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teoria físico-química da sexualidade Uma das questões mais interessantes e mais importantes da biologia é, sem dúvida, a questão da génese sexual. São numerosos os trabalhos a que tem dado lugar, nume- rosas as hipóteses e as teorias, as observa- ções e experiências. No estado actual da ciência, é a teoria cromossómica da hereditariedade que do- mina o cenário, mas as divergências e opo- sições surgem de vez em quando a com- plicar ainda mais o problema, já de si tão complexo. Nas poucas páginas que seguem, expo- mos resumidamente, nas suas linhas gerais, a teoria cromossómica da hereditariedade do sexo, servindo-nos essa exposição para apresentar e discutir uma das mais recen- tes teorias oposicionistas: a teoria fisico- -química da sexualidade, de Ph. Joyet Lavergne. O crescimento dum organismo verifica-se mercê dum processo de multiplicação das células que o constituem. Na sua forma típica, a multiplicação celular comporta uma série de fenómenos que não vamos analisar, mas que necessitamos resumir: Numa l. a fase (profase), a membrana do núcleo é ressorvida e confunde-se com o citoplasma; no citoplasma aparece uma estructura fibrilar em forma de fuso (fuso acromático) com centros de irradiação nos poios da célula; no núcleo, ao mesmo tempo que a membrana é ressorvida, aparecem certos corpos mais ou menos alongados ( cromossomas), essencialmente constituídos por cromatina, e que teem a particularidade de manterem, atravez de múltiplas gerações, uma forma e número constantes, características da espécie a que pertencem. Numa segunda fase (metafase),. os cromossomas dispõe-se mais ou menos regularmente no plano equatorial da célula, constituindo o que se chama a placa equa- torial ; em seguida dividem-se longitudinal- mente em duas metades perfeitas que se afastam uma da outra, caminhando ao longo do fuso acromático, em direcção aos poios da célula. Finalmente, numa terceira fase (antafase), os hemicromossomas, reu- nidos igualmente nos dois poios da célula, reconstituem-se aí em núcleo, seguindo-se a divisão do corpo celular em dois, por estrangulamento progressivo ao nível do equador (citocinêrese). Assim, uma célula A, com um número N de cromossomas, passa primeiro pela fase cromossómica 2 N ( n a placa equatorial) e reconstitui, na anafase, duas células com N cromossomas, portanto duas células do tipo materno A. Nas modernas teorias da hereditariedade, o cromossoma é o principal vector na trans- missão dos caracteres hereditários. Cada cromossoma leva em si, em potencialidade, determinados caracteres hereditários, e tendo-se verificado que a distribuição des- tes caracteres no cromossoma da célula ó regular e invariável, deu-se-lhes, por hipó- tese, um substracto material, denominado factor ou gene. Um gene ó, pois, uma par- tícula do cromossoma encarregada de trans- mitir determinado caracter hereditário : o gene a transmite o caracter a (a côr dos olhos, por exemplo); o gene ò, transmite o caracter b (por exemplo, a forma do nariz). Quem diz gene, diz grupo de genes; um

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Page 1: teoria físico-química da sexualidade - dspace.uevora.ptntese AI... · rosas as hipóteses e as teorias, as observa ... -química da sexualidade, de Ph. Joyet — Lavergne. O crescimento

teoria físico-química da s e x u a l i d a d e

U m a das ques tões mais i n t e r e s san t e s e mais i m p o r t a n t e s da biologia é, sem dúv ida , a ques tão da génese sexual . São numerosos os t r aba lhos a que t em dado lugar , nume­rosas as h ipóteses e as t eo r i a s , as observa­ções e exper iências .

N o es tado actual da ciência, é a t eor ia c romossómica da he red i t a r i edade que do­m i n a o cenár io , m a s as divergências e opo­sições su rgem de vez em q u a n d o a com­

pl icar a inda mais o problema, j á de si t ã o complexo .

N a s poucas pág inas que seguem, expo­mos r e sumidamen te , nas suas l inhas ge ra i s , a teor ia c romossómica da he red i t a r i edade do sexo, serv indo-nos essa exposição p a r a a p r e s e n t a r e d i scu t i r u m a das mais recen­tes t eor ias opos i c ion i s t a s : a teoria fisico--química da sexualidade, de P h . J o y e t — L a v e r g n e .

O cresc imento dum organ i smo verifica-se mercê dum processo de mul t ip l icação das células que o cons t i tuem. Na sua forma t íp ica , a mul t ip l icação celular c o m p o r t a u m a série de fenómenos que n ã o vamos anal isar , m a s que necess i t amos r e s u m i r : N u m a l . a fase (profase), a m e m b r a n a do núcleo é ressorv ida e confunde-se com o c i t o p l a s m a ; no c i top lasma aparece u m a e s t r u c t u r a fibrilar em forma de fuso (fuso acromático) com cent ros de i r radiação nos po ios da cé lu la ; no núc leo , ao m e s m o t e m p o que a m e m b r a n a é ressorv ida , apa recem cer tos corpos mais ou menos a longados ( cromossomas), essencia lmente cons t i t u ídos por cromatina, e que teem a pa r t i cu l a r i dade de m a n t e r e m , a t r avez de múl t ip las gerações , u m a forma e número c o n s t a n t e s , ca rac te r í s t i cas da espécie a que pe r t encem. N u m a s e g u n d a fase (metafase),. os c romossomas dispõe-se mais ou menos r egu l a rmen te no p lano equator ia l da célula, cons t i tu indo o que se chama a placa equa­torial ; em seguida dividem-se longi tud ina l ­m e n t e em duas m e t a d e s perfei tas que se afas tam u m a da ou t ra , c a m i n h a n d o ao longo do fuso acromát ico , em direcção aos poios da célula. F i n a l m e n t e , n u m a tercei ra

fase (antafase), os hemic romossomas , reu­n idos igua lmen te n o s dois po ios da célula, r econs t i tuem-se aí em núcleo , seguindo-se a divisão do corpo celular em dois, p o r e s t r a n g u l a m e n t o p rogress ivo ao nível do equador (citocinêrese). Ass im, u m a célula A, com u m n ú m e r o N de c romossomas , pa s sa pr imeiro pela fase c romossómica 2 N ( n a placa equa to r i a l ) e recons t i tu i , n a anafase, duas células com N c romossomas , p o r t a n t o duas células do t ipo m a t e r n o A.

Nas m o d e r n a s t eor ias da h e r e d i t a r i e d a d e , o c romossoma é o principal vec tor na t r a n s ­missão dos ca rac te res he red i t á r ios . C a d a c romossoma leva em si, em potenc ia l idade , de te rminados ca rac te res he red i t á r io s , e t endo-se verificado que a d is t r ibuição des­tes ca rac te res no c romossoma da célula ó regu la r e invar iáve l , deu-se- lhes, por hipó­tese , u m s u b s t r a c t o mater ia l , denominado factor ou gene. Um gene ó, pois , u m a par­t ícu la do c romossoma enca r regada de t r ans ­mi t i r de te rminado ca rac te r he red i t á r io : o gene a t r a n s m i t e o carac te r a (a côr dos olhos , po r exemplo ) ; o gene ò, t r a n s m i t e o ca rac te r b (por exemplo , a forma do nar iz ) . Quem diz gene , diz g r u p o de g e n e s ; u m