teoria geral do direito civil - defeitos dos negócios jurídicos

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UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA INSTITUTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS DEFEITOS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS

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Trabalho acadêmico da disciplina de Teoria Geral do Processo, acerca do tema "Defeitos dos Negócios Jurídicos", correspondente a atividade avaliativa do Curso de Direito da UNAMA.

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Page 1: Teoria Geral do Direito Civil - Defeitos dos Negócios Jurídicos

UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA

INSTITUTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS

DEFEITOS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS

Belém-Pa

2014

Page 2: Teoria Geral do Direito Civil - Defeitos dos Negócios Jurídicos

UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA

INSTITUTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS

DAYANE DO SOCORRO BARROS TORRES

DEFEITOS DOS NEGÓCIOS JURÍDICO

Trabalho acadêmico apresentado como

requisito para a obtenção de nota parcial

referente à 2ªN.I. da disciplina de Teoria

Geral do Direito Civil, pelo curso de Direito

da UNAMA, ministrada pela professora

Verena Grace Ferreira C. de Melo.

Belém-Pa

2014

Page 3: Teoria Geral do Direito Civil - Defeitos dos Negócios Jurídicos

INTRODUÇÃO

A princípio há de se definir o conceito de Defeitos dos Negócios Jurídicos; de forma

geral trata-se de vícios que prejudicam a validade do negócio jurídico. Pablo Stolze

utiliza a seguinte classificação para os Defeitos: Vícios de Consentimento (a vontade

não é expressada de forma inteiramente livre) e Vícios Sociais (a vontade

manifestada não se caracteriza de boa-fé).

Quanto aos Vícios de Consentimento, são os seguintes: Erro ou Ignorância

(manifestação de vontade em divergência à realidade, tanto por desconhecimento

ou por entendimento contrário da realidade), Dolo (quando a referida divergência à

realidade for provocada intencionalmente de forma maliciosa), Coação (alguém é

coagido/forçado a praticar algo devido a uma ameaça contra si ou contra

algo/alguém importante para o mesmo), Lesão (o agente paga preço

desproporcional ao real valor) e Estado de Perigo (alguém com a necessidade de

salvar-se ou outrem de grave perigo, este assume obrigação excessivamente

onerosa). E os Vícios Sociais são: Simulação (há acordo entre o declarante e o

declaratário com a intenção de fraudar a lei ou prejudicar terceiros; segundo o

CC/02, trata-se de ato nulo) e Fraude Contra Credores (o objetivo do declarante é

afastar seu patrimônio de seus credores); nota-se que nos vícios sociais o objetivo é

enganar terceiros. Todos estes vícios terão seu conteúdo melhor explicado no

decorrer do texto acadêmico.

Art. 178, CC/02 – É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a

anulação do negócio.

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VÍCIOS DE CONSENTIMENTO

1. Erro ou Ignorância

Segundo Silvo de Salvo Venosa, o Erro é a interpretação errada de um fato

enquanto que a Ignorância é o total desconhecimento do fato, a falta de

conhecimento sobre determinado assunto. Quanto aos fins legais, o que há de se

aplicar ao erro também se aplicará à ignorância.

Para Caio Mário da Silva Pereira, caracteriza-se erro quando o agente por

desconhecimento ou conhecimento errado, atua de forma oposta a sua a vontade

caso soubesse a real situação, portanto Erro.

Art. 138, CC/02 – São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de

vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de

diligência normal, em face das circunstâncias do negócio.

São requisitos para existência do Erro, segundo Clóvis Beviláqua: ser escusável, ser

real (erro recaído sobre o objeto do contrato), se referir ao negócio e não a motivos

essenciais e ser relevante.

Error In Negotio: erro que se origina a partir da natureza do negócio que se leva a

efeito, como exemplo a troca de uma causa jurídica por outra. Exemplo: Aline vende

roupas para Álvaro, mas este entende o ato como uma doação. No caso, há erro por

parte do Álvaro.

Error In Corpore: erro que versa sobre a identidade do objeto. Exemplo: Amanda

compra um telefone móvel quando na verdade se trata de um telefone fixo.

Error In Persona: versa sobre a identidade ou qualidades de uma pessoa. Exemplo:

Contrata-se um sujeito para tocar violoncelo quando na verdade somente toca

violino.

Art. 178, CC/02 – É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a

anulação do negócio jurídico, contado:

Page 5: Teoria Geral do Direito Civil - Defeitos dos Negócios Jurídicos

II – No erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que

se realizou o negócio jurídico.

1.1. Erro Substancial/Essencial

Nas palavras de Silvio Venosa: “tem papel decisivo na determinação da vontade do

declarante, de modo que, se conhecesse o verdadeiro estado de coisas, não teria

desejado, de modo nenhum, concluir o negócio. Portanto é o erro que dá causa ao

negócio não sendo necessária causa única, podendo ser causa concomitante”.

Art. 139, CC/02 – “O erro é substancial quando:

I – Interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração ou a alguma

das qualidades a ele essenciais;

II – Concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a

declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante;

III – Sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único

ou principal do negócio jurídico”.

Art. 144, CC/02 – O erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a

pessoa, a quem a manifestação de vontade se dirige, se oferecer para executá-la na

conformidade da vontade real do manifestante.

Exemplo: Harry que, pretendendo adquirir uma escultura de Marfim de valor

significativo para o mercado, compra, por engano, uma escultura feita de

material sintético. Portanto, quanto a qualidade do objeto.

1.2. Erro Acidental ou Incidental

Erro ligado aos motivos ou qualidades secundárias da pessoa ou do objeto, de

forma a não alterar a validade do negócio. O erro incidental/acidental não anula o

negócio jurídico.

Art. 142, CC/02 – O erro de indicação da pessoa ou da coisa, a que se referir a

declaração de vontade, não viciará o negócio quando, por seu contexto e pelas

circunstâncias, se puder identificar a coisa ou pessoa cogitada.

Page 6: Teoria Geral do Direito Civil - Defeitos dos Negócios Jurídicos

Exemplo: Hermione compra um automóvel e posteriormente descobre que a

mala é menor do que pensava.

1.3. Vicio Redibitório

Trata-se de um defeito oculto na coisa ou objeto do contrato comutativo,

prejudicando o valor dos mesmos ou os tornando impróprios para uso.

Art. 441, CC/02 – A coisa recebida em virtude de contrato comutativo pode ser

enjeitada por vícios ou defeitos ocultos, que a tornem imprópria ao uso a que é

destinada, ou lhe diminuam o valor.

Art. 443, CC/02 – Se o alienante conhecia o vício ou defeito da coisa, restituirá o que

recebeu com perdas e danos; se o conhecia, tão somente restituirá o valor recebido,

mais as despesas do contrato.

Art. 445, CC/02 – O adquirente decai do direito de obter a redibição ou abatimento

no preço no prazo de trinta dias s a coisa for móvel, e de um ano se for imóvel,

contado da entrega efetiva; se já estava na posse, o prazo conta-se da alienação,

reduzido à metade

Exemplo: Rony compra um televisor com tecnologia 3D, após a aquisição ele

nota que a mesma não funciona com perfeição devido um defeito oculto no

seu funcionamento.

2. Dolo

Trata-se de engodo utilizado para induzir alguém à erro ou a algo que lhe seja

desfavorável, com o objetivo de obter proveito para si ou para terceiros. O dolo incita

o declaratário (destinatário da manifestação de vontade) a erro, erro este provocado

por ato do declarante.

“Dolo é artifício ou expediente astucioso, empregado para induzir alguém à pratica

de um ato jurídico, que o prejudica, aproveitando ao autor do dolo ou a terceiro”.

(Clóvis Beviláqua)

O objetivo do dolo é o proveito ao declarante ou a terceiro. O dolo poderá ocorrer

por um único ato ou por vários para atingir seu objetivo ilícito. Segundo Pablo Stolze,

o dolo é um erro provocado por terceiro e não pelo enganado, portanto é todo

Page 7: Teoria Geral do Direito Civil - Defeitos dos Negócios Jurídicos

artifício ilícito utilizado por uma das partes ou por terceiro para prejudicar outrem na

realização do negócio jurídico.

São requisitos do Dolo: intenção de confundir a parte; utilização de recursos

fraudulentos graves; os artifícios sejam a causa determinante da declaração de

vontade; que procedam de outro contratante ou sejam por este conhecidos como

procedentes de terceiros; causar prejuízo ao outro contratante em virtude do

equívoco.

Art. 145, CC/02 – São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a

sua causa.

Art. 150, CC/02 – Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-

lo para anular o negócio, ou reclamar indenização.

Art. 178, CC/02 – É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a

anulação do negócio jurídico, contado:

II – No erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que

se realizou o negócio jurídico.

2.1. Dolo Principal ou Essencial

O referido dolo torna o ato anulável e no mesmo há vício de consentimento; tem

como objetivo incitar o declarante a realizar um ato jurídico. É o dolo determinante

para o negócio jurídico, visto que se não houvesse dolo, a parte vitimada não

concluiria o negócio ou o celebraria em outras condições.

2.2. Dolo Acidental

De acordo com o Art. 186 do Código Civil de 2002, no dolo acidental há ato ilícito

que gera responsabilidade para o culpado. O dolo não é o motivo originário do

negócio, este apenas surge de forma onerosa para a vítima. Caracteriza-se Dolo

Acidental quando o negócio seria celebrado independentemente da malícia proposta

pelo autor, porém em condições diferentes. Não provoca vício no negócio, apenas

obriga à satisfação das perdas e danos.

Art. 146, CC/02 – O dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e danos, e é

acidental quando, a seu despeito, o negócio seria realizado, embora por outro modo.

Page 8: Teoria Geral do Direito Civil - Defeitos dos Negócios Jurídicos

Exemplo: Matheus pretendendo adquirir um automóvel, ele o escolhe de cor

metálica; no ato do recebimento do automóvel, ele nota que foi enganado pois

a tintura do veículo é comum e não metálica.

2.3. Dolo Bonus e Dolo Malus

O Dolo Bonus é o dolo lícito aceitável e comumente esperado no comércio em geral,

é exageros nas boas qualidades, dissimulações de defeitos, sem a finalidade de

prejudicar.

Exemplo: Exagero do vendedor sobre seu produto.

O Dolo Malus é o dolo com finalidade de prejudicar a outra parte do negócio em

benefício próprio ou de terceiros.

Exemplo: Anunciante deturpa as informações do produto, fornecendo

informações falsas, nesse caso trata-se de propaganda enganosa.

2.4. Dolo Positivo ou Comissivo

“Expedientes enganatórios, verbais ou de outra natureza que podem importar em

séries de atos e perfazer uma conduta”. (Pablo Stolze)

Este dolo origina-se de uma atitude comissiva; seria uma afirmação falsa sobre a

qualidade da coisa ou objeto.

Exemplo: Minerva faz imprimir cotação falsa da Bolsa de Valores para induzir o

ingênuo a adquirir certas ações.

2.5. Dolo Negativo ou Omissivo

Trata-se de ausência ilícita de ação para incutir ideia falsa ao declaratário. Seria a

omissão de algo que a outra parte deveria saber e caso soubesse não celebraria o

negócio.

“O silêncio intencional de um dos contraentes sobre a circunstância de se achar

insolúvel, e, portanto, em situação de absoluta impossibilidade de cumprir a

obrigação de pagar o preço, vicia o consentimento de outro contratante, que não

teria realizado o negócio se tivesse ciência do fato, configurando omissão dolosa,

que torna o contrato passível de anulação”. (RT 545/198)

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São requisitos do Dolo Negativo: intenção de induzir o outro contratante a erro;

silêncio sobre circunstancia desconhecida pela outra parte; relação de

essencialidade entre a omissão dolosa intencional e a declaração de vontade;

omissão emitida do próprio contraente e não de terceiro.

Exemplo: Vendedor permanece calado diante do erro do comprador acerca das

qualidades do produto de que o vendedor conhece melhor à respeito.

2.6. Dolo de Terceiro

Ocorre quando o dolo é proveniente de um terceiro, estranho ao negócio. O Dolo de

Terceiro pode qualificar vício ao negócio se o beneficiário tiver ciência ou tivesse

como ter conhecimento do dolo, caso contrário, o negócio é válido, apenas com

responsabilidade voltada ao terceiro por todas as perdas e danos da parte

enganada.

“Se o dolo de terceiro apresentar-se por cumplicidade de um dos contratantes ou se

este dele tiver conhecimento, o ato negocial anular-se-á por vício de consentimento,

e se terá a indenização de perdas e danos a que serão obrigados os autores do

dolo”. (Maria Helena Diniz)

Art. 148, CC/02 – Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro,

se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso

contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as

perdas e danos da parte a quem ludibriou.

Exemplo: Fred que pretender adquirir uma joia, imaginando-a ser de ouro

quando na verdade não é; o fato de não se der ouro não é alegado pelo

vendedor Tom e muito menos por Fred; Narcisa, terceira que nada tem a ver

com o negócio, opina de forma a encarecer alegando que a joia é de ouro. A

partir disto, o comprador Fred efetua a compra. O fato de Tom ter ouvido a

manifestação de Narcisa e não ter alertado Fred é que permitirá a anulação.

Daí que o ato é anulável se a parte a quem aproveite tivesse conhecimento ou

dele devesse ter conhecimento.

Page 10: Teoria Geral do Direito Civil - Defeitos dos Negócios Jurídicos

2.7. Dolo do Representante

Trata-se de quando existe a presença de um representante, podendo o mesmo ser

legal (somente obriga o representado a responder civilmente até a importância do

proveito que teve) ou convencional (o dito terá responsabilidade solidária do

representado). O dolo de representante poderá causar vício ao negócio jurídico, já

que o representante não se qualifica como terceiro mas como mero portador das

vontades do representado.

Art. 149, CC/02 – O dolo de representante legal de uma das partes só obriga o

representado a responder civilmente até a importância do proveito que teve; se,

porém, o dolo for do representante convencional, o representado responderá

solidariamente com ele por perdas e danos.

Exemplo: Minerva, curadora de Harry (joalheiro), agindo dolosamente, vende à

Narcisa anel folheado a ouro como se fosse de ouro maciço. No caso, o dolo

decorreu da conduta do representante legal de Harry.

2.8. Dolo de Ambas as Partes

Ocorre quando ambas as partes praticam o dolo; este não provoca vício no negócio,

tornando-o válido, como punição pela falta de boa-fé de ambas as partes.

Art. 150, CC/02 -  Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-

lo para anular o negócio, ou reclamar indenização.

Exemplo: Hermione deseja comprar um anel de pedra verde. Comparece À

joalheria de Arthur, este apresenta à Hermione uma bijuteria barata, como se

fosse de Esmeralda. Hermione diz entender de pedras preciosas, dizendo

tratar realmente de uma esmeralda, sentindo-se esperta por ter enganado o

joalheiro. E ele satisfeitos por ter vendido a bijuteria como joia.

2.9. Dolo de Aproveitamento

Page 11: Teoria Geral do Direito Civil - Defeitos dos Negócios Jurídicos

Ocorre quando determinado sujeito aproveita-se de uma situação de extrema

necessidade ou de inexperiência da outra parte para obter um lucro exorbitante,

desproporcional a natureza do negócio jurídico.

Exemplo: Fred deseja vender um Rolex por estar necessitando de dinheiro, e

Jorge diante de tal situação oferece uma quantia ínfima pelo produto, mas Fred

aceita por estar numa situação de necessidade.

3. Coação

“A coação não é, em si, um vício de vontade, mas sim o temor que ela inspira,

tornando defeituosa a manifestação de querer do agente” (Francisco Amaral)

“Um estado de espirito, em que o agente, perdendo a energia moral e a

espontaneidade do querer, realiza o ato que lhe é exigido” (Clóvis Beviláqua)

Entende-se como coação, toda ameaça que induza alguém à pratica de um ato

jurídico, a coação é causa de anulabilidade do negócio jurídico; ou seja, a coação é

definida pelo ato de ameaça de intimidação, havendo pressão de ordem moral e/ou

psicológica, mediante ameaça de forma a obrigar sujeito à pratica de negócio

jurídico.

Art. 145, CC/02 – A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que

incuta ao paciente fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à

sua família, ou aos seus bens.

Art. 178, CC/02 – É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a

anulação do negócio jurídico, contado:

I – No caso de coação, do dia em que ela cessar.

3.1. Coação Absoluta

Também chamada de Coação Física, trata-se de violência física que não conde

escolha ao coacto; não há vontade pois não há escolha do coagido.

Exemplo: Pegar a mão da vítima à força para obriga-la a assinar um

documento.

Page 12: Teoria Geral do Direito Civil - Defeitos dos Negócios Jurídicos

3.2. Coação Relativa

Também conhecida como Coação Moral, nesta já cabe a escolha por parte do

coacto, ou seja, conserva-se ao coato a possibilidade de optar pelo ilícito ou concluir

o negócio jurídico oneroso.

Nas palavras de Pablo Stolze, a coação moral é aquela que incute na vítima um

temor constante e capaz de perturbar seu espirito, fazendo com que ela manifeste

seu consentimento de maneira viciada.

Exemplo: Bill é obrigado a assinar documento sob ameaça de morte, etc.

3.3. Coação por Parte de Terceiros

Esta pode levar à anulação do negócio jurídico, desde que, o declarante tivesse ou

devesse ter conhecimento; só se admite a nulidade relativa do negócio se o

beneficiário soube ou devesse saber da coação, então responderá juntamente com

o terceiro por perdas e danos.

Art. 154, CC/02 – Vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela

tivesse ou devesse ter conhecimento a parte a que aproveite, e está responderá

solidariamente com aquele por perdas e danos.

Art. 155, CC/02 – Subsistirá o negócio jurídico, se a coação decorrer de terceiro,

sem que a parte a que aproveite dela tivesse ou devesse ter conhecimento; mas o

autor da coação responderá por todas as perdas e danos que houver causado ao

coacto.

Exemplo: Caio assina contrato com Carolina sob coação de David e Carolina

está ciente da Coação.

4. Estado de Perigo

Caracteriza-se Estado de Perigo quando o sujeito, perante situação de perigo de

conhecimento da outra parte, manifesta-se com o fim de salvaguardar seu direito ou

de terceiros, assumindo obrigação excessivamente onerosa.

Page 13: Teoria Geral do Direito Civil - Defeitos dos Negócios Jurídicos

São requisitos do Estado de Perigo: situação de necessidade; iminência de dano

atual e grave; nexo de causalidade entre a manifestação e o perigo de grave dano;

ameaça de dano ao próprio declarante ou à sua família; conhecimento do perigo

pela outra parte; obrigação excessivamente onerosa.

Art. 156, CC/02 – Configura-se o Estado de Perigo quando alguém, premido da

necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido

pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa.

Art. 178, CC/02 – É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a

anulação do negócio jurídico, contado:

II – No erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que

se realizou o negócio jurídico.

Exemplo: Sujeito sofre grave acidente e é encaminhado ao hospital mais

próximo, o qual é particular. O acidentado deverá ser imediatamente

encaminhado para procedimentos cirúrgicos, mas é cobrado à sua família uma

obrigação excessivamente onerosa perante o hospital, devendo eles deixarem

5. Lesão

A principal característica da lesão é a desproporcionalidade das prestações. Trata-

se de vício do negócio jurídico, caracterizado pelo lucro exorbitante por inexperiência

ou necessidade econômica de uma das partes.

“O negócio defeituoso em que uma das partes, abusando da inexperiência ou da

premente necessidade da outra, obtém vantagem manifestamente desproporcional

ao proveito resultante da prestação, ou exageradamente exorbitante dentro da

normalidade” (Rizzardo, 1983).

Os requisitos para se configurar lesão, são de natureza subjetiva ou objetiva. Quanto

ao elemento subjetivo, deve haver desequilíbrio psicológico de uma das partes,

podendo ser a inexperiência ou a premente necessidade econômica. Quanto ao

objetivo, é a desproporção entre as prestações.

O Código Civil admite a lesão como um vício que torna o negócio jurídico anulável,

porém não se decreta a anulação do negócio caso for oferecido suplemento

suficiente ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito.

Page 14: Teoria Geral do Direito Civil - Defeitos dos Negócios Jurídicos

Art. 157, CC/02 – Ocorre lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou

por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao calor

da prestação proposta.

§1º - Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao

tempo em que foi celebrado o negócio jurídico.

§2º - Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento

suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito.

Exemplo: Eduardo vende seu imóvel por quantia 50% inferior ao valor de

mercado para poder quitar dívida de instituição financeira.

VÍCIOS SOCIAIS

6. Fraude Contra Credores

A fraude contra credores ocorre quando o devedor efetua negócios jurídicos com o

intuito de prejudicar os direitos dos credores; a garantia dos credores subsiste nos

patrimônios dos seus devedores. A fraude é oneração ou alienação dos bens por

parte do devedor insolvente, com a premissa de prejudicar o credor. Constatada a

fraude, os credores quirografários (apenas possuem o patrimônio do devedor como

garantia) poderão litigar por meio da Ação Pauliana.

Quanto ao devedor solvente e ao insolvente, o primeiro é o devedor que não tem

como pagar mas tem com o quê pagar, o que seriam os bens. Já o segundo, não

tem como e nem com o quê pagar a dívida, devido a fraude.

São requisitos para a Fraude Contra Credores: anterioridade do crédito (certificar a

situação patrimonial o devedor como garantia), o consilium fraudis (intenção de

prejudicar) e o eventus damni (prejuízo causado ao credor).

Art. 158, CC/02 – Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de

dívida, se os praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência,

ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores quirografários com o

lesivos dos seus direitos.

Page 15: Teoria Geral do Direito Civil - Defeitos dos Negócios Jurídicos

Art. 159, CC/02 – Serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do devedor

insolvente, quando a insolvência for notória, ou houver motivo para ser reconhecida

do outro contratante.

Art. 162, CC/02 – O credor quirografário, que receber do devedor insolvente o

pagamento da dívida ainda não vencida, ficará obrigado a repor, em proveito dos

acervos sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores, aquilo que recebeu.

Art. 163, CC/02 – Presumem-se fraudatórias dos direitos dos outros credores as

garantias de dívidas que o devedor insolvente tiver dado a algum credor.

6.1. Ação Pauliana

O principal objetivo da Ação é anular, tornar ineficaz, o ato tido como prejudicial ao

credor. Em tese, apenas os credores quirografários podem efetivar a Ação Pauliana,

entretanto, os credores com garantia também o poderão caso a garantia seja

insuficiente. Os fundamentos da Ação Pauliana à luz do Código Civil de 2002, são:

transmissão gratuita de bens, remissão de dívidas, contratos onerosos do devedor

insolvente, antecipação do pagamento feita a um dos credores quirografários em

detrimento dos demais e a outorga de garantia de vida dada à um dos credores em

detrimento dos demais.

7. Simulação

Segundo Clóvis Beviláqua, a Simulação trata-se de declaração de vontade de cunho

enganoso, com o objetivo de produzir efeito oposto ao indicado; trata-se de negócio

jurídico aparentemente normal, porém na realidade, não tem como objetivo produzir

o efeito juridicamente esperado.

A Simulação é causa de nulidade do negócio jurídico; no caso de Simulação

Relativa, resguardam-se os efeitos do ato se válido na substância e forma; não

serão resguardados os efeitos em juízo mesmo que pelos próprios simuladores;

serão resguardados os direitos do terceiro de boa-fé.

Na simulação, o declarante não é vítima e sim agente que tem por objetivo fraudar a

lei. A simulação é produto de conspiração entre contratantes para lesar terceiro ou

obter efeito oposto ao que a lei determina.

Page 16: Teoria Geral do Direito Civil - Defeitos dos Negócios Jurídicos

Art. 167, CC/02 – É nulo o negócio jurídico simulado, não subsistirá o que se

dissimulou, se válido for na substância e na forma.

§1º - Haverá simulação nos negócios jurídicos quando:

I – Aparentemente conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às

quais realmente se conferem, ou transmitem;

II – Contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira;

III – Os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados;

§2º - Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do

negócio jurídico simulado.

7.1. Simulação Absoluta

Nesta forma de Simulação, o negócio se forma por uma declaração de vontade ou

confissão de dívida para não gerar efeitos jurídicos. Trata-se de situação jurídica

irreal e lesiva a direito de terceiro.

Exemplo: Sujeito simula com outro a locação de um bem, sem que de fato o

contrato exista; da pessoa que emite títulos de crédito em seu desfavor para

demonstrar à determinado credor que existem outras dívidas a serem pagas.

7.2. Simulação Relativa

Na Simulação Relativa, há declaração de vontade ou confissão falsa com o fim de

encobrir ato diverso, o qual os efeitos são proibidos legalmente. Ocorre também,

quando a declaração é emitida aparentando destinar direitos à alguém quando na

realidade os transfere para terceiro.

Exemplo: Homem casado, pretende doar um bem a sua concubina; ante a

proibição legal, o alienante simula uma compra e venda que, em seu bojo,

encontre o ato que efetivamente, se quer praticar: a doação do bem com o

efeito de transferência gratuita da propriedade.

Page 17: Teoria Geral do Direito Civil - Defeitos dos Negócios Jurídicos

CONCLUSÃO

A partir dos conceitos ora citados e explanados no conteúdo do trabalho acadêmico,

conclui-se que acerca de Defeitos do Negócio Jurídico, estes são vícios de

consentimento e social. Os vícios podem se tratar de natureza humana ou material,

ou seja, pode partir de uma das partes ou de terceiros e podem ser acerca do objeto

do negócio jurídico. O Código Civil determina as circunstâncias em que é

caracterizado algum dos vícios, o modo como proceder acerca do mesmo, sempre

ressalvando os direitos das partes. Os defeitos são uma das provas da existência do

direito e o porquê do mesmo, ou seja, o direito determina os direitos de todos e até

aonde estes devem ser exigidos.

Page 18: Teoria Geral do Direito Civil - Defeitos dos Negócios Jurídicos

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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2011. (Coleção Direito Civil. V.1)

GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo Curso de Direito Civil: Parte Geral / Pablo Stolze

Gagliano, Rodolfo Pamplona Filho – 14ª Ed. Revisada, Atualizada e Ampliada – São

Paulo: Editora Saraiva, 2012.

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Teoria Geral do Direito Civil,

V.1. – 31ª Ed. – Editora Saraiva, 2013.

AMARAL, Francisco. Direito Civil: Introdução – 3ª Ed. – Rio de Janeiro: Renovar,

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Dizer Direito. Fraude Contra Credores; 2013 – [citado em 21/06/2013]. Disponível

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GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Parte Geral, v.1 – 11ª Ed. –

Editora Saraiva, 2013.

AQUINO, Leonardo Gomes de. Jus Navigandi. Guia dos Defeitos do Negócio

Jurídico e suas Repercussões; 1996 – [elaborado em Setembro/2012 e publicado

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