teologia, capelania

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TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ Professor Me. Rubem Almeida Mariano GRADUAçãO Teologia

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TEOLOGIA, ACONSELHAMENTOE CAPELANIA CRISTÃ

Professor Me. Rubem Almeida Mariano

GRAduAção

Teologia

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ReitorWilson de Matos Silva

Vice-ReitorWilson de Matos Silva Filho

Pró-Reitor de AdministraçãoWilson de Matos Silva Filho

Pró-Reitor de EADWillian Victor Kendrick de Matos Silva

Presidente da MantenedoraCláudio Ferdinandi

NEAD - Núcleo de Educação a DistânciaDireção de OperaçõesChrystiano MincoffCoordenação de SistemasFabrício Ricardo LazilhaCoordenação de PolosReginaldo CarneiroCoordenação de Pós-Graduação, Extensão e Produção de MateriaisRenato dutraCoordenação de GraduaçãoKátia CoelhoCoordenação Administrativa/Serviços CompartilhadosEvandro BolsoniGerência de Inteligência de Mercado/DigitalBruno JorgeGerência de MarketingHarrisson BraitSupervisão do Núcleo de Produção de MateriaisNalva Aparecida da Rosa MouraSupervisão de MateriaisNádila de Almeida Toledo Design EducacionalFernando Henrique Mendes Rossana Costa Giani Projeto GráficoJaime de Marchi JuniorJosé Jhonny CoelhoEditoraçãoJosé Jhonny CoelhoRevisão TextualJaquelina Kutsunugi, Keren Pardini, Maria Fernanda Canova Vasconcelos, Nayara Valenciano, Rhaysa Ricci Correa e Susana Inácio

CENTRo uNIVERSITÁRIo dE MARINGÁ. Núcleo de Educação a distância:

C397 Teologia, aconselhamento e capelania cristã / Rubem Almeida

Mariano. Reimpressão revista e atualizada, Maringá - PR, 2014. 134 p.“Graduação em Teologia - Ead”. 1. Teologia. 2. Capelania cristã. 3. Aconselhamento. 4. Ead. I.

Título.

ISBN 978-85-8084-271-5Cdd - 22 ed. 230

CIP - NBR 12899 - AACR/2

Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828

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Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualidade, novas habilidades para liderança e so-lução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no mundo do trabalho.

Cada um de nós tem uma grande responsabilida-de: as escolhas que fizermos por nós e pelos nos-sos fará grande diferença no futuro.

Com essa visão, o Centro universitário Cesumar – assume o compromisso de democratizar o conhe-cimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros.

No cumprimento de sua missão – “promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária” –, o Centro universi-tário Cesumar busca a integração do ensino-pes-quisa-extensão com as demandas institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desenvolvimento da consci-ência social e política e, por fim, a democratização do conhecimento acadêmico com a articulação e a integração com a sociedade.

diante disso, o Centro universitário Cesumar al-meja ser reconhecida como uma instituição uni-versitária de referência regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de competências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; con-solidação da extensão universitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e administrati-va; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relaciona-mento permanente com os egressos, incentivan-do a educação continuada.

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Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quan-do investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequente-mente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. de que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capa-zes de alcançar um nível de desenvolvimento compa-tível com os desafios que surgem no mundo contem-porâneo.

o Centro universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “os homens se educam juntos, na transformação do mundo”.

os materiais produzidos oferecem linguagem dialó-gica e encontram-se integrados à proposta pedagó-gica, contribuindo no processo educacional, comple-mentando sua formação profissional, desenvolvendo competências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inse-ri-lo no mercado de trabalho. ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproxi-mação entre você e o conteúdo”, desta forma possi-bilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pes-soal e profissional.

Portanto, nossa distância nesse processo de cres-cimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. utilize os diversos recursos peda-gógicos que o Centro universitário Cesumar lhe possi-bilita. ou seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e en-quetes, assista às aulas ao vivo e participe das discus-sões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui-lidade e segurança sua trajetória acadêmica.

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Professor Me. Rubem Almeida Mariano

Possui graduação em Teologia - Seminário Teológico de Londrina da Igreja Presbiteriana Independente (1990), graduação em Filosofia pela universidade do Sagrado Coração (1999) e graduação e tem formação profissional em Psicólogo pelo Centro universitário Cesumar (2009). Mestrado em Ciências da Religião pela universidade Metodista de São Paulo (1997). Professor da graduação e Pós-Graduação Presencial e Educação a distancia no Centro universitário Cesumar.

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TORE

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SEjA bEM-VINDO(A)!

“Jesus era absolutamente honesto, profundamente compassivo, altamente sensível e espi-ritualmente maduro”.

Collys, G. R. em Aconselhamento Cristão.

os estudos teológicos classicamente estão subdivididos em Teologia Bíblica, Teologia Sistemática e Teologia Prática. o primeiro volta-se para os fundamentos e os rudimentos dos textos bíblicos do Antigo testamento (AT) e Novo Testamento (NT); o segundo abor-da as elaborações filosófico-teológicas enquanto sistema de interpretação e compreen-são de doutrinas cristãs sistematicamente construídas, bem como dialoga com outros saberes como é o caso da Filosofia, Sociologia, Antropologia, Psicologia dentre outros e, por fim, a Teologia Prática, que tem como objetivo fundamentar construções teóri-cas e práticas da ação evangélica. Nesse particular, em nossos dias, há uma significativa demanda para a Teologia Prática, haja vista que vivemos tempos de novos paradigmas, por que não dizer, os quais exigem maior rigor e necessidades de atuação da Teologia.

A disciplina “Teologia, Aconselhamento e Capelania Cristã” é uma disciplina que se co-loca no eixo da Teologia Prática. É importante ressaltar que Teologia Prática, conforme Silva (2010), designaria a reflexão crítica sobre a ação eclesial. No contexto da Teologia Prática, todas as ações implicam no agir da Igreja como liturgia, ensino, diaconia, acon-selhamento e capelania dentre outras. Para Szenmártony (1999), deve-se compreender a Teologia Prática como uma reflexão teológica sobre o conjunto das atividades nas quais a Igreja se encarna, tendo presente a natureza da Igreja e a situação atual desta no mundo.

os referenciais teóricos utilizados foram de literatura, devidamente sustentados na visão clássica da Teologia, sem nunca perder o tom crítico; assim como, também, nos estudos sobre aconselhamento e capelania. Faz-se necessário sublinhar que as fontes bibliográficas publicadas sobre capelania são deveras escassas, diferentemente das so-bre aconselhamento.

A lógica desta disciplina prima pelo diálogo e respeito entre os conhecimentos que fazem interface com a Teologia Prática, o qual não poderia ser diferente, contudo, foi opção respeitar as especificidades dos conhecimentos para a constituição do estudo desta disciplina, ou seja, referente ao aconselhamento cristão, primou-se em estudá-lo de forma muito peculiar junto com os conhecimentos de aconselhamento advindo do universo psicológico. Tal opção não tira em nada o brilho e a riqueza das elaborações e contribuições da Teologia Prática para a ação evangélica nessa área. Acredita-se sim que esse procedimento, na verdade, marca de forma indelével o respeito e o entendimento que os conhecimentos devem realmente exercitar, no contexto acadêmico, para a me-lhor compreensão do objeto de estudo em comum entre esses dois saberes.

Quanto aos objetivos a serem alcançados nesta disciplina, procurou-se atender as três áreas enfatizadas pela didática, a saber: cognitiva, afetiva e motora. Nesta sequência e sentido, foram sendo elaborados os estudos tema a tema para que o aluno ou a aluna, ao final desta disciplina, tenha condições de conhecer e de refletir sobre os conhecimen-

ApresenTAção

TEOLOGIA, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ

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tos necessários para o exercício da Teologia, em especial, nas áreas do Aconselha-mento e Capelania Cristã.

Por fim, a disciplina “Teologia, Aconselhamento e Capelania Cristã” está divida em 5 unidades: uNIdAdE I – Aconselhamento e Capelania Cristã: Marco Bíblico-Teológi-co; uNIdAdE II – os Fundamentos do Aconselhamento e da Capelania Cristã; uNI-dAdE III – Teologia e Práticas em Aconselhamento Cristão; uNIdAdE IV – o Perfil e Papel do Conselheiro e do Capelão Cristão e uNIdAdE V – Temas e Procedimentos em Aconselhamento e Capelania Cristã.

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ApresenTAção

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sumário8

uNIdAdE I

ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ: MARCO bÍbLICO-TEOLÓGICO

13 Introdução

14 Diaconia, Ministério, Aconselhamento e Capelania Cristã

16 Poimênica, Aconselhamento e Capelania Cristã

21 Cuidado, Aconselhamento e Capelania Cristã

25 Considerações Finais

uNIdAdE II

OS FuNDAMENTOS DO ACONSELHAMENTO E DA CAPELANIA CRISTÃ

33 Introdução

34 Aconselhamento e Capelania Cristã: Apontamentos Históricos

35 Fundamentos e Teorias em Aconselhamento Cristão

43 os Fundamentos da Capelania Cristã

47 Considerações Finais

uNIdAdE III

TEOLOGIA E PRÁTICAS EM ACONSELHAMENTO CRISTÃO

59 Introdução

59 propostas, Técnicas e Comportamentos em Aconselhamento Cristão

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sumário10

65 promovendo o Diálogo com o Aconselhando

70 Considerações Finais

uNIdAdE IV

O PERFIL E O PAPEL DO CONSELHEIRO E DO CAPELÃO CRISTÃO

81 Introdução

81 perfil e Atitudes do Conselheiro Cristão

92 perfil e papel do Capelão Hospitalar

97 Considerações Finais

uNIdAdE V

TEMAS E PROCEDIMENTOS EM ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ

107 Introdução

108 Aconselhamento de Apoio

112 Aconselhamento em Casos de perda pessoal

116 Aconselhamento em Casos de Crise Matrimonial

124 Considerações Finais

131 Conclusão133 Referências

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UNIDADE I

Professor Me. Rubem Almeida Mariano

AConseLHAMenTo e CApeLAnIA CrIsTã: MArCo BÍBLICo-TeoLÓGICo

Objetivos de Aprendizagem

■ Ressaltar os fundamentos bíblico-teológicos do Ministério, Cuidado, Poimênica, Aconselhamento e Capelania Cristã.

■ Assinalar os aspectos fundamentais do Aconselhamento e da Capelania Cristã.

■ Identificar os significados do termo “diaconia”, na Bíblia.

■ Conscientizar que o fazer Aconselhamento e Capelania Cristã são atos próprios do serviço cristão.

■ Conhecer os fundamentos bíblico-teológicos da poimênica.

Plano de Estudo

A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

■ diaconia, Ministério, Aconselhamento e Capelania Cristã

■ Poimênica, Aconselhamento e Capelania Cristã

■ Cuidado, Aconselhamento e Capelania Cristã

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INTRODuçÃO

“Os ensinos do Senhor são certos e alegram o coração. Os seus ensina-mentos são claros e iluminam a nossa mente”. (Salmo 19: 8)

“A tua palavra é lâmpada para guiar os meus passos e luz para o meu caminho”. (Salmo 119:105)

“A Palavra era a fonte da vida e essa vida trouxe a luz para todas as pes-soas”. (Evangelho de João 1: 4)

A boa tradição cristã, de corte Protestante, ressalta a Bíblia como uma das fon-tes necessárias para o desenvolvimento da Fé Cristã. Nesse sentido, a presente unidade busca evidenciar os fundamentos para a prática do aconselhamento e da capelania cristã que assinalem, por um lado, uma genuína tradição cristã e, por outro, dialogue com as necessidades de nosso tempo.

Por isso, nos voltamos para os fundamentos bíblicos e teológicos do pró-prio ministério cristão em que se destacaram os seguintes temas: diaconia, ministério, poimênica e cuidado. Nossa fundamentação teórica parte do latino Gattinoni (apud CASTRO, 1973) sobre “As bases do ministério pastoral no Novo Testamento” e do americano Clinebell (2000) sobre “O aconselhamento pasto-ral modelo centrado em libertação e crescimento no universo bíblico” dentre outros. Em ambos os autores citados, bem como nos outros, temos o objetivo maior de fundamentar biblicamente o aconselhamento e capelania cristã, como expressão mesma da ação cristã, ou seja, do próprio Cristo hoje.

Como se observou na apresentação, os estudos teológicos classicamente estão subdivididos em Teologia Bíblica, Teologia Sistemática e Teologia Prática. Esta última, a Teologia Prática, tem como objetivo fundamentar construções teóricas e práticas da ação evangélica. Nesse particular, em nossos dias, há uma significativa demanda para a Teologia Prática haja vista as necessidades do nosso tempo, as quais diferem de outros; há a necessidades de novos paradigmas, por que não dizer os quais exigem maiores, novas elaborações e ações da Teologia na sua modalidade prática.

Nesse sentido, nota-se uma demanda significativa para dois ministérios em especial da igreja hoje: aconselhamento e capelania cristã. Eles apontam para as

Introdução

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necessidades individuais, grupais, comunitárias, familiares, conjugais, sociais dentre outras. Essas necessidades cobram respostas da igreja. Contudo, essas repostas precisam de fundamentação também Teológica, para que esses minis-térios, ações e vocações da igreja estejam em consonância com a Palavra de Deus e, assim, sejam eficazes, do ponto de vista bíblico, teológico e prático.

DIACONIA, MINISTéRIO, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ

O exercício do aconselhamento e da capelania cristã está na mesma perspectiva do ministério cristão, uma vez que o ato de servir e o diaconato é o ponto de partida e de chegada de toda e qualquer ação cristã. Isso pode ser evidenciado quando voltamos nosso olhar para o universo neotestamentário, o qual ressalta como fundamento essencial do ministério cristão, o serviço. Portanto, servir se constitui fundamentalmente no próprio ser e agir do ministério cristão, que tem no ato de cuidar, uma de suas facetas indeléveis.

Inicialmente, Gattinoni (apud CASTRO, 1973) informa que o sentido eti-mológico do termo “diákonos” indica uma tarefa de condutor de camelos no pó (poeira): diá = através kónos = pó, portanto diácono é um servente, um servidor. Exemplo maior é o próprio Jesus quando lava os pés dos discípulos (Jo. 13:1-17); o serviço é a definição própria da missão de Jesus, portanto ele veio para servir, pois é um servo (Lc. 22:27 e Mc. 10:45).

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Compreende Gattinoni (apud CASTRO, 1973) que o ministério pastoral não pode deixar de evidenciar essa atitude serviçal. Tal atitude é imprescindível, con-forme Mt. 20:25-28; 25:31-46; 10:24. Nesse perspectivo, tanto o aconselhamento quanto a capelania devem estar inseridos nessa visão bíblica: servir.

Gattinoni (apud CASTRO, 1973) apresenta outro significado para a pala-vra diaconia, a palavra grega “doulos”, no sentido “escravo”, que serve. A ideia fundamental desse vocábulo é ressaltar o espírito serviçal como sendo inerente ao ministério e a todo e qualquer cristão (intra e extracomunidade). O próprio Jesus Cristo recebeu esse título como sendo “O servo por excelência” (Fil. 2:5-11; Atos 3:13,26; 4:27). Esse título é também conferido aos autores dos livros bíblicos: João 1:1, Atos 16:17, 2Cor. 4:5; 9:19; em II Ti. 2:24, o ministro como sendo servo; todos os cristãos assim o são: servos (Atos 2:18 e 4:29). Esse sig-nificado é designado universalmente e válido a todo o corpo de Cristo (I Cor. 7:22 e I Pedro 2:16).

Portanto, os cristãos são chamados a servir a Cristo e ao seu Reino (Ro. 7:6; Col. 3:24; I Ts. 1:9; 1:1; 2:20;7;3); nesse sentido, o serviço aos homens é enten-dido como servir ao Senhor Jesus Cristo (Ro. 14:18; Gá. 5:13; Ef. 9:9); a ideia de servir dos seres humanos como parte do serviço a Cristo (I Cor 16:15; II Cor. 6, 8:4; 9:1, 12; Atos 20:28, 34, 35; II Ti. 1:18; Fim. 13) ou ainda, o servir às pes-soas como sendo uma ação ao próprio Cristo (Mat. 25:31-46). Diaconia, nesse sentido, por fim, evoca de forma categórica que todo e qualquer ministério da Igreja, com destaque para o aconselhamento e capelania cristã, é um ato de ser-viço ao próximo no mundo. Uma ação missionária que nasce do ministério de Jesus Cristo como identidade da Igreja.

Por fim, outro sentido para “diaconia” é uma expressão, conforme Gattinoni (apud CASTRO, 1973), “Diaconia como um ministério da Igreja, a serviço da obra de Deus, no mundo”. Diaconia como ministério de toda a Igreja e de toda a comunidade cristã, bem como de cada comunidade em particular – Ef. 4:12; Ap. 2:19; I Co.12 e Ro. 12:1-8; ou seja, toda e qualquer comunidade que se diz cristã tem uma identidade em comum: ser sinal de Deus por meio do serviço da igreja às pessoas. Essa expressão coroa e assinala a riqueza dos sentidos para “diaconia” já observados acima.

Compreende-se, sem dúvida, que os sentidos de “diaconia” abordados até

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o presente ressaltam biblicamente o serviço como fundamento para o exercício do ministério cristão, ou os mais diversos ministérios da igreja, com destaque para o aconselhamento e a capelania cristã.

Poimênica, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ

Do ponto de vista bíblico-teológico, uma das imagens mais marcantes é o teste-munho do cuidado de Deus pela humanidade.

Assim, no Antigo Testamento, surge a imagem e a memória do Deus-Pastor como Aquele que conduz o povo, como faz um bom pastor ao conduzir suas ovelhas. Tal tradição faz parte da própria experiência existencial e de subsistên-cia de todo um povo.

A vida do povo hebreu dependia do cultivo do rebanho de ovelhas. Este ani-mal era a principal fonte de subsistência. Nesse sentido, a experiência pastoril e a subsistência humana que girava ao redor do rebanho não eram exclusivas de Israel, mas contemplavam todos os povos do mundo bíblico; assim como, tam-bém, para os povos mesopotâmicos. Por sinal, foram estes os primeiros a metaforizar a imagem do “pastor”.

Javé, portanto, é compreendido como o único e verdadeiro Pastor de Israel. Essa alegoria é celebrada no AT, especificamente, no Sl 23.1: “O Senhor é meu pastor, nada me faltará”. Ao lado Dele não há outro! Este Salmo revela a poimênica, pois ele refere-se ao centro vital do ser humano, que é sua relação com Deus. Uma relação concretizada a partir da fé humana em Deus,

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enquanto Criador e Pastor da vida. Então, a poimênica, nesse contexto, remete para aquilo que permite e ajuda o ser humano a continuar a respirar, a manter a sua vida saudável, afinal a morte para o semita é a falta da relação com Deus.

Nesse sentido, Hoepfner (2008), comenta:Assim a poimênica, no mundo semita, está muito próxima da luta cons-tante do ser humano para manter ou resgatar a sua relação com Deus por meio das diferentes articulações da vida em comunidade, como o culto e o sacrifício a Deus. Entretanto, compreende igualmente a busca por uma plena e justa integração social do indivíduo que cai no abismo do isolamento, que negligencia a sua relação com Deus e, conseqüen-temente, não mais se considera parte integrante do povo de Deus. Ali onde o ser humano petrifica o seu coração, onde vive exclusivamente a partir do seu próprio ar, da sua exclusiva respiração, - isto é, vive ao redor do seu próprio ser -, a nefesh sucumbe, já não encontrará fôlego de vida e, por fim, clamará: “Como suspira a corça pelas correntes de água, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma” (Sl 42.1). A tradução de Lutero é mais enfática, pois translada “suspira” por “gritar” (schreit). Quer dizer, em meio ao abandono de Deus, o ser humano grita, geme, se desespera, pois enxerga com profundidade e dor o abismo em que sua aparente auto-suficiência o levou. “No culto se articulavam o grito, a lamentação e a prece por ajuda da pessoa que se encontrava fora da relação com Deus, que não conseguia mais enxergar o seu rosto” (p.55).

Nessa perspectiva, a poimênica tem a ver com o clamor e o louvor da criatura perante o seu Criador. O ser humano clama pelo hálito de vida que provém de Deus e o louva por este hálito que o mantém, como afirma o último salmo: “Todo ser que respira louve ao Senhor. Aleluia!” (Sl 150.6).

Hoepfner (2008) afirma ainda que: Os principais agentes da poimênica eram, sobretudo, os Sacerdotes (Lv 12ss.; 1 Sm 1.9ss.), os anciãos e juízes que tomam decisões em casos de conflito (Rt 4), os profetas que desenvolvem na sua prática a admo-estação e a consolação individual e coletiva (2 Sm 12; Is 40.1ss.) e, em primeiro lugar, os sábios, homens do povo que transmitiam como pais de família os conselhos da sabedoria popular para os filhos (Pv 4ss.) (p.56).

Nota-se que a poimênica está no coração do Antigo Testamento, pois ressalta e afirma categoricamente que tudo aquilo que torna plena a vida é concedida pelo Bom Pastor, Javé, o Deus que cuida de suas ovelhas, conforme o Salmo 23: “O Senhor é o meu Pastor e nada me faltará”.

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Hoepfner (2008) observa que no Novo Testamento a poimênica tem nas ações e atitudes libertadoras de Jesus Cristo a expressão perfeita do que significa pasto-rear. Ele sim é o verdadeiro Pastor que dá a sua vida por suas ovelhas, ressalta o Novo Testamento de forma vigorosa. Nesse sentido, tem-se nas ações e atitudes de Jesus Cristo a prática da poimênica como um modelo de ação.

Hoepfner (2008), nesse sentido, faz a seguinte observação sobre esse termo “poimênica” à luz do Novo Testamento:

A poimênica neotestamentária encontra no termo grego “paraclein”, “paraclesis”, o seu conceito-chave que aponta para a oferta de salvação e de vida em abundância oferecida por Cristo em sua vida e cruz. A “paraclesis” remete ao consolo da salvação que Cristo oferece por meio de sua graça (2 Ts 2.16); entretanto, igualmente admoesta às pessoas a transformarem suas vidas cotidianas, desafiando-as a realizar uma identificação com Jesus Cristo também no decurso de um sofrimento (2 Co 1.5-7). Após a reflexão acima, acerca do ministério de Cristo, viu-se que Ele guiou, vigiou, providenciou a vida e sentiu profunda afe-tividade pelo povo do seu Pai. (p.65)

Por fim, Hoepfner (2008) define poimênica a partir de quatro funções pastorais a partir do ministério de Jesus Cristo:

■ Poimênica é vigiar, em um sentido de observar atentamente o outro em uma relação de cuidado constante em que a solidariedade se dá viven-ciando as dores do seu irmão e irmã. Um bom exemplo é de Zaquel em Lc 19.1-10, Jesus demonstra o amor que sente por Zaquel ao visitá-lo.

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■ A poimênica consiste em constituir relacionamentos afetivos entre iguais. Nesse sentido Jesus foi um grande mestre que ensinou, pois apesar de ser o filho de Deus sempre se relacionou como sendo igual. Ele não agia com desdém, mas acolhia e ouvia pacientemente.

■ Poimênica é guiar. Mas não no sentido de se colocar como maioral ou superior; Jesus se colocou com um irmão, em conjunto pelos novos cami-nhos que podem surgir, novas trilhas diante da adversidade, pois Ele é a própria esperança viva. Conforme Hoepfner (2008), Ele é o novo cami-nho que possibilita a vida; Ele é o guia que leva a novas esperanças, a um novo caminho.

■ Não por último, poimênica é a afirmação de uma vida cheia de dignidade. Ali, onde a vida corre perigo com suas contradições sociais, por exemplo, essa vida se faz presente. É impossível desassociar a ajuda psicológica e espiritual da ação social. Nesse sentido, a poimênica em Cristo é anúncio de um evangelho integral. (p.p 65-66)

Portanto, podemos concluir por ora, que tanto a teoria quanto a prática da poimê-nica está sustentada na tradição do Bom Pastor que dá a sua vida por suas ovelhas, como o Bom Pastor do Antigo Testamento, Javé. Jesus Cristo, sem dúvida, tes-temunhou de maneira viva ao fazer poimênica como porta voz do Evangelho de Deus. Hoepfner (2008) nesse particular afirma: “É o Evangelho o esteio da poimênica cristã e Cristo o seu paradigma” (p.66)

Ainda sobre os fundamentos bíblico-teológicos da poimênica, Clinebell (2000) afirma reiteradamente as notáveis potencialidades dos seres humanos:

a. O ser humano é um pouco menor que Deus (Sl 8.5).

b. O ser humano foi criado a imagem e semelhança de Deus, imago Dei, (Gn 1:17).

c. Jesus veio para conceder vida e vida, em abundância (Jo. 10:10), O ser humano tem condições de desenvolver seus potenciais de sabedoria e de vida, segundo a parábola dos talentos (Mt. 25:14-30) e as admoestações de Paulo a Timóteo, para “acender a chama do dom de Deus que há em ti(...), pois o espírito que Deus deu é (...) para inspirar poder, amor e auto-disciplina” (2 Tm. 1:6).

É importante ressaltar, por fim, que a concepção bíblica nessa perspectiva

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deixa claro que os seres humanos, apesar de terem potencialidades, não são oni-potentes. Somos seres finitos, limitados e marcados pelas condições efêmeras da nossa humanidade.

Outra ideia bíblica que Clinebell (2000) observa é a compreensão hebraica das pessoas. Era essencialmente não dualista, ou seja, a Bíblia assinala que a vida humana deve ser entendida de forma integral, em unidade de dimensões, den-tro de uma visão holística, em uma visão comunitária:

a. É assim que a Bíblia reafirma o sentido de glorificar a Deus no corpo (1Cor. 6:19), e não fora dele ou desconsiderando-o.

b. Que se deve amar a Deus com todas as dimensões humanas (Mc. 12:30).

c. Que se deve viver a vida alimentando os relacionamentos em paz, sha-lom, do Antigo Testamento, ou em comunhão, koinonia, na perspectiva do Novo Testamento.

d. O respeito à Criação (ecologia) como ato único da vida. “E viu Deus que tudo era bom”.

e. A libertação é tanto pessoal quanto social. Tanto o pecado quanto a sal-vação são comunitários e sociais, assim como individuais, onde o Novo Testamento afirma “Conheceres a liberdade e a verdade vos libertará” (Jo. 8:32).

Nota-se que o ser humano é compreendido pelas escrituras em uma dimen-são holística e integral para o crescimento, conforme Clinebell (2000).

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Essa visão deve demonstrar positivamente o fazer do aconselhamento e da capelania cristã, pois ressalta tanto as condições existenciais da humanidade, suas potencialidade advindas do Criador, quanto os propósitos cristãos para essa huma-nidade, ou seja, em Cristo, essa humanidade tem vida, e vida em abundância!

Pode-se concluir, por enquanto, que o marco bíblico-teológico aponta tanto o termo “diaconia” quanto “poimênica” como palavras-chave da ação cristã da própria Igreja no mundo, ou seja, como expressão própria do mistério cristão. Podemos assinalar, portanto, que todo e qualquer ministério da igreja, como o aconselhamento e a capelania, é ação da Missão de anúncio da Boa Nova, do cuidado que Deus tem pelo ser humano e, por outro lado, evidencia também as potencialidades do ser humano, criadas pelo próprio Deus, as quais revelam as suas possibilidades para um desenvolvimento de forma integral em Cristo.

CuIDADO, ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ

Inicialmente, a palavra que melhor expressa bíblica e teologicamente tanto acon-selhamento quanto capelania é o termo “cuidado”, ou o verbo “cuidar”.

A seguir, vejamos o trabalho realizado por Hoepfner (2008) sobre a análise do termo “cuidar”, em que o referido autor faz um estudo sobre o termo em seu sentido etimológico e bíblico; bem como o trabalho de Oliveira (2004).

Para Hoepfner (2008), o termo cuidar provém do latim cura, que assinala uma relação de amor e amizade, uma atitude de cuidado, de desvelo, de preo-cupação e de inquietação em relação a alguém ou a algo estimado. Portanto, o sentido aqui deve ressaltar, conforme observa Hoepfner (2008), uma relação pessoal, existencial, e, por consequência, estabelecer uma preocupação frente à vida de outra pessoa ou de algo, como o cuidado com os enfermos ou com o meio ambiente.

Hoepfner (2008), baseado em Boff, faz a seguinte observação sobre o cuidado: [...]é mais que um ato; é uma atitude. Portanto, abrange mais que um momento de atenção, de zelo e de desvelo. Representa uma atitude de

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ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ: MARCO BÍBLICO-TEOLÓGICO

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I

ocupação, preocupação, de responsabilização e de envolvimento afeti-vo com o outro, pois uma atitude perfaz uma fonte, pela qual descen-dem muitos atos. (p.14-15)

Nesse sentido ainda, Hoepfner (2008) exemplifica e comenta da seguinte maneira essa questão:

Quando uma mãe afirma: “Estou cuidando do meu filho adoentado!”, subentendem-se, nesta afirmação, múltiplos atos. Atos como: estar preocupado com seu filho; levá-lo ao médico; dar a ele, não apenas remédios, mas, igualmente carinho; orar com e por ele, enfim, estar próximo dele por meio de ações diversas que compreendem uma ati-tude de cuidado. Nesse sentido, pode-se afirmar que uma atitude de cuidado abarca o ser humano em sua totalidade de vida. No que tange ao relacionamento humano, tanto a pessoa que toma uma atitude de cuidar de alguém, quanto o indivíduo para o qual é dirigida tal atitude, há um contato não meramente físico, mas também afetivo-emocional, concretizando uma relação de sujeito para sujeito e não de sujeito para sujeito-objeto, ou seja, o cuidado possibilita a dignidade, pois abre mão do poder dominador e afirma uma comunhão entre seres reais. “A rela-ção não é de domínio sobre, mas de com-vivência. Não é pura interven-ção, mas interação” Por conseguinte, pode-se reiterar que só recebemos zelo se cuidarmos de outras pessoas; portanto, nessa dimensão, apenas nos tornamos pessoa no encontro com outra. Percebe-se, então, que a categoria cuidado tem conotações que superam as noções comuns que lhe são aplicadas. (p.15)

Nota-se que o sentido ora ressaltado assinala vigorosamente uma atitude de cui-dado total, não com o que é particular ou pontual, mas sim com o ser humano em sua integralidade, em suas mais diversas áreas e dimensões: física, afetivo-e-mocional, social, ecológica, cultural e espiritual.

Outra questão importantíssima ressaltada ainda por Hoepfner (2008) é a relação entre os seres humanos que deve ser pautada não pelo domínio sobre, mas pela convivência. Pode-se compreender nessa perspectiva que só recebemos cuidado se cuidarmos também de outras pessoas; portanto, nessa dimensão ou relação, apenas nos tornamos pessoa efetivamente quando estamos no encontro com outra, ou seja, nos relacionamos respeitosamente como iguais.

Diante do exposto, Hoepfner (2008) conclui as seguintes considerações:Explicitando, o cuidado vê os contornos concretos dos problemas, da realidade, enxerga e abraça o ser em sua integralidade vital e, portanto,

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não se resume a apenas fidelidade, a princípios profissionais e a deveres morais impostos por uma sociedade deveras injusta. Perceptivelmente esclarecedor é o vocábulo alemão Sorge, comumente traduzido ao ver-náculo pátrio como “cuidado”, “preocupação”, “aflição”. Se por um lado, a Sorge remete para o cuidado de si, por alguém ou por algo (Fürsorge), por outro, remete, igualmente, para uma situação existencial de aflição, ou seja, o de estar preocupado consigo mesmo, por alguém ou com algo (sich sorgen um). O termo inglês care, da mesma forma, traz consigo a idéia de um cuidar solícito, bem como o de um cuidar ansioso e aflito junto a alguém ou a algo. Conclui-se que, uma atitude de cuidado fren-te a pessoas, requer envolvimento, pois “o cuidado é aquela relação que se preocupa e se responsabiliza pelo outro, que se envolve e se deixa envolver com a vida e o destino do outro, que mostra solidariedade e compaixão”. Tal atitude é a condição prévia para o eclodir da amorosi-dade humana, afinal, quem cuida, ama e, quem ama, cuida (p.16)

Hoepfner (2008) faz ainda um estudo sobre expressões correlatas ao termo “cui-dar” no Antigo Testamento e Novo Testamento:

O principal correlato do termo cuidar no Antigo Testamento (AT) é o verbete shãmar. Ao longo do testamento hebraico ele aparece 420 vezes. A ideia básica da raiz deste termo, conforme o Dicionário Inter-nacional do Antigo Testamento, é a de “exercer grande poder sobre”, significado que permeia as várias alterações semânticas sofridas pelo verbo. Combinado com outros verbos, o sentido expresso é o de “fazer com cuidado”, “fazer diligentemente”, por exemplo, como aparece em Nm 23.12: “(...) Porventura, não terei cuidado de falar o que o Senhor pôs na minha boca”. O verbo pode vir a exprimir também a atenção cui-dadosa que se deve ter com as obrigações contidas em leis e na própria aliança de Deus com o seu povo, como expresso em Gn 18.19 ou Êx 20.6. Frequentemente, o verbo ainda é utilizado para designar a neces-sidade de ser cuidadoso frente às próprias ações; frente à própria vida (Sl 39.1; Pv 13.3), ou ainda, designar a atitude de alguém de dar aten-ção ou reverenciar Deus, outras pessoas ou ídolos (Os 4.10; Sl 31.6). O verbo shãmar abrange ainda os sentidos de “preservar”, “armazenar” e “acumular” a ira (Am 1.11), o conhecimento (Ml 2.7), o alimento (Gn 41.35) ou qualquer coisa de valor (Êx 22.7). Um último desdobramento da raiz exprime a ideia de “tomar conta de” ou “guardar”, ou seja, en-volve manter ou cuidar de um jardim (Gn 2.15), de um rebanho (Gn 30.31) ou de uma casa (2 Sm 15.16). É nessa ótica que Davi admoesta Joabe a cuidar de Absalão: “Guardai-me o jovem Absalão” (2 Sm 18.12), ou quando Davi, nos Salmos 34.20; 86.2; 121.3-4 e 7, utiliza o termo para falar do cuidado e da proteção divina.

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ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ: MARCO BÍBLICO-TEOLÓGICO

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I

No que tange ao Novo Testamento, o principal correlato de cuidar é o verbete grego merimna. Assim como o termo alemão sorge e o inglês care, merimna pode remeter a dois significados. Num sentido negati-vo, é traduzido por “preocupação” ou “ansiedade” do ser humano. É nesse parâmetro que merimna é empregado no Sermão do Monte (Mt 6.25-34). Jesus, nessa homilia, critica a demasiada preocupação do ser humano em torno de questões materiais que o afastam de Deus. Para-lelamente, a passagem de Lc 21.34, adverte para as fúteis preocupações concernentes à vida diária. Já o sentido positivo de merimna, remete ao “ter cuidado de” ou “preocupar-se com” alguém ou algo. Em 2 Co 11.28, o apóstolo Paulo se vê como aquele que deve preocupar-se com as igrejas. Já em 1 Co 12.25, a Igreja é vista como “corpo de Cristo”, no qual todos os membros cuidem e cooperem uns a favor dos outros. Em 1 Pd 5.7, o ser humano é chamado a lançar toda a sua ansiedade aos cuidados de Deus.

Outras tantas passagens bíblicas poderiam ser aqui arroladas. Períco-pes, que dependendo do testamento, utilizam os termos shãmar ou merimna, para expressarem a ampla ideia do cuidado humano ou de Deus por sua criação. Entretanto, ressalta-se, a partir dessa breve inves-tigação acerca dos correlatos bíblicos do termo cuidar, que em muitas passagens nas quais os termos shãmar e merimna são empregados, eles compreendem, ao menos indiretamente, uma atitude que lida com a própria condição de vida do ser humano. Atitude esta, profundamente arraigada na fé dos inspirados escritores bíblicos em Deus. (p.p 17-18)

Ainda nessa direção, Oliveira (2004) afirma, a partir das elaborações teológicas de Leonardo Boff sobre o cuidado com o ser humano no contexto maior que é o cuidado com a natureza, o seguinte: “cuidar da alma implica cuidados senti-mentos dos sonhos, dos desejos, das paixões contraditórias, do imaginário, das visões e utopias que guar-damos dentro do coração” (p.17). Tal elaboração aponta o cuidar como um ato inte-gral da existência humana.

Oliveira (2004), tomando afirmação de Brakemeier, destaca que o cuidado com o ser humano está justamente na afirmação doutrinaria da

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Considerações Finais

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Imago Dei, ou seja, que o ser humano é imagem e semelhança de Deus. Portanto, há uma dignidade no ser humano que lhe é atribuída, concedida sem mereci-mento que provém de Deus e que se manifesta em si mesmo.

Teologicamente, observa Oliveira (2004) que os atos de misericórdia e com-paixão testemunhados por Jesus Cristo, em sua prática, revelam o próprio amor de Deus dispensado ao ser humano. Enquanto os atos de poder coisificavam o ser humano, escravizando-o, Jesus testemunhava o amor de Deus que transforma a dor e a escravidão em amor, saúde e vida, vida em abundância.

Oliveira (2004) assinala que a desesperança e o pessimismo podem ser revestidos pela ressurreição de Cristo, pois ela apresenta uma nova condição antropológica para a existência humana; bem como pela cruz que não nega o sofrimento, mas assinala que todos estão suscetíveis nesta condição humana, pois Jesus também recebeu cuidados quando de sua morte.

Por fim, o aconselhamento e a capelania cristã também são experiências construídas e contextualizadas pela riqueza do serviço cristão que se explicita no ato de cuidar do ser humano numa perspectiva bíblica. E essa tradição bíblica tem como eixo fundante e articulador o Cristo da Fé e o Jesus Histórico. No pri-meiro, se evidencia a celebração da Vida e no segundo se ressalta as contradições existenciais da Vida. Nessa dinâmica é que se encontram relacionadas funda-mentalmente o aconselhamento e a capelania cristã.

CONSIDERAçõES FINAIS

Caro aluno (a), esta nossa primeira unidade nos lançou no universo bíblico-teo-lógico. Nela visitamos e revisitamos textos clássicos e fundamentais da Fé Cristã que são imprescindíveis não só para os nossos intentos, como para todo e qual-quer objetivo que queira fundamentar o testemunho cristão.

Em nosso caso, olhamos firmemente para o campo da Teologia Prática, ou mais especificamente, para as áreas do Aconselhamento e da Capelania Cristã. Nesse sentido, quando estudamos a palavra “diaconia”, vimos como este

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ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ: MARCO BÍBLICO-TEOLÓGICO

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I

termo é rico e diverso, bem como aponta indelevelmente para o ser próprio do Cristianismo: servir ao mundo. Destacou o nome e o sobrenome dessa essência diaconal: Jesus Cristo, o servo por excelência. Assim, ficou límpido que o minis-tério cristão, guarda-chuva maior que abarca o Aconselhamento e a Capelania Cristã, é um instrumento de serviço no mundo, quer intra ou extraigreja.

Vimos ainda, juntos, o termo poimênica. Termo que deve ser entendido como ponto de partida e de chegada do aconselhamento cristão, e por que não dizer da Capelania Cristã também? Claro que sim. Esse termo alimenta essas duas atividades que, do ponto de vista bíblico-teológico, são instrumentos para pos-sibilitar ajuda e crescimento a todo aquele que se encontra necessitado. Contudo, esse termo guarda também as potencialidades inerentes ao ser humano; isso não pode ser esquecido quando se faz Aconselhamento e Capelania nessa perspec-tiva, pois o aconselhando não é um objeto, mas um sujeito em crescimento. Isso deve ser compreendido como um mote da ética da ajuda cristã.

Por fim, vimos cuidadosamente o verbo “cuidar”, ou o substantivo “cuidado”. Brincadeiras à parte. “Cuidar” e “cuidado” são as palavras, sem dúvida, que melhor interpretam, em última instância, toda e qualquer ação cristã. Nesse sentido, o oxigênio afetivo do Aconselhamento e da Capelania Cristã é justamente a boa nova de Salvação a todo aquele que crê: “Porque Deus amou (cuidou) do mundo de tal maneira que enviou o seu Filho unigênito para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha vida eterna” (João 3:16).

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COMuNIDADE DE Fé: ACONSELHAMENTO – MISSÃO E DIACONIA

“Enviou-os a pregar o Reino de deus e a curar os enfermos” (Lc 9.2). No afã de anun-ciar o Evangelho até aos confins da Terra, a Igreja centra-se muitas vezes na primeira parte deste mandato divino e esquece sua missão de “curar os enfermos”. o ser mis-sionário se dá de forma plena quando assumidas todas as dimensões do Reino. Anunciar o Reino implica, na sua essência, a ajuda ao próximo, pois o ensinamento pri-mordial de Jesus é o da caridade. Avaliando a ação da Igreja através da história, reco-nhece-se hoje a necessidade de retomar as características primeiras da comunidade de fé cristã, ou seja, a recuperação de sua ação de diaconia.

As crises na vida do ser humano suscitam questionamentos existenciais. É bom que eu exista? Por que eu existo? São pergun-tas que requerem respostas consistentes e efetivas para a vida da pessoa em crise. Estas perguntas podem ser resumidas na questão central: Como posso aceitar a vida passada e futura?

Esta pergunta primária, essência da busca de sentido do ser humano, aponta para além do mundo imamente. Ela expressa o desejo ilimitado do ser humano por felicidade, integridade, aceitação e paz consigo mesmo e com os outros. os cris-tãos acreditam que neste desejo pelo céu deus mesmo permanece na lembrança da humanidade. As crises na vida levam, como nenhuma outra experiência biográ-fica, a este desejo humano primário por deus. A pessoa afetada por crises se depara

irremediavelmente – quando se preocupa com estas questões - com a necessidade de deus.

É na comunidade de fé que a pessoa deve encontrar apoio e arrimo na busca por res-postas existenciais. Profissionais da área de Saúde Mental feriram por anos de sua história um direito fundamental do por-tador de transtornos mentais ao ignorar sua dimensão espiritual. dada a dificuldade de delimitar fé sincera e coerente como direito fundamental e a confusão mental relativa a elementos religiosos, optou-se não tocar neste aspecto da vida. Por outro lado, constata-se a dificuldade de institui-ções denominacionais para tratar questões religiosas abertamente de forma a respeitar o direito à liberdade religiosa. Subestimar as capacidades mentais e cognitivas dos pacientes em instituições psiquiátricas constituiu-se em um entrave para avançar nas reflexões sobre a experiência religiosa no campo da Saúde Mental.

Por parte das comunidades de fé cristãs coexistem os bons propósitos a partir do Evangelho que ensina a não fazer acep-ção de pessoas nas relações e cuidados e a crença milenar preconceituosa que vê as patologias mentais como possível castigo divino ou possessão demoníaca.

Para anunciar o Reino a todos – indiscri-minadamente – é preciso superar tais paradigmas e construir um novo modo de integrar portadores de transtornos men-tais nas comunidades. A comunidade de

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fé é o espaço privilegiado para a concreti-zação do Reino aqui e agora. É nela que o portador de transtornos mentais faz a expe-riência de um deus de amor e ternura. o encontro de cristãos comprometidos com os valores do Evangelho permite uma aproximação real com deus, mesmo que, dependendo do grau de transtorno mental,

não haja uma sistematização e compre-ensão da relação com a Transcendência. Antes da Palavra está a experiência. Se há limites para acolher a Palavra falada e sis-tematizada, o mesmo não acontece com a Palavra encarnada, pois esta remete direta-mente à experiência do sagrado, portanto, acessível a todos.

Geni HossFonte: <http://www.rcaap.pt/detail.jsp?id=urn:repox.ibict.brall:oai:est.edu.br:172>.

Acesso em: 26 dez de 2011.

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1. Como vimos nesta unidade, o termo “diákonos” é muito rico e diverso em sua significação. Aponte em que sentido Jesus é entendido como exemplo maior enquanto “diákonos”.

2. o estudo do termo “diákonos”, na perspectiva bíblica que vimos, é essencial para direcionar o Ministério Cristão, o qual também orienta o aconselhamento e a capelania cristã. diante disso, interprete a seguinte afirmação: “diaconia como um ministério da Igreja, a serviço da obra de deus, no mundo”.

3. Fundamentar, bíblica e teologicamente, é indispensável para toda e qualquer teoria ou prática cristã. Nesse sentido, elabore um texto, entre 4 e 8 linhas, que ressalte o sentido de poimênica, no que concerne às potencialidades próprias dos seres humanos.

4. A partir da elaboração teológica do cuidado como fundamento para o aconse-lhamento e capelania, aponte e argumente o porquê desse tema: “cuidado” é essencial para o exercício do aconselhamento e da capelania cristã.

5. Nesta unidade foram vistos os termos “diaconia”, “Ministério Cristão” e “Cuidado”. Vimos que esses três termos são importantes para uma compreensão bíblico-teológica do fazer aconselhamento e capelania cristã. Construa um texto argu-mentativo entre 5 e 10 linhas, a partir desta unidade, que expresse a importância desses termos para a atividade de aconselhamento e capelania cristã.

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Material CoMpleMentar

ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ: MARCO BÍBLICO-TEOLÓGICO

Luz da PoimênicaNeste link, você encontrará mais informações sobre o cuidado à luz da poimênica. Especificamente, o texto enfoca a questão do cuidado de pastores e pastoras.

http://www3.est.edu.br/biblioteca/btd/Textos/Mestre/oliveira_rmk_tm105.pdf

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UNIDADE II

Professor Me. Rubem Almeida Mariano

os FUnDAMenTos Do AConseLHAMenTo e DA CApeLAnIA CrIsTã

Objetivos de Aprendizagem

■ Conhecer as origens históricas do Aconselhamento e Capelania Cristã.

■ Assinalar os aspectos fundamentais das teorias em Aconselhamento e em Capelania Cristã.

■ Apontar atitudes em Aconselhamento e Capelania Cristã.

■ Identificar os objetivos principais do Aconselhamento e Capelania Cristã.

Plano de Estudo

A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

■ Aconselhamento e Capelania Cristã: Apontamentos Históricos

■ Fundamentos e Teorias em Aconselhamento Cristão

■ os Fundamentos da Capelania Cristã

■ Capelania Hospitalar

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INTRODuçÃO

“Assim como o corpo precisa do médico, a vida espiritual da pessoa precisa do capelão”.

Jung, G. In: Silva – Capelania Hospitalar e terapia da enfermidade: uma visão pastoral.

No contexto religioso de corte cristã, são duas as práticas, em especial, o Aconselhamento e a Capelania, que são marcadas pelo termo “ajuda”. Ambas se encontram no campo da Teologia Prática, bem como a liturgia, a educação, a pastoral e o cuidado (diaconia).

Especifi camente, como bem ressalta Barrientos (1991), o tema do aconselha-mento é bastante amplo e delicado, enquanto o tema da capelania ainda é pouco conhecido. Nessa área há questões polêmicas, como a utilização ou não de téc-nicas e procedimentos do aconselhamento psicológico para o aconselhamento ou a capelania cristã. Contudo, este livro tem o objetivo de ser didático, ou seja, ser uma introdução aos temas do aconselhamento e da capelania para a forma-ção universitária em Teologia. Não obstante, o leitor atento e interessado deve buscar na literatura especializada seu aprofundamento. É verdade, até então, que há bem mais material disponível em aconselhamento do que em capelania.

Diante disso, esta unidade desenvolve estudos nos campos da história e das teo-rias puras, bem como das teorias sobre as práticas do Aconselhamento e da Capelania Cristã. É importante ressaltar que focamos na área Hospitalar em Capelania e, ainda, que os conceitos, a natureza, os objetivos, o intento, as dimensões, os procedimentos, as atitudes, os instrumentos e os com-portamentos em Aconselhamento e Capelania Cristã foram observa-dos e abordados à luz de diferentes autores, uns bem conhecidos e outros menos pelo público especializado.

rias puras, bem como das teorias sobre as práticas do Aconselhamento e da Capelania Cristã. É importante ressaltar que focamos na área Hospitalar em Capelania e, ainda, que os conceitos, a natureza, os objetivos, o intento, as dimensões, os procedimentos, as atitudes, os instrumentos e os com-portamentos em Aconselhamento e Capelania Cristã foram observa-

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Introdução

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OS FUNDAMENTOS DO ACONSELHAMENTO E DA CAPELANIA CRISTÃ

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II

ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ: APONTAMENTOS HISTÓRICOS

Acompanhar, ajudar e fortalecer na fé sempre foi uma atividade própria da Igreja de Cristo. Flor (2010) observa três modelos básicos de aconselhamento cristão durante o período Antigo e Medieval:

a) poimênica como instrumento a serviço da disciplina eclesiástica” (cuidado com a fé para que ninguém se afastasse do caminho reto);

b) “poimênica como caminho de aperfeiçoamento da vida monástica” (cuidado com a vida interior e experiência mística de união com Deus);

c) “poimênica como função terapêutica” (na visão de luta entre poderes, era comum a busca de cura de males atribuídos aos espíritos imundos).

Outras referências históricas dessa atividade podem ser encontradas logo nos primeiros cem anos da Igreja Cristã. A história registra textos cuidadosos como, por exemplo, a Carta a uma Jovem Viúva, escrita por João Crisóstomo em 380; o “Livro de Cuidado Pastoral”, de Gregório, o Grande, no final do século VI ou a carta “Catorze Consolos Para os Exaustos e Sobrecarregados”, escrita por Martinho Lutero em 1520. Em cada um destes há a demonstração de um tempo na Igreja Cristã em que o cuidado era parte integrante do ensino e da vivência pastoral (FLOR, 2010).

Como é bom estar localizado ou contextualizado. Isso não é diferente quando estudamos o tema da capelania. Saber nossas origens, e, principalmente, os fun-damentos da nossa forma de pensar, bem como os motivos que estão na base de uma determinada ação ou atitude é sempre importante. Conforme Gentil, Guia e Sanna (2011):

Historicamente o termo “capelania” foi criado na França, em 1700 porque, em tempos de guerra, o rei costumava mandar para os acam-pamentos militares, uma relíquia dentro de um oratório, que recebia o nome de “Capela”. Essa capela ficava sob a responsabilidade do sa-cerdote, conselheiro dos militares. Em tempos de paz, a capela voltava para o reino, ainda sob a responsabilidade do sacerdote, que continuava como líder espiritual do rei, e assim ficou conhecido por capelão. Com o tempo, o serviço de capelania se estendeu aos parlamentos, colégios, cemitérios e prisões (p.1).

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Fundamentos e Teorias em Aconselhamento Cristão

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Silva (2010), ao tratar sobre a conceituação de capelania, observa que o termo aponta para o cargo, a dignidade e o ofício de capelão. Tal atividade é exercida por um religioso, católico ou protestante, responsável em prestar assistência reli-giosa e/ou realizar culto ou missa nas instituições que serve. É comum ter um local denominado capela em repartições públicas ou privadas, escolas, hospi-tais, quartéis, presídios, universidades etc., onde o capelão atende às pessoas e essas podem também exercitar a sua fé. Observa ainda Silva (2010) que é comum haver instituições que só têm capelão católico ou protestante, mas há também instituições que comportam as duas ramificações do cristianismo, bem como fora do país há outras religiões que também têm exercido essa mesma função.

Silva (2010) destaca em seu texto a importância do papel do capelão enquanto facilitador. Ele observa que Jung atribuía ao capelão o papel de sujeito facilita-dor do encontro do homem com a sua dimensão espiritual; assim como o corpo precisa do médico, a vida espiritual da pessoa precisa do capelão, compreendia Jung, conforme Silva (2010).

FuNDAMENTOS E TEORIAS EM ACONSELHAMENTO CRISTÃO

A compreensão tradicional de aconselhamento cristão pode ser identificada nas palavras de Cunha (2004) ao tratar sobre o tema citando Mack:

O aconselhamento para ser chamado cristão precisa possuir quatro ca-racterísticas: 1. Ser realizado por um cristão; 2. Ser centrado em Cristo (Cristo não é um adendo ao aconselhamento, mas é a alma e o coração do aconselhamento, a solução para os problemas. Isto contrata com o caráter antropocêntrico das psicologias modernas); 3. Ser alicerçado na Igreja (a Igreja é meio principal pelo qual Deus trás às pessoas ao seu convívio e as conforma ao caráter de Cristo); 4. Ser centrado na Escri-tura Sagrada (a Bíblia ajuda a compreender os problemas das pessoas e prover solução para os mesmos)” (p.1).

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OS FUNDAMENTOS DO ACONSELHAMENTO E DA CAPELANIA CRISTÃ

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

II

Contudo, tomemos em ter-mos o conceito advogado por Clinebell (2000), que vê o aconselhamento, o qual constitui uma dimensão da poimênica, como a “utilização de uma variedade de méto-dos de cura (terapêuticos) para ajudar as pessoas a lidar com seus problemas e crises de uma forma mais conducente ao crescimento e, assim, a experimentar a cura de seu quebrantamento” (p.25). Nesse sentido, o aconselhamento tem função reparadora quanto ao crescimento de uma pessoa.

É importante, inicialmente, nos localizarmos sobre qual modalidade de aconselhamento nós estamos nos referindo ou tratando aqui. Barrientos (1991) apresenta quatro tipos de aconselhamento:

1. Aconselhamento popularÉ o que ocorre nos relacionamentos diários das pessoas que trocam problemas e conselhos entre si.

2. Aconselhamento comunitárioEm muitos grupos latino-americanos, especialmente os de cultura indígena, existe essa prática de aconselhamento em grupo. Se uma pessoa tem dificuldades em seu lar recorre aos líderes da tribo, então eles, em grupo, escutam e aconselham.

3. Aconselhamento pastoralÉ uma prática exercida por um pastor junto a sua comunidade. Precisa de pre-paro e muita competência para tratar os mais diversos temas, como: problemas matrimoniais, relacionamentos entre pais e filhos, disputas entre irmãos na fé, dificuldades econômicas, dificuldades sobre a fé, falta de sentido na vida, homos-sexualidade, alcoolismo, vício de drogas, prostituição e problemas emocionais mais profundos.

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4. Aconselhamento profissionalEsse tipo de aconselhamento é exercido por conselheiros, psicólogos e psiquiatras. Esses são profissionais que o pastor pode e deve trabalhar junto, pois há proble-mas mais profundas na comunidade e por isso necessitam de um cuidado maior.

Nossos estudos assinalam o aconselhamento pastoral primeiramente, bem como o profissional, com destaque para o aconselhamento psicológico. Nossa perspectiva é o diálogo. Esse diálogo está imbuído pelo respeito e consideração entre os conhecimentos da Teologia e da Psicologia.

Avançando um pouco mais, Barrientos (1991) apresenta as cinco objetivos do aconselhamento, e ainda destaca que o mesmo não está indicado somente para os momentos de crise, mas é também um meio de ajuda, com isso corro-borando com a ideia acima de Clinebell (2000). Vejamos os cinco objetivos:

1. Relatar a situação que está enfrentando.

2. Obter uma visão global do problema, e não reparar apenas em detalhes.

3. Descobrir as causas.

4. Tomar decisões.

5. Amadurecer para que, em situações futuras, possa resolvê-los por si mesmo.

Mannóia (1985) também corrobora ao apresentar os seguintes objetivos:a. Auxiliar o indivíduo a alcançar o conhecimento e a aceitação de si mesmo.

b. Auxiliar o indivíduo a analisar rumos de ação alternativos.

c. Oferecer oportunidades ao indivíduo de escolher um modo de proce-der que seja viável.

d. Oferecer ao indivíduo uma situação na qual tome iniciativa e aceite se responsabilizar por ela.

Para Collins (1995), o aconselhamento tem os seguintes objetivos:

a. Estimular o desenvolvimento da personalidade.

b. Enfrentar mais eficazmente os problemas da vida, os conflitos íntimos e as emoções prejudiciais.

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OS FUNDAMENTOS DO ACONSELHAMENTO E DA CAPELANIA CRISTÃ

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

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c. Promover encorajamento e orientação para aqueles que perderam alguém querido ou que estejam sofrendo uma decepção.

d. Assistir as pessoas cujo padrão de vida lhes cause frustração e infelicidades.

e. Levar o indivíduo a uma relação pessoal com Jesus Cristo.

Collins (1995) ressalta, ainda, os seguintes alvos do aconselhamento:

a. Autocompreensão – compreender a si mesmo é o primeiro passo para a cura.

b. Comunicação – é essencial para a pessoa. Isso envolve a expressão da pessoa e a capacidade de receber mensagens corretas por parte de outras.

c. Aprendizagem e Modificação de comportamento – desenvolver com-portamentos adequados e abandonar os inadequados é essencial para o aconselhando.

d. Autorrelização – desenvolver uma vida realizada em Cristo, na força do Espírito Santo, em que nota-se o amadurecimento espiritual do aconse-lhando.

e. Apoio – o aconselhando em situações de crise pode necessitar de apoio

para enfrentá-las.

Já Clinebell (2000) apresenta o seguinte quadro de áreas funcionais onde há opor-tunidades dentre as quais o aconselhamento se desenvolve de maneira efetiva:

FUnçãopoIMênICA

expressões

HIsTÓrICAs

expressões ATUAIs eM poIMênICA

e AConseLHAMenTo

Curaunção, exorcismo, san-tos e relíquiasm curan-deiros carismáticos.

Psicoterapia pastoral, cura espiritual, aconselhamento e terapia matrimo-nial.

Sustentação

Preservar, consolar e consolidar.

Poimênica e aconselhamento de apoio, aconselhamento em casos de crise, poimênica e aconselhamento em casos de luto ou perda.

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FUnçãopoIMênICA

expressões

HIsTÓrICAs

expressões ATUAIs eM poIMênICA

e AConseLHAMenTo

Orientação

dar conselhos, exorcís-mo, escutar.

Aconselhamento educativo, tomada de decisões em curto prazo, aconse-lhamento de confrontação, orienta-ção espíritual.

ReconciliaçãoConfissão, perdão, disci-plinamento.

Aconselhamento matrimonial. Acon-selhamento existencial (Reconcilia-ção com deus).

Nutrição

Treinamento de mem-bros, novos na vida cris-tã, educação religiosa.

Aconselhamento educativo, grpos de crescimento, enriquecimento do matrimônio e da famíliam assistência para a possibilidade de crescimento através de crises desenvolvimentais.

Clinebell (2000) observa que o fim último do aconselhamento é o crescimento espiritual integral das pessoas. Para isso, o conselheiro deve utilizar os instru-mentos que são próprios ao cristianismo, como:

■ A bíblia.

■ A oração.

■ A visitação.

■ A meditação.

■ A exortação.

■ O perdão.

■ A comunhão, dentre outros.

Se assim podemos nos referir, esses instrumentos têm o objetivo de poten-cializar esse crescimento espiritual integral à luz da ação do Espírito Santo.

Nessa perspectiva, Clinebell (2000) observa, ainda, seis dimensões da inte-gralidade da vida de uma pessoa:

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1. Avivamento da sua mente.

2. Revitalização de seu corpo.

3. Renovação e enriquecimento de seus relacionamentos íntimos.

4. Aprofundar sua relação com a natureza e a biosfera.

5. Crescimento em relação às instituições significativas em sua vida.

6. Aprofundamento e vitalização de seu relacionamento com Deus.

Castro (1974) faz a seguinte pergunta: qual será a meta da atividade pastoral? Ele mesmo responde assim “logicamente como todo conselheiro, procura ajudar a recuperar a saúde plena da personalidade do aconselhando” (p.182). Nessa dire-ção, Castro (1974) destaca as seguintes questões do aconselhamento:

a) A capacidade de uma pessoa de ter o controle sobre seu próprio destino.

b) Fazer suas próprias escolhas.

c) Ser responsável tanto no desenvolvimento de suas ações como nos resul-tados das mesmas.

É fundamental ressaltar que Castro (1974) assevera que tais questões do aconse-lhamento, que se apresentam como objetivos que devem ser tomados dentro da seguinte perspectiva: “vão acompanhados normalmente por uma militância ser-viçal, uma atitude vicária em relação com o mundo, com o exemplo de Zaquel” (p. 183), ou seja, servir ao Senhor Jesus Cristo.

Schipani (2004) parte dessa mesma direção quando observa que:[...] o aconselhamento pastoral é um ofício e uma forma especial do ministério do cuidado pastoral na Igreja. No aconselhamento pasto-ral, o emergir humano é promovido de maneira especial por meio de uma forma distinta de caminhar com as pessoas, casais e membros de famílias ou pequenos grupos, no momento em que enfrentam desafios e dificuldades na vida. O objetivo maior, termos simples, é que vivam sabiamente à luz do Deus (p.97).

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Por isso, para Schipani (2004) aconselhamento pastoral deve ser entendido teo-logicamente como:

a) Adoção da sabedoria à luz de Deus como a metáfora fundamental que reconstrói a estrutura teórica e os fundamentos teológicos do aconselha-mento pastoral em solo firme.

b) Integração das perspectivas psicológicas e teológicas à luz da sabedoria de Deus como o princípio digno para orientar, compreender e realizar um tipo de aconselhamento pastoral ao mesmo tempo plenamente acon-selhador e plenamente pastoral.

c) A luz de Deus que define a natureza e a orientação de forma do ministé-rio cristão, de modo que prontamente reconhecemos as dimensões éticas e o contexto moral do aconselhamento.

d) A luz de Deus que orienta os aconselhadores pastorais a caminharem com os outros na esperança de construir uma sociedade de liberdade, justiça, paz, amor e integridade e os chama, de forma singular, a se tornar em terapeutas para um mundo melhor.

Schipani (2011) observa ainda que em aconselhamento pastoral é imprescindível que se tenha claro que cada situação requer formulação de objetivos específicos, bem como, em cada situação, que se apliquem estratégias próprias. Contudo, há também de se reconhecer que há muitas ocorrências em comum que apontam para um propósito geral ou fundamental, o qual, nesse caso, é a sabedoria à luz de Deus. Portanto, o propósito mais amplo de crescer em sabedoria inclui três aspectos inseparáveis para se buscar alívio e resolução, advoga Schipani (2011):

1. Crescimento na visãoA experiência do aconselhamento pastoral tem de ser orientada para ajudar o aconselhando a encontrar novas e melhores formas de conhecer e compreender a realidade, incluindo as dimensões da sua própria pessoa, o mundo social, as ameaças do vazio e a realidade da graça do Sagrado.

2. Crescimento em virtudeA experiência do aconselhamento deve convidar o aconselhando a descobrir

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OS FUNDAMENTOS DO ACONSELHAMENTO E DA CAPELANIA CRISTÃ

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maneiras de ser e amar mais satisfatoriamente, com particular ênfase na sua relação com outras pessoas - especialmente amigos, familiares e colegas de tra-balho - com o Espírito de Deus e consigo mesmo.

3. Crescimento em vocaçãoA experiência de aconselhamento pastoral procura capacitar o aconselhando a tomar boas decisões e investir energias novas em relacionamentos interpesso-ais, profissionais, nas horas de descanso, lazer, alimentação espiritual, serviço, e encontrar formas de apoiar essas decisões com integridade. É fundamental encontrar uma orientação para a vida que seja mais livre e esperançosa, em meio à situação social que vivemos.

Portanto, Schipani (2011) entende que o propósito geral do aconselhamento pastoral é ajudar o aconselhando a descobrir como viver uma vida mais ínte-gra, moral e plena.

Brister (1980), ao tratar da natureza do aconselhamento pastoral, observa que há muitos problemas, dos mais diversos possíveis, entre as pessoas hoje. Tal realidade assinala a necessidade de um melhor preparo por parte de pastores e pastoras, bem como liderança religiosa como um todo, incluindo entendimento técnico e busca por resultados efetivos. Deve-se reconhecer que o aconselhamento pastoral não é uma atividade nova, por mais que tenha ganhado visibilidade atualmente, como nos cursos de formação teológica e na própria comunidade cristã, ele é muito antigo.

Em seu estudo pela compreensão da natureza do aconselhamento pastoral, Brister (1980) destaca os seguintes elementos:

a) O aconselhamento pastoral pressupõe um diálogo entre Deus e o ser humano, na perspectiva da Fé Cristã. Seja em que situação for, Deus sem-pre se fará presente nessa relação (Mt. 18:20), por isso em certo sentido, do ponto de vista teológico, a experiência do aconselhamento deve ser compreendida como uma oração, uma conversa com Deus na presença de outra pessoa. Que responsabilidade nossa, você não acha?

b) O aconselhamento pastoral tem como contexto o ambiente cristão e recursos ou fontes únicas. Ou seja, sempre está relacionado à igreja e ao contexto tipicamente comunitário. Como, por exemplo, na visão dos

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membros da comunidade um conselheiro pastor é um guia espiritual. Ele pode até não usar desse poder, mas tal realidade é difícil de desvencilhar. Por isso, cabe ao conselheiro possibilitar ajuda adequada à pessoa, opor-tunizando para que ela tenha um melhor entendimento da sua situação e das condições proporcionadas por essa relação de ajuda.

c) O aconselhamento pastoral é distinto das outras modalidades de aconse-lhamento profissional, por exemplo, pois ele é um processo de conversação entre um pastor responsável e um indivíduo preocupado ou grupo íntimo, com a intenção de permitir que tais indivíduos resolvam as suas preo-cupações, e assim, possam atingir uma ação construtiva. Nesse sentido, é fundamental a criação de vínculos antes mesmo de qualquer utiliza-ção de técnica.

OS FuNDAMENTOS DA CAPELANIA CRISTÃ

No que se refere à capelania deve-se observar, inicialmente, que é uma ação que nasce a partir da interação e da relação de ajuda, de auxílio, de cooperação e de cuidado humanizado, onde a marca principal é a da solidariedade e da fraternidade, conforme Souza (2006).

Segundo Barros (2008), Capelania é uma atividade cuja missão é colaborar na formação integral do ser humano, oferecendo oportunida-des de conhecimento, reflexão, desenvolvimento e aplicação dos valores e princípios ético-cristãos e da revelação de Deus para o exercício saudá-vel da cidadania.

Na atualidade há diversas modalidades de Capelania, contudo se destacam entre as mais conhecidas:

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■ Educacional.

■ Carcerária.

■ Hospitalar.

■ Militar.

■ Empresarial.

Essas modalidades já estão em todo Brasil, devidamente reconhecidas por lei com uma longa folha de serviços prestados à sociedade, como é o caso da cape-lania militar.

O capelão, seja qual for o contexto em que os tiver inserido, tem a missão de ajudar a pessoa em seu crescimento utilizando os instrumentos próprios da ajuda cristã ou pastoral, os quais já foram citados acima a bíblia, a oração, a visi-tação, a meditação, a exortação, o perdão, a comunhão, dentre outros.

Nesse sentido, cabe ao capelão desenvolver procedimentos contextualiza-dos à sua área de ação, ou seja, escola, universidade, quartel, presídio, hospital buscando sempre uma atuação em equipe, mas que ressalte as contribuições específicas e próprias do trabalho espiritual; sempre ciente de que a pessoa é um ser de várias dimensões, e por isso ele deve exercer seu trabalho à luz da interdisciplinaridade.

CAPELANIA HOSPITALAR

Um bom exemplo é a atuação do capelão no hospital. Esse contexto tem suas especificidades, sendo muitas vezes marcado por contradições que lhe são pró-prias, como:

a) De um lado, o adoecer, a doença, o morrer e a morte.

b) De outro, a convivência com diversos profissionais da área da saúde e áreas afins que, independente de suas possíveis crenças, têm uma for-mação profissional específica que pauta a sua atuação, como é o caso da enfermagem, da medicina, da fisioterapia, da psicologia, da assistência social, da administração dentre outras.

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A capelania hospitalar é uma ativi-dade que remonta a datas longínquas da nossa história, por volta dos cem primei-ros anos da Era Cristã, conforme Silva (2010). Hoje ela já é respeitada e presente positivamente nos hospitais. Quem faz uma exposição muito interessante sobre a capelania hospitalar em nossos dias é Silva (2010). A seguir, transcrevemos algumas de suas principais ideias sobre essa ques-tão. Vejamos:

Silva (2010) localiza a capelania hospitalar no contexto da teologia pastoral, mais especificamente na tradição da Teologia Prática, que tem sua origem nos estudos de Schleiermacher (1768-1834). Este Teólogo foi responsável por chamar a atenção dos estudos teológicos para a prática pastoral como uma área autô-noma, pois compreendia que a riqueza da teologia está justamente em sua ação ou aplicabilidade. Nesse sentido, o teólogo brasileiro Zabatieiro (2005) observa que toda teologia é prática, no sentido de finalidade mais premente.

Silva (2010) faz o seguinte comentário sobre a localização da capelania hos-pitalar no contexto da Teologia Prática:

A capelania hospitalar se insere na chamada ‘’teologia prática’’ como o serviço cristão da Igreja ao mundo dos doentes, nas casas, nos hospi-tais. Com o objetivo de ajudá-los a partir da fé, da esperança e da cari-dade, em sua luta pela recuperação de sua saúde ou pela cura integral da aceitação e da humanização dos últimos momentos da existência mediante o diálogo...

O serviço de capelania hospitalar consiste num ministério de apoio, fortalecimento, aconselhamento e consolação, desenvolvidos junto aos enfermos e seus familiares, funcionários e médicos do hospital... É um serviço de dimensão holística, que considera o enfermo uma unidade pluridimensional. Consiste em levar conforto em horas de angústia, in-certeza, aflição, desespero e compartilhar o amor de Deus por meio de atitudes concretas: presença; gestos; palavras; orações; textos bíblicos; música e silêncio. A capelania hospitalar é uma organização religiosa interdenominacional com a finalidade principal de prestar assistência espiritual em instituições hospitalares...

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OS FUNDAMENTOS DO ACONSELHAMENTO E DA CAPELANIA CRISTÃ

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A capelania colabora na formação integral do ser humano, oferecendo oportunidade de conhecimento, reflexão, desenvolvimento e aplicação dos valores e princípios éticos, na revelação de Deus para o exercício da cidadania. A capelania realiza também a assistência espiritual, social e emocional às famílias de enfermos, equipes de saúde dos hospitais e estudantes de medicina.

De acordo com Bautista, a capelania hospitalar tem como característica ser um serviço sanativo, porque pretende a apropriação da realidade pessoal até o último instante de vida. Esse serviço (diaconia) exige, em primeiro lugar, a colaboração dos cristãos próximos ao mundo do en-fermo, especialmente os agentes mais idôneos, desde os pastores, diá-conos e os leigos que vivem e conhecem o contexto hospitalar e podem ajudar nas atividades no hospital. Esse trabalho é baseado no conceito de “atendimento integral” em que o paciente tem uma aceitação melhor da hospitalização e tem mais chances de um rápido reestabelecimen-to por ter também contemplados os aspectos espirituais e emocionais. (p.p 26-27)

Teologicamente, Silva (2010) lembra que como toda ação pastoral, a capelania hospitalar está fundamentada na própria prática de Jesus, pois Ele atendeu e cuidou dos enfermos e doentes de sua época, em um contexto bem peculiar de pobreza e de contradições socioeconômicas. O próprio testemunho bíblico do Novo Testamento assinala que Ele atendia os que sofriam, curando-os e anun-ciando o Reino de Deus, de vida e paz.

Silva (2010) observa o papel imprescindível do capelão ao afirmar:O profissional da saúde nem sempre está preparado para trazer rela-ções saudáveis de ajuda. Depois de esgotadas todas as possibilidades técnicas e feito todo o possível do ponto de vista clínico, justamen-te, então, estaremos diante do momento de maior vulnerabilidade e de maior necessidade do enfermo. E quase sempre nessa situação, os profissionais da saúde deixam o doente sozinho e desamparado. Por diversos fatores alheios a nossa vontade, não se leva a sério com a de-vida frequência, intensidade e consideração, a máxima de que o doente deve ser protagonista da visita do médico, da enfermeira e do visitador. Deve, portanto, ser o centro do hospital e de todo o sistema de saúde. Por isso, precisamos fortalecer a redescoberta da capelania hospitalar, uma capelania da humanização e da vida para com os doentes, espe-cialmente os marginalizados, esquecidos e abandonados. (p.p. 27-28)

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Considerações Finais

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Portanto, a Capelania Cristã é uma atividade legitima do ambiente teológico, especificamente do ambiente pastoral, o qual tem no universo bíblico sua prin-cipal inspiração, na própria ação e atitude de Jesus Cristo diante dos enfermos, os quais em estado de vulnerabilidade encontravam alento e esperança de cura. E, assim, hoje a Capelania Cristã é uma realidade que continua seguindo essa boa tradição de Jesus Cristo, como uma atividade parceira, em especial, dos pro-fissionais da saúde no contexto hospitalar.

CONSIDERAçõES FINAIS

Nossos estudos nos revelaram que tanto o Aconselhamento quanto a Capelania Cristã remonta de uma datação longínqua, contudo, ambas foram mais recen-temente tomando a forma que temos nos estudos clássicos modernos. Ambas seguem a mais pura tradição cristã de ajuda aos necessitados e aos que sofrem.

Vimos conceitos, objetivos e finalidades, bem como teorias sobre Aconselhamento Cristão. Vimos também que algumas teorias ora enfatizaram os fundamentos, ora enfatizaram as finalidades. Observamos ainda a riqueza de argumentos puramente teóricos e teorias sobre a prática, bem como argumen-tações ricas teologicamente.

Sobre a Capelania Cristã foi dado um tom apenas introdutório e panorâmico. Focou-se mais especificamente na capelania hospitalar. É importante ressaltar que essa área será mais bem desenvolvida quando forem tratados o perfil e o papel do capelão, na Unidade IV desta disciplina.

Por fim, esta unidade teve como objetivo tornar mais evidente ao leitor os fundamentos teóricos e práticos do Aconselhamento e da Capelania Cristã, e assim possibilitar informações básicas, fundamentais e técnicas sem as quais essas áreas ficam apenas no campo do voluntarismo desprovido de toda sorte de competências.

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CAPELANIA HOSPITALAR

Levando o amor de Cristo aos enfermos e necessitados

Atuar nos hospitais levando o amor de deus, Seu consolo e alívio num momento de dor. Esta é a principal missão da Capelania Hospitalar, que, através de gestos de solidarieda-de e compaixão, tem levado a Palavra de deus não só aos pacientes, mas também aos seus familiares, sem esquecer ainda dos profissionais de saúde, tantas vezes vivendo situações de estresse ou mesmo passando por momentos difíceis. os capelães respei-tam a religião de cada paciente sem impor nada, apenas levando a Palavra àqueles que desejarem.

O que faz um capelão?

o capelão, integrante da equipe multidisciplinar de saúde, é uma pessoa capacitada e sensível às necessidades humanas, dispondo-se a dar ouvidos, confortar e encorajar, ajudando o enfermo a lutar pela vida com esperança em deus e na medicina. oferece aconselhamento espiritual e apoio emocional tanto ao paciente e seus familiares, como aos profissionais da saúde. É importante elo com a comunidade local.

REAçõES DO ENFERMO PERANTE A DOENçA

diante da enfermidade a pessoa se vê tolhida de sua liberdade de ser ela mesma, não pode desempenhar suas atividades e sente-se ameaçada quanto a seu viver ou futuro. A reação diante de tudo isso é uma atitude psicológica chamada de MECANISMo dE dEFESA, classificada como inconsciente.

Eis algumas reações dessa natureza:

■ REGRESSão – o paciente se torna dependente dos outros, sem autonomia, adotando atitudes infantis, exagerando desproporcionalmente a gravidade do seu caso; recla-ma sem fundamento e constantemente do atendimento e da alimentação; queixa-se que os parentes ou conhecidos não o visitam.

■ FoRMAção REATIVA – os impulsos e as emoções censuradas como impróprias as-sumem uma forma de expressão contrária, aceitável para o consciente. No caso de doenças longas ou piora gradativa, o paciente afirma que está sendo perseguido pe-los funcionários do hospital, adotando uma atitude defensiva e agressiva, pois estes representam sofrimento para ele. Pragueja, xinga, acusa os familiares de falta de inte-resse, que os médicos são irresponsáveis.

■ NEGAção – Ao tomar conhecimento do diagnóstico, o paciente se recusa a aceitar que esse problema de saúde é dele. A negação funciona como uma proteção contra a angústia. Ele acha que o resultado está errado, que outro médico deve ser procurado

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e continua tentando viver como se a enfermidade não existisse, evitando falar sobre o assunto. A negação pode ocorrer em crentes que adotam uma atitude triunfalista ao afirmarem: “Em nome de Jesus já estou curado, deus não permitirá que eu seja operado”.

REAçõES DOS FAMILIARES DO ENFERMO

A família acaba sendo afetada e as reações negativas podem ser a de estresse psíquico, ocorrendo desgaste físico e até depressão. A família se organiza nas suas funções, ocor-rendo sobrecarga para alguns membros familiares e até a omissão de cuidados. A vida sócio-econômica também pode mudar radicalmente devido as perdas. os familiares prejudicam o tratamento se forem excessivamente desconfiados em relação à equipe do hospital, com muitos questionamentos ou palpites. Alguns familiares se sentem cul-pados ou transferem a culpa ao paciente. Também podem se sentir vítimas do destino, castigo de deus ou retaliação do inimigo. o enfermo muitas vezes precisa se esforçar para acalmar a família. Conforme a enfermidade, alguns familiares entram em crise de desespero, tirando a tranqüilidade do paciente.

QuALIFICAçõES PARA VISITAçÃO

■ Vários requisitos necessários do visitador:

■ Ter sabedoria e humildade para saber que você não é melhor do que ninguém;

■ Cultivar uma personalidade amável, agradável, cativante;

■ Ter habilidade de comunicar-se;

■ Ter humor estável;

■ Ter respeito às opiniões religiosas divergentes;

■ Ter discernimento e sensibilidade na conversação;

■ Saber guardar as confidências dos pacientes;

■ Saber usar a linguagem e forma de abordagem a cada pessoa;

■ dar tempo e atenção ao paciente visitado;

■ Ter sensibilidade para com discrição, sentir quando é o momento mais oportuno para visitar;

■ Saber evitar a intimidade e não invadir a privacidade alheia;

■ Saber ouvir.

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PRINCÍPIOS A SEREM ObSERVADOS NA VISITAçÃO A ENFERMOS

■ Bater à porta.

■ Pedir licença ou cumprimentar só verbalmente (a menos que o paciente estenda a mão).

■ Se apresentar como pastor (a); obreiro (a).

■ Se oferecer para orar (respeitar as negativas) pedindo o favor de abaixar o volume do rádio ou TV.

■ Convidar as pessoas do ambiente pra ouvirem a leitura bíblica e oração.

■ Caso o enfermo estiver no banho, fazendo curativos ou algum exame,

RETORNE POSTERIORMENTE

■ Se a enfermeira estiver atendendo o paciente ou o médico estiver presente no quarto, REToRNAR PoSTERIoRMENTE.

■ Se o paciente está com algum mal-estar (vômito, dor, confuso), abreviar a visita.

■ Às vezes o paciente faz as seguintes solicitações: para ajeitá-lo no leito, pede água ou algum alimento, solicita medicação. TodAS essas solicitações devem ser atendidas pelo serviço de enfermagem. Por isso, responda ao paciente que ele deve fazer esse pedido a enfermeira, ou em alguns casos (queda do paciente, escapou o soro) avisar o ocorrido no posto de enfermagem.

■ Em alguns casos quando o paciente apresenta um quadro de contaminação, é colocado um cartaz de alerta e de instruções na porta do quarto. Na dúvida, perguntar no posto de enfermagem e que deve fazer para entrar no quarto (utilizar máscara, luva, etc).

PRINCÍPIOS FuNDAMENTAIS

o objetivo da visita Não É doutrinação, mas atender à necessidade do paciente; a visita deve ter um propósito: conforto, consolo para quem sofre. Muitas vezes, a tentação de “pregar” e apresentar o seu discurso faz com que muitos se esqueçam de que estão num hospital, desvirtuando, assim, todo o propósito da visita;

■ Quando tiver dúvidas sobre a situação do paciente, procure a enfermeira.

■ Ter discernimento para dosar o tempo da visita;

■ Não demonstre “pena” do paciente;

■ Mostre seu interesse pelo paciente, mas sem exageros;

■ Preste atenção naquilo que o paciente está falando, verificando quais são suas preo-cupações;

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■ Não conduza a sua conversa de tal maneira que exija do paciente grande concentra-ção e esforço mental para acompanhar (ele pode estar sob o efeito de medicamentos);

■ Ao paciente que acha que não será curado, encoraje. Mas, faça-o com prudência, sem promessas infundadas;

■ Não fale sobre assuntos pavorosos;

■ Nunca pratique atos exclusivos de auxiliar de enfermagem, tais como: dar água ou qualquer alimento, ou locomover o paciente, mesmo que seja a pedido dele;

■ Nunca discuta sobre a medicação com os pacientes;

■ Mantenha os segredos profissionais (num leito de hospital o paciente fala muita coisa de si mesmo e de sua vida pessoal);

■ Nunca comente nos corredores do hospital, ou fora deles, o tipo de conversa ou enca-minhamento de sua entrevista mantida com o paciente;

■ A ética deve ser rigorosamente observada. Tome muito cuidado!

■ Não cochiche! Pacientes apresentam alto nível de desconfiança;

■ Aproveite a oportunidade como se fosse a única. Na medida do possível, o ministério junto ao enfermo, dentro de um hospital deve ser completo, numa “dose única”;

■ Evite a intimidade excessiva, não invadindo a privacidade alheia (tanto do paciente quanto do seu acompanhante);

■ Respeite a liberdade do paciente quando ele não quiser (ou não estiver preparado para) falar sobre seus problemas;

■ Nunca tente ministrar o enfermo quando ele está sendo atendido pelo médico ou pela enfermeira, ou quando estiver em horários de refeições, ou quando a situação im-possibilite (familiares, telefonando ou algo importante que ele está assistindo na TV);

■ Não faça promessas de qualquer espécie (cura, conseguir medicação, maior atenção dos profissionais de saúde, transferências, conseguir entrevista com o diretor). o pró-prio hospital tem meios de solucionar essas solicitações;

■ Em caso de possessão demoníaca, elas precisam ser discernidas;

■ Preste atenção nos cartazes afixados na porta do quarto, pois eles orientam por qual motivo você não pode entrar naquele momento ou quais os cuidados você deve to-mar ao entrar no quarto. Talvez seja proibida a entrada por causa de curativo, troca de bolsa em pacientes renais, proibição de visita por ordem médica. o paciente pode estar isolado por causa de problemas de contágio e o cartaz estará orientando se for necessário utilizar máscara, jaleco, luvas ou evitar tocar no paciente. Também pode estar tomando banho;

■ Evitar apertar a mão do paciente, a não ser que a iniciativa seja dele;

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■ Nunca sentar-se na cama do paciente, evitando assim contaminar o doente ou ser contaminado por ele. Quando o paciente está em cirurgia, os lençóis ficam enrolados, não devendo NINGuÉM sentar ali;

■ Procurar estar numa posição em que o paciente veja você;

■ Cuidado se a sua voz for estridente;

■ Se for insultado, reaja com espírito cristão;

■ Em suas conversas, orações, leituras de textos, fale em tom normal. Evite a forma dis-cursiva e com voz estridente, a não ser que seja em ambiente amplo.

■ observar se o paciente está com mal-estar (náuseas ou dor), procurando abreviar ao máximo a visita.

ATITuDES ADOTADAS PERANTE O PACIENTE E O CORPO CLÍNICO:

Para o paciente, o médico é a pessoa mais importante no hospital, em quem ele depo-sita a sua confiança. É a visita que ele deseja ansiosamente; portanto, quando chegar o médico, procure encerrar o assunto ou oração ou retirar-se discretamente. Evite dar pal-pites sobre o tratamento do paciente ou sobre a conduta do médico. Procure trabalhar em harmonia com o pessoal da enfermagem, pois os pacientes dependem deles.

APLICAçÃO bÍbLICA

Sabemos que a enfermidade é proveniente da raça humana em pecado. Em muitas si-tuações a enfermidade surge por culpa direta do próprio indivíduo que não cuida do seu corpo como deveria, ou por causa da violência urbana. Mesmo que o indivíduo seja culpado de sua situação, devemos levar-lhe uma mensagem que Jesus deseja lhe dar saúde total, tanto no corpo como na alma, pois Ele disse: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância“ (João 10:10).

A mensagem que se dve trazer ao enfermo é a mensagem bíblica de esperança e con-solo. Essa mensagem é verbal através da leitura bíblica, oração e aconselhamento. Tam-bém, através de expressão corporal, tais como expressão de carinho, sorriso e demons-tração de empatia.

Encontraremos na Bíblia textos relacionados às mais diversas necessidades do ser hu-mano. São esses textos que devem ser apresentados aos pacientes na esperança de des-pertamento de fé nas promessas de vida.

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Eis alguns assuntos relacionados ao estado de espírito dos pacientes:

■ Aflição – Salmos 34:19 – 86:1 – 119:107 – João 14:1,27

■ Angústia – Naum 1:7 – Salmo 4:1 – 18:6 – 60:11 – 119:50

■ Ansiedade – Salmos 46:10 – Mateus 6:31-34 – Filipenses 4:6-7 – I Pedro 1:7

■ Cansaço – Mateus 11:28-30

■ Choro – Salmos 30:2-5 – Apocalipse 21:4

■ desânimo – Salmos 42:11 – Provérbios 18:14 – Filipenses 4:13 – Hebreus 12:3

■ deus se compadece – Isaías 38:18 – Lamentações 3:22-26 – 2 Coríntios 1:3-5

■ direção divina – Salmos 37:5 – João 3:27

■ dor – Salmos 41:3 – Isaías 43:4,5

■ Fraqueza – deuteronômio 32:39 – Salmos 31:24 – Isaías 12:2 – 41:10 – oséias 6:1 – 2 Coríntios 12:7-10

■ Impaciência – Salmos 27:13-14 – 37:8

■ Medo – Salmos 34:4

■ Morte – Ezequiel 18:32 – Salmos 68:20 – Hebreus 2:14-15

■ oração – Salmo 5:1-3 – 66:20 – Lucas 11:9-13

■ Pobreza – Salmos 40:17 – 70:5

■ Preocupações – Salmos 55:22

■ Raiva – Salmos 37:8 – I Tessalonicenses 5:16-18.

■ Sofrimento – Salmos 22:11 – 34:6 – 57:1 – 2 Coríntios 16:18 – Hebreus 12:4-13

■ Solidão – Salmos 16:1

■ Presença divina – deuteronômio 31:8

Fonte: <http://www.imwacao1.com.br/hospitalar.html>Acesso em: 26 dez. de 2011.

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1. Quando se trata sobre a conceituação de Aconselhamento e Capelania Cristã, se sobressai a palavra “cuidado”. Cite dois ele-mentos históricos que localizem essas atividades ao longo da história.

2. uma das atividades essenciais da academia é capacitar o edu-cando a construir entendimentos, bem como precisar concei-tos. diante disso, elabore e explique os conceitos de aconselha-mento e Capelania cristã a partir dos estudos feitos sobre esses temas nesta unidade.

3. Esta unidade foi rica em demonstrar objetivos e propósitos sobre aconselhamento cristão. desenvolva um texto de 5 a 10 linhas, que tenha como competência ressaltar os objetivos es-senciais do aconselhamento cristão a partir das concepções de Collins e de Clinebell.

4. Atualmente, há diversas construções teóricas sobre aconselha-mento cristão ou pastoral. Vimos várias nesta unidade, entre elas a de autoria de Schipani. Posto isso, liste os pontos positi-vos da concepção de Schipani para a prática do aconselhamen-to pastoral.

5. Capelania cristã é uma atividade que hoje goza de respeito e consideração. Sua atividade já é reconhecida pelo governo em nosso país, prova disso é a capelania militar. A partir da Leitura Complementar “Capelania Hospitalar –Levando o amor de Cris-to aos enfermos e necessitados” e dos estudos realizados sobre capelania hospitalar, discuta qual a importância dessa atividade para o atendimento de enfermos no contexto hospitalar.

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Material Complementar

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Material CoMpleMentar

Conselho Federal de Capelania HospitalarEste link remete você ao site do Conselho Federal de Capelania Hospitalar. Nele há diversas informações sobre esse tema, bem como cursos e orientações básicas.http://www.capelaniafederal.org

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OS FUNDAMENTOS DO ACONSELHAMENTO E DA CAPELANIA CRISTÃ

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

II

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UNIDADE III

Professor Me. Rubem Almeida Mariano

TeoLoGIA e prÁTICAs eM AConseLHAMenTo CrIsTão

Objetivos de Aprendizagem

■ Listar procedimentos adequados ao conselheiro em Aconselhamento Cristão.

■ Identificar a natureza do Aconselhamento Cristão.

■ Conhecer técnicas de intervenção em Aconselhamento Cristão.

■ descrever as técnicas diretivas e não diretivas.

Plano de Estudo

A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

■ Propostas, técnicas e comportamentos em Aconselhamento Cristão

■ Promovendo o diálogo com o aconselhando

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INTRODuçÃO

“Não basta dizer-se vocacionado para o ministério pastoral ou para o ministério do aconselhamento para ser bem-sucedido nestas ativida-des. Ser vocacionado não é uma garantia de que as coisas darão certas. Prova disso é o grande número de ministérios que dá errado e de igre-jas com problemas muitas vezes causados por pastores. E, da mesma forma, de conselheiros que não conseguem ajudar as pessoas. Há algo mais além da chamada e da boa vontade em fazer a obra”.

Coelho Filho, em De perfil e Atributos do conselheiro Bíblico.

Caro aluno, esta unidade tem como objetivo abordar, os procedimentos ade-quados do conselheiro, bem como refletir sobre a natureza do Aconselhamento Cristão de forma introdutória.

Esta unidade também tem a missão de desenvolver as técnicas de intervenção como forma de lembrar a todos os nossos leitores que a arte de aconselhar hoje necessita muito mais do que boa vontade, como temos frisado; hoje se faz neces-sário conhecimento, ou como diz um amigo, meu pastor e doutor em Psicologia, é necessário ter tecnologia para aconselhar. Pois quem está do outro lado são pessoas que vivem em estado de sofrimento ou que precisam de orientações e não podem continuar sofrendo mais do que estão. Portanto, cabe àqueles que se sentem chamados cuidar de sua formação, preparando-se de forma adequada para essa atividade. Esta unidade quer singelamente contribuir nesse processo.

Fundamentalmente serão abordadas técnicas de intervenção em Aconselhamento Cristão, com destaque para os métodos diretivos e não diretivos.

PROPOSTAS, TéCNICAS E COMPORTAMENTOS EM ACONSELHAMENTO CRISTÃO

Quando se pensa na atuação do conselheiro cristão, necessariamente se deve con-siderar propostas, técnicas e atitudes em aconselhamento. A seguir, estaremos

Introdução

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III

expondo algumas delas, as quais não são inéditas, mas procuramos identificar de maneira básica e fundamental quais devem ser os procedimentos e ações do conselheiro no contexto pastoral.

Veremos ainda que essas propostas, técnicas e atitudes, guardadas as devi-das proporções, servem também de base para o trabalho da capelania e suas mais diversas atividades, em especia, quando o capelão atuar na condição de conselheiro.

É importante observar que há muitos escritos sobre o assunto, especifica-mente com teorias e métodos devidamente elaborados. Há também diversos textos sobre o aconselhamento cristão e o aconselhamento psicológico, que observam seus vínculos, contribuições, limites e críticas, como: Mannóia (1985), Casera (1985), Collins (1995), Barrientos (1991), Szentmartoni (1999), Clinebell (2000), Schipani (2004), Sathler-Rosa (2004) e Pereira (2007).

Há certo consenso na literatura acadêmica pesquisada por Szentmartoni (1999), Collins (1995), Barrientos (1991), Casera (1985), Clinebell (2000), Pereira (2007) dentre outros, que ao tratarem do tema do aconselhamento cristão obser-vam, de uma maneira ou de outra, as ideias de Carl Rogers, método não diretivo, principalmente aqueles relacionados à prática do aconselhamento. Por isso, nessa direção, uma proposta de aconselhamento passa necessariamente pelo estabelecimento de vínculos entre o conselheiro e o aconselhando, sem os quais é impossível um bom desenvolvimento do aconselhamento. Mannóia (1985) coloca como premissa do aconselhamento cristão as relações pessoais e a cen-tralidade da pessoa no aconselhamento.

Da mesma forma, Szentmartoni (1999) também o faz, contudo ressalta ainda as marcas da natureza do aconselhamento cristão, de onde se pode inferir:

a) Está contextualizada na missão e na evangelização da Igreja.

b) Na ajuda, desempenha um trabalho bíblico-teológico do anúncio cristão.

c) É uma atividade religiosa (conselheiro e aconselhando) onde deve ser observada a pessoa e seu relacionamento com Deus.

d) Observa os limites da atuação e da atividade do aconselhamento cristão e suas interfaces com outras atividades de aconselhamento.

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Propostas, Técnicas e Comportamentos em Aconselhamento Cristão

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É imprescindível que o conselheiro tenha atitudes de empatia, autenticidade e não seja possessivo, segundo Szentmartoni (1999). Tais atitudes são considera-das, na literatura especializada, como sendo o ponto fundamental para o sucesso de todo bom aconselhamento que tem um propósito de ajuda genuína.

Barrientos (1991) lista os seguintes aspectos que o conselheiro deve dar aten-ção durante a entrevista de aconselhamento:

■ Proporcionar clima de confiança.

■ Fazer com que a pessoa se sinta ao nível do conselheiro. Para isto é melhor usar duas cadeiras ou poltronas, ou uma de frente para a outra em uma mesa.

■ Em em mente e transmitir à pessoa que é possível enfrentar a situação e até resolvê-la.

■ Escutar com muita atenção. Há pessoas que se sentem aliviadas de sua carga pelo simples fato de que alguém as escuta com interesse e amor.

■ Ir captando, entre os detalhes do relato, os possíveis assuntos ventrais relacionados.

■ Não dar opiniões negativas como: “que mau...” “que horror...”.

■ Não interromper o relato, a não ser que seja para fazer alguma pergunta esclarecedora ou que falte para completar o quadro.

■ Discernir em silêncio aspectos que a pessoa poderia encobrir e que cor-respondem a seu modo de ver o assunto.

■ Ao final do relato, ajudar a pessoa a ver o problema como um todo, sem reparar em detalhes, a menos que seja necessário.

■ Levá-la a reconhecer os fatores centrais que entram em jogo.

■ Ajudá-la a encontrar as causas. Aqui é necessário dar oportunidade para que a pessoa opine e que ambos dialoguem até que concordem.

■ Ajudar a pessoa a fazer um plano ou propor-lhe um alvo realista que ten-tará alcançar nos dias seguintes.

■ Quando necessário, levar a pessoa a colocar seu problema diante do Senhor em oração, pedir libertação e dar graças por ela.

■ Caso a pessoa não saiba orar, fazer a oração com a pessoa.

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■ Por fim, fazer uma seleção de textos bíblicos e indicar para a pessoa ler e meditar sobre eles e relacioná-los aos seus problemas.

Szentmartoni (1999) apresenta as seguintes técnicas de intervenção no aconse-lhamento, levando em consideração o princípio da não diretividade:

a) A reformulação – é quando o conselheiro se expressa claramente, verbal ou não verbal mente ao aconselhando. As principais formas são: a reite-ração, a resposta-eco, as expressões equivalentes e a recapitulação.

b) O reflexo do sentimento – com o objetivo de criar um ambiente de emoção genuína, onde possa haver o contato sincero da pessoa com sua afetividade. Os principais sinais são: pausas, choro, contradições entre expressões verbais e não verbais etc.

c) A reestruturação do campo – intervenção com a finalidade de fazer reestruturações do campo perceptivo da pessoa, referente a sua pessoa (ego) ou a imagem de si. A partir dos conceitos da Gestalt, as interven-ções devem ser: ressaltar a “figura” (tema explícito) como é percebida pela pessoa, esclarecer uma posição entre os vários conteúdos expostos, poder ampliar o significado do que foi dito ou mudar a ordem de impor-tância dos elementos pela pessoa.

Por fim, Szentmartoni (1999) observa que o conselheiro tem de ter os devidos cuidados em sua atividade. Deve evitar colocações ou expressões que não con-tribuem para o objetivo principal do aconselhamento, que segundo Mannóia (1985), “é o de facilitar o crescimento da personalidade ao máximo nível de maturidade” (p.103). São observações que o conselheiro passa ao aconselhando como sendo as suas conclusões, de forma moralista e sem observar as manifes-tações do seu aconselhando. Segundo Szentmartoni (1999), isso denota falta de confiança nos recursos do outro por parte do conselheiro e impede que o obje-tivo maior do aconselhamento seja atingido.

Para desenvolver uma relação adequada no aconselhamento, Clinebell (1976), em um texto denominado “Os elementos comuns a todo aconselhamento”, trata de dois itens fundamentais e necessários para o exercício desse, o qual pode ser exercido no contexto do gabinete pastoral ou de um leito, no hospital: o desenvolvimento de uma relação terapêutica e a facilita ção da comunicação do aconselhando.

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Propostas, Técnicas e Comportamentos em Aconselhamento Cristão

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Outro exemplo de procedimento vem de Collins (1995) em seu texto clássico, o livro: “O aconselhamento Cristão”. Nessa obra, o referido autor apresenta as técnicas de aconselhamento, que considera como sendo as mais básicas em uma situação de ajuda; antes de apresentá-las , porém, ele faz a seguinte ressalva: essa relação de aconselhamento não é necessariamente de ajuda, mas de uma relação de ajuda que deve ser desenvolvida em um formato profissional. Vejamos as técnicas:

1. Atenção – O conselheiro deve tentar conceder atenção integral ao aconselhando:

■ Contatos visual.

■ Postura relaxada, não tensa e interessada.

■ Gestos naturais.

2. Ouvir – Isso significa muito mais do que uma recepção passiva da mensagem. Ouvir envolve:

■ Percepção suficiente.

■ Evitar expressões verbais e não verbais dissimuladas de desprezo ou juízo antecipadas.

■ Aguardar pacientemente o funcionamento do aconselhando.

■ Ouvir não somente o que o aconselhando diz, mas as suas reais necessidades.

■ Estar atento à fala e ao comportamento.

■ Analisar as reações do aconselhando diante das suas intervenções.

■ Sentar-se imóvel.

■ Limitar o número de execuções mentais às próprias fantasias.

©shutterstock

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■ Não julgar antecipadamente por meio da manifestação de sentimen-tos em relação ao aconselhando.

■ Praticar a aceitação da pessoa do aconselhando.

3. Responder – o bom conselheiro é um bom ouvinte, mas também é de sua competência agir e responder especificamente ao aconselhando. Por isso, compete ao conselheiro em suas respostas ao aconselhando:

■ Orientar ou liderar dialogicamente.

■ Refletir conjuntamente de maneira presente.

■ Perguntar com o objetivo único de buscar informações úteis.

■ Confrontar ideias ou comportamentos que não sejam percebidos.

■ Informar de maneira abrangente fatos relevantes.

■ Interpretar comportamentos e eventos.

■ Apoiar e encorajar sempre.

4. Ensinar – todas essas técnicas acima são verdadeiras formas especia-lizadas de educação psicológica. Nesse contexto:

■ O conselheiro é um educador.

■ O aconselhando é aprendiz.

■ O aconselhamento é um espaço para a discussão.

■ O aconselhamento é um espaço para uma relação sincera e honesta.

Diante dessas propostas com suas respectivas técnicas, é importante que o conse-lheiro desenvolva a capacidade de conversar com vista à criação de vínculo com o aconselhando. A seguir, veremos algumas ideias de Clinebell sobre essa matéria.

Clinebell (1976) orienta os procedimentos ou atitudes durante a primeira sessão de aconselhamento:

1. Estabelecer o rapport como base para a relação terapêutica.

2. Escutar de forma disciplinada, bem como refletir sobre os sentimentos do aconselhando.

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Promovendo o diálogo com o Aconselhando

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3. Adquirir uma compreensão aproximada do “marco de referência interna” da pessoa do aconselhando a partir do seu mundo pessoal.

4. Fazer um primeiro diagnóstico sobre a natureza do problema do aconse-lhando, ou seja, como suas relações estão fracassando para satisfazer as suas necessidades e quais são os recursos e limitações para fazer frente a sua situação.

5. Tendo como base esse primeiro diagnóstico, sugerir uma aproximação para dar ajuda.

6. Se houver a necessidade um aconselhamento continuado, proceder com a estruturação dessa relação de ajuda.

Para facilitar a expressão dos sentimentos do aconselhando, Clinebell (1976) faz as seguintes considerações:

1. Evitar muitas perguntas, mas fazer o mínimo requerido para obter ape-nas os dados essenciais.

2. Fazer perguntas sobre seus sentimentos, por exemplo: como se sente quando é ignorado?

3. Responder a sentimentos de conteúdos intelectuais.

4. Observar os caminhos que levam ao nível emocional da comunicação.

5. Estar particularmente alerta para descobrir sentimentos negativos.

6. Evitar tanto a interpretação prematura de como funciona a pessoa ou suas formas determinadas de sentir, como dar conselhos prematuros.

PROMOVENDO O DIÁLOGO COM O ACONSELHANDO

No aconselhamento, é fundamental ao conselheiro desenvolver a capacidade de promover o diálogo com o aconselhando. Portanto, saber ouvir e compreender é imprescindível para o bom exercício desta função. Clinebell (1976), citando

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TEOLOGIA E PRÁTICAS EM ACONSELHAMENTO CRISTÃO

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Portes Filho, descreve cinco atitudes que possibilitam diferentes característi-cas de respostas do aconselhando para dar mais sensibilidade no trato com o aconselhando:

1. Evolutiva – uma resposta que indica que o conselheiro tem capacidade de fazer um juízo de relativa bondade, apropriação, efetividade e corre-ção. Tem condição de compreender em certa forma o que o aconselhando pode e deve fazer; se há consequências grandes ou profundas.

2. Interpretativa – uma resposta que indica o intento do conselheiro por ensinar, por apresentar ou mostrar um significado ao aconselhando. Tem compreendido de certa forma o que o aconselhando pode ou deve pensar.

3. De apoio – uma resposta que indica que o conselheiro intenta assegurar, reduzir a intensidade emotiva do aconselhando (acalmá-lo). Possibilita, de certa forma, ao aconselhando sentir-se fora dessa situação de dese-quilíbrio.

4. Indagatória – uma resposta que indica que o conselheiro intenta obter mais informações, insistir na conversação, sobre uma linha determinada. Isso o faz chegar à conclusão de certa forma que o aconselhando deve ou pode se desenvolver, beneficiando mais acerca de um ponto determinado.

5. Compreensão – uma resposta que indica que há a intenção do conse-lheiro em perguntar ao aconselhando se tem compreendido corretamente o que “disse”, como “sente” isto, como “impacta” nele, como o “vê”.

Diante disso, temos a firme convicção da importância que é saber ouvir e respon-der no aconselhamento, pois fazê-los de forma adequada é uma virtude indelével não só do conselheiro, mas também do capelão. Tamanha é a importância dessas duas habilidades que existe muita literatura especializada em psicologia, acon-selhamento e capelania que versa sobre esses assuntos.

A seguir, apresentamos as ideias e a estrutura de um texto em espanhol de autoria de Faber e Shoot (1976) denominado “Escuchar y responder em la con-versación pastoral”, que trabalha essas habilidades.

Para se desenvolver na área do aconselhamento cristão é imprescindível saber ouvir e responder ao aconselhando. Faber e Shoot (1976) observam inicial-mente que o conselheiro deve desenvolver uma atitude de aceitação na relação,

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na mesma direção de Rogers (apud: FABER; SHOOT, 1976):A relação conselheiro-aconselhando é um contato no qual a cordiali-dade de aceitação e a falta de coerção por parte do conselheiro permi-te o máximo de expressão de sentimentos, atitudes e problemas por parte do aconselhando... nesta experiência única de completa liberda-de emocional, dentro de um marco de referência bem delimitado, o aconselhando está livre para reconhecer e compreender seus impulsos e padrões de consultas positivas e negativas como não poderia fazê-lo em nenhuma outra relação (p.199).

Nota-se que a própria relação entre o aconselhando e conselheiro é ponto impor-tantíssimo no processo terapêutico. Nesse sentido, o método adotado por Rogers (apud FABER; SHOOT, 1976) é o não diretivo, segundo o qual compreende que o ser humano tem condições e possibilidades para enfrentar e desenvolver sua vida de forma equilibrada e saudável. Nesse particular, Faber e Shoot (1976) comentam:

[...] um dos aspectos mais importantes desse método é que o terapeuta deve ser não diretivo com respeito ao cliente. Somos de opinião de que devemos estar prevenidos desde o princípio que Rogers usa esta frase como marco de referencial da relação terapêutica. O que ele chama de não diretivo aponta aquelas escolas terapêuticas nas quais o terapeu-ta diagnostica e comunica interpretações de sintomas. Rogers rechaça uma relação na qual o aconselhando se transforma em um paciente, e assim se torna um objeto. Sobre essa base também rechaça uma rela-ção na qual o psicoterapeuta “moraliza” e “dogmatiza”. O aconselhando deve seguir sendo responsável pela sua própria vida de maneira que não pode seguir nem um tipo de perguntas que passam pressionar ou formar, se não é uma maneira de direcionamento (p.199).

Nessa perspectiva, cabe ao conselheiro acolher a pessoa do aconselhando como um ser responsável, e não como objeto de sua “sabedoria”, uma vez que o próprio Deus em Cristo também acolhe a todos os seres humanos. Dessa maneira, o con-selheiro cristão deve, como servo de Deus, também proceder. Contudo, Faber e Shoot (1976) ressaltam que esta aceitação não é o único elemento dessa relação.

Outra ideia que Faber e Shoot (1976) desenvolvem é a da reflexão dos senti-mentos significativos. Para Rogers, cabe ao conselheiro proporcionar uma relação positiva. Para isso, ele compreende que a reflexão é fundamental. Tal dinâmica é possível numa relação não diretiva em que aconselhando, numa relação de

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TEOLOGIA E PRÁTICAS EM ACONSELHAMENTO CRISTÃO

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aceitação, desenvolve uma reflexão de significado de seus sentimentos, que tão somente nesse contexto, ou melhor, justamente, nesse contexto de aceitação faz toda a diferença. Nessa perspectiva assim entende Rogers:

na experiência terapêutica, um vê as suas próprias atitudes, confusões, ambivalência, sentimentos e percepções expressadas exatamente pelo outro; porém livre das próprias complicações emocionais, e, assim se vê a si mesmo objetivamente o que abre caminho para aceitação do seu eu, de todos aqueles elementos que agora se percebem claramente. Assim se avança no caminho da organização e do funcionamento mais integrado do eu (pp.120-121)

Associada a essas duas ideias está outra: a empatia. Faber e Shoot (1976) obser-vam que “simpaticamente sintonizados nos sentimentos do nosso interlocutor. Com a ajuda de uma simpatia saudável projetamos sobre ele, e estamos parti-cularmente preocupados com os seus sentimentos” (p.121).

Nesse sentido, ouvir e responder em uma relação de aconselhamento cris-tão deve passar por uma relação de aceitação, de uma significativa reflexão dos sentimentos e empatia. Tal ambiente, na compreensão de Rogers, proporciona as condições terapêuticas para que a pessoa veja suas reais condições e necessidades e possibilita ainda ao aconselhando seu desen-volvimento e crescimento saudável.

Brister (1980), ao tratar sobre a natureza do aconselhamento pastoral em sua obra “El cuidado pastoral en la Igreja”, observa que há basicamente dois métodos: um diretivo e outro não diretivo. A seguir, transcrevo o diálogo entre os conselheiros e seus respectivos aconselhandos como ilustração dos dois métodos. Vejamos o primeiro diretivo e o segundo não diretivo:

1. Aconselhamento diretivo Sra. P: Olá, pastor. Desde muito tempo as coisas não vão muito bem em

minha casa... (coloca-se muito sentida).

©Melodie Sheppard

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Promovendo o diálogo com o Aconselhando

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Pastor: Veja bem, estou seguro de que as circunstâncias não são tão mal como parecem ser, e estou seguro de que podemos ve-las melhor para aju-dá-la à luz da Palavra de Deus.

Sra. P: Pastor, o senhor não sabe como é má a minha situação. Pastor: Penso que você veio se socorrer em seu pastor, não é isso? Falemos

agora sobre o seu problema abertamente e inicie desde o começo,Me diga tudo. OK?

Sra. P: Tenho tanta vontade de conversar com alguém... 2. Aconselhamento não diretivo Sr. B: É como quando tive o acidente com o caminhão. Tudo de ruim me

aconteceu, mas agora eu me sinto limpo. Quando sofremos nos eximimos de tudo que temos dentro de nós. Quando perguntaram se a minha perna estava quebrada, eu falei: “quebrada, quebrada, quebrada”, e assim foi. Disse-lhes que o meu sofrimento tinha me feito sentir mais perto do céu.

Pastor: Então, você sente que o seu sofrimento teve um propósito? Sr. B: Na verdade, tenho uma vida muito dura. Eu não sei por que minha

esposa age assim desta forma; logo agora que tenho tanta necessidade... estou só... ninguém se preocupa com a minha situação ... com algo que eu quero, mas só pensam em si mesmos. Ela acha que eu sou louco.

Pastor: Por que você acha que ela pensa isso? Sr. B: Porque estive em um hospital psiquiátrico ... isso foi antes de casarmos... Segundo Brister (1980), no primeiro o conselheiro demonstra rigidez e controla o rumo da entrevista em cada momento, apesar de se esforçar por aparentar imparcialidade. Nota-se que ele não percebe a necessidade da aconselhanda. Contudo, o segundo conselheiro esforça-se em se aproximar e permanecer com os sentimentos do aconselhando, o qual expressa uma variedade de sentimen-tos, mas deles se destacam o de rechaço e dependência. Portanto, nesse segundo exemplo, observamos essa condição como sendo imprescindível para a criação de vínculo e entendimento do caso, pois o próprio aconselhando dá o tom, ou melhor, dá o significado para os seus sentimentos, bem como os temas que quer tratar; basta ao conselheiro estar atento.

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TEOLOGIA E PRÁTICAS EM ACONSELHAMENTO CRISTÃO

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

III

CONSIDERAçõES FINAIS

Esta unidade, caro aluno, foi estruturada para fundamentar o ato do Aconselhamento Cristão propriamente dito. Aqui foram tratadas propostas, técnicas e procedimentos em Aconselhamento Cristão.

Nesse sentido, destacou-se o tema da natureza do Aconselhamento Cristão, do qual, pela literatura consultada, sobressai o método não diretivo como sendo uma das opções mais usadas pela grande maioria dos especialistas consagrados na atualidade. Essa fundamentação contou com Szentmartoni (1991) e Brister (1980).

As propostas apresentas ficaram por conta de Szentmartoni (1991) e Collins (1995). Do primeiro, as técnicas de procedimento denominadas reformulação, reflexo do sentimento e reestruturação do campo. Do segundo, os seguintes pro-cedimentos: atenção, ouvir, responder e ensinar.

Foi destacada a conversação como uma das técnicas imprescindíveis para o exercício do Aconselhamento Cristão. Saber entrevistar, ouvir e responder o aconselhando é essencial para o sucesso dessa atividade. Foram trabalhadas as ideias de Barrientos (1991) e de Clinebell (2000) sobre entrevistas iniciais. Sobre o saber ouvir e responder ficou por conta de clássicos do aconselhamento cris-tão, Faber e Shoot (1976) e Clinebell (1985). Este deu destaque para as repostas evolutivas, interpretativas, de apoio, indagatórias e compreensivas; enquanto aqueles à luz de Carl Rogers, destacaram: a aceitação, a reflexão dos sentimen-tos significativos e a empatia. Todos foram categóricos em afirmar que ouvir e responder não são atos simplesmente mecânicos, mas envolvem toda uma rela-ção afetiva, comportamental e espiritual.

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O PERFIL DO CONSELHEIRO NO ACONSELHAMENTO CRISTÃO

Considerações Iniciais

Segundo os postulados tradicionais, o aconselhamento cristão constitui uma área es-pecializada do ministério eclesiástico que se ocupa em ajudar os indivíduos, famílias ou grupos a lidarem com as pressões e crises da vida. o objetivo do aconselhamento é dar estímulos e orientação às pessoas que estão enfrentando perdas, decisões difíceis, culpas, ou desapontamentos.

o processo de aconselhamento cristão deve, portanto, estimular o desenvolvimento sa-dio da personalidade; ajudar as pessoas a enfrentar melhor as dificuldades da vida, os conflitos interiores e os bloqueios emocionais; auxiliar os indivíduos, famílias e casais a resolver conflitos gerados por tensões interpessoais, melhorando a qualidade de seus relacionamentos; e, finalmente, contribuir para a mudança dos padrões de comporta-mento autodestrutivos ou depressivos já internalizados.

o objetivo final é que os aconselhandos cheguem à cura, aprendam a lidar com situa-ções semelhantes no futuro e passem a enfrentar os seus problemas de forma coerente com os ensinamentos bíblicos. o papel do conselheiro cristão, nesse processo, é, em essência, o de levar as pessoas a terem um relacionamento pessoal com Jesus Cristo, ajudando-as, assim, a encontrar perdão e a se livrar dos efeitos incapacitantes do peca-do e da culpa.

Todas as técnicas de aconselhamento têm, pelo menos, quatro objetivos principais: levar a pessoa a crer que é possível obter ajuda; corrigir concepções equivocadas a respeito do mundo; desenvolver competências para a vida social; e levar os aconselhandos a reco-nhecer o seu próprio valor como indivíduos. Para atingir esses propósitos, os conselheiros aplicam técnicas básicas como ouvir, demonstrar interesse, tentar compreender e, pelo menos eventualmente, dar orientação.

Muitos dos métodos utilizados por conselheiros cristãos são semelhantes aos aplicados pelos não cristãos. os cristãos, porém, não utilizam técnicas que contrariem os princí-pios bíblicos, oram durante as sessões de aconselhamento, lêem a Palavra de deus e confrontam gentilmente o aconselhando com os princípios bíblicos.

Características essenciais do Conselheiro Cristão.

o cerne de toda forma de assistência genuinamente cristã, seja ela pública ou particu-lar, é a influência do Espírito Santo. Na verdade, o que torna o aconselhamento cristão realmente único é justamente a influência e a presença do Espírito Santo. É ele quem capacita o conselheiro, dando-lhe as características que o tornam mais eficiente no de-sempenho de sua tarefa: amor, alegria, paz, longanimidade, bondade, fidelidade, man-sidão, domínio próprio. Através da oração, meditação nas Escrituras, confissão regular dos pecados e renovação diária de seu compromisso com Cristo, o conselheiro cristão

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torna-se um instrumento por meio do qual o Espírito Santo pode confortar, ajudar, ensi-nar, convencer ou guiar outro ser humano.

Jesus Cristo é o melhor modelo que existe de um “maravilhoso conselheiro”, cuja perso-nalidade, sabedoria, conhecimento, amor, bondade e compaixão capacitavam-no a dar assistência efetiva aos necessitados. o conselheiro cristão, antes de mais nada, precisa ser um imitador do Senhor Jesus; alguém em quem habita o Espírito Santo; alguém que apresente, manifestamente, características do fruto do espírito; enfim, alguém que tenha um relacionamento de intimidade com o deus Todo-Poderoso, que o capacite a ouvir e a obedecer as Suas orientações.

Segundo pesquisas recentes, os conselheiros são mais eficientes quando demonstram, pelo histórico de vida, um sólido conhecimento dos problemas humanos. É fato que, em qualquer atividade humana, o conhecimento teórico sem o domínio da experiência prática representa um obstáculo ao melhor aproveitamento da atividade, por maior que seja a motivação e a disposição de acertar.

No caso do aconselhamento cristão não é diferente. o histórico de vida do conselheiro, com todas as experiências já vivenciadas na área em que está se dando o aconselhamen-to, ao lado do estudo detalhado de situações acompanhadas por outros conselheiros é uma ferramenta importante para uma boa condução do processo de aconselhamento.

Contudo, é preciso ressalvar que no mundo real, no início do seu ministério, o conselhei-ro poderá não ter uma gama tão variada de experiência com os diversos problemas hu-manos, bem como é forçoso reconhecer ser impossível a qualquer conselheiro, por mais experiente que seja, ter um domínio prévio sobre todo o tipo de situações que terá com que se deparar. Porém, isso não deve inibi-lo no seu mister, pois o estudo de casos na literatura especializada, mesmo concomitantemente ao processo de aconselhamento em curso, e a ajuda do Espírito Santo, poderão suprir a contento essa deficiência, quan-do não houver a possibilidade/disponibilidade de transferir o aconselhado para outro conselheiro, que tenha a experiência demandada.

o conselheiro cristão precisa ter como propósito contínuo e fundamental do seu mi-nistério a busca por sabedoria, vez que ela constitui a ferramenta de excelência, fun-damental para o trabalho de aconselhamento. Não basta ao conselheiro ter um bom conhecimento das Escrituras e dominar bem as técnicas de aconselhamento. Para atin-gir um grau satisfatório de eficiência no aconselhamento cristão, o conselheiro precisa, acima de tudo, ter sabedoria para: identificar e aplicar adequadamente os princípios bíblicos no contexto das situações sob exame; formular as perguntas adequadas; avan-çar até o ponto desejado de extração de informações no timing correto; ponderar com eficiência todo o material trabalhado; e confrontar com delicadeza, quando for o caso, o aconselhado quanto aos padrões inadequados de comportamento frente aos prin-cípios de deus.

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Frente a essa necessidade e a importância do seu trabalho para ajudar outras vidas a enfrentarem satisfatoriamente os seus problemas, o conselheiro cristão precisa estar constantemente aos pés do Senhor para buscar sabedoria, ciente de que Ele a dá, libe-ralmente, a todos quanto a buscam com sinceridade, para realizar os Seus propósitos.

uma característica que não pode faltar na vida do conselheiro cristão é a humildade, a consciência das suas próprias limitações. o princípio fundamental da sabedoria é ter o temor do Senhor, mas existe um outro muito importante que é ter um bom conheci-mento de si mesmo, das próprias fraquezas e vulnerabilidades pessoais e das áreas de conhecimento que não se domina.

o conselheiro cristão tem de ter muito claro na sua mente que o seu ministério está focado em conduzir as pessoas a uma vida harmoniosa com Cristo e o próximo, em meio às dificuldades da lida diária e que, portanto, tem de discernir muito bem as suas limitações, de forma a não adentrar em áreas onde não está apto a oferecer ajuda. Isso se dá tanto em relação às áreas onde o próprio conselheiro enfrenta dificuldades na sua vida pessoal como em relação àquelas que demandam um conhecimento especializa-do, muitas vezes da medicina, ou uma experiência substancial que não se possui.

outra característica relevante, que precisa integrar a personalidade do conselheiro cris-tão é a objetividade. Em nenhuma hipótese o conselheiro deve compartilhar os seus próprios problemas ou fraquezas pessoais com o aconselhando, vez que o conselheiro está ali para ajudar e não para resolver os seus próprios problemas, além do enorme potencial que tal atitude teria para induzir insegurança naquele que precisa ser ajudado, trazendo danos irreparáveis ao processo de aconselhamento.

da mesma forma, é inegável que o excesso de envolvimento emocional pode fazer com que o conselheiro perca a dose de objetividade necessária, reduzindo a eficiência do aconselhamento, o que sugere que o conselheiro deve evitar aconselhar pessoas com as quais já tenha, previamente, fortes laços afetivos pessoais estabelecidos ou permitir, descuidadamente, que eles sejam desenvolvidos durante o processo de aconselhamen-to, principalmente quando o aconselhando está muito perturbado, confuso ou enfrenta um problema semelhante àquele que o próprio conselheiro está passando.

o conselheiro cristão, como o próprio nome sugere, deve ter muito bem internalizado que o seu manual essencial de trabalho é a Bíblia. Cristo é a verdade, o caminho e a vida, e é o Verbo, que é a Palavra e, portanto, o centro de todo o aconselhamento cristão.

Assim, é que o conselheiro cristão pode até utilizar técnicas variadas de extração de in-formações e de condução do processo de aconselhamento, mas os valores referenciais para o aconselhando, que nortearão todas as possíveis orientações a serem transmiti-das, devem se fundamentar única e exclusivamente nos princípios bíblicos que tratam do assunto, examinados à luz da sua aplicação à nossa realidade contextual.

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Não é o que o conselheiro cristão pensa ou acha, na sua razão natural, por mais inte-ligente e estudioso que seja, que ajudará o aconselhando a resolver os seus conflitos interpessoais e os seus sentimentos de culpa ou peso pelo pecado ou a desenvolver um relacionamento saudável com deus e com o os seus semelhantes, mas, unicamente, o que a Bíblia revela, iluminada pelo entendimento dado pelo Espírito Santo.

Ao discorrer sobre os princípios bíblicos aplicáveis à situação de aconselhamento, o conselheiro cristão deve evitar ao máximo toda e qualquer discussão ou polêmica dou-trinária, com relação àqueles pontos nos quais as diversas denominações evangélicas possuem discordâncias de interpretação, pois isso pode levar o aconselhando a uma atitude defensiva e de resistência frente ao conselheiro, caso ele tenha uma concepção diferente, inviabilizando por completo os resultados almejados com o aconselhamento.

Cabe ressalvar, entretanto, que se o conselheiro cristão constatar que existe uma “no-tória” deturpação de um conceito bíblico por parte do aconselhando, ele não deverá se furtar a procurar esclarecê-lo, mas deverá proceder com toda a prudência, sabedoria e gentileza possíveis, de forma a não transparecer nenhum pretenso estigma de supe-rioridade ou de vaidade pessoal, nefasta ao estabelecimento de uma empatia com o aconselhando.

outro fator da maior importância é que o conselheiro cristão tem de ser ético e respeitar cada indivíduo que recorre à sua ajuda. Ele precisa reconhecer o valor do aconselhando como pessoa criada à imagem e semelhança de deus e preciosa aos Seus olhos, não importando o quanto ele possa estar desfigurado pelo pecado.

A ética indica que o conselheiro cristão tem o dever de tentar ajudar o aconselhando sem manipular nem se intrometer em sua vida e de guardar sigilo de todas as informa-ções reveladas em confiança, dentro ou fora do gabinete pastoral. Além disso, manda a ética que um conselheiro cristão jamais se preste a fornecer qualquer orientação que ultrapasse os limites da sua habilitação.

Em todas as decisões que envolvem a ética, o conselheiro cristão deve procurar, antes de mais nada, honrar a deus, agir de conformidade com os princípios bíblicos e respei-tar o bem-estar do aconselhando e das demais pessoas que possam estar envolvidas na situação de aconselhamento, sempre colocando a vida como bem supremo a ser preservado.

Enfim, já há muitos anos, diversos autores de livros didáticos sobre o tema, vêm rela-tando que as técnicas de aconselhamento são mais eficazes quando o indivíduo que as maneja apresenta as virtudes do Espírito, ou seja, quando ele: transmite confiança e honestidade; é afetuoso, sensível, manso, paciente e compreensivo; demonstra saber ouvir e possuir um interesse sincero no problema do interlocutor; e tem disposição para confrontar as pessoas, mantendo uma atitude de amor.

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Assim sendo, o aconselhamento cristão só se torna factível e real quando existe um compromisso sincero com Cristo e o Espírito Santo está no comando e é o verdadeiro conselheiro, por trás do ser humano instrumentalizado para esse serviço. Só o Espírito Santo é capaz: de sondar o íntimo dos corações; revelar as verdadeiras causas dos pro-blemas; e apontar a melhor orientação para cada caso.

Fonte: <http://www.icjb.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=131:o-perfil-do-conselheiro-no-aconselhamento-cristao&catid=46:estudos&Itemid=93>.

Acesso em: 02 dez. 2011.

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1. Atualmente, estamos chegando à compreensão que o con-selheiro cristão não pode ter apenas boa vontade, apesar de ser muito importante essa motivação. Ele tem que dispor de competências para exercer essa função que hoje está se constituindo imprescindível para a Igreja da atualidade. Liste dois procedimentos adequados do conselheiro em Aconse-lhamento que você julga necessário para o desempenho des-sa atividade. Sua resposta tem que conter argumentos que acompanhe suas escolhas.

2. Nessa mesma direção, no que concernem as propostas e téc-nicas que vimos nesta unidade, relacione e discuta as propos-tas e técnicas de aconselhamento de Szentmartoni (1999) e Collins (1995) apontando sua importância para o aconselha-mento cristão.

3. Nesta unidade, vimos que Szentmartoni (1999) lista aspectos distintivos da natureza do aconselhamento cristão. dentre eles está este: “Limites da atuação e da atividade do aconse-lhamento cristão e suas interfaces com outras atividades de aconselhamento”. diante disso, elabore um texto, 4 a 8 linhas, que ressalta a relação interdisciplinar entre os conhecimentos da Teologia e Psicologia, no que toca ao tema principal do aconselhamento cristão.

4. Saber conversar é uma necessidade pra todo e qualquer pro-fissional na atualidade, contudo para o conselheiro é essen-cial. Se ele não sabe conversar não conseguirá desenvolver a sua função adequadamente. Contudo, para desenvolver uma conversa tecnicamente acertada é necessário que o conse-lheiro saiba ouvir e responder ao aconselhando. A partir das elaborações fundamentadas no texto intitulado “Escuchar y responder em la conversación pastoral” de autoria de Faber e Shoot (1976), discuta como proceder e a importância de se saber ouvir e responder do conselheiro ao aconselhando.

5. Quando estudamos a disciplina de Psicologia vimos os vários métodos de aconselhamento psicológico; naquela oportuni-dade ressaltamos dois métodos: diretivo e não diretivo. Nesta unidade esses métodos foram tratados de maneira bem prá-tica. Cite, explique e exemplifique esses dois métodos objeti-vamente.

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Material Complementar

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Material CoMpleMentar

AconselhamentoEste link remete você a uma dissertação que trabalha a questão do aconselhamento pelo telefone, no contexto urbano, além de fazer um trabalho de conceituação sobre o tema do aconselhamento.http://pt.scribd.com/doc/50448684/17/Aconselhamento-Pastoral

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TEOLOGIA E PRÁTICAS EM ACONSELHAMENTO CRISTÃO

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

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UNIDADE IV

Professor Me. Rubem Almeida Mariano

o perFIL e o pApeL Do ConseLHeIro e Do CApeLão CrIsTão

Objetivos de Aprendizagem

■ Assinalar as atitudes inadequadas do conselheiro cristão.

■ Conhecer o perfil e atributos do conselheiro e capelão cristão.

■ Identificar o perfil do conselheiro e capelão cristão.

■ Caracterizar o papel do conselheiro e do capelão cristão.

■ Conscientizar o conselheiro e o capelão das competências necessárias para o desenvolvimento de suas atividades.

Plano de Estudo

A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

■ Perfil e atitudes do Conselheiro Cristão

■ Perfil e papel do Capelão Hospitalar

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INTRODuçÃO

“São muitas as pessoas à procura de um ouvido que ouça. Elas não o encontram entre os cristãos, porque eles falam quando deveriam ouvir. Quem não mais ouve a seu irmão (ou irmã), em breve também não mais ouvirá a Deus [...] quem não consegue ouvir demorada e pacien-temente, estará apenas conversando à toa e nunca estará realmente fa-lando com os outros, embora não esteja consciente disso”.

Dietrich Bonhoeffer, em Life Together

Para Clinebell (2000), o ato de aconselhar inicia-se na própria pessoa do conse-lheiro. Isso também pode ser aplicado para o âmbito da capelania. Esta unidade que se inicia tem como grande objetivo abordar o perfil e papel ou atributo do conselheiro e do capelão cristão.

Contudo, vamos destacar inicialmente algumas atitudes inadequadas dos conselheiros quanto aos seus procedimentos em aconselhamentos.

Sobre o perfil do conselheiro e do capelão serão estudadas principalmente as habilidades para o exercício dessa atividade; da mesma forma será abordado o perfil do capelão.

Também será tratado o papel do conselheiro e do capelão, com destaque para as competências esperadas de ambos. Serão ressaltadas mais uma vez as práticas, principalmente a relação do conselheiro e do capelão com os seus res-pectivos sujeitos.

PERFIL E ATITuDES DO CONSELHEIRO CRISTÃO

Quando lançamos nosso olhar para a realidade humana e suas carências, fica-mos cientes da enorme necessidade do papel do conselheiro cristão no contexto da Igreja tanto no sentido intraeclesial quanto extraeclesial. Hoje, mais do que nunca, a figura do conselheiro cristão é necessária e urgente. Contudo, nota-se que ainda há a produção de literatura destinada ao grande público que continua

Introdução

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O PERFIL E O PAPEL DO CONSELHEIRO E DO CAPELÃO CRISTÃO

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IV

a construir um perfil e um papel de conselheiro cristão que não atende às reais necessidades do nosso momento, como afirma Coelho Filho (2011):

Não basta dizer-se vocacionado para o ministério pastoral ou para o ministério do aconselhamento para ser bem-sucedido nestas ativida-des. Ser vocacionado não é uma garantia de que as coisas darão certo. Prova disso é o grande número de ministérios que dá errado e de igre-jas com problemas muitas vezes causados por pastores. E, da mesma forma, de conselheiros que não conseguem ajudar as pessoas. Há algo mais além da chamada e da boa vontade em fazer a obra (p.1).

Contudo, antes de avançarmos na direção da apresentação do perfil e papel do aconselhamento cristão, faz-se necessário ressaltar algumas ações do conselheiro que demonstram equívocos nesse papel. A seguir, listamos os comportamentos, nessa área, que revelam inadequação, pautados em (WAGNER apud LINO, 1998):

■ Visitar em vez de aconselhar, gerando confusão no momento da atuação de aconselhamento pastoral.

■ Não possuir tempo disponível, podendo ser entendido pelo aconselhando como desinteresse de sua parte.

■ Rotular em vez de respeitar a diferença é um equívoco que afasta e não possibilita novos encontros entre conselheiro e aconselhando.

■ Condenar em vez de ser imparcial gera uma relação de desconfiança por parte do aconselhando, pois este se fecha e não fica disponível para a rela-ção de aconselhamento.

■ Querer resolver tudo em um só momento revela a ansiedade da relação entre conselheiro e aconselhando e, ainda, gera interpretações apressa-das e cansaço, pois é comum delongar encontros.

■ Ser diretivo por parte do conselheiro é uma atitude que revela uma con-cepção de negação das potencialidades do ser humano, as quais são fundamentais para agir de forma adequada e saudável por si só.

■ Envolver-se emocionalmente com o aconselhando é a manifestação mais viva que o foco da relação terapêutica está equivocado e que se deve bus-car ajuda. Cabe ao conselheiro também cuidar da sua saúde emocional buscando ajuda para si em um processo de aconselhamento individual onde deve tratar as suas próprias questões espirituais e emocionais; ou para quem lhe procura para ser ajudado. O conselheiro deve fazer uma

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Perfi l e Atitudes do Conselheiro Cristão

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análise honesta e serena quando não reunir as devidas competências para tratar o caso. Cabe, portanto, ao conselheiro buscar ajuda junto a outros conselheiros experientes, bem como outros profi ssionais da área da psi-cologia ou da psiquiatria para fazer supervisão ou para encaminhamento do caso atendido.

■ Distanciar-se em vez de ter empatia, quando o conselheiro por algum con-teúdo da relação com o aconselhando procede se distanciando quando deveria estar presente na relação como facilitador.

Não poderíamos deixar de expor uma lista do perfi l ou atitudes do conselheiro cristão neste texto, contudo é salutar que registremos que há muitos perfi s espa-lhados pelas literaturas especializadas na atualidade. Não tivemos pretensão de construir ou advogar determinadas atitudes, mas sim expormos de maneira básica ou fundamental algumas necessárias para a construção de um perfi l de conselheiro que atenda as nossas necessidades hoje e que, do ponto vista didá-tico, possibilite abrir discursos e refl exões sobre o trabalho do conselheiro cristão.

Nesse sentido, passo a transcrever um artigo de autoria de Coelho Filho (2011), que aborda o perfi l e os atributos do conselheiro bíblico. Um trabalho expressivo, com um toque todo especial de sabedoria e com um bom suporte de fundamentação, informação e refl exãosobre o conselheiro cristão. Ainda é necessário registrar que tal transcrição sofreu, em alguns momentos, supressão ou acréscimo, contudo que fi que também registrado que toda e qualquer inter-pretação do texto apresentado abaixo, resguardado o seu sentido original, é de inteira responsabilidade nossa.

Coelho Filho (2011) inicia seu artigo abor-dando o perfi l do conselheiro cristão, como segue:

Quem também apresenta um perfi l de con-selheiro cristão é Clinebell (2000) quando trabalha a questão das habilidades de poimênica e aconse-lhamento para o pastor, em especial. Para este autor, a chave para ser bem-sucedido no aconselhamento está na própria pessoa do conselheiro. Diante disso, Clinebell (2000) lista seis características, qualidades ou habilidades que tipifi cam um perfi l de conselheiro cristão.

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SEIS CARACTERÍSTICAS, QuALIDADES Ou HAbILIDADES QuE TIPIFICAM uM PERFIL DE CONSELHEIRO CRISTÃO.

O primeiro deles é empatia. A palavra vem da mesma raiz de “simpatia” e de “antipa-tia”. Simpatia é sentir na mesma direção, sentir com. Antipatia é sentir contra. Sobre empatia, o prefixo grego en nos esclarece: é “sentir dentro”, “sentir como se fosse a pessoa”. A simpatia pode ser entendida como uma ternura, mas a empatia é uma profunda compaixão que nos faz colocar-nos no lugar daquela pessoa. o fundador do cristianismo foi a maior manifestação de empatia que o mundo já viu: “o Verbo se fez carne” (Jo 1.14). deus foi empático conosco, na pessoa de Jesus. Empatia tem a ver com compaixão. o Salvador era profundamente empático, porque era pro-fundamente compassivo: “Vendo ele as multidões, compadeceu-se delas, porque andavam desgarradas e errantes, como ove-lhas que não têm pastor” (Mt 9.36). E este é um conselho bíblico para todos os cris-tãos: “Alegrai-vos com os que se alegram; chorai com os que choram” (Rm 12.15). Somos exortados a experimentar e parti-lhar os sentimentos dos irmãos. o autor de Hebreus aconselhou a comunidade cristã nos seguintes termos: “Lembrai-vos dos presos, como se estivésseis presos com eles, e dos maltratados, como sendo-o vós mesmos também no corpo” (Hb 13.3). o conselheiro cristão deve ter este senti-mento bem aguçado. Ele não é juiz nem um crítico, mas um ajudador. E um ajuda-dor com compaixão.

Não somos profissionais que atendem a pessoa, ouvem-na sem experimentar emo-ção alguma (algumas vezes bocejando de

indiferença), e depois apenas perguntam: “Sim, o que você pensa em fazer sobre isso?”. Somos pessoas que amam a deus, que amam o povo de deus e que servem a deus servindo a seu povo. E mostramos nosso amor a deus no amor ao seu povo. Empatia é mais uma postura que adotamos que um sentimento que experimentamos. É sentir com a pessoa. A frieza ou a indife-rença é mortal no trabalho do conselheiro. Como bem frisou Collins: “É possível ajudar as pessoas mesmo sem compreendê-las inteiramente, mas o conselheiro que conse-gue transmitir empatia (principalmente no início do processo terapêutico) tem maio-res chances de sucesso”. ouvi um pastor psicólogo criticar um pastor que chorou no sepultamento de uma de suas ovelhas, dizendo que ele era um amador e que não sabia controlar as emoções. o pastor que chorou não se descontrolou, não surtou nem se mostrou histérico. E merece elogios exatamente porque não foi um profissio-nal de religião, mas um amador. Benditos sejam os amadores assim!

O segundo é respeito. Por vezes a pessoa chega e abre o seu coração, contando-nos um pecado que julgamos ser escabroso (e às vezes é mesmo). Então ficamos choca-dos com a revelação e mostramos à pessoa que não esperávamos aquilo da parte dela. ou ela nos ataca ou ataca alguém da igreja. o conselheiro, muitas vezes, é machucado pelo aconselhando. Qual deve ser a reação numa circunstância dessas? Kaller, em uma obra sobre aconselhamento cristão, usa esta figura: uma pessoa não crente se acon-

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selha com o pastor, e lhe diz: “os membros de sua igreja fazem pior do que as pessoas que não são crentes”. Ele alista quatro pos-síveis respostas do conselheiro, e entre elas duas bem curiosas. o conselheiro poderá dizer: “Você não sabe nada; pior que você não há nenhum” ou “os crentes têm suas falhas, mas as falhas dos não crentes são piores”. diz Kaller: “Esta reação não facilitará a continuação da conversa, mas é o início de uma discussão”. Ele mostra duas respos-tas que seriam mais viáveis: “Você acha que muitos crentes não vivem de acordo com suas crenças?” ou “Você acha os não cren-tes melhores que os crentes?”.

Na primeira resposta viável, o conselheiro circunscreveu a questão a uma opinião pes-soal do aconselhando, e não a deixou como um absoluto. Na segunda, deixou a porta aberta para o aconselhando continuar a expor sua mágoa. Em nenhum dos dois casos ele deixou a questão descambar para o bate-boca.

Respeito significa valorizar a pessoa, não a vendo como uma coitadinha ou uma leprosa moral ou espiritual. É vê-la como sendo uma pessoa, imagem e semelhança de deus, valiosa aos olhos do Senhor, que no momento passa por uma crise e veio lhe pedir ajuda. Não esfregue sal e pimenta nas feridas dela. Respeite seu desabafo, suas atitudes e sua postura. Isto é diferente de aceitar um comportamento errado. É res-peitar a pessoa que está querendo ajuda como pessoa. Não é um traste. Lembremos que Paulo recomendou que apoiássemos aqueles que estão fracos.

O terceiro é sigilo. o que um conselheiro ouve deve morrer com ele. Ele não passa para frente nem mesmo com pessoas inte-

ressadas no assunto. Muitas vezes alguém me procura e depois uma pessoa da família ou do relacionamento com esta pessoa vem me perguntar o que foi dito. Geralmente me nego, dizendo que o que a pessoa me contou pertence ao sigilo. Se quiser saber, que meu indagador lhe pergunte. Lem-bre-se que comentar o que lhe foi dito em confiança acabará não apenas com sua ati-vidade, mas com seu caráter. E você terá traído quem confiou em você. Poucas coi-sas são tão ruins para um pastor ou para um conselheiro que ser conhecido como fofo-queiro, como alguém que passa para frente coisas que ouviu em confidência. Há pas-tores que contam de púlpito experiências de gabinete. Não citam o nome da pessoa, mas deixam pistas claras de quem sejam. Isto é muito ruim.

Abrir o coração com alguém é tarefa difí-cil. Muitas vezes é um desnudar da alma, e é doloroso para a pessoa. Já ouvi mui-tos casos tristes e dolorosos em gabinete, desde violência sexual que uma criança sofreu por parte de pai até o uso de dro-gas por líderes da igreja. Por vezes, o peso era esmagador e eu me sentia deprimido, querendo um buraco para me enfiar. Mas sabia que não podia partilhar com nin-guém. um conselheiro deve ser sigiloso. Por isso que deve ser uma pessoa que cuide de sua vida espiritual e se fortaleça, sem-pre, com o Grande Conselheiro, deus. É a vinha dele que ele deve guardar.

O quarto é sobriedade. o Novo Testa-mento faz várias referências à sobriedade. Nós é que pouco mencionamos esta virtude cristã. Há líderes que amam holo-fotes ou são pouco discretos. Têm grande necessidade de atenção. Jesus exortou a discrição na vida espiritual, quando deixou

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recomendações sobre a oração e o jejum. Sobriedade tem a ver com discrição. Não se faz alarde de que estamos ajudando alguém. o trabalho do conselheiro é um trabalho de bastidores, que se faz nos bastidores, e não em público. Como o acon-selhamento envolve questões emocionais, e por vezes delicadas, o conselheiro deve lembrar que a imagem do aconselhando deve ser poupada. Repreensão pública ou conselhos dados em voz alta prejudicam muito. Ninguém precisa ouvir a conversa. Por isso, quando atender, fale baixo. uma das tarefas do conselheiro é ajudar a pes-soa a ser madura e tomar decisões por si, orientada pelo Espírito Santo. outra tarefa é levantar a pessoa. Neste sentido, expô-la em público, como alguém tutelado, é pre-judicial. Somos conselheiros e não pais de criancinhas travessas que devem ser cha-madas à atenção.

Há conselheiros que gostam de publici-dade para que os demais vejam como ele é importante ou como está sendo usado por deus. Remo Machado, psicólogo cris-tão, faz esta afirmação, em uma de suas obras: “Caso deus seja o centro de nossa vida, ele tem um plano para nossa exis-tência, e se ele nos delegou a posição de psicoterapeutas, devemos usá-la para enal-tecimento do nome de deus, e não para o nosso engrandecimento pessoal”. Sobrie-dade é esta característica assumida de que somos apenas instrumentos, a glória é de deus, fazemos o que temos que fazer e saímos de cena, sem esperar aplausos ou reconhecimento. o conselheiro não faz alarde do seu trabalho. A vaidade sempre é notada, sempre desgasta o vaidoso e geral-mente cobra um preço muito elevado. E as pessoas que aconselhamos não devem ser vistas como troféus a exibir.

O quinto é desprendimento. Isso significa que o conselheiro não deve levar vantagem na tarefa de aconselhar. Por vezes, o conse-lheiro é profissional, um psicólogo ou outro tipo de terapeuta. Neste caso, ele cobrará consultas. o levar vantagem, neste con-texto, significa que o conselheiro não usa as informações que recebe, nem antes nem depois do processo de aconselhamento. Suponhamos que o conselheiro seja o pas-tor ou o líder de um trabalho. um irmão o procura e lhe revela um problema e pede ajuda. Não será justo o conselheiro divulgar publicamente uma possível incapacidade da pessoa para o exercício de uma função para a qual ela vier a ser indicada. Eviden-temente que se for um caso grave, como uma pessoa que tenha tendências pedófi-las sendo indicada para cuidar de crianças, o conselheiro precisará agir. Mas isso exige cautela. A questão principal é de ordem pessoal: não levar vantagem. Não impugnar a pessoa para um cargo ou função porque tem outro nome que é seu preferido ou porque o ambiciona etc. deve se lembrar também que Cristo pode transformar uma vida e que um pecado que uma pessoa cometeu no passado não será, necessaria-mente, cometido outra vez pela pessoa.

O sexto é capacitação. Já tangencia-mos este aspecto anteriormente. Trata-se da capacitação para o serviço a desem-penhar e da capacitação espiritual para poder desempenhar o serviço. Precisa-mos ter em mente que nenhum de nós, como líder cristão, é um produto acabado. No que se presume ser sua última carta, já idoso, Paulo pede a Timóteo: “Quando vie-res, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, e os livros, especialmente os pergaminhos” (2Tm 4.13). os especialistas distinguem entre “livros” e “pergaminhos”.

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o primeiro termo aludiria a obras secula-res, e o segundo teria o sentido de livros canônicos, isto é, os escritos sagrados. Ele está detido na cadeia, e prestes a ser exe-cutado, mas ainda quer os livros. o obreiro cristão em geral e o conselheiro em particu-lar sempre devem querer crescer. Adquirir livros, ouvir palestras, fazer cursos, tudo isso ajuda muito o conselheiro. Mas o preparo espiritual nunca pode ser negligenciado. o Pr. Falcão dá como sendo um dos aspectos

mais importantes na vida do conselheiro ao ajudar alguém em crise: “orar por si mesmo e colocar-se nas mãos de deus para prestar uma ajuda afetiva”. desempenhamos uma atividade espiritual e nunca podemos nos esquecer disso. A autoridade espiritual que vem da comunhão com deus e da submis-são à sua Palavra é sempre notada na vida de quem a tem. E quem a tem não pre-cisa alardear.

Fonte: <http://www.isaltino.com.br/2011/11/o-perfil-e-atributos- do-conselheiro-biblico/>. Acesso em: 27 dez. 2011.

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O PERFIL E O PAPEL DO CONSELHEIRO E DO CAPELÃO CRISTÃO

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Clinebell (2000) começa sua lista trazendo as ideias rogerianas, as quais são: congruência, calor humano não possessivo (solicitude e respeito pela pessoa) e compreensão empática, e, depois, apresenta mais três de sua autoria.

1. Congruência – significa que o conselheiro deve desenvolver autenti-cidade interior, integridade e abertura. Nesse sentido, deve proceder a comportamentos que expressem autenticidade e transparência. O oposto a essa característica é a impostura, “fazer de conta” e “fingir”. Sendo assim, compreende Clinebell (2000) que a pessoa que esconde seus reais sentimentos, mais cedo ou mais tarde perde a noção de muitos deles, produzindo pontos cegos emocionais, principalmente nas áreas de hos-tilidade, agressividade, sexualidade e carinho.

2. Calor humano não possessivo (solicitude e respeito pela pessoa) – é o equivalente humano à Graça de Deus em Cristo. Graça é o amor que não se precisa granjear, porque já está existente em um relacionamento. Segundo Clinebell (2000), “consideração positiva incondicional é uma mescla de calor humano, gostar da pessoa, preocupa-se com ela, interes-sar-se por ela, aceitá-la e respeitá-la” (p.406).

3. Compreensão empática – significa entrar no mundo interior de significados e sentimentos profundos da pessoa, escutando com aten-ção e interesse. Clinebell (2000) observa, que uma das barrei-ras para o desenvolvimento da compreensão empática é o narcisismo defensivo, pois não permite olhar para o outro, mas apenas para si. Nesse sentido, Clinebell (2000) em tom pasto-ral afirma: “a oração contínua do pastor-aconselhador poderia muito bem ser o verso de hino: ‘afasta de mim o obscurecimento de minha alma’” (p.406).

As outras três características, Clinebell (2000) acrescenta:

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1. Uma robusta noção da própria identidade como pessoa - é quando o conselheiro desenvolve firmemente sua identidade e valor próprio, de sua personalidade e vida. É centrado. Certamente, observa Clinebell (2000, p.406), quando há essa condição, o conselheiro é capaz de responder com sensibilidade necessária às necessidades dos outros na medida em que possui esta consciência centrada de seu próprio valor e personalidade.

2. Sarador ferido - esta é uma expressão usada pro Clinebell (2000) que evoca a atitude terapêutica descrita por Henri Nouwen. Essa atitude provém de uma consciência vivida de familiaridade com a doença, o pecado, a solidão, a alienação e o desespero da pessoa com distúrbio e, fundamentalmente, quando o conselheiro se coloca também nesse plano e reconhece a ação superior de Deus na vida daquela pessoa, pois ele mesmo (conselheiro) também é suscetível e frágil, necessitado. Por isso Clinebell (2000) afirma: “pela graça de Deus”, como afirmação de fé necessária para o exercício do aconselhamento cristão.

3. Vivacidade pessoal – essa característica é quando se mantém o vigor e a energia sempre presentes. Contudo, Clinebell (2000) destaca que tal ati-tude não é simples, mas necessita de aprendizado constante. Pois quando se fala em vivacidade, está se pensando naquela que é contagiante. Não é fácil manter essa atitude, lembra Clinebell (2000), ao solicitar ao leitor que observe o seu próprio comportamento após atender certas pessoas, como o conselheiro fica diferente; como a vivacidade interessada oscila.

Vejamos agora algumas atitudes necessárias ao conselheiro cristão, que são apresentadas por Coelho Filho (2011):

Primeiro: ele deve proceder sem preconceito quando aconselha

Pode ser que a pessoa aconselhada esteja em pecado e deva ser orien-tada quanto a isso, mas não compete ao conselheiro, como conselheiro, condená-la. No aconselhamento não se prega. Conversa-se e se mostra à pessoa a situação em que ela se encontra e as alternativas a tomar na sua vida. Em outras ocasiões, o conselheiro administrará conflitos de relacionamentos entre partes. Deve evitar se posicionar contra um ou contra outro. Ele deve ser uma ponte e não um juiz. Pode ser que a questão esteja bem clara e ele tenha uma posição bem definida, mas deve se lembrar que está ali para conciliar partes.

Já me aconteceu, em passado remoto, aconselhar um líder da igreja com problemas de drogas. No íntimo, por dentro, fiquei muito indig-nado com este comportamento vindo de um líder em que eu e a igreja

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O PERFIL E O PAPEL DO CONSELHEIRO E DO CAPELÃO CRISTÃO

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confiávamos, mas sabia que perderia a pessoa se manifestasse este sen-timento. Ela já estava bastante frustrada e envergonhada. Não manifes-tei minha postura de censura. Ela já sabia que estava errada. Tratamos de como superar a situação. Mostrei-lhe empatia. A pessoa superou o problema e até hoje está na liderança (pedi permissão a ela para citar o evento, sem nomear e localizar, e ela me concedeu). Precisamos ter muita cautela e lutar para impedir que nossos sentimentos pessoais de aceitação ou rejeição nos levem a tomar atitudes que bloqueiem o pro-cesso de aconselhamento.

Segundo: ele deve evitar dar ordens

Inconscientemente, o conselheiro tem o desejo de dominar e exercer con-trole na vida da pessoa aconselhada. Até porque se sente em condições de orientar a outra parte. Nosso papel é levar a pessoa a ver a vontade de Deus para sua vida. E precisamos ser humildes para reconhecer que nem sempre a vontade de Deus é a nossa, como conselheiros. Podemos mostrar à pessoa as opções e as consequências das opções, mas deve ser deixada com ela a decisão a tomar. É assim que ela amadurecerá. Quando dizemos às pessoas o que fazer, elas criam dependência emocional. E isto não é bom. O conselheiro poderá dizer que executou bem sua função quando a pessoa chegar a um ponto em que o aconselhado não mais precisar dele como orientador. Essa ideia de “guru” ou de um mentor que tutoreia a pessoa por toda sua vida não é uma medida salutar. É an-tibíblica. Conforme Efésios 4.13, o exercício de dons na igreja é para que os crentes cheguem “ao estado de homem feito, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4.13). Conduzir alguém pela mão por toda a vida não faz desse alguém uma pessoa neste patamar de adulto em Cristo. Há muito manipulador querendo ser mentor.

Terceiro: o conselheiro deve cultivar objetividade e não ser envolvi-do emocionalmente

Não confunda as coisas nem tente fazer “pegadinhas”, dizendo que isto é o oposto da empatia mostrada como necessária. Terapeutas profissionais não devem aconselhar parentes ou pessoas a eles liga-das emocionalmente. Sua análise sempre será prejudicada porque terá envolvimento emocional. Há uma linha divisória entre empatia e en-volvimento emocional. A empatia é produto da misericórdia cristã. O envolvimento sucede quando o conselheiro se sente perturbado por-que aquilo o atinge diretamente. Por vezes, ele está passando por um problema semelhante ao que a pessoa que lhe procura está passando e sente desnorteado, ou sem condições de fazê-lo. Não é errado um con-selheiro ter problemas e passar por lutas, é preciso dizer neste contexto. O problema é quando o aconselhando está numa situação idêntica e o conselheiro sente que está sem condições.

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A eficácia do aconselhamento, neste caso, será reduzida. Ao mesmo tempo, em contrapartida, o conselheiro poderá ver nesta situação como a pessoa está sofrendo. Mas sua orientação poderá ser apenas um reflexo do que ele faria. E as pessoas reagem de maneira diferente. O conselheiro poderá mostrar um caminho que ele tem condições de percorrer, mas talvez a outra pessoa não tenha. Ele precisará refletir bastante, orar e ter humildade para, se for o caso, dizer à pessoa que naquele momento não poderá ajudá-la. Se tiver certeza de que estará mais capacitada exatamente por estar vencendo o problema, deve aju-dar. Mas se estiver sendo abatida pelo problema, terá pouco o que dizer. E deverá ter a humildade de reconhecer isto.

Quarto: Saber filtrar o que está sendo dito

Nem sempre as palavras revelam. Por vezes mascaram. Para filtrar bem, o conselheiro precisa de um bom filtro (ou um coador). É oportuno lembrar que vivemos numa sociedade massificada pelo egoísmo e que as pessoas, em sua maior parte, têm motivações egoístas. Até mesmo na área espiritual. O conselheiro precisa ter um bom parâmetro para avaliar e orientar. Por exemplo: qual é a finalidade da vida? É a busca de felicidade? É o que as pessoas buscam e o que muitas pregações sinali-zam. Mas é este o propósito de Deus para nós?

Um problema muito sério é que os crentes estão buscando felicidade, e não mais santidade, como se pudessem ser felizes à parte de sua co-munhão com Deus. Com esta visão, a vida cristã passa a ser a busca de satisfação de necessidades pessoais (algumas irrelevantes e supérfluas). É um conceito mundano. Assim, o trabalho do conselheiro passa a ser mais o de um terapeuta secular, levando as pessoas a se aceitarem como são e a buscarem necessidades muitas vezes mundanas, que um servo cristão que ajuda os crentes na sua caminhada a uma vida mais profun-da com Deus. Muitos dos problemas espirituais e emocionais não estão ligados à área espiritual ou da vontade de Deus, mas a projetos pessoais que os indivíduos têm, muitos deles modelados pelo padrão do mundo. Eles não alcançam tais projetos e se frustram. Tenho observado, em quarenta anos de ministério (o que não me torna infalível, mas me faz entender muitas coisas) que grande parte da aflição dos crentes é por coisas das quais não precisam e sem as quais podem viver. Mas deixam-se modelar pela massificação mundana de uma sociedade materialista que espiritualmente é decadente. Eles querem ser como o mundo. E querem as coisas que o mundo quer.

O conselheiro deve ter em conta que lidará com muitas pessoas que têm problemas por causa de necessidades que não devem ser atendidas.

[...] A atividade de aconselhar biblicamente não é a de dar pirulitos a

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crianças frustradas, mas ajudar as pessoas a entenderem o propósito de Deus para a vida delas. Há uma diferença enorme entre desejos e necessidades. É preciso saber a distinção entre os dois. E o conselheiro, algumas vezes, terá que levar a pessoa a entender isso [...]

Assim sendo, não se culpe se não vir resultado imediato ou se a pessoa custar a aceitar sua orientação. Sua missão não é produzir resultados, mas fazer o melhor que puder, na dependência do Espírito Santo. O resto compete a Deus, que fará a obra no tempo dele. Que sempre é o certo (pp. 5-9).

PERFIL E PAPEL DO CAPELÃO HOSPITALAR

Como demos destaque para a capelania hospitalar quando tratamos sobre a fundamentação teórica sobre cape-lania; nesta parte desenvolveremos o perfi l e o papel do capelão hospitalar. Tal intento será construído transcrevendo algumas partes do capítulo denomi-nado “O capelão hospitalar” de autoria de Silva (2010), que se encontra em sua dissertação de mestrado, a qual versa sobre “A Capelania Hospitalar: uma contribuição na recuperação do enfermo oncológico”; bem como as contribuições de Saad e Nasri (2008). Fica aqui o registro de que pode haver na transcrição de algumas partes do capítulo supracitado, supressão ou acréscimo com o objetivo tão somente de atender as necessidades desta unidade de estudo.

Silva (2010) observa que o capelão hospitalar deverá ter as seguintes características:

VocacionadoO capelão hospitalar, para exercer sua práxis no hospital, deve ter con-vicção de sua chamada, de sua vocação para esse ofício, o que exige fé

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de que foi chamado por Cristo para este trabalho junto aos enfermos. Ele deve sentir-se chamado por Deus a partir da realidade do sofrimen-to para produzir saúde e vida.

Sendo assim, torna-se continuador da ação misericordiosa e libertado-ra do Cristo para com os doentes, a exemplo do Bom Samaritano (Lc 10,29-37). Sua ação vai muito além da simples caridade ou filantropia, transformando situações de indiferença em solidariedade, contextos de morte em vida, realidades manipuladoras em defesa da dignidade humana ferida. Portanto, transforma-se em agente de mudança e trans-formação.

Agente de transformaçãoInconformado com a realidade social em que está inserido, ele alimen-ta uma indignação ética diante do descaso no tocante à vida humana. O capelão é um profeta. Denuncia o que contradiz a verdade do evan-gelho de Jesus Cristo e anuncia uma nova perspectiva sobre a realidade opressora. Apresenta-se como um ser ativo de presença crítica e ques-tionante diante da realidade do hospital que não vá ao encontro das necessidades do enfermo.

Consequentemente é um militante de políticas de humanização que busca colocar o enfermo como razão de ser e existir do hospital. Para que o capelão consiga desempenhar bem o seu papel, faz-se necessária uma formação específica e uma reciclagem (formação) continuada.

ProfissionalSegundo Cavalcanti, o hospital funciona sem a presença de um cape-lão, mas não sem a presença de médicos e enfermeiros. Portanto, o ca-pelão deverá conduzir-se frente a esses servidores da saúde com todo respeito e cortesia. Haverá sempre a prioridade médica ao atendimento do paciente: são raros os casos ao contrário.

Os médicos e enfermeiros estarão trabalhando em suas respectivas áre-as, sejam doenças físicas ou psíquicas, enquanto o capelão direciona a atuação aos cuidados espirituais. O capelão não deve dar conselhos médicos, receitar remédios, divulgar diagnósticos ou outro assunto concernente à área médica.

O capelão apresenta-se normalmente à Chefia de Enfermagem quando em visitas a pacientes nas enfermarias. Devendo participar de treina-mento junto aos demais profissionais para receber informações sobre como proceder em relação a veículos transmissores de infecção, priori-zando o tratamento do paciente e protegendo-o de possíveis contami-nações. Deverá, também, ser informado sobre diagnóstico de pacientes com doenças infecto-contagiosas. O capelão hospitalar pode, também,

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como forma de reconhecimento e congraçamento, promover comemo-rações no Dia do Médico e do Enfermeiro.

Educador e evangelizadorPara o bom desempenho do seu trabalho no hospital, o capelão deve desenvolver a competência de despertar novas lideranças para atuarem neste ministério que está no “coração de Deus’’, na dimensão humana e ética. O capelão comunica e educa para uma visão holística em que a pessoa humana é respeitada integralmente nas suas dimensões sociais, físicas, psíquicas e espirituais.

No Hospital Evangélico de Vila Velha, no Estado do Espírito Santo, uma das atribuições do capelão é ministrar cursos aos agentes voluntá-rios da Pastoral da Saúde de confi ssão católica, os quais recebem todo o preparo prático e teórico para atuarem no Hospital.

Atualmente, a capelania deste Hospital conta com cerca de 120 volun-tários de várias denominações religiosas, os quais recebem treinamento para atuarem lá.

Diante disso, pode-se constatar a necessidade de uma formação sólida e específi ca do capelão. Por isso, verifi ca-se a necessidade de o capelão desenvolver a competência de liderança para desenvolver esse aspecto de sua função no hospital.

Espiritualidade salvífi caDe acordo com a capelã e pastora do Hospital Evangélico de Vila Ve-lha Maria Luiza Ruckert, o serviço de capelania representa um espaço privilegiado para traduzir a Boa-Nova para a linguagem dos relaciona-mentos, uma linguagem que nos permite comunicar uma mensagem de cura, salvação e esperança às pessoas que se debatem em dor e desespero, incertezas e vazio (característica muito presente na nossa época ).

Portanto, o capelão valoriza a vida humana cultivando uma espirituali-dade salvífi ca, sendo agente gerador de vida e esperança em meio a dor, sofrimento e morte. Por isso, deve ser um homem de oração constante e de comunhão profunda com Deus. Um crente que ora com e pelo doente, um ser que vivencia uma vida orante a partir do sofrimento humano numa perspectiva de salvação e cura. A partir dessa espiritua-lidade, o capelão se torna um pedagogo da fé.

LíderO capelão deverá saber delegar responsabilidades confi ando nas ca-pacidades das pessoas, com isso evitando centralizações. Ele estimula iniciativas voluntárias que se apresentam de forma gratuita e solidária movidas pelo amor ao próximo, como, por exemplo, o voluntariado.

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Como líder religioso carismático na comunidade hospitalar, procura sempre estar inovando, buscando novos métodos e iniciativas para al-cançar as pessoas na sua totalidade. Nesse sentido, a criatividade o leva a sair da rotina e buscar sempre o novo. Sendo líder, é um conhecedor da realidade pluralista que o cerca e com a qual dialoga.

EcumênicoA função ocupada pelo capelão exige um bom relacionamento com ou-tros religiosos que atuam no hospital. Haverá certas ocasiões em que os capelães (católico, evangélico, rabino etc.) serão convidados pela Administração para participar de solenidades ou comemorações ecu-mênicas: cada convite deverá ser estudado para que não haja dúvida quanto à presença e à mensagem proferida pela capelania.

O capelão, nessa realidade, zela pelo atendimento das necessidades psi-coespirituais dos enfermos segundo a sua tradição religiosa, o que não o impede de manter-se aberto ao diálogo com outras tradições religiosas.

Nesse sentido, deve ser capaz de realizar um diálogo inter-religioso, cooperando no objetivo comum de servir ao doente, preservando a própria identidade de fé, nesse contexto pluralista, onde se encontram diferentes opções religiosas (pp. 32-35).

Conforme Silva (2010), o capelão deve ser uma pessoa de bom relacionamento com todos no hospital. Sua amizade deve se estender, dos cargos mais simples até os mais elevados. Sempre deve estar pronto para ajudar, aconselhar e prestar seus serviços. Isso requer humildade, empatia, sinceridade e também versati-lidade. Sua imagem ou papel social é sempre de alguém espiritual, amoroso e testemunha de Cristo, por isso sua responsabilidade estende-se a todas as pes-soas com as quais convive.

Ainda sobre o perfil do capelão, Saad e Nasri (2008) observam a importância da espiritualidade no contexto hospitalar, bem como ressaltam a relevância da assistência espiritual ao paciente internado. Nesse particular, os referidos autores são taxativos em afirmar que não é qualquer um que pode oferecer esse serviço. Tem que ter conhecimento e habilidade. Nesse sentido, Saad e Nasri (2008) res-saltam que os capelães têm que desenvolver as seguintes habilidades religiosas:

■ Sensibilidade à realidade de múltiplas culturas e crenças.

■ Respeito às preferências espirituais ou religiosas dos pacientes.

■ Entendimento do impacto da doença no indivíduo e seus cuidadores.

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■ Conhecimento da estrutura e da dinâmica de uma organização de saúde.

■ Responsabilidade como parte de uma equipe profissional de saúde.

■ Responsabilidade diante de seu grupo religioso.

Partindo desses pressupostos acima, destacamos a partir de Silva (2010, p.36) algumas das principais atribuições que o capelão possui, as quais o autor faz refe-rência em sua dissertação. Vejamos:

■ Coordena o serviço da Capelania – tem a responsabilidade institucional junto à Direção do Hospital.

■ Participa de treinamento – principalmente sobre contaminação e recebe orientações sobre como proceder junto aos pacientes.

■ Atende pacientes e funcionários.

■ Dirige e coordena cultos e funerais.

■ Organiza as atividades da capelania.

■ Aprova todo o material impresso a ser distribuído.

■ Orienta os deveres e direitos dos pastores visitantes.

■ Assegura o cumprimento do regulamento interno do Hospital e conví-vio com outros religiosos e pessoas da saúde.

■ Organiza as atividades de visitação de religiosos no hospital.

■ Escreve ou aprova artigos escritos para a publicação no boletim do hos-pital e para cartões e datas especiais.

Silva (2010) compreende, por fim, que o capelão deve ser um profissional que possui um bom relacionamento com a Administração do Hospital, não só pelo aspecto formal de sua função. Por isso, requer-se de todo aquele que exerce cape-lania hospitalar ética e uma postura irrepreensível.

Saad e Nasri (2008) observam que o capelão é um profissional que pode atuar como membro de saúde por:

a) Participar em visitas médicas e discussões de caso de pacientes, ofere-cendo perspectivas no estado espiritual destes.

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Considerações Finais

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b) Participar em educação interdisciplinar.

c) Traçar o plano de intervenções de cuidados espirituais.

Cabe, portanto, ao capelão desenvolver conhecimentos básicos e fundamentais para o exercício de sua profissão, com a finalidade de contribuir nesse contexto, que é de ajuda espiritual para o crescimento diante da dor ou do sofrimento.

Conforme Saad e Nasri (2008), são essas as atividades típicas do capelão, no contexto hospitalar:

■ Cuidado em perdas e luto.

■ Triagem de risco, identificando indivíduo cujos conflitos internos com-prometem sua recuperação satisfatória.

■ Facilitação de questões espirituais relacionadas à doação de órgãos.

■ Intervenção em crise.

■ Avaliação espiritualista.

■ Facilitação de comunicação entre a equipe.

■ Resolução de conflitos entre equipe, paciente e família.

■ Encaminhamento a recursos de auxílios externos ou internos.

■ Auxílio em tomadas de decisões.

■ Apoio à equipe em crises pessoais ou estresse trabalhista.

CONSIDERAçõES FINAIS

Como havíamos observado anteriormente, nesta unidade foi aprofundada teo-ricamente a prática do conselheiro e do capelão.

Antes, contudo, foram assinaladas algumas atitudes inadequadas do con-selheiro, como: visitação informal; desinteresse no atendimento; rotulação o

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aconselhando; condenação precipitada; negação das potencialidades do acon-selhando; relação informal; envolvimento emocional e distanciamento.

Sobre o perfil, a partir de Coelho Filho (2011) e Clinebell (2000), destaca-ram-se do primeiro autor: empatia, respeito, sigilo, sobriedade, desprendimento e capacidade enquanto do segundo autor: congruência, calor humano não pos-sessivo, compreensão empática, uma robusta noção da própria identidade como pessoa sarador ferido e vivacidade pessoal.

Com relação às atitudes do conselheiro, fundamentadas em Coelho Filho (2011), são: não ser preconceituoso, não ser controlador, ser objetivo, não se envolver emocionalmente e saber filtrar o que ouve.

Sobre Capelania Cristã foram trabalhados os estudos de Silva (2010) e Saad e Nasri (2008), que desenvolveram seus estudos abordando o perfil e papel do capelão.

No que tange ao perfil destacou-se; portanto, que o capelão: é vocacionado, agente de transformação, profissional, educador e evangelizador, possui espi-ritualidade salvífica, é líder e ecumênico, respeita as preferências espirituais ou religiosas dos pacientes, conhece o impacto da doença no indivíduo e seus cuidadores, conhece a estrutura e a dinâmica de uma organização de saúde é res-ponsável com relação à equipe de trabalho e com o seu grupo religioso.

Com relação às tarefas ou atitudes que o capelão desenvolve, foram desta-cadas as seguintes: coordenar o serviço de capelania; capacitar pessoal sobre as questões religiosas e espirituais; organizar as atividades; orientar os religiosos e pastores que visitam o hospital; assegurar o cumprimento dos regulamentos sobre a visitação religiosa; aprovar e escrever artigos sobre temas afins e atuar como membro da equipe médica.

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O VISITADOR, SuA FuNçÃO E SuAS ATIVIDADES

Assuntos que devem ser avaliados com respeito ao trabalho com os enfermos:

■ o hospital é uma instituição que busca uma cura física. Temos que respeitar o ambien-te, a estrutura hospitalar e trabalhar dentro das normas estabelecidas. Como evangé-licos a Constituição Brasileira nos dá direitos de atender os doentes, porém não é um direito absoluto. devemos fazer nosso trabalho numa forma que não atinja os direitos dos outros.

■ Como é que você encara uma doença ou o sofrimento humano? Tem que avaliar suas atitudes, seus medos, suas ansiedades, etc. Nem todos podem entrar numa enferma-ria ou visitar um doente no lar, porque não é fácil lidar com situações que envolvem o sofrimento humano.

■ Quando visitamos os enfermos devemos estar atentos aos sentimentos e preocupa-ções deles. Nossa agenda precisa priorizar os assuntos que eles desejam abordar.

■ Como crente em Jesus temos algo que todos desejam: esperança. deve expressar esta esperança de maneira realística e com integridade. Tenha cuidado com promessas fei-tas em nome de deus. Podemos levar palavras seguras, mas devemos evitar a criação de uma esperança falsa.

■ observar e respeitar as visitas de outros grupos. Faça seu ministério sem competir ou entrar em conflitos. Seja uma boa testemunha.

■ Saiba utilizar bem nossos instrumentos de apoio que são: oração, a Bíblia, apoio da igreja, e a esperança em Jesus Cristo, o Médico dos Médicos.

■ ore e confie no Espírito Santo para lhe ajudar.

■ Aprenda os textos Bíblicos apropriados para usar nas visitas hospitalares ou nos lares dos enfermos.

■ Aprenda algumas normas, regras, e orientações para visitar os enfermos.

A Prática

Como capelão por mais de 20 anos do Hospital Presbiteriano dr. Gordon, procurei de-senvolver um ministério prático de visitação. Este projeto de Voluntários para a Capela-nia do Hospital que segue representa o aprendizado da teoria que foi confirmada e am-pliada na prática. Cada experiência de Capelania Hospitalar ou cada visita aos enfermos são experiências distintas. Porém, os princípios, os valores, as regras, e as normas são semelhantes e válidos para todos os casos.

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1. Como criar seu espaço de trabalho:

■ Entender seu propósito

■ Ganhar seu direito

■ Trabalhar com equipe médica

2. deve:

■ Identificar-se apropriadamente.

■ Reconhecer que o doente pode apresentar muita dor, ansiedade, culpa, frustrações, desespero, ou outros problemas emocionais e religiosos. Seja preparado para en-frentar estas circunstâncias.

■ usar os recursos da vida Cristã que são: oração, Bíblia; palavras de apoio, esperança, e encorajamento; e a comunhão da igreja. Se orar, seja breve e objetivo. É melhor sugerir que a oração seja feita. uma oração deve depender da liderança do Espírito Santo, levando em consideração as circunstâncias do momento, as condições do paciente, o nível espiritual do paciente, as pessoas presentes, e as necessidades ci-tadas.

■ deixar material devocional para leitura: folheto, Evangelho de João, Novo Testa-mento, etc.

■ Visitar obedecendo às normas do Hospital ou pedir de antemão, se uma visita no lar é possível e o horário conveniente.

■ dar liberdade para o paciente falar. Ele tem suas necessidades que devem tornar-se as prioridades para sua visita.

■ demonstrar amor, carinho, segurança, confiança, conforto, esperança, bondade, e interesse na pessoa. Você vai em nome de Jesus.

■ Ficar numa posição onde o paciente possa lhe olhar bem. Isto vai facilitar o diálogo.

■ dar prioridade ao tratamento médico e também respeitar o horário das refeições.

■ Saber que os efeitos da dor ou dos remédios podem alterar o comportamento ou a receptividade do paciente a qualquer momento.

■ Tomar as precauções para evitar contato com uma doença contagiosa, sem ofender ou distanciar-se do paciente.

■ Aproveitar a capela do hospital para fazer um culto. Se fizer um culto numa enfer-maria pode atrapalhar o atendimento médico de outros pacientes ou incomodá-los. deve ficar sensível aos sentimentos e direitos dos outros.

■ Avaliar cada visita para melhorar sua atuação.

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3. Não deve:

■ Visitar se você estiver doente.

■ Falar de suas doenças ou suas experiências hospitalares. Você não é o paciente.

■ Criticar ou questionar o hospital, tratamento médico e o diagnóstico.

■ Sentar-se no leito do paciente ou buscar apoio de alguma forma no leito.

■ Entrar numa enfermaria sem bater na porta.

■ Prometer que deus vai curar alguém. Às vezes deus usa a continuação da doença para outros fins. Podemos falar por deus, mas nós não somos o deus Verdadeiro.

■ Falar num tom alto ou cochichar. Fale num tom normal para não chamar atenção para si mesmo.

■ Espalhar detalhes ou informação íntima ou o paciente. Pode orientá-los, mas deixe-os tomarem as decisões cabíveis e sobre o paciente ao sair da visita.

■ Tomar decisões para a família ou o paciente. Pode orientá-los, mas deixe-os toma-rem as decisões cabíveis e sob a orientação médica.

■ Forçar o paciente falar ou se sentir alegre, e nem desanime o paciente. Seja natural no falar e agir. deixe o paciente a vontade.

Numa visita hospitalar ou numa visitação em casa para atender um doente, sempre ob-servamos vários níveis de comportamento. Cada visita precisa ser norteada pelas cir-cunstâncias, os nossos objetivos ou alvos, e as necessidades da pessoa doente.

As perguntas servem como boa base para cultivar um relacionamento pessoal. As per-guntas foram elaboradas pelo dr. Roger Johnson num curso de Clinical Pastoral Educa-tion em Phoenix, Arizona, EuA . dr. Johnson lembra-nos que há perguntas que devemos evitar. Perguntas que comecem com “por que” e perguntas que pedem uma resposta “sim”ou “não” podem limitar ou inibir nossa conversa pastoral. Segue uma lista de per-guntas próprias. A lista não é exaustiva e as pessoas podem criar outras perguntas. A lista serve como ponto de partida para uma conversa pastoral.

1. o que aconteceu para você encontrar-se no hospital?

2. o que está esperando, uma vez que está aqui?

3. Como está sentindo-se com o tratamento?

4. Como está evoluindo o tratamento?

5. o que está impedindo seu progresso?

6. Quanto tempo levará para sentir-se melhor?

7. Quais são as coisas que precipitaram sua enfermidade?

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8. Ao sair do hospital ou se recuperar, quais são seus planos?

9. Como sua família está reagindo com sua doença?

10. o que você está falando com seus familiares?

11. o que seus familiares estão falando para você?

12. o que você espera fazer nas próximas férias (outro evento ou data importante)?

os enfermos passam por momentos críticos. devemos ficar abertos e preparados para ajudar com visitas e conversas pastorais. os membros de nossas igrejas podem atuar nessa área. uma visita pastoral ou conversa pastoral serve para dois aspectos de nossa vida.

Primeiro, uma visita demonstra nossa identificação humana com o paciente. Como ser humano nós podemos levar uma palavra de compreensão, compaixão, amor, solidarie-dade e carinho. Segundo, na função de uma visita ou conversa pastoral representamos o povo de deus (Igreja) e o próprio deus na vida do paciente. Assim, levamos uma palavra de perdão, esperança, confiança, fé e a oportunidade de confissão. o trabalho pastoral visa o paciente como um “ser humano completo, holístico” e não apenas como um corpo ou um caso patológico para ser tratado.

Eudoxio SantosFonte: <http://capelaniahospitalar.blogspot.com/>

Acesso em: 27 dez.2011.

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1. Como temos ressaltado, é fundamental que tanto o conselheiro quanto o capelão desenvolvam comportamentos adequados. Nesta unidade, foi concedido espaço para também listarmos atitudes inadequadas do conselheiro cristão. diante disso, re-lacione duas atitudes inadequadas listadas e desenvolva um texto, entre 5 e 10 linhas, que ressalte as implicações negativas desse comportamento.

2. Sobre o perfil do conselheiro, vimos que há um universo comum de características necessárias para que esse ministério seja de-senvolvido a contento. Quem de uma maneira sistemática, ar-ticulada e apaixonada, diga-se de passagem, abordou sobre o perfil do conselheiro foi Coelho Filho. Ele destacou o seguinte perfil: ser empático, respeitoso, sigiloso, sóbrio, desprendido e capaz. dessas seis habilidades, escolha apenas duas e em segui-da elabore um texto, entre 4 e 8 linhas, em que você argumenta que essas duas habilidades são imprescindíveis para um bom desempenho da atividade de conselheiro cristão hoje.

3. Vimos dois perfis de conselheiro cristão. um apresentado por Coelho Filho (2011) e outro por Clinebell (2000). Faça uma re-lação entre esses dois perfis destacando pontos semelhantes e diferenças. Seja objetivo em sua resposta, citando e argumen-tando com referência aos próprios textos estudados.

4. Assim como o conselheiro tem um papel esperado que aqui foi destacado, assim também tem o capelão hospitalar. Que rela-ção é possível fazer entre o perfil do capelão hospitalar e do conselheiro? Apresente pelo menos duas atitudes que podem ser relacionadas.

5. A capelania é uma atividade essencialmente de cuidado. Isso não é em absoluto estranho no contexto hospitalar. Ser cape-lão hospitalar é cuidar. Relacione o papel apresentado por Silva (2010) e as habilidades apresentadas por Saad e Nasri (2008), que argumentam no sentido positivo de que a capelania é cui-dar. Faça essa relação produzindo um texto entre 4 e 8 linhas.

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Material CoMpleMentar

O PERFIL E O PAPEL DO CONSELHEIRO E DO CAPELÃO CRISTÃO

Capelania HospitalarEste link remete a uma associação de capelania hospitalar. Nele você tem informações, orientações, mensagens, literatura e cursos.http://www.capelania.com/2008/index.php

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UNIDADE V

Professor Me. Rubem Almeida Mariano

TeMAs e proCeDIMenTos eM AConseLHAMenTo e CApeLAnIA CrIsTã

Objetivos de Aprendizagem

■ Conhecer os procedimentos e técnicas de aconselhamento de apoio, de perda pessoal e de crise matrimonial.

■ Identificar os procedimentos e metodologias necessários para o desempenho em Aconselhamento e Capelania Cristã.

■ Conscientizar-se dos comportamentos do aconselhando ou paciente em situação de crise.

Plano de Estudo

A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

■ Aconselhamento de apoio

■ Aconselhamento em casos de perda pessoal

■ Aconselhamento em casos de crise matrimonial

■ Atividade de exercício prático de aconselhamento de apoio

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INTRODuçÃO

“Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados”.Evangelho de Mateus 5:4

“É ele que nos conforta em toda nossa tribulação, para podermos con-solar os que estiverem em qualquer angustia”.

2 Coríntios 1:4

“Em pleno inverso, dei-me conta, finalmente, de que dentro de mim havia um verão invencível”.

Albert Camus, Actuelles

Certa vez ouvi de um dos meus alunos, em uma aula de aconselhamento pasto-ral, a seguinte afirmação: “o nosso problema, no aconselhamento, não é falta de conhecimento bíblico, mas falta de conhecer a pessoa do aconselhando, seu com-portamento”. Essa afirmação remete sem dúvida aos conhecimentos de métodos e técnicas sobre o ato de aconselhar.

Tenho notado que o grande interesse das pessoas é como proceder quando alguém precisa de apoio, ou quando está em crise; diante de uma separação; perda pessoal; crise matrimonial ou como aconselhar toda uma família.

Hoje, temos um número considerável de literatura cristã que tem dado conta dessa demanda, lembro aqui alguns clássicos, como “Aconselhamento Cristão” e “Ajudando uns aos outros pelo Aconselhamento” de Collins; “Aconselhamento Pastoral: modelo centrado em libertação e crescimento” de Clinebell e um dos textos mais recentes nessa área, do conhecido argentino psicólogo e pastoralista Schipani, “O caminho de sabedoria no Aconselhamento Pastoral”.

Diante disso, nesta unidade estaremos apresentando alguns dos temas em aconselhamento, bem como métodos e técnicas, que podem ser utilizados para o enfrentamento dessas situações. Aqui fizemos uma opção em traba-lhar com as ideias e casos apresentados pelo conselheiro Clinebell em seu livro “Aconselhamento Pastoral”. Fizemos uma seleção de alguns temas e procedimen-tos sugeridos pelo referido autor, são eles:

Introdução

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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

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a) Aconselhamento de apoio.

b) Aconselhamento em casos de perda pessoal.

c) Aconselhamento em casos de crise matrimonial.

Esperamos que este texto não seja encarado como um receituário, mas como um guia introdutório teórico-prático para o enfrentamento dos temas abordados aqui.

Ao final de cada tema estudado, tem-se uma sessão denominada “Atividade de exercício prático de aconselhamento sobre o tema abordado”. O objetivo é bem simples, caro aluno, possibilitar uma reflexão ou prática para implementar os conhecimentos estudados. Essas atividades foram todas elaboradas a partir do livro “Aconselhamento Pastoral” de Clinebell (2000).

ACONSELHAMENTO DE APOIO

Apoio. Essa é uma palavra muito comum no meio cristão. Afinal as pessoas pro-curam as igrejas muitas vezes para enfrentar situações que as desestabilizam, pois se encontram atribuladas quer no âmbito pessoal, conjugal ou grupal. Diante disso, é fundamental que o conselheiro cristão desenvolva métodos e técnicas que possibilitem:

a) Estabilidade.

b) Alicerce.

c) Alimento.

d) Orientação.

Portanto, cabe ao conselheiro desenvolver naquele que procura ajuda as con-dições ou capacidades para enfrentar, manejando de forma adequada, os seus problemas e os seus relacionamentos mais construtivamente, dentro dos limites que lhes são impostos pelos recursos de sua personalidade e pelas circunstân-cias oferecidas.

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No aconselhamento de apoio, o conselheiro faz uso de:

1. Orientação.

2. Informação.

3. Tranquilização.

4. Inspiração.

5. Planejamento.

6. Formulação de respostas e perguntas.

7. Encorajamento ou desencorajamento de certas formas de comportamento, as quais devem ser observadas de forma cuidadosa e muito atenta.

A seguir, vejamos sete procedimentos sugeridos por Clinebell (2000) para o aconselhamento de apoio:

1) Satisfazer necessidades de dependências – deve ser uma atitude que comunique solicitude a uma pessoa atribulada. Há muitas formas de satisfação de dependência:

a. confortar;

b. sustentar;

c. alimentar (emocional ou fisicamente);

d. inspirar;

e. orientar;

f. proteger;

g. instruir;

h. colocar limites seguros para evitar comportamento prejudicial à pró-pria pessoa ou a outras.

2) Catarse emocional – compete ao conselheiro realizar a aceitação dos sen-timentos opressivos de uma pessoa, inicialmente. Quando uma pessoa se sente aceita pode liberar sentimentos que estão guardados e contidos

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TEMAS E PROCEDIMENTOS EM ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

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em seu ser. Sentir que outra pessoa conhece sua dor interior e se importa com ela dá às pessoas atribuladas a força que provém do fato de terem suas vidas alicerçadas.

3) Exame objetivo da situação de estresse - quando as pessoas atribula-das são apoiadas, podem imprimir objetividade para ver seu problema a partir de uma perspectiva um tanto mais ampla e explorar alternati-vas viáveis. Podem tomar decisões mais sábias a respeito do que podem e devem fazer.

4) Promover as defesas do ego – há situações que podem desestruturar totalmente a pessoa, por exemplo, um acidente de carro em que essa pes-soa foi a única sobrevivente, mas foi também justamente a culpada pela morte dos passageiros; no momento do funeral, ela começa explicar que foi o outro motorista e não ela a culpada. Deve-se compreender que esse funcionamento, negando e projetando, é defensivo e que aos poucos, ao longo do tempo, deve-se trabalhar essa questão.

5) Mudanças da situação de vida – o conselheiro pode ajudar o aconse-lhando a fazer mudanças ou, se isso não for possível, providenciar para que sejam feitas nas circunstâncias (físicas, econômicas ou interpessoais) que estão produzindo distúrbios deliberados em suas vidas.

6) Encorajar ação apropriada – quando as pessoas estão aturdidas ou para-lisadas por sentimentos de ansiedade, derrota, fracasso a autoestima prejudicada por uma perda trágica, é útil que o conselheiro prescreva alguma atividade que as mantenha em funcionamento e em contato com outras pessoas; um tipo de “tarefa para casa”. Por exemplo: leituras rele-vantes para o problema que a pessoa enfrenta.

7) Usar subsídios religiosos – oração, Bíblia, literatura devocional, a Ceia do Senhor etc, constituem valiosos recursos de apoio, que são caracte-rísticas singulares do aconselhamento pastoral.

Por fim, Clinebell (2000) alerta para os perigos do aconselhamento de apoio. Ele faz uma comparação oportuna quando usa o exemplo do aparelho ortopé-dico. Ele tem a funçãode dar um suporte temporário, contudo, existe o perigo desse aparelho se tornar uma muleta (no sentido negativo), bloqueando o

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crescimento por meio de uma dependência persistente. É o que acontece, por exemplo, quando o conselheiro faz alguma coisa que cabe ao aconselhando fazer. Por isso é fundamental que o conselheiro esteja atento à pessoa e ao con-texto em que está inserida.

ATIVIDADE DE ExERCÍCIO PRÁTICO DE ACONSELHAMENTO DE APOIO

Orientações:

1. Você pode apenas refletir tentando visualizar toda essa situação proposta como cenas que aconteceriam e como você procederia na qualidade de pastor, por exemplo.

2. A proposta propriamente dita é você e mais duas pessoas ou com mais outras pessoas, fazerem uma dramatização ou teatralização. Os persona-gens são apenas dois. Você necessariamente tem que seguir as sugestões propostas para o exercício. Lembre-se de estudar e revisar os conteúdos e procedimento do aconselhamento de apoio.

3. Caso queira, faça uso de gravador para ouvir partes desta atividade de exercício prático de aconselhamento de apoio.

PAPEL DO ACONSELHANDO

Você é a Sra. V., uma viúva de 81 anos, acamada em consequencias de uma queda que resultou na fratura de um punho e da clavícula. Você mora com seu filho e a esposa dele. Sua fé foi seriamente posta a prova por seu acidente. Você não pode compreender por que Deus parece tão distante. Muitas de suas amigas já morreram e você se sente extremamente solitária. Você sabe que pode não lhe restar muito tempo de vida (deite-se para assumir esse papel).

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TEMAS E PROCEDIMENTOS EM ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

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PAPEL DO PASTOR

Você é o pastor da sra. V. e ela é o membro mais velho de sua congregação. Você tem um sólido relacionamento pastoral com ela. Enquanto ela fala durante a visita, você percebe a oportunidade de fazer aconselhamento de apoio como parte de seu ministério poimênico para com ela. Enquanto você fala, fique atento aos sentimentos dela e faça com que ela saiba que você está consciente, refletindo o que você acha que ela está dizendo e sentido. Experimente os métodos de apoio descritos neste capítulo na medida em que sejam pertinentes. Seja sensível à pos-sível presença de tensão entre os membros da família.

PAPEL DO ObSERVADOR-MONITOR

Sua função é ajudar a sra. V. e o pastor, aumentar sua consciência do que está ocorrendo entre eles e sua consciência do tom de sentimentos da relação de aconselhamento. Sinta-se à vontade para interromper o aconselhamento ocasio-nalmente a fim de dar sugestões de como ele poderia tornar-se mais proveitoso. Seja franco. Como observador você perceberá coisas importantes que eles tal-vez não vejam.

ACONSELHAMENTO EM CASOS DE PERDA PESSOAL

A perda pessoal é uma crise humana universal. O pesar está presente: em todas as mudanças, perdas e transições importantes na vida, não só por ocasião da morte de uma pessoa amada.

Diante das perdas que são as mais diversas, Clinebell (2000) propõe um esquema de cinco tarefas nesse processo e o tipo de ajuda que facilita a realiza-ção de cada tarefa:

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Aconselhamento em Casos de Perda Pessoal

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TAreFA De eLABorAção Do pensAr AjUDA neCessÁrIA

1. Experimentar o choque, o entorpeci-mento, a negação e a gradativa aceitação da realidade de perda.

Ministério de solicitude e presença; ajuda prática e conforto espiritual.

2. Experimentar, expressar e digerir senti-mentos dolorosos, por exemplo, culpa, re-morso, apatia, raiva,ressentimento, anseio, desespero, ansiedade, vazio, depressão, solidão, pânico, desorientação, perda da identidade clara, sintomas físicos etc.

Ministério de apoio e escuta responsiva para estimular catarse plena.

3. Aceitação gradativa da perda e remon-tagem da vida da pessoa sem aquilo que se perdeu, tomando decisões e enfren-tando a nova realidade desaprendendo antigas maneiras de satisfazer as próprias necessidades e prendendo novos modos. dizer adeus e reinvestir a energia vitale-moutros relacionamentos.

Ministério de apoio e escuta responsiva para estimular catarse plena.

4. Situar a perda da pessoa em um contex-to mais amplo de sentido e fé; aprender com a perda.

Ministério de facilitação do cresci-mento espiritual.

5. dirigir-se a outros que estão experimen-tando perdas semelhantes, para ajuda recíproca.

Ministério de capacitação para entrar em contato com outros.

É importantíssimo ressaltar que há perdas que podem ser difíceis de serem enfren-tadas. A ambivalência é esperada, mas quando a pessoa continua, por exemplo, a superidealizar o falecido, está usando das defesas da negação e repressão. É necessário que a pessoa saiba entender os sentimentos reprimidos. Clinebell (2000) destaca alguns perigos:

a) Retraimento cada vez maior de relacionamentos e atividades normais.

b) Ausência de luto.

c) Estado de luto que não tende a se amenizar.

d) Profunda depressão que não desaparece.

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TEMAS E PROCEDIMENTOS EM ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

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e) Problemas psicossomáticos graves.

f) Desorientação.

g) Alterações na personalidade.

h) Sentimentos de culpa.

i) Indignação.

j) Fobias muito fortes e que não tendem a desaparecer.

k) Perda de interesse na vida.

l) Fugas constantes por meio de drogas e álcool.

m) Sentimentos de mortificação interior.

Por fim, é importantíssimo ressaltar que o pesar em si não é doença. Trata-se de um processo normal de cura; somente quando o pesar passa a ser um processo patológico é que requer aconselhamento ou psicoterapia especializada.

ATIVIDADE DE ExERCÍCIO PRÁTICO DE ACONSELHAMENTO DE APOIO

Orientações:

1. Você pode apenas refletir tentando visualizar toda essa situação proposta como cenas que aconteceriam e como você procederia na qualidade de pastor, por exemplo.

2. A proposta propriamente dita é você e mais duas pessoas, ou com mais outras pessoas, fazerem uma dramatização ou teatralização. Os persona-gens são apenas dois. Você necessariamente tem que seguir as sugestões propostas para o exercício. Lembre-se de estudar e revisar os conteúdos e procedimento do aconselhamento de apoio.

3. Caso queira, faça uso de gravador para ouvir partes desta atividade de exercício prático de aconselhamento de apoio.

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Aconselhamento em Casos de Perda Pessoal

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PAPEL DO ACONSELHANDO

Se você teve uma perda dolorosa em sua vida dirija-se ao pastor, pedindo que o ajude. Ou procure mergulhar nos sentimentos de alguém que você conhece bem e que está em pleno processo de digerir uma perda grave. Desempenhe o papel daquela pessoa buscando a ajuda do pastor.

Ou você é Jane Carone, uma mulher de uns 45 anos, cujo marido Ricardo faleceu inesperadamente a 2 meses, de ataque cardíaco. Você sente profunda-mente a perda e acha quase impossível enfrentar contatos sociais, principalmente na igreja, onde vocês participavam ativamente como casal. Você se sente muito deprimida e gostaria de se esconder das pessoas.

PAPEL DO PASTOR

Utilize o que você aprendeu nesta unidade sobre a facilitação do trabalho de pesar, fazendo aconselhamento com um desses membros. Lembre-se da necessidade que a pessoa tem de ajuda por meio de tarefas específicas de trabalhar o pesar.

PAPEL DO ObSERVADOR-MONITOR

Interrompa a sessão periodicamente para fornecer ao pastor feedback sobre sua eficiência no processo de elaboração do pesar, principalmente no que tange à vazão de sentimentos inacabados.

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TEMAS E PROCEDIMENTOS EM ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ

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ACONSELHAMENTO EM CASOS DE CRISE MATRIMONIAL

Principalmente no contexto religioso, o casamento é tido como uma benção para a vida amorosa e sexual do homem e da mulher. Contudo, o relacionamento no contexto conjugal não é tão simples assim, uma vez que quando homem e mulher se unem produzem uma identidade conjugal própria.

Segundo Clinebell (2000), o homem e a mulher se atraem porque cada um espera que o relacionamento satisfaça várias necessidades suas. Cada qual traz por dentro do casamento uma constelação singular de necessidades da persona-lidade. Essas necessidades precisam receber o mínimo de satisfações, para que a pessoa seja capaz de satisfazer as necessidades do parceiro e dos filhos.

Collins (1995) observa que a origem dos problemas, do ponto de vista bíblico, é justamente quando o casal se afasta dos princípios bíblicos, os quais são trans-formados consequentemente em problemas conjugais. Vejamos alguns deles:

a) Comunicação defeituosa – esta é uma das principais causas de discór-dia conjugal. É quando um não consegue ouvir ou responder ao outro. E isso se dá pelas mensagens verbais e não verbais, em nosso dia a dia. Por exemplo, quando um marido que dizer “eu te amo”, para ele fazer isso é comprar um presente; mas sua esposa não o entende, pois quer ouvir lite-ralmente as palavras de sua boca.

b) Atitudes egocêntricas defeituosas – se aproximar de alguém é um risco. Há uma tendência de não nos abrirmos para as críticas e uma possível rejeição quando permitimos que outra pessoa nos conheça intimamente, sinta nossa insegurança e perceba nossas fraquezas. É bem mais fácil fazer críticas ao outro do que aceitar ou reconhecer as atitudes defensivas e ego-cêntricas que estão provocando tensão.

c) Tensão interpessoal – quando nos casamos, já temos um repertório de habilidades sociais desenvolvidas, pois temos duas ou três décadas de vida e já estamos bem “treinados” em um modo de vida, ou seja, em viver “solteiros”. Quando nos casamos, temos que interagir e buscar conviver com o outro, e aqui são fundamentais o entendimento e os processos de síntese para a construção madura de uma conjugalidade. Quando isso não ocorre e há má vontade porparte de um dos cônjuges certamente os

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Aconselhamento em Casos de Crise Matrimonial

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problemas conjugais vão aparecer. Esses problemas muitas vezes se con-figuram nessas áreas: sexo, papéis no relacionamento, religião, valores, necessidades e dinheiro.

d) Pressões externas – elas acontecem devido a pessoas ou situações, como:

■ Sogros e filhos que interferem no relacionamento.

■ Amigos que fazem exigências sobre o tempo do casal.

■ Crises que interrompem os relacionamentos familiares.

■ As exigências profissionais.

e) Tédio – à medida que vão se passando os anos, os casais se estabelecem na rotina, acostumando-se um ao outro e sem perceber, caminham para a autoabsorção, autossatisfação e autopiedade, desaparecendo o prazer de viver a dois. Isso também é desestimulante e rotineiro. Os casais come-çam a buscar em outros lugares variedades e desafios.

Vejamos, a seguir, os objetivos do aconselhamento de crise matrimonial, con-forme enumerado por Clinebell (2000), para ajudar os casais a aprenderem como fazer com que seus relacionamentos proporcionem maior satisfação mútua de necessidades, fomentando melhor seus crescimentos:

1. Reabrir suas linhas de comunicação bloqueadas e aprender habilidades de comunicação mais efetivas.

2. Interromper a escalada do ciclo autoperturbador de ataque mútuo e reta-liação, desencadeado pela frustração profunda das satisfações mútuas de necessidade.

3. Se conscientizar dos pontos fortes e dos recursos não utilizados em si pró-prio e em seu relacionamento, os quais pode usar para efetuar mudanças construtivas em si próprio e em seu matrimônio.

4. Identificar áreas específicas em que crescimento e/ou mudança precisa acontecer na conduta de cada um, a fim de interromper sua crise e tor-nar seu casamento mais compensador de necessidades recíprocas.

5. Negociar e então executar planos viáveis e justos de mudanças, nos quais cada pessoa assume a responsabilidade de mudar a sua parte na intera-ção entre os dois.

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TEMAS E PROCEDIMENTOS EM ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ

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6. Experimentar o reavivamento da energia para mudança em esperança realista. Mudança construtiva gera esperança realista, e esperança gera mais mudança. São três as maneiras que se manifesta essa esperança no aconselhamento:

a. capacidade que o casal demonstra empaticamente de mudar e de crescer;

b. conscientização maior dos pontos fortes e dos seus recursos;

c. mudança de comportamento autolesivo dentro de si próprio e entre os dois.

7. Descobrir, explorar e até certo ponto exorcizar as raízes subconscientes ou inconscientes de imagens conflitantes do papel a ser desempenhado e de necessidades neuróticas aprendidas principalmente pelos pais. Lidar com fantasias, temores e raiva que comprometem o relacionamento. Pode haver necessidade de aconselhamento individual entre as sessões do casal.

8. Renegociar e revisar aspectos de maior importância na relação matrimo-nial que sejam injustos e/ou inviáveis.

Assim como é necessário que o conselheiro disponibilize técnicas e habilidades para conversar com o aconselhando, também é fundamental que o conselheiro de casal desenvolva também uma metodologia na primeira sessão para garantir o sucesso no processo de aconselhamento conjugal. Vejamos os seguintes pro-cedimentos do conselheiro:

1. Comunicar calor humano, demonstrar solicitude e disposição para aju-dar, bem como certificar o casal da validade de sua iniciativa de vir buscar ajuda.

2. Descobrir como cada um está se sentindo por se encontrar ali.

3. Ajudar a motivar o parceiro menos motivado, estabelecendo sintonia com o mesmo e despertando esperança realista de maior satisfação e menos dor no casamento.

4. Descobrir a quanto tempo a crise ou os problemas vêm se desenvolvendo.

5. Proporcionar oportunidade comparável para cada pessoa descrever os problemas do casal.

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6. Após expressar a dor e o sofrimento, descobrir o que cada pessoa ainda aprecia no casamento e no outro; e quais os pontos fortes e os recursos potenciais que eles têm para fortalecer seu matrimônio pelo aconselhamento.

7. Fazer uma escolha provisória (com base nos pontos 2 e 4) entre tentar aconselhamento de curto prazo para crise matrimonial ou encaminhar o casal ao terapeuta conjugal.

8. Caso houver sinais de que o aconselhamento de curto prazo provavel-mente será útil, pedir ao casal que venha a três ou quatro sessões adicionais para poder decidir sobre o encaminhamento.

9. Ajudar o casal a decidir e comprometer-se com certas tarefas a serem efe-tuadas em casa entre as sessões; alguma pequena ação construtiva que empreenderão no sentido de contribuir para que o quanto antes seu rela-cionamento se torne mais satisfatório reciprocamente.

10. Verificar e aceitar, perto do final da sessão, quais sentimentos negativos que possam ter.

11. Somente use da oração ou de outros recursos religiosos quando for cla-ramente apropriado para o casal em questão.

12. Após a sessão, reflita sobre o que ficou sabendo e faça planos para ten-tar ajudar o casal; entre em contato com um colega aconselhador, caso a situação seja complicada ou confusa.

O trabalho com casais vai bem além da boa vontade ou de boa intenção. É necessário ter uma metodologia que contribua para a identificação precisa do que de fato tem gerado conflitos e problemas ao casal. A falta de comunicação é um dos primeiro sintomas: deixa de haver ou apresenta muitos ruídos, como se diz na linguística moderna. Vejamos, a seguir, duas propostas de interven-ção em aconselhamento conjugal, uma elaborada por Clinebell (2000) e outra por Collins (1995).

A primeira proposta metodológica é de Clinebell (2000); ele a desenvolve no subitem denominado. “O método de relacionamento intencional ou método de matrimônio intencional”. Esse método tem quatro passos:

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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

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Primeiro passo: Identifiquem e afirmem os pontos fortes do seu relacionamento, contemplando um de vocês a sentença: “Em você eu aprecio...” tantas vezes quantos puder.

A tarefa de quem ouve é receber esses atributos. Após ambos ouvirem um ao outro, devem anotar tudo o que ouviram em

um caderno denominado de crescimento.

Segundo passo: Identifiquem a frente de crescimento da sua relação completando um de vocês a sentença: “De você eu preciso...” tantas vezes quantas quiser. Declarem suas neces-sidades/desejos correspondidos ou parcialmente correspondidos em termos de comportamento da parte de outro.

Depois de um completar a lista, o outro deve repetir o que ouviu, para garan-tir que as necessidades foram bem entendidas.

Depois que ambos declararam suas necessidades e verificaram o que um entendeu do que o outro disse, tirem um tempo para anotar as necessidades de cada um em seu caderno do crescimento.

Terceiro passo: Aumentem intencionalmente a satisfação mútua do seu relacionamento e fomen-tem assim o seu amor, pela escolha de uma das necessidades de cada um (ou uma necessidade conjugal) a qual vocês corresponderão.

Elaborem um plano concreto e viável, com uma programação cronológica, de corresponder a essas necessidades.

Anotem também isso em seus cadernos de crescimento.

Quarto passo: Executem o seu plano de mudança.

Depois escolham outro par de necessidades, elaborando e executando um plano de supri-las intencionalmente.

Convém repetir o primeiro passo com regularidade ao colaborarem no sen-tido de fazer com que seu relacionamento faça mais jus as suas necessidades.

Anotem seu progresso em seus cadernos individuais de crescimento.

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Por fim, é importante ressaltar que esse método pode ser aplicado não somente com casais, mas famílias, amigos, colegas e relacionamentos de equipe de traba-lho, por exemplo. O objetivo é aumentar a satisfação mútua de necessidades e assim reduzir frustração e conflitos, como afirma Clinebell (2000).

Collins (1995) apresenta os procedimentos de aconselhamento conju-gal que tanto o conselheiro pode utilizar quanto o aconselhando em seu livro “Aconselhamento Cristão”; esse método tem quatro estágios, denominadas res-pectivamente: início; manifestação de problemas básicos; desenvolvimento e aplicação de soluções e tentativas e final.

Vejamos:

Estágio I – InícioConselheiro:

■ Atitudes cordiais e de aceitação.

■ Mostrar confiança.

■ Não fazer críticas.

■ Ajudar a vencer os temores iniciais do aconselhando.

Aconselhando:

■ Contar suas razões iniciais para a procura de ajuda.

■ Vencer seus medos e dúvidas relacionados a esta iniciativa.

Estágio II - Manifestação de problemas básicosConselheiro:

■ Suscita questões ou faz comentários para estimular mais pensamentos.

■ Esclarece tanto as questões como os sentimentos.

■ Continua a dar apoio e encorajamento.

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TEMAS E PROCEDIMENTOS EM ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

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Aconselhando:

■ Dar mais detalhes por meio da expressão de sentimentos e frustrações.

■ Aprender a construir um relacionamento de segurança e confiança com o conselheiro.

Estágio III - Desenvolvimento e aplicação de soluções e tentativasConselheiro:

■ Continua a dar apoio.

■ Fica alerta quanto a novas informações.

■ Encoraja e orienta na consideração de soluções e tentativas, tais como mudanças de atitude, modificação de comportamento, confissão, per-dão, reavaliação das percepções etc.

■ Guia e encoraja à medida que as soluções são tentadas, avaliadas e ten-tadas novamente.

Aconselhando:

■ Aprender a formular.

■ Agir com relação a...

■ Avaliar soluções.

■ Expressar frustrações e temores.

■ Experimentar algumas vitórias.

Estágio IV - FinalConselheiro:

■ Encorajar a agir independente.

■ Recapitular o progresso feito no passado.

■ Expressar sua disponibilidade ao aconselhando caso necessário.

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Aconselhando:

■ Manifestar dúvidas e temores pelo término do aconselhamento.

■ Reavaliar o progresso.

■ Examinar seus recursos espirituais e pessoais.

PROPOSTA DE ExERCÍCIO PRÁTICO DE ACONSELHAMENTO DE APOIO

Orientações:

1. Você pode apenas refletir tentando visualizar toda essa situação proposta, como cenas que aconteceriam e como você procederia na qualidade de pastor, por exemplo.

2. A proposta propriamente dita é você e mais duas pessoas, ou com mais outras pessoas, fazerem uma dramatização ou teatralização. Os persona-gens são apenas dois. Você necessariamente tem que seguir as sugestões propostas para o exercício. Lembre-se de estudar e revisar os conteúdos e procedimento do aconselhamento de apoio.

3. Caso queira, faça uso de gravador para ouvir partes desta atividade de exercício prático de aconselhamento de apoio.

PAPEL DOS ACONSELHANDOS

Requer duas pessoas. Como casal, vocês estão experimentando doloroso con-flito e frustração em seu relacionamento. Use um relacionamento com o qual um de vocês dois está bem familiarizado para definir a dinâmica dos papéis. Procurem a ajuda de seu pastor.

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TEMAS E PROCEDIMENTOS EM ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃ

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

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PAPEL DO PASTOR

Utilize o que você aprendeu ao ler e refletir sobre esta unidade, Para fazer acon-selhamento com este casal. Experimente a adaptação do MRI descrito para aconselhamento neste caso.

PAPEL DO ObSERVADOR-MONITOR

Procure dar ao pastor feedback sobre o quanto ele se concentra na interação do casal como diretriz primordial do aconselhamento.

CONSIDERAçõES FINAIS

Esta unidade, caro aluno, foi desenvolvida com o objetivo de expor uma teoria da prática em aconselhamento cristão que pudesse atender tanto o conselheiro quanto o capelão.

Foram expostos procedimentos e técnicas de aconselhamento de apoio, de perda pessoal e de crise matrimonial.

Também vimos procedimentos e metodologias necessárias para o desem-penho em Aconselhamento e Capelania Cristã, ou seja, para se ter resultados, é necessário desenvolver procedimentos que de fato possibilitem uma condição adequada para o exercício dessas atividades. No caso específico, vimos duas for-mas de intervenção para agir em casos de crise matrimonial, uma com Collins (1995) e a outra com Clinebell (2000). A primeira ressaltou os seguintes estágios: início, manifestação de problemas básicos, desenvolvimento e aplicação de solu-ções e tentativas e final. A segunda é um método denominado relacionamento ou matrimônio intencional, o qual tem como objetivo provocar o aumento da

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Considerações Finais

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satisfação mútua de necessidades e assim reduzir frustrações e conflitos por meio de quatro passos: 1) ouvir e receber esses atributos; 2) neste passo destacam-se as necessidades/desejos correspondidos ou parcialmente correspondidos em termos de comportamento do casal; 3) o objetivo neste passo é aumentar inten-cionalmente a satisfação mútua do relacionamento e fomentar assim o amor, pela escolha de uma das necessidades de cada um (ou uma necessidade conju-gal), e isso é feito com a elaboração de um plano concreto e viável, com uma programação cronológica que corresponda a essas necessidades do casal e 4) após a execução do plano de mudança, deve-se executar outros planos para atender outra necessidades e assim sucessivamente.

Por fim, observaram-se os comportamentos do aconselhando ou paciente em situação de crise e como interpretá-los para melhor atuação do conselheiro.

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A IMPORTâNCIA DO ACONSELHAMENTO PASTORAL PARA A SAúDE DA IGREjA

o físico, matemático e filósofo francês Blaise Pascal, disse que: “Existe no coração do homem um vazio do tamanho de deus, o qual, somente Jesus Cristo pode preencher”.

Segundo o estudo da psiquiatra brasileira, Nise da Silveira, religião é compreendida no sentido de “religar o consciente com certos poderosos fatores do inconsciente” onde o ponto de conexão é estimulado pela força da experiência com o “numinoso”, conceito que ela toma da filosofia de otto.

Esta autora compreende que Jung valida a realidade dos deuses desde que estes “sejam ou tenham sido atuantes no psiquismo do homem...”, pois, “...há verdades psíquicas que, do ponto de vista físico, não podem ser explicadas ou demonstradas, nem tão pouco recusadas.”

Rollo May (2002, p. 172) afirma que “o abuso da religião é o que Freud ataca” sugerindo com essa colocação que Freud não descarta o fenômeno religioso e sim o abuso dele.

Então, vou partir da compreensão dos autores citados, bem como do autor de referência que o “re-ligar” com o transcendente (religião) é algo existente e necessário ao homem. Assim, entendendo religião como um fenômeno complexo, mas inegavelmente a difi-culdade que parece surgir, segundo a exposição de May, é quando:

Certas pessoas fazem uso da religião como meio para se apoiarem num estado interme-diário de desenvolvimento, construindo para si um ninho de falsa segurança e proteção em que possam ver a vida como proteção doce e cor-de-rosa que cuida de todos os ver-dadeiros crentes...

E é exatamente neste ponto que há de se definir a prática da “...religião autêntica ou seja, uma afirmação fundamental do sentido da vida...”, ou uma ação perigosa que leva o indivíduo aos “bosques” de ilusão, incapazes de aceitar a si e a humanidade, nunca chegando a encontrar o caminho da verdadeira segurança.

o reconhecimento desta realidade, qual seja, a prática da religião autêntica ou neurótica por parte do devoto vai definir a qualidade e saúde da Igreja. A religião para ser válida contrária a ansiedade neurótica, conduzindo o indivíduo a um nível de ansiedade equi-librado que lhe permita segurança e personalidade estável, longe de paralisias e pânicos pessoais, como tende ocorrer com aqueles que utilizam a religião como “amuletos” de suas neuroses.

Entendo que o religar precisa responder ao homem ao menos as seguintes questões: de onde viemos? Para que vivemos? Para onde iremos? Como chegaremos lá? Aceito estas como sendo as maiores crises existenciais do homem. o homem equilibrado que aceita a si e ao mundo e que, confiantemente responde estas perguntas através daquilo que crê, alcança a realização humana em sua plenitude. devo destacar, que sou cristão

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e, baseado na fé que pratico, admito a existência de um só caminho que torna o homem religado a deus e pleno em sua jornada humana – o caminho do nazareno!

O Aconselhamento Pastoral para a Saúde da Igreja

Roger F. Hurding (1995, p. 36) define aconselhamento como “uma atividade com o ob-jetivo de ajudar aos outros em todo e qualquer aspecto da vida, dentro de um rela-cionamento de cuidado”, salientando que este modelo de ajuda ao indivíduo coloca o aconselhamento num quadro bastante amplo.

Aconselhamento Pastoral pode ser descrito como uma atividade onde o líder espiritual promove entre os fiéis, individualmente ou em grupo, o estímulo às respostas daqueles que lhe pedem ajuda, para que eles possam resolver aspectos das suas vidas, prática e religiosa, bem como as questões de caráter existencial que os condicionam, incomodam ou os fazem sofrer.

Isto significa exortar o crescimento da personalidade, ajudando o fiel a enfrentar com eficácia às questões pertinentes aquilo que professa, sobretudo o confronto da fé com os problemas da vida, os conflitos íntimos, os desequilíbrios emocionais, oferecendo encorajamento para os que precisam lidar com decepção, com a perda, assim como dar assistência às pessoas cujo modelo de vida lhe cause infelicidade e decepção.

Através do aconselhamento pastoral se tem a possibilidade de descobrir com cada in-divíduo que compõe a Igreja, diferentes situações de vida e especialmente em conflitos e crises, o verdadeiro significado da liberdade que a fé oferece, conduzindo-os a uma saudável relação com deus, consigo mesmo e com o próximo, de uma maneira cons-ciente e adulta.

Na jornada do aconselhador/pastor, creio que sua maior tarefa é o tratamento dessas tensões interiores complexas existes em cada indivíduo ou grupo, que sempre interfe-rem na saúde da Igreja. Promover a libertação das atitudes inadequadas e distorcidas através do aconselhamento realizado com recurso da palavra de deus, adicionados dos recursos da experiência, pedagogia, psicologia como complementares instru-mentos de ajuda, vai ser fundamental para que a comunidade religiosa se desenvolva de maneira saudável.

É bíblico entender o homem como um ser integral, completo, composto de corpo, alma e espírito. Entendo que o aconselhamento pastoral é um meio bastante razoá-vel e de vital importância para provocar A LIBERdAdE INTEGRAL do INdIVÍduo ou GRuPo, porque, o aconselhamento, tem condições de identificar se realidade vivida pela religião é autentica ou não, oferecendo, por conseguinte, meios de ajustá-la a sua verdadeira essência.

Alan P. SilvaFonte: <http://numinosumteologia.blogspot.com/2009/08/importancia-do-

aconselhamento-pastoral.html>. Acesso em: 27 dez. 2011.

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1. o sentimento de ser abandonado ou estar só, guardadas as devidas proporções, pode representar de fato uma necessida-de circunstancial. Cabe tanto ao conselheiro como ao capelão, quando exerce também o aconselhamento, apoiar aquele que sofre. diante disso, cite e explique três procedimentos sugeri-dos por Clinebell (2000) que devem ser realizados pelo conse-lheiro, no ato do aconselhamento de apoio, que você compre-ende como sendo os mais importantes.

2. Assim como o aconselhando pode desenvolver comportamen-tos inadequados, o conselheiro também. Aponte os perigos que podem surgir no aconselhamento de apoio e que devem ser evitados.

3. o luto é um processo próprio de todo aquele que vive uma re-lação. A morte de um ente querido é um dos exemplos mais apropriados de luto. Não vivenciá-lo pode ser uma das formas de negação da pessoa que sofre além do que pode suportar. Por isso, cabe ao conselheiro desempenhar seu papel como su-porte nessa situação. Posto isso, os comportamentos de perda em um aconselhando devem ser entendidos como uma doen-ça? Sim ou não? Explique e justifique a sua resposta.

4. É importante ressaltar que quando uma pessoa procura ajuda ela pode não reunir condições para se expressar adequadamen-te. E, ainda, se procura ajuda é porque não consegue identificar as suas necessidades e tratá-las. Por isso, cabe ao conselheiro desenvolver técnicas que deem conta de ajudar o aconselhan-do a falar. Elabore um texto, entre 5 e 10 linhas, que explique como ajudar um aconselhando se expressar da melhor forma.

5. Ao longo dos nossos estudos vimos algumas técnicas de inter-venção em aconselhamento, dentre elas, no aconselhamento conjugal. Foi também ressaltado que um dos significativos pro-blemas está na comunicação. Explique e exemplifique em qual situação deve ser usado o Método Matrimonial (relacional) In-tencional – MMI, de Clinebell (2000).

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Material Complementar

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Material CoMpleMentar

Aconselhamento PastoralEste link remete você, caro aluno, ao livro digitalizado de Aconselhamento Pastoral de Clinebell. Esta obra é um clássico da literatura em aconselhamento pastoral.

http://books.google.com.br/books/about/Aconselhamento_pastoral.html?hl=pt-BR&id=vYIK7NvMMbEC

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Chegamos ao final dos nossos estudos, caro aluno. Acredito que o nosso percurso cobriu teoricamente os principais temas sobre as duas áreas estudadas, Aconselha-mento e Capelania Cristã.

Na unidade I, fizemos um passeio no mundo bíblico e teológico sobre os temas: dia-conia, Ministério, Cuidado e Poimênica, e assim demos fundamentos imprescindíveis ao Aconselhamento e Capelania Cristã. ou seja, apontamos que o serviço cristão é também expressado nessas atividades de ajuda a todos aqueles que necessitam.

Na unidade II, de forma introdutória, assinalamos as origens históricas, os aspectos fundamentais das teorias, as atitudes e os objetivos principais em Aconselhamento e Capelania Cristã.

Na unidade III foram tratadas as propostas, técnicas e comportamentos em Aconse-lhamento Cristão. Aqui listamos os procedimentos adequados, a natureza, e vimos ainda as técnicas de intervenção em Aconselhamento Cristão sob os métodos dire-tivo e não diretivo.

Na unidade IV foi o momento de tratar do perfil e do papel do conselheiro e capelão e em contrapartida destacamos atitudes inadequadas do conselheiro cristão. Aqui nosso objetivo foi conscientizar a todos nós que um conselheiro e um capelão têm competências necessárias para serem desenvolvidas em suas atividades.

Por fim, na unidade V, estudamos teorias sobre temas atuais e recorrentes em acon-selhamento de apoio, de perda pessoal e de crise matrimonial. Identificamos os comportamentos do aconselhando ou paciente em situação de crise, bem como os procedimentos e metodologias necessárias para um bom desempenho em Aconse-lhamento e Capelania Cristã.

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