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Page 1: TEORES DE MICRONUTRIENTES EM FOLHAS DE … · nutrição das culturas ao longo de diversos cultivos. Desta forma, o objetivo deste estudo foi ... Nutrição mineral de plantas. Sociedade

1 Doutorando, Universidade Federal de Campina Grande, Caixa Postal 10.078, CEP 58429-140, Campina Grande, PB. Fone

(83) 2101-1055. e-mail: [email protected]. 2 Profª. Doutora, Depto de Engenharia Agrícola, UFCG, Campina Grande, PB. 3 Graduanda, Dpto de Biologia, UEPB, Campina Grande, PB 4 Mestrando, Dpto de Fisiologia Vegetal, UFV, Viçosa, MG. 5 Prof. Doutor, Depto Solos, UFPB, Areia, PB. 6 Graduanda, Depto de Des.Industrial, UFCG, Campina Grande, PB

TEORES DE MICRONUTRIENTES EM FOLHAS DE

ALGODOEIRO ADUBADO COM TORTA DE MAMONA

L. V. B. D. Silva1; V. L. A. Lima

2; V. N. B. Silva

3; F. M. O. Silva

4; F. A. Oliveira

5; T. L. P. Pereira

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RESUMO: Objetivou-se com este estudo avaliar o efeito residual da adubação orgânica com

torta de mamona sobre os teores foliares de boro, ferro, manganês e zinco em plantas de

algodoeiro irrigadas com efluente de esgoto doméstico tratado. Para isto, plantas de algodão

foram cultivadas em vasos provenientes de plantio anterior com plantas de gergelim submetidas

aos tratamentos que resultaram da combinação fatorial de cinco doses de torta de mamona no

substrato (0, 2, 3, 4 e 5 ton ha-1

) e duas qualidades de água de irrigação (água de abastecimento

e efluente doméstico tratado), com três repetições. Ao final do ciclo do algodoeiro o tecido de

todas as folhas em cada planta foi coletado, secado em estufa de aeração forçada e encaminhado

para laboratório para que fossem determinadas as concentrações foliares de boro, ferro,

manganês e zinco. Não foi constatado efeito residual da torta de mamona nos teores foliares dos

micronutrientes estudados. Verificou-se que as plantas irrigadas com água residuária

apresentaram menores teores de boro e manganês do que as irrigadas com água de

abastecimento público.

PALAVRAS-CHAVE: águas residuárias, nutrição de plantas, Gossypium hirsutum L.

MICRONUTRIENTS LEAF CONTENTS IN COTTON

PLANTS FERTILIZED WITH CASTOR MEAL

SUMMARY: The objective of this study was to investigate the residual effect of organic

fertilization with castor meal on micronutrients leaf levels in cotton plants irrigated with treated

domestic sewage effluent. For this, cotton plants were grown in pots previously cultivated with

sesame that were submitted to the treatments resulted from the factorial combination of five

doses of castor meal in soil (0, 2, 3, 4 and 5 ton ha-1

) and two types of irrigation water (water

supply and wastewater treated), with three replications. After cotton harvest, all leaves on each

plant were collected, oven-dried, and sent to the laboratory to determine leaf concentrations of

boron, iron, manganese and zinc. Was not observed residual effect of castor meal in

micronutrients leaf contents. It was found that plants irrigated with wastewater had lower boron

and manganese leaf contents than those which were irrigated with water supply.

KEYWORDS: wastewater, plant nutritrion, Gossypium hirsutum L

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L. V. B. D. Silva et al.

INTRODUÇÃO

O algodão é um dos produtos de maior importância econômica do grupo das fibras, pelo

volume e valor da produção. Trata-se de uma das principais commodities comercializadas

mundialmente, sendo sua fibra reconhecida como a mais importante entre as fibras têxteis,

naturais ou artificiais.

Em termos de nutrição, o algodoeiro herbáceo se caracteriza como cultura altamente

exigente apresentando elevada sensibilidade à deficiência nutrientes, em especial aos

mactronutrientes nitrogênio, potássio, enxofre e ao micronutriente boro.

Em cultivos convencionais, em que a adubação é realizada com fertilizantes químicos nas

quantidades requeridas pela cultura, as plantas são geralmente nutridas de maneira adequada.

No entanto, quando se utilizam adubos orgânicos, cuja composição e taxa de liberação de

nutrientes não é conhecida, torna-se necessário o estudo do impacto destes compostos na

nutrição das culturas ao longo de diversos cultivos. Desta forma, o objetivo deste estudo foi

avaliar o efeito residual da adubação orgânica com torta de mamona sobre os teores foliares dos

micronutrientes boro, ferro, manganês e zinco em plantas de algodoeiro irrigadas com efluente

de esgoto doméstico tratado.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi conduzido em área pertencente à Companhia de Águas e Esgotos do Estado da

Paraíba (CAGEPA), localizada no município de Campina Grande, PB. Cultivaram-se, no

período entre agosto e dezembro de 2008, plantas de algodoeiro herbáceo cultivar BRS

Camaçari em vasos de 20L preenchidos com solo classificado como Neossolo Regolítico

psamítico solódico (EMBRAPA, 1999). Os vasos haviam sido previamente cultivados com

plantas de gergelim entre janeiro e maio de 2008.

O solo foi adubado para o primeiro ciclo de acordo com os tratamentos que resultaram da

combinação fatorial de cinco doses de torta de mamona no substrato (0, 2, 3, 4 e 5 ton ha-1

) e

duas qualidades de água de irrigação (água de abastecimento e água residuária). O delineamento

experimental foi em blocos casualizados, com três repetições.

A água residuária doméstica utilizada tratava-se de efluente decantado de um reator

anaeróbio de fluxo ascendente (UASB). A água de abastecimento, por sua vez, foi proveniente

do sistema de abastecimento público municipal. A caracterização química das fontes de água

utilizadas para irrigação pode ser observada na Tabela 1.

Ao final do primeiro ciclo de cultivo, amostras de solo foram coletadas para caracterização

química do solo a ser cultivado no presente experimento. Os valores médios dos parâmetros de

fertilidade do solo após o primeiro ciclo de cultivo, em função das qualidades de água aplicadas,

se encontram na Tabela 2.

Para o plantio em sucessão com algodoeiro herbáceo não foi realizada suplementação da

adubação, mantendo-se o esquema de irrigação do ciclo anterior de maneira a atender à

demanda hídrica do algodoeiro, calculada em função do coeficiente de cultivo (kc) determinado

por Azevedo et al. (1993).

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L. V. B. D. Silva et al.

Ao final do ciclo da cultura coletou-se o tecido das folhas em cada planta a fim de que

fossem determinadas as concentrações foliares de boro, ferro, manganês e zinco. Os dados

obtidos foram submetidos à análise de variância seguida de análise de regressão polinomial.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O resumo da análise de variância e os teores médios foliares dos micronutrientes boro (B),

ferro (Fe), manganês (Mn) e zinco (Zn) nas plantas de algodoeiro ao final do ciclo da cultura se

encontram, respectivamente, nas Tabelas 3 e 4.

Os teores foliares de boro não foram afetados pelos níveis residuais de torta de mamona

estudados (Tabela 3), demonstrando que o uso do adubo orgânico não afetou a extração deste

elemento pelas plantas de algodão. No entanto, no que diz respeito à qualidade da água de

irrigação, verificou-se que a utilização de água de abastecimento público resultou em teores

médios de B no tecido foliar cerca de 40% mais elevados que o observado para as plantas

irrigadas com efluente tratado (Tabela 4).

Na literatura são encontradas respostas contrastantes quanto aos teores foliares de B

relacionados à aplicação de efluentes de esgoto. Fonseca et al. (2005) não constataram

diferenças significativas nos teores foliares de B quando se utilizou efluente tratado e água

potável para irrigação de milho. Em contrapartida, Johns & Mcconchie (1994) e Medeiros et al.

(2008) observaram que a irrigação com efluente doméstico proporcionou maiores teores foliares

de B em plantas de banana e café, respectivamente.

De acordo com Raij (1991), o nível crítico de B em folhas de algodoeiro é igual a 50 mg kg-1

.

Galrão (2002) afirma que a faixa de suficiência de B nas plantas de algodoeiro herbáceo varia

entre 40 e 100 mg kg-1

, o que permite constatar que, ao final do experimento, as plantas irrigadas

com ambas as qualidades de água se encontravam adequadamente nutridas em boro.

Com relação aos teores de manganês, observou-se que o acúmulo do nutriente foi mais elevado no

tecido foliar das plantas irrigadas com água potável do que naquelas que receberam efluente tratado,

não tendo sido verificadas diferenças significativas entre as doses de torta de mamona (Tabela 4).

Os teores mais baixos de Mn verificados nas folhas das plantas irrigadas com água residuária

provavelmente estão relacionados aos maiores teores de matéria orgânica geralmente presentes

em águas residuárias, o que pode ter promovido a complexação do manganês, evitando sua

absorção pelo sistema radicular das plantas (Page, 1962; Dechen & Nachtigall, 2006).

É possível verificar, na Tabela 4, que os teores médios de manganês no tecido foliar das

plantas observados no presente experimento se encontram muito acima do intervalo considerado

adequado para o algodoeiro, por Galrão (2002) que é de 50 a 350 g kg-1

. No entanto, não é

possível inferir acerca da fitotoxidade, uma vez que os parâmetros de toxidez do elemento são

muito variáveis. Rehab & Wallace (1978) observaram toxidez por manganês em plantas de

algodoeiro quando os teores foliares foram acima de 5.000 mg kg-1

e Foy et al. (1995)

observaram este efeito a partir de 1.500 mg kg-1

.

Com relação aos teores de ferro e zinco é possível constatar, na Tabela 3, que não foram

afetados significativamente pelos tratamentos testados no presente estudo. De acordo com Galrão

(2002) e Malavolta (1997) as faixas de teores foliares adequados de Fe e Zn em algodoeiro são,

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respectivamente, 50 a 250 mg kg-1

e 10 e 15 mg kg-1

. Assim, pode-se afirmar que, ao final do

presente experimento, as plantas não apresentavam deficiência destes nutrientes.

CONCLUSÕES

A aplicação de água residuária tratada resultou em menores teores foliares de manganês e

boro em plantas de algodoeiro.

A aplicação de doses crescentes de torta de mamona até o nível de 5 ton ha-1

não ocasionou

efeito residual em segundo cultivo nos teores foliares de boro, ferro, manganês e zinco em

plantas de algodoeiro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AZEVEDO, P. V.; RAMANA RAO, T. V.; AMORIM NETO, M. S.; BEZERRA, J. R. C; ESPÍNOLA

SOBRINHO, J.; MACIEL, G. F. Necessidades hídricas da cultura do algodoeiro. Pesquisa Agropecuária

Brasileira, Brasília, v.28, n.7, p.863-870, 1993.

DECHEN, A. R.; NACHTIGALL, G. R. Micronutrientes. In: FERNANDES, M. S. (Ed.). Nutrição

mineral de plantas. Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2006. p. 327-354.

EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos (Rio de Janeiro). Sistema Brasileiro de Classificação

dos Solos. Brasília: Produção de Informação - SPI, 1999. 412p.

FEIGIN, A.; RAVINA, I.; SHALHEVET, J. Irrigation with treated sewage effluent: management for

environmental protection. Berlin: Springer-Verlag, 1991. 224p.

FONSECA, A. F.; MELFI, A. J.; MONTES, C. R. Maize growth and changes in soil fertility after

irrigation with treated sewage effluent. II. Soil acidity, exchangeable cations, and sulfur, boron, and heavy

metals availability. Communications in Soil Science and Plant Analysis, v.36, p.1983-2003, 2005.

FOY, C. D.; WEIL, R. R.; CORADETTI, C. A. Differential manganese tolerances of cotton genotypes in

nutrient solution. Journal of Plant Nutrition, n.18, p.685-706, 1995.

GALRÃO, E. Z. Micronutrientes. In: SOUSA, D. M. G. & LOBATO, E. eds. Cerrado - Correção do solo

e adubação. Planaltina, Embrapa Cerrados, 2002. p.185-226.

JOHNS, G. G. & MCCONCHIE, D. M. Irrigation of Bananas with Secondary Treated Sewage Effluent.

II. Effect on plant nutrients, additional elements and pesticide residues in plants, soil and leachate using

drainage lysimeters. Australian Journal of Agricultural Research, v.45, p.1619-1638, 1994.

MALAVOLTA, E. Avaliação do Estado Nutricional das Plantas: princípios e aplicações. Piracicaba:

POTAFOS, 1997. 315p.

MEDEIROS, S. S.; SOARES, A. A.; FERREIRA, P. A.; NEVES, J. C. L.; SOUZA, J. A. A. Utilização

de água residuária de origem doméstica na agricultura: Estudo do estado nutricional do cafeeiro. Revista

Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v.12, n.2, p.109-115. 2008.

PAGE, E. R. Studies on soil plant manganese. II. The relationship of soil pH to manganese availability.

Plant & Soil, v.16, p.247-257, 1962.

RAIJ, B. van. Fertilidade do solo e adubação. Piracicaba: Potafos, 1991. 343p.

REHAB, F. I. & WALLACE, A. Excess trace metal effects on cotton. 1. Copper, zinc, cobalt and manganese

in solution culture. Communications in Soil Science and Plant Analysis, Philadelphia, n.9, p.507-518, 1978.

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L. V. B. D. Silva et al.

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Mg+Ca

Na=RAS

Tabela 1. Caracterização química das duas fontes de água – potável (AP) e residuária tratada (AR) –

utilizadas para irrigação

pH CE Ca Mg Na K SO4 CO3 HCO3 Cl-

RAS* Classe dS m-1 ------------------------------------- mg L-1 -------------------------------------

AP 7,2 0,54 12,50 21,60 59,00 3,80 presente 0,0 18,00 131,40 3,31 C2S1

AR 8,3 2,09 89,42 67,31 202,63 34,41 presente 0,0 911,83 328,38 5,58 C3S1 *Razão de adsorção de sódio:

Tabela 2. Caracterização química do solo após o primeiro ciclo de cultivo, em função das qualidades de

água aplicadas

pH

P S K Ca Mg H+Al Al CTC V M.O. --------- mg dm-3 -------- ---------------- cmolc dm-3 --------------- % g kg-1

AP 5,0 13,92 11,73 95,06 1,46 0,75 1,83 0,05 4,49 59,28 6,6

AR 5,0 20,51 12,64 97,42 1,40 0,92 1,82 0,02 4,60 60,42 5,9

Tabela 3. Análise de variância para os nutrientes boro (B), ferro (Fe), manganês (Mn) e zinco (Zn) no

tecido foliar das plantas ao final do experimento

Fonte de Variação GL Quadrados Médios

B Fe Mn Zn

Qualidade de água (A) 1 8859,25898** 28191,87075ns 3015430,84800* 130,54188ns

Dose de torta de mamona

(D) 4 709,01766ns 26676,29505ns 1527317,20800ns 55,04598ns

A x D 4 1057,82972ns 12000,86895ns 816495,83280ns 41,11938ns

Tratamentos 9 1769,62761ns 20322,28075ns 1376742,55680ns 57,24481ns

Resíduo 20 842,75839 11686,79181 580383,49392ns 116,36088

Total 29

CV (%) 30,47 50,01 57,79 38,22 *, **, ns. Significativo a 5%, 1% e não significativo, respectivamente.

Tabela 4. Teores totais dos nutrientes boro (B), ferro (Fe), manganês (Mn) e zinco (Zn) no tecido foliar

das plantas ao final do experimento

Fatores B

(mg Kg-1)

Fe

(mg Kg-1)

Mn

(mg Kg-1)

Zn

(mg Kg-1)

Dose de torta de mamona

0 ton ha-1 79,43 190,68 1038,90 24,50

2 ton ha-1 104,54 147,76 1565,64 27,11

3 ton ha-1 101,81 184,73 827,22 26,96

4 ton ha-1 88,49 321,32 1079,46 32,09

5 ton ha-1 102,13 236,39 2080,38 30,47

Fonte de água

Água potável (AP) 112,47 a 246,83 a 1635,36 a 30,31 a

Água residuária (AR) 78,10 b 185,52 a 1001,28 b 26,14 a Em cada coluna médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey a nível de 5 % de probabilidade.