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1 AURORA TOMAZINI DE CARVALHO TEORIA GERAL DO DIREITO (o Constructivismo Lógico-Semântico) DOUTORADO EM DIREITO PUC/SP 2009

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    AURORA TOMAZINI DE CARVALHO

    TEORIA GERAL DO DIREITO

    (o Constructivismo Lgico-Semntico)

    DOUTORADO EM DIREITO

    PUC/SP 2009

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    AURORA TOMAZINI DE CARVALHO

    TEORIA GERAL DO DIREITO

    (o Constructivismo Lgico-Semntico)

    DOUTORADO EM FILOSOFIA DO DIREITO

    Tese apresentada Banca Examinadora da Pontifcia

    Universidade Catlica de So Paulo, como exigncia para

    obteno do grau de Doutor em Filosofia do Direito, sob a

    orientao do Professor Doutor Paulo de Barros Carvalho.

    PUC/SP 2009

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    BANCA EXAMINADORA

    ____________________________________

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    ____________________________________

    ____________________________________

    ____________________________________

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    RESUMO

    A proposta desta tese aplicar os pressupostos da Teoria do Constructivismo

    Lgico-Semntico na construo de uma Teoria Geral do Direito.

    Sob forte inspirao filosfica, tendo como instrumento o Giro-Lingstico, a

    Semitica, a Teoria dos Valores, uma postura analtica e, principalmente, os ensinamentos de PAULO

    DE BARROS CARVALHO, os conceitos fundantes, que se repetem em todos os segmentos do direito,

    so pensados e estruturados, neste trabalho, para edificao de uma Teoria que os explique sob estes

    fundamentos.

    As categorias gerais so observadas tendo-se em conta trs recortes para delimitao

    do direito, bem delimitados na obra de PAULO DE BARROS CARVALHO: (i) constituir-se este num

    conjunto de normas jurdicas vlidas; (ii) que se materializa em linguagem prescritiva; (iii) impregnada

    de valor.

    Com viso crtica s construes realizadas pela doutrina tradicional, depois de

    fixados os pressupostos do Constructivismo Lgico-Semntico, num convite reflexo filosfica do

    direito, o trabalho apresenta: (i) uma Teoria da Norma Jurdica, que se volta anlise da estrutura e

    contedo das unidades do direito positivo; (ii) uma Teoria da Incidncia, que estuda a aplicao das

    normas jurdicas e os efeitos dela decorrentes na ordem jurdica; e (iii) uma Teoria do Ordenamento

    Jurdico, que explica como se estabelecem as relaes entre as normas jurdicas na conformao do

    sistema do direito posto, como elas surgem, passam a integrar tal sistema, a produzir efeitos dentro

    dele e como elas deixam de a ele pertencer.

    Com a juno destas trs teorias, imersas nas idias do Constructivismo Lgico-

    Semntico o trabalho oferece uma Teoria Geral do Direito, um ponto de vista sobre as categorias

    constantes em todas as fraes metodologicamente recortadas do saber jurdico, que se amolda a tal

    concepo filosfica.

  • 5

    ABSTRACT

    The purpose of this thesis is to apply the presuppositions of Logical-Semantic-

    Constructivist Theory to the development of a General Theory of Law.

    Philosophically inspired and using as instruments the Linguistic Turn, Semiotics, the

    Theory of Value, an analytic approach and, mainly, the teachings of PAULO DE BARROS

    CARVALHO, the founding concepts which recur throughout every segment of Law, are thought out

    and structured in this work for the edification of a Theory that explains then in light of these

    fundaments.

    The general categories are observed, taking into account the three sectional cuts for

    the delimitation of Law, well delineated in the work of PAULO DE BARROS CARVALHO: (i) a set

    of valid juridical norms; (ii) materialized in prescriptive language; and (iii) impregnated with value.

    With a critical view toward constructions produced by traditional legal doctrine, once

    the basis of Logical-Semantic-Constructivism has been set, the work presents in an invitation to

    philosophical reflection: (i) a Theory of the Juridical Norm, that analyzes the structure and content of

    the units of positive law; (ii) a Theory of Incidence, that studies the application of juridical norms and

    the resulting effects caused to the juridical system; and (iii) a Theory of the Juridical System, that

    explains how relationships are formed between juridical norms in the conformation of a positive law

    system, how they arise, how they come to integrate such system, how they produce effects and how

    they cease to pertain to the system.

    With the conjunction of these three theories, immersed in Logical-Semantic-

    Constructivist thought, the work offers up a General Theory of Law, a perspective on the categories

    existing in all the methodologically sectioned parts of legal knowledge, which can be molded into such

    a philosophical concept.

  • 6

    Dedico este trabalho

    Aos meus pais Alcides Vitor de Carvalho e Marcolina Tomazini de Carvalho

    Ao Prof. Paulo de Barros Carvalho

    E aos meus alunos

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    AGRADECIMENTOS

    Aprendi, com a metodologia do IBET Instituto Brasileiro de Estudos Tributrios, que

    ningum muda sozinho, ns mudamos nos encontros. Este trabalho resultado de vrios encontros com

    diferentes pessoas, que fizeram parte da minha vida durante os quatro anos que passei no Doutorado em

    Direito da Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, s quais eu tenho muito a agradecer:

    Serei sempre grata ao Prof. Paulo de Barros Carvalho, meu orientador, por quem nutro

    admirao inestimvel, por ter me aceito na sua escola e me introduzido no mundo da reflexo sobre o direito e

    por todas as oportunidades que me concedeu ao longo destes anos.

    Ao CNPQ que viabilizou financeiramente a realizao desta tese.

    Aos meus alunos que, com suas dvidas e colocaes, me ajudaram a conceber, reforar e

    testar muitas das idias presentes neste trabalho.

    Aos amigos professores do COGEAE, em especial ao Charles McNaughton, pela leitura do

    texto e traduo do resumo.

    A toda equipe do IBET, qual tenho a satisfao de integrar como professora e

    pesquisadora, em particular ao querido amigo Eurico Marcos Diniz de Santi, cuja capacidade de trabalho me

    impressiona a cada dia.

    Aos colegas do grupo de estudos e ao pessoal do escritrio, especialmente ao Tcio Lacerda

    Gama e ao Robson Maia Lins, que mais proximamente acompanharam o desenvolvimento deste trabalho.

    A toda minha famlia, em especial minha me Marcolina que, com seu carinho e

    inabalvel disposio, muito me incentivou, minha irmzinha Helena, ao Anderson e, mais que especialmente,

    ao meu pai Alcides, que muito me ajudou com seu imensurvel conhecimento, pacincia e longas tardes de

    discusses sobre grande parte dos pensamentos manifestos nesta tese, bem como, pelas leituras e reviso do

    texto.

    Obrigada, obrigada, obrigada!

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    "No se pode ensinar alguma coisa a algum, pode-se apenas auxiliar a descobrir por si mesmo."

    Galileu Galilei

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    SUMRIO

    INTRODUO .................................................................................................................................... 16 LIVRO I - PRESSUPOSTOS DO CONSTUCTIVISMO LGICO-SEMNTICO CAPTULO I - PROPOSIES PROPEDUTICAS 1. FUNDAMENTOS DE UMA TEORIA ............................................................................................. 19 2. PRESSUPOSTOS DO CONHECIMENTO....................................................................................... 21

    2.1. Conhecimento em sentido amplo e em sentido estrito................................................................ 23 2.2. Giro-lingstico ........................................................................................................................... 26 2.3. Linguagem e realidade ................................................................................................................ 28 2.4. Lngua e realidade ....................................................................................................................... 30 2.5. Sistema de referncia .................................................................................................................. 32 2.6. Consideraes sobre a verdade ................................................................................................... 35 2.7. Auto-referncia da linguagem..................................................................................................... 38 2.8. Teoria dos jogos de linguagem.................................................................................................... 40

    3. CONHECIMENTO CIENTFICO..................................................................................................... 42 3.1. Linguagem cientfica e Neopositivismo Lgico ......................................................................... 42 3.2. Pressupostos de uma teoria ......................................................................................................... 44

    3.2.1. Delimitao do objeto .......................................................................................................... 45 3.2.2. Mtodo ................................................................................................................................. 49

    4. TEORIA GERAL DO DIREITO ....................................................................................................... 53 CAPTULO II - O DIREITO COMO OBJETO DE ESTUDO 1. SOBRE O CONCEITO DE DIREITO ........................................................................................... 55 2. SOBRE A DEFINIO DO CONCEITO DE DIREITO.............................................................. 57 3. PROBLEMAS DA PALAVRA DIREITO..................................................................................... 60

    3.1. Ambigidade ............................................................................................................................... 61 3.2. Vaguidade.................................................................................................................................... 63 3.3. Carga emotiva ............................................................................................................................. 65

    4. TEORIAS SOBRE O DIREITO ........................................................................................................ 67 4.1. Jusnaturalismo............................................................................................................................. 67 4.2. Escola da Exegese ....................................................................................................................... 68 4.3. Historicismo ................................................................................................................................ 69 4.4. Realismo jurdico ........................................................................................................................ 70 4.5. Positivismo.................................................................................................................................. 71 4.6. Culturalismo Jurdico .................................................................................................................. 73 4.7. Ps-Positivismo........................................................................................................................... 74

    5. O DIREITO COMO NOSSO OBJETO DE ESTUDOS.................................................................... 75 6. CONSEQNCIAS METODOLGICAS DESTE RECORTE ...................................................... 76 7. MTODO HERMENEUTICO-ANALTICO ................................................................................... 78 CAPTULO III - DIREITO POSITIVO, CINCIA DO DIREITO E REALIDADE SOCIAL 1. DIREITO POSITIVO E CINCIA DO DIREITO ............................................................................ 81 2. CRITRIOS DIFERENCIADORES DAS LINGUAGENS DO DIREITO POSITIVO E DA CINCIA DO DIREITO........................................................................................................................ 83

    2.1. Quanto funo .......................................................................................................................... 83 2.2. Quanto ao objeto ......................................................................................................................... 88

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    2.3. Quanto ao nvel de linguagem..................................................................................................... 90 2.4. Quanto ao tipo ou grau de elaborao......................................................................................... 91 2.5. Quanto estrutura ....................................................................................................................... 94 2.6. Quanto aos valores ...................................................................................................................... 96 2.7. Quanto coerncia ...................................................................................................................... 97 2.8. Sntese ....................................................................................................................................... 100

    CAPTULO IV - TEORIA DOS SISTEMAS 1. SOBRE OS SISTEMAS................................................................................................................... 102

    1.2. Noo de sistema....................................................................................................................... 103 1.2. Classificao dos sistemas ........................................................................................................ 105

    2. DIREITO POSITIVO, CINCIA DO DIREITO E REALIDADE SOCIAL.................................. 109 2.1. Intransitividade entre os sistemas.............................................................................................. 111 2.2. Direito positivo e Cincia do Direito como subsistemas sociais .............................................. 113 2.3. Teoria dos sistemas ................................................................................................................... 115

    2.3.1. Cdigo, programas e funo............................................................................................... 115 2.3.2. Acoplamento estrutural, abertura cognitiva e fechamento operativo................................. 117

    3. DVIDAS QUANTO AO DIREITO POSITIVO SER UM SISTEMA ......................................... 119 4. SOBRE O SISTEMA DA CINCIA DO DIREITO ....................................................................... 122 5. FALSA AUTONOMIA DOS RAMOS DO DIREITO.................................................................... 123 6. DIREITO POSITIVO E OUTROS SISTEMAS NORMATIVOS .................................................. 125 CAPTULO V- SEMITICA E TEORIA COMUNICACIONAL DO DIREITO 1. LNGUA, LINGUAGEM E FALA ................................................................................................. 129

    1.1. O signo ...................................................................................................................................... 130 1.2. Suporte fsico, significado e significao do direito positivo e da Cincia do Direito ............. 132

    2. SEMITICA E DIREITO................................................................................................................ 134 3. TEORIA COMUNICACIONAL DO DIREITO POSITIVO .......................................................... 135 4. O DIREITO COMO TEXTO........................................................................................................... 139

    4.1. Texto e contedo ....................................................................................................................... 140 4.2. Dialogismo - contexto e intertextualidade ................................................................................ 142

    CAPTULO VI - O DIREITO E A LGICA 1. LGICA E LINGUAGEM .............................................................................................................. 144

    1.1. Enunciado e proposio ............................................................................................................ 145 1.2. Formalizao da linguagem ...................................................................................................... 147 1.3. Frmulas lgicas ....................................................................................................................... 149 1.4. Operaes lgicas...................................................................................................................... 152

    2. A LGICA COMO INSTUMENTO PARA O ESTUDO DO DIREITO....................................... 153 3. OS MUNDOS DO SER E DO DEVER-SER........................................................................... 155

    3.1. Causalidade e nexos lgicos...................................................................................................... 155 3.2. Causalidade fsica ou natural e causalidade jurdica ................................................................. 157 3.3. Leis da natureza e leis do direito............................................................................................... 160

    4. MODAIS ALTICOS E DENTICOS........................................................................................... 161 5. O CARATER RELACIONAL DO DEVER SER........................................................................ 167 6. DIREITO E SUA REDUO LGICA MODAIS DENTICOS E VALORAO DA HIPTESE NORMATIVA.................................................................................................................. 169 CAPTULO VII - HERMENUTICA JURDICA E TEORIA DOS VALORES 1. TEORIAS SOBRE A INTERPRETAO ..................................................................................... 172

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    2. COMPREENSO E INTERPRETAO....................................................................................... 174 3. INTERPRETAO E TRADUO .............................................................................................. 178 4. INTERPRETAO DOS TEXTOS JURDICOS .......................................................................... 179 5. SOBRE O PLANO DE CONTEDO DO DIREITO...................................................................... 182 6. PERCURSO DA CONSTRUO DO SENTIDO DOS TEXTOS JURDICOS........................... 185

    6.1. S1 o sistema dos enunciados prescritivos plano de expresso do direito positivo.............. 187 6.2. S2 o sistema dos contedos significativos dos enunciados prescritivos ................................ 191 6.3. S3 o sistema das significaes normativas proposies denticamente estruturadas ......... 193 6.4. S4 o plano das significaes normativas sistematicamente organizadas ............................... 196 6.5. Integrao entre os subdomnios S1, S2, S3 e S4 ..................................................................... 198

    7. INTERPRETAO AUTNTICA ................................................................................................. 199 8. SOBRE OS MTODOS DE ANLISE DO DIREITO .................................................................. 203 9. TEORIA DOS VALORES............................................................................................................... 207

    9.1. Sobre os valores ........................................................................................................................ 208 9.2. Os valores e o direito................................................................................................................. 210

    LIVRO II - TEORIA DA NORMA JURDICA CAPTULO VIII - A ESTRUTURA NORMATIVA 1. POR QUE UMA TEORIA DA NORMA JURDICA? ................................................................... 212 2. QUE NORMA JURDICA? ......................................................................................................... 213 3. NORMA JURDICA EM SENTIDO ESTRITO ............................................................................. 215 4. HOMOGENEIDADE SINTTICA E HETEROGENEIDADE SEMNTICA E PRAGMTICA DAS NORMAS JURDICAS .............................................................................................................. 219 5. ESTRUTURA DA NORMA JURDICA ........................................................................................ 222

    5.1. Antecedente normativo ............................................................................................................. 224 5.2. O operador dentico .................................................................................................................. 227 5.3. O conseqente normativo.......................................................................................................... 228 5.4. A implicao como forma sinttica normativa ......................................................................... 231

    6. NORMA JURDICA COMPLETA ................................................................................................. 234 6.1. Norma primria e secundria na doutrina jurdica .................................................................... 234 6.2. Fundamentos da norma secundria ........................................................................................... 236 6.3. Estrutura completa da norma jurdica ....................................................................................... 237 6.4. Normas secundrias................................................................................................................... 238 6.5. Sobre o conectivo das normas primaria e secundria ............................................................... 239

    7. O CONCEITO DE SANO NO DIREITO .................................................................................. 241 CAPTULO IX - CONTEDO NORMATIVO E CLASSIFICAO DAS NORMAS 1. CONTEDO NORMATIVO E TEORIA DAS CLASSES ............................................................ 244

    1.1. Sobre a teoria das classes .......................................................................................................... 245 1.2. Aplicao das noes de classe para explicao do contedo normativo................................. 248

    2. TIPOS DE NORMAS JURDICAS................................................................................................. 253 2.1. Sobre o ato de classificar........................................................................................................... 253 2.2. Classificao das normas jurdicas............................................................................................ 256

    2.2.1. Tipos de enunciados prescritivos S1 ............................................................................... 257 2.2.2. Tipos de proposies isoladas S2.................................................................................... 259 2.2.3. Tipos de normas jurdicas (stricto sensu) S3 .................................................................. 265 2.2.3.1. Normas de conduta e normas de estrutura ...................................................................... 265 2.2.3.1.1. Normas de estrutura e suas respectivas normas secundrias........................................ 267 2.2.3.2. Normas abstratas e concretas, gerais e individuais ......................................................... 268

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    2.2.3.3. Tipos de normas jurdicas segundo as relaes estabelecidas em S4 ............................. 272 2.2.3.3.1. Normas dispositivas e derivadas, punitivas e no-punitivas ........................................ 272 2.2.3.1.1.1. Conectivos lgicos das normas dispositivas derivadas e punitivas e no punitivas . 277 2.2.4. Tipos de normas jurdicas em sentido amplo ..................................................................... 278 2.2.4.1. Diferenciao quanto ao ncleo semntico (matria) ..................................................... 278 2.2.5.2. Diferenciao quanto ao veculo introdutor .................................................................... 279

    CAPTULO X - A REGRA-MATRIZ 1. QUE REGRA-MATRIZ? ............................................................................................................. 281

    1.1. Normas de incidncia e normas produzidas como resultado da incidncia .............................. 282 1.2. A regra-matriz de incidncia ..................................................................................................... 284 1.3. Ambigidade da expresso regra-matriz de incidncia ......................................................... 286

    2. OS CRITRIOS DA HIPTESE .................................................................................................... 288 2.1. Critrio material ........................................................................................................................ 289 2.2. Critrio espacial......................................................................................................................... 293 2.3. Critrio Temporal ...................................................................................................................... 298

    3. CRITRIOS DO CONSEQENTE ................................................................................................ 302 3.1. Critrio pessoal sujeitos ativo e passivo................................................................................. 303 3.2. Critrio prestacional .................................................................................................................. 308

    4. A FUNO OPERATIVA DO ESQUEMA LGICO DA REGRA-MATRIZ............................. 311 4.1. Teoria na prtica........................................................................................................................ 314

    LIVRO III TEORIA DA INCIDNCIA CAPTULO XI - INCIDNCIA E APLICAO DA NORMA JURDICA 1. TEORIAS SOBRE A INCIDNCIA DA NORMA JURDICA..................................................... 317

    1.1. Teoria tradicional ...................................................................................................................... 317 1.2. Teoria de PAULO DE BARROS CARVALHO....................................................................... 319 1.3. Consideraes sobre as teorias .................................................................................................. 322

    2. INCIDNCIA E APLICAO DO DIREITO ............................................................................... 324 3. A FENOMENOLOGIA DA INCIDNCIA .................................................................................... 326 4. EFEITOS DA APLICAO - TEORIAS DECLARATRIA E CONSTITUTIVA ..................... 330 5. SOBRE O CICLO DE POSITIVAO DO DIREITO .................................................................. 333 6. APLICAO E REGRAS DE ESTRUTURA................................................................................ 335 7. APLICAO: NORMA, PROCEDIMENTO E PRODUTO ......................................................... 339

    7.1. Teoria da ao: ato, norma e procedimento .............................................................................. 339 7.2. Aplicao como ato, norma e procedimento............................................................................. 341

    8. ANLISE SEMITICA DA INCIDNCIA................................................................................... 344 8.1. Plano lgico: subsuno e imputao........................................................................................ 345 8.2. Plano semntico: denotao dos contedos normativos ........................................................... 348 8.3. Plano pragmtico: interpretao e produo da norma individual e concreta........................... 350

    9. DO DEVER SER AO SER DA CONDUTA............................................................................ 351 CAPTULO XII - APLICAO - INTERPRETAO E TEORIA DA DECISO 1. INTERPRETAO E PRODUO DA NORMA INDIVIDUAL E CONCRETA ..................... 354

    1.1. Interpretao da linguagem do fato ........................................................................................... 354 1.2. Interpretao do direito ............................................................................................................. 360

    1.2.1. O problema das lacunas...................................................................................................... 362 1.2.1.1. As lacunas na doutrina .................................................................................................... 363 1.2.1.2. Completude sistmica ..................................................................................................... 365

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    1.2.1.3. Integrao de lacunas................................................................................................... 367 1.2.1.3.1. Analogia ....................................................................................................................... 368 1.2.1.3.2. Costumes ...................................................................................................................... 369 1.2.1.3.3. Princpios gerais do direito........................................................................................... 371 1.2.1.3.3.1. Princpio como enunciado, proposio ou norma jurdica........................................ 372 1.2.1.3.3.2. Princpio como valor e como limite objetivo ............................................................ 374 1.2.1.3.3.3. Aplicao: entre regras e princpios .......................................................................... 376 1.2.2. O problema das antinomias ................................................................................................ 378 1.2.2.1. Critrio hierrquico ......................................................................................................... 381 1.2.2.2. Critrio cronolgico ........................................................................................................ 382 1.2.2.3. Critrio da especialidade ................................................................................................. 383

    1.3. Constituio da linguagem competente e teoria da deciso jurdica......................................... 384 CAPTULO XIII - TEORIA DO FATO JURDICO 1. EVENTO, FATO E FATO JURDICO ........................................................................................... 388 2. AMBIGIDADE DA EXPRESSO FATO JURDICO ............................................................ 392 3. INTERSUBJETIVIDADE DO FATO JURDICO.......................................................................... 395 4. CATEGORIAS DA SEMITICA OBJETO DINMICO E OBJETO IMEDITO................... 399 5. FATO JURDICO E CATEGORIAS DA SEMITICA................................................................. 402 6. TEORIA DAS PROVAS NA CONSTITUIO DO FATO JURDICO....................................... 406 7. TEORIA DA LEGITIMAO PELO PROCEDIMENTO E A RELAO ENTRE VERDADE E FATO JURDICO ................................................................................................................................ 412 8. TEMPO E LOCAL DO FATO X TEMPO E LOCAL NO FATO.................................................. 416 9. ERRO DE FATO E ERRO DE DIREITO ....................................................................................... 418 10. A FALSA INTERDISCIPLINARIEDADE DO FATO JURDICO ............................................. 421 11. FATOS JURDICOS LCITOS E ILCITOS ................................................................................ 424 CAPTULO XIV - TEORIA DA RELAO JURDICA 1. RELAO JURDICA NO CONTEXTO DO DIRIETO............................................................... 428 2. FALCIA DA RELAO JURDICA EFECTUAL.................................................................. 431 3. TEORIA DAS RELAES............................................................................................................. 435 4. RELAO JURDICA COMO ENUNCIADO FACTUAL........................................................... 439

    4.1. Determinao do enunciado relacional ..................................................................................... 441 4.2 Aplicao das categorias da semitica ....................................................................................... 443

    5. ELEMENTOS DO FATO RELACIONAL ..................................................................................... 445 5.1. Sujeitos ...................................................................................................................................... 446 5.2. Objeto - Prestao ..................................................................................................................... 447 5.3. Direito subjetivo e dever jurdico.............................................................................................. 449

    6. CARACTERSTICAS LGICO-SEMNTICAS DA RELAO JURDICA............................. 450 7. CLASSIFICAO DAS RELAES JURDICAS ...................................................................... 453 8. EFICCIA DAS RELAES JURDICAS ................................................................................... 456 9. EFEITOS DAS RELAES JURDICAS NO TEMPO ................................................................ 458 10. MODIFICAO E EXTINO DAS RELAES JURDICAS............................................... 460 LIVRO IV - TEORIA DO ORDENAMENTO JURDICO CAPTULO XV - TEORIA DO ORDENAMENTO 1. ORGANIZAO DO DIREITO POSITIVO.................................................................................. 463

    1.1. Relaes de subordinao entre normas.................................................................................... 463 1.2. Relaes de coordenao entre normas..................................................................................... 467

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    1.3. Sistemas jurdicos federal, estaduais e municipais.................................................................... 468 1.4. Esttica e dinmica do ordenamento ......................................................................................... 468

    2. ORDENAMENTO E SISTEMA ..................................................................................................... 470 2.1. Teorias sobre o ordenamento .................................................................................................... 470

    2.1.1. Ordenamento como texto bruto.......................................................................................... 470 2.1.2. Ordenamento como seqncia de sistemas normativos ..................................................... 474

    2.2. Axiomas do ordenamento jurdico ............................................................................................ 476 CAPTULO XVI - FONTES DO DIREITO 1. SOBRE O TEMA DAS FONTES DO DIREITO............................................................................ 478

    1.1. Fontes do direito na doutrina jurdica ....................................................................................... 478 2. SOBRE O CONCEITO DE FONTES DO DIREITO .................................................................. 481 3. ENUNCIAO COMO FONTE DO DIREITO............................................................................. 484 4. DICOTOMIA DAS FONTES FORMAIS E FONTES MATERIAIS............................................. 488 5. A LEI, O COSTUME, A JURISPRUDNCIA E A DOUTRINA SO FONTES DO DIREITO? 491 6. DOCUMENTO NORMATIVO, PONTO DE PARTIDA PARA O ESTUDO DAS FONTES ..... 493

    6.1. Enunciao-enunciada............................................................................................................... 494 6.1.1. Utilidade da enunciao-enunciada.................................................................................... 495 6.1.2. Enunciao-enunciada fonte do direito? ......................................................................... 496 6.1.3. Sobre a exposio de motivos ............................................................................................ 497

    6.2. Enunciado-enunciado ................................................................................................................ 498 7. ENUNCIAO COMO ACONTECIMENTO SOCIAL E COMO FATO JURDICO NA ENUNCIAO-ENUNCIADA .......................................................................................................... 499 8. QUE VECULO INTRODUTOR DE NORMAS? ...................................................................... 500 9. SNTESE EXPLICATIVA .............................................................................................................. 502 10. CLASSIFICAO DOS VECULOS INTRODUTORES ........................................................... 503 11. A HIERARQUIA DOS VECULOS INTRODUTORES.............................................................. 507

    11.1. Hierarquia das Leis Complementares ..................................................................................... 508 CAPTULO XVI - VALIDADE E FUNDAMENTO DE VALIDADE DAS NORMAS 1. A VALIDADE E O DIREITO ......................................................................................................... 510 2. QUE VALIDADE? ................................................................................................................... 512 3. TEORIAS SOBRE A VALIDADE.................................................................................................. 514

    3.1. Atos inexistentes, nulos e anulveis .......................................................................................... 515 3.2. Validade como relao de pertencialidade da norma jurdica ao sistema do direito positivo .. 518 3.3. Validade do ponto de vista do observador e do ponto de vista do participante ........................ 519 3.4. Validade como sinnimo de eficcia social ou justia.............................................................. 520

    4. VALIDADE E A EXPRESSO NORMA JURDICA ............................................................... 522 5. CRITRIOS DE VALIDADE ......................................................................................................... 523 6. PRESUNO DE VALIDADE ...................................................................................................... 526 7. MARCO TEMPORAL DA VALIDADE JURDICA ..................................................................... 529 8. VALIDADE E FUNDAMENTO DE VALIDADE......................................................................... 532 9. FUNDAMENTO JURDICO DO TEXTO ORIGINRIO DE UMA ORDEM............................. 535

    9.1. Fundamento jurdico ltimo na ordem anterior ou no prprio texto originrio ........................ 536 9.2. A norma hipottica fundamental de KELSEN.......................................................................... 538

    10. ADEQUAO S NORMAS DE PRODUO COMO CRITRIO DE PERMANNCIA DA NORMA JURDICA NO SISTEMA................................................................................................... 539 CAPTULO XVIII - VIGNCIA, EFICCIA E REVOGAO DAS NORMAS JURDICAS 1. VIGNCIA DAS NORMAS JURDICAS...................................................................................... 543

  • 15

    1.1. Vigncia plena e vigncia parcial.............................................................................................. 545 1.2. Vigncia das normas gerais e abstratas e das normas individuais e concretas ......................... 546 1.3. Vigncia das regras introdutoras e das regras introduzidas ...................................................... 548

    2. VIGNCIA NO TEMPO E NO ESPAO....................................................................................... 550 2.1. Vigncia no tempo .................................................................................................................... 550 2.2. Vigncia no espao.................................................................................................................... 552

    3. VIGNCIA E APLICAO ........................................................................................................... 553 4. EFICCIA DAS NORMAS JURDICAS....................................................................................... 553

    4.1 Eficcia tcnica .......................................................................................................................... 554 4.1.1. Ineficcia tcnica sob os enfoques sinttico, semntico e pragmtico............................... 555

    4.2. Eficcia jurdica......................................................................................................................... 557 4.3. Eficcia social ........................................................................................................................... 559

    5. VALIDADE, VIGNCIA E EFICCIA ......................................................................................... 560 6. REVOGAO DAS NORMAS JURDICAS ................................................................................ 562

    6.1. Sobre a revogao das normas jurdicas ................................................................................... 562 6.2. Efeitos da revogao no direito................................................................................................. 565

    CONCLUSES .................................................................................................................................. 567 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................................................. 617

  • 16

    INTRODUO

    O presente trabalho um convite ao ingresso no pensamento de PAULO DE

    BARROS CARVALHO, no qual os pressupostos e categorias do Constructivismo Lgico-Semntico

    sero aplicados para construo de uma Teoria Geral do Direito sob tal referencial. Para isso,

    dividimos o mesmo em quatro grandes partes: Livro I - Proposies Propeduticas, que se estende do

    captulo I ao VII, onde fixaremos as premissas em que se fundam o Constructivismo Lgico-

    Semntico e os pressupostos de uma Teoria Geral do Direito sob este referencial; Livro II - Teoria da

    Norma Jurdica, do captulo VIII ao X, onde estudaremos a estrutura e contedo das unidades do

    sistema do direito positivo; Livro III - Teoria da Incidncia, do captulo XI ao XIV, nos quais

    analisaremos a aplicao das normas jurdicas e a produo de seus efeitos na ordem jurdica; e Livro

    IV - Teoria do Ordenamento, do captulo XV ao XVI, no qual nos dedicaremos s relaes que se

    estabelecem entre as normas jurdicas na conformao do sistema e origem, validade, vigncia e

    eficcia dessas normas.

    No Livro I Proposies Propeduticas, comearemos nossas investigaes

    percorrendo o caminho do conhecimento cientfico, mesmo porque, nossa proposta conhecer

    cientificamente as categorias gerais do direito e isto, primeiramente, pressupe compreendermos o que

    seja conhecer e conhecer cientificamente o direito. No primeiro captulo, fixaremos nossas

    premissas, explicando alguns pressupostos da filosofia da linguagem e traando as caractersticas do

    discurso cientfico. No segundo captulo, delimitaremos o conceito de direito, tecendo algumas crticas

    s principais escolas que o tomam como objeto. O terceiro captulo ser dedicado diferenciao das

    linguagens do direito positivo e da Cincia do Direito. O quarto, teoria dos sistemas, onde, alm de

    fixarmos as propriedades de tal teoria, analisaremos os pontos que separam e aproximam os sistemas

    do direito positivo, da Cincia do Direito e da realidade social. No captulo quinto, faremos uma

    incurso na Semitica e na Teoria Comunicacional, explicando a relevncia de ambas no estudo do

    direito. No sexto, ingressaremos no universo das frmulas lgicas, elencando as diferenas entre os

    mundos do ser e do dever ser, da causalidade natural e jurdica, das leis do direito e da natureza. O

    stimo e ltimo captulo deste livro dedicado hermenutica jurdica e teoria dos valores, onde

    discorreremos sobre a construo de sentido dos textos jurdicos, fazendo uma crtica aos mtodos

    tradicionais e relacionando direito e valores.

  • 17

    No livro II Teoria da Norma Jurdica, analisaremos as normas jurdicas, unidades

    do direito positivo, principalmente sob seus aspectos sintticos e semnticos. No captulo oitavo,

    depois de refletirmos sobre a importncia de uma teoria da norma jurdica, voltaremos nossa ateno

    sua estrutura, observando detalhadamente cada uma das partes que a compem. No captulo nono,

    apresentaremos uma proposta de classificao das normas jurdicas (em sentido amplo e estrito), mas

    antes disso, adentraremos na teoria das classes e estudaremos o ato de classificar. E no captulo

    dcimo, analisaremos a regra-matriz de incidncia, propondo um esquema lgico que pode ser

    aplicado na construo de qualquer norma jurdica.

    No livro III Teoria da Incidncia, nossa ateno se voltar aplicao das normas

    jurdicas e produo de seus efeitos no mundo do direito. A anlise estar direcionada,

    principalmente, ao aspecto pragmtico das unidades do sistema. No captulo dcimo primeiro,

    estudaremos a incidncia e aplicao das normas jurdicas, estabelecendo as diferenas entre as teorias

    declaratria e constitutiva e tecendo criticas concepo tradicional. Proporemos um estudo semitico

    da incidncia, passando, rapidamente, pela teoria da ao para explicar a aplicao como ato, norma e

    procedimento. O captulo dcimo segundo ser dedicado hermenutica e teoria da deciso

    vinculadas ao aspecto pragmtico da aplicao. Nele discorreremos sobre os problemas das lacunas e

    antinomias do sistema. No captulo dcimo terceiro, realizaremos um estudo do fato jurdico,

    trabalhando os conceitos de evento, fato e fato jurdico, a importncia da teoria das provas e da

    legitimao pelo procedimento para o direito, alm de estabelecer critrios para diferenciao do erro

    de fato e de direito, do fato lcito e do fato ilcito e explicar a falsa idia da interdisciplinariedade do

    fato jurdico. E, no captulo dcimo quarto, ltimo captulo deste livro (III), nossa anlise recair sobre

    a relao jurdica. Faremos uma breve incurso na lgica dos predicados polidicos, para observarmos

    detalhadamente cada um dos elementos da relao jurdica e suas caractersticas, discorreremos sobre

    as classificaes das relaes jurdicas, seus efeitos e teceremos crticas teoria da tripla eficcia.

    No livro IV Teoria do Ordenamento Jurdico, ampliaremos nosso foco de anlise

    para, alm das normas jurdicas, estudar as relaes que se estabelecem entre tais unidades, na

    conformao do sistema jurdico. No captulo dcimo quinto, delimitaremos o conceito de

    ordenamento jurdico e identificaremos os vnculos que o compem, posicionando-nos criticamente

    em relao s doutrinas que distinguem ordenamento e sistema. O captulo dcimo sexto ser dedicado

    ao estudo das fontes do direito. Analisaremos nele, a origem das normas jurdicas, trabalhando os

    termos enunciao, enunciao-enunciada e enunciado-enunciado e tecendo crticas teoria tradicional

    que considera doutrina, lei, jurisprudncia e costume fontes do direito. No captulo dcimo stimo,

  • 18

    nosso foco volta-se questo da validade e do fundamento de validade das normas jurdicas. Faremos

    uma reflexo sobre o conceito de validade e os critrios utilizados para sua demarcao, bem como,

    sobre a norma hipottica fundamental e sua funo axiomtica na delimitao do sistema jurdico. E,

    no captulo dcimo oitavo, o ltimo da tese, nossa anlise recair sobre os conceitos de vigncia,

    eficcia e revogao das normas jurdicas.

    Abordando todos estes temas, sempre com base nas lies de PAULO DE BARROS

    CARVALHO, esperamos construir uma Teoria Geral do Direito sob o enfoque do Constructivismo

    Lgico-Semntico, que explique as categorias que se repetem de maneira uniforme em todos os

    segmentos do direito.

  • 19

    CAPTULO I

    PROPOSIES PROPEDUTICAS

    SUMRIO: 1. Fundamentos de uma teoria; 2. Pressupostos do conhecimento; 2.1. Conhecimento em sentido amplo e em sentido estrito; 2.2. Giro-lingstico; 2.3. Linguagem e realidade; 2.4. Lngua e realidade; 2.5. Sistema de referncia; 2.6. Consideraes sobre a verdade; 2.7. Auto-referncia da linguagem; 2.8. Teoria dos jogos de linguagem; 3. Conhecimento cientfico; 3.1. Linguagem cientfica; 3.2. Pressupostos de uma teoria; 3.2.1. Delimitao do objeto; 3.2.2. Mtodo; 4. Teoria geral do direito.

    1. FUNDAMENTOS DE UMA TEORIA

    Toda teoria existe para conhecer um objeto. Quando pensamos numa teoria, o que

    nos vem mente um conjunto de informaes que possibilitam identificar e compreender certa

    realidade. Podemos, assim, definir o termo como um sistema de proposies descritivas acerca de

    determinado objeto, que nos capacita a compreend-lo e a oper-lo com maior eficincia nas situaes

    em que nos envolvemos com ele. E, aqui logo aparece a sugestiva distino entre teoria e prtica.

    Classicamente distingue-se teoria da prtica tendo-se aquela como um conjunto de

    informaes que tem por objetivo explicar determinada realidade e esta como a realidade explicada tal

    qual ela se apresenta. Neste contexto, explica RICARDO GUIBOURG: uma boa teoria serve para

    melhor interpretar a realidade e para guiar com maior eficcia a prtica at os objetivos que esta tenha

    fixado. E, uma boa prtica capaz de examinar os resultados para promover a reviso da teoria, de tal

    sorte que, ambos os plos do conhecimento se auxiliam reciprocamente para o avano conjunto1.

    Em sntese: a teoria explica a prtica e a prtica confirma ou infirma a teoria. Mas,

    no podemos esquecer que ambas so apenas fatores diferentes de um mesmo objeto, cujo

    conhecimento pressupe tanto a teoria quanto a prtica. , neste sentido que PAULO DE BARROS

    CARVALHO relembra a lio de PONTES DE MIRANDA segundo a qual no h diferena entre

    teoria e prtica, mas aquilo que existe o conhecimento do objeto: ou se conhece o objeto ou no se

    conhece o objeto2.

    1 El fenmeno normativo, p. 28. 2 Direito tributrio, fundamentos jurdicos da incidncia, p. 5-6.

  • 20

    No existe prtica sem teoria e nem teoria sem prtica. Nenhum caso concreto

    conhecido ou resolvido sem um conjunto de proposies que o explique e nenhum conjunto de

    proposies explicativas construdo sem uma concretude que o reclame. O homem no foi lua por

    acaso, no descobriu o sarampo, a rubola, a paralisia infantil e nem as vacinas destas doenas do

    nada, no desenvolveu tcnicas cirrgicas acidentalmente e nem casualmente inventou computadores,

    avies, telefones e toda a tecnologia de que dispomos hoje. Se assim o fez, foi porque construiu uma

    teoria, porque parou, pensou e emitiu proposies sobre. E, se construiu uma teoria foi porque se

    deparou com alguma concretude que precisava ser explicada ou resolvida.

    Entre os planos terico e prtico, entretanto, existe outro que os conecta: a

    linguagem da experincia, que torna efetivamente possvel o conhecimento do objeto. Muitas vezes

    sabemos a teoria e nos deparamos com inmeros casos prticos que compem nosso dia a dia, mas no

    temos a linguagem da experincia, sem a qual no somos capazes de realizar a integrao entre

    linguagem terica e linguagem prtica, nico meio de, concretamente, conhecermos o objeto.

    De nada serve sabermos uma teoria se no conseguimos aplic-la para explicar a

    concretude experimentada. Do mesmo modo, de nada adianta experimentarmos uma concretude se no

    temos uma teoria para compreend-la, em nenhum dos casos conheceremos o objeto. Como ilustrao,

    podemos citar o exemplo de um mdico que reconhece teoricamente os aspectos das formaes

    cancerosas de pele (porque estudou na faculdade ou residncia), mas ao deparar-se com o caso

    concreto de uma alterao cutnea, no a identifica como cancerosa (dando-lhe outro diagnstico). Na

    verdade, independente daquilo que se denomina teoria ou prtica, o mdico no sabe o que cncer de

    pele, justamente porque lhe falta a linguagem da experincia.

    Transportando tais consideraes para o mbito jurdico, uma Teoria do Direito

    existe para conhecer o direito. Consiste ela num conjunto de enunciados descritivos, precisos e

    coesamente ordenados, que nos diz o que o direito, permitindo-nos identificar e compreender aquilo

    que denominamos realidade jurdica. Em ltima anlise a finalidade de quem constri uma teoria sobre

    o direito fornecer informaes que possibilitem seu conhecimento queles que com ele operam.

    Muito embora o objetivo deste trabalho seja a construo de uma Teoria Geral do

    Direito, antes de direcionarmos nossa anlise ao direito, objeto central deste estudo, entendemos ser

    importante darmos um passo atrs e voltarmos nossa ateno, ainda que rapidamente, questo do

  • 21

    conhecimento, pois, como toda teoria visa conhecer seu objeto, o modo como concebemos ser

    processado tal conhecimento influencia diretamente toda e qualquer construo terica.

    2. PRESSUPOSTOS DO CONHECIMENTO

    Caracteriza-se, o conhecimento (na sua reduo mais simples), como a forma da

    conscincia humana por meio da qual o homem atribui significado ao mundo (isto , o representa

    intelectualmente). Neste sentido, conhecer algo ter conscincia sobre este algo, de modo que, se

    perde a conscincia o ser humano nada mais conhece3.

    A conscincia, funo pela qual o homem trava contato com suas vivncias interiores

    e exteriores, sempre de algo, o que caracteriza sua direcionalidade. A apreenso deste algo se faz

    mediante certa forma, que produzida por determinado ato. Nestes termos, seguindo os ensinamentos

    de EDMUND HUSSERL4 diferenciam-se: (i) o ato de conscincia (ex: perceber, lembrar, imaginar,

    sonhar, pensar, refletir, almejar, etc.); (ii) o resultado deste ato, que a forma (percepo, lembrana,

    imaginao, sonho, pensamento, reflexo, etc.); e (iii) seu contedo, que o objeto captado pela

    conscincia e articulvel em nosso intelecto (o percebido, o lembrado, o imaginado, o sonhado, o

    pensado, o refletido, etc.).

    Devemos separar, assim: (i) conhecer, enquanto ato especfico e histrico da

    conscincia; (ii) conhecimento, como resultado desse ato, enquanto forma de conscincia; e (iii) aquilo

    que se conhece, contedo da conscincia, ou seja, o objeto do conhecimento5. So trs faces diferentes

    do conhecimento humano: uma coisa o ato de conhecer; outra a forma, o conhecimento por ele

    gerado; e outra ainda o contedo conhecido (objeto).

    O ato de conhecer fundamenta-se na tentativa do esprito humano de estabelecer uma

    ordem para o mundo (exterior ou interior) para que este, como contedo de uma conscincia, se torne

    inteligvel, ou seja, possa ser articulado intelectualmente (constituindo aquilo que a filosofia chama de

    racionalidade).

    Todo contedo requer uma forma, que o meio mediante o qual ele aparece, de

    modo que, no h objeto articulvel intelectualmente sem uma forma de conscincia que o apreenda. O

    3 Trabalharemos, neste tpico, com alguns pressupostos da filosofia da conscincia instaurada por KANT, apesar de tal vertente no se constituir como paradigma filosfico desta tese. 4 Investigaes Lgicas 5 In Investigaes lgicas, p. 54.

  • 22

    conhecimento uma forma da conscincia, que se d com a produo de outras formas de conscincia

    como a percepo, o pensamento, a lembrana, a memria, a intuio, e que vai se consolidando na

    medida em que utilizamo-nos de mais de uma delas (ex: percepo visual + lembrana + imaginao).

    Por esta razo, podemos dizer que existem vrias etapas de conhecimento e que este gradativo, isto ,

    se sedimenta aos poucos. Conforme seu contedo (o objeto) vai aparecendo sob diferentes formas de

    conscincia, ele vai se firmando em nosso intelecto.

    Neste sentido, a palavra conhecimento apresenta o vcio da ambigidade

    procedimento/ato, forma/contedo. Conhecer um processo da conscincia humana, que se sedimenta

    num ato, que tem uma forma e um contedo.

    LEONIDAS HEGENBERG, em elaborado estudo, identifica trs etapas do

    conhecimento: (i) saber de; (ii) saber como; e (iii) saber que6.

    Segundo o autor, o saber de d-se mediante a habitualidade, com o acmulo de

    sensaes (adquiridas por nossos sentidos: viso, tato, olfato, audio e paladar) que nos permite

    identificar certos objetos sempre que eles se repetem. Consiste numa interpretao rudimentar, com a

    qual cada um de ns se ajusta ao seu mundo e nele pode sobreviver. O saber como uma espcie mais

    elaborada de conhecimento, que nos permite executar aes de crescente complexidade e aparece

    quando somos capazes de desenvolver esquemas estabelecendo associaes de causa e efeito. E o

    saber que alcanado em funo de inferncias, que defluem do uso da razo acoplado s aes,

    mediante ele atribumos uma lgica ao mundo.

    Para exemplificar, com o saber de conhecemos a existncia de certos objetos: garfo,

    faca, abridor; com o saber como apreendemos a utilizar tais objetos para realizar certas aes: comer,

    cortar carne, abrir garrafa; e com o saber que conhecemos que se no formos cuidadosos com a faca

    ela pode nos ferir, ou que para cortar a carne ela deve estar afiada. Primeiro o ser humano sabe de,

    depois sabe como e por fim sabe que as coisas so. Nos dizeres do autor, medida que entramos em

    contato com novos objetos (antes ignorados) aumentamos o saber de. Nosso contato com as coisas se

    orienta em funo de alguma ao a executar, com isso, ganha realce o saber como. E, usando a

    capacidade de que fomos dotados, na condio de humanos, estamos aptos a pensar, raciocinar, inferir,

    6 Saber de e saber que: alicerces da racionalidade, p. 24-30

  • 23

    atingimos, assim, com o auxlio da lgica, o saber que, o conhecimento, que nos conduzir, enfim,

    sabedoria7.

    2.1. Conhecimento em sentido amplo e em sentido estrito

    Com objetivo de simplificar nossos estudos, reduzimos as complexidades

    diferenciando conhecimento em sentido amplo e em sentido estrito. Em sentido amplo, toda forma de

    conscincia que aprisiona um objeto intelectualmente como seu contedo conhecimento. Alcana

    esta concepo estrita, no entanto, a partir do momento em que seu contedo aparece na forma de juzo

    (uma das modalidades do pensamento) quando, ento, pode ser submetido a critrios de confirmao

    ou infirmao.

    O pensamento (forma da conscincia mediante a qual so processados os juzos),

    aperfeioa-se em trs estgios, isto , com a conjuntura de trs outras formas: (i) primeiro os objetos

    so apreendidos na forma de idias (representadas linguisticamente por termos ex: homem); (ii)

    com a associao das idias surgem os juzos (representados pelas proposies ex: homem

    mamfero); e (iii) da relao entre juzos so construdos os raciocnios (representados pelos

    argumentos ex: homem mamfero, mamfero animal, ento homem animal). Nos dizeres de

    PAULO DE BARROS CARVALHO, A apreenso nos leva idia, noo ou conceito, o julgamento

    produz o juzo e a conjuno de juzos, com vista a obteno de um terceiro, manifesta-se como

    raciocnio8.

    Mediante as idias temos um conhecimento rudimentar do mundo (conhecimento

    aqui empregado em acepo ampla), com o qual somos capazes de identificar certos objetos no meio

    do caos de sensaes. Com os juzos atribumos caractersticas a estes objetos e passamos a conhecer

    suas propriedades definitrias, alcanamos, ento, o conhecimento em sentido estrito. Mediante os

    raciocnios justificamos os juzos estabelecidos e alcanamos um conhecimento mais refinado

    (racionalizado).

    Todo conhecimento, considerando-se o termo em acepo estrita, nasce da intuio.

    Antes mesmo de sermos capazes de identificar certos objetos por meio das idias, os intumos, ou seja,

    temos uma sensao direcionada, mas incerta de sua existncia e esta sensao que dirige todos os

    outros atos da conscincia humana voltados formao e justificao das proposies. Primeiro

    7 Idem, p. 29-30. 8 Apostila do curso de teoria geral do direito, p. 92

  • 24

    intumos, depois racionalizamos para que nossa conscincia aceite o objeto conhecido como tal. Por

    meio da racionalizao o intelecto justifica e legitima as proposies construdas (e, em ltima

    instncia, a intuio) tornando-as verdadeiras para o sujeito cognoscente. Neste sentido, os raciocnios

    so adaptveis intuio e, portanto, no so puros, ainda que indispensveis ao conhecimento, uma

    vez que o legitimam.

    Pouco se sabe sobre a intuio, marco inicial do conhecimento, que determina sua

    construo e condiciona sua fundamentao. Ao contrrio, a racionalizao, processo mediante o qual

    o conhecimento legitimado (aceito como verdadeiro), objeto de variada gama de estudos.

    Em termos resumidos, podemos dizer que os raciocnios so constitudos por meio de

    inferncias, processo mediante o qual se obtm uma proposio (conclusiva) a partir de outra(s)

    (premissas).

    As inferncias so classificadas como: (i) imediatas ou (ii) mediatas.

    (i) Inferncias imediatas so constitudas tomando-se por base apenas uma

    proposio (premissa). Podem se dar: (i.a) por oposio; ou (i.b) por converso.

    Na oposio, a proposio-concluso obtida com a alterao da quantidade ou

    qualidade da proposio-premissa, mantendo-se os mesmos termos como sujeito e como predicado

    (ex: todos os homens so racionais, logo, nenhum homem no-racional). J na converso a

    proposio-concluso construda a partir da transposio da proposio-premissa (ex: todos

    advogados so juristas, logo, alguns juristas so advogados).

    (ii) Inferncias mediatas caracterizam-se pelo trnsito de um juzo (premissa 1) para

    outro (concluso) mediante um terceiro (premissa 2). As cinco formas mais comuns so: (ii.a)

    analogia; (ii.b) induo; (ii.c) deduo; (ii.d) dialtica; (ii.e) abduo.

    Faz-se analogia por meio de comparaes, a partir de semelhanas entre dois juzos

    diferentes, obtm-se uma semelhana entre eles (ex: considerando as semelhanas dos sintomas

    apresentados entre Joo e Pedro, conclui-se que Pedro tem a mesma doena de Joo). Com a induo

    desenvolve-se do particular para o geral, a partir da observao de certo nmero de casos

    (antecedentes) se infere uma explicao aplicvel a todos os casos da mesma espcie (ex: considerando

    que o ferro dilata com o calor, a prata dilata com o calor, o cobre dilata com o calor e que o ferro, a

  • 25

    prata e o cobre so metais, conclui-se: os metais dilatam com o calor). Com a deduo constri-se uma

    proposio que concluso lgica de duas ou mais premissas (ex: considerando que todo nmero

    divisvel por dois par e que 280 divisvel por dois, conclui-se que o nmero 280 par). Com a

    dialtica (tambm denominada de raciocnio crtico), constri-se uma concluso (sntese) resultante da

    contraposio de juzos conflitantes denominados tese e anttese (ex: gua uma necessidade do

    organismo, mas causa afogamento, logo deve ser ingerida com moderao). E, com a abduo a partir

    de uma proposio geral, supem-se hipteses explicativas que, passo a passo, so superadas na

    construo de uma concluso (ex: contos policiais).

    Existem vrias outras formas de racionalizao, um estudo mais aprofundado,

    entretanto, foge ao foco de nossa proposta. A ttulo de exemplo, estas so suficientes para

    compreendermos como intelectualmente se processa a legitimao das proposies produzidas.

    O que queremos chamar ateno, no entanto, que diante de todas as consideraes

    feitas acima, observa-se um ponto comum sobre o conhecimento: em momento algum deixamos o

    campo das proposies. Isto nos autoriza dizer que todo conhecimento proposicional. D-se com a

    construo e relao de juzos. Nestes termos, no h conhecimento sem linguagem.

    Conhece, aquele que capaz de emitir proposies sobre e mais, de relacionar tais

    proposies de modo coerente, na forma de raciocnios. Vejamos o exemplo da mitocndria: a

    pessoa que no sabe o que mitocndria, no consegue emitir qualquer proposio sobre ela; aquele

    que tem um conhecimento leigo capaz de emitir algumas proposies, mas no muitas; j um bilogo

    pode passar horas construindo e relacionando proposies sobre a mitocndria. Esta sua capacidade

    demonstra maior conhecimento sobre o objeto. neste sentido que LUDWIG WITTGENSTEIN

    doutrina: os limites da minha linguagem significam o limite do meu mundo9 ou em outras palavras,

    o conhecimento est limitado capacidade de formular proposies sobre mais se conhece um objeto

    na medida em que mais se consegue falar sobre ele.

    A questo, contudo, de ser a linguagem pressuposto do conhecimento, ou apenas

    instrumento para sua fixao e comunicao foi tema de muitas discusses que acabaram por resultar

    numa mudana de paradigma na Filosofia do Conhecimento.

    9 Tractatus Lgico-Philosophicus, p. 111.

  • 26

    2.2. Giro-lingstico

    Desde o Crtilo de PLATO, escrito presumivelmente no ano de 388 a.C., a

    Filosofia baseava-se na idia de que o ato de conhecer constitua-se da relao entre sujeito e objeto e

    que a linguagem servia como instrumento, cuja funo era expressar a ordem objetiva das coisas10.

    Acreditava-se que por meio da linguagem o sujeito se conectava ao objeto, porque esta expressava sua

    essncia.

    Existia, nesta concepo, uma correspondncia entre as idias e as coisas que eram

    descritas pela linguagem, de modo que, o sujeito mantinha uma relao com o mundo anterior a

    qualquer formao lingstica. O conhecimento era concebido como a reproduo intelectual do real,

    sendo a verdade resultado da correspondncia entre tal reproduo e o objeto referido. Uma proposio

    era considerada verdadeira quando demonstrava a essncia de algo, j que a linguagem no passava de

    um reflexo, uma cpia do mundo.

    O estudo do conhecimento, neste contexto, durante o decurso dos sculos, foi feito a

    partir do sujeito (gnosiologia), do objeto (ontologia), ou da relao entre ambos (fenomenologia) e a

    linguagem foi sempre considerada como instrumento secundrio do conhecimento.

    Segundo esta tradio filosfica, existia um mundo em si refletido pelas palavras

    (filosofia do ser) ou conhecido mediante atos de conscincia e depois fixado e comunicado aos outros

    por meio da linguagem (filosofia da conscincia)11. A linguagem, portanto, no era condio do

    conhecimento, mas um instrumento de representao da realidade tal qual ela se apresentava e era

    conhecida pelo sujeito cognoscente.

    Em meados do sculo passado, houve uma mudana na concepo filosfica do

    conhecimento, denominada de giro-lingstico, cujo termo inicial marcado pela obra de LUDWIG

    WITTGENSTEIN (Tractatus lgico-philosophicus). Foi quando a ento chamada filosofia da

    conscincia deu lugar filosofia da linguagem.

    De acordo com este novo paradigma, a linguagem deixa de ser apenas instrumento

    de comunicao de um conhecimento j realizado e passa a ser condio de possibilidade para 10 MANFREDO ARAUJO DE OLIVEIRA, Reviravolta lingstico-pragmtica na filosofia contempornea, p. 17-114. 11 KANT o marco da filosofia da conscincia que se fundamenta no estudo de como a conscincia se comporta no mundo em que era posto. Sua obra para a filosofia do conhecimento considerada como um X, pois todos os filsofos ou se encontram ou partem de KANT. Cronologicamente temos a filosofia do ser, depois de KANT instaura-se a filosofia da conscincia e com WITTGENSTEIN a filosofia da linguagem.

  • 27

    constituio do prprio conhecimento enquanto tal. Este no mais visto como uma relao entre

    sujeito e objeto, mas sim entre linguagens. Nos dizeres de DARDO SCAVINO, a linguagem deixa de

    ser um meio, algo que estaria entre o sujeito e a realidade, para se converter num lxico capaz de criar

    tanto o sujeito como a realidade12.

    No existe mais um mundo em si, independente da linguagem, que seja copiado

    por ela, nem uma essncia nas coisas para ser descoberta. S temos o mundo e as coisas na linguagem;

    nunca em si. Assim, no h uma correspondncia entre a linguagem e o objeto, pois este criado por

    ela. A linguagem, nesta concepo, passa a ser o pressuposto por excelncia do conhecimento.

    O ser humano s conhece o mundo quando o constitui linguisticamente em seu

    intelecto, por isso, HUMBERTO MATURANA e FRANCISCO VARELA afirmam que todo ato de

    conhecimento produz um mundo13. Conhecer no significa mais a simples apreenso mental de uma

    dada realidade, mas a sua construo intelectual, o que s possvel mediante linguagem. O

    conhecimento deixa de ser a reproduo mental do real e passa a ser a sua constituio para o sujeito

    cognoscente.

    Deste modo, a verdade, como resultado da correspondncia entre formulao mental

    e essncia do objeto significado linguisticamente, perde o fundamento, porque no existem mais

    essncias a serem descobertas, j que os objetos so criados linguisticamente. A verdade das

    proposies conhecidas apresenta-se vinculada ao contexto em que o conhecimento se opera,

    dependendo do meio social, do tempo histrico e das vivncias do sujeito cognoscente.

    J no h mais verdades absolutas. Sabemos das coisas porque conhecemos a

    significao das palavras tal como elas existem numa lngua, ou seja, porque fazemos parte de uma

    cultura. Na verdade, o que conhecemos so construes lingsticas (interpretaes) que se reportam a

    outras construes lingsticas (interpretaes), todas elas condicionadas ao contexto scio-cultural

    constitudo por uma lngua. Neste sentido, o objeto do conhecimento no so as coisas em si, mas as

    proposies que as descrevem, porque delas decorre a prpria existncia dos objetos.

    O homem utiliza-se de signos convencionados lingisticamente para dar sentido aos

    dados sensoriais que lhes so perceptveis. A relao entre tais smbolos e o que eles representam

    constituda artificialmente por uma comunidade lingstica. As coisas do mundo no tm um sentido

    12 La filosifia actual: pensar sin certezas, p. 12. 13 A rvore do conhecimento, p. 68

  • 28

    ontolgico. o homem quem d significado s coisas quando constri a relao entre uma palavra e

    aquilo que ela representa, associando-a a outras palavras que, juntas, formam sua definio.

    O conhecimento nos d acesso s definies. No conhecemos as coisas em si, mas o

    significado das palavras dentro do contexto de uma lngua e o significado j no depende da relao

    com a coisa, mas do vnculo com outras palavras. Exemplo disso pode ser observado quando

    buscamos o sentido de um termo no dicionrio, no encontramos a coisa em si (referente), mas outras

    palavras. Deste modo, podemos afirmar que a correspondncia no se d entre um termo e a coisa, mas

    entre um termo e outros, ou seja, entre linguagem. A essncia ou a natureza das coisas, idealizada pela

    filosofia da conscincia, algo intangvel.

    De acordo com esta nova perspectiva filosfica, nunca conhecemos os objetos tal

    como eles se apresentam fisicamente, fora dos discursos que falam acerca deles e que os constituem14.

    Conhecemos sempre uma interpretao. Por isso, a afirmao segundo qual o mundo exterior no

    existe para o sujeito cognoscente sem uma linguagem que o constitua. Isto que chamamos de mundo

    nada mais do que uma construo (interpretao), condicionada culturalmente e, por isso, incapaz de

    refletir a coisa tal qual ela livre de qualquer influncia ideolgica.

    2.3. Linguagem e realidade

    Desde o incio da filosofia, no sc. VI a.C., os pensadores tm se questionado se

    captamos a realidade pelos sentidos ou se, ao contrrio, tudo no passa de uma iluso? O ponto central

    deste questionamento est fundado no que se entende por realidade e a resposta a tal indagao

    primordial para determinar o conceito de conhecimento.

    Temos para ns que a realidade no passa de uma interpretao, ou seja, de um

    sentido atribudo aos dados brutos que nos so sensorialmente perceptveis. No captamos a realidade,

    tal qual ela , por meio da experincia sensorial (viso, tato, audio, paladar e olfato), mas a

    construmos atribuindo significado aos elementos sensoriais que se nos apresentam. O real , assim,

    uma construo de sentido e como toda e qualquer construo de sentido d-se num universo

    lingstico. neste contexto que trabalhamos com a afirmao segundo a qual a linguagem cria ou

    constri a realidade.

    14 DARDO SCAVINO, La filosifia actual: pensar sin certezas, p. 38.

  • 29

    Uma vez vislumbrado o carter transcendental da linguagem, com o giro lingstico,

    cai por terra a teoria objetivista (instrumentalista, designativa), segundo a qual a linguagem seria um

    instrumento secundrio de comunicao do conhecimento humano. Assume esta a condio de

    possibilidade para a sua constituio, pois no h conscincia sem linguagem.

    As coisas no precedem linguagem, pois s se tornam reais para o homem depois

    de terem sido, por ele, interpretadas. Algo s tem significado, isto , s se torna inteligvel, a partir do

    momento em que lhe atribudo um nome. A palavra torna o dado experimental articulvel

    intelectualmente permitindo que ele aparea como realidade para o ser humano. Em termos mais

    precisos LENIO LUIZ STRECK assevera: estamos mergulhados num mundo que somente aparece

    (como mundo) na e pela linguagem. Algo s algo se podemos dizer que algo15.

    A experincia sensorial (captada pelos sentidos) nos fornece sensaes, que se

    distinguem das palavras qualitativamente. As sensaes so dados inarticulados por nossa conscincia,

    so imediatos e para serem computados precisam ser transformados em vocbulos. Observando isso

    VILM FLUSSER compara o intelecto a uma tecelagem, que usa palavras como fios, mas que tem

    uma ante sala na qual funciona uma fiao que transforma algodo bruto (dados sensoriais) em fios

    (palavras)16. Os dados inarticulados dispersam-se, apenas aqueles transformados em palavras tornam-

    se por ns conhecidos. por isso que, como ensina MARTIN HEIDEGGER, nosso ser-no-mundo

    sempre linguisticamente mediado. Nas palavras do autor, a linguagem a morada do ser, o lugar onde

    o sentido do ser se mostra. por meio dela que ocorre a manifestao dos entes a ns, de modo que, s

    onde existe linguagem o ente pode revelar-se como ente17. No utilizamos a linguagem para

    manipular o real, mas antes, ela nos determina e nela se d a criao daquilo que chamamos de

    realidade.

    Dizer, todavia, que a realidade constituda pela linguagem, no significa afirmar a

    inexistncia de dados fsicos independentes da linguagem. Frisamos apenas que somente pela

    linguagem podemos conhec-los, identific-los e transform-los numa realidade objetiva para nosso

    intelecto. Um exemplo ajuda-nos a esclarecer tal idia: imaginemos um sujeito que esteja andando por

    um caminho e no seu decorrer tropece em algo, ele experimenta, por meio de seus sentidos, uma

    alterao fsica no ambiente que o rodeia, mas s capaz de identificar e conhecer tal alterao a partir

    do momento em que lhe atribui um nome isto uma pedra, neste instante, aquele algo constitui-se

    15 Hermenutica jurdica e(m) crise: uma explorao hermenutica da construo do direito, p. 178. 16 Lngua e realidade, p. 38. 17 A caminho da linguagem, p. 170.

  • 30

    como uma realidade para ele e torna-se articulvel em seu intelecto. Sob este paradigma, linguagem e

    realidade esto de tal forma entrelaadas que qualquer acesso a uma realidade no-interpretada

    negado aos homens, porque ininteligvel.

    2.4. Lngua e realidade

    FERDINAND DE SAUSSURE, ao tomar a linguagem como objeto de seus estudos,

    observou que duas partes a compem: (i) uma social (essencial), que a lngua; (ii) outra individual

    (acessria), que a fala. Lngua um sistema de signos artificialmente constitudo por uma

    comunidade de discurso e fala um ato de seleo e atualizao da lngua, dependente da vontade do

    homem e diz respeito s combinaes pelas quais ele realiza o cdigo da lngua com propsito de

    constituir seu pensamento18. No fundo, a lngua influencia a fala, pois o modo como o indivduo lida e

    estrutura os signos condiciona-se ao seu uso pela sociedade e a fala influi na lngua na medida em que

    os usos reiterados determinam as convenes sociais.

    Cada lngua tem uma personalidade prpria, proporcionando ao sujeito cognoscente

    que nela habita um clima especfico de realidade. Ns, moradores dos trpicos, por exemplo, olhamos

    para algo branco que cai do cu e enxergamos uma realidade (a neve), os esquims da Groelndia, por

    habitarem uma lngua diferente da nossa, se deparam com o mesmo dado fsico e enxergam mais de

    vinte realidades distintas. Por uma questo de sobrevivncia eles identificam vrios tipos de neve (ex:

    a que serve para construir iglus, a que serve para beber, para cavar e pescar, a que afunda, etc.),

    atribuindo nomes diferentes e as constituindo, assim, como realidades distintas daquela que ns

    conhecemos. Onde para ns existe uma realidade, para os esquims h mais de vinte. Isto acontece

    porque a lngua que habitamos determina nossa viso do mundo.

    Outro exemplo, trazido por DARDO SCARVINO, a separao que os yamanas

    fazem daquilo que ns chamamos de morte, para eles as pessoas se pierden e os animais se

    rompen. Condicionados pela lngua que habitam a realidade morte para os yamanas no existe, ou

    ao menos no significa o mesmo que para ns.

    Compartilhamos do entendimento de que a lngua no uma estrutura por meio da

    qual compreendemos o mundo, ela uma atividade mental estruturante do mundo. Assim, cada lngua

    cria uma realidade. Para ilustrar tal afirmao, VILM FLUSSER compara a vivncia de vrias

    18 Curso de lingstica geral, p. 15-32

  • 31

    lnguas a uma coleo de culos que dispe o intelecto para observar os dados brutos a ele inatingveis.

    Toda a vez que o intelecto troca de culos (lngua) a realidade se modifica19.

    Isto acontece porque, como sublinha JRGEN HABERMAS, quando o homem

    habita uma lngua ela projeta um horizonte categorial de significao em que se articulam uma forma

    de vida cultural e a pr-compreenso do mundo20. Determinantes, lxico e sintaxe de uma lngua

    formam um conjunto de categorias e modos de pensar que s seu, no qual se articula uma viso do

    mundo e do qual s possvel sair quando se passa a habitar outra lngua. assim com os dialetos, a

    fala, a escrita, a matemtica, a fsica, a biologia, a informtica, o direito21, etc. Cada lngua cria um

    mundo e para vivenciarmos outros mundos faz-se necessrio mudar de lngua, ou seja, temos que

    trocar os culos de nosso intelecto.

    Ao passar de uma lngua a outra nossa conscincia vive a dissoluo de uma

    realidade e a construo de outra. Atravessa, como ensina VILM FLUSSER, o abismo do nada, que

    cria para o intelecto uma sensao de irrealidade22, pois as coisas s tm sentido para o homem dentro

    de uma lngua. Cada pessoa, entretanto, realiza tal passagem de sua maneira, o que justifica as

    diferentes formas de traduo.

    Ao conjunto de categorias e modos de pensar incorporados pela vivncia de uma ou

    vrias lnguas atribumos o nome de cultura. E, neste sentido, dizemos que os horizontes culturais do

    intrprete condicionam seu conhecimento, ou seja, sua realidade.

    Aquilo que chamamos de realidade , assim, algo social antes de ser individual.

    UMBERTO ECO ilustra com clareza tal afirmao trazendo o exemplo do caador que interpreta

    pegadas da caa. O caador s conhece as pegadas porque vivencia a lngua da caada. Nos dizeres do

    autor, os fenmenos naturais s falam ao homem na medida em que toda uma tradio lingstica o

    ensinou a l-los. O homem vive num mundo de signos no porque vive na natureza, mas porque,

    mesmo quando est sozinho, vive na sociedade: aquela sociedade lingstica que no teria se

    constitudo e no teria podido sobreviver se no tivesse elaborado os prprios cdigos, os prprios

    sistemas de interpretao dos dados materiais (que por isso mesmo se tornam dados culturais)23.

    19 Lngua e realidade, p. 52. 20 Verdade e justificao: ensaios filosficos, p. 33. 21 Tudo que acontece com uma lngua se aplica s Cincias, que se constituem como lnguas particulares. 22 Lngua e realidade, p. 59. 23 O signo, p. 12.

  • 32

    Os objetos, embora construdos como contedo de atos de conscincia do ser

    cognoscente (subjetivo, pessoal), encontram-se condicionados pelas vivncias do sujeito, sendo estas

    determinadas pelas categorias de uma lngua (coletivo, social). isso que faz com que o mundo

    parea uno para todos que vivem na mesma comunidade lingstica e que torna possvel sua

    compreenso. Quando, por exemplo, um mdico l no exame de um paciente carcinoma basocelular

    esclerodermiforme os termos carcinoma, basocelular e esclerodermiforme representam, cada um

    deles, significados convencionados, inteligveis para quem habita a lngua da medicina. Se assim no

    fosse, a proposio no teria sentido para o mdico. Para o paciente, entretanto, que no vivencia tal

    lngua, o exame nada significa objetivamente.

    O homem, desde seu nascimento, encontra-se situado num mundo determinado como

    hermenutico e a realidade das coisas desse mundo qual ele tem acesso nada mais do que uma

    interpretao, condicionada por uma tradio lingstica. Compreendemos as coisas do mundo, como

    ensina MANFREDO ARAJO DE OLIVEIRA, a partir das expectativas de sentido que nos dirigem

    e provm de nossa tradio especfica, onde quer que compreendamos algo, ns o fazemos a partir do

    horizonte de uma tradio de sentido, que nos marca e precisamente torna essa compreenso

    possvel24. A realidade, entendida aqui como o conjunto de proposies mediante o qual

    transformamos o caos em algo inteligvel, , desde sempre, integrada a um horizonte de significao.

    2.5. Sistema de referncia

    No h conhecimento sem sistema de referncia, pois o ato de conhecer se estabelece

    por meio de relaes associativas, condicionadas pelo horizonte cultural do sujeito cognoscente e

    determinadas pelas coordenadas de tempo e espao em que so processadas.

    Conhecemos um objeto porque o identificamos em relao a outros elementos,

    estabelecendo vnculos capazes de delimitar seu significado. Assim, todo nosso conhecimento do

    mundo encontra-se determinado pelos referencias destas associaes que, por sua vez, so marcadas

    por nossas vivncias.

    Chamamos de sistema de referncia as condies que informam o conhecimento

    sobre algo. Uma criana que nasce numa colnia de pescadores, por exemplo, olha para o mar e sabe

    distinguir os diversos tipos de mars, o que dificilmente acontece com uma criana que nasce na

    cidade grande. Isso se d porque o referencial de uma diferente do da outra. Para primeira criana o

    24 Reviravolta lingstico-pragmtica na filosofia contempornea, p. 228.

  • 33

    mar tem um sentido mais complexo, significa muita coisa, porque grande parte das vivncias que

    formam seu contexto lingstico esto relacionadas a ele, o que j no se verifica com a segunda

    criana. Temos, assim, distintas interpretaes, que se reportam ao mesmo dado experimental,

    constituindo duas realidades prprias, cada qual condizente com os referenciais dentro dos quais so

    processadas.

    Alm do referencial cultural, constitudo pela vivncia numa lngua, toda

    compreenso do mundo pressupe um modelo, um ponto de partida, que o fundamenta e atribui

    credibilidade o contedo conhecido. Este modelo consiste num conjunto de premissas que acaba por

    determinar aquilo que se conhece. Observamos, por exemplo, uma mesa de madeira a certa distncia e

    afirmamos tratar-se de uma superfcie lisa, olhando mais de perto, percebemos algumas fissuras e lhe

    atribumos o qualificativo de rugosa, depois, observando-a com uma lupa, enxergamos vrias

    rachaduras e conclumos tratar-se de uma superfcie estriada. Mas, afinal, o que podemos afirmar sobre

    a superfcie da mesa de madeira? Ela lisa, rugosa ou estriada? A melhor resposta : depende.

    Primeiro temos que saber qual o modelo adotado na construo da proposio. De longe a mesa lisa,

    de perto ela rugosa e com lente de aumento estriada. Se no adotarmos um referencial, nada

    poderemos dizer sobre a superfcie da mesa de madeira. por isso que GOFFREDO TELLES

    JNIOR enuncia: sem sistema de referncia, o conhecimento desconhecimento25.

    Para ilustrar tal afirmao o autor serve-se do clssico exemplo, imaginado por

    EINSTEIN (citado por PAULO DE BARROS CARVALHO26), de um trem muito comprido

    (5.400.000 km) caminhando numa velocidade constante, em movimento retilneo e uniforme (240.000

    km/s), que tivesse uma lmpada bem no centro e duas portas, uma dianteira e outra traseira e que se

    abririam, automaticamente, assim que os raios de luz emitidos pela lmpada as atingissem. Com

    operaes aritmticas simples EINSTEN demonstrou que um viajante deste trem, veria as portas se

    abrirem simultaneamente, nove minutos depois de ver a lmpada acender-se e que um lavrador, parado

    fora do trem, ainda que observasse a lmpada se acender no mesmo instante que o viajante, veria a

    porta traseira abrir-se cinco segundos aps e a porta dianteira somente quarenta e cinco segundos

    depois.

    O evento observado pelo viajante e pelo lavrador seria exatamente o mesmo, mas

    como o lavrador no estaria dentro do trem e, portanto, seu sistema de referncia no seria o mesmo do

    25 O direito quntico, p. 289. 26 Direito tributrio: fundamentos jurdicos da incidncia, p. 2-3.

  • 34

    viajante, para ele, o fato das portas se abrirem seria sucessivo, enquanto que para o viajante seria

    simultneo. Mas, qual destes fatos o verdadeiro? O que se poderia dizer sobre a abertura das portas

    do trem? simultnea ou sucessiva? A resposta, novamente, : depende. Primeiro temos que saber

    qual o sistema de referncia adotado na formulao do fato, pois conforme o referencial a resposta

    diferente. Neste sentido, sublinha PAULO DE BARROS CARVALHO, quando se afirma algo como

    verdadeiro, faz-se mister que indiquemos o modelo dentro do qual a proposio se aloja, visto que ser

    diferente a resposta