelo Estado.

§ 2º Na falta de estipulação ou de acordo, os honorários são fixados por arbitramento

judicial, em remuneração compatível com o trabalho e o valor econômico da questão, não

podendo ser inferiores aos estabelecidos na tabela organizada pelo Conselho Seccional

da OAB.

§ 3º Salvo estipulação em contrário, um terço dos honorários é devido no início do

serviço, outro terço até a decisão de primeira instância e o restante no final.

§ 4º Se o advogado fizer juntar aos autos o seu contrato de honorários antes de

expedir-se o mandado de levantamento ou precatório, o juiz deve determinar que lhe

sejam pagos diretamente, por dedução da quantia a ser recebida pelo constituinte, salvo

se este provar que já os pagou.

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§ 5º O disposto neste artigo não se aplica quando se tratar de mandato outorgado

por advogado para defesa em processo oriundo de ato ou omissão praticada no exercício

da profissão.

Art. 23. Os honorários incluídos na condenação, por arbitramento ou sucumbência,

pertencem ao advogado, tendo este direito autônomo para executar a sentença nesta

parte, podendo requerer que o precatório, quando necessário, seja expedido em seu

favor.

Art. 24. A decisão judicial que fixar ou arbitrar honorários e o contrato escrito que os

estipular são títulos executivos e constituem crédito privilegiado na falência, concordata,

concurso de credores, insolvência civil e liquidação extrajudicial.

§ 1º A execução dos honorários pode ser promovida nos mesmos autos da ação em

que tenha atuado o advogado, se assim lhe convier.

§ 2º Na hipótese de falecimento ou incapacidade civil do advogado, os honorários de

sucumbência, proporcionais ao trabalho realizado, são recebidos por seus sucessores ou

representantes legais.

§ 3º É nula qualquer disposição, cláusula, regulamento ou convenção individual ou

coletiva que retire do advogado o direito ao recebimento dos honorários de sucumbência.

§ 4º O acordo feito pelo cliente do advogado e a parte contrária, salvo aquiescência

do profissional, não lhe prejudica os honorários, quer os convencionados, quer os

concedidos por sentença.

Art. 25. Prescreve em cinco anos a ação de cobrança de honorários de advogado,

contado o prazo:

I - do vencimento do contrato, se houver;

II - do trânsito em julgado da decisão que os fixar;

III - da ultimação do serviço extrajudicial;

IV - da desistência ou transação;

V - da renúncia ou revogação do mandato.

Art. 26. O advogado substabelecido, com reserva de poderes, não pode cobrar

honorários sem a intervenção daquele que lhe conferiu o substabelecimento.

CAPÍTULO VII

Das Incompatibilidades e Impedimentos

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Art. 27. A incompatibilidade determina a proibição total, e o impedimento, a proibição

parcial do exercício da advocacia.

Art. 28. A advocacia é incompatível, mesmo em causa própria, com as seguintes

atividades:

I - chefe do Poder Executivo e membros da Mesa do Poder Legislativo e seus

substitutos legais;

II - membros de órgãos do Poder Judiciário, do Ministério Público, dos tribunais e

conselhos de contas, dos juizados especiais, da justiça de paz, juízes classistas, bem

como de todos os que exerçam função de julgamento em órgãos de deliberação coletiva

da administração pública direta e indireta; (Vide ADIN 1127-8)

III - ocupantes de cargos ou funções de direção em Órgãos da Administração Pública

direta ou indireta, em suas fundações e em suas empresas controladas ou

concessionárias de serviço público;

IV - ocupantes de cargos ou funções vinculados direta ou indiretamente a qualquer

órgão do Poder Judiciário e os que exercem serviços notariais e de registro;

V - ocupantes de cargos ou funções vinculados direta ou indiretamente a atividade

policial de qualquer natureza;

VI - militares de qualquer natureza, na ativa;

VII - ocupantes de cargos ou funções que tenham competência de lançamento,

arrecadação ou fiscalização de tributos e contribuições parafiscais;

VIII - ocupantes de funções de direção e gerência em instituições financeiras,

inclusive privadas.

§ 1º A incompatibilidade permanece mesmo que o ocupante do cargo ou função

deixe de exercê-lo temporariamente.

§ 2º Não se incluem nas hipóteses do inciso III os que não detenham poder de

decisão relevante sobre interesses de terceiro, a juízo do conselho competente da OAB,

bem como a administração acadêmica diretamente relacionada ao magistério jurídico.

Art. 29. Os Procuradores Gerais, Advogados Gerais, Defensores Gerais e dirigentes

de órgãos jurídicos da Administração Pública direta, indireta e fundacional são

exclusivamente legitimados para o exercício da advocacia vinculada à função que

exerçam, durante o período da investidura.

Art. 30. São impedidos de exercer a advocacia:

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I - os servidores da administração direta, indireta e fundacional, contra a Fazenda

Pública que os remunere ou à qual seja vinculada a entidade empregadora;

II - os membros do Poder Legislativo, em seus diferentes níveis, contra ou a favor

das pessoas jurídicas de direito público, empresas públicas, sociedades de economia

mista, fundações públicas, entidades paraestatais ou empresas concessionárias ou

permissionárias de serviço público.

Parágrafo único. Não se incluem nas hipóteses do inciso I os docentes dos cursos

jurídicos.

CAPÍTULO VIII

Da Ética do Advogado

Art. 31. O advogado deve proceder de forma que o torne merecedor de respeito e

que contribua para o prestígio da classe e da advocacia.

§ 1º O advogado, no exercício da profissão, deve manter independência em qualquer

circunstância.

§ 2º Nenhum receio de desagradar a magistrado ou a qualquer autoridade, nem de

incorrer em impopularidade, deve deter o advogado no exercício da profissão.

Art. 32. O advogado é responsável pelos atos que, no exercício profissional, praticar

com dolo ou culpa.

Parágrafo único. Em caso de lide temerária, o advogado será solidariamente

responsável com seu cliente, desde que coligado com este para lesar a parte contrária, o

que será apurado em ação própria.

Art. 33. O advogado obriga-se a cumprir rigorosamente os deveres consignados no

Código de Ética e Disciplina.

Parágrafo único. O Código de Ética e Disciplina regula os deveres do advogado para

com a comunidade, o cliente, o outro profissional e, ainda, a publicidade, a recusa do

patrocínio, o dever de assistência jurídica, o dever geral de urbanidade e os respectivos

procedimentos disciplinares.

CAPÍTULO IX

Das Infrações e Sanções Disciplinares

Art. 34. Constitui infração disciplinar:

I - exercer a profissão, quando impedido de fazê-lo, ou facilitar, por qualquer meio, o

seu exercício aos não inscritos, proibidos ou impedidos;

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II - manter sociedade profissional fora das normas e preceitos estabelecidos nesta lei;

III - valer-se de agenciador de causas, mediante participação nos honorários a

receber;

IV - angariar ou captar causas, com ou sem a intervenção de terceiros;

V - assinar qualquer escrito destinado a processo judicial ou para fim extrajudicial que

não tenha feito, ou em que não tenha colaborado;

VI - advogar contra literal disposição de lei, presumindo-se a boa-fé quando

fundamentado na inconstitucionalidade, na injustiça da lei ou em pronunciamento judicial

anterior;

VII - violar, sem justa causa, sigilo profissional;

VIII - estabelecer entendimento com a parte adversa sem autorização do cliente ou

ciência do advogado contrário;

IX - prejudicar, por culpa grave, interesse confiado ao seu patrocínio;

X - acarretar, conscientemente, por ato próprio, a anulação ou a nulidade do

processo em que funcione;

XI - abandonar a causa sem justo motivo ou antes de decorridos dez dias da

comunicação da renúncia;

XII - recusar-se a prestar, sem justo motivo, assistência jurídica, quando nomeado

em virtude de impossibilidade da Defensoria Pública;

XIII - fazer publicar na imprensa, desnecessária e habitualmente, alegações forenses

ou relativas a causas pendentes;

XIV - deturpar o teor de dispositivo de lei, de citação doutrinária ou de julgado, bem

como de depoimentos, documentos e alegações da parte contrária, para confundir o

adversário ou iludir o juiz da causa;

XV - fazer, em nome do constituinte, sem autorização escrita deste, imputação a

terceiro de fato definido como crime;

XVI - deixar de cumprir, no prazo estabelecido, determinação emanada do órgão ou

de autoridade da Ordem, em matéria da competência desta, depois de regularmente

notificado;

XVII - prestar concurso a clientes ou a terceiros para realização de ato contrário à lei

ou destinado a fraudá-la;

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XVIII - solicitar ou receber de constituinte qualquer importância para aplicação ilícita

ou desonesta;

XIX - receber valores, da parte contrária ou de terceiro, relacionados com o objeto do

mandato, sem expressa autorização do constituinte;

XX - locupletar-se, por qualquer forma, à custa do cliente ou da parte adversa, por si

ou interposta pessoa;

XXI - recusar-se, injustificadamente, a prestar contas ao cliente de quantias

recebidas dele ou de terceiros por conta dele;

XXII - reter, abusivamente, ou extraviar autos recebidos com vista ou em confiança;

XXIII - deixar de pagar as contribuições, multas e preços de serviços devidos à OAB,

depois de regularmente notificado a fazê-lo;

XXIV - incidir em erros reiterados que evidenciem inépcia profissional;

XXV - manter conduta incompatível com a advocacia;

XXVI - fazer falsa prova de qualquer dos requisitos para inscrição na OAB;

XXVII - tornar-se moralmente inidôneo para o exercício da advocacia;

XXVIII - praticar crime infamante;

XXIX - praticar, o estagiário, ato excedente de sua habilitação.

Parágrafo único. Inclui-se na conduta incompatível:

a) prática reiterada de jogo de azar, não autorizado por lei;

b) incontinência pública e escandalosa;

c) embriaguez ou toxicomania habituais.

Art. 35. As sanções disciplinares consistem em:

I - censura;

II - suspensão;

III - exclusão;

IV - multa.

Parágrafo único. As sanções devem constar dos assentamentos do inscrito, após o

trânsito em julgado da decisão, não podendo ser objeto de publicidade a de censura.

Art. 36. A censura é aplicável nos casos de:

I - infrações definidas nos incisos I a XVI e XXIX do art. 34;

II - violação a preceito do Código de Ética e Disciplina;

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III - violação a preceito desta lei, quando para a infração não se tenha estabelecido

sanção mais grave.

Parágrafo único. A censura pode ser convertida em advertência, em ofício reservado,

sem registro nos assentamentos do inscrito, quando presente circunstância atenuante.

Art. 37. A suspensão é aplicável nos casos de:

I - infrações definidas nos incisos XVII a XXV do art. 34;

II - reincidência em infração disciplinar.

§ 1º A suspensão acarreta ao infrator a interdição do exercício profissional, em todo o

território nacional, pelo prazo de trinta dias a doze meses, de acordo com os critérios de

individualização previstos neste capítulo.

§ 2º Nas hipóteses dos incisos XXI e XXIII do art. 34, a suspensão perdura até que

satisfaça integralmente a dívida, inclusive com correção monetária.

§ 3º Na hipótese do inciso XXIV do art. 34, a suspensão perdura até que preste

novas provas de habilitação.

Art. 38. A exclusão é aplicável nos casos de:

I - aplicação, por três vezes, de suspensão;

II - infrações definidas nos incisos XXVI a XXVIII do art. 34.

Parágrafo único. Para a aplicação da sanção disciplinar de exclusão, é necessária a

manifestação favorável de dois terços dos membros do Conselho Seccional competente.

Art. 39. A multa, variável entre o mínimo correspondente ao valor de uma anuidade e

o máximo de seu décuplo, é aplicável cumulativamente com a censura ou suspensão, em

havendo circunstâncias agravantes.

Art. 40. Na aplicação das sanções disciplinares, são consideradas, para fins de

atenuação, as seguintes circunstâncias, entre outras:

I - falta cometida na defesa de prerrogativa profissional;

II - ausência de punição disciplinar anterior;

III - exercício assíduo e proficiente de mandato ou cargo em qualquer órgão da OAB;

IV - prestação de relevantes serviços à advocacia ou à causa pública.

Parágrafo único. Os antecedentes profissionais do inscrito, as atenuantes, o grau de

culpa por ele revelada, as circunstâncias e as conseqüências da infração são

considerados para o fim de decidir:

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a) sobre a conveniência da aplicação cumulativa da multa e de outra sanção

disciplinar;

b) sobre o tempo de suspensão e o valor da multa aplicáveis.

Art. 41. É permitido ao que tenha sofrido qualquer sanção disciplinar requerer, um

ano após seu cumprimento, a reabilitação, em face de provas efetivas de bom

comportamento.

Parágrafo único. Quando a sanção disciplinar resultar da prática de crime, o pedido

de reabilitação depende também da correspondente reabilitação criminal.

Art. 42. Fica impedido de exercer o mandato o profissional a quem forem aplicadas

as sanções disciplinares de suspensão ou exclusão.

Art. 43. A pretensão à punibilidade das infrações disciplinares prescreve em cinco

anos, contados da data da constatação oficial do fato.

§ 1º Aplica-se a prescrição a todo processo disciplinar paralisado por mais de três

anos, pendente de despacho ou julgamento, devendo ser arquivado de ofício, ou a

requerimento da parte interessada, sem prejuízo de serem apuradas as responsabilidades

pela paralisação.

§ 2º A prescrição interrompe-se:

I - pela instauração de processo disciplinar ou pela notificação válida feita

diretamente ao representado;

II - pela decisão condenatória recorrível de qualquer órgão julgador da OAB.

CÓDIGO DE ÉTICA E DISCIPLINA DA OAB

O conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, no uso das atribuições que lhe

são conferidas pelos artigos 33 e 54 V, da Lei no 8.906, de 04 de julho de 1994, aprova e

edita este código, exortando os advogados brasileiros a sua fiel observância.

(Publicado no Diário da Justiça, Seção I, de 01.03.95, pp. 4000-4004).

TÍTULO I

DA ÉTICA DO ADVOGADO

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CAPÍTULO I

DAS REGRAS DEONTOLÓGICAS FUNDAMENTAIS

Art. 1º. O exercício da advocacia exige conduta compatível com os preceitos deste

Código, do Estatuto, do Regulamento Geral, dos Provimentos e com os demais princípios

da moral individual, social e profissional.

Art. 2º. O advogado, indispensável à administração da Justiça, é defensor do estado

democrático de direito, da cidadania, da moralidade pública, da Justiça e da paz social,

subordinando a atividade do seu Ministério Privado à elevada função pública que exerce.

Parágrafo único. São deveres do advogado:

I - preservar, em sua conduta, a honra, a nobreza e a dignidade da profissão, zelando pelo

seu caráter de essencialidade e indispensabilidade;

II - atuar com destemor, independência, honestidade, decoro, veracidade, lealdade,

dignidade e boa-fé;

III - velar por sua reputação pessoal e profissional;

IV - empenhar-se, permanentemente, em seu aperfeiçoamento pessoal e profissional;

V - contribuir para o aprimoramento das instituições, do Direito e das leis;

VI - estimular a conciliação entre os litigantes, prevenindo, sempre que possível, a

instauração de litígios;

VII - aconselhar o cliente a não ingressar em aventura judicial;

VIII - abster-se de:

a) utilizar de influência indevida, em seu benefício ou do cliente;

b) patrocinar interesses ligados a outras atividades estranhas à advocacia, em que

também atue;

c) vincular o seu nome a empreendimentos de cunho manifestamente duvidoso;

d) emprestar concurso aos que atentem contra a ética, a moral, a honestidade e a

dignidade da pessoa humana;

e) entender-se diretamente com a parte adversa que tenha patrono constituído, sem o

assentimento deste.

IX - pugnar pela solução dos problemas da cidadania e pela efetivação dos seus direitos

individuais, coletivos e difusos, no âmbito da comunidade.

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Art. 3º. O advogado deve ter consciência de que o Direito é um meio de mitigar as

desigualdades para o encontro de soluções justas e que a lei é um instrumento para

garantir a igualdade de todos.

Art. 4º. O advogado vinculado ao cliente ou constituinte, mediante relação empregatícia ou

por contrato de prestação permanente de serviços, integrante de departamento jurídico,

ou órgão de assessoria jurídica, público ou privado, deve zelar pela sua liberdade e

independência.

Parágrafo único. É legítima a recusa, pelo advogado, do patrocínio de pretensão

concernente a lei ou direito que também lhe seja aplicável, ou contrarie expressa

orientação sua, manifestada anteriormente.

Art. 5º. O exercício da advocacia é incompatível com qualquer procedimento de

mercantilização.

Art. 6º. É defeso ao advogado expor os fatos em Juízo falseando deliberadamente a

verdade ou estribando-se na má-fé.

Art. 7º. É vedado o oferecimento de serviços profissionais que impliquem, direta ou

indiretamente, inculcação ou captação de clientela.

CAPÍTULO II

DAS RELAÇÕES COM O CLIENTE

Art. 8º. O advogado deve informar o cliente, de forma clara e inequívoca, quanto a

eventuais riscos da sua pretensão, e das conseqüências que poderão advir da demanda.

Art. 9º. A conclusão ou desistência da causa, com ou sem a extinção do mandato, obriga

o advogado à devolução de bens, valores e documentos recebidos no exercício do

mandato, e à pormenorizada prestação de contas, não excluindo outras prestações

solicitadas, pelo cliente, a qualquer momento.

Art. 10. Concluída a causa ou arquivado o processo, presumem-se o cumprimento e a

cessação do mandato.

Art. 11. O advogado não deve aceitar procuração de quem já tenha patrono constituído,

sem prévio conhecimento deste, salvo por motivo justo ou para adoção de medidas

judiciais urgentes e inadiáveis.

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Art. 12. O advogado não deve deixar ao abandono ou ao desamparo os feitos, sem motivo

justo e comprovada ciência do constituinte.

Art. 13. A renúncia ao patrocínio implica omissão do motivo e a continuidade da

responsabilidade profissional do advogado ou escritório de advocacia, durante o prazo

estabelecido em lei; não exclui, todavia, a responsabilidade pelos danos causados dolosa

ou culposamente aos clientes ou a terceiros.

Art. 14. A revogação do mandato judicial por vontade do cliente não o desobriga do

pagamento das verbas honorárias contratadas, bem como não retira o direito do advogado

de receber o quanto lhe seja devido em eventual verba honorária de sucumbência,

calculada proporcionalmente, em face do serviço efetivamente prestado.

Art. 15. O mandato judicial ou extrajudicial deve ser outorgado individualmente aos

advogados que integrem sociedade de que façam parte, e será exercido no interesse do

cliente, respeitada a liberdade de defesa.

Art. 16. O mandato judicial ou extrajudicial não se extingue pelo decurso de tempo, desde

que permaneça a confiança recíproca entre o outorgante e o seu patrono no interesse da

causa.

Art. 17. Os advogados integrantes da mesma sociedade profissional, ou reunidos em

caráter permanente para cooperação recíproca, não podem representar em juízo clientes

com interesses opostos.

Art. 18. Sobrevindo conflitos de interesse entre seus constituintes, e não estando acordes

os interessados, com a devida prudência e discernimento, optará o advogado por um dos

mandatos, renunciando aos demais, resguardado o sigilo profissional.

Art. 19. O advogado, ao postular em nome de terceiros, contra ex-cliente ou ex-

empregador, judicial e extrajudicialmente, deve resguardar o segredo profissional e as

informações reservadas ou privilegiadas que lhe tenham sido confiadas.

Art. 20. O advogado deve abster-se de patrocinar causa contrária à ética, à moral ou à

validade de ato jurídico em que tenha colaborado, orientado ou conhecido em consulta; da

mesma forma, deve declinar seu impedimento ético quando tenha sido convidado pela

outra parte, se esta lhe houver revelado segredos ou obtido seu parecer.

Art. 21. É direito e dever do advogado assumir a defesa criminal, sem considerar sua

própria opinião sobre a culpa do acusado.

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Art. 22. O advogado não é obrigado a aceitar a imposição de seu cliente que pretenda ver

com ele atuando outros advogados, nem aceitar a indicação de outro profissional para

com ele trabalhar no processo.

Art. 23. É defeso ao advogado funcionar no mesmo processo, simultaneamente, como

patrono e preposto do empregador ou cliente.

Art. 24. O substabelecimento do mandato, com reserva de poderes, é ato pessoal do

advogado da causa.

1º. O substabelecimento do mandato sem reservas de poderes exige o prévio e

inequívoco conhecimento do cliente.

2º. O substabelecido com reserva de poderes deve ajustar antecipadamente seus

honorários com o substabelecente.

CAPÍTULO III

DO SIGILO PROFISSIONAL

Art. 25. O sigilo profissional é inerente à profissão, impondo-se o seu respeito, salvo grave

ameaça ao direito à vida, à honra, ou quando o advogado se veja afrontado pelo próprio

cliente e, em defesa própria, tenha que revelar segredo, porém sempre restrito ao

interesse da causa.

Art. 26. O advogado deve guardar sigilo, mesmo em depoimento judicial, sobre o que

saiba em razão de seu ofício, cabendo-lhe recusar-se a depor como testemunha em

processo no qual funcionou ou deva funcionar, ou sobre fato relacionado com pessoa de

quem seja ou tenha sido advogado, mesmo que autorizado ou solicitado pelo constituinte.

Art. 27. As confidências feitas ao advogado pelo cliente podem ser utilizadas nos limites

da necessidade da defesa, desde que autorizado aquele pelo constituinte.

Parágrafo único. Presumem-se confidenciais as comunicações epistolares entre advogado

e cliente, as quais não podem ser reveladas a terceiros.

CAPÍTULO IV

DA PUBLICIDADE

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Art. 28. O advogado pode anunciar os seus serviços profissionais, individual ou

coletivamente, com discrição e moderação, para finalidade exclusivamente informativa,

vedada a divulgação em conjunto com outra atividade.

Art. 29. O anúncio deve mencionar o nome completo do advogado e o número da

inscrição na OAB, podendo fazer referência a títulos ou qualificações profissionais,

especialização técnico-científica e associações culturais e científicas, endereços, horário

do expediente e meios de comunicação, vedadas a sua veiculação pelo rádio e televisão e

a denominação de fantasia.

§ 1º. Títulos ou qualificações profissionais são os relativos à profissão de advogado,

conferidos por universidades ou instituições de ensino superior, reconhecidas.

§ 2º. Especialidades são os ramos do Direito, assim entendidos pelos doutrinadores ou

legalmente reconhecidos.

§ 3º. Correspondências, comunicados e publicações, versando sobre constituição,

colaboração, composição e qualificação de componentes de escritório e especificação de

especialidades profissionais, bem como boletins informativos e comentários sobre

legislação, somente podem ser fornecidos a colegas, clientes, ou pessoas que os

solicitem ou os autorizem previamente.

§ 4º. O anúncio de advogado não deve mencionar, direta ou indiretamente, qualquer

cargo, função pública ou relação de emprego e patrocínio que tenha exercido, passível de

captar clientela.

§ 5º. O uso das expressões "escritório de advocacia" ou "sociedade de advogados" deve

estar acompanhado da indicação de número de registro na OAB ou do nome e do número

de inscrição dos advogados que o integrem.

§ 6º. O anúncio, no Brasil, deve adotar o idioma português, e, quando em idioma

estrangeiro, deve estar acompanhado da respectiva tradução.

Art. 30. O anúncio sob a forma de placas, na sede profissional ou na residência do

advogado, deve observar discrição quanto ao conteúdo, forma e dimensões, sem qualquer

aspecto mercantilista, vedada a utilização de "outdoor" ou equivalente.

Art. 31. O anúncio não deve conter fotografias, ilustrações, cores, figuras, desenhos,

logotipos, marcas ou símbolos incompatíveis com a sobriedade da advocacia, sendo

proibido o uso dos símbolos oficiais e dos que sejam utilizados pela Ordem dos

Advogados do Brasil.

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§ 1º. São vedadas referências a valores dos serviços, tabelas, gratuidade ou forma de

pagamento, termos ou expressões que possam iludir ou confundir o público, informações

de serviços jurídicos suscetíveis de implicar, direta ou indiretamente, captação de causa

ou clientes, bem como menção ao tamanho, qualidade e estrutura da sede profissional.

§ 2º. Considera-se imoderado o anúncio profissional do advogado mediante remessa de

correspondência a uma coletividade, salvo para comunicar a clientes e colegas a

instalação ou mudança de endereço, a indicação expressa do seu nome e escritório em

partes externas de veículo, ou a inserção de seu nome em anúncio relativo a outras

atividades não advocatícias, faça delas parte ou não.

Art. 32. O advogado que eventualmente participar de programa de televisão ou de rádio,

de entrevista na imprensa, de reportagem televisionada ou de qualquer outro meio, para

manifestação profissional, deve visar a objetivos exclusivamente ilustrativos, educacionais

e instrutivos, sem propósito de promoção pessoal ou profissional, vedados

pronunciamentos sobre métodos de trabalho usados por seus colegas de profissão.

Parágrafo único. Quando convidado para manifestação pública, por qualquer modo e

forma, visando ao esclarecimento de tema jurídico de interesse geral, deve o advogado

evitar insinuações a promoção pessoal ou profissional, bem como o debate de caráter

sensacionalista.

Art. 33. O advogado deve abster-se de:

I - responder com habitualidade consulta sobre matéria jurídica, nos meios de

comunicação social, com intuito de promover-se profissionalmente;

II - debater, em qualquer veículo de divulgação, causa sob seu patrocínio ou patrocínio de

colega;

III - abordar tema de modo a comprometer a dignidade da profissão e da instituição que o

congrega;

IV - divulgar ou deixar que seja divulgada a lista de clientes e demandas;

V - insinuar-se para reportagens e declarações públicas.

Art. 34. A divulgação pública, pelo advogado, de assuntos técnicos ou jurídicos de que

tenha ciência em razão do exercício profissional como advogado constituído, assessor

jurídico ou parecerista, deve limitar-se a aspectos que não quebrem ou violem o segredo

ou o sigilo profissional.

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CAPÍTULO V

DOS HONORÁRIOS PROFISSIONAIS

Art. 35. Os honorários advocatícios e sua eventual correção, bem como sua majoração

decorrente do aumento dos atos judiciais que advierem como necessários, devem ser

previstos em contrato escrito, qualquer que seja o objeto e o meio da prestação do serviço

profissional, contendo todas as especificações e forma de pagamento, inclusive no caso

de acordo.

§ 1º. Os honorários da sucumbência não excluem os contratados, porém devem ser

levados em conta no acerto final com o cliente ou constituinte, tendo sempre presente o

que foi ajustado na aceitação da causa.

§ 2º. A compensação ou o desconto dos honorários contratados e de valores que devam

ser entregues ao constituinte ou cliente só podem ocorrer se houver prévia autorização ou

previsão contratual.

§ 3º. A forma e as condições de resgate dos encargos gerais, judiciais e extrajudiciais,

inclusive eventual remuneração de outro profissional, advogado ou não, para desempenho

de serviço auxiliar ou complementar técnico e especializado, ou com incumbência

pertinente fora da Comarca, devem integrar as condições gerais do contrato.

Art. 36 - Os honorários profissionais devem ser fixados com moderação, atendidos os

elementos seguintes:

I - a relevância, o vulto, a complexidade e a dificuldade das questões versadas;

II - o trabalho e o tempo necessários;

III - a possibilidade de ficar o advogado impedido de intervir em outros casos, ou de se

desavir com outros clientes ou terceiros;

IV - o valor da causa, a condição econômica do cliente e o proveito para ele resultante do

serviço profissional;

V - o caráter da intervenção, conforme se trate de serviço a cliente avulso, habitual ou

permanente;

VI - o lugar da prestação dos serviços, fora ou não do domicílio do advogado;

VII - a competência e o renome do profissional;

VIII - a praxe do foro sobre trabalhos análogos.

Art. 37. Em face da imprevisibilidade do prazo de tramitação da demanda, devem ser

delimitados os serviços profissionais a se prestarem nos procedimentos preliminares,

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TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José E. Melhen - 2º bimestre - 2011

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judiciais ou conciliatórios, a fim de que outras medidas, solicitadas ou necessárias,

incidentais ou não, diretas ou indiretas, decorrentes da causa, possam ter novos

honorários estimados, e da mesma forma receber do constituinte ou cliente a

concordância hábil.

Art. 38. Na hipótese da adoção de cláusula quota litis, os honorários devem ser

necessariamente representados por pecúnia e, quando acrescidos dos de honorários da

sucumbência, não podem ser superiores às vantagens advindas em favor do constituinte

ou do cliente.

Parágrafo único. A participação do advogado em bens particulares de cliente,

comprovadamente sem condições pecuniárias, só é tolerada em caráter excepcional, e

desde que contratada por escrito.

Art. 39. A celebração de convênios para prestação de serviços jurídicos com redução dos

valores estabelecidos na Tabela de Honorários implica captação de clientes ou causa,

salvo se as condições peculiares da necessidade e dos carentes puderem ser

demonstradas com a devida antecedência ao respectivo Tribunal de Ética e Disciplina,

que deve analisar a sua oportunidade.

Art. 40. Os honorários advocatícios devidos ou fixados em tabelas no regime da

assistência judiciária não podem ser alterados no quantum estabelecido; mas a verba

honorária decorrente da sucumbência pertence ao advogado.

Art. 41. O advogado deve evitar o aviltamento de valores dos serviços profissionais, não

os fixando de forma irrisória ou inferior ao mínimo fixado pela Tabela de Honorários, salvo

motivo plenamente justificável.

Art. 42. O crédito por honorários advocatícios, seja do advogado autônomo, seja de

sociedade de advogados, não autoriza o saque de duplicatas ou qualquer outro título de

crédito de natureza mercantil, exceto a emissão de fatura, desde que constitua exigência

do constituinte ou assistido, decorrente de contrato escrito, vedada a tiragem de protesto.

Art. 43. Havendo necessidade de arbitramento e cobrança judicial dos honorários

advocatícios, deve o advogado renunciar ao patrocínio da causa, fazendo-se representar

por um colega.

CAPÍTULO VI

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TEORIA GERAL E HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Prof. José E. Melhen - 2º bimestre - 2011

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DO DEVER DE URBANIDADE

Art. 44. Deve o advogado tratar o público, os colegas, as autoridades e os funcionários do

Juízo com respeito, discrição e independência, exigindo igual tratamento e zelando pelas

prerrogativas a que tem direito.

Art. 45. Impõe-se ao advogado lhaneza, emprego de linguagem escorreita e polida,

esmero e disciplina na execução dos serviços.

Art. 46. O advogado, na condição de defensor nomeado, conveniado ou dativo, deve

comportar-se com zelo, empenhando-se para que o cliente se sinta amparado e tenha a

expectativa de regular desenvolvimento da demanda.

CAPÍTULO VII

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 47. A falta ou inexistência, neste Código, de definição ou orientação sobre questão de

ética profissional, que seja relevante para o exercício da advocacia ou dele advenha,

enseja consulta e manifestação do Tribunal de Ética e Disciplina ou do Conselho Federal.

Art. 48. Sempre que tenha conhecimento de transgressão das normas deste Código, do

Estatuto, do Regulamento Geral e dos Provimentos, o Presidente do Conselho Seccional,

da Subseção, ou do Tribunal de Ética e Disciplina deve chamar a atenção do responsável

para o dispositivo violado, sem prejuízo da instauração do competente procedimento para

apuração das infrações e aplicação das penalidades cominadas.