teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO ESCOLA DE NUTRIÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE E NUTRIÇÃO TEOR DE CONTAMINANTES INORGÂNICOS EM CACHAÇAS DO QUADRILÁTERO FERRÍFERO (MG, BRASIL) ARMAZENADAS EM COPOS DE PEDRA-SABÃO (ESTEATITO) KARINE APARECIDA LOUVERA SILVA OURO PRETO, MINAS GERAIS, BRASIL 2015

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Page 1: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

ESCOLA DE NUTRIÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE E NUTRIÇÃO

TEOR DE CONTAMINANTES INORGÂNICOS EM CACHAÇAS DO

QUADRILÁTERO FERRÍFERO (MG, BRASIL) ARMAZENADAS EM

COPOS DE PEDRA-SABÃO (ESTEATITO)

KARINE APARECIDA LOUVERA SILVA

OURO PRETO, MINAS GERAIS, BRASIL

2015

Page 2: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

KARINE APARECIDA LOUVERA SILVA

TEOR DE CONTAMINANTES INORGÂNICOS EM CACHAÇAS DO

QUADRILÁTERO FERRÍFERO (MG, BRASIL) ARMAZENADAS EM

COPOS DE PEDRA-SABÃO (ESTEATITO)

OURO PRETO, MINAS GERAIS, BRASIL

2015

Dissertação de mestrado apresentada

ao Programa de Pós-graduação Stricto

Sensu em Saúde e Nutrição da Escola

de Nutrição da Universidade Federal de

Ouro Preto, como requisito parcial para

obtenção do título de Mestre em Saúde

e Nutrição.

Área de Concentração: Bioquímica e

Fisiopatologia da Nutrição

Orientadora: Profa. Dra. Késia Diego

Quintaes

Page 3: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

S586t Silva, Karine Aparecida Louvera.

Teor de contaminantes inorgânicos em cachaça do Quadrilátero Ferrífero (MG, Brasil) armazenadas em copos de pedra-sabão (Esteatito) [manuscrito] / Karine Aparecida Louvera Silva. - 2015.

62f.: il.: color; grafs; tabs; mapas.

Orientadora: Profa. Dra. Késia Diego Quintaes.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Ouro Preto. Escola de Nutrição. Departamento de Nutrição Clínica e Social. Saúde e Nutrição.

1. Cobre. 2. Bebidas alcoólicas. 3. Cachaça. 4. Adsorção. I. Quintaes, Késia

Diego. II. Universidade Federal de Ouro Preto. III. Titulo.

CDU: 663:612.393

Catalogação: www.sisbin.ufop.br

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Page 5: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

4

Aos meus pais Cláudia e Danir, meus

primeiros mestres, modelos reais de

perseverança, parceria, dedicação,

paciência e ética. Ao meu irmão Bruno

e ao meu noivo Samuel.

Page 6: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

5

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, minha fonte de vida, que, pelo Seu sublime amor, acolheu-me em

todos os momentos nos Seus braços, acalentando-me e mostrando-me que, mesmo

quando aos meus olhos a minha jornada e os obstáculos desta aparentavam-se

difíceis, ajudou-me a buscar incessantemente força e determinação para não perder

o meu foco e alcançar o meu objetivo.

À Professora Dra. Késia Diego Quintaes, pela magnífica orientação, amizade,

carinho, confiança, dedicação e, sobretudo, pela oportunidade dada à realização

deste trabalho.

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG – Brasil),

pelo apoio financeiro cedido a este projeto.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES – Brasil),

pela concessão da bolsa de mestrado.

Ao Professor Dr. Eduardo Bearzoti, pela excelente contribuição e suporte dados a

este trabalho.

A todos os professores da Universidade Federal de Ouro Preto, que me auxiliaram

neste projeto, pelo conhecimento transmitido, pela disposição em ajudar-me com as

dúvidas e pelo incentivo nesta caminhada.

À Universidade Federal de Ouro Preto e ao Programa de Pós-graduação em Saúde

e Nutrição. Em especial à Jaqueline, secretária da Pós-graduação, e aos

funcionários da Biblioteca da Escola de Nutrição, pelos inúmeros serviços prestados

e pela amabilidade no atendimento.

Ao Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL), especialmente Marcelo Morgano,

Isabela Cerqueira e Raquel Milani, funcionários do Centro de Química Analítica, pela

presteza nas análises químicas, empenhando-se ao máximo para que os resultados

pudessem ser obtidos com precisão e agilidade necessárias e pelo companheirismo

em todas as etapas deste estudo.

Page 7: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

6

À Isabela Fernandes, amiga da Pós-graduação, por toda amizade, apoio, força,

atenção, dedicação e empenho em me ajudar nos pontos-chave deste trabalho.

Aos meus pais, meus mestres e meu alicerce, pelo amor incondicional, apoio e

proteção, que tanto fizeram para eu conquistar mais esta etapa. Os novos horizontes

que conquistei até hoje foram por causa de vocês, que me instigaram a voar mais

longe e acreditaram em mim.

Ao meu irmão Bruno e à sua esposa Flávia, pelo exemplo, amizade, paciência,

apoio e incentivo, por cederem a casa deles aos finais de semana e torná-los mais

alegres, por me fazerem acreditar em mim mesma e por me ensinarem que os

grandes méritos da vida dependem basicamente de três características: humildade,

ambição e determinação.

Ao meu noivo Samuel, meu porto seguro, pelo companheirismo, cumplicidade e

paciência, que me confortou com seu amor em todos os momentos e me apoiou

sem hesitar neste objetivo que tanto almejei.

Agradeço a todos os meus familiares e amigos, em especial às minhas avós e aos

meus tios Ulisses e Luciana, que, independente da distância, mantiveram-se sempre

ao meu lado, orando e torcendo por mim, para que eu conseguisse concluir mais

esta etapa da minha jornada.

A todas as minhas amigas e amigos da Pós-graduação, em especial à Izabelle,

Tereza, Ricardo, Cícero, Fernanda e Isabela, pela lealdade e cumplicidade, pelo

apoio e incentivo e pelos momentos inesquecíveis em Ouro Preto, que jamais sonhei

vivenciá-los.

Ao Pingo Otávio (in memoriam), meu cachorrinho, exemplo de lealdade, coragem,

paciência e persistência, por ter-me ensinado os sentimentos mais puros os quais se

ausentam nos homens e por ter-me mostrado que o mais sublime da vida é amar o

próximo independente de qualquer característica ou atribuição.

Page 8: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

7

“Talvez não tenha conseguido fazer o melhor, mas lutei para que o melhor fosse feito.

Não sou o que deveria ser, mas, graças a Deus, não sou o que era antes.”

(Marthin Luther King)

Page 9: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

8

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1. Estrutura dos principais minerais geológicos do esteatito..........................................20

Figura 2. Localização do Quadrilátero Ferrífero no Estado de Minas Gerais (QFMG)........... 29

Figura 3. Esquema simplificado do delineamento experimental adotado ................................31

Figura 4. Modelos de regressão ajustados com a concentração de Pb (mg∙L-1) em função

dos ciclos de exposição a copos de pedra-sabão in natura, utilizando médias de oito marcas

de cachaça e álcool etílico ..............................................................................................................40

Figura 5. Modelos de regressão ajustados com a concentração de Ni (mg∙L-1) em função dos

ciclos de exposição a copos de pedra-sabão in natura, em cinco marcas de cachaça

comercializadas no Quadrilátero Ferrífero (MG, Brasil)..............................................................42

Figura 6. Teor médio inicial (mg∙L-1) e percentual (%) de Ni nas cinco marcas de cachaça

estudadas ...........................................................................................................................................44

Figura 7. Modelos de regressão ajustados com a concentração de Cu (mg∙L -1) em função

dos ciclos de exposição a copos de pedra-sabão in natura em oito marcas de cachaça

comercializadas no Quadrilátero Ferrífero (MG, Brasil)...............................................................46

Figura 8. Teor médio inicial (mg∙L-1) e percentual (%) de Cu nas oito marcas de cachaça

estudadas............................................................................................................................................49

Page 10: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

9

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Procedência, teor alcoólico rotulado (%) e concentração média (mg∙L-1) de

contaminantes inorgânicos em oito marcas de cachaça e no simulante* à base de álcool .. 35

Tabela 2. Comparação entre modelos de um ensaio em parcelas subdivididas, considerando

três estruturas de covariâncias residuais: covariâncias nulas (C0), simetria composta (SC) e

autorregressiva de ordem (AR1), utilizando o Critério de Informação de Akaike (AIC), o

Critério de Informação Bayesiano (BIC), o logaritmo da verossimilhança (log L) e o Teste da

Razão de Verossimilhanças (TRV) ...................................................................................... 38

Tabela 3. Estatísticas F das análises de variância ............................................................... 39

Tabela 4. Concentração de Cu e Ni (mg∙L-1) em oito marcas de cachaça comercializadas no

Quadrilátero Ferrífero (MG, Brasil) e no simulante* à base de álcool, submetidas a diferentes

ciclos de exposição a copos de pedra-sabão in natura (médias de três repetições) ............ 41

Tabela 1A. Resultados obtidos para repetitibilidade e reprodutibilidade estudadas na

determinação de metais em cachaça ......................................................................................... 60

Tabela 1B. Equações e valor do coeficiente de Pearson para as retas obtidas por regressão

linear....................................................................................................................................................61

Tabela 1C. Concentrações dos brancos utilizados para o cálculo do limite de

detecção............................................................................................................................................62

Tabela 1D. Valores obtidos na avaliação da exatidão da metodologia (ensaio de

recuperação).......................................................................................................................... 63

Page 11: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

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LISTA DE SIGLAS

AI Ingestão Adequada

ANOVA Análise de Variância

ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária

AR Requerimento Médio

As Arsênio

ATSDR Agency for Toxic Substances and Disease Registry

Ca Cálcio

CCD Charge Coupled Device

Cd Cádmio

Co Cobalto

Cr Cromo

Cu Cobre

EFSA European Food Safety Authority

FAPEMIG Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais

Fe Ferro

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IBRAC Instituto Brasileiro da Cachaça

ICP – OES Inductively Coupled Plasma – Optical Emission Spectrometry

IDA Ingestão Diária Aceitável

IDT Ingestão Diária Tolerável

INMETRO Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial

IOM Institute of Medicine

ITAL Instituto de Tecnologia de Alimentos

Page 12: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

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JECFA Join Expert Committee on Food Additives

LOAEL Menor Nível de Efeito Adverso Observado

LOD limite de detecção

MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Hg Mercúrio

Mg Magnésio

MG Minas Gerais

Mn Manganês

Ni Níquel

OMS Organização Mundial da Saúde

Pb Chumbo

PMTDI Limite Provisório Máximo Tolerável

PRI Referência de Ingestão Popoulacional

PTMI Ingestão Mensal Provisória Tolerável

PTWI Ingestão Semanal Provisória Tolerável

QFMG Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais

RDA Ingestão Dietética Recomendada

RF rádio frequência

Si Silício

UE União Euopeia

UL Limite de Ingestão Máxima Tolerável

Page 13: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

12

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 17

1.1 A cachaça .................................................................................................................. 17

1.2 A pedra-sabão ............................................................................................................ 19

1.4 Interferência da pedra-sabão no teor de contaminantes inorgânicos .......................... 26

2 OBJETIVOS ...................................................................................................................... 27

2.1 Objetivo geral ............................................................................................................. 27

2.2 Objetivos específicos .................................................................................................. 27

3 MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................................ 28

3.1 Determinação dos contaminantes inorgânicos ........................................................... 30

3.2 Equipamento e condições de operação ...................................................................... 32

3.3 Avaliação dos contaminantes inorgânicos .................................................................. 32

3.4 Qualidade analítica ..................................................................................................... 33

3.5 Análise estatística ...................................................................................................... 33

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................ 35

4.1 Teores dos elementos inorgânicos presentes nas cachaças e álcool etílico ............... 35

4.2 Teores dos elementos no teste de exposição à pedra-sabão ..................................... 37

5 CONCLUSÃO .................................................................................................................... ...........................50

6 REFERÊNCIAS................................................................................................................................51

7 APÊNDICE ....................................................................................................................... 59

7.1 Validação dos parâmetros de calibração para determinação por ICP-OES ................ 59

Page 14: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

13

RESUMO

A contaminação de bebidas alcoólicas com níveis indesejáveis de minerais

inorgânicos é um problema que ainda persiste na atualidade. A pedra-sabão

(esteatito) vem sendo utilizada pelo homem em contato com alimentos e bebidas, e

sua interação pode afetar os níveis de minerais destes produtos. Este estudo teve

como objetivo avaliar o efeito do contato entre as cachaças brasileiras e copos de

pedra-sabão in natura na concentração de minerais. Os níveis de As, Cd, Cu, Ni e

Pb foram quantificados por Espectrometria de Emissão Óptica por Plasma Acoplado

Indutivamente (ICP – OES) em oito cachaças brasileiras comercializadas no

Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerias e em um simulante de bebida alcoólica, antes

e após quatro ciclos de contato (24 horas cada) com copos de esteatito in natura. Os

resultados obtidos foram comparados com os teores estabelecidos pelas legislações

brasileira e alemã: Cu (5,0 mg∙L-1 e 2,0 mg∙L-1), As (0,100 mg∙L-1), Cd (0,020 mg∙L-1 e

0,010 mg∙L-1) e Pb (0,200 mg∙L-1 e 0,250 mg∙L-1), respectivamente. A presença de

Ni foi considerada como aceitável caso o teor quantificado fosse inferior a 3,0 mg∙L-1

segundo a legislação brasileira, não havendo limite para esse elemento na

legislação alemã. Foi utilizado um delineamento inteiramente casualizado com nove

tratamentos e três repetições. Os valores de concentração de cada elemento foram

analisados conforme o modelo de ensaio em parcelas subdivididas. Havendo

diferenças significativas entre as marcas das cachaças, estas eram comparadas

utilizando-se o critério de agrupamento de Scott-Knott; e havendo diferenças

significativas (p<0,05) entre os tempos de avaliação, modelos de regressão eram

ajustados. Os dados foram analisados utilizando-se os softwares R e Sisvar. As oito

cachaças avaliadas apresentaram conformidade à legislação brasileira no que tange

aos teores de As 0,025 mg∙L-1 (0,011 mg∙L-1 – 0,085 mg∙L-1), Cd 0,003 mg∙L-1

(0,003 mg∙L-1 – 0,004 mg∙L-1), Cu 2,982 mg∙L-1 (1,113 mg∙L-1 – 4,598 mg∙L-1), Ni

0,01 mg∙L-1 (0,003 mg∙L-1 – 0,020 mg∙L-1) e Pb 0,024 mg∙L-1 (0,006 mg∙L-1 – 0,074

mg∙L-1). Entretanto, isso não ocorreu no que diz respeito à legislação alemã, pois

62,5% das marcas de cachaça avaliadas infringiram o máximo teor de Cu

estabelecido em 97,2; 120,5; 122,2; 129,9 e 6,6%, respectivamente. Com relação ao

comportamento dos contaminantes inorgânicos, foi evidenciado que o contato de

bebidas alcoólicas com a pedra-sabão in natura pode reduzir em até 50,4% (14,3 –

Page 15: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

14

50,4%) o teor de Cu, tornando adequado seu teor numa das cachaças e incrementar

em até 622,2% (107,1 – 622,2%) o teor de Ni, especialmente nas primeiras 24 horas

de contato. O modelo de regressão linear simples (R2: 71,19%) indicou um

decaimento constante da concentração média de Pb em todas as bebidas, que

variou de 18,3% a 54,5% no primeiro e último ciclos, respectivamente. Por outro

lado, os teores de As e Cd se mantiveram inalterados durante todo o experimento. O

contato da pedra-sabão in natura com soluções alcoólicas pode reduzir a

concentração de Cu e Pb, em contrapartida pode elevar a concentração de Ni de

forma não ser recomendável que bebidas contendo teores de Ni próximos ao

máximo permitido pela legislação sejam expostas à pedra-sabão in natura.

Palavras-chave: Cobre, Álcool, Cachaça, Adsorção, Contaminantes Inorgânicos.

Page 16: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

15

ABSTRACT

The contamination of alcoholic beverages with undesirable levels of inorganic

minerals is a problem that still persists nowadays. The soapstone (steatite) has been

used by man in contact with food and drink, and its interaction can affect the levels of

minerals in these products. This study aimed at evaluating the effect of the contact

between Brazilian cachaças and raw soapstone cups by the concentration of

minerals. The levels of As, Cd, Cu, Ni and Pb of eight Brazilian cachaças and of a

simulant of alcoholic beverage traded in the region called Quadrilátero Ferrífero in

Minas Gerais were measured by Optical Emission Spectrometry by Inductively

Coupled Plasma (ICP - OES), before and after four contact cycles (24 hours each)

with raw steatite cups. The levels of the inorganic contaminants As, Cd, Cu, Ni and

Pb in Brazilian cachaça sold in the QFMG and in alcoholic beverage simulant were

evaluated by emission spectrometry (ES), before and after four cycles (24 hours

each) of contacts with glasses of raw steatite (soapstone). The results were

compared with the levels established by the Brazilian and German legislations: Cu

(5.0 mg∙L-1 and 2.0 mg∙L-1); As (0.100 mg∙L-1), Cd (0.020 mg∙L-1 and 0.010 mg∙L-1);

Pb (0.200 mg∙L-1 and 0.250 mg∙L-1), respectively. The presence of Ni was considered

acceptable if the content was less than 3.0 mg∙L-1 according to the Brazilian laws, for

which the German laws establish no limits. A completely randomized design with nine

treatments and three repetitions was used. The concentration of each element were

analyzed according to the test model with subdivided parts. When significant

differences between brands of cachaça occurred, they were compared using the

Scott-Knott grouping criterion, and when significant differences (p<0,05) between the

time evaluation occurred, regression models were adjusted. Data were analyzed

using the softwares R and Sisvar. The cachaças evaluated in this study were in

accordance with the Brazilian legislation regarding the levels of the contaminants As

0.025 mg∙L-1 (0.011 mg∙L-1 – 0.085 mg∙L-1); Cd 0.003 mg∙L-1 (0.003 mg∙L-1 – 0.004

mg∙L-1); Cu 2.982 mg∙L-1 (1.113 mg∙L-1 – 4.598 mg∙L-1); Ni 0.01 mg∙L-1 (0.003 mg∙L-1 –

0.020 mg∙L-1) and Pb 0.024 mg∙L-1 (0.006 mg∙L-1 – 0.074 mg∙L-1). However, it did not

occur in accordance with the German legislation, for 62.5% of the evaluated cachaça

brands infringed maximum Cu content established at 97.2; 120.5; 122.2; 129.9 and

6.6%, respectively. As for the behavior of inorganic contaminants, it was observed

Page 17: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

16

that the contact of alcoholic beverages with raw soapstone was able to reduce up to

50.4% (from 14.3 to 50.4%) of the Cu content, regulating its level in one of these

cachaças, and increase up to 622.2% (107.1 to 622.2%) of the Ni content, especially

within the first 24 hours of contact. The simple linear regression model (R2: 71.19%)

indicated a steady decrease of the average Pb concentration in all beverages,

ranging from 18.3% to 54.5% in the first and last cycles, respectively. On the other

hand, As and Cd concentrations remained unaltered throughout the experiment. The

contact of raw soapstone with alcoholic solutions can reduce the concentration of Cu

and Pb; on the other hand, it can increase the concentration of Ni so that it is not

recommended to expose beverages containing Ni concentrations close to the

maximum level allowed by the law to the raw soapstone.

Keywords: Cupper, Alcohol, Spirits Drinks, Adsorption, Inorganic Contaminants

Page 18: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

17

1 INTRODUÇÃO

1.1 A cachaça

A cachaça, bebida legitimamente brasileira, é a terceira bebida alcoólica mais

comercializada no mundo e a primeira bebida destilada mais consumida no Brasil

(ABRABE, 2010). Estima-se que o Brasil possui capacidade instalada de produção

de cachaça de aproximadamente 1,2 bilhão de litros anuais, porém se produz

anualmente menos de 800 milhões de litros. Segundo o Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE, 2006) há aproximadamente 12 mil estabelecimentos

produtores de cachaça no país, todavia associações regionais estimam existência de

quase 15 mil estabelecimentos, sendo que são menos de 2 mil estabelecimentos,

com 4.000 marcas devidamente registrados no Ministério de Agricultura (IBRAC,

2008).

É digno de nota que, entre os Estados brasileiros, os que mais se destacam

na produção da cachaça são: São Paulo, Pernambuco, Ceará, Minas Gerais e

Paraíba, e os que mais consomem cachaça são: São Paulo, Pernambuco, Rio de

Janeiro, Ceará, Bahia e Minas Gerais. No que diz respeito ao âmbito internacional,

no ano de 2014, a cachaça foi exportada para 66 países, com mais de 60 empresas

exportadoras, gerando receita de US$ 18,33 milhões, um aumento superior a 10%

em relação a 2013. Também, houve aumento acima de 10% no volume, sendo

exportado um total de 10,18 milhões de litros. Os principais países de destino em

valor foram: Alemanha, Estados Unidos, França, Portugal, Paraguai e Itália, e os

principais países de destino em volume foram: Alemanha, Paraguai, Portugal,

Estados Unidos, França e Bolívia (IBRAC, 2014).

De acordo com a Instrução Normativa nº 13, de 29 de junho de 2005

(BRASIL, 2005), a cachaça é obtida pela destilação do mosto fermentado do caldo

de cana-de-açúcar com características sensoriais peculiares, com graduação

alcoólica de 38 a 48% em volume a 20 ºC, podendo ser adicionada de açúcares até

6 g∙L-1. Por outro lado, a aguardente envolve o destilado alcoólico simples de cana-

de-açúcar ou a destilação do mosto fermentado do caldo de cana-de-açúcar,

apresentando graduação alcoólica que varia de 38 a 54% em volume a 20 oC,

podendo ser adicionada de açúcares até 6 g∙L-1 (BRASIL, 2005).

Page 19: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

18

A cachaça pode receber denominações diferenciadas, a saber: cachaça

industrial e cachaça artesanal. A cachaça industrial é obtida em destiladores de

coluna, também conhecidos como “destiladores contínuos". Já a cachaça artesanal

é produzida em alambiques (MINAS GERAIS, 2007). Nessa perspectiva, as

destilarias industriais produzem cerca de 300 mil litros por dia de cachaça, ao passo

que nos alambiques geralmente são produzidos cerca de 100 a 1.000 litros por dia

da bebida (JERÔNIMO; SILVA, 2005).

Estudos evidenciam que cachaças confeccionadas em alambiques de cobre

(Cu) apresentam grande aceitação e são preferidas pelos consumidores.

Adversamente a isso, as cachaças obtidas em alambiques fabricados com materiais

como o aço inoxidável não têm a mesma predileção (NASCIMENTO et al., 1988;

FARIA, 1989; NASCIMENTO et al., 1998). Cabe dizer que o Cu exerce um efeito

importante na bebida, reduzindo a acidez e teores de aldeídos e compostos

sulfurados, sendo esses fatores usualmente responsáveis pelo sabor e odor

desagradáveis da bebida (CARDOSO et al., 2003).

Embora o Cu seja um micronutriente essencial ao homem, exposição

prolongada a concentrações acima do requerimento orgânico pode ser nociva ao

homem (MOSHA; WANGABO; MHINZI, 1996). Assim, há um limite de ingestão

máxima tolerável (UL) de Cu para adultos estimado em 10 mg∙dia-1 (IOM, 2001). Em

se tratando de cachaças, a legislação brasileira determina um limite máximo

permitido (5 mg∙L-1) (BRASIL, 2005). Cabe ressaltar que o Cu está associado à

formação de carbamato de etila em bebidas destiladas, composto potencialmente

cancerígeno (ARESTA; BOSCOLO; FRANCO, 2001).

Em Minas Gerais, foi constatado que 25% das cachaças procedentes de

alambiques do sul do Estado apresentavam teor de Cu acima do permitido pela

legislação (FERNANDES et al., 2007). Outro estudo brasileiro constatou que as

cachaças produzidas no Nordeste, Centro e Sul do País necessitam de melhorias no

controle de qualidade quanto à contaminação por metais e que as bebidas

nordestinas apresentavam maiores teores de Cu e Chumbo (Pb) em relação a

outras regiões (FERNANDES et al., 2005). Nas cachaças do quadrilátero ferrífero de

Minas Gerais (QFMG), foi reportada presença de Cu superando os limites legais

(FERNANDES et al., 2013).

Page 20: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

19

Outras bebidas alcoólicas também apresentam problema de contaminação

por metais. Pesquisadores reportaram que a bebida grega Mouro pode apresentar

deficiência no controle de qualidade em função da variação no teor de Pb

(SOUFLEROS; MYGDALIA; NATSKOULIS, 2004). Um tipo de vinho comercializado

na Hungria apresentou teores elevados de Cu (20 a 640 µg/L), Pb (6 a 90 µg/L) e

cádmio (Cd) (0,05 a 16,5 µg/L), sendo a amplitude dos valores explicada pela

diversidade da origem da bebida e também pelo efeito dos aditivos e equipamentos

usados na produção (AJTONY et al., 2008). Além dos equipamentos, matéria-prima,

substâncias adicionadas intencionalmente, tipo de processo e estocagem também

são fatores que interferem no teor de metais das bebidas alcoólicas (IBANEZ et al.,

2008).

Segundo a Resolução RDC nº 20, de 22 de março de 2007, da Agência

Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) (BRASIL, 2007), a qual aprovou o

regulamento técnico sobre disposições para embalagens, revestimentos, tampas e

equipamentos metálicos em contato com alimentos, os equipamentos de Cu sem

revestimento não podem entrar em contato com produtos alimentícios devido à fácil

transmissão do Cu do material para o produto final. Isso se aplica aos alambiques e

utensílios de Cu, os quais necessitam ser revestidos internamente com material

permitido pela legislação.

1.2 A pedra-sabão

O esteatito, popularmente conhecido como pedra-sabão, é uma rocha

metamórfica de baixa dureza, formado por diversos minerais geológicos, entre os

quais se destacam o talco – Mg3Si4O10(OH)2 –, a dolomita – CaMg(CO3)2 –, a

actinolita – Ca2(Mg,Fe2+)5Si8O22(OH)2 –, e a clorita magnesiana –

(Mg,Al,Fe)12[(Si,Al)8O20](OH)16. Também, são encontrados no esteatito alguns

minerais acessórios como: pirita – FeS2 –, arsenopirita – FeAsS –, magnetita –

Fe2+Fe23+O4

–, epidoto – Ca2(Fe3+,Al)3(SiO4)3(OH) – e titanita – CaTi-SiO5 (DEER;

HOWIE; ZUSSMAN, 1966; ROESER et al., 1980; FLEISCHER; MANDARINO,

1995), como apresentado na Figura 1.

Page 21: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

20

Figura 1. Estrutura dos principais minerais geológicos do esteatito

Talco Pirita Magnetita Anfibólios

Calcita Actinolita

Titanita Epidoto

Fonte: QUINTAES, 2000.

Page 22: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

21

Durante o metamorfismo do esteatito, elementos podem ser incorporados aos

minerais recristalizados, na maioria das vezes na forma de substituições. Pelos seus

raios iônicos, valência e distribuição de carga, pequenas quantidades de Ni

substituindo Mg na serpentina; Cr na posição do titânio na titanita; Cr substituindo o

Fe, e Ni ou Co no lugar do Fe na magnetita; Ni ou Co substituindo o Fe na pirita; e

cromo, Ni e titânio em cloritas, podem ser observados. Considerando elementos

majoritários, Al pode ser encontrado substituindo tanto Si quanto Mg no talco. Trocas

usuais incluem Fe e Mn em dolomitas, substituindo Mg (DEER; HOWIE; ZUSSMAN,

1966; LEINZ; CAMPOS, 1968).

Tem sido evidenciado que a migração majoritária de elementos da pedra-

sabão pode seguir a composição da dolomita a qual tem sua solubilização

favorecida por fatores como aquecimento e acidez. Este mineral foi considerado

como sendo o principal candidato para fonte dos elementos detectados nos ensaios

laboratoriais com ácido acético (QUINTAES, 2004; QUINTAES et al., 2004). Esta

observação foi ainda reforçada quando associada à característica química da

dolomita, a qual é referida como apresentando boa solubilidade em meio ácido,

especialmente com elevação de temperatura (LEINZ; CAMPOS, 1968; QUINTAES

et al., 2001). Microscopia realizada indicou também que o formato romboédrico

exibido pela pedra-sabão após a exposição ao ácido acético é semelhante ao

padrão descrito na literatura para a dolomita. Estatisticamente, por correlação de

Person, também pode ser constada relação entre os elementos migrantes de forma

relacionada à composição da dolomita (QUINTAES, 2006).

Localizado em Minas Gerais (Brasil), a região do Quadrilátero Ferrífero

(QFMG) contém importantes e consideráveis jazidas de esteatito (ROESER et al.,

1980; ROESER, 1987). As principais localidades com ocorrências de jazidas de

esteatito na região do QFMG são: Santa Rita de Ouro Preto, Viriato, Acaiaca,

Congonhas do Campo, Cachoeira do Brumado e Ouro Branco (ROESER et al.,

1980).

A resistência do esteatito ao tempo, seja em igrejas ou monumentos da

região, é determinada pelas condições ambientais somadas às petrográficas e

petrofísicas intrínsecas da rocha (WARSCHEID; BRAAMS, 2000; QUINTAES et al.,

2002). Todavia, as condições ácidas parecem ser as mais danosas à estrutura da

Page 23: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

22

pedra-sabão, tanto em laboratório (VILES, 1995; WARSCHEID; BRAAMS, 2000)

como nas esculturas e edificações (QUINTAES et al., 2002), e podem ser

potencializadas por microrganismos, acelerando o processo de deterioração da

rocha (QUINTAES, 2006; NAMDAR; STACEY; SIMPSON, 2009).

As antigas civilizações curavam os recipientes de pedra-sabão com lipídios

sob elevada temperatura. Esse procedimento impermeabiliza, reduz a porosidade,

minimiza a deterioração e a perda de massa do material, resultando em aumento da

resistência e da vida útil dos recipientes (QUINTAES et al., 2006, SANTI et al.,

2009). Na atualidade, a cura continua sendo aplicada às panelas de pedra-sabão

novas, sendo responsável pela redução no comprometimento da estrutura da

panela, decorrente da acidez dos alimentos e do calor do cozimento (QUINTAES,

2006). No entanto, mesmo curada a panela de pedra-sabão ainda libera minerais de

valor nutricional e metais de interesse toxicológico, como cálcio (Ca) e ferro (Fe), e o

níquel (Ni), respectivamente (QUINTAES, 2000; QUINTAES et al., 2006).

O esteatito tem sido utilizado para esculpir recipientes, panelas e utensílios

pequenos desde tempos remotos (QUINTAES, 2000; QUINTAES et al., 2002). Hoje,

o uso do esteatito tem sido principalmente no artesanato, como: copos, panelas,

jarros, canecas, souvenirs e jogos de tabuleiro, entre outros. Em determinadas

cidades do Sudeste brasileiro, especialmente em Ouro Preto (MG), o uso culinário

dos utensílios confeccionados em pedra-sabão é uma tradição (QUINTAES, 2000;

QUINTAES, 2006).

1.3 Contaminantes inorgânicos

A cachaça pode ser dividida em fração orgânica e fração inorgânica. A

primeira é basicamente constituída de alcoóis, aldeídos, ésteres, ácidos carboxílicos,

cetonas, carbamato de etila e compostos sulfurados. Já a fração inorgânica é

constituída principalmente por íons metálicos, tais como Alumínio (Al), Arsênio (As),

Cádmio (Cd), Cálcio (Ca), Chumbo (Pb), Cobalto (Co), Cobre (Cu), Cromo (Cr),

Ferro (Fe), Níquel (Ni) etc. (SIEBALDE et al., 2002).

Page 24: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

23

Os resultados de estudos referentes à ingestão dietética de metais traço têm

sido comparados com a Ingestão Diária Aceitável (IDA) ou Ingestão Diária Tolerável

(IDT) e pela Ingestão Semanal Tolerável (TWI), recomendadas pelo “Join Expert

Committee on Food Additives” (JECFA), comitê que reúne de peritos da FAO/OMS e

pela “European Food Safety Authority” (EFSA), que produz pareceres científicos e

orientações sobre a segurança alimentar na União Europeia (UE), respectivamente.

A IDA refere-se às substâncias que podem ser ingeridas diariamente sem riscos

para a saúde, enquanto a IDT e TWI são usadas para enfatizar a importância de

limitar a ingestão diária e semanal, respectivamente, de contaminação dos alimentos

por um período sem que acarrete consideráveis riscos à saúde. Entretanto, para os

elementos que são capazes de se acumular no organismo, a ingestão tolerável é

expressa como Ingestão Semanal Provisória Tolerável (PTWI). O PTWI estabelecido

pelo JECFA representa a exposição semanal de alguns contaminantes que podem

causar efeitos adversos à saúde dos indivíduos (ZUKOWSKA; BIZIUK, 2008).

O PTWI pode variar conforme a natureza do contaminante. No caso do Cd, a

mais recente avaliação do JECFA retirou o valor de PTWI e adotou um valor de

Ingestão Mensal Provisória Tolerável (PTMI), sendo este situado em 25 μg∙kg -1 de

peso corporal/por mês (WHO, 2013). Já a EFSA, em 2009, realizou uma avaliação

sobre o Cd associado a riscos com alimentos e estabeleceu uma TWI de 2,5 µg∙kg-1

(EFSA 2009a). Em 2011, foi reavaliado este parâmetro e concluído que a TWI

estabelecida anteriormente está apropriada (EFSA, 2012).

Para o Pb e As, a avaliação do JECFA feita em 2011 concluiu que o valor do

PTWI existente não estava adequado e que não era possível estabelecer um valor

de PTWI seguro, não havendo para ambos elementos proposição de valor seguro de

ingestão diária (WHO, 2011a; WHO, 2011b). No caso do Pb, valores de exposição

diária de 0,02 a 0,03 e 0,03 a 0,09 μg∙kg-1 de peso corporal por dia foram estimados

para adultos e crianças menores de 4 anos de idade, respectivamente (WHO,

2011b).

Desde 2009/2010 a EFSA já considerava inadequada a existência de PTWI

para o Pb e As em função da escassez de evidência de um limiar seguro para os

efeitos críticos induzidos pelo Pb, incluindo sua influência sobre o desenvolvimento

Page 25: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

24

de processos oncológicos, e também pelos efeitos adversos à saúde humana

provocados pelo As (EFSA, 2009b; EFSA, 2010).

Para o Cu, que é micronutriente, em 1982 foi estabelecido pelo JECFA, o

Limite Provisório Máximo Tolerável (PMTDI) situado na faixa de 0,05 a 0,5 mg∙kg-1

de peso corporal (WHO, 1982). Como se trata de um nutriente essencial, mais

recentemente o Instituto de Medicina (IOM) estabeleceu a Ingestão Dietética

Recomendada (RDA) e o Limite Máximo Tolerável (UL) como sendo de 900 µg∙d-1 e

10 mg∙dia-1 para adultos de ambos os sexos, repectivamente (IOM, 2001). Em se

tratando da EFSA, foi concluido que o Requerimento Médio (AR) e a Referência de

Ingestão Populacional (PRI) para o Cu não podem ser derivados para adultos, bebês

e crianças, sendo propostos valores de Ingestão Adequada (AI), para as diferentes

fases da vida, pautados no consumo e no balanço de Cu observado. No caso de

adultos, os valores de AI para homens e mulheres é de 1,6 e 1,3 mg∙kg-1 de peso

corporal por dia, respectivamente (HARVEY et al., 2003; TURNLUND et al., 2005).

Para o Ni, que não é nutriente, o valor de IDT situado em 12 µg∙kg-1 de peso

corporal foi proposto pela OMS, sendo este valor estabelecido a partir do Menor

Nível de Efeito Adverso Observado (LOAEL) (WHO, 2005). Diferentemente ao valor

exposto de IDT pela OMS, a EFSA definiu um nível seguro de IDT de 2,8 µg∙kg-1,

sendo este parecer científico baseado nos riscos para a saúde humana de Ni em

alimentos, particularmente em vegetais, e também na água potável (EFSA, 2015).

Com relação às vias de exposição, segundo a OMS (WHO, 2001), a água

contaminada representa a maior via de exposição do homem ao As. Estudos

ambientais têm verificado que a contaminação de águas superficiais e subterrâneas

pelo elemento emana principalmente das atividades de mineração, sendo as pilhas

de rejeitos as principais fontes de liberação do elemento no meio ambiente (BOELL,

1994; WILLIAMS, 2001; SMEDLEY; ZHANG; LUO, 2003; KO et al., 2003).

Em humanos, estudo revelou que a ingestão oral de Cd resulta em redução

na absorção de Fe, favorecendo a anemia ferropriva, principalmente nos casos em

que a ingestão dietética for deficiente em Fe (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO,

2004). A avaliação de intoxicação por Cd pode se dar por níveis de Cd na urina

(GALLAGHER; CHEN; KOVACH, 2011).

Page 26: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

25

Os compostos de Cu são usados na agricultura, no tratamento da água para

controle de algas (sulfato de cobre penta-hidratado), na preservação de madeira,

couro e tecido, e como aditivo em alimentos (AZEVEDO; CHASIN, 2003). Por outro

lado, o Cu é um micronutriente essencial, sendo importante para o funcionamento

adequado de vários sistemas enzimáticos (MOSHA et al., 1996). Todavia, a

exposição humana a concentrações de Cu acima do UL resulta em prejuízos à

saúde. Enfermidades oriundas do acúmulo de Cu são a doença de Wilson, doenças

neurodegenerativas, como a esclerose, e as doenças de Menkes e de Alzheimer

(WAGGONER; BARTNIKAS; GITLIN, 1999). Além do efeito adverso direto à saúde

humana, estudo tem indicado que o Cu está associado à formação de carbamato de

etila em aguardente, composto potencialmente cancerígeno. O principal precursor

do carbamato de etila em bebidas destiladas é o íon cianeto, sendo o Cu um dos

fatores que afetam essa formação (ARESTA et al., 2001).

A exposição do homem ao Ni pode ocorrer por inalação de ar, ingestão de

água e alimentos ou via dermatológica. A Agency for Toxic Substances and Disease

Registry (ATSDR) classifica o Ni e seus compostos como possíveis cancerígenos

para o ser humano, quando expostos às concentrações superiores às que o

organismo consegue suportar (ATSDR, 2005). Além disso, o Ni é um agente

sensibilizante causador de dermatites de contato em pessoas mais sensíveis

(SANTUCCI, 1993). No aspecto nutricional, o Ni não é considerado um nutriente

(IOM, 2001).

O Pb é um elemento tóxico ao homem. Em crianças, podem ocorrer efeitos

nocivos ao sistema nervoso, enquanto nos adultos a exposição excessiva pode

ocasionar neuropatia periférica e nefropatia crônica. Ademais, a exposição do

homem ao Pb resulta em disfunções nos sistemas gastrointestinal e reprodutivo

(GOYER, 1991).

Em função da citada toxicidade destes elementos (As, Cd, Cu, Ni e Pb),

existem legislações que estabelecem limites de tolerância em bebidas alcóolicas,

como a alemã e a brasileira (BRASIL, 1965, 2005; BGBl, 2002).

Cabe dizer que o termo “contaminante” é definido pela Portaria nº 540, da

SVS/MS, de 27 de outubro de 1997 (BRASIL, 1997), como sendo qualquer

substância indesejável presente no alimento como resultado das operações

Page 27: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

26

efetuadas no cultivo de vegetais, na criação de animais, nos tratamentos zoos ou

fitossanitários, ou como resultado de contaminação ambiental ou de equipamentos

utilizados na elaboração e/ou conservação do alimento.

1.4 Interferência da pedra-sabão no teor de contaminantes inorgânicos

Mesmo sendo usados pelo homem por longa data, os utensílios culinários de

pedra-sabão só foram estudados recentemente quanto às suas possíveis

implicações nutricionais (QUINTAES, 2006). Os principais minerais que compõem o

esteatito contêm elementos de relevância nutricional como Ca, Fe, Magnésio (Mg) e

Manganês (Mn). Entretanto, contêm também elementos de importância toxicológica,

como o Ni e o Al (QUINTAES, 2000; QUINTAES et al., 2002). Ensaios laboratoriais

evidenciaram a possibilidade de transferência de contaminantes inorgânicos da

pedra-sabão, como a migração de Pb e Cd a partir de amostras de esteatito em

taxas inferiores a 100 μg/L e taxas de As, Cd, Pb e mercúrio (Hg), abaixo de 100

μg/L (CIVO, 1989; POLITÉCNICO DI TORINO, 1994).

A remoção de contaminantes inorgânicos de bebidas alcoólicas visando a

atender aos parâmetros legais é de relevância tendo em vista que muitas bebidas

podem apresentar contaminantes em níveis indesejáveis, colocando em risco a

saúde do consumidor (MADUABUCHI et al., 2006; IBANEZ et al., 2008;

PROVENZANO et al., 2010; ALKIS et al., 2014).

Por outro lado, é sabido que o esteatito pode interferir no teor de elementos

químicos de soluções aquosas (QUINTAES et al., 2002; QUINTAES, 2006). Estudo

preliminar indicou que o esteatito pode ter aplicação na adsorção de Cu de bebidas

alcoólicas. No referido estudo foi evidenciado que o teor alcoólico da cachaça e o

tempo de exposição ao esteatito podem influenciar na transferência de

contaminantes inorgânicos (FERNANDES et al., 2013). No entanto, a interferência

da pedra-sabão in natura no teor de contaminantes presentes em bebidas alcoólicas

ainda precisa ser melhor investigada.

Page 28: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

27

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

Avaliar o comportamento de contaminantes inorgânicos (As, Cd, Cu, Ni e Pb)

presentes em amostras de cachaças brasileiras comerciais quando submetidas ao

contato com copos de pedra-sabão in natura e avaliar se os teores encontrados

antes e depois de quatro ciclos de 24 horas de exposição ao esteatito atendem aos

limites máximos estabelecidos pelas legislações brasileira e alemã (BRASIL, 1965,

2005; BGBl, 2002).

2.2 Objetivos específicos

Determinar os teores dos contaminantes inorgânicos As, Cd, Cu, Ni e Pb

presentes em oito amostras de cachaças produzidas no Quadrilátero Ferrífero (MG,

Brasil) e no simulante de bebida alcóolica e comparar com as legislações brasileira e

alemã vigentes (BRASIL, 1965, 2005; BGBl, 2002).

Avaliar o comportamento de contaminantes inorgânicos (As, Cd, Cu, Ni e Pb)

presentes em oito amostras de cachaças produzidas no Quadrilátero Ferrífero (MG,

Brasil) e no simulante de bebida alcoólica após quatro ciclos de 24 horas de

exposição e comparar se os teores encontrados atendem aos limites máximos

estabelecidos pelas legislações brasileira e alemã (BRASIL, 1965, 2005; BGBl,

2002).

Page 29: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

28

3 MATERIAIS E MÉTODOS

Oito garrafas de distintas marcas de cachaça foram adquiridas no comércio

de Belo Horizonte e Ouro Preto (MG, Brasil), carecendo da apresentação no rótulo

de seu respectivo teor alcoólico e cidade de produção. Foi considerada como

cachaça a aguardente de cana produzida no Brasil, com graduação alcoólica de 38

a 48% (v∙v-1) a 20 ºC, obtida pela destilação do mosto fermentado do caldo de cana-

de-açúcar com características sensoriais peculiares, podendo ser adicionada com

açúcares até 6 g∙L-1 (BRASIL, 2005).

O critério de seleção das bebidas integrantes do estudo considerou aquelas

produzidas na região do QFMG (Figura 1) e registradas no Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento (MAPA). Esses critérios foram pautados no fato de que a

região do QFMG1 pode apresentar água com maior teor de contaminantes

inorgânicos, como o As, sendo essa também uma importante região produtora de

cachaças. A seleção de cachaças com registro no MAPA considerou que estas

devem possuir certo controle de qualidade na produção das bebidas. Além das

cachaças, foi utilizado no experimento um simulante de bebida alcoólica produzido

com solução de álcool etílico a 43% (v∙v-1) preparado com álcool etílico (Merck,

Darmstadt, Germany) diluído em água deionizada (18,2 MΩ). Esse tratamento

adicional foi realizado no intuito de avaliar o efeito da exposição do álcool etílico aos

copos de esteatito in natura.

Paralelamente, foram avaliados 27 copos novos de pedra-sabão in natura

com capacidade volumétrica aproximada de 20 mL, procedentes do distrito de

Cachoeira do Brumado (Mariana, MG, Brasil). Todos os copos foram lavados com

água usando esponja polimérica macia nova e solução diluída de detergente

comercial, seguidas de enxágue em água corrente e por água destilada. A secagem

foi feita em estufa, a 150 oC por dez minutos. Os copos foram então divididos em

conjunto de três unidades, totalizando nove conjuntos de copos.

1 O QFMG engloba 35 cidades, a saber: Alvinópolis, Barão de Cocais, Belo Horizonte, Belo Vale,

Betim, Brumadinho, Caeté, Catas Altas, Congonhas, Conselheiro Lafaiete, Ibirité, Igarapé, Itabira, Itabirito, Itatiaiuçu, Itaúna, Jeceaba, João Monlevade, Mariana, Mário Campos, Mateus Leme, Moeda, Nova Lima, Ouro Branco, Ouro Preto, Raposos, Rio Acima, Rio Manso, Rio Piracicaba, Sabará, Santa Bárbara, Santa Luzia, São Gonçalo do Rio Abaixo, São Joaquim de Bicas e Sarzedo.

Page 30: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

29

Figura 2. Localização do Quadrilátero Ferrífero no Estado de Minas Gerais (QFMG)

Fonte: Georpark Quadrilatero Ferrífero.

Foram determinados os teores de As, Cd, Cu, Ni e Pb nas marcas de cachaça

e na solução de álcool etílico antes e depois do contato com os copos de pedra-

sabão. Cada marca de cachaça e da solução de álcool etílico teve parte do seu

conteúdo vertido para um conjunto de três copos novos e limpos de pedra-sabão até

preencher cerca de 2/3 da capacidade destes (aproximadamente 14 mL). Após o

enchimento dos copos, estes foram tampados com vidro de relógio e mantidos em

temperatura ambiente sob luz artificial constante.

Alíquotas de cachaça e do álcool etílico foram retiradas após tempo de

contato de 24 horas de exposição iniciando o tempo no começo do

acondicionamento. A coleta do material foi realizada com uma pipeta estéril, sem

ocasionar qualquer abrasão na superfície do copo ou perda de conteúdo,

Page 31: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

30

homogeneizado individualmente dentro de béquer de vidro previamente

descontaminado. Em seguida, cada amostra foi transferida para um frasco de vidro

âmbar, com tampa de fechamento hermético, devidamente etiquetado e mantido sob

refrigeração (4 oC) até o momento de manuseio (LÓPEZ-ARTÍGUEZ; CAMEÁN;

REPETTO, 1996).

Em cada alíquota coletada nos tempos de contato, foi mensurada a

concentração dos elementos As, Cd, Cu, Ni e Pb. Provas em branco foram

conduzidas simultaneamente usando duplicata com béqueres de vidro

descontaminados, utilizando o mesmo volume de líquido adotado para os copos de

pedra-sabão. Os valores finais das concentrações foram obtidos pela dedução dos

teores encontrados nas alíquotas subtraídos daqueles obtidos nas provas em branco

para cada elemento.

Quatro ciclos de exposição (24 horas cada) foram realizados com coleta de

amostras da forma descrita anteriormente. Entre cada ciclo de exposição, os copos

foram lavados e secados da forma já mencionada.

3.1 Determinação dos contaminantes inorgânicos

Para a determinação de As, Cd, Cu, Ni e Pb, foram transferidos 5 mL das

amostras de cachaça e do simulante para frascos de vidro descontaminados, isentos

de contaminantes e microrganismos, e seu volume foi reduzido à metade em bloco

digestor a 80 oC. Em seguida, foi adicionado 1,25 mL de ácido nítrico 65% e mantido

em aquecimento a 95 oC por duas horas. Após resfriamento da solução, esta foi

transferida quantitativamente para balão volumétrico de 25 mL com solução de ácido

nítrico 5% (v∙v-1). A solução de ácido nítrico a 5% (v∙v-1) foi preparada a partir de

ácido nítrico concentrado 65% (Merck, Darmstadt, Germany) e diluído em água

deionizada (18,2 MΩ) (LÓPEZ-ARTÍGUEZ et al., 1996; FERNANDES et al., 2013). O

esquema do estudo pode ser observado, a seguir, na Figura 2.

A partir de soluções-padrão de 1.000 mg∙L-1 de As, Cd, Cu, Ni e Pb (Merck,

Darmstadt, Germany) foram construídas as curvas analíticas nos seguintes

intervalos: de 0,005 a 1,0 mg∙L-1 para As, Cd, Pb e Ni, e de 0,025 a 25 mg∙L-1 para o

Cu.

Page 32: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

31

Figura 3. Esquema simplificado do delineamento experimental adotado

Belo Horizonte (MG)

Análise química (ICP-OES) Determinação de As, Cd, Cu, Ni e Pb.

Amostras de cachaças

Ouro Preto (MG)

Cachoeira do Brumado (Mariana, MG)

Cachaças (n=8) e álcool etílico

Copos de pedra-sabão in natura (n=27)

Quatro ciclos de exposição (24 horas cada) Higienização dos copos (simulação do uso natural)

Coleta de amostras

Refrigeração (4 0C)

Comparação com as legislações brasileira e alemã

vigentes.

Page 33: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

32

3.2 Equipamento e condições de operação

As análises dos teores dos elementos investigados foram feitas em duplicata

por aspiração direta das amostras de cachaças e simulantes mineralizadas com

ácido nítrico por espectrometria de emissão. Para tanto, foi utilizado um

espectrômetro de emissão com fonte de plasma com acoplamento indutivo (ICP

OES) (Vista MPX Varian, Mulgrave, Austrália), com visão axial, equipado com uma

fonte de radiofrequência (RF) de 40 MHz, um detector multielementar simultâneo de

estado sólido do tipo CCD (Charge Coupled Device), uma bomba peristáltica, uma

câmara de nebulização e um nebulizador sea spray. O sistema foi controlado pelo

software ICP Expert e utilizou argônio líquido com pureza de 99,996% (Air Liquid,

SP, Brasil) como gás de plasma.

As condições experimentais otimizadas de operação do equipamento foram:

potência de RF (1000W); vazão do gás de nebulização (0,9 L∙min-1); vazão de

argônio principal (15 L∙min-1); vazão de argônio auxiliar (1,5 L∙min-1); correção de

fundo (2 pontos); tempo de integração e de leitura (10 s); número de replicatas (3);

configuração da tocha (axial) e comprimentos de onda As (188,980 nm), Cd

(214,439 nm), Cu (324,754 nm), Pb (220,353 nm) e Ni (221,648 nm).

3.3 Avaliação dos contaminantes inorgânicos

Os teores de contaminantes inorgânicos detectados nas amostras de

cachaças e do simulante foi avaliado com relação aos níveis máximos estabelecidos

pela legislação brasileira para cachaça e pela legislação alemã para vinhos,

considerando que a Alemanha é o principal país de destino das cachaças

produzidas no Brasil (IBRAC, 2014). Os limites máximos para os contaminantes

inorgânicos estudados para bebida alcoólica, estabelecidos pelas legislações

brasileira e alemã, são: Cu (5,0 mg∙L-1 e 2,0 mg∙L-1), As (0,100 mg∙L-1), Cd (0,020

mg∙L-1 e 0,010 mg∙L-1) e Pb (0,200 mg∙L-1 e 0,250 mg∙L-1), respectivamente (BRASIL,

2005; BGBl, 2002). A presença de Ni foi considerada como aceitável caso o teor

quantificado fosse inferior a 3,0 mg∙L-1 segundo a legislação brasileira, não havendo

limite para esse elemento na legislação alemã (BRASIL, 1965; BGBl, 2002).

Page 34: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

33

3.4 Qualidade analítica

A metodologia analítica foi validada seguindo as normas do Instituto Nacional

de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (INMETRO, 2011), sendo

avaliados os parâmetros: linearidade, sensibilidade, seletividade, limite de detecção

(LOD), exatidão e precisão. A precisão do método foi determinada pelo coeficiente

de variação de sete repetições analíticas. A precisão intermediária foi realizada num

intervalo de dois dias com o mesmo analista. A exatidão do método foi verificada por

ensaios de recuperação, com adição de solução-padrão dos metais em solução de

ácido nítrico 5% nos seguintes níveis de concentração: baixa (0,05 mg∙L-1), média

(0,30 mg∙L-1) e alta (0,75 mg∙L-1). Para o Cu, foram usados os mesmos níveis de

fortificação dos outros elementos e um nível mais alto (5 mg∙L-1). Todos os

parâmetros avaliados estão apresentados na seção Apêndice desta dissertação.

3.5 Análise estatística

O experimento instalado correspondeu a um delineamento inteiramente

casualizado (HINKELMANN; KEMPTHORNE, 2008), com nove tratamentos (oito

cachaças e um simulante) e três repetições. As repetições, ou unidades

experimentais, corresponderam aos copos de pedra sabão in natura, nos quais as

cachaças estiveram acondicionadas.

Os valores de concentração de cada elemento foram analisados conforme o

modelo de ensaio em parcelas subdivididas (HINKELMANN; KEMPTHORNE, 2008),

com a particularidade de que as parcelas em questão (copos de pedra sabão in

natura) ficaram subdivididas no tempo, e não no espaço. Uma vez que ciclos não

são passíveis de aleatorização, foram consideradas três possíveis estruturas de

covariâncias residuais: i) covariâncias residuais nulas, ii) simetria composta

(LITTELL et al., 1996) e iii) autorregressiva de ordem 1. A estrutura de simetria

composta implica que covariâncias entre duas medições feitas em uma mesma

unidade experimental sejam homogêneas, independentemente da distância no

Page 35: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

34

tempo, e correspondem ao modelo clássico de parcelas subdivididas no espaço.

Essas três estruturas de covariâncias foram comparadas utilizando o Critério de

Informação de Akaike (AIC), o Critério de Informação Bayesiano (BIC) e o teste da

razão de verossimilhança (este, quando aplicável).

Havendo diferenças significativas (p<0,05) entre as marcas das cachaças,

estas eram comparadas utilizando o critério de agrupamento de Scott-Knott (SCOTT;

KNOTT, 1974); e havendo diferenças significativas entre os ciclos de avaliação,

modelos de regressão eram ajustados. Os dados foram analisados utilizando os

softwares R (R CORE TEAM, 2013) e Sisvar (FERREIRA, 2011).

Foram utilizadas médias observadas para o cálculo percentual dos elementos

Cu, Ni e Pb. Para apresentação dos resultados dos dois primeiros elementos, foram

confeccionados gráficos plotados no software Excel®.

Page 36: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

35

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Teores dos elementos inorgânicos presentes nas cachaças e álcool etílico

As concentrações dos contaminantes inorgânicos nas oito cachaças e no

álcool etílico estão apresentadas na Tabela 1, bem como as localidades de

procedência e o respectivo teor alcoólico apresentado no rótulo de cada produto.

Tabela 1. Procedência, teor alcoólico rotulado (%) e concentração média (mg∙L-1) de

contaminantes inorgânicos em oito marcas de cachaça e no simulante* à base de

álcool

Cachaças Procedência Teor alcoólico (%) Concentração média (mg∙L-1)

As Cd Cu Ni Pb

A Santa Bárbara 43,5 0,036 0,004 1,309 0,012 0,015

B Itabirito 41,0 0,011 0,003 1,906 0,014 0,006

C Brumadinho 43,0 0,011 0,003 3,945 0,020 0,074

D Sabará 42,0 0,085 0,003 4,410 0,007 0,037

E Belo Vale 44,0 0,028 0,003 1,113 0,009 0,023

F Belo Horizonte 40,0 0,011 0,003 4,444 0,006 0,029

G Ouro Preto 46,0 0,011 0,004 4,598 0,008 0,006

H Congonhas 45,0 0,011 0,003 2,133 0,003 0,006

I* NA** 43,0 0,014 0,003 0,086 0,003 0,006

** Não se aplica.

O álcool etílico usado como simulante de cachaça pode conter níveis traços

de alguns elementos inorgânicos, podendo coincidir com os valores mínimos

encontrados nas cachaças.

Todas as bebidas alcoólicas apresentaram variação nos níveis de

concentração para todos os elementos investigados, os quais foram inferiores aos

máximos estipulados pela legislação brasileira vigente: As 0,025 (0,011 – 0,085), Cd

0,003 (0,003 – 0,004), Cu 2,982 (1,113 – 4,598), Ni 0,01 (0,003 – 0,020) e Pb 0,024

(0,006 – 0,074) mg∙L-1. Tal variação nos teores dos elementos pode ser atribuída à

Page 37: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

36

procedência e a composição das distintas bebidas utilizadas no presente estudo.

Estudo realizado com cachaças comercializadas em Araraquara (SP, Brasil),

verificou que essas bebidas apesentavam teor de As, análogo ao máximo permitido

pela legislação brasileira vigente (CALDAS et al., 2009). No que diz respeito ao Cd,

teores médios encontrados nas amostras de cachaças investigadas neste estudo

(0,003 – 0,004 mg∙L-1) são semelhantes às concentrações médias (0,003 mg∙L-1)

desse elemento em amostras de vinhos branco, rosé e vermelho, consumidos na

Espanha (MENA et al., 1996). Todavia, os resultados encontrados neste presente

estudo se contrapõem aos de outros estudos realizados com cachaças mineiras cujo

teor de Cu excedeu o máximo tolerável (5 mg∙L-1) em percentuais que variaram entre

18,8 e 25,0% (FERNANDES et al., 2007; IBANEZ et al., 2008).

Com respeito à adequação dos elementos à legislação alemã (BGBl, 2002),

foi observado que as concentrações estiveram abaixo do máximo permitido, exceto

para o Cu, que se mostrou em concentrações inapropriadas em cinco (62,5%) das

oito marcas de cachaça estudadas. Dentre as bebidas, as marcas de cachaça C, D,

F, G e H superaram o limite legal (2 mg∙L-1) em 97,2; 120,5; 122,2; 129,9 e 6,6%,

respectivamente. Nascimento et al. (1999) reportaram conteúdo de Cu em cachaças

de várias regiões do Brasil variando desde traços a 14,3 mg∙L-1, com valores

médios de 1,67 (0,270 - 3,76); 4,40 (ND – 14,0) e 5,01 (0,34 – 14,3) mg∙L-1,

conforme a categoria da amostra: comercial exportação, comercial nacional e

comercial caseira, respectivamente. Para bebidas alcoólicas tipo exportação, esses

autores relataram valores médios de 1,64 (ND – 4,59) mg∙L-1.

Page 38: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

37

4.2 Teores dos elementos no teste de exposição à pedra-sabão

A análise estatística da concentração dos contaminantes comparando as

marcas de cachaça em diferentes ciclos de exposição aos copos de pedra-sabão

não foi efetuada para o Cd, pois as mensurações em todas as marcas de cachaça

nos diferentes ciclos de exposição estiveram sempre na faixa de 0,003 mg∙L-1.

Dentre as cento e oito mensurações do experimento, apenas 5 diferiram deste valor,

correspondentes a uma única repetição de cada uma das seguintes combinações: a

da cachaça B com 1 ciclo de exposição (0,004 mg∙L-1), a da cachaça C com 1 ciclo

de exposição (0,005mg∙L-1), a da cachaça G com 1 ciclo de exposição

(0,005 mg∙L-1), a da cachaça F com 2 ciclos de exposição (0.004 mg∙L-1).

Para os demais elementos contaminantes, foi constatado pelo teste da razão

de verossimilhanças que houve dependência residual significativa para os elementos

Cu e Ni, conforme se observa pelos testes da razão de verossimilhanças da Tabela

2. Para os elementos As e Pb esta dependência não foi significativa, e assim estes

dados foram ajustados a um modelo de uma estrutura fatorial, e não de parcelas

subdivididas. Embora tenha havido dependência residual significativa para os

elementos Cu e Ni, foi notado que as estruturas de simetria composta e

autorregressiva apresentaram qualidade de ajuste semelhante, com valores

próximos de AIC, BIC e logaritmo da função de verossimilhança. Este último,

inclusive, apresentou menores valores para o modelo autorregressivo. Estes

resultados mostraram ser desnecessário utilizar uma estrutura de covariâncias

autorregressiva, tendo sido adotada a abordagem clássica de um ensaio de parcelas

subdivididas no espaço.

Page 39: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

38

Tabela 2. Comparação entre modelos de um ensaio em parcelas subdivididas,

considerando três estruturas de covariâncias residuais: covariâncias nulas (C0),

simetria composta (SC) e autorregressiva de ordem 1 (AR1), utilizando o Critério de

Informação de Akaike (AIC), o Critério de Informação Bayesiano (BIC), o logaritmo da

verossimilhança (log L) e o Teste da Razão de Verossimilhanças (TRV)

Cu

Modelo Graus de Liberdade AIC BIC log L

C0 37 -30,82106 115,0577 21,58947

SC 38 -20,33413 66,17918 48,16706

AR1 38 -20,27903 66,23428 48,13951

Teste Graus de Liberdade TRV P-Valor

SC vs C0 1 = 53,1552 < 0,0001

AR1 vs C0 1 = 53,1001 < 0,0001

As

Modelo Graus de Liberdade AIC BIC log L

C0 37 -134,0257 -49,7891 104,0129 SC 38 -132,1672 -45,6539 104,0836

AR1 38 -132,0461 -45,5328 104,0231

Teste Graus de Liberdade TRV P-Valor

SC vs C0 1 = 0,1415 0,7068

AR1 vs C0 1 = 0,0204 0,8864

Pb

Modelo Graus de Liberdade AIC BIC log L

C0 37 -301,4403 -217,2037 187,7202 SC 38 -299,6041 -213,0908 187,8021

AR1 38 -300,1685 -213,6552 188,0843

Teste Graus de Liberdade TRV P-Valor

SC vs C0 1 = 0,1638 0,6857

AR1 vs C0 1 = 0,7282 0,3935

Ni

Modelo Graus de Liberdade AIC BIC log L

C0 37 -315,0456 -230,809 194,5228 SC 38 -331,2206 -244,7073 203,6103

AR1 38 -327,5024 -240,9890 201,7512

Teste Graus de Liberdade TRV P-Valor

SC vs C0 1 = 18,1749 < 0,0001

AR1 vs C0 1 = 14,4567 0,0001

As estatísticas F das Análises de Variância, bem como seus P-valores estão

apresentados na Tabela 3. Para o elemento As, nenhuma das fontes de variação –

tratamentos, ciclos de exposição e interação entre estes – foi significativa. A

concentração média deste contaminante foi igual a 0,037 mg∙L-1.

Page 40: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

39

Tabela 3. Estatísticas F das análises de variância

Cu As Pb Ni

Fonte de

Variação GLN1 F GLD2 P-Valor F GLD P-Valor F GLD P-Valor F GLD

P-

Valor

Cachaça

(C) 8

445,84 18 < 0,001 0,64 72 0,744 0,56 72 0,805 4,09 18 0,006

Ciclo (c) 3

486,52 54 < 0,001 0,53 72 0,661 4,05 72 0,010 12,79 54 <

0,001

C × c 24 33,58 54 < 0,001 0,88 72 0,631 0,7 72 0,837 1,48 54 0,118 1 Graus de liberdade do numerador.

2 Graus de liberdade do denominador.

Houve diferença significativa apenas entre os ciclos de exposição, em relação

ao teor de Pb (Tabela 3). Tanto as marcas de cachaça como a interação entre

marcas e ciclos de exposição apresentaram P-valores elevados (0,805 e 0,837). Isto

sugere que um único modelo de regressão poderia descrever a variação da

concentração de Pb em função do ciclo de exposição à pedra-sabão. O uso de

modelo de regressão linear simples indicou um decaimento constante da

concentração média de Pb que variou de 18,3% no primeiro ciclo a 54,5% no último

ciclo (Figura 4), representando uma adsorção do contaminante em função do ciclo

de exposição.

Embora tanto antes como depois do contato com a pedra-sabão, material

usualmente isento de Pb, as cachaças e o simulante apresentaram teores desse

elemento dentro da faixa aceitável, ou seja, que não representa toxicidade. No que

tange níveis de exposição diária de Pb, valores foram estimados pelo JECFA, para

adultos e crianças menores de 4 anos de idade variando de 0,02 a 0,03 e 0,03 a

0,09 μg∙kg-1 de peso corporal por dia, respectivamente (WHO, 2011b). Alguns

autores têm reportado a ocorrência de contaminação de bebidas alcoólicas por Pb,

tais como: licor, conhaque e whisky (RODUSHKIN; ODMAN; APPELBLAD, 1999;

VILAYKUMAR; ASHWINI, 2001; CAMEÁN et al., 2001).

Page 41: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

40

Figura 4. Modelos de regressão ajustados com a concentração de Pb (mg∙L-1) em

função dos ciclos de exposição a copos de pedra-sabão in natura, utilizando médias

de oito marcas de cachaça e álcool etílico

Quanto ao Ni, houve diferença significativa entre as marcas de cachaça, bem

como entre os ciclos de exposição (Tabela 4). Embora a interação entre marcas de

cachaça e ciclos de exposição não tenha sido significativa, utilizando um nível de

significância de 5%, as marcas de cachaça foram estatisticamente diferentes com

um e dois ciclos de exposição. Essas diferenças deixaram de ser significativas a

partir do terceiro ciclo de exposição à pedra-sabão.

A interação foi desdobrada no outro sentido, ajustando modelos de regressão

distintos para cada marca de cachaça, tendo a concentração de Ni como função do

ciclo de exposição aos copos de pedra-sabão (Figura 5). Em tais modelos, a variável

independente correspondeu ao inverso do número de ciclos, para possibilitar ajustes

satisfatórios.

Page 42: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

41

Tabela 4. Concentração de Cu e Ni (mg∙L-1) em oito marcas de cachaça

comercializadas no Quadrilátero Ferrífero (MG, Brasil) e no simulante* à base de

álcool, submetidas a diferentes ciclos de exposição a copos de pedra-sabão in natura

(médias de três repetições)

Ca

cha

ça

s Concentração de Cu (mg∙L-1) Concentração de Ni (mg∙L-1)

Inicial 1º ciclo 2º ciclo 3º ciclo 4º ciclo Inicial 1º ciclo 2º ciclo 3º ciclo 4º ciclo

A 1,309 0,834 a1 1,074 b 1,093 a 1,126 a 0,012 0,012 a 0,005 a 0,005 a 0,014 a

B 1,906 1,212 b 1,420 c 1,389 b 1,430 b 0,014 0,029 b 0,019 b 0,014 a 0,013 a

C 3,945 2,275 c 3,031 d 3,339 d 3,365 d 0,020 0,009 a 0,011 a 0,006 a 0,007 a

D 4,410 2,826 d 3,571 e 3,985 e 4,062 e 0,007 0,036 b 0,026 b 0,019 a 0,007 a

E 1,113 0,695 a 0,827 a 0,923 a 0,939 a 0,009 0,065 c 0,036 b 0,029 a 0,035 a

F 4,444 2,745 d 3,642 e 3,985 e 4,065 e 0,006 0,025 b 0,031 b 0,011 a 0,011 a

G 4,598 3,942 e 4,218 f 4,503 f 4,597 f 0,008 0,030 b 0,022 b 0,015 a 0,018 a

H 2,133 1,058 b 1,511 c 1,732 c 1,764 c 0,003 0,016 a 0,007 a 0,006 a 0,003 a

I* 0,086 0,112 a 0,086 a 0,086 a 0,086 a 0,003 0,009 a 0,003 a 0,006 a 0,004 a

1. Para um mesmo elemento, médias seguidas de mesma letra são estatisticamente iguais segundo o

método de agrupamento de Scott-Knott a 5% de probabilidade.

O termo constante de tais modelos pode ser interpretado como o valor em

torno do qual a concentração de Ni tende a se estabilizar. Como exemplo, para a

marca B, esta concentração foi em torno de 0,0076 mg·L-1. Para a marca F houve a

necessidade de inclusão de um parâmetro referente ao quadrado desta variável, a

fim de evitar variação significativa devido à falta de ajuste para um modelo de

regressão. A estimativa do termo constante para esta marca foi negativa, mas não

significativamente diferente de zero.

As marcas de cachaça A, C, H e álcool etílico não apresentaram diferenças

significativas entre os ciclos de exposição. Para as demais, houve uma tendência

geral de redução do teor de Ni com o aumento no número de ciclos, embora o

contato com a pedra-sabão tenha provocado, de início, um aumento no teor deste

Page 43: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

42

contaminante, o que se pode observar pela posição dos pontos correspondentes aos

valores inciais (Figura 5).

Figura 5. Modelos de regressão ajustados com a concentração de Ni (mg∙L-1) em

função dos ciclos de exposição a copos de pedra-sabão in natura, em cinco marcas

de cachaça comercializadas no Quadrilátero Ferrífero (MG, Brasil)

Cachaça B Cachaça D

Cachaça E Cachaça F

Ni

mg

·L-1

(y)

Ni

mg

·L-1

(y)

Ni

mg

·L-1

(y)

Ni

mg

·L-1

(y)

Ciclo (x) Ciclo

(x)

Ciclo (x) Ciclo

(x)

Cachaça G

Ciclo (x)

Ni

mg

·L-1

(y)

Page 44: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

43

O Ni, em altas concentrações, é um elemento relativamente tóxico se

comparado com os demais metais de transição (CEMPEL; NIKEL, 2006). A

presença desse elemento em níveis elevados provoca uma doença de pele

conhecida como „„níquel-eczema” (CRISTENSEN et al., 1999). O Ni é utilizado como

um metal de liga para a produção de aço inoxidável dos tipos austenítico e

martensítico, ambos amplamente empregados no contato com alimentos e bebidas,

(DUGO et al., 2004), mas também pode ser o principal veículo de contaminação

destes (CEMPEL; NIKEL, 2006).

Visando minimizar o efeito deletério do Ni à saúde humana, existem

recomendações referentes à ingestão e ao teor deste elemento em bebidas. Sendo

assim, no que tange ao consumo deste metal, a OMS propôs um valor de IDT

situado em 12 µg∙kg-1, em contrapartida a UE estabeleceu um nível seguro de IDT

de 2,8 µg∙kg-1 de peso corporal (WHO, 2005; EFSA, 2015). Em relação ao teor deste

contaminante em bebidas, a legislação brasileira considera como aceitável

quantidade inferior de Ni a 3,0 mg∙L-1 e a legislação alemã não estabelece limite

espefícico para este elemento, possivelmente mantendo o valor do EFSA como

apropriado (BRASIL, 1965; BGBl, 2002).

A problemática da transferência de Ni da pedra-sabão para alimentos e

simulantes já foi evidenciada anteriormente. Estudo com simulante de alimento à

base de ácido acético a 3,0% e a 5,0% considerou a pedra-sabão in natura

imprópria para o contato com os alimentos em função da transferência de

quantidades nocivas de Ni, sendo recomendada a cura com lipídios dos recipientes

antes do primeiro uso (QUINTAES et al., 2002; QUINTAES, 2006). No entanto, no

presente estudo, ainda que observada transferência de até 622,2% (107,1% –

622,2%) de Ni da pedra-sabão para as bebidas principalmente nas primeiras 24

horas, os teores encontrados atenderam à legislação brasileira (< 3,0 mg∙L-1), bem

como a alemã (sem limite para esse contaminante), conforme apresentado na Figura

6.

Page 45: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

44

Inicial 1º ciclo 2º ciclo 3º ciclo 4º ciclo

Teo

r d

e N

i (%

)

Cachaça B

0,014 mg·L-1

0,029 mg·L-1 107,1%

0,019 mg·L-1 35,7%

0,014 mg·L-1 0,0% 0,013 mg·L-1

- 7,1%

Inicial 1º ciclo 2º ciclo 3º ciclo 4º ciclo

Teo

r d

e N

i (%

)

Cachaça D

0,007 mg·L-1

0,036 mg·L-1 414,3%

0,019 mg·L-1 171,4%

0,007 mg·L-1 0,0%

0,026 mg·L-1 271,4%

Inicial 1º ciclo 2º ciclo 3º ciclo 4º ciclo

Teo

r d

e N

i (%

)

Cachaça E

0,009 mg·L-1

0,065 mg·L-1 622,2%

0,036 mg·L-1 300,0% 0,029 mg·L-1

222,2%

0,035 mg·L-1 288,9%

Inicial 1º ciclo 2º ciclo 3º ciclo 4º ciclo

Teo

r d

e N

i (%

)

Cachaça F

0,006 mg·L-1

0,025 mg·L-1 316,7%

0,031 mg·L-1 416,7%

0,011 mg·L-1 83,3%

0,011 mg·L-1 83,3%

Inicial 1º ciclo 2º ciclo 3º ciclo 4º ciclo

Teo

r d

e N

i (%

)

Cachaça G 0,030 mg·L-1 275,0%

0,022 mg·L-1 175,0%

0,015 mg·L-1 87,5%

0,018 mg·L-1 125,0%

0,008 mg·L-1

Figura 6. Teor médio (mg∙L-1) e percentual (%) de Ni nas cinco marcas de cachaça

estudadas

Quanto ao Cu, foram notadas diferenças significativas para todas as fontes de

variação. Uma vez que a interação entre marcas de cachaça e ciclos de exposição

foi significativa, a interação foi desdobrada de duas maneiras. Foram comparadas as

Page 46: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

45

marcas de cachaça em cada ciclo de exposição, bem como os ciclos de exposição

para cada marca de cachaça. A marca de cachaça G apresentou a maior

concentração média de Cu em todos os ciclos de exposição. Para as demais

marcas, praticamente não houve alterações de classificação ao longo dos ciclos, à

exceção das marcas H e B, que foram classificadas num mesmo grupo com um e

dois ciclos de exposição aos copos de esteatito, mas em grupos diferentes com três

e quatro ciclos, tendo, então, a marca B uma concentração de Cu estatisticamente

inferior à da marca H (Tabela 4).

Conforme se observa pelas curvas de regressão ajustadas (Figura 7), em

todas as marcas de cachaça, houve uma tendência aumento da concentração de Cu

com o decorrer dos ciclos de exposição ao copo de pedra-sabão.

Para a marca G, houve a necessidade de inclusão de um parâmetro referente

ao inverso do quadrado do número de ciclos de exposição. Após essa inclusão, os

desvios de regressão não foram significativos, indicando a adequação do modelo.

Para as demais marcas, modelos de regressão contendo apenas um parâmetro,

correspondendo ao inverso do número de ciclos de exposição, foram satisfatórios.

Também aqui em ambos os casos, o termo constante do modelo pode ser

interpretado como o valor em torno do qual a concentração de cobre tende a se

estabilizar à medida que o número de ciclos de exposição aumenta. Para a marca A,

a concentração de Cu tende a se estabilizar em torno de 1,236 mg∙L-1.

As marcas das cachaças C, D, F, G e H, que extrapolaram inicialmente o teor

de Cu estabelecido pela legislação alemã (BGBl, 2002), apresentaram, após as

primeiras 24 horas de contato com o esteatito in natura, redução percentual de 42,3;

35,9; 38,2; 14,3 e 50,4%, respectivamente, o que favoreceu a adequação da marca

H (1,058 mg∙L-1) a essa legislação. A adsorção de Cu ocorreu em todas as cinco

marcas de cachaça e em todos os ciclos, porém com uma taxa decrescente. Dessa

forma, foi visto que, na última exposição à pedra-sabão, as cachaças apresentaram,

em geral, redução no teor de Cu de 14,7; 7,9; 8,5; 0,0; e 17,3% em relação à

concentração inicial, exceto a marca G. A cachaça H foi à única marca que se tornou

e permaneceu adequada no decorrer de todo o experimento, como apresentado na

Figura 8.

Page 47: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

46

Figura 7. Modelos de regressão ajustados com a concentração de Cu (mg∙L-1) em

função dos ciclos de exposição a copos de pedra-sabão in natura em oito marcas 9de

cachaça comercializadas no Quadrilátero Ferrífero (MG, Brasil).

Cachaça A Cachaça B

Cachaça C Cachaça D

Cu

mg

·L-1

(y)

Cu

mg

·L-1

(y)

Cu

mg

·L-1

(y)

Cu

mg

·L-1

(y)

Ciclo (x)

Ciclo (x)

Ciclo (x)

Ciclo (x)

Cu

mg

·L-1

(y)

Cu

mg

·L-1

(y)

Cu

mg

·L-1

(y)

Cu

mg

·L-1

(y)

Ciclo (x) Ciclo

(x)

Ciclo (x) Ciclo

(x)

Cachaça E Cachaça F

Cachaça G Cachaça H

Page 48: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

47

O Cu é um micronutriente essencial para o funcionamento adequado de

vários sistemas enzimáticos desde que atenda a RDA e não ultrapasse o UL: 900

µg∙d-1 e 10 mg∙dia-1,repectivamente para adultos de ambos os sexos:, como definido

pelo IOM ou PMTDI situado na faixa de 0,05 a 0,5 mg∙kg-1 de peso corporal proposto

pela OMS ou AI para homens e mulheres adultas posto de 1,6 e 1,3 mg∙kg-1 de peso

corporal por dia, respectivamente, segundo o estabelecido pela EFSA (WHO, 1982;

IOM, 2001; HARVEY et al., 2003; TURNLUND et al., 2005).Concomitante a isso, o

Cu é um componente da cachaça e advém nessa bebida devido ao seu amplo

emprego na indústria de destiladores que são utilizados em sua confecção. Ao longo

do processo de destilação e/ou do tempo em que o alambique está parado, há

formação de carbonato básico de cobre (azinhavre), o qual pode ser dissolvido pelos

vapores alcoólicos ácidos e transmitido à bebida de forma não intencional.

Adicionalmente, estudo evidenciou tendência à correlação entre o teor de

carbamato de etila e o material do alambique, sendo o Cu coadjuvante na

participação desse composto potencialmente cancerígeno (ARESTA et al., 2001).

Desse modo, a limpeza apropriada do alambique e a utilização de destiladores

confeccionados em aço inoxidável são recursos disponíveis para obtenção de

cachaça com teor de Cu em concordância com o estabelecido pela legislação.

Cabe destacar que, além de copos e jarras de pedra-sabão, na atualidade, o

mercado tem mostrado expansão nos artefatos de esteatito que podem entrar em

contato com bebidas. Os cubos denominados “whisky stones®” representam uma

nova categoria de produtos à base de pedra-sabão. Eles devem ser resfriados e

utilizados em lugar do gelo em bebidas, mantendo-as frias e com a mesma

concentração original de solutos graças a inércia térmica natural da pedra-sabão. A

produção e a comercialização do whisky stones® estão sendo feitas pela empresa

norte-americana Teroforma (Tero Design Holdings, LLC.).

Dentre os materiais empregados para adequação aos limites toleráveis,

recente estudo mostrou adsorção de Cu presente em cachaças em função do

contato com o esteatito (FERNANDES et al., 2013). Os resultados do presente

estudo apresentam indícios de que a pedra-sabão pode adsorver elementos

metálicos da cachaça, como o Cu e o Pb, e ainda apresentar capacidade de

saturação de Cu notadamente após, o primeiro ciclo de exposição. Sendo assim, a

Page 49: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

48

adsorção dos metais Cu e Pb pelo material pode se justificar por meio da porosidade

e/ou clivagem do cristal ou pela abrasão que o esteatito sofre ao ser torneado para

confeccionar um utensílio. Em contrapartida, a origem dos elementos migrantes em

bebidas alcoólicas pode estar relacionada à solubilização de porções terminais dos

cristais minerais da rocha, rompidos mecanicamente durante a fabricação dos copos

de pedra-sabão. As bordas fragmentadas de retículos apresentam redução na

estabilidade química, especialmente nas partes periféricas, se comparadas às

estruturas íntegras dos minerais (LEINZ; CAMPOS, 1968). Assim, a presença de Ni,

principalmente nas amostras dos primeiros ciclos de exposição, pode estar

relacionada às rupturas físicas dos cristais superficiais de talco com bordas

danificadas.

Além disso, é sabido que a acidez da bebida alcoólica pode interferir na

migração de elementos da pedra-sabão (QUINTAES, 2000). Esse parâmetro

adicionado ao efetivo teor alcoólico das bebidas não foram quantificados no

presente estudo, poderiam fornecer indícios explicativos para as diferenças

observadas na migração de Ni e adsorção de Cu e Pb entre as cachaças. Estudos

adicionais são requeridos visando a esclarecer o mecanismo de adsorção e

migração de elementos químicos pela pedra-sabão.

Page 50: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

49

Inicial 1º Ciclo 2º ciclo 3º ciclo 4º ciclo

1,212 mg·L-1

- 36,4%

1,420 mg·L-1 - 25,5%

1,389 mg·L-1

- 27,1%

1,430 mg·L-1

- 25,0%

Teo

r d

e C

u (

%)

Cachaça B 1,906 mg·L-1

Inicial 1º Ciclo 2º ciclo 3º ciclo 4º ciclo

2,275 mg·L-1

- 42,3%

3,031 mg·L-1

- 23,2%

3,339 mg·L-1

- 15,4%

3,365 mg·L-1

- 14,7%

Teo

r d

e C

u (

%)

Cachaça C

3,945 mg·L-1

Inicial 1º Ciclo 2º ciclo 3º ciclo 4º ciclo

2,826 mg·L-1

- 35,9%

3,571 mg·L-1

- 19,0%

3,985 mg·L-1

- 9,6%

4,062 mg·L-1

- 7,9%

Teo

r d

e C

u (

%)

Cachaça D

4,410 mg·L-1

Inicial 1º Ciclo 2º ciclo 3º ciclo 4º ciclo

0,695 mg·L-1

- 37,6%

0,827 mg·L-1

- 25,7%

0,923 mg·L-1

- 17,1%

0,939 mg·L-1

-15,6%

Teo

r d

e C

u (

%)

Cachaça E

1,113 mg·L-1

Inicial 1º Ciclo 2º ciclo 3º ciclo 4º ciclo

2,745 mg·L-1

- 38,2%

3,642 mg·L-1

- 18,0%

3,985 mg·L-1

- 10,3%

4,065 mg·L-1

- 8,5%

Teo

r d

e C

u (

%)

Cachaça F

4,444 mg·L-1

Inicial 1º Ciclo 2º ciclo 3º ciclo 4º ciclo

3,942 mg·L-1

- 14,3%

4,218 mg·L-1

- 8,3%

4,503 mg·L-1

- 2,1%

4,597 mg·L-1

- 0,0%

Teo

r d

e C

u (

%)

Cachaça G

4,598 mg·L-1

Inicial 1º Ciclo 2º ciclo 3º ciclo 4º ciclo

1,058 mg·L-1

- 50,4%

1,511 mg·L-1

- 29,2%

1,732 mg·L-1

- 18,8%

1,764mg·L-1

- 17,3%

Teo

r d

e C

u (

%)

Cachaça H

2,133 mg·L-1

Inicial 1º ciclo 2º ciclo 3º ciclo 4º ciclo

0,834 mg·L-1

- 36,3%

1,074 mg·L-1

- 18,0%

1,093 mg·L-1

- 16,5%

1,126 mg·L-1

- 14,0%

Teo

r d

e C

u (

%)

Cachaça A 1,309 mg·L-1

Figura 8. Teor médio (mg∙L-1) e percentual (%) de Cu nas oito marcas de cachaça

estudadas

Page 51: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

50

5 CONCLUSÃO

As cachaças produzidas no Quadrilátero Ferrífero (MG, Brasil) que foram

avaliadas neste estudo apresentaram conformidade à legislação brasileira no que

tange aos teores de contaminantes As 0,025 (0,011 – 0,085), Cd 0,003 (0,003 –

0,004), Cu 2,982 (1,113 – 4,598), Ni 0,01 (0,003 – 0,020) e Pb 0,024 (0,006 – 0,074)

mg∙L-1. Entretanto, isso não ocorreu no que diz respeito à legislação alemã, pois

62,5% das marcas de cachaça avaliadas infringiram o máximo teor de Cu

estabelecido (2 mg∙L-1) em 97,2; 120,5; 122,2; 129,9 e 6,6%, respectivamente.

Com relação ao comportamento dos contaminantes inorgânicos, foi

evidenciado que o contato de bebidas alcoólicas com a pedra-sabão in natura pode

reduzir em até 50,4% (14,3 – 50,4%) o teor de Cu e incrementar em até 622,2%

(107,1 – 622,2%) o teor de Ni, especialmente nas primeiras 24 horas de contato.

Durante a exposição das cachaças à pedra-sabão, também houve redução linear

média no teor de Pb em todas as bebidas, variando de 18,3 a 54,5% no primeiro e

último ciclos, respectivamente. Por outro lado, os teores de As e Cd se mantiveram

inexpressivos e inalterados durante todo o experimento.

A pedra-sabão in natura em contato com soluções alcoólicas contaminadas

com Cu e Pb pode promover redução nos teores desses elementos, favorecendo a

adequação destes aos parâmetros estabelecidos pela legislação. Todavia, devido ao

risco iminente de transferência de Ni, o esteatito não deve estar em contato com

bebidas alcoólicas que apresentam teor desse elemento próximo ao limite máximo

legal, uma vez que pode trazer risco à saúde do consumidor.

Page 52: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

51

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Page 60: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

59

7 APÊNDICE

7.1 Validação dos parâmetros de calibração para determinação por ICP-OES

Os resultados da validação apresentam os seguintes parâmetros de

calibração para determinação por ICP-OES:

Linearidade de resposta – a linearidade foi avaliada analisando-se padrões

de soluções em meio ácido nítrico 5%, variando-se a concentração de 0,005 a 1,000

mg∙L-1para os elementos As, Cd, Pb e Ni e nas concentrações de 0,025 a 25 mg∙L-1

para o Cu. A curva analítica foi preparada a partir de padrão multielementar Cd, Pb,

Cu e Ni (Merck, Darmstadt, Alemanha) e padrão individual para As (Merck,

Darmstadt, Alemanha), de concentração inicial de 1.000 mg∙L-1. Os valores obtidos

para todos os elementos seguem a regressão de uma reta e apresentaram

coeficiente de correlação >0,9993.

Precisão – a repetitividade do método foi avaliada realizando-se testes com

sete repetições analíticas fortificadas na concentração de 0,30 mg∙L-1a partir da

solução multielementar em meio alcoólico 43% (teor médio das amostras de

cachaças). Nas sete repetições, foram utilizados os mesmos procedimentos de

medição, mesmo observador, instrumentos usados sob mesmas condições, mesmo

local e as repetições foram realizadas no menor espaço de tempo possível. O

coeficiente de variação máximo foi determinado pela equação 01, sendo aceitável

quando CV <CVmax (Horwitz, 1982).

Todos os resultados obtidos no estudo de repetitividade, mostraram que o CV

<CVmáx. para os elementos analisados.

Precisão intermediária – a reprodutibilidade foi determinada avaliando-se

sete repetições analíticas fortificadas na concentração de 0,30 mg∙L-1 a partir da

onde: C = concentração estudada expressa como potência de 10 (ex.: 1 mg∙kg-1

(ppm) = 10-6).

CVmáx (%) = 2 (1-0,5 log C) (01)

Page 61: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

60

solução multielementar em meio alcoólico 43% em dois dias diferentes, sendo

efetuadas pelo mesmo analista e mesmo equipamento, o que representa a

variabilidade dos resultados em um laboratório. O cálculo do desvio-padrão da

precisão intermediária foi realizado utilizando-se a equação 02 e o coeficiente de

variação máximo foi determinado pela equação 01, sendo aceitável quando CV

<CVmáx.

onde t = total de amostras ensaiadas; n = total de ensaios efetuados por amostra; j =

nº da amostra, j = 1, t; k = nº do ensaio da amostra j, k = 1, n; yjk = valor do resultado

k para a amostra j; yj = representa a média aritmética dos resultados da amostra j.

Os resultados obtidos no estudo de precisão intermediária mostraram CV

<Vmáx. para todos elementos analisados.

Tabela 1A. Resultados obtidos para repetitibilidade e reprodutibilidade

estudadas na determinação de metais em cachaça

Repetitividade Reprodutibilidade

Elemento (mg∙L-1) Média DP CV CVmáx

Média DP CV CVmáx

(%) (%) (%) (%)

As 0,3007 0,012 4,0 19,2 0,318 0,0222 7,0 13,4

Cd 0,3003 0,003 1,0 19,2 0,2964 0,0078 2,6 13,6

Pb 0,3072 0,006 2,0 19,1 0,3027 0,0104 3,4 13,5

Cu 0,3591 0,013 3,7 18,7 0,3528 0,013 3,6 13,2

Ni 0,3104 0,004 1,3 19,1 0,302 0,0105 3,5 13,5

Page 62: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

61

Sensibilidade – a sensibilidade do método foi avaliada pela inclinação da

curva analítica na concentração de interesse. Verificou-se que a sensibilidade obtida

para os elementos deste estudo foi maior para os elementos Cu e Cd.

Tabela 1B. Equações e valor do coeficiente de Pearson para as retas obtidas

por regressão linear

Elemento Equação R

As y = 91,4896x + 4,23882 0,9996

Cd y = 6544,03 x + 9,34891 0,9999

Pb y = 639,779x + 9,95022 0,9999

Cu y=11665,2x + 265,841 0,9998

Ni y = 682,752x + 5,03724 0,9999

Limite de Detecção (LOD) – o limite de detecção foi avaliado pela análise de

sete brancos fortificados com concentração inferior ao primeiro ponto da curva

analítica. O LOD foi calculado conforme sugerido (INMETRO, 2011):

onde, t é o valor da abscissa t (Student) e (n-1) graus de liberdade (calculado

para 99% de confiança) e s é o desvio-padrão das análises.

Os resultados obtidos para a determinação do LOD encontram-se na Tabela

1C. Os valores de LOD apresentados já consideram o fator de diluição da amostra

(5x).

LOD =t (n-1).s (03)

Page 63: teor de contaminantes inorgânicos em cachaças do quadrilátero

62

Tabela 1C. Concentrações dos brancos utilizados para o cálculo do limite de

detecção

Replicata Concentração (mg∙L-1)

As Cd Cu Ni Pb

1 0,0034 0,0038 0,0127 0,0038 0,0058

2 0,0048 0,0043 0,0126 0,0037 0,0059

3 0,0043 0,0038 0,0127 0,0035 0,0052

4 0,0056 0,0039 0,0134 0,0039 0,0052

5 0,0045 0,0043 0,0136 0,0037 0,0058

6 0,0042 0,0040 0,0131 0,0039 0,0058

7 0,0050 0,0041 0,0128 0,0034 0,0051

Média 0,0045 0,0040 0,0130 0,0037 0,0055

DP 0,0007 0,0002 0,0004 0,0002 0,0004

LOD 0,0114 0,0034 0,0065 0,0030 0,0056

Exatidão – a exatidão do método pode ser definida como sendo a

concordância entre o resultado de um ensaio e o valor de referência aceito como

verdadeiro. Neste trabalho, a exatidão foi avaliada por ensaios de recuperação para

cada um dos elementos estudados e foi obtida a partir de soluções alcoólicas (43%)

fortificadas com os padrões dos elementos de interesse, em três níveis de

concentração (0,05 mg∙L-1 ; 0,30 mg∙L-1; 0,75 mg∙L-1) para os elementos As, Cd, Ni,

Pb e quatro níveis (0,05 mg∙L-1; 0,30 mg∙L-1; 0,75 mg∙L-1; 5 mg∙L-1) para Cu.

Para o cálculo da recuperação analítica, foi utilizada a Equação 05 e os

resultados obtidos para os elementos estudados encontram-se descritos na Tabela

1D:

onde:

C1 = concentração do analito na amostra fortificada

C2 = concentração do analito na amostra não fortificada

C3 = concentração do analito adicionada à amostra fortificada

Recuperação (%) = (C1 – C2) / C3x 10 (05)

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Tabela 1D. Valores obtidos na avaliação da exatidão da metodologia (ensaio de recuperação)

Nível

Fortificado

(mg∙L-1)

Dados As Cd Pb Cu Ni

0,05 Valor obtido* (mg∙L-1) 0,049 ± 002 0,055±0,000 0,054 ± 0,004 0,056 ± 0,001 0,055 ± 0,002

Recuperação (%) 98 ± 3 110 ± 1 108 ± 8 111 ± 3 111 ± 4

0,30 Valor obtido* (mg∙L-1) 0,291 ± 0,012 0,299 ± 0,004 0,303 ± 0,007 0,354 ± 0,010 0,310 ± 0,004

Recuperação* (%) 97 ± 4 100 ± 1 101 ± 2 118 ± 3 103 ± 1

0,75 Valor obtido* (mg∙L-1) 0,881 ± 0,063 0,793 ± 0,031 0,809 ± 0,046 0,794 ± 0,034 0,790 ± 0,034

Recuperação (%) 117 ± 8 106 ± 4 108 ± 6 106 ± 5 105 ± 5

5,00 Valor obtido* (mg∙L-1) - - - 5,515 ± 0,072 -

Recuperação (%) - - - 110 ± 1 -

* Média ± desvio-padrão

Os valores obtidos de recuperação ficaram entre 97 e 118% e foram considerados satisfatórios.