teoria da literatura no brasil contemporâneo: o que é, como se faz e para que serve

21
Teoria da literatura no Brasil contemporâneo: O que é, como se faz e para que serve Author(s): Marisa Lajolo Source: Revista de Crítica Literaria Latinoamericana, Año 20, No. 40 (1994), pp. 11-30 Published by: Centro de Estudios Literarios "Antonio Cornejo Polar"- CELACP Stable URL: http://www.jstor.org/stable/4530750 . Accessed: 03/09/2013 22:23 Your use of the JSTOR archive indicates your acceptance of the Terms & Conditions of Use, available at . http://www.jstor.org/page/info/about/policies/terms.jsp . JSTOR is a not-for-profit service that helps scholars, researchers, and students discover, use, and build upon a wide range of content in a trusted digital archive. We use information technology and tools to increase productivity and facilitate new forms of scholarship. For more information about JSTOR, please contact [email protected]. . Centro de Estudios Literarios "Antonio Cornejo Polar"- CELACP is collaborating with JSTOR to digitize, preserve and extend access to Revista de Crítica Literaria Latinoamericana. http://www.jstor.org This content downloaded from 194.214.27.178 on Tue, 3 Sep 2013 22:23:03 PM All use subject to JSTOR Terms and Conditions

Upload: marisa-lajolo

Post on 15-Dec-2016

237 views

Category:

Documents


17 download

TRANSCRIPT

Page 1: Teoria da literatura no Brasil contemporâneo: O que é, como se faz e para que serve

Teoria da literatura no Brasil contemporâneo: O que é, como se faz e para que serveAuthor(s): Marisa LajoloSource: Revista de Crítica Literaria Latinoamericana, Año 20, No. 40 (1994), pp. 11-30Published by: Centro de Estudios Literarios "Antonio Cornejo Polar"- CELACPStable URL: http://www.jstor.org/stable/4530750 .

Accessed: 03/09/2013 22:23

Your use of the JSTOR archive indicates your acceptance of the Terms & Conditions of Use, available at .http://www.jstor.org/page/info/about/policies/terms.jsp

.JSTOR is a not-for-profit service that helps scholars, researchers, and students discover, use, and build upon a wide range ofcontent in a trusted digital archive. We use information technology and tools to increase productivity and facilitate new formsof scholarship. For more information about JSTOR, please contact [email protected].

.

Centro de Estudios Literarios "Antonio Cornejo Polar"- CELACP is collaborating with JSTOR to digitize,preserve and extend access to Revista de Crítica Literaria Latinoamericana.

http://www.jstor.org

This content downloaded from 194.214.27.178 on Tue, 3 Sep 2013 22:23:03 PMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions

Page 2: Teoria da literatura no Brasil contemporâneo: O que é, como se faz e para que serve

REVISTA DE CRITICA LITERARIA LATINOAMERICANA Aiio XX, Ng 40. Lima-Berkeley, 2do. semestre de 1994; pp. 11-30.

TEORIA DA LITERATURA NO BRASIL CONTEMPORANEO:

0 QUE E, COMO SE FAZ E PARA QUE SERVE

Marisa Lajolo Universidade Estadual de Campinas

Unicamp

Rompendo uma ap6s outra, camadas sucessivas

de engano sobre engodo em circulos concentricos

Atinge-se --atraves da critica ortodoxa ao

discurso sobre o metodo sincronico, aliada a

dialetica, ou seja, um corte epistemol6gico

fatal --o assim chamado Brasil que, todavia

equivoco veridico, resiste sempre a analise, driblando, assim, a nossa raquitica hermeneutica.

( ..

Pergunto a meus botoes como abordar o assunto e eles se calam: o pretensioso e escancarado pragmatismo do seu titulo e de minha in- teira responsabilidade, intencionalmente arquitetado com veleidades provocativas, jai que nada ha' tao oposto 'a imagem que a teoria da lite- ratura tem de si mesma, quanto o imediato utilitarismo sugerido pela parodia de manuais e similares.

Uma das alternativas para desenvolve-lo era vasculhar, da forma mais rigorosa possivel, o estado da arte, isto e, apresentar e discutir teses, livros, bibliografias e eventos dos uiltimos anos mais relevantes

This content downloaded from 194.214.27.178 on Tue, 3 Sep 2013 22:23:03 PMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions

Page 3: Teoria da literatura no Brasil contemporâneo: O que é, como se faz e para que serve

12 MARISA LAJOLO

na area de teoria da literatura. Mas quem disse que rigor e abrangen- cia foram possiveis...

Ledo engano... Leia livros, publicaVao mensal que desde 1977 fazia circular tais

informaV6es tinha sido fechado em 19912; os catalogos das editoras -- mesmo das maiores e melhores-- nao mencionam data de publicaVao, o mais das vezes sao organizados alfabeticamente por titulos e, sendo reimpressos mensalmente devido 'a inflaVao, suas varias vers6es nao sao guardadas em bibliotecas e tampouco as associaV6es profissionais (APLL, Anpoll, Abralic) dispoem de qualquer registro das publicavoes da area.

Tive, pois, de contentar-me com Oficina de livros3, publicaVao voltada para catalogavao na fonte e editada pela Camara Brasileira do Livro, onde me esperavam novas e inesperadas dificuldades: Oficina de livros nao dispunha de sessao intitulada teoria da literatura. Era, pois, na sessao geral literatura, que eu precisava escolher entre as varias opvoes, nenhuma muito promissora, mas cuja indefiniVao e sobreposi- sco de fronteiras talvez jai fosse significativa, sinalizando, no nivel da catalogaVao, a indefinigao epistemologica da airea. Pulando varias sub- sess6es evidentemente nao pertinentes a meu projeto, foi em literatu- ra-retorica que encontrei as primeiras informaVoes para o painel que propunha traVar; informaV6es parciais e heterogeneas, que elenca- vam, lado a lado, livros didaticos & ensaios4.

Quem sabe, pois, outras sess6es... ? Sob a designaVao ensaio brasileiro nao so reencontrei titulos ja'

elencados como literatura ret6rica, como encontrei outros, indiscutivel- mente voltados para quest6es de teoria da literatura; mas, de novo, de cambulhada com livros didaticos5, o que poderia ser outra e subliminar informaVao, apontando agora para a importancia do contexto escolar na area dos estudos de literatura.

0 que continuava me surpreendendo, no entanto, eram as classifi- caV6es, sempre inusitadas, como por exemplo uma intrigante persona- gens e tipos na literatura, que incluia apenas um titulo de uma peVa teatral. A supresa transformou-se em pesadelo ao perceber que Ofici- na de livros mencionava apenas (mas ainda assim nem todas) as pu- blicaV6es paulistas, ficando a fatia carioca a cargo de outra publi- cagao, organizada pelo Sindicato Nacional de Editores de Livros (SNEL), o Informativo bibliogrdfico6. E nele, como jai antecipa o bom leitor de romances de suspense, novas e ineditas aventuras me aguar- davam, a comeVar por outras categorizaV6es sob as quais, nao obstan- te, encontrei mais titulos7.

Ja' temendo pelos resultados do trabalho, mudei de estrategia, acreditando que as estantes de uma boa livraria poderiam representar um atalho funcional: voltada para um mercado imediato, ao responder a questao 0 que voce's tem de teoria da literatura? a livraria talvez me permitisse encerrar o frustrante capitulo da pesquisa quantitativa e/ou nominativa.

This content downloaded from 194.214.27.178 on Tue, 3 Sep 2013 22:23:03 PMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions

Page 4: Teoria da literatura no Brasil contemporâneo: O que é, como se faz e para que serve

TEORIA LITERARIA NO BRASIL CONTEMPORANEO 13

E a salvaSao veio da livraria Martins Fontes8, que me permitiu pingar ponto final no assunto publicaq5es recentes em teoria da literatu- ra. Indicando, no entanto, a precaria confiabilidade dos resultados basta dizer que na livraria, havia mais ou menos dez metros de es- tante dedicados a teoria, critica e historia da literatura, incluindo-se nessa metragem, os seis volumes de A literatura no Brasil de Afranio Coutinho, os cinco da Historia da literatura brasileira de Silvio Rome- ro, os dois grossos volumes d' A formaqiio da literatura brasileira de Antonio Candido e alguns outros pesos-pesados da airea.

Mas, estes dez metros sao uma medida elastica: encolhem ou es- picham, por exemplo, na contraluz da versao mais recente (de marco de 1993) do catalogo da Companhia das Letras, editora comercial de grande prestigio para as ciencias humanas do Brasil de hoje. La' re- gistravam-se nada mais do que quinze titulos passiveis de serem con- siderados como teoria da literatura, incluindo-se nesta cifra, lado a la- do, tradug6es e coletaneas, individuais ou coletivas que, evidentemen- te, reuniam ensaios escritos em diferentes momentos...

Joguei a toalha, pendurei as chuteiras e dei a questao por encerra- da. Temporariamente.

Eu ja' sabia o que podia saber-se (isto e, sabia o que ndo se podia saber) sobre teoria da literatura no Brasil contemporaneo do ponto de vista das publicav6es. Ja' era tempo de passar para outras janelas. Por exemplo, a de teses e congressos na airea, cuja interpretagao pre- cisa contextualizar-se na informagdo de que a pos-graduagao foi insti- tucionalizada no Brasil nos anos setenta.

No que se refere a teses, foi extremamente gratificante aprender que a Pontificia Universidade Catolica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), a Universidade Estadual de Campinas (IJnicamp) e a Universidade de Sao Paulo (USP) dispunham de dados completos, atualizados e facil- mente acessiveis; estes dados, consultados, revelaram-se promissores: 43 teses defendidas na Unicamp (cuja pos-graduagdo e a mais recente das tres), 129 na PUC-RS9 e 376 na USP, universidade que mantem o maior e mais antigo curso de pos-graduagdo em Letras do Brasil.

Os dados informatizados da USP, permitiram refinamento para alem do numero total de 775 teses, (incluindo-se ai as antiquiussimas te- ses de cactedra, as de livre-docencia, as voltadas para lingua portuguesa, as de literatura classica e as de letras orientais). GraSas 'a assessoria do SIB10, foi possivel, por exemplo, aprender que, deste conjunto de te- ses, Mario de Andrade parece o campeao como assunto: cuidam dele dezenove trabalhos, seguindo-se doze Machados, nove Guimaraes Ro- sa, sete Clarices e dispersos dois ou tres estudos voltados para escrito- res-cinco-estrelas como Graciliano Ramos e Manuel Bandeira. Con- siderando-se o espago desfrutado por Mairio de Andrade no acervo e no projeto do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP, talvez ja' se possa observar, nesta cifra, um primeiro (e feliz!) resultado academico como fruto da organizagao institucional.

This content downloaded from 194.214.27.178 on Tue, 3 Sep 2013 22:23:03 PMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions

Page 5: Teoria da literatura no Brasil contemporâneo: O que é, como se faz e para que serve

14 MARISA LAJOLO

Mas antes que interpretavoes mais transcendentais fiquem irre- sistiveis, vale informar que nao se cruzaram informagoes, ou seja, os dados aqui reproduzidos, posto que numericamente veridicos, talvez ndo sejam integralmente acurados: o nome de um autor-assunto de te- se pode ndo aparecer no titulo do trabalho, possibilidade reforgada pela tendencia contemporanea a titulos ousadamente metaf6ricos... Impoe- se, assim, para resultados mais conclusivos, pesquisa por palavra- chave, ou por area de concentraq&o, inviavel para o momento.

Fique, assim, num recanto qualquer da memoria, a hipotese de que talvez outros trabalhos --nao recuperados em pesquisa que varre ape- nas o campo titulo da tese-- tratem destes autores aparentemente es- quecidos; mas, em outro recanto, guarde-se a correlata hipotese de que uma tal escavavao mais rigorosa talvez apenas engordasse a popula- ridade academica dos jai popularissimos Mario de Andrade e Machado de Assis. De toda forma, que ambas as hipoteses permanegam no ban- co dos reservas e sejam so hipoteses, uma vez que os dados disponiveis nao contradizem a impressao causada pela observagao das comuni- cag6es e palestras gerais de congressos recentes na area e a leitura de seus anais e resumos1l.

A paisagem de teses e congressos da, assim, impressao geral de uma area viva, atuante para padroes brasileiros, e cuja produgao nao se traduz em publicagao mais alentada devido a fatores alheios aos in- teresses da presente discussao. De qualquer forma, depositado no Cen- tro de Documentavao Alexandre Eulalio (Cedae) do Instituto de Estu- dos da Linguagem (IEL) da Unicamp, os dados recolhidosl2 ficam 'a disposigao de pesquisadores que por eles se interessarem, e continuam a ser objeto de pesquisa mais refinada, como parte do projeto Memoria da Leitura que desenvolvo junto com alunos de graduagao e pos-gra- duagio.

Ficou de lado, ate agora, a polemica questao das fronteiras (nao sei se sem&nticas ou epistemol6gicas...) da teoria da literatura.

Como se distingue a teoria da literatura da critica literaria, ambas da historia da literatura e as tres da literatura comparada? Ja' saudosa dos tempos tranquiilos de Wellek & Warren, quando era possfvel re- solver a questao dedicando um capitulo de livro a cada uma destas senhoras, 1) abri mao de delinear fronteiras muito nitidas entre elas e 2) passei a entender teoria da literatura como estudos literdrios.

O resultado desta decisao, portanto, e que os rumos da area dese- nham-se por diferentes percursos, caminhos complementares, como, por exemplo, os sugeridos por trabalhos de embocadura tao diferente como, de um lado, A perda das ilusoes de Valeria De Marcol3, Corpos escritos de Wander Miranda14 e Um mestre na periferia do capitalismo de Roberto SchwarzI5 e, de outro, 0 cristal em chamas de Sergio BelleiI6, Palavras da critica de Jos' Luis Jobim 17e Estetica da recep- qdo e historia literaria deRegina Zilberman18.

Ou seja: incluem-se, na mesma (e extremamente vaga...) classifi- cacao estudos literdrios, tanto obras cujo enfoque privilegia certos au-

This content downloaded from 194.214.27.178 on Tue, 3 Sep 2013 22:23:03 PMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions

Page 6: Teoria da literatura no Brasil contemporâneo: O que é, como se faz e para que serve

TEORIA LITERARIA NO BRASIL CONTEMPORANEO 15

tores (como e o caso da obra de De Marco, Miranda e Schwarz, que es- tudam, respectivamente, Jose de Alencar, Graciliano Ramos & Ma- chado de Assis), como livros que se debrugam sobre questoes literarias por assim dizer gerais e desencarnadas , como sao as teorias criticas que Bellei elenca, resenha e discute, as areas de estudos da linguagem de que se ocupa Jobim ou o percurso e desdobramentos de uma de- terminada postura teorica como Zilberman faz com a Estetica da re- cepvao.

Mas radiografia que quisesse maior fidelidade a heterogeneidade da area precisaria incluir livros recentemente traduzidos como 0 in- consciente politico de Jamesoni9, os Escritos sobre arte de Baudelaire2O e a Angustia da influencia de Bloom21, ou ainda a utilissima compila- gao de Fundadores da modernidade (organizado por Irlemar Chiam- pi22) ou livros que reuinem ensaios menos ou mais contemporaneos como A leitura do intervalo de Joao Alexandre Barbosa23, Flores da es- crivaninha de Leyla Perrone-Mois6s24 ou Nas malhas da letra de Sil- viano Santiago25.

Tais providencias assegurariam posse daquela desejada paisagem dos estudos literarios no Brasil contemporaneo?

Talvez assegurassem, mas a um prego alto demais... ...eu seria implacavelmente deletada do caderninho do telefone de

todos os autores, tradutores & organizadores cuja obra eu nao mencio- nasse ou, pior ainda, cuja obra eu incluisse em categoria diferente da- quela na qual eles se incluem; entretanto, para mais ale'm da questao diplomatica de desagradar meus bons amigos, esse obsessivo levanta- mento nao levaria muito longe: por mais acurado que fosse --e naio o e, e talvez nao tenha como se-lo... -- nao iria muito ale'm de fornecer aos pa- cientissimos leitores uma bibliografia razoavelmente atualizada: en- quanto realizaqao, ele passaria ao largo do projeto que batizou este texto de forma tao provocativa ...

Confio, assim, as precedentes indicag6es e rodapes, bem como as informag6es do quadro que se segue, missao de sugerirem o progressivo encorpamento das malhas do aparelho cultural, como contexto que viabiliza e visibiliza o percurso da teoria da literatura; a perspectiva de livros e de teses alarga-se quando ampliada com bibliografias de cursos de graduagao e de pos-graduagao, que registram neles tanto a intensa circulagao da produgao intelectual brasileira contemporanea, como a rapidez e o 'a-vontade com que circulam, pelos mesmos cursos, cla'ssi- cos (por assim dizer...) dos estudos literarios lado a lado com autores mais atuais26...

0 quadro seguinte registra o langamento de coleg6es (LC), dados do mercado editorial (ME), criagao de associagoes (CA), realizagao de congressos (CG) e langamento de projetos voltados para a leitura (PL).

This content downloaded from 194.214.27.178 on Tue, 3 Sep 2013 22:23:03 PMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions

Page 7: Teoria da literatura no Brasil contemporâneo: O que é, como se faz e para que serve

16 MARISA LAJOLO

1968 (LC) Serie Debates (Ed. Perspectiva)

1970 (LC) Serie Bom livro (Ed. Atica) (ME) 1 a Bienal Internacional do Livro: 7.080 tftulos editados 1.400 titulos de literatura 166 milhoes de exemplares

1973 (PL) Funda,co do Circulo do Livro (PL) Lanqamento do projeto Encontro Marcado, que patrocinava

visita de escritores a universidades.

1976 (CA) Cria,ao da Associa,co de Professores de Lingua e Literatura (APLL)

1977 (LC) Para gostar de ler (Ed. Atica)

1978 (LC) Os pensadores (Ed. Abril)

1979 (ME) 13.228 tftulos editados 3.958 titulos de literatura 249 milhoes de exemplares (ME) Fernando Sabino, 0 grande mentecapto:

20 edi,ces 100 mil exemplares

1980 (LC) Primeiros passos (Ed. Brasiliense) (1964, Ed. Civ. Brasileira: Cademos do povo brasileiro) (ME) 481 editoras (ME) 3.968 titulos de literatura

(LC) Grandes sucessos (Ed. Abril)

1981 (CA) Cria,co da Associa,co de Leitura do Brasil (ALB) (LC) Literatura comentada Ed. Abril) (1957, Ed. Agir:

Nossos classicos) (ME) Fernando Sabino, 0 menino no espelho:

13 edicoes 200 mil exemplares

1985 (LC) Fundamentos e principios (Ed. Atica)

1986 (CA) Cria,ao da Associac,o Nacional de P6s-Gradua,co em Letras e Linguistica (Anpoll)

1988 (CA) Criacao da Associa,co Brasileira de Literatura Comparada (Abralic)

1991 (CG) 8.0 Cole reune 3 mil participantes. (ME) Expectativa da Feira do Livro do Riocenter:

2.88 milhoes de d6lares

This content downloaded from 194.214.27.178 on Tue, 3 Sep 2013 22:23:03 PMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions

Page 8: Teoria da literatura no Brasil contemporâneo: O que é, como se faz e para que serve

TEORIA LITERARIA NO BRASIL CONTEMPORANEO 17

Frequentadores assiduos de congressos brasileiros de literatura de- vem estar familiarizados com um dos topicos mais constantes dos de- bates que ocorrem em tais plenarios: a lamentada proclamavao da morte do rodape e da critica de jornal, da inexistencia (ou o encolhimen- to) do espaVo que jornais e revistas reservam para o que se considera seria e solida critica literdria, queixas que vem, geralmente, da parte da universidade; da parte de escritores, como em pauta complementar, vem outras queixas, que expressam insatisfaVao com o fato de que a universidade nao se ocupa da literatura viva, lidando, basicamente, com teorias tao hermerticas que, a maior parte das vezes, transfor- mam os livros de que falam em algo incompreensivel ate para seu pro- prio autor.

Escritores experientes como Jorge Amado expressam de forma mais sofisticada o mesmo desencontro: ha' meses atra's em Paris, para delicia de uma plateia lotada, ele disse que escrevia mal em portugues mas que, como felizmente tinha uma boa tradutora para o frances, a critica francesa pode ler e aplaudir sua obra...

Mas, embora, entao, o time da caitedra e o da caneta venham se encarando com uma certa desconfianVa murtua, e possivel que ambos os lados tenham razao. Desconsiderar a questao de quem esta6 certo e quem esta errado, e em vez disso refletir sobre o contexto em que ex- plodem as divergencias, talvez seja fundamental para utilizar a litera- tura e seus arredores como perspectiva privilegiada para observar o mundo contemporaneo.

Por que escritores, criticos e professores olham-se reciprocamente como o outro, de alguma maneira responsaivel pelas arestas da situa- Vao contemporanea da literatura? E se em vez de olhos no espelho ou na fechadura do vizinho olhassem todos para fora e para o largo para, a partir dai, construir os olhos necessarios para olhar a literatura?

A ambiVao aparentemente desmedida de reivindicar lugar tao cen- tral para a literatura e suas teorias talvez fique mais toleravel se es- cudar-se em dois cinco-estrelas dos estudos literarios contemporaneos: Edward Said e Terry Eagleton. Socorre-me o primeiro na ambiVao similar que se traduz no titulo de seu livro de 1983, The World, the Text and the Critic27 e valho-me de Eagleton, citando sua Ideology of Aestet- ics28, onde, tomando a literatura no sentido amplo proposto por Ray- mond Williams, ele observa com argucia que:

in the contemporary debates on modernity, modernism and postmodernism, "culture" would seem a key category for the analysis and understanding of late capitalist society. (p. 01)

a partir do que enuncia sua perplexidade na qual tamberm me incluo:

why should this "theoretical" persistence of the aesthetic typify historical pe- riod when culture practice might be claimed to have lost much of its tradi- tional social relevance, debased it is to a branch of general commodity pro- duction. (p. 02)

This content downloaded from 194.214.27.178 on Tue, 3 Sep 2013 22:23:03 PMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions

Page 9: Teoria da literatura no Brasil contemporâneo: O que é, como se faz e para que serve

18 MARISA LAJOLO

E, entao, ancorada nesses precedentes, que detalho e enfileiro co- mo hip6teses de trabalho que:

1) a literatura e sua metalinguagem constituem o espago discursivo que formata e reformata a esfera publica de sociedades capitalistas, produ- zindo e fortalecendo a necessaria coesao s6cio-cultural cimentada por valo- res da classe dominante, atrav6s do gerenciamento de g6neros, normas lin- guisticas, protocolos de leitura, sentimentos, valores, imagens, simbolos & similares; 2) a teoria da literatura no Brasil contemporaneo, participa da construvao, reconhecimento, legitimagao, preservavao e transformagao de produtos muito especiais chamados literatura, que fazem parte da cultura escrita; 3) cumprindo tal papel no Brasil de hoje, a teoria da literatura acirra a perplexidade manifestada por Eagleton face a persist6ncia da est6tica e da cultura como categorias essenciais para a compreensao do capitalismo tar- dio, em funvao da incompletude, fragilidade e heterogeneidade da moder- nizagao da sociedade brasileira; 4) dividida entre um arcaico por6m decoroso amadorismo e o status con- temporaneo de profissionalismo marginalizado, a teoria da literatura no Brasil de hoje 6 excelente exemplo de formag6es discursivas hom6logas desempenhando pap6is simultaneamente iguais e diferentes em diferentes sociedades.

Comprimida entre relav6es sociais e instituiV6es culturais (in- cluindo-se suas respectivas linguagens e metalinguagens) a teoria da literatura no mundo contemporfineo e um dos suportes disponiveis para uma pratica social que nao pode mais ser desenvolvida pela antiga ret6rica, tampouco pela historia da literatura, e talvez nem mesmo pela critica literaria. Se este e seu status no mundo da pos-mo- dernidade, a longa permanencia de trapos pre-capitalistas nas relap-es sociais brasileiras moldam diferentes formas e maneiras para que a literatura e sua metalinguagem cumpram tal funVao. E, pois, esta al- teridade da condigao brasileira (e que se estende a todo Terceiro Mundo que gravita em torno do Primeiro Mundo ocidental) que levanta questoes interessantes para discussao da natureza e fungao contem- poraneas da teoria da literatura.

0 carater tardio e sempre inconcluso da introduvao no Brasil de formas de produvao do capitalismo classico, a consequente pobreza do mercado consumidor de cultura escrita, os interesses conflitantes e sempre meio indefinidos de diferentes instituigoes da cultura letrada sao algumas das causas responsaiveis pelo constante adiamento e in- completude da modernidade do aparato cultural brasileiro. Tal preca- riedade, posto que involuntaria, desnuda o rei: desmancha no ar a ge- ralmente bem articulada armagao das praiticas ideologico-institucioais que circundam e nas quais circula a literatura, num movimento de desmanche, talvez diftcil de ocorrer em tradigoes culturais como as europeias.

Por todas estas raz6es, este trabalho abriu-se levantando e discu- tindo dados que comporiam a infra-estrutura disponivel para a consoli- dagao da teoria da literatura enquanto formaVao discursiva expressa em livros, publicagoes, teses, congressos e associap3es profissionais.

This content downloaded from 194.214.27.178 on Tue, 3 Sep 2013 22:23:03 PMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions

Page 10: Teoria da literatura no Brasil contemporâneo: O que é, como se faz e para que serve

TEORIA LITERARIA NO BRASIL CONTEMPORANEO 19

Mas tais dados --inda que fossem acessiveis e tivessem sido exausti- vamente copilados --nao desenhariam, por si s6s, a contextualizagao necessaria para a inteligibilidade da existencia solidamente institucio- nal

Teoria da literatura no Brasil de hoje, como no resto do mundo onde faz sentido falar-se de teoria da literatura, manifesta sua existencia quase que exclusivamente como disciplina de cursos universitdrios29. Nao sera', assim, improprio, imaginar que livros e publicag6es que en- volvem teoria da literatura sao escritos por e para discentes e docen- tes dos cursos de Letras, para quem sao organizados congressos, e en- tre os quais teses sao apresentadas e arguidas.

E, no entanto e talvez surpreendentemente, deste interior da insti- tuigao universitaria que a teoria da literatura, internamente em aulas e em livros, e externamente na pratica de critica e de resenha, atra- vessa as paredes acade'micas e, afinando a voz, fala, mesmo que nas entrelinhas, de assuntos de tanto relevo como hist6ria, identidade cul- tural e dependencia .

No cumprimento desta travessia de linhas para entrelinhas, a teo- ria da literatura --sempre aqui entendida de maneira ampla, como es- tudos literarios-- percorreu longo trajeto que parece ter-se inaugurado no Brasil com a epistola de Silva Alvarenga a Basilio da Gama a proposito de 0 Uraguay (1769)30 e, mais tarde um pouco, em 1788 no por assim dizer tratado de estetica neo-classica, o poema As artes apre- sentado pelo mesmo Silva Alvarenga 'a Sociedade Literairia do Rio de Janeiro. Anos depois, a presenga de assuntos literarios na ainda colo- nia portuguesa surpreende mais ainda ao marcar-se pela publicadao do Ensaio sobre critica de Pope, traduzido e anotado pelo conde de Aguiar, e editado entre os primeiros titulos da Imprensa Regia3l.

Tais publicag6es ganham relevo extraordinario na contraluz do fa- to de que a introduvao da Imprensa no Brasil ocorreu apenas em 1808 e que, por isso, livros sobre literatura --num cenario em tudo inospito para livros, leitura e escrita-- revestem-se de estranhamento .

Mas, ndo obstante tais textos constituirem, entao, um quase es- candalo no contexto da cultura brasileira do seculo XVIII, eles podem ser vistos como profeticos no que representaram do longo caminho via- jado por teorias da literatura, no sentido amplo aqui assumido, dos cen- tros hegemronicos onde foram formuladas, para as franjas distantes da periferia do mundo, colonial primeiro e depois, colonizado.

E se e quase chocante encontrar-se um ja' ultrapassado Pope (ori- ginalmente publicado em 1711!) entre as prinmicias editoriais brasilei- ras da segunda decada do seculo XIX, tal publicavao torna-se deveras significativa visto ensinar que discutir literatura, da mesma forma que produzi-la, tem, desde entao, desempenhado papel importante na construgao (e tambe6m na dissipagao...) da identidade brasileira.

Relativamente a Silva Alvarenga, por exemplo, vale atentar para o fato de que sua poetica soa prescritiva sobretudo da perspectiva ro- mantica que a sucedeu, e que sua feigao laudatoria era essencial para a

This content downloaded from 194.214.27.178 on Tue, 3 Sep 2013 22:23:03 PMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions

Page 11: Teoria da literatura no Brasil contemporâneo: O que é, como se faz e para que serve

20 MARISA LAJOLO

manutengao de um espaqo culturalmente progressivo como a Socie- dade Literaria do Rio de Janeiro e seus posteriores desdobramentos. Os escritores brasileiros daqueles idos d'antanho nao tinham escolha: os espaVos e textos possiveis precisavam ser inventados para a construgao da utopia mais radical que um punhado de intelectuais, dispersos em um imenso territ6rio colonial, foram capazes de organi- zar como uma das primeiras tentativas de libertaqao do domrinio por- tugues: a Inconfidencia Mineira.

Talvez por isso seja sempre tao politico, no melhor sentido da palavra, discutir o estatuto dos estudos literairios --critica, historia e teoria da literatura-- num pais de taxas de analfabetismo tao altas como o Brasil32. Pois estudos de literatura podem produzir um certo de-centramento sugestivo no escrutinio dos horizontes sociais.

Pois estudos literarios subvertem. Ou melhor, podem subverter. Mas eles nao subvertem devido a qualquer subersividade inerente

'a teoria-da-literatura-em-si-mesma, mesmo que exista tal emsimesmi- dade ... subvertem, isto sim devido as configuraq6es historicas nas quais a teoria da literatura, enquanto pratica discursiva, tem existido no Brasil, e da qual Antonio Candido pode ser o sirmbolo.

Mas, como ensina Jameson, e preciso historizar sempre. E nada menos que a civilizaVao ocidental e o contexto das configu-

rag6es historicas no qual a discussao brasileira contemporanea sobre teoria da literatura precisa inscrever-se, pois e desse mundo que o Brasil faz parte. Esta pertenqa confirma-se, por exemplo, pelo fato de ser o Brasil um bom mercado para romances e filmes do Primeiro Mundo que encontraram seus assuntos e temas nos ate ha' pouco tem- po esotericos circulos dos estudos da linguagem e da literatura: A socie- dade dos poetas mortos fez sucesso nos cinemas e e um dos preferidos de videos, assim como Nunca te vi e sempre te amei, Hist6ria sem fim, e Uma leitora muito especial; Umberto Eco e Anthony Byatt foram tra- duzidos33, e o puiblico parece vir consumindo bem, sob o sol tropical, as venturas e desventuras dos letradissimos Adso de Melk & Roland Mitchell.

Mais eloquente, no entanto, do que a traduvao destas obras foi, na decada passada, a publicaqao (e razoaivel sucesso) do romance As ale- gres memorias de um caddver de Roberto Gomes, que se passa numa universidade brasileira, na qual o corpo docente ve-se a bravos com as estrepolias de um fantasmagorico protagonista de inequivoco recorte machadiano.

Ha, assim, marcas fortes da presenSa de questoes de literatura no que se poderia chamar de dimensao simbo6lica ou semiotica da cultura brasileira contemporanea: ale'm do ja' mencionado nurmero respeitaivel de teses apresentadas, da multiplicagao de congressos e afluencia a eles e da produq&o regular de livros, os estudos literarios parecem ter atingido o mundo da propaganda: num clip que vende uma marca de vodka34, a literatura comparada banha-se de sofisticaqao, atraves da dupla insinuavao: primeiro do preconceito e logo depois do charme de

This content downloaded from 194.214.27.178 on Tue, 3 Sep 2013 22:23:03 PMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions

Page 12: Teoria da literatura no Brasil contemporâneo: O que é, como se faz e para que serve

TEORIA LITERARIA NO BRASIL CONTEMPORANEO 21

que estudos de literatura, quer pelo elitismo, quer pelo exotismo, desfrutam na realidade complexa de uma pos-modernidade perif6rica; o que constitui inesperada confirmagao da hipotese que Eagleton apre- senta relativamente as fung6es institucionais, politicas e ideologicas que dao sentido aos estudos literarios, tal como eles nasceram e se desenvolveram na sociedade ocidental moderna35.

Nesse sentido, pode bem ser que no contexto cultural do Terceiro Mundo seja mais facil reconhecer as fung6es ideologicas desempenha- das nao apenas pela literatura, mas tambe'm e sobretudo, pelo discur- so que a toma por objeto. E como se no contexto cultural europeu a centralidade do lugar do qual provem a literatura e a ensaistica que a recobre (sob a forma de retorica, de hist6ria, de critica e de teoria da literatura) obscurecesse o papel ideologico cumprido por tais forma- 96es discursivas, formag6es estas que remontam a Aristoteles e Quin- tiliano, os quais, (entre outros) antes e logo depois de Cristo, foram responsaveis nao so pelas categorias fundadoras de uma correta leitu- ra e interpretagao dos classicos, mas pela propria invenyao deles, clas- sicos.

Mas tais e tao ambiciosos propositos da retorica nao se cristaliza- ram e tampouco se imobilizaram, sendo posteriormente substituidos por uma abordagem historica, a partir de um certo momento mais adequada as necessidades de construgio e sustentagdo do mundo bur- gues, no qual o que viria a ser chamado de literatura teria de desem- penhar fungao diferente da desempenhada em tempos mais antigos: o mundo burgues moderno nao tinha o que fazer com o carater essen- cialmente descritivo e prescritivo da retorica...

Pedindo licenga para alongar brevemente o parentesis historico, vale notar que de meados do seculo XVIII em diante, o que precisava ser dito sobre literatura precisava ser dito em outra linguagem: a lin- guagem da historia da literatura que, a partir de entao, e cada vez mais, substitui a ret6rica e atraves da qual a literatura (e seus arredo- res) se reformata, se transforma e sobrevive.

O pique narrativo da historia da literatura adaptava-se tao bem a legitimagao do rece6m-firmado pacto burgues que foi possivel sua mul- tiplicagao em projetos de diferentes amplitudes, alguns nacionais ou- tros continentais (entao chamados universais): a Histoire litteraire de France36 projetada pelos beneditinos de Saint Maur no seculo XVIII (iniciada em 1733) e a Geschichte der Poesie and Beredsamkeit seir dem Ende des 13. Jahrhunderts37 coordenada por Johann Gottfried Eich- horn, editada entre 1801 e 1819 balizam tais projetos. Foi, alia's, no in- terior desta obra monumental e coletiva que Bouterwek, na parte rela- tiva 'a Peninsula Iberica, no 4.o volume editado em 1805, menciona o Brasil.

O desenvolvimento da abordagem hist6rica para a literatura pare- ce ter atingido seu ponto de saturagao na vizinhanga positivista de um modelo objetivo de hist6ria literairia que, a partir das ideias de Taine, talvez tenha encontrado em Lanson seu modelo mais acabado. Sua

This content downloaded from 194.214.27.178 on Tue, 3 Sep 2013 22:23:03 PMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions

Page 13: Teoria da literatura no Brasil contemporâneo: O que é, como se faz e para que serve

22 MARISA LAJOLO

obra parece ter arrematado um segundo movimento de gerenciamento de certos textos da tradiVao verbal, cuja orbita discursiva inaugurada pela retorica envereda, depois, pela segmentagao cronologica da pro- duVao textual em periodos, epocas e lugares, para passar por nova transformaSao profunda com a abordagem textual hoje conhecida sob a denominaVao de teoria da literatura.

Tal designagao, definitivamente moderna, recobre diferentes for- mas de pensar a tradiVao literaria, e reprocessa, modernizando, suas ancestrais, a retorica e a historia da literatura num movimento de endogenia tao forte que alguns de seus desdobramentos contempo- raneos podem permitir-se o luxo da heterogeneidade que inclui aborda- gens tao radicalmente autodestrutivas como algumas manifestaVoes do desconstrutivismo pos-estruturalista.

Mas, antes que meus bot6es me recordem gentilmente que o as- sunto em pauta e teoria da literatura no Brasil contemporaneo e que, portanto, e mais do que tempo de encerrar este turistico sightseeing, fecho o parentesis sugerindo que a digressao foi essencial para fortale- cer a hip6tese de que o que e, como se faz e para que serve hoje, teoria da literatura, num pais como o Brasil e muito semelhante ao para que serve, como se faz e o que e teoria da literatura nos centros hegemonicos do mundo ocidental, enquanto resultado historico de um longo pro- cesso.

Creio, como ja' disse, que os estudos literarios contemporaneos --tal como sao praticados no Brasil ou no contexto maior da cultura latino- americana-- por representarem dupla e aguda desterritorializaVao, po- dem ser estrategicos para uma compreensao mais detalhada do papel que os estudos literarios cumpriram e continuam cumprindo no mundo ocidental.

Nesta direVao, alguns caminhos dos estudos literarios latino-ame- ricanos --por exemplo, os abertos por Cornejo Polar, por Rama e por Retamar sao pioneiros na sinalizaVao de um percurso que, como diz Antonio Candido, vai da questao da teoria da literatura na Amerrica Latina para a questao da teoria da literatura da America Latina

E dal, poderiamos acrescentar hoje, para a questao da teoria da literatura tout court.

A condiVao periferica e colonial sob a qual sociedades como a brasi- leira importaram modelos de pensar a literatura talvez exponham o envolvimento ideologico do discurso sobre a literatura quase sempre in- visibilizado pela aparente neutralidade da organizaVao dos valores em jogo no jogo das fornulaV6es originais da teoria da literatura. Como que reforVando esta hipotese, observa-se a forVa, que nos Estados Unidos --uma outra, mas tambem America-- dos uiltimos anos, ganharam cer- tas tendencias europeias pos-estruturalistas.

Tal fenromeno parece constituir sinal sugestivo do movimento re- novador apontado relativamente aos estudos literarios latino-ameri- canos: desconstruimos melhor anones alheios... uma vez que, como no diva psicanalitico, e do exterior que melhor se compreende a trama que

This content downloaded from 194.214.27.178 on Tue, 3 Sep 2013 22:23:03 PMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions

Page 14: Teoria da literatura no Brasil contemporâneo: O que é, como se faz e para que serve

TEORIA LITERARIA NO BRASIL CONTEMPORANEO 23

enlaga, numa mesma rede, de um lado canon literario e, de outro, valo- res e princfpios definidos por e em niveis mais diretamente s6cio-eco- nomicos.

Como ja' foi dito, a teoria da literatura existe hoje quase que exclu- sivamente nas universidades, onde entrou nos anos cinquenta como disciplina obrigatoria do curnmculo que forma professores de portugues e representa hoje fatia gorda do magro mercado de publicagao ensafs- tica. Ao longo dos anos setenta e em consequencia da multiplicagao de cursos de Letras da rede privada, cria-se o mercado para livros de to- dos os tamanhos e feitios, voltados para diferentes aspectos dos estu- dos literarios38.

Eles apresentam diferentes teorias, propoem diferentes tipos de analise, re-arranjam segmentos da historia literaria, fornecem vis6es novas de autores e obras canonicos integrando-se em colegoes organi- zadas por diferentes editoras, e sao, de modo geral caprichosamente impressos de forma a alimentar um mercado aparentemente fiel a in- formag6es sobre literatura.

Nao obstante, no entanto, ser a universidade o habitat mais ecolo- gico para teorias da literatura, a turbulencia que estas provocam, co- mo ja' se viu, empurra-as para ale'm das paredes institucionais, de forma que elas podem ser encontradas, com maquiagem leve, tanto na decadente area de resenhas jornalisticas, quanto na florescente bolsa do livro didatico. E na discussao das negociag6es travadas entre o den- tro e o fora da instituigao que se ilumina, talvez de forma mais abran- gente, o modo de ser contemporaneo da teoria da literatura.

Como ja6 foi mencionado, muitas vezes a teoria da literatura e responsabilizada pela diminuigao do espago --e logo da importancia-- dedicado ao jornalismo literario, visto nestas lamentag6es como pa- raiso perdido dos estudos literarios. Tal visao nostalgica, no entanto, interpreta equivocadamente o deslocamento do discurso sobre a litera- tura, nao percebendo a metamofose e diversificagao dele como neces- ssaria para dar conta da multiplicagao, cada vez mais complexa, do mo- do moderno de produgao de textos literairios.

De outra perspectiva, o jornalismo literairio que sobrevive parece constituir um dos setores de relag6es puiblicas do capital editorial, inte- ressado em seduzir, tanto a intelectualidade, quanto o puiblico leitor: seduz a intelectualidade assegurando a alguns de seus membros espa- go razoavel na midia; e seduz o puiblico leitor fornecendo-lhe orientagao de especialistas da universidade. Quanto as reclamagoes formuladas por escritores de ficgao e poesia, elas geralmente ndo dao conta de que o crescente envolvimento universitario com assuntos literairios tem como consequencia inevitaivel, a especializagao da linguagem que fala da literatura.

Se a tais desentendimentos, que trazem para a arena da luta escritores, criticos e professores, somarem-se as especificidades de jor- nais e revistas de um lado e as de publicag6es especializadas de outro, podemos considerar o pluralismo resultante como emblemactico da

This content downloaded from 194.214.27.178 on Tue, 3 Sep 2013 22:23:03 PMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions

Page 15: Teoria da literatura no Brasil contemporâneo: O que é, como se faz e para que serve

24 MARISA LAJOLO

complexidade, progressiva e irreversivel, das linguagens e dos midia atraves dos quais literatura e suas metalinguagens cumprem, hoje, sua fungao social.

Se, por assim dizer, no atacado, pode relacionar-se a critica a jor- nais e revistas e a historia e a teoria da literatura a agremiag6es e es- colas, a discussao dos possiveis efeitos desta divisao de competencias, tem diferentes pesos ao longo da historia cultural brasileira: a impren- sa, festejada por um jovem Machado39 em 1859 como aliada da litera- tura nao goza da mesma confianga --para usar de um eufemismo-- dos escritores cujas entrevistas Joato do Rio reuine em 190440 onde, por exemplo, Raimundo Correia verbera: O jornalismo, para a arte literd- ria, niio e um fator, e um subtraendo. Dentre todos os males necessarios e inevitdveis da nossa epoca, nenhum ha mais infenso, do que ele, a cultu- ra sd e tranqiiila da verdadeira arte4l.

Mas a questao nao e linear e, para discussao mais cuidadosa deste confronto entre diferentes midias, cumpre nao esquecer a historicidade deles, sublinhando que a imprensa, ao lado do funcionalismo pu'blico, representou, por um bom tempo, a uinica profissionalizagao disponivel para ficcionistas e poetas num pais com taxas de analfabetismo tdo significativas como as brasileiras.

Tal situagao, que em certa medida se deve ao caraiter tardio da modernizagao portuguesa, e tambe6m por certo, fator de relevo na desconfianga com que a intelectualidade encara as condig6es moderna- mente disponiveis para a produgao cultural e para o desempenho de sua pr6pria profissao: expressa em diferentes formas, no fundo de to- das elas parece encontrar-se a incapacidade de lidar dialeticamente com as contradig6es do sistema cultural, simplificando indevidamente um assunto que e complexo.

0 impasse traduz-se, por exemplo, na compreensao, dolorosa e di- fusa, de que a indu'stria cultural e o uinico espago contemporaneo disponivel para as Letras, o que se indicia, por exemplo, na ironia de, nos anos setenta, as primeiras tradug6es brasileiras de Benjamim e Adorno serem editadas pela Abril Cultural e vendidas em bancas de jornal. Sensagao hom6loga ressalta de primeiros capitulos de teses, que proclamam uma especie de prioridade do texto literario sobre o texto teorico, proclamaVao que acaba provocando uma especie de crenga na autonomia textual, isto e, na capacidade de um texto sugerir a abordagem teorica que melhor se adapta a suas categorias e pro- priedades.

Parece tao ingenuo acreditar na transparencia das teorias da lite- ratura quanto e superfluo discutir a superioridade de uma sobre outra, ou ainda a capacidade de cada uma de recobrir, melhor ou pior, o cha- mado texto-em-si. Como sublinha Stanley Fish, todas, surpreendente- mente, funcionam!42. A feiao ideol6gica da teoria da literatura inde- pende de seus conteutdos e ja se manifesta nos diferentes niveis e eta- pas de adaptaVao por que passa qualquer teoria, antes de ser aplicada a qualquer obra literaria: e o esforgo de adaptavao e, evidentemente

This content downloaded from 194.214.27.178 on Tue, 3 Sep 2013 22:23:03 PMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions

Page 16: Teoria da literatura no Brasil contemporâneo: O que é, como se faz e para que serve

TEORIA LITERARIA NO BRASIL CONTEMPORANEO 25

maior, quanto menor for o parentesco do texto literario com a tradivao de cultura escrita na qual (e a partir da qual) foi formulada a teoria. Em abono desta hipotese, e interessante observar como tanto Stanley Fish43 quanto Terry Eagleton44 tratam a funVAo instrumental da teo- ria da literatura como absolutamente secundarna.

Mas na cultura do Terceiro Mundo, as teorias, assim como a pro- pria ideia de literatura, vem de cambulhada no gordo pacote de bens de consumo importados, que incluem de eletrodomesticos a softers, pas- sando, obviamente por know-hows.

How come? Poderia ser diferente? Parece que nao. Talvez a uinica aposta possivel, seja a que acredita que na cultura

brasileira --como de resto, na cultura latino e norte-americana-- tudo fica mais exposto devido a natureza radical das operag6es necessarias para que as teorias funcionem45 tornando-se, assim, necessario ir alem de onde chega Edward Said quando aponta --com toda razao-- que quando as teorias viajam

such movement into a new environment is never unimpeded. It necessarily in- volves processes of representation and institutionalization different from those at the point of origin. This complicates any account of the transplantation, transference, circulation and commerce of theories and ideas 46

A meu ver, transplante, transferencia, circulaVao e comercio de teorias e de ideias sao fundamentais para a compreensao mais apro- priada da natureza dialetica das ideias e das teorias, inclusive da teoria da literatura.

Nao foi, entao, tao lamentavel ter de abandonar, logo de inicio, o projeto de inventariar, classificar e avaliar a produVao brasileira con- temporanea de teoria da literatura ou com ela comprometida. Tal em- preitada poderia, no maximo, dar a impressao --correta, diga-se de pas- sagem-- de que, no que concerne 'a teoria da literatura, os mais impor- tantes centros universitarios brasileiros estao, sim, atualizados.

0 que seria, sem duivida, conclusao patriotica louvaivel, mas nem por isso menos irrelevante (se nao mesmo enganosa) para uma re- flexao mais proveitosa sobre o que e, como se faz e para que serve teoria da literatura no Brasil contemporaneo. Pois, se as hipoteses aqui le- vantadas sao aceitaveis, o caminho que se abre e a desconstruVao das versoes instrumentalizadoras dela (teoria da literatura) a reflexao sobre sua visibilidade, bem como sobre as condigoes hist6ricas de seu exerci- cio. Assim todos nos, seus sujeitos e seus agentes, assumindo melhor nossa identidade profissional, talvez possamos ver com mais clareza os horizontes possiveis de nossa praitica cultural, que, salvo engano, e a forma que assume nossa inserV&o historica & politica, nesta patria nuestra, nuestra America...de alem e de aquem Equador.

This content downloaded from 194.214.27.178 on Tue, 3 Sep 2013 22:23:03 PMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions

Page 17: Teoria da literatura no Brasil contemporâneo: O que é, como se faz e para que serve

26 MARISA LAJOLO

NOTAS

1. Ascher, Nelson. "O nacional-popular". Apud Avaliaqdo de uma geratfo. Org. Horacio Costa. Sao Paulo: Fundavao Memorial da Am6rica Latina, 1993. p. 199.

2. Leia livros, fundado em 1977 por Caio Graco Prado foi inicialmente editado pela Editora Brasiliense.

3. Oficina de livros: novidades catalogadas na fonte. Anuario janeiro-dezembro de 1991. v. 15. CBL. Centro de catalogavAo na fonte. Informavao verbal da Camara Brasileira do Livro anuncia a suspensao da publicavao.

4. Como exemplo da miscelania, considere-se o agrupamento dos seguintes li- vros: Rosa, Guimaraes. Primeiras hist6rias. Resumos, comentarios, exercicios [por] C6lia Pasoni. Sao Paulo: Nucleo, 1991; Vargas, Milton. Poesia e verdade. Sao Paulo: Duas Cidades, 1991; D6ria, Carlos Alberto. Ensaios enveredados. Sao Paulo: T.A. Queir6s, 1991.

5. Como exemplo da miscelania, considere-se o agrupamento dos seguintes li- vros: Martins, Wilson. Pontos de vista: critica literdria. Sao Paulo: TA Queir6s, s.d.; Unicamp/92: progama completo de literatura brasileira e portuguesa. Se- levao e notas C6lia A. Passoni, 1992 (sic); Gomes, Eustaquio. Os rapazes dA Onda e outros rapazes: modernismo, tecnica e modernidade na provincia pau- lista. Campinas: EdUnicamp/Pontes.

6. Informativo bibliogrdficojulho 89 ajunho 91. SNEL. ISSN 0103-88-34. 7. Castro, Moacir Werneck. Mdrio de Andrade: exilio no Rio; Merquior, Jos6 Gui-

lherme. Critica literdria 1959-1989. Nova Fronteira; Anais do Primeiro Con- gresso Internacional da Faculdade de Letras da UERJ, realizado de 14 a 18 de setembro de 1987. Rio de Janeiro: UERJ.; Lima, Luis Costa. Dispersa deman- da II: pensando nos tr6picos. 1991.; Critica de literatura e arte. Ed. comemora- tiva. Tobias Barreto; org. e notas Paulo Mercadante e Antonio Paim. Intr. Luiz Antonio Barreto. Rio de Janeiro: Record, 1990.

8. Registro meu agradecimento ao Sr. Marciano Lourenvo de Souza, gerente da livraria Martins Fontes, que me franqueou suas estantes, catalogos & micro- fichas, al6m de responder a minhas (quase...) infindaveis quest6es.

9. Registram-se 109 mestrados e 20 doutorados, at6 1991. 0 exame dos resu- mos mostra um leque de modalidades de pesquisa que incluem tanto a inte- ressantissima cifra de 43 trabalhos (1/3 do total) voltados para quest6es de literatura gaucha (cf. de Maria Eunice Moreira Regionalismo gaucho: um estudo tipol6gico, mestrado, 1979, que apresenta o seguinte resumo: Estu- do do Regionalismo gaucho, suas caracteristicas s6cio-econ6micas e historico- politicas, e proposiScio de uma tipologia para a prosa de ficqdo produzida entre 1870 e 1920; p. 57), como teses voltadas para abrangentes revisoes te6ricas (cf. de Sandra Tello 0 leitor e a obra de arte literaria, mestrado, 1983, que apresenta o seguinte resumo: Andlise das teorias de Felix Vodicka, Jan Mukarovsky, Georg Lukacs, Mikhail Bakhtin, Paul Ricoeur, Hans Robert Jauss, Roman Ingaden, Wolfgang Iser, Vikter Skolovski e Juri Tinianov, volta- das para a interaQ,o obra-leitor. p. 74) enquanto outras tem como objeto a confluencia entre escritores e te6ricos, funcionando os ultimos como categoria de leitura dos primeiros (cf. de Jos6 Alencar Guimaraes Graciliano Ramos: discurso e fala das mem6rias, doutorado, 1982, que apresenta o seguinte resumo: Andlise do discurso e da fala nas mem6rias de Graciliano Ramos, e demonstracao da discursividade hist6rico-literaria do homem em seu tempo, com base em Philippe Lejeune, Jean Starobinski e Gerard Genette p. 79); cf. infor-

This content downloaded from 194.214.27.178 on Tue, 3 Sep 2013 22:23:03 PMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions

Page 18: Teoria da literatura no Brasil contemporâneo: O que é, como se faz e para que serve

TEORIA LITERARIA NO BRASIL CONTEMPORANEO 27

mativo Curso de P6s-Graduaqao em Letras CPGLIPUC-RS 1977-1992. Ponti- ficia Universidade Cat6lica do Rio Grande do Sul. Instituto de Letras e Artes. Curso de PNs-Graduavao em Letras. CPGLJPUC-RS

10. Estendo o agradecimento especial a Marisa Couto, a todos os funcionarios que, em diferentes setores e bibliotecas da Universidade de Sao Paulo facili- taram meu acesso aos dados disponiveis.

11. Anais: II Congresso da Abralic. 3 vol., Belo Horizonte: UFMG, 1990. Resumos: III Congresso da Abralic. Rio de Janeiro: 1992.

12. Quero registrar a prestimosidade com que os colegas Eduardo Coutinho (UFRJ), Eneida Maria de Souza (UFMG) e Regina Zilberman (PUC-RS) envia- ram-me os dados disponiveis, em suas respectivas universidades, relativa- mente a 6rea de letras. 0 uso que fiz de tais dados 6 de minha inteira responsabilidade.

13. De Marco, Val6ria. A perda das iluoes. 0 romance hist6rico de Jos6 de Alencar. EdUnicamp, 1993.

14. Miranda, Wander Mello. Corpos escritos. Sao Paulo: EdUSP/Belo Horizonte: UFMG, 1992.

15. Schwarz, Roberto. Um mestre na periferia do capitalismo. Sao Paulo: Duas cidades, 1990.

16. Bellei, S6rgio Luiz Prado. 0 cristal em chamas: uma introdu,&o et leitura do texto literdrio. Editora da UFSC, 1986.

17. Jobim, Jos6 Luis, org. Palavras da critica. Rio de Janeiro: Imago, 1992. 18. Zilberman, Regina. Estetica da recepg4o e hist6ria da literatura. Sao Paulo:

Atica, 1989. 19. Jameson, Fredric. 0 inconsciente politico. Sao Paulo: Atica, 1992. 20. Baudelaire, Charles. Escritos sobre arte. Org. e trad. de Plinio Augusto Coelho.

SaoPaulo: Imaginario/EdUSP, 1991. 21. Bloom, Harold. Anguistia da influencia. Rio de Janeiro: Imago, s.d. 22. Chiampi, Irlemar. Fundadores da modernidade. Sao Paulo: Atica, 1991. 23. Barbosa, Joao Alexandre. A leitura do intervalo. Sao Paulo: Iluminuras, 1990. 24. Perrone-Mois6s, Leyla. Flores da escrivaninha. Sao Paulo: Companhia das Le-

tras, 1990. 25. Santiago, Silviano. Nas malhas da letra. Sao Paulo: Companhia das Letras,

1992. 26. Bakhtin, Baudrillard, Certeau, Darnton, Deleuze, Derrida, Eagleton, Fou-

cault, Hayden White, Le Goff, Staiger, Vernant, ao lado de Aguiar e Silva, Arist6teles, Greimas, Kayser, Lukacs, Wellek e, 6 claro, a inumeravel prata da casa sao presenva assidua em bibliogafias de diferentes cursos da Univer- sidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

27. Said, Edward. The World, the Text and the Critic. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1983.

28. Eagleton, Terry. The Ideology of the Aesthetic. Cambridge, MA: Basil Black- well, 1990.

29. Costa Lima registra que A mat6ria teoria da literatura passou a fazer parte do curriculo minimo de Letras por efeito da Resolucdo de 19-10-62 do Conselho Federal de Educaq,co. Anteriomente, ela foi ensinada na Faculdade de Filosofia, Ciencias e Letras do Instituto Lafayete, pelo Professor Afranio Coutinho, a par- tir de 1950. Depois o curso foi ainda oferecido pela Faculdade de Filosofia da Universidade Nacional, a partir de 1953, ensinada (sic) pelo professor Augusto Meyer. Nos primeiros anos da decada de 60 foi introduzida nos cursos de Letras da USP, tendo a frente o professor Ant6nio Candido, e da Universidade de Bra-

This content downloaded from 194.214.27.178 on Tue, 3 Sep 2013 22:23:03 PMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions

Page 19: Teoria da literatura no Brasil contemporâneo: O que é, como se faz e para que serve

28 MARISA LAJOLO

silia, com o Professor Helcio Martins. Lima, Luis Costa. Teoria da literatura em suas fontes. 2 vol. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1981. v. 1, p. 2.; conferir tamb6m Cindido, Antonio. Recortes. Sao Paulo: Companhia das Letras, 1993 e ver ainda Lajolo, Marisa. "No jardim das letras, o pomo da discordia". Apud Boletim 314. ALBS/ RGS. 1988. pp 10-27.

30. Cf Candido, Antonio. A formacao da literatura brasileira. 2 vol. Sao Paulo: Li- vraria Martins Editora, 1959. v. 1, c. 4.

31. Cf. Hallewell, Lawrence. Books in Brazil: A History of the Publishing Trade. Metuchen, NJ: Scarecrow Press, 1982, p.29.

32. Cf. Lajolo, Marisa e Zilberman, Regina. A leitura rarefeita. Sao Paulo: Bra- siliense, 1991.

33. 0 Nome da rosa foi traduzido no Brasil em 1983; Possessao, de Byatt, em 1992.

34. Cf. Lintas. Publ. 35. Penso aqui na tese que Eagleton expoe em The Function of Criticism: From

the Spectator to Poststructualism. London: Verso, 1984. 36. Cf. Carpeaux, Otto Maria. Hist6ria da literatura ocidental. Rio de Janeiro:

Edivoes 0 Cruzeiro, 1959, p. 19. 37. Cf. C6sar, Guilhermino. Historiadores e criticos do Romantismo 1. A contribui-

vao europ6ia: critica e historia literaria. Rio de Janeiro: Livros T6cnicos e Cientificos/Sao Paulo: EdUSP, 1978. Id. ibid. p. 23.

38. Retomando as informavoes do quadro da pagina ... ve-se que em 1970 a edi- tora Atica reformulou a s6rie Bom livro; em 1977 a mesma editora iniciou a publicacao da milionaria s6rie de antologias de cr6nicas Para gostar de ler; em 1980 a editora Brasiliense inaugurou a serie Primeiros passos, provavelmente inspirada nos Cadernos do povo brasileiro que a editora Civilizavao Brasileira publicava nos anos sessenta; ainda em 1980, a editora Abril Cultural lanva Literatura comentada (s6rie que que levou para bancas de jornais autores canonizados da literatua brasileira e portuguesa, ao mesmo tempo que in- cluia na s6rie compositores, cronistas e repentistas) versao modernizada da pioneira colecao Nossos cldssicos, lanvada pela editora Agir a partir de 1957 e ainda em circulagao; e, finalmente, em 1985 a editora Atica iniciou a publi- cacao de Fundamentos e principios, duas s6ries extremamente populares e voltadas para ciencias humanas.

39. Machado de Assis, em artigo do Correio Mercantil de janeiro de 1859 dedi- cado a Manuel Antonio de Almeida ("O jornal e o livro") discute as relavoes da imprensa com a literatura: "O jornal, abalando o globo, fazendo uma revolu- cao na ordem social, tem ainda a vantagem de dar uma posicao ao homem de letras; porque ele diz ao talento: Trabalha! vive pela ideia e cumpres a lei da criaqco ! Seria melhor a existencia parasita dos tempos passados, em que a consciencia sangrava quando o talento comprava uma refeivao por um soneto ?" Cf. Assis, Machado de. Obra completa. 3 vol. Rio de Janeiro: Aguilar, 1962, v. 3. pp 943-948.

40. Cf. Rio, Joao do. 0 momento literario. Rio de Janeiro: Garnier, 1904 (?). 0 li- vro reune opinioes de intelectuais brasileiros, expressas por carta ou por en- trevista pessoal, relativamente a situacao contemporanea da literatura e o papel do jornal nesta situacao.

41. Id. ibid. p. 319. 42. Fish, Stanley. Is There a Text in This Class? Cambridge, MA: Harvard Univer-

sity Press, 1980. 43. Fish, Stanley. Op. cit.

This content downloaded from 194.214.27.178 on Tue, 3 Sep 2013 22:23:03 PMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions

Page 20: Teoria da literatura no Brasil contemporâneo: O que é, como se faz e para que serve

TEORIA LITERARIA NO BRASIL CONTEMPORANEO 29

44. Eagleton, Terry. The Ideology of Aesthetics. Cambridge, MA: Basil Blackwell, 1990.

45. Para outro ponto de vista face a importavao de modismos culturais, cf. "Na- cional por subtragio", in Schwarz, Roberto. Que horas sao?: ensaios. Sao Pau- lo: Companhia das Letras, 1987.

46. Said, Edward. The World, the Text and the Critic. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1983, p. 226.

BIBLIOGRAFIA

Anais: II Congresso da Abralic. Belo Horizonte: UFMG, 1990. 3 v. Ascher, Nelson. "O nacional-popular". Apud Avaliaqao de uma gera,cao. Org. Hord-

cio Costa. Sao Paulo: Fundavao Memorial da America Latina, 1993. Assis, Machado de. Obra completa. 3 vol. Rio de Janeiro: Aguilar, 1962. Barbosa, Joao Alexandre. A leitura do intervalo. Sao Paulo: Iluminuras, 1990. Baudelaire, Charles. Escritos sobre arte. Org. e trad. Plinio Augusto Coelho. Sao

Paulo: Imaginario/EdUSP, 1991. Bellei, S6rgio Luiz Prado. 0 cristal em chamas: uma introduqao a leitura do texto

literdrio. Santa Catarina: Editora da UFSC, 1986. Bloom, Harold. Ang&stia da influencia. Rio de Janeiro: Imago, 1992. Candido, Antonio. A formaeao da literatura brasileira. Sao Paulo: Livr. Martins

Editora, 1959. 2 v. -----. Recortes. Sao Paulo: Companhia das Letras, 1993. Carpeaux, Otto Maria. Hist6ria da literatura ocidental. Rio de Janeiro: Edicoes 0

Cruzeiro, 1959. C6sar, Guilhermino. Historiadores e criticos do Romantismo. 1. A contribuivao euro-

peia: critica e hist6ria literaria. Rio de Janeiro, Livros T6cnicos e Cientificos/ Sao Paulo: EdUSP, 1978.

Chiampi, Irlemar. Fundadores da modernidade. Sao Paulo: Atica, 1991. Lima, Luis Costa. Teoria da literatura em suas fontes. Sao Paulo: Francisco Alves,

1981. v. 2. De Marco, Val6ria. A perda das iluoses. 0 romance hist6rico de Jose de Alencar. Sao

Paulo: EdUnicamp, 1993. Ealgeton, Terry. The Ideology of the Aesthetic. Cambridge, MA: Basil Blackwell,

1990. -----. The Function of Criticism: From the Spectator to Post-Structuralism. London:

Verso, 1984. Fish, Stanley. Is There a Text in This Class? Cambridge, MA: Harvard University

Press, 1980. Hallewell, Lawrence. Books in Brazil: A History of the Publishing Trade. Metuchen,

NJ: Scarecrow Press, 1982. Informativo bibliogrdficojulho 89 a junho 91. SNEL. ISSN 0103-88-34. Jameson, Fredric. 0 inconsciente politico. Sao Paulo:Atica, 1992. Jobim, Jose Luis, org. Palavras da critica. Rio de Janeiro: Imago, 1992. Lajolo, Marisa e Zilberman, Regina. A leitura rarefeita. Sao Paulo: Brasiliense,

1992 . Lajolo, Marisa. "No jardim das letras, o pomo da disc6rdia". Apud Boletim 3/4.

ALBS/RGS, 1988. Leia livros, fundado em 1977 por Caio Graco Prado foi inicialmente editado pela

Editora Brasiliense. Lima, Luis Costa. Teoria da literatura em suas fontes. 2 vol. Rio de Janeiro: Fran-

cisco Alves, 1981. Miranda, Wander Mello. Corpos escritos. Sao Paulo: EdUSP/Belo Horizonte,

UFMG, 1992.

This content downloaded from 194.214.27.178 on Tue, 3 Sep 2013 22:23:03 PMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions

Page 21: Teoria da literatura no Brasil contemporâneo: O que é, como se faz e para que serve

30 MARISA LAJOLO

Oficina de livros: novidades catalogadas na fonte. Anuario janeiro-dezembro de 1991. v. 15. CBL. Centro de catalogacao na fonte. Informapo verbal da Ca- mara Brasileira do Livro anuncia a suspensao da publicavAo.

Perrone-Mois6s, Leyla. Flores da escrivaninha. Sao Paulo: Companhia das Letras, 1990.

Resumos: III Congresso da Abralic. Rio de Janeiro: 1992. Rio, Joao do. 0 momento literdrio. Rio de Janeiro:Garnier, 1904. Said, Edward. The World, the Text and the Critic. Cambridge, MA: Harvard Uni-

versity Press, 1983. Santiago, Silviano. Nas malhas da letra. Sao Paulo: Companhia das Letras, 1992. Schwarz, Roberto. Que horas sdo?: ensaios. Sao Paulo: Companhia das Letras,

1987. -----. Um mestre na periferia do capitalismo. Sao Paulo: Duas cidades, 1990. Zilberman, Regina. Estetica da recepqio e hist6ria da literatura. Sao Paulo: Atica,

1989.

This content downloaded from 194.214.27.178 on Tue, 3 Sep 2013 22:23:03 PMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions