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TEORIA DA LITERATURA I Rio de Janeiro / 2006 TODOS OS DIREITOS RESERVADOS À UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO VICE-REITORIA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO E CORPO DISCENTE COORDENAÇÃO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

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TEORIA DALITERATURA I

Rio de Janeiro / 2006

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS À

UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO

VICE-REITORIA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO E CORPO DISCENTE

COORDENAÇÃO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

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UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO

Todos os direitos reservados à Universidade Castelo Branco - UCB

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, armazenada ou transmitida de qualquer forma ou porquaisquer meios - eletrônico, mecânico, fotocópia ou gravação, sem autorização da Universidade CasteloBranco - UCB.

U n3p Universidade Castelo Branco. Teoria da Literatura I. – Rio de Janeiro: UCB, 2006. 80 p.

ISBN 85-86912-12-3

1. Ensino a Distância. I. Título. CDD – 371.39

Universidade Castelo Branco - UCBAvenida Santa Cruz, 1.631Rio de Janeiro - RJ21710-250Tel. (21) 2406-7700 Fax (21) 2401-9696www.castelobranco.br

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Responsáveis Pela Produção do Material InstrucionalResponsáveis Pela Produção do Material InstrucionalResponsáveis Pela Produção do Material InstrucionalResponsáveis Pela Produção do Material InstrucionalResponsáveis Pela Produção do Material Instrucional

Coordenadora de Educação a DistânciaCoordenadora de Educação a DistânciaCoordenadora de Educação a DistânciaCoordenadora de Educação a DistânciaCoordenadora de Educação a DistânciaProf.ª Ziléa Baptista Nespoli

Coordenador do Curso de GraduaçãoCoordenador do Curso de GraduaçãoCoordenador do Curso de GraduaçãoCoordenador do Curso de GraduaçãoCoordenador do Curso de GraduaçãoDenilson P. Matos - Letras

ConteudistaConteudistaConteudistaConteudistaConteudistaNeuza Maria de Sousa Machado

Supervisor do Centro Editorial – CEDISupervisor do Centro Editorial – CEDISupervisor do Centro Editorial – CEDISupervisor do Centro Editorial – CEDISupervisor do Centro Editorial – CEDIJoselmo Botelho

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Apresentação

Prezado(a) Aluno(a):

É com grande satisfação que o(a) recebemos como integrante do corpo discente de nossos cursos de graduação,na certeza de estarmos contribuindo para sua formação acadêmica e, conseqüentemente, propiciandooportunidade para melhoria de seu desempenho profissional. Nossos funcionários e nosso corpo docenteesperam retribuir a sua escolha, reafirmando o compromisso desta Instituição com a qualidade, por meio de umaestrutura aberta e criativa, centrada nos princípios de melhoria contínua.

Esperamos que este instrucional seja-lhe de grande ajuda e contribua para ampliar o horizonte do seuconhecimento teórico e para o aperfeiçoamento da sua prática pedagógica.

Seja bem-vindo(a)!Paulo Alcantara Gomes

Reitor

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Orientações para o Auto-Estudo

O presente instrucional está dividido em três unidades programáticas, cada uma com objetivos definidos econteúdos selecionados criteriosamente pelos Professores Conteudistas para que os referidos objetivos sejamatingidos com êxito.

Os conteúdos programáticos das unidades são apresentados sob a forma de leituras, tarefas e atividadescomplementares.

As Unidades 1 e 2 correspondem aos conteúdos que serão avaliados em A1.Na A2 poderão ser objeto de avaliação os conteúdos das três unidades.Havendo a necessidade de uma avaliação extra (A3 ou A4), esta obrigatoriamente será composta por todos os

conteúdos das Unidades Programáticas 1, 2 e 3.

A carga horária do material instrucional para o auto-estudo que você está recebendo agora, juntamente com oshorários destinados aos encontros com o Professor Orientador da disciplina, equivale a 60 horas-aula, que vocêadministrará de acordo com a sua disponibilidade, respeitando-se, naturalmente, as datas dos encontrospresenciais programados pelo Professor Orientador e as datas das avaliações do seu curso.

Bons Estudos!Vania Alcantara

Coordenadora Acadêmica de Educação a Distância

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Dicas para o Auto-Estudo

1 - Você terá total autonomia para escolher a melhor hora para estudar. Porém, seja disciplinado. Procure reservar sempre os mesmos horários para o estudo.

2 - Organize seu ambiente de estudo. Reserve todo o material necessário. Evite interrupções.

3 - Não deixe para estudar na última hora.

4 - Não acumule dúvidas. Anote-as e entre em contato com seu monitor.

5- Sempre que tiver dúvidas entre em contato com o seu monitor através do e-mail [email protected].

6 - Não pule etapas.

7 - Faça todas as tarefas propostas.

8 - Não falte aos encontros presenciais. Eles são importantes para o melhor aproveitamento da disciplina.

9 - Não relegue a um segundo plano as atividades complementares e a auto-avaliação.

10- Não hesite em começar de novo.

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SUMÁRIO

Quadro-síntese do conteúdo programático.................................................................................................................. 11Contextualização da disciplina...................................................................................................................................... 12

UUUUUNIDADENIDADENIDADENIDADENIDADE I I I I I

TEORIA DA LITERATURA E TEORIA LITERÁRIA1.1- Conceituação............................................................................................................................................................ 131.2- Teoria da literatura: fronteiras.......................................................................................................................... 141.3- Teoria literária: alargamento interdisciplinar...................................................................................................... 151.4- Possibilidades e fundamentos da teoria literária............................................................................................... 161.5- O lugar da teoria literária....................................................................................................................................... 171.6- Estudo de textos teóricos...................................................................................................................................... 18

UNIDADE IIUNIDADE IIUNIDADE IIUNIDADE IIUNIDADE II

TEORIA, ARTE E LITERATURA2.1 - Arte e literatura ..................................................................................................................................................... 192.2 - As funções da literatura desde Platão e Aristóteles...................................................................................... 202.3 - Literatura e linguagem: as funções da linguagem e o discurso literário................................................... 232.4 - Periodização literária............................................................................................................................................. 242.5 - Literatura compromissada e a teoria da arte pela arte................................................................................... 672.6 - A literatura-arte e a indústria cultural................................................................................................................ 68

UUUUUNIDADENIDADENIDADENIDADENIDADE III III III III III

A NATUREZA DO FENÔMENO LITERÁRIO3.1 – O texto: texto-formato X texto-forma.............................................................................................................. 693.2 – Texto-objeto X texto-obra................................................................................................................................. 703.3 – Discurso metonímico X discurso metafórico................................................................................................ 713.4 – Mimésis platônica X mimésis (recriação)...................................................................................................... 713.5 – Catársis direta X catársis indireta................................................................................................................... 723.6 – Estudo de textos: poesias, narrativas, ensaios............................................................................................... 72

Gabarito............................................................................................................................................................................ 74Referências Bibliográficas.............................................................................................................................................. 78

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11Quadro-síntese do conteúdoprogramático

UNIDADE

I - Teoria da Literatura e/ou Teoria Literária- O que é crítica literária?- Por que fronteiras da Teoria da Lit.?- O que é Alargamento Interdisciplinar?- O que é literatura?- O que é texto técnico?- O que é texto-obra?- O que é arte literária?- O que é mimésis?- O que é catársis?- O que é análise literária?- O que é interpretação literária?- O que é interdisciplinaridade?- Quais os pontos de vista teórico-críticosatuais que direcionam os estudos literários?

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Levar ao aluno informações que definem a situ-ação do texto técnico (de informação, de entre-tenimento, paraliterário) em confronto com otexto-obra (Arte Literária), chamando a atençãopara os aspectos que os diferenciam e que pos-sam orientar teoricamente e criticamente suasleituras.

II - Teoria, Arte e Literatura- Estilo individual e estilo de época

Levar o aluno a distinguir o estilo individual doestilo de época.

III - A Natureza do Fenômeno Literário- Periodização e História da Literatura

Levar o aluno a identificar os estilos de época,reconhecer suas diferenças e semelhanças,desenvolvendo, desta forma, o senso crítico.

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12Contextualização da Disciplina

A disciplina Teoria Literária I abrirá um leque de informações que serão utilizadas no decorrer do curso,preparando o aluno para as outras disciplinas que se sucederão. Essa disciplina serve como alicerce para oconhecimento e aprimoramento do aluno no âmbito de toda a literatura e das disciplinas afins.

Este conhecimento básico é de relevante importância, já que, além de se explorar todas as possibilidades efundamentos da teoria literária, além de um reconhecimento da natureza do fenômeno literário, o aluno terácondições de se disciplinar a estudar, desenvolvendo o senso crítico e formando a sua própria bibliografia paraestudos posteriores. Desta forma, ele sentir-se-á apto e seguro em suas atividades profissionais e acadêmicas.

As informações, contidas nesta disciplina, tendem a provocar no aluno o gosto pelo crescimento intelectuale levá-lo a pesquisas posteriores, desenvolvendo e ampliando o seu conhecimento ao longo do tempo. Semeste conhecimento básico, o aluno não conseguirá atingir o necessário para o seu desenvolvimento intelectual,ético e profissional.

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13UNIDADE I

TEORIA DTEORIA DTEORIA DTEORIA DTEORIA DA LITERAA LITERAA LITERAA LITERAA LITERATURA E TEORIA LITERÁRIATURA E TEORIA LITERÁRIATURA E TEORIA LITERÁRIATURA E TEORIA LITERÁRIATURA E TEORIA LITERÁRIA

· Levar ao aluno informações teórico-críticas quedefinem a situação do texto literário, chamando a

Objetivo Específico:

1.1 - 1.1 - 1.1 - 1.1 - 1.1 - Conceituação

CONCEITO: [Do latim conceptu: Representação deum objeto pelo pensamento, por meio de suascaracterísticas gerais (Filosofia) // Ação de formularuma idéia por meio de palavras; definição,caracterização. Exemplo: “O professor deu-nos umconceito de beleza absolutamente subjetivo”. //Pensamento, idéia, opinião. Exemplo: “Emitiu conceitosreveladores de grande competência”. // Noção, idéia,concepção. Exemplo: “Seu conceito de elegância estáultrapassado”. Apreciação, julgamento, avaliação,opinião. Exemplo: “Não tenho conceito formado sobreeste assunto”. // Avaliação de conduta e/ouaproveitamento escolar // Ponto de vista, opinião. Ex.:“No meu conceito, a família agiu mal com o rapaz”.

CONCEITO DE TEORIA:

TEORIA : Do grego theoría, “ação de contemplar”,“examinar”, “estudo”; “conhecimento especulativo,meramente racional”, “conjunto de princípiosfundamentais de uma arte ou ciência”, “opiniõessistematizadas”, “noções gerais”, “suposição”,“hipótese”; definição, caracterização.

CONCEITUAR: Formular conceito (de ou acerca de).Exemplo: “Freud conceituou o inconsciente”. // Formarconceito acerca de; julgar, avaliar. Exemplo: “É pessoaindicada para melhor conceituar os candidatos”. //Fazer conceito; formar opinião de; classificar; avaliar;etc.

CONCEITO DE TEORIA DA LITERATURA:Ciência que possibilita a análise das camadas visíveis

do texto literário. (Ponto de vista analítico // ponto devista cientificista).

CONCEITO DE TEORIA LITERÁRIA:Ciência que possibilita a análise e interpretação das

camadas visíveis e invisíveis do texto literário; Análisee interpretação das linhas e entrelinhas; Ciência doConhecimento. (Ponto de vista fenomenológico).

CONCEITO DE LITERATURA:LITERATURA [Do latim litteratura]: Arte de compor

trabalhos artísticos em prosa ou verso. // O conjuntode trabalhos literários de um país ou de uma época.

FUNÇÃO DA LITERATURA:FUNÇÃO [Do latim functione]: Utilidade, uso,

serventia. Exemplo: “Esta caixa não tem função”. //Literatura: Cada uma das finalidades que se atribuemaos enunciados; etc.

VALOR DA LITERATURA:VALOR [Do latim valore]: Qualidade de quem tem

força; audácia, coragem, valentia, vigor. Exemplo:“Grande o valor dos bandeirantes que desbravaramnossas terras”. // Qualidade pela qual determinadapessoa ou coisa é estimável em maior ou menor grau;mérito ou merecimento intrínseco; valia. Exemplo: “Éprofissional de alto valor”. // Importância dedeterminada coisa estabelecida ou arbitrada deantemão. Exemplo: “Qual o valor do valete no pôquer”?// Validade. Exemplo: “Seu argumento não tem valor”.;etc.

Pelo ponto de vista da Teoria:

· Qual é a finalidade (função) da literatura?

· Qual é a finalidade da literatura técnica (ouPARALITERÁRIA)?

· Como conceituar literatura-arte?

Daí, então, podemos concluir que a literatura-arte(texto-obra = recriação da realidade) é diferente daliteratura técnica (texto-objeto = cópia da realidade).

1 - A obra literária cria seu próprio mundo, não sendo,portanto, uma cópia da realidade.

atenção para aspectos que o tipifiquem e que possamorientar a sua leitura.

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Exercícios de Auto-Avaliação

Após a leitura atenta do conteúdo desenvolvido, responda às perguntas solicitadas, recorrendo, se necessário,à bibliografia indicada.

1 - Por que a literatura não pode ser definida, mas apenas conceituada?

2 - Por que a obra literária (texto-arte) não é uma cópia da realidade?

3 - Que papel desempenha o leitor (analista e/ou intérprete) de uma obra literária? Explique a importânciadesse papel.

4 - Por que, por outro lado, a obra literária não pode ser inteiramente desvinculada da realidade, embora nãonecessite ser uma cópia dela?

5 - Estabeleça a distinção entre imagem mental e imagem ficcional.

6 - O que se entende por resistência oferecida pela palavra, na criação de uma obra literária?

Leitura Complementar

Para maior esclarecimento sobre os conceitos de literatura, leia o livro de Eduardo Portella, Teoria Literária,Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1974. e/ou o livro de Rogel Samuel, Novo Manual de Teoria Literária,Petrópolis: Vozes, 2005.

2 - A criação deste mundo será feita através da palavraque comporá imagens ficcionais.

3 - Diante da resistência que a própria palavra oferece,o escritor volta-se ao mundo real, onde se alimentarápara continuar criando seu mundo de ficção (recriaçãoda realidade = realidade ficcional).

4 - É por intermédio da análise que o analistadecompõe a camada visível do texto literário.

5 - É por intermédio da interpretação que o leitorresgata e suplementa as camadas ocultas(entrelinhas) do texto-arte.

1.2 - 1.2 - 1.2 - 1.2 - 1.2 - Teoria da Literatura: Fronteiras

FRONTEIRA: Limite, raia; extremo, fim, termo;contorno; separação entre um sistema e o seu exterior.Fronteira-faixa // Tipo de fronteira representado porfortificações ou obstáculos defensivos. Fronteira-viva// Tipo de fronteira resultante de lenta evoluçãohistórica e de acumulação, fronteira de tensão; etc.

TEORIA DA LITERATURA: FRONTEIRAS

· Estudo analítico do texto literário;

· Análise apenas das camadas visíveis do textoliterário;

· Limita-se aos estudos formalistas e/ou estru-turalistas;

· Ponto de vista cientificista.

TEORIA DE EXCLUSÃO DO SILÊNCIO:

“Movendo-se numa ordem epistêmica que exclui osilêncio, as teorizações vigentes preservam adicotomia. Para elas o silêncio está fora do discurso. Eé por esta fresta que passam os cortes ou as diferentesespécies formalizadas. Ao contrário do que se verificana Poética de Aristóteles, os cortes, diacrônicos,sincrônicos – escolas, gêneros – , não estão a serviçoda integração, mas da fragmentação. Esse tipo de TeoriaLiterária, predominantemente linear e unidimensional,talvez não saiba que a poesia se esconde nos abismosda estrutura” (PORTELLA, 1974: 15-6).

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1.3 - 1.3 - 1.3 - 1.3 - 1.3 - Teoria Literária: Alargamento Interdisciplinar

· Estudo analítico-interpretativo do texto literário;

· Análise e interpretação das camadas visíveis (linhas)e invisíveis (entrelinhas) do texto literário;

VOCABULÁRIO:

Episteme: Grau de certeza do conhecimento científicoem seus diversos ramos, especialmente para apreciarseu valor para o espirito humano.

A HERMENÊUTICA LITERÁRIA:

“De acordo com Ricoeur e Gadamer, a hermenêuticavê os textos como expressões da vida social fixadasna escrita, através de fatos psíquicos, deencadeamentos históricos. Sua interpretaçãoconsiste, então, em decifrar o sentido oculto no

ANTROPOLOGIA

LINGÜÍSTICA

PSICOLOGIA

DIREITO

SOCIOLOGIA

SEMIOLOGIA

FILOSOFIA

HERMENÊUTICA

ETC.

TEXTO LITERÁRIO

TEORIA LITERÁRIA + CRÍTICA LIT.

* Disciplinas aparentemente dissociadas;* União para a DECIFRAÇÃO do enigma do homem.

· Aceita a contribuição de disciplinas afins para ocorreto desvelamento do texto literário, inclusive acontribuição da análise cientificista;

· Ponto de vista fenomenológico.

ALARGAMENTO INTERDISCIPLINAR

ATENÇÃO: É uma natural conseqüência do seu progresso técnico.Utiliza-se de uma metodologia alternada:

TEORIA LITERÁRIA + CRÍTICA LITERÁRIA + CONTRIBUIÇÃO INTERDISCIPLINAR

aparente e desdobrar os diversos graus deinterpretação ali implicados.

Só há interpretação quando houver ambigüidade, eé na interpretação que a pluralidade de sentidos setorna manifesta.

Leitura Complementar

Para maior esclarecimento sobre a teoria de exclusão do silêncio, leia “Limites Ilimitados da Teoria Literária”,primeiro capítulo do livro de Eduardo Portella, Teoria Literária, 1 ed., Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1974, p.7-18.

Dicotomia: Divisão lógica de um conceito em doisoutros conceitos, em geral contrários, que lhe esgotama extensão. Exemplo: animal = vertebrado einvertebrado / ser humano = corpo e alma.

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16Na realidade, a hermenêutica é a compreensão de si

mediante a compreensão do outro: o máximo deinterpretação se dá quando o leitor compreende a simesmo, interpretando o texto. A tática da interpretaçãoaparece sempre que há ambigüidade, mas compreendernão significa a repetição do conhecer. A hermenêuticapostula uma superação: ela se quer uma teoria e umaarte, fazendo da leitura uma nova criação; e dela seexige uma reflexão que leve à ação.

A hermenêutica está mais interessada nas questõesdo que nas respostas. Só quando compreende o sentidomotivador da pergunta pode começar a procurar aresposta; temos de compreender o que se escondepor trás da pergunta. Só podemos compreender osenunciados se reconhecermos neles nossas própriasperguntas, num equilíbrio entre nossos impulsosconscientes e nossas motivações inconscientes”(SAMUEL, 2005: 86).

TEORIA DE INCLUSÃO DO SILÊNCIO:

“A Teoria Poética, fundada na transmanência, abrelugar para a instauração da identidade do silêncio nadiferença do corte. A voz do poema fala mais altoquando se cala, já que o silêncio não é o espaço vazioporém o máximo de concentração da fala. O poetasilencia porque o discurso pode menos que a poesia.E por isso o mais importante não é o que se exibesobre as linhas, porém o que se oculta nas entrelinhas.O silêncio é a força da experiência confrontada com afraqueza da expressão.

A leitura poética, transmanente, inclusiva, processa-se para além do código manifesto da língua e mesmona dinâmica latente. Confunde e integra esses níveis.Aí, neste ponto de convergência ou de tensão, pensolocalizar-me; mas para abrir sempre mais o diâmetro docompasso” (PORTELLA, op. cit.: 16).

1.4 - 1.4 - 1.4 - 1.4 - 1.4 - Possibilidades e Fundamentos da TeoriaLiterária

POSSIBILIDADE: Qualidade de possível, do quepode acontecer (muito, pouco).

POSSIBILIDADE REAL: Poder, faculdade.

POSSÍVEL: Que pode ser, acontecer ou praticar-se.

FUNDAMENTO: base, alicerce; razões ouargumentos em que se funda uma tese, ponto de vista,etc.; razão, justificativa, motivo.

PRÁTICA LITERÁRIA

LITERATURA sujeito ou objeto?

“A teoria literária reúne uma coleção de ciências quealguns tratam por “teoria da literatura”, outros de“teoria literária”. Esta distinção existe: “teoria literária”se diz da teoria que nasce da prática literária, da obra,da leitura; e a “teoria da literatura” vê a literatura comoobjeto do saber. A primeira tarefa da teoria literáriaconsiste em saber o que é literatura.

A teoria literária funda um tipo de atividade intelectualchamada crítica literária. Muitas vezes só

conhecemos a crítica, da qual se depreende a teoria.Por exemplo: os estudos de psicanálise de Freud ou acrítica da economia política de Marx, apesar de nãoserem literários, influenciaram nossos estudos.

Que estuda a teoria literária? Ela quer saber o que é aliteratura? Que textos? Que tipos, que gênerosexistem? Como se faz a leitura? Como se recebe otexto? Como interpretá-lo? Quais os interesses ocultosdo seu saber?” (SAMUEL, 2005: 7).

Leitura Complementar:

Para maior esclarecimento sobre a teoria de inclusão do silêncio, leia “Limites Ilimitados da Teoria Literária”,primeiro capítulo do livro de Eduardo Portella, Teoria Literária, 1 ed., Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1974, p.7 - 18.

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171.5 - 1.5 - 1.5 - 1.5 - 1.5 - O Lugar da Teoria Literária

Teoria Literária e Crítica Literária

O lugar da Teoria Literária:

Disciplina de configuração autônoma (porém de caráter interdisciplinar).

CRÍTICA

Pratica concretamente o sistema de ensino do literário;Suporte para ensinar o literário.

TEORIA(núcleo)

MÉTODO

1 AGORA = ANOS 1960/1970 NO BRASIL

“A Teoria Literária [a partir do século XX] assumiurepentina e peculiar importância no quadro cada vezmais amplo dos estudos literários. (...) Não que o lugarda Teoria Literária, desde as mais remotas lições daPoética ou da Retórica, até os mais recentescompêndios de comunicação e expressão, houvessesido um espaço em branco. Não. Mas é certamenteagora1 que ela atinge o seu conveniente statusuniversitário, identificando-se como disciplina deconfiguração autônoma porém de caráterrigorosamente interdisciplinar.

Podemos até afirmar, sem receio de incorrer emqualquer deslize mitômano, que a Teoria Literária é onúcleo que implementa, crítica e metodologicamente,todo o sistema de ensino das literaturas. Nenhumaliteratura particular, no seu modo de produçãouniversal, pode ser estudada e ensinada sem onecessário suporte teórico. Isso [o necessário suporteteórico] não nos autoriza a desequilibrar, sob qualquerpretexto, as relações de poder vigentes na contracenadas disciplinas literárias. É este o único limite que nãopode ser violado; e ele impede a Teoria Literária detransformar-se numa disciplina dominadora erepressiva” (PORTELLA, op. cit.: 7).

“A Teoria Literária não pode ser hipostasiada comoa proprietária suprema da verdade poética. Até porquedevemos duvidar da própria verdade poética, pelomenos nas suas formas institucionalizadas. E além domais, como se não bastasse o reconhecimento da feiçãodisseminada do objeto literário, as modificações ou

acréscimos, que foram sendo historicamenteincorporados à sua estrutura, invalidaram os conceitosimóveis e intocáveis, exigindo, a partir desse ânguloaberto, uma amplitude ótica capaz de surpreender averdade poética para além do âmbito restrito dasdiferentes espécies poemáticas.

Aqui recebe um novo impulso problemático acontrovertida questão das escolas e gêneros literários.E é claro que uma proposição metodológica circular esimultânea terá de reconhecer nessas categoriasapenas processos de estruturação, valorizados semdúvida como instâncias pedagógicas insubstituíveis.Porque fora desse prisma a força classificadora se reduze se anula, especialmente hoje quando se tornamincompatíveis a função sincrônica dos gêneros e aimagem pancrônica da cultura planetária” (Ibidem: 8).

VOCABULÁRIO:

Peculiar: especial;Mitômano: mistificação;Implementa: pratica concretamente;Hipostasiada: divinizada;Disseminada: divulgada;Proposição: proposta;Instâncias: recursos;Sincrônica: que ocorre ao mesmo tempo // dentro do

tempo;Pancrônica: tudo ao mesmo tempo.

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181.6 – 1.6 – 1.6 – 1.6 – 1.6 – Estudos de Textos Teóricos

Os estudos de textos teóricos serão necessários nodecorrer do período letivo. Além dos textos que serãooferecidos pelo tutor, o aluno poderá complementar o

Leituras Complementares

Livros recomendados:CULLER, Jonathan. Teoria Literária. Tradução: Sandra Guardini T. de Vasconcelos. São Paulo: Beca, 1999.PORTELLA, Eduardo. Teoria Literária, 1. ed., Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1974.SAMUEL, Rogel (org.). Manual de Teoria Literária. 13. ed., Petrópolis: Vozes, 1999.SAMUEL, Rogel. Novo Manual de Teoria Literária. 3. ed., Petrópolis: Vozes, 2005.

seu aprendizado sobre Teoria da Literatura e/ou TeoriaLiterária lendo os livros apresentados na Bibliografia.

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19

Sintetizado:

2.1 –2.1 –2.1 –2.1 –2.1 – Arte e Literatura

Arte

“A arte abala, cria um clima de tensão, transfere eliberta, ou promete libertar. A arte cria uma tensão paraprovocar a libertação. Ao libertar a tensão, libera aliberdade. A liberdade é o fim de toda a tensão, mas sóé conseguida depois da tensão de uma crise aliberdade é catártica, conseguida após o extremo”(Ibidem: 12)

Teoria Literária

• Fornece elementos para a apreensão do FenômenoLiterário;

• Aberta às múltiplas dimensões da Literatura;

• Caráter interdisciplinar e, ao mesmo tempo,independente;

• Não pode estar desvinculada do contato profundoe constante com o texto literário (a teoria nasce dotexto e para ele se volta; o texto literário guarda a teoria,implícita ou explicitamente).

“A Teoria Literária assume um caráter interdisciplinarporque assimila os conhecimentos de ciências afinstais como a sociologia, a antropologia, a lingüística, ahistória, a psicanálise, todas voltadas igualmente paramanifestações do ser e do fazer humanos. Este inter-

relacionamento amplia e enriquece o estudo daLiteratura. (...) A crítica, qualquer que seja a via deacesso escolhida (sociológica, psicológica,lingüística...), não pode descartar-se de sua duplafeição: enquanto crítica obedecerá a um rigor, que lheé garantido pelo método de abordagem, e, enquantoliterária, incluirá literariamente o sentido que, naliteratura, ultrapassa o campo do conhecimento com oqual se articulou, na construção do modelo de leitura”(SOARES, Angélica. In SAMUEL (org.), 1999: 90 - 1).

“A Teoria Literária reúne uma coleção de ciênciasque alguns tratam por “teoria da literatura”, outros de“teoria literária”. Esta distinção existe: “teoria literária”se diz da teoria que nasce da prática literária, da obra,da leitura; e a “teoria da literatura” vê a literatura comoobjeto do saber” (SAMUEL, 2005: 7).

“A arte não se pode identificar com um utensílio. Aarte é gratuita, isto é, sua finalidade é quase a própriaarte. A arte não deve ter finalidade, porque ela é umafinalidade em si mesma. É uma atividade lúdica, isto é,não tem finalidade fora de si mesma” (SAMUEL,Rogel. In SAMUEL (org.), 1999: 12).

UNIDADE II

TEORIA, ARTE E LITERATEORIA, ARTE E LITERATEORIA, ARTE E LITERATEORIA, ARTE E LITERATEORIA, ARTE E LITERATURATURATURATURATURA

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2.2 – 2.2 – 2.2 – 2.2 – 2.2 – As Funções da Literatura Desde Platão eAristóteles

Literatura

-Literatura (ARTE LITERÁRIA): Caracteriza-se pelapluralidade de sentidos, ou seja, é plurissignificativa;

-Literatura (ARTE LITERÁRIA): “Quando a literaturafaz a mimese da ação humana, intensificando apercepção, distorcendo a realidade, pressiona odiscurso com suas promessas de liberdade. O potencialpróprio da arte reside nisso: a não-identificação com a

realidade cria um impasse, cuja solução é a catarse,que é conseqüência da mimese” (Idem, 2005: 12).

- “A literatura faz parte do produto geral do trabalhohumano, da cultura. A cultura de um povo se realiza,em diversos sentidos, nas ciências e nas artes. É umconjunto de fatos e hábitos socialmente herdados, quedetermina a vida dos indivíduos” (Ibidem: 9).

FUNÇÃO (etimologia): Do latim functio; -önis:trabalho; exercício de órgão ou aparelho; execução;funcionamento; prática; uso; cargo, espetáculo;solenidade; cumprir; desempenhar; exercer; executar;satisfazer; fruir.

Função:

- Atividade natural ou característica de algo(elemento, órgão, engrenagem, etc.) que integra umconjunto, ou o próprio conjunto;

- Obrigação a cumprir, papel a desempenhar, peloindivíduo ou por uma instituição (por exemplo: afunção de mediador em um conflito);

- Emprego, exercício, atualidade de um cargo (porexemplo: estar ou entrar em função);

- Uso a que se destina algo; utilidade, emprego,serventia (por exemplo: uma única ferramenta comvariadas funções);

- Qualidade do que tem valor, resulta em proveito(por exemplo: para os alunos de Letras, estudar TeoriaLiterária ainda tem sua função);

- Reunião social; solenidade, festa (por exemplo: nãocompareceu àquela função para a entrega dos prêmios).

“Que estuda a teoria literária? Ela quer saber o que éliteratura? Que textos? Que tipos, que gênerosexistem? Como se faz a leitura? Como se recebe otexto? Como interpretá-lo? Quais os interesses ocultosdo seu saber?” (Ibidem: 7)

As Funções da Literatura desde Platão eAristóteles

“A história, reflexo das realizações humanas, édinâmica, o que não impede que levemos em

consideração a existência de certas convençõesestéticas de que a obra participa e que lhe dão umacerta modelização. Toda obra artística é autônoma emsua validade estética, mas não é independente dacultura de sua época e das influências da cultura deépocas anteriores: assim como nós, seres humanos,que também temos as nossas marcas genéticas e asque vamos adquirindo na nossa trajetória existencial,que nos tornam diferentes dos outros seres com quemconvivemos e, ao mesmo tempo, semelhantes a eles,em se tratando de elementos comuns a nossa condiçãohumana.

Precisamos estar alertas para reconhecermos eacolhermos as novas possibilidades criadoras querealmente possam participar da grande famíliacomposta através dos tempos pelos gêneros literários.

É de capital importância frisar que a obra literária,sendo um organismo formado de múltiplos aspectos,onde se articulam elementos morfológicos, sintáticos,semânticos, imagísticos, simbólicos, fônicos, rítmicos,etc., que articulados a outros aspectos particularesaos gêneros dos quais participa mais intimamente, nãopode ser reduzida a um mero catálogo de regrasapriorísticas.

Outro problema que se coloca com bastante nitidez éo da possibilidade ou não de uma mesma obra conterelementos característicos de vários gêneros. Durantealguns momentos históricos não se admitiu acontaminação dos gêneros literários, da mesma formaque não se admitiam contaminações em outras esferasda vida, como, por exemplo, na social, na política e nareligiosa. A visão do mundo ou ideologia de uma épocasempre se refletirá no fato cultural. Mas o que deixoumuitas vezes os críticos confusos foi não terem elespodido explicar aquelas obras que não se enquadravamnos modelos estabelecidos e que, numa análise maismeticulosa, mostravam-se rebeldes às convenções echeias de novas propostas. O remédio muitas vezesfoi recusá-las como obras de valor, por falta de

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21parâmetros norteadores. Foi o caso do romance, porexemplo, que só no século XIX encontrou a suaverdadeira expansão como gênero.

Com a nova visão crítica do século XX, e aquipoderíamos usar o plural, voltada mais para oconhecimento intrínseco da obra literária, o estudodos gêneros literários viu-se enriquecido, pois agorapode-se ter a liberdade de compreendê-los em toda asua importância e substancialidade, e em sua utilidadena elucidação de certos comportamentos estéticos,sem a preocupação de aceitá-los através de uma visãocompartimentada e empobrecedora da obra literária.Que o estudo dos gêneros literários sirva de meio parase chegar à compreensão global da obra, mas não deprincípio básico norteador de um conhecimento quese queira mais totalizante.

E não nos esqueçamos de que, para podermosempreender uma visão profunda do fato literário, énecessário que levemos em conta a sua gênese”(CASTRO, Manuel Antônio de. In SAMUEL (org.),1999: passim 30-63).

Conceituação Historiográfica

“Nos livros III e X da República, Platão se refere aosgêneros literários, estabelecendo então as trêscategorias: poesia épica, poesia dramática e poesia lírica.Como base desta tripartição dos gêneros, no livro III,leva em consideração o grau de imitação (mimésis) quecada um estabelece em relação à realidade. A poesiadramática, por ele chamada de mimética, era a que imitavaos homens em ação. A poesia lírica, que não imitava oshomens em ação, caracterizando-se mais por seuaspecto subjetivo, era não mimética. A poesia épica eraa que participava dos dois procedimentos anteriores,sendo, portanto, um tipo de poesia mista (utilizava tantoo diálogo direto, quanto a narração). Posteriormente,no livro X, irá abolir essa distinção a partir da mimésis,considerando toda poesia como mimética, isto é, comoimitação da natureza. Mas continuará a manter atripartição anterior. A teoria platônica dos gênerosliterários só pode ser entendida, mais radicalmente, se aarticularmos com o pensamento do filósofo sobre o“mundo das idéias” e o mundo onde habitamos. (...)

O conceito de gêneros literários encontrou emAristóteles, filósofo grego que viveu no IV século a.C. (384 a.C. a 322 a.C.), um vasto campo de reflexão.Sua doutrina permanece ainda atual, devido à grandesensibilidade e ao espírito científico com que marcoua sua Poética, obra dedicada principalmente ao estudoda tragédia e da epopéia. Realizando profundasinvestigações no campo da estética, da retórica e dapoética, reconheceu a existência de três gênerosfundamentais, ou de três formas essenciais em quepode se apresentar o fenômeno poético: o gêneroépico, o gênero lírico e o gênero dramático.

Aristóteles abordou o problema à luz da observaçãodas obras literárias gregas, e aprofundou a sua visãodo fato, pela constatação da importância do conteúdona classificação de uma obra dentro de um gênerodeterminado. Deduzimos daí que para ele o gêneroliterário é uma determinada forma que deve estar emconsonância com o conteúdo e com a maneira comoeste é comunicado ao leitor. (...)

Horácio, poeta latino que viveu de 65 a.C. a 8 a.C., nasua obra Epistula ad Pisones, considerada sua artepoética, desenvolve com segurança alguns problemasreferentes à criação poética e, entre eles, os gênerosliterários. Segundo ele, o poeta deve adaptar osassuntos tratados ao ritmo, tom e metro adequados aoestilo próprio de cada gênero. Isto significa que cadatema deverá ter a sua forma própria, não se admitindohibridismos. A teoria poética horaciana creditava àcriação literária uma finalidade moral e didática,instrumento de educação e de prazer, cujas regrasdeveriam ser rigidamente respeitadas, segundomodelos ideais.

O Renascimento recuperou os preceitos jáconhecidos das poéticas aristotélica e horaciana.Segundo os críticos da época, a poesia, para atingir ograu de universalidade, deveria ser realizada segundomodelos prefixados pelos tratados ou artes poéticasaté então difundidos. O conceito de imitaçãoaristotélico foi levado às últimas conseqüências,interpretado como cópia da realidade e não comorecriação. No caso específico dos gêneros,conceberam-nos como cópias fiéis dos modelos greco-romanos. (...)

Esses princípios foram confirmados no períododenominado Neoclassicismo ou Classicismo Francês.Cada gênero ou subgênero possuía os seus temasespecíficos, seu estilo próprio e seus objetivospeculiares. Esta época, século XVII e inícios do séculoXVIII, reflete o pensamento da aristocracia, classedominante política e socialmente, que não admitiaquestionamentos sobre a validade do seu poder e cujavisão de mundo irá determinar, no campo artístico-literário, uma maior valorização de alguns gêneros(epopéia e tragédia) em detrimento de outros (lírica ecomédia). (...)

Mas sabemos que havia outras posições paralelas edivergentes no cenário do século neoclássico, querefletiam idéias favoráveis a uma maior abertura doconceito de gêneros literários. Tem início na França acélebre querela dos Antigos e dos Modernos. OsAntigos, firmados nos modelos greco-latinos, negavama possibilidade de se estabelecerem novas regras paraos gêneros tradicionais, enquanto os Modernosadvogavam a superioridade das literaturas modernasem relação à literatura greco-latina, recusando-se aaceitar a intemporalidade das normas clássicas. Obras

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22com características híbridas, como as de Lope de Vejae Calderón de la Barca, foram motivo de violentosataques por parte dos Antigos.

Em meados do século XVIII surge o movimentoalemão denominado STURM UND DRANG(Tempestade e Ímpeto) que questionará violentamenteas posições rígidas neoclássicas, substituindo a teoriatradicional dos gêneros pela crença na autonomia decada obra literária. Abre-se caminho para a doutrinaromântica que apregoava uma melhor fundamentaçãoteórica sobre o assunto, baseada em elementosintrínsecos e filosóficos. (...)

A partir da segunda metade do século XIX, opositivismo e o naturalismo, juntamente com as teoriasevolucionistas de Spencer e Darwin, irão influenciartoda a cultura européia. Destacamos o crítico Brunetière(1849-1906), que tentará reabilitar o conceito degêneros, comparando-os a organismos vivos, comnascimento, crescimento, morte ou transformação.Nesta concepção, os gêneros, assim como os homense a história, estavam sujeitos às leis da evolução naturalda espécie. (...)

Contra a teoria de Brunetière surge a Estética deBenedetto Croce (1902). Segundo ele, não se podedistinguir e dividir a unidade intuição-expressão, queestá na base do processo criador. Os gêneros, seconcebidos como formas modelizadoras, aprisionariama criação e fragmentariam a totalidade da obra. (...)

Teorias mais modernas [meados do século XX], comoa de Warren e Wellek, expostas no livro Teoria daLiteratura, não contradizem a doutrina aristotélica,mas lhe acrescentam novos princípios. Gênerosliterários, segundo estes autores, representam umasoma de artifícios estéticos que modelam as obrasliterárias e atuam tanto sobre a forma exterior (metro,ritmo, rima, etc.), quanto sobre a forma interna (atitude,tom, propósito, assunto). (...)

Outra posição bastante inteligente é a de Emil Staigerque, em seus Conceitos Fundamentais da Poética,propõe o estudo dos gêneros através da captação da“essência” dos três estilos básicos: o lírico, o épico eo dramático. Seu objetivo é provar a presença daessência do homem nos domínios da criação poética”(ARAGÃO, Maria Lúcia. In SAMUEL (org.), 1999: 66-72).

Século XX – Final

“Como elemento de cultura, a arte literária é hoje umreduto de luta que protesta contra a utilização

instrumental do homem pela técnica. É um momentodo espírito humano em que o homem se redescobrecomo ser cultural. A literatura baseia-se na percepçãoda alma por si mesma e em si mesma, disse Hegel.Representa o espírito para o espírito, representando ointerior e a exterioridade que sempre revela ainterioridade do humano. A literatura é capaz derepresentar um objeto em toda a sua íntimaprofundidade. O espírito se objetiva para si mesmoatravés da fantasia da imaginação. A imaginação é poisa base geral de todas as formas artísticas, ela é a matériasobre a qual a arte trabalha. A literatura trabalha para odesenvolvimento da intuição interior, seu objetivo é oreino do espírito humano. A missão da literatura, comofato cultural, é evocar a potência do espírito, tudoaquilo que nas paixões e nos sentimentos humanosnos estimula e nos comove. Esses estímulos estão aserviço da transformação da sociedade. É a emoção, asubjetividade, o principal motor de transformaçãosocial” (SAMUEL, Rogel. In SAMUEL (org.), 1999:10).

Século XXI – 2006

“A literatura de hoje se revela contra a “ideologia”do gênero. O poema [por exemplo] revela esta lutaideológica e a linguagem do homem no mundotecnológico está na linguagem e ideologia do poema.A literatura, como todas as artes, tornou-se autônoma,mas essa autonomia da arte sempre considera aliberdade num domínio particular, liberdade dentro doespaço da própria arte. Isto cria uma contradição como estado de não-liberdade no todo social. (...)

O problema é encontrar um espaço literário onde aliteratura continue a fazer a crítica da ideologiadominante, fora do âmbito do poder. Existirá esteespaço? Poderá a literatura deixar de ser um “bemcultural”, com fins comerciais, ao nível dos outrosprodutos, como os produtos eletrônicos? Tendoperdido a sua “aura” há mais de um século, existiráainda a literatura? E a questão do gênero se coloca.(...)

Talvez, o maior desafio que o conceito de gêneropõe para a teoria contemporânea é a sua recusa adesaparecer. Embora variável, ele permanece umacaracterística da arte verbal. Como Fowler insiste, aliteratura não pode sair do gênero sem cessar de serliteratura” (Idem, 2005: passim 51-59).

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232.3 – 2.3 – 2.3 – 2.3 – 2.3 – Literatura e Linguagem: As Funções daLinguagem e o Discurso Literário

Literatura

- Arte de compor ou escrever trabalhos artísticos emprosa ou em verso;

- O conjunto de trabalhos literários de um país ou deuma época;

- Qualquer dos usos estéticos da linguagem: literaturaoral, literatura erudita, literatura popular, literatura demassa, etc.

Linguagem

- O uso da palavra articulada ou escrita como meiode expressão e comunicação entre pessoas;

- A forma de expressão pela linguagem própria de umindivíduo, grupo, classe, etc. Por exemplo: linguageminfantil;

- O vocabulário específico usado numa ciência, numaarte, numa profissão, etc.; língua;

- Sistema de signos;

- Etc.

As Funções da Linguagem e o DiscursoLiterário

OBSERVAÇÃO PRELIMINAR: Este item do Programasegue regras formalistas e estruturalistas ( ponto devista cientificista, analítico, dos anos iniciais do séculoXX ). O aluno de Teoria da Literatura deve buscar nosconceitos da disciplina Lingüística um melhorentendimento sobre o assunto (interaçãointerdisciplinar).

“Tendências críticas aparecem no século XX [iníciodo século XX] enfatizando a literariedade do textoliterário como um fato lingüístico, e centrando osignificado de um poema nos padrões internos daimagem, metáfora, paradoxo e ironia. (...)

Os formalistas russos e o estruturalismo francêsforam influenciados pela lingüística de Ferdinand deSaussure, que desenvolveu a tese de que as regrasque determinam um idioma constituem um sistema noqual a função ou significado de uma determinadaunidade lingüística é determinada por sua relação comoutras unidades do sistema global. (...)

O estruturalismo salientou que a literatura, como oidioma, tem uma gramática própria, uma estrutura quea permite comunicar-se e gerar significados, como asconvenções de gênero. (...)

Para os estruturalistas, os gêneros não são sistemasde classificação, mas códigos de comunicação”(Ibidem: passim 50-3).

“Segundo Foucault, o estruturalismo preserva umaúltima ilusão: a de tentar apresentar o mundo para aconsciência como se ele fosse feito para ser lido pelohomem (...). A instabilidade desta última ilusão é a tarefada teoria do pós-estruturalismo.

Enquanto o estruturalismo se tornou possível pornoções de diferença e de linguagem como um contratosocial, o pós-estruturalismo vai além dos limitespercebidos do pensamento” (Ibidem: 128).

“A literatura estrutura conceitos chamados textos.Constituem textos os poemas, as narrativas e os dramas(ou peças teatrais). Tudo é ficção, matéria daimaginação da realidade, uma força, uma não aceitaçãoda realidade tal como se apresenta. (...)

Logos, diz Wittgenstein, significa que o discurso nãopode falar de si mesmo, a não ser que se coloque antesda possibilidade do próprio discurso. O processo daliterariedade se concentra no interior desta dinâmicade logos. A literatura, apreensão do real. Estacapacidade de apreender o real é a literariedade. E aliteratura tem esta capacidade, esta propriedade,devido a dois fatores: a linguagem, entendida comoaquilo que nos capacita dizer aquilo que dizemos; e aidéia ou ideologia, entendida como a apreensão doreal que há naquilo que dizemos” (Ibidem: 14).

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2.4 - 2.4 - 2.4 - 2.4 - 2.4 - Periodização Literária

Objetivo Específico (Ponto de vistacientificista):

· Levar o aluno a distinguir o estilo individual doestilo de época.

Como já examinamos alguns conceitos de literatura,vale ressaltar aqui três conclusões importantes queserão comentadas ao longo desta unidade:

1. A literatura é a arte da palavra.2. A literatura revela uma realidade.3. A literatura, como arte, proporciona um prazer estético.

A literatura será vista, portanto, da seguinte forma:

a) segundo o instrumento usado pelo criador (apalavra);

b) segundo o objeto de atuação (a realidade);

c) segundo o modo de atuar (a revelação);

d) segundo o objetivo básico a que pretende (o prazerestético).

A literatura, como arte, corresponde a um sistema designos, mas um sistema especial que se vale de outro.–a língua utilizada pelo escritor.

A língua é o principal código de que dispõe o homempara a realização de sua fala. O escritor, por sua vez,escolherá, entre as diversas possibilidades deexpressão, aquela que se adapte à sua forma peculiarde encarar a realidade. É nesta escolha que reside oestilo de cada um com maior ou menor singularidade.

Assim como existem objetos que despertam a nossainteligência, que nos chocam, que nos impressioname nos sensibilizam, assim também acontece compalavras – umas no domínio da afetividade; outras, noda intelectualidade.

Às vezes nos afastamos das normas lingüísticas emnome de uma expressão mais pessoal, mais individual.Criamos um estilo próprio, sem a preocupação com asnormas gramaticais. Aqui reside a diferença entre ocampo de ação da estilística e o campo de ação dagramática.

O texto literário corresponde à criação artística.Logo, o estilo individual está a serviço destacriação. Cada um de nós tem um estilo própriona comunicação diária, sem preocupaçõesartísticas.

A linguagem literária se caracteriza, sobretudo, pelaconotação, apesar de utilizarmos esse tipo delinguagem no cotidiano. Mas é importante ressaltarque, num texto literário, aquilo que as palavrasrepresentam vai além do conteúdo lógico, ultrapassaa simples representação mental nelas configurada eque reproduz objetivamente o mundo. Não se apoiasimplesmente no significado, como a linguagem daciência, mas se faz de significado e significante.

Como conclusão, podemos utilizar as palavras deDomício Proença Filho:

As palavras, no texto literário, tornam-semultissignificativas e adquirem um valor específicono momento em que se integram no mesmo e passama fazer parte dos elementos que, interligados einterdependentes, constituem a obra de arte dapalavra (1994:52).

Vamos exemplificar, por intermédio de textos, onde arealidade “rio” vai aparecer através de três visõesdiferentes, ou seja, vai aparecer poeticamente, deacordo com a subjetividade de cada artista que afocaliza.

Texto 1 - Os RiosMagoados, ao crepúsculo dormente,Ora em rebojos galopantes, oraEm desmaios de pena e de demora,Rios, chorais amarguradamente.

24Ponto de Vista Atual:Discurso Literário:

“Sendo a literatura uma forma de apreensão do real,é ideológica, pois sua mimese passa por um códigoideológico. Os dois fundamentos – linguagem eideologia – caracterizam a escrita do texto de

arteliterária. São duas propriedades da escrita e dão aesta definição uma dimensão focalizada e um propósitodefinido, possível de perceber: porque se a linguagemé aquilo que nos capacita dizer o que dizemos, seudizer não se dá sobre um vazio semântico, o que elediz é ideológico, e sua capacidade de dizer manifestaa linguagem” (Ibidem: 15).

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Desejais regressar... Mas, leito em fora,Correis... E misturais pela correnteUm desejo e uma angústia, entre a nascenteDe onde vinde, a e foz que vos devora.

Sofreis da pressa, e, a um tempo, de lembrança...Pois no vosso clamor, que a sombra invade,No nosso pranto, que no mar se lança,

Rios tristes! agita-se a ansiedadeDe todos os que vivem de esperança,De todos os que vivem de saudades...

(Olavo Bilac, Tarde, In Poesias, Rio de Janeiro:Francisco Alves, 1928, p. 300)

Texto 2 - Água CorrenteÁgua Corrente! Água de um rio quietoCortando a alma ignorada do sertão!Levas à tona, aspecto por aspecto,Os aspectos da vida em refração.

Água que passa... sonho prediletoDo lavrador que lavra o duro chão.Trazes-me sempre a evocação de um teto...Água! Sangue da terra! Religião...

Há na tua bondade humana e leal,Quando a roda maior moves do Engenho,Qualquer bafejo sobrenatural...

Ouvindo, ao longe, o teu magoado som,Água corrente! eu me enterneço e tenhoUma imensa vontade de ser bom...

(Olegário Mariano. Água Corrente. In Poesia, Riode Janeiro: Agir, 1968, p.55).

Texto 3 - O RioUma gota de chuvaA mais, e o ventre grávidoEstremeceu, da terra.Através de antigosSedimentos, rochasIgnoradas, ouro,Carvão, ferro e mármoreUm fio cristalino

Distante milêniosPartiu fragilmenteSequioso de espaçoEm busca de luz.Um rio nasceu.

(Vinícius de Moraes, Antologia Poética, Rio deJaneiro: Editora do Autor, 1960, p. 234)

Como se observa, cada um dos autores teve umavisão pessoal e particular da realidade rio, e a projeçãoda essência desta realidade é feita diferentemente poreles. Para Olavo Bilac (texto 1), por exemplo, o rio é a

projeção do seu próprio estado de espírito. É com umaconotação de amarguras, de desejos contrariados einsatisfeitos que a realidade rio se apresenta para ele.Sente-se aí a alma do poeta oprimida pelo inexorável,deixando-se levar pela força incontrolável dodesenrolar da vida humana, enxergando a esperançano futuro e a saudade no passado.

Para Olegário Mariano (texto 2), longe de ser tãosomente água corrente, o rio é o sonho do lavrador, aevocação protetora de um teto, aquele sangue da terraque plasma o misticismo transcendental da religião. Enesse plano atemporal, o rio, movendo graciosamenteo engenho, poupando o braço do homem, transfigura-se na bondade, como a lembrar ao homem agrandiosidade da obra divina, já agora movendo, nãoa roda do engenho, mas o sentimento humano,tocando-o, enternecendo-o pelo dom maravilhoso dosublime e da generosidade.

Finalmente, Vinícius de Moraes (texto 3), mesmoexplicando o nascimento, o desenvolvimento e amajestade do rio, foi buscar no universo poético aconstelação de imagens com que pessoaliza a realidaderio. O poeta parte da causa para o efeito, mostrandoque a simples gota de chuva que se projeta de encontroao solo – seja na flacidez da terra que lhe abre o ventre,seja na natureza das rochas, do ouro, do carvão, doferro ou do mármore – vai gota sequiosa de espaço,em busca de luz, do horizonte largo.

Como podemos ver, a temática é a mesma nos trêstextos, mas cada um enfoca, à sua maneira, a realidaderio. O estilo individual se caracteriza nestas diferenças,nestas singularidades, nestes traços individuais.

Estilo de época

Até aqui vimos a literatura segundo o instrumentode que se vale o criador. Chegamos à conclusão deque a literatura revela uma realidade.

A visão da realidade tem variado de época para época.

“a condição para a existência de uma literaturaé a existência de um povo que vive, pensa,sente, age e, através de uma língua, seexpressa” (Ibidem: 62).

Não é difícil perceber que cada época tem um sistemade padrões, convenções e leis a que se pode chamarcultura. A cultura faz o homem enfrentar o mundo deforma especial. Muda-se a cultura, mudam-se osgostos, padrões, senso de beleza. Cada época vê ohomem à sua maneira. Melhor ainda: em cada época, ohomem vê-se à sua maneira, porque muda a cultura ecom ela o conceito de beleza física e da nobreza moral.A literatura é o reflexo da realidade vivida.

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Exercícios de Auto-Avaliação

Leia o texto que se segue, atentando para a sua construção e estilo; depois responda às perguntassolicitadas.

Igreja

Tijoloareiaandaimeáguatijolo.

Por exemplo, o herói de Homero - preso à mitologia -difere do herói medieval, preso ao livro judaico cristão.O cenário de Os Lusíadas, de Camões, é a história dePortugal no seu auge; o cenário de Guerra e paz, deTolstói, é a invasão napoleônica à Rússia. A mulher deLeonardo da Vinci não é a mesma de Renoir: a pinturaestiliza a concepção de beleza de cada época.

Para um melhor entendimento de estilo de épocautilizemos as palavras de Helmut Hatzfeld, citado porDomício Proença Filho:

A atividade de uma cultura que surge com tendênciasanálogas nas manifestações artísticas, na religião, napsicologia, na sociologia, nas formas de polidez,nos costumes, vestuários, gestos, etc. No que dizrespeito à literatura, o estilo de época só pode ser,avaliado pelas contribuições do estilos, ambíguasem si mesmas, constituindo uma constelação queaparece em diferentes obras e autores, da mesma erae parece informada pelos mesmos princípiosperceptíveis nas artes vizinhas (Ibidem: 63).

Com este conceito, entendemos que:

Desaparece a rigidez com que alguns costumavamestabelecer limites cronológicos para as chamadasescolas literárias, pois as unidades periodológicasem que costumamos dividir a história da literatura,atendendo, sobretudo, à nossa necessidade de dividirpara compreender, passam a caracterizar-se pelostraços estilísticos que predominam e levam adeterminar as marcas gerais da faixa de tempoconsiderada (Ibidem: 63).

Diante do exposto, podemos concluir que nahistória das artes e das letras ocidentais, a partir doséculo XV, predominaram os seguintes estilos deépoca: Renascentista, Barroco, Neoclássico,Rococó, Romântico, Realista (Realismo, Naturalismoe o Parnasianismo), Simbolista, Impressionista eModernista.

Aqui, podemos nos remeter ao esquema dos estilosde época. Como exemplo, citamos o seguinte esquema:

1- CLASSICISMO (antiguidade clássica) - Regras deAristóteles e Horácio - Mitologia - paganismo.

2- IDADE MÉDIA (séc. XII - XV) - Adaptação dacultura clássico-pagã - Deus - Cristianismo.

3- RENASCIMENTO (séc. XV/XVI) - Retorno àsregras clássicas - homem em equilíbrio.

4- BARROCO ( séc. XVII) - Evolução das regrasrenascentistas - homem em conflito.

5- NEOCLASSICISMO (séc. XVIII) - Restauraçãomais rigorosa da preceptiva clássica - Homem emequilíbrio (rigidez).

6- ROMANTISMO (primeira metade do século XIX)-Liberdade para a criação artística - Homem emliberdade (liberté, égalité, fraternité).

7- REALISMO (séc. XIX segunda metade) - Criaçãoartística: observação e análise - Busca, por parte dohomem, de uma dimensão científica.

8- SIMBOLISMO (fins do século XIX, começo doséculo XX) - Criação artística: “eu profundo”- Buscado homem na dimensão psicológica (Homem-alma).

9 - IMPRESSIONISMO (fins do século XIX - começodo XX) - Criação artística: impressão do real.

10- MODERNISMO (séc. XX) - Cubismo (1906),Futurismo (1909), Dadaísmo (1916), Surrealismo (1924)- Criação artística: Busca de integração.

11- PÓS-MODERNISMO (fins do século XX -começo do XXI) - Criação artística: refletora do caos;ver e rer o caos (literatura de acontecimento, insólita).

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27O canto dos homens trabalhando trabalhandomais perto do céucada vez mais pertomais– a torre.E nos domingos a litania dos perdões, o murmúrio das invocações.O padre que fala do infernoSem nunca ter ido lá.Pernas de seda ajoelham mostrando geolhos.Um sino canta a saudade de qualquer coisa sabida e já esquecida.A manhã pintou-se de azul.No adro ficou o ateu,No alto fica Deus.Domingo...Bem bão! Bem bão!Os serafins, no meio, entoam quirieleisão.

(ANDRADE, Carlos Drummond de. Reunião. 10 ed., RJ: José Olympio, 1980, p. 12.)

1- A utilização do espaço é o elemento que primeiro chama a atenção no poema. Comente este aspecto plástico,explicando sua expressividade.

2- Explique o valor semântico (significado) que possuem as palavras que formam os cinco primeiros versos.

3- Observando a pontuação da primeira estrofe, podemos deduzir que seu ritmo é:(....) lento; (....) ágil; (....) pausado; (....) desesperado.

4 - A caracterização espacial, mostrada através da extensão do sexto verso, bem como a repetição da palavra“trabalhando”, sugerem-nos a idéia de um trabalho:

(....) árduo e cansativo;(....) monótono e despreocupado;(....) lento e desinteressado;(....) aborrecível àqueles que o realizam.

5- O que sugere a repetição “mais perto” (verso 7), mais perto (verso 8) e “mais” (verso 9)?

6- Que importância teria a representação gráfica indicada pelo travessão no início do verso 10?

7- Atente para o primeiro verso da segunda estrofe. Observe que ele:· é o mais extenso do poema.· possui uma pausa no meio, representada pela vírgula colocada depois de “perdões”, portanto um ritmo lento.

Considerando esses elementos e o significado de litania, que é o mesmo que ladainha, oração em que se invocaa virgem ou os santos, relação fastidiosa, lengalenga, depreenda o caráter irônico do verso.

8- Os versos “O padre que fala do inferno/ sem nunca ter ido lá”, traduzem, principalmente:(....) ingenuidade;(....) ironia;(....) entusiasmo;(....) revolta;(....) desespero.

9- Com o verso 4, da segunda estrofe, o poeta critica, principalmente:(....) a falta de fé dos fiéis;(....) o desinteresse da religião;(....) a ignorância acerca dos ofícios religiosos;(....) o espírito exibicionista das mulheres;(....) o sacrifício que só as mulheres mostram na igreja.

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Periodização e História da Literatura

Objetivo Específico:· Levar o aluno a identificar os estilos de época,

reconhecer suas diferenças e semelhanças,desenvolvendo, desta forma, o senso teórico-crítico.

Introdução

Um período não é uma etiqueta, muito menos umrígido sistema de normas. Um período literário deveser visto como uma camada de aspectos culturaise estilísticos em que se trabalhou a palavra, emdeterminado tempo e lugar.

2.4.1 – 2.4.1 – 2.4.1 – 2.4.1 – 2.4.1 – Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna

Idade Antiga, Idade Média, Humanismo eRenascimento

Antes de nos aprofundarmos nestes períodos, éconveniente fazermos uma comparação entre aAntigüidade Clássica (Idade Antiga), a Idade Média eo Renascimento (Idade Moderna). Observeatentamente e compare as diferenças e as semelhançasentre os períodos que vamos estudar.

1 - Antigüidade Clássica: entre os séculos V a.C. aoV d.C.

a- Valorização da vida e do mundo. A vida é algo devalioso, num mundo que se projeta em obras para aeternidade;

b- Uniformidade essencial da cultura;

c- Arte enriquecida pela religião;

10- “Geolhos” é a forma arcaica de “joelhos”. Observe bem o arcaísmo. Depois, suprima a primeira sílaba dapalavra e comente, sob este novo aspecto, a crítica que o verso quer mostrar, assim como a razão pela qual opoeta preferiu o arcaísmo.

11- Por que o poeta diz que o ateu fica no adro da igreja, longe de Deus? (Verifique, no seu dicionário, o sentidoda palavra adro, para fundamentar a sua resposta).

12- Explique o uso da onomatopéia no verso “Bem bão! Bem bão!”, justificando a sua construção.

Leitura Complementar

Para melhor compreensão do assunto, leia BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. SãoPaulo: Cultrix, 1992.

Atividades Complementares

1 - Faça um paralelo entre estilo individual e estilo de época.2 - Explique o desaparecimento da rigidez com que alguns críticos costumavam estabelecer limites cronológicos

para as chamadas escolas literárias.3 - Quais os estilos de época que prevaleceram na história das artes e das letras ocidentais?

Não há fronteiras entre os movimentos literários. Elespodem completar-se, interpenetrar-se, ressurgir emnovos aspectos. Na arte gótica, há um sistema deabertura, de ascensão que o Romantismo irá enfatizar.No Barroco, há o mesmo desequilíbrio e instabilidadeque prenuncia o aflorar de paixões do Expressionismo.A luminosidade do Impressionismo pode ser vista emmuitos quadros de Rembrant, Rubens, Velásquez, quesão catalogados como Barroco.

Hoje se encontram nas canções de Paulinho da Violae de Jorge Ben Jor, e outros, os mesmos traçosromânticos dos poemas de Gonçalves Dias e CastroAlves.

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29d- Sentido das formas. Proporção, simetria, equilíbrio;

e- Arte como deleite, como fonte de prazer;

f- Liberdade de espírito;

g- Predomínio de linhas horizontais;

h- Documento de referência fundamental: “Poética”,de Aristóteles.

2 - Idade Média: entre os séculos V e XV

a- Preocupação com a vida além da morte;

b- A alma é o centro da vida humana. O corpo deveriaser desprezado e ocultado;

c- A arte passa a ser meio de oração e de exaltaçãoheróica;

d- Deus e a igreja são o centro do Universo.Predomínio do gótico, cujas linhas ascensionaisprocuraram mostrar a ânsia do infinito que dominara oser humano;

e- Arrebatamento, tormento: prazeres terrenos e odesejo de ascensão espiritual;

f-.Ausência de individualismo, demonstrada naanonimidade das obras;

g-.Arte assistemática. Não há preocupação com asimetria.

3 - Renascimento: entre os séculos XV e XVI

a- Imitação dos clássicos gregos e latinos;

b- Domínio da razão sobre os sentimentos;

c- Idealismo: a arte é uma procura da beleza;

d- Individualismo de temas;

e- A beleza confunde-se com a verdade e o bem;

f- A arte é aristocrata, reservada às elites;

g- Preferência pelos gêneros literários de formas fixas,já consagrada pelos antigos.

h- Colorido, intensidade vital, ímpeto progressista;

i- Arte como deleite, existindo para dar prazer aossentidos;

j- Exaltação do homem e do humano - antropocen-trismo;

l- Equilíbrio, harmonia, clareza, simetria.

É importante que passemos os olhos pela AntigüidadeClássica, para termos uma visão completa dos estilosde época.

2.4.1.1 - 2.4.1.1 - 2.4.1.1 - 2.4.1.1 - 2.4.1.1 - Antigüidade Clássica

Antigüidade Clássica

De toda literatura do mundo antigo, nenhumaexerceu tanta influência no espírito do artista ocidentalcomo exerceram os poetas helênicos e latinos.Nenhuma arte antiga deu testemunho tão marcante àcausa da liberdade ou à crença de que o homem é o sermais importante do universo. A arte Clássica glorificavao homem racional e recusava humilhá-lo ante osdeuses. Colocava o conhecimento sobre a fé, a ciênciasobre a religião, o corpo sobre o espírito e a terra sobreo céu. Os deuses da mitologia não se parecem com asentidades da Bíblia judaico-cristã. São deuses comdesejos e apetites humanos; eram simples sereshumanos ampliados. Para tornarem-se imortais,alimentavam-se de ambrosia e néctar e moravam nãono céu ou nas estrelas, mas no Monte Olimpo.

A Grécia foi o berço da poesia épica. Esta poesianasceu com os aedos - narradores declamatórios. Entretantos aedos, tornou-se imortal o poeta Homero, dequem diziam que era cego e nômade. Escreveu a Ilíadae a Odisséia, provavelmente no século X a.C.

Abaixo faremos um breve comentário, como fontede conhecimento básico:

A Ilíada de Homero: Anterior à Odisséia, canta umepisódio da guerra de Tróia (entre gregos e troianos).O tema, o motivo da guerra ter durado dez anos, com oafastamento do herói da contenda, centraliza-se na“ira de Aquiles”, ou seja, o fato de Aquiles se sentirpressionado a devolver a jovem Briseides, filha de

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2.4.1.2 - 2.4.1.2 - 2.4.1.2 - 2.4.1.2 - 2.4.1.2 - Idade Média

Idade Média

A queda do Império Romano do Ocidente, em 476 danossa era, marca o final da antigüidade e o início daIdade Média, mas é um marco aproximado, porque umperíodo histórico não tem data certa para começar outerminar, não havendo diferenças nítidas entre osúltimos séculos da antigüidade e os primeiros da IdadeMédia. A invasão dos bárbaros e seu domínio naEuropa Ocidental imprimem características decisivasnessa etapa inicial.

Arnold Hauser divide a Idade Média em três fases:

Alta Idade Média - do século VI ao XI Plena Idade Média - do século XI ao XIII Baixa Idade Média - do século XIII ao XV

Vejamos como esta divisão se processa no percursohistórico, cultural e artístico:

Alta Idade Média

Assiste-se à fundação de nova sociedade,provocada pelo deslocamento da vida social da cidadepara o campo e pela passagem da economia monetáriadas cidades antigas para a economia rural das grandespropriedades da terra, que aspiram a se tornarindependentes através de suas próprias forçaseconômicas. Para este tipo de coisas contribui a

invasão do sul da Europa pelos árabes, que fecharamas portas do Mediterrâneo no século VIII. Bloqueadosos horizontes marítimos, o comércio se interrompe, ocapital se imobiliza, o dinheiro desaparece.

A Igreja, vitoriosa, passou a dominar o Estado, aeducação e todas as manifestações sociais e culturais.No natal do ano 800, Carlos Magno é coroado pelopapa imperador romano do Ocidente, quando o famosorei franco se transforma em Protetor da Cristandade. Auniversalidade medieval da Europa Ocidental seconfirma no Estado unitário, em que um círculo sefecha em torno de um deus, um papa, um imperador,estabelecendo-se a unidade de vida na política, nareligião, na arte e na língua latina oficial.Posteriormente, novas unidades estatais começarama se formar, originando a pluralidade das futurasnações.

No século IX instituiu-se o regime do feudalismo pormeio da concessão de feudos, ou seja, extensões deterra com imunidades e privilégios de senhor aosrespectivos proprietários, mediante certas obrigaçõesentre os vassalos e o senhor. A relação contratualincluía aliança e lealdade num sistema de mútuosserviços e obrigações.

Ao tradicionalismo dessa cultura, corresponde arigidez das barreiras que separam classes sociais emnobreza, cleros e povo, sem estádios intermediários.Enquanto vigorava a economia rural na sociedadeimobilizada, não havia espaço para desenvolver a

Brises, sua prisioneira de guerra. O personagemprincipal é o herói Aquiles, filho da deusa Tétis. Depoisde dez anos de guerra, sem a presença do herói Aquiles,Pátroclo, seu amigo e aliado na guerra, é morto pelasmãos do príncipe troiano Heitor. Aquiles se enfurecepela morte do amigo e volta a lutar (depois de ficar àparte durante dez anos), matando Heitor. É belíssima amusicalidade épica, grandiloqüente, dos versoshexâmetros, bem como o enredo. O maravilhoso pagãointervém constantemente nas ações, fazendo ospersonagens odiarem, amarem e sofrerem, conforme acriatura humana.

A Odisséia de Homero: É um poema de inspiraçãomarítima, que canta as aventuras dos navegantesgregos, depois da destruição de Tróia. O personagemprincipal é o herói Ulisses, que aparecesecundariamente na Ilíada. Ulisses, depois de vinteanos longe de seu reino, consegue livrar-se de todosos perigos e chegar à Ilha de Ítaca, onde o espera sua

fiel esposa Penélope. (Helena, na Ilíada, é a esposainfiel de Menelau, raptada por Páris, causadora daguerra; Penélope, na Odisséia, representa o lar, amoradia, a prudência).

A Eneida de Virgílio: A influência de Homero transitouda Grécia para Roma. A glória do Império Romano estavaesperando um cantor. Coube a Virgílio cantar os feitosdos seus compatriotas: imortalizar em um poema oprestígio e o poderio romanos. A Eneida é, portanto, umpoema patriótico, publicado no século I a. C.

Estas informações são importantes para que vocêtenha uma noção da relevância e da influência destaépoca nos estilos e autores posteriores. Ao mesmotempo, apresentando um breve comentário sobre astrês obras – destaques na antigüidade clássica – vocêpoderá se interessar e ler algumas delas, obtendo, semdúvida, uma fonte de conhecimento necessária à suaformação.

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31competência intelectual e, uma vez que faltavamcategorias do pensamento baseadas no dinheiro e nolucro, tornaram-se desconhecidas a idéia de progressoe a necessidade de novo. É uma época tranqüila efirme na fé, sem conflitos espirituais (pelo menosaparente), nem vacilações sobre a validade dasconcepções religiosas e morais. A Igreja detinha todosos poderes, garantia a obediência e controlava a vidaintelectual e artística. O estilo artístico do século XI éo românico, inspirador de catedrais imponentes. Naescultura e na pintura, domina o anticulturalismo,tão de acordo com o antiindividualismo feudal.

Uma das manifestações literárias maisrepresentativas dessa fase é a canção da gesta,expressão do estilo épico medieval, que canta emlongos poemas as aventuras heróicas dos super-humanos guerreiros cristãos, em luta contra os árabespagãos.

Plena Idade Média

Ao estilo românico sucede o gótico, caraterizadopela leveza arquitetônica, de delgadas torres eestreitas ogivas e pela busca de maior fidelidade aoreal, num crescente naturalismo na representação dasfiguras de santos.

No século XI, aos poucos, a vida se desloca docampo para a cidade, e o comércio começa amovimentar o capital imobilizado. O dinheiro eliminaa rígida barreira das classes, a aquisição da riquezapassa a depender da aptidão pessoal e inteligência, enão mais um privilégio de nascimento, o que vaiassegurar à burguesia uma posição de classe, atravésda posse de bens.

O homem e a terra, desprestigiados pelo pensamentoreligioso, começam a se valorizar, como resultado deum maior apego aos bens materiais. A religião se tornamais humana e emocional, a cultura se seculariza edesaparece o monopólio da educação clerical. Noséculo XI fundou-se a ordem da cavalaria, constituídano começo por guerreiros profissionais a serviço degrandes proprietários e príncipes, mas depois osguerreiros passaram a dispor do feudo, que se tornouhereditário, dando surgimento à aristocracia dos

cavaleiros - nova classe que vai surgir . Nos fins dosséculos XII e XIII, a cavalaria integra a nobreza e se fazgrupo fechado, dotado de um sistema éticointransigente e de uma nova concepção sobre oheroísmo e a honra de classe.

A principal manifestação literária desta época é apoesia trovadoresca, que surgiu em Provença e sedifundiu graças aos jograis, por toda a EuropaOcidental. Poesia tipicamente aristocrática, encontrouo ambiente propício para seu desenvolvimento nascortes. Os ideais de vida aristocrática: a) O sistemaético da nobreza, com seus ideais de fidelidade,heroísmo, sentimentos da honra, intransigência moral,respeito à mulher; b) Amor idealizado.

É importante ressaltar que, na antigüidade, o amorestava ligado à sensualidade, sem exercer influênciana personalidade do amante; na época trovadoresca, oamor é transformado em princípio educativo e forçaética – origem de valor e perfeição. O homem não fazexigências e se limita a sofrer e a adorar a mulher –exemplo de perfeição moral e beleza.

Baixa Idade Média

A burguesia triunfante fortaleceu a economiamonetária e mercantil que determinou a orientação detoda revolução social a partir da plena Idade Média,levando essa classe à independência e, depois, àhegemonia política e social.

A nobreza procura adaptar-se ao espírito econômicoe à ideologia racionalista da burguesia, enquanto opoder da Igreja decai, na medida em que a religião nãoé mais a força diretriz da cultura. Perde valor a estéticapedagógica que justificava a arte como veículo daverdade doutrinal e a poesia didática e alegórica seencaminha para o fim, já que desponta a estéticahedonista que dominará o Renascimento.

Os interesses espirituais e ultramundanos perdem suaimportância, cedendo lugar aos interesses materiais. Avisão teocêntrica, que considerava todo o mundo comomanifestação do plano divino, cede espaço aoantropocentrismo, voltado especialmente para o homem.

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2.4.1.4 – 2.4.1.4 – 2.4.1.4 – 2.4.1.4 – 2.4.1.4 – Idade Moderna: Renascimento

As palavras Renascimento ou Renascença serelacionam ao verbo renascer, não somente comrelação à cultura latina, mas também à grega. Entreas idéias gerais do período, destacam-se: a natureza,o humanismo e a antigüidade.

A natureza

A mentalidade renascentista, sob diversos aspectos,superou e rejeitou os padrões de vida cultivados naIdade Média. Se esta dava prioridade ao sobrenatural,os renascentistas se preocuparam em elaborar umquadro de valores cuja base era o natural. Isto equivalea dizer que a natureza – o cosmos – passou a ser vistacomo algo que devia ser conhecido para ser dominadoe submetido ao poder do homem. Isso levou osestudiosos a definir o período como antropocêntrico– o homem como centro – em oposição ao teocen-trismo medieval.

O humanismo

O humanismo renascentista quis enfatizar que tambéma natureza humana passaria a ser vista diferentementepelos homens. Eles romperam com dependência e coma servidão que, durante a Idade Média, ligavam-nosao sobrenatural. Fizeram isso submetendo todas asidéias tradicionais a um exame mais crítico, inclusivedo ponto de vista religioso. Discutiram, por exemplo,a hegemonia da Igreja. E dessa atitude surgiram osmovimentos da Reforma, por intermédio de MartinhoLutero e João Calvino.

Também as relações sociais se deixaram afetar, umavez que o comércio com o Oriente foi intensificado,

Renascimento

Renascimento é a designação geral do espírito quedominou o século XVI e que teve como berço a Itália,já no século anterior. Como indica o historiador daarte E. H. Gombrich:

Os italianos estavam perfeitamente cônscios de que,no passado distante, a Itália, tendo Roma por capital,fora o centro do mundo civilizado, e que seu podere glória se dissipara quando as tribos germânicas,godos e vândalos, invadiram o país e desmantelaramo Império Romano. A idéia do renascimentoassociava-se na mente dos romanos à idéia de umaressurreição da grandeza de Roma (1981: 167).

Na estrutura dos estudos humanísticos, concretiza-se uma nova concepção da cultura, que passará aadotar uma atitude crítica, ao invés do dogmatismomedieval, fundado na autoridade religiosa. Essemétodo não aceita com veneração a tradição, mas asubmete a livre exame. O novo método de pesquisa,análise, confronto e discussão da experiência está nosprincípios da civilização contemporânea.

2.4.1.3 – 2.4.1.3 – 2.4.1.3 – 2.4.1.3 – 2.4.1.3 – Humanismo: Momento de Transição

Humanismo

O humanismo foi um movimento filosófico eliterário, divulgado nos países europeus e surgidoem meados do século XIV, na Itália, onde atingiu oseu momento culminante no século XV,representando um acontecimento central da culturaRenascentista.

A palavra humanismo deriva do latim humanaelitterae. Com a expressão ciceroniana studiohumanitatis, os humanistas batizaram suas pesquisasfilológicas e suas redescobertas da antigüidadeclássica que restabeleciam, por meio da análise dosmanuscritos antigos, a perspectiva adequada,superando as falsificações acumuladas pelosintérpretes da Idade Média, para os quais o mundoantigo merecia ser conhecido e estudado apenas comopreparação da era cristã. A antigüidade era vista atravésda ótica medieval que consistia na interpretação

alegórica, a partir da qual se procurava um ensinamentoprofundo, moral e religioso, situado além do sentidoliteral das coisas.

Os escritores antigos passaram a ser admirados alémda perfeição da língua e do estilo, também comomodelos máximos de humanidade. Desde então seestabeleceu a fundamental discussão em torno dadoutrina da imitação dos antigos, que se prolongoudo século XV aos séculos XVI e XVII.

A palavra humanismo põe em destaque o própriohomem que, desprezado na Idade Média na suaqualidade de criatura pecadora, ocupa agora o centrode interesses, graças a uma nova valorização que abrecorrespondente à nova mentalidade burguesa, que fazcrescer a economia monetária e mercantil.

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33em decorrência das rotas marítimas. O dinheiro passoua assumir um significado mais efetivo na criação deuma nova classe, a burguesia, que começou a rompercom a estrutura fixa da sociedade medieval. Assim, aolado do clero e do nobre, instalou-se o burguêsendinheirado, que inclusive adquiriu feudos para senivelar com a nobreza.

A antigüidade (Renascimento: retomada devalores clássicos)

A antigüidade foi representada pelos textos dosautores gregos e latinos e, com isso, foi intensificadasua pesquisa e estudo. Neste sentido, grande foi aimportância que desempenhou a imprensa (final doséculo XV), que possibilitou a divulgação dos textosoriginais e traduzidos, bem como os comentários eestudos que eram produzidos pelos humanistas. Aimportância dada aos valores da estética greco-latinase manifestou sob as mais variadas formas, inclusivepela presença da mitologia.

As línguas nacionais já estavam aptas a serem nãoapenas faladas no dia-a-dia, mas escritas. Com isso, olatim, que antes dominava, passou a ser apenas alíngua dos estudos nas universidades, enquanto ofrancês, o espanhol e o português por exemplo, criaramcorpo em obras literárias.

Um fator importante na formação da mentalidaderenascentista foi o movimento franciscano, surgidona Itália, sob a inspiração de S. Francisco de Assis(século XIII) e que inaugurou o sentimento deintegração frente à natureza, pouco valorizada pelopensamento religioso medieval. Na Itália, no final daIdade Média (século XIV), viveram três dos maioresnomes da literatura universal: Dante, Petrarca eBoccaccio, que influenciaram muito o pensamentorenascentista.

As leis da arte se racionalizaram e o belo resultou daconcórdia lógica entre as partes singulares de umtodo, obedientes ao princípio da unidade. Decaiu oestilo gótico na arquitetura. As igrejas passaram arefletir o esplendor e a luminosidade dos templospagãos, à proporção que a severidade dos antigospalácios se atenuavam, cedendo lugar ao luxo queresplandeceria na decoração dos tetos. A

representação da figura humana perdeu a solenidaderígida bem como a abstração da arte medieval. Naescultura, o naturalismo se sobrepôs aoantinaturalismo, ostentando a plenitude dacorporeidade do homem. As figuras grandiosas doséculo XVI revelaram o poder de uma raça de belos

É importante observar que o Renascimento foianticlerical, antiescolástico, mas não incrédulo. Asidéias de salvação, redenção, pecado original, quefaziam parte da vida espiritual da Idade Média,passam a segundo plano sem, contudo, faltar areligiosidade, embora predomine o gosto peloselementos pagãos.

No século XIV, com Petrarca, surge o poetapreocupado com as belas formas que faz do escreveruma atividade autônoma, fora do interesse prático,moral e religioso, que orientava o fazer literário em umtempo em que a Igreja detinha o poder sobre a cultura.

No Renascimento, vive-se o carpe diem de Horácio– goza o dia de hoje –, um entregar-se intensamenteao momento presente, já que não se tem certeza doamanhã. Essa atitude representa um traço fundamentaldo hedonismo renascentista. O homem, senhor domundo e sedento em conhecê-lo, tem o direito deaproveitar todas as delícias, gozando a vida e seusprazeres. Essa busca do Prazer torna-se um dever, jáque a vida é breve. Este convite ao prazer se mesclacom uma certa dose de tristeza em decorrência dafugacidade do tempo – sentimentos que influenciarãogrande parte da produção poética do período.

Como conclusão, podemos tecer uma comparaçãoentre o homem medieval e o renascentista. Na IdadeMédia, o homem encontrava a sua dignidade na origemdivina e resumia o objetivo de sua vida na preparaçãopara o mundo além-túmulo, dependente da providênciaDivina para poder se elevar; já no Renascimento, ohomem cria o seu destino. Sua dignidade se revela naprópria condição humana, cujo objetivo consiste emviver intensamente para obter as recompensasterrenas: as belezas e os bens da terra.

Imagine a riqueza desta época, explorada nos textosliterários que você estudará, sem dúvida, nas literaturasportuguesa e brasileira com o auxílio da Teoria Literária!heróis, confiantes na própria força.

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342.4.1.5 - 2.4.1.5 - 2.4.1.5 - 2.4.1.5 - 2.4.1.5 - O Maneirismo e o Barroco

2.4.1.6 - 2.4.1.6 - 2.4.1.6 - 2.4.1.6 - 2.4.1.6 - O Maneirismo

Antes de começarmos o estudo desses estilos, éimportante ressaltar que o Maneirismo, surgido em finsdo séculos XVI e prolongado até o começo do séculoXVII, foi considerado, inicialmente, apenas como um

O Maneirismo

O maneirismo surgiu na Itália em meados do séculoXVI e começo do XVII. Seu nome vem da palavraitaliana maniera, que servia para indicar um estiloartificial e cerebral. Na verdade, o maneirismo é aexpressão artística da crise européia no século XVI,ante os valores renascentistas em decomposição. Oideal do herói renascentista começa a decair; a idéiade equilíbrio, clareza, harmonia, simplicidade, simetria,soava falsa; a confiança antropocêntrica vacila, e ohomem perde a fascinação experimentada pelaconsciência da própria grandeza e sua conseqüentesensação de segurança.

A angústia da crise, que se infiltrava nos setorespolíticos, econômicos e religiosos, substitui a euforiarenascentista. A Itália, líder do movimento cultural nosúltimos séculos, sofre terríveis abalos: o saque deRoma em 1527; a dominação do território italiano porfranceses e espanhóis após anos de luta; a perda dasupremacia econômica com o deslocamento docentroneo para o Ocidente; a formação das grandespotências e suas colônias; o risco dos fabulososnegócios seguidos, ao mesmo tempo, de grandeslucros e grandes perdas. Enfim, todos esses fatorescontribuíram para a instauração do medo e dainsegurança, que caracterizam o espírito maneirista.

A crise também afeta o espírito religioso. Cria-se anecessidade de combater a corrupção da Igreja efortalece-se a urgência de uma recuperação do antigoprestígio, tão seriamente abalado. Muitos conflitos eguerras religiosas ocorrem nesse período. De um lado,a Reforma protestante de Lutero que tenta imprimir umnovo espírito à Igreja e instaura a dissidência; poroutro lado, surge a contra-reforma que busca recuperaro espaço perdido pela Igreja. A contra-reforma preparanovos rumos para o catolicismo. Impõe rígida disciplinae severo rigorismo na fé; estabelece leis para a censurajá instaurada; põe em prática a Inquisição; controlatoda a produção artística e literária; persegue os

humanistas; decreta a autoridade infalível da Igreja ea obediência cega ao papa. Nesse panorama de extremaseveridade e rigidez era normal que surgisse o medo eo pavor; a dúvida se instaura e o fanatismo se alastrapelo mundo.

Cria-se a Companhia de Jesus (1540) e o papel dosjesuítas se destaca na formação da nova cultura e dosprocessos políticos. O Concílio de Trento (1545), porintermédio de suas sessões, discutirá questõesreferentes à nova política da Igreja. A obediênciapassiva que a nova orientação da Igreja exigia,provocaria rudes golpes no espírito crítico doRenascimento. O realismo político, do Concílio deTrento, pregava a filosofia de Maquiavel, de que osfins justificam os meios. O resultado dessa filosofiafoi a separação entre a prática política e os ideaiscristãos. A crise econômica crescia devido àdesenfreada especulação financeira. Desta forma,aumenta a incerteza do perigo causado pelos imensosnegócios, nunca realizados antes, em tão grandesproporções. A insegurança, a alta dos preços e odesemprego são evidentes.

Os modelos clássicos continuam a servir de padrão,porém, ao invés de imitados, sofrem distorções eexacerbações. A versão maneirista do carpe diemprolonga e exagera o modelo anterior e se reveste detonalidades sombrias. A unidade espacialrenascentista se desintegra, a linguagem se emaranha.Toda a produção artística parece abalada pelovendaval ameaçador das consciências, prosseguindono período barroco, mas este vai procurar aconciliação das polaridades em choque, tão típicasdo Maneirismo. Arnold Hauser, no primeiro capítulodo seu livro Maneirismo, conceituará, de forma maisaprofundada, o conceito de Maneirismo. Éaconselhável que você leia para se inteirar mais sobreeste período tão polêmico e, ao mesmo tempo, tãofascinante.

O Maneirismo e o Barroco

período de transição entre estilos; após ter sidoresgatado por Arnold Hauser, passou a serconsiderado como um estilo absoluto, daí anecessidade de o estudarmos separadamente.

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352.4.1.7 -2.4.1.7 -2.4.1.7 -2.4.1.7 -2.4.1.7 - O Barroco

O Barroco

O Barroco floresceu no século XVII e constituiuuma fase de exuberância e fantasia, encontrada emtodas as manifestações culturais do período.

A Igreja é responsável pela grandiosidade monu-mental da arte barroca, cujo objetivo era exprimir aglória do seu triunfo. Não podemos considerar acontra-reforma como causa determinante do Barroco,mas como elemento fundamental que estruturou suaideologia. A Espanha, poderosa politicamente,representou o ponto fulcral da contra-reforma e seuespírito influenciou todo o século.

A ânsia de transcendência constituirá o eixo de todoo pensamento do homem barroco. Ao lado da visãodo espaço infinito, desenvolve-se uma concepçãoangustiosa do tempo, na modalidade de fuga,dissolução e morte. O maior tema da arte barrocaencontra-se na morte, reflexos da efemeridade, que oartista sente o doloroso prazer de recordar.

O homem, sabendo-se simultaneamente grande emiserável, anjo e animal, eterno e transitório, expressa-se por antíteses que refletem o sentimento deinstabilidade da realidade e a tensão anterior, resultantedo conflito entre o profano e o sagrado, o espírito e acarne.

O naturalismo das figuras divinas põe em destaqueos valores sensoriais e eróticos de um mundoconhecido e gozado através dos sentidos. É uma artede exuberância e intenso poder expressivo, pronta atraduzir as glórias do céu e as pompas da terra. Vivenum universo de ostentação e suntuosidade.

Atente, à guisa de ilustração e de exemplo, para essepoema de Gregório de Mattos Guerra, “Buscando aCristo”.

A vós correndo vou, Braços sagrados,Nessa cruz sacrossanta descobertos;Que para receber-me estais abertos,E por não castigar-me estais cravados,

A vós, Divinos olhos, eclipsados,De tanto sangue e lágrimas cobertos,Pois para perdoar-me estais despertos,E por não condenar-me estais fechados.

A vós, pregados Pés, por não deixar-me;A vós, Sangue vertido para ungir-me;A vós Cabeça baixa por chamar-me:

A vós, lado patente, quero unir-me:A vós, cravos preciosos, quero atar-me,Para ficar unido, atado e firme.

O homem barroco viveu num eterno conflitoproveniente da luta entre o espírito cristão e o espíritosecular, que leva a contrições, conforme o poemacitado. Desta forma, o pensamento cristão, herançamedieval, não desapareceu diante do racionalismorenascentista. Esses dois elementos se fundiram,denunciando o espírito contraditório da época. Oteatro, no Barroco, por exemplo, representou uma formaeficaz e expressiva de construir um mundo imaginário,onde a aparência se afirmava como realidade, onde amáscara e os defeitos cênicos instauraram a ilusão e,simultaneamente, deixaram entrever a ruptura desta.Utilizou-se o conflito entre o ser e o parecer,explorando o gosto do complicado e do surpreendente.

Denomina-se fusionismo à tendência seguida pelaarte barroca para unificar, num todo, múltiplospormenores e para associar e mesclar, numa unidadeorgânica, os elementos contraditórios. O escritorbarroco procura a expressão que encerra umapolivalência de significados e que reúne valoresconstantes.

A mundividência e a temática barroca exprimem-seatravés de uma poética própria que foge à expressãosingela e imediata. Fortes tensões vocabulares,polivalência significativa, estruturas complexas einéditas guardam a intensidade e o fascínio dasimpressões sensoriais, num estilo literário abundantee, muitas vezes, rebuscado.

Entre as figuras retóricas, predominam a antítese, ohipérbato, a anáfora. A metáfora oferece o elementoprincipal dessa poética, mas freqüentemente se desviapela tendência para a hipérbole e pelo gosto para aobscuridade.

No Barroco se difundiu o último surto da arte religiosa,tendo sua estética servido à catequese e à propagandada fé católica. Espetacular e popular, o Barrococontribuiu para a afirmação do espírito dos temposmodernos, através da crise do maneirismo.

Além das características já observadas anteriormente,o Barroco apresenta duas tendências importantes quevale a pena ressaltar:

a) Cultismo - modelo desta tendência é Gôngora,poeta espanhol. Significa o prazer lúdico de brincarcom as palavras, com jogos de exuberância verbal. Háo emprego de uma verdadeira constelação de figuras.

b) Conceptismo - O seu representante máximo éQuevedo, poeta espanhol. É o emprego de raciocínios

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Exercícios de Auto-Avaliação

Com base no que foi visto, vamos exercitar os estilos estudados, para não perdermos o entrelaçamento dosestilos de época e a sua importância no percurso histórico e literário.

1 - Relacione as colunas de acordo com os seguintes códigos:

a) Idade Médiab) Renascimentoc) Maneirismod) Barroco

(...) A reforma de Martinho Lutero.(...) A Contra - Reforma da Igreja Católica.(...) A depreciação do homem e das conquistas materiais.(...) Arte como deleite, fonte de prazer.(...) A arte passa a ser meio de oração e exaltação heróica.(...) A alma é o centro da vida humana. O corpo deveria ser desprezado e ocultado.(...) Idealismo: a arte é uma procura da beleza.(...) Criação da Companhia de Jesus.(...) Estilo artificial cerebral e decorativo.(...) Equilíbrio, clareza, harmonia e simplicidade.

2 - Que se entende por dualismo, bipolaridade ou fusionismo?

3 - Defina conceptismo e cultismo.

Estilos Características

Poesia cortês - forma convencional, o amor como tema, surgimentodo cavalheirismo.Cancioneiros - cantigas de amor, cantigas d’amigo, cantigas de escárnio emaldizer.Prosa - romance de cavalaria, escritos místicos e doutrinários ehistoriografia.

Idade Média

Humanismo eRenascimento

Antropocentrismo - valorização da razão e culto aos valores da antigüidade.Cientificismo - preocupação com a ciência.Elitismo - arte produzida por e para uma elite.Autonomia da arte - independência da igreja, valorização da forma sobre o temae surgimento da noção de autor.

Meneirismo Tentativa de conciliação das heranças medieval e renascentista.Função do cômico e do trágico.Dupla natureza do herói.Presença do grotesco.Convívio de elementos realistas e fantáticos.

Barroco Exuberância verbal.Dualidade ideológica – cristianismo medieval e racionalismo renascentista.

rebuscados até chegar a uma conclusão engenhosa.O escritor barroco sente repugnância pela clareza das

proposições. Um texto é um verdadeiro labirinto,através do qual o leitor é conduzido até o entendimento.

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374 - Quais as duas figuras de estilo que refletem melhor o conflito Barroco?

5 - Qual o estilo artístico do século XI?

6 - O que significa a expressão horaciana carpe diem?

7 - Leia o texto seguinte e responda às perguntas:

Amor é fogo que arde sem se ver;É ferida que dói e não se sente;É um contentamento descontente;É dor que desatina sem doer;

É um não-querer mais que bem querer;É solitário andar por entre a gente;É nunca contentar-se de contente;É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;É servir a quem vence, o vencedor;É ter com quem nos mata lealdade;

Mas como causar pode em seu favorNos corações humanos amizade,Se tão contrário a si é o mesmo amor?

( Luiz Vaz de Camões)

a) Ninguém soube cantar o amor como Camões, com tanta intensidade. Neste soneto, ele prenuncia uma épocaque se manifestará no século XVIII. Que época seria esta?

b) Na tentativa de conceituar o amor, Camões lança mão de duas figuras de retórica, específicas do séculoXVIII? Quais são elas?

Leituras Complementares

O livro de Lígia Cadermatori oferecerá a você uma visão mais ampla desses estilos. Leia-os, com atenção,atentando para suas diferenças e semelhanças.

O livro de Arnold Hauser, Maneirismo, São Paulo: Perspectiva, 1976, será de grande utilidade no aprofundamentodos estudos maneiristas. Leia especialmente o primeiro capítulo “O conceito de Maneirismo”.

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382.4.1.8 - 2.4.1.8 - 2.4.1.8 - 2.4.1.8 - 2.4.1.8 - As Correntes do Século XVIII

As correntes do século XVIII

Até agora, vimos estilos artísticos que se destacaramem um determinado período, impondo-se esteticamente.O mesmo não ocorre no século XVIII, onde vai surgirum entrelaçamento de tendências, no pensamento ena arte.

Podemos, para efeito didático, enumerar as seguintescorrentes:

a) Iluminismob) Neoclassicismo - Rococó / Arcadismoc) Pré-Romantismo

O século XVIII ficou conhecido como o século dasLuzes em função do adiantamento científico que ocaracterizou. Outro fator marcante é a ascensão daburguesia, cada vez mais fortalecida, enquanto o cleroe a nobreza vêem seu prestígio diminuir.

Surgem os enciclopedistas, teóricos que propõemexplicações racionais, científicas, para questões queaté então eram vistas por um prisma religioso. Estas

teses progressistas serão, posteriormente, a basefilosófica da Revolução Francesa.

Destacaremos aqui três enciclopedistas :

a) Montesquieu - segundo suas idéias, o progressode um país surge em função da correta aplicação dasdoutrinas econômicas e não por causa da vontadedivina.

b) Rousseau - em “O Contrato social” mostra que aautoridade se origina dos homens livres. Estes, paraevitar o caos, abdicam de parte da liberdade, delegandoa uma única pessoa a autoridade do mando.Logicamente, se a autoridade não souber satisfazer asnecessidades daquele grupo, deverá ser substituída.

c) Adam Smith - com sua “A Riqueza das nações”,lançou as bases doutrinárias que originaram ocapitalismo. Como vemos, o século XVIII vai se apresentarbem diferente. Passemos ao estudo de suas correntes.

2.4.1.8.1 - 2.4.1.8.1 - 2.4.1.8.1 - 2.4.1.8.1 - 2.4.1.8.1 - O Iluminismo

O Iluminismo

Também chamado Ilustração, o Iluminismoconstituiu um movimento filosófico com o objetivode “iluminar” as mentes, com as luzes da razão,baseando-se no progresso científico e técnico querecebe um grande impulso no século XVIII.

Descartes, filósofo francês da primeira metade doséculo XVII e influenciador do Iluminismo, foi produtodo racionalismo e promotor do seu incremento. Oracionalismo cartesiano, dotado de rigor lógico egeométrico, decide, não apenas, o caráter específicodo século XVIII, mas de toda a modernidade.

Os grandes filósofos reformadores discutem avalidade do autoritarismo, do absolutismo monárquicoe da revelação religiosa, numa época em que sepretende fundar um mundo novo sobre as bases darazão que ilumina, e, com isso, inspiram a RevoluçãoFrancesa e todos os movimentos libertários do século.

A natureza, considerada originalmente boa,corrompera-se pelos costumes, enquanto asinstituições e as leis haviam provocado a infelicidade,afastando o homem das verdadeiras formas de vida;

no entanto, a razão afasta o homem dos erros secularese prepara uma era de paz e felicidade.

Os iluministas combatem o Cristianismo por oconsiderarem um obstáculo à vida, não admitem ainterferência divina, já que o conceito de lei científicaexclui os milagres. Para eles, a lei científica assegura aharmonia do universo e da vida do indivíduo.Prometem, também, o paraíso terrestre e para talempresa procuram alcançar a harmonia entre a razão ea natureza.

Poderíamos, assim, resumir o Iluminismo:

1 - A razão é o único guia infalível da sabedoria.

2 - O universo é a máquina governada por leisinflexíveis. A ordem natural não comporta milagres ouqualquer forma de intervenção divina.

3 - A religião, o governo e as instituições deveriamser expurgados de todo artificialismo e reduzidos auma forma coerente com a razão e a liberdade natural.

4 - Não existe pecado original. O homem não écongenitamente depravado.

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2.4.1.8.3 - 2.4.1.8.3 - 2.4.1.8.3 - 2.4.1.8.3 - 2.4.1.8.3 - O Rococó

2.4.1.8.4 - 2.4.1.8.4 - 2.4.1.8.4 - 2.4.1.8.4 - 2.4.1.8.4 - O Arcadismo

A prática refinada do gosto marca a experiênciaestética impregnada de ludismo, que se acentuarána literatura, livre da gravidade do períodoantecedente.

2.4.1.8.2 -2.4.1.8.2 -2.4.1.8.2 -2.4.1.8.2 -2.4.1.8.2 - O Neoclassicismo

O Neoclassicismo apresenta duas manifestaçõesde grande importância no campo artístico: o Rococóe o Arcadismo.

O Rococó

Passado o período do absolutismo monárquico deLuís XIV, na França, vários nobres lutam para sedesvencilharem do domínio da Coroa e, ao lado deriquíssimos burgueses, trabalham em favor de umaespécie de revolução cultural de elite, em reação aorigorismo moral do século XVII. O Rococó representaessa revolução e suas conseqüências.

Em lugar da arte monumental, solene e grandiosa deproporções reduzidas, na qual se cultivam a delicadeza,a intimidade, a estilização, a partir do cultivo do

O Neoclassicismo

Após a exposição sobre o Iluminismo, fica mais fácilentender os movimentos artísticos da época, baseadosnos pressupostos racionalistas. Assim ocorreu com oNeoclassicismo.

Arcadismo

Enquanto o Rococó se originou na França, oArcadismo nasceu na Itália, procurando superar osexcessos do Barroco, chamado na Itália de Marinismo,já que Marino foi o seu poeta principal. Depois dafase retorcida e deformada do marinismo, surge umanova fase que revaloriza os modelos greco-latinos.Tal transformação se justifica à luz do racionalismo deuma época reflexiva, ávida de elegância e bom gosto.O Arcadismo atenderá a esses requisitos,desenvolvendo o ideal bucólico que dominará a líricado século.

A Arcádia se originou em Roma, fundada pelos amigosda Rainha Cristina, ex-soberana da Suécia, queabdicara do trono e fixara residência na Itália. Reuniaem seus salões estudiosos para discutir problemasliterários e científicos. Ao morrer, em 1689, osfreqüentadores de seu palácio fundaram umaagremiação à qual denominaram Arcádia, inspiradosnuma região da Grécia (provavelmente legendária),habitada por pastores e considerada, na poesia

pastoril da antigüidade, o verdadeiro paraíso. Osmembros da agremiação denominavam-se pastores,adotaram nomes pastoris gregos e latinos e tinhampor finalidade ressuscitar a simplicidade da poesiabucólica greco-latina.

O movimento arcádico significou o início de umaliteratura verdadeiramente brasileira. Minas Geraisé o centro econômico e intelectual do país e lá surgeo Grupo Mineiro: Cláudio Manuel da Costa, TomásAntônio Gonzaga, Alvarenga Peixoto, SilvaAlvarenga, Basílio da Gama e José de SantaRita Durão.

É Rousseau que vai exercer grande influência nestaépoca com o lema: “O homem é bom, a sociedade ocorrompe”. Com isso, surgirá uma hipervalorização dohomem em estado primitivo, selvagem, pois esteprimitivismo seria o oposto das regras sociais, dacivilização hipócrita e corrupta. É o culto do “BomSelvagem” freqüente na ficção do século XVIII.

hedonismo, o Rococó viverá para o prazer, enquanto acultura se erotiza e se legitimam licenciosidade e alibertinagem. A opulência da carnalidade da mulherbarroca é substituída pela graciosidade e pelo charmedas lânguidas mulheres dessa cultura.

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40Pode-se afirmar que o Arcadismo foi a primeira

tentativa de subordinar a Arte à Ciência. Na medidaem que procurou refletir a mentalidade científica daépoca, o Arcadismo tornou-se artificial, pedante,inatural.

Muitos de seus maiores nomes fugiram às exigênciasestéticas inerentes ao estilo, realizando uma poesia decaráter pessoal, sentimental, em que a emoçãosuperava a razão; por isso, foram classificados comopré-românticos.

Seguindo a enumeração, o Arcadismo apresenta asseguintes características:

1- Retorno ao equilíbrio e à simplicidade dos modelosgreco-romanos;

2- Presença marcante do bucolismo, valorizando avida campesina;

3- A arte como imitação da natureza, já que se procurano campo o tema pastoril e campestre;

4- Reação contra o que se considera o mau gostobarroco;

5- Predomínio da razão e da ciência, negando a fé e areligião;

6- Tendência, na poesia, para pintar situações, maisdo que emoções;

7- Preocupação com a finalidade moral da literatura;

8- Condenação à rima;

9- A poesia deve voltar-se à natureza, que é o lugaronde residem a beleza, a pureza e a naturalidade.Portanto, a poesia deve ser pastoril, bucólica, ingênuae inocente.

O Pré-Romantismo

Trata-se de uma tendência estética que se afastoudos cânones do Neoclassicismo e da visão de mundoracionalista da época. Esta tendência inaugura novosconceitos estéticos, nova temática, novo estilo.

O Pré-Romantismo exprime um senso mais íntimoda natureza e, reagindo contra o anticlericalismodominante, exibirá inclinações religiosas e místicas.Ao racionalismo responde com o sentimentalismo.Ao otimismo dos filósofos revolucionários contrapõeo pessimismo e a melancolia. Para os pré-românticos,a arte não provém de um esforço da razão, mas brotaráda imaginação e das efusões do sentimento.

Na Alemanha, o Pré-Romantismo surgiu com omovimento do Sturm und Drang - tempestade einquietação - que contribuiu para a formação doRomantismo.

O Pré-Romantismo é o primeiro movimentoliterário europeu, depois da Idade Média, que nãose inspira na antiguidade greco-latina, daí suarevolta contra as convenções do Neoclassicismoe sua necessidade de exterminar os princípios deimitação dos antigos e também abolir as regrasobrigatórias. Compreende-se assim o gosto pelapoesia popular e primitiva.

Leia, agora, os textos que se seguem e atente para apoesia árcade de Tomás Antônio Gonzaga (Brasil-

Colônia) e pré-romântica de Bocage (escritorportuguês):

Tu não verás, Marília, cem cativosTu não verás, Marília, cem cativosTirarem o cascalho e a rica terra,Ou dos cercos dos rios caudalosos, ou da mina da serra.

Não verás separar ao hábil negroDo pesado esmeril a grossa areia,E já brilharem os granetes de ourono fundo da bateia.

Não verás derribar os virgens matos,queimar as capoeiras inda novas,servir de adubo à terra a fértil cinza,lançar os grãos nas covas.

Não verás enrolar negros pacotesdas secas folhas do cheiroso fumo;nem espremer entre as dentadas rodasda doce cana o sumo.

Verás em cima da espaçosa mesaaltos volumes de enredados feitos,ver-me-ás folhear os grandes livros,e decidir os pleitos.

Enquanto revolver os meus consultos,tu me farás gostosa companhia,

2.4.1.8.5 - 2.4.1.8.5 - 2.4.1.8.5 - 2.4.1.8.5 - 2.4.1.8.5 - O Pré-Romantismo

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41lendo os fastos da sábia mestra História,e os cantos da poesia.

Lerás em alta voz, a imagem bela;eu, vendo que lhe dás o justo apreço,gostoso tornarei a ler de novoo cansado processo.

Se encontrares louvada uma beleza,Marília, não lhe invejes a ventura,que tens quem leve à mais remota idade a tua formosura.

(Tomás Antônio Gonzaga)

Quem se vê maltratado e combatidoPelas cruéis angústias da indigência,Quem sofre de inimigos a violência,Quem geme de tiranos oprimido:

Quem não pode ultrajado e perseguidoAchar nos Céus ou nos mortais clemência,

Quem chora finalmente a dura ausênciaDe um bem que para sempre está perdido:

Folgará de viver quando não passaNem um momento em paz, quando a amarguraO coração lhe arranca e despedaça?

Ah! Só deve agradar-lhe a sepultura,Que a vida para os tristes é desgraça,A morte para os tristes é ventura.

(Manuel Maria Barbosa du Bocage)

Torna-se importante ressaltar que Bocage foiconsiderado o precursor do Romantismo, devido àsexclamações retumbantes, à fantasia apaixonada, àemoção ardente. No poema acima, o verso “A mortepara os tristes é ventura” pode ser considerado o lemado Romantismo.

Quadro-Síntese

As Correntes do século XVIII

- Enciclopedismo de Diderot, Rousseau, Voltaire e Montesquieu.

- Neoclassicismo: imitação dos clássicos.- Arcadismo: evocação da vida pastoril.- Iluminismo: difusão do racionalismo.

- Predomínio da razão.- Busca da objetividade.- Culto à natureza.- Equilíbrio e sobriedade clássicos.- Presença da mitologia greco-romana.

Influência ideológica

Tendências da época

Características

Exercícios de Auto-Avaliação

Por intermédio do que foi exposto, vamos testar a assimilação das correntes que acabamos de estudar.1 - Relacione as colunas de acordo com o seguinte código:a) Barrocob) Arcadismoc) Pré-Romantismo( ) Poesia pessoal, sentimental, apaixonada.( ) Simplicidade sintático-vocabular.( ) Conflito entre valores antagônicos.( ) Culto do homem primitivo, das coisas naturais.

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2.4.2.9.1 - 2.4.2.9.1 - 2.4.2.9.1 - 2.4.2.9.1 - 2.4.2.9.1 - O Romantismo

2.4.2.9 – 2.4.2.9 – 2.4.2.9 – 2.4.2.9 – 2.4.2.9 – As Correntes do Século XIX

O Romantismo

O Romantismo preenche o início do século XIX,período que marcará o fim de um longo processo: aburguesia, após firme e decidida caminhada, assume opoder através da Revolução Francesa. Os ideais de“Liberdade, Igualdade e Fraternidade” ecoam por todoo mundo, anunciando transformações. Os donos domundo já não eram mais o Clero e a Nobreza; o “sangueazul” deixou de ser condição indispensável para oreconhecimento da sociedade.

Para atingir o poder, a Burguesia contou com o apoiodo povo, das classes mais humildes. Assim, aRevolução Francesa possui um cunho popular –burguês. Em termos de arte, estava preparado o cenáriopara uma outra revolução. O público consumidor –burguês – não tinha grande preparo intelectual, nãoera culto, queria, portanto, a diversão. Evidentemente,esta diversão estaria mais próxima da plebe do que daelite.

Os escritores românticos captam em suas obrasos problemas essenciais da época, ou seja, osentimento pessimista da existência, a indagaçãometafísica sobre o destino humano, a busca de umvalor universal que justifique o sofrimento e a morte.Podemos situar as raízes do Romantismo notormento do mundo e na insegurança dos povos,vivendo as conseqüências dos ideais frustradosda Revolução Francesa.

O sentimento de carência da pátria que a açãonapoleônica ocasionou junto aos povos europeusdespertou a consciência nacional e a ânsia deliberdade. Uma das razões mais comuns entre osromânticos, e muito freqüente nos textos, era a evasãopara o sonho, para mundos ideais ou ainda para anatureza confiante e consoladora, atitude essadecorrente do conflito do eu com a realidade adversa.Uma das possibilidades de evasão ou escapismoconsistia no refúgio ao passado mítico do indivíduoou do mundo.

( ) Direção adotada por muitos autores do século XVIII.( ) Teocentrismo, tema quase obrigatoriamente religioso.( ) Antítese e paradoxo.( ) Enciclopedistas.( ) Revalorização da mitologia e da cultura greco-romana.( ) Racionalismo, poesia objetiva e impessoal.

2 - Como, principalmente, o Arcadismo se opõe ao Barroco?3 - Qual foi a principal característica do Arcadismo?4 - O que esta característica significa?5 - Como ficou conhecido o século XVIII?6 - Que significa o Princípio da Imitação?7 - Qual a tese de Rousseau sobre o homem?8 - Qual a implicação desta tese na literatura do século XVIII?9 - O que sucedeu à grande parte dos autores árcades?

Leitura Complementar

Leia: BOSI, Alfredo, História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix, 1992.

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2.4.2.9.2 - 2.4.2.9.2 - 2.4.2.9.2 - 2.4.2.9.2 - 2.4.2.9.2 - Romance Romântico

Romance Romântico

Romance de consumo, lançado no mercado para seraceito ou rejeitado como qualquer outro produtocolocado à venda, propicia o surgimento de uma novaprofissão: a de escritor.

.Destinado a um público sem maiores compro-

metimentos culturais, o romance romântico atendeaos ideais de sonho e lazer da classe média,praticamente, sem saber como preencher as horasde ociosidade. Em geral, é uma narrativa simplesque fala de amor e de aventuras.

.Os folhetins, as novelas e os romances vêm ao

encontro dos anseios de fuga do nosso público leitor,que procura auto-identificar-se com os heróis e asheroínas da ficção romântica. O romance e a novela danova cultura nascente, das transformações sociais,das tradições do passado e dos sonhos futuros.

O romance romântico estrutura-se de forma linear.Predomina o tempo cronológico – tem começo, meio efim definidos. Sua mensagem é sempre redundante.Segundo o professor Afonso Romano de Santana, oromance romântico cristaliza uma série de lugarescomuns e tipos, como a bruxa má, o príncipe encantado,etc. Seus temas reduzem-se à reiteração de aforismos,tais como: “o crime não compensa”, “o amor resolvetodos os conflitos”, “o mal é sempre castigado”, “ajustiça sempre vence”.

Nesse tipo de romance, o Bem e o Mal, a Inocência eo Pecado são claramente delineados, culminando emtais narrativas as lições de moral declaradas atravésdo desfecho quase sempre moralizante. Como grandesfiguras do romance romântico, podemos citar: naInglaterra, Walter Scort; no Brasil, José de Alencar; emPortugal, Alexandre Herculano; na Itália, AlexandreMonzoni; na França, Vitor Hugo.

A valorização do sentimento e da emoção leva oautor romântico a explorar o subjetivismo e até mesmoa egolatria, aspectos que produzem uma literatura detom intimista e confessional, atingindo, não rarasvezes, excessos de mau gosto. O romântico julga-se ocentro do universo e o ego representa seu grandepólo de interesse, a ponto de ver na natureza e nouniverso meras projeções de seu mundo interior.

O escritor e o poeta da época surgem como indivíduospredestinados a grandes momentos. Assumindo umaverdade dialética, inauguram uma arte de evasão e departicipação, concretizada na valorização do homemcomo indivíduo dentro da sociedade. Surge, então, oherói individual, corajoso, leal, dotado de poderesquase sobrenaturais, capaz de bravura e, ao mesmotempo, pronto para morrer de amor quando a vida lhenega a “virgem suspirosa e pura” com a qual sonhaacordado.

Quadro-Síntese

Romantismo

- Burguesia ascendente

- Predomínio da fantasia e do sentimento.- Subjetivismo, lirismo, senso de solidão.- Temas cristãos, nacionais e medievais.- Integração do homem à natureza.- Ampla liberdade criadora, aceitação de temas nacionais e populares.- Espiritualismo - idealização das coisas divinas.- A arte é um sistema aberto; instrumento de mensagens de evasão, sonhos,confissões, fraquezas, dores, etc.- Preferência por temas históricos, com personagens extraordinárias.- Crença na inspiração, no arrebatamento.

Influência ideológica

Características

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44Exercícios de Auto-Avaliação

Antes de passarmos aos outros estilos de época, vamos treinar o nosso conhecimento, voltando sempre aosestilos anteriores, já que trabalhamos com diferenças e semelhanças.

1- Responda às perguntas solicitadas:

a) O Romantismo rompeu com os padrões clássicos? De que forma?b) Qual a atitude romântica diante da realidade e do cotidiano?c) Por que os românticos retornam à Idade Média?d) O que significa “poesia confessional”?e) Caracterize o herói ou a heroína do Romantismo.

2 - Leia com atenção o texto que se segue. Depois responda às questões, atentando sempre para a linguagemromântica.

“Amar e Ser Amado” (fragmento) (Castro Alves)Amar e ser amado! Com que aneloCom quanto ardor esse adorado sonhoAcalentei em meu delírio ardentePor essas doces noites de desvelo!Ser amado por ti, o teu alentoA bafejar-me a abrasadora fronte!Em teus olhos mirar meu pensamento,Sentir em mim tu’alma, ter só vidaP’ra tão puro e celeste sentimento:Ver nossas vidas quais dois mansos rios,Juntos, perderem-se no oceano -,Beijar teus dedos em delírio insano,Confundido também, amante - amado-Como um anjo feliz...que pensamento!?

a) Uma das características marcantes do Romantismo é o subjetivismo. Que palavras do texto contribuem paraa criação dessa subjetividade?

b) Procure provar através da linguagem que todas as emoções descritas transcorrem no plano da imaginaçãodo poeta.

c) Releia o poema e procure provar que o poeta se debate entre a paixão arrebatadora e a suavidade desentimentos.

d) Selecione os substantivos e adjetivos desta composição poética, chegando a uma conclusão sobre osrecursos lexicais predominantes no Romantismo.

Observação: Se surgirem algumas dúvidas, entre em contato com o tutor a fim de uma orientação mais diretae adequada.

Leitura Complementar

Para um conhecimento mais amplo do Romantismo, leia:BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix, 1992.

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452.4.2.9.3 - 2.4.2.9.3 - 2.4.2.9.3 - 2.4.2.9.3 - 2.4.2.9.3 - Realismo, Naturalismo, Parnasianismo

2.4.2.9.4 - 2.4.2.9.4 - 2.4.2.9.4 - 2.4.2.9.4 - 2.4.2.9.4 - O Realismo

Realismo, Naturalismo, Parnasianismo

Esses três movimentos surgiram na França emmeados do século XIX, com um traço comum:

O Realismo

O progresso vertiginoso da ciência permite aohomem perceber que as simples hipóteses a respeitodos elementos constitutivos da realidade não têm maissentido. Volta-se, então, para a análise do Universo,da natureza e do próprio homem, pois estes trêselementos pertencem a um todo orgânico – o cosmo –e por estarem associados, estão sujeitos às mesmasleis. O homem adota uma atitude científica perante omundo. O conhecimento positivo passa a ocupar oprimeiro plano, ao passo que as indagações espirituaissão relegadas a um plano inferior.

Surgem obras baseadas na experimentação científica,como as de Darwin e Claude Bernard, e na filosofiapositivista de Augusto Comte. Influem também asidéias de Shopenhäuer, que acredita serem as utopiase os devaneios do espírito os principais responsáveispelo “sofrimento e pela dor de viver”. Só a ciênciapoderia curar os homens desse grande mal.

Novas perspectivas despontam para a humanidade.Apoiado nessas reivindicações materialistas ecientíficas, desponta uma ficção diferente: o romancerealista, através do qual o escritor pretende mostrar adiferente maneira de ver o mundo e as coisas. Só aanálise da realidade pode apresentá-lo comoverdadeiramente é.

Novo estilo e nova forma de (re)criar a realidade sãoempregados na literatura. São líderes desse movimento:Honoré de Balzac, Gustave Flaubert e Stendhal. Com aedição de Madame Bovary, de Gustave Flaubert,romance que sistematiza as principais propostas daficção realista, considera-se iniciada a nova faseliterária. O romance realista pretende desmistificar osistema burguês, fundamentado na hipocrisia;

provando, ainda, que a burguesia falhara como idealde civilização.

É um romance de observação e crítica. O escritorvale-se da análise de fatos, focalizando a realidadeobjetiva e o homem. Usando uma linguagem maissimples e próxima da realidade, o escritor realistapreocupa-se com a autenticidade da história narrada.Por essa razão, sua narrativa é lenta e o narrador seprende às minúcias e aos detalhes, no desejo decaracterizar melhor o homem e o ambiente.

Diferentemente do romance romântico, a ficçãorealista preocupa-se mais com a caracterização dospersonagens, elementos verossímeis e vivos,vulgares e contestadores. Os diálogos ajudam acriar o clima de veracidade. A figura do heróiidealizado será substituída pela imagem do homemcomum e real. Já não interessa tanto a cronologiados fatos, mas a criação de espaços e tempossimbólicos incongruentes como a própria vida.

O escritor realista preocupa-se em criar obras de tese,em que, recriando um mundo fictício, retratará o mundoreal de tal forma, que suas hipóteses (no sentido crítico)sejam comprovadas no decorrer da obra.

No Brasil, destaca-se Machado de Assis, líder dainauguração do romance de estrutura complexa, cujanarrativa obedece mais ao nível psicológico. Emboraos fins do século XIX assinalem o grande momento daprosa realista, voltada para o presente e para o real, oRealismo, na maneira de enfocar o homem – a naturezae o universo – existirá sempre que o escritor desejarapresentar-nos esses elementos como eles são narealidade.

repúdio ao Romantismo. Vamos estudá-losseparadamente.

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462.4.2.9.5 - 2.4.2.9.5 - 2.4.2.9.5 - 2.4.2.9.5 - 2.4.2.9.5 - O Naturalismo

2.4.2.9.6 - 2.4.2.9.6 - 2.4.2.9.6 - 2.4.2.9.6 - 2.4.2.9.6 - O Parnasianismo

O Parnasianismo

Paralelamente à prosa realista e naturalista, surgiuuma escola de poesia com características bemmarcantes. Seu nome é proveniente da França, darevista Le Parnaso Contemporain, editada pelaprimeira vez em 1866. O título dessa revista forainspirado na montanha grega Parnaso, consagrada aApolo e às musas inspiradoras das artes.

O Parnasianismo, nome dado a essa escola, zelavapela composição perfeita do verso, procurando fugirdos cacoetes românticos. Os parnasianos, comoeram elitistas, achavam que a poesia representavaum luxo intelectual, dirigida a poucos iniciados,capazes de compreender e fruir as refinadasexpressões de beleza.

Mais uma vez, a poesia volta a se inspirar nos autoresgreco-latinos e recupera a importância dada à forma,no classicismo e no neoclassicismo, em oposição àliberdade criadora do Romantismo. Os parnasianosrepelem o prestígio conferido pelos românticos àinspiração e optam por um trabalho artesanal ecuidadoso, um aprimoramento de ourivesaria,“limando” o verso com paciência e minúcia, à procurada rima rica e do rigor métrico, numa devoção à belezaformal.

Portanto, o Parnasianismo, em sua busca incessantede novos temas, novos processos poéticos (“Arte pelaarte”), representou uma reação contra o Romantismo.A banalidade dos temas, o descuido das composições,o derramamento sentimental, precisavam, agora, sersanados pela razão, pela ciência e pelos valoressupremos da época.

Como exemplo de uma poesia parnasiana, observecom atenção esse soneto de Alberto de Oliveira, que,juntamente com Olavo Bilac e Raimundo Correia,constitui a chamada Trindade Parnasiana. Perceba aênfase descritiva, o não envolvimento do poeta com otema tratado, a perfeição formal, a seleção vocabular ea volta aos motivos clássicos.

Vaso Grego (Alberto de Oliveira)

Esta de áureos relevos, trabalhadaDe divas mãos, brilhante copo, um dia,Já aos deuses servir como cansadaVinda do Olimpo, a um novo deus servia.

Era o poeta de Teos que a suspendiaEntão, e, ora repleta ora esvasada,A taça amiga aos dedos seus tinia,

O Naturalismo

Geralmente o Naturalismo é confundido com oRealismo. Esses dois movimentos surgiram em meadosdo século XIX, na prosa. Vamos esclarecer essaconfusão que perdura ainda em alguns livros deliteratura.

Quando a ficção realista é fortalecida pela visãocientífica e materialista do homem, da sociedade eda vida, a ponto de criar personagens movidasapenas pelas forças do determinismo (homemsujeito às leis da fatalidade e do destino), temos oque se convencionou chamar de RomanceNaturalista.

Esse tipo de romance, que procura exagerar arealidade, tomando como ponto de partida onegativismo e as taras humanas, adota a doutrinafilosófica que nega a presença de qualquer significadosobrenatural dentro da realidade. O homem é visto

pelo escritor naturalista como um mero produto domeio, da raça e do momento. O romance naturalista équase sempre linear, estruturado em bases de começo,meio e fim e instaurador da figura do anti-herói.

O termo naturalista assume posição definitiva comEmile Zola e seu grupo. No Brasil, destaca-se AluísioAzevedo. O naturalismo assume uma posiçãocombativa na análise de problemas que a decadênciasocial evidenciava e faz do romance uma verdadeiratese, com intenção científica. No entanto, através dessemétodo experimental, reconhece-se um desejohumanitário de mudar as condições de existênciasocial.

Concluimos afirmando que os naturalistasultrapassam os realistas nas descrições repugnantese repelentes, movidos pela certeza do seu papelcientífico mais efetivo.

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47Toda de roxas pétalas colmada.Depois... Mas o lavor da taça admira,Toca-a e do ouvido, aproximando-a, a bordasFinas hás de lhe ouvir, canora e doce.

a) Preocupação com o homem na sociedade, enfocando os aspectos maisdeploráveis e cruéis da realidade.

b) Criação do romance experimental.c) Concepção de que o homem é apenas um produto do momento, do

meio e da raça.d) Exploração das taras humanas, das neuroses, dos casos patológicos.e) Visão do homem como um animal, levado pelo instinto.f) Valorização dos sentidos, das sensações visuais, táteis, auditivas,

olfativas e gustativas. Basta atentar para o romance “O Cortiço”, deAluísio Azevedo.

g) Linguagem grosseira e vulgar.h) Despreocupação com a moral.

a) A perfeição da forma.b) A linguagem é, antes de tudo, correção e equilíbrio.c) Sobriedade no emprego das figuras.d) Emprego de rimas ricas e raras.e) A impassibilidade do poeta diante da obra.f) Fuga dos sentimentos vagos para ter visão do real.g) Seleção vocabular, primando pelo eruditismo.h) Ênfase descritiva nos pequenos objetos: vasos, estátuas, taças etc.i) Culto da beleza, “a arte pela arte”.

a) A preocupação com a verdade, não apenas verossímil, mas exata.b) Preocupação com a observação e análise da realidade.c) Busca do perene humano no drama da existência, mas sem preocupação

de ordem transcendente.d) Rigorosa lógica entre as causas (biológicas e sociais) que determinam

o comportamento dos protagonistas.e) Preocupação com a mensagem que revela naturalmente o

comportamento das personagens.f) Determinismo na atuação das personagens.g) Preocupação revolucionária, atitude de crítica e combate.h) As personagens são tipos concretos, vivos.i) Preocupação com minúcias; narrativa lenta; linguagem próxima da

realidade; retrato fiel das personagens, através de uma linguagemsimples; correção gramatical, clareza, harmonia, equilíbrio nacomposição.

Características

Realismo

Parnasianismo

Naturalismo

ESTILOS

Ignota voz, , qual se da antiga liraFosse a encantada música das cordas,Qual se essa voz de Anacreonte fosse.

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48Exercícios de Auto-Avaliação

Agora vamos testar os conhecimentos sobre os estilos de época.

1- Relacione as colunas de acordo com o seguinte código:a) Romantismob) Realismoc) Naturalismod) Parnasianismo( ) Análise, crítica e denúncia da sociedade burguesa.( ) Exaltação dos sentimentos, paixão.( ) Homem visto como um animal, levado pelo instinto.( ) Romance experimental.( ) Romance de tese.( ) “Arte pela arte”.( ) Preocupação com a perfeição formal.( ) O homem é um produto do meio-ambiente.( ) Poesia confessional.( ) Poesia descritiva.

2 - Estabeleça uma diferença entre o Realismo e o Naturalismo.

3 - Por que a linguagem naturalista é um exagero das tendências realistas?

4 - Como o Naturalismo encara o homem?

5 - Românticos e parnasianos encaram diferentemente o gosto popular. Explique.

6 - Relacione as colunas de acordo com o seguinte código:a) Realismob) Naturalismoc) Parnasianismo(...) Sob a influência científica do século, a literatura passa a ter como objeto de descrição o que é objetivo,

material e real (nada de subjetivismo).(...) Sob a influência científica do século, a literatura passa a ter papel de mostrar, analisar e criticar a sociedade.(...) Vertente do Realismo, leva, em alguns aspectos, o estudo das personagens ao exagero científico;

determinista, a raça é um grande argumento para se justificarem os problemas econômico-sociais.

Leitura Complementar

BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix, 1992.

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492.4.2.9.7 - 2.4.2.9.7 - 2.4.2.9.7 - 2.4.2.9.7 - 2.4.2.9.7 - Simbolismo e Impressionismo

Sem dúvida, estamos estudando e observando umentrecruzamento de estilos no século XIX: oRomantismo, no início; o Realismo, Naturalismo e

2.4.2.9.8 - 2.4.2.9.8 - 2.4.2.9.8 - 2.4.2.9.8 - 2.4.2.9.8 - O Simbolismo

Simbolismo e Impressionismo

O Simbolismo

“De la musique avant toute chose – Música acimade tudo. (Verlaine)

Movimento literário que surgiu na França, em finsdo século XIX e teve como principais líderes:Mallarmé, Rimbaud, Verlaine e Baudelaire, autor de“As flores do mal”, responsável por uma profundamudança na arte poética. Desmistificando a poesiaparnasiana, Baudelaire produziu uma poesiasatânica e irreverente..Antes de entrarmos no Simbolismo propriamente dito,

vamos conhecer o Decadentismo, de onde se originoue se renovou o Simbolismo.

O adjetivo decadente foi usado na França, entre 1882e 1886, em tom pejorativo, com o fim de indicar anova atitude do espírito, do costume e do gosto,como se a nova orientação constituísse indício dedecadência moral e estética, no entanto, osseguidores dessa tendência viram no título motivode honra. Em meio à idéia de progresso, de fé naciência, dominante na segunda metade do séculoXIX, difunde-se o sentimento de decadência, queanuncia uma época de crise e dissolução, onde umacivilização começa a negar os fundamentosintelectualísticos e se volta para oantiintelectualismo, em reação contra a tirania dacultura milenar tornada obsoleta. Aos decadentistasa velocidade furiosa do progresso e as perspectivasmudanças parecem problemas de ordem patológica,em confronto com o ritmo de épocas anteriores.Segundo a visão decadentista, a literatura deverialibertar-se de toda contaminação com estruturasintelectualísticas e com intromissões culturais. DoDecadentismo surgiu o Simbolismo e, de certa forma,todos os movimentos da vanguarda européia a elesão devedores (SAMUEL, Rogel. In SAMUEL(org.), 1999: 156).

O Simbolismo é uma escola complexa de se definir.Resgata o subjetivismo romântico e parte do princípiode que a poesia não pode exprimir-se de maneiradefinida nem definitiva.

Anticientífico, antimaterialista, o Simbolismo secaracteriza pela elaboração formal, pelo trabalhocuidadoso e minucioso com a linguagem, diferindo doParnasianismo. A literatura sempre fez uso dalinguagem simbólica, mas com o Simbolismo essalinguagem é levada a extremos, ou seja, os simbolistassugerem situações, sensações, cores, sons, odores,etc., impressões sensoriais. Não há mais rigor formalda estética anterior; a poesia agora se constitui comoexpressão livre, seja em versos ou em prosa.

O autor não é impessoal: ele recupera e aprofunda olado romântico (que, aliás, não foi eliminado totalmentepelo Parnasianismo) para valorizar as impressões doindivíduo. A realidade não é mais descrita com aprecisão realista-naturalista-parnasiana, mas éevocada, sugerida; por isso ela é traduzida emsímbolos. Já não interessam os detalhes da realidade,mas o que ela evoca.

O escritor, portanto, trabalhará com uma linguagemmetaforizada, com o real evocado e, naturalmente, ostemas passam a apresentar o fascínio pelo que éimaterial: o tema do homem como ser misterioso,espiritual, envolto por uma realidade desconhecida. Éo tema dos mistérios do mundo, da vida e da morte.

O Simbolismo é atraído por um espiritualismo que seopõe ao cientificismo da época. Enquanto o parnasianoesculpia a linguagem e relacionava a poesia àescultura, o simbolismo evoca sensações e impressõese as associa ao som: é uma nova linguagem poética,

Parnasianismo em meados e fins do século XIX e oSimbolismo e o Impressionismo em fins do século XIX.Comecemos pelo Simbolismo.

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50

2.4.2.9.9 - 2.4.2.9.9 - 2.4.2.9.9 - 2.4.2.9.9 - 2.4.2.9.9 - O Impressionismo

O Impressionismo

“Nada é mais musical que um pôr de sol.” Debussy

A atitude impressionista, em literatura, chega a serconsiderada por alguns como algo comum aosnaturalistas e simbolistas e por outros como uma fusãode elementos do Realismo e do Simbolismo. Apesar dacomplexidade que envolve o assunto, já sãosignificativos os estudos que procuram caracterizá-locomo um período estilístico distinto.

Aliás, a palavra Impressionismo corresponde a umatendência da pintura, característica dos fins do séculoXIX. Decorre dos quadros de Claude Monet,denominado Impressions e exibido com escândalo nosalão do Boulevard des Capicins em 1874.

A pintura impressionista não se preocupa com a visãoobjetiva e estática da realidade. Caracteriza-a osentimento da permanente transformação do mundo,que leva à impressão de uma continuidade em quetudo se funde, onde o que importa são as diferentesatitudes e pontos de vista do observador. Assim, nãohá na natureza cores permanentes: existe constantemutação. As formas das coisas são criadas pela luz enão pelas linhas. Outro traço: a convicção de que nãoexiste a ausência da luz para a tinta preta nos quadrosimpressionistas. E os pintores preferem pintar ao arlivre, à luz plena do sol. Esses são traços fundamentaisda atitude.

Da pintura, o nome estendeu-se às demais artes: namúsica impressionista de Debussy e Ravel e,

musical, com sons sugestivos e a mistura de todos ossentidos evocados pela realidade.

Observe agora a linguagem simbolista nesse sonetode Cruz e Souza:

Musselinosas como brumas diurnasdescem do ocaso as sombras harmoniosas,sombras veladas e musselinosaspara as profundas solidões noturnas.

Sacrários virgens, sacrossantas urnas,os céus resplendem de sidérias rosas,da lua e das Estrelas majestosasiluminando a escuridão das furnas.

Ah! por estes sinfônicos ocasosa terra exala aromas de áureos vasosincensos de turíbulos divinos.

Os prenilúnios mórbidos vaporam...E como que no azul plangem e choramcítaras, arpas, bandolins, violinos...

O mundo de Cruz e Souza é de palavras, de símbolos,de cor e som, criando imagens raras de beleza. Asimagens, a música, as sinestesias, a preocupação coma brancura, entre outras características, fazem dessepoeta negro um dos maiores líricos da literaturabrasileira. Sua poesia evoca o trágico, o contraste entreo mundo da matéria, mundo de desigualdades sociais,

e o mundo de brumas de luar, de liturgias. É o contrasteentre o material e o etéreo. E é assim que Cruz e Souzainicia o Simbolismo no Brasil e lega à literaturabrasileira uma poesia que une os planos material eespiritual.

Atente para o que se fala a respeito da poesiasimbolista:

Na poesia simbolista, a palavra não define, nãodetermina, mas sugere estados emotivos, na medidaem que a linguagem descobre automaticamente asrelações existentes entre as coisas. Nesse misticismoda palavra, o poeta deve deixar-se arrastar pelo fluxoda linguagem pela sucessão espontânea das imagense das visões. Com esses recursos, os simbolistasprocuram descobrir, mediante a linguagem poética,a universal correspondência e a analogia das coisas.Por meio das analogias, cada palavra se tornasímbolo de uma realidade evocada através damusicalidade da linguagem. A palavra, usada em livresassociações, evoca realidades que palpitam além dossentidos e revela o mistério do mundo desconhecido.O poeta é o vidente que capta experiênciassobrenaturais, na linguagem das coisas visíveis e faza exploração da realidade que reina além da razão,através da intuição (Ibidem: 158).

Importante ressaltar que, em plena implantaçãodo Modernismo, poetas como Cecília Meireles eMurilo Mendes procuraram consolidar herançassimbolistas que sempre existiram na nossa poesiados últimos séculos.

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51conseqüentemente, chegou à literatura. Da mesmaforma que na pintura, a literatura impressionista, semse afastar inteiramente da atitude realista, registrava“impressões” fugidias e imediatas, numa espécie derealismo subjetivo, que não escondia certa afinidadecom o Simbolismo.

O autor impressionista não dá nomes às coisas,mas descreve o efeito que elas produzem. Preocupa-se com as sensações e com a emoção que o objetodesperta num instante. A sensação da coisa valemais que a própria coisa e a invenção da paisagemmais do que a descrição.

No Brasil, os escritores impressionistas estãoaguardando um aprofundamento maior por parte dosespecialistas. O crítico Afrânio Coutinho, que foi quem,pela primeira vez, propôs o emprego do termo nadivisão da nossa história literária, aponta como

expressão mais alta Raul Pompéia (O Atheneu) e assimse expressa:

No Brasil, a primeira grande repercussão doImpressionismo é em Raul Pompéia. Discípulo dosGoncourt, adepto da écriture artiste e da prosapoética, depois de formar o espírito na doutrina donaturalismo, recebeu a influência da estéticasimbolista e só encontrou plena e satisfatóriaexpressão dentro dos cânones do Impressionismo.A evolução de Machado de Assis revela umaindependência em relação aos postulados donaturalismo positivista que o conduz ao mesmoclima impressionista, característico de sua fase final.Graça Aranha denota, em Canaã, a mesmaimpregnação impressionista, e, como ele, outrosescritores da época não puderam escapar ao dualismo- de um lado, os laços do Realismo (ou mesmonaturalismo), do outro a influência simbolista.Coelho Neto, Afrânio Peixoto e muitos outrosescapam, por certos aspectos, das classificaçõescomuns, traem a forma impressionista(COUTINHO, 1986: 329 ).

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52Quadro-Síntese

Exercícios de Auto-Avaliação

1- Por que dizemos que o Simbolismo é uma poesia de “sugestão”?2- Desprezando a lógica, que atitude tomava o simbolista?3- Aponte uma diferença entre Simbolismo e Parnasianismo.4- Explique o transcendentalismo dos simbolistas.5- Qual a relação entre Simbolismo e Música?6- Explique o lema impressionista: “tal como vejo num determinado momento”.7- Observe no texto seguinte que “cada paisagem é única em cada momento do dia; o artista deve adaptar aimpressão deste instante único”. Retire do texto expressões que confirmam tal característica impressionista.

a) Concepção mística da vida.b) Elemento intelectual: preocupação com o espiritual, o místico e o

subconsciente.c) Interesse maior pelo particular e individual.d) Conhecimento demarcado pela intuição e não pela lógica.e) Ênfase na imaginação e na fantasia.f) Desprezo à natureza em troca do místico e do sobrenatural.g) Utilização do valor sugestivo da música e da cor.h) Presença da religiosidade, do espiritualismo, do ocultismo.i) Busca das camadas profundas do “eu”; mergulho no inconsciente.j) Preferência pelas sensações, pelas indefinições, pelas sinestesias.l) Concepção da poesia como mistério.m) Linguagem fundamentada numa “gramática psicológica” e num léxico

adequado à expressão das novidades estéticas: uso de neologismos,arcaísmos, combinações vocabulares inesperadas.

Simbolismo

Impressionismo

ESTILOS Características

a) Registro de impressões, emoções e sentimentos despertados no espíritodo artista, através dos sentidos, cenas, incidentes, caracteres.

b) Valorização dos estados de alma, das emoções, que são mais destacadosque o enredo ou a ação na narrativa; importa mais o efeito do que aestrutura na técnica da composição literária.

c) Importância maior dada às sensações das coisas, do que às coisas emsi.

d) As sensações e emoções são importantes no momento em que severifiquem.

e) “Relevo à percepção visual do instante”: valoriza-se a cor, a atmosfera,o efeito dos tons.

f) “Ênfase na reprodução de emoções, sentimentos e atitudes individuais:traduz-se a vida interior; “a razão cede passo às sensações.”

g) Captação da verdade do instante: A vida é um contínuo mudar-se; cadapaisagem é uma única em cada momento do dia; o artista deve captar aimpressão deste instante único.

h) Tentativa de buscar o tempo perdido através da impressão provocadapela realidade num momento dado, o que nos faz lembrar a obra deProust. A vida é um contínuo vir-a-ser: o presente resulta do passado.

i) Aliás, o momentâneo, o fragmentário, o instável, o móvel, o subjetivoassumem a maior importância no Impressionismo: o métodoimpressionista.

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53“Milkau caminhava pela grande luz da manhã, agora de todo inflamada. Os ventos começavam a soprar mais espertos e

como que agitam a alma das coisas, arrancando-as do torpor da vida. O rio descia em direção contrária à marcha dos viajantese esses movimentos opostos davam a impressão de que toda a paisagem se animava e ia desfilando aos olhos do cavaleiro.A fazenda lá no alto, sumia-se no fundo do longínquo horizonte, o imigrante notava o manso desenrolar do panorama, comoo de fitas mágicas: casas de moradores, homens, tudo ia passando, rolando mansamente, mas arrastado por uma forçaincessante que deixava repousar.

A estrada se alargava, outras vinham aparecendo, desconhecidas, infinitas e incertas, como são os caminhos do homemsobre a terra. A brisa fresca encanava-se pelas duas ordens fronteiras de colinas paralelas ao rio, trazia ao encontro doviajante um rugido sonoro de cascata. O rolar do Santa Maria batendo sobre as pedras amontoadas, despedaçando-se comoum louco nas lajes aumentava; e as suas águas revoltas, espumantes, recolhiam e reverberavam à luz do sol, como umvacilante espelho. Milkau via ao longe na mata ainda fumegante de névoas, uma larga mancha branca. Na frente o guiaestendendo o braço gritou-lhe: – Porto do Cachoeiro.”

(Canaã, de Graça Aranha)

Leitura Complementar

Para um conhecimento mais amplo, leia: BOSI, Alfredo, História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo:Cultrix, 1992.

2.4.2.10 – 2.4.2.10 – 2.4.2.10 – 2.4.2.10 – 2.4.2.10 – Século XX: As Vanguardas (Europa)

2.4.2.10.1 – 2.4.2.10.1 – 2.4.2.10.1 – 2.4.2.10.1 – 2.4.2.10.1 – Cubismo

As Vanguardas

Dá-se o nome de vanguarda aos movimentos doperíodo que se estende dos inícios do século XXao Surrealismo, surgido em 1924. Existem diversos“ismos” nesta época, mas iremos nos deter apenasnos principais:

Futurismo, Cubismo, Dadaísmo e Surrealismo.

Esses movimentos se caracterizaram peladesorganização do universo artístico da época e pelaurgência de inovação e renovação literária,encaminhando-se tudo com muito estardalhaço(preconizaram o caos criativo do pós-modernismo).

Cubismo

Movimento mais ligado às artes plásticas. O pontode partida é o quadro de Pablo Picasso (1881-1973)“Les Demoiselles d’Avignon”, em 1906.

Observação: O Cubismo na literatura só se manifestouno ano de 1912. Na literatura, a figura de Apollinairefoi importante e decisiva.

Observe as seguintes características:

• As obras de arte não devem ser uma representaçãoobjetiva da natureza, mas uma transformação dela, aomesmo tempo objetiva e subjetiva;

• A procura da verdade deve centralizar-se narealidade pensada e não na realidade aparente;

• A obra de arte deve bastar-se a si mesma;

• Supressão da lógica aparente;

• Influência de viagens, de paisagens exóticas, decidades apenas vislumbradas;

• Valorização do humor.

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2.4.2.10.2 – 2.4.2.10.2 – 2.4.2.10.2 – 2.4.2.10.2 – 2.4.2.10.2 – O Futurismo

O Futurismo

Surge através do Manifesto do Futurismo, publicadoem Le Figaro, de Paris, em 22 de fevereiro de 1909,assinado pelo seu representante italiano, FilippoTommaso Marinetti. As propostas de Marinetti vêmdemostrar a rebeldia, a ânsia de demolição, a ótica dohomem do início do século, que vê a realidade com avelocidade do automóvel, de dentro da máquina, ouque salta rápido, agitado, desviando-se sobre ostrilhos do bonde em grande velocidade.

O Manifesto Futurista postula as seguintescaracterísticas:

• O amor ao perigo, o hábito da energia, a temeridade;

• A poesia baseada essencialmente na coragem, naaudácia, na revolução;

• O canto entusiasmado da velocidade;

• A poesia como um violento assalto contra as forçasdesconhecidas para intimá-las e prostrar-se diante dohomem;

• A abominação do passado;

• A exaltação da guerra, do militarismo, dopatriotismo;

• O canto em poesia das grandes multidões agitadas

Pablo Picasso apresenta em suas telas o objetodecomposto: um objeto, com várias faces, pode serobservado sob vários ângulos. A sua decomposição éa apresentação nessa multiplicidade visual, e todosos ângulos e faces favorecem a recomposição daimagem real.

O cubismo trabalha com formas geométricas, quenega a concepção clássica de que uma figura deveser apresentada com forma e linhas contínuas. Aocontrário, o Cubismo fragmenta a figura para poderapresentar suas várias perspectivas.

O cubismo influenciará a arquitetura, o cinema, oscartazes de publicidade, a moda feminina e a literatura.Observe no texto “Morro Azul”, de Oswald deAndrade, a composição sob a influência do estilocubista, em que prevalecem as formas geométricas:

“PassarinhosNa casa que ainda espera o ImperadorAs antenas palmeiras escutam Buenos-AiresPelo telefone sem fiosPedaços de céu nos camposLadrilhos no céuO ar sem venenoO fazendeiro na redeE a Torre Eiffel noturna e sideral”

A supressão de pontuação, a poesia com novo visualtipográfico, poesia geométrica, linguagem fragmentadatanto quanto a realidade, são aspectos que a literaturaabsorveu do Cubismo e que teve em GullaumeApollinaire (1880-1918) o seu principal divulgador.

pelo trabalho, o prazer ou a rebeldia; as ressacasmulticoloridas e polifônicas das revoluções nascapitais modernas;

• O canto das estações de veículos, as fábricas, aslocomotivas, os aeroplanos, os navios a vapor;

• A certeza do caráter perecível da própria obra quepretendiam.

Como podemos observar:

Os futuristas valorizam a ciência, a máquina, oautomóvel, as fábricas, as estações ferroviárias, aslocomotivas, as multidões das grandes cidades, osaviões, tudo o que significasse espírito Moderno,na sua parte mais agressiva e polêmica. Rejeitavamtoda a literatura do passado, pregando a demoliçãoda Tradição, a destruição da sintaxe, eliminando apontuação, o uso das “palavras em liberdade”, a“enumeração caótica”, a “imaginação sem fios”.

A modernização atinge as artes. Os artistas, ligadosà época, refletindo-a, transformam a máquina emmaterial de arte, imprimindo em seu trabalho ascaracterísticas do novo tempo.

Mas o progresso é tão rápido e acelerado que o artistapassa a ter a consciência de que, para acompanhar avelocidade do mundo, é preciso captar tudo, porque acada passo ele pode já ser passado. E a linguagem

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2.4.2.10.4 – 2.4.2.10.4 – 2.4.2.10.4 – 2.4.2.10.4 – 2.4.2.10.4 – Dadaísmo

Dadaísmo

O Dadaísmo surgiu em Zurich, em 1916, com aproposta de demolir os valores de uma civilizaçãodegradada pela Primeira Guerra Mundial.

Tristan Tzara (1896 - 1963) líder e fundador domovimento, autor de manifestos que propunham umanova ordem artística, apresenta uma receita “para fazerum poema dadaísta”.

“Pegue um jornal.

Pegue a tesoura.

Escolha no jornal um artigo do tamanho que vocêdeseja dar a seu poema.

Recorte o artigo.

Recorte em seguida com atenção algumas palavrasque formam esse artigo e meta-as num saco.

2.4.2.10.3 – 2.4.2.10.3 – 2.4.2.10.3 – 2.4.2.10.3 – 2.4.2.10.3 – Expressionismo

Nas artes plásticas é a sobreposição da visão expressiva pessoal do artista aos valores, juízos e verdadesobjetivas ou convencionais.

Agite suavemente.

Tire em seguida cada pedaço um após o outro.

Copie conscienciosamente na ordem em que elassão tiradas do saco.

O poema se parecerá com você.

E ei-lo um escritor infinitamente original e de umasensibilidade graciosa ainda que incompreendidodo público.”

Os dadaístas propunham a demolição dos valores –já desmoralizados pela guerra – e compreendiam queera necessária uma linguagem que possuísse novossignificados, como se tudo começasse de novo: cores,palavras associadas sem lógica antiga, o texto dispostovisualmente, fugindo às formas convencionais.

ganha a velocidade desse novo tempo: tudo é ditosem que haja nexos sintáticos.

Atente para a linguagem de Oswald de Andrade, notrecho que se segue, retirado do livro MemóriasSentimentais de João Miramar:

Soho SquarePicadilly fazia fluxo e refluxo de chapéu alto e

corredores levando ingleses duros para música etalheres de portas móveis e portas imóveis.

Elevadores Klaxons cubs tubes caíam do avião naplataforma preta de Trafalgar.

Mas nosso quarteirão agora grupava nas calçadascasquettes heterogêneas penetrando sem nariz nowhisky dos bars.

Bicicletas levantavam coxas velhas de girls paranapolitanos vindos da Austrália. Isadora Duncanhelenizava operetas no Hipódromo.

A velocidade expressa nessa linguagem truncadasintaticamente imprime oposição e, ao mesmo tempo,

associação entre tempo cronológico (ou material) etempo psicológico.

O Futurismo de Marinetti representa e reflete essasnovas propostas. Oswald de Andrade, em uma de suasviagens pela Europa, conheceu-as, interessou-se peloteórico italiano e chegou até a acreditar que, no Brasil,Mário de Andrade fosse o representante do Futurismo.

Mas não era verdade. O que havia em Mário deAndrade, e em outros autores, era a consciência deque, para representar o novo mundo, era preciso lançarmão de uma nova linguagem. A verdade é que as novaspropostas vieram estimular a consciência de que erapreciso deixar de lado tudo o que representassedominação política e cultural. Houve identificaçõescom o Futurismo no sentido de que nossos autoresentendiam, também, que a arte deveria estar voltadaao presente, à vida acontecendo. A arte e a vida nãosão estáticas, são processos, caminham, sofrem açõesdo meio e agem sobre ele.

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56Podemos, então, destacar as seguintes propostas

dadaístas:

• É uma tentativa de demolição;

• Propõe a abolição da lógica, “dança dos impotentesda criação”;

• Prega a abolição da memória, da arqueologia, dosprofetas do futuro;

• Exalta a liberdade total de criação;

• Propõe a percepção da vida em sua lógicaincoerência primitiva;

• Tenta a criação de uma linguagem totalmente novae inusitada;

• Busca cortar o nexo de ligação com a realidade vital;

• Propõe um estilo antigramatical, uma linguagemsimplista;

• Prega que “a arte tende a uma liberação suprema,ao transformar-se numa simples distração;

• Declara que “a arte não é coisa séria”;

• Admite que a arte não necessita ser compreensível:pode reduzir-se a uma “gíria de enunciados”.

Logo, o movimento dadaísta rebelava-se contra oconservadorismo, contra qualquer organização social:acreditavam que não havia lógica nos valores dessacivilização, que era criticada pelos dadaístas com muitohumor. O contato com o mundo contraditório eselvagem lhes permitia, com revolta, propor quefossem esquecidas as tradições e heranças históricas.

Podemos concluir que o Dadaísmo éfundamentalmente um movimento de protesto.

2.4.2.10.5 – 2.4.2.10.5 – 2.4.2.10.5 – 2.4.2.10.5 – 2.4.2.10.5 – Surrealismo

Surrealismo

O Surrealismo começou, realmente, em 1924, com oprimeiro manifesto da autoria de André Breton (1896-1966). Cansados do negativismo do Dadaísmo, ossurrealistas achavam que a negação é uma etapa noprocesso artístico que deveria anteceder a outra; eagora a proposta é encontrar uma saída, uma arte quefale das profundezas do psiquismo. Influenciados porFreud, entendem que a imaginação e a razão caminhamjuntas. O sonho, a fantasia e a alucinação estão unidosà realidade do indivíduo.

Os surrealistas acreditavam que era preciso liberaras zonas do inconsciente. Nada de hiato entreinconsciente e consciente: tudo deve ser apresentado,porque tudo está ligado. É preciso expressar o quevem do mais fundo do ser.

Nesse aspecto, o Surrealismo se aproxima doRomantismo e do Simbolismo: são novamenteexaltados os autores que prenunciaram essemovimento, como Charles Baudelaire, o satânico queassociava tudo – o mal ao imaginário, o poeta dascoisas “frias” do mundo que se industrializava.

O Surrealismo caracteriza-se por ser mais do queum movimento, pois sempre houve, há e haveráautores que constroem fantásticas expressõessurrealistas. Os objetivos principais do grupoliderado por André Breton eram o Amor, a Liberdadee a Poesia, sem as restrições do mundo moral etradicional.

De base psicológica, a contestação à sociedade éevidente como se pode perceber nesse fragmento:

O Surrealismo se baseia na onipotência do sonho eno desinteressado jogo do pensamento; sua finalidadeé resolver as condições previamente contraditóriasde sonho e realidade, para criar uma realidadeabsoluta, uma super-realidade

(André Breton)

Desta forma, podemos ressaltar as principaiscaracterísticas surrealistas:

- Conflito entre a vida vivida e a vida pensada;

- Desejo de redenção psicológica, social e universaldo ser humano;

- Ilogismo;

- Valorização do inconsciente;

- A poesia deixa de ser entendida como meio decomunicação de vivências e passa a ser uma açãomágica, mito, meio de conhecimento;

- Ao lado da poesia de contemplação, da poesia decomunhão e da poesia de evasão, temos a poesia detransfiguração;

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Exercícios de Auto-Avaliação

1- Estabeleça relações de oposição entre o Cubismo, o Dadaísmo e o Surrealismo.

2- De acordo com os fragmentos que se seguem, identifique a que corrente pertence, baseando-se no seguintecódigo:

a) Cubismob) Futurismoc) Dadaísmod) Surrealismo

( ) “É para a Itália que nós lançamos este manifesto de violência agitada e incendiária, (...) porque queremoslivrar a Itália de sua gangrena de professores, de arqueólogos, de cicerones e de antiquários. A Itália foi pormuito tempo o grande mercado das quinquilharias. Nós queremos desembaraçá-la dos museus inumeráveis quea cobrem de inumeráveis cemitérios”.

( ) “... poetas e pintores partilhavam um ideal comum de renovações artísticas: os poetas assimilando astécnicas pictóricas, os pintores se apoiando nas idéias filosóficas e poéticas. Isso concorria para que o termo(...), inicialmente aplicado à pintura, passasse também a designar um tipo de poesia em que a realidade eratambém fracionada e expressa através de planos superpostos e simultâneos”.

( ) “Ao contrário dos outros movimentos de vanguarda, em que se manifestou a consciência desagregadoraque agitava a época da guerra, o (...) aparece motivado pelo “spirite noveau” pelo sentido geral de organizaçãoe construção que subia os escombros da Grande Guerra”.

( ) “(...) movimento que tinha como grande preocupação a destruição dos valores morais, políticos e sociais.Esse foi o mais radical movimento intelectual dos últimos tempos, superando pela intensidade e dimensõesestéticas os grandes movimentos de pessimismo da época romântica, do século XIX”.

Leituras Complementares

Os estudos sobre estilos de época na literatura não foram esgotados neste instrucional. Muito ainda se tempara falar sobre essas correntes que se destacam ao longo dos períodos.

Outros livros importantes para o estudo desses estilos:

• HAUSER, Arnold. Maneirismo. São Paulo: Perspectiva, 1976. Leia apenas o primeiro capítulo: “O conceitode Maneirismo.”

• CADERMATORI, Lígia. Períodos literários. 2. ed. São Paulo: Ática, 1986. Este pequeno porém substanciallivro pode bem servir como reforço sintético ao nosso trabalho, por resumir com clareza e objetividade osestilos aqui estudados.

- O humor negro que se traduz em jogos de palavras,tendente a quebrar as convenções.

O Surrealismo permanece, não como movimento, mascomo postura, porque no século XX as relações foramcada vez mais expostas, mesmo que novas teoriassurgissem, acrescentando ou negando as idéias deFreud.

No Brasil, vamos encontrar essa postura em Oswaldde Andrade, Mário de Andrade, Murilo Rubião, MuriloMendes e outros. Mas aqui, no nosso estudo, nãoentraremos nesse mérito. O assunto é extenso e todasessas correntes representam muito e ganhamimportância na Literatura Brasileira.

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58Atividades Complementares

Vamos agora nos dedicar a alguns exercícios como uma forma de treinamento, buscando sempre tecercomparações entre os estilos estudados.

Vale, como sugestão, a leitura dos seguintes romances:

• O Guarani - José de Alencar;

• Senhora - José de Alencar;

• Quincas Borba - Machado de Assis;

• O Cortiço - Aluísio Azevedo.

1 - Leia os textos que se seguem, procurando enquadrá-los na época a que pertencem, destacando as suasprincipais características.

a) SonetoAlma minha gentil que te partisteTão cedo desta vida descontenteRepousa lá no céu eternamenteE viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento ‘etéreo’, onde subiste,Memória desta vida se consente,Não te esqueças daquele amor ardenteQue já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-teAlguma cousa a dor que me ficouDa mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,Que tão cedo de cá me leve a ver-te,Quão cedo de meus olhos te levou.

(Luis de Camões)

b) À instabilidade das cousas do mundo

Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,Depois da luz, se segue a noite escura,Em tristes sombras morre a formosura,Em contínuas tristezas, a alegria.

Porém, se acaba o Sol, por que nascia?Se tão formosa a luz, por que não dura?Como a beleza assim se transfigura?Como o gosto da pena assim se fia?

Mas, no sol e na luz, falta firmeza;Na formosura, não se dê constânciaE na alegria sinta-se tristeza.

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59Começa o mundo enfim pela ignorância,E tem qualquer dos bens por natureza:A firmeza, somente na inconstância.

(Gregório de Matos Guerra)

c) O incêndio de Roma (Olavo Bilac)

Raiva o incêndio. A ruir, soltas, desconjuntadas,As muralhas de pedra, o espaço adormecidoDe eco em eco acordando ao medonho estampido,Como a um sopro fatal, rolam esfaceladas.E os templos, os museus, Capitólio erguidoEm mármor frígio, o foro, as erectas arcadasDos aquedutos, tudo as garras inflamadasDo incêndio cingem, tudo esbroa-se partido.

Longe, reverberando o clarão purpurino,Arde em chamas o Tibre e acende-se o horizonte...- Impassível, porém, no alto do Palatino,

Nero, com o manto grego ondeando ao ombro, assomaEntre os libertos, e ébrio, engrinaldada a fronte,Lira em punho, celebra a destruição de Roma.

d) In extremis

Nunca morrer assim! Nunca morrer num diaAssim! De um sol assim!Tu, desgrenhada e fria,Fria! Postos nos teus olhos molhadosE apertando nos seus os meus dedos gelados...E um dia assim! De um sol assim! E assim a esferaToda azul, no esplendor do fim da primavera!Asas, tontas de luz, cortando o firmamento!Ninhos cantando! Em flor a terra toda! O ventoDespencando os rosais, sacudindo o arvoredo...E aqui dentro, o silêncio...E este espanto! E este medo!Nós dois... e, entre nós, implacável e forte,A arredar-me de ti, cada vez mais, a morte...Eu, com frio a crescer no coração – tão cheioDe ti, até no horror do derradeiro anseio!Tu, vendo retorcer-se amarguradamenteA boca que beijava a tua boca ardente,A boca que foi tua!E eu morrendo! E eu morrendoVendo-te, e vendo o sol, vendo o céu, vendoTão bela palpitar nos teus olhos, querida,A delícia da vida! A delícia da vida!

2- Como são as personagens românticas?

3- Por que os românticos retornam à Idade Média?

4- Estabeleça paralelos entre o Romantismo e o Realismo.

5- Cite um ponto de contato entre o Romantismo e o Realismo.

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606- Qual a relação entre o Simbolismo e a música?

7- Cite um ponto de contato entre o Romantismo e o Simbolismo.

8- Teça paralelos entre a Idade Média, o Renascimento e o Barroco.

9- O que você entendeu sobre a Arte Impressionista?

10- Teça comentários sobre o Futurismo e sobre a sua contribuição à Literatura Brasileira?

Observação: As respostas são pessoais (isto é, cada aluno desenvolvendo as respostas individualmente), noentanto, deverão interligar-se ao conhecimento teórico-crítico do estudante da disciplina Teoria Literária. Énecessário lembrar que a Teoria não trabalha com o “achismo” em se tratando de Literatura, portanto, o suporteteórico-crítico será sempre indispensável. Caso haja alguma dúvida, o aluno deve entrar em contato com o tutor.

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612.4.2.11 –2.4.2.11 –2.4.2.11 –2.4.2.11 –2.4.2.11 – Século XX: Pré-Modernismo,Modernismo e Pós-Modernismo (Brasil)

2.4.2.11.12.4.2.11.12.4.2.11.12.4.2.11.12.4.2.11.1 – Pré-Modernismo

“Creio que se pode chamar de pré-modernista (nosentido forte de premonição dos temas vivos em22) tudo o que, nas primeiras décadas do século,problematiza a nossa realidade social e cultural.”

“O grosso da literatura anterior à ‘Semana’ foi, comoé sabido, pouco inovador. As obras, pontilhadas pelacrítica de ‘neos’– neoparnasianas, neo-simbolistas,neo-românticas – traíam o marcar passo da culturabrasileira em pleno século da revolução industrial.(...) Caberia ao romance de Lima Barreto e de GraçaAranha, ao largo ensaísmo social de Euclides, AlbertoTorres, Oliveira Viana e Manuel Bonfim, e à vivênciabrasileira de Monteiro Lobato, o papel histórico demover as águas estagnadas da belle èpoque,

2.4.2.11.2 – 2.4.2.11.2 – 2.4.2.11.2 – 2.4.2.11.2 – 2.4.2.11.2 – Modernismo (1a fase)

Características Gerais:

• Fase de ruptura, crítica e anarquismo;

• Liberdade absoluta de forma e de criação;

• Predomínio da expressividade;

• Palavras em liberdade;

• Associação de idéias, às vezes, até desconexas;

• Poema-piada (agressão através do humor);

• Nacionalismo literário e lingüístico (falar brasileiro);

• Busca de soluções;

• Movimento contra;

• Espírito polêmico e destruidor (rejeitavam a arteartificial – imitação estrangeira; desejavam demolir aordem social e política, fictícia e colonial);

• Anarquismo (não sabemos discutir o quequeremos);

• O moderno como valor em si mesmo;

• Busca de originalidade a qualquer preço;

• Luta contra o tradicionalismo;

• Juízos de valor sobre a realidade brasileira;

• Valorização poética do cotidiano;

• Primado da poesia sobre a prosa.

“O que a crítica nacional chama de Modernismo estácondicionado por um acontecimento, isto é, por algodatado, público e clamoroso, que se impôs à atençãoda nossa inteligência como um divisor de águas: ASemana de Arte Moderna, realizada em fevereiro de1922, na cidade de São Paulo. Como os promotores daSemana traziam, de fato, idéias estéticas originais emrelação às nossas últimas correntes literárias, já emagonia, pareceu aos historiadores da cultura brasileiraque modernista fosse adjetivo bastante para definir oestilo dos novos, e Modernismo tudo o que se viessea escrever sob o signo de 22” (Ibidem: 303).

revelando, antes dos modernistas, as tensões quesofria a vida nacional.

Parece justo deslocar a posição desses escritores:do período realista, em que nasceram e se formaram,para o momento anterior ao Modernismo. Este, vistoapenas como estouro futurista e surrealista, nada lhesdeve (nem sequer a Graça Aranha, a crer nostestemunhos dos homens da “Semana”); mas,considerado na sua totalidade, enquanto crítica aoBrasil arcaico, negação de todo academismo e rupturacom a República Velha, desenvolve a problemáticadaqueles, como o fará, ainda mais exemplarmente, aliteratura dos anos de 30” (BOSI, 1992: 306-7).

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62SEMANA DE ARTE MODERNA

“Se por Modernismo entende-se algo mais que umconjunto de experiências de linguagem; se a literaturaque se escreveu sob o seu signo representou tambémuma crítica global às estruturas mentais das velhasgerações e um esforço de penetrar mais fundo narealidade brasileira, então houve, no primeiro vintênio,exemplos probantes de inconformismo cultural: osescritores pré-modernistas foram Euclides, JoãoRibeiro, Lima Barreto e Graça Aranha (este,independente da sua participação na Semana). Àmedida que nos aproximamos da Semana, são asinovações formais que nos vão atraindo, isto é, aqueleespírito modernista, stricto sensu, que iria polarizar emtorno de uma nova expressão artistas como AnitaMalfatti, Victor Brecheret, Di Cavalcanti, Vila-Lobos,Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti delPicchia, Sérgio Milliet, Guilherme de Almeida, ManuelBandeira. E é em face desse clima de vanguarda que seconstata uma viragem na literatura brasileira já nosanos da Primeira Guerra Mundial. (...)

Nesse clima (clima de guerra), só um grupo fixado naponta de lança da burguesia culta, paulista e carioca,cuja curiosidade intelectual pudesse gozar decondições especiais como viagens à Europa, leiturados derniers cris, concertos e exposições de arte,poderia renovar efetivamente o quadro literário do país.

A Semana de Arte Moderna foi o ponto de encontrodesse grupo, e muitos dos seus traços menores, hojecaducos e só reexumáveis por leitores ingênuos (pose,irracionalismo, inconseqüência ideológica) devem-se,no fundo, ao contexto social de onde proveio”(Ibidem: 332-3).

Histórico:

• 1910: Início dos sinais precursores, que prepararama “Semana de Arte Moderna” de fevereiro de 1922.

• 1912: Oswald de Andrade vai à França, onde entraem contato com o Futurismo, movimento estéticocriado por Marinetti, que apregoava a destruiçãointegral do passado e constituindo-se numa verdadeiraapologia da velocidade.

• 1912: Manuel Bandeira, na Suíça, conhece amelhor poesia simbolista e pós-simbolista.

• 1915: Ronald de Carvalho, em Portugal, participada fundação da revista “Orpheu” (da VanguardaFuturista Portuguesa) com Fernando Pessoa, Máriode Sá-Carneiro, Almada Negreiros e outros.

• 1916: Funda-se a Revista do Brasil cujo princípiobásico é o “nacionalismo”, que será um dos objetivosfundamentais dos modernistas.

• 1917: Anita Malfatti expõe seus quadros cubistase expressionistas no Brasil. Monteiro Lobato atacou-a com o violento artigo “Paranóia ou Mistificação?”.

• 1917: Mário de Andrade publica “Há uma gota desangue em cada poema” (tentativa de fazer poesiamodernista).

• 1917: Menotti del Picchia publica “Juca Mulato”em que cria um caboclo idealizado, antítese do JecaTatu de Monteiro Lobato.

• 1919: Manuel Bandeira publica “Carnaval”, suaprimeira obra de poesias modernistas, na qual aparecea poesia “Os Sapos” que causará tanta polêmica naSemana de Arte Moderna em 1922.

• 1922: Graça Aranha retorna da Europa, ondetravou contato com as Vanguardas Artísticas de Paris.

• 29 de janeiro de 1922: O jornal O Estado de SãoPaulo noticiava: “Por iniciativa do festejado escritor,senhor Graça Aranha, da Academia Brasileira de Letras,haverá em São Paulo uma “Semana de Arte Moderna.”

• De 11 a 18 de fevereiro de 1922: Realização daSemana de Arte Moderna no Teatro Municipal dacidade de São Paulo. 13, 14 e 15 de fevereiro:apresentação de espetáculos. Constaram demanifestações dos mais variados tipos de arte, comobalé, pintura, escultura, concertos, conferências, leiturae declamação de textos literários.

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632.4.2.11.3 – 2.4.2.11.3 – 2.4.2.11.3 – 2.4.2.11.3 – 2.4.2.11.3 – Modernismo / 2a fase (Geração de30)

Características Gerais:

• Estabilização das conquistas novas;

• Ampliação da temática: a poesia caminha para apreocupação religiosa e filosófica (Exemplo: Jorgede Lima, “Pelo vôo de Deus quero me guiar”);

• Caminho para o universal (Exemplo: AugustoFrederico Schmidt, Canto do Brasileiro, “Quero éperder-me no mundo / para fugir do mundo”);

• Reação espiritualista (retomada do simbolismo);

• Fase construtiva;

• Liberdade consciente;

• Linguagem equilibrada;

• Valorização das formas fixas (por exemplo, soneto);

• Preocupação com os problemas do homem;

• Predomínio da prosa: importância para o GêneroNarrativo Ficcional;

• Configuração da nova ordem estética;

É a fase de maturidade e equilíbrio do MovimentoModernista. É a estabilização, consolidação econstrução de um ideário coerente com o espíritorenovador.

Reconhecer o novo sistema cultural posterior a 30não resulta em cortar as linhas que articulam a sualiteratura com o Modernismo. Significa apenas vernovas configurações históricas a exigirem novasexperiências artísticas (Ibidem: 385).

Ficcionistas e poetas: Carlos Drummond de Andrade(poeta, cronista, jornalista); Vinícius de Morais (poeta ecompositor); Augusto Frederico Schmidt (poeta); MuriloMendes (poeta); José Américo de Almeida (ficcionista);Raquel de Queirós (ficcionista, cronista); José Lins doRego (ficcionista); Graciliano Ramos (ficcionista); JorgeAmado (ficcionista); etc.

2.4.2.11.4 – 2.4.2.11.4 – 2.4.2.11.4 – 2.4.2.11.4 – 2.4.2.11.4 – Modernismo (3a fase): Geração de 45(Neomodernismo)

Características Gerais:

• Maior apuro do verso;

• Liberdade formal disciplinada: volta ao ritmoclássico tradicional com métrica e rimas;

• Importância da palavra e do ritmo (revoluçãosintática e semântica: busca da plurissignificaçãodas palavras);

• Um agudo senso de medida;

• Pesquisa formal na linguagem da ficção (GuimarãesRosa - Sagarana - 1946);

• Contenção emocional e importância da introspecção(Clarice Lispector);

• Tendência para o hermetismo;

• Tendência para o intelectualismo;

• Universalismo temático: valorização do homem em simesmo, não no plano pessoal, mas no plano universal(Guimarães Rosa, Clarice Lispector – transcendência doregional para o universal);

• Consciência estética;

• Volta à rima e aos metros tradicionais;

• Desenvolvimento do teatro.

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2.4.2.11.5 –2.4.2.11.5 –2.4.2.11.5 –2.4.2.11.5 –2.4.2.11.5 – Concretismo / Poesia (1956)

Em 1956, em São Paulo, Augusto de Campos, Haroldode Campos e Décio Pignatari divulgam o ManifestoConcretista por intermédio da Revista “Noigandres”.

Características da poesia concreta:

• Novas estruturas: associação formal dosvocábulos;

• Disposição espacial: alinhamentos geométricos(valorização do poema figurativo);

• Sintaxe analógica, ideográmica: justaposição dosconceitos; as palavras não têm ordem lógica e ficamsoltas, completamente livres;

• Expressão sintética e objetiva;

• Etc.

Ficção (Anos 50)

A produção em prosa continuou por intermédio dosescritores da segunda e terceira fases do Modernismoe outros que foram surgindo: Jorge Amado, JoãoGuimarães Rosa (Grande Sertão: Veredas, 1956),Clarice Lispector, Érico Veríssimo, Mário Palmério (Vilados Confins, 1956), Adonias Filho (Memórias deLázaro, 1952); J. J. Veiga (Os cavalinhos dePlatiplanto, contos, 1959) e outros.

Poesia de 45:

Um grupo de poetas assumiu uma atitude crítica emrelação à poesia brasileira das duas fases anterioresdo Modernismo: João Cabral de Melo Neto, Ledo Ivo,Péricles Eugênio da Silva Ramos e outros. Esses poetasdesejavam renovar a poesia brasileira. Continuadoresdas outras fases: Carlos Drummond de Andrade,Cassiano Ricardo e outros. Sobressaiu-se acriatividade poética de João Cabral de Melo Neto.

ESCRITORES (FICCIONISTAS) DE 45: GuimarãesRosa - 1a fase (Sagarana, 1946); Clarice Lispector - 1a

fase (Perto do Coração Selvagem - 1944, O Lustre -1946).

Características:

• Prosa intimista;

• Fluxo da consciência;

• Uso da metáfora insólita;

• Textos complexos e abstratos;

• Exacerbação do momento interior;

• Subjetividade em crise;

• Contínuo denso de experiência existencial;

• Palavra neutra;

• Experiência metafísica;

• Crise da personagem-ego;

• Procura consciente do supra-individual;

• Artista-demiurgo;

• Metamorfose no âmbito da criação literária;

• Alquimia criativa;

• Alteração profunda no modo de enfrentar a palavra;

• Palavra como feixe de significações;

• Signo estético portador de sons e de formas(relações íntimas entre o significante e o significado);

• Abolição das fronteiras entre ficção e lirismo;

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652.4.2.11.6 – 2.4.2.11.6 – 2.4.2.11.6 – 2.4.2.11.6 – 2.4.2.11.6 – Movimento Praxis (1961)

Em 1961, Mário Chamie lança o “Manifesto Didático”da poesia-práxis no posfácio de sua obra poética“Lavra-lavra”. Ele afirmava que o poema deveriaorganizar e montar, esteticamente, uma realidadesituada de acordo com três condições de ação: a) atode compor; b) área de levantamento da composição;c) ato de consumir. O espaço em preto, resultante doconjunto de palavras constitutivo do poema, torna-seimportante (espaço formado por palavras dispostasem versos formando um desenho não arbitrário).

Características:

• Dissidência da Vanguarda Concretista;

• Poética que vincula a palavra ao contexto extra-lingüístico;

• Não escreve sobre temas (procura conhecer todosos significados e contradições).

Outra Vertente da Poesia nos Anos 50 e 60:

No Brasil dos anos 50 a 60 existiu uma vertentepoética alheia aos programas experimentalistas quemarcaram o concretismo e a poesia-práxis. Esta vertentelírica situou-se entre o moderno e o tradicional,desenvolvendo um discurso metrificado, submetido aum imaginário neo-romântico ou, talvez, surrealista,somado a uma forte consciência lírica (existencialismo

poético). Poderemos destacar os seguintes poetasdessa fase:

• Marli de Oliveira (Cerco da Primavera, Explicaçãode Narciso, A Vida Natural);

• Laís Correia de Araújo (O Signo e Outros Poemas,Cantochão);

• Renata Pallottini (A Casa, Livro de Sonetos, A Facae a Pedra, Noite Afora);

• Foed Castro Chamma (Melodias do Estio, Iniciaçãoao Sonho, O Poder da Palavra);

• Stella Leonardos (Poesia em Três Tempos, Poemada Busca e do Encontro);

• Edison Moreira (Tempo de Poesia);

• Walmir Ayala (Antologia Poética);

• Carlos Nejar (Sélesis, Livro de Silbion, Livro doTempo, O Campeador e o Vento);

• Gilberto Mendonça Teles (Poemas Reunidos);

• Adélia Prado (Coração Disparado, O Pelicano);

• E outros.

2.4.2.11.7 – 2.4.2.11.7 – 2.4.2.11.7 – 2.4.2.11.7 – 2.4.2.11.7 – Tropicalismo (1967)

Foi um movimento cultural que nasceu sob ainfluência das correntes de vanguarda artísticas e dacultura pop nacionais e estrangeiras (como o pop-rocke a poesia concreta) e mesclou manifestaçõestradicionais da cultura brasileira a inovações estéticasradicais.

Tinha também objetivos sociais e políticos, masprincipalmente comportamentais, que encontraram ecoem boa parte da sociedade, sob o regime militar, nofinal da década de 1960.

Pesquisar: Antecedentes, influências, caracte-rísticas, nomes ligados à Tropicália.

Tropicália, Tropicalismo, Movimento Tropicalista

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66

2.4.2.11.9 – 2.4.2.11.9 – 2.4.2.11.9 – 2.4.2.11.9 – 2.4.2.11.9 – Geração de 80 / 90

“O historiador do século XXI que, ajudado pelaperspectiva do tempo, puder ver com mais clareza aslinhas-de-força que atravessam a ficção brasileira nestefim de milênio, talvez divise, como dado recorrente,certo estilo de narrar brutal, se não intencionalmentebrutalista (que difere do ideal de escrita mediado pelocomentário psicológico e pelo gosto das pausasreflexivas)” (BOSI, op. cit.: 435-5).

Características da geração de 70 / 80 (prosa):

• Narrativa de Acontecimento: Narrativa de Realismo-Mágico, Narrativa de Absurdo, Narrativa Fantástica;

• Atuação do Insólito;

• Narrador Pós-Modernista se utilizando da técnicado “bem ver” a realidade (realidade fragmentada, caos);Narrador centralizando o ato de narrar, uma vez que,ao invés de narrar algo ficcional ou mesmomemorialista, é ele que tem o poder de “ver” todos osângulos desse realidade (como participante ativo);

• Bem ver = bem narrar

• Técnica narrativa: colagem, intertextualidade(diversos discursos que se interpolam, interagem:jornalístico, confissional, ficcional, etc.).

2.4.2.11.8 – 2.4.2.11.8 – 2.4.2.11.8 – 2.4.2.11.8 – 2.4.2.11.8 – Geração de 70 / Início de 80

Ficcionistas que se destacaram:

• Lygia Fagundes Telles (As Meninas - romance);

• Murilo Rubião (O Convidado - contos);

• Roberto Drummond (A Morte de D. J. em Paris -contos);

• Sônia Coutinho (Os Venenos de Lucrécia - contos).

A poesia brasileira nos anos 70 / 80

Vanguarda Pós-68:

Poetas:

• Nauro Machado;

• Ana Cristina César (Cenas de Abril, Luvas dePelica, A Teus Pés);

• Antônio Carlos Brito - Cacaso (Grupo Escolar);

• Paulo Leminski (Caprichos e Relaxos, DistraídosVenceremos, La Vie em Close).

Poetas (Gênero Lírico / Poesia Pós-Moderna):

• Rogel Samuel (120 Poemas);

• Verônica de Aragão (Enigmas);

• Elisa Lucinda (A Menina Transparente).

Tendência a uma retomada épica:

• Adriano Espínola (Táxi - poema épico pós-moderno(1986), Metrô – poema épico pós-moderno de 1990 –Editora Global, São Paulo).

Ficcionistas (anos 90):

• Rogel Samuel (O Amante das Amazonas - 1990);

• Sônia Coutinho (O Caso Alice - 1991);

• Roberto Drummond (Hilda Furacão);

• Chico Buarque de Holanda (Benjamim, Estorvo).

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672.4.2.11.10 – 2.4.2.11.10 – 2.4.2.11.10 – 2.4.2.11.10 – 2.4.2.11.10 – Pós-Moderno / Pós-Modernismo:

Pós-Moderno

Liga-se a um momento da História Contemporânea:término da Era Moderna e início da Era Pós-Moderna.Ainda não há como avaliar o momento certo do inícioda Era Pós-Moderna. Presume-se que o século XX (asduas grandes guerras, a ida do homem à Lua, o avançotecnológico, a globalização, a finalização do milênio eoutros acontecimentos políticos e sociais em termosuniversais) seja o marco que, futuramente, indicará omomento de cisão entre as duas Eras em questão.

Pós-Modernismo:

“Pós-Modernismo é um nome geralmente dado paraformas culturais de um período que aparece desde os

anos 60. Abrange certas características como reflexão,ironia e um tipo de arte que mistura o popular e oerudito. Embora o termo tenha sido primeiramenteusado em arquitetura (Jenckes), hoje descreve aliteratura, artes visuais, música, dança, filme, teatro,filosofia, crítica, historiografia, teologia e qualqueratividade de cultura em geral. É visto ora como umacontinuação dos aspectos mais radicais domodernismo, ora, ao contrário, como marcando umaruptura com o modernismo, como um modernismo não-histórico que anseia por acabar. O pós-modernismouniu “a lógica cultural do capitalismo tardio” (Jameson)à condição geral de conhecimento em tempos detecnologia da informação (Lyotard), a substituição deum foco da epistemologia modernista por umaontologia (McHale) e a substituição do simulacro pelarealidade (Baudrillard)” (SAMUEL, 2005: 121).

Literatura Compromissada

Exemplos:

• O realismo pregava a arte (segundo Domício ProençaFilho, 1994) compromissada com a realidade.

• Literatura feita por negros: “Se por força decaracterísticas peculiares, a literatura feita por negrosou por descendentes assumidos de negros concretizarlinguagens geradoras de cânones de uma poética nova,essa dimensão se inserirá no processo da literaturabrasileira e não no núcleo discriminatório de umaliteratura ‘negra’ ou ‘marrom’. // A arte literáriacompromissada precisa ser arte literária antes de sercompromissada, sob pena de descaracterizar-se eperder seu poder de repercussão mobilizadora.”

• Crônica: literatura compromissada (relação entrerealidade, história, atualidade e ficção).

2.5 - 2.5 - 2.5 - 2.5 - 2.5 - Literatura Compromissada e a Teoria da Artepela Arte

• A literatura brasileira dos anos 60/70 (momento daditadura militar, momento da censura): os escritorescriaram novas formas literárias – ficcionais e poéticas –de compromisso com a realidade e, graças à imposiçãoda censura, nos legaram verdadeiras obras de arteliterárias, o que os críticos chamam de “literatura pós-moderna” ou “literatura insólita”, literatura esta queexige um reconhecimento teórico-crítico dasmensagens que estão ocultas nas entrelinhas do textoliterário.

A literatura sempre revelará um compromisso com oseu momento histórico, mas a verdadeira literatura-arte terá de transcender seu próprio tempo e espaçocultural. Por exemplo: O texto ficcional Dom Quixotede Miguel de Cervantes, considerado hoje o texto quemarcou o segundo milênio.

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682.6 - 2.6 - 2.6 - 2.6 - 2.6 - A Literatura-Arte e a Indústria Cultural

Literatura-Arte (ponto de vistafenomenológico)

O literário, como um valor, não pode ser ajuizado.Ele vigora na escrita enquanto conotado. Não é umdado objetivo, nem subjetivo, mas algo que subsistena escrita. O literário existe na escrita como potência.Essa energia não se vê no que é dito, mas é aconcentração do dizer. Para falarmos dela,precisaríamos colocar-nos fora do discurso, isto é,fora da capacidade de pensar. Pensar o literário daescrita só é possível quando se falar a ambigüidade.Ou quando a linguagem deixa falar, na escrita, a forçade sua manifestação. A riqueza da escrita tanto sefaz mais criadora, quanto mais profundo for o nívelde onde ela fala e silencia” (SAMUEL, 2005: 21).

Indústria Cultural

Qual é o processo que faz com que um livro apareçano balcão da livraria?

A maioria das médias e pequenas cidades brasileirassó dispõe de pequenas bibliotecas e livrarias e,apesar de o público leitor ter crescido muito nosúltimos anos, o número de livrarias em algumascidades diminuiu, ou estacionou. Há uma relaçãodireta entre crise econômica e mercado editorial.

Um livro aparece na livraria quando “começa a serpedido”, e o leitor começa a pedir o livro quando olivro aparece nos jornais. (...) O consumidor médiobrasileiro não entra na livraria, exceto quando seencontram nos Shopping Centers. (...) Algunsdependem da propaganda dos jornais para se decidira ler, vendo no jornal um critério de valor. Destaforma se fecha o círculo: quanto mais livro vende,mais é falado; e quanto mais falado é, mais vende.Algumas empresas chegam a lançar um pacotecultural: livro, filme, vídeo, disco, camisas, chaveiros,etc (Ibidem: 107).

Leitura Complementar

Para um conhecimento mais amplo, leia: SAMUEL, Rogel, Novo Manual de Teoria Literária. Petrópolis:Vozes, 2005.

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69Unidade III

3.1- 3.1- 3.1- 3.1- 3.1- O Texto: Texto-Formato X Texto-Forma

(Cf. CASTRO, Manuel Antônio de. In.: SAMUEL,Rogel. Manual de Teoria Literária, 12 ed.

Petrópolis: Vozes, 1999.)

ESPECIFICIDADE DO LITERÁRIO (Ponto de vistahermenêutico)

NATUREZA: preocupação de compreender aespecificidade do literário.

ESPECIFICIDADE: essência, substância, aquilo quefaz com que uma coisa seja aquilo e não outra. (ManuelAntônio de Castro)

FENÔMENO: aquilo que se manifesta [o jámanifestado (estático)] / [o que ainda está semanifestando (dinâmico)].

A NAA NAA NAA NAA NATUREZA DO FENÔMENO LITERÁRIOTUREZA DO FENÔMENO LITERÁRIOTUREZA DO FENÔMENO LITERÁRIOTUREZA DO FENÔMENO LITERÁRIOTUREZA DO FENÔMENO LITERÁRIO

3o ) TEXTO = TECIDO DE SIGNOS “expressa arelação do homem com as realidades e dos homensentre si.”

TEXTO = HOMEM + REALIDADE + EXPRESSÃO

Explicitamente, podemos fazer um corte e determo-nos em um dos referentes, mas implicitamente osoutros dois sempre estariam obrigatoriamentepresentes. Isto é importante para penetrar noentendimento de um texto literário, embora qualquertexto implique sempre os três referentes.

TODO TEXTO É RESULTADO DE UMA LEITURA

LEITOR + TEXTOrelação objetiva e subjetiva

LEITOR - PRODUTIVIDADE(“enquanto modalidade de relação radical

do homem com a realidade”)

Texto

1o ) O que é um texto?• Texto vem do verbo tecer: entrelaçamento de linhas

(orações, períodos);

2o) TEXTO-FORMATO• A disposição das linhas e seu entrelaçamento;• A ocupação e disposição espacial.

FORMATO = FORMA (diferente)

Formato

• Diagramação + Ilustração = Harmonia (Exemplo:Literatura Infantil)

• É a obra enquanto APRESENTAÇÃO.

• APRESENTAÇÃO DA OBRA / TEXTO-FORMATO: “surge como um esforço de integraçãoentre as facetas do formato e da forma.

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70

3.2- 3.2- 3.2- 3.2- 3.2- Texto-Objeto X Texto-Obra

TEXTO: ELABORAÇÃO HUMANA, TRABALHO

TRABALHO: AÇÃO HUMANA(pela qual o homem textualizando, significando o real

se significa)

Por um lado:Esta elaboração humana só encontra sua plenitude

na medida em que ao elaborar ele colabora (pressupõeo outro, socializa).

LEITURA

• supõe colaboração, porque o texto não se lê, oinstrumento não se lê;

• pressupõe o outro;

• pressupõe colaboração.

Por outro lado:Tal noção evidencia que o texto não se limita ao

escrito, implicando sobretudo o oral.

Uma fotografia, uma estátua, um instrumento, etc., éum texto / expressa uma relação do homem com o real.

ação humana: o homemtextualizando, significando o real sesignifica

ação humana: ao elaborar (o textocomo trabalho) o homem co-labora(pressupõe o outro, socializa-se)

TEXTO

TRABALHO

Ação significativa =

Entre tantas modalidades de texto, quando umtexto é especificamente literário?

( LITERÁRIO = LITERATURA - ARTE )

Texto-Objeto (realidade + imaginação =juízos preestabelecidos: certo X errado)

• Prima pela objetividade;

• Próprio para ensinamentos;

• Próprio para entretenimento;

• É linear (sintagmático, horizontal);

• Não permite ambigüidade;

• Conhecido, atualmente, como TEXTO PARALI-TERÁRIO.

Para os estudiosos da literatura, que seguem a linhacientificista, qualquer texto será considerado literário.Posteriormente, o analista fará a separação,descobrindo as características formais e, emconseqüência, a categoria em que o texto analisado seenquadra: texto-objeto (texto técnico) ou texto-obra(literatura-arte).

Paraliteratura

Há duas vertentes paraliterárias:• Paraliteratura de Informação: livros escolares, livros

de receitas, textos jornalísticos, sermões, discursos

políticos, livros de anedotas, ensaios, monografias,etc.

• Paraliteratura de Imaginação: novelas (ficção linear),crônicas, narrativas de memórias, estórias infantis,literatura fantástica (contos de fantasmas, decemitérios, mitologias – maravilhoso pagão emaravilhoso cristão, literatura de cordel, etc.)

TEXTO-OBRA (realidade + imaginação +imaginário-em-aberto =juízo dedescoberta)

• Maior porcentagem de subjetividade X poucaobjetividade;

• Predomínio do lúdico (mas, serve também paraensinar);

• Exige a reflexão do leitor (não se adéqua aoentretenimento telúrico);

• É complexo (paradigmático, vertical);

• Porcentagem maior de ambigüidade;

• Conhecido, atualmente, como LITERATURA-ARTE(romances, contos, poesias).

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713.3- 3.3- 3.3- 3.3- 3.3- Discurso Metonímico X Discurso Metafórico

• Discurso: Qualquer manifestação concreta dalíngua; qualquer manifestação por meio da linguagem,em que há predomínio da função poética; etc.

• Discurso Metonímico: Discurso próprio de um tropoque consiste em designar um objeto por palavradesignativa doutro objeto que tem com o primeiro umarelação de causa e efeito. Por exemplo: trabalho porobra; copo por bebida, etc.

• Discurso Metafórico: Discurso figurado. Discursopróprio de um tropo que consiste na transferência deuma palavra para um âmbito semântico que não é o doobjeto que ela designa, e que se fundamenta numarelação de semelhança subentendida entre o sentidopróprio e o figurado. Por exemplo: Chamar uma pessoaastuta de raposa; nomear a juventude como primaverada vida, etc.

Discurso Metonímico X Discurso Metafórico

A mimésis é um termo grego geralmente traduzidocomo imitação. Imitação em que sentido? Até hojesão controvertidas as interpretações. E isso não étão difícil de entender, uma vez que é um conceitoque faz parte dos dois maiores sistemas filosóficosgregos: o platônico e o aristotélico. Assim sendo,qualquer interpretação implica sempre umdeterminado posicionamento a respeito e dentro detais sistemas. Não é um conceito literário, porémum conceito filosófico para explicar a arte(CASTRO, Manuel Antônio de. In SAMUEL (org.),1999: 56-7).

3.4- 3.4- 3.4- 3.4- 3.4- Mimésis Platônica x Mimésis Atual (Recriação)

Mimésis Platônica(reprodução da realidade, cópia - ponto de vistasintagmático, horizontal)

Mimésis Atual(recriação da realidade - ponto de vista paradigmático,vertical)

MIMÉSIS

A mimese inventa, na ambigüidade do literário, umaproblematização profunda sobre o que seja verdade.Em outras palavras, põe uma relação inseparávelentre discurso e espaço: o mundo. (...) // Aschamadas proposições elementares descrevem omundo e a totalidade dos fatos. O que aparece e oque o possibilita. O mundo, totalmente descrito nosestados de coisas, a mimese. O fato (o que ocorre)existe nos estados de coisas, compreendidos comoligações entre coisas. Põe a realidade inteira epossibilita qualquer realidade. O mundo se constituipelos fatos e se descreve pelas proposições, mas,por outro lado, as proposições constroem o mundocom a ajuda da “forma lógica”. A totalidade dos fatosempíricos se representa como estado de coisas, ouconjunturas, no espaço lógico pelos outros fatos dodiscurso. (...) Esta “forma lógica” é a capacidademimética do discurso (Ibidem: 16).

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723.5- 3.5- 3.5- 3.5- 3.5- Catársis Direta X Catársis Indireta

Este item do Conteúdo Programático será esclarecidono primeiro encontro do CEAD. São os textos deTeoria da Literatura e/ou Teoria Literária, oferecidos

3.6- 3.6- 3.6- 3.6- 3.6- Estudo de Textos: Poesias, Narrativas eEnsaios

pelo tutor, e os textos de literatura que serão analisadose interpretados no decorrer do curso.

CATÁRSIS INDIRETA

• Relacionada com a matéria ficcional (GêneroNarrativo em Prosa) e com os textos dramáticos paraserem lidos (e não para serem apresentados em umpalco, por exemplo: a leitura do “Rei Édipo” deSófocles).

• O leitor entra em contato (racionalmente falando)com o texto literário, passa a refletir, a analisar e ainterpretar o texto que o interessa.

“Como o efeito da catársis se dá no leitor, tende-se aencaminhar o seu entendimento por esse referente.Ora, para que produza algum efeito, a catársis devenecessariamente fazer parte da natureza do fenômenoliterário e como tal deve ser pensada” (Ibidem: 59).

CATÁRSIS DIRETA

• Relacionada com o Gênero Dramático (texto literáriopara ser representado em um palco)

• O espectador recebe a mensagem diretamente, nãohá tempo para reflexões.

“A catársis está profundamente relacionada com amimésis, daí também ser uma questão controvertida ecom múltiplas interpretações.

O problema surge quando Aristóteles na Poética,aodefinir a tragédia, alude aos efeitos que ela produznos espectadores: A tragédia é uma imitação da ação,elevada e completa, dotada de extensão, numalinguagem temperada, com formas diferentes em cadaparte, atuando os personagens, e não mediantenarração, e que, por meio da compaixão e do temor,provoca a purificação de tais paixões (Aristóteles)”(Ibidem: 59).

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73

Se você:

1) concluiu o estudo deste guia;2) participou dos encontros;3) fez contato com seu tutor;4) realizou as atividades previstas;

Então, você está preparado para asavaliações.

Parabéns!

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74Gabarito

Exercícios de Auto-Avaliação (P. 14)

Sugestões:

1- A impossibilidade de se definir a literatura deve-se ao objeto dela - a obra literária. Sendo um objeto que vaiser apreendido subjetivamente por quantos que tiverem contato com ele, delineia-se a impossibilidade dadefinição, impondo-se a conceituação, uma vez que o ato de conceituar está ligado à ação de emitir parecerrelacionado com a visão pessoal.

2 - Porque a linguagem com que é elaborada a obra literária cria seu próprio mundo, uma vez que ela já éinvenção. Representar com palavras é criar. É evidente que essa criação não é arbitrária. Ela parte do mundo emque vivemos para criar seu próprio mundo.

3 - Como se viu, o leitor desempenha o papel do mediador (ponte) entre o mundo da obra literária e o nossomundo, suplementando os espaços do texto. A importância desse papel está em que o leitor como que sereconhece na criação, uma vez que estará diante de seres humanos iguais a ele. Aqui ecoam as palavras deClarice Lispector: “criar (...) é correr o grande risco de se ter a realidade”.

4 - Porque o trabalho ficcional é construído com palavras, e estas devem ajustar-se numa estrutura paramostrarem o que está sendo criado, o que acaba dificultando o processo da imaginação. Essa resistência dapalavra termina por obrigar o autor a voltar-se para o real, estabelecendo um jogo de vaivém entre o imaginárioartístico e o real natural.

5 - Imagem mental é aquela que simplesmente evoca o objeto, que já está diretamente composto, nãoacrescentando nenhum saber para aquele que faz a evocação. Imagem ficcional, por ser criada, resulta de umalenta elaboração de um trabalho feito com palavras.

6 - Quando se diz da resistência oferecida pela palavra, quer-se afirmar que a palavra “só significa na rede derelações que compõe no interior da frase. Daí a idéia saussuriana de língua como um sistema que existe namedida em que cada emprego da palavra pode sujeitá-lo a uma nova e distinta configuração”. A palavra é algode indeterminado e imponderável. Por isso é que ela não se entrega pronta ao pensamento. E quando dizemosque ela integra o próprio tecido do pensamento, colocamos a invenção ao nível mesmo da linguagem. Por essarazão, por ser algo que não apenas faz a invenção (a criação) mas que é a própria invenção, é que a palavraoferece uma natural resistência quando do ato criador.

Observação: As respostas são pessoais (mas dependem de conhecimento teórico-crítico). Caso o alunoencontre alguma dúvida, deve entrar em contato com o tutor.

Exercícios de Auto-Avaliação (P. 26)

1- Note-se que a disposição dos versos da primeira estrofe sugere a torre de uma igreja. Pode-se, também,considerando uma outra perspectiva espacial, ver-se o corpo de uma igreja de perfil.

2- Todas elas referem-se a materiais de construção. É interessante observar que entre os tijolos, a água e aareia está colocada a palavra andaime, numa sugestão da subida da torre em construção, já que essa peça éutilizada quando não se consegue mais trabalhar com os pés no chão.

3- ( X ) ágil. Veja-se a quase total ausência de pontuação, o que sugere a rapidez.

4- ( X ) árduo e cansativo.

5- Sugere a subida da torre, o trabalho continuado e, finalmente, a conclusão, principalmente por causa doverso 9 (“mais”) em que já não aparece o elemento “perto”, tudo indicando a conclusão do trabalho como aliásmostra o último verso dessa estrofe, em que a palavra “torre” caracteriza o final da construção.

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756- Esse travessão como que representa a interrupção do que vinha tendo significado, ou seja, a construção da

igreja, para mostrar o elemento novo – a torre – e a conclusão do trabalho.

7- A contraposição do ritmo desse verso (lento) como o dos versos da primeira estrofe (ágil) sugere, de início,um descompasso entre o trabalho árduo e a “moleza indolente” da prática religiosa feita, no mais das vezes,mecanicamente, sem um aprofundamento interior maior. Além do mais, pode sugerir a colocação da seguintepergunta: “De que vale a construção tão difícil de um templo se, nos domingos, vai surgir uma litania dosperdões ou seja, gente querendo se desculpar dos seus erros? O verso parece-nos uma crítica ferina a um certoconceito de religião que funciona na base da transação comercial, seria algo parecido com a proposição: “pecoagora e busco o perdão depois”. De qualquer modo, o verso tem uma abertura de significação muito grande.Inúmeras outras respostas, desde que coerentemente estruturadas, podem servir.

8- Tais versos caracterizam a ironia com que Drummond critica aqueles que se entregaram ao sacerdócio semnenhuma vocação religiosa. “O padre que fala do inferno sem nunca ter ido lá” representa o indivíduo que dizcoisas sem estar convicto de que deveria dizê-las.

9- ( X ) o espírito exibicionista das mulheres.

10- Retirando-se a primeira sílaba da palavra “geolhos” temos a palavra “olhos”. Com isso o poeta criticatambém aqueles que vão à igreja para observar as mulheres. Evidencia-se a conclusão de que os olhos estãofixos nos joelhos. Esta é a razão pela qual o poeta preferiu o arcaísmo, sem dúvida bem achado e bastanteexpressivo.

11- Adro é a parte externa que fica defronte à igreja. Com isso o poeta parece sugerir que o ateu participasocialmente, festivamente dos acontecimentos religiosos. Ele não entra na igreja, o que significa que suapresença na frente do templo tem a caracterização de um hábito social.

12- A forma bão representa uma deturpação de bom. Quer dizer, encara-se o domingo como algo bom, mas esseaspecto positivo quase nunca está relacionado com a consciência religiosa e sim com os divertimentos que odomingo pode oferecer.

Atividades Complementares

As respostas dos números 1 , 2 e 3 são pessoais. O aluno deve ler bem o capítulo solicitado. Se assim o fizer,terá plenas condições de responder com clareza e eficiência o que lhe foi pedido. O objetivo, aqui, é desenvolvero senso crítico, partindo de leituras básicas e essenciais. As possibilidades de respostas encontram-se nopróprio capítulo do livro indicado.

Exercícios de Auto-Avaliação (P. 36)

1 - (c); (d); (d); (b); (a); (a); (b); (c); (c); (b).2 - A coexistência de valores opostos.3 - Conceptismo - emprego de raciocínios rebuscados até chegar a uma conclusão engenhosa.

Cultismo - jogo de palavras, emprego de uma constelação de figuras, tornando quase impossível oentendimento do texto.

4 - Antítese e paradoxo.5 - O romântico - inspirador das importantes catedrais.6 - Gozar o dia de hoje” - entregar-se intensamente ao presente, já que não se tem certeza do amanhã.7 - a) Barroca. b) Antítese e paradoxo.

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76Exercícios de Auto-Avaliação (P. 41)

1- (c); (c); (a); (b); (c); (a); (a); (b); (b); (b).2- Procurando retornar às “virtudes clássicas”: equilíbrio, clareza, harmonia e simplicidade.3- O bucolismo.4- Valorização das coisas do campo, dos senários naturais.5- “Século das luzes”.6- Estímulo à cópia dos modelos gregos e romanos.7- “O homem é bom, a socidade o corrompe.”8- Provocará o surgimento do culto do “Bom Selvagem”.9- Tornaram-se românticos.

Exercícios de Auto-Avaliação (P. 44)

1- a) Fugindo dos velhos temas como o bucolismo e a mitologia.b) A fuga e a evasão.c) Com objetivo nacionalista de exaltar as tradições nacionais e os heróis da pátria.d) O poeta revela-se ao mundo, constrói uma poesia calcada em sua vivência e em suas emoções pessoais.e) É um herói individual, corajoso, leal, dotado de poderes quase sobrenaturais, capaz de desafiar forçascontrárias e determinado a morrer pelo amor ideal, ou pelo ideal de amor.

2- a) Presença de pronomes e verbos na primeira pessoa do singular.b) “... esse adorado sonho / acalentei em meu delírio ardente” etc.c) Ex.: “...sonho acalentei = em delírio insano”d) Substantivos: anelo, ardor, sonho, delírio, noite, desvelo, alento etc.Adjativos: ardente, adorado, doce etc.O conjunto de todos esses elementos evidencia o clima de imaginação, de pessimismo e de insatisfação.

Exercícios de Auto-Avaliação (P. 48)

1- (b); (a); (c); (c); (b); (d); (d); (c); (a); (d).2- Por exemplo: as personagens realistas são degradadas; as naturalistas são animalizadas.3- Porque predomina a sinestesia, valorizando-se as impressões sensoriais.4- Como um animal, dominado pelo instinto.5 - Enquanto os românticosvalorizam o gosto popular, os parnasianos o desprezam, voltando a sua arte para

a elite.6- (c); (a); (b);

Exercícios de Auto-Avaliação (P. 52)

1- Porque o poeta apenas sugere, cabendo ao leitor decodificar a mensagem.2- Valoriza o inconsciente, a poesia pura, antes de passar pelo crivo da razão.3- O Parnasianismo foi um estilo objetivo e impessoal; já o Simbolismo foi subjetivo e dramático.4- Preocupação com o Além- Matéria, com as coisas do espírito.5- Valorização dos recursos sonoros e do ritmo.6- O que importa são as impressões instantâneas. Valorização das cores, da luz, das cenas ao “ar livre”; dos

momentos efêmeros e fugazes.7-Praticamente todo o texto nos remete a tal afirmação. O aluno deverá reconhecer a idéia de continuidade, de

passagem, de coisas efêmeras e passageiras que descortinam ao longo da paisagem. Ex: “casas de moradores,homens, tudo ia passando, rolando mansamente..., etc”.

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77Atividades Complementares (P. 58)

1-Sugestões:

O Cubismo: Revela-se como um trabalho artístico que compõe a fragmentação do objeto, ao contrário daconcepção clássica da pintura que sempre propôs que o objeto fosse apresentado na sua forma precisa, comlinhas contínuas.

O Dadaísmo: Tinha como proposta a negação dos valores artísticos, morais e sociais, pois seu objetivo erademolir os demolir os valores de uma civilização que eles entendiam como brutal, sanguinária e selvagem.

O Surrealismo: Teve como proposta uma perspectiva artística mais voltada para as profundezas do psiquismo.Contrários ao racionalismo cientificista, entendiam que a razão e a fantasia estão intimamente ligadas, fazendoparte da realidade do indivíduo.

2- (a); (b); (d); (c).

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