teologia da imagem
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A pintura. Vol. 2: A teologia da imagem e o estatuto da pintura
"Compreender a imagem em sua função simbólica equivale, em primeiro lugar, a
se representar, por meio do que hoje chamamos de estética, as complexas relações
entre as artes e a teologia católica." (p.10)
Enraizada no neoplatonismo e no Evangelho segundo São João, essa
concepção de luz é tão essencial que permeia todo pensamento medieval, inclusive as
artes figurativas. Tanto em vitrais e iluminuras como em afrescos e objetos litúrgicos, a
luz emana das cores, já que ela é, segundo a maioria dos teóricos, uma propriedade da
cor. Ela é, além disso´ a expressão mais perfeita da divindade. Daí o caráter simbólico
de cada cor, perceptível nas obras plásticas e nos textos místicos ou literários. (p.11-12)
Na obra, De trinitate, santo Agostinho se dedica ao problema da imagem,
renovando as teorias neoplatônicas.
A vontade de captar e expressar as realidades invisíveis estimula a invenção de
vários sistemas simbólicos. Daí a importância da alegoria e das personificações, que
representam as ideias mais abstratas por meio de figuras sensíveis que dominam a arte
europeia até o século XVIII.
Dionísio Aeropagita insiste na importância do papel das imagens e dos símbolos
como mediadores no quadro do nosso conhecimento do mundo e das realidades
celestes. É por meio do uso que fazemos da imagem, multiplicando as analogias e as
semelhanças, que podemos expressar nossa relação com Deus, reencontrando sua
verdadeira luz. (pp.17-18)
Já o discurso de João Damasceno sobre as imagens foi antes de mais nada um
texto de circunstância. Em 730, o decreto de Leão III proibindo os ícones suscitou novas
reflexões sore a função da imagem. O imperador bizantino tinha tomado essa decisão
para impedir os movimentos de idolatria que cresciam devido ao culto das imagens.
João Damasceno defendia que a imagem de Cristo, longe de ser mera representação
pintada, participa intimamente da encarnação. Isso significa que, de certa maneira, a
imagem na sua materialidade não é fundamentalmente diferente da imagem tal como
esta existe em Deus como protótipo. Somente a natureza divina, segundo ele, é
irredutível a toda figuração, "incircunscritível", porque Deus é incorpóreo. (p.26)
A argumentação que Damasceno desenvolve é um dos pontos altos da
especulação oriental sobre a imagem. Ela será retomada e analisada, em particular, por
Tomás de Aquino na Suma Teológica.
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Damasceno afirma: "uma imagem é uma semelhança feita a partir de um modelo
com o qual e para o qual difere em algumas coisas, pois certamente não identifica-se
completamente com o arquétipo." (p.32) Assim, uma imagem é uma semelhança, um
exemplo ou uma figura, e traz em si mesma aquilo que representa. No entanto, a
imagem não representa o modelo em todos os seus aspectos. (p.39) Toda imagem
revela aquilo que está oculto, por exemplo, o que é invisível. Assim, as imagens foram
concebidas para tornar acessíveis as coisas ocultas.
Existem diferentes tipos de imagens, diz João Damasceno, o primeiro tipo é a
imagem natural. "Em todas as coisas deve existir, antes de tudo, aquilo que nelas foi
determinado naturalmente e, depois, o que se estabelece como relação e como
imitação. Assim, por exemplo, deve existir primeiro o homem segundo sua própria
natureza, depois segundo sua relação e imitação. Concordantemente, a primeira
imagem natural do Deus invisível e imutável é o Filho, que em si mesmo revela o Pai."
(p.40)
O segundo tipo de imagem é aquela das coisas que estão em Deus. "O segundo
tipo de imagem diz respeito às imagens das coisas vindouras que permanecem na
concepção de Deus, que as leva a efeito através das eras segundo seu desígnio
eterno." (p.41)
O terceiro tipo de imagem é o homem como imagem de Deus. Refere-se às
imagens criadas por Deus, isto é, o homem. (p.41-42)
O quarto tipo de imagens são os símbolos. Feitas de imagens de coisas
invisíveis que desejamos ver, mas não podemos. (pp.42-43)
O quinto tipo de imagem é a prefiguração das coisas futuras. "O quinto tipo de
imagem é a imagem que prefigura e preconiza as coisas vindouras: como, por exemplo,
o espinheiro (Ex 3,2), a águia que escorre do velo (Jz 6,38), a Virgem, a urna, o cajado,
o cântaro e a serpente, símbolo daqueles que por meio da Cruz foram purificados da
mordida da serpente, Mal arquetípico, ou o mar, a água e o fluxo do espírito batismal."
(p.43)
O sexto tipo de imagem é a memorial. É aquele em que a imagem é feita para
lembrar as coisas passadas. (p.43)
"Os anjos, a alma e os demônios, ainda que não tenham forma e sejam
intangíveis, podem ser representados segundo suas próprias naturezas que a nós
parecem visíveis e com contornos definidos - pois todos eles são, de fato, seres
dotados de intelecto (nous) e, no intelecto, estão presentes, agindo aí intelectualmente -
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podem, assim, serem perfeitamente representados (...) A natureza divina não pode,
sem dúvida, ser circunscrita. Ela é única e completamente sem forma ou figura, sendo
ainda imutável, mesmo se as Escrituras Sagradas parecem circunscrever a Deus em
uma forma corporal, a fim de que uma forma se visível, mesmo essas formas são
verdadeiramente incorpóreas. (...) Em verdade, sabemos que nem a Deus, nem a um
demônio é possível discernir sua natureza física. Mas, em suas formas transformadas,
digamos assim, é possível intuí-las, pois a providência divina reveste suas
incorporalidades e invisibilidades de um envoltório corporal e visível (...) Pois a natureza
de Deus é absolutamente incorpórea. Um anjo, uma alma, um demônio, quando
comparados a Deus (único incomparável), são corpóreos. Não querendo Deus que na
ignorância completa dos seres incorporais residíssemos, ele as circunscreveu de
formas, de figuras e contornos, segundo uma analogia com nossa própria natureza (...).
(p.44-45)
São Boaventura retoma a tese da imagem pintada vista como "Bíblia dos
iletrados". Volta ao velho argumento segundo o qual a imagem impressiona mais
facilmente o espírito do que a palavra. Mais interessante é a observação de que a
representação não exige uma "garantia textual", ou seja, a imagem pintada não se limita
a ser a tradução do Verbo. A pintura é produtora de figuras próprias, extraindo as
formas do seu próprio fundo. (p.47)
Santo Tomás de Aquino reforça que as imagens têm uma função determinada:
"para que por meio de imagens desse tipo se grave e se fortaleça nas mentes dos
homens a fé na excelência dos anjos e dos santos." (pp.52-53) Assim, uma imagem de
Cristo deve ser adorada com uma adoração de latria, "não por causa da imagem em si,
mas por causa da coisa de que ela é a imagem". (p.55) Porque ela representa o Cristo,
que é adorado com uma adoração de latria, a imagem deste deve ser tratada com tal.